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INTRODUÇÃO
De acordo com documentos da ONU (2011), o Brasil apresenta altos índices
de violência letal e ocupa as primeiras posições em listagens internacionais de
homicídios por habitantes e o primeiro lugar mundial em números absolutos.
Os dados do Mapa da Violência 2012: A Cor dos Homicídios no Brasil,
apresentados pelo autor da pesquisa, Júlio Jacobo Waiselfisz (2012), confirmam que
a violência letal no país tem prioritariamente a cor negra. No período de 2002 a 2010
houve uma redução de 25,5% de homicídios de pessoas brancas, já entre os negros
houve aumento de 29,8%. No ano de 2009, a taxa de homicídios da população
negra excedia o dobro da taxa em relação à população branca. Estes dados ganham
ainda outra dimensão quando considerado o recorte etário e/ou geracional.
Em 2002, a taxa de homicídios de negros correspondia a 1,65 vez a taxa da
população branca (1,71 para os jovens de 15 a 29 anos); em 2009, esta relação
passa para 2,13 (2,38 para os jovens). Houve uma baixa para a população branca e
um aumento para a população negra.
Em 2010, 14.047 brancos foram assassinados. Essa soma aumenta para
34.983 quando se trata da população negra. Se considerada a idade, a diferença é
ainda maior: nesse mesmo ano, enquanto a taxa de homicídio do total da população
negra foi de 36,0, a dos jovens negros foi o dobro, 72,0.
Comparando todo o período que compreende a pesquisa, percebe-se que,
proporcionalmente, morrem duas vezes e meia mais jovens negros que brancos. Em
oito anos, a taxa de homicídios de jovens negros, que era de 71,7%, passou para
153,9%. Oito unidades da federação - Alagoas, Espírito Santo, Paraíba,
Pernambuco, Mato Grosso, Distrito Federal, Bahia e Pará - extrapolam 100
homicídios para cada 100 mil jovens negros, o que faz do Brasil um dos lugares
mais perigosos do mundo para a juventude negra.
Em suplemento especial da PNAD 2009, identificou-se que 1,6 dos entrevistados já haviam sofrido algum tipo de agressão física. Entre os jovens agredidos, 4,8% dos brancos e 7,5% dos negros tiveram como agressor um policial ou um agente de segurança privada. Por sua vez, a PCERP revelou que a relação com a Justiça e a polícia foi considerada por 68,3% dos entrevistados como um dos campos em que a cor ou a raça
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influencia a vida das pessoas (IBGE, 2011). Esta avaliação se mostrou mais intensa entre os jovens e entre os negros. (IPEA, 2012).
O fator raça/cor como preponderante para vitimização questiona a ideia de
que com maior escolarização e maior nível socioeconômico os indivíduos estariam
menos vulneráveis a situações de perigo, em especial ao homicídio. Dados do IPEA
(2012) confirmam que, mesmo quando se comparam grupos com o mesmo nível de
escolaridade, o que costuma informar, aproximadamente, o nível socioeconômico do
indivíduo, permanece a distinção racial na frequência das ocorrências de homicídio.
No mesmo documento do IPEA (2012) atesta-se que
:
A interseção das variáveis cor e escolaridade confere ao quadro de homicídios no país dois extremos – negros com baixa escolaridade e brancos com alta escolaridade – separados por mais de 23 pontos na taxa de homicídios. Mesmo nos grupos com mais de 12 anos de escolaridade, a probabilidade de ser vítima de homicídio é mais que duplicada para os negros. Comparam-se apenas 68% dos homicídios, uma vez que, para esta informação, ainda há nível alto de subnotificação (32%). (IPEA, 2012).
Nesse contexto, este trabalho tem como objetivo apresentar algumas das
iniciativas do Movimento Negro em denunciar tais condições, especificamente as
que destacam a denúncia do processo de genocídios e extermínio de jovens
negros(as) provocados por situações nas quais o que se considera é a cor da pele,
justificando inclusive a ação violenta da polícia, que se constitui como um fator
principal na criminalização e extermínio destes jovens. São realidades decorrentes
de um racismo impregnado na sociedade e mascarado por um longo período de
democracia racial, mas evidenciado nos dados em torno (d)as desigualdades raciais
no país (HANSELBAG, 1988a, 1988b).
O percurso deste trabalho inicia-se com um breve relato da inserção pessoal
e histórica no tema da violência racial em jovens negros, para em seguida continuar
definindo o racismo, sua historicidade e repercussões que culminam na cruenta
realidade dos jovens negros. A continuação se expõe e discute alguns dados que
evidenciam a situação e realidade dos jovens negros, constituída em base a um
racismo que perpassa a sociedade como um todo. Dando continuidade se exibe a
condição dos jovens negros em relação com a ação policial, trazendo reflexões
sobre as práticas desses agentes e suas repercussões. Por último uma breve
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exposição da realidade na cidade de Curitiba, cidade considerada uma capital
europeia para culminar nosso trabalho com o tema desta monografia à ação do
movimento negro na denuncia e da violência racial em jovens negros.
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1. TRAJETÓRIA POLÍTICA, ESCOLHA DO OBJETO E EXPERIENCIA
PESSOAL
Em agosto de 2000, eu era estudante do ensino médio, 2º ano, no Colégio Estadual
Protásio de Carvalho, o qual promoveu, em parceria com o Grupo de Estudos da
Violência da Universidade Federal do Paraná – GEV/UFPR, uma pesquisa sobre a
violência no colégio. Identificava-se uma realidade preocupante no seu interior e nas
redondezas, o que culminou no curso “Combate à Violência”, com a mesma
parceria, ministrado em três sábados pelos(a) professores (a) Prof. Dr. Pedro
Rodolfo Bodê de Moraes, Prof. Dra. Ana Luiza Sallas e pelo Prof. Dr. Rafael Villa
(nesta sequência). Nesse espaço, que tinha como intuito a promoção de reflexões e
debates, o recorte racial surgiu já nas primeiras falas, em especial no primeiro
módulo. A oportunidade de participar deste curso despertou meu interesse em
acompanhar os encontros preparatórios para a I Conferencia Mundial Contra o
Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância Correlatas, acorrida em
Durban, África Sul no final de 2001. Em seguida, final de 2002, fui convidada para
trabalhar numa entidade do movimento negro, possibilitando-me a oportunidade de
contribuir nos processos de combate à desigualdade racial. Permaneci nessa
entidade até meados de 2005 – ano em que aconteceu a I Conferência de
Promoção da Igualdade Racial – I CONAPIR, chamada pela Secretaria Especial de
Promoção da Igualdade Racial – SEPPIR (criada em 2003) e que atendeu as
demandas pós-Conferência Mundial de Durban. Tive a possibilidade de participar
das etapas municipal e estadual da I CONAPIR com inscrição no Grupo de
Segurança Pública.
Na continuidade fui eleita delegada para a Nacional, o que me possibilitou conhecer
um pouco do cenário em relação à temática da violência e racismo enunciada e
denunciada na fala de alguns militantes e intelectuais negros(as). Recordo-me, em
especial, da participação e contribuição para minhas reflexões da socióloga Vilma
Reis, que coordenava o grupo na ocasião. No ano de 2006, participei do Seminário
Mulheres Negras, que finalizou com a criação de uma organização de Mulheres
Negras no estado do Paraná, nascendo assim a Rede de Mulheres Negras – PR,
entidade de cuja construção ajudei e na qual permaneço filiada.
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No final de 2006 tomei conhecimento da movimentação para a realização do I
Encontro Nacional de Juventude Negra – I ENJUNE, encontro que tinha como tema
central o Extermínio da Juventude Negra. Em 2007, ajudei a impulsionar a
realização da etapa estadual, que aconteceu em julho. Meu engajamento com as
questões pautadas me levou a participar da etapa Nacional com as propostas do
Paraná. A plenária final do I ENJUNE aprovou a criação de Fóruns Estaduais de
Juventude Negra – FOJUNEs, em todos os estados participantes do Encontro. Em
dezembro de 2008, lançamos o FOJUNE-PR e em 2009 passei a integrar a
coordenação Nacional do Fórum Nacional de Juventude Negra – FONAJUNE,
composta por dois coordenadores(as) de cada estado com Fórum constituído. Em
2009 participei da II CONAPIR como delegada para o grupo de Segurança Pública.
Todos esses espaços de militância negra me deram formação acerca do tema da
violência, da segurança pública e muito especialmente do racismo brasileiro. No
entanto, foi na atividade promovida no colégio em que eu estudava que recebi a
primeira chamada de atenção para a associação de violência policial e racismo no
cotidiano de jovens negros(as).
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2. UMA BREVE DISCUSSÃO DE RAÇA E RACISMO NO BRASIL
No Brasil, o estudo sobre raça teve inicio no final do século XIX, momento em
que se dava o processo de abolição da escravatura e que promoveu uma
preocupação crescente com o efeito da raça no desenvolvimento futuro do Brasil.
Telles (2004), em sua obra sobre o racismo no Brasil, coloca que o estudo da
raça em seu inicio se deu nas ciências biológica e criminal, especialmente no
emergente campo da eugenia. Segundo o autor, naquele tempo predominava a
eugenia, que incluía ideias científicas sobre raça, conforme as quais os negros eram
inferiores e os mulatos, degenerados. Também se colocava que climas tropicais
como o do Brasil enfraqueciam a integridade biológica e mental dos seres humanos,
afirmando-se a ideia dos eugenistas do século XIX de que a população brasileira
exemplificava a degeneração biológica.
Importante para as primeiras argumentações racistas no Brasil foi Raimundo
Nina Rodrigues, um professor da importante Escola de Medicina da Bahia, seguidor
do criminologista italiano Cesare Lombroso (1835 – 1909) – médico que ficou
famoso por medir a capacidade cranial para determinar a inteligência e que
considerava que a miscigenação levava à degeneração.
De acordo a Telles (2004), Nina Rodrigues previu que o futuro do Brasil,
especialmente no norte do país, seria etnicamente negro ou mestiço e foi o primeiro
cientista brasileiro a conduzir um estudo etnográfico da origem africana da
população, declarando que os africanos eram inequivocamente inferiores. Nina
Rodrigues acreditava que os negros tinham suas capacidades reduzidas. No
entanto, não manifestava a mesma afirmação para os mulatos, o que se atribui a
sua própria condição, já que ele mesmo podia ser definido como mulato.
Nessa vertente de interpretações, os mulatos eram distintos dos índios e
negros de sangue puro e muitas vezes havia uma opinião “otimista” de que eles se
assemelhavam aos brancos. (RODRIGUES, 1935).
As teorias difundidas na década de 1930 e 1940, como o evolucionismo,
influenciaram o pensamento social brasileiro presente na obra de Nina Rodrigues. A
ideia de controle social se faz possível na promoção que o autor faz a partir de uma
classificação das raças, o que implica a diferenciação de penas para criminosos,
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segundo suas tendências biologicamente determinadas. Neste sentido, o importante
seria o criminoso e não o crime (RODRIGUES, 1935, P.182).
O evolucionismo foi para Nina Rodrigues uma verdade inquestionável, todo o
seu pensamento foi delimitado nessa teoria. Nessa interpretação, as raças, ainda
que misturadas, preservam suas tendências instintivas e inatas. Reafirma-se a ideia
de que, para esse autor, os negros são inferiores e assim permanecerão. Foram
ideias que tiveram influência no Brasil e algumas ainda permanecem, ainda que
cientificamente superadas, mas que definem formas de se relacionar no racismo,
discriminação e preconceito.
Um dos fundadores da antropologia moderna, Franz Boas, em seu texto
"Raça e Progresso" (1931), aborda a temática da eugenia e da mistura dos "tipos
raciais", devido ao contexto histórico da ascensão do Nazismo. O autor critica o
"método comparativo" evolucionista e aponta para a riqueza da diversidade cultural
existente e para a limitação de se enxergar a história dos povos como um programa
fixo, linear e unidirecional.
Cada cultura deve ser vista como única e no seu particular. A crítica ao
determinismo biológico e às idéias de eugenia mostra quão falhos eram os aspectos
"científicos" que legitimavam para os intelectuais as diferenças raciais.
Boas (1931) via que as relações fisiológicas do corpo estavam estreitamente
ligadas às condições de qualidade. Além de que grupos diferentes na aparência,
quando submetidos às mesmas condições sociais e ambientes, tinham a mesma
reação fisiológica.
Embora os indivíduos difiram em alguns aspectos, as diferenças entre as
raças são pequenas. Portanto, não há razões para se acreditar que uma raça seja
naturalmente mais inteligente, dotada de grande força de vontade, ou
emocionalmente mais estável do que outra, e que essa diferença iria influenciar
significativamente sua cultura (BOAS, 1931).
No percurso das interpretações de raça, acontece uma mudança
metodológica fundamental que alterou o discurso racialista. A ideia de raça é
substituída pela ideia de cultura; passa-se a defender as diversidades culturais e as
múltiplas maneiras que cada grupo encontra para resolver os obstáculos de
natureza.
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Boas irá influenciar diretamente o autor brasileiro Gilberto Freyre, que
aprendeu a considerar a diferença entre raça e cultura, discriminar entre os efeitos
de relações puramente genéticas e os de influência social, de herança cultural e do
meio. Freyre considera que foi a miscigenação praticada no Brasil que garantiu a
correção da distância social que, de outro modo, teria adquirido grandes distâncias
entre a casa-grande e a mata tropical; entre a casa-grande e a senzala. (FREYRE,
1998).
A existência de uma ideologia da miscigenação democrática é um produto
recente na história do Brasil. Não é possível falar de raça e racismo no Brasil sem
tocar também na discussão de democracia racial. Todo o pensamento social
brasileiro está permeado pela construção de um país harmônico, bom para todos,
sem distinções, em especial de raça.
O mito da democracia racial considera a ideia da igualdade de oportunidades
para brancos, pretos e mestiços. Estas ideias se fortalecem em duas ordens de
argumentos: primeiro, a forte determinação dos critérios de classe no processo de
atribuições de status e de relacionamento individual; segundo, a ausência de
hostilidade manifesta e de violência entre brancos e pessoas de cor (AZEVEDO,
1975).
O Brasil sempre se apresentou, de maneira muito intensa, como uma nação
sem conflitos de cunho racial, cultural e religioso, um motivo de orgulho nacional. A
ausência de preconceito e tensões é uma imagem difundida do país, definindo as
relações raciais como amistosas e não discriminativas. Essa ideologia que perpassa
quase todo o século XX promove que os brasileiros não se identifiquem como
racistas embora reconheçam o racismo no outro.
Essa interpretação das relações raciais possibilitou que a ONU
encomendasse um trabalho de pesquisa a Florestan Fernandes com o intuito de
destacar a positividade das relações raciais no Brasil. No entanto, os resultados das
pesquisas deste autor se encaminharam para uma interpretação oposta e acabaram
por desmascarar as condições de racismo existentes no Brasil.
Num período posterior, Hasenlbag (1988, 1990) e Silva (1988) confirmaram
as conclusões de Fernandes por meio de consolidadas pesquisas, que observaram
as desigualdades contundentes reveladoras de profundos processos históricos de
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discriminação. Estudos ainda mais estabilizados por dados revelados por autores
como Osorio e Soares (2005) também sustentam o quadro de discriminação já
intuído por Florestan Fernandes.
Estes estudos foram deslegitimando a teoria da democracia racial, que
contribuiu por longo tempo para a despolitização das relações raciais, por encobrir
mecanismos de dominação e subordinação imbuídas no cotidiano das pessoas, e
reproduzidas pelas políticas sociais e econômicas, assim como também pelos
processos de socialização (HANCHARD, 2001).
Os caminhos interpretativos das relações raciais assumiram no Brasil a
miscigenação e a democracia racial como fórmula para o branqueamento que
possibilitaria a diluição da cor. Em outros lugares, como na África do Sul e nos
Estados Unidos, primou a segregação, que consiste na separação dos diversos
setores pela sua origem étnica ou “raça”.
A segregação como uma política de estado ficou conhecida pelo apartheid na
África do Sul e pelas leis de Jim Crow nos Estados Unidos. Também a segregação
pode se constituir em base a atitudes de algum setor que produz a discriminação
fundamentada na distinção racial. No Brasil, a segregação é diagnosticada. Grupos
sociais encontram-se afastados, literalmente segregados em territórios planejados
sob o recorte de cor e classe. A diferença é a não formalidade da política.
Um dado curioso e muito enunciativo é o acontecido com o então presidente
dos Estados Unidos, John Kennedy, em sua visita ao Brasil para proferir uma
palestra na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro em 1967. Nessa
Kennedy foi agredido por um grupo de estudantes que alegavam estar contra o ódio
racial norte-americano, situação na qual ele reage fazendo a seguinte pergunta: “e
os negros brasileiros, por que não estou vendo nenhum aqui entre vocês?”, pergunta
que fica sem resposta. Na sequência o mandatário estadunidense se refere a uma
alegoria para explicar a diferença da questão racial nos Estados Unidos e Brasil:
Nos Estados Unidos o negro tem uma pistola apontada para sua cabeça; no Brasil, ela está apontada para suas costas. Para quem segura a pistola, a segunda situação, é, sem dúvida, mais cômoda. (RUFINO, 1984, p.46).
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Essa alegoria, sem dúvida, retrata as relações raciais brasileiras no que diz
respeito à necessidade de colocar o país como um lugar de não conflito de cunho
racial. A ideia de uma democracia racial possibilitou que qualquer problema que
traga como base o racial seja considerado individual e não coletivo. Contudo, o caso
dos homicídios no Brasil, dentro de toda a problemática da população negra,
desconstrói tal cenário.
Neste trabalho considera-se o conceito de raça como socialmente construído,
que tem como intuito a hierarquização dos seres humanos para sua dominação,
submissão e muitas vezes exploração. A noção de raça, que ainda permeia o
imaginário social brasileiro, tem sido utilizada para excluir ou alocar indivíduos em
determinadas posições na estrutura social e também para deixá-los viver ou morrer.
(SILVA e CARNEIRO, 2009, p. 14). Deixar viver ou morrer, no Brasil, só pode ser
lido pelo viés racial.
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3. JUVENTUDES: SER JOVEM E NEGRO FAZ DIFERENÇA
A observação sociológica nos ensina que pertencer a uma geração é
apreender um conjunto de ideias, influências, saberes, filiações indenitárias e
valores. E, para compreender de uma forma mais ampla o que seria modos de vida
na perspectiva sociológica, tem-se como referência que: “a sociedade é a ideia que
ela forma de si mesma”, ou seja, as representações sociais, normas, valores,
atitudes e ideologias são noções socialmente construídas e auto-reflexivas que
origina as identidades sociais (DURKHEIM, 1978). Assim, os modos de vida são
diferentes entre si porque diferentes são os valores que orientam esses estilos.
Compreende-se a juventude e a velhice não como “dados”, mas como
construções sociais, nas quais a idade é um dado biológico socialmente
manipulável. De forma relativista acredita-se que “sempre seremos o jovem ou o
velho de alguém” (BOURDIEU, 1983, p. 112 a 121). Dessa maneira, a juventude
seria uma categoria socialmente construída e estruturada segundo algumas
condições, como a de classe, gênero e raça. O que “acabam sempre por impor
limites e produzir uma ordem onde cada um deve se manter em seu lugar”
(BOURDIEU, 1983, p. 112).
De acordo com a tabela Pirâmide Etária, Censo de 2010 – IBGE, a população
jovem no Brasil, de 15 a 29 anos, soma 256.093,83 de brasileiros. E, de acordo com
a Fundação Perseu Abramo, os (as) jovens negros (as) chegam a 16 milhões de
pessoas, considerando-se um percentual de 47% negros (as) na juventude
brasileira1.
Se analisarmos os dados sobre desigualdade social, poderemos constatar
que realidades diferentes se apresentam à juventude brasileira, ainda que tenhamos
vivenciado na última década algumas mudanças em acesso a direitos, tentativas de
promoção de igualdade racial, como por exemplo, a implementação de política de
ação afirmativa voltada ao ensino superior. Dados recentes indicam o sucesso da
política, comprovado pelo bom desempenho dos alunos cotistas raciais.
1 Dados que embasam o material de divulgação e relatório final do I Encontro Nacional de Juventude Negra - ENJUNE.
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No entanto, os dados apresentados pelo IBGE – 2010 apontam que ainda
existe grande diferença no acesso a níveis de ensino pela população negra. No
grupo de pessoas de 15 a 24 anos que frequentavam o nível superior, 31,1% dos
estudantes eram brancos, enquanto apenas 12,8% eram pretos e 13,4% pardos.
Isso obviamente só comprova a necessidade e importância da implementação de
política de ação afirmativa voltada a esse campo, bem como a necessidade de se
pensar propostas de inclusão e permanência nos outros níveis de ensino e nos
espaços do trabalho.
Quando tratamos de índices de violência constata-se que não existem boas
noticiais para os(as) jovens negros(as). O mapa da violência construído por
Waiselfisz (2012) comprova que homicídios de jovens negros seguem crescendo no
Brasil, embora a criminalidade de jovens brancos tenha diminuído. O mesmo
documento aponta que em 2011 os jovens negros passaram a sofrer 76,9% das
mortes violentas.
Os registros do Mapa da Violência – 2012 apontam que entre 2002 e 2010
morreram assassinados no país 272.422 cidadãos negros(as), o que dá uma média
de 30.269 assassinatos por ano.
Júlio Jacob (2012) informa que, em 2010, 34.983 pessoas foram mortas na
cruenta Guerra do Iraque; as estimativas mais elevadas indicam que de 2003 até
fins de 2009 morreram 110 mil pessoas, incluindo civis, o que significa 15,7 mil por
ano. No Brasil, país que não aparenta ter conflitos raciais ou políticos, morre
assassinado o dobro de cidadãos negros(as) todos os anos e mais do triplo – 52.260
em 2010 – de seus habitantes de todas as raças e cores.
Sendo a violência um fator preponderante na vida dos jovens negros(as),
compreende-se, como postula Chaui (1999), como:
(...) um ato de brutalidade, sevícia e abuso físico e/ou psíquico contra alguém e caracteriza relações intersubjetivas e sociais definidas pela opressão e intimidação, pelo medo e o terror. A violência se opõe à ética porque trata seres racionais e sensíveis, dotados de linguagem e de liberdade, como se fossem coisas, isto é, irracionais, mudos e inertes ou passivos. (CHAUÍ, 1999, p. 3-5).
Análises sobre homicídios no Brasil têm apontado alguns fenômenos
relevantes, como interiorização e desconcentração espacial da violência, redução da
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violência em grandes centros e elevadas taxas de homicídio juvenil. Um alto nível de
homicídios está, em geral, relacionado com uma estrutura social que enfrenta alta
presença de outros tipos de violência. (IPEA, 2012).
Em análise das taxas de homicídios desagregadas por cor ou raça, de 2002
até 2009, verifica-se:
(...) redução do índice para a população total e para a população branca (respectivamente, queda de 6,4% e 21,4%), ao passo que a população negra experimentou aumento de 1,7% no mesmo indicador. Há que se ponderar que o ano de referência (2002) é considerado momento de alta dos eventos de homicídios, oferecendo, assim, um parâmetro mais elevado para a análise. Ainda assim, a taxa de homicídios da população negra em 2009 conseguiu superar os números desse período crítico. (IPEA, 2012).
A população negra carrega alguns estigmas, nesse caso, em especial, o(a)
jovem negro(a). O termo “estigma”, entre os antigos gregos, designava "sinais
corporais com os quais se procurava evidenciar alguma coisa de extraordinário ou
de mau acerca do estatuto moral de quem os apresentava"; tratava-se de marcas
corporais, feitas com cortes ou com fogo, que identificavam de imediato um escravo
ou um criminoso. (GOFFMAN, 1963, p.11-13).
O conceito atual é mais amplo; considera-se estigmatizante qualquer
característica, não necessariamente física ou visível, que não se coaduna com o
quadro de expectativas sociais acerca de determinado indivíduo. Todas as
sociedades definem categorias acerca dos atributos considerados naturais, normais
e comuns do ser humano - identidade social virtual. O indivíduo estigmatizado é
aquele cuja identidade social real inclui qualquer atributo que frustra as expectativas
de normalidade (GOFFMAN, 1963, p.52-53).
Como já citado anteriormente, políticas de ações afirmativas foram
implementadas no Brasil com o intuito de promover a igualdade racial, tão urgente e
necessária. No entanto, estamos diante de uma realidade que comprova, sem
exagero, que a política implementada no período colonial é ainda fortemente
praticada no país. O que podemos chamar de “medo branco” continua a promover
um “massacre negro” com novas estratégias ou talvez não tão novas assim, só mais
modernas.
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Um problema social se apresenta em especial à juventude negra. Novas
políticas públicas, na educação, mercado de trabalho, entre outras, podem ser
comprometidas pela falta de mudanças em estrutura e instituições que não seguiram
os passos da tão sonhada democracia brasileira.
Se considerarmos a vida como o principal bem a ser preservado pelo Estado
e a juventude como sendo o futuro de uma nação, iremos constatar que o Brasil tem
negado um bem precioso a grande parte da sua população e, em decorrência, o que
podemos esperar não é um futuro promissor.
O Estado não tem conseguido garantir o direito de grande parte da sua
população, o de crescer e se desenvolver social, cultural, econômica e
politicamente. Dentre as diversas deficiências que se apresentam, existe um
problema central que o movimento negro tem abordado nas suas Campanhas em
torno do problema da violência e do racismo: o modelo de segurança pública, em
especial o modelo de polícia brasileira.
O movimento negro brasileiro tem denunciado que, dentro da estrutura social,
o Estado brasileiro tem-se preocupado muito mais, em relação aos jovens negros,
com o deixar morrer, tendo participação direta em suas mortes. A preservação da
vida dos(as) jovens negros(as) não tem sido tarefa desempenhada pelo Estado
brasileiro, que tem destinado e garantido à população negra as políticas de polícia.
Dessa maneira, o que define em especial a esse grupo, pelas suas práticas, é a
política de controle social perverso.
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4. EGURANÇA PÚBLICA E INSEGURANÇA PÚBLICA
O Estado deve garantir a segurança dos indivíduos, em especial a
preservação de suas vidas. No entanto, existem sérias incoerências em referencia à
segurança e preservação da vida da população negra, em especial dos jovens
negros.
Thomas Hobbes, no seu livro O Leviatã, argumenta que o Estado nasce para
garantir a segurança do indivíduo. Com a criação do Estado, as pessoas trocaram
sua liberdade pela segurança, renunciando ao direito a todas as coisas, para
garantir a paz e poupar a própria vida. (HOBBES, 1997).
Michel Foucault (1999), no livro “Em Defesa da Sociedade”, postula que o
direito do soberano de fazer morrer ou deixar viver se completa no século XIX com
um direito novo, que não apaga o primeiro, mas vai penetrá-lo, modificá-lo,
tornando-se justamente o inverso: poder de “fazer” viver e de “deixar” morrer. O
direito que se instala é de fazer viver e de deixar morrer. (FOUCAULT, 1999, p. 287).
No plano do contrato social, os indivíduos o fazem porque estão premidos pelo perigo e pela necessidade. Eles o fazem, por conseguinte, para proteger a vida. É para poderem viver que constituem um soberano. (FOUCAULT, 1999, p. 287).
De acordo com Foucault, nas sociedades normatizadas a segurança da vida
passa pelo velho direito de matar e esta ideia perversa e é assumida a partir de um
racismo. A raça é que viria a definir quem deve viver e quem deve morrer; à medida
que a raça considerada ruim é aniquilada, a vida vai se tornando mais sadia e mais
pura.
O modelo weberiano de Estado reclama para si um elemento fundamental
para sua conservação: o monopólio legítimo do uso da coerção física, da violência
em prol da manutenção da ordem. O Estado moderno toma para si o monopólio
legítimo da coação física, pois algo específico da atualidade é que a todas as
demais associações ou pessoas individuais se atribuem o direito de exercer coação
física na medida em que o Estado o permita. (WEBER, 2004).
O Estado pretende estabelecer a ordem a partir do controle social. De acordo
com Belatto (2008), diferentes linhas de argumentação conceituam as formas de
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controle social. A forma mais ideal, positiva, seria aquela que exerce seus
mecanismos de controle por intermédio da integração social, ou seja, pelo acesso de
bens e serviços materiais ou simbólicos que podem produzir certo equilíbrio
estrutural espontâneo.
A autora postula que o termo controle social e os problemas que ele envolve
têm distintos significados e não há um acordo quanto a sua definição e campo de
ação, mesmo no âmbito das ciências sociais.
A ideia utilizada de controle social do ponto de vista sociológico, em uma
visão mais clássica, encontra-se bem resumida no pensamento de Durkheim:
(...) é um conjunto de modelos culturais, símbolos sociais, significados espirituais coletivos, valores, idéias e ideais, assim como também as ações e os processos diretamente relacionados com eles, mediante os quais toda a sociedade, todo grupo particular e todo membro individual componente vencem as tensões e os conflitos interiores próprios e restabelecem um equilíbrio interno temporário, o que os dá a possibilidade de seguir adiante com novos esforços de criação coletiva (GURVITCH, 1965, p. 265).
Já o controle social perverso constitui-se através dos mecanismos que o
Estado adota no enfrentamento da criminalidade, bem como nas dinâmicas da
estigmatização que estas práticas de controle perverso impõem a uma categoria
social específica: a dos pobres (Moraes, 2006).
A segurança pública seria um efeito de controle social. Portanto resultado de
um processo de integração e interação entre os membros de uma determinada
sociedade, capaz de gerar a sensação de segurança ou de ausência de medo, em
espaços públicos e privados. (MORAES, BERLATTO, 2011).
Em regimes democráticos, o conceito de segurança pública tende a fazer
referência principalmente à garantia dos direitos dos cidadãos, particularmente o
direito à vida, à liberdade e à igualdade de todos perante a lei, elementos
fundamentais do “Estado de direito” (MESQUITA, 2011, p. 33). Portanto, cabendo
ao Estado à garantia de direitos, de acesso aos seus serviços sem qualquer
distinção, de classe, raça, gênero e idade.
No Brasil, assim como em outros países da América Latina, onde se
estabeleceram regimes autoritários, dos anos 1960 a 1980, o conceito de segurança
pública ganhou uma conotação negativa, sendo associado ao conceito de segurança
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interna e segurança nacional, indicando a segurança do Estado ou do governo mais
do que a segurança dos cidadãos (MESQUITA, 2011). Em 1988, segurança pública
passou a ser tratada como instrumentos de “defesa do Estado e das instituições
democráticas”, juntamente com as polícias federais, as polícias estaduais e as
guardas municipais. As policiais militares e os corpos de bombeiros militares são
considerados na Constituição de 1988, como na de 1967, “forças auxiliares, reserva
do Exército” (MESQUITA, 2011, p. 34).
A Constituição Federal de 1988 adotou o conceito de “segurança pública” de
forma ambígua e imprecisa. Na Constituição de 1988, a segurança pública é uma
função de organizações estatais especializadas, mais especificamente das policiais
e corpos de bombeiros, voltadas para a proteção da ordem pública, das pessoas e
do patrimônio (MESQUITA, 2011, p. 35). O autor apresenta a transição para a
democracia como um processo incompleto, e as organizações estatais responsáveis
pela segurança pública passam a se dedicar à proteção dos cidadãos, mas sem
abrir mão da sua função principal de proteção do Estado ou do governo
(MESQUITA, 2011, p. 35).
No Brasil, o termo tem sido reduzido à manutenção da ordem. Isso ocorre por
ser a segurança pública de responsabilidade de duas instituições, sistema de justiça
criminal - as policiais, e as políticas das Secretarias Estaduais de Segurança
Pública. O modelo de Segurança Pública como sinônimo de manutenção da ordem
reúne problemas sérios, como a escalada ou estabilização em patamares altos da
taxa de homicídios (MORAES, BELOTTO, 2011).
Pode-se perceber que a transição democrática não passou pela segurança
pública. Em especial ao focarmos nas regras internas da Polícia Militar.
Thomas Holloway (1997), no livro A Polícia no Rio de Janeiro, apresenta a
criação da polícia no Brasil e o seu papel, definida nas seguintes palavras:
As instituições policiais de tipo moderno surgiram no Brasil durante a multifacetada transição do século XVIII para o XIX. As instituições estatais assumiram a autoridade que antes era exercida principalmente pelas hierarquias personalistas. As mudanças conexas incluíram a transição da vontade arbitrária do soberano para procedimentos judiciais baseados amplamente nos direitos do homem e do cidadão, bem como a tortura pública para o encarceramento disciplinar como meio de punição, além da criação de instituições burocráticas como a polícia, para preencher o espaço público. Usando a polícia o Estado assumiu a tarefa de proteger a
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sociedade – controle do comportamento público. (HOLLOWAY, 1997, p. 21).
O modelo de polícia que nasce do Rio de Janeiro é o modelo que se adota no
Brasil. A polícia assumiu o papel de proteger uma parte da sua população da outra
parte, aquela que ocupava as ruas.
Desde o inicio a polícia se organizou como instituição militar, de modo que sua força coercitiva podia ser controlada pela disciplina, canalizada pela hierarquia e dirigida a alvos específicos. A justificativa fundamental das organizações militares é concentrar, regular e dirigir forças contra o inimigo. O inimigo do Rio de Janeiro era a própria sociedade – não a sociedade como um todo, mas os que violavam as regras de comportamento estabelecidas pela elite política que criou a polícia e dirigiu a sua ação. (HOLLOWAY, 1997, p. 50).
A polícia no Brasil nasce para o controle das classes perigosas. Na Colônia,
tais classes eram compostas de escravos, pretos libertos, capoeiristas e alguns
imigrantes, e os métodos da polícia, na relação com esta população, “espelhavam a
violência e brutalidade da vida nas ruas e da sociedade escravocrata em geral”
(HOLLOWAY, 1997, p. 50). Ainda hoje, tais classes são representadas basicamente
pelos mesmos indivíduos, jovens, pobres, territorialmente localizados e negros(as).
A democracia não influenciou as regras internas da polícia militar, e os
problemas de tal estrutura se apresentam cotidianamente nas ruas dos grandes
centros urbanos. Podemos constar que o inimigo interno do Estado também não
mudou, segue sendo a população negra, em especial a juventude negra, que
continua carregando o perfil de perturbador da ordem, o inimigo a ser combatido e
eliminado.
O sistema de justiça criminal, seus entes e dinâmicas, incidem seletivamente sobre a população pobre que, por sua vez, possui o maior contingente de negros e moradores de periferia, numa dinâmica que Coelho (1978) chamou de criminalização da marginalidade. O sistema de justiça criminal também não protege adequadamente as categorias sociais expostas à violência de gênero, como a população LGBT e mulheres. Há ainda o fenômeno da participação dos agentes estatais na reprodução ou ampliação dos índices de violência, por exemplo, no alto índice de assassinatos executados por policiais sob a alegação de “auto de resistência”, ou nos casos de corrupção e envolvimento direto com o trafico de drogas e, de forma cada vez mais incisiva e ampliada, pela ação das milícias em territórios pauperizados. (MORAES, BELATTO, 2011).
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Essa ação policial revela um modelo de segurança pública centrado na ideia
de guerra contra um inimigo, ou seja, na articulação entre a militarização da polícia e
a policialização da sociedade, elementos que funcionam como formas de controle
social perverso na medida em que criminalizam a pobreza e produzem medo por
intermédio da estigmatização dos pobres, mais especialmente, como aqui tratado,
jovens negros (MORAES, 2006).
A segurança pública brasileira até poderá ser entendida para parte da sua
população, como um serviço do Estado para proteção da vida e garantia da
liberdade. No entanto, esse não é um sentimento vivenciado por todos (as) os(as)
cidadãos(as).
Grande parte da população composta por negros (as), pobres e moradores de
se caracteriza como o grupo que o braço armado do Estado age em proteção a
outra parte populacional. As polícias no Brasil continuam a serviço de uma elite
econômica e política, eliminando constantemente o perigo, a ameaça.
No entanto, a polícia não pode ser separada da sociedade que lhe deu tal
forma. Cada um tem a polícia que merece. Se os policiais correspondem às
expectativas é somente porque há expectadores (SANTIAGO, 2006).
As altas taxas de homicídios no Brasil só podem ser lidas pelo viés racial.
Portanto, as relações raciais e sociais e o tipo de racismo brasileiro ainda constituem
importante base de análise da sociedade brasileira e sua constituição.
Vilma Reis, socióloga, professora da UFBA, militante negra - Conselho de
Desenvolvimento da Comunidade Negra – BA, em depoimento dado à CPI da
Violência Urbana (2009), faz a seguinte colocação no final de sua fala:
“(...) Não estamos falando de um Estado paralelo. Mas de um Estado organizado para matar negros. Um Estado secularmente organizado para matar negros (...). A existência de policias no Brasil, data do inicio do século XIX, nasceram e foram organizadas para caçar e matar negros. E por isso que o modelo policial ele é incompatível com a nossa existência. (...). Porque estamos falando de instituições erguidas para caçar, torturar, humilhar e matar negros. Eu termino dizendo que nós não vamos morrer em
silêncio.” (CPI Violência Urbana, BAHIA, 2009)2.
2 Vídeo da CPI, dividido em partes. Aqui citada, 2ª parte:
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=ne6ou89YXWk#at=17.
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A criação das polícias no Brasil e os dados aqui apresentados demonstram
que estamos diante de um problema social importante a ser investigado, o processo
de genocídio e extermínio de jovens negros(as), com participação direta do Estado,
em especial, por meio da ação violenta da polícia.
A sociedade civil organizada, as instituições públicas e privadas e o poder
público precisam olhar com mais atenção para tal cenário brasileiro. São vitimas de
homicídios no país um número alarmante de sujeitos do mesmo sexo, idade e cor de
pele.
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5. A CIDADE DE CURITIBA E O TEMA DO RACISMO, VIOLÊNCIA E POLÍCIA
Um histórico da constituição da cidade de Curitiba é importante ao falarmos
de racismo, juventude e violência. Curitiba é a capital do estado mais negro da
região Sul do país. No Paraná, um pouco mais de 28% da sua população que se
declara preta e parda; em Curitiba, um pouco mais de 25%, de acordo com os dados
do IBGE 2012.
Esses dados são significativos na tradução da representatividade
populacional negra e significativos ao discutirmos a construção dada ao Paraná
enquanto um estado branco, de descendência europeia por excelência.
A cidade de Curitiba se constrói como uma “capital europeia”. Essa
construção irá se traduzir na invisibilidade da população negra na construção do
estado e consequentemente da sua capital, bem como no estranhamento de alguns
sujeitos negros (as) no trânsito por alguns espaços da cidade.
Garantiu-se ao longo da história o discurso de que o Paraná e sua capital,
Curitiba, seriam, como afirmou WILSON (1955), “Um Brasil Diferente”, ou seja,
diferente do resto do Brasil, ignorando a participação dos(as) negros(as) na sua
construção econômica, política e cultural, inclusive as contribuições para a cidade do
trabalho escravo e principalmente do trabalho dos negros libertos que participaram
da construção e erguimento da capital.
O investimento do poder público privilegiou na arquitetura e na urbanidade da
cidade as etnias mais valorizadas política, econômica e culturalmente. Dessa
maneira, se garante a participação de alguns grupos étnicos/raciais privilegiados e
nega-se outros, em especial as contribuições da população negra.
Estes grupos étnico/raciais privilegiados são homenageados com
monumentos e praças: Bosque do Papa (homenagem aos poloneses), Portal Italiano
de Santa Felicidade, Parque Tingui (população ucraniana), Praça do Japão, entre
outros. No entanto, os referenciais que podemos citar em lembrança à população
negra não existem ou são escondidos ou negados.
Algumas das poucas referências construídas pelo poder público em
homenagem à população negra são uma placa de granito feito pela Câmara de
Vereadores, localizada na Praça Santos Andrade, oculta em meio às flores da Praça
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e outra referência é a Praça Zumbi, localizada no bairro Pinheirinho, região pobre,
completamente esquecida pelos investimentos do estado, em todos os sentidos.
Em Curitiba foi reforçado muito intensamente pela gestão municipal de Rafael
Greca de Macedo o mito local de que o Paraná e Curitiba seriam, como escreveu
Wilson Martins, “Um Brasil Diferente”. O que o autor vai considerar “diferente” é,
segundo suas próprias palavras, que “Não houve escravidão no Paraná”.
A invisibilidade da população negra também é cultivada pelos historiadores
nativos, a exemplo de Romário Martins e Wilson Martins, que negaram ou
minimizaram a presença negra no estado. Dessa maneira, temos uma história e uma
arquitetura que sistematicamente negam o direito à existência negra pela produção
de sua invisibilidade. Mesmo com os dados do IBGE, que demonstram a declaração
de parte significativa da população como pretas ou pardas, essa inexiste no discurso
oficial. “Invisibilizar tamanho grupo social só é possível por intermédio de um longo
processo de negação, exclusão e violência” (MORAES, 1998).
O Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba – IPPUC, no
caderno população – análise de censo - 2010, trás o número de população branca e
o percentual de pretos e pardos. No entanto, essa divisão da população por
raça/cor, desaparece dos demais cadernos temáticos: segurança, moradia, pobreza,
entre outros. Não sendo possível saber onde está a população negra de Curitiba,
qual é o seu perfil, onde moram.
Sendo essas informações possíveis de serem apresentadas, considerando
que o Instituto informa detalhadamente a população total por bairro, seu perfil, idade,
sexo, quantos nasceram e quantos morreram, entre outras. Não identificar a
população negra na cidade e as suas condições, traduz esse processo de
invisibilidade.
Nesse sentido, algumas perguntas sociológicas se fazem necessárias. A
principal seria sobre os desdobramentos sociais para o grupo negado. Podemos
dizer, sem dúvida, que os problemas da invisibilidade são vários: a falta de
oportunidades, a dificuldade de transitar pelos espaços sociais, a dificuldade da
mobilidade social, fatores que são mediados pelo preconceito racial.
Estamos considerando que o racismo e preconceito racial são um problema
social brasileiro; no entanto, esse problema pode se potencializar diante da sua total
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negação de existência. Esse preconceito racial se manifesta no cotidiano, e
pesquisas indicam que ele se mostra em diversos campos, inclusive na relação da
polícia com os jovens negros da cidade.
Antes de exibir o envolvimento dos temas, racismo, violência, segurança
pública e juventude, é necessária uma breve apresentação da Polícia Militar do
estado do Paraná, especialmente sua característica de policiamento ostensivo e
relação com casos de homicídios relacionados.
Todo o material para essa abordagem foi retirado de dois trabalhos
monográficos de autoria de Marcelo Bordin: “A Falência do Modelo Brasileiro de
Policiamento Ostensivo e sua Relação com o Aumento da Criminalidade em Curitiba
1992 – 2002” (2004) e “A Política de Segurança Pública no Governo Jaime Lerner
1995-2003” (2005).
A Polícia Militar do estado do Paraná tema seguinte configuração:
É um órgão da administração direta do estado está dividido em três comandos, o CPC (Comando do Policiamento da Capital), CPI (Comando do Policiamento do Interior) e CCB (Comando do Corpo de Bombeiros). A estrutura da polícia militar ainda conta com o Comando Geral e suas seções (PM1 (Pessoal), PM2 (Informações), PM3 (Planejamento e Estatística), PM4 (Logística), PM5 (Relações Públicas) e PM6 (Planejamento orçamentário), tendo ainda uma Diretoria de Ensino, uma de Apoio Logístico e uma de Pessoal, sendo essas três diretorias órgãos de apoio. Nas unidades restantes (Batalhões e Companhias) a divisão administrativa segue o mesmo modelo, exceto pela Sexta Seção, que é exclusiva do Comando Geral. (BORDIN, 2004, p. 24).
3
Em Curitiba o policiamento ainda é reforçado pela Companhia de Polícia de
Choque através de sua subunidade RONE (Rondas Ostensivas de Natureza
Especial). A Companhia de Choque possui um Canil e uma unidade de operações
especiais, COE (Comando e Operações Especiais), que atua em situações com
reféns e explosivos (BORDIN, 2004, p. 25). A Companhia de Choque atualmente
(2013)é denominada Batalhão de Operações Especiais – BOPE, e está subdividida
em companhias de Operações com Cães, RONE, Comandos e Operações Especiais
– COE e Companhias de Choque para controle de distúrbios civis.
3 Atualmente foram extintos o CPC e o CPI, e foram criados Comandos Regionais de Polícia
Militar (CRPM´s), que congregam alguns batalhões em determinadas regiões, conforme informado:
http://www.policiamilitar.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=10
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As forças policiais brasileiras mantiveram o mesmo formato do começo do
século XX, sofrendo transformações após o golpe militar de 1964. Até esse período
a Polícia Civil era responsável pelo policiamento ostensivo em muitas cidades, em
especial nas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo. Após essa data, as polícias
militares passaram a ter a função de combate ao comunismo, tornando-se o
policiamento ostensivo no Brasil.
O Estado do Paraná na década de 1990 teve um acréscimo no número de
ocorrências criminais e consequentemente um aumento na repressão policial. O
estado faz um intercâmbio da sua polícia militar com polícias estaduais de outros
países, em especial Estados Unidos e Israel.
Esse intercâmbio, em especial com a PM paulista, especificamente no 1º Batalhão de Choque, onde estão situadas às tristemente famosas Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (ROTA), alimentou ainda mais um modelo de guerra contra um inimigo que deve ser totalmente aniquilado, e também o treinamento em outros países, aonde a lógica de policiamento ostensivo é totalmente diferente e treinamento em situações de confronto é equivalente ao combate em uma guerra. (BORDIN, 2005,30).
O Paraná tem um aumento nos casos de homicídios, que subiram de 1.329
casos em 1996 para 2.266 em 2002.
A utilização de técnicas antiquadas e amparadas por mecanismos legais criados em um período ditatorial e mantidos em um período “democrático”, fez com que a repressão por parte das instituições policiais continuasse nos mesmos moldes gerando com isso um aumento no número de homicídios cometidos por policiais militares paranaenses em serviço durante o período de 1989 (18 casos) até 2004 (80 casos), atingindo um pico de 110 casos em 2001. (BORDIN, 2005, p, 30).
O Estado de São Paulo tem a maior força policial militar do país,
aproximadamente 85 mil homens e mulheres, e tem uma média anual de civis
mortos em confrontos com policiais militares em serviço de aproximadamente de 300
casos. O Estado do Paraná possui aproximadamente 17 mil policiais militares e uma
média anual (de 1990 até 2004) de aproximadamente 89 casos de homicídios
cometidos por policiais militares em serviço. Se comparados, os policiais militares do
Paraná matam mais em serviço que os paulistas (BORDIN, 2005, p. 31).
A cidade de Curitiba presencia a triplicação dos números a partir de 1995,
saltando de cinco para quinze. Na Região Metropolitana, o número de civis mortos
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em confronto com policiais militares salta de um para quatro, chegando ao fim de
oito anos de governo Jaime Lerner com quarenta óbitos na capital e treze na região
metropolitana (BORDIN, 2005, 36).
Ao verificarmos os números de civis mortos em confrontos com policiais militares paranaenses em serviço a partir de 1990, notamos uma forte tendência no aumento desses números, independente de qualquer orientação política dos integrantes do governo estadual, ou seja, podemos observar que no período estudado a polícia militar não foi influenciada por políticas públicas formuladas pelo governo estadual, ou seja, apesar de uma influência governamental na política de Segurança Pública, verificamos que as tradições autoritárias ainda em voga nas instituições policiais militares são elemento norteador no que diz respeito à violência letal estatal e as violações dos direitos humanos (BORDIN, 2005, 36).
As mesmas técnicas de combate à criminalidade herdadas do regime militar
continuam a imperar. A violência policial e a perseguição às chamadas classes
perigosas não diminuem os registros criminais no país, como no Paraná e em
Curitiba. Ao contrário, cresce o número de registros de mortes nas ações policiais,
aumentando as taxas de homicídios com responsabilidade das ações policiais.
Pesquisas da UNESCO (1999) desenvolvidas em três grandes cidades
brasileiras, Rio de Janeiro, Fortaleza e Curitiba, abordam as múltiplas faces dos
jovens, seus dilemas e desafios, suas dúvidas e incertezas, suas alegrias e
sofrimentos, sonhos e desejos de futuro. São realizadas pesquisas em Curitiba
dentro do Projeto da UNESCO, que buscam compreender as relações entre
juventude, violência e cidadania. Tal estudo é publicado na obra produzida pela
pesquisa da UNESCO - Os Jovens de Curitiba: esperança e desencantos,
UNESCO, 1999.
O importante de observar nessa pesquisa é um elemento que se impõe como
tema fundamental – segurança pública, particularmente a violência policial. O tema
da segurança pública e a participação da polícia como temas de pesquisa não
tinham sido considerados inicialmente. Foram incorporados posteriormente devido à
recorrência na fala dos jovens sobre a violência policial como um problema
enfrentado por eles.
Em decorrência, foi acrescentado o 9º Capítulo, referente à Segurança
Pública. A pesquisa mostra que, entre os serviços públicos abordados para
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avaliação dos(as) jovens, a segurança obteve a pior avaliação. Ao abordar o que
os(as) jovens menos gostam na cidade, a violência aparece em primeiro lugar.
Os jovens pretos, pardos (negros) consideram a ação violenta da polícia
como o que mais detestam na cidade. Os abusos policiais estão presentes nas falas
e debates dos grupos focais considerados na pesquisa. Chama atenção a descrição
de momentos de extrema violência, que se caracterizam em tortura de meninos em
situação de rua, e as humilhações sofridas pelos jovens de grupos de
homossexuais.
O estudo confirma um indicativo da literatura, consolidados em outras
pesquisas - a violência policial tem um forte viés de discriminação social e racial. A
fala de um jovem negro ouvido reafirma que a chance de um jovem negro ser
abordado como suspeito é sempre maior. Tal como assevera o relato de um jovem
participante da pesquisa:
Eu acho que para os policiais o maior problema que acontece [é] contra negro, ainda mais se for pobre (...) Digamos, sou cidadão, ele é negro e pobre, sofreu uma discriminação no meio da rua, qual que é o primeiro passo: ele tem que ter testemunha, mas para ele chegar na delegacia e dar queixa contra um policial já tem um problema. Escola Pública/Meninos Negros/Noite. (UNESCO, 1999, p. 292).
Os(as) jovens negros(as), bem como outros grupos de jovens com maior
negação social, queixam-se de um tratamento diferenciado, em relação a outros
jovens, e que se constitui como maior violência do aparato policial.
O tema do racismo, juventude e violência policial é uma demanda identificada
na cidade de Curitiba pelos jovens, num determinado momento, quando são
indagados sobre os problemas enfrentados no seu cotidiano na cidade.
O Movimento Negro Unificado – MNU ganha um grupo na cidade de Curitiba
no dia 13 de maio de 1996. Sua fundação na cidade, assim como em São Paulo em
1978, é marcada por manifestação em praça pública, denunciando a morte de um
trabalhador negro - Carlos Adilson de Siqueira foi morto por skinheads no Largo da
Ordem. As manifestações em denúncia da morte de Carlos receberam lideranças
nacionais do MNU. Em conjunto com lideranças locais e devido a algumas iniciativas
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que objetivavam fundar uma seção no PR, criou-se o Núcleo Carlos Adilson de
Siqueira, em homenagem ao jovem negro assassinado. 4
No ano de 2004, o Fórum de Entidades Negras do Estado do Paraná
promoveu o I Seminário “Em defesa da vida, contra o racismo e a violência policial”.
O Seminário durou três dias e aconteceu no auditório do Quartel da Polícia Militar do
Paraná, com participação de oficiais nas falas e funcionários (as) do sistema judicial.
O seminário teve como programação: 1ª dia (11/05): Conferência – Segurança
Pública e relações raciais: proposições para uma nova práxis no seio das
instituições da Justiça e da Segurança Pública. No 2ª dia (12/05): Palestra 1:
Pressupostos do humanismo negro-africano: o ser humano como constitutivo de
uma Existência biomitica e/ou de uma sacralidade antológica (antropotheogônica);
palestra 2: Os órgãos de Segurança Pública e sua herança escravagista. Palestra 3:
Racismo e Violência Policial. 3ª dia (13/05): Palestra 1: Experiências de Polícia
Comunitária e do Policiamento Comunitário Brasileiro no enfrentamento da Violência
e das questões raciais. Palestra 2: Propostas de erradicação do racismo nos órgãos
da justiça, segurança pública e Defesa Social. Atividade final: Confecção e
Aprovação da Carta Proposta do Seminário.
O Fórum de Entidades Negras do Paraná, composto por um conjunto de
entidades do Movimento Negro do estado, neste momento está se propondo a
discutir a instituição militar, a ação da polícia e o sistema de justiça, identificando
como problema central desta ação, a violência e o racismo.
O “Mapa da Violência” (2008) colocava a cidade de Curitiba entre as mais
violenta da região Sul. Curitiba é um dos 556 municípios que concentram mais de
70% dos homicídios do país. As cidades que integram a lista representam apenas
10% do total de municípios, mas concentram 44,1% da população do Brasil. É o que
mostra o Mapa da Violência dos Municípios Brasileiros 2008, elaborado pela Rede
de informação Tecnológica Latino-america (RITLA). O estudo divulgou, ainda, que
Curitiba é a capital mais violenta da região Sul e a sétima do país, com 44,6
assassinatos por cada grupo de 100 mil habitantes.
4 Informações colhidas por escrito com Almira Maciel, militante do MNU em Curitiba.
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Com base nesse cenário, é importante pensar Curitiba associada às ideias de
violência e racismo. Nesse sentido, uma discussão que é pertinente e merece
sempre uma análise é aquela relativa à invisibilidade da população negra curitibana
e à construção da cidade enquanto uma capital europeia.
O estado do Paraná implementou recentemente as Unidade Paraná Seguro –
UPS, um Programa de Segurança Pública, uma versão paranaense das Unidades
de Polícia Pacificadora – UPPs, do Rio de Janeiro. O bairro Uberaba, em Curitiba,
recebeu a primeira unidade, no dia 01 de março de 2012. O então secretário de
Segurança Pública apresentou os objetivos do Programa em matéria veiculada pelo
Jornal Gazeta do Povo:
Reinaldo de Almeida César afirma que os objetivos são de “melhorar a condição da segurança pública no local, diminuindo a taxa de homicídios, problemas com tráfico de drogas, entre outros”. Ainda segundo o secretário, em entrevista para a TV local, a idéia da ação é que “em um momento subsequente, que nós iniciamos hoje, em um trabalho muito forte de policiamento comunitário por parte da Polícia Militar, na capacidade de polícia de proximidade, uma Polícia Militar amiga da população, com ações de políticas públicas que podem mudar a realidade de uma região”
5 (Gazeta
do Povo, 06/03/2012).
No entanto, essa amizade não foi estabelecida já na primeira invasão da
polícia, ao menos com o Ismael, jovem negro, portador de uma deficiência física em
uma das pernas e servente de pedreiro. Ele foi torturado e preso. Ismael teve o azar
de passar de bicicleta por uma viatura, às 17h, após um dia de trabalho, conforme
matéria da Gazeta do Povo:
Após pedalar por algumas quadras, foi avistado por uma viatura da PM que participa da Unidade do Paraná Seguro (UPS). Segundo ele, o veículo fez a volta e bloqueou a passagem. “Passou por nós, azar o seu. Cadê a arma?”, perguntou um dos policiais saindo da viatura. Ismael disse que não tinha qualquer arma. Outro policial o derrubou da bicicleta e, com o servente no chão, apertou-lhe a garganta. Outro deu um chute nas costelas e perguntou mais uma vez sobre uma arma. Ismael respondeu pedindo para que os policiais o acompanhassem até em casa, onde poderia apresentar documentos. Foi então colocado no camburão. Segundo ele, xingamentos racistas começaram a pipocar, e se tornaram a
5 Matéria completa no site:
http://www.gazetadopovo.com.br/pazsemvozemedo/conteudo.phtml?tl=1&id=1230463&tit=OAB-
denuncia-PMs-por-tortura
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forma-padrão de tratamento até o fim do cativeiro. (...) os policiais entraram na casa e começaram a vasculhar os cômodos, abrindo armários e jogando objetos no chão. Disseram que estavam procurando armas. “Temos um flagrante. Ele confessou que fez um assalto e a vítima já o reconheceu”, disse um PM. Enquanto isso, Ismael permanecia trancado na viatura estacionada do outro lado da rua. Ninguém podia vê-lo. (...). Após a busca no imóvel, que se revelou infrutífera, a patrulha foi embora levando Ismael. (...). Os policiais informaram que ele estava preso, mas não revelaram para qual delegacia seria levado. (Gazeta do Povo, 2012).
É importante ter em mente que tanto a UPS quanto as UPPs, implementadas
em quase todas as favelas do Rio de Janeiro, são um projeto de Segurança Pública,
destinado a uma parcela da população, concentrada territorialmente. O projeto se
traduz como uma política de controle social perverso destinado às tais classes
perigosas, pobres, negros e moradores de periferias. Dessa maneira, contradiz a
ideia de uma polícia comunitária, amiga e pacificadora. Bellato (2008) afirma:
A construção que se fez em Curitiba das suas etnias garantem a sujeição mais eficaz que o poder de polícia. O poder de polícia só vem a reforçar o controle social que se torna, graças à intermediação da violência extrema, perverso. (BELLATO, 2008, 65).
Tal cenário aqui exposto desmonta a propaganda de Curitiba como uma
capital europeia e ao mesmo tempo desmonta outra ideia preponderante que se
refere à Curitiba como cidade de primeiro mundo, na suposição de que apresenta
condições para assim ser nomeada. Curitiba mostra os mesmos problemas de
qualquer grande cidade: territorialização de determinados grupos, pobreza,
preconceito, entre outros. Automaticamente, as instituições reproduzem e
respondem a uma política estabelecida, que visa limpar a cidade dos indesejáveis.
Nesse sentido, ao falarmos de violência, racismo, juventude e segurança
pública, o que se conclui é que, embora a quantidade populacional negra se
modifique de estado para estado, de cidade para cidade, ao se abordar o tema da
violência a vítima não muda: regularmente são os jovens negros.
Entidades negras do Paraná e outras entidades nacionais percebem a
importância de discutir, junto com a comunidade, a polícia e o Estado a ação que
vitimiza uma parcela significativa da sociedade, os jovens negros.
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6. “RESOLVEMOS POLITIZAR A NOSSA MORTE”: MILITÂNCIA NEGRA E O ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA RACIAL
A resistência e formação de grupos negros são datadas desde a chegada dos
povos africanos ao Brasil. Isso se evidencia nos atentados aos senhores e feitores,
em decorrência das condições do regime servil e contra o linchamento de escravos.
As fugas em massa e a formação de redutos denominados quilombos ou mocambos
são, desde 1600, a manifestação mais ostensiva de resistência. Alguns desses
quilombos requereram muitos anos para ser exterminados. (AZEVEDO, 1975). Nos
quilombos se organizavam rebeliões e estratégias de resistência, provocando um
constante atrito com as forças repressivas.
A resistência da população negra foi se constituindo como o Movimento
Negro Brasileiro e foi passando por momentos de transformações. Foram processos
de transição que caminharam com as modificações políticas do Estado brasileiro.
Sua trajetória pode ser dividida em quatro fases, conforme DOMINGUES (2007).
A primeira fase é do movimento organizado na República (1889-1937),
Estado Novo. Nesse momento os libertos da escravidão e seus descendentes
instituíram os movimentos de mobilização racial negra no Brasil, criando inicialmente
dezenas de grupos (grêmios, clubes ou associações) em alguns estados da nação.
A segunda fase se organiza na República (1945-1964) e abrange desde a
Segunda República e perdura até o Golpe militar de 1964. Nesse momento houve
uma ampliação das ações, decorrente de uma ampliação da discriminação racial em
vários setores da sociedade; no entanto, esse momento não teria o mesmo poder de
aglutinação do anterior.
A terceira fase do Movimento Negro organizado constitui-se na República
(1978-2000), do inicio do processo de redemocratização da República Nova. A
ênfase dada nesse momento é para a criação do Movimento Negro Unificado –
MNU. Posteriormente outras entidades negras levantaram-se em protestos e
campanhas erguidas muito fortemente, contra condições, como, por exemplo, a
mestiçagem, considerando que esta sempre teria cumprido um papel negativo de
diluição da identidade do negro no Brasil.
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31
Na quarta fase, Domingues (2007) considera a entrada e contribuições do
Movimento Hip-Hop na discussão racial. Esse movimento intensifica a denúncia do
racismo, sinalizando assim uma nova fase para o Movimento Negro.
Entende-se por Movimento Negro contemporâneo o conjunto dos movimentos
sociais antirracismo que se organizam no Brasil nos anos de 1970. Seu objetivo,
conforme D’Adesky (2001), é subverter, de alto a baixo, a ideologia do
branqueamento, desmascarando o mito da democracia racial e seu uso em proveito
da classe dominante.
Para os organizadores do I Encontro Nacional de Entidades Negras, realizado
de 14 a 17 de novembro de 1991 na cidade de São Paulo, o Movimento Negro se
define como o conjunto de entidades e grupos, de maioria negra, que têm o objetivo
especifico de combater o racismo e/ou expressar valores culturais de matrizes
africanas e não vinculados a estruturas governamentais ou partidárias (D’ADESKY
(2001, p. 151).
O ressurgimento do Movimento Negro Brasileiro nos anos de 1970 cruza com
a criação do MNU. É com inspiração dessa organização que se traz de volta à cena
política do país o movimento negro organizado. Considera-se, nesse sentido, que o
MNU é um dos mais importantes movimento de negros(as) da história de militância
brasileira – o nascimento do MNU significou um marco na história do protesto negro
do país, porque, entre outros motivos, desenvolveu-se a proposta de unificar a luta
de todos os grupos e organizações anti-racistas em escala nacional. (DOMINGUES,
2007, p. 100).
A primeira atividade desenvolvida pelo MNU foi um ato público em repúdio à
discriminação racial sofrida por quatro jovens no Clube de Regatas Tietê e em
protesto à morte de Robson Silveira da Luz, trabalhador e pai de família negro,
torturado até a morte no 44º Distrito de Guainases. O ato público foi realizado no dia
07 de julho de 1978, nas escadarias do Teatro Municipal de São Paulo, reunindo
cerca de 2 mil pessoas6.
As denúncias e reivindicações do Movimento Negro ao longo da sua história
são extensas, decorrentes do racismo brasileiro que intensifica os problemas e
6 Pesquisando o Movimento Negro no Brasil-Fonte: http://maniadehistoria.wordpress.com/pesquisando-o-movimento-negro-no-brasil
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barreiras enfrentadas pela população negra, no acesso a direitos humanos básicos,
como acesso à educação, saúde, cultura, mercado de trabalho, justiça, espaços
políticos, entre outros.
Contudo, os avanços e conquistas na ação política são inúmeras. Podemos
citar, como exemplos de grandes conquistas para a sociedade brasileira, as políticas
de ações afirmativas voltadas ao ensino superior – sistema de cotas raciais nas
universidades públicas e a aprovação da Lei 10.639/2003, que torna obrigatório o
Ensino de História da África e Cultura Africana em todos os anos da vida escolar,
nas instituições públicas e privadas.
O movimento negro se organiza em diferentes momentos ao longo dos anos,
por meio de eventos, encontros, palestras, seminários, simpósios e campanhas
estaduais e nacionais, discutindo e denunciando a morte sistemática de negros(as),
principalmente jovens. O objetivo é chamar a atenção da população brasileira para o
processo de genocídio e extermínio da população negra ao longo dos anos,
principalmente destacando a agressão sofrida pelas vítimas feitas pela ação do
Estado, em especial pela ação violenta da polícia para com jovens negros do sexo
masculino.
Dois importantes conceitos foram citados anteriormente e merecem sua
apresentação para melhor entendimento do grau da denúncia que se faz da
realidade brasileira, em especial para a população negra: genocídio e extermínio.
A Convenção para a Prevenção e a Repressão do Crime de Genocídio
(1948), artigo II, define Genocídio como:
(...) qualquer dos seguintes atos, cometidos com a intenção de destruir, no todo ou em parte, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso, tal como: assassinato de membros do grupo; dano grave à integridade física ou mental de membros do grupo; submissão intencional do grupo a condições de existência que lhe ocasionem a destruição física total ou parcial; medidas destinadas a impedir os nascimentos no seio do grupo, transparência forçada de menores do grupo para outro. (Convenção 1948 Apud SILVA,CARNEIRO, 2009).
Esta definição expressa com bastante fidelidade a condição a que está
exposta a população negra no país, e é isso que o Movimento Negro denuncia.
Três importantes campanhas nacionais foram criadas contra a morte
sistemática de jovens negros no Brasil (destacando/priorizando a morte de jovens do
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sexo masculino), lançadas por organizações do movimento negro: Campanha “Não
matem nossas crianças”, Rio de Janeiro, 1989; Campanha “Reaja ou Será Morto,
Reaja ou Será morta”, Salvador – BA, 2005 e Campanha Nacional Contra o
Extermínio da Juventude Negra, 2009.
Nas Campanhas, e uma em especial, considera-se o termo “extermínio” para
expressar a condição dos jovens negros no Brasil, Segundo o dicionário de
português, ”extermínio” significa – Ação ou efeito de exterminar; exterminação.
Exterminar significa destruir, com mortandade; aniquilar, acabar com; eliminar;
extirpar.
Outras atividades nacionais como o I Encontro Nacional de Juventude Negra
– I ENJUNE, 2007, e o I Encontro Pela Vida e Por Outro Modelo de Segurança
Pública – I ENPOSP, nos ajudaram a traçar essa militância acerca do problema da
violência e da chamada de atenção para os problemas que se apresentam com o
modelo de segurança pública brasileira.
As campanhas e atividades aqui consideradas estão ligadas a casos de
violência de grande impacto nos seus estados de origem, alguns com repercussão
nacional. Também é propósito das campanhas a divulgação e publicização das altas
taxas de homicídios que têm como característica relevante o recorte de raça/cor.
A denúncia do movimento negro em relação às taxas de homicídios que
vitimizam a juventude negra não se inicia com as atividades aqui identificadas. A
primeira atividade do Movimento Negro Unificado – MNU, como já citado acima,
denunciava o racismo e violência como uma prática da ação policial em 1978.
Muito provavelmente, não sendo também essa atividade a primeira, outras
articulações negras, como por exemplo, as de 1930, em algum momento falaram da
ação violenta da polícia, seja na atuação ao desenvolvimento de suas atividades, ou
em discussão da criação da polícia no Brasil. Este trabalho apresentará as
organizações e manifestações datadas da década de 1970 até os dias de hoje.
Dentre as demandas assumidas pelo MNU, estava posto o enfrentamento à
violência policial. Uma Carta Aberta, distribuída à população, concitava os(as)
negros(as) a formarem “Centros de Luta” nos bairros, nas vilas, nas prisões, nos
terreiros de candomblé e umbanda, nos locais de trabalho e nas escolas, a fim de
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organizar a peleja contra algumas barreiras, entre essas a violência policial e a
opressão racial. (DOMINGUES, 2007, p. 114).
As Campanhas, propriamente identificadas, a serem consideradas neste
texto, se iniciam no final dos anos de 1980. Em 1989 nasce na cidade do Rio de
Janeiro Centro de Articulação de Populações Marginalizadas – CEAP, fundado por
ex.- internos da antiga Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor (Funabem), com
a ajuda de representantes da comunidade negra e do movimento de mulheres. A
recorrente violação dos direitos fundamentais das classes menos favorecidas foi a
grande inspiração para a criação da organização.
Um dos fundadores do CEAP é um importante militante negro, Ivanir dos
Santos. Sua trajetória, como a de outros militantes, confunde-se com a história do
movimento negro brasileiro. Como tantos outros negros, sua infância e adolescência
também carregam experiências com a atuação violenta da polícia do Rio de Janeiro.
Ao sair da Funabem é estigmatizado como ex-aluno. Reúne-se com antigos internos e funda a Associação de Ex-alunos da Funabem – Asseaf, em 1980. À frente da entidade, foi o primeiro a levantar a voz contra a marcante diferença entre a Criança (filhos de abastados) e o Menor (filhos de pobres) e a denunciar a ação crescente dos grupos de policiais subsidiados por comerciantes com o objetivo de matar crianças negras que cometiam pequenos furtos. Em 1982, como representante da Asseaf, é convidado a participar do Congresso do Movimento Negro Unificado que ocorreu em Belo Horizonte, Minas Gerais. A pedido da Defense for Childrem International – DCI, entidade com sede em Genebra, Suíça, coordenou, em 1988, o primeiro levantamento sobre o extermínio de crianças brasileiras. O documento, inédito, transformou-se numa referência nacional e internacional na luta pelos direitos humanos, provocando no Congresso Nacional a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito para apurar o extermínio de crianças e adolescentes no Brasil
7.
Nesse mesmo ano a entidade lança a Campanha “Não Matem Nossas
Crianças” -1989. Afirmava que a Campanha surgia:
Diante do extermínio de crianças e adolescentes no Brasil, e de um modo particular no Rio de Janeiro, na década de 1980, o CEAP concentrou seus esforços na articulação de setores sociais na defesa dos direitos da criança e do adolescente. Era constatado que as vítimas do extermínio, em sua maioria, eram crianças e adolescentes negros, o que demandou da
7 Matéria disponível em: http://ceaprj.org.br/a-instituicao/ivanir-dos-santos/
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instituição a implementação de ações na luta contra o racismo. (CEAP, Trajetórias e Lutas, 1989).
O CEAP- Centro de Articulação de Populações Marginalizadas também
coloca entre suas ações bem-sucedidas o enfrentamento da violência e do
genocídio da população negra, através da Campanha contra a Esterilização em
massa de mulheres negras e pobres – 1990. A organização conduziu a proposição
de uma ação efetiva para o enfrentamento da questão da esterilização em massa de
mulheres negras e pobres. A campanha funcionou como instrumento de denúncia da
esterilização de mulheres negras como forma de genocídio do povo negro.
O cenário que a entidade oferece para justificar a criação da Campanha “Não
Matem Nossas Crianças” apresenta a cidade do Rio de Janeiro com diversas ações
de violência e racismo ao longo da década de 80.
O relatório Mortes matadas por arma de fogo no Brasil, realizado em 2005
pela UNESCO, que utilizou dados do Subsistema de Informações sobre Mortalidade
– SIM – do Ministério da Saúde do período de 1979-2003, informa que, dos 550 mil
mortos, 205.722 (44,1%) foram jovens na faixa de 15 a 24 anos, e que o
crescimento do uso de armas de fogo entre os jovens foi ainda mais violento do que
a população total. No período analisado, em 1979, 2.208 jovens morreram por armas
de fogo, que representavam 31,6% do total de vítimas de armas de fogo. Porém, no
ano de 2003, os dados passam para 16.345 jovens, que representam 41,6% do total
de vítimas de armas de fogo (WAISELFISZ, 2005. P. 13).
No ano de 2005, nasce no Estado da Bahia a Campanha “Reaja ou Será
Morto, Reaja ou Será Morta”:
A “Campanha Reaja ou Será Morto, Reaja ou Será Morta” é uma articulação de movimentos e comunidades de negros e negras da capital e interior do estado da Bahia, articulada nacionalmente e com organizações que lutam contra a brutalidade policial, pela causa antiprisional e pela reparação aos familiares de vítimas do Estado (execuções sumárias e extrajudiciais) e dos esquadrões da morte, milícias e grupos de extermínio. A campanha surge no ano de 2005, em um contexto de governo ligado a um grupo político que há décadas dominava os recursos financeiros, o sistema de justiça, e os meios de produção e comunicação na Bahia. Este mesmo governo tinha no estado penal e no racismo, fundamento para uma política de genocídio caracterizada pelas mortes de milhares de jovens negros desovados como animais às margens de Salvador e Região Metropolitana. A Campanha Reaja ou Será Mort@ não é uma ONG, não tem nenhuma vinculação partidária, nosso único compromisso é com a vida.” (Campanha Reaja ou será morta, reaja ou será morto, 2005).
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Tal campanha afirma sua existência dizendo:
Dentro desta conjuntura, resolvemos fazer uma articulação entres nossas comunidades e os movimentos sociais negros para politizar nossas mortes, colocar em evidência a brutalidade policial, a seletividade do sistema de justiça criminal que nos tinha - e ainda tem - como bandidos padrão. Este mesmo Estado genocida vê na cor de nossa pele, nossa condição econômica e de moradia, nossa herança ancestral e pertencimento racial, as etiquetas de “inimigos a serem combatidos. (Campanha Reaja ou será morta, reaja ou será morto, 2005).
A Campanha Reaja não tem tempo determinado para acabar. Está em
atividade e se constituindo como um grupo que nasce para fazer frente ao problema
da violência que acomete a população negra.
Com manifestações nacionais, inclusive ações promovidas por grupos criados
em outros estados, como por exemplo, São Paulo, a Campanha Reaja se coloca
incisivamente na discussão da violência. Promove desde passeatas, ocupações de
espaços - como a Secretaria de Segurança Pública do estado da Bahia, trabalhos
em penitenciárias do estado, construção de dossiê mostrando a realidade da
violência na Bahia e participação em espaços de discussões acadêmicas e políticas.
Consegue promover ações e discussões diretas e abrangentes, que tratam do
problema que se apresenta à população negra do Estado da Bahia.
A Campanha Reaja chama a atenção para o genocídio do povo negro, tendo
como frase característica em seus materiais “Frente ao Genocídio do Povo Negro,
nenhum passo atrás”. Coloca em pauta os instrumentos de um controle social
perverso, utilizado pelo Estado, quando se trata da população negra, em especial a
juventude negra.
A Campanha Reaja também promoveu em 2009, nos dia 14, 15 e 16 de
agosto, o I Encontro Nacional Pela Vida e Por Outro Modelo de Segurança Pública –
I ENPOSP, como um contraponto à I Conferência de Segurança Pública, por
entender que esse era um espaço que negava a participação autônoma e paritária
dos movimentos sociais e visava formular políticas criminais e de “prevenção ao
crime” sem o necessário debate com a sociedade.
O I ENPOSP discutiu temas como segurança pública, violência policial e
execuções sumárias; violência para-militar e grupos de extermínio; violência penal,
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política carcerária nacional e defesa de direitos de presas e presos e seus familiares;
saúde e segurança; representação criminal nas mídias e nas artes; sistema de
Justiça Criminal e os limites da política nacional de segurança – SUSP (Sistema
Único de Segurança Pública), PRONASCI8 - Plano Nacional de Segurança com
Cidadania e o processo de construção da CONSEG9.
O PRONASCI acumula críticas por se tratar de um plano de ações com
demandas importantes para estarem dentro da Secretária de Segurança Pública, em
mãos da polícia. Entende-se que as ações a serem desenvolvidas não cabem a
essa estrutura e nem a esses agentes, pois ambos formam parte dos problemas a
serem enfrentados pelo estado.
O I ENPOSP se coloca com o objetivo de pautar o modelo de segurança
pública brasileiro. A maioria dos atores sociais reunidos na discussão de um outro
modelo se segurança pública são aqueles e aquelas a quem o Estado tem negado a
preservação da vida e o acesso aos direitos básicos, como o acesso à justiça. 10
Antes de apresentar a “Campanha Nacional Contra o Extermínio da
Juventude Negra”, é necessário falar do I ENJUNE - I Encontro Nacional da
Juventude Negra. O I ENJUNE ocorreu na cidade de Lauro de Freitas – BA, de 27 a
29 de julho de 2007. O evento reuniu cerca de 700 pessoas, entre delegados(as),
observadores(as), palestrantes, coordenadores(as) estaduais e nacionais, apoios,
convidados(as) nacionais e internacionais da sociedade civil organizada e governos.
O ENJUNE se coloca:
Como uma proposição, feita por jovens militantes do movimento negro, como um momento de convergência entre os grupos e indivíduos, uma oportunidade de análise das ações do movimento negro brasileiro e de
8 O PRONASCI - Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania destina-se à
prevenção, controle e repressão da criminalidade, atuando em suas raízes sócio-culturais, além de articular ações de segurança pública com políticas sociais por meio da integração entre União, estados e municípios. As ações levarão em conta as diretrizes do Sistema Único de Segurança Pública (SUSP) - http://www.observatoriodeseguranca.org/seguranca/pronasci
9 1º. CONSEG – 1º Conferência Nacional de Segurança Pública, aconteceu de 27 a 30 de
agosto de 2009, Brasília – DF.
10 O FOJUNE-PR – Fórum Paranaense de Juventude Negra em parceria com a Rede Mulheres
Negras – PR (entidade do Movimento Negro de Curitiba) e o CESPDH/UFPR – Centro de Estudo em Segurança Pública e Direitos Humanos, promoveram a etapa estadual do Paraná. A atividade aconteceu na Universidade Federal do Paraná, Reitoria, no dia 08/08/2009.
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construção de novas perspectivas no panorama étnico/racial. O Encontro se consolidou como um espaço nacional que se mostra como ferramenta reivindicatória e de intervenção efetiva rumo à construção de novas perspectivas de atuação social por jovens militantes do movimento negro. (ENJUNE, 2010, p. 5).
A plenária final do ENJUNE deliberou por criação de Fóruns Estaduais de
Juventude Negra e um Fórum Nacional. Em 2008 foi lançado o Fórum Nacional de
Juventude Negra – FONAJUNE.
O FONAJUNE lançou em janeiro de 2009, durante o Fórum Social Mundial, a
Campanha Nacional Contra o Extermínio da Juventude Negra, objetivando uma
mobilização e sensibilização nacional frente à violência. Previa uma série de ações
de amplitude nacional, além de disseminação nos estados através de agendas dos
Fóruns Estaduais.
A “Campanha Nacional Contra o Extermínio da Juventude Negra” tinha um
conjunto de ações nacionais com tempo determinado, sendo os Dias de
Mobilizações, de maio de 2009 a maio de 2010, para acontecer nas cinco regiões do
país, tendo que considerar os financiamentos específicos para realização destas
atividades pontuais.
No entanto, atividades que promovem a denúncia, o debate e propõem ações
contra o extermínio da juventude negra não se esgotaram, se estendendo para os
Fóruns estaduais e especialmente para o Fórum Nacional. O FONAJUNE conquistou
um cenário importante na discussão da violência, do modelo de segurança pública,
em especial a ação da polícia.
A avaliação que os integrantes fazem dessa articulação é muito positiva,
considerando conquistas importantes, a exemplo da colocação na cena política do
tema do extermínio da juventude negra.
Em relação às conquistas, a primeira expressiva é a aprovação do relatório
final do ENJUNE na 1ª Conferencia Nacional de Políticas Públicas de Juventude, em
2008, que contém 22 prioridades eleitas, sendo a proposta mais votada a referente
os homicídios de jovens negros. Outras importantes conquistas foram uma cadeira
no CONJUVE - Conselho Nacional de Juventude e também no CONASP- Conselho
Nacional de Segurança Pública, promovendo nesses espaços um diálogo importante
com o governo federal e sociedade civil organizada.
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O debate acerca do tema com o governo federal, em especial, por meio da
SEPPIR – Secretária Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial,
impulsionou a criação do Plano Juventude Viva, lançando a primeira fase, em
setembro de 2012, no estado de Alagoas, estado que ocupa o primeiro lugar em
homicídio de jovens negros (Mapa da Violência, 2012).
No mapa da violência 2012, a cor dos homicídios no Brasil, o autor Julio
Jacob Waiselfisz coloca que:
O tema da raça/cor aparece tardiamente nos mapas e como item ou capítulo dentro de um relatório. Mas isso não aconteceu por desconhecer a gravidade do problema. Foram outros os motivos: O Sistema de Informações de Mortalidade, do Ministério da Saúde (SIM/MS), é a única fonte que verifica o quesito raça/cor dos homicídios em nível nacional até os dias de hoje. Mas só incorpora o tema em 1996, quando muda sua sistemática passando da Classificação Internacional de Doenças 9 para a 10 (CID9/CID10) por orientação da Organização Mundial da Saúde. Nos primeiros anos, a subnotificação nesse quesito foi muito elevada, mas foi melhorando rapidamente. Em 2002, quando a identificação de raça/cor já era de 92,6% das vítimas de homicídio, consideramos o nível suficientemente confiável para iniciar as análises sobre o tema. Com essa informação de raça/cor das vítimas dos homicídios conseguimos construir capítulos nos mapas da violência, a partir de 2005, que sinalizavam, por um lado, a magnitude do problema e, por outro, que este estava se agravando progressivamente com o passar dos anos. (WAISELFISZ, 2012, p. 5 e 6).
O movimento negro, no decorrer das décadas, denunciou a violência no
Brasil, que acomete em especial os jovens negros. As novas organizações e
articulações de jovens negros (as) percebem essa trajetória e têm somado na luta.
Existe uma chamada de atenção para o processo de genocídio que se
apresenta em decorrência da negligência do Estado brasileiro em relação à maior
parte da sua população. O cenário denunciado pode ser também constatado nos
dados acerca do desemprego, do analfabetismo, evasão escolar, encarceramento,
acesso limitado/precário à saúde, entre outros.
A condição social que se apresenta para a juventude Negra nos possibilita
falar de juventudes brasileiras e não em juventude, como grupo homogêneo. A
juventude brasileira vivencia realidades diferentes e sua real condição só pode ser
lida com o recorte de raça.
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7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A sociedade brasileira foi e continua sendo construída sobre base
escravocrata. O período colonial não desapareceu por completo na constituição de
uma sociedade democrática. A realidade que se apresenta, em especial, à
população negra, possibilita questionar a existência de uma democracia
consolidada.
A polícia no Brasil nasceu para cumprir uma função, no Brasil Colônia, e
permanece atendendo as mesmas demandas até os dias atuais, quais sejam, o
controle das classes perigosas, a eliminação dos indesejáveis.
No entanto, a polícia não pode ser separada da sociedade que lhe deu tal
forma. Cada um tem a polícia que merece. Os policiais correspondem às
expectativas somente porque havia expectadores (SANTIAGO, 2006).
O Movimento Negro compreende que o Brasil tem permitido a morte de parte
dos seus jovens e compromete as ações de promoção de igualdade racial e
eliminação do racismo, considerando o público que se pretende atingir, em especial
adolescentes e jovens.
As relações raciais constituídas no Brasil nos ajudam a compreender o
problema da violência aqui apresentada e a importância das ações que os(as)
militantes negros(as) desenvolvem na cena pública. Esses atores sociais têm se
colocado nas discussões sobre relações raciais no Brasil de maneira a demandar
políticas públicas que promovam a igualdade racial e elimine o racismo, em todos os
setores.
As conquistas são inúmeras em áreas importantes, como saúde e educação.
No entanto, o racismo institucional continua a ser um problema estrutural no avanço
das políticas públicas especificas. Exemplo disso é a violência, tema aqui discutido e
que se define nas altas taxas de homicídios de jovens negros.
O movimento negro está chamando a atenção da sociedade como um todo
(instituições públicas e privadas, do poder público, das autoridades em geral, e dos
diversos organismos nacionais e internacionais) para um problema emergencial.
Denuncia que o Estado brasileiro escolheu entre a sua população aquela a quem
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pode “deixar morrer”, evidenciando que existe um aparato de repressão destinado a
eliminar os jovens negros.
Esse aparato organizado pelo estado brasileiro, em especial, pela ação
policial, atende a uma demanda social. O perfil criminoso é constantemente
reforçado pelos mais diversos setores, promovendo a caça e captura de jovens
negros.
O Mapa da Violência – 2012 coloca que entre 2002 e 2010 morreram
assassinados no país 272.422 cidadãos negros (as), o que dá uma média de 30.269
assassinatos por ano. Júlio Jacob (2012) informa que “só em 2010 foram 34.983, Na
cruenta Guerra do Iraque, as estimativas mais elevadas indicam que de 2003 até
fins de 2009 morreram 110 mil pessoas, incluindo civis, o que significa 15,7 mil por
ano”. No Brasil, país que não aparenta ter conflitos raciais ou políticos, morre
assassinado o dobro de cidadãos negros (as) todos os anos e mais do triplo –
52.260 em 2010 – de seus habitantes de todas as raças e cores.
As organizações negras, presentes nos mais diversos estados, ao denunciar
a ação violenta da polícia e responsabilizar o estado pela morte sistemática de
jovens negros, pedem pela extinção da polícia no Brasil.
A desmilitarização e extinção da polícia no Brasil é um debate que ora
aparece, ora desaparece. Aparece em momentos de crise com a instituições
policiais. Essa crise parece estar associada à mudança das regras - quando os que
devem ser protegidos pela instituição, brancos de classe média, se tornam vitimas.
Lideranças negras têm se colocado na cena política, acadêmica e social
questionando a existência ainda de um modelo de polícia de bases arcaicas, de
origens coloniais e permanentes em momentos ditatórios. As atividades aqui
apresentadas comprovam, me parece, a fala da militante negra Vilma Reis, colocada
acima – “Nós não vamos morrer em silêncio”.
O conjunto de ações promovidas pelo do Movimento Negro sobre o tema da
violência aqui apresentadas é uma pequena amostra, considerando o trabalho de
dezenas de grupos de negros(as) espalhados nos mais diversos estados brasileiro.
Tal cenário nos possibilita concluir que o Brasil, desde o período colonial até
os dias de hoje, no que diz respeito ao aparato repressivo do Estado, continua
olhando e agindo em relação à população negra da mesma maneira, como o alvo.
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Tamanho grupo social ainda hoje se constitui como algo a ser eliminado. O estado
brasileiro precisa garantir a esse grupo o acesso aos bens e serviços: educação,
saúde, emprego, moradia, entre outros.
O Brasil muito pouco ou nada fez na garantia e distribuição de igualdade de
direitos ao acesso à justiça e aos serviços de proteção. A população negra é tratada
como menos cidadã, como raça inferior.
No Blog da Campanha Reaja, na página inicial “Quem Somos”, um texto
informa:
“Em 2012, o atual governo do Estado continua exercendo as mesmas práticas genocidas. Ainda estamos assistindo os corpos de nossos familiares tombando nas ruas. A eleição de um governo democrático popular, que muitos de nós depositamos nossas esperanças, demonstra que o projeto da esquerda branca tem para a população negra, em nada se difere do projeto da direita convencional. Entendemos que o racismo é estrutural da sociedade baiana e brasileira, está para além das conjunturas políticas. Diante disso, avaliamos que o que nos resta é tomar as ruas, e tomamos.” (Campanha Reaja ou será morto, reaja ou será morta, 2012).
A sociedade brasileira precisa refletir sobre a realidade vivenciada pela
população negra, bem como as propostas de mudanças que se apresentam em
relação à polícia no Brasil. Ao se discutir mudanças na estrutura militar, o que se
oferece é mais do mesmo. Uma reestruturação não parece ser a solução,
considerando que o problema é de origem.
A juventude negra, conforme denúncia do movimento negro e dados aqui
apresentados, está sendo exterminada e o estado brasileiro precisa dar uma
resposta a tal realidade
Um desejo especial: que este texto possa ser acessado por muitas pessoas,
na academia, mas principalmente fora dessa. Fica a esperança de que o conteúdo
aqui tratado esteja legível para além desses muros.
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REFERÊNCIAS
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BORDIN, Marcelo. A Falência do Modelo Brasileiro de Policiamento Ostensivo e sua Relação com o Aumento da Criminalidade em Curitiba 1992 – 2002.
Monografia de curso de especialização em Ciência Política do Departamento de Ciências Sociais da UFPR, 2004.
BORDIN, Marcelo. A Política de Segurança Pública no Governo Jaime Lerner 1995 – 2003. Monografia do Curso de Ciência Política da Faculdade Internacional de
Curitiba – FACINTER, 2005.
BOURDIEU, Pierre. Questões de sociologia. Rio de Janeiro: Marco Zero, 1983.
Campanha Reaja ou Será Morto Reaja ou Será Morta. In: Reaja nas ruas. Disponível em: http://reajanasruas.blogspot.com.br/p/quem-somos.html. Acesso em: 05 mar. 2013.
CEAP – CENTRO DE ARTICULAÇÃO DE POPULAÇÕES MAGINALIZADAS. Bibliografia de Ivanir Santos. Disponivel na internet: http://ceaprj.org.br/a-instituicao/ivanir-dos-santos/
CEAP – CENTRO DE ARTICULAÇÃO DE POPULAÇÕES MAGINALIZADAS. Trajetórias e Lutas. Disponível na internet: http://ceaprj.org.br/a-instituicao/quem-somos/trajetorias-e-lutas/ Acesso em: mar. 2013
CEAP. In: Cepa-20 anos. Disponível em: http://ceap-20anos.blogspot.com.br/. Acesso em: mar. 2013.
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8. ANEXOS
CAMPANHA NACIONAL CONTRA O GENOCÍDIO/EXTERMÍNIO DA JUVENTUDE NEGRA
CAMPANHA NÃO MATEM AS NOSSAS CRIANÇAS – 1989 (logo da instituição).
CAMPANHA REAJÁ ou SERÁ MORTA! REAJÁ ou SERÁ MORTO! – 2005 (uma das logos da
Campanha).
CAMPANHA NACIONAL CONTRA O EXTERMÍNIO DA JUVENTUDE NEGRA – 2009
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