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Módulo 2 - Analisando os aspectos legais e procedimentais.
Apresentação do Módulo A Lei Maria da Penha trouxe uma série de mecanismos para coibir e prevenir a violência
doméstica e familiar contra a mulher.
São sobre eles que você estudará neste módulo.
Objetivos do Módulo Ao final do estudo deste módulo, você será capaz de:
Identificar a legislação pertinente em relação aos deveres do Estado;
Enumerar as medidas protetivas que devem ser tomadas em relação aos
casos de violência doméstica;
Reconhecer a importância das redes de atendimento à mulher em situação
de violência.
Estrutura do Módulo Este módulo é formado por três aulas:
Aula 1 – Legislação pertinente: Lei Maria da Penha.
Aula 2 – Medidas Protetivas.
Aula 3 – Rede de atendimento à mulher em situação de violência.
Aula 1 – Legislação pertinente: Lei Maria da Penha. Somente a partir de 1988, com a promulgação da Constituição Federal, a mulher passou a
ter reconhecida sua igualdade, em direitos e obrigações, em relação à sociedade conjugal,
notadamente em relação ao homem (Art. 226, parágrafo 8º).
O art. 226 determinou ao Estado que criasse mecanismos para coibir a violência
doméstica: “O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos que a
integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações.”
Em 07 de agosto de 2006 o Presidente da República sancionou a Lei 11.340: Lei Maria
da Penha, criando mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra
a mulher, dispondo sobre a criação dos juizados de violência doméstica e familiar contra a
mulher, alterando dispositivos do Código Penal e da Lei de Execuções Penais e estabelecendo
medidas de assistência e proteção às mulheres em situação de violência doméstica.
Esta lei foi denominada de “Lei Maria da Penha” em homenagem à luta de Maria da
Penha Maia Fernandes, mulher que foi vítima de violência doméstica e que durante quase 20
anos lutou para que a justiça punisse o seu agressor (seu ex-marido), que tentou matá-la por duas
vezes, deixando-a tetraplégica após desferir tiros em suas costas, enquanto dormia, e tentando
eletrocutá-la durante o banho.
Somente após a condenação do Governo Brasileiro junto à corte Interamericana de
Direitos Humanos com o pagamento de indenização à Maria da Penha, é que foi promulgada
uma legislação que propusesse medidas efetivas de enfrentamento à violência doméstica e
familiar.
A lei, finalmente, regulamenta o art. 226, parágrafo 8º da Constituição Federal e insere no
ordenamento jurídico interno os preceitos estabelecidos na Convenção sobre a Eliminação de
Todas as Formas de Violência contra a Mulher, na Convenção Interamericana para Prevenir,
Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher e em outros tratados internacionais ratificados pelo
Governo Federal.
Saiba mais...
Clique aqui e leia a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Violência
contra a Mulher, na Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência
contra a Mulher.
A Lei Maria da Penha trouxe várias conquistas. Entre elas podemos destacar:
Vedou a aplicação da Lei 9.099/95, Lei do Juizado Especial Criminal
(criada para crimes de menor potencial ofensivo), ou seja, deve ser instaurado inquérito
policial para apuração dos crimes praticados contra a mulher, impedindo a elaboração de
termo circunstanciado;
Acabou com uma prática antiga utilizada pelas Delegacias de Polícia, que
encarregavam a mulher de entregar ao marido a intimação para comparecimento, o que
gerava mais problemas para a vítima, que muitas vezes desistia de denunciar o agressor.
Hoje o parágrafo único do art. 21 da lei determina que:
“A ofendida não poderá entregar intimações ou notificação ao agressor.”
Vedou a aplicação de penas de cesta básica ou outra prestação pecuniária.
O agressor não temia o processo criminal, pois sabia que seria condenado ao pagamento
de cesta básica, o que muitas vezes era usado como forma de humilhar a vítima e fazê-la
desistir do processo;
Trouxe a possibilidade da decretação da prisão preventiva do agressor,
conforme o disposto no art. 20 da lei. Essa medida foi possível de ser adotada porque o
art. 42 da Lei Maria da Penha modificou o Código de Processo Penal:
Importante - Embora a lei não utilize o termo “rede de atendimento”, sobre o qual você
estudará mais a frente, percebe-se que ela tem como pano de fundo ou princípio o atendimento
da mulher vítima de violência doméstica ou familiar em “rede”, ou seja, estabelece medidas
integradas de prevenção da violência doméstica e familiar.
Na questão do cumprimento de pena, a nova lei estabeleceu o embrião da chamada
Justiça Terapêutica, ao determinar que: Nos casos de violência doméstica contra a mulher, o juiz
poderá determinar o comparecimento obrigatório do agressor e programa de recuperação e
reeducação.
Aula 2 – Medidas Protetivas. A Lei Maria da Penha traz um rol de medidas que podem ser decretadas pelo juiz a
requerimento do Ministério Público ou a pedido da mulher. Essas medidas visam garantir maior
efetividade à lei e proteção à mulher vítima de violência, resguardando sua integridade física,
além de proteger seus bens.
O juiz pode obrigar o agressor a:
I – Suspensão da posse ou restrição do porte de armas, com comunicação ao órgão
competente, nos termos da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003;
II – Afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida;
III – Proibição de determinadas condutas, entre as quais:
a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das testemunhas, fixando o limite
mínimo de distância entre estes e o agressor;
b) contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por qualquer meio de
comunicação;
c) frequentação de determinados lugares a fim de preservar a integridade física e
psicológica da ofendida;
d) restrição ou suspensão de visitas aos dependentes menores, ouvida a equipe de
atendimento multidisciplinar ou serviço similar; e
e) prestação de alimentos provisionais ou provisórios.
Em relação à mulher, o juiz poderá:
I – Encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou comunitário de
proteção ou de atendimento;
II – Determinar a recondução da ofendida e a de seus dependentes ao respectivo
domicílio, após afastamento do agressor;
III – Determinar o afastamento da ofendida do lar, sem prejuízo dos direitos relativos a
bens, guarda dos filhos e alimentos;
IV – Determinar a separação de corpos.
Para proteger os bens do casal ou de propriedade particular da mulher, o juiz pode
determinar:
I – Restituição de bens indevidamente subtraídos pelo agressor à ofendida;
II – Proibição temporária para a celebração de atos e contratos de compra, venda e
locação de propriedade em comum, salvo expressa autorização judicial;
III – Suspensão das procurações conferidas pela ofendida ao agressor;
IV – Prestação de caução provisória, mediante depósito judicial, por perdas e danos
materiais decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a ofendida.
Aula 3 – Rede de atendimento à mulher em situação de violência
O enfrentamento à violência contra a mulher exige o envolvimento da sociedade em seu
conjunto: os três poderes, os movimentos sociais, as comunidades. Isso significa construir uma
rede, a que chamamos Rede de Atendimento à Mulher em Situação de Violência: uma ação
que reúne recursos públicos e comunitários em um esforço comum para enfrentar a violência
doméstica e contra a mulher em nosso país. A complexidade do enfrentamento à violência contra
as mulheres se expressa nas diferentes formas que essa violência assume: violência sexual,
doméstica, física e emocional, violência psicológica e violência social.
É importante notar que o trabalho em rede requer dos serviços e profissionais envolvidos
a atuação conjunta para buscar soluções, articulação dos equipamentos e das instituições da rede
de atendimento, atendimento qualificado e humanizado e profissionais capacitados. O trabalho
em rede favorece o estabelecimento de vínculos positivos por meio da interação entre indivíduos;
favorece reflexão, troca de experiências e busca de soluções para problemas comuns; estimula o
exercício da solidariedade e da cidadania; mobiliza pessoas, grupos e instituições para utilizar os
recursos da própria comunidade; aumenta a resistência a partir de entrelaçamentos; fortalece
vínculos comunitários e estimula o protagonismo social (AFONSO, 2005).
Segundo a Política Nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres, a
rede de atendimento faz referência ao conjunto de ações e serviços de diferentes setores (em
especial, da assistência social, da justiça, da segurança pública e da saúde), que visam à
ampliação e à melhoria da qualidade do atendimento; à identificação e ao encaminhamento
adequados das mulheres em situação de violência; e à integralidade e à humanização do
atendimento.
Algumas informações são críticas para os(as) profissionais de saúde que atendam pessoas
em situação de violência sexual. A atenção à violência sexual contra a mulher é condição que
requer abordagem intersetorial e interdisciplinar, com importante interface com questões
policiais e judiciais, conforme mostra a figura a seguir:
A Lei n.º 10.778, de 24 de novembro de 2003, estabelece a notificação compulsória, no
território nacional, dos casos de violência contra a mulher, atendidos em serviços públicos e
privados de saúde. O cumprimento da medida é fundamental para o dimensionamento do
fenômeno da violência sexual e de suas consequências, contribuindo para a implantação de
políticas públicas de intervenção e prevenção do problema.
Importante - Em casos de gravidez, suspeita ou confirmada, deve-se considerar a
demanda da mulher ou adolescente, identificando se manifesta desejo ou não de interromper a
gravidez. Cabe aos profissionais de saúde fornecer as informações necessárias sobre os direitos
da mulher e apresentar as alternativas à interrupção da gravidez, como a assistência pré-natal e a
entrega da criança para adoção.
Poucas mulheres em situação de violência sexual sofrem traumas físicos severos.
Contudo, na ocorrência dos traumatismos físicos, genitais ou extragenitais, é necessário avaliar
cuidadosamente as medidas clínicas e cirúrgicas que atendam às necessidades da mulher, da
criança ou da adolescente, o que pode resultar na necessidade de atenção de outras
especialidades médicas.
Os danos físicos, genitais ou extragenitais, devem ser cuidadosamente descritos em
prontuário médico. Se possível, os traumatismos físicos devem ser fotografados e também
anexados ao prontuário. Na indisponibilidade desse recurso, representações esquemáticas ou
desenhos podem ser realizados e igualmente incluídos no prontuário.
Atualmente, em especial após a promulgação da Lei Maria da Penha, as mulheres em
situação de violência podem contar com uma série de serviços, a saber:
- Centros de Referência de Atendimento à Mulher: Os Centros de
Referência são espaços de acolhimento/atendimento psicológico e social, orientação e
encaminhamento jurídico da mulher em situação de violência. Eles devem proporcionar o
atendimento e o acolhimento necessários à superação de situação de violência,
contribuindo para o fortalecimento da mulher e o resgate de sua cidadania (Norma
Técnica de Padronização – Centro de Referência de Atendimento à Mulher, SPM: 2006).
O Centro de Referência deve exercer o papel de articulador das instituições e serviços
governamentais e não governamentais que integram a Rede de Atendimento. Assim, os
Centros de Referência devem, além de prestar o acolhimento e atendimento da mulher em
situação de violência, monitorar e acompanhar as ações desenvolvidas pelas instituições
que compõem a Rede.
- Casas-Abrigo: As Casas-Abrigo são locais seguros que oferecem moradia
protegida e atendimento integral a mulheres em risco de vida iminente em razão da
violência doméstica. É um serviço de caráter sigiloso e temporário, no qual as usuárias
permanecem por um período determinado, durante o qual deverão reunir condições
necessárias para retomar o curso de suas vidas.
- Casas de Acolhimento Provisório – São casas de abrigamento
temporário de curta duração (até 15 dias), não sigilosas, para mulheres em situação de
violência que não correm risco iminente de morte (acompanhadas ou não de seus filhos)
como, por exemplo, em casos de mulheres que estão aguardando a concessão de uma
medida protetiva (de acordo com a Lei Maria da Penha) ou aguardando o beneficio do
pagamento de passagens para retorno ao seu município de origem, migrantes em situação
irregular, deportadas ou não admitidas. Vale destacar que as Casas de Acolhimento
Provisório não se restringem ao atendimento de mulheres em situação de violência
doméstica e familiar, devendo acolher também mulheres que sofrem outros tipos de
violência, em especial vítimas do tráfico de mulheres. O abrigamento provisório deve
garantir a integridade física e emocional das mulheres, bem como realizar No Estado de
São Paulo, as DEAMs são denominadas DDMs – Delegacias de Defesa da
Mulher.diagnóstico da situação da mulher para encaminhamentos necessários.
- Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher: As DEAMs 1 são
unidades especializadas da Polícia Civil para atendimento às mulheres em situação de
violência. As atividades das DEAMs têm caráter preventivo e repressivo, devendo
realizar ações de prevenção, apuração, investigação e enquadramento legal, as quais
dever ser pautadas no respeito aos direitos humanos e nos princípios do Estado
Democrático de Direito (Norma Técnica de Padronização – DEAMs, SPM:2010). Com a
promulgação da Lei Maria da Penha, as DEAMs passam a desempenhar novas funções,
que incluem, por exemplo, a expedição de medidas protetivas de urgência ao juiz no
prazo máximo de 48 horas.
- Postos, Núcleos e Seções de Atendimento à Mulher nas Delegacias
Comuns Constituem espaços de atendimento à mulher em situação de violência (que em
geral contam com equipe própria) nas delegacias comuns.
- Defensorias da Mulher: As Defensorias da Mulher têm a finalidade de
dar assistência jurídica, orientar e encaminhar as mulheres em situação de violência. É
órgão do Estado, responsável pela defesa das cidadãs que não possuem condições
econômicas de ter advogado contratado por seus próprios meios. A SPM tem investido na
criação e consolidação de Defensorias da Mulher como uma das formas de ampliar o
acesso à justiça e garantir às mulheres orientação jurídica adequada, bem como o
acompanhamento de seus processos.
- Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher: Os
Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher são órgãos da justiça
ordinária com competência cível e criminal que poderão ser criados pela União (no
Distrito Federal e nos Territórios) e pelos estados para o processo, julgamento e a
execução das causas decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a 1 No Estado de São Paulo, as DEAMs são denominadas DDMs – Delegacias de Defesa da Mulher
mulher. Segundo a Lei 11.340/2006 (Lei Maria da Penha), que prevê a criação dos
juizados, esses poderão contar com uma equipe de atendimento multidisciplinar a ser
integrada por profissionais especializados nas áreas psicossocial, jurídica e da saúde.
- Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180: A Central de
Atendimento à Mulher é um serviço do Governo Federal que auxilia e orienta as
mulheres em situação de violência através do número de utilidade pública 180. As
ligações podem ser feitas gratuitamente de qualquer parte do território nacional. O Ligue
180 foi criado pela Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República
em 2005 e conta com 80 atendentes que cobrem o período de 24 horas diárias, inclusive
nos feriados e finais de semana – ocasiões em que o número de ocorrências de violência
contra a mulher aumenta. As atendentes da Central são capacitadas permanentemente em
questões de gênero, legislação e políticas governamentais para as mulheres. Cabe à
Central o encaminhamento da mulher para os serviços da rede de atendimento mais
próxima, assim como prestar informações sobre os demais serviços disponíveis para o
enfrentamento à violência. A Central Ligue 180 também recebe e encaminha as
denúncias das mulheres em situação de violência.
- Ouvidorias: A Ouvidoria é o canal de acesso e comunicação direta entre a
instituição e o(a) cidadã(o). É um espaço de escuta qualificada, que procura atuar através
da articulação com outros serviços de ouvidoria em todo o país, encaminhando os casos
que chegam para os órgãos competentes em nível federal, estadual e municipal, além de
proporcionar atendimentos diretos. Portanto, a Ouvidoria visa fortalecer os direitos da
cidadã, orientando-a e aproximando-a da instituição, estimulando o processo de melhoria
contínua da qualidade. Vale notar que a SPM possui o serviço de ouvidoria
disponibilizado à população desde 2003.
- Serviços de saúde voltados para o atendimento aos casos de violência
sexual – A área de saúde é responsável pela prestação de assistência médica, de
enfermagem, psicológica e social às mulheres vítimas de violência sexual, inclusive
quanto à interrupção da gravidez prevista em lei nos casos de estupro, conforme
estabelecido pela Norma Técnica de Prevenção e Tratamento dos Agravos Resultantes da
Violência Sexual contra Mulheres e Adolescentes do Ministério da Saúde.
- CRAS e CREAS – Os CRAS (Centros de Referência da Assistência
Social) é uma “unidade pública estatal responsável pela organização e oferta de serviços
de proteção social básica do SUAS” (BRASIL. MDS, 2009, pg. 9), enquanto o PAIF
(Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família) é o principal serviço
desenvolvido nos CRAS e “consiste no trabalho social com famílias, de caráter
continuado, com a finalidade de fortalecer a função protetiva das famílias, prevenir a
ruptura dos seus vínculos, promover acesso e usufruto de direitos e contribuir na melhoria
de sua qualidade de vida. (CNAS, 2009, pág. 6). O número de CRAS no Brasil, de acordo
com o Censo SUAS 2009 é de 5.798.
Nos CREAS (Centro de Referência Especializado em Assistência Social), por
outro lado, deve ser ofertado o PAEFI – Serviço de Proteção e Atendimento
Especializado a Famílias e Indivíduos, responsável pelo apoio, orientação e
acompanhamento a famílias com um ou mais de seus membros em situação de ameaça ou
violação de direitos. Nos CREAS deve ser ofertado esse atendimento especializado e
realizados os encaminhamentos para a rede de serviços locais. É importante enfatizar a
necessidade do acompanhamento e do monitoramento dos casos encaminhados. Os
CREAS podem ter abrangência municipal ou regional (localizado em um município-sede,
disponibilizando atendimento para municípios circunvizinhos vinculados).
Além dos serviços disponíveis para as mulheres, a Lei Maria da Penha prevê a criação de
serviços de responsabilização e educação do agressor, responsáveis pelo acompanhamento das
penas e das decisões proferidas pelo juízo competente no que tange aos agressores, conforme
previsto na Lei 11.340/2006 e na Lei de Execução Penal. Esses serviços deverão, portanto, ser
vinculados aos Tribunais de Justiça estaduais e do Distrito Federal) ou ao executivo estadual e
municipal (Secretarias de Justiça ou órgão responsável pela administração penitenciária).
Importante - Por meio da realização de atividades educativas e pedagógicas que tenham
por base uma perspectiva feminista de gênero, o serviço deve contribuir para a conscientização
dos agressores sobre a violência de gênero como uma violação dos direitos humanos das
mulheres e para a responsabilização pela violência cometida. O serviço poderá contribuir para a
desconstrução de estereótipos de gênero, transformação da masculinidade hegemônica e
construção de novas masculinidades. Não constitui um espaço de ‘tratamento’ dos agressores e
deverá restringir-se ao acompanhamento dos homens processados criminalmente (apenados ou
não), com base na Lei Maria da Penha. Não cabe ao serviço a realização de atividades referentes
ao atendimento psicológico e jurídico dos agressores, à mediação, à terapia de casal e/ou terapia
familiar e ao atendimento da mulher em situação de violência (SPM, 2010).
Conclusão
Quando do lançamento do Plano Nacional de Segurança Pública pela SENASP, o
Compromisso nº 11 – Intensificação das Ações do Programa Nacional de Direitos Humanos –
contemplava, como uma das diversas ações o “Apoio a Mulheres em Situação de Risco”. Um
informe divulgado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) fala que quase metade das
mulheres que morrem por homicídio no mundo são assassinadas por seus maridos ou ex-
companheiros. E, entre outros dados, conclui que a violência contra a mulher é um problema de
saúde pública. Sem se considerar esses aspectos que dizem respeito mais diretamente à mulher –
sua condição de ser humano merecedor de respeito da mesma forma que o homem, da sua
condição de cidadã – é de extrema importância para a estabilidade social que a violência
doméstica seja banida, em definitivo, da nossa sociedade.
É sabido que o convívio em lares desestruturados gera, no mínimo, um modelo repetitivo
da violência vivenciada, quando não comportamento agressivo que se revela na prática de
violência nas ruas.O reflexo dessa violência pode ser visto no número de crianças e adolescentes
que vivem nas ruas e os envolvidos em atos infracionais. Por certo, se pesquisados os motivos
que levaram os encarcerados a delinquir encontraremos um histórico de violência doméstica
vivenciada na formação dos mesmos. Assim, não é difícil concluir que da nossa atuação nos
casos de violência doméstica hoje conseguiremos não só uma condição de vida mais justa
para as mulheres, mas uma sociedade melhor estruturada no futuro.
Finalizando...
Neste módulo você estudou que:
Em 07 de agosto de 2006 o Presidente da República sancionou a Lei
11.340: Lei Maria da Penha, criando mecanismos para coibir e prevenir a violência
doméstica e familiar contra a mulher, dispondo sobre a criação dos juizados de
violência doméstica e familiar contra a mulher, alterando dispositivos do Código Penal e
da Lei de Execuções Penais e estabelecendo medidas de assistência e proteção às
mulheres em situação de violência doméstica.
A Lei Maria da Penha traz um rol de medidas que podem ser decretadas
pelo juiz a requerimento do Ministério Público ou a pedido da mulher. Essas medidas
visam garantir maior efetividade à lei e proteção à mulher vítima de violência,
resguardando sua integridade física, além de proteger seus bens.
O enfrentamento à violência contra a mulher exige o envolvimento da
sociedade em seu conjunto: os três poderes, os movimentos sociais, as comunidades. Isso
significa construir uma rede, a que chamamos Rede de Atendimento à Mulher em
Situação de Violência: uma ação que reúne recursos públicos e comunitários em um
esforço comum para enfrentar a violência doméstica e contra a mulher em nosso país. A
complexidade do enfrentamento à violência contra as mulheres se expressa nas diferentes
formas que essa violência assume: violência sexual, doméstica, física e emocional,
violência psicológica e violência social.
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