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ZULMÁRIA IZABEL DE MELO SOUZA TARGAS
MATO GROSSO: ECONOMIA E SOCIEDADE NAS REDES DAS
CASAS COMERCIAIS (SÉCULO XIX E INÍCIO DO SÉCULO XX)
DOURADOS – 2017
1
ZULMÁRIA IZABEL DE MELO SOUZA TARGAS
MATO GROSSO: ECONOMIA E SOCIEDADE NAS REDES DAS
CASAS COMERCIAIS (SÉCULO XIX E INÍCIO DO SÉCULO XX)
Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em
História da Faculdade de Ciências Humanas da
Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) como
parte dos requisitos para a obtenção do título de Doutora
em História.
Área de concentração: História, Região e Identidades.
Orientador: Prof. Dr. Paulo Roberto Cimó Queiroz.
DOURADOS - 2017
2
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP).
T185m Targas, Zulmaria Izabel De Melo Souza
MATO GROSSO: Economia e Sociedade nas redes das casas comerciais
(século XIX e início do século XX) / Zulmaria Izabel De Melo Souza Targas –
Dourados: UFGD, 2017.
250f. : il. ; 30 cm.
Orientador: Paulo Roberto Cimó Queiroz
Tese (Doutorado em História) - Faculdade de Ciências Humanas,
Universidade Federal da Grande Dourados.
Inclui bibliografia
1. Mato Grosso. 2. Economia. 3. Transportes. 4. Importação. 5. Exportação. I. Título.
Ficha catalográfica elaborada automaticamente de acordo com os dados fornecidos pelo(a) autor(a).
©Direitos reservados. Permitido a reprodução parcial desde que citada a fonte .
3
ZULMÁRIA IZABEL DE MELO SOUZA TARGAS
MATO GROSSO: ECONOMIA E SOCIEDADE NAS REDES DAS
CASAS COMERCIAIS (SÉCULO XIX E INÍCIO DO SÉCULO XX)
TESE PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE DOUTORA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA – PPGH/UFGD
Aprovada em _____de ___________________de ___________.
BANCA EXAMINADORA
Presidente e orientador:
Paulo Roberto Cimó Queiroz (Dr., UFGD)____________________________________
2º Examinador:
João Carlos de Souza (Dr., UFGD)_________________________________________
3ª Examinadora:
Nauk Maria de Jesus (Drª., UFGD)_________________________________________
4ª Examinadora:
Lisandra Pereira Lamoso (Drª., UFGD)______________________________________
5º Examinador:
Alcides Goularti Filho (Dr. UNESC)_________________________________________
4
À toda minha família que é minha fortaleza.
À memória de
Antônio da Silva Souza,
Osmar da Silva Souza,
Marina da Silva Souza,
Maria Nazaré de Mello,
João Maria de Mello.
5
AGRADECIMENTOS
Agradeço aqui a todos as pessoas especiais que integraram minha jornada acadêmica,
em especial os que me acompanharam nesses longos anos de doutoramento.
Primeiramente, quero agradecer em especial meu orientador o Prof. Paulo Roberto
Cimó Queiroz, o qual me dedicou plena confiança, sabedoria e amizade por mais de uma
década em que trabalhamos juntos, e com o qual aprendi mais que o saber acadêmico, pois
sua postura já é uma lição de vida.
Ao Prof. João Carlos de Souza, o qual sempre tive o maior respeito e admiração, e
sempre pude contar com seus conselhos sábios.
Aos meus irmãos Pierre e Peres que são meu porto seguro em todos os dias da minha
vida. As minhas cunhadas Verônica e Fernanda que são verdadeiras irmãs.
Ao meu marido Jaime, minha mãe Rosangela e minha sogra Eva pelo incentivo, amor,
paciência e companheirismo.
À todos os professores que fizeram parte da minha jornada acadêmica.
Aos amigos Cristóvão Henrique Ribeiro da Silva, Marciana Santiago de Oliveira,
Camila Pereira Machado, Djeovani Roos, Bruna Amaral Dávalo, Enrique Romero, Ana
Caroline Torelli, Regina Maria Lopes, Shirley Matias que, cada um à sua maneira, contribuiu
para o trabalho aqui apresentado.
6
Resumo: O objetivo geral desta pesquisa consiste em estudar as casas comerciais
importadoras e exportadoras de Mato Grosso (incluindo os atuais MT e MS) entre o final do século XIX e os inícios do século XX, no que se refere a: o capital dessas casas (sua
procedência e composição); os detalhes de suas conexões tanto com o mercado nacional e mundial quanto com as atividades produtivas desenvolvidas na região; suas estruturas internas de funcionamento e suas estratégias comerciais. Entretanto, para atingir esse objetivo, a tese
busca também apresentar as transformações que se processaram nas vias de transporte e de comunicação e seus efeitos na sociedade e economia mato-grossenses ao longo de todo o
século XIX e início do século XX. As principais fontes utilizadas foram: os livros de registro de empresas da Inspetoria Comercial de Mato Grosso, disponíveis nos arquivos da Junta Comercial de Mato Grosso (Cuiabá) e da Junta Comercial de Mato Grosso do Sul (C.
Grande); livros de estatísticas de exportação da antiga Mesa de Rendas de Corumbá (APMT, Cuiabá); dados relativos ao comércio exterior de Mato Grosso, registrados pelas agências
fiscais federais existentes no estado e publicados pelo Serviço/Directoria de Estatística Commercial do Ministério da Fazenda (disponíveis na internet). Utilizam-se também inventários e testamentos levantados tanto no Fórum de Corumbá como no arquivo do
Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul (C. Grande). Além disso, são utilizados o Album graphico do Estado de Matto-Grosso, o Almanak Laemmert e os relatórios dos
presidentes/governadores de Mato Grosso. Como fontes secundárias, utilizam-se obras memorialistas e relatos de viajantes. Assim, a tese procura traçar as rotas e os meios utilizados na comunicação entre Mato Grosso e outras partes do Brasil, assim como com os países
estrangeiros, vizinhos ou não, ao longo do período. Além disso, indica as atividades econômicas que eram desenvolvidas e mostra como se processava o comércio e quais eram os
principais gêneros comercializados ao longo do século XIX e inícios do XX. Com relação especificamente às casas comerciais, a tese apresenta os caminhos percorridos pelos proprietários das empresas estudadas, ao mesmo tempo em que procura entender a dinâmica
do funcionamento e da estrutura dessas empresas. Além disso, identifica os capitais aplicados e as diversas relações comerciais envolvidas, mostrando que as casas comerciais mato-
grossenses eram responsáveis pela escoação dos principais produtos de exportação do estado (com exceção da erva-mate) e pela introdução dos mais variados artigos importados, desde alimentos a artigos de luxo. Finalmente, a tese busca ilustrar parte das relações comerciais
mato-grossenses com a Bolívia e os estados vizinhos do Amazonas e Pará, no contexto da exploração da borracha, assim como entender a atuação de algumas das principais casas
comerciais mato-grossenses nessa economia nas duas primeiras décadas do século XX. Palavras-chave: 1. Mato Grosso. 2. Economia. 3. Transportes. 4. Importação. 5. Exportação.
7
Abstract: The general objective of this research is to study the importing and exporting firms
of Mato Grosso (including the current MT and MS) between the end of the 19th century and the early 20th century, with regard to: the capital of these firms (its origin and composition);
the details of their connections with both the national and global market and productive activities developed in the region; their internal structures and business strategies. However, to achieve this goal, the thesis also searchs to present the changes in the ways of
communication and transport and its effects on Mato Grosso society and economy throughout the 19th century and early 20th century. The main sources used were: the record books of the
Inspetoria Comercial of Mato Grosso, available in the archives of the Junta Comercial of Mato Grosso (Cuiabá) and the Junta Comercial of Mato Grosso do Sul (C. Grande); export statistics books of former Mesa de Rendas of Corumbá (APMT, Cuiabá); data on foreign
trade in Mato Grosso, registered by the federal Customs offices and published by the Ministry of Finance (available on internet). Also used inventories and wills found both in Forum of
Corumbá as the Tribunal de Justiça of Mato Grosso do Sul (Campo Grande). In addition, are used the Album graphico do Estado de Matto Grosso, the Almanak Laemmert and the reports of Presidents/Governors of Mato Grosso. As secondary sources, memoirs and reports of
travelers. Thus, the thesis seeks to trace the routes and the means used in the communication between Mato Grosso and other parts of Brazil, as well as with foreign countries, neighbours
or not, over the period. In addition, indicates the economic activities that were developed and shows how the trade was done and which were the main goods marketed throughout the 19th century and the early 20th century. With respect specifically to trade firms, the thesis presents
the paths traveled by their owners, while seeking to understand the dynamics of the functioning and the structure of these companies. In addition, identifies the capital that was
applied and the various business relationships, showing that these firms were responsible for flowing off the main export products of the State (with the exception of yerba mate) and the introduction of various imported items, from food to luxury items. Finally, the thesis seeks to
illustrate part of the mato-grossenses trade relations with Bolivia and neighbouring States of Amazonas and Pará, in the context of the exploitation of rubber, as well as understand the
performance of some of the major mato-grossenses trade firms in this economy in the first two decades of the 20th century.
Keywords: 1. Mato Grosso. 2. Economy. 3. Transport. 4. Import. 5. Export.
8
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
APMT - Arquivo Público de Mato Grosso. Cuiabá - MT.
DFN – Delegacia Fiscal do Norte
JUCEMAT - Junta Comercial de Mato Grosso. Cuiabá - MT.
JUCEMS - Junta Comercial de Mato Grosso do Sul. Campo Grande - MS.
NDHER - Núcleo de Documentação Histórica e Estudos Regionais. Universidade Federal de
Mato Grosso do Sul – Corumbá - MS.
SMT - Sul do antigo Mato Grosso.
TJMS- Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul
9
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Paquete Itajahy.................................................................................................. 46
Figura 2 - Paquete Nhandohy............................................................................................. 46
Figura 3 – Paquete Coxipó................................................................................................. 47
Figura 4 – Paquete Nioac................................................................................................... 48
Figura 5 – Paquete Orvalho................................................................................................ 48
Figura 6 – Vapor Etruria.................................................................................................... 49
Figura 7 – Vapor Leda........................................................................................................ 49
Figura 8 - Vapor G. B. Vierci............................................................................................. 50
Figura 9 - Embarque da borracha em igarités.................................................................... 54
Figura 10 - Traçado da Ferrovia Madeira-Mamoré............................................................ 57
Figura 11 - Matriz da casa Almeida & Cia. (Cuiabá) ........................................................ 132
Figura 12 - Escritório da Casa Almeida & Cia................................................................... 133
Figura 13 - Fábrica da Usina Itacy .................................................................................... 135
Figura 14 - Casa Orlando & Cia. (Cuiabá) na segunda década do século XX.................. 138
Figura 15 - Antiga casa Orlando & Cia. nos dias atuais .................................................... 138
Figura 16 - Alexandre Magno Addor ................................................................................ 144
Figura 17 - Automóvel responsável pelo transporte da carne do matadouro até os
açougues de Campo Grande................................................................................................
146
Figura 18 - Interior da casa Henrique Hesslein & Sergel .................................................. 150
Figura 19 - Casa Ao Anjo da Ventura ............................................................................... 153
Figura 20 - Vapor Etruria .................................................................................................. 154
Figura 21 - Interior da Casa Raphael Pinto de Arruda....................................................... 155
Figura 22 - Antiga casa comercial Angelo Rebuá, construída na primeira década do
século XX............................................................................................................................ 160
Figura 23 - Edificação Industrial Usina Açucareira Santo Antonio Ltda.......................... 162
10
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 - Produtos exportados de Mato Grosso no ano de 1885....................... 74
Gráfico 2 – Comparação dos valores das exportações da Casa Stöfen, Schnack,
Müller & Cia, nos anos de 1910-1912, segundo sua procedência declarada (em
réis)..........................................................................................................................
185
11
LISTA DE MAPAS
Mapa 1 - Trajeto marítimo-fluvial entre o Rio de Janeiro e os portos mato-
grossenses..................................................................................................................... 40
Mapa 2 -Mato Grosso: porção centro-norte e suas articulações................................ 58
Mapa 3 -Mato Grosso: porção centro-sul e suas articulações .................................... 63
Mapa 4- Locais onde estavam situadas as matrizes e filiais da empresa Stöfen,
Schnack, Müller & Müller & Cia...............................................................................
184
Mapa 5 – Localidades situadas na fronteira de Mato Grosso com a Bolívia no
período estudado..........................................................................................................
188
Mapa 6 – Porção Noroeste de Mato Grosso: postos e agências fiscais, linha
telegráfica, rios e estrada de ferro................................................................................
191
12
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - População de Corumbá em 1862, distribuída conforme as
nacionalidades...............................................................................................................
41
Quadro 2 - MATO GROSSO – distância entre as principais localidades urbanas em
KM.....................................................................................................................................
60
Quadro 3 - Caminhos internos cargueiros entre localidades mato-grossenses
demonstrados em quilômetros......................................................................................
61
Quadro 4 - Demonstração da diferença de preços causada pela longa distância (1844-
1845), em réis.....................................................................................................
69
Quadro 5 - Comparação dos valores recebidos do Governo Imperial com os gastos
dos ministérios da Guerra e da Marinha.......................................................................
75
Quadro 6 - Quadro comparativo de receitas e despesas gerais das províncias
brasileiras (1885, 1886-1887), em réis.........................................................................
76
Quadro 7 - Valor total das importações e exportações de Mato Grosso no período de
1872-1914 (em réis) ................................................................................................
78
Quadro 8 - Divisão dos lucros líquidos da empresa Almeida & Cia., segundo a
participação de cada sócio, no ano de 1900..................................................................
131
Quadro 9 - Integrantes da firma Almeida & Moura, de acordo com o capital e
participação......................................................................................................................
136
Quadro 10 - Nicola Verlangieri & Filhos: distribuição do capital e participação nos
lucros, segundo os sócios (1900) ....................................................................................
145
Quadro 11 - Composição da empresa José Dulce & Cia. (1901)....................... ........... 152
Quadro 12 – Filhos do casal Henriqueta Pereira Rebuá e Geasone Rebuá................... 158
Quadro 13 - Distribuição do capital de Candia & Moliterno, segundo os sócios, no
ano de 1921...................................................................................................................
166
Quadro 14 - Volume da borracha exportada (em kg) pela Delegacia Fiscal do Norte e
respectivos valores dos impostos arrecadados, em réis (1907-1921) ..........................
197
13
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Principais produtos importados por Mato Grosso em 1901 (Valor posto a
bordo, em mil-réis papel; volume em kg ou litro) ..............................................................
82
Tabela 2 - Principais produtos importados, segundo os portos mato-grossenses no ano
de 1902 (Valor posto a bordo, em mil-réis papel; volume em kg ou litro) ........................
83
Tabela 3 - Principais produtos importados, segundo os portos mato-grossenses no ano
de 1903 (Valor posto a bordo, em mil-réis papel; volume em kg ou litro) ........................
84
Tabela 4 - Principais produtos importados, segundo os portos mato-grossenses no ano
de 1904 (Valor posto a bordo, em mil-réis papel; volume em kg ou litro) ........................
85
Tabela 5 - Principais produtos importados, segundo os portos mato-grossenses no ano
de 1905 (Valor posto a bordo, em mil-réis papel; volume em kg ou litro) ........................
86
Tabela 6 - Principais produtos importados, segundo os portos mato-grossenses no ano
de 1906 (Valor posto a bordo, em mil-réis papel; volume em kg ou litro) ........................
87
Tabela 7 - Principais produtos importados, segundo os portos mato-grossenses no ano
de 1907 (Valor posto a bordo, em mil-réis papel; volume em kg ou litro) ........................
88
Tabela 8 - Principais produtos importados, segundo os portos mato-grossenses no ano
de 1908 (Valor posto a bordo, em mil-réis papel; volume em kg ou litro) ........................
89
Tabela 9 - Principais produtos importados, segundo os portos mato-grossenses no ano
de 1909 (Valor posto a bordo, em mil-réis papel; volume em kg ou litro) ........................
90
Tabela 10 - Principais produtos importados, segundo os portos mato-grossenses no ano
de 1910 (Valor posto a bordo, em mil-réis papel; volume em kg ou litro).........................
91
Tabela 11 - Principais produtos importados, segundo os portos mato-grossenses no ano
de 1911 (Valor posto a bordo, em mil-réis papel; volume em kg ou litro) ........................
92
Tabela 12 - Principais produtos importados, segundo os portos mato-grossenses no ano
de 1912 (Valor posto a bordo, em mil-réis papel; volume em kg ou litro) ........................
93
Tabela 13 - Principais produtos importados, segundo os portos mato-grossenses no ano
de 1913 (Valor posto a bordo, em mil-réis papel; volume em kg ou litro) ........................
94
Tabela 14 - Principais produtos importados, segundo os portos mato-grossenses no ano
de 1914 (Valor posto a bordo, em mil-réis papel; volume em kg ou litro) ........................
95
Tabela 15 - Principais produtos importados, segundo os portos mato-grossenses no ano
de 1915 (Valor posto a bordo, em mil-réis papel; volume em kg ou litro).........................
96
14
Tabela 16 - Principais produtos importados, segundo os portos mato-grossenses no ano
de 1917 (Valor posto a bordo, em mil-réis papel; volume em kg ou litro) ........................
97
Tabela 17 - Principais produtos importados, segundo os portos mato-grossenses no ano
de 1917 (Valor posto a bordo, em mil-réis papel; volume em kg ou litro).........................
98
Tabela 18 - Principais produtos importados, segundo os portos mato-grossenses no ano
de 1918 (Valor posto a bordo, em mil-réis papel; volume em kg ou litro).........................
99
Tabela 19 - Gêneros exportados por Mato Grosso, segundo os portos de origem em
1901 (valor em mil-réis) .....................................................................................................
106
Tabela 20 - Gêneros exportados por Mato Grosso, segundo os portos de origem em
1902 (valor em mil-réis) .....................................................................................................
107
Tabela 21 - Gêneros exportados por Mato Grosso, segundo os portos de origem em
1903 (valor em mil-réis) .....................................................................................................
108
Tabela 22 - Gêneros exportados por mato Grosso, segundo os portos de origem em
1904 (valor em mil-réis) .....................................................................................................
109
Tabela 23 - Gêneros exportados por Mato Grosso, segundo os portos de origem em
1905 (valor em mil-réis) .....................................................................................................
110
Tabela 24 - Gêneros exportados por Mato Grosso, segundo os portos de origem em
1906 (valor em mil-réis) .....................................................................................................
111
Tabela 25 - Gêneros exportados por Mato Grosso, segundo os portos de origem em
1907 (valor em mil-réis) .....................................................................................................
112
Tabela 26 - Gêneros exportados por Mato Grosso, segundo os portos de origem em
1908 (valor em mil-réis) .....................................................................................................
113
Tabela 27 - Gêneros exportados por Mato Grosso, segundo os portos de origem em
1909 (valor em mil-réis) ....................................................................................................
114
Tabela 28 - Gêneros exportados por Mato Grosso, segundo as estações aduaneiras de
origem em 1910 (valor em mil-réis) ...................................................................................
115
Tabela 29 - Gêneros exportados por Mato Grosso, segundo as estações aduaneiras de
origem, em 1911 (valor em mil-réis) ..................................................................................
116
Tabela 30 - Gêneros exportados por Mato Grosso, segundo as estações aduaneiras de
origem em 1912 (valor em mil-réis) ...................................................................................
117
Tabela 31 - Gêneros exportados por Mato Grosso, segundo as estações aduaneiras de
origem em 1913 (valor em mil-réis) ...................................................................................
118
Tabela 32 - Gêneros exportados por Mato Grosso, segundo as estações aduaneiras
origem em 1914 (valor em mil-réis) ...................................................................................
119
15
Tabela 33 - Gêneros exportados por Mato Grosso, segundo as estações aduaneiras de
origem em 1915 (valor em mil-réis) ...................................................................................
120
Tabela 34 - Gêneros exportados por Mato Grosso, segundo os portos de origem em
1916 (valor em mil-réis) .....................................................................................................
121
Tabela 35 - Gêneros exportados por Mato Grosso, segundo os portos de origem em
1917 (valor em mil-réis) .....................................................................................................
122
Tabela 36 - Gêneros exportados por Mato Grosso, segundo os portos de origem em
1918 (valor em mil-réis) .....................................................................................................
124
Tabela 37 - Arrolamento de bens do casal Antônio e Maria Rebuá em 15 de novembro
de 1892................................................................................................................................
156
Tabela 38 - Corumbá: Entrada de embarcações estrangeiras a vapor (inclusive entradas
repetidas), por nacionalidade...............................................................................................
172
Tabela 39 - Porto Murtinho: Entrada de embarcações estrangeiras a vapor
(Inclusive entradas repetidas), por nacionalidade...............................................................
173
Tabela 40 - Porto Esperança: Entrada de embarcações estrangeiras a vapor (Inclusive
entradas repetidas), por nacionalidade................................................................................
174
Tabela 41 - Valor total dos produtos exportados da Bolívia em trânsito pelo Porto de
Corumbá no ano de 1908.....................................................................................................
178
Tabela 42 - Valor total dos produtos exportados da Bolívia em trânsito pelo Porto de
Corumbá no ano de 1909.....................................................................................................
179
Tabela 43 - Valor total dos produtos exportados da Bolívia em trânsito pelo Porto de
Corumbá no ano de 1910.....................................................................................................
179
Tabela 44 - Valor total dos produtos exportados da Bolívia em trânsito pelo Porto de
Corumbá no ano de 1912.....................................................................................................
180
Tabela 45 - Valor total das exportações de produtos da Bolívia em trânsito pelo Porto
de Corumbá no ano de 1913................................................................................................
180
Tabela 46 - Valor total das exportações de produtos da Bolívia em trânsito pelo Porto
de Corumbá no ano 1915.....................................................................................................
181
Tabela 47 - Total de borracha exportada pela Agência de Vila Murtinho (em kg),
segundo sua classificação (1911-1914) ..............................................................................
192
Tabela 48 - Total de borracha exportada pela Agência de São Manoel (em kg), segundo
sua classificação (1911-1914) ............................................................................................
192
16
Tabela 49 - Total de borracha exportada do Jamary (em kg), segundo sua classificação
(1911-1914 .........................................................................................................................
193
Tabela 50 - Total de borracha exportada do Rio Machado (em kg), segundo sua
classificação (1911-1914) ...................................................................................................
193
Tabela 51 - Total de borracha exportada pela Agência Fiscal de Santo Antonio (em kg),
segundo sua classificação (1911-1914) ..............................................................................
193
Tabela 52 - Total da exportação de borracha pela Delegacia Fiscal do Norte (em kg),
segundo as agências fiscais (1911-1914) ...........................................................................
194
Tabela 53 - Comparação entre os dados da receita de Mato Grosso, com destaque para
a participação da borracha (1910-1915) .............................................................................
198
17
SUMÁRIO
Lista de Abreviaturas e Siglas ........................................................................................ 7
Lista de Figuras................................................................................................................. 08
Lista de Gráficos................................................................................................................ 09
Lista de Mapas................................................................................................................... 10
Lista de Quadros............................................................................................................... 11
Lista de Tabelas................................................................................................................. 12
Introdução.......................................................................................................................... 18
Capítulo I - Mato Grosso: ocupação, povoamento, vias de comunicação e rotas
comerciais...........................................................................................................................
29
1.1 - Acesso à via platina: expectativas e realidades........................................................... 38
1.2 - Século XX e as novas vias de integração.................................................................... 53
Capítulo II - A economia mato-grossense e seus principais produtos de importação
e exportação (século XIX e início do século XX) ..........................................................
65
2.1 - Comércio mato-grossense na primeira metade do século XIX................................... 66
2.2 - A situação econômica de Mato Grosso após a abertura da navegação pelo rio
Paraguai...............................................................................................................................
72
2.3 - A dinâmica econômica mato-grossense e seus principais produtos de importação e
exportação no início do século XX.....................................................................................
79
Capítulo III - As casas comerciais importadoras e exportadoras de Mato Grosso
(1890-1914) ........................................................................................................................
128
3.1 - Casas comerciais importadoras e exportadoras de Cuiabá ........................................ 129
3.2 - Casas comerciais importadoras e exportadoras de Cáceres ....................................... 151
3.3 - Casas comerciais importadoras e exportadoras de Miranda....................................... 155
3.4 - Casa comercial importadora e exportadora de Porto Murtinho.................................. 162
3.5 - Casa comercial importadora e exportadora de Nioaque............................................. 163
3.6 - Casas comerciais importadoras e exportadoras de Aquidauana ................................ 165
3.7 - As casas comerciais importadoras e exportadoras de Diamantino ............................ 167
3.8 – Casas comercial importadora e exportadora de Rosário............................................ 170
18
Capítulo IV - A dinâmica das relações comerciais mato-grossenses ........................... 171
4.1 - As relações comerciais envolvendo Mato Grosso e a Bolívia.................................... 175
4.2 - As relações comerciais envolvendo Mato Grosso e os estados do Amazonas e Pará 190
Considerações finais.......................................................................................................... 200
Referências......................................................................................................................... 202
Anexo.................................................................................................................................. 210
18
INTRODUÇÃO
Andar pelos portos das cidades de Cuiabá, Corumbá e Cáceres e ver as construções
que outrora foram receptáculos de algumas das grandes casas comerciais importadoras e
exportadoras que atuaram em Mato Grosso no último quartel do século XIX e nas duas
primeiras décadas do século XX, nos faz refletir sobre o viver em uma época em que os meios
de transporte eram totalmente diversos dos atuais; assim nos instiga a querer saber como essa
sociedade situada no extremo oeste brasileiro se relacionava com outras partes do nosso
território e com o mundo exterior, tornando o nosso objeto de pesquisa ainda mais fascinante.
Dessa forma, essa tese busca contribuir para a história de Mato Grosso1 através do estudo das
casas comerciais importadoras e exportadoras.
Tais casas importadoras e exportadoras não eram simples “armazéns”, pelo contrário,
eram empresas que tinham um sistema complexo de organização e atuavam em diversos
setores, tais como a exploração da indústria extrativa vegetal e animal, comércio por atacado e
a varejo, transporte, comissões, consignações e representações bancárias de bancos nacionais
e estrangeiros. Além disso, vendiam os mais variados produtos, desde alimentos perecíveis a
artigos de luxo, maquinários, mobília, ferramentas, entre outros. Essas empresas estavam
ligadas aos grandes centros capitalistas, com os quais mantinham intensas relações
comerciais, e além disso, muitos dos proprietários das referidas casas comerciais eram
estrangeiros que viram no distante Mato Grosso uma oportunidade de lucrar no comércio de
importação e exportação, criando assim uma rede de contatos que atravessavam o Atlântico.
De fato, as casas comerciais estavam inseridas em uma gama de redes sociais, compostas por
intensos contatos estabelecidos através de transações comerciais, relações pessoais e um
sistema de crédito interatuante.
Vale notar que o surgimento das casas comerciais importadoras e exportadoras de
Mato Grosso coincide com o surgimento de outras casas dessa mesma natureza em outras
regiões do país. Ressalvando as características particulares que diferenciam e definem essas
empresas conforme a região onde estavam situadas, todas elas tenderam a surgir em uma
mesma época, a partir de 1870, com uma forma de atuação semelhante. Temos na cidade de
Santos, por exemplo, o surgimento de empresas importadoras e exportadoras que tinham entre
seus proprietários uma predominância de estrangeiros, as quais também vendiam desde
1 Correspondente hoje aos estados de Rondônia, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
19
aguardente até locomotivas; ainda de modo semelhante, tanto em Mato Grosso como na
cidade de Santos, a realidade começou a alterar-se no início do século XX, com a forte
presença de brasileiros no ramo de importação e exportação (PEDRO, 2010). Na cidade do Rio
Grande, por sua vez, temos outro caso que se assemelha ao das casas comerciais mato-
grossenses, pois as atividades de importação e exportação, nos moldes aqui referidos, se
iniciam no final do século XIX e são aperfeiçoadas nas duas primeiras décadas do século XX
(TORRES, 2010)2. Um outro estudo, sobre uma casa comercial em Fortaleza (Ceará), apresenta
um diferencial interessante, pois, no caso, a empresa situada naquela cidade era uma filial de
uma empresa francesa (TAKEYA, 1995). Apesar das características específicas das empresas
importadoras e exportadoras das diferentes regiões do Brasil, todas elas tenderam a estar
vinculadas a um comércio internacional único, que era permeado por uma intensa rede de
contatos.
Para melhor situar o leitor sobre a trajetória percorrida até a construção dessa tese,
traçarei a seguir um breve esboço dos caminhos que trilhei. Inicialmente, o encanto pela
temática se deu ainda na graduação, quando realizei a pesquisa intitulada As casas comerciais
ligadas ao transporte fluvial em Mato Grosso (1870-1930): um estudo da situação atual
desta questão nos planos teórico e empírico, desenvolvida através do Programa de Bolsas de
Iniciação Científica, PIBIC-CNPq/UFMS, no período referente a agosto de 2005 a julho de 2006.
Essa pesquisa preliminar tinha por objetivo traçar um levantamento das obras disponíveis
sobre o assunto e verificar quais eram os pontos divergentes e convergentes entre esses
autores; ao mesmo tempo, realizei um levantamento de fontes documentais no Núcleo de
Documentação Histórica e Estudos Regionais (NDHER), da UFMS/Corumbá, local em que se
encontram diversos livros pertencentes ao fundo da Casa Vasquez.
A partir dessa pesquisa inicial foi possível perceber que, embora a temática das casas
importadoras e exportadoras mato-grossenses tivesse sido mencionada por diversos autores,
não havia nenhum trabalho detalhado sobre as mesmas. Os vários estudos existentes
limitavam-se a traçar uma caracterização geral dessas casas, haja vista que é praticamente
impossível falar da economia mato-grossense sem mencioná-las, devido a sua importância.
Para Borges, por exemplo, a abertura da navegação pelo rio Paraguai (fins da década
de 1850), conjugada às “transformações ao nível da produção e dos transportes em nível
mundial”, acabou por fortalecer, “como instituição, a casa comercial importadora e
exportadora, através do controle monopólico efetivo do comércio local, na representação dos
2 Embora esse trabalho seja apenas um esboço do comércio de importação/exportação do Rio Grande.
20
mais variados interesses econômicos que iam do controle da produção e do transporte ao
papel das agências bancárias” (BORGES, 2001, p. 119). Do mesmo modo, assinala que “coube
a um limitado número de casas comerciais (sediadas em grande parte em Corumbá) a
principal atividade nesse final do século XIX: o comércio de importação que, pelas próprias
condições em que se realizou, sugere ter-se constituído em uma fonte de lucros
elevadíssimos” (BORGES, 2001, p. 121).
Em seu estudo sobre a cidade de Corumbá, Souza refere-se também às casas
comerciais, assinalando que as atividades por elas exercidas “foram incorporando maior grau
de complexidade, o que, em contrapartida, representou uma divisão de trabalho no interior da
empresa, não sendo mais suficientes os conhecimentos rudimentares dos proprietários, dos
comerciantes tradicionais”. O autor nota que essas casas “mantinham correspondência com
empresas de vários países, especialmente da Europa, havia necessidade de conhecimento de
preços para tornar competitivas no mercado externo as mercadorias regionais, entender a
complexidade dos mecanismos do comércio internacional e as bolsas de produtos e mesmo
contatos pessoais com centros estrangeiros” (SOUZA, 2008, p. 180)3.
Na verdade, esse tema já tem até mesmo despertado algumas polêmicas, com relação,
principalmente, à interpretação oferecida por Alves (1984) – interpretação essa que, por ter
sido, de certa forma, “pioneira”, adquiriu grande influência, tendo sido adotada por vários
autores que se dedicaram, em maior ou menor grau, à história mato-grossense ou sul-mato-
grossense. Entretanto, pelo mesmo motivo ela suscitou diversas críticas e reavaliações.
Esse autor, por um lado, enfatiza a dominação social e econômica exercida por esses
comerciantes dos portos mato-grossenses. Ele observa, por exemplo, que a maioria deles
possuía barcos, e com isso “desenvolveram uma ‘navegação voluntária’, exercendo um
domínio tirânico sobre os produtores da região”, os quais dependeriam “exclusivamente da
casa comercial, tanto para escoar seus produtos como para abastecer-se de mercadorias
essenciais” (ALVES, op. cit., p. 67). Outra forma de domínio, segundo o autor, ligava-se ao
fato de que, na falta de agências bancárias na região, a casa comercial passou a “funcionar
como um banco nas últimas décadas do século XIX, pois oferecia crédito e cobrava altos
juros” (ALVES, 1985, p. 69).
O mesmo autor trabalha também com a ideia de que o poderio das casas comerciais
teria sido liquidado a partir da implantação do capital financeiro em Mato Grosso4, capital
3 Entre outros autores que se referem a essas casas, destaca-se também Reynaldo (2000).
4 Convém notar que, quando se refere a “capital financeiro”, “capital monopolista” e “imperialismo”, Alves
adota os conceitos expostos por V. I. Lênin na obra O imperialismo, estágio superior do capitalismo.
21
esse que se teria materializado em bancos e outros grandes “empreendimentos, ligados à
produção e aos transportes, direta ou indiretamente vinculados a grandes monopólios
capitalistas” (ALVES, 1985, p. 75).
Segundo a avaliação de Queiroz (2007), o ensaio de Alves sobre a história econômica
de Mato Grosso/Mato Grosso do Sul merece respeito por seu caráter “pioneiro”, pois foi
escrito em um momento em que a pesquisa em âmbito acadêmico no estado de Mato Grosso
do Sul dava seus primeiros passos. Contudo, o mesmo autor efetua duras críticas ao referido
ensaio, notando que ele adotava, como perspectiva teórica,
uma problemática versão do materialismo histórico – a qual se poderia talvez denominar, emprestando-se a expressão de Fragoso & Florentino, “marxismo da Guerra Fria”, com sua “exacerbação do determinismo ‘infra-estrutural’”. Além disso, seu diálogo com a historiografia econômica brasileira apresentava-se extremamente restrito, deixando de lado até mesmo as obras clássicas pertencentes à corrente marxista, como as de Caio Prado Júnior (QUEIROZ, 2007, p. 173).
Resumidamente, Queiroz concorda que a noção de “domínio do capital comercial
sobre o conjunto da economia mato-grossense, na época”, ideia defendida por Alves, constitui
“uma interpretação que encontra apoio na historiografia” (QUEIROZ, 2007, p. 182). O mesmo
autor considera, contudo, que “Alves superestima [...] a presença (e consequentes efeitos) do
‘capital financeiro’ na região” (id., p. 186) e sugere que, no estudo da história econômica de
Mato Grosso/Mato Grosso do Sul, sejam deixados de lado “rígidos esquemas preconcebidos”
(id., p. 198).
Nesse panorama historiográfico, com o intuito de saber um pouco mais sobre as casas
comerciais importadoras e exportadoras, ingressei no mestrado e realizei a pesquisa que
recebeu o título: As casas comerciais importadoras/exportadoras em Corumbá (1904-1915)
(Dissertação de mestrado em História – PPGH/UFGD, bolsista da CAPES, 2010/12).
Por meio desse estudo sobre as casas comerciais localizadas na cidade de Corumbá,
pude avançar nos seguintes aspectos: a origem dos proprietários das empresas analisadas, suas
trajetórias e a origem do capital. Foi possível perceber que, no caso das casas comerciais de
importação e exportação de Corumbá, as sociedades de tais empreendimentos apresentavam
suas especificidades, visto que havia empresas pertencentes a estrangeiros, assim como a
brasileiros, mas também havia casos em que brasileiros e estrangeiros se associavam. Além
disso, as empresas pertencentes a estrangeiros negociavam produtos importados de diversas
nacionalidades, não se limitando ao país de origem de seus sócios. Em resumo,
“independentemente [...] de sua origem ou caracterização inicial, todos esses tipos de
22
empresários tenderam a manter vínculos, igualmente diversos, com empresas e capitais
estrangeiros” (TARGAS, 2012, p. 58).
Também foi possível perceber que as empresas estudadas possuíam uma estrutura
complexa, pois atuaram não só no ramo da importação e exportação, mas também da extração
de produtos naturais e derivados da pecuária. Além disso, agiam nos ramos da comissão,
consignação, navegação e representação bancária. O capital empregado nessas empresas
também possuiu origem diversificada, sendo muitas vezes originário de uma antiga sociedade;
em outros casos, eram pessoas que já possuíam outras atividades e tinham capital para investir
no comércio, desta forma, admitiam um sócio, muitas vezes “de indústria”, para cuidar dos
negócios. No que se refere, especificamente, às funções bancárias das casas comerciais, aí
incluídas as representações de bancos estrangeiros, foi possível concluir que
as relações das principais casas comerciais de Corumbá com os vários bancos estrangeiros deviam destinar-se, sobretudo, a simplesmente viabilizar [...] operações de pagamento das importações e exportações. Em outras palavras, as casas comerciais, valendo-se das comunicações por telégrafo e da credibilidade que detinham perante os bancos, deviam atuar, sim, como “intermediárias”, mas apenas no que se refere aos processos de liquidação das transações, e não como “repassadoras” de recursos supostamente captados junto aos bancos (TARGAS, 2012, p. 90).
De todo modo, “isso não impediria também que as casas comerciais realizassem
operações financeiras com o seu próprio capital, emprestando dinheiro a juros, até mesmo na
forma conhecida como agiotagem” (TARGAS, 2012, p. 90).
Por meio da pesquisa de mestrado, portanto, foi possível esclarecer várias questões
sobre a problemática das casas comerciais; entretanto, outras perguntas surgiram. Entre as
dúvidas, as principais diziam respeito ao papel exercido pelas casas comerciais estabelecidas
em outras cidades do então estado de Mato Grosso, como Cuiabá, Cáceres, Miranda,
Diamantino, entre outras.
Desta forma, com a intenção de buscar esclarecer as novas interrogações sobre essa
temática, ingressei no doutorado no PPGH/UFGD com o anteprojeto de pesquisa: As casas
comerciais importadoras/exportadoras no antigo Mato Grosso (1890-1914), a qual contou
com o apoio da Fundect/Capes.
O objetivo geral delineado para a pesquisa consistia em estudar as casas comerciais
importadoras e exportadoras de Mato Grosso (incluindo os atuais MT e MS) no período de
1890 a 1914, no que se refere a: o capital dessas casas (sua procedência e composição); os
detalhes de suas conexões tanto com o mercado nacional e mundial quanto com as atividades
23
produtivas desenvolvidas na região; e suas estruturas internas de funcionamento e suas
estratégias comerciais.
Contudo, ao iniciar a pesquisa senti a necessidade de ampliar a discussão sobre as
mudanças nas vias de transporte e na economia mato-grossense, as quais se processaram ao
longo dos anos, e dessa forma foi necessário ampliar o recorte temporal para o século XIX e as
duas primeiras décadas do século XX.
Assim, nessa tese busco contribuir para o conhecimento da intensa atuação desses
comerciantes e suas relações em âmbito regional, nacional e internacional e o seu papel na
economia mato-grossense. Ademais, esse trabalho não se limita ao estudo somente das casas
comerciais importadoras e exportadoras de Mato Grosso. Pelo contrário, traz informações
sobre as mudanças ocorridas ao longo do século XIX e início do século XX, principalmente, no
que concerne às vias e meios de transporte e seus efeitos na sociedade e na economia mato-
grossense.
As fontes primárias que constituem a base para a realização dessa pesquisa são os
documentos da Junta Comercial de Mato Grosso (JUCEMAT, Cuiabá), da Junta Comercial de
Mato Grosso do Sul (JUCEMS, Campo Grande), bem como documentos da Mesa de Rendas de
Corumbá (APMT, Cuiabá). Utilizo também outros dados relativos ao comércio exterior de
Mato Grosso, registrados pelas agências fiscais federais existentes no estado e encontrados
nas publicações do Serviço/Directoria de Estatística Commercial do Ministério da Fazenda,
referentes aos anos de 1900 a 1918 (disponíveis na internet). Além disso, são utilizados o
Album graphico do Estado de Matto-Grosso, o Almanak Laemmert; os relatórios dos
delegados da Delegacia Fiscal do Norte (APMT, Cuiabá) e os relatórios dos
presidentes/governadores de Mato Grosso dos anos de 1830 a 1930. O jornal Correio do
Estado, de Mato Grosso, também apresenta informações interessantes sobre os personagens
estudados. Finalmente, utilizo também inventários e testamentos que foram levantados tanto
no Fórum de Corumbá como no arquivo do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul
(Campo Grande). Como fontes secundárias, utilizo obras memorialistas e obras
historiográficas pertinentes ao tema.
Isto posto, nota-se que as fontes utilizadas são de natureza diversa, pois “seria uma
grande ilusão imaginar que a cada problema histórico corresponde um tipo único de
documentos, específico para tal emprego” (BLOCH, 2001, p. 80). Assim, as fontes utilizadas são,
em sua maioria, denominadas fontes oficiais, pois são produzidas por órgãos públicos. Dessa
maneira, vale ressaltar que assumo aqui a orientação dada por Jacques Le Goff, o qual
classifica documentos como a “escolha do historiador” e monumentos como “herança do
24
passado” (LE GOFF, 1996, p. 535). Deste modo, o dever principal do historiador é a “crítica do
documento – qualquer que ele seja – enquanto monumento”, já que o
documento não é qualquer coisa que fica por conta do passado, é um produto da sociedade que o fabricou segundo as relações de forças que aí detinham o poder. Só a análise do documento enquanto monumento permite à memória coletiva recuperá-lo e ao historiador usá-lo cientificamente, isto é, com pleno conhecimento de causa (LE GOFF, 1996, p. 545).
O documento, em si, só é capaz de responder a nossos questionamentos quando
sabemos interrogá-lo. Assim, o historiador deve “fazer falar indícios mudos, acumular provas,
inventar formas indiretas de revelar o que os documentos não dizem abertamente” (MATTOSO,
1988, p. 25). Conforme Carlos Bacellar, “o historiador precisa entender as fontes em seus
contextos, perceber que algumas imprecisões demonstram interesses de quem as escreveu”
(BACELLAR, 2005, p. 64).
As fontes da Junta Comercial de Mato Grosso (JUCEMAT), Junta Comercial de Mato
Grosso do Sul (JUCEMS), da Mesa de Rendas de Corumbá e da Delegacia Fiscal do Norte,
assim como os inventários e testamentos, são manuscritas. Todas essas fontes foram
reproduzidas por meio da fotografia digital, depois lançadas no computador e ampliadas para
facilitar a leitura. Todos os dados foram, portanto, extraídos manualmente, devido às
condições das fontes.
As fontes da JUCEMAT e da JUCEMS são compostas por contratos, alterações e distratos
de sociedades de casas comerciais mato-grossenses. Esses contratos possuem dados como o
nome dos proprietários, sua nacionalidade, o capital empregado na sociedade, a participação
de cada sócio nos lucros, sua função no negócio, e se possuíam alguma filial. A metodologia
empregada para lidar com essas fontes foi o uso de um quadro separando os dados acima
mencionados, para uma melhor análise dos mesmos. Essa documentação apresenta indícios
importantes para a realização de um dos objetivos da pesquisa, que é justamente saber quem
eram esses proprietários, sua origem e o capital empregado. No entanto, sem esquecer que “o
historiador não pode se submeter à sua fonte, julgar que o documento é verdade [...], ser
historiador exige que desconfie das fontes, das intenções de quem as produziu, somente
entendidas com o olhar crítico e a correta contextualização do documento que se tem em
mãos” (BACELLAR, 2005, p. 64).
Os dados de importação e exportação geral de Mato Grosso foram encontrados nas
publicações do Serviço/Directoria de Estatística Commercial do Ministério da Fazenda. Esse
conjunto documental pertence ao acervo da Biblioteca do Ministério da Fazenda no Rio de
25
Janeiro, disponível no site Memória Estatística do Brasil (http://memoria.org.br). Essa
documentação inicia-se em 1900 e vai a década de 1920. Através dessas fontes, tomei
conhecimento dos produtos importados e exportados por Mato Grosso, assim como de sua
quantidade. Além disso, também consta a nacionalidade e a quantidade das embarcações que
estiveram nos portos mato-grossenses. Convém assinalar que, conforme será melhor
explicitado no interior da tese, os dados mencionados apresentam importantes limitações, pois
registram apenas o comércio que passava pelas agências fiscais federais situadas em território
mato-grossense (a Alfândega de Corumbá e as agências de Porto Murtinho, Cuiabá, Porto
Esperança, Bela Vista e Nhuverá5). Desse modo, além de não ser contabilizado o comércio
interestadual, também não eram computados os dados referentes à importação e exportação
que, embora envolvendo produtos procedentes de ou destinados a Mato Grosso, eram
realizadas por portos dos estados vizinhos (Paraná, Amazonas e Pará).
A Mesa de Rendas de Corumbá era um órgão estadual responsável pela coleta dos
impostos de exportação dos produtos extraídos na região central e sul de Mato Grosso, pois
fiscalizava a exportação que saía pelo rio Paraguai. Todavia, além dos dados referentes ao
comércio mato-grossense, essa Mesa de Rendas registrava também os dados sobre os
produtos em trânsito pelo porto corumbaense declarados como de procedência boliviana. O
que torna esses dados mais interessantes é o fato de que os exportadores são brasileiros e
estrangeiros radicados em Mato Grosso que atuavam nos dois lados da fronteira,
especialmente na exploração da seringa (borracha). A documentação da Mesa de Rendas de
Corumbá, bem como das coletorias de Porto Murtinho e Bela Vista6, se encontra sob os
cuidados do Arquivo Público de Mato Grosso (APMT), em Cuiabá. Nesse mesmo arquivo
encontram-se os relatórios dos delegados da Delegacia Fiscal do Norte, órgão estadual
responsável pela coleta de impostos dos produtos originários da porção norte de Mato Grosso
que eram exportados pelos portos da Bacia Amazônica. Nesses relatórios foi possível tomar
conhecimento dos postos e agências fiscais que atuavam em pontos estratégicos, sempre
localizados às margens de rios amazônicos.
Os dados do comércio exterior do Brasil, da Mesa de Rendas e da Delegacia Fiscal do
Norte foram tratados, em sua maior parte, de forma quantitativa, através de tabelas que
apontam a quantidade e o valor dos produtos comercializados. Na análise dos números,
contudo, buscamos uma abordagem qualitativa, e não meramente descritiva, pois o número só
5 Local correspondente à atual cidade de Coronel Sapucaia (MS).
6 A documentação referente a essas coletorias foi analisada, todavia não foram encontrados vestígios das
empresas estudadas neste trabalho.
26
tem importância para o historiador quando ele pode ser contextualizado (BARROS, 2004).
Assim, “o número – bruto ou elaborado – é uma referência, ou melhor dizendo, um índice. Do
mesmo modo que um fragmento de texto ou um caco de ânfora, ele orienta a intuição”
(GRENIER, 1998, p. 192).
Uma outra importante fonte para a realização dessa tese é o Album graphico do Estado
de Matto–Grosso, obra publicada em Hamburgo, em 1914, e que teve como principal
organizador Feliciano Simon, o qual era proprietário de uma importante casa comercial em
Corumbá. A publicação dessa obra teve apoio do governo, e sua “intenção explicitada era de
incrementar a economia, vender a imagem de um estado moderno e progressista aos que o
desejassem conhecer” (SOUZA, 2008, p. 75-76). Ao longo do Album graphico existem vários
artigos que dão pistas das principais rotas comerciais, assim como dicas de bens pertencentes
às casas comerciais analisadas, assim como outros importantes vestígios.
Para esta pesquisa, contudo, foi de especial importância o conteúdo da parte final do
Album, isto é, as dezenas de anúncios publicados por diversos empreendimentos em Mato
Grosso e outras empresas com vínculo no estado. Trata-se aí de uma fonte riquíssima, pois
esses anúncios trazem inúmeras informações sobre a história dessas empresas, a origem e
trajetória de seus proprietários, suas relações pessoais e comerciais etc. (informações que, em
boa parte, provavelmente não serão encontradas em nenhum outro local). Por outro lado, a
utilização dessas fontes constitui um risco para o historiador, haja vista que os anúncios
veiculam o discurso dos proprietários, isto é, eles indicam o modo como esses personagens
desejavam que suas empresas fossem vistas. Assumindo, portanto, esse risco (inerente ao
trabalho do historiador), o que procurei fazer foi, na medida do possível, cruzar as
informações dos anúncios com aquelas proporcionadas por outras fontes – lembrando sempre
que “as fontes só começam a falar a partir do momento em que as interrogamos, e que a
qualidade das respostas que elas podem dar coincide com a qualidade das questões que se
formulam” (FRANÇOIS, 1998, p. 158).
Os jornais publicados em Mato Grosso, encontram-se no site da Biblioteca Nacional
(http://memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx) e apresentam importantes informações sobre os
proprietários das casas comerciais importadoras e exportadoras de Mato Grosso. Ao utilizar a
imprensa como fonte primária, sabemos que esta deve ser analisada criticamente, como
qualquer documento, pelo historiador. Lembrando que “as informações e as notícias devem
ser avaliadas enquanto linguagem produtora de significados na sua relação com uma
determinada conjuntura ou situação contextualizada historicamente” (ALVES, 1996, p. 35). O
uso da imprensa traz contribuições para compreender a dinâmica econômica e social dos
27
proprietários das casas comerciais estudadas, haja vista que “as empresas são parte da
sociedade e não se pode estudá-las sem levar em conta as articulações recíprocas entre as
relações sociais e as práticas empresariais” (LEVY, 1994, p. 27).
Os processos de inventários e testamentos dos empresários estudados e de seus
familiares, disponíveis no arquivo do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul (situada em
Campo Grande) e no arquivo do Fórum de Corumbá, também integram o corpo documental
deste trabalho. Essas fontes são importantes porque:
as pesquisas que se utilizam dos inventários como fonte primária têm o monte-mor como indicador da riqueza acumulada pelo inventariado. Esse valor porta a vantagem de ser elemento obrigatório nos processos, apresentado imediatamente antes da partilha dos bens, servindo de base para o cálculo – deduzidas as custas e dívidas passivas – da meação, terça e legítimas dos herdeiros (VALENTIN, MOTTA, COSTA, 2013, p. 143).
As obras memorialistas ou não acadêmicas que integram o corpo documental são:
Italianos em Mato Grosso, de Lenine Póvoas, Generoso Ponce, um chefe de Generoso Ponce
Filho, e a obra Viagem e estudos sobre o Valle do Baixo Guaporé, de Manoel Esperidião da
Costa Marques; além disso, é também utilizado o relato do viajante Francis Castelnau
(Expedição às regiões centrais da América do Sul).
Com relação, especificamente, ao estudo da história das casas comerciais enquanto
empresas, procurei utilizar especialmente a obra de Valdaliso e López (2009), além da já
citada Levy (1994).
O primeiro capítulo, intitulado “Mato Grosso: ocupação, povoamento, vias de
comunicação e rotas comerciais”, apresenta um esboço geral a respeito da ocupação,
povoamento, vias de comunicação e rotas comerciais, desde o século XIX até a segunda
década do século XX, em Mato Grosso. Procurei traçar as rotas e os meios utilizados na
comunicação entre Mato Grosso e outras partes do Brasil, assim como com os países
estrangeiros, vizinhos ou não. Assim, tentei, no que foi possível, demonstrar os rios, as
estradas de terra e de ferro que foram utilizadas como vias de transporte, e os principais
elementos econômicos integrados a essas vias de comunicação.
O segundo capítulo, denominado “A economia mato-grossense e seus principais
produtos de importação e exportação (século XIX e início do século XX)”, demonstra as
atividades econômicas desenvolvidas em Mato Grosso no século XIX e nas duas primeiras
décadas do XX. Assim, foi possível perceber que algumas atividades, como a pecuária (que,
no território do atual MS, dava seus primeiros passos na primeira metade do século XIX), se
28
consolidou e se tornou de suma importância para as novas atividades produtivas que foram
sendo desenvolvidas no último quartel do mesmo século. Ao mesmo tempo, outras atividades
também surgiram, como o extrativismo da borracha, que representou uma nova fase para a
economia mato-grossense nas duas primeiras décadas do século XX. Procurei, através de
quadros, tabelas e um gráfico, dar melhor esclarecimento de como a economia mato-
grossense funcionava.
Nesses dois primeiros capítulos, além de utilizar as fontes documentais, procurei
também dialogar com a produção acadêmica relativa à história de Mato Grosso no século XIX
(destacando-se, a esse respeito, a tese de Silva [2015], recentemente defendida neste
Programa de Pós-Graduação).
O terceiro capítulo, por sua vez, nomeado “As casas comerciais importadoras e
exportadoras de Mato Grosso (1890-1914)”, apresenta os caminhos percorridos pelos
proprietários das empresas estudadas, ao mesmo tempo em que procura entender a dinâmica
do funcionamento e da estrutura dessas empresas. Além disso, identifica os capitais aplicados
e as diversas relações comerciais envolvidas. É importante assinalar que, neste capítulo,
deixei de incluir as casas sediadas em Corumbá, tendo em vista que estas já foram estudadas
em minha dissertação de mestrado; no entanto, para que os leitores possam ter fácil acesso a
essa análise, optei, por sugestão do orientador, por colocar em Anexo a respectiva parte da
dissertação.
Finalmente, o quarto capítulo, que tem por título “A dinâmica das relações comerciais
mato-grossenses”, busca ilustrar parte das relações comerciais mato-grossenses com a Bolívia
e os estados vizinhos do Amazonas e Pará, no contexto da exploração da borracha, assim
como entender a atuação de algumas das principais casas comerciais mato-grossenses nessa
economia nas duas primeiras décadas do século XX.
29
CAPÍTULO I
Mato Grosso: ocupação, povoamento, vias de comunicação e rotas
comerciais
Pelas vias de comunicação, de qualquer tipo ou natureza, não somente se realizam as trocas
comerciais e econômicas; se provêm de recursos e gêneros alimentícios as populações urbanas, se es-
tabelece a ligação entre os centros de consumo e os de produção, se atende às comunicações dos
exércitos, ao transporte e ao abastecimento de tropas, como ao tráfico internacional de viajantes, mas
também se produz e se intensifica a propagação de ideias e de culturas diferentes, se fecundam as
civilizações, umas pelas outras.
(Fernando de Azevedo)
O espaço geográfico que viria a constituir a Capitania, Província e depois Estado de
Mato Grosso7 começou a ser frequentado, ainda no século XVI, pelos súditos do Império
espanhol no sentido norte/sul, através do sistema fluvial Paraná/Paraguai que dá ligação ao
Oceano Atlântico via estuário do Prata, e chegaram a fundar, no final do século XVI, Santiago
de Xerez, hoje território sul mato-grossense. Já os agentes da Coroa portuguesa adentraram
essa região, no início do século XVII, por via terrestre no sentido leste/oeste, através dos
territórios dos atuais estados de Minas Gerais e São Paulo (QUEIROZ, 2011, p. 104-106). Toda
essa movimentação se fez unicamente
por meio do infame comércio de escravos índios, levados tanto a Assunção como a São Paulo. Em qualquer caso, no entanto, o Extremo Oeste não passava, então, de uma distante periferia. Ademais, ele logo perdeu praticamente toda a sua importância para os interesses espanhóis, à medida em que o centro principal desses interesses, na região platina, passou de Assunção para Buenos Aires. De fato, definitivamente fundada em 1580, essa última cidade tornou-se o nó principal da vasta rota alternativa (isto é, ilícita) de abastecimento das zonas mineiras do altiplano andino, relegando a própria Assunção a uma situação periférica; Xerez, por seu turno, desapareceu ainda na primeira metade do século XVII, e os paulistas puderam tranquilamente seguir em sua faina despovoadora do Extremo Oeste ao longo do restante desse século (QUEIROZ, 2011, p. 106-107).
7 Atuais estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Rondônia.
30
Foi na busca contínua da captura de indígenas que os paulistas adentraram cada vez
mais ao Oeste, quando se depararam com manchas de ouro de aluvião em 1718/1719, em
locais que hoje correspondem à cidade de Cuiabá. Esses achados auríferos permitiram que o
Extremo Oeste passasse a se ligar efetivamente ao espaço econômico da América Portuguesa.
O ouro foi encontrado primeiro às margens do rio Coxipó-Mirim e continuou sendo
descoberto em outros ribeiros, entre os anos de 1719 e 1722. E com a descoberta do ouro às
margens do córrego da Prainha, em 1722, foi levantado o arraial do Senhor Bom Jesus do
Cuiabá, o qual foi elevado à condição de vila, em 1727, sob a denominação de Vila Real do
Cuiabá (JESUS, 2011). Em 1730, a atividade de caça ao índio foi responsável, mais uma vez,
pela descoberta de novas jazidas de ouro, desta vez, na Bacia do Guaporé (GALETTI, 2012, p.
76). O rio Guaporé pertence já à bacia amazônica; deságua no rio Mamoré, que por sua vez é
um dos formadores do rio Madeira; atualmente, o rio Guaporé faz a divisa entre o estado de
Rondônia e a República da Bolívia. Junto com os achados auríferos, ergueram-se os arraiais:
São Francisco Xavier, Santana, São Vicente, Nossa Senhora do Pilar, Ouro Fino, Lavrinhas e
Boa vista (JESUS, 2011; GALETTI, 2012).
Com a descoberta de veios auríferos pelos paulistas, a notícia se espalhou e levas de
pessoas passaram a se dirigir para as minas cuiabanas. E os caminhos terrestres ou fluvial-
terrestres utilizados inicialmente pelos bandeirantes para ligar o Extremo Oeste ao restante da
Colônia portuguesa foram substituídos pelos caminhos fluviais que viriam a ficar conhecidos
como monções cuiabanas ou de povoado. O trajeto iniciava-se no alto Tietê (no atual Porto
Feliz), depois passava ao rio Paraná e, já em território do que viria a constituir os atuais
estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, seguia pelo rio Pardo; daí atravessava “o
breve varadouro por terra, pelo qual se passava da bacia do Paraná para a do Paraguai e onde,
ainda na década de 1720, fundou-se o sítio de apoio chamado fazenda de Camapuã”,
chegando ao ribeirão de Camapuã; seguia-se depois pelos rios Coxim, Taquari, Paraguai, São
Lourenço e Cuiabá (QUEIROZ, 2011, p. 107-108).
Mais tarde, em 1736/1737, surgiu uma rota alternativa por via terrestre, conhecida
como “caminho de Goiás”. O seu curso ligava a zona aurífera de Cuiabá às minas de Goiás,
encontradas em 1725, e daí, via Minas Gerais, com São Paulo e o Rio de Janeiro (BORGES,
2001; QUEIROZ, 2008a).
Dada a importância das novas minas para a receita da Coroa portuguesa, o avanço
contínuo rumo ao Oeste levou à aproximação dos luso-brasileiros das províncias castelhanas
31
de Moxos e Chiquitos8. Essa proximidade levou as coroas lusa e castelhana a ficarem atentas
às suas pretensões na área do Guaporé. Assim, o lado castelhano estabeleceu as missões
jesuíticas no Vale do Guaporé, em 1743; já a Coroa portuguesa divide a Capitania Geral de
São Paulo, criando as novas capitanias de Goiás e Mato Grosso em 1748 (GALETTI, 2012, p. 77-
78). A capitania de Mato Grosso “possuía dois distritos: o do Cuiabá, cujo principal núcleo
urbano era a Vila Real do Senhor Bom Jesus do Cuiabá (1727), e o do Mato Grosso, cujo
principal núcleo era Vila Bela da Santíssima Trindade”, fundada no ano de 1752, tornando-se
a capital da capitania mato-grossense (JESUS, 2011, p. 18).
E a partir de Vila Bela da Santíssima Trindade9, outra via comercial permitiu que as
zonas auríferas da região, principalmente do Vale do Guaporé, se vinculassem ao litoral de
Belém. Essa ligação com o norte da América portuguesa foi realizada por via fluvial, através
dos rios Guaporé, Mamoré, Madeira e Amazonas, “por meio da Companhia de Comércio do
Grão-Pará e Maranhão, que operou entre 1755 e 1778” (QUEIROZ, 2011, p. 110). Essa rota ficou
conhecida como monções do Grão-Pará ou do Norte (Idem, 2008).
Como os limites entre os domínios de Portugal e a Espanha ainda continuavam
imprecisos e o acordo que vigorava era o Tratado de Tordesilhas, as instalações dessas
povoações e fortes serviram de argumento para justificar as posses dos territórios ocupados,
nas negociações do Tratado de Madri (1750), que se fundamentava no princípio do uti
possidetis. Com esse tratado,
as regiões de Mato Grosso, da Amazônia e do Rio Grande do Sul passavam legalmente a Portugal e, em troca da área de Sete Povos das Missões, era reconhecida a soberania espanhola sobre a Colônia de Sacramento. As dificuldades na aplicação do tratado, ao lado de divergências quanto às informações sobre os territórios, resultaram na sua anulação no ano de 1761. Nessas circunstâncias, diante das disputas por Sacramento, as autoridades lusas voltaram os interesses para as fronteiras norte e oeste (JESUS, 2011, p. 28).
O Tratado de El Pardo (1761), que anulou o de Madri, devolveu “ao domínio lusitano
a Colônia do Sacramento10 e parte da margem sul e ocidental dos rios Guaporé e Jauru, o que
incluía o território onde fora fixado, em 1754, o Marco do Jauru” (GALETTI, 2012, p. 80). No
8 Trata-se aqui da região correspondente ao nordeste da atual Bolívia.
9 Posteriormente, no século XIX, Vila Bela da Santíssima Trindade passou a ser chamada de Cidade de Mato
Grosso.
10 Situada, atualmente, em território do Uruguai.
32
ano de 1763 foi realizado o Tratado de Paris, que estipulava que tudo voltasse aos termos do
Tratado de Tordesilhas. Sendo assim, a estratégia governamental utilizada pelos portugueses
para garantir o território correspondente à capitania de Mato Grosso foi a criação de alguns
fortes, os quais deveriam promover a povoação, ao mesmo tempo que efetivavam a presença
militar nos espaços fronteiriços. Assim, ao norte, criou-se o Forte do Príncipe da Beira, às
margens do rio Guaporé, em 1776 (GALETTI, 2012), nas proximidades de Moxos e Chiquitos.
No sul, primeiro foi criado o forte do Iguatemi em 1767, às margens do rio homônimo;
porém, este forte sucumbiu ao domínio espanhol, em 1777. E em 1775 foi criado o forte
Coimbra (QUEIROZ, 2011).
E nessa acirrada disputa de posses entre Portugal e Espanha foi realizado outro acordo,
o Tratado de Santo Ildefonso (1777), que instituiu quase os mesmos limites acordados
anteriormente pelo Tratado de Madri: garantindo a posse lusa, que tinha “por base os rios
Paraná, Paraguai e Guaporé, os limites ali definidos atenderam aos anseios portugueses de
manter sob a sua hegemonia a Bacia amazônica e as importantes vias de comunicação entre
Mato Grosso e as regiões Norte e Sul de sua colônia na América” (GALETTI, 2012, p. 81). Além
dos fortes, como tática geopolítica para defender a fronteira foram fundadas a povoação de
Albuquerque (atual Corumbá, 1778) e Vila Maria (atual Cáceres, 1778), ambas às margens do
rio Paraguai; a primeira ao Sul e a outra, ao Centro. Também foi criada a povoação de
Casalvasco11 (em 1783) e o Fortim de Miranda (atual cidade de Miranda, 1797), às margens
do rio Mondego (GARCIA, 2009; GALETTI, 2012).
Como os achados auríferos se limitaram à porção central da capitania de Mato Grosso,
a porção sul “permanecia basicamente como uma ‘área de passagem’, na medida em que nela
se situava a maior parte do trajeto das monções cuiabanas”. Nessa área, no início da década
de 1720 foram estabelecidos “sítios de lavoura destinados a abastecer os viajantes. Tais sítios,
contudo, com a única exceção da fazenda Camapuã, já em 1730 haviam sucumbido à
ofensiva dos Kayapó e Guaikuru” (QUEIROZ, 2011, p. 111). Logo, a porção sul se tornou ponto
de ligação entre o Sudeste brasileiro e o centro da capitania mato-grossense, ao mesmo tempo
em que servia de antemural da Colônia portuguesa frente aos avanços dos castelhanos (idem, p.
112).
Foi com a fundação da povoação de Santiago de Xerez e das missões do Itatim na
planície pantaneira, pelos espanhóis, que as primeiras remessas de gado bovino e cavalar
11 “Casalvasco foi ‘povoação regular’ e teve grande importância como espaço de negociações, inclusive
mercantis, entre autoridades hispano-lusitanas” (JESUS, 2011, p. 142).
33
adentraram a região meridional da futura Capitania de Mato Grosso. Todavia, com a
destruição dessas povoações, esse gado teria se dispersado e dado origem ao gado bravio12, o
qual foi encontrado em processo de estruturação pelos paulistas na década de 1630 (ESSELIN,
2011, p. 23). E depois de um século, seriam enviadas as primeiras remessas de gado
provenientes dessa região para o estabelecimento da pecuária, em Cuiabá. Uma vez que a
mineração e a pecuária eram atividades que se complementavam, pois
o bovino tornou-se um bem de valor inestimável, era impossível imaginar um povoado sem os animais de tração que, realizando os serviços mais pesados, liberavam o negro para as atividades mais rendosas, tanto é que em 1761, portanto quarenta e dois anos após a descoberta dos metais, já havia em torno de Cuiabá uma oferta de gado bovino muito superior à necessidade de consumo local (ESSELIN, 2011, p. 25).
Assim, o rebanho bovino esteve presente nos diversos núcleos rurais que foram de
suma importância para a ocupação e povoamento não-índio do espaço que veio a constituir a
Capitania/Província e depois o Estado de Mato Grosso. Para Silva, existiram no período
colonial em Mato Grosso diversas áreas rurais, mas essa autora destaca o papel dos sítios, no
processo de povoamento mato-grossense. Para ela, existiam na Capitania mato-grossense
quatro tipos de sítios. A saber, os “sítios de engenho”, que eram responsáveis pela produção
agrícola destinada ao comércio; “os sítios com casa de morada e engenho”, que associavam a
produção agrícola à pecuária; os “sítios de lavradia” que, por sua vez, eram propriedades
próximas às áreas mineradoras e se ocupavam da agricultura de subsistência, e em alguns
casos, atendiam ao mercado local; por último, a “fazenda”, a qual destinava-se à criação
extensiva de bovinos e equinos (SILVA, 2015).
A estabilidade dos habitantes que permaneceram em Mato Grosso deve-se, em grande
parte, às outras atividades desenvolvidas na região. Entre essas atividades encontravam-se as
transações comerciais entre os habitantes de Moxos e Chiquitos e os de Mato Grosso. Esse
intercâmbio comercial fronteiriço iniciou-se no período colonial, ainda na primeira metade do
século XVIII, e se deu “com a intenção primeira de somar esforços para superar as duras
condições de vida. Nesse intercâmbio, efetivaram-se trocas, na tentativa de cada grupo
atenuar suas deficiências de abastecimento” (VOLPATO, 1987, p. 54).
Com o passar dos anos, as trocas comerciais foram se intensificando, e as autoridades
competentes dos dois lados da fronteira buscavam melhorias para as vias de comunicação que
12 É importante notar que os Mbayá-Guaikuru introduziram os bovinos e cavalares em seu cotidiano. Ver mais
em Corrêa, 1999.
34
possibilitavam esse comércio. Assim, em 1837, José Antonio Pimenta Bueno (então
presidente da província) assinalava a importância de se melhorar o acesso que, passando por
Casalvasco, dirigia-se até Chiquitos, na Bolívia, com um percurso de 15 a 16 léguas. Além
disso, a Bolívia, com autorização do Governo Central, havia mandado abrir uma estrada que,
partindo de Jacobina, dirigia-se até o marco do Jauru e daí até São Rafael, na Bolívia (RMT13,
01/03/1837, p. 8). Outra evidência de tal comércio se encontra nas palavras do presidente da
província Estevão Ribeiro de Resende, quando enfatiza a importância do pedido da Câmara
Municipal da cidade de Mato Grosso sobre a necessidade de uma barca sobre o rio Guaporé
para fazer o translado dos comerciantes que se destinavam à Bolívia (RMT, 02/03/1839, p. 55).
Quanto à região sul da província de Mato Grosso (SMT)14, foi somente em fins da
década de 1820 que começou a ser povoada de forma mais significativa por não-índios, no
contexto da expansão da pecuária bovina. Expansão essa efetuada, por um lado, por
povoadores “provenientes de Minas Gerais e das terras paulistas vizinhas da região hoje
chamada Triângulo Mineiro” (QUEIROZ, 2008a, p. 20), os quais dirigiram-se para a bacia do
Paraná, especificamente para o planalto sul-mato-grossense, área propicia para a pecuária, já
que ali encontravam-se campos limpos e cerrados (QUEIROZ, 2011). A ocupação começou nas
imediações do rio Paranaíba (um dos formadores do Paraná), o que levou à instauração do
povoado de Santana do Paranaíba, reconhecida como freguesia em 1838 (hoje apenas
Paranaíba). Já na década de 1840, parte desse grupo migratório deslocou-se para o oeste e sul,
na região conhecida como Vacaria15 e o vale do rio Apa (QUEIROZ, 2008b). Outros povoadores
vieram dos arredores de Cuiabá, precisamente das áreas onde a pecuária bovina era
praticada16; estes, por sua vez, foram principalmente para “a porção meridional do pantanal”,
dando novo sentido às povoações existentes na região sul, isto é, Miranda e Albuquerque
13 Por meio desta abreviatura (RMT ) refiro-me aos relatórios, discursos ou mensagens dos presidentes da
Província/Estado de Mato Grosso que eram apresentados na abertura das sessões da Assembleia Legislativa, aqui
identificados pela data de apresentação (dia/mês/ano).
14 Utilizarei essa abreviação quando se tratar do antigo sul de Mato Grosso, atual Mato Grosso do Sul, criado em
1977.
15 A partir do século XIX, “o nome Vacaria passou a ser aplicado a uma extensa área de campos limpos existente
no planalto, isto é, uma área que, com largura variável, acompanha a cuesta de Maracaju desde as cabeceiras do
Apa até as proximidades da atual cidade de Campo Grande” (QUEIROZ, 2008a, p. 20).
16 Foi com o movimento conhecido como Rusga, um dos movimentos do Período Regencial, que grupos de
pessoas deixarem Cuiabá e migraram para o sul da província mato-grossense. Para maiores informações ver:
CORRÊA FILHO, 1926.
35
(atual Corumbá) (QUEIROZ, 2011, p. 114). Essas duas correntes de povoamento entraram em
contato no vale do Miranda, na década de 1840 (idem, 2008a, p. 21).
O estabelecimento de fazendas para a criação de gado no SMT se deu por volta de 1830
e 1840 e não foi um processo tranquilo, pelo contrário, se deu através do choque com os
Mbayá (Guaikurú) e outros grupos indígenas que já ocupavam a região. Em contrapartida, os
investimentos financeiros eram mínimos, pois necessitava-se apenas de “alguns animais de
tração e carretas, indispensáveis para percorrer os extensos campos, serras virgens e matas
densas, apenas transitáveis por antigas trilhas indígenas ou abertas a fogo e facão”; além
disso, a exploração das terras se deu por meio do desmatamento e das queimadas (CORRÊA,
1999, p. 95).
Na década de 1830 surgiu uma nova via de comunicação, o “caminho do Piquiri”.
Essa estrada ligava Cuiabá a Santana do Paranaíba (a qual, por sua vez, já estava ligada a
Uberaba e a todo o Sudeste brasileiro). Já os habitantes do vale do Miranda, “com esforços
próprios abriram uma nova trilha em direção ao Piquiri que deu a eles a oportunidade de
colocar seus rebanhos no mercado de Minas e São Paulo” (ESSELIN, 2011, p. 169). O processo
consistia em enviar o gado bovino ainda magro para ser engordado nas pastagens mineiras,
depois seguia para o abate no Sudeste brasileiro. Isso tornou possível a vinculação de Mato
Grosso com o centro econômico do país. Com o avançar do século XIX, essa via terrestre foi
ganhando maior importância, pois se tornou rota de exportação do gado, ao mesmo tempo que
via de entrada do sal e outros mantimentos indispensáveis aos moradores das áreas campestres
do sul de Mato Grosso (QUEIROZ, 2008a, p. 22- 34).
Apesar dos diversos esforços de integração do Extremo Oeste ao restante do Império, a
província de Mato Grosso ainda se desenvolvia em um ritmo considerado lento pelos
presidentes da província de Mato Grosso. Assim, desde o início do século XIX, os governantes
mato-grossenses atribuíam a debilidade econômica à falta de uma via de comunicação menos
onerosa e mais rápida com as províncias vizinhas e o centro comercial do Império. De tal
maneira, eram constantes em seus relatórios os pedidos de ajuda à Assembleia Legislativa
Provincial para que fossem abertas novas vias, assim como melhoradas as existentes. A esse
respeito, convém ressaltar que os presidentes provinciais, designados pelo governo imperial,
chegavam a Mato Grosso embebidos das noções de progresso correntes nos centros ditos
civilizados da época, tanto do Velho Mundo como do próprio litoral brasileiro; assim, ao
aplicarem à realidade mato-grossense os seus próprios valores, facilmente chegavam à
conclusão de que se tratava de uma região atrasada, quando não bárbara (cf. Galetti, 2012).
36
Para o então presidente da província José Antonio Pimenta Bueno, a abertura da
estrada pelo Piquiri à província de S. Paulo proporcionaria um novo vigor financeiro, já que
ocorreria “avultada saída do gado vacum e cavalar desta província em benefício da Província
de S. Paulo e outras” (cf. RMT 30/11/1836, p. 16-17). No ano de 1840, o “caminho do Piquiri” já
se encontrava totalmente aberto até Santana do Paranaíba, e por ele estavam passando “várias
tropas vindas da Província de S. Paulo carregadas de sal” (cf. RMT 01/03/1840, p. 18).
Apesar dos esforços das autoridades competentes em efetivar o uso do “caminho do
Piquiri”, que ligava Cuiabá a Santana do Paranaíba e depois com o Sudeste brasileiro, essa via
não obteve a adesão dos comerciantes da porção central de Mato Grosso, que continuavam
preferindo o “caminho de Goiás” (QUEIROZ, 2008a, p. 31). Assim, o presidente da Província
escreve em seu relatório, em 1845:
a nova estrada17 de comunicação entre esta Província e a de S. Paulo, em cujos ensaios já se há despendido desde 1832 a quantia de 10:845$000 réis, tem estado como que abandonada há quase dois anos, sem dúvida pelo mau sucesso de ambas as veredas que se abriram até o Piquiri (cf. RMT, 01/03/1845, p. 23).
O interesse em efetivar essa via de comunicação pode ser entendido como estratégia de
integração dos novos habitantes vindos de Minas Gerais com a política mato-grossense.
Ademais, a não preferência dos comerciantes pelo “caminho do Piquiri” não significa que o
mesmo tenha sido relegado ao total abandono (QUEIROZ, 2008a, p. 31). Além disso, em 1851, a
estrada de Goiás estava relegada aos comerciantes que iam somente uma vez ao ano até a
capital do Império para realizar suas compras (cf. RMT, 10/05/1851, p. 33) e havia “quase que
cessado de vir por via de Goiás a correspondência pública e particular da Corte”, passando a
ser efetuada, quase que toda, pela estrada do Piquiri (idem, p. 34).
Outra via de comunicação passou a ser buscada e alvo de investidas por parte dos
governantes de Mato Grosso, desde a segunda década do século XIX. Essa via daria ligação ao
Pará, através da navegação dos rios Arinos, Tapajós e Amazonas. A esse respeito escreve o
então governador da capitania, D’Oeynhausen:
17 Refere-se aqui à “estrada do Piquiri”. Conforme Queiroz, é “digno de nota (e de maiores estudos) o fato de
que ela é sempre referida expressamente, pelos presidentes da província, como ‘estrada para São Paulo’ –
indicando, portanto, um interesse específico em uma ligação direta com essa província, sem passar sequer pelo
território de Minas Gerais” (QUEIROZ, 2008a, p. 29).
37
A navegação do Arinos não se achou impraticável, porém muito custosa: não são muitas as cachoeiras, porém são grandes as que há, e a conduta [expedição] esteve a sofrer um contínuo sobressalto pela multidão de índios que encontrou. Porém, o que mais desacreditou esta navegação, foi que o oficial inferior mandado a esta diligência, dando dela as piores informações no Pará, pareceu confirmá-las pelo regresso que fez pelo Madeira, voltando por aquele rio para Mato Grosso. Tais princípios não eram de feliz agoiro para essa empresa e com efeito sucedeu o que devia suceder porque morreram todos os projetos de tirar partido dessa navegação, que se abandonou quase ao mesmo tempo que se empreendeu (Ofício nº 17, dirigido ao conde de Linhares, por João Carlos Augusto D’Oeynhausen, relativamente aos meios de transporte da capitania do Mato Grosso com as outras por via Fluvial, 30 de maio de 1811, apud HOLANDA, 1990, p. 123).
Apesar dos problemas relatados pelo governador, o interesse pela referida navegação
não foi abandonado. E, conforme apontou Castelnau, desde pelo menos 1816 essa rota
comercial teria entrado em atividade, utilizando para embarque um porto localizado no rio
Arinos, distante da vila de Diamantino cerca de dez léguas (CASTELNAU, 1849, p. 210).
Os dirigentes da Província continuaram ao longo dos anos buscando recursos para
melhorar essa rota fluvial, através da construção de portos, barracões e varadouros. Assim, em
1845, o presidente Ricardo José Gomes Jardim solicita melhoramentos nessa rota de
navegação, pois para ele a via de transporte por meio dos rios Arinos e Tapajós para o Pará
era “a mais urgente para a Província, pois que, sobre não ser mais incômoda, nem mais
perigosa que a do Guaporé, tem a vantagem de encurtar a distância de mais de 280 léguas,
relativamente a Cuiabá” (cf. RMT 01/03/1845, p. 22). Já no ano de 1848, buscava-se um
varadouro que pudesse dar ligação entre o porto denominado Guarda-mor, no rio Arinos, e o
rio Cuiabá; essa empreitada ficou a cargo do cidadão José Alves Ribeiro (RMT 03/05/1847, p.
20). Os planos iniciais se alteraram, assim, o porto Guarda-mor foi substituído por um novo
porto, também no rio Arinos, nomeado Bom Jardim. Assim, desse novo porto abriu-se um
varadouro que deu ligação ao rio Cuiabá, na localidade denominada Baixio. Essa rota
beneficiava o comércio dos municípios de Cuiabá e da Vila do Alto Paraguai Diamantino com
a cidade de Belém (RMT, 03/05/1849, p. 14). Essa via era valorizada por ser toda praticada dentro
do território brasileiro e, mesmo depois da abertura da navegação pelo rio Paraguai, ela não
deixou de ser utilizada.
38
1.1 Acesso à via platina: expectativas e realidades
Desde o período colonial, a via platina18 era tida como a melhor via de comunicação e
rota comercial para Mato Grosso, a qual passou a ser buscada, desde a década de 1830, pelos
dirigentes brasileiros (QUEIROZ, 2008a, p. 36). Era esperado que, com a livre navegação pelo rio
Paraguai e, em seguida, o acesso aos portos dos países platinos, seria possível uma nova
existência para a província, pois seriam facilitadas as relações comerciais, ao mesmo tempo
que tornaria possível a colonização estrangeira (RMT, 01/03/1845). Como apontou Queiroz,
apesar desse caminho representar “uma enorme ampliação da distância absoluta entre Cuiabá
e o Rio de Janeiro”, por outro lado, “em termos relativos” seu significado era o contrário, já
que:
Possuindo condições de navegação que, sobretudo de Corumbá para baixo, variavam de regulares a excelentes, o sistema Paraguai/Paraná, além de proporcionar aos viajantes inéditas condições de conforto, permitiria um significativo encurtamento do tempo das viagens. Ele representaria, desse modo, uma verdadeira libertação em face das limitações então impostas pelo tráfego em lombo de mulas (no caso dos caminhos de terra) e pelos inúmeros trechos encachoeirados (nos caminhos fluviais interiores). Todas essas vantagens, enfim, além de beneficiarem diretamente as relações comerciais, facilitariam o aparelhamento militar da fronteira, fortalecendo desse modo a soberania do Império sobre o Extremo Oeste (QUEIROZ, 2011, p. 117).
Finalmente, em 1856 é celebrado o Tratado de Amizade entre o Império brasileiro e a
República do Paraguai, que franqueava o comércio e a navegação pelo rio Paraguai (RMT,
04/12/1856). Mas, devido às reclamações a respeito das regulamentações impostas pelo governo
paraguaio sobre a circulação das embarcações brasileiras, foi realizada em 1858 uma
“convenção adicional” ao Tratado da Amizade, a qual atendia às reclamações dos brasileiros
(QUEIROZ, 2008b).
Essa nova via de transporte possibilitou que a província de Mato Grosso passasse a se
ligar ao oceano Atlântico, via estuário do Prata. Assim, já em fevereiro de 1857 chegaram a
Cuiabá os primeiros vapores procedentes do Rio de Janeiro e de Buenos Aires. O porto de
Corumbá, por sua vez, recebeu várias outras embarcações (cf. RMT, 03/05/1857), pois a sua
posição geográfica permitia receber vapores de maior calado, já que a navegação até Cuiabá
apresentava dificuldades impostas pela profundidade reduzida do rio Cuiabá.
18 Refiro-me aqui ao percurso pelo estuário do Prata e pelos rios Paraná e Paraguai, em direção a Mato Grosso.
39
Com a nova via comercial surgiram novas expectativas para o tão sonhado
desenvolvimento econômico e populacional de Mato Grosso. Assim, por meio do Decreto nº
2.196, de 23 de julho de 1858, foi aprovado o contrato entre o governo do Império brasileiro e
o empresário José Antônio Soares, referente à organização da Companhia de Navegação do
Alto Paraguai, que iniciou suas atividades em novembro de 1859. Essa empresa tornava-se
responsável por realizar oito viagens redondas por ano, ou seja, Montevidéu-Cuiabá-
Montevidéu; pois do Rio de Janeiro até Montevidéu já havia uma linha de navegação regular.
Esse trajeto seria realizado por duas linhas, assim, a primeira partia de Montevidéu até
Corumbá e a segunda de Corumbá a Cuiabá e vice-versa. A citada companhia contou com a
subvenção de 25 contos de réis (25:000$000) por cada viagem redonda, que foi “dada pelos
primeiros 5 anos de operação da empresa, visando assegurar sua estabilidade econômica. Nos
anos seguintes, a subvenção iria sendo diminuída conforme o crescimento da Companhia”
(ARRUDA; QUEIROZ, 2013, p. 5). O contrato entre a Companhia de Navegação do Alto Paraguai
e o governo Imperial estabelecia que a linha de Montevidéu com destino a Corumbá deveria
ocorrer no terceiro dia “dos meses de fevereiro, maio, agosto e novembro e nos dias 17 de
março, junho setembro e dezembro”. Já a rota de Cuiabá-Corumbá dava-se todo dia 15 dos
meses de fevereiro, maio, agosto e novembro e todo dia primeiro de abril, julho, outubro e
janeiro. E a linha Corumbá-Cuiabá deveria iniciar-se 48 horas após o encontro da linha de
Montevidéu-Corumbá com a linha Cuiabá-Corumbá. Já o tempo de parada nas escalas
variava, pois em Buenos Aires permanecia por 4 horas; na cidade de Paraná (província de
Entre Ríos, Argentina) esse tempo passava para 8 horas; já nos portos de Corrientes e de
Assunção ficavam parados por 48 horas, e quando chegava em seu ponto final, em Corumbá,
permanecia por 6 horas (RMT, 03/05/1862, p. 96-97). Contudo, as condições do porto de Corumbá
ainda eram modestas, e os comerciantes se queixavam da “ausência completa de uma
infraestrutura portuária, para transbordo e armazenamento de mercadorias”, além da “demora
na estadia de suas encomendas no Porto de Corumbá” (CORRÊA, 1999, p. 132).
40
Mapa 1
Trajeto marítimo-fluvial entre o Rio de Janeiro e os portos mato-grossenses
41
Essa nova via de comunicação permitiu que Corumbá se tornasse um entreposto
comercial. Assim, algumas medidas foram tomadas para dinamizar a sua povoação, foram
elas: a demarcação de lotes urbanos e a construção de um Arsenal de Guerra e do Trem
Naval, em 1858 (GARCIA, 2001). Em 1861, recebeu a instalação de uma Alfândega (CORRÊA,
1980, p. 39). No ano de 1862, havia em Corumbá 109 ranchos de palha, 36 casas edificadas e
ainda 29 casas em construção (RMT, 03/05/1862, p. 39). A população, por sua vez, era composta
por pessoas de diversas nacionalidades, conforme quadro 1.
Quadro 1
População de Corumbá em 1862, segundo suas nacionalidades
Fonte: RMT , 03/05/1862, p. 39
A presença de imigrantes em Mato Grosso21 contou com o incentivo do governo
imperial, garantindo que estrangeiros de diversas nacionalidades fossem transportados do
Uruguai para Mato Grosso com passagens e alimentação gratuitas. Essas medidas refletiram-
se no até então modestíssimo povoado de Corumbá, que foi elevado à categoria de vila, em
1862, devido ao seu aumento populacional e a expectativa de que viesse a se tornar o
principal polo comercial de Mato Grosso (CORRÊA, 1980, p. 39). E no ano de 1878, Corumbá
alcançou a categoria de cidade (SOUZA, 2008, p. 34).
19 Desse total, quatro pessoas eram identificadas como corrientinos.
20 Desse total de brasileiros, 44 eram ditos escravos.
21 A esse respeito, ver GOMES, 2011.
Nacionalidade Número
Alemães 2
Americanos 3
Argentinos 619
Bolivianos 3
Brasileiros 1.23120
Espanhóis 6
Franceses 26
Italianos 29
Uruguaios 9
Total 1.315
42
A partir de Corumbá também se buscou abrir um caminho que pudesse dar acesso à
Bolívia. Essa via teria sido aberta por iniciativa de “alguns estrangeiros, a quem se associou
um brasileiro, guiados” – acrescenta curiosamente a fonte, sem maiores explicações, por “um
escravo do Barão de Vila Maria”. Seja como for, informa-se que, através desse caminho,
partindo de Corumbá, após 4 dias de viagem chegava-se ao porto de Santo Coração na
Bolívia, em um percurso de mais ou menos 25 a 30 léguas de distância. Esses esforços
empreendidos eram uma tentativa de animar o comércio entre as duas nações (RMT, 08/05/1866,
p. 5). Porém, a
Guerra da Tríplice Aliança contra o Paraguai, iniciada em 1864-1865, interromperia, com seu dramático cortejo de horrores e destruições, o processo até aqui referido. O rio Paraguai voltava a fechar-se à navegação brasileira; além disso, as operações bélicas devastaram tanto a República do Paraguai quanto o SMT (haja vista que, como se sabe, a guerra começou precisamente com a ocupação paraguaia desse território) (QUEIROZ, 2008a, p. 38).
Após a guerra, efetivou-se em definitivo a livre navegação pelo rio Paraguai até o
Porto de Corumbá, e essa nova via de transporte redefiniu de forma sensível as condições
econômicas de Mato Grosso, como também possibilitou um povoamento mais efetivo da
fronteira (CORRÊA, 1999, p. 130). E com o estabelecimento de uma divisão do Exército na vila de
Corumbá e um Arsenal da Marinha em Ladário, localidade próxima de Corumbá (CORRÊA,
1980), é possível afirmar que “esses dois estabelecimentos militares, somados à livre
navegação pela Bacia platina, foram de suma importância para que a situação do comércio
corumbaense começasse a prosperar” (TARGAS, 2012, p. 20).
A navegação a partir de Corumbá para outros locais de Mato Grosso ainda possuía
alguns empecilhos, já que seria “preciso grandes melhoramentos nos rios S. Lourenço e
Cuiabá, fazendo desaparecer a maior parte desses grandes obstáculos que hoje impedem a
navegação, até mesmo, dos pequenos vapores”, dizia o presidente da Província, em 1871
(RMT, 20/08/1871, p. 44). No ano de 1872, a navegação a vapor já era realizada por mais de uma
empresa. A Companhia de Navegação do Alto Paraguai, agora pertencente à sociedade
Conceição & Cia. (RMT, 03/05/1873, p.38), continuava realizando suas atividades com 7 vapores,
na linha de Montevidéu a Cuiabá. Uma viagem redonda durava em torno de 35 dias e
cobravam-se, por pessoa, 300$000 (trezentos mil réis) à ré e 150$000 (cento e cinquenta mil
réis) à proa (RMT, 04/10/1872, p. 93-95).
43
Já a empresa de navegação Leocádia, de domínio da empresa Silva Pereira & Cia.
(RMT, 03/05/1873, p.38), fazia a rota de Corumbá a Cuiabá e a viagem custava 76$000 (setenta e
seis mil réis) na primeira classe e 38$000 (trinta e oito mil réis) na segunda classe. Possuía
somente uma embarcação a vapor, e a viagem demorava de 17 a 20 dias. Em embarcações
simples, como canoas, faziam-se os caminhos interiores, transportando mercadorias como de
Cuiabá a Miranda e de Vila Maria a Corumbá (RMT, 04/10/1872, p. 93-95).
Já em 1873, desejava-se que a navegação a vapor entre Montevidéu e Cuiabá, “com
escala por Corumbá e diversos portos da República do Paraguai e da Confederação
Argentina”, fosse completada por outra empresa com destino ao Rio de Janeiro ou as
províncias do Sul, evitando assim que “os passageiros com suas bagagens e cargas”
passassem “no porto [de Montevidéu] por longas estadias e as inerentes despesas” (RMT,
03/05/1873, p. 39). No ano de 1874, a Companhia de Navegação do Alto Paraguai já estava
incorporada à Companhia Nacional de Navegação a Vapor, que realizava a antiga rota de
Cuiabá a Montevidéu, bem como a linha deste porto ao Rio de Janeiro (RMT, 03/05/1874, p. 70).
Já se tem notícia de que, em 1878, havia uma companhia de vapores argentinos fazendo a
linha de Buenos Aires a Corumbá (QUEIROZ, 2008a, p. 40).
E mesmo com os incentivos fiscais concedidos em 1866, que foram prorrogados em
1872 até 1878 (GARCIA, 2001, p.103), a situação econômico-financeira de Mato Grosso não se
modificou rapidamente. A justificativa para tal fato era que “não há agricultura, não há
indústria, não há exportação”, além disso, “o comércio mantém-se num círculo acanhadíssimo
e quase que se destina, com especialidade, a prover à população que é limitada, e onde apenas
avulta o elemento oficial, e particularmente o elemento militar” (RMT, 04/10/1873, p. 90).
As elites dirigentes brasileiras não abandonaram a preocupação em obter uma via
interna e segura para a comunicação entre Mato Grosso e o restante do Império, pois a via
fluvial pelo estuário do Prata dependia do trânsito por outros países, estando sujeita a qualquer
eventualidade. E em 1879 isso estava evidente, pois estava em Mato Grosso o Engenheiro
Tenente Coronel Francisco Antonio Pimenta Bueno, que deveria estudar uma via entre Cuiabá
e Santana do Paranaíba (RMT, 05/12/1879). Além disso, também estava “incumbido pelo
Governo Imperial de estudar os meios de melhorar as comunicações da Capital da Província
com a Corte do Império, e com suas povoações mais importantes” (RMT, 01/10/1880, p. 56). As
expectativas dos dirigentes estavam voltadas para uma linha férrea que complementasse a
navegação interior, deixando de depender dos países vizinhos. Assim, acreditava-se que a
melhor opção seria
44
o projeto que se compuser de uma seção em estrada de ferro da Corte ao melhor ponto de partida para a navegação do Paranapanema; de outra de navegação dos rios Paranapanema, Paraná, Ivinhema e Brilhante até o porto de Sete Voltas e, finalmente, duma secção de estrada ordinária [terrestre] deste porto à Vila de Miranda, perfazendo uma distância total de 2.128 quilômetros. De Miranda a esta capital far-se-á o trajeto pelo rio Miranda até o rio Paraguai, e desse pelo São Lourenço e Cuiabá, aperfeiçoando-se a navegação deste e daquele afluente (RMT, 01/10/1879, p. 83-84).
Essa via era considerada econômica e vantajosa, tanto para a ligação com o Rio de
Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul e Paraná, quanto com a Bolívia e o Paraguai (RMT,
01/10/1879). Mas, enquanto se sonhava com uma via interna que ligasse Mato Grosso ao litoral,
a via fluvial pelo Prata era a alternativa mais viável e foi melhorando com o avançar dos anos.
De tal modo, na década de 1880 novos vapores passaram a fazer as linhas regulares entre
Montevidéu e Cuiabá, são eles: o vapor D. Constança, de propriedade da casa comercial
Firmo de Mattos & Cia., e o Rio Branco, pertencente ao comerciante e ruralista Antonio
Joaquim Malheiros (CORRÊA, 1999, p. 132-133). Com esse sistema de transporte,
dinamizou-se, efetivamente, a navegação dos principais afluentes do Paraguai, de modo que os portos de Miranda e Aquidauana (nos rios homônimos), bem como Coxim (no rio Taquari), puderam tornar-se importantes subpolos comerciais – a partir dos quais as correntes comerciais irradiadas desde Corumbá prosseguiam, por caminhos terrestres, para o interior do SMT e até mesmo o sul de Goiás e a região de Santana do Paranaíba. Algo semelhante ocorreu, mais ao norte, com relação a Cáceres (situada sobre o rio Paraguai) e Cuiabá, cujo comércio abastecia amplas porções do centro-norte da província (QUEIROZ, 2011, p. 122).
Além do mais, os fluxos comerciais disseminados a partir de Corumbá, através dos
principais afluentes do rio Paraguai, permitiram a formação de novos núcleos populacionais
em Mato Grosso, assim como Puerto Suárez, na Bolívia. Nesse último caso, deve-se
considerar que o tratado de 1867 foi o primeiro acordo formal entre a Bolívia e o Brasil que
estabeleceu a fronteira entre os dois países, e por meio dele, a república boliviana abriu mão
de qualquer reclamação sobre a margem direita do rio Paraguai. Foi nesse contexto que o
então governo boliviano autorizou a fundação de Puerto Suárez, localidade situada às margens
da Lagoa de Cáceres e fundada em 1880. Essa lagoa situa-se próxima a Corumbá e através do
canal Tamengo se liga ao rio Paraguai. Dessa forma, o governo boliviano buscava uma via
que desse acesso ao litoral. Embora esse canal, assim como a própria lagoa, praticamente
secasse em boa parte do ano (QUEIROZ, 2004, p. 159), isso não foi obstáculo suficiente para
impedir que ali se estabelecesse uma aduana quatro anos depois. Assim, Puerto Suárez passou
45
a exportar vários produtos bolivianos, “principalmente goma y café, hacia Corumbá para ser
enviados a otros destinos, también le llegaban productos importados a Corumbá y luego
pasaban a Bolívia a través del puerto”; depois de atravessar o rio Paraguai em chatas, os
produtos eram transportados por estradas carreteiras até Puerto Suárez e dali a Santa Cruz de
la Sierra e a outras localidades bolivianas. Assim, em Puerto Suárez instalaram-se casas
comerciais nacionais e estrangeiras que faziam o intercâmbio dos produtos que se destinavam
a Santa Cruz de la Sierra (GARRET, 2014, p. 127).
No caso mato-grossense, a povoação de Coxim, por exemplo, teve sua formação
iniciada em 1862, “com o nome de Núcleo Colonial do Taquari, no ponto extremo da
navegação do rio Taquari, isto é, nas imediações da barra do rio Coxim” (QUEIROZ, 2008a, p.
41).
Mais tarde, já em 15 de agosto de 1892, foram escolhidos o nome e o local para o
estabelecimento de outra povoação, desta vez, Aquidauana, à margem do rio homônimo. Em
1893, começaram a construir os primeiros ranchos de palha e, depois de três anos, uma
agência dos correios foi criada. Dois anos depois recebeu um distrito policial e mais tarde foi
elevada a Paróquia, em 1899; e tornou-se comarca em 1911 (CASTRO, 1914, p. 411).
Aquidauana tornou-se um ponto de ligação comercial entre as cidades de Corumbá e Campo
Grande; assim, em 1905 estava concluída “e entregue ao trânsito público a nova estrada que
vai do porto de Aquidauana à vila de Campo Grande e de cuja abertura se encarregava o
cidadão Bernardo Franco Baís”. Essa “via de comunicação atravessa o rio Aquidauana perto
da foz do ribeirão Salobra, onde foi construída uma barca-pêndulo para o transporte de
passageiros e cargas” (RMT, 04/03/1905, p. 47). O melhoramento dessa via de comunicação era
interessantíssimo para os comerciantes como o italiano Bernardo Franco Baís, que era sócio
da casa comercial Wanderley, Baís & Cia., a qual tinha matriz em Corumbá e filiais em
Miranda, Aquidauana e Campo Grande. De tal modo, essa estrada complementava a
navegação fluvial a vapor de Corumbá a Aquidauana, realizada pelos rebocadores Itajahy e
Nhandohy, de propriedade da referida empresa (ver figuras 1 e 2) (TARGAS, 2012, p. 64). Essas
embarcações eram capacitadas para o “reboque de chatas carregadas com a carga do comércio
e produtos de exportação”; contudo, encarregavam-se também do transporte de “passageiros,
sem, no entanto, poder oferecer outro conforto a não ser uma mesa farta de comidas boas para
as refeições, dominando para pernoitar as redes, colocadas no convés e expostas à intempérie”
(SIMON, 1914, p. 142). Além do mais, a Wanderley, Baís & Cia. também era responsável por
uma linha entre Corumbá e Cuiabá, Corumbá e Porto Esperança, assim como, eram
46
consignatários de firmas uruguaias que faziam a rota de Montevidéu a Corumbá (TARGAS,
2012).
Figura 1
Paquete Itajahy
Fonte: Maciel, 1914, p. 141
Figura 2
Paquete Nhandohy
Fonte: Mendonça, 1914, p. 67
47
E com a chegada da última década do século XIX, a empresa nacional Lloyd Brasileiro
passou a manter regularmente a linha de paquetes22 na rota Rio de Janeiro-Cuiabá. Assim,
seguia-se da capital brasileira “com passagens pelos portos de Santos, Cananéia, Iguape,
Paranaguá, Antonina, São Francisco, Florianópolis, Rio Grande e Montevidéu”; deste último
porto “fazia-se o translado de mercadorias e passageiros para navios a vapor de menor
calado” e seguia-se viagem com “escalas em Assunção, Conceição (ambas no Paraguai), e em
Porto Murtinho e Corumbá”, depois prosseguiam para Cuiabá, em “embarcações de menor
calado ainda, como os paquetes Coxipó, Nioac e Orvalho” (figuras 1, 2, 3) (CORRÊA, 1999, p.
135). Esses paquetes possuíam uma subvenção para 24 viagens anuais, mantida pelo governo
central (MACIEL, 1914, p. 142). Paras as viagens de Corumbá a São Luís de Cáceres (atualmente
só Cáceres), existia uma linha regular mensal, “com o vapor Etruria [figura 4], de propriedade
da importante casa José Dulce & Cia.” (MACIEL, 1914, p. 142).
Figura 3
Paquete Coxipó
Fonte: MENDONÇA, 1914, p. 67
22 O termo “paquete” (forma reduzida da expressão inglesa packet-boat) designa um tipo de embarcação rápida,
utilizada no transporte de passageiros ou correspondência.
48
Figura 4
Paquete Nioac
Fonte: MENDONÇA, 1914, p. 67
Figura 5
Paquete Orvalho
Fonte: MENDONÇA, 1914, p. 67
49
Figura 6
Vapor Etruria
Fonte: Album graphico, 1914, p. LI
Já a firma paraguaia Vierci & Hermanos, fundada em 1890, possuía uma frota de 9
vapores e 16 chatas e fazia semanalmente a linha Assunção-Corumbá-Assunção, com os
vapores “Leda e G. B. Vierci para passageiros e Adela e Neebocú para cargas” (Album graphico,
1914, p. IV-V).
Figura 7
Vapor Leda
Fonte: Album graphico, 1914, p. V
50
Figura 8
Vapor G. B. Vierci
Fonte: Album graphico, 1914, p. V.
Com a chegada do século XX, diversos vapores intensificaram o tráfego entre Mato
Grosso e os países platinos, principalmente entre Assunção e Corumbá. Atuavam nessa linha
os vapores São José e Fernandes Vieira, de propriedade da casa comercial M. Cavassa Filho
& Cia., a mais antiga casa comercial de Corumbá (TARGAS, 2012). Mais tarde, em 1913, a
Companhia Argentina de Navegação Mihanovich inaugurou uma linha entre Buenos Aires e
Corumbá, “para qual dispunha dos navios Brasil, Chile, França, Holanda, Bermejo, Ciudad
de Asunción e Ciudad de Concepción” (BAÉZ, 1982, p. 17). Até então, essa empresa “só
mandava a Corumbá em viagens diretas e irregulares os vapores Alemanha, Holanda, França,
Chile e Brasil [...] quando – em consequência de contrato – tinha carregamentos completos de
material de estrada de ferro, tubos para encanamento de água, etc.”. As linhas regulares eram:
uma mensal de carga entre Montevidéu e Corumbá, “e outras duas, de passageiros e cargas,
bimensais e alternativas entre Buenos Aires e Corumbá, respectivamente Asunción e
Corumbá, cujas partidas de Asunción são combinadas com as chegadas dos paquetes de
Buenos Aires àquele porto” (MACIEL, 1914, p. 140).
Já o extremo sul de Mato Grosso23 se ligou economicamente24 por via terrestre ao
Paraguai, uma vez que “encontrava-se, geograficamente, muito mais próximo do porto
23 Atual sul de Mato Grosso do Sul.
51
paraguaio de Concepción, igualmente situado no rio Paraguai, mas várias centenas de
quilômetros a jusante de Corumbá” (QUEIROZ, 2016, p. 330). Assim, os moradores do extremo
sul de Mato Grosso se beneficiaram do intercâmbio comercial com Concepción, tanto por via
legal como através do contrabando, já que essa rota oferecia melhores condições comerciais
do que qualquer outro centro comercial da província (QUEIROZ, 2011, p. 123). E dos vários
caminhos entre Concepción e o SMT “destacava-se a antiga picada do Chirigüelo, que vinha
terminar no alto da Serra de Amambai, precisamente no local onde hoje se situam as cidades
gêmeas de Ponta Porã e Pedro Juan Caballero”. Ademais, “variantes e ramais desse caminho
levavam também ao Apa (como, por exemplo, ao local onde surgiria Bela Vista) e a diversas
localidades nos passos da Serra de Amambai e nos vales dos rios Amambai e Iguatemi”
(QUEIROZ, 2008a, p. 45).
Ao final do século XIX, novas povoações foram criadas no sul de Mato Grosso, e
consequentemente, novos caminhos terrestres e fluviais foram se formando. A cidade de Porto
Murtinho foi uma delas, cuja origem está ligada a uma exigência feita pelo governo
republicano, em 1890. Essa exigência foi feita a Tomás Laranjeira, que desde 1882 tinha
concessão e exclusividade sobre “a extração, preparação e exportação de erva-mate no
território da província de Mato Grosso”25. Mas com a mudança do sistema governamental, em
novembro de 1889, ficou decretado que Laranjeira deveria escoar a erva-mate através de um
porto mato-grossense, e obteve dois anos para realizar tal empreitada. Além disso, deveria
abrir uma estrada de rodagem que pudesse ligar o referido porto ao interior, isto é, à região
dos ervais. Antes, toda a erva-mate produzida no extremo sul era transportada por vias
terrestres e fluviais para Concepción (QUEIROZ, 2016, p. 332). Ainda de acordo com o mesmo
autor, foi em 1891 que “as concessões de Laranjeira saíram do âmbito de sua empresa
individual e passaram a uma sociedade anônima: a Companhia Mate Laranjeira”, a qual
passou ser “controlada pelo Banco Rio e Mato Grosso”, criado em janeiro do mesmo ano
(idem, ibidem). Dessa forma, o presidente do referido banco, Joaquim Murtinho, nomeou o
engenheiro Antônio Corrêa da Costa para fundar o referido porto, sendo o local escolhido a
fazenda Três Barras26. E
24 É importante destacar que os “tratados assinados entre o Brasil e o Paraguai em 1872 e em 1883 garantiam, no
concernente aos gêneros de produção local (mato-grossense e paraguaia), a liberdade de comércio entre Mato
Grosso e a república vizinha” (QUEIROZ, 2016, p. 331).
25 O brasileiro Tomás Laranjeira já se dedicava ao ramo da extração e comércio da erva-mate no lado paraguaio
quando obteve a concessão para a exploração em Mato Grosso (QUEIROZ, 2016, p. 331-332).
52
ao novo porto, devidamente estabelecido, foi atribuída essa tríplice função: escoar a erva-mate mato-grossense, colonizar/valorizar as terras do banco e servir como entreposto comercial do extremo sul mato-grossense. E ali surgiu efetivamente um povoado, mais tarde transformado em município e comarca, que sobreviveu ao BRMT [Banco Rio e Mato Grosso] (liquidado em 1902) e às próprias operações da Companhia Mate Laranjeira (QUEIROZ, 2016, p. 335).
Já a “estrada de ligação entre o porto e os ervais” foi “concluída em dezembro de
1893”; todavia, essa estrada, que possuía “uma extensão aproximada de 300 km”, sofria em
seu percurso inicial “más condições”, pois encontrava-se na área “correspondente às terras
baixas e alagadiças do ‘litoral’ do rio Paraguai”. Então, em 1894 o Porto já estava
funcionando e sendo chamado de Porto Murtinho. Mas a medida encontrada para solucionar
definitivamente “o problema do ‘trecho alagadiço’ de pouco mais de 20 km” foi a construção
de “uma ferrovia do tipo Decauville”, realizada na primeira década do século XX (Ibidem, p. 8).
No outro extremo da referida via férrea estava localizada São Roque, localidade que atraiu
“casas comerciais de importância – na maioria filiais das de Porto Murtinho – destinadas a
abastecerem os municípios de Bela Vista e Ponta Porã” (CABRAL, 1914, p. 416). Desta forma, a
rota comercial que se originava em Porto Murtinho seguia até São Roque por via férrea e
depois seguia por diversos caminhos terrestres em carretas puxadas por boi, levando aos
produtores e extrativistas as mercadorias vindas das casas comerciais de Porto Murtinho e
retornando com produtos para exportação. Assim, junto ao Porto Murtinho formou-se um
núcleo urbano, e é interessante notar que, ao longo das duas primeiras décadas do século XX,
tornou-se um importante entreposto comercial (QUEIROZ, 2016), conforme veremos no capítulo
2. Em suma, pode-se dizer que Porto Murtinho recebia diversas embarcações “pertencentes a
empresas argentinas, uruguaias e paraguaias – além de [...] ‘diversos vapores vagabundos27,
alguns de grande calado, com capacidade de 1.500 a 2.000 toneladas, procedentes de diversos
portos das repúblicas vizinhas’”, assim como recebia os vapores do Lloyd Brasileiro (idem, p.
17).
A Companhia Mate Laranjeira, no início do século XX, redirecionou sua rota de
exportação do rio Paraguai para o rio Paraná, passando a utilizar o Porto Guaíra, “à margem
esquerda do Paraná, logo acima do Salto das Sete Quedas”. Logo abaixo desse salto, no
trecho “em que o rio Paraná não era navegável, comunicações terrestres foram então
26 “A fazenda Três Barras, por sua vez, manteve sua denominação e individualidade. Ao que parece, apenas o
porto e a área imediatamente adjacente receberam o nome de Porto Murtinho” (QUEIROZ, 2016, p. 339).
27 Com esta expressão designavam-se as embarcações que não se dedicavam a linhas regulares, isto é, aquelas
que não seguiam roteiros e calendários previamente programados.
53
estabelecidas, em território paranaense, de Guaíra até o local chamado Porto Mendes”. Com
isso, no extremo sul de Mato Grosso, configurou-se a “formação de um amplo sistema de
transportes”, já que “os ranchos ervateiros situados no SMT ligavam-se a Guaíra tanto por
meio de estradas carreteiras como pela navegação dos afluentes meridionais do alto Paraná,
sobretudo o Iguatemi, o Amambai, o Ivinhema e seus formadores” (QUEIROZ, 2011, p. 128).
1.2 Século XX e as novas vias de integração
A borracha começou a se destacar nas estatísticas de exportação da Amazônia desde
1827. A quantidade da borracha exportada foi aumentando consideravelmente ao longo dos
anos e na década de 1850 já havia firmado sua hegemonia no comércio do Pará (WEINSTEIN,
1993). No caso mato-grossense, o primeiro grande volume de exportação da borracha só
ocorreu na década de 1870; contudo, foi somente no final da década de 1890 que essa
atividade extrativa se tornou a principal fonte de receita do estado de Mato Grosso. A
borracha mato-grossense foi exportada por duas vias, “uma parte, pela Bacia do Prata e a
outra, em maior quantidade, pelo rio Amazonas” (BORGES, 2001, p. 67). A principal zona de
exploração da borracha eram “os seringais das margens dos rios Mamoré, Madeira, Machado,
Jamary, Jacy-Paraná, Mutum-Paraná e seus numerosos afluentes”, e a sua produção era toda
transportada pelo rio Madeira até Manaus. “Também fazem parte dessa região as matas dos
rios São Manoel e Tapajós” e a borracha ali extraída era, em sua maior parte, encaminhada
para Belém. Mas, devido à sua proximidade com o rio Canumã, afluente do rio Madeira, que
“tem origem próxima ao Tapajós e oferece longo trecho navegável até sua primeira cachoeira,
havendo do último porto um varadouro para o rio Bararaty, que deságua duas léguas acima do
São Manoel, no mesmo Tapajós”, iniciou-se um “desvio na corrente comercial de Belém para
Manaus”, via rio Madeira (Album graphico, 1914, p. 373).
Por outro lado, a borracha extraída dos seringais localizados no entorno do rio
Guaporé, “desde a cachoeira do Guajará-Mirim até as suas principais nascentes e seus
numerosos afluentes”, nos “rios Juina, Juruena, Sangue e Sacre, Ceavary, Xucuruina, Arinos,
Paranatinga e todos os seus afluentes” (todos pertencentes à Bacia Amazônica), assim como
aquela extraída nas matas do rio Paraguai, “nas suas nascentes acima da cidade de São Luiz
de Cáceres”, tinha toda a sua produção dirigida para Corumbá.
O transporte da borracha das áreas de exploração era realizado em “lombo de animais
até o porto navegável por canoas e batelões de qualquer rio por onde possa ser conduzida aos
54
portos de Cuiabá, São Luis de Cáceres e Santo Antonio do Rio Madeira, donde é remetida
para Corumbá, Manaus ou Belém” (SIMON, 1914, p. 251-252), sendo daí exportada para a Europa
e Estados Unidos da América.
Figura 9
Embarque da borracha em igarités
Fonte: SIMON, 1914, p. 251
O interesse pela exploração da borracha no norte de Mato Grosso levou à criação das
coletorias de rendas estaduais de Santo Antonio do Rio Madeira, nos limites de Mato Grosso
com o do Amazonas, “e outra no rio Tapajós, junto à foz do São Manoel, que é nossa linha
divisória com o estado do Pará”, através do Decreto n. 50 de 6 de julho de 1891 (RMT,
01/02/1896, p. 8). Todavia, a efetivação dessas coletorias deparou-se com a forte resistência por
parte dos estados vizinhos, como demonstra a fala do Presidente do Estado Antonio Corrêa da
Costa, em 1896:
Aqueles Estados [Amazonas e Pará], que de longa data têm usufruído as rendas dos produtos da região mato-grossense, não se conformam com a resolução tomada por Mato Grosso de reivindicar o seu direito: e a oposição que por parte dos respectivos governos têm encontrado nossos coletores para o desempenho de seus deveres, obstando, tanto o governo do Pará como o do Amazonas, a viva força, que as aludidas coletorias arrecadem os impostos de exportação que se faz pela nossa fronteira, sob o pretexto de que lhes pertence o território em que elas se acham, deu origem à questão de limites, que oportunamente será submetida ao poder competente (RMT, 01/02/1896, p. 9).
55
Conforme apontou Garcia, essas questões de limites entre os estados, e em
consequência a disputa pela arrecadação dos impostos sobre a borracha, “devem ser
entendidas no contexto da descentralização republicana que transferiu para os Estados a
totalidade das receitas de exportação” (GARCIA, 2009, p. 67). Como tais limites não estavam
totalmente definidos, o governante de Mato Grosso propôs ao governo amazonense um
acordo que regulasse a arrecadação na área em litígio, até que fossem realmente definidas as
linhas divisórias entre os estados. Das cláusulas propostas por Antonio Corrêa da Costa, a
primeira estabelecia que:
Enquanto o Congresso Nacional não fixar definitivamente a linha divisória entre os dois estados, a arrecadação dos impostos na zona litigiosa, que é o triângulo formado pelo Madeira, de S. Antônio até a foz do Gy-Paraná, da foz deste rio a sua primeira cachoeira, e daí por uma reta até S. Antonio, será feita em comum por ambos os Estados, ficando cada um com direito a metade do total arrecadado (RMT, 01/02/1896, p. 13-14).
Tal proposta não foi aceita pelo governo do Amazonas, já que teria mandado expedir
força contra a coletoria mato-grossense; em contrapartida, o governo mato-grossense pediu
ajuda ao Presidente da República para que viesse a interferir de forma “amigável para a
aceitação do acordo”, pedido que foi atendido pelo presidente por meio de telegrama enviado
em dezembro de 1895 (idem, p. 15). Contudo, no ano de 1904, o então presidente de Mato
Grosso relatou que o agente da coletoria não havia conseguido arrecadar os impostos sobre a
borracha extraída às margens dos rios Ji-Paraná, Preto e Jamari, por causa da oposição das
autoridades amazonenses (RMT, 03/03/1904, p. 16). Ao longo dos anos, foram sendo
estabelecidos acordos que regulavam o modus vivendi. O primeiro acordo foi realizado em 4
de novembro de 1899, através do Supremo Tribunal Federal (Convênio Fiscal provisório
firmado com o governo do Amazonas, em 24 de maio de 1917, p. 4). Contudo, em 13 de
janeiro de 1916, Mato Grosso instalou novos postos fiscais: Coronel Rondon no rio
Madeirinha; Almirante Guedes no rio Roosevelt e General Caetano no rio Guariba, os quais
começaram a cobrar impostos da borracha que até então era toda considerada de procedência
amazonense. Assim, quando o Tesouro do Amazonas se recusou a despachar a borracha
considerada pela Delegacia do Norte28 como de procedência mato-grossense, iniciou-se uma
nova divergência que foi resolvida pelo acordo provisório de 10 de maio de 1917 (Diário
Oficial do Amazonas, ano XVIII, nº 4.881, Manaus 22/09/1910).
28 Órgão do governo de Mato Grosso responsável pela cobrança de impostos sobre exportação.
56
Enquanto os limites entre os estados de Mato Grosso e Amazonas não eram
definidos29, os dirigentes mato-grossenses empenhavam-se em abrir vias de comunicação que
ligassem a porção central ao norte do estado de Mato Grosso. Cuiabá era ligada a São Luís de
Cáceres por uma estrada carroçável com 213 quilômetros, e daí à antiga cidade de Mato
Grosso (Vila Bela) através de uma “estrada cargueira”, ou seja, podia ser percorrida somente
em lombo de animais, com um trajeto de 338 quilômetros. E a partir de Vila Bela buscou-se,
por meio da navegação do rio Guaporé, alcançar Guajará-Mirim, localizada à margem do rio
Mamoré. Para tal, foi celebrado um contrato, em 1897, que regulava a navegação no rio
Guaporé, com a firma Mercado, Ballivian & Cia. E como a navegação a vapor de Guajará-
Mirim até Santo Antonio do Madeira (localizada à margem do rio Madeira) era impedida por
causa das diversas cachoeiras, ficou a cargo da mesma firma Mercado, Ballivan & Cia. a
abertura de uma estrada que contornasse as tais cachoeiras do rio (RMT, 01/02,1897, p. 26).
Ao que parece, essa empresa não cumpriu o acordo, pois, conforme consta, no ano de
1900 “subia da cachoeira Guajará-Mirim a lancha a vapor Guaporé”, pertencente à casa
comercial Maciel & Cia., “cabendo-lhes a honra de trazer pela primeira vez àquela cidade” de
Vila Bela a navegação a vapor, pois nesse trecho não há “uma só cachoeira ou pedra que
estorve a navegação” (MARQUES, 1906, p. 6). Ainda no vale do Guaporé, existia “uma
navegação independente, feita por lanchas de pequeno calado e a serviço das casas
interessadas naquela zona gomífera” (SIMON, 1914, p. 142).
A questão do Acre, entre o Brasil e a Bolívia, foi resolvida em 1903 com o Tratado de
Petrópolis, que possibilitou resolver os problemas da ligação de Guajará-Mirim até Santo
Antonio do Madeira. Através do Tratado de Petrópolis o governo brasileiro se encarregou da
construção da Ferrovia Madeira-Mamoré, a qual, “iniciada em 1907 e concluída em 1912,
conseguiu contornar o trecho encachoeirado do rio Madeira, entre a cachoeira de Guajará-
mirim, no rio Mamoré, e Santo Antônio no rio Madeira” (FONSECA, 2011, p. 19). A ferrovia
Madeira-Mamoré teve seu percurso iniciado em Porto Velho, localidade situada à margem
direita do rio Madeira (pertencia ao estado do Amazonas, e hoje corresponde à capital do
estado de Rondônia), 6 quilômetros a jusante de Santo Antonio do Madeira, e seu término se
deu em Guajará-Mirim (Album graphico, 1914, p. 374) [ver figura 10].
29 Convém assinalar que, nessa mesma época, Mato Grosso enfrentou uma questão de limites também com o
estado do Pará.
57
Figura 10
Traçado da Ferrovia Madeira-Mamoré
FONTE: http://vfco.brazilia.jor.br/ferrovias/efmm/mapa-EFMM-1969.shtml, acessado em: 27/10/2015
A construção dessa ferrovia se deu entre 1907 e 1912, e por ela a borracha da zona do
Guaporé passou a ser exportada pelo Amazonas (SIMON, 1914, p. 252), pois o porto da cidade de
Porto Velho tem capacidade para receber embarcações de grande calado como os
transatlânticos. A expectativa era que, com a conclusão da Ferrovia Madeira-Mamoré,
ocorreria um “grande impulso para a expansão da indústria extrativa no norte do estado,
facilitando o povoamento daquela grande e rica zona regada pelo caudaloso Madeira e seus
afluentes” (RMT, 13/05/1912, p. 48).
58
59
Os proprietários da casa comercial Maciel & Cia. também foram responsáveis pela
abertura de outros caminhos. No ano de 1898, firmaram o primeiro contrato com o Governo
de Mato Grosso. Esse contrato dava “concessão pela qual deveriam operar uma linha de
navegação na hidrovia dos rios Guaporé e Paraguai e abrir uma estrada de rodagem ou de
ferro entre os rios Aguapey e Alegre que, naquele momento, supunham ser navegáveis”; essa
estrada faria a ligação entre as bacias amazônica e platina (GARCIA, 2009, p. 69-70). Mais tarde,
em 1905, um novo contrato foi celebrado, modificando a rota, o qual determinou que a casa
Maciel & Cia. deveria realizar
a navegação a vapor dos rios Mamoré, Guaporé, Jauru e Paraguai e [...] estabelecer o serviço de transportes, por meio de diligências e carretas, na estrada de rodagem que do porto do Salitre [atual Porto Esperidião], no Jauru, vai até à margem direita do Guaporé. O contratante obriga-se a realizar, de quatro em quatro meses, uma viagem redonda de Corumbá a Guajará-Mirim; a construir uma linha telegráfica ao longo da estrada mencionada, e bem assim, nos pontos extremos desta, casas para agasalho dos viajantes e galpões para depósito de mercadorias; fazer à sua custa o serviço de limpeza necessária para tornar franca a navegação naqueles rios, na parte em que tem de ser praticada. O estado obriga -se, em compensação, a conceder-lhe 165.000 hectares de terras, em vários lotes, e uma subvenção anual de cinquenta contos de réis, ou de quantia equivalente à renda de exportação dos produtos da zona servida pela empresa, se aquela for inferior a 50:000$000 (RMT, 04/03/1905, p. 47-49).
A exemplo dos comerciantes acima citados, os contatos entre Cuiabá e o norte do
estado se fazia através de lanchas a nafta30, de propriedade de casas comerciais e a exclusivo
serviço das mesmas.
Já com relação aos caminhos terrestres mato-grossenses que faziam as ligações
internas, pode-se dizer que eles foram se desenvolvendo lentamente, sendo que, na segunda
década do século XX, existiam apenas 1.428 quilômetros de “estradas carroçáveis” (estradas
de rodagem), dentre as quais destacam-se as citadas no quadro 2.
30 Trata-se aqui de um tipo de combustível destilado do petróleo.
60
Quadro 2
MATO GROSSO – distância entre as principais localidades urbanas em km
Fonte: RMT , 15/05/1916, p. 39
A estrada que partia de Cuiabá rumo a Diamantino passava por importantes vilas:
Guia, Bahú, Brotas e Rosário; caminhos que por diversas vezes tornavam-se intransitáveis ou
de difícil acesso, por falta de pontes, árvores caídas, entre outras adversidades. Já os caminhos
denominados de “cargueiros” eram aqueles, quer “em campos, quer em matas, que, não
permitindo o acesso a veículos de rodas, podem ser, entretanto, percorridos por muares ou por
bois de carga, assim como pelos viajantes montados” (RMT, 15/05/1916, p. 41). Esses caminhos
cargueiros eram as principais rotas utilizadas para o transporte dos produtos extrativos,
destinados à exportação. Destacam-se as vias citadas no quadro 3, por serem as maiores.
Localidades Distância em km
Cuiabá – Cáceres 213
Cuiabá - Diamantino 192
Cuiabá – Coxipó 6
Cuiabá – Santo Antonio do Rio Abaixo 31
Cuiabá – Chapada 60
Corumbá – Porto Soares 30
Corumbá – Ladário 6
Campo Grande – Porto 15 de Novembro 296
61
Quadro 3
Caminhos internos cargueiros entre localidades mato-grossenses,
demonstrados em quilômetros
Localidades Distância em km
Cuiabá – Registro de Araguaia 480
Cáceres – Vila Bela 338
Cuiabá – São Lourenço 239
Diamantino – Barra dos Bugres 186
Diamantino – Guajará-Mirim 1.500
Miranda – Ponta Porã 340
Coxim – Santana do Paranaíba 390
Bahú – Campo Grande 285
Três Lagoas – Santana do Paranaíba 95
Fonte: RMT , 15/05/1916, p. 41
Depois do fim da guerra da Tríplice Aliança contra o Paraguai, mesmo com o acesso
liberado à via platina, os dirigentes brasileiros, conforme já foi dito, começaram a buscar
insistentemente uma via de comunicação interna que pudesse ligar Mato Grosso ao litoral
brasileiro. Para isso, foram criados vários projetos, mas nenhum foi posto em prática. Essa
situação começou a se alterar em 21 de junho de 1904, quando foi formada a Companhia de
Estradas de Ferro Noroeste do Brasil, e depois com o Decreto n° 5.266, de 30 de julho de
1904, que concedeu a essa companhia a concessão da construção de uma ferrovia que ligaria
Uberaba (MG) a Coxim. Contudo, ainda no ano de 1904 o traçado da ferrovia foi totalmente
modificado; assim, em julho de 1905 iniciou-se a construção da estrada de ferro em Bauru
(SP) com destino a Cuiabá. Mas, em 1907, o traçado da referida ferrovia foi mais uma vez
alterado, substituindo-se a cidade de Cuiabá por Corumbá. Além disso, em 1908, a
Companhia de Estradas de Ferro Noroeste do Brasil teve sua concessão alterada somente para
o trecho Bauru-Itapura, sendo que o percurso de Itapura-Corumbá passou a ser propriedade da
União (embora a construção do trecho Itapura-Corumbá tenha ficado sob a responsabilidade
da Companhia de Estradas de Ferro Noroeste do Brasil). Ainda no ano de 1908, começaram
as obras na outra extremidade da ferrovia, na localidade de Porto Esperança, às margens do
rio Paraguai, embora 78 quilômetros distante de Corumbá. O contrato entre a União e a
Companhia Noroeste foi desfeito e a União se tornou responsável pela conclusão da dita
ferrovia, que passou a ser chamada de “Estrada de Ferro Bauru a Porto Esperança”,
denominação logo substituída por “Estrada de Ferro Noroeste do Brasil” (NOB). O trecho
62
Bauru-Porto Esperança foi concluído somente em 1914 (QUEIROZ, 1997, p. 21-24), o que
proporcionou a Mato Grosso a tão sonhada via interna de acesso ao litoral brasileiro.
A ferrovia Noroeste do Brasil também desempenhou um importante papel nas
negociações entre a Bolívia e o Brasil, já que o governo brasileiro, através do Tratado de
Petrópolis, se havia comprometido a proporcionar à Bolívia uma via de acesso para o
Atlântico. A Ferrovia Madeira-Mamoré deveria ter um ramal ligando Vila Murtinho (Brasil) a
Vila Bella (Bolívia). Contudo, o projeto desse ramal foi alvo de muitas discussões e acabou
por não se realizar; e por fim, com o final do ciclo da borracha, o interesse dos dirigentes
bolivianos em tal ligação se direcionou para o Sul, isto é, a região de Puerto Suárez e
Corumbá. E finalmente, após diversas negociações, a ferrovia Corumbá até Santa Cruz teve
início no segundo semestre de 1939. Ao mesmo tempo, começaram as obras para a conclusão
da linha tronco da NOB, ligando Porto Esperança a Corumbá, inaugurada em 1953, enquanto a
ferrovia Corumbá-Santa Cruz de la Sierra foi inaugurada um ano depois (cf. QUEIROZ, 2004).
63
MAPA 3- PORÇÃO CENTRO-S UL E SUAS ARTICULAÇÕES
64
Todo o projeto e construção da NOB, apesar das finalidades econômicas, tinha um
sentido político-estratégico determinante. Já que, para os dirigentes brasileiros, apesar de a via
platina oferecer um dinamismo econômico, também representava riscos à soberania nacional.
Assim, o papel da ferrovia Noroeste do Brasil era oferecer uma integração “direta e eficiente
entre a fronteira sul-mato-grossense e o litoral atlântico brasileiro, de modo a se poder
dispensar a via platina – a qual dependia do trânsito por dois países estrangeiros (o Paraguai e
a Argentina) cujas relações com o Brasil não eram consideradas confiáveis” (QUEIROZ,
2008a, p. 53).
Além disso, também se esperava que a efetiva conclusão da NOB proporcionasse um
aumento populacional no sul do estado (RMT, 13/05/1912, p. 49). E com as ressalvas necessárias
é possível dizer que com a construção da ferrovia Noroeste do Brasil ocorreu uma maior
dinamização econômica e populacional nas localidades já existentes, como Aquidauana,
Miranda, Campo Grande, Santana do Paranaíba, assim como possibilitou o surgimento de
Três Lagoas (cf. QUEIROZ, 2004). De fato, embora seus efeitos sejam frequentemente
superestimados pelo senso comum e mesmo pela historiografia, essa ferrovia significou uma
nova fase para Mato Grosso, em especial, a porção que hoje corresponde ao atual Mato
Grosso do Sul.
65
CAPÍTULO II
A economia mato-grossense e seus principais produtos de importação
e exportação (século XIX e início do século XX)
“A economia industrial, nos seus primórdios, descobriu – graças em grande parte à pressão
da busca do capital – o que Marx chamou de sua ‘suprema realização’: a estrada de ferro. Em
segundo lugar – e parcialmente por causa da estrada de ferro, do vapor e do telégrafo, ‘que
finalmente representaram os meios de comunicação adequados aos meios de produção’ – o espaço
geográfico da economia capitalista poderia multiplicar-se repentinamente na medida em que a
intensidade das transações comerciais aumentasse. O mundo inteiro tornou-se parte dessa economia”
(Eric Hobsbawm).
A principal atividade econômica de Mato Grosso, no século XVIII, foi o ouro, que era
extraído somente nas aluviões. Conforme Holanda, o “ouro de pedra” ou “veeiro de cristal”
encontrava-se “de modo bastante irregular e descontínuo, mal compensando as despesas feitas
com a extração” (HOLANDA, 1990, p. 53). Outras atividades econômicas se desenvolveram
paralelamente à mineração, como o comércio, a pecuária e a lavoura. O comércio se destaca
em relação aos demais, pois essa atividade deteve “o controle do abastecimento de gêneros de
primeira necessidade e de diversas outras mercadorias. Esse comércio da zona mineira
absorveu grande parte da riqueza gerada pelo ouro e pelo diamante” (CORRÊA, 1980, p. 33).
A esse respeito, convém destacar as novas vertentes historiográficas, as quais,
conforme notou Vanda da Silva, questionam a noção de “decadência e miséria” que
supostamente seriam as marcas de Mato Grosso após o auge da extração aurífera. As análises
pioneiras de Elmar Arruda, nota a autora, já haviam avançado “em relação à ideia de uma
[simples] agricultura de subsistência e apontaram a formação de um setor agrícola produtivo
desde as primeiras décadas da exploração de ouro”. Ela nota que, “no princípio”, efetivamente,
“se fazia a roça para subsistir no local por mais tempo, mas, à medida que aumentava a
quantidade de pessoas, a produção de alimentos foi aumentando e se especializando a partir do
investimento do excedente da mineração, assim os limites da agricultura de subsistência foram
ultrapassados” (SILVA, 2015, p. 18).
Essa situação não se alterou com o processo de independência, e se delongou por todo
o século XIX, principalmente, nos primeiros cinquenta anos. Por outro lado, a Província de
Mato Grosso, além de pouco povoada por não-indígenas, era permeada pela instabilidade
política proveniente da tensão entre o Império brasileiro e os seus vizinhos platinos, adeptos
66
do sistema republicano, que também encontravam-se em processo de consolidação nacional.
A visão política divergente adotada pelos novos estados nacionais sul-americanos ficou
evidente com a manutenção do regime escravista no Brasil, enquanto nos demais ocorreu o
declínio do escravagismo (GARCIA, 2009).
Além do mais, as fronteiras entre o Império do Brasil e as ex-colônias espanholas não
estavam definidas juridicamente, tendo mesmo ocorrido o curioso episódio da anexação da
Província de Chiquitos, em 1825, pela junta governativa de Vila Bela; tal acontecimento não
gerou grandes transtornos, já que o Governo Imperial, temendo represálias, imediatamente
mandou revogar tal anexação (op. cit.). Além disso, durante o período regencial eclodiram
várias revoltas de Norte a Sul no Império brasileiro. Em Mato Grosso, especificamente na
cidade de Cuiabá, ocorreu o movimento conhecido como Rusga (1834-1837), o qual
apresentava atributos de cunho social e nativista, já que os revoltosos responsabilizavam os
comerciantes portugueses pela alta constante no custo de vida da região (BORGES, 2000). Outro
movimento, conhecido como a Cabanagem (1835-1840), também influenciou na economia
mato-grossense, pois, apesar de ter ocorrido no Pará, os revoltosos teriam descido o rio
Tapajós até o limite entre as duas províncias, impedindo o trânsito na rota comercial entre o
Pará e Mato Grosso (RMT, 01/03/1838).
Durante toda a primeira metade do século XIX, ao lado da instabilidade política a
economia, por sua vez, se manteve sem grandes transformações, pois as atividades
desenvolvidas em Mato Grosso estavam em processo de estruturação e ainda não
comportavam as condições suficientes para suprir as despesas necessárias para a manutenção
da fronteira e, ao mesmo tempo, proporcionar um desenvolvimento econômico sólido
(GARCIA, 2009). Assim, este capítulo traz uma breve discussão sobre a economia mato-
grossense, enfatizando as mudanças econômicas que se processaram em Mato Grosso após a
efetiva liberação da navegação brasileira pelo rio Paraguai.
2.1. Comércio mato-grossense na primeira metade do século XIX
Como demonstrado no capítulo 1, até a efetiva liberação da navegação pelo rio
Paraguai, os caminhos que ligavam o Oeste ao Leste da América Portuguesa foram,
inicialmente, as monções cuiabanas ou de povoado; ainda no século XVIII, inseriam-se nesse
processo os caminhos terrestres: o chamado caminho de Goiás e o caminho do Piquiri; já a
integração com o Norte, mais especificamente com o Pará, se deu através das monções do
Grão-Pará ou do Norte. Essas rotas comerciais possibilitaram que mercadorias, tais como:
67
alimentos, utensílios domésticos, vestimentas, ferramentas, entre outras, chegassem ao
distante Mato Grosso com preços elevados, em decorrência da longa distância e dos trajetos
inseguros. E, como apontou Borges, todos
os esquemas de comercialização e transporte que prevaleceram em Mato Grosso no século XVIII e na primeira metade do século XIX, foram realizados por tropeiros e caixeiros viajantes que possuíam grande prestígio, detinham informações importantes e por isso, davam-se bem nos negócios (BORGES, 2001, p. 118).
O fluxo comercial de importação e exportação mato-grossense esteve ligado,
principalmente, ao Rio de Janeiro, durante toda a primeira metade do século XIX, utilizando
para isso o caminho de Goiás. A justificativa dada pelo então Presidente da Província, José
Antônio Pimenta Bueno, para tal preferência, ao invés do comércio com o Pará, pautava-se
nas condições de compras a crédito, maior oferta de produtos e a garantia de melhor preço na
venda do ouro e dos diamantes, condições essas encontradas no Rio de Janeiro. Além disso,
tais comerciantes dedicavam-se, sobretudo, ao comércio de gêneros classificados como secos,
dentre os quais incluíam vestimentas, pratarias e cristais (RMT, 01/03/1837, p.13).
Alguns anos depois, a situação não parece ter se alterado, pois, de acordo com o
viajante francês Francis Castelnau, que passou por Mato Grosso no fim do ano de 1844 e
início de 1845, havia “cerca de quinze tropas fazendo o comércio regular entre Cuiabá e a
costa [principalmente, o Rio de Janeiro], variando entre cinquenta e duzentos o número de
animais de que cada uma se compõe”. Esses tropeiros encarregavam-se do comércio dos
poucos produtos mato-grossenses que se dirigiam para fora da Província, a saber: o ouro em
pó, couros vacuns, peles de onça e de veado, diamantes e a poaia (ipecacuanha). O comércio
de Cuiabá com o Rio de Janeiro era mais lucrativo, mas também demandava alto
investimento, sendo que custava em média “quarenta mil réis por animal, aí compreendida a
despesa com a compra de milho e o salário dos arrieiros e camaradas31. A carga de uma mula
varia, conforme a força do animal, entre seis e oito arrobas, havendo casos em que ela chega a
nove arrobas” (CASTELNAU, 1949, p. 167).
Todavia, o comércio com o Pará, sobretudo com a vila de Santarém, era tido como a
melhor opção na visão de Pimenta Bueno, por ser essa via mais rápida que o tortuoso
31 Eram homens livres e pobres que trabalhavam em várias atividades; em troca recebiam alimentação e salário.
Uma das atividades desenvolvidas por esses trabalhadores era o auxílio no transporte, tanto terrestre como
fluvial (SENA, 2010).
68
caminho de Goiás (RMT, 01/03/1837, p. 13). Assim, a corrente comercial que se dirigia de
Cuiabá e Diamantino com destino ao Pará era composta por aqueles negociantes que se
dedicavam ao comércio de gêneros classificados como molhados, ferros e outros produtos
semelhantes. O comércio com a vila de Santarém demandava menor recurso financeiro que
com o Rio de Janeiro. Contudo, uma viagem de ida e volta de Diamantino até Santarém exigia
um investimento em torno de 1:751$600 (um conto e setecentos e cinquenta e um mil e
seiscentos réis) para cobrir as despesas com o transporte, alimentação do grupo e pagamento
dos camaradas (CASTELNAU, 1949, p. 213-214). Assim, comparando-se o valor de uma viagem
redonda de Diamantino a Santarém com os valores dos investimentos necessários para uma
ida e volta de Cuiabá ao Rio de Janeiro, pode-se perceber que os gastos dessa segunda rota
eram superiores aos da primeira; como mencionado anteriormente, o custo era de 40 mil réis
por animal e a menor tropa possuía cerca de 50 animais, assim chegaremos ao total de 2
contos de réis, no mínimo; uma tropa composta por 200 animais chegava ao custo de 8 contos
de réis.
A vila de Santarém era preferida pelos comerciantes por ser mais próxima e menos
dispendiosa do que a ida até Belém (CASTELNAU, 1949, p. 214). Um exemplo, é a comparação
dos preços das três praças comerciais, citadas no quadro 4, a seguir:
69
Quadro 4
Demonstração da diferença de preços causada pela longa distância (1844-1845), em réis
Mercadorias
Preços praticados
Medidas usadas Em Belém Em Santarém Em
Diamantino
Azeitona $800 2$000 10$000 caixa
Bandejas 5$000 15$000 20$000 unidade
Chapéus de palha $500 1$600 3$000 dúzia
Chumbo para caça 10$000 24$000 76$000 quintal
Copos grandes $700 2$000 7$200 Dúzia
Farinha de trigo 9$000 25$000 76$000 6 arrobas32
Foices grandes $500 $900 2$000 Unidade
Foices pequenas $300 $800 1$000 Unidade
Macarrão 3$000 6$000 21$000 caixa de 20 libras
Machados $500 1$000 2$400 Unidade
Machadinhas $400 $800 1$800 Unidade
Pólvora para caça $500 $900 2$400 libra portuguesa33
Pratos rasos 1$000 2$200 5$400 Dúzia
Pratos fundos $450 1$600 4$000 Unidade
Queijos flamengos $700 2$000 4$000 Dúzia
Sal $700 2$000 20$000 alqueire34
Sopeiras $610 3$000 6$000 Unidade
Vinho português de 1ª
qualidade
80$000 160$000 720$000 pipa35
Vinho Moscatel 5$000 10$500 24$000 12 garrafas
Xícaras e pires 1$000 2$200 5$400 Dúzia
Fonte: CASTELNAU, 1949, p. 211.
É visível o acréscimo dos preços sobre os produtos, chegando, em alguns casos, a
quintuplicar. Para melhor compreender esse flagrante aumento de valores, deve-se
compreender as dificuldades enfrentadas pelos comerciantes; pois, o tempo que se levava para
32 Uma arroba equivalia a 14,74560 kg. Cf.
https://www.ifch.unicamp.br/cecult/lex/web/uploads/assets/file/Pesos%20e%20Medidas%20-
%20s%C3%A9culos%20XVIII%20e%20in%C3%ADcio%20XIX.pdf) – Acesso em 2 maio 2017.
33 Uma libra portuguesa equivalia a 460, 080 g (idem).
34 Um alqueire equivale a 36, 27 litros (op. cit).
35 Uma pipa portuguesa equivalia a 424 litros (idem).
70
uma viagem de ida e volta de Diamantino a Santarém podia chegar a oito meses, e esse tempo
aumentava para aqueles comerciantes que saíam de Cuiabá rumo a essa vila paraense. A
viagem era morosa por ser esse caminho de difícil acesso, com diversas cachoeiras; além
disso, a carga era limitada, devido às condições impostas pelo trajeto (CASTELNAU, 1949, p.
212). Os comerciantes que saíam de Cuiabá e de Diamantino com destino ao Pará seguiam por
terra em lombos de animais até o porto do rio Arinos, e na ida levavam os mantimentos
necessários para a viagem, incluindo os necessários para a volta, os quais eram “escondidos
na mata ao longo do trajeto, debaixo de pequenos ranchos de folhas construídos pelos
canoeiros durante a descida” (CASTELNAU, 1949, p. 212). Do porto do rio Arinos desciam este
rio, depois passavam ao Juruena e por último ao Tapajós36, que dá vazão no rio Amazonas,
que, por sua vez, corre em direção ao Oceano Atlântico. A cidade de Santarém encontra-se no
ponto de confluência dos rios Tapajós e Amazonas. O percurso de Diamantino a Santarém
delongava em torno de 26 a 34 dias (RMT, 01/03/1837, p. 11). As viagens de ida eram realizadas
nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro e a volta em setembro, outubro e novembro, pois a
navegação pelo rio Arinos só era possível na estação chuvosa. A realização das compras
demandava aproximadamente um mês (CASTELNAU, 1949, p. 212). Já a volta demorava em
torno de 105 a 135 dias (RMT, 01/03/1837, p. 11).
Além das articulações econômicas de Mato Grosso com outras províncias brasileiras,
existia também um comércio com as províncias bolivianas de Moxos e Chiquitos, desde o
período colonial. O contrabando era o principal meio desse comércio nas regiões fronteiriças
desde o Guaporé até o médio Paraguai (QUEIROZ, 2011, p. 110). Contudo, como as terras baixas
da Bolívia ficavam muito distantes do oceano Pacífico, os governantes de Mato Grosso
acreditavam que as províncias de Moxos, Chiquitos e até mesmo Santa Cruz pudessem se
tornar consumidores efetivos do mercado mato-grossense, ao invés das pequenas transações
comerciais que eram realizadas até então. Para que tal fato ocorresse, era preciso que os
preços dos gêneros procedentes dos portos brasileiros pudessem concorrer com os produtos
que eram conduzidos dos portos do Oceano Pacífico; assim, os meios de transporte da costa
brasileira até Mato Grosso deveriam ser melhorados para poder ser menos oneroso o preço
das mercadorias que ali chegavam (RMT, 01/03/1837, p. 8). Para tal, buscava-se a abertura de
uma nova estrada para articular tal comércio, o que parece ter acontecido, pois em 1840 já
36 Todos esses rios se interligam; porém, não são completamente navegáveis , pois ao longo do trajeto existem
várias cascatas e cachoeiras.
71
existia uma linha de correio mensal entre o Departamento de Santa Cruz de la Sierra e a
Província de Mato Grosso (RMT, 01/03/1840, p. 25).
Além das mercadorias que vinham de outras províncias, havia em Mato Grosso uma
produção interna. Essa produção era desenvolvida nas chácaras, sítios ou fazendas. Enquanto
a agricultura era voltada para o mercado interno, o rebanho bovino, além de atender às
demandas internas, era remetido para as províncias de Minas Gerais e São Paulo. De acordo
com Vanda Silva, existiam em Mato Grosso diversos engenhos, os quais eram:
um conjunto de instalações composto por casas de vivenda, senzala, capela, engenho de moer cana, engenho de farinha e monjolos de socar milho, pilar arroz e socar mamona, roda de ralar mandioca, pomar e lavouras e moinhos. Ou seja, os engenhos eram um grande espaço de moradia e de beneficiamento dos produtos, além de possuírem as roças, pastos e pomares. De modo geral, as casas, senzalas e a maquinaria do engenho estavam muito próximas umas das outras (SILVA, 2015, p. 48-49).
Apesar de tal descrição se referir ao período colonial, pode-se concluir, pelas
estruturas de produção existentes nos anos posteriores, que não ocorreram mudanças
significativas após a independência. Sendo assim, podemos utilizar tal descrição para o
período aqui abordado. De tal maneira, esses engenhos eram unidades de produção
diversificadas, onde eram produzidos elementos básicos de consumo para o mercado interno,
tais como: farinha de milho, farinha de mandioca, azeite de mamona, arroz, feijão, milho,
melado, açúcar, carne seca, toucinho e aguardente. Essas propriedades também se destinavam
à produção de grandes lavouras, as quais utilizavam ferramentas simples como machado,
enxadas e foices, assim como a criação de animais cavalares, muares e vacuns (SILVA, 2015).
Os proprietários dos engenhos utilizavam-se de caixeiros viajantes e casas comissárias para
introduzir seus produtos nas vilas e povoações mato-grossenses. Além disso, esses engenhos
tinham importância fundamental no abastecimento dos estabelecimentos responsáveis pela
guarnição da fronteira. No período colonial, o abastecimento desses estabelecimentos era
realizado através do Armazém Real, “um órgão da Provedoria da Fazenda em diferentes
estabelecimentos e lugares para guardar e controlar a saída e entrada de diversos produtos
adquiridos pela Provedoria, como gêneros alimentícios, armamentos e ferramentas necessárias
para a manutenção da capitania”. O Armazém Real adquiria grande parte da produção interna
e para garantir seus mantimentos passou a utilizar-se de contratos com alguns proprietários de
engenhos; através desses contratos ficava estabelecido que as unidades produtoras deveriam
entregar uma determinada cota mensal de gêneros alimentícios (SILVA, 2015, p. 67). Assim, fica
72
evidente a importância desses engenhos no abastecimento interno da Província de Mato
Grosso.
A realidade da economia mato-grossense começou a se alterar na segunda metade do
século XIX com a abertura da navegação pelo rio Paraguai, através do redirecionamento dos
fluxos econômicos para a região platina.
2.2 A situação econômica de Mato Grosso após a abertura da navegação pelo rio
Paraguai
A integração efetiva de Mato Grosso à via platina ocorreu em um período que o
historiador Eric Hobsbawm denominou de A Era dos Impérios. Momento esse que foi
marcado pela expansão capitalista, a qual teve por base o desenvolvimento de novas
tecnologias que vieram a constituir a chamada “Segunda Revolução Industrial”. Esta foi capaz
de criar uma economia global e atingir diversas regiões do globo terrestre, uma vez que as
economias industriais concorrentes estavam na contínua busca de novos mercados
consumidores para seus produtos industrializados, assim como fornecedores de matérias-
primas necessárias à indústria moderna em crescimento, ou mesmo, de produtos agrícolas e
exóticos (HOBSBAWM, 2010). As mudanças que se processavam, a partir de 1870, “acabaron
de unificar los mercados nacionales y dieron paso a un mercado internacional cada vez más
integrado. El tamaño del mercado se amplió, pero também aumentó sensiblemente la
competencia entre las empresas por el reparto del mismo” (VALDALISO; LOPEZ, 2009, p. 233-
234). Assim, “as mais remotas partes do mundo estavam agora começando a ser interligadas
por meios de comunicação que não tinham precedentes pela regularidade, pela capacidade de
transportar vastas quantidades de mercadorias e pessoas” (HOBSBAWM, 2014, p. 93).
E foi nessa corrida imperialista que o mercado da América do Sul passou a ser
disputado por novas potências industriais como a Alemanha e Estados Unidos, assim como
por outras nações como a Bélgica, a Holanda, a Espanha, Portugal e Itália. No último quartel
do século XIX, a Inglaterra ainda era preponderante perante as suas concorrentes, mas a
França já ocupava uma considerável fatia desse mercado (NORMANO, 1944). Nessa conjuntura
de expansão de capitais e bens, Mato Grosso, através da livre navegação pelo rio Paraguai,
conseguiu aos poucos se vincular ao mercado internacional. Como apontado anteriormente,
foi através dessa nova via fluvial que novos núcleos urbanos irradiados desde Corumbá se
formaram em Mato Grosso, principalmente na porção Sul.
73
Com a Guerra da Tríplice Aliança contra o Paraguai, a navegação pelo rio Paraguai foi
interrompida e uma das medidas tomadas para incentivar o desenvolvimento da economia
mato-grossense foi estabelecida pela lei nº 1.352, de 19 de setembro de 1866, editada pelo
governo imperial, que em seu artigo 8º apresenta a seguinte redação:
Fica o Governo autorizado para reduzir, como for conveniente, as taxas da Tarifa especial da Alfândega de Corumbá na Província de Mato Grosso, podendo conceder por espaço de cinco anos, depois de terminada a guerra atual [Guerra da Tríplice Aliança contra o Paraguai], completa isenção dos direitos de consumo e de exportação.
Assim, o governo imperial, através do Decreto nº 4.388, de 15 de julho de 1869,
autorizou, por um prazo de dois anos, a isenção dos direitos de consumo das mercadorias
importadas, assim como para a exportação de produtos nacionais. E após o fim da referida
guerra, essa isenção foi prorrogada mais duas vezes, ambas por três anos, por meio dos
decretos nº 4.707, de 31 de março de 1871, e nº 5.626, de 4 de maio de 1874, vencendo
somente em 30 de junho de 1877 (Coleção de leis do Império, in:
http://www2.camara.leg.br/atividade- legislativa/legislacao/publicacoes/doimperio).
Nas décadas de 1870 a 1890, as arrecadações dos impostos se faziam na Alfândega de
Corumbá e nas diversas coletorias localizadas em Cuiabá, Diamantino, São Luís de Cáceres,
Vila do Rosário, Miranda, Poconé, Livramento e Santana do Paranaíba (RMT, 12/07/1886, p. 42).
E grande parte da receita da Província/Estado originava-se
dos impostos internos cobrados da pequena lavoura de consumo na província, da economia dos proprietários urbanos, das necessidades das classes operárias consumidoras de gêneros estrangeiros e nacionais de uso indispensável à vida, e das pequenas indústrias, ofícios e transações de que subsiste grande parte do povo (RMT, 12/07/1886, p. 35).
Na década de 1880, os produtos destinados à exportação ainda não compunham um
setor forte o suficiente para se sobressair nas finanças de Mato Grosso, pois as atividades de
extração de produtos naturais e de derivados da pecuária ainda estavam em processo de
consolidação. Como demonstrado no gráfico 1, a seguir:
74
Gráfico 1
Produtos exportados de Mato Grosso no ano de 1885
Fonte: (RMT , 12/07/1886, p. 36).
Analisando os dados do gráfico 1, verifica-se que o valor total da exportação era
baixo, em comparação, por exemplo, com os valores exportados, nessa época, pelas
províncias cafeeiras. A renda proveniente dos impostos sobre a exportação era cobrada
conforme o produto, sendo que se pagava 10$000 (dez mil réis) por cada novilha ou vaca e
2$000 (dois mil réis) por cada boi; já sobre a erva-mate cobrava-se 5% sobre o valor,
enquanto dos demais produtos a taxa era de 10%. Fica evidente a discrepância da contribuição
da erva-mate, se comparada com os demais produtos. Os valores representados no gráfico 1
correspondiam a algo em torno de 20% da receita arrecadada por Mato Grosso no ano de
1885 (RMT, 12/07/1886, p. 34).
Grande parte da historiografia aponta para a dependência econômica de Mato Grosso,
que necessitava da ajuda do governo central para arcar com suas despesas37. Desta forma, a
Província de Mato Grosso se apresenta como dependente do amparo do governo Imperial, o
qual ajudava com remessas de dinheiro para suprir as despesas da província. Mas através da
análise dos dados, pude perceber que não é bem assim. Pois a quase totalidade das remessas
37 BORGES, 2001; CORRÊA, 1980; GARCIA, 2001.
Produtos Cal em pedra Caldo de carne Couros Chifres Erva-Mate Ipecacuanha Gado Vacum Outros Total
Valor oficial 4:072$000 43:200$000 141:209$000 2:460$000 337:083$000 43:759$500 66:036$000 2:084$380 639:964$880
Imposto 203$600 4:320$000 14:129$000 246$000 16:854$150 4:375$950 11:006$000 208:438 51:343$138
75
vindas do Governo Imperial era gasta com o Ministério da Guerra e com o Ministério da
Marinha, como demonstrado no quadro 5, a seguir:
Quadro 5
Comparação dos valores recebidos do Governo Imperial com os gastos
dos ministérios da Guerra e da Marinha
Ano
(julho a
junho)
Valores
recebidos do
Império
Total dos gastos
com os ministérios
da Guerra e da
Marinha38
Diferença dos
recursos que
sobraram da remessa
do governo Central
Valores
devolvidos por
Mato Grosso ao
Governo Central
1873-1874 2.602:555$118 1.746:985$768
855:569$350
749:106$834
1874-1875 2.261:249$787 1.828:125$250
433:124$537
173:855$722
1875-1876 2.540:702$819 2.093:218$641
447:484$178
4:614$757
1877-1878 2.085:028$890 1.694:266$803
390:762$087
---
1879-1880 1.438:816$201 1.538:730$263
-99:914$062
---
1884-1885 1.145:331$520 1.073:571$176
71:760$344
510:008$097
1885-1886 1.634:796$465 1.138:731$392
496:065$073
465:148$868
1886-1887 666:075$233 334:016$606
332:058$627
98:864$474
Fonte: BORGES, 2001, p. 133 e 141.
Através da comparação dos dados acima, verifica-se que as remessas enviadas para
Mato Grosso eram utilizadas para suprir as próprias contas do governo central. Essas
remessas eram repassadas ao governo provincial, uma vez que as províncias se encarregavam
da administração financeira desses órgãos. Quando os relatórios dos presidentes da Província
mencionam a ajuda financeira para suprir as despesas da Província, estavam se referindo às
despesas do governo imperial em Mato Grosso. O fato é que os impostos pertencentes ao
governo central coletados dentro de Mato Grosso não eram suficientes para suprir as despesas
de responsabilidade do Império, daí a necessidade do envio de verbas suplementares. De toda
forma, após pagas as contas dos referidos ministérios, o dinheiro era remetido de volta aos
cofres do Império brasileiro. Para uma melhor compreensão, analisemos os dados do quadro
6, a seguir:
38 Trata-se aqui das despesas com o custeio e os melhoramentos das instalações militares existentes na província
(fortalezas, quartéis etc.) e o pagamento do respectivo pessoal.
76
Quadro 6
Quadro comparativo de receitas e despesas gerais 39 das provinciais40
brasileiras (1885, 1886-1887), em réis
Províncias Receita Geral Despesa Geral Receita
Provincial
Despesa Provincial
Bahia 10.885:120$784 6.002:514$747 3.046:875$600 4.486:506$355
Pernambuco 10.126:142$880 7.714:561$579 2.714:829$695 3.337:615$201
São Paulo 9.658:639$023 2.745:492$144 5.236:833$333 5.489:081$378
Pará 9.028:843$062 2.397:473$767 3.960:630$000 3.700:521$160
Rio Grande do Sul 7.379:317$440 7.897:823$693 2.806:500$000 2.971:700$000
Maranhão 2.237:374$461 1.672:263$221 715:906$099 767$142$892
Minas Gerais 1.660:430$436 1.884:307$572 3.410:200$000 3.410:200$000
Rio de Janeiro 1.284:133$400 469:467$836 6.017:117$060 5.986:964$340
Ceará 1.172:591$207 1.033:105$887 976:564$000 1:053:940$000
Amazonas 961:257$494 602:512$680 1.939:080$000 1.778:947$023
Alagoas 928:028$560 847:598$845 741:823$760 847:598$845
Santa Catarina 782:914$250 743:798$560 374:032$438 461:937$684
Paraná 548:269$117 874:829$663 969:018$076 969:018$076
Paraíba 395:264$884 626:129$552 522:535$000 703:430$540
Mato Grosso 394:976$893 1.615:805$118 228:157$888 249:208$620
Sergipe 382:885$453 562:130$922 800:000$000 673:964$923
Espírito Santo 305:867$618 466:501$432 439:147$000 431:159$500
Piauí 271:353$410 567:197$819 272:980$144 319:127$460
Rio Grande do Norte 178:093$722 436:842$420 391:081$000 492:408$151
Goiás 61:0694829 756:998$355 240:267$673 240:030$153
Fonte: BARÃO DE COTEGIPE, 1887, s/nº p.
É concebível que quando comparadas as receitas e a despesas gerais em cada província
do Império brasileiro, tornem-se espantosos os dados de Mato Grosso; mas esses gastos, por
parte do governo central, devem ser compreendidos ao notar que se trata de uma região de
fronteira. Já se analisarmos as receitas e despesas provinciais percebemos que somente o
Amazonas, Pará, Rio de Janeiro e Sergipe conseguiram ter uma receita maior que as próprias
despesas. Algumas províncias possuíam uma pequena discrepância entre a receita e a despesa,
como é o caso de Mato Grosso; dessa forma, todas tendiam a manter um certo equilíbrio entre
39 Trata-se das receitas e despesas atribuídas ao governo central (“geral”).
40 Trata-se das receitas e despesas atribuídas aos governos provinciais.
77
suas receitas e despesas. Em alguns anos, as receitas eram maiores que as despesas, em outros
não. Assim, tanto os saldos positivos como os negativos eram passados para o próximo
exercício financeiro anual.
Em Mato Grosso, nesse período, as rendas arrecadadas, em geral, conseguiam suprir
as despesas da própria província. O único auxílio financeiro que Mato Grosso efetivamente
recebia do governo central era para a manutenção da força policial, ou seja, a corporação
provincial encarregada da segurança pública (RMT, 01/11/1878).
78
Quadro 7
Valor total das importações e exportações de Mato Grosso
no período de 1872-1914 (em réis).
Fontes: (1) Os dados referentes aos anos de 1872 a 1876 e 1894 a 1907 foram extraídos do
Boletim Comemorativo da Exposição Nacional de 1908, p. 104-106; (2) Os dados referentes aos
anos de 1885 e 1886 foram extraídos do Relatório que o Presidente de Província de Mato Grosso,
José Joaquim Ramos Ferreira, apresentou à Assembleia Legislativa Provincial de Mato Grosso em
1º de novembro de 1887, p. 113; (3) Publicações do Serviço / Directoria de Estatística Commercial do
Ministério da Fazenda – 1909-1914.
Ano Importação Exportação
1872 1.028:000$000 154:900$000
1873 1.524:341$000 153:039$000
1874 962:170$000 124:803$000
1875 1.177:785$000 144:225$000
1876 2.744:800$000 120:200$000
1885 --- 639:964$880
1886 --- 925:454$990
1893 1.440:064$000 648:568$000
1894 1.648:099$000 933:348$000
1895 1.742:630$000 413:507$000
1896 2.316:609$000 481:108$000
1897 1.922:103$000 1.225:006$000
1902 2.439$418$000 7.555:960$000
1903 2.284:033$000 7.555:960$000
1904 2.752:973$000 7.103$396$000
1905 2.789$755$000 6.701:656$000
1906 2.552:467$000 5.969:900$000
1907 3.704:186$000 7.682:883$000
1908 4.017:779$000 8.189:279$000
1909 10.123:662$000 19.362:025$000
1910 7.766:100$000 24.984$994$000
1911 12.907:465$000 19.3113:661$000
1912 4.440:694$000 3.606:763$000
1913 4.875:655$000 5.399:945$000
1914 3.712:250$000 4.136:255$000
79
A receita interna da província/estado contava com os impostos arrecadados sobre a
importação e exportação. Dessa maneira, através da análise dos valores expostos no quadro 7,
pode-se compreender que, até o final do século XIX, as receitas de Mato Grosso eram baixas.
Tendo por base os dados do quadro 7, apesar da falta sequencial de alguns anos, pode-
se verificar que o aumento dos valores das exportações foi um processo lento e gradual até o
final do século XIX. De tal maneira, apesar do pequeno crescimento no movimento das
exportações ao longo da década de 1890, foi somente no início do século XX que o total das
exportações superou o valor das importações. Isso se deve a uma melhor estruturação dos
meios produtivos pautados na extração de produtos naturais e na produção dos derivados da
pecuária – e também, certamente, ao aumento das exportações da borracha. Desta forma,
pode-se concluir que a historiografia mato-grossense/sul-mato-grossense tendeu a exagerar o
efetivo desenvolvimento econômico nos anos imediatamente seguintes à abertura da
navegação pelo rio Paraguai. Sobre as transformações ocorridas em Mato Grosso, logo após
essa abertura, o que parece é que o “dinamismo revelado [...] foi muito modesto, e somente
adquire certa significação no confronto com a modéstia, ainda maior, dos padrões da
economia mato-grossense no período anterior” (QUEIROZ, 2008, p. 137-138).
2.3 A dinâmica econômica mato-grossense e seus principais produtos de
importação e exportação no início do século XX
Com a inserção de Mato Grosso nos circuitos platinos, suas características econômicas
foram se alterando lentamente, pois a região do Prata já estava vinculada ao capitalismo
internacional, especialmente as cidades de Buenos Aires e Montevidéu. Assim, não é de
estranhar que a influência econômica exercida pelos países europeus sobre a região tenha se
estendido até Mato Grosso, por meio de investimentos no comércio de importação e
exportação, assim como em atividades produtivas (CORRÊA, 1980, p. 54). Em vista disso, muitos
imigrantes passaram a se dirigir para a província mato-grossense, entre eles “contavam-se
muitos europeus, especialmente italianos e espanhóis que já haviam feito um ‘estágio’ nas
Repúblicas do Prata, inclusive absorvendo os hábitos de seus povos” (PÓVOAS, 1982, p. 17),
além de alemães, uruguaios, argentinos e paraguaios.
Dentre esses imigrantes encontram-se aqueles que se estabeleceram em Mato Grosso e
investiram em casas comerciais de importação e exportação. Esse ramo de negócio não se
limitou à presença exclusiva de estrangeiros; pelo contrário, contou com a presença, tanto de
80
mato-grossenses, como de brasileiros de outras regiões, instalados em Mato Grosso há várias
décadas. Tais casas comerciais, as quais são melhor analisadas nos capítulos 3 e 4, tiveram
papel importante na inserção dos produtos importados que chegavam a Mato Grosso. Uma
parte das exportações dos produtos mato-grossenses passava também pelas casas comerciais,
entretanto, não eram de sua exclusividade (TARGAS, 2012, p. 58), uma vez que os grandes
investidores, principalmente as companhias estrangeiras, se encarregavam de escoar sua
própria produção.
Corumbá, por ser o ponto final da navegação internacional, tornou-se o principal polo
comercial mato-grossense, assumindo a função de redistribuidor de mercadorias para as
outras áreas da província. Contudo, por estar estritamente vinculado ao mercado externo,
sofria os reflexos das suas crises, tais como: epidemias, “colapsos de abastecimento,
tendências altistas nos preços, ação de atravessadores, fretes monopolizados e contrabando;
reflexos de conflitos políticos nos países vizinhos e movimentos grevistas de trabalhadores
dos portos na Bacia do Prata” (CORRÊA, 1999, p. 157-158). Além disso, Corumbá, por estar
localizada em uma área de fronteira, recebeu atenção especial do governo central, através de
recursos injetados em obras públicas, o que a levou a contar com “uma massa consumidora
em crescimento e com razoável poder aquisitivo, representada pela concentração de militares
ali estacionados” (GARCIA, 2001, p. 44).
Nas páginas seguintes, dedico-me a analisar os dados referentes ao comércio de
importação e exportação realizado pelo estado de Mato Grosso. A série analisada inicia-se em
1901 porque é só a partir desse ano que o Ministério da Fazenda (através do Serviço, e depois
Diretoria de Estatística Comercial) passa a divulgar dados estatísticos detalhados sobre o
movimento comercial realizado pelos portos brasileiros.
Esses dados apresentam, contudo, “uma limitação básica: suas referências não são as
unidades federadas mas, sim, estritamente as alfândegas e postos aduaneiros (órgãos federais)
por onde passavam os gêneros importados e exportados” (QUEIROZ, 2016, p. 348). A
limitação apontada tem a ver com o seguinte fato: devido à situação geográfica do estado,
parte considerável do comércio exterior mato-grossense – tanto de importação como de
exportação – era realizado por meio de portos situados em outros estados, deixando, portanto,
de ser computada nas estatísticas relativas a Mato Grosso. Esse era o caso, principalmente, da
borracha (exportada, em boa parte, pelos portos de Belém e Manaus) e da erva-mate (que,
desde o final da primeira década do século, passa a ser exportada via estado do Paraná). Além
dessa, há ainda outra limitação: as estatísticas captam apenas o comércio exterior, ou seja, não
81
há registros do comércio realizado internamente, entre Mato Grosso, por exemplo, e os
estados vizinhos.
Finalmente, cabe lembrar que, em um estado fronteiriço como Mato Grosso, o
comércio ilícito (contrabando) era amplamente praticado (cf., p. ex., CORRÊA, 1980).
Entretanto, tendo em vista a carência de dados fornecidos pelo governo estadual,
conclui-se que, “mesmo com todas as suas imperfeições, as estatísticas federais são úteis para
que se tenha ao menos um vislumbre do comércio exterior de Mato Grosso” (QUEIROZ, 2016,
p. 349).
No período analisado, os postos de arrecadação federal existentes em Mato Grosso
eram Corumbá, Porto Murtinho, Cuiabá (apenas importação), Nhuverá (apenas exportação),
Bela Vista (que apresentou movimento apenas no ano de 1910) e Porto Esperança (que
começou a operar em 1911).
Dos produtos que chegavam a tais postos aduaneiros mato-grossenses encontravam-
se desde artigos alimentícios básicos a artigos de luxo. Como já foi mencionado, apesar do
crescente movimento comercial que se instaurou com o acesso à via platina, foi somente na
primeira década do século XX que o comércio mato-grossense se tornou mais evidente,
sobretudo o de Corumbá. Momento em que se tem um grande aumento de novos
estabelecimentos comerciais, principalmente as casas comerciais importadoras/exportadoras –
cabendo notar que, por meio de tais casas, os produtos importados eram redistribuídos para o
restante do território do estado.
a) Importação
Para melhor compreender o vultoso volume das importações conforme seus
respectivos portos, analisemos os dados das tabelas 1 a 18, a seguir.
82
Tabela 1 – Principais produtos importados por Mato Grosso em 1901 (Valor posto a bordo, em mil-réis papel; volume em kg ou litro)
Gêneros
Volume
Valor
Arame de aço e ferro 128.494 45:080$
Manufaturas não especificadas de ferro e aço 99.070 88:283$
Tecidos de algodão branco, crus, estampados, tintos 26.884 135:908$
Tecidos de algodão não especificado 19.413 100:559$
Manufaturas não especificadas de algodão com ou sem mesclas 23.668 68:183$
Aparelhos científicos e outros, máquinas e acessórios 31.030 91:361$
Utensílios e ferramentas não especificados 33.551 59:112$
Farinha de trigo 890.834 220:991$
Manteiga 11.493 45:443$
Sal bruto 979.400 54:703$
Vinhos 33.753 48:482$
Arroz 295.839 91:210$
Milho 1.329.828 150:118$
Manufaturas não especificadas de alumínio, chumbo, cobre,
estanho, folha de flandres, zinco e níquel
74.017 41:487$
Querosene e outros óleos minerais 181.474 50:800$
Outros ---- 1:291:720$
TOTAL ---- 2.489:163$
Fonte: Publicações do Serviço / Directoria de Estatística Commercial do Ministério da Fazenda – 1900-1918, in http://memoria.org.br.
83
Tabela 2 – Principais produtos importados, segundo os portos mato-grossenses no ano de 1902 (Valor posto a bordo, em mil-réis papel; volume em kg ou litro)
Gêneros
Corumbá
Porto Murtinho
Cuiabá
Valor
total por produtos
Volume Valor Volume Valor Volume Valor
Arame de aço e ferro 91.842 22:803$ 42.350 10:840$ - - 33:643$
Arroz 192.096 50:904$ 23.232 8:307$ - - 59:211$
Farinha de trigo 854.872 247:037$ 28.260 7:661$ - - 254:698$
Manufaturas não especificadas de ferro e
aço
- 42:459$ - 4:392$ - 712$ 47:563$
Manufaturas não especificadas de cobre,
estanho, folha de flandres, zinco e níquel
- 8:138$
- - - - 8:138$
Máquinas, aparelhos e pertences,
ferramentas e utensílios diversos
- 219:841$ - 4:413$ - 547$ 224:801$
Manteiga 14.134 47:878$ 75 310$ 1.184 4:581$ 52:769$
Milho 436.363 47:725$ 761.956 77:373$ - - 125:098$
Querosene e outros óleos minerais 224.616 53:488$ 8.264 1:924$ 9.024 2:250$ 57:662$
Sal comum 704.994 35:979$ 237.210 10:680$ 1.265 90$ 46:749$
Tecidos de algodão branco, crus,
estampados e tintos
26.964 113:461$ - 399$ 439
1:660$ 115:520$
Tecidos de algodão não especificado 27.359 123:414$ 8.642 24:597$ 2 48$ 148:059$
Vinhos não especificados 380.104 187:890$ 12.172 5:982$ 7.355 6:599$ 200:471$
Outros - 966:159$ - 454:187$ - 32:254$ 1.452:600$
Total geral - 2.168:828$ - 611:170$ - 48:741$ 2:828:739$
Fonte: Publicações do Serviço / Directoria de Estatística Commercial do Ministério da Fazenda – 1900-1918, in http://memoria.org.br.
84
Tabela 3 – Principais produtos importados, segundo os portos mato-grossenses no ano de 1903
(Valor posto a bordo, em mil-réis papel; volume em kg ou litro)
Gêneros
Corumbá
Porto Murtinho
Cuiabá
Valor
total por
produtos
Volume Valor Volume Valor Volume Valor
Arame de aço e ferro 90.500 29:299$ 81.270 26:935$ - - 56:234$
Arroz 205.919 56:327$ 25.291 6:614$ - - 62:941$
Farinha de trigo 1.216.035 584:590$ 37.365 9:086 8.950 1:982$ 595:658$
Manufaturas não especificadas
de ferro e aço
- 28:282$ - 1:757$ - 256$ 30:295$
Máquinas, aparelhos e
pertences, ferramentas e
utensílios diversos.
- 67:713$ - 128:147$ - 78$ 69:386$
Manteiga 6.114 18:395$ 25 84$ 400 1:207 19:686$
Milho 325.643 32:140 716.598 69: 235$ 3.050 489$ 101:864$
Querosene e outros óleos
minerais
312.321 83:332$ 7.215 1:853$ 3.037 973$ 86:158$
Sal comum 1.742.191 109:543 $ 268.750 15:459$ ---- - 125:002$
Tecidos de algodão branco,
crus, estampados e tintos
29.408 108:795$ 136 567$ 1.089 4:164 113:526$
Tecidos de algodão não
especificado
27.750 121:245$ 1.701 2:097$ 436 4:164$ 127:506$
Vinhos em geral - 220:973$ - 8:294$ 5.598 5:910$ 235:177$
Outros - 592:177$ - 47:831$ - 19:958$ 659:966$
Total geral - 2.052:811$ - 191:485$ - 39:737$ 2.284:033
Fonte: Publicações do Serviço / Directoria de Estatística Commercial do Ministério da Fazenda – 1900-1918, in http://memoria.org.br.
85
Tabela 4 – Principais produtos importados, segundo os portos mato-grossenses no ano de 1904
(Valor posto a bordo, em mil-réis papel; volume em kg ou litro)
Gêneros
Corumbá
Porto Murtinho
Cuiabá
Valor
total por
produtos Volume Valor Volume Valor Volume Valor
Arame de aço e ferro 183.484 46:746$ 61.351 14:626$ - - 61:72$
Arroz 158.835 47:086$ 26.694 6:421$ - - 53:507$
Farinha de trigo 821.155 203:934$ 61.780 14:004 - - 217:938$
Manufaturas não especificadas de
ferro e aço
64.490 54:531$ 10.790 6:175$ - 10$ 60:716$
Máquinas, aparelhos e pertences,
ferramentas e utensílios diversos.
85.308 101:515$ 76.321 98:412$ - 188$ 104:471$
Manteiga 2.757 9:582 45 83$ - - 9:665$
Milho 288.578 31:655$ 625.654 62:587$ - - 94:242$
Querosene e outros óleos minerais 227.321 74:911$ 10.257 2:848$ - - 77:759$
Sal comum 2.410.029 156:760$ 281.850 14:637$ - - 171:397$
Tecidos de algodão branco, crus,
estampados e tintos
31.945 127:752$ 1.204 4:174$ 138 770$ 132:695$
Tecidos de algodão não
especificado
41.190 182:873$ 1.848 5:220$ 53 473$ 188:566$
Vinhos em geral 378.629 248:559$ - 9:773$ 2.152 3:398$ 261:730$
Outros - 1.226:444$ - 59:412$ - 4:839$ 1.290:695$
Total geral - 2.512.348$ - 202:918$ - 37:709$ 2.752:975$
Fonte: Publicações do Serviço / Directoria de Estatística Commercial do Ministério da Fazenda – 1900-1918, in http://memoria.org.br.
86
Tabela 5 – Principais produtos importados, segundo os portos mato-grossenses no ano de 1905 (Valor posto a bordo, em mil-réis papel; volume em kg ou litro)
Gêneros
Corumbá
Porto Murtinho
Cuiabá
Valor
total por
produtos Volume Valor Volume Valor Volume Valor
Arame de aço e ferro 209.675 45:840$ 39.469 8:250$ - - 54:090$
Arroz 291.486 63:971$ 28.668 4:676$ - - 68:647$
Farinha de trigo 1.047.126 196:354$ 26.038 5:843$ - - 202:197$
Manufaturas não especificadas de
ferro e aço
66.669 50:748$ 2.028 3:495$ - - 54:243$
Máquinas, aparelhos e pertences,
ferramentas e utensílios diversos.
- 277:474$ 13.581 11:962$ - 1:083$ 289:436$
Manteiga 7.647 21:845$ - - - - 21:845$
Milho 358.090 32:724$ 571.933 44:856$ - - 77:580$
Querosene e outros óleos minerais 368.566 85:685$ 5.020 925$ - - 86:610$
Sal comum 1.542.244 115:224$ 160.070 5:805$ - - 121:029
Tecidos de algodão branco, crus,
estampados e tintos
22.247 72:024$ 368 1:167$ 125 438$ 73:191$
Tecidos de algodão não
especificado
80.230 269:441$ 447 2:073$ 35 238$ 271:514$
Vinhos em geral 427.654 235:514$ 12.149 6:453 29.638 28:553$ 241:967$
Outros - 1.094:617$ - 95:505$ - 30:213$ 1.220:335$
Total geral - 2.561:461 - 167:789$ - 60:525$ 2.789:775$
Fonte: Publicações do Serviço / Directoria de Estatística Commercial do Ministério da Fazenda – 1900-1918, in http://memoria.org.br.
87
Tabela 6 – Principais produtos importados, segundo os portos mato-grossenses no ano de 1906
(Valor posto a bordo, em mil-réis papel; volume em kg ou litro)
Gêneros
Corumbá
Porto Murtinho
Cuiabá
Valor
total por
produtos Volume Valor Volume Valor Volume Valor
Arame de aço e ferro 177.060 36:080$ 60.425 14:055$ 12.100 2:6934 52:828$
Arroz 292.367 66:112$ 29.432 6:652$ - - 72:764$
Farinha de trigo 1.092.025 218:061$ 33.563 6:355$ - - 224:416$
Manufaturas não especificadas de
ferro e aço
51.031 37:623$ 6.295 4:268$ - - 41:891$
Máquinas, aparelhos e pertences,
ferramentas e utensílios diversos.
919.648 514:185$ 15.408 10:889$ - 31$ 525:074$
Manteiga 7.849 23:831$ - - - - 23:831$
Milho 396.359 35:202$ 498.903 39:580$ - - 74:782$
Querosene e outros óleos minerais 285.789 72:312$ 8.391 1:398$ - - 73:710$
Sal comum 1.800.805 99:118$ 289.280 11:277$ - - 110:395$
Tecidos de algodão branco, crus,
estampados e tintos
27.586 73:035 - - - - 73:035$
Tecidos de algodão não
especificado
40.016 138:578$ - - - - 138:578$
Vinhos em geral 350.404 173:868$ 17.540 8:454$ 7.530 7:491$ 189:813$
Outros - 875:566$ - 67:059$ - 10:215$ 952:840$
Total geral - 2.363:571$ - 169:987$ ---- 18:969$ 2.552:527$
Fonte: Publicações do Serviço / Directoria de Estatística Commercial do Ministério da Fazenda – 1900-1918, in http://memoria.org.br.
88
Tabela 7: Principais produtos importados, segundo os portos mato-grossenses no ano de 1907
(Valor posto a bordo, em mil-réis papel; volume em kg ou litro)
Gêneros
Corumbá
Porto Murtinho
Cuiabá
Valor
total por
produtos Volume Valor Volume Valor Volume Valor
Arame de aço e ferro 275.585 79:155$ 76.900 20:243$ 3.951 1:073$ 100:471$
Arroz 182.786 48:231$ 28.328 6:010$ - - 54:241$
Farinha de trigo 1.262.465 285:070 59.720 13:157$ - - 298:227$
Manufaturas não especificadas de
ferro e aço
82.630 58:360$ 5.148 5:052$ - - 63:412$
Máquinas, aparelhos e pertences,
ferramentas e utensílios diversos.
85.086 117:204$ 13.013 14:606$ 720 563$ 132:373$
Manteiga 17.337 51:121$ - - - - 51:121$
Milho - - 449.780 37:123$ - - 37:123$
Querosene e outros óleos minerais 413.734 108:942$ 12.155 2:932$ - - 111:874$
Sal comum 3.043.241 219:970$ 245.900 11:651$ - - 231:621$
Tecidos de algodão branco, crus,
estampados e tintos
31.174 91:771$ 384 1:622$ - - 93:393$
Tecidos de algodão não
especificado
91.539 371:096$ 2.394 8:702$ 9 79$ 379:877$
Vinhos em geral 735.275 400:493$ 29.874 15:476$ 23.997 22:856$ 438:825$
Outros - 1.609:860$ - 75:741$ - 26:027$ 1.711:628$
Total geral - 3.441:273$ - 212:315$ - 50:598$ 3.704:186$
Fonte: Publicações do Serviço / Directoria de Estatística Commercial do Ministério da Fazenda – 1900-1918, in http://memoria.org.br.
89
Tabela 8: Principais produtos importados, segundo os portos mato-grossenses no ano de 1908 (Valor posto a bordo, em mil-réis papel; volume em kg ou litro)
Fonte: Publicações do Serviço / Directoria de Estatística Commercial do Ministério da Fazenda – 1900-1918, in http://memoria.org.br.
Gêneros
Corumbá
Porto Murtinho
Cuiabá
Valor
total por
produtos
Volume Valor Volume Valor Volume Valor
Arame de aço e ferro 274.668 87:823$ 70.475 20:140$ - - 107:963$
Arroz 126.622 36:171$ 25.326 5:718$ - - 41:889$
Farinha de trigo 1.212.603 263:226$ 65.268 17:854$ 31.250 9:355$ 290:435$
Manufaturas não especificadas de
ferro e aço
74.000 72:927$ 9.068 6:580$ 596 288$ 79:795$
Máquinas, aparelhos e pertences,
ferramentas e utensílios diversos.
255.937 239:916$ 79.984 69:879$ 19.345 18:789$ 328:584$
Manteiga 5.013 13:903$ 43 133$ - - 14:036$
Milho 559.080 45:904$ - - 45:904$
Querosene e outros óleos minerais 472.243 123:951$ 9.732 2:436$ - - 126:387$
Sal comum 2.125.008 125:540$ 429.500 15:745$ - - 141:285$
Tecidos de algodão branco, crus,
estampados e tintos
19.438 65:451$ - - 74 553$ 66:004$
Tecidos de algodão não
especificado
61.231 230:567$ 446 1:761$ 7 127$ 232:455$
Vinhos em geral 410.226 229:006$ 29.376 19:370$ 32.458 30:301$ 278:677$
Outros - 2.122:705$ 114:094$ - 27:566$ 2.264:365$
Total geral - 3.611:186$ - 319:614$ - 86:979$ 4.017:779$
90
Tabela 9:Principais produtos importados, segundo os portos mato-grossenses no ano de 1909
(Valor posto a bordo, em mil-réis papel; volume em kg ou litro)
Gêneros
Corumbá
Porto Murtinho
Cuiabá
Valor
total por
produtos Volume Valor Volume Valor Volume Valor
Arame de aço e ferro 392.785 123:892$ 46.980 15:982$ - - 139:874$
Arroz 227.678 55:211$ 30.445 7:219$ - - 62:430$
Farinha de trigo 2.044.851 442:253$ 123.510 35:912$ - - 478:165$
Manufaturas não especificadas de
ferro e aço
53.085 37:980$ 5.151 5:632$ 8.597 6:474$ 50:086$
Máquinas, aparelhos e pertences,
ferramentas e utensílios diversos.
249.158 265:882$ 5.819 6:508$ 637.801 53:662$ 326:052$
Manteiga 8.177 25:116$ 288 815$ - - 25:931$
Milho 574.214 63:018$ 681.662 69:026$ - 103$ 132:147$
Querosene e outros óleos minerais 452.011 123:951$ 19.709 4:192$ 400 165$ 128:308$
Sal comum 2.123.730 148:625$ 241.366 11:427$ - - 160:052$
Tecidos de algodão branco, crus,
estampados e tintos
14.156 44:838$ 155 739$ - 553$ 46:130$
Tecidos de algodão não especificado 26.935 115:289$ 1.676 5:680$ 5.879 14:922$ 135:891$
Vinhos em geral 630.095 229:006$ 39.649 21:579$ 38.105 36:117$ 286:702$
Outros - 4.911:208$ - 105:188$ - 3.135:471$ 8.448:574$
Total geral - 6.586:296$ - 289:899$ - 3.247:467$ 10:123:662$
Fonte: Publicações do Serviço / Directoria de Estatística Commercial do Ministério da Fazenda – 1900-1918, in http://memoria.org.br.
91
Tabela 10: Principais produtos importados, segundo os portos mato-grossenses no ano de 1910
(Valor posto a bordo, em mil-réis papel; volume em kg ou litro)
Gêneros
Corumbá
Porto Murtinho
Cuiabá
Valor
total por
produtos Volume Valor Volume Valor Volume Valor
Arame de aço e ferro 534.653 148:580$ 44.160 7:948$ - - 156:528$
Arroz 407.029 89:235$ 52.142 12:477$ - - 101:712$
Farinha de trigo 1.432.696 345:113$ 180.060 49:166$ - - 394:279$
Manufaturas não especificadas de ferro e
aço
- - - - - - -
Máquinas, aparelhos e pertences,
ferramentas e utensílios diversos.
106.256 146:363$ 5.610 8:046$ - - 154:409$
Manteiga 28:633$ - - 784 2:209$ 30:842$
Milho 484.583 53:473$ 303.091 26:246$ - - 79:719$
Querosene 760.595 166.564$ 28.875 6:036$ - - 172:600$
Sal comum 3.141:421 217:852$ 873.500 35:325$ - - 253:177$
Tecidos de algodão branco, crus,
estampados e tintos
38.093 112:658$ 438 1:109$ 1.213 5:403$ 119:170$
Tecidos de algodão não especificado 73.252 277:676$ 9.401 39:647$ - - 317:323$
Vinhos em geral 1.363:096 469:889$ 79.583 34:361$ 28.402 30:013$ 534:263$
Outros - 3.696:848$ - 105:798$ - 667:109$ 4.469:755$
Total geral - 5.752:884$ - 326.159$ - 704:734$ 6.783:777$
Fonte: Publicações do Serviço / Directoria de Estatística Commercial do Ministério da Fazenda – 1900-1918, in http://memoria.org.br.
92
Tabela 11: Principais produtos importados, segundo os portos mato-grossenses no ano de 1911 (Valor posto a bordo, em mil-réis papel; volume em kg ou litro)
Gêneros
Corumbá
Porto Murtinho
Cuiabá
Porto Esperança41
Valor
total por
produtos Volume Valor Volume Valor Volume Valor Volume Valor
Arame de aço e ferro 458.047 125:168$ 169.730 12:845$ 18.000 3:823$ - - 141:836$
Arroz 303.157 74:117$ 53.946 15:299$ - - - - 89:416$
Farinha de trigo 1.964:611 436:422$ 169.872 42:085$ 456 1:165$ - - 479:672$
Manufaturas não especificadas de ferro e aço - - - - - - - - -
Máquinas, aparelhos e pertences, ferramentas
e utensílios diversos.
652.927 818:620$ 2.976 6:932$ - - 43.555 20:592$ 846:144$
Manteiga 8.507 24:414$ - - 2.185 5:290$ - - 29:704$
Milho 365.678 47:242$ 142.675 11:507$ - - - - 58:749$
Querosene 498.944 114:612$ 31.055 6:203$ - - - - 120:815$
Sal comum 2.441:179 200:916$ 770.247 35:430$ - - - 236:346$
Tecidos de algodão branco, crus, estampados
e tintos
38.049 126:897$ 1.962 4:028$ 9.086 28:940$ - - 159:865$
Tecidos de algodão não especificado 81.084 367:736$ 4.532 15:981$ 4.780 25:671$ - - 409:126$
Vinhos em geral 747.682 439:114$ 35.504 24:610$ 29.552 28:402$ - - 492:126$
Outros - 3.850:288$ - 117:166$ 180:183$ - 278:695$ 4.426:332$
Total geral - 6.625:546$ - 292:086$ - 273:474$ - 299:287$ 7.490:393$
Fonte: Publicações do Serviço / Directoria de Estatística Commercial do Ministério da Fazenda – 1900-1918, in http://memoria.org.br.
41 Os artigos importados pelo Porto Esperança nos anos de 1911 a 1914 eram artigos manufaturados destinados à construção da ferrovia Noroeste e estruturação do próprio
porto. São eles: trilhos, talas de junção e acessórios para estrada de ferro; aparelhos para eletricidade e iluminação elétrica, locomotivas, prensas de qualquer qualidade.
93
Tabela 12: Principais produtos importados, segundo os portos mato-grossenses no ano de 1912 (Valor posto a bordo, em mil-réis papel; volume em kg ou litro)
Gêneros
Corumbá
Porto Murtinho
Cuiabá
Porto Esperança
Valor
total por
produtos Volume Valor Volume Valor Volume Valor Volume Valor
Arame de aço e ferro 258.691 80:847$ 51.740 14:249$ - - 176.000 42:715$ 137:811$
Arroz 235.932 63:530$ 68.145 23:394$ - - - - 86:924$
Farinha de trigo 1.469:169$ 346:212$ 234.630 49:969$ - - - - 396:181$
Manufaturas não especificadas de
ferro e aço
- - - - - - - - -
Máquinas, aparelhos e pertences,
ferramentas e utensílios diversos.
121.306 170:635$ 4.853 4:691$ - - - - 175:326$
Manteiga 6.165 17:662$ - 4.233 11:150$ - - 28:812$
Milho 607.756 66:257$ 62.090 5:781$ - - - - 72:038$
Querosene 622.125 136:167$ 36.357 9:217$ - - - - 145:384$
Sal comum 2.183.265 134:043$ 1.444.505 68:703$ - - - - 202:746$
Tecidos de algodão branco, crus,
estampados e tintos
14.915 49:797$ 704 2:741$ 2.155 6:573$ - 59:111$
Tecidos de algodão não
especificado
42.950 172:769$ 7.638 35:492$ 1.366 4:353 - - 212:614$
Vinhos em geral 632.944 330:618$ 49.285 31:123$ 26.630 39:004$ - - 400:745$
Outros - 2.322:220$ - 101:858$ - 141:639$ - 301:731$ 2.867:448$
Total geral - 3.890:757$ - 347:218$ - 202:719$ - 345:181$ 4.785:875$
Fonte: Publicações do Serviço / Directoria de Estatística Commercial do Ministério da Fazenda – 1900-1918, in http://memoria.org.br.
94
Tabela 13: Principais produtos importados, segundo os portos mato-grossenses no ano de 1913 (Valor posto a bordo, em mil-réis papel; volume em kg ou litro)
Gêneros
Corumbá
Porto Murtinho
Cuiabá
Porto Esperança
Valor
total por
produtos Volume Valor Volume Valor Volume Valor Volume Valor
Arame de aço e ferro 238.936 78:504$ 180.094 50:938$ 5.832 1:238$ - - 130:680$
Arroz 288.605 80:202$ 47.036 13:153$ - - - - 93:355$
Farinha de trigo 1.823.270 473:605$ 223.525 53:788$ - - - - 527:393$
Manufaturas não especificadas de
ferro e aço
- - 8.906 15:255$ - - - - 15:255$
Máquinas, aparelhos e pertences,
ferramentas e utensílios diversos.
- 249:404$ - 13:915$ - 32:986$ - - 296:305$
Manteiga 4.724 13:484$ - - 1.528 4:133$ - - 17:617$
Milho 1.047.942 125:498$ - - - - - - 125:109$
Querosene 801.736 193:542$ 39.670 8:478$ - - - - 33:648$
Sal comum 2.995.493 199:109$ --- --- - - - 119:109$
Tecidos de algodão branco, crus,
estampados e tintos
8.365 28:955$ 507 2:151$ 739 2:542$ - - 33:648$
Tecidos de algodão não
especificado
26.216 97:000$ 2.463 9:595$ 2.707 13.007$ - - 119:602$
Vinhos em geral 718.937 404:454$ 49.003 25:749$ 29.349 26:485$ - - 456:688$
Outros - 2.271:127$ - 190:201$ - 197:157$ - 726:000$ 3.384485$
Total geral - 4.214.884$ - 383:223$ - 277:548$ - 726:004$ 5.601:659$
Fonte: Publicações do Serviço / Directoria de Estatística Commercial do Ministério da Fazenda – 1900-1918, in http://memoria.org.br.
95
Tabela 14: Principais produtos importados, segundo os portos mato-grossenses no ano de 1914 (Valor posto a bordo, em mil-réis papel; volume em kg ou litro)
Gêneros
Corumbá
Porto Murtinho
Cuiabá
Porto Esperança42
Valor
total por
produtos Volume Valor Volume Valor Volume Valor Volume Valor
Arame de aço e ferro 295.459 83:263$ 118.380 23:766$ - - - - 107:029$
Arroz 183.332 50:165$ 76.499 23:061$ - - - - 73:226$
Farinha de trigo 1.558.729 449:253$ 161.930 45:645$ - - - - 494:898$
Manufaturas não especificadas de
ferro e aço
- - - - - - - - -
Máquinas, aparelhos e pertences,
ferramentas e utensílios diversos.
- 180:222$ - 12:435$ 27:468$ - - 220:125$
Manteiga 1.593 6:356$ - - - - - - 6:356$
Milho 688.091 86:211$ - - - - - - 86:211$
Querosene 636.804 162:473$ 51.545 12:127$ 8.850 1:508$ - - 176:108$
Sal comum 2.502.708 190:928$ - - 18.000 1:340$ - 192:268$
Tecidos de algodão branco, crus,
estampados e tintos
8.719 33:153$ 70 219$ 240 778$ - - 34:150$
Tecidos de algodão não especificado 32.586 126:661$ 3.044 11:458$ 3.378 14.938$ - - 153:057$
Vinhos em geral 484.012 281:516$ 41.652 22:834$ 23.153 27:116$ - - 331:466$
Outros - 1:548:267$ - 165:561$ - 123:528$ - 182:923$ 2.020:279$
Total geral - 3.198.468$ - 317:106$ - 196:676$ - 182:923$ 3.712:250$
Fonte: Publicações do Serviço / Directoria de Estatística Commercial do Ministério da Fazenda – 1900-1914, in http://memoria.org.br.
42 Desse valor, 5:020$ foram de bebidas não especificadas.
96
Tabela 15: Principais produtos importados, segundo os portos mato-grossenses no ano de 1915 (Valor posto a bordo, em mil-réis papel; volume em kg ou litro)
Gêneros Corumbá Porto Murtinho Cuiabá Valor
total por
produtos Volume Valor Volume Valor Volume Valor
Algodão 14.071 61:222$ 666 2:015$ 276 1:133$ 63:237$
D. Canhamo 2.230 2:737$ 1.972 2:438$ - - 5:175$
Ferro e aço 256.698 113:703$ 29.828 16:188$ - - 29:891$
Lã 485 4:277$ - - - - 4:277$
Linho 1.413 8:166$ 129 906$ - - 9:072$
Madeiras 773 2:400$ 7.180 5:764$ 74 410$ 8:164$
Perfumaria, pintura, tinturaria e outros usos - - 301 254$ - - 254$
Pedras, terras e outros minerais semelhantes 8.918 2:340$ 3 11$ - - 2:351$
Máquinas, aparelhos e acessórios, utensílios e ferramentas 52.368 93:683$ 2.188 3:508$ - - 97:191$
Vários artigos manufaturados 698.574 256:444$ 46.833 20:905$ - - 973$
Bebidas 267.397 147:143$ 26.555 18:658$ 5.615 4:409$ 277:349$
Cereais, farinhas e grãos alimentícios 1.588.404 597:710$ 109.470 40:699$ - - 638:409$
Leite e seus derivados 6.063 15:820$ 351 463$ 3.635 4:314$ 20:597$
Diversos alimentos não especificados 3.358.114 438:384$ 1.729.508 114:987$ 927 1:502$ 554:873$
Forragens 166.611 18:637$ - - - - 18:673$
Outros - 1.830:542$ - 226:796$ - 11:768$ 2.069:106$
Total - 2.154:982$ - 263:318$ - 21:240$ 2.439:540$
Fonte: Publicações do Serviço / Directoria de Estatística Commercial do Ministério da Fazenda – 1900-1918, in http://memoria.org.br.
97
Tabela 16: Principais produtos importados, segundo os portos mato-grossenses no ano de 1916 (Valor posto a bordo, em mil-réis papel; volume em kg/ ou litro)
Gêneros Corumbá Porto Murtinho Cuiabá Porto Esperança Valor
total por
produtos Volume Valor Volume Valor Volume Valor Volume Valor
Algodão 9.272 54:621$ 351 1:696$ - - 1.390 1:715$ 58:032$
D. Canhamo 4.683 6:157$ 593 724$ - - - - 6:881$
Ferro e aço 162.195 111:393$ 42.474 31:453$ - - 45 42$ 142:888$
Lã 489 11:977$ - - - - - - 11:977$
Linho 681 6:637$ 390 3:388$ - - - - 10:025$
Madeiras 3.879 6:213$ 75 203$ 174 845$ - - 7:261$
Perfumaria, pintura, tinturaria e outros usos 2.149 10:007$ 90 99$ - - - - 10:106$
Pedras, terras e outros minerais semelhantes 3.645 2:234$ 8.772 942$ - - - - 3:176$
Máquinas, aparelhos e acessórios, utensílios e
ferramentas - - 2.233 6:533$ - - - - 6:533$
Vários artigos manufaturados 712.224 324:900$ 38.155 18:072$ 35 288$ - - 343:260$
Bebidas 268.438 204:057$ 10.825 12:545$ 3.777 5:303$ 4.740 2:854$ 221:905
Cereais, farinhas e grãos alimentícios 1.492.446 500:142$ 185.734 64:634$ 72 121$ - - 564:897$
Leite e seus derivados 3.647 9:901$ 59 147$ 1.850 2:698$ - - 12:746$
Diversos alimentos não especificados 3.307.511 559:461$ 1.646.755 124:957$ 18.807 3:433$ 1.049.773 83:545$ 771:396
Forragens 150.368 22:842$ 4.320 734$ - - - - 23:576$
Outros - 562:828$ - 47:067$ - 12:688$ - 88:156$ 710:739$
Total geral
2.359:644$ - 313:194$ - 20:255$ - 97:776$ 2.790:869$
Fonte: Publicações do Serviço / Directoria de Estatística Commercial do Ministério da Fazenda – 1900-1918, in http://memoria.org.br.
98
Tabela 17: Principais produtos importados, segundo os portos mato-grossenses no ano de 1917 (Valor posto a bordo, em mil-réis papel; volume em kg ou litro)
Fonte: Publicações do Serviço / Directoria de Estatística Commercial do Ministério da Fazenda – 1900-1918, in http://memoria.org.br.
Mercadorias
Corumbá Porto Murtinho Cuiabá Bela Vista Porto Esperança Valor
total por
produtos Volume Valor Volume Valor Volume Valor Volume Valor Volume Valor
Algodão 7.660 58:084$ 25 264$ 1.841 13:257$ 6 41$ 989 10:634$ 71:646$
D. Canhamo 3.158 52:141$ 761 1:470$ - - - - 2.689 3:212$ 56:823$
Ferro e aço 45.106 37:213$ 9.757 9:887$ 273 378$ 6.328 1:562$ 12.051 8:617$ 57:657$
Lã 15 168$ - - - - - - - - 168$
Linho 128 2:643$ - - - - - - - - 2:643$
Madeiras 4.192 3:757$ 8.010 2:408$
141 258$ 60 270$ 6:693$
Perfumaria, pintura, tinturaria e
outros usos 5.318 8:544$ 90 119$ - - - - - - 8:663$
Pedras, terras e outros minerais
semelhantes 1.456 3:054$ - - - - - - 4.700 939$ 3:993$
Máquinas, aparelhos e acessórios,
utensílios e ferramentas 56.356 76:475$ 17.891 32:576$ 114 322$ 55 34$ 19.736 21:428$ 130:835$
Vários artigos 501.331 280:801$ 23.318 15:773$ 1.985 4:078$ 4.181 543$ 94.715 48:971$ 350:166$
Bebidas 175.954 155:778$ 7.189 7:919$ 1.778 3:866$ - - 7.061 6:249$ 173:812$
Cereais, farinhas e grãos
alimentícios 1.599.947 787:204$ 114.722 43:739$ - - 36.129 11:081$ 44.730 19:850$ 861:874$
Leite e seus derivados 3.401 8:490$ 40 99$ - - - - - - 8:589$
Diversos 2.549.537 434:544$ 1.062.303 106:458$ 167 544$ 140.765 18:320$ 1.567.656 228:432$ 788:298$
Forragens 187.018 33:126$ 300 89$ - - 45 11$ 3.770 515$ 33:741$
Outros - 277:113$ 27:664$ - 25:635$ - 5:164$ - 19:542$ 355:118$
Total geral - 2.219:135 - 248:465$ - 48:080$ - 32:366$ - 368:659$ 2.916:705$
99
Tabela 18: Principais produtos importados, segundo os portos mato-grossenses no ano de 1918
(Valor posto a bordo, em mil-réis papel; volume em kg ou litro)
Gêneros Corumbá Porto Murtinho Cuiabá Bela Vista Porto Esperança
Valor
total por
produtos Volume Valor Volume Valor Volume Valor Volume Valor Volume Valor
Algodão 1.878 12:958$ - - - - 1 3$ 140 1:471$ 14:429$
D. Canhamo 101 118$ 1.020 2:495$ - - - - - - 2:613$
Ferro e aço 33.233 38:977$ 9.474 12:192$ 3.460 11:060$ 626 62$ 49.923 38:776$ 24$
Madeiras 1.584 2:113$ 1.037 1:381$ 26 90$ - - 60 225$ 2:454$
Perfumaria, pintura, tinturaria e outros
usos - - 475 983$ - - - - 2.381 7:236$ 101:067$
Pedras, terras e outros minerais
semelhantes - - 2.350 564$ - - 1.200 107$ 274 228$ 882$
Máquinas, aparelhos e acessórios,
utensílios e ferramentas 9.640 19:823$ - - 2.595 5:666$ 131 95$ 3.173 7:101$ 3:809$
Vários artigos 342.429 230:727$ 23.703 24:769$ - - 2.774 275$ 130.971 96:275$ 983$
Bebidas 193.411 120:250$ 9.271 12:194$ 1.475 4:002$ 96 42$ 9.083 6:663$ 3:996$
Cereais, farinhas e grãos alimentícios 1.431.827 614:971$ 199.370 76:150$ - - 39.710 8:268$ 132.608 56:428$ 899$
Leite e seus derivados 678 2:376$ - - - - - - - - 1:142$
Diversos 3.347.954 630:243$ 2.420.117 455:855$ - - 79.204 9:593$ 1.197.152 244:224$ 32:685$
Forragens 81.309 12:409$ 6.845 1:116$ 2.600 395$ 240 59$ - - 2:737$
Outros - 863:957$ - 14:173$ 23:760$ - 4:635$ - 18:336$ 924:861$
Total geral - 1.887:725$ - 615:624$ - 44:973$ - 23:139$ - 476:963$ 3.048:424$
Fonte: Publicações do Serviço / Directoria de Estatística Commercial do Ministério da Fazenda – 1900-1918, in http://memoria.org.br.
100
Procurei, nas tabelas 1 a 18, apresentar os produtos importados que se destacam no
total das importações mato-grossenses. A partir da análise dos dados apresentados, podemos
verificar que o porto corumbaense concentrava a quase totalidade das importações. E o maior
peso das importações até o ano de 1914 se concentrava em produtos de consumo não
duráveis, como arroz, o trigo, o sal, milho, vinho e querosene. As cifras apresentadas
demonstram que, apesar de existir em Mato Grosso a prática agrícola, a qual dedicava-se ao
plantio de arroz, feijão, milho e algumas hortaliças e legumes, é possível perceber que a
quantidade produzida estava bem abaixo da necessidade de consumo dos moradores mato-
grossenses. De acordo com os relatos da época, a baixa produção agrícola mato-grossense
devia-se principalmente aos métodos utilizados no plantio, pois a técnica era totalmente
rústica, utilizando-se somente as queimadas para preparar o solo, assim como machados,
foices, enxadas e o arado a boi para o plantio (MARQUES, 1914, p. 260-268).
O porto de Cuiabá, por sua vez, apresenta o menor volume e valor das importações.
Essa circunstância tem a ver, certamente, com as difíceis condições de navegação do rio
Cuiabá, como já apontado. Além disso, tal fato deve estar ligado ao papel das casas
comerciais importadoras/exportadoras de Corumbá, que exerciam o papel de distribuidoras de
mercadorias para as demais áreas de Mato Grosso. Isto talvez se explique pelo fato de o porto
cuiabano não realizar exportações, sendo que as relações das casas comerciais corumbaenses
com as demais localidades pautavam-se na troca de produtos importados por produtos
destinados à exportação (TARGAS, 2012, p. 80-82). Os valores das importações pelo porto
cuiabano mantêm-se baixos, com exceção do ano de 1909. Pois em 1908, temos um total de
86:079$ (oitenta e seis contos e setenta e nove mil réis), já em 1909 ocorre um salto para
3.247:467$ (três mil duzentos e quarenta e sete contos e quatrocentos e sessenta e sete mil
réis). Tal elevação se explica pela excepcional importação de trilhos, talas de junção e etc.,
que compreenderam o total de 2.145:383$ (dois mil cento e quarenta e cinco contos trezentos
e oitenta e três mil réis) e de locomotivas com o valor de 509:320$ (quinhentos e nove contos
e trezentos e vinte mil réis) (Directoria de Estatística Commercial, 1909, p. XII). O avultado volume de
tais produtos deve estar relacionado à construção de ferrovias industriais (do tipo Decauville,
por exemplo) no interior das grandes usinas de açúcar, pois não havia nenhuma outra ferrovia
sendo construída na região de Cuiabá.
Já Porto Murtinho, apesar dos valores e quantidade dos produtos importados pelo seu
porto serem bem inferiores ao do porto corumbaense, os produtos são basicamente os
mesmos. Além disso, esse porto encontra-se localizado a jusante de Corumbá, assim as
embarcações nacionais e internacionais que se destinavam a Corumbá tocavam naquele porto.
101
De acordo com Queiroz, para melhor compreender os modestos valores referentes às
importações em Porto Murtinho, deve-se levar em conta que grande parte da população mato-
grossense se encontrava na região centro-norte, a qual era suprida pelo porto de Corumbá.
Ademais, a posição geográfica de Porto Murtinho o deixava mais suscetível ao contrabando,
devido à existência de povoações dos dois lados da fronteira. E por último, na região atendida
por Porto Murtinho havia o porto paraguaio de Concepción, melhor posicionado para atender
a essa região (QUEIROZ, 2011, p. 18).
A partir de 1915, ocorreu uma significativa mudança dos produtos importados, assim
como se tem uma diminuição das importações – o que tem a ver, certamente, com o início da
Primeira Guerra Mundial e a desorganização por ela trazida ao comércio internacional. Por
outro lado, o arroz, por exemplo, deixa de aparecer nas estatísticas de importação e a partir de
1917 se torna produto de exportação, dando indícios de que a produção interna se tornava
mais consolidada.
b) Exportação
Para melhor compreender como alguns produtos destinados à exportação foram se
tornando de suma importância para a economia mato-grossense, segue adiante um breve
esboço dos principais empreendimentos que atuaram em Mato Grosso no final do século XIX
e início do XX.
Entre os capitais estrangeiros que migraram para Mato Grosso, encontra-se o do
argentino Rafael Del Sar, que adquiriu em 1876 a propriedade denominada Descalvado, que
pertencia ao Major João Carlos Pereira Leite, para montar uma charqueada simples, aos
moldes das que predominavam na região platina. Isso porque o desenvolvimento da pecuária
e a produção da carne e seus derivados no circuito platino proporcionou que as correntes
comerciais dali chegassem a Mato Grosso, região que, devido à “existência de grandes áreas
ainda não ocupadas e propícias para a criação de gado de forma extensiva”, se tornou atrativa
aos investimentos estrangeiros (GARCIA, 2009, p. 85).
A modernização das técnicas de preservação de carne, nas décadas de 1870 e 1880,
através do resfriamento ou congelamento, fez com que os uruguaios Jaime Cibils e seu filho
Jaime Cibils Buxareo, que se dedicavam ao ramo saladeiro (entre outras atividades) em
Montevidéu, desde a primeira metade do século XIX, buscassem novas alternativas para
modernizar sua produção. E como optaram por não usar a técnica de congelamento da carne, e
sim a produção de extrato e caldo de carne, buscaram fornecimento de gado que pudesse
102
apresentar as condições ideais, ou seja, gado magro. Então, em 1880 arremataram em um
leilão as terras do já referido Major João Carlos Pereira Leite (GARCIA, 2009, p. 89-91). Junto
com essas terras adquiridas, Jaime Cibils e seu filho também compraram as terras de Rafael
Del Sar, assim
tinham como objetivo não só diversificar e modernizar a produção, mas também a busca alternativa para o fornecimento do gado ser abatido em regiões mais afastadas de Montevidéu, reforçando o tráfico de mercadorias pelo porto da capital uruguaia, naquele momento já sofrendo forte concorrência do porto de Buenos aires, mais moderno e em franco desenvolvimento (GARCIA, 2009, p. 89).
No ano de 1887, a propriedade citada como a mais importante de Mato Grosso era a
de Jaime Cibils, que se localizava na porção central da província, às margens do rio Paraguai,
entre a lagoa de Uberaba e o rio Jauru, com a estimativa de 100 mil cabeças de gado. Outra
propriedade de destaque era a fazenda “dos herdeiros do falecido Major José Caetano
Metello, no São Lourenço, com trinta mil rezes, e a de Antonio Joaquim Malheiros, no baixo
Paraguai, com 18 a 20 mil cabeças para mais ou para menos”, estimando-se a quantia de gado
vacum em toda a Província em torno de 800 mil cabeças (RMT, 01/11/1887, p. 104). E no ano de
1896, estimava-se que o total de bovinos em Mato Grosso estava em torno de 1.500.000
cabeças (RMT, 01/02/1896, p. 7).
Contudo, qualquer surto de doenças que pudessem interferir na produção bovina
causava intensa preocupação. É o caso do mal-de-cadeiras, que “destruiu quase totalmente a
raça cavalar” e “tem no geral, nas fazendas, tornado difícil ou quase impossível o custeio do
gado” (RMT, 03/05/1859, p.33). Como a pecuária era extensiva, a falta de cavalos para o manejo
dos bovinos permitia que se tornassem selvagens, o que, consequentemente, dificultava o
arrebanhamento para o abate. Jaime Cibils Buxareo tomou a frente dos negócios em Mato
Grosso, aproveitou as antigas instalações do saladeiro de Descalvados e, após fazer as
adequações necessárias, instalou sua moderna fábrica. Deste modo, passou a produzir extrato
e caldo de carne, assim como outros derivados (línguas, couros, entre outros); produtos esses
que passaram a constar na pauta das exportações mato-grossenses (GARCIA, 2009, p. 88-95).
Em 1888, Jaime Cibils falece, e mais tarde, em 1895, essa empresa tem sua razão
social alterada, pois passa a pertencer à Compagnie des Produits Cibils, a Anvers. Contudo,
apesar de ser uma empresa belga, Jaime Cibils Buxareo continuou na sociedade e ainda era o
sócio majoritário; uma nova alteração ocorre em 1899, pois Jaime C. Buxareo sai do negócio
e quem assume a direção da empresa é o Banque D’Outre-Mer. No ano de 1906, a
103
Compagnie des Produits Cibils tem sua razão social alterada para Societé Industrielle et
Agricole au Brésil. Outros empreendimentos belgas passaram a atuar em Mato Grosso, foram
elas: a Compagnie des Caoutchous du Mato Grosso (1901); Mercado Ballivian & Compagnie
(1895); Sindicate Banque Africaine (1898); La Brésilienne (1901); Compagnie Comerciale et
d’Importateurs Reunis (1900); Compagnie de L’Urucum (1906) (GARCIA, 2009, 94-189). Essas
empresas estavam autorizadas a agir nos ramos da pecuária, extração de minérios e produtos
naturais, construção de estradas e ferrovias, navegação e outros empreendimentos que
pudessem ser úteis aos interesses dos empresários. Para isso, conseguiam concessões de
vastidões de terras.
Com o despontar do século XX, novos investidores estrangeiros chegaram a Mato
Grosso, em especial na porção sul, onde adquiriram porções de terras para estabelecimentos
industriais. Destaco a atuação da Brazil Land, Catle and Packing Co., importante empresa
ligada ao grupo de Percival Farquhar, que se instalou na região da Vacaria, em um total de
160 mil hectares de terra; esses empreendedores investiram no melhoramento da raça bovina
(QUEIROZ, 2004, p. 395-398). Essa mesma empresa comprou as propriedades de Descalvados,
São José e os direitos de exploração da borracha no rio Guaporé, todas pertencentes à Societé
Industrielle et Agricole au Brésil (GARCIA, 2009, 187- 188).
De acordo com Borges, as fazendas de pecuária bovina estiveram nas mãos de
estrangeiros, assim a já mencionada Brazil Land, Catle and Packing Co. possuía diversas
propriedades, sendo a de Cáceres, com 884.231 ha, a de Corumbá, com o total de 763.508 ha,
a de Três Lagoas, com 759.087 ha, e por fim, a menor com 146.379 ha, localizada em Campo
Grande. Outras propriedades por ele listadas são:
The Brazilian Meat Company tinha uma propriedade em Três Lagoas com 311.010 hectares e outra em Aquidauana com 5.000 hectares. A Fomento Argentino Sud-Americano dispôs em Corumbá de 726.077 hectares e a Franco-Brasileira, em Miranda, de 242.456 hectares, e em Corumbá de 172.352 hectares. A The Miranda Estancia Company controlou em Miranda 219.506 hectares. A Sud-Américaine Belge S/A possui em Corumbá 177.060 hectares, a Sociedade Anônima Rio Branco deteve em Corumbá 549.156 hectares e The Água Limpa Syndicate ocupou em Três Lagoas 180.000 hectares (BORGES, 2001, p. 79-80; grifos meus).
De acordo com Lúcia S. Corrêa, os preços do rebanho bovino alteraram-se
consideravelmente nas últimas décadas do século XIX, pois em 1880 uma cabeça de gado
custava 9$000 (nove mil-réis), já em 1890, custava 20$000 (vinte mil réis). Tal aumento, para
a autora, estava associado a “uma etapa de valorização pela demanda da produção de charque
104
desenvolvida em Mato Grosso, sobretudo no sul do Estado” (CORRÊA, p. 182-183). Borges, por
sua vez, assinala que foi a partir de 1884 que o charque “proliferou” em Mato Grosso,
alcançando seu “real desenvolvimento” a partir de 1905 (BORGES, 2001, p. 84). A exportação do
charque até 1914 esteve totalmente ligada a órbita platina, contudo, após a inauguração da
NOB, ocorreu a possibilidade de escoar esse produto através da via férrea, e com isso, novas
charqueadas se instalaram próximas da ferrovia Noroeste (QUEIROZ, 2004, p. 411-412).
Os investimentos estrangeiros em Mato Grosso se estenderam à exploração da
borracha, em alta no final do século XIX e início do século XX. A própria Compagnie des
Produits Cibils conseguiu a concessão para explorar borracha no entorno do rio São Miguel,
no Vale do Guaporé; além dessa área também adquiriu de terceiros o direito de exploração no
rio Guaporé, em um trecho que se prolongava desde o Forte do Príncipe da Beira até Guajará-
Mirim. A Compangnie des Caoutchous du Mato Grosso atuava nas imediações de
Diamantino e Rosário do Oeste, além de manter instalações em Barra do Bugres (GARCIA,
2009, p. 169). Outro grupo importante na exploração da borracha mato-grossense foram os
proprietários das casas comerciais importadoras/exportadoras; esses empresários possuíam
grandes extensões de terras, nas quais, em sua maioria, também possuíam consideráveis
rebanhos bovinos, assim como extraíam a borracha.
Cabe mencionar que foram extraídos quatro tipos de borracha: a seringa (Hevea
brasilienses), a caucho (Castiloa elastica), a mangabeira (Hancornia speciosa) e a maniçoba.
A borracha ganha destaque na economia mato-grossense na primeira década do século XX e
chega, no ano de 1909, a contribuir com “mais de 2/3 da receita geral do exercício” para os
cofres mato-grossenses (RMT, 13/05/1910, p 15).
Outra importante fonte de renda da província foi o extrativismo da erva-mate (Ilex
paraguayensis), desde 1878. Mas foi na década de 1890 que essa atividade se consolidou,
chegando a se tornar a atividade que mais gerava lucros no estado de Mato Grosso, mesmo só
recebendo em solo mato-grossense o processo conhecido como “cancheamento” (QUEIROZ,
2015). A exploração da erva-mate foi quase exclusiva da Companhia Mate Laranjeira; essa
companhia dirigia todas as suas operações de importação e exportação. A quase totalidade da
produção era exportada para a Argentina.
A poaia, também conhecida como ipecacuanha, era outro produto extrativista de Mato
Grosso; trata-se de “um tubérculo, de folhas esverdeadas” (REYNALDO, 2000, p. 141). A poaia
era encontrada às margens dos afluentes do Alto Paraguai e destinava-se a fins medicinais. A
extração da ipecacuanha se dava na estação chuvosa, pois era necessário extrair o caule e a
raiz inteiros; mas somente a raiz era comercializada, pois o caule era utilizado para o
105
replantio, estando pronto para nova colheita no próximo período chuvoso. O principal
mercado consumidor da ipecacuanha eram os Estados Unidos e a Europa, e a cotação do
produto era regulada pelos mercados consumidores, pois dependia da demanda externa
(GARCIA, 2009, p. 63-64).
Tendo ressaltado as principais fontes econômicas de Mato Grosso, apreciemos os
dados inseridos nas tabelas a seguir, que demonstram os dados de exportação, segundo os
portos mato-grossenses.
106
Tabela 19: Gêneros exportados por Mato Grosso, segundo os portos de origem em 1901 (valor em mil-réis)
Gêneros
exportados
Unidade
Corumbá Porto Murtinho Valor
total por
produtos Volume Valor Volume Valor
Chifres Quilograma 14.271 3:650$ 300 200$ 3:850$
Cinzas de ossos >> 790 33$ - - 33$
Couros secos >> - - 3.214 2:301$ 2:301$
Couros salgados >> 504.673 640:952$ 28.830 39:167$ 680:119$
Crina >> 4.600 7:442$ 3.007 5:321$ 12:763$
Extrato e caldo de
carne
>> 116.066 391:810$ - - 391:810$
Gado vacum Cabeça - - 749 18:725$ 18:725$
Garras ou unhas Quilograma 497 130$ - - 130$
Lã >> 98 91$ 68 76$ 167$
Línguas secas e em
conserva
>> 10.516 29:665$ - - 29:665$
Ossos >> 7.792 228$ - - 228$
Peles de veado >> - - - - -
Peles diversas >> 5 10$ - - 10$
Sola Meio - - - - -
Umbigos Quilograma 1.588 277$ - - 2774
Metais velhos >> 15.575 16:042$ - - 16:042$
Açúcar branco >> 6.000 1:800$ - - 1:800$
Açúcar mascavo >> 42.860 15:405$ - - 15:405$
Borracha
mangabeira
>> 28.864 110:291$ 3.198 10:802$ 121:093$
Borracha seringa >> 211.994 1.270:633$ - - 1.270:633$
Café em grão Saca 2 120$ - - 120$
Folhas, raízes e resinas
medicinais
Quilograma 3.160 500$ - - 500$
Erva-Mate >> - - 4.659.099 4.074:884$ 4.074.884$
Ipecacuanha >> 31.970 698:390$ - - 698:390$
Total - 1.001.321 3.187:469$ 4.698.465 4.151:476$ 7.341:442$
Fonte: Publicações do Serviço / Directoria de Estatística Commercial do Ministério da Fazenda – 1900-1918, in
http://memoria.org.br
107
Tabela 20: Gêneros exportados por Mato Grosso, segundo os portos de origem em 1902 (valor em mil-réis)
Gêneros exportados Unidade Corumbá Porto Murtinho Valor total
por
produtos Volume Valor Volume Valor
Chifres Quilograma 7.195 5:294$ - - 5:294$
Couros secos >> 573.305 722:092$ 34.403 45:605$ 767:697$
Couros salgados >> 64.028 47:021$ - - 47:021$
Crina >> 4.990 7:675$ 1.541 2:416$ 10:091$
Extrato e caldo de carne >> 198.188 777:662$ - - 777:662$
Gado vacum Cabeça 54 1:350$ 764 20:035$ 21:385$
Lã >> 184 146$ 478 448$ 594$
Línguas secas e em conserva >> 61.270 14:623$ - - 14:623$
Ossos >> 8.377 779$ - - 779$
Peles de veado >> - - 335 531$ 531$
Peles diversas >> 393 1:150$ 40 440$ 1:590$
Sola Meio 37 238$ - - 238$
Umbigos Quilograma 697 348$ - - 348$
Borracha mangabeira >> 26.043 90:735$ - - 90:735$
Borracha seringa >> 356.578 1.851:856$ - - 1.851:856$
Café em grão Saca 79 4:728$ - - 4:728$
Folhas, raízes e resinas medicinais Quilograma 3.160 500$ - - 500$
Erva-Mate >> - - 3.468.598 3.569:813$ 3.569:813$
Ipecacuanha >> 16.457 390:345$ - - 390:345$
Plantas >>
30$ - - 30$
Postes de madeira >> 200 70$ - - 70$
Sementes >> 1.000 500$ - - 500$
Total - - 3.917:142$ - 3:639:288$ 7.556:430$
Fonte: Publicações do Serviço / Directoria de Estatística Commercial do Ministério da Fazenda – 1900-1918, in http://memoria.org.br
108
Tabela 21: Gêneros exportados por Mato Grosso, segundo os portos de origem em 1903 (valor em mil-réis)
Gêneros exportados Unidade
Corumbá Porto Murtinho Valor total
por produtos Volume Valor Volume Valor
Chifres Quilograma 13.058 6:972$ - - 6:972$
Cinzas de ossos >> - - - - -
Couros secos >> 3.072 899:822$ - - 899:822$
Couros salgados >> 683.006 2:511$ 49.278 66:928$ 69:439$
Crina >> 5.807 10:107$ 2.553 4:478$ 14:585$$
Extrato e caldo de carne >> 326.250 339:448$ - - 339:448$
Gado vacum Cabeça - - 493 15:390$ 15:390$
Garras ou unhas Quilograma 70 8$ - - 8$
Lã >> - - 127 132$ 132$
Línguas secas e em conserva >> 10.699 7:479$ - - 7:479$
Peles de veado >> 116 236$ - - 236$
Peles diversas >> 606 2:650$ 77 330$ 2:980$
Borracha mangabeira >> 37.893 99:313$ 400 1:216$ 100:529$
Borracha seringa >> 255.168 1.787:152$ 2.740 17:053$ 1.804:205$
Café em grão Saca 22 660$ - - 660$
Erva-Mate >> - - 4.204.835 3.432:619$ 3.432:619$
Ipecacuanha >> 28.102 335:978$ - - 335:978$
Plantas >>
203$ - - 203$
Pontas de chifres >> 1.611 320$ - - 320$
Sebo >> 480 192$ - - 192$
Aguardente Litro 96 60$ - - 60$
Total - - 3.493:111$ - 3.538:146$ 7.031:257$
Fonte: Publicações do Serviço / Directoria de Estatística Commercial do Ministério da Fazenda – 1900-1918, in http://memoria.org.br
109
Tabela 22: Gêneros exportados por Mato Grosso, segundo os portos de origem em 1904 (valor em mil-réis)
Gêneros exportados Unidade Corumbá Porto Murtinho Valor total
por
produtos Volume Valor Volume Valor
Chifres Quilograma 10.160 4:951$ - - 4:951$
Cinzas de ossos >> - - - - -
Couros secos >> 681.342 950:041$ 71.140 102:229$ 1.052:270$
Couros salgados >> - - 1.067 841$ 841$
Crina >> 7.078 11:368$ 2.987 4:726$ 16:094$
Extrato e caldo de carne >> 217.419 278:634$ - - 278:634$
Gado vacum Cabeça - - 179 6:265$ 6:265$
Garras ou unhas Quilograma - - - - -
Lã >> - - 200 224$ 224$
Línguas secas e em conserva >> 418 917$ - - 917$
Ossos >> 6.000 132$ - - 132$
Peles diversas >> 414 2:870$ 40 300$ 3:170$
Umbigos Quilograma 1.837 338$ - - 338$
Graxa >> 900 360$ - - 360$
Sebo >> 600 120$ - - 120$
Charque >> 46.840 18:736$ - - 18:736$
Borracha mangabeira >> 56.383 131:752$ 1.300 3:065$ 134:817$
Borracha seringa >> 251.396 1.991:695$ 3.800 28:616$ 2.020:311$
Café em grão Saca 6 300$ - - 300$
Fumo em folha Quilograma 18 36$ - - 36$
Erva-Mate >> - - 4.276.383 3.461:203$ 3.461:203$
Ipecacuanha >> 11.479 104:142$ - - 104:142$
Madeira Jacarandá >> 881 40$ - - 40$
Total - - 3.496.432 - 3.607:469$ 7.103:901$
Fonte: Publicações do Serviço / Directoria de Estatística Commercial do Ministério da Fazenda – 1900-1918, in http://memoria.org.br
110
Tabela 23: Gêneros exportados por Mato Grosso, segundo os portos de origem em 1905 (valor em mil-réis)
Gêneros exportados Unidade Corumbá Porto Murtinho Valor total por
produtos Volume Valor Volume Valor
Chifres Quilograma 16.609 9:979$ - - 9:979$
Cerdas Quilograma - - 160 160$ 160$
Couros secos >> 613.778 757:242$ 61.934 77:528$ 834:770$
Couros salgados >> 27.595 17:880$ 9.128 6:180$ 24:060$
Crina >> 8.681 10:556$ 2.848 3:519$ 14:075$
Extrato e caldo de carne >> 63.439 88:205$ - - 88:205$
Gado vacum Cabeça - - 50 1:500$ 1:500$
Lã >> - - 160 157$ 157$
Línguas secas e em conserva >> 2.374 3:842$ - - 3:842$
Peles de veado >> 422 778$ - - 778$
Penas não especificadas Grama 905 3:388$ 35 305$ 3:693$
Umbigos >> 1.021 199$ - - 199$
Charque >> 133.950 63:415$ - - 63:415$
Borracha mangabeira Quilograma 74.733 206:487$ 480 1:200$ 207:687$
Borracha seringa >> 441.787 2.488:001$ 2.761 12:806$ 2.500:807$
Erva-mate >> - - 4.332.556 2.780:145$ 2.780:145$
Ipecacuanha >> 11.419 94:831$ - - 94:831$
Madeiras diversas >> - - 131.638 13:164$ 13:164$
Total - - 3.744:803$ - 2.896:664$ 6.641:467$
Fonte: Publicações do Serviço / Directoria de Estatística Commercial do Ministério da Fazenda – 1900-1918, in
http://memoria.org.br
111
Tabela 24: Gêneros exportados por Mato Grosso, segundo os portos de origem em 1906 (valor em mil-réis)
Gêneros exportados Unidade Corumbá Porto Murtinho Valor total
por
produtos Volume Valor Volume Valor
Chifres Quilograma 6.226 3:001$ - - 3:001$
Cerdas Quilograma - - - - -
Couros secos >> 519.852 742:508$ 76.730 105:764$ 848:272$
Couros salgados >> 90.455 72:460$ 517 453$ 72:913$
Crina >> 8.502 10:883$ 2.409 3:004$ 13:887$
Extrato e caldo de carne >> 47.072 71:041$ - - 71:041$
Gado vacum Cabeça - - 1.369 38:120$ 38:120$
Lã >> - - 135 196$ 196$
Línguas secas e em conserva >> 922 965$ - - 965$
Ossos >> 13.802 463$ - - 463$
Peles diversas >> 185 606$ - - 606$
Umbigos >> 1.206 210$ - - 210$
Charque >> 205.236 139:249$ - - 139:249$
Borracha mangabeira Quilograma 81.722 218:545$ 3.901 10:080$ 228:625$
Borracha seringa >> 217.353 1.367:448$ 653 4:886$ 1.372:334$
Erva-mate >> - - 4.472.094 2.705:914$ 2.705:914$
Ipecacuanha >> 8.062 80:860$ - - 80:860$
Madeiras não especificadas >> - - 730.330 73:033$ 73:033$
Total - - 2.708:239$ - 2.941:450$ 5.649:689$
Fonte: Publicações do Serviço / Directoria de Estatística Commercial do Minist ério da Fazenda – 1900-1918, in
http://memoria.org.br
112
Tabela 25: Gêneros exportados por Mato Grosso, segundo os portos de origem em 1907 (valor em mil-réis)
Gêneros exportados Unidade Corumbá Porto Murtinho Valor total
por produtos Volume Valor Volume Valor
Cerdas Quilograma - - 950 950$ 950$
Chifres Quilograma 17.010 9:859$ - - 9:859$
Couros secos >> 493.304 639:767$ 47.856 63:551$ 703:318$
Couros salgados >> 125.594 73:598$ 10.600 7;933$ 81:531$
Crina >> 8.315 12:151$ 2.165 3:158$ 15:309$
Gado vacum Cabeça - - 7.021 153:441$ 153:441$
Graxa Quilograma 30.327 21:020$ - - 21:020$
Lã >> - - 249 292$ 292$
Línguas secas e em conserva >> 1.338 1:638$ - - 1:638$
Peles de veado >> 500 1:100$ - - 1:100$
Peles diversas >> 1.147 3:170$ - - 3:170$
Grude ou cola >> - - 220 429$ 429$
Sola Meio 314 3:422$ - - 3:422$
Charque >> 242.608 123:257$ - - 123:257$
Borracha mangabeira Quilograma 75.800 231:458$ 815 2:297$ 233:755$
Borracha seringa >> 392.594 2.490:222$ - - 2.490:222$
Café em grão Saca 1 50$ - - 50$
Algodão em rama Quilograma 397 397$ - - 397$
Erva-Mate >> - - 5.655.321 3.578:420$ 3.578:420$
Ipecacuanha >> 9.887 139:624$ - - 139:624$
Metais velhos - Outros metais Quilograma 1.000 765$ - - 765$
Objetos indígenas >> 215 566$ - - 566$
Total - - 3.752:064$ - 3.810:471$ 7.562:535$
Fonte: Publicações do Serviço / Directoria de Estatística Commercial do Ministério da Fazenda – 1900-1918, in http://memoria.org.br
113
Tabela 26 - Gêneros exportados por Mato Grosso, segundo os portos de origem em 1908 (valor em mil-réis)
Gêneros exportados Unidade Corumbá Porto Murtinho Valor total
por produtos Volume Valor Volume Valor
Chifres Quilograma 29.637 13:828$ - - 13:828$
Couros secos >> 530.187 584:391$ 53.007 55:281$ 639:672$
Couros salgados >> 83.313 47:580$ 10.765 6:083$ 53:663$
Crina >> 8.554 11:611$ 2.863 3:704$ 15:315$
Extrato e caldo de carne >> 38.758 121:828$ - - 121:828$
Lã >> - - 475 428$ 428$
Línguas secas e em conserva >> 7.147 17:193$ - - 17:193$
Ossos >> 11.640 221$ - - 221$
Peles de veado >> 170 498$ - - 498$
Peles diversas >> 535 1:850$ 1.394 3:000$ 4:850$
Penas de ema Gramas 16.000 11:432$ - - 11:432$
Penas não especificadas >> 206.000 2:178$ - - 2:178$
Sebo Quilograma 87.954 13:856$ - - 13:856$
Charque >> 452.478 226:598$ - - 226:598$
Manganês Quilograma 2 47$ - - 47$
Pedras comuns não especificadas >> 496 56$ - - 56$
Borracha mangabeira Quilograma 80.337 236:318$ 646 1:981$ 238:299$
Borracha seringa >> 536.746 3.166:849$ 780 2:750$ 3.169:599$
Fumo em palha Quilograma 622 335$ - - 335$
Erva-mate >> - - 5.468.061 3.510:492$ 3.510:492$
Ipecacuanha >> 14.718 141:892$ - - 141:892$
Cinzas de ossos >> 698 13$ - - 13$
Total - - 4.598.574 - 3.583:719$ 8.182:293$
Fonte: Publicações do Serviço / Directoria de Estatística Commercial do Ministério da Fazenda – 1900-1918, in
http://memoria.org.br
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Tabela 27 - Gêneros exportados por Mato Grosso, segundo os portos de origem em 1909 (valor em mil-réis)
Gêneros Unidade Corumbá Porto Murtinho Valor total
por produtos Volume Valor Volume Valor
Cerdas Quilograma - - 1.222 1:222$ 1:222$
Chifres >> 45.270 21:412$ 3.000 1:410$ 22:822$
Couros secos >> 550.987 634:225$ 76.045 87:126$ 721:351$
Couros salgados >> 59.245 42:242$ 78.301 55:858$ 98:100$
Crina >> 13.687 19:716$ 3.222 4:578$ 24:294$
Extrato e caldo de carne >> 38.742 119:403$ - - 119:403$
Lã >> - - 70 61$ 61$
$Línguas secas e em conserva >> 5.117 11:559$ 606 1:397$ 12:956$
Ossos >> 21.000 420$
- 420$
Peles diversas >> 2.307 3:982$ 36 100$ 4:082$
Penas de ema Gramas 45.000 500$ - - 500$
Penas de garça >> 52.845 53:456$ - - 53:456$
Penas não especificadas >> 80.000 746$ - - 746$
Sebo Quilograma 69.046 20:902$ 10.783 3:774$ 24:676$
Umbigos >> 1.062 113$ - - 113$
Charque >> 604.844 289:627$ 32.730 19:638$ 309:265$
Pedras comuns não especificadas >> 46 160$ - - 160$
Borracha mangabeira Quilograma 86.168 369:213$ 600 2:637$ 371:850$
Borracha seringa >> 670.020 6.769:492$ 3.300 18:7214 6.788:213$
Café em grão Saca 2 100$ - - 100$
Erva-mate >> - - 3.944.401 2.562:533$ 2.562:533$
Ipecacuanha >> 6.230 59:656$ - - 59:656$
Madeiras não especificadas >> - - 170.000 17:000$ 17:000$
Plantas >> - 200$ - - 200$
Total - - 8.417:124$ - 2.776:055$ 11.193:179$
Fonte: Publicações do Serviço / Directoria de Estatística Commercial do Ministério da Fazenda – 1900-1918, in
http://memoria.org.br
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Tabela 28 - Gêneros exportados por Mato Grosso, segundo as estações aduaneiras de origem em 1910 (valor em mil-réis)
Gêneros Unidade Corumbá Porto Murtinho Bela Vista Nhu Verá- Total por
produtos Volume Valor Volume Valor Volume Valor Volume Valor
Cerdas Quilograma 1.350 1:350$ - - - - - - 1:350$
Animais vivos não
especificados - - - - 7:525$
- - - -
7:525$
Chifres Quilograma 17.621 5:002$ 7.820 2:254$ - - - - 7:256$
Couros salgados >> 63.556 44:720$ 135.278 94:466$ - - - - 139:186$
Couros secos >> 844.775 833:066$ 219.540 251:996$ - - - - 1.085:062$
Crina >> 12.725 11:276$ 10.971 11:308$ - - - - 22:584$
Extrato e caldo de carne >> 111.753 150:482$ - - - - - - 150:482$
Lã >> - - 929 924$ - - - - 924$
Línguas secas e salgadas >> 3.312 8:174$ - - - - - - 8:174$
Ossos >> 18.893 869$ 3.556 164$ - - - - 1:033$
Peles de veado >> 82 205$ 39 128$ - - - - 333$
Peles diversas >> 1.775 5:066$ - - - - - - 5:066$
Penas de garça >> 43.150 26:086$ - - - - - - 26:086$
Sebo Quilograma 61.246 23:813$ 56.255 26:665$ - - - - 50:478$
Umbigos >> 750 100$ 1.281 172$ - - - 272$
Charque >> 256.874 124:407$ 205.250 102:443$ - - - - 226:850$
Borracha mangabeira Quilograma 95.387 426:667$ 4.435 17:841$ - - - - 444:508$
Borracha seringa >> 646.426 7.096:023$ 380 2:269$ - - - - 7.098:292$
Erva-mate >> - - 2.270.175 1.354:518$ 6.896 4:470$ 1.345.724 785:441$ 2.144:429$
Ipecacuanha >> 8.400 64:700$ - - - - - - 64:700$
Paina >> 238 150$ - - - - - - 150$
Outras espécies >>
12:966$ - - - - - - 12:966$
Total geral - - 8.822:156$ - 1.872:673$ - 4:470$ - 785:441$ 11.484:740$
Fonte: Publicações do Serviço / Directoria de Estatística Commercial do Ministério da Fazenda – 1900-1918, in http://memoria.org.br
116
Tabela 29 - Gêneros exportados por Mato Grosso, segundo as estações aduaneiras de origem em 1911 (valor em mil-réis)
Gêneros Unidade Corumbá Porto Murtinho Nhu-Verá Total por
produtos Volume Valor Volume Valor Volume Valor
Chifres Quilograma 8.191 1:904$ 49.021 8:827$ - - 10:731$
Couros de cavalo >> 1.945 2:126$ - - - - 2:126$
Couros salgados >> 71.196 51:831$ 249.115 181:356$ - - 233:187$
Couros secos >> 552.767 757:96$ 144.270 200:550$ - - 957:846$
Crina >> 11.290 10:304$ 7.836 8:021$ - - 18:325$
Extrato e caldo de carne >> 13.405 34:365$ - - - - 34:365$
Línguas secas e salgadas >> 1.314 3:134$ - - - - 3:134$
Ossos >> 10.142 467$ 11.966 610$ - - 1:077$
Peles de veado >> 508 835$ - - - - 835$
Peles diversas >> 3.610 7:645$ - - - - 7:645$
Penas de garça >> 156.100 54:475$ - - - - 54:475$
Sebo Quilograma 41.219 20:733$ 17.455 6:982$ - - 27:715$
Umbigos >> 598 300$ 1.133 226$ - - 526$
Charque >> 84.431 53:107$ - - - - 53:107$
Borracha mangabeira Quilograma 76.326 224:681$ 1.837 5:419$ - - 230:100$
Borracha seringa >> 649.635 4.665:860$ - - - - 4.665:860$
Erva-mate >> - - 1.912.177 1.047:869$ 957.994 524:981$ 1.572:850$
Ipecacuanha >> 7.391 60:989$ - - - - 60:989$
Madeiras não especificadas >> - - 303.817 6:076$ - - 6:076$
Outras espécies >> - 540$ - - - - 540$
Total geral - - 5.950:592$ - 1.465:936$ - 524:981$ 7.941:509$
Fonte: Publicações do Serviço / Directoria de Estatística Commercial do Ministério da Fazenda – 1900-1918, in http://memoria.org.br
117
Tabela 30 - Gêneros exportados por Mato Grosso, segundo as estações aduaneiras de origem em 1912 (valor em mil-réis
Fonte: Publicações do Serviço / Directoria de Estatística Commercial do Ministério da Fazenda – 1900-1918, in http://memoria.org.br
Gêneros Unidade Corumbá Porto Murtinho Nhu-Verá Total geral
por produtos Volume Valor Volume Valor Volume Valor
Chifres Quilograma 2.850 566$ 34.837 7:122$ - - 7:688$
Couros de cavalo >> 138 123$ - - - -
123$
Couros salgados >> - - 430.500 291:879$ - -
291:879$
Couros secos >> 223.723 276:833$ 213.185 303:550$ - - 580:383$
Crina >> 4.580 4:261$ 12.888 14:562$ - -
18:823$
Extrato e caldo de carne >> 835 2:228$ - - - -
2:228$
Gado vacum Cabeça - - 220 9:900$ - - 9:900$
Lã >> - - 402 347$ - -
347$
Peles diversas >> 391 906$ 53 410$ - -
1:316$
Penas de garça >> 15.900 7:250$ - - - - 7:250$
Umbigos >> 100 64$ 1.717 200$ - -
264$
Borracha mangabeira Quilograma 14.792 35:251$ 9.951 28:774$ - -
64:025$
Borracha seringa >> 276.784 1.860:232$ - - - - 1.860:232$
Erva-mate >> - - 650.678 357:761$ 577.136 339:811$
697:572$
Ipecacuanha >> 5.161 46:273$ - - - -
46:273$
Madeiras não especificadas >> - - 923.000 18:460$ - - 18:460$
Total geral - - 2.233:987$ - 1.032:965$ - 339:811$ 3.266:952$
118
Tabela 31- Gêneros exportados por Mato Grosso, segundo as estações aduaneiras de origem em 1913 (valor em mil-réis)
Fonte: Publicações do Serviço / Directoria de Estatística Commercial do Ministério da Fazenda – 1900-1918, in http://memoria.org.br
Gêneros Unidade Corumbá Porto Murtinho Nhu-Verá Total por
produtos Volume Valor Volume Valor Volume Valor
Cerdas Quilograma - - 1.032 929$ - -
929$
Chifres >> - - 5.322 1:192$ - -
1.192$
Cinzas de ossos >> - - 24.990 550$ - - 550$
Couros salgados >> 58.719 44:160$ 649.918 440:645$ - -
484:805$
Couros secos >> 636.102 939:949$ 165.554 279:153$ - -
1.219:102$
Crina >> 13.618 13:546$ 6.460 6:114$ - - 19:660$
Lã >> - - 602 563$ - -
563$
Línguas secas e salgadas >> - - 2.292 6:413$ - -
6:413$
Peles diversas >> 920 2:877$ 40 150$ - - 3:027$
Penas de garça >> 185.749 44:324$ - - - -
44:324$
Umbigos >> - - 1.717 745$ - -
745$
Borracha mangabeira Quilograma 38.321 72:576$ 3.291 5:696$ - - 78:272$
Borracha seringa >> 540.635 2.959:527$ - - - -
2.959:527$
Erva-mate >> - - - - 726.600 444:679$
444:679$
Ipecacuanha >> 16.484 114:537$ - - - - 114:537$
Madeiras não especificadas >> - - 1.081.000 21:620$ - -
21:620$
Total geral - - 4.191:496$ - 763:770$ - 444:679$ 5.399:945$
119
Tabela 32 - Gêneros exportados por Mato Grosso, segundo as estações aduaneiras de origem em 1914 (valor em mil-réis)
Fonte: Publicações do Serviço / Directoria de Estatística Commercial do Ministério da Fazenda – 1900-1918, in http://memoria.org.br
Gêneros Unidade
Corumbá Porto Murtinho Nhu-Verá Total por
produtos
Volume Valor Volume Valor Volume Valor
Aparas de couro Quilograma - - 3.519 387$ - - 387$
Chifres >> 8.806 1:920$ 27.994 6:102$ - - 8:022$
Couros salgados >> 109.583 63:558$ 800.127 454:901$ - - 518:459$
Couros secos >> 646.015 1.079:291$ 135.978 227:182$ - - 1.306:473$
Crina >> 25.901 25:333$ 10.670 9:893$ - - 35:226$
Garras ou unhas >> - - 5.317 484$ - - 484$
Lã >> 70 63$ 401 364$ - - 427$
Ossos >> 17.588 756$ 48.911 2:102$ - - 2:858$
Peles diversas >> 2.871 5:773$ 157 446$ - - 6:219$
Penas de garça >> 84.568 24:714$ - - - - 24:714$
Penas não especificadas >> 8.560 800$ - - - - 800$
Sebo >> 44.869 22:569$ 124.955 62:852$ - - 85:421$
Umbigos >> 1.804 180$ 2.568 388$ - - 568$
Borracha mangabeira >> 5.415 8:275$ - - - - 8:275$
Borracha seringa >> 489.409 1.476:089$ - - - - 1.476:089$
Fibras vegetais >> 25 30$ - - - - 30$
Erva-mate >> - - 56.774 34:746$ 660.800 404:411$ 439:157$
Ipecacuanha >> 23.017 208:798$ - - - - 208:798$
Paina >> 31 22$ - - - - 22$
Madeiras não especificadas >> - - 248.700 12:526$ - - 12:526$
Objetos indígenas >> 13 100$ - - - - 100$
Moedas de prata >> - 1:200$ - - - - 1:200$
Total geral >> - 2.919:471$ - 812:373$ - 404:411$ 4.136:255$
120
Tabela 33 - Gêneros exportados por Mato Grosso segundo as estações aduaneiras de origem em 1915 (valor em mil-réis)
Gêneros Unidade Corumbá Porto Murtinho Nhu-Verá Total por
produtos Volume Valor Volume Valor Volume Valor
Cêra de abelhas >> 373 732$ - - - - 732$
Couros salgados >> 65.061 82:266$ 832.013 829:344$ - -
911:610$
Couros secos >> 868.283 1.295:667$ 210.219 306:671$ - -
1.602:338$
Crina >> 17.324 17:007$ 9.680 9:240$ - - 26:247$
Lã >> 909 1:232$ 627 794$ - -
2:026$
Peles não especificadas >> 2.583 6:436$ 484 1:063$ - -
7:499$
Penas de garça >> 52.060 23:615$ - - - - 23:615$
Metais velhos Quilograma 5.416 1:451$ - - - -
1:451$
Borracha mangabeira Quilograma 3.240 5:081$ 802 785$ - -
5:866$
Borracha seringa >> 637.190 2.122:583$ - - - - 2.122:583$
Erva-Mate >> - - - - 22.400 15:770$
15:770$
Ipecacuanha >> 37.732 426:726$ - - - -
426:726$
Madeiras não especificadas >> - - 45.000 900$ - - 900$
Total geral - - 3.982:796$ - 1.148:797$
-
15:770$
5.147:363$
Fonte: Publicações do Serviço / Directoria de Estatística Commercial do Ministério da Fazenda – 1900-1918, in http://memoria.org.br
121
Tabela 34 - Gêneros exportados por Mato Grosso segundo os portos de origem em 1916 (valor em mil-réis)
Fonte: Publicações do Serviço / Directoria de Estatística Commercial do Ministério da Fazenda – 1900-1918, in http://memoria.org.br
Gêneros Unidade Corumbá Porto Murtinho Total por
produtos Volume Valor Volume Valor
Chifres Quilograma - - 69.522 14:408$ 14:408$
Charque >> 226.631 303:862$ 446.160 584:564$ 888:426$
Couros salgados >> 550.650 665:049$ 1.053.775 1.163:214$ 1.828:263$
Couros secos >> 882.762 1.428:602$ 127.599 203:997$ 1.632:599$
Crina >> 19.012 19:699$ 13.598 14:669$ 34:368$
Lã >> 667 945$ - - 945$
Línguas secas e salgadas >> - - 680 1:553$ 1:553$
Ossos >> - - 8.050 298$ 298$
Peles não especificadas >> 3.442 8:089$ 123 743$ 8:832$
Penas de garça >> 30.102 82:8204 - - 82:820$
Sebo >> 80.524 46:387$ - - 46:387$
Umbigos >> - - 3.838 728$ 728$
Borracha mangabeira >> 13.062 26:457$ - - 26:457$
Borracha seringa >> 443.902 1.914:856$ - - 1.914:856$
Carvão vegetal >> - - 27.000 540$ 540$
Erva-mate >> 996 634$ - - 634$
Ipecacuanha >> 58.499 1.105:721$ - - 1.105:721$
Folhas, raízes e resinas medicinais >> - - 4.500 225$ 225$
Madeiras não especificadas >> 18.000 1:800$ 1.174.163 24:319$ 26:119$
Madeiras preparadas >> - - 84.140 3:197$ 3:197$
Total geral >> - 5.604:921$ - 2.012:455$ 7.617:376$
122
Tabela 35 - Gêneros exportados por Mato Grosso segundo os portos de origem em 1917 (valor em mil-réis)
Gêneros Unidade Corumbá Porto Murtinho Porto Esperança Total por
produtos Volume Valor Volume Valor Volume Valor
Banha Quilograma 593 930$ - - - -
930$
Chifres >> 10.818 2:637$ 34.705 8:788$ - -
11:425$
Charque >> 430.552 574:594$ 135.241 182:576$ 181.300 243:870$ 757:170$
Couros salgados >> 659.589 1.000:163$ 606.846 850:328$ 296.369 430:050$
1.850:491$
Couros secos >> 848.651 1.684:426$ 199.659 386:830$ 9.600 18:343$
2.071:256$
Manufaturas, não especificadas >> - - 216 194$ - - 194$
Crina >> 20.485 23:629$ 4.673 5:276$ 1.460 1:647$
28:905$
Lã >> 933 3:369$ 439 1:611$ - -
4:980$
Línguas secas e salgadas >> 130 206$ - - - - 206$
Ossos >> - - 14.263 2:314$ - -
2:314$
Peles não especificadas >> 812 3:210$ 743 1:644$ - -
4:854$
Penas de garça >> 30.300 91:083$ - - - - 91:083$
Sabão >> 440 381$ - - - -
381$
Sebo Quilograma 464.800 314:553$ 204.936 123:764$ 12.400 7:031$
438:317$
Umbigos >> 558 112$ 1.144 469$ - - 581$
Velas >> 10 30$ - - - -
30$
Óleos minerais Quilograma 30 54$ - - - -
54$
Pólvora >> 19 200$ - - - - 200$
Sal comum >> 1.200 270$ - - - -
270$
Tecidos de algodão >> 13 112$ - - - -
112$
Manufaturas (algodão), não
especificadas >> 129 1:570$ - -
- -
1.570$
123
Arroz >> 11.973 5:793$ - - - - 5.793$
Açúcar >> 2.790 2:890$ - - - -
2.890$
Açúcar mascavo >> - - 108 108$ - -
108$
Borracha mangabeira >> 23.406 54608$ 313 764$ - - 55.372$
Borracha seringa >> 501.161 2.339:671$ 970 5:122$ - -
2.344:793$
Café em grão Saca 129 5:624$ - - - -
5:624$
Cebolas Quilograma 180 120$ - - - - 120$
Cerveja Garrafa 1.440 1:080$ - - - -
1:080$
Farinhas, féculas e
semelhantes, não especificadas Quilograma 3.250 2:000$ - -
- -
2:000$
Guaraná >> 2 22$ - - - -
22$
Ipecacuanha >> 46.088 902:208$ - - - - 902:208$
Carvão vegetal >> - - 2.180 310$ - -
310$
Madeiras não especificadas >> 11 60$ 908.153 44:365$ - -
44:425$
Frutas e frutos de mesa Cento 388 2:334$ - - - - 2:334$
Erva-mate Quilograma 292 210$ - - - -
210$
Medicamentos >> 95 110$ - - - -
110$
Milho >> 5.270 1:148$ - - - - 1:148$
Total geral - - 7.019:407$ - 1.614:463$ - 700:941$ 9.334:811$
Fonte: Publicações do Serviço / Directoria de Estatística Commercial do Ministério da Fazenda – 1900-1918, in http://memoria.org.br
124
Tabela 36 - Gêneros exportados por Mato Grosso, segundo os portos de origem em 1918 (valor em mil-réis)
Fonte: Publicações do Serviço / Directoria de Estatística Commercial do Ministério da Fazenda – 1900-1918, in http://memoria.org.br
Gêneros
Unidade
Corumbá Porto Murtinho Porto Esperança Total
geral por
produtos
Volume Valor Volume Valor Volume Valor
Charque Quilograma 207.699 242:579$ 43.520 50:918$ 208.934 334:131 293:497$
Chifres Quilograma 840 202$ 15.000 3:870$ 4:072$
Couros salgados >> 509.090 872:078$ 708.645 1.141:393$ 651.127 1.089:889$ 2.013:471$
Couros secos >> 570.827 1.187:839$ 169.798 355:034$ 9.600 27:656$ 1.542:873$
Crina >> 13.776 15:781$ 8.631 9:698$ - - 25:479$
Lã >> 821 3:213$ 3.245 14:716$ - - 17:929$
Línguas secas e salgadas >> - - - - 1.887 3:970$ 3:970$
Peles não especificadas >> 2.530 12;547$ 167 765$ - - 13:312$
Penas de garça >> 9.190 9:200$ - - - - 9:200$
Sebo >> 44.780 36:585$ - - - - 36:585$
Sementes >> - - - - 12.480 7:643$ 7:643$
Umbigos >> 460 40$ 1.645 667$ - - 707$
Arroz Quilograma 56.375 44:847$ - - - - 44:847$
Borracha mangabeira Quilograma 4.040 9:075$ 114 248$ - - 9.323$
Borracha seringa >> 268.058 1.197:100$ 228 1:098$ - - 1.198:198$
Café em grão Saca 280 13:860$ 1 65$ 133 5:376$ 19:301$
Ipecacuanha >> 37.049 716:110$ - - - - 716:110$
Madeiras não especificadas >> - - 6.560 249$ - - 249$
Frutos para extração de óleos, não especificados >> 31.200 5:306$ - - - - 5:306$
Medicamentos >> 671 14:936$ - - - - 14:936$
Mandioca >> - - - - 675 300$ 300$
Total >> - 4.381:298$ - 1.578:721$ - 1.482:704$ 7.442:723$
125
A partir dos dados apreciados nas tabelas 19 a 36, é possível ter uma visão geral do
comércio exportador de Mato Grosso, nas duas primeiras décadas do século XX. Cabe aqui
relembrar as limitações dos dados utilizados – notando especialmente que a borracha extraída
no Norte de Mato Grosso era escoada pelos portos amazônicos, ou seja, do Pará e Amazonas,
de modo que a produção mato-grossense figura nas estatísticas como pertencente àqueles
estados.
A importância crescente da exploração da borracha na porção norte de Mato Grosso
levou à criação, por parte do governo do estado de Mato Grosso, em 1906, da Delegacia
Fiscal do Norte, órgão responsável pela coleta de impostos e que ficou sediado em Manaus.
Como os limites com o Pará e Amazonas não estavam totalmente definidos, a coleta de
impostos da borracha explorada na porção norte passava pelas agências e postos fiscais, esses,
por sua vez, localizados em vários pontos estratégicos de exploração e escoação da borracha,
que emitiam a guia referente à produção, mas os impostos sobre os produtos eram pagos nas
Recebedorias de Rendas dos Estados do Pará e do Amazonas. Para tal serviço, o estado de
Mato Grosso pagava aos empregados do fisco paraense uma gratificação de 5% sobre o valor
recolhido (RMT, 13/05/1912, p. 53-55).
Isto posto, os dados sobre a borracha representados nas tabelas 19 a 36, demonstram
somente a produção “extraída das margens do Paraguai e seus afluentes das cabeceiras do
Tapajós (Arinos, Juruena e Paranatinga) e do Alto Guaporé” (RMT, 13/05/1914, p. 8). Além
disso, a cotação da borracha que saía pelos portos do sul de Mato Grosso era menor em
comparação com a do norte, pois as técnicas empregadas na coagulação eram diferentes. A
borracha que saía por Corumbá, e em menor escala por Porto Murtinho, era coagulada com a
utilização do alúmen, enquanto que a seringa do vale do Amazonas era defumada, além de
passar “pelo processo de beneficiamento, classificação e encaixotamento antes de ser
despachada para a Europa” (RMT, 13/05/1913, p. 68). A renda sob os cuidados da Delegacia
Fiscal do Norte era bem superior àquelas que ficavam sob fiscalização da Alfândega de
Corumbá e do posto aduaneiro de Porto Murtinho, revelando a importância desse produto
para a economia de Mato Grosso43. Além disso, verifica-se que, enquanto o látex exportado
pelo Prata diminuía a partir de 1912, a exportação da Amazônia mato-grossense aumentava. A
exportação da borracha por Porto Murtinho é quase irrisória, embora saíssem por ali tanto a
43 De acordo com os relatórios da Delegacia Fiscal do Norte, a produção na porção norte foi a seguinte: em 1908
de 1.560.941 kg; em 1909 de 1.229.582 kg; em 1910 de 1.545.521 kg ; em 1911 de 1.593.167 kg; em 1912 de
2.705.611 kg; em 1913 de 2.635.004 kg; em 1914 de 3.139.187 kg.
126
borracha mangabeira44 como a seringa. Como uma possível explicação para a exportação da
seringa por esse porto, encontra-se a ideia de que talvez “essa borracha fosse proveniente de
seringais pertencentes a cidadãos ou empresas estabelecidas em Murtinho (e que tinham, por
isso, interesse em fortalecer o respectivo posto aduaneiro)” (QUEIROZ, 2016, p. 356).
O posto aduaneiro de Porto Murtinho se destaca na exportação da erva-mate, o que
não é de se estranhar, visto que uma das finalidades, quando da fundação da localidade de
Porto Murtinho, era justamente escoar a erva-mate. E de acordo com os dados estatísticos,
esse porto foi o único pelo qual a erva-mate sul-mato-grossense saiu até o ano de 1909. Já em
1910, entram em cena dois novos postos aduaneiros, os de Nhu-Verá e Bela Vista (essa
última aduana só aparece no ano de 1910 e somente com a exportação da erva-mate). A erva-
mate foi o único item que apareceu nos registros de Nhu-verá nos anos de 1910 a 1915. O
volume da escoação da erva-mate por Porto Murtinho a partir de 1910 sofre decréscimo até
deixar de aparecer na pauta das exportações a partir de 1915 (cabe ressaltar que em 1913 não
houve registro desse produto, e no ano de 1914 ficou abaixo de quarenta contos de réis).
Contudo, a economia ervateira em Mato Grosso continuava de vento em popa, o que ocorreu
foi uma mudança na rota de exportação, pois essa deixa o rio Paraguai para ser transportada
pelo rio Paraná e seus afluentes localizados em Mato Grosso (QUEIROZ, 2016, p. 346-347).
A ipecacuanha se mantém na pauta das exportações em todo o período aqui abordado,
e no ano de 1901 foi o segundo item com maior valor exportado. Nos anos seguintes,
entretanto, apresenta uma queda que se prolonga até 1915, momento em que volta a
apresentar valores significativos.
Dos produtos derivados da pecuária, os que mais se destacaram na economia mato-
grossense entre os anos de 1901 e 1918 foram os couros secos e salgados, produtos de
aceitação internacional, sendo os principais importadores a França e os Estados Unidos. Os
couros secos ocuparam posição de destaque no ranking das exportações mato-grossenses,
principalmente pelo porto de Corumbá. No ano de 1901, os couros salgados se destacam,
contudo, a partir do ano seguinte seus valores caem abaixo de cem contos de réis e
permanecem assim até 1909. E a partir de 1910, a exportação dos couros salgados passa a
apresentar uma modesta elevação, chegando a se equiparar aos couros secos a partir de 1916.
E foi na pauta das exportações de Porto Murtinho e Porto Esperança que esse produto se
sobressaiu.
44 A mangabeira, árvore da qual se extraía um látex semelhante ao da seringueira, é uma espécie típica dos
cerrados brasileiros, formação vegetal que cobria quase toda a porção centro -sul do antigo Mato Grosso.
127
Entre os anos de 1901 e 1912, o caldo e o extrato de carne também estiveram
presentes entre os itens de exportação mato-grossense. No entanto, sua importância maior se
deu entre 1901 a 1904. Nos registros de exportação mato-grossenses, o charque, por sua vez,
aparece de forma acanhada em 1904, contudo deixou de constar entre os anos de 1911 a 1915,
voltando depois com valores expressivos. E de acordo com os dados apresentados por
Queiroz, continua de forma ininterrupta até 1943 (QUEIROZ, 2004, p. 396-397).
Outros itens derivados de animais domesticados e silvestres integraram as
exportações, como os chifres, a crina, as línguas secas e salgadas, ossos, umbigos, peles e
penas silvestres, lã e cerdas. Isolados, não representam grande importância, mas se somados
os valores dos respectivos produtos, chegam a apresentar uma modesta contribuição para os
cofres públicos.
Apesar de os dados apresentados nas tabelas de importação e exportação oferecerem
limitações, isso não torna inválido o conhecimento sobre os produtos importados e exportados
por Mato Grosso. Além disso, como já foi mencionado, não se deve ignorar o comércio
ilícito, que foi ativamente praticado em toda a área de fronteira; dessa maneira, os valores
apresentados pelos órgãos públicos não representam a real produção de Mato Grosso,
principalmente da borracha, produto que era explorado do lado brasileiro e boliviano. Assunto
que é melhor abordado no capítulo 4.
128
CAPÍTULO III
As casas comerciais importadoras e exportadoras de Mato Grosso
(1890-1914)
Las relaciones personales siguen siendo básicas en este negocio, tanto para eligir a los sócios como a los agentes en otras plazas y a los empleados. Por eso mismo, disponer de una red lo más amplia posible de clientes y corresponsales era uno de los activos más valiosos para las empresas
(Jesus María Valdaliso y Santiago López).
Na virada do século XIX para o XX, atuaram em Mato Grosso as casas comerciais
importadoras e exportadoras que contribuíram ativamente para sua dinâmica econômica e
social, uma vez que “as empresas são parte da sociedade e não se pode estudá-las sem levar
em conta as articulações recíprocas entre as relações sociais e as práticas empresarias” (LEVY,
1994, p. 27).
O presente capítulo busca fazer uma explanação sobre a existência, composição e
atuação das casas comerciais importadoras e exportadoras mato-grossenses, segundo as
cidades em que estavam localizadas.
Convém notar que as empresas de Corumbá já foram objeto de minha Dissertação de
Mestrado, intitulada As casas comerciais importadoras/exportadoras de Corumbá (1904-
1915). Assim sendo, para evitar repetições no interior desta tese, decidi colocar em Anexo o
capítulo da dissertação que trata das especificidades das casas corumbaenses.
Vale ressaltar que as atividades das casas comerciais iam além da importação e
exportação, pois dedicavam-se também ao extrativismo vegetal, à pecuária e seus derivados, à
navegação, à comissão45, à consignação, à representação de bancos nacionais e estrangeiros,
assim como despachos de mercadorias e seguros marítimos. Além disso, as casas aqui
analisadas apresentam dois tipos de sócios: os capitalistas e os de indústria. O sócio
capitalista “é aquele que entra com o capital e sua obrigação é solidária, ou seja, responde
legalmente pela empresa”; já o sócio de indústria, por sua vez, “contribui unicamente com seu
45 Essas empresas aceitavam produtos destinados à exportação na forma conhecida como consignação, ou seja, o
produtor deixava na casa comercial a mercadoria para ser vendida. A casa comercial, por sua vez, quando
realizava a venda dessa mercadoria recebia uma porcentagem sobre seu valor, transação que é chamada de
comissão.
129
trabalho, tendo direito a uma participação nos lucros, especificada em contrato, no entanto,
não responde legalmente” pela empresa (TARGAS, 2012, p. 71).
Neste capítulo, uma das fontes mais utilizadas são os anúncios das próprias empresas,
publicados no Album graphico do Estado de Matto-Grosso (1914). A esse respeito, reporto-
me à discussão efetuada na Introdução desta tese, relativa aos problemas e limitações de tal
fonte.
3.1 Casas comerciais importadoras e exportadoras de Cuiabá
Em Cuiabá existiram diversas casas comerciais importadoras e exportadoras, sendo
que as de maior porte econômico possuíam filiais em outras localidades. A cidade de
Corumbá atraía grande parte dessas filiais, devido à importância de seu porto, já que era ponto
final da navegação internacional em terras mato-grossenses; além disso, a navegação até
Cuiabá não comportava embarcações de maior calado. Dessa forma, grande parte das
mercadorias importadas e exportadas transitavam por esse porto46. E os produtos importados
que ali chegavam eram desembarcados no armazém da Alfândega de Corumbá para depois
serem encaminhados para as outras praças de Mato Grosso. No caso da exportação, os
produtos oriundos de outras localidades mato-grossenses chegavam a Corumbá e tinham
passagem obrigatória pela Mesa de Rendas, para só então serem remetidos ao exterior. Dada a
importância do porto de Corumbá, era interessante do ponto de vista econômico e estratégico
possuir uma sucursal nessa cidade, evitando assim a intermediação das empresas
corumbaenses – uma vez que as casas comerciais de Corumbá exerciam uma forte influência
nas demais empresas desse ramo, localizadas em outras cidades e vilas de Mato Grosso.
As vilas de Diamantino e Rosário do Oeste também tiveram diversas filiais de
empresas com matriz em Cuiabá, Corumbá e São Luiz de Cáceres. O interesse por esses
locais se dava pela exploração da borracha, como apontado no capítulo 1. Sendo assim,
seguem abaixo as casas comerciais das quais tomei conhecimento.
46 A outra parte transitava pelo porto de Santo Antonio do Madeira, através da Delegacia Fiscal do Norte. O
processo de importação e exportação pela Delegacia Fiscal do Norte é trabalhado no capítulo 4, uma vez que as
casas apresentadas no presente capítulo faziam transações comerciais através do porto de Corumbá.
130
Almeida & Companhia
Em 1870 surgiu em Cuiabá a Casa Almeida, fundada pelo brasileiro João Baptista de
Almeida Filho, que iniciou suas atividades no antigo 2º Distrito da capital47. Nesse mesmo
período, começou a dedicar-se à exploração e exportação de borracha, sendo um dos pioneiros
nesse ramo em Mato Grosso. Ao longo dos anos, a firma vai se desenvolvendo,
acompanhando a ampliação econômica do próprio estado. Assim, em 1894, a empresa
transfere a sua sede para um prédio mais moderno, na rua 13 de Maio, localizado no 1º
Distrito da capital, ocasião em que aceita como sócio Manoel Xavier Castello. A empresa
passa, então, a girar sob a razão social de Almeida & Castello; entretanto, essa sociedade, por
desventura do destino, não perdurou muito tempo, pois o novo sócio veio a falecer (Album
graphico, 1914, anúncios, p. VII). E como de costume e previamente estabelecido nos contratos
desse tipo de sociedade, quando um sócio falecia se pagavam os direitos aos herdeiros,
encerrando a sociedade.
Após liquidada a parte que cabia aos herdeiros de Manoel Xavier Castello, foi formada
a sociedade Almeida & Companhia, em 1º de setembro de 1895, com a inclusão de Manoel
Pedroso da Silva Rondon, residente em Rosário do Oeste. O capital dessa empresa era
constituído de 200 contos de réis, sendo 150 contos pertencentes a João Baptista e o restante a
Manoel Pedroso. Nessa nova sociedade, além dos sócios capitalistas, havia os sócios de
indústria, sendo eles: José Benedicto Gomes Pedroso, Idelfonso Peixoto de Almeida Pitaluga,
ambos com direito a 7,5% sobre os lucros da empresa, e Amarílio Alves de Almeida (filho de
João Baptista), que contava com 5% dos lucros; os demais 80% dos lucros eram divididos
entre os sócios capitalistas na proporção do capital de cada um (JUCEMAT- Contratos avulsos,
1895).
Em 27 de fevereiro de 1900, o prazo da sociedade é renovado, tendo validade até 31
de dezembro de 1903. Por esse novo contrato ficou estipulado que os lucros verificados no
último balanço, de todos os sócios (capital e indústria), seriam depositados na conta de
suprimentos48 a juros de 5%. Além disso, também ficou esclarecido que o sócio Manoel
Pedroso da Silva Rondon faltava completar “sua cota de capital e adicionar mais 50% para ser
47 Cuiabá nesse período era dividida em dois distritos.
48 Conta de suprimentos é um empréstimo que a empresa contrai com os próprios sócios pagando -lhe uma
porcentagem estabelecida em contrato (http://www.maisvalias.com/2015/01/13/taxa-de-juro-sobre-suprimentos-
e-emprestimos-as-empresas-portaria-n-o-2792014/ ).
131
elevado a setenta e cinco contos de réis” (75:000$000), para então conseguir atingir a metade
do capital do sócio João B. de Almeida Filho, que, no caso, corresponde a cento e cinquenta
contos de réis (150:000$000) (JUCEMAT- Livro de registros, 1899-1904, p. 18). O quadro a seguir
apresenta a divisão dos lucros da sociedade supracitada no ano de 1900:
Quadro 8
Divisão dos lucros líquidos da empresa Almeida & Cia., segundo
a participação de cada sócio, no ano de 1900
Fonte: JUCEMAT- Livro de registros, 1899-1904, p. 19.
Vale ressaltar que o funcionário Luis Aureo Pompeo de Barros começa a ter direito
aos lucros apenas a partir do contrato de 1900; já os demais sócios de indústria têm sua
porcentagem sobre os lucros aumentada, assinalando que os negócios estavam em progresso
na virada do século XIX para o XX. Ainda ficou estabelecido que a empresa deveria pagar
mensalmente, ao sócio João B. Almeida Filho, 50 mil réis pelo aluguel de cada prédio
utilizado para o funcionamento das casas comerciais, sendo dois em Cuiabá e um na vila do
Rosário, onde possuíam uma filial (JUCEMAT- Livro de registros, 1899-1904, p. 19).
O infortúnio do destino, mais uma vez, interfere na composição social da casa
Almeida & Cia., pois foi a óbito o sócio de indústria José Benedito Gomes Pedroso. Assim,
em 2 de abril de 1902, após realizado balanço na empresa, foram pagos os direitos aos
herdeiros do falecido, que no caso eram seus pais (JUCEMAT- Livro de registros, 1899-1904, p. 62).
Um novo acordo49 foi então redigido, em 19 de abril de 1904. Nesse novo contrato,
dos antigos sócios, apenas pai e filho continuaram na sociedade, sendo admitido um novo
sócio: Antonio Augusto de Azambuja. Mas, agora, Amarilio Alves de Almeida se torna sócio
solidário. Assim, a nova composição social da empresa não tem sócio de indústria, apenas de
49 Apesar de não ter tido acesso a todos os contratos da sociedade, é possível deduzir algumas informações com
base em novos contratos (que faziam menção ao contrato anterior), assim como nos aditivos de contratos.
Sócios Participação nos lucros líquidos
João Baptista de Almeida Filho 46% + 2/3% de 1%
Manoel Pedroso da Silva Rondon 23% +1/3% de 1%
Amarilio Alves de Almeida 9%
Ildefonso Pitaluga 9%
José Benedito Gomes Pedroso 9%
Luis Aureo Pompeo de Barros 3%
132
capital. E a divisão dos lucros ficou estipulada em: 66,668% para o sócio João Baptista de
Almeida Filho, e os sócios Amarilio Alves de Almeida e Antonio Augusto de Azambuja
ficaram, cada um, com 16, 666%. Todavia, no dia primeiro de novembro de 1904 foi redigido
um aditivo ao contrato de abril, no qual João Baptista cede 16,666% dos seus direitos ao Dr.
Alberto Novis, que entra para a sociedade como sócio solidário, com o capital de 12 contos de
réis. Dessa maneira, o sócio João Baptista ficou com 50,002% de direito sobre os lucros
(JUCEMAT- Livro de registros, 1899-1904, p. 71). João Baptista, em 4 de julho de 1912, através de
um novo aditivo ao contrato de abril de 1904, cede mais 16,666% dos seus direitos ao seu
outro filho, João Botocudo de Almeida, ficando agora com apenas 33,336% dos lucros
líquidos (JUCEMAT - Livro de registros, 1910-1913, p. 102).
Figura 11
Matriz da casa Almeida & Cia. (Cuiabá)
Fonte: Album graphico, 1914, anúncios, p. VI
A casa Almeida & Companhia, além da importação e exportação, empregava-se em
outras atividades comerciais, como: a Cervejaria Cuiabana, a Usina Itaicy e terras para a
exploração da borracha e criação de gado vacum. A matriz ficava localizada em Cuiabá,
“ponto convergente de todas as operações” da empresa (Album graphico, 1914, anúncios, p. VII-IX).
A dinâmica de uma casa comercial importadora e exportadora era intensa e sua contabilidade
complexa. De fato,
133
la función del sistema de contabilidade de un comerciante era registrar las transacciones que realizaba. Las transacciones reales se anotaban en un libro borrador en el momento en que se ejecutaban; al finalizar el mes estas partidas se pasaban al diário, donde se ponían en el haber las cuentas de las cantidades pagadas o de las mercancías vendidas, y en el debe las mercancías y las cantidades recibidas. Este registro cronológico de las transaciones se transfería, a su vez, a las cuentas apropiadas del libro mayor. El libro mayor se saldaba cerrando en un libro de inventario (VALDALISO; LOPES, 2009, p. 196).
Assim, a gerência da matriz estava a cargo do sócio Amarilio Alves de Almeida e o
escritório central sob a chefia do antigo guarda-livros, Joaquim Frederico de Mattos (Album
graphico, 1914, anúncios, p. VIII). No escritório, ainda trabalhavam Cid Camacho, Clarindo
Camacho, Plinio de Almeida Castello e Lycio Lima. Além desses funcionários, havia os que
trabalhavam no balcão atendendo os clientes, e os funcionários dos outros ramos em que a
empresa atuava (op. cit., p. VII).
Figura 12
Escritório da Casa Almeida & Cia.
Fonte: Album graphico, 1914, anúncios, p. VIII
A filial da Casa Almeida & Companhia estava situada na vila do Rosário. Estratégia
interessantíssima para os negócios, pois era uma região importante no que se refere à
exploração e compra da borracha. E segundo informações, o total de terras que estavam sob
seu domínio chegava a 58.142 hectares, utilizando para a exploração da borracha apenas
50.492 ha, com 141.500 seringueiras (Album graphico, 1914, anúncios, p. IX). E para a extração da
borracha contavam com “280 seringueiros, 40 tropeiros e 12 empregados para a fiscalização
134
do serviço” (op. cit., p. VIII). Já para a exploração da lavoura e pecuária, possuíam “as sesmarias
‘Quibol’, ‘Cambayuval’, ‘Agua Fria’, ‘Fazenda Vermelha’, ‘Marzagão’, ‘Pedras’, ‘Quilombo’
e ‘Bom Jardim’”, (Album graphico, 1914, anúncios, p. IX), com “800 cabeças de gado vacum, 40
bois tropeiros, 160 burros arreados e 12 cavalos (op. cit., p. VIII).
A Usina do Itaicy ficava localizada à margem direita do rio Cuiabá, sob a direção do
sócio Alberto Novis, que também era o médico da usina (Album graphico, 1914, anúncios, p. VII). A
produção da usina chegava a 225 toneladas de açúcar e 5 mil canadas de aguardente por ano.
A escoação da produção se dava pela via fluvial até Cuiabá e Corumbá, onde eram
consumidos. A usina estava avaliada em 1.000:000$000 (mil contos de réis) e, segundo
informações, contava com “pelo menos 20 empregados técnicos e 80 trabalhadores”, além de
“60 edifícios, dos quais 45 servem de habitações para os trabalhadores”; ademais, também
existia “uma serraria bem montada, uma farmácia para o pessoal das fábricas e do campo”.
Ao que consta, possuía ainda escola com o ensino primário para ambos os sexos e com um
total de 62 alunos, além disso, havia aulas de música, “com uma banda permanente de 12
figuras e oficinas diversas” (Album graphico, 1914, p. 280).
135
Figura 13
Fábrica da Usina Itacy
Fonte: Album graphico, 1914, p. 279
A Cervejaria Cuyabana, por sua vez, encontrava-se a uma distância de dois
quilômetros do porto de Cuiabá e à margem esquerda do rio homônimo. A direção e gerência
da cervejaria estavam a cargo do sócio Antonio Augusto de Azambuja (op. cit. p. VIII). A
produção diária chegava a 10 hectolitros, além do mais, tinham duas adegas frigoríficas que
comportavam “vinte barris de um mil e quinhentos litros cada um, e uma menor para
fermentação, comportando cinco cubas de baixa fermentação”. A produção era restrita para o
consumo de Cuiabá e as localidades circunvizinhas, por isso, não utilizavam em sua
fabricação “nenhum ácido aconselhado para maior durabilidade”. A cervejaria possuía ainda
uma lancha a vapor com duas chatas (Album graphico, 1914, p. 324).
Para o desenvolvimento e funcionamento da cervejaria, a empresa Almeida & Cia.,
representada pela firma alemã Hesse, Norman & Cia., contratou o cervejeiro alemão Adolf
Shiele, em Hamburgo, no dia 26 de fevereiro de 1908, pelo período de 3 anos. No entanto, em
10 de fevereiro de 1911, prorrogaram a validade do contrato até 30 de novembro do mesmo
ano. Por meio desse contrato, ficou estipulado que Adolf Shiele deveria ensinar ao seu
136
ajudante Theodoro Valentini os processos de fabricação da cerveja, e em troca receberia 2
contos de réis, os quais seriam pagos em duas prestações: “uma no dia primeiro de março e
outra no dia vinte e nove de julho do corrente ano” (JUCEMAT- Livro de registros, 1910-1913, p. 46).
Além do cervejeiro, estavam encarregados da fabricação: “um ajudante, um chefe de
máquinas, mais três empregados e seis empregados subalternos, além de numeroso pessoal
composto de carroceiros, trabalhadores e oficiais de ferraria e carpintaria” (MACIEL, 1914, p.
324).
Entre as operações da Casa Almeida & Cia. estava uma seção bancária que
representava, “além de operações próprias, o Banco do Brasil e o London & River Plate Bank
Ltda (Album graphico, 1914, anúncios, p. VIII).
Além de atuar como o principal sócio capitalista da empresa Almeida & Cia., João
Baptista de Almeida Filho se associou, em 28 de maio de 1900, ao empresário Franklin
Moura para constituir a empresa denominada Empresa Cuiabana Ferro Carril e Matadouro,
sob a razão social de Almeida & Moura. O controle administrativo da firma era de uso
exclusivo do sócio João Baptista, que ficou encarregado do caixa e da escrituração junto ao
guarda-livros; o sócio Franklin ficou responsável pelo auxílio pessoal no matadouro, enquanto
o sócio de indústria, João Feliciano Pinto, se responsabilizava pela gerência do serviço de
transporte e da manutenção de todo o material da empresa (Livro de registros, 1899-1904, p. 20). A
composição do capital e a divisão dos lucros ficou estabelecida da forma exposta no quadro 9,
a seguir:
Quadro 9
Integrantes da firma Almeida & Moura, de acordo com o capital e participação
Fonte: JUCEMAT- Livro de registros, 1899-1904, p. 20.
Os dados acima demonstram um fato curioso, pois, independentemente da participação
no capital da empresa, os lucros eram divididos de forma igualitária. O contrato ainda
especificava que, dos lucros verificados, somente 80% seriam divididos entre os sócios; já a
outra parte era destinada para depósito de fundos, para amparar a compra de material. O sócio
Sócios Capital Participação nos lucros
líquidos
João Baptista de Almeida Filho 56:000$000 1/3
Franklin Moura 28:000$000 1/3
João Feliciano Pinto [Indústria] 1/3
137
de indústria ainda podia retirar mensalmente 200 mil réis, os quais seriam descontados de seus
lucros futuros (JUCEMAT- Livro de registros, 1899-1904, p. 20).
A casa Almeida & Companhia foi uma das maiores empresas de importação e
exportação de Mato Grosso. Parece possível atribuir sua prosperidade, pelo menos em parte,
à atuação de João Baptista de Almeida, que soube aproveitar as ondas propícias de
investimento, uma vez que foi um dos pioneiros na exploração da borracha, assim como
estabeleceu seu comércio logo após a reabertura da navegação pelo rio Paraguai. Soube
também investir em outros ramos, como apontado acima. As fontes, contudo, não me
permitiram saber quando se encerrou a atuação dessa empresa.
Orlando Irmãos & Cia.
O italiano Francisco Orlando, nascido em Moliterno, na Província de Basilicata,
deixou o reino da Itália em direção à América do Sul ainda muito jovem, com apenas 17 anos
de idade. Primeiro se estabeleceu em Buenos Aires, permanecendo ali por alguns meses,
depois migrou para o Paraguai. Nessa república, também não permaneceu muito, deslocando-
se para a capital mato-grossense, lugar onde se estabeleceu no ano de 1874. Em Cuiabá, logo
se associou a outro italiano, Rafael Verlangieri, e juntos fundaram a casa comercial
Verlangieri & Orlando (GOMES, 2011, p. 19).
Rafael Verlangieri, que havia chegado a Cuiabá em 1871, iniciou suas atividades
como vendedor, “percorrendo a cidade de Cuiabá com uma maleta nas mãos e uma
campainha que soava para chamar atenção”. Seu primeiro estabelecimento comercial foi a
Loja da Campainha, menção ao objeto utilizado nos tempos de vendedor ambulante. E
somente mais tarde se associou a Francisco Orlando (PÓVOAS, 1989, p. 69).
Em 1884, chegaram a Cuiabá os irmãos de Francisco Orlando, momento em que
chegava ao fim a sociedade com Rafael Verlangieri. Assim, Francisco, dando continuidade
aos negócios, integrou seus irmãos José e Vicente Orlando à sociedade. Nesse momento, a
firma passa a girar sob a razão social de Orlando Irmãos & Companhia (GOMES, 2011).
Interessante notar que o Album graphico do Estado de Matto-Grosso, importante fonte para
esse trabalho, traz como data de fundação dessa sociedade o ano de 1873 (Album graphico, 1914,
anúncios, p. X). Tal fato, contudo, deve estar relacionado à fundação da primeira firma de
Rafael Verlangieri, a citada Loja da Campainha, sucedida pela Verlangieri & Orlando.
A firma Orlando Irmãos & Companhia apresenta uma interessante forma de
investimento de capital; que, no caso, era a associação dessa empresa com outras pessoas,
138
momento em que formavam uma nova sociedade, que variava conforme o ramo de
investimentos e as cláusulas especificadas em contrato.
Como apontado anteriormente, a vila do Rosário era um importante entreposto
comercial, principalmente para a compra da borracha. Desse modo, a casa Orlando Irmãos &
Cia. formou uma sociedade para atuar na vila do Rosário, sob a razão social de Orlando,
Bruno & Cia., em 25 de dezembro de 1897 (JUCEMAT- Livro de registros, 1899-1904, p. 39), sendo
sócios componentes da nova firma, Orlando Irmãos & Cia., Antonio Bruno Borges, Arthur
Campos Borges, Nicola Pecosa e Aniceto Pinto Botelho (Livro de registros, 1899-1904, p. 2).
Figura 14 Figura 15
Casa Orlando & Cia. (Cuiabá) Antiga casa Orlando & Cia.
na segunda década do século XX nos dias atuais
Fonte: Album graphico, 1914, anúncios, p. X
Em março de 1899 foi registrada uma alteração no contrato primitivo, a qual
estabelecia que Augusto Leite de Figueiredo passava a integrar a firma Orlando, Bruno & Cia.
como sócio de capital, com direito a 10% dos lucros líquidos. Desse modo, Augusto integrou
o capital da empresa com dois contos e quinhentos mil réis (2:500$000) em espécie, e mais os
futuros 10% dos lucros líquidos que seriam creditados na sua conta de capital (JUCEMAT- Livro
de registros, 1899-1904, p. 2). Contudo, em fevereiro de 1901 ocorreu uma nova alteração no
contrato dessa empresa, momento em que o sócio Augusto Leite de Figueiredo deixa a
sociedade. Nesse mesmo documento, consta a integração de um novo membro: Francisco
Germano Corrêa da Costa, o qual agrega 22 contos de réis à sociedade (Livro de registros, 1899-
1904, p. 39). Além do mais, a cláusula 13ª estabeleceu que:
Fonte:http://aterramediadeclaudia.
blogspot.com.br/2012/05/rua-
galdino-pimentel.html
139
Durante a vigência do presente contrato de prorrogação fica elevado de três a cinco contos de réis anuais, o preço do aluguel ou arrendamento à sociedade de todos os seringais e sítios denominados “Pantanalzinho”, pertencente ao sócio Antonio Bruno Borges, e do estabelecimento denominado “Campinal”, de propriedade do sócio Arthur Campos Borges (JUCEMAT- Livro de registros, 1899-1904, p. 40).
É notório que o interesse da firma Orlando Irmãos & Companhia nessa sociedade
estava vinculado à exploração da borracha, além de ter exclusividade no fornecimento de
mercadorias para a casa Orlando, Bruno & Companhia. Ainda vale ressaltar que, a qualquer
momento, a Orlando Irmãos & Cia. tinha o direito de assumir a gestão dessa casa comercial e
dos negócios a ela pertencentes (JUCEMAT- Livro de Registros, 1899-1904, p. 40).
Desvinculado da Casa Orlando Irmãos & Cia., outro contrato foi realizado, no dia
primeiro de janeiro de 1901; dessa vez, entre os irmãos e sócios da referida casa (Francisco,
Vicente e José Orlando) e o antigo sócio Rafael Verlangieri. Tal sociedade, denominada
Orlando & Companhia, tinha por finalidade a exploração da indústria pastoril, no município
de Miranda, na Fazenda Rodrigo. Essa propriedade, avaliada em 400 contos de réis, ficou
pertencendo em partes iguais a todos os sócios (JUCEMAT- Livro de registros, 1899-1904, p. 51).
Além do mais, ficou determinado que, após o dia primeiro de maio de 1902, poderia ali ser
estabelecida uma “seção mercantil para a compra e venda de mercadorias sob a mesma firma
e responsabilidade de todos os sócios” (op. cit., p. 52).
Os laços entre as famílias Verlangieri e Orlando iam além do ramo comercial, pois
estavam também ligados por vínculos familiares. Pois, Rafael Verlangieri se casou com
Amalia Amarante, em 1878, e Francisco Orlando, por sua vez, com a irmã de Amalia, a
senhorita Balbina Amarante, em 1884. Anos depois, essas duas famílias estreitaram ainda
mais os laços, pois ocorreu a celebração de mais dois matrimônios. Dessa vez, as filhas do
casal Rafael e Amalia Verlangieri se unem aos irmãos José e Vicente Orlando. Assim,
contraíram matrimônio Carmela Verlangieri e José Orlando, em 1893, e depois de dois anos,
Cizinia Verlangieri e Vicente Orlando (GOMES, 2011, p. 201).
Uma outra característica da Casa Orlando, como ficou conhecida ao longo de sua
existência, é o empréstimo de dinheiro a terceiros. Desse modo, foi através do capital
emprestado pela casa Orlando que foi possível a constituição de uma outra sociedade, em 15
de dezembro de 1900: a Moreira & Irmão, empresa constituída por um capital de 52 contos
de réis. Para a organização dessa sociedade foi contraída uma dívida de 47:153$047 (quarenta
e sete contos, cento e cinquenta e três mil e quarenta e sete réis) com a Casa Orlando, Irmãos
140
& Cia. Os sócios de Moreira & Irmão eram Aquilino Moreira da Silva e João Fortunato
Moreira da Silva, naturais de Mato Grosso, os quais, vendo a possibilidade de sucesso na
exploração e exportação da borracha, constituíram essa sociedade com sede em Cuiabá. O
capital de 52 contos constituía-se em dois lotes em Diamantino, em “animais muares e
vacuns, e em dívidas de camaradas” (JUCEMAT- Livro de registros, 1899-1904, p. 30).
A trajetória da Casa Orlando Irmãos & Companhia apresenta um interessante episódio,
quando se vincula ao Banco Rio e Mato Grosso (BRMT). Esse banco atuou no estado entre os
anos de 1891 e 1902; apesar de sua sede estar situada no Rio de Janeiro, sua finalidade
principal era atuar em Mato Grosso, possuindo uma agência em Cuiabá e uma caixa filial em
Corumbá. A presidência desse banco foi exercida por Joaquim Murtinho, importante figura
política mato-grossense, entre os anos de 1891 e 1896, e depois, por seu irmão, um dos sócios
fundadores, Francisco Murtinho, a partir de maio de 1897 até sua liquidação (QUEIROZ, 2010).
As intenções do Banco Rio e Mato Grosso50 em sua vinculação com a Casa Orlando
Irmãos & Cia. estão atreladas à exploração primário-exportadora, principal ramo de atuação
desse banco em Mato Grosso. Essa nova sociedade era de comércio e de indústria, ou seja,
exploração da venda de mercadorias em geral e “a extração, compra e exportação da borracha,
poaia e quaisquer outros produtos extrativos que a mesma sociedade tenha interesse em
explorar” (JUCEMAT- Livro de registros, 1899-1904, p. 45). De fato, o interesse do BRMT nessa
sociedade estava vinculado à exploração da borracha, pois conforme consta em relatório do
referido Banco:
há longo tempo luta esta administração para estabelecer em Mato Grosso uma empresa, em bases sólidas, destinada à extração e comércio da borracha. Temos hoje a satisfação de anunciar-vos que esse desideratum acha-se realizado e de modo a assegurar vantagens remunerativas a este Banco, e seguro desenvolvimento àquele Estado. Acabamos de adquirir a parte da importante empresa dos Srs. Orlando, Irmãos & C. que trabalha na exploração da borracha com os melhores elementos que existem ali (R, 1901)51.
Para constituir essa nova sociedade, primeiramente, os ativos da Casa Orlando Irmãos
& Cia. foram inventariados e avaliados em 1.594:566$436 (um mil e quinhentos e noventa e
quatro contos, quinhentos e sessenta e seis mil, quatrocentos e trinta e seis réis); sendo então,
50 Para maiores informações sobre essa instituição bancária, ver: Joaquim Murtinho, banqueiro: notas sobre a
experiência do Banco Rio e Mato Grosso (1891-1902).
51 Utilizarei aqui apenas a letra R ao me referir aos relatórios do BRMT , seguido do ano de realização da
assembleia.
141
a sua metade adquirida pelo Banco Rio e Mato Grosso. É interessante notar que a casa
Orlando, Irmãos & Cia. entrou em liquidação somente para poder se associar ao BRMT, pois
foi após negociação com o referido banco que entraram em liquidação. E a nova sociedade
passou a ser denominada de Secção Industrial do Banco Rio e Mato Grosso, constituída em
primeiro de maio de 1901 com duração de um ano (JUCEMAT- Livro de Registros de 1899-1904, p.
45-46).
Pareciam auspiciosas as perspectivas para os investimentos do BRMT em Mato Grosso;
contudo, a instabilidade política causada pela revolta armada de 1901 prejudicou a extração
da borracha daquele ano. A ocorrência desse episódio modificou as previsões do BRMT sobre
“a cifra nos lucros calculados. A causa desse transtorno foi devida, em grande parte, à falta de
pessoal desviado do trabalho e a outros não pequenos prejuízos que a perturbação da ordem
pública ocasiona a empresas desta natureza” (R., 1902). Assim, resolveram prorrogar a duração
do contrato até 31 de dezembro de 1902 (JUCEMAT- Livro de Registros de 1899-1904, p. 45).
Um fato curioso sobre a associação entre o BRMT e os irmãos Orlando encontra-se em
algumas condições estipuladas. Entre elas, o BRMT ficou de efetuar o pagamento de sua parte
do capital com um abatimento de 30% sobre seu valor. Além disso, ainda ficou acordado que,
ao fim do prazo da sociedade, se realizaria um balanço dos negócios e, depois de verificados
os lucros, a sociedade seria dissolvida e o Banco faria “aquisição por compra não só da parte
de capital que na mesma sociedade têm os sócios Francisco, José e Vicente Orlando como
também da parte dos lucros que lhes tenham tocado”, e os irmãos Orlando deveriam dar um
abatimento especial de 30% em “uma e outra parcela” (JUCEMAT- Livro de Registros de 1899-1904,
p. 46). As condições estipuladas pelo Banco são de extrema vantagem para o mesmo; não
sabemos os motivos que levaram os sócios da casa Orlando Irmãos & Cia. a aceitar tais
condições ao vender seu empreendimento que, segundo as informações, “eram os melhores
existentes no Estado” (R., 1902). Todavia, podemos supor que os mesmos desejavam regressar
à Itália, uma vez que Francisco Orlando já passava grande parte do tempo em sua terra natal,
onde fazia tratamento de saúde (JUCEMAT- Livro de Registros de 1899-1904, p. 47).
De toda forma, independentemente das razões que levaram os sócios da Orlando,
Irmãos & Cia. a aceitarem as condições do BRMT, a sociedade entre ambos foi encerrada, já
que o banco entrou em liquidação no segundo semestre de 1902. A casa Orlando, Irmãos &
Cia., por sua vez, continuou funcionando. O sócio Francisco Orlando se retirou da sociedade e
recebeu, por sua parte nos negócios na firma, a quantia de 776:666$000 (setecentos e setenta e
seis contos, seiscentos e sessenta e seis mil réis), em 27 de janeiro de 1910, quando foi
registrada a sua saída da sociedade. De fato, Francisco já estava morando na Itália, quando da
142
sua retirada da firma. Mais tarde, os sócios José e Vicente Orlando também retornaram para a
Itália e deixaram a empresa sob os cuidados dos gerentes Egidio Laraya e Giovanino Pecora
(JUCEMAT- Livro de Registros de 1910-1913, p. 108-109). Ademais, essa empresa manteve sua
atuação até 1978, quando foi extinta (PÓVOAS, 1989, p. 68).
Firmo de Mattos & Cia.
Uma das primeiras casas comerciais estabelecidas em Cuiabá, após a reabertura da
navegação pelo rio Paraguai, foi a Firmo de Mattos & Cia., fundada por Firmo José de
Mattos. A conjuntura que levou esse jovem pernambucano formado em Direito a se
estabelecer em Mato Grosso está atrelada à “Revolução Nunes Machado, em 1848”; visto
que, chegada ao fim a revolta e tendo sua participação chamado atenção, Firmo de Mattos é
então indicado como juiz de Direito em Mato Grosso. Estabelecido em Cuiabá, logo se torna
importante figura política, militante do Partido Liberal, e chegou a assumir a chefia do Partido
em 1879 (PONCE FILHO, 1952, p. 26). Ali constituiu família com Francisca Moraes Mattos, com
quem teve 10 filhos (Fórum de Corumbá - Inventário do Barão e Baronesa de Casalvasco, 1895).
Alguns anos após sua chegada ocorreu uma grave epidemia de varíola, momento em
que “presta serviços de relevo à causa pública e o governo provincial outorga, ao antigo juiz,
honras de Desembargador”; logo depois, recebe de herança, por parte de seu sogro, 30 contos
de réis, considerável quantia para a época; resolve então investir no comércio. Ocasião em
que se dirige ao Rio de Janeiro, onde, segundo informações, foi aconselhado pelo Visconde de
Figueiredo a se dirigir à Europa para realizar suas compras. Então, viaja à Europa com essa
finalidade e quando regressa abre casa comercial importadora e exportadora em Cuiabá.
Lembrando que, devido aos prejuízos sofridos durante a Guerra do Paraguai, a província de
Mato Grosso foi isenta de impostos de importação por alguns anos, o que tornava o momento
propício para investir no comércio de importação. E, conforme as informações, pode-se
deduzir que a casa Firmo de Mattos iniciou suas atividades em 1872-73, momento em que
admite Generoso Paes Leme de Souza Ponce como seu funcionário e, mais tarde, como
interessado na firma, tornando-se sócio algum tempo depois, constituindo a razão Firmo &
Ponce (PONCE FILHO, 1952, p. 27). O desembargador, mais tarde, recebe o título de Barão de
Casalvasco, por Decreto de 24 de agosto de 1889 (MESQUITA, 1992, p. 232).
Firmo de Mattos, seguindo os moldes de outras empresas da época, estabeleceu uma
outra casa comercial em Corumbá, com razão social e sócios diferentes da empresa de
143
Cuiabá. Na cidade de Corumbá, constitui em 1876 a casa Firmo, Barros & Cia.52, junto ao
seu genro Antônio Pedro de Barros, firma que, mais tarde, passou a denominar-se Barros &
Cia. e que por fim, no início do século XX, se tornou Wanderley, Baís & Cia., uma das
principais casas comerciais de Mato Grosso (TARGAS, 2012).
A casa comercial Firmo & Ponce registrou sua dissolução de sociedade em 10 de
março de 1893. Ao que parece, Firmo de Mattos vendeu também a parte que lhe pertencia na
Firmo, Barros & Cia.; pois, quando da sua morte, em 28 de abril de 1895, dentre os bens
deixados não se encontram as empresas citadas. De fato, Firmo de Mattos veio a óbito quando
retornava do Rio de Janeiro para Mato Grosso, “a bordo do paquete Ladário, nas águas do rio
Paraná, abaixo de Corrientes”, além disso, fazia seis meses que sua esposa havia falecido, de
tal maneira que o inventário foi realizado em conjunto. Vale ressaltar que o Barão e a
Baronesa de Casalvasco deixaram uma considerável fortuna, num total de 1.267:320$705. Os
bens foram divididos conforme vontade expressa em seu testamento, tocando 2/3 para seus
filhos e 1/3 para suas netas, sendo 6 filhos vivos e 8 netas (Fórum de Corumbá - Inventário do Barão
e Baronesa de Casalvasco, 1895).
Alexandre Addor
Situada à rua 15 de Novembro, nº 67, encontrava-se a grande casa comercial
importadora e exportadora Alexandre Addor, fundada em 1865 (Album graphico, 1914, anúncios, p.
XIII). As evidências sobre essa empresa e principalmente sobre seu proprietário são limitadas;
todavia, é possível concluir que o mesmo era filho do suíço, naturalizado brasileiro, Carlos
Augusto Addor e da mato-grossense Sidonia Guilhermina da Penha. Esse casal se uniu em
matrimônio, em 1861, na cidade de Cuiabá; tendo o segundo filho do casal, Alexandre Magno
Addor, nascido em 29 de fevereiro de 1875 (PALMA, 1956, p. 199-202). De tal maneira, deve ter
sido Carlos Augusto Addor quem estabeleceu firma em 1865 em Cuiabá, a qual mais tarde
passaria a seu filho e viria a girar sob a razão de Alexandre Addor.
52 Ressalto que, em um trabalho anterior, denominado As casas comerciais importadoras/exportadoras de
Corumbá (1904-1915), afirmei que a Firmo, Barros & Cia. era uma filial da casa Firmo de Mattos & Cia. de
Cuiabá, que havia sofrido alteração em sua razão social. Contudo, as evidências empíricas me levam agora a
questionar tal afirmação, pois, ao que parece, o que aconteceu foi algo semelhante a outros casos, onde um sócio
acabava por contrair sociedade com pessoas de outra cidade, constituindo assim uma nova empresa – originando
uma relação que, apesar dos fortes laços econômicos que as uniam, não se encaixa na denominação matriz-filial.
E no caso, a firma de Cuiabá veio a tornar-se Firmo & Ponce.
144
Figura 16
Alexandre Magno Addor
Fonte : Album graphico, 1914, anúnicos, p. XIII.
Alexandre Magno Addor ocupou vários cargos políticos em Mato Grosso, entre eles o
de Intendente Municipal de Cuiabá, nos anos de 1918 a 1920; e mais tarde, em 1922, agente
consular da França (Almanak Laemmert, 1922, p. 4.090). Além da influência política, foi um grande
empreendedor, pois a firma Alexandre Addor realizava importação em geral e exportação de
borracha, ipecacuanha e couros. Possuía 12 mil hectares à margem do rio Arinos e 4 mil e
quinhentos hectares à margem do rio Paranatinga para a extração da borracha, região em que
utilizava a mão de obra de 300 trabalhadores. Para a criação de gado vacum, possuía mais 9
mil e 600 hectares, em torno dos rios Paranatinga e Tombador. Além disso, possuía 6
propriedades urbanas em Rosário do Oeste e 8 em Diamantino (Album graphico, 1914, anúncios, p.
XIII).
Essa empresa possuía duas filiais: uma em Diamantino e outra em Rosário do Oeste,
locais em que realizavam a extração e a compra da borracha, chegando a exportar em média
80 mil quilogramas desse produto por ano. Ademais, tinham 3 embarcações para realizar o
transporte de mercadorias e dos produtos destinados à exportação entre Cuiabá e Rosário do
Oeste (op. cit.). E foi em Rosário do Oeste, no dia 26 de janeiro de 1900, que foram celebradas
as núpcias de Alexandre Magno Addor e Umbelina de Campos Borges, filha do comerciante
Antonio Bruno Borges53. Dessa união nasceram 9 filhos. Por fim, Alexandre Addor veio a
falecer em 5 de novembro de 1935 (PALMA, 1956, p. 200).
53 Sócio da casa Orlando, Bruno & Cia.
145
Nicola Verlangieri & Filhos
Nicola Verlangieri, nascido em 15 de novembro de 1852, deixou a Província de
Salerno, no Reino da Itália, aos 12 anos de idade, e assim como grande parte dos imigrantes
que chegaram a Mato Grosso, permaneceu alguns anos na República Argentina, e somente
depois migrou para Cuiabá, junto com os seus irmãos Rafael e Francisco Verlangieri, no ano
de 1871. Ali contraiu matrimônio com a mato-grossense Honorata Adelina de Souza Aguiar,
em 1880 (GOMES, 2011). Nicola, seguindo os passos de seu irmão Rafael Verlangieri, abriu sua
empresa em 1884. Mais tarde, em dezembro de 1900, incluiu seus filhos Arsenio e Feliciano
Verlangieri nos negócios (JUCEMAT - Livro de registros, 1899-1904, p. 29). O capital e a
participação nos lucros eram distribuídos conforme quadro abaixo:
Quadro 10
Nicola Verlangieri & Filhos: distribuição do capital e participação nos lucros,
segundo os sócios (1900)
Sócios Capital Participação nos
lucros
Nicola Verlangieri 43:000$000 70%
Arsenio Verlangieri 5:000$000 20%
Feliciano Verlangieri 2:000$000 10%
Fonte: (JUCEMAT -Livro de registros, 1899-1904, p. 29).
Como demonstrado no quadro 10, o capital da Casa Nicola Verlangieri & Filhos era
modesto, contava com apenas 50 contos de réis. Essa casa, apesar de trabalhar com
importação e exportação, seu principal ramo de atuação era com os serviços comissionados.
Além disso, encarregavam-se de serviços a serem realizados nas repartições federais, como
“justificações para percepção de montepio e meio soldo de viúvas e filhos de militares e de
civis”; já nas repartições estaduais, ofereciam os serviços de “compras de terras e extração de
títulos provisórios e definitivos”. Ainda ofereciam serviços advocatícios (Album graphico, 1914,
anúncios, p. XIV).
Em 15 de dezembro de 1910, Nicola Verlangieri obteve a concessão de 50 anos para
construir um Matadouro Público em Campo Grande, no Sul do estado. Esse matadouro
deveria ser construído na confluência dos córregos Prosa e Segredo, limitado pelas ruas
Anhanduhy e Afonso Pena, dentro de um prazo de dez meses. Ademais, as instalações desse
matadouro seguiam algumas regras, como ser coberto de telha, piso de cimento, currais de
146
madeira de lei. Das taxas cobradas aos usuários do matadouro, o município teria direito a 25%
(JUCEMAT -Livro de registros de 1910 a 1913, p. 73-76).
De fato, a necessidade desse Matadouro Público em Campo Grande foi estabelecida
pelo código de postura de 1905, e a “criação desse espaço responderia à necessidade da
diminuição da forte exalação de odores pútridos, decorrentes da decomposição, sobre o solo,
dos restos das reses e do sangue dos animais”. Esse espaço também possibilitava a
fiscalização das reses abatidas verificando se as mesmas estavam em condições saudáveis
para serem consumidas (TRUBILIANO; SILVA, 2013, p. 209).
Figura 17
Automóvel responsável pelo transporte da carne do matadouro
até os açougues de Campo Grande
Fonte: http://datasefatoshistoricos.blogspot.com.br/search?updated-max=2013-10-12T08:44:00-
07:00&max-results=7&reverse-paginate=true&start=7&by-date=false
Ao que consta, o matadouro foi inaugurado em 1912; todavia Nicola Verlangieri não
ficou muito tempo à frente desse empreendimento, “devolvendo à intendência municipal, que
passou a operá-lo sob a denominação de Matadouro Público Municipal”
(http://datasefatoshistoricos.blogspot.com.br/search?updated-max=2013-10-12T08:44:00-07:00&max-
results=7&reverse-paginate=true&start=7&by-date=false). Os motivos que levaram Nicola Verlangieri
a abrir mão da concessão do referido matadouro são desconhecidos, todavia não deixa de ser
importante sua atuação nesse ramo, visto que foi responsável pela construção do primeiro
matadouro de Campo Grande.
147
R. Cardoso & Cia.
Essa casa comercial apresenta uma exceção, pois das empresas estudadas é a única que
apresenta uma mulher como sócia-proprietária. Além do mais, a mato-grossense Rosalina de
Carvalho Cardoso era a única sócia capitalista. No período em que essa empresa foi
constituída, as mulheres eram tidas pelo Estado como seres incapazes e só podiam atuar em
algum negócio com a plena autorização do marido, através de uma procuração. No caso aqui
apresentado, não foi diferente, pois no primeiro parágrafo do contrato já se elucida tal fato,
expressando que: “Rosalina de Carvalho Cardoso, natural deste estado, casada e devidamente
autorizada por seu marido, o alferes do Exército Candido Teixeira Cardoso, conforme
documento junto em original” etc. (JUCEMAT - Livro de Registros de 1899-1904, p. 26, destaques
meus).
Assim, foi constituída a sociedade da Casa R. Cardoso & Cia., sendo seu sócio de
indústria o mato-grossense Manoel Leopoldino, em 15 de setembro de 1900, com duração de
2 anos, podendo ser prorrogado o contrato. De fato, o capital empregado por Rosalina era
originário de sua casa de comércio já existente, avaliada em 30 contos de réis. Os lucros
líquidos ficaram divididos da seguinte forma: 60% para Rosalina, 35% para Manoel
Leopoldino e 5% para o funcionário da casa, Vicente Ferreira Bruno, que além dessa
porcentagem teria direito a 160 mil réis mensais. Além do capital, a empresa estava
estabelecida em uma casa que pertencia a Rosalina de Carvalho Cardoso e foi alugada à
sociedade por 100 mil réis mensais. Ademais, tanto os sócios quanto Vicente Ferreira
poderiam retirar da casa mercadorias para suprimento de suas famílias a preço de custo,
embora não pudessem exceder entre mercadorias e dinheiro os valores estipulados para cada
um; assim, Rosalina Cardoso podia retirar até 6:000$000 (seis contos de réis) anuais, já
Manoel até 4:800$000 (quatro contos e oitocentos mil réis) e Vicente 1:200$000 (um conto e
duzentos mil réis). A empresa R. Cardoso & Cia. estava localizada na praça do Ipiranga, à rua
13 de Junho, principal rua comercial de Cuiabá (JUCEMAT - Livro de Registros de 1899-1904, p. 27).
Apesar de ter encontrado poucas informações a respeito dessa empresa, ela apresenta
aspectos sociais e culturais de uma época, ao mesmo tempo em que podemos ver a
interessante atuação da mulher no ramo dos negócios.
148
Domingos Dorsa & Irmão
Os italianos Domingos e Paulo Dorsa chegaram a Cuiabá em 1897, momento propício
para investir no comércio mato-grossense. Apesar dos irmãos Dorsa terem iniciado suas
atividades comerciais separadamente (PÓVOAS, 1989, p. 78), fundaram em 13 de dezembro de
1900 a Casa Domingos Dorsa & Irmão, com um capital modesto de apenas 27 contos de réis.
Sendo 15 contos pertencentes a Domingos e 12 contos a Paulo Dorsa, capital esse
representado por mercadorias, móveis, utensílios e animais, originários de seus antigos
estabelecimentos individuais54 (JUCEMAT - Livro de Registros de 1899-1904, p. 28-29).
Essa empresa apareceu nos destaques do Almanak Laemmert durante as duas primeiras
décadas do século XX, entre os comerciantes mais importantes de Cuiabá. A presença da casa
Dorsa & Irmão, como ficou conhecida, é notória, pois foi a responsável pela importação do
primeiro automóvel de Cuiabá, um landaulet, da marca Fiat, vendido ao estado de Mato
Grosso na gestão do presidente Dom Aquino Corrêa (1918-1922). De fato, essa empresa
atuou até o ano de 1924, quando os sócios decidiram liquidá-la. Mas, ao que parece, a sua
liquidação chegou ao final não por dificuldades financeiras, pelo contrário: segundo consta, os
sócios haviam adquirido propriedades em seu país de origem, em Nápoles e Calábria. Assim,
o motivo para o encerramento da empresa foi a volta de Paulo Dorsa para a Itália, uma vez
que seu irmão já havia regressado a sua terra natal, deixando os negócios ao encargo de Paulo
– que havia constituído família em Cuiabá, através do casamento com Delfina Corrêa, com
quem teve dez filhos, sendo 6 brasileiros e 4 italianos. Talvez esse tenha sido o motivo pelo
qual tenha demorado mais tempo para querer regressar a Itália, pois sua esposa era mato-
grossense. Mas segundo consta, foi através dos inúmeros “apelos dos irmãos” que resolveu
vender seu estoque e voltar para a Itália, levando toda a sua família (PÓVOAS, 1989, p. 80).
Pedro Torquato & Cia.
Situada à rua Treze de Junho, nº 3, estava a casa comercial Pedro Torquato & Cia.,
uma empresa de capital e indústria. Inicialmente essa empresa era constituída pelos brasileiros
Pedro Torquato Leite da Rocha e Francisco Ramos da Silva. Mas, em 14 de abril de 1902,
essa sociedade tem uma nova composição social, pois com a saída do sócio de indústria
54 Veremos mais adiante que Domingos Dorsa antes era sócio de Caetano Blais, na casa comercial Blais &
Dorsa, na vila de Rosário.
149
Francisco Ramos da Silva, entra, em sua substituição, Fabio Freire. O capital da casa
comercial, que era de 105 contos de réis, pertencentes ao sócio Pedro Torquato, é acrescido de
8 contos de réis, inteirados por Fábio Freire. A gerência e o caixa da empresa eram de
responsabilidade de Pedro Torquato. A participação do sócio de indústria nos lucros era de
25% e ele podia retirar 300 mil réis por mês. Enquanto os outros 75% dos lucros líquidos
pertenciam a Pedro Torquato, quem, além disso, podia retirar até 600 mil réis por mês
(JUCEMAT - Livro de Registros de 1899-1904, p. 58-59).
Destacamos aqui que o capital da empresa passou a ser de 113 contos de réis, uma
importante quantia para a época. Além do mais, esse novo contrato tinha validade de 4 anos.
Pelas fontes analisadas, não tomamos conhecimento de alterações ou distrato dessa sociedade.
Henrique Hesslein & Sergel
Os alemães Henrique Hesslein e Carlos Sergel formaram sociedade, em 2 de julho de
1910, para atuar no ramo da importação e consignação, com duração de 3 anos e meio. Essa
casa comercial foi sucessora da antiga firma individual Henrique Hesslein, de Cuiabá; além
disso, possuía uma filial na cidade de Corumbá (Album graphico, 1914, anúncios, p. XI). O capital
constituinte da empresa era significativo, contando com 250 contos de réis; o capital do sócio
Henrique Hesslein era de 225 contos, distribuídos em mercadorias, em dívidas ativas e
dinheiro, enquanto o sócio Carlos Sergel contribuiu para a sociedade com 25 contos de réis,
em espécie. Além disso, também ficou estabelecido que o capital efetivo de cada sócio
venceria juros de 8% ao ano, e esse valor seria deduzido antes de verificar os lucros da
empresa (JUCEMAT - Livro de Registros de 1910-1913, p. 1).
150
Figura 18
Interior da casa Henrique Hesslein & Sergel
Fonte: Album graphico, 1914, anúncios, p. XII.
Com o tempo, a firma Henrique Hesslein & Sergel passou também a realizar
exportação direta de borracha, couros vacuns e penas de garça; além disso, tornou-se
correspondente do Banco Alemão Transatlântico e do Brasilianische Bank Für Deutschland.
A casa comercial tinha uma seção especial para cobrança de saques, ou seja, o pagamento de
produtos importados. Ademais, essa empresa apresenta um diferencial, já que a importação
era exclusiva para a venda no atacado (Album graphico, 1914, anúncios, p. XI).
O contrato da empresa foi renovado por várias vezes, sendo o último do qual tomei
conhecimento realizado em 15 de setembro de 1927 (JUCEMAT - Livro de Registros 1914-1919,
p.57-58).
Outras empresas
Também se estabeleceram em Cuiabá outras empresas, além das mencionadas acima;
contudo, os dados sobre as mesmas são limitados, pois tomamos conhecimento da sua
existência somente através de anúncios, no já citado Album graphico do Estado de Matto
Grosso. Essas empresas são: Adolpho Brandes e Paulo Schmidt & Jorge Andreas.
A casa comercial Adolpho Brandes, com meia página de anúncio no Album graphico,
nos informa que atuava no ramo da importação, exportação e representação. Essa
151
representação, por sua vez, não se limitava a empresas nacionais, pois representavam também
Oscar Goetz & Cia., de Hamburgo, na Alemanha, S. Albrecht & Cia., de Manchester, e
Francesco Cinzano & Cia., de Corino, na Itália (Album graphico, 1914, anúncios, p. XVI).
Paulo Schmidt & Jorge Andreas estava localizada à rua do Rosário, nº 1. Essa casa
comercial, além da importação e exportação, atuava no ramo da comissão e consignação.
Todavia, apresenta um diferencial, pois além de ser especialista na importação de tecidos
ingleses, trabalhava somente com venda por atacado (Album graphico, 1914, anúncios, p. XV).
3.2. Casas comerciais importadoras e exportadoras de Cáceres
Inicialmente Vila Maria, depois São Luiz de Cáceres e atualmente somente
Cáceres, situada à margem esquerda do rio Paraguai, próxima à fronteira com a Bolívia, teve
suas condições alteradas quando da abertura da navegação internacional por esse rio, em fins
da década de 1850. Essa mudança se acentua a partir de 1870, após a guerra da Tríplice
Aliança contra o Paraguai, uma vez que ocorre um impulso populacional e econômico,
ocasionado principalmente pelo fluxo de imigrantes italianos, portugueses e espanhóis
(GARCIA, 2014, p. 75). Tornando-se o terceiro polo comercial mais importante do estado de
Mato Grosso, Cáceres agremia casas comerciais de importação e exportação de grande
capital. Além disso, grande parte da borracha exportada de Mato Grosso tinha trânsito
obrigatório por Cáceres, principalmente as remessas que vinham da região de Diamantino.
Em torno de São Luiz de Cáceres encontravam-se grandes estabelecimentos de
exploração da pecuária, como a empresa Descalvados, propriedade que adentrava o território
boliviano, facilitando assim as práticas corriqueiras de contrabando nas áreas fronteiriças.
Ademais, os “desvios” não eram praticados somente na exploração da pecuária, mas também
de outros produtos, principalmente o da borracha, como veremos no capítulo 4.
José Dulce & Cia.
O italiano José Dulce deixou sua terra natal (Gênova, na Itália) ainda muito
jovem, fazendo o percurso de muitos outros estrangeiros que em Mato Grosso chegaram, ou
seja, passou um tempo em terras argentinas, local em que iniciou suas atividades comerciais.
Consta que José Dulce acompanhou as tropas argentinas durante a Guerra do Paraguai como
152
vendedor ambulante, momento em que conhece Mato Grosso; e, chegado ao fim o show de
horrores que assolou as nações envolvidas nesse conflito, José Dulce sobe o rio Paraguai e
chega a Corumbá, onde se empregou em uma importante casa comercial. Todavia, logo
depois, seguiu viagem pelo mesmo rio Paraguai até São Luís de Cáceres, onde se estabeleceu
em 1871, com 23 anos de idade (MENDONÇA, 1914, p. 357).
Chegando a São Luiz de Cáceres, no mesmo ano José Dulce abriu casa
comercial, empresa que viria a ficar conhecida como Ao Anjo da Ventura. Mais tarde,
associou-se com Leopoldo Ambrósio e João Nilo, em 2 de março de 1901. Essa nova empresa
foi composta com um capital de 500 contos de réis, dividido nas proporções citadas no quadro
abaixo.
Quadro 11
Composição da empresa José Dulce & Cia. (1901)
Sócios Nacionalidade Capital % nos
lucros
José Dulce Italiano 300:000$000 60%
João do Nilo Brasileiro 150:000$000 29%
Leopoldo Ambrósio Italiano 50:000$000 11%
Fonte: JUCEMAT - Livro de Registros de 1899-1904, p. 43.
Leopoldo Ambrósio havia chegado a São Luíz de Cáceres ainda criança,
acompanhando seus pais João e Carolina Ambrósio, “a convite do amigo e parente José
Dulce”. Seu nome de batismo era Leopoldo Livio D’Ambrosio, mas foi naturalizado
brasileiro com o nome de Leopoldo Ambrósio (PÓVOAS, 1989, p. 177).
Como nas demais empresas aqui estudadas, os contratos preestabeleciam a
duração da sociedade, todavia, essa poderia ser renovada. Dessa maneira, em 1912 foi
celebrado um novo contrato, e nele o capital permanece o mesmo, mas a sua distribuição e a
porcentagem dos lucros sofre uma alteração considerável. Assim, o capital de José Dulce
passou a ser 450 contos, e com direito a 60% dos lucros; já Leopoldo Ambrósio permaneceu
com seus 50 contos, mas passou a ter direito a 30% dos lucros. Nesse novo contrato, o
interessado da firma, também conhecido como sócio de indústria, José Bonifácio Pinto de
Arruda, ficou com direito a 10% dos lucros da empresa (JUCEMAT -Livro de Registros de 1910-
1913, p. 122).
153
A casa José Dulce & Cia., além de atuar na importação e exportação, era
representante do Banco do Brasil, assim como banqueiros das sociedades Caixa Geral das
Famílias, Tranquilidade e Sul América. A especialidade de produtos importados da casa Ao
Anjo da Ventura eram: “tecidos, perfumarias, louças, cristais, móveis, ferragens, drogas,
chapéus, roupas masculinas e femininas, artigos de fantasias, armas de fogo, calçados e
arreamento” (Album graphico, 1914, anúncios, p. LI). Ademais, possuíam terras para a exploração
pecuária no entorno do rio Sepotuba, denominada Fazenda Sant Ignacio ou Porto do Campo,
com aproximadamente 3 mil e quinhentas cabeças de gado vacum, sendo que as terras de
todas as propriedades rurais chegava a um total aproximado de 70 mil hectares, sendo todas
no município de Cáceres (Album graphico, 1914, anúncios, p. LII).
Figura 19
Casa Ao Anjo da Ventura
Fonte: Album graphico, 1914, anúncios, p. LI.
A casa José Dulce & Companhia atuava também no ramo da navegação, utilizando
para isso o vapor Etruria, com acomodações para 18 pessoas viajarem de 1ª classe. Esse
vapor era responsável pela linha regular entre São Luiz de Cáceres e Corumbá (Album graphico,
1914, anúncios, p. LI).
154
Figura 20
Vapor Etruria
Fonte: Album graphico, 1914, anúncios, p. LI.
Grande Armazém Mercantil de João Campos Widal
O empresário e advogado João Campos Widal nasceu em São Luiz de Cáceres, em 28
de janeiro de 1863, e tornou-se 2º Notário Público, além de ter fundado uma escola de
Segundas Letras, a qual esteve sob sua direção. Aproveitando o momento propício para
ingresso no comércio, deixou o funcionalismo público, em 1888, para estabelecer casa
comercial, sob a denominação Grande Armazém Mercantil de João Campos Widal. De
acordo com as informações que constam no anúncio publicado no Album graphico, seu
armazém, como era conhecido, teve origem modesta, comercializando somente na praça de
São Luiz de Cáceres. Com o tempo, foi agremiando notoriedade, estendendo suas ligações
comerciais; primeiro com a cidade de Corumbá, e em 1890 já havia conseguido alcançar as
praças de Montevidéu e Rio de Janeiro. E, dada a expansão dos negócios, “no ano
subsequente recebeu sua primeira fatura da Inglaterra” e depois passou a trabalhar com “todas
as praças do velho e novo mundo”. Com a prosperidade dos negócios, abriu uma filial na
mesma cidade, a qual estava sob a gerência de Alfredo Julio Granja (Album graphico, 1914,
anúncios, p. LIV).
Raphael Pinto de Arruda
A casa comercial de Raphael Pinto de Arruda, denominada Ao Clarão da Lua e
localizada à rua General Deodoro, nº 1, era especialista na importação de “fazendas em geral,
perfumaria, armarinhos, ferragens, drogas e especialidades farmacêuticas, conservas e bebidas
em grande sortimento, chapéus, artigos para fumantes, calçados e arreamento, bolachinhas
155
inglesas e nacionais”. A exportação, por sua vez, era de couros e poaia (Album graphico, 1914,
anúncios, p. LV).
Figura 21
Interior da Casa Raphael Pinto de Arruda
Fonte: Album graphico, 1914, anúncios, p. LV
Irmãos Esteves
A casa Irmãos Esteves foi fundada em 1895 e estava situada à rua Antônio Maria, nº 7.
E era sucessora da empresa Americo Ferreira do Valle. Os proprietários da casa eram os
irmãos Hildebrando Esteves e João Carlos Esteves. A casa trabalhava com a importação em
geral de produtos nacionais e estrangeiros, a exportação realizada era de couros e poaia (Album
graphico, 1914, anúncios, p. LVI).
3.3 Casas comerci ai s i mportadoras e exportadoras de Mi randa
Como mencionado anteriormente, o surgimento de Miranda esteve ligado ao
estabelecimento do fortim homônimo e “com o correr dos tempos foram-se agremiando nas
suas circunvizinhanças alguns moradores que se entregavam exclusivamente à lavoura e a
criação de gado”. Então, em 1857, sua povoação foi elevada à categoria de vila (MARQUES,
1914, p. 404). Em Miranda, existiram casas comerciais de importação e exportação sob o forte
domínio da família Rebuá. Sobre as casas comerciais dos Rebuá, foi possível tomar maior
conhecimento devido aos dados encontrados em inventários da Família Rebuá, disponíveis no
arquivo do Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso do Sul, em Campo Grande. Tais
casas e informações sobre seus proprietários e familiares são tratadas a seguir.
156
Frate lli Rebuá
Através do inventário de Maria Antônia Rebuá foi possível tomar conhecimento da
existência da casa comercial Fratelli Rebuá, pertencente aos irmãos Geasone e Antônio
Rebuá. De fato, esse inventário dos bens deixados pela esposa do sócio Antônio Rebuá nos dá
uma ideia do capital da empresa em 1890; da mesma forma, também é possível deduzir que a
mesma empresa já atuava em Miranda pelo menos na década de 1880, o que não significa que
ela não poderia ter iniciado suas atividades anteriormente.
Antonio Rebuá ficou viúvo em 1890, aos 44 anos de idade e com três filhas: Selvagia
(10 anos), Reza (6 anos) e Anna (11 meses) (TJMS - Inventário de Maria Antonia Rebuá, 1890-1894).
Os bens do casal Maria Antonia e Antonio Rebuá são representados pela tabela a seguir:
Tabela 37 : Arrolamento de bens do casal Antônio e Maria Rebuá em 15 de
novembro de 1892
Fonte: TJMS - Inventário de Maria Antonia Rebuá, 1890-1894
No entanto, os valores obtidos através de inventários devem ser questionados, uma vez
que “os preços atribuídos aos itens descritos neste tipo de documento não resultam de uma
transação comercial propriamente dita, mas sim de uma avaliação feita, a priori, sem a
intenção de comercialização dos bens arrolados”. Além disso, os preços estavam sujeitos à
subjetividade dos avaliadores, que “certamente gozavam de reputação e prestígio para serem
escolhidos para tal função” (COSTA, 2013, p. 2). Dessa maneira,
Bens Valor Mercadorias gerais 16:820$160
Aviamentos 14:567$500
Móveis e utensílios 4:320$000
Dívidas garantidas 15:640$734
Dívidas não garantidas 1:986$168
Dívidas de letras 3:999$570
Dívida do governo da República 15:000$000
Dinheiro em caixa 18:030$156
Total 90:364$288
157
entendemos ser crucial considerar que eles estavam imersos nas teias das relações políticas, sociais e econômicas das sociedades em que viviam. Dessa forma, aventamos a possibilidade de que, em muitos casos, interesses mais imediatos pudessem interferir na avaliação dos bens arrolados, contribuindo para superestimar os preços ou depreciá-los, conforme o emaranhado de situações que incidiam sobre os avaliadores no desenrolar de suas experiências sociais. Nestes casos, a suposta neutralidade subjacente ao juramento que prestavam certamente ficava restrita ao campo das formalidades, sendo marginalizada na prática (COSTA, 2013, p. 3).
Ressaltadas tais subjetividades, nas quais todo documento histórico está imerso, ainda
é possível ter nos inventários e testamentos uma importante fonte. Assim, dos bens acima
mencionados, a quantia de 73:602$523 (setenta e três contos, seiscentos e dois mil,
quinhentos e vinte e três réis) era correspondente ao capital que cabia ao casal na sociedade da
empresa Fratelli Rebuá, no balanço de 1892 (TJMS - Inventário de Maria Antônia Rebuá, 1890-1894).
O que significa que a empresa possuía um capital maior do que o supracitado, já que ela tinha
dois proprietários. Apesar do cuidado que o historiador deve ter ao lidar com inventários,
ainda é possível concluir que esse ramo de negócios já era lucrativo nas duas últimas décadas
do século XIX.
Entretanto, a casa comercial citada não aparece entre os registros de comerciantes de
Miranda no ano de 1905 (Almanak Laemmert, 1905, p. 1.718). De fato, no início do século XX,
como veremos a seguir, Geasone Rebuá aparece como proprietário de outra firma. Ademais,
vale ressaltar que os irmãos italianos Geasone e Antonio Rebuá (Correio do Estado, 22 de maio de
1909, p. 8) participaram da fundação da Sociedade Italiana de Beneficência na cidade de
Corumbá no ano de 1892 (PÓVOAS, 1989, p. 203).
Geasone Rebuá & Cia.
A empresa Geasone Rebuá & Cia. tinha como sócio principal Geasone Rebuá, antigo
sócio da Fratelli Rebuá. O mesmo era casado com Henriqueta Pereira Rebuá, a qual falece em
15 de setembro de 1901, deixando 17 filhos, citados no quadro abaixo:
158
Quadro 12
Filhos do casal Henriqueta Pereira Rebuá e Geasone Rebuá
Filhos Estado civil Idade
Elvira Rebuá Candia Casada 31
Amélia Rebuá de Camargo Casada 29
Angelo Rebuá Casado 28
Antonia Rebuá Ribeiro Casada 27
Rosalina Rebuá Araújo Casada 25
Emilia Rebuá Moliterno Casada 24
Pylades Rebuá Solteiro 22
Edelmira Rebuá Solteira 20
Celma Rebuá Candido Casada 18
Irene Rebuá Machado Casada 17
Lydia Rebuá Solteira 16
Francisco Rebuá Solteiro 14
Herminia Rebuá Solteira 12
Pedro Rebuá Solteira 9
Elvira Rebuá Solteira 7
Oreste Rebuá Solteiro 6
Antonio Rebuá Sobrinho Solteiro 4
Fonte: TJMS - Inventário de Henriqueta Pereira Rebuá, 1902
Essa empresa era constituída de duas casas comerciais, a matriz em Miranda e a filial
em Aquidauana. Podemos ter uma noção do capital dessa empresa com base no arrolamento
dos bens pertencentes ao casal Geasone e Henriqueta Rebuá. Assim, no balanço realizado em
17 de novembro de 1902, a matriz possuía em mercadorias o equivalente a 151:135$373
(cento e cinquenta e um contos, cento e trinta e cinco mil, trezentos e setenta e três réis) e no
caixa da empresa a quantia de 4:044$100 (quatro contos, quarenta e quatro mil e cem réis).
Em sua filial, as mercadorias foram avaliadas em 19:902$631 (dezenove contos, novecentos e
dois mil, seiscentos e trinta e um réis) e o dinheiro em caixa constituía a quantia de 1:007$500
(um conto, e sete mil e quinhentos réis). Essas casas comerciais eram lucrativas, pois em um
mês, as mercadorias vendidas somaram 16:708$582 (dezesseis contos, setecentos e oito mil e
quinhentos e oitenta e dois réis) (TJMS - Inventário de Henriqueta Pereira Rebuá, 1902).
Todavia, o capital aqui apresentado não representa na íntegra o valor do capital da
empresa, visto que era uma empresa com pelo menos mais um sócio, já que o nome da
empresa era Geasone Rebuá & Companhia. Apesar das precauções tomadas ao considerar os
159
valores acima citados, ainda é possível concluir que a empresa era bem-sucedida, pois o casal
tinha outras posses. E os bens e dívidas ativas somadas equivaliam a 1.031:480$701 (um mil
e trinta e um contos, quatrocentos e oitenta mil, setecentos e um réis). Entre os bens
encontravam-se: casas comerciais, terrenos urbanos situados em Miranda e Corumbá,
fazendas, serraria e embarcações (TJMS - Inventário de Henriqueta Pereira Rebuá, 1902-1903).
Depois de pagos os direitos aos herdeiros supracitados, a firma Geasone Rebuá
continuou atuando em Miranda. Entretanto, apesar do nome da empresa continuar sendo
Geasone Rebuá, ele não aparece entre os sócios, quando da dissolução da empresa em
dezembro de 1913. Nesse momento, aparece o nome de seu filho Pylades Rebuá entre os
sócios, sendo os demais integrantes da firma: Afonso Calgagui, Raphael Candia, Pompeo de
Camargo (JUCEMAT - Livro de Registro, 1913-1914, p. 90-91). Pylades Rebuá, por sua vez, além de
comerciante foi figura política, sendo eleito deputado estadual (Correio do Estado, 9 de novembro
de 1911) e prefeito de Miranda (COSTA, 2010, p. 103). Além disso, era proprietário de uma olaria
em Miranda, no ano de 1935 (Almanak Laemmert, 1935, p. 542).
Angelo Rebuá & Irmão
Seguindo o caminho do pai, os irmãos Angelo e Francisco Rebuá estabeleceram a casa
comercial importadora e exportadora Angelo Rebuá & Irmão, em 1908, que veio a suceder a
empresa individual Angelo Rebuá. Sendo os integrantes dessa nova firma, Angelo Rebuá
como sócio capitalista e Francisco Rebuá como sócio de indústria (Album graphico, 1914,
anúncios, p. LVIII), ambos herdeiros da fortuna de Henriqueta Pereira Rebuá. Em 1902, Angelo
Rebuá morava em Aquidauana, e provavelmente, nesse período, era responsável pela filial da
casa Geasone Rebuá & Cia. ali situada, local onde deve ter iniciado suas atividades
comerciais (TJMS - Inventário de Henriqueta Pereira Rebuá, 1902).
Essa empresa era importadora “com relações diretas nas principais praças do Brasil e
do rio da Prata” e possuía as fazendas Pastinho e Bocaina, as quais eram utilizadas para a
criação de gado vacum e suíno. Dedicava-se à exportação, especialmente de couros vacuns e
crina, os quais, em sua maioria, eram provenientes das fazendas citadas (Album graphico, 1914,
anúncios, p. LVIII). A empresa era proprietária de duas chatas e da lancha Agachy, que se
ocupava do transporte de cargas e passageiros até Corumbá (Correio do Estado, 31 de julho de 1909,
p. 2). Mais tarde, adquiriram a lancha Elba e a chata Pedro II, que oferecia “acomodações de
camarotes, cozinha, e mais dependências”. A lancha Agachy estava sob comando de
Francisco Rebuá (Idem, 26 de fevereiro de 1910, p .2).
160
Conforme evidências, em 1916 o contrato da empresa Angelo Rebuá sofre alterações,
momento em que entra para a sociedade Ludgero Albuquerque (JUCEMAT - Livro de Registro de
jul. 1914-set. 1919, p. 234).
Figura 22
Antiga casa comercial Angelo Rebuá, construída na primeira década do século XX
Fonte: Prefeitura Municipal de Miranda, 2010, apud SANTOS, 2011, p. 31.
No ano de 1918 essa empresa entra em liquidação, mas os mesmos, antes da
liquidação chegar ao final, participaram de uma licitação para fornecimento de dormentes de
madeira para a construção da Estrada de Ferro Itapura a Corumbá, conforme contrato:
declarou o senhor diretor interino que, havendo a referida firma concorrência [sic] satisfeito todas as exigências da lei e estando a sua proposta dentro do preço máximo estipulado pela diretoria da Estrada, em virtude da cláusula quinze do mesmo edital e a única apresentada para o fornecimento de dormentes no trecho compreendido entre Campo Grande e Porto Esperança, proposta essa que a referida firma apresentou, antes de entrar em liquidação e que foi publicada no Diário Oficial de vinte e sete de janeiro de mil novecentos e dezoito, tendo sido aberta e lida após o julgamento de idoneidade da firma proponente [...], resolvia, de acordo com o edital de concorrência, aceitar a referida proposta e contratar com Angelo Rebuá & Irmão, ora em liquidação, o fornecimento de dormentes de madeira de lei de primeira (Diário Oficial da União, 24/03/1918).
161
Para que esse contrato entrasse em vigor, a empresa Angelo Rebuá & Irmão deveria
efetivar um depósito caução de dez contos de réis (10:000$000), que poderia ser em moeda
corrente ou em apólices da dívida pública, os quais deveriam ser depositados no Tesouro
Nacional. Esse valor, depositado como segurança, seria devolvido quando chegasse o fim do
contrato, em 31 de dezembro de 1918, e a empresa Angelo Rebuá & Irmão tivesse cumprido o
que o contrato estabelecia. Ou seja, a entrega de trinta mil dormentes (30.000), todos “de
madeira de lei de primeira classe, empilhados à margem da linha da mesma Estrada no trecho
citado entre Campo Grande e Porto Esperança, ao preço de 35$000 (trinta e cinco mil réis)
cada dezena”. Além disso, a extração da madeira deveria ser realizada nos meses de maio,
junho, julho e agosto e deveria fornecer por mês pelo menos a décima parte do que foi
contratado (Diário Oficial da União, 24/03/1918, p. 419-420).
Chega ao fim a liquidação da empresa Angelo Rebuá & Irmão, momento em que
Francisco Rebuá deixa a sociedade com seu irmão e recebe um capital de 20:787$798 (vinte
contos, setecentos e oitenta e sete mil, setecentos e noventa e oito réis). Então, uma nova
firma foi formada, sob a razão social de Rebuá & Albuquerque, em 12 de maio de 1919,
permanecendo os antigos sócios Angelo Rebuá com 70% e Ludgero de Albuquerque com
30% do capital, que somava a quantia de 224:897$401 (duzentos e vinte quatro contos,
oitocentos e noventa e sete mil, quatrocentos e um réis) (JUCEMAT - Livro de Registro de jul. de
1913 a set. 1919, p. 235).
Angelo Rebuá diversifica ainda mais seus investimentos, pois no dia 21 de julho de
1929 é inaugurada a Usina de Açúcar Santo Antônio Ltda., tendo por sócios: Antônio Ferreira
Cândido, José Theófilo de Araújo, Egino Guedes, Francisco e Angelo Rebuá
(http://www.ilovemsoficial.com/2012/08/pontos -turisticos-de-miranda.html, acessado em 28 de fevereiro).
162
Figura 23
Edificação Industrial Usina Açucareira Santo Antonio Ltda.
Fonte: Prefeitura Municipal de Miranda 2010, apud SANTOS, 2011, p. 31.
Já no ano de 1935, as evidências indicam que, da citada empresa, somente Angelo
Rebuá continuava no ramo empresarial, pois era exportador de frutas, apicultor e possuía
fábrica de biscoitos e outra de macarrão. Além disso, estava entre os oito capitalistas da
cidade de Miranda (Almanak Laemmert, 1935, p. 542). As frutas podem ser um indício de que a
experimentação que Angelo realizou na primeira década do século XX foi bem-sucedida, pois
havia iniciado “um bem cuidado campo de experimentação para a lavoura, empregando
máquinas modernas, aratórias, irrigação e sulfatagem”, onde dedicava-se “com preferência a
flori-, horti- e fruticultura, bem com a experiências quanto à aclimatização de plantas
exóticas” (Album graphico do Estado de Matto-Grosso, 1914, anúncios, p. LVIII).
3.4 Casa comercial importadora e exportadora de Porto Murtinho.
Porto Murtinho teve seu surgimento ligado à Companhia Mate Laranjeira, como
apontado, anteriormente, no capítulo 1. Nessa nova localidade, tomamos conhecimento
somente do surgimento de uma casa comercial importadora e exportadora, da qual trataremos
a seguir.
163
Victor Lasclotas
O surgimento da casa comercial Victor Lasclotas está atrelada ao surgimento de Porto
Murtinho. O novo porto mato-grossense começou a funcionar em 1894, mas foi somente em
1898 que foi instalada a primeira casa comercial. O empresário responsável por tal feito foi o
espanhol Victor Lasclotas, quem, segundo consta no anúncio por ele publicado no Album
graphico, viu na nova região uma oportunidade de crescimento, e assim, conforme o
progresso da localidade, a empresa foi se desenvolvendo (Album graphico, 1914, anúncios, p. XLIX-
L).
Victor Lasclotas estabeleceu uma filial em São Roque, localidade que estava no outro
extremo da ferrovia do tipo Decauville, construída pela Mate Laranjeira para superar o trecho
alagadiço da estrada que ligava os ervais ao novo porto. A escolha por estabelecer uma filial
em São Roque está vinculada ao fato de que aquele era um ponto convergente da recepção de
produtos que eram destinados a exportação e, ao mesmo tempo, facilitava a venda de produtos
importados para Bela Vista e Ponta Porã. Essa empresa importava das seguintes praças:
Alemanha, Inglaterra, França e Espanha, assim como de Montevidéu e Buenos Aires; as
praças nacionais com as quais realizava negócios eram: Rio de Janeiro, Porto Alegre, Pelotas,
Pernambuco e São Paulo. A exportação era realizada diretamente para Hamburgo e
Montevidéu, através de comissários, sendo os produtos exportados a borracha de mangabeira,
cerdas e couros vacuns (Album graphico, 1914, anúncios, p. XLIX- L).
3.5 Casa comercial importadora e exportadora de Nioaque
Povoação fundada em 1848, à margem do rio Nioaque, mais tarde, em 1855, ganhou
um destacamento militar ligado ao Presídio de Miranda. Esse novo arranjo contribuiu para o
aumento populacional de Nioaque, que foi, todavia, arrasada durante a Guerra do Paraguai.
Após a guerra, a modesta povoação foi aos poucos ganhando novos habitantes e, entre eles,
alguns estrangeiros que ali se estabeleceram. Em 1890, Nioaque foi elevada à condição de
vila, e, conforme consta, no início da segunda década do século XX contava com cerca de 5
mil habitantes (MENDONÇA, 1914, p. 413).
164
Vicente Anastacio
O imigrante italiano Vicente Anastacio se estabeleceu em Nioaque logo após o
fim da Guerra do Paraguai, abrindo a Casa Vicente Anastacio em 1871. No ano seguinte,
estabeleceu, à margem esquerda do rio Aquidauana, uma filial (Album graphico, 1914, anúncios, p.
LIX), situada na fazenda Santa Maria, de sua propriedade, e ali foi se desenvolvendo um núcleo
populacional. A instalação dessa filial estava ligada à necessidade de um porto para receber as
mercadorias importadas, e a escolha da margem esquerda, segundo a fonte, encontra-se no
fato que do lado direito não era possível atracar as barcas. Vicente Anastacio chegou a Mato
Grosso acompanhado de seus irmãos Braz e Giuseppe e, logo que chegou a Nioaque, casou-se
com a mato-grossense Theodora Machado (GOMES, p. 142-143).
O desenvolvimento da casa comercial acompanhou o desenvolvimento da economia
da região sul de Mato Grosso. Assim, atuavam no ramo da importação, exportação, navegação
e representação bancária e terras para exploração extrativista. A casa Vicente Anastacio
importava produtos dos mais variados, entre eles, secos, molhados, ferragens e armarinhos, e
contava com novidades de vestuários atualizados com a moda vigente. No que se refere à
exportação, comercializava borracha, couros vacuns, crina, penas de garça e paina. Além
disso, Vicente Anastacio era banqueiro da Caixa Geral das Famílias, da Bonificadora e da
Companhia Sul América (Album graphico, 1914, anúncios, p. LIX).
As terras que a casa comercial possuía estavam localizadas na região de Nioaque,
denominadas de fazenda São João e fazenda Urumbeba, a primeira com cinco e a segunda
com duas léguas quadradas, as quais contavam com cerca de quatro mil cabeças de gado
vacum e quinhentas cabeças de gado cavalar. A casa comercial Vicente Anastacio possuía o
vapor Liguria, que rebocava as chatas Albuquerque e Aieta e realizava o percurso de
Aquidauana-Corumbá-Aquidauana, viagens essas subvencionadas pelo Governo de Mato
Grosso (Album graphico, 1914, anúncios, p. LX).
165
3.6 Casas comerciais importadoras e exportadoras de Aquidauana
A povoação de Aquidauana surgiu à margem do rio de mesmo nome, na última década
do século XIX, e se tornou ponto de ligação entre Campo Grande e Corumbá, agremiando
algumas casas comerciais de importação e exportação, algumas com matriz no local, assim
como filiais de grandes casas estabelecidas em Corumbá, Miranda, Nioaque.
Candia & Moliterno
Os irmãos italianos José e Fidelis Candia estabeleceram casa comercial importadora e
exportadora, primeiramente, em Nioaque, no ano de 1905. Mais tarde, no ano de 1908,
abriram uma filial à margem esquerda do rio Aquidauana, devido à importância daquele
porto. Depois, se associaram aos seus primos, também italianos, os irmãos Moliterno, no ano
de 1909, momento em que a Casa Candia & Irmão passa a denominar-se Candia & Moliterno
(MARTINS JUNIOR, 2012, p. 337-338).
Contudo, as fontes indicam que a casa Candia e Moliterno deixa de possuir casa
comercial em Nioaque, pois quando renovam a sociedade, em 192055, a matriz deixa Nioaque
e se estabelece em Aquidauana e a filial, por sua vez, em Campo Grande. Fato que demonstra
os rearranjos econômicos que o estado sofre no final da segunda década do século XX
(relacionados com a construção da E. F. Noroeste do Brasil). Também fica explícito que a
casa de Aquidauana estava sob os cuidados de José Candia e Vicente Moliterno, enquanto que
Raphael, Nicola e Angelo Moliterno, todos sócios, eram responsáveis pela empresa de Campo
Grande. Nesse contrato, não aparece o nome do antigo sócio Fidelis Candia. O capital da
empresa era de 222:765$559 (duzentos e vinte e dois contos, setecentos e sessenta e cinco mil
e quinhentos e cinquenta e nove réis), distribuídos entre as duas casas, sendo 122:765$559
(cento e vinte e dois contos, setecentos e sessenta e cinco mil e quinhentos e cinquenta e nove
réis) para a casa matriz e 100:000$000 (cem contos de réis) para a filial (JUCEMS - Livro de
Registros de Aquidauana, 1921-1928, p. 8). A participação de cada sócio na composição do capital
da empresa é explicitada, no quadro 13 a seguir.
55 O contrato tinha validade desde 1º de janeiro de 1920, mas foi registrado na Coletoria Estadual de Aquidauana
somente em 22 de agosto de 1921. Ademais, esse contrato tinha validade de 5 anos.
166
Quadro 13
Distribuição do capital de Candia & Moliterno,
segundo os sócios, no ano de 1921
Sócios Capital
José Candia 52:900$150
Vicente Moliterno 56:264$974
Raphael Moliterno 40:514$321
Nicola Moliterno 20:000$000
Ângelo Moliterno 55:086$114
Fonte: Livro de Registro de Aquidauana, 1921-1928, p. 8
Os lucros da empresa eram divididos de forma igualitária entre cada sócio,
independentemente da participação no capital; e todos tinham função de gerência na empresa
(JUCEMS - Livro de Registro de Aquidauana, 1921-1928, p. 9). Essa empresa teve forte atuação econômica
e social na região e suas atividades iam além da importação e exportação, pois eram
representantes de instituições bancárias nacionais e estrangeiras como o City Bank, dos
Estados Unidos da América, e a Sociedade Bonificadora, de Minas Gerais. Dentre os
produtos que comercializava, encontravam-se os mais variados, desde “vestido de noiva a
caixões funerários, de mobília doméstica, joias e vinhos importados, até uma simples carne
seca” (MARTINS JUNIOR, 2012, p.342).
A casa Candia & Moliterno alcançou enorme destaque não só no ramo econômico mas
também no sociocultural, uma vez que a atuação dessa empresa perdurou ao longo dos anos e
passou a integrar o patrimônio histórico-cultural da cidade de Anastácio. Esse município,
originado do antigo bairro aquidauanense, situado à margem esquerda do rio Aquidauana,
recebeu o nome em homenagem ao comerciante Vicente Anastacio.
E na sua longa história de atuação, a casa mantém até os dias atuais suas portas
abertas, preservando a fachada e os móveis antigos, na cidade de Anastácio. Essa casa sofreu,
ao longo dos anos, diversas alterações na razão social, mas mantendo o nome fantasia de Casa
Candia. E hoje a proprietária é Jandira Trindade, filha de um antigo funcionário que se tornou
sócio dos italianos proprietários da casa Candia & Moliterno
(https://delcueto.wordpress.com/2016/06/11/armazem-emporio -e-mercearia/).
167
Empório Cruzeiro do Sul
O italiano Raphael Orrico iniciou suas atividades no sul de Mato Grosso no ano de
1902, segundo consta em seu anúncio publicado no Album graphico. E mais tarde, viu em
Aquidauana um lugar propício, estabelecendo em 1910, em edifício próprio, a empresa
denominada Empório Cruzeiro do Sul, situada à rua Marechal Mallet. A empresa importava
os mais variados artigos como armarinhos, chapéus, molhados, ferragens, calçados, entre
outros, e exportava borracha mangabeira, couros vacuns, crina e penas de garça (Album
graphico, 1914, anúncios, p. LXI-LXII).
O empresário Raphael Orrico também estabeleceu em Aquidauana um espaço
cinematográfico, local que possuía acomodações para 800 pessoas, utilizando um
cinetoscópio adquirido em Paris. Além disso, anexado ao cinematógrafo, havia “um café bem
montado e uma bela sala de bilhar” (Album graphico, 1914, anúncios, p. LXI-LXII). Ao que parece,
esse aparelho foi o primeiro do sul de Mato Grosso, pois, em 1910, Raphael Orrico foi
responsável pela primeira exibição cinematográfica em Campo Grande (SÁ; CASTILHO, 2013, p.
242).
Esse empresário também atuou no campo político, pois no ano de 1916 parece na lista
de vereadores de Aquidauana (Almanak Laemmert, 1916, p. 2987) e nos anos de 1920 e 1924
como 2º vice-intendente municipal (http://www.cmaquidauana.ms.gov.br/intendentes -
gerais.html?tmpl=component&print=1).
3.7 Casas comerciais importadoras e exportadoras de Diamantino
A vila de Diamantino surgiu ainda no século XVIII, no auge da exploração aurífera. No
final do século XIX, essa localidade ganhou importância devido às transações comerciais da
borracha. Muitos comerciantes viram a oportunidade de lucrar nesse ramo, utilizando a
técnica que ficou conhecida como aviamento. Geralmente, nesse tipo de transação comercial
existiam três espécies de protagonistas: os seringueiros, os aviadores e os donos das terras
onde se explorava a borracha.56
A oportunidade da obtenção de lucros através do comércio em Diamantino e nas suas
redondezas levou diversos empresários a estabeleceram ali uma casa comercial. Dentre as
56 Essas relações são melhores explicadas no capítulo 4.
168
empresas constituídas existiam, como já apontado anteriormente, as filiais de grandes casas
comerciais estabelecidas em Cuiabá, Corumbá e São Luiz de Cáceres. Essas, em sua maioria,
representavam um duplo papel: o de aviador e dos barões da borracha, pois tinham suas
próprias concessões de terras para extrair a borracha e ao mesmo tempo forneciam os
suprimentos para os seringueiros, garantindo enormes lucros. Existiam também empresários
do próprio local, que se associaram a grandes comerciantes de outras cidades, constituindo
novas empresas, mas que estavam totalmente subordinadas a eles, atuando, assim, apenas
como aviadores. Além disso, também ocorreu o surgimento de pequenas empresas que eram
originárias do local.
Ponce, Vieira, Lapporte & Cia.
A empresa Ponce, Vieira, Lapporte & Companhia era uma sociedade de capital e
indústria. O capital pertencia à firma Ponce, Azevedo & Cia.57 (composta por Generoso Paes
Leme de Souza Ponce, João Lourenço de Figueiredo e Américo Augusto Caldas), e os sócios
de indústria eram João Vieira do Santos e Clemente Lapporte. A sociedade passou a ter
validade em 20 de fevereiro de 1900. O capital da empresa foi formado por 50 contos de réis,
composto principalmente por mercadorias, e a gerência ficou a cargo dos sócios de indústria
(JUCEMAT - Livro de Registro de 1899-1904, p. 10-11).
Temos aqui uma interessante forma de sociedade comercial, pois a empresa Ponce,
Azevedo & Cia. aproveitou a oportunidade de se estabelecer no centro da exploração da
borracha, sem investir muito. Ao mesmo tempo, também foi vantajoso para os sócios de
indústria, que precisaram apenas entrar para a sociedade com seu trabalho. Na divisão dos
lucros ficou estipulado que à empresa Ponce, Azevedo & Companhia caberiam 50% e aos
sócios de indústria 25% para cada um; e os lucros só poderiam ser retirados ao final do
contrato, que, no caso, era de um ano (op. cit., p. 11). Os sócios de indústria podiam retirar, para
suas despesas mensais, 250 mil réis (JUCEMAT - Livro de Registros de 1899-1904, p. 12).
Apesar da empresa Ponce, Vieira, Lapporte & Companhia não ser filial da Ponce,
Azevedo & Cia., ela se encontrava presa a algumas regras que limitavam seus poderes de
ação. Pois, a borracha ou qualquer outro produto que a mesma adquirisse deveria ser vendida
no exterior somente por intermédio da casa Ponce, Azevedo & Cia. (op. cit., p. 11).
57 A atuação dessa empresa, que teve inicialmente casa matriz em Cuiabá e depois em Corumbá, foi trabalhada
em minha dissertação de mestrado intitulada As casas comerciais importadoras/exportadoras de Corumbá
(1904-1915). Ver o Anexo a esta tese.
169
Essa associação teve vida efêmera, pois em um ano José Vieira deixa a sociedade com
um saldo devedor, referente às suas retiradas mensais no valor de 4:516$481 – valor que
deveria ser abatido de seus direitos, após realizar-se o balanço da empresa no dia 28 de
fevereiro de 1901 (JUCEMAT- Livro de Registros de 1899-1904, p. 41).
Com a saída do sócio José Vieira, foi formada a firma Ponce, Lapporte & Cia., que,
por sua vez, também não perdurou por muito tempo, pois menos de seis meses depois a nova
sociedade também é desfeita. Quando Clemente Lapporte deixa a sociedade, estava com um
débito junto a Ponce, Azevedo & Cia., num total de 5:680$260 (cinco contos, seiscentos e
oitenta mil, duzentos e sessenta réis), os quais seriam abatidos dos lucros quando fossem
verificados (JUCEMAT- Livro de Registros de 1899-1904, p. 52).
Concluímos aqui que a casa comercial situada em Diamantino, que estava antes sob as
razões sociais citadas acima, passou a ser uma filial da consolidada casa Ponce, Azevedo &
Cia.
Ferreira Mendes & Fontes
Essa casa comercial foi fundada pela importante figura diamantinense, o
desembargador Joaquim Pereira Ferreira Mendes e seu cunhado, o Tenente Coronel João José
Rodrigues Fontes, que se associaram para atuar nos ramos da exploração agropastoril e no
comércio de importação e exportação. Essa empresa foi constituída em 3 de fevereiro de 1900
com um capital de 100 contos de réis, pertencente em partes iguais aos sócios. Esse capital foi
formado pelos bens de ambos os sócios, sendo eles: dois imóveis urbanos, um na cidade de
Diamantino e outro em Cuiabá; terras e animais cavalares, muares e vacuns que ambos
possuíam em Diamantino; e, por fim, uma “casa de negócio herdada de seu finado pai e
sogro” (JUCEMAT- Livro de Registro de 1899-1904, p. 15-16).
A casa comercial ficou sob os cuidados do magistrado Joaquim Pereira Ferreira
Mendes, enquanto João José Rodrigues Fontes ficou responsável pela fiscalização e bom
andamento da lavoura e criação dos animais. Além disso, o tempo de duração dessa sociedade
era indeterminado (op. cit., p. 6). Contudo, o nome da empresa ou de seus sócios não aparecem
nos registros de exportação, o que se deve, provavelmente, ao fato de que os mesmos
deveriam utilizar outras empresas que trabalhavam com comissão e consignação para colocar
seus produtos no mercado exterior.
170
3.8 Casa comercial importadora e exportadora de Rosário
Em 1872, a freguesia do Rosário foi elevada à condição de Vila, e em 1914 contava
com cerca de 1.500 habitantes (MENDONÇA, 1914, p. 358). De fato, Rosário, assim como
Diamantino, sofreu o impacto econômico ocorrido por causa do advento da exploração da
borracha na circunvizinhança. E as casas comerciais que ali se instalaram seguiam os mesmos
moldes das que se estabeleceram em Diamantino. Todavia é importante assinalar que não
encontrei registros de outras casas com matriz na cidade de Rosário.
Blais & Dorsa
A sociedade da casa comercial Blais & Dorsa foi formada pelos italianos Caetano
Blais e Domingos Dorsa58, em 11 de dezembro de 1899. O objetivo dessa sociedade, além de
constituir casa comercial em Rosário, era o comércio ambulante pelo interior do estado
(JUCEMAT - Livro de Registro de 1899-1904, p. 8). Nessa forma de atuação comercial, conseguiam
vender ou trocar produtos importados por produtos destinados à exportação, alcançando
clientes nos lugares mais remotos.
O capital dessa empresa era modesto, com apenas 31 contos de réis, sendo 24
pertencentes a Caetano Blais e 7 contos a Domingos Dorsa. Essa sociedade durou apenas o
prazo estabelecido no contrato, que foi de um ano. No momento da dissolução, o capital da
empresa foi avaliado em 42 contos de réis, ficando Caetano Blais com a casa comercial, 13
animais arreados e dívidas para receber na vila do Rosário; já para Domingos Dorsa couberam
11 contos de réis, equivalentes a 11 animais arreados, as mercadorias ambulantes e dívidas a
receber no valor de 1:500$000 (um conto e quinhentos mil réis) (op. cit.).
58 O mesmo da casa comercial Dorsa & Irmão, da cidade de Cuiabá.
171
CAPÍTULO IV
A dinâmica das relações comerciais mato-grossenses
“Podemos dizer que todo grande negociante produzia a partir de si uma cadeia de endividamento que
coincidia, em grande parte, com sua rede de relações mercantis. Em outras palavras, relações
mercantis envolviam sempre, ou quase, a criação de relações de crédito” (Antonio Carlos Jucá de
Sampaio).
Foi na segunda metade do século XIX e nas primeiras décadas do século XX que se
intensificaram, em Mato Grosso, as relações comerciais em âmbito regional, nacional e
internacional. Neste capítulo, busco ilustrar parte dessas relações, demonstrando as redes
comerciais em que se inseriam algumas das principais casas comerciais do estado durante as
duas primeiras décadas do século XX.59.
No que diz respeito ao comércio exterior, convém inicialmente esclarecer que, nesse
período, as relações comerciais diretas estabelecidas pelo comércio mato-grossense – ao
contrário do que estamos acostumados a pensar – apresentavam-se relativamente restritas, ou
seja, limitavam-se aos vizinhos da América do Sul.
Para verificar essa situação, dispomos dos dados referentes à entrada de embarcações
estrangeiras nos portos mato-grossenses, dados esses fornecidos pelo Serviço/Diretoria de
Estatística Comercial do Ministério da Fazenda e que constam nas 3 tabelas seguintes60.
Esses dados, disponíveis para Corumbá, Porto Murtinho e Porto Esperança, indicam
que, entre 1901 e 1918, somente deram entrada nesses portos embarcações pertencentes à
Argentina, Uruguai, Paraguai e Bolívia – com a única exceção de duas entradas italianas,
registradas em Porto Murtinho, em 1910.
Vale notar que, conforme indicam os dados consultados, nos casos de Paraguai e
Bolívia, a recíproca também é verdadeira: no período analisado, os portos mato-grossenses
foram os únicos portos brasileiros que registraram entradas de embarcações paraguaias.
59 É conveniente observar que a comercialização da erva-mate (um dos mais importantes gêneros exportados por
Mato Grosso, nessa época) era realizada diretamente pela empresa que monopolizava os ervais, ou seja, esse
intercâmbio não envolvia as casas comerciais aqui estudadas.
60 Estas tabelas foram elaboradas por Paulo Roberto Cimó Queiroz, para um trabalho ainda inédito, e cedidas
para utilização nesta tese.
172
Quanto à Bolívia, o mesmo ocorreu entre 1910 e 1918 (sendo que em 1915 não houve entrada
de barcos bolivianos em portos brasileiros).
Tabela 38 – Corumbá: Entrada de embarcações estrangeiras a vapor
(inclusive entradas repetidas), por nacionalidade
Anos
Embarcações – por nacionalidades e total (nº de entradas)
Argentina Uruguai Paraguai Bolívia Outras Total
1901 5 6 29 0 0 40
1902 6 9 54 0 0 69
1903 7 15 39 0 0 61
1904 4 21 25 0 0 50
1905 17 13 8 0 0 38
1906 6 14 8 0 0 28
1907 10 12 9 0 0 31
1908 3 11 0 0 0 14
1909 23 8 17 0 0 48
1910 35 12 10 2 0 59
1911 54 19 2 0 0 75
1912 51 17 7 0 0 75
1913 53 16 22 0 0 91
1914 35 8 29 0 0 72
1915 30 3 48 0 0 81
1916 11 4 42 2 0 59
1917 11 5 36 9 0 61
1918 2 2 61 5 0 70
Total 363 195 446 18 0 1.022
Fonte: Publicações do Serviço / Directoria de Estatística Commercial do Ministério da
Fazenda – 1901-1918, in http://memoria.org.br.
173
Tabela 39 – Porto Murtinho: Entrada de embarcações estrangeiras a vapor
(inclusive entradas repetidas), por nacionalidade
Anos Embarcações – por nacionalidades e total (nº de entradas)
Argentina Uruguai Paraguai Bolívia Outras Total
1901 8 11 37 0 0 56
1902 7 8 37 0 0 52
1903 8 9 23 0 0 40
1904 8 9 14 0 0 31
1905 16 13 2 0 0 31
1906 11 11 13 0 0 35
1907 9 17 20 0 0 46
1908 3 9 0 0 0 12
1909 42 10 39 0 0 91
1910 68 8 11 1 2 90
1911 71 24 2 0 0 97
1912 77 23 15 0 0 115
1913 62 17 27 0 0 106
1914 35 9 32 0 0 76
1915 27 5 44 0 0 76
1916 12 6 41 2 0 61
1917 18 6 60 7 0 91
1918 1 7 110 9 0 127
Total 483 202 527 19 2 1.233
Fonte: Publicações do Serviço / Directoria de Estatística Commercial do Ministério da
Fazenda – 1901-1918, in http://memoria.org.br.
174
Tabela 40– Porto Esperança: Entrada de embarcações estrangeiras a vapor
(inclusive entradas repetidas), por nacionalidade
Anos
Embarcações – por nacionalidades e total (nº de entradas)
Argentina Uruguai Paraguai Bolívia Outras Total
1913 - - - - - - - - - - - - - - - - - -
1914 - - - - - - - - - - - - - - - - - -
1915 - - - - - - - - - - - - - - - - - -
1916 - - - - - - - - - - - - - - - - - -
1917 9 2 39 7 - - - 57
1918 2 3 64 6 - - - 75
Total 11 5 103 13 - - - 132
Fonte: Publicações do Serviço / Directoria de Estatística Commercial do Ministério da
Fazenda – 1913-1918, in http://memoria.org.br.
Retomando a discussão sobre as redes e práticas das casas comerciais mato-grossenses,
buscarei a partir de agora efetuar uma discussão com base em dois grupos de fontes às quais
tive acesso:
1) Os dados da Mesa de Rendas de Corumbá, especificamente os livros de registros
de exportação, em trânsito, de produtos bolivianos, e os Registros de despachos de exportação
de produtos de Mato Grosso;
2) A documentação referente à Delegacia Fiscal do Norte, existente no APMT. Esse
fundo apresenta um vastíssimo número de documentos, entre eles relatórios dos delegados, da
mencionada Delegacia, aos governadores de Mato Grosso; assim como dados de centenas de
exploradores da borracha que atuavam na porção centro-norte, assim como dos compradores
situados nas praças amazonense e paraense. Ademais, apresentam também relatórios de
viagens dos inspetores da arrecadação fiscal, nos principais locais onde se explorava a
borracha, além de outras minuciosas informações. Todavia, não busco aqui dar conta de toda
essa documentação, visto que somente ela, em si, já daria uma tese. Busco então, através dos
dados abaixo mencionados, entender como funcionava esse comércio entre Mato Grosso e os
estados do Amazonas e o Pará.
175
4.1. As relações comerciais envolvendo Mato Grosso e a Bolívia
Embora, como foi visto pelas tabelas acima, as embarcações paraguaias fossem as
mais numerosas entre as embarcações estrangeiras que chegavam a Corumbá, a
documentação referente à Mesa de Rendas de Corumbá não traz informações sobre o
comércio entre Mato Grosso e o Paraguai. O que consta é apenas o comércio de trânsito
realizado pela Bolívia.
As relações fronteiriças são imbuídas de trocas simbólicas, econômicas e culturais,
constituindo-se um espaço geográfico com características próprias da vivência de seus
habitantes em suas diferentes temporalidades. Assim, existiram, e ainda existem diversas
formas de interação na fronteira dos atuais territórios do Brasil e da Bolívia. Além disso,
las fronteras mismas tienen su propia dinámica que han desarrollado quizás con más fuerza al estar alejadas tanto de los centros de poder a nivel nacional como departamental, o estatal, luchando, en el caso boliviano, contra el aislamiento y buscando surgir gracias a los intercambios comerciales que les han dado vida, en diversos momentos de su historia (GARRETT, 2014, p. 123).
De fato, esses contatos comerciais iniciaram-se ainda na primeira metade do século
XVIII, mais especificamente entre a capitania de Mato Grosso e as províncias de Moxos e
Chiquitos. E com o adentrar do novo século, as autoridades locais dos dois lados da fronteira
buscaram meios de melhorar os caminhos já existentes, assim como providenciar a abertura
de novas vias de comunicação61 para facilitar e incentivar as trocas comerciais. Todavia, foi
no final do século XIX e início do século XX que o intercâmbio comercial entre Mato Grosso e
a Bolívia ganhou novas características, no auge da exploração e exportação da borracha.
Momento em que brasileiros e estrangeiros se instalaram na zona fronteiriça do Vale do
Guaporé, e, conforme consta, foram os brasileiros os primeiros a explorarem os seringais
tanto do lado brasileiro como do lado boliviano, ainda na segunda metade do século XIX
(MARQUES, 1908, p. 7). Realidade que se altera na virada do século XIX para o XX com o afluxo
de bolivianos para a área fronteiriça do Vale do Guaporé, movimentação essa causada
principalmente pelo auge da produção gomífera, que estava com cotação elevada no mercado
exterior. Além disso, a “questão do Acre” intensificou a presença de bolivianos na fronteira,
incentivados pelo governo como uma forma de garantir o território nessa região rica em
seringais (GARCIA, 2009, p. 75).
61 Conforme apontado no capítulo 1.
176
Nesse momento, o contrabando ou “descaminhos” se intensificaram pela fácil
movimentação dos dois lados da fronteira na região amazônica. Dessa forma, a região do Vale
do Guaporé atraiu empresários de diversas nacionalidades para investir nessa área fronteiriça;
empresários esses que já estavam sediados na Bolívia ou em Mato Grosso havia algum tempo,
e outros que vieram de além-mar em busca de altos lucros por meio da exploração e
exportação da borracha. Assim passaram a explorar a seringa nos dois lados da fronteira, fato
que facilitava o trânsito de mercadorias de um lado para o outro sem pagar os devidos
impostos. Do lado brasileiro da fronteira, foram concedidas grandes extensões de terras
públicas mato-grossenses a empresários brasileiros e estrangeiros, e esses, por sua vez,
sempre que possível se apossavam de uma área maior que a concedida, colocando sob seu
domínio uma grande faixa territorial (GARCIA, 2009).
A posse da terra concedida se dava com o estabelecimento de barracões, ao longo das
margens dos principais rios que serviam como vias de comunicação (MARQUES, 1908). Os
chamados barracões eram locais onde se concentravam as moradias dos chefes e encarregados
da extração da borracha e o armazém; local esse em que eram armazenadas as mercadorias
que eram fornecidas aos seringueiros em troca da borracha como forma de pagamento. Tais
produtos eram fornecidos aos seringueiros a preços exorbitantes, na forma que ficou
conhecida como aviamento. Sobre as relações entre o seringueiro e o seringalista em Mato
Grosso, podemos deduzir que se davam no mesmo molde do que ocorria no Amazonas e no
Pará. Conforme apontou Barbára Weisntein, nesses locais
Um seringueiro era responsável por duas estradas de seringueiras, em que trabalhava em dias alternados. Essas estradas tinham normalmente a forma de uma alça, com um traçado que mal se percebe, cada uma delas ligando entre si de cem a duzentas héveas, a espécie de árvore de borracha mais comumente explorada na Amazônia e a que produz o látex de melhor qualidade. [...] No sábado ou no domingo, o seringueiro entregava então o que produzira na semana (ou no mês) no ‘barracão mais próximo’, o posto mercantil central gerido pelo ‘patrão’ do seringueiro, que era, ou o grande proprietário da terra (seringalista) que ‘arrendava’ as estradas ao seringueiro, mediante uma porcentagem da borracha extraída, ou o comerciante local (conhecido geralmente como ‘aviador’) que controlava informalmente a produção e comércio da borracha na área (WEINSTEIN, 1993, p. 31-32).
O aviador, nessa teia de negócios, era o que mais lucrava, pois fazia o papel
intermediário, e no caso de grande parte das casas comerciais estudadas nesse trabalho, elas
iam além, pois faziam o papel de casa aviadora e ao mesmo tempo de exportadora. No caso de
outras empresas que atuaram na porção norte de Mato Grosso, essas geralmente estavam a
177
serviços de outras grandes empresas atuantes no Amazonas e no Pará, como veremos mais
adiante.
A mão de obra utilizada na exploração da borracha no Vale do Guaporé foi em grande
parte de indígenas, que eram submetidos a condições que podemos denominar de trabalho
servil, devido aos péssimos tratos e miséria a que eram submetidos. Evidências dessas
condições são encontradas no relato do engenheiro Manoel Esperidião da Costa Marques,
que, ao viajar pelo vale do Baixo Guaporé a serviço da Casa Maciel & Cia, relatou o modus
vivendi da região. Segundo ele, “os camaradas dos bolivianos, índios chiquitanos, são
alimentados exclusivamente a milho, que às vezes falta e a fome vem” (MARQUES, 1908, p. 11).
Apesar de tal relato se referir ao lado boliviano, podemos supor que o mesmo se dava do lado
brasileiro, e o silêncio sobre tais relações se deve ao fato de o autor estar a serviço da Casa
Maciel & Cia., uma das mais importantes da região, a qual atuava nos dois lados da fronteira.
Além da concessão de grandes extensões de terras para a explorar a borracha, mão de
obra barata, trabalho servil, havia outro atrativo nessa região de fronteira: o contrabando. De
fato, a questão dos “desvios” na região fronteiriça entre o Brasil e a Bolívia eram motivos de
preocupações por parte das autoridades. Assim, o Inspetor da Alfândega de Manaus, Pedro
Torres Leite, percorreu a fronteira na porção norte de Mato Grosso, no percurso da Estrada de
Ferro Madeira-Mamoré, nos anos de 1913 e 1914, e relatou como se dava o processo de
contrabando. Segundo ele:
Em pequenas embarcações a remos são transportadas as mercadorias [vindas da Bolívia para o lado brasileiro] pelos rios Madeira, Abunã, Mamoré, Guaporé e outros, e vendidas ou permutadas por borracha nos barracões situados às margens brasileiras dos mesmos rios, sem o menor embaraço, o mais naturalmente possível. [...] As embarcações sobem carregadas de mercadorias e voltam carregadas de borracha para as referidas aduanas bolivianas. Metade, senão dois terços da borracha exportada pela Bolívia, é brasileira, de procedência de Mato Grosso, Acre e Amazonas (LEITE, 1924, p. 60).
Com base na fala do então Inspetor, pode-se notar que o contrabando da borracha era
algo rotineiro na fronteira entre Brasil e Bolívia. E foi nesse contexto que muitos proprietários
de casas comerciais de Corumbá passaram a atuar nessa região, o que nos leva a deduzir que
grande parte da borracha exportada como de procedência boliviana era, na verdade, extraída
em território brasileiro. E, conforme apontou Garcia, o sistema de contrabando consistia em
extrair a borracha do lado brasileiro e declarar que era extraída do lado boliviano, deixando
assim de pagar os devidos direitos ao estado de Mato Grosso (GARCIA, 2009, p. 73). Esse
178
sistema era utilizado como uma forma de fugir dos impostos mato-grossenses, que eram bem
superiores aos cobrados do lado boliviano.
Na óbvia ausência de dados sobre o comércio ilícito, o que nos resta, para tentar
analisar o intercâmbio fronteiriço entre Mato Grosso e a Bolívia, são os dados oficiais sobre
as mercadorias exportadas da Bolívia via Corumbá, na modalidade “em trânsito”, com destino
aos mercados estrangeiros, os quais constam nas tabelas abaixo.
Tabela 41: Valor total dos produtos exportados da Bolívia em trânsito
pelo Porto de Corumbá no ano de 1908
EMPRESAS
PRODUTOS
Borracha fina Borracha
sernamby
Couros
vacuns secos
Couros
de onça
Couros
silvestres
Cera Total
João C.
Carstens
--- --- 3:457$500 --- --- --- 3:457$500
Larocca,
Mônaco & Cia.
--- --- 955$500 300$000 --- --- 1:255$500
M. Cavassa
Filhos & Cia.
--- --- 3:225$000 --- --- --- 3:225$000
Ponce,
Azevedo &
Cia.
668:485$400 57:691$295 101:025$588 337$200 31$000 10$080 827:580$563
TOTAL 668:485$400 57:691$295 108:663$588 637$200 31$000 10$080 835:518$563
Fonte: Mesa de Rendas de Corumbá, Livro de Estatística Comercial de produtos exportados da Bolívia em
trânsito pelo porto de Corumbá, 1908.
179
Tabela 42 : Valor total dos produtos exportados da Bolívia em trânsito
pelo Porto de Corumbá no ano de 1909
EMPRESAS
PRODUTOS
Borracha
fina
Borracha
sernamby
Couros
vacuns secos
Couros de
onça
Couros
silvestres
Café
com
casca
Total
F. Simon --- --- 1:360$000 --- --- --- 1:360$000
João C.
Carstens
42:380$400 1:759$000 1:370$400 --- --- --- 45:509$800
Ponce,
Azevedo &
Cia.
709:309$600 69:995$000 11:441$200 450$000 --- 55$000 791:250$800
Stöfen,
Schnack,
Müller & Cia.
104:864$000 6:112$000 984$000 60$000 1$000 --- 112:021$000
Wanderley,
Baís & Cia.
--- --- 2:256$000 --- --- --- 2:256$000
TOTAL 856:554$000 77:866$000 17:411$600 510$000 1$000 55$000 952:397$600
Fonte: Mesa de Rendas de Corumbá, Livro de Estatística Comercial de produtos exportados da Bolívia em
trânsito pelo porto de Corumbá, 1909.
Tabela 43: Valor total dos produtos exportados da Bolívia em trânsito
pelo Porto de Corumbá no ano de 1910
EMPRESAS
PRODUTOS
Borracha fina Borracha
sernamby
Couros
vacuns secos
Couros
de onça
Penas de
garça
Total
Aurelio Jantsch 53:071$200 2:992$000 --- --- --- 56:063$200
F. Simon --- --- 1:126$400 --- 5:000$000 6:126$400
João L. A.
Coutinho
9:652$000 --- --- --- --- 9:652$000
Stöfen, Schnack,
Müller & Cia.
790:612$226 119:725$800 10:507$168 90$000 --- 920:935$194
TOTAL 853:335$426 122:717$800 11:633$568 90$000 5:000$000 992:776$794
Fonte: Mesa de Rendas de Corumbá, Livro de Estatística Comercial de produtos exportados da Bolívia
em trânsito pelo porto de Corumbá, 1910.
180
Tabela 44 – Valor total dos produtos exportados da Bolívia em trânsito
pelo Porto de Corumbá no ano de 1912
EMPRESAS
PRODUTOS
Borracha
fina
Borracha
mangabeira
Borracha
Sernambi
Couros
vacuns
secos
Couros
de onça
Couros
silvestres
Penas de
garça
Total
Aurelio
Jantsch
303:534$100 --- 41:216$600 732$000 270$000 --- --- 345:752$700
F. Simon 108:015$296 205$280 8:490$840 12:568$640 630$000 10$000 1:500$000 131:420$056
M. Cavassa 3:959$280 --- 111$454 --- --- --- --- 4:070$734
Stöfen,
Schnack,
Müller & Cia.
188:616$000 --- 4:406$000 4:156$800 --- --- 90$000 197:268$800
Wanderley,
Baís & Cia.
--- --- --- 3:518$000 --- --- --- 3:518$000
TOTAL 604:124$676 205$280 54:224$894 20:975$440 900$000 10$000 1:590$000 682:030$290
Fonte: Mesa de Rendas de Corumbá, Livro de Estatística Comercial de produtos exportados da Bolívia em
trânsito pelo porto de Corumbá, 1912.
Tabela 45 – Valor total das exportações de produtos da Bolívia
em trânsito pelo Porto de Corumbá no ano de 1913
EMPRESAS
PRODUTOS
Borracha
fina
Borracha
mangabeira
Borracha
sernambi
Couros
vacuns
secos
Couros de
onça
Couros
silvestres
Penas de
garça
Total
Aurelio Jantsch 265:386$500 1:343$664 26:636$206 10:744$800 450$000 --- 877$500 305:438$670
F. Simon 55:421$400 194$618 9:821$200 5:357$300 780$000 --- --- 71:574$518
Stöfen, Schnack,
Müller & Cia.
126:452$000 1:093$060 7:892$886 11:330$900 --- --- 2:525$000 149:293$846
Wanderley,
Baís &
Cia.
--- --- --- 800$000 --- --- --- 800$000
Total 447:259$900 2:631$342 44:350$292 28:233$000 1:230$000 --- 3:402$500 527:107$034
Fonte: Mesa de Rendas de Corumbá, Livro de Estatística Comercial de produtos exportados da Bolívia em trânsito
pelo porto de Corumbá, 1913.
181
Tabela 46 – Valor total das exportações de produtos da Bolívia
em trânsito pelo Porto de Corumbá no ano de 1915
EMPRESAS
PRODUTOS
Borracha fina Borracha sernambi Couros vacuns secos Total
Aurelio Jantsch 532:182$991 23:558$812 30:359$200 586:101$003
Aristides Ramos 20:397$000 1:073$065 7:382$400 28:852$465
M. Cavassa 2:045$000 641$578 --- 2:686$578
Stöfen, Schnack,
Müller e Cia.
15:753$000 --- 6:687$000 22:440$000
Wanderley, Baís e
Cia.
--- --- 1:270$000 1:270$000
Total 570:377$991 25:273:455 45:698$600 641:350$046
Fonte: Mesa de Rendas de Corumbá, Livro de Estatística Comercial de produtos exportados da Bolívia em
trânsito pelo porto de Corumbá, 1915.
Nota-se que os exportadores dos produtos ditos bolivianos, constantes nas tabelas
acima, eram todas empresas que estavam situadas em Mato Grosso, com exceção da Stöfen,
Schnack & Müller & Cia., empresa essa que possuía uma forte rede de atuação nos dois lados
da fronteira (v. mapa 4).
Analisando-se os valores totais, ao longo dos seis anos para os quais temos dados,
nota-se também que, dentre os 10 exportadores que aparecem, apenas três apresentam valores
mais significativos: Ponce, Azevedo & Cia; Stofen, Schnack & Müller; e Aurélio Jantsch.
As demais (com a parcial exceção de João C. Carstens, Feliciano Simon e Aristides
Ramos) surgem nos registros com valores extremamente baixos. Assim sendo, pode-se supor
que, nesses casos, os dados deviam expressar um comércio real, ou seja, produtos bolivianos
que, por alguma razão, eram efetivamente exportados por meio desses estabelecimentos. De
fato, todos os produtos que aparecem nas tabelas – principalmente borracha, couros vacuns,
peles de animais silvestres e penas de garça – podiam ser encontrados dos dois lados da
fronteira.
Entretanto, chamam a atenção os elevados valores das exportações realizadas pelas
três empresas acima citadas, valores aliás concentrados nos vários tipos de borracha.
A Stöfen, Schnack & Müller & Cia., além de possuir uma matriz em Corumbá e duas
filiais (uma em Aquidauana e a outra no rio Guaporé), também tinha uma grande atuação em
diversas localidades bolivianas, sendo a matriz em Puerto Suarez, com filiais em Santiago,
Santa Ana, San José, San Ignácio, Concepción e rio Itenez (TARGAS, 2012). Note-se que todas
182
as filiais estavam em locais estratégicos no que se refere à exploração da borracha e ao
fornecimento de suprimentos aos seringueiros62.
É conveniente observar que, no final do século XIX, a Bolívia atraiu vários imigrantes
alemães que atuavam no ramo da importação e exportação utilizando a rota do Atlântico, via
rio Paraguai e estuário do Prata. Nesse processo observa-se a grande importância adquirida
por Puerto Suarez, uma povoação criada em 1880, durante a Guerra do Pacífico, e que se
destacou com a perda do acesso direto da Bolívia ao mar, em decorrência dessa guerra. Nesse
contexto, o comércio de Puerto Suárez, via estuário do Prata, passa a receber mercadorias
estrangeiras, destinadas ao mercado boliviano, e a exportar gêneros de produção local. Assim,
Puerto Suarez em 1884 ganha a instalação de uma aduana, e o comércio na rota comercial
Puerto Suarez-Santa Cruz de la Sierra se intensifica tanto com a importação como com a
exportação, principalmente da borracha (HOLLWEG, 1995, p. 191-192).
Dentre esses comerciantes alemães temos a presença da citada casa Stöfen, Schnack &
Müller & Cia. Sua origem se deu em 1893, sob a razão social Vöss & Villinger, depois
alterada para Vöss & Stöfen e por último Stöfen, Schnack & Müller (HOLLWEG, 1995, p. 232).
Essa casa alemã tinha uma grande rede de atuação, pois iniciava-se na porção sul de Mato
Grosso e da Bolívia e se estendia até a porção noroeste de Mato Grosso e norte da Bolívia;
assim navegavam todo o rio Guaporé, com sua lancha denominada “Mequenes” (APMT –
DFN63, Relatório, 1913, p. 76).
Em um relatório de 1918, o Delegado Fiscal do Norte faz menção a uma firma alemã
que atuava nos dois lados da fronteira no Vale do Guaporé e que contrabandeava praticamente
toda a sua produção para a Bolívia. Apesar de o delegado não dizer o nome da empresa, as
características indicam que seja a Casa Stöfen, Schnack, Müller & Cia., pois, segundo ele, “a
firma alemã [...] possui quer no nosso território, quer no território da Bolívia, casas em
diversos pontos, sendo seu principal gênero de negócio a exploração de goma elástica”
(APMT-DFN, Relatório, 1918, p. 21). E a solução para diminuir o contrabando seria aumentar a
fiscalização com a circulação de lanchas e mais instalações de postos fiscais. O delegado
ainda completa dizendo que, se as medidas fossem adotadas, “a fiscalização seria quase
completa e somente trafegariam por essa zona levando à praça de Corumbá para seu
62 Vale notar que isso parece ser verdadeiro até mesmo para o caso da filial de Aquidauana, já que a região do
cerrado sul-mato-grossense era fornecedora da borracha de mangabeira.
63 Utilizarei a sigla DFN quando me referir à Delegacia Fiscal do Norte
183
beneficiamento de seus produtos a legítima borracha de procedência boliviana e não aquela
que duvidosamente o fazem por falta vigilância fiscal” (op. cit. p. 22).
184
MAPA 4 – LOCAIS DAS MATRIZES E FILIAIS DA
EMPRESA STÖFEN, SCHNACK, MÜLLER & CIA.
185
As evidências corroboram a afirmação do referido delegado, pois embora sua atuação
incluísse os dois lados da fronteira, na exportação realizada por essa casa comercial pelo porto
de Corumbá destacavam-se os valores das mercadorias declaradas como sendo de procedência
boliviana, os quais eram muitíssimo mais elevados que os valores referentes a produtos
procedentes de Mato Grosso (v. o gráfico abaixo).
Gráfico 2
Comparação dos valores das exportações da Casa Stöfen, Schnack, Müller & Cia. nos anos de
1910 e 1912, segundo sua procedência declarada (em réis)
Fontes: APMT – Livro de Registros de Exportação em trânsito por Corumbá, 1910 e
1912; Targas 2012.
A ausência de dados impossibilita a realização de uma análise ano a ano. Contudo, as
informações disponíveis nos permitem visualizar a grande discrepância de valores. Chamam a
atenção os números do ano de 1910, sendo que, em virtude do fato de que essa empresa tinha
forte atuação no Vale do Guaporé, provavelmente a quase totalidade dos valores apresentados
13
4:7
93$
364
56
:28
7$1
85
92
0:9
35$
194
19
7:2
68$
800
1 9 1 0 1 9 1 2
Mato Grosso Bolívia
186
deviam referir-se a mercadorias de procedência brasileira, embora declaradas como sendo
bolivianas.
No que concerne à casa Aurélio Jantsch, os dados constantes nas tabelas mostram que,
nos anos de 1912, 1913 e 1915, ela exportou uma quantia considerável. Contudo, vale
destacar que essa empresa não era exportadora e sim comissionaria, ou seja, era responsável
por remeter ao exterior produtos mediante uma comissão. Sendo assim, com relação à origem
do volume total da borracha exportada, encontram-se fontes muito variadas, a saber: outras
empresas situadas em locais distantes do porto de Corumbá, e ainda, até mesmo os próprios
seringueiros – alguns dos quais, tentando fugir do controle do “patrão” sobre a produção,
acabavam entrando em negociações diretas com a empresa compradora64.
Finalmente, com referência à empresa Ponce, Azevedo & Cia.65, ao analisar sua
documentação não tomamos conhecimento sobre propriedades no Vale do Guaporé, muito
menos sobre atuação da empresa em terras bolivianas. No entanto, assim como no caso da
empresa alemã, os valores das exportações de produtos ditos bolivianos realizadas por Ponce,
Azevedo & Cia. (cf. as tabelas dos anos de 1908 e 1909) apresentam-se muito mais elevados
se comparados com os valores das exportações de produtos declarados como mato-
grossenses66. Apesar da ausência de dados sobre as exportações declaradas brasileiras nesses
anos, vemos que há uma enorme discrepância entre os valores, considerando a grande
extensão de terras que essa empresa possuía (TARGAS, 2012).
Assim, o que deveria ocorrer, no caso de Ponce, Azevedo & Cia., é que os produtos
exportados, principalmente a borracha e os couros remetidos ao exterior como sendo de
procedência boliviana, eram, na verdade, originados de suas propriedades situadas em
Diamantino. Sobre o modo como ocorria o processo para burlar o sistema de fiscalização,
temos duas hipóteses, as quais podem ser aplicadas para as todas as empresas aqui analisadas.
Primeiramente podemos supor que a nota era emitida sem a presença da borracha;
nesse possível esquema fraudulento, seria necessário somente que um representante da
empresa se dirigisse até a aduana de Puerto Suarez, localidade próxima a Corumbá, ou de San
Mathias, estação fiscal próxima a São Luiz de Cáceres (ver mapa 4), para obter a nota fiscal
que, depois, seria apresentada na Mesa de Rendas de Corumbá.
64 Conforme aponta Barbara Weinstein (1993) circulava nas regiões dos seringais aviadores que compravam
borracha direto do seringueiro.
65 Ver, em anexo, as informações sobre essa empresa, assim como as demais casas corumbaenses citadas nessa
tese.
66 Nos anos de 1905, 1907 e 1910, a casa Ponce, Azevedo & Cia. exportou produtos mato-grossenses no total,
respectivamente, de 21:564$567, 25:013$264 e 1:308$000 (cf. TARGAS, 2012).
187
A segunda hipótese consistiria em simplesmente atravessar a borracha extraída em
Mato Grosso para a Bolívia, e, por dentro do território desse país, seguir por terra desde a
região de fronteira próxima a São Luiz de Cáceres até Corumbá. De fato, evidências
empíricas apontam para o fato de que a borracha extraída no Alto Guaporé era levada até a
cidade de Mato Grosso, local onde deixavam as embarcações e eram levadas em carretas
“para Sant’ Ana, depois Santo Coração, fazendo grandes viagens, e procurando Corumbá por
onde fazem a exportação” (MARQUES, 1908, p. 50). Assim, havia realmente uma rota por
território boliviano que dava acesso da cidade de Mato Grosso até Corumbá, o que facilitava o
comércio ilícito.
Ainda sobre as atividades comerciais na região de fronteira entre Mato Grosso e a
Bolívia, no Vale do Guaporé, especialmente no Médio e Baixo Guaporé, sabe-se que aí
atuaram também comerciantes ligados a praças amazonenses, e ainda aqueles que escoavam
suas mercadorias tanto pela via platina como pela Bacia Amazônica.
Nesse último caso, temos a presença do mato-grossense Balbino Antunes Maciel,
integrante da firma Maciel & Cia. que atuava nessa região desde a década de 1870 (GARCIA,
2009, p. 68); após ter obtido algumas concessões de terras, fixou ali barracões “nas melhores
áreas para a extração da borracha, sem se preocupar em demarcá-las” (op. cit., p. 162). Contudo,
em virtude da instauração da República, foi criada a Lei Fundiária de Mato Grosso, a Lei n°
20, de 1892, regulamentada pelo Decreto nº 38, de 1893, que passou a exigir a demarcação
das terras para a exploração da borracha. E foi nesse contexto que Balbino Antunes Maciel
contratou o já citado engenheiro mato-grossense Manoel Esperidião da Costa Marques, no
ano de 1899, para medir os seringais que se encontravam sob seu domínio e estavam
localizados “à margem do Guaporé, desde a foz do Corumbiara até o rio Lamengo, nas
proximidades do Forte do Príncipe da Beira” (MARQUES, 1908, p. V).
188
MAPA 4 -LOCALIDADES SITUADAS NA FRONTEIRA DE MATO GROSSO COM A BOLÍVIA, NO
PERÍODO ESTUDADO
189
Nos dois lados da fronteira no Vale do Guaporé, havia industriais brasileiros,
bolivianos e alemães, estes mais presentes do lado boliviano. Todavia, nos barracões que se
encontravam no lado brasileiro da linha divisória entre os dois países, as ligações, tanto
comerciais como até mesmo identitárias, eram bem maiores com o lado boliviano, pois eram
poucas as pessoas que falavam o português, predominando o castelhano, assim como a moeda
e os jornais circulantes eram de origem boliviana (MARQUES, 1908, 8-11).
Nessa região, a atuação das casas comerciais importadoras e exportadoras aqui
estudadas limitou-se aos casos das empresas Stöfen, Schnack, Müller & Cia. e Maciel & Cia.;
pelos dados de que tomei conhecimento, a primeira escoava seus produtos pelo estuário do
Prata, enquanto a segunda enviava a maior parte de sua produção pela via amazônica
(MARQUES, 1908). Todavia, é importante destacar que:
Em suas operações no vale do Guaporé, Balbino Antunes Maciel chegou a utilizar um veículo a vapor, que puxava alguns vagões e era utilizado no transporte de borracha e produtos importados. Esse veículo percorria a estrada de terra entre um ponto do rio Jauru (Salitre, atual Porto Esperidião) e um ponto do rio Guaporé (Ponte Velha, atual Pontes e Lacerda), justamente a região onde no passado se supunha ser possível fazer a transposição das águas dos rios Alegre e Aguapeí, ligando as bacias Amazônica e Platina (GARCIA, 2009, p. 69).
A ação da casa Maciel & Cia. atingia todo o Vale do Guaporé, “estabelecidos com
barracas desde muito antes do Forte do Príncipe da Beira até Villa-Bella, florescente
povoação boliviana, na foz do rio Beni, onde tem grande casa comercial, importadora de
mercadorias” (MARQUES, 1908, p. 49-50). Dessa forma, grande parte de sua produção era
exportada pela Bacia Amazônica. Apesar de eu não ter encontrado o nome dessa empresa nos
dados de exportação pela Mesa de Rendas de Corumbá, há indícios de sua ligação comercial
com a cidade de Corumbá (MARQUES, 1908); assim, é possível que a produção de Maciel &
Cia., exportada via Bacia Platina, fosse feita através de alguma outra empresa que trabalhava
com comissões e consignações.
190
4.2 As relações comerciais envolvendo Mato Grosso e os estados do Amazonas e
Pará
A documentação referente à Delegacia Fiscal do Norte (criada pelo estado de Mato
Grosso para arrecadar os tributos sobre os produtos exportados pela Bacia Amazônica),
existente no Arquivo Público de Mato Grosso, é extremamente vasta. Neste capítulo,
portanto, busco utilizar parte dessa documentação a fim de ilustrar a dinâmica do comércio
envolvendo Mato Grosso e seus dois vizinhos amazônicos.
Como mencionado no capítulo 1, os limites entre o estado de Mato Grosso e os
estados vizinhos do Pará e Amazonas ainda não estavam definidos. Essa situação levou a
desavenças entre esses estados, devido ao aumento da cotação internacional sobre o valor da
borracha e à descentralização republicana, a qual transferiu a receita de exportação para os
estados, levando à disputa pelos impostos sobre a borracha. Contudo, esse foi um processo
que, tendo-se iniciado no fim do século XIX, só se resolveu no final da segunda década do
século XX.
Enquanto os limites de Mato Grosso com o Amazonas e o Pará não eram definidos
pelas autoridades competentes, foi realizado um acordo para regular a exploração da borracha
na região. Assim, várias agências fiscais foram instaladas nos principais rios onde era extraída
e por onde se escoava a borracha. Vale lembrar que essas agências fiscais estavam situadas
em rios que pertencem à Bacia Amazônica (v. mapa 6). Assim, nos postos e agências fiscais
eram registrados em quilogramas os produtos exportados por Mato Grosso que saíam tanto
pelo Amazonas como pelo Pará. Os valores tributários eram pagos nas Recebedorias do
Amazonas e do Pará, conforme a cotação do dia. A seguir, uma reprodução de um mapa da
época que demonstra os rios onde estavam instalados os postos e agências fiscais na porção
Norte de Mato Grosso.
191
Mapa 6
Porção Noroeste de Mato Grosso: postos e agências fiscais,
linha telegráfica, rios e estrada de ferro
Fonte: APMT – Delegacia Fiscal do Norte, documentos avulsos.
192
Conforme demonstrado no mapa, eram os seguintes os pontos onde se encontravam as
agências fiscais mato-grossenses dedicadas à tributação da borracha (único produto na pauta
de exportação desses anos): Agências Fiscais de Villa Murtinho (a qual tinha sob seus
cuidados também os postos fiscais de Presidente Marques e Esperidião Marques), São
Manoel, Jamary, Machado e Santo Antonio (a qual tinha sob seus cuidados também o posto
fiscal de Generoso Ponce).
Analisemos os dados das tabelas a seguir, referentes aos anos de 1911 a 1914 e que
demonstram os valores em quilograma dos produtos exportados por cada agência fiscal.
Tabela 47 – Total de borracha exportada pela Agência de Vila Murtinho (em kg),
segundo sua classificação (1911-1914)
Ano Fina Sernambi Sernambi de
caucho
Caucho Total
1911 2.383 376 6.587 --- 9.346
1912 29.691 4.178 72.393 240 106.502
1913 45.121 3.097,5 254.413 --- 302.631,5
1914 115.882,5 8.363,5 267.666 --- 391.912
Fonte: APMT – Delegacia Fiscal do Norte, Relatório do ano de 1915, em Manaus, p. 67.
Tabela 48 – Total de borracha exportada pela Agência de São Manoel (em kg),
segundo sua classificação (1911-1914)
Ano Fina Sernamby Sernamby de
Caucho
Caucho Total
1911 34.918 9.646 27.472 1.652 73.688
1912 79.046 28.178 19.360 41.572 168.156
1913 53.991 13.600 55.545 --- 123.136
1914 72.838 15.616 77.729 --- 166.183
Fonte: APMT – Delegacia Fiscal do Norte, Relatório do ano de 1915, em Manaus, p. 68.
193
Tabela 49 – Total de borracha exportada do Jamary (em kg),
segundo sua classificação (1911-1914)
Ano Fina Sernamby Sernamby de
Caucho
Caucho Total
1911 372.267 33.864 395.882 152 802.165
1912 441.672 35.582 560.133 341 1.037.728
1913 363.102 40.640 585.070 50.997 1.039.809
1914 590.809 36.403 676.172 1.476 1.304.860
Fonte: APMT – Delegacia Fiscal do Norte, Relatório do ano de 1915, em Manaus, p . 64.
Tabela 50 – Total de borracha exportada do Rio Machado (em kg),
segundo sua classificação (1911-1914)
Ano Fina Sernamby Sernamby de
Caucho
Caucho Total
1911 343.143 37.389 113.770 21.450 515.752
1912 487.906 83.902 427.958 32.036 1.031.802
1913 400.912 51.445 311.330 22.799 786.486
1914 393.321 32.897 400.560 2.491 829.289
Fonte: APMT – Delegacia Fiscal do Norte, Relatório do ano de 1915, em Manaus, p. 65.
Tabela 51 – Total de borracha exportada pela Agência Fiscal de Santo Antonio (em kg),
segundo sua classificação (1911-1914)
Ano Fina Sernamby Sernamby de
caucho
Caucho Total
1911 93.509 9.527 87.137 2.043 192.216
1912 114.749 23.344 221.550 2.780 362.423
1913 111.070 8.136,5 263.699,5 36 382.942
1914 146.513 10.904 289.054 472 446.943
Fonte: APMT – Delegacia Fiscal do Norte, Relatório do ano de 1915, em Manaus, p. 66.
A instalação dos postos e agências fiscais às margens dos principais rios mato-
grossenses ricos em seringais buscava tentar impedir que sua produção fosse declarada como
sendo procedente da Bolívia ou mesmo do Amazonas, pela forte ligação das zonas produtoras
com esse estado. A fiscalização na zona de produção gomífera foi aumentando a cada ano; e
194
talvez isso explique por que, mesmo com a queda da demanda internacional, os números da
exportação se mantiveram e, em alguns casos, chegaram a subir modestamente.
Também podemos observar que as agências Jamary e Machado eram responsáveis
pelo controle da maior quantidade de borracha que saía pelo norte de Mato Grosso (v. tabela
52). Contudo, vale destacar aqui o caso da Agência Villa Murtinho. Apesar de ser responsável
pelo controle da borracha do Vale do Guaporé, uma região consideravelmente grande e com
uma produção elevada, essa agência se encontra apenas em penúltimo lugar no ranking da
média dos totais de todas as agências mencionadas acima. Assim, deduz-se que ela tem em
seus registros um valor bem inferior à sua capacidade, e assim temos, mais uma vez,
evidências do intenso “desvio” de borracha mato-grossense sendo atravessada para o lado
boliviano, como foi visto no tópico anterior.
Tabela 52 – Total da exportação de borracha pela Delegacia Fiscal do Norte (em kg),
segundo as agências fiscais (1911-1914)
Ano Agências fiscais
Jamary Machado Santo Antonio São Manoel Villa Murtinho Total
1911 802.165 515.752 192.216 73.688 9.346 1.593.167
1912 1.037.728 1.031.802 362.423 168.156 106.502 2.706.611
1913 1.039.809 786.486 382.942 123.136 302.631,5 2.635.004,5
1914 1.304.860 829.289 446.943 166.183 391.912 3.139.187
Total 4.184.562 3.163.329 1.384.524 531.163 810.391,5 10.073.969,5
Fonte: dados das tabelas 47 a 51.
Às margens dos rios Jamary, Machado, São Manoel (conhecido também por Teles
Pires), Juruena, Madeira, Mamoré, bem como dos principais afluentes de todos esses rios,
atuavam os seringalistas, casas aviadoras e casas importadoras e exportadoras.
Com base nos dados da Delegacia Fiscal do Norte foi possível perceber que atuaram
no negócio da borracha em Mato Grosso três tipos de casas aviadoras, cujas características
busco apresentar a seguir, de maneira geral.
O perfil mais atuante refere-se ao comerciante que somente aviava. Nesse caso, não
possuía terras nem realizava importação ou exportação; era apenas o intermediário entre os
seringalistas e as grandes casas exportadoras. Seu processo consistia em comprar nas cidades
de Manaus, Santarém ou Belém produtos importados, geralmente a crédito, e depois fornecê-
los aos seringueiros, no mesmo sistema de crédito, pois receberia mais tarde, como
195
pagamento, a borracha. No caso dos seringueiros, o crédito dado a estes recebia o aval do
seringalista junto ao aviador, fato que colocava os seringueiros ainda mais nas mãos dos
seringalistas, pois aqueles já começavam a trabalhar endividados. Assim, os seringueiros
pagavam suas dívidas com a porcentagem que lhe cabia na coleta da borracha. Esse aviador
acabava também por comprar a produção de seringalistas que não possuíam uma estrutura
independente, como barcos e contatos com casas exportadoras.
Outra categoria atuante nos seringais era quando “um seringalista particularmente rico
poderia juntar dinheiro suficiente para adquirir um navio, expandir seu posto comercial e
estabelecer sua própria casa aviadora”. Por último, e no mais alto escalão estava a casa
comercial importadora e exportadora67 que se tornava seringalista, verticalizando assim seus
negócios e controlando, portanto, desde a extração da goma até sua exportação. A empresa
eliminava, dessa maneira, a presença dos intermediários, o que levava a lucros altíssimos
(WEINSTEIN, 1993, p. 36).
Dentre os registros encontrados no fundo da Delegacia Fiscal do Norte, pudemos
tomar conhecimento de centenas de pessoas ligadas ao comércio aviador na porção norte de
Mato Grosso, ligados principalmente à praça de Manaus, e alguns às cidades de Santarém e
Belém.
Dentre os industrias que atuavam no noroeste de Mato Grosso, temos a forte presença
da firma Ascensi & Cia., dos quais o próprio estado de Mato Grosso, alugava uma instalação
para seu posto fiscal em Calama, à margem do rio Madeira (APMT-DFN, Relatório, 1918, p. 72).
De fato, essa empresa foi ao longo dos anos acumulando propriedades, pois em 1912
conseguiu 108 mil hectares de terra, localizados às margens do rio Machado (APMT-DFN,
Relatório, 1912, p. 23). No ano seguinte, recebeu mais 54 mil hectares na mesma região, e assim
se tornaram os maiores industrias do Baixo Madeira (idem, 1913, p. 32). Praticamente todos os
despachos da firma Ascensi & Cia. eram remetidos à casa B. Corbacho & Cia.; temos aqui um
exemplo de uma casa aviadora que remetia seus produtos para uma empresa exportadora
efetuar seu escoamento (APMT-DFN, Relatórios, 1912 e 1913).
A empresa B. Levy & Cia., por sua vez, era o tipo de casa comercial aviadora que
atuava de ponta a ponta no negócio da borracha, pois, através da análise dos dados de
produtos despachados nos postos e agências fiscais de Mato Grosso, verifica-se que essa
67 O processo semelhante ocorria com as casas comerciais da porção central e sul de Mato Grosso, como a
Stöfen, Schnack, Müller & Cia., Ponce Azevedo & Cia., Orlando, Irmãos & Cia., entre outras que atuaram no
ramo da exploração da borracha e da pecuária.
196
empresa era quem despachava e recebia sua própria produção; além disso, aparece entre as
empresas que recebiam a produção da borracha de terceiros (APMT-DFN, Relatórios, 1912 e 1913).
A exemplo dessa empresa temos diversas outras, entre as quais destacamos: Braga, Vieira &
Cia.; R. P. Brazil, Benchimol & Irmão; Z. Ohliger & C. e A. Andresen, que eram os nomes
que mais apareciam na lista dos carregadores e recebedores de Mato Grosso.
Infelizmente, não me é possível, aqui, dar conta dos detalhes sobre quem eram essas
empresas que atuavam na porção norte de Mato Grosso, do mesmo modo como procedi com
relação às casas que atuavam na porção centro-sul do estado.
Isso se deve ao fato de que, além de ser um volume considerável de empresas que
atuavam nessa região, elas não estavam registradas na JUCEMAT, o que nos impede de
conhecer seus dados relativos a capitais, sócios, duração etc. Aliás, o fato de essas empresas
não constarem nos registros da JUCEMAT me leva a concluir que as mesmas já estavam
atuando nessa região havia muito tempo, e, quando da chegada da fiscalização de Mato
Grosso sobre a extração da borracha, elas apenas passaram a ser tributadas por tal estado, mas
não deixaram seus vínculos de origem, que no caso eram com o Amazonas e, em menor
quantidade, com o Pará.
Assim, o que pretendi nesta tese, neste momento, é tão somente compreender a
importância da borracha explorada na porção norte de Mato Grosso para a economia do
estado. De tal forma, abaixo demonstramos os dados da exportação por ano, segundo as
agências, para melhor elucidação.
197
Quadro 14
Volume da borracha exportada (em kg) pela Delegacia Fiscal do Norte
e respectivos valores dos impostos arrecadados, em réis (1907-1921)
Ano Volume da borracha
em kg
Valor arrecadado em
impostos, em réis
1907 1.190.918 ___
1908 1.560.941 ___
1909 1.229.582 ___
1910 1.545.521 2.652:978$018
1911 1.593.167 1.714:395$113
1912 2.705.270 2.208:504$364
1913 2.662.872 1.871:569$297
1914 3.139.187 1.630:340$302
1915 2.998.376 1.631:992$781
1918 4.328.405 1.022:585$620
1919 4.108.121 1.232:914$484
1920 3.926.064 878:712$975
1921 2.752.704 436:887$175
Fonte: Relatórios dos Delegados da Delegacia Fiscal do Norte – 1914 e 1921.
Analisando-se o quadro acima, nota-se que entre 1907 e 1911 o volume da exportação
da borracha se manteve estável, com uma leve variação. Todavia, a partir de 1912 o total de
borracha em quilogramas praticamente dobra, em comparação com os volumes antes
registrados.
Sobre os valores arrecadados em impostos sobre a borracha, só temos dados após o
ano de 1910, mas mesmo assim é possível fazer uma análise. Assim, analisando-se os anos de
1910 a 1921, percebe-se que a arrecadação dos direitos tributários sobre a exportação da
borracha passou a sofrer um decréscimo acentuado ano a ano, chegando a representar, em
1921, menos de 1/6 do que era arrecadado em 1910.
Tudo isso tem a ver, obviamente, com o fato de que, com o adentrar da segunda
década do século XX, a borracha brasileira começou a sofrer os efeitos da concorrência da
borracha asiática.
De fato, embora os direitos tributários tenham caído, a produção da borracha
continuou em ascendência considerável desde 1910 até 1919, apresentando uma pequena
variação no ano de 1915. Tal fato se deve à estratégia administrativa do estado de Mato
Grosso, que viu a alternativa de reduzir o imposto sobre a borracha como uma forma de
198
incentivar a extração e diminuir o contrabando. Tal medida fez com que, apesar da crise que
afetava a borracha amazônica no comércio internacional, em vista da concorrência com a
borracha asiática, o volume exportado continuasse a crescer, evitando assim que essa indústria
deixasse de existir.
Finalmente, para avaliar o papel da borracha, em especial dos impostos arrecadados
pela Delegacia Fiscal do Norte, para as finanças do estado de Mato Grosso, analisemos os
dados da tabela abaixo.
Tabela 53: Comparação entre os dados da receita de Mato Grosso,
com destaque para a participação da borracha (1910-1915)
Ano Receita geral de
Mato Grosso
Receita total
proveniente da
exportação de Mato
Grosso
Receita proveniente da
borracha exportada pela
Delegacia Fiscal do Norte
1906 1.523:641$305 --- ---
1907 2.277:629$036 --- ---
1908 2.403:219$178 --- ---
1909 3.606:146$269 --- ---
1910 5.116:726$883 3.741:513$630 2.652:978$018
1911 4.258:265$778 --- 1.714:395$113
1912 4.734:430$515 2.783:702$617 2.208:475$284
1913 4.498:029$039 2.881:277$299 1.871:599$297
1914 4.078:979$292 2.164:200$512 1.630:340$302
1915 3.838:415$016 --- 1.631:162$841
1916 4.129:147$629 --- 1.785:929$122
1917 4.327:573$637 --- 1.486:310$358
1918 4.561:409$585 --- 1.022:585$620
Fontes: Relatórios dos Presidentes de Mato Grosso dos anos de 1911 a 1914 e de 1919;
Relatórios dos delegados da Delegacia Fiscal do Norte dos anos de 1914 a 1918.
A partir da comparação dos dados da tabela acima, fica evidente o peso da
participação da borracha para a economia de Mato Grosso, sobretudo os impostos arrecadados
pela Delegacia Fiscal do Norte, que contribuíam de forma significativa para a receita do
estado, chegando a aproximadamente metade da receita nos anos de 1910 e 1912. A
importância da goma elástica perdurou como a maior fonte da receita de Mato Grosso até
1920, quando a receita proveniente da pecuária consegue superar a da borracha em
226:296$976 (duzentos e vinte seis contos, duzentos e noventa e seis mil, novecentos e
199
setenta e seis réis, cf. RMT, 07/09/1920, p. 123). E foi, de fato, com o encerramento da segunda
década do século XX que a estrutura econômica de Mato Grosso ganhou um novo cenário,
tornando-se o quarto estado brasileiro com maior rebanho bovino (BORGES, 2001, p. 79).
200
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao longo deste trabalho, procurei analisar algumas das características
econômicas e sociais de Mato Grosso, tendo atenção especial à atuação das casas comerciais
importadoras e exportadoras nesse processo. Assim, foi possível perceber que as mudanças
que se processaram em Mato Grosso, no período abordado, embora tendo ocorrido em um
ritmo moderado, permitiram o surgimento de vias de comunicação e núcleos populacionais
que foram gerando uma nova dinâmica na economia mato-grossense.
Todavia, é notável que a abertura da livre navegação pelo rio Paraguai, ocorrida
em 1856/1858 e consolidada após o fim da Guerra da Tríplice Aliança contra o Paraguai,
ocasionou um novo redirecionamento dos fluxos econômicos de Mato Grosso, passando
assim a ter uma ligação direta com os principais portos platinos e brasileiros. E foi nesse
momento que se instalaram as primeiras casas comerciais importadoras e exportadoras em
Mato Grosso, constituídas seja por mato-grossenses, por brasileiros radicados em Mato
Grosso há várias décadas ou por estrangeiros.
Essa nova via de comunicação em Mato Grosso contribuiu para o surgimento
de novas vilas e cidades, todas interligadas pelas redes de contatos e de transações comerciais.
O porto de Corumbá se tornou o eixo principal de ligação das várias localidades do centro-sul
mato-grossense com outras praças, principalmente com os centros platinos e brasileiros,
embora as grandes casas comerciais possuíssem também contatos diretos com as principais
praças europeias. Todavia, vimos que, apesar de as empresas mato-grossenses terem ligações
comerciais com empresas europeias, as embarcações que chegavam aos portos mato-
grossenses, pelo menos nas duas primeiras décadas do século XX, eram todas de
nacionalidades da América do Sul, com exceção de duas entradas de embarcações italianas,
em Porto Murtinho, no ano de 1910. De fato, Mato Grosso recebeu um grande número de
imigrantes italianos, os quais se dedicaram a diversos tipos de negócios, entre eles o ramo da
importação e exportação.
As casas comerciais importadoras e exportadoras tendiam a enviar um membro
da empresa a países platinos e europeus para estabelecer relações comerciais. Assim,
viajavam para a Europa (geralmente, no caso dos estrangeiros, para seus próprios países de
origem e cidades em que tinham relações familiares), onde procuravam efetivar negócios,
oferecendo os produtos derivados da extração vegetal e da pecuária e, ao mesmo tempo,
comprando produtos industrializados para serem revendidos em Mato Grosso. Muitas dessas
201
negociações eram feitas sob a forma de comissão ou consignação. Claro que, após serem
estabelecidas pessoalmente as primeiras relações comerciais, estas depois passavam a ser via
correspondência, ou seja, os pedidos eram efetivados através de cartas e telegramas. Enfim, as
casas comerciais importadoras e exportadoras, além de negociarem com uma enorme
variedade de itens, desde o atacado ao varejo, chegaram a tornar-se representantes de grandes
bancos alemães e ingleses.
Apesar da forte presença das casas comerciais em Mato Grosso, citadas ao
longo do trabalho, vimos que praticamente todas elas estavam sediadas no centro-sul do
estado, pois na porção norte a predominância era de empresas ligadas aos centros da Bacia
Amazônica (estados do Amazonas e do Pará). Além disso, foi possível perceber que, mesmo
que as empresas aqui analisadas tivessem como principal produto de exportação a borracha,
era a porção norte que concentrava a maior parte dos seringais, e estes estavam sob controle
de casas importadoras/exportadoras sediadas em Belém ou Manaus ou a serviço dessas
empresas.
Dessa maneira, no que concerne à exploração da borracha na porção norte do
estado, a participação de empresas sediadas em Mato Grosso reduz-se aos casos da Casa
Maciel & Cia. e da casa alemã Stöfen, Schnack, Müller & Cia., esta última, com forte ligação
com a Bolívia; quanto ao mais, o papel de Mato Grosso se limitava à venda ou concessão de
terras e à cobrança de impostos sobre a borracha extraída.
As transações comerciais que se davam entre Mato Grosso e a Bolívia
apresentavam suas especificidades, pois havia empresários atuando tanto no lado brasileiro
como no lado boliviano. Nesse contexto, havia aqueles que se utilizavam de rotas por
território boliviano para efetuar o chamado contrabando, ou seja, exportavam produtos
brasileiros declarados como sendo de origem boliviana. Então, podemos dizer que Mato
Grosso foi um dos principais produtores de goma elástica, visto que os dados do Boletim
Estatístico Comercial apontam que 30% da borracha dita amazonense era, na verdade, de
origem mato-grossense; ademais, temos que considerar o contrabando e as saídas pelo porto
de Corumbá.
Enfim, longe de ter esgotado a temática das casas comerciais mato-grossenses,
espero ter contribuído para o estudo desse tema de forma geral, uma vez que ainda são poucos
os estudos nessa área.
202
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2015.
210
ANEXO
(TARGAS, 2012, Capítulo 3)
211
CAPÍTULO III
AS CASAS IMPORTADORAS/EXPORTADORAS DE CORUMBÁ:
EMPRESÁRIOS, CAPITAIS, VINCULAÇÕES EXTERNAS E INTERNAS,
PRÁTICAS COMERCIAIS
Com o despontar do século XX o comércio corumbaense incrementou-se e, em
consequência, ocorreu a abertura de novas casas comerciais de importação e exportação;
porém, verifica-se que esse ramo empresarial não ficou limitado aos estrangeiros, visto que
brasileiros vindos de outras praças, assim como mato-grossenses, também fizeram parte do
comércio de importação/exportação. Além disso, é possível perceber que, no caso das casas
comerciais de importação e exportação de Corumbá (e provavelmente em todo o Estado), as
sociedades de tais empreendimentos apresentam suas especificidades, visto que havia
empresas pertencentes a estrangeiros, assim como a brasileiros, mas também havia sociedades
em que brasileiros e estrangeiros se associavam. Além disso, as empresas pertencentes a
estrangeiros negociavam produtos importados de diversas nacionalidades, não se limitando ao
país de origem de seus sócios.
3.1 As casas importadoras/exportadoras de Corumbá: empresários, capitais, vinculações
externas e internas
Em sua análise da economia mato-grossense na virada do século XIX para o XX,
Alves distingue rigidamente, por um lado, a figura dos comerciantes (proprietários das casas
comerciais importadoras e/ou exportadoras – que ele chama de comerciantes mato-
grossenses, isto é, parte da burguesia mato-grossense da época), e, por outro lado, os
representantes do capital financeiro, isto é, o capital e as empresas estrangeiras,
“imperialistas”.
As evidências empíricas, contudo, demonstram que essa separação não tem razão de
ser. Entre as empresas aqui estudadas encontra-se, ao contrário, uma grande diversidade de
situações: comerciantes de origem estrangeira que se encontravam radicados em Mato Grosso
havia várias décadas (e portanto, de certa forma, já “identificados” com o meio); comerciantes
212
estrangeiros recém-chegados, isto é, vindos entre fins do século XIX e inícios do XX;
comerciantes brasileiros não-mato-grossenses mas igualmente radicados e bem estabelecidos
na província/estado; e também, por certo, comerciantes naturais da própria província.
Independentemente, contudo, de sua origem ou caracterização inicial, todos esses tipos
de empresários tenderam a manter vínculos, igualmente diversos, com empresas e capitais
estrangeiros (no caso, especificamente europeus) – e também, claro, com outras forças
econômicas e políticas regionais e nacionais.
Essa diversidade é que busco expor nas análises que se seguem, referentes a algumas
das casas comerciais mais importantes do período abordado.
M. Cavassa Filho & Cia.
O português Manoel Cavassa, nascido em Lisboa, filho de mãe portuguesa e pai
italiano, emigrou para a América do Sul em 1842, e “depois de haver percorrido vários outros
lugares”, se estabelece em Buenos Aires, local onde afirma ter adquirido, através de muito
trabalho, “uma pequena fortuna” (CAVASSA, 1997, p. 20), conforme expressa em seu
Memorandum:
ali comprei um pequeno navio, com o qual empreendi a navegação do rio Uruguai, e no ano de 1850 me dediquei á carreira entre os portos de Buenos Aires e Assunção, República do Paraguai, com carregamento de minha propriedade, vendendo e comprando por minha conta, o que produziu-me bons lucros, fazendo avultar o meu capital (CAVASSA, 1997, p. 20).
E após a liberação da navegação fluvial pelo rio Paraguai, Manoel Cavassa teve a
oportunidade de conhecer Mato Grosso. Então, embarca em seu navio carregado de
mercadorias e chega à vila de Corumbá, ao final de 1857, e estabelece relações comerciais
com os habitantes da vila como também “com embarcações que vinham da capital, de Villa
Maria68 e de Miranda” (CAVASSA, 1997, p. 21). Através da análise do Memorandum de Manoel
Cavassa, dirigido ao Presidente da República no ano de 1894, com o intuito de conseguir
indenização pelas perdas durante a Guerra do Paraguai, pode-se entender que o comércio em
Mato Grosso era lucrat-ivo. Então, Manoel Cavassa, após passar dez meses em seu navio no
Porto de Corumbá, resolve fixar residência e comércio na vila (CAVASSA, 1997, p. 20-21), em
68 Atual cidade de Cáceres.
213
1858; seus negócios são interrompidos por causa da Guerra do Paraguai, mas com o fim da
mesma, em 1870, a Casa Manoel Cavassa é restabelecida (Album graphico do Estado de Matto-
Grosso, 1914, p. XXI).
A referida Casa Manoel Cavassa tem sua razão social alterada para Cavassa & Irmãos,
acredito que essa alteração tenha ocorrido por causa da morte de Manoel Cavassa em 1900 (cf.
a introdução escrita por Valmir B. Corrêa e Lúcia S. Corrêa, in: CAVASSA, 1997, p. 17), já que os
proprietários da firma sucessora foram: João Pedro Cavassa, Raphael Cavassa, Julio M.
Cavassa, todos filhos de Manoel Cavassa. Entretanto, com a entrada de Manoel Cavassa
Filho, Mariano Cavassa e Salustiano Maciel, a razão social é alterada para M. Cavassa Filho
& Cia. (Album graphico do Estado de Matto-Grosso, 1914, p. XXI). Não foi possível especificar
quando a empresa Cavassa & Irmãos passa a existir sob a razão social M. Cavassa Filho &
Cia., mas posso afirmar que no ano de 1905 já utilizava essa razão social, conforme os
registros do livro de exportação do ano de 1905, pertencente aos arquivos da Mesa de Rendas
de Corumbá.
De acordo com os historiadores Valmir Batista Corrêa e Lúcia Salsa Corrêa, a
primeira filha de Manoel Cavassa nasceu em Buenos Aires, e seus outros onze filhos
nasceram em Corumbá. Logo, os filhos de Manoel Cavassa que eram sócios da firma M.
Cavassa Filho & Cia. eram brasileiros descendentes de pai português e ao que tudo indica
mãe italiana (CAVASSA, 1997, p. 11); quanto ao sócio Salustiano Maciel, acredito que também
era brasileiro.
No que se refere ao capital da empresa M. Cavassa Filho & Cia., infelizmente não
consegui explicitar, mas acredito que era uma das mais importantes casas comerciais de
importação e exportação da época. Pois, possuía uma importante frota de navegação que fazia
a rota de “Corumbá a Assunção e a Montevideo, e vice-versa”, dividindo essa rota com as
companhias Vierci Hermanos e a Mihanovich (Album graphico do Estado de Matto-Grosso, 1914, p.
67). Possuía especialidades em “gêneros nacionais, farinha de trigo, querosene” (Op. cit.: XXI),
e exportava produtos do Estado, como couros vacuns, borracha, peles de animais silvestres e a
poaia (Mesa de Rendas de Corumbá, Livro de Registros de exportação de 1905 - APMT, Fundo da Delegacia
Fiscal do Tesouro Nacional em Mato grosso). Além disso, possuía em sua casa comercial uma seção
bancária, e também eram agentes do Banco do Brasil para a “emissão de vales ouros para
pagamento de direitos aduaneiros, e também para cobranças de títulos” e da companhia Brazil
Land, Cattle and Packing Co., empresa ligada ao sindicato Farquhar “com sede em São
Paulo, que ultimamente adquiriu as propriedades de Descalvados, Alegre e outros
214
estabelecimentos da indústria Pecuária neste Estado” (Album graphico do Estado de Matto-Grosso,
1914, p. XXI).
Wanderley, Baís & Cia.
A origem desta casa encontra-se ligada à trajetória de Firmo José de Mattos,
importante personagem da história política e econômica de Mato Grosso. Os caminhos que
levaram Firmo José de Mattos a Mato Grosso foram bem diferentes daqueles percorridos por
Manoel Cavassa. Firmo, um pernambucano formado em Direito, participa da “Revolução
Nunes Machado, em 1848” e após “abafada a revolta Nunes Machado, José Tomás Nabuco de
Araújo, o estadista do Império, pede para o moço pernambucano um lugar de juiz de direito”;
seu pedido é atendido e “Firmo é nomeado juiz, em Cuiabá” (PONCE FILHO, 1952, p. 26). Logo
se torna Desembargador e ao receber uma herança do sogro, de trinta contos de réis, vai ao
Rio de Janeiro com o intuito de investir no comércio. Ali conhece o Visconde de Figueiredo,
que
sugere sua ida à Europa, onde compraria mercadorias para vendê-las em Mato Grosso, ocasião asada para a importação, realça o financista. O governo imperial concedera, como compensação pelos prejuízos sofridos pelo Rio Grande do Sul e Mato Grosso, durante a invasão paraguaia, isenção de direitos aduaneiros às duas províncias [...] O desembargador segue o providencial conselho do Visconde. Vai à Europa. E de lá regressa a Mato Grosso, gozando da isenção de direitos, outorgada pelo governo Imperial. Abre casa de negócio em Cuiabá (PONCE FILHO, 1952, p. 27).
Através da análise do trecho citado, é notável que um dos principais incentivos para o
estabelecimento de uma casa comercial em Mato Grosso, logo após a Guerra da Tríplice
Aliança, era a isenção de impostos sobre os produtos importados. Aproveitando a
oportunidade, Firmo José de Mattos abre sua casa comercial em Cuiabá (PONCE FILHO, 1952, p.
27), no ano de 1873 (idem, p. 427) e, como indicação de sucesso nos negócios em Cuiabá, no
ano de 1876 estabelece uma filial em Corumbá (Album graphico do Estado de Mato Grosso, 1914, p.
XXIII).
Essa filial, sob a razão social de Firmo de Mattos & Cia., logo mais se tornou Firmo,
Barros & Cia. (idem) quando Firmo José de Mattos admitiu como sócio, em sua casa
comercial, seu genro Antônio Pedro Alves de Barros, um brasileiro nascido no Maranhão, que
215
foi oficial da Armada Nacional e Presidente do Estado de Mato Grosso de 1899 a 190369. As
fontes não nos dão pistas de quando essa alteração ocorreu; no entanto, a partir de 1º de
dezembro de 1904 a mesma empresa passou a ter por razão social Barros & Cia., sendo os
sócios Antônio Pedro Alves de Barros, outro genro de Firmo de Mattos, Francisco Mariani
Wanderley70, e Alberto Gomes Moreira (Inspetoria comercial de Mato Grosso, Livro de Registros: 2 de
janeiro de 1893 a 18 de setembro de 1915, p. 26, JUCEMAT). É importante ressaltar que Francisco M.
Wanderley era brasileiro e Alberto G. Moreira, português (Album graphico do Estado de Matto-
Grosso, 1914, p. XXII). Em primeiro de julho de 1906, um novo contrato é realizado e com ele se
forma a sociedade da empresa Wanderley, Baís & Cia. (Inspetoria comercial de Mato Grosso, Livro
de Registros: 2 de janeiro de 1893 a 18 de setembro de 1915, p. 28, JUCEMAT), quando o sócio Antônio
Pedro A. Barros se retira da sociedade e entra Francisco Bernardo Baís, de nacionalidade
italiana (Album graphico do Estado de Matto-Grosso, 1914, p. XXII).
Francisco Mariani Wanderley ocupou posição de destaque não só no comércio mato-
grossense mas também na política, pois ocupou “por algumas legislaturas o cargo de
presidente da Assembleia Legislativa do Estado” e esteve ligado ao grupo oligárquico de
Generoso Ponce e Joaquim Murtinho quando da derrubada do então presidente do Estado
Antônio Paes de Barros (Totó Paes) em 1906. Também esteve ligado aos interesses belgas em
Mato Grosso, já que teve instalado em sua casa comercial o consulado belga (GARCIA, 2009, p.
176), se tornando vice-cônsul da Bélgica em Mato Grosso, enquanto seu sócio Alberto Gomes
Moreira era vice-cônsul da Argentina (Album graphico do Estado de Matto-Grosso, 1914, p. XXII). No
entanto, algumas pistas sugerem que Francisco Mariani Wanderley também era cônsul
honorário da França e da Inglaterra, além de professor secundário e oficial da reserva da
Marinha (BÁEZ, 1977, p. 19).
É interessante notar como uma única pessoa podia representar vários consulados, o
que evidentemente a favorecia em seus investimentos comerciais e, ao que parece, apontava
possibilidades de investimentos financeiros em Mato Grosso aos países representados, que
buscavam mercados para seus produtos manufaturados, ao mesmo tempo, a compra de
69 Conforme árvore genealógica, Antônio Pedro Alves de Barros casou-se com Costança Amélia de Mattos, filha
de Firmo José de Mattos e Francisca Rosa de Moraes, com quem teve sete filhos
(http://www.araujo.eti.br/familia.asp?numPessoa=38244&dir=genxdir/, pesquisado em 10 de junho de 2011).
70 Francisco Mariani Wanderley era casado com Amália Mattos, filha de Firmo de Mattos ,
(http://www.cbg.org.br/arquivos_genealogicos_m_08.html/, pesquisado em 18 de junho de 2011).
216
produtos primários baratos71. Talvez aqui se possa identificar uma semelhança ao caso
apontado pela historiadora Denise Monteiro Takeya, em seu estudo sobre a casa francesa
Bóris Fréres, que mantinha, nessa época, uma filial em fortaleza (Ceará) (TAKEYA, 1995, p.
123). Pelo que diz a autora, a montagem de casas comerciais no exterior envolvia uma grande
rede de informações, envolvendo instâncias governamentais (a começar pelas autoridades
consulares) e diversos agentes da economia francesa:
As observações feitas por agentes consulares apontavam para as possibilidades que se abriam para quem estabelecesse uma casa comercial francesa na província do Ceará. Não é de todo improvável que os Bóris tenham tido acesso a algum tipo de informação a respeito das potencialidades do Brasil como mercado para os produtos franceses (TAKEYA, 1995, p. 126).
Um outro aspecto interessante ligado à casa Wanderley, Baís & Cia. relaciona-se às
concessões para a exploração das jazidas de ferro e manganês do maciço do Urucum, nas
proximidades de Corumbá. Inicialmente a concessão para a exploração dessas minas foi dada
à baronesa de Vila Maria, “pelo governo do Império”; porém,
a concessão caiu em caducidade e o governo provisório da República decidiu prorrogá-la, após a baronesa publicar em um jornal de São Paulo um artigo em que questionava a viabilidade do Estado de Mato Grosso após a proclamação da República e defendia sua anexação ao estado de São Paulo. Com a promulgação da Constituição de 1892, a prerrogativa para legislar sobre as minas passou para os Estados e a concessão da baronesa caiu em caducidade, não sendo renovada pelo governo de Mato Grosso (GARCIA, 2009, p. 184).
Em seguida o governo estadual fez nova concessão para a exploração de Urucum,
“desta vez a Francisco Couto da Silva”, no ano de 1897, o qual não cumpriu “os termos da
concessão” mas teve a mesma “prorrogada em 1905, por decisão da Assembleia Legislativa
Estadual, presidida por Francisco Mariani Wanderley” (GARCIA, 2009, p. 184- 185). Ao que
parece, as influências política e comercial de Francisco Mariani Wanderley eram interligadas,
pois, ao que tudo indica, essa aprovação o beneficiou logo mais, conforme apontou Garcia:
O curioso é que o artigo segundo da lei que determinava a prorrogação, parece ter
sido escrito por encomenda para que a concessão pudesse ser vendida em seguida. Dizia esse artigo: ‘Fica também homologado qualquer acordo celebrado pelo cessionário, dentro porém, dos limites traçados no contrato firmado com o governo do Estado’. E de fato, Francisco Couto da Silva
71 Sobre a expansão comercial de 1875 a 1914, ver A era dos Impérios, de Eric Hobsbawm, 2010.
217
vendeu oficialmente a concessão à empresa ‘Sociedade Geral das Minas de Manganês Gonçalves Ramos & Comp.’, sediada no Rio de Janeiro, em dezembro de 1905. Em 1906, essa concessão foi novamente vendida, desta vez aos belgas da Compagnie de l’Urucum Societé Anonyme (Op. cit., p. 185) .
No ano de 1907, após a empresa Compagnie de l’Urucum ter conseguido a concessão
da exploração do Urucum, o cônsul belga e administrador da referida empresa, Pierre de
Thier-David, passou uma procuração à casa Wanderley, Baís & Cia., a qual conferia poderes
de representação “perante as autoridades e repartições públicas deste Estado, Federais,
Estaduais e Municipais em quaisquer assuntos e também para representarem perante os juízes
e tribunais judiciais em quaisquer demandas civis, comerciais ou crimes” (Inspetoria comercial de
Mato Grosso, Livro de Registros de 1913 a 1914: 25 de janeiro de 1913 a 9 de julho de 1914, p. 86, JUCEMAT).
Esses poderes só eram válidos na ausência dos engenheiros: Pierre de Thier-David e do seu
substituto Eugene Delkaye. Neste caso, portanto, o consulado seria representado por
Francisco M. Wanderley e a Compagnie de l’Urucum pela sua casa wanderley, Baís & Cia.
(GARCIA, 2009, p. 185-186).
Outro aspecto importante é o fato dessa empresa ser “representante em Corumbá da
Companhia de Estrada de Ferro Noroeste do Brasil (Ramal Itapura a Corumbá), da qual” era
“provedora dos mantimentos para os trabalhadores”. Também eram “consignatários das
firmas montevideanas: Viuda de A. F. Braga e Scarlato & Hermanos” (Album graphico do Estado
de Matto-Grosso, 1914, p. XXV). Suas operações podem assim ser resumidas em: operações
bancárias, além de comissão, consignação, importação, exportação, despachos e navegação
(idem, p. XXIII).
A matriz da Casa Wanderley, Baís & Cia. localizava-se em Corumbá e as filiais em
Campo Grande, Aquidauana e Miranda (BÁEZ, 1977, p. 19). O capital dessa casa, conforme a
propaganda exposta no Álbum graphico do Estado de Mato Grosso, era de mil contos de réis.
A mesma fonte também indica que os ativos dessa casa eram vultosos, pois incluíam:
além dos magníficos edifícios, onde funcionam a casa matriz e as filiais, diversas fazendas no interior do estado, ricos em gado de criação e madeiras de leis para a construção, e uma frota importante de quatro lanchas e 9 chatas, própria para a navegação (Album graphico do Estado de Matto-Grosso, 1914, p. XXIII).
A empresa possuía diversas embarcações, empregadas “no serviço regular de
comunicação entre o porto de Corumbá e o da capital, Cuiabá, bem como para a vila de
Aquidauana, no sul do Estado, e Porto Esperança, futuro ponto final da Estrada de Ferro de
218
São Paulo a Mato Grosso”, utilizando para isso “o vapor Iguatemy, com excelentes
acomodações para passageiros, três rebocadores possantes, denominados Jamary, Itajahi,
Nhandohi, próprios para o serviço de carga”, e contando com “nove chatas grandes com
capacidade total para 450 toneladas” para a carga e descarga das mercadorias no Porto de
Corumbá (Album graphico do Estado de Matto-Grosso, 1914, p. XXIV). Com a descrição das
propriedades citadas acima, é possível perceber que a referida empresa atuava em diversos
ramos, constituindo uma rede de influências que ia do econômico ao político, do privado ao
público, beneficiando-se assim, reciprocamente.
Enfim, ainda hoje, quem andar pela Rua Manoel Cavassa (nome atual da antiga Rua
do Comércio) no Porto de Corumbá, ficará encantado pela vista do prédio que conserva a
fachada da antiga casa comercial Wanderley, Baís & Cia: com “três pisos, o acesso interno é
feito por escadas de ferro importadas da Inglaterra” (SOUZA, 2008, p.182). Hoje o prédio abriga
o Museu da História do Pantanal.
Pereira, Sobrinhos & Cia.
Outra casa que se destacou em Corumbá foi a Pereira, Sobrinhos & Cia., estabelecida
em 1909, sucessora da antiga firma Pereira & Sobrinhos que havia sido fundada em Corumbá,
em 1882, por Manoel Pereira Junior. A casa Pereira, Sobrinhos & Cia. tinha por sócios o
brasileiro Eugênio Antunes P. da Cunha como sócio principal; Manoel Diniz da Costa,
Galdino Pereira da Cruz Sobrinho e Armando Ignacio Pereira como sócios de indústria, sendo
o primeiro brasileiro, e os dois últimos portugueses; e a empresa Pereira & Sobrinhos,
estabelecida na Europa, como sócia comanditária (Album graphico do Estado de Matto-Grosso, 1914,
p. XXVII).
Como se pode perceber essa empresa apresenta um diferencial em relação às demais
empresas aqui estudadas, pois constituía uma sociedade em comandita; e neste tipo de
sociedade “os sócios comanditários não podem praticar ato algum de gestão, nem ser
empregados nos negócios da sociedade, ainda mesmo que seja como procuradores, nem fazer
parte da firma social” (Código comercial de 1850, Lei nº 556, Art. 314) Sendo assim, a firma europeia
Pereira & Sobrinhos não geria os negócios da empresa brasileira, respondendo apenas nos
limites do capital investido.
A partir dos dados mencionados acima, parece-me possível que, inicialmente, a firma
Pereira & Sobrinhos, estabelecida em Corumbá em 1882, tenha sido filial da matriz
219
estabelecida na Europa, pois ambas tinham o mesmo nome. Portanto, acredito que Manoel
Pereira Junior, provavelmente português, possuía uma casa comercial em Portugal e tenha
tido algum tipo de informação sobre as potencialidades de Mato Grosso, especialmente da
cidade de Corumbá, o que o levou a estabelecer uma filial em Corumbá. Entretanto, não se
sabe os motivos que levaram à sua transformação, em 1909, na casa Pereira, Sobrinhos & Cia.
Entendo que neste caso, com a mudança da razão social, não mais se verifica o esquema
matriz na Europa e filial no Brasil, pois ao analisar o que era uma sociedade de comandita,
entende-se que a Pereira, Sobrinhos & Cia. passou a ser uma empresa a qual contava com um
investimento de capital estrangeiro sem ter, no entanto, uma vinculação de filial com a Pereira
& Sobrinhos.
Esta casa dedicava-se principalmente à importação em geral, “com preferência de
gêneros de estiva72, não deixando entretanto, de negociar em outros artigos em grande
escala” (Album graphico do Estado de Matto-Grosso, 1914, p. XXVII). A exportação, por sua vez,
também possuía seu lugar de destaque, sendo o couro vacum seu principal produto. Essa
empresa também representava o Banco de la Republica, de Assunção (Album graphico do Estado
de Matto-Grosso, 1914, p. XXVI).
O capital dessa empresa, em dois anos (1909-1911), passou de 190 para 450 contos de
réis (Album graphico do Estado de Matto-Grosso, 1914, p. XXVI). O que me faz pensar que o comércio
em Corumbá, no início do século XX, realmente era lucrativo, e me permite entender por que
tantos estrangeiros ou brasileiros residentes de outras praças migraram para Corumbá.
Ponce, Azevedo & Cia.
No caso de Generoso Paes Leme de Souza Ponce, seu ingresso no comércio (e, aliás,
também na política) se deu através de Firmo José de Mattos (o mesmo que se encontra na
origem da casa Wanderley, Baís & Cia., conforme já mencionado). Este, ao estabelecer seu
comércio em Cuiabá, contrata Ponce como funcionário. Este inicia sua atividade no comércio
trabalhando a princípio no balcão, depois passa a caixeiro viajante, pois fica responsável pelas
72 “Os Gêneros a que se dá saída por Estiva são como o Café por exportação, que é em grande quantidade, e
todos os mais que não são de Selo, que pela sua qualidade de miudezas, se lhes dá saída por Estiva” (Decreto de
12 abr. 1810, CLB 1810-1811, apud Cruz, 1999, p. 6). “Gêneros de estiva, Reg (Pernambuco): os do comércio
de secos e molhados em grosso” (Dicionário Michaelis, in:
http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues -portugues&palavra=g%EAnero,
pesquisado em 25 de junho de 2012).
220
compras no Rio de Janeiro e na Europa (PONCE FILHO, 1952, p. 26-31), e ao que tudo indica
após três anos, se torna sócio de Firmo de Mattos (PONCE FILHO, 1952, p. 34). Deste modo,
“sócios, posteriormente formam a razão Firmo & Ponce. Este compra-lhe mais tarde a quota,
estabelecendo firma individual – Generoso Ponce” (Op. cit., p. 29). Ao que parece, Ponce se
tornou sócio somente da casa comercial de Cuiabá, pois em Corumbá, como já vimos, a
sucessora da Firmo de Mattos & Cia. foi a Firmo, Barros & Cia. (Album gráfico do Estado de
Matto-Grosso, 1914, p. XXIII). Generoso Ponce também estabeleceu uma casa comercial em
Diamantino (PONCE FILHO, 1952, p.340).
Além das atividades comerciais, a política sempre esteve presente na vida de Generoso
Ponce, pois foi “Deputado Provincial por várias vezes, fez parte da Assembleia Constituinte
Republicana. Foi eleito Vice-presidente do Estado”, foi chefe da contrarrevolução que levou
Manuel Murtinho ao poder e chefe do Estado, “tendo Ponce após a vitória” assumido “o
governo provisoriamente. Em 1894 foi eleito Senador Federal, cargo que ocupou até 1902.
Em 1907 foi eleito Presidente do Estado” (MENDONÇA, 1971, p. 132). Além disso:
de 1889 até 1906, Mato Grosso passou por quatro movimentos armados dirigidos contra o governo do estado: “Revolução73 de 1892”, “Revolução de 1899”, “Revolução de 1901”, “Revolução de 1906”. Generoso Ponce esteve envolvido em todos eles: ora no situacionismo, em 1892 e 1899; ora na oposição, em 1901 (indiretamente) e 1906. Nos três últimos, seu inimigo foi Antônio Paes de Barros, o Totó Paes. A vitória definitiva sobre o cel. Totó Paes selaria a sua grande vitória na política do estado – tanto para Ponce, quanto para correligionários fiéis, como Pedro Celestino Corrêa da Costa (PORTELA, 2009, p. 138-139).
Tomando como exemplo Corumbá, o historiador João Carlos de Souza apontou que
“os grupos sociais e políticos, em disputa por espaço e poder, tiveram na imprensa periódica
seu principal meio de manifestação” (SOUZA, 2008, p. 76). Com Generoso Ponce não foi
diferente, utiliza-se da imprensa como instrumento político, inicia com a redação de artigos no
jornal O Liberal (PONCE FILHO, 1952, p. 37) mas também participa da elaboração do periódico
A Reação, editado durante sua estada em Assunção (PONCE FILHO, 1967). Além disso,
participou “como redator principal do jornal O Mato-Grosso. Fundou e dirigiu o jornal O
Republicano, em 1895. Colaborou na imprensa do Rio de Janeiro” (MENDONÇA, 1971, p. 132).
O envolvimento político de Generoso Ponce acabou, segundo seu filho, por prejudicá-
lo nos negócios, visto que, durante a Revolução de 1899, teve sua casa comercial de
73 A disputa pelo poder político em Mato Grosso desencadeou diversos movimentos que na época eram
chamados de “revoluções”, sobre esse assunto, consultar Corrêa, 1995.
221
Diamantino saqueada e destruída por seus adversários (PONCE FILHO, 1952, p. 340). E em
virtude da “Revolução de 1901” a família de Ponce, que residia em Cuiabá, teve que sair da
cidade e partiu rumo ao Rio de Janeiro, com a pretensão de encontrar Generoso, visto que este
cumpria seu mandato na capital do Brasil. No entanto, a família se reuniu em Assunção, no
Paraguai, onde fixaram residência, até 1903, quando Generoso Ponce resolve voltar para Mato
Grosso e estabelecer comércio e residência na cidade de Corumbá (PONCE FILHO, 1967, p. 8-29).
Nessa época, Ponce está “arrasado política e financeiramente” (Op. cit. p. 29), e conforme se
informa, contava com apenas “cinquenta contos de réis” para se restabelecer comercialmente
(PONCE FILHO, 1952, p. 338).
Então, Generoso Ponce, em agosto de 1903, encarrega Pedro Paulo de Medeiros de
estabelecer em Corumbá uma filial da Casa Generoso Ponce & Cia., já que a matriz,
localizada em Cuiabá, não deixara de existir, ficara a cargo de Joaquim Caracíolo Peixoto de
Azevedo. Inicialmente Ponce orienta à distância os negócios, “que iniciam a cargo de
Medeiros”, mas em outubro do mesmo ano se muda para Corumbá com a família para tomar
conta dos negócios (Op. cit. p. 339). Apesar da empresa Generoso Ponce & Cia., estabelecida
em Cuiabá, não ter deixado de existir, ao que parece ela ficou estagnada, devido às disputas
políticas (idem, p. 340).
Com relação à empresa Ponce, Azevedo & Cia., sua constituição se dá em novembro
de 1903, quando Generoso Ponce vai a Cuiabá, contrai sociedade com Joaquim Caracíolo
Peixoto de Azevedo e Américo Augusto Caldas, e “transforma a firma comercial - Generoso
Ponce & Cia., em Ponce, Azevedo & Cia”; a casa comercial de Cuiabá fica sob a gerência de
Medeiros e também restabelecem a empresa de Diamantino, ficando agora com três casas
comerciais (Idem, p. 347-348). Assim, Ponce se refaz “comercial e politicamente [...], em pouco
mais de dois anos” (PONCE FILHO, 1967, p. 31).
Os produtos importados pela Casa Ponce, Azevedo & Cia. eram “sal a grosso, tecidos
das mais variadas qualidades, artigos de luxo, perfumarias, calçados, comestíveis e conservas,
louças, ferragens, guaraná, tudo que possa carecer o comércio mato-grossense é importado”
(PONCE, 1952, p. 348). Após essa descrição, podemos perceber que não apenas essa empresa,
mas todas aquelas dedicadas à importação compravam vários tipos de produtos, não se
limitando a vestuário ou alimentação, mas uma mescla de produtos de que o mercado mato-
grossense carecia.
Uma indicação dos lucros da Casa Ponce, Azevedo & Cia. está em um levantamento
dos bens da referida empresa no ano de 1907, em uma proposta de venda a Leopoldo de
222
Matos74. Este sai de Manaus e vai a Cuiabá “para trazer tentadora proposta”, já que “certo
sindicato inglês – é a época de ouro da borracha – comprar-lhe ia os seringais da firma e as
três casas comerciais, entrosadas no negócio da borracha” (PONCE FILHO, 1952, p. 464). A
proposta de compra das propriedades pertencentes à firma Ponce, Azevedo & Cia. foi de
3.400 contos de réis. Na mesma época da proposta, Ponce foi cotado como candidato à
presidência do Estado e foi eleito, e o motivo apontado por seu filho para a não realização do
negócio, é porque “suspeitariam que da influência do cargo viera a operação” (PONCE FILHO,
1952, p. 464-465). No entanto, “viria depois a queda da borracha. E tudo aquilo, quando”
[Ponce] “morre cinco anos depois, não vale sequer quarta parte” (idem, p. 466), com o que fica
mais uma vez evidente a importância da borracha para as empresas estudadas.
Stöfen, Schnack, Müller & Cia.
Um caso em particular é a empresa Stöfen, Schnack, Müller & Cia., pois possuía
matrizes em Corumbá e na vizinha cidade fronteiriça de Puerto Suarez, na Bolívia. Na cidade
de Corumbá, além da matriz, também possuía uma filial (Au Louvre), já as outras filiais
brasileiras se localizavam em Aquidauana, Rio Guaporé e as filiais bolivianas encontravam-se
em Santiago, Santa Ana, San José, San Ignacio, Concepcion e Rio Itenez. A firma foi aberta
em 1898, e os sócios componentes foram: Henrique Schnack, Guilherme Müller e Ernesto
Köhler (Album graphico do Estado de Matto-Grosso, 1914, p. XXXV). Portanto, sobre a nacionalidade
dos sócios, tomando com base os sobrenomes, suponho que os mesmos eram alemães ou
descendentes. O estudo desta empresa apresenta um caso intrigante, já que o nome do sócio
Stöfen não aparece na fundação da empresa em 1898. A esse respeito só é possível efetuar
algumas especulações. Por exemplo, Stöfen poderia ser um sócio que teria substituído Ernesto
Köhler na sociedade, até porque o nome desse último não aparece na razão social da empresa
em 1914 (a menos que Ernesto Köhler estivesse incluso na noção de “Cia.”).
Quanto ao capital dessa empresa, as fontes analisadas não trazem vestígios, entretanto
pode-se supor que o capital era algo significativo. Além de se dedicarem à exportação,
importação, comissão, consignação, também eram representantes da Anglo Bolivian Rubber
Estates, Ltd., de Londres. A extração e a exportação da borracha eram de seus próprios
seringais. Eram responsáveis pela “navegação no Rio Guaporé e Laguna de Cáceres” com as
74 Este era filho de Firmo de Mattos (PONCE FILHO, 1952, p. 464).
223
lanchas “Meteor, Mequenes, Guilherme II e Inca” (Album graphico do Estado de Matto-Grosso, 1914,
p. XXXV). Os sócios da Casa Stöfen, Schnack, Müller & Cia. possuíam a vantagem de terem
casas comerciais na Bolívia e essa circunstância me leva a pensar que esta empresa poderia
utilizar os esquemas de comércio ilícito (contrabando) que são mencionados por Garcia.
Segundo esse autor, essa era uma prática rotineira no comércio mato-grossense:
o mecanismo utilizado para o contrabando consistia em extrair a borracha no lado brasileiro do rio Guaporé e alegar que era produto extraído no lado boliviano, evitando pagar os impostos ao Brasil, no caso ao estado de Mato Grosso, de outra maneira, a borracha extraída no lado boliviano era apresentada como extraída no lado brasileiro e, com isso, se evitava pagar imposto à Bolívia. O mesmo processo, de maneira invertida, deve ter funcionado para as mercadorias importadas (GARCIA, 2009, p. 73).
Tudo leva a crer que o motivo para declararem a borracha brasileira como de
procedência boliviana, era o fato de os impostos sobre as exportações bolivianas eram
insignificantes (BORGES, 2001, p. 68).
As exportações realizadas pelas casas Stöfen, Schnack, Müller, no período estudado,
eram expressivas, como pode ser verificado nas tabelas de exportação apresentadas no
capítulo 2 (Mesa de Rendas de Corumbá, Livro de Estatística de 1910, 1911, 1912 e 1915 - APMT, Fundo da
Delegacia Fiscal do Tesouro Nacional em Mato Grosso). Pela leitura da documentação percebe-se que
também eram expressivas as exportações realizadas por essa empresa, procedentes da Bolívia
em trânsito pelo porto de Corumbá (cf. os livros de Registros de Despachos dos Produtos exportados da
Bolívia - APMT, Fundo da Delegacia Fiscal do Tesouro Nacional em Mato Grosso). Para o transporte de
suas mercadorias, em âmbito regional, utilizavam suas próprias lanchas (REYNALDO, 2000, p.
110), o que lhes propiciava autonomia, facilitando o translado de mercadorias do lado
brasileiro para o boliviano.
Vasquez, Filhos & Cia.
Quando analisa-se a nacionalidade dos proprietários das empresas estudadas, percebe-
se que a presença estrangeira se destaca, tanto de origem europeia quanto de latino-
americanos; pois os sócios da Casa Vasquez, Filhos & Cia. eram, em sua maioria, uruguaios,
com exceção de Agostinho Vasquez, o qual era brasileiro (Inspetoria Comercial de Mato Grosso,
Livro de Registros de1913 a 1914: 25 de janeiro a 9 de julho de 1914, p. 144, JUCEMAT). Essa empresa
mantinha contatos com as repúblicas do Prata e com os países europeus, dos quais
importavam diversos produtos: como alimentos, vestuários, louças, algumas espécies de
máquinas, e sua especialidade era a farinha de trigo (Album graphico do Estado de Matto-Grosso,
224
1914, p. XXVIII); também exportavam produtos primários do Estado (Fundo da Casa Vasquez, Filhos
& Cia., Livro Copiador de Cartas e Telegramas de 1910, NDHER).
Essa empresa iniciou suas atividades com a razão social Vasquez & Cia. (Inspetoria
Comercial de Mato Grosso Livro de Registros de 1913 a 1914: 25 de janeiro a 9 de julho de 1914, p. 144,
JUCEMAT). Segundo anúncio da empresa publicado no Album graphico, ela teria sido fundada
em 1900 (Album graphico do Estado de Matto-Grosso, 1914, p. XXVIII). Todavia, segundo consta na
logomarca impressa mais tarde nos papéis de correspondência da referida empresa, a
fundação teria ocorrido em 1898 por Miguel Vasquez (Carta enviada Pancho pela Casa Vasquez,
Filhos & Cia., carta avulsa de 1930). Depois a razão social foi alterada para Vasquez & Filhos e,
por último, Vasquez, Filhos & Cia., tendo por sócios: Francisco Vasquez, Miguel Vasques e
Agostinho Vasquez (Album graphico do Estado de Matto-Grosso, 1914, p. XXVIII). O prédio dessa
casa é um dos maiores encontrados até hoje, no Porto de Corumbá, localizado “no início da
ladeira da Alfândega”. Ele foi construído em 1909 e “sua fachada apresenta o estilo eclético.
O arquiteto foi o italiano Martino Santa Lucci, responsável por muitas construções na cidade”
(SOUZA, 2008, p. 182). O prédio possui três pisos e chama atenção pela sua beleza e por sua
posição de destaque no Porto de Corumbá.
Quanto ao capital empregado no início da sociedade, as fontes utilizadas não deixam
pistas; no entanto, em um novo contrato feito em 1913, o capital empregado foi de
100:000$000 (cem contos de réis) (Inspetoria Comercial de Mato Grosso Livro de Registros de 1913 a
1914: 25 de janeiro a 9 de julho de 1914, p. 144, JUCEMAT). Conforme mostram as fontes, nesta
empresa, bem como em outras, mencionadas mais adiante, aparecem dois tipos de sócios: os
capitalistas e os de indústria. O sócio de indústria é aquele que contribui unicamente com seu
trabalho, tendo direito a uma participação nos lucros, especificada em contrato, no entanto
não é responsável pelas dívidas contraídas pela empresa, já que não responde legalmente por
ela; e o sócio capitalista é aquele que entra com o capital e sua obrigação é solidária, ou seja,
responde legalmente pela empresa. (Código Comercial de 1850, Lei nº 556, Art. 317 a 324). Além
disso, a participação nos lucros variava de acordo com a categoria dos sócios, assim como,
com a quantidade do capital empregado. Também os sócios que trabalhavam na empresa
tinham direito a um pro labore por mês, o qual era combinado em contrato e variava de
acordo com a função na empresa.
No caso da Casa Vasquez, Filhos & Cia., os sócios capitalistas eram Francisco
Vasquez e Agostinho Vasquez e cada um entrou com 50:000$000 (cinquenta contos de réis);
como sócios de indústria entraram Manoel Vasquez, Henrique Vasquez e Delphino Vasquez
(Inspetoria Comercial de Mato Grosso, Livro de Registros de 1913 a 1914: 25 de janeiro a 9 de julho d e 1914, p.
225
144, JUCEMAT). A participação nos lucros ficou dividida da seguinte forma: 30% para
Francisco e 30% para Agostinho, para os demais sócios Manoel e Henrique, participações de
15% para cada um e de 10% para Delphino (Inspetoria Comercial de Mato Grosso, Livro de Registros
de 1913 a 1914: 25 de janeiro a 9 de julho de 1914, p. 144, JUCEMAT). Em primeiro de janeiro de 1914,
um novo contrato é realizado, onde somente os sócios Francisco Vasquez e Agostinho
Vasquez permanecem na sociedade (Inspetoria Comercial de Mato Grosso, Livro de Registros de 02 de
janeiro de 1903 a 18 de setembro de 1915, p. 87, JUCEMAT).
226
Foto 1
Casa Vasques, Filhos & Cia.
Autoria: TARGAS, Zulmária I. M. S., 2011.
227
Mônaco, Piñon & Cia.
No ano de 1902 foi fundada em Corumbá a casa Larocca, Mônaco & Cia., no entanto,
essa empresa sofreu várias alterações em sua razão social. Pois, no ano de 1909 foi
transformada em Mônaco, Filho & Cia. (Album graphico do Estado de Matto-Grosso, 1914, p. XXXVI),
mas logo passou a girar sob a razão Mônaco, Moliterno & Cia., especificamente em 1º de
maio de 1910, tendo por sócios Agostinho Mônaco e Nicola Moliterno como capitalistas e
Leopoldo Mônaco e Almicar Clodomiro Vandoni como sócios de indústria, sendo italiano
Nicola Moliterno e os demais brasileiros (Inspetoria Comercial de Mato Grosso, Livro de Registros de
Escrituras, Contratos Comerciais e Outros Documentos de 15 de Julho de 1910 a 08 de janeiro de1913, p.17-18,
JUCEMAT).
O capital da casa Mônaco, Moliterno & Cia. foi composto por 227:927$951 (duzentos
e vinte e sete contos novecentos e vinte sete mil novecentos e cinquenta e um réis). O sócio
Agostinho Mônaco investiu a quantia de 124:278$967 (cento e vinte quatro contos e duzentos
e setenta e oito mil e novecentos e sessenta e sete réis), capital procedente da antiga firma
Mônaco, Filho & Cia., e Nicola Moliterno investiu 103:648$984 (cento e três contos
seiscentos e quarenta e oito mil novecentos e oitenta e quatro réis). Os lucros ficaram
divididos da seguinte forma: 40% para cada um dos sócios capitalistas, 15% para Leopoldo
Mônaco e 5% para Almicar C. Vandoni (Inspetoria Comercial de Mato Grosso, Livro de Registros de
Escrituras, Contratos Comerciais e Outros Documentos de 15 de Julho de 1910 a 8 de janeiro de1913, p.18-19,
JUCEMAT). Esta sociedade previa duração de cinco anos em seu contrato, contudo em 26 de
setembro de 1913 ocorreu o distrato da sociedade, com a retirada do sócio Nicola Moliterno.
O capital pertencente a Agostinho Mônaco, ao final desta sociedade, foi de 78:649$685
(setenta e oito contos e seiscentos e quarenta nove mil e seiscentos oitenta e quatro réis). A
Nicola Moliterno tocou a quantia de 76:540$685 (setenta e seis contos quinhentos e quarenta
mil seiscentos e oitenta e cinco réis); Leopoldo Mônaco ficou com 24:793$900 (vinte e quatro
contos setecentos e noventa e três mil e novecentos réis); nada tocando a Almicar C. Vandoni
(Op. cit., p.18-19). Essa sociedade provavelmente foi desfeita porque, por razões que não são
explicitadas, estava dando prejuízos, visto que em três anos de sociedade o capital diminuiu
em 47:043$681 (quarenta e sete contos e quarenta e três mil e seiscentos e oitenta e um réis).
Porém, no dia seguinte ao distrato da sociedade Mônaco, Moliterno & Cia. foi
registrado o contrato de uma nova sociedade, que passou a girar sob a razão social Mônaco,
Piñon & Cia.. Essa nova empresa era formada pelos sócios Agostinho Mônaco com o capital
de 78:149$974 (setenta e oito contos e cento e quarenta e nove mil novecentos e setenta e
228
quatro réis), Leopoldo Mônaco com o capital que lhe competiu na dissolução da antiga
sociedade, Arthur Piñon com o capital de 6:556$120 (seis contos quinhentos e cinquenta e
seis mil e cento e vinte réis), e Almicar Clodomiro Vandoni, com sua indústria. A divisão dos
lucros ficou estabelecida em 40% dos lucros para Agostinho, 30% para Arthur, 20% para
Leopoldo e 10% para Almicar. A retirada mensal dos sócios ficou estabelecida em setecentos
mil réis para Agostinho, quinhentos mil para Arthur, trezentos mil réis para cada um dos
sócios Almicar e Leopoldo (Inspetoria Comercial de Mato Grosso, Livro de Registros de Escrituras,
Contratos Comerciais e Outros Documentos de 15 de Julho de 1910 a 8 de janeiro de1913, p. 84-85,
JUCEMAT). Esta casa dedicava-se a “importação e exportação em geral, sendo sua
especialidade comestível”; o prédio que abrigava a casa possuía dois pisos (Album graphico do
Estado de Matto-Grosso, 1914, p. XXXVI) e existe ainda hoje em Corumbá, encontrando-se em
reforma.
Josetti & Cia.
De acordo com os documentos da Mesa de Rendas de Corumbá, no ano de 1905
existia em Corumbá a Josetti, Nunes Dias & Rondon (Mesa de Rendas de Corumbá, Livro de
Estatística de Exportação de 1905 - APMT, Fundo da Delegacia Fiscal do Tesouro Nacional em Mato Grosso).
Esta prevalece até meados de 1907 (Mesa de Rendas de Corumbá, Livro de Lançamento de Impostos de
1907 - APMT, Fundo da Delegacia Fiscal do Tesouro Nacional em Mato Grosso) quando esta empresa se
desfaz e passa a constituir outras duas: Josetti, Schmith & Cia. (Mesa de Rendas de Corumbá, Livro
de Estatística de 1909 - APMT, Fundo da Delegacia Fiscal do Tesouro Nacional em Mato Grosso) e Nunes &
Rondon (Mesa de Rendas de Corumbá, Livro de Lançamento de Impostos de 1908 - APMT, Fundo da
Delegacia Fiscal do Tesouro Nacional em Mato Grosso).
O Album Graphico do Estado de Matto-Grosso aponta o ano de 1909 para a
constituição da sociedade da casa Josetti & Cia. (Op. cit. p. XXXII); porém, o registro do
contrato na junta comercial ocorreu somente em quinze de julho de 1910, mesmo assim, o
nome da nova firma só aparece nos registros de exportações no ano de 1911. Essa sociedade
foi formada pela junção da Casa Josetti & Cia. de Corumbá – que pertencia a João Adolpho
Josetti e Arthur Josetti somando 150:000$000 (cento e cinquenta contos de réis), pertencendo
50% a cada um dos sócios – com a Josetti & Cia. de Diamantino, pertencente a Frederico A.
Josetti, no valor de 100:000$000 (cem contos de réis), somando juntas, um capital de
duzentos e cinquenta contos de réis. A casa de Corumbá ficou sendo a matriz, com filiais em
Barra do Bugres e no estabelecimento agrícola denominado ‘Affonso’ na Serra Tapirapuã
229
(Inspetoria Comercial de Mato Grosso, Livro de Registros de Escrituras, Contratos Comerciais e Outros
Documentos de 15 de Julho de 1910 a 8 de janeiro de1913, p.56, JUCEMAT) .
Tudo me leva a crer que os sócios e irmãos João Adolpho, Arthur e Frederico Adolpho
Josetti são descendentes de italianos, contudo, provavelmente todos nasceram em Mato
Grosso. O sócio João Adolpho Josetti nasceu em Cuiabá, em 1860, e se formou em medicina
na Faculdade Nacional de Medicina do Rio de Janeiro em 1885
(http://antoniovalsalva.blogspot.com.br/2011/04/o-dr-joao-adolpho-josetti.html, acessado em 13 de junho de
2012). Conforme exposto no Album graphico, João Adolpho residia na Europa, o que me faz
pensar que sua ida tenha sido para se aperfeiçoar nos avanços da medicina
(http://antoniovalsalva.blogspot.com.br/2011/04/o-dr-joao-adolpho-josetti.html acessado em 13 de junho de
2012), aproveitando para defender os interesses da firma na Europa (Album graphico do Estado de
Mato Grosso, 1914, p. XXXII).
Conforme propaganda da Casa Josetti & Cia. exibida no Album graphico do Estado de
Matto-Grosso, os produtos importados eram “máquinas para a indústria e artes, ferragens em
geral, artigos navais, móveis, louças, vidros, filtros, e artigos sanitários que vendem por
atacado e a varejo em todo o Estado”, vindos das “principais praças europeias e americanas”
(Op. cit., p. XXXII). Também se dedicava à exploração “da Borracha, Ipecacuanha, Penas de
garça, Peles, Madeiras e Cereais, produtos extraídos de seu grande estabelecimento industrial,
situado no município de Diamantino75” (idem, p. XXXIII).
As empresas estudadas apresentam a característica de possuírem terras para a
exploração das riquezas naturais do Estado, embora quanto ao “grande estabelecimento
industrial”, acima mencionado, temos que desconfiar, pois a informação provém da
publicidade, e essa fonte, talvez mais do que qualquer outra, deve ser vista sempre com
reservas. O que não significa que o mencionado estabelecimento não tinha sua importância
para a economia da empresa.
Em 1913, já no início da crise dos negócios da borracha no Brasil, a empresa fez um
curioso contrato com uma empresa alemã – o qual pode denotar ou que a firma brasileira já
estivesse enfrentando dificuldades financeiras ou que ainda não havia compreendido a
extensão da crise, pois a empresa Josetti & Cia. contraiu um empréstimo junto à empresa
alemã Bromberg & Cia., estabelecida em Hamburgo (Inspetoria Comercial de Mato Grosso, Livro de
75 Trata-se aqui, ao que tudo indica, do estabelecimento denominado Affonso, acima referido.
230
Registros de 1913 a 1914: 25 de janeiro de 1913 a 9 de julho de 1914, p. 123, JUCEMAT). A Bromberg &
Cia., com matriz em Hamburgo, abriu sua primeira filial no Brasil em 1863, em Porto Alegre,
logo mais, constituiu outras filiais localizadas no Rio Grande, em Pelotas, em Santa Maria,
em Uruguaiana, em Passo Fundo, no Rio de Janeiro, em Buenos Aires e em Montevidéu
(LLOYD, 1913)76. O contrato do empréstimo, traduzido do alemão para o português, foi
registrado em 4 de julho de 1913, no entanto, já estava em vigor desde o dia 1º do mesmo mês
e apresentava em sua primeira cláusula:
A firma Bromberg & Companhia obriga-se, além do crédito de trezentos mil marcos concedidos a firma Josetti & Cia. na forma até hoje estabelecida, isto é, mediante o juro tomado a base de um por cento (1%) mais a taxa de desconto do Reichsbank (Banco do Império), sendo mínimo seis por cento (6%), aumentar o crédito por mais duzentos mil marcos. Em troca receberá a firma Bromberg & Companhia a quantidade total das safras da firma Josetti & Companhia para vender mediante uma comissão de dois e meio por cento (2 ½%) e a incumbência exclusiva das compras europeias mediante a comissão de cinco por cento (5%) (Inspetoria Comercial de Mato Grosso, Livro de Registros de 1913 a 1914: 25 de janeiro de 1913 a 09 de julho de 1914, p. 123-124, JUCEMAT).
Analisando as condições a que a empresa Josetti & Cia. se submeteu, percebe-se que
ela ficou totalmente subordinada à empresa alemã Bromberg & Cia., pois firmaram um
acordo de exclusivo comércio por parte da Josetti & Cia., visto que todos os produtos de
importação europeia e exportação dos produtos mato-grossenses deveriam passar pela referida
firma alemã. Como as nações europeias estavam em uma intensa concorrência pelos mercados
da América Latina (NORMANO, 1944, p. 23), o que a empresa Bromberg & Cia. conseguiu foi a
garantia de exclusividade, estabelecendo uma porta de entrada para os produtos alemães e ao
mesmo tempo, garantiu um lucro maior sobre os produtos primários produzidos em Mato
Grosso.
Outro indício importante da submissão da Josetti & Cia. à empresa alemã Bromberg &
Cia. está no parágrafo segundo do mesmo contrato do qual estabeleceu que essa empresa
deveria fazer uma alteração em seu contrato, passando a gerência dos negócios para
Guilherme A. Linke e Gustavo Tervissen, representantes da Bromberg e Cia. (Inspetoria
Comercial de Mato Grosso, Livro de Registros de 1913 a 1914: 25 de janeiro de 1913 a 9 de julho de 1914,
p.124, JUCEMAT). Com essa alteração, a empresa Josetti & Cia. ficou nas mãos da firma
76 Obra publicada na Inglaterra em 1913, por Lloyd’s Greater Publishing Company, Ltd., com aspecto de
propaganda das potencialidades do Bras il.
231
Bromberg & Cia., e essa atitude deve ter sido tomada para garantir que se cumprisse o que
havia sido estabelecido no contrato.
Além disso, os bens individuais dos sócios tiveram que ser transferidos para a empresa
Josetti & Cia. como garantia do empréstimo. Já que, caso a dívida não fosse paga, a empresa
Josetti & Cia., junto com seus bens, seria tomada pela Bromberg & Cia. como pagamento. Os
bens transferidos foram: a Empresa Telegráfica de Corumbá, que pertencia a Arthur Josetti,
no valor aproximado de sessenta contos de réis, e a propriedade denominada “Palmar”,
situada em Aquidauana, de propriedade de João Adolpho Josetti, no valor de oitenta e cinco
contos de réis (Inspetoria Comercial de Mato Grosso, Livro de Registros de 1913 a 1914: 25 de janeiro de
1913 a 9 de julho de 1914, p.124, JUCEMAT). Após obter os empréstimos a Casa Josetti & Cia.
ficou com apenas cinquenta e cinco por cento dos lucros, sendo os outros quarenta e cinco por
cento pertencentes à empresa Bromberg & Cia. (Inspetoria Comercial de Mato Grosso Livro de
Registros de 1913 a 1914: 25 de janeiro de 1913 a 09 de julho de 1914, p. 125, JUCEMAT).
Também ficou estabelecido que “a firma Josetti & Cia. se obriga a inscrever o resto
das terras de sua propriedade às que foram hipotecadas às firmas Bromberg & Cia. e L.
Bhrens e Shoue 77 de forma a ficarem todas as propriedades territoriais da Firma Josetti &
Cia. compreendidas na hipoteca”. (Inspetoria Comercial de Mato Grosso, Livro de Registros de 1913 a
1914: 25 de janeiro de 1913 a 9 de julho de 1914, p. 125, JUCEMAT). Pode-se deduzir que uma dessas
propriedades fosse a Pharmacia e Drogaria Josetti, estabelecida em São Luís de Cáceres
(Album graphico do Estado de Matto-Grosso, 1914, p. XXXIII).
Feliciano Simon
A Casa Feliciano Simon foi estabelecida no ano de 1907, pelo paraguaio Feliciano
Simon. Esta casa se dedicava a representações, despachos, comissões, consignações,
transações bancárias, navegação e exportação (Album graphico do Estado de Matto-Grosso, 1914, p. I).
Essa empresa se encarregava de transportar mercadorias do interior do estado e despachá-las
na Mesa de Rendas de Corumbá (Album graphico do Estado de Matto-Grosso, 1914, p. III), o que me
leva a entender que essa empresa atuava como intermediadora entre as empresas estrangeiras
e as empresas de menor porte do estado, as quais evidentemente não possuíam crédito e nem
mesmo contato com tais empresas estrangeiras.
77 Infelizmente, o contrato não esclarece quem são essas duas empresas . Esclareço que as passagens
aparentemente truncadas, no texto desse contrato, são da própria fonte, a qual reproduzi aqui fielmente.
232
Essa empresa possuía relações bancárias com diversos bancos de diversas
nacionalidades, tais como: Brasilianische Bank für Deutschland; Banco Alemán
Transatlantico; Deutsch-Südamerikanishe Bank; Deutsche Bank; Dresdner Bank; Credito
Italiano; Banca Commerciale Italiana; Crédit Lyonais; Société Générale pour favoriser etc.;
F. M. Fernandes Guimarães e Cia (Porto); Crédit Franco-Portugais; Banque Nationale de
Bulgarie; Banque Impériale Ottomane; The Yocohama Specie Bank; The National City Bank
of New York; Banco Mexicano de Comercio y Industria; Banco de La Republica (Paraguai) e
Banco Pelotense (Op. cit). Não foi possível identificar o capital investido na empresa. O
comerciante foi responsável, junto com S. Cardoso Ayala, também paraguaio, pela
organização e publicação do Album Graphico do Estado de Matto-Grosso (Inspetoria Comercial
de Mato Grosso, Livro de Registros de Escrituras, Contratos Comerciais e Outros Documentos de 15 de julho de
1910 a 8 de janeiro de 1913, p. 98 b - JUCEMAT).
Outras empresas
Além das empresas mencionadas acima, também se estabeleceram em Corumbá as
seguintes empresas: Emílio Albers, Henrique Gutmann, Naveira & Congro, sobre as quais os
dados são escassos, como apontado no Quadro 2. Além dessas, outras empresas com um
capital menor também foram constituídas com o objetivo de se dedicarem ao comércio de
exportação e importação, são elas: Pinsdorf & Cia., Alves Côrrea & Cia., e essas duas
empresas apresentam um atributo em especial: ambas foram fundadas na segunda década do
século XX.
A empresa Pinsdorf & Cia. iniciou suas atividades com 60:000$000 (sessenta contos
de réis), em 1º de abril de 1911. As pessoas que contraíram sociedade para a constituição
desta empresa são: Carlos Augusto Micchelt, que investiu 30:000$000 (trinta contos de réis);
Maximo Gustavo Kurt Pinsdorf com os outros 30:000$000 (trinta contos de réis) e Guilherme
Pinsdorf com sua indústria, todos de nacionalidade alemã. Ficou estabelecido no contrato que
os lucros seriam divididos igualmente entre todos os sócios (Inspetoria Comercial de Mato Grosso,
Livro de Registros de Escrituras, Contratos Comerciais e Outros Documentos de 15 de Julho de 1910 a 08 de
janeiro de1913, p.22-23, JUCEMAT). Um vestígio encontrado em uma fatura da referida empresa
demonstra que ela se denominava “casa alemã” (fatura da empresa Pinsdorf & Cia, avulsa Fundo da
Casa Vasquez, Filhos & Cia. pertencente ao NDHER, UFMS, campus Corumbá).
Os livros de Estatísticas de Exportação pertencentes à Mesa de Rendas de Corumbá
não apresentam nenhum registro de exportação da referida casa. Porém, sabe-se que Maximo
233
Gustavo Kurt Pinsdorf “era exportador para a Europa de produtos naturais como peles e
animais silvestres e importador de cristais e louças finas” (CORRÊA, 2006, p. 75). No entanto,
parece-me que, apesar desse empreendimento ter sido constituído com objetivo de “compra e
venda de mercadorias em geral e a importação e exportação de gêneros e produtos nacionais e
estrangeiros” (Inspetoria Comercial de Mato Grosso, Livro de Registros de Escrituras, Contratos Comerciais e
Outros Documentos de 15 de Julho de 1910 a 8 de janeiro de1913, p. 51-53, JUCEMAT), se direcionou para
a constituição de um saladeiro em Aquidauana (CORRÊA, 1995, p. 116). Possivelmente, essa
mudança de investimento tenha ocorrido após Maximo Gustavo Kurt Pinsdorf falecer por
causa de beribéri, em 7 de maio de 1914 (CORRÊA, 2006, p. 75). Cabe ainda mencionar a
presença da Ferrovia Noroeste do Brasil, que após 1914 passou a escoar produtos do Estado,
sendo uma possível explicação para a ausência de registros de exportação da referida empresa
pelo porto de Corumbá.
Em fevereiro de 1914 foi fundada a casa comercial Alves Corrêa & Cia., sucessora da
firma Diógenes Corrêa & Cia. Os sócios da Alves Corrêa & Cia. são: Diógenes Alves Corrêa,
Juvenal Alves Corrêa Filho, Odorico Alves Corrêa, Joaquim Corrêa. Esses comerciantes
investiram um capital de 70:000$000 (setenta contos de réis), distribuídos da seguinte forma:
40:000$000 (quarenta contos de réis) pelo sócio comanditário Diógenes, capital esse
procedente da antiga firma Diógenes Corrêa & Cia.; 20:000$000 (vinte contos de réis) por
Juvenal e 10:000$000 (dez contos de réis) por Odorico, como sócios solidários78; e Joaquim
com sua indústria, que ficou responsável pela gerência da empresa (Inspetoria Comercial de Mato
Grosso, Livro de Registros de 1913 a 1914: 25 de janeiro de 1913 a 9 de julho de 1914, p. p.128-129,
JUCEMAT). Não encontramos registros de exportações e nem de importações da empresa
Alves Corrêa & Cia. nas fontes analisadas.
Já a empresa Emílio Albers dedicava-se a importação, exportação e comissões, e
representava as empresas Ewald Aders de Berlim e Kolp, Kullmann & Cia. de Manchester. A
julgar pelo nome da empresa e pela foto que consta na propaganda do referido Album
graphico, acredito que o Emílio Albers era o único proprietário da empresa (Album Graphico do
estado de Matto- Grosso, 1914, p. XLI).
Sobre a casa Henrique Gutmann sabe-se que era importadora e exportadora, além de
ser representante de diversas casas comerciais localizadas na Alemanha, França, Inglaterra,
Portugal e Estados Unidos da América, assim como casas brasileiras localizadas no Rio de
78 Os sócios solidários são os únicos que se responsabilizam pelas dívidas da empresa (código Comercial de
1850, Lei 556 de 25 de junho de 1850)
234
Janeiro, Rio Grande do Sul e Bahia. Também era agente da Companhia Alliança da Bahia de
Seguros Marítimos e Terrestres (Album Graphico do estado de Mato Grosso, 1914, p. LXVII).
Quanto à empresa Naveira e Congro, pode-se dizer apenas que destinava-se à
importação de comestíveis, de cimento, de telhas de zinco e exportava os produtos do estado
(Album Graphico do estado de Mato Grosso, 1914, XXXIV).
235
Foto 2
Emílio Albers.
Fonte: ALBUM graphico do estado de Matto-Grosso, 1914, p. XLI.
236
3.2 As casas importadoras/exportadoras de Corumbá: mecanismos de funcionamento e
práticas comerciais.
Devido às diversas atividades que uma casa comercial desempenhava, o seu
funcionamento exigia vários empregados. Além daqueles que trabalhavam no interior das
empresas, também tinham os representantes que viajavam para outras cidades/vilas e os
seringueiros empregados na extração da borracha. O número de funcionários variava
conforme o tamanho do estabelecimento, mas para se ter uma noção do quadro de
funcionários que uma casa comercial de importação e exportação podia alcançar, vejam-se os
dados sobre a Casa Wanderley, Baís & Cia., em cuja matriz “trabalhavam 29 empregados, no
balcão, e 19 no escritório” (BÁEZ, 1977, p. 19). Entretanto, para Souza, esses trabalhadores,
“além de se constituírem numa elite” local “com melhores salários, tinham pouca alternativa
de trabalho”, pois o “número de casas comerciais importadoras e exportadoras não chegava a
ser significativo e muitos, certamente, obtinham emprego, pois pertenciam a famílias
tradicionais do local ou por elas eram indicados” (SOUZA, 2008, p. 207). Um caso específico que
corrobora tal afirmação é o do primo de Generoso Ponce, Silverio Antunes de Souza, que,
residente em Cuiabá, muda-se para Corumbá para trabalhar na empresa de Ponce (PONCE
FILHO, 1952, p. 340).
As casas comerciais de importação e exportação demandavam esse grande número de
funcionários, pois além de atuarem em diversos ramos, trabalhavam com diversos produtos e
ao que parece sua estrutura administrativa era complexa. Uma casa comercial de importação e
exportação possuía vários livros que acompanhavam o cotidiano da empresa, são eles: o
borrador de balcão, onde eram anotadas as vendas do dia-a-dia; o copiador de cartas e
telegramas, no qual ficava uma cópia de toda correspondência enviada; o de contas correntes,
onde eram anotados o débito e o crédito das empresas com as quais comercializavam (Fundo da
Casa Vasquez, Filhos & Cia. pertencente ao NDHER - UFMS, campus Corumbá).
De forma geral, as empresas estudadas eram as mais importantes da cidade de
Corumbá, tanto que era das mesmas o maior número de anúncios no Album graphico. Essas
casas comerciais dedicavam-se à importação em geral, mas não apresentavam grande
concorrência entre si, pois apesar de estarem abertas à negociação a todo tipo de mercadoria
importável, possuíam especialidades que garantiam a essas empresas seu espaço no comércio,
como foi visto no item 3.1.
A maioria das empresas estudadas buscava se diferenciar e ao mesmo tempo não agir
diretamente no ramo uma das outras. Ao que parece, o ramo alimentício era onde havia mais
237
empresas atuando, mesmo assim não existia uma concorrência acentuada; pois tudo indica
que o maior problema das casas comerciais não era a concorrência entre si, e sim a escassez
de produtos, uma vez que o abastecimento dessas empresas dependia da importação que, por
sua vez, estava sujeita às vicissitudes da navegação. A falta de produtos básicos como o trigo,
a cebola, o feijão e o leite era frequente. Além do mais, muitas vezes os produtos perecíveis
acabavam por se deteriorarem ao longo do percurso, como fica evidente em um trecho da
carta trocada entre as empresas Vasquez, Filhos & Cia. e Adolpho de Torres & Hijo, da
cidade de Malaga, que diz: “cebolas: infelizmente não nos convém mais pedir-lhes este artigo,
visto como as que recebemos de sua remessa chegaram em péssimas condições, talvez pela
longa viagem” (Carta dirigida à empresa Adolpho de Torres & Hijo, Livro de cartas e telegramas de 1912, p.
14 - Fundo da Casa Vasquez, Filhos & Cia. pertencente ao NDHER -UFMS, campus Corumbá).
A documentação referente ao Fundo da Casa Vasquez, Filhos & Cia. possibilita uma
interpretação sobre os detalhes das transações comerciais que existiam entre as empresas de
Corumbá e as empresas das demais vilas e cidades de Mato Grosso, assim como, com as
empresas estrangeiras ou as localizadas em outras praças nacionais. Só foi analisada a
documentação da referida empresa, por ser da mesma a única documentação da qual tomei
conhecimento. No entanto, acredito que as demais casas comerciais de importação/exportação
de Corumbá utilizavam um processo semelhante, ou até mesmo idêntico, em suas transações
comerciais. Por isso, assumo neste trabalho a suposição de que as ligações comerciais e a
estrutura de funcionamento utilizada pela Casa Vasquez, Filhos & Cia. eram as mesmas
utilizadas pelas demais empresas ali situadas no porto de Corumbá. Essas empresas, apesar de
atuarem no ramo da importação e exportação, apresentavam particularidades que as
distinguiam entre si79.
No que se refere às relações comerciais entre as casas comerciais de Corumbá, sabe-se
que elas vendiam produtos importados para as demais casas comerciais de Mato Grosso e
compravam, das mesmas, produtos destinados à exportação. Acredito que essas empresas
possuíam representantes que buscavam conquistar clientela em outras localidades do Estado,
assim como em outras praças nacionais e internacionais. Esses representantes também
viajavam para fazer compras para as casas que representavam; no caso de representantes das
casas comerciais de outros locais de Mato Grosso, acredito que estes muitas vezes iam até
Corumbá para comprar mercadorias com o melhor preço possível, ou mesmo tentar alguns
79 Observo que os documentos da empresa Vasquez, Filhos & Cia. são muitas vezes redigidos em uma mistura
dos idiomas Português e Espanhol. Portanto, para preservar esta característica, optei por não traduzir os termos
em Espanhol, limitando-me a atualizar a grafia dos termos em Português.
238
produtos em consignação. As mercadorias eram enviadas pela casa comercial que realizasse a
venda, ou a consignação, conforme correspondência entre a empresa Vasquez, Filhos & Cia. e
a Vicente Anastácio de Aquidauana, que dizia: “tem a presente por fim apresentar-lhe o
conhecimento e fatura dos artigos que por ordem do Sr. Nicola Moliterno, embarcamos a sua
consignação na Lancha Ligúria, os quais desejamos que aí cheguem na melhor ordem e ao seu
inteiro contento” (Carta enviada em 15 de março de 1909, Livro de cartas e telegramas de 1909, p. 388 -
Fundo da Casa Vasquez, Filhos & Cia. pertencente ao NDHER -UFMS, campus Corumbá).
Todavia, as compras das empresas localizadas em Mato Grosso também eram
realizadas através de cartas que continham pedidos, que chegavam principalmente por meio
da navegação até Corumbá. Após receber o pedido, a empresa solicitada enviava os produtos
requeridos e outra correspondência que informava o valor, e caso não houvesse algum
produto, também era justificado. Para registro e controle das transações, as casas utilizavam o
conhecido sistema do “livro de contas correntes”.
Quando a casa comercial de Corumbá efetivava a venda, o seu valor era anotado no
livro de contas correntes como débito em nome da empresa que comprou. As casas comerciais
de outros locais do Estado enviavam produtos destinados à exportação, que eram anotados em
sua conta corrente como crédito, descontando assim do seu débito. Desta forma, o livro de
contas correntes apresentava o crédito e o débito de cada empresa com a qual comercializava
(Fundo da Casa Vasquez, Filhos & Cia. pertencente ao NDHER -UFMS, campus Corumbá).
Devido às dificuldades impostas pela carência das vias de transportes, as empresas
corumbaenses, quando efetuavam vendas para empresas situadas em Campo Grande,
utilizavam algumas empresas situadas em Aquidauana. Desta forma, enviavam produtos em
forma de consignação para comerciantes de Aquidauana, através da navegação, para que
estes ao receberem as mercadorias as encaminhassem até Campo Grande, conforme
correspondência: “[...] juntamos conhecimento das mercadorias embarcadas a sua
consignação e por conta do Snr. Muyses Maluff de Campo Grande e pedimos as fazer seguir
com brevidade pozible [sic]” (Carta enviada a Salim Maluff de Aquidauana, em 11 de novembro de 1912,
Livro de cartas e telegramas de 1912, p. 286 - Fundo da Casa Vasquez, Filhos & Cia. pertencente ao NDHER -
UFMS, campus Corumbá). Em seguida enviavam outra carta ao destinatário final, segundo
correspondência: “ Embarque: juntamo-lhe fatura das mercadorias que hemos embarcado por
Rio tacuary a consignação do Snr. Salim Maluff a quien pedimos a remeter com toda
urgência” (Carta enviada a Muyses Maluff de Campo Grande, em 11 de novembro de 1912, Livro de cartas e
telegramas de 1912, p. 286 - Fundo da Casa Vasquez, Filhos & Cia. pertencente ao NDHER -UFMS, campus
Corumbá).
239
As atividades de comissão e consignação incidiam tanto sobre os produtos importados
como sobre os exportados. No caso das importações, através de contatos com empresas de
outras praças que visavam conseguir alcançar o mercado mato-grossense; estas mandavam
produtos em consignação para as casas comerciais corumbaenses com as quais estabeleceram
relações comerciais para que as mesmas pudessem vender seus produtos mediante uma
comissão. As empresas localizadas em outras partes de Mato Grosso, em sua maioria,
utilizavam as casas comerciais de Corumbá como sua intermediária para exportar e importar;
neste caso, mediante as mesmas práticas de comissão e consignação.
A dinâmica comercial entre essas empresas pode ser compreendida ao analisar as
correspondências da Casa Vasquez, Filhos & Cia.; essa empresa vendia produtos importados
para casas comerciais de outras localidades de Mato Grosso, em contrapartida comprava ou
recebia das mesmas empresas produtos extrativos, derivados da pecuária e alguns produtos
agrícolas como o feijão e o milho em forma de consignação, conforme evidência: “Lancha
ypiranga: por essa lancha recebemos dois alqueires de feijão de sua remessa, os quais
liquidamos ao preço de R$ de 17$000 o alqueire” e “recebemos 10 sacos de milho que vamos
tratar de liquidá-lo” ( Carta enviada ao Sr. João Salies, Livro de carta e telegramas de 1909, p. 389-390 -
Fundo da Casa Vasquez, Filhos & Cia. pertencente ao NDHER -UFMS, campus Corumbá). Esses produtos
não eram destinados à exportação, e sim ao consumo local. Tais produtos eram negociados
pelas casas comerciais, pois tudo indica que não havia na cidade um mercado onde os
próprios produtores pudessem expor seus produtos, conforme relatório apresentado a Câmara
de Corumbá, em 1895. Neste relatório afirma-se que a agricultura em Corumbá era nula “e os
gêneros que vem de outras localidades do Estado e do estrangeiro são atravessadas pelos
negociantes mais abastados, devido à falta de um mercado” (apud CORRÊA, 1982, p. 84).
Um outro exemplo das relações entre empresas pode ser verificado, no seguinte
trecho: “Couros: juntamos nota de liquidação dos 63 couros de sua remessa por D. Tilia
importando em R$ 783$150 que le hemos creditado em conta e agradecemos sua remessa
deste produto” ( Carta enviada ao Sr. Felix Damus & Irmão de Aquidauana, em 18 de junho de 1912, Livro de
carta e telegramas de 1912, p. 106 - Fundo da Casa Vasquez, Filhos & Cia. pertencente ao NDHER -UFMS,
campus Corumbá). Em outra correspondência diziam: “Couros: este produto tem grande
oscilação no preço sendo que os últimos que recebemos dessa foram liquidados a R$ 1$150, e
tendo grande interesse neste negócio pedimos que sempre que tenha nos consulte o preço por
telégrafo” ( Carta enviada ao Sr. Nahum [...] & Filhos, em 18 de junho de 1912, Livro de carta e telegramas de
1912, p. 110 - Fundo da Casa Vasquez, Filhos & Cia. pertencente ao NDHER -UFMS, campus Corumbá).
Desta forma, essas empresas praticavam uma interação comercial que, aparentemente,
240
beneficiava ambas as partes, pois necessitavam-se uma da outra. Além disso, pode-se notar
que as casas comerciais de Corumbá eram quem informava as demais localidades do Estado
sobre os preços vigentes dos produtos de exportação, pois essas estavam em contato direto
com o exterior. Essa circunstância provavelmente conferia às casas corumbaenses um certo
poder, que elas poderiam eventualmente utilizar a seu favor nas relações com as demais
localidades do Estado.
Em consignação também eram enviados produtos das empresas corumbaenses e de
terceiros a comerciantes estabelecidos nas Repúblicas do Prata. Essa afirmação pode ser
justificada através de uma correspondência entre a Casa Vasquez, Filhos & Cia. e Arteaga &
Hermanos de Montevidéu, que expressa: “efetivamente as duas últimas partidas que
embarcamos a consignação [...] foram de terceiros” e “embarcamos a sua consignação os
seguintes produtos: 70 couros vacuns, 2 fardos de crina animal e dois fardos contendo 10
couros de onça” (Livro copiador de cartas e telegramas de 1910, p. 119- Fundo da Casa Vasquez, Filhos &
Cia. pertencente ao NDHER, UFMS, campus Corumbá).
A Casa Vasquez, Filhos & Cia. possuía crédito junto a diversas empresas. Entendo que
pelo menos as mais importantes casas comerciais de Corumbá também obtinham esse crédito.
Contudo, as evidências apontam que antes de obter crédito no exterior, precisavam de uma
empresa intermediária como uma espécie de avalista, essa informação é melhor elucidada
através da citação: “inclusa a esta sua carta, encontramos a fatura das mercadorias de nosso
pedido, embarcadas no vapor ‘Amira [...]’ a consignação dos Srs. Eduardo Cooper & Hijo de
Montevidéu, as quais recebemos a conforme” (Carta remetida pela empresa Vasquez, Filhos & Cia. à
empresa Cardoso, Moreira & Cia. da cidade do Porto, Livro de correspondência de 1910, p. 147 - Fundo da
Casa Vasquez, Filhos & Cia. pertencente ao NDHER, UFMS, campus Corumbá). Entendo que nesse caso,
a Eduardo Cooper & Hijo, era responsável pelo pagamento das mercadorias enviadas a Casa
Vasquez, Filhos & Cia., caso ela não pagasse.
Ainda com relação a avais, percebe-se que uma casa comercial também podia avalizar
títulos de dívidas de terceiros. Isto pode ser visto na correspondência enviada à Casa Pereira,
Sobrinhos & Cia. pela Casa Vasquez, Filhos & Cia., que dizia:
Pela presente declaramos que continuamos responsáveis, pelo tempo que V.V. S.S. hajam de conceder em prorrogação a prazo amanhã findo, pelo pagamento de letra no valor de R$ 6:050$253, e mais os juros correspondentes até final liquidação, aceita a II de dezembro do ano findo pelo Senr. Armando Pires Vieira e por nós endossada (Livro copiador de Cartas e Telegramas de 1912, p. 85 - Fundo da Casa Vasquez, Filhos & Cia. pertencente ao NDHER, UFMS, campus Corumbá).
241
É perceptível a preocupação da Casa Vasquez, Filhos & Cia. com a nota a vencer no
dia seguinte, pois caso Armando Pires Vieira não pagasse ela era responsável. Infelizmente
não se tem como saber se esse episódio se refere a transações comerciais ou se trata de um
simples caso de empréstimo.
As empresas estudadas recebiam catálogos de empresas de artigos não alimentícios
com a divulgação dos produtos e com os respectivos preços; então a empresa corumbaense
interessada fazia seu pedido, conforme correspondência entre a Casa Vasquez, Filhos & Cia. e
a empresa Frankfurter & Liberman de Hamburgo, que diz: “com os nossos agradecimentos
acusamos o recebimento de catálogo de camas de ferro e latão, pelo qual fizemos a escolha
constante no incluso pedido” (Carta dirigida a empresa Frankfurter & Liberman, em 21 de novembro de
1911, Livro de cartas e telegramas de 1911, p. 359 - Fundo da Casa Vasquez, Filhos & Cia. pertencente ao
NDHER, UFMS, campus Corumbá).
O contato entre as casas comerciais corumbaenses e empresas estrangeiras foi
facilitado com a chegada do telégrafo a Corumbá (1904), pois as comunicações com empresas
nacionais e com o exterior ficou mais rápida. Através de telegramas eram feitos os pedidos
mais urgentes, com isso, os produtos chegavam mais rápido; já os pedidos de produtos mais
vendidos eram feitos através de cartas, com grande antecedência. Para elucidar como eram
feitos os pedidos de produtos mais vendidos, e que eram importados da Europa, cito o trecho:
“duas notas de pedidos para 50 caixas de sardinhas 4/4 reduzido e 100 caixas de batatas
mensais a 30 quilos a partir de maio entrante até o mês de outubro” (Carta dirigida a empresa
Cardoso, Moreira & Cia. da cidade do Porto, Livro de cartas e telegramas de 1912, p. 13- Fundo da Casa
Vasquez, Filhos & Cia. pertencente ao NDHER -UFMS, campus Corumbá).
Para entender como funcionava a relação de compra e venda de mercadorias entre uma
casa comercial de importação/exportação de Corumbá e outra localizada fora de Mato Grosso,
passarei a descrever como se dava a relação entre a Casa Vasquez, Filhos & Cia. e a empresa
Frankfurter & Liberman de Hamburgo. Sendo assim, a casa Vasquez, Filhos & Cia. enviava
uma correspondência a essa outra empresa com os seus pedidos; quando a Frankfurter &
Liberman enviava seus produtos para Corumbá, esses produtos vinham acompanhados de
uma carta com as faturas dos produtos. Então, a Vasquez, Filhos & Cia. marcava em seu livro
de contas correntes o crédito da referida empresa no valor da fatura, assim quando a fatura
vencia e o pagamento era realizado, o mesmo valor era debitado da conta da Frankfurter &
Liberman. Para a realização do pagamento desse comércio, de ambas as partes, era utilizada
242
uma medida que, ao que parece, ainda está em vigor no ramo de importação/exportação,
conhecida como cobrança documentária, que funciona da seguinte forma:
Nesta modalidade de cobrança, o exportador envia a mercadoria ao país de destino e entrega os documentos de embarque e a letra de câmbio (conhecida igualmente por "cambial" ou "saque") ao banco negociador do câmbio [...], denominado "banco remetente", que por sua vez os encaminha, por meio de carta-cobrança, ao seu banco correspondente no exterior, denominado "banco cobrador". O banco cobrador entrega os documentos ao importador, mediante pagamento ou aceite do saque. De posse dos documentos, o importador pode desembaraçar a mercadoria importada. Em alguns casos, o exportador envia diretamente ao importador os documentos para a liberação da mercadoria, e cabe ao banco cobrador apresentar a letra de câmbio para recebimento do pagamento ou aceite (http://www.schualm.com.br/10fipe.htm ).
Essa afirmação é baseada na interpretação de diversas correspondências que foram
trocadas entre a Casa Vasquez, Filhos & Cia. e várias empresas nacionais e internacionais. É
perceptível que a Vasquez, Filhos & Cia. utilizava como intermediária de algumas transações
comerciais a empresa Eduardo Cooper & Hijo, de Montevidéu; essa empresa provavelmente
era representante de diversos bancos, neste caso, representava o banco “remetente” ou
“cobrador”, conforme a direção do comércio (importação ou exportação). No caso da
importação efetuada pela Casa Vasquez, Filhos & Cia., a empresa Eduardo Cooper & Hijo
funcionava como banco cobrador. Um exemplo é a correspondência enviada à empresa
Eduardo Cooper & Hijo pela Casa Vasquez, Filhos & Cia., que dizia: “devolvemos com o
nosso respectivo aceite as letras N. 757 de Ls. 135.0.0, N. 762 de Ls. 57.10.0 e 775 de Ls.
118.10.0, dos Srs. Cardoso, Moreira & Cia. de Lisboa para que possam aboná-las nos
respectivos vencimentos” (Carta dirigida à empresa Eduardo Cooper & Hijo, em 11 de abril de 1910, p.
1014, Livro copiador de Cartas e Telegramas de 1910 - Fundo da Casa Vasquez, Filhos & Cia. pertencente ao
NDHER, UFMS, campus Corumbá). Essa é uma autorização de pagamento de uma compra feita a
prazo, em favor da empresa Cardoso, Moreira & Cia.
Outro exemplo semelhante pode ser notado no seguinte trecho: “Rogamos remeterem
sempre aos Srs. Eduardo Cooper & Hijo, quando efetuarem os seus embarques, os devidos
detalhes das mercadorias, pesos e valores a fim de que possam os mesmos organizarem as
competentes faturas” (Carta dirigida à empresa, Frankfurter & Liberman, em 16 de janeiro de 1912, p. 1014,
Livro copiador de Cartas e Telegramas de 1910 - Fundo da Casa Vasquez, Filhos & Cia. pertencente ao
NDHER, UFMS, campus Corumbá). Pode-se deduzir que com base nas faturas seria elaborada a
carta cobrança.
243
Esse processo também era utilizado pelas empresas de Corumbá em transações
comerciais com empresas nacionais de outros estados, conforme evidência: “relativamente o
saque correspondente a sua fatura N. 4.767, certamente a esta hora já os amigos terão tido
aviso do Banco, o qual foi por nós aceito em data de 28 de setembro e pago a 28 de outubro
últimos” (Carta dirigida a empresa Horacio Carvalho & Cia. de Porto Alegre, em 20 de dezembro de 1911, p.
371, Livro copiador de Cartas e Telegramas de 1910, p. 1014 - Fundo da Casa Vasquez, Filhos & Cia.
pertencente ao NDHER, UFMS, campus Corumbá).
No caso do pagamento de compras efetuadas pela Casa Vasquez, Filhos & Cia. outro
exemplo encontra-se na correspondência a referida empresa e a G. Canepa & Cia. que dizia:
“já nos foi presente e aceito o de N. 12.977, vencida a 21 corrente, esperando para o aceite o
de N. 13.040 que ainda não nos veio em mão” (Carta dirigida a empresa G. Canepa & Cia., em 25 de
outubro de 1911, Livro copiador de Cartas e Telegramas de 1911, p. 327 - Fundo da Casa Vasquez, Filhos &
Cia. pertencente ao NDHER, UFMS, campus Corumbá).
Outra forma de pagamento entre as empresas nacionais se dava através de um
representante direto, presente pessoalmente no momento da transação, conforme a evidência:
“com a presente temos por fim avisar-lhes que nesta data entregamos ao seu digno
representante Sr. Antônio Josino Vieira, a importância de R$ 3:606$000, que levamos ao
débito da sua estimada conta, aguardando seu aviso de recebimento” (carta enviada pela Casa
Vasquez, Filhos & Cia. à João Reynaldo Coutinho Cia. do Rio de Janeiro, Livro copiador de Cartas e
Telegramas de 1912-1913, p. 7 - Fundo da Casa Vasquez, Filhos & Cia. pertencente ao NDHER, UFMS, campus
Corumbá).
O intercâmbio comercial das casas comerciais de Corumbá era mais intenso com
empresas de Montevidéu, pois eram constantes as remessas de produtos rumo a essa cidade.
Os produtos muitas vezes saíam em forma de consignação, conforme citação: “Produtos. Pelo
Vapor ‘Cáceres’ de saída desse porto, embarcamos à sua boa consignação 460 couros e 5
fardos de crina animal, conforme guias e conhecimentos juntos, esperamos bons esforços em
prol dos nossos interesses” (Carta dirigida a empresa Chao Pietra & Vantteone., em 5 de dezembro de
1911, Livro copiador de Cartas e Telegramas de 1911, p. 366- Fundo da Casa Vasquez, Filhos & Cia.
pertencente ao NDHER, UFMS, campus Corumbá). Parece-me que os produtos que saíam de
Corumbá podiam eventualmente ser acompanhados por um sócio da empresa de acordo com a
correspondência: “a sua boa consignação, embarcamos no vapor “Mercedes”, 18 fardos de
borracha com 1.181 quilogramas, conforme inclusa nota, cujo líquido produto servirá
creditar-nos na forma de costume. O conhecimento relativo a este embarque seguiu pelo
mesmo vapor em mãos do nosso sócio chefe” (Carta dirigida à empresa Eduardo Cooper & Hijo, em 11
244
de abril de 1910, p. 1014, Livro copiador de Cartas e Telegramas de 1910 - Fundo da Casa Vasquez, Filhos &
Cia. pertencente ao NDHER, UFMS, campus Corumbá).
Quanto ao fato de as casas comerciais se apresentarem como representantes de bancos
estrangeiros, a interpretação de Alves, como já foi mencionado no capítulo 1, afirma que essas
casas realizavam empréstimos utilizando o capital daqueles bancos – tanto que esse autor
considera que os bancos (capital financeiro internacional) utilizavam, dessa forma, as casas
comerciais como uma espécie de “canal” para se fazerem presentes em Mato Grosso.
Entretanto, acredito que esta interpretação não corresponde exatamente aos processos que
efetivamente ocorriam. Pelas próprias condições econômicas da cidade de Corumbá, as
intermediações bancárias eram necessárias para o pagamento dos produtos importados e
exportados, em transações que envolviam, frequentemente, compradores e vendedores
situados no Brasil e em muitos outros países, tanto sul-americanos como europeus.
Portanto, as relações das principais casas comerciais de Corumbá com os vários
bancos estrangeiros deviam destinar-se, sobretudo, a simplesmente viabilizar essas operações
de pagamento das importações e exportações. Em outras palavras, as casas comerciais,
valendo-se das comunicações por telégrafo e da credibilidade que detinham perante os
bancos, deviam atuar, sim, como “intermediárias”, mas apenas no que se refere aos processos
de liquidação das transações, e não como “repassadoras” de recursos supostamente captados
junto aos bancos.
Essas transações deviam ocorrer, portanto, mais ou menos nos moldes praticados pelo
Banco Rio e Mato Grosso, uma instituição bancária que atuou no estado entre 1891 e 1902.
Esse banco, que possuía uma Caixa Filial em Corumbá atuou como “intermediário junto às
atividades do governo do estado de Mato Grosso” (SÁVIO; QUEIROZ, 2010, p. 8), mas, ao que
parece, “as operações mais importantes” estavam relacionadas “à intermediação das
transações de importação e exportação realizadas pelas casas comerciais estabelecidas em
Mato Grosso” (idem, p. 10)
Isso não impedia que as casas comerciais atuassem também como se fossem bancos.
De fato, um documento encontrado na JUCEMAT (o contrato da firma Cardoso, Salsedo &
Companhia) expressa que “semanalmente as quantias escrituradas nos livros da firma e
pertencentes à sociedade”, deveriam ser depositadas “na casa bancária de M. Cavassa Filho &
Companhia” (Inspetoria Comercial de Mato Grosso, Livro de Registros de Escrituras, Contratos Comerciais e
Outros Documentos de 15 de julho de 1910 a 8 de janeiro de 1913, p. 99 b - JUCEMAT). Enfim, isso não
impediria também que as casas comerciais realizassem operações financeiras com o seu
próprio capital, emprestando dinheiro a juros, até mesmo na forma conhecida como
245
agiotagem. A esse respeito, temos por exemplo a afirmação de um importante membro da
elite política e econômica do estado: “não há [em Mato Grosso] casas bancárias, nem instituto
algum de crédito destinado a facilitar recursos à lavoura”, de modo que “se acaso o lavrador
necessitar de algum capital, terá que recorrer à generosidade de algum comerciante ou de
algum pequeno capitalista e sujeitar-se a juros imódicos” (in ALBUM graphico, p. 275).
Dessa forma fica evidente que as intermediações bancárias eram necessárias para o
pagamento e recebimento de faturas; logo algumas casas comerciais de Corumbá passaram a
agir neste ramo, são elas: Feliciano Simon, Wanderley, Baís & Cia., Pereira, Sobrinhos &
Cia., Stöfen, Schnack, Müller & Cia.; essas empresas representavam diversos bancos ao
mesmo tempo. Provavelmente, a função de intermediária era concedida somente às empresas
com maior capital e com maior solidez. Essas empresas atuavam neste ramo, pois ao que tudo
indica era uma atividade lucrativa.
246
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Tesouro em Mato Grosso Alfândega de Corumbá, rolo 21. (Microfilme NDIHR- UFMT).
Guias de Exportação, rolo 24, Subseção da Capatazia, Alfândega de Corumbá, Fundo: Delegacia Fiscal do
Tesouro em Mato Grosso. (Microfilme NDIHR-UFMT).
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Livro da Inspetoria Comercial de Mato Grosso: Registros de 1913 a 1914: 25 de janeiro a 09 de julho de 1914,
JUCEMAT.
Livro da Inspetoria Comercial de Mato Grosso: Registros de Escrituras, Contratos Comerciais e Outros
Documentos: 15 de Julho de 1910 a 08 de janeiro de1913, JUCEMAT.
Livro da Inspetoria Comercial de Mato Grosso: Registros de Escrituras e Estatuto (Atas): junho 1920/ a junho
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Livro da Inspetoria Comercial de Mato Grosso: Registros de 02 de janeiro de 1903 a 18 de setembro de 1915,
JUCEMAT.
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(NDHER – UFMS, Campus Corumbá).
Livro Copiador de cartas e telegramas de 1910, pertencente ao Fundo da Casa Vasquez, Filhos & Cia.
(NDHER – UFMS, Campus Corumbá).
Livro Copiador de cartas e telegramas de 1911, pertencente ao Fundo da Casa Vasquez, Filhos & Cia.
(NDHER – UFMS, Campus Corumbá).
Livro Copiador de cartas e telegramas de 1912, pertencente ao Fundo da Casa Vasquez, Filhos & Cia.
(NDHER – UFMS, Campus Corumbá).
Livro Copiador de cartas e telegramas de 1912-1913, pertencente ao Fundo da Casa Vasquez, Filhos & Cia.
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