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MEDIAÇÃO FAMILIAR

Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa

Mediação FamiliarOrganização da aula

• Enquadramento histórico

• Conceito

• Princípios

• Processo de mediação

• Estratégias de mediação familiar

• Caso prático

• Desafios da mediação familiar: Identidade, autonomia edialogo interdisciplinar

Enquadramento histórico

A prática contemporânea da mediação desenvolveu-se nos EstadosUnidos da América a partir da década de 1970

O aumento da litigância e alguma ineficácia do sistema judicialperante os conflitos familiares conjugados com a insatisfação querdos cidadãos quer dos vários intervenientes judiciais potenciaram aemergência dos meios de resolução alternativa de litígios e aimplantação da mediação, tanto pública como privada

A nível jurídico e político os movimentos de desjudiciarização e oconceito de “justiça de proximidade” generalizaram-se também naEuropa abrindo o caminho da resolução de litígios por viaconsensual (Farinha, 2008)

Enquadramento jurídico

– Constituição da República Portuguesa

– Código Civil

– Convenção sobre os Direitos da Criança

– O.T.M.

– Despacho 18778/2007, de 22 de Agosto de 2007, Diário daRepública, nº 161, II série.

– Recomendação R (98) 1 do Comité de Ministros sobre MediaçãoFamiliar

– Directiva 2008/52/EC do Parlamento Europeu sobre certosaspectos em matéria civil e comercial

Direito

► Factos

► Construção do sentido do justo –decisão do juiz (ou acordo influência dos actores judiciais)

► Maior abstracção

► Negociação condicionada (quando ocorre)

► Processo: Formal

► Resultado: decisão judicial (sentença)

Mediação

► Comunicação

► Revelação do sentido do justo –decisão do próprio

► Maior concreticidade

► Negociação livre

► Processo: estruturado mas flexível

► Decisões parentais Acordo RP´s

Sistema Jurídico

Processo de mediação vs. processo judicial

Enquadramento jurídico Mediação familiar pública

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art.º. 4ºCompetência material

O SMF tem competência para mediar conflitos no âmbito de relaçõesfamiliares, nomeadamente nas seguintes matérias:a) Regulação, alteração e incumprimento do regime de exercíciodo poder paternal;b) Divórcio e separação de pessoas e bens;c) Conversão da separação de pessoas e bens em divórcio;d) Reconciliação dos cônjuges separados;e) Atribuição e alteração de alimentos, provisórios ou definitivos;f) Privação do direito ao uso dos apelidos do outro cônjuge;g) Autorização do uso dos apelidos do ex-cônjuge ou da casa demorada da família.

Desp. 18778/2007 de 13 de Agosto

O interesse da criança e a mediação familiar

O interesse da criança é indefinível em abstracto

ComunidadeFamília extensa

Subsistema conjugal, parental, fraternal,

filial

Nível individual

CRIANÇA

Mediação Familiar: Olhar a criançano seu contexto para concretizar oseu superior interesse

Mediação FamiliarConceito

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É um processo de natureza cooperativa,voluntário e confidencial, conduzido pelo mediadorcom imparcialidade, no qual, os participantes devemenvolver-se pessoal e activamente na concretizaçãodo acordo que melhor satisfaça os seus interessesdos participantes.

Princípios da mediação familiar

Voluntariedade

Confidencialidade

Imparcialidade

Flexibilidade

Participação pessoal e directa

Competência

Independência

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Mediação familiar como factor protector na fase de divórcio/ separação

– Percepção de que o processo de mediação familiar se mostra mais vantajosopara os intervenientes no divórcio do que o processo judicial.

– Confusão frequente entre o conflito conjugal e parental

– O conflito parental/conjugal, surge ou é mesmo potenciado na fase dodivórcio/separação o que aumenta o risco de aumento da probabilidade dascrianças expostas ao conflito virem a ter problemas de ajustamentoemocional, académico, social e físico

– Encontra-se bem documentado pela investigação, que a mediação familiartem revelado efeitos positivos sobre a redução do conflito ao nível daparentalidade e da diminuição dos factores de stress a que a criança ficaexposta durante o divórcio/separação

Conflito

NoçãoÉ uma realidade emocional em que a relação entre duas oumais pessoas se encontra perturbada pelo facto das suasposições, necessidades ou valores serem divergentes

- Impulso de mudança- Compreende aspectos

positivosNegativos

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As emoções e a construção de decisões no processo de mediação

Fazer

Dizer Pensar

Sentir

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12

Emoções

Conflito e mediação

E m o ç õ e s…Emoções…

… E m o ç õ e s

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Relação entre os intervenientes…

Acomodação Cooperação

Competição Compromisso

Hostilidade Colaboração

Fuga Enfrentamento

Desconfiança Confiança

ESTRATÉGIAS BASE DE

COMUNICAÇÃO NA MEDIAÇÃO

Empatia

Escuta activa

Empatia

• Pressupõe dar-se conta das

próprias emoções e identificar as

dos outros

• Só pode ser desenvolvida em

situações reais devido à forte

conexão emocional que se

estabelece

• Não é um compreender apenas

intelectual mas inclui uma forte

componente sentimental e

afectiva.

A Catedral Rodin

Empatia

Aspectos da comunicação incompatíveis com a empatia

Aspectos da comunicação que

estimulam a empatia

Ameaçar; amendontrar

Ordenar (tens); obrigar (deves);comandar (porque eu quero…)

Críticas/diagnósticos

Desvalorizar

Elogios manipuladores

Conselhos não requeridos; moralizar

Mudar e/ou recusar falar sobre umtema

Diminuir a experiência de outrapessoa

Tranquilizar mediante negação doproblema

Qualquer tema, quer seja trivial ousério, serve para desenvolver aempatia

Escuta

Compreender; explorar

Considerar os pontos de vista dosoutros apesar de seremincompatíveis com os nossos

Interesse genuíno

Identificar e gerir as própriasemoções

Confiar

Escutar… comunicar….

Adaptado de Neto & Marujo, (2002)

Bom dia, Zé!

comunicar….

Expressar as necessidades

Resolver problemas e/ou conflitos

Alguns erros na comunicação:

Falta de clareza e especificidade

Afirmações indirectas

Erros de descodificação (e.g. não verbal)

Padrões interactivos disfuncionais

Queixas cruzadas

Leitura do pensamento (e.g. sei muito bem o que estás a pensar…’)

Adivinhar o pensamento (e.g. ‘devias saber…’)

Sarcasmo, ironia

Processo de MediaçãoFases da mediação

Primeira fase: Pré-mediação

Informar sobre a mediação

Recolher Informação

Avaliar a adequação da mediação ao caso concreto

Segunda fase - Mediação

Identificar os conteúdos em conflito

Analisar e compreender as necessidades recíprocas

Explorar opções

Negociar

Acordo

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Processo de mediação familiar

Primeira fase da mediação (pré-Mediação )

Termo de Consentimento

Segunda Fase de MediaçãoSessões de Mediação

Conclusão da Mediação

Com acordo Sem acordo

Tribunal CRC Tribunal

22-03-2010 20

Pré-mediação

Objectivos da primeira fase do processo de mediação:

Informar sobre a Mediação :princípios, direitos/ deveres e regras , informação jurídica sobre as balizas legais de ordem pública)

Recolher informação

Avaliar a adequação do processo de mediação (possibilidade de reconciliação, tipo de conflito, relação entre os intervenientes, desequilíbrio de poder, diminuição da capacidade de autodeterminação…)

Verificar se existem impedimentos à Mediação (crime que contra a vida ou integridade física de alguém, utilização indevida da mediação)

Reencaminhar, se necessário, para outros profissionais (advogados, médicos, terapia familiar, peritos em avaliações, etc.)

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Segunda fase da mediaçãoIdentificar as questões em conflito

Estratégias

Organizar a agenda

Gerir o conflito (regras, controlo da sessão)

Gerar confiança: escutar, ser empático e imparcial

Verificar se há interferência indirecta de terceiros

Legitimar as posições dos mediados

Explorar os recursos e forças da família

Acordar questões prévias, urgentes, temporárias

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Análise das questões em conflitoEstratégias

Abordar em pormenor os assuntos e as motivações dosmediados

Reconhecer e respeitar as respectivas posições

Implicar os mediados na mediação

Identificar as necessidades e os interesses,

Promover a cooperação

Valorizar o contributo dos mediados

Co-responsabilizar pelo sucesso ou insucesso,

Equilibrar os poderes

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Estratégias do mediador

Organizar a informação

Utilizar perguntas exploratórias

Prevenir e/ou conter o conflito

Envolver as partes no processo

Controlar o processo

Gerir impasses

Lidar com picos de conflito em escalada

Orientar para o futuro

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Exploração de opçõesestratégias

Fazer reenquadramentos Estimular a criatividade Formular hipóteses Elaborar de acordos parcelares, Encorajar os mediados à prática dos acordos alcançados Reforço positivo Questionar sobre a viabilidade das propostas Propor questões para reflexão

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NegociaçãoEstratégias

Valorizar a colaboração dos mediados na busca desoluções comuns

Utilizar critérios objectivos

Abordar as vantagens e desvantagens do acordo

Verificar a margem de cedência de cada um dosmediados

Conduzir a negociação na perspectiva“ganhador/ganhador”

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Conclusão do processo

- Com acordo

Acordos sujeitos a homologação

Homologação judicial e administrativa

Acordos não sujeitos a homologação

- Sem acordo

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“Era um casamento para a vida…”

Um caso de mediação – A separação/divórcio emocional

Um caso de mediaçãoAspectos Positivos do casamento

Mediada

Recorda o casamento, em geral, como positivo

Vida economicamente desafogada

Suporte familiar

Filhos

Mediado

Recorda o casamento, em geral, como positivo

“Casamento para a vida” Vida economicamente

desafogada

Suporte familiar

Filhos

Um caso de mediaçãoPré-separação

Mediada:

3º Filho indesejado, nasce com um problema saúde

Perda do emprego. O mediado e os pais dela “convencem-na” de que era melhor deixar o emprego. Mostra que se sentiu pressionada

Ficou em casa a tomar conta dos filhos [o 3º filho nasce com problemas e precisa cuidados]

Exprimiu sentimentos de solidão, isolamento, culpa, depressão.

Mediado:

Tem a percepção de que adecisão da mediada deixar oemprego foi negociada: – “conversámos e decidimos queela saia do emprego”

Para o mediado o casamentoestava bem - “casamento paraa vida”

Um caso de mediaçãoNo decurso do sistema de Separação

Vinculação ao cônjuge iniciador e possibilidade de transformação desse vínculo em raiva e ressentimento (agressões físicas)

Convulsão emocional; (Ambos)

Humilhação (mediada)

Frustração (mediado)

Terapia para as crianças

Doença (mediada)

Forte interferência familiar

Reconciliações seguidas de separações

Um caso de mediaçãoRedefinição Familiar

Pressupõe que a família resolveu as tarefas inerentes aoestádios anteriores; ocorre então uma nova auto-definiçãodo eu; novos papéis e limites devem estar agora clarificados

Um caso de mediaçãoNo decurso do sistema de Separação

Envolvimento das famílias

Família da mediada: acolhe-a mas censura-a

Amiga da mediada ajuda-a a sair de casa dos pais

Rumores relacionados com irmão do mediado e vizinhos da aldeia

Os sogros do mediado apoiam-no e aliam-se para promover a reconciliação

Novos esquemas de organizaçãofamiliar começam a desenhar-se

Suporte social e familiar

Alterações económicas

Sistema judicial (Divórcio + RRP)

Filhos: Monoparentalidade: mãe

Família Reconstituída: Pai

Um caso de mediaçãoReorganização Familiar

Os subsistemas familiares são afectados: parental,avós/netos irmãos/irmãos, tios/sobrinho; trabalho,comunidade, amigos.

Mudanças: Estabelecer regras; limites; relações entre osvários membros da família, estrutura hierárquica. Acordos demediação/Judicial.

Bibliografia

• Parkinson, L. (2008). Mediação Familiar. Ministério da Justiça - Gabinete para a Resolução Alternativa de Litígios, Ed. Agora Comunicação.

• Gomes, L. (2009). Mediação Familiar e Conflito Parental: modelos de mediação. Newsletter nº 11, Gabinete para a Resolução Alternativa de Litígios, Ministério da Justiça

• Recomendação R(98)1 do comité de Ministros do Conselho da Europa –Mediação Familiar

• Despacho nº 18778/2007 de 22 de Agosto de 2007 – Mediação Familiar

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lucinda.gomes@gmail.com

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