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MOBILIDADE ESPACIAL DA POPULAÇÃO E PRODUÇÃO DO ESPAÇO: QUEM
MIGRA E POR QUE MIGRA NA REGIÃO METROPOLITANA DA BAIXADA
SANTISTA NA ÚLTIMA DÉCADA1
RESUMO
O principal objetivo aqui é identificar quem migra e porque o faz na Região
Metropolitana da Baixada Santista (RMBS) na última década. Entre os principais
achados observou-se um verdadeiro leque de relações entre os processos de
redistribuição espacial da população, de produção do espaço e migratório na região.
Aqui destaca-se a existência de um grande contingente populacional, incapaz de arcar
com as condições impostas pelo mercado imobiliário, induzido, ou, em muitos casos,
“forçado” a migrar para as periferias metropolitanas, ainda que se mantenha
trabalhando no núcleo metropolitano, agora afastado de sua residência. Os principais
instrumentos metodológicos explorados para o desenvolvimento analítico das
evidências empíricas, constituiu-se do uso de ferramentas de geoprocessamento e
estatística descritiva, cujo principal banco de dados foi o Censo Demográfico de 2000
e 2010. Além disso, também foi feito um esforço para aproximar tais evidências das
análises teóricas, através da bibliografia explorada.
1 Este artigo foi financiado pelo Centro de Estudos da Metrópole (CEBRAP, USP), processo nº 2013/07616-7. Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). As opiniões, hipóteses e conclusões ou recomendações expressas são de responsabilidade do(s) autor(es) e não necessariamente refletem a visão da FAPESP
MOBILIDADE ESPACIAL DA POPULAÇÃO E PRODUÇÃO DO ESPAÇO: QUEM
MIGRA E POR QUE MIGRA NA REGIÃO METROPOLITANA DA BAIXADA
SANTISTA NA ÚLTIMA DÉCADA
1. INTRODUÇÃO
O Brasil vem vivendo desde os anos 30 um marcante processo de urbanização,
que chegou ao patamar de pouco mais de 85% da população brasileira em 2014,
segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD). Tal
processo, no entanto, possui a peculiaridade de ter ocorrido de maneira relativamente
abrupta e concomitante ao processo de metropolização das principais aglomerações
urbanas do país.
Tanto a urbanização quanto a metropolização no Brasil estiveram associadas
a uma dinâmica de Redistribuição Espacial da População (REP), que abrangeu uma
extensa porção do seu território, tendo como principal força sociodemográfica a
migração, seja do tipo rural-urbana, seja do tipo de longa distância. Mais
recentemente, em um contexto de aceleração da queda fecundidade e de
arrefecimento dos movimentos populacionais de longa distância, as migrações de
caráter intrametropolitano tendem a ganhar maior representatividade enquanto uma
das forças sociodemográficas protagonistas do processo de metropolização do Brasil.
Essa dinâmica igualmente encontra ressonância ao que vem ocorrendo na
Região Metropolitana da Baixada Santista (RMBS), considerando seu alto potencial
de redistribuição interna da populacional, patente a uma realidade onde seu núcleo
metropolitano concentra 55,4% da população metropolitana, em uma área
representativa de apenas 6% do total ocupado na região.
Em face do contexto apresentado, é de se esperar repercussões conquanto a
mobilização espacial de determinados grupos sociais no espaço metropolitano, além
do fato de que os condicionantes ligados à produção deste último assumam o papel
de principais fatores estruturantes que explicam a REP recentemente. Logo, tentar
responder as questões - “onde, quem e por que migra” na RMBS – coloca-se como
objetivo central da presente trabalho.
Para tal, em um primeiro momento, discute-se o estatuto da migração, da
produção do espaço e metropolização no processo de REP das aglomerações
urbano-regionais nos últimos anos.
Posteriormente, como resultados2 trazidos pelo trabalho, traça-se um
panorama empírico da REP na Baixada Santista. Em primeira mão, apresenta-se a
evolução urbana da RMBS até os dias atuais, em seguida, esboça-se um perfil
sociodemográfico da REP regional. Por fim, tenta-se traçar as possíveis imbricações
entre os fenômenos da migração e da produção do espaço, no sentido de responder
a questão de quem migra e por que migra na Baixada Santista.
2. A REDISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DA POPULAÇÃO NAS METRÓPOLES BRASILEIRAS a. DO PAPEL DA MIGRAÇÃO
A análise da migração no contexto intrametropolitano se inscreve em um tema
mais amplo que seria a REP. Esta seria, de fato, o fenômeno demográfico que estaria
efetivamente em jogo quando se estuda as causas e consequências da localização
diferenciada dos diferentes extratos populacionais no espaço urbano.
A REP possui, portanto, em sua gênese fatores diversificados. De um lado,
aqueles de cunho demográfico interferem no referido processo através da dinâmica
de suas três variáveis básicas: natalidade, mortalidade e migração. De outro, abarca
fatores sociais, políticos, econômicos, geográficos e culturais que diferenciam a
redistribuição da população de uma região para outra, no espaço e no tempo (LOBO,
MATOS e GARCIA, 2012).
O processo de REP no Brasil, desde os anos 30 esteve atrelado ao processo
de concentração das atividades econômicas (industrialização) e da população
brasileira, em poucas e grandes aglomerações urbanas (CANO, 2011). Alicerçado
segundo a organização do modo produção fordista, pautava-se, em linhas gerais, nas
economias de aglomeração para sua viabilização, tendo os grandes fluxos migratórios
internos, de caráter rural-urbano e interregional, como processo social estruturante a
que se vinculava dialeticamente. Ao contrário do período anterior (ciclo econômico
agroexportador), onde os fluxos migratórios internacionais faziam esse papel.
No entanto, em finais da década 60, nos anos 70 e, principalmente, a partir de
1980, observam-se inflexões, nas tendências de concentração das atividades
econômicas, de REP e de urbanização. Simultaneamente, observa-se uma tendência
de aceleração na queda da fecundidade, principalmente a partir dos anos 1980. A
migração, com isso, consolidou-se ainda mais como o principal protagonista no
2 Os dados analisados provêm da amostra e universo dos Censos Demográficos Brasileiro de 2000 e 2010.
processo de REP e, por conseguinte, pelo crescente e inexorável processo de
urbanização da população brasileira. Martine (1994) ressalta, no entanto, que mesmo
com o papel decisivo da migração nessa época, não se pode desprezar o peso dos
diferenciais regionais de fecundidade existentes no Brasil enquanto propulsores da
REP. Como Cunha e Baeninger (2001), as áreas mais desenvolvidas do Sudeste e
Sul chegavam a registrar taxas de fecundidade, em média, 25% menores que as mais
pobres. Em virtude disso, pode-se supor que contemporaneamente, com a redução
da migração o crescimento vegetativo possa intervir de maneira ainda mais importante
no processo de REP.
Todavia, o referido protagonismo na REP brasileira não mais aparece através
dos, até então, tradicionais movimentos de longa distância (interregional), e sim
através dos movimentos de mais curta distância. Mudanças, em termos das trajetórias
espaciais e de escala geográfica dos fluxos populacionais brasileiros, aparecem, pois,
como adaptação da dinâmica migratória perante as condições econômicas e sociais
vigentes na década de 80, se flexibilizando para atender as novas demandas (BRITO,
2000).
O declínio da migração do tipo rural-urbano e de longa distância permitiu que
fossem evidenciadas outras modalidades migratórias3, tais como a migração do tipo
urbano-urbano, intra-estadual, intrametropolitano, entre outras, que antes eram
ofuscadas pelos fluxos em questão (CUNHA, 2011). Nesse momento, segundo
Rodríguez e Busso (2009), a dinâmica demográfica metropolitana já passa a não mais
depender tanto da imigração externa, o que leva a que se preste mais atenção na
migração endógena com característica centrífuga. De fato, mesmo crescendo menos,
as RM’s ainda representam grandes desafios não apenas pela grande concentração
de pobreza, particularmente em suas periferias, mas também pelo alto potencial que
apresentam de redistribuição interna de sua população (CUNHA, 2011), o que pode
ser verificado com os recentes processos (re)estruturação urbana das principais
metrópoles brasileiras.
Desse modo, para além das causas estruturantes e motivações que explicam
as modalidades migratórias tradicionais, como a migração rural-urbana, a migração
intrametropolitana se encontraria relacionada aos fatores estruturantes da metrópole,
como o mercado de terras e a divisão espacial do trabalho. Segundo Cunha (1994:45)
3 Entende-se por “modalidade migratória” as diferentes formas de migração definidas a partir da escala geográfica de observação e mensuração do fenômeno.
“a maior parte dos movimentos de curta distância pode ser diretamente associada aos
processos de estruturação e expansão do meio urbano”.
De fato, segundo Correa (2011), os fenômenos, relações sociais e práticas
espaciais mudam ao se alterar a escala espacial da ação humana, assim como se
modifica sua representação cartográfica. Dessa forma, a base teórica, que permite
explicar ou compreender fenômenos, relações e práticas, é alterada ao se mudar a
escala espacial. Uma implicação disto está na necessidade de teorias com distintos
níveis de abrangência espacial. Isto é ilustrado, de acordo com exemplo trazido pelo
autor supracitado, comas formulações de Todaro, de um lado, e Guademar, de outro,
na explicação das migrações em escala nacional ou internacional. Ambas as teorias
se tornam pouco úteis quando se considera as mudanças de domicílio no espaço
intraurbano (mobilidade residencial intraurbana).
Assim, conforme apontado por Cunha (2011:123):
Não se pode pensar em fatores que se desenrolam no âmbito intraurbano sem que se tenha, pelo menos como pano de fundo, elementos estruturais que condicionam, modelam e muitas vezes redefinem o processo de formação e estruturação do espaço urbano. De fato, é a partir da forma como o espaço é produzido que podemos entender certos fenômenos e desdobramentos dos mesmos. É das relações intrincadas entre o capital privado (e não apenas o imobiliário), o Estado e a sociedade que parecem emergir muitas das formas de ocupação do espaço urbano e, portanto, de assentamentos populacionais.
É, pois, no sentido de entender os nuances do processo de produção do espaço
do urbano, assim como, do processo de metropolização, que se encontra associado
na atualidade, que se empreende o próximo item.
b. DO PAPEL DOS PROCESSOS DE PRODUÇÃO E DE METROPOLIZAÇÃO ESPAÇO URBANO
Para o entendimento de determinadas dinâmicas sociodemográficas próprias
da escala metropolitana, como a migração intrametropolitana, deve-se, em primeira
mão, analisar o papel que a região exerce na totalidade em que está inserida, assim
como, a dinâmica de integração entre suas partes (municípios) formando uma região,
quando se considera ela própria uma totalidade (metrópole).
Nesse sentido, o reconhecimento da urbanização e metropolização, enquanto
processos resultantes dos movimentos históricos concentradores do modelo
capitalista de produção (MOURA, 2009) e das cidades e metrópoles enquanto formas
associadas aos mesmos, coloca-se de fundamental importância para o entendimento
diferenciações que assumem na atualidade. De fato, os arranjos espaciais chamados
de metrópoles são fruto do modelo de desenvolvimento vigente, no qual a produção
do espaço urbano-regional se dá pela interação de processos concentradores de
pessoas, bens, riqueza e conhecimento, profusão de fluxos e multiplicação de escalas
nas relações socioespaciais. Tal conjunção resulta em assimetrias entre os elementos
componentes e em suas configurações espaciais, o que faz com que determinadas
porções do território assumam a condução das dinâmicas principais da inserção do
estado/país na divisão social do trabalho.
Harvey (1981), corroborando tal perspectiva de análise, pontua que as
metrópoles são os espaços que melhor reúnem as Condições Gerais de Produção
(CGPs) capitalista, especialmente no período de acumulação “fordista” (HARVEY,
1993). Em suma, de acordo com o mesmo autor, essas condições vão desde um
conjunto de infraestruturas básicas, imprescindíveis principalmente para a produção
industrial, passando por um conjunto de regulações trabalhistas, até ao ambiente
construído destinado à reprodução social dos trabalhadores das industriais, com os
centros de consumo de consumo e as áreas residências destinadas aos trabalhadores
(HARVEY, 1981).
É, pois, a partir da reunião da CGPs nos espaços urbanos, principalmente após
a segunda guerra mundial, que se lançam as bases da metrópole fordista ou industrial.
Segundo Kayzer (1990) apud Lencioni (2013), a principal característica desses
espaços é a intensidade de fluxos que passam a os constituir, tais como o fluxo de
pessoas, fluxos de capitais, mercadorias, informações. Para além da densidade de
fluxos, Ascher (1998:4), aponta a questão da concentração, conforme já enunciado
acima, enquanto outra peculiaridade desses espaços, especialmente no período
fordista.
Enquanto contrapartida da forma urbana desdobrada no espaço geográfico
pelos processos relatados acima, Ascher (1998), reportando-se ao contexto urbano
francês, afirma que nos anos 50/60, auge do fordismo, as grandes aglomerações
metropolitanas cresceram de forma bastante compacta (modelo “mancha de óleo”),
através, principalmente, da construção de edifícios coletivos, da realização de grandes
operações urbanas e da densificação dos subúrbios existentes.
O autor supracitado destaca, no entanto, que transformações significativas das
formas assumidas pelas aglomerações metropolitanas passam ser observadas a
partir da década 70 e, principalmente, nas décadas de 80 e 90. No que toca às
transformações físicas, a “mancha urbana” das metrópoles se alargou e os territórios
metropolitanos estenderam-se progressivamente às periferias, diminuindo a
densidade média das aglomerações. [...] A isto acrescenta-se a integração, no sistema
de funcionamento quotidiano das metrópoles e das cidades, de aglomerados e de
aldeias periféricas, às vezes, de novas urbanizações (habitação ou emprego) bastante
afastadas, aumentando a descontinuidade dos espaços metropolitanos. As
metrópoles estão, assim e ao mesmo tempo, mais diluídas e mais compactas, mais
integradas e mais descontínuas. (ASCHER, 1998:9).
De fato, essas mudanças não se resumiram apenas as formas assumidas pelas
metrópoles, remontando, antes disso, a transformações nas estruturas em que as
mesmas estão inscritas. A reestruturação produtiva, analisada por Harvey (1993),
como regime de acumulação flexível, e por Soja (1993), como especialização flexível,
resume-se em três dimensões básicas: “mudanças nas relações de produção e
trabalho (reestruturação produtiva); a ampliação e diversificação dos sistemas de
modalidade de bens, serviços e pessoas e as mudanças de padrões de consumo com
ampliação e densificação dos mercados” (RIBEIRO, 2009:126).
Deve-se, pontuar, contudo, a partir de uma leitura mais ampla sobre esse novo
contexto, empreendida por Harvey (2011), a natureza estruturante ao sistema de
acumulação, dos processos de concentração e dispersão descritos acima. Antes de
se remeterem somente à conjuntura de crise e restruturação produtiva vivida nos anos
70 e 80, o autor defende tais movimentos enquanto fator intrínseco ao capital para
superar seus momentos de crise, especialmente aquelas de superacumulação, onde
os excedentes de capital são investidos no ambiente construído (principalmente o
mercado imobiliário).
Nesse sentido, as vantagens locacionais se tornam cada vez mais um atributo
dos lugares. Se por um lado, as rendas diferenciais são extraídas pela maior
produtividade advinda da tecnologia, por outro, as mesmas também são auferidas por
uma localização privilegiada. De modo que, a constante busca pela intensificação dos
lucros leva a uma frenética mudança de localização das atividades que podem se
beneficiar de tais condições, em um processo viabilizado pela flexibilização da
produção e pelos avanços verificados nos transportes e telecomunicações.
Com isso, novas formas urbanas remetentes a escala urbana-regional são
produzidas no bojo da nova dinâmica de metropolização seguida na atualidade. O
Brasil não fugiu a essa tendência, com a emergência de diferentes aglomerações
urbano-regionais em seu território recentemente. O exemplo mais ilustrativo dessa
nova dinâmica urbana nacional é a “Macrometrópole Paulista” (SOUZA, 1978).
Assim, definida pela EMPLASA (2012), é composta por 168 municípios
distribuídos entre as quatro Regiões Metropolitanas oficiais do Estado de São Paulo
(RMSP, RMC, RMBS e RMVPLN), além de municípios situados nas regiões de
influencia de Piracicaba, Sorocaba, Jundiaí, São Roque e Bragança Paulista6 (anexo
8). Ocupando, segundo dados de Cunha et al. (2013), 20% do território do estado de
São Paulo, possui 30 milhões de habitantes, representativos de cerca de 73% da
população do estado. Além disso, em termos econômicos, produz 83% da riqueza do
estado e 28% do total produzido no país. A integração funcional entre as partes,
compondo uma divisão trabalho regional é um dos seus principais aspectos, assim
como, a mescla de dinâmicas socioespaciais próprias da escala da rede urbana e do
espaço urbano (MOURA, 2009).
A RMBS, conforme enumerado no parágrafo anterior, faz parte da aglomeração
urbano-regional em questão, estando submetida às mesmas lógicas de produção do
espaço urbano e metropolização que o fenômeno urbano vivencia na
contemporaneidade, descritos no presente item. Tais lógicas acabam por serem os
principais condicionantes do processo de REP e de mobilidade populacional na
Baixada Santista na última década, o que será explorado na próxima seção.
3. A REDISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DA POPULAÇÃO NA BAIXADA SANTISTA
RECENTEMENTE
a. DE SUA EVOLUÇÃO URBANA A Baixada Santista é uma das áreas de ocupação urbana mais antiga do
território nacional, datada do século XVI. Essa urbanização precoce, no entanto,
aufere uma intensificação na virada do século XIX para o XX, com o protagonismo do
Porto de Santos no ciclo agroexportador do café, e seus efeitos indutores para o
território regional.
Esse quadro se intensifica ainda mais com a instalação do polo industrial de
Cubatão, em finais dos anos 40. Aliado às já vastas ofertas de emprego propiciadas
pelas atividades portuárias e de turismo de veraneio, o mercado de trabalho da região
apresenta um aumento vertiginoso. Não por acaso, é partir desse período até os anos
80, que se registram a maiores taxas de crescimento populacional, os maiores
volumes de fluxos migratórios destinados à região, e mesmo, uma intensificação
precoce do processo de metropolização, em relação a outras aglomerações urbanas.
De acordo com Jakob (2003), as taxas de crescimentos médias anuais eram de:
1950/60 – 4,54% a.a.; 1960/70 – 4,59% a.a.; 1970/1980 – 3,94% a.a..
Essa dinâmica de metropolização precoce da Baixada Santista é ilustrada pelo
gráfico 1, onde se pode ver como se deu o processo de REP a partir da participação
relativa de cada município na população regional. De fato, observa-se uma perda de
peso do município de Santos em relação a, praticamente, todos os outros municípios
metropolitanos, destacando-se aqueles periféricos que estão mais próximos a ele,
como, Praia Grande e Guarujá.
Esses dados são ainda complementados pelo mapa 1, que mostra a
acentuação do ritmo de crescimento de alguns municípios da Região a partir da
década de 70. “A maior taxa foi exibida pelo município de Praia Grande, com
aproximadamente 13% a.a. Segue-se o município de Peruíbe com uma taxa de
crescimento populacional acima de 10% a.a., no período 1970/80. Nessa etapa, a
sede regional apresentou uma taxa, relativamente bem menor, de 1,89% a.a.”
(BAENINGER e SIQUEIRA, 2009: 37).
Cubatão também apresenta uma dinâmica de perda populacional, relacionada,
ao processo de diminuição de investimentos em seu parque industrial. Em verdade,
esse foi um processo que afligiu a região como um todo a partir dos anos 80. Isso
porque, tendo seus principais “fios condutores” produtivos vinculados diretamente a
investimentos estatais, a região não ficou imune à crise econômica do Estado
brasileiro vigente no período em questão.
Em consonância à tendência de esvaziamento econômico vivenciada no
período pela metrópole de Santos, Baeninger e Siqueira. (2009: 42) destacam que
dentre as regiões mais importantes do Estado de São Paulo, a Região Metropolitana
da Baixada Santista registrou, na década de 1980, a menor taxa decrescimento
(2,19% a.a.). “Abaixo da taxa média interiorana que foi de 2,30% a.a. Nos anos1990
e 2000 esta taxa continua a reduzir, ficando em torno de 2,17% a.a. e 1,92% a.a..”.
No âmbito regional Colantonio (2009), por sua vez, argumenta que a região
perdeu peso no total do interior devido aos efeitos menos pronunciados da recessão
econômica do período em outras áreas do interior paulista, mais especificamente as
aglomerações urbano-regionais de Campinas e do Vale do Paraíba. Estas foram
contempladas com as políticas de interiorização do desenvolvimento desenvolvidas
pelo governo paulista na época, atraindo fluxos de pessoas relativamente maiores do
que a Baixada Santista.
Gráfico 1 – Participação relativa na população regional. RMBS. Municípios selecionados.
1970-2010.
* O município de Bertioga era um distrito de Santos até o Censo Demográfico de 1991. Para fins de comparação, seus valores foram considerados separados desde o Censo Demográfico de 1970.
Fonte: FIBGE. Dados do universo do Censo Demográfico 1970, 1980, 1991, 2000 e 2010. Tabulações especiais NEPO.
Como efeito desse processo internamente à região, observa-se um
arrefecimento das taxas de crescimento dos municípios, cujos valores não atingem
mais a marca de dois dígitos. A visualização do mapa 1, todavia, evidencia o fato que
o processo de desconcentração espacial não parou, tendo em vista que, apesar da
tendência de redução do ritmo de crescimento, os municípios periféricos mencionados
acima, sempre apresentam taxas geométricas de crescimento relativamente mais
altas aos municípios centrais de ocupação mais antiga
Mapa 1 - Taxas médias geométricas anuais de crescimento populacional. RMBS. Municípios selecionados. 1970-2010.
Fonte: FIBGE. Dados do universo do Censo Demográfico 1970, 1980, 1991, 2000 e 2010. Tabulações especiais NEPO.
b. DA PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO NA ÚLTIMA DÉCADA
A produção do ambiente construído, de maneira geral, é consoante à dinâmica
da populacional da região como um todo, com também, ao processo de REP entre os
municípios. De acordo com Negreiros (1992), a evolução da ocupação da região, a
partir da década de 70 quando houve intensificação do processo de metropolização,
orientou-se segundo três eixos: Santos/São Vicente/Cubatão; Praia Grande; e,
Guarujá/Bertioga).
Com relação ao primeiro caso, a expansão de Santos em direção a São Vicente
apresenta uma mancha contínua e homogênea com os mesmos padrões urbanísticos
de Santos. Assim como a última municipalidade, São Vicente tem, na sua porção
noroeste, as áreas ocupadas por população de renda mais baixa e que vem se
deslocando para Cubatão, identificando-se assim o vetor noroeste – São
Vicente/Cubatão, situado ao longo da Via Anchieta e da Via Imigrantes – caracterizado
pelo complexo industrial de Cubatão e pela forte presença de conjuntos habitacionais.
O Estado foi o principal agente indutor do referido tipo de ocupação, já que através da
atuação da Companhia de Habitação (COHAB) concentrou sua atuação aí, sendo
responsável diretamente pela construção de muitos conjuntos habitacionais nessa
área.
O segundo vetor de expansão dirige-se à Praia Grande, determinado pelo
processo de redirecionamento populacional, dos estratos de renda média e pela
dinâmica turística das camadas médias e baixas rendas de Santos e São Vicente.
Para o terceiro eixo de expansão – Guarujá/Bertioga – ressalta-se a existência
de duas frentes: o distrito de Vicente de Carvalho, ocupado originalmente pelo
deslocamento da população de Santos decorrente dos desmoronamentos de morros
de Santos, no ano de 1958; a outra frente se situa ao longo da orla do Guarujá,
reproduzindo os padrões urbanísticos verificados na orla santista, destinados a
população permanente e flutuante de rendas médias e altas.
De maneira geral, consegue-se identificar esses três eixos através das setas
roxas presentes no mapa 2, referente ao crescimento anual médio dos domicílios em
2000 e 2010 por setores censitários. De fato, são justamente essas áreas onde se
observam os maiores valores das taxas de crescimento de domicílios, os quais, em
muitos casos ultrapassam o patamar de 10% ao ano. Igualmente, elas, conforme
mostrado no mapa 1, apresentam os maiores crescimentos populacionais, todavia,
marcados por taxas muito menos elevadas, que não ultrapassam níveis maiores que
6% a.a.
Mapa 2 - Taxas médias geométricas anuais de crescimento dos domicílios. Setores Censitários Urbanos selecionados. RMBS. 2000-2010
Fonte: FIBGE. Dados do universo do Censo Demográfico 2010. Tabulações especiais NEPO
Essa intensidade maior do crescimento dos domicílios comparativamente ao
crescimento populacional se relaciona, em linhas gerais, a dois fatores ligados às
políticas habitacionais e urbanísticas que estiveram em curso na Baixada Santista no
período considerado. De um lado, podem-se evocar as políticas de valorização do
salário mínimo, e mesmo, de financiamento da habitação encabeçada pelo “Programa
Minha Casa, Minha Vida”, colocadas em curso nos anos 2000. As mesmas,
possivelmente, explicam, em grande parte a dinâmica intensa do mercado de terras
nos eixos de expansão da ocupação mais “populares” (parte continental de São
Vicente, Praia Grande longe da orla e Vicente de Carvalho).
Por outro lado, foi instituída toda uma rodada de legislações urbanísticas, nas
vésperas da última década, nos municípios que conformam o core metropolitano, que
tinham em comum uma permissividade dos padrões urbanísticos4 seguindo os
ditames do mercado imobiliário voltado às elites. Nesse sentido, toda a área mais
próxima à orla de Santos, São Vicente, Praia Grande e Guarujá simboliza essa nova
lógica de produção do espaço na região. Logo, verifica-se a proliferação de
edificações com gabarito muito alto, com poucas unidades, voltadas, essencialmente,
a população de alto poder aquisitivo.
4 Sintetizada pelo aumento do potencial construtivo sem limites no gabarito das edificações.
No caso específico de Santos e São Vicente, a saturação da ocupação da Ilha
de São Vicente, explica os valores relativamente mais baixos de crescimento dos
domicílios em comparação à Praia Grande e Guarujá. No caso dos últimos, realmente
ocorre a produção de novas unidades, enquanto que nos primeiros ocorre, em boa
parte dos casos, a substituição de edificações, o que justifica em muitas situações a
ocorrência de valores negativos.
Deve-se, ponderar, todavia, que muito desses domicílios são de uso ocasional,
voltado aos fenômenos do turismo de veraneio e segunda residência, como é indicado
pela tabela 1. Alguns municípios como Mongaguá e Bertioga, chegam a registrar mais
da metade dos domicílios com tal tipo de uso. Esse é outro condicionante que explica
a não consonância entre os ritmos de crescimento do ambiente construído residencial
e da população.
Tabela 1 - Unidades visitadas por espécie da edificação. Municípios selecionados.
RMBS. 2010
Fonte: FIBGE. Dados do universo do Censo Demográfico 2010. Tabulações especiais NEPO.
Em suma, reuniram-se as condições propícias à produção de um espaço
intensamente segregado residencialmente. De um lado, observa-se a presença de
uma legislação urbana direcionada principalmente aos interesses do mercado
imobiliário, seja voltado o uso residencial permanente, seja voltado à produção de
reserva de amplas parcelas do território não usadas durante boa parte do ano, no
caso do uso ocasional. De outro, a presença de amenidades naturais, assim como, a
exígua disponibilidade de espaços adequados a novas ocupações (apenas 5%
segundo dados do PMDE (2014)8. Todos eles contribuem para o alto valor que a
mercadoria solo atinge na região.
De fato, é isso que se verifica através do mapa 3. O mesmo ilustra a
estratificação social dos dois eixos “mais ativos” de expansão metropolitana na
atualidade, através da categorização dos rendimentos médios mensais dos
responsáveis dos domicílios segundo o indicador de autocorrelação espacial local de
Moran. Pode-se verificar que o cluster de setores censitários com menor renda média
domiciliar (baixo-baixo), se localiza em uma mancha contínua que começa na zona
ístmica de São Vicente, passa por Praia Grande indo até Peruíbe, sempre ao norte da
rodovia Padre Manoel da Nóbrega. Deve-se, ressaltar a heterogeneidade desse eixo
de expansão, já que na zona mais próxima a linha de costa, delimitada ao norte pela
mesma rodovia, é ocupada por setores da população com status sócio-econômico
mais alto, atraídos pela amenidade natural principal da região, que é a proximidade
com o mar (JAKOB e CUNHA, 2006).
Por sua vez, os clusters que concentraram os setores com domicílios com
renda média mais alta foram aqueles localizados na Ilha de São Vicente, mais
precisamente no município de Santos perto da linha de Costa. O eixo de expansão 3,
ainda em expansão na vertente Guarujá-Bertioga, de 2000 para 2010, tendeu a
diminuir os clusters na categoria baixo-baixo e aumentar a participação dos clusters
do tipo alto-alto e baixo-alto, mostrando o curso do processo de “elitização” de sua
ocupação.
Mapa 3 – Categorização dos rendimentos médios mensais dos responsáveis dos
domicílios segundo o indicador de autocorrelação espacial local de Moran. RMBS. Setores censitários urbanos selecionados. 2000 e 2010.
Fonte: FIBGE. Dados do universo do Censo Demográfico 2000 e 2010. Tabulações especiais NEPO.
c. DOS FLUXOS MIGRATÓRIOS
Em vista da dinâmica de produção de um espaço altamente segregado
residencialmente observada no item anterior, é de se esperar a mobilização espacial
de determinados grupos sociais no espaço metropolitano. Especialmente, quando se
considera o alto potencial endógeno de REP da RMBS, dado a desigualdade na
distribuição da população entre os diversos municípios da região.
O mapa 4 confirma a constatação do parágrafo anterior, ao mostra a
composição do crescimento populacional nas décadas de 90 e 2000. Se para a região
como um todo, o peso da migração diminuiu, de 50% para 26%, respectivamente,
para 1991-2000 e 2000-2010, resultado ligado à redução da imigração para região,
especialmente, daquela de cunho interestadual. Entre os municípios esse quadro foi
bem diferente. Enquanto naqueles que conformam o núcleo metropolitano (Cubatão,
São Vicente, Santos e Guarujá), o peso da migração sobre o crescimento populacional
tende a diminuir, assumindo valores nulos, no último período. As principais frentes de
expansão populacional na região, ao Sul, com Praia Grande, Mongaguá, Itanhaém e
Peruíbe, e, ao norte, com Bertioga, apresentam elevados pesos da migração sobre o
crescimento populacional, sempre acima de 50%, a exceção do penúltimo município
citado em 2000-2010.
Mapa 4 - Composição do crescimento populacional. RMBS. Municípios selecionados. 1991-2010.
Fonte: FIBGE. Microdados da amostra dos Censos Demográficos 1991, 2000 e 2010. Tabulações especiais NEPO.
Se a migração ainda é um fator estruturante da redistribuição interna da
população da RMBS, quando se desagrega a variável em questão segundo suas
diferentes modalidades (gráfico 2), percebe-se o ganho em importância relativa dos
fluxos provenientes da outras regiões metropolitanas de São Paulo e, principalmente,
daqueles de caráter intrametropolitano.
Especialmente, nos já referidos municípios centrais, a emigração
intrametropolitana responde por quase 50% dos fluxos de saída. Concomitantemente,
nos municípios periféricos, em especial no “trio” formado por Mongaguá, Itanhaém e
Peruíbe, registra-se um peso expressivo da imigração oriunda da RMSP, responsável
por quase 60% dos fluxos de entrada. A melhoria do sistema viário, aliada a
geomorfologia regional, onde os municípios mais periféricos geograficamente acabam
distando equivalentemente tanto do núcleo metropolitano localizado na Ilha de São
Vicente quanto das localidades mais ao sul da RMSP, concorrem para maneira como
se deu a articulação com esta região, evidenciada pelos fluxos migratórios.
Apesar da tendência de redução, não se pode desprezar a ainda representativa
participação da imigração de caráter interestadual em algumas municipalidades, como
Cubatão, onde tal modalidade é responsável por parte majoritária da imigração. Jakob
(2003) aventa como explicação para tal fato, a existência de redes sociais de
migração, estabelecidas, principalmente, com os estados do Nordeste, que remontam
a fluxos mais longevos no tempo, vinculado aos efeitos indutores da instalação do
polo industrial nesse município.
Gráfico 2 - Modalidades Migratórias. RMBS. Municípios selecionados. 1995 -2000 / 2005-2010
Fonte: FIBGE. Microdados da amostra dos Censos Demográficos 2000 e 2010. Tabulações especiais NEPO.
A imigração de mais curta distância (seja ela originária na RMSP ou na RMBS),
como se pôde notar, possui maior representatividade entre todas as modalidades
migratórias. É, portanto, a principal força socioespacial que explica dinâmica de REP
da região.
Tal tipo de movimento, segundo Sobrino (2007) e Cunha (1994), possui a
peculiaridade de ter como um de seus principais condicionantes as dinâmicas do
mercado de terras e do mercado trabalho, as quais conformam uma estrutura de
oportunidades para os migrantes. Mediada por essas dinâmicas, em muitos casos,
observa-se uma complementariedade entre a mobilidade residencial metropolitana, e
os deslocamentos pendulares para fins de trabalho e estudo (PEREIRA, 2008).
Os dados da tabela 2 atestam essa complementariedade entre os dois
fenômenos socioespaciais em questão, visto que, tanto para a modalidade migratória
intrametropolitana, quanto para aquela proveniente da RMSP, pouco mais da metade
dos migrantes trabalhavam ou estudavam, no município de origem, tanto em 2000
quanto em 2010. Em alguns municípios como Santos, além de outros do litoral sul,
como Itanhaém e Peruíbe, esses valores chegam a ultrapassar o patamar de 60%.
Tabela 2 - Percentagem de imigrantes de “data fixa” que realizam deslocamento
pendular, por município de residência, segundo modalidade migratória e município de trabalho ou estudo. RMBS, 1995/2000 e 2005/2010.
Fonte: FIBGE. Microdados da amostra dos Censos Demográficos 2000 e 2010. Tabulações especiais NEPO.
Deve-se, ressaltar a existência de duas lógicas de ocupação do espaço
metropolitano a partir da leitura da tabela. No que tange à mobilidade proveniente da
RMSP, percebe-se que a ocupação se vincula a uma população de mais alto poder
aquisitivo, que faz, principalmente, dos municípios do litoral do sul e suas “amenidades
naturais”, periferias “elitizadas” da Grande São Paulo.
De outra mão, a modalidade intrametropolitana se vincula muito mais ao
processo de periferização metropolitana de boa parte da população que não consegue
arcar com os altos preços dos imóveis da Ilha de São Vicente. Assim, conforme vem
sendo mostrado até aqui, há um espraiamento da ocupação da região, todavia, não
acompanhado de uma expansão territorial do mercado de trabalho. Logo, muitas
pessoas se vêm induzidas/ “forçadas” a procurar habitação mais barata nos
municípios mais periféricos da região, mantendo o seu trabalho no elitizado core
metropolitano, agora longe de sua residência.
Se os fluxos migratórios intrametropolitanos obedecem a uma orientação
centrífuga própria do processo de desconcentração populacional das grandes
aglomerações metropolitanas brasileiras na atualidade, percebe-se que os mesmos
tendem apresentar uma seletividade sociodemográfica entre si, em função de sua
direção.
Isso pode ser constatado a partir das tabelas 3 e 4, considerando que os
imigrantes intrametropolitanos de Praia Grande, tendem a serem mais rejuvenescidos
e menos instruídos comparativamente àqueles que se destinam aos municípios
centrais, numa dinâmica demográfica própria de expansão das chamadas periferias
“tradicionais” metropolitanas (CUNHA, 2015). Tal panorama pode ser estendido aos
municípios de Mongaguá, Itanhaém e Peruíbe, que apresentaram os mesmos padrões
para esses indicadores. Não, por acaso, tais munícipios seriam a continuidade do já
mencionado eixo sul de expansão metropolitana, mais pobre, nas décadas de 90 e
2000.
Para a migração destinada ao eixo de expansão norte – Guarujá/Bertioga,
novamente, as tabelas 2 e 3, ilustram a qualificação sociodemográfica do mesmo. Isso
porque, especificamente na vertente direcionada a parte litorânea de Guarujá, os
fluxos de imigrantes intrametropolitanos são novamente compostos por uma
população relativamente mais jovem, em estágios menos avançados do seu ciclo de
vida. No entanto, ela é mais instruída comparativamente àquela que se direciona ao
eixo de expansão sul. Ainda segundo Cunha (2015), tais padrões sociodemográficos
seriam próprios à formação de uma periferia “elitizada”, simbolizada pela difusão de
loteamentos fechados voltados à população de mais alto status socioeconômico
nesse vetor específico de expansão metropolitana.
Tabela 3 - Percentagem de imigrantes intrametropolitanos por grupos etários. RMBS. Municípios selecionados. 1995-2000 e 2005-2010.
Fonte: FIBGE. Microdados da amostra dos Censos Demográficos 2000 e 2010. Tabulações especiais NEPO.
Tabela 4 - Percentagem de imigrantes intrametropolitanos de “data fixa”, responsáveis pelos domicílios por nível de instrução. RMBS. Municípios selecionados. 1995-2000 e 2005-2010.
Fonte: FIBGE. Microdados da amostra dos Censos Demográficos 2000 e 2010. Tabulações especiais NEPO.
4. CONSIDERAÇÕES: POSSÍVEIS NEXOS?
Dimensionados os processos de redistribuição espacial da população, de
produção do espaço e migratório na RMBS, foi possível identificar um leque de
relações entre os mesmos. Em primeira análise, apesar da tendência de arrefecimento
do crescimento populacional e da escassez de novas áreas propícias a novas
ocupações na região, constata-se um grande potencial endógeno de REP entre os
municípios da região. Da mesma forma, observa-se claramente o papel assumido,
tanto pela migração intrametropolitana, quanto por aquela proveniente da RMSP,
enquanto fator estruturante da REP metropolitana.
No entanto, identificou-se a forma como o espaço urbano vem sendo produzido
na Baixada Santista na última década enquanto uma importante instância mediadora
entre a REP e a migração. Isso porque, a legislação urbanística colocada em curso
nos últimos anos, voltada aos interesses do mercado imobiliário e das elites, é
responsável pelo aumento vertiginoso do preço do solo urbano, assim como, pela
reserva de grandes parcelas do mesmo ao uso ocasional de veraneio. Logo, um
grande contingente populacional, que não pode arcar com essas condições do
mercado imobiliário, se vê induzido, ou, em muitos casos, “forçado” a migrar para as
periferias metropolitanas, ainda que se mantenha trabalhando no núcleo
metropolitano, agora afastado de sua residência.
Esse último processo é responsável por manter ativos os dois eixos de
expansão da ocupação (Praia Grande - Litoral Sul e Guarujá- Bertioga) identificados
na região. Os mesmos apresentam com principal aspecto comum, o crescimento
populacional e dos domicílios, assim como, o peso da migração no crescimento, mais
elevado em comparação aos demais municípios metropolitanos. Contudo, observa-se
claramente uma seletividade socioeconômica da imigração direcionada aos dois
eixos. O primeiro eixo é o destino de uma população com menor status
socioeconômico relativamente aquela que se dirige ao outro eixo de expansão em
questão. Todavia, esse grupo social se mescla com uma população advinda da
RMSP, com melhor poder aquisitivo. O que explica a maior heterogeneidade
socioespacial encontrada no mesmo, como também, o processo de elitização do outro
eixo de expansão em questão.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ASCHER, F. Metapolis: Acerca do Futuro da Cidade. Celta Editora. 1998. BAENINGER, R e SIQUEIRA, C. G.. Dinâmica demográfica. In: Dedecca, C.; Montali, L.; Baeninger, R.. Regiões Metropolitanas e Pólos Econômicos do Estado de São Paulo: desigualdades e indicadores para as Políticas Sociais/ Região Metropolitana da Baixada Santista. 2009 BRITO, F. Brasil, final de século: a transição para um novo padrão migratório? In:Encontro Nacional de Estudos Populacionais, 12., 2000, Caxambu.Anais... Belo Horizonte: ABEP, 2000. CANO, W.. Novas determinações sobre as questões regional e urbana após 1980. Texto para Discussão. IE/UNICAMP, Campinas, n. 193, jul. 2011. CARRIÇO, J. M. Urbanismo a beira mar uma história do processo de regulação urbanística e segregação espacial na baixada santista. Anais: Seminário de História da Cidade e do Urbanismo 8.4., 2012. _____________.Produção do espaço urbana voltada às elites: doze anos de aplicação da Lei de Ordenamento do Uso e ocupação do solo na área insular de Santos. In: A questão urbana na Baixada Santista: políticas, vulnerabilidade e
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