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FERNANDA BASSETTI DE QUEIROZ LIMA
o DESENHO INFANTIL DOS 2 AOS 4 ANOS DE IDADE
Monografia apresentada como requisitoparcial para obten~ao do titulo deespecialista do curso de Psicopedagogiada Universidade Tuiuti do Parana.Professora Orientadora : Ursula Simons
CURITIBA2000
II
SUMARIO
RESUMO... .. 041.INTRODUCAO 052. A CRIANCA. . 082.1 PERFIL DO COMPORTAMENTO DA CRIANCA DE 2 ANOS 112.2 PERFIL DO COMPORTAMENTO DA CRIANCA OE 2 ANOS E MEIO 122.3 PERFIL DO COMPORTAMENTO DA CRIANCA DE 3 ANOS 132.4 PERFIL DO COMPORTAMENTO DA CRIANCA DE 3 ANOS E MEIO 162.5 PERFIL DO COMPORTAMENTO DA CRIANCA DE 4 ANOS.... . 203. DESENHO INFANTIL.. . 243.1 FASES DA EVOLUCAO DO DESENHO INFANTIL 304. ETAPA DA GARATUJA-2 A4 ANOS... 324.1 GARATUJA DESORDENADA... . 354.2 GARATUJA ORDENADA... . 364.3 GARATUJA NOMINADA... . 375. ETAPA PRE-ESQUEMATICA - 4 A 7 ANOS... 396. TEMAS PREFERIDOS PELAS CRIANCAS EM SEUS DESENHOS... . 447. SURGIMENTO DA FIGURA HUMANA............................................ . 467.1 CARACTERisTICAS DO DESENHO DA FIGURA HUMANA.... . 478. 0 SIGNIFICADO DA COR..... . 489. ESPACO E EQUIPAMENTOS PARA 0 DESENHO INFANTIL 5310. MATERIAlS... . 5411. COMO 0 PSICOPEDAGOGO PODE ORIENTAR a
ACAO DO PROFESSOR FRENTE AO DESENHO INFANTIL 5512. DEMONSTRATIVO DA EVOLUCAO DO DESENHO... . 57CONCLUSAO..... . 67REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS... . 70
III
RESUMO
Este trabalho visa analisar a importancia do desenho para a desenvolvimento
da personalidade e formac;ao da sensibilidade na crianc;a atraves de suas fases de
desenvolvimento.
Atraves do desenho, pode-s8 ainda observar 0 desenvolvimento global da
crianc;a que Ihe propiciara uma melhor leitura do mundo.
Para esta investigac;ao partiu-se da observ8<;ao do desenho de crianc;as de 2
a 4 anos de uma escola particular de educac;ao infantil de cia sse media alta na
cidade de Curitiba, e do comportamento das mesmas no que diz respeito a suas
produ,6es.
Este trabalho procura demonstrar a importancia do desenho como uma forma
de descoberta e enriquecimento cognitiv~ e conscientizar quanta a necessidade de
respeitar essa produ9ao Atraves do desenho, a crianya e capaz de perceber a
mundo em que vive e identificar seu proprio espayo e sua realidade.
IV
1.INTRODUc;:AO
Este trabalho originou-se a partir do estudo e observa9iio de desenhos de
crianyas de 2 a 4 anos.
A simples observayao nos leva a reconhecer que existe uma forma de
expressao natural na crianya que S8 manifesta pelo desenho, mesma na ausencia
de estfmulos exteriores, de local ou de material.
Quando esta atividade natural e reconhecida e estimulada, en contra meiDs
para S8 desenvolver com Qutros elementos plasticos como a cor e 0 volume,
surgindo a criac;ao.
A crianC;8e urn ser em rc3pida evoluc;ao que responde a inumeras solicitac;oes
do meio. Em cada novo dia ela capta sens8c;oes, imagens, experiemcias que epreciso sentir, avaliar, incorporar e expressar.
A crianC;:8 desenvolve sua preferencia pelos detalhes que parecem rna is
significativos; nao reconhecendo barreiras entre a passivel e a impassive!. Mesma
nos desenhos representativos, com intenc;ao realista, ela nao define os limites entre
a realidade e a fantasia.
A cada estagio de desenvolvirnento. 0 trabalho da crianya e urna obra
completa, exprimindo uma visao autemtica do mundo infantil, segundo determinado
grau de maturidade.
A resolug8a dos problemas de expressao faz-se atraves da intelig€mcia, da
sensibilidade e da intuic;ao.
o individuo que niio tern possibilidade de expressiio pode ter rnais dificuldade
em compreender a si proprio e aD mundo em que viv8, portanto pode fiear
impossibilitado de provocar mudanc;:as, tarnanda-s8 urn ser passiv~ ou rebel de.
De acordo com Luquet (1969), Piaget (1926 e 1979), Gardner (1973, 1980 e
1982), Duborgel (1976), Korsernik (1977), Freman (1980) e Kamiloff-Smith(1990), a
desenho faz parte do desenvolvimento da crianga e
como meio de expressao, comunic8C;8o, reconhecimento espacial, visual e relaC;8o
com 0 ambiente em todo 0 desenvolvimento infantil.
A sociedade alual dicotomiza 0 homem quando separa as sentimentos e as
emoc;oes do desenvolvimento do raciocinio. Aprendemos sentindo e pensando
desde a infancia; segundo Herbart Read (1984), esse processo e inerente ao
homem, pais "0 mundo humane tern na linguagem 0 seu instrumento basi co de
ordenagiio e significagiio". A presenga do desenho em todas as culturas tenta
coneretizar em formas e cores os sentimentos, emoc;:oes, experiencias e conquistas
do ser humano.
Quando pensamos no desenho na escola, convem refletir sabre valores,
sentimentos, emo90es e significay6es passados atraves dessa forma de
comunica~o e expressao.
Esta, do modo como outros meios educacionais, nao e neutra, cabendo ao
educador, qualquer que seja sua area de atua~o, assumir uma posi9ao critica face
a ayao educativa que desenvolver.
Considerando que as desenhos convergem a sua atuac;ao, mobilizando a
pessoa de dentro para fora, a motiva~o e a criatividade merecem urn destaque
especial. Mediante essa verdadeira iniciayao estetica que pode ocorrer em qualquer
um de nos, pode-se estimular admiraC;8o e respeito pel a natureza.
Para estimular, guiar e compreender a criac;ao e a expressao infantil e
necessario, antes de mais nada conhecer e compreender a crianc;a, atraves de
continua observac;.§o, intera9ao, envolvimento com suas atividades e necessidades,
aproveitando oporlunidades para interferencias construtivas.
Considerando que ha diferenciac;ao entre 0 potencial e a forma de
desenvolvimento da crianC;8, e natural que as transformac;oes pelas quais ela passa
sejam diferentes tambern. Essas transformac;oes se sucedem de forma contfnua , a
partir das experiencias infantis. Assim, duas crianc;as de idades diferentes poderao
estar em uma mesma elapa do desenvolvimento artistico.
2. A CRIANC;:A
Na infancia. mais do que em qualquer oulra idade, tudo esta em
transformayao.
De acordo com a abordagem construtivista, a conhecimento naG esta pre-
formada no sujeito, determinado palo meio externo, independente da organiz8gao do
individuo. A aquisi<;80 de conhecimentos processa-se na traca, na interayao da
crianc;a com a objeto a conhecer.
o caminho que uma crianc;:a percorre desde bebe ate come<;ar a S8
transformar em adulto, na puberdade, asta relacionando tanto as condi<;oes
biologicas, como aquelas proporcionadas palo espa<;o em que viva.
A crianc;:a passa par diferentes etapas durante 0 seu desenvolvimento, em
cada etapa diferentes aspectos caracterizam suas relac;:5es com a mundo fisico e
,social. No entanto, as mudanc;:as que ocorrem com as crianc;as, nab ocorrem
bruscamente, sao period os continuos que VaG se sobrepondo
Ao nascer, a crianc;a e herdeira da cultura universal. Depara com a
linguagem, com os objetos e os signos da civilizayao da epoca, recebe informac;6es
da esfera social de modo multifacetado.
Oesde muito cedo as crianc;as observam e interagem com 0 mundo que as
cerca, reftetindo sobre 0 que foi observado.
A criagao, qualquer que seja ela, grafica, gestual, falada ou escrita, expressa
a originalidade do seu pensamento. Deve-se considerar 0 modo de pensar da
crianya para, a partir dele, oferecer espago para a construc;aodo conhecimento.
E diante de uma multiplicidade de fatores que a crianya constr6i as seus
c6digos de comportamento, que resultam da proje,ao do seu interior; seus desejos,
suas fantasias e sensac;6es.A sua personalidade vai se formando de acordo com a
seu cantata com as pessoas e suas experiencias cotidianas. Seus anseios e suas
necessidades vao sendo vivenciados. Ela sente a realidade e assim, aguc;a a sua
sensibilidade.
o desenvolvimento da crianc;a neo se produz de forma linear. Durante sua
evoluyao, a crianya experimenta avangos e retrocessos, de modo particular. A
rela~o desta com as adultos, com outras crianyas e com a meio se faz necessaria,
pais e atraves desta relac;eo com as outros que a personalidade da crianc;a vai
sendo construida pouco a pouco.
Partindo do ponto de vista da crianc;a, do seu modo de ser e da cultura do
meio onde vive, pais e professores podereo abrir um amplo leque de informac;6es,
com as quais a crianc;apodera interagir, construindo e reconstruindo conhecimentos.
Geralmente, a crianc;ae colocada diante de deveres iguais aos dos adultos,
sem ter as mesmas vantagens. Os adultos, em suas inumeras dificuldades, acabam
recaindo sobre as crianc;as que tern seus espac;os fisicos e afetivos bastante
restritos. Ha para elas, ausemciasde atividades ludicas e poucas oportunidades de
expresseo, refletindo assim em sua auto estima.
Desta maneira, 0 adulto que impede as diversas formas de expresseo
criativas infantis, esta limitando seu desenvolvimento e sua capacidade de
10
percep,ao. Segundo Korczak (1976), a dilerenl'" entre 0 adulto e a crianl'" e que
esta depende economicamente do primeiro. 0 lato de ser dependente, indelesa, eestendido de modo equivocado como S8 fosse inferior. Ambos devem interagir e nao
confrontar-S8.
A fase adulta e continuidade da inffmcia. Sao duas formas que S8 completam
e S8 integram .
A medida que cresee, a crian98 aprende a falar, produzinda palavras que tern
significado para ala e para as pessoas que a cercam. Essas produgoes de palavras
e os significados que a crian<;a atribui as palavras e objetos, expressam a
capacidade que ala esta adquirindo de exprimir seus pensamentos atraves de
simbolos.
A crianga tern urna necessidade natural de S8 comunicar, transmitindo aos
outros 0 que pensa, sente e imagina. Para que utilize os modos de expressao de
que disp6e, e necessaria que S8 respeite a sua espontaneidade, que se evite
qualquer bloqueamento ou recalcamento de tendencias.
Aimagina<;ao,a palavra, 0 desenhosi:io novosinstrumentosqueacr ian<;atern de se relacionar com 0 mundo fisico e social. Essa nova capacidade dota a crian<;a de mais recursos intelecluais, mas naopermite ainda a formula<;ao de conce~os mais amplos, mais abstralos e gerais como os conceltos de tempo, espa<;o ecausalidade que caracterizam 0 pensamento e a realidade dos adultos. Assim, as "teorias ", "cren<;as" e "filosofias" com que acrian<;a procuracompreendereexplicaro mundofisicoesocialqueacerca, sao produtosde uma perspectiva particular, deurn modo pr6priO do pensamento.{OEHEINZELIN - 1991. cilado por Leo -1997).
A crianya e 0 principal agente condutor do seu conhecimento do mundo e de
sua propria identidade. As circunstancias do meio em que vive, somadas, as
condic;6es de pensamento em cada uma das etapas pelas quais vai passando,
fazem de cada crianya um ser inteiramente original.
Nos capitulos seguintes, serao abordados os comportamentos de crianyas de
2 a 4 anos, segundo a abordagem global de Arnold Gesell (1989)
11
21. PERFI L DO COMPORTAMENTO DA CRIANCA DE 2 ANOS
A crian<;:a de 2 anos ainda nao estabelece e sustenta por muito tempo
relac;6es interpessoais. Ela prefere brincar sozinha a brincar com oulras crianyas,
naD divide suas eoisas, agarrando-as e escondendo-as. Ha matS observac;ao que
participa9iio.
Nessa idade, a crian<;:a bate, afaga, apalpa, morde e batalha com todas as
eoisas, pois ainda e muito nova para aprender 56 com palavras, e necessita desses
contatos. Esses atos devem sar encarados com compreensao per quem as cerca.
Se com parada com urna crianc;a de 3 anos, a de 2 anos ainda e imatura no
que diz respeito ao desenvolvimento flsico. Ela nao caminha em posic;ao ereta e S8
inclina para frente ao correr Quando apanha algo do chao, curva-se pel a cintura e
pelos joelhos, diferentemente de aos 18 meses, quando s6 agachava-se.
Ja gira 0 trince de partas, pois pode radar 0 antebrayo. Tray8 circunferimcias,
apesar de grosseiramente. Davida a essa maior habilidade manual, interessa-s8 em
encaixar eoisas dentro de outras.
Seus museu los dos 01has estao mais desenvolvidos, e estes se movimentam
com mais liberdade, inclusive para as lad os. Os museu los da mandibula tambem
comegam a trabalhar perfeitamente.
Aos 2 anos, a quanti dade de palavras em seu vocabulario varia
enormemente. Nesse ana tambem, ja ha maior controle da crianya sabre as funt;6es
do intestino e da bexiga.
12
22 PERFIL DO COMPORTAMENTO DA CRIANCA DE 2 ANOS E MEIO
A crianya de 2 anos e meio come<;8 a ter dominic de suas 890es e suas
diferentes alternativas. Seu sistema de a9aO e de dois sentidos, onde ela geralmente
experimenta ambas as alternativas.
A organiza9iio de celulas nervosas que preside a inibi9iio acha-se
insuficientemente desenvolvida. IS50 manifesta-se ate em 8c;:oes MneuroI6gicas",
como as de agarrar e largar. Nao possui 0 dominic perfeito de seus museu los
flexores e extensores. Agarra com forca e larga com urn impulso exagerado. Pais
ainda nao aprendeu a Msoltar". Tern dificuldade em descontrair-se prontamente para
adormecer. E, quando adormece, pode revelar urna tendencia a dormir demais.
As limita90es peculiares do seu sistema de a9iio justificam, portanto, sua
caracteristica de ajustar seu comportamento. Tern dificuldade em efetuar transi90es
que tendem a usar de delongas, como se Ihe custasse mudar de urna situac;:ao que
Ihe e familiar para outra diferente. E tao conservadora que combate as inova96es.
Quer que as eoisas aconteyam da maneira eostumeira. E uma ritualista,
partieularmente em casa, e insiste em ter as coisas sempre da mesma forma.
Nessas oeasi6es, pode ser lao insistente que pareee mesmo querer mandar nos
adultos.
13
2.3. PERFIL DO COMPORTAMENTO DA CRIANC;;A DE 3 ANOS
Os 3 anos sao uma especie de maioridade, as linhas de desenvolvimenlo
anteriores convergem para urn mesma ponto, as extremos contraditorios de ha seis
meses cederam 0 lugar a urn elevado grau de auto-dominic. Para a pouca idade que
tern, a crianC;8 de 3 anos esla perfeitamente senhora de si. Longe de contrariar,
procura agradar e obedecer, chega masma a perguntar "Fac;o assim?" como S8 ala
propria fosse sensivel as exigencias da cultura. E sensivel aos elogios e aprecia urn
humorismo simpatico, presta notavel atenc;ao as eoisas que Ihe dizem e demonstra
muitas vezes uma seriedade invulgar.
o crescenta autodominio da crianC;8 desta idade tern uma base motara Gosta
de subir e descer escadas e correr, mas agradam-Ihe tambem as passatempos
sedentarios que exigem uma delicada coordenagao motora. E significativa a maneira
como consegue limitar e orientar convenientemente os tragos do lapis para imitar 0
desenho de uma cruz. Apresenta bern as formas e isso nos da a ideia de que os
pequeninos musculos que comandam os seus olhos atuam com maior facilidade do
que antes. Adquiriu tambem um consideravel dominio inibit6rio dos esfincteres e e
capaz de ir sozinho ao banheiro quando e preciso. Outro pormenor domestico
importante e a capacidade de abotoar e desabotoar seus botoes sem os arrancar.
Segundo Arnold Gesell (1989), 0 ambito da sua aten9ao e perCeP9ao e capaz
de entender a qualquer coisa especificamente ligada ao numero "tres", capaz de
repetir tres algarismos e come~ a contar ate tres; enumera tres objetos de urn
14
quadro; ja esta familiarizando com tres formas fundamentais: 0 cfrculo, 0 quadrado e
o triangulo; e capaz de combinar tres blacos de madeira e construir uma ponte. A
maiaria das suas frases e perguntas e constitufda par tres palavras.
Escuta as palavras com uma seguranC;;8 e uma compreensao cada vez
maiores. Gosta mesma de S8 relacionar com palavras novas, mostrando-se
aparentemente intrigada com a sua novidade fonetica, ja aprendeu a ouvir as
adultos. Emprega as palavras com maior confianC;8 e com uma inflexao inteligente,
em bora nao consiga veneer a pronunci8 infantil antes do 4 ou 5 anos. A fim de as
praticar, monologa e representa, combinando assim a 89;30 com as palavras. Cria
situ8c;oes teatrais para experimentar e aplicar as palavras do seu vocabulario.
Amplia, desse modo, em extensao e profundidade, 0 dominic das palavras. Estes
esquemas de ayao e pensamento, bem como os esquemas posturais, iraQ
manifestar-se no comportamento escolar.
A vida em grupo na escola, para qual a crian9a se encontra agora
perfeitamente apta, ira revelar tambem os processos que estao se registrando no
seu comando das relac;6es interpessoais. Essas relac;6es sao as mais diffceis e
complicadas que iraQ se deparar com a crianya em desenvolvimento. A natureza
dotou a crianc;a de 3 anos com um interesse pelas outras pessoas. Observando-Ihes
as express6es do rosto, tenta descobrir 0 que essas significam. Nao Ie um livro, Ie as
expectativas dos mais velhos em relayao a ela. Faz uma distinc;ao importante entre
um obstaculo fisico e urn obstaculo pessoal. Por vezes, no entanto, ainda se lanya a
um ou outro deles, nao obstante 0 fato, em geral, de sentir 0 desejo de agradar. E
capaz de manifestar simpatia, e a emoy80 desenvolve com a inteligencia. A sua
noc;ao do tempo e fraca, mas bern definida dentro das suas Iimitac;6es. Distingue 0
15
dia da noite. Eo capaz de dizer e de compreendera expressao "Quando chega a
hora". Semelhantemente, e capaz de S8 deixar dissuadir urn pouco pela cultura e ecapaz de S8 manter em expectativa. 1sto constitui urn processo psicologico notavel e
urn born prenuncio para 0 futuro S8 a cultura for capaz de organizar-the as
crescentes capacidades para um comportamento de auxilio mutuo. Estas
capacidades e suas limitayoes patenteiam-se na liberdade organizada de urn grupo
de escola-creche, convenientemente orientado. Mas nao devemos esquecer -nos de
que 0 seu espirito de cooperayao S8 encontra ainda numa fase nascente, pais ainda
esta em idade pre-8scolar. Seus atos de colaborayao na escola serao ainda vagas e
desconexos. Precisa desenvolver tambem a sua independencia, brincando sozinha.
Nao devemos cantar com ela em demasia.
,6
2.4. PERFIL DO COMPORTAMENTO DA CRIANi;A DE 3 ANOS E MEIO
Parece acontecer qualquer coisa de confuso e inesperado a crian9a quando
ala chega aos 3 an os e meio. De ande Ihe vern todo aquele desassossego e
rebeldia? Par que tamanha 0posiyao e tantas recusas a obedecer, au, sequer, a
tentar obedecer?
A compreensao dos mecanismos da crianc;a de 3 anos e meio, que primeiro
atira a linha para muito longe e depois a puxa para muito perta, pode ajudar-nos urn
pouco. Sera vantagem que os pais S8 disponham a enfrentar a provac;ao numa
atitude calma, mas, energiea e decidida, pois este periodo e muito difiei!. A mae, em
especial, pod era manter -S8 mais serena, S8 for capaz de criar urn vivo interesse par
todas as variadas manifestac;6es de uma fase incontestavelmente confusa e
trabalhosa como esta. Tera de desenvolver a capacidade de mobilizar todo 0 seu
engenho para rodear ou superar as inumeras difieuldades que a erianga exprime e
experimenta.
Seja qual for a tareta e seja qual tor a situac;:ao, a erianc;:a de 03 anos e meio
pareee eneontrar 0 seu maior prazer em reeusar e em insistir em que as eoisas se
ta9am de maneira diterente-a sua maneira.
Os 3 anos sao uma idade submissa. Os 3 anos e meio sao preeisamente 0
eontrario.
Reeusar-se a obedeeer e, talvez, 0 aspeeto basieo deste periodo perturbado
da vida da erianc;a. Pareee, as vezes, a mae, que a preoeupac;ao dominante da
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crianva e a de robustecer a sua vontade, e que a fortalece opondo-se a tudo quando
the seja exigido par aqueta que e ainda a pessoa mais importante na sua vida, ou
seja, a mae. Sao muitas as ma8S que descobrem que 0 fato ou a ocasiao mais
inocente pode provocar uma rebeliac total. Vestir, comer, ir ao banheiro, levantar e
deitar, toda e qualquer retina pode servir de palco e de cenario a uma luta sem
tregua. As tecnicas e as estratagemas que davam bons resultados ja nac sao de
exito segura. Contudo, a rea980 materna, de identica oposi,ao, pode abrandar-se,
S8 ela souber que, em breve, a seu mho, quando chegar aos 4 anos, ira desenvolver
urn conceito de si proprio suficientemente forte para, urnas vezes, ser capaz de
obedecer, e Qutras, dar -S8 0 905tO de sair dos limites, dizendo e fazendo eoisas que
ele sabe perfeitamente bern que naD the sao permitidas.
Par vezes, a crian9a de 3 anos e meio pareee ser incapaz de fazer mesmo
uma eoisa tao simples como dar urn passeio com a mae, 0 que antes era tao do seu
agrado. Agora e uma caraeteristica sua parar no meio do caminho e teimar em nao
dar nem rnais um passo.
Nessa idade pode ate nem gostar de passear e preferir fiear em casa. Nesse
caso, a melhor tecnica podera ser a de alterar eonsideravelmente 0 programa do
dia, ficar em casa e criar-Ihe ali novos interesses.
A crian9a desta idade, embora se recuse energicamente a fazer 0 que exigem
dela, exige muito dos oulros. Nao faz eerimonia nos seus eonselhos e advertencia:
"Nao sente ar", "Nao ria para 0 pai", "Nao leia 0 jornal", "Brinque comigo". Tern de
ser ela a dilar todas as leis e pareee que s6 se sente segura quando esla
eomandando.
18
Mas tambsm S8 deixa apanhar na sua propria armadilha. Pode dominar as
Qutros com as seus "Nao ria", "Nao olhe", mas, mais tarde, he de querer que ales
olhem e riam, e sente-s8 posta a margem quando nao can segue captar-Ihes toda a
sua atenyao. Poe os pais a danc;ar na corda bamba, e 0 faz de tal maneira que,
certas maes, mesmo as mais treinadas em lidar com lilhos, 56 se sentem lelizes
quando deixam uma crian98 desta idade entregue a alguem que tome conta dela.
Pode ser uma grande frustrayao para uma mae experimentada e normal mente
efici8nte ver que a professora consegue entender-se melhor com 0 filho do que ela
propria. 0 fato, porem, e que a crianya de 3 anos e meio pareee extraordinariamente
percept iva as reac;oes alheias.
A mae pode entreter-se melhor com 0 filho, S8 compreender as autenticas
dificuldades que ele esM atravessando
A criam;a, que tinha anteriormente uma coordenac;ao tao segura, anda agora
sempre trope<;ando e caindo. Pede constantemente a um adulto que the pegue na
mao em especial para subir a escada.
A coordenac;ao motora delicada pode agora manifestar uns tremares. Aos 3
anos, a crianc;a era capaz de construir uma torre bastante estavel de dez pequenos
cubos. Agora tem dificuldade em colocar esses cubos uns em cima dos outros.
A voz aguda, tremula e lamuriente revela-nos 0 seu desconforto. Quando
sente que esta dominando e se divertindo com isso, a sua voz pade tornar-se forte e
eslridenle.
o gaguejar pode tornar-se uma expressao aborrecida da descoordena~ao.
Uma crianc;a muito laquaz, que gagueja aos 2 anos e meio, pode voltar agora a
gaguejar mas nao deve dar-se exagerada importancia.
19
A viseD pode apresentar dificuldades especiais. A crianc;a desta idade nao 56
tern mede das alturas, como S8 queixa com frequencia que nao consegue ver,
quando Ihe estao lendo urn livro, num grupo. Quer par-s8 mesmo em eima do livro e,
quando esta a olhar sozinha para urn livro de figuras, segura-a muitas vezes quase
em eima dos olhos. Par vezes, essa confusao interior vai aumentando sempre ate
urn ponto em que ela perde inteiramente 0 dominic de si e. A mae pode tentar evitar
que issa aconte<;:8, mas S8 chega a acontecer, pode sempre remediar a situac;ao e
ajudar a criantya a S8 recamper com 0 calor dos seus bra<;:os. E entaD que a crian.ya
poderc!l ser capaz de exprimir-Ihe as seus verdadeiros sentimentos de amor pela
mae. Felizmente, nem tudo nesta idade e oposi9ao, confusao e incerteza. Aquela
mesma criaturinha resoluta e insegura, que pode fazer a vida tao infeliz a mae, e
tantas vezes a faz, pode tambem, quando estiver inclinada a isso, durante period os
curtos, ser um verdadeiro encanto.
Pode ser imaginativa e inventiva, com uma autentica capacidade para brincar.
Pode ter consciencia dos sentimentos alheios e mostrar -se muito terna nas
express6es do seu afeto.
A sua capacidade de linguagem e agora abundante e variada e ela tem
numerosas coisas de que falar. 0 seu maior interesse pelos livros e por ouvir contar
historias da-Ihe muitas horas felizes em companhia dos pais. E importante evitar
tanto quanto possivel as dificuldades desta idade complicada. Entao a vida junto da
crianva podera ser extrema mente compensadora.
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2.5. PERFIL DO COMPORTAMENTO DA CRIAN<;:ADE 4 ANOS
A crjan~ de 3 anos tern urn espirito conformista. A de 4 anos tern urn espirito
vigoroso. A de 3 anos e concordante; a de 4 e afirmativ8. Na verdade a crian98 de 4
anos tende a saif dos limites, quer com os musculos, quer com a mente. Se sla
continuasse a ser a mesma crianca encantadora e d6cil dos 3 anos, nao S8
desenvolveria. Avanc;a entaD par jatos de imaginac;ao e movimento. A curva da sua
atividade repete 0 esquema versatil dos 18 meses. Mas nao se trata de uma
regressao, porque ela funciona agora a urn nivel mais alto em todos as setores do
seu comportamento: motor, de adapta9iio, de linguagem e socio-pessoaL Alarga 0
seu campo de 8g80, nao somente para correr, saltar, pular e subir, mas tarnbam nas
animadas constru96es e extravagancias da sua mente imaginativa. Se as vezes nos
pareee urn paueD tagarela, sentenciosa e mandona e porque nao passa de urna
alegre principiante, a tatear noves terrenos de expressao individual. Sera a ela diffcil,
ainda durante algum tempo, preocupar-se muito com os sentimentos alheios. Nao etao sensivel aos elogios como aos 3 anos e como ira ser de novo aos 5 anos.
Em vez disso, elogia-se a si propria. De resto, tern muito menos experiencias
do que os seus ousados dogmatismos verbais nos podem fazer crer. Tem pouca
aprecia9iio dos desapontamentos e das emo~6es alheias. Interessa-se com grande
curiosidade pela morte, mas tambem tern escasso entendimento do seu significado.
E persuasiva porque as suas palavras transcendem muitas vezes os seus
conhecimentos.
21
Possui elevada energia motara. Sobe e desce as escadas correndo; lan98-se
para a frente no seu triciclo; faz habilidades nos brinquedos do patio, fazendo
comentarios enquanto as executa: "Aposto que naD e capaz de fazer istan• Quando
mais nova, au falava au cornia; agora faz ambas as eoisas mais ou menes
simultaneamente. Eo uma nova capacidade que ela tem (aas 3 anos, tinha de parar
de se despir enquanto falava).
A crian98 de 4 an os domina melhor todo a seu equipamento motor, incluindo
a voz. E capaz de atirar com a mao levantada aeirna do ombro; cortar dire ito com
uma tesoura; serrar com serra de mao; amarrar as sapatos; aguentar-se de pe numa
perna 56. Embera lhe agrade uma atividade motora violenta, tambem e capaz de S8
deixar fiear sentada bastante tempo a executar taretas manuais que Ihe interessam.
Maos, bra90s, pernas e pes estao a tornar-se independentes da totalidade do
conjunto postural. Se 0 seu desenvolvimento postural geral tem sido bom ate aqui,
os seus passos de danc;a e os movimentos das maos assumem agora uma
graciosidade natural e espont~lnea.
A crianc;a de 4 anos fala muito. Ela propria comenta os seus discursos e
constitui, muitas vezes, 0 seu auditorio. Gosta de utilizar palavras, de experimenta-
las e de brincar com elas. Gosta de palavras novas e diferentes ("diferente" e na
verdade, uma das suas palavras favoritas). Tambem gosta de inventar palavras tolas
para descrever corsas concretas. 0 fluxo das suas perguntas atinge 0 grau maximo.
Os seus incessantes ~como" e "por que~ nao representam uma simples busca de
conhecimentos, sao tambem expedientes que ela usa para exercitar a linguagem e a
audiyao. Por iSso, uma crianc;a de 4 anos inteligente e loquaz tem tendencia a nao
largar um tema antes de esgotar todas as possibilidades verbais.
22
A explic8c;:.30 da psicologia para a crianya de 4 anos reside na sua intensa
energia conjugada com uma organiza,ao mental de grande fluidez. A sua
imaginac;:.3o esta em perpetuo movimento. Desloca-s8 de urnas formas para as
Qutras com despreocupada facilidade. Cameg8 a desenhar urna tartaruga e, antes
de a ter acabado, ja e um elefante ou um caminhao. Esta me sma fluidez faz dela um
mentiroso e urn ativo eriador de alibis. Torna-Ihe igualmente passivel teatralizar
qualquer experiencia que chegue ao seu conhecimento. Urn epis6dio observado
junto a urn leito de hospital e logo reposto em cena, com os mais simples materiais
servindo de acess6rios. Urn biDeD transforma-s8 num vidro de remedio e dali a
instantes, num estetoscopio. Estas representagoes teatrais recheadas de dialogo e
de incessantes comentarios sao urna forma constante do seu comportamento.
A crianga de 4 anos e loquaz porque a sua imaginagao e variada; e tambem
porque ela pretende exprimir as suas experiencias numa fraseologia mais flexivel e
mais amadurecida. Ja nao e capaz de contentar-se com as simples frases alinhadas
da crian<;a de 3 an as; quer dominar as conjun<;oes, as adverbios e as expletivas
Serve-se deles, entao, com uma coragem louvavel (e incidentalmente divertida):
"sabe que", "acho que", "pode ser", "real mente" , "nem mesmo", "enorme", "s6", "faz
de conta que", "ainda", "ora"
Tem tendencia a repetir frases feitas da cultura linguistica em que vive, tais
como: "Nao adivinha, nem que fique ai teda a vida" A sua utiliza<;ao dos numeros emais experimental do que critica: "Estavam la setenta e sete pessoas". "Exagera",
porque esta ensaiando as palavras. Mas, as vezes (fiquem alerta os pais), relata
com facilidade absoluta a que aconteceu em casa, sem Ihe escaparem as
divergencias familiares: itA mae gasta dinheiro demais"
23
Realmente, a crianc;a de 4 anos tern inumeros talentos. 0 que ela nao e
capaz de fazer? Pode ser sossegada, barulhenta, calma, arrogante, meiga,
imperiosa , insinuante , independente, social, atletica, artfstica, formal, caprichosa,
cooperante, indiferente, curiosa, franca, verbosa, jovial, dogmatica, tala e
competidora.
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3. DESENHO INFANTIL
o desenho tem side empregado pela maioria dos educadores como otima
atividade para ocupa9iio e recrea9iia das crian""s. Atualmente, recanhecemos nele
um novo valor: Por ele, a crianr;:a revela coisas que se passam no seu intimo e que
ainda naa e capaz de revelar pela linguagem lalada. Pelas desenhas leitas par
crianyas podemos perceber seus interesses, preferencias, conflitos emocionais e ate
mesmo avaliar seu nivel de desenvolvimento.
Urna possivel maneira de desvendar estas questoes e investigar como
evoluem as sucessivas conquistas ligadas ao desenvolvimento da capacidade de
pensar.
Pensar e uma ac;ao interiorizada que possibilita relacionar significayoes por
meio de palavras ou de irnagens. Ha influencia mutua entre essas significayoes,
apesar do predominio dos sistemas de conceitos verbalmente expressos. A partir de
certa etapa do desenvolvimento, 0 pensamento esta ligado a capacidade
representativa, que e exatamente possibilidade de substituiyao. Por isso utilizamos
indistintamente as expressoes: pensamento, capacidade representativa, au apenas,
representayao, quando nos referimos a aquisir;:ao da linguagem, as brincadeiras de
faz-de-conta, as imitac;oes feitas na ausencia ao que esta sendo reproduzido, aos
desenhos e as modelagens.
Um desenho consiste num sistema de linhas, cujo conjunto tern urna forma,
que pode ter, na intenc;ao do desenhista, finalidades distintas: pode ser executado
25
pelo prazer que proporcjona a vista, pelo aspecto visual ou para reproduzir objetos
reais,
A concepC;:Elo do desenho parsee estranha a crianc;:a. Isto nao quer dizer que
ela seja absolutamente insensivel ao que S8 poderia chamar de beleza abstrata e
particularrnente e regularidade de urna figura.
Sa a desenho infantil e essencialmente realista devem encontrar-se nele
apenas alguns sinais das duas tendemcias opostas ao realismo: a esquematismo e a
idealismo. E de fata aconteee, no que diz respeito ao esquematismo, entende-se
como urna simplific8yao do objeto representado, que S8 traduz par urna reduyao do
numero dos pormenores reproduzidos e uma execuy80 sumaria dos pormenores
conservados.
Nos desenhos espontEmeos e cuidados, 0 numero dos que apresentam, pela
materialidade do seu trayado, um carater esquematico, vai diminuindo na medida
em que a crianya cresce em idade e esse esquematismo, qualquer que seja a sua
natureza intima, nao caracteriza 0 desenho infantil no seu conjunto, mas unicamente
um periodo determinado. Estudando mais adiante este periodo, procuramos
demonstrar que 0 seu esquematismo aparente e, de fato, um realismo falhado,
dificultado na sua manifesta9c3o por diversos obstaculos de ordem, quer motora, quer
propriamente psiquica, de que chega a triunfar progressivamente, porque se
atenuam neles pr6prios.
Seja como for, em algum momento, mesmo neste periodo, nao se encontra
no desenho infantil 0 esquematismo voluntario, isto e, um prop6sito deliberado de
dar uma representayao nao exata, mais simb6lica, do objeto representado. Nao foi
encontrado, por varios observadores, nenhum exemplo. Fizeram notar alguns raros
26
exemplares, mas as express6es ambiguas empregadas pela crian,a podiam querer
designar quer as desenhos julgadas mal conseguidos, quer a atribuic;ao imediata de
uma interpretaC;80 a urn trac;ado com uma inten9ao, ou mesmo a simples fatos
acidentais.
Como 0 esquematismo nao representa no desenho infantil senaa urn papsl
muito insignificante, a crianya chega a desenhar objetos imaginados ou mesmo
imaginarias, par exemplo, uma paisagem que nunca viu, cenas de lendas au de
historias que inventa. Entretanto, tais desenhos sao realistas no senti do de que
representar as caracteres efetivamente possuidos par esses objetos fictfcios. 0
idealismo consiste, pelo contrario, em dar voluntariamente a representa~o
caracteres estranhos ao objeto representado, com 0 fim de tornar-S8 a natureza
mais bela que a natureza ,quer acrescentando ao desenho tra~os superfluos, quer
modificando a forma dos tra~os correspondentes a elementos reais ou ainda pelo
emprego daquilo a que chamamos colorido decorativo.
Ao longo dos seculos, desde tempos muitos antigos, os homens tem utilizado
o desenho para se expressar e buscar conhecer 0 mundo que os cerea. Assim como
os homens em sua historia, as crian~as tambem se expressam e buscam conhecer 0
mundo atraves da arte.
Segundo Piaget (1972), citado por Oliveira (1998), 0 desenho e uma forma de
representa~ao que sup6e a constru~80 de uma imagem distinta da percepc;80. 0
que e desenhado nao e, entao, a reproduC;80 da imagem percebida visual mente,
nem a imagem mental que a crianl):8 tern do objeto, consiste, sim, na eonstruyao
grafica que da indicios do tipo de estrutura(:iio simb6lica que a crianya apresenta
naquele momento.
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Quando a crian~a desenha, ela esla explicilando 0 seu nivel de
desenvolvimento intelectual, emocional e perceptivo. Esta constr6i suas
representac;6es inseridas num dado momento; constr6i suas representac;6es
inseridas num dado contexto cultural que informa as suas experiencias individuais.
Observa-se nos desenhos das crian~as do mundo lodo, que quando elas lem
idades correspondentes, seus desenhos tern caracteristicas semelhantes,
configurac;6es familiares em relac;ao a figura humana, a casa, as plantas, as quais
sao universais em seu tema, mas diferem na sua forma devido as influencias
culturais.
De acordo com 0 seu desenvolvimento natural, toda crianC;8 e capaz de criar,
pensar, juntar, perceber e agir, e com as manifestac;6es de expressao livre,
desenvolver a imaginac;ao criadora. E atraves da arte que a crian9a libera-se e
cresce interiormente, e pela atividade criadora que esta se constr6i e se abre ao
mundo.
Desenhar, para a crianga e tao natural quanto brincar, pois age com impulsos
espontaneos. Atraves das figuras que cria, expressa suas ideias, sentimentos e
fantasias.
(...) as alividades Itldicas da crian~a pequena ( ..) ajudam-na a veneer seu
medo dos perigos tanto interiores como exteriores, fazendo a imaginagao
comunicar-se com a realidade (Melanie Klein), cilado por Arfouilloux (1983).
Brincando e desenhando, a crian9a vai, pouco a pouco, organizando suas
relac;oes emocionais; isso da a ela condic;oes para desenvolver rela96es socia is,
aprendendo a se conhecer melhor e a conhecer e aceitar a existencia dos outros.
28
A crianc;a desenha espontaneamente, de acordo com seus criterios de
observa,ao; tendo muita facilidade para desenhar 0 que queira, de acordo com sua
vi sao. E observadora par natureza, examina, e olha 0 que aconteee ao seu redor
assimilando com facilidade todas as informac;oes que retem.
o desenho e a memoria visivel do acontecimento: fotografia mental,
emocional e psiquica. 0 desenho constitui para a crianry8 uma atividade total,
englobando 0 conjunto de suas potencialidades e necessidades. Ao desenhar, a
crianry8 expressa a maneira pela qual S8 sente existir. 0 desenvolvimento do
potencial criativo da crianC;8, seja qual for 0 tipo de atividade em que ela S8
expresse, e essencial ao seu cicio inato de crescimento (emocional, psiquico, fisico
e cognitiv~) e nao podem ser estaticas.
Os desenhos expressam a que a crian~a sente e pensa sobre as coisas. Ela
desenha so mente 0 que Ihe interessa, 0 que Ihe chama mais a atenc;ao, ou seja, 0
que considera ser importante, fazendo do desenho uma forma particular de
representagao.
Ao desenhar, a crian~a exprime 0 que conhece de um objeto, a representagao
mental que ela tem construfda dele no momenta em que desenha. Essa
representayao muda ao longo dos anos com a experiencia de vida e com 0
conhecimento de novas linguagens expressivas.
Quanto mais confianya a crianr;a tem em si mesma e em seu meio, mais
seguran~a ela ira ter para criar e desenvolver-se atraves daquilo que faz, pois
amea~s internas ou externas nao a pressionam, e ela acredita no que produz.
Os primeiros rabiscos sao apenas movimentos motores que desejam
dominar, e com 0 passar do tempo ficam mais firmes. Aos poucos compreende que
29
pode desenhar 0 que sente, 0 que inventa, e percebe que os trayos que faz sao uma
forma de comunica<;ao.
Ao observar os desenhos de crian<;as, pode-se aprender muito sobre 0 seu
modo de pensar e sobre as habilidades que possuem. Atraves do desenho, a
crianya constr6i seu mundo, pensa, cria, desenvolve sua coordena<;ao motora,
expoe 0 que sente e compreende melhor seu mundo.
Oesenhar implica em defrontar-se com quest6es tecnicas, tematicas,
esteticas e de sensibilidade, que se integram harmonicamente na superficie do
pape!.
As caracterfsticas dos desenhos sofrem evolu<;oes. Neles, ha conquistas que
necessaria mente antecedem a outras. He uma integra<;ao permanente entre a
pensamento e a desenho, entre ideias e representa<;oes, uma alimentando a outra,
continuamente.
Segundo Luquet (1969),citado par Seber (1995), 0 lator mais importante das
representa90es de um tema au figura liga-se a conquistas intern as. Com a
desenvolvimento do pensamento, ocorre a adi<;ao de detalhes que sao cada vez
mais numerosos como tambem a diversificayao de temas.
Em cada idade, a crian9a cancebe 0 mundo de maneira diferente e se ela, ao
desenhar, representa, expressa suas concep90es a respeito dele, pade-se pensar
que existem lases evolutivas do desenho inlanti!.
o conhecimento das etapas evolutivas do desenho infantil fornece aos pais e
professores mais urn instrumento para cornpreender as crianyas.
30
3.1. FASES DA EVOLU<;iio DO DESENHO INFANTIL
Segundo Pillar (1986), estudos realizados por Lowenfeld (1976) e Lowenfeld
& Brittain (1977), Arnheim (1973 e 1980), Kellog (1970) e Read (1982), analisam 0
processo da crianya na perspectiva dos aspectos graficos, perceptivos e
psicologicos para explicar as alterayoes que ocorrem em seus desenhos, sem tratar
as idaias que a criany8 tern do sistema do desenho. Ja as investigac;:6es de Luquet
(1913 e 1969), Piaget (1972 e 1978), Gardner (1973, 1980 e 1982), Duborgel (1976),
Freeman (1980) e Kamiloff-Smith (1990), abordam 0 processo do desenho a partir
da tearia construtivista, que S8 fundamenta na aquisiyao de conhecimentos como
parte da ayao, da interayao do sujeito com 0 objeto a conhecer e da organizayao da
estrutura pelo sujeito dessas experiencias em sistemas. Par issa e necessaria que
S8 respeitem as etapas do desenvolvimento da crianry8 e que S8 criem ambientes
estimulantes, para que seus proprios valores, caracteristicas, e leis particulares S8
evidenciem na interayao sujeito-objeto, segundo as fases da sua evoluyao.
o mundo plastico da crian9a e estruturalmente diferente daquela do adulto
Tem val ores e leis particulares, caracterfsticas, segundo as fases da sua evoluC;ao.
As diversas fases do desenho infantil verificam-se a partir dos 18 meses
quando, ocasional ou voluntariamente, a crianc;a ve 0 primeiro trayo deixado pela
sua mao ou par um instrumento que risque sobre 0 papel, a parede, 0 chao e 0
tampo da mesa.
31
A evolutyao do desenho infantil S8 da conforme a idade da crianC;:8 e seu
desenvolvimento. Ap6s estudarem milhares de desenhos feitos por alunos de 3 a 16
anos, psicologos chegaram a conclusao de que 0 desenho infantil apresenta uma
evoluc;8.o perfeitamente ass ina lave I, ista e: as caracteristicas proprias de uma idade
nao sao as que encontram na idade seguinte.
Do ritmo sensoria-motor ao simbolo, do simbolo para a compreensao
progressiva da totalidade operat6ria, a evoluC;80 do desenho manifesta 0 processo
de estruturac;:ao mental.
Segundo Lowenfeld, citado par Oliveira (1998), nao ha treino ou exercicio de
coordenaC;8o motara que leve a crian~ a expressar-s8 criativamente atraves do
desenho. Ao contra rio, os treinos feitos algumas vezes par professores e pais podem
fazar com que a crianC;:8iniba sua expressao livre a tim de atender exigemcias do
meio.
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4. ETAPA DA GARATUJA - 2 a 4 anas
Segundo Celia Barros (1986),no inicio da fase das garatujas, a satisfa9aO da
crian,a esta em tra98r riscos no papel em qualquer dire,ao, nao dando importancia
as cores e sim aos tr8905. Para ala significa alegria, felicidade e contribui para a
dominic da coordenaC;8o dos movimentos.
Entre as 18 e 24 meses, a crianC;8comec;a a rabiscar ou garatujar e S8
surpreende ao ver que 0 movimento de sua mao agarrada a urn lapis deixa urn trago
ou urn sinal no papal ate entaD branco. Ela desenvolvera suas garatujas em papeis
S8 Ihe apresentamos tal maneira; case contraria, utilizara moveis, paredes e 0
proprio corpo para satisfazer esta necessidade. Oferecer pap"is, de preferancia
brancos, folhas grandes, lapis de cera, canetas hidrograficas, pineais grossos e
tintas espessas e dar oportunidade para que a crianC;8S8 inicie no processo de
expresseo que, nesta fase, tern carater simplesmente cinestesica.
Os primeiros trac;ados de linhas sabre a papel constituem um passo muito
importante do desenvolvimento infantil , pais representam a inicio da expressao que
conduzira a crianya ao desenho, a pintura e tambem a escrita. A maneira como as
garatujas forem recebidas pelos professores au pais, tera grande influencia no
desenvolvimento da crianya.
De modo geral, passam de uma garatuja desordenada para uma controlada,
nao s6 quanta ao aspecto motor, como tambem quanta ao visual, a que se segue a
33
etapa de atribuir names as realiz8c;oes. As crianc;as passam a dar significados aDs
seus desenhos, nomeando-os.
As garatujas sao tr8905 incontrolados e em formas de espirais que a crianC;8
executa a partir dos dois anos e meio a tres anos, apenas dominada pelos seus
impulsos instintivos.
A crianC;8 inicialmente S8 interessa mais pelo efeita que a material produz, do
que propriamente pelo desenho que faz. Come9a a trayar linhas no papel assim que
lanc;a mao de urn lapis. Desenha com rapidez, nao S8 importando com qual mao
segura 0 lapis, podendo ate desenhar com as duas simultaneamente.
Mesma nao tendo uma coordenayao muscular segura, a crianc;a risea na folha
de papsl linhas simples curtas ou longas e quando rabisca, faz exercicios motores. A
medida que a mao adquire 0 controle dos mavimentas, a crian9a descobre que pade
praduzir tra90s seguindo a sua pr6pria vontade. 0 desenvolvimento visual e motor a
para a crian9a uma grande conquista.
Apraximadamente aos 3 anos, possui contra Ie muscular para desenhar com
mais firmeza, camec;a a imitar a escrita e rabisca sobre inumeras marcas repetitivas.
A crianc;a possui aguc;ado sensa de observayao sobre tudo 0 que acontece ao
seu redor, descobrindo que a possivel fazer relac;ao do que desenha com 0 mundo
exterior; nomeando 0 que faz. Com dominio sobre seus movimentos risca com maior
freqOencia curvas, ziguezagues e circulos imperfeitos.
Inicialmente os circulos sao feitos em forma pura e aparecem vazios. A
crianc;a come<;a a preenche-Ios com riscos, ata cruza-Ios de diversas maneiras. 0
cfrcul0 cruzado a a forma mais simples de mandala, que va; se modificando com
riscos que cortam 0 seu contorno, surgindo assim, os raios de sol.
34
Investe cada vez mais tempo em seu desenho e muitas vezes vai descobrindo 0 que
tra~a no papel. A liga~ao que vai fazendo do desenho com 0 ambiente, torna-se para
ela urn importante meio de comunicayao.
A visao da garatuja como urn primeiro desenho gera mal-entendidos entre as
adultos, pois consideram a garatuja como urn merc amontoado de rabiscos. Para
alguns, garatujar significa ter pouca aptidao matara. Os adultos, alem de nao
cansiderarem todo 0 prazer que a crianga possa sentir com seu ge5to, nao levam em
consideragEio aS aspectos construtivos do desenho, que dependem nao 56 de uma
habilidade manual, mas integrada a outros fatores importantes, como a constrw;ao
das relar;:6es espaciais. Embora issa seja urn fata, cabe aos profissionais envolvidos
na educ8y80 da crianc;a conscientizarem os pais da importancia dessa fase de
desenvolvimento para a vida escolar.
Embora varie de crianc;a para crianc;a, a etapa do garatujar vai, mais ou
menos, ate os 3 anos e meio ou 4 anos, apresentando os seguintes caracteristicas:
35
4.1. GARATUJA DESORDENADA OU PRE-INTENCIONAL
- Os tragados nao tern sentido, sao incontrolados, e desordenados, com
varia<;oesem comprimento e dire<;ao;
- Nao ha controle visomotor preciso sobre a aC;aode produzir os rabiscos ,
que sao feitos muitas vezes sem que a crianya olhe para 0 papel;
- 0 lapis e segurado de diversas maneiras;
- Nao hoi intengoes de represenlayiio;
- A crian<;atem dificuldade de permanecer nos limites da folha;
- Nao ha preocupatyaocom a cor;
- A crianya necessita sentir 0 reforc;odos adultos.
36
4.2. GARATUJA ORDENADA
- A crian9a ja tem controle visomotor;
- Ela descobre liga9ao entre seus movimentos e tra90s que faz no papel e
esta descoberta a estimula a variar seus movimentos;
- Os tra9ados geralmente sao amplos e vigorosos, podendo ser longitudinais
(no senti do horizontal, vertical ou inclinado) au circulares;
- Ocasionalmente a crian98 usara cores diferentes;
- Ela sente prazer em preencher toda a folha e ensaia urna variedade de
modos de segurar a lapis;
- 0 dominic, ao dirigir os movimentos, de-I he grande prazer e confian9a;
- 0 adulto deve compartilhar da alegria da crian9a em garatujar.
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4.3. GARATUJA NOMINADA OU IDENTIFICADA OU INTENCIONAL
Apes 0 estagio de explora98o da possibilidade de realizar marcas com seus
movimentos, a crianva come98 a relacionar seus trayos com 0 meio ffsico ou
psfquico.
Surge assim, a inteny80 de simbolizar algo no desenho. Tal intenC;:8o,
mencionada antes de a crianc;:a realizar 0 desenho, inicialmente nao S8 conserva
ap6s 0 terminG do desenho. A criam;:ada uma outra interpreta~o ao que produziu.
Ap6s este periodo, inicia 0 vinculo entre a intenyao e a interpretayao, com a
conservayao da intenyao apes a realizayao do desenho. Este e 0 inicio da proxima
etapa.
- A crianc;:a passa a fazer ligac;:ao entre seus movimentos e a mundo que a
rodeia ,dai a atribuiyao de nomes as garatujas;
- Ela muda do pensamento cinestesico para imaginativ~, pondo inten980 no
que desenha. Isto nao a impede de desfrutar a movimento ffsico, principalmente
quando recebe urn novo material de desenho, 0 qual e por ela explorado em todas
as suas possibilidades;
- A descric;:ao verbal dos rabiscos sera muitas vezes uma comunica~o da
crianya consigo propria, sem liga9Bo com a representa9Bo visual; 0 mesmo rabisco
podera ter atributos descritivos diferentes;
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- A crian98 necessita que seus pais e professores demonstrem confianC;8,
compreensao e entusiasmo par esse novo modo de pensar, sem, no entanto, forc;a-
18a dar explic8c;oes sobre 0 que desenha.
A garatuja e, para a crian98, tao natural como a necessidade de alimentar-se
ou de dormir para 0 adulto, porem, nao tem esse sentido para os pais. Isto pode ser
comprovado pelo fato de muitos pais guardarem as desenhos de seus filhos, e
poucos 0 fazerem com as garatujas, registros graficos que refletem um momento
muito importante da vida infanti!.
Nunca S8 dave interromper au proibir essas manifestac;6es, que levarn a urn
amadurecimento e desenvolvimento em correspondencia com 0 ritmo pr6prio de
cada crianY8. Geralmente, nas primeiras fases da garatuja, nenhuma motiv8c;ao
especial S8 faz necessaria, exceto a de proporcionar a crianc;a os materiais
adequados citados anteriormente e deixar que ela se expresse.
Como durante essa etapa a crianc;a precisa sentir e experimentar sensac;oes
cinestesicas, os materiais utilizados devem favorecer essa necessidade, sem
apresentar dificuldades tecnicas. A argila e a plastilina sao excelentes materia is para
essa etapa, proporcionando ricas experiemcias tateis e de volume.
39
5. ETAPA PRE.ESQUEMATICA· 4 aos 6 anos
as movimentos circulares e longitudinais da etapa anterior evoluem para
formas reconheciveis, passando do conjunto indefinido de linhas para uma
configura98o representativa definida, 0 que ocorre entre 4 e 6 anos. Na
representaC;80 da figura humana, aparecem as representa96es "cab8c;:a-pes". Os
primeiros trac;:ados em busca da forma carecem de toda ideia de proporyao, e vemos
grandes cabeC;:8s sabre extremidades pequenas, ou vice-versa. Trata-s8 de uma
etapa egoc€mtric8. As folhas S8 enchem de exercitac;6es que S8 repetem, 0 que
favorece 0 desenvolvimento dos processos menta is da crian~.
Os desenhos desta fase sao chamados esquemas, porque sao constituidos
de poucos trac;:os. Os objetos reais sao representados no desenho em suas linhas
essenciais, resumidos por meio de esquemas. A figura humana, par exemplo, e
representada por cfrculo contendo alguns pontos e continuando na parte inferior por
duas pequenas linhas.
Nesta fase, a crianc;a nao representa formando urn todo coerente. Os objetos
sao desenhados com relay80 subjetiva entre eles. Muitas vezes, objetos gravitam ao
redor da figura humana.
Segundo Piaget. citado por Pillar (1996), quanto rna is a crian", carninha para
o periodo operat6rio, mais organiza seus desenhos de forma coerente e objetiva.
Os simbolos utilizados variam muito: a figura humana hoje desenhada sera
amanha substituida por outra concepyao nova, ate que a crianc;a encontre seu
40
proprio esquema, 0 qual, por certo, se adaptara a sua propria percepyao da
realidade e de seu eu. A cria980 infantil esta diretamente relacionada com a rica
experiE!ncia individual. Dai a importancia de propiciar vivemcias significativas e
adequadas que enriqueyam 0 repertorio expressivo da crianya. Os temas de
representayao preferidos nesta etapa sao: figuras humanas, casas, arvore e
animais, variando produtivamente ,conforme seu nivel de experiemcia.
A etapa pre-esquematica e marcada pelas seguintes caracteristicas
principals:
- A criancya desenha 0 que sabe dos objetos, nao aquila que ve;
- A crian98 descobre e conquista a forma;
- Nao ha urna rela980 tematica entre as objetos desenhados;
- Naoha uma relayaoespacial entre os objetosdesenhados;
- Comec;.a a surgir a figura humana;
- A forma do desenho e consciente, indicando prioridade e modos de a
crianya organizar suas rela90es com 0 ambiente;
- Surge na crianc;a a vontade de escrever (grafismos);
- Comec;am a ser construidos sfmbolos;
- Hi! busca de novas conceitos, flexibilidade;
- Os simbolos representativos rnudam continua mente;
- As representac;6es indicam a inicio de urn processo mental orden ado;
- Os desenhos sao desproporcionais, apresentam exageros e omiss6es;
- A correspond€mcia entre cor e objeto e de can~ter afetivo;
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- A utiliza9ao do espa90 e desordenada e nao ha rela9ao entre objetos
representados;
- A crian98 necessita da compreensao e do interesse do adulto, fatores que
dao apoio e favorecem as atividades.
Os envolvimentos emocionais da crianc;a tern bastante relevancia em seus
trabalhos artisticos e sao muitas vezes expressos atraves de exageros, omiss6es e
desproporyoes.
Os materiais adequadas a esta etapa sao: tinta de cores variadas (ainda
espessas), tintas plasticas, pinceis grossos, folhas de tamanho grande, lapis de cera,
argila. Ah~m desses materiais basicos, devem sar apresentados a crian<;8 gizes
coloridos, canetas hidrograficas, papa is coloridos, materiais de colagem e de
modelagem, alem de outros que realmente deem a ela oportunidade de explorar e
manipular suas rela<;6es com 0 meio, propiciando a desenvolvimento flexivel de
conceitos proprios e da imaginac;ao criadora.
Nesta idade, nao dave haver lugar para atividade como recortar, pintar au
preencher com materia is diversos, figuras estereotipadas, cujos model as sao
mimeografados sem nenhum criteria. Uma vez submetidos a utilizac;ao de modelos,
as crianc;:as podem vir a perder sua capacidade criadora e tornarem-se dependentes
desses modelos, que nao expressam sua propria experiencia.
As proprias crianyas criarao seus modelos, de acordo com diferen9as
individuais e com experiencias e habilidades vivenciadas e conquistadas, nao S8
valendo de padr6es ou modelos preestabelecidos. Cabe, portanto, ao professor,
cuidados criteriosos na atua<;aojunto a crian<;aem desenvolvimento, estimulando
seus sentidos e sua imagina<;ao.
Na fase pre-esquematica, a crian9a e muito curiosa; verifica-se em seus
desenhos 0 forte testemunho sobre a atualidade dos movimentos.
Nesta fase, as formas criadas pela crian98 come98m a ser reconheciveis,
come9am a surgir no desenho formas fechadas, em geral, semelhantes a cfrculos.
Representa simbolicamente os animais, objetos e pessoas com grandes e pequenos
drculos separados e com tra90s soltos.
Estas formas fechadas sao conquistadas pela crian<;aa partir da progress iva
organiza98o dos tra9ados da garatuja, da qual ela vai elaborando 0 seu vocabulario
figurativ~.
A partir dar, a crian<;acome<;aa desenhar com mais frequencia os objetos do
seu cotidiano. Observa-se entao, nos desenhos infantis dois caminhos. Algumas
crian9as desenham numa tentativa de conhecer 0 espa<;odo papel, preenchendo-o
e percorrendo-o com as formas, ou subdividindo-se atraves de retas que configuram
figuras geometricas. Esse genero de desenho e chamado diagrama. Algumas
crian<;as relutam em fazer diagramas, permanecendo longo tempo na fase das
garatujas ou optando por tra98dos estereotipados (seguindo 0 contorno do papel
com tra<;ados,atribuindo ao desenho 0 nome de "campo de futebon.
o segundo caminho e percorrido por crian<;asque VaGcolocando filamentos
nas formas circulares, obtendo especies de sois, aranhas, que aos poucos VaGse
transformando em representa<;oesde figuras humanas.
43
Qualquer que seja a caminho escolhido, a crian~ fica entusiasmada e
euf6rica com a desenha. Naa senda blaqueada pelas adultas au pela escala, ela
tera enorme prazer em desenhar, representando tudo 0 que existe no mundo.
o usa da cor e urna experiencia bastante gratificante, em bora nao exista
grande rela,aa entre a abjeta representada e a cor escalhida. A crian,a escalhe as
cores e objetos de acordo com 0 significado emocional que as respectivQs objetos
tern para ela.
6. TEMAS PREFERIDOS PELAS CRIANCAS EM SEUS DESENHOS
Segundo Syilvio Rabelo, citado par Celia Barros (1986), as crian,as menores
de 6 anos preferem desenhar a figura humana, "bonecos"
o comite de Estudos da Criany8, nos Estados Unidos, observando as
assuntos desenhados par grandes numeros de crian~s, concluiu:
- Nos desenhos infantis predominam 0$ temas relativos a vida social da
natureza (montanhas, rios, paisagens etc.)
- A diferenciac;ao quanta ao sexo e notada dos 4 aos 8 anos, quando a
crian~ desenha a figura humana. Assim, as meninas preferem representar
crian9<3s, 0 que S8 percebe porque suas figuras trazem fita no cabela, etc. Os
meninos preferem desenhar adultos, 0 que percebemos porque suas figuras
usam chapeus e cahras compridas, tern cigarro, etc. Esta conclusao nao
contradiz que antes de 6 anos as crian98s preferem desenhar bonecos
- As meninas mostram em seus desenhos preferemcia pelas coisas
domesticas (mesa com toalhas, bandeja com xfcaras, varal com roupas) e os
meninos preferem objetos mecanicos (veiculos , revolver etc.).
A crianrya nao tern ideia de proporC;ao. E comum aparecerem cabec;as
maiores que 0 resto do corpo, brac;os que arrastam no chao, ou, ao contrario, brac;os
bern curtos ou desiguais, maos gran des, dedos disformes. Sao encontrados pes de
todos as tamanhos. Ao se desenvolver mental mente, a crianga vai revelando mais
acerto na dimensao de cada elemento da figura humana. Dutra particularidade e a
45
lalta de orienta~ao na disposi~ao das partes do corpo. Alguns elementos sao
representados de frente, enquanto outros aparecem de perfil.
Mudanyas de posiyao dos elementos da figura humana: a medida que a
crian9a cresce, vai apresentando os elementos da figura humana em posic;6es
dilerentes.
- Primeiramente a crianya representa toda a figura human a de frente.
-0 primeiro elemento a ser representado de perfil sao os pes.
- Depois notamos uma tentativa de representar a cabe~ de perfil: 0 nariz
aparece claramente de lado, embora as vezes a boca ainda esteja
representada de Irente e apare~m as duas orelhas.
- Depois de a cabe~a ser representada de lado, os bra~s tambem mudam
de posic;ao: sao representados para um lado, como em posic;ao de marchar.
- 0 ultimo elemento que a crian~a consegue representar de perfil e 0
tronco (0 que percebemos claramente pela posi~ao dos bot6es da roupa)
Quando a crianya desenha a figura total mente de perfil, com seus elementos
nos devidos lugares, €I porque sua inteligencia ja alcan90u um grande
desenvolvimento.
Evolu9ao na representac;ao da indumentaria: - George Rouma, citado por
Celia Barros (1986), observa tres momentos no desenho da indumentaria: a
principio, a ligura e nua, notando-se apenas detalhes de enleite; mais tarde a ligura
aparece vestida, deixando, entretanto, transparecer a corpo; enfim a figura e
representada pelo contorno exterior da roupas. Tambem se tem observado que no
desenho infantil, a adorno €I mais importante que pe98s indispensaveis do vestuario.
46
7. SURGIMENTO DA FIGURA HUMANA
Urna das primeiras formas reconheciveis que a crianC8 desenha e a figura
humana. Esta permanece como um dos temas de desenho mais escolhido por ela
ate pel os menDS as dez anos de idade. Os primeiros desenhos da figura humana,
que aparecem par volta dos tres an os de idade sao urn tanto curiosos aos olhos do
adulto. Ha geralmente urna unica linha envolvendo urna area aproximadamente
circular que pode conter tracas faciais.
Essa forma e posta sobre 0 que parecem ser duas pernas. Os braeDs podem
estar presentes au nao; S8 estiverem, estarao muitas vezes ligados ao que parsee
ser a cabe9CJ.
As figuras sao em geral, muito simples. Essas formas pitorescas tern sido
chamadas de cefalopodes (figuras de girino) ou simpiesmente girinos (em frances
elas sao hommes tetardo, ou homens-girinos) e (em alemao, kopffussler, ou gente-
de-cabe9a-e-pes). Pelo que sabemos, a maioria das crian9as passa por uma fase de
girino, embora ela possa durar apenas alguns dias para uns e muitos meses para
outros.
47
7.1. CARACTERisTICAS DO DESENHO DA FIGURA HUMANA
o motivo universal mente preferido pelas crianyas em seus desenhos e a
figura humana. Observando desenhos de grande numero de crian9as, autores de
varias nacionalidades notaram certas caracteristicas peculiares com rela<;ao aos
banecas. Sao slas: preocupay8o par detalhes, falta de apaio, rigidez e
transparemcia:
- Preocupa<;ao par detalhes - Muitas vezes, a crianya esquece partes
indispensaveis de figura humana (troneD au orelhas, par exemplo), aparecendo,
porem, enfeites e acess6rios: chapeu, guarda-chuva, bolsa, oculos, etc.
- Falta de apaio - A crian<;8 geralmente desenha a figura humana no ar,
flutuando. A partir de urn certo n[vel de desenvolvimento mental, sla procura situar
as desenhos num ponto do espayo, 0 que S8 pode observar pelo trago que faz ao pe
da figura.
Rigidez - Nos desenhos das criany8s men ores, os bonecos aparecem
sempre como se estivessem duros, isto e, com bracyos, dedos e ate cabelos
esticados.
- Transparencia - Muitas vezes a figura humana e representada vestida, mas
deixando transparecer 0 corpo atraves da roupa. Comumente aparecem, atraves da
saia e das calcyas, trayos que representam as pernas. Igualmente aparecem os
cabelos, mesmo quando cobertos pelo chapeu.
48
8. 0 SIGNIFICADO DA COR
A experiencia de garalujar e, pais, principalmente, uma das atividades
motoras. No infcio a satisfag80 deriva da experiencia de movimentos cinestesicos:
depois, do controle visual das linhas; e, finalmente, da relag80 entre essas linhas e 0
mundo exterior. Segundo Lowenfeld (1977), a cor desempenha um papel
decisivamente secundario na fase das garatujas. Isto e verdadeiro, principalmente
nos primeiros dois niveis, quando a criang8 esta estabelecendo sua coordenag8o
motara. Com efeito, selecionar as cores pode, muitas vezes, distrair a criang8,
desviando-a dos rabiscos para a atividade de jogar com aquelas. E de grande
importimcia que a criang8 possa distinguir seus trayos do resta da pagina em que
trabalha. Portanto, faz-s8 necessario forte contraste na seleg80 dos materia is de
desenho.
o lapis preto sabre a papel braneo au a giz braneo sabre 0 quadro-negro
devem ser preferidos a Qutras cores que naG of ere gam esse antagonismo
Somente quando a criang8 ingressa na etapa de atribuir nomes as garatujas e
que manifesta a desejo de usar cores diversas para diferentes significados. Uma das
primeiras fases da percepgElo cromatica e fazer distinyao entre as cores. Isto nao
indica, em absoluto, que S8 deva esperar da crianC;;8, que nomeie as cores, mas sim,
que S8 Ihe deve dar, nessa fase, a oportunidade de poder realizar alguma seleyao
decor.
49
Ja S8 fizeram varias investigayoes na tentativa de relacionar a cor e a forma
com a personalidade das crian9as na idade da educa~o infanti!. As crian<;as que
pintam sistematicamente em cores quentes manifestam livres comportamentos
emocionais, as que preferem 0 azul tendem a sar mais controladas em suas conduta
e as que utilizam 0 preto sao propensas, como um grupo, a manifestar escassez de
comportamento emocional. Oeste modo, as cores sao usadas da esquerda para a
dire ita ou da dire ita para a esquerda, na palata, independentemente de quais sejam
os matizes. Segundo paraee, nao fizeram 0 controle quanta a coloca<;ao das cores.
Em estudos, foi igualmente evidenciado que as crianC:;8s da educayao infantil
propendem a aplicar as cores em relac:;ao direta com lugar que ocupam na paleta.
Isto poderia indicar que a pintura, neste nivel, e mais atividade mecanica do que
emocional. Nessa idade, aparentemente, as garatujas parecem exprimir mais a luta
da crianga pel a controle visual. A cor, como parte do processo de garatujar, em
pintura, e principal mente explorat6ria, e 0 usa de determinadas cores pode estar
mais estritamente relacionado com a disposigao fisica das coloragoes do que com as
mais profundos problemas emocionais da crianga.
As mudanc;as de cor sao, as vezes, significativas na fase de atribuigao de
names as garatujas, vista que, neste casa, as cores talvez tenham significadas para
a crianga. 0 trabalho com as cores e suas explara9ao ocasional tambem podem ser
encaradas pel a crianc;a como uma atividade divertida. Contudo, e muito mais
importante que, nas fases das garatujas, a crianya goze da oportunidade de criar
linhas e formas, de desenvolver a dominio da sua coordenagaa e de came9ar suas
primeiras rela90es pictoricas com 0 meio circundante.
50
Na fase das primeiras experiencias, mais interesse e excitac;ao sao
estimulados atraves das relac;oes entre 0 desenho e urn objeto, do que entre a cor e
urn objeto. A crianC;8 comeC;8 a criar formas, e sao essas mesmas formas que S8
tornam importantes. Na fase das garatujas, a criang8 usa com freqOencia a cor para
comparar e emparelhar objetos, mas, quando passa a utilizar linhas a lim de retratar
a forma em seus trabalhos, as objetos comec;am a ser empilhados mais pela forma,
que pel a cor. Urn estudo tentou ensinar a comparar formas geometricas com a cor,
mas verificou que as crianyas da educayao infantil emparelhavam as formas na base
de sua configurac;ao, 80 passo que as crianC;8s menores, da eseela maternal,
identificavam as formas na base da cor. Este fata naD signifiea que as crianc;as na
fase pre-esquematica nao estejam c6nscias da cor, mas indica, simplesmente, que
sua aptidao para desenhar formas de sua propria escolha domina seu pensamento.
Nos desenhos e nas pinturas realizadas nesta idade, raramente existe uma
relayao entre a cor escolhida para pintar um objeto e as objetos representados. Um
homem pode ser vermelho, azul, verde au amarelo, dependendo do modo como as
varias cores atraem a crianya. Para a adulto, essas relayoes de cor talvez pareyam
urn tanto absurdas. De lata, urn estudo (Marshall - 1954, citado por Lowenleld -
1977) comparou esquizofrenicos adultos com crianyas normais, de cinco anos, e
verificou que 0 usa da cor, nesses dais grupos, eram inteiramente semelhantes.
Isto nao significa que as cores careyam de significayao para a crianya que as
usa. Lawlere e Lawlere (1965), citado par Lowenfeld (1977) levantaram que crianl"'s
de quatro anos, de uma escola de educayao infantil, escolhiam a amarelo, para
colorir uma cena alegre, ao passo que a mesma cena era pintada de marrom, se
Ihes fosse contada uma estoria triste a respeito. Assim, nao deve parecer estranho
51
que a criang8 escolha sua cor favorita, para pintar 0 retrata da mae sobretudo, S8
sentir emocionalmente ligada par sentimentos de af8to. Existem, freqOentemente,
outras fazoes para selecionar certas cores para determinado objeto. Algumas sao de
natureza simplesmente mecanica, ista e, a cor selecionada pade ser mais espessa e
menas suscetivel de escarrer, au talvez a vermelho naa tenha sida ainda usada, au
talvez 0 pineel utilizado para uma das cores tenha 0 cabo mais comprido. E passive I
que as criang8s exprimam intent;6es pSicol6gicas mais profundas em sua escolha
das cores, mas essas intenc;oes tendem a ser individualizadas, e as adultos ficariam
numa sitU8g80 dificil S8 tentassem interpretar 0 que essas cores significam.
o usa da cor, nessa idade, pode ser uma experiencia empolgante. Embora a
crianc;:a nao deseje estabelecer uma relayao exata, pode sentir prazer e, de fato,
sente, quando usa a cor pela cor. Isto e verdade, principal mente quando a tinta
empregada permite que ela pinte, com grande fluidez, massas ricas de cor. Eo 6bvio
que se criticarmos a crianc;:a pelo uso de certa cor ou se Ihe assinalarmos qual e a
mais adequada para este e aquele objeto, estaremos interferindo na sua liberdade
de expressao. Deve-se proporcionar a crianc;:a ampla oportunidade de descobrir suas
pr6prias relac;:oes com a cor, pois s6 atraves de continua experirnentac;ao ela
estabelece a afinidade entre seu pr6prio envolvirnenta ernocianal com a cor e a
organizac;:ao harrnoniosa desta sabre 0 papel.
Quanta ao interesse que a crianc;:a demonstra pela cor nos seus desenhos, as
opinioes sao variadissimas e as inforrnac;:oes exatas muito raras.
A cor pode ter urn papel puramente decorativo ou ornamental, sem relac;:ao
com 0 objeto representado. Poderfamos dizer, usanda uma expressaa infantil, que 0
52
colorido e "para ficar bonito" As fachadas das casas e as trajes das personagens
fornecem-nos abundantes exemplos.
Dado 0 lugar preponderante que 0 realismo tern no desenho infantil no que
diz respeito as linhas, ista e. a expresseo vigorosa das formas, e muito natural que
ele se encontre no colorido e este, a par do seu papel decorativo, tenha tarnbern urn
papel realista
Paraee mesma que estas duas fun96es tern a sua razao de ser. E decorativo
quando a cor nao tern mais que urn caracter acidental do objeto representado, au
seja, quando poderia ser de uma cor diferente; e 0 caso particular dos trajes. Pelo
contr<3rio, e realista quando a cor e essencial aD objeto. Isto aconteee na
representay80 de objetos clara mente individualizados que na realidade sao cores
em questeo, quer sempre, quer no momenta preciso visado no desenho.
Tratando-se nao de desenhos de objetos individualizados, semelhantes a
retratos, mas de imagens genericas, a colorido e uma caracterfstica essencial do
genera, assim como da forma, quando todos as objetos desse genera tern
regularmente a mesmo colorido. Nesse caso, a colorido do desenho e geralmente
realista, sua representa,.ao rnanifesta urna predile<;:ao delicada pelo colorido
decorativo.
o caracter voluntario, ainda que sem duvida, inconsciente desta distinc;ao
entre as duas especie de colorido e a emprego de algumas delas para classes de
objetos bern determinados, manifesta-se sobretudo nos desenhos em que as duas
se encontram ao mesmo tempo.
53
9. ESPA90 E EQUIPAMENTOS PARA 0 DESENHO INFANTIL
Segundo Lowenfeld (1976). a melhor lugar para a crian9a e um cantinho. com
bastante luz natural, onde nao precise ser muito cuidadosa com a mesa ou 0
pavimento. 0 objeto mais adequado para suas atividades criadoras sera uma mesa
baixa e nao muito grande, cuja superficie esteja recoberta par uma capa de tecido
plastico, lav;3vel. A mesa nao deve ser muito grande, a fim de que a criang8 possa
fazer seu trabalho, mudando-se sempre de posi9ao. Uma banqueta e melhor que
uma cadeira de encosto.
Urn cavalete pode ser uti! para as criang8s maiores, mas nao e indispensc3vel.
As menores pod em pintar mais facilmente sabre uma superffcie horizontal.
A criang8 precisa dispor de algum espagD permanente para guardar seus
materia is. 0 papel deve ser conservado em folhas estendidas dentro de uma gaveta
au numa prateleira, sempre a disposiy8.0 da crianya. Dutra gaveta deve ficar
reservada para a caixa de giz, lapis de cor e esferograficas.
A distribuiy8.o das crianyas em locais adequados, permite que estas possam
criar com express8.o natural.
54
10. MATERIAlS
A escolha do material utilizado esta associada ao desenvolvimento afetivo e
intelectual da crianga. A medida que sua experiencia se enriquece, ela tem
necessidade de uma maior variedade de materiais para se exprimir mais
plenamente.
Nos primeiros anos de vida, serve-se do que encontra a mao: lapis de cor,
lapis pastel, giz de cera, carvao, esferograficas.
Quanto aos papeis, devem ser de boa qualidade, cores e formatos diferentes,
como a papel jornal. sulfite. papel de embrulho, entre outros. Deve haver muito papel
disponfvel, sem que ocorram restriyoes ao seu uso.
Quanto maior for a sensibilidade da crianya para exprimir-se artisticamente,
tanto maior sera 0 tempo que ficara trabalhando na mesma obra. E, quanto menos
se concentrar no que fizer, maior sera 0 numero de folhas utilizadas.
o metodo que se aconselha e aquele que permite a crianya escolher a
tecnica, 0 formato, 0 papel, as cores e deixa-Ias trabalhar segundo interesse,
necessidade e ritmos proprios. Assim, ela encontrara a via que Ihe convem,
repetindo tecnicas e temas a vontade, adquirindo confianya e seguranr;a na propria
capacidade de realizayao que garantem a desenvolvimento e a autenticidade da
expressao livre.
55
11. COMO 0 PSICOPEDAGOGO PODE ORIENTAR A ACAO DO PROFESSOR
FRENTE AO DESENHO INFANTIL
A proposta de trabalho pressup5e um professor atento e alerta ao
desenvolvimento infantil, preocupado com a participagao ativa e efetiva de todas as
crian9as.
o trabalho deve desenvolver-se em dima de liberdade e descontra9ao,
favorecendo atividades espontimeas e criativas. Para que isto aconte9a, a
metodologia adotada deve pressupor certos procedimentos, alguns serao
ressaltados a seguir.
- Oferecimenlo de proposlas adequadas. que respeitem e estimulem as
experiencias das crian9as;
- Respeito a individualidade da crian98, considerando sua expressao como
linguagem;
- Valoriza98o das respostas dadas pelas crianc;;as;
- Utiliz8980 intensa de atividades ludicas;
- Oferecimento de propostas que trabalhem 0 pensamento divergente;
- Oferecimento de oportunidade freqOentes e contfnuas para experiencias
sensoria is;
- Oferecimento de oportunidades que levern a crianc;;aa observ8980, irnaginagao,
explora98o, improvisa9ao, cria9ao, influencia e flexibilidade;
56
- EstimulayEio adequada e constante da crianc;a, par meio de desafios e situ8c;oes
problemas que agucem sua curiosidade:
- Identificac;ao com os interesses da crianc;a, respeitando seu proprio ritmo;
- Utiliz8c;ao de recursos que ajudem a crianC;8 na organiz8C;:8o de seu material,
de si propria e de seu ambiente de trabalho;
- Presenc;a discreta e efetiva para toda classe, sem perder de vista a relayao
particular com cada crianc;:a;
- Oferecimento de propostas em que as tecnicas S8 adaptem as necessidades
naturals de cada crianc;:a e nunca aquelas em que as crianc;as tern de S8 adaptar
as tecnicas;
- Criac;ao de urn ambiente segura, de uma atmosfera em que haja confianC;8 e
tranquilidade.
57
12. DEMONSTRATIVO DA EVOLU<;:Ao DO DESENHO
A partir da observayao dos desenhos de crianyas de 2 a 4 anos. reafirma-se
as citayaes dos autores apresentadas ao decorrer deste trabalho. Para melhor
exemplificac;ao, serao utilizados alguns destes desenhos observados.
A primeira forma de desenho analisada foi a garatuja pre-intencional, ista 8,
que nao e feita com intenc;ao de representar alguma ceisa, mas somente para
satisfazer a necessidade das crian~s dessa faixa etaria. Porem durante a
observac;ao, as crianc;as demonstraram dar uma interpretac;ao as suas garatujas, S8
interrogadas par alguem, de acordo com a sugestao de quem pergunta ou conforme
o momenta que estao vivenciando. Demonstra-se ista na produ~o abaixo, cnde a
crianc;a de 2 anos e 2 meses interpretou seu desenho como "Bicho Papao".
58
Conforme a garatuja intencional, a crian<;a anuncia as objetos ao mesma
tempo em que as desenha, mas num primeiro momento a significac;ao naa S8
mantem, porque nao ha nada na garatuja que femeta ao objeto da sua realidade. 0
exemplo a seguir, desenhado par urna crianc;a de 2 anos e 8 meses, recebeu antes
de ser desenhada a intenl'aa de ser Ogata" e ap6s seu termina a crianya a chamau
de umacarrao".
Urna das primeiras formas reconheciveis desenhadas pelas crianc;:as e a
figura humana. Geralmente os primeiros desenhos da figura humana aparecem por
volta dos 3 anos de idade. Normalmente hit urna linha unica mais au menDS circular,
podendo conter trayos facia is. Esta forma aparece sobre 0 que parecem S8r duas-
pernas, e os bragos podem estar ligados til cabec;a au as pernas. Ests e 0 tipo de
desenho nomeado par muitos autores como "girinon, conforme exemplificam as
59
desenhos abaixo. 0 primeiro, feito par urna crian9CI de 3 anos e 0 meses, 0 segundo,
par urna de 3 anos e 1 mes, e 0 terceiro, par urna criancra de 3 anos e 3 meses.
60
Nesta fase, mesmo os animais sao desenhados da mesma forma que a figura
humana, ista e, como "girinos". Retrata-se ista na produ~o a seguir, ende a crianya
desenhou seu cachorro Winny.
61 }--
Analisando vinte desenhistas de "girinos", com media de idade de 3 anos e
meio e pedindo que desenhassem neles as detalhes do rosla, a barriga e as brac;os
case qualquer dessas partes estivesse faltando, fcram identificados dois tipos de
figura. Em urn deles, a caber;a era maior que as pernas, e a barriga fieava dentro do
circulo, abaixo dos detalhes do rosto; os bra<;osem cada lado da "cabe<;a".
Conforme 0 exemplo a seguir, onde a localiza<;iioda barriga e destacada pela
flecha.
No outro tipo identificado observa-s8 pernas mais longas e a desenho da
barriga entre as mesmas. Este segundo tipo de figura de "girino", pareee ser urn
desenvolvimento posterior, pais 0 cfrculo representa somente a cabec;a, e a barriga edeslocada mais para baixo. Estes desenhos fcram feitos par crianyas que logo
passaram para a forma convencional, enquanto as primeiras levaram mais tempo.
62
63
Estes desenhos apontam que as criam;as desenhistas de "girinos" sabem 0
que e carpa, barriga e onde estes estao localizados, mesma naD estando incluidos
em seus desenhos; porem S8 estas partes ou outra qualquer fcrem solicitadas as
crian<;as, estas mostram-se dispostas a desenha-Ias tambem.
As mesmas crian<;as mostraram em quebra-cabe<;as de figuras humanas
conhecer facilmente as partes do corpo e ands S8 localizam, sabendo mantar com
facilidade cabeg8, troneo, dais bragos e duas pernas, nas posi<;oes corretas. Porem,
para desenhar a figura, a crianc;a precisa descobrir quais partes sao usual mente
inclufdas, saber como cada parte e desenhada, ser capaz de lembrar de todas elas
enquanto desenha e faze-las na ordem correta, sabendo onde fica cada parte em
relayeo as Qutras, e sar capaz de organizar tude issa em urn conjunto no papel.
Deve ainda ter controle sobre seus movimentos de coordena9aO motora fina.
Verificou-se que 0 padrao de desenvolvimento do desenho varia muito. Em
algumas crianc;as percebe-se que a passagem da fase "girino~ foi muito curta e
entao produziram formas convencionais; conforme a sequencia de desenhos a
seguir, feitos - 0 primeiro aos 3 anos, 0 segundo aos 3 anos e 3 meses e 0 terceiro
aos 3 anos e 6 meses - par uma mesma crian9a.
64
65
Qutras crianC;8S parecem atravessar urn periodo mais lango em que
desenhavam ~girinos", formas de transic;ao e formas convencionais. Estas tres
formas podem ocarrer na mesma apaca e em uma mesma crianc;a, que e
visivelmente capaz de desenhar uma forma mais convencional, mas muitas vezes
nao ofaz.
Foi observado que quando a figura humana e 0 tema principal do desenho ou
quando a crianC;8 e incentivada a elaborar mais seus desenhos, estes S8 aproximam
mais da forma convencional. Se ao contrario, a figura apenas complementa a cena,
o empenho da crianC;8 S8 cancentra nos Qutros aspectos e entao sla desenha a
forma de "girino" mais simples. Demonstra-se ista a partir do desenho a seguir, ende
a crianc;a de 3 anos e 1 mes preocupou-se mais em relatar sobre as carros,
66
respect iva mente de seu pai e sua mae e sobre 0 sinaleiro, do que sabre as figuras
humanas.
Em um grupo de crian9as desenhando, h<i a presen9a de criticas leitas por
aquelas que possuem desenhos mais maduros. Esta pressao pareee levar a grupo a
urn crescente desenvolvimento, interferindo nas produc;oes criticadas. Pareee que as
crianC;8s desejam imitar as exemples dos colegas, sentindo necessidade de urn
ajuste em seus desenhos, levando-as a buscar uma nova forma mais satisfat6ria.
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CONCLUSAO
Espernear, andar, correr, saltar, gritar, equilibrar-se, alirar objetos, sorrir,
entoar, charar, balanc;:ar-se, sao encenac;:6es corporais da crian.ya que acontecem no
espac;o. 0 corpo S8 expand indo, recolhendo-se.
o movimento corporal aconteee e S8 vai no ar, mas a linha, 0 ponto, a
mancha ficam ali agrupados misteriosamente no papal. E comum observar crianC;8s
que olham do Qutro lado do papal para ver 0 que aconteceu ali; au entaD crianyas
que passam a mao no papal para S8 certificar S8 suas marcas nao desgrudam; ou
entaD crianc;as que fazem urn circulo e terminam num ponto, "am arran do-a" para 0
circulo nao S8 desfazer.
Para a crianC;8 0 desenho e 0 resultado de urna tendencia natural, expressiva,
representative, que revela seu mundo particular. As representayoes graficas variam
em funyao da idade mental, do sexo, do temperamento, das condiyoes organicas,
personalidades e vivencias.
o desenho livre revela 0 nivel do desenvolvimento grafico e a estrutura980 do
pensamento da crian9a. E um instrumento eficiente de avalia980 da maturidade para
a leitura e escrita futuramente .
o desenho tambem e manifesta980 da inteligencia. A crianc;a vive a inventar
explica90es, hip6teses e teorias para compreender a realidade. 0 mundo para a
crianya e continuamente reinventado. Ela reconstr6i suas hip6teses e desenvolve a
sua capacidade intelectiva e projetiva, principalmente quando existem possibilidades
68
sua capacidade intelectiva e projetiva, principal mente quando existem possibilidades
e condi90es fisicas, emocionais e intelectuais para elaborar estas "teorias" sob
formas de atividades expressivas.
Atraves das observagoes feitas e da fundamentagao te6rica apresentada
neste trabalho e possivel concluir que 0 desenho tem um papel importante, pois
desenvolve a percepc;ao, coordenac;8.o matara, espontaneidade, criatividade e
comunic8<;ao. 0 desenho e uma das formas de expressao mais simples que existe.
D desejo de rabiscar urn papsl, deixando nele marcas, esta em cada crianC;8, faz
parte do seu desenvo[vimento natural.
A crianC;8, quando ainda nao influenciada pelos vieiDs dos adultos. projeta-se
no que faz, com sinceridad8. Deve-s8 saber respeitar a sua mane ira de ser autentica
Contraria-Ia, nega-Ia e contribuir para que se desenvolva na crianya urn sentimento
de frustrac;ao, solidao, angustia e incomunicabilidade, e nao entender a sua natural
necessidade de comunicar com os outros e com 0 mundo que a rodeia.
A crianc;a exprime-se pelos gestos, 0 som, a palavra e a imagem. Quando
desenha, exprime sensac;oes corporais,sentimentos de alegria,tristeza e serenidade,
desejos, ideias, curiosidades, experi€mcias, um conjunto de fatos emotivos e
cognitivos.
E necessario criar condi90es em casa, na escola e na sociedade, para que a
crian9a se expresse espontaneamente e se desenvolva natural mente de acordo com
as suas reais capacidades fisicas e intelectuais. E atraves do estudo e da
compreensao das atividades infantis que poderemos conhecer melhor 0 mundo da
crianc;a.
69
o desenho infantil, mesma tendo caracteristicas visuais semelhantes ao de
muitos artistas consagrados, nao e entendido como arte. Ao S8 analisarem as
fatores que envolvem a criay80 de uma obra, tanto a criany8 como 0 adulto tern
condi96es de criar e produzir obras com qualidades esteticas.
Pode-se concluir que e necessario a compreensao do significado e da
importilncia do ato de desenhar, conhecendo suas fases de desenvolvimento para a
valoriz8yao desta atividade.
70
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