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Mano a Mano Capítulo 02 Pág: 1
MANO A MANO
Novela de
Rômulo Guilherme
Criada e escrita por:
Rômulo Guilherme
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Mano a Mano Capítulo 02 Pág: 2
CENA 01. RUA CARIOCA. EXT. DIA
Continuação imediata. Rômulo distraído no celular. Os motoristas dos
outros carros começam a buzinar, diante da perseguição a Marmita e Remo
pelos guardas municipais. Rômulo volta a si, assustado e vê apenas
Marmita correndo. Mas Marmita não lhe vê, já que está mais preocupado e
concentrado em fugir dos guardas. O sinal abre. Rômulo acelera. Corta
para:
CENA 02. BARRACO MARMITA E REMO. INT. DIA
Marmita e Remo entram ofegantes. Marmita deixa a máquina fotográfica
em cima da mesa e pega água na geladeira pra eles.
MARMITA ― Foi por pouco.
REMO ― Dessa vez eu achei que iríamos rodar.
MARMITA ― Vai nos dar uma boa grana essa maquina e a
correntinha que tu pegou.
Remo está sentado no sofá, observando a correntinha.
REMO ― Quero essa vida mais não, Marmita.
MARMITA ― De novo com esse papo?
REMO ― Ficar fugindo da polícia, dos guardas, to
cansado disso já.
MARMITA ― E vai viver do que? Virar um trabalhador
assalariado?
REMO ― Ainda não sei o que vou fazer. Só sei que não
quero mais essa vida pra mim.
Remo deixa a correntinha que furtou em cima da mesa e vai pro seu quarto.
Marmita pega a correntinha e a máquina fotográfica.
MARMITA ― Vou repassar esses objetos logo, antes que o
lado Madre Teresa do Remo fale mais alto e ele
resolva entregar tudo pra polícia.
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Mano a Mano Capítulo 02 Pág: 3
Marmita coloca os dois objetos na sacola e saí.
Corta para:
CENA 03. QUARTO RÔMULO E VÂNIA. INT. DIA
Vânia está sentada na cama, de costa pra porta, mexendo na caixinha onde
guarda e esconde os objetos que furtar, quando não consegue controlar seu
lado cleptomaníaco. Pega um suvenir e fica lhe observando. Corta para:
CENA 04. CASA AMIGA VÂNIA. SALA. INT. DIA
Flash-back a ser gravado. Vânia sentada, conversando com sua amiga,
tomando café. A emprega aproxima-se, fala algo com sua amiga que se
retira em seguida. Sozinha na sala, Vânia vê o suvenir que segura na cena
anterior em cima da mesa e resolve pegá-lo, escondendo-o dentro da bolsa.
Corta para:
CENA 05. QUARTO RÔMULO E VÂNIA. INT. DIA
Vânia fica muito mexida, abalada e guarda o objeto de volta na caixa. Sabe
que fez algo errado, mas não consegue se encontrar.
VÂNIA ― É mais forte do que eu!
Nesse momento, Rômulo entra e deixa sua mochila de lado. Vânia fecha a
porta da caixa rapidamente.
RÔMULO ― Você e essa sua caixinha misteriosa.
VÂNIA ― São minhas jóias.
Vânia fecha a caixinha, usando um cadeado com segredo, e guarda no seu
closet. Rômulo e Vânia trocam um selinho.
VÂNIA ― Demorou. Já ia te ligar preocupada.
RÔMULO ― Nessa cidade o trânsito para até no sábado,
mas os bandidos não.
VÂNIA ― Sua mãe acabou de perguntar de você.
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Mano a Mano Capítulo 02 Pág: 4
RÔMULO ― Só preciso trocar de roupa. Já tomei uma ducha
no clube.
VÂNIA ― Tá bom. Vou te esperar lá embaixo.
Vânia saí do quarto. Rômulo vai até o espelho e fica se observando.
Corta para:
CENA 06. MOSTEIRO. IGREJA. INT. DIA
Remo está sentado em um dos bancos, olhando pro altar.
REMO ― (agoniado) Preciso dar um jeito na minha vida,
Senhor. Me ajuda!
Através de efeito, Remo, que vou chamar de Remo 1, numa versão diabo,
aparece no seu ombro.
REMO DIABO ― Pra que mudar de vida? Nesse país não
compensa ser honesto, correto.
Remo, que vou chamar de Remo 2, numa versão anjo, aparece do outro
lado do seu ombro.
REMO ANJO ― Não escuta o que ele está dizendo. A
honestidade é um dos valores mais bonitos que o
homem pode ter.
REMO DIABO ― Mas que não vale de nada.
REMO ANJO ― O mais certo a fazer é sair dessa vida. Você
consegue!
Bastião aparece na porta, sem ser visto por Remo, que na sua visão está
falando sozinho.
REMO ― Vocês estão me deixando confuso assim.
Bastião estranha. Aproxima-se de Remo.
BASTIÃO ― Fiquei tão feliz quando me disseram que você
estava aqui.
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Mano a Mano Capítulo 02 Pág: 5
REMO ― Bênção, padrinho.
BASTIÃO ― Deus te abençoe.
Bastião senta-se do lado de Remo.
BASTIÃO ― Estava achando que você tinha esquecido de
mim.
REMO ― É claro que não. Devo muito ao senhor,
padrinho.
BASTIÃO ― Engraçado que hoje mesmo estava me
lembrando da noite em que te encontrei aqui na
porta do mosteiro, dentro daquela cesta, tão
pequenino e vulnerável.
Insert da cena 06, do capítulo 01.
REMO ― Nem sei o que seria da minha vida se não fosse
o senhor ter cuidado de mim.
BASTIÃO ― Sinto que eu poderia ter feito mais por você,
Remo.
REMO ― E pode fazer me ajudando a mudar de vida.
BASTIÃO ― Como assim?
REMO ― (decidido) Quero entrar pro mosteiro. Quero
ser um monge!
Bastião fica surpreso.
Corta para:
CENA 07. CASA DE REPOUSO. JARDIM. EXT. DIA
Neide, sentada num banco, observa emocionada algumas fotos de Rafael,
desde quando ele era criança, até adulto. Detalhar.
NEIDE ― Meu filho... Sinto tanta sua falta. Minha
vontade é de ir e falar toda a verdade.
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Mano a Mano Capítulo 02 Pág: 6
Venâncio aparece, segurando uma caixa de bombons.
VENÂNCIO ― Você sabe muito bem o que acontece se você
resolver contar o que sabe.
Neide lhe encara com um olhar frio, sem sentimentos.
NEIDE ― O que você quer aqui?
VENÂNCIO ― (entregando) São pra você. Seus bombons
preferidos.
Neide vira o rosto, recusando o presente. Venâncio senta e deixa a caixa de
lado.
VENÂNCIO ― Como você está?
NEIDE ― Não precisa fingir que se preocupa comigo.
VENÂNCIO ― Se eu não me preocupasse, não viria aqui te ver
como sempre faço.
NEIDE ― Veio verificar com seus próprios olhos se
ainda continua aqui, que seu segredo continua
preservado, já que ao contrário do seu pai, que foi
comprado por seu dinheiro, eu fui obrigada a me
calar, pelo bem do meu filho.
VENÂNCIO ― Você está reclamando de barriga cheia, Neide.
Vive bem nesse lugar tranqüilo, confortável, onde
tem tudo o que precisa.
NEIDE ― Mas longe do meu filho, longe de todos, que
acham que eu sumiu no mundo, sem rumo, sem
deixar paradeiro.
VENÂNCIO ― Você está sendo muito ingrata comigo. Sempre
trago notícias, fotos do Rafael.
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Mano a Mano Capítulo 02 Pág: 7
NEIDE ― (explode) Você é um monstro, Venâncio. Que
não pensa em mais ninguém além de você e dos
seus interesses.
VENÂNCIO ― (levanta) Vou embora. Tô vendo que minha
presença está te deixando muito alterada.
NEIDE ― Um dia você vai pagar por tudo o que você fez,
Venâncio. Não a mentira que dure pra sempre.
Venâncio encara Neide.
VENÂNCIO ― Aproveite os bombons.
Venâncio caminha, afastando-se de Neide, que joga longe a caixa de
bombons, nervosa, alterada.
Corta para:
CENA 08. CASA REPOUSO. SALA DO DIRETOR. INT. DIA
Venâncio diante da mesa do diretor da casa de repouso.
DIRETOR ― Então, como foi?
VENÂNCIO ― Vocês precisam lhe dar mais remédios. Ela
está muito alterado, falando muita besteira.
DIRETOR ― Fazemos o que podemos.
VENÂNCIO ― (tom) Então faça mais. Pois pago muito caro
pra manter-la aqui, além daquele extra que
combinamos.
DIRETOR ― Tudo bem. Vou ver o que eu faço.
VENÂNCIO ― Então faça! Não quero que ela me cause
nenhum problema.
Corta para:
CENA 09. MOSTEIRO. JARDIM. EXT. DIA
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Mano a Mano Capítulo 02 Pág: 8
Bastião e Remo caminham, enquanto conversam.
BASTIÃO ― A vida de um monge beneditino requer muita
dedicação e comprometimento, Remo. Preciso
realmente estar disposto a seguir o caminho que
nos trilhamos aqui, que é: da obediência, do
silêncio, da oração e da fé!
REMO ― Quero mudar de vida, padrinho. E sinto que
entrando pro mosteiro eu posso tentar me
encontrar, dar um novo rumo pra minha vida.
BASTIÃO ― Está mesmo disposto a entrar na vida
religiosa?
REMO ― Estou!
BASTIÃO ― (sorrindo) Como é bom ouvir isso, meu
menino. Eu sempre rezo muito pra Deus iluminar
seus caminhos e parece que ele ouviu minhas
preces.
REMO ― O senhor vai me aceitar aqui? Pra que eu vire
um monge como o senhor?
BASTIÃO ― Calma, vou conversar com o Abade primeiro.
Bastião continua falando sem áudio. Eles seguem caminhando pelo jardim.
Corta para:
CENA 10. FAVELA MACAQUINHA. BAR. EXT. DIA
Cacau, Frajola e outros homens, acompanhados de algumas gatas, bebem
cerveja, sentados na porta do bar, com o som do carro ligado, funk pesado
toca. Clima animado, descontraído.
CACAU ― Hoje é tudo por minha conta.
Todos comemoram. Marmita vem passando.
CACAU ― Marmita.
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Mano a Mano Capítulo 02 Pág: 9
Marmita para. Cacau levanta e vai até ele.
CACAU ― Preciso trocar uma idéia com você e com o
Remo.
MARMITA ― Algum problema?
CACAU ― Tô com um plano quente, coisa boa, que se der
certo vai render muita grana pra quem participar.
E achei que vocês teriam interesse em entrar pro
esquema.
Marmita fica interessado.
MARMITA ― É claro que temos. Principalmente por
envolver muita grana.
CACAU ― (satisfeito) Sábia que podia contar com vocês.
MARMITA ― Que plano é esse?
CACAU ― Passem lá no meu barraco mais tarde, que
conto tudo o que estou planejando.
MARMITA ― Beleza. Mais tarde eu e o Remos vamos até lá!
Cacau volta pra mesa do bar, enquanto Marmita segue seu caminho.
MARMITA ― (animado) Muita grana! É disso que estou
precisando.
Sonoplastia: som que faz referencia a dinheiro.
Corta para:
CENA 11. QUARTO LUÍSA. INT. DIA
Luísa terminando de se arrumar. Leilane perto.
LEILANE ― Podia pelo menos ter atendidos meus
telefonemas.
LUÍSA ― Eu atendi.
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Mano a Mano Capítulo 02 Pág: 10
LEILANE ― Atendeu quando estava quase chegando aqui
na porta.
LUÍSA ― Não tinha como eu atender, mãe. Estava
pulando de asa delta. Fica complicado falar no
celular lá de cima.
LEILANE ― Não sei como você tem coragem, Luísa. Já fico
desconfortável quando pego um avião, imagina
voando naquele troço.
LUÍSA ― Devia experimentar um dia. Não tem sensação
melhor, mãe. É incrível!
LEILANE ― Tava com o Luca?
LUÍSA ― Tava sim. E chamei ele pro almoço.
LEILANE ― Não entendo a relação de vocês. São
namorados ou não?
LUÍSA ― Além de sermos sócios na agência de turismo,
temos uma amizade colorida.
LEILANE ― (estranha) Como assim?
LUÍSA ― Somos mais do que simples amigos, mas
também não chegamos a ser namorados,
entendeu?
LEILANE ― Não, mas tudo bem. Vamos descer, que os
convidados já devem ter chegado.
Leilane e Luísa saem do quarto.
Corta para:
CENA 12. MANSÃO VARELLA. SALA/PISCINA. INT. EXT.
TARDE
Os convidados chegaram. Garçons circulam. Música suave ao fundo.
Joaquim, Rômulo, Mauro e alguns homens conversam em pé, enquanto
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Mano a Mano Capítulo 02 Pág: 11
tomam um drinque. Francisca, Leilane, Vânia e outras mulheres sentadas
no sofá, rindo, conversando, bem à vontade. Luísa com Lucas. Otávio
beliscando algo na mesa do almoço. Corta para:
CENA 13. MANSÃO VARELLA. ESCRITÓRIO. INT. TARDE
Francisca entra. Mauro, logo atrás, tomando seu uísque, fecha a porta.
FRANCISCA ― O que você quer, Mauro? Daqui a pouco seu
pai sente a minha falta e começa a me procurar.
MAURO ― Não vou demorar, mãe. Só quero te fazer uma
pergunta.
FRANCISCA ― Então faça.
MAURO ― A senhora sabe se o papai fez alguma mudança
no testamento?
Francisca estranha.
FRANCISCA ― (recriminando) Que pergunta é essa, Mauro?
MAURO ― É só uma curiosidade.
FRANCISCA ― Não sei. E mesmo se soubesse não diria. É um
assunto que desrespeito apenas seu pai.
MAURO ― Desculpa, mãe. Mas a senhora está enganado.
Estamos falando do nosso patrimônio. Do banco,
do nosso dinheiro, dessa casa. E qualquer decisão
que o pai tenha tomado naquele testamente, afeta
todos nos.
FRANCISCA ― (decepcionada) Você não muda mesmo,
Mauro. Até num dia de festa, de comemoração,
não deixa de pensar nos seus interesses.
MAURO ― E a senhora não muda com esse seu jeito de
sempre me recriminar. Só te fiz uma simples
pergunta.
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Mano a Mano Capítulo 02 Pág: 12
FRANCISCA ― É porque não quero que você se transforme no
homem que seu pai se transformou, que só pensa
em dinheiro, bens materiais, poder. Mas pelo visto
não tem jeito.
MAURO ― Tenho muito orgulho do pai que tenho, do jeito
que ele é. Ele é o espelho do homem que sou e
que quero ser no futuro.
FRANCISCA ― O que me apavora é esse futuro, o que estar
por vir...
MAURO ― (firme) Não vou deixar que ninguém tome o
que é meu por direito!
FRANCISCA ― Está se referindo ao Rômulo, ao seu irmão?
MAURO ― (furioso) Ele nunca será meu irmão! Sempre
vou vê-lo como um adotado, enjeitado pela
própria mãe, que teve a infeliz idéia de abandoná-
lo aqui na porta de casa, quando devia ter lhe
jogado no rio.
Francisca dá um tapa no rosto de Mauro. Momento.
FRANCISCA ― (tom) Cala a sua boca, Mauro.
Rômulo abre a porta. Percebe o clima tenso entre eles. Mauro e Francisca
disfarçam.
RÔMULO ― O pai está te procurando, mãe.
FRANCISCA ― Já vou.
RÔMULO ― Está tudo bem por aqui?
MAURO ― (impaciente) Saí, Rômulo. Já estamos indo.
Rômulo saí, fechando a porta. Francisca aproxima-se bem do rosto de
Mauro e fala olhando no fundo dos seus olhos.
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Mano a Mano Capítulo 02 Pág: 13
FRANCISCA ― (ríspida) Escuta bem o que vou te dizer,
Mauro: nunca mais repita tudo o que você disse.
O Rômulo é seu irmão e não será você, com seu
egocentrismo, quem vai mudar isso.
Francisca encara Mauro, antes de sair. Mauro joga o copo de uísque na
parede, extravasando sua fúria, sua raiva.
MAURO ― (esbraveja) Nunca vou aceitar esse adotado
como meu irmão. Nunca!
Corta para:
CENA 14. MANSÃO VARELLA. SALA. INT. TARDE
Francisca acaba de sair da sala. Respira fundo, se recompondo. Rômulo
aproxima-se.
RÔMULO ― Está tudo bem, mãe?
Francisca lança um sorriso frágil.
FRANCISCA ― Está sim, filho. Não se preocupa.
RÔMULO ― A senhora sabe que pode sempre contar
comigo, não é?
FRANCISCA ― Sei sim.
RÔMULO ― Então tá bom.
Francisca abraça e dá um beijo no rosto de Rômulo.
FRANCISCA ― Te amo muito, Rômulo. Nunca se esqueça
disso.
Mauro saí da sala, com a cara fechada, de poucos amigos. Rômulo percebe.
FRANCISCA ― Vamos almoçar? Estou morta de fome.
RÔMULO ― Vamos!
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Mano a Mano Capítulo 02 Pág: 14
Francisca e Rômulo caminham até a mesa do almoço, onde se servem.
Passam pelos convidados, que já estão almoçando.
Corta para:
CENA 15. MANSÃO VARELLA. PISCINA. EXT. TARDE
Mauro, ainda muito agitado pela discussão com Francisca, acaba de pegar
uma bebida que o garçom serve. Leilane aproxima-se.
LEILANE ― Que foi? Brigou com sua mãe? Vi vocês dois
entrando no escritório.
MAURO ― (impaciente) Não é nada, Leilane. Me deixa,
tá. Antes que acabe sobrando pra você.
LEILANE ― Vou fazer seu prato. Esse seu nervosismo deve
ser fome!
Leilane afasta-se. Mauro continua ali, tentando se acalmar.
Corta para:
CENA 16. SHOPPING. CORREDOR. INT. TARDE
Rafael e Felícia caminham de mãos dadas conversando. Felícia para em
algumas vitrines, comenta algo com Rafael, que saí lhe puxando pra
continuarem andando, até que chegam à frente da loja de Pérola e entram.
Corta rápido para:
CENA 17. SHOPPING. LOJA PÉROLA. INT. TARDE
Pérola dá uma ordem pra uma de suas funcionárias, quando vê Rafael e
Felícia chegando. Vai recebê-los na porta, com um grande sorriso.
FELÍCIA ― Oi, mamãe.
PÉROLA ― Que visita agradável: minha filha e meu genro.
RAFAEL ― Como vai, Pérola?
Pérola cumprimenta os dois.
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Mano a Mano Capítulo 02 Pág: 15
PÉROLA ― É tão lindo ver vocês juntos. Casal bonito igual
vocês não deve ter outro nessa cidade.
FELÍCIA ― De beleza eu não sei, mas de felicidade eu
tenho certeza que não tem outro casal mais feliz e
unido do que nos dois, não é, meu amor?!
Felícia dá um beijo em Rafael, que sorri sem graça.
PÉROLA ― Vieram dar uma circulada por aqui?
FELÍCIA ― Viemos almoçar aqui no shopping e
resolvemos te fazer uma visitinha.
RAFAEL ― Não vamos demorar. Não queremos atrapalhar
seu trabalho.
PÉROLA ― Imagina, Rafael. Vocês não incomodam. Você
sabe que é bem vindo aqui, na minha casa... É o
noivo da minha filha.
FELÍCIA ― Logo, logo, serei uma Matos.
PÉROLA ― (completa) Nora de um dos homens mais ricos
desse país.
RAFAEL ― (pra Felícia) Vamos?
PÉROLA ― Mas já? Vamos tomar um cafezinho na minha
sala. É tão raro você vir aqui, Rafael.
Felícia vira-se pra Rafael.
FELÍCIA ― Estava pensando que podíamos pegar um
cineminha, aproveitando que estamos aqui no
shopping.
PÉROLA ― Isso. Aproveitem o sábado. E enquanto o
cinema não abre, tomamos nosso cafezinhos e
conversamos sobre o casamento de vocês, temos
que passar a pensar nos preparativos.
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Mano a Mano Capítulo 02 Pág: 16
FELÍCIA ― Mas primeiro temos que marcar a data. Estava
justamente falando disso com você, não é, Rafael?
RAFAEL ― Não gosto de ser pressionado, Felícia. Já te
disse isso.
Clima. Felícia e Pérola se entreolham.
PÉROLA ― Então, vamos?
Rafael concorda e os três seguem pra sala de Pérola.
Corta para:
CENA 18. CASA CARLOS. ATELIÊ. INT. TARDE
Carlos está sentado, diante da pintura que fez da sua falecida esposa.
Admira, emocionado, saudoso. Fecha os olhos. Sonoplastia: som de um
carro freando e capotando. Carlos abre os olhos já marejados. Mariana
aproxima-se.
MARIANA ― É tão linda essa pintura que você fez da
mamãe.
CARLOS ― Sinto tanta falta da sua mãe, filha. Não consigo
deixar de me culpar pelo que aconteceu.
MARIANA ― Pare de ficar remoendo isso, pai.
CARLOS ― Fui eu o responsável pelo acidente que matou
sua mãe e que te deixou assim, Mariana.
MARIANA ― Não fica se torturando, se punindo. Foi um
acidente.
CARLOS ― Sinto que nunca mais vou ter inspiração pra
pintar mais nenhum quadro.
MARIANA ― É claro que vai sim, pai.
Mariana abraça Carlos.
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Mano a Mano Capítulo 02 Pág: 17
MARIANA ― Estou aqui do seu lado, te dando força e apoio.
E tenho certeza, que onde quer que minha mãe
esteja, ela está olhando por nós dois e não deve
estar gostando nada, nada, de te ver assim.
CARLOS ― Pra mim será um luto eterno.
MARIANA ― Pinte em homenagem a ela, a nossa vida, seu
Carlos. A vida continua e suas pinturas são tão
lindas, vivas!
Carlos sorri, orgulhoso.
CARLOS ― Você é meu orgulho. Uma inspiração, minha
filha. Mesmo tendo fica paraplégica, não se
deixou abater e perder essa vontade de viver que
está me faltando.
Carlos dá um beijo em Mariana.
Corta para:
CENA 19. MANSÃO VARELLA. PISCINA. EXT. TARDE
Lucas e Luísa estão conversando, perto da piscina.
LUÍSA ― Minha mãe acha que somos namorados.
LUCAS ― Bem que podíamos ser mesmos.
LUÍSA ― E estragar nossa amizade? Não mesmo.
Lucas fica decepcionado.
LUCAS ― Seu pai e sua mãe deve ter achar que sou má
influência pra você, te levando pra praticar
esportes radicais.
LUÍSA ― Até parece que preciso de alguém pra fazer
alguma coisa. Se eu não fosse com você, iria com
outro e até sozinha. Não tenho medo.
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Mano a Mano Capítulo 02 Pág: 18
LUCAS ― Esse seu jeito que me faz pirar em você, Luísa.
LUÍSA ― Qualquer dia quero levar minha mãe pra pular
de asa delta.
LUCAS ― Ela tem vontade?
LUÍSA ― Sinto que é mais uma curiosidade. Mas
coragem sei que ela tem, pois pra casar com meu
pai foi preciso muita coragem.
LUCAS ― Você e seu pai brigaram?
LUÍSA ― Hoje não. Ainda. Mas é quase certo.
Eles riem.
Corta para:
CENA 20. FAVELA MACAQUINHA. RUA. EXT. TARDE
Tadeu, de moto, segue pela rua, quando encontra com Jeferson, que
também está em sua moto. Eles param.
JEFERSON ― Viu minha mãe por aí, Tadeu?
TADEU ― Vi não. Acabei de chegar. Tava lá na praia
vendendo meus sacolés.
JEFERSON ― E conseguiu vender tudo?
TADEU ― Isopor vazio. Graças a Deus. Não vejo à hora
de pagar minha moto.
JEFERSON ― Ralando na praia e na pizzaria, logo tu quita
sua moto e até quem sabe compra uma melhor.
TADEU ― A tia deve tá lá com meu avô. Já tá indo pro
pizzaria?
JEFERSON ― Daqui a pouco eu vou.
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Mano a Mano Capítulo 02 Pág: 19
TADEU ― Só vou tomar um banho, comer alguma coisa e
encontro com tu lá.
JEFERSON ― Demoro!
Jeferson e Tadeu buzinam um pro outro e vão embora.
Corta para:
CENA 21. MERCADINHO ARMANDO. RUA. EXT. TARDE
Flaviana entrega uma vasilha enrolado num pano de prato pra Armando.
FLAVIANA ― Fiz essa broa pra você e pros meninos.
ARMANDO ― Broa de fubá?
FLAVIANA ― Com muito queijo, como sei que você gosta.
ARMANDO ― Obrigada, minha irmã.
FLAVIANA ― Hoje é aniversário da Velma.
ARMANDO ― Mais um aniversário que ela passa atrás das
grades. Não falei nem com o Tadeu e nem com a
Bebel, mas mandei uma carta pra ela, alguns dias
atrás.
FLAVIANA ― Fez bem.
ARMANDO ― Velma aprontou muito, mas ainda é minha
filha, mãe dos meus netos.
Tadeu chega e para sua moto.
TADEU ― Bênção, tia.
FLAVIANA ― Deus te abençoe, Tadeu.
TADEU ― O Jeferson está atrás da senhora.
FLAVIANA ― Deixa eu ir ver o que ele quer. Só vim mesmo
entregar a broa que eu fiz.
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Mano a Mano Capítulo 02 Pág: 20
TADEU ― Broa?
FLAVIANA ― Modéstia a parte, mas está uma delícia.
ARMANDO ― Vai com Deus, minha irmã.
Flaviana vai embora.
ARMANDO ― E como foi lá na praia?
TADEU ― Vendi tudo.
ARMANDO ― Aprendeu com seu vô aqui a ser um bom
vendedor.
TADEU ― E não é?!
ARMANDO ― Vou passar um café novo pra gente comer com
essa broa.
TADEU ― Enquanto isso eu tomo um banho e me arruma
pro ir ralar na pizzaria.
Armando fala com Figura, que está dentro da loja arrumando umas
mercadorias.
ARMANDO ― Cuida de tudo, Genilson. Daqui a pouco eu
volto.
FIGURA ― Quero broa também.
ARMANDO ― Eu guardo pra você!
Armando e Tadeu vão pra casa.
Corta para:
CENA 22. PRESÍDIO FEMININO. CELA VELMA. INT. TARDE
Velma está sentada em sua cama, lendo a carta que recebeu de Armando,
emocionada. Solange, uma das presas, aproxima-se de Velma.
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Mano a Mano Capítulo 02 Pág: 21
SOLANGE ― Já leu e releu essa carta não sei quantas vezes,
Velma.
VELMA ― Já vai pra mais de dez anos que não passo meu
aniversário, nem natal, dias das mães, como meus
filhos e com meu pai.
SOLANGE ― Dói, né?
VELMA ― Muito.
SOLANGE ― Também sou mãe e sei o que você está
falando.
VELMA ― Paguei um preço muito alto por tudo o que eu
fiz: perdi o amor dos meus filhos. E dor igual essa
pra uma mãe só a dor da morte!
SOLANGE ― Sei que não é fácil, mas erga sua cabeça, não
deixe se abater. Logo você vai estar fora daqui e
poderá tentar reconquistar o amor dos seus filhos.
VELMA ― É tudo o que mais quero.
SOLANGE ― E eu nem te dei parabéns pelo seu aniversário.
As duas se abraçam.
Corta para:
CENA 23. MANSÃO. JARDIM. EXT. TARDE
Foto de família: Francisca e Joaquim no meio; ao lado de Joaquim está
Mauro e Leilane; ao lado de Francisca está Rômulo e Vânia; além de Luísa
e Otávio. O fotógrafo tira a foto. Congela. Corte para Joaquim fazendo um
discurso. Todos os familiares e convidados com atenção voltada pra ele.
JOAQUIM ― Quero agradecer a presença de todos vocês,
que vieram comemorar comigo, com a Francisca e
com todos meus familiares, mais um ano de um
casamento sólido, feliz e cheio de amor. Que essa
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Mano a Mano Capítulo 02 Pág: 22
data se repita por mais alguns anos. E que minha
relação com a Francisca seja exemplo pra esses
jovens, que se juntam e se separam com uma
rapidez, esquecendo os verdadeiros sentimentos
que unem um casal.../
Joaquim sente uma forte dor no peito, que o faz interromper seu discurso.
Perde as forças e o equilíbrio. Todos se assustam e vão amparar Joaquim,
que caí desacordado.
Corta para:
CENA 24. BARRACO REMO E MARMITA. INT. TARDE
Marmita conta o dinheiro da venda dos objetos que furtou junto com Remo,
deitado no sofá. Remo entra.
MARMITA ― Onde você estava, Remo? Saiu sem dizer
nada... Já tava achando que os homens tinham te
pegado.
REMO ― Fui dar um jeito na minha vida.
MARMITA ― Como assim?
REMO ― (decidido) Vou largar essa vida de crime.
Resolvi que vou virar um monge budista.
Da expressão decidida de Remo e da surpresa de Marmita, corta para:
FIM DO CAPÍTULO
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