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Nulidade no Processo Penal
Todo processo é feito e desenvolvido através de um procedimento, e este é
uma serie de atos concatenados direcionados a um fim, este procedimento é
previamente estabelecido. Este procedimento tem regras e momentos a serem
seguidos, e atos a serem praticados.
Toda vez que você tem uma irregularidade, ou a falta da pratica de um desses
atos, você pode falar na existência da nulidade.
Existe certa divergência em se definir a natureza jurídica da nulidade, se seria:
mero vício do procedimento ou se trataria de uma sanção.
● Diferença de um para o outro:
→ Vício – Você simplesmente diz que aquele procedimento está irregular, está
viciado.
→ Sanção – Além de você dizer que aquele procedimento está irregular ou
está viciado, como forma de punição anula-se o ato, volta-se de onde se
praticou o ato supostamente anulado.
● Sistemas que regulam a nulidade:
→ Sistema Legal Formal – Define que será nulo aquilo que a lei diz que é. Se
for observado no Código de Processo Penal existem determinadas situações
que expressamente são definidas como nulidade. Então para o Sistema Legal/Formal é nulo o que a Lei define. Aquilo que a lei define como nulo, será
nulo. Este Sistema Legal/Formal está ligado ao Código de Processo Penal, se
você adotar o Sistema Legal você vai considerar o rol taxativo. Só vai ser nulo aquilo que estiver descrito na Lei, nada mais além. Este não é o Sistema adotado por nós, pelo Código de Processo Penal.
→ Sistema Instrumental – Este Sistema é adotado pelo Código de Processo Penal. Também conhecido como instrumentalidade das formas,
ou seja, o ato pode até ser praticado de forma irregular, porém se alcançar o
objetivo sem gerar prejuízo, o ato vai prevalecer válido, mesmo sendo nulo.
Aqui os fins justificam os meios, ou seja, você pode chegar ao ponto e ao
absurdo, de ter um ato praticado de forma ilícita, porém se alcançar o objetivo sem gerar prejuízo, ele vai ser válido.
● Desse Sistema surge o chamado: Princípio do Prejuízo. No Princípio do
Prejuízo, mesmo o ato sendo viciado, mesmo o ato sendo eivado de uma
nulidade, é obrigatória a demonstração de prejuízo.
O artigo 400 do CPP fala da ordem que a audiência de Instrução e Julgamento
deve seguir:
→ Oitiva da Vítima
→ Testemunhas: ● Acusação
● Defesa
→ Peritos
→ Acareações e reconhecimento de coisas e pessoas
→ Interrogatório do acusado
Tem uma ordem descrita em Lei, se for invertida essa ordem, por ex: For
ouvida uma testemunha de acusação antes da oitiva da vítima, e se ouvir uma
testemunha de defesa antes da testemunha de acusação, este ato é viciado,
porém por conta do Sistema da Instrumentalidade das Formas para você
declarar esse ato, no caso, essa audiência nula, você tem que demonstrar o
prejuízo.
Exemplo: Suponhamos que houve essa alteração na ordem seqüencial da AIJ,
na oitiva das partes envolvidas, porém o indivíduo foi absolvido, não é
necessário anular essa audiência. Se essa inversão não causa nenhum
prejuízo para o Princípio da Instrumentalidade não tem porque anular o ato,
retomar o processo voltar a fazer nova AIJ e dar seguimento, é preciso
demonstrar o Prejuízo.
Contemporaneamente se tem sustentado que a nulidade independentemente
da classificação trazida pela doutrina (Quanto às espécies), nulo é nulo, não
tem porque você ficar classificando as espécies de nulidade no Processo
Penal, no Processo Penal nós tratamos de bens indisponíveis, quando nos
falamos de bens indisponíveis pouco importa se teve alta intensidade ou vício,
ou baixa intensidade, nulo é nulo, ponto. E por esse ponto de vista se tornaria
desnecessária a classificação quanto às espécies de nulidade.
No Processo Penal se trata de bens indisponíveis, e no Processo Civil de
bens disponíveis. São institutos diferentes e categorias distintas.
● Espécies de Nulidade
A Doutrina de forma majoritária trás a seguinte classificação:
→ Inexistência - É o fato do ato sequer ter sido praticado. Ex: Mandado de
prisão sem assinatura do Juiz falta autenticidade, o ato não existe. Existem
certas situações em que o indivíduo responde ao Processo Penal, qual é a
imputação?
Resposta: Não tem denúncia, não tem queixa crime, mas tem uma ação penal
correndo, pois é, existe um ato inexistente, falta à prática de um ato obrigatório.
O indivíduo foi processado e supostamente até condenado, sem sequer ter
sido citado mesmo que por edital ou por hora certa. (ATO INEXISTENTE). O
ato inexistente, ele não é válido, não é eficaz e não existe, não tem
aplicabilidade.
→ Nulidade Absoluta – A nulidade absoluta, o ato existe, o ato foi praticado,
porém o ato não é válido, não tem eficácia. Ex: Prova obtida por meio ilícito. A
prova existe, foi produzida, nas não é válida, não tem eficácia, isto é uma
nulidade absoluta.
Então tanto o ato inexistente como o ato nulo (nulidade absoluta), para a
doutrina que realiza essa classificação, jamais terá aplicabilidade, jamais terá
validade.
Da mesma forma que precisamos estudar a Inexistência conjugada com a
Nulidade Absoluta, embora sejam distintas. A Nulidade Relativa deve ser
estudada e conjugada com a Anulabilidade.
→ Nulidade Relativa - Na nulidade relativa o ato existe, porém a doutrina diz
que existe uma condição suspensiva, ou seja, o ato existe, não é válido, porém
precisa ser convalidado ou sanado para a partir de então surtir efeito.
Observe que a nulidade relativa viola norma de cunho infraconstitucional, o ato
também existe igual na nulidade absoluta, porém não tem validade, não tem
aplicabilidade, a partir do momento que ele é convalidado ou sanado, ele passa a valer.
→ Anulabilidade - Também viola regra de cunho infraconstitucional, o ato
existe, é válido e tem aplicabilidade, porém ele está condicionado a uma
condição resolutiva. Ele tem validade até que seja decretado nulo, até que
seja anulado.
→ Irregularidade – Mera violação procedimental sem relevância são erros
materiais.Erros que não chegam a afetar a existência do ato. Ex: Você tem lá
dois réus, e na denúncia fala corréu.
Como esses conceitos são transportados do Processo Civil para o Processo Penal, junto com isso você trás as seguintes afirmações.
● Nulidade Absoluta - Viola regra de ordem Constitucional, logo pode ser
declarada a qualquer momento, logo pode ser argüida por qualquer uma das
partes, inclusive declarada de ofício pelo Juiz.
● Nulidade Relativa e Anulabilidade - Viola regra de cunho
Infraconstitucional, tem um tempo determinado para ser argüido, ou seja, após
a prática do ato irregular ou nulo relativamente o próximo momento de
manifestação da parte obrigatoriamente ela terá que se manifestar se não
precluirá o direito de alegar. Logo a Nulidade Relativa e a Anulabilidade por
não se tratar de violação de ordem pública, somente podem ser argüidas pelas
partes do Processo, e especificamente pela parte prejudicada.
● Recurso no Processo Penal
Tema: Classificação e Natureza Jurídica dos Recursos
No que diz respeito à temática atinente aos recursos dois são os princípios
fundamentais que se defrontam e devem ser conciliados, são eles:
Princípio da Justiça – Este princípio leva a pensar que quanto mais se
examinar uma decisão, mais próxima será a distribuição da justiça que se
pretende alcançar.
Princípio da Certeza Jurídica - Impõe a brevidade do processo. Exige que a
decisão seja proferida de uma vez por todas sem procrastinações inúteis, no
menor tempo possível. Fator conhecido que justiça tardia corresponde à
ausência de justiça.
Como possibilitar a coexistência desses dois princípios no ordenamento
jurídico, como possibilitar a revisão das decisões judiciais e a necessidade da
segurança jurídica? Pois bem. Quando se fala em recursos se fala em
irresignação, e quando se fala em recurso em processo penal fala-se em
irresignação em relação a não atuação devida do poder punitivo do Estado pelo
não reconhecimento pelo próprio Estado do Poder Judiciário e de outro lado
pela irresignação do acusado quando tem sobre o seu ponto de vista
injustamente violado o seu direito fundamental, que é o direito de liberdade.
A preocupação dos modernos sistemas processuais tem sido de conciliar
esses dois princípios a fim de encontrar um ponto de equilíbrio garantindo o
duplo grau de jurisdição, e é justamente sobre o duplo grau de jurisdição que
iremos analisar de acordo com o descrito na Constituição Federal.
Prevê o artigo 5º, inciso LV da Constituição Federal que a todos os litigantes
em processo administrativo ou judicial, o direito ao contraditório e a ampla
defesa bem como os meios e recursos a ela inerentes, estão garantidos.
Ocorre que a previsão é dos instrumentos inerentes ao exercício da ampla
defesa e não propriamente ao referido princípio, o chamado princípio do duplo grau de jurisdição. Uma vez que se fala em duplo grau de jurisdição e
se sustenta a previsão Constitucional da ampla defesa poder-se-ia sustentar
que o princípio do duplo grau de jurisdição, é um princípio com fundamento
Constitucional.
A Convenção Americana dos Direitos Humanos, de 1969, o chamado Pacto de
San José da Costa Rica, ratificada pelo Estado Brasileiro em 1992, a título de
curiosidade, o Decreto é o 678/92 prevê o direito ao duplo grau de Jurisdição
em seu artigo 8º, inciso II, alínea h. O referido dispositivo legal tem o seguinte
texto: Toda pessoa acusada de um delito tem direito a que se presuma a sua
inocência, enquanto não for legalmente comprovada a sua culpa, durante o
processo toda pessoa tem direito em plena igualdade, as seguintes garantias
mínimas: Após elencar uma serie de garantias, a Convenção InterAmericana
trás na sua alínea h: O direito de recorrer da sentença ou Tribunal Superior.
Vejamos bem, nós temos uma Convenção Internacional que trás como garantia
fundamental do cidadão o direito á revisão de ato judicial e principalmente á
revisão de ato judicial que importe em constrição, legítima é claro, mas
constrição do direito fundamental de liberdade. O Estado Brasileiro como pode
se perceber é signatário da Convenção InterAmericana, do chamado Pacto de
San José da Costa Rica, logo pode se afirma que o chamado Pacto de San
José da Costa Rica compõem o ordenamento jurídico brasileiro. Resta a
discussão quanto à hierarquia legislativa desta Convenção, tem ela o status de
Direito Constitucional, devendo obviamente ser interpretada conforme a
Constituição, no seu mesmo patamar ou integra a Convenção InterAmericana
de Direitos Humanos parte da legislação Ordinária, subordinando – se a
Constituição Federal. O STF já teve a oportunidade de se debruçar a respeito
do assunto delimitando a interpretação acerca da hierarquia normativa das
convenções internacionais e também do Pacto de San José da Costa Rica,
isso quando, decidindo e julgando recurso em que se sustentava a
possibilidade de um duplo grau de jurisdição constitucionalmente assegurado,
o que afastava e implicava na nulidade absoluta de julgamentos nas chamadas
ações penais originárias perante o STF. O STF já trouxe a sua interpretação a
questão da validade da Convenção InterAmericana de Direitos Humanos no
ordenamento jurídico brasileiro e principalmente em relação a sua posição
discutindo se integra ou não parte da Legislação Ordinária ou pode ser
encarada como norma de caráter Constitucional portanto no mesmo patamar
da Constituição Federal, os dispositivos da Convenção InterAmericana colocam
– se nos mesmos níveis das demais normas que integram o ordenamento
jurídico e isso decorre da Interpretação da própria Constituição Federal em seu
artigo 5º, § 2º que tem a seguinte redação: Os direitos e garantias expressos
nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios
por ela adotados ou dos Tratados Internacionais em que a República
Federativa do Brasil seja parte. O Supremo Tribunal Federal no julgamento do
recurso em Habeas Corpus nº 79.785 – RJ já se debruçou acerca do tema
quando se sustentava a nulidade de julgamento perante o STF em ação penal
originária ante a violação do chamado duplo grau de jurisdição, e assim decidiu
o STF: Para corresponder a eficácia instrumental que lhe costuma ser
atribuída, o duplo grau de jurisdição à de ser concebido á moda clássica com
seus dois caracteres específicos: a possibilidade de um reexame integral da sentença de primeiro grau e que esse reexame seja confiado a órgão diverso do que proferiu e de hierarquia superior na ordem hierárquica,
com esse sentido próprio sem concessões que o desnaturem, não é possível
sobre as sucessivas Constituições da República erigir o duplo grau em
princípio e garantia Constitucional, tantas são as previsões na própria lei
fundamental do julgamento de única instância ordinária já na área cível, já
particularmente na área penal. A situação não se alterou com a incorporação
ao direito brasileiro da Convenção Americana de Direitos Humanos, Pacto de
San José da Costa Rica, continua a interpretação do relator na qual
efetivamente o artigo 8º, inciso II, alínea h, consagrou como garantia ao menos
na esfera processual penal o duplo grau de jurisdição em sua acepção mais
própria qual seja, o direito de toda pessoa, acusada de delito, durante o
processo, de recorrer da sentença para Juiz ou Tribunal, e conclui o relator o
eminente Ministro Sepúlveda Pertence: prevalência da Constituição no Direito
Brasileiro, sobre quaisquer Convenções Internacionais, incluídas as de
proteção aos direitos humanos que impede, no caso, a pretendida aplicação da
norma do Pacto de San José da Costa Rica, o princípio do duplo grau não
significa apenas a garantia de revisão da decisão de primeiro grau também
compreende a proibição para o Tribunal de com seu julgamento impedir o
julgamento ou pronunciamento do Juiz de primeiro grau (Garantia do Exame
em Primeiro Grau).
O STF sustentou que a existência de competência de natureza Constitucional
em última instância como, por exemplo, se dá nas ações penais originárias,
não viola o princípio do duplo grau de jurisdição, porque o princípio do duplo
grau de jurisdição encontra previsão em Convenção Internacional e em
interpretação do Supremo Tribunal Federal é que apesar de obviamente haver
interpretações doutrinárias diferenciadas, as Convenções Internacionais se
colocam no patamar de legislação ordinária devendo, portanto se subordinar a
Constituição Federal como toda e qualquer lei. Portanto a existência de
competência originária sem a possibilidade de recurso de decisão não violaria
a Constituição Federal, essa é a interpretação do Supremo Tribunal Federal, e
vai além o Ministro Pertence quando trata das questões relativas às
competências originárias, é a própria Constituição Federal ao propor e
estabelecer as competências originárias dos Tribunais Superiores que também
deverá prever a possibilidade ou não de recurso, silente a Constituição acerca
de recursos nas ações originárias de competência dos Tribunais Superiores
não há recurso e mesmo assim não haverá a violação ao princípio referido,
chamado princípio do duplo grau de jurisdição.
Vimos também que apesar do duplo grau de jurisdição ser uma medida e uma
garantia de todo e qualquer cidadão, brasileiro inclusive, uma vez que o Estado
Brasileiro é signatário do Pacto de San José da Costa Rica, além da sua
dimensão de significar a possibilidade de revisão, também significa que se
deve garantir a decisão pelo Juízo Natural, ou seja, o órgão revisor ele não
pode se colocar no lugar do órgão natural para o julgamento da causa, sob
pena da chamada “supressão da instância” há uma garantia do exame em
primeiro grau. Dando continuidade a essa interpretação o próprio Supremo
Tribunal Federal sumulou o seu entendimento no enunciado nº 453 que tem o
seguinte teor: Não se aplicam à segunda instância o artigo 384 do CPP que
possibilitam dar nova definição jurídica ao fato delituoso em virtude de
circunstância elementar não contida explicita ou implicitamente na denúncia ou
queixa. Quando se fala no artigo 384 do CPP fala-se na chamada Mutatio libelli, uma vez que é oferecida a ação penal imputando a alguém a prática de
determinado fato descrito em Lei como crime, esse indivíduo deve se defender
dos argumentos e fatos constantes da denúncia, da ação penal, pois bem,
durante a instrução processual após a oitiva das testemunhas e mesmo após o
interrogatório do acusado, tomando o Juízo o conhecimento de fatos novos que
possam vir a prejudicar a situação do acusado por constituírem novos tipos
penais, deve abrir vistas ao Ministério Público, para que o M.P. adite a
denúncia dessa forma garantindo a dialeticidade e a paridade de armas
conferindo-se a partir desse aditamento vistas a defesa para que possa ser
garantido o princípio do contraditório e da ampla defesa. A Mutatio Libelli é
perfeitamente possível em primeiro grau, no entanto ela é vedada em segundo
grau, o que significa dizer que o Tribunal em exame de recurso de decisão,
seja ela condenatória ou absolutória, mas ordinariamente condenatória, não
poderá considerar fatos que não constituíram fundamento para a sentença
condenatória do Juíz de primeiro grau, se por ventura o órgão revisor constata
que um determinado fato trazido aos autos como meio de prova deve ser
considerado, o caminho é a anulação do julgamento inicial, ou seja, do
julgamento de primeiro grau, e o encaminhamento desse julgamento para o
Juízo Natural, ou seja, o encaminhamento do processo, para que esse
processo, a situação do cidadão cuja nova prova se pretende se examinar, seja
examinada pelo Juízo Natural da causa, que é o Juiz de Direito, o Juiz de
Primeiro Grau.
O STF no julgamento do Habeas Corpus 112.151, de relatoria do Ministro Luiz
Fux já se manifestou acerca da impossibilidade da Mutatio Libelli em nível
recursal. Encerrada a análise do enunciado 453 do STF, passemos a analisar
um princípio decorrente do Princípio do Duplo Grau de Jurisdição, que é o
Princípio da Colegialidade. Pode até ocorrer que os órgãos competentes para
conhecer e julgar os recursos, não se enquadre na denominada jurisdição
Superior, a chamada competência de derrogação, ordinariamente é o que
acontece quando se recorre de uma decisão, seja ela absolutória ou
condenatória em processo penal, se busca a revisão dessa decisão por um
órgão, um órgão que pelo reexame da questão poderá chegar à justiça
pretendida na visão de quem recorre obviamente, e não necessariamente essa
revisão deverá ser realizada por órgãos compostos por integrantes de instância
Superior do Poder Judiciário, e esse recurso pode ser julgado também por
Turmas de Juízes de Primeiro Grau. Apesar de parecer estranho, cuida-se de
regulamentação constante da própria Lei nº 9.099/95 que tem a sua
competência Constitucionalmente assegurada.
A Lei nº 9.099/1995 que é a Lei dos Juizados Especiais Criminais, cuja
competência é para o julgamento dos crimes de menor potencial ofensivo, ou
seja, aqueles cuja pena máxima em abstrato não exceda há dois anos. Há a
possibilidade também que essa revisão seja realizada por órgão revisional que
tenha em sua composição Juízes convocados, Juízes convocados de primeiro
grau que atuarão ao lado de Desembargadores integrantes do Tribunal de
Justiça Estadual ou do Tribunal Regional Federal, e mesmo assim não há que
se sustentar que há uma violação ao Princípio do Duplo Grau de Jurisdição ou mesmo ao Princípio da Colegialidade.
O STF no julgamento do HC nº 112.151 de relatoria do Ministro Luiz Fux já
tratou a respeito do assunto ora comentado, a Colegialidade. O julgado diz:
Que o julgamento pelo colegiado integrado em sua maioria por Magistrados de
primeiro grau convocados, não viola o princípio do Juiz Natural, nem o Duplo
Grau de Jurisdição.
● Natureza Jurídica dos Recursos
O Recurso é um remédio contra decisões judiciais, essas, no entanto podem
ser atacadas pelas chamadas ações impugnativas, as chamadas ações
autônomas de impugnação.
● Diferença entre Recursos x Ações autônomas de Impugnação
As ações autônomas de impugnação das quais podemos citar como
exemplo: A revisão criminal, o Habeas Corpus ou mesmo o mandado de
segurança contra decisão judicial, ordinariamente se dirigem contra decisões
passadas em julgado, ou seja, já houve o trânsito em julgado, a preclusão
que impedi a revisão da decisão pelo órgão de instância Superior. Já os
recursos são exercidos antes do trânsito em julgado, até porque com ele se
busca evitar esse trânsito em julgado, a fim de se possibilitar a rediscussão. Ao
se falar em recurso está se automaticamente a tratar da dilação no tempo do trânsito em julgado, da formação da coisa julgada material que é a
circunstância que impede a alteração daquela decisão trazendo a certeza
jurídica.
Em determinados casos as ações autônomas também podem ser ajuizadas
antes do trânsito em julgado, e isso se dá como no caso do Habeas Corpus e
do Mandado de Segurança com trato jurisdicional havendo sincero e evidente
perigo trazido ao direito fundamental de liberdade do cidadão, aliás, é esse o
âmbito de atuação do habeas corpus, rito constitucional de tradição secular,
que justamente visa a coibir qualquer tipo de arbitrariedade decorrente do Estado em relação ao direito fundamental do cidadão.
O traço mais marcante da distinção, no entanto, entre as ações impugnativas e os recursos se apresenta não na instauração da nova relação processual,
com o recurso opera-se o mero prosseguimento da relação processual já
existente, enquanto nas ações impugnativas configura-se sempre o exercício
de uma nova ação, dando vida a uma diversa relação jurídica processual.
● Características dos Recursos
→ Os recursos têm como terreno próprio serem anteriores a coisa julgada, já
esclarecemos que justamente o que se pretende é postergar a formação da
coisa julgada ao se recorrer de uma decisão.
→ Não ensejam a instauração de nova relação processual, ao contrário das
ações impugnativas, o recurso é uma seqüência natural do processo que se
inicia com o oferecimento da ação penal, a formação da relação processual
com a citação do acusado, a sentença, e o recurso dessa sentença. A decisão
que julga um determinado recurso na realidade por se tratar de uma sucessão
da sentença de primeiro grau, a substitui.
→ A terceira característica é a chamada Voluntariedade. Ninguém é obrigado
a recorrer de uma decisão, cuida-se de um direito subjetivo, é obvio que
quando se fala em direito de liberdade violado e de sentimento pessoal de
injustiça, é quase que uma necessidade ou uma conseqüência natural da
condenação, o recurso. Pode ser, no entanto que uma pessoa condenada
várias vezes queira obter o trânsito em julgado de uma sentença condenatória
a fim de obter um beneficio com isso, que seria a concessão de benefícios na
execução penal, como: Livramento Condicional, etc. que somente poderia ser
conseguida por meio do trânsito em julgado dessa sentença penal, é uma
questão de discricionariedade, de escolha.
→ Por fim pode-se apontar como derradeira característica do recurso, que se
trata de meio de impugnação da decisão judiciária.
● Conceito de Recurso
O Recurso pode ser definido como: O meio voluntário de impugnação de
decisões, utilizado antes da preclusão e na mesma relação jurídica processual,
apto a propiciar a reforma, a invalidação, o esclarecimento ou a integração da
decisão.
Como vimos a partir da sua conceituação, recurso é meio voluntário, ele não é
obrigatório, é um direito de todo e qualquer cidadão.
Por meio do recurso busca-se a impugnação de decisões, é evitar que a
decisão alcance a eficiência dela própria decorrente, qual seja a execução da
pena fixada, no caso obviamente de recurso do acusado, no caso do Ministério
Público é buscar a aplicação efetiva do poder punitivo do Estado não
reconhecida em sentença penal absolutória.
O Recurso deve ser utilizado antes da preclusão. A preclusão consiste na
realização de ato positivo ou negativo dentro de determinado prazo, ou
subordinado a um determinado requisito que importará na sua não realização
desse ato pela sua verificação, ou seja, pela verificação da preclusão. O
aspecto mais comum da preclusão é a chamada preclusão temporal que
decorre da impossibilidade de exercício de um direito processual pela sua não
utilização no tempo previsto em lei. Então para se recorrer tem que se evitar a
preclusão, porque a preclusão notoriamente se presta a permitir que o
processo caminhe para frente, como é dá própria natureza do processo, e
dessa maneira ao se evitar constantes recursos, pela não obediência dos
limites da utilização desse direito busca-se a certeza jurídica com a coisa
julgada material, ou seja, com a impossibilidade de revisão daquela decisão
judicial.
O recurso se encontra na mesma relação jurídica processual, o recurso é
impugnação a decisão, e ao haver a decisão no próprio recurso, é essa
decisão do recurso que servirá de decisão na relação processual como decisão
única, a decisão recorrida quando alterada, modificada ela é substituída pela
decisão do recurso.
A finalidade que se busca ao se recorrer se resume em quatro possibilidades:
A reforma, a invalidação, o esclarecimento, ou a integração da decisão.
Quando se busca a reforma sustenta-se de ordinário o chamado Error in
Judicando, ou seja, a aplicação errônea do direito para a solução de um
determinado caso em concreto e com isso se busca a alteração dessa decisão,
seja no recurso contra decisão condenatória, seja no recurso contra decisão
absolutória.
Ao se falar em invalidação nós estamos tratando por outro lado do chamado
Error in Procedendo. O Error in Procedendo diz respeito às normas de natureza
procedimental, não obedecidas, que, portanto geraram a nulidade da decisão,
por nulidade do processo, é a chamada Invalidação do Processo, o que
certamente implicará na realização de um novo julgamento.
Falamos também em esclarecimento e integração da decisão. Por meio dos
Embargos de Declaração busca-se o esclarecimento de uma obscuridade de
determinada decisão, uma decisão com um dispositivo que não trás a certeza
necessária acerca da situação jurídica do acusado, ela demanda um
esclarecimento. Por outro lado se ela se omite em relação aos temas tratados
durante a própria relação processual, seja pela acusação, seja pela defesa, há
a possibilidade de integração, ou seja, de complementação dessa decisão,
permitindo-se que o Juiz Natural da causa possa se manifestar acerca do tema
não tratado e que importa em lacuna na decisão judicial. Então é por meio dos
Embargos Declaratórios que se obtêm o esclarecimento ou integração de
eventual decisão judicial.
● Classificação dos Recursos no Processo Penal Brasileiro
Os recursos são classificados a partir de diversos critérios, são eles:
→ A extensão da matéria impugnada – Em relação à extensão da matéria
impugnada, os recursos podem ser classificados em: totais e parciais.
→ Levando-se em consideração os fundamentos os recursos podem ser
classificados em: recursos de fundamentação livre e recursos de fundamentação vinculada.
Citando-se como exemplo dos recursos de fundamentação vinculada: Os
recursos contra as decisões do Tribunal do Júri e também os recursos
extraordinários lato sensu como: O recurso especial e o recurso extraordinário.
→ Podemos também classificar os recursos em recursos ordinários que são
aqueles que buscam a proteção do direito subjetivo do recorrente; ou seja, o
objeto direto que se pretende a tutela do Poder Judiciário, é o direito do
recorrente, e também podemos classificá-los, por outro lado, como os
chamados recursos extraordinários, nestes o objeto específico, imediato é a
proteção do direito objetivo, ou seja, do ordenamento jurídico, da aplicação da
lei no ordenamento jurídico brasileiro, e mediatamente, ou seja, como objeto
indireto o interesse do recorrente deve ser levado em consideração.
Perguntas dos alunos
1- O Órgão Recursal pode aplicar a Mutatio Libelli prevista no artigo 384 do
CPP?
R: A Mutatio Libelli se constitui na possibilidade de complementação da
acusação. Por sua natureza a Mutatio Libelli tem aplicação no Juízo de
Primeiro Grau, o seu procedimento refere-se à possibilidade de
aditamento a denúncia, o aditamento a denúncia consiste em, o
Ministério Público nos casos de ação penal pública incondicionada,
quando oferece a ação penal, atribui a um determinado cidadão, que
ocupa a posição de suspeito ou acusado, uma determinada conduta,
que é abstratamente prevista em tipo penal constante ou do Código
Penal ou da Legislação Extravagante. Pode ser que após a integração
da relação processual, com a apresentação da defesa e oitiva das
testemunhas, e mesmo após o interrogatório do acusado venha se
tomar conhecimento de fato novo, fato novo esse que constitui uma
“elementar”, um elemento essencial de crime que poderá ou imputar a
prática de novo crime aquele cidadão, que deverá também por ele
responder, ou de uma situação qualificada daquele crime pelo qual foi
ele denunciado, em ambas as situações o Juiz não poderá fazer essa
alteração de ofício, ou seja, o Juiz não pode condenar o acusado por um
fato que não é constante da própria ação penal, que delimita o objeto de
analise do Juiz, é necessário que o Juiz então confira a possibilidade ao
Ministério Público que é o órgão natural para o ajuizamento da ação
penal pública incondicionada de complementar essa acusação. Essa é a
primeira medida a ser tomada.
A segunda medida constitui na possibilidade de que a defesa em
obediência ao Princípio do Contraditório possa falar ao respeito daquela
nova situação de fato, afastando-a, ou sustentando qualquer tese que
seja benéfica ao acusado, de qualquer maneira é como se reabrisse um
novo trânsito processual, um novo procedimento, agora para aquele fato
que compõe a complementação da ação penal, e só a partir daí o Juiz
poderá então decidir acerca daquele novo fato que foi trazido ao
conhecimento na instrução processual.
Ao se falar em Mutatio Libelli, constante ela no artigo 384 do CPP, não
se pode tratar desse instituto no procedimento recursal porque se
entende que a aplicação do instituto da Mutatio Libelli em nível recursal
importaria em supressão de instância.
Supressão de Instância- A supressão de instância importa na retirada do
órgão natural competente para dizer o direito no caso concreto, ou seja,
a jurisdição e sua delimitação pelo Juízo Natural, pelo órgão revisor, ao
se verificar a não atualização daquela situação fática, ou a não
observância daquela situação fática pelo Juiz de Direito, a função do
Órgão Revisor é permitir que o Juízo de Direito Natural possa sobre ela
tecer comentários, sobre ela deitar sua atenção, e dessa maneira ao se
impedir a aplicação do artigo 384 do CPP em nível recursal, se busca a
invalidação daquela decisão, dessa maneira determinando que o órgão
natural efetivamente exerça a jurisdição.
2 – O que diferencia o Recurso das chamadas Ações impugnativas?
R: Nós vimos que o Recurso e as Ações Impugnativas guardam
similitudes, buscam muitas vezes um mesmo resultado que é a
alteração da decisão judicial, no entanto há alguns elementos que
diferenciam um do outro.
Nos Recursos nós temos uma continuidade da relação processual,
relação processual essa, iniciada por meio do oferecimento da ação
penal que acaba com a decisão judicial de primeiro grau e pode ou não
vir a ser reexaminada por órgão revisor colegiado de instância superior,
essa é basicamente a relação processual envolvendo o Juízo de
Primeiro Grau e o Órgão Revisor, também por meio dos recursos evita-
se justamente a verificação do chamado trânsito em julgado, ou seja, é a
constatação da impossibilidade de revisão ou reformulação daquela
decisão por verificação da coisa julgada, aquela qualidade da decisão
judicial que importa na sua certeza jurídica no ordenamento, no mundo
do direito e no mundo dos fatos.
Pelas Ações Impugnativas como característica essencial, podemos
citar a criação de uma nova relação processual. As Ações Impugnativas
não dão continuidade à ação penal originada com o oferecimento da
denúncia ou queixa crime, na realidade seguem um caminho paralelo,
caminho paralelo este que visa muitas vezes a um mesmo objetivo que
é a revalidação ou revisão da decisão judicial de primeiro grau, mas que
importa no reconhecimento de uma relação processual autônoma e
independente em relação aquela que se pretende revisada. Outra
questão relevante e interessante relativa às ações impugnativas é que
elas ordinariamente ocorrem após o trânsito em julgado da decisão, e aí
citamos como exemplo ordinário, a chamada revisão criminal que é a
possibilidade de revisão de sentença penal transitada em julgado em
face do surgimento de fato novo.
Ex: Um determinado cidadão que foi condenado pela morte de
determinado indivíduo, seu desafeto, e que posteriormente vem esse
indivíduo, supostamente morto, a se apresentar para votação, ou para
retirar um documento num cartório, constatando-se que na realidade ele
não morreu. A partir da constatação do elemento necessário para
condenação de alguém para o crime de homicídio, que é a efetiva morte
da vítima, surge a possibilidade do ajuizamento de uma ação revisional
impugnativa, independente e autônoma em relação ao processo que
acarretou a condenação do acusado, no entanto não se deve trazer o
trânsito em julgado como elemento inafastável para o ajuizamento da
ação impugnativa porque também as ações impugnativas diante de
ameaça concreta ao direito de liberdade, de todo e qualquer cidadão,
podem ser utilizadas antes mesmo do trânsito em julgado, como é o
exemplo do Habeas Corpus e do Mandado de Segurança conta ato judicial.O Habeas Corpus remédio constitucional de tradição secular, que tenha
na sua seara por excelência o combate a arbitrariedade praticada pelo
Estado no exercício do seu Poder Punitivo.
3 – A participação de Juízes do mesmo nível hierárquico na revisão de
atos judiciais implica na violação do duplo grau de jurisdição?
R: O Duplo Grau de Jurisdição constituísse num princípio aplicável no
Direito Brasileiro por força da adoção do chamado Pacto de San José da
Costa Rica. Vimos que o Pacto de San José da Costa Rica importa no
reconhecimento a revisão de atos judiciais de cunho decisório como
uma garantia de todo e qualquer cidadão, e vimos também que o STF
enquadra o Pacto de San José da Costa Rica a chamada Convenção
InterAmericana de Direitos Humanos como parte da Legislação
Ordinária em relação a Constituição Federal, daí decorrendo
necessariamente a obediência aos princípios gerais que compõem e
integram a própria Carta Magna. O Duplo Grau de Jurisdição é uma
garantia de todo e qualquer cidadão de ver uma decisão judicial revisada
por um Órgão Superior, quando se fala em Órgão e instância Superior
em nível hierárquico, se fala numa relação de Juízes e
Desembargadores ou Juízes e Ministros e Desembargadores e
Ministros, ordinariamente nós sabemos que as casas revisionais trazem
a decisão colegiada, essa decisão colegiada importa no reconhecimento
de uma certeza jurídica a partir da discussão da matéria entre três ou
mais Juízes, entre três ou mais Magistrados, assim se dá perante os
Tribunais Estaduais, assim se dá perante o Tribunal Regional Federal,
perante o Superior Tribunal de Justiça, ou mesmo perante o Supremo
Tribunal Federal.
O volume de processos hoje submetidos à revisão é muito grande, veja-
se um número monstruoso e enorme de processos submetidos ao
recurso especial perante o Superior Tribunal de Justiça ou mesmo que
tem a sua constitucionalidade como objeto de decisão a ser proferida
pelo Supremo Tribunal Federal, especificamente em relação aos Juízes
Estaduais e as cortes Federais o problema é o mesmo, não há muitas
vezes o número necessário de Desembargadores ou Magistrados de 2º
Grau que possam dar vazão a necessidade do jurisdicionado, isso
importa no reconhecimento de que a administração da justiça muitas
vezes convoca Juízes de 1º Grau ou mesmo Desembargadores em
relação aos Tribunais Superiores para a decisão daqueles casos
submetidos a recurso. O STF já discutiu reiteradamente acerca de uma
Lei do Estado de São Paulo que previa a possibilidade de julgamento
por Órgãos Colegiados e que não necessariamente importasse na sua
composição em integrantes de instância Superior, o STF já decidiu que
a presença, ainda que na sua maioria de Juízes convocados ou
Desembargadores convocados em Tribunal ou Tribunal Superior não
importa em violação do Duplo Grau de Jurisdição, nem importa em
violação do Princípio da Colegialidade, isso porque a própria
Constituição Federal ao definir a competência dos Juizados Especiais
Criminais trás a possibilidade na Lei nº 9.099/95 da utilização desse
mesmo recurso para a revisão das decisões. Nos Juizados Especiais
Criminais propriamente ditos, se prevê a revisão das decisões do Juiz
Singular por um Colegiado de Juízes de mesma instância, e isso não
invalida a revisão da decisão e também não invalida a possibilidade de
reconhecimento do Duplo Grau de Jurisdição
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