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Vitória da Conquista, 31.08.2012 nº 14 labedisco@gmail.com http://www.marcadefantasia.com/o-corpo-e-discurso.htm
O corpo é discurso
Neste número, O corpo é discurso publica mais três resenhas de textos
cujos temas referem-se a corpo. Também nesta edição, o jornal apresenta os
resultados do GT em análise do discurso fílmico, bem como fala do
encerramento dos seminários Os domínios do discurso na
contemporaneidade: questões investigativas e do curso Materialidades do
Discurso Fílmico: som e imagem.
Colaboradores:
EXPEDIENTE DE O CORPO Coordenação geral – Nilton Milanez
Editores responsáveis – Nilton Milanez e Ciro Prates (CAPES) Revisão – Tyrone Chaves (UESB) e Victor Pereira Sousa (CAPES)
Editoração eletrônica (MARCA DE FANTASIA) – Henrique Magalhães
CONSELHO EDITORIAL Prof. Dr. Elmo José dos Santos (UFBA)
Profa. Dra. Flávia Zanutto (UEM) Profa. Dra. Ivone Tavares Lucena (UFPB)
Profa. Dra. Maria das Graças Fonseca Andrade (UESB) Profa. Dra. Mônica da Silva Cruz (UFMA)
Prof. Dr. Nilton Milanez (UESB) Profa. Dra. Simone Hashiguti (UFU)
ISSN 2236-8221
No Brasil, o mundo é canibal:
o humor negro e o horror na animação
-
verbo, imagens e práticas, onde o corpo ganhava lugar decisivo a partir da
expressão de sua gestualidade. É pensando essa dimensão do corpo que
Courtine, ancorado numa Semiologia Médica e nos trabalhos de Carlo Ginzburg
a respeito de um paradigma indiciário, chegará a uma Semiologia Histórica:
perspectiva que almeja historicizar discursos sem subtrair-lhes a dimensão
semiológica, isto é, sem reduzi-lo ao verbal.
Com essa preocupação, Courtine proporá a noção de intericonicidade,
interrogando-se sobre uma memória das imagens vislumbrada no encontro
entre imagens internas e externas ao sujeito, onde o corpo seria não apenas
meio, mas também suporte de imagens. A partir daqui, seria preciso, portanto,
uma análise que trouxesse à tona as dimensões do verbo, mas também das
imagens e do corpo: “o verbo não pode mais ser dissociado do corpo e do
gesto, a expressão pela linguagem conjuga-se com aquela do rosto, de modo
que não possamos mais separar linguagem e imagem” (2011, p. 150), afirma o
autor.
Assim, endossando a discussão presente no texto de que ora tratamos, a
entrevista outorgada por Courtine é mapa de uma história que se inicia na
década de 60 e bússola que aponta novos desafios à Análise do Discurso
atualmente.
REFERÊNCIA COURTINE, Jean-Jacques. Discurso e imagens: para uma arqueologia do imaginário. Tradução de Carlos Piovezani. In: PIOVEZANI, Carlos; CURCINO, Luzmara; SARGENTINI, Vanice. (Org.). Discurso, semiologia e história. São Carlos, SP: Claraluz, 2011, p. 145-162.
CORPO: LIMITES E DESAFIOS PARA A ANÁLISE DO DISCURSO
Amanda Braga (UFPB/ UFSCar)
É de fácil percepção, àqueles que
acompanham os estudos realizados
acerca de uma genealogia da Análise
do Discurso, as rupturas realizadas no
interior do campo, não apenas no
que diz respeito a seus fundamentos
teóricos, mas também no que diz
respeito aos objetos analisados.
Nesse contexto, a entrevista
concedida por Jean-Jacques Courtine
em 2011, intitulada Discurso e
imagens: para uma arqueologia do
imaginário, faz-se central. Valendo-se
de sua própria trajetória (mais particularmente da passagem que opera de
uma Análise do Discurso para uma história do corpo), Courtine discute a
transmutação dos modelos de língua e de discurso, bem como a consequente
necessidade de uma reformulação do campo que os analisa.
A partir da decomposição da língua de madeira em língua de vento,
Courtine depõe o surgimento de um tipo de discurso para o qual a Análise do
Discurso, obcecada por seu discurso verbalmente materializado, já não tinha
meios de análise. O discurso em questão estava criado no encontro entre
corpo no momento em que a sua
existência representativa é cartografada
por meio de práticas sócio-históricas,
pois "tudo em nós é imposto”. Assim,
coisas completamente “naturais são
históricas". Ainda segundo o autor, aos
atos físicos naturais, “são sobrepostos
conjuntos de atos montados e mantidos
pelos sujeitos, não simplesmente por ele,
mas por toda sua educação, por toda a
sociedade da qual faz parte, conforme o
lugar que ocupa" (MAUSS, 1974, p. 408).
Da historização das ações corporais para uma genealogia das práticas
corporais: é somente pelo abandono da primeira pela segunda que é possível
exumar as representações do corpo na sociedade. Trata-se não apenas de
mapear técnicas corporais, classificá-las, é antes questionar o porquê desta
técnica e não de outra em seu lugar, se interrogar as vontades de verdades
veiculadas e que, por outro lado, justificam como os sujeitos aplicam sobre seus
corpos. Observar os modos operantes e, sobretudo as resistências dos corpos
resilientes.
REFERÊNCIA
MAUSS, Marcel. As técnicas do corpo. In:______. Sociologia e Antropologia.
São Paulo: EDUSP, 1974.
“E O VERBO SE FEZ CARNE”
Gesiel Prado¹
Andar, comer, beber, transar, etc. são
ações corriqueiras praticadas pelos
sujeitos sobre seus corpos. No entanto,
há, na estrutura da língua portuguesa, um
termo invariável capaz de modificar o
sentido do verbo, alterando as
circunstâncias da ação praticada, ou seja,
atestando um “como” andar, “como”
comer e “como” transar. Analisando
através da relação intrínseca da Língua
com a História, é possível ver que esse
mesmo termo, à medida que modifica o
verbo, destitui da ação sua naturalidade, deixando entrever uma espécie de
controle dos modos corporais. Isso leva a pensar que, em nossa sociedade,
existe um aparato de técnicas que visam regulamentar as maneiras e modos
do corpo. É observando a existência deste tipo de controle das ações
corporais que Marcel Mauss (1974) arrola sua tese sobre as técnicas do corpo.
As técnicas do corpo, para Mauss (1974), tratam do modo como os "homens,
de sociedade em sociedade, usam seus corpos", ou seja, a "maneira como se
faz uso do corpo" (p. 401). A tese sobre as técnicas faz avançar o estudo do
¹ Doutorando em Linguística e Língua Portuguesa/FCLar/Unesp.
A metodologia baseia-se na leitura e análise do romance à luz de teóricos de
identidade, cidade e pós-modernidade, como Stuart Hall, Richard Sennett e
Renato Cordeiro Gomes. O livro conta com o protagonista Reinaldo, que tem
seu nome, marca identitária por excelência, abreviado para “Rey”, sugerindo a
perda familiar através desse corte, que também se desloca, semanticamente,
para a própria ideia de “Rei” de Havana. Essa ambiguidade parece relacionar o
personagem, ironicamente, ao herói ou anti-herói que luta bravamente por
suas causas ideológicas. No caso de Rey, não há uma luta ideológica, mas sim
um misto de desespero e uma não consciência clara de si. Após a destruição de
sua família de forma escatológica, Reinaldo é lançado ao mundo, enfrentando
desafios e situações de perigo, o que o aproximaria do herói clássico. Porém,
essa identificação se mostra inviável na narrativa, pois a “realeza” de Rey
remete, realmente, à impossibilidade de definição e defesa de qualquer valor,
crença ou território, os quais se encontram, assim como o próprio personagem,
em processo de desintegração. A esse “reino” pertenceriam, assim, espaços
urbanos, corpos e identidades degradados, que se constroem, na narrativa,
como metáforas do próprio desmanche da nação cubana.
REFERÊNCIA
FACCIN, Fernanda P. R. Corpos, andarilhos e identidades no romance O rei de,
de Pedro Juan Gutiérrez. Artigo apresentado ao Programa de Pós-graduação
em Letras – Curso de Mestrado em Teoria Literária, Instituto de Letras e
Linguística da Universidade Federal de Uberlândia, como conclusão da
disciplina Representação literária: texto e cultura. 2011.
CORPOS, ANDARILHOS E IDENTIDADES NO ROMANCE O REI DE,
DE PEDRO JUAN GUTIÉRREZ
Fernanda Pina dos Reis Faccin¹
O romance O Rei de Havana, de Pedro
Juan Gutiérrez, apresenta o mesmo
“inferno miserável, sórdido e
intensamente sensual” – palavras de
Gutiérrez – visitado pelo autor em
Trilogia Suja de Havana, que fora sua
primeira obra em prosa. A sua narrativa
apresenta intensas relações entre os
corpos de seus personagens e os
espaços da cidade de Havana. Nesses
contatos, os corpos funcionam como
referência, intermediados por
frequentes relações sexuais e diversos
tipos de violência. Esse movimento parece encontrar ressonância no
incessante perambular pela cidade, indicando significativos deslocamentos e
relativização de fronteiras. Dessa forma, esse trabalho tem como principal
objetivo analisar o romance de Gutiérrez, percebendo, em sua narrativa, as
movimentações de andarilhos e excluídos socialmente na cidade de Havana,
assim como as diversas interações entre seus corpos, territórios e identidades.
¹ Aluna regular do Mestrado em Teoria Literária da Universidade Federal de Uberlândia – UFU.
O evento teve como objetivo discutir
tópicos e apresentar análises no campo
dos estudos discursivos, considerando as
materialidades literária e fílmica
enquanto lugares de visibilidade de
discursos. Para tanto, foram convidados
pesquisadores do campo da Análise do
Discurso que abordam diversos objetos e
problematizam a metodologia para
descrever e analisar a constituição
dos discursos. Os seminários
foram direcionados para discentes de
graduação, professores da educação básica e interessados em geral. Os
encontros dividiram-se em dois momentos: primeiramente, os conferencistas
convidados apresentaram e discutiram o tema proposto, tomando as bases
teóricas propostas pelo seminário; em seguida, abriu-se para o debate com os
participantes.
Prof. Dr. Nilton Milanez e a Profa. Dnda. Janaina de Jesus Santos com pesquisadores do Labedisco e do Audiscurso.
ENCERRAMENTO DOS SEMINÁRIOS “OS DOMÍNIOS DO DISCURSO
NA CONTEMPORANEIDADE”
No mês de agosto, aconteceu o encerramento da série de seminários
denominada Os domínios do discurso na contemporaneidade: questões
investigativas, organizada pela Profa. Dnda. Janaina de Jesus Santos
(Audiscurso/UNEB-Caetité). Os seminários foram realizados na Universidade
do Estado da Bahia – UNEB durante os meses de junho, julho e agosto, na
Universidade do Estado da Bahia – UNEB.
Profa. Dnda. Janaina de Jesus Santos (Audiscurso/UNEB-Caetité).
Estudantes do Curso de Letras da UNEB – Caetité e pesquisadores do Audiscurso.
Profa. Dnda. Janaina de Jesus Santos com pesquisadores do Audiscurso.
ENCERRAMENTO DO CURSO MATERIALIDADES DO DISCURSO
FÍLMICO: SOM E IMAGEM
Em agosto, aconteceu o encerramento
do curso Materialidades do discurso
fílmico: som e imagem (introdução a
uma análise audiovisual), que foi
realizado pelo Laboratório de Estudos
do Discurso e do Corpo – Labedisco
sob a coordenação do Prof. Dr. Nilton
Milanez (Labedisco/UESB). O curso faz parte do projeto de pesquisa
Materialidades do corpo e do horror e ao projeto de extensão Análise do
discurso fílmico, e ministrado pelos pesquisadores vinculados ao laboratório.
Ao longo do curso, foi discutida a obra Lendo as Imagens do Cinema, de
Laurent Jullier e Michel Marie (2009). O objetivo foi desenvolver ferramentas
para a análise do discurso fílmico, usando os procedimentos que este livro traz
para que seja possível decifrar o cinema no nível do plano, da sequência e do
filme. Dessa forma, foram discutidos métodos de observação e análise para o
discurso em questão, sem perder de vista as discussões advindas da Análise do
Discurso.
GRUPO DE TRABALHO EM ANÁLISE DO DISCURSO FÍLMICO
No dia 24 de agosto de 2012, o
Laboratório de Estudos do Discurso e
do Corpo – Labedisco realizou um
Grupo de Trabalho em Análise do
Discurso fílmico, organizado pelo Prof.
Dr. Nilton Milanez (Labedisco/UESB) e
pela Profa. Ceres Luz
(Fapesb/Labedisco/UESB). O GT teve
como objetivo discutir noções e
conceitos da Análise do Discurso, da
maneira como a entendemos no
Brasil, sobretudo, tomando os
tomando os postulados de Michel Foucault. Em específico, tratou do
discurso fílmico, que foi abordado sob um viés teórico-analítico, calcado nas
teorias do discurso e seu entrelaçamento com a teoria do cinema. Para
tanto, observou-se a descrição fílmica como dispositivo para a produção
discursiva de sentidos, fazendo o batimento entre uma gramática do
cinema, ou seja, as ferramentas para a análise fílmica, e os saberes que ela
produz quando investigada do lado da história do cotidiano. Nesse sentido,
foram escolhidos objetos fílmicos em cada apresentação para análise
discursiva em um quadro no qual o audiovisual é compreendido como uma
construção marcada historicamente e produzido por sujeitos clivados pelo
seu tempo.
Dica de O corpo:
Leitura da Revista Eletrônica de Estudos do Discurso e do Copro, organizada
por Nilton Milanez, Simone Tiemi Hashiguti e João Kogawa (2012).
SEMINÁRIO DE ESTUDOS DO DISCURSO
O Grupo de Estudos do Discurso, Cultura
e Sociedade promove, nos dias 12 a 14
de novembro, o Seminário de Estudos do
Discurso - SEDis UFBA 2012, cujo tema
é Verbal, não verbal, verbo-visual. Trata-
se de um seminário bianual que busca
enfatizar as transdiscursividades, os
múltiplos diálogos e interdiscursividades,
a atualidade de uma nova reflexão sobre a natureza social, heterogênea,
intertextual, dialógica, intercomunicacional e intersemiótica dos discursos. O
Seminário pretende constituir-se em espaço privilegiado para debates que
gravitarão em torno de tais estudos, com a finalidade de discutir e avaliar
pesquisas além de atrair contribuições de pesquisadores brasileiros em várias
perspectivas e abordagens. O SEDis UFBA 2012 objetiva fazer um balanço do
que vem sendo produzido no âmbito da UFBA, das IES baianas e de outras
universidades brasileiras, na esfera do discurso, ao mesmo tempo em que
aponta para um debate atual que traz, no seu bojo, a marca da pluralidade,
seja nas ciências, nas tecnologias textuais e sociais, seja na emergência dos
discursos, das comunicações e da arte, dos grupos e movimentos da
contemporaneidade. E é justamente nesse diálogo de muitas falas que os
estudos do discurso buscam interrogar seu inter-relacionamento com os
campos do saber e com novas perspectivas de questionamento do seu próprio
objeto e de efetivas ações na vida social.
Dica de O corpo:
Lançamento do livro Vertentes teórica e ficcionais do Insólito, organizado por
Flavio García e Maria Cristina Batalha (2012).
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