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Guia de leitura
para o professor
a autora Susie Morgenstern nasceu na cidade norte-americana de Nova Jersey, em 18 de março de 1945. Estudou na Universidade Rutgers (EUA), na Universidade Hebraica de Jerusalém (Israel) e na Faculdade de Letras de Nice (França).
Recebeu vários prêmios literários e condecorações, como o título de “chevalière” das Artes e das Letras, concedido pelo governo francês. Atualmente, sua obra é composta por mais de sessenta livros, dentre os quais Même les princesses doivent aller à l’école [Até as princesas devem ir à escola], 1991; Lettres d’amour de 0 à 10 ans [Cartas de amor de 0 a 10 anos], 1996; Joker [Coringa], 1999 e Emma, 2007.
Em parceria com o ilustrador Chen Jiang Hong, já havia publicado, antes de O dom, Archimède, la recette pour être un génie [Arquimedes, receita para ser gênio], 2002, e Je ferai des miracles[Farei milagres], 2006. Mais informações sobre a autora podem ser encontradas em http://susie.morgenstern.free.fr/siteweb/Bienvenue.htm
O domSusie Morgenstern
Ilustrações Chen Jiang HongTemas Judaísmo•Música•Vidacomunitária•Carênciaesuperação
o ilustrador Chen Jiang Hong é pintor, ilustrador e escritor. Nasceu em Tianjin, China, em 1963 e cresceu durante a Revolução Cultural. Formado pela Escola de Belas-Artes de Pequim, vive em Paris, França, desde 1987. Começou a ilustrar livros infantis em 1994 e estreou como autor dois anos depois, com La Légende du cerf-volant [A lenda da pipa], 1999.
Entre outros livros, ilustrou Oriyou et le pêcheur et autres contes de la Caraïbe [Oriyou e o pescador e outros contos do Caribe], 1999, de Praline Gay-Para; Contes de la mer Caspienne [Contos do mar Cáspio], 2003, de Anne-Marie Passaret; Hatchiko, chien de Tokyo [Hatchico, cão de Tóquio], 2003, de Claude Helft.
Uma de suas obras mais conhecidas é Zhong Kui. La Terreur des forces du mal [Zhong Kui. O terror das forças do mal], 2001, cativante álbum sobre a Ópera de Pequim. Em Le Cheval magique de Han Gan [O cavalo mágico de Han Gan], 2005, conta a lenda do artista chinês Han Gan. A Revolução Cultural chinesa foi tema da narrativa autobiográfica Mao et moi [Mao e eu], 2008.
Recebeu diversos prêmios internacionais, como os franceses Charles Oulmont (1992) e Prix Sorcières (2004) e o Deutscher Jugendliteraturpreis (2005).
48 páginas
Acompanha CD
2400
0002
2480
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O dom SuSie MorgenStern
o álbum
NumapequenaaldeianaEuropaOrientalnasceOycher(“ri-
queza”,emiídiche),terceirofilhodosOifetzmil,judeuspobrese
esperançosos.Nodiadacircuncisãodobebê,umestranhobate
àportatrazendoumpresenteparaacriança:umacaixaquesó
poderiaserabertaquandoomeninocompletassetrêsanos.
Curiosos,osmoradoresdaaldeiatentamadivinharoconteú-
dodacaixa:dinheiro,passagensparaaAmérica,umaarmacon-
traosinimigos,umalinguagemuniversal.Orabino,porém,vê
commausolhostantaagitação,obstáculoaocumprimentodas
mitzvót,osmandamentosdivinos.
Enquantoisso,Oychercresceforteesadio,anãoserporum
detalhe:nãoaprendeafalar.Aosdoisanosemeio,nãofazsenão
repetir“gagagugu”.
Noentanto,umareviravoltaocorreporocasiãodeseuter-
ceiroaniversário:aaberturadacaixa,enfimautorizada, solta
a línguadomenino.Umviolino!– eisopresente tãoespera-
doeaprimeirapalavrapronunciadaporOycher.Apartirdaí,
elesededicatotalmenteaoaprendizadodamúsicaeacabapor
transformaremrealidadetodosossonhossuscitadospelacai-
xa:conquistadinheiro,obtémsucessoprofissionaleserealiza
pessoalmente.
leitura da obra
O cOndãO e O destinO
OparágrafoinicialdeO dom condensaumtraçofundamen-
taldanarrativa:afénasuperaçãodedificuldadespelaconfian-
çasimultâneanotrabalhohumanoeemforçasmisteriosas.Ele
começacomumadescriçãoqueconectaoconcretodointerior
doméstico–comseutetode“telhas,palhaesucata”–aoabstrato
exterior–a“confiável”eternidadedeestrelas“escrupulosas”.Há
aí,aomesmotempo,algodeproteçãoededesamparo,deforçae
deincerteza:acobertura,emboraremendada,serviadeteto,ao
passoqueasolidezdocéudependiadeconfiança,doconvívio
entreafragilidadedavidaeosmistériosdanatureza.Afinal,a
históriadeOychernãogiraexatamenteemtornodeumpresen-
teedeumavocação,dasorteedoesforçoassociadoscontraa
precariedade?
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explorações paralelas
referências judaicasNo livro há diversas referências à
cultura judaica (termos em iídiche
e hebraico, costumes rituais,
fatos históricos etc.), elucidadas
a seguir.
circuncisão (em hebraico, brit milá):
retirada cirúrgica do prepúcio de um
bebê, oito dias após o nascimento,
sinalizando sua inclusão na
comunidade judaica. A cerimônia
remonta à aliança de Deus com
Abraão.
iídiche: língua das comunidades
judaicas da Europa Central e Oriental,
baseada no alemão do século XIV,
com acréscimo de elementos
hebraicos e eslavos. Foi a língua mais
falada entre os judeus da Europa
Oriental até a Segunda Guerra
Mundial.
Mitzvót (plural de mitzvá,
mandamento em hebraico): empregado
originalmente para os mandamentos
divinos na Bíblia, tal termo passou
a referir-se a qualquer boa ação.
Segundo se lê no Talmud, o propósito
das mitzvót é aprimorar a natureza
do homem, disciplinando-o a seguir a
Deus e não a seus próprios desejos.
O dom SuSie MorgenStern
Dom significadádivarecebidadeoutremetambémvocação
pessoalaserdescobertaeburilada.Sinônimodedom,apalavra
condão tem na origem o sentido de doar,eaestruturadahistória
criadaporMorgenstern lembra justamenteadealgunscontos
defadas.
Oestranhoquevisitaorecém-nascidonodiadesuacircunci-
sãolembraumpoucoasfadasportadorasdepresentesqueselam
o destinodaprincesaAuroraemA bela adormecida.Écomose
o inesperadovisitantetambémlevasseconsigoumavarinha de
condão capazde transformaropresentecontidonamisteriosa
caixaemprofecia:uminstrumentoquecoincidiriacomaapti-
dãodopequenoOycher.Areferênciaàsfadastambémaparece,
demodorápido,napassagememqueMalkaintervémcomo“a
últimafada(ouaprimeirabruxa).”Apalavrafadavemdolatim
fata,adeusadodestino,dofado.Massealgodeprovidênciadivi-
na torna o menino fadado aserviolinista,eletambémdevefazer
apartedele,aliandootalentoinatoaoesforçoparasetornarum
grandeartista.
sOnhO e realidade
Morgenstern liga o componente fantástico à representação
realistadavidanoshtetl,termoemiídicheparaascidadezinhas
judaicas na Europa Oriental, com sua história de sofrimentos
(porexemplo,ospogroms,perseguiçõesantissemitasnaRússia
tsarista),sonhos(comoodesejodeimigraçãoparaaAmérica),
tradições, crenças e, sobretudo, personagens típicos, como o
mascate,adonadapadaria,osapateiro,oferreiro,oescrivão,o
alfaiate,oaçougueiroeorabino.
Cumprenotarcomoocaráter,aprofissão,otemperamento,
avisãodemundodessespersonagensseprojetamnashipóte-
sesqueeleslevantamsobreoconteúdodacaixa.“Acostuma-
doapesarmercadorias”,omascatereduztudoadinheiro,ao
queopaideOycherretruca,enfatizandoaprimaziadoslaços
afetivosedainteligênciasobreariqueza:“Vocêdizquepode
comprarqualquercoisacomdinheiro,menospai,mãeeum
bomcérebro”.
Demaneirasimilar,anteodeslumbramentodadonadapa-
daria(quesonhacompassagensparaumlugarondeseapanha
ourodochão),amãedeOycherrespondecomproverbialsabe-
doria:“Ondehámel,hámoscas”.
Osonhodaimigraçãoparaa“douradaAmérica”eraemgran-
departemotivadopelospogroms,porisso,Beryl,oferreiro,ima-
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imigração: os pogroms, a penúria e a
superpopulação provocaram grande
êxodo dos judeus do Leste Europeu
nos séculos XIX e XX. Entre 1881 e
1930, mais de três milhões de judeus
da Rússia, do Império Austro-Húngaro,
Polônia e Romênia emigraram:
2,8 milhões para os Estados Unidos;
30 mil para o Brasil; 220 mil para a
Argentina (de 1881 até 1942).
Pogrom (tempestade, assalto,
destruição em russo): pilhagens,
agressões e assassinatos cometidos
contra os judeus na Rússia tsarista.
Por volta de 1881 houve uma onda
de pogroms, da Ucrânia para Odessa
e Kiev; em 1903, ocorreu um terrível
pogrom em Kishinev, então capital
da Bessarábia, hoje Moldávia, entre a
Ucrânia e a Romênia.
Shtetl (aldeia em iídiche, plural
shtetlech): pequena comunidade de
judeus na Europa Oriental pré-moderna
(Rússia, Polônia, Lituânia e parte
leste do Império Austro-Húngaro).
Tendo por língua o iídiche, era um
microcosmo completo, com rabinos,
chazanim (cantores que oficiam o
serviço religioso), professores, ricos
comerciantes, vagabundos, mulheres
e crianças. Esse mundo foi destruído
pela Primeira Guerra Mundial, pelos
pogroms, pelas guerras civis da
Revolução Russa, pela Segunda Guerra
Mundial e a fúria nazista.
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O dom SuSie MorgenStern
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ginavaqueacaixacontivesseumaarmacapazdecuraroódio
dosinimigos.JáFeivel,osapateiro,sempreàsvoltascomcalça-
dos,desejavaqueacaixacontivessealgoqueajudasseatrilharo
“caminhodaliberdade”.
É particularmente expressivo o contraste entre as opiniões
doescrivãoSchiaedoalfaiateMoische.Afeitoaotrabalhocom
palavras,oescrivãoapostaqueomenino,atéentãomudo,en-
contrarianobaúuma“linguagemuniversal”.Oalfaiate,porém,
incréduloquantoàpossibilidadedeseesconderumalínguaem
umacaixa,dizque“boasferramentas”seriamopresenteideal.O
violinoentãoconciliaambasasconjecturas:opequenoOycher
ganharaaoportunidadedeexercerumofício,massuaferramen-
taeraamúsica.
esperança, paixãO triste?Dentre os diversos personagens, destaca-se a figura do ra-
bino que, à diferença das suposições otimistas expressas pela
maioria(àexceçãodeMalka),vianacaixaumestojodevícios.
Ridicularizadoporsuaintolerânciaepelaretóricavazia,elere-
velaafacenegativadaesperançadepositadanacaixa,quesus-
citavamaisacuriosidadequeapráticadeboasações,ocum-
primentodasmitzvót.Écomoseaesperança tivesse também
umadimensãoalienante,quedetémoesperançosoeodesvia
daação.
TaldimensãoestápresentenaalusãoàcaixadePandora(ou
jarro, segundo algumas versões do mito), feita pelo escritor
Moacyr Scliar no posfácio do livro. O que fazia a esperança
dentrodeumacaixaquecontinha todososmalesdomundo?
Tratava-sedeumaespéciedearmadilhacriadaporZeuscomo
puniçãoaoshomens,aquemotitãPrometeuhaviadadoofogo
queroubaraaosdeuses.
Háatéquemconsidere“esperança”umatraduçãoparaomal
querestaranofundodacaixa,designadopelotermogrego ,ελπ′ ις
(elpís).Estetalvezfossemaisbemtraduzidopelapalavra“ansie-
dade”,receioantecipadodiantedeumbemquenãochegaouum
malquepodeadvir.
Baruch Espinosa(1632-1677),filósoforacionalistanasci-
do em Amsterdã (Holanda) numa família de judeus portu-
gueses, também se dedicou ao exame dessa face sombria da
esperança em sua obra fundamental, Ética, de 1677.Ali, ele
defineaesperançacomoumapaixão triste,quecompromete
acapacidadedeaçãodosujeitoeminasuaautonomia.
espinosa e as paixõesNa Ética de Espinosa, a alma e as
ideias não são causas dos movimentos
do corpo nem o corpo é causa das
ideias; ambos são modos distintos de
expressão de uma mesma essência,
denominada conatus, que é o
esforço para nos mantermos vivos e
nos realizarmos plenamente. Cada
qual pode aumentar o poder do
conatus pela ação e pelo intelecto ou
sofrer um decréscimo de potência,
deixando-se arrastar pelas paixões e
pela imaginação. A liberdade, porém,
não consiste em se livrar das paixões,
inerentes à natureza humana, mas
em se deixar influenciar por paixões
positivas, ou alegres, que têm objetos
mais ou menos reais. As paixões
tristes, em contrapartida, decorreriam
de objetos ausentes, remotos ou
contingentes. A esperança (spes) seria
para Espinosa uma paixão triste, uma
alegria instável voltada para objetos
incertos, dos quais se duvida. Do
mesmo modo, o medo (metus) definiria
uma tristeza instável, provocada pela
ideia de um mal igualmente incerto.
Quem está suspenso pela esperança
imagina mil obstáculos à realização
do desejo e os teme; inversamente,
os que sentem medo imaginam que
o pior pode não acontecer e por
isso têm esperança. Dessa maneira,
afirma Espinosa, “não há esperança
sem medo, nem medo sem
esperança”. (Espinosa, Baruch. Ética,
Parte III, Da origem e da natureza
das afecções. São Paulo: Abril
Cultural, 1983, p. 214. Coleção Os
pensadores.).
O dom SuSie MorgenStern
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O shtetl em imagens
AsimagenscriadasporChenJiangHongpararepresentara
paisagem, os ambientes e os personagens da história de Mor-
gensterndistinguem-sepelagamareduzidadecores.Eleusaso-
bretudotonsdeocre,amareloecinza,numapaletameioesmae-
cida,porvezessoturna.Talopçãopareceacentuaropolorealista
deumanarrativaque,comodissemos,oscilaentreprudênciae
fantasia,trabalhoemagia,pobrezaeredenção.
Seria curioso comparar tais ilustrações com algumas das
imagensdopintorfrancêsdeorigemrussaMarcChagall(1887-
-1985), um dos maiores artistas do século XX. A pintura de
Chagall também se volta para a vida miúda dos habitantes de
shtetl:suastelassãopovoadasporrabinoseviolinistas,vivendo
emcasashumildes,entrecabrasegalinhas,violinosepreces.No
entanto,taiselementostemáticos,querevelamasraízesculturais
e afetivas do artista, recebem tratamento onírico, com suas fi-
gurasflutuantes,subversãodaperspectivaedacorrespondência
cromática, istoé,comseusburrosverdesegigantescos,noivas
quelevitamepaisagenssobrenaturais.
Acomparaçãoentreadiferençanotratamentopictóricode
temas semelhantes poderia render uma bela discussão com os
alunos.
O dom SuSie MorgenStern
Violinistas de carne e ossoO violino, instrumento musical de fácil
transporte, tem sido associado à história
dos judeus, povo errante e afeito à arte.
Cumpre notar que muitos dos maiores
violinistas do mundo são judeus:
Mischa Elman (1891-1967), Jascha
Heifetz (1901-1987), Nathan Milstein
(1904-1992), David Oistrakh (1908-
-1974), Yehudi Menuhin (1916-1999),
Isaac Stern (1920-2001), Itzhak Perlman
(1945- ), entre outros.
Conhecer a trajetória do violinista
Isaac Stern amplia a compreensão de
O dom. Nascido em Kreminiecz, na
Rússia, em 1920, seus pais fugiram
da Revolução Russa e chegaram aos
Estados Unidos quando ele tinha dez
meses. Começou a tocar violino aos
oito anos e fez seu primeiro recital aos
treze. Vendo no talento dos jovens a
“arma secreta” de Israel, Isaac Stern
patrocinou muitos jovens violinistas
israelenses e também de outros países.
Cena inesquecível de seus cursos:
começava a tocar e se deixava levar
totalmente. Stern foi o solista do filme
Um violinista no telhado
(1971), de Norman
Jewison, baseado no
musical de Joseph
Stein e vencedor de três
prêmios Oscar.
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Os judeus e a música
Alémdeconstituiroprincipalassuntodanarrativa,amúsica
étambémparteintegrantedaobra,comootextoeasilustrações.
ElaestápresentenoCDqueacompanhaolivro,oqualcontém
peçasparaviolinodecompositoresconsagrados,comoJohann
SebastianBach(1685-1750)eNiccolòPaganini(1782-1840),e
vinhetasdeLouisDunoyerdeSegonzac(1959-),pertencentes
aogêneroklezmer.Talgênerodesignaumtipodemúsicafolcló-
rica,denaturezanãolitúrgica,desenvolvidaporjudeusdaEuropa
OrientalapartirdoséculoXV.
Sofrendoinfluênciadamúsicacigana,ascomposiçõesklezmer
animavamasfestasnosshtetlech.Feitasparaadança,eramexecu-
tadassempartituraecomportavamaltasdosesdeimprovisação.
Deinício,osgruposdeklezmereramconstituídosbasicamente
porinstrumentosdecorda,comlugardedestaqueparaovio-
lino.Apartirdoflorescimentodasbandasmilitares,noséculo
XIX,instrumentosdesoproepercussãoforamacrescentadosà
formaçãooriginal.
ValeaindalembrarqueahistóriadeOycherterminacom
umaalusãoao reiDavi,que tambémeramúsicoe constru-
tordeinstrumentos.Atribui-seaDaviumareorganizaçãodo
serviçoreligiosoemqueamúsicapassaadesempenharfun-
çãocentralnolouvoraDeus.SegundoafirmaoAntigo
Testamento,foiDaviquemorganizouossacerdo-
teslevitasparadirigirocantonacasadoSenhor,
profetizandocomharpas,címbalose
saltérios(1Crônicas,25:1-7).
Dessamaneira,Oycher
sefiliaaumalongatra-
diçãoquevaidostemposbíblicosaos
tempos atuais e até a musicais como
Um violinista no telhado.Esseespetáculo,
que alcançou enorme sucesso na Broadway
convertendo-seposteriormenteemfilme,foiba-
seadoemumaobradoescritorjudeuScholemAleichem
(1859-1916),anovelaTobias, o leiteiro,quetambémtra-
tadeperseguiçõesantissemitasedosonhodeimigração
paraaAmérica.
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O dom SuSie MorgenStern
na sala de aula
antes da leituraNumprimeiromomento,antecipandoqueapresentaráuma
históriadeadivinhação,oprofessorpodeestimularosalunosa
imaginaroconteúdodaobrainspiradospelotítulo.Então,seria
interessanterefletirsobreaduplicidadedosignificadodapalavra
dom,conformeseindicouanteriormente.
durante a leituraAoiniciaraleitura,oprofessorchamaaatençãodosalunos
paraasimagensdolivro:aquelasconstruídasporpalavraseas
desenhadas.
Pode-se pedir que observem o primeiro parágrafo, pergun-
tando-lhescomointerpretamasimagensdotetoedocéu,cujos
significados latentes (pobreza, desamparo, fragilidade e força,
proteção,mistério)servirãodeguiaparaorestantedahistória.
Quandoacaixamisteriosaentraemcena(p.12-14),osalunos
sãoinstadosaformularhipótesessobreseuconteúdo.Apóscon-
jecturar livremente, eles devem mergulhar no texto, anotando
osdiversosmodosdesereferiràcaixa(“oferenda‘envenenada’”,
“presente que queima”,“caixa duvidosa”,“estojo impenetrável”
etc.)einvestigandotambémpormeiodasilustraçõesacaracte-
rizaçãodeváriospersonagens(“obenfeitorfarsante”,“orabino
cético”etc.).
Outraatividadepossívelconsisteemdestacar frasesprover-
biaisquerelativizamossentidosdepobrezaeriqueza,compa-
rando-ascomprovérbiosbrasileirosdesentidosemelhante.Eis
algunsexemplos:
• Eles sabiam que ninguém é tão pobre quanto o ignorante. E, de
qualquer modo, ricos ou pobres, no fim todos se encontram sob a
mesma terra.
• Você diz que pode comprar qualquer coisa com dinheiro, me-
nos pai, mãe e um bom cérebro.
• Onde há mel, há moscas.
• (...) se os ricos levam Deus nos bolsos, ela o levava em seu
coração.
• Ter uma profissão é possuir um reino. Uma profissão é um
escudo contra a pobreza.
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O dom SuSie MorgenStern
depois da leitura• Recuperarossignificadosdapalavradom econsiderarafor-
macomo,porfim,todasashipótesesseconfirmam.Perceber
arelatividadedasperspectivaseanecessidadedetolerância;
afinal,egoisticamente,todostêmrazão.Reconheceraespe-
cificidade da ambientação judaica do livro e, ao mesmo
tempo,auniversalidadedasrelaçõesnelerepresentadas.
• Paraampliarorepertóriodosalunos,oprofessorpodesu-
gerirquefaçampesquisassobreostemasdanarrativa.O
resultadodelas, realizadasemgrupo,pode serposterior-
mentesocializadocomsemináriosouexposiçõesmurais.
Tópicossugeridos:
a)rituais,costumesehistóriadopovojudeu;
b)fazeraAmérica:imigranteseuropeusnoNovoMundo;
c)acaixa(oujarro)dePandora.
Reportar-seaosversosdopoetagregoHesíodo(demea-
dosdoséculoVIIIa.C.)emOs trabalhos e os dias.Texto
disponívelem:www.fflch.usp.br/dh/heros/traductiones/
hesiodo/erga/pandora.html
(Hesíodo.Os trabalhos e os dias.SãoPaulo:Iluminuras,1990,p.27-
29,versos42-106).
• Emcolaboraçãocomoprofessordeartes,sugerem-seduas
atividades:
a)ExploraçãodasraízesjudaicasnapinturadeMarcCha-
gallecomparaçãodealgumasdesuaspinturas(disponí-
veisemdiversossites)comasilustraçõesdeChenJiang
Hong em O dom.Pode-secompararomotivodovioli-
nistaemChagall–emtelascomoO violinista(1911),O
violinista verde(1923-24)eO violinista azul(1947)–à
ilustração de Hong na p. 45.Após discutir as diferen-
çasentreosdoisartistas(mododecomposição, técni-
cas,paletadecores,usoda luzetc.),osalunospodem
serestimuladosaproduzirumdesenhorevisitandoesse
mesmomotivoasuamaneira.
b)Adescriçãodaanatomiadoviolinonap.29poderiaense-
jarumapesquisasobreahistóriadesseinstrumento(ori-
gem,transformações,fabricantes)edeseusintérpretes.
• Com base nas informações obtidas mediante pesquisa e
inspiradospeladiscussãoemtornodasquestõessuscitadas
pelaleitura,propõe-seaosalunosumexercíciodeprodu-
çãotextual:escreverumanarrativabrevesobrearelação
entredádiva,trabalhoetalento.
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O dom SuSie MorgenStern
• Porfim,apósouviranarraçãodeCacoCioclernoCD,os
alunospoderiamlerasprópriasredaçõesemvozaltaetal-
vezaté, lançandomãodealgumaparatocênico(cenário,
figurinos,iluminação,sonoplastiaetc.),transformaranar-
rativadeO domemumtextodramático,aserencenado
paratodaaescola.
Elaboração do guia iEda LEbEnsztayn – doutora Em LitEratura brasiLEira pELa FacuLdadE dE FiLosoFia, LEtras E ciências Humanas da usp; PrEParação Fabio WEintraub, rEvisão carLa mELLo morEira.
suGestões de liVros e filmes
para Os alunOs
liVros• LandMann,Bimba.Como me tornei Marc Chagall.SãoPaulo:
EdiçõesSM,2006.
• ScLiar,Moacyr.ABC do mundo judaico.SãoPaulo:Edições
SM,2007.
• ZiMet,Ben.O Colombo de Chelem e outras histórias judaicas.
SãoPaulo:EdiçõesSM,2007.
filme• Um violinista no telhado (Fiddler on the roof).EstadosUnidos,
1971.Direção:NormanJewison.Colorido.179min.Elenco:
Topol,Norma Crane,LeonardFrey,entreoutros.Distribui-
ção:FoxHomeEntertainment.Lançamento:2005.
OcasamentodeTzeiteleHodel,asduasfilhasmaisvelhas
deTevye,oleiteiro,acabacomosossegodopobrehomem,
quejátinhatudoarranjadoparaelas.Ambascontrariamas
escolhasdopai,easituaçãoseagravaaindamaisquando
umaterceirafilha,Chava,decidecasar-secomumnãoju-
deu.Parapiorarascoisas,oTsarexpulsatodososjudeusda
Rússia,condenandoaoexílioTevyeesuafamília.
para O prOfessOr
liVros• aLeicheM,Scholem.A paz seja convosco.SãoPaulo:
Perspectiva,1966.
• unterMan, Alan. Dicionário judaico de lendas e tradições:
222ilustrações.RiodeJaneiro:JorgeZahar,1992.
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