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8/16/2019 O papel e a visao de ciência no debate criacionismo x evolucionismo
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O Papel e a Visão de Ciência no Debate Criacionismo xEvolucionismo
HALLER E.S. SCHÜNEMANN1
A relação entre Ciência e Religião mais presente na mídia é o conflito entre
criacionistas e evolucionistas. A apresentação do tema normalmente contrapõe de um
lado os fundamentalistas cristãos defensores do Criacionismo e de outro lado os ateus,
normalmente cientistas envolvidos em divulgação científica. A exploração de um
conflito “natural” entre a Ciência e Religião tem rendido bastante atenção do grande
público ao tema, mas representa uma visão bastante tendenciosa e limitada sobre aquestão. Nesse texto, pretendemos demonstrar que o debate normalmente chamado
Criacionismo x Evolucionismo não está a rigor, no âmbito da Ciência, em sentido
estrito, mas sim no campo das ideologias, que necessitam do fator Ciência para se
legitimar perante a sociedade. Em especial, desejamos demonstrar como o ateísmo
militante, tem se apropriado da Teoria da Evolução Biológica elaborada por Darwin na
construção do conflito entre Ciência e Religião.
Assim, nesse texto, propomos primeiro uma discussão sobre a temática Ciência eReligião. Em segundo lugar, discutiremos a importância da Ciência, na sociedade atual
e o uso da Ciência pelo ateísmo militante. Por fim, pretendemos discutir as implicações
desse debate para a Ciência.
Relação entre Ciência e Religião
Barbour (2000) propõe a existência de quatro modos de interação entre Ciência e
Religião. São eles: Conflito, Independência, Diálogo e Integração. O modelo deConflito representa a idéia de que a Ciência e Religião são conhecimentos antagônicos.
De um lado, teríamos os religiosos que veriam na Ciência um conhecimento perigoso
que precisa ser combatido e de outro os cientistas que vem na Religião, nada mais que
um conjunto de crenças errôneas, que não podem ser sustentadas, uma vez que a única
forma de encontrar a verdade seria através da Ciência. Esse modo é talvez o mais
popularizado como já vimos, embora, se analisarmos bem, veremos que o debate
1 Doutor em Ciências Sociais e Religião /UMESP e Professor de Historia e Filosofia da Ciência/UNASP
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Criacionismo X Evolucionismo está centrado em praticamente um único tema: a
questão das origens do Universo e da Vida em todas as suas formas.
O modelo da Independência pressupõe que Ciência e Religião são duas áreas de
conhecimento totalmente distintas, considerando tanto seus métodos, quanto o seu
conteúdo, eles tratam de assuntos distintos. É possível uma boa convivência entre as
duas áreas, desde que cada uma permaneça em seu domínio. Assim, a Ciência lida com
o real e a Religião com valores e crenças.
O modelo de Diálogo difere pouco do anterior. A diferença principal é que nesse existe
a proposta de aproximação. Mesmo reconhecendo que são domínios distintos, é possível
estabelecer propostas de relação e aproximação. Podemos afirmar, que a aceitação de
que membros religiosos participem de Comitê de Ética em Pesquisa aponta na direção
de um diálogo. Nessa visão, a Religião, justamente por lidar com valores é solicitada a
participar e dialogar com as buscas da Ciência.
Por fim, no modelo de Integração, a idéia é que a Ciência e Religião se complementam
justamente por que sendo distintas precisam uma da outra na compreensão da verdade.
Nesse modelo as descobertas e teorias científicas devem ser incorporadas a Religião,
bem como essa pode oferecer “insight” para o desenvolvimento da Ciência.
Embora, bem consagrado o modelo proposto por Barbour, apresenta limitações. Ruse
(2010) aponta que não é tão fácil classificar algumas relações, pois há diferença, da
posição entre um olhar interno dos proponentes de um tema e aqueles que olham de
fora. Essa posição é o que julgamos encontrar na relação entre o debate Criacionismo x
Evolucionismo. Como já demonstramos em um artigo anterior (Schünemann, 2008) os
criacionistas consideram que estão fazendo uma integração entre Ciência e Religião e
não causando um conflito.
O tema da relação entre Ciência e Religião precisa ser entendido como um tema
filosófico contemporâneo, pois como Harrison (2007) afirma o conceito de religião foifixado somente no século XVII e Ciência no século XIX. Os caminhos de separação
são recentes e estão intimamente relacionados ao discurso do Iluminismo Europeu
(Harrison, 2007). O Iluminismo Europeu poderia ser pensando dentro do conceito de
Habermas, como sendo um “projeto” que buscou construir as bases de uma nova ordem
social fundamentada na racionalidade (Habermas, 2000). Dentro desse projeto racional,
a Religião, em especial, pelo poder das instituições religiosas na política e na sociedade,
foi vista como um grande mal a ser combatido. É importante, relembrar que embora
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exista uma crítica a postulados religiosos, como pode ser observada em Candido, sátira
escrita por Voltaire, o Iluminismo não era necessariamente um movimento ateu.
Essa nova fundamentação para sociedade, na realidade se inicia já no fim do século XV
com o Renascimento. Aos poucos essa filosofia racional se transforma em um “novo”
conhecimento – a Ciência. Esse conhecimento não está relacionado necessariamente há
uma visão de combater o conhecimento religioso. Por exemplo, Bacon (1988) propõe
em sua obra o Novo Organum, uma chave para combater pressupostos filosóficos, mas
via em seu novo método, uma forma de descobrir as “obras da Criação”. Mesmo como
demonstra Harrison (2007), Lindenberg (2010) a crença religiosa não impediu
importante descoberta do funcionamento da natureza e até foi a motivação para muitos
pesquisadores. Esse dado está sendo posto apenas para destacarmos que aquilo que é
hoje visto como a origem da Ciência não estava marcada por uma contraposição ao
religioso, como de uma forma simplista é apresentado hoje.
O Papel da Ciência na Sociedade Moderna
É importante, contudo destacar que o avanço da Ciência possibilitou o desenvolvimento
de inúmeras novas técnicas e máquinas. Estas foram interpretadas como benefícios
trazidos pela Ciência. A Ciência passa a exercer um papel assim, cada vez mais central,
no desenvolvimento econômico da sociedade capitalista. As descobertas da Física e da
Química vão sendo percebidos pelo capitalismo como trazendo a possibilidade de novos
negócios, em função da possibilidade de “transformar ciência em tecnologia vendável”.
Assim, uma das razões pela qual observamos um aumento significativo do valor da
Ciência na nossa sociedade, é pela forte associação que é feita das invenções modernas,
como telefones, automóveis, computadores, que incorporam conceitos científicos na
produção desses produtos.
Há pelo menos outros dois elementos importantes ainda para entendermos a valorizaçãoda Ciência na sociedade atual. Recorremos primeiramente a Weber (1982). Ele
descreve a respeito do fortalecimento da burocracia como forma legítima de poder na
sociedade moderna. A burocracia, existente tanto no Estado como nas grandes
corporações, tem uma necessidade constante de aumentar o controle dos processos para
assegurar os seus objetivos de dominação. Não só as tecnologias de informação são
importantes nesse sentido, como a busca de um controle racional e eficaz dos processos.
Embora, a palavra burocracia, esteja atrelada no senso comum a papelada, essa visãoobscurece o verdadeiro sentido da burocracia que é o controle. O método científico
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justamente a partir de sua racionalidade passa a ser visto como um elemento importante
para estas instâncias burocráticas no desenvolvimento de seus controles. Não é sem
razão, que encontramos na burocracia conceitos como “Administração Científica” ou
“Pesquisa de Mercados”. Considerando que a educação escolar tem sido vista como
fundamental dentro desse projeto de modernização da sociedade, a Ciência passa a
integrar os currículos de forma a assegurar a incorporação da racionalidade e as novas
descrições a respeito do mundo natural. Assim, no surgimento da ordem social
moderna, a metodologia científica justamente centralizada na racionalidade oferece um
tipo de conhecimento compatível com a burocracia emergente. Por tanto, no exercício
moderno do poder legítimo, no qual a burocracia se torna cada vez mais totalizante, o
conhecimento científico mais do que qualquer outro permitirá a concretização das novas
relações de poder. O poder do Estado moderno passará cada vez mais a contar com os
saberes produzidos em nome da Ciência para legitimar suas ações.
O último aspecto que consideramos fundamental a apresentação para entendermos o
papel da Ciência na sociedade moderna está baseado na análise de Giddens a respeito de
Modernidade. Giddens (1991) considera a existência de múltiplas especialidades uma
das principais características da contemporaneidade. Embora, ele coloca que essa
especialização gere um conhecimento fragmentado e de difícil integração, ela também é
geradora de um domínio aprofundado em cada especialidade. Isso confere aos
especialistas um alto grau de confiança social. Na realidade, o que chamamos de
Ciência é, de fato, um grande conjunto de especialidades, que tem em comum, o uso de
uma metodologia racional. Nesse sentido, a Ciência, como um conjunto de
especialidades, por assim dizer, receber o prestígio de cada uma dessas especialidades.
Ao analisarmos as explicações dadas entre diferentes áreas da Ciência, podemos
detectar divergências a respeito de muitos assuntos. Apenas a título de exemplo, se
verificamos as explicações sobre comportamento criminoso a partir de “geneticistas” e“sociologistas” perceberemos que existem divergências sobre a existência ou não de
uma “natureza criminosa”. Mesmo diante, dessas divergências, o uso da racionalidade
como elemento constituinte desses saberes confere uma unidade e um prestígio comum.
Diante do que apresentamos anteriormente, queremos destacar justamente que na
sociedade atual, o saber chamado científico, possui várias fontes de legitimação, que o
tornam o saber oficial para decidir, em especial, os comportamentos gerais da
sociedade. Desta forma, é compreensível que as mais diversas áreas de conhecimento,que pretendam obter um status de confiabilidade na sociedade, almejem ser
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reconhecidas como científicas. Diversas ideológicas políticas inclusive buscaram o
adjetivo de “científico” para tornar mais legítima na sociedade moderna as suas
propostas.
Consideramos, que esse breve quadro descrito anteriormente nos possibilidade entender
o por quê existe um conflito entre “Criacionistas” e “Evolucionistas” em relação ao uso
da Ciência em seu debate. Justificar a posição filosófica a partir do uso da Ciência é
uma forma de tentar legitimar e alcançar mais prestígios na sociedade. Como já
analisamos em um artigo a posição dos Criacionistas sobre o uso da Ciência, desejamos,
nessa comunicação focar a posição dos Evolucionistas no uso da Ciência. Apenas a
título de recordação, desejamos destacar que aqui estaremos tratando apenas dos
“evolucionistas ateus”, que compõe a parte mais militante na construção de uma ideia
da existência de um conflito entre Ciência e Religião.
Ateísmo
O ateísmo é um movimento filosófico bastante antigo, pelo menos no Ocidente.
Encontramos já entre os antigos gregos, a proposta dos atomistas, que viam na Natureza
o fim último e capaz de se autoexplicar sem nenhuma referência aos deuses ou a um
Deus supremo. As principais correntes filosóficas gregas que dominam na Antiguidade
o epicurismo e o estoicismo não poderiam ser considerar ateístas. Embora, o epicurismo
negasse a importância dos deuses. Evidentemente, depois que a Igreja Católica se
tornou o poder absoluto no Ocidente, ideias ateístas ficaram sem espaço de veiculação.
Os debates filosóficos medievais sobre as provas da existência divina nos sugerem que
havia dúvidas e questões, que eram articuladas de forma discreta, mas que levava a
necessidade de produzir argumentos de combate às dúvidas.
É somente com o Renascimento e a Reforma Protestante, que aos poucos, a Filosofia
vai se afastando do pensamento oficial do cristianismo. Assim, as ideias sobre Deus e areligião vão sendo questionadas e reelaboradas. Um desses questionamentos é o deísmo,
que marca boa parte do pensamento dos iluministas e distância Deus da vida cotidiana.
Somente, a partir do século XIX, começamos a encontrar filósofos que se declaram
ateus. Um dos primeiros foram Schopenhauer. Contudo, em pouco tempo vários
filósofos começam a defender uma visão ateísta de mundo, bem como aos poucos essa
posição vai se tornando mais comum na Ciência. Mesmo, que o ateísmo tenha avançado
nos ciclos mais escolarizados das sociedades ocidentais, mesmo na maior parte dospaíses europeus, o ateísmo é reivindicado por minorias. É possível observar em
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sociedade como a brasileira, ainda uma visão muito crítica e suspeita em relação aos
ateus.
Ainda podemos afirmar que o fortalecimento de movimentos fundamentalistas
religiosos nos últimos anos tem desencadeado uma nova onda de ateísmo militante.
Entre os principais expoentes desse ateísmo militante temos Richard Dawkins, Daniel
Dennett, Sam Harris e Cristopher Hitchens. Uma parte desses autores ataca a religião
diretamente, enquanto outra parte utiliza o conhecimento científico no combate a
religião. Nesse texto selecionamos dentro da nossa proposta apenas os autores que
buscam na Ciência os argumentos contra a Religião.
A Ciência contra a Religião – A visão ateísta
A Teoria da Evolução Biológica proposta por Darwin indiscutivelmente gerou um forte
impacto na religião cristã como um todo. Embora, vários pesquisadores cristãos, como
Asa Gray, viram a possibilidade de conciliar a teoria da evolução biológica com a ideia
de uma direção no processo evolutivo, de um modo geral o impacto foi no sentido de
uma polarização (Rachels, 1990). Considerando que o século XIX como já
apresentamos caracterizou-se por uma expansão do pensamento ateísta no mundo
ocidental, a teoria da evolução biológica proposta por Darwin pareceu oferecer uma
resposta científica para o ateísmo.
Essa ideia pode ser bem observada no pensamento de Daniel Dennett (2000). Em sua
obra A Perigosa Ideia de Darwin, fica bem claro que ele associa a teoria biológica da
Evolução como uma explicação totalmente completa para eliminar o sobrenatural. Mais
do que isso, ele ainda considera que tal explicação científica, elimina qualquer
possibilidade de o sobrenatural exista. Ele defender que a Teoria da Evolução Biológica
por Darwin é tão perfeita, que ela elimina qualquer possibilidade de alguém inteligente
possa só aceita-la parcialmente, ou associá-la a uma explicação religiosa. Dentro de suaargumentação, uma vez que a Ciência é completamente suficiente para explicar tudo
através do naturalismo, a religião não pode ser considerada seriamente.
Ao tratar do tema religião, ele considera todo o assunto como mera superstição infantil.
Ele chega associar a crença em Deus, a acreditar em papai Noel. Embora, ele reconheça
que existam cientistas que aceitem a evolução e que sejam religiosos, ele demonstra
ampla hostilidade a esse grupo, pois como já afirmarmos em sua argumentação, a
metodologia científica é a única resposta totalmente válida. É possível perceber que eledefende vigorosamente, que uma vez a Ciência sendo capaz de explicar a origem da
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vida e do universo, a partir de modelos materialistas, é uma consequência óbvia por que
o sobrenatural não existe. É interessante inclusive, que ele seleciona de um modo geral,
os piores comportamentos religiosos, como se fossem únicos e exclusivos. Voltando a
questão puramente da Ciência e materialismo, ele associa que considerando que a
metodologia científica é materialista, toda realidade também está determinada por esse
nível.
O mais conhecido cientista atual conhecido por associar Ciência e ateísmo é Richard
Dawkins. Em sua obra O Relojoeiro Cego, Dawkins(2001) se propõe a demonstrar
como a Teoria da Evolução Biológica proposta por Darwin explica perfeitamente a
diversidade da natureza, tendo como objetivo explicito em seu título refutar a
argumentação da existência de Deus, em função do desígnio existente na natureza.
Richard Dawkins (2007) acentua o foco do uso da Ciência contra a Religião em seu
livro Deus um Delirio. Ao tratar da evolução biológica ele afirma que: “Ela destrói a
ilusão do design dentro do domínio da biologia e nos incita a desconfiar de qualquer
hipótese de design também na física e na cosmologia.” (Dawkins, 2007, p.161).
Em sua obra O Gene Egoísta Dawkins (2008) considera qualquer questão sobre o
significado da vida só pode ser entendi tendo em vista que a teoria da evolução
biológica proposta por Darwin traz a resposta definitiva. Inclusive considera que a
Filosofia e as Ciências Sociais que não forem baseadas na teoria da evolução biológica
não podem ser levadas a sério, quando apresentam qualquer estudo a respeito do ser
humano.
Discussão
Não temos intenção aqui de julgar os argumentos propostos em termos científicos.
Contudo, podemos observar que a argumentação proposta é que o ateísmo teria uma
base científica para sua crença. Ou seja, se eu tenho meu conhecimento baseado naCiência necessariamente tenho de ser ateu.
Nesse sentido, podemos afirmar que esses autores propõe uma total igualdade entre
materialismo metodológico e metafísico. Peter Berger (1985) apresenta um importante
aspecto de orientação aos estudos das ciências sociais. Ele sustenta o conceito de
materialismo metodológico, que significa que a Ciência trabalha com uma metodologia
limitada ao universo material e observável. Esse instrumental é necessário mesmo
quando vamos estudar o fenômeno religioso nas ciências sociais. Nesse sentido, eleestá procurando destacar que o valor e o alcance da Ciência são dados por sua postura
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metodológica, mas isso não é o mesmo que determinar a inexistência de uma realidade
supranatural.
Essa necessidade de separar um materialismo metodológico de um ateísmo filosófico,
também é destacado por Ruse (2010). Ele ainda ressalta que mesmo Darwin, tão citado
pelos ateus militantes, como tendo trazido a grande prova que encerra qualquer
possibilidade de crença religosa, não defendia que sua teoria eliminava qualquer sentido
da religião, ou que todos para aceitar sua teoria teriam de se converter ao ateísmo.
Consideramos importante destacar que embora esses autores ateus tenham total direito
de expressar suas convicções filosóficas, o uso da Ciência, por uma parte deles, é feita
com o mesmo objetivo que vários grupos fundamentalistas religiosos tentam utilizar e
desenvolver suas próprias pesquisas científicas para validar suas convicções religiosas
pela Ciência.
Paradoxalmente, podemos perceber que os ateus militantes adotam uma visão de
Ciência dentro de uma visão claramente positivista, negando o próprio avanço da
filosofia da Ciência, que procura entendê-la como um produto histórico e, também,
marcado por interesses e limitações teóricas dos pesquisadores (Fourez, 1995). Ao
brevemente tratarmos desse tema, desejamos ajudar a destacar que a polarização
construída pela temática Criacionismo x Evolucionsimo, se mantém, por um uso
indevido da Ciência. Tanto fundamentalistas religiosos, como ateus militantes, estão
ainda imersos em uma concepção de Ciência que confere a ela uma poder “total” de
legitimar suas crenças. Evidentemente, os criacionistas possuem uma crença religiosa,
enquanto os ateus possuem uma posição filosófica. Nem a Religião, nem a Filosofia são
conhecimentos inúteis ou equivocados por que não estão fundamentados na Ciência. A
necessidade dos fundamentalistas religiosos demonstrar que suas crenças religiosas são
totalmente compatíveis com a “verdadeira ciência” nos parece semelhante, a ação dos
ateus militantes, que consideram que a “verdadeira ciência” só pode levar ao ateísmo.De alguma forma, o conflito entre Ciência e Religião está na falta de uma melhor
apreciação da Ciência.
A própria compreensão das limitações sócio-históricas do saber científico, nos pode
ajudar a entender e se opor a que a Ciência seja usada indevidamente. O valor da
Ciência está fundamentado justamente em sua flexibilidade e capacidade de alterar seus
paradigmas quando necessários e permitir que várias ações e mudanças possam ser
feitas para melhoria da qualidade de vida do ser humano. Não temos dúvidas que oconhecimento científico tem uma relação complexa com a religião. Primeiramente, por
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que assim, como a Ciência é um conjunto de especialidades, a Religião também
apresenta credos e práticas tão diferentes que muitas vezes é até difícil determinar o que
são religiões ou não. Por tanto, consideramos que esse tipo de imagem de um conflito
entre criacionistas x evolucionsitas, que é real, ser colocado sempre como a “típica”
relação entre Ciência e Religião, acaba sendo algo vazio de sentido, e que não deveria
ser incorporado pelos ciclos acadêmicos, uma vez que as relações são diferenciadas
entre os campos da Ciência e as diversas crenças religiosas.
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