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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3Cadernos PDE
I
DO FIGURATIVO AO ABSTRATO: UMA CONSTRUÇÃO A
PARTIR DE ELEMENTOS DO COTIDIANO
Regina de Fatima Razente Fassina1
Tania Regina Rossetto2
Resumo: Este trabalho tem como tema arte e cotidiano envolvendo a arte figurativa e a arte abstrata. Refere-se ao ensino de Arte, buscando reflexões mais aprofundadas por meio de atividades desenvolvidas junto a alunos do 6º Ano do Ensino Fundamental do Colégio Estadual Costa Monteiro, no município de Nova Esperança. A ação consiste na implementação de uma unidade didática, parte componente do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), promovido pela Secretaria de Educação do Paraná (SEED). Nesta intenção foram estruturadas propostas artísticas, partindo da problemática: quais as significações podem ser construídas por meio da composição entre a arte e a vida por alunos do 6° Ano do Ensino Fundamental?
Os objetivos consistiram em promover a interação dos alunos com imagens presentes no
cotidiano; oportunizar o desenvolvimento da percepção visual em relação às cores, as formas, a harmonia, o equilíbrio, a simetria e o movimento; abordar as formas e as cores como parte da organização natural e cultural do ser humano; manusear os instrumentos de desenho geométrico, por meio da criação artística; socializar os trabalhos produzidos pelos alunos, em exposição artística. A partir da realização deste estudo, os alunos desenvolveram sensibilidades que lhes permitiram a percepção e a integração da arte com o mundo que os cerca. As ações oportunizaram momentos significativos de reflexão sobre a própria realidade por meio da arte figurativa, abstrata envolvendo o cotidiano. Como conclusão do trabalho, observamos reflexões mais aprofundadas por parte dos alunos envolvidos e a contínua socialização das significações no processo de criação artística.
Palavras chave: Educação. Arte Figurativa. Arte Abstrata. Cotidiano.
1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Este artigo apresenta reflexões sobre algumas ações desenvolvidas nos
anos de 2014 e 2015, como quesito do Programa de Desenvolvimento
Educacional (PDE), vinculado à Secretaria de Educação do Paraná (SEED). O
estudo foi direcionado aos alunos do 6° Ano, do Colégio Estadual Costa
Monteiro, localizado no município de Nova Esperança, no decorrer de aulas
relativas à disciplina de Arte.
Nesta intenção, destacamos que “A arte é fonte de humanização e por
meio dela o ser humano se torna consciente da sua existência individual e
1 Professora de Arte, atuando pela Secretaria de Estado da Educação do Paraná, no Colégio Estadual
Costa Monteiro. Possui pós-graduação em Desenho Geométrico. 2 Orientadora: Graduada em Educação Artística (UNIOESTE), Especialista em Psicopedagogia, Educação
de Jovens e Adultos e Metodologia do Ensino de Arte, Mestrado em Educação (UEM), cursando Doutorado em Educação (UEM). Professora no curso de Graduação em Artes Visuais/UEM.
social; percebe-se e se interroga, é levado a interpretar o mundo e a si
mesmo.” (PARANÀ, 2008, p.56). Assim, a Arte rompe os princípios da
obviedade, perpetuando visões que permitem entender a realidade histórica.
Tendo em vista que o ensino da Arte envolve a dimensão das
linguagens artísticas, perfazendo um percurso criador, em que o aluno terá
condições de significar o objeto por ele construído, esta pesquisa buscou
resposta para o seguinte questionamento: Quais significações podem ser
construídas, por meio da composição entre a arte e a vida cotidiana, por alunos
do 6° Ano do Ensino Fundamental?
Neste panorama, foram destacados os objetivos: promover a interação
dos alunos com imagens presentes no cotidiano; oportunizar o
desenvolvimento da percepção visual em relação às cores, as formas, a
harmonia, o equilíbrio, a simetria e o movimento; abordar as formas e as cores
como parte da organização natural e cultural do ser humano; manusear os
instrumentos de desenho geométrico, por meio da criação artística; socializar
os trabalhos produzidos pelos alunos, em exposição artística.
A metodologia envolve estudos teóricos e proposição de práticas
pedagógicas. Neste percurso, expomos a implementação junto aos alunos do
6º Ano fomentada pelas discussões realizadas pelos professores participantes
do Grupo de Trabalho em Rede (GTR). Este grupo foi direcionado pela
professora autora com o intuito de socializar seu trabalho de implementação
pedagógica, recendo contribuições que vieram potencializar suas ações.
Neste sentido, este estudo, apresenta discussões envolvendo: processo
de criação artística; arte e cotidiano; forma figurativa e abstrata; descrição da
implementação pedagógica. Na sequência, apresentamos resultados e
discussões relativos à ação desenvolvida e por fim, focamos a dinâmica do
processo que permitiu novos olhares sobre a realidade.
2 O PROCESSO DE CRIAÇÃO ARTÍSTICA
Criar faz parte da construção do ser humano e do mundo que o cerca,
sendo possível pelas relações estabelecidas entre descobertas e mudanças,
expressando olhares, referências, sentimentos e memória, oportunizando ao
indivíduo a vivência de experiências associadas à concepção de novas
realidades. É fato que o ser humano é essencialmente criativo e criador, o que
configura uma visão política, histórica e filosófica, considerando que
[...] o comportamento de cada ser humano se molda pelos padrões culturais, históricos, do grupo em que ele, indivíduo, nasce, cresce. Ainda vinculado aos mesmos padrões coletivos, ele se desenvolverá enquanto individualidade, com seu modo pessoal de agir, seus sonhos, suas aspirações e suas eventuais realizações (OSTROWER, 2012, p.11-12).
Observamos que a criação é elaborada a partir de um contexto cultural,
revelando a potencialidade individual e coletiva, expressando o que cada época
tem em particular. Por meio da criação podemos superar a alienação a que
estamos submetidos em nosso cotidiano.
Nesse sentido, o momento de criação permite uma estrutura ordenada e
configurada que corresponde a possibilidades reais, as quais são movidas com
intenção do indivíduo. Nesta ação, o ser consciente interage com o ser
inconsciente, o ser sensível e o ser cultural. Assim, “o ato criador, sempre ato
de integração, adquire seu significado pleno só quando entendido globalmente”
(OSTROWER, 2012, p.56). Podemos compreender, portanto, que pelo
processo criativo a integração do inconsciente e do consciente é fundamental;
o que perfaz a relação entre o conhecimento individual e o social, configurando
a criação ao pensamento e à ação.
Ao ampliarmos o processo do trabalho artístico, ampliamos a dinâmica e
a complexidade do pensar e do agir, concebendo que a inspiração faz parte de
uma ou várias etapas do desenvolvimento do processo criador. Pois,
O potencial criador elabora-se nos múltiplos níveis do ser sensível – cultural – consciente do homem, e se faz presente nos múltiplos caminhos em que o homem procura captar e configurar as realidades da vida. Os caminhos podem cristalizar-se e as vivências podem integrar-se em formas de comunicação, em ordenações concluídas, mas a criatividade como potência se refaz sempre. A produtividade do homem, em vez de se esgotar, libertando-se, amplia-se (OSTROWER, 2012, p. 26-27).
Percebemos que as experiências vivenciadas constituem a alavanca
para o fazer artístico, o ser consciente e sensível está na conscientização
individual diante da existência social; é uma maneira de ver o mundo.
Nesta perspectiva, a criação tem sentido quando há conscientização.
Coaduna-se com esta ideia, o fato de que o ser humano mostra em seu
comportamento padrões culturais e históricos da localidade em que nasceu e
cresceu, estando presentes padrões coletivos, que são desenvolvidos pelo ser
individual, por meio de convivências que, experimentadas coletivamente, são
refletidas na geração seguinte. Ostrower (2012, p.05) enfatiza que “o criar só
pode ser visto num sentido global, como um agir integrado em um ser humano.
De fato, criar e viver se interligam”, a partir dos tempos vividos, experiências,
conquistas, acasos, é que podemos desenvolver o potencial criador.
2.1 Arte e cotidiano
De início, consideramos arte e cotidiano como um amálgama
inseparável. Neste ínterim, o conhecimento da vida cotidiana é revelado pelas
relações de preocupação, cotidianidade e história. A preocupação faz parte do
enredo constituído pelo indivíduo juntamente com as relações apresentadas a
ele no âmbito social. Assim, “a „preocupação‟ não é o estado de consciência
cotidiano de um indivíduo cansado, que dela se pode liberta mediante a
distração. A preocupação é o engajamento prático do indivíduo no conjunto das
relações sociais, compreendidas do ponto de vista deste engajamento pessoal,
individual e subjetivo”. (KOSIK, 1976, p. 62)
Neste processo, a História permite quebrar o cotidiano, por exemplo,
uma catástrofe, uma guerra. Entretanto ainda nesse contexto há seu cotidiano.
A realidade transcende se desenvolve e se rompe com a vida de cada dia de
forma abrupta, possibilitando a divisão da vida em cotidianidade e história.
A vida cotidiana salienta as experiências de cada um. O cotidiano é
constituído pela realidade diante da vida de cada dia, é um acesso à
compreensão descrita na realidade, expressando sempre o comportamento, o
modo de pensar, o gosto diante da banalidade de cada indivíduo, assim como
a maneira de ver o mundo e suas preocupações. (KOSIK, 1976).
O ser humano é um ser social, que age, pensa, sente e necessita como
fator de humanidade, refletir sobre o cotidiano, como forma de criar novas
realidades. Destacamos que a criação artística e o contato com a arte é uma
das formas de romper a cotidianidade.
2.3 Formas: figurativo e abstrato
O ser humano está habituado a produzir imagens, o que foi se
transformando no decorrer dos séculos em relação às figuras: deuses, animais,
homens, mulheres, santos. No entanto, a arte que era só imitação deixa de ser
tão importante. A arte passa a ter relação com “o cultural e social da época”.
(ARGAN, 1992, p. 12)
As formas produzidas representam a “visão pessoal ou mais
amplamente, visão cultural de determinada sociedade num determinado
momento histórico”. (OSTROWER, 2004, p. 297). O significado que se busca
nas imagens é um referencial estabelecido na mente abarcando relações entre
formas internas e externas, as quais passam a existir expressando emoções e
pensamentos. (OSTROWER, 1999)
A forma ganha significado pela ordenação de seus elementos internos e
externos que ao serem trabalhados, podem ser comunicados. Assim, “a forma
é o modo por que se relacionam os fenômenos, é o modo como se configuram
certas relações dentro de um contexto”. (OSTROWER, 2012, p. 79). Neste
percurso, as imagens não figurativas são expressivas e se relacionam com o
cotidiano perfazendo diversos significados, relacionando tons, cores, manchas,
brilho, contornos, movimento, ritmo.
Gombrich (2006) comenta que as imagens figurativas representam e
imitam imagens as quais sugerem, indicam, designam objetos ou situações que
marcam uma história que lhe é própria representando o mundo como se vê e o
que se sabe e conhece, dando ênfase nos fatos vivenciados.
É importante lembrar que a arte, seja figurativa ou abstrata, é feita de
pessoas para pessoas em épocas distintas, com intenções definidas em sua
produção e o encanto de tais imagens é revelado pelo significado que contêm.
Convivemos e nos movimentamos entre formas, que estão impregnadas no
cotidiano; relacionamo-nos com elas, atribuindo-lhes significados.
3 IMPLEMENTAÇÃO PEDGÓGICA: DA TEORIA À PRÁTICA
A implementação pedagógica foi realizada em uma turma do 6º Ano do
Ensino Fundamental, do Colégio Estadual Costa Monteiro, no município de
Nova Esperança, Estado do Paraná. Tal ação ocorreu no primeiro semestre de
2015, durante aulas da disciplina de Arte, organizadas em duas aulas
semanais, geminadas, com a duração de cinquenta minutos cada, perfazendo
o total de 32 aulas, perfazendo 16 encontros.
Os encontros foram organizados a partir da construção de uma unidade
didática, contemplando atividades que envolveram formas figurativas e
abstratas a partir da observação e pesquisa da forma de azulejos, toalhas de
crochê e demais elementos do espaço cotidiano, incluindo a forma de compor o
espaço conforme Maurice Escher3 e Wassily Kandisnky4.
O suporte selecionado para a produção final foi o azulejo, no qual os
alunos individualmente realizaram composições tendo como referências os
estudos realizados em relação à organização da forma e da cor. Justificamos a
utilização do azulejo pelo seu papel na construção de uma identidade nacional,
pois foi em meio à turbulência da Independência da corte de Portugal que ele
chegou ao Brasil, passando a fazer parte da arquitetura como uma peça
fundamental em relação a um novo pensar sobre o discurso político-ideológico
e arquitetônico nacional. O azulejo se tornou um ícone que se juntou a valores
culturais, históricos e sócio-econômicos. (SILVEIRA, 2008)
Durante os encontros utilizamos uma pasta para arquivar as produções
dos alunos, o que permitiu refletir sobre suas ações. Ao fim do processo
montamos um painel coletivo constituído dos azulejos pintados como forma de
socializar o resultado do trabalho desenvolvido junto aos alunos. O processo de
criação foi fotografado. As fotografias foram expostas junto ao mural de
azulejos, acompanhando textos dos alunos referentes ao conteúdo.
Cada um dos encontros apresentou objetivos, procedimentos
metodológicos e recursos didáticos pedagógicos. A abordagem dos conteúdos
teve como referência as DCE‟s da disciplina de Arte (PARANÁ, 2008),
referente a área de conhecimento de Artes Visuais. Na sequência, passamos à
descrição das propostas desenvolvidas.
3 Marrits Cornelis Escher (1898 – 1972) apresenta como forma de composição a perspectiva e os espaços
impossíveis. Pode-se reconhecer em seu trabalho uma minuciosa observação do mundo junto à expressões de suas próprias fantasias. (BERRO, 2008) 4 Wassily Kandinsky (1866 – 1944) foi precursor do abstracionismo, sua obras são baseadas em formas
geométricas, no espaço e no equilíbrio. (KANDINSKY, 2009)
3.1 O ato criador a partir da composição figurativa e abstrata
Esta proposta envolveu a verificação do conhecimento dos alunos em
relação ao ponto, as linhas, as formas, as cores e o uso da régua e do
compasso como forma de encaminhamentos futuros. Neste percurso,
solicitamos que os alunos falassem sobre o ponto, a linha, a forma e a cor.
Suas falas foram escritas no quadro, encaminhando questionamentos de forma
que reflexões pudessem ser formuladas pelos mesmos. Solicitamos o registro
das reflexões e conceitos por meio de escrita, desenho e cor. Na sequência
apresentamos imagens de obras de Kandinsky e Escher, observando a
composição em suas linhas e cores. Após a apresentação da obra, os alunos,
utilizando régua e compasso como instrumento de trabalho, traçaram linhas
organizando suas próprias composições, conforme Figura 1:
Figura 1: Composição abstrata.
Fonte: arquivo da autora, 2015.
3.2. Na trilha das formas
Esta proposta envolveu o reconhecimento e a apreciação de linhas,
formas e cores do cotidiano. Os alunos percorreram o pátio da escola
observando e registrando linhas, formas e cores encontradas pelo percurso. No
retorno à sala de aula, responderam questões relativas as sensações
percebidas, depois desenharam formas utilizando a régua e o compasso,
pintando-as de acordo com as cores observadas. Na sequência fizeram a
exposição das experiências vivenciadas, relatando-as aos colegas. A ação
pode ser observada por meio da Figura 2:
Figura 2: reconhecendo as formas.
Fonte: arquivo da autora, 2015.
3.3. A arte no cotidiano do lar
Esta proposta envolveu o engajamento do cotidiano do aluno como
maneira de criar novas formas, as quais se transformam em significados. Os
alunos fizeram uma síntese oral das aulas anteriores em relação: as formas, as
cores, as linhas e as retas, buscando relacioná-las com o cotidiano fazendo
menção a figuras humanas, animais e objetos. Após o relato trouxeram novas
significações para as suas reflexões por meio de um desenho abstrato, o
mesmo foi pintado nas cores desejadas, com a utilização de lápis de cor, o que
pode ser observado na Figura 3:
Figura 3: Processo de criação de formas
Fonte: arquivo da autora, 2015.
3.4. Composição do portfólio
Esta proposta envolveu a percepção por meio da composição abstrata,
utilizando diversas maneiras de organizar os elementos visuais. As cores
preferidas de cada um serviram de referência para a criação artística.
Utilizando régua e do compasso os alunos fizeram a composição da capa do
portfólio, o qual destinou-se para o arquivo dos estudos realizdos no decorrer
dos encontros. O processo compositivo proposto pode ser observado por meio
da Figura 4:
Figura 4: Construindo o portfólio.
Fonte: arquivo da autora, 2015.
3.5. Simetria: ornatos em faixas, frisos ou fitas
Esta proposta envolveu noções de simetria, explorando a criatividade,
exercitando a memória em relação ao cotidiano observado nas reflexões e
exposições em relação ao conteúdo desenvolvido. As simetrias existentes nas
toalhinhas de crochê e nos gráficos dos livros e revistas que abordam o
assunto serviram como referência. Neste encontro, estavam presentes
membros da comunidade escolar demonstrando o processo de trabalho relativo
ao crochê. Depois dessa abordagem, montaram padrões simétricos sobre
papel quadriculado a partir das referências apresentadas. Na Figura 6,
podemos observar os trabalhos apresentados pela comunidade:
Figura 5: Crochê em sala de aula.
Fonte: arquivo da autora, 2015.
3.6. Escher e as formas
Esta proposta envolveu a apreciação de obras de Escher, observando
sua forma de compor. A partir disso, foi realizada uma nova composição por
parte dos alunos buscando referências nas obras observadas. As composições
foram realizadas com divisões semelhantes as composições de azulejos em
que as formas complementam umas às outras, formando padrões que podem
ser repetidos expandindo a composição, conforme Figura 6:
Figura 6: Possibilidades de formas com azulejos.
Fonte: arquivo da autora, 2015.
3.7 Caleidoscópio: novas experiências
Esta proposta envolveu a observação e a relação das imagens vistas por
meio do caleidoscópio com a construção de novos significados referentes às
composições abstratas presentes no cotidiano. De início, houve a retomada da
forma compositiva do artista Escher. Na sequência os alunos puderam
observar o interior de um caleidoscópio, relacionando o que viram com as
imagens de Escher. Por fim, foi construído um caleidoscópio, segundo
orientações. O processo de construção do caleidoscópio pode ser observado
na Figura 7:
Figura 7: Confeccionando caleidoscópio
Fonte: arquivo da autora, 2015.
3.8 Percurso e significados nas produções de azulejos
Esta proposta envolveu a elaboração de composições em azulejos
observando as referências abstratas de Kandisnky e as referências figurativas
de Escher. Após a visualização de algumas obras de ambos artistas, os alunos
criaram em um quadrado uma das partes do estudo para a composição do
azulejo que no final envolveu quatro partes iguais, unidas entre si, formando
uma única composição, conforme Figura 8:
Figura 8: Criação para azulejo.
Fonte: arquivo da autora, 2015.
Após os estudos realizados, cada aluno escolheu uma composição para
compor a pintura do azulejo, conforme Figura 9:
Figura 9: Pintura do azulejo
Fonte: arquivo da autora, 2015.
3.9. Experiências integradas em painel de azulejos
Esta proposta envolveu a construção de significados por meio da
composição abstrata e figurativa relacionando a arte e o cotidiano dos alunos.
Após a pintura dos azulejos foi montado um painel coletivo na parede do
refeitório do colégio, local escolhido em conjunto com a direção do
estabelecimento. A composição final pode ser observada na Figura 10:
Figura 10: Painel com azulejo
Fonte: arquivo da autora, 2015.
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
No decorrer do desenvolvimento das propostas, observamos que as
composições realizadas pelos alunos foram expressivas e comunicativas,
considerando que as novas formas criadas, expressaram suas vivências.
Em alguns momentos, os alunos se mostraram inquietos, pois, muitos
ainda não haviam adquirido a responsabilidade com o material; alguns
esqueciam a régua e o compasso; outros demonstravam dificuldades no
manuseio do material, o que foi gradativamente resolvido no processo de
construção. Outras dificuldades foram identificadas durante a implementação, a
sala numerosa; a falta de conhecimento sobre o manuseio da régua e do
compasso, o esquecimento do material, a falta de disciplina, a agitação e
imaturidade, por parte de alguns alunos. Mesmo diante de tais adversidades,
foi possível socializar o conhecimento pretendido.
Como aspectos positivos, pontuamos a presença de pessoas da
comunidade, de forma que os alunos puderam observar o processo de
construção do crochê, o que constituiu uma ação rica em significados. Tal fato
aproximou membros da comunidade e os alunos o que potencializou a
compreensão sobre o conteúdo exposto.
Ao explorarmos as possibilidades de composições com peças de
azulejos, observamos que se recusaram elaborar composição iguais ao do
outro. No entanto, houve um momento em que as possibilidades se esgotaram,
o que os levou buscarem novas referências. Um grupo realizou, por conta
própria, uma pesquisa sobre Escher, expondo-a aos demais. Observamos que
os alunos se envolveram com o artista e sua forma de compor, captando sua
essência, o que os levou a participassem do trabalho de forma prazerosa.
Na construção do caleidoscópio, percebemos que a partir da observação
das imagens do instrumento em conjunto com as obras de Escher, os alunos
passaram a estabelecer relações mais aprofundadas em relação as formas,
dando-lhes atenção especial.
Durante a implementação, os alunos passaram a pesquisar mais e
desenvolveram alguns pensamentos relevantes, por exemplo: “Antes pra mim
arte era um desenho perfeito e agora eu observei que a arte abstrata é uma
grande arte, também Escher coloca vários tipos de formas e Kandinsky vários
tipos de cores. A arte é muito importante para nós”.
Ao criarem seus desenhos os alunos se tornaram a própria criação,
conseguindo expor suas memórias internas. Para isto, foram necessários
esforço e dedicação, tanto para mostrar o que perceberam do mundo, quanto
para refletirem sobre a realidade. Dessa forma, a criatividade foi elaborada em
um contexto individual, no qual os alunos se mostraram engajados com o
mundo e interagiram consigo mesmos e com os outros pelo seu consciente,
sua sensibilidade e sua cultura.
Quanto ao tema deste estudo referente às relações entre a arte abstrata
e elementos do cotidiano, houve a construção do conhecimento em sua forma
humanizante, concebendo a arte em seu percurso criador significativo. Tal fato
pode ser comprovado pelo relato de uma aluna: “O abstrato chama minha
atenção, qualquer forma geométrica chama minha atenção, nada passa
desapercebido. Tudo tem significado”.
No decorrer da implementação, foi realizada uma exposição dos
trabalhos desenvolvidos pelos alunos, pois entendemos que esta ação pode se
ampliar as significações efetuadas ao longo do processo de criação e reflexão
da ação realizada, bem como, pode ocorrer a abertura para interpretações
efetuadas por eles mesmos em outro contato com os trabalhos estendidos ao
público participante. Dessa forma, tornou-se possível avaliar a contribuição
deste estudo junto a implementação pedagógica pela ação dos próprios alunos
e pela ação de outros em contato com a produção.
A montagem do painel de azulejo na parede agregou todas as
composições em uma única composição. Esse momento ficará registrado na
vida dos que participaram desta ação, extrapolando o painel afixado à parede.
Esse pensamento pode ser confirmado pelo relato de uma aluna: “Tudo que
tenho em minha volta é arte, temos arte de vários jeitos, podemos fazer uma
arte perfeita, que dá para decifrar, podemos fazer uma arte também abstrata,
que se cada pessoa olhar vai achar que é uma coisa, porque cada pessoa tem
seu olhar artístico”.
Alguns relatos de alunos contribuíram para minhas considerações finais,
sendo um deles: “Tudo que tenho em minha volta é arte, temos arte de vários
jeitos, podemos fazer uma arte perfeita, que dá para decifrar, podemos fazer
uma arte também abstrata, que se cada pessoa olhar vai achar que é uma
coisa, porque cada pessoa tem seu olhar artístico”. Este pensamento me
remete ao objetivo maior de todo professor, que é o de formar alunos críticos,
que tenham a capacidade de observar, analisar, refletir, compreender a
realidade em suas múltiplas interpretações, construindo seu próprio
conhecimento a partir dos que já existem
Diante do relato de outra aluna: “Agora vejo o abstrato com outros olhos
é uma obra de arte”, percebi, enfim, que o objetivo geral do projeto foi
alcançado; esta constatação me trouxe uma grande satisfação pessoal e a
percepção de que é necessário que nós, professores, prossigamos nesta tarefa
de sermos pesquisadores sobre a nossa própria prática pedagógica, no sentido
de buscar soluções/estratégias para o enfrentamento das dificuldades que se
apresentarem durante a nossa trajetória profissional.
Neste processo, ressaltamos a interatividade ocorrida com os
professores participantes do GTR, que apresentaram contribuições
significativas, apontando reflexões, tais como: o interesse imediato pelo curso,
ao verificar o tema de estudo, uma vez que concebiam o conteúdo difícil para o
6º Ano; a necessidade de oportunizar aos alunos a apreciação de técnicas e
materiais utilizados por alguns artistas; o interesse pela arte abstrata como
ferramenta multidisciplinar; o reconhecimento da possibilidade de se trabalhar
este conteúdo, relacionando-o com a vida cotidiana, desmistificando a ideia de
que a arte abstrata trata-se de rabisco.
Diante desta experiência, envolvendo a produção de uma Unidade
Didática, a implementação da proposta em sala de aula articulando teoria e
prática junto às contribuições do GTR, podemos confirmar, este processo
permitiu a criação de novas realidades, potencializando a percepção de
mundo, rompendo a cotidianidade, trazendo significados ao viver.
Vale destacar que os trabalhos produzidos pelos alunos apresentaram a
expressão do imaginário, a partir da utilização de coisas comuns, em relação
aos materiais e às formas artísticas, revelando questões interiores por meio de
relações externas estabelecidas pela arte.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
No percurso deste estudo envolvendo a composição abstrata e
figurativa, arte e cotidiano, perpassamos pela intenção de que os alunos
pudessem desenvolver sensibilidades que lhes permitissem a percepção e a
integração da arte com o mundo que os cerca. Desta forma, a partir da
observação e estudos que fazem parte do espaço cotidiano, pelas formas de
compor o espaço formal de Escher e Kandisnky, os alunos puderam entrar em
contato com a arte abstrata, atribuindo-lhe outras significações.
Neste processo, os alunos não só desenharam o que observaram, mas
criaram por meio de outras imagens formuladas em suas mentes, registrando
formas de seu cotidiano. Dessa maneira, evidenciamos as experiências, o
conhecimento em comum e em particular, revelando que o cotidiano pode ser
concebido de forma consciente, expressado pelo modo de pensar, pelo gosto,
pela maneira de ver o mundo e suas preocupações.
Concluímos que foi possível aos alunos perceberem, por meio da
composição abstrata e figurativa, as diversas maneiras de organizar os
elementos visuais. As propostas foram desenvolvidas com eficácia, com
participação ativa, de forma autônoma e responsável. O processo compositivo
ocorreu a partir de imagens e referências apresentadas aos alunos; no entanto,
as composições por eles elaboradas, demonstraram-se livres de amarras,
configurando elementos pessoais e coletivos, resultando em trabalhos originais
pela significação a eles atribuídos.
Por fim, destacamos que a partir da implementação desta proposta os
alunos desenvolveram sensibilidades que lhes permitiram a percepção e a
integração da arte com o mundo que os cerca. As ações oportunizaram
momentos significativos de reflexão sobre a própria realidade por meio da arte
figurativa, abstrata extrapolando o cotidiano, conforme objetivo deste estudo.
REFERÊNCIAS
BERRO, R. T. Relação entre a arte e matemática: um estudo da obra de Maurts Cornelis Escher, Dissertação (mestrado) Programa Pós-graduação Stricto Sensu em Educação, Universidade São Francisco, Itatiba, São Paulo, 2008.
KANDINSKY, W. Do espiritual na arte e na pintura em particular. 2 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2009.
KOSIK, K. Dialética do Concreto. Tradução de Celia Neves e Alderico Toríbio. 2. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976.
OSTROWER, F. Acasos e Criação Artística. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 1999.
_______. Criatividade e Processos de Criação. 27. ed. Petrópolis: Vozes, 2012.
_______. Universos da Arte. 24. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.
PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Departamento de Educação Básica. DiretrizesCurriculares de Arte para a Educação Básica. Curitiba: SEED/DEB, 2008.
SILVEIRA, M. C. O azulejo na modernidade arquitetônica 1930 – 1960. Universidade de São Paulo. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Curso de Pós-Graduação, 2008.
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