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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
ARTIGO FINAL
SANDRA IRES TROVO DO AMARAL1 DR. EM EDUCAÇÃO CARLOS EDUARDO FORTES GONZALEZ2
TÍTULO: AGROQUÍMICOS: UMA ABORDAGEM DIDÁTICA
RESUMO
Este artigo é parte final desse projeto do Plano de Ação do Programa de
Desenvolvimento Educacional – PDE 2014. Com o apoio dos cursos promovidos pela SEED, da IES e do professor orientador, foi possível organizar um vasto material bibliográfico para promover a pesquisa, assim como se inteirar das normas vigentes para a elaboração do projeto e posteriormente traçar um plano de ação procurando adaptar as estratégias para o desenvolvimento do projeto com os alunos da 6º ano do Ensino Fundamental. Nele objetivou-se trabalhar a temática dos agroquímicos através de uma pesquisa de intervenção pedagógica envolvendo alunos na disciplina de Química, além de procurar interagir com outras disciplinas da matriz curricular. Foram realizadas atividades didáticas com metodologias diferenciadas procurando oportunizar aos educandos uma visão crítica do uso desenfreado de agroquímicos, normas de segurança no manuseio, implicações para a saúde e ao meio ambiente. As atividades desenvolvidas possibilitaram a sensibilização dos alunos em busca de uma postura mais crítica e ativa em relação aos problemas ambientais, principalmente, agrotóxicos. Assim, faz-se necessário realizar mais trabalhos na área de Educação Ambiental, com o objetivo de despertar e sensibilizar os alunos a respeito dos problemas ambientais que os cercam. Conclui-se a partir dos resultados que os alunos passaram a avaliar criticamente o uso de agroquímicos e, do ponto de vista pedagógico, foi possível interagir os conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais. Palavras-chave: Agroquímicos; Intervenção pedagógica; Interdisciplinaridade.
1 � Aluna do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE
2 � Professor orientador. Estudos Ambientais. UTFPR – Universidade Tecnológica Federal do PR, Curitiba.
INTRODUÇÃO
A presente Unidade Didática intitulada “Agroquímicos: uma alternativa
sustentável para o ensino de Ciências” é um componente do Programa de
Desenvolvimento Educacional (PDE), ofertado pela Secretaria de Estado da
Educação do Governo do Estado do Paraná, com o objetivo principal de
desenvolver subsídios teórico-práticos norteadores para o trabalho com os
agroquímicos como alternativa sustentável para o ensino de Ciências.
Os defensivos agrícolas são também conhecidos como agrotóxicos,
causadores de grandes polêmicas constituindo-se em uma grande preocupação
ambiental e sanitária do Brasil e do mundo. Diversos fatores têm contribuído
para uma crescente tomada de consciência a respeito dos problemas criados
pelo uso excessivo e indiscriminado destes produtos.
Muito se tem falado sobre agrotóxicos e suas implicações no meio
ambiente nos últimos anos, mas as repercussões nas comunidades do interior
do município de Fazenda Rio Grande-PR ainda não são suficientes. Ao invés de
esperar que os alunos e seus pais agricultores aprendam o que eles precisam
saber, pode-se ensinar a refletir sobre as informações que já receberam,
orientando-os para manejá-las e tomar decisões seguras para suas vidas
considerando que já aconteceram danos, como mortes infantis por ingestão de
agrotóxicos, entre outros problemas socioambientais.
A sociedade deveria ter uma maior conscientização sobre os malefícios
dos agrotóxicos, visando um modelo de produção agrícola mais consciente e
menos agressivo à saúde. Para o autor, o uso exacerbado de agrotóxicos pelos
produtores rurais, tende a ser um grande problema de saúde pública e
ambiental, além de configurar-se em práticas criminosas, uma vez que a
intoxicação ocorre em cadeia, desde o produtor ao consumidor final.
Tendemos a supor que todas as coisas produzidas na natureza surgiram
para serem exploradas e tornar a vida urbana mais fácil. Dessa forma, cabe ao
professor a função de transmitir valores sobre o uso adequado da natureza,
despertando o interesse dos alunos acerca do uso de produtos naturais, sua
formação, utilização e significados como alternativa sustentável no ensino de
Ciências, dentro de um mundo escasso de informações alternativas a respeito
das soluções químicas e biológicas na produção de alimentos.
Através de diferentes disciplinas pode-se trabalhar o meio ambiente em
suas múltiplas dimensões.
Dessa forma, a questão ambiental vem sendo considerada cada vez mais
urgente e importante para a sociedade, pois o futuro da humanidade depende da
relação estabelecida entre a natureza e o uso pelo homem dos recursos naturais
disponíveis (preservação da água em questão). Conforme os PCN, (1997, p.
19):
[...] à medida que a humanidade aumenta a capacidade de intervir na natureza para satisfação de necessidade e desejos crescentes, surgem tensões e conflitos quanto ao uso do espaço e dos recursos em função da tecnologia disponível’’ Por estas razões percebe-se em criar uma forma de intervenção, através da qual a temática ambiental se faz presente em todas as disciplinas.
Assim sendo, o estudo aborda aspectos relevantes do ensino de Ciências
como um todo, com ênfase na Química, visando maior compreensão e
integração dessa área do conhecimento com a realidade vivencial do aluno,
tendo como objeto de estudo os “defensivos agrícolas”, seus interesses e
necessidades, propondo resgatar e rever a função primordial do educador-
educando no processo de ensino e aprendizagem.
O objetivo é despertar a percepção dos alunos quanto aos males
produzidos por herbicidas e agrotóxicos, propondo nesse processo uma
alternativa com o uso de inseticidas naturais manipulados por meio de aulas
laboratório. Desta forma, esperamos contribuir para a construção de novos
conhecimentos sobre os processos que envolvem a Química de produtos
naturais junto aos alunos do 6º Ano do Ensino Fundamental.
1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
1.1. AGROTÓXICOS
Os agrotóxicos ou defensivos agrícolas podem causar danos à saúde
pela exposição prolongada ou pelo uso mal orientado. Os países em
desenvolvimento têm sido obrigados a adequar os produtos comercializados
com essa finalidade aos padrões internacionais, graças à pressão de
organizações não governamentais e aos próprios órgãos oficiais de proteção ao
meio ambiente. Hoje, os fabricantes e comerciantes devem levar em conta
questões ambientais, proteção ao consumidor e ao trabalhador rural e padrões
de qualidade do produto.
Os agrotóxicos podem provocar intoxicações agudas ou crônicas. No
primeiro caso, os sintomas se manifestam mais rapidamente no organismo, em
forma de dores de cabeça, dores de estômago, sonolência, tonturas, fraqueza,
perturbação da visão, saliva e suor excessivos, dificuldade respiratória e
diarreia. Na forma crônica, os efeitos da intoxicação podem surgir meses ou até
anos depois da exposição ao produto. Este tipo de manifestação pode levar ao
desenvolvimento de certos tipos de paralisias e de doenças como o câncer e
DPOC (Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica). A contaminação acontece por via
aérea (respiração), digestiva (ingestão), ou pela pele (contato direto).
A utilização de insumos químicos, particularmente de agrotóxicos,
constitui uma das características fundamentais do padrão tecnológico
introduzido na agricultura brasileira a partir dos anos sessenta. Esta
Modernização provocou significativas perdas ambientais e a destruição de
recursos naturais produtivos.
Conforme Aveline:
A contaminação do meio ambiente ao nosso redor se desenvolve paralelamente à contaminação dos nossos próprios organismos, que são ecossistemas em miniatura. Exprimidos entre a contaminação e a fome, a opção dos consumidores é passar a produzir o seu próprio alimento por métodos naturais. Para que isto esteja ao alcance de todos, será preciso uma transformação social como a humanidade nunca viu (AVELINE, 1985, p. 80).
No que se referem à questão ambiental, as limitações tecnológicas da
agricultura “moderna” resultam do uso intensivo dos solos, da utilização de
insumos químicos altamente poluentes em larga escala e da multiplicação de
pragas. Cabe mencionar, ainda, a contaminação dos alimentos e as intoxicações
de agricultores por agrotóxicos. Quanto aos problemas sociais, deve-se registrar
que, não obstante o uso de técnicas “modernas”, a disponibilidade de alimentos
por habitante sofreu redução nos últimos anos. Paralelamente, cumpre destacar
o crescimento dos contingentes de assalariados rurais, temporários e
permanentes. Este fato pode ser tomado como indicador da acentuação da
desigualdade social no campo pela razão básica de que tais trabalhadores
provêm das pequenas unidades de produção familiar e percebem baixíssima
remuneração.
Segundo Rüegg et al (1991, p. 12) “... as intoxicações agudas dos
aplicadores de pesticidas foram intensificadas. Estes trabalhadores não recebem
a mínima instrução para a aplicação correta dos agrotóxicos que,
frequentemente, apresentam graves riscos para o homem”.
Os agrotóxicos são substancias químicas destinadas ao controle de
pragas, doenças e ervas daninhas. Estes produtos, quando aliados aos métodos
alternativos, garantem aos produtores que seus investimentos e seu lucro sejam
preservados do ataque de agentes nocivos às culturas. Como um remédio, se
forem mal administrados, podem trazer efeitos colaterais e fazer mais mal do
que bem. Os agrotóxicos só podem ser usados com orientação adequada
através de receituário agronômico. Todos que utilizam estes produtos devem
observar cuidadosamente as orientações que são detalhadas.
Além disso, há equipes de agrônomos e orientadores técnicos que
podem estar ao lado do agricultor, orientando para que tenham condições de
usar de forma correta e adequada os produtos. Na área de pesquisa, também
são direcionados esforços para que possam ser sempre usados produtos que
interfiram menos no meio ambiente e na saúde. Mas, certamente, todos os
esforços só terão resultados se cada um fizer a sua parte.
1.1. TIPOS DE AGROTÓXICOS
Os agrotóxicos podem ser classificados segundo o agente nocivo que se
deseja controlar como, por exemplo: Inseticidas: usados para controlar pragas e
insetos; Fungicidas: combatem doenças causadas por fungos; Herbicidas:
controlam ervas daninhas.
Estes produtos são formados pela mistura de uma substância ativa com
substâncias inertes que facilitam a sua aplicação na lavoura. Podem ser
formulados de diferentes maneiras, como: pós-secos (P), pós molháveis (PM),
concentrados emulsionáveis (CE), grânulos dispersáveis em água (GRDA),
soluções aquosas (SC), iscas e pastilhas, etc.
Os agrotóxicos são substâncias tóxicas, ou seja, são venenos que,
dependendo da quantidade absorvida, podem causar desde uma leve
intoxicação até a morte de pessoas e animais. As vias mais frequentes de um
agrotóxico penetrar no corpo humano são quatro:
As principais vias de contaminação:
Pele: É considerada a via mais comum de entrada dos agrotóxicos no
corpo. Como os agrotóxicos podem penetrar rapidamente através da pele, a
falta de banho após o seu manuseio e o uso de roupas contaminadas são
fatores importantes na ocorrência de intoxicação.
Boca: A absorção pela boca é pouco comum e, geralmente, é acidental.
Respiração: A absorção por via respiratória acontece com mais
frequência na aplicação de produtos que emitem vapores orgânicos e gases, no
preparo da calda e aplicação em locais fechados ou poucos ventilados, como o
uso incorreto ou não uso de máscaras protetoras.
Ferimentos: Quaisquer lesões na pele, mesmo simples arranhões,
permitem uma absorção muito rápida de um agente tóxico. Normalmente, estes
ferimentos ocorrem nas mãos, justamente a parte do corpo mais exposta ao
contato com os agrotóxicos.
1.2. CLASSIFICAÇÃO TOXICOLÓGICA
Segundo a toxicidade os agrotóxicos são classificados em:
I – Extremamente tóxico: rótulos vermelhos; mais que 5 mg/Kg (algumas
gotas).
II – Altamente tóxico: rótulo amarelo; 5 a 50 mg/Kg (1 pitada, uma colher
de chá de sopa).
III – Medianamente tóxico: rótulo azul; 50 a 500 mg/Kg (uma colher de
chá de sopa).
IV – Pouco tóxico: rótulo verde; 500 a 5000 mg/Kg (mais de duas
colheres de sopa).
Os agrotóxicos são substâncias tóxicas, ou seja, são venenos que
dependendo da quantidade absorvida podem causar desde intoxicação até a
morte de pessoas e animais. Variam, quanto ao risco de causar intoxicação ao
homem e são classificados para um melhor controle.
1.3. CAUSAS DE INTOXICAÇÃO
As causas mais frequentes de intoxicações agudas são, entre outras:
aplicar agrotóxicos em dias ventosos; ter contato de partes do corpo com
superfícies recém-tratadas; esfregar a boca com braços e mãos contaminados;
desentupir bicos de pulverização com a boca; usar a boca para chupar líquidos
tóxicos com cano de borracha (sifão); beber, comer ou fumar com as mãos
contaminadas; beber água, leite, etc.; de recipientes contaminados; usar
embalagens de agrotóxicos para guardar alimentos; respingos do produto no
momento de preparo da calda; vazamentos de equipamentos de aplicação de
agrotóxicos; reparar equipamentos contaminados; não utilizar roupas de
proteção; usar roupas contaminadas/ molhadas por agrotóxicos; manipular
agrotóxicos com as mãos apresentando ferimentos; não tomar banho após o
término da aplicação dos agrotóxicos; aplicar agrotóxicos em horas muito
quentes do dia; trabalhar sem condições normais de saúde e mal alimentado;
indivíduos menores, idosos e gestantes aplicando agrotóxicos; transportar
agrotóxicos em veículos inapropriados; desconhecer os riscos que a
manipulação inadequada do agrotóxico oferece.
1.4. EDUCAÇÃO AMBIENTAL NAS ESCOLAS
A Educação Ambiental caracteriza-se por incorporar as dimensões
socioeconômicas, políticas, culturais, históricas, não podendo basear-se em
pautas rígidas e de aplicação universal, devendo considerar as condições e
estágio de cada país, região e comunidade sob uma perspectiva histórica. Assim
sendo, a Educação Ambiental deve permitir a compreensão da natureza
complexa do meio ambiente e interpretar a interdependência entre os diversos
elementos que conformam o ambiente, com vistas a utilizar racionalmente os
recursos do meio na satisfação material e espiritual da sociedade no presente e
no futuro. Para fazê-lo, a Educação Ambiental deve capacitar ao pleno exercício
da cidadania, através da formação de uma base conceitual abrangente, técnica
e culturalmente capaz de permitir a superação dos obstáculos à utilização
sustentada do meio. O direito à informação e o acesso às tecnologias capazes
de viabilizar o desenvolvimento sustentável constituem, assim, um dos pilares
deste processo de formação de uma nova consciência em nível planetário, sem
perder a ótica local, regional e nacional.
A principal função do trabalho com o Meio Ambiente é contribuir para a formação de cidadãos conscientes, aptos a decidirem e atuarem na realidade socioambiental de modo comprometido com a vida, com o bem-estar de cada um e da sociedade, local e global. Para isso é necessário que, mais do que informações e conceitos, a escola se proponha a trabalhar com atitudes, com formação de valores, com ensino e procedimentos. Esse é um grande desafio para a educação (BRASIL, 1997, p.29).
A Educação Ambiental permite compreender o meio e as diferentes
noções espaciais e temporais, juntamente com os fenômenos sociais, culturais e
naturais característicos de cada paisagem. No entanto, compreender o que é e
como é um lugar, não é tão fácil assim, pois nem sempre todos os elementos
deste estão em harmonia. O lugar é onde estão todas as referências pessoais e
o sistema de valores que direcionam o homem a construir as diferentes formas
de perceber o espaço geográfico. Somente entendendo a realidade local, o
homem faz a sua comunicação com o mundo e transforma da sua maneira o
espaço.
As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental de 2012
definem o termo socioambiental “como um campo de interações entre a cultura,
a sociedade e a base física e biológica dos processos vitais, no qual todos os
elementos constitutivos dessa relação modificam-se dinâmica e mutuamente”.
Tal perspectiva considera o meio ambiente como espaço relacional, em que a
presença humana, longe de ser percebida como extemporânea, intrusa ou
desagregadora, aparece como um agente que pertence à teia de relações da
vida social, natural, cultural, e interage com ela”.
Com a Educação Ambiental, a escola, os conteúdos e o papel do professor e dos alunos são colocados em uma nova situação, não apenas relacionada com o conhecimento, mas sim com o uso que fazemos dele e a sua importância para a nossa participação política cotidiana (REIGOTA, 2002, p.82)
O professor não é o dono do saber, mas sim o orientador no processo de
aprendizagem na busca do conhecimento e de problematização de suas
vivências, pensando e repensando suas práticas a partir de novas informações;
especialmente no que se refere ao tratamento didático dos conteúdos e os
próprios valores e atitudes em relação ao meio ambiente. O aluno, ao ser
considerado sujeito da sua própria aprendizagem deve motivar-se para ter novos
relacionamentos com o que aprende, como se posicionar frente às suas
aprendizagens e como modificar suas ações.
Os PCN também abordam a relação professor-aluno nessa perspectiva,
salientando a importância de desenvolver tal postura crítica nos alunos e
registrando que:
[...] Os professores precisam conhecer o assunto e buscar com os alunos, mais informações, enquanto desenvolvem suas atividades: pesquisando em livros e levantando dados, conversando com os colegas das outras disciplinas, ou convidando pessoas da comunidade (professores especializados, técnicos do governo, lideranças, médicos, agrônomos, moradores tradicionais que conhecem a história do lugar) para fornecer informações, dar pequenas entrevistas ou participar das aulas na escola (BRASIL,1998,p. 188).
Conforme Brasil (2014), “as mudanças socioambientais globais atingem
a todos indistintamente. O aumento de eventos climáticos como secas
prolongadas, vendavais, enchentes deslizamentos de terra, evidenciam a
necessidade de promover aprendizagens sobre resiliência das comunidades. O
mapeamento de riscos, a geração de conhecimento sobre como preveni-los e
enfrentá-los, bem como a adequação dos espaços para fazer frente a esses
processos mostram-se fundamentais para a sobrevivência de toda forma de
vida. Tais eventos afetam a sociedade de diversas formas e precisam ser
abordados por meio do acesso qualificado à informação, pela geração de
conhecimento e por ações voltadas à prevenção de riscos e proteção das
comunidades. A adaptação às mudanças do clima, por exemplo, é parte dessa
estratégia de enfrentamento e de sobrevivência, atributo de transformações que
intensifiquem a transição rumo à democracia, à justiça social e à
sustentabilidade”.
A “escola pode se tornar um espaço educador sustentável, identificar um foco para as atenções atuais e começar a trabalhar imediatamente. Além disso, é preciso confiar no poder de reverberação de pequenas
grandes ações, que pelo exemplo vão contagiando esferas cada vez mais amplas, passando pela família, pela comunidade, a cidade, até ganhar conotações mundiais”. BRASIL (2012)
Sato, (2014) e Trajber Sato, (2010) também contribuem, quando trazem
a epistemologia conceitual do que venha a ser uma escola sustentável, quando
esta almeja a Inclusão social com proteção ecológica. Chamam a atenção,
também, de um desenho arquitetônico universal para a escola, fazendo leituras
e práticas de outras modalidades de lidar com a natureza, como a permacultura.
Neste contexto, considera-se que a Educação Ambiental deve ter o
pensamento crítico e inovador, permitindo mudanças na sociedade numa
perspectiva holística, enfocando a relação entre o ser humano, a natureza e o
conhecimento de forma interdisciplinar. Onde as questões globais devem ser
críticas, suas causas e inter-relações em uma perspectiva sistêmica, em seu
contexto social e histórico.
Educar os brasileiros para que ajam de modo responsável e com sensibilidade, conservando o meio saudável no presente e para o futuro, saibam exigir e respeitar os direitos próprios e os de toda a comunidade, tanto local como internacional, e se modifiquem tanto interiormente como pessoas, quanto nas suas relações com o ambiente. (BRASIL, 1998, p.181).
2 METODOLOGIA
Este trabalho enquadra-se na modalidade de pesquisa de intervenção
pedagógica, tendo como público-alvo alunos do 6º ano das séries finais do
ensino fundamental do Colégio Estadual Anita Canet no município de Fazenda
Rio Grande-PR.
Realizou-se a pesquisa na disciplina de Ciências Físicas e Biológicas,
interagindo com os temas transversais (Educação Ambiental), e outras
disciplinas do currículo escolar.
O período de realização ocorreu entre março e agosto do corrente ano
através de oficinas associadas aos conteúdos do programa da disciplina de
Ciências Físicas e Biológicas.
Estiveram envolvidos na pesquisa, dez pais (entrevista), quatro
professores e a direção da escola.
3. APRESENTAÇÃO DOS DADOS
Foram realizadas oficinas com tópicos associados, visando trabalhar
conteúdos conceituais, atitudinais e procedimentais.
Na primeira oficina, foi realizado um diagnóstico sobre o nível de
conhecimento dos alunos sobre agrotóxicos. Foram elaboradas as perguntas: 1.
O que você sabe sobre os agrotóxicos? 2. Você conhece alguns defensivos
agrícolas? 3. Qual o perigo que os agrotóxicos representam tanto para o meio
ambiente como para a nossa saúde? 4. Quais são os agrotóxicos mais comuns
utilizados pelos agricultores? 5. Existe agrotóxico benéfico à saúde humana e ao
meio ambiente? 6. Você acha que a população conhece as técnicas do
manuseio e a aplicação adequada dos agrotóxicos? Existe necessidade do uso
de agrotóxicos? 7. Quais os efeitos dos agrotóxicos na qualidade ambiental? Há
benefício? Vale a pena correr o risco? 8. Existem métodos ou substâncias
alternativas adequadas para satisfazer as necessidades do trabalho agrícola? 9.
Seu professor costuma relacionar os conteúdos de sala de aula com os fatos ou
coisas do seu cotidiano? 10. A temática dos “agrotóxicos” já foi abordada alguma
vez em sala de aula?
Ainda nesta oficina, demonstrou-se aos alunos técnicas de biondicadores
de contaminação hídrica com auxílio do professor de Química.
Na oficina “2”, foram realizados trabalhos de leitura sobre agrotóxicos a
partir de mídias impressas e digitais, sendo realizados debates entre grupos.
Nesta oficina foi realizado um “júri simulado” sobre intoxicação por agrotóxicos
com auxílio dos professores de Língua Portuguesa e Artes. Na sequência, uma
dramatização envolvendo 23 alunos sobre “Agrotóxicos” depois de exibido o
vídeo “Zé Veneno”.
Nesta atividade, através do júri simulado, os alunos foram divididos em dois
grupos, um pró e outro contra. Para isso, foram elaboradas as seguintes etapas:
a) Leitura e discussão do texto acima;
b) Organizar a turma em dois grupos: o grupo dos prós e o grupo dos
contras. A divisão será aleatória, para estimular os alunos a argumentarem de
forma com que possam defender o que lhes foi atribuído, mesmo que não seja o
que realmente tenham como opinião pessoal;
c) Sortear qual grupo iniciará a atividade, estipulando um tempo fixo para
as discussões. O grupo sorteado fará as argumentações em conformidade com
a temática proposta, enquanto os alunos do outro grupo assistirão a discussão,
com registros dos pontos que acharem interessantes, podendo argumentar
contra ou a favor do que foi exposto. Após o término do tempo, o segundo grupo
iniciará a sua discussão, enquanto o outro fará os registros de suas
observações;
d) Encerrado o prazo, as anotações dos alunos serão recolhidas, com a
posterior abertura de discussões para toda a turma. De acordo com a discussão
e a partir das informações obtidas, serão apontadas as possíveis lacunas e erros
conceituais existentes aos alunos.
c) Ao final da aula os conteúdos serão expostos em um mural para
compartilhar a temática com a comunidade escolar
Na oficina “três”, foi exibido o vídeo “Agrotóxico: O mal oculto”
(http://www.youtube.com/watch?v=lomqbrgsmMQ), produzido em 2007 por
alunos do 3º ano para III ECULT MB (Escola Monsenhor Barreto) localizada na
cidade do Recife - PE. Esse vídeo teve como objetivo mostrar os Malefícios que
os agrotóxicos podem ocasionar a saúde.
Posteriormente, foram elencadas as seguintes questões para debate: a) O
que achou do vídeo? b) Você observou que devido ao tamanho do espaço
geográfico a utilização de agrotóxicos vem ocorrendo em larga escala sem que
haja um rigoroso controle? c) Você acha que o desconhecimento por parte da
população sobre a maneira apropriada de manusear as substâncias e a
ganância da indústria química que fabrica e vende os produtos são agravantes?
Justifique.
Comente sobre a questão: Quantas pessoas que estão anônimas, que não
conhecemos, precisarão morrer para que sejam tomadas as devidas
providências?
Na quarta oficina foram trabalhadas as imagens subliminares de charges e
gravuras sobre agrotóxicos para os alunos interpretarem.
Como atividade, depois de ouvir as conclusões dos colegas sobre as
charges, com a ajuda do seu professor, escreva um texto sobre as implicações
dos agrotóxicos para a saúde.
Na quinta oficina, foi utilizada a sala informatizada, através de um roteiro de
pesquisa: a) Organizar os alunos em grupos de cinco componentes; b) Cada
grupo ficará responsável para pesquisar um site; c) O docente fornecerá aos
alunos, por escrito, as fontes para as pesquisas, a fim de que possam trabalhar
com organização e autonomia; d) Cada grupo deverá acessar o endereço no
computador da escola, fazendo a leitura de todo o texto e na sequencia os
registros daquilo que considerar relevante; e) Discutir os apontamentos de cada
grupo e formular um texto que sintetize dos destaques apontados; f) Os registros
poderão ser feitos no caderno ou no editor de texto do computador utilizando o
Word; g) Montagem de apresentações do conteúdo pesquisado; h) Terminada a
produção de textos, o professor manterá os mesmos grupos, sorteando entre
eles alguns subtemas para aprofundamento teórico e socialização.
Através de trabalho em grupo, foram elencados os seguintes temas para
pesquisa na web: - Uso de agrotóxicos: aspectos históricos e socioeconômicos; -
Alimentos contaminados por agrotóxicos; - Agrotóxicos e a saúde humana; -
Impactos ambientais decorrentes do uso de agrotóxicos; - Riscos no manuseio
de agrotóxicos; - Destinação das embalagens de agrotóxicos após o uso.
Por último, a sexta oficina, através de palestra sobre transgênicos tendo
como palestrante o professor de Biologia. Para melhor aproveitamento dos
alunos na palestra e no debate, sugeriram-se leituras de artigos sobre o tema
como forma de fundamentá-los teoricamente.
3.1. INTERPRETAÇÃO DOS DADOS
Através das seis oficinas pedagógicas realizadas com os alunos, foi
possível trabalhar inúmeros subtemas sobre agrotóxicos, incluindo as leis,
questões de saúde de meio ambiente.
Os alunos tiveram a oportunidade de vivenciar atividades como
dramatizações, jograis, pintura de cartazes, pesquisa de campo, aula
experimental com biondicadores.
Através do uso de mídias digitais, cada grupo pesquisou na internet um
documentário sobre o tema, sendo exibido posteriormente para toda a turma.
Textos de jornais, charges e figuras facilitam a leitura crítica dos alunos,
individualmente e em grupo, com produção de textos e apresentação de
trabalhos divididos em eixos temáticos através de slides.
Na pesquisa de campo visando uma leitura crítica da realidade rural de
Fazenda Rio Grande, constatou-se através das entrevistas realizadas pelos
alunos de que os mesmos estão utilizando algumas medidas de segurança
apropriadas, bem como as orientações para fazer uso do produto. Já em relação
aos alunos, o interesse durante os trabalhos realizados em sala de aula com
exposição de trabalho, cartazes e vídeo deve-se ao fato de que os mesmos
atuam diretamente na agricultura (devido à idade) com os pais, e os mesmos já
estão construindo conceitos e interferem no meio em que vivem.
Os resultados obtidos com a escolha do tema demonstraram uma
ampliação no interesse dos alunos, a interação entre eles e mediação do
professor em sala.
A avaliação realizada para efeitos de registro documental evidenciou que
com essas metodologias inovadoras, aumentam o interesse e a participação dos
alunos, refletindo assim em resultados positivos no campo avaliativo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerando-se que o homem é parte integrante e principal elemento
atuante na Terra, pela sua ação desenfreada, transformou-se no ser vivo mais
perigoso para a manutenção da vida existente no ecossistema e com isso causa
o desequilíbrio no meio ambiente em que vive.
O trabalho foi uma importante ferramenta para o conhecimento das
crianças para que no futuro não ocorram certos descasos como o de intoxicação
e os demais decorrentes do mau uso de agrotóxicos.
Um dos papeis fundamentais da escola é a transformação e a melhoria social;
por isso ela deve promover mudanças culturais. A Educação se inicia desde
criança para que no futuro não haja tantos problemas no meio ambiente e na
sociedade.
O trabalho teve a pretensão de ser uma pequena contribuição sobre o
tema para a conscientização sobre a contaminação nos alimentos, seres vivos e
do ser humano por agrotóxicos no meio ambiente, e também os cuidados que se
devem tomar.
Os resultados obtidos evidenciam a necessidade de um trabalho
permanente de conscientização ambiental quanto ao uso de agrotóxicos, tanto
por quem o utiliza nas lavouras (alvo da pesquisa) como também os
consumidores.
Nesse sentido, a escola tende a ser uma das agências formadoras de um
pensar crítico e interventor e, numa perspectiva interdisciplinar, as realizações
de projetos de trabalho são de suma importância para a consolidação deste
trabalho.
Nas disciplinas do currículo, o tema agrotóxico, segundo os
professores, recebe uma abordagem na disciplina de Ciências, mas não é
concebido como uma extensão da Educação Ambiental, que é de acordo com os
Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN, um tema transversal.
Os alunos, por sua vez, demonstram vivenciar práticas de senso
comum com os pais no manejo de embalagens de agrotóxicos. Porém,
demonstram interesse em conhecer mais sobre o uso adequado de materiais de
segurança, implicações obre o organismo e também sobre o meio ambiente.
Essa postura conservacionista do aluno merece uma atenção especial
do professor e da escola, pois ela motiva as múltiplas aprendizagens, das quais
se destacam os interesses na resolução de problemas.
Numa análise pedagógica, o tema agrotóxico, inserido concretamente na realidade dos alunos, faz do professor um elemento-chave nesse processo, proporcionando aos alunos questões pertinentes que, de certa forma, estarão motivando a prática cidadã.
A postura crítica do aluno inicia-se na sala de aula e aí, se o professor
não recorrer às estratégias de metodologias, tais como trabalhos com jornais,
revistas, vídeos e tantas outras, apenas estará contribuindo para a reprodução
de práticas culturais que em nada cooperam para a qualidade de vida dos
alunos.
O trabalho em si, deixa como contribuição ao educador, alguns
referenciais teóricos, além da possibilidade da reflexão-ação-reflexão a partir de
princípios de ação docente.
Intervir em sala de aula, na perspectiva de revelar-se como um
professor-pesquisador, é uma necessidade da Educação na
contemporaneidade.
REFERÊNCIAS
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GELMINI, Gerson Augusto. Agrotóxicos: legislação básica. São Paulo:
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REIGOTA, Marcos. A floresta e a escola: por uma educação ambiental
pós-moderna. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2002.
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TRAJBER, Rachel e SATO, Michèle. Escolas sustentáveis: incubadoras de transformações nas comunidades. Rev. eletrônica Mestr. Educ. Ambient. ISSN 1517-1256, v. especial, setembro de 2010. Disponível em:
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