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PARECER JURÍDICO
PROJETO DE LEI MUNICIPAL –
DESCONTOS DE 50% –
PESSOAS QUE PASSARAM POR
CIRURGIA BARIÁTRICA -
RESTAURANTES E SIMILARES
– INCONSTITUCIONALIDADE.
DO QUESTIONAMENTO
Trata-se de um parecer jurídico sobre a
constitucionalidade de um projeto de lei municipal que visa
conceder o direito de desconto de 50% em restaurantes e
similares, para aqueles munícipes que comprovadamente tenham
realizado cirurgia para redução de estômago (bariátrica).
DA COMPETÊNCIA LEGISLATIVA DO MUNICÍPIOS
Inicialmente devemos ressaltar qual é a competência
legislativa concedida pela Constituição Federal aos municípios,
vejamos:
Art. 30. Compete aos Municípios:
I - legislar sobre assuntos de interesse local;
II - suplementar a legislação federal e a estadual no
que couber;
E também do art. 64 da Constituição Estadual de Goiás,
que repetiu o texto trazido pela Constituição Federal:
Art. 64. Compete aos Municípios:
I - legislar sobre assuntos de interesse local;
II - suplementar a legislação federal e a estadual, no
que couber;
Da leitura do artigo verifica-se que a expressão chave
da legislação municipal é o "interesse local", nas palavras do
ilustre professor Alexandre de Moraes, esta expressão é o
catalisador dos assuntos de natureza legislativa municipal, in
verbis:
A atividade legislativa municipal submete-se aos
princípios da Constituição Federal com estrita
obediência à lei orgânica dos municípios, à qual cabe o
importante papel de definir as matérias de competência
legislativa da Câmara, uma vez que a Constituição
Federal não a exaure, pois usa a expressão interesse
local como catalisador dos assuntos de competência
municipal.
Deve-se ser levado em conta ainda que até mesmo a
legislação suplementar que trata o inciso II deve ser balizada pelo
interesse local, não devendo assim ser interpretada como um artigo
liberatório para o município legislar sobre qualquer tema que julgue
necessária.
Celso Ribeiro Bastos por sua vez, assim define interesse
local:
Os interesses locais dos Municípios são os que
entendem imediatamente com as suas necessidades
imediatas e, indiretamente, em maior ou menor
repercussão, com as necessidades gerais.
Diante disso quando existirem dúvidas sobre o interesse
local, deve-se analisar o caso pela ótica do Princípio da
Preponderância do Interesse, como forma de se definir tal
competência, evitando assim que haja extrapolação dos limites do
poder de legislar por parte do município.
DAS ANÁLISE DE LEGISLAÇÕES QUE CONCEDEM BENEFÍCIOS A
DETERMINADAS PESSOAS
Observamos que várias legislações atualmente
concedem algum tipo de benefício (meia-entrada, ou descontos),
para determinadas classes de pessoas. Neste diapasão podemos
elencar as leis algumas leis que concedem meia entrada para
estudantes, e também o próprio Estatuto do Idoso, que concede
diversos direitos aos seus tutelados (meia-entrada, e direito a
assentos em ônibus).
Tais legislações não surgiram apenas de uma vontade
do legislador em privilegiar tais classes, mas sim de mandamentos
constitucionais que visam fomentar um interesse coletivo maior,
que é a possibilidade de se criar uma sociedade com maior acesso a
cultura, esporte, lazer, para jovens e idosos.
Indicamos ainda no caso dos outros benefícios
concedidos aos idosos, que estes são uma garantia que estes
possam envelhecer com qualidade de vida, visualizando-se assim o
direito a vida e a envelhecer dignamente, direito reconhecido
internacionalmente.
DA ANÁLISE DO POSSÍVEL PROJETO DE LEI
Já no caso das pessoas que se submeteram a tal
cirurgia, não vislumbramos que existe nenhum mandamento
constitucional que venha amparar tal pleito, pois não se trata aqui
de uma política de saúde pública.
Não obstante a isso, tal projeto de lei possui ainda a
mácula de outros vícios, já que não expressaria um interesse local
a ser tutelado, estando assim fora do campo de atuação do
legislador municipal.
Poderíamos ventilar a possibilidade de criação de uma
lei federal sobre o tema, porém esta pode ter a sua
constitucionalidade questionada por ausência de um mandamento
constitucional que o venha resguardar e ainda por afronta ao
princípio de não intervenção do Estado na iniciativa privada, visto
que todo o ônus será arcado pelos comerciantes.
CONCLUSÃO
Concluímos assim que um projeto de lei sobre este
tema poderá ser considerado inconstitucional por diversas óticas:
1 – Ausência de mandamento constitucional que venha
garantir tal benefício.
2 – Ausência de interesse local que permita ao
legislador municipal crie lei sobre este tema.
3 – Mesmo que existisse lei federal sobre o tema, esta
poderia ser questionada por ausência de mandamento
constitucional, prevalecendo assim o princípio da não intervenção
do Estado na iniciativa privada.
Este é o parecer!
Nayron Divino Toledo Malheiros
Parecerista - OABGO 27047
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