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Anais do IV Seminário dos Cursos de Ciências Sociais Aplicadas do Campus de Campo Mourão da Universidade
Estadual do Paraná Campo Mourão - PR, 30/10 a 01/11/2018
PERÍCIA CONTÁBIL: UMA ANÁLISE DOS PROCEDIMENTOS PERICIAIS EM
UM PROCESSO JUDICIAL CÍVEL
FERREIRA, Angélica Ferri Ciências Contábeis
Universidade Estadual do Paraná-UNESPAR
angelica_ferri@hotmail.com
CASTRO, Fábio Rogério Ciências Contábeis
Universidade Estadual do Paraná-UNESPAR
fabio.unespar@gmail.com
RESUMO - A Perícia Contábil é uma das especialidades da Ciência Contábil e obtém destaque no campo
judicial. Os magistrados vêm reconhecendo a necessidade do profissional de perícia, pois, possui o domínio de
noções fundamentais quanto à produção de provas, já que tem papel significativo ao apresentar a veracidade dos
fatos e auxiliar o Poder Judiciário na decisão judicial. Assim, este estudo pretende apresentar os conceitos sobre
a perícia contábil, perícia contábil judicial, perito contador e perito assistente técnico, laudos, pareceres, quesitos
e remuneração dos peritos. Tendo como objetivo analisar os procedimentos adotados pelo perito contador
técnico em um processo judicial cível e verificar a conformidade com o arcabouço normativo, legislativo e
teórico conceitual que serão apresentados. A pesquisa será de natureza aplicada, tendo como forma de
abordagem do problema o método qualitativo. A base para análise dos procedimentos será a pesquisa descritiva,
considerando que a estratégia haverá de ser documental e estudo de caso. Os resultados preliminares apontam que alguns procedimentos realizados pelo Perito Contador referindo-se aos honorários contábeis estão em
desconformidade com o que está descrito no arcabouço normativo, legislativo e teórico conceitual e que tais
procedimentos o afetaram no decorrer do processo.
Palavras-chave: Perícia Contábil. Perito Contador. Perito Assistente Técnico. Perícia Judicial.
ABSTRACT - Accounting Skills is one of the specialties of Accounting Science and is highlighted in the
judicial field. The magistrates have recognized the need of the professional of expertise, therefore, has the
mastery of fundamental notions regarding the production of evidence, since it plays a significant role in
presenting the truthfulness of the facts and assisting the Judiciary in the judicial decision. Thus, this study
intends to present the concepts of accounting expertise, judicial accounting, expert accountant and technical assistant expert, reports, opinions, questions and remuneration of experts. Aiming to analyze the procedures
adopted by the expert technical accountant in a civil judicial process and verify compliance with the normative,
legislative and conceptual framework that will be presented. The research will be of an applied nature, having as
a way of approaching the problem the qualitative method. The basis for analysis of the procedures will be the
descriptive research, considering that the strategy will have to be documentary and case study. The preliminary
results point out that some procedures performed by the Expert Accountant referring to accounting fees are in
disagreement with what is described in the normative, legislative and conceptual theoretical framework and that
such procedures affected it in the course of the process.
Keywords: Accounting Skills. Accountant. Technical Assistant Expert. Judicial expertise.
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1 INTRODUÇÃO
A Ciência Contábil proporciona um leque de opções para que o profissional possa
ingressar no mercado de trabalho. Segundo o Conselho Federal de Contabilidade (2015) a
Auditoria Independente, a Perícia Contábil, o Setor Público e a Contabilidade do Terceiro
Setor são alguns campos em que o contador pode atuar.
A Perícia Contábil, segundo Fonseca (2000) apud Zanna (2007), é um importante
ramo da Contabilidade e, para sua realização, faz-se necessário profissional especializado que
esclarece questão sobre patrimônio das pessoas físicas e jurídicas.
O profissional contador poderá exercer a função de perito, desde que esteja
devidamente registrado em Conselho Regional de Contabilidade e possua conhecimento
necessário perante a matéria periciada.
É notório o endividamento da população brasileira devido a crises econômico-
financeiras, desempregos decorrentes do corte de custos das empresas, falta de planejamento,
entre outros fatores. Segundo dados do Serasa Experian, em 2017 cerca de 5,3 milhões do
CNPJs estavam negativados, alcançando um montante de R$122,9 bilhões. Já o número de
consumidores inadimplentes em janeiro de 2018 chega a 60,1 milhões, alcançando um
montante de R$ 265,6 bilhões, sendo que 39% dos inadimplentes estão em débito com
banco/cartão de crédito.
A contratação de crédito é uma das saídas para diminuir certas dívidas. Porém, muitas
vezes surgem questionamentos ao pagar tais créditos, causando conflitos entre clientes e
instituição financeira e, gerando, por consequência, os processos judiciais cíveis.
Assim, a aplicação da perícia contábil judicial aumenta na mesma proporção que
aumentam os processos judiciais cíveis. Existem duas funções em que o perito pode laborar: a
primeira é a do perito contador (sendo este nomeado pelo magistrado), e a segunda é a do
perito assistente técnico (que é escolhido pelo réu e/ou autor do processo).
Diante do contexto apresentado desenvolve-se o presente artigo de pesquisa, que
apresentará uma explanação sobre alguns aspectos relevantes da Perícia Contábil e buscará
verificar se os procedimentos adotados pelo Perito Contador e pelo Perito Assistente Técnico
no processo x estão em conformidade com os procedimentos propostos no arcabouço
normativo, legislativo e teórico-conceitual.
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2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 PERÍCIA CONTÁBIL
A perícia pode ser considerada como qualquer trabalho de natureza específica que
necessite de profundidade na execução. Para Magalhães, et al., (2011, p. 12), “entende-se por
perícia o trabalho de notória especialização feito com o objetivo de obter prova ou opinião
para orientar uma autoridade formal no julgamento de um fato, ou desfazer conflito em
interesses de pessoas”.
Ainda sobre sua conceituação, a Resolução do CFC n° 1.243 (2009, p. 2) se posiciona,
expondo que é um:
“[...] conjunto de procedimentos técnicos e científicos destinados a levar à instância
decisória elementos de prova necessários a subsidiar à justa solução do litígio, mediante laudo pericial contábil e/ou parecer pericial contábil, em conformidade
com as normas jurídicas e profissionais, e a legislação específica no que for
pertinente.”
Já para Sá (1994), a Perícia Contábil é a verificação de fatos ligados ao patrimônio,
objetivando ofertar opinião à questão controversa. Para tal opinião realizam-se exames,
vistorias, indagações, investigações, avaliações, arbitramentos, em suma todo e qualquer
procedimento necessário à opinião.
A Perícia Contábil é um dos gêneros de prova pericial, ou seja, é uma das provas
técnicas à disposição das pessoas naturais ou jurídicas, e serve como meio de prova de
determinados fatos ou de questões patrimoniais controvertidas (ORNELAS, 2011). Alberto
(2009, p. 9) complementa que a prova pericial “é a demonstração que se faz – o modo – da
existência, autenticidade e veracidade de um fato ou ato. Juridicamente, é o meio de
convencer o juízo da existência do fato em que se baseia o direito do postulante”.
Entende-se, conforme os conceitos apresentados, que Perícia Contábil é o modo de
demonstrar, através de laudo e/ou parecer pericial, a verdade sobre os fatos ocorridos e
contestados pelas partes interessadas.
Diversas são as razões que podem vir a demandar a realização de um trabalho pericial,
e em consequência desse fato é importante identificar o ambiente que tal razão se insere, para
aplicar a espécie de perícia adequada.
A perícia tem espécies distintas, identificáveis e definíveis segundo os ambientes em
que é instada a atuar. Os ambientes de atuação que lhe definirão as características, podem ser,
do ponto de vista geral, o ambiente judicial, o ambiente semijudicial, o ambiente extrajudicial
e o ambiente arbitral (ALBERTO, 2009).
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Perante os vários ambientes citados, terá maior enfoque a perícia judicial, sendo este o
ambiente principal da pesquisa.
A Perícia Contábil Judicial é uma das formas de produção de prova que esclarecem o
juiz sobre assuntos em litígio que merecem julgamento. Para Ornelas (2011, p. 23) é:
“um meio elucidativo e de prova que a legislação admite; é o parecer de profissional
entendido da matéria em julgamento. Como meio de prova, é o testemunho humano
da existência e veracidade de coisas e fatos, e, como parecer, é a opinião autorizada
de quem conhece a espécie questionada.”
Assim, Alberto (2009) complementa dizendo que é aquela realizada dentro dos
procedimentos processuais do Poder Jurídico, por determinação, requerimento ou
necessidades de seus agentes ativos, e se processa segundo regras legais específicas.
Esse tipo de perícia subdivide-se em duas finalidades principais no processo judicial:
como meio de prova e de arbitramento.
“A perícia judicial será prova quando - no processo de conhecimento ou de liquidação
por artigos - tiver por escopo trazer a verdade real, demonstrável científica ou tecnicamente,
para subsidiar a formação da convicção do julgador” (ALBERTO, 2009, p. 38). Carmona
(1998, p. 43) destaca que “(...) a arbitragem é meio alternativo de solução de controvérsia
tomando-se como referência o processo estatal - meio heterocompositivo por certo mais
empregado para dirimir conflitos”.
Portanto, a perícia judicial possui um relacionamento estreito com o poder jurídico,
auxiliando o juiz na interpretação dos fatos e na busca da verdade.
2.2 PERITO CONTADOR
A Perícia Contábil é um importante ramo da Contabilidade e, para sua realização, faz-
se necessário profissional especializado, que esclareça questões sobre o patrimônio das
pessoas físicas e jurídicas.
De acordo com a Resolução do CFC n° 1.244 (2009), perito é o contador regularmente
registrado em Conselho Regional de Contabilidade, que exerce a atividade pericial de forma
pessoal, devendo ser profundo conhecedor, por suas qualidades e experiências, da matéria
periciada.
No exercício de sua função Brasil (1946), define como trabalhos contábeis as:
Perícias judiciais ou extrajudiciais, revisão de balanços e de contas em geral,
verificação de haveres revisão permanente ou periódica de escritas, regulações
judiciais ou extrajudiciais de avarias grossas ou comuns, assistência aos Conselhos
Fiscais das sociedades anônimas e quaisquer outras atribuições de natureza técnica conferidas por lei aos profissionais de contabilidade.
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No que tange à nomeação do perito contador, novamente a Resolução do CFC n° 1244
(2009, item 3) se pronuncia, dizendo que, “o perito-contador nomeado é o designado pelo juiz
em Perícia Contábil Judicial; contratado é o que atua em Perícia Contábil Extrajudicial; e
escolhido é o que exerce sua função em Perícia Contábil Arbitral”.
Considera-se, diante dos conceitos apresentados, que o campo de atuação do perito
contador é amplo e exige conhecimentos técnicos em diversas áreas, possibilitando o
cumprimento do seu dever como profissional.
2.3 PERITO ASSISTENTE TÉCNICO
O perito assistente técnico ou perito contador assistente é o profissional de confiança
contratado por uma das partes de uma demanda judicial.
Segundo a Resolução do CFC n° 1.244 (2009) competência técnico-científica
pressupõe ao perito manter adequado nível de conhecimento da Ciência Contábil, das Normas
Brasileiras de Contabilidade, das técnicas contábeis, da legislação relativa à profissão contábil
e aquelas aplicáveis à atividade pericial, atualizando-se, permanentemente, mediante
programas de capacitação, treinamento, educação continuada e especialização.
Nota-se que o perito é nomeado, enquanto o assistente técnico é indicado. Isso vale
dizer que, de ponto de vista processual, o assistente técnico precisa, para funcionar em
determinado processo, ser aceito pelo magistrado ou pelo Tribunal Arbitral. Pode, portanto,
ser recusado. Neste caso, será naturalmente substituído por outro profissional (ORNELAS,
2011).
A Resolução do CFC n° 1.243 (2009) diz que, o perito assistente técnico pode, tão
logo tenha conhecimento da perícia, manter contato com o perito-contador, pondo-se à
disposição para o planejamento, para o fornecimento de documentos em poder da parte que o
contratou e ainda para a execução conjunta da perícia.
Assim, o perito assistente técnico produz informações que sejam contrárias ou não,
conforme o caso, com as informações disponibilizadas pelo perito contador, proporcionando
ao magistrado nova visão sobre os autos.
2.4 DIFERENÇAS ENTRE PERITO CONTADOR E PERITO ASSISTENTE TÉCNICO
O quadro abaixo demonstra nitidamente algumas diferenças fundamentais entre o
perito contador e o perito assistente técnico.
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Quadro 1: Comparativo entre o Perito Contador e o Perito Assistente Técnico
Perito Contador Perito Assistente Técnico
- nomeado pelo juiz - indicado pela parte
- de confiança do juiz - de confiança da parte
- sujeito às regras de impedimento e suspeição - não está sujeito às regras de impedimento e suspeição
- não obrigado a confabular com o perito contador
assistente
- emite laudo técnico – art. 433 do CPC - emite parecer sobre o laudo do perito (matéria em
exame)
- art. 433, parágrafo único, do CPC
- substituído por decisão do juiz - pode ser substituído pela parte que o contratou
- honorários aprovados pelo juiz - honorários acertados com a parte
Fonte: Adaptado de Santos, Schmidt, Gomes (2006, p. 49)
2.5 QUESITOS
Esclarecer as questões relacionadas às informações apresentadas nos autos do processo
é de fundamental importância na formação de opinião do magistrado quanto à tomada de
decisão sobre a sentença.
Os questionamentos acerca do processo são chamados de quesitos, que segundo Zanna
(2007), são perguntas formuladas nos autos com a intenção de, pelas respostas a elas
oferecidas pelo expert, as dúvidas, as divergências e as contas possam ser esclarecidas, se
possível, de forma cabal ou taxativa.
Os quesitos podem se subdividir em Questionário Básico, Quesitos Suplementares e
Pedidos de Esclarecimentos.
2.5.1 Questionário Básico
A elaboração de questionário básico ou principal terá como base as informações
expostas pelas partes nos autos do processo.
“Pode-se entender por questionário básico os quesitos formulados, seja pelo
magistrado, seja pelas partes, antes do início das diligências, isto é, antes do desenvolvimento
da produção da prova pericial contábil e entrega da peça técnica” (ORNELAS, 2011, p. 67).
Segundo Zanna (2007, p. 177), os quesitos, quanto ao objeto analisado, são divididos
em duas categorias: pertinentes e impertinentes.
a) Pertinentes – são os quesitos relacionados com os fatos, com o objeto de ação, em
face de sua pertinência, devem ser respondidos pelo perito. Os quesitos pertinentes
tem o propósito de enquadrar o trabalho pericial nos pontos controversos e tem a
intenção de orientá-lo no sentido de mostrar ao magistrado a verdade dos fatos;
b) Impertinentes – são os quesitos que não guardam relação com os fatos objeto de
discussão nos autos do processo ou que deles se afastam. Sua formulação e
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respectivas respostas – caso sejam dadas – servirão para confundir e retardar,
principalmente o trabalho o trabalho pericial e a prolação da sentença. [...]
Quanto à ausência de quesitos, segundo Zanna (2007), o perito oferecerá respostas aos
assuntos controvertidos formulando, ele mesmo, autoquesitos que o ajudarão a desfiar o tema
objeto de ação.
Entende-se que, os quesitos pertinentes auxiliam o perito a esclarecer questões
patrimoniais, já os impertinentes são perguntas que buscam do perito opinião fora de sua
competência legal.
2.5.2 Quesitos Suplementares
Os quesitos básicos são elaborados antes da produção da prova pericial, já os quesitos
suplementares tem sua elaboração no decorrer do processo, devido ao surgimento de novos
questionamentos.
Segundo Zanna (2007, p. 175), “os quesitos suplementares, via de regra, surgem no
curso das diligências, quando os assistentes técnicos tomam conhecimento mais íntimo com o
objeto de perícia. O acompanhamento das diligências pelos assistentes técnicos pode revelar a
necessidade de ampliar o objeto da perícia. [...]”.
Ornelas (2011) complementa que, quando dos trabalhos de produção da prova pericial
contábil, podem surgir novos aspectos fáticos desconhecidos ou não tratados pelas partes
quando formulados seus quesitos. Assim, podem surgir aspectos relevantes relacionados com
a causa levada ao Judiciário de interesse para chegar-se à verdade dos fatos.
Tais quesitos, para serem respondidos pelo perito judicial, precisam ser juntados aos
autos mediante petição e precisam ser deferidos pelo magistrado ainda no curso dos trabalhos
periciais (ZANNA, 2007).
Conclui-se que esses novos quesitos são úteis para esclarecer fatos novos observados
pelos assistentes técnicos, no curso do trabalho pericial.
2.5.3 Pedido de esclarecimentos
Após o encerramento dos trabalhos periciais e da entrega do laudo, podem ser
solicitados pedidos de esclarecimentos.
Ornelas (2011) diz que eventuais dúvidas ou aspectos do laudo que vieram a sofrer
críticas poderão ser superados pelas partes, ou pelo próprio magistrado, mediante
esclarecimentos oferecidos pelo perito e pelo assistente técnico.
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Tais solicitações devem ser elaboradas com cordialidade, tendo em vista que não
ofendam a dignidade do perito contador.
2.6 LAUDO PERICIAL CONTÁBIL
O laudo pericial contábil é o documento produzido pelo perito contador que contém
sua opinião acerca da matéria analisada.
Ornelas (2011) conceitua o laudo pericial como a peça técnica da lavra do perito. Pode
ser elaborado em cumprimento à determinação judicial, arbitral, ou ainda por força de
contratação.
Segundo Zanna (2007) o objetivo do laudo é dar a conhecer a opinião técnica de
especialista sobre a matéria objeto das controvérsias que deram causa a investigação dos
fatos, seja no âmbito da Justiça ou fora dela.
O laudo é a prova que, para ser obtida, depende de conhecimentos especializados
aplicados segundo técnicas investigativas próprias a cada especialidade de conhecimento
humano (Zanna, 2007).
Para Magalhães, Souza, et al., (2011, p. 39), “é o laudo que consubstancia o trabalho
pericial nos aspectos de exposição e documentação, principalmente no propósito de expressar
a opinião do perito sobre questões formuladas nos quesitos”.
Alberto (2009) cita que, se tratando de laudo, independentemente de suas espécies,
objetos e objetivos, tem características gerais que a doutrina e prática forense demonstram que
deve obedecer a certa ordem lógica.
“O laudo, assim, deve conter, se possível nesta ordem, o seguinte: (a) Abertura (o
parágrafo introdutório dos hispânicos); (b) Considerações iniciais a respeito das
circunstâncias de determinação judicial ou consulta, bem como os exames
preliminares da perícia contábil; (c) Determinação e descrição do objeto e dos objetivos da perícia; (d) Informação da necessidade ou não de diligências e, quando
houver, a descrição dos atos e acontecimentos dos trabalhos de campo; (e)
Exposição dos critérios, exames e métodos empregados no trabalho; (f)
Considerações finais onde conste a síntese conclusiva do perito a respeito da matéria
analisada; (g) Transição e respostas aos quesitos formulados; (h) Encerramento do
laudo (ou parágrafo final), com identificação e assinatura do profissional, e (i)
quando houver, a juntada sequencial dos Anexos, documentos ou outras peças
abojadas ao laudo e ilustrativas deste” (ALBERTO, 2009, p. 109).
Segundo a Resolução do CFC n° 1.243 (2009) o laudo pericial contábil de conter, no
mínimo, os seguintes itens:
a) identificação do processo e das partes;
b) síntese do objeto da perícia;
c) metodologia adotada para os trabalhos periciais;
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d) identificação das diligências realizadas;
e) transcrição e resposta aos quesitos: para o laudo pericial contábil;
f) transcrição e resposta aos quesitos: para o parecer pericial contábil, onde houver
divergência, transcrição dos quesitos, respostas formuladas pelo perito-contador e as respostas
e comentários do perito-contador assistente;
g) conclusão;
h) anexos;
i) apêndices;
j) assinatura do perito: fará constar sua categoria profissional de contador e o seu
número de registro em Conselho Regional de Contabilidade, comprovada mediante
Declaração de Habilitação Profissional - DHP. É permitida a utilização da certificação digital,
em consonância com a legislação vigente e as normas estabelecidas pela Infra-Estrutura de
Chaves Públicas Brasileiras - ICP-Brasil.
Entende-se que o perito, ao elaborar o laudo pericial, deve se atentar em respeitar os
elementos apresentados acima, para que haja de certa forma uma organização e padronização
das informações.
2.7 PARECER PERICIAL CONTÁBIL
Diferente do laudo pericial que é elaborado pelo perito contador, o parecer pericial
contábil é elaborado pelo perito assistente técnico, sendo este contratado das partes envolvidas
no processo judicial.
Segundo Zanna (2007), o parecer pericial é a manifestação escrita do assistente a
respeito de tudo que observou no laudo pericial apresentado pelo perito contador. Trata-se de
importante subsídio técnico que contribui para o correto entendimento de quem vai julgar ou
decidir sobre o caso.
“O trabalho do assistente técnico não perde as características de laudo, à medida que
emite juízo ou defende tese ou critério técnico divergente do laudo pericial contábil oficial.
Por isso, deve também obedecer a algumas regras básicas, enquanto peça técnica é, juntada
aos autos” (ORNELAS, 2011, p. 88).
Tais regras são relacionadas ao conteúdo do parecer pericial e são apresentadas da
seguinte forma:
a) Das considerações preliminares/Resumo do laudo oficial;
b) Dos comentários técnicos ao laudo pericial contábil;
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c) Do parecer pericial contábil;
d) Do encerramento.
O parecer pericial contábil também se enquadra nas exigências da apresentação do
laudo pericial contábil do CFC (2009) citadas anteriormente.
Conclui-se que o parecer pericial é de grande importância para a tomada de decisão do
magistrado, pois, pode apresentar novas evidências acerca dos autos ou confirmar
informações já apresentadas no laudo pericial.
2.8 REMUNERAÇÃO DO TRABALHO PERICIAL
A remuneração do trabalho pericial é determinada por uma análise preliminar do
perito em relação às matérias a serem estudadas.
Segundo Alberto (2009, p. 138) “a remuneração assume características diferenciadas
quanto à forma, prazos, valorização e reconsiderações e recursos, segundo as próprias
espécies de perícias quanto aos ambientes específicos que estas se manifestam [...]. Os peritos
podem funcionar como peritos do juízo ou como assistentes técnicos das partes [...]”.
2.8.1 Honorário de Perito Contador
No caso do perito contador, Ornelas (2011, p. 92) cita que, “sendo o perito nomeado
pelo magistrado, portanto, na função judicial, compete àquele fixar sua remuneração [...]” e
continua dizendo que [...] “o magistrado pode determinar que o perito nomeado ofereça
orçamento ou estimativa de sua remuneração, a ser fixada antes do início do trabalho
pericial.”
O pagamento dos honorários periciais, segundo Alberto (2009, p. 139),
[...] são de responsabilidade da parte que requereu o exame, já que esta deve prover
o pagamento de cada ato processual à medida que estes ocorram, ou do autor,
quando vier a ser determinado de oficio pelo magistrado ou requerido por ambas as
partes.
Alberto (2009, p. 141) prossegue dizendo que após a apresentação e arbitramento dos
honorários, “[...] o juiz determinará à parte responsável que efetue o depósito correspondente
ao montante. É faculdade do responsável, entretanto, não concordar com o arbitramento.”
Também, o próprio profissional, se entender que houve erro, omissão ou redução excessiva do
montante estimado, poderá recorrer contra o arbitramento.
Conclui-se que os honorários estipulados pelo perito contador deveram ser aprovados
pelo magistrado, levando em consideração a opinião das partes.
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2.8.2 Honorário de Perito Assistente Técnico
A remuneração e o pagamento dos serviços profissionais do perito quando na função
de assistente técnico não se vinculam aos autos do processo. Trata-se de uma relação
particular entre aquele profissional e a parte que o indicou para a função (ORNELAS, 2011).
Para Alberto (2009, p.142), os procedimentos quanto à estimativa dos honorários
periciais devem ser vistos de dois ângulos:
a) No que corresponde aos critérios, o profissional deve utilizar os mesmos
utilizados para o caso do indicado em juízo, considerando, por outro lado, possivelmente, a
menor quantidade de horas ou o prazo menor de recebimento que estes têm, em relação
àqueles do indicado pelo juízo.
b) No que corresponde à forma, o profissional deve sempre apresentar sua proposta,
através de carta ou de orçamento, por escrito, à parte contratante, de modo a explicitar o valor
e o trabalho envolvido, bem como a forma de pagamento e reajuste se houver.
Compreende-se que a contratação do perito assistente técnico é de responsabilidade das
partes, sendo assim, o pagamento dos honorários estabelecidos será realizado pela parte
contratante.
3 METODOLOGIA DE PESQUISA
A metodologia de pesquisa é o caminho que se deve trilhar para chegar a um
determinado resultado. Fachin (2001) conceitua o método como um instrumento de
conhecimento que proporciona aos pesquisadores, em qualquer área de formação, orientação
geral que facilita planejar uma pesquisa, formular hipóteses, coordenar investigações, realizar
experiências e interpretar os resultados.
3.1 CLASSIFICAÇÃO DA PESQUISA
A pesquisa pode ser classificada de acordo com sua natureza, abordagem do problema,
seus objetivos, procedimentos técnicos e coleta e análise dos dados.
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3.1.1 Do ponto de vista de sua natureza
As pesquisas podem ter, de acordo com o ponto de vista da sua natureza, a seguinte
classificação: pesquisa básica e pesquisa aplicada.
A pesquisa básica tem por objetivo produzir novos conhecimentos, contudo, não
expõe finalidades imediatas. Segundo Gil (2008), este tipo de pesquisa é um conhecimento
mais generalizado, objetivando a formulação de teorias e leis. A pesquisa aplicada se
diferencia da pesquisa básica, pois, tem por objetivo produzir novos conhecimentos que serão
utilizados posteriormente em aplicações práticas, visando à solução de problemas específicos.
De acordo com a conceituação exposta, o artigo se caracteriza como pesquisa de
natureza aplicada, certo de que será realizada a coleta de dados de um determinado processo
judicial, que visa, posteriormente, analisar a atuação do perito contador e do perito assistente
técnico.
3.1.2 Quanto à forma de abordagem do Problema
A abordagem de pesquisa pode ter duas classificações. A primeira delas é o enfoque
qualitativo. Pacheco (1995, p. 41) apud Silva (2010, p. 30) “salienta que neste tipo de
investigação os interesses estão mais voltados no conteúdo do que no procedimento,” e ainda
complementa que “[...] a generalização é substituída pela particularização, a relação casual e
linear pela relação contextual e complexa, os resultados inquestionáveis pelos resultados
questionáveis, a observação sistemática pela observação experimental ou participante”.
Já o enfoque quantitativo emprega recursos e técnicas estatísticas desde as mais
simples, como porcentagem, média, moda, mediana e desvio padrão, até as de uso mais
complexo, como coeficiente de correlação, análise de regressão etc. (OLIVEIRA, 1977, apud
SILVA, 2010).
De acordo com a contextualização da abordagem, o presente artigo classifica-se como
qualitativo, devido à análise aprofundada da matéria estudada em um caso específico,
buscando questionar ações realizadas pelos peritos e interpretá-las conforme a literatura
apresentada.
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3.1.3 Do ponto de vista dos seus objetivos
De modo geral os pesquisadores possuem objetivos a serem traçados em suas
pesquisas. Para Beuren (2003) o que vai determinar o enquadramento em um ou outro tipo de
pesquisa (exploratória, descritiva ou explicativa) são os objetivos estabelecidos no artigo.
Seguindo a mesma linha de raciocínio, Gil (2012) diz que as pesquisas descritivas
visam descrever características específicas de determinadas populações ou fenômenos,
fazendo o uso de técnicas padronizadas de coleta de dados. As explicativas já estão mais
voltadas a identificar fatores que contribuem ou determinam a ocorrência dos fenômenos,
sempre buscando aproximar o conhecimento da realidade, tornando-se a pesquisa mais
complexa e delicada. E por fim, as exploratórias buscam proporcionar uma maior
familiaridade com o problema por meio de um levantamento bibliográfico e estudo de casos.
Com o perfil estabelecido das pesquisas sobre determinados objetivos, neste artigo a
pesquisa descritiva será utilizada como base para análise dos procedimentos realizados pelos
peritos, registrando e descrevendo os fatos ocorridos sem interferir neles.
3.1.4 Do ponto dos procedimentos técnicos
Os procedimentos técnicos são utilizados para a identificação de um delineamento da
pesquisa. Podem ser definidos dois grandes grupos de delineamentos: aqueles que se valem
das chamadas fontes de papel e aqueles cujos dados são fornecidos por pessoas. No primeiro
grupo estão a pesquisa bibliográfica e a pesquisa documental. No segundo estão a pesquisa
experimental, a pesquisa ex-post-facto, o levantamento de campo (survey), o estudo de campo
e o estudo de caso (GIL, 2012).
Na documental, os materiais ainda não receberam um tratamento analítico, por isso
tornam-se dados primários. Na bibliográfica, o pesquisador entra em contato com publicações
existentes, mas sempre observando a veracidade das fontes e dados, devido as possíveis
incoerências. Como o próprio nome diz, no levantamento o pesquisador se envolve através de
uma pesquisa para levantar informações. E no estudo de casos, há uma coleta e análise de
informações sobre determinado indivíduo, um grupo ou comunidade, a fim de estudar
aspectos variados que sejam objetivo da pesquisa.
Esta pesquisa é classificada como documental e estudo de caso. Documental devido à
utilização de materiais não estudados anteriormente, certo de que tais materiais receberão
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tratamento primário. Estudo de caso visto que será analisado um determinado processo, que
possui características próprias com aspecto singular.
3.2 INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS
Em uma determinada pesquisa é necessário, para sua elaboração e execução, a
realização da coleta de dados que auxiliará na análise dos acontecimentos em determinada
organização. Segundo PÁDUA (2004, p. 69), “é aquela realizada a partir de documentos,
contemporâneos ou retrospectivos, considerados cientificamente autênticos”.
A coleta de dados do presente artigo será realizada com base na observação das
informações disponibilizadas do processo x. Devem ser coletados dados que evidenciem a
atuação dos peritos nos laudos, quesitos e honorários.
3.3 ANÁLISE DOS DADOS
A análise de dados é um exame minucioso de cada parte de um todo, com a finalidade
de conhecer sua natureza e suas funções. De acordo com Lüdke e André (1986) apud Beuren
(2003) a tarefa de analisar dados implica na organização de todo o material, dividindo-o em
partes e relacionando-as, procurando tendências ou padrões relevantes.
No presente artigo, a análise dos dados será realizada pelo método documental e
estudo de caso, visando estudar e analisar o processo x, comparando os procedimentos
identificados no processo com os procedimentos elencados no referencial teórico. As
informações coletadas serão tabuladas e analisadas com auxilio do editor de planilhas
Microsoft Office Excel.
4 ANÁLISE DOS RESULTADOS
Perante exposição teórica acerca do tema proposto, apresenta-se o caso prático,
anteriormente denominado processo judicial cível x, em que houve necessidade de realização
de prova pericial contábil.
Trata-se de Ação Ordinária Revisional de Cláusulas Contatuais, onde o Requerente:
Cliente A, ajuizou a ação contra o Requerido: Banco B, aduzindo que as partes firmaram
Contrato de Abertura de Crédito em Conta Corrente – Cheque Especial, tendo o Requerido se
valido de cobrança de valores indevidos, consubstanciada em cláusulas nulas.
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Foram as partes intimadas para especificação de provas, o que restou atendido pela
Requerente às fls. 1640/1645, oportunidade em que disse não ter interesse na audiência de
conciliação.
O Requerido especificou provas à fl. 1646.
A Requerente indicou assistente técnico e formulou quesitos às fls. 1654/1656, assim
procedendo o Requerido às fls. 1658/1660.
O Perito nomeado apresentou proposta de honorários à fl. 1685, com ela concordando
a Requerente à fl. 1687, dela discordando o Requerido, à fls. 1689/1690.
Chamado a se manifestar, o Sr. Perito reduziu o valor, às fls. 1693/1694, sendo o valor
depositado à fl. 1701.
O laudo foi juntado às fls. 1707/1718, acompanhado dos anexos de fls. 1719/2230,
manifestando-se a Requerente à fl. 2233 e o Requerido às fls. 2235/2240.
Com base na exposição das informações disponibilizadas no processo judicial cível x,
transcreve-se Petição de Honorários Periciais Contábeis emitida pelo Perito Contador.
Quadro 3: Petição de Honorários Periciais ContábeisError! Not a valid link.Fonte: Elaborado pela autora com
base em dados do processo x, 2018.
A Petição possui alguns itens sugeridos pelo CFC na NBC PP 01, como cabeçalho,
dados do processo, apresentação das partes, dados do perito, valor dos honorários e
localização. Porém, a Petição acima apresenta algumas divergências comparadas com o
Modelo de Petição apresentada pelo CFC.
Tais divergências serão elencadas a seguir:
Detalhamento de cada etapa da construção da prova pericial, a quantidade das
horas previstas e o valor de cada hora;
Pronunciamento quanto ao pagamento de impostos e encargos referentes ao
honorário;
Observação em relação ao aumento de honorário caso se solicite a resposta de
Quesitos Suplementares;
Apresentação da fonte em que se baseou para o cálculo do valor e;
Solicitação de depósito prévio do valor solicitado.
Observa-se que a petição foi indeferida, devido ao questionamento do Requerido
quanto ao valor dos honorários.
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Em decorrência da discordância do Requerido em relação à proposta de honorários
emitida pelo Perito Contador, o Perito se manifesta emitindo uma nova petição de honorários.
Quadro 4: Reformulação de Petição de Honorários Periciais Contábeis
EXMO SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA 2° VARA CÍVEL DA COMARCA DE CAMPO MOURÃO –
PARANÁ
AUTOS: 000/0000
REQUERENTE: CLIENTE A
REQUERIDO: BANCO B
PROPOSTA DE HONORÁRIOS
NOME DO CONTADOR, CRC-UF 00.000-0/0 perito nomeado, vem com o devido respeito e acatamento à
presença de Vossa Excelência, atendendo ao Requerido, despacho de folha 1692, manifestar-se em relação à
impugnação do valor dos honorários pelo Requerido de folhas 1689/1690.
O valor pleiteado a titulo de honorários foi de R$ 4.600,00 (quatro mil e seiscentos reais), conforme proposta
de fl. 1685.
O Autor concordou com a proposta, enquanto o Requerido diz ser o valor elevado para a elaboração dos
trabalhos, por não se tratar de análise que demande cálculos de difícil compreensão e ainda, que os pareceres
técnicos são pré-elaborados, fato que leva o contador a apenas adequar as informações específicas da conta
corrente de cada caso.
Inicialmente devemos lembrar que trata-se de diversos cálculos, onde demanda análise minuciosa e detalhada
de mais de 20 anos de movimentação da conta corrente, e com elaboração de diversas planilhas de cálculo
conforme podemos observar nos quesitos formulados principalmente pelo Autor.
Quanto aos pareceres técnicos serem pré-elaborados, não podemos concordar com o Requerido, pois cada
trabalho tem suas peculiaridades, pois depende dos documentos encartados nos Autos, dos quesitos
formulados, entre outras variáveis.
Neste trabalho, temos para análise 243 (duzentos e quarenta e três) meses para digitalização e análise o que
corresponde a mais de 20 anos de movimentação bancária, que não podemos desprezar, e processo longo já
com 9 volumes.
Temos ainda 26 (vinte e seis) quesitos para responder, que exigirá extensas planilhas de cálculo.
Conforme Resolução N° 001/2008 do SESCAP-PR, em anexo, que dispõe sobre a Tabela Orientada de
Honorários Periciais, sugere honorários entre R$ 2.658,00 a R$ 6.849,00
Ainda assim entendo ser possível reduzir os honorários para R$ 4.100,00 (quatro mil e cem reais), valor que
entendemos ser justo para o trabalho a ser desenvolvido.
Nestes Termos
P. Deferimento
Cidade e Data
Nome do Contador
Função
Fonte: Elaborado pela autora com base em dados do processo x, 2018.
Além dos itens da 1° Petição que estão em concordância com o CFC, a 2° Petição vem
apresentar a fonte em que se baseou para o cálculo do valor e detalhamento de alguns campos
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da matéria periciada. Porém, a Petição acima apresenta algumas divergências comparadas
com o Modelo de Petição apresentada pelo CFC.
Tais divergências serão elencadas a seguir:
Detalhamento de cada etapa da construção da prova pericial, a quantidade das
horas previstas e o valor de cada hora;
Pronunciamento quanto ao pagamento de impostos e encargos referentes ao
honorário;
Observação em relação ao aumento de honorário caso se solicite a resposta de
Quesitos Suplementares e;
Solicitação de depósito prévio do valor solicitado.
Na 1° Petição, entende-se à falta de detalhamento das informações a respeito da
formulação dos honorários contábeis e a não apresentação da fonte que sugere o valor das
horas de trabalhos foram determinantes para que surgissem questionamentos acerca da
veracidade do valor solicitado pelo perito. Outras informações que foram ocultadas da petição
podem causar atrito no decorrer do processo, quanto à alteração do valor referente aos
questionários suplementares e de esclarecimentos e a solicitação do depósito prévio do
honorário.
O Perito apresenta uma 2° Petição em resposta aos questionamentos do Requerido.
Nesta Petição que se encontra no Quadro 4 são evidenciadas algumas informações que não
estavam contidas na 1° Petição, sendo esta a consideração do valor da hora sugerido pela
(Sindicato, Associação, Federação, etc) e o detalhamento de alguns campos da matéria
periciada. O valor cobrado pelo Perito foi reduzido em 10%, acatando a solicitação do
Requerido. Observa-se que esta Petição foi aprovada pelas partes.
5 CONCLUSÕES PARCIAIS
A análise do processo judicial cível x permitiu evidenciar que nas duas ocasiões
alguns procedimentos realizados pelo perito contador relacionados aos honorários contábeis
não estão em conformidade com os procedimentos propostos pelas normas, leis e literatura
que abrangem o tema, pois, possuem divergências que, direta e indiretamente, podem
prejudicar o perito e as partes envolvidas no decorrer do processo.
Salienta-se que essa pesquisa demonstra resultados parciais, não abrangendo ainda a
análise do laudo elaborado pelo perito e a resposta dos quesitos.
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Conclui-se, com base nos dados preliminares, que no processo analisado o perito não
seguiu as recomendações necessárias para elaborar a petição de honorários adequadamente,
portanto, o profissional não está de acordo com as normas, leis e a literatura que envolve a
profissão do perito.
Recomenda-se que profissionais da área da pericia sigam corretamente as recomendações
para que haja coerência durante seu processo e transmita credibilidade em seu trabalho.
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