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Joatildeo Miguel Aleixo Zamith
POLIacuteTICA MARIacuteTIMA EUROPEIA
Uma poliacutetica agrave medida de Portugal
Faculdade de Letras
Universidade de Coimbra
2011
II
Joatildeo Miguel Aleixo Zamith
POLIacuteTICA MARIacuteTIMA EUROPEIA
Uma poliacutetica agrave medida de Portugal
Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Estudos Sobre a
Europa Europa ndash As Visotildees do ldquoOutrordquo aacuterea de
especializaccedilatildeo em Estudos Europeus apresentada agrave
Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra sob a
orientaccedilatildeo da Professora Doutora Maria Manuela de
Bastos Tavares Ribeiro e do Dr Tiago de Pitta e Cunha
Faculdade de Letras
Universidade de Coimbra
2011
III
ldquoQue improacuteprio chamar Terra a este planeta de oceanosrdquo
Sir Arthur C Clarke cit no Livro Verde ndash ldquoPara uma futura poliacutetica
mariacutetima da Uniatildeo uma visatildeo europeia para os oceanos e os maresrdquo
(2006)
ldquoPortugal encontra-se na periferia da Europa mas estaacute
no centro do mundordquo (hellip) ldquoPossuiacutemos uma vasta linha de
costa beneficiamos da maior zona econoacutemica exclusiva
da Uniatildeo Europeia Poderemos ser uma porta por onde a
Europa se abre ao Atlacircntico se soubermos aproveitar as
potencialidades desse imenso mar que se estende diante
dos nossos olhos mas que teimamos em natildeo verrdquo (hellip)
Cit no discurso de Sua Excelecircncia o Presidente da Repuacuteblica
Portuguesa Professor Doutor Aniacutebal Cavaco Silva durante a 36ordf
Sessatildeo Comemorativa do 25 de Abril de 2010 na Assembleia da
Repuacuteblica
IV
in memoriam
Professor Doutor Ernacircni Rodrigues Lopes
(1942 ndash 2010)
V
Resumo
Sabemos que dois terccedilos do planeta Terra satildeo ocupados pelos Oceanos Logo eacute
premente ocuparmo-nos deles da forma mais sustentaacutevel possiacutevel
E os ldquomaresrdquo foram desde sempre a seiva da Europa Os europeus desde haacute muito
tempo tiveram propensatildeo para se libertarem do mare incognitum Essa ousadia trouxe
retorno econoacutemico cultural e cientiacutefico notaacuteveis para a Humanidade
Os espaccedilos mariacutetimos e o litoral europeu satildeo essenciais para o bem-estar e
prosperidade ligam continentes atraveacutes de rotas comerciais regulam o clima satildeo fonte
de alimento de energia e de inuacutemeros recursos (muitos ainda desconhecidos) e satildeo
tambeacutem locais privilegiados de residecircncia e lazer para os cidadatildeos
A Europa preconiza actualmente uma Poliacutetica Mariacutetima Integrada reflectindo e
projectando a nossa relaccedilatildeo com os oceanos e mares Esta abordagem inovadora e
holiacutestica reforccedila a capacidade da Europa face aos desafios da globalizaccedilatildeo e da
competitividade agraves alteraccedilotildees climaacuteticas agrave autonomia energeacutetica agrave seguranccedila mariacutetima
entre outras O leme da Poliacutetica Mariacutetima Europeia Integrada foi tomado em 2005 pelo
Presidente da Comissatildeo Europeia Duratildeo Barroso e estaacute ancorada na Agenda de Lisboa
(apela ao crescimento econoacutemico e emprego) e na Agenda de Gotemburgo (apela ao
desenvolvimento sustentaacutevel ndash ambiental econoacutemico e social)
A nossa longa histoacuterica mariacutetima a liacutengua e cultura portuguesa e o facto de existir
uma Estrateacutegia Nacional para o Mar em consonacircncia com a Poliacutetica Mariacutetima Europeia
Integrada podem ser os factores-chave para Portugal concretizar um dos seus maiores
desiacutegnios para o seacuteculo XXI ndash o Mar Importa referir que eacute iminente o alargamento da
zona econoacutemica exclusiva (equivalente a 43 vezes agrave aacuterea de Portugal Continental) e
caso seja aceite teremos seguramente uma nova oportunidade de estar no centro do
mundo
Esta investigaccedilatildeo tem portanto como objectivo analisar a poliacutetica mariacutetima
europeia e os seus desenvolvimentos em Portugal
PALAVRAS-CHAVE
EUROPA MAR POLIacuteTICA PORTUGAL SUSTENTAacuteVEL
VI
Lista de abreviaturas
BEI ndash Banco Europeu de Investimento
BRIC ndash Brasil Ruacutessia Iacutendia e China
CCDR-N ndash Comissatildeo de Coordenaccedilatildeo de Desenvolvimento Regional do Norte
CdR ndash Comiteacute das Regiotildees
CE ndash Comissatildeo Europeia
CEO ndash Comissatildeo Estrateacutegica dos Oceanos
CESA ndash Associaccedilatildeo dos Estaleiros Europeus de Construccedilatildeo e Reparaccedilatildeo Naval
CETMAR ndash Centro Tecnoloacutegico del Mar
CIEJD ndash Centro de Informaccedilatildeo Europeia Jacques Delors
CIIMAR ndash Centro Interdisciplinar de Investigaccedilatildeo Marinha e Ambiental
CLPC ndash Comissatildeo de Limites para a Extensatildeo da Plataforma Continental
CO 2 ndash Dioacutexido de Carbono
COMPETE ndash Programa de Factores de Competitividade
CRPM ndash Conferecircncia das Regiotildees Mariacutetimas da Europa
DEM ndash Dia Europeu do Mar
EBA ndash European Boating Association
EFTA ndash Associaccedilatildeo Europeia de Livre Comeacutercio
EM ndash Estados Membros
EMAM ndash Estrutura de Missatildeo para os Assuntos do Mar
EMEPC ndash Estrutura de Missatildeo para a Extensatildeo da Plataforma Continental
EMODNET ndash Rede Europeia de Observaccedilatildeo e de Dados do Meio Marinho
EMSA ndash Agecircncia Europeia da Seguranccedila Mariacutetima
ENM ndash Estrateacutegia Nacional para o Mar
ESPO ndash Organizaccedilatildeo dos Portos Mariacutetimos Europeus
EuDA ndash European Dredging Association
EUROMIG ndash European Union Recreational Marine Industry Group
VII
FAO ndash Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Alimentaccedilatildeo e a Agricultura
FEDER ndash Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional
FEM ndash Foacuterum Empresarial da Economia do Mar
FSE ndash Fundo Social Europeu
GIZC ndash Gestatildeo Integrada das Zonas Costeiras
IampD ndash Investigaccedilatildeo e Desenvolvimento
IampDampI ndash Investigaccedilatildeo Desenvolvimento e Inovaccedilatildeo
IDTI ndash Investigaccedilatildeo e Desenvolvimento das Tecnologias de Informaccedilatildeo
OEM ndash Ordenamento do Espaccedilo Mariacutetimo
OGP ndash International Association of Oil and Gas Producers
ONG ndash Organizaccedilatildeo Natildeo Governamentais
ONU ndash Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas
NEA 2 ndash Nautisme Espace Atlantique 2
PAC ndash Poliacutetica Agriacutecola Comum
PALOP ndash Paiacuteses Africanos de Liacutengua Oficial Portuguesa
PCP ndash Poliacutetica Comum da Pesca
PIB ndash Produto Interno Bruto
PME`S ndash Pequenas e Meacutedias Empresas
PMIE ndash Poliacutetica Mariacutetima Integrada Europeia
POCTEA ndash Programa de Cooperaccedilatildeo Transnacional do Espaccedilo Atlacircntico
POCTEP ndash Programa de Cooperaccedilatildeo Transfronteiriccedilo Espanha-Portugal
POEM ndash Plano Ordenamento do Espaccedilo Mariacutetimo
QREN ndash Quadro de Referecircncia Estrateacutegico Nacional
UNESCO ndash Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo Ciecircncia e Cultura
TIC ndash Tecnologias da Informaccedilatildeo e da Comunicaccedilatildeo
UE ndash Uniatildeo Europeia
ZEE ndash Zona Econoacutemica Exclusiva
VIII
Nota preacutevia
A realizaccedilatildeo desta investigaccedilatildeo natildeo teria sido possiacutevel sem a colaboraccedilatildeo de
diversas pessoas e entidades pelo que lhes dirijo os devidos agradecimentos
A primeira palavra de agradecimento vai para a minha Orientadora Professora Doutora
Maria Manuela Tavares Ribeiro Grato pela sua disponibilidade e destreza em aceitar a
tarefa de orientaccedilatildeo Aproveito para a felicitar pelas inuacutemeras iniciativas que organiza e
em que participa elevando o prestiacutegio da nossa Faculdade de Letras a niacutevel nacional e
internacional
A segunda palavra e natildeo menos relevante vai para o meu co-Orientador na
qualidade de especialista Dr Tiago de Pitta e Cunha A sua notaacutevel experiecircncia
nacional (Coordenador da Comissatildeo Estrateacutegica dos Oceanos) e europeia (ex-Membro
do Gabinete do Comissaacuterio Europeu para os Assuntos Mariacutetimos e as Pescas) aliada a
uma cooperaccedilatildeo profiacutecua diria mesmo perfeita permitiram que neste trabalho tenhamos
procurado a profundidade e a transversalidade que o tema proposto exige
O reconhecimento eacute extensiacutevel a todos os Professores da parte curricular pelo
conhecimento adquirido nas aulas memoraacuteveis Uma palavra particular para o Professor
Doutor Antoacutenio Martins da Silva e outra para o meu colega e amigo Asdruacutebal
Sotomaior pois sem eles natildeo teria sido possiacutevel conseguir este objectivo
Agradeccedilo aos funcionaacuterios do Centro de Informaccedilatildeo Europeia Jacques Delors em
Lisboa pela simpatia e competecircncia com que sempre me receberam
O meu justo agradecimento ainda ao Comiteacute das Regiotildees pelo convite feito em
2008 para visitar e participar in loco nas sessotildees plenaacuterias das principais instacircncias
europeias (Parlamento Comissatildeo e CdR) Participaram neste evento 27 alunos em
representaccedilatildeo de todos os Estados Membros da UE oriundos de cursos de 2ordm Ciclo em
Estudos Europeus
Finalmente o meu obrigado sentido aos que estatildeo mais proacuteximos Agradeccedilo aos
amigos de sempre agrave Teresinha ao meu Irmatildeo e ao meu Pai pelos incentivos que sempre
me deram na vida Agrave minha Matildee sinto-me sempre grato pela sua sabedoria paciecircncia e
carinho
Agrave minha futura sobrinha Maria dedico este trabalho
IX
Iacutendice
Resumo V
Lista de abreviaturas VI
Nota preacutevia VIII
Introduccedilatildeo 1
Cap I ndash Principais talassocracias europeias ndash breve retrospectiva histoacuterica 4
11 Repuacuteblicas Mariacutetimas Italianas 6
12 O papel de Portugal ndash o pioneiro da globalizaccedilatildeo 9
13 Siglo de oro espanhol 13
14 O ciclo holandecircs e a hegemonia inglesa 16
15 A Burguesia e a Revoluccedilatildeo Industrial 19
Cap II ndash O Livro Verde da Poliacutetica Mariacutetima Integrada Europeia 21
21 Fundamentos da Poliacutetica Mariacutetima Integrada Europeia 21
22 Potencialidades das principais actividades mariacutetimas da Uniatildeo Europeia 23
23 Livro Verde ndash ldquouma visatildeo para os oceanos e os maresrdquo 27
24 Aacutereas-chave no Livro Verde 29
25 Participaccedilatildeo dos europeus no processo de construccedilatildeo da PMIE 38
Cap III ndash O Livro Azul plano de acccedilatildeo e instrumentos financeiros 40
31 Condiccedilotildees poliacuteticas do processo de decisatildeo 40
32 Livro Azul e o plano de acccedilatildeo 43
X
33 Instrumentos econoacutemico-financeiros de apoio agrave PMIE 51
331 A poliacutetica de coesatildeo e a poliacutetica regional europeia 51
332 Fundos estruturais 53
333 Outras fontes de financiamento 55
334 Programa de apoio ao aprofundamento da PMIE 56
Cap IV ndash Orientaccedilotildees estrateacutegias para o futuro da PMIE 58
41 Breve balanccedilo 58
42 Governaccedilatildeo mariacutetima e participaccedilatildeo das partes interessadas 59
43 Instrumentos transectoriais 62
44 Perspectivas e visatildeo futura da PMIE 65
Cap V ndash Estrateacutegia Nacional para o Mar 68
51 Princiacutepios e objectivos 73
52 Pilares estrateacutegicos 73
53 Acccedilotildees e medidas 75
54 O Hypercluster da economia do mar 81
55 Plano de ordenamento do espaccedilo mariacutetimo 83
56 Programa ldquoPolis do Litoralrdquo 85
Cap VI ndash Agenda Regional do Mar (Norte de Portugal) 87
61 Pacto regional para a competitividade da regiatildeo ldquoNorte 2015rdquo 87
62 Linhas estrateacutegicas de desenvolvimento 90
63 Modelo de governaccedilatildeo para a Agenda Regional do Mar 95
64 Oceano XXI - Cluster do ldquoconhecimento e da economia do marrdquo 95
65 A Naacuteutica como factor de desenvolvimento regional 99
Conclusotildees 101
Fontes e bibliografia 105
1
Introduccedilatildeo
A minha relaccedilatildeo com o Mar comeccedilou desde haacute muito
Foi graccedilas agraves actividades naacuteuticas em ambiente mariacutetimo que aprendi a valorizar e
a respeitar a natureza a partilhar valores sociais a estabelecer novas amizades e ateacute a
conhecer novos continentes Tudo comeccedilou por prazerlazer e hoje em dia o MAR faz
parte da minha profissatildeo e seraacute sempre seguramente uma fonte de inspiraccedilatildeo e energia
para a vida
Depois da formaccedilatildeo na aacuterea da engenharia e ciecircncias econoacutemicas decidi matricular-
me no Curso de Mestrado Estudos Europeus na Faculdade Letras da Universidade de
Coimbra de forma de aprofundar os meus parcos conhecimentos (histoacutericos poliacuteticos e
institucionais) sobre a Europa Foi uma experiecircncia enriquecedora e gratificante que
ultrapassou largamente as minhas aspiraccedilotildees iniciais
Contudo confrontado com a necessidade de elaborar uma tese de dissertaccedilatildeo no
acircmbito do Mestrado ocorreu-me explorar uma temaacutetica actual e transversal que se
espera poder ldquounirrdquo os europeus a uma causa ndash o Mar
Assim este trabalho de investigaccedilatildeo intitulado Poliacutetica Mariacutetima Europeia ndash Uma
poliacutetica agrave medida de Portugal pretende ser um contributo para a pesquisa e reflexatildeo
sobre as questotildees europeias e a sua relaccedilatildeo com o mar e os oceanos mateacuteria que como
todos nos temos vindo a aperceber cada vez mais se reveste de grande importacircncia para
Portugal
Foi com o espiacuterito de ldquopara antever o futuro temos de conhecer o passadordquo que
procurei ao longo do primeiro capiacutetulo debruccedilar-me sobre as fontes de riqueza material
e imaterial que estando relacionadas com o mar contribuiacuteram para a formaccedilatildeo e
desenvolvimento da Europa Neste acircmbito debruccedilo-me sobre as expediccedilotildees mariacutetimas
italianas que apesar de confinadas ao mediterracircneo foram extremamente importantes
para os ldquodescobridoresrdquo que se seguiram Entre estes uacuteltimos destacarei o papel de
Portugal o siglo de oro espanhol o ciclo holandecircs e a hegemonia mariacutetima inglesa
Para terminar o enquadramento histoacuterico faccedilo referecircncia agrave emergecircncia da burguesia
europeia e agraves suas origens nas actividades mariacutetimas
2
No segundo capiacutetulo procuro analisar transversalmente o Livro Verde da Poliacutetica
Mariacutetima Integrada Europeia Assim apresentarei os fundamentos e as potencialidades
da Europa no domiacutenio mariacutetimo a ldquovisatildeordquo europeia para o futuro dos oceanos e os
mares e ainda as aacuterea-chave nele apontadas No final deste capiacutetulo abordarei a
consulta puacuteblica que possibilitou aos europeus participarem directa e activamente no
processo de construccedilatildeo da PMIE
Saliento que pela primeira vez a dimensatildeo mariacutetima da Europa assumiu a posiccedilatildeo
de real prioridade poliacutetica ou seja na histoacuteria da Uniatildeo Europeia os oceanos e os mares
como um todo tornaram-se assunto de foco poliacutetico ao mais alto niacutevel A PMIE foi uma
iniciativa de Joseacute Manuel Duratildeo Barroso aquando da sua primeira nomeaccedilatildeo para a
Presidecircncia da Comissatildeo Europeia em 2004 No programa Barroso I a PMIE foi
apresentada como uma necessidade premente chegando mesmo a ser instituiacuteda em
2004 a pasta dos Assuntos Mariacutetimos atribuiacuteda na altura ao maltecircs Joe Borg (ex-
Comissaacuterio Europeu)
No terceiro capiacutetulo comeccedilarei por salientar as condiccedilotildees poliacuteticas ao niacutevel das
instacircncias europeias que permitiram a consolidaccedilatildeo da PMIE Este destaque poliacutetico
concedido ao Mar eacute o reconhecimento do seu valor estrateacutegico em diferentes dimensotildees
econoacutemica ambiental cultural de seguranccedila de investigaccedilatildeo e de lazer Desta vontade
poliacutetica declarada emergiu o Livro Azul acompanhado de um plano de acccedilatildeo No final
deste capiacutetulo seratildeo apresentados os instrumentos financeiros comunitaacuterios de suporte agrave
PMIE
Apesar da jovem idade - cinco anos - a PMIE jaacute conseguiu obter resultados notaacuteveis
agrave escala europeia Por isso no quarto capiacutetulo proponho-me fazer uma breve anaacutelise agraves
actividades decorrentes da PMIE tendo em conta a governacircncia mariacutetima E as acccedilotildees
estrateacutegicas para o futuro da poliacutetica mariacutetima europeia seratildeo ainda apresentadas neste
capiacutetulo
No quinto capiacutetulo passarei a analisar a Estrateacutegia Nacional para o Mar (ENM)
resultante do apelo da Uniatildeo Europeia (UE) aos Estados-membros (EM) no sentido de
aplicarem abordagens holiacutesticas e transversais para o uso sustentaacutevel dos oceanos
Realccedilo que Portugal a par de Espanha e Franccedila foi um dos principais impulsionadores
da poliacutetica mariacutetima europeia Destacarei ainda a importacircncia do ldquoHypercluster da
3
Economia do Marrdquo o plano de ordenamento do espaccedilo mariacutetimo (POEM) actualmente
em discussatildeo puacuteblica e tambeacutem o programa ldquoPolis do Litoralrdquo
No capiacutetulo seguinte o sexto destacarei a Agenda Regional para o Mar que para
aleacutem de ser enquadrada na ENM e PMIE responde visivelmente agraves especificidades
latentes na regiatildeo Norte de Portugal No final deste capiacutetulo seratildeo abordados ainda a
plataforma ldquoOceano XXIrdquo e o estudo estrateacutegico intitulado ldquoA Naacuteutica como factor de
desenvolvimento da regiatildeo Norterdquo
Neste trabalho procuro dar um contributo acadeacutemico sobre a PMIE registando a
ausecircncia de estudos sobre esta mateacuteria congratulo-me com o estudo que tatildeo
entusiasticamente me comprometeu e espero que o mesmo possa servir de
inspiraccedilatildeoorientaccedilatildeo a TODOS aqueles que se revejam no todo ou em parte do exposto
ou simplesmente aos que se interessem pelas temaacuteticas abordadas
4
Cap I ndash Principais talassocracias europeias ndash breve retrospectiva histoacuterica
Como forma de introduzir a influecircncia dos assuntos mariacutetimos na formaccedilatildeo da
Europa resolvi reflectir sobre os aspectos histoacutericos que considero mais relevantes
protagonizados no periacuteodo compreendido entre os seacuteculos XIV e XX pelas maiores
potecircncias de entatildeo
Seratildeo abordadas neste capiacutetulo primeiramente as repuacuteblicas italianas (Geacutenova e
Veneza) seguindo-se a expansatildeo portuguesa passando pela aventura castelhana e
terminando com a acccedilatildeo holandesa e inglesa No final deste capiacutetulo faccedilo uma
abordagem agrave formaccedilatildeo de uma nova classe social ndash a burguesia ndash oriunda das
actividades mariacutetimas mercantis que foi o ldquomotor de arranquerdquo para a Revoluccedilatildeo
Industrial
Os maiores impeacuterios ateacute ao seacuteculo XV foram de dois tipos
Continentais como o impeacuterio Alexandrino (euro-asiaacutetico no seacuteculo IV
aC) e o Mongol (no seacuteculo XIII que se estendia do Oceano Paciacutefico ao Mar
Negro)
Outros centrados estrategicamente numa bacia mariacutetima que jaacute foi tida
como o centro econoacutemico do mundo A este tipo pertenciam o impeacuterio Romano
(com o apogeu nos seacuteculos I e II aC em que o Mediterracircneo ndash chamado Mare
Internum ndash era um ldquolago romanordquo o Mare Nostrum) e o impeacuterio Islacircmico (que
teve o seu apogeu entre os seacuteculos VIII e XIII que se estendia desde a Peniacutensula
Ibeacuterica agrave Iacutendia) e permitiu transformar o Oceano Iacutendico num ldquolago muccedilulmanordquo
ateacute ao momento da chegada dos portugueses
Houve tambeacutem outros impeacuterios tais como
Egiacutepcio (com o apogeu no seacuteculo XV aC)
Persa (seacuteculos VI a IV aC que se estendia da Iacutendia agrave Greacutecia)
Chinecircs (o Chacutein do seacuteculo III aC o Han do seacuteculo II ou o Tang do
seacuteculo VIII)
5
Como nota comum todos estes impeacuterios ocupavam uma extensatildeo continental
contiacutegua
No entanto outros modelos de expansatildeo surgiram ainda na Antiguidade ndash incluindo
as colonizaccedilotildees mediterracircneas dos cretenses feniacutecios e gregos assentes numa rede
litoral e descontiacutenua da orla do Mediterracircneo e do mar Negro De referir entre estes
casos a importacircncia do impeacuterio ateniense (com o auge no seacuteculo V aC) uma
talassocracia1 por excelecircncia baseada na projecccedilatildeo naval e na descontinuidade
continental
Este uacuteltimo tipo de expansatildeo naval replicou-se mais tarde nas projecccedilotildees
mediterracircnicas das repuacuteblicas mariacutetimas italianas com destaque para Geacutenova e Veneza
e na monarquia dual catalo-aragonesa
Apesar das diferenccedilas havia um denominador comum nestas talassocracias
europeias ndash o mar Mediterracircneo Como sublinha a historiadora genovesa Gabriela
Airaldi2 a actividade mariacutetima era o elemento que interligava e dinamizava a
civilizaccedilatildeo mediterracircnica
A esse ambiente mediterracircnico peculiar associou-se na Idade Meacutedia
Uma revoluccedilatildeo comercial e financeira com uma economia de mercado
predominantemente virada ao exterior assente numa diaacutespora de mercadores e
banqueiros
Uma projecccedilatildeo geopoliacutetica criando impeacuterios mariacutetimos descontiacutenuos
A disponibilidade para alianccedilas poliacuteticas ldquooperativasrdquo pragmaacuteticas
libertas dos preconceitos ideoloacutegico-religiosos da eacutepoca
Ora como refere Airaldi3 esta interdependecircncia estrateacutegica entre a Europa do Sul e
o ldquolagordquo mediterracircnico originou um novo tipo de estado ndash as repuacuteblicas mariacutetimas ndash
assentes numa oligarquia mercantil-financeira distintas do sistema monaacuterquico-
senhorial dominante na Europa medieval
1 O termo vem do grego e eacute uma junccedilatildeo do vocaacutebulo mar (thaacutelassa) e de poder (kraacutecia) Aplica-se a
todos os Estados no qual o poder se exerce baseado na expansatildeo mariacutetima garantida por uma projecccedilatildeo
naval 2 AIRALDI 2007 9
3 AIRALDI ibidem 99
6
Os muccedilulmanos e os chineses tinham no entanto criado uma inovaccedilatildeo que o
historiador Felipe Fernaacutendez-Arnesto4 sintetiza na diferenciaccedilatildeo entre civilizaccedilotildees
Civilizaccedilotildees da beira-mar ou no meio do mar ldquomoldadasrdquo pelo elemento
mariacutetimo (assim eram as talassocracias ateacute entatildeo existentes)
Civilizaccedilotildees que ldquodomesticaramrdquo os grandes mares que geravam
verdadeiras ldquocivilizaccedilotildees oceacircnicasrdquo Como aquele historiador demonstra em
Civilizations o Islatildeo foi a primeira civilizaccedilatildeo a projectar-se poliacutetica e
economicamente usando os caminhos oceacircnicos transformando o Iacutendico num
ldquolagordquo seu domiacutenio secular que foi beliscado pela curta expansatildeo chinesa do
inicio do seacuteculo XV5
Essa confluecircncia dos dois movimentos tornou o Iacutendico num espelho precoce da
revoluccedilatildeo que ocorreria mais tarde e que foi a razatildeo pela qual a histoacuteria de Portugal se
inscreveu na Histoacuteria universal
11 Repuacuteblicas Mariacutetimas Italianas
Os genoveses venezianos e catalatildees dominavam o Mediterracircneo com destaque
para as duas Repuacuteblicas italianas que lideraram o mundo poliacutetico euromediterracircnico a
partir do final do seacuteculo XIII
Geacutenova perderia o poder hegemoacutenico em 1380 na batalha naval de Chioggia agrave
entrada da grande laguna veneziana o que a levou sair do Adriaacutetico e a perder a
lideranccedila mediterracircnea para Veneza conhecida como a Serenissima Repubblica
Geacutenova La Superba havia dominado a regiatildeo desde que derrotara Pisa em 1320 e
criara um impeacuterio mediterracircnico e uma rede comercial e financeira transnacional
Perderia em 1397 a autonomia poliacutetica passando a ser uma zona de confronto entre a
4 Felipe Fernaacutendez-Arnesto exerce actualmente o magisteacuterio na caacutetedra Priacutencipe das Astuacuterias na
Universidade de Tufts Departamento de Histoacuteria e eacute membro do claustro de Queen Mary na
Universidade de Londres 5 FERNAacuteNDEZ-ARNESTO Felipe 2001 381
7
Franccedila e o Ducado de Milatildeo ao longo do seacuteculo XV No entanto nunca se apagou a
chama empreendedora pioneira
A individualidade genovesa foi de facto marcante ndash o seu espiacuterito de orizzonti
aperti (horizontes abertos) foi pioneiro no seacuteculo XIII Foi nesta repuacuteblica mariacutetima que
mais transparente se tornou o choque entre por um lado o lobby das cruzadas e da
bandeira poliacutetica da recuperaccedilatildeo de Jerusaleacutem e por outro lado a burguesia mercantil
mais arrojada ligada ao Banco di S Giorgio (criado em 1407) e agraves 28 famiacutelias
poderosas que compunham os Albergui6 A Escola genovesa de almirantado onde
sobressai a figura de Emanuele Pessagno (conhecido pelo portugueses como Manuel
Peccedilanha7) criou fama e uma geraccedilatildeo marinai erranti (marinheiros errantes) No
entanto veio para Portugal no iniacutecio do seacuteculo XIV para servir as navegaccedilotildees de
ldquooutrosrdquo em Quatrocentos e Quinhentos
A acircnsia genovesa de projecccedilatildeo para aleacutem do ldquolagordquo mediterracircnico ficou conhecida
As navegaccedilotildees de Benedetto Zacaria em 1277 abriam oficialmente a rota
mediterracircnico-atlacircntica para a Flandres anulando o significado das feiras de
Champagne e valorizando estrategicamente o estreito de Gibraltar bem como a costa
portuguesa e galega Mais tarde os irmatildeos Ugolino e Valdino Vivaldi com duas galeacutes
armadas por Tedisio Doria em 1291 aventuraram-se no Mar Oceano (o Atlacircntico) para
circum-navegarem Aacutefrica e chegarem ldquoagraves partes da Iacutendia e trazerem mercadorias
lucrativasrdquo mas nunca mais houve notiacutecias deles Especula-se que eles teriam como
objectivo provavelmente natildeo a verdadeira Iacutendia das especiarias mas a regiatildeo do ouro
da Aacutefrica Ocidental que na Idade Meacutedia muitos incluiacuteam na designaccedilatildeo geneacuterica de
ldquoIacutendiardquo8
Nos genoveses sentiu-se precocemente a necessidade de procurar chegar agraves fontes
asiaacuteticas de commodities de alto valor por via do Ocidente em oposiccedilatildeo ao domiacutenio
que os venezianos e aacuterabes detinham sobre as vias mediterracircnicas do Levante para o
Oriente E o sentido de risco dos clatildes financeiros genoveses daria corpo ao primeiro elo
do que viria a designar de Repubblica Internazional del Denaro
6 Agregaccedilatildeo artificial de vaacuterias famiacutelias da oligarquia genovesa Os Alberghi teriam entre 1600 a 1700
membros 40 dos quais estavam regularmente expatriados 7O monarca D Dinis em 1317 tornaria Manuel Peccedilagno de Geacutenova Almirante-mor do reino um cargo
hereditaacuterio 8 ALBUQUERQUE 2001 148
8
Mais proacuteximos geograficamente dos portugueses os catalatildees apesar da sua
expansatildeo mediterracircnica entre 1229 e 1412 (um impeacuterio que no seu auge incluiacutea as
Baleares Malta Sardenha Siciacutelia e os Ducados de Atenas e Neopaacutetria na Greacutecia bem
como um relacionamento especial com o Chipre) e de se terem afirmado como uma
potecircncia mariacutetima mediterracircnica dispunham de um dos centros cartograacuteficos mais
importantes da eacutepoca situado em Maiorca onde deu cartas a escola de cartoacutegrafos da
famiacutelia judia Cresques9 e a quem eacute atribuiacutedo um Atlas de 1375 Estes nunca desafiaram
a hegemonia genovesa e posteriormente a veneziana Mas como os italianos os catalatildees
tambeacutem fundaram coloacutenias mercantis muito fortes em Alexandria Beirute Damasco e
em diversos pontos do Magrebe
Os venezianos por seu lado consumada a paz com Geacutenova em 1381 e
secundarizaccedilatildeo geopoliacutetica desta repuacuteblica rival expandiram os seus domiacutenios de mar
atraveacutes da ocupaccedilatildeo de pontos estrateacutegicos na costa adriaacutetica grega e no Mediterracircneo
(ilhas como Chipre Corfu ou Creta) Tambeacutem estabeleceram fortes comunidades
mercantis ndash os fundaci ndash nos portos e placas giratoacuterias comerciais estrateacutegicas (como
Constantinopla Tana Sinope Tebisonda Alexandria e Damasco) dos paiacuteses com que
negociavam
A partir dessa rede dominaram o comeacutercio do que entatildeo chamavam mercanzie
sottili (mercadorias finas) as commodities de alto valor da eacutepoca que vinham da Iacutendia
da China do Ceilatildeo e das Molucas que chegavam a Veneza trazidas pelas mude
comboios mariacutetimos que vinham das placas giratoacuterias que eram Constantinopla
Alexandria e os portos da Siacuteria Este comeacutercio internacional movimentava 20 milhotildees
de ducados por ano A frota veneziana dispunha de 300 grandes navios 45 galeacutes e 3000
pequenos barcos e envolvia 36000 marinheiros
A Europa vivia literalmente enfeiticcedilada pelas especiarias dominada por
ldquofetichismordquo das commodities de luxo como ironizou o historiador Fernand Braudel
Paradoxalmente os europeus medievos consumiam produtos made in Oriente mas
desconheciam de todo onde ficavam exactamente e como eram os paiacuteses e as gentes de
onde se importavam tais luxos Daiacute a propagaccedilatildeo de mitos e contos fantaacutesticos sobre as
Iacutendias e China Apenas alguns viajantes aventureiros chegavam agraves fontes ndash Marco Polo
fora um deles
9 Um dos filhos desta famiacutelia catalatilde Jafuda Cresques cristianizado como Jaume (Jaime) Ribes seria um
dos expoentes maacuteximos do grupo conselheiro do Infante Henrique
9
Veneza soube gerir tambeacutem o ldquosaco de gatosrdquo que era a Europa do final da Idade
Meacutedia O grande cisma no papado entre 1378 e 1417 num periacuteodo em que chegou a
haver mais do que um centro de poder papal (Roma e Avignon) com pontiacutefices em
conflito apoiados por diferentes potecircncias ndash deu uma ajuda a esta cidade-Estado que
cultivava teimosamente a sua independecircncia De referir tambeacutem a intermitente Guerra
dos Cem Anos (1337-1453) que consumia as candidatas potenciais de entatildeo ao
hegemonismo da Europa continental a saber Inglaterra e Franccedila10
Natildeo eacute demais sublinhar que o conhecimento acumulado e as inovaccedilotildees geopoliacuteticas
surgidas com a expansatildeo das repuacuteblicas mariacutetimas mediterracircnicas seriam aprimoradas a
uma escala global pelos portugueses
12 O papel de Portugal ndash o pioneiro da globalizaccedilatildeo
O facto geopoliacutetico que abriria nas deacutecadas seguintes a janela de oportunidade aos
portugueses ocorreria bem longe do Mediterracircneo ndash Oceano Iacutendico ndash considerado o
centro econoacutemico do mundo
Ainda o Infante D Henrique natildeo fazia jus ao seu cognome de ldquoNavegadorrdquo jaacute os
chineses da dinastia Ming haviam lanccedilado a partir de 1405 sete expediccedilotildees em
direcccedilatildeo ao Iacutendico muito para aleacutem da sua tradicional esfera de influecircncia oceacircnica Foi
seu Almirante-Mor era Zheng He (1371-1433) a cujo nome ficou associado a
navegaccedilotildees de longa distacircncia anteriores agraves portuguesas Aquele movimento de
expediccedilotildees era o que chamariacuteamos hoje de ldquoprojecccedilatildeo de poderrdquo sublinhou Edward
Dreyer na sua obra Zheng He11
O argumento utilizado era um cruzamento haacutebil de
diplomacia e demonstraccedilatildeo do seu poder naval sem ser necessaacuterio exercecirc-lo a natildeo ser
excepcionalmente ldquoa sua armada era suficientemente intimidante e raramente
necessitava de combater de facto mas estar preparada para o fazer era a sua missatildeo
primaacuteriardquo diz Dreyer
As navegaccedilotildees chinesas acabariam abruptamente em 1433 A expansatildeo foi travada
por um movimento reaccionaacuterio da burocracia de Beijing e ocorreu no meio de uma
10
RODRIGUES amp DEVEZAS 2009 53-59 11
DREYER 2007 3
10
crise de hiperinflaccedilatildeo com o colapso do papel-moeda chinecircs tatildeo generosamente
espalhado pela Aacutesia Este recuo deixaria a porta aberta para os navegadores que a
seguir chegassem ao Iacutendico12
Assim Portugal aproveitou uma janela de oportunidade uacutenica no iniacutecio de
Quatrocentos pois a China entatildeo a maior economia do mundo recuou no seu projecto
de expansatildeo oceacircnica As Repuacuteblicas Italianas (nomeadamente Veneza entatildeo potecircncia
hegemoacutenica) e a Catalunha natildeo dispunham de estrateacutegias ou de inovaccedilotildees para irem
aleacutem do seu espaccedilo tradicional de projecccedilatildeo de poder que era o Mediterracircneo E as
potencias regionais e os poderes locais que dominavam os checkpoints e as rotas de
commodaties de alto valor em Aacutefrica no proacuteximo e Meacutedio Oriente e no Iacutendico natildeo
dispunham de poder naval para enfrentar um ldquointrusordquo expansionista
Alavancado o mito do Preste Joatildeo a elite portuguesa de Quatrocentos em
particular os dois irmatildeos ndash infantes Henrique o ldquoNavegadorrdquo e Pedro o ldquoCosmopolitardquo ndash
e o monarca D Joatildeo II (considerado um ldquoPriacutenciperdquo exemplar do Renascimento)
idealizaram uma estrateacutegia tenaz de cerco pelas ldquotraseirasrdquo ao elo mais fraco da eacutepoca o
arco muccedilulmano fragmentado que dominava as rotas de commodities ateacute Alexandria
principal porto do Mediterracircneo agora nas matildeos dos mamelucos e com quem Veneza
negociava Esta estrateacutegia portuguesa foi evolutiva e de geometria variaacutevel ora
procurando vias pela costa e rios de Aacutefrica Ocidental ao encontro do potencial aliado
Preste Joatildeo e do estrateacutegico Nilo ora recorrendo ao uso de espionagem e intelligence
ateacute agrave procura de um rota mariacutetima alternativa para uma das fontes de especiarias (a
Iacutendia)
A procura do Preste Joatildeo pelos navegadores portugueses foi infrutiacutefera durante
longas deacutecadas Apenas entre 1508 e 1514 se realizaram os primeiros encontros oficiais
entre as cortes etiacuteope e lisboeta Entretanto dois caminhos se abriram dois ciclos
sucessivos de uma nova especializaccedilatildeo econoacutemica portuguesa internacional onde
entrou o ouro o ignoacutebil traacutefico de escravos e as especiarias Esta nova especializaccedilatildeo
mudou o padratildeo tradicional da economia do paiacutes e foi responsaacutevel por uma revoluccedilatildeo
no comeacutercio internacional
12
RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 60-61
11
O sucesso no estabelecimento da nova rota mariacutetima para a Iacutendia deveu-se tanto a
inovaccedilotildees teacutecnicas e cientiacuteficas (como a caravela e a nova cartografia) como agrave gestatildeo
do conhecimento global da eacutepoca (o centro de acccedilatildeo do Infante Henrique e o war room
de D Joatildeo II) e tambeacutem a inovaccedilotildees estrateacutegicas para a projecccedilatildeo de poder (rede das
primeiras feitorias e fortificaccedilotildees de plataformas oceacircnicas e de novas cidades e de um
modelo de colonizaccedilatildeo) e ainda juriacutedicas (estabelecimento da doutrina do Mare
Clausum e assinatura dos primeiros tratados de divisatildeo do mundo em zonas de
influecircncia) Foi este conjunto de inovaccedilotildees que permitiu o surgimento de um novo e
longo ciclo geopoliacutetico e substituir Veneza na lideranccedila mundial13
Portugal criou portanto um novo tipo de impeacuterio ndash o impeacuterio oceacircnico em rede ndash
baseado na mobilidade e poder naval pois viabilizou o domiacutenio de uma vasta aacuterea do
planeta e uma forma de comeacutercio verdadeiramente internacional Este network lanccedilou as
bases para a criaccedilatildeo da aldeia global fenoacutemeno hoje sobejamente conhecido como
globalizaccedilatildeo
Os portugueses introduziram o uso sistemaacutetico do conhecimento cientiacutefico como
um activo indispensaacutevel para alcanccedilar objectivos poliacuteticos geoestrateacutegicos Tal facto
gerou os alicerces do Renascimento cientiacutefico europeu e transformou radicalmente a
visatildeo do mundo como um planeta composto por massas continentais banhadas por um
conjunto de oceanos interligados Foi graccedilas agrave expansatildeo mariacutetima portuguesa que surgiu
a concepccedilatildeo de um globo terrestre e uma nova cartografia14
Apesar das fortes raiacutezes empiacutericas da expansatildeo portuguesa do caraacutecter pragmaacutetico
e do forte improviso os liacutederes de Quatrocentos e de Quinhentos desenvolveram a
gestatildeo de conhecimento de forma eficiente Este foi o capital ldquointelectualrdquo que afirmou
um espoacutelio singular que destacou Portugal elevando-o agrave escala mundial Satildeo exemplos
deste periacuteodo os primeiros centros de acccedilatildeo de expansatildeo mariacutetima uma vaga de
publicaccedilotildees cientiacuteficas originais a revoluccedilatildeo na cartografia e na ciecircncia da construccedilatildeo
naval e uma evoluccedilatildeo da arte militar
A construccedilatildeo da hegemonia portuguesa foi claramente um processo evolutivo de
aprendizagem que abarcou vaacuterias geraccedilotildees Isto foi sucedendo desde a eacutepoca inicial dos
infantes D Henrique e D Pedro com a chegada agrave Costa da Mina e agrave linha do Equador
13
RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 175-176 14
RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 184-185
12
mais tarde com a passagem do Cabo da Boa Esperanccedila ateacute agrave chegada agrave Iacutendia Brasil
China e Japatildeo
Concluiacuteda a chegada agrave Iacutendia (1498) jaacute no tempo do rei D Manuel I a estrateacutegia de
projecccedilatildeo mundial foi tripla
Afirmaccedilatildeo de um poder naval sem contestaccedilatildeo mundial no Atlacircntico e
Iacutendico
Conclusatildeo da maior rede mundial de checkpoints existentes ateacute entatildeo
Campanha de marketing internacional junto do papado (poder
transnacional reconhecido pelos europeus)
Portugal caiu num dilema entre a focalizaccedilatildeo num espaccedilo controlaacutevel do Iacutendico
(ligado agrave rota das especiarias) e a tentaccedilatildeo de uma extensatildeo raacutepida incluindo um
projecto imperial universal embebido numa ideologia cruzadista e de expansatildeo
messiacircnica
A capacidade inovadora dos portugueses foi de tal forma abrangente que se pode
afirmar que nos seacuteculos XV e XVI Portugal inovou na arte de inovar Isto provocou
uma ruptura ldquotectoacutenicardquo na histoacuteria do mundo e natildeo foi um mero acidente relegado para
segundo plano por muitos historiadores e analistas face ao mediatismo criado em torno
das viagens de Colombo agrave Ameacuterica Central15
Segundo Daniel Boorstin16
ldquo(hellip) como empreendimento organizado e de longo
prazo a conquista dos Portugueses foi a mais moderna mais revolucionaacuteria do que as
largamente celebradas exploraccedilotildees de Colombo ()rdquo
15
RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 331 16
BOORSTIN 1986 83
Daniel Boorstin faleceu em 2004 Estudou em Oxford Harvard e Yale foi autor de 20 livros e
bibliotecaacuterio do Congresso norte-americano de 1975 a 1987 Foi director do Museu Nacional de Histoacuteria
e Tecnologia e da Smithsonian Institution entidades norte-americanas A Trilogia sobre a Histoacuteria
Mundial que escreveu ficou ceacutelebre E nela incluiu Os Descobridores Foi um dos acadeacutemicos que
destacou a originalidade portuguesa de Quatrocentos e Quinhentos
13
13 Siglo de oro espanhol
O ldquoseacuteculo de ourordquo foi o apogeu da cultura espanhola desde o Renascimento do
seacuteculo XV ateacute ao periacuteodo Barroco do seacuteculo XVII Marcado por acontecimentos-chave
abrangeu o periacuteodo desde a publicaccedilatildeo da gramaacutetica Castellana de Nebrija em 1492 ateacute
a morte de Calderoacuten de la Barca em 1681
Nos finais do seacuteculo XVIII jaacute se havia popularizado a expressatildeo Seacuteculo de Ouro
com a qual Lope de Vega aludia a si proacuteprio e que suscitava a admiraccedilatildeo de Don
Quixote de la Mancha no seu famoso discurso sobre a Idade de Ouro
Com a uniatildeo dinaacutestica os Reis Catoacutelicos Fernando e Isabel delinearam um Estado
politicamente forte que foi consolidado posteriormente cujos ecircxitos foram invejados
por alguns intelectuais contemporacircneos como por exemplo o italiano Nicolau
Maquiavel Poreacutem esse Estado politicamente forte esteve ideologicamente dominado
pela inquisiccedilatildeo eclesiaacutestica Os judeus que natildeo se cristianizaram foram expulsos em
1492 e dispersaram-se fundando coloacutenias hispacircnicas pela Europa Aacutesia e Norte de
Aacutefrica Aiacute cultivaram a sua liacutengua e escreveram livros em castelhano emergindo figuras
notaacuteveis como o economista e escritor Joseacute Penso de La Vega Miguel de Barrios Juan
de Prado Isaac Cardoso Abraham Zacuto Isaac Orobio e Manuel de Pina Em Janeiro
de 1492 Castela conquista o bastiatildeo mouro de Granada finalizando a etapa poliacutetica
muccedilulmana peninsular ainda que uma minoria mourisca aiacute continuasse a habitar mais
ou menos tolerada ateacute ao reinado de Felipe III
Em Outubro desse mesmo ano Cristoacutevatildeo Colombo chega agrave Ameacuterica A chegada agraves
ldquoiacutendiasrdquo por ocidente foi considerado pelo historiador Pierre Vilar17
o gesto mais
extraordinaacuterio da histoacuteria da Humanidade Ainda nesse ano foi celebrado o Tratado de
Tordesilhas entre D Joatildeo II e os Reis Catoacutelicos Como o nome indica este Tratado foi
assinado na povoaccedilatildeo castelhana de Tordesilhas a 7 de Junho de 1494 celebrado entre
o Reino de Portugal e o Reino da Espanha para dividir as terras descobertas e por
descobrir Este tratado surgiu na sequecircncia da contestaccedilatildeo portuguesa agraves pretensotildees da
Coroa espanhola resultantes da viagem de Cristoacutevatildeo Colombo que ano e meio antes
17
Pierre Vilar foi um historiador francecircs Estaacute considerado uma das maacuteximas autoridades no estudo da
Histoacuteria de Espanha tanto no periacuteodo do Antigo Regime como na Idade Contemporacircnea
14
chegara ao chamado Novo Mundo reclamando-o oficialmente para Isabel a Catoacutelica O
tratado foi ratificado pela Espanha a 2 de Julho e por Portugal a 5 de Setembro de 1494
Durante o apogeu cultural e econoacutemico desta eacutepoca Espanha alcanccedilou prestiacutegio
internacional e influenciou culturalmente a Europa Tudo quanto provinha de Espanha
foi amiuacutede imitado e divulgou-se a aprendizagem e estudo do castelhano
As aacutereas culturais mais cultivadas foram a literatura as artes plaacutesticas a muacutesica e a
arquitectura O saber foi-se acumulando e disseminado pelas prestigiadas universidades
de Salamanca e Alcalaacute de Henares
As cidades mais importantes foram Sevilha por receber as riquezas coloniais e dos
comerciantes e banqueiros europeus Madrid como sede da corte e ainda as cidades de
Toledo Valecircncia e Saragoccedila
Com a anexaccedilatildeo dinaacutestica e a formaccedilatildeo da monarquia dual ibeacuterica sob a coroa dos
Habsburgo a dinastia dos Felipes tenta criar o maior impeacuterio global no final do seacuteculo
XVI e primeira metade do seacuteculo XVII18
Com o nascimento do mito do ldquoEl Doradordquo (um suposto rei de uma regiatildeo auriacutefera
inventado pelos nativos colombianos) em 1538 acelerou-se a corrida aos metais
preciosos da Ameacuterica pelos ldquoconquistadoresrdquo espanhoacuteis Em 1547 o famoso mineiro de
Potosi nos Andes comeccedilava a sua exploraccedilatildeo intensiva de prata e em 1560 a invenccedilatildeo
de um novo meacutetodo de refinaccedilatildeo com mercuacuterio vindo das minas espanholas levou ao
disparo do negoacutecio superando a produccedilatildeo de ouro
O pico da importaccedilatildeo de prata para Espanha ocorre no quinqueacutenio de 1591-159519
No Oriente os castelhanos estabeleceram-se em Cebu desde 1565 e dois Navios da
Armada Miguel Lopez de Legazpi conseguiram estabelecer uma nova rota transpaciacutefica
mais a norte para o Meacutexico Em 1571 ocupavam a baiacutea de Manila e em 1574
exploravam as ilhas Borneacuteu e a Nova Guineacute A carreira regular entre o Meacutexico e as
Filipinas entre Acapulco e Manila pretendeu pocircr em xeque a carreira da Iacutendia
portuguesa20
Felipe II sofreu em larga medida do messianismo de seu avocirc portuguecircs D Manuel
I e viu em seu redor desenvolver-se uma retoacuterica imperialista e universalista herdada de
seu pai Carlos V O poeta-soldado Hernando de Acuntildea anunciara num poema dirigido a
18
RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 358 19
RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 348-349 20
RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 349
15
Carlos V que estava proacuteximo o dia em que se realizaria a maacutexima universal um
monarca um impeacuterio e uma espada
Espanha atingia entatildeo o auge de seu Siglo de Oro com um impeacuterio onde ldquoel Sol
no se poniacuteardquo desde o Virreinato de Nueva Espantildea (Ameacuterica Norte e Central) ateacute agraves
Filipinas o que levava os estrategos da Corte dos Felipes a sonhar com uma ldquomonarquia
mundialrdquo Mais tarde o aristocrata andaluz Gaspar Felipe de Guacutezman o famoso Conde-
Duque de Olivares adoptando uma expressatildeo de Gil Vicente afirmou ldquoDios es espantildeol
y estaacute de parte de la nacioacuten estos diasrdquo (Deus eacute espanhol e faz parte da naccedilatildeo nos dias de
hoje)
Ainda na vigecircncia do reinado de Felipe II (1556-1598) satildeo de salientar os
acontecimentos que iriam dar iniacutecio ao processo de decadecircncia deste siglo
Iniacutecio dos ataques sistemaacuteticos dos corsaacuterios ingleses agraves possessotildees
espanholas das Ameacutericas
O desastre da Grande y Feliciacutessima Armada (mais conhecida como
ldquoInvenciacutevel Armadardquo) que partira de Lisboa em 1588 (levando boa parte da
armada portuguesa que natildeo regressou) para invadir e subjugar a Inglaterra
A derrota frente aos ingleses na batalha naval do estreito de Gibraltar em
159021
Depois da morte de Felipe II uma atmosfera de desengantildeo de desilusatildeo nacional
apoderou-se de Espanha ndash segundo Elliot a obra imortal El Inginioso Hidalog Don
Quixote de La Mancha (1605 e 1614) de Miguel de Cervantes Saavedra eacute
provavelmente o expoente dessa eacutepoca de decliacutenio estrateacutegico que se iria estender pelo
reinado do filho e neto de Felipe II22
Na realidade o Siglo de Oro espanhol durou menos de sessenta anos A decadecircncia
comeccedilou na aclamaccedilatildeo de Felipe II em 1581 como rei portuguecircs nas Cortes de Tomar
e termina nas deacutecadas de 1630 e 1640 com Felipe IV (III em Portugal) Este uacuteltimo
coroado aos dezasseis anos de idade entregou o governo do impeacuterio ao Conde-Duque
de Olivares Durante o vinteacutenio compreendido entre 1623 e 1643 eacute o Conde-Duque de
Olivares que exerceraacute o controlo efectivo sobre o Estado espanhol A notoacuteria rivalidade
com o cardeal de Richelieu (Franccedila) arrastou a Espanha para a Guerra dos Trinta Anos
e a diversos conflitos paralelos com a Itaacutelia e com os Paiacuteses Baixos O desgaste causado
21
RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 358-360 22
RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 373
16
pelos vaacuterios conflitos o decliacutenio da induacutestria e do comeacutercio devido ao esgotamento dos
recursos das coloacutenias espanholas e a restauraccedilatildeo da coroa portuguesa (em 1640)
desacreditaram a sua gestatildeo Destituiacutedo do cargo exilou-se no norte de Espanha e
passou seus uacuteltimos anos submetido agraves investigaccedilotildees da Inquisiccedilatildeo ateacute seu falecimento
em 1645
Sucedeu-se ainda um quadro de desaires no final da Guerra dos Trinta Anos (1618-
1648) de que passo a citar os mais importantes
As derrotas infligidas na batalha naval ao largo de Downs no canal da
Mancha Esta derrota naval eacute considerada pelos proacuteprios estrategos espanhoacuteis
como o momento de perda da hegemonia naval
Em 1639 a infligida pelos holandeses comandados por Maarten Tromp
Em 1643 em Rocroi derrotados pelos franceses
A reconquista da Independecircncia dos portugueses em 1640
A revolta da Catalunha que se converte num protectorado francecircs
A derrota de Lens em 1648 de novo agraves matildeos dos franceses
14 O ciclo holandecircs e a hegemonia inglesa
Se Portugal de Quinhentos foi o pioneiro do verdadeiro comeacutercio internacional
foram os hegemonistas seguintes holandeses e ingleses que souberam inovar para dele
tirar proveito efectivo
Alguns historiadores desenharam esta imagem sugestiva ndash o papel dos portugueses
foi entatildeo ldquoo de lanccedilarem catildees para espantarem a caccedila que depois foi apanhada por
outrosrdquo23
Natildeo foi por acaso que os holandeses ficaram conhecidos no seacuteculo XVII como os
ldquocarreteiros do marrdquo com uma frota que era o dobro da de Inglaterra e Franccedila juntas24
ldquoLanccedilaram-se ao mar e tornaram-se os transportadores das mercadorias mundiais Os
23
BOXER 2001 32 Imagem atribuiacuteda por Charles R Boxer ao capitatildeo holandecircs Willem Bosman 24
RODRIGUES 1997 280 (volume I)
O contraste no periacuteodo de 1600-1700 foi brutal a frota comercial portuguesa baixou de uma meacutedia de
700 navios (no periacuteodo de Quinhentos) para quase metade e a holandesa disparou de menos de 100 para
1770 contra 811 ingleses e 155 franceses
17
barcos holandeses iam a toda a parte levando mercadoria de todo o mundo a todo o
lugarrdquo dizia Leo Huberman25
Aos holandeses e ingleses caberia inovarem no empreendorismo capitalista
justamente onde falhou o ldquocapitalismo monaacuterquico portuguecircsrdquo o que gerou a croacutenica
desvantagem competitiva que marcaria a evoluccedilatildeo do comeacutercio a partir dos comeccedilos do
seacuteculo XVII
A esse conjunto de inovaccedilotildees anglo-holandesas entre 1600 e 1700 poderemos
chamar de revoluccedilatildeo de softpower ndash mais poderoso do que o militarismo religioso
apelidado de ldquodilataccedilatildeo da feacuterdquo que os portugueses e espanhoacuteis pretenderam usar como
arma ideoloacutegica de consolidaccedilatildeo das ldquoDescobertasrdquo26
O primeiro aspecto inovador do softpower da potecircncia emergente foi juriacutedico27
A
doutrina do Mare Clausum defendida e aplicada pelos portugueses foi contestada O
holandecircs Hugo Grotius formulou em De Jure Pradae28
(1604) e Mare Liberum (1609)
a ideia de que haveria um direito natural de navegaccedilatildeo livre no mar alto O oceano seria
um bem puacuteblico comum onde natildeo se aplicavam os direitos de conquista nem a lei
consuetudinaacuteria ldquoEm virtude deste direito (de mar livre) o comeacutercio estaacute aberto a toda
a genterdquo afirma Grotius que termina a sua obra Mare Liberum dizendo que eacute preciso
natildeo recuar perante a guerra se os portugueses mantiverem a sua doutrina do Mare
Clausum Grotius respondia tambeacutem a uma decisatildeo de James I de Inglaterra que no
iniacutecio de 1609 decretara a obrigatoriedade de licenccedilas nos mares em redor das costas
inglesas o que prejudicou seriamente os holandeses
O segundo aspecto foi poliacutetico-comercial Foram por sua vez os ingleses que
criaram um novo tipo de companhia trading baseada numa sociedade por acccedilotildees em
que a proacutepria rainha da altura Elizabeth I participava como accionista e sem a
dependecircncia do circuito dos banqueiros alematildees e italianos A primeira dessas
companhias em finais de 1600 tinha o estranho nome de ldquoGovernador e Companhia
dos Aventurosos Mercadores para a descoberta de regiotildees domiacutenios ilhas e lugares
desconhecidosrdquo e contava em Londres com 240 accionistas que investiram 25 libras
25
HUBERMAN 1970 45 26
RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 397 27
O debate entre o Mare Clausum e o Mare Liberum estaacute muito bem documentado no livro de Wilhelm
Grewe intitulado The Epochs of International Law republicado pela editora Walter de Gruyer em 2000
Berlim e Nova York 28
Grotius refere nesta obra supracitada a captura em Malaca de um barco portuguecircs por um navio da
companhia holandesa VOC
18
cada um (na eacutepoca uma soma de certa importacircncia29
) Esta deu origem mais tarde ao
aparecimento da famosa Companhia Inglesa das Iacutendias Orientais Honourable East India
Company Em 1602 foi a vez de os holandeses criarem a Companhia das Indias
Orientais a conhecida VOC (acroacutenimo de Verenidge Oost-indische Compagnie) que
agrupou nove companhias por acccedilotildees depois do ensaio com a inicial Compagnie Van
Verre (Companhia das Terras Longiacutenquas) criadas em 1594
Estas companhias natildeo eram meramente comerciais eram bem mais do que isso
Funcionavam como uma ferramenta poliacutetica multifuncional pois natildeo soacute criavam a
infra-estrutura para o comeacutercio internacional como tambeacutem serviam de arma poliacutetico-
ideoloacutegica (exercendo softpower) coerciva (cobrando impostos) e militar (aplicando o
hardpower)30
Por alguns satildeo consideradas exemplos de ldquoactores natildeo estaduaisrdquo com
dimensatildeo multinacional a quem os monarcas atribuiacuteam poderes soberanos nas regiotildees
de expansatildeo ao contraacuterio dos ibeacutericos que exerciam o poder ultramarino atraveacutes de
vice-reis Posteriormente os franceses copiaram o modelo anglo-holandecircs na sua
projecccedilatildeo nas Ameacutericas e na Iacutendia mas com menos sucesso devido agrave sua inferioridade
na projecccedilatildeo oceacircnica
Em 1609 os holandeses fundaram o Amesterdamsche Wisselbank (Banco de
Amesterdatildeo) sobre o qual Adam Smith escreveu vaacuterios paraacutegrafos na sua obra mais
ceacutelebre31
e em 1694 surgiu o Bank of England32
De salientar ainda a mudanccedila no exerciacutecio de hardpower nos mares Eacute um aspecto a
que muitos historiadores designaram ldquorevoluccedilatildeo militarrdquo ocorrida ao longo da primeira
metade do seacuteculo XVII visto que os ingleses e holandeses inovaram em termos de
velocidade flexibilidade (aperfeiccediloamento da capacidade de bolinar) e posicionamento
da artilharia a bordo dos navios33
29
HUBERMAM ibidem nt 12 30
HUTTON 2006 70 31
SMITH 1776 livro IV capiacutetulo 3 parte I 32
RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 398-400 33
RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 402
19
15 A Burguesia e a Revoluccedilatildeo Industrial
O incremento do comeacutercio mariacutetimo permitiu que os produtos do Oriente
chegassem agrave Europa e vice-versa Este comeacutercio apesar do risco impliacutecito nas viagens
era altamente rentaacutevel (bastava uma caravela chegar do Oriente com especiarias para
cobrir os custos totais da frota)
As transacccedilotildees comerciais realizadas pelos europeus atraveacutes das suas rotas
mariacutetimas permitiram o enriquecimento das classes sociais vigentes e contribuiacuteram
ainda em grande escala para o aparecimento de uma nova classe social ldquoendinheiradardquo
ndash a Burguesia
Os burgueses eram os habitantes dos burgos que eram pequenas ldquocidadesrdquo
protegidas por muros Eram ldquogentesrdquo de elevado estatuto econoacutemico embora de baixo
niacutevel cultural e social Por isso se compreende agrave luz da eacutepoca que tenham sido
ostracizados pela nobreza
Com o mundo e o comeacutercio ligado em rede ndash mercado global ndash a procura mundial
disparou e consequentemente tornou-se mais premente aumentar a oferta
O ldquonegoacutecio mariacutetimordquo indissociaacutevel da burguesia favoreceu a acumulaccedilatildeo de
capitais na Europa Posteriormente esta acumulaccedilatildeo de capital serviu de suporte
financeiro agrave Revoluccedilatildeo Industrial
A Revoluccedilatildeo Industrial consistiu num conjunto de mudanccedilas tecnoloacutegicas34
com
profundo impacto no processo produtivo que se reflectiu no desenvolvimento
econoacutemico e social na Europa A era industrial provocou uma ruptura com o passado
Foi iniciada em Inglaterra em meados do seacuteculo XVIII e rapidamente se expandiu a
partir do seacuteculo XIX
Entre as novas aplicaccedilotildees tecnoloacutegicas saliento a importacircncia da aplicaccedilatildeo do
motor a vapor em navios que veio encurtar a distacircncia entre os portos e
simultaneamente aumentar a capacidade de circulaccedilatildeo de pessoas e mercadorias Este
momento marcou o decliacutenio do ciclo de navegaccedilatildeo comercial agrave vela
A Revoluccedilatildeo Industrial eacute o ponto culminante de uma evoluccedilatildeo tecnoloacutegica
econoacutemica e social que se vinha processando na Europa desde a Idade Meacutedia com
34
James Watt em 1765 introduz na Gratilde-Bretanha o condensador na maacutequina de Newcomen componente
que aumenta consideravelmente a eficiecircncia da maacutequina a vapor
20
maior ecircnfase nos paiacuteses onde a Reforma protestante tinha conseguido destronar a
influecircncia da Igreja Catoacutelica Nos paiacuteses fieacuteis ao catolicismo a Revoluccedilatildeo Industrial
eclodiu em geral mais tarde
O seacuteculo XIX no plano das relaccedilotildees internacionais foi marcado pela hegemonia
mundial britacircnica de expansatildeo colonialista e pelo aparecimento das primeiras lutas e
conquistas dos trabalhadores O trono britacircnico foi ocupado pela rainha Vitoacuteria (1837-
1901) razatildeo pela qual esse periacuteodo eacute denominado por Era Vitoriana No final deste
seacuteculo a busca de novas regiotildees para colonizar e descarregar os produtos (maciccedilamente
produzidos pela revoluccedilatildeo industrial) levou a uma acirrada disputa entre as potecircncias
industrializadas causando diversos conflitos e um crescente espiacuterito armamentista que
culminou mais tarde na eclosatildeo da Primeira Guerra Mundial (1914)
Statue of Prince Henry the Navigator ndash Belgrave Square London35
35
Estaacutetua em homenagem ao Infante D Henrique Belgrave Square em Londres
21
Cap II ndash O Livro Verde da Poliacutetica Mariacutetima Integrada Europeia
21 Fundamentos da Poliacutetica Mariacutetima Integrada Europeia
Partimos da definiccedilatildeo de fundamento eacute o que daacute consistecircncia e seguranccedila o que
daacute coesatildeo agraves partes do todo que ele mesmo estrutura e sustenta36
No capiacutetulo precedente dedicado a um breve enquadramento histoacuterico destaquei as
principais naccedilotildees europeias que contribuiacuteram fortemente para identidade mariacutetima da
Europa Facto eacute que hoje em dia em pleno seacuteculo XXI eacute inconcebiacutevel olhar para
Europa e imaginaacute-la sem mar ou negar a sua importacircncia no quotidiano dos europeus
De referir que na Uniatildeo Europeia a 27 apenas 5 Estados-membros natildeo satildeo paiacuteses
costeiros o que demonstra desde logo a importacircncia da temaacutetica mariacutetima no contexto
europeu Este eacute sem duacutevida um dos desafios que a Europa enfrenta e que passo a
apresentar neste capiacutetulo dedicado ao Livro Verde da Poliacutetica Mariacutetima Integrada
Europeia
Qualquer cidadatildeo europeu se lembraraacute dos relatos das grandes viagens de
descobrimentos que revelaram aos nossos antepassados a vastidatildeo a diversidade de
culturas e a riqueza de recursos do nosso planeta O ecircxito destas viagens que na sua
maioria eram mariacutetimas exigia quase sempre espiacuterito de abertura a ideias novas e um
planeamento meticuloso aleacutem de extraordinaacuteria coragem e forte determinaccedilatildeo Graccedilas a
elas natildeo soacute foram sendo desvendadas ao longo do tempo regiotildees do mundo antes
desconhecidas como tambeacutem apareceram novas tecnologias como por exemplo o
astrolaacutebio (instrumento naval usado para medir a altura dos astros acima da linha do
horizonte) o cronoacutemetro mariacutetimo (destinado a calcular a longitude exacta) e a turbina a
vapor (que permitiu escapar agrave tirania dos ventos dominantes)
A densidade populacional nas zonas do litoral europeu foi sempre elevada No mar
encontraram um meio de subsistecircncia pescadores e marinheiros mas tambeacutem sauacutede e
prazer novos horizontes para sonhar e um rico reportoacuterio de vocaacutebulos e metaacuteforas
36
Enciclopeacutedia Luso Brasileira vol 8 1794
22
presentes tanto na literatura como no quotidiano Fonte de romance de uniatildeo mas
tambeacutem de separaccedilotildees perigos desconhecidos e sofrimento o mar eacute um desafio
permanente e suscita em noacutes uma vontade profunda de melhor o conhecer
A Europa possui mais de 70000 km de orla costeira estaacute rodeada por numerosas
ilhas por quatro mares (Mediterracircneo Baacuteltico do Norte e Negro) e por dois oceanos
(Atlacircntico e Aacuterctico) O continente europeu eacute uma peniacutensula com uma orla costeira de
milhares de quiloacutemetros ndash maior do que a de outras grandes massas continentais como
os Estados Unidos ou a Federaccedilatildeo da Ruacutessia Dada esta configuraccedilatildeo geograacutefica mais
de dois terccedilos das fronteiras da UE satildeo de orla mariacutetima E os espaccedilos mariacutetimos sob
jurisdiccedilatildeo dos Estados-Membros satildeo mais vastos do que os seus espaccedilos terrestres
Graccedilas agraves suas regiotildees ultraperifeacutericas para aleacutem do Oceano Atlacircntico a Europa estaacute
igualmente presente no Oceano Iacutendico e no mar das Caraiacutebas Os desafios colocados por
estas regiotildees no plano mariacutetimo satildeo numerosos e afectam a Uniatildeo Europeia no seu todo
A Europa desde tempos imemoriais essencialmente devido agrave sua geografia sempre
teve uma relaccedilatildeo privilegiada com os oceanos sendo estes determinantes no
desenvolvimento da sua cultura identidade e histoacuteria
Assim continua a ser hoje em dia Num momento em que a Uniatildeo Europeia procura
veementemente revitalizar a economia eacute importante reconhecer o potencial econoacutemico
da dimensatildeo mariacutetima Estima-se que 3 a 5 do produto interno bruto (PIB) europeu
eacute gerado pelas induacutestrias e serviccedilos do sector mariacutetimo sem contar com o valor de
mateacuterias-primas como o petroacuteleo o gaacutes ou o pescado As regiotildees mariacutetimas europeias
representam mais de 40 do PIB da Uniatildeo Europeia
Natildeo obstante os cidadatildeos europeus nem sempre estatildeo bem conscientes da
importacircncia dos oceanos e mares na sua vida Embora saibam que a aacutegua eacute um bem
crucial poderatildeo desconhecer que proveacutem dos oceanos sob a forma ldquorecicladardquo de chuva
ou de neve por exemplo Preocupam-se com as alteraccedilotildees climaacuteticas mas nem sempre
sabem ateacute que ponto satildeo moduladas pelos oceanos Beneficiam da possibilidade de
comprar produtos baratos de todo o mundo sem se aperceberem da complexidade da
rede logiacutestica que o torna possiacutevel37
37
COM (2006) 275 final vol II 3
23
O desenvolvimento sustentaacutevel como se sabe ocupa um lugar preponderante na
agenda de trabalhos da Uniatildeo Europeia O desafio consiste em assegurar o reforccedilo
muacutetuo do crescimento econoacutemico da coesatildeo social e da protecccedilatildeo do ambiente
Ora a PMIE tem a oportunidade de aplicar aos oceanos o princiacutepio do
desenvolvimento sustentaacutevel Para esse efeito pode tirar partido dos trunfos que sempre
estiveram na base da supremacia no domiacutenio mariacutetimo conhecimento dos oceanos
larga experiecircncia e capacidade para enfrentar novos desafios conjugados com um forte
empenho na protecccedilatildeo dos seus recursos38
A Europa depois de seacuteculos de ligaccedilatildeo aos mares e oceanos assume a partir de
2007 a coordenaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas ligadas ao espaccedilo mariacutetimo e costeiro
europeu Todavia o objectivo de alcanccedilar uma poliacutetica mariacutetima mais integrada natildeo eacute
exclusivo da Europa eacute algo que tem vindo a ser implementado igualmente por paiacuteses de
outras regiotildees do mundo como a Austraacutelia o Canadaacute ou os Estados Unidos
22 Potencialidades das principais actividades mariacutetimas da Uniatildeo Europeia
A Uniatildeo Europeia eacute a primeira potecircncia mariacutetima mundial especialmente no que
diz respeito ao transporte mariacutetimo agraves teacutecnicas de construccedilatildeo naval ao turismo costeiro
agrave energia offshore incluindo as energias renovaacuteveis e serviccedilos associados No futuro
segundo um estudo do Irish Marine Institute39
os sectores com maior potencial de
crescimento seratildeo o sector dos cruzeiros e portuaacuterio a aquicultura as energias
renovaacuteveis as telecomunicaccedilotildees submarinas e a biotecnologia marinha
O transporte mariacutetimo e os portos satildeo essenciais para o comeacutercio internacional pois
90 do comeacutercio externo da Uniatildeo Europeia e mais de 40 do seu comeacutercio interno eacute
efectuado por via mariacutetima A Uniatildeo Europeia com 40 da frota mundial eacute
incontestavelmente o liacuteder deste sector global Anualmente 35 mil milhotildees de
toneladas de mercadorias e 350 milhotildees de passageiros transitam pelos portos mariacutetimos
europeus Cerca de 350000 pessoas trabalham nos portos e nos serviccedilos associados
38
COM (2006) 275 final vol II 4 39
Para mais informaccedilotildees sobre o Irsih Marine Institute httpwwwmarineie
24
que no seu conjunto geram um valor acrescentado de aproximadamente 20 mil milhotildees
de euros40
Com o aumento do volume do comeacutercio mundial e o desenvolvimento do
transporte mariacutetimo de curta distacircncia e das ldquoauto-estradasrdquo mariacutetimas as perspectivas
para estes sectores satildeo de crescimento contiacutenuo O transporte mariacutetimo eacute um catalisador
para outros sectores nomeadamente a construccedilatildeo naval e os equipamentos mariacutetimo-
portuaacuterios
Os serviccedilos mariacutetimos associados como os seguros a banca a intermediaccedilatildeo a
classificaccedilatildeo e a consultoria satildeo mais um domiacutenio em que a Europa deve manter a sua
lideranccedila
Os oceanos e os mares geram igualmente receitas graccedilas ao turismo Estima-se que
o volume de negoacutecios directo do sector do turismo mariacutetimo na Europa tenha sido de 72
mil milhotildees de euros em 2004 Os turistas que passam feacuterias no litoral usufruem do mar
da praia e da zona costeira de formas muito diversas Muitos destinos turiacutesticos devem a
sua popularidade agrave proximidade do mar e dependem da qualidade ambiental deste Para
a sustentabilidade do turismo em geral e em particular do ecoturismo sector que se
encontra em raacutepida expansatildeo eacute pois crucial prever um elevado niacutevel de protecccedilatildeo das
zonas costeiras e do meio marinho O turismo gera ainda trabalho para a induacutestria da
construccedilatildeo naval
O sector europeu dos cruzeiros tambeacutem se desenvolveu fortemente nos uacuteltimos
anos registando uma taxa de crescimento anual superior a 10 Os navios de cruzeiro
satildeo praticamente todos construiacutedos na Europa O turismo de cruzeiro contribui para o
desenvolvimento das zonas costeiras e insulares
O sector da naacuteutica de recreio registou igualmente um aumento constante nos
uacuteltimos anos prevendo-se que o seu crescimento anual na Uniatildeo Europeia seja de 5 a
641
Nenhuma outra forma de lazer colectivo abrange um leque tatildeo grande de idades
interesses e locais42
O mar desempenha um papel essencial na competitividade no desenvolvimento
sustentaacutevel e na seguranccedila do aprovisionamento energeacutetico os quais constituem
40
Contributo da Organizaccedilatildeo dos Portos Mariacutetimos Europeus (ESPO) para o Livro Verde 41
Contributo da European Union Recreational Marine Industry Group (EURMIG) para o Livro Verde
Este sector inclui nomeadamente a construccedilatildeo de embarcaccedilotildees a electroacutenica de ponta para fabrico de
motores e equipamentos mariacutetimos o financiamento e a construccedilatildeo e exploraccedilatildeo de infra-estruturas 42
Contributo da European Boating Association (EBA) para o Livro Verde
25
objectivos essenciais identificados pela Comissatildeo Europeia43
e pelos Chefes de Estado
e de Governo44
O mar do Norte eacute depois da Ruacutessia dos Estados Unidos e da Araacutebia
Saudita a quarta maior fonte de petroacuteleo e de gaacutes no mundo45
Os mares em torno da
Europa desempenham tambeacutem um importante papel no sector da energia na medida em
que permitem o transporte por um nuacutemero crescente de navios-tanque de uma grande
parte do petroacuteleo e do gaacutes consumidos na Europa
Por outro lado o vento as correntes oceacircnicas as ondas e mareacutes representam uma
vasta fonte de energia inesgotaacutevel Convenientemente explorados estes tipos de
energias poderiam assegurar uma importante parte do abastecimento de electricidade em
muitas zonas costeiras da Europa e contribuir assim para o desenvolvimento econoacutemico
e a criaccedilatildeo de emprego com caraacutecter duradouro
As empresas europeias desenvolvem know-how na aacuterea das tecnologias marinhas
natildeo soacute no domiacutenio da exploraccedilatildeo de hidrocarbonetos no mar como tambeacutem nos dos
recursos marinhos renovaacuteveis das actividades em aacuteguas profundas da investigaccedilatildeo
oceanograacutefica dos veiacuteculos e robocircs subaquaacuteticos das obras mariacutetimas e da engenharia
costeira Essas tecnologias satildeo cada vez mais utilizadas e estimularatildeo o crescimento do
sector europeu das tecnologias marinhas especialmente nos mercados mundiais de
exportaccedilatildeo
Por fim a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Alimentaccedilatildeo e a Agricultura
(FAO)46
indica que caberaacute agrave aquicultura satisfazer a nova procura mundial no mercado
de consumo de pescado A dificuldade consiste em gerir este aumento de procura de
uma forma sustentaacutevel e compatiacutevel com o ambiente A competiccedilatildeo pelo espaccedilo pode
tambeacutem constituir um importante problema em algumas zonas costeiras A aquicultura
poderaacute distanciar-se da costa o que exigiraacute novos trabalhos de investigaccedilatildeo e
desenvolvimento da tecnologia de cultura em jaulas offshore47
A Uniatildeo Europeia eacute uma das principais potecircncias de pesca ao niacutevel mundial e o
maior mercado de produtos transformados agrave base de peixe Embora o nuacutemero de
pescadores na Uniatildeo Europeia tenha vindo a baixar ao longo dos anos o sector das
43
COM (2006) 105 final 44
Conclusotildees da Presidecircncia do Conselho Europeu de 23 e 24 de Marccedilo de 2006 45
Contributo da International Association of Oil and Gas Producers (OGP) para o Livro Verde 46
O estado das pescas e da aquicultura no mundo FAO 2004 47
COM (2002) 511 final
26
pescas no seu conjunto emprega ainda cerca de 526000 pessoas48
Satildeo proporcionados
numerosos postos de trabalho natildeo soacute no sector da captura como na induacutestria da
transformaccedilatildeo acondicionamento transporte e comercializaccedilatildeo bem como nos
estaleiros faacutebricas de artes de pesca empresas de abastecimento e de manutenccedilatildeo Estas
actividades tecircm uma importacircncia consideraacutevel no tecido econoacutemico e social das zonas
pesqueiras A transiccedilatildeo gradual para pescarias mais sustentaacuteveis prevista pela Uniatildeo
Europeia e o aumento da procura de peixe enquanto alimento saudaacutevel conduzem a
uma maior estabilidade rentabilidade e inclusiveacute crescimento econoacutemico em certos
segmentos do sector das pescas49
Como verificamos as actividades mariacutetimas ainda que dispersas ou diacutevidas por
sectores satildeo efectivamente importantes para o desenvolvimento econoacutemico da Europa
No entanto sendo a Europa um continente proeminentemente mariacutetimo questiono-
me porque eacute que soacute a partir de 2006 surge uma intenccedilatildeo de abordar os assuntos
mariacutetimos como um todo e de forma integrada A resposta eacute complexa Talvez seja o
reflexo de uma Europa tradicionalmente sectaacuteria baseada nos interesses individuais dos
Estados-membros e com a dificuldade em falarem a uma soacute voz Apesar de tardia a
PMIE pode ser uma referecircncia para a Europa na forma como desenvolve e implementa
poliacuteticas axioloacutegicas e integradas contribuindo simultaneamente para uma Europa de
direitos e com valores50
dando assim a todos uma melhor perspectiva de futuro
48
Factos e nuacutemeros sobre a Poliacutetica Comum da Pesca (PCP) CE 2004 49
COM (2006) 275 final volume II 7-9 50
A dignidade humana a liberdade a democracia a igualdade o Estado de Direito o respeito pelos
direitos do Homem satildeo os valores fundamentais da UE consagrados no Preacircmbulo do Tratado de Lisboa
Satildeo comuns a todos os EM e qualquer paiacutes europeu que queira tornar-se membro da UE tem de os
respeitar Defender estes valores bem como a paz e o bem-estar dos povos da Uniatildeo satildeo agora os
objectivos principais da UE Estes objectivos gerais satildeo complementados por objectivos mais especiacuteficos
como a promoccedilatildeo da justiccedila e da protecccedilatildeo sociais e a luta contra a exclusatildeo social e as discriminaccedilotildees
27
23 Livro Verde ndash ldquouma visatildeo para os oceanos e os maresrdquo
ldquo(hellip) torna-se especialmente necessaacuterio termos uma poliacutetica mariacutetima abrangente
orientada para o desenvolvimento de uma economia mariacutetima florescente e para a
plena exploraccedilatildeo do potencial das actividades centradas no mar e de uma forma
sustentaacutevel para o ambiente Esta poliacutetica deve assentar na excelecircncia da investigaccedilatildeo
cientiacutefica da tecnologia e da inovaccedilatildeo mariacutetimardquo Cit nos objectivos estrateacutegicos da
Comissatildeo Europeia para 2005-2009
A Comissatildeo Europeia em Junho de 2006 apresentou um Livro Verde sobre os
diferentes aspectos de uma futura poliacutetica mariacutetima comunitaacuteria Esta obra realccedilou a
identidade e a supremacia mariacutetimas da Europa que devem ser preservadas num
periacuteodo em que as pressotildees sobre o ambiente comprometem a perenidade das
actividades mariacutetimas A poliacutetica mariacutetima deve consequentemente ter por objectivo a
formaccedilatildeo de um sector mariacutetimo inovador competitivo e respeitador do ambiente Para
aleacutem das actividades mariacutetimas a abordagem proposta integra tambeacutem a qualidade de
vida nas regiotildees costeiras O Livro Verde teve como objectivo lanccedilar um debate sobre
uma futura poliacutetica mariacutetima para a Uniatildeo Europeia caracterizado por uma abordagem
holiacutestica dos oceanos e dos mares
Ele tornou claro que num periacuteodo em que os recursos estatildeo ameaccedilados por
pressotildees fortes e pela crescente capacidade tecnoloacutegica de os explorar soacute uma atitude
de profundo respeito pelos oceanos e pelos mares nos permitiraacute continuar a desfrutar
dos benefiacutecios que eles nos oferecem A reduccedilatildeo acelerada da biodiversidade marinha
devido nomeadamente agrave poluiccedilatildeo ao impacto das alteraccedilotildees climaacuteticas e agrave sobrepesca
eacute desde jaacute um sinal de alarme inequiacutevoco que natildeo se pode ignorar
Assim o Livro Verde baseou-se nas poliacuteticas e iniciativas da UE existentes e
insere-se no contexto da Estrateacutegia de Lisboa procurando estabelecer o justo equiliacutebrio
entre as dimensotildees econoacutemica social e ambiental
Como tal contribuiu largamente para que os europeus adquirissem uma nova
consciecircncia da grandeza do seu patrimoacutenio mariacutetimo da importacircncia dos oceanos e do
potencial dos oceanos para melhorar o bem-estar e aumentar as oportunidades
econoacutemicas
28
A Comissatildeo Europeia postulou que a poliacutetica mariacutetima comunitaacuteria deve alicerccedilar-
se em dois pilares fundamentais
Em primeiro lugar deve estar ancorada na Estrateacutegia de Lisboa estimulando o
crescimento e a criaccedilatildeo de mais e melhores empregos O investimento permanente no
conhecimento e nas competecircncias eacute um factor essencial para manter a competitividade e
garantir empregos de qualidade
Em segundo lugar deve manter e melhorar o estado do recurso em que se baseiam
todas as actividades mariacutetimas ou seja o oceano propriamente dito
Embora a utilizaccedilatildeo destes pilares como base para a nova poliacutetica mariacutetima possa
parecer relativamente simples haacute que natildeo descurar duas caracteriacutesticas especiacuteficas do
meio marinho
A primeira consiste na natureza global dos oceanos que faz com que as relaccedilotildees
entre paiacuteses sejam ao mesmo tempo complementares e concorrenciais Para regular as
actividades mariacutetimas no interesse do desenvolvimento sustentaacutevel ao niacutevel mundial eacute
necessaacuterio elaborar regras aplicaacuteveis universalmente Contudo cada parcela de oceano e
de mar eacute singular e pode exigir as suas proacuteprias regras e uma gestatildeo mais especiacutefica
Esta aparente contradiccedilatildeo eacute ilustrativa do motivo pelo qual a natureza global dos
oceanos representa um tatildeo grande desafio para os decisores poliacuteticos
O outro desafio que se oferece a uma boa governaccedilatildeo mariacutetima directamente
ligado ao aspecto anterior prende-se com a multiplicidade dos intervenientes
Numerosas satildeo as poliacuteticas sectoriais que surgiram e que existem a todos os niacuteveis de
poder comunitaacuterio nacional regional e local Pode acontecer que intervenientes de
agecircncias e paiacuteses diferentes ou organizaccedilotildees internacionais estejam melhor colocados
para adoptar as propostas de acccedilatildeo Contudo para que as decisotildees sejam tomadas a um
niacutevel mais proacuteximo dos interessados cumprindo-se o princiacutepio da subsidiariedade soacute
devem ser desenvolvidas acccedilotildees ao niacutevel da Uniatildeo Europeia se tal conferir valor
acrescentado agraves actividades de outros51
51
COM (2006) 275 final volume II 5-6
29
24 Aacutereas-chave no Livro Verde
Do Livro Verde constam diversas aacutereas-chave que passamos a analisar
Meio marinho
O meio marinho enfrenta nomeadamente os seguintes problemas diminuiccedilatildeo
acelerada da biodiversidade (consequecircncias na realizaccedilatildeo do potencial da
ldquobiotecnologia azulrdquo) exploraccedilatildeo excessiva dos recursos (consequecircncias para a pesca)
alteraccedilotildees climaacuteticas (consequecircncias para a pesca e para o turismo costeiro) poluiccedilatildeo
com origem terrestre acidificaccedilatildeo da aacutegua do mar e a poluiccedilatildeo provocada pelas
descargas dos navios e os acidentes mariacutetimos (na falta de melhor seguranccedila mariacutetima)
Para diminuir o impacto destes fenoacutemenos no meio-ambiente marinho deveraacute reforccedilar-
se a legislaccedilatildeo no domiacutenio da seguranccedila mariacutetima introduzir-se a avaliaccedilatildeo de riscos na
elaboraccedilatildeo das poliacuteticas e aplicar novas tecnologias ao niacutevel do tratamento de aacuteguas de
lastro52
Investigaccedilatildeo
A investigaccedilatildeo eacute essencial para se poder definir estrateacutegicas e tomar decisotildees com
conhecimento de causa Todavia os EM podem ir mais longe coordenando os seus
programas de investigaccedilatildeo nacionais a fim de realizar uma investigaccedilatildeo pan-europeia e
racionalizando meios A cooperaccedilatildeo entre investigadores e criadores de novas
tecnologias assume tambeacutem especial importacircncia
Inovaccedilatildeo
A inovaccedilatildeo pode ajudar a encontrar soluccedilotildees em domiacutenios em franca mutaccedilatildeo
como eacute o caso das energias e das alteraccedilotildees climaacuteticas As soluccedilotildees encontradas podem
tambeacutem beneficiar paiacuteses terceiros quando estes optarem por um desenvolvimento
sustentaacutevel e assim poderatildeo constituir uma vantagem competitiva para estes A energia
52
Aacutegua de lastro eacute a aacutegua do mar captada pelo navio para garantir a seguranccedila operacional e estabilidade
do mesmo Em geral os tanques satildeo preenchidos com maior ou menor quantidade de aacutegua para aumentar
ou diminuir o calado dos navios durante as operaccedilotildees portuaacuterias A aacutegua de lastro eacute um risco pelo facto de
transportar espeacutecies exoacuteticas dentro dos tanques dos navios Os seres vivos introduzidos pela aacutegua de
lastro podem variar entre organismos milimeacutetricos ateacute peixes com 30 centiacutemetros Satildeo inuacutemeros os
registos de ldquobioinvasatildeordquo por meio da aacutegua de lastro no mundo inteiro
30
eoacutelica as turbinas movidas pelas correntes de mareacute e os recursos de gaacutes e de petroacuteleo
dos grandes fundos marinhos podem representar novas fontes de energia
Matildeo-de-obra ldquosaber-fazerrdquo
As actividades mariacutetimas precisam de atrair pessoas altamente qualificadas No
entanto embora no seu conjunto o emprego no sector mariacutetimo europeu seja estaacutevel53
o nuacutemero de mariacutetimos europeus estaacute a diminuir Ou seja apesar de diminuir o nuacutemero
de trabalhadores no sector das pescas o sector foi compensado por pujantes serviccedilos
mariacutetimos tais como turismo e transporte mariacutetimo
O recrutamento em nuacutemero suficiente de mariacutetimos e outros profissionais bem
formados e competentes eacute essencial para garantir a sobrevivecircncia do sector mariacutetimo
assim como para manter a vantagem concorrencial da Europa
O ensino e a formaccedilatildeo no domiacutenio mariacutetimo devem ter por objectivo conferir aos
potenciais candidatos as mais elevadas competecircncias que possam abrir muacuteltiplas
perspectivas profissionais
A excelecircncia dos candidatos a emprego soacute seraacute garantida se se conseguir atrair para
o ensino e formaccedilatildeo no domiacutenio mariacutetimo os jovens mais capazes Eacute nesse quadro que
importa lutar contra a imagem do sector Eacute essencial oferecer aos mariacutetimos homens e
mulheres condiccedilotildees de vida e de trabalho adequadas ao niacutevel das expectativas a que os
europeus se habituaram com toda a legitimidade
Formaccedilatildeo de clusters54
O desenvolvimento de uma percepccedilatildeo comum das articulaccedilotildees possiacuteveis entre os
diferentes sectores mariacutetimos permitiraacute melhorar a imagem e aumentar a atractividade e
produtividade destes Estes agrupamentos de empresas e de profissionais que abrangem
todos os sectores de actividade podem assumir diversas formas Assim no domiacutenio
mariacutetimo eacute preciso distinguir os clusters nacionais ndash que servem frequentemente de
53
Ver o documento ldquoEmployment social and training aspects of maritime and fishing industries and
related sectorsrdquo httpeceuropaeumaritimeaffairspdfSEC(2006)_68920_2pdf 54
Remetendo em inglecircs para a noccedilatildeo de conjunto o termo ldquoclusterrdquo designa um agrupamento de
empresas do mesmo sector presentes na maior parte das vezes numa mesma bacia de emprego Mais
precisamente segundo Michael E Porter da Universidade de Harvard um cluster eacute ldquouma concentraccedilatildeo
de empresas ligadas entre si de fornecedores especializados de prestadores de serviccedilos e de instituiccedilotildees
associadas (universidades associaccedilotildees comerciais etc)rdquo
31
transmissores de opiniatildeo para certos ramos ou profissotildees mariacutetimas ndash dos clusters
regionais Estes uacuteltimos consagram-se ao desenvolvimento da economia mariacutetima
atraveacutes da inovaccedilatildeo e da aproximaccedilatildeo entre investigaccedilatildeo formaccedilatildeo e a induacutestria55
Os clusters podem contribuir para estimular a competitividade de todo um sector ou
grupo de sectores Eacute o que acontece se se partilhar conhecimentos realizar projectos
comuns de investigaccedilatildeo e inovaccedilatildeo (desenvolvimento de produtos) unir esforccedilos no
ensino e na formaccedilatildeo partilhar meacutetodos de organizaccedilatildeo inovadores dentro de um grupo
de empresas (aquisiccedilatildeo e distribuiccedilatildeo em comum) ou estrateacutegias de promoccedilatildeo comuns
nomeadamente em mateacuteria de marketing e publicidade
A exploraccedilatildeo do potencial oferecido pela formaccedilatildeo de clusters eacute pertinente em
sectores com cadeias de abastecimento complexas que envolvem produccedilatildeo e serviccedilos e
tambeacutem com um grande nuacutemero de pequenas e meacutedias empresas Eacute esse o caso da
construccedilatildeo naval Na construccedilatildeo naval moderna mais de 70 do ldquonavio acabadordquo
resulta do trabalho de uma vasta rede de fornecedores de sistemas equipamentos e
serviccedilos56
Eacute possiacutevel disseminar as boas praacuteticas ligando estes sectores entre si e
transformando-os em redes de excelecircncia mariacutetima que abranjam todos os sectores
mariacutetimos incluindo o dos serviccedilos
Qualidade de vida nas regiotildees costeiras
O litoral europeu foi em tempos povoado por comunidades que viviam da pesca
Com o desenvolvimento do transporte mariacutetimo local e internacional foram-se
construindo portos e emergiram novas actividades nas periferias A procura de uma vida
agrave beira-mar apenas pelo prazer que daiacute decorre eacute um fenoacutemeno relativamente recente
A Conferecircncia das Regiotildees Perifeacutericas Mariacutetimas da Europa (CRPM) sublinha que
a atractividade natural (paisagem horas de insolaccedilatildeo e benefiacutecios para a sauacutede) daacute
igualmente origem a um forte crescimento demograacutefico que natildeo apresenta sinais de
abrandamento57
Por exemplo Portugal com 75 da populaccedilatildeo a viver no litoral
enfrenta neste domiacutenio indubitavelmente grandes desafios e novas exigecircncias
55
BERNARD-BRUNET Patrick 2007 23 56
Contributo da Associaccedilatildeo dos Estaleiros Europeus de Construccedilatildeo e Reparaccedilatildeo Naval (CESA) para o
Livro Verde 57
Contributo da CRPM para o Livro Verde
32
A concentraccedilatildeo demograacutefica nas regiotildees costeiras acarreta pressotildees sobre o espaccedilo
e o ambiente Exige uma maior acessibilidade em especial das pequenas ilhas e uma
maior mobilidade no seu interior que passa pela melhoria das infra-estruturas de
transporte Obriga agrave oferta de serviccedilos de interesse geral (sauacutede educaccedilatildeo
abastecimento de aacutegua e energia telecomunicaccedilotildees serviccedilos postais tratamento das
aacuteguas residuais e dos resiacuteduos) a fim de promover a qualidade de vida nas zonas
costeiras especialmente durante as estaccedilotildees altas do turismo Nas regiotildees rurais e
remotas as tecnologias da informaccedilatildeo e da comunicaccedilatildeo tecircm um papel a desempenhar
no fornecimento de serviccedilos em linha sauacutede ensino acesso puacuteblico agrave Internet
actividade econoacutemica ajuda agraves empresas e teletrabalho58
Ao planear o
desenvolvimento do litoral haacute que ter em conta o seu impacto ambiental a fim de obter
um resultado sustentaacutevel
As zonas costeiras e as ilhas satildeo elementos essenciais da atractividade e do ecircxito do
turismo costeiro Para que a Europa permaneccedila o primeiro destino turiacutestico ao niacutevel
mundial tem que apoiar um turismo sustentaacutevel nessas regiotildees O turismo sustentaacutevel
pode contribuir para o desenvolvimento das zonas costeiras e das ilhas melhorando a
competitividade das empresas satisfazendo as necessidades sociais promovendo o
patrimoacutenio natural e cultural e valorizando os ecossistemas locais Para um nuacutemero
crescente de destinos turiacutesticos a necessidade de melhorar ou manter a sua atractividade
constitui um incentivo para adoptar praacuteticas e estrateacutegias mais sustentaacuteveis e mais
compatiacuteveis com o ambiente
Muitos desses destinos jaacute realizam esforccedilos para efectuar uma gestatildeo integrada da
qualidade definindo estrateacutegias com os seus parceiros aplicando boas praacuteticas e
desenvolvendo instrumentos de acompanhamento e avaliaccedilatildeo para ajustar a sua acccedilatildeo
A sua experiecircncia poderaacute ser utilizada para formular recomendaccedilotildees destinadas a todos
os destinos turiacutesticos costeiros
A diversificaccedilatildeo dos produtos e serviccedilos turiacutesticos pode contribuir para a
competitividade dos destinos costeiros e insulares especialmente quando aos turistas eacute
oferecida a oportunidade de desfrutarem de locais de interesse cultural e natural
situados no litoral ou no hinterland rural ou urbano bem como de uma variedade de
58
Iniciativa do Comiteacute das Regiotildees (CdR) de 12102005 ndash Poliacutetica Mariacutetima da Uniatildeo Europeia ldquouma
questatildeo de desenvolvimento sustentaacutevel para as autoridades locais e regionaisrdquo
33
atracccedilotildees ligadas ao mar (observaccedilatildeo dos mamiacuteferos marinhos mergulho e arqueologia
subaquaacutetica actividades naacuteuticas e talassoterapia) Esta diversificaccedilatildeo apresenta
inuacutemeras vantagens designadamente uma menor pressatildeo nas praias fontes alternativas
de rendimento para antigos pescadores nas comunidades costeiras e criaccedilatildeo de novas
actividades destinadas a apoiar a preservaccedilatildeo e o desenvolvimento do patrimoacutenio local
No caso de Portugal para aleacutem de possuir uma oferta turiacutestica diversificada deve
tirar partido da sua localizaccedilatildeo geograacutefica como paiacutes costeiro por excelecircncia da forte
tradiccedilatildeo mariacutetima e de clima ameno que o caracteriza (lidera a lista de paiacuteses europeus
em dias sol por ano)
Estas mais-valias intriacutensecas permitem o prolongamento da estaccedilatildeo turiacutestica
gerando assim mais crescimento econoacutemico e aumento do nuacutemero de empregos a
tempo inteiro Desta forma diluindo os picos de concentraccedilatildeo turiacutestica reduz o impacto
ambiental das actividades turiacutesticas e contribui para melhorar a qualidade de vida no
litoral portuguecircs
Novas formas de governaccedilatildeo mariacutetima
Qualquer forma de governaccedilatildeo dos oceanos deve ter em conta os princiacutepios
estabelecidos nos Tratados relativamente aos domiacutenios poliacuteticos e agrave distribuiccedilatildeo de
competecircncias entre instituiccedilotildees da Uniatildeo Europeia Estados-Membros regiotildees e
autoridades locais Nesta base e em conformidade com o princiacutepio da subsidiariedade59
eacute necessaacuterio atender agraves especificidades sectoriais e regionais
Uma poliacutetica mariacutetima inclusiva da Uniatildeo Europeia deveraacute visar o crescimento e a
criaccedilatildeo de mais e melhores postos de trabalho contribuindo assim para uma economia
mariacutetima forte e em expansatildeo competitiva e sustentaacutevel e em harmonia com o meio
marinho Deve procurar prevenir e minimizar os conflitos em torno da utilizaccedilatildeo do
espaccedilo mariacutetimo e prever mecanismos claros e consensuais para a sua resoluccedilatildeo Deve
proporcionar uma maior previsibilidade para o sector e outros interessados e uma
abordagem mais eficaz em mateacuteria de conservaccedilatildeo dos recursos marinhos Neste
59
O princiacutepio da subsidiariedade prossegue dois objectivos opostos Por um lado permite que a
comunidade intervenha quando as medidas individualmente adoptadas pelos Estados-Membros natildeo
possibilitem uma soluccedilatildeo cabal Por outro lado visa manter a competecircncia dos Estados-Membros nos
domiacutenios que natildeo podem ser melhor regidos por uma intervenccedilatildeo comunitaacuteria A inclusatildeo deste princiacutepio
nos Tratados europeus deveraacute permitir que as decisotildees comunitaacuterias sejam adoptadas a um niacutevel tatildeo
proacuteximo quanto possiacutevel dos cidadatildeos - httpwwweuroparleuropaeufactsheets1_2_2_pthtm
34
contexto o diaacutelogo social europeu nos sectores mariacutetimos reveste-se de uma
importacircncia cada vez maior
Para se alcanccedilarem estes objectivos eacute necessaacuterio coordenar e integrar as poliacuteticas
sectoriais Confirmam-no os compromissos assumidos no quadro da cimeira mundial
sobre o desenvolvimento sustentaacutevel de 200260
e as disposiccedilotildees da Convenccedilatildeo das
Naccedilotildees Unidas sobre o Direito do Mar61
Aleacutem disso os progressos da ciecircncia e da tecnologia facultam agora uma melhor
compreensatildeo das interacccedilotildees e relaccedilotildees no que se refere aos oceanos e suas utilizaccedilotildees
O modelo de governaccedilatildeo da PMIE por sectores ou regiotildees geograacuteficas deve pois
ser substituiacutedo por uma abordagem transversal O modelo de governaccedilatildeo integrado
promove a partilha de conhecimentos e de boas praacuteticas bem como o diaacutelogo entre as
partes interessadas O impacto desta forma de governo permite elaborar medidas e
directivas agrave escala europeia respeitando as especificidades locais regionais e nacionais
Acho importante referir ainda que este modelo pode desencadear economias de escala
dando como exemplo de partilha o sistema de vigilacircncia mariacutetima da Agecircncia Europeia
da Seguranccedila Mariacutetima62
(EMSA) com sede em Lisboa
Novos instrumentos da gestatildeo das relaccedilotildees com os oceanos
ldquoOcirc mer nul ne connaicirct tes richesses intimesrdquo - Les fleurs du mal 63
Para uma melhor compreensatildeo das utilizaccedilotildees concorrentes do oceano haveraacute que
aperfeiccediloar os dados e as informaccedilotildees relativos agraves actividades mariacutetimas sejam elas
sociais econoacutemicas ou recreativas bem como sobre o impacto dessas actividades nos
recursos Tambeacutem para os operadores econoacutemicos mariacutetimos eacute importante haver dados
de qualidade Contudo subsistem grandes problemas no que se refere agrave harmonizaccedilatildeo e
agrave fiabilidade dos dados bem como agrave monitorizaccedilatildeo das regiotildees marinhas da Uniatildeo
Europeia que continuam a ser insuficientes e desajustados do ponto de vista geograacutefico
60
ONU Department of Economic and Social Affairs ndash Division for Sustainable Development
httpwwwunorgesasustdevdocumentsWSSD_POI_PDEnglishPOITochtm 61
Contributo da EuDA para o Livro Verde 62
A EMSA criada em 2002 na sequecircncia da cataacutestrofe do Erika e tem como objectivos reduzir o risco de
acidentes mariacutetimos diminuir a poluiccedilatildeo provocada pelos navios e salvaguardar as vidas humanas no
mar 63
ldquoOacute mar ningueacutem conhece as tuas riquezas escondidasrdquo ndash As Flores do Mal de Charles Baudelaire
(1821-1867) poeta francecircs e um dos fundadores do simbolismo O seu livro As Flores do Mal eacute
considerado um marco da poesia moderna
35
Para conceber uma poliacutetica mariacutetima comunitaacuteria racional e sustentaacutevel haveraacute que
obviar a estas lacunas
A Uniatildeo Europeia pode examinar a possibilidade de criar uma rede europeia de
observaccedilatildeo e de dados do meio marinho Esta possibilita garantir a longo prazo a
melhoria da observaccedilatildeo sistemaacutetica (in situ e a partir do espaccedilo) a interoperabilidade e
o reforccedilo do acesso aos dados com base em soluccedilotildees tecnologias da informaccedilatildeo e da
comunicaccedilatildeo (TIC) robustas abertas e geneacutericas Essa rede possibilita uma anaacutelise
integrada ao niacutevel da Uniatildeo Europeia de diferentes tipos de dados e metadados
provenientes de vaacuterias fontes O objectivo eacute fornecer agraves autoridades puacuteblicas aos
serviccedilos mariacutetimos e induacutestrias conexas bem como aos investigadores uma fonte de
dados primaacuterios para utilizaccedilatildeo na elaboraccedilatildeo de previsotildees e nas actividades de
monitorizaccedilatildeo integrando assim iniciativas existentes mas fragmentadas
O melhoramento e a difusatildeo dos dados relativos ao meio marinho permite tambeacutem
criar novas oportunidades para as empresas comerciais de alta tecnologia do sector
mariacutetimo e melhorar a eficiecircncia de actividades como a vigilacircncia mariacutetima a gestatildeo
dos recursos marinhos e a investigaccedilatildeo marinha nos laboratoacuterios europeus Aleacutem disso
contribui significativamente para reduzir as actuais incertezas relativamente ao sistema
oceacircnico e agraves alteraccedilotildees climaacuteticas tornando mais precisas as previsotildees meteoroloacutegicas
sazonais64
Proteger o legado mariacutetimo e sensibilizar o puacuteblico
Os cidadatildeos europeus cresceram com as histoacuterias dos grandes exploradores que
nos fizeram compreender que a Terra eacute redonda e nos ensinaram a situar exactamente os
continentes Muitos deles gozam as suas feacuterias na costa no meio da azaacutefama dos portos
de pesca saboreando marisco nos restaurantes e passeando agrave beira-mar a fugir agrave
rebentaccedilatildeo Alguns passam horas a observar as coloacutenias de aves marinhas ou as baleias
ou a esperar que o peixe morda o isco Outros passam os tempos livres a restaurar ou a
navegar em velhos barcos de madeira Haacute ainda outros que gostam de ver
documentaacuterios sobre os golfinhos ou os pinguins na televisatildeo ou no cinema Alguns
trabalharatildeo nos solos mariacutetimos outros seratildeo pescadores ou capitatildees de porto e outros
por sua vez trabalharatildeo no posto de turismo de uma cidade costeira
64
COM (2006) 275 final volume II 34-35
36
Quantos todavia compreenderatildeo que estas actividades estatildeo interligadas Quantos
teratildeo consciecircncia de serem cidadatildeos de uma Europa mariacutetima Bem poucos a avaliar
pelo debate realizado a propoacutesito do Livro Verde
Que assim seja natildeo eacute de surpreender Os aquaacuterios podem dar uma ideia da beleza e
das maravilhas da vida sob as ondas mas poucos conseguem mostrar de forma
convincente quatildeo fraacutegeis satildeo os oceanos que actividades os ameaccedilam e que esforccedilos
estatildeo a ser feitos para os preservar Os museus do mar podem ajudar-nos a compreender
as proezas do passado mas dificilmente nos conseguiratildeo transmitir uma noccedilatildeo clara da
avanccedilada tecnologia que eacute apanaacutegio das actividades mariacutetimas do presente As
organizaccedilotildees que se dedicam a manter vivas as tradiccedilotildees do passado nem sempre se
associam agrave realidade comercial do presente sem falar do deslumbrante potencial futuro
que os oceanos encerram A Comissatildeo Europeia crecirc que haacute muito a ganhar com o forjar
de um sentimento de identidade comum entre todos aqueles que vivem das actividades
mariacutetimas ou cuja qualidade de vida estaacute fortemente ligada ao mar Ganhar-se-aacute assim
uma melhor compreensatildeo das interacccedilotildees em jogo e da importacircncia do mar para a
Humanidade65
Acredito que as actividades naacuteuticas podem neste domiacutenio desempenhar um
papel fundamental A Naacuteutica pelo vasto puacuteblico que abrange ao longo de todo o ano
estabelece respeito muacutetuo entre por um lado os recursos naturais (mar aacutegua e litoral) e
por outro as populaccedilotildees residentes ou turiacutesticas As actividades naacuteuticas satildeo fortemente
orientadas desde haacute muito para a descoberta protecccedilatildeo e promoccedilatildeo do patrimoacutenio e
ambiente e ainda para a descoberta e promoccedilatildeo das actividades e profissotildees mariacutetimas
Os centros naacuteuticos e as marinas podem ser a grande vitrine do oceano aberta a todos
atraveacutes de actividades educativas desportivas e de lazer
Vejamos o exemplo dos Jogos Naacuteuticos Atlacircnticos criados na Bretanha em 1995
sob o lema o ldquoOceano nos unerdquo Os Jogos Naacuteuticos Atlacircnticos66
satildeo um evento
desportivo de alto niacutevel competitivo que se realiza anual e rotativamente pelas
diferentes regiotildees do Atlacircntico promovendo a fileira naacuteutica popularizando os
desportos naacuteuticos e incentivando intercacircmbios de experiecircncias Participam neste
quadro festivo e de amizade cerca de 500 atletas de cinco modalidades naacuteuticas
(Canoagem Remo Subaquaacuteticas Surf e Vela) sempre acompanhados de grupos
65
COM (2006) 275 final volume II 51 66
Jogos Naacuteuticos Atlacircnticos ( wwwjnieaeu)
37
culturais e musicais representativos das regiotildees participantes contribuindo desta forma
para uma Europa mariacutetima mais unida e coesa
Haacute vaacuterios anos a esta parte tecircm sido realizados eventos como por exemplo as
Initiatives Oceacutean ldquoIl nacutey a pas de petit pollutionrdquo da responsabilidade da Surfrider
Foundation Europe67
Este movimento europeu sensibiliza e mobiliza o grande puacuteblico
para as questotildees e problemaacuteticas ambientais e mariacutetimas
Por uacuteltimo realccedilo tambeacutem o projecto europeu NEA 268
ldquoNautisme Espace
Atlantique 2rdquo que visa o desenvolvimento sustentaacutevel e coordenado do conjunto da
fileira naacuteutica nas regiotildees da faixa atlacircntica (actividades portos de recreio induacutestria
comeacutercio e serviccedilos) atraveacutes de um reforccedilo de cooperaccedilatildeo baseado em trecircs eixos
temaacuteticos o desenvolvimento econoacutemico a protecccedilatildeo do ambiente a coesatildeo social Em
cada uma destas temaacuteticas o projecto prevecirc a realizaccedilatildeo de acccedilotildees comuns
transnacionais associando diversos parceiros e de acccedilotildees locais implementadas por
cada parceiro no seu territoacuterio Impulsionado por 23 parceiros europeus durante um
periacuteodo de 3 anos (Janeiro 2009 a Dezembro de 2011) o NEA2 foi aprovado pelo
Programa de Cooperaccedilatildeo Transnacional Espaccedilo Atlacircntico (POCTEA) e beneficia como
tal de uma subvenccedilatildeo do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER) Este
projecto persegue o sucesso alcanccedilado pelo seu antecessor Nautisme Espace Atlantique
(Novembro de 2004 a Outubro de 2007) do Programa INTERREG III B que reuniu 11
parceiros com o objectivo comum ldquodesenvolvimento coordenado do turismo naacuteuticordquo
O sector naacuteutico e os seus intervenientes satildeo parceiros eficazes para a mobilizaccedilatildeo
da populaccedilatildeo e consequente aproximaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do mar
67
Surfrider Foundation Europe (wwwsurfridereu) ONG dedicada a proteger os oceanos as ondas e o
litoral 68
Nautisme Espace Atlantique 2 ( wwwnea2eu)
38
25 Participaccedilatildeo dos europeus no processo de construccedilatildeo da PMIE
O debate poliacutetico acerca da elaboraccedilatildeo de uma poliacutetica mariacutetima da Uniatildeo
Europeia constitui a melhor oportunidade nos uacuteltimos anos para que o significado
mundial e local dos oceanos e os resultados da investigaccedilatildeo e inovaccedilatildeo marinhas sejam
devidamente apreciados pela sociedade declarou Peter Heffernan director executivo
do Irish Marine Institute em Galway na Irlanda
A consulta sobre a poliacutetica mariacutetima da Uniatildeo Europeia iniciou-se apoacutes o
lanccedilamento do Livro Verde a 7 de Junho de 2006 e teve uma duraccedilatildeo de treze meses
Foi o maior periacuteodo de consulta alguma vez efectuada na Uniatildeo Europeia
O processo de consulta teve um eco sem precedentes evidenciado pela elevada taxa
de participaccedilatildeo e pela qualidade das contribuiccedilotildees Para aleacutem dos contributos de todas
as instituiccedilotildees europeias tambeacutem vaacuterios parlamentos nacionais e alguns regionais
apresentaram directamente agrave Comissatildeo Europeia as suas observaccedilotildees sobre o Livro
Verde69
As contribuiccedilotildees preconizaram consulta e diaacutelogo mas tambeacutem uma melhor
informaccedilatildeo de todos os afectados pela poliacutetica mariacutetima
Os intervenientes econoacutemicos congratularam-se com o princiacutepio de uma abordagem
integrada de modo a induzir maior transparecircncia e eficiecircncia na elaboraccedilatildeo de poliacuteticas
e regulamentaccedilatildeo apropriada no acircmbito da Uniatildeo Europeia Defenderam a necessidade
da elaboraccedilatildeo de uma poliacutetica mariacutetima integrada com vista a promover a economia
mariacutetima florescente Torna-se premente desenvolver relaccedilotildees fortes entre os sectores e
respectivas actividades conexas e apelaram agrave formaccedilatildeo de clusters (incluindo agrave escala
comunitaacuteria)
As regiotildees defenderam entusiasticamente uma abordagem integrada Sublinharam o
papel das regiotildees costeiras enquanto centros da economia mariacutetima Estas esperam tirar
proveito por um lado da ligaccedilatildeo estabelecida entre a acccedilatildeo ao niacutevel comunitaacuterio e as
actividades no terreno nas regiotildees costeiras e por outro lado do reforccedilo do
envolvimento dos governos dos Estados-Membros
69
COM (2007) 574 final 2
39
Os Estados-Membros satildeo favoraacuteveis ao princiacutepio da gestatildeo integrada dos assuntos
mariacutetimos e encaram a proposta de uma poliacutetica mariacutetima integrada como meio
privilegiado para assegurar um desenvolvimento estaacutevel e sustentaacutevel das respectivas
economias mariacutetimas e regiotildees costeiras Desejam manter os mecanismos que
funcionam bem pois servem de catalisadores de boas praacuteticas
Os cidadatildeos individuais e a sociedade civil reagiram de forma ambivalente Haacute
mesmo quem tema que a Uniatildeo Europeia possa interferir nas competecircncias nacionais ou
locais mas em geral as reacccedilotildees mostraram que o puacuteblico estaacute preocupado com o
ecossistema marinho estando contudo ceacutepticos relativamente agraves medidas que os
governos possam vir a tomar para o proteger As organizaccedilotildees natildeo governamentais
(ONG) ambientais apelaram a uma acccedilatildeo comunitaacuteria no domiacutenio do ordenamento do
espaccedilo mariacutetimo e costeiro a fim de assegurar a execuccedilatildeo de uma gestatildeo baseada nos
ecossistemas
O lanccedilamento de uma consulta sobre a poliacutetica mariacutetima despertou igualmente o
interesse daqueles que desejam informar e dar a conhecer elementos sobre os nossos
mares e oceanos O conhecimento por parte dos cidadatildeos europeus das nossas costas e
do que estaacute para aleacutem delas eacute considerado como um sustentaacuteculo tanto das economias
mariacutetimas cujo ecircxito depende da sua atractividade como do nosso ambiente marinho
cuja preservaccedilatildeo depende da sensibilizaccedilatildeo dos cidadatildeos
Contudo todos estatildeo de acordo quanto agrave necessidade de melhorar a imagem global
dos sectores mariacutetimos Satildeo inuacutemeras as sugestotildees relacionadas com as permutas de
boas praacuteticas conferecircncias participaccedilatildeo de peritos em assuntos mariacutetimos como os
pescadores ou projectos de pequena escala destinados a informar as comunidades locais
ou turistas
Em suma o processo de consulta deu azo ao aparecimento de um manancial de
ideias e estimulou o desejo de participar num projecto comum a longo prazo baseado
na aprendizagem e no desenvolvimento interactivo permanente Este processo natildeo soacute
veio introduzir uma nova abordagem integrada da gestatildeo dos assuntos mariacutetimos como
abriu alas a uma nova forma de fazer poliacutetica na Europa70
No total foram recebidas mais de 490 contribuiccedilotildees e organizados mais de 230
eventos em que se debateu a poliacutetica mariacutetima com os vaacuterios interessados
70
COM (2007) 574 final 9-10
40
Cap III ndash O Livro Azul plano de acccedilatildeo e instrumentos financeiros
31 Condiccedilotildees poliacuteticas do processo de decisatildeo
Presidido pela Alemanha o Conselho Europeu de Junho de 2007 congratulou-se
com o vasto debate que teve lugar na Europa acerca da futura poliacutetica mariacutetima Os
Chefes de Estado e de Governo convidaram a Comissatildeo Europeia a elaborar um plano
de acccedilatildeo europeu a apresentar em Outubro desse mesmo ano Atendendo ao princiacutepio da
subsidiariedade este plano de acccedilatildeo teve por fim explorar de uma forma
ambientalmente sustentaacutevel o pleno potencial das actividades econoacutemicas orientadas
para o mar
A Comissatildeo em resposta ao Conselho Europeu adoptou no dia 10 de Outubro de
2007 uma Comunicaccedilatildeo conhecida como o Livro Azul da Poliacutetica Mariacutetima Europeia
em que define a sua visatildeo de uma poliacutetica mariacutetima integrada para a UE juntamente
com um plano de acccedilatildeo pormenorizado que estabeleceu um ambicioso programa de
trabalho para os proacuteximos anos As descobertas cientiacuteficas a raacutepida evoluccedilatildeo
tecnoloacutegica a globalizaccedilatildeo as alteraccedilotildees climaacuteticas e a poluiccedilatildeo marinha estatildeo a alterar
rapidamente o relacionamento da Europa com os mares e oceanos com todas as
oportunidades e desafios impliacutecitos desse processo
De salientar que a Presidecircncia Portuguesa do Conselho da Uniatildeo Europeia no
segundo semestre de 2007 reconheceu de forma clara a necessidade de uma abordagem
integrada para os assuntos mariacutetimos A Presidecircncia Portuguesa levou a cabo diversos
eventos com destaque para uma Conferecircncia Ministerial sobre Poliacutetica Mariacutetima para a
Uniatildeo Europeia que teve lugar em Lisboa no dia 22 de Outubro permitindo a
divulgaccedilatildeo dos resultados da consulta puacuteblica do Livro Verde e a indicaccedilatildeo dos sectores
prioritaacuterios a seguir
Esta Conferecircncia foi altamente significativa pois juntou agrave volta da mesma mesa
pela primeira vez os decisores poliacuteticos responsaacuteveis nacionais pela coordenaccedilatildeo dos
assuntos do mar independentemente da foacutermula governativa adoptada em cada paiacutes
europeu A estes juntaram-se ainda os paiacuteses da Associaccedilatildeo Europeia de Livre
41
Comeacutercio (EFTA) do Espaccedilo Econoacutemico Europeu e as principais instituiccedilotildees europeias
envolvidas
Por sua vez o Parlamento Europeu no dia 20 de Maio de 2008 deu ldquoluz verderdquo agrave
proposta da Comissatildeo Europeia para a criaccedilatildeo de uma Poliacutetica Mariacutetima Europeia
aprovada com 587 votos a favor 20 contra e 58 abstenccedilotildees A aprovaccedilatildeo pelo PE de
uma poliacutetica mariacutetima europeia teve lugar no dia em que se celebrou pela primeira vez
o Dia Europeu do Mar data que coincidiu ainda com a chegada de Vasco da Gama agrave
Iacutendia em 1498
A Comissatildeo Europeia propocircs uma poliacutetica mariacutetima integrada para a Uniatildeo
Europeia baseada no reconhecimento inequiacutevoco de que todas as questotildees relativas aos
oceanos e mares estatildeo interligadas e que para podermos colher os resultados desejados
todas as poliacuteticas ligadas ao mar devem ser elaboradas de uma forma articulada
O plano de acccedilatildeo baseou-se na consulta puacuteblica e resultou dos trabalhos de um alto
grupo de pilotagem com a participaccedilatildeo de 10 Comissaacuterios presidido por Joe Borg (Ex-
Comissaacuterio Europeu para os Assuntos Mariacutetimos e da Pesca) e supervisionado pelo
Presidente da Comissatildeo Europeia Duratildeo Barroso
Uma poliacutetica mariacutetima integrada exige um quadro de governaccedilatildeo que aplique a
abordagem integrada a todos os niacuteveis bem como instrumentos poliacuteticos horizontais e
transectoriais Exige igualmente uma soacutelida base financeira que tenha em conta os
resultados das acccedilotildees preparatoacuterias
A Comissatildeo Europeia criou uma funccedilatildeo de ldquopoliacutetica mariacutetimardquo cuja tarefa eacute
analisar os assuntos mariacutetimos e as poliacuteticas que os afectam assegurar a coordenaccedilatildeo
entre as poliacuteticas sectoriais garantir que as interacccedilotildees entre elas sejam tidas em conta e
pilotar o desenvolvimento de instrumentos poliacuteticos transectoriais
Por outro lado a Comissatildeo comeccedilou a reunir as agecircncias da Uniatildeo Europeia que
desempenham funccedilotildees ligadas agraves actividades mariacutetimas para que contribuam
conjuntamente para a elaboraccedilatildeo da poliacutetica mariacutetima
42
Um quadro de governaccedilatildeo integrado para os assuntos mariacutetimos exige por sua vez
instrumentos horizontais de planificaccedilatildeo que sejam comuns agraves poliacuteticas sectoriais
ligadas ao mar e apoiem a elaboraccedilatildeo conjunta de poliacuteticas Assim os trecircs instrumentos
que se seguem satildeo especialmente importantes
Uma rede europeia de vigilacircncia mariacutetima
A vigilacircncia mariacutetima reveste-se da maior importacircncia para garantir a utilizaccedilatildeo
segura do mar e para a protecccedilatildeo das fronteiras mariacutetimas da Europa O melhoramento e
optimizaccedilatildeo das actividades de vigilacircncia mariacutetima bem como a sua interoperabilidade
ao niacutevel europeu satildeo importantes para que a Europa possa fazer face aos desafios e
ameaccedilas ligados agrave seguranccedila da navegaccedilatildeo agrave poluiccedilatildeo marinha ao cumprimento da lei
e agrave seguranccedila em geral71
Ordenamento do espaccedilo mariacutetimo (OEM) e gestatildeo integrada das zonas costeiras
(GIZC)
Os quadros de ordenamento existentes incidem essencialmente na vertente terrestre
e raramente abordam a forma como o desenvolvimento costeiro pode afectar o mar e
vice-versa Temos de fazer face aos problemas resultantes das crescentes utilizaccedilotildees
concorrentes do mar que vatildeo do transporte mariacutetimo agrave produccedilatildeo de energia offshore e
outras formas de exploraccedilatildeo do leito marinho passando pela pesca e aquicultura e pelas
actividades de lazer72
Dados e informaccedilotildees
A disponibilidade e a facilidade de acesso a um vasto leque de dados relativos aos
factores naturais e agrave actividade humana nos oceanos constituem a base para a tomada de
decisotildees estrateacutegicas no domiacutenio da poliacutetica mariacutetima Dada a vasta quantidade de
dados coligidos e armazenados em toda a Europa para fins muito diversos eacute de extrema
importacircncia estabelecer uma infra-estrutura adequada para recolher os dados e
informaccedilotildees sobre o ambiente marinho73
71
COM (2007) 575 final 5 72
COM (2007) 575 final 6 73
COM (2007) 575 final 6
43
32 Livro Azul e o plano de acccedilatildeo
As acccedilotildees propostas no Livro Azul ajudam a Uniatildeo Europeia a avanccedilar na
prossecuccedilatildeo dos objectivos fulcrais da poliacutetica mariacutetima integrada incidindo
principalmente em cinco domiacutenios de acccedilatildeo estrateacutegica a saber
1)Maximizaccedilatildeo da utilizaccedilatildeo sustentaacutevel dos oceanos e mares
O principal objectivo de uma poliacutetica mariacutetima integrada da Uniatildeo Europeia eacute criar
as melhores condiccedilotildees para a utilizaccedilatildeo sustentaacutevel dos oceanos e mares permitindo o
desenvolvimento dos sectores mariacutetimos e das regiotildees costeiras
Em muitos Estados-Membros o desenvolvimento recente da economia mariacutetima foi
superior ao da economia no seu conjunto sobretudo em regiotildees activas no domiacutenio da
logiacutestica mariacutetima O transporte mariacutetimo de contentores aumentou consideravelmente a
partir de 2000 esperando-se que triplique ateacute 2020 Por outro lado regiotildees activas
noutros mercados de forte crescimento como o equipamento mariacutetimo a energia eoacutelica
offshore a naacuteutica de recreio ou o sector dos cruzeiros continuaratildeo a colher benefiacutecios
deste crescimento Graccedilas agrave forte especializaccedilatildeo da Europa no campo das tecnologias
marinhas as induacutestrias europeias tecircm tambeacutem um grande potencial para desenvolver
produtos mariacutetimos de ponta susceptiacuteveis de assumir uma posiccedilatildeo lideranccedila nos
mercados mundiais
Contudo haacute muito potencial subaproveitado ainda Para garantir o crescimento
sustentaacutevel de actividades ligadas ao mar e assegurar ao mesmo tempo que as
actividades mariacutetimas se desenvolvam de forma a natildeo comprometer a sauacutede do
ecossistema eacute indispensaacutevel ter uma visatildeo estrateacutegica actualizada que permita o
desenvolvimento competitivo e seguro do transporte mariacutetimo dos portos e dos sectores
conexos
O transporte mariacutetimo eacute vital para o comeacutercio internacional e interno da Europa e
continua a ser a espinha dorsal do cluster mariacutetimo Contudo este sector soacute continuaraacute a
prosperar se a Uniatildeo Europeia prosseguir os seus esforccedilos com vista a atingir um niacutevel
elevado de seguranccedila mariacutetima e protecccedilatildeo do transporte mariacutetimo contribuindo para
proteger as vidas humanas e o ambiente e simultaneamente favorecer condiccedilotildees de
concorrecircncia equitativas ao niacutevel internacional
44
Embora seja uma importante fonte de poluiccedilatildeo atmosfeacuterica e de emissotildees de
dioacutexido de carbono (CO2) o transporte mariacutetimo continua a ser bastante mais eficiente
em termos energeacuteticos do que o transporte rodoviaacuterio Por este motivo e dada a
necessidade de reduzir o nuacutemero de camiotildees que circulam nas estradas congestionadas
da Europa uma poliacutetica mariacutetima integrada favorece fortemente a promoccedilatildeo de
transportes mariacutetimos seguros e fiaacuteveis
A cadeia logiacutestica mariacutetima europeia requer tambeacutem a existecircncia de estaleiros da
construccedilatildeo e reparaccedilatildeo naval e empresas de equipamento mariacutetimo com tecnologia de
ponta incorporada
O aumento dos investimentos na investigaccedilatildeo e tecnologia marinha eacute fundamental
para assegurar o crescimento econoacutemico sem agravar a degradaccedilatildeo do ambiente Esses
investimentos criaratildeo tambeacutem novas oportunidades Graccedilas a tecnologias respeitadoras
do ambiente que permitam a prosperidade das actividades mariacutetimas sem comprometer
o ambiente marinho as empresas europeias poderatildeo manter a sua posiccedilatildeo de lideranccedila agrave
medida que as normas mundiais se tornem mais estritas e que as induacutestrias novas e
promissoras como a biotecnologia azul as energias renovaacuteveis offshore a tecnologia e
o equipamento subaquaacuteticos e a aquicultura marinha forem desenvolvidas
A tecnologia permite agrave Europa beneficiar de todas as potencialidades oferecidas
pelo mar enquanto fonte de petroacuteleo e gaacutes74
bem como de energias renovaacuteveis e
tambeacutem enquanto lugar de transporte de energia que permite diversificar as vias de
transporte de energia e aumentar deste modo a seguranccedila do abastecimento
A integraccedilatildeo e a competitividade das empresas no sector mariacutetimo satildeo fortemente
potenciadas pela formaccedilatildeo de clusters multissectoriais Os clusters locais e regionais
que reuacutenem diferentes sectores e partes interessadas para desenvolver sinergias entre as
suas actividades afiguram-se uma evoluccedilatildeo promissora da comunidade mariacutetima
europeia Os clusters contribuem para melhorar a qualidade e elevar os padrotildees dos
produtos e serviccedilos do sector mariacutetimo europeu bem como para aumentar a integraccedilatildeo
da economia mariacutetima Contribuem deste modo para o crescimento econoacutemico e para
criaccedilatildeo de emprego bem como para a sustentabilidade da economia mariacutetima na sua
globalidade O seu sucesso dependeraacute largamente da acccedilatildeo inovadora do sector
privado e de outras partes interessadas sobretudo no caso dos clusters regionais A par
74
Segundo a OGP 40 do petroacuteleo e 60 do gaacutes actualmente consumidos na Europa satildeo extraiacutedos em
offshore
45
da criaccedilatildeo de clusters multissectoriais devem ser criados centros regionais de excelecircncia
mariacutetima
Os clusters contribuem ainda para conservar o know-how mariacutetimo da Europa pelo
que satildeo fundamentais para a poliacutetica mariacutetima A cooperaccedilatildeo entre os sectores puacuteblico e
privado em centros de excelecircncia mariacutetima cria tambeacutem um contexto favoraacutevel para
compreender e programar adequadamente as interacccedilotildees entre diferentes induacutestrias e
sectores75
Para fazer face a este domiacutenio estrateacutegico a UE pocircs em marcha uma Directiva-
Quadro denominada Estrateacutegia Marinha76
que estabelece um quadro de acccedilatildeo
comunitaacuteria no domiacutenio da poliacutetica para o meio marinho
Foi com o objectivo de promover o uso sustentaacutevel dos mares e a conservaccedilatildeo dos
ecossistemas marinhos incluindo o leito do mar estuaacuterios e aacutereas costeiras dando
especial atenccedilatildeo aos siacutetios com elevado valor em biodiversidade que foi desenvolvida
no quadro da Uniatildeo Europeia a Estrateacutegia temaacutetica para a protecccedilatildeo e conservaccedilatildeo do
ambiente marinho77
Este documento cuja aprovaccedilatildeo foi precedida de ampla discussatildeo a niacutevel Europeu
foi o ponto de partida para a preparaccedilatildeo da proposta de Directiva do Parlamento
Europeu e do Conselho Europeu que estabelece um quadro de acccedilatildeo comunitaacuteria no
domiacutenio da poliacutetica para o meio marinho
A Directiva estabelece um quadro no qual os Estados Membros devem tomar as
medidas necessaacuterias para obter ou manter um bom estado ambiental no meio marinho
ateacute 2020 Para isso devem ser desenvolvidas e aplicadas estrateacutegias marinhas com vista
a proteger e preservar o meio marinho impedir a sua deterioraccedilatildeo ou quando
exequiacutevel restaurar os ecossistemas marinhos nas aacutereas afectadas prevenir e reduzir as
ldquoentradasrdquo no meio marinho de modo a eliminar progressivamente a poluiccedilatildeo e
assegurar que natildeo haja impactos ou riscos significativos (biodiversidade ecossistemas
sauacutede humana e utilizaccedilotildees legiacutetimas do mar)
O processo negocial desta Directiva culminou com a respectiva aprovaccedilatildeo no final
de 2007 durante a Presidecircncia Portuguesa do Conselho da Uniatildeo Europeia e representa
75
COM (2007) 575 final 7-9 76
Directiva Quadro ldquoEstrateacutegia Marinhardquo ndash COM (2005) 505 final 77
Estrateacutegia temaacutetica para a protecccedilatildeo e conservaccedilatildeo do ambiente marinhordquo ndash COM (2005) 504 final
46
um instrumento de particular importacircncia no quadro da poliacutetica de protecccedilatildeo do meio
marinho constituindo assim o pilar ambiental da Estrateacutegia Mariacutetima Europeia
2) Construccedilatildeo de uma base de conhecimentos e inovaccedilatildeo para a poliacutetica mariacutetima
A ciecircncia a tecnologia e a investigaccedilatildeo marinha satildeo cruciais para o
desenvolvimento sustentaacutevel das actividades mariacutetimas
Ao ajudarem a compreender mais profundamente os impactos das actividades
humanas nos sistemas marinhos a investigaccedilatildeo e a tecnologia marinhas fornecem a
chave para romper a ligaccedilatildeo entre o desenvolvimento das actividades mariacutetimas e a
degradaccedilatildeo do ambiente
O reforccedilo da abordagem multidisciplinar da ciecircncia marinha pode contribuir para
uma melhor compreensatildeo das interacccedilotildees entre as actividades mariacutetimas sendo
portanto uma componente indispensaacutevel de uma poliacutetica mariacutetima integrada Este
reforccedilo seraacute igualmente fundamental para prever e atenuar tanto quanto possiacutevel os
efeitos das alteraccedilotildees climaacuteticas
A investigaccedilatildeo marinha e mariacutetima tem custos elevados pelo que natildeo se pode
permitir faltas de eficiecircncia Para poder utilizar os recursos europeus da melhor forma eacute
necessaacuterio definir uma estrateacutegia clara que articule as prioridades a niacutevel poliacutetico e a
niacutevel de investigaccedilatildeo responda a desafios transectoriais potencie as sinergias entre os
esforccedilos dos Estados-Membros e os da Comunidade evite as duplicaccedilotildees e melhore o
diaacutelogo entre os intervenientes A Europa deve tambeacutem explorar o modo como a
investigaccedilatildeo pode contribuir mais e melhor para a inovaccedilatildeo e como transformar mais
eficazmente o conhecimento e as competecircncias em produtos e serviccedilos industriais78
3) Maximizaccedilatildeo da qualidade de vida nas regiotildees costeiras
Na uacuteltima deacutecada o crescimento demograacutefico nas regiotildees costeiras e insulares foi
duas vezes superior ao crescimento demograacutefico meacutedio na Uniatildeo Europeia As
comunidades costeiras satildeo tambeacutem o destino da maioria dos turistas na Europa pelo
que a necessidade de reconciliar o desenvolvimento econoacutemico a sustentabilidade do
ambiente e a qualidade de vida nessas regiotildees se coloca aiacute com maior acuidade
As autoridades regionais e as comunidades costeiras tecircm um importante papel a
desempenhar na regulaccedilatildeo das actividades costeiras e mariacutetimas O Comiteacute das Regiotildees
78
COM (2007) 575 final 12
47
(CoR) as regiotildees costeiras e as suas redes satildeo por conseguinte parceiros essenciais no
quadro da elaboraccedilatildeo de uma poliacutetica mariacutetima integrada da Uniatildeo Europeia
Os portos e os sectores mariacutetimos conferem a estas regiotildees uma importacircncia
estrateacutegica para a Europa no seu conjunto Oferecem importantes serviccedilos ao seu
hinterland e funcionam como base para o policiamento das fronteiras mariacutetimas e das
aacuteguas costeiras Daqui resulta uma forte pressatildeo sobre as infra-estruturas facto que deve
ser tomado em consideraccedilatildeo na atribuiccedilatildeo de recursos comunitaacuterios As regiotildees
costeiras satildeo tambeacutem particularmente afectadas pelas alteraccedilotildees climaacuteticas e a gestatildeo
dos riscos pode assumir proporccedilotildees dramaacuteticas nos orccedilamentos e economias destas
regiotildees
O mar eacute determinante para o turismo costeiro e mariacutetimo e eacute um importante
catalisador do desenvolvimento econoacutemico das zonas costeiras europeias
Embora reconheccedilam que haacute fontes de financiamento os interessados consideram
que tecircm um insuficiente acesso agrave informaccedilatildeo A Comissatildeo Europeia deve esforccedilar-se
por optimizar os projectos mariacutetimos nas regiotildees costeiras e insulares no acircmbito dos
vaacuterios instrumentos financeiros comunitaacuterios disponiacuteveis (ver ponto 33 Instrumentos
econoacutemico-financeiros de apoio agrave PMIE)
A necessidade de obter melhores dados soacutecio-econoacutemicos sobre os sectores
mariacutetimos e as regiotildees costeiras eacute tambeacutem evidente tendo em conta que a dificuldade
em obter tais informaccedilotildees estaacute a limitar a capacidade dos interessados a niacutevel regional
no respeitante ao desenvolvimento de planos e investimentos racionais a longo prazo
Por outro lado a colaboraccedilatildeo inter-regional eacute essencial para permitir o
desenvolvimento das regiotildees costeiras europeias o qual deve ter em conta a diversidade
e especificidade destes locais Por conseguinte a Comissatildeo Europeia deve utilizar
plenamente o Programa de Cooperaccedilatildeo Territorial para apoiar o desenvolvimento
mariacutetimo inter-regional
As regiotildees ultraperifeacutericas e as ilhas estatildeo sujeitas a desvantagens econoacutemicas
consideraacuteveis mas dispotildeem de um elevado potencial no que se refere agraves actividades
mariacutetimas e agrave investigaccedilatildeo marinha As suas extensas zonas mariacutetimas oferecem
serviccedilos ligados aos ecossistemas de grande interesse para a Uniatildeo Europeia A
48
Comissatildeo Europeia deve promover o desenvolvimento do seu potencial mariacutetimo e a
sua cooperaccedilatildeo com os vizinhos regionais respectivos79
A actual situaccedilatildeo das pescas na Europa natildeo pode ser considerada satisfatoacuteria Os
esforccedilos para conseguir reduzir a capacidade existente e a conservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo
dos recursos haliecircuticos existentes devem ser acompanhados por uma melhoria do
bem-estar social dos trabalhadores activos no sector
A integraccedilatildeo dos pescadores na economia mariacutetima mais ampla pode ser beneacutefica
tanto para as suas perspectivas de emprego como para o desenvolvimento global das
condiccedilotildees em que trabalham e em que o seu sector opera Aleacutem disso o bem-estar das
comunidades pesqueiras tradicionais eacute uma componente importante para a qualidade de
vida nas regiotildees costeiras
Saliento o papel que o sector naacuteutico pode desempenhar ao niacutevel do
desenvolvimento local pois para aleacutem de proporcionar actividades para populaccedilotildees
residentes eou turistas eacute uma importante via para gerar emprego e riqueza A Naacuteutica
pode e deve estabelecer o elo entre o mar e a populaccedilatildeo desfavorecida contribuindo
para a inserccedilatildeo e coesatildeo social da comunidade As actividades naacuteuticas trazem em si
valecircncias de solidariedade ou de inclusatildeo social como por exemplo ajudar na
conversatildeo das comunidades piscatoacuterias em dificuldade (escassez de emprego) em
agentes naacuteuticos reconhecidos pela sociedade
4) Promoccedilatildeo da lideranccedila europeia nos assuntos mariacutetimos internacionais
A Uniatildeo Europeia deve continuar a envidar esforccedilos com vista a assegurar uma
governaccedilatildeo internacional dos assuntos mariacutetimos mais eficiente e a fazer cumprir o
direito mariacutetimo internacional instando os Estados-Membros a ratificar os instrumentos
pertinentes Neste contexto deve promover a coordenaccedilatildeo dos interesses europeus nas
principais instacircncias internacionais
O acesso das induacutestrias e serviccedilos mariacutetimos europeus aos mercados internacionais
a exploraccedilatildeo comercial e cientiacutefica sustentaacutevel das aacuteguas profundas a protecccedilatildeo da
biodiversidade marinha mundial a melhoria da seguranccedila mariacutetima e da protecccedilatildeo do
transporte mariacutetimo as condiccedilotildees de trabalho a reduccedilatildeo da poluiccedilatildeo causada pelos
navios e a luta contra as actividades ilegais nas aacuteguas internacionais devem constituir as
prioridades da poliacutetica mariacutetima integrada da Uniatildeo Europeia a niacutevel das suas relaccedilotildees
79
COM (2007) 575 final 13-14
49
externas Deve igualmente prestar atenccedilatildeo agraves implicaccedilotildees geopoliacuteticas das alteraccedilotildees
climaacuteticas (por exemplo as questotildees relacionadas com o Aacutertico)
Por outro lado os assuntos mariacutetimos satildeo regularmente tema de debates com os
parceiros da Uniatildeo Europeia que jaacute adoptaram medidas a favor de uma abordagem
mariacutetima integrada nomeadamente a Austraacutelia o Canadaacute o Japatildeo a Noruega e os
Estados-Unidos mas tambeacutem com outros parceiros como o Brasil Ruacutessia Iacutendia e
China (agora denominados BRIC)
A Uniatildeo Europeia deve fomentar ainda uma responsabilidade partilhada
relativamente aos mares que compartilha com os seus vizinhos Concretamente a Uniatildeo
Europeia propotildee apresentar propostas no sentido de aumentar a cooperaccedilatildeo no que
concerne agrave gestatildeo do Mediterracircneo e do mar Negro E ainda promover a cooperaccedilatildeo ao
niacutevel das relaccedilotildees externas dos paiacuteses da Europa Setentrional com os paiacuteses em
desenvolvimento incluindo os pequenos Estados insulares atraveacutes de programas de
cooperaccedilatildeo reforccedila as capacidades dos paiacuteses em desenvolvimento no que se refere agrave
poliacutetica mariacutetima e ao Direito do mar80
5) Promoccedilatildeo da visibilidade da Europa mariacutetima
Os cidadatildeos europeus cresceram com as histoacuterias dos grandes exploradores que
nos fizeram compreender que a Terra eacute redonda e nos ensinaram a situar exactamente
os continentes Muitos deles gozam as suas feacuterias na costa no meio da azaacutefama dos
barcos de pesca saboreando marisco nos restaurantes e passeando agrave beira-mar a fugir
agrave rebentaccedilatildeo () Outros passam os tempos livres a restaurar ou a navegar em velhos
barcos de madeira () Quantos todavia compreenderatildeo que estas actividades estatildeo
interligadas Quantos teratildeo consciecircncia de serem cidadatildeos de uma Europa
mariacutetima81
Na sequecircncia do Livro Verde sobre uma futura poliacutetica mariacutetima da Uniatildeo e em
resposta ao forte apoio manifestado por muitas partes interessadas durante o processo de
consulta relativo agrave nova poliacutetica de promoccedilatildeo da cultura e do patrimoacutenio mariacutetimos da
Europa a Comissatildeo tem focado a sua atenccedilatildeo no aumento da visibilidade da Europa
80
COM (2007) 575 final 14-15 81
Extractos do Livro Verde ldquoPara uma futura poliacutetica mariacutetima da Uniatildeo Uma visatildeo europeia para os
oceanos e os maresrdquo Capiacutetulo VI Reivindicar a heranccedila mariacutetima da Europa - Reiterar a identidade
mariacutetima da Europa p 51
50
mariacutetima como um dos objectivos fulcrais de uma poliacutetica mariacutetima holiacutestica e
integrada
Os stakeholders exprimiram claramente a opiniatildeo de que o processo de elaboraccedilatildeo
de uma poliacutetica mariacutetima comunitaacuteria permitiu a aquisiccedilatildeo de uma nova consciecircncia
puacuteblica sobre a importacircncia da economia e patrimoacutenio mariacutetimo e estaacute a criar entre eles
o sentimento de partilharem um objectivo e identidade comuns
Para tal a poliacutetica mariacutetima integrada deve procurar aumentar a visibilidade da
Europa mariacutetima e melhorar a imagem das suas actividades e das profissotildees ligadas ao
mar
A PMIE deve ainda promover o patrimoacutenio mariacutetimo europeu apoiando as
comunidades mariacutetimas as cidades portuaacuterias as comunidades piscatoacuterias tradicionais
os produtos artesanais as teacutecnicas tradicionais e fomentar a criaccedilatildeo de ligaccedilotildees entre
elas para incrementar o seu conhecimento e dar maior visibilidade
A Comissatildeo Europeia prossegue este objectivo recorrendo a iniciativas das quais
destaco o Dia Europeu do Mar82
(celebrado em Bruxelas Roma e Gijoacuten 2008 2009 e
2010 respectivamente) e as novas ldquoferramentasrdquo de comunicaccedilatildeo com realce para o
Atlas Europeu dos Mares o Foacuterum Mariacutetimo e o website oficial para os assuntos do mar
da Europa
O Atlas Europeu dos Mares83
jaacute eacute uma realidade Destina-se a todos os interessados
do mundo marinho e do patrimoacutenio mariacutetimo e o objectivo eacute sensibilizar a opiniatildeo
puacuteblica para a importacircncia dos oceanos e dos mares da Europa Este Atlas pedagoacutegico
fornece uma seacuterie de dados fiaacuteveis e regularmente actualizados sobre temas tatildeo variados
como o relevo do fundo do mar a erosatildeo costeira a frota de pesca europeia o
transporte mariacutetimo a amplitude de mareacutes as quotas de pesca por espeacutecie e por regiatildeo e
as ldquoauto-estradas do marrdquo
Tanto o Foacuterum Mariacutetimo84
como o website85
contribuem para ajudar a melhor
compreender a visatildeo transversal da actividade mariacutetima presente em diversos sectores
de actividade Estas ferramentas satildeo meios eficazes para disseminar informaccedilatildeo sobre a
comunidade mariacutetima dar a conhecer boas praacuteticas mariacutetimas e podem ainda servir de
82
Informaccedilatildeo sobre Dia Europeu do Mar disponiacutevel em httpeceuropaeumaritimeaffairsmaritimeday 83
Atlas Europeu do Mares disponiacutevel em httpeceuropaeumaritimeaffairsatlas 84
Foacuterum Mariacutetimo disponiacutevel em httpswebgateeceuropaeumaritimeforum 85
Website oficial do Assuntos Mariacutetimos europeus httpeceuropaeumaritimeaffairs
51
alavanca para futuras sinergias potenciando a economia mariacutetima o ambiente marinho
e as comunidades costeiras
33 Instrumentos econoacutemico-financeiros de apoio agrave PMIE
As poliacuteticas independentemente da sua natureza carecem sempre de instrumentos
financeiros para agilizar a prossecuccedilatildeo das mesmas A PMIE natildeo foge a esta regra
Conveacutem neste ponto destinado aos instrumentos financeiros distingui-los quanto agrave
forma como contribuem para consolidaccedilatildeo da PMIE Assim sendo comeccedilo pelos
instrumentos ao dispocircr da poliacutetica de coesatildeo e da poliacutetica regional que apesar de
exercerem um papel importante na eliminaccedilatildeo das assimetrias regionais natildeo saciam
todas as necessidades impliacutecitas na PMIE De seguida abordo outros instrumentos
financeiros (Fundo Europeu das Pescas Instrumento Europeu de Vizinhanccedila e de
Parceria e o 7ordm Programa-Quadro) que vatildeo ao encontro de algumas medidas enunciadas
no plano de acccedilatildeo do Livro Azul e para terminar faccedilo referecircncia ao receacutem-criado
programa de apoio ao aprofundamento da PMIE
331 A poliacutetica de coesatildeo e a poliacutetica regional europeia
A expressatildeo ldquopoliacutetica de coesatildeordquo designa um quadro poliacutetico de solidariedade a
niacutevel europeu traduzindo-se em centenas de milhares de projectos em toda a Europa
que beneficiam do apoio do Fundo de Coesatildeo e dos Fundos Estruturais ndash o Fundo
Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER) e o Fundo Social Europeu (FSE)
Para acelerar a convergecircncia econoacutemica social e territorial a Uniatildeo Europeia
instituiu um Fundo de Coesatildeo em 1994 Este fundo destina-se aos paiacuteses cujo PIB
meacutedio por habitante eacute inferior a 90 da meacutedia comunitaacuteria O Fundo de Coesatildeo tem por
finalidade conceder financiamentos a favor de projectos de infra-estruturas nos
domiacutenios do ambiente e dos transportes Contudo a aplicaccedilatildeo do Fundo de Coesatildeo estaacute
sujeita a determinadas condiccedilotildees Caso o deacutefice puacuteblico de um Estado Membro
52
beneficiaacuterio exceder 3 do PIB nacional (regras de convergecircncia da Uniatildeo Econoacutemica
Monetaacuteria) nenhum novo projecto seraacute aprovado enquanto o deacutefice natildeo estiver outra
vez sob controlo
A coesatildeo econoacutemica e social descrita no Acto Uacutenico Europeu de 1986 propotildee-se
ldquoreduzir a diferenccedila entre as diversas regiotildees e o atraso das regiotildees menos favorecidasrdquo
O Tratado de Lisboa acrescenta-lhe uma terceira vertente quando fala de poliacutetica de
coesatildeo econoacutemica social e territorial Isto significa que a poliacutetica de coesatildeo tambeacutem
deve visar um desenvolvimento territorial mais equilibrado e sustentaacutevel
As orientaccedilotildees estrateacutegicas da poliacutetica de coesatildeo para o periacuteodo 2007-2013
centram-se em torno de trecircs prioridades 1ordf ndash reforccedilo da capacidade de atracccedilatildeo dos
Estados-Membros das regiotildees e das cidades 2ordf ndash promoccedilatildeo da inovaccedilatildeo do espiacuterito
empresarial e do crescimento da economia do conhecimento 3ordf Criaccedilatildeo de mais e
melhores empregos
Hoje em dia a Europa enfrenta uma tarefa esmagadora Natildeo soacute tem de vencer a
crise profunda que atravessa e reduzir o desemprego e a pobreza como deve transitar
para uma economia com baixas emissotildees de carbono Tatildeo ambiciosa tarefa requer
grande rapidez de acccedilatildeo em muitas e variadas frentes razatildeo pela qual o Conselho
Europeu adoptou a Estrateacutegia ldquoEuropa 2020rdquo Para que a Europa venccedila todos os
intervenientes tecircm de dar o seu contributo agrave escala europeia nacional regional e local
A poliacutetica de coesatildeo tem de continuar a desempenhar um papel fundamental nos tempos
difiacuteceis que atravessamos para estimular o crescimento inteligente (valorizando o
conhecimento a inovaccedilatildeo a educaccedilatildeo e a sociedade digital) sustentaacutevel (promovendo
um economia hipocarboacutenica em termos de recursos e competitividade) e inclusivo
(aumento da taxa de participaccedilatildeo no mercado de trabalho aquisiccedilatildeo de qualificaccedilotildees e
luta contra a pobreza) com vista ao desenvolvimento harmonioso da UE e assim
reduzir as disparidades regionais Indubitavelmente sem a poliacutetica de coesatildeo as
disparidades seriam maiores
Contudo a coesatildeo econoacutemica social e territorial eacute essencialmente concretizada
atraveacutes da poliacutetica regional A poliacutetica regional da UE favorece a reduccedilatildeo das diferenccedilas
estruturais existentes entre as regiotildees o desenvolvimento equilibrado do territoacuterio
comunitaacuterio e a promoccedilatildeo de uma igualdade de oportunidades efectiva entre as pessoas
A poliacutetica regional constitui a segunda maior rubrica orccedilamental da UE com uma
dotaccedilatildeo de 348 mil milhotildees de euros para o periacuteodo de 2007-2013 O alargamento para
53
27 Estados Membros em Janeiro de 2007 alterou a situaccedilatildeo da UE pois enquanto a
superfiacutecie da UE aumentou mais de 25 e a populaccedilatildeo mais de 20 a sua riqueza soacute
aumentou cerca de 5 O PIB meacutedio por habitante da UE diminuiu mais de 10 e as
disparidades regionais foram multiplicadas por dois Eacute sabido que aproximadamente
60 das regiotildees menos desenvolvidas se situam doravante nos 12 Estados-Membros
que aderiram desde 2004 Logo facilmente se depreende a deslocaccedilatildeo do centro de
gravidade da poliacutetica regional para Leste
Para o periacuteodo de 2007-2013 a dotaccedilatildeo financeira atribuiacuteda agrave poliacutetica regional
aproxima-se dos 348 mil milhotildees de euros 278 mil milhotildees para os Fundos Estruturais
e 70 mil milhotildees para o Fundo de Coesatildeo Esta dotaccedilatildeo representa 45 do orccedilamento
comunitaacuterio ou seja constitui a segunda rubrica orccedilamental logo atraacutes da Poliacutetica
Agriacutecola Comum (PAC)
Cabe agraves regiotildees e agraves respectivas entidades regionais atraveacutes das poliacuteticas de coesatildeo
e desenvolvimento regional afectarem uma parte dos fundos europeus para financiarem
projectos de interesse mariacutetimo e que vatildeo ao encontro do estipulado na PMIE
332 Fundos Estruturais
Como foi referido anteriormente existem dois tipos de fundos estruturais o Fundo
Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER) e o Fundo Social Europeu (FSE)
O FEDER86
apoia desde 1975 a realizaccedilatildeo de infra-estruturas e investimentos
produtivos geradores de emprego nomeadamente os destinados agraves empresas
O FSE87
instituiacutedo em 1958 apoia a inserccedilatildeo profissional dos desempregados e das
categorias desfavorecidas da populaccedilatildeo financiando nomeadamente acccedilotildees de
formaccedilatildeo
86
Regulamento (CE) nordm 16982005 do Conselho de 20 de Setembro de 2005 relativo ao apoio ao
desenvolvimento rural pelo Fundo Europeu Agriacutecola de Desenvolvimento Rural 87
Regulamento (CE) nordm 17841999 do Parlamento Europeu e do Conselho de 12 de Julho de 1999
relativo ao Fundo Social Europeu
54
Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER)
O FEDER destina-se a reforccedilar a coesatildeo econoacutemica e social na Uniatildeo Europeia
atraveacutes da correcccedilatildeo dos desequiliacutebrios regionais Resumidamente o FEDER financia
Ajudas directas aos investimentos realizados nas empresas
designadamente as pequenas e meacutedias empresas (PME`s) a fim de criar
emprego duradouro
Infra-estruturas ligadas nomeadamente agrave investigaccedilatildeo e agrave inovaccedilatildeo agraves
telecomunicaccedilotildees ao ambiente agrave energia e aos transportes
Instrumentos financeiros (fundos de capital de risco fundos de
desenvolvimento local etc) a fim de apoiar o desenvolvimento regional e local
e favorecer a cooperaccedilatildeo entre as cidades e regiotildees
Medidas de assistecircncia teacutecnica
O FEDER interveacutem na poliacutetica regional em trecircs objectivos a convergecircncia a
competitividade regional e emprego e a cooperaccedilatildeo territorial europeia
Fundo Social Europeu (FSE)
O FSE tem por objectivo melhorar o emprego e as possibilidades de emprego na
Uniatildeo Europeia e interveacutem no acircmbito dos objectivos da convergecircncia e competitividade
regional e emprego
O FSE apoia as acccedilotildees dos Estados-membros nos domiacutenios seguintes
Adaptaccedilatildeo dos trabalhadores e das empresas sistemas de aprendizagem
ao longo da vida concepccedilatildeo e difusatildeo de formas de organizaccedilatildeo do trabalho
inovadoras
Acesso ao emprego por parte das pessoas que procuram trabalho das
pessoas inactivas das mulheres e dos migrantes
Integraccedilatildeo social das pessoas desfavorecidas e luta contra a
discriminaccedilatildeo no mercado do trabalho
Reforccedilo do capital humano atraveacutes da reforma dos sistemas educativos e
colocaccedilatildeo em rede dos estabelecimentos de ensino
55
333 Outras fontes de financiamento
A PMIE aleacutem dos fundos estruturais e do fundo de coesatildeo tem ao seu dispocircr
outros instrumentos financeiros como seja o Fundo Europeu para as Pescas88
que
serve para estimular actividades econoacutemicas alternativas agrave pesca como o turismo
verde previsto para o desenvolvimento sustentaacutevel das zonas de pesca costeiras o
Instrumento Europeu de Vizinhanccedila e de Parceria89
contribuiraacute atraveacutes da cooperaccedilatildeo
transfronteiriccedila para dar resposta a problemas comuns dos paiacuteses do litoral inseridos em
bacias mariacutetimas
O Banco Europeu de Investimento (BEI) pode igualmente constituir um
importante instrumento para financiamento de avultados investimentos infra-estruturais
destinados a facilitar o ordenamento espacial e a execuccedilatildeo de estrateacutegias de
desenvolvimento de poacutelos de competitividade em regiotildees costeiras ou melhorar as
ligaccedilotildees agrave rede de produccedilatildeo de energias renovaacuteveis
Por fim realccedilo a primeira call lanccedilada a 30 de Julho de 2009 pela Comissatildeo
Europeia denominada The Ocean of Tomorrow integrada no seacutetimo Programa-Quadro
Ela eacute dotada de um orccedilamento de 34 milhotildees de euros para projectos de investigaccedilatildeo
multidisciplinar com o objectivo de conciliar o desenvolvimento de actividades
mariacutetimas com a preservaccedilatildeo dos mares e oceanos Uma segunda call ainda referente
ao seacutetimo Programa-Quadro de 45 milhotildees foi entretanto lanccedilada a 30 de Julho de
2010 Espera-se que as propostas abordem a complexidade dos oceanos e mares
integrando vaacuterias disciplinas (ambiente transportes energia pescas economia e
ciecircncias sociais) promovendo tambeacutem novos modelos de gestatildeo integrada do oceano O
prazo limite para entrega de candidaturas da segunda chamada termina no dia 18 de
Janeiro de 2011
Estas duas chamadas conjuntas respondem agrave necessidade de alocar meios
financeiros de suporte agraves prioridades expostas na Estrateacutegia Europeia para a
Investigaccedilatildeo Marinha e Mariacutetima e assim dar resposta ao pilar ambiental da PMIE
88
Decisatildeo 2005367CE do Conselho de 14 de Abril de 2005 que autoriza os Estados-Membros a
ratificar no interesse da Comunidade Europeia a Convenccedilatildeo da Organizaccedilatildeo Internacional do Trabalho
relativa aos documentos de identificaccedilatildeo dos mariacutetimos (Convenccedilatildeo nordm 185) - JO L 136 de 3052005 89
httpeceuropaeuworldenpfunding_enhtm
56
334 Programa de apoio ao aprofundamento da PMIE
Apesar dos instrumentos financeiros disponibilizados a implementaccedilatildeo da PMIE
pode estar em risco devido agrave falta de meios para financiar as acccedilotildees necessaacuterias durante
o periacuteodo remanescente (2010-2013)
Para tal efeito entendeu a Comissatildeo Europeia ser necessaacuterio estabelecer um
programa de apoio a medidas destinadas a promover o aprofundamento e a
implementaccedilatildeo da PMIE uma vez que os outros instrumentos disponibilizados pela UE
e apresentados anteriormente (o Fundo de Coesatildeo o FEDER o FSE o Fundo Europeu
das Pescas o seacutetimo Programa-Quadro de actividades em mateacuteria de investigaccedilatildeo
desenvolvimento tecnoloacutegico e demonstraccedilatildeo e o Instrumento Europeu de Vizinhanccedila e
Parceria) natildeo cobrirem significativamente as prioridades e objectivos da poliacutetica
mariacutetima integrada
No entanto este programa serviraacute de complemento aos instrumentos financeiros
actuais e futuramente disponibilizados ao niacutevel nacional e sub-nacional pelos Estados-
Membros para promover a protecccedilatildeo e a utilizaccedilatildeo sustentaacutevel dos oceanos e mares e
das zonas costeiras
Para que a Uniatildeo Europeia implemente e aprofunde a PMIE e prossiga os
objectivos basilares estabelecidos no Livro Azul eacute necessaacuterio um apoio financeiro
modesto mas constante Daiacute que juntamente com os Estados-Membros e as partes
interessadas este financiamento permite prosseguir os trabalhos exploratoacuterios jaacute
iniciados atraveacutes de acccedilotildees preparatoacuterias e projectos-piloto e desenvolver e concretizar
ainda melhor as opccedilotildees de execuccedilatildeo da PMIE
A dotaccedilatildeo financeira para a execuccedilatildeo do programa de apoio ao aprofundamento da
PMIE foi fixada em 50 milhotildees de euros e seraacute aplicaacutevel entre 1 de Janeiro de 2011 e 31
de Dezembro de 2013
O programa de apoio tem os seguintes dez objectivos gerais90
Favorecer o desenvolvimento e a implementaccedilatildeo de uma governaccedilatildeo
integrada dos assuntos mariacutetimos e costeiros e estrateacutegias integradas para as
bacias mariacutetimas
90
COM (2010) 494 final 11
57
Contribuir para o desenvolvimento de instrumentos transversais para as
poliacuteticas sectoriais ligadas ao mar ou agraves zonas costeiras
Apoiar a articulaccedilatildeo das poliacuteticas e promover a utilizaccedilatildeo sustentaacutevel dos
recursos marinhos e costeiros o crescimento econoacutemico sustentaacutevel a inovaccedilatildeo
e o emprego nos sectores mariacutetimos e nas regiotildees costeiras em consonacircncia com
as prioridades e acccedilotildees das poliacuteticas sectoriais
Melhor definir os limites da sustentabilidade das actividades humanas
com impacto no meio marinho no acircmbito da Directiva-Quadro Estrateacutegia
Marinha
Melhorar e reforccedilar a cooperaccedilatildeo e a coordenaccedilatildeo externas no que
respeita aos objectivos da poliacutetica mariacutetima integrada
Estes objectivos do programa de apoio ao aprofundamento da PMIE podem-se
traduzir nas seguintes acccedilotildees elegiacuteveis91
Estudos e programas de cooperaccedilatildeo
Informaccedilatildeo do puacuteblico e partilha de boas praacuteticas sensibilizaccedilatildeo do
puacuteblico e actividades associadas de comunicaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo incluindo
campanhas de publicidade eventos e ainda o desenvolvimento e a manutenccedilatildeo
de siacutetios Web
Conferecircncias seminaacuterios grupos de trabalho e foacuteruns de partes
interessadas
Mutualizaccedilatildeo monitorizaccedilatildeo e visualizaccedilatildeo de uma grande quantidade de
informaccedilotildees boas praacuteticas e bases de dados sobre os projectos regionais
financiados pela UE e garantia do correspondente acesso do puacuteblico
nomeadamente sempre que adequado por intermeacutedio de um secretariado
instituiacutedo para um ou vaacuterios destes efeitos
Acccedilotildees referentes a instrumentos transversais incluindo projectos-piloto
91
COM (2010) 494 final 12-13
58
Cap IV ndash Orientaccedilotildees estrateacutegias para o futuro da PMIE
41 Breve balanccedilo
A poliacutetica mariacutetima integrada europeia estabeleceu-se como uma nova abordagem
destinada a reforccedilar o desenvolvimento oacuteptimo e sustentaacutevel de todas as actividades
relacionadas com o mar Confirmou a visatildeo de que a Europa pode colher benefiacutecios
muito maiores com um impacto ambiental muito menor se articular as poliacuteticas relativas
aos oceanos e mares As instituiccedilotildees da Uniatildeo Europeia os Estados-Membros e as
regiotildees criaram estruturas de governaccedilatildeo para garantir que as poliacuteticas mariacutetimas
deixassem de ser desenvolvidas de uma forma isolada e tomassem em consideraccedilatildeo as
relaccedilotildees e sinergias com outras aacutereas poliacuteticas Os stakeholders confirmaram o interesse
consideraacutevel que a ampla consulta realizada em 2006-2007 despertou e a PMIE tornou-
se uma das poliacuteticas da Uniatildeo Europeia que mais recorre a uma abordagem ldquoda base
para o topordquo No domiacutenio das poliacuteticas sectoriais com impacto no mar e no litoral
nomeadamente as poliacuteticas da pesca dos transportes do ambiente da energia da
induacutestria ou da investigaccedilatildeo deram-se passos consideraacuteveis no sentido de uma maior
integraccedilatildeo e coerecircncia Foram tambeacutem adoptadas as primeiras medidas para aplicar a
PMIE numa base regional Em resumo a poliacutetica mariacutetima integrada da Uniatildeo Europeia
estaacute a modificar a forma como os europeus olham para os seus mares e oceanos
reafirmando ao mesmo tempo a importacircncia estrateacutegica dos mares e das regiotildees
costeiras do continente92
O quadro oferecido pela PMIE procura essencialmente concretizar (e jaacute comeccedilou a
fazecirc-lo) quatro objectivos93
Promover a integraccedilatildeo das estruturas de governaccedilatildeo tornando-as mais
abertas agrave participaccedilatildeo e agrave cooperaccedilatildeo
Criar uma base de conhecimentos e os instrumentos transectoriais
necessaacuterios para permitir a execuccedilatildeo das poliacuteticas integradas
92
COM (2009) 540 final 2 93
COM 2009) 540 final 3
59
Melhorar a qualidade das poliacuteticas sectoriais atraveacutes da procura activa de
sinergias e de uma maior coerecircncia transectorial
No quadro da realizaccedilatildeo dos objectivos acima referidos tomar em
consideraccedilatildeo as especificidades dos mares regionais que banham a Europa e
encontrar soluccedilotildees adaptadas a cada caso
A aplicaccedilatildeo do plano de acccedilatildeo conheceu jaacute um franco progresso das 65 acccedilotildees
incluiacutedas no plano foram iniciadas ou concluiacutedas 56 (trata-se na maior parte de actos
da Comissatildeo Europeia ou Conselho Europeu) Foram empreendidas vaacuterias iniciativas
em relaccedilatildeo a nove das acccedilotildees desse plano embora os documentos oficiais natildeo tenham
sido ainda adoptados
42 Governaccedilatildeo mariacutetima e participaccedilatildeo das partes interessadas
O Livro Azul defende que eacute necessaacuterio repensar a gestatildeo dos mares e oceanos a
todos os niacuteveis de governaccedilatildeo isto eacute nas instituiccedilotildees da UE nos Estados-Membros e
nas regiotildees Os actores poliacuteticos responderam em geral de uma forma muito positiva
passados dois anos tomaram-se medidas em toda a Uniatildeo para superar a
compartimentaccedilatildeo das vaacuterias poliacuteticas relacionadas com o mar aumentar a participaccedilatildeo
das partes interessadas e identificar sinergias poliacuteticas Importa agora realccedilar os
progressos alcanccedilados pelas instituiccedilotildees europeias Estados membros regiotildees e tambeacutem
pelos stakeholders
Instituiccedilotildees da UE94
A Comissatildeo Europeia adoptou diversas medidas no sentido de integrar o processo
de definiccedilatildeo da poliacutetica mariacutetima Em 2005 foi criado um Grupo Director de
Comissaacuterios que examinou as iniciativas poliacuteticas mais importantes incluiacutedas no plano
de acccedilatildeo do Livro Azul Foram tambeacutem criadas estruturas para promover reuniotildees
94
COM (2009) 540 final 3-4
60
regulares entre as Direcccedilotildees-Gerais interessadas a fim de identificar sinergias e
eliminar eventuais incoerecircncias entre as poliacuteticas
A Comissatildeo Europeia reorganizou igualmente os seus serviccedilos e alargou o mandato
da Direcccedilatildeo-Geral dos Assuntos Mariacutetimos e das Pescas a fim de assegurar a
coordenaccedilatildeo poliacutetica global e desenvolver se necessaacuterio instrumentos transectoriais
tendo em conta as especificidades regionais
O Conselho Europeu mostra um grande empenhamento na PMIE Natildeo soacute reconhece
a natureza transectorial da PMIE ao abordaacute-la na sua formaccedilatildeo Assuntos Gerais e
Relaccedilotildees Externas como reafirma nas suas conclusotildees de 8 de Dezembro de 200895
ldquoque uma abordagem integrada das questotildees mariacutetimas constitui um objectivo da maior
importacircncia tendo em conta a necessidade de reforccedilar as sinergias a coerecircncia e o
valor acrescentado das acccedilotildees sectoriais empreendidas pela Uniatildeo Europeia
integrando-as numa visatildeo global dos mares dos oceanos e dos seus litorais tendo em
conta as especificidades regionais (hellip)rdquo
Em termos institucionais a participaccedilatildeo activa do Conselho e dos Estados-
Membros eacute assegurada pelos trabalhos do Conselho de Assuntos Gerais e pelos grupos
de contacto dos Estados-Membros para a PMIE Estes grupos satildeo a garantia de que se
utiliza plenamente os conhecimentos especializados existentes nas administraccedilotildees
nacionais se presta a devida atenccedilatildeo agraves necessidades especiacuteficas dos Estados-Membros
e das regiotildees costeiras e se obteacutem um consenso poliacutetico com o maacuteximo de transparecircncia
e impacto
A atenccedilatildeo e o apoio do Parlamento Europeu agrave poliacutetica mariacutetima tecircm sido muito
positivos96
Contudo os assuntos mariacutetimos continuam a ser tratados por diferentes
comissotildees e estruturas
O Comiteacute das Regiotildees tem dado vaacuterios contributos beneacuteficos para a PMIE A
Comissatildeo Europeia tomou nota em especial do parecer sobre o Livro Azul que conteacutem
elementos importantes para trabalhos futuros O recente parecer do Comiteacute ldquoPacote
mariacutetimo e costeirordquo97
constitui um exemplo valioso da combinaccedilatildeo de interesses
divergentes de uma forma coerente complementar e sineacutergica
95
16503108 REV 1 96
Especialmente atraveacutes do relatoacuterio A6-01632008 (Comissatildeo dos Transportes e do Turismo) de Willi
Piecyk deputado do Parlamento Europeu entretanto falecido 97
CdR 4162008 final adoptado em 17 de Junho de 2009
61
O Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu emitiu em 14 de Abril de 2008 um
parecer98
particularmente favoraacutevel agrave PMIE
Estados-Membros99
Agrave data da publicaccedilatildeo do Livro Verde poucas iniciativas existiam nos Estados-
Membros em favor de abordagens integradas Dois paiacuteses a Franccedila e os Paiacuteses Baixos
informaram que dispunham de uma estrutura administrativa para coordenar as poliacuteticas
mariacutetimas Pelo seu lado Portugal tinha jaacute iniciado acccedilotildees concretas com vista a uma
estrateacutegia sobre os oceanos Desde entatildeo registaram-se progressos consideraacuteveis e mais
Estados-Membros tomaram iniciativas para integrar a poliacutetica mariacutetima e partilhar boas
praacuteticas de abordagens integradas da poliacutetica mariacutetima Estas iniciativas satildeo
inteiramente conformes com as orientaccedilotildees publicadas pela Comissatildeo Europeia em
Junho de 2008100
e referem-se a mudanccedilas organizacionais eou ao desenvolvimento de
estrateacutegias integradas de mais longo prazo com vista ao desenvolvimento sustentaacutevel
dos sectores mariacutetimos e das regiotildees costeiras
De salientar os exemplos do Nationaal Waterplan neerlandecircs o Grenelle de la Mer
francecircs o Entwicklungsplan Meer alematildeo a Lei sueca sobre uma poliacutetica mariacutetima
coerente o plano polaco interdepartamental de uma poliacutetica mariacutetima e a Lei mariacutetima
britacircnica A Irlanda Portugal e a Esloveacutenia tomaram igualmente medidas neste sentido
A Beacutelgica a Bulgaacuteria a Repuacuteblica Checa a Dinamarca a Itaacutelia a Greacutecia a Finlacircndia e
a Espanha comunicaram tambeacutem a realizaccedilatildeo de actividades neste domiacutenio perfazendo
um total de 14 Estados membros
Regiotildees101
As regiotildees costeiras participam plenamente como parceiros da PMIE desde o seu
iniacutecio e satildeo as mais bem colocadas para identificar os elementos necessaacuterios para
executar a poliacutetica tanto a niacutevel local como das bacias mariacutetimas Mostraram
igualmente grande capacidade para trabalhar com as autoridades nacionais e com as
regiotildees de outros Estados-Membros com o objectivo de promover soluccedilotildees integradas
para as questotildees relativas ao mar A Conferecircncia das Regiotildees Perifeacutericas Mariacutetimas
98
JO 2008C 21107 99
COM (2009) 540 final 4-5 100
COM (2008) 395 final de 2662008 101
COM (2009) 540 final 5
62
(CRPM) que reuacutene cerca de 160 regiotildees europeias segue atentamente os progressos do
plano de acccedilatildeo atraveacutes de intervenccedilotildees regulares nas reuniotildees do grupo de trabalho
Aquamarina criado especificamente para promover a PMIE a niacutevel regional
Partes interessadas102
As partes interessadas tem tido um papel preponderante no estabelecimento de uma
PMIE para a UE Os actores regionais e empresariais e as ONG foram os primeiros a
advogar a articulaccedilatildeo das poliacuteticas da UE com impacto nos mares sectores mariacutetimos e
regiotildees costeiras As suas contribuiccedilotildees constituiacuteram a base para a criaccedilatildeo de conceitos
e instrumentos inovadores
A celebraccedilatildeo anual do Dia Europeu do Mar converteu-se no evento em que os
vaacuterios ciacuterculos interessados podem realizar intercacircmbios altamente produtivos A
Comissatildeo Europeia deve dar continuidade a este evento assim como ampliar o nuacutemero
de europeus participantes Ao mesmo tempo deve encorajar as partes interessadas a
voltar a organizar eventos descentralizados em torno do Dia Europeu do Mar celebrado
em 20 de Maio reflectindo desta forma as contribuiccedilotildees nacionais regionais e locais
para a PMIE
43 Instrumentos transectoriais
Conforme abordado no capiacutetulo III (Livro Azul) foi identificada a necessidade de
existirem instrumentos transectoriais nomeadamente o ordenamento do espaccedilo
mariacutetimo a vigilacircncia integrada e a construccedilatildeo de uma base de conhecimentos para a
poliacutetica mariacutetima Estes trecircs instrumentos desenvolveram-se a um bom ritmo e jaacute eacute
possiacutevel registar os primeiros resultados obtidos Ora vejamos
102
COM (2009) 540 final 5-6
63
Ordenamento do espaccedilo mariacutetimo (OEM) e gestatildeo integrada da zona costeira
(GIZC)103
O aumento das actividades desenvolvidas nos mares da Europa exacerbou a
competiccedilatildeo pelo espaccedilo mariacutetimo que eacute limitado O ordenamento do espaccedilo mariacutetimo eacute
um instrumento-chave para equilibrar os interesses sectoriais e garantir uma utilizaccedilatildeo
sustentaacutevel dos recursos marinhos sendo o seu princiacutepio subjacente uma abordagem
ecossisteacutemica Este processo proporciona agraves administraccedilotildees puacuteblicas e partes
interessadas um quadro de ordenamento estaacutevel fiaacutevel e centrado em objectivos
concretos a partir do qual podem coordenar as suas acccedilotildees e optimizar a utilizaccedilatildeo do
espaccedilo mariacutetimo em benefiacutecio do desenvolvimento econoacutemico e do meio marinho
A Comissatildeo adoptou em 2008 a comunicaccedilatildeo intitulada ldquoRoteiro para o
ordenamento do espaccedilo mariacutetimo definiccedilatildeo de princiacutepios comuns na UErdquo104
O roteiro
estabelece dez princiacutepios-chave e analisa o desenvolvimento entre os Estados-Membros
de uma abordagem comum que promova a aplicaccedilatildeo do OEM a niacutevel nacional e da UE
Em debates organizados pela Comissatildeo no decurso de 2009105
as partes
interessadas de todos os sectores mariacutetimos relevantes consideraram que os dez
princiacutepios-chave satildeo vaacutelidos tecircm um caraacutecter global e constituem uma base importante
para o desenvolvimento do OEM a niacutevel europeu A Comissatildeo Europeia lanccedilou
igualmente duas acccedilotildees preparatoacuterias no Baacuteltico (no acircmbito da estrateacutegia comunitaacuteria
para a regiatildeo do Baacuteltico) e no Mar do NorteAtlacircntico Nordeste visando o
desenvolvimento da vertente de cooperaccedilatildeo transfronteiras do OEM assim como um
estudo sobre o potencial do ordenamento do espaccedilo mariacutetimo no Mediterracircneo e os
benefiacutecios econoacutemicos do OEM
No seguimento da recomendaccedilatildeo incluiacuteda no Livro Azul no sentido da criaccedilatildeo de
um sistema de intercacircmbio de boas praacuteticas para o desenvolvimento da gestatildeo integrada
da zona costeira (GIZC) a Comissatildeo iniciou em 2009 um projecto destinado a fomentar
o intercacircmbio de boas praacuteticas e promover a aplicaccedilatildeo efectiva da GIZC106
No final de
2008 o Conselho assinou o Protocolo sobre a GIZC no acircmbito da Convenccedilatildeo de
Barcelona107
103
Para informaccedilatildeo detalhada sobre a GIZC consultar httpeceuropaeuenvironmenticzmourcoasthtm 104
COM(2008) 791 final 105
httpeceuropaeumaritimeaffairsspatial_planning_enhtml6 106
httpeceuropaeuenvironmenticzmourcoasthtm 107
COM (2009) 540 final 6-7
64
Integraccedilatildeo da vigilacircncia mariacutetima
A integraccedilatildeo da vigilacircncia mariacutetima permitiraacute aumentar a eficaacutecia das operaccedilotildees no
mar e reduzir os custos de exploraccedilatildeo As potenciais economias a niacutevel da UE satildeo
significativas se se considerar a necessidade crescente de detectar localizar interceptar
e controlar actividades iliacutecitas no mar assim como de prevenir acidentes mariacutetimos
detectar descargas ilegais controlar as actividades de pesca e proteger o ambiente
Ateacute agrave data a Comissatildeo elaborou descriccedilotildees pormenorizadas das vaacuterias iniciativas
de integraccedilatildeo da vigilacircncia mariacutetima108
empreendidas a niacutevel nacional regional e
europeu terminou um estudo sobre os aspectos juriacutedicos e regulamentares da integraccedilatildeo
da vigilacircncia mariacutetima e procedeu a um exerciacutecio conjunto com a Agecircncia Europeia de
Defesa e o Estado-Maior da UE em resposta a um pedido do Conselho de Defesa109
A
Comissatildeo lanccedilou igualmente dois convites agrave apresentaccedilatildeo de propostas num montante
total de 57 milhotildees de euros110
para projectos-piloto de integraccedilatildeo da vigilacircncia com
vista a promover uma cooperaccedilatildeo mais estreita entre as administraccedilotildees nacionais no
Mediterracircneo e na bacia do Mar do Norte111
Construccedilatildeo de uma base de conhecimentos para a poliacutetica mariacutetima
Natildeo eacute possiacutevel desenvolver uma poliacutetica mariacutetima sem dados e conhecimentos
adequados sobre os mares e o litoral da Europa O conhecimento do meio marinho
permanece eacute ainda muito disperso e pouco rentaacutevel A Rede Europeia de Observaccedilatildeo e
de Dados do Meio Marinho (EMODNET) anunciada no Livro Azul tem como
objectivo reduzir as incertezas no conhecimento dos mares e os custos operacionais dos
utilizadores de dados marinhos Eacute necessaacuterio avaliar as bases de dados e os programas
de observaccedilatildeo existentes em termos de cobertura precisatildeo e frequecircncia de recolha bem
como compilar de forma global e compatiacutevel os dados provenientes de diferentes fontes
e tornaacute-los acessiacuteveis como instrumento de boa governaccedilatildeo112
Destaque para o
lanccedilamento do ldquoAtlas Europeu dos Maresrdquo tem como objectivo sensibilizar o puacuteblico
para as questotildees marinhas
108
SEC (2008) 2337 109
COSDP 949 PESC 1366 110
Convites agrave apresentaccedilatildeo de propostas MARE200813 e 200904 111
COM (2009) 540 final 7 112
COM (2009) 540 final 7-8
65
44 Perspectivas e visatildeo futura da PMIE
Os uacuteltimos dois anos confirmaram que a PMIE eacute uma poliacutetica muito promissora e
que pode contribuir de forma muito significativa para o crescimento o emprego e a
sustentabilidade ambiental nas zonas costeiras da Europa e para aleacutem destas Apesar de
recente esta nova poliacutetica da UE jaacute alterou a forma como a Europa gere as suas riquezas
mariacutetimas e costeiras
Apoacutes trecircs anos de deliberaccedilotildees intensas eacute fundamental manter este impulso para
dar uma resposta aos desafios essenciais a meacutedio e longo prazo que representam a
protecccedilatildeo do ambiente o crescimento econoacutemico e o bem-estar O duplo impacto das
alteraccedilotildees climaacuteticas e da crise econoacutemica faz-se sentir de uma forma particular no
mundo mariacutetimo os oceanos determinam o nosso clima e o sector mariacutetimo foi o motor
da globalizaccedilatildeo e da prosperidade
Por conseguinte eacute importante desenvolver o potencial econoacutemico da Europa
mariacutetima melhorar a acccedilatildeo dos poderes puacuteblicos nos mares e continuar a explorar as
sinergias que permitem o reforccedilo muacutetuo do crescimento econoacutemico e da estabilidade
ambiental Segundo a Comissatildeo Europeia a melhor forma de alcanccedilar estes objectivos eacute
avanccedilar em seis direcccedilotildees estrateacutegicas
Eacute necessaacuterio consolidar a governaccedilatildeo mariacutetima integrada Os progressos
alcanccedilados nos uacuteltimos anos devem ser traduzidos em estruturas integradas eficazes a
todos os niacuteveis de governaccedilatildeo As instituiccedilotildees da UE os Estados-Membros e as regiotildees
costeiras tecircm uma responsabilidade particular na integraccedilatildeo da poliacutetica mariacutetima a
montante e na adopccedilatildeo de programas coerentes e comuns para os assuntos mariacutetimos
contrariando a tendecircncia prevalecente para pensar a poliacutetica sectorial de uma forma
isolada A participaccedilatildeo das partes interessadas na definiccedilatildeo das poliacuteticas mariacutetimas deve
igualmente ser consagrada de forma mais permanente nas estruturas de governaccedilatildeo
resultando num diaacutelogo mais intenso entre a UE os Governos dos Estados-Membros e
as regiotildees costeiras que frequentemente detecircm as competecircncias fundamentais
necessaacuterias para uma abordagem integrada dos assuntos mariacutetimos Pela mesma razatildeo
seria conveniente criar uma plataforma intersectorial de diaacutelogo entre as partes
interessadas sobre os assuntos mariacutetimos113
113
COM (2009) 540 final 11
66
Os instrumentos poliacuteticos transectoriais satildeo fundamentais para fomentar o
desenvolvimento econoacutemico a monitorizaccedilatildeo do ambiente a seguranccedila e o respeito da
legislaccedilatildeo nos oceanos e mares da Europa Em especial o ordenamento do espaccedilo
mariacutetimo a par de um maior conhecimento do meio marinho pode incentivar
investimentos econoacutemicos consideraacuteveis e melhorar drasticamente a forma como
gerimos os nossos espaccedilos mariacutetimos preservando os seus ecossistemas Deve pois
converter-se num instrumento praacutetico a todos os niacuteveis de governaccedilatildeo relevantes e
contar com os mecanismos necessaacuterios para garantir um processo decisoacuterio comum
sobre os investimentos transfronteiriccedilos A integraccedilatildeo da vigilacircncia mariacutetima pode
contribuir para modificar a forma como as autoridades nacionais executam objectivos
essenciais como a luta contra a imigraccedilatildeo ilegal a protecccedilatildeo da navegaccedilatildeo comercial e
a protecccedilatildeo dos recursos naturais Os Estados-Membros e a Comissatildeo teratildeo de continuar
a colaborar nestes domiacutenios para que os processos iniciados nos uacuteltimos dois anos
possam alcanccedilar os resultados previstos114
A definiccedilatildeo dos limites de sustentabilidade das actividades humanas com um
impacto no meio marinho nos proacuteximos anos no acircmbito da Directiva-Quadro
ldquoEstrateacutegia Marinhardquo traraacute clareza e permitiraacute criar uma plataforma para o
desenvolvimento de todas as actividades mariacutetimas tendo em conta os seus efeitos
cumulativos Por esta razatildeo a aplicaccedilatildeo desta directiva continuaraacute a constituir um
objectivo fundamental da PMIE que deveraacute igualmente reforccedilar a cooperaccedilatildeo entre
todos os sectores e serviccedilos afectados nomeadamente entre as ciecircncias marinhas e a
poliacutetica para o meio marinho115
As estrateacutegias baseadas nas bacias mariacutetimas satildeo fundamentais para o ecircxito da
PMIE pois permitem adaptar as prioridades e os instrumentos poliacuteticos aos contextos
geograacutefico econoacutemico e poliacutetico especiacuteficos de cada grande regiatildeo mariacutetima Um
elemento essencial para que a PMIE seja bem sucedida eacute a cooperaccedilatildeo com e entre os
Estados-Membros e as regiotildees que partilham bacias mariacutetimas e sendo necessaacuterio esta
cooperaccedilatildeo deveraacute ser acompanhada de um diaacutelogo apropriado com os paiacuteses terceiros
que partilham bacias mariacutetimas com a UE As acccedilotildees a niacutevel das sub-bacias podem
igualmente ser uacuteteis e constituir exemplos positivos e de boas praacuteticas116
114
COM (2009) 540 final 11 115
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COM (2009) 540 final 12
67
Deveraacute prestar-se uma maior atenccedilatildeo agrave dimensatildeo internacional da PMIE A
Europa deve assumir um papel de motor na melhoria da governaccedilatildeo mariacutetima agrave escala
mundial como jaacute o fez no que respeita agrave pirataria ou agraves praacuteticas de pesca destrutivas A
Comissatildeo pretende reforccedilar o diaacutelogo com um nuacutemero limitado dos seus principais
parceiros mariacutetimos assim como a sua participaccedilatildeo em foacuteruns internacionais e
processos informais117
No presente contexto de crise econoacutemica a execuccedilatildeo da PMIE deveraacute recentrar-se
no crescimento econoacutemico no emprego e na inovaccedilatildeo sustentaacuteveis Por conseguinte no
futuro a UE deve explorar as sinergias entre a poliacutetica energeacutetica comunitaacuteria e a PMIE
promover a produccedilatildeo de energia no mar nomeadamente as formas de energia
renovaacuteveis e utilizar mais o mar para o transporte de energia por condutas redes
submarinas e navios Seraacute igualmente necessaacuterio fortalecer os viacutenculos entre a poliacutetica
comunitaacuteria de combate agraves alteraccedilotildees climaacuteticas e a PMIE desenvolvendo uma
estrateacutegia de adaptaccedilatildeo das zonas costeiras e mariacutetimas agraves alteraccedilotildees climaacuteticas com
vista a proteger as infra-estruturas costeiras e preservar a biodiversidade marinha Eacute
importante garantir que as zonas mariacutetimas e costeiras entrem plenamente em conta no
debate em curso sobre a coesatildeo territorial
A UE deve aleacutem disso promover ainda mais o transporte mariacutetimo a fim de
favorecer a co-modalidade pocircr em praacutetica o conceito de auto-estradas do mar e
melhorar o programa de transporte mariacutetimo de curta distacircncia da UE Ainda no acircmbito
do objectivo de impulsionar o desenvolvimento econoacutemico das actividades mariacutetimas
seraacute necessaacuterio encontrar a forma e os meios de estimular o emprego mariacutetimo e o
investimento na frota embandeirada da UE continuando todavia a apostar firmemente
no conceito de navios ecoloacutegicos Com efeito o apoio agrave inovaccedilatildeo e agrave investigaccedilatildeo a
favor de navios com baixo niacutevel de emissotildees ou mesmo com emissotildees nulas continuaraacute
a constituir a resposta principal da Comunidade agrave situaccedilatildeo do sector da construccedilatildeo
naval tatildeo importante do ponto de vista estrateacutegico Desta maneira a UE poderaacute
proporcionar aos estaleiros navais europeus e agrave europeia induacutestria do equipamento de
navios uma vantagem tecnoloacutegica sobre os seus concorrentes noutras regiotildees do mundo
e tornar o transporte mariacutetimo mais seguro e sustentaacutevel em especial ao longo das
costas da Europa118
117
COM (2009) 540 final 12 118
COM (2009) 540 final 12
68
Cap V ndash Estrateacutegia Nacional para o Mar
ldquoA Estrateacutegia Nacional para o Mar (ENM) constitui um instrumento poliacutetico
fundamental para que Portugal possa proteger e valorizar o inestimaacutevel recurso que o
oceano representa para o nosso paiacutesrdquo Cit pelo Dr Joatildeo Mira Gomes (ex-Secretaacuterio de
Estado da Defesa Nacional e dos Assuntos do Mar) na ENM 2007 p V)
Como referi no primeiro capiacutetulo a ligaccedilatildeo de Portugal ao mar ganhou especial
relevacircncia durante a eacutepoca dos Descobrimentos marcando decisivamente o iniacutecio do
processo de globalizaccedilatildeo As trocas comerciais culturais cientiacuteficas e tecnoloacutegicas daiacute
resultantes promoveram o grande desenvolvimento do nosso paiacutes e alteraram
definitivamente os processos de transmissatildeo de conhecimentos entre os povos Neste
capiacutetulo dedico-me agrave anaacutelise da evoluccedilatildeo entre 1998 e 2010 das principais dinacircmicas
mariacutetimas nacionais
Portugal actualmente dispotildee de uma das maiores zonas econoacutemicas exclusivas
(ZEE) da Europa com mais de 1700000 km2 o que corresponde a cerca de 18 vezes a
sua aacuterea terrestre existindo ainda a possibilidade de vir a contar com espaccedilos mariacutetimos
sob sua jurisdiccedilatildeo que poderatildeo exceder em muito a actual aacuterea da ZEE
Neste acircmbito a Estrutura de Missatildeo para a Extensatildeo da Plataforma Continental
(EMEPC) estaacute a trabalhar no sentido de determinar espaccedilos a reclamar por Portugal
para aleacutem das actuais 200 milhas naacuteuticas Assim a EMEPC elaborou a proposta
portuguesa chefiada pelo oceanoacutegrafo Manuel Pinto de Abreu que foi recentemente
apresentada agrave Comissatildeo de Limites para a Extensatildeo da Plataforma Continental (CLPC)
da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) Ateacute hoje a ONU recebeu 51 propostas de
Estados que querem ver aumentado o seu domiacutenio mariacutetimo Portugal foi o 44ordm paiacutes a
entregar a proposta A ONU encontra-se a avaliar a 16ordf proposta e prevecirc-se que a
decisatildeo relativa agrave proposta portuguesa seja conhecida em 2015
Caso seja aceite a proposta de alargamento pela ONU Portugal passaraacute a deter uma
aacuterea territorial equivalente 43 vezes agrave aacuterea de Portugal Continental Accedilores e Madeira
ou seja o equivalente agrave da Iacutendia e a segunda maior plataforma mundial a seguir aos
Estados Unidos da Ameacuterica
69
As Regiotildees Autoacutenomas da Madeira e dos Accedilores assumem aqui um papel de
destaque pelo seu posicionamento central nos espaccedilos mariacutetimos sob soberania ou
jurisdiccedilatildeo nacional
Este extenso espaccedilo mariacutetimo encerra alguns dos mais importantes ecossistemas
oceacircnicos a niacutevel global As caracteriacutesticas biogeograacuteficas e geomorfoloacutegicas das aacutereas
sob jurisdiccedilatildeo nacional englobam uma vasta biodiversidade marinha Os ambientes
insulares oceacircnicos o mar profundo e as planiacutecies abissais os montes e bancos
submarinos a dorsal meacutedio-atlacircntica119
os campos de fontes hidrotermais as
riquiacutessimas zonas estuarinas e lacustres os grandes canhotildees submarinos as zonas de
afloramento costeiro entre outros conferem a Portugal um patrimoacutenio natural uacutenico que
importa valorizar e preservar A este patrimoacutenio juntam-se os valores arqueoloacutegicos
culturais esteacuteticos e histoacutericos os recursos geoloacutegicos e minerais os recursos
energeacuteticos renovaacuteveis e os recursos biotecnoloacutegicos que no seu conjunto representam
um dos principais activos nacionais
Destaco tambeacutem o pioneirismo de Portugal ao niacutevel da concepccedilatildeo de um plano de
governacircncia integrado para os assuntos do Mar Refiro-me em particular ao relatoacuterio
da Comissatildeo Estrateacutegica dos Oceanos (CEO)ldquoO Oceano ndash Um Desiacutegnio Nacional
para o Seacuteculo XXIrdquo elaborado em 2004 que apresentou uma Estrateacutegia Nacional para o
Oceano Esta CEO dotou Portugal de uma nova visatildeo ldquoUm Oceano saudaacutevel
sustentaacutevel e seguro eacute o principal activo fiacutesico e sociocultural de Portugalrdquo e uma
missatildeo ldquoDestacar Portugal como uma naccedilatildeo mariacutetima da Uniatildeo Europeiardquoque
permita desenvolver e interiorizar colectivamente uma nova abordagem aos Oceanos
Para a prossecuccedilatildeo destas uacuteltimas a CEO baseou a sua estrateacutegia em cinco
objectivos que passo a enumerar
1) Valorizar a associaccedilatildeo de Portugal ao Oceano como Factor de Identidade
2) Assegurar o conhecimento e a protecccedilatildeo do Oceano
3) Promover o desenvolvimento sustentaacutevel de actividades econoacutemicas
4) Assumir uma posiccedilatildeo de destaque e especializaccedilatildeo em assuntos do Oceano
5) Construir uma estrutura institucional moderna de gestatildeo do oceano
119
A dorsal meacutedio-atlacircntica ou crista oceacircnica do Atlacircntico eacute uma cordilheira submarina que se estende
sob o Oceano Atlacircntico e o Oceano Aacutertico desde a latitude 87ordmN ateacute agrave ilha sub-antaacutertica de Bouvet agrave
latitude 54ordmS Os pontos mais elevados desta cordilheira emergem em vaacuterios locais formando ilhas
70
Em suma este valioso contributo surge da ldquonecessidade de encontrar mecanismos
de reforccedilo da identidade nacional que respondam agrave pressatildeo da homogeneizaccedilatildeo
cultural e agrave premecircncia de conceber um modelo de desenvolvimento sustentaacutevel que decirc
resposta agrave competitividade acrescida no quadro global em geral e no quadro europeu
em particular120
rdquo Este trabalho bem estruturado inovador e orientador serviu de
modelo-base para as actuais Estrateacutegia Nacional para o Mar e Poliacutetica Mariacutetima
Integrada Europeia
De facto Portugal goza de uma reputaccedilatildeo internacional de paiacutes mariacutetimo com
ideias e acccedilotildees proacuteprias sendo um activo contribuidor para a agenda global dos
oceanos
Depois de seacuteculos ligados ao mar natildeo se compreende muito bem nos dias de hoje
que o Mar seja para a maioria da sociedade portuguesa algo de distante
intangiacutevel e invisiacutevel121
No entanto saliento ainda que nos uacuteltimos anos em Portugal
foram dados passos importantes no que concerne agrave poliacutetica dos oceanos Entre os mais
significativos destaco
Em 1998 a Comissatildeo Mundial Independente para os Oceanos liderada
por Portugal e presidida pelo ex-Presidente da Repuacuteblica Dr Maacuterio Soares
aprovou o relatoacuterio ldquoO Oceano Nosso Futurordquo no acircmbito da Comissatildeo
Oceanograacutefica Intergovernamental da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a
Educaccedilatildeo Ciecircncia e Cultura (UNESCO)
O Ano Internacional dos Oceanos que se comemorou em 1998 na
sequecircncia de uma proposta apresentada por Portugal agrave Assembleia da Comissatildeo
Oceanograacutefica Intergovernamental da UNESCO e adoptada pela Assembleia
Geral das Naccedilotildees Unidas serviu de elemento integrador da Exposiccedilatildeo Mundial
de Lisboa (Expo 98) subordinada ao tema ldquoO Oceano um patrimoacutenio para o
futurordquo
Ainda nesse ano as Resoluccedilotildees do Conselho de Ministros nuacutemeros
8898 8998 e 9098 de 10 de Julho criaram respectivamente
- A Comissatildeo Oceanograacutefica Intersectorial com o objectivo de reforccedilar a
capacidade de resposta do sector de investigaccedilatildeo e desenvolvimento em ciecircncias e
120
Discurso do Primeiro-Ministro Duratildeo Barroso - XV Governo Constitucional (200204) ndash durante a
cerimoacutenia de tomada de posse da Comissatildeo Estrateacutegica dos Oceanos no dia 972003 121
ENM 2006-2016 p 2
71
tecnologias do mar e serviccedilos oceanograacuteficos afins mediante uma estrateacutegia que
permita compatibilizar acccedilotildees congregar esforccedilos e evitar duplicaccedilotildees optimizando
o uso dos meios humanos e das infra-estruturas disponiacuteveis
- O Programa Dinamizador das Ciecircncias e Tecnologias do Mar com o
objectivo de dar a este domiacutenio de investigaccedilatildeo baacutesica e aplicada a prioridade que ela
requer (numa perspectiva) de natureza estruturante e interdisciplinar
- A Comissatildeo Interministerial para a Delimitaccedilatildeo da Plataforma
Continental com vista a considerar a possibilidade da extensatildeo do limite exterior da
plataforma continental para aleacutem das 200 milhas naacuteuticas no quadro previsto pela
Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas sobre o Direito do Mar
Em 2003 foi criada a Comissatildeo Estrateacutegica dos Oceanos (Resoluccedilatildeo do
Conselho de Ministros nordm 812003 de 17 de Junho) com o objectivo de elaborar
os elementos de definiccedilatildeo de uma estrateacutegia nacional para o oceano Esta
comissatildeo produziu em 2004 um relatoacuterio com um conjunto de cerca de 250
recomendaccedilotildees e propostas de acccedilatildeo estrateacutegicas
Em 2005 foi criada a Estrutura de Missatildeo para a Extensatildeo da Plataforma
Continental (Resoluccedilatildeo do Conselho de Ministros nordm 92005 de 17 de Janeiro)
com o objectivo de preparar uma proposta de extensatildeo da plataforma continental
de Portugal para aleacutem das 200 milhas naacuteuticas para apresentaccedilatildeo agrave Comissatildeo
de Limites da Plataforma Continental das Naccedilotildees Unidas Esta substituiu a ex-
Comissatildeo Interministerial para a Delimitaccedilatildeo da Plataforma Continental
Em 2005 foi ainda criada a Estrutura de Missatildeo para os Assuntos do Mar
(EMAM) Resoluccedilatildeo do Conselho de Ministros nordm 1282005 de 10 de Agosto
com o objectivo de dar continuidade ao trabalho jaacute desenvolvido e a missatildeo de
preparar uma proposta que estabeleccedila as medidas que devem ser implementadas
para o desenvolvimento de uma poliacutetica integrada do Governo para os assuntos
do mar e para uma acccedilatildeo articulada de todas as entidades com competecircncia nas
aacutereas ligadas ao mar
Em 2006 foi dado iniacutecio agrave instalaccedilatildeo em Lisboa da Agecircncia Europeia de
Seguranccedila Mariacutetima que desempenha um papel fundamental no que se refere
aos aspectos relativos agrave recolha registo e avaliaccedilatildeo de dados teacutecnicos nos
domiacutenios da seguranccedila do traacutefego e da poluiccedilatildeo marinha
72
Em 2007 durante a Presidecircncia Portuguesa do Conselho Europeu
procedeu-se agrave organizaccedilatildeo de uma Conferecircncia Ministerial sobre uma Poliacutetica
Mariacutetima para a Uniatildeo Europeia
A submissatildeo da proposta de extensatildeo da plataforma continental de
Portugal para aleacutem das 200 milhas naacuteuticas decorreu a 11 de Maio de 2009
junto de Hariharan Pakshi Rajan da CLPC da ONU
A primeira apresentaccedilatildeo da mesma proposta de extensatildeo da plataforma
continental portuguesa teve lugar no dia 13 de Abril de 2010 na sede das ONU
em Nova Iorque
Refiro mais uma vez que Portugal conjuntamente com Franccedila e Espanha foram
dos primeiros Estados-membros a dar contributos para o Livro Verde
Relevo ainda que a centralidade e a dimensatildeo atlacircntica dos espaccedilos mariacutetimos sob
soberania ou jurisdiccedilatildeo nacional reforccedilam o papel-chave que Portugal podedeve
desempenhar no quadro da Uniatildeo Europeia como elemento de ligaccedilatildeo privilegiada aos
Paiacuteses Africanos de Liacutengua Oficial Portuguesa (PALOP) bem como ao continente
americano e ao resto do Mundo A posiccedilatildeo geoestrateacutegica do espaccedilo mariacutetimo sob
soberania ou jurisdiccedilatildeo nacional impotildee ainda importantes desafios e responsabilidades
nas aacutereas da defesa nacional seguranccedila e vigilacircncia imigraccedilatildeo ilegal combate agrave
poluiccedilatildeo apoio agrave navegaccedilatildeo e salvaguarda da vida humana no mar mas engloba
tambeacutem um conjunto de oportunidades de desenvolvimento econoacutemico e de ligaccedilatildeo
entre as vaacuterias regiotildees do territoacuterio nacional
A mais-valia para Portugal da ENM eacute tornar o mar um projecto nacional Para
tal deve apostar numa abordagem integrada da governaccedilatildeo dos assuntos do mar que
pela primeira vez congregue os esforccedilos das diferentes tutelas dos agentes econoacutemicos
da comunidade cientiacutefica das organizaccedilotildees natildeo governamentais e tambeacutem da sociedade
civil Deste modo co-responsabiliza todos os actores para o aproveitamento do mar
como factor diferenciador do desenvolvimento econoacutemico e social valorizando e
preservando este valioso patrimoacutenio
O Estado tem um papel facilitador e promotor de condiccedilotildees de desenvolvimento
econoacutemico e social mas cabe agraves empresas e agrave sociedade civil o papel principal na
concretizaccedilatildeo dos objectivos que satildeo a razatildeo de ser da ENM A obtenccedilatildeo de resultados
tangiacuteveis soacute seraacute perceptiacutevel em algum casos a meacutediolongo prazo exigindo por isso
73
uma aposta raacutepida mas persistente nas aacutereas ligadas agrave educaccedilatildeo capacitaccedilatildeo de meios
humanos criaccedilatildeo e optimizaccedilatildeo de infra-estruturas e investigaccedilatildeo e desenvolvimento
51 Princiacutepios e objectivos
A proclamaccedilatildeo do mar como principal factor diferenciador e de identidade
nacional assumindo-o como prioridade estrateacutegica e um projecto nacional reclama a
existecircncia de uma visatildeo simultaneamente ambiciosa e realista crediacutevel e atraente
Pretendem-se criar as condiccedilotildees e mecanismos que possibilitem aos diversos
agentes desenvolver de forma equilibrada e articulada as muacuteltiplas actividades ligadas
ao mar tendo em vista a promoccedilatildeo da qualidade do ambiente marinho do crescimento
econoacutemico e a criaccedilatildeo de novos empregos e oportunidades122
A ENM permite a organizaccedilatildeo de planos de acccedilatildeo orientados para a mobilizaccedilatildeo a
educaccedilatildeo e a capacitaccedilatildeo de toda a sociedade portuguesa e dos seus parceiros
internacionais A ENM visa o aproveitamento e utilizaccedilatildeo sustentaacutevel e responsaacutevel do
oceano e das zonas costeiras e criaccedilatildeo de ferramentas de gestatildeo que tornem os processos
transparentes rigorosos e crediacuteveis
52 Pilares estrateacutegicos
As razotildees que tornam a formulaccedilatildeo a implementaccedilatildeo e a avaliaccedilatildeo da ENM um
enorme desafio satildeo de vaacuteria ordem a saber
- Em primeiro lugar a reconhecida falta de conhecimento de compreensatildeo e de
percepccedilatildeo quer devido agrave complexidade dos ecossistemas oceacircnicos e costeiros e do real
impacto e inerentes consequecircncias das actividades humanas quer devido agrave difiacutecil
avaliaccedilatildeo do potencial das actividades econoacutemicas que dificultam a tomada de decisatildeo
122
ENM 2006-2016 p 10
74
- Em segundo lugar a dificuldade verificada na partilha de responsabilidade pela
gestatildeo do oceano como recurso comum e espaccedilo tridimensional devido agrave
interdependecircncia e aos conflitos que se verificam entre as vaacuterias utilizaccedilotildees interesses
jurisdiccedilotildees e processos de gestatildeo
- Em terceiro lugar o oceano e as zonas costeiras representam hoje a niacutevel
mundial uma grande oportunidade para novas actividades econoacutemicas que face aos
avanccedilos tecnoloacutegicos recentes comeccedilam a orientar o seu interesse e acccedilatildeo para o mar
obrigando a novas formas de gestatildeo e de defesa e salvaguarda activa dos interesses
nacionais
Para que Portugal aproveite as oportunidades existentes e mitigue as dificuldades
as linhas orientadoras da ENM assentam em trecircs pilares estrateacutegicos
Estes satildeo os factores criacuteticos de sucesso ou seja aquilo que se torna indispensaacutevel
assegurar para valorizar definitivamente a importacircncia do mar como elemento
diferenciador projectando-o no futuro como um dos principais motores de
desenvolvimento do Paiacutes
A construccedilatildeo de uma economia mariacutetima proacutespera ao serviccedilo da qualidade de vida
e do bem-estar social e respeitando o ambiente tem de ser suportada pelos seguintes
pilares estrateacutegicos123
O conhecimento
O planeamento e o ordenamento espaciais
A promoccedilatildeo e a defesa activas dos interesses nacionais
No que concerne ao conhecimento utilizado aqui no seu sentido mais lato soacute
atraveacutes de uma aposta coerente e sustentada na investigaccedilatildeo cientiacutefica e no
desenvolvimento de novas tecnologias aplicadas ao oceano e agraves zonas costeiras eacute
possiacutevel criar uma base soacutelida para as decisotildees de governaccedilatildeo numa perspectiva de
desenvolvimento sustentaacutevel e de gestatildeo integrada Adicionalmente a formaccedilatildeo a
educaccedilatildeo a sensibilizaccedilatildeo a difusatildeo da informaccedilatildeo e o respectivo acesso bem como o
uso de indicadores objectivos de suporte agraves vaacuterias poliacuteticas sectoriais e intersectoriais
satildeo certamente os melhores factores de credibilidade e dinamizaccedilatildeo do investimento
puacuteblico e privado nas actividades relacionadas com o mar
123
ENM 2006-2016 p 12
75
O planeamento e o ordenamento espaciais satildeo as ferramentas de governaccedilatildeo
promovidas pelas entidades competentes indispensaacuteveis para assegurar uma visatildeo de
conjunto assente nos princiacutepios do desenvolvimento sustentaacutevel da precauccedilatildeo e da
abordagem ecossisteacutemica atraveacutes do levantamento e ordenamento de todas as
utilizaccedilotildees existentes e futuras permitindo dar suporte a uma gestatildeo verdadeiramente
integrada progressiva e adaptativa do oceano e da zona costeira e do desenvolvimento
das actividades associadas
A promoccedilatildeo e a defesa activas dos interesses nacionais obtecircm-se pelo
envolvimento empenhado e competente no acircmbito das relaccedilotildees bilaterais e
multilaterais prosseguidas atraveacutes da participaccedilatildeo cooperaccedilatildeo e contribuiccedilatildeo proacute-
activas nos diversos fora internacionais Mais uma vez estas acccedilotildees tecircm de ser
suportadas por uma estrutura de coordenaccedilatildeo que garanta a articulaccedilatildeo a niacutevel nacional
nas suas vertentes diplomaacutetica poliacutetica econoacutemica social ambiental cientiacutefica
tecnoloacutegica de defesa nacional e seguranccedila reforccedilando a imagem a soberania e a
identidade nacionais
O eventual insucesso das medidas ou acccedilotildees associadas a qualquer um destes trecircs
pilares estrateacutegicos condicionaraacute de forma significativa o desenvolvimento efectivo de
qualquer poliacutetica ligada ao oceano que integre de forma sustentaacutevel as vertentes
econoacutemica social e ambiental
53 Acccedilotildees e medidas
O estabelecimento e aplicaccedilatildeo de acccedilotildees e medidas que materializem os trecircs
pilares estrateacutegicos prioritaacuterios eacute fundamental para o sucesso das actividades
econoacutemicas onde se cruzam e renovam sectores tradicionais e sectores em
desenvolvimento como suporte essencial para a criaccedilatildeo de riqueza e melhoria do
crescimento coesatildeo social e qualidade de vida124
124
ENM 2006-2016 p 17
76
Soacute com uma ENM assente nestes alicerces seraacute possiacutevel alcanccedilar os objectivos
preconizados nas diferentes poliacuteticas nacionais nomeadamente nas seguintes aacutereas
Transportes
Apostando na competitividade dos portos nacionais e fomentando o transporte
mariacutetimo enquanto modo de transporte menos poluente Neste contexto importa
promover a articulaccedilatildeo do transporte mariacutetimo com outros modos de transporte
acrescentando valor atraveacutes de cadeias logiacutesticas bem como atraveacutes da implementaccedilatildeo
de instrumentos de normalizaccedilatildeo e simplificaccedilatildeo de procedimentos tais como a janela
uacutenica portuaacuteria125
Energia
Apostando nas energias renovaacuteveis contribuindo para a reduccedilatildeo da dependecircncia
energeacutetica externa e da emissatildeo de gases com efeito de estufa aproveitando os recursos
existentes no mar agilizando os procedimentos de licenciamento mobilizando e
atraindo investimento privado e apostando nas inovaccedilotildees tecnoloacutegicas que permitam
responder aos desafios da competitividade deste sector e ao desenvolvimento de uma
induacutestria que produza bens equipamentos e serviccedilos que potenciem o emprego as
exportaccedilotildees de equipamentos e tecnologia e a reconversatildeo de induacutestrias como por
exemplo as metalo-mecacircnicas e os estaleiros navais assegurando tambeacutem o melhor
conhecimento das aptidotildees geoloacutegicas do deep offshore nomeadamente para fins
energeacuteticos com origem foacutessil
Aquicultura e pescas
Assegurando a sustentabilidade da exploraccedilatildeo de recursos criando medidas que
tornem mais justa a distribuiccedilatildeo de rendimentos na cadeia de valor diversificando as
actividades econoacutemicas das comunidades piscatoacuterias implementando aacutereas marinhas
protegidas recuperando ecossistemas degradados reforccedilando o sistema de recifes
125
A janela uacutenica portuaacuteria garante que os agentes econoacutemicos passem a relacionar-se com cada porto
atraveacutes de um uacutenico canal electroacutenico uma espeacutecie de balcatildeo uacutenico virtual tendo a possibilidade de tratar
desta forma todos os processos administrativos para o despacho de mercadorias e navios Desta forma
ldquosimplifica-se os processos para melhor servir as empresasrdquo conforme referiu o ex-secretaacuterio de Estado
dos Assuntos Fiscais De acordo com Joatildeo Amaral Tomaz em 2005 ldquo99 por cento das mercadorias
importadas em Portugal chegaram pela via mariacutetimardquo O valor representa ldquoa entrada de 15000 navios o
que em termos de processo administrativo corresponde a 15 formulaacuterios e a cerca de 100 paacuteginas por
naviordquo No total satildeo quase ldquoum milhatildeo e quinhentas mil paacuteginas de papel que deveratildeo ser eliminadasrdquo
77
artificiais fomentando a investigaccedilatildeo e desenvolvimento em sistemas de aquicultura
offshore garantindo a sua rentabilidade econoacutemica e sustentabilidade ambiental
Defesa nacional e seguranccedila
Clarificando as atribuiccedilotildees aacutereas de intervenccedilatildeo e coordenaccedilatildeo das entidades do
Sistema de Autoridade Mariacutetima Intervindo na prevenccedilatildeo e combate agrave poluiccedilatildeo na
seguranccedila da navegaccedilatildeo e protecccedilatildeo e salvaguarda da vida humana no mar no acircmbito
dos sistemas nacionais para a busca e salvamento na fiscalizaccedilatildeo mariacutetima na
mitigaccedilatildeo de riscos naturais e no apoio agraves populaccedilotildees no acircmbito do Serviccedilo Nacional de
Protecccedilatildeo Civil
Ciecircncia tecnologia e inovaccedilatildeo
Investindo em recursos humanos qualificados projectos e infra-estruturas de
ciecircncia e tecnologia associadas ao oceano optimizando os recursos existentes
fomentando e reforccedilando a cooperaccedilatildeo e partilha de meios entre instituiccedilotildees e
participando activamente nas redes internacionais
Ambiente e conservaccedilatildeo da natureza
Assegurando o bom funcionamento e manutenccedilatildeo dos ecossistemas marinhos e
costeiros promovendo o conhecimento e protecccedilatildeo da biodiversidade marinha
recuperando habitats degradados e salvaguardando as aacutereas essenciais para a
conservaccedilatildeo e gestatildeo dos recursos vivos e natildeo vivos nomeadamente atraveacutes da criaccedilatildeo
de uma rede de aacutereas marinhas protegidas assegurando o combate e controlo da
poluiccedilatildeo incluindo o efeito das actividades humanas realizadas em meio terrestre sobre
o meio marinho combatendo e prevenindo a introduccedilatildeo de espeacutecies autoacutectones e
assegurando a monitorizaccedilatildeo global do estado de sauacutede do ambiente marinho
Educaccedilatildeo cultura e sensibilizaccedilatildeo
Inserindo nos programas escolares o tema oceano em todas as suas dimensotildees
promovendo a mediatizaccedilatildeo das actividades mariacutetimas junto da sociedade apostando
nos centros de interpretaccedilatildeo aquaacuterios oceanaacuterios e museus dedicados ao mar e
fomentando o ensino naval e naacuteutico a valorizaccedilatildeo do patrimoacutenio cultural subaquaacutetico e
a educaccedilatildeo ambiental
78
Turismo lazer desportos e naacuteutica de recreio
Valorizando o mar como diferenciador da oferta turiacutestica e estimulando as
actividades associadas ao mar que permitam a ocupaccedilatildeo de tempos livres o lazer e o
desporto desenvolvendo condiccedilotildees para um faacutecil e natural acesso ao mar promovendo
o turismo naacuteutico e oceacircnico atraveacutes da aposta na organizaccedilatildeo de provas desportivas
internacionais de grande prestiacutegio e em actividades mariacutetimo-turiacutesticas como a vela o
remo a canoagem o surf o mergulho e a observaccedilatildeo de aves e cetaacuteceos fomentando o
turismo associado agrave actividade da pesca tirando partido das importantes aacutereas naturais
classificadas existentes na nossa costa onde assumem um importante papel as Regiotildees
Autoacutenomas dos Accedilores e da Madeira para dinamizar o turismo de natureza
promovendo o turismo de cruzeiros jaacute em franca expansatildeo no nosso paiacutes
Poliacutetica externa
Promovendo a centralidade atlacircntica de Portugal e as relaccedilotildees externas com outros
continentes nomeadamente as relaccedilotildees transatlacircnticas a desenvolver no acircmbito da
comunidade dos PALOP afirmando Portugal como o paiacutes mariacutetimo da Europa e
defendendo os interesses nacionais em todos os fora internacionais relevantes
Foram identificadas trecircs acccedilotildees prioritaacuterias126
que tendo em consideraccedilatildeo a
exigecircncia do contexto actual satildeo consideradas como sendo de implementaccedilatildeo de curto
prazo
Criar uma comissatildeo de coordenaccedilatildeo interministerial para a
implementaccedilatildeo da ENM E assim a articulaccedilatildeo intergovernamental dos assuntos
do mar seraacute desta forma garantida de modo permanente mantendo-se as
competecircncias e aacutereas de acccedilatildeo vertical e sectorial de cada tutela
Melhorar a articulaccedilatildeo e coordenaccedilatildeo das posiccedilotildees nacionais relativas
aos assuntos do mar nos diversos fora internacionais Esta eacute uma acccedilatildeo central
para afirmar Portugal como um paiacutes que defende de forma coerente os seus
interesses e assume a lideranccedila dos dossiers internacionais no que respeita aos
assuntos do mar
Assegurar o acompanhamento teacutecnico diplomaacutetico e poliacutetico da
discussatildeo puacuteblica sobre o Livro Verde da Poliacutetica Mariacutetima Europeia e do
126
ENM 2006-2016 p18
79
processo subsequente durante o qual eacute fundamental que o Paiacutes se mobilize de
forma a garantir que Portugal se mantenha na vanguarda da nova abordagem aos
assuntos do mar ao niacutevel europeu atraveacutes de uma participaccedilatildeo esclarecida
eficaz e abrangente
Atenta agrave natureza marcadamente horizontal da ENM definiram-se um conjunto de
acccedilotildees estrateacutegicas que identificam medidas transversais que contribuem para criar
condiccedilotildees favoraacuteveis para o melhor aproveitamento do mar de forma sustentaacutevel A
implementaccedilatildeo destas acccedilotildees articuladas com as restantes estrateacutegias nacionais
permitiraacute operacionalizar os pilares estrateacutegicos definidos anteriormente acrescentando
valor agraves acccedilotildees actualmente em curso e contribuindo para o objectivo central de definir
o mar como um ldquoprojecto nacionalrdquo
Foram assim seleccionadas oito acccedilotildees estrateacutegicas127
a saber
A sensibilizaccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo da sociedade para a importacircncia do mar
A promoccedilatildeo do ensino e divulgaccedilatildeo nas escolas de actividades ligadas ao
mar
A promoccedilatildeo de Portugal como um centro de excelecircncia de investigaccedilatildeo
das ciecircncias do mar da Europa
O planeamento e ordenamento espacial das actividades
A protecccedilatildeo e recuperaccedilatildeo dos ecossistemas marinhos
O fomento da economia do mar
A aposta nas novas tecnologias aplicadas agraves actividades mariacutetimas
A defesa nacional a seguranccedila a vigilacircncia e a protecccedilatildeo dos espaccedilos
mariacutetimos sob soberania ou jurisdiccedilatildeo nacional
A proposta da Estrateacutegia Nacional para o Mar foi aprovada na generalidade em
Conselho de Ministros a 4 de Outubro de 2006 A Estrateacutegia Nacional para o Mar
assume-se como um documento dinacircmico aberto aos ajustamentos que a evoluccedilatildeo das
suas condicionantes e a avaliaccedilatildeo da sua execuccedilatildeo vierem a recomendar Vigora no
periacuteodo de 2006 a 2016 ano em que deveraacute ser sujeita a uma revisatildeo global com base
num processo de avaliaccedilatildeo e discussatildeo puacuteblica
127
ENM 2006-2016 pp 22-23
80
Relativamente agrave ENM tenho a comentar que depois da anaacutelise efectuada reparei na
inexistecircncia de um programa de acccedilatildeo efectivo (prazos orccedilamentaccedilatildeo parcerias
instrumentos financeiros ao dispocircr etc) anexo agrave poliacutetica nacional para o mar Natildeo
obstante a ratificaccedilatildeo do Conselho de Ministros da ENM esta Estrateacutegia sugere que
cabe agrave sociedade civil e agrave iniciativa privada o papel principal na concretizaccedilatildeo dos
objectivos da Estrateacutegia sendo o Estado relegado para um papel de mero facilitador
Satildeo de facto os stakeholders os principais responsaacuteveis pela implementaccedilatildeo da
Estrateacutegia mas teraacute de ser o Estado a criar as condiccedilotildees favoraacuteveis para o iniacutecio deste
novo ciclo A ver pelas oito acccedilotildees estrateacutegicas propostas a sua boa execuccedilatildeo tem no
Estado o seu principal responsaacutevel Soacute com um Estado determinado e perseverante a
acccedilatildeo estrateacutegica pode ser verdadeiramente ldquolanccedilada ao marrdquo
No entanto percebemos que nos discursos oficiais nomeadamente de Sua
Excelecircncia o Presidente da Repuacuteblica Professor Aniacutebal Cavaco Silva os assuntos do
mar estatildeo na ordem do dia conforme constatei nos excertos do seu discurso128
na
Assembleia da Repuacuteblica durante a 36ordf Sessatildeo Comemorativa do 25 de Abril de 2010
(hellip)ldquoTemos de repensar a nossa relaccedilatildeo com o mar Repensar o modo como
exploramos as oportunidades que ele nos oferece Importa afirmar a ideia de que o mar
eacute um activo econoacutemico maior do nosso futurordquo (hellip)rdquoAgraves vantagens decorrentes da nossa
geografia da Histoacuteria e da imagem externa do Paiacutes podemos ainda juntar as
estrateacutegias e poliacuteticas para o mar desenhadas nos uacuteltimos seis anos em Portugal e na
proacutepria Uniatildeo Europeia Natildeo eacute necessaacuterio fazer mais estudos e relatoacuterios Basta agir
em cumprimento daquelas estrateacutegiasrdquo (hellip) ldquoEacute essencial que criemos condiccedilotildees e
incentivemos os agentes econoacutemicos a investir no conjunto dos sectores que ligam
economicamente Portugal ao marhellipPortugal e os Portugueses precisam de desiacutegnios
que lhes decircem mais coesatildeo mais auto-estima e mais propoacutesito de existir O mar eacute
certamente um delesrdquo (hellip)
128
Este discurso pode ser consultado na integra no site oficial da Presidecircncia da Repuacuteblica Portuguesa
httpwwwpresidenciaptidc=22ampidi=39445
81
54 O Hypercluster da economia do mar
ldquoUm domiacutenio de potencial estrateacutegico para o desenvolvimento da economia
portuguesardquo
Dentro das poliacuteticas mariacutetimas nacionais natildeo posso deixar de enaltecer o estudo de
economia poliacutetica realizado pela equipa multi-disciplinar da SaeR ndash Sociedade de
avaliaccedilatildeo estrateacutegica e risco Lda ndash denominado Hypercluster da Economia do Mar129
sob a coordenaccedilatildeo do ex-ministro das Financcedilas Professor Ernacircni Lopes por iniciativa
da Associaccedilatildeo Comercial de Lisboa Trata-se de uma obra de referecircncia cuja leitura
considero indispensaacutevel a todos aqueles (decisores poliacuteticos empresaacuterios acadeacutemicos e
sociedade civil) que estatildeo empenhados em deixar aos seus descendentes um paiacutes
diferenciado internacionalmente relevante e seguramente mais proacutespero
O estudo propriamente dito estaacute dividido em trecircs partes primeira parte ndash a
fundamentaccedilatildeo segunda parte ndash a avaliaccedilatildeo estrateacutegica das componentes e a visatildeo de
conjunto terceira parte ndash a estrateacutegia e os planos de acccedilatildeo
O estudo confronta-nos com o facto amplamente demonstrado de que a economia
portuguesa estaacute a sofrer uma descontinuidade nos seus padrotildees de modernizaccedilatildeo e nos
seus modelos de desenvolvimento e a anaacutelise prospectiva da economia nacional conduz
a um cenaacuterio espontacircneo de definhamento e agrave necessidade de se caminhar para um
cenaacuterio de afirmaccedilatildeo estrateacutegica para Portugal
O hypercluster configura-se como simultaneamente uma forccedila propulsora e um
catalisador capaz de organizar e dinamizar um conjunto de sectores com elevado
potencial de crescimento e inovaccedilatildeo e capacidade para atraiacuterem recursos e
investimentos de qualidade nomeadamente externos
Segundo o estudo a economia do mar representa hoje apenas 2 do PIB e gera
cerca de 75000 empregos o que eacute considerado muito abaixo do seu potencial face ateacute a
comparaccedilotildees internacionais com paiacuteses ou regiotildees proacuteximas O efeito multiplicador de
28 configura estas actividades como geradoras fortes de valor acrescentado admitindo-
129
Hypercluster do Mar - httpwwwsaerptupUPLOADbin2_imagem_0955656001242642284-657pdf
82
se que possam vir a representar em 2025 directamente cerca de 45 do PIB valor
que sobe para 10 a 12 englobando os valores indirectos
Haveraacute assim que criar nas palavras inspiradoras do Professor Ernacircni Lopes um
novo desiacutegnio nacional tornar Portugal num actor mariacutetimo relevante a niacutevel global
na viragem do I para o II quartel do seacuteculo XXI130
O estudo propotildee por fim um masterplan distribuiacutedo por quatro plataformas
diferentes de planos e acccedilotildees a saber
1) Planos prioritaacuterios
Englobando os componentes com maiores condiccedilotildees de atractividade e
competitividade e capacidades para servirem de motores catalisadores e formatadores
sisteacutemicos do conjunto (portos logiacutestica amp transportes mariacutetimos naacuteutica de recreio amp
turismo naacuteutico pesca aquicultura amp induacutestria do pescado visibilidade comunicaccedilatildeo
amp cultura mariacutetima e produccedilatildeo de pensamento estrateacutegico)
2) Planos de sustentaccedilatildeo imediata
Englobando os componentes fundamentais para o bom funcionamento da ldquolinha da
frenterdquo (serviccedilos mariacutetimos construccedilatildeo amp reparaccedilatildeo navais e obras mariacutetimas)
3) Planos de alimentaccedilatildeo
Englobando os componentes criadores de consistecircncia e sustentabilidade a longo
prazo com papel regenerador e inovador do conjunto (investigaccedilatildeo cientiacutefica inovaccedilatildeo
amp desenvolvimento ensino amp formaccedilatildeo defesa amp seguranccedila no mar e ambiente amp
conservaccedilatildeo da natureza)
4) Plano meta-oceano (prospectivo e de longo prazo)
O estudo propotildee tambeacutem algumas medidas consideradas determinantes no caminho
criacutetico para o sucesso da implementaccedilatildeo deste projecto Como por exemplo a criaccedilatildeo do
Foacuterum Empresarial da Economia do Mar131
(FEM)
130
Referecircncia feita no website da SaeR pelo coordenador no estudo sobre o Hypercluster da economia do
Mar Professsor Doutor Ernacircni Lopes
httpwwwsaerptindexphplop=conteudoampop=f7177163c833dff4b38fc8d2872f1ec6ampid=c24cd76e1ce
41366a4bbe8a49b02a028 131
Foacuterum Empresarial da Economia do Mar - httpwwwfempt
83
O FEM conheceu recentemente a sua constituiccedilatildeo estatutaacuteria conta no momento
com o Eng Fernando Ribeiro e Castro na qualidade de secretaacuterio-geral e estaacute
organizado de acordo com as componentes da economia do mar do hypercluster
apresentado
Por conseguinte originou a formaccedilatildeo de vaacuterios grupos de trabalho com o objectivo
principal de concretizar as linhas de acccedilatildeo previstas nos planos prioritaacuterios pondo
assim em marcha o Hypercluster da Economia do Mar em Portugal Actualmente
fazem parte do FEM cinquenta e oito empresas nacionais
55 Plano de Ordenamento do Espaccedilo Mariacutetimo (POEM)132
The problems of ocean space are closely interrelated and need to be considered as
a whole 133
O ordenamento do espaccedilo mariacutetimo eacute um instrumento fundamental da PMIE
Permite agraves autoridades puacuteblicas e agraves partes interessadas coordenarem a acccedilatildeo
respectiva e optimiza a utilizaccedilatildeo do espaccedilo marinho beneficiando o desenvolvimento
econoacutemico do meio marinho134
No acircmbito do Plano de Acccedilatildeo da ENM Resoluccedilatildeo do Conselho de Ministros nordm
1632006 de 12 de Dezembro foi aprovado um Programa de Acccedilatildeo que integra entre
outros o ldquoPlaneamento e ordenamento do espaccedilo e actividades mariacutetimasrdquo que prevecirc o
desenvolvimento de um POEM Este plano tem como objectivo ordenar os usos e
actividades do espaccedilo mariacutetimo presentes e futuros em estreita articulaccedilatildeo com a
132
Plano de Ordenamento do Espaccedilo Mariacutetimo - httppoeminagpt 133
ldquoOs problemas do espaccedilo mariacutetimo estatildeo estreitamente inter-relacionados e devem ser considerados
como um todordquo Preacircmbulo da Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas sobre o Direito do Mar (UNCLOS)
Adoptada em 1982 entrou em vigor em 1994 A Comunidade Europeia e todos os Estados-Membros da
UE satildeo Partes na UNCLOS 134
COM (2008) 791 final ldquoRoteiro para o ordenamento do espaccedilo mariacutetimo definiccedilatildeo de princiacutepios
comuns na EUrdquo p 2
84
gestatildeo da zona costeira garantindo a utilizaccedilatildeo sustentaacutevel dos recursos a sua
preservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo potenciando a utilizaccedilatildeo eficiente do espaccedilo marinho no
quadro de uma abordagem integrada e intersectorial e fomentando a importacircncia
econoacutemica ambiental e social do mar
Tendo presente que os instrumentos de gestatildeo territorial existentes a niacutevel nacional
tecircm um enfoque essencialmente na vertente terrestre natildeo contemplando a vertente
mariacutetima ou natildeo considerando o acircmbito multidimensional do mar isto eacute o fundo a
coluna de aacutegua a superfiacutecie o litoral e a atmosfera importa encontrar forma de regular
esta mateacuteria de forma coerente e articulada
Assim atraveacutes do Despacho nordm 322772008 da CIAM de 18 de Dezembro e
considerando o disposto no nordm 2 do artigo 38ordm do Decreto-Lei nordm 38099 de 22 de
Setembro na redacccedilatildeo dada pelo Decreto-Lei nordm 462009 de 20 de Fevereiro foi
determinada a elaboraccedilatildeo do Plano de Ordenamento do Espaccedilo Mariacutetimo
O POEM como plano sectorial deveraacute estabelecer e justificar as opccedilotildees e os
objectivos sectoriais com incidecircncia territorial e definir normas de execuccedilatildeo integrando
as peccedilas graacuteficas necessaacuterias agrave representaccedilatildeo da respectiva expressatildeo territorial e seraacute
acompanhado por um relatoacuterio que procede ao diagnoacutestico da situaccedilatildeo territorial sobre a
qual interveacutem e agrave fundamentaccedilatildeo teacutecnica das opccedilotildees e objectivos estabelecidos
O desenvolvimento deste plano considera como documento orientador a
Comunicaccedilatildeo da Comissatildeo Europeia denominado ldquoRoteiro para o ordenamento do
espaccedilo mariacutetimordquo
Visatildeo
ldquoEspaccedilo Mariacutetimo diferenciador da identidade nacional sustentaacutevel ordenado e
seguro suporte de actividades socioeconoacutemicas e potenciador de recursos assente no
conhecimento na inovaccedilatildeo e na especificidade geograacuteficardquo
Missatildeo
ldquoAfirmar a importacircncia econoacutemica ambiental e social do Mar assente na
promoccedilatildeo do conhecimento dos recursos naturais e das actividades existentes e
potenciais e no ordenamento integrado e gestatildeo adaptativa dos usos que se desenvolvem
no espaccedilo mariacutetimo em estreita articulaccedilatildeo com a gestatildeo da zona costeira com o
85
normativo internacional comunitaacuterio e nacional e demais instrumentos de planeamento
sectorial e de gestatildeo do territoacuterio envolvendo os diferentes actores e agentesrdquo
Discussatildeo Puacuteblica
A Proposta do Plano de Ordenamento do Espaccedilo Mariacutetimo (POEM) e o respectivo
Relatoacuterio Ambiental encontram-se concluiacutedos tecnicamente e aprovados pela respectiva
Equipa Multidisciplinar Nos termos previstos do artigo 40ordm do Decreto-Lei nordm 38099
de 22 de Setembro na sua actual redacccedilatildeo faz-se saber que a Discussatildeo Puacuteblica do
POEM decorre entre o periacuteodo de 29 de Novembro de 2010 a 22 de Fevereiro de 2011
56 Programa ldquoPolis do Litoralrdquo
ldquoOperaccedilotildees integradas de requalificaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo da orla costeirardquo
Como verificamos no Livro Verde as zonas costeiras assumem uma importacircncia
estrateacutegica em termos ambientais econoacutemicos sociais e culturais
A resoluccedilatildeo dos seus problemas ndash designadamente o controlo dos processos
erosivos da ocupaccedilatildeo urbana de zonas de risco da destruiccedilatildeo de habitats e a perda de
biodiversidade e do decliacutenio das actividades econoacutemicas ndash revela-se prioritaacuteria no
acircmbito de uma poliacutetica de desenvolvimento sustentaacutevel implicando um equiliacutebrio e
interacccedilatildeo indispensaacuteveis entre a conservaccedilatildeo dos recursos naturais e o
desenvolvimento socioeconoacutemico de cada regiatildeo
No acircmbito da poliacutetica integrada para as zonas costeiras o XVII Governo
Constitucional determinou em Resoluccedilatildeo do Conselho de Ministros 902008 de 3 de
Junho a realizaccedilatildeo de um conjunto de operaccedilotildees de requalificaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo de
zonas de risco e de aacutereas naturais degradadas situadas no litoral em espaccedilos de
intervenccedilatildeo prioritaacuteria designadas Polis Litoral
86
Os objectivos impliacutecitos agraves respectivas intervenccedilotildees passam pelas seguintes
medidas
Proteger e requalificar a zona costeira tendo em vista a defesa da costa a
promoccedilatildeo da conservaccedilatildeo da natureza e biodiversidade a renaturalizaccedilatildeo e a
reestruturaccedilatildeo de zonas lagunares e a preservaccedilatildeo do patrimoacutenio natural e
paisagiacutestico no acircmbito de uma gestatildeo sustentaacutevel
Prevenir e defender pessoas bens e sistemas de riscos naturais
Promover a fruiccedilatildeo puacuteblica do litoral suportada na requalificaccedilatildeo dos
espaccedilos balneares e do patrimoacutenio ambiental e cultural
Potenciar os recursos ambientais como factor de competitividade atraveacutes
da valorizaccedilatildeo das actividades econoacutemicas ligadas aos recursos do litoral e
associando-as agrave preservaccedilatildeo dos recursos naturais
De momento estatildeo identificadas quatro aacutereas territoriais ldquopolisrdquo a saber litoral do
Norte135
litoral da Ria de Aveiro136
litoral da Ria Formosa137
e o litoral da Costa
Vicentina Abrangem no seu conjunto 308 km de frente costeira 220 km de frentes
lagunares e estuarinas a financiar pelo Estado municiacutepios entidades privadas e com
recurso a fundos comunitaacuterios no acircmbito do Quadro de Referecircncia Estrateacutegico Nacional
(QREN) totalizando um orccedilamento global na ordem dos 3225 milhotildees de euros
135
wwwpolislitoralnortept 136
wwwpolisriadeaveiropt 137
wwwpolislitoralriaformosapt
87
Cap VI ndash Agenda Regional do Mar (Norte de Portugal)
61 Pacto regional para a competitividade da regiatildeo ldquoNorte 2015rdquo
A regiatildeo Norte de Portugal possui uma grande tradiccedilatildeo mariacutetima e uma forte
ligaccedilatildeo ao mar que conheceu diferentes formas de expressatildeo ao longo dos tempos Na
eacutepoca das primeiras descobertas (a partir do seacuteculo XV) o Porto e a sua regiatildeo
participaram activamente na construccedilatildeo de embarcaccedilotildees e no fornecimento de homens
para incorporar as respectivas guarniccedilotildees Nos seacuteculos seguintes o comeacutercio mariacutetimo e
o aparecimento de uma burguesia comercial com intensas relaccedilotildees com o norte da
Europa constituiacuteram a base de desenvolvimento da economia desta cidade e sua regiatildeo
No final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX o transporte mariacutetimo possibilitou a
saiacuteda de importantes fluxos migratoacuterios em direcccedilatildeo ao Brasil e mais recentemente a
pesca (em especial a pesca do bacalhau) e a induacutestria transformadora marcaram em
termos sociais e econoacutemicos os espaccedilos litorais da regiatildeo
No presente assiste-se ao aparecimento de novas actividades emergentes com forte
ligaccedilatildeo ao mar nos campos econoacutemico cientiacutefico e do lazer
A regiatildeo Norte deteacutem um importante patrimoacutenio natural (por exemplo rede natura
do Litoral Norte) e cultural tangiacutevel (por exemplo arquitectura militar civil e religiosa)
e intangiacutevel (tradiccedilotildees e costumes) ao longo da sua zona costeira com destaque para os
municiacutepios de Espinho Porto Matosinhos Vila do Conde Poacutevoa de Varzim e Viana do
Castelo Este patrimoacutenio estaacute disperso carecendo de valorizaccedilatildeo e de promoccedilatildeo A
regiatildeo apresenta ainda um conjunto de centros vocacionados para a divulgaccedilatildeo
cientiacutefica e da temaacutetica mar de que constituem exemplos a Estaccedilatildeo Litoral da Aguda138
em Gaia o projecto Rosa-dos-Ventos em Vila do Conde a Lancha Poveira 139
na Poacutevoa
de Varzim a Fundaccedilatildeo Gil Eannes140
em Viana do Castelo e o AquaMuseu do rio
Minho141
em Vila Nova de Cerveira entre outros
138
Estaccedilatildeo Litoral da Aguda - httpwwwfundacao-elapt 139
Lancha Poveira - httpwwwpovoadevarzimcomptlanchapoveiraphp 140
Fundaccedilatildeo Gil Eannes - wwwfundacaogileannespt 141
AquaMuseu do rio Minho- httpaquamuseucm-vncerveirapt
88
O Conselho Regional e a Comissatildeo de Coordenaccedilatildeo e Desenvolvimento Regional
do Norte (CCDR-N) definiram uma estrateacutegia de desenvolvimento regional designada
por ldquoNORTE 2015 ndash Uma Regiatildeo Um Futuro Uma Estrateacutegiardquo e dentro desta tem
vindo a promover um conjunto de agendas temaacuteticas consideradas prioritaacuterias
constituindo o ldquopacto regional para a competitividade da regiatildeo do Norterdquo Entre elas e
relevante para o trabalho em questatildeo eacute a Agenda Regional do Mar - Plano de Acccedilatildeo
ldquoMarrdquo
A Agenda Regional do Mar e o seu plano de acccedilatildeo tem como objectivo geral
ldquovalorizar o recurso mar atraveacutes do desenvolvimento de um conjunto de actividades de
produtos e de serviccedilos que promovam o crescimento econoacutemico o emprego e a
internacionalizaccedilatildeo da regiatildeo apostando no reforccedilo da Investigaccedilatildeo Desenvolvimento
e Inovaccedilatildeo (IampDampI) marinha da formaccedilatildeo do empreendedorismo e da cooperaccedilatildeo de
forma a contribuir em condiccedilotildees de sustentabilidade para a competitividade da
Regiatildeo142
Em siacutentese este plano de acccedilatildeo ldquoMarrdquo justifica-se assim por um conjunto de
razotildees das quais destaco as seguintes
A existecircncia de uma zona costeira extensa e rica onde se concentra a
maior parte da populaccedilatildeo e da actividade econoacutemica da regiatildeo marcada pela
existecircncia de vaacuterios estuaacuterios de elevado valor ambiental paisagiacutestico e
econoacutemico que urge valorizar em condiccedilotildees de sustentabilidade
Permite uma aproximaccedilatildeo global e coordenada das actividades e saberes
que integram a temaacutetica mar bem como o desenvolvimento de relaccedilotildees de
complementaridade e a produccedilatildeo de efeitos de sinergia favoraacuteveis ao
desenvolvimento da regiatildeo
Permite desenvolver as estrateacutegias adequadas e a sua coordenaccedilatildeo no
sentido da adaptaccedilatildeo da regiatildeo aos efeitos das alteraccedilotildees climaacuteticas
Constitui uma oportunidade para parar ou diminuir a tendecircncia de perda
de biodiversidade que caracteriza a evoluccedilatildeo dos ecossistemas marinhos
Favorece o aproveitamento do potencial que algumas actividades ligadas
ao mar apresentam enquanto espaccedilos de empreendimento inovaccedilatildeo criaccedilatildeo de
142
Agenda Regional do Mar Plano de Acccedilatildeo ldquoMARrdquo 2007-2013 p 52
89
riqueza e de emprego qualificado que importa estimular do ponto de vista do
reforccedilo da competitividade e do emprego da regiatildeo
Contribui atraveacutes da iniciativa regional e das articulaccedilotildees possiacuteveis com
outras regiotildees portuguesas e com a EMAM para a consecuccedilatildeo da ENM
favorecendo a criaccedilatildeo de escala e o desenvolvimento de complementaridades
indispensaacuteveis agrave consecuccedilatildeo dessa estrateacutegia nacional
Contribui para o desenvolvimento da PMIE atraveacutes da assunccedilatildeo no
plano regional do conjunto de princiacutepios e de orientaccedilotildees que enquadram essa
estrateacutegia europeia
Reforccedila o papel da regiatildeo nos programas de cooperaccedilatildeo transfronteiriccedila
com a Galiza e de cooperaccedilatildeo transnacional no acircmbito do Espaccedilo Atlacircntico co-
financiados pelo FEDER em que a dimensatildeo mariacutetima ocupa uma posiccedilatildeo
relevante em ambos os programas
Contribui para a sensibilizaccedilatildeo da populaccedilatildeo em geral e especialmente
dos jovens para a temaacutetica mar
Apresenta um programa de fundos estruturais interessante para o periacuteodo
entre 2007 e 2013 que permite o lanccedilamento de iniciativas e investimentos para
o desenvolvimento no domiacutenio do mar
Eacute importante mencionar que a elaboraccedilatildeo do plano de acccedilatildeo ldquoMarrdquo assentou num
processo aberto agrave participaccedilatildeo de um alargado leque de actores de acircmbito regional e
nacional quer na fase de estudo quer durante a fase da sua implementaccedilatildeo Este plano
constitui tambeacutem um referencial central para os investimentos puacuteblicos e privados a ter
em consideraccedilatildeo no acircmbito das candidaturas ao Programa Operacional Regional do
Norte (ON2 ndash O Novo Norte) e aos Programas de Cooperaccedilatildeo (POCTEP e
POCTEA143
)
Neste ponto a Agenda Regional destaca-se da ENM pelo facto de estar enquadrada
a temaacutetica ldquoMarrdquo nestes programas operacionais podendo ser candidataacuteveis entidades
puacuteblicasprivadas da regiatildeo Norte de Portugal
143
POCTEP - Programa de Cooperaccedilatildeo Transfronteiriccedilo Espanha - Portugal
POCTEA - Programa de Cooperaccedilatildeo Transnacional do Espaccedilo Atlacircntico
90
Saliento que a regiatildeo Norte eacute no presente momento a uacutenica regiatildeo portuguesa
que apresenta uma estrateacutegia integrada para o Mar
Ora este plano de acccedilatildeo estimula tambeacutem o alargamento da dinacircmica de
cooperaccedilatildeo a outras regiotildees vizinhas como seja a regiatildeo Centro de Portugal e a regiatildeo
Autoacutenoma da Galiza e favorece assim o desenvolvimento de condiccedilotildees de
complementaridade e de escala indispensaacuteveis agrave afirmaccedilatildeo internacional do Noroeste
peninsular no domiacutenio do mar
62 Linhas estrateacutegicas de desenvolvimento144
Para o efeito foram delineadas dez linhas de desenvolvimento estrateacutegico para
consubstanciar o ldquoplano de acccedilatildeordquo Analisei-as cada uma per si tendo em conta o seu
objectivo e tipologias respectivas Passo a enumerar as dez linhas estrateacutegicas definidas
para a regiatildeo Norte que constam na Agenda do ldquoMarrdquo
1) Promover a conservaccedilatildeo a valorizaccedilatildeo e a gestatildeo dos ecossistemas costeiros e
das bacias hidrograacuteficas
O objectivo eacute o de fomentar o estudo dos ecossistemas costeiros e fluviais e
desenvolver medidas com vista agrave sua protecccedilatildeo recuperaccedilatildeo valorizaccedilatildeo e
ordenamento de forma a potenciar os seus usos de acordo com modelos de
sustentabilidade Os projectos e as acccedilotildees a desenvolver devem observar as orientaccedilotildees
estabelecidas pelas ldquoBases para a Estrateacutegia de Gestatildeo Integrada das Zonas Costeirasrdquo
2) Desenvolver novos produtos e promover a aplicaccedilatildeo de novas tecnologias ao
meio marinho
Esta linha tem em vista os desenvolvimentos futuros no campo das ciecircncias do mar
e da utilizaccedilatildeo do meio marinho atraveacutes de novos produtos e serviccedilos que resultaratildeo
certamente da aplicaccedilatildeo a este meio de conhecimento e de tecnologias da informaccedilatildeo e
da comunicaccedilatildeo Podem enquadrar-se no acircmbito desta linha estrateacutegica os projectos que
144
Agenda Regional do Mar Plano de Acccedilatildeo ldquoMARrdquo 2007-2013 p 54
91
visam o desenvolvimento de novos produtos resultantes da utilizaccedilatildeo de organismos
marinhos nomeadamente
Desenvolvimento de novos medicamentos e a promoccedilatildeo de instrumentos de
diagnoacutestico para monitorizaccedilatildeo na aacuterea da sauacutede
Desenvolvimento de novas teacutecnicas para conhecimento protecccedilatildeo
monitorizaccedilatildeo e gestatildeo do meio marinho a garantia de sustentabilidade das
pescas e da aquacultura
Desenvolvimento de novos tipos de materiais compoacutesitos e enzimas para a
induacutestria
3) Promover a qualidade e a valorizaccedilatildeo dos produtos da pesca e da aquicultura e
a seguranccedila alimentar
Nesta linha enquadram-se acccedilotildees que contribuam para o aprofundar do
conhecimento dos recursos vivos marinhos e do seu valor comercial acccedilotildees que
contribuam para o desenvolvimento e melhoramento de tecnologias de conservaccedilatildeo e
transformaccedilatildeo do pescado e da avaliaccedilatildeo do risco para a sauacutede puacuteblica e ainda acccedilotildees
de implementaccedilatildeo de processos de certificaccedilatildeo de origem de seguranccedila e de qualidade
de produtos da pesca e da aquacultura de modo a melhorar a imagem junto do
consumidor muitas vezes influenciada por produtos importados de qualidade inferior
aos produtos regionais
4) Desenvolver novas tecnologias de produccedilatildeo de peixes de bivalves e de outras
espeacutecies e a sustentabilidade da aquicultura
O objectivo desta linha estrateacutegica eacute o de promover o desenvolvimento de uma
aquicultura sustentaacutevel e fomentar a produccedilatildeo intensiva de espeacutecies alternativas agraves jaacute
largamente implantadas em todo o Sul da Europa nomeadamente a dourada e o robalo
evitando assim a saturaccedilatildeo do mercado e a competiccedilatildeo entre produtores O recurso a
espeacutecies alternativas (goraz linguado polvo entre outras) mais adaptadas a
temperaturas baixas permitiraacute conquistar novos mercados dado tratar-se de espeacutecies de
elevado valor comercial e cujas populaccedilotildees naturais tecircm vindo a diminuir
92
5) Promover o desenvolvimento do cluster ldquo conhecimento e economia do marrdquo
O objectivo desta linha de acccedilatildeo eacute o de reforccedilar a economia do mar contribuindo
para a modernizaccedilatildeo das actividades tradicionais nomeadamente as induacutestrias
mariacutetimas o apoio a actividades emergentes e o desenvolvimento de redes de
cooperaccedilatildeo entre empresas e instituiccedilotildees de Investigaccedilatildeo e Desenvolvimento (IampD)
orientadas para a transferecircncia de tecnologia e para o desenvolvimento da cadeia de
valor dos produtos da economia do mar Satildeo considerados prioritaacuterios os projectos que
promovam a densificaccedilatildeo das relaccedilotildees intra e intersectoriais e projectos que contribuam
para internacionalizaccedilatildeo da base produtiva regional
6) Reforccedilar a investigaccedilatildeo e desenvolvimento nas aacutereas das ciecircncias marinhas e
fomentar o empreendedorismo em actividades da economia do mar
Esta linha completa as anteriormente apresentadas constituindo o seu
desenvolvimento uma condiccedilatildeo necessaacuteria para a construccedilatildeo e consolidaccedilatildeo do cluster
regional para o mar O apoio a formaccedilotildees avanccediladas ao desenvolvimento de projectos
de investigaccedilatildeo nas aacutereas das ciecircncias e da economia do mar e ao fomento do
empreendedorismo eacute para esta Agenda uma indiscutiacutevel prioridade para o
desenvolvimento do seu plano de acccedilatildeo
Esta linha privilegia abordagens que integrem de forma dinacircmica as componentes
formativa investigaccedilatildeo incubaccedilatildeo e de aconselhamento e apoio financeiro ao
desenvolvimento de novos projectos e iniciativas empresariais e ainda ao acolhimento
de projectos empresariais externos que pela sua relevacircncia contribuam para o reforccedilo
das demais componentes
7) Apoiar o desenvolvimento do transporte mariacutetimo e a melhoria das condiccedilotildees de
seguranccedila mariacutetima e das infra-estruturas portuaacuterias
A localizaccedilatildeo de Portugal e da regiatildeo do Norte no Sul do Arco Atlacircntico Europeu
constitui uma posiccedilatildeo privilegiada por referecircncia agraves rotas mariacutetimas norte-sul e este-
oeste que importa potenciar As ldquoauto-estradasrdquo do mar e o short sea shipping
representam alternativas ao transporte rodoviaacuterio de mercadorias com reconhecidas
vantagens do ponto de vista ambiental e econoacutemico O porto de Leixotildees apresenta neste
contexto uma posiccedilatildeo relevante no que respeita agrave auto-estrada mariacutetima do Atlacircntico O
apetrechamento e a modernizaccedilatildeo dos portos da regiatildeo e a melhoria das suas
articulaccedilotildees com o hinterland de forma a favorecer a inserccedilatildeo nas cadeias
93
internacionais de transporte e a operaccedilatildeo nas melhores condiccedilotildees de seguranccedila
constituem objectivos importantes no acircmbito dos programas regionais do mar e dos
transportes
Adquirem especial relevacircncia os projectos do novo molhe e terminal de passageiros
do porto de Leixotildees bem como projectos que favoreccedilam a melhoria das condiccedilotildees de
seguranccedila das operaccedilotildees portuaacuterias No acircmbito desta linha estrateacutegica adquire especial
importacircncia a criaccedilatildeo do Poacutelo Mar do Parque de Ciecircncia e Tecnologia - Universidade
do Porto - que integraraacute e articularaacute as valecircncias de formaccedilatildeo e investigaccedilatildeo de
incubaccedilatildeo de empresas e de acolhimento empresarial e ainda uma funccedilatildeo de divulgaccedilatildeo
cientiacutefica
8) Valorizar o patrimoacutenio mariacutetimo regional a naacuteutica de recreio e o turismo
naacuteutico
Esta linha estrateacutegica contribui para a consolidaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo das estruturas
existentes e para a criaccedilatildeo de novos projectos que tenham por missatildeo a valorizaccedilatildeo e
interpretaccedilatildeo do patrimoacutenio e do conhecimento relacionado com as temaacuteticas do mar e
das comunidades mariacutetimas A valorizaccedilatildeo deste potencial em paralelo com a criaccedilatildeo e
desenvolvimento de um conjunto de condiccedilotildees de apoio agrave naacuteutica de recreio (uma rede
de marinas devidamente infra-estruturadas que disponibilizem serviccedilos de apoio agrave
naacuteutica geridas segundo um modelo empresarial) a criaccedilatildeo de um conjunto de produtos
de turismo naacuteutico e de turismo costeiro constituem as condiccedilotildees indispensaacuteveis agrave
valorizaccedilatildeo e aproveitamento do patrimoacutenio mariacutetimo que a regiatildeo possui Esta linha
estrateacutegica privilegia o desenvolvimento de projectos que promovam na sua elaboraccedilatildeo
e desenvolvimento o envolvimento das comunidades mariacutetimas das respectivas zonas
de forma a favorecer a emergecircncia e a diversificaccedilatildeo de actividades ligadas ao mar e a
criaccedilatildeo de novas oportunidades de emprego
9) Promover o desenvolvimento da educaccedilatildeo e da formaccedilatildeo nas aacutereas das ciecircncias
marinhas e da economia do mar de forma a favorecer a seguranccedila a qualificaccedilatildeo do
sector e a empregabilidade
O desenvolvimento da educaccedilatildeo e da formaccedilatildeo no domiacutenio do mar satildeo factores
chave para a empregabilidade para o reforccedilo do cluster do mar e seguranccedila mariacutetima
94
A presente linha estrateacutegica tem uma dimensatildeo transversal cruzando todas as
outras Linhas que compotildeem o Plano de Acccedilatildeo Tem por objectivo favorecer a
qualificaccedilatildeo de jovens e adultos em aacutereas de actividade directa e indirectamente ligadas
ao mar com especial incidecircncia na aacuterea da seguranccedila Neste sentido importa qualificar a
oferta formativa existente e reforccedilar a coordenaccedilatildeo entre a acccedilatildeo do Forpescas (Centro
de Formaccedilatildeo Profissional das Pescas) e de outras organizaccedilotildees que intervecircm na aacuterea da
formaccedilatildeo em actividades relacionadas com o mar (por exemplo formaccedilatildeo na aacuterea do
turismo) no sentido de adequar e ordenar a oferta formativa segundo as necessidades de
desenvolvimento que se colocam neste domiacutenio
10) Promover a cooperaccedilatildeo transfronteiriccedila e transnacional no domiacutenio do mar
A regiatildeo do Norte possui uma experiecircncia histoacuterica de cooperaccedilatildeo transfronteiriccedila
principalmente com a Galiza e de cooperaccedilatildeo transnacional especialmente no acircmbito
do Espaccedilo Atlacircntico do qual a CCDR-N eacute actualmente a Autoridade de Gestatildeo do
POCTEA O tema Mar eacute relevante para estes dois ldquoespaccedilosrdquo de cooperaccedilatildeo integrando
o corpo principal de objectivos dos respectivos Programas
No que respeita agrave cooperaccedilatildeo transfronteiriccedila com a Galiza foi criado sob a
iniciativa da CCDRN e da Xunta da Galicia um grupo de trabalho misto envolvendo
actores das duas regiotildees sob a coordenaccedilatildeo do CETMAR145
e do CIIMAR146
Foi desenvolvido um primeiro conjunto de projectos estruturantes de cooperaccedilatildeo
oportunamente candidatados ao Programa de Cooperaccedilatildeo Transfronteiriccedila Portugal-
Espanha em seis domiacutenios prioritaacuterios (qualidade do meio marinho recursos marinhos
sector alimentar biotecnologias e novos produtos construccedilatildeo e reparaccedilatildeo naval e
naacuteutica de recreio e por fim cultura e turismo)
145
Centro Tecnoloacutegico del Mar - Fundacioacuten CETMAR httpwwwcetmarorg 146
Centro Interdisciplinar de Investigaccedilatildeo Marinha e Ambiental httpwwwcimarorg
95
63 Modelo de governaccedilatildeo para a Agenda Regional do Mar
A coordenaccedilatildeo transversal de poliacuteticas e a articulaccedilatildeo entre vaacuterios niacuteveis de poder
coloca a questatildeo da concertaccedilatildeo e integraccedilatildeo de poliacuteticas ou seja a questatildeo da
governanccedila Este plano constitui um referencial de desenvolvimento estrateacutegico
dinacircmico que serve de base ao lanccedilamento e ao desenvolvimento de intervenccedilotildees no
domiacutenio do mar O plano de acccedilatildeo corporiza a ambiccedilatildeo de se constituir como
plataforma de suporte a um processo evolutivo aberto agrave participaccedilatildeo dos diferentes
actores e agrave coordenaccedilatildeo das suas intervenccedilotildees
Um dos aspectos essenciais para garantir a gestatildeo e regulaccedilatildeo do plano eacute a
existecircncia de informaccedilatildeo estrateacutegica que permita o conhecimento mais aprofundado do
mesmo e o acompanhamento das principais realizaccedilotildees
A gestatildeo estrateacutegica deste plano de acccedilatildeo eacute da responsabilidade de um comiteacute de
pilotagem presidido pela CCDR-N e constituiacutedo por um conjunto de instituiccedilotildees
puacuteblicas da regiatildeo Norte responsaacuteveis pelas principais aacutereas de poliacutetica relacionadas
com a temaacutetica e tambeacutem por entidades representativas dos espaccedilos litorais em
presenccedila O comiteacute de pilotagem seraacute um espaccedilo privilegiado de articulaccedilatildeo e de
coordenaccedilatildeo intersectorial e de articulaccedilatildeo territorial das diversas iniciativas e projectos
que teraacute como objectivo principal a responsabilidade de implementar o plano de acccedilatildeo e
a respectiva regulaccedilatildeo existente
64 Oceano XXI - Cluster do ldquoconhecimento e da economia do marrdquo
Ainda acerca das estrateacutegias regionais destaco o trabalho levado a cabo pela
plataforma ldquoOceano XXI ndash Associaccedilatildeo para o Conhecimento e Economia do Marrdquo que
tem como principal objectivo especiacutefico dinamizar o cluster do ldquoconhecimento e da
economia do marrdquo
Este cluster foi reconhecido pela Autoridade de Gestatildeo do Programa de factores de
Competitividade (COMPETE) no dia 27 de Julho de 2009 como Estrateacutegia de
96
Eficiecircncia Colectiva E por este facto importa ser referenciado neste trabalho dada a
importacircncia que vai seguramente ter a curto prazo nos projectos considerados ldquoacircncorardquo
para as regiotildees Centro e Norte de Portugal
Por outro lado o objectivo geral que orienta o desenvolvimento deste cluster
consiste em ldquovalorizar o recurso Mar atraveacutes do desenvolvimento de um conjunto de
actividades de produtos e de serviccedilos que promovam o crescimento econoacutemico o
emprego e a internacionalizaccedilatildeo da regiatildeo apostando no reforccedilo da IampDampI da
formaccedilatildeo do empreendedorismo e da cooperaccedilatildeo de forma a contribuir em condiccedilotildees
de sustentabilidade para a competitividade da regiatildeo147
rdquo
Este cluster sediado na regiatildeo Norte envolve um vasto e diversificado conjunto de
entidades representativas dos interesses regionais (Centro e Norte) e nacionais
pertencentes aos principais sectores do agregado econoacutemico subjacente agrave Estrateacutegia de
Eficiecircncia Colectiva tendo em vista a diversificaccedilatildeo da base econoacutemica regional
criando desta forma novas actividades e serviccedilos e fomentando o aparecimento de
mercados alternativos com maior valor econoacutemico o reforccedilo da competitividade e da
produtividade das induacutestrias do mar e o aumento do emprego qualificado
O cluster do ldquoconhecimento e da economia do marrdquo integra um conjunto
diversificado de sectores e de actividades
bull Pesca aquicultura salicultura e induacutestria transformadora da pesca
bull Actividades mariacutetimo-portuaacuterias e logiacutestica
bull Induacutestrias mariacutetimas
bull Induacutestrias transformadoras de suporte agraves actividades mariacutetimas (tecircxtil e vestuaacuterio
plaacutestico moldes madeira metalomecacircnica)
bull Cruzeiros naacuteutica de recreio e turismo mariacutetimo
bull Tecnologias da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo (TIC)
bull Roboacutetica submarina
bull Biotecnologia marinha
bull Energias renovaacuteveis
147
Oceano XXI Cluster do Conhecimento e da Economia do Mar httpwwwoceano21org
97
O cluster do ldquoconhecimento e da economia do marrdquo organiza-se segundo quatro
linhas prioritaacuterias de intervenccedilatildeo148
que estatildeo em consonacircncia com a visatildeo europeia dos
clusters mariacutetimos referida no Livro Verde (capiacutetulo II)
Linha Prioritaacuteria 1 ndash desenvolver a Investigaccedilatildeo amp Desenvolvimento das
Tecnologias de Informaccedilatildeo (IDTI) e apoiar o desenvolvimento de actividades
emergentes no domiacutenio da economia do mar
Linha Prioritaacuteria 2 ndash promover a qualidade e a valorizaccedilatildeo dos produtos da pesca
da aquicultura e de produtos marinhos e a seguranccedila alimentar
Linha Prioritaacuteria 3 ndash promover a modernizaccedilatildeo e a inovaccedilatildeo das induacutestrias
mariacutetimas do transporte mariacutetimo da actividade portuaacuteria e da logiacutestica
Linha Prioritaacuteria 4 ndash valorizar o patrimoacutenio mariacutetimo e o seu aproveitamento no
apoio ao desenvolvimento da naacuteutica de recreio e do turismo de natureza
No acircmbito da Estrateacutegia de Eficiecircncia Colectiva ndash cluster do ldquoconhecimento e da
economia do marrdquo ndash foram reconhecidos seis projectos acircncora que no seu conjunto
totalizam uma estimativa de investimento de 120 milhotildees de euros nos trecircs proacuteximos
anos (2010 - 2013) E satildeo os seguintes
Ecomare
Aquaacuterio dedicado agrave temaacutetica dos mares da Peniacutensula Ibeacuterica centro de recuperaccedilatildeo
de animais marinhos e laboratoacuterio oceanograacutefico da Universidade de Aveiro
Parque de Ciecircncia e Tecnologias do Mar da Universidade do Porto
Visa o desenvolvimento de acccedilotildees de IampD transferecircncia de tecnologias incubaccedilatildeo
de empresas acolhimento empresarial formaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo cientiacutefica O Poacutelo do Mar
permitiraacute que os empreendedores desenvolvam as suas investigaccedilotildees eou testem os
seus protoacutetipos em meio marinho
148
Oceano XXI Cluster do Conhecimento e da Economia do Mar httpwwwoceano21org
98
Consupesca
Com o objectivo especiacutefico de reduzir o consumo de combustiacutevel na frota da pesca
costeira e de arrasto
Panthalassa
Promover a seguranccedila alimentar e a sustentabilidade ambiental da produccedilatildeo da
transformaccedilatildeo e do consumo de pescado atraveacutes da implementaccedilatildeo de sistemas
integrados abrangendo toda a cadeia de produccedilatildeo que permitem para cada fase do
processo de fabrico desenvolver as melhores soluccedilotildees do ponto de vista ambiental e de
seguranccedila conferindo maior valor acrescentado aos produtos
Promoccedilatildeo e desenvolvimento do turismo naacuteutico e dos desportos naacuteuticos
Reforccedilo do turismo naacuteutico e dos desportos naacuteuticos em Portugal atraveacutes da
implementaccedilatildeo dos seguintes projectos
Construccedilatildeo do Terminal de Cruzeiros de Leixotildees tendo como objectivo reforccedilar a
posiccedilatildeo do Porto de Leixotildees no mercado do turismo de cruzeiros explorando a sua
localizaccedilatildeo no cruzamento de rotas entre o Atlacircntico nordeste e o Mediterracircneo e entre
as Caraiacutebas e a Europa
Construccedilatildeo do Centro de Mar em Viana do Castelo visando o desenvolvimento da
naacuteutica de recreio e dos desportos naacuteuticos e o reforccedilo da posiccedilatildeo de Viana do Castelo
como uma cidade da naacuteutica do Atlacircntico
Turismo Mariacutetimo de Natureza
Em especial na ilha da Morraceira (Figueira da Foz) e ilha das Berlengas (Peniche)
99
65 A Naacuteutica como factor de desenvolvimento regional
Como referi no capiacutetulo dedicado aos domiacutenios destacados pelo Livro Verde o
sector naacuteutico pode ter um papel importante no que concerne agrave protecccedilatildeo do legado
mariacutetimo e na sensibilizaccedilatildeo do puacuteblico No entanto as actividades naacuteuticas podem
desempenhar outras funccedilotildees vitais para a implementaccedilatildeo das poliacuteticas mariacutetimas
(regionais nacionais e europeias) e serem consideradas um activo gerador de emprego
de riqueza e bem-estar das populaccedilotildees
Pese embora que para se ter uma verdadeira identidade mariacutetima (hellip) ldquoeacute preciso
tempo para sentir o mar eacute algo que soacute se consegue com muito tempo eventualmente
com o tempo de uma vidardquo (hellip)149
Urge a necessidade de se formar geraccedilotildees que desde
cedo se familiarizem com o mar A praacutetica naacuteutica qualquer que seja a modalidade
permite despertar o interesse e consequentemente aproximar a populaccedilotildees jovens ao
mar
A este propoacutesito menciono o estudo do qual fui coordenador realizado pela
INTERCEacuteLTICA ndash Associaccedilatildeo Cultural Desportiva e Turiacutestica que coloca a Naacuteutica
como factor de desenvolvimento da regiatildeo Norte150
Este estudo estrateacutegico foi apoiado
pelo programa Operacional da Regiatildeo Norte (CCDR-N) com recurso ao FEDER
Numa primeira fase efectou-se um levantamentoinventaacuterio exaustivo ao sector
que incluiu diversos actores como a Autoridade Mariacutetima o Instituto Portuaacuterio e dos
Transportes Mariacutetimos os clubes as associaccedilotildees os portos de recreio as empresas de
animaccedilatildeo turiacutestica os operadores mariacutetimo-turiacutesticos o desporto escolar as federaccedilotildees
a induacutestria o comeacutercio e os serviccedilos naacuteuticos
O objectivo primeiro deste levantamento foi determinar a dimensatildeo do sector e qual
a sua importacircncia para com base na informaccedilatildeo obtida elaborar um plano estrateacutegico
que respondesse agraves reais necessidades e carecircncias do sector naacuteutico na regiatildeo Norte
Numa segunda fase foram elaboradas propostas de projectos que pudessem
futuramente ser enquadradas nas Agendas Regionais temaacuteticas do Turismo e do Mar e
consequentemente no QREN (2007-2013)
149
Discurso do Arqto Guilherme Guimaratildees nas comemoraccedilotildees oficiais do Dia Europeu do Mar 2010
(20 de Maio) a bordo do navio Gil Eannes em Viana do Castelo 150
Para mais informaccedilotildees sobre o Projecto Naacuteutica consultar o seguinte site
httpwwwprojectonauticacomindexphpseccao=nauticaampcontent=apresentacao
100
Foi apresentado um plano de acccedilatildeo com base nas propostas e recomendaccedilotildees que
datildeo estrutura a cinco eixos
Rede de infra-estruturas naacuteuticas
Assenta em trecircs medidas concretas a criaccedilatildeo dos centros coordenadores da
actividade naacuteutica aumento da capacidade instalada (massificaccedilatildeo da praacutetica) e na
qualificaccedilatildeo de serviccedilos
Dinamizaccedilatildeo turiacutestica
Estatildeo sintetizadas em trecircs itens criaccedilatildeo de pacotes naacuteuticos desenvolvimento de
empreendimentos turiacutesticos temaacuteticos e de serviccedilos de animaccedilatildeo naacuteutica
Dinamizaccedilatildeo da naacuteutica
Baseada em quatro medidas 1 ) Rede de equipamentos e actividades em bacias
hidrograacuteficas e albufeiras 2) Rede de prestadores de serviccedilos 3) Apetrechamento dos
agentes naacuteuticos 4) Formaccedilatildeo
Promoccedilatildeo e comunicaccedilatildeo
Essencialmente na estruturaccedilatildeo temaacutetica e ediccedilatildeo de material directoacuterio da naacuteutica
acccedilatildeo para a iniciaccedilatildeo agraves actividades naacuteuticas organizaccedilatildeo de eventos e criaccedilatildeo de
espaccedilos museoloacutegicos
Governacircncia
Com a aposta no conceito inovador de loja da naacuteutica (tipo loja do cidadatildeo) e no
estabelecimento de um observatoacuterio para o sector naacuteutico actualizaacutevel e disponiacutevel ao
puacuteblico
Estas propostas foram elaboradas com a intenccedilatildeo de promover projectos colectivos
que criem sinergias entre os diversos stakeholders do sector naacuteutico e que o capitalizem
econoacutemica social e ambientalmente tornando-o mais coeso e rumo a um
desenvolvimento sustentaacutevel
O Norte de Portugal deteacutem uma prodigiosa costa Atlacircntica e planos de aacutegua
interiores (rios lagos e zonas lacustres) singulares Trata-se sem duacutevida de um recurso
de inquestionaacutevel valor O desafio eacute tornaacute-lo um produto reconhecido e apeteciacutevel para
as populaccedilotildees residentes e em simultacircneo para os turistas
101
Conclusotildees
No decurso deste trabalho analisei a importacircncia do MAR para a Europa desde os
tempos dos descobrimentos ateacute agrave actualidade com a implementaccedilatildeo da PMIE Dada a
transversalidade do tema este trabalho aborda as componentes das poliacuteticas mariacutetimas
europeia nacional e regional (Norte de Portugal) Devo notar que este trabalho natildeo
pretende ser um estudo final eou conclusivo mas que possa ser considerado como ponto
de partida para posteriores aprofundamentos
Concluiacutedo este introacuteito passo a apresentar as conclusotildees finais
Como sabemos os oceanos ocupam dois terccedilos da aacuterea total do planeta Terra Esta
constataccedilatildeo permite desde logo concluir que as actividades mariacutetimas estatildeo longe de
atingir o seu potencial sisteacutemico
A histoacuteria da Europa particularmente a partir do periacuteodo medieval devido agrave sua
natureza geograacutefica em forma de peniacutensula e bem torneada pelo mar despoletou o
interesse dos europeus pelo desconhecido Por detraacutes do mare incognitum havia mitos e
lendas que uma vez superadas pela audaacutecia dos descobridores desencadearam uma
inovadora epopeia mariacutetima que culminou com a descoberta de rotas mariacutetimas culturas
civilizaccedilotildees e estabelecimento de intercacircmbios comerciais transnacionais Assim se
iniciou o processo de globalizaccedilatildeo atraveacutes do qual os portugueses tatildeo grande e valioso
contributo deram agrave Humanidade
Actualmente na Europa deparamo-nos com uma cenaacuterio econoacutemico preocupante
provocado essencialmente pela crise financeira mundial e constatamos que a Europa
natildeo consegue acudir a todas dificuldades dos Estados Membros perifeacutericos A Europa natildeo
pode estar soacute unida quando economicamente o ambiente eacute favoraacutevel e perante as
adversidades diminuir a sua solidariedade pondo em causa valores notaacuteveis como a
construccedilatildeo da Europa e a moeda uacutenica Para tal eacute vital restabelecer a unidade pois soacute
assim a UE pode lograr responder aos enormes desafios do seacuteculo XXI
Acredito que o que eacute urgente acima de tudo eacute unir os europeus O MAR sem sombra
de duacutevida dada a sua transversalidade e caso seja utilizado como denominador comum
aproximaraacute os europeus agraves instituiccedilotildees europeias desenvolveraacute a nossa euro ndashcidadania
e conduziraacute a um maior envolvimento dos concidadatildeos nas decisotildees europeias
102
Voltando ao tema do trabalho em anaacutelise reforccedilo mais uma vez que foi o presidente
da Comissatildeo Europeia o portuguecircs Joseacute Manuel Duratildeo Barroso que lanccedilou no iniacutecio do
seu mandato o processo de construccedilatildeo para uma verdadeira Poliacutetica Mariacutetima Integrada
Europeia
A PMIE tornou-se um instrumento exemplar de savoir faire da poliacutetica apoiada
numa estrateacutegica botton up permitindo que os europeus dessem o seu contributo e
participassem na sua implementaccedilatildeo A aplicaccedilatildeo desta poliacutetica tem como objectivos
melhorar a eficaacutecia da acccedilatildeo governamental no domiacutenio do mar e explorar melhor as
sinergias a fim de aumentar o crescimento econoacutemico e a sustentabilidade ambiental
tendo sempre presente a dimensatildeo social E assim poder ainda responder aos desafios
prementes da protecccedilatildeo do ambiente seguranccedila mariacutetima crescimento econoacutemico
emprego qualificado e contribuir tambeacutem para o bem-estar das populaccedilotildees
Esta ldquoeuroapostardquo mariacutetima cujo potencial esmiucei ao longo deste trabalho pode ser
decisiva e contribuir fortemente para a afirmaccedilatildeo da Europa no mundo Espero tambeacutem
que possa servir de exemplo a outras regiotildees do mundo de momento ainda
subdesenvolvidas mas que se apresentam com iacutendices de crescimento exponenciais
Em Portugal desde o seacuteculo XIV (D Joatildeo I) ateacute ao Estado Novo o cluster mariacutetimo
foi o nosso ldquocartatildeo de visitardquo no plano internacional Este apresentado como paradigma
incluiacutea a navegaccedilatildeo comercial a pesca longiacutenqua (pe o bacalhau) e a construccedilatildeo naval
que ombreava com os melhores construtores a niacutevel mundial Como prova da
demonstraccedilatildeo puacuteblica deste reconhecimento invoco a estatuaacuteria que enaltece os feitos
histoacutericos do navegadores portugueses como por exemplo D Sebastiatildeo em Lagos
Vasco da Gama em Sines Infante D Henrique no Porto e Londres (Belgrave Square)
Joatildeo Aacutelvares Fagundes em Viana do Castelo
Portugal integrado haacute vinte e cinco anos na Uniatildeo Europeia natildeo se conseguiu impocircr
nas questotildees mariacutetimas Perdeu uma boa oportunidade para tirar partido desta integraccedilatildeo
menosprezando os fundos comunitaacuterios para desenvolver o seu cluster mariacutetimo
chegando ateacute cair no esquecimento e ficar praticamente extinto no terceiro quartel do
seacuteculo XX
103
Foi lamentaacutevel esta inoperacircncia de Portugal junto da UE e vice-versa Ou seja nem
Portugal soube aproveitar os generosos fundos europeus para desenvolver o sector
mariacutetimo nem a UE soube aproveitar a mais-valia do know-how luso das actividades
mariacutetimas agrave semelhanccedila do que sucedeu com a Alemanha como paiacutes exportador por
excelecircncia e da Franccedila com a PAC
Talvez a explicaccedilatildeo para este desvio fosse a seduccedilatildeo dos portugueses pelos fundos
europeus para aplicar em novas aacutereas com resultados visiacuteveis e imediatos a curto prazo
e cujo retorno econoacutemico hoje ainda questionamos
A ldquodemocraciardquo voltou costas ao seu passado de seacuteculos ndash o MAR Diversos factores
do passado recente contribuiacuteram para esta situaccedilatildeo a saber a descolonizaccedilatildeo e o
sentimento generalizado de ruptura com a ideologia do Estado Novo (pois a sua
propaganda estava fortemente ligada ao domiacutenio mariacutetimo) E Portugal limitou-se apenas
a exercer o domiacutenio mariacutetimo aquando da adesatildeo nas 12 milhas mariacutetimas Portugal
focou-se no bloco terrestre contrariando assim o seu percurso natural e ancestral
ldquoSe Portugal sempre ignorou o mar sua agenda europeia natildeo o perspectivando
como um activo estrateacutegico ao interesse nacional tambeacutem a proacutepria UE se viu desde
sempre a si proacutepria como um bloco terrestre capitaneado pelo eixo continental traccedilado
ao longo de deacutecadas entre Paris e Bona do que como a potecircncia mariacutetima que tambeacutem eacute
O tratado de Roma eacute omisso quanto ao potencial dos oceanos e dos mares que circundam
a Europa para o processo de integraccedilatildeo europeia a politica comum de pescas nasce
tardia e gradualmente por analogia da PAC e os transportes mariacutetimos ficaram de fora
da politica europeia de transportes e logo da rede transeuropeia de transportes por muito
tempo praticamente ateacute ao Livro Branco dos Transportes de 2001rdquo151
Com o lanccedilamento da PMIE Portugal compreendeu a importacircncia da sua vocaccedilatildeo
mariacutetima para os assuntos europeus e finalmente tem uma estrateacutegia mariacutetima para
implementar no territoacuterio nacional decorrente da perspectiva europeia Esta atitude foi
reforccedilada pela actuaccedilatildeo do governo portuguecircs especialmente durante a Presidecircncia
Portuguesa da UE em 2007 onde Portugal deixou a sua griffe com a aprovaccedilatildeo da
poliacutetica mariacutetima europeia De novo Portugal e a Europa estatildeo agora voltados para o mar
151
Dr Tiago Pitta e Cunha (2010) art cit na Revista do Centro de Informaccedilatildeo Europeia Jacques Delors -
Europa Novas Fronteiras ndash Portugal ndash 25 Anos de Integraccedilatildeo Europeia nordm 2627 Lisboa Principia
p186
104
com uma visatildeo mais abrangente e integrada e em uniacutessono para os sectores ligados ao
mar Em consequecircncia destes acontecimentos a regiatildeo Norte de Portugal elaborou uma
Agenda para o mar e tem estruturas universitaacuterias a desenvolver actividades cientiacuteficas e
laboratoriais associadas agrave iniciativa privada que permitem dar uma nova visatildeo econoacutemica
ao mar
Para que Portugal cumpra o mar como desiacutegnio nacional eacute necessaacuterio iniciar-se um
novo ciclo que aproxime os portugueses do mar Exige-se uma nova vaga de fundo para
desenvolver a nossa cultura mariacutetima como jaacute tem sucedido em outros Estados membros
atraveacutes de um processo de enculturaccedilatildeo A formaccedilatildeo joga um papel determinante para o
sucesso deste objectivo Os planos curriculares das escolas e universidades portuguesas
podem ser o ponto de partida deste novo ciclo despertando o interesse nas camadas
jovens e influenciando-os para o gosto da nossa heranccedila mariacutetima permitindo vivenciar
e experienciar actividades de mar de modo a serem eles no futuro a capitalizarem as
potencialidades do mar
Se compararmos em termos de territoacuterio e de populaccedilatildeo com os parceiros europeus
verificamos que Portugal natildeo eacute um paiacutes pequeno estamos ao mesmo niacutevel de paiacuteses como
a Beacutelgica Repuacuteblica Checa Holanda Dinamarca Irlanda e Greacutecia Isto sem referir a
ZEE que em breve poderaacute catapultar o nosso paiacutes para o deacutecimo lugar do ranking
mundial de paiacuteses mariacutetimos
Como sabemos o ldquocentro de gravidaderdquo da Uniatildeo Europeia deslocou-se para leste
devido agrave entrada de novos Estados membros (alargamento a vinte e sete) E Portugal
atraveacutes da agenda europeia para o mar pode tornar-se apesar de ser um paiacutes perifeacuterico
um verdadeiro liacuteder nas poliacuteticas europeias
Voltando a questatildeo inicial A Poliacutetica Mariacutetima Europeia ndash uma poliacutetica feita agrave
medida de Portugal penso que apesar de jaacute termos dado alguns passos na integraccedilatildeo de
poliacuteticas mariacutetimas eacute no entanto imprescindiacutevel uma vontade poliacutetica perseverante que
afirme Portugal na Europa defenda a nossa heranccedila e salvaguarde o futuro do nosso paiacutes
Oxalaacute saibamos aproveitar este ldquooceanordquo de oportunidades
105
Fontes e bibliografia
Fontes
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Relatoacuterio de progresso sobre a poliacutetica mariacutetima integrada da Uniatildeo Europeia
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COM (2009) 538 final
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Parlamento Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees
Towards the integration of maritime surveillance A common information sharing
environment for the EU maritime domain Comissatildeo Europeia 2009
COM (2009) 536 final
UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu ao
Parlamento Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees
Desenvolver a dimensatildeo internacional da poliacutetica mariacutetima integrada da Uniatildeo
Europeia Comissatildeo Europeia 2009
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COM (2009) 8 final
UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu ao
Parlamento Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees
Objectivos estrateacutegicos e recomendaccedilotildees para a poliacutetica comunitaacuteria de transporte
mariacutetimo no horizonte de 2018 Comissatildeo Europeia 2009
COM (2008) 791 final
UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo Roteiro para o ordenamento
do espaccedilo mariacutetimo definiccedilatildeo de princiacutepios comuns na EU Comissatildeo Europeia 2008
COM (2008) 395 final
UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu ao
Parlamento Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees
Orientaccedilotildees para uma abordagem integrada da poliacutetica mariacutetima rumo a melhores
praacuteticas de governaccedilatildeo mariacutetima integrada e de consulta das partes interessadas
Comissatildeo Europeia 2008
COM (2007) 575 final
UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu ao
Parlamento Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees
Uma poliacutetica mariacutetima integrada para a Uniatildeo Europeia Comissatildeo Europeia 2007
COM (2007) 574 final
UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu ao
Parlamento Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees
Conclusotildees da consulta sobre uma poliacutetica mariacutetima europeia Comissatildeo Europeia
2007
COM (2006) 275 final Volume I
UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho ao Parlamento
Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees Para uma
futura poliacutetica mariacutetima da Uniatildeo ndash uma visatildeo europeia para os oceanos e os mares
Comissatildeo Europeia 2006
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COM (2006) 275 final Volume II
UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Livro Verde para uma futura poliacutetica
mariacutetima da Uniatildeo ndash uma visatildeo europeia para os oceanos e os mares Comissatildeo
Europeia 2006
COM (2006) 105 final
UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Livro Verde Estrateacutegia europeia para uma
energia sustentaacutevel competitiva e segura Comissatildeo Europeia 2006
COM (2005) 658 final
UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu e ao
Parlamento Europeu Reexame da Estrateacutegia em favor do desenvolvimento sustentaacutevel
Uma plataforma de acccedilatildeo Comissatildeo Europeia 2005
COM (2005) 505 final
UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Directiva do Parlamento Europeu e do
Conselho Europeu que estabelece um quadro de acccedilatildeo comunitaacuteria no domiacutenio da
poliacutetica para o meio marinho (Directiva ldquoestrateacutegia para o meio marinhordquo) Comissatildeo
Europeia 2005
COM (2005) 504 final
UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu e ao
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COM (2002) 511 final
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Estrutura de Missatildeo para os Assuntos do Mar
wwwemamcompt (acedido 15 de Dezembro de 2010)
FAO ndash Fisheries Department
httpfaoorgfidefaultesp (acedido 22 Novembro 2010)
Foacuterum Empresarial da Economia do Mar
httpwwwfempt (acedido 15 de Dezembro de 2010)
Foacuterum Europeu Mariacutetimo
httpswebgateeceuropaeumaritimeforum (acedido 10 de Novembro de 2010)
Fundaccedilatildeo Gil Eannes
wwwfundacaogileannespt (acedido 12 de Setembro de 2010)
Gestatildeo Integrada das Zonas Costeiras
httpeceuropaeuenvironmenticzmourcoasthtm (acedido 5 de Janeiro de 2011)
111
International Maritime Organization
httpimoorg (acedido 14 de Novembro de 2010)
Irish Marine Institute
httpwwwmarineie (acedido 6 de Maio de 2010)
Instituto Portuaacuterio e dos Transportes Mariacutetimos
wwwimarporpt (acedido 20 Agosto de 2010)
Instrumento Europeu de Vizinhanccedila e de Parceria
httpeceuropaeuworldenpfunding_enhtm (acedido 18 de Outubro de 2010)
Jogos Naacuteuticos Atlacircnticos
wwwjnieaeu (acedido 20 Agosto de 2010)
Lancha Poveira
httpwwwpovoadevarzimcomptlanchapoveiraphp (acedido 30 de Outubro de 2010)
Museu da Marinha
wwwmuseumarinhamuseusiteptpt (acedido 20 Agosto de 2010)
Nautisme Espace Atlantique 2
wwwnea2eu (acedido 14 de Janeiro de 2011)
ONU ndash Department of Economic and Social Affairs
httpwwwunorgesasustdevdocumentsWSSD_POI_PDEnglishPOITochtm (acedido 30
de Setembro de 2010)
Oceanaacuterio de Lisboa
wwwoceanariopt (acedido 20 Agosto de 2010)
Oceano XXI Cluster do Conhecimento e da Economia do Mar
httpwwwoceano21org (acedido 3 de Dezembro de 2010)
Parlamento Europeu
httpwwweuroparleuropaeufactsheets1_2_2_pthtm (acedido 9 de Novembro de 2010)
112
Plano de Ordenamento do Espaccedilo Mariacutetimo
httppoeminagpt (acedido 29 de Dezembro de 2010)
Polis Litoral Norte
wwwpolislitoralnortept (acedido 17 de Dezembro de 2010)
Polis Ria de Aveiro
wwwpolisriadeaveiropt (acedido 17 de Dezembro de 2010)
Polis Ria Formosa
wwwpolislitoralriaformosapt (acedido 17 de Dezembro de 2010)
Presidecircncia da Repuacuteblica Portuguesa
httpwwwpresidenciapt (acedido 10 de Janeiro de 2011)
Projecto Naacuteutica
httpwwwprojectonauticacomindexphpseccao=nauticaampcontent=apresentacao
(acedido 14 de Janeiro de 2011)
Quadro de Referecircncia Estrateacutegico Nacional (QREN)
wwwqrenpt (acedido 14 de Janeiro de 2011)
SaeR ndash Sociedade de Avaliaccedilatildeo Estrateacutegica e Risco Lda
wwwsaerpr (acedido 12 Dezembro de 2010)
Surfrider Foundation Europe
wwwsurfridereu (acedido 14 de Janeiro de 2011)
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Europa Novas Fronteiras ndash Poliacutetica Mariacutetima Europeia Aacutereas-chave nordm 20 (2006)
Lisboa CIEJDPrincipia
Europa Novas Fronteiras ndash Poliacutetica Mariacutetima Europeia Perspectivas e linhas
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II
Joatildeo Miguel Aleixo Zamith
POLIacuteTICA MARIacuteTIMA EUROPEIA
Uma poliacutetica agrave medida de Portugal
Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Estudos Sobre a
Europa Europa ndash As Visotildees do ldquoOutrordquo aacuterea de
especializaccedilatildeo em Estudos Europeus apresentada agrave
Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra sob a
orientaccedilatildeo da Professora Doutora Maria Manuela de
Bastos Tavares Ribeiro e do Dr Tiago de Pitta e Cunha
Faculdade de Letras
Universidade de Coimbra
2011
III
ldquoQue improacuteprio chamar Terra a este planeta de oceanosrdquo
Sir Arthur C Clarke cit no Livro Verde ndash ldquoPara uma futura poliacutetica
mariacutetima da Uniatildeo uma visatildeo europeia para os oceanos e os maresrdquo
(2006)
ldquoPortugal encontra-se na periferia da Europa mas estaacute
no centro do mundordquo (hellip) ldquoPossuiacutemos uma vasta linha de
costa beneficiamos da maior zona econoacutemica exclusiva
da Uniatildeo Europeia Poderemos ser uma porta por onde a
Europa se abre ao Atlacircntico se soubermos aproveitar as
potencialidades desse imenso mar que se estende diante
dos nossos olhos mas que teimamos em natildeo verrdquo (hellip)
Cit no discurso de Sua Excelecircncia o Presidente da Repuacuteblica
Portuguesa Professor Doutor Aniacutebal Cavaco Silva durante a 36ordf
Sessatildeo Comemorativa do 25 de Abril de 2010 na Assembleia da
Repuacuteblica
IV
in memoriam
Professor Doutor Ernacircni Rodrigues Lopes
(1942 ndash 2010)
V
Resumo
Sabemos que dois terccedilos do planeta Terra satildeo ocupados pelos Oceanos Logo eacute
premente ocuparmo-nos deles da forma mais sustentaacutevel possiacutevel
E os ldquomaresrdquo foram desde sempre a seiva da Europa Os europeus desde haacute muito
tempo tiveram propensatildeo para se libertarem do mare incognitum Essa ousadia trouxe
retorno econoacutemico cultural e cientiacutefico notaacuteveis para a Humanidade
Os espaccedilos mariacutetimos e o litoral europeu satildeo essenciais para o bem-estar e
prosperidade ligam continentes atraveacutes de rotas comerciais regulam o clima satildeo fonte
de alimento de energia e de inuacutemeros recursos (muitos ainda desconhecidos) e satildeo
tambeacutem locais privilegiados de residecircncia e lazer para os cidadatildeos
A Europa preconiza actualmente uma Poliacutetica Mariacutetima Integrada reflectindo e
projectando a nossa relaccedilatildeo com os oceanos e mares Esta abordagem inovadora e
holiacutestica reforccedila a capacidade da Europa face aos desafios da globalizaccedilatildeo e da
competitividade agraves alteraccedilotildees climaacuteticas agrave autonomia energeacutetica agrave seguranccedila mariacutetima
entre outras O leme da Poliacutetica Mariacutetima Europeia Integrada foi tomado em 2005 pelo
Presidente da Comissatildeo Europeia Duratildeo Barroso e estaacute ancorada na Agenda de Lisboa
(apela ao crescimento econoacutemico e emprego) e na Agenda de Gotemburgo (apela ao
desenvolvimento sustentaacutevel ndash ambiental econoacutemico e social)
A nossa longa histoacuterica mariacutetima a liacutengua e cultura portuguesa e o facto de existir
uma Estrateacutegia Nacional para o Mar em consonacircncia com a Poliacutetica Mariacutetima Europeia
Integrada podem ser os factores-chave para Portugal concretizar um dos seus maiores
desiacutegnios para o seacuteculo XXI ndash o Mar Importa referir que eacute iminente o alargamento da
zona econoacutemica exclusiva (equivalente a 43 vezes agrave aacuterea de Portugal Continental) e
caso seja aceite teremos seguramente uma nova oportunidade de estar no centro do
mundo
Esta investigaccedilatildeo tem portanto como objectivo analisar a poliacutetica mariacutetima
europeia e os seus desenvolvimentos em Portugal
PALAVRAS-CHAVE
EUROPA MAR POLIacuteTICA PORTUGAL SUSTENTAacuteVEL
VI
Lista de abreviaturas
BEI ndash Banco Europeu de Investimento
BRIC ndash Brasil Ruacutessia Iacutendia e China
CCDR-N ndash Comissatildeo de Coordenaccedilatildeo de Desenvolvimento Regional do Norte
CdR ndash Comiteacute das Regiotildees
CE ndash Comissatildeo Europeia
CEO ndash Comissatildeo Estrateacutegica dos Oceanos
CESA ndash Associaccedilatildeo dos Estaleiros Europeus de Construccedilatildeo e Reparaccedilatildeo Naval
CETMAR ndash Centro Tecnoloacutegico del Mar
CIEJD ndash Centro de Informaccedilatildeo Europeia Jacques Delors
CIIMAR ndash Centro Interdisciplinar de Investigaccedilatildeo Marinha e Ambiental
CLPC ndash Comissatildeo de Limites para a Extensatildeo da Plataforma Continental
CO 2 ndash Dioacutexido de Carbono
COMPETE ndash Programa de Factores de Competitividade
CRPM ndash Conferecircncia das Regiotildees Mariacutetimas da Europa
DEM ndash Dia Europeu do Mar
EBA ndash European Boating Association
EFTA ndash Associaccedilatildeo Europeia de Livre Comeacutercio
EM ndash Estados Membros
EMAM ndash Estrutura de Missatildeo para os Assuntos do Mar
EMEPC ndash Estrutura de Missatildeo para a Extensatildeo da Plataforma Continental
EMODNET ndash Rede Europeia de Observaccedilatildeo e de Dados do Meio Marinho
EMSA ndash Agecircncia Europeia da Seguranccedila Mariacutetima
ENM ndash Estrateacutegia Nacional para o Mar
ESPO ndash Organizaccedilatildeo dos Portos Mariacutetimos Europeus
EuDA ndash European Dredging Association
EUROMIG ndash European Union Recreational Marine Industry Group
VII
FAO ndash Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Alimentaccedilatildeo e a Agricultura
FEDER ndash Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional
FEM ndash Foacuterum Empresarial da Economia do Mar
FSE ndash Fundo Social Europeu
GIZC ndash Gestatildeo Integrada das Zonas Costeiras
IampD ndash Investigaccedilatildeo e Desenvolvimento
IampDampI ndash Investigaccedilatildeo Desenvolvimento e Inovaccedilatildeo
IDTI ndash Investigaccedilatildeo e Desenvolvimento das Tecnologias de Informaccedilatildeo
OEM ndash Ordenamento do Espaccedilo Mariacutetimo
OGP ndash International Association of Oil and Gas Producers
ONG ndash Organizaccedilatildeo Natildeo Governamentais
ONU ndash Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas
NEA 2 ndash Nautisme Espace Atlantique 2
PAC ndash Poliacutetica Agriacutecola Comum
PALOP ndash Paiacuteses Africanos de Liacutengua Oficial Portuguesa
PCP ndash Poliacutetica Comum da Pesca
PIB ndash Produto Interno Bruto
PME`S ndash Pequenas e Meacutedias Empresas
PMIE ndash Poliacutetica Mariacutetima Integrada Europeia
POCTEA ndash Programa de Cooperaccedilatildeo Transnacional do Espaccedilo Atlacircntico
POCTEP ndash Programa de Cooperaccedilatildeo Transfronteiriccedilo Espanha-Portugal
POEM ndash Plano Ordenamento do Espaccedilo Mariacutetimo
QREN ndash Quadro de Referecircncia Estrateacutegico Nacional
UNESCO ndash Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo Ciecircncia e Cultura
TIC ndash Tecnologias da Informaccedilatildeo e da Comunicaccedilatildeo
UE ndash Uniatildeo Europeia
ZEE ndash Zona Econoacutemica Exclusiva
VIII
Nota preacutevia
A realizaccedilatildeo desta investigaccedilatildeo natildeo teria sido possiacutevel sem a colaboraccedilatildeo de
diversas pessoas e entidades pelo que lhes dirijo os devidos agradecimentos
A primeira palavra de agradecimento vai para a minha Orientadora Professora Doutora
Maria Manuela Tavares Ribeiro Grato pela sua disponibilidade e destreza em aceitar a
tarefa de orientaccedilatildeo Aproveito para a felicitar pelas inuacutemeras iniciativas que organiza e
em que participa elevando o prestiacutegio da nossa Faculdade de Letras a niacutevel nacional e
internacional
A segunda palavra e natildeo menos relevante vai para o meu co-Orientador na
qualidade de especialista Dr Tiago de Pitta e Cunha A sua notaacutevel experiecircncia
nacional (Coordenador da Comissatildeo Estrateacutegica dos Oceanos) e europeia (ex-Membro
do Gabinete do Comissaacuterio Europeu para os Assuntos Mariacutetimos e as Pescas) aliada a
uma cooperaccedilatildeo profiacutecua diria mesmo perfeita permitiram que neste trabalho tenhamos
procurado a profundidade e a transversalidade que o tema proposto exige
O reconhecimento eacute extensiacutevel a todos os Professores da parte curricular pelo
conhecimento adquirido nas aulas memoraacuteveis Uma palavra particular para o Professor
Doutor Antoacutenio Martins da Silva e outra para o meu colega e amigo Asdruacutebal
Sotomaior pois sem eles natildeo teria sido possiacutevel conseguir este objectivo
Agradeccedilo aos funcionaacuterios do Centro de Informaccedilatildeo Europeia Jacques Delors em
Lisboa pela simpatia e competecircncia com que sempre me receberam
O meu justo agradecimento ainda ao Comiteacute das Regiotildees pelo convite feito em
2008 para visitar e participar in loco nas sessotildees plenaacuterias das principais instacircncias
europeias (Parlamento Comissatildeo e CdR) Participaram neste evento 27 alunos em
representaccedilatildeo de todos os Estados Membros da UE oriundos de cursos de 2ordm Ciclo em
Estudos Europeus
Finalmente o meu obrigado sentido aos que estatildeo mais proacuteximos Agradeccedilo aos
amigos de sempre agrave Teresinha ao meu Irmatildeo e ao meu Pai pelos incentivos que sempre
me deram na vida Agrave minha Matildee sinto-me sempre grato pela sua sabedoria paciecircncia e
carinho
Agrave minha futura sobrinha Maria dedico este trabalho
IX
Iacutendice
Resumo V
Lista de abreviaturas VI
Nota preacutevia VIII
Introduccedilatildeo 1
Cap I ndash Principais talassocracias europeias ndash breve retrospectiva histoacuterica 4
11 Repuacuteblicas Mariacutetimas Italianas 6
12 O papel de Portugal ndash o pioneiro da globalizaccedilatildeo 9
13 Siglo de oro espanhol 13
14 O ciclo holandecircs e a hegemonia inglesa 16
15 A Burguesia e a Revoluccedilatildeo Industrial 19
Cap II ndash O Livro Verde da Poliacutetica Mariacutetima Integrada Europeia 21
21 Fundamentos da Poliacutetica Mariacutetima Integrada Europeia 21
22 Potencialidades das principais actividades mariacutetimas da Uniatildeo Europeia 23
23 Livro Verde ndash ldquouma visatildeo para os oceanos e os maresrdquo 27
24 Aacutereas-chave no Livro Verde 29
25 Participaccedilatildeo dos europeus no processo de construccedilatildeo da PMIE 38
Cap III ndash O Livro Azul plano de acccedilatildeo e instrumentos financeiros 40
31 Condiccedilotildees poliacuteticas do processo de decisatildeo 40
32 Livro Azul e o plano de acccedilatildeo 43
X
33 Instrumentos econoacutemico-financeiros de apoio agrave PMIE 51
331 A poliacutetica de coesatildeo e a poliacutetica regional europeia 51
332 Fundos estruturais 53
333 Outras fontes de financiamento 55
334 Programa de apoio ao aprofundamento da PMIE 56
Cap IV ndash Orientaccedilotildees estrateacutegias para o futuro da PMIE 58
41 Breve balanccedilo 58
42 Governaccedilatildeo mariacutetima e participaccedilatildeo das partes interessadas 59
43 Instrumentos transectoriais 62
44 Perspectivas e visatildeo futura da PMIE 65
Cap V ndash Estrateacutegia Nacional para o Mar 68
51 Princiacutepios e objectivos 73
52 Pilares estrateacutegicos 73
53 Acccedilotildees e medidas 75
54 O Hypercluster da economia do mar 81
55 Plano de ordenamento do espaccedilo mariacutetimo 83
56 Programa ldquoPolis do Litoralrdquo 85
Cap VI ndash Agenda Regional do Mar (Norte de Portugal) 87
61 Pacto regional para a competitividade da regiatildeo ldquoNorte 2015rdquo 87
62 Linhas estrateacutegicas de desenvolvimento 90
63 Modelo de governaccedilatildeo para a Agenda Regional do Mar 95
64 Oceano XXI - Cluster do ldquoconhecimento e da economia do marrdquo 95
65 A Naacuteutica como factor de desenvolvimento regional 99
Conclusotildees 101
Fontes e bibliografia 105
1
Introduccedilatildeo
A minha relaccedilatildeo com o Mar comeccedilou desde haacute muito
Foi graccedilas agraves actividades naacuteuticas em ambiente mariacutetimo que aprendi a valorizar e
a respeitar a natureza a partilhar valores sociais a estabelecer novas amizades e ateacute a
conhecer novos continentes Tudo comeccedilou por prazerlazer e hoje em dia o MAR faz
parte da minha profissatildeo e seraacute sempre seguramente uma fonte de inspiraccedilatildeo e energia
para a vida
Depois da formaccedilatildeo na aacuterea da engenharia e ciecircncias econoacutemicas decidi matricular-
me no Curso de Mestrado Estudos Europeus na Faculdade Letras da Universidade de
Coimbra de forma de aprofundar os meus parcos conhecimentos (histoacutericos poliacuteticos e
institucionais) sobre a Europa Foi uma experiecircncia enriquecedora e gratificante que
ultrapassou largamente as minhas aspiraccedilotildees iniciais
Contudo confrontado com a necessidade de elaborar uma tese de dissertaccedilatildeo no
acircmbito do Mestrado ocorreu-me explorar uma temaacutetica actual e transversal que se
espera poder ldquounirrdquo os europeus a uma causa ndash o Mar
Assim este trabalho de investigaccedilatildeo intitulado Poliacutetica Mariacutetima Europeia ndash Uma
poliacutetica agrave medida de Portugal pretende ser um contributo para a pesquisa e reflexatildeo
sobre as questotildees europeias e a sua relaccedilatildeo com o mar e os oceanos mateacuteria que como
todos nos temos vindo a aperceber cada vez mais se reveste de grande importacircncia para
Portugal
Foi com o espiacuterito de ldquopara antever o futuro temos de conhecer o passadordquo que
procurei ao longo do primeiro capiacutetulo debruccedilar-me sobre as fontes de riqueza material
e imaterial que estando relacionadas com o mar contribuiacuteram para a formaccedilatildeo e
desenvolvimento da Europa Neste acircmbito debruccedilo-me sobre as expediccedilotildees mariacutetimas
italianas que apesar de confinadas ao mediterracircneo foram extremamente importantes
para os ldquodescobridoresrdquo que se seguiram Entre estes uacuteltimos destacarei o papel de
Portugal o siglo de oro espanhol o ciclo holandecircs e a hegemonia mariacutetima inglesa
Para terminar o enquadramento histoacuterico faccedilo referecircncia agrave emergecircncia da burguesia
europeia e agraves suas origens nas actividades mariacutetimas
2
No segundo capiacutetulo procuro analisar transversalmente o Livro Verde da Poliacutetica
Mariacutetima Integrada Europeia Assim apresentarei os fundamentos e as potencialidades
da Europa no domiacutenio mariacutetimo a ldquovisatildeordquo europeia para o futuro dos oceanos e os
mares e ainda as aacuterea-chave nele apontadas No final deste capiacutetulo abordarei a
consulta puacuteblica que possibilitou aos europeus participarem directa e activamente no
processo de construccedilatildeo da PMIE
Saliento que pela primeira vez a dimensatildeo mariacutetima da Europa assumiu a posiccedilatildeo
de real prioridade poliacutetica ou seja na histoacuteria da Uniatildeo Europeia os oceanos e os mares
como um todo tornaram-se assunto de foco poliacutetico ao mais alto niacutevel A PMIE foi uma
iniciativa de Joseacute Manuel Duratildeo Barroso aquando da sua primeira nomeaccedilatildeo para a
Presidecircncia da Comissatildeo Europeia em 2004 No programa Barroso I a PMIE foi
apresentada como uma necessidade premente chegando mesmo a ser instituiacuteda em
2004 a pasta dos Assuntos Mariacutetimos atribuiacuteda na altura ao maltecircs Joe Borg (ex-
Comissaacuterio Europeu)
No terceiro capiacutetulo comeccedilarei por salientar as condiccedilotildees poliacuteticas ao niacutevel das
instacircncias europeias que permitiram a consolidaccedilatildeo da PMIE Este destaque poliacutetico
concedido ao Mar eacute o reconhecimento do seu valor estrateacutegico em diferentes dimensotildees
econoacutemica ambiental cultural de seguranccedila de investigaccedilatildeo e de lazer Desta vontade
poliacutetica declarada emergiu o Livro Azul acompanhado de um plano de acccedilatildeo No final
deste capiacutetulo seratildeo apresentados os instrumentos financeiros comunitaacuterios de suporte agrave
PMIE
Apesar da jovem idade - cinco anos - a PMIE jaacute conseguiu obter resultados notaacuteveis
agrave escala europeia Por isso no quarto capiacutetulo proponho-me fazer uma breve anaacutelise agraves
actividades decorrentes da PMIE tendo em conta a governacircncia mariacutetima E as acccedilotildees
estrateacutegicas para o futuro da poliacutetica mariacutetima europeia seratildeo ainda apresentadas neste
capiacutetulo
No quinto capiacutetulo passarei a analisar a Estrateacutegia Nacional para o Mar (ENM)
resultante do apelo da Uniatildeo Europeia (UE) aos Estados-membros (EM) no sentido de
aplicarem abordagens holiacutesticas e transversais para o uso sustentaacutevel dos oceanos
Realccedilo que Portugal a par de Espanha e Franccedila foi um dos principais impulsionadores
da poliacutetica mariacutetima europeia Destacarei ainda a importacircncia do ldquoHypercluster da
3
Economia do Marrdquo o plano de ordenamento do espaccedilo mariacutetimo (POEM) actualmente
em discussatildeo puacuteblica e tambeacutem o programa ldquoPolis do Litoralrdquo
No capiacutetulo seguinte o sexto destacarei a Agenda Regional para o Mar que para
aleacutem de ser enquadrada na ENM e PMIE responde visivelmente agraves especificidades
latentes na regiatildeo Norte de Portugal No final deste capiacutetulo seratildeo abordados ainda a
plataforma ldquoOceano XXIrdquo e o estudo estrateacutegico intitulado ldquoA Naacuteutica como factor de
desenvolvimento da regiatildeo Norterdquo
Neste trabalho procuro dar um contributo acadeacutemico sobre a PMIE registando a
ausecircncia de estudos sobre esta mateacuteria congratulo-me com o estudo que tatildeo
entusiasticamente me comprometeu e espero que o mesmo possa servir de
inspiraccedilatildeoorientaccedilatildeo a TODOS aqueles que se revejam no todo ou em parte do exposto
ou simplesmente aos que se interessem pelas temaacuteticas abordadas
4
Cap I ndash Principais talassocracias europeias ndash breve retrospectiva histoacuterica
Como forma de introduzir a influecircncia dos assuntos mariacutetimos na formaccedilatildeo da
Europa resolvi reflectir sobre os aspectos histoacutericos que considero mais relevantes
protagonizados no periacuteodo compreendido entre os seacuteculos XIV e XX pelas maiores
potecircncias de entatildeo
Seratildeo abordadas neste capiacutetulo primeiramente as repuacuteblicas italianas (Geacutenova e
Veneza) seguindo-se a expansatildeo portuguesa passando pela aventura castelhana e
terminando com a acccedilatildeo holandesa e inglesa No final deste capiacutetulo faccedilo uma
abordagem agrave formaccedilatildeo de uma nova classe social ndash a burguesia ndash oriunda das
actividades mariacutetimas mercantis que foi o ldquomotor de arranquerdquo para a Revoluccedilatildeo
Industrial
Os maiores impeacuterios ateacute ao seacuteculo XV foram de dois tipos
Continentais como o impeacuterio Alexandrino (euro-asiaacutetico no seacuteculo IV
aC) e o Mongol (no seacuteculo XIII que se estendia do Oceano Paciacutefico ao Mar
Negro)
Outros centrados estrategicamente numa bacia mariacutetima que jaacute foi tida
como o centro econoacutemico do mundo A este tipo pertenciam o impeacuterio Romano
(com o apogeu nos seacuteculos I e II aC em que o Mediterracircneo ndash chamado Mare
Internum ndash era um ldquolago romanordquo o Mare Nostrum) e o impeacuterio Islacircmico (que
teve o seu apogeu entre os seacuteculos VIII e XIII que se estendia desde a Peniacutensula
Ibeacuterica agrave Iacutendia) e permitiu transformar o Oceano Iacutendico num ldquolago muccedilulmanordquo
ateacute ao momento da chegada dos portugueses
Houve tambeacutem outros impeacuterios tais como
Egiacutepcio (com o apogeu no seacuteculo XV aC)
Persa (seacuteculos VI a IV aC que se estendia da Iacutendia agrave Greacutecia)
Chinecircs (o Chacutein do seacuteculo III aC o Han do seacuteculo II ou o Tang do
seacuteculo VIII)
5
Como nota comum todos estes impeacuterios ocupavam uma extensatildeo continental
contiacutegua
No entanto outros modelos de expansatildeo surgiram ainda na Antiguidade ndash incluindo
as colonizaccedilotildees mediterracircneas dos cretenses feniacutecios e gregos assentes numa rede
litoral e descontiacutenua da orla do Mediterracircneo e do mar Negro De referir entre estes
casos a importacircncia do impeacuterio ateniense (com o auge no seacuteculo V aC) uma
talassocracia1 por excelecircncia baseada na projecccedilatildeo naval e na descontinuidade
continental
Este uacuteltimo tipo de expansatildeo naval replicou-se mais tarde nas projecccedilotildees
mediterracircnicas das repuacuteblicas mariacutetimas italianas com destaque para Geacutenova e Veneza
e na monarquia dual catalo-aragonesa
Apesar das diferenccedilas havia um denominador comum nestas talassocracias
europeias ndash o mar Mediterracircneo Como sublinha a historiadora genovesa Gabriela
Airaldi2 a actividade mariacutetima era o elemento que interligava e dinamizava a
civilizaccedilatildeo mediterracircnica
A esse ambiente mediterracircnico peculiar associou-se na Idade Meacutedia
Uma revoluccedilatildeo comercial e financeira com uma economia de mercado
predominantemente virada ao exterior assente numa diaacutespora de mercadores e
banqueiros
Uma projecccedilatildeo geopoliacutetica criando impeacuterios mariacutetimos descontiacutenuos
A disponibilidade para alianccedilas poliacuteticas ldquooperativasrdquo pragmaacuteticas
libertas dos preconceitos ideoloacutegico-religiosos da eacutepoca
Ora como refere Airaldi3 esta interdependecircncia estrateacutegica entre a Europa do Sul e
o ldquolagordquo mediterracircnico originou um novo tipo de estado ndash as repuacuteblicas mariacutetimas ndash
assentes numa oligarquia mercantil-financeira distintas do sistema monaacuterquico-
senhorial dominante na Europa medieval
1 O termo vem do grego e eacute uma junccedilatildeo do vocaacutebulo mar (thaacutelassa) e de poder (kraacutecia) Aplica-se a
todos os Estados no qual o poder se exerce baseado na expansatildeo mariacutetima garantida por uma projecccedilatildeo
naval 2 AIRALDI 2007 9
3 AIRALDI ibidem 99
6
Os muccedilulmanos e os chineses tinham no entanto criado uma inovaccedilatildeo que o
historiador Felipe Fernaacutendez-Arnesto4 sintetiza na diferenciaccedilatildeo entre civilizaccedilotildees
Civilizaccedilotildees da beira-mar ou no meio do mar ldquomoldadasrdquo pelo elemento
mariacutetimo (assim eram as talassocracias ateacute entatildeo existentes)
Civilizaccedilotildees que ldquodomesticaramrdquo os grandes mares que geravam
verdadeiras ldquocivilizaccedilotildees oceacircnicasrdquo Como aquele historiador demonstra em
Civilizations o Islatildeo foi a primeira civilizaccedilatildeo a projectar-se poliacutetica e
economicamente usando os caminhos oceacircnicos transformando o Iacutendico num
ldquolagordquo seu domiacutenio secular que foi beliscado pela curta expansatildeo chinesa do
inicio do seacuteculo XV5
Essa confluecircncia dos dois movimentos tornou o Iacutendico num espelho precoce da
revoluccedilatildeo que ocorreria mais tarde e que foi a razatildeo pela qual a histoacuteria de Portugal se
inscreveu na Histoacuteria universal
11 Repuacuteblicas Mariacutetimas Italianas
Os genoveses venezianos e catalatildees dominavam o Mediterracircneo com destaque
para as duas Repuacuteblicas italianas que lideraram o mundo poliacutetico euromediterracircnico a
partir do final do seacuteculo XIII
Geacutenova perderia o poder hegemoacutenico em 1380 na batalha naval de Chioggia agrave
entrada da grande laguna veneziana o que a levou sair do Adriaacutetico e a perder a
lideranccedila mediterracircnea para Veneza conhecida como a Serenissima Repubblica
Geacutenova La Superba havia dominado a regiatildeo desde que derrotara Pisa em 1320 e
criara um impeacuterio mediterracircnico e uma rede comercial e financeira transnacional
Perderia em 1397 a autonomia poliacutetica passando a ser uma zona de confronto entre a
4 Felipe Fernaacutendez-Arnesto exerce actualmente o magisteacuterio na caacutetedra Priacutencipe das Astuacuterias na
Universidade de Tufts Departamento de Histoacuteria e eacute membro do claustro de Queen Mary na
Universidade de Londres 5 FERNAacuteNDEZ-ARNESTO Felipe 2001 381
7
Franccedila e o Ducado de Milatildeo ao longo do seacuteculo XV No entanto nunca se apagou a
chama empreendedora pioneira
A individualidade genovesa foi de facto marcante ndash o seu espiacuterito de orizzonti
aperti (horizontes abertos) foi pioneiro no seacuteculo XIII Foi nesta repuacuteblica mariacutetima que
mais transparente se tornou o choque entre por um lado o lobby das cruzadas e da
bandeira poliacutetica da recuperaccedilatildeo de Jerusaleacutem e por outro lado a burguesia mercantil
mais arrojada ligada ao Banco di S Giorgio (criado em 1407) e agraves 28 famiacutelias
poderosas que compunham os Albergui6 A Escola genovesa de almirantado onde
sobressai a figura de Emanuele Pessagno (conhecido pelo portugueses como Manuel
Peccedilanha7) criou fama e uma geraccedilatildeo marinai erranti (marinheiros errantes) No
entanto veio para Portugal no iniacutecio do seacuteculo XIV para servir as navegaccedilotildees de
ldquooutrosrdquo em Quatrocentos e Quinhentos
A acircnsia genovesa de projecccedilatildeo para aleacutem do ldquolagordquo mediterracircnico ficou conhecida
As navegaccedilotildees de Benedetto Zacaria em 1277 abriam oficialmente a rota
mediterracircnico-atlacircntica para a Flandres anulando o significado das feiras de
Champagne e valorizando estrategicamente o estreito de Gibraltar bem como a costa
portuguesa e galega Mais tarde os irmatildeos Ugolino e Valdino Vivaldi com duas galeacutes
armadas por Tedisio Doria em 1291 aventuraram-se no Mar Oceano (o Atlacircntico) para
circum-navegarem Aacutefrica e chegarem ldquoagraves partes da Iacutendia e trazerem mercadorias
lucrativasrdquo mas nunca mais houve notiacutecias deles Especula-se que eles teriam como
objectivo provavelmente natildeo a verdadeira Iacutendia das especiarias mas a regiatildeo do ouro
da Aacutefrica Ocidental que na Idade Meacutedia muitos incluiacuteam na designaccedilatildeo geneacuterica de
ldquoIacutendiardquo8
Nos genoveses sentiu-se precocemente a necessidade de procurar chegar agraves fontes
asiaacuteticas de commodities de alto valor por via do Ocidente em oposiccedilatildeo ao domiacutenio
que os venezianos e aacuterabes detinham sobre as vias mediterracircnicas do Levante para o
Oriente E o sentido de risco dos clatildes financeiros genoveses daria corpo ao primeiro elo
do que viria a designar de Repubblica Internazional del Denaro
6 Agregaccedilatildeo artificial de vaacuterias famiacutelias da oligarquia genovesa Os Alberghi teriam entre 1600 a 1700
membros 40 dos quais estavam regularmente expatriados 7O monarca D Dinis em 1317 tornaria Manuel Peccedilagno de Geacutenova Almirante-mor do reino um cargo
hereditaacuterio 8 ALBUQUERQUE 2001 148
8
Mais proacuteximos geograficamente dos portugueses os catalatildees apesar da sua
expansatildeo mediterracircnica entre 1229 e 1412 (um impeacuterio que no seu auge incluiacutea as
Baleares Malta Sardenha Siciacutelia e os Ducados de Atenas e Neopaacutetria na Greacutecia bem
como um relacionamento especial com o Chipre) e de se terem afirmado como uma
potecircncia mariacutetima mediterracircnica dispunham de um dos centros cartograacuteficos mais
importantes da eacutepoca situado em Maiorca onde deu cartas a escola de cartoacutegrafos da
famiacutelia judia Cresques9 e a quem eacute atribuiacutedo um Atlas de 1375 Estes nunca desafiaram
a hegemonia genovesa e posteriormente a veneziana Mas como os italianos os catalatildees
tambeacutem fundaram coloacutenias mercantis muito fortes em Alexandria Beirute Damasco e
em diversos pontos do Magrebe
Os venezianos por seu lado consumada a paz com Geacutenova em 1381 e
secundarizaccedilatildeo geopoliacutetica desta repuacuteblica rival expandiram os seus domiacutenios de mar
atraveacutes da ocupaccedilatildeo de pontos estrateacutegicos na costa adriaacutetica grega e no Mediterracircneo
(ilhas como Chipre Corfu ou Creta) Tambeacutem estabeleceram fortes comunidades
mercantis ndash os fundaci ndash nos portos e placas giratoacuterias comerciais estrateacutegicas (como
Constantinopla Tana Sinope Tebisonda Alexandria e Damasco) dos paiacuteses com que
negociavam
A partir dessa rede dominaram o comeacutercio do que entatildeo chamavam mercanzie
sottili (mercadorias finas) as commodities de alto valor da eacutepoca que vinham da Iacutendia
da China do Ceilatildeo e das Molucas que chegavam a Veneza trazidas pelas mude
comboios mariacutetimos que vinham das placas giratoacuterias que eram Constantinopla
Alexandria e os portos da Siacuteria Este comeacutercio internacional movimentava 20 milhotildees
de ducados por ano A frota veneziana dispunha de 300 grandes navios 45 galeacutes e 3000
pequenos barcos e envolvia 36000 marinheiros
A Europa vivia literalmente enfeiticcedilada pelas especiarias dominada por
ldquofetichismordquo das commodities de luxo como ironizou o historiador Fernand Braudel
Paradoxalmente os europeus medievos consumiam produtos made in Oriente mas
desconheciam de todo onde ficavam exactamente e como eram os paiacuteses e as gentes de
onde se importavam tais luxos Daiacute a propagaccedilatildeo de mitos e contos fantaacutesticos sobre as
Iacutendias e China Apenas alguns viajantes aventureiros chegavam agraves fontes ndash Marco Polo
fora um deles
9 Um dos filhos desta famiacutelia catalatilde Jafuda Cresques cristianizado como Jaume (Jaime) Ribes seria um
dos expoentes maacuteximos do grupo conselheiro do Infante Henrique
9
Veneza soube gerir tambeacutem o ldquosaco de gatosrdquo que era a Europa do final da Idade
Meacutedia O grande cisma no papado entre 1378 e 1417 num periacuteodo em que chegou a
haver mais do que um centro de poder papal (Roma e Avignon) com pontiacutefices em
conflito apoiados por diferentes potecircncias ndash deu uma ajuda a esta cidade-Estado que
cultivava teimosamente a sua independecircncia De referir tambeacutem a intermitente Guerra
dos Cem Anos (1337-1453) que consumia as candidatas potenciais de entatildeo ao
hegemonismo da Europa continental a saber Inglaterra e Franccedila10
Natildeo eacute demais sublinhar que o conhecimento acumulado e as inovaccedilotildees geopoliacuteticas
surgidas com a expansatildeo das repuacuteblicas mariacutetimas mediterracircnicas seriam aprimoradas a
uma escala global pelos portugueses
12 O papel de Portugal ndash o pioneiro da globalizaccedilatildeo
O facto geopoliacutetico que abriria nas deacutecadas seguintes a janela de oportunidade aos
portugueses ocorreria bem longe do Mediterracircneo ndash Oceano Iacutendico ndash considerado o
centro econoacutemico do mundo
Ainda o Infante D Henrique natildeo fazia jus ao seu cognome de ldquoNavegadorrdquo jaacute os
chineses da dinastia Ming haviam lanccedilado a partir de 1405 sete expediccedilotildees em
direcccedilatildeo ao Iacutendico muito para aleacutem da sua tradicional esfera de influecircncia oceacircnica Foi
seu Almirante-Mor era Zheng He (1371-1433) a cujo nome ficou associado a
navegaccedilotildees de longa distacircncia anteriores agraves portuguesas Aquele movimento de
expediccedilotildees era o que chamariacuteamos hoje de ldquoprojecccedilatildeo de poderrdquo sublinhou Edward
Dreyer na sua obra Zheng He11
O argumento utilizado era um cruzamento haacutebil de
diplomacia e demonstraccedilatildeo do seu poder naval sem ser necessaacuterio exercecirc-lo a natildeo ser
excepcionalmente ldquoa sua armada era suficientemente intimidante e raramente
necessitava de combater de facto mas estar preparada para o fazer era a sua missatildeo
primaacuteriardquo diz Dreyer
As navegaccedilotildees chinesas acabariam abruptamente em 1433 A expansatildeo foi travada
por um movimento reaccionaacuterio da burocracia de Beijing e ocorreu no meio de uma
10
RODRIGUES amp DEVEZAS 2009 53-59 11
DREYER 2007 3
10
crise de hiperinflaccedilatildeo com o colapso do papel-moeda chinecircs tatildeo generosamente
espalhado pela Aacutesia Este recuo deixaria a porta aberta para os navegadores que a
seguir chegassem ao Iacutendico12
Assim Portugal aproveitou uma janela de oportunidade uacutenica no iniacutecio de
Quatrocentos pois a China entatildeo a maior economia do mundo recuou no seu projecto
de expansatildeo oceacircnica As Repuacuteblicas Italianas (nomeadamente Veneza entatildeo potecircncia
hegemoacutenica) e a Catalunha natildeo dispunham de estrateacutegias ou de inovaccedilotildees para irem
aleacutem do seu espaccedilo tradicional de projecccedilatildeo de poder que era o Mediterracircneo E as
potencias regionais e os poderes locais que dominavam os checkpoints e as rotas de
commodaties de alto valor em Aacutefrica no proacuteximo e Meacutedio Oriente e no Iacutendico natildeo
dispunham de poder naval para enfrentar um ldquointrusordquo expansionista
Alavancado o mito do Preste Joatildeo a elite portuguesa de Quatrocentos em
particular os dois irmatildeos ndash infantes Henrique o ldquoNavegadorrdquo e Pedro o ldquoCosmopolitardquo ndash
e o monarca D Joatildeo II (considerado um ldquoPriacutenciperdquo exemplar do Renascimento)
idealizaram uma estrateacutegia tenaz de cerco pelas ldquotraseirasrdquo ao elo mais fraco da eacutepoca o
arco muccedilulmano fragmentado que dominava as rotas de commodities ateacute Alexandria
principal porto do Mediterracircneo agora nas matildeos dos mamelucos e com quem Veneza
negociava Esta estrateacutegia portuguesa foi evolutiva e de geometria variaacutevel ora
procurando vias pela costa e rios de Aacutefrica Ocidental ao encontro do potencial aliado
Preste Joatildeo e do estrateacutegico Nilo ora recorrendo ao uso de espionagem e intelligence
ateacute agrave procura de um rota mariacutetima alternativa para uma das fontes de especiarias (a
Iacutendia)
A procura do Preste Joatildeo pelos navegadores portugueses foi infrutiacutefera durante
longas deacutecadas Apenas entre 1508 e 1514 se realizaram os primeiros encontros oficiais
entre as cortes etiacuteope e lisboeta Entretanto dois caminhos se abriram dois ciclos
sucessivos de uma nova especializaccedilatildeo econoacutemica portuguesa internacional onde
entrou o ouro o ignoacutebil traacutefico de escravos e as especiarias Esta nova especializaccedilatildeo
mudou o padratildeo tradicional da economia do paiacutes e foi responsaacutevel por uma revoluccedilatildeo
no comeacutercio internacional
12
RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 60-61
11
O sucesso no estabelecimento da nova rota mariacutetima para a Iacutendia deveu-se tanto a
inovaccedilotildees teacutecnicas e cientiacuteficas (como a caravela e a nova cartografia) como agrave gestatildeo
do conhecimento global da eacutepoca (o centro de acccedilatildeo do Infante Henrique e o war room
de D Joatildeo II) e tambeacutem a inovaccedilotildees estrateacutegicas para a projecccedilatildeo de poder (rede das
primeiras feitorias e fortificaccedilotildees de plataformas oceacircnicas e de novas cidades e de um
modelo de colonizaccedilatildeo) e ainda juriacutedicas (estabelecimento da doutrina do Mare
Clausum e assinatura dos primeiros tratados de divisatildeo do mundo em zonas de
influecircncia) Foi este conjunto de inovaccedilotildees que permitiu o surgimento de um novo e
longo ciclo geopoliacutetico e substituir Veneza na lideranccedila mundial13
Portugal criou portanto um novo tipo de impeacuterio ndash o impeacuterio oceacircnico em rede ndash
baseado na mobilidade e poder naval pois viabilizou o domiacutenio de uma vasta aacuterea do
planeta e uma forma de comeacutercio verdadeiramente internacional Este network lanccedilou as
bases para a criaccedilatildeo da aldeia global fenoacutemeno hoje sobejamente conhecido como
globalizaccedilatildeo
Os portugueses introduziram o uso sistemaacutetico do conhecimento cientiacutefico como
um activo indispensaacutevel para alcanccedilar objectivos poliacuteticos geoestrateacutegicos Tal facto
gerou os alicerces do Renascimento cientiacutefico europeu e transformou radicalmente a
visatildeo do mundo como um planeta composto por massas continentais banhadas por um
conjunto de oceanos interligados Foi graccedilas agrave expansatildeo mariacutetima portuguesa que surgiu
a concepccedilatildeo de um globo terrestre e uma nova cartografia14
Apesar das fortes raiacutezes empiacutericas da expansatildeo portuguesa do caraacutecter pragmaacutetico
e do forte improviso os liacutederes de Quatrocentos e de Quinhentos desenvolveram a
gestatildeo de conhecimento de forma eficiente Este foi o capital ldquointelectualrdquo que afirmou
um espoacutelio singular que destacou Portugal elevando-o agrave escala mundial Satildeo exemplos
deste periacuteodo os primeiros centros de acccedilatildeo de expansatildeo mariacutetima uma vaga de
publicaccedilotildees cientiacuteficas originais a revoluccedilatildeo na cartografia e na ciecircncia da construccedilatildeo
naval e uma evoluccedilatildeo da arte militar
A construccedilatildeo da hegemonia portuguesa foi claramente um processo evolutivo de
aprendizagem que abarcou vaacuterias geraccedilotildees Isto foi sucedendo desde a eacutepoca inicial dos
infantes D Henrique e D Pedro com a chegada agrave Costa da Mina e agrave linha do Equador
13
RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 175-176 14
RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 184-185
12
mais tarde com a passagem do Cabo da Boa Esperanccedila ateacute agrave chegada agrave Iacutendia Brasil
China e Japatildeo
Concluiacuteda a chegada agrave Iacutendia (1498) jaacute no tempo do rei D Manuel I a estrateacutegia de
projecccedilatildeo mundial foi tripla
Afirmaccedilatildeo de um poder naval sem contestaccedilatildeo mundial no Atlacircntico e
Iacutendico
Conclusatildeo da maior rede mundial de checkpoints existentes ateacute entatildeo
Campanha de marketing internacional junto do papado (poder
transnacional reconhecido pelos europeus)
Portugal caiu num dilema entre a focalizaccedilatildeo num espaccedilo controlaacutevel do Iacutendico
(ligado agrave rota das especiarias) e a tentaccedilatildeo de uma extensatildeo raacutepida incluindo um
projecto imperial universal embebido numa ideologia cruzadista e de expansatildeo
messiacircnica
A capacidade inovadora dos portugueses foi de tal forma abrangente que se pode
afirmar que nos seacuteculos XV e XVI Portugal inovou na arte de inovar Isto provocou
uma ruptura ldquotectoacutenicardquo na histoacuteria do mundo e natildeo foi um mero acidente relegado para
segundo plano por muitos historiadores e analistas face ao mediatismo criado em torno
das viagens de Colombo agrave Ameacuterica Central15
Segundo Daniel Boorstin16
ldquo(hellip) como empreendimento organizado e de longo
prazo a conquista dos Portugueses foi a mais moderna mais revolucionaacuteria do que as
largamente celebradas exploraccedilotildees de Colombo ()rdquo
15
RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 331 16
BOORSTIN 1986 83
Daniel Boorstin faleceu em 2004 Estudou em Oxford Harvard e Yale foi autor de 20 livros e
bibliotecaacuterio do Congresso norte-americano de 1975 a 1987 Foi director do Museu Nacional de Histoacuteria
e Tecnologia e da Smithsonian Institution entidades norte-americanas A Trilogia sobre a Histoacuteria
Mundial que escreveu ficou ceacutelebre E nela incluiu Os Descobridores Foi um dos acadeacutemicos que
destacou a originalidade portuguesa de Quatrocentos e Quinhentos
13
13 Siglo de oro espanhol
O ldquoseacuteculo de ourordquo foi o apogeu da cultura espanhola desde o Renascimento do
seacuteculo XV ateacute ao periacuteodo Barroco do seacuteculo XVII Marcado por acontecimentos-chave
abrangeu o periacuteodo desde a publicaccedilatildeo da gramaacutetica Castellana de Nebrija em 1492 ateacute
a morte de Calderoacuten de la Barca em 1681
Nos finais do seacuteculo XVIII jaacute se havia popularizado a expressatildeo Seacuteculo de Ouro
com a qual Lope de Vega aludia a si proacuteprio e que suscitava a admiraccedilatildeo de Don
Quixote de la Mancha no seu famoso discurso sobre a Idade de Ouro
Com a uniatildeo dinaacutestica os Reis Catoacutelicos Fernando e Isabel delinearam um Estado
politicamente forte que foi consolidado posteriormente cujos ecircxitos foram invejados
por alguns intelectuais contemporacircneos como por exemplo o italiano Nicolau
Maquiavel Poreacutem esse Estado politicamente forte esteve ideologicamente dominado
pela inquisiccedilatildeo eclesiaacutestica Os judeus que natildeo se cristianizaram foram expulsos em
1492 e dispersaram-se fundando coloacutenias hispacircnicas pela Europa Aacutesia e Norte de
Aacutefrica Aiacute cultivaram a sua liacutengua e escreveram livros em castelhano emergindo figuras
notaacuteveis como o economista e escritor Joseacute Penso de La Vega Miguel de Barrios Juan
de Prado Isaac Cardoso Abraham Zacuto Isaac Orobio e Manuel de Pina Em Janeiro
de 1492 Castela conquista o bastiatildeo mouro de Granada finalizando a etapa poliacutetica
muccedilulmana peninsular ainda que uma minoria mourisca aiacute continuasse a habitar mais
ou menos tolerada ateacute ao reinado de Felipe III
Em Outubro desse mesmo ano Cristoacutevatildeo Colombo chega agrave Ameacuterica A chegada agraves
ldquoiacutendiasrdquo por ocidente foi considerado pelo historiador Pierre Vilar17
o gesto mais
extraordinaacuterio da histoacuteria da Humanidade Ainda nesse ano foi celebrado o Tratado de
Tordesilhas entre D Joatildeo II e os Reis Catoacutelicos Como o nome indica este Tratado foi
assinado na povoaccedilatildeo castelhana de Tordesilhas a 7 de Junho de 1494 celebrado entre
o Reino de Portugal e o Reino da Espanha para dividir as terras descobertas e por
descobrir Este tratado surgiu na sequecircncia da contestaccedilatildeo portuguesa agraves pretensotildees da
Coroa espanhola resultantes da viagem de Cristoacutevatildeo Colombo que ano e meio antes
17
Pierre Vilar foi um historiador francecircs Estaacute considerado uma das maacuteximas autoridades no estudo da
Histoacuteria de Espanha tanto no periacuteodo do Antigo Regime como na Idade Contemporacircnea
14
chegara ao chamado Novo Mundo reclamando-o oficialmente para Isabel a Catoacutelica O
tratado foi ratificado pela Espanha a 2 de Julho e por Portugal a 5 de Setembro de 1494
Durante o apogeu cultural e econoacutemico desta eacutepoca Espanha alcanccedilou prestiacutegio
internacional e influenciou culturalmente a Europa Tudo quanto provinha de Espanha
foi amiuacutede imitado e divulgou-se a aprendizagem e estudo do castelhano
As aacutereas culturais mais cultivadas foram a literatura as artes plaacutesticas a muacutesica e a
arquitectura O saber foi-se acumulando e disseminado pelas prestigiadas universidades
de Salamanca e Alcalaacute de Henares
As cidades mais importantes foram Sevilha por receber as riquezas coloniais e dos
comerciantes e banqueiros europeus Madrid como sede da corte e ainda as cidades de
Toledo Valecircncia e Saragoccedila
Com a anexaccedilatildeo dinaacutestica e a formaccedilatildeo da monarquia dual ibeacuterica sob a coroa dos
Habsburgo a dinastia dos Felipes tenta criar o maior impeacuterio global no final do seacuteculo
XVI e primeira metade do seacuteculo XVII18
Com o nascimento do mito do ldquoEl Doradordquo (um suposto rei de uma regiatildeo auriacutefera
inventado pelos nativos colombianos) em 1538 acelerou-se a corrida aos metais
preciosos da Ameacuterica pelos ldquoconquistadoresrdquo espanhoacuteis Em 1547 o famoso mineiro de
Potosi nos Andes comeccedilava a sua exploraccedilatildeo intensiva de prata e em 1560 a invenccedilatildeo
de um novo meacutetodo de refinaccedilatildeo com mercuacuterio vindo das minas espanholas levou ao
disparo do negoacutecio superando a produccedilatildeo de ouro
O pico da importaccedilatildeo de prata para Espanha ocorre no quinqueacutenio de 1591-159519
No Oriente os castelhanos estabeleceram-se em Cebu desde 1565 e dois Navios da
Armada Miguel Lopez de Legazpi conseguiram estabelecer uma nova rota transpaciacutefica
mais a norte para o Meacutexico Em 1571 ocupavam a baiacutea de Manila e em 1574
exploravam as ilhas Borneacuteu e a Nova Guineacute A carreira regular entre o Meacutexico e as
Filipinas entre Acapulco e Manila pretendeu pocircr em xeque a carreira da Iacutendia
portuguesa20
Felipe II sofreu em larga medida do messianismo de seu avocirc portuguecircs D Manuel
I e viu em seu redor desenvolver-se uma retoacuterica imperialista e universalista herdada de
seu pai Carlos V O poeta-soldado Hernando de Acuntildea anunciara num poema dirigido a
18
RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 358 19
RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 348-349 20
RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 349
15
Carlos V que estava proacuteximo o dia em que se realizaria a maacutexima universal um
monarca um impeacuterio e uma espada
Espanha atingia entatildeo o auge de seu Siglo de Oro com um impeacuterio onde ldquoel Sol
no se poniacuteardquo desde o Virreinato de Nueva Espantildea (Ameacuterica Norte e Central) ateacute agraves
Filipinas o que levava os estrategos da Corte dos Felipes a sonhar com uma ldquomonarquia
mundialrdquo Mais tarde o aristocrata andaluz Gaspar Felipe de Guacutezman o famoso Conde-
Duque de Olivares adoptando uma expressatildeo de Gil Vicente afirmou ldquoDios es espantildeol
y estaacute de parte de la nacioacuten estos diasrdquo (Deus eacute espanhol e faz parte da naccedilatildeo nos dias de
hoje)
Ainda na vigecircncia do reinado de Felipe II (1556-1598) satildeo de salientar os
acontecimentos que iriam dar iniacutecio ao processo de decadecircncia deste siglo
Iniacutecio dos ataques sistemaacuteticos dos corsaacuterios ingleses agraves possessotildees
espanholas das Ameacutericas
O desastre da Grande y Feliciacutessima Armada (mais conhecida como
ldquoInvenciacutevel Armadardquo) que partira de Lisboa em 1588 (levando boa parte da
armada portuguesa que natildeo regressou) para invadir e subjugar a Inglaterra
A derrota frente aos ingleses na batalha naval do estreito de Gibraltar em
159021
Depois da morte de Felipe II uma atmosfera de desengantildeo de desilusatildeo nacional
apoderou-se de Espanha ndash segundo Elliot a obra imortal El Inginioso Hidalog Don
Quixote de La Mancha (1605 e 1614) de Miguel de Cervantes Saavedra eacute
provavelmente o expoente dessa eacutepoca de decliacutenio estrateacutegico que se iria estender pelo
reinado do filho e neto de Felipe II22
Na realidade o Siglo de Oro espanhol durou menos de sessenta anos A decadecircncia
comeccedilou na aclamaccedilatildeo de Felipe II em 1581 como rei portuguecircs nas Cortes de Tomar
e termina nas deacutecadas de 1630 e 1640 com Felipe IV (III em Portugal) Este uacuteltimo
coroado aos dezasseis anos de idade entregou o governo do impeacuterio ao Conde-Duque
de Olivares Durante o vinteacutenio compreendido entre 1623 e 1643 eacute o Conde-Duque de
Olivares que exerceraacute o controlo efectivo sobre o Estado espanhol A notoacuteria rivalidade
com o cardeal de Richelieu (Franccedila) arrastou a Espanha para a Guerra dos Trinta Anos
e a diversos conflitos paralelos com a Itaacutelia e com os Paiacuteses Baixos O desgaste causado
21
RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 358-360 22
RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 373
16
pelos vaacuterios conflitos o decliacutenio da induacutestria e do comeacutercio devido ao esgotamento dos
recursos das coloacutenias espanholas e a restauraccedilatildeo da coroa portuguesa (em 1640)
desacreditaram a sua gestatildeo Destituiacutedo do cargo exilou-se no norte de Espanha e
passou seus uacuteltimos anos submetido agraves investigaccedilotildees da Inquisiccedilatildeo ateacute seu falecimento
em 1645
Sucedeu-se ainda um quadro de desaires no final da Guerra dos Trinta Anos (1618-
1648) de que passo a citar os mais importantes
As derrotas infligidas na batalha naval ao largo de Downs no canal da
Mancha Esta derrota naval eacute considerada pelos proacuteprios estrategos espanhoacuteis
como o momento de perda da hegemonia naval
Em 1639 a infligida pelos holandeses comandados por Maarten Tromp
Em 1643 em Rocroi derrotados pelos franceses
A reconquista da Independecircncia dos portugueses em 1640
A revolta da Catalunha que se converte num protectorado francecircs
A derrota de Lens em 1648 de novo agraves matildeos dos franceses
14 O ciclo holandecircs e a hegemonia inglesa
Se Portugal de Quinhentos foi o pioneiro do verdadeiro comeacutercio internacional
foram os hegemonistas seguintes holandeses e ingleses que souberam inovar para dele
tirar proveito efectivo
Alguns historiadores desenharam esta imagem sugestiva ndash o papel dos portugueses
foi entatildeo ldquoo de lanccedilarem catildees para espantarem a caccedila que depois foi apanhada por
outrosrdquo23
Natildeo foi por acaso que os holandeses ficaram conhecidos no seacuteculo XVII como os
ldquocarreteiros do marrdquo com uma frota que era o dobro da de Inglaterra e Franccedila juntas24
ldquoLanccedilaram-se ao mar e tornaram-se os transportadores das mercadorias mundiais Os
23
BOXER 2001 32 Imagem atribuiacuteda por Charles R Boxer ao capitatildeo holandecircs Willem Bosman 24
RODRIGUES 1997 280 (volume I)
O contraste no periacuteodo de 1600-1700 foi brutal a frota comercial portuguesa baixou de uma meacutedia de
700 navios (no periacuteodo de Quinhentos) para quase metade e a holandesa disparou de menos de 100 para
1770 contra 811 ingleses e 155 franceses
17
barcos holandeses iam a toda a parte levando mercadoria de todo o mundo a todo o
lugarrdquo dizia Leo Huberman25
Aos holandeses e ingleses caberia inovarem no empreendorismo capitalista
justamente onde falhou o ldquocapitalismo monaacuterquico portuguecircsrdquo o que gerou a croacutenica
desvantagem competitiva que marcaria a evoluccedilatildeo do comeacutercio a partir dos comeccedilos do
seacuteculo XVII
A esse conjunto de inovaccedilotildees anglo-holandesas entre 1600 e 1700 poderemos
chamar de revoluccedilatildeo de softpower ndash mais poderoso do que o militarismo religioso
apelidado de ldquodilataccedilatildeo da feacuterdquo que os portugueses e espanhoacuteis pretenderam usar como
arma ideoloacutegica de consolidaccedilatildeo das ldquoDescobertasrdquo26
O primeiro aspecto inovador do softpower da potecircncia emergente foi juriacutedico27
A
doutrina do Mare Clausum defendida e aplicada pelos portugueses foi contestada O
holandecircs Hugo Grotius formulou em De Jure Pradae28
(1604) e Mare Liberum (1609)
a ideia de que haveria um direito natural de navegaccedilatildeo livre no mar alto O oceano seria
um bem puacuteblico comum onde natildeo se aplicavam os direitos de conquista nem a lei
consuetudinaacuteria ldquoEm virtude deste direito (de mar livre) o comeacutercio estaacute aberto a toda
a genterdquo afirma Grotius que termina a sua obra Mare Liberum dizendo que eacute preciso
natildeo recuar perante a guerra se os portugueses mantiverem a sua doutrina do Mare
Clausum Grotius respondia tambeacutem a uma decisatildeo de James I de Inglaterra que no
iniacutecio de 1609 decretara a obrigatoriedade de licenccedilas nos mares em redor das costas
inglesas o que prejudicou seriamente os holandeses
O segundo aspecto foi poliacutetico-comercial Foram por sua vez os ingleses que
criaram um novo tipo de companhia trading baseada numa sociedade por acccedilotildees em
que a proacutepria rainha da altura Elizabeth I participava como accionista e sem a
dependecircncia do circuito dos banqueiros alematildees e italianos A primeira dessas
companhias em finais de 1600 tinha o estranho nome de ldquoGovernador e Companhia
dos Aventurosos Mercadores para a descoberta de regiotildees domiacutenios ilhas e lugares
desconhecidosrdquo e contava em Londres com 240 accionistas que investiram 25 libras
25
HUBERMAN 1970 45 26
RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 397 27
O debate entre o Mare Clausum e o Mare Liberum estaacute muito bem documentado no livro de Wilhelm
Grewe intitulado The Epochs of International Law republicado pela editora Walter de Gruyer em 2000
Berlim e Nova York 28
Grotius refere nesta obra supracitada a captura em Malaca de um barco portuguecircs por um navio da
companhia holandesa VOC
18
cada um (na eacutepoca uma soma de certa importacircncia29
) Esta deu origem mais tarde ao
aparecimento da famosa Companhia Inglesa das Iacutendias Orientais Honourable East India
Company Em 1602 foi a vez de os holandeses criarem a Companhia das Indias
Orientais a conhecida VOC (acroacutenimo de Verenidge Oost-indische Compagnie) que
agrupou nove companhias por acccedilotildees depois do ensaio com a inicial Compagnie Van
Verre (Companhia das Terras Longiacutenquas) criadas em 1594
Estas companhias natildeo eram meramente comerciais eram bem mais do que isso
Funcionavam como uma ferramenta poliacutetica multifuncional pois natildeo soacute criavam a
infra-estrutura para o comeacutercio internacional como tambeacutem serviam de arma poliacutetico-
ideoloacutegica (exercendo softpower) coerciva (cobrando impostos) e militar (aplicando o
hardpower)30
Por alguns satildeo consideradas exemplos de ldquoactores natildeo estaduaisrdquo com
dimensatildeo multinacional a quem os monarcas atribuiacuteam poderes soberanos nas regiotildees
de expansatildeo ao contraacuterio dos ibeacutericos que exerciam o poder ultramarino atraveacutes de
vice-reis Posteriormente os franceses copiaram o modelo anglo-holandecircs na sua
projecccedilatildeo nas Ameacutericas e na Iacutendia mas com menos sucesso devido agrave sua inferioridade
na projecccedilatildeo oceacircnica
Em 1609 os holandeses fundaram o Amesterdamsche Wisselbank (Banco de
Amesterdatildeo) sobre o qual Adam Smith escreveu vaacuterios paraacutegrafos na sua obra mais
ceacutelebre31
e em 1694 surgiu o Bank of England32
De salientar ainda a mudanccedila no exerciacutecio de hardpower nos mares Eacute um aspecto a
que muitos historiadores designaram ldquorevoluccedilatildeo militarrdquo ocorrida ao longo da primeira
metade do seacuteculo XVII visto que os ingleses e holandeses inovaram em termos de
velocidade flexibilidade (aperfeiccediloamento da capacidade de bolinar) e posicionamento
da artilharia a bordo dos navios33
29
HUBERMAM ibidem nt 12 30
HUTTON 2006 70 31
SMITH 1776 livro IV capiacutetulo 3 parte I 32
RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 398-400 33
RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 402
19
15 A Burguesia e a Revoluccedilatildeo Industrial
O incremento do comeacutercio mariacutetimo permitiu que os produtos do Oriente
chegassem agrave Europa e vice-versa Este comeacutercio apesar do risco impliacutecito nas viagens
era altamente rentaacutevel (bastava uma caravela chegar do Oriente com especiarias para
cobrir os custos totais da frota)
As transacccedilotildees comerciais realizadas pelos europeus atraveacutes das suas rotas
mariacutetimas permitiram o enriquecimento das classes sociais vigentes e contribuiacuteram
ainda em grande escala para o aparecimento de uma nova classe social ldquoendinheiradardquo
ndash a Burguesia
Os burgueses eram os habitantes dos burgos que eram pequenas ldquocidadesrdquo
protegidas por muros Eram ldquogentesrdquo de elevado estatuto econoacutemico embora de baixo
niacutevel cultural e social Por isso se compreende agrave luz da eacutepoca que tenham sido
ostracizados pela nobreza
Com o mundo e o comeacutercio ligado em rede ndash mercado global ndash a procura mundial
disparou e consequentemente tornou-se mais premente aumentar a oferta
O ldquonegoacutecio mariacutetimordquo indissociaacutevel da burguesia favoreceu a acumulaccedilatildeo de
capitais na Europa Posteriormente esta acumulaccedilatildeo de capital serviu de suporte
financeiro agrave Revoluccedilatildeo Industrial
A Revoluccedilatildeo Industrial consistiu num conjunto de mudanccedilas tecnoloacutegicas34
com
profundo impacto no processo produtivo que se reflectiu no desenvolvimento
econoacutemico e social na Europa A era industrial provocou uma ruptura com o passado
Foi iniciada em Inglaterra em meados do seacuteculo XVIII e rapidamente se expandiu a
partir do seacuteculo XIX
Entre as novas aplicaccedilotildees tecnoloacutegicas saliento a importacircncia da aplicaccedilatildeo do
motor a vapor em navios que veio encurtar a distacircncia entre os portos e
simultaneamente aumentar a capacidade de circulaccedilatildeo de pessoas e mercadorias Este
momento marcou o decliacutenio do ciclo de navegaccedilatildeo comercial agrave vela
A Revoluccedilatildeo Industrial eacute o ponto culminante de uma evoluccedilatildeo tecnoloacutegica
econoacutemica e social que se vinha processando na Europa desde a Idade Meacutedia com
34
James Watt em 1765 introduz na Gratilde-Bretanha o condensador na maacutequina de Newcomen componente
que aumenta consideravelmente a eficiecircncia da maacutequina a vapor
20
maior ecircnfase nos paiacuteses onde a Reforma protestante tinha conseguido destronar a
influecircncia da Igreja Catoacutelica Nos paiacuteses fieacuteis ao catolicismo a Revoluccedilatildeo Industrial
eclodiu em geral mais tarde
O seacuteculo XIX no plano das relaccedilotildees internacionais foi marcado pela hegemonia
mundial britacircnica de expansatildeo colonialista e pelo aparecimento das primeiras lutas e
conquistas dos trabalhadores O trono britacircnico foi ocupado pela rainha Vitoacuteria (1837-
1901) razatildeo pela qual esse periacuteodo eacute denominado por Era Vitoriana No final deste
seacuteculo a busca de novas regiotildees para colonizar e descarregar os produtos (maciccedilamente
produzidos pela revoluccedilatildeo industrial) levou a uma acirrada disputa entre as potecircncias
industrializadas causando diversos conflitos e um crescente espiacuterito armamentista que
culminou mais tarde na eclosatildeo da Primeira Guerra Mundial (1914)
Statue of Prince Henry the Navigator ndash Belgrave Square London35
35
Estaacutetua em homenagem ao Infante D Henrique Belgrave Square em Londres
21
Cap II ndash O Livro Verde da Poliacutetica Mariacutetima Integrada Europeia
21 Fundamentos da Poliacutetica Mariacutetima Integrada Europeia
Partimos da definiccedilatildeo de fundamento eacute o que daacute consistecircncia e seguranccedila o que
daacute coesatildeo agraves partes do todo que ele mesmo estrutura e sustenta36
No capiacutetulo precedente dedicado a um breve enquadramento histoacuterico destaquei as
principais naccedilotildees europeias que contribuiacuteram fortemente para identidade mariacutetima da
Europa Facto eacute que hoje em dia em pleno seacuteculo XXI eacute inconcebiacutevel olhar para
Europa e imaginaacute-la sem mar ou negar a sua importacircncia no quotidiano dos europeus
De referir que na Uniatildeo Europeia a 27 apenas 5 Estados-membros natildeo satildeo paiacuteses
costeiros o que demonstra desde logo a importacircncia da temaacutetica mariacutetima no contexto
europeu Este eacute sem duacutevida um dos desafios que a Europa enfrenta e que passo a
apresentar neste capiacutetulo dedicado ao Livro Verde da Poliacutetica Mariacutetima Integrada
Europeia
Qualquer cidadatildeo europeu se lembraraacute dos relatos das grandes viagens de
descobrimentos que revelaram aos nossos antepassados a vastidatildeo a diversidade de
culturas e a riqueza de recursos do nosso planeta O ecircxito destas viagens que na sua
maioria eram mariacutetimas exigia quase sempre espiacuterito de abertura a ideias novas e um
planeamento meticuloso aleacutem de extraordinaacuteria coragem e forte determinaccedilatildeo Graccedilas a
elas natildeo soacute foram sendo desvendadas ao longo do tempo regiotildees do mundo antes
desconhecidas como tambeacutem apareceram novas tecnologias como por exemplo o
astrolaacutebio (instrumento naval usado para medir a altura dos astros acima da linha do
horizonte) o cronoacutemetro mariacutetimo (destinado a calcular a longitude exacta) e a turbina a
vapor (que permitiu escapar agrave tirania dos ventos dominantes)
A densidade populacional nas zonas do litoral europeu foi sempre elevada No mar
encontraram um meio de subsistecircncia pescadores e marinheiros mas tambeacutem sauacutede e
prazer novos horizontes para sonhar e um rico reportoacuterio de vocaacutebulos e metaacuteforas
36
Enciclopeacutedia Luso Brasileira vol 8 1794
22
presentes tanto na literatura como no quotidiano Fonte de romance de uniatildeo mas
tambeacutem de separaccedilotildees perigos desconhecidos e sofrimento o mar eacute um desafio
permanente e suscita em noacutes uma vontade profunda de melhor o conhecer
A Europa possui mais de 70000 km de orla costeira estaacute rodeada por numerosas
ilhas por quatro mares (Mediterracircneo Baacuteltico do Norte e Negro) e por dois oceanos
(Atlacircntico e Aacuterctico) O continente europeu eacute uma peniacutensula com uma orla costeira de
milhares de quiloacutemetros ndash maior do que a de outras grandes massas continentais como
os Estados Unidos ou a Federaccedilatildeo da Ruacutessia Dada esta configuraccedilatildeo geograacutefica mais
de dois terccedilos das fronteiras da UE satildeo de orla mariacutetima E os espaccedilos mariacutetimos sob
jurisdiccedilatildeo dos Estados-Membros satildeo mais vastos do que os seus espaccedilos terrestres
Graccedilas agraves suas regiotildees ultraperifeacutericas para aleacutem do Oceano Atlacircntico a Europa estaacute
igualmente presente no Oceano Iacutendico e no mar das Caraiacutebas Os desafios colocados por
estas regiotildees no plano mariacutetimo satildeo numerosos e afectam a Uniatildeo Europeia no seu todo
A Europa desde tempos imemoriais essencialmente devido agrave sua geografia sempre
teve uma relaccedilatildeo privilegiada com os oceanos sendo estes determinantes no
desenvolvimento da sua cultura identidade e histoacuteria
Assim continua a ser hoje em dia Num momento em que a Uniatildeo Europeia procura
veementemente revitalizar a economia eacute importante reconhecer o potencial econoacutemico
da dimensatildeo mariacutetima Estima-se que 3 a 5 do produto interno bruto (PIB) europeu
eacute gerado pelas induacutestrias e serviccedilos do sector mariacutetimo sem contar com o valor de
mateacuterias-primas como o petroacuteleo o gaacutes ou o pescado As regiotildees mariacutetimas europeias
representam mais de 40 do PIB da Uniatildeo Europeia
Natildeo obstante os cidadatildeos europeus nem sempre estatildeo bem conscientes da
importacircncia dos oceanos e mares na sua vida Embora saibam que a aacutegua eacute um bem
crucial poderatildeo desconhecer que proveacutem dos oceanos sob a forma ldquorecicladardquo de chuva
ou de neve por exemplo Preocupam-se com as alteraccedilotildees climaacuteticas mas nem sempre
sabem ateacute que ponto satildeo moduladas pelos oceanos Beneficiam da possibilidade de
comprar produtos baratos de todo o mundo sem se aperceberem da complexidade da
rede logiacutestica que o torna possiacutevel37
37
COM (2006) 275 final vol II 3
23
O desenvolvimento sustentaacutevel como se sabe ocupa um lugar preponderante na
agenda de trabalhos da Uniatildeo Europeia O desafio consiste em assegurar o reforccedilo
muacutetuo do crescimento econoacutemico da coesatildeo social e da protecccedilatildeo do ambiente
Ora a PMIE tem a oportunidade de aplicar aos oceanos o princiacutepio do
desenvolvimento sustentaacutevel Para esse efeito pode tirar partido dos trunfos que sempre
estiveram na base da supremacia no domiacutenio mariacutetimo conhecimento dos oceanos
larga experiecircncia e capacidade para enfrentar novos desafios conjugados com um forte
empenho na protecccedilatildeo dos seus recursos38
A Europa depois de seacuteculos de ligaccedilatildeo aos mares e oceanos assume a partir de
2007 a coordenaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas ligadas ao espaccedilo mariacutetimo e costeiro
europeu Todavia o objectivo de alcanccedilar uma poliacutetica mariacutetima mais integrada natildeo eacute
exclusivo da Europa eacute algo que tem vindo a ser implementado igualmente por paiacuteses de
outras regiotildees do mundo como a Austraacutelia o Canadaacute ou os Estados Unidos
22 Potencialidades das principais actividades mariacutetimas da Uniatildeo Europeia
A Uniatildeo Europeia eacute a primeira potecircncia mariacutetima mundial especialmente no que
diz respeito ao transporte mariacutetimo agraves teacutecnicas de construccedilatildeo naval ao turismo costeiro
agrave energia offshore incluindo as energias renovaacuteveis e serviccedilos associados No futuro
segundo um estudo do Irish Marine Institute39
os sectores com maior potencial de
crescimento seratildeo o sector dos cruzeiros e portuaacuterio a aquicultura as energias
renovaacuteveis as telecomunicaccedilotildees submarinas e a biotecnologia marinha
O transporte mariacutetimo e os portos satildeo essenciais para o comeacutercio internacional pois
90 do comeacutercio externo da Uniatildeo Europeia e mais de 40 do seu comeacutercio interno eacute
efectuado por via mariacutetima A Uniatildeo Europeia com 40 da frota mundial eacute
incontestavelmente o liacuteder deste sector global Anualmente 35 mil milhotildees de
toneladas de mercadorias e 350 milhotildees de passageiros transitam pelos portos mariacutetimos
europeus Cerca de 350000 pessoas trabalham nos portos e nos serviccedilos associados
38
COM (2006) 275 final vol II 4 39
Para mais informaccedilotildees sobre o Irsih Marine Institute httpwwwmarineie
24
que no seu conjunto geram um valor acrescentado de aproximadamente 20 mil milhotildees
de euros40
Com o aumento do volume do comeacutercio mundial e o desenvolvimento do
transporte mariacutetimo de curta distacircncia e das ldquoauto-estradasrdquo mariacutetimas as perspectivas
para estes sectores satildeo de crescimento contiacutenuo O transporte mariacutetimo eacute um catalisador
para outros sectores nomeadamente a construccedilatildeo naval e os equipamentos mariacutetimo-
portuaacuterios
Os serviccedilos mariacutetimos associados como os seguros a banca a intermediaccedilatildeo a
classificaccedilatildeo e a consultoria satildeo mais um domiacutenio em que a Europa deve manter a sua
lideranccedila
Os oceanos e os mares geram igualmente receitas graccedilas ao turismo Estima-se que
o volume de negoacutecios directo do sector do turismo mariacutetimo na Europa tenha sido de 72
mil milhotildees de euros em 2004 Os turistas que passam feacuterias no litoral usufruem do mar
da praia e da zona costeira de formas muito diversas Muitos destinos turiacutesticos devem a
sua popularidade agrave proximidade do mar e dependem da qualidade ambiental deste Para
a sustentabilidade do turismo em geral e em particular do ecoturismo sector que se
encontra em raacutepida expansatildeo eacute pois crucial prever um elevado niacutevel de protecccedilatildeo das
zonas costeiras e do meio marinho O turismo gera ainda trabalho para a induacutestria da
construccedilatildeo naval
O sector europeu dos cruzeiros tambeacutem se desenvolveu fortemente nos uacuteltimos
anos registando uma taxa de crescimento anual superior a 10 Os navios de cruzeiro
satildeo praticamente todos construiacutedos na Europa O turismo de cruzeiro contribui para o
desenvolvimento das zonas costeiras e insulares
O sector da naacuteutica de recreio registou igualmente um aumento constante nos
uacuteltimos anos prevendo-se que o seu crescimento anual na Uniatildeo Europeia seja de 5 a
641
Nenhuma outra forma de lazer colectivo abrange um leque tatildeo grande de idades
interesses e locais42
O mar desempenha um papel essencial na competitividade no desenvolvimento
sustentaacutevel e na seguranccedila do aprovisionamento energeacutetico os quais constituem
40
Contributo da Organizaccedilatildeo dos Portos Mariacutetimos Europeus (ESPO) para o Livro Verde 41
Contributo da European Union Recreational Marine Industry Group (EURMIG) para o Livro Verde
Este sector inclui nomeadamente a construccedilatildeo de embarcaccedilotildees a electroacutenica de ponta para fabrico de
motores e equipamentos mariacutetimos o financiamento e a construccedilatildeo e exploraccedilatildeo de infra-estruturas 42
Contributo da European Boating Association (EBA) para o Livro Verde
25
objectivos essenciais identificados pela Comissatildeo Europeia43
e pelos Chefes de Estado
e de Governo44
O mar do Norte eacute depois da Ruacutessia dos Estados Unidos e da Araacutebia
Saudita a quarta maior fonte de petroacuteleo e de gaacutes no mundo45
Os mares em torno da
Europa desempenham tambeacutem um importante papel no sector da energia na medida em
que permitem o transporte por um nuacutemero crescente de navios-tanque de uma grande
parte do petroacuteleo e do gaacutes consumidos na Europa
Por outro lado o vento as correntes oceacircnicas as ondas e mareacutes representam uma
vasta fonte de energia inesgotaacutevel Convenientemente explorados estes tipos de
energias poderiam assegurar uma importante parte do abastecimento de electricidade em
muitas zonas costeiras da Europa e contribuir assim para o desenvolvimento econoacutemico
e a criaccedilatildeo de emprego com caraacutecter duradouro
As empresas europeias desenvolvem know-how na aacuterea das tecnologias marinhas
natildeo soacute no domiacutenio da exploraccedilatildeo de hidrocarbonetos no mar como tambeacutem nos dos
recursos marinhos renovaacuteveis das actividades em aacuteguas profundas da investigaccedilatildeo
oceanograacutefica dos veiacuteculos e robocircs subaquaacuteticos das obras mariacutetimas e da engenharia
costeira Essas tecnologias satildeo cada vez mais utilizadas e estimularatildeo o crescimento do
sector europeu das tecnologias marinhas especialmente nos mercados mundiais de
exportaccedilatildeo
Por fim a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Alimentaccedilatildeo e a Agricultura
(FAO)46
indica que caberaacute agrave aquicultura satisfazer a nova procura mundial no mercado
de consumo de pescado A dificuldade consiste em gerir este aumento de procura de
uma forma sustentaacutevel e compatiacutevel com o ambiente A competiccedilatildeo pelo espaccedilo pode
tambeacutem constituir um importante problema em algumas zonas costeiras A aquicultura
poderaacute distanciar-se da costa o que exigiraacute novos trabalhos de investigaccedilatildeo e
desenvolvimento da tecnologia de cultura em jaulas offshore47
A Uniatildeo Europeia eacute uma das principais potecircncias de pesca ao niacutevel mundial e o
maior mercado de produtos transformados agrave base de peixe Embora o nuacutemero de
pescadores na Uniatildeo Europeia tenha vindo a baixar ao longo dos anos o sector das
43
COM (2006) 105 final 44
Conclusotildees da Presidecircncia do Conselho Europeu de 23 e 24 de Marccedilo de 2006 45
Contributo da International Association of Oil and Gas Producers (OGP) para o Livro Verde 46
O estado das pescas e da aquicultura no mundo FAO 2004 47
COM (2002) 511 final
26
pescas no seu conjunto emprega ainda cerca de 526000 pessoas48
Satildeo proporcionados
numerosos postos de trabalho natildeo soacute no sector da captura como na induacutestria da
transformaccedilatildeo acondicionamento transporte e comercializaccedilatildeo bem como nos
estaleiros faacutebricas de artes de pesca empresas de abastecimento e de manutenccedilatildeo Estas
actividades tecircm uma importacircncia consideraacutevel no tecido econoacutemico e social das zonas
pesqueiras A transiccedilatildeo gradual para pescarias mais sustentaacuteveis prevista pela Uniatildeo
Europeia e o aumento da procura de peixe enquanto alimento saudaacutevel conduzem a
uma maior estabilidade rentabilidade e inclusiveacute crescimento econoacutemico em certos
segmentos do sector das pescas49
Como verificamos as actividades mariacutetimas ainda que dispersas ou diacutevidas por
sectores satildeo efectivamente importantes para o desenvolvimento econoacutemico da Europa
No entanto sendo a Europa um continente proeminentemente mariacutetimo questiono-
me porque eacute que soacute a partir de 2006 surge uma intenccedilatildeo de abordar os assuntos
mariacutetimos como um todo e de forma integrada A resposta eacute complexa Talvez seja o
reflexo de uma Europa tradicionalmente sectaacuteria baseada nos interesses individuais dos
Estados-membros e com a dificuldade em falarem a uma soacute voz Apesar de tardia a
PMIE pode ser uma referecircncia para a Europa na forma como desenvolve e implementa
poliacuteticas axioloacutegicas e integradas contribuindo simultaneamente para uma Europa de
direitos e com valores50
dando assim a todos uma melhor perspectiva de futuro
48
Factos e nuacutemeros sobre a Poliacutetica Comum da Pesca (PCP) CE 2004 49
COM (2006) 275 final volume II 7-9 50
A dignidade humana a liberdade a democracia a igualdade o Estado de Direito o respeito pelos
direitos do Homem satildeo os valores fundamentais da UE consagrados no Preacircmbulo do Tratado de Lisboa
Satildeo comuns a todos os EM e qualquer paiacutes europeu que queira tornar-se membro da UE tem de os
respeitar Defender estes valores bem como a paz e o bem-estar dos povos da Uniatildeo satildeo agora os
objectivos principais da UE Estes objectivos gerais satildeo complementados por objectivos mais especiacuteficos
como a promoccedilatildeo da justiccedila e da protecccedilatildeo sociais e a luta contra a exclusatildeo social e as discriminaccedilotildees
27
23 Livro Verde ndash ldquouma visatildeo para os oceanos e os maresrdquo
ldquo(hellip) torna-se especialmente necessaacuterio termos uma poliacutetica mariacutetima abrangente
orientada para o desenvolvimento de uma economia mariacutetima florescente e para a
plena exploraccedilatildeo do potencial das actividades centradas no mar e de uma forma
sustentaacutevel para o ambiente Esta poliacutetica deve assentar na excelecircncia da investigaccedilatildeo
cientiacutefica da tecnologia e da inovaccedilatildeo mariacutetimardquo Cit nos objectivos estrateacutegicos da
Comissatildeo Europeia para 2005-2009
A Comissatildeo Europeia em Junho de 2006 apresentou um Livro Verde sobre os
diferentes aspectos de uma futura poliacutetica mariacutetima comunitaacuteria Esta obra realccedilou a
identidade e a supremacia mariacutetimas da Europa que devem ser preservadas num
periacuteodo em que as pressotildees sobre o ambiente comprometem a perenidade das
actividades mariacutetimas A poliacutetica mariacutetima deve consequentemente ter por objectivo a
formaccedilatildeo de um sector mariacutetimo inovador competitivo e respeitador do ambiente Para
aleacutem das actividades mariacutetimas a abordagem proposta integra tambeacutem a qualidade de
vida nas regiotildees costeiras O Livro Verde teve como objectivo lanccedilar um debate sobre
uma futura poliacutetica mariacutetima para a Uniatildeo Europeia caracterizado por uma abordagem
holiacutestica dos oceanos e dos mares
Ele tornou claro que num periacuteodo em que os recursos estatildeo ameaccedilados por
pressotildees fortes e pela crescente capacidade tecnoloacutegica de os explorar soacute uma atitude
de profundo respeito pelos oceanos e pelos mares nos permitiraacute continuar a desfrutar
dos benefiacutecios que eles nos oferecem A reduccedilatildeo acelerada da biodiversidade marinha
devido nomeadamente agrave poluiccedilatildeo ao impacto das alteraccedilotildees climaacuteticas e agrave sobrepesca
eacute desde jaacute um sinal de alarme inequiacutevoco que natildeo se pode ignorar
Assim o Livro Verde baseou-se nas poliacuteticas e iniciativas da UE existentes e
insere-se no contexto da Estrateacutegia de Lisboa procurando estabelecer o justo equiliacutebrio
entre as dimensotildees econoacutemica social e ambiental
Como tal contribuiu largamente para que os europeus adquirissem uma nova
consciecircncia da grandeza do seu patrimoacutenio mariacutetimo da importacircncia dos oceanos e do
potencial dos oceanos para melhorar o bem-estar e aumentar as oportunidades
econoacutemicas
28
A Comissatildeo Europeia postulou que a poliacutetica mariacutetima comunitaacuteria deve alicerccedilar-
se em dois pilares fundamentais
Em primeiro lugar deve estar ancorada na Estrateacutegia de Lisboa estimulando o
crescimento e a criaccedilatildeo de mais e melhores empregos O investimento permanente no
conhecimento e nas competecircncias eacute um factor essencial para manter a competitividade e
garantir empregos de qualidade
Em segundo lugar deve manter e melhorar o estado do recurso em que se baseiam
todas as actividades mariacutetimas ou seja o oceano propriamente dito
Embora a utilizaccedilatildeo destes pilares como base para a nova poliacutetica mariacutetima possa
parecer relativamente simples haacute que natildeo descurar duas caracteriacutesticas especiacuteficas do
meio marinho
A primeira consiste na natureza global dos oceanos que faz com que as relaccedilotildees
entre paiacuteses sejam ao mesmo tempo complementares e concorrenciais Para regular as
actividades mariacutetimas no interesse do desenvolvimento sustentaacutevel ao niacutevel mundial eacute
necessaacuterio elaborar regras aplicaacuteveis universalmente Contudo cada parcela de oceano e
de mar eacute singular e pode exigir as suas proacuteprias regras e uma gestatildeo mais especiacutefica
Esta aparente contradiccedilatildeo eacute ilustrativa do motivo pelo qual a natureza global dos
oceanos representa um tatildeo grande desafio para os decisores poliacuteticos
O outro desafio que se oferece a uma boa governaccedilatildeo mariacutetima directamente
ligado ao aspecto anterior prende-se com a multiplicidade dos intervenientes
Numerosas satildeo as poliacuteticas sectoriais que surgiram e que existem a todos os niacuteveis de
poder comunitaacuterio nacional regional e local Pode acontecer que intervenientes de
agecircncias e paiacuteses diferentes ou organizaccedilotildees internacionais estejam melhor colocados
para adoptar as propostas de acccedilatildeo Contudo para que as decisotildees sejam tomadas a um
niacutevel mais proacuteximo dos interessados cumprindo-se o princiacutepio da subsidiariedade soacute
devem ser desenvolvidas acccedilotildees ao niacutevel da Uniatildeo Europeia se tal conferir valor
acrescentado agraves actividades de outros51
51
COM (2006) 275 final volume II 5-6
29
24 Aacutereas-chave no Livro Verde
Do Livro Verde constam diversas aacutereas-chave que passamos a analisar
Meio marinho
O meio marinho enfrenta nomeadamente os seguintes problemas diminuiccedilatildeo
acelerada da biodiversidade (consequecircncias na realizaccedilatildeo do potencial da
ldquobiotecnologia azulrdquo) exploraccedilatildeo excessiva dos recursos (consequecircncias para a pesca)
alteraccedilotildees climaacuteticas (consequecircncias para a pesca e para o turismo costeiro) poluiccedilatildeo
com origem terrestre acidificaccedilatildeo da aacutegua do mar e a poluiccedilatildeo provocada pelas
descargas dos navios e os acidentes mariacutetimos (na falta de melhor seguranccedila mariacutetima)
Para diminuir o impacto destes fenoacutemenos no meio-ambiente marinho deveraacute reforccedilar-
se a legislaccedilatildeo no domiacutenio da seguranccedila mariacutetima introduzir-se a avaliaccedilatildeo de riscos na
elaboraccedilatildeo das poliacuteticas e aplicar novas tecnologias ao niacutevel do tratamento de aacuteguas de
lastro52
Investigaccedilatildeo
A investigaccedilatildeo eacute essencial para se poder definir estrateacutegicas e tomar decisotildees com
conhecimento de causa Todavia os EM podem ir mais longe coordenando os seus
programas de investigaccedilatildeo nacionais a fim de realizar uma investigaccedilatildeo pan-europeia e
racionalizando meios A cooperaccedilatildeo entre investigadores e criadores de novas
tecnologias assume tambeacutem especial importacircncia
Inovaccedilatildeo
A inovaccedilatildeo pode ajudar a encontrar soluccedilotildees em domiacutenios em franca mutaccedilatildeo
como eacute o caso das energias e das alteraccedilotildees climaacuteticas As soluccedilotildees encontradas podem
tambeacutem beneficiar paiacuteses terceiros quando estes optarem por um desenvolvimento
sustentaacutevel e assim poderatildeo constituir uma vantagem competitiva para estes A energia
52
Aacutegua de lastro eacute a aacutegua do mar captada pelo navio para garantir a seguranccedila operacional e estabilidade
do mesmo Em geral os tanques satildeo preenchidos com maior ou menor quantidade de aacutegua para aumentar
ou diminuir o calado dos navios durante as operaccedilotildees portuaacuterias A aacutegua de lastro eacute um risco pelo facto de
transportar espeacutecies exoacuteticas dentro dos tanques dos navios Os seres vivos introduzidos pela aacutegua de
lastro podem variar entre organismos milimeacutetricos ateacute peixes com 30 centiacutemetros Satildeo inuacutemeros os
registos de ldquobioinvasatildeordquo por meio da aacutegua de lastro no mundo inteiro
30
eoacutelica as turbinas movidas pelas correntes de mareacute e os recursos de gaacutes e de petroacuteleo
dos grandes fundos marinhos podem representar novas fontes de energia
Matildeo-de-obra ldquosaber-fazerrdquo
As actividades mariacutetimas precisam de atrair pessoas altamente qualificadas No
entanto embora no seu conjunto o emprego no sector mariacutetimo europeu seja estaacutevel53
o nuacutemero de mariacutetimos europeus estaacute a diminuir Ou seja apesar de diminuir o nuacutemero
de trabalhadores no sector das pescas o sector foi compensado por pujantes serviccedilos
mariacutetimos tais como turismo e transporte mariacutetimo
O recrutamento em nuacutemero suficiente de mariacutetimos e outros profissionais bem
formados e competentes eacute essencial para garantir a sobrevivecircncia do sector mariacutetimo
assim como para manter a vantagem concorrencial da Europa
O ensino e a formaccedilatildeo no domiacutenio mariacutetimo devem ter por objectivo conferir aos
potenciais candidatos as mais elevadas competecircncias que possam abrir muacuteltiplas
perspectivas profissionais
A excelecircncia dos candidatos a emprego soacute seraacute garantida se se conseguir atrair para
o ensino e formaccedilatildeo no domiacutenio mariacutetimo os jovens mais capazes Eacute nesse quadro que
importa lutar contra a imagem do sector Eacute essencial oferecer aos mariacutetimos homens e
mulheres condiccedilotildees de vida e de trabalho adequadas ao niacutevel das expectativas a que os
europeus se habituaram com toda a legitimidade
Formaccedilatildeo de clusters54
O desenvolvimento de uma percepccedilatildeo comum das articulaccedilotildees possiacuteveis entre os
diferentes sectores mariacutetimos permitiraacute melhorar a imagem e aumentar a atractividade e
produtividade destes Estes agrupamentos de empresas e de profissionais que abrangem
todos os sectores de actividade podem assumir diversas formas Assim no domiacutenio
mariacutetimo eacute preciso distinguir os clusters nacionais ndash que servem frequentemente de
53
Ver o documento ldquoEmployment social and training aspects of maritime and fishing industries and
related sectorsrdquo httpeceuropaeumaritimeaffairspdfSEC(2006)_68920_2pdf 54
Remetendo em inglecircs para a noccedilatildeo de conjunto o termo ldquoclusterrdquo designa um agrupamento de
empresas do mesmo sector presentes na maior parte das vezes numa mesma bacia de emprego Mais
precisamente segundo Michael E Porter da Universidade de Harvard um cluster eacute ldquouma concentraccedilatildeo
de empresas ligadas entre si de fornecedores especializados de prestadores de serviccedilos e de instituiccedilotildees
associadas (universidades associaccedilotildees comerciais etc)rdquo
31
transmissores de opiniatildeo para certos ramos ou profissotildees mariacutetimas ndash dos clusters
regionais Estes uacuteltimos consagram-se ao desenvolvimento da economia mariacutetima
atraveacutes da inovaccedilatildeo e da aproximaccedilatildeo entre investigaccedilatildeo formaccedilatildeo e a induacutestria55
Os clusters podem contribuir para estimular a competitividade de todo um sector ou
grupo de sectores Eacute o que acontece se se partilhar conhecimentos realizar projectos
comuns de investigaccedilatildeo e inovaccedilatildeo (desenvolvimento de produtos) unir esforccedilos no
ensino e na formaccedilatildeo partilhar meacutetodos de organizaccedilatildeo inovadores dentro de um grupo
de empresas (aquisiccedilatildeo e distribuiccedilatildeo em comum) ou estrateacutegias de promoccedilatildeo comuns
nomeadamente em mateacuteria de marketing e publicidade
A exploraccedilatildeo do potencial oferecido pela formaccedilatildeo de clusters eacute pertinente em
sectores com cadeias de abastecimento complexas que envolvem produccedilatildeo e serviccedilos e
tambeacutem com um grande nuacutemero de pequenas e meacutedias empresas Eacute esse o caso da
construccedilatildeo naval Na construccedilatildeo naval moderna mais de 70 do ldquonavio acabadordquo
resulta do trabalho de uma vasta rede de fornecedores de sistemas equipamentos e
serviccedilos56
Eacute possiacutevel disseminar as boas praacuteticas ligando estes sectores entre si e
transformando-os em redes de excelecircncia mariacutetima que abranjam todos os sectores
mariacutetimos incluindo o dos serviccedilos
Qualidade de vida nas regiotildees costeiras
O litoral europeu foi em tempos povoado por comunidades que viviam da pesca
Com o desenvolvimento do transporte mariacutetimo local e internacional foram-se
construindo portos e emergiram novas actividades nas periferias A procura de uma vida
agrave beira-mar apenas pelo prazer que daiacute decorre eacute um fenoacutemeno relativamente recente
A Conferecircncia das Regiotildees Perifeacutericas Mariacutetimas da Europa (CRPM) sublinha que
a atractividade natural (paisagem horas de insolaccedilatildeo e benefiacutecios para a sauacutede) daacute
igualmente origem a um forte crescimento demograacutefico que natildeo apresenta sinais de
abrandamento57
Por exemplo Portugal com 75 da populaccedilatildeo a viver no litoral
enfrenta neste domiacutenio indubitavelmente grandes desafios e novas exigecircncias
55
BERNARD-BRUNET Patrick 2007 23 56
Contributo da Associaccedilatildeo dos Estaleiros Europeus de Construccedilatildeo e Reparaccedilatildeo Naval (CESA) para o
Livro Verde 57
Contributo da CRPM para o Livro Verde
32
A concentraccedilatildeo demograacutefica nas regiotildees costeiras acarreta pressotildees sobre o espaccedilo
e o ambiente Exige uma maior acessibilidade em especial das pequenas ilhas e uma
maior mobilidade no seu interior que passa pela melhoria das infra-estruturas de
transporte Obriga agrave oferta de serviccedilos de interesse geral (sauacutede educaccedilatildeo
abastecimento de aacutegua e energia telecomunicaccedilotildees serviccedilos postais tratamento das
aacuteguas residuais e dos resiacuteduos) a fim de promover a qualidade de vida nas zonas
costeiras especialmente durante as estaccedilotildees altas do turismo Nas regiotildees rurais e
remotas as tecnologias da informaccedilatildeo e da comunicaccedilatildeo tecircm um papel a desempenhar
no fornecimento de serviccedilos em linha sauacutede ensino acesso puacuteblico agrave Internet
actividade econoacutemica ajuda agraves empresas e teletrabalho58
Ao planear o
desenvolvimento do litoral haacute que ter em conta o seu impacto ambiental a fim de obter
um resultado sustentaacutevel
As zonas costeiras e as ilhas satildeo elementos essenciais da atractividade e do ecircxito do
turismo costeiro Para que a Europa permaneccedila o primeiro destino turiacutestico ao niacutevel
mundial tem que apoiar um turismo sustentaacutevel nessas regiotildees O turismo sustentaacutevel
pode contribuir para o desenvolvimento das zonas costeiras e das ilhas melhorando a
competitividade das empresas satisfazendo as necessidades sociais promovendo o
patrimoacutenio natural e cultural e valorizando os ecossistemas locais Para um nuacutemero
crescente de destinos turiacutesticos a necessidade de melhorar ou manter a sua atractividade
constitui um incentivo para adoptar praacuteticas e estrateacutegias mais sustentaacuteveis e mais
compatiacuteveis com o ambiente
Muitos desses destinos jaacute realizam esforccedilos para efectuar uma gestatildeo integrada da
qualidade definindo estrateacutegias com os seus parceiros aplicando boas praacuteticas e
desenvolvendo instrumentos de acompanhamento e avaliaccedilatildeo para ajustar a sua acccedilatildeo
A sua experiecircncia poderaacute ser utilizada para formular recomendaccedilotildees destinadas a todos
os destinos turiacutesticos costeiros
A diversificaccedilatildeo dos produtos e serviccedilos turiacutesticos pode contribuir para a
competitividade dos destinos costeiros e insulares especialmente quando aos turistas eacute
oferecida a oportunidade de desfrutarem de locais de interesse cultural e natural
situados no litoral ou no hinterland rural ou urbano bem como de uma variedade de
58
Iniciativa do Comiteacute das Regiotildees (CdR) de 12102005 ndash Poliacutetica Mariacutetima da Uniatildeo Europeia ldquouma
questatildeo de desenvolvimento sustentaacutevel para as autoridades locais e regionaisrdquo
33
atracccedilotildees ligadas ao mar (observaccedilatildeo dos mamiacuteferos marinhos mergulho e arqueologia
subaquaacutetica actividades naacuteuticas e talassoterapia) Esta diversificaccedilatildeo apresenta
inuacutemeras vantagens designadamente uma menor pressatildeo nas praias fontes alternativas
de rendimento para antigos pescadores nas comunidades costeiras e criaccedilatildeo de novas
actividades destinadas a apoiar a preservaccedilatildeo e o desenvolvimento do patrimoacutenio local
No caso de Portugal para aleacutem de possuir uma oferta turiacutestica diversificada deve
tirar partido da sua localizaccedilatildeo geograacutefica como paiacutes costeiro por excelecircncia da forte
tradiccedilatildeo mariacutetima e de clima ameno que o caracteriza (lidera a lista de paiacuteses europeus
em dias sol por ano)
Estas mais-valias intriacutensecas permitem o prolongamento da estaccedilatildeo turiacutestica
gerando assim mais crescimento econoacutemico e aumento do nuacutemero de empregos a
tempo inteiro Desta forma diluindo os picos de concentraccedilatildeo turiacutestica reduz o impacto
ambiental das actividades turiacutesticas e contribui para melhorar a qualidade de vida no
litoral portuguecircs
Novas formas de governaccedilatildeo mariacutetima
Qualquer forma de governaccedilatildeo dos oceanos deve ter em conta os princiacutepios
estabelecidos nos Tratados relativamente aos domiacutenios poliacuteticos e agrave distribuiccedilatildeo de
competecircncias entre instituiccedilotildees da Uniatildeo Europeia Estados-Membros regiotildees e
autoridades locais Nesta base e em conformidade com o princiacutepio da subsidiariedade59
eacute necessaacuterio atender agraves especificidades sectoriais e regionais
Uma poliacutetica mariacutetima inclusiva da Uniatildeo Europeia deveraacute visar o crescimento e a
criaccedilatildeo de mais e melhores postos de trabalho contribuindo assim para uma economia
mariacutetima forte e em expansatildeo competitiva e sustentaacutevel e em harmonia com o meio
marinho Deve procurar prevenir e minimizar os conflitos em torno da utilizaccedilatildeo do
espaccedilo mariacutetimo e prever mecanismos claros e consensuais para a sua resoluccedilatildeo Deve
proporcionar uma maior previsibilidade para o sector e outros interessados e uma
abordagem mais eficaz em mateacuteria de conservaccedilatildeo dos recursos marinhos Neste
59
O princiacutepio da subsidiariedade prossegue dois objectivos opostos Por um lado permite que a
comunidade intervenha quando as medidas individualmente adoptadas pelos Estados-Membros natildeo
possibilitem uma soluccedilatildeo cabal Por outro lado visa manter a competecircncia dos Estados-Membros nos
domiacutenios que natildeo podem ser melhor regidos por uma intervenccedilatildeo comunitaacuteria A inclusatildeo deste princiacutepio
nos Tratados europeus deveraacute permitir que as decisotildees comunitaacuterias sejam adoptadas a um niacutevel tatildeo
proacuteximo quanto possiacutevel dos cidadatildeos - httpwwweuroparleuropaeufactsheets1_2_2_pthtm
34
contexto o diaacutelogo social europeu nos sectores mariacutetimos reveste-se de uma
importacircncia cada vez maior
Para se alcanccedilarem estes objectivos eacute necessaacuterio coordenar e integrar as poliacuteticas
sectoriais Confirmam-no os compromissos assumidos no quadro da cimeira mundial
sobre o desenvolvimento sustentaacutevel de 200260
e as disposiccedilotildees da Convenccedilatildeo das
Naccedilotildees Unidas sobre o Direito do Mar61
Aleacutem disso os progressos da ciecircncia e da tecnologia facultam agora uma melhor
compreensatildeo das interacccedilotildees e relaccedilotildees no que se refere aos oceanos e suas utilizaccedilotildees
O modelo de governaccedilatildeo da PMIE por sectores ou regiotildees geograacuteficas deve pois
ser substituiacutedo por uma abordagem transversal O modelo de governaccedilatildeo integrado
promove a partilha de conhecimentos e de boas praacuteticas bem como o diaacutelogo entre as
partes interessadas O impacto desta forma de governo permite elaborar medidas e
directivas agrave escala europeia respeitando as especificidades locais regionais e nacionais
Acho importante referir ainda que este modelo pode desencadear economias de escala
dando como exemplo de partilha o sistema de vigilacircncia mariacutetima da Agecircncia Europeia
da Seguranccedila Mariacutetima62
(EMSA) com sede em Lisboa
Novos instrumentos da gestatildeo das relaccedilotildees com os oceanos
ldquoOcirc mer nul ne connaicirct tes richesses intimesrdquo - Les fleurs du mal 63
Para uma melhor compreensatildeo das utilizaccedilotildees concorrentes do oceano haveraacute que
aperfeiccediloar os dados e as informaccedilotildees relativos agraves actividades mariacutetimas sejam elas
sociais econoacutemicas ou recreativas bem como sobre o impacto dessas actividades nos
recursos Tambeacutem para os operadores econoacutemicos mariacutetimos eacute importante haver dados
de qualidade Contudo subsistem grandes problemas no que se refere agrave harmonizaccedilatildeo e
agrave fiabilidade dos dados bem como agrave monitorizaccedilatildeo das regiotildees marinhas da Uniatildeo
Europeia que continuam a ser insuficientes e desajustados do ponto de vista geograacutefico
60
ONU Department of Economic and Social Affairs ndash Division for Sustainable Development
httpwwwunorgesasustdevdocumentsWSSD_POI_PDEnglishPOITochtm 61
Contributo da EuDA para o Livro Verde 62
A EMSA criada em 2002 na sequecircncia da cataacutestrofe do Erika e tem como objectivos reduzir o risco de
acidentes mariacutetimos diminuir a poluiccedilatildeo provocada pelos navios e salvaguardar as vidas humanas no
mar 63
ldquoOacute mar ningueacutem conhece as tuas riquezas escondidasrdquo ndash As Flores do Mal de Charles Baudelaire
(1821-1867) poeta francecircs e um dos fundadores do simbolismo O seu livro As Flores do Mal eacute
considerado um marco da poesia moderna
35
Para conceber uma poliacutetica mariacutetima comunitaacuteria racional e sustentaacutevel haveraacute que
obviar a estas lacunas
A Uniatildeo Europeia pode examinar a possibilidade de criar uma rede europeia de
observaccedilatildeo e de dados do meio marinho Esta possibilita garantir a longo prazo a
melhoria da observaccedilatildeo sistemaacutetica (in situ e a partir do espaccedilo) a interoperabilidade e
o reforccedilo do acesso aos dados com base em soluccedilotildees tecnologias da informaccedilatildeo e da
comunicaccedilatildeo (TIC) robustas abertas e geneacutericas Essa rede possibilita uma anaacutelise
integrada ao niacutevel da Uniatildeo Europeia de diferentes tipos de dados e metadados
provenientes de vaacuterias fontes O objectivo eacute fornecer agraves autoridades puacuteblicas aos
serviccedilos mariacutetimos e induacutestrias conexas bem como aos investigadores uma fonte de
dados primaacuterios para utilizaccedilatildeo na elaboraccedilatildeo de previsotildees e nas actividades de
monitorizaccedilatildeo integrando assim iniciativas existentes mas fragmentadas
O melhoramento e a difusatildeo dos dados relativos ao meio marinho permite tambeacutem
criar novas oportunidades para as empresas comerciais de alta tecnologia do sector
mariacutetimo e melhorar a eficiecircncia de actividades como a vigilacircncia mariacutetima a gestatildeo
dos recursos marinhos e a investigaccedilatildeo marinha nos laboratoacuterios europeus Aleacutem disso
contribui significativamente para reduzir as actuais incertezas relativamente ao sistema
oceacircnico e agraves alteraccedilotildees climaacuteticas tornando mais precisas as previsotildees meteoroloacutegicas
sazonais64
Proteger o legado mariacutetimo e sensibilizar o puacuteblico
Os cidadatildeos europeus cresceram com as histoacuterias dos grandes exploradores que
nos fizeram compreender que a Terra eacute redonda e nos ensinaram a situar exactamente os
continentes Muitos deles gozam as suas feacuterias na costa no meio da azaacutefama dos portos
de pesca saboreando marisco nos restaurantes e passeando agrave beira-mar a fugir agrave
rebentaccedilatildeo Alguns passam horas a observar as coloacutenias de aves marinhas ou as baleias
ou a esperar que o peixe morda o isco Outros passam os tempos livres a restaurar ou a
navegar em velhos barcos de madeira Haacute ainda outros que gostam de ver
documentaacuterios sobre os golfinhos ou os pinguins na televisatildeo ou no cinema Alguns
trabalharatildeo nos solos mariacutetimos outros seratildeo pescadores ou capitatildees de porto e outros
por sua vez trabalharatildeo no posto de turismo de uma cidade costeira
64
COM (2006) 275 final volume II 34-35
36
Quantos todavia compreenderatildeo que estas actividades estatildeo interligadas Quantos
teratildeo consciecircncia de serem cidadatildeos de uma Europa mariacutetima Bem poucos a avaliar
pelo debate realizado a propoacutesito do Livro Verde
Que assim seja natildeo eacute de surpreender Os aquaacuterios podem dar uma ideia da beleza e
das maravilhas da vida sob as ondas mas poucos conseguem mostrar de forma
convincente quatildeo fraacutegeis satildeo os oceanos que actividades os ameaccedilam e que esforccedilos
estatildeo a ser feitos para os preservar Os museus do mar podem ajudar-nos a compreender
as proezas do passado mas dificilmente nos conseguiratildeo transmitir uma noccedilatildeo clara da
avanccedilada tecnologia que eacute apanaacutegio das actividades mariacutetimas do presente As
organizaccedilotildees que se dedicam a manter vivas as tradiccedilotildees do passado nem sempre se
associam agrave realidade comercial do presente sem falar do deslumbrante potencial futuro
que os oceanos encerram A Comissatildeo Europeia crecirc que haacute muito a ganhar com o forjar
de um sentimento de identidade comum entre todos aqueles que vivem das actividades
mariacutetimas ou cuja qualidade de vida estaacute fortemente ligada ao mar Ganhar-se-aacute assim
uma melhor compreensatildeo das interacccedilotildees em jogo e da importacircncia do mar para a
Humanidade65
Acredito que as actividades naacuteuticas podem neste domiacutenio desempenhar um
papel fundamental A Naacuteutica pelo vasto puacuteblico que abrange ao longo de todo o ano
estabelece respeito muacutetuo entre por um lado os recursos naturais (mar aacutegua e litoral) e
por outro as populaccedilotildees residentes ou turiacutesticas As actividades naacuteuticas satildeo fortemente
orientadas desde haacute muito para a descoberta protecccedilatildeo e promoccedilatildeo do patrimoacutenio e
ambiente e ainda para a descoberta e promoccedilatildeo das actividades e profissotildees mariacutetimas
Os centros naacuteuticos e as marinas podem ser a grande vitrine do oceano aberta a todos
atraveacutes de actividades educativas desportivas e de lazer
Vejamos o exemplo dos Jogos Naacuteuticos Atlacircnticos criados na Bretanha em 1995
sob o lema o ldquoOceano nos unerdquo Os Jogos Naacuteuticos Atlacircnticos66
satildeo um evento
desportivo de alto niacutevel competitivo que se realiza anual e rotativamente pelas
diferentes regiotildees do Atlacircntico promovendo a fileira naacuteutica popularizando os
desportos naacuteuticos e incentivando intercacircmbios de experiecircncias Participam neste
quadro festivo e de amizade cerca de 500 atletas de cinco modalidades naacuteuticas
(Canoagem Remo Subaquaacuteticas Surf e Vela) sempre acompanhados de grupos
65
COM (2006) 275 final volume II 51 66
Jogos Naacuteuticos Atlacircnticos ( wwwjnieaeu)
37
culturais e musicais representativos das regiotildees participantes contribuindo desta forma
para uma Europa mariacutetima mais unida e coesa
Haacute vaacuterios anos a esta parte tecircm sido realizados eventos como por exemplo as
Initiatives Oceacutean ldquoIl nacutey a pas de petit pollutionrdquo da responsabilidade da Surfrider
Foundation Europe67
Este movimento europeu sensibiliza e mobiliza o grande puacuteblico
para as questotildees e problemaacuteticas ambientais e mariacutetimas
Por uacuteltimo realccedilo tambeacutem o projecto europeu NEA 268
ldquoNautisme Espace
Atlantique 2rdquo que visa o desenvolvimento sustentaacutevel e coordenado do conjunto da
fileira naacuteutica nas regiotildees da faixa atlacircntica (actividades portos de recreio induacutestria
comeacutercio e serviccedilos) atraveacutes de um reforccedilo de cooperaccedilatildeo baseado em trecircs eixos
temaacuteticos o desenvolvimento econoacutemico a protecccedilatildeo do ambiente a coesatildeo social Em
cada uma destas temaacuteticas o projecto prevecirc a realizaccedilatildeo de acccedilotildees comuns
transnacionais associando diversos parceiros e de acccedilotildees locais implementadas por
cada parceiro no seu territoacuterio Impulsionado por 23 parceiros europeus durante um
periacuteodo de 3 anos (Janeiro 2009 a Dezembro de 2011) o NEA2 foi aprovado pelo
Programa de Cooperaccedilatildeo Transnacional Espaccedilo Atlacircntico (POCTEA) e beneficia como
tal de uma subvenccedilatildeo do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER) Este
projecto persegue o sucesso alcanccedilado pelo seu antecessor Nautisme Espace Atlantique
(Novembro de 2004 a Outubro de 2007) do Programa INTERREG III B que reuniu 11
parceiros com o objectivo comum ldquodesenvolvimento coordenado do turismo naacuteuticordquo
O sector naacuteutico e os seus intervenientes satildeo parceiros eficazes para a mobilizaccedilatildeo
da populaccedilatildeo e consequente aproximaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do mar
67
Surfrider Foundation Europe (wwwsurfridereu) ONG dedicada a proteger os oceanos as ondas e o
litoral 68
Nautisme Espace Atlantique 2 ( wwwnea2eu)
38
25 Participaccedilatildeo dos europeus no processo de construccedilatildeo da PMIE
O debate poliacutetico acerca da elaboraccedilatildeo de uma poliacutetica mariacutetima da Uniatildeo
Europeia constitui a melhor oportunidade nos uacuteltimos anos para que o significado
mundial e local dos oceanos e os resultados da investigaccedilatildeo e inovaccedilatildeo marinhas sejam
devidamente apreciados pela sociedade declarou Peter Heffernan director executivo
do Irish Marine Institute em Galway na Irlanda
A consulta sobre a poliacutetica mariacutetima da Uniatildeo Europeia iniciou-se apoacutes o
lanccedilamento do Livro Verde a 7 de Junho de 2006 e teve uma duraccedilatildeo de treze meses
Foi o maior periacuteodo de consulta alguma vez efectuada na Uniatildeo Europeia
O processo de consulta teve um eco sem precedentes evidenciado pela elevada taxa
de participaccedilatildeo e pela qualidade das contribuiccedilotildees Para aleacutem dos contributos de todas
as instituiccedilotildees europeias tambeacutem vaacuterios parlamentos nacionais e alguns regionais
apresentaram directamente agrave Comissatildeo Europeia as suas observaccedilotildees sobre o Livro
Verde69
As contribuiccedilotildees preconizaram consulta e diaacutelogo mas tambeacutem uma melhor
informaccedilatildeo de todos os afectados pela poliacutetica mariacutetima
Os intervenientes econoacutemicos congratularam-se com o princiacutepio de uma abordagem
integrada de modo a induzir maior transparecircncia e eficiecircncia na elaboraccedilatildeo de poliacuteticas
e regulamentaccedilatildeo apropriada no acircmbito da Uniatildeo Europeia Defenderam a necessidade
da elaboraccedilatildeo de uma poliacutetica mariacutetima integrada com vista a promover a economia
mariacutetima florescente Torna-se premente desenvolver relaccedilotildees fortes entre os sectores e
respectivas actividades conexas e apelaram agrave formaccedilatildeo de clusters (incluindo agrave escala
comunitaacuteria)
As regiotildees defenderam entusiasticamente uma abordagem integrada Sublinharam o
papel das regiotildees costeiras enquanto centros da economia mariacutetima Estas esperam tirar
proveito por um lado da ligaccedilatildeo estabelecida entre a acccedilatildeo ao niacutevel comunitaacuterio e as
actividades no terreno nas regiotildees costeiras e por outro lado do reforccedilo do
envolvimento dos governos dos Estados-Membros
69
COM (2007) 574 final 2
39
Os Estados-Membros satildeo favoraacuteveis ao princiacutepio da gestatildeo integrada dos assuntos
mariacutetimos e encaram a proposta de uma poliacutetica mariacutetima integrada como meio
privilegiado para assegurar um desenvolvimento estaacutevel e sustentaacutevel das respectivas
economias mariacutetimas e regiotildees costeiras Desejam manter os mecanismos que
funcionam bem pois servem de catalisadores de boas praacuteticas
Os cidadatildeos individuais e a sociedade civil reagiram de forma ambivalente Haacute
mesmo quem tema que a Uniatildeo Europeia possa interferir nas competecircncias nacionais ou
locais mas em geral as reacccedilotildees mostraram que o puacuteblico estaacute preocupado com o
ecossistema marinho estando contudo ceacutepticos relativamente agraves medidas que os
governos possam vir a tomar para o proteger As organizaccedilotildees natildeo governamentais
(ONG) ambientais apelaram a uma acccedilatildeo comunitaacuteria no domiacutenio do ordenamento do
espaccedilo mariacutetimo e costeiro a fim de assegurar a execuccedilatildeo de uma gestatildeo baseada nos
ecossistemas
O lanccedilamento de uma consulta sobre a poliacutetica mariacutetima despertou igualmente o
interesse daqueles que desejam informar e dar a conhecer elementos sobre os nossos
mares e oceanos O conhecimento por parte dos cidadatildeos europeus das nossas costas e
do que estaacute para aleacutem delas eacute considerado como um sustentaacuteculo tanto das economias
mariacutetimas cujo ecircxito depende da sua atractividade como do nosso ambiente marinho
cuja preservaccedilatildeo depende da sensibilizaccedilatildeo dos cidadatildeos
Contudo todos estatildeo de acordo quanto agrave necessidade de melhorar a imagem global
dos sectores mariacutetimos Satildeo inuacutemeras as sugestotildees relacionadas com as permutas de
boas praacuteticas conferecircncias participaccedilatildeo de peritos em assuntos mariacutetimos como os
pescadores ou projectos de pequena escala destinados a informar as comunidades locais
ou turistas
Em suma o processo de consulta deu azo ao aparecimento de um manancial de
ideias e estimulou o desejo de participar num projecto comum a longo prazo baseado
na aprendizagem e no desenvolvimento interactivo permanente Este processo natildeo soacute
veio introduzir uma nova abordagem integrada da gestatildeo dos assuntos mariacutetimos como
abriu alas a uma nova forma de fazer poliacutetica na Europa70
No total foram recebidas mais de 490 contribuiccedilotildees e organizados mais de 230
eventos em que se debateu a poliacutetica mariacutetima com os vaacuterios interessados
70
COM (2007) 574 final 9-10
40
Cap III ndash O Livro Azul plano de acccedilatildeo e instrumentos financeiros
31 Condiccedilotildees poliacuteticas do processo de decisatildeo
Presidido pela Alemanha o Conselho Europeu de Junho de 2007 congratulou-se
com o vasto debate que teve lugar na Europa acerca da futura poliacutetica mariacutetima Os
Chefes de Estado e de Governo convidaram a Comissatildeo Europeia a elaborar um plano
de acccedilatildeo europeu a apresentar em Outubro desse mesmo ano Atendendo ao princiacutepio da
subsidiariedade este plano de acccedilatildeo teve por fim explorar de uma forma
ambientalmente sustentaacutevel o pleno potencial das actividades econoacutemicas orientadas
para o mar
A Comissatildeo em resposta ao Conselho Europeu adoptou no dia 10 de Outubro de
2007 uma Comunicaccedilatildeo conhecida como o Livro Azul da Poliacutetica Mariacutetima Europeia
em que define a sua visatildeo de uma poliacutetica mariacutetima integrada para a UE juntamente
com um plano de acccedilatildeo pormenorizado que estabeleceu um ambicioso programa de
trabalho para os proacuteximos anos As descobertas cientiacuteficas a raacutepida evoluccedilatildeo
tecnoloacutegica a globalizaccedilatildeo as alteraccedilotildees climaacuteticas e a poluiccedilatildeo marinha estatildeo a alterar
rapidamente o relacionamento da Europa com os mares e oceanos com todas as
oportunidades e desafios impliacutecitos desse processo
De salientar que a Presidecircncia Portuguesa do Conselho da Uniatildeo Europeia no
segundo semestre de 2007 reconheceu de forma clara a necessidade de uma abordagem
integrada para os assuntos mariacutetimos A Presidecircncia Portuguesa levou a cabo diversos
eventos com destaque para uma Conferecircncia Ministerial sobre Poliacutetica Mariacutetima para a
Uniatildeo Europeia que teve lugar em Lisboa no dia 22 de Outubro permitindo a
divulgaccedilatildeo dos resultados da consulta puacuteblica do Livro Verde e a indicaccedilatildeo dos sectores
prioritaacuterios a seguir
Esta Conferecircncia foi altamente significativa pois juntou agrave volta da mesma mesa
pela primeira vez os decisores poliacuteticos responsaacuteveis nacionais pela coordenaccedilatildeo dos
assuntos do mar independentemente da foacutermula governativa adoptada em cada paiacutes
europeu A estes juntaram-se ainda os paiacuteses da Associaccedilatildeo Europeia de Livre
41
Comeacutercio (EFTA) do Espaccedilo Econoacutemico Europeu e as principais instituiccedilotildees europeias
envolvidas
Por sua vez o Parlamento Europeu no dia 20 de Maio de 2008 deu ldquoluz verderdquo agrave
proposta da Comissatildeo Europeia para a criaccedilatildeo de uma Poliacutetica Mariacutetima Europeia
aprovada com 587 votos a favor 20 contra e 58 abstenccedilotildees A aprovaccedilatildeo pelo PE de
uma poliacutetica mariacutetima europeia teve lugar no dia em que se celebrou pela primeira vez
o Dia Europeu do Mar data que coincidiu ainda com a chegada de Vasco da Gama agrave
Iacutendia em 1498
A Comissatildeo Europeia propocircs uma poliacutetica mariacutetima integrada para a Uniatildeo
Europeia baseada no reconhecimento inequiacutevoco de que todas as questotildees relativas aos
oceanos e mares estatildeo interligadas e que para podermos colher os resultados desejados
todas as poliacuteticas ligadas ao mar devem ser elaboradas de uma forma articulada
O plano de acccedilatildeo baseou-se na consulta puacuteblica e resultou dos trabalhos de um alto
grupo de pilotagem com a participaccedilatildeo de 10 Comissaacuterios presidido por Joe Borg (Ex-
Comissaacuterio Europeu para os Assuntos Mariacutetimos e da Pesca) e supervisionado pelo
Presidente da Comissatildeo Europeia Duratildeo Barroso
Uma poliacutetica mariacutetima integrada exige um quadro de governaccedilatildeo que aplique a
abordagem integrada a todos os niacuteveis bem como instrumentos poliacuteticos horizontais e
transectoriais Exige igualmente uma soacutelida base financeira que tenha em conta os
resultados das acccedilotildees preparatoacuterias
A Comissatildeo Europeia criou uma funccedilatildeo de ldquopoliacutetica mariacutetimardquo cuja tarefa eacute
analisar os assuntos mariacutetimos e as poliacuteticas que os afectam assegurar a coordenaccedilatildeo
entre as poliacuteticas sectoriais garantir que as interacccedilotildees entre elas sejam tidas em conta e
pilotar o desenvolvimento de instrumentos poliacuteticos transectoriais
Por outro lado a Comissatildeo comeccedilou a reunir as agecircncias da Uniatildeo Europeia que
desempenham funccedilotildees ligadas agraves actividades mariacutetimas para que contribuam
conjuntamente para a elaboraccedilatildeo da poliacutetica mariacutetima
42
Um quadro de governaccedilatildeo integrado para os assuntos mariacutetimos exige por sua vez
instrumentos horizontais de planificaccedilatildeo que sejam comuns agraves poliacuteticas sectoriais
ligadas ao mar e apoiem a elaboraccedilatildeo conjunta de poliacuteticas Assim os trecircs instrumentos
que se seguem satildeo especialmente importantes
Uma rede europeia de vigilacircncia mariacutetima
A vigilacircncia mariacutetima reveste-se da maior importacircncia para garantir a utilizaccedilatildeo
segura do mar e para a protecccedilatildeo das fronteiras mariacutetimas da Europa O melhoramento e
optimizaccedilatildeo das actividades de vigilacircncia mariacutetima bem como a sua interoperabilidade
ao niacutevel europeu satildeo importantes para que a Europa possa fazer face aos desafios e
ameaccedilas ligados agrave seguranccedila da navegaccedilatildeo agrave poluiccedilatildeo marinha ao cumprimento da lei
e agrave seguranccedila em geral71
Ordenamento do espaccedilo mariacutetimo (OEM) e gestatildeo integrada das zonas costeiras
(GIZC)
Os quadros de ordenamento existentes incidem essencialmente na vertente terrestre
e raramente abordam a forma como o desenvolvimento costeiro pode afectar o mar e
vice-versa Temos de fazer face aos problemas resultantes das crescentes utilizaccedilotildees
concorrentes do mar que vatildeo do transporte mariacutetimo agrave produccedilatildeo de energia offshore e
outras formas de exploraccedilatildeo do leito marinho passando pela pesca e aquicultura e pelas
actividades de lazer72
Dados e informaccedilotildees
A disponibilidade e a facilidade de acesso a um vasto leque de dados relativos aos
factores naturais e agrave actividade humana nos oceanos constituem a base para a tomada de
decisotildees estrateacutegicas no domiacutenio da poliacutetica mariacutetima Dada a vasta quantidade de
dados coligidos e armazenados em toda a Europa para fins muito diversos eacute de extrema
importacircncia estabelecer uma infra-estrutura adequada para recolher os dados e
informaccedilotildees sobre o ambiente marinho73
71
COM (2007) 575 final 5 72
COM (2007) 575 final 6 73
COM (2007) 575 final 6
43
32 Livro Azul e o plano de acccedilatildeo
As acccedilotildees propostas no Livro Azul ajudam a Uniatildeo Europeia a avanccedilar na
prossecuccedilatildeo dos objectivos fulcrais da poliacutetica mariacutetima integrada incidindo
principalmente em cinco domiacutenios de acccedilatildeo estrateacutegica a saber
1)Maximizaccedilatildeo da utilizaccedilatildeo sustentaacutevel dos oceanos e mares
O principal objectivo de uma poliacutetica mariacutetima integrada da Uniatildeo Europeia eacute criar
as melhores condiccedilotildees para a utilizaccedilatildeo sustentaacutevel dos oceanos e mares permitindo o
desenvolvimento dos sectores mariacutetimos e das regiotildees costeiras
Em muitos Estados-Membros o desenvolvimento recente da economia mariacutetima foi
superior ao da economia no seu conjunto sobretudo em regiotildees activas no domiacutenio da
logiacutestica mariacutetima O transporte mariacutetimo de contentores aumentou consideravelmente a
partir de 2000 esperando-se que triplique ateacute 2020 Por outro lado regiotildees activas
noutros mercados de forte crescimento como o equipamento mariacutetimo a energia eoacutelica
offshore a naacuteutica de recreio ou o sector dos cruzeiros continuaratildeo a colher benefiacutecios
deste crescimento Graccedilas agrave forte especializaccedilatildeo da Europa no campo das tecnologias
marinhas as induacutestrias europeias tecircm tambeacutem um grande potencial para desenvolver
produtos mariacutetimos de ponta susceptiacuteveis de assumir uma posiccedilatildeo lideranccedila nos
mercados mundiais
Contudo haacute muito potencial subaproveitado ainda Para garantir o crescimento
sustentaacutevel de actividades ligadas ao mar e assegurar ao mesmo tempo que as
actividades mariacutetimas se desenvolvam de forma a natildeo comprometer a sauacutede do
ecossistema eacute indispensaacutevel ter uma visatildeo estrateacutegica actualizada que permita o
desenvolvimento competitivo e seguro do transporte mariacutetimo dos portos e dos sectores
conexos
O transporte mariacutetimo eacute vital para o comeacutercio internacional e interno da Europa e
continua a ser a espinha dorsal do cluster mariacutetimo Contudo este sector soacute continuaraacute a
prosperar se a Uniatildeo Europeia prosseguir os seus esforccedilos com vista a atingir um niacutevel
elevado de seguranccedila mariacutetima e protecccedilatildeo do transporte mariacutetimo contribuindo para
proteger as vidas humanas e o ambiente e simultaneamente favorecer condiccedilotildees de
concorrecircncia equitativas ao niacutevel internacional
44
Embora seja uma importante fonte de poluiccedilatildeo atmosfeacuterica e de emissotildees de
dioacutexido de carbono (CO2) o transporte mariacutetimo continua a ser bastante mais eficiente
em termos energeacuteticos do que o transporte rodoviaacuterio Por este motivo e dada a
necessidade de reduzir o nuacutemero de camiotildees que circulam nas estradas congestionadas
da Europa uma poliacutetica mariacutetima integrada favorece fortemente a promoccedilatildeo de
transportes mariacutetimos seguros e fiaacuteveis
A cadeia logiacutestica mariacutetima europeia requer tambeacutem a existecircncia de estaleiros da
construccedilatildeo e reparaccedilatildeo naval e empresas de equipamento mariacutetimo com tecnologia de
ponta incorporada
O aumento dos investimentos na investigaccedilatildeo e tecnologia marinha eacute fundamental
para assegurar o crescimento econoacutemico sem agravar a degradaccedilatildeo do ambiente Esses
investimentos criaratildeo tambeacutem novas oportunidades Graccedilas a tecnologias respeitadoras
do ambiente que permitam a prosperidade das actividades mariacutetimas sem comprometer
o ambiente marinho as empresas europeias poderatildeo manter a sua posiccedilatildeo de lideranccedila agrave
medida que as normas mundiais se tornem mais estritas e que as induacutestrias novas e
promissoras como a biotecnologia azul as energias renovaacuteveis offshore a tecnologia e
o equipamento subaquaacuteticos e a aquicultura marinha forem desenvolvidas
A tecnologia permite agrave Europa beneficiar de todas as potencialidades oferecidas
pelo mar enquanto fonte de petroacuteleo e gaacutes74
bem como de energias renovaacuteveis e
tambeacutem enquanto lugar de transporte de energia que permite diversificar as vias de
transporte de energia e aumentar deste modo a seguranccedila do abastecimento
A integraccedilatildeo e a competitividade das empresas no sector mariacutetimo satildeo fortemente
potenciadas pela formaccedilatildeo de clusters multissectoriais Os clusters locais e regionais
que reuacutenem diferentes sectores e partes interessadas para desenvolver sinergias entre as
suas actividades afiguram-se uma evoluccedilatildeo promissora da comunidade mariacutetima
europeia Os clusters contribuem para melhorar a qualidade e elevar os padrotildees dos
produtos e serviccedilos do sector mariacutetimo europeu bem como para aumentar a integraccedilatildeo
da economia mariacutetima Contribuem deste modo para o crescimento econoacutemico e para
criaccedilatildeo de emprego bem como para a sustentabilidade da economia mariacutetima na sua
globalidade O seu sucesso dependeraacute largamente da acccedilatildeo inovadora do sector
privado e de outras partes interessadas sobretudo no caso dos clusters regionais A par
74
Segundo a OGP 40 do petroacuteleo e 60 do gaacutes actualmente consumidos na Europa satildeo extraiacutedos em
offshore
45
da criaccedilatildeo de clusters multissectoriais devem ser criados centros regionais de excelecircncia
mariacutetima
Os clusters contribuem ainda para conservar o know-how mariacutetimo da Europa pelo
que satildeo fundamentais para a poliacutetica mariacutetima A cooperaccedilatildeo entre os sectores puacuteblico e
privado em centros de excelecircncia mariacutetima cria tambeacutem um contexto favoraacutevel para
compreender e programar adequadamente as interacccedilotildees entre diferentes induacutestrias e
sectores75
Para fazer face a este domiacutenio estrateacutegico a UE pocircs em marcha uma Directiva-
Quadro denominada Estrateacutegia Marinha76
que estabelece um quadro de acccedilatildeo
comunitaacuteria no domiacutenio da poliacutetica para o meio marinho
Foi com o objectivo de promover o uso sustentaacutevel dos mares e a conservaccedilatildeo dos
ecossistemas marinhos incluindo o leito do mar estuaacuterios e aacutereas costeiras dando
especial atenccedilatildeo aos siacutetios com elevado valor em biodiversidade que foi desenvolvida
no quadro da Uniatildeo Europeia a Estrateacutegia temaacutetica para a protecccedilatildeo e conservaccedilatildeo do
ambiente marinho77
Este documento cuja aprovaccedilatildeo foi precedida de ampla discussatildeo a niacutevel Europeu
foi o ponto de partida para a preparaccedilatildeo da proposta de Directiva do Parlamento
Europeu e do Conselho Europeu que estabelece um quadro de acccedilatildeo comunitaacuteria no
domiacutenio da poliacutetica para o meio marinho
A Directiva estabelece um quadro no qual os Estados Membros devem tomar as
medidas necessaacuterias para obter ou manter um bom estado ambiental no meio marinho
ateacute 2020 Para isso devem ser desenvolvidas e aplicadas estrateacutegias marinhas com vista
a proteger e preservar o meio marinho impedir a sua deterioraccedilatildeo ou quando
exequiacutevel restaurar os ecossistemas marinhos nas aacutereas afectadas prevenir e reduzir as
ldquoentradasrdquo no meio marinho de modo a eliminar progressivamente a poluiccedilatildeo e
assegurar que natildeo haja impactos ou riscos significativos (biodiversidade ecossistemas
sauacutede humana e utilizaccedilotildees legiacutetimas do mar)
O processo negocial desta Directiva culminou com a respectiva aprovaccedilatildeo no final
de 2007 durante a Presidecircncia Portuguesa do Conselho da Uniatildeo Europeia e representa
75
COM (2007) 575 final 7-9 76
Directiva Quadro ldquoEstrateacutegia Marinhardquo ndash COM (2005) 505 final 77
Estrateacutegia temaacutetica para a protecccedilatildeo e conservaccedilatildeo do ambiente marinhordquo ndash COM (2005) 504 final
46
um instrumento de particular importacircncia no quadro da poliacutetica de protecccedilatildeo do meio
marinho constituindo assim o pilar ambiental da Estrateacutegia Mariacutetima Europeia
2) Construccedilatildeo de uma base de conhecimentos e inovaccedilatildeo para a poliacutetica mariacutetima
A ciecircncia a tecnologia e a investigaccedilatildeo marinha satildeo cruciais para o
desenvolvimento sustentaacutevel das actividades mariacutetimas
Ao ajudarem a compreender mais profundamente os impactos das actividades
humanas nos sistemas marinhos a investigaccedilatildeo e a tecnologia marinhas fornecem a
chave para romper a ligaccedilatildeo entre o desenvolvimento das actividades mariacutetimas e a
degradaccedilatildeo do ambiente
O reforccedilo da abordagem multidisciplinar da ciecircncia marinha pode contribuir para
uma melhor compreensatildeo das interacccedilotildees entre as actividades mariacutetimas sendo
portanto uma componente indispensaacutevel de uma poliacutetica mariacutetima integrada Este
reforccedilo seraacute igualmente fundamental para prever e atenuar tanto quanto possiacutevel os
efeitos das alteraccedilotildees climaacuteticas
A investigaccedilatildeo marinha e mariacutetima tem custos elevados pelo que natildeo se pode
permitir faltas de eficiecircncia Para poder utilizar os recursos europeus da melhor forma eacute
necessaacuterio definir uma estrateacutegia clara que articule as prioridades a niacutevel poliacutetico e a
niacutevel de investigaccedilatildeo responda a desafios transectoriais potencie as sinergias entre os
esforccedilos dos Estados-Membros e os da Comunidade evite as duplicaccedilotildees e melhore o
diaacutelogo entre os intervenientes A Europa deve tambeacutem explorar o modo como a
investigaccedilatildeo pode contribuir mais e melhor para a inovaccedilatildeo e como transformar mais
eficazmente o conhecimento e as competecircncias em produtos e serviccedilos industriais78
3) Maximizaccedilatildeo da qualidade de vida nas regiotildees costeiras
Na uacuteltima deacutecada o crescimento demograacutefico nas regiotildees costeiras e insulares foi
duas vezes superior ao crescimento demograacutefico meacutedio na Uniatildeo Europeia As
comunidades costeiras satildeo tambeacutem o destino da maioria dos turistas na Europa pelo
que a necessidade de reconciliar o desenvolvimento econoacutemico a sustentabilidade do
ambiente e a qualidade de vida nessas regiotildees se coloca aiacute com maior acuidade
As autoridades regionais e as comunidades costeiras tecircm um importante papel a
desempenhar na regulaccedilatildeo das actividades costeiras e mariacutetimas O Comiteacute das Regiotildees
78
COM (2007) 575 final 12
47
(CoR) as regiotildees costeiras e as suas redes satildeo por conseguinte parceiros essenciais no
quadro da elaboraccedilatildeo de uma poliacutetica mariacutetima integrada da Uniatildeo Europeia
Os portos e os sectores mariacutetimos conferem a estas regiotildees uma importacircncia
estrateacutegica para a Europa no seu conjunto Oferecem importantes serviccedilos ao seu
hinterland e funcionam como base para o policiamento das fronteiras mariacutetimas e das
aacuteguas costeiras Daqui resulta uma forte pressatildeo sobre as infra-estruturas facto que deve
ser tomado em consideraccedilatildeo na atribuiccedilatildeo de recursos comunitaacuterios As regiotildees
costeiras satildeo tambeacutem particularmente afectadas pelas alteraccedilotildees climaacuteticas e a gestatildeo
dos riscos pode assumir proporccedilotildees dramaacuteticas nos orccedilamentos e economias destas
regiotildees
O mar eacute determinante para o turismo costeiro e mariacutetimo e eacute um importante
catalisador do desenvolvimento econoacutemico das zonas costeiras europeias
Embora reconheccedilam que haacute fontes de financiamento os interessados consideram
que tecircm um insuficiente acesso agrave informaccedilatildeo A Comissatildeo Europeia deve esforccedilar-se
por optimizar os projectos mariacutetimos nas regiotildees costeiras e insulares no acircmbito dos
vaacuterios instrumentos financeiros comunitaacuterios disponiacuteveis (ver ponto 33 Instrumentos
econoacutemico-financeiros de apoio agrave PMIE)
A necessidade de obter melhores dados soacutecio-econoacutemicos sobre os sectores
mariacutetimos e as regiotildees costeiras eacute tambeacutem evidente tendo em conta que a dificuldade
em obter tais informaccedilotildees estaacute a limitar a capacidade dos interessados a niacutevel regional
no respeitante ao desenvolvimento de planos e investimentos racionais a longo prazo
Por outro lado a colaboraccedilatildeo inter-regional eacute essencial para permitir o
desenvolvimento das regiotildees costeiras europeias o qual deve ter em conta a diversidade
e especificidade destes locais Por conseguinte a Comissatildeo Europeia deve utilizar
plenamente o Programa de Cooperaccedilatildeo Territorial para apoiar o desenvolvimento
mariacutetimo inter-regional
As regiotildees ultraperifeacutericas e as ilhas estatildeo sujeitas a desvantagens econoacutemicas
consideraacuteveis mas dispotildeem de um elevado potencial no que se refere agraves actividades
mariacutetimas e agrave investigaccedilatildeo marinha As suas extensas zonas mariacutetimas oferecem
serviccedilos ligados aos ecossistemas de grande interesse para a Uniatildeo Europeia A
48
Comissatildeo Europeia deve promover o desenvolvimento do seu potencial mariacutetimo e a
sua cooperaccedilatildeo com os vizinhos regionais respectivos79
A actual situaccedilatildeo das pescas na Europa natildeo pode ser considerada satisfatoacuteria Os
esforccedilos para conseguir reduzir a capacidade existente e a conservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo
dos recursos haliecircuticos existentes devem ser acompanhados por uma melhoria do
bem-estar social dos trabalhadores activos no sector
A integraccedilatildeo dos pescadores na economia mariacutetima mais ampla pode ser beneacutefica
tanto para as suas perspectivas de emprego como para o desenvolvimento global das
condiccedilotildees em que trabalham e em que o seu sector opera Aleacutem disso o bem-estar das
comunidades pesqueiras tradicionais eacute uma componente importante para a qualidade de
vida nas regiotildees costeiras
Saliento o papel que o sector naacuteutico pode desempenhar ao niacutevel do
desenvolvimento local pois para aleacutem de proporcionar actividades para populaccedilotildees
residentes eou turistas eacute uma importante via para gerar emprego e riqueza A Naacuteutica
pode e deve estabelecer o elo entre o mar e a populaccedilatildeo desfavorecida contribuindo
para a inserccedilatildeo e coesatildeo social da comunidade As actividades naacuteuticas trazem em si
valecircncias de solidariedade ou de inclusatildeo social como por exemplo ajudar na
conversatildeo das comunidades piscatoacuterias em dificuldade (escassez de emprego) em
agentes naacuteuticos reconhecidos pela sociedade
4) Promoccedilatildeo da lideranccedila europeia nos assuntos mariacutetimos internacionais
A Uniatildeo Europeia deve continuar a envidar esforccedilos com vista a assegurar uma
governaccedilatildeo internacional dos assuntos mariacutetimos mais eficiente e a fazer cumprir o
direito mariacutetimo internacional instando os Estados-Membros a ratificar os instrumentos
pertinentes Neste contexto deve promover a coordenaccedilatildeo dos interesses europeus nas
principais instacircncias internacionais
O acesso das induacutestrias e serviccedilos mariacutetimos europeus aos mercados internacionais
a exploraccedilatildeo comercial e cientiacutefica sustentaacutevel das aacuteguas profundas a protecccedilatildeo da
biodiversidade marinha mundial a melhoria da seguranccedila mariacutetima e da protecccedilatildeo do
transporte mariacutetimo as condiccedilotildees de trabalho a reduccedilatildeo da poluiccedilatildeo causada pelos
navios e a luta contra as actividades ilegais nas aacuteguas internacionais devem constituir as
prioridades da poliacutetica mariacutetima integrada da Uniatildeo Europeia a niacutevel das suas relaccedilotildees
79
COM (2007) 575 final 13-14
49
externas Deve igualmente prestar atenccedilatildeo agraves implicaccedilotildees geopoliacuteticas das alteraccedilotildees
climaacuteticas (por exemplo as questotildees relacionadas com o Aacutertico)
Por outro lado os assuntos mariacutetimos satildeo regularmente tema de debates com os
parceiros da Uniatildeo Europeia que jaacute adoptaram medidas a favor de uma abordagem
mariacutetima integrada nomeadamente a Austraacutelia o Canadaacute o Japatildeo a Noruega e os
Estados-Unidos mas tambeacutem com outros parceiros como o Brasil Ruacutessia Iacutendia e
China (agora denominados BRIC)
A Uniatildeo Europeia deve fomentar ainda uma responsabilidade partilhada
relativamente aos mares que compartilha com os seus vizinhos Concretamente a Uniatildeo
Europeia propotildee apresentar propostas no sentido de aumentar a cooperaccedilatildeo no que
concerne agrave gestatildeo do Mediterracircneo e do mar Negro E ainda promover a cooperaccedilatildeo ao
niacutevel das relaccedilotildees externas dos paiacuteses da Europa Setentrional com os paiacuteses em
desenvolvimento incluindo os pequenos Estados insulares atraveacutes de programas de
cooperaccedilatildeo reforccedila as capacidades dos paiacuteses em desenvolvimento no que se refere agrave
poliacutetica mariacutetima e ao Direito do mar80
5) Promoccedilatildeo da visibilidade da Europa mariacutetima
Os cidadatildeos europeus cresceram com as histoacuterias dos grandes exploradores que
nos fizeram compreender que a Terra eacute redonda e nos ensinaram a situar exactamente
os continentes Muitos deles gozam as suas feacuterias na costa no meio da azaacutefama dos
barcos de pesca saboreando marisco nos restaurantes e passeando agrave beira-mar a fugir
agrave rebentaccedilatildeo () Outros passam os tempos livres a restaurar ou a navegar em velhos
barcos de madeira () Quantos todavia compreenderatildeo que estas actividades estatildeo
interligadas Quantos teratildeo consciecircncia de serem cidadatildeos de uma Europa
mariacutetima81
Na sequecircncia do Livro Verde sobre uma futura poliacutetica mariacutetima da Uniatildeo e em
resposta ao forte apoio manifestado por muitas partes interessadas durante o processo de
consulta relativo agrave nova poliacutetica de promoccedilatildeo da cultura e do patrimoacutenio mariacutetimos da
Europa a Comissatildeo tem focado a sua atenccedilatildeo no aumento da visibilidade da Europa
80
COM (2007) 575 final 14-15 81
Extractos do Livro Verde ldquoPara uma futura poliacutetica mariacutetima da Uniatildeo Uma visatildeo europeia para os
oceanos e os maresrdquo Capiacutetulo VI Reivindicar a heranccedila mariacutetima da Europa - Reiterar a identidade
mariacutetima da Europa p 51
50
mariacutetima como um dos objectivos fulcrais de uma poliacutetica mariacutetima holiacutestica e
integrada
Os stakeholders exprimiram claramente a opiniatildeo de que o processo de elaboraccedilatildeo
de uma poliacutetica mariacutetima comunitaacuteria permitiu a aquisiccedilatildeo de uma nova consciecircncia
puacuteblica sobre a importacircncia da economia e patrimoacutenio mariacutetimo e estaacute a criar entre eles
o sentimento de partilharem um objectivo e identidade comuns
Para tal a poliacutetica mariacutetima integrada deve procurar aumentar a visibilidade da
Europa mariacutetima e melhorar a imagem das suas actividades e das profissotildees ligadas ao
mar
A PMIE deve ainda promover o patrimoacutenio mariacutetimo europeu apoiando as
comunidades mariacutetimas as cidades portuaacuterias as comunidades piscatoacuterias tradicionais
os produtos artesanais as teacutecnicas tradicionais e fomentar a criaccedilatildeo de ligaccedilotildees entre
elas para incrementar o seu conhecimento e dar maior visibilidade
A Comissatildeo Europeia prossegue este objectivo recorrendo a iniciativas das quais
destaco o Dia Europeu do Mar82
(celebrado em Bruxelas Roma e Gijoacuten 2008 2009 e
2010 respectivamente) e as novas ldquoferramentasrdquo de comunicaccedilatildeo com realce para o
Atlas Europeu dos Mares o Foacuterum Mariacutetimo e o website oficial para os assuntos do mar
da Europa
O Atlas Europeu dos Mares83
jaacute eacute uma realidade Destina-se a todos os interessados
do mundo marinho e do patrimoacutenio mariacutetimo e o objectivo eacute sensibilizar a opiniatildeo
puacuteblica para a importacircncia dos oceanos e dos mares da Europa Este Atlas pedagoacutegico
fornece uma seacuterie de dados fiaacuteveis e regularmente actualizados sobre temas tatildeo variados
como o relevo do fundo do mar a erosatildeo costeira a frota de pesca europeia o
transporte mariacutetimo a amplitude de mareacutes as quotas de pesca por espeacutecie e por regiatildeo e
as ldquoauto-estradas do marrdquo
Tanto o Foacuterum Mariacutetimo84
como o website85
contribuem para ajudar a melhor
compreender a visatildeo transversal da actividade mariacutetima presente em diversos sectores
de actividade Estas ferramentas satildeo meios eficazes para disseminar informaccedilatildeo sobre a
comunidade mariacutetima dar a conhecer boas praacuteticas mariacutetimas e podem ainda servir de
82
Informaccedilatildeo sobre Dia Europeu do Mar disponiacutevel em httpeceuropaeumaritimeaffairsmaritimeday 83
Atlas Europeu do Mares disponiacutevel em httpeceuropaeumaritimeaffairsatlas 84
Foacuterum Mariacutetimo disponiacutevel em httpswebgateeceuropaeumaritimeforum 85
Website oficial do Assuntos Mariacutetimos europeus httpeceuropaeumaritimeaffairs
51
alavanca para futuras sinergias potenciando a economia mariacutetima o ambiente marinho
e as comunidades costeiras
33 Instrumentos econoacutemico-financeiros de apoio agrave PMIE
As poliacuteticas independentemente da sua natureza carecem sempre de instrumentos
financeiros para agilizar a prossecuccedilatildeo das mesmas A PMIE natildeo foge a esta regra
Conveacutem neste ponto destinado aos instrumentos financeiros distingui-los quanto agrave
forma como contribuem para consolidaccedilatildeo da PMIE Assim sendo comeccedilo pelos
instrumentos ao dispocircr da poliacutetica de coesatildeo e da poliacutetica regional que apesar de
exercerem um papel importante na eliminaccedilatildeo das assimetrias regionais natildeo saciam
todas as necessidades impliacutecitas na PMIE De seguida abordo outros instrumentos
financeiros (Fundo Europeu das Pescas Instrumento Europeu de Vizinhanccedila e de
Parceria e o 7ordm Programa-Quadro) que vatildeo ao encontro de algumas medidas enunciadas
no plano de acccedilatildeo do Livro Azul e para terminar faccedilo referecircncia ao receacutem-criado
programa de apoio ao aprofundamento da PMIE
331 A poliacutetica de coesatildeo e a poliacutetica regional europeia
A expressatildeo ldquopoliacutetica de coesatildeordquo designa um quadro poliacutetico de solidariedade a
niacutevel europeu traduzindo-se em centenas de milhares de projectos em toda a Europa
que beneficiam do apoio do Fundo de Coesatildeo e dos Fundos Estruturais ndash o Fundo
Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER) e o Fundo Social Europeu (FSE)
Para acelerar a convergecircncia econoacutemica social e territorial a Uniatildeo Europeia
instituiu um Fundo de Coesatildeo em 1994 Este fundo destina-se aos paiacuteses cujo PIB
meacutedio por habitante eacute inferior a 90 da meacutedia comunitaacuteria O Fundo de Coesatildeo tem por
finalidade conceder financiamentos a favor de projectos de infra-estruturas nos
domiacutenios do ambiente e dos transportes Contudo a aplicaccedilatildeo do Fundo de Coesatildeo estaacute
sujeita a determinadas condiccedilotildees Caso o deacutefice puacuteblico de um Estado Membro
52
beneficiaacuterio exceder 3 do PIB nacional (regras de convergecircncia da Uniatildeo Econoacutemica
Monetaacuteria) nenhum novo projecto seraacute aprovado enquanto o deacutefice natildeo estiver outra
vez sob controlo
A coesatildeo econoacutemica e social descrita no Acto Uacutenico Europeu de 1986 propotildee-se
ldquoreduzir a diferenccedila entre as diversas regiotildees e o atraso das regiotildees menos favorecidasrdquo
O Tratado de Lisboa acrescenta-lhe uma terceira vertente quando fala de poliacutetica de
coesatildeo econoacutemica social e territorial Isto significa que a poliacutetica de coesatildeo tambeacutem
deve visar um desenvolvimento territorial mais equilibrado e sustentaacutevel
As orientaccedilotildees estrateacutegicas da poliacutetica de coesatildeo para o periacuteodo 2007-2013
centram-se em torno de trecircs prioridades 1ordf ndash reforccedilo da capacidade de atracccedilatildeo dos
Estados-Membros das regiotildees e das cidades 2ordf ndash promoccedilatildeo da inovaccedilatildeo do espiacuterito
empresarial e do crescimento da economia do conhecimento 3ordf Criaccedilatildeo de mais e
melhores empregos
Hoje em dia a Europa enfrenta uma tarefa esmagadora Natildeo soacute tem de vencer a
crise profunda que atravessa e reduzir o desemprego e a pobreza como deve transitar
para uma economia com baixas emissotildees de carbono Tatildeo ambiciosa tarefa requer
grande rapidez de acccedilatildeo em muitas e variadas frentes razatildeo pela qual o Conselho
Europeu adoptou a Estrateacutegia ldquoEuropa 2020rdquo Para que a Europa venccedila todos os
intervenientes tecircm de dar o seu contributo agrave escala europeia nacional regional e local
A poliacutetica de coesatildeo tem de continuar a desempenhar um papel fundamental nos tempos
difiacuteceis que atravessamos para estimular o crescimento inteligente (valorizando o
conhecimento a inovaccedilatildeo a educaccedilatildeo e a sociedade digital) sustentaacutevel (promovendo
um economia hipocarboacutenica em termos de recursos e competitividade) e inclusivo
(aumento da taxa de participaccedilatildeo no mercado de trabalho aquisiccedilatildeo de qualificaccedilotildees e
luta contra a pobreza) com vista ao desenvolvimento harmonioso da UE e assim
reduzir as disparidades regionais Indubitavelmente sem a poliacutetica de coesatildeo as
disparidades seriam maiores
Contudo a coesatildeo econoacutemica social e territorial eacute essencialmente concretizada
atraveacutes da poliacutetica regional A poliacutetica regional da UE favorece a reduccedilatildeo das diferenccedilas
estruturais existentes entre as regiotildees o desenvolvimento equilibrado do territoacuterio
comunitaacuterio e a promoccedilatildeo de uma igualdade de oportunidades efectiva entre as pessoas
A poliacutetica regional constitui a segunda maior rubrica orccedilamental da UE com uma
dotaccedilatildeo de 348 mil milhotildees de euros para o periacuteodo de 2007-2013 O alargamento para
53
27 Estados Membros em Janeiro de 2007 alterou a situaccedilatildeo da UE pois enquanto a
superfiacutecie da UE aumentou mais de 25 e a populaccedilatildeo mais de 20 a sua riqueza soacute
aumentou cerca de 5 O PIB meacutedio por habitante da UE diminuiu mais de 10 e as
disparidades regionais foram multiplicadas por dois Eacute sabido que aproximadamente
60 das regiotildees menos desenvolvidas se situam doravante nos 12 Estados-Membros
que aderiram desde 2004 Logo facilmente se depreende a deslocaccedilatildeo do centro de
gravidade da poliacutetica regional para Leste
Para o periacuteodo de 2007-2013 a dotaccedilatildeo financeira atribuiacuteda agrave poliacutetica regional
aproxima-se dos 348 mil milhotildees de euros 278 mil milhotildees para os Fundos Estruturais
e 70 mil milhotildees para o Fundo de Coesatildeo Esta dotaccedilatildeo representa 45 do orccedilamento
comunitaacuterio ou seja constitui a segunda rubrica orccedilamental logo atraacutes da Poliacutetica
Agriacutecola Comum (PAC)
Cabe agraves regiotildees e agraves respectivas entidades regionais atraveacutes das poliacuteticas de coesatildeo
e desenvolvimento regional afectarem uma parte dos fundos europeus para financiarem
projectos de interesse mariacutetimo e que vatildeo ao encontro do estipulado na PMIE
332 Fundos Estruturais
Como foi referido anteriormente existem dois tipos de fundos estruturais o Fundo
Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER) e o Fundo Social Europeu (FSE)
O FEDER86
apoia desde 1975 a realizaccedilatildeo de infra-estruturas e investimentos
produtivos geradores de emprego nomeadamente os destinados agraves empresas
O FSE87
instituiacutedo em 1958 apoia a inserccedilatildeo profissional dos desempregados e das
categorias desfavorecidas da populaccedilatildeo financiando nomeadamente acccedilotildees de
formaccedilatildeo
86
Regulamento (CE) nordm 16982005 do Conselho de 20 de Setembro de 2005 relativo ao apoio ao
desenvolvimento rural pelo Fundo Europeu Agriacutecola de Desenvolvimento Rural 87
Regulamento (CE) nordm 17841999 do Parlamento Europeu e do Conselho de 12 de Julho de 1999
relativo ao Fundo Social Europeu
54
Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER)
O FEDER destina-se a reforccedilar a coesatildeo econoacutemica e social na Uniatildeo Europeia
atraveacutes da correcccedilatildeo dos desequiliacutebrios regionais Resumidamente o FEDER financia
Ajudas directas aos investimentos realizados nas empresas
designadamente as pequenas e meacutedias empresas (PME`s) a fim de criar
emprego duradouro
Infra-estruturas ligadas nomeadamente agrave investigaccedilatildeo e agrave inovaccedilatildeo agraves
telecomunicaccedilotildees ao ambiente agrave energia e aos transportes
Instrumentos financeiros (fundos de capital de risco fundos de
desenvolvimento local etc) a fim de apoiar o desenvolvimento regional e local
e favorecer a cooperaccedilatildeo entre as cidades e regiotildees
Medidas de assistecircncia teacutecnica
O FEDER interveacutem na poliacutetica regional em trecircs objectivos a convergecircncia a
competitividade regional e emprego e a cooperaccedilatildeo territorial europeia
Fundo Social Europeu (FSE)
O FSE tem por objectivo melhorar o emprego e as possibilidades de emprego na
Uniatildeo Europeia e interveacutem no acircmbito dos objectivos da convergecircncia e competitividade
regional e emprego
O FSE apoia as acccedilotildees dos Estados-membros nos domiacutenios seguintes
Adaptaccedilatildeo dos trabalhadores e das empresas sistemas de aprendizagem
ao longo da vida concepccedilatildeo e difusatildeo de formas de organizaccedilatildeo do trabalho
inovadoras
Acesso ao emprego por parte das pessoas que procuram trabalho das
pessoas inactivas das mulheres e dos migrantes
Integraccedilatildeo social das pessoas desfavorecidas e luta contra a
discriminaccedilatildeo no mercado do trabalho
Reforccedilo do capital humano atraveacutes da reforma dos sistemas educativos e
colocaccedilatildeo em rede dos estabelecimentos de ensino
55
333 Outras fontes de financiamento
A PMIE aleacutem dos fundos estruturais e do fundo de coesatildeo tem ao seu dispocircr
outros instrumentos financeiros como seja o Fundo Europeu para as Pescas88
que
serve para estimular actividades econoacutemicas alternativas agrave pesca como o turismo
verde previsto para o desenvolvimento sustentaacutevel das zonas de pesca costeiras o
Instrumento Europeu de Vizinhanccedila e de Parceria89
contribuiraacute atraveacutes da cooperaccedilatildeo
transfronteiriccedila para dar resposta a problemas comuns dos paiacuteses do litoral inseridos em
bacias mariacutetimas
O Banco Europeu de Investimento (BEI) pode igualmente constituir um
importante instrumento para financiamento de avultados investimentos infra-estruturais
destinados a facilitar o ordenamento espacial e a execuccedilatildeo de estrateacutegias de
desenvolvimento de poacutelos de competitividade em regiotildees costeiras ou melhorar as
ligaccedilotildees agrave rede de produccedilatildeo de energias renovaacuteveis
Por fim realccedilo a primeira call lanccedilada a 30 de Julho de 2009 pela Comissatildeo
Europeia denominada The Ocean of Tomorrow integrada no seacutetimo Programa-Quadro
Ela eacute dotada de um orccedilamento de 34 milhotildees de euros para projectos de investigaccedilatildeo
multidisciplinar com o objectivo de conciliar o desenvolvimento de actividades
mariacutetimas com a preservaccedilatildeo dos mares e oceanos Uma segunda call ainda referente
ao seacutetimo Programa-Quadro de 45 milhotildees foi entretanto lanccedilada a 30 de Julho de
2010 Espera-se que as propostas abordem a complexidade dos oceanos e mares
integrando vaacuterias disciplinas (ambiente transportes energia pescas economia e
ciecircncias sociais) promovendo tambeacutem novos modelos de gestatildeo integrada do oceano O
prazo limite para entrega de candidaturas da segunda chamada termina no dia 18 de
Janeiro de 2011
Estas duas chamadas conjuntas respondem agrave necessidade de alocar meios
financeiros de suporte agraves prioridades expostas na Estrateacutegia Europeia para a
Investigaccedilatildeo Marinha e Mariacutetima e assim dar resposta ao pilar ambiental da PMIE
88
Decisatildeo 2005367CE do Conselho de 14 de Abril de 2005 que autoriza os Estados-Membros a
ratificar no interesse da Comunidade Europeia a Convenccedilatildeo da Organizaccedilatildeo Internacional do Trabalho
relativa aos documentos de identificaccedilatildeo dos mariacutetimos (Convenccedilatildeo nordm 185) - JO L 136 de 3052005 89
httpeceuropaeuworldenpfunding_enhtm
56
334 Programa de apoio ao aprofundamento da PMIE
Apesar dos instrumentos financeiros disponibilizados a implementaccedilatildeo da PMIE
pode estar em risco devido agrave falta de meios para financiar as acccedilotildees necessaacuterias durante
o periacuteodo remanescente (2010-2013)
Para tal efeito entendeu a Comissatildeo Europeia ser necessaacuterio estabelecer um
programa de apoio a medidas destinadas a promover o aprofundamento e a
implementaccedilatildeo da PMIE uma vez que os outros instrumentos disponibilizados pela UE
e apresentados anteriormente (o Fundo de Coesatildeo o FEDER o FSE o Fundo Europeu
das Pescas o seacutetimo Programa-Quadro de actividades em mateacuteria de investigaccedilatildeo
desenvolvimento tecnoloacutegico e demonstraccedilatildeo e o Instrumento Europeu de Vizinhanccedila e
Parceria) natildeo cobrirem significativamente as prioridades e objectivos da poliacutetica
mariacutetima integrada
No entanto este programa serviraacute de complemento aos instrumentos financeiros
actuais e futuramente disponibilizados ao niacutevel nacional e sub-nacional pelos Estados-
Membros para promover a protecccedilatildeo e a utilizaccedilatildeo sustentaacutevel dos oceanos e mares e
das zonas costeiras
Para que a Uniatildeo Europeia implemente e aprofunde a PMIE e prossiga os
objectivos basilares estabelecidos no Livro Azul eacute necessaacuterio um apoio financeiro
modesto mas constante Daiacute que juntamente com os Estados-Membros e as partes
interessadas este financiamento permite prosseguir os trabalhos exploratoacuterios jaacute
iniciados atraveacutes de acccedilotildees preparatoacuterias e projectos-piloto e desenvolver e concretizar
ainda melhor as opccedilotildees de execuccedilatildeo da PMIE
A dotaccedilatildeo financeira para a execuccedilatildeo do programa de apoio ao aprofundamento da
PMIE foi fixada em 50 milhotildees de euros e seraacute aplicaacutevel entre 1 de Janeiro de 2011 e 31
de Dezembro de 2013
O programa de apoio tem os seguintes dez objectivos gerais90
Favorecer o desenvolvimento e a implementaccedilatildeo de uma governaccedilatildeo
integrada dos assuntos mariacutetimos e costeiros e estrateacutegias integradas para as
bacias mariacutetimas
90
COM (2010) 494 final 11
57
Contribuir para o desenvolvimento de instrumentos transversais para as
poliacuteticas sectoriais ligadas ao mar ou agraves zonas costeiras
Apoiar a articulaccedilatildeo das poliacuteticas e promover a utilizaccedilatildeo sustentaacutevel dos
recursos marinhos e costeiros o crescimento econoacutemico sustentaacutevel a inovaccedilatildeo
e o emprego nos sectores mariacutetimos e nas regiotildees costeiras em consonacircncia com
as prioridades e acccedilotildees das poliacuteticas sectoriais
Melhor definir os limites da sustentabilidade das actividades humanas
com impacto no meio marinho no acircmbito da Directiva-Quadro Estrateacutegia
Marinha
Melhorar e reforccedilar a cooperaccedilatildeo e a coordenaccedilatildeo externas no que
respeita aos objectivos da poliacutetica mariacutetima integrada
Estes objectivos do programa de apoio ao aprofundamento da PMIE podem-se
traduzir nas seguintes acccedilotildees elegiacuteveis91
Estudos e programas de cooperaccedilatildeo
Informaccedilatildeo do puacuteblico e partilha de boas praacuteticas sensibilizaccedilatildeo do
puacuteblico e actividades associadas de comunicaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo incluindo
campanhas de publicidade eventos e ainda o desenvolvimento e a manutenccedilatildeo
de siacutetios Web
Conferecircncias seminaacuterios grupos de trabalho e foacuteruns de partes
interessadas
Mutualizaccedilatildeo monitorizaccedilatildeo e visualizaccedilatildeo de uma grande quantidade de
informaccedilotildees boas praacuteticas e bases de dados sobre os projectos regionais
financiados pela UE e garantia do correspondente acesso do puacuteblico
nomeadamente sempre que adequado por intermeacutedio de um secretariado
instituiacutedo para um ou vaacuterios destes efeitos
Acccedilotildees referentes a instrumentos transversais incluindo projectos-piloto
91
COM (2010) 494 final 12-13
58
Cap IV ndash Orientaccedilotildees estrateacutegias para o futuro da PMIE
41 Breve balanccedilo
A poliacutetica mariacutetima integrada europeia estabeleceu-se como uma nova abordagem
destinada a reforccedilar o desenvolvimento oacuteptimo e sustentaacutevel de todas as actividades
relacionadas com o mar Confirmou a visatildeo de que a Europa pode colher benefiacutecios
muito maiores com um impacto ambiental muito menor se articular as poliacuteticas relativas
aos oceanos e mares As instituiccedilotildees da Uniatildeo Europeia os Estados-Membros e as
regiotildees criaram estruturas de governaccedilatildeo para garantir que as poliacuteticas mariacutetimas
deixassem de ser desenvolvidas de uma forma isolada e tomassem em consideraccedilatildeo as
relaccedilotildees e sinergias com outras aacutereas poliacuteticas Os stakeholders confirmaram o interesse
consideraacutevel que a ampla consulta realizada em 2006-2007 despertou e a PMIE tornou-
se uma das poliacuteticas da Uniatildeo Europeia que mais recorre a uma abordagem ldquoda base
para o topordquo No domiacutenio das poliacuteticas sectoriais com impacto no mar e no litoral
nomeadamente as poliacuteticas da pesca dos transportes do ambiente da energia da
induacutestria ou da investigaccedilatildeo deram-se passos consideraacuteveis no sentido de uma maior
integraccedilatildeo e coerecircncia Foram tambeacutem adoptadas as primeiras medidas para aplicar a
PMIE numa base regional Em resumo a poliacutetica mariacutetima integrada da Uniatildeo Europeia
estaacute a modificar a forma como os europeus olham para os seus mares e oceanos
reafirmando ao mesmo tempo a importacircncia estrateacutegica dos mares e das regiotildees
costeiras do continente92
O quadro oferecido pela PMIE procura essencialmente concretizar (e jaacute comeccedilou a
fazecirc-lo) quatro objectivos93
Promover a integraccedilatildeo das estruturas de governaccedilatildeo tornando-as mais
abertas agrave participaccedilatildeo e agrave cooperaccedilatildeo
Criar uma base de conhecimentos e os instrumentos transectoriais
necessaacuterios para permitir a execuccedilatildeo das poliacuteticas integradas
92
COM (2009) 540 final 2 93
COM 2009) 540 final 3
59
Melhorar a qualidade das poliacuteticas sectoriais atraveacutes da procura activa de
sinergias e de uma maior coerecircncia transectorial
No quadro da realizaccedilatildeo dos objectivos acima referidos tomar em
consideraccedilatildeo as especificidades dos mares regionais que banham a Europa e
encontrar soluccedilotildees adaptadas a cada caso
A aplicaccedilatildeo do plano de acccedilatildeo conheceu jaacute um franco progresso das 65 acccedilotildees
incluiacutedas no plano foram iniciadas ou concluiacutedas 56 (trata-se na maior parte de actos
da Comissatildeo Europeia ou Conselho Europeu) Foram empreendidas vaacuterias iniciativas
em relaccedilatildeo a nove das acccedilotildees desse plano embora os documentos oficiais natildeo tenham
sido ainda adoptados
42 Governaccedilatildeo mariacutetima e participaccedilatildeo das partes interessadas
O Livro Azul defende que eacute necessaacuterio repensar a gestatildeo dos mares e oceanos a
todos os niacuteveis de governaccedilatildeo isto eacute nas instituiccedilotildees da UE nos Estados-Membros e
nas regiotildees Os actores poliacuteticos responderam em geral de uma forma muito positiva
passados dois anos tomaram-se medidas em toda a Uniatildeo para superar a
compartimentaccedilatildeo das vaacuterias poliacuteticas relacionadas com o mar aumentar a participaccedilatildeo
das partes interessadas e identificar sinergias poliacuteticas Importa agora realccedilar os
progressos alcanccedilados pelas instituiccedilotildees europeias Estados membros regiotildees e tambeacutem
pelos stakeholders
Instituiccedilotildees da UE94
A Comissatildeo Europeia adoptou diversas medidas no sentido de integrar o processo
de definiccedilatildeo da poliacutetica mariacutetima Em 2005 foi criado um Grupo Director de
Comissaacuterios que examinou as iniciativas poliacuteticas mais importantes incluiacutedas no plano
de acccedilatildeo do Livro Azul Foram tambeacutem criadas estruturas para promover reuniotildees
94
COM (2009) 540 final 3-4
60
regulares entre as Direcccedilotildees-Gerais interessadas a fim de identificar sinergias e
eliminar eventuais incoerecircncias entre as poliacuteticas
A Comissatildeo Europeia reorganizou igualmente os seus serviccedilos e alargou o mandato
da Direcccedilatildeo-Geral dos Assuntos Mariacutetimos e das Pescas a fim de assegurar a
coordenaccedilatildeo poliacutetica global e desenvolver se necessaacuterio instrumentos transectoriais
tendo em conta as especificidades regionais
O Conselho Europeu mostra um grande empenhamento na PMIE Natildeo soacute reconhece
a natureza transectorial da PMIE ao abordaacute-la na sua formaccedilatildeo Assuntos Gerais e
Relaccedilotildees Externas como reafirma nas suas conclusotildees de 8 de Dezembro de 200895
ldquoque uma abordagem integrada das questotildees mariacutetimas constitui um objectivo da maior
importacircncia tendo em conta a necessidade de reforccedilar as sinergias a coerecircncia e o
valor acrescentado das acccedilotildees sectoriais empreendidas pela Uniatildeo Europeia
integrando-as numa visatildeo global dos mares dos oceanos e dos seus litorais tendo em
conta as especificidades regionais (hellip)rdquo
Em termos institucionais a participaccedilatildeo activa do Conselho e dos Estados-
Membros eacute assegurada pelos trabalhos do Conselho de Assuntos Gerais e pelos grupos
de contacto dos Estados-Membros para a PMIE Estes grupos satildeo a garantia de que se
utiliza plenamente os conhecimentos especializados existentes nas administraccedilotildees
nacionais se presta a devida atenccedilatildeo agraves necessidades especiacuteficas dos Estados-Membros
e das regiotildees costeiras e se obteacutem um consenso poliacutetico com o maacuteximo de transparecircncia
e impacto
A atenccedilatildeo e o apoio do Parlamento Europeu agrave poliacutetica mariacutetima tecircm sido muito
positivos96
Contudo os assuntos mariacutetimos continuam a ser tratados por diferentes
comissotildees e estruturas
O Comiteacute das Regiotildees tem dado vaacuterios contributos beneacuteficos para a PMIE A
Comissatildeo Europeia tomou nota em especial do parecer sobre o Livro Azul que conteacutem
elementos importantes para trabalhos futuros O recente parecer do Comiteacute ldquoPacote
mariacutetimo e costeirordquo97
constitui um exemplo valioso da combinaccedilatildeo de interesses
divergentes de uma forma coerente complementar e sineacutergica
95
16503108 REV 1 96
Especialmente atraveacutes do relatoacuterio A6-01632008 (Comissatildeo dos Transportes e do Turismo) de Willi
Piecyk deputado do Parlamento Europeu entretanto falecido 97
CdR 4162008 final adoptado em 17 de Junho de 2009
61
O Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu emitiu em 14 de Abril de 2008 um
parecer98
particularmente favoraacutevel agrave PMIE
Estados-Membros99
Agrave data da publicaccedilatildeo do Livro Verde poucas iniciativas existiam nos Estados-
Membros em favor de abordagens integradas Dois paiacuteses a Franccedila e os Paiacuteses Baixos
informaram que dispunham de uma estrutura administrativa para coordenar as poliacuteticas
mariacutetimas Pelo seu lado Portugal tinha jaacute iniciado acccedilotildees concretas com vista a uma
estrateacutegia sobre os oceanos Desde entatildeo registaram-se progressos consideraacuteveis e mais
Estados-Membros tomaram iniciativas para integrar a poliacutetica mariacutetima e partilhar boas
praacuteticas de abordagens integradas da poliacutetica mariacutetima Estas iniciativas satildeo
inteiramente conformes com as orientaccedilotildees publicadas pela Comissatildeo Europeia em
Junho de 2008100
e referem-se a mudanccedilas organizacionais eou ao desenvolvimento de
estrateacutegias integradas de mais longo prazo com vista ao desenvolvimento sustentaacutevel
dos sectores mariacutetimos e das regiotildees costeiras
De salientar os exemplos do Nationaal Waterplan neerlandecircs o Grenelle de la Mer
francecircs o Entwicklungsplan Meer alematildeo a Lei sueca sobre uma poliacutetica mariacutetima
coerente o plano polaco interdepartamental de uma poliacutetica mariacutetima e a Lei mariacutetima
britacircnica A Irlanda Portugal e a Esloveacutenia tomaram igualmente medidas neste sentido
A Beacutelgica a Bulgaacuteria a Repuacuteblica Checa a Dinamarca a Itaacutelia a Greacutecia a Finlacircndia e
a Espanha comunicaram tambeacutem a realizaccedilatildeo de actividades neste domiacutenio perfazendo
um total de 14 Estados membros
Regiotildees101
As regiotildees costeiras participam plenamente como parceiros da PMIE desde o seu
iniacutecio e satildeo as mais bem colocadas para identificar os elementos necessaacuterios para
executar a poliacutetica tanto a niacutevel local como das bacias mariacutetimas Mostraram
igualmente grande capacidade para trabalhar com as autoridades nacionais e com as
regiotildees de outros Estados-Membros com o objectivo de promover soluccedilotildees integradas
para as questotildees relativas ao mar A Conferecircncia das Regiotildees Perifeacutericas Mariacutetimas
98
JO 2008C 21107 99
COM (2009) 540 final 4-5 100
COM (2008) 395 final de 2662008 101
COM (2009) 540 final 5
62
(CRPM) que reuacutene cerca de 160 regiotildees europeias segue atentamente os progressos do
plano de acccedilatildeo atraveacutes de intervenccedilotildees regulares nas reuniotildees do grupo de trabalho
Aquamarina criado especificamente para promover a PMIE a niacutevel regional
Partes interessadas102
As partes interessadas tem tido um papel preponderante no estabelecimento de uma
PMIE para a UE Os actores regionais e empresariais e as ONG foram os primeiros a
advogar a articulaccedilatildeo das poliacuteticas da UE com impacto nos mares sectores mariacutetimos e
regiotildees costeiras As suas contribuiccedilotildees constituiacuteram a base para a criaccedilatildeo de conceitos
e instrumentos inovadores
A celebraccedilatildeo anual do Dia Europeu do Mar converteu-se no evento em que os
vaacuterios ciacuterculos interessados podem realizar intercacircmbios altamente produtivos A
Comissatildeo Europeia deve dar continuidade a este evento assim como ampliar o nuacutemero
de europeus participantes Ao mesmo tempo deve encorajar as partes interessadas a
voltar a organizar eventos descentralizados em torno do Dia Europeu do Mar celebrado
em 20 de Maio reflectindo desta forma as contribuiccedilotildees nacionais regionais e locais
para a PMIE
43 Instrumentos transectoriais
Conforme abordado no capiacutetulo III (Livro Azul) foi identificada a necessidade de
existirem instrumentos transectoriais nomeadamente o ordenamento do espaccedilo
mariacutetimo a vigilacircncia integrada e a construccedilatildeo de uma base de conhecimentos para a
poliacutetica mariacutetima Estes trecircs instrumentos desenvolveram-se a um bom ritmo e jaacute eacute
possiacutevel registar os primeiros resultados obtidos Ora vejamos
102
COM (2009) 540 final 5-6
63
Ordenamento do espaccedilo mariacutetimo (OEM) e gestatildeo integrada da zona costeira
(GIZC)103
O aumento das actividades desenvolvidas nos mares da Europa exacerbou a
competiccedilatildeo pelo espaccedilo mariacutetimo que eacute limitado O ordenamento do espaccedilo mariacutetimo eacute
um instrumento-chave para equilibrar os interesses sectoriais e garantir uma utilizaccedilatildeo
sustentaacutevel dos recursos marinhos sendo o seu princiacutepio subjacente uma abordagem
ecossisteacutemica Este processo proporciona agraves administraccedilotildees puacuteblicas e partes
interessadas um quadro de ordenamento estaacutevel fiaacutevel e centrado em objectivos
concretos a partir do qual podem coordenar as suas acccedilotildees e optimizar a utilizaccedilatildeo do
espaccedilo mariacutetimo em benefiacutecio do desenvolvimento econoacutemico e do meio marinho
A Comissatildeo adoptou em 2008 a comunicaccedilatildeo intitulada ldquoRoteiro para o
ordenamento do espaccedilo mariacutetimo definiccedilatildeo de princiacutepios comuns na UErdquo104
O roteiro
estabelece dez princiacutepios-chave e analisa o desenvolvimento entre os Estados-Membros
de uma abordagem comum que promova a aplicaccedilatildeo do OEM a niacutevel nacional e da UE
Em debates organizados pela Comissatildeo no decurso de 2009105
as partes
interessadas de todos os sectores mariacutetimos relevantes consideraram que os dez
princiacutepios-chave satildeo vaacutelidos tecircm um caraacutecter global e constituem uma base importante
para o desenvolvimento do OEM a niacutevel europeu A Comissatildeo Europeia lanccedilou
igualmente duas acccedilotildees preparatoacuterias no Baacuteltico (no acircmbito da estrateacutegia comunitaacuteria
para a regiatildeo do Baacuteltico) e no Mar do NorteAtlacircntico Nordeste visando o
desenvolvimento da vertente de cooperaccedilatildeo transfronteiras do OEM assim como um
estudo sobre o potencial do ordenamento do espaccedilo mariacutetimo no Mediterracircneo e os
benefiacutecios econoacutemicos do OEM
No seguimento da recomendaccedilatildeo incluiacuteda no Livro Azul no sentido da criaccedilatildeo de
um sistema de intercacircmbio de boas praacuteticas para o desenvolvimento da gestatildeo integrada
da zona costeira (GIZC) a Comissatildeo iniciou em 2009 um projecto destinado a fomentar
o intercacircmbio de boas praacuteticas e promover a aplicaccedilatildeo efectiva da GIZC106
No final de
2008 o Conselho assinou o Protocolo sobre a GIZC no acircmbito da Convenccedilatildeo de
Barcelona107
103
Para informaccedilatildeo detalhada sobre a GIZC consultar httpeceuropaeuenvironmenticzmourcoasthtm 104
COM(2008) 791 final 105
httpeceuropaeumaritimeaffairsspatial_planning_enhtml6 106
httpeceuropaeuenvironmenticzmourcoasthtm 107
COM (2009) 540 final 6-7
64
Integraccedilatildeo da vigilacircncia mariacutetima
A integraccedilatildeo da vigilacircncia mariacutetima permitiraacute aumentar a eficaacutecia das operaccedilotildees no
mar e reduzir os custos de exploraccedilatildeo As potenciais economias a niacutevel da UE satildeo
significativas se se considerar a necessidade crescente de detectar localizar interceptar
e controlar actividades iliacutecitas no mar assim como de prevenir acidentes mariacutetimos
detectar descargas ilegais controlar as actividades de pesca e proteger o ambiente
Ateacute agrave data a Comissatildeo elaborou descriccedilotildees pormenorizadas das vaacuterias iniciativas
de integraccedilatildeo da vigilacircncia mariacutetima108
empreendidas a niacutevel nacional regional e
europeu terminou um estudo sobre os aspectos juriacutedicos e regulamentares da integraccedilatildeo
da vigilacircncia mariacutetima e procedeu a um exerciacutecio conjunto com a Agecircncia Europeia de
Defesa e o Estado-Maior da UE em resposta a um pedido do Conselho de Defesa109
A
Comissatildeo lanccedilou igualmente dois convites agrave apresentaccedilatildeo de propostas num montante
total de 57 milhotildees de euros110
para projectos-piloto de integraccedilatildeo da vigilacircncia com
vista a promover uma cooperaccedilatildeo mais estreita entre as administraccedilotildees nacionais no
Mediterracircneo e na bacia do Mar do Norte111
Construccedilatildeo de uma base de conhecimentos para a poliacutetica mariacutetima
Natildeo eacute possiacutevel desenvolver uma poliacutetica mariacutetima sem dados e conhecimentos
adequados sobre os mares e o litoral da Europa O conhecimento do meio marinho
permanece eacute ainda muito disperso e pouco rentaacutevel A Rede Europeia de Observaccedilatildeo e
de Dados do Meio Marinho (EMODNET) anunciada no Livro Azul tem como
objectivo reduzir as incertezas no conhecimento dos mares e os custos operacionais dos
utilizadores de dados marinhos Eacute necessaacuterio avaliar as bases de dados e os programas
de observaccedilatildeo existentes em termos de cobertura precisatildeo e frequecircncia de recolha bem
como compilar de forma global e compatiacutevel os dados provenientes de diferentes fontes
e tornaacute-los acessiacuteveis como instrumento de boa governaccedilatildeo112
Destaque para o
lanccedilamento do ldquoAtlas Europeu dos Maresrdquo tem como objectivo sensibilizar o puacuteblico
para as questotildees marinhas
108
SEC (2008) 2337 109
COSDP 949 PESC 1366 110
Convites agrave apresentaccedilatildeo de propostas MARE200813 e 200904 111
COM (2009) 540 final 7 112
COM (2009) 540 final 7-8
65
44 Perspectivas e visatildeo futura da PMIE
Os uacuteltimos dois anos confirmaram que a PMIE eacute uma poliacutetica muito promissora e
que pode contribuir de forma muito significativa para o crescimento o emprego e a
sustentabilidade ambiental nas zonas costeiras da Europa e para aleacutem destas Apesar de
recente esta nova poliacutetica da UE jaacute alterou a forma como a Europa gere as suas riquezas
mariacutetimas e costeiras
Apoacutes trecircs anos de deliberaccedilotildees intensas eacute fundamental manter este impulso para
dar uma resposta aos desafios essenciais a meacutedio e longo prazo que representam a
protecccedilatildeo do ambiente o crescimento econoacutemico e o bem-estar O duplo impacto das
alteraccedilotildees climaacuteticas e da crise econoacutemica faz-se sentir de uma forma particular no
mundo mariacutetimo os oceanos determinam o nosso clima e o sector mariacutetimo foi o motor
da globalizaccedilatildeo e da prosperidade
Por conseguinte eacute importante desenvolver o potencial econoacutemico da Europa
mariacutetima melhorar a acccedilatildeo dos poderes puacuteblicos nos mares e continuar a explorar as
sinergias que permitem o reforccedilo muacutetuo do crescimento econoacutemico e da estabilidade
ambiental Segundo a Comissatildeo Europeia a melhor forma de alcanccedilar estes objectivos eacute
avanccedilar em seis direcccedilotildees estrateacutegicas
Eacute necessaacuterio consolidar a governaccedilatildeo mariacutetima integrada Os progressos
alcanccedilados nos uacuteltimos anos devem ser traduzidos em estruturas integradas eficazes a
todos os niacuteveis de governaccedilatildeo As instituiccedilotildees da UE os Estados-Membros e as regiotildees
costeiras tecircm uma responsabilidade particular na integraccedilatildeo da poliacutetica mariacutetima a
montante e na adopccedilatildeo de programas coerentes e comuns para os assuntos mariacutetimos
contrariando a tendecircncia prevalecente para pensar a poliacutetica sectorial de uma forma
isolada A participaccedilatildeo das partes interessadas na definiccedilatildeo das poliacuteticas mariacutetimas deve
igualmente ser consagrada de forma mais permanente nas estruturas de governaccedilatildeo
resultando num diaacutelogo mais intenso entre a UE os Governos dos Estados-Membros e
as regiotildees costeiras que frequentemente detecircm as competecircncias fundamentais
necessaacuterias para uma abordagem integrada dos assuntos mariacutetimos Pela mesma razatildeo
seria conveniente criar uma plataforma intersectorial de diaacutelogo entre as partes
interessadas sobre os assuntos mariacutetimos113
113
COM (2009) 540 final 11
66
Os instrumentos poliacuteticos transectoriais satildeo fundamentais para fomentar o
desenvolvimento econoacutemico a monitorizaccedilatildeo do ambiente a seguranccedila e o respeito da
legislaccedilatildeo nos oceanos e mares da Europa Em especial o ordenamento do espaccedilo
mariacutetimo a par de um maior conhecimento do meio marinho pode incentivar
investimentos econoacutemicos consideraacuteveis e melhorar drasticamente a forma como
gerimos os nossos espaccedilos mariacutetimos preservando os seus ecossistemas Deve pois
converter-se num instrumento praacutetico a todos os niacuteveis de governaccedilatildeo relevantes e
contar com os mecanismos necessaacuterios para garantir um processo decisoacuterio comum
sobre os investimentos transfronteiriccedilos A integraccedilatildeo da vigilacircncia mariacutetima pode
contribuir para modificar a forma como as autoridades nacionais executam objectivos
essenciais como a luta contra a imigraccedilatildeo ilegal a protecccedilatildeo da navegaccedilatildeo comercial e
a protecccedilatildeo dos recursos naturais Os Estados-Membros e a Comissatildeo teratildeo de continuar
a colaborar nestes domiacutenios para que os processos iniciados nos uacuteltimos dois anos
possam alcanccedilar os resultados previstos114
A definiccedilatildeo dos limites de sustentabilidade das actividades humanas com um
impacto no meio marinho nos proacuteximos anos no acircmbito da Directiva-Quadro
ldquoEstrateacutegia Marinhardquo traraacute clareza e permitiraacute criar uma plataforma para o
desenvolvimento de todas as actividades mariacutetimas tendo em conta os seus efeitos
cumulativos Por esta razatildeo a aplicaccedilatildeo desta directiva continuaraacute a constituir um
objectivo fundamental da PMIE que deveraacute igualmente reforccedilar a cooperaccedilatildeo entre
todos os sectores e serviccedilos afectados nomeadamente entre as ciecircncias marinhas e a
poliacutetica para o meio marinho115
As estrateacutegias baseadas nas bacias mariacutetimas satildeo fundamentais para o ecircxito da
PMIE pois permitem adaptar as prioridades e os instrumentos poliacuteticos aos contextos
geograacutefico econoacutemico e poliacutetico especiacuteficos de cada grande regiatildeo mariacutetima Um
elemento essencial para que a PMIE seja bem sucedida eacute a cooperaccedilatildeo com e entre os
Estados-Membros e as regiotildees que partilham bacias mariacutetimas e sendo necessaacuterio esta
cooperaccedilatildeo deveraacute ser acompanhada de um diaacutelogo apropriado com os paiacuteses terceiros
que partilham bacias mariacutetimas com a UE As acccedilotildees a niacutevel das sub-bacias podem
igualmente ser uacuteteis e constituir exemplos positivos e de boas praacuteticas116
114
COM (2009) 540 final 11 115
COM (2009) 540 final 12 116
COM (2009) 540 final 12
67
Deveraacute prestar-se uma maior atenccedilatildeo agrave dimensatildeo internacional da PMIE A
Europa deve assumir um papel de motor na melhoria da governaccedilatildeo mariacutetima agrave escala
mundial como jaacute o fez no que respeita agrave pirataria ou agraves praacuteticas de pesca destrutivas A
Comissatildeo pretende reforccedilar o diaacutelogo com um nuacutemero limitado dos seus principais
parceiros mariacutetimos assim como a sua participaccedilatildeo em foacuteruns internacionais e
processos informais117
No presente contexto de crise econoacutemica a execuccedilatildeo da PMIE deveraacute recentrar-se
no crescimento econoacutemico no emprego e na inovaccedilatildeo sustentaacuteveis Por conseguinte no
futuro a UE deve explorar as sinergias entre a poliacutetica energeacutetica comunitaacuteria e a PMIE
promover a produccedilatildeo de energia no mar nomeadamente as formas de energia
renovaacuteveis e utilizar mais o mar para o transporte de energia por condutas redes
submarinas e navios Seraacute igualmente necessaacuterio fortalecer os viacutenculos entre a poliacutetica
comunitaacuteria de combate agraves alteraccedilotildees climaacuteticas e a PMIE desenvolvendo uma
estrateacutegia de adaptaccedilatildeo das zonas costeiras e mariacutetimas agraves alteraccedilotildees climaacuteticas com
vista a proteger as infra-estruturas costeiras e preservar a biodiversidade marinha Eacute
importante garantir que as zonas mariacutetimas e costeiras entrem plenamente em conta no
debate em curso sobre a coesatildeo territorial
A UE deve aleacutem disso promover ainda mais o transporte mariacutetimo a fim de
favorecer a co-modalidade pocircr em praacutetica o conceito de auto-estradas do mar e
melhorar o programa de transporte mariacutetimo de curta distacircncia da UE Ainda no acircmbito
do objectivo de impulsionar o desenvolvimento econoacutemico das actividades mariacutetimas
seraacute necessaacuterio encontrar a forma e os meios de estimular o emprego mariacutetimo e o
investimento na frota embandeirada da UE continuando todavia a apostar firmemente
no conceito de navios ecoloacutegicos Com efeito o apoio agrave inovaccedilatildeo e agrave investigaccedilatildeo a
favor de navios com baixo niacutevel de emissotildees ou mesmo com emissotildees nulas continuaraacute
a constituir a resposta principal da Comunidade agrave situaccedilatildeo do sector da construccedilatildeo
naval tatildeo importante do ponto de vista estrateacutegico Desta maneira a UE poderaacute
proporcionar aos estaleiros navais europeus e agrave europeia induacutestria do equipamento de
navios uma vantagem tecnoloacutegica sobre os seus concorrentes noutras regiotildees do mundo
e tornar o transporte mariacutetimo mais seguro e sustentaacutevel em especial ao longo das
costas da Europa118
117
COM (2009) 540 final 12 118
COM (2009) 540 final 12
68
Cap V ndash Estrateacutegia Nacional para o Mar
ldquoA Estrateacutegia Nacional para o Mar (ENM) constitui um instrumento poliacutetico
fundamental para que Portugal possa proteger e valorizar o inestimaacutevel recurso que o
oceano representa para o nosso paiacutesrdquo Cit pelo Dr Joatildeo Mira Gomes (ex-Secretaacuterio de
Estado da Defesa Nacional e dos Assuntos do Mar) na ENM 2007 p V)
Como referi no primeiro capiacutetulo a ligaccedilatildeo de Portugal ao mar ganhou especial
relevacircncia durante a eacutepoca dos Descobrimentos marcando decisivamente o iniacutecio do
processo de globalizaccedilatildeo As trocas comerciais culturais cientiacuteficas e tecnoloacutegicas daiacute
resultantes promoveram o grande desenvolvimento do nosso paiacutes e alteraram
definitivamente os processos de transmissatildeo de conhecimentos entre os povos Neste
capiacutetulo dedico-me agrave anaacutelise da evoluccedilatildeo entre 1998 e 2010 das principais dinacircmicas
mariacutetimas nacionais
Portugal actualmente dispotildee de uma das maiores zonas econoacutemicas exclusivas
(ZEE) da Europa com mais de 1700000 km2 o que corresponde a cerca de 18 vezes a
sua aacuterea terrestre existindo ainda a possibilidade de vir a contar com espaccedilos mariacutetimos
sob sua jurisdiccedilatildeo que poderatildeo exceder em muito a actual aacuterea da ZEE
Neste acircmbito a Estrutura de Missatildeo para a Extensatildeo da Plataforma Continental
(EMEPC) estaacute a trabalhar no sentido de determinar espaccedilos a reclamar por Portugal
para aleacutem das actuais 200 milhas naacuteuticas Assim a EMEPC elaborou a proposta
portuguesa chefiada pelo oceanoacutegrafo Manuel Pinto de Abreu que foi recentemente
apresentada agrave Comissatildeo de Limites para a Extensatildeo da Plataforma Continental (CLPC)
da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) Ateacute hoje a ONU recebeu 51 propostas de
Estados que querem ver aumentado o seu domiacutenio mariacutetimo Portugal foi o 44ordm paiacutes a
entregar a proposta A ONU encontra-se a avaliar a 16ordf proposta e prevecirc-se que a
decisatildeo relativa agrave proposta portuguesa seja conhecida em 2015
Caso seja aceite a proposta de alargamento pela ONU Portugal passaraacute a deter uma
aacuterea territorial equivalente 43 vezes agrave aacuterea de Portugal Continental Accedilores e Madeira
ou seja o equivalente agrave da Iacutendia e a segunda maior plataforma mundial a seguir aos
Estados Unidos da Ameacuterica
69
As Regiotildees Autoacutenomas da Madeira e dos Accedilores assumem aqui um papel de
destaque pelo seu posicionamento central nos espaccedilos mariacutetimos sob soberania ou
jurisdiccedilatildeo nacional
Este extenso espaccedilo mariacutetimo encerra alguns dos mais importantes ecossistemas
oceacircnicos a niacutevel global As caracteriacutesticas biogeograacuteficas e geomorfoloacutegicas das aacutereas
sob jurisdiccedilatildeo nacional englobam uma vasta biodiversidade marinha Os ambientes
insulares oceacircnicos o mar profundo e as planiacutecies abissais os montes e bancos
submarinos a dorsal meacutedio-atlacircntica119
os campos de fontes hidrotermais as
riquiacutessimas zonas estuarinas e lacustres os grandes canhotildees submarinos as zonas de
afloramento costeiro entre outros conferem a Portugal um patrimoacutenio natural uacutenico que
importa valorizar e preservar A este patrimoacutenio juntam-se os valores arqueoloacutegicos
culturais esteacuteticos e histoacutericos os recursos geoloacutegicos e minerais os recursos
energeacuteticos renovaacuteveis e os recursos biotecnoloacutegicos que no seu conjunto representam
um dos principais activos nacionais
Destaco tambeacutem o pioneirismo de Portugal ao niacutevel da concepccedilatildeo de um plano de
governacircncia integrado para os assuntos do Mar Refiro-me em particular ao relatoacuterio
da Comissatildeo Estrateacutegica dos Oceanos (CEO)ldquoO Oceano ndash Um Desiacutegnio Nacional
para o Seacuteculo XXIrdquo elaborado em 2004 que apresentou uma Estrateacutegia Nacional para o
Oceano Esta CEO dotou Portugal de uma nova visatildeo ldquoUm Oceano saudaacutevel
sustentaacutevel e seguro eacute o principal activo fiacutesico e sociocultural de Portugalrdquo e uma
missatildeo ldquoDestacar Portugal como uma naccedilatildeo mariacutetima da Uniatildeo Europeiardquoque
permita desenvolver e interiorizar colectivamente uma nova abordagem aos Oceanos
Para a prossecuccedilatildeo destas uacuteltimas a CEO baseou a sua estrateacutegia em cinco
objectivos que passo a enumerar
1) Valorizar a associaccedilatildeo de Portugal ao Oceano como Factor de Identidade
2) Assegurar o conhecimento e a protecccedilatildeo do Oceano
3) Promover o desenvolvimento sustentaacutevel de actividades econoacutemicas
4) Assumir uma posiccedilatildeo de destaque e especializaccedilatildeo em assuntos do Oceano
5) Construir uma estrutura institucional moderna de gestatildeo do oceano
119
A dorsal meacutedio-atlacircntica ou crista oceacircnica do Atlacircntico eacute uma cordilheira submarina que se estende
sob o Oceano Atlacircntico e o Oceano Aacutertico desde a latitude 87ordmN ateacute agrave ilha sub-antaacutertica de Bouvet agrave
latitude 54ordmS Os pontos mais elevados desta cordilheira emergem em vaacuterios locais formando ilhas
70
Em suma este valioso contributo surge da ldquonecessidade de encontrar mecanismos
de reforccedilo da identidade nacional que respondam agrave pressatildeo da homogeneizaccedilatildeo
cultural e agrave premecircncia de conceber um modelo de desenvolvimento sustentaacutevel que decirc
resposta agrave competitividade acrescida no quadro global em geral e no quadro europeu
em particular120
rdquo Este trabalho bem estruturado inovador e orientador serviu de
modelo-base para as actuais Estrateacutegia Nacional para o Mar e Poliacutetica Mariacutetima
Integrada Europeia
De facto Portugal goza de uma reputaccedilatildeo internacional de paiacutes mariacutetimo com
ideias e acccedilotildees proacuteprias sendo um activo contribuidor para a agenda global dos
oceanos
Depois de seacuteculos ligados ao mar natildeo se compreende muito bem nos dias de hoje
que o Mar seja para a maioria da sociedade portuguesa algo de distante
intangiacutevel e invisiacutevel121
No entanto saliento ainda que nos uacuteltimos anos em Portugal
foram dados passos importantes no que concerne agrave poliacutetica dos oceanos Entre os mais
significativos destaco
Em 1998 a Comissatildeo Mundial Independente para os Oceanos liderada
por Portugal e presidida pelo ex-Presidente da Repuacuteblica Dr Maacuterio Soares
aprovou o relatoacuterio ldquoO Oceano Nosso Futurordquo no acircmbito da Comissatildeo
Oceanograacutefica Intergovernamental da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a
Educaccedilatildeo Ciecircncia e Cultura (UNESCO)
O Ano Internacional dos Oceanos que se comemorou em 1998 na
sequecircncia de uma proposta apresentada por Portugal agrave Assembleia da Comissatildeo
Oceanograacutefica Intergovernamental da UNESCO e adoptada pela Assembleia
Geral das Naccedilotildees Unidas serviu de elemento integrador da Exposiccedilatildeo Mundial
de Lisboa (Expo 98) subordinada ao tema ldquoO Oceano um patrimoacutenio para o
futurordquo
Ainda nesse ano as Resoluccedilotildees do Conselho de Ministros nuacutemeros
8898 8998 e 9098 de 10 de Julho criaram respectivamente
- A Comissatildeo Oceanograacutefica Intersectorial com o objectivo de reforccedilar a
capacidade de resposta do sector de investigaccedilatildeo e desenvolvimento em ciecircncias e
120
Discurso do Primeiro-Ministro Duratildeo Barroso - XV Governo Constitucional (200204) ndash durante a
cerimoacutenia de tomada de posse da Comissatildeo Estrateacutegica dos Oceanos no dia 972003 121
ENM 2006-2016 p 2
71
tecnologias do mar e serviccedilos oceanograacuteficos afins mediante uma estrateacutegia que
permita compatibilizar acccedilotildees congregar esforccedilos e evitar duplicaccedilotildees optimizando
o uso dos meios humanos e das infra-estruturas disponiacuteveis
- O Programa Dinamizador das Ciecircncias e Tecnologias do Mar com o
objectivo de dar a este domiacutenio de investigaccedilatildeo baacutesica e aplicada a prioridade que ela
requer (numa perspectiva) de natureza estruturante e interdisciplinar
- A Comissatildeo Interministerial para a Delimitaccedilatildeo da Plataforma
Continental com vista a considerar a possibilidade da extensatildeo do limite exterior da
plataforma continental para aleacutem das 200 milhas naacuteuticas no quadro previsto pela
Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas sobre o Direito do Mar
Em 2003 foi criada a Comissatildeo Estrateacutegica dos Oceanos (Resoluccedilatildeo do
Conselho de Ministros nordm 812003 de 17 de Junho) com o objectivo de elaborar
os elementos de definiccedilatildeo de uma estrateacutegia nacional para o oceano Esta
comissatildeo produziu em 2004 um relatoacuterio com um conjunto de cerca de 250
recomendaccedilotildees e propostas de acccedilatildeo estrateacutegicas
Em 2005 foi criada a Estrutura de Missatildeo para a Extensatildeo da Plataforma
Continental (Resoluccedilatildeo do Conselho de Ministros nordm 92005 de 17 de Janeiro)
com o objectivo de preparar uma proposta de extensatildeo da plataforma continental
de Portugal para aleacutem das 200 milhas naacuteuticas para apresentaccedilatildeo agrave Comissatildeo
de Limites da Plataforma Continental das Naccedilotildees Unidas Esta substituiu a ex-
Comissatildeo Interministerial para a Delimitaccedilatildeo da Plataforma Continental
Em 2005 foi ainda criada a Estrutura de Missatildeo para os Assuntos do Mar
(EMAM) Resoluccedilatildeo do Conselho de Ministros nordm 1282005 de 10 de Agosto
com o objectivo de dar continuidade ao trabalho jaacute desenvolvido e a missatildeo de
preparar uma proposta que estabeleccedila as medidas que devem ser implementadas
para o desenvolvimento de uma poliacutetica integrada do Governo para os assuntos
do mar e para uma acccedilatildeo articulada de todas as entidades com competecircncia nas
aacutereas ligadas ao mar
Em 2006 foi dado iniacutecio agrave instalaccedilatildeo em Lisboa da Agecircncia Europeia de
Seguranccedila Mariacutetima que desempenha um papel fundamental no que se refere
aos aspectos relativos agrave recolha registo e avaliaccedilatildeo de dados teacutecnicos nos
domiacutenios da seguranccedila do traacutefego e da poluiccedilatildeo marinha
72
Em 2007 durante a Presidecircncia Portuguesa do Conselho Europeu
procedeu-se agrave organizaccedilatildeo de uma Conferecircncia Ministerial sobre uma Poliacutetica
Mariacutetima para a Uniatildeo Europeia
A submissatildeo da proposta de extensatildeo da plataforma continental de
Portugal para aleacutem das 200 milhas naacuteuticas decorreu a 11 de Maio de 2009
junto de Hariharan Pakshi Rajan da CLPC da ONU
A primeira apresentaccedilatildeo da mesma proposta de extensatildeo da plataforma
continental portuguesa teve lugar no dia 13 de Abril de 2010 na sede das ONU
em Nova Iorque
Refiro mais uma vez que Portugal conjuntamente com Franccedila e Espanha foram
dos primeiros Estados-membros a dar contributos para o Livro Verde
Relevo ainda que a centralidade e a dimensatildeo atlacircntica dos espaccedilos mariacutetimos sob
soberania ou jurisdiccedilatildeo nacional reforccedilam o papel-chave que Portugal podedeve
desempenhar no quadro da Uniatildeo Europeia como elemento de ligaccedilatildeo privilegiada aos
Paiacuteses Africanos de Liacutengua Oficial Portuguesa (PALOP) bem como ao continente
americano e ao resto do Mundo A posiccedilatildeo geoestrateacutegica do espaccedilo mariacutetimo sob
soberania ou jurisdiccedilatildeo nacional impotildee ainda importantes desafios e responsabilidades
nas aacutereas da defesa nacional seguranccedila e vigilacircncia imigraccedilatildeo ilegal combate agrave
poluiccedilatildeo apoio agrave navegaccedilatildeo e salvaguarda da vida humana no mar mas engloba
tambeacutem um conjunto de oportunidades de desenvolvimento econoacutemico e de ligaccedilatildeo
entre as vaacuterias regiotildees do territoacuterio nacional
A mais-valia para Portugal da ENM eacute tornar o mar um projecto nacional Para
tal deve apostar numa abordagem integrada da governaccedilatildeo dos assuntos do mar que
pela primeira vez congregue os esforccedilos das diferentes tutelas dos agentes econoacutemicos
da comunidade cientiacutefica das organizaccedilotildees natildeo governamentais e tambeacutem da sociedade
civil Deste modo co-responsabiliza todos os actores para o aproveitamento do mar
como factor diferenciador do desenvolvimento econoacutemico e social valorizando e
preservando este valioso patrimoacutenio
O Estado tem um papel facilitador e promotor de condiccedilotildees de desenvolvimento
econoacutemico e social mas cabe agraves empresas e agrave sociedade civil o papel principal na
concretizaccedilatildeo dos objectivos que satildeo a razatildeo de ser da ENM A obtenccedilatildeo de resultados
tangiacuteveis soacute seraacute perceptiacutevel em algum casos a meacutediolongo prazo exigindo por isso
73
uma aposta raacutepida mas persistente nas aacutereas ligadas agrave educaccedilatildeo capacitaccedilatildeo de meios
humanos criaccedilatildeo e optimizaccedilatildeo de infra-estruturas e investigaccedilatildeo e desenvolvimento
51 Princiacutepios e objectivos
A proclamaccedilatildeo do mar como principal factor diferenciador e de identidade
nacional assumindo-o como prioridade estrateacutegica e um projecto nacional reclama a
existecircncia de uma visatildeo simultaneamente ambiciosa e realista crediacutevel e atraente
Pretendem-se criar as condiccedilotildees e mecanismos que possibilitem aos diversos
agentes desenvolver de forma equilibrada e articulada as muacuteltiplas actividades ligadas
ao mar tendo em vista a promoccedilatildeo da qualidade do ambiente marinho do crescimento
econoacutemico e a criaccedilatildeo de novos empregos e oportunidades122
A ENM permite a organizaccedilatildeo de planos de acccedilatildeo orientados para a mobilizaccedilatildeo a
educaccedilatildeo e a capacitaccedilatildeo de toda a sociedade portuguesa e dos seus parceiros
internacionais A ENM visa o aproveitamento e utilizaccedilatildeo sustentaacutevel e responsaacutevel do
oceano e das zonas costeiras e criaccedilatildeo de ferramentas de gestatildeo que tornem os processos
transparentes rigorosos e crediacuteveis
52 Pilares estrateacutegicos
As razotildees que tornam a formulaccedilatildeo a implementaccedilatildeo e a avaliaccedilatildeo da ENM um
enorme desafio satildeo de vaacuteria ordem a saber
- Em primeiro lugar a reconhecida falta de conhecimento de compreensatildeo e de
percepccedilatildeo quer devido agrave complexidade dos ecossistemas oceacircnicos e costeiros e do real
impacto e inerentes consequecircncias das actividades humanas quer devido agrave difiacutecil
avaliaccedilatildeo do potencial das actividades econoacutemicas que dificultam a tomada de decisatildeo
122
ENM 2006-2016 p 10
74
- Em segundo lugar a dificuldade verificada na partilha de responsabilidade pela
gestatildeo do oceano como recurso comum e espaccedilo tridimensional devido agrave
interdependecircncia e aos conflitos que se verificam entre as vaacuterias utilizaccedilotildees interesses
jurisdiccedilotildees e processos de gestatildeo
- Em terceiro lugar o oceano e as zonas costeiras representam hoje a niacutevel
mundial uma grande oportunidade para novas actividades econoacutemicas que face aos
avanccedilos tecnoloacutegicos recentes comeccedilam a orientar o seu interesse e acccedilatildeo para o mar
obrigando a novas formas de gestatildeo e de defesa e salvaguarda activa dos interesses
nacionais
Para que Portugal aproveite as oportunidades existentes e mitigue as dificuldades
as linhas orientadoras da ENM assentam em trecircs pilares estrateacutegicos
Estes satildeo os factores criacuteticos de sucesso ou seja aquilo que se torna indispensaacutevel
assegurar para valorizar definitivamente a importacircncia do mar como elemento
diferenciador projectando-o no futuro como um dos principais motores de
desenvolvimento do Paiacutes
A construccedilatildeo de uma economia mariacutetima proacutespera ao serviccedilo da qualidade de vida
e do bem-estar social e respeitando o ambiente tem de ser suportada pelos seguintes
pilares estrateacutegicos123
O conhecimento
O planeamento e o ordenamento espaciais
A promoccedilatildeo e a defesa activas dos interesses nacionais
No que concerne ao conhecimento utilizado aqui no seu sentido mais lato soacute
atraveacutes de uma aposta coerente e sustentada na investigaccedilatildeo cientiacutefica e no
desenvolvimento de novas tecnologias aplicadas ao oceano e agraves zonas costeiras eacute
possiacutevel criar uma base soacutelida para as decisotildees de governaccedilatildeo numa perspectiva de
desenvolvimento sustentaacutevel e de gestatildeo integrada Adicionalmente a formaccedilatildeo a
educaccedilatildeo a sensibilizaccedilatildeo a difusatildeo da informaccedilatildeo e o respectivo acesso bem como o
uso de indicadores objectivos de suporte agraves vaacuterias poliacuteticas sectoriais e intersectoriais
satildeo certamente os melhores factores de credibilidade e dinamizaccedilatildeo do investimento
puacuteblico e privado nas actividades relacionadas com o mar
123
ENM 2006-2016 p 12
75
O planeamento e o ordenamento espaciais satildeo as ferramentas de governaccedilatildeo
promovidas pelas entidades competentes indispensaacuteveis para assegurar uma visatildeo de
conjunto assente nos princiacutepios do desenvolvimento sustentaacutevel da precauccedilatildeo e da
abordagem ecossisteacutemica atraveacutes do levantamento e ordenamento de todas as
utilizaccedilotildees existentes e futuras permitindo dar suporte a uma gestatildeo verdadeiramente
integrada progressiva e adaptativa do oceano e da zona costeira e do desenvolvimento
das actividades associadas
A promoccedilatildeo e a defesa activas dos interesses nacionais obtecircm-se pelo
envolvimento empenhado e competente no acircmbito das relaccedilotildees bilaterais e
multilaterais prosseguidas atraveacutes da participaccedilatildeo cooperaccedilatildeo e contribuiccedilatildeo proacute-
activas nos diversos fora internacionais Mais uma vez estas acccedilotildees tecircm de ser
suportadas por uma estrutura de coordenaccedilatildeo que garanta a articulaccedilatildeo a niacutevel nacional
nas suas vertentes diplomaacutetica poliacutetica econoacutemica social ambiental cientiacutefica
tecnoloacutegica de defesa nacional e seguranccedila reforccedilando a imagem a soberania e a
identidade nacionais
O eventual insucesso das medidas ou acccedilotildees associadas a qualquer um destes trecircs
pilares estrateacutegicos condicionaraacute de forma significativa o desenvolvimento efectivo de
qualquer poliacutetica ligada ao oceano que integre de forma sustentaacutevel as vertentes
econoacutemica social e ambiental
53 Acccedilotildees e medidas
O estabelecimento e aplicaccedilatildeo de acccedilotildees e medidas que materializem os trecircs
pilares estrateacutegicos prioritaacuterios eacute fundamental para o sucesso das actividades
econoacutemicas onde se cruzam e renovam sectores tradicionais e sectores em
desenvolvimento como suporte essencial para a criaccedilatildeo de riqueza e melhoria do
crescimento coesatildeo social e qualidade de vida124
124
ENM 2006-2016 p 17
76
Soacute com uma ENM assente nestes alicerces seraacute possiacutevel alcanccedilar os objectivos
preconizados nas diferentes poliacuteticas nacionais nomeadamente nas seguintes aacutereas
Transportes
Apostando na competitividade dos portos nacionais e fomentando o transporte
mariacutetimo enquanto modo de transporte menos poluente Neste contexto importa
promover a articulaccedilatildeo do transporte mariacutetimo com outros modos de transporte
acrescentando valor atraveacutes de cadeias logiacutesticas bem como atraveacutes da implementaccedilatildeo
de instrumentos de normalizaccedilatildeo e simplificaccedilatildeo de procedimentos tais como a janela
uacutenica portuaacuteria125
Energia
Apostando nas energias renovaacuteveis contribuindo para a reduccedilatildeo da dependecircncia
energeacutetica externa e da emissatildeo de gases com efeito de estufa aproveitando os recursos
existentes no mar agilizando os procedimentos de licenciamento mobilizando e
atraindo investimento privado e apostando nas inovaccedilotildees tecnoloacutegicas que permitam
responder aos desafios da competitividade deste sector e ao desenvolvimento de uma
induacutestria que produza bens equipamentos e serviccedilos que potenciem o emprego as
exportaccedilotildees de equipamentos e tecnologia e a reconversatildeo de induacutestrias como por
exemplo as metalo-mecacircnicas e os estaleiros navais assegurando tambeacutem o melhor
conhecimento das aptidotildees geoloacutegicas do deep offshore nomeadamente para fins
energeacuteticos com origem foacutessil
Aquicultura e pescas
Assegurando a sustentabilidade da exploraccedilatildeo de recursos criando medidas que
tornem mais justa a distribuiccedilatildeo de rendimentos na cadeia de valor diversificando as
actividades econoacutemicas das comunidades piscatoacuterias implementando aacutereas marinhas
protegidas recuperando ecossistemas degradados reforccedilando o sistema de recifes
125
A janela uacutenica portuaacuteria garante que os agentes econoacutemicos passem a relacionar-se com cada porto
atraveacutes de um uacutenico canal electroacutenico uma espeacutecie de balcatildeo uacutenico virtual tendo a possibilidade de tratar
desta forma todos os processos administrativos para o despacho de mercadorias e navios Desta forma
ldquosimplifica-se os processos para melhor servir as empresasrdquo conforme referiu o ex-secretaacuterio de Estado
dos Assuntos Fiscais De acordo com Joatildeo Amaral Tomaz em 2005 ldquo99 por cento das mercadorias
importadas em Portugal chegaram pela via mariacutetimardquo O valor representa ldquoa entrada de 15000 navios o
que em termos de processo administrativo corresponde a 15 formulaacuterios e a cerca de 100 paacuteginas por
naviordquo No total satildeo quase ldquoum milhatildeo e quinhentas mil paacuteginas de papel que deveratildeo ser eliminadasrdquo
77
artificiais fomentando a investigaccedilatildeo e desenvolvimento em sistemas de aquicultura
offshore garantindo a sua rentabilidade econoacutemica e sustentabilidade ambiental
Defesa nacional e seguranccedila
Clarificando as atribuiccedilotildees aacutereas de intervenccedilatildeo e coordenaccedilatildeo das entidades do
Sistema de Autoridade Mariacutetima Intervindo na prevenccedilatildeo e combate agrave poluiccedilatildeo na
seguranccedila da navegaccedilatildeo e protecccedilatildeo e salvaguarda da vida humana no mar no acircmbito
dos sistemas nacionais para a busca e salvamento na fiscalizaccedilatildeo mariacutetima na
mitigaccedilatildeo de riscos naturais e no apoio agraves populaccedilotildees no acircmbito do Serviccedilo Nacional de
Protecccedilatildeo Civil
Ciecircncia tecnologia e inovaccedilatildeo
Investindo em recursos humanos qualificados projectos e infra-estruturas de
ciecircncia e tecnologia associadas ao oceano optimizando os recursos existentes
fomentando e reforccedilando a cooperaccedilatildeo e partilha de meios entre instituiccedilotildees e
participando activamente nas redes internacionais
Ambiente e conservaccedilatildeo da natureza
Assegurando o bom funcionamento e manutenccedilatildeo dos ecossistemas marinhos e
costeiros promovendo o conhecimento e protecccedilatildeo da biodiversidade marinha
recuperando habitats degradados e salvaguardando as aacutereas essenciais para a
conservaccedilatildeo e gestatildeo dos recursos vivos e natildeo vivos nomeadamente atraveacutes da criaccedilatildeo
de uma rede de aacutereas marinhas protegidas assegurando o combate e controlo da
poluiccedilatildeo incluindo o efeito das actividades humanas realizadas em meio terrestre sobre
o meio marinho combatendo e prevenindo a introduccedilatildeo de espeacutecies autoacutectones e
assegurando a monitorizaccedilatildeo global do estado de sauacutede do ambiente marinho
Educaccedilatildeo cultura e sensibilizaccedilatildeo
Inserindo nos programas escolares o tema oceano em todas as suas dimensotildees
promovendo a mediatizaccedilatildeo das actividades mariacutetimas junto da sociedade apostando
nos centros de interpretaccedilatildeo aquaacuterios oceanaacuterios e museus dedicados ao mar e
fomentando o ensino naval e naacuteutico a valorizaccedilatildeo do patrimoacutenio cultural subaquaacutetico e
a educaccedilatildeo ambiental
78
Turismo lazer desportos e naacuteutica de recreio
Valorizando o mar como diferenciador da oferta turiacutestica e estimulando as
actividades associadas ao mar que permitam a ocupaccedilatildeo de tempos livres o lazer e o
desporto desenvolvendo condiccedilotildees para um faacutecil e natural acesso ao mar promovendo
o turismo naacuteutico e oceacircnico atraveacutes da aposta na organizaccedilatildeo de provas desportivas
internacionais de grande prestiacutegio e em actividades mariacutetimo-turiacutesticas como a vela o
remo a canoagem o surf o mergulho e a observaccedilatildeo de aves e cetaacuteceos fomentando o
turismo associado agrave actividade da pesca tirando partido das importantes aacutereas naturais
classificadas existentes na nossa costa onde assumem um importante papel as Regiotildees
Autoacutenomas dos Accedilores e da Madeira para dinamizar o turismo de natureza
promovendo o turismo de cruzeiros jaacute em franca expansatildeo no nosso paiacutes
Poliacutetica externa
Promovendo a centralidade atlacircntica de Portugal e as relaccedilotildees externas com outros
continentes nomeadamente as relaccedilotildees transatlacircnticas a desenvolver no acircmbito da
comunidade dos PALOP afirmando Portugal como o paiacutes mariacutetimo da Europa e
defendendo os interesses nacionais em todos os fora internacionais relevantes
Foram identificadas trecircs acccedilotildees prioritaacuterias126
que tendo em consideraccedilatildeo a
exigecircncia do contexto actual satildeo consideradas como sendo de implementaccedilatildeo de curto
prazo
Criar uma comissatildeo de coordenaccedilatildeo interministerial para a
implementaccedilatildeo da ENM E assim a articulaccedilatildeo intergovernamental dos assuntos
do mar seraacute desta forma garantida de modo permanente mantendo-se as
competecircncias e aacutereas de acccedilatildeo vertical e sectorial de cada tutela
Melhorar a articulaccedilatildeo e coordenaccedilatildeo das posiccedilotildees nacionais relativas
aos assuntos do mar nos diversos fora internacionais Esta eacute uma acccedilatildeo central
para afirmar Portugal como um paiacutes que defende de forma coerente os seus
interesses e assume a lideranccedila dos dossiers internacionais no que respeita aos
assuntos do mar
Assegurar o acompanhamento teacutecnico diplomaacutetico e poliacutetico da
discussatildeo puacuteblica sobre o Livro Verde da Poliacutetica Mariacutetima Europeia e do
126
ENM 2006-2016 p18
79
processo subsequente durante o qual eacute fundamental que o Paiacutes se mobilize de
forma a garantir que Portugal se mantenha na vanguarda da nova abordagem aos
assuntos do mar ao niacutevel europeu atraveacutes de uma participaccedilatildeo esclarecida
eficaz e abrangente
Atenta agrave natureza marcadamente horizontal da ENM definiram-se um conjunto de
acccedilotildees estrateacutegicas que identificam medidas transversais que contribuem para criar
condiccedilotildees favoraacuteveis para o melhor aproveitamento do mar de forma sustentaacutevel A
implementaccedilatildeo destas acccedilotildees articuladas com as restantes estrateacutegias nacionais
permitiraacute operacionalizar os pilares estrateacutegicos definidos anteriormente acrescentando
valor agraves acccedilotildees actualmente em curso e contribuindo para o objectivo central de definir
o mar como um ldquoprojecto nacionalrdquo
Foram assim seleccionadas oito acccedilotildees estrateacutegicas127
a saber
A sensibilizaccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo da sociedade para a importacircncia do mar
A promoccedilatildeo do ensino e divulgaccedilatildeo nas escolas de actividades ligadas ao
mar
A promoccedilatildeo de Portugal como um centro de excelecircncia de investigaccedilatildeo
das ciecircncias do mar da Europa
O planeamento e ordenamento espacial das actividades
A protecccedilatildeo e recuperaccedilatildeo dos ecossistemas marinhos
O fomento da economia do mar
A aposta nas novas tecnologias aplicadas agraves actividades mariacutetimas
A defesa nacional a seguranccedila a vigilacircncia e a protecccedilatildeo dos espaccedilos
mariacutetimos sob soberania ou jurisdiccedilatildeo nacional
A proposta da Estrateacutegia Nacional para o Mar foi aprovada na generalidade em
Conselho de Ministros a 4 de Outubro de 2006 A Estrateacutegia Nacional para o Mar
assume-se como um documento dinacircmico aberto aos ajustamentos que a evoluccedilatildeo das
suas condicionantes e a avaliaccedilatildeo da sua execuccedilatildeo vierem a recomendar Vigora no
periacuteodo de 2006 a 2016 ano em que deveraacute ser sujeita a uma revisatildeo global com base
num processo de avaliaccedilatildeo e discussatildeo puacuteblica
127
ENM 2006-2016 pp 22-23
80
Relativamente agrave ENM tenho a comentar que depois da anaacutelise efectuada reparei na
inexistecircncia de um programa de acccedilatildeo efectivo (prazos orccedilamentaccedilatildeo parcerias
instrumentos financeiros ao dispocircr etc) anexo agrave poliacutetica nacional para o mar Natildeo
obstante a ratificaccedilatildeo do Conselho de Ministros da ENM esta Estrateacutegia sugere que
cabe agrave sociedade civil e agrave iniciativa privada o papel principal na concretizaccedilatildeo dos
objectivos da Estrateacutegia sendo o Estado relegado para um papel de mero facilitador
Satildeo de facto os stakeholders os principais responsaacuteveis pela implementaccedilatildeo da
Estrateacutegia mas teraacute de ser o Estado a criar as condiccedilotildees favoraacuteveis para o iniacutecio deste
novo ciclo A ver pelas oito acccedilotildees estrateacutegicas propostas a sua boa execuccedilatildeo tem no
Estado o seu principal responsaacutevel Soacute com um Estado determinado e perseverante a
acccedilatildeo estrateacutegica pode ser verdadeiramente ldquolanccedilada ao marrdquo
No entanto percebemos que nos discursos oficiais nomeadamente de Sua
Excelecircncia o Presidente da Repuacuteblica Professor Aniacutebal Cavaco Silva os assuntos do
mar estatildeo na ordem do dia conforme constatei nos excertos do seu discurso128
na
Assembleia da Repuacuteblica durante a 36ordf Sessatildeo Comemorativa do 25 de Abril de 2010
(hellip)ldquoTemos de repensar a nossa relaccedilatildeo com o mar Repensar o modo como
exploramos as oportunidades que ele nos oferece Importa afirmar a ideia de que o mar
eacute um activo econoacutemico maior do nosso futurordquo (hellip)rdquoAgraves vantagens decorrentes da nossa
geografia da Histoacuteria e da imagem externa do Paiacutes podemos ainda juntar as
estrateacutegias e poliacuteticas para o mar desenhadas nos uacuteltimos seis anos em Portugal e na
proacutepria Uniatildeo Europeia Natildeo eacute necessaacuterio fazer mais estudos e relatoacuterios Basta agir
em cumprimento daquelas estrateacutegiasrdquo (hellip) ldquoEacute essencial que criemos condiccedilotildees e
incentivemos os agentes econoacutemicos a investir no conjunto dos sectores que ligam
economicamente Portugal ao marhellipPortugal e os Portugueses precisam de desiacutegnios
que lhes decircem mais coesatildeo mais auto-estima e mais propoacutesito de existir O mar eacute
certamente um delesrdquo (hellip)
128
Este discurso pode ser consultado na integra no site oficial da Presidecircncia da Repuacuteblica Portuguesa
httpwwwpresidenciaptidc=22ampidi=39445
81
54 O Hypercluster da economia do mar
ldquoUm domiacutenio de potencial estrateacutegico para o desenvolvimento da economia
portuguesardquo
Dentro das poliacuteticas mariacutetimas nacionais natildeo posso deixar de enaltecer o estudo de
economia poliacutetica realizado pela equipa multi-disciplinar da SaeR ndash Sociedade de
avaliaccedilatildeo estrateacutegica e risco Lda ndash denominado Hypercluster da Economia do Mar129
sob a coordenaccedilatildeo do ex-ministro das Financcedilas Professor Ernacircni Lopes por iniciativa
da Associaccedilatildeo Comercial de Lisboa Trata-se de uma obra de referecircncia cuja leitura
considero indispensaacutevel a todos aqueles (decisores poliacuteticos empresaacuterios acadeacutemicos e
sociedade civil) que estatildeo empenhados em deixar aos seus descendentes um paiacutes
diferenciado internacionalmente relevante e seguramente mais proacutespero
O estudo propriamente dito estaacute dividido em trecircs partes primeira parte ndash a
fundamentaccedilatildeo segunda parte ndash a avaliaccedilatildeo estrateacutegica das componentes e a visatildeo de
conjunto terceira parte ndash a estrateacutegia e os planos de acccedilatildeo
O estudo confronta-nos com o facto amplamente demonstrado de que a economia
portuguesa estaacute a sofrer uma descontinuidade nos seus padrotildees de modernizaccedilatildeo e nos
seus modelos de desenvolvimento e a anaacutelise prospectiva da economia nacional conduz
a um cenaacuterio espontacircneo de definhamento e agrave necessidade de se caminhar para um
cenaacuterio de afirmaccedilatildeo estrateacutegica para Portugal
O hypercluster configura-se como simultaneamente uma forccedila propulsora e um
catalisador capaz de organizar e dinamizar um conjunto de sectores com elevado
potencial de crescimento e inovaccedilatildeo e capacidade para atraiacuterem recursos e
investimentos de qualidade nomeadamente externos
Segundo o estudo a economia do mar representa hoje apenas 2 do PIB e gera
cerca de 75000 empregos o que eacute considerado muito abaixo do seu potencial face ateacute a
comparaccedilotildees internacionais com paiacuteses ou regiotildees proacuteximas O efeito multiplicador de
28 configura estas actividades como geradoras fortes de valor acrescentado admitindo-
129
Hypercluster do Mar - httpwwwsaerptupUPLOADbin2_imagem_0955656001242642284-657pdf
82
se que possam vir a representar em 2025 directamente cerca de 45 do PIB valor
que sobe para 10 a 12 englobando os valores indirectos
Haveraacute assim que criar nas palavras inspiradoras do Professor Ernacircni Lopes um
novo desiacutegnio nacional tornar Portugal num actor mariacutetimo relevante a niacutevel global
na viragem do I para o II quartel do seacuteculo XXI130
O estudo propotildee por fim um masterplan distribuiacutedo por quatro plataformas
diferentes de planos e acccedilotildees a saber
1) Planos prioritaacuterios
Englobando os componentes com maiores condiccedilotildees de atractividade e
competitividade e capacidades para servirem de motores catalisadores e formatadores
sisteacutemicos do conjunto (portos logiacutestica amp transportes mariacutetimos naacuteutica de recreio amp
turismo naacuteutico pesca aquicultura amp induacutestria do pescado visibilidade comunicaccedilatildeo
amp cultura mariacutetima e produccedilatildeo de pensamento estrateacutegico)
2) Planos de sustentaccedilatildeo imediata
Englobando os componentes fundamentais para o bom funcionamento da ldquolinha da
frenterdquo (serviccedilos mariacutetimos construccedilatildeo amp reparaccedilatildeo navais e obras mariacutetimas)
3) Planos de alimentaccedilatildeo
Englobando os componentes criadores de consistecircncia e sustentabilidade a longo
prazo com papel regenerador e inovador do conjunto (investigaccedilatildeo cientiacutefica inovaccedilatildeo
amp desenvolvimento ensino amp formaccedilatildeo defesa amp seguranccedila no mar e ambiente amp
conservaccedilatildeo da natureza)
4) Plano meta-oceano (prospectivo e de longo prazo)
O estudo propotildee tambeacutem algumas medidas consideradas determinantes no caminho
criacutetico para o sucesso da implementaccedilatildeo deste projecto Como por exemplo a criaccedilatildeo do
Foacuterum Empresarial da Economia do Mar131
(FEM)
130
Referecircncia feita no website da SaeR pelo coordenador no estudo sobre o Hypercluster da economia do
Mar Professsor Doutor Ernacircni Lopes
httpwwwsaerptindexphplop=conteudoampop=f7177163c833dff4b38fc8d2872f1ec6ampid=c24cd76e1ce
41366a4bbe8a49b02a028 131
Foacuterum Empresarial da Economia do Mar - httpwwwfempt
83
O FEM conheceu recentemente a sua constituiccedilatildeo estatutaacuteria conta no momento
com o Eng Fernando Ribeiro e Castro na qualidade de secretaacuterio-geral e estaacute
organizado de acordo com as componentes da economia do mar do hypercluster
apresentado
Por conseguinte originou a formaccedilatildeo de vaacuterios grupos de trabalho com o objectivo
principal de concretizar as linhas de acccedilatildeo previstas nos planos prioritaacuterios pondo
assim em marcha o Hypercluster da Economia do Mar em Portugal Actualmente
fazem parte do FEM cinquenta e oito empresas nacionais
55 Plano de Ordenamento do Espaccedilo Mariacutetimo (POEM)132
The problems of ocean space are closely interrelated and need to be considered as
a whole 133
O ordenamento do espaccedilo mariacutetimo eacute um instrumento fundamental da PMIE
Permite agraves autoridades puacuteblicas e agraves partes interessadas coordenarem a acccedilatildeo
respectiva e optimiza a utilizaccedilatildeo do espaccedilo marinho beneficiando o desenvolvimento
econoacutemico do meio marinho134
No acircmbito do Plano de Acccedilatildeo da ENM Resoluccedilatildeo do Conselho de Ministros nordm
1632006 de 12 de Dezembro foi aprovado um Programa de Acccedilatildeo que integra entre
outros o ldquoPlaneamento e ordenamento do espaccedilo e actividades mariacutetimasrdquo que prevecirc o
desenvolvimento de um POEM Este plano tem como objectivo ordenar os usos e
actividades do espaccedilo mariacutetimo presentes e futuros em estreita articulaccedilatildeo com a
132
Plano de Ordenamento do Espaccedilo Mariacutetimo - httppoeminagpt 133
ldquoOs problemas do espaccedilo mariacutetimo estatildeo estreitamente inter-relacionados e devem ser considerados
como um todordquo Preacircmbulo da Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas sobre o Direito do Mar (UNCLOS)
Adoptada em 1982 entrou em vigor em 1994 A Comunidade Europeia e todos os Estados-Membros da
UE satildeo Partes na UNCLOS 134
COM (2008) 791 final ldquoRoteiro para o ordenamento do espaccedilo mariacutetimo definiccedilatildeo de princiacutepios
comuns na EUrdquo p 2
84
gestatildeo da zona costeira garantindo a utilizaccedilatildeo sustentaacutevel dos recursos a sua
preservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo potenciando a utilizaccedilatildeo eficiente do espaccedilo marinho no
quadro de uma abordagem integrada e intersectorial e fomentando a importacircncia
econoacutemica ambiental e social do mar
Tendo presente que os instrumentos de gestatildeo territorial existentes a niacutevel nacional
tecircm um enfoque essencialmente na vertente terrestre natildeo contemplando a vertente
mariacutetima ou natildeo considerando o acircmbito multidimensional do mar isto eacute o fundo a
coluna de aacutegua a superfiacutecie o litoral e a atmosfera importa encontrar forma de regular
esta mateacuteria de forma coerente e articulada
Assim atraveacutes do Despacho nordm 322772008 da CIAM de 18 de Dezembro e
considerando o disposto no nordm 2 do artigo 38ordm do Decreto-Lei nordm 38099 de 22 de
Setembro na redacccedilatildeo dada pelo Decreto-Lei nordm 462009 de 20 de Fevereiro foi
determinada a elaboraccedilatildeo do Plano de Ordenamento do Espaccedilo Mariacutetimo
O POEM como plano sectorial deveraacute estabelecer e justificar as opccedilotildees e os
objectivos sectoriais com incidecircncia territorial e definir normas de execuccedilatildeo integrando
as peccedilas graacuteficas necessaacuterias agrave representaccedilatildeo da respectiva expressatildeo territorial e seraacute
acompanhado por um relatoacuterio que procede ao diagnoacutestico da situaccedilatildeo territorial sobre a
qual interveacutem e agrave fundamentaccedilatildeo teacutecnica das opccedilotildees e objectivos estabelecidos
O desenvolvimento deste plano considera como documento orientador a
Comunicaccedilatildeo da Comissatildeo Europeia denominado ldquoRoteiro para o ordenamento do
espaccedilo mariacutetimordquo
Visatildeo
ldquoEspaccedilo Mariacutetimo diferenciador da identidade nacional sustentaacutevel ordenado e
seguro suporte de actividades socioeconoacutemicas e potenciador de recursos assente no
conhecimento na inovaccedilatildeo e na especificidade geograacuteficardquo
Missatildeo
ldquoAfirmar a importacircncia econoacutemica ambiental e social do Mar assente na
promoccedilatildeo do conhecimento dos recursos naturais e das actividades existentes e
potenciais e no ordenamento integrado e gestatildeo adaptativa dos usos que se desenvolvem
no espaccedilo mariacutetimo em estreita articulaccedilatildeo com a gestatildeo da zona costeira com o
85
normativo internacional comunitaacuterio e nacional e demais instrumentos de planeamento
sectorial e de gestatildeo do territoacuterio envolvendo os diferentes actores e agentesrdquo
Discussatildeo Puacuteblica
A Proposta do Plano de Ordenamento do Espaccedilo Mariacutetimo (POEM) e o respectivo
Relatoacuterio Ambiental encontram-se concluiacutedos tecnicamente e aprovados pela respectiva
Equipa Multidisciplinar Nos termos previstos do artigo 40ordm do Decreto-Lei nordm 38099
de 22 de Setembro na sua actual redacccedilatildeo faz-se saber que a Discussatildeo Puacuteblica do
POEM decorre entre o periacuteodo de 29 de Novembro de 2010 a 22 de Fevereiro de 2011
56 Programa ldquoPolis do Litoralrdquo
ldquoOperaccedilotildees integradas de requalificaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo da orla costeirardquo
Como verificamos no Livro Verde as zonas costeiras assumem uma importacircncia
estrateacutegica em termos ambientais econoacutemicos sociais e culturais
A resoluccedilatildeo dos seus problemas ndash designadamente o controlo dos processos
erosivos da ocupaccedilatildeo urbana de zonas de risco da destruiccedilatildeo de habitats e a perda de
biodiversidade e do decliacutenio das actividades econoacutemicas ndash revela-se prioritaacuteria no
acircmbito de uma poliacutetica de desenvolvimento sustentaacutevel implicando um equiliacutebrio e
interacccedilatildeo indispensaacuteveis entre a conservaccedilatildeo dos recursos naturais e o
desenvolvimento socioeconoacutemico de cada regiatildeo
No acircmbito da poliacutetica integrada para as zonas costeiras o XVII Governo
Constitucional determinou em Resoluccedilatildeo do Conselho de Ministros 902008 de 3 de
Junho a realizaccedilatildeo de um conjunto de operaccedilotildees de requalificaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo de
zonas de risco e de aacutereas naturais degradadas situadas no litoral em espaccedilos de
intervenccedilatildeo prioritaacuteria designadas Polis Litoral
86
Os objectivos impliacutecitos agraves respectivas intervenccedilotildees passam pelas seguintes
medidas
Proteger e requalificar a zona costeira tendo em vista a defesa da costa a
promoccedilatildeo da conservaccedilatildeo da natureza e biodiversidade a renaturalizaccedilatildeo e a
reestruturaccedilatildeo de zonas lagunares e a preservaccedilatildeo do patrimoacutenio natural e
paisagiacutestico no acircmbito de uma gestatildeo sustentaacutevel
Prevenir e defender pessoas bens e sistemas de riscos naturais
Promover a fruiccedilatildeo puacuteblica do litoral suportada na requalificaccedilatildeo dos
espaccedilos balneares e do patrimoacutenio ambiental e cultural
Potenciar os recursos ambientais como factor de competitividade atraveacutes
da valorizaccedilatildeo das actividades econoacutemicas ligadas aos recursos do litoral e
associando-as agrave preservaccedilatildeo dos recursos naturais
De momento estatildeo identificadas quatro aacutereas territoriais ldquopolisrdquo a saber litoral do
Norte135
litoral da Ria de Aveiro136
litoral da Ria Formosa137
e o litoral da Costa
Vicentina Abrangem no seu conjunto 308 km de frente costeira 220 km de frentes
lagunares e estuarinas a financiar pelo Estado municiacutepios entidades privadas e com
recurso a fundos comunitaacuterios no acircmbito do Quadro de Referecircncia Estrateacutegico Nacional
(QREN) totalizando um orccedilamento global na ordem dos 3225 milhotildees de euros
135
wwwpolislitoralnortept 136
wwwpolisriadeaveiropt 137
wwwpolislitoralriaformosapt
87
Cap VI ndash Agenda Regional do Mar (Norte de Portugal)
61 Pacto regional para a competitividade da regiatildeo ldquoNorte 2015rdquo
A regiatildeo Norte de Portugal possui uma grande tradiccedilatildeo mariacutetima e uma forte
ligaccedilatildeo ao mar que conheceu diferentes formas de expressatildeo ao longo dos tempos Na
eacutepoca das primeiras descobertas (a partir do seacuteculo XV) o Porto e a sua regiatildeo
participaram activamente na construccedilatildeo de embarcaccedilotildees e no fornecimento de homens
para incorporar as respectivas guarniccedilotildees Nos seacuteculos seguintes o comeacutercio mariacutetimo e
o aparecimento de uma burguesia comercial com intensas relaccedilotildees com o norte da
Europa constituiacuteram a base de desenvolvimento da economia desta cidade e sua regiatildeo
No final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX o transporte mariacutetimo possibilitou a
saiacuteda de importantes fluxos migratoacuterios em direcccedilatildeo ao Brasil e mais recentemente a
pesca (em especial a pesca do bacalhau) e a induacutestria transformadora marcaram em
termos sociais e econoacutemicos os espaccedilos litorais da regiatildeo
No presente assiste-se ao aparecimento de novas actividades emergentes com forte
ligaccedilatildeo ao mar nos campos econoacutemico cientiacutefico e do lazer
A regiatildeo Norte deteacutem um importante patrimoacutenio natural (por exemplo rede natura
do Litoral Norte) e cultural tangiacutevel (por exemplo arquitectura militar civil e religiosa)
e intangiacutevel (tradiccedilotildees e costumes) ao longo da sua zona costeira com destaque para os
municiacutepios de Espinho Porto Matosinhos Vila do Conde Poacutevoa de Varzim e Viana do
Castelo Este patrimoacutenio estaacute disperso carecendo de valorizaccedilatildeo e de promoccedilatildeo A
regiatildeo apresenta ainda um conjunto de centros vocacionados para a divulgaccedilatildeo
cientiacutefica e da temaacutetica mar de que constituem exemplos a Estaccedilatildeo Litoral da Aguda138
em Gaia o projecto Rosa-dos-Ventos em Vila do Conde a Lancha Poveira 139
na Poacutevoa
de Varzim a Fundaccedilatildeo Gil Eannes140
em Viana do Castelo e o AquaMuseu do rio
Minho141
em Vila Nova de Cerveira entre outros
138
Estaccedilatildeo Litoral da Aguda - httpwwwfundacao-elapt 139
Lancha Poveira - httpwwwpovoadevarzimcomptlanchapoveiraphp 140
Fundaccedilatildeo Gil Eannes - wwwfundacaogileannespt 141
AquaMuseu do rio Minho- httpaquamuseucm-vncerveirapt
88
O Conselho Regional e a Comissatildeo de Coordenaccedilatildeo e Desenvolvimento Regional
do Norte (CCDR-N) definiram uma estrateacutegia de desenvolvimento regional designada
por ldquoNORTE 2015 ndash Uma Regiatildeo Um Futuro Uma Estrateacutegiardquo e dentro desta tem
vindo a promover um conjunto de agendas temaacuteticas consideradas prioritaacuterias
constituindo o ldquopacto regional para a competitividade da regiatildeo do Norterdquo Entre elas e
relevante para o trabalho em questatildeo eacute a Agenda Regional do Mar - Plano de Acccedilatildeo
ldquoMarrdquo
A Agenda Regional do Mar e o seu plano de acccedilatildeo tem como objectivo geral
ldquovalorizar o recurso mar atraveacutes do desenvolvimento de um conjunto de actividades de
produtos e de serviccedilos que promovam o crescimento econoacutemico o emprego e a
internacionalizaccedilatildeo da regiatildeo apostando no reforccedilo da Investigaccedilatildeo Desenvolvimento
e Inovaccedilatildeo (IampDampI) marinha da formaccedilatildeo do empreendedorismo e da cooperaccedilatildeo de
forma a contribuir em condiccedilotildees de sustentabilidade para a competitividade da
Regiatildeo142
Em siacutentese este plano de acccedilatildeo ldquoMarrdquo justifica-se assim por um conjunto de
razotildees das quais destaco as seguintes
A existecircncia de uma zona costeira extensa e rica onde se concentra a
maior parte da populaccedilatildeo e da actividade econoacutemica da regiatildeo marcada pela
existecircncia de vaacuterios estuaacuterios de elevado valor ambiental paisagiacutestico e
econoacutemico que urge valorizar em condiccedilotildees de sustentabilidade
Permite uma aproximaccedilatildeo global e coordenada das actividades e saberes
que integram a temaacutetica mar bem como o desenvolvimento de relaccedilotildees de
complementaridade e a produccedilatildeo de efeitos de sinergia favoraacuteveis ao
desenvolvimento da regiatildeo
Permite desenvolver as estrateacutegias adequadas e a sua coordenaccedilatildeo no
sentido da adaptaccedilatildeo da regiatildeo aos efeitos das alteraccedilotildees climaacuteticas
Constitui uma oportunidade para parar ou diminuir a tendecircncia de perda
de biodiversidade que caracteriza a evoluccedilatildeo dos ecossistemas marinhos
Favorece o aproveitamento do potencial que algumas actividades ligadas
ao mar apresentam enquanto espaccedilos de empreendimento inovaccedilatildeo criaccedilatildeo de
142
Agenda Regional do Mar Plano de Acccedilatildeo ldquoMARrdquo 2007-2013 p 52
89
riqueza e de emprego qualificado que importa estimular do ponto de vista do
reforccedilo da competitividade e do emprego da regiatildeo
Contribui atraveacutes da iniciativa regional e das articulaccedilotildees possiacuteveis com
outras regiotildees portuguesas e com a EMAM para a consecuccedilatildeo da ENM
favorecendo a criaccedilatildeo de escala e o desenvolvimento de complementaridades
indispensaacuteveis agrave consecuccedilatildeo dessa estrateacutegia nacional
Contribui para o desenvolvimento da PMIE atraveacutes da assunccedilatildeo no
plano regional do conjunto de princiacutepios e de orientaccedilotildees que enquadram essa
estrateacutegia europeia
Reforccedila o papel da regiatildeo nos programas de cooperaccedilatildeo transfronteiriccedila
com a Galiza e de cooperaccedilatildeo transnacional no acircmbito do Espaccedilo Atlacircntico co-
financiados pelo FEDER em que a dimensatildeo mariacutetima ocupa uma posiccedilatildeo
relevante em ambos os programas
Contribui para a sensibilizaccedilatildeo da populaccedilatildeo em geral e especialmente
dos jovens para a temaacutetica mar
Apresenta um programa de fundos estruturais interessante para o periacuteodo
entre 2007 e 2013 que permite o lanccedilamento de iniciativas e investimentos para
o desenvolvimento no domiacutenio do mar
Eacute importante mencionar que a elaboraccedilatildeo do plano de acccedilatildeo ldquoMarrdquo assentou num
processo aberto agrave participaccedilatildeo de um alargado leque de actores de acircmbito regional e
nacional quer na fase de estudo quer durante a fase da sua implementaccedilatildeo Este plano
constitui tambeacutem um referencial central para os investimentos puacuteblicos e privados a ter
em consideraccedilatildeo no acircmbito das candidaturas ao Programa Operacional Regional do
Norte (ON2 ndash O Novo Norte) e aos Programas de Cooperaccedilatildeo (POCTEP e
POCTEA143
)
Neste ponto a Agenda Regional destaca-se da ENM pelo facto de estar enquadrada
a temaacutetica ldquoMarrdquo nestes programas operacionais podendo ser candidataacuteveis entidades
puacuteblicasprivadas da regiatildeo Norte de Portugal
143
POCTEP - Programa de Cooperaccedilatildeo Transfronteiriccedilo Espanha - Portugal
POCTEA - Programa de Cooperaccedilatildeo Transnacional do Espaccedilo Atlacircntico
90
Saliento que a regiatildeo Norte eacute no presente momento a uacutenica regiatildeo portuguesa
que apresenta uma estrateacutegia integrada para o Mar
Ora este plano de acccedilatildeo estimula tambeacutem o alargamento da dinacircmica de
cooperaccedilatildeo a outras regiotildees vizinhas como seja a regiatildeo Centro de Portugal e a regiatildeo
Autoacutenoma da Galiza e favorece assim o desenvolvimento de condiccedilotildees de
complementaridade e de escala indispensaacuteveis agrave afirmaccedilatildeo internacional do Noroeste
peninsular no domiacutenio do mar
62 Linhas estrateacutegicas de desenvolvimento144
Para o efeito foram delineadas dez linhas de desenvolvimento estrateacutegico para
consubstanciar o ldquoplano de acccedilatildeordquo Analisei-as cada uma per si tendo em conta o seu
objectivo e tipologias respectivas Passo a enumerar as dez linhas estrateacutegicas definidas
para a regiatildeo Norte que constam na Agenda do ldquoMarrdquo
1) Promover a conservaccedilatildeo a valorizaccedilatildeo e a gestatildeo dos ecossistemas costeiros e
das bacias hidrograacuteficas
O objectivo eacute o de fomentar o estudo dos ecossistemas costeiros e fluviais e
desenvolver medidas com vista agrave sua protecccedilatildeo recuperaccedilatildeo valorizaccedilatildeo e
ordenamento de forma a potenciar os seus usos de acordo com modelos de
sustentabilidade Os projectos e as acccedilotildees a desenvolver devem observar as orientaccedilotildees
estabelecidas pelas ldquoBases para a Estrateacutegia de Gestatildeo Integrada das Zonas Costeirasrdquo
2) Desenvolver novos produtos e promover a aplicaccedilatildeo de novas tecnologias ao
meio marinho
Esta linha tem em vista os desenvolvimentos futuros no campo das ciecircncias do mar
e da utilizaccedilatildeo do meio marinho atraveacutes de novos produtos e serviccedilos que resultaratildeo
certamente da aplicaccedilatildeo a este meio de conhecimento e de tecnologias da informaccedilatildeo e
da comunicaccedilatildeo Podem enquadrar-se no acircmbito desta linha estrateacutegica os projectos que
144
Agenda Regional do Mar Plano de Acccedilatildeo ldquoMARrdquo 2007-2013 p 54
91
visam o desenvolvimento de novos produtos resultantes da utilizaccedilatildeo de organismos
marinhos nomeadamente
Desenvolvimento de novos medicamentos e a promoccedilatildeo de instrumentos de
diagnoacutestico para monitorizaccedilatildeo na aacuterea da sauacutede
Desenvolvimento de novas teacutecnicas para conhecimento protecccedilatildeo
monitorizaccedilatildeo e gestatildeo do meio marinho a garantia de sustentabilidade das
pescas e da aquacultura
Desenvolvimento de novos tipos de materiais compoacutesitos e enzimas para a
induacutestria
3) Promover a qualidade e a valorizaccedilatildeo dos produtos da pesca e da aquicultura e
a seguranccedila alimentar
Nesta linha enquadram-se acccedilotildees que contribuam para o aprofundar do
conhecimento dos recursos vivos marinhos e do seu valor comercial acccedilotildees que
contribuam para o desenvolvimento e melhoramento de tecnologias de conservaccedilatildeo e
transformaccedilatildeo do pescado e da avaliaccedilatildeo do risco para a sauacutede puacuteblica e ainda acccedilotildees
de implementaccedilatildeo de processos de certificaccedilatildeo de origem de seguranccedila e de qualidade
de produtos da pesca e da aquacultura de modo a melhorar a imagem junto do
consumidor muitas vezes influenciada por produtos importados de qualidade inferior
aos produtos regionais
4) Desenvolver novas tecnologias de produccedilatildeo de peixes de bivalves e de outras
espeacutecies e a sustentabilidade da aquicultura
O objectivo desta linha estrateacutegica eacute o de promover o desenvolvimento de uma
aquicultura sustentaacutevel e fomentar a produccedilatildeo intensiva de espeacutecies alternativas agraves jaacute
largamente implantadas em todo o Sul da Europa nomeadamente a dourada e o robalo
evitando assim a saturaccedilatildeo do mercado e a competiccedilatildeo entre produtores O recurso a
espeacutecies alternativas (goraz linguado polvo entre outras) mais adaptadas a
temperaturas baixas permitiraacute conquistar novos mercados dado tratar-se de espeacutecies de
elevado valor comercial e cujas populaccedilotildees naturais tecircm vindo a diminuir
92
5) Promover o desenvolvimento do cluster ldquo conhecimento e economia do marrdquo
O objectivo desta linha de acccedilatildeo eacute o de reforccedilar a economia do mar contribuindo
para a modernizaccedilatildeo das actividades tradicionais nomeadamente as induacutestrias
mariacutetimas o apoio a actividades emergentes e o desenvolvimento de redes de
cooperaccedilatildeo entre empresas e instituiccedilotildees de Investigaccedilatildeo e Desenvolvimento (IampD)
orientadas para a transferecircncia de tecnologia e para o desenvolvimento da cadeia de
valor dos produtos da economia do mar Satildeo considerados prioritaacuterios os projectos que
promovam a densificaccedilatildeo das relaccedilotildees intra e intersectoriais e projectos que contribuam
para internacionalizaccedilatildeo da base produtiva regional
6) Reforccedilar a investigaccedilatildeo e desenvolvimento nas aacutereas das ciecircncias marinhas e
fomentar o empreendedorismo em actividades da economia do mar
Esta linha completa as anteriormente apresentadas constituindo o seu
desenvolvimento uma condiccedilatildeo necessaacuteria para a construccedilatildeo e consolidaccedilatildeo do cluster
regional para o mar O apoio a formaccedilotildees avanccediladas ao desenvolvimento de projectos
de investigaccedilatildeo nas aacutereas das ciecircncias e da economia do mar e ao fomento do
empreendedorismo eacute para esta Agenda uma indiscutiacutevel prioridade para o
desenvolvimento do seu plano de acccedilatildeo
Esta linha privilegia abordagens que integrem de forma dinacircmica as componentes
formativa investigaccedilatildeo incubaccedilatildeo e de aconselhamento e apoio financeiro ao
desenvolvimento de novos projectos e iniciativas empresariais e ainda ao acolhimento
de projectos empresariais externos que pela sua relevacircncia contribuam para o reforccedilo
das demais componentes
7) Apoiar o desenvolvimento do transporte mariacutetimo e a melhoria das condiccedilotildees de
seguranccedila mariacutetima e das infra-estruturas portuaacuterias
A localizaccedilatildeo de Portugal e da regiatildeo do Norte no Sul do Arco Atlacircntico Europeu
constitui uma posiccedilatildeo privilegiada por referecircncia agraves rotas mariacutetimas norte-sul e este-
oeste que importa potenciar As ldquoauto-estradasrdquo do mar e o short sea shipping
representam alternativas ao transporte rodoviaacuterio de mercadorias com reconhecidas
vantagens do ponto de vista ambiental e econoacutemico O porto de Leixotildees apresenta neste
contexto uma posiccedilatildeo relevante no que respeita agrave auto-estrada mariacutetima do Atlacircntico O
apetrechamento e a modernizaccedilatildeo dos portos da regiatildeo e a melhoria das suas
articulaccedilotildees com o hinterland de forma a favorecer a inserccedilatildeo nas cadeias
93
internacionais de transporte e a operaccedilatildeo nas melhores condiccedilotildees de seguranccedila
constituem objectivos importantes no acircmbito dos programas regionais do mar e dos
transportes
Adquirem especial relevacircncia os projectos do novo molhe e terminal de passageiros
do porto de Leixotildees bem como projectos que favoreccedilam a melhoria das condiccedilotildees de
seguranccedila das operaccedilotildees portuaacuterias No acircmbito desta linha estrateacutegica adquire especial
importacircncia a criaccedilatildeo do Poacutelo Mar do Parque de Ciecircncia e Tecnologia - Universidade
do Porto - que integraraacute e articularaacute as valecircncias de formaccedilatildeo e investigaccedilatildeo de
incubaccedilatildeo de empresas e de acolhimento empresarial e ainda uma funccedilatildeo de divulgaccedilatildeo
cientiacutefica
8) Valorizar o patrimoacutenio mariacutetimo regional a naacuteutica de recreio e o turismo
naacuteutico
Esta linha estrateacutegica contribui para a consolidaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo das estruturas
existentes e para a criaccedilatildeo de novos projectos que tenham por missatildeo a valorizaccedilatildeo e
interpretaccedilatildeo do patrimoacutenio e do conhecimento relacionado com as temaacuteticas do mar e
das comunidades mariacutetimas A valorizaccedilatildeo deste potencial em paralelo com a criaccedilatildeo e
desenvolvimento de um conjunto de condiccedilotildees de apoio agrave naacuteutica de recreio (uma rede
de marinas devidamente infra-estruturadas que disponibilizem serviccedilos de apoio agrave
naacuteutica geridas segundo um modelo empresarial) a criaccedilatildeo de um conjunto de produtos
de turismo naacuteutico e de turismo costeiro constituem as condiccedilotildees indispensaacuteveis agrave
valorizaccedilatildeo e aproveitamento do patrimoacutenio mariacutetimo que a regiatildeo possui Esta linha
estrateacutegica privilegia o desenvolvimento de projectos que promovam na sua elaboraccedilatildeo
e desenvolvimento o envolvimento das comunidades mariacutetimas das respectivas zonas
de forma a favorecer a emergecircncia e a diversificaccedilatildeo de actividades ligadas ao mar e a
criaccedilatildeo de novas oportunidades de emprego
9) Promover o desenvolvimento da educaccedilatildeo e da formaccedilatildeo nas aacutereas das ciecircncias
marinhas e da economia do mar de forma a favorecer a seguranccedila a qualificaccedilatildeo do
sector e a empregabilidade
O desenvolvimento da educaccedilatildeo e da formaccedilatildeo no domiacutenio do mar satildeo factores
chave para a empregabilidade para o reforccedilo do cluster do mar e seguranccedila mariacutetima
94
A presente linha estrateacutegica tem uma dimensatildeo transversal cruzando todas as
outras Linhas que compotildeem o Plano de Acccedilatildeo Tem por objectivo favorecer a
qualificaccedilatildeo de jovens e adultos em aacutereas de actividade directa e indirectamente ligadas
ao mar com especial incidecircncia na aacuterea da seguranccedila Neste sentido importa qualificar a
oferta formativa existente e reforccedilar a coordenaccedilatildeo entre a acccedilatildeo do Forpescas (Centro
de Formaccedilatildeo Profissional das Pescas) e de outras organizaccedilotildees que intervecircm na aacuterea da
formaccedilatildeo em actividades relacionadas com o mar (por exemplo formaccedilatildeo na aacuterea do
turismo) no sentido de adequar e ordenar a oferta formativa segundo as necessidades de
desenvolvimento que se colocam neste domiacutenio
10) Promover a cooperaccedilatildeo transfronteiriccedila e transnacional no domiacutenio do mar
A regiatildeo do Norte possui uma experiecircncia histoacuterica de cooperaccedilatildeo transfronteiriccedila
principalmente com a Galiza e de cooperaccedilatildeo transnacional especialmente no acircmbito
do Espaccedilo Atlacircntico do qual a CCDR-N eacute actualmente a Autoridade de Gestatildeo do
POCTEA O tema Mar eacute relevante para estes dois ldquoespaccedilosrdquo de cooperaccedilatildeo integrando
o corpo principal de objectivos dos respectivos Programas
No que respeita agrave cooperaccedilatildeo transfronteiriccedila com a Galiza foi criado sob a
iniciativa da CCDRN e da Xunta da Galicia um grupo de trabalho misto envolvendo
actores das duas regiotildees sob a coordenaccedilatildeo do CETMAR145
e do CIIMAR146
Foi desenvolvido um primeiro conjunto de projectos estruturantes de cooperaccedilatildeo
oportunamente candidatados ao Programa de Cooperaccedilatildeo Transfronteiriccedila Portugal-
Espanha em seis domiacutenios prioritaacuterios (qualidade do meio marinho recursos marinhos
sector alimentar biotecnologias e novos produtos construccedilatildeo e reparaccedilatildeo naval e
naacuteutica de recreio e por fim cultura e turismo)
145
Centro Tecnoloacutegico del Mar - Fundacioacuten CETMAR httpwwwcetmarorg 146
Centro Interdisciplinar de Investigaccedilatildeo Marinha e Ambiental httpwwwcimarorg
95
63 Modelo de governaccedilatildeo para a Agenda Regional do Mar
A coordenaccedilatildeo transversal de poliacuteticas e a articulaccedilatildeo entre vaacuterios niacuteveis de poder
coloca a questatildeo da concertaccedilatildeo e integraccedilatildeo de poliacuteticas ou seja a questatildeo da
governanccedila Este plano constitui um referencial de desenvolvimento estrateacutegico
dinacircmico que serve de base ao lanccedilamento e ao desenvolvimento de intervenccedilotildees no
domiacutenio do mar O plano de acccedilatildeo corporiza a ambiccedilatildeo de se constituir como
plataforma de suporte a um processo evolutivo aberto agrave participaccedilatildeo dos diferentes
actores e agrave coordenaccedilatildeo das suas intervenccedilotildees
Um dos aspectos essenciais para garantir a gestatildeo e regulaccedilatildeo do plano eacute a
existecircncia de informaccedilatildeo estrateacutegica que permita o conhecimento mais aprofundado do
mesmo e o acompanhamento das principais realizaccedilotildees
A gestatildeo estrateacutegica deste plano de acccedilatildeo eacute da responsabilidade de um comiteacute de
pilotagem presidido pela CCDR-N e constituiacutedo por um conjunto de instituiccedilotildees
puacuteblicas da regiatildeo Norte responsaacuteveis pelas principais aacutereas de poliacutetica relacionadas
com a temaacutetica e tambeacutem por entidades representativas dos espaccedilos litorais em
presenccedila O comiteacute de pilotagem seraacute um espaccedilo privilegiado de articulaccedilatildeo e de
coordenaccedilatildeo intersectorial e de articulaccedilatildeo territorial das diversas iniciativas e projectos
que teraacute como objectivo principal a responsabilidade de implementar o plano de acccedilatildeo e
a respectiva regulaccedilatildeo existente
64 Oceano XXI - Cluster do ldquoconhecimento e da economia do marrdquo
Ainda acerca das estrateacutegias regionais destaco o trabalho levado a cabo pela
plataforma ldquoOceano XXI ndash Associaccedilatildeo para o Conhecimento e Economia do Marrdquo que
tem como principal objectivo especiacutefico dinamizar o cluster do ldquoconhecimento e da
economia do marrdquo
Este cluster foi reconhecido pela Autoridade de Gestatildeo do Programa de factores de
Competitividade (COMPETE) no dia 27 de Julho de 2009 como Estrateacutegia de
96
Eficiecircncia Colectiva E por este facto importa ser referenciado neste trabalho dada a
importacircncia que vai seguramente ter a curto prazo nos projectos considerados ldquoacircncorardquo
para as regiotildees Centro e Norte de Portugal
Por outro lado o objectivo geral que orienta o desenvolvimento deste cluster
consiste em ldquovalorizar o recurso Mar atraveacutes do desenvolvimento de um conjunto de
actividades de produtos e de serviccedilos que promovam o crescimento econoacutemico o
emprego e a internacionalizaccedilatildeo da regiatildeo apostando no reforccedilo da IampDampI da
formaccedilatildeo do empreendedorismo e da cooperaccedilatildeo de forma a contribuir em condiccedilotildees
de sustentabilidade para a competitividade da regiatildeo147
rdquo
Este cluster sediado na regiatildeo Norte envolve um vasto e diversificado conjunto de
entidades representativas dos interesses regionais (Centro e Norte) e nacionais
pertencentes aos principais sectores do agregado econoacutemico subjacente agrave Estrateacutegia de
Eficiecircncia Colectiva tendo em vista a diversificaccedilatildeo da base econoacutemica regional
criando desta forma novas actividades e serviccedilos e fomentando o aparecimento de
mercados alternativos com maior valor econoacutemico o reforccedilo da competitividade e da
produtividade das induacutestrias do mar e o aumento do emprego qualificado
O cluster do ldquoconhecimento e da economia do marrdquo integra um conjunto
diversificado de sectores e de actividades
bull Pesca aquicultura salicultura e induacutestria transformadora da pesca
bull Actividades mariacutetimo-portuaacuterias e logiacutestica
bull Induacutestrias mariacutetimas
bull Induacutestrias transformadoras de suporte agraves actividades mariacutetimas (tecircxtil e vestuaacuterio
plaacutestico moldes madeira metalomecacircnica)
bull Cruzeiros naacuteutica de recreio e turismo mariacutetimo
bull Tecnologias da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo (TIC)
bull Roboacutetica submarina
bull Biotecnologia marinha
bull Energias renovaacuteveis
147
Oceano XXI Cluster do Conhecimento e da Economia do Mar httpwwwoceano21org
97
O cluster do ldquoconhecimento e da economia do marrdquo organiza-se segundo quatro
linhas prioritaacuterias de intervenccedilatildeo148
que estatildeo em consonacircncia com a visatildeo europeia dos
clusters mariacutetimos referida no Livro Verde (capiacutetulo II)
Linha Prioritaacuteria 1 ndash desenvolver a Investigaccedilatildeo amp Desenvolvimento das
Tecnologias de Informaccedilatildeo (IDTI) e apoiar o desenvolvimento de actividades
emergentes no domiacutenio da economia do mar
Linha Prioritaacuteria 2 ndash promover a qualidade e a valorizaccedilatildeo dos produtos da pesca
da aquicultura e de produtos marinhos e a seguranccedila alimentar
Linha Prioritaacuteria 3 ndash promover a modernizaccedilatildeo e a inovaccedilatildeo das induacutestrias
mariacutetimas do transporte mariacutetimo da actividade portuaacuteria e da logiacutestica
Linha Prioritaacuteria 4 ndash valorizar o patrimoacutenio mariacutetimo e o seu aproveitamento no
apoio ao desenvolvimento da naacuteutica de recreio e do turismo de natureza
No acircmbito da Estrateacutegia de Eficiecircncia Colectiva ndash cluster do ldquoconhecimento e da
economia do marrdquo ndash foram reconhecidos seis projectos acircncora que no seu conjunto
totalizam uma estimativa de investimento de 120 milhotildees de euros nos trecircs proacuteximos
anos (2010 - 2013) E satildeo os seguintes
Ecomare
Aquaacuterio dedicado agrave temaacutetica dos mares da Peniacutensula Ibeacuterica centro de recuperaccedilatildeo
de animais marinhos e laboratoacuterio oceanograacutefico da Universidade de Aveiro
Parque de Ciecircncia e Tecnologias do Mar da Universidade do Porto
Visa o desenvolvimento de acccedilotildees de IampD transferecircncia de tecnologias incubaccedilatildeo
de empresas acolhimento empresarial formaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo cientiacutefica O Poacutelo do Mar
permitiraacute que os empreendedores desenvolvam as suas investigaccedilotildees eou testem os
seus protoacutetipos em meio marinho
148
Oceano XXI Cluster do Conhecimento e da Economia do Mar httpwwwoceano21org
98
Consupesca
Com o objectivo especiacutefico de reduzir o consumo de combustiacutevel na frota da pesca
costeira e de arrasto
Panthalassa
Promover a seguranccedila alimentar e a sustentabilidade ambiental da produccedilatildeo da
transformaccedilatildeo e do consumo de pescado atraveacutes da implementaccedilatildeo de sistemas
integrados abrangendo toda a cadeia de produccedilatildeo que permitem para cada fase do
processo de fabrico desenvolver as melhores soluccedilotildees do ponto de vista ambiental e de
seguranccedila conferindo maior valor acrescentado aos produtos
Promoccedilatildeo e desenvolvimento do turismo naacuteutico e dos desportos naacuteuticos
Reforccedilo do turismo naacuteutico e dos desportos naacuteuticos em Portugal atraveacutes da
implementaccedilatildeo dos seguintes projectos
Construccedilatildeo do Terminal de Cruzeiros de Leixotildees tendo como objectivo reforccedilar a
posiccedilatildeo do Porto de Leixotildees no mercado do turismo de cruzeiros explorando a sua
localizaccedilatildeo no cruzamento de rotas entre o Atlacircntico nordeste e o Mediterracircneo e entre
as Caraiacutebas e a Europa
Construccedilatildeo do Centro de Mar em Viana do Castelo visando o desenvolvimento da
naacuteutica de recreio e dos desportos naacuteuticos e o reforccedilo da posiccedilatildeo de Viana do Castelo
como uma cidade da naacuteutica do Atlacircntico
Turismo Mariacutetimo de Natureza
Em especial na ilha da Morraceira (Figueira da Foz) e ilha das Berlengas (Peniche)
99
65 A Naacuteutica como factor de desenvolvimento regional
Como referi no capiacutetulo dedicado aos domiacutenios destacados pelo Livro Verde o
sector naacuteutico pode ter um papel importante no que concerne agrave protecccedilatildeo do legado
mariacutetimo e na sensibilizaccedilatildeo do puacuteblico No entanto as actividades naacuteuticas podem
desempenhar outras funccedilotildees vitais para a implementaccedilatildeo das poliacuteticas mariacutetimas
(regionais nacionais e europeias) e serem consideradas um activo gerador de emprego
de riqueza e bem-estar das populaccedilotildees
Pese embora que para se ter uma verdadeira identidade mariacutetima (hellip) ldquoeacute preciso
tempo para sentir o mar eacute algo que soacute se consegue com muito tempo eventualmente
com o tempo de uma vidardquo (hellip)149
Urge a necessidade de se formar geraccedilotildees que desde
cedo se familiarizem com o mar A praacutetica naacuteutica qualquer que seja a modalidade
permite despertar o interesse e consequentemente aproximar a populaccedilotildees jovens ao
mar
A este propoacutesito menciono o estudo do qual fui coordenador realizado pela
INTERCEacuteLTICA ndash Associaccedilatildeo Cultural Desportiva e Turiacutestica que coloca a Naacuteutica
como factor de desenvolvimento da regiatildeo Norte150
Este estudo estrateacutegico foi apoiado
pelo programa Operacional da Regiatildeo Norte (CCDR-N) com recurso ao FEDER
Numa primeira fase efectou-se um levantamentoinventaacuterio exaustivo ao sector
que incluiu diversos actores como a Autoridade Mariacutetima o Instituto Portuaacuterio e dos
Transportes Mariacutetimos os clubes as associaccedilotildees os portos de recreio as empresas de
animaccedilatildeo turiacutestica os operadores mariacutetimo-turiacutesticos o desporto escolar as federaccedilotildees
a induacutestria o comeacutercio e os serviccedilos naacuteuticos
O objectivo primeiro deste levantamento foi determinar a dimensatildeo do sector e qual
a sua importacircncia para com base na informaccedilatildeo obtida elaborar um plano estrateacutegico
que respondesse agraves reais necessidades e carecircncias do sector naacuteutico na regiatildeo Norte
Numa segunda fase foram elaboradas propostas de projectos que pudessem
futuramente ser enquadradas nas Agendas Regionais temaacuteticas do Turismo e do Mar e
consequentemente no QREN (2007-2013)
149
Discurso do Arqto Guilherme Guimaratildees nas comemoraccedilotildees oficiais do Dia Europeu do Mar 2010
(20 de Maio) a bordo do navio Gil Eannes em Viana do Castelo 150
Para mais informaccedilotildees sobre o Projecto Naacuteutica consultar o seguinte site
httpwwwprojectonauticacomindexphpseccao=nauticaampcontent=apresentacao
100
Foi apresentado um plano de acccedilatildeo com base nas propostas e recomendaccedilotildees que
datildeo estrutura a cinco eixos
Rede de infra-estruturas naacuteuticas
Assenta em trecircs medidas concretas a criaccedilatildeo dos centros coordenadores da
actividade naacuteutica aumento da capacidade instalada (massificaccedilatildeo da praacutetica) e na
qualificaccedilatildeo de serviccedilos
Dinamizaccedilatildeo turiacutestica
Estatildeo sintetizadas em trecircs itens criaccedilatildeo de pacotes naacuteuticos desenvolvimento de
empreendimentos turiacutesticos temaacuteticos e de serviccedilos de animaccedilatildeo naacuteutica
Dinamizaccedilatildeo da naacuteutica
Baseada em quatro medidas 1 ) Rede de equipamentos e actividades em bacias
hidrograacuteficas e albufeiras 2) Rede de prestadores de serviccedilos 3) Apetrechamento dos
agentes naacuteuticos 4) Formaccedilatildeo
Promoccedilatildeo e comunicaccedilatildeo
Essencialmente na estruturaccedilatildeo temaacutetica e ediccedilatildeo de material directoacuterio da naacuteutica
acccedilatildeo para a iniciaccedilatildeo agraves actividades naacuteuticas organizaccedilatildeo de eventos e criaccedilatildeo de
espaccedilos museoloacutegicos
Governacircncia
Com a aposta no conceito inovador de loja da naacuteutica (tipo loja do cidadatildeo) e no
estabelecimento de um observatoacuterio para o sector naacuteutico actualizaacutevel e disponiacutevel ao
puacuteblico
Estas propostas foram elaboradas com a intenccedilatildeo de promover projectos colectivos
que criem sinergias entre os diversos stakeholders do sector naacuteutico e que o capitalizem
econoacutemica social e ambientalmente tornando-o mais coeso e rumo a um
desenvolvimento sustentaacutevel
O Norte de Portugal deteacutem uma prodigiosa costa Atlacircntica e planos de aacutegua
interiores (rios lagos e zonas lacustres) singulares Trata-se sem duacutevida de um recurso
de inquestionaacutevel valor O desafio eacute tornaacute-lo um produto reconhecido e apeteciacutevel para
as populaccedilotildees residentes e em simultacircneo para os turistas
101
Conclusotildees
No decurso deste trabalho analisei a importacircncia do MAR para a Europa desde os
tempos dos descobrimentos ateacute agrave actualidade com a implementaccedilatildeo da PMIE Dada a
transversalidade do tema este trabalho aborda as componentes das poliacuteticas mariacutetimas
europeia nacional e regional (Norte de Portugal) Devo notar que este trabalho natildeo
pretende ser um estudo final eou conclusivo mas que possa ser considerado como ponto
de partida para posteriores aprofundamentos
Concluiacutedo este introacuteito passo a apresentar as conclusotildees finais
Como sabemos os oceanos ocupam dois terccedilos da aacuterea total do planeta Terra Esta
constataccedilatildeo permite desde logo concluir que as actividades mariacutetimas estatildeo longe de
atingir o seu potencial sisteacutemico
A histoacuteria da Europa particularmente a partir do periacuteodo medieval devido agrave sua
natureza geograacutefica em forma de peniacutensula e bem torneada pelo mar despoletou o
interesse dos europeus pelo desconhecido Por detraacutes do mare incognitum havia mitos e
lendas que uma vez superadas pela audaacutecia dos descobridores desencadearam uma
inovadora epopeia mariacutetima que culminou com a descoberta de rotas mariacutetimas culturas
civilizaccedilotildees e estabelecimento de intercacircmbios comerciais transnacionais Assim se
iniciou o processo de globalizaccedilatildeo atraveacutes do qual os portugueses tatildeo grande e valioso
contributo deram agrave Humanidade
Actualmente na Europa deparamo-nos com uma cenaacuterio econoacutemico preocupante
provocado essencialmente pela crise financeira mundial e constatamos que a Europa
natildeo consegue acudir a todas dificuldades dos Estados Membros perifeacutericos A Europa natildeo
pode estar soacute unida quando economicamente o ambiente eacute favoraacutevel e perante as
adversidades diminuir a sua solidariedade pondo em causa valores notaacuteveis como a
construccedilatildeo da Europa e a moeda uacutenica Para tal eacute vital restabelecer a unidade pois soacute
assim a UE pode lograr responder aos enormes desafios do seacuteculo XXI
Acredito que o que eacute urgente acima de tudo eacute unir os europeus O MAR sem sombra
de duacutevida dada a sua transversalidade e caso seja utilizado como denominador comum
aproximaraacute os europeus agraves instituiccedilotildees europeias desenvolveraacute a nossa euro ndashcidadania
e conduziraacute a um maior envolvimento dos concidadatildeos nas decisotildees europeias
102
Voltando ao tema do trabalho em anaacutelise reforccedilo mais uma vez que foi o presidente
da Comissatildeo Europeia o portuguecircs Joseacute Manuel Duratildeo Barroso que lanccedilou no iniacutecio do
seu mandato o processo de construccedilatildeo para uma verdadeira Poliacutetica Mariacutetima Integrada
Europeia
A PMIE tornou-se um instrumento exemplar de savoir faire da poliacutetica apoiada
numa estrateacutegica botton up permitindo que os europeus dessem o seu contributo e
participassem na sua implementaccedilatildeo A aplicaccedilatildeo desta poliacutetica tem como objectivos
melhorar a eficaacutecia da acccedilatildeo governamental no domiacutenio do mar e explorar melhor as
sinergias a fim de aumentar o crescimento econoacutemico e a sustentabilidade ambiental
tendo sempre presente a dimensatildeo social E assim poder ainda responder aos desafios
prementes da protecccedilatildeo do ambiente seguranccedila mariacutetima crescimento econoacutemico
emprego qualificado e contribuir tambeacutem para o bem-estar das populaccedilotildees
Esta ldquoeuroapostardquo mariacutetima cujo potencial esmiucei ao longo deste trabalho pode ser
decisiva e contribuir fortemente para a afirmaccedilatildeo da Europa no mundo Espero tambeacutem
que possa servir de exemplo a outras regiotildees do mundo de momento ainda
subdesenvolvidas mas que se apresentam com iacutendices de crescimento exponenciais
Em Portugal desde o seacuteculo XIV (D Joatildeo I) ateacute ao Estado Novo o cluster mariacutetimo
foi o nosso ldquocartatildeo de visitardquo no plano internacional Este apresentado como paradigma
incluiacutea a navegaccedilatildeo comercial a pesca longiacutenqua (pe o bacalhau) e a construccedilatildeo naval
que ombreava com os melhores construtores a niacutevel mundial Como prova da
demonstraccedilatildeo puacuteblica deste reconhecimento invoco a estatuaacuteria que enaltece os feitos
histoacutericos do navegadores portugueses como por exemplo D Sebastiatildeo em Lagos
Vasco da Gama em Sines Infante D Henrique no Porto e Londres (Belgrave Square)
Joatildeo Aacutelvares Fagundes em Viana do Castelo
Portugal integrado haacute vinte e cinco anos na Uniatildeo Europeia natildeo se conseguiu impocircr
nas questotildees mariacutetimas Perdeu uma boa oportunidade para tirar partido desta integraccedilatildeo
menosprezando os fundos comunitaacuterios para desenvolver o seu cluster mariacutetimo
chegando ateacute cair no esquecimento e ficar praticamente extinto no terceiro quartel do
seacuteculo XX
103
Foi lamentaacutevel esta inoperacircncia de Portugal junto da UE e vice-versa Ou seja nem
Portugal soube aproveitar os generosos fundos europeus para desenvolver o sector
mariacutetimo nem a UE soube aproveitar a mais-valia do know-how luso das actividades
mariacutetimas agrave semelhanccedila do que sucedeu com a Alemanha como paiacutes exportador por
excelecircncia e da Franccedila com a PAC
Talvez a explicaccedilatildeo para este desvio fosse a seduccedilatildeo dos portugueses pelos fundos
europeus para aplicar em novas aacutereas com resultados visiacuteveis e imediatos a curto prazo
e cujo retorno econoacutemico hoje ainda questionamos
A ldquodemocraciardquo voltou costas ao seu passado de seacuteculos ndash o MAR Diversos factores
do passado recente contribuiacuteram para esta situaccedilatildeo a saber a descolonizaccedilatildeo e o
sentimento generalizado de ruptura com a ideologia do Estado Novo (pois a sua
propaganda estava fortemente ligada ao domiacutenio mariacutetimo) E Portugal limitou-se apenas
a exercer o domiacutenio mariacutetimo aquando da adesatildeo nas 12 milhas mariacutetimas Portugal
focou-se no bloco terrestre contrariando assim o seu percurso natural e ancestral
ldquoSe Portugal sempre ignorou o mar sua agenda europeia natildeo o perspectivando
como um activo estrateacutegico ao interesse nacional tambeacutem a proacutepria UE se viu desde
sempre a si proacutepria como um bloco terrestre capitaneado pelo eixo continental traccedilado
ao longo de deacutecadas entre Paris e Bona do que como a potecircncia mariacutetima que tambeacutem eacute
O tratado de Roma eacute omisso quanto ao potencial dos oceanos e dos mares que circundam
a Europa para o processo de integraccedilatildeo europeia a politica comum de pescas nasce
tardia e gradualmente por analogia da PAC e os transportes mariacutetimos ficaram de fora
da politica europeia de transportes e logo da rede transeuropeia de transportes por muito
tempo praticamente ateacute ao Livro Branco dos Transportes de 2001rdquo151
Com o lanccedilamento da PMIE Portugal compreendeu a importacircncia da sua vocaccedilatildeo
mariacutetima para os assuntos europeus e finalmente tem uma estrateacutegia mariacutetima para
implementar no territoacuterio nacional decorrente da perspectiva europeia Esta atitude foi
reforccedilada pela actuaccedilatildeo do governo portuguecircs especialmente durante a Presidecircncia
Portuguesa da UE em 2007 onde Portugal deixou a sua griffe com a aprovaccedilatildeo da
poliacutetica mariacutetima europeia De novo Portugal e a Europa estatildeo agora voltados para o mar
151
Dr Tiago Pitta e Cunha (2010) art cit na Revista do Centro de Informaccedilatildeo Europeia Jacques Delors -
Europa Novas Fronteiras ndash Portugal ndash 25 Anos de Integraccedilatildeo Europeia nordm 2627 Lisboa Principia
p186
104
com uma visatildeo mais abrangente e integrada e em uniacutessono para os sectores ligados ao
mar Em consequecircncia destes acontecimentos a regiatildeo Norte de Portugal elaborou uma
Agenda para o mar e tem estruturas universitaacuterias a desenvolver actividades cientiacuteficas e
laboratoriais associadas agrave iniciativa privada que permitem dar uma nova visatildeo econoacutemica
ao mar
Para que Portugal cumpra o mar como desiacutegnio nacional eacute necessaacuterio iniciar-se um
novo ciclo que aproxime os portugueses do mar Exige-se uma nova vaga de fundo para
desenvolver a nossa cultura mariacutetima como jaacute tem sucedido em outros Estados membros
atraveacutes de um processo de enculturaccedilatildeo A formaccedilatildeo joga um papel determinante para o
sucesso deste objectivo Os planos curriculares das escolas e universidades portuguesas
podem ser o ponto de partida deste novo ciclo despertando o interesse nas camadas
jovens e influenciando-os para o gosto da nossa heranccedila mariacutetima permitindo vivenciar
e experienciar actividades de mar de modo a serem eles no futuro a capitalizarem as
potencialidades do mar
Se compararmos em termos de territoacuterio e de populaccedilatildeo com os parceiros europeus
verificamos que Portugal natildeo eacute um paiacutes pequeno estamos ao mesmo niacutevel de paiacuteses como
a Beacutelgica Repuacuteblica Checa Holanda Dinamarca Irlanda e Greacutecia Isto sem referir a
ZEE que em breve poderaacute catapultar o nosso paiacutes para o deacutecimo lugar do ranking
mundial de paiacuteses mariacutetimos
Como sabemos o ldquocentro de gravidaderdquo da Uniatildeo Europeia deslocou-se para leste
devido agrave entrada de novos Estados membros (alargamento a vinte e sete) E Portugal
atraveacutes da agenda europeia para o mar pode tornar-se apesar de ser um paiacutes perifeacuterico
um verdadeiro liacuteder nas poliacuteticas europeias
Voltando a questatildeo inicial A Poliacutetica Mariacutetima Europeia ndash uma poliacutetica feita agrave
medida de Portugal penso que apesar de jaacute termos dado alguns passos na integraccedilatildeo de
poliacuteticas mariacutetimas eacute no entanto imprescindiacutevel uma vontade poliacutetica perseverante que
afirme Portugal na Europa defenda a nossa heranccedila e salvaguarde o futuro do nosso paiacutes
Oxalaacute saibamos aproveitar este ldquooceanordquo de oportunidades
105
Fontes e bibliografia
Fontes
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COM (2010) 494 final
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COM (2009) 540 final
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Relatoacuterio de progresso sobre a poliacutetica mariacutetima integrada da Uniatildeo Europeia
Comissatildeo Europeia 2009
COM (2009) 538 final
UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu ao
Parlamento Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees
Towards the integration of maritime surveillance A common information sharing
environment for the EU maritime domain Comissatildeo Europeia 2009
COM (2009) 536 final
UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu ao
Parlamento Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees
Desenvolver a dimensatildeo internacional da poliacutetica mariacutetima integrada da Uniatildeo
Europeia Comissatildeo Europeia 2009
106
COM (2009) 8 final
UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu ao
Parlamento Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees
Objectivos estrateacutegicos e recomendaccedilotildees para a poliacutetica comunitaacuteria de transporte
mariacutetimo no horizonte de 2018 Comissatildeo Europeia 2009
COM (2008) 791 final
UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo Roteiro para o ordenamento
do espaccedilo mariacutetimo definiccedilatildeo de princiacutepios comuns na EU Comissatildeo Europeia 2008
COM (2008) 395 final
UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu ao
Parlamento Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees
Orientaccedilotildees para uma abordagem integrada da poliacutetica mariacutetima rumo a melhores
praacuteticas de governaccedilatildeo mariacutetima integrada e de consulta das partes interessadas
Comissatildeo Europeia 2008
COM (2007) 575 final
UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu ao
Parlamento Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees
Uma poliacutetica mariacutetima integrada para a Uniatildeo Europeia Comissatildeo Europeia 2007
COM (2007) 574 final
UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu ao
Parlamento Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees
Conclusotildees da consulta sobre uma poliacutetica mariacutetima europeia Comissatildeo Europeia
2007
COM (2006) 275 final Volume I
UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho ao Parlamento
Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees Para uma
futura poliacutetica mariacutetima da Uniatildeo ndash uma visatildeo europeia para os oceanos e os mares
Comissatildeo Europeia 2006
107
COM (2006) 275 final Volume II
UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Livro Verde para uma futura poliacutetica
mariacutetima da Uniatildeo ndash uma visatildeo europeia para os oceanos e os mares Comissatildeo
Europeia 2006
COM (2006) 105 final
UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Livro Verde Estrateacutegia europeia para uma
energia sustentaacutevel competitiva e segura Comissatildeo Europeia 2006
COM (2005) 658 final
UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu e ao
Parlamento Europeu Reexame da Estrateacutegia em favor do desenvolvimento sustentaacutevel
Uma plataforma de acccedilatildeo Comissatildeo Europeia 2005
COM (2005) 505 final
UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Directiva do Parlamento Europeu e do
Conselho Europeu que estabelece um quadro de acccedilatildeo comunitaacuteria no domiacutenio da
poliacutetica para o meio marinho (Directiva ldquoestrateacutegia para o meio marinhordquo) Comissatildeo
Europeia 2005
COM (2005) 504 final
UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu e ao
Parlamento Europeu Estrateacutegia temaacutetica para a protecccedilatildeo e conservaccedilatildeo do meio
marinho Comissatildeo Europeia 2004
COM (2002) 511 final
UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo da Comissatildeo Europeu ao
Conselho e ao Parlamento Europeu Estrateacutegia de desenvolvimento sustentaacutevel da
aquicultura europeia Comissatildeo Europeia 2002
108
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NMinisteacuterio do Ambiente do Ordenamento do Territoacuterio e do Desenvolvimento
Regional
Encontro Porto Cidade Regiatildeo Para uma Regiatildeo do Conhecimento (2008) Porto
Reitoria Universidade do Porto
Estrateacutegia Nacional para o Mar (2006) Lisboa EMAMMinisteacuterio da Defesa
Nacional
Genuinely Sustainable Marine Ecotourism in the EU Atlantic Area a Blueprint for
Responsible Marketing (2006) Bristol University of West of England
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Inforegio panorama nordm 23 (2007) Bruxelas Comissatildeo Europeia DG Poliacutetica Regional
Plano de Acccedilatildeo para o Desenvolvimento Turiacutestico do Norte de Portugal (2008) Porto
CCDR-N Ministeacuterio do Ambiente do Ordenamento do Territoacuterio e do
Desenvolvimento Regional
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AquaMuseu do rio Minho
httpaquamuseucm-vncerveirapt (acedido 13 de Setembro de 2010)
Atlas Europeu dos Mares
httpeceuropaeumaritimeaffairsatlas (acedido 22 de Outubro de 2010)
Instituto Nacional da Aacutegua
wwwinagpt (acedido 2 de Dezembro de 2010)
Instituto Hidrograacutefico
wwwhidrografico (acedido 2 de Dezembro de 2010)
Centro Interdisciplinar de Investigaccedilatildeo Marinha e Ambiental
wwwcimarorg (acedido 3 de Dezembro de 2010)
Centro Tecnoloacutegico del Mar - Fundacioacuten CETMAR
httpwwwcetmarorg (acedido 8 de Outubro de 2010)
Comissatildeo Europeia ndash Agecircncia Europeia do Ambiente
wwweeaeuropaeu (acedido 4 de Janeiro de 2011)
Comissatildeo Europeia ndash Assuntos Mariacutetimos
httpeceuropaeumaritimeaffairsindex_enhtml (acedido 12 de Janeiro 2011)
Comissaacuterio Europeu Joe Borg
httpeceuropaeucommission_barrosoborgindex_enhtml (acedido 20 Dezembro de 2009)
Comissatildeo Europeia ndash O nosso Planeta Oceano
httpeceuropaeuresearchrtdinfsupptindex_pthtml (acedido 15 de Junho de 2010)
110
Comissatildeo Europeia ndash Pesca
httpeceuropaeufisheriesindex_pthtml (acedido 30 de Outubro de 2010)
Comissatildeo Europeia ndash Sea Search
wwwsea-seachnet (acedido 30 de Outubro de 2010)
Comiteacute das Regiotildees
httpwwwcoreuropaeu (acedido 13 de Setembro de 2010)
Dia Europeu do Mar
httpeceuropaeumaritimeaffairsmaritimeday (acedido 10 de Novembro de 2010)
European Sea Ports Organization
wwwespobe (acedido 30 de Outubro de 2010)
Estaccedilatildeo Litoral da Aguda
httpwwwfundacao-elapt (acedido 15 de Dezembro de 2010)
Estrutura de Missatildeo para os Assuntos do Mar
wwwemamcompt (acedido 15 de Dezembro de 2010)
FAO ndash Fisheries Department
httpfaoorgfidefaultesp (acedido 22 Novembro 2010)
Foacuterum Empresarial da Economia do Mar
httpwwwfempt (acedido 15 de Dezembro de 2010)
Foacuterum Europeu Mariacutetimo
httpswebgateeceuropaeumaritimeforum (acedido 10 de Novembro de 2010)
Fundaccedilatildeo Gil Eannes
wwwfundacaogileannespt (acedido 12 de Setembro de 2010)
Gestatildeo Integrada das Zonas Costeiras
httpeceuropaeuenvironmenticzmourcoasthtm (acedido 5 de Janeiro de 2011)
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International Maritime Organization
httpimoorg (acedido 14 de Novembro de 2010)
Irish Marine Institute
httpwwwmarineie (acedido 6 de Maio de 2010)
Instituto Portuaacuterio e dos Transportes Mariacutetimos
wwwimarporpt (acedido 20 Agosto de 2010)
Instrumento Europeu de Vizinhanccedila e de Parceria
httpeceuropaeuworldenpfunding_enhtm (acedido 18 de Outubro de 2010)
Jogos Naacuteuticos Atlacircnticos
wwwjnieaeu (acedido 20 Agosto de 2010)
Lancha Poveira
httpwwwpovoadevarzimcomptlanchapoveiraphp (acedido 30 de Outubro de 2010)
Museu da Marinha
wwwmuseumarinhamuseusiteptpt (acedido 20 Agosto de 2010)
Nautisme Espace Atlantique 2
wwwnea2eu (acedido 14 de Janeiro de 2011)
ONU ndash Department of Economic and Social Affairs
httpwwwunorgesasustdevdocumentsWSSD_POI_PDEnglishPOITochtm (acedido 30
de Setembro de 2010)
Oceanaacuterio de Lisboa
wwwoceanariopt (acedido 20 Agosto de 2010)
Oceano XXI Cluster do Conhecimento e da Economia do Mar
httpwwwoceano21org (acedido 3 de Dezembro de 2010)
Parlamento Europeu
httpwwweuroparleuropaeufactsheets1_2_2_pthtm (acedido 9 de Novembro de 2010)
112
Plano de Ordenamento do Espaccedilo Mariacutetimo
httppoeminagpt (acedido 29 de Dezembro de 2010)
Polis Litoral Norte
wwwpolislitoralnortept (acedido 17 de Dezembro de 2010)
Polis Ria de Aveiro
wwwpolisriadeaveiropt (acedido 17 de Dezembro de 2010)
Polis Ria Formosa
wwwpolislitoralriaformosapt (acedido 17 de Dezembro de 2010)
Presidecircncia da Repuacuteblica Portuguesa
httpwwwpresidenciapt (acedido 10 de Janeiro de 2011)
Projecto Naacuteutica
httpwwwprojectonauticacomindexphpseccao=nauticaampcontent=apresentacao
(acedido 14 de Janeiro de 2011)
Quadro de Referecircncia Estrateacutegico Nacional (QREN)
wwwqrenpt (acedido 14 de Janeiro de 2011)
SaeR ndash Sociedade de Avaliaccedilatildeo Estrateacutegica e Risco Lda
wwwsaerpr (acedido 12 Dezembro de 2010)
Surfrider Foundation Europe
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Chicago EUA The University of Chicago Press
III
ldquoQue improacuteprio chamar Terra a este planeta de oceanosrdquo
Sir Arthur C Clarke cit no Livro Verde ndash ldquoPara uma futura poliacutetica
mariacutetima da Uniatildeo uma visatildeo europeia para os oceanos e os maresrdquo
(2006)
ldquoPortugal encontra-se na periferia da Europa mas estaacute
no centro do mundordquo (hellip) ldquoPossuiacutemos uma vasta linha de
costa beneficiamos da maior zona econoacutemica exclusiva
da Uniatildeo Europeia Poderemos ser uma porta por onde a
Europa se abre ao Atlacircntico se soubermos aproveitar as
potencialidades desse imenso mar que se estende diante
dos nossos olhos mas que teimamos em natildeo verrdquo (hellip)
Cit no discurso de Sua Excelecircncia o Presidente da Repuacuteblica
Portuguesa Professor Doutor Aniacutebal Cavaco Silva durante a 36ordf
Sessatildeo Comemorativa do 25 de Abril de 2010 na Assembleia da
Repuacuteblica
IV
in memoriam
Professor Doutor Ernacircni Rodrigues Lopes
(1942 ndash 2010)
V
Resumo
Sabemos que dois terccedilos do planeta Terra satildeo ocupados pelos Oceanos Logo eacute
premente ocuparmo-nos deles da forma mais sustentaacutevel possiacutevel
E os ldquomaresrdquo foram desde sempre a seiva da Europa Os europeus desde haacute muito
tempo tiveram propensatildeo para se libertarem do mare incognitum Essa ousadia trouxe
retorno econoacutemico cultural e cientiacutefico notaacuteveis para a Humanidade
Os espaccedilos mariacutetimos e o litoral europeu satildeo essenciais para o bem-estar e
prosperidade ligam continentes atraveacutes de rotas comerciais regulam o clima satildeo fonte
de alimento de energia e de inuacutemeros recursos (muitos ainda desconhecidos) e satildeo
tambeacutem locais privilegiados de residecircncia e lazer para os cidadatildeos
A Europa preconiza actualmente uma Poliacutetica Mariacutetima Integrada reflectindo e
projectando a nossa relaccedilatildeo com os oceanos e mares Esta abordagem inovadora e
holiacutestica reforccedila a capacidade da Europa face aos desafios da globalizaccedilatildeo e da
competitividade agraves alteraccedilotildees climaacuteticas agrave autonomia energeacutetica agrave seguranccedila mariacutetima
entre outras O leme da Poliacutetica Mariacutetima Europeia Integrada foi tomado em 2005 pelo
Presidente da Comissatildeo Europeia Duratildeo Barroso e estaacute ancorada na Agenda de Lisboa
(apela ao crescimento econoacutemico e emprego) e na Agenda de Gotemburgo (apela ao
desenvolvimento sustentaacutevel ndash ambiental econoacutemico e social)
A nossa longa histoacuterica mariacutetima a liacutengua e cultura portuguesa e o facto de existir
uma Estrateacutegia Nacional para o Mar em consonacircncia com a Poliacutetica Mariacutetima Europeia
Integrada podem ser os factores-chave para Portugal concretizar um dos seus maiores
desiacutegnios para o seacuteculo XXI ndash o Mar Importa referir que eacute iminente o alargamento da
zona econoacutemica exclusiva (equivalente a 43 vezes agrave aacuterea de Portugal Continental) e
caso seja aceite teremos seguramente uma nova oportunidade de estar no centro do
mundo
Esta investigaccedilatildeo tem portanto como objectivo analisar a poliacutetica mariacutetima
europeia e os seus desenvolvimentos em Portugal
PALAVRAS-CHAVE
EUROPA MAR POLIacuteTICA PORTUGAL SUSTENTAacuteVEL
VI
Lista de abreviaturas
BEI ndash Banco Europeu de Investimento
BRIC ndash Brasil Ruacutessia Iacutendia e China
CCDR-N ndash Comissatildeo de Coordenaccedilatildeo de Desenvolvimento Regional do Norte
CdR ndash Comiteacute das Regiotildees
CE ndash Comissatildeo Europeia
CEO ndash Comissatildeo Estrateacutegica dos Oceanos
CESA ndash Associaccedilatildeo dos Estaleiros Europeus de Construccedilatildeo e Reparaccedilatildeo Naval
CETMAR ndash Centro Tecnoloacutegico del Mar
CIEJD ndash Centro de Informaccedilatildeo Europeia Jacques Delors
CIIMAR ndash Centro Interdisciplinar de Investigaccedilatildeo Marinha e Ambiental
CLPC ndash Comissatildeo de Limites para a Extensatildeo da Plataforma Continental
CO 2 ndash Dioacutexido de Carbono
COMPETE ndash Programa de Factores de Competitividade
CRPM ndash Conferecircncia das Regiotildees Mariacutetimas da Europa
DEM ndash Dia Europeu do Mar
EBA ndash European Boating Association
EFTA ndash Associaccedilatildeo Europeia de Livre Comeacutercio
EM ndash Estados Membros
EMAM ndash Estrutura de Missatildeo para os Assuntos do Mar
EMEPC ndash Estrutura de Missatildeo para a Extensatildeo da Plataforma Continental
EMODNET ndash Rede Europeia de Observaccedilatildeo e de Dados do Meio Marinho
EMSA ndash Agecircncia Europeia da Seguranccedila Mariacutetima
ENM ndash Estrateacutegia Nacional para o Mar
ESPO ndash Organizaccedilatildeo dos Portos Mariacutetimos Europeus
EuDA ndash European Dredging Association
EUROMIG ndash European Union Recreational Marine Industry Group
VII
FAO ndash Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Alimentaccedilatildeo e a Agricultura
FEDER ndash Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional
FEM ndash Foacuterum Empresarial da Economia do Mar
FSE ndash Fundo Social Europeu
GIZC ndash Gestatildeo Integrada das Zonas Costeiras
IampD ndash Investigaccedilatildeo e Desenvolvimento
IampDampI ndash Investigaccedilatildeo Desenvolvimento e Inovaccedilatildeo
IDTI ndash Investigaccedilatildeo e Desenvolvimento das Tecnologias de Informaccedilatildeo
OEM ndash Ordenamento do Espaccedilo Mariacutetimo
OGP ndash International Association of Oil and Gas Producers
ONG ndash Organizaccedilatildeo Natildeo Governamentais
ONU ndash Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas
NEA 2 ndash Nautisme Espace Atlantique 2
PAC ndash Poliacutetica Agriacutecola Comum
PALOP ndash Paiacuteses Africanos de Liacutengua Oficial Portuguesa
PCP ndash Poliacutetica Comum da Pesca
PIB ndash Produto Interno Bruto
PME`S ndash Pequenas e Meacutedias Empresas
PMIE ndash Poliacutetica Mariacutetima Integrada Europeia
POCTEA ndash Programa de Cooperaccedilatildeo Transnacional do Espaccedilo Atlacircntico
POCTEP ndash Programa de Cooperaccedilatildeo Transfronteiriccedilo Espanha-Portugal
POEM ndash Plano Ordenamento do Espaccedilo Mariacutetimo
QREN ndash Quadro de Referecircncia Estrateacutegico Nacional
UNESCO ndash Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo Ciecircncia e Cultura
TIC ndash Tecnologias da Informaccedilatildeo e da Comunicaccedilatildeo
UE ndash Uniatildeo Europeia
ZEE ndash Zona Econoacutemica Exclusiva
VIII
Nota preacutevia
A realizaccedilatildeo desta investigaccedilatildeo natildeo teria sido possiacutevel sem a colaboraccedilatildeo de
diversas pessoas e entidades pelo que lhes dirijo os devidos agradecimentos
A primeira palavra de agradecimento vai para a minha Orientadora Professora Doutora
Maria Manuela Tavares Ribeiro Grato pela sua disponibilidade e destreza em aceitar a
tarefa de orientaccedilatildeo Aproveito para a felicitar pelas inuacutemeras iniciativas que organiza e
em que participa elevando o prestiacutegio da nossa Faculdade de Letras a niacutevel nacional e
internacional
A segunda palavra e natildeo menos relevante vai para o meu co-Orientador na
qualidade de especialista Dr Tiago de Pitta e Cunha A sua notaacutevel experiecircncia
nacional (Coordenador da Comissatildeo Estrateacutegica dos Oceanos) e europeia (ex-Membro
do Gabinete do Comissaacuterio Europeu para os Assuntos Mariacutetimos e as Pescas) aliada a
uma cooperaccedilatildeo profiacutecua diria mesmo perfeita permitiram que neste trabalho tenhamos
procurado a profundidade e a transversalidade que o tema proposto exige
O reconhecimento eacute extensiacutevel a todos os Professores da parte curricular pelo
conhecimento adquirido nas aulas memoraacuteveis Uma palavra particular para o Professor
Doutor Antoacutenio Martins da Silva e outra para o meu colega e amigo Asdruacutebal
Sotomaior pois sem eles natildeo teria sido possiacutevel conseguir este objectivo
Agradeccedilo aos funcionaacuterios do Centro de Informaccedilatildeo Europeia Jacques Delors em
Lisboa pela simpatia e competecircncia com que sempre me receberam
O meu justo agradecimento ainda ao Comiteacute das Regiotildees pelo convite feito em
2008 para visitar e participar in loco nas sessotildees plenaacuterias das principais instacircncias
europeias (Parlamento Comissatildeo e CdR) Participaram neste evento 27 alunos em
representaccedilatildeo de todos os Estados Membros da UE oriundos de cursos de 2ordm Ciclo em
Estudos Europeus
Finalmente o meu obrigado sentido aos que estatildeo mais proacuteximos Agradeccedilo aos
amigos de sempre agrave Teresinha ao meu Irmatildeo e ao meu Pai pelos incentivos que sempre
me deram na vida Agrave minha Matildee sinto-me sempre grato pela sua sabedoria paciecircncia e
carinho
Agrave minha futura sobrinha Maria dedico este trabalho
IX
Iacutendice
Resumo V
Lista de abreviaturas VI
Nota preacutevia VIII
Introduccedilatildeo 1
Cap I ndash Principais talassocracias europeias ndash breve retrospectiva histoacuterica 4
11 Repuacuteblicas Mariacutetimas Italianas 6
12 O papel de Portugal ndash o pioneiro da globalizaccedilatildeo 9
13 Siglo de oro espanhol 13
14 O ciclo holandecircs e a hegemonia inglesa 16
15 A Burguesia e a Revoluccedilatildeo Industrial 19
Cap II ndash O Livro Verde da Poliacutetica Mariacutetima Integrada Europeia 21
21 Fundamentos da Poliacutetica Mariacutetima Integrada Europeia 21
22 Potencialidades das principais actividades mariacutetimas da Uniatildeo Europeia 23
23 Livro Verde ndash ldquouma visatildeo para os oceanos e os maresrdquo 27
24 Aacutereas-chave no Livro Verde 29
25 Participaccedilatildeo dos europeus no processo de construccedilatildeo da PMIE 38
Cap III ndash O Livro Azul plano de acccedilatildeo e instrumentos financeiros 40
31 Condiccedilotildees poliacuteticas do processo de decisatildeo 40
32 Livro Azul e o plano de acccedilatildeo 43
X
33 Instrumentos econoacutemico-financeiros de apoio agrave PMIE 51
331 A poliacutetica de coesatildeo e a poliacutetica regional europeia 51
332 Fundos estruturais 53
333 Outras fontes de financiamento 55
334 Programa de apoio ao aprofundamento da PMIE 56
Cap IV ndash Orientaccedilotildees estrateacutegias para o futuro da PMIE 58
41 Breve balanccedilo 58
42 Governaccedilatildeo mariacutetima e participaccedilatildeo das partes interessadas 59
43 Instrumentos transectoriais 62
44 Perspectivas e visatildeo futura da PMIE 65
Cap V ndash Estrateacutegia Nacional para o Mar 68
51 Princiacutepios e objectivos 73
52 Pilares estrateacutegicos 73
53 Acccedilotildees e medidas 75
54 O Hypercluster da economia do mar 81
55 Plano de ordenamento do espaccedilo mariacutetimo 83
56 Programa ldquoPolis do Litoralrdquo 85
Cap VI ndash Agenda Regional do Mar (Norte de Portugal) 87
61 Pacto regional para a competitividade da regiatildeo ldquoNorte 2015rdquo 87
62 Linhas estrateacutegicas de desenvolvimento 90
63 Modelo de governaccedilatildeo para a Agenda Regional do Mar 95
64 Oceano XXI - Cluster do ldquoconhecimento e da economia do marrdquo 95
65 A Naacuteutica como factor de desenvolvimento regional 99
Conclusotildees 101
Fontes e bibliografia 105
1
Introduccedilatildeo
A minha relaccedilatildeo com o Mar comeccedilou desde haacute muito
Foi graccedilas agraves actividades naacuteuticas em ambiente mariacutetimo que aprendi a valorizar e
a respeitar a natureza a partilhar valores sociais a estabelecer novas amizades e ateacute a
conhecer novos continentes Tudo comeccedilou por prazerlazer e hoje em dia o MAR faz
parte da minha profissatildeo e seraacute sempre seguramente uma fonte de inspiraccedilatildeo e energia
para a vida
Depois da formaccedilatildeo na aacuterea da engenharia e ciecircncias econoacutemicas decidi matricular-
me no Curso de Mestrado Estudos Europeus na Faculdade Letras da Universidade de
Coimbra de forma de aprofundar os meus parcos conhecimentos (histoacutericos poliacuteticos e
institucionais) sobre a Europa Foi uma experiecircncia enriquecedora e gratificante que
ultrapassou largamente as minhas aspiraccedilotildees iniciais
Contudo confrontado com a necessidade de elaborar uma tese de dissertaccedilatildeo no
acircmbito do Mestrado ocorreu-me explorar uma temaacutetica actual e transversal que se
espera poder ldquounirrdquo os europeus a uma causa ndash o Mar
Assim este trabalho de investigaccedilatildeo intitulado Poliacutetica Mariacutetima Europeia ndash Uma
poliacutetica agrave medida de Portugal pretende ser um contributo para a pesquisa e reflexatildeo
sobre as questotildees europeias e a sua relaccedilatildeo com o mar e os oceanos mateacuteria que como
todos nos temos vindo a aperceber cada vez mais se reveste de grande importacircncia para
Portugal
Foi com o espiacuterito de ldquopara antever o futuro temos de conhecer o passadordquo que
procurei ao longo do primeiro capiacutetulo debruccedilar-me sobre as fontes de riqueza material
e imaterial que estando relacionadas com o mar contribuiacuteram para a formaccedilatildeo e
desenvolvimento da Europa Neste acircmbito debruccedilo-me sobre as expediccedilotildees mariacutetimas
italianas que apesar de confinadas ao mediterracircneo foram extremamente importantes
para os ldquodescobridoresrdquo que se seguiram Entre estes uacuteltimos destacarei o papel de
Portugal o siglo de oro espanhol o ciclo holandecircs e a hegemonia mariacutetima inglesa
Para terminar o enquadramento histoacuterico faccedilo referecircncia agrave emergecircncia da burguesia
europeia e agraves suas origens nas actividades mariacutetimas
2
No segundo capiacutetulo procuro analisar transversalmente o Livro Verde da Poliacutetica
Mariacutetima Integrada Europeia Assim apresentarei os fundamentos e as potencialidades
da Europa no domiacutenio mariacutetimo a ldquovisatildeordquo europeia para o futuro dos oceanos e os
mares e ainda as aacuterea-chave nele apontadas No final deste capiacutetulo abordarei a
consulta puacuteblica que possibilitou aos europeus participarem directa e activamente no
processo de construccedilatildeo da PMIE
Saliento que pela primeira vez a dimensatildeo mariacutetima da Europa assumiu a posiccedilatildeo
de real prioridade poliacutetica ou seja na histoacuteria da Uniatildeo Europeia os oceanos e os mares
como um todo tornaram-se assunto de foco poliacutetico ao mais alto niacutevel A PMIE foi uma
iniciativa de Joseacute Manuel Duratildeo Barroso aquando da sua primeira nomeaccedilatildeo para a
Presidecircncia da Comissatildeo Europeia em 2004 No programa Barroso I a PMIE foi
apresentada como uma necessidade premente chegando mesmo a ser instituiacuteda em
2004 a pasta dos Assuntos Mariacutetimos atribuiacuteda na altura ao maltecircs Joe Borg (ex-
Comissaacuterio Europeu)
No terceiro capiacutetulo comeccedilarei por salientar as condiccedilotildees poliacuteticas ao niacutevel das
instacircncias europeias que permitiram a consolidaccedilatildeo da PMIE Este destaque poliacutetico
concedido ao Mar eacute o reconhecimento do seu valor estrateacutegico em diferentes dimensotildees
econoacutemica ambiental cultural de seguranccedila de investigaccedilatildeo e de lazer Desta vontade
poliacutetica declarada emergiu o Livro Azul acompanhado de um plano de acccedilatildeo No final
deste capiacutetulo seratildeo apresentados os instrumentos financeiros comunitaacuterios de suporte agrave
PMIE
Apesar da jovem idade - cinco anos - a PMIE jaacute conseguiu obter resultados notaacuteveis
agrave escala europeia Por isso no quarto capiacutetulo proponho-me fazer uma breve anaacutelise agraves
actividades decorrentes da PMIE tendo em conta a governacircncia mariacutetima E as acccedilotildees
estrateacutegicas para o futuro da poliacutetica mariacutetima europeia seratildeo ainda apresentadas neste
capiacutetulo
No quinto capiacutetulo passarei a analisar a Estrateacutegia Nacional para o Mar (ENM)
resultante do apelo da Uniatildeo Europeia (UE) aos Estados-membros (EM) no sentido de
aplicarem abordagens holiacutesticas e transversais para o uso sustentaacutevel dos oceanos
Realccedilo que Portugal a par de Espanha e Franccedila foi um dos principais impulsionadores
da poliacutetica mariacutetima europeia Destacarei ainda a importacircncia do ldquoHypercluster da
3
Economia do Marrdquo o plano de ordenamento do espaccedilo mariacutetimo (POEM) actualmente
em discussatildeo puacuteblica e tambeacutem o programa ldquoPolis do Litoralrdquo
No capiacutetulo seguinte o sexto destacarei a Agenda Regional para o Mar que para
aleacutem de ser enquadrada na ENM e PMIE responde visivelmente agraves especificidades
latentes na regiatildeo Norte de Portugal No final deste capiacutetulo seratildeo abordados ainda a
plataforma ldquoOceano XXIrdquo e o estudo estrateacutegico intitulado ldquoA Naacuteutica como factor de
desenvolvimento da regiatildeo Norterdquo
Neste trabalho procuro dar um contributo acadeacutemico sobre a PMIE registando a
ausecircncia de estudos sobre esta mateacuteria congratulo-me com o estudo que tatildeo
entusiasticamente me comprometeu e espero que o mesmo possa servir de
inspiraccedilatildeoorientaccedilatildeo a TODOS aqueles que se revejam no todo ou em parte do exposto
ou simplesmente aos que se interessem pelas temaacuteticas abordadas
4
Cap I ndash Principais talassocracias europeias ndash breve retrospectiva histoacuterica
Como forma de introduzir a influecircncia dos assuntos mariacutetimos na formaccedilatildeo da
Europa resolvi reflectir sobre os aspectos histoacutericos que considero mais relevantes
protagonizados no periacuteodo compreendido entre os seacuteculos XIV e XX pelas maiores
potecircncias de entatildeo
Seratildeo abordadas neste capiacutetulo primeiramente as repuacuteblicas italianas (Geacutenova e
Veneza) seguindo-se a expansatildeo portuguesa passando pela aventura castelhana e
terminando com a acccedilatildeo holandesa e inglesa No final deste capiacutetulo faccedilo uma
abordagem agrave formaccedilatildeo de uma nova classe social ndash a burguesia ndash oriunda das
actividades mariacutetimas mercantis que foi o ldquomotor de arranquerdquo para a Revoluccedilatildeo
Industrial
Os maiores impeacuterios ateacute ao seacuteculo XV foram de dois tipos
Continentais como o impeacuterio Alexandrino (euro-asiaacutetico no seacuteculo IV
aC) e o Mongol (no seacuteculo XIII que se estendia do Oceano Paciacutefico ao Mar
Negro)
Outros centrados estrategicamente numa bacia mariacutetima que jaacute foi tida
como o centro econoacutemico do mundo A este tipo pertenciam o impeacuterio Romano
(com o apogeu nos seacuteculos I e II aC em que o Mediterracircneo ndash chamado Mare
Internum ndash era um ldquolago romanordquo o Mare Nostrum) e o impeacuterio Islacircmico (que
teve o seu apogeu entre os seacuteculos VIII e XIII que se estendia desde a Peniacutensula
Ibeacuterica agrave Iacutendia) e permitiu transformar o Oceano Iacutendico num ldquolago muccedilulmanordquo
ateacute ao momento da chegada dos portugueses
Houve tambeacutem outros impeacuterios tais como
Egiacutepcio (com o apogeu no seacuteculo XV aC)
Persa (seacuteculos VI a IV aC que se estendia da Iacutendia agrave Greacutecia)
Chinecircs (o Chacutein do seacuteculo III aC o Han do seacuteculo II ou o Tang do
seacuteculo VIII)
5
Como nota comum todos estes impeacuterios ocupavam uma extensatildeo continental
contiacutegua
No entanto outros modelos de expansatildeo surgiram ainda na Antiguidade ndash incluindo
as colonizaccedilotildees mediterracircneas dos cretenses feniacutecios e gregos assentes numa rede
litoral e descontiacutenua da orla do Mediterracircneo e do mar Negro De referir entre estes
casos a importacircncia do impeacuterio ateniense (com o auge no seacuteculo V aC) uma
talassocracia1 por excelecircncia baseada na projecccedilatildeo naval e na descontinuidade
continental
Este uacuteltimo tipo de expansatildeo naval replicou-se mais tarde nas projecccedilotildees
mediterracircnicas das repuacuteblicas mariacutetimas italianas com destaque para Geacutenova e Veneza
e na monarquia dual catalo-aragonesa
Apesar das diferenccedilas havia um denominador comum nestas talassocracias
europeias ndash o mar Mediterracircneo Como sublinha a historiadora genovesa Gabriela
Airaldi2 a actividade mariacutetima era o elemento que interligava e dinamizava a
civilizaccedilatildeo mediterracircnica
A esse ambiente mediterracircnico peculiar associou-se na Idade Meacutedia
Uma revoluccedilatildeo comercial e financeira com uma economia de mercado
predominantemente virada ao exterior assente numa diaacutespora de mercadores e
banqueiros
Uma projecccedilatildeo geopoliacutetica criando impeacuterios mariacutetimos descontiacutenuos
A disponibilidade para alianccedilas poliacuteticas ldquooperativasrdquo pragmaacuteticas
libertas dos preconceitos ideoloacutegico-religiosos da eacutepoca
Ora como refere Airaldi3 esta interdependecircncia estrateacutegica entre a Europa do Sul e
o ldquolagordquo mediterracircnico originou um novo tipo de estado ndash as repuacuteblicas mariacutetimas ndash
assentes numa oligarquia mercantil-financeira distintas do sistema monaacuterquico-
senhorial dominante na Europa medieval
1 O termo vem do grego e eacute uma junccedilatildeo do vocaacutebulo mar (thaacutelassa) e de poder (kraacutecia) Aplica-se a
todos os Estados no qual o poder se exerce baseado na expansatildeo mariacutetima garantida por uma projecccedilatildeo
naval 2 AIRALDI 2007 9
3 AIRALDI ibidem 99
6
Os muccedilulmanos e os chineses tinham no entanto criado uma inovaccedilatildeo que o
historiador Felipe Fernaacutendez-Arnesto4 sintetiza na diferenciaccedilatildeo entre civilizaccedilotildees
Civilizaccedilotildees da beira-mar ou no meio do mar ldquomoldadasrdquo pelo elemento
mariacutetimo (assim eram as talassocracias ateacute entatildeo existentes)
Civilizaccedilotildees que ldquodomesticaramrdquo os grandes mares que geravam
verdadeiras ldquocivilizaccedilotildees oceacircnicasrdquo Como aquele historiador demonstra em
Civilizations o Islatildeo foi a primeira civilizaccedilatildeo a projectar-se poliacutetica e
economicamente usando os caminhos oceacircnicos transformando o Iacutendico num
ldquolagordquo seu domiacutenio secular que foi beliscado pela curta expansatildeo chinesa do
inicio do seacuteculo XV5
Essa confluecircncia dos dois movimentos tornou o Iacutendico num espelho precoce da
revoluccedilatildeo que ocorreria mais tarde e que foi a razatildeo pela qual a histoacuteria de Portugal se
inscreveu na Histoacuteria universal
11 Repuacuteblicas Mariacutetimas Italianas
Os genoveses venezianos e catalatildees dominavam o Mediterracircneo com destaque
para as duas Repuacuteblicas italianas que lideraram o mundo poliacutetico euromediterracircnico a
partir do final do seacuteculo XIII
Geacutenova perderia o poder hegemoacutenico em 1380 na batalha naval de Chioggia agrave
entrada da grande laguna veneziana o que a levou sair do Adriaacutetico e a perder a
lideranccedila mediterracircnea para Veneza conhecida como a Serenissima Repubblica
Geacutenova La Superba havia dominado a regiatildeo desde que derrotara Pisa em 1320 e
criara um impeacuterio mediterracircnico e uma rede comercial e financeira transnacional
Perderia em 1397 a autonomia poliacutetica passando a ser uma zona de confronto entre a
4 Felipe Fernaacutendez-Arnesto exerce actualmente o magisteacuterio na caacutetedra Priacutencipe das Astuacuterias na
Universidade de Tufts Departamento de Histoacuteria e eacute membro do claustro de Queen Mary na
Universidade de Londres 5 FERNAacuteNDEZ-ARNESTO Felipe 2001 381
7
Franccedila e o Ducado de Milatildeo ao longo do seacuteculo XV No entanto nunca se apagou a
chama empreendedora pioneira
A individualidade genovesa foi de facto marcante ndash o seu espiacuterito de orizzonti
aperti (horizontes abertos) foi pioneiro no seacuteculo XIII Foi nesta repuacuteblica mariacutetima que
mais transparente se tornou o choque entre por um lado o lobby das cruzadas e da
bandeira poliacutetica da recuperaccedilatildeo de Jerusaleacutem e por outro lado a burguesia mercantil
mais arrojada ligada ao Banco di S Giorgio (criado em 1407) e agraves 28 famiacutelias
poderosas que compunham os Albergui6 A Escola genovesa de almirantado onde
sobressai a figura de Emanuele Pessagno (conhecido pelo portugueses como Manuel
Peccedilanha7) criou fama e uma geraccedilatildeo marinai erranti (marinheiros errantes) No
entanto veio para Portugal no iniacutecio do seacuteculo XIV para servir as navegaccedilotildees de
ldquooutrosrdquo em Quatrocentos e Quinhentos
A acircnsia genovesa de projecccedilatildeo para aleacutem do ldquolagordquo mediterracircnico ficou conhecida
As navegaccedilotildees de Benedetto Zacaria em 1277 abriam oficialmente a rota
mediterracircnico-atlacircntica para a Flandres anulando o significado das feiras de
Champagne e valorizando estrategicamente o estreito de Gibraltar bem como a costa
portuguesa e galega Mais tarde os irmatildeos Ugolino e Valdino Vivaldi com duas galeacutes
armadas por Tedisio Doria em 1291 aventuraram-se no Mar Oceano (o Atlacircntico) para
circum-navegarem Aacutefrica e chegarem ldquoagraves partes da Iacutendia e trazerem mercadorias
lucrativasrdquo mas nunca mais houve notiacutecias deles Especula-se que eles teriam como
objectivo provavelmente natildeo a verdadeira Iacutendia das especiarias mas a regiatildeo do ouro
da Aacutefrica Ocidental que na Idade Meacutedia muitos incluiacuteam na designaccedilatildeo geneacuterica de
ldquoIacutendiardquo8
Nos genoveses sentiu-se precocemente a necessidade de procurar chegar agraves fontes
asiaacuteticas de commodities de alto valor por via do Ocidente em oposiccedilatildeo ao domiacutenio
que os venezianos e aacuterabes detinham sobre as vias mediterracircnicas do Levante para o
Oriente E o sentido de risco dos clatildes financeiros genoveses daria corpo ao primeiro elo
do que viria a designar de Repubblica Internazional del Denaro
6 Agregaccedilatildeo artificial de vaacuterias famiacutelias da oligarquia genovesa Os Alberghi teriam entre 1600 a 1700
membros 40 dos quais estavam regularmente expatriados 7O monarca D Dinis em 1317 tornaria Manuel Peccedilagno de Geacutenova Almirante-mor do reino um cargo
hereditaacuterio 8 ALBUQUERQUE 2001 148
8
Mais proacuteximos geograficamente dos portugueses os catalatildees apesar da sua
expansatildeo mediterracircnica entre 1229 e 1412 (um impeacuterio que no seu auge incluiacutea as
Baleares Malta Sardenha Siciacutelia e os Ducados de Atenas e Neopaacutetria na Greacutecia bem
como um relacionamento especial com o Chipre) e de se terem afirmado como uma
potecircncia mariacutetima mediterracircnica dispunham de um dos centros cartograacuteficos mais
importantes da eacutepoca situado em Maiorca onde deu cartas a escola de cartoacutegrafos da
famiacutelia judia Cresques9 e a quem eacute atribuiacutedo um Atlas de 1375 Estes nunca desafiaram
a hegemonia genovesa e posteriormente a veneziana Mas como os italianos os catalatildees
tambeacutem fundaram coloacutenias mercantis muito fortes em Alexandria Beirute Damasco e
em diversos pontos do Magrebe
Os venezianos por seu lado consumada a paz com Geacutenova em 1381 e
secundarizaccedilatildeo geopoliacutetica desta repuacuteblica rival expandiram os seus domiacutenios de mar
atraveacutes da ocupaccedilatildeo de pontos estrateacutegicos na costa adriaacutetica grega e no Mediterracircneo
(ilhas como Chipre Corfu ou Creta) Tambeacutem estabeleceram fortes comunidades
mercantis ndash os fundaci ndash nos portos e placas giratoacuterias comerciais estrateacutegicas (como
Constantinopla Tana Sinope Tebisonda Alexandria e Damasco) dos paiacuteses com que
negociavam
A partir dessa rede dominaram o comeacutercio do que entatildeo chamavam mercanzie
sottili (mercadorias finas) as commodities de alto valor da eacutepoca que vinham da Iacutendia
da China do Ceilatildeo e das Molucas que chegavam a Veneza trazidas pelas mude
comboios mariacutetimos que vinham das placas giratoacuterias que eram Constantinopla
Alexandria e os portos da Siacuteria Este comeacutercio internacional movimentava 20 milhotildees
de ducados por ano A frota veneziana dispunha de 300 grandes navios 45 galeacutes e 3000
pequenos barcos e envolvia 36000 marinheiros
A Europa vivia literalmente enfeiticcedilada pelas especiarias dominada por
ldquofetichismordquo das commodities de luxo como ironizou o historiador Fernand Braudel
Paradoxalmente os europeus medievos consumiam produtos made in Oriente mas
desconheciam de todo onde ficavam exactamente e como eram os paiacuteses e as gentes de
onde se importavam tais luxos Daiacute a propagaccedilatildeo de mitos e contos fantaacutesticos sobre as
Iacutendias e China Apenas alguns viajantes aventureiros chegavam agraves fontes ndash Marco Polo
fora um deles
9 Um dos filhos desta famiacutelia catalatilde Jafuda Cresques cristianizado como Jaume (Jaime) Ribes seria um
dos expoentes maacuteximos do grupo conselheiro do Infante Henrique
9
Veneza soube gerir tambeacutem o ldquosaco de gatosrdquo que era a Europa do final da Idade
Meacutedia O grande cisma no papado entre 1378 e 1417 num periacuteodo em que chegou a
haver mais do que um centro de poder papal (Roma e Avignon) com pontiacutefices em
conflito apoiados por diferentes potecircncias ndash deu uma ajuda a esta cidade-Estado que
cultivava teimosamente a sua independecircncia De referir tambeacutem a intermitente Guerra
dos Cem Anos (1337-1453) que consumia as candidatas potenciais de entatildeo ao
hegemonismo da Europa continental a saber Inglaterra e Franccedila10
Natildeo eacute demais sublinhar que o conhecimento acumulado e as inovaccedilotildees geopoliacuteticas
surgidas com a expansatildeo das repuacuteblicas mariacutetimas mediterracircnicas seriam aprimoradas a
uma escala global pelos portugueses
12 O papel de Portugal ndash o pioneiro da globalizaccedilatildeo
O facto geopoliacutetico que abriria nas deacutecadas seguintes a janela de oportunidade aos
portugueses ocorreria bem longe do Mediterracircneo ndash Oceano Iacutendico ndash considerado o
centro econoacutemico do mundo
Ainda o Infante D Henrique natildeo fazia jus ao seu cognome de ldquoNavegadorrdquo jaacute os
chineses da dinastia Ming haviam lanccedilado a partir de 1405 sete expediccedilotildees em
direcccedilatildeo ao Iacutendico muito para aleacutem da sua tradicional esfera de influecircncia oceacircnica Foi
seu Almirante-Mor era Zheng He (1371-1433) a cujo nome ficou associado a
navegaccedilotildees de longa distacircncia anteriores agraves portuguesas Aquele movimento de
expediccedilotildees era o que chamariacuteamos hoje de ldquoprojecccedilatildeo de poderrdquo sublinhou Edward
Dreyer na sua obra Zheng He11
O argumento utilizado era um cruzamento haacutebil de
diplomacia e demonstraccedilatildeo do seu poder naval sem ser necessaacuterio exercecirc-lo a natildeo ser
excepcionalmente ldquoa sua armada era suficientemente intimidante e raramente
necessitava de combater de facto mas estar preparada para o fazer era a sua missatildeo
primaacuteriardquo diz Dreyer
As navegaccedilotildees chinesas acabariam abruptamente em 1433 A expansatildeo foi travada
por um movimento reaccionaacuterio da burocracia de Beijing e ocorreu no meio de uma
10
RODRIGUES amp DEVEZAS 2009 53-59 11
DREYER 2007 3
10
crise de hiperinflaccedilatildeo com o colapso do papel-moeda chinecircs tatildeo generosamente
espalhado pela Aacutesia Este recuo deixaria a porta aberta para os navegadores que a
seguir chegassem ao Iacutendico12
Assim Portugal aproveitou uma janela de oportunidade uacutenica no iniacutecio de
Quatrocentos pois a China entatildeo a maior economia do mundo recuou no seu projecto
de expansatildeo oceacircnica As Repuacuteblicas Italianas (nomeadamente Veneza entatildeo potecircncia
hegemoacutenica) e a Catalunha natildeo dispunham de estrateacutegias ou de inovaccedilotildees para irem
aleacutem do seu espaccedilo tradicional de projecccedilatildeo de poder que era o Mediterracircneo E as
potencias regionais e os poderes locais que dominavam os checkpoints e as rotas de
commodaties de alto valor em Aacutefrica no proacuteximo e Meacutedio Oriente e no Iacutendico natildeo
dispunham de poder naval para enfrentar um ldquointrusordquo expansionista
Alavancado o mito do Preste Joatildeo a elite portuguesa de Quatrocentos em
particular os dois irmatildeos ndash infantes Henrique o ldquoNavegadorrdquo e Pedro o ldquoCosmopolitardquo ndash
e o monarca D Joatildeo II (considerado um ldquoPriacutenciperdquo exemplar do Renascimento)
idealizaram uma estrateacutegia tenaz de cerco pelas ldquotraseirasrdquo ao elo mais fraco da eacutepoca o
arco muccedilulmano fragmentado que dominava as rotas de commodities ateacute Alexandria
principal porto do Mediterracircneo agora nas matildeos dos mamelucos e com quem Veneza
negociava Esta estrateacutegia portuguesa foi evolutiva e de geometria variaacutevel ora
procurando vias pela costa e rios de Aacutefrica Ocidental ao encontro do potencial aliado
Preste Joatildeo e do estrateacutegico Nilo ora recorrendo ao uso de espionagem e intelligence
ateacute agrave procura de um rota mariacutetima alternativa para uma das fontes de especiarias (a
Iacutendia)
A procura do Preste Joatildeo pelos navegadores portugueses foi infrutiacutefera durante
longas deacutecadas Apenas entre 1508 e 1514 se realizaram os primeiros encontros oficiais
entre as cortes etiacuteope e lisboeta Entretanto dois caminhos se abriram dois ciclos
sucessivos de uma nova especializaccedilatildeo econoacutemica portuguesa internacional onde
entrou o ouro o ignoacutebil traacutefico de escravos e as especiarias Esta nova especializaccedilatildeo
mudou o padratildeo tradicional da economia do paiacutes e foi responsaacutevel por uma revoluccedilatildeo
no comeacutercio internacional
12
RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 60-61
11
O sucesso no estabelecimento da nova rota mariacutetima para a Iacutendia deveu-se tanto a
inovaccedilotildees teacutecnicas e cientiacuteficas (como a caravela e a nova cartografia) como agrave gestatildeo
do conhecimento global da eacutepoca (o centro de acccedilatildeo do Infante Henrique e o war room
de D Joatildeo II) e tambeacutem a inovaccedilotildees estrateacutegicas para a projecccedilatildeo de poder (rede das
primeiras feitorias e fortificaccedilotildees de plataformas oceacircnicas e de novas cidades e de um
modelo de colonizaccedilatildeo) e ainda juriacutedicas (estabelecimento da doutrina do Mare
Clausum e assinatura dos primeiros tratados de divisatildeo do mundo em zonas de
influecircncia) Foi este conjunto de inovaccedilotildees que permitiu o surgimento de um novo e
longo ciclo geopoliacutetico e substituir Veneza na lideranccedila mundial13
Portugal criou portanto um novo tipo de impeacuterio ndash o impeacuterio oceacircnico em rede ndash
baseado na mobilidade e poder naval pois viabilizou o domiacutenio de uma vasta aacuterea do
planeta e uma forma de comeacutercio verdadeiramente internacional Este network lanccedilou as
bases para a criaccedilatildeo da aldeia global fenoacutemeno hoje sobejamente conhecido como
globalizaccedilatildeo
Os portugueses introduziram o uso sistemaacutetico do conhecimento cientiacutefico como
um activo indispensaacutevel para alcanccedilar objectivos poliacuteticos geoestrateacutegicos Tal facto
gerou os alicerces do Renascimento cientiacutefico europeu e transformou radicalmente a
visatildeo do mundo como um planeta composto por massas continentais banhadas por um
conjunto de oceanos interligados Foi graccedilas agrave expansatildeo mariacutetima portuguesa que surgiu
a concepccedilatildeo de um globo terrestre e uma nova cartografia14
Apesar das fortes raiacutezes empiacutericas da expansatildeo portuguesa do caraacutecter pragmaacutetico
e do forte improviso os liacutederes de Quatrocentos e de Quinhentos desenvolveram a
gestatildeo de conhecimento de forma eficiente Este foi o capital ldquointelectualrdquo que afirmou
um espoacutelio singular que destacou Portugal elevando-o agrave escala mundial Satildeo exemplos
deste periacuteodo os primeiros centros de acccedilatildeo de expansatildeo mariacutetima uma vaga de
publicaccedilotildees cientiacuteficas originais a revoluccedilatildeo na cartografia e na ciecircncia da construccedilatildeo
naval e uma evoluccedilatildeo da arte militar
A construccedilatildeo da hegemonia portuguesa foi claramente um processo evolutivo de
aprendizagem que abarcou vaacuterias geraccedilotildees Isto foi sucedendo desde a eacutepoca inicial dos
infantes D Henrique e D Pedro com a chegada agrave Costa da Mina e agrave linha do Equador
13
RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 175-176 14
RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 184-185
12
mais tarde com a passagem do Cabo da Boa Esperanccedila ateacute agrave chegada agrave Iacutendia Brasil
China e Japatildeo
Concluiacuteda a chegada agrave Iacutendia (1498) jaacute no tempo do rei D Manuel I a estrateacutegia de
projecccedilatildeo mundial foi tripla
Afirmaccedilatildeo de um poder naval sem contestaccedilatildeo mundial no Atlacircntico e
Iacutendico
Conclusatildeo da maior rede mundial de checkpoints existentes ateacute entatildeo
Campanha de marketing internacional junto do papado (poder
transnacional reconhecido pelos europeus)
Portugal caiu num dilema entre a focalizaccedilatildeo num espaccedilo controlaacutevel do Iacutendico
(ligado agrave rota das especiarias) e a tentaccedilatildeo de uma extensatildeo raacutepida incluindo um
projecto imperial universal embebido numa ideologia cruzadista e de expansatildeo
messiacircnica
A capacidade inovadora dos portugueses foi de tal forma abrangente que se pode
afirmar que nos seacuteculos XV e XVI Portugal inovou na arte de inovar Isto provocou
uma ruptura ldquotectoacutenicardquo na histoacuteria do mundo e natildeo foi um mero acidente relegado para
segundo plano por muitos historiadores e analistas face ao mediatismo criado em torno
das viagens de Colombo agrave Ameacuterica Central15
Segundo Daniel Boorstin16
ldquo(hellip) como empreendimento organizado e de longo
prazo a conquista dos Portugueses foi a mais moderna mais revolucionaacuteria do que as
largamente celebradas exploraccedilotildees de Colombo ()rdquo
15
RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 331 16
BOORSTIN 1986 83
Daniel Boorstin faleceu em 2004 Estudou em Oxford Harvard e Yale foi autor de 20 livros e
bibliotecaacuterio do Congresso norte-americano de 1975 a 1987 Foi director do Museu Nacional de Histoacuteria
e Tecnologia e da Smithsonian Institution entidades norte-americanas A Trilogia sobre a Histoacuteria
Mundial que escreveu ficou ceacutelebre E nela incluiu Os Descobridores Foi um dos acadeacutemicos que
destacou a originalidade portuguesa de Quatrocentos e Quinhentos
13
13 Siglo de oro espanhol
O ldquoseacuteculo de ourordquo foi o apogeu da cultura espanhola desde o Renascimento do
seacuteculo XV ateacute ao periacuteodo Barroco do seacuteculo XVII Marcado por acontecimentos-chave
abrangeu o periacuteodo desde a publicaccedilatildeo da gramaacutetica Castellana de Nebrija em 1492 ateacute
a morte de Calderoacuten de la Barca em 1681
Nos finais do seacuteculo XVIII jaacute se havia popularizado a expressatildeo Seacuteculo de Ouro
com a qual Lope de Vega aludia a si proacuteprio e que suscitava a admiraccedilatildeo de Don
Quixote de la Mancha no seu famoso discurso sobre a Idade de Ouro
Com a uniatildeo dinaacutestica os Reis Catoacutelicos Fernando e Isabel delinearam um Estado
politicamente forte que foi consolidado posteriormente cujos ecircxitos foram invejados
por alguns intelectuais contemporacircneos como por exemplo o italiano Nicolau
Maquiavel Poreacutem esse Estado politicamente forte esteve ideologicamente dominado
pela inquisiccedilatildeo eclesiaacutestica Os judeus que natildeo se cristianizaram foram expulsos em
1492 e dispersaram-se fundando coloacutenias hispacircnicas pela Europa Aacutesia e Norte de
Aacutefrica Aiacute cultivaram a sua liacutengua e escreveram livros em castelhano emergindo figuras
notaacuteveis como o economista e escritor Joseacute Penso de La Vega Miguel de Barrios Juan
de Prado Isaac Cardoso Abraham Zacuto Isaac Orobio e Manuel de Pina Em Janeiro
de 1492 Castela conquista o bastiatildeo mouro de Granada finalizando a etapa poliacutetica
muccedilulmana peninsular ainda que uma minoria mourisca aiacute continuasse a habitar mais
ou menos tolerada ateacute ao reinado de Felipe III
Em Outubro desse mesmo ano Cristoacutevatildeo Colombo chega agrave Ameacuterica A chegada agraves
ldquoiacutendiasrdquo por ocidente foi considerado pelo historiador Pierre Vilar17
o gesto mais
extraordinaacuterio da histoacuteria da Humanidade Ainda nesse ano foi celebrado o Tratado de
Tordesilhas entre D Joatildeo II e os Reis Catoacutelicos Como o nome indica este Tratado foi
assinado na povoaccedilatildeo castelhana de Tordesilhas a 7 de Junho de 1494 celebrado entre
o Reino de Portugal e o Reino da Espanha para dividir as terras descobertas e por
descobrir Este tratado surgiu na sequecircncia da contestaccedilatildeo portuguesa agraves pretensotildees da
Coroa espanhola resultantes da viagem de Cristoacutevatildeo Colombo que ano e meio antes
17
Pierre Vilar foi um historiador francecircs Estaacute considerado uma das maacuteximas autoridades no estudo da
Histoacuteria de Espanha tanto no periacuteodo do Antigo Regime como na Idade Contemporacircnea
14
chegara ao chamado Novo Mundo reclamando-o oficialmente para Isabel a Catoacutelica O
tratado foi ratificado pela Espanha a 2 de Julho e por Portugal a 5 de Setembro de 1494
Durante o apogeu cultural e econoacutemico desta eacutepoca Espanha alcanccedilou prestiacutegio
internacional e influenciou culturalmente a Europa Tudo quanto provinha de Espanha
foi amiuacutede imitado e divulgou-se a aprendizagem e estudo do castelhano
As aacutereas culturais mais cultivadas foram a literatura as artes plaacutesticas a muacutesica e a
arquitectura O saber foi-se acumulando e disseminado pelas prestigiadas universidades
de Salamanca e Alcalaacute de Henares
As cidades mais importantes foram Sevilha por receber as riquezas coloniais e dos
comerciantes e banqueiros europeus Madrid como sede da corte e ainda as cidades de
Toledo Valecircncia e Saragoccedila
Com a anexaccedilatildeo dinaacutestica e a formaccedilatildeo da monarquia dual ibeacuterica sob a coroa dos
Habsburgo a dinastia dos Felipes tenta criar o maior impeacuterio global no final do seacuteculo
XVI e primeira metade do seacuteculo XVII18
Com o nascimento do mito do ldquoEl Doradordquo (um suposto rei de uma regiatildeo auriacutefera
inventado pelos nativos colombianos) em 1538 acelerou-se a corrida aos metais
preciosos da Ameacuterica pelos ldquoconquistadoresrdquo espanhoacuteis Em 1547 o famoso mineiro de
Potosi nos Andes comeccedilava a sua exploraccedilatildeo intensiva de prata e em 1560 a invenccedilatildeo
de um novo meacutetodo de refinaccedilatildeo com mercuacuterio vindo das minas espanholas levou ao
disparo do negoacutecio superando a produccedilatildeo de ouro
O pico da importaccedilatildeo de prata para Espanha ocorre no quinqueacutenio de 1591-159519
No Oriente os castelhanos estabeleceram-se em Cebu desde 1565 e dois Navios da
Armada Miguel Lopez de Legazpi conseguiram estabelecer uma nova rota transpaciacutefica
mais a norte para o Meacutexico Em 1571 ocupavam a baiacutea de Manila e em 1574
exploravam as ilhas Borneacuteu e a Nova Guineacute A carreira regular entre o Meacutexico e as
Filipinas entre Acapulco e Manila pretendeu pocircr em xeque a carreira da Iacutendia
portuguesa20
Felipe II sofreu em larga medida do messianismo de seu avocirc portuguecircs D Manuel
I e viu em seu redor desenvolver-se uma retoacuterica imperialista e universalista herdada de
seu pai Carlos V O poeta-soldado Hernando de Acuntildea anunciara num poema dirigido a
18
RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 358 19
RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 348-349 20
RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 349
15
Carlos V que estava proacuteximo o dia em que se realizaria a maacutexima universal um
monarca um impeacuterio e uma espada
Espanha atingia entatildeo o auge de seu Siglo de Oro com um impeacuterio onde ldquoel Sol
no se poniacuteardquo desde o Virreinato de Nueva Espantildea (Ameacuterica Norte e Central) ateacute agraves
Filipinas o que levava os estrategos da Corte dos Felipes a sonhar com uma ldquomonarquia
mundialrdquo Mais tarde o aristocrata andaluz Gaspar Felipe de Guacutezman o famoso Conde-
Duque de Olivares adoptando uma expressatildeo de Gil Vicente afirmou ldquoDios es espantildeol
y estaacute de parte de la nacioacuten estos diasrdquo (Deus eacute espanhol e faz parte da naccedilatildeo nos dias de
hoje)
Ainda na vigecircncia do reinado de Felipe II (1556-1598) satildeo de salientar os
acontecimentos que iriam dar iniacutecio ao processo de decadecircncia deste siglo
Iniacutecio dos ataques sistemaacuteticos dos corsaacuterios ingleses agraves possessotildees
espanholas das Ameacutericas
O desastre da Grande y Feliciacutessima Armada (mais conhecida como
ldquoInvenciacutevel Armadardquo) que partira de Lisboa em 1588 (levando boa parte da
armada portuguesa que natildeo regressou) para invadir e subjugar a Inglaterra
A derrota frente aos ingleses na batalha naval do estreito de Gibraltar em
159021
Depois da morte de Felipe II uma atmosfera de desengantildeo de desilusatildeo nacional
apoderou-se de Espanha ndash segundo Elliot a obra imortal El Inginioso Hidalog Don
Quixote de La Mancha (1605 e 1614) de Miguel de Cervantes Saavedra eacute
provavelmente o expoente dessa eacutepoca de decliacutenio estrateacutegico que se iria estender pelo
reinado do filho e neto de Felipe II22
Na realidade o Siglo de Oro espanhol durou menos de sessenta anos A decadecircncia
comeccedilou na aclamaccedilatildeo de Felipe II em 1581 como rei portuguecircs nas Cortes de Tomar
e termina nas deacutecadas de 1630 e 1640 com Felipe IV (III em Portugal) Este uacuteltimo
coroado aos dezasseis anos de idade entregou o governo do impeacuterio ao Conde-Duque
de Olivares Durante o vinteacutenio compreendido entre 1623 e 1643 eacute o Conde-Duque de
Olivares que exerceraacute o controlo efectivo sobre o Estado espanhol A notoacuteria rivalidade
com o cardeal de Richelieu (Franccedila) arrastou a Espanha para a Guerra dos Trinta Anos
e a diversos conflitos paralelos com a Itaacutelia e com os Paiacuteses Baixos O desgaste causado
21
RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 358-360 22
RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 373
16
pelos vaacuterios conflitos o decliacutenio da induacutestria e do comeacutercio devido ao esgotamento dos
recursos das coloacutenias espanholas e a restauraccedilatildeo da coroa portuguesa (em 1640)
desacreditaram a sua gestatildeo Destituiacutedo do cargo exilou-se no norte de Espanha e
passou seus uacuteltimos anos submetido agraves investigaccedilotildees da Inquisiccedilatildeo ateacute seu falecimento
em 1645
Sucedeu-se ainda um quadro de desaires no final da Guerra dos Trinta Anos (1618-
1648) de que passo a citar os mais importantes
As derrotas infligidas na batalha naval ao largo de Downs no canal da
Mancha Esta derrota naval eacute considerada pelos proacuteprios estrategos espanhoacuteis
como o momento de perda da hegemonia naval
Em 1639 a infligida pelos holandeses comandados por Maarten Tromp
Em 1643 em Rocroi derrotados pelos franceses
A reconquista da Independecircncia dos portugueses em 1640
A revolta da Catalunha que se converte num protectorado francecircs
A derrota de Lens em 1648 de novo agraves matildeos dos franceses
14 O ciclo holandecircs e a hegemonia inglesa
Se Portugal de Quinhentos foi o pioneiro do verdadeiro comeacutercio internacional
foram os hegemonistas seguintes holandeses e ingleses que souberam inovar para dele
tirar proveito efectivo
Alguns historiadores desenharam esta imagem sugestiva ndash o papel dos portugueses
foi entatildeo ldquoo de lanccedilarem catildees para espantarem a caccedila que depois foi apanhada por
outrosrdquo23
Natildeo foi por acaso que os holandeses ficaram conhecidos no seacuteculo XVII como os
ldquocarreteiros do marrdquo com uma frota que era o dobro da de Inglaterra e Franccedila juntas24
ldquoLanccedilaram-se ao mar e tornaram-se os transportadores das mercadorias mundiais Os
23
BOXER 2001 32 Imagem atribuiacuteda por Charles R Boxer ao capitatildeo holandecircs Willem Bosman 24
RODRIGUES 1997 280 (volume I)
O contraste no periacuteodo de 1600-1700 foi brutal a frota comercial portuguesa baixou de uma meacutedia de
700 navios (no periacuteodo de Quinhentos) para quase metade e a holandesa disparou de menos de 100 para
1770 contra 811 ingleses e 155 franceses
17
barcos holandeses iam a toda a parte levando mercadoria de todo o mundo a todo o
lugarrdquo dizia Leo Huberman25
Aos holandeses e ingleses caberia inovarem no empreendorismo capitalista
justamente onde falhou o ldquocapitalismo monaacuterquico portuguecircsrdquo o que gerou a croacutenica
desvantagem competitiva que marcaria a evoluccedilatildeo do comeacutercio a partir dos comeccedilos do
seacuteculo XVII
A esse conjunto de inovaccedilotildees anglo-holandesas entre 1600 e 1700 poderemos
chamar de revoluccedilatildeo de softpower ndash mais poderoso do que o militarismo religioso
apelidado de ldquodilataccedilatildeo da feacuterdquo que os portugueses e espanhoacuteis pretenderam usar como
arma ideoloacutegica de consolidaccedilatildeo das ldquoDescobertasrdquo26
O primeiro aspecto inovador do softpower da potecircncia emergente foi juriacutedico27
A
doutrina do Mare Clausum defendida e aplicada pelos portugueses foi contestada O
holandecircs Hugo Grotius formulou em De Jure Pradae28
(1604) e Mare Liberum (1609)
a ideia de que haveria um direito natural de navegaccedilatildeo livre no mar alto O oceano seria
um bem puacuteblico comum onde natildeo se aplicavam os direitos de conquista nem a lei
consuetudinaacuteria ldquoEm virtude deste direito (de mar livre) o comeacutercio estaacute aberto a toda
a genterdquo afirma Grotius que termina a sua obra Mare Liberum dizendo que eacute preciso
natildeo recuar perante a guerra se os portugueses mantiverem a sua doutrina do Mare
Clausum Grotius respondia tambeacutem a uma decisatildeo de James I de Inglaterra que no
iniacutecio de 1609 decretara a obrigatoriedade de licenccedilas nos mares em redor das costas
inglesas o que prejudicou seriamente os holandeses
O segundo aspecto foi poliacutetico-comercial Foram por sua vez os ingleses que
criaram um novo tipo de companhia trading baseada numa sociedade por acccedilotildees em
que a proacutepria rainha da altura Elizabeth I participava como accionista e sem a
dependecircncia do circuito dos banqueiros alematildees e italianos A primeira dessas
companhias em finais de 1600 tinha o estranho nome de ldquoGovernador e Companhia
dos Aventurosos Mercadores para a descoberta de regiotildees domiacutenios ilhas e lugares
desconhecidosrdquo e contava em Londres com 240 accionistas que investiram 25 libras
25
HUBERMAN 1970 45 26
RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 397 27
O debate entre o Mare Clausum e o Mare Liberum estaacute muito bem documentado no livro de Wilhelm
Grewe intitulado The Epochs of International Law republicado pela editora Walter de Gruyer em 2000
Berlim e Nova York 28
Grotius refere nesta obra supracitada a captura em Malaca de um barco portuguecircs por um navio da
companhia holandesa VOC
18
cada um (na eacutepoca uma soma de certa importacircncia29
) Esta deu origem mais tarde ao
aparecimento da famosa Companhia Inglesa das Iacutendias Orientais Honourable East India
Company Em 1602 foi a vez de os holandeses criarem a Companhia das Indias
Orientais a conhecida VOC (acroacutenimo de Verenidge Oost-indische Compagnie) que
agrupou nove companhias por acccedilotildees depois do ensaio com a inicial Compagnie Van
Verre (Companhia das Terras Longiacutenquas) criadas em 1594
Estas companhias natildeo eram meramente comerciais eram bem mais do que isso
Funcionavam como uma ferramenta poliacutetica multifuncional pois natildeo soacute criavam a
infra-estrutura para o comeacutercio internacional como tambeacutem serviam de arma poliacutetico-
ideoloacutegica (exercendo softpower) coerciva (cobrando impostos) e militar (aplicando o
hardpower)30
Por alguns satildeo consideradas exemplos de ldquoactores natildeo estaduaisrdquo com
dimensatildeo multinacional a quem os monarcas atribuiacuteam poderes soberanos nas regiotildees
de expansatildeo ao contraacuterio dos ibeacutericos que exerciam o poder ultramarino atraveacutes de
vice-reis Posteriormente os franceses copiaram o modelo anglo-holandecircs na sua
projecccedilatildeo nas Ameacutericas e na Iacutendia mas com menos sucesso devido agrave sua inferioridade
na projecccedilatildeo oceacircnica
Em 1609 os holandeses fundaram o Amesterdamsche Wisselbank (Banco de
Amesterdatildeo) sobre o qual Adam Smith escreveu vaacuterios paraacutegrafos na sua obra mais
ceacutelebre31
e em 1694 surgiu o Bank of England32
De salientar ainda a mudanccedila no exerciacutecio de hardpower nos mares Eacute um aspecto a
que muitos historiadores designaram ldquorevoluccedilatildeo militarrdquo ocorrida ao longo da primeira
metade do seacuteculo XVII visto que os ingleses e holandeses inovaram em termos de
velocidade flexibilidade (aperfeiccediloamento da capacidade de bolinar) e posicionamento
da artilharia a bordo dos navios33
29
HUBERMAM ibidem nt 12 30
HUTTON 2006 70 31
SMITH 1776 livro IV capiacutetulo 3 parte I 32
RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 398-400 33
RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 402
19
15 A Burguesia e a Revoluccedilatildeo Industrial
O incremento do comeacutercio mariacutetimo permitiu que os produtos do Oriente
chegassem agrave Europa e vice-versa Este comeacutercio apesar do risco impliacutecito nas viagens
era altamente rentaacutevel (bastava uma caravela chegar do Oriente com especiarias para
cobrir os custos totais da frota)
As transacccedilotildees comerciais realizadas pelos europeus atraveacutes das suas rotas
mariacutetimas permitiram o enriquecimento das classes sociais vigentes e contribuiacuteram
ainda em grande escala para o aparecimento de uma nova classe social ldquoendinheiradardquo
ndash a Burguesia
Os burgueses eram os habitantes dos burgos que eram pequenas ldquocidadesrdquo
protegidas por muros Eram ldquogentesrdquo de elevado estatuto econoacutemico embora de baixo
niacutevel cultural e social Por isso se compreende agrave luz da eacutepoca que tenham sido
ostracizados pela nobreza
Com o mundo e o comeacutercio ligado em rede ndash mercado global ndash a procura mundial
disparou e consequentemente tornou-se mais premente aumentar a oferta
O ldquonegoacutecio mariacutetimordquo indissociaacutevel da burguesia favoreceu a acumulaccedilatildeo de
capitais na Europa Posteriormente esta acumulaccedilatildeo de capital serviu de suporte
financeiro agrave Revoluccedilatildeo Industrial
A Revoluccedilatildeo Industrial consistiu num conjunto de mudanccedilas tecnoloacutegicas34
com
profundo impacto no processo produtivo que se reflectiu no desenvolvimento
econoacutemico e social na Europa A era industrial provocou uma ruptura com o passado
Foi iniciada em Inglaterra em meados do seacuteculo XVIII e rapidamente se expandiu a
partir do seacuteculo XIX
Entre as novas aplicaccedilotildees tecnoloacutegicas saliento a importacircncia da aplicaccedilatildeo do
motor a vapor em navios que veio encurtar a distacircncia entre os portos e
simultaneamente aumentar a capacidade de circulaccedilatildeo de pessoas e mercadorias Este
momento marcou o decliacutenio do ciclo de navegaccedilatildeo comercial agrave vela
A Revoluccedilatildeo Industrial eacute o ponto culminante de uma evoluccedilatildeo tecnoloacutegica
econoacutemica e social que se vinha processando na Europa desde a Idade Meacutedia com
34
James Watt em 1765 introduz na Gratilde-Bretanha o condensador na maacutequina de Newcomen componente
que aumenta consideravelmente a eficiecircncia da maacutequina a vapor
20
maior ecircnfase nos paiacuteses onde a Reforma protestante tinha conseguido destronar a
influecircncia da Igreja Catoacutelica Nos paiacuteses fieacuteis ao catolicismo a Revoluccedilatildeo Industrial
eclodiu em geral mais tarde
O seacuteculo XIX no plano das relaccedilotildees internacionais foi marcado pela hegemonia
mundial britacircnica de expansatildeo colonialista e pelo aparecimento das primeiras lutas e
conquistas dos trabalhadores O trono britacircnico foi ocupado pela rainha Vitoacuteria (1837-
1901) razatildeo pela qual esse periacuteodo eacute denominado por Era Vitoriana No final deste
seacuteculo a busca de novas regiotildees para colonizar e descarregar os produtos (maciccedilamente
produzidos pela revoluccedilatildeo industrial) levou a uma acirrada disputa entre as potecircncias
industrializadas causando diversos conflitos e um crescente espiacuterito armamentista que
culminou mais tarde na eclosatildeo da Primeira Guerra Mundial (1914)
Statue of Prince Henry the Navigator ndash Belgrave Square London35
35
Estaacutetua em homenagem ao Infante D Henrique Belgrave Square em Londres
21
Cap II ndash O Livro Verde da Poliacutetica Mariacutetima Integrada Europeia
21 Fundamentos da Poliacutetica Mariacutetima Integrada Europeia
Partimos da definiccedilatildeo de fundamento eacute o que daacute consistecircncia e seguranccedila o que
daacute coesatildeo agraves partes do todo que ele mesmo estrutura e sustenta36
No capiacutetulo precedente dedicado a um breve enquadramento histoacuterico destaquei as
principais naccedilotildees europeias que contribuiacuteram fortemente para identidade mariacutetima da
Europa Facto eacute que hoje em dia em pleno seacuteculo XXI eacute inconcebiacutevel olhar para
Europa e imaginaacute-la sem mar ou negar a sua importacircncia no quotidiano dos europeus
De referir que na Uniatildeo Europeia a 27 apenas 5 Estados-membros natildeo satildeo paiacuteses
costeiros o que demonstra desde logo a importacircncia da temaacutetica mariacutetima no contexto
europeu Este eacute sem duacutevida um dos desafios que a Europa enfrenta e que passo a
apresentar neste capiacutetulo dedicado ao Livro Verde da Poliacutetica Mariacutetima Integrada
Europeia
Qualquer cidadatildeo europeu se lembraraacute dos relatos das grandes viagens de
descobrimentos que revelaram aos nossos antepassados a vastidatildeo a diversidade de
culturas e a riqueza de recursos do nosso planeta O ecircxito destas viagens que na sua
maioria eram mariacutetimas exigia quase sempre espiacuterito de abertura a ideias novas e um
planeamento meticuloso aleacutem de extraordinaacuteria coragem e forte determinaccedilatildeo Graccedilas a
elas natildeo soacute foram sendo desvendadas ao longo do tempo regiotildees do mundo antes
desconhecidas como tambeacutem apareceram novas tecnologias como por exemplo o
astrolaacutebio (instrumento naval usado para medir a altura dos astros acima da linha do
horizonte) o cronoacutemetro mariacutetimo (destinado a calcular a longitude exacta) e a turbina a
vapor (que permitiu escapar agrave tirania dos ventos dominantes)
A densidade populacional nas zonas do litoral europeu foi sempre elevada No mar
encontraram um meio de subsistecircncia pescadores e marinheiros mas tambeacutem sauacutede e
prazer novos horizontes para sonhar e um rico reportoacuterio de vocaacutebulos e metaacuteforas
36
Enciclopeacutedia Luso Brasileira vol 8 1794
22
presentes tanto na literatura como no quotidiano Fonte de romance de uniatildeo mas
tambeacutem de separaccedilotildees perigos desconhecidos e sofrimento o mar eacute um desafio
permanente e suscita em noacutes uma vontade profunda de melhor o conhecer
A Europa possui mais de 70000 km de orla costeira estaacute rodeada por numerosas
ilhas por quatro mares (Mediterracircneo Baacuteltico do Norte e Negro) e por dois oceanos
(Atlacircntico e Aacuterctico) O continente europeu eacute uma peniacutensula com uma orla costeira de
milhares de quiloacutemetros ndash maior do que a de outras grandes massas continentais como
os Estados Unidos ou a Federaccedilatildeo da Ruacutessia Dada esta configuraccedilatildeo geograacutefica mais
de dois terccedilos das fronteiras da UE satildeo de orla mariacutetima E os espaccedilos mariacutetimos sob
jurisdiccedilatildeo dos Estados-Membros satildeo mais vastos do que os seus espaccedilos terrestres
Graccedilas agraves suas regiotildees ultraperifeacutericas para aleacutem do Oceano Atlacircntico a Europa estaacute
igualmente presente no Oceano Iacutendico e no mar das Caraiacutebas Os desafios colocados por
estas regiotildees no plano mariacutetimo satildeo numerosos e afectam a Uniatildeo Europeia no seu todo
A Europa desde tempos imemoriais essencialmente devido agrave sua geografia sempre
teve uma relaccedilatildeo privilegiada com os oceanos sendo estes determinantes no
desenvolvimento da sua cultura identidade e histoacuteria
Assim continua a ser hoje em dia Num momento em que a Uniatildeo Europeia procura
veementemente revitalizar a economia eacute importante reconhecer o potencial econoacutemico
da dimensatildeo mariacutetima Estima-se que 3 a 5 do produto interno bruto (PIB) europeu
eacute gerado pelas induacutestrias e serviccedilos do sector mariacutetimo sem contar com o valor de
mateacuterias-primas como o petroacuteleo o gaacutes ou o pescado As regiotildees mariacutetimas europeias
representam mais de 40 do PIB da Uniatildeo Europeia
Natildeo obstante os cidadatildeos europeus nem sempre estatildeo bem conscientes da
importacircncia dos oceanos e mares na sua vida Embora saibam que a aacutegua eacute um bem
crucial poderatildeo desconhecer que proveacutem dos oceanos sob a forma ldquorecicladardquo de chuva
ou de neve por exemplo Preocupam-se com as alteraccedilotildees climaacuteticas mas nem sempre
sabem ateacute que ponto satildeo moduladas pelos oceanos Beneficiam da possibilidade de
comprar produtos baratos de todo o mundo sem se aperceberem da complexidade da
rede logiacutestica que o torna possiacutevel37
37
COM (2006) 275 final vol II 3
23
O desenvolvimento sustentaacutevel como se sabe ocupa um lugar preponderante na
agenda de trabalhos da Uniatildeo Europeia O desafio consiste em assegurar o reforccedilo
muacutetuo do crescimento econoacutemico da coesatildeo social e da protecccedilatildeo do ambiente
Ora a PMIE tem a oportunidade de aplicar aos oceanos o princiacutepio do
desenvolvimento sustentaacutevel Para esse efeito pode tirar partido dos trunfos que sempre
estiveram na base da supremacia no domiacutenio mariacutetimo conhecimento dos oceanos
larga experiecircncia e capacidade para enfrentar novos desafios conjugados com um forte
empenho na protecccedilatildeo dos seus recursos38
A Europa depois de seacuteculos de ligaccedilatildeo aos mares e oceanos assume a partir de
2007 a coordenaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas ligadas ao espaccedilo mariacutetimo e costeiro
europeu Todavia o objectivo de alcanccedilar uma poliacutetica mariacutetima mais integrada natildeo eacute
exclusivo da Europa eacute algo que tem vindo a ser implementado igualmente por paiacuteses de
outras regiotildees do mundo como a Austraacutelia o Canadaacute ou os Estados Unidos
22 Potencialidades das principais actividades mariacutetimas da Uniatildeo Europeia
A Uniatildeo Europeia eacute a primeira potecircncia mariacutetima mundial especialmente no que
diz respeito ao transporte mariacutetimo agraves teacutecnicas de construccedilatildeo naval ao turismo costeiro
agrave energia offshore incluindo as energias renovaacuteveis e serviccedilos associados No futuro
segundo um estudo do Irish Marine Institute39
os sectores com maior potencial de
crescimento seratildeo o sector dos cruzeiros e portuaacuterio a aquicultura as energias
renovaacuteveis as telecomunicaccedilotildees submarinas e a biotecnologia marinha
O transporte mariacutetimo e os portos satildeo essenciais para o comeacutercio internacional pois
90 do comeacutercio externo da Uniatildeo Europeia e mais de 40 do seu comeacutercio interno eacute
efectuado por via mariacutetima A Uniatildeo Europeia com 40 da frota mundial eacute
incontestavelmente o liacuteder deste sector global Anualmente 35 mil milhotildees de
toneladas de mercadorias e 350 milhotildees de passageiros transitam pelos portos mariacutetimos
europeus Cerca de 350000 pessoas trabalham nos portos e nos serviccedilos associados
38
COM (2006) 275 final vol II 4 39
Para mais informaccedilotildees sobre o Irsih Marine Institute httpwwwmarineie
24
que no seu conjunto geram um valor acrescentado de aproximadamente 20 mil milhotildees
de euros40
Com o aumento do volume do comeacutercio mundial e o desenvolvimento do
transporte mariacutetimo de curta distacircncia e das ldquoauto-estradasrdquo mariacutetimas as perspectivas
para estes sectores satildeo de crescimento contiacutenuo O transporte mariacutetimo eacute um catalisador
para outros sectores nomeadamente a construccedilatildeo naval e os equipamentos mariacutetimo-
portuaacuterios
Os serviccedilos mariacutetimos associados como os seguros a banca a intermediaccedilatildeo a
classificaccedilatildeo e a consultoria satildeo mais um domiacutenio em que a Europa deve manter a sua
lideranccedila
Os oceanos e os mares geram igualmente receitas graccedilas ao turismo Estima-se que
o volume de negoacutecios directo do sector do turismo mariacutetimo na Europa tenha sido de 72
mil milhotildees de euros em 2004 Os turistas que passam feacuterias no litoral usufruem do mar
da praia e da zona costeira de formas muito diversas Muitos destinos turiacutesticos devem a
sua popularidade agrave proximidade do mar e dependem da qualidade ambiental deste Para
a sustentabilidade do turismo em geral e em particular do ecoturismo sector que se
encontra em raacutepida expansatildeo eacute pois crucial prever um elevado niacutevel de protecccedilatildeo das
zonas costeiras e do meio marinho O turismo gera ainda trabalho para a induacutestria da
construccedilatildeo naval
O sector europeu dos cruzeiros tambeacutem se desenvolveu fortemente nos uacuteltimos
anos registando uma taxa de crescimento anual superior a 10 Os navios de cruzeiro
satildeo praticamente todos construiacutedos na Europa O turismo de cruzeiro contribui para o
desenvolvimento das zonas costeiras e insulares
O sector da naacuteutica de recreio registou igualmente um aumento constante nos
uacuteltimos anos prevendo-se que o seu crescimento anual na Uniatildeo Europeia seja de 5 a
641
Nenhuma outra forma de lazer colectivo abrange um leque tatildeo grande de idades
interesses e locais42
O mar desempenha um papel essencial na competitividade no desenvolvimento
sustentaacutevel e na seguranccedila do aprovisionamento energeacutetico os quais constituem
40
Contributo da Organizaccedilatildeo dos Portos Mariacutetimos Europeus (ESPO) para o Livro Verde 41
Contributo da European Union Recreational Marine Industry Group (EURMIG) para o Livro Verde
Este sector inclui nomeadamente a construccedilatildeo de embarcaccedilotildees a electroacutenica de ponta para fabrico de
motores e equipamentos mariacutetimos o financiamento e a construccedilatildeo e exploraccedilatildeo de infra-estruturas 42
Contributo da European Boating Association (EBA) para o Livro Verde
25
objectivos essenciais identificados pela Comissatildeo Europeia43
e pelos Chefes de Estado
e de Governo44
O mar do Norte eacute depois da Ruacutessia dos Estados Unidos e da Araacutebia
Saudita a quarta maior fonte de petroacuteleo e de gaacutes no mundo45
Os mares em torno da
Europa desempenham tambeacutem um importante papel no sector da energia na medida em
que permitem o transporte por um nuacutemero crescente de navios-tanque de uma grande
parte do petroacuteleo e do gaacutes consumidos na Europa
Por outro lado o vento as correntes oceacircnicas as ondas e mareacutes representam uma
vasta fonte de energia inesgotaacutevel Convenientemente explorados estes tipos de
energias poderiam assegurar uma importante parte do abastecimento de electricidade em
muitas zonas costeiras da Europa e contribuir assim para o desenvolvimento econoacutemico
e a criaccedilatildeo de emprego com caraacutecter duradouro
As empresas europeias desenvolvem know-how na aacuterea das tecnologias marinhas
natildeo soacute no domiacutenio da exploraccedilatildeo de hidrocarbonetos no mar como tambeacutem nos dos
recursos marinhos renovaacuteveis das actividades em aacuteguas profundas da investigaccedilatildeo
oceanograacutefica dos veiacuteculos e robocircs subaquaacuteticos das obras mariacutetimas e da engenharia
costeira Essas tecnologias satildeo cada vez mais utilizadas e estimularatildeo o crescimento do
sector europeu das tecnologias marinhas especialmente nos mercados mundiais de
exportaccedilatildeo
Por fim a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Alimentaccedilatildeo e a Agricultura
(FAO)46
indica que caberaacute agrave aquicultura satisfazer a nova procura mundial no mercado
de consumo de pescado A dificuldade consiste em gerir este aumento de procura de
uma forma sustentaacutevel e compatiacutevel com o ambiente A competiccedilatildeo pelo espaccedilo pode
tambeacutem constituir um importante problema em algumas zonas costeiras A aquicultura
poderaacute distanciar-se da costa o que exigiraacute novos trabalhos de investigaccedilatildeo e
desenvolvimento da tecnologia de cultura em jaulas offshore47
A Uniatildeo Europeia eacute uma das principais potecircncias de pesca ao niacutevel mundial e o
maior mercado de produtos transformados agrave base de peixe Embora o nuacutemero de
pescadores na Uniatildeo Europeia tenha vindo a baixar ao longo dos anos o sector das
43
COM (2006) 105 final 44
Conclusotildees da Presidecircncia do Conselho Europeu de 23 e 24 de Marccedilo de 2006 45
Contributo da International Association of Oil and Gas Producers (OGP) para o Livro Verde 46
O estado das pescas e da aquicultura no mundo FAO 2004 47
COM (2002) 511 final
26
pescas no seu conjunto emprega ainda cerca de 526000 pessoas48
Satildeo proporcionados
numerosos postos de trabalho natildeo soacute no sector da captura como na induacutestria da
transformaccedilatildeo acondicionamento transporte e comercializaccedilatildeo bem como nos
estaleiros faacutebricas de artes de pesca empresas de abastecimento e de manutenccedilatildeo Estas
actividades tecircm uma importacircncia consideraacutevel no tecido econoacutemico e social das zonas
pesqueiras A transiccedilatildeo gradual para pescarias mais sustentaacuteveis prevista pela Uniatildeo
Europeia e o aumento da procura de peixe enquanto alimento saudaacutevel conduzem a
uma maior estabilidade rentabilidade e inclusiveacute crescimento econoacutemico em certos
segmentos do sector das pescas49
Como verificamos as actividades mariacutetimas ainda que dispersas ou diacutevidas por
sectores satildeo efectivamente importantes para o desenvolvimento econoacutemico da Europa
No entanto sendo a Europa um continente proeminentemente mariacutetimo questiono-
me porque eacute que soacute a partir de 2006 surge uma intenccedilatildeo de abordar os assuntos
mariacutetimos como um todo e de forma integrada A resposta eacute complexa Talvez seja o
reflexo de uma Europa tradicionalmente sectaacuteria baseada nos interesses individuais dos
Estados-membros e com a dificuldade em falarem a uma soacute voz Apesar de tardia a
PMIE pode ser uma referecircncia para a Europa na forma como desenvolve e implementa
poliacuteticas axioloacutegicas e integradas contribuindo simultaneamente para uma Europa de
direitos e com valores50
dando assim a todos uma melhor perspectiva de futuro
48
Factos e nuacutemeros sobre a Poliacutetica Comum da Pesca (PCP) CE 2004 49
COM (2006) 275 final volume II 7-9 50
A dignidade humana a liberdade a democracia a igualdade o Estado de Direito o respeito pelos
direitos do Homem satildeo os valores fundamentais da UE consagrados no Preacircmbulo do Tratado de Lisboa
Satildeo comuns a todos os EM e qualquer paiacutes europeu que queira tornar-se membro da UE tem de os
respeitar Defender estes valores bem como a paz e o bem-estar dos povos da Uniatildeo satildeo agora os
objectivos principais da UE Estes objectivos gerais satildeo complementados por objectivos mais especiacuteficos
como a promoccedilatildeo da justiccedila e da protecccedilatildeo sociais e a luta contra a exclusatildeo social e as discriminaccedilotildees
27
23 Livro Verde ndash ldquouma visatildeo para os oceanos e os maresrdquo
ldquo(hellip) torna-se especialmente necessaacuterio termos uma poliacutetica mariacutetima abrangente
orientada para o desenvolvimento de uma economia mariacutetima florescente e para a
plena exploraccedilatildeo do potencial das actividades centradas no mar e de uma forma
sustentaacutevel para o ambiente Esta poliacutetica deve assentar na excelecircncia da investigaccedilatildeo
cientiacutefica da tecnologia e da inovaccedilatildeo mariacutetimardquo Cit nos objectivos estrateacutegicos da
Comissatildeo Europeia para 2005-2009
A Comissatildeo Europeia em Junho de 2006 apresentou um Livro Verde sobre os
diferentes aspectos de uma futura poliacutetica mariacutetima comunitaacuteria Esta obra realccedilou a
identidade e a supremacia mariacutetimas da Europa que devem ser preservadas num
periacuteodo em que as pressotildees sobre o ambiente comprometem a perenidade das
actividades mariacutetimas A poliacutetica mariacutetima deve consequentemente ter por objectivo a
formaccedilatildeo de um sector mariacutetimo inovador competitivo e respeitador do ambiente Para
aleacutem das actividades mariacutetimas a abordagem proposta integra tambeacutem a qualidade de
vida nas regiotildees costeiras O Livro Verde teve como objectivo lanccedilar um debate sobre
uma futura poliacutetica mariacutetima para a Uniatildeo Europeia caracterizado por uma abordagem
holiacutestica dos oceanos e dos mares
Ele tornou claro que num periacuteodo em que os recursos estatildeo ameaccedilados por
pressotildees fortes e pela crescente capacidade tecnoloacutegica de os explorar soacute uma atitude
de profundo respeito pelos oceanos e pelos mares nos permitiraacute continuar a desfrutar
dos benefiacutecios que eles nos oferecem A reduccedilatildeo acelerada da biodiversidade marinha
devido nomeadamente agrave poluiccedilatildeo ao impacto das alteraccedilotildees climaacuteticas e agrave sobrepesca
eacute desde jaacute um sinal de alarme inequiacutevoco que natildeo se pode ignorar
Assim o Livro Verde baseou-se nas poliacuteticas e iniciativas da UE existentes e
insere-se no contexto da Estrateacutegia de Lisboa procurando estabelecer o justo equiliacutebrio
entre as dimensotildees econoacutemica social e ambiental
Como tal contribuiu largamente para que os europeus adquirissem uma nova
consciecircncia da grandeza do seu patrimoacutenio mariacutetimo da importacircncia dos oceanos e do
potencial dos oceanos para melhorar o bem-estar e aumentar as oportunidades
econoacutemicas
28
A Comissatildeo Europeia postulou que a poliacutetica mariacutetima comunitaacuteria deve alicerccedilar-
se em dois pilares fundamentais
Em primeiro lugar deve estar ancorada na Estrateacutegia de Lisboa estimulando o
crescimento e a criaccedilatildeo de mais e melhores empregos O investimento permanente no
conhecimento e nas competecircncias eacute um factor essencial para manter a competitividade e
garantir empregos de qualidade
Em segundo lugar deve manter e melhorar o estado do recurso em que se baseiam
todas as actividades mariacutetimas ou seja o oceano propriamente dito
Embora a utilizaccedilatildeo destes pilares como base para a nova poliacutetica mariacutetima possa
parecer relativamente simples haacute que natildeo descurar duas caracteriacutesticas especiacuteficas do
meio marinho
A primeira consiste na natureza global dos oceanos que faz com que as relaccedilotildees
entre paiacuteses sejam ao mesmo tempo complementares e concorrenciais Para regular as
actividades mariacutetimas no interesse do desenvolvimento sustentaacutevel ao niacutevel mundial eacute
necessaacuterio elaborar regras aplicaacuteveis universalmente Contudo cada parcela de oceano e
de mar eacute singular e pode exigir as suas proacuteprias regras e uma gestatildeo mais especiacutefica
Esta aparente contradiccedilatildeo eacute ilustrativa do motivo pelo qual a natureza global dos
oceanos representa um tatildeo grande desafio para os decisores poliacuteticos
O outro desafio que se oferece a uma boa governaccedilatildeo mariacutetima directamente
ligado ao aspecto anterior prende-se com a multiplicidade dos intervenientes
Numerosas satildeo as poliacuteticas sectoriais que surgiram e que existem a todos os niacuteveis de
poder comunitaacuterio nacional regional e local Pode acontecer que intervenientes de
agecircncias e paiacuteses diferentes ou organizaccedilotildees internacionais estejam melhor colocados
para adoptar as propostas de acccedilatildeo Contudo para que as decisotildees sejam tomadas a um
niacutevel mais proacuteximo dos interessados cumprindo-se o princiacutepio da subsidiariedade soacute
devem ser desenvolvidas acccedilotildees ao niacutevel da Uniatildeo Europeia se tal conferir valor
acrescentado agraves actividades de outros51
51
COM (2006) 275 final volume II 5-6
29
24 Aacutereas-chave no Livro Verde
Do Livro Verde constam diversas aacutereas-chave que passamos a analisar
Meio marinho
O meio marinho enfrenta nomeadamente os seguintes problemas diminuiccedilatildeo
acelerada da biodiversidade (consequecircncias na realizaccedilatildeo do potencial da
ldquobiotecnologia azulrdquo) exploraccedilatildeo excessiva dos recursos (consequecircncias para a pesca)
alteraccedilotildees climaacuteticas (consequecircncias para a pesca e para o turismo costeiro) poluiccedilatildeo
com origem terrestre acidificaccedilatildeo da aacutegua do mar e a poluiccedilatildeo provocada pelas
descargas dos navios e os acidentes mariacutetimos (na falta de melhor seguranccedila mariacutetima)
Para diminuir o impacto destes fenoacutemenos no meio-ambiente marinho deveraacute reforccedilar-
se a legislaccedilatildeo no domiacutenio da seguranccedila mariacutetima introduzir-se a avaliaccedilatildeo de riscos na
elaboraccedilatildeo das poliacuteticas e aplicar novas tecnologias ao niacutevel do tratamento de aacuteguas de
lastro52
Investigaccedilatildeo
A investigaccedilatildeo eacute essencial para se poder definir estrateacutegicas e tomar decisotildees com
conhecimento de causa Todavia os EM podem ir mais longe coordenando os seus
programas de investigaccedilatildeo nacionais a fim de realizar uma investigaccedilatildeo pan-europeia e
racionalizando meios A cooperaccedilatildeo entre investigadores e criadores de novas
tecnologias assume tambeacutem especial importacircncia
Inovaccedilatildeo
A inovaccedilatildeo pode ajudar a encontrar soluccedilotildees em domiacutenios em franca mutaccedilatildeo
como eacute o caso das energias e das alteraccedilotildees climaacuteticas As soluccedilotildees encontradas podem
tambeacutem beneficiar paiacuteses terceiros quando estes optarem por um desenvolvimento
sustentaacutevel e assim poderatildeo constituir uma vantagem competitiva para estes A energia
52
Aacutegua de lastro eacute a aacutegua do mar captada pelo navio para garantir a seguranccedila operacional e estabilidade
do mesmo Em geral os tanques satildeo preenchidos com maior ou menor quantidade de aacutegua para aumentar
ou diminuir o calado dos navios durante as operaccedilotildees portuaacuterias A aacutegua de lastro eacute um risco pelo facto de
transportar espeacutecies exoacuteticas dentro dos tanques dos navios Os seres vivos introduzidos pela aacutegua de
lastro podem variar entre organismos milimeacutetricos ateacute peixes com 30 centiacutemetros Satildeo inuacutemeros os
registos de ldquobioinvasatildeordquo por meio da aacutegua de lastro no mundo inteiro
30
eoacutelica as turbinas movidas pelas correntes de mareacute e os recursos de gaacutes e de petroacuteleo
dos grandes fundos marinhos podem representar novas fontes de energia
Matildeo-de-obra ldquosaber-fazerrdquo
As actividades mariacutetimas precisam de atrair pessoas altamente qualificadas No
entanto embora no seu conjunto o emprego no sector mariacutetimo europeu seja estaacutevel53
o nuacutemero de mariacutetimos europeus estaacute a diminuir Ou seja apesar de diminuir o nuacutemero
de trabalhadores no sector das pescas o sector foi compensado por pujantes serviccedilos
mariacutetimos tais como turismo e transporte mariacutetimo
O recrutamento em nuacutemero suficiente de mariacutetimos e outros profissionais bem
formados e competentes eacute essencial para garantir a sobrevivecircncia do sector mariacutetimo
assim como para manter a vantagem concorrencial da Europa
O ensino e a formaccedilatildeo no domiacutenio mariacutetimo devem ter por objectivo conferir aos
potenciais candidatos as mais elevadas competecircncias que possam abrir muacuteltiplas
perspectivas profissionais
A excelecircncia dos candidatos a emprego soacute seraacute garantida se se conseguir atrair para
o ensino e formaccedilatildeo no domiacutenio mariacutetimo os jovens mais capazes Eacute nesse quadro que
importa lutar contra a imagem do sector Eacute essencial oferecer aos mariacutetimos homens e
mulheres condiccedilotildees de vida e de trabalho adequadas ao niacutevel das expectativas a que os
europeus se habituaram com toda a legitimidade
Formaccedilatildeo de clusters54
O desenvolvimento de uma percepccedilatildeo comum das articulaccedilotildees possiacuteveis entre os
diferentes sectores mariacutetimos permitiraacute melhorar a imagem e aumentar a atractividade e
produtividade destes Estes agrupamentos de empresas e de profissionais que abrangem
todos os sectores de actividade podem assumir diversas formas Assim no domiacutenio
mariacutetimo eacute preciso distinguir os clusters nacionais ndash que servem frequentemente de
53
Ver o documento ldquoEmployment social and training aspects of maritime and fishing industries and
related sectorsrdquo httpeceuropaeumaritimeaffairspdfSEC(2006)_68920_2pdf 54
Remetendo em inglecircs para a noccedilatildeo de conjunto o termo ldquoclusterrdquo designa um agrupamento de
empresas do mesmo sector presentes na maior parte das vezes numa mesma bacia de emprego Mais
precisamente segundo Michael E Porter da Universidade de Harvard um cluster eacute ldquouma concentraccedilatildeo
de empresas ligadas entre si de fornecedores especializados de prestadores de serviccedilos e de instituiccedilotildees
associadas (universidades associaccedilotildees comerciais etc)rdquo
31
transmissores de opiniatildeo para certos ramos ou profissotildees mariacutetimas ndash dos clusters
regionais Estes uacuteltimos consagram-se ao desenvolvimento da economia mariacutetima
atraveacutes da inovaccedilatildeo e da aproximaccedilatildeo entre investigaccedilatildeo formaccedilatildeo e a induacutestria55
Os clusters podem contribuir para estimular a competitividade de todo um sector ou
grupo de sectores Eacute o que acontece se se partilhar conhecimentos realizar projectos
comuns de investigaccedilatildeo e inovaccedilatildeo (desenvolvimento de produtos) unir esforccedilos no
ensino e na formaccedilatildeo partilhar meacutetodos de organizaccedilatildeo inovadores dentro de um grupo
de empresas (aquisiccedilatildeo e distribuiccedilatildeo em comum) ou estrateacutegias de promoccedilatildeo comuns
nomeadamente em mateacuteria de marketing e publicidade
A exploraccedilatildeo do potencial oferecido pela formaccedilatildeo de clusters eacute pertinente em
sectores com cadeias de abastecimento complexas que envolvem produccedilatildeo e serviccedilos e
tambeacutem com um grande nuacutemero de pequenas e meacutedias empresas Eacute esse o caso da
construccedilatildeo naval Na construccedilatildeo naval moderna mais de 70 do ldquonavio acabadordquo
resulta do trabalho de uma vasta rede de fornecedores de sistemas equipamentos e
serviccedilos56
Eacute possiacutevel disseminar as boas praacuteticas ligando estes sectores entre si e
transformando-os em redes de excelecircncia mariacutetima que abranjam todos os sectores
mariacutetimos incluindo o dos serviccedilos
Qualidade de vida nas regiotildees costeiras
O litoral europeu foi em tempos povoado por comunidades que viviam da pesca
Com o desenvolvimento do transporte mariacutetimo local e internacional foram-se
construindo portos e emergiram novas actividades nas periferias A procura de uma vida
agrave beira-mar apenas pelo prazer que daiacute decorre eacute um fenoacutemeno relativamente recente
A Conferecircncia das Regiotildees Perifeacutericas Mariacutetimas da Europa (CRPM) sublinha que
a atractividade natural (paisagem horas de insolaccedilatildeo e benefiacutecios para a sauacutede) daacute
igualmente origem a um forte crescimento demograacutefico que natildeo apresenta sinais de
abrandamento57
Por exemplo Portugal com 75 da populaccedilatildeo a viver no litoral
enfrenta neste domiacutenio indubitavelmente grandes desafios e novas exigecircncias
55
BERNARD-BRUNET Patrick 2007 23 56
Contributo da Associaccedilatildeo dos Estaleiros Europeus de Construccedilatildeo e Reparaccedilatildeo Naval (CESA) para o
Livro Verde 57
Contributo da CRPM para o Livro Verde
32
A concentraccedilatildeo demograacutefica nas regiotildees costeiras acarreta pressotildees sobre o espaccedilo
e o ambiente Exige uma maior acessibilidade em especial das pequenas ilhas e uma
maior mobilidade no seu interior que passa pela melhoria das infra-estruturas de
transporte Obriga agrave oferta de serviccedilos de interesse geral (sauacutede educaccedilatildeo
abastecimento de aacutegua e energia telecomunicaccedilotildees serviccedilos postais tratamento das
aacuteguas residuais e dos resiacuteduos) a fim de promover a qualidade de vida nas zonas
costeiras especialmente durante as estaccedilotildees altas do turismo Nas regiotildees rurais e
remotas as tecnologias da informaccedilatildeo e da comunicaccedilatildeo tecircm um papel a desempenhar
no fornecimento de serviccedilos em linha sauacutede ensino acesso puacuteblico agrave Internet
actividade econoacutemica ajuda agraves empresas e teletrabalho58
Ao planear o
desenvolvimento do litoral haacute que ter em conta o seu impacto ambiental a fim de obter
um resultado sustentaacutevel
As zonas costeiras e as ilhas satildeo elementos essenciais da atractividade e do ecircxito do
turismo costeiro Para que a Europa permaneccedila o primeiro destino turiacutestico ao niacutevel
mundial tem que apoiar um turismo sustentaacutevel nessas regiotildees O turismo sustentaacutevel
pode contribuir para o desenvolvimento das zonas costeiras e das ilhas melhorando a
competitividade das empresas satisfazendo as necessidades sociais promovendo o
patrimoacutenio natural e cultural e valorizando os ecossistemas locais Para um nuacutemero
crescente de destinos turiacutesticos a necessidade de melhorar ou manter a sua atractividade
constitui um incentivo para adoptar praacuteticas e estrateacutegias mais sustentaacuteveis e mais
compatiacuteveis com o ambiente
Muitos desses destinos jaacute realizam esforccedilos para efectuar uma gestatildeo integrada da
qualidade definindo estrateacutegias com os seus parceiros aplicando boas praacuteticas e
desenvolvendo instrumentos de acompanhamento e avaliaccedilatildeo para ajustar a sua acccedilatildeo
A sua experiecircncia poderaacute ser utilizada para formular recomendaccedilotildees destinadas a todos
os destinos turiacutesticos costeiros
A diversificaccedilatildeo dos produtos e serviccedilos turiacutesticos pode contribuir para a
competitividade dos destinos costeiros e insulares especialmente quando aos turistas eacute
oferecida a oportunidade de desfrutarem de locais de interesse cultural e natural
situados no litoral ou no hinterland rural ou urbano bem como de uma variedade de
58
Iniciativa do Comiteacute das Regiotildees (CdR) de 12102005 ndash Poliacutetica Mariacutetima da Uniatildeo Europeia ldquouma
questatildeo de desenvolvimento sustentaacutevel para as autoridades locais e regionaisrdquo
33
atracccedilotildees ligadas ao mar (observaccedilatildeo dos mamiacuteferos marinhos mergulho e arqueologia
subaquaacutetica actividades naacuteuticas e talassoterapia) Esta diversificaccedilatildeo apresenta
inuacutemeras vantagens designadamente uma menor pressatildeo nas praias fontes alternativas
de rendimento para antigos pescadores nas comunidades costeiras e criaccedilatildeo de novas
actividades destinadas a apoiar a preservaccedilatildeo e o desenvolvimento do patrimoacutenio local
No caso de Portugal para aleacutem de possuir uma oferta turiacutestica diversificada deve
tirar partido da sua localizaccedilatildeo geograacutefica como paiacutes costeiro por excelecircncia da forte
tradiccedilatildeo mariacutetima e de clima ameno que o caracteriza (lidera a lista de paiacuteses europeus
em dias sol por ano)
Estas mais-valias intriacutensecas permitem o prolongamento da estaccedilatildeo turiacutestica
gerando assim mais crescimento econoacutemico e aumento do nuacutemero de empregos a
tempo inteiro Desta forma diluindo os picos de concentraccedilatildeo turiacutestica reduz o impacto
ambiental das actividades turiacutesticas e contribui para melhorar a qualidade de vida no
litoral portuguecircs
Novas formas de governaccedilatildeo mariacutetima
Qualquer forma de governaccedilatildeo dos oceanos deve ter em conta os princiacutepios
estabelecidos nos Tratados relativamente aos domiacutenios poliacuteticos e agrave distribuiccedilatildeo de
competecircncias entre instituiccedilotildees da Uniatildeo Europeia Estados-Membros regiotildees e
autoridades locais Nesta base e em conformidade com o princiacutepio da subsidiariedade59
eacute necessaacuterio atender agraves especificidades sectoriais e regionais
Uma poliacutetica mariacutetima inclusiva da Uniatildeo Europeia deveraacute visar o crescimento e a
criaccedilatildeo de mais e melhores postos de trabalho contribuindo assim para uma economia
mariacutetima forte e em expansatildeo competitiva e sustentaacutevel e em harmonia com o meio
marinho Deve procurar prevenir e minimizar os conflitos em torno da utilizaccedilatildeo do
espaccedilo mariacutetimo e prever mecanismos claros e consensuais para a sua resoluccedilatildeo Deve
proporcionar uma maior previsibilidade para o sector e outros interessados e uma
abordagem mais eficaz em mateacuteria de conservaccedilatildeo dos recursos marinhos Neste
59
O princiacutepio da subsidiariedade prossegue dois objectivos opostos Por um lado permite que a
comunidade intervenha quando as medidas individualmente adoptadas pelos Estados-Membros natildeo
possibilitem uma soluccedilatildeo cabal Por outro lado visa manter a competecircncia dos Estados-Membros nos
domiacutenios que natildeo podem ser melhor regidos por uma intervenccedilatildeo comunitaacuteria A inclusatildeo deste princiacutepio
nos Tratados europeus deveraacute permitir que as decisotildees comunitaacuterias sejam adoptadas a um niacutevel tatildeo
proacuteximo quanto possiacutevel dos cidadatildeos - httpwwweuroparleuropaeufactsheets1_2_2_pthtm
34
contexto o diaacutelogo social europeu nos sectores mariacutetimos reveste-se de uma
importacircncia cada vez maior
Para se alcanccedilarem estes objectivos eacute necessaacuterio coordenar e integrar as poliacuteticas
sectoriais Confirmam-no os compromissos assumidos no quadro da cimeira mundial
sobre o desenvolvimento sustentaacutevel de 200260
e as disposiccedilotildees da Convenccedilatildeo das
Naccedilotildees Unidas sobre o Direito do Mar61
Aleacutem disso os progressos da ciecircncia e da tecnologia facultam agora uma melhor
compreensatildeo das interacccedilotildees e relaccedilotildees no que se refere aos oceanos e suas utilizaccedilotildees
O modelo de governaccedilatildeo da PMIE por sectores ou regiotildees geograacuteficas deve pois
ser substituiacutedo por uma abordagem transversal O modelo de governaccedilatildeo integrado
promove a partilha de conhecimentos e de boas praacuteticas bem como o diaacutelogo entre as
partes interessadas O impacto desta forma de governo permite elaborar medidas e
directivas agrave escala europeia respeitando as especificidades locais regionais e nacionais
Acho importante referir ainda que este modelo pode desencadear economias de escala
dando como exemplo de partilha o sistema de vigilacircncia mariacutetima da Agecircncia Europeia
da Seguranccedila Mariacutetima62
(EMSA) com sede em Lisboa
Novos instrumentos da gestatildeo das relaccedilotildees com os oceanos
ldquoOcirc mer nul ne connaicirct tes richesses intimesrdquo - Les fleurs du mal 63
Para uma melhor compreensatildeo das utilizaccedilotildees concorrentes do oceano haveraacute que
aperfeiccediloar os dados e as informaccedilotildees relativos agraves actividades mariacutetimas sejam elas
sociais econoacutemicas ou recreativas bem como sobre o impacto dessas actividades nos
recursos Tambeacutem para os operadores econoacutemicos mariacutetimos eacute importante haver dados
de qualidade Contudo subsistem grandes problemas no que se refere agrave harmonizaccedilatildeo e
agrave fiabilidade dos dados bem como agrave monitorizaccedilatildeo das regiotildees marinhas da Uniatildeo
Europeia que continuam a ser insuficientes e desajustados do ponto de vista geograacutefico
60
ONU Department of Economic and Social Affairs ndash Division for Sustainable Development
httpwwwunorgesasustdevdocumentsWSSD_POI_PDEnglishPOITochtm 61
Contributo da EuDA para o Livro Verde 62
A EMSA criada em 2002 na sequecircncia da cataacutestrofe do Erika e tem como objectivos reduzir o risco de
acidentes mariacutetimos diminuir a poluiccedilatildeo provocada pelos navios e salvaguardar as vidas humanas no
mar 63
ldquoOacute mar ningueacutem conhece as tuas riquezas escondidasrdquo ndash As Flores do Mal de Charles Baudelaire
(1821-1867) poeta francecircs e um dos fundadores do simbolismo O seu livro As Flores do Mal eacute
considerado um marco da poesia moderna
35
Para conceber uma poliacutetica mariacutetima comunitaacuteria racional e sustentaacutevel haveraacute que
obviar a estas lacunas
A Uniatildeo Europeia pode examinar a possibilidade de criar uma rede europeia de
observaccedilatildeo e de dados do meio marinho Esta possibilita garantir a longo prazo a
melhoria da observaccedilatildeo sistemaacutetica (in situ e a partir do espaccedilo) a interoperabilidade e
o reforccedilo do acesso aos dados com base em soluccedilotildees tecnologias da informaccedilatildeo e da
comunicaccedilatildeo (TIC) robustas abertas e geneacutericas Essa rede possibilita uma anaacutelise
integrada ao niacutevel da Uniatildeo Europeia de diferentes tipos de dados e metadados
provenientes de vaacuterias fontes O objectivo eacute fornecer agraves autoridades puacuteblicas aos
serviccedilos mariacutetimos e induacutestrias conexas bem como aos investigadores uma fonte de
dados primaacuterios para utilizaccedilatildeo na elaboraccedilatildeo de previsotildees e nas actividades de
monitorizaccedilatildeo integrando assim iniciativas existentes mas fragmentadas
O melhoramento e a difusatildeo dos dados relativos ao meio marinho permite tambeacutem
criar novas oportunidades para as empresas comerciais de alta tecnologia do sector
mariacutetimo e melhorar a eficiecircncia de actividades como a vigilacircncia mariacutetima a gestatildeo
dos recursos marinhos e a investigaccedilatildeo marinha nos laboratoacuterios europeus Aleacutem disso
contribui significativamente para reduzir as actuais incertezas relativamente ao sistema
oceacircnico e agraves alteraccedilotildees climaacuteticas tornando mais precisas as previsotildees meteoroloacutegicas
sazonais64
Proteger o legado mariacutetimo e sensibilizar o puacuteblico
Os cidadatildeos europeus cresceram com as histoacuterias dos grandes exploradores que
nos fizeram compreender que a Terra eacute redonda e nos ensinaram a situar exactamente os
continentes Muitos deles gozam as suas feacuterias na costa no meio da azaacutefama dos portos
de pesca saboreando marisco nos restaurantes e passeando agrave beira-mar a fugir agrave
rebentaccedilatildeo Alguns passam horas a observar as coloacutenias de aves marinhas ou as baleias
ou a esperar que o peixe morda o isco Outros passam os tempos livres a restaurar ou a
navegar em velhos barcos de madeira Haacute ainda outros que gostam de ver
documentaacuterios sobre os golfinhos ou os pinguins na televisatildeo ou no cinema Alguns
trabalharatildeo nos solos mariacutetimos outros seratildeo pescadores ou capitatildees de porto e outros
por sua vez trabalharatildeo no posto de turismo de uma cidade costeira
64
COM (2006) 275 final volume II 34-35
36
Quantos todavia compreenderatildeo que estas actividades estatildeo interligadas Quantos
teratildeo consciecircncia de serem cidadatildeos de uma Europa mariacutetima Bem poucos a avaliar
pelo debate realizado a propoacutesito do Livro Verde
Que assim seja natildeo eacute de surpreender Os aquaacuterios podem dar uma ideia da beleza e
das maravilhas da vida sob as ondas mas poucos conseguem mostrar de forma
convincente quatildeo fraacutegeis satildeo os oceanos que actividades os ameaccedilam e que esforccedilos
estatildeo a ser feitos para os preservar Os museus do mar podem ajudar-nos a compreender
as proezas do passado mas dificilmente nos conseguiratildeo transmitir uma noccedilatildeo clara da
avanccedilada tecnologia que eacute apanaacutegio das actividades mariacutetimas do presente As
organizaccedilotildees que se dedicam a manter vivas as tradiccedilotildees do passado nem sempre se
associam agrave realidade comercial do presente sem falar do deslumbrante potencial futuro
que os oceanos encerram A Comissatildeo Europeia crecirc que haacute muito a ganhar com o forjar
de um sentimento de identidade comum entre todos aqueles que vivem das actividades
mariacutetimas ou cuja qualidade de vida estaacute fortemente ligada ao mar Ganhar-se-aacute assim
uma melhor compreensatildeo das interacccedilotildees em jogo e da importacircncia do mar para a
Humanidade65
Acredito que as actividades naacuteuticas podem neste domiacutenio desempenhar um
papel fundamental A Naacuteutica pelo vasto puacuteblico que abrange ao longo de todo o ano
estabelece respeito muacutetuo entre por um lado os recursos naturais (mar aacutegua e litoral) e
por outro as populaccedilotildees residentes ou turiacutesticas As actividades naacuteuticas satildeo fortemente
orientadas desde haacute muito para a descoberta protecccedilatildeo e promoccedilatildeo do patrimoacutenio e
ambiente e ainda para a descoberta e promoccedilatildeo das actividades e profissotildees mariacutetimas
Os centros naacuteuticos e as marinas podem ser a grande vitrine do oceano aberta a todos
atraveacutes de actividades educativas desportivas e de lazer
Vejamos o exemplo dos Jogos Naacuteuticos Atlacircnticos criados na Bretanha em 1995
sob o lema o ldquoOceano nos unerdquo Os Jogos Naacuteuticos Atlacircnticos66
satildeo um evento
desportivo de alto niacutevel competitivo que se realiza anual e rotativamente pelas
diferentes regiotildees do Atlacircntico promovendo a fileira naacuteutica popularizando os
desportos naacuteuticos e incentivando intercacircmbios de experiecircncias Participam neste
quadro festivo e de amizade cerca de 500 atletas de cinco modalidades naacuteuticas
(Canoagem Remo Subaquaacuteticas Surf e Vela) sempre acompanhados de grupos
65
COM (2006) 275 final volume II 51 66
Jogos Naacuteuticos Atlacircnticos ( wwwjnieaeu)
37
culturais e musicais representativos das regiotildees participantes contribuindo desta forma
para uma Europa mariacutetima mais unida e coesa
Haacute vaacuterios anos a esta parte tecircm sido realizados eventos como por exemplo as
Initiatives Oceacutean ldquoIl nacutey a pas de petit pollutionrdquo da responsabilidade da Surfrider
Foundation Europe67
Este movimento europeu sensibiliza e mobiliza o grande puacuteblico
para as questotildees e problemaacuteticas ambientais e mariacutetimas
Por uacuteltimo realccedilo tambeacutem o projecto europeu NEA 268
ldquoNautisme Espace
Atlantique 2rdquo que visa o desenvolvimento sustentaacutevel e coordenado do conjunto da
fileira naacuteutica nas regiotildees da faixa atlacircntica (actividades portos de recreio induacutestria
comeacutercio e serviccedilos) atraveacutes de um reforccedilo de cooperaccedilatildeo baseado em trecircs eixos
temaacuteticos o desenvolvimento econoacutemico a protecccedilatildeo do ambiente a coesatildeo social Em
cada uma destas temaacuteticas o projecto prevecirc a realizaccedilatildeo de acccedilotildees comuns
transnacionais associando diversos parceiros e de acccedilotildees locais implementadas por
cada parceiro no seu territoacuterio Impulsionado por 23 parceiros europeus durante um
periacuteodo de 3 anos (Janeiro 2009 a Dezembro de 2011) o NEA2 foi aprovado pelo
Programa de Cooperaccedilatildeo Transnacional Espaccedilo Atlacircntico (POCTEA) e beneficia como
tal de uma subvenccedilatildeo do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER) Este
projecto persegue o sucesso alcanccedilado pelo seu antecessor Nautisme Espace Atlantique
(Novembro de 2004 a Outubro de 2007) do Programa INTERREG III B que reuniu 11
parceiros com o objectivo comum ldquodesenvolvimento coordenado do turismo naacuteuticordquo
O sector naacuteutico e os seus intervenientes satildeo parceiros eficazes para a mobilizaccedilatildeo
da populaccedilatildeo e consequente aproximaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do mar
67
Surfrider Foundation Europe (wwwsurfridereu) ONG dedicada a proteger os oceanos as ondas e o
litoral 68
Nautisme Espace Atlantique 2 ( wwwnea2eu)
38
25 Participaccedilatildeo dos europeus no processo de construccedilatildeo da PMIE
O debate poliacutetico acerca da elaboraccedilatildeo de uma poliacutetica mariacutetima da Uniatildeo
Europeia constitui a melhor oportunidade nos uacuteltimos anos para que o significado
mundial e local dos oceanos e os resultados da investigaccedilatildeo e inovaccedilatildeo marinhas sejam
devidamente apreciados pela sociedade declarou Peter Heffernan director executivo
do Irish Marine Institute em Galway na Irlanda
A consulta sobre a poliacutetica mariacutetima da Uniatildeo Europeia iniciou-se apoacutes o
lanccedilamento do Livro Verde a 7 de Junho de 2006 e teve uma duraccedilatildeo de treze meses
Foi o maior periacuteodo de consulta alguma vez efectuada na Uniatildeo Europeia
O processo de consulta teve um eco sem precedentes evidenciado pela elevada taxa
de participaccedilatildeo e pela qualidade das contribuiccedilotildees Para aleacutem dos contributos de todas
as instituiccedilotildees europeias tambeacutem vaacuterios parlamentos nacionais e alguns regionais
apresentaram directamente agrave Comissatildeo Europeia as suas observaccedilotildees sobre o Livro
Verde69
As contribuiccedilotildees preconizaram consulta e diaacutelogo mas tambeacutem uma melhor
informaccedilatildeo de todos os afectados pela poliacutetica mariacutetima
Os intervenientes econoacutemicos congratularam-se com o princiacutepio de uma abordagem
integrada de modo a induzir maior transparecircncia e eficiecircncia na elaboraccedilatildeo de poliacuteticas
e regulamentaccedilatildeo apropriada no acircmbito da Uniatildeo Europeia Defenderam a necessidade
da elaboraccedilatildeo de uma poliacutetica mariacutetima integrada com vista a promover a economia
mariacutetima florescente Torna-se premente desenvolver relaccedilotildees fortes entre os sectores e
respectivas actividades conexas e apelaram agrave formaccedilatildeo de clusters (incluindo agrave escala
comunitaacuteria)
As regiotildees defenderam entusiasticamente uma abordagem integrada Sublinharam o
papel das regiotildees costeiras enquanto centros da economia mariacutetima Estas esperam tirar
proveito por um lado da ligaccedilatildeo estabelecida entre a acccedilatildeo ao niacutevel comunitaacuterio e as
actividades no terreno nas regiotildees costeiras e por outro lado do reforccedilo do
envolvimento dos governos dos Estados-Membros
69
COM (2007) 574 final 2
39
Os Estados-Membros satildeo favoraacuteveis ao princiacutepio da gestatildeo integrada dos assuntos
mariacutetimos e encaram a proposta de uma poliacutetica mariacutetima integrada como meio
privilegiado para assegurar um desenvolvimento estaacutevel e sustentaacutevel das respectivas
economias mariacutetimas e regiotildees costeiras Desejam manter os mecanismos que
funcionam bem pois servem de catalisadores de boas praacuteticas
Os cidadatildeos individuais e a sociedade civil reagiram de forma ambivalente Haacute
mesmo quem tema que a Uniatildeo Europeia possa interferir nas competecircncias nacionais ou
locais mas em geral as reacccedilotildees mostraram que o puacuteblico estaacute preocupado com o
ecossistema marinho estando contudo ceacutepticos relativamente agraves medidas que os
governos possam vir a tomar para o proteger As organizaccedilotildees natildeo governamentais
(ONG) ambientais apelaram a uma acccedilatildeo comunitaacuteria no domiacutenio do ordenamento do
espaccedilo mariacutetimo e costeiro a fim de assegurar a execuccedilatildeo de uma gestatildeo baseada nos
ecossistemas
O lanccedilamento de uma consulta sobre a poliacutetica mariacutetima despertou igualmente o
interesse daqueles que desejam informar e dar a conhecer elementos sobre os nossos
mares e oceanos O conhecimento por parte dos cidadatildeos europeus das nossas costas e
do que estaacute para aleacutem delas eacute considerado como um sustentaacuteculo tanto das economias
mariacutetimas cujo ecircxito depende da sua atractividade como do nosso ambiente marinho
cuja preservaccedilatildeo depende da sensibilizaccedilatildeo dos cidadatildeos
Contudo todos estatildeo de acordo quanto agrave necessidade de melhorar a imagem global
dos sectores mariacutetimos Satildeo inuacutemeras as sugestotildees relacionadas com as permutas de
boas praacuteticas conferecircncias participaccedilatildeo de peritos em assuntos mariacutetimos como os
pescadores ou projectos de pequena escala destinados a informar as comunidades locais
ou turistas
Em suma o processo de consulta deu azo ao aparecimento de um manancial de
ideias e estimulou o desejo de participar num projecto comum a longo prazo baseado
na aprendizagem e no desenvolvimento interactivo permanente Este processo natildeo soacute
veio introduzir uma nova abordagem integrada da gestatildeo dos assuntos mariacutetimos como
abriu alas a uma nova forma de fazer poliacutetica na Europa70
No total foram recebidas mais de 490 contribuiccedilotildees e organizados mais de 230
eventos em que se debateu a poliacutetica mariacutetima com os vaacuterios interessados
70
COM (2007) 574 final 9-10
40
Cap III ndash O Livro Azul plano de acccedilatildeo e instrumentos financeiros
31 Condiccedilotildees poliacuteticas do processo de decisatildeo
Presidido pela Alemanha o Conselho Europeu de Junho de 2007 congratulou-se
com o vasto debate que teve lugar na Europa acerca da futura poliacutetica mariacutetima Os
Chefes de Estado e de Governo convidaram a Comissatildeo Europeia a elaborar um plano
de acccedilatildeo europeu a apresentar em Outubro desse mesmo ano Atendendo ao princiacutepio da
subsidiariedade este plano de acccedilatildeo teve por fim explorar de uma forma
ambientalmente sustentaacutevel o pleno potencial das actividades econoacutemicas orientadas
para o mar
A Comissatildeo em resposta ao Conselho Europeu adoptou no dia 10 de Outubro de
2007 uma Comunicaccedilatildeo conhecida como o Livro Azul da Poliacutetica Mariacutetima Europeia
em que define a sua visatildeo de uma poliacutetica mariacutetima integrada para a UE juntamente
com um plano de acccedilatildeo pormenorizado que estabeleceu um ambicioso programa de
trabalho para os proacuteximos anos As descobertas cientiacuteficas a raacutepida evoluccedilatildeo
tecnoloacutegica a globalizaccedilatildeo as alteraccedilotildees climaacuteticas e a poluiccedilatildeo marinha estatildeo a alterar
rapidamente o relacionamento da Europa com os mares e oceanos com todas as
oportunidades e desafios impliacutecitos desse processo
De salientar que a Presidecircncia Portuguesa do Conselho da Uniatildeo Europeia no
segundo semestre de 2007 reconheceu de forma clara a necessidade de uma abordagem
integrada para os assuntos mariacutetimos A Presidecircncia Portuguesa levou a cabo diversos
eventos com destaque para uma Conferecircncia Ministerial sobre Poliacutetica Mariacutetima para a
Uniatildeo Europeia que teve lugar em Lisboa no dia 22 de Outubro permitindo a
divulgaccedilatildeo dos resultados da consulta puacuteblica do Livro Verde e a indicaccedilatildeo dos sectores
prioritaacuterios a seguir
Esta Conferecircncia foi altamente significativa pois juntou agrave volta da mesma mesa
pela primeira vez os decisores poliacuteticos responsaacuteveis nacionais pela coordenaccedilatildeo dos
assuntos do mar independentemente da foacutermula governativa adoptada em cada paiacutes
europeu A estes juntaram-se ainda os paiacuteses da Associaccedilatildeo Europeia de Livre
41
Comeacutercio (EFTA) do Espaccedilo Econoacutemico Europeu e as principais instituiccedilotildees europeias
envolvidas
Por sua vez o Parlamento Europeu no dia 20 de Maio de 2008 deu ldquoluz verderdquo agrave
proposta da Comissatildeo Europeia para a criaccedilatildeo de uma Poliacutetica Mariacutetima Europeia
aprovada com 587 votos a favor 20 contra e 58 abstenccedilotildees A aprovaccedilatildeo pelo PE de
uma poliacutetica mariacutetima europeia teve lugar no dia em que se celebrou pela primeira vez
o Dia Europeu do Mar data que coincidiu ainda com a chegada de Vasco da Gama agrave
Iacutendia em 1498
A Comissatildeo Europeia propocircs uma poliacutetica mariacutetima integrada para a Uniatildeo
Europeia baseada no reconhecimento inequiacutevoco de que todas as questotildees relativas aos
oceanos e mares estatildeo interligadas e que para podermos colher os resultados desejados
todas as poliacuteticas ligadas ao mar devem ser elaboradas de uma forma articulada
O plano de acccedilatildeo baseou-se na consulta puacuteblica e resultou dos trabalhos de um alto
grupo de pilotagem com a participaccedilatildeo de 10 Comissaacuterios presidido por Joe Borg (Ex-
Comissaacuterio Europeu para os Assuntos Mariacutetimos e da Pesca) e supervisionado pelo
Presidente da Comissatildeo Europeia Duratildeo Barroso
Uma poliacutetica mariacutetima integrada exige um quadro de governaccedilatildeo que aplique a
abordagem integrada a todos os niacuteveis bem como instrumentos poliacuteticos horizontais e
transectoriais Exige igualmente uma soacutelida base financeira que tenha em conta os
resultados das acccedilotildees preparatoacuterias
A Comissatildeo Europeia criou uma funccedilatildeo de ldquopoliacutetica mariacutetimardquo cuja tarefa eacute
analisar os assuntos mariacutetimos e as poliacuteticas que os afectam assegurar a coordenaccedilatildeo
entre as poliacuteticas sectoriais garantir que as interacccedilotildees entre elas sejam tidas em conta e
pilotar o desenvolvimento de instrumentos poliacuteticos transectoriais
Por outro lado a Comissatildeo comeccedilou a reunir as agecircncias da Uniatildeo Europeia que
desempenham funccedilotildees ligadas agraves actividades mariacutetimas para que contribuam
conjuntamente para a elaboraccedilatildeo da poliacutetica mariacutetima
42
Um quadro de governaccedilatildeo integrado para os assuntos mariacutetimos exige por sua vez
instrumentos horizontais de planificaccedilatildeo que sejam comuns agraves poliacuteticas sectoriais
ligadas ao mar e apoiem a elaboraccedilatildeo conjunta de poliacuteticas Assim os trecircs instrumentos
que se seguem satildeo especialmente importantes
Uma rede europeia de vigilacircncia mariacutetima
A vigilacircncia mariacutetima reveste-se da maior importacircncia para garantir a utilizaccedilatildeo
segura do mar e para a protecccedilatildeo das fronteiras mariacutetimas da Europa O melhoramento e
optimizaccedilatildeo das actividades de vigilacircncia mariacutetima bem como a sua interoperabilidade
ao niacutevel europeu satildeo importantes para que a Europa possa fazer face aos desafios e
ameaccedilas ligados agrave seguranccedila da navegaccedilatildeo agrave poluiccedilatildeo marinha ao cumprimento da lei
e agrave seguranccedila em geral71
Ordenamento do espaccedilo mariacutetimo (OEM) e gestatildeo integrada das zonas costeiras
(GIZC)
Os quadros de ordenamento existentes incidem essencialmente na vertente terrestre
e raramente abordam a forma como o desenvolvimento costeiro pode afectar o mar e
vice-versa Temos de fazer face aos problemas resultantes das crescentes utilizaccedilotildees
concorrentes do mar que vatildeo do transporte mariacutetimo agrave produccedilatildeo de energia offshore e
outras formas de exploraccedilatildeo do leito marinho passando pela pesca e aquicultura e pelas
actividades de lazer72
Dados e informaccedilotildees
A disponibilidade e a facilidade de acesso a um vasto leque de dados relativos aos
factores naturais e agrave actividade humana nos oceanos constituem a base para a tomada de
decisotildees estrateacutegicas no domiacutenio da poliacutetica mariacutetima Dada a vasta quantidade de
dados coligidos e armazenados em toda a Europa para fins muito diversos eacute de extrema
importacircncia estabelecer uma infra-estrutura adequada para recolher os dados e
informaccedilotildees sobre o ambiente marinho73
71
COM (2007) 575 final 5 72
COM (2007) 575 final 6 73
COM (2007) 575 final 6
43
32 Livro Azul e o plano de acccedilatildeo
As acccedilotildees propostas no Livro Azul ajudam a Uniatildeo Europeia a avanccedilar na
prossecuccedilatildeo dos objectivos fulcrais da poliacutetica mariacutetima integrada incidindo
principalmente em cinco domiacutenios de acccedilatildeo estrateacutegica a saber
1)Maximizaccedilatildeo da utilizaccedilatildeo sustentaacutevel dos oceanos e mares
O principal objectivo de uma poliacutetica mariacutetima integrada da Uniatildeo Europeia eacute criar
as melhores condiccedilotildees para a utilizaccedilatildeo sustentaacutevel dos oceanos e mares permitindo o
desenvolvimento dos sectores mariacutetimos e das regiotildees costeiras
Em muitos Estados-Membros o desenvolvimento recente da economia mariacutetima foi
superior ao da economia no seu conjunto sobretudo em regiotildees activas no domiacutenio da
logiacutestica mariacutetima O transporte mariacutetimo de contentores aumentou consideravelmente a
partir de 2000 esperando-se que triplique ateacute 2020 Por outro lado regiotildees activas
noutros mercados de forte crescimento como o equipamento mariacutetimo a energia eoacutelica
offshore a naacuteutica de recreio ou o sector dos cruzeiros continuaratildeo a colher benefiacutecios
deste crescimento Graccedilas agrave forte especializaccedilatildeo da Europa no campo das tecnologias
marinhas as induacutestrias europeias tecircm tambeacutem um grande potencial para desenvolver
produtos mariacutetimos de ponta susceptiacuteveis de assumir uma posiccedilatildeo lideranccedila nos
mercados mundiais
Contudo haacute muito potencial subaproveitado ainda Para garantir o crescimento
sustentaacutevel de actividades ligadas ao mar e assegurar ao mesmo tempo que as
actividades mariacutetimas se desenvolvam de forma a natildeo comprometer a sauacutede do
ecossistema eacute indispensaacutevel ter uma visatildeo estrateacutegica actualizada que permita o
desenvolvimento competitivo e seguro do transporte mariacutetimo dos portos e dos sectores
conexos
O transporte mariacutetimo eacute vital para o comeacutercio internacional e interno da Europa e
continua a ser a espinha dorsal do cluster mariacutetimo Contudo este sector soacute continuaraacute a
prosperar se a Uniatildeo Europeia prosseguir os seus esforccedilos com vista a atingir um niacutevel
elevado de seguranccedila mariacutetima e protecccedilatildeo do transporte mariacutetimo contribuindo para
proteger as vidas humanas e o ambiente e simultaneamente favorecer condiccedilotildees de
concorrecircncia equitativas ao niacutevel internacional
44
Embora seja uma importante fonte de poluiccedilatildeo atmosfeacuterica e de emissotildees de
dioacutexido de carbono (CO2) o transporte mariacutetimo continua a ser bastante mais eficiente
em termos energeacuteticos do que o transporte rodoviaacuterio Por este motivo e dada a
necessidade de reduzir o nuacutemero de camiotildees que circulam nas estradas congestionadas
da Europa uma poliacutetica mariacutetima integrada favorece fortemente a promoccedilatildeo de
transportes mariacutetimos seguros e fiaacuteveis
A cadeia logiacutestica mariacutetima europeia requer tambeacutem a existecircncia de estaleiros da
construccedilatildeo e reparaccedilatildeo naval e empresas de equipamento mariacutetimo com tecnologia de
ponta incorporada
O aumento dos investimentos na investigaccedilatildeo e tecnologia marinha eacute fundamental
para assegurar o crescimento econoacutemico sem agravar a degradaccedilatildeo do ambiente Esses
investimentos criaratildeo tambeacutem novas oportunidades Graccedilas a tecnologias respeitadoras
do ambiente que permitam a prosperidade das actividades mariacutetimas sem comprometer
o ambiente marinho as empresas europeias poderatildeo manter a sua posiccedilatildeo de lideranccedila agrave
medida que as normas mundiais se tornem mais estritas e que as induacutestrias novas e
promissoras como a biotecnologia azul as energias renovaacuteveis offshore a tecnologia e
o equipamento subaquaacuteticos e a aquicultura marinha forem desenvolvidas
A tecnologia permite agrave Europa beneficiar de todas as potencialidades oferecidas
pelo mar enquanto fonte de petroacuteleo e gaacutes74
bem como de energias renovaacuteveis e
tambeacutem enquanto lugar de transporte de energia que permite diversificar as vias de
transporte de energia e aumentar deste modo a seguranccedila do abastecimento
A integraccedilatildeo e a competitividade das empresas no sector mariacutetimo satildeo fortemente
potenciadas pela formaccedilatildeo de clusters multissectoriais Os clusters locais e regionais
que reuacutenem diferentes sectores e partes interessadas para desenvolver sinergias entre as
suas actividades afiguram-se uma evoluccedilatildeo promissora da comunidade mariacutetima
europeia Os clusters contribuem para melhorar a qualidade e elevar os padrotildees dos
produtos e serviccedilos do sector mariacutetimo europeu bem como para aumentar a integraccedilatildeo
da economia mariacutetima Contribuem deste modo para o crescimento econoacutemico e para
criaccedilatildeo de emprego bem como para a sustentabilidade da economia mariacutetima na sua
globalidade O seu sucesso dependeraacute largamente da acccedilatildeo inovadora do sector
privado e de outras partes interessadas sobretudo no caso dos clusters regionais A par
74
Segundo a OGP 40 do petroacuteleo e 60 do gaacutes actualmente consumidos na Europa satildeo extraiacutedos em
offshore
45
da criaccedilatildeo de clusters multissectoriais devem ser criados centros regionais de excelecircncia
mariacutetima
Os clusters contribuem ainda para conservar o know-how mariacutetimo da Europa pelo
que satildeo fundamentais para a poliacutetica mariacutetima A cooperaccedilatildeo entre os sectores puacuteblico e
privado em centros de excelecircncia mariacutetima cria tambeacutem um contexto favoraacutevel para
compreender e programar adequadamente as interacccedilotildees entre diferentes induacutestrias e
sectores75
Para fazer face a este domiacutenio estrateacutegico a UE pocircs em marcha uma Directiva-
Quadro denominada Estrateacutegia Marinha76
que estabelece um quadro de acccedilatildeo
comunitaacuteria no domiacutenio da poliacutetica para o meio marinho
Foi com o objectivo de promover o uso sustentaacutevel dos mares e a conservaccedilatildeo dos
ecossistemas marinhos incluindo o leito do mar estuaacuterios e aacutereas costeiras dando
especial atenccedilatildeo aos siacutetios com elevado valor em biodiversidade que foi desenvolvida
no quadro da Uniatildeo Europeia a Estrateacutegia temaacutetica para a protecccedilatildeo e conservaccedilatildeo do
ambiente marinho77
Este documento cuja aprovaccedilatildeo foi precedida de ampla discussatildeo a niacutevel Europeu
foi o ponto de partida para a preparaccedilatildeo da proposta de Directiva do Parlamento
Europeu e do Conselho Europeu que estabelece um quadro de acccedilatildeo comunitaacuteria no
domiacutenio da poliacutetica para o meio marinho
A Directiva estabelece um quadro no qual os Estados Membros devem tomar as
medidas necessaacuterias para obter ou manter um bom estado ambiental no meio marinho
ateacute 2020 Para isso devem ser desenvolvidas e aplicadas estrateacutegias marinhas com vista
a proteger e preservar o meio marinho impedir a sua deterioraccedilatildeo ou quando
exequiacutevel restaurar os ecossistemas marinhos nas aacutereas afectadas prevenir e reduzir as
ldquoentradasrdquo no meio marinho de modo a eliminar progressivamente a poluiccedilatildeo e
assegurar que natildeo haja impactos ou riscos significativos (biodiversidade ecossistemas
sauacutede humana e utilizaccedilotildees legiacutetimas do mar)
O processo negocial desta Directiva culminou com a respectiva aprovaccedilatildeo no final
de 2007 durante a Presidecircncia Portuguesa do Conselho da Uniatildeo Europeia e representa
75
COM (2007) 575 final 7-9 76
Directiva Quadro ldquoEstrateacutegia Marinhardquo ndash COM (2005) 505 final 77
Estrateacutegia temaacutetica para a protecccedilatildeo e conservaccedilatildeo do ambiente marinhordquo ndash COM (2005) 504 final
46
um instrumento de particular importacircncia no quadro da poliacutetica de protecccedilatildeo do meio
marinho constituindo assim o pilar ambiental da Estrateacutegia Mariacutetima Europeia
2) Construccedilatildeo de uma base de conhecimentos e inovaccedilatildeo para a poliacutetica mariacutetima
A ciecircncia a tecnologia e a investigaccedilatildeo marinha satildeo cruciais para o
desenvolvimento sustentaacutevel das actividades mariacutetimas
Ao ajudarem a compreender mais profundamente os impactos das actividades
humanas nos sistemas marinhos a investigaccedilatildeo e a tecnologia marinhas fornecem a
chave para romper a ligaccedilatildeo entre o desenvolvimento das actividades mariacutetimas e a
degradaccedilatildeo do ambiente
O reforccedilo da abordagem multidisciplinar da ciecircncia marinha pode contribuir para
uma melhor compreensatildeo das interacccedilotildees entre as actividades mariacutetimas sendo
portanto uma componente indispensaacutevel de uma poliacutetica mariacutetima integrada Este
reforccedilo seraacute igualmente fundamental para prever e atenuar tanto quanto possiacutevel os
efeitos das alteraccedilotildees climaacuteticas
A investigaccedilatildeo marinha e mariacutetima tem custos elevados pelo que natildeo se pode
permitir faltas de eficiecircncia Para poder utilizar os recursos europeus da melhor forma eacute
necessaacuterio definir uma estrateacutegia clara que articule as prioridades a niacutevel poliacutetico e a
niacutevel de investigaccedilatildeo responda a desafios transectoriais potencie as sinergias entre os
esforccedilos dos Estados-Membros e os da Comunidade evite as duplicaccedilotildees e melhore o
diaacutelogo entre os intervenientes A Europa deve tambeacutem explorar o modo como a
investigaccedilatildeo pode contribuir mais e melhor para a inovaccedilatildeo e como transformar mais
eficazmente o conhecimento e as competecircncias em produtos e serviccedilos industriais78
3) Maximizaccedilatildeo da qualidade de vida nas regiotildees costeiras
Na uacuteltima deacutecada o crescimento demograacutefico nas regiotildees costeiras e insulares foi
duas vezes superior ao crescimento demograacutefico meacutedio na Uniatildeo Europeia As
comunidades costeiras satildeo tambeacutem o destino da maioria dos turistas na Europa pelo
que a necessidade de reconciliar o desenvolvimento econoacutemico a sustentabilidade do
ambiente e a qualidade de vida nessas regiotildees se coloca aiacute com maior acuidade
As autoridades regionais e as comunidades costeiras tecircm um importante papel a
desempenhar na regulaccedilatildeo das actividades costeiras e mariacutetimas O Comiteacute das Regiotildees
78
COM (2007) 575 final 12
47
(CoR) as regiotildees costeiras e as suas redes satildeo por conseguinte parceiros essenciais no
quadro da elaboraccedilatildeo de uma poliacutetica mariacutetima integrada da Uniatildeo Europeia
Os portos e os sectores mariacutetimos conferem a estas regiotildees uma importacircncia
estrateacutegica para a Europa no seu conjunto Oferecem importantes serviccedilos ao seu
hinterland e funcionam como base para o policiamento das fronteiras mariacutetimas e das
aacuteguas costeiras Daqui resulta uma forte pressatildeo sobre as infra-estruturas facto que deve
ser tomado em consideraccedilatildeo na atribuiccedilatildeo de recursos comunitaacuterios As regiotildees
costeiras satildeo tambeacutem particularmente afectadas pelas alteraccedilotildees climaacuteticas e a gestatildeo
dos riscos pode assumir proporccedilotildees dramaacuteticas nos orccedilamentos e economias destas
regiotildees
O mar eacute determinante para o turismo costeiro e mariacutetimo e eacute um importante
catalisador do desenvolvimento econoacutemico das zonas costeiras europeias
Embora reconheccedilam que haacute fontes de financiamento os interessados consideram
que tecircm um insuficiente acesso agrave informaccedilatildeo A Comissatildeo Europeia deve esforccedilar-se
por optimizar os projectos mariacutetimos nas regiotildees costeiras e insulares no acircmbito dos
vaacuterios instrumentos financeiros comunitaacuterios disponiacuteveis (ver ponto 33 Instrumentos
econoacutemico-financeiros de apoio agrave PMIE)
A necessidade de obter melhores dados soacutecio-econoacutemicos sobre os sectores
mariacutetimos e as regiotildees costeiras eacute tambeacutem evidente tendo em conta que a dificuldade
em obter tais informaccedilotildees estaacute a limitar a capacidade dos interessados a niacutevel regional
no respeitante ao desenvolvimento de planos e investimentos racionais a longo prazo
Por outro lado a colaboraccedilatildeo inter-regional eacute essencial para permitir o
desenvolvimento das regiotildees costeiras europeias o qual deve ter em conta a diversidade
e especificidade destes locais Por conseguinte a Comissatildeo Europeia deve utilizar
plenamente o Programa de Cooperaccedilatildeo Territorial para apoiar o desenvolvimento
mariacutetimo inter-regional
As regiotildees ultraperifeacutericas e as ilhas estatildeo sujeitas a desvantagens econoacutemicas
consideraacuteveis mas dispotildeem de um elevado potencial no que se refere agraves actividades
mariacutetimas e agrave investigaccedilatildeo marinha As suas extensas zonas mariacutetimas oferecem
serviccedilos ligados aos ecossistemas de grande interesse para a Uniatildeo Europeia A
48
Comissatildeo Europeia deve promover o desenvolvimento do seu potencial mariacutetimo e a
sua cooperaccedilatildeo com os vizinhos regionais respectivos79
A actual situaccedilatildeo das pescas na Europa natildeo pode ser considerada satisfatoacuteria Os
esforccedilos para conseguir reduzir a capacidade existente e a conservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo
dos recursos haliecircuticos existentes devem ser acompanhados por uma melhoria do
bem-estar social dos trabalhadores activos no sector
A integraccedilatildeo dos pescadores na economia mariacutetima mais ampla pode ser beneacutefica
tanto para as suas perspectivas de emprego como para o desenvolvimento global das
condiccedilotildees em que trabalham e em que o seu sector opera Aleacutem disso o bem-estar das
comunidades pesqueiras tradicionais eacute uma componente importante para a qualidade de
vida nas regiotildees costeiras
Saliento o papel que o sector naacuteutico pode desempenhar ao niacutevel do
desenvolvimento local pois para aleacutem de proporcionar actividades para populaccedilotildees
residentes eou turistas eacute uma importante via para gerar emprego e riqueza A Naacuteutica
pode e deve estabelecer o elo entre o mar e a populaccedilatildeo desfavorecida contribuindo
para a inserccedilatildeo e coesatildeo social da comunidade As actividades naacuteuticas trazem em si
valecircncias de solidariedade ou de inclusatildeo social como por exemplo ajudar na
conversatildeo das comunidades piscatoacuterias em dificuldade (escassez de emprego) em
agentes naacuteuticos reconhecidos pela sociedade
4) Promoccedilatildeo da lideranccedila europeia nos assuntos mariacutetimos internacionais
A Uniatildeo Europeia deve continuar a envidar esforccedilos com vista a assegurar uma
governaccedilatildeo internacional dos assuntos mariacutetimos mais eficiente e a fazer cumprir o
direito mariacutetimo internacional instando os Estados-Membros a ratificar os instrumentos
pertinentes Neste contexto deve promover a coordenaccedilatildeo dos interesses europeus nas
principais instacircncias internacionais
O acesso das induacutestrias e serviccedilos mariacutetimos europeus aos mercados internacionais
a exploraccedilatildeo comercial e cientiacutefica sustentaacutevel das aacuteguas profundas a protecccedilatildeo da
biodiversidade marinha mundial a melhoria da seguranccedila mariacutetima e da protecccedilatildeo do
transporte mariacutetimo as condiccedilotildees de trabalho a reduccedilatildeo da poluiccedilatildeo causada pelos
navios e a luta contra as actividades ilegais nas aacuteguas internacionais devem constituir as
prioridades da poliacutetica mariacutetima integrada da Uniatildeo Europeia a niacutevel das suas relaccedilotildees
79
COM (2007) 575 final 13-14
49
externas Deve igualmente prestar atenccedilatildeo agraves implicaccedilotildees geopoliacuteticas das alteraccedilotildees
climaacuteticas (por exemplo as questotildees relacionadas com o Aacutertico)
Por outro lado os assuntos mariacutetimos satildeo regularmente tema de debates com os
parceiros da Uniatildeo Europeia que jaacute adoptaram medidas a favor de uma abordagem
mariacutetima integrada nomeadamente a Austraacutelia o Canadaacute o Japatildeo a Noruega e os
Estados-Unidos mas tambeacutem com outros parceiros como o Brasil Ruacutessia Iacutendia e
China (agora denominados BRIC)
A Uniatildeo Europeia deve fomentar ainda uma responsabilidade partilhada
relativamente aos mares que compartilha com os seus vizinhos Concretamente a Uniatildeo
Europeia propotildee apresentar propostas no sentido de aumentar a cooperaccedilatildeo no que
concerne agrave gestatildeo do Mediterracircneo e do mar Negro E ainda promover a cooperaccedilatildeo ao
niacutevel das relaccedilotildees externas dos paiacuteses da Europa Setentrional com os paiacuteses em
desenvolvimento incluindo os pequenos Estados insulares atraveacutes de programas de
cooperaccedilatildeo reforccedila as capacidades dos paiacuteses em desenvolvimento no que se refere agrave
poliacutetica mariacutetima e ao Direito do mar80
5) Promoccedilatildeo da visibilidade da Europa mariacutetima
Os cidadatildeos europeus cresceram com as histoacuterias dos grandes exploradores que
nos fizeram compreender que a Terra eacute redonda e nos ensinaram a situar exactamente
os continentes Muitos deles gozam as suas feacuterias na costa no meio da azaacutefama dos
barcos de pesca saboreando marisco nos restaurantes e passeando agrave beira-mar a fugir
agrave rebentaccedilatildeo () Outros passam os tempos livres a restaurar ou a navegar em velhos
barcos de madeira () Quantos todavia compreenderatildeo que estas actividades estatildeo
interligadas Quantos teratildeo consciecircncia de serem cidadatildeos de uma Europa
mariacutetima81
Na sequecircncia do Livro Verde sobre uma futura poliacutetica mariacutetima da Uniatildeo e em
resposta ao forte apoio manifestado por muitas partes interessadas durante o processo de
consulta relativo agrave nova poliacutetica de promoccedilatildeo da cultura e do patrimoacutenio mariacutetimos da
Europa a Comissatildeo tem focado a sua atenccedilatildeo no aumento da visibilidade da Europa
80
COM (2007) 575 final 14-15 81
Extractos do Livro Verde ldquoPara uma futura poliacutetica mariacutetima da Uniatildeo Uma visatildeo europeia para os
oceanos e os maresrdquo Capiacutetulo VI Reivindicar a heranccedila mariacutetima da Europa - Reiterar a identidade
mariacutetima da Europa p 51
50
mariacutetima como um dos objectivos fulcrais de uma poliacutetica mariacutetima holiacutestica e
integrada
Os stakeholders exprimiram claramente a opiniatildeo de que o processo de elaboraccedilatildeo
de uma poliacutetica mariacutetima comunitaacuteria permitiu a aquisiccedilatildeo de uma nova consciecircncia
puacuteblica sobre a importacircncia da economia e patrimoacutenio mariacutetimo e estaacute a criar entre eles
o sentimento de partilharem um objectivo e identidade comuns
Para tal a poliacutetica mariacutetima integrada deve procurar aumentar a visibilidade da
Europa mariacutetima e melhorar a imagem das suas actividades e das profissotildees ligadas ao
mar
A PMIE deve ainda promover o patrimoacutenio mariacutetimo europeu apoiando as
comunidades mariacutetimas as cidades portuaacuterias as comunidades piscatoacuterias tradicionais
os produtos artesanais as teacutecnicas tradicionais e fomentar a criaccedilatildeo de ligaccedilotildees entre
elas para incrementar o seu conhecimento e dar maior visibilidade
A Comissatildeo Europeia prossegue este objectivo recorrendo a iniciativas das quais
destaco o Dia Europeu do Mar82
(celebrado em Bruxelas Roma e Gijoacuten 2008 2009 e
2010 respectivamente) e as novas ldquoferramentasrdquo de comunicaccedilatildeo com realce para o
Atlas Europeu dos Mares o Foacuterum Mariacutetimo e o website oficial para os assuntos do mar
da Europa
O Atlas Europeu dos Mares83
jaacute eacute uma realidade Destina-se a todos os interessados
do mundo marinho e do patrimoacutenio mariacutetimo e o objectivo eacute sensibilizar a opiniatildeo
puacuteblica para a importacircncia dos oceanos e dos mares da Europa Este Atlas pedagoacutegico
fornece uma seacuterie de dados fiaacuteveis e regularmente actualizados sobre temas tatildeo variados
como o relevo do fundo do mar a erosatildeo costeira a frota de pesca europeia o
transporte mariacutetimo a amplitude de mareacutes as quotas de pesca por espeacutecie e por regiatildeo e
as ldquoauto-estradas do marrdquo
Tanto o Foacuterum Mariacutetimo84
como o website85
contribuem para ajudar a melhor
compreender a visatildeo transversal da actividade mariacutetima presente em diversos sectores
de actividade Estas ferramentas satildeo meios eficazes para disseminar informaccedilatildeo sobre a
comunidade mariacutetima dar a conhecer boas praacuteticas mariacutetimas e podem ainda servir de
82
Informaccedilatildeo sobre Dia Europeu do Mar disponiacutevel em httpeceuropaeumaritimeaffairsmaritimeday 83
Atlas Europeu do Mares disponiacutevel em httpeceuropaeumaritimeaffairsatlas 84
Foacuterum Mariacutetimo disponiacutevel em httpswebgateeceuropaeumaritimeforum 85
Website oficial do Assuntos Mariacutetimos europeus httpeceuropaeumaritimeaffairs
51
alavanca para futuras sinergias potenciando a economia mariacutetima o ambiente marinho
e as comunidades costeiras
33 Instrumentos econoacutemico-financeiros de apoio agrave PMIE
As poliacuteticas independentemente da sua natureza carecem sempre de instrumentos
financeiros para agilizar a prossecuccedilatildeo das mesmas A PMIE natildeo foge a esta regra
Conveacutem neste ponto destinado aos instrumentos financeiros distingui-los quanto agrave
forma como contribuem para consolidaccedilatildeo da PMIE Assim sendo comeccedilo pelos
instrumentos ao dispocircr da poliacutetica de coesatildeo e da poliacutetica regional que apesar de
exercerem um papel importante na eliminaccedilatildeo das assimetrias regionais natildeo saciam
todas as necessidades impliacutecitas na PMIE De seguida abordo outros instrumentos
financeiros (Fundo Europeu das Pescas Instrumento Europeu de Vizinhanccedila e de
Parceria e o 7ordm Programa-Quadro) que vatildeo ao encontro de algumas medidas enunciadas
no plano de acccedilatildeo do Livro Azul e para terminar faccedilo referecircncia ao receacutem-criado
programa de apoio ao aprofundamento da PMIE
331 A poliacutetica de coesatildeo e a poliacutetica regional europeia
A expressatildeo ldquopoliacutetica de coesatildeordquo designa um quadro poliacutetico de solidariedade a
niacutevel europeu traduzindo-se em centenas de milhares de projectos em toda a Europa
que beneficiam do apoio do Fundo de Coesatildeo e dos Fundos Estruturais ndash o Fundo
Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER) e o Fundo Social Europeu (FSE)
Para acelerar a convergecircncia econoacutemica social e territorial a Uniatildeo Europeia
instituiu um Fundo de Coesatildeo em 1994 Este fundo destina-se aos paiacuteses cujo PIB
meacutedio por habitante eacute inferior a 90 da meacutedia comunitaacuteria O Fundo de Coesatildeo tem por
finalidade conceder financiamentos a favor de projectos de infra-estruturas nos
domiacutenios do ambiente e dos transportes Contudo a aplicaccedilatildeo do Fundo de Coesatildeo estaacute
sujeita a determinadas condiccedilotildees Caso o deacutefice puacuteblico de um Estado Membro
52
beneficiaacuterio exceder 3 do PIB nacional (regras de convergecircncia da Uniatildeo Econoacutemica
Monetaacuteria) nenhum novo projecto seraacute aprovado enquanto o deacutefice natildeo estiver outra
vez sob controlo
A coesatildeo econoacutemica e social descrita no Acto Uacutenico Europeu de 1986 propotildee-se
ldquoreduzir a diferenccedila entre as diversas regiotildees e o atraso das regiotildees menos favorecidasrdquo
O Tratado de Lisboa acrescenta-lhe uma terceira vertente quando fala de poliacutetica de
coesatildeo econoacutemica social e territorial Isto significa que a poliacutetica de coesatildeo tambeacutem
deve visar um desenvolvimento territorial mais equilibrado e sustentaacutevel
As orientaccedilotildees estrateacutegicas da poliacutetica de coesatildeo para o periacuteodo 2007-2013
centram-se em torno de trecircs prioridades 1ordf ndash reforccedilo da capacidade de atracccedilatildeo dos
Estados-Membros das regiotildees e das cidades 2ordf ndash promoccedilatildeo da inovaccedilatildeo do espiacuterito
empresarial e do crescimento da economia do conhecimento 3ordf Criaccedilatildeo de mais e
melhores empregos
Hoje em dia a Europa enfrenta uma tarefa esmagadora Natildeo soacute tem de vencer a
crise profunda que atravessa e reduzir o desemprego e a pobreza como deve transitar
para uma economia com baixas emissotildees de carbono Tatildeo ambiciosa tarefa requer
grande rapidez de acccedilatildeo em muitas e variadas frentes razatildeo pela qual o Conselho
Europeu adoptou a Estrateacutegia ldquoEuropa 2020rdquo Para que a Europa venccedila todos os
intervenientes tecircm de dar o seu contributo agrave escala europeia nacional regional e local
A poliacutetica de coesatildeo tem de continuar a desempenhar um papel fundamental nos tempos
difiacuteceis que atravessamos para estimular o crescimento inteligente (valorizando o
conhecimento a inovaccedilatildeo a educaccedilatildeo e a sociedade digital) sustentaacutevel (promovendo
um economia hipocarboacutenica em termos de recursos e competitividade) e inclusivo
(aumento da taxa de participaccedilatildeo no mercado de trabalho aquisiccedilatildeo de qualificaccedilotildees e
luta contra a pobreza) com vista ao desenvolvimento harmonioso da UE e assim
reduzir as disparidades regionais Indubitavelmente sem a poliacutetica de coesatildeo as
disparidades seriam maiores
Contudo a coesatildeo econoacutemica social e territorial eacute essencialmente concretizada
atraveacutes da poliacutetica regional A poliacutetica regional da UE favorece a reduccedilatildeo das diferenccedilas
estruturais existentes entre as regiotildees o desenvolvimento equilibrado do territoacuterio
comunitaacuterio e a promoccedilatildeo de uma igualdade de oportunidades efectiva entre as pessoas
A poliacutetica regional constitui a segunda maior rubrica orccedilamental da UE com uma
dotaccedilatildeo de 348 mil milhotildees de euros para o periacuteodo de 2007-2013 O alargamento para
53
27 Estados Membros em Janeiro de 2007 alterou a situaccedilatildeo da UE pois enquanto a
superfiacutecie da UE aumentou mais de 25 e a populaccedilatildeo mais de 20 a sua riqueza soacute
aumentou cerca de 5 O PIB meacutedio por habitante da UE diminuiu mais de 10 e as
disparidades regionais foram multiplicadas por dois Eacute sabido que aproximadamente
60 das regiotildees menos desenvolvidas se situam doravante nos 12 Estados-Membros
que aderiram desde 2004 Logo facilmente se depreende a deslocaccedilatildeo do centro de
gravidade da poliacutetica regional para Leste
Para o periacuteodo de 2007-2013 a dotaccedilatildeo financeira atribuiacuteda agrave poliacutetica regional
aproxima-se dos 348 mil milhotildees de euros 278 mil milhotildees para os Fundos Estruturais
e 70 mil milhotildees para o Fundo de Coesatildeo Esta dotaccedilatildeo representa 45 do orccedilamento
comunitaacuterio ou seja constitui a segunda rubrica orccedilamental logo atraacutes da Poliacutetica
Agriacutecola Comum (PAC)
Cabe agraves regiotildees e agraves respectivas entidades regionais atraveacutes das poliacuteticas de coesatildeo
e desenvolvimento regional afectarem uma parte dos fundos europeus para financiarem
projectos de interesse mariacutetimo e que vatildeo ao encontro do estipulado na PMIE
332 Fundos Estruturais
Como foi referido anteriormente existem dois tipos de fundos estruturais o Fundo
Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER) e o Fundo Social Europeu (FSE)
O FEDER86
apoia desde 1975 a realizaccedilatildeo de infra-estruturas e investimentos
produtivos geradores de emprego nomeadamente os destinados agraves empresas
O FSE87
instituiacutedo em 1958 apoia a inserccedilatildeo profissional dos desempregados e das
categorias desfavorecidas da populaccedilatildeo financiando nomeadamente acccedilotildees de
formaccedilatildeo
86
Regulamento (CE) nordm 16982005 do Conselho de 20 de Setembro de 2005 relativo ao apoio ao
desenvolvimento rural pelo Fundo Europeu Agriacutecola de Desenvolvimento Rural 87
Regulamento (CE) nordm 17841999 do Parlamento Europeu e do Conselho de 12 de Julho de 1999
relativo ao Fundo Social Europeu
54
Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER)
O FEDER destina-se a reforccedilar a coesatildeo econoacutemica e social na Uniatildeo Europeia
atraveacutes da correcccedilatildeo dos desequiliacutebrios regionais Resumidamente o FEDER financia
Ajudas directas aos investimentos realizados nas empresas
designadamente as pequenas e meacutedias empresas (PME`s) a fim de criar
emprego duradouro
Infra-estruturas ligadas nomeadamente agrave investigaccedilatildeo e agrave inovaccedilatildeo agraves
telecomunicaccedilotildees ao ambiente agrave energia e aos transportes
Instrumentos financeiros (fundos de capital de risco fundos de
desenvolvimento local etc) a fim de apoiar o desenvolvimento regional e local
e favorecer a cooperaccedilatildeo entre as cidades e regiotildees
Medidas de assistecircncia teacutecnica
O FEDER interveacutem na poliacutetica regional em trecircs objectivos a convergecircncia a
competitividade regional e emprego e a cooperaccedilatildeo territorial europeia
Fundo Social Europeu (FSE)
O FSE tem por objectivo melhorar o emprego e as possibilidades de emprego na
Uniatildeo Europeia e interveacutem no acircmbito dos objectivos da convergecircncia e competitividade
regional e emprego
O FSE apoia as acccedilotildees dos Estados-membros nos domiacutenios seguintes
Adaptaccedilatildeo dos trabalhadores e das empresas sistemas de aprendizagem
ao longo da vida concepccedilatildeo e difusatildeo de formas de organizaccedilatildeo do trabalho
inovadoras
Acesso ao emprego por parte das pessoas que procuram trabalho das
pessoas inactivas das mulheres e dos migrantes
Integraccedilatildeo social das pessoas desfavorecidas e luta contra a
discriminaccedilatildeo no mercado do trabalho
Reforccedilo do capital humano atraveacutes da reforma dos sistemas educativos e
colocaccedilatildeo em rede dos estabelecimentos de ensino
55
333 Outras fontes de financiamento
A PMIE aleacutem dos fundos estruturais e do fundo de coesatildeo tem ao seu dispocircr
outros instrumentos financeiros como seja o Fundo Europeu para as Pescas88
que
serve para estimular actividades econoacutemicas alternativas agrave pesca como o turismo
verde previsto para o desenvolvimento sustentaacutevel das zonas de pesca costeiras o
Instrumento Europeu de Vizinhanccedila e de Parceria89
contribuiraacute atraveacutes da cooperaccedilatildeo
transfronteiriccedila para dar resposta a problemas comuns dos paiacuteses do litoral inseridos em
bacias mariacutetimas
O Banco Europeu de Investimento (BEI) pode igualmente constituir um
importante instrumento para financiamento de avultados investimentos infra-estruturais
destinados a facilitar o ordenamento espacial e a execuccedilatildeo de estrateacutegias de
desenvolvimento de poacutelos de competitividade em regiotildees costeiras ou melhorar as
ligaccedilotildees agrave rede de produccedilatildeo de energias renovaacuteveis
Por fim realccedilo a primeira call lanccedilada a 30 de Julho de 2009 pela Comissatildeo
Europeia denominada The Ocean of Tomorrow integrada no seacutetimo Programa-Quadro
Ela eacute dotada de um orccedilamento de 34 milhotildees de euros para projectos de investigaccedilatildeo
multidisciplinar com o objectivo de conciliar o desenvolvimento de actividades
mariacutetimas com a preservaccedilatildeo dos mares e oceanos Uma segunda call ainda referente
ao seacutetimo Programa-Quadro de 45 milhotildees foi entretanto lanccedilada a 30 de Julho de
2010 Espera-se que as propostas abordem a complexidade dos oceanos e mares
integrando vaacuterias disciplinas (ambiente transportes energia pescas economia e
ciecircncias sociais) promovendo tambeacutem novos modelos de gestatildeo integrada do oceano O
prazo limite para entrega de candidaturas da segunda chamada termina no dia 18 de
Janeiro de 2011
Estas duas chamadas conjuntas respondem agrave necessidade de alocar meios
financeiros de suporte agraves prioridades expostas na Estrateacutegia Europeia para a
Investigaccedilatildeo Marinha e Mariacutetima e assim dar resposta ao pilar ambiental da PMIE
88
Decisatildeo 2005367CE do Conselho de 14 de Abril de 2005 que autoriza os Estados-Membros a
ratificar no interesse da Comunidade Europeia a Convenccedilatildeo da Organizaccedilatildeo Internacional do Trabalho
relativa aos documentos de identificaccedilatildeo dos mariacutetimos (Convenccedilatildeo nordm 185) - JO L 136 de 3052005 89
httpeceuropaeuworldenpfunding_enhtm
56
334 Programa de apoio ao aprofundamento da PMIE
Apesar dos instrumentos financeiros disponibilizados a implementaccedilatildeo da PMIE
pode estar em risco devido agrave falta de meios para financiar as acccedilotildees necessaacuterias durante
o periacuteodo remanescente (2010-2013)
Para tal efeito entendeu a Comissatildeo Europeia ser necessaacuterio estabelecer um
programa de apoio a medidas destinadas a promover o aprofundamento e a
implementaccedilatildeo da PMIE uma vez que os outros instrumentos disponibilizados pela UE
e apresentados anteriormente (o Fundo de Coesatildeo o FEDER o FSE o Fundo Europeu
das Pescas o seacutetimo Programa-Quadro de actividades em mateacuteria de investigaccedilatildeo
desenvolvimento tecnoloacutegico e demonstraccedilatildeo e o Instrumento Europeu de Vizinhanccedila e
Parceria) natildeo cobrirem significativamente as prioridades e objectivos da poliacutetica
mariacutetima integrada
No entanto este programa serviraacute de complemento aos instrumentos financeiros
actuais e futuramente disponibilizados ao niacutevel nacional e sub-nacional pelos Estados-
Membros para promover a protecccedilatildeo e a utilizaccedilatildeo sustentaacutevel dos oceanos e mares e
das zonas costeiras
Para que a Uniatildeo Europeia implemente e aprofunde a PMIE e prossiga os
objectivos basilares estabelecidos no Livro Azul eacute necessaacuterio um apoio financeiro
modesto mas constante Daiacute que juntamente com os Estados-Membros e as partes
interessadas este financiamento permite prosseguir os trabalhos exploratoacuterios jaacute
iniciados atraveacutes de acccedilotildees preparatoacuterias e projectos-piloto e desenvolver e concretizar
ainda melhor as opccedilotildees de execuccedilatildeo da PMIE
A dotaccedilatildeo financeira para a execuccedilatildeo do programa de apoio ao aprofundamento da
PMIE foi fixada em 50 milhotildees de euros e seraacute aplicaacutevel entre 1 de Janeiro de 2011 e 31
de Dezembro de 2013
O programa de apoio tem os seguintes dez objectivos gerais90
Favorecer o desenvolvimento e a implementaccedilatildeo de uma governaccedilatildeo
integrada dos assuntos mariacutetimos e costeiros e estrateacutegias integradas para as
bacias mariacutetimas
90
COM (2010) 494 final 11
57
Contribuir para o desenvolvimento de instrumentos transversais para as
poliacuteticas sectoriais ligadas ao mar ou agraves zonas costeiras
Apoiar a articulaccedilatildeo das poliacuteticas e promover a utilizaccedilatildeo sustentaacutevel dos
recursos marinhos e costeiros o crescimento econoacutemico sustentaacutevel a inovaccedilatildeo
e o emprego nos sectores mariacutetimos e nas regiotildees costeiras em consonacircncia com
as prioridades e acccedilotildees das poliacuteticas sectoriais
Melhor definir os limites da sustentabilidade das actividades humanas
com impacto no meio marinho no acircmbito da Directiva-Quadro Estrateacutegia
Marinha
Melhorar e reforccedilar a cooperaccedilatildeo e a coordenaccedilatildeo externas no que
respeita aos objectivos da poliacutetica mariacutetima integrada
Estes objectivos do programa de apoio ao aprofundamento da PMIE podem-se
traduzir nas seguintes acccedilotildees elegiacuteveis91
Estudos e programas de cooperaccedilatildeo
Informaccedilatildeo do puacuteblico e partilha de boas praacuteticas sensibilizaccedilatildeo do
puacuteblico e actividades associadas de comunicaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo incluindo
campanhas de publicidade eventos e ainda o desenvolvimento e a manutenccedilatildeo
de siacutetios Web
Conferecircncias seminaacuterios grupos de trabalho e foacuteruns de partes
interessadas
Mutualizaccedilatildeo monitorizaccedilatildeo e visualizaccedilatildeo de uma grande quantidade de
informaccedilotildees boas praacuteticas e bases de dados sobre os projectos regionais
financiados pela UE e garantia do correspondente acesso do puacuteblico
nomeadamente sempre que adequado por intermeacutedio de um secretariado
instituiacutedo para um ou vaacuterios destes efeitos
Acccedilotildees referentes a instrumentos transversais incluindo projectos-piloto
91
COM (2010) 494 final 12-13
58
Cap IV ndash Orientaccedilotildees estrateacutegias para o futuro da PMIE
41 Breve balanccedilo
A poliacutetica mariacutetima integrada europeia estabeleceu-se como uma nova abordagem
destinada a reforccedilar o desenvolvimento oacuteptimo e sustentaacutevel de todas as actividades
relacionadas com o mar Confirmou a visatildeo de que a Europa pode colher benefiacutecios
muito maiores com um impacto ambiental muito menor se articular as poliacuteticas relativas
aos oceanos e mares As instituiccedilotildees da Uniatildeo Europeia os Estados-Membros e as
regiotildees criaram estruturas de governaccedilatildeo para garantir que as poliacuteticas mariacutetimas
deixassem de ser desenvolvidas de uma forma isolada e tomassem em consideraccedilatildeo as
relaccedilotildees e sinergias com outras aacutereas poliacuteticas Os stakeholders confirmaram o interesse
consideraacutevel que a ampla consulta realizada em 2006-2007 despertou e a PMIE tornou-
se uma das poliacuteticas da Uniatildeo Europeia que mais recorre a uma abordagem ldquoda base
para o topordquo No domiacutenio das poliacuteticas sectoriais com impacto no mar e no litoral
nomeadamente as poliacuteticas da pesca dos transportes do ambiente da energia da
induacutestria ou da investigaccedilatildeo deram-se passos consideraacuteveis no sentido de uma maior
integraccedilatildeo e coerecircncia Foram tambeacutem adoptadas as primeiras medidas para aplicar a
PMIE numa base regional Em resumo a poliacutetica mariacutetima integrada da Uniatildeo Europeia
estaacute a modificar a forma como os europeus olham para os seus mares e oceanos
reafirmando ao mesmo tempo a importacircncia estrateacutegica dos mares e das regiotildees
costeiras do continente92
O quadro oferecido pela PMIE procura essencialmente concretizar (e jaacute comeccedilou a
fazecirc-lo) quatro objectivos93
Promover a integraccedilatildeo das estruturas de governaccedilatildeo tornando-as mais
abertas agrave participaccedilatildeo e agrave cooperaccedilatildeo
Criar uma base de conhecimentos e os instrumentos transectoriais
necessaacuterios para permitir a execuccedilatildeo das poliacuteticas integradas
92
COM (2009) 540 final 2 93
COM 2009) 540 final 3
59
Melhorar a qualidade das poliacuteticas sectoriais atraveacutes da procura activa de
sinergias e de uma maior coerecircncia transectorial
No quadro da realizaccedilatildeo dos objectivos acima referidos tomar em
consideraccedilatildeo as especificidades dos mares regionais que banham a Europa e
encontrar soluccedilotildees adaptadas a cada caso
A aplicaccedilatildeo do plano de acccedilatildeo conheceu jaacute um franco progresso das 65 acccedilotildees
incluiacutedas no plano foram iniciadas ou concluiacutedas 56 (trata-se na maior parte de actos
da Comissatildeo Europeia ou Conselho Europeu) Foram empreendidas vaacuterias iniciativas
em relaccedilatildeo a nove das acccedilotildees desse plano embora os documentos oficiais natildeo tenham
sido ainda adoptados
42 Governaccedilatildeo mariacutetima e participaccedilatildeo das partes interessadas
O Livro Azul defende que eacute necessaacuterio repensar a gestatildeo dos mares e oceanos a
todos os niacuteveis de governaccedilatildeo isto eacute nas instituiccedilotildees da UE nos Estados-Membros e
nas regiotildees Os actores poliacuteticos responderam em geral de uma forma muito positiva
passados dois anos tomaram-se medidas em toda a Uniatildeo para superar a
compartimentaccedilatildeo das vaacuterias poliacuteticas relacionadas com o mar aumentar a participaccedilatildeo
das partes interessadas e identificar sinergias poliacuteticas Importa agora realccedilar os
progressos alcanccedilados pelas instituiccedilotildees europeias Estados membros regiotildees e tambeacutem
pelos stakeholders
Instituiccedilotildees da UE94
A Comissatildeo Europeia adoptou diversas medidas no sentido de integrar o processo
de definiccedilatildeo da poliacutetica mariacutetima Em 2005 foi criado um Grupo Director de
Comissaacuterios que examinou as iniciativas poliacuteticas mais importantes incluiacutedas no plano
de acccedilatildeo do Livro Azul Foram tambeacutem criadas estruturas para promover reuniotildees
94
COM (2009) 540 final 3-4
60
regulares entre as Direcccedilotildees-Gerais interessadas a fim de identificar sinergias e
eliminar eventuais incoerecircncias entre as poliacuteticas
A Comissatildeo Europeia reorganizou igualmente os seus serviccedilos e alargou o mandato
da Direcccedilatildeo-Geral dos Assuntos Mariacutetimos e das Pescas a fim de assegurar a
coordenaccedilatildeo poliacutetica global e desenvolver se necessaacuterio instrumentos transectoriais
tendo em conta as especificidades regionais
O Conselho Europeu mostra um grande empenhamento na PMIE Natildeo soacute reconhece
a natureza transectorial da PMIE ao abordaacute-la na sua formaccedilatildeo Assuntos Gerais e
Relaccedilotildees Externas como reafirma nas suas conclusotildees de 8 de Dezembro de 200895
ldquoque uma abordagem integrada das questotildees mariacutetimas constitui um objectivo da maior
importacircncia tendo em conta a necessidade de reforccedilar as sinergias a coerecircncia e o
valor acrescentado das acccedilotildees sectoriais empreendidas pela Uniatildeo Europeia
integrando-as numa visatildeo global dos mares dos oceanos e dos seus litorais tendo em
conta as especificidades regionais (hellip)rdquo
Em termos institucionais a participaccedilatildeo activa do Conselho e dos Estados-
Membros eacute assegurada pelos trabalhos do Conselho de Assuntos Gerais e pelos grupos
de contacto dos Estados-Membros para a PMIE Estes grupos satildeo a garantia de que se
utiliza plenamente os conhecimentos especializados existentes nas administraccedilotildees
nacionais se presta a devida atenccedilatildeo agraves necessidades especiacuteficas dos Estados-Membros
e das regiotildees costeiras e se obteacutem um consenso poliacutetico com o maacuteximo de transparecircncia
e impacto
A atenccedilatildeo e o apoio do Parlamento Europeu agrave poliacutetica mariacutetima tecircm sido muito
positivos96
Contudo os assuntos mariacutetimos continuam a ser tratados por diferentes
comissotildees e estruturas
O Comiteacute das Regiotildees tem dado vaacuterios contributos beneacuteficos para a PMIE A
Comissatildeo Europeia tomou nota em especial do parecer sobre o Livro Azul que conteacutem
elementos importantes para trabalhos futuros O recente parecer do Comiteacute ldquoPacote
mariacutetimo e costeirordquo97
constitui um exemplo valioso da combinaccedilatildeo de interesses
divergentes de uma forma coerente complementar e sineacutergica
95
16503108 REV 1 96
Especialmente atraveacutes do relatoacuterio A6-01632008 (Comissatildeo dos Transportes e do Turismo) de Willi
Piecyk deputado do Parlamento Europeu entretanto falecido 97
CdR 4162008 final adoptado em 17 de Junho de 2009
61
O Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu emitiu em 14 de Abril de 2008 um
parecer98
particularmente favoraacutevel agrave PMIE
Estados-Membros99
Agrave data da publicaccedilatildeo do Livro Verde poucas iniciativas existiam nos Estados-
Membros em favor de abordagens integradas Dois paiacuteses a Franccedila e os Paiacuteses Baixos
informaram que dispunham de uma estrutura administrativa para coordenar as poliacuteticas
mariacutetimas Pelo seu lado Portugal tinha jaacute iniciado acccedilotildees concretas com vista a uma
estrateacutegia sobre os oceanos Desde entatildeo registaram-se progressos consideraacuteveis e mais
Estados-Membros tomaram iniciativas para integrar a poliacutetica mariacutetima e partilhar boas
praacuteticas de abordagens integradas da poliacutetica mariacutetima Estas iniciativas satildeo
inteiramente conformes com as orientaccedilotildees publicadas pela Comissatildeo Europeia em
Junho de 2008100
e referem-se a mudanccedilas organizacionais eou ao desenvolvimento de
estrateacutegias integradas de mais longo prazo com vista ao desenvolvimento sustentaacutevel
dos sectores mariacutetimos e das regiotildees costeiras
De salientar os exemplos do Nationaal Waterplan neerlandecircs o Grenelle de la Mer
francecircs o Entwicklungsplan Meer alematildeo a Lei sueca sobre uma poliacutetica mariacutetima
coerente o plano polaco interdepartamental de uma poliacutetica mariacutetima e a Lei mariacutetima
britacircnica A Irlanda Portugal e a Esloveacutenia tomaram igualmente medidas neste sentido
A Beacutelgica a Bulgaacuteria a Repuacuteblica Checa a Dinamarca a Itaacutelia a Greacutecia a Finlacircndia e
a Espanha comunicaram tambeacutem a realizaccedilatildeo de actividades neste domiacutenio perfazendo
um total de 14 Estados membros
Regiotildees101
As regiotildees costeiras participam plenamente como parceiros da PMIE desde o seu
iniacutecio e satildeo as mais bem colocadas para identificar os elementos necessaacuterios para
executar a poliacutetica tanto a niacutevel local como das bacias mariacutetimas Mostraram
igualmente grande capacidade para trabalhar com as autoridades nacionais e com as
regiotildees de outros Estados-Membros com o objectivo de promover soluccedilotildees integradas
para as questotildees relativas ao mar A Conferecircncia das Regiotildees Perifeacutericas Mariacutetimas
98
JO 2008C 21107 99
COM (2009) 540 final 4-5 100
COM (2008) 395 final de 2662008 101
COM (2009) 540 final 5
62
(CRPM) que reuacutene cerca de 160 regiotildees europeias segue atentamente os progressos do
plano de acccedilatildeo atraveacutes de intervenccedilotildees regulares nas reuniotildees do grupo de trabalho
Aquamarina criado especificamente para promover a PMIE a niacutevel regional
Partes interessadas102
As partes interessadas tem tido um papel preponderante no estabelecimento de uma
PMIE para a UE Os actores regionais e empresariais e as ONG foram os primeiros a
advogar a articulaccedilatildeo das poliacuteticas da UE com impacto nos mares sectores mariacutetimos e
regiotildees costeiras As suas contribuiccedilotildees constituiacuteram a base para a criaccedilatildeo de conceitos
e instrumentos inovadores
A celebraccedilatildeo anual do Dia Europeu do Mar converteu-se no evento em que os
vaacuterios ciacuterculos interessados podem realizar intercacircmbios altamente produtivos A
Comissatildeo Europeia deve dar continuidade a este evento assim como ampliar o nuacutemero
de europeus participantes Ao mesmo tempo deve encorajar as partes interessadas a
voltar a organizar eventos descentralizados em torno do Dia Europeu do Mar celebrado
em 20 de Maio reflectindo desta forma as contribuiccedilotildees nacionais regionais e locais
para a PMIE
43 Instrumentos transectoriais
Conforme abordado no capiacutetulo III (Livro Azul) foi identificada a necessidade de
existirem instrumentos transectoriais nomeadamente o ordenamento do espaccedilo
mariacutetimo a vigilacircncia integrada e a construccedilatildeo de uma base de conhecimentos para a
poliacutetica mariacutetima Estes trecircs instrumentos desenvolveram-se a um bom ritmo e jaacute eacute
possiacutevel registar os primeiros resultados obtidos Ora vejamos
102
COM (2009) 540 final 5-6
63
Ordenamento do espaccedilo mariacutetimo (OEM) e gestatildeo integrada da zona costeira
(GIZC)103
O aumento das actividades desenvolvidas nos mares da Europa exacerbou a
competiccedilatildeo pelo espaccedilo mariacutetimo que eacute limitado O ordenamento do espaccedilo mariacutetimo eacute
um instrumento-chave para equilibrar os interesses sectoriais e garantir uma utilizaccedilatildeo
sustentaacutevel dos recursos marinhos sendo o seu princiacutepio subjacente uma abordagem
ecossisteacutemica Este processo proporciona agraves administraccedilotildees puacuteblicas e partes
interessadas um quadro de ordenamento estaacutevel fiaacutevel e centrado em objectivos
concretos a partir do qual podem coordenar as suas acccedilotildees e optimizar a utilizaccedilatildeo do
espaccedilo mariacutetimo em benefiacutecio do desenvolvimento econoacutemico e do meio marinho
A Comissatildeo adoptou em 2008 a comunicaccedilatildeo intitulada ldquoRoteiro para o
ordenamento do espaccedilo mariacutetimo definiccedilatildeo de princiacutepios comuns na UErdquo104
O roteiro
estabelece dez princiacutepios-chave e analisa o desenvolvimento entre os Estados-Membros
de uma abordagem comum que promova a aplicaccedilatildeo do OEM a niacutevel nacional e da UE
Em debates organizados pela Comissatildeo no decurso de 2009105
as partes
interessadas de todos os sectores mariacutetimos relevantes consideraram que os dez
princiacutepios-chave satildeo vaacutelidos tecircm um caraacutecter global e constituem uma base importante
para o desenvolvimento do OEM a niacutevel europeu A Comissatildeo Europeia lanccedilou
igualmente duas acccedilotildees preparatoacuterias no Baacuteltico (no acircmbito da estrateacutegia comunitaacuteria
para a regiatildeo do Baacuteltico) e no Mar do NorteAtlacircntico Nordeste visando o
desenvolvimento da vertente de cooperaccedilatildeo transfronteiras do OEM assim como um
estudo sobre o potencial do ordenamento do espaccedilo mariacutetimo no Mediterracircneo e os
benefiacutecios econoacutemicos do OEM
No seguimento da recomendaccedilatildeo incluiacuteda no Livro Azul no sentido da criaccedilatildeo de
um sistema de intercacircmbio de boas praacuteticas para o desenvolvimento da gestatildeo integrada
da zona costeira (GIZC) a Comissatildeo iniciou em 2009 um projecto destinado a fomentar
o intercacircmbio de boas praacuteticas e promover a aplicaccedilatildeo efectiva da GIZC106
No final de
2008 o Conselho assinou o Protocolo sobre a GIZC no acircmbito da Convenccedilatildeo de
Barcelona107
103
Para informaccedilatildeo detalhada sobre a GIZC consultar httpeceuropaeuenvironmenticzmourcoasthtm 104
COM(2008) 791 final 105
httpeceuropaeumaritimeaffairsspatial_planning_enhtml6 106
httpeceuropaeuenvironmenticzmourcoasthtm 107
COM (2009) 540 final 6-7
64
Integraccedilatildeo da vigilacircncia mariacutetima
A integraccedilatildeo da vigilacircncia mariacutetima permitiraacute aumentar a eficaacutecia das operaccedilotildees no
mar e reduzir os custos de exploraccedilatildeo As potenciais economias a niacutevel da UE satildeo
significativas se se considerar a necessidade crescente de detectar localizar interceptar
e controlar actividades iliacutecitas no mar assim como de prevenir acidentes mariacutetimos
detectar descargas ilegais controlar as actividades de pesca e proteger o ambiente
Ateacute agrave data a Comissatildeo elaborou descriccedilotildees pormenorizadas das vaacuterias iniciativas
de integraccedilatildeo da vigilacircncia mariacutetima108
empreendidas a niacutevel nacional regional e
europeu terminou um estudo sobre os aspectos juriacutedicos e regulamentares da integraccedilatildeo
da vigilacircncia mariacutetima e procedeu a um exerciacutecio conjunto com a Agecircncia Europeia de
Defesa e o Estado-Maior da UE em resposta a um pedido do Conselho de Defesa109
A
Comissatildeo lanccedilou igualmente dois convites agrave apresentaccedilatildeo de propostas num montante
total de 57 milhotildees de euros110
para projectos-piloto de integraccedilatildeo da vigilacircncia com
vista a promover uma cooperaccedilatildeo mais estreita entre as administraccedilotildees nacionais no
Mediterracircneo e na bacia do Mar do Norte111
Construccedilatildeo de uma base de conhecimentos para a poliacutetica mariacutetima
Natildeo eacute possiacutevel desenvolver uma poliacutetica mariacutetima sem dados e conhecimentos
adequados sobre os mares e o litoral da Europa O conhecimento do meio marinho
permanece eacute ainda muito disperso e pouco rentaacutevel A Rede Europeia de Observaccedilatildeo e
de Dados do Meio Marinho (EMODNET) anunciada no Livro Azul tem como
objectivo reduzir as incertezas no conhecimento dos mares e os custos operacionais dos
utilizadores de dados marinhos Eacute necessaacuterio avaliar as bases de dados e os programas
de observaccedilatildeo existentes em termos de cobertura precisatildeo e frequecircncia de recolha bem
como compilar de forma global e compatiacutevel os dados provenientes de diferentes fontes
e tornaacute-los acessiacuteveis como instrumento de boa governaccedilatildeo112
Destaque para o
lanccedilamento do ldquoAtlas Europeu dos Maresrdquo tem como objectivo sensibilizar o puacuteblico
para as questotildees marinhas
108
SEC (2008) 2337 109
COSDP 949 PESC 1366 110
Convites agrave apresentaccedilatildeo de propostas MARE200813 e 200904 111
COM (2009) 540 final 7 112
COM (2009) 540 final 7-8
65
44 Perspectivas e visatildeo futura da PMIE
Os uacuteltimos dois anos confirmaram que a PMIE eacute uma poliacutetica muito promissora e
que pode contribuir de forma muito significativa para o crescimento o emprego e a
sustentabilidade ambiental nas zonas costeiras da Europa e para aleacutem destas Apesar de
recente esta nova poliacutetica da UE jaacute alterou a forma como a Europa gere as suas riquezas
mariacutetimas e costeiras
Apoacutes trecircs anos de deliberaccedilotildees intensas eacute fundamental manter este impulso para
dar uma resposta aos desafios essenciais a meacutedio e longo prazo que representam a
protecccedilatildeo do ambiente o crescimento econoacutemico e o bem-estar O duplo impacto das
alteraccedilotildees climaacuteticas e da crise econoacutemica faz-se sentir de uma forma particular no
mundo mariacutetimo os oceanos determinam o nosso clima e o sector mariacutetimo foi o motor
da globalizaccedilatildeo e da prosperidade
Por conseguinte eacute importante desenvolver o potencial econoacutemico da Europa
mariacutetima melhorar a acccedilatildeo dos poderes puacuteblicos nos mares e continuar a explorar as
sinergias que permitem o reforccedilo muacutetuo do crescimento econoacutemico e da estabilidade
ambiental Segundo a Comissatildeo Europeia a melhor forma de alcanccedilar estes objectivos eacute
avanccedilar em seis direcccedilotildees estrateacutegicas
Eacute necessaacuterio consolidar a governaccedilatildeo mariacutetima integrada Os progressos
alcanccedilados nos uacuteltimos anos devem ser traduzidos em estruturas integradas eficazes a
todos os niacuteveis de governaccedilatildeo As instituiccedilotildees da UE os Estados-Membros e as regiotildees
costeiras tecircm uma responsabilidade particular na integraccedilatildeo da poliacutetica mariacutetima a
montante e na adopccedilatildeo de programas coerentes e comuns para os assuntos mariacutetimos
contrariando a tendecircncia prevalecente para pensar a poliacutetica sectorial de uma forma
isolada A participaccedilatildeo das partes interessadas na definiccedilatildeo das poliacuteticas mariacutetimas deve
igualmente ser consagrada de forma mais permanente nas estruturas de governaccedilatildeo
resultando num diaacutelogo mais intenso entre a UE os Governos dos Estados-Membros e
as regiotildees costeiras que frequentemente detecircm as competecircncias fundamentais
necessaacuterias para uma abordagem integrada dos assuntos mariacutetimos Pela mesma razatildeo
seria conveniente criar uma plataforma intersectorial de diaacutelogo entre as partes
interessadas sobre os assuntos mariacutetimos113
113
COM (2009) 540 final 11
66
Os instrumentos poliacuteticos transectoriais satildeo fundamentais para fomentar o
desenvolvimento econoacutemico a monitorizaccedilatildeo do ambiente a seguranccedila e o respeito da
legislaccedilatildeo nos oceanos e mares da Europa Em especial o ordenamento do espaccedilo
mariacutetimo a par de um maior conhecimento do meio marinho pode incentivar
investimentos econoacutemicos consideraacuteveis e melhorar drasticamente a forma como
gerimos os nossos espaccedilos mariacutetimos preservando os seus ecossistemas Deve pois
converter-se num instrumento praacutetico a todos os niacuteveis de governaccedilatildeo relevantes e
contar com os mecanismos necessaacuterios para garantir um processo decisoacuterio comum
sobre os investimentos transfronteiriccedilos A integraccedilatildeo da vigilacircncia mariacutetima pode
contribuir para modificar a forma como as autoridades nacionais executam objectivos
essenciais como a luta contra a imigraccedilatildeo ilegal a protecccedilatildeo da navegaccedilatildeo comercial e
a protecccedilatildeo dos recursos naturais Os Estados-Membros e a Comissatildeo teratildeo de continuar
a colaborar nestes domiacutenios para que os processos iniciados nos uacuteltimos dois anos
possam alcanccedilar os resultados previstos114
A definiccedilatildeo dos limites de sustentabilidade das actividades humanas com um
impacto no meio marinho nos proacuteximos anos no acircmbito da Directiva-Quadro
ldquoEstrateacutegia Marinhardquo traraacute clareza e permitiraacute criar uma plataforma para o
desenvolvimento de todas as actividades mariacutetimas tendo em conta os seus efeitos
cumulativos Por esta razatildeo a aplicaccedilatildeo desta directiva continuaraacute a constituir um
objectivo fundamental da PMIE que deveraacute igualmente reforccedilar a cooperaccedilatildeo entre
todos os sectores e serviccedilos afectados nomeadamente entre as ciecircncias marinhas e a
poliacutetica para o meio marinho115
As estrateacutegias baseadas nas bacias mariacutetimas satildeo fundamentais para o ecircxito da
PMIE pois permitem adaptar as prioridades e os instrumentos poliacuteticos aos contextos
geograacutefico econoacutemico e poliacutetico especiacuteficos de cada grande regiatildeo mariacutetima Um
elemento essencial para que a PMIE seja bem sucedida eacute a cooperaccedilatildeo com e entre os
Estados-Membros e as regiotildees que partilham bacias mariacutetimas e sendo necessaacuterio esta
cooperaccedilatildeo deveraacute ser acompanhada de um diaacutelogo apropriado com os paiacuteses terceiros
que partilham bacias mariacutetimas com a UE As acccedilotildees a niacutevel das sub-bacias podem
igualmente ser uacuteteis e constituir exemplos positivos e de boas praacuteticas116
114
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COM (2009) 540 final 12
67
Deveraacute prestar-se uma maior atenccedilatildeo agrave dimensatildeo internacional da PMIE A
Europa deve assumir um papel de motor na melhoria da governaccedilatildeo mariacutetima agrave escala
mundial como jaacute o fez no que respeita agrave pirataria ou agraves praacuteticas de pesca destrutivas A
Comissatildeo pretende reforccedilar o diaacutelogo com um nuacutemero limitado dos seus principais
parceiros mariacutetimos assim como a sua participaccedilatildeo em foacuteruns internacionais e
processos informais117
No presente contexto de crise econoacutemica a execuccedilatildeo da PMIE deveraacute recentrar-se
no crescimento econoacutemico no emprego e na inovaccedilatildeo sustentaacuteveis Por conseguinte no
futuro a UE deve explorar as sinergias entre a poliacutetica energeacutetica comunitaacuteria e a PMIE
promover a produccedilatildeo de energia no mar nomeadamente as formas de energia
renovaacuteveis e utilizar mais o mar para o transporte de energia por condutas redes
submarinas e navios Seraacute igualmente necessaacuterio fortalecer os viacutenculos entre a poliacutetica
comunitaacuteria de combate agraves alteraccedilotildees climaacuteticas e a PMIE desenvolvendo uma
estrateacutegia de adaptaccedilatildeo das zonas costeiras e mariacutetimas agraves alteraccedilotildees climaacuteticas com
vista a proteger as infra-estruturas costeiras e preservar a biodiversidade marinha Eacute
importante garantir que as zonas mariacutetimas e costeiras entrem plenamente em conta no
debate em curso sobre a coesatildeo territorial
A UE deve aleacutem disso promover ainda mais o transporte mariacutetimo a fim de
favorecer a co-modalidade pocircr em praacutetica o conceito de auto-estradas do mar e
melhorar o programa de transporte mariacutetimo de curta distacircncia da UE Ainda no acircmbito
do objectivo de impulsionar o desenvolvimento econoacutemico das actividades mariacutetimas
seraacute necessaacuterio encontrar a forma e os meios de estimular o emprego mariacutetimo e o
investimento na frota embandeirada da UE continuando todavia a apostar firmemente
no conceito de navios ecoloacutegicos Com efeito o apoio agrave inovaccedilatildeo e agrave investigaccedilatildeo a
favor de navios com baixo niacutevel de emissotildees ou mesmo com emissotildees nulas continuaraacute
a constituir a resposta principal da Comunidade agrave situaccedilatildeo do sector da construccedilatildeo
naval tatildeo importante do ponto de vista estrateacutegico Desta maneira a UE poderaacute
proporcionar aos estaleiros navais europeus e agrave europeia induacutestria do equipamento de
navios uma vantagem tecnoloacutegica sobre os seus concorrentes noutras regiotildees do mundo
e tornar o transporte mariacutetimo mais seguro e sustentaacutevel em especial ao longo das
costas da Europa118
117
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COM (2009) 540 final 12
68
Cap V ndash Estrateacutegia Nacional para o Mar
ldquoA Estrateacutegia Nacional para o Mar (ENM) constitui um instrumento poliacutetico
fundamental para que Portugal possa proteger e valorizar o inestimaacutevel recurso que o
oceano representa para o nosso paiacutesrdquo Cit pelo Dr Joatildeo Mira Gomes (ex-Secretaacuterio de
Estado da Defesa Nacional e dos Assuntos do Mar) na ENM 2007 p V)
Como referi no primeiro capiacutetulo a ligaccedilatildeo de Portugal ao mar ganhou especial
relevacircncia durante a eacutepoca dos Descobrimentos marcando decisivamente o iniacutecio do
processo de globalizaccedilatildeo As trocas comerciais culturais cientiacuteficas e tecnoloacutegicas daiacute
resultantes promoveram o grande desenvolvimento do nosso paiacutes e alteraram
definitivamente os processos de transmissatildeo de conhecimentos entre os povos Neste
capiacutetulo dedico-me agrave anaacutelise da evoluccedilatildeo entre 1998 e 2010 das principais dinacircmicas
mariacutetimas nacionais
Portugal actualmente dispotildee de uma das maiores zonas econoacutemicas exclusivas
(ZEE) da Europa com mais de 1700000 km2 o que corresponde a cerca de 18 vezes a
sua aacuterea terrestre existindo ainda a possibilidade de vir a contar com espaccedilos mariacutetimos
sob sua jurisdiccedilatildeo que poderatildeo exceder em muito a actual aacuterea da ZEE
Neste acircmbito a Estrutura de Missatildeo para a Extensatildeo da Plataforma Continental
(EMEPC) estaacute a trabalhar no sentido de determinar espaccedilos a reclamar por Portugal
para aleacutem das actuais 200 milhas naacuteuticas Assim a EMEPC elaborou a proposta
portuguesa chefiada pelo oceanoacutegrafo Manuel Pinto de Abreu que foi recentemente
apresentada agrave Comissatildeo de Limites para a Extensatildeo da Plataforma Continental (CLPC)
da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) Ateacute hoje a ONU recebeu 51 propostas de
Estados que querem ver aumentado o seu domiacutenio mariacutetimo Portugal foi o 44ordm paiacutes a
entregar a proposta A ONU encontra-se a avaliar a 16ordf proposta e prevecirc-se que a
decisatildeo relativa agrave proposta portuguesa seja conhecida em 2015
Caso seja aceite a proposta de alargamento pela ONU Portugal passaraacute a deter uma
aacuterea territorial equivalente 43 vezes agrave aacuterea de Portugal Continental Accedilores e Madeira
ou seja o equivalente agrave da Iacutendia e a segunda maior plataforma mundial a seguir aos
Estados Unidos da Ameacuterica
69
As Regiotildees Autoacutenomas da Madeira e dos Accedilores assumem aqui um papel de
destaque pelo seu posicionamento central nos espaccedilos mariacutetimos sob soberania ou
jurisdiccedilatildeo nacional
Este extenso espaccedilo mariacutetimo encerra alguns dos mais importantes ecossistemas
oceacircnicos a niacutevel global As caracteriacutesticas biogeograacuteficas e geomorfoloacutegicas das aacutereas
sob jurisdiccedilatildeo nacional englobam uma vasta biodiversidade marinha Os ambientes
insulares oceacircnicos o mar profundo e as planiacutecies abissais os montes e bancos
submarinos a dorsal meacutedio-atlacircntica119
os campos de fontes hidrotermais as
riquiacutessimas zonas estuarinas e lacustres os grandes canhotildees submarinos as zonas de
afloramento costeiro entre outros conferem a Portugal um patrimoacutenio natural uacutenico que
importa valorizar e preservar A este patrimoacutenio juntam-se os valores arqueoloacutegicos
culturais esteacuteticos e histoacutericos os recursos geoloacutegicos e minerais os recursos
energeacuteticos renovaacuteveis e os recursos biotecnoloacutegicos que no seu conjunto representam
um dos principais activos nacionais
Destaco tambeacutem o pioneirismo de Portugal ao niacutevel da concepccedilatildeo de um plano de
governacircncia integrado para os assuntos do Mar Refiro-me em particular ao relatoacuterio
da Comissatildeo Estrateacutegica dos Oceanos (CEO)ldquoO Oceano ndash Um Desiacutegnio Nacional
para o Seacuteculo XXIrdquo elaborado em 2004 que apresentou uma Estrateacutegia Nacional para o
Oceano Esta CEO dotou Portugal de uma nova visatildeo ldquoUm Oceano saudaacutevel
sustentaacutevel e seguro eacute o principal activo fiacutesico e sociocultural de Portugalrdquo e uma
missatildeo ldquoDestacar Portugal como uma naccedilatildeo mariacutetima da Uniatildeo Europeiardquoque
permita desenvolver e interiorizar colectivamente uma nova abordagem aos Oceanos
Para a prossecuccedilatildeo destas uacuteltimas a CEO baseou a sua estrateacutegia em cinco
objectivos que passo a enumerar
1) Valorizar a associaccedilatildeo de Portugal ao Oceano como Factor de Identidade
2) Assegurar o conhecimento e a protecccedilatildeo do Oceano
3) Promover o desenvolvimento sustentaacutevel de actividades econoacutemicas
4) Assumir uma posiccedilatildeo de destaque e especializaccedilatildeo em assuntos do Oceano
5) Construir uma estrutura institucional moderna de gestatildeo do oceano
119
A dorsal meacutedio-atlacircntica ou crista oceacircnica do Atlacircntico eacute uma cordilheira submarina que se estende
sob o Oceano Atlacircntico e o Oceano Aacutertico desde a latitude 87ordmN ateacute agrave ilha sub-antaacutertica de Bouvet agrave
latitude 54ordmS Os pontos mais elevados desta cordilheira emergem em vaacuterios locais formando ilhas
70
Em suma este valioso contributo surge da ldquonecessidade de encontrar mecanismos
de reforccedilo da identidade nacional que respondam agrave pressatildeo da homogeneizaccedilatildeo
cultural e agrave premecircncia de conceber um modelo de desenvolvimento sustentaacutevel que decirc
resposta agrave competitividade acrescida no quadro global em geral e no quadro europeu
em particular120
rdquo Este trabalho bem estruturado inovador e orientador serviu de
modelo-base para as actuais Estrateacutegia Nacional para o Mar e Poliacutetica Mariacutetima
Integrada Europeia
De facto Portugal goza de uma reputaccedilatildeo internacional de paiacutes mariacutetimo com
ideias e acccedilotildees proacuteprias sendo um activo contribuidor para a agenda global dos
oceanos
Depois de seacuteculos ligados ao mar natildeo se compreende muito bem nos dias de hoje
que o Mar seja para a maioria da sociedade portuguesa algo de distante
intangiacutevel e invisiacutevel121
No entanto saliento ainda que nos uacuteltimos anos em Portugal
foram dados passos importantes no que concerne agrave poliacutetica dos oceanos Entre os mais
significativos destaco
Em 1998 a Comissatildeo Mundial Independente para os Oceanos liderada
por Portugal e presidida pelo ex-Presidente da Repuacuteblica Dr Maacuterio Soares
aprovou o relatoacuterio ldquoO Oceano Nosso Futurordquo no acircmbito da Comissatildeo
Oceanograacutefica Intergovernamental da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a
Educaccedilatildeo Ciecircncia e Cultura (UNESCO)
O Ano Internacional dos Oceanos que se comemorou em 1998 na
sequecircncia de uma proposta apresentada por Portugal agrave Assembleia da Comissatildeo
Oceanograacutefica Intergovernamental da UNESCO e adoptada pela Assembleia
Geral das Naccedilotildees Unidas serviu de elemento integrador da Exposiccedilatildeo Mundial
de Lisboa (Expo 98) subordinada ao tema ldquoO Oceano um patrimoacutenio para o
futurordquo
Ainda nesse ano as Resoluccedilotildees do Conselho de Ministros nuacutemeros
8898 8998 e 9098 de 10 de Julho criaram respectivamente
- A Comissatildeo Oceanograacutefica Intersectorial com o objectivo de reforccedilar a
capacidade de resposta do sector de investigaccedilatildeo e desenvolvimento em ciecircncias e
120
Discurso do Primeiro-Ministro Duratildeo Barroso - XV Governo Constitucional (200204) ndash durante a
cerimoacutenia de tomada de posse da Comissatildeo Estrateacutegica dos Oceanos no dia 972003 121
ENM 2006-2016 p 2
71
tecnologias do mar e serviccedilos oceanograacuteficos afins mediante uma estrateacutegia que
permita compatibilizar acccedilotildees congregar esforccedilos e evitar duplicaccedilotildees optimizando
o uso dos meios humanos e das infra-estruturas disponiacuteveis
- O Programa Dinamizador das Ciecircncias e Tecnologias do Mar com o
objectivo de dar a este domiacutenio de investigaccedilatildeo baacutesica e aplicada a prioridade que ela
requer (numa perspectiva) de natureza estruturante e interdisciplinar
- A Comissatildeo Interministerial para a Delimitaccedilatildeo da Plataforma
Continental com vista a considerar a possibilidade da extensatildeo do limite exterior da
plataforma continental para aleacutem das 200 milhas naacuteuticas no quadro previsto pela
Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas sobre o Direito do Mar
Em 2003 foi criada a Comissatildeo Estrateacutegica dos Oceanos (Resoluccedilatildeo do
Conselho de Ministros nordm 812003 de 17 de Junho) com o objectivo de elaborar
os elementos de definiccedilatildeo de uma estrateacutegia nacional para o oceano Esta
comissatildeo produziu em 2004 um relatoacuterio com um conjunto de cerca de 250
recomendaccedilotildees e propostas de acccedilatildeo estrateacutegicas
Em 2005 foi criada a Estrutura de Missatildeo para a Extensatildeo da Plataforma
Continental (Resoluccedilatildeo do Conselho de Ministros nordm 92005 de 17 de Janeiro)
com o objectivo de preparar uma proposta de extensatildeo da plataforma continental
de Portugal para aleacutem das 200 milhas naacuteuticas para apresentaccedilatildeo agrave Comissatildeo
de Limites da Plataforma Continental das Naccedilotildees Unidas Esta substituiu a ex-
Comissatildeo Interministerial para a Delimitaccedilatildeo da Plataforma Continental
Em 2005 foi ainda criada a Estrutura de Missatildeo para os Assuntos do Mar
(EMAM) Resoluccedilatildeo do Conselho de Ministros nordm 1282005 de 10 de Agosto
com o objectivo de dar continuidade ao trabalho jaacute desenvolvido e a missatildeo de
preparar uma proposta que estabeleccedila as medidas que devem ser implementadas
para o desenvolvimento de uma poliacutetica integrada do Governo para os assuntos
do mar e para uma acccedilatildeo articulada de todas as entidades com competecircncia nas
aacutereas ligadas ao mar
Em 2006 foi dado iniacutecio agrave instalaccedilatildeo em Lisboa da Agecircncia Europeia de
Seguranccedila Mariacutetima que desempenha um papel fundamental no que se refere
aos aspectos relativos agrave recolha registo e avaliaccedilatildeo de dados teacutecnicos nos
domiacutenios da seguranccedila do traacutefego e da poluiccedilatildeo marinha
72
Em 2007 durante a Presidecircncia Portuguesa do Conselho Europeu
procedeu-se agrave organizaccedilatildeo de uma Conferecircncia Ministerial sobre uma Poliacutetica
Mariacutetima para a Uniatildeo Europeia
A submissatildeo da proposta de extensatildeo da plataforma continental de
Portugal para aleacutem das 200 milhas naacuteuticas decorreu a 11 de Maio de 2009
junto de Hariharan Pakshi Rajan da CLPC da ONU
A primeira apresentaccedilatildeo da mesma proposta de extensatildeo da plataforma
continental portuguesa teve lugar no dia 13 de Abril de 2010 na sede das ONU
em Nova Iorque
Refiro mais uma vez que Portugal conjuntamente com Franccedila e Espanha foram
dos primeiros Estados-membros a dar contributos para o Livro Verde
Relevo ainda que a centralidade e a dimensatildeo atlacircntica dos espaccedilos mariacutetimos sob
soberania ou jurisdiccedilatildeo nacional reforccedilam o papel-chave que Portugal podedeve
desempenhar no quadro da Uniatildeo Europeia como elemento de ligaccedilatildeo privilegiada aos
Paiacuteses Africanos de Liacutengua Oficial Portuguesa (PALOP) bem como ao continente
americano e ao resto do Mundo A posiccedilatildeo geoestrateacutegica do espaccedilo mariacutetimo sob
soberania ou jurisdiccedilatildeo nacional impotildee ainda importantes desafios e responsabilidades
nas aacutereas da defesa nacional seguranccedila e vigilacircncia imigraccedilatildeo ilegal combate agrave
poluiccedilatildeo apoio agrave navegaccedilatildeo e salvaguarda da vida humana no mar mas engloba
tambeacutem um conjunto de oportunidades de desenvolvimento econoacutemico e de ligaccedilatildeo
entre as vaacuterias regiotildees do territoacuterio nacional
A mais-valia para Portugal da ENM eacute tornar o mar um projecto nacional Para
tal deve apostar numa abordagem integrada da governaccedilatildeo dos assuntos do mar que
pela primeira vez congregue os esforccedilos das diferentes tutelas dos agentes econoacutemicos
da comunidade cientiacutefica das organizaccedilotildees natildeo governamentais e tambeacutem da sociedade
civil Deste modo co-responsabiliza todos os actores para o aproveitamento do mar
como factor diferenciador do desenvolvimento econoacutemico e social valorizando e
preservando este valioso patrimoacutenio
O Estado tem um papel facilitador e promotor de condiccedilotildees de desenvolvimento
econoacutemico e social mas cabe agraves empresas e agrave sociedade civil o papel principal na
concretizaccedilatildeo dos objectivos que satildeo a razatildeo de ser da ENM A obtenccedilatildeo de resultados
tangiacuteveis soacute seraacute perceptiacutevel em algum casos a meacutediolongo prazo exigindo por isso
73
uma aposta raacutepida mas persistente nas aacutereas ligadas agrave educaccedilatildeo capacitaccedilatildeo de meios
humanos criaccedilatildeo e optimizaccedilatildeo de infra-estruturas e investigaccedilatildeo e desenvolvimento
51 Princiacutepios e objectivos
A proclamaccedilatildeo do mar como principal factor diferenciador e de identidade
nacional assumindo-o como prioridade estrateacutegica e um projecto nacional reclama a
existecircncia de uma visatildeo simultaneamente ambiciosa e realista crediacutevel e atraente
Pretendem-se criar as condiccedilotildees e mecanismos que possibilitem aos diversos
agentes desenvolver de forma equilibrada e articulada as muacuteltiplas actividades ligadas
ao mar tendo em vista a promoccedilatildeo da qualidade do ambiente marinho do crescimento
econoacutemico e a criaccedilatildeo de novos empregos e oportunidades122
A ENM permite a organizaccedilatildeo de planos de acccedilatildeo orientados para a mobilizaccedilatildeo a
educaccedilatildeo e a capacitaccedilatildeo de toda a sociedade portuguesa e dos seus parceiros
internacionais A ENM visa o aproveitamento e utilizaccedilatildeo sustentaacutevel e responsaacutevel do
oceano e das zonas costeiras e criaccedilatildeo de ferramentas de gestatildeo que tornem os processos
transparentes rigorosos e crediacuteveis
52 Pilares estrateacutegicos
As razotildees que tornam a formulaccedilatildeo a implementaccedilatildeo e a avaliaccedilatildeo da ENM um
enorme desafio satildeo de vaacuteria ordem a saber
- Em primeiro lugar a reconhecida falta de conhecimento de compreensatildeo e de
percepccedilatildeo quer devido agrave complexidade dos ecossistemas oceacircnicos e costeiros e do real
impacto e inerentes consequecircncias das actividades humanas quer devido agrave difiacutecil
avaliaccedilatildeo do potencial das actividades econoacutemicas que dificultam a tomada de decisatildeo
122
ENM 2006-2016 p 10
74
- Em segundo lugar a dificuldade verificada na partilha de responsabilidade pela
gestatildeo do oceano como recurso comum e espaccedilo tridimensional devido agrave
interdependecircncia e aos conflitos que se verificam entre as vaacuterias utilizaccedilotildees interesses
jurisdiccedilotildees e processos de gestatildeo
- Em terceiro lugar o oceano e as zonas costeiras representam hoje a niacutevel
mundial uma grande oportunidade para novas actividades econoacutemicas que face aos
avanccedilos tecnoloacutegicos recentes comeccedilam a orientar o seu interesse e acccedilatildeo para o mar
obrigando a novas formas de gestatildeo e de defesa e salvaguarda activa dos interesses
nacionais
Para que Portugal aproveite as oportunidades existentes e mitigue as dificuldades
as linhas orientadoras da ENM assentam em trecircs pilares estrateacutegicos
Estes satildeo os factores criacuteticos de sucesso ou seja aquilo que se torna indispensaacutevel
assegurar para valorizar definitivamente a importacircncia do mar como elemento
diferenciador projectando-o no futuro como um dos principais motores de
desenvolvimento do Paiacutes
A construccedilatildeo de uma economia mariacutetima proacutespera ao serviccedilo da qualidade de vida
e do bem-estar social e respeitando o ambiente tem de ser suportada pelos seguintes
pilares estrateacutegicos123
O conhecimento
O planeamento e o ordenamento espaciais
A promoccedilatildeo e a defesa activas dos interesses nacionais
No que concerne ao conhecimento utilizado aqui no seu sentido mais lato soacute
atraveacutes de uma aposta coerente e sustentada na investigaccedilatildeo cientiacutefica e no
desenvolvimento de novas tecnologias aplicadas ao oceano e agraves zonas costeiras eacute
possiacutevel criar uma base soacutelida para as decisotildees de governaccedilatildeo numa perspectiva de
desenvolvimento sustentaacutevel e de gestatildeo integrada Adicionalmente a formaccedilatildeo a
educaccedilatildeo a sensibilizaccedilatildeo a difusatildeo da informaccedilatildeo e o respectivo acesso bem como o
uso de indicadores objectivos de suporte agraves vaacuterias poliacuteticas sectoriais e intersectoriais
satildeo certamente os melhores factores de credibilidade e dinamizaccedilatildeo do investimento
puacuteblico e privado nas actividades relacionadas com o mar
123
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75
O planeamento e o ordenamento espaciais satildeo as ferramentas de governaccedilatildeo
promovidas pelas entidades competentes indispensaacuteveis para assegurar uma visatildeo de
conjunto assente nos princiacutepios do desenvolvimento sustentaacutevel da precauccedilatildeo e da
abordagem ecossisteacutemica atraveacutes do levantamento e ordenamento de todas as
utilizaccedilotildees existentes e futuras permitindo dar suporte a uma gestatildeo verdadeiramente
integrada progressiva e adaptativa do oceano e da zona costeira e do desenvolvimento
das actividades associadas
A promoccedilatildeo e a defesa activas dos interesses nacionais obtecircm-se pelo
envolvimento empenhado e competente no acircmbito das relaccedilotildees bilaterais e
multilaterais prosseguidas atraveacutes da participaccedilatildeo cooperaccedilatildeo e contribuiccedilatildeo proacute-
activas nos diversos fora internacionais Mais uma vez estas acccedilotildees tecircm de ser
suportadas por uma estrutura de coordenaccedilatildeo que garanta a articulaccedilatildeo a niacutevel nacional
nas suas vertentes diplomaacutetica poliacutetica econoacutemica social ambiental cientiacutefica
tecnoloacutegica de defesa nacional e seguranccedila reforccedilando a imagem a soberania e a
identidade nacionais
O eventual insucesso das medidas ou acccedilotildees associadas a qualquer um destes trecircs
pilares estrateacutegicos condicionaraacute de forma significativa o desenvolvimento efectivo de
qualquer poliacutetica ligada ao oceano que integre de forma sustentaacutevel as vertentes
econoacutemica social e ambiental
53 Acccedilotildees e medidas
O estabelecimento e aplicaccedilatildeo de acccedilotildees e medidas que materializem os trecircs
pilares estrateacutegicos prioritaacuterios eacute fundamental para o sucesso das actividades
econoacutemicas onde se cruzam e renovam sectores tradicionais e sectores em
desenvolvimento como suporte essencial para a criaccedilatildeo de riqueza e melhoria do
crescimento coesatildeo social e qualidade de vida124
124
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76
Soacute com uma ENM assente nestes alicerces seraacute possiacutevel alcanccedilar os objectivos
preconizados nas diferentes poliacuteticas nacionais nomeadamente nas seguintes aacutereas
Transportes
Apostando na competitividade dos portos nacionais e fomentando o transporte
mariacutetimo enquanto modo de transporte menos poluente Neste contexto importa
promover a articulaccedilatildeo do transporte mariacutetimo com outros modos de transporte
acrescentando valor atraveacutes de cadeias logiacutesticas bem como atraveacutes da implementaccedilatildeo
de instrumentos de normalizaccedilatildeo e simplificaccedilatildeo de procedimentos tais como a janela
uacutenica portuaacuteria125
Energia
Apostando nas energias renovaacuteveis contribuindo para a reduccedilatildeo da dependecircncia
energeacutetica externa e da emissatildeo de gases com efeito de estufa aproveitando os recursos
existentes no mar agilizando os procedimentos de licenciamento mobilizando e
atraindo investimento privado e apostando nas inovaccedilotildees tecnoloacutegicas que permitam
responder aos desafios da competitividade deste sector e ao desenvolvimento de uma
induacutestria que produza bens equipamentos e serviccedilos que potenciem o emprego as
exportaccedilotildees de equipamentos e tecnologia e a reconversatildeo de induacutestrias como por
exemplo as metalo-mecacircnicas e os estaleiros navais assegurando tambeacutem o melhor
conhecimento das aptidotildees geoloacutegicas do deep offshore nomeadamente para fins
energeacuteticos com origem foacutessil
Aquicultura e pescas
Assegurando a sustentabilidade da exploraccedilatildeo de recursos criando medidas que
tornem mais justa a distribuiccedilatildeo de rendimentos na cadeia de valor diversificando as
actividades econoacutemicas das comunidades piscatoacuterias implementando aacutereas marinhas
protegidas recuperando ecossistemas degradados reforccedilando o sistema de recifes
125
A janela uacutenica portuaacuteria garante que os agentes econoacutemicos passem a relacionar-se com cada porto
atraveacutes de um uacutenico canal electroacutenico uma espeacutecie de balcatildeo uacutenico virtual tendo a possibilidade de tratar
desta forma todos os processos administrativos para o despacho de mercadorias e navios Desta forma
ldquosimplifica-se os processos para melhor servir as empresasrdquo conforme referiu o ex-secretaacuterio de Estado
dos Assuntos Fiscais De acordo com Joatildeo Amaral Tomaz em 2005 ldquo99 por cento das mercadorias
importadas em Portugal chegaram pela via mariacutetimardquo O valor representa ldquoa entrada de 15000 navios o
que em termos de processo administrativo corresponde a 15 formulaacuterios e a cerca de 100 paacuteginas por
naviordquo No total satildeo quase ldquoum milhatildeo e quinhentas mil paacuteginas de papel que deveratildeo ser eliminadasrdquo
77
artificiais fomentando a investigaccedilatildeo e desenvolvimento em sistemas de aquicultura
offshore garantindo a sua rentabilidade econoacutemica e sustentabilidade ambiental
Defesa nacional e seguranccedila
Clarificando as atribuiccedilotildees aacutereas de intervenccedilatildeo e coordenaccedilatildeo das entidades do
Sistema de Autoridade Mariacutetima Intervindo na prevenccedilatildeo e combate agrave poluiccedilatildeo na
seguranccedila da navegaccedilatildeo e protecccedilatildeo e salvaguarda da vida humana no mar no acircmbito
dos sistemas nacionais para a busca e salvamento na fiscalizaccedilatildeo mariacutetima na
mitigaccedilatildeo de riscos naturais e no apoio agraves populaccedilotildees no acircmbito do Serviccedilo Nacional de
Protecccedilatildeo Civil
Ciecircncia tecnologia e inovaccedilatildeo
Investindo em recursos humanos qualificados projectos e infra-estruturas de
ciecircncia e tecnologia associadas ao oceano optimizando os recursos existentes
fomentando e reforccedilando a cooperaccedilatildeo e partilha de meios entre instituiccedilotildees e
participando activamente nas redes internacionais
Ambiente e conservaccedilatildeo da natureza
Assegurando o bom funcionamento e manutenccedilatildeo dos ecossistemas marinhos e
costeiros promovendo o conhecimento e protecccedilatildeo da biodiversidade marinha
recuperando habitats degradados e salvaguardando as aacutereas essenciais para a
conservaccedilatildeo e gestatildeo dos recursos vivos e natildeo vivos nomeadamente atraveacutes da criaccedilatildeo
de uma rede de aacutereas marinhas protegidas assegurando o combate e controlo da
poluiccedilatildeo incluindo o efeito das actividades humanas realizadas em meio terrestre sobre
o meio marinho combatendo e prevenindo a introduccedilatildeo de espeacutecies autoacutectones e
assegurando a monitorizaccedilatildeo global do estado de sauacutede do ambiente marinho
Educaccedilatildeo cultura e sensibilizaccedilatildeo
Inserindo nos programas escolares o tema oceano em todas as suas dimensotildees
promovendo a mediatizaccedilatildeo das actividades mariacutetimas junto da sociedade apostando
nos centros de interpretaccedilatildeo aquaacuterios oceanaacuterios e museus dedicados ao mar e
fomentando o ensino naval e naacuteutico a valorizaccedilatildeo do patrimoacutenio cultural subaquaacutetico e
a educaccedilatildeo ambiental
78
Turismo lazer desportos e naacuteutica de recreio
Valorizando o mar como diferenciador da oferta turiacutestica e estimulando as
actividades associadas ao mar que permitam a ocupaccedilatildeo de tempos livres o lazer e o
desporto desenvolvendo condiccedilotildees para um faacutecil e natural acesso ao mar promovendo
o turismo naacuteutico e oceacircnico atraveacutes da aposta na organizaccedilatildeo de provas desportivas
internacionais de grande prestiacutegio e em actividades mariacutetimo-turiacutesticas como a vela o
remo a canoagem o surf o mergulho e a observaccedilatildeo de aves e cetaacuteceos fomentando o
turismo associado agrave actividade da pesca tirando partido das importantes aacutereas naturais
classificadas existentes na nossa costa onde assumem um importante papel as Regiotildees
Autoacutenomas dos Accedilores e da Madeira para dinamizar o turismo de natureza
promovendo o turismo de cruzeiros jaacute em franca expansatildeo no nosso paiacutes
Poliacutetica externa
Promovendo a centralidade atlacircntica de Portugal e as relaccedilotildees externas com outros
continentes nomeadamente as relaccedilotildees transatlacircnticas a desenvolver no acircmbito da
comunidade dos PALOP afirmando Portugal como o paiacutes mariacutetimo da Europa e
defendendo os interesses nacionais em todos os fora internacionais relevantes
Foram identificadas trecircs acccedilotildees prioritaacuterias126
que tendo em consideraccedilatildeo a
exigecircncia do contexto actual satildeo consideradas como sendo de implementaccedilatildeo de curto
prazo
Criar uma comissatildeo de coordenaccedilatildeo interministerial para a
implementaccedilatildeo da ENM E assim a articulaccedilatildeo intergovernamental dos assuntos
do mar seraacute desta forma garantida de modo permanente mantendo-se as
competecircncias e aacutereas de acccedilatildeo vertical e sectorial de cada tutela
Melhorar a articulaccedilatildeo e coordenaccedilatildeo das posiccedilotildees nacionais relativas
aos assuntos do mar nos diversos fora internacionais Esta eacute uma acccedilatildeo central
para afirmar Portugal como um paiacutes que defende de forma coerente os seus
interesses e assume a lideranccedila dos dossiers internacionais no que respeita aos
assuntos do mar
Assegurar o acompanhamento teacutecnico diplomaacutetico e poliacutetico da
discussatildeo puacuteblica sobre o Livro Verde da Poliacutetica Mariacutetima Europeia e do
126
ENM 2006-2016 p18
79
processo subsequente durante o qual eacute fundamental que o Paiacutes se mobilize de
forma a garantir que Portugal se mantenha na vanguarda da nova abordagem aos
assuntos do mar ao niacutevel europeu atraveacutes de uma participaccedilatildeo esclarecida
eficaz e abrangente
Atenta agrave natureza marcadamente horizontal da ENM definiram-se um conjunto de
acccedilotildees estrateacutegicas que identificam medidas transversais que contribuem para criar
condiccedilotildees favoraacuteveis para o melhor aproveitamento do mar de forma sustentaacutevel A
implementaccedilatildeo destas acccedilotildees articuladas com as restantes estrateacutegias nacionais
permitiraacute operacionalizar os pilares estrateacutegicos definidos anteriormente acrescentando
valor agraves acccedilotildees actualmente em curso e contribuindo para o objectivo central de definir
o mar como um ldquoprojecto nacionalrdquo
Foram assim seleccionadas oito acccedilotildees estrateacutegicas127
a saber
A sensibilizaccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo da sociedade para a importacircncia do mar
A promoccedilatildeo do ensino e divulgaccedilatildeo nas escolas de actividades ligadas ao
mar
A promoccedilatildeo de Portugal como um centro de excelecircncia de investigaccedilatildeo
das ciecircncias do mar da Europa
O planeamento e ordenamento espacial das actividades
A protecccedilatildeo e recuperaccedilatildeo dos ecossistemas marinhos
O fomento da economia do mar
A aposta nas novas tecnologias aplicadas agraves actividades mariacutetimas
A defesa nacional a seguranccedila a vigilacircncia e a protecccedilatildeo dos espaccedilos
mariacutetimos sob soberania ou jurisdiccedilatildeo nacional
A proposta da Estrateacutegia Nacional para o Mar foi aprovada na generalidade em
Conselho de Ministros a 4 de Outubro de 2006 A Estrateacutegia Nacional para o Mar
assume-se como um documento dinacircmico aberto aos ajustamentos que a evoluccedilatildeo das
suas condicionantes e a avaliaccedilatildeo da sua execuccedilatildeo vierem a recomendar Vigora no
periacuteodo de 2006 a 2016 ano em que deveraacute ser sujeita a uma revisatildeo global com base
num processo de avaliaccedilatildeo e discussatildeo puacuteblica
127
ENM 2006-2016 pp 22-23
80
Relativamente agrave ENM tenho a comentar que depois da anaacutelise efectuada reparei na
inexistecircncia de um programa de acccedilatildeo efectivo (prazos orccedilamentaccedilatildeo parcerias
instrumentos financeiros ao dispocircr etc) anexo agrave poliacutetica nacional para o mar Natildeo
obstante a ratificaccedilatildeo do Conselho de Ministros da ENM esta Estrateacutegia sugere que
cabe agrave sociedade civil e agrave iniciativa privada o papel principal na concretizaccedilatildeo dos
objectivos da Estrateacutegia sendo o Estado relegado para um papel de mero facilitador
Satildeo de facto os stakeholders os principais responsaacuteveis pela implementaccedilatildeo da
Estrateacutegia mas teraacute de ser o Estado a criar as condiccedilotildees favoraacuteveis para o iniacutecio deste
novo ciclo A ver pelas oito acccedilotildees estrateacutegicas propostas a sua boa execuccedilatildeo tem no
Estado o seu principal responsaacutevel Soacute com um Estado determinado e perseverante a
acccedilatildeo estrateacutegica pode ser verdadeiramente ldquolanccedilada ao marrdquo
No entanto percebemos que nos discursos oficiais nomeadamente de Sua
Excelecircncia o Presidente da Repuacuteblica Professor Aniacutebal Cavaco Silva os assuntos do
mar estatildeo na ordem do dia conforme constatei nos excertos do seu discurso128
na
Assembleia da Repuacuteblica durante a 36ordf Sessatildeo Comemorativa do 25 de Abril de 2010
(hellip)ldquoTemos de repensar a nossa relaccedilatildeo com o mar Repensar o modo como
exploramos as oportunidades que ele nos oferece Importa afirmar a ideia de que o mar
eacute um activo econoacutemico maior do nosso futurordquo (hellip)rdquoAgraves vantagens decorrentes da nossa
geografia da Histoacuteria e da imagem externa do Paiacutes podemos ainda juntar as
estrateacutegias e poliacuteticas para o mar desenhadas nos uacuteltimos seis anos em Portugal e na
proacutepria Uniatildeo Europeia Natildeo eacute necessaacuterio fazer mais estudos e relatoacuterios Basta agir
em cumprimento daquelas estrateacutegiasrdquo (hellip) ldquoEacute essencial que criemos condiccedilotildees e
incentivemos os agentes econoacutemicos a investir no conjunto dos sectores que ligam
economicamente Portugal ao marhellipPortugal e os Portugueses precisam de desiacutegnios
que lhes decircem mais coesatildeo mais auto-estima e mais propoacutesito de existir O mar eacute
certamente um delesrdquo (hellip)
128
Este discurso pode ser consultado na integra no site oficial da Presidecircncia da Repuacuteblica Portuguesa
httpwwwpresidenciaptidc=22ampidi=39445
81
54 O Hypercluster da economia do mar
ldquoUm domiacutenio de potencial estrateacutegico para o desenvolvimento da economia
portuguesardquo
Dentro das poliacuteticas mariacutetimas nacionais natildeo posso deixar de enaltecer o estudo de
economia poliacutetica realizado pela equipa multi-disciplinar da SaeR ndash Sociedade de
avaliaccedilatildeo estrateacutegica e risco Lda ndash denominado Hypercluster da Economia do Mar129
sob a coordenaccedilatildeo do ex-ministro das Financcedilas Professor Ernacircni Lopes por iniciativa
da Associaccedilatildeo Comercial de Lisboa Trata-se de uma obra de referecircncia cuja leitura
considero indispensaacutevel a todos aqueles (decisores poliacuteticos empresaacuterios acadeacutemicos e
sociedade civil) que estatildeo empenhados em deixar aos seus descendentes um paiacutes
diferenciado internacionalmente relevante e seguramente mais proacutespero
O estudo propriamente dito estaacute dividido em trecircs partes primeira parte ndash a
fundamentaccedilatildeo segunda parte ndash a avaliaccedilatildeo estrateacutegica das componentes e a visatildeo de
conjunto terceira parte ndash a estrateacutegia e os planos de acccedilatildeo
O estudo confronta-nos com o facto amplamente demonstrado de que a economia
portuguesa estaacute a sofrer uma descontinuidade nos seus padrotildees de modernizaccedilatildeo e nos
seus modelos de desenvolvimento e a anaacutelise prospectiva da economia nacional conduz
a um cenaacuterio espontacircneo de definhamento e agrave necessidade de se caminhar para um
cenaacuterio de afirmaccedilatildeo estrateacutegica para Portugal
O hypercluster configura-se como simultaneamente uma forccedila propulsora e um
catalisador capaz de organizar e dinamizar um conjunto de sectores com elevado
potencial de crescimento e inovaccedilatildeo e capacidade para atraiacuterem recursos e
investimentos de qualidade nomeadamente externos
Segundo o estudo a economia do mar representa hoje apenas 2 do PIB e gera
cerca de 75000 empregos o que eacute considerado muito abaixo do seu potencial face ateacute a
comparaccedilotildees internacionais com paiacuteses ou regiotildees proacuteximas O efeito multiplicador de
28 configura estas actividades como geradoras fortes de valor acrescentado admitindo-
129
Hypercluster do Mar - httpwwwsaerptupUPLOADbin2_imagem_0955656001242642284-657pdf
82
se que possam vir a representar em 2025 directamente cerca de 45 do PIB valor
que sobe para 10 a 12 englobando os valores indirectos
Haveraacute assim que criar nas palavras inspiradoras do Professor Ernacircni Lopes um
novo desiacutegnio nacional tornar Portugal num actor mariacutetimo relevante a niacutevel global
na viragem do I para o II quartel do seacuteculo XXI130
O estudo propotildee por fim um masterplan distribuiacutedo por quatro plataformas
diferentes de planos e acccedilotildees a saber
1) Planos prioritaacuterios
Englobando os componentes com maiores condiccedilotildees de atractividade e
competitividade e capacidades para servirem de motores catalisadores e formatadores
sisteacutemicos do conjunto (portos logiacutestica amp transportes mariacutetimos naacuteutica de recreio amp
turismo naacuteutico pesca aquicultura amp induacutestria do pescado visibilidade comunicaccedilatildeo
amp cultura mariacutetima e produccedilatildeo de pensamento estrateacutegico)
2) Planos de sustentaccedilatildeo imediata
Englobando os componentes fundamentais para o bom funcionamento da ldquolinha da
frenterdquo (serviccedilos mariacutetimos construccedilatildeo amp reparaccedilatildeo navais e obras mariacutetimas)
3) Planos de alimentaccedilatildeo
Englobando os componentes criadores de consistecircncia e sustentabilidade a longo
prazo com papel regenerador e inovador do conjunto (investigaccedilatildeo cientiacutefica inovaccedilatildeo
amp desenvolvimento ensino amp formaccedilatildeo defesa amp seguranccedila no mar e ambiente amp
conservaccedilatildeo da natureza)
4) Plano meta-oceano (prospectivo e de longo prazo)
O estudo propotildee tambeacutem algumas medidas consideradas determinantes no caminho
criacutetico para o sucesso da implementaccedilatildeo deste projecto Como por exemplo a criaccedilatildeo do
Foacuterum Empresarial da Economia do Mar131
(FEM)
130
Referecircncia feita no website da SaeR pelo coordenador no estudo sobre o Hypercluster da economia do
Mar Professsor Doutor Ernacircni Lopes
httpwwwsaerptindexphplop=conteudoampop=f7177163c833dff4b38fc8d2872f1ec6ampid=c24cd76e1ce
41366a4bbe8a49b02a028 131
Foacuterum Empresarial da Economia do Mar - httpwwwfempt
83
O FEM conheceu recentemente a sua constituiccedilatildeo estatutaacuteria conta no momento
com o Eng Fernando Ribeiro e Castro na qualidade de secretaacuterio-geral e estaacute
organizado de acordo com as componentes da economia do mar do hypercluster
apresentado
Por conseguinte originou a formaccedilatildeo de vaacuterios grupos de trabalho com o objectivo
principal de concretizar as linhas de acccedilatildeo previstas nos planos prioritaacuterios pondo
assim em marcha o Hypercluster da Economia do Mar em Portugal Actualmente
fazem parte do FEM cinquenta e oito empresas nacionais
55 Plano de Ordenamento do Espaccedilo Mariacutetimo (POEM)132
The problems of ocean space are closely interrelated and need to be considered as
a whole 133
O ordenamento do espaccedilo mariacutetimo eacute um instrumento fundamental da PMIE
Permite agraves autoridades puacuteblicas e agraves partes interessadas coordenarem a acccedilatildeo
respectiva e optimiza a utilizaccedilatildeo do espaccedilo marinho beneficiando o desenvolvimento
econoacutemico do meio marinho134
No acircmbito do Plano de Acccedilatildeo da ENM Resoluccedilatildeo do Conselho de Ministros nordm
1632006 de 12 de Dezembro foi aprovado um Programa de Acccedilatildeo que integra entre
outros o ldquoPlaneamento e ordenamento do espaccedilo e actividades mariacutetimasrdquo que prevecirc o
desenvolvimento de um POEM Este plano tem como objectivo ordenar os usos e
actividades do espaccedilo mariacutetimo presentes e futuros em estreita articulaccedilatildeo com a
132
Plano de Ordenamento do Espaccedilo Mariacutetimo - httppoeminagpt 133
ldquoOs problemas do espaccedilo mariacutetimo estatildeo estreitamente inter-relacionados e devem ser considerados
como um todordquo Preacircmbulo da Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas sobre o Direito do Mar (UNCLOS)
Adoptada em 1982 entrou em vigor em 1994 A Comunidade Europeia e todos os Estados-Membros da
UE satildeo Partes na UNCLOS 134
COM (2008) 791 final ldquoRoteiro para o ordenamento do espaccedilo mariacutetimo definiccedilatildeo de princiacutepios
comuns na EUrdquo p 2
84
gestatildeo da zona costeira garantindo a utilizaccedilatildeo sustentaacutevel dos recursos a sua
preservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo potenciando a utilizaccedilatildeo eficiente do espaccedilo marinho no
quadro de uma abordagem integrada e intersectorial e fomentando a importacircncia
econoacutemica ambiental e social do mar
Tendo presente que os instrumentos de gestatildeo territorial existentes a niacutevel nacional
tecircm um enfoque essencialmente na vertente terrestre natildeo contemplando a vertente
mariacutetima ou natildeo considerando o acircmbito multidimensional do mar isto eacute o fundo a
coluna de aacutegua a superfiacutecie o litoral e a atmosfera importa encontrar forma de regular
esta mateacuteria de forma coerente e articulada
Assim atraveacutes do Despacho nordm 322772008 da CIAM de 18 de Dezembro e
considerando o disposto no nordm 2 do artigo 38ordm do Decreto-Lei nordm 38099 de 22 de
Setembro na redacccedilatildeo dada pelo Decreto-Lei nordm 462009 de 20 de Fevereiro foi
determinada a elaboraccedilatildeo do Plano de Ordenamento do Espaccedilo Mariacutetimo
O POEM como plano sectorial deveraacute estabelecer e justificar as opccedilotildees e os
objectivos sectoriais com incidecircncia territorial e definir normas de execuccedilatildeo integrando
as peccedilas graacuteficas necessaacuterias agrave representaccedilatildeo da respectiva expressatildeo territorial e seraacute
acompanhado por um relatoacuterio que procede ao diagnoacutestico da situaccedilatildeo territorial sobre a
qual interveacutem e agrave fundamentaccedilatildeo teacutecnica das opccedilotildees e objectivos estabelecidos
O desenvolvimento deste plano considera como documento orientador a
Comunicaccedilatildeo da Comissatildeo Europeia denominado ldquoRoteiro para o ordenamento do
espaccedilo mariacutetimordquo
Visatildeo
ldquoEspaccedilo Mariacutetimo diferenciador da identidade nacional sustentaacutevel ordenado e
seguro suporte de actividades socioeconoacutemicas e potenciador de recursos assente no
conhecimento na inovaccedilatildeo e na especificidade geograacuteficardquo
Missatildeo
ldquoAfirmar a importacircncia econoacutemica ambiental e social do Mar assente na
promoccedilatildeo do conhecimento dos recursos naturais e das actividades existentes e
potenciais e no ordenamento integrado e gestatildeo adaptativa dos usos que se desenvolvem
no espaccedilo mariacutetimo em estreita articulaccedilatildeo com a gestatildeo da zona costeira com o
85
normativo internacional comunitaacuterio e nacional e demais instrumentos de planeamento
sectorial e de gestatildeo do territoacuterio envolvendo os diferentes actores e agentesrdquo
Discussatildeo Puacuteblica
A Proposta do Plano de Ordenamento do Espaccedilo Mariacutetimo (POEM) e o respectivo
Relatoacuterio Ambiental encontram-se concluiacutedos tecnicamente e aprovados pela respectiva
Equipa Multidisciplinar Nos termos previstos do artigo 40ordm do Decreto-Lei nordm 38099
de 22 de Setembro na sua actual redacccedilatildeo faz-se saber que a Discussatildeo Puacuteblica do
POEM decorre entre o periacuteodo de 29 de Novembro de 2010 a 22 de Fevereiro de 2011
56 Programa ldquoPolis do Litoralrdquo
ldquoOperaccedilotildees integradas de requalificaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo da orla costeirardquo
Como verificamos no Livro Verde as zonas costeiras assumem uma importacircncia
estrateacutegica em termos ambientais econoacutemicos sociais e culturais
A resoluccedilatildeo dos seus problemas ndash designadamente o controlo dos processos
erosivos da ocupaccedilatildeo urbana de zonas de risco da destruiccedilatildeo de habitats e a perda de
biodiversidade e do decliacutenio das actividades econoacutemicas ndash revela-se prioritaacuteria no
acircmbito de uma poliacutetica de desenvolvimento sustentaacutevel implicando um equiliacutebrio e
interacccedilatildeo indispensaacuteveis entre a conservaccedilatildeo dos recursos naturais e o
desenvolvimento socioeconoacutemico de cada regiatildeo
No acircmbito da poliacutetica integrada para as zonas costeiras o XVII Governo
Constitucional determinou em Resoluccedilatildeo do Conselho de Ministros 902008 de 3 de
Junho a realizaccedilatildeo de um conjunto de operaccedilotildees de requalificaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo de
zonas de risco e de aacutereas naturais degradadas situadas no litoral em espaccedilos de
intervenccedilatildeo prioritaacuteria designadas Polis Litoral
86
Os objectivos impliacutecitos agraves respectivas intervenccedilotildees passam pelas seguintes
medidas
Proteger e requalificar a zona costeira tendo em vista a defesa da costa a
promoccedilatildeo da conservaccedilatildeo da natureza e biodiversidade a renaturalizaccedilatildeo e a
reestruturaccedilatildeo de zonas lagunares e a preservaccedilatildeo do patrimoacutenio natural e
paisagiacutestico no acircmbito de uma gestatildeo sustentaacutevel
Prevenir e defender pessoas bens e sistemas de riscos naturais
Promover a fruiccedilatildeo puacuteblica do litoral suportada na requalificaccedilatildeo dos
espaccedilos balneares e do patrimoacutenio ambiental e cultural
Potenciar os recursos ambientais como factor de competitividade atraveacutes
da valorizaccedilatildeo das actividades econoacutemicas ligadas aos recursos do litoral e
associando-as agrave preservaccedilatildeo dos recursos naturais
De momento estatildeo identificadas quatro aacutereas territoriais ldquopolisrdquo a saber litoral do
Norte135
litoral da Ria de Aveiro136
litoral da Ria Formosa137
e o litoral da Costa
Vicentina Abrangem no seu conjunto 308 km de frente costeira 220 km de frentes
lagunares e estuarinas a financiar pelo Estado municiacutepios entidades privadas e com
recurso a fundos comunitaacuterios no acircmbito do Quadro de Referecircncia Estrateacutegico Nacional
(QREN) totalizando um orccedilamento global na ordem dos 3225 milhotildees de euros
135
wwwpolislitoralnortept 136
wwwpolisriadeaveiropt 137
wwwpolislitoralriaformosapt
87
Cap VI ndash Agenda Regional do Mar (Norte de Portugal)
61 Pacto regional para a competitividade da regiatildeo ldquoNorte 2015rdquo
A regiatildeo Norte de Portugal possui uma grande tradiccedilatildeo mariacutetima e uma forte
ligaccedilatildeo ao mar que conheceu diferentes formas de expressatildeo ao longo dos tempos Na
eacutepoca das primeiras descobertas (a partir do seacuteculo XV) o Porto e a sua regiatildeo
participaram activamente na construccedilatildeo de embarcaccedilotildees e no fornecimento de homens
para incorporar as respectivas guarniccedilotildees Nos seacuteculos seguintes o comeacutercio mariacutetimo e
o aparecimento de uma burguesia comercial com intensas relaccedilotildees com o norte da
Europa constituiacuteram a base de desenvolvimento da economia desta cidade e sua regiatildeo
No final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX o transporte mariacutetimo possibilitou a
saiacuteda de importantes fluxos migratoacuterios em direcccedilatildeo ao Brasil e mais recentemente a
pesca (em especial a pesca do bacalhau) e a induacutestria transformadora marcaram em
termos sociais e econoacutemicos os espaccedilos litorais da regiatildeo
No presente assiste-se ao aparecimento de novas actividades emergentes com forte
ligaccedilatildeo ao mar nos campos econoacutemico cientiacutefico e do lazer
A regiatildeo Norte deteacutem um importante patrimoacutenio natural (por exemplo rede natura
do Litoral Norte) e cultural tangiacutevel (por exemplo arquitectura militar civil e religiosa)
e intangiacutevel (tradiccedilotildees e costumes) ao longo da sua zona costeira com destaque para os
municiacutepios de Espinho Porto Matosinhos Vila do Conde Poacutevoa de Varzim e Viana do
Castelo Este patrimoacutenio estaacute disperso carecendo de valorizaccedilatildeo e de promoccedilatildeo A
regiatildeo apresenta ainda um conjunto de centros vocacionados para a divulgaccedilatildeo
cientiacutefica e da temaacutetica mar de que constituem exemplos a Estaccedilatildeo Litoral da Aguda138
em Gaia o projecto Rosa-dos-Ventos em Vila do Conde a Lancha Poveira 139
na Poacutevoa
de Varzim a Fundaccedilatildeo Gil Eannes140
em Viana do Castelo e o AquaMuseu do rio
Minho141
em Vila Nova de Cerveira entre outros
138
Estaccedilatildeo Litoral da Aguda - httpwwwfundacao-elapt 139
Lancha Poveira - httpwwwpovoadevarzimcomptlanchapoveiraphp 140
Fundaccedilatildeo Gil Eannes - wwwfundacaogileannespt 141
AquaMuseu do rio Minho- httpaquamuseucm-vncerveirapt
88
O Conselho Regional e a Comissatildeo de Coordenaccedilatildeo e Desenvolvimento Regional
do Norte (CCDR-N) definiram uma estrateacutegia de desenvolvimento regional designada
por ldquoNORTE 2015 ndash Uma Regiatildeo Um Futuro Uma Estrateacutegiardquo e dentro desta tem
vindo a promover um conjunto de agendas temaacuteticas consideradas prioritaacuterias
constituindo o ldquopacto regional para a competitividade da regiatildeo do Norterdquo Entre elas e
relevante para o trabalho em questatildeo eacute a Agenda Regional do Mar - Plano de Acccedilatildeo
ldquoMarrdquo
A Agenda Regional do Mar e o seu plano de acccedilatildeo tem como objectivo geral
ldquovalorizar o recurso mar atraveacutes do desenvolvimento de um conjunto de actividades de
produtos e de serviccedilos que promovam o crescimento econoacutemico o emprego e a
internacionalizaccedilatildeo da regiatildeo apostando no reforccedilo da Investigaccedilatildeo Desenvolvimento
e Inovaccedilatildeo (IampDampI) marinha da formaccedilatildeo do empreendedorismo e da cooperaccedilatildeo de
forma a contribuir em condiccedilotildees de sustentabilidade para a competitividade da
Regiatildeo142
Em siacutentese este plano de acccedilatildeo ldquoMarrdquo justifica-se assim por um conjunto de
razotildees das quais destaco as seguintes
A existecircncia de uma zona costeira extensa e rica onde se concentra a
maior parte da populaccedilatildeo e da actividade econoacutemica da regiatildeo marcada pela
existecircncia de vaacuterios estuaacuterios de elevado valor ambiental paisagiacutestico e
econoacutemico que urge valorizar em condiccedilotildees de sustentabilidade
Permite uma aproximaccedilatildeo global e coordenada das actividades e saberes
que integram a temaacutetica mar bem como o desenvolvimento de relaccedilotildees de
complementaridade e a produccedilatildeo de efeitos de sinergia favoraacuteveis ao
desenvolvimento da regiatildeo
Permite desenvolver as estrateacutegias adequadas e a sua coordenaccedilatildeo no
sentido da adaptaccedilatildeo da regiatildeo aos efeitos das alteraccedilotildees climaacuteticas
Constitui uma oportunidade para parar ou diminuir a tendecircncia de perda
de biodiversidade que caracteriza a evoluccedilatildeo dos ecossistemas marinhos
Favorece o aproveitamento do potencial que algumas actividades ligadas
ao mar apresentam enquanto espaccedilos de empreendimento inovaccedilatildeo criaccedilatildeo de
142
Agenda Regional do Mar Plano de Acccedilatildeo ldquoMARrdquo 2007-2013 p 52
89
riqueza e de emprego qualificado que importa estimular do ponto de vista do
reforccedilo da competitividade e do emprego da regiatildeo
Contribui atraveacutes da iniciativa regional e das articulaccedilotildees possiacuteveis com
outras regiotildees portuguesas e com a EMAM para a consecuccedilatildeo da ENM
favorecendo a criaccedilatildeo de escala e o desenvolvimento de complementaridades
indispensaacuteveis agrave consecuccedilatildeo dessa estrateacutegia nacional
Contribui para o desenvolvimento da PMIE atraveacutes da assunccedilatildeo no
plano regional do conjunto de princiacutepios e de orientaccedilotildees que enquadram essa
estrateacutegia europeia
Reforccedila o papel da regiatildeo nos programas de cooperaccedilatildeo transfronteiriccedila
com a Galiza e de cooperaccedilatildeo transnacional no acircmbito do Espaccedilo Atlacircntico co-
financiados pelo FEDER em que a dimensatildeo mariacutetima ocupa uma posiccedilatildeo
relevante em ambos os programas
Contribui para a sensibilizaccedilatildeo da populaccedilatildeo em geral e especialmente
dos jovens para a temaacutetica mar
Apresenta um programa de fundos estruturais interessante para o periacuteodo
entre 2007 e 2013 que permite o lanccedilamento de iniciativas e investimentos para
o desenvolvimento no domiacutenio do mar
Eacute importante mencionar que a elaboraccedilatildeo do plano de acccedilatildeo ldquoMarrdquo assentou num
processo aberto agrave participaccedilatildeo de um alargado leque de actores de acircmbito regional e
nacional quer na fase de estudo quer durante a fase da sua implementaccedilatildeo Este plano
constitui tambeacutem um referencial central para os investimentos puacuteblicos e privados a ter
em consideraccedilatildeo no acircmbito das candidaturas ao Programa Operacional Regional do
Norte (ON2 ndash O Novo Norte) e aos Programas de Cooperaccedilatildeo (POCTEP e
POCTEA143
)
Neste ponto a Agenda Regional destaca-se da ENM pelo facto de estar enquadrada
a temaacutetica ldquoMarrdquo nestes programas operacionais podendo ser candidataacuteveis entidades
puacuteblicasprivadas da regiatildeo Norte de Portugal
143
POCTEP - Programa de Cooperaccedilatildeo Transfronteiriccedilo Espanha - Portugal
POCTEA - Programa de Cooperaccedilatildeo Transnacional do Espaccedilo Atlacircntico
90
Saliento que a regiatildeo Norte eacute no presente momento a uacutenica regiatildeo portuguesa
que apresenta uma estrateacutegia integrada para o Mar
Ora este plano de acccedilatildeo estimula tambeacutem o alargamento da dinacircmica de
cooperaccedilatildeo a outras regiotildees vizinhas como seja a regiatildeo Centro de Portugal e a regiatildeo
Autoacutenoma da Galiza e favorece assim o desenvolvimento de condiccedilotildees de
complementaridade e de escala indispensaacuteveis agrave afirmaccedilatildeo internacional do Noroeste
peninsular no domiacutenio do mar
62 Linhas estrateacutegicas de desenvolvimento144
Para o efeito foram delineadas dez linhas de desenvolvimento estrateacutegico para
consubstanciar o ldquoplano de acccedilatildeordquo Analisei-as cada uma per si tendo em conta o seu
objectivo e tipologias respectivas Passo a enumerar as dez linhas estrateacutegicas definidas
para a regiatildeo Norte que constam na Agenda do ldquoMarrdquo
1) Promover a conservaccedilatildeo a valorizaccedilatildeo e a gestatildeo dos ecossistemas costeiros e
das bacias hidrograacuteficas
O objectivo eacute o de fomentar o estudo dos ecossistemas costeiros e fluviais e
desenvolver medidas com vista agrave sua protecccedilatildeo recuperaccedilatildeo valorizaccedilatildeo e
ordenamento de forma a potenciar os seus usos de acordo com modelos de
sustentabilidade Os projectos e as acccedilotildees a desenvolver devem observar as orientaccedilotildees
estabelecidas pelas ldquoBases para a Estrateacutegia de Gestatildeo Integrada das Zonas Costeirasrdquo
2) Desenvolver novos produtos e promover a aplicaccedilatildeo de novas tecnologias ao
meio marinho
Esta linha tem em vista os desenvolvimentos futuros no campo das ciecircncias do mar
e da utilizaccedilatildeo do meio marinho atraveacutes de novos produtos e serviccedilos que resultaratildeo
certamente da aplicaccedilatildeo a este meio de conhecimento e de tecnologias da informaccedilatildeo e
da comunicaccedilatildeo Podem enquadrar-se no acircmbito desta linha estrateacutegica os projectos que
144
Agenda Regional do Mar Plano de Acccedilatildeo ldquoMARrdquo 2007-2013 p 54
91
visam o desenvolvimento de novos produtos resultantes da utilizaccedilatildeo de organismos
marinhos nomeadamente
Desenvolvimento de novos medicamentos e a promoccedilatildeo de instrumentos de
diagnoacutestico para monitorizaccedilatildeo na aacuterea da sauacutede
Desenvolvimento de novas teacutecnicas para conhecimento protecccedilatildeo
monitorizaccedilatildeo e gestatildeo do meio marinho a garantia de sustentabilidade das
pescas e da aquacultura
Desenvolvimento de novos tipos de materiais compoacutesitos e enzimas para a
induacutestria
3) Promover a qualidade e a valorizaccedilatildeo dos produtos da pesca e da aquicultura e
a seguranccedila alimentar
Nesta linha enquadram-se acccedilotildees que contribuam para o aprofundar do
conhecimento dos recursos vivos marinhos e do seu valor comercial acccedilotildees que
contribuam para o desenvolvimento e melhoramento de tecnologias de conservaccedilatildeo e
transformaccedilatildeo do pescado e da avaliaccedilatildeo do risco para a sauacutede puacuteblica e ainda acccedilotildees
de implementaccedilatildeo de processos de certificaccedilatildeo de origem de seguranccedila e de qualidade
de produtos da pesca e da aquacultura de modo a melhorar a imagem junto do
consumidor muitas vezes influenciada por produtos importados de qualidade inferior
aos produtos regionais
4) Desenvolver novas tecnologias de produccedilatildeo de peixes de bivalves e de outras
espeacutecies e a sustentabilidade da aquicultura
O objectivo desta linha estrateacutegica eacute o de promover o desenvolvimento de uma
aquicultura sustentaacutevel e fomentar a produccedilatildeo intensiva de espeacutecies alternativas agraves jaacute
largamente implantadas em todo o Sul da Europa nomeadamente a dourada e o robalo
evitando assim a saturaccedilatildeo do mercado e a competiccedilatildeo entre produtores O recurso a
espeacutecies alternativas (goraz linguado polvo entre outras) mais adaptadas a
temperaturas baixas permitiraacute conquistar novos mercados dado tratar-se de espeacutecies de
elevado valor comercial e cujas populaccedilotildees naturais tecircm vindo a diminuir
92
5) Promover o desenvolvimento do cluster ldquo conhecimento e economia do marrdquo
O objectivo desta linha de acccedilatildeo eacute o de reforccedilar a economia do mar contribuindo
para a modernizaccedilatildeo das actividades tradicionais nomeadamente as induacutestrias
mariacutetimas o apoio a actividades emergentes e o desenvolvimento de redes de
cooperaccedilatildeo entre empresas e instituiccedilotildees de Investigaccedilatildeo e Desenvolvimento (IampD)
orientadas para a transferecircncia de tecnologia e para o desenvolvimento da cadeia de
valor dos produtos da economia do mar Satildeo considerados prioritaacuterios os projectos que
promovam a densificaccedilatildeo das relaccedilotildees intra e intersectoriais e projectos que contribuam
para internacionalizaccedilatildeo da base produtiva regional
6) Reforccedilar a investigaccedilatildeo e desenvolvimento nas aacutereas das ciecircncias marinhas e
fomentar o empreendedorismo em actividades da economia do mar
Esta linha completa as anteriormente apresentadas constituindo o seu
desenvolvimento uma condiccedilatildeo necessaacuteria para a construccedilatildeo e consolidaccedilatildeo do cluster
regional para o mar O apoio a formaccedilotildees avanccediladas ao desenvolvimento de projectos
de investigaccedilatildeo nas aacutereas das ciecircncias e da economia do mar e ao fomento do
empreendedorismo eacute para esta Agenda uma indiscutiacutevel prioridade para o
desenvolvimento do seu plano de acccedilatildeo
Esta linha privilegia abordagens que integrem de forma dinacircmica as componentes
formativa investigaccedilatildeo incubaccedilatildeo e de aconselhamento e apoio financeiro ao
desenvolvimento de novos projectos e iniciativas empresariais e ainda ao acolhimento
de projectos empresariais externos que pela sua relevacircncia contribuam para o reforccedilo
das demais componentes
7) Apoiar o desenvolvimento do transporte mariacutetimo e a melhoria das condiccedilotildees de
seguranccedila mariacutetima e das infra-estruturas portuaacuterias
A localizaccedilatildeo de Portugal e da regiatildeo do Norte no Sul do Arco Atlacircntico Europeu
constitui uma posiccedilatildeo privilegiada por referecircncia agraves rotas mariacutetimas norte-sul e este-
oeste que importa potenciar As ldquoauto-estradasrdquo do mar e o short sea shipping
representam alternativas ao transporte rodoviaacuterio de mercadorias com reconhecidas
vantagens do ponto de vista ambiental e econoacutemico O porto de Leixotildees apresenta neste
contexto uma posiccedilatildeo relevante no que respeita agrave auto-estrada mariacutetima do Atlacircntico O
apetrechamento e a modernizaccedilatildeo dos portos da regiatildeo e a melhoria das suas
articulaccedilotildees com o hinterland de forma a favorecer a inserccedilatildeo nas cadeias
93
internacionais de transporte e a operaccedilatildeo nas melhores condiccedilotildees de seguranccedila
constituem objectivos importantes no acircmbito dos programas regionais do mar e dos
transportes
Adquirem especial relevacircncia os projectos do novo molhe e terminal de passageiros
do porto de Leixotildees bem como projectos que favoreccedilam a melhoria das condiccedilotildees de
seguranccedila das operaccedilotildees portuaacuterias No acircmbito desta linha estrateacutegica adquire especial
importacircncia a criaccedilatildeo do Poacutelo Mar do Parque de Ciecircncia e Tecnologia - Universidade
do Porto - que integraraacute e articularaacute as valecircncias de formaccedilatildeo e investigaccedilatildeo de
incubaccedilatildeo de empresas e de acolhimento empresarial e ainda uma funccedilatildeo de divulgaccedilatildeo
cientiacutefica
8) Valorizar o patrimoacutenio mariacutetimo regional a naacuteutica de recreio e o turismo
naacuteutico
Esta linha estrateacutegica contribui para a consolidaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo das estruturas
existentes e para a criaccedilatildeo de novos projectos que tenham por missatildeo a valorizaccedilatildeo e
interpretaccedilatildeo do patrimoacutenio e do conhecimento relacionado com as temaacuteticas do mar e
das comunidades mariacutetimas A valorizaccedilatildeo deste potencial em paralelo com a criaccedilatildeo e
desenvolvimento de um conjunto de condiccedilotildees de apoio agrave naacuteutica de recreio (uma rede
de marinas devidamente infra-estruturadas que disponibilizem serviccedilos de apoio agrave
naacuteutica geridas segundo um modelo empresarial) a criaccedilatildeo de um conjunto de produtos
de turismo naacuteutico e de turismo costeiro constituem as condiccedilotildees indispensaacuteveis agrave
valorizaccedilatildeo e aproveitamento do patrimoacutenio mariacutetimo que a regiatildeo possui Esta linha
estrateacutegica privilegia o desenvolvimento de projectos que promovam na sua elaboraccedilatildeo
e desenvolvimento o envolvimento das comunidades mariacutetimas das respectivas zonas
de forma a favorecer a emergecircncia e a diversificaccedilatildeo de actividades ligadas ao mar e a
criaccedilatildeo de novas oportunidades de emprego
9) Promover o desenvolvimento da educaccedilatildeo e da formaccedilatildeo nas aacutereas das ciecircncias
marinhas e da economia do mar de forma a favorecer a seguranccedila a qualificaccedilatildeo do
sector e a empregabilidade
O desenvolvimento da educaccedilatildeo e da formaccedilatildeo no domiacutenio do mar satildeo factores
chave para a empregabilidade para o reforccedilo do cluster do mar e seguranccedila mariacutetima
94
A presente linha estrateacutegica tem uma dimensatildeo transversal cruzando todas as
outras Linhas que compotildeem o Plano de Acccedilatildeo Tem por objectivo favorecer a
qualificaccedilatildeo de jovens e adultos em aacutereas de actividade directa e indirectamente ligadas
ao mar com especial incidecircncia na aacuterea da seguranccedila Neste sentido importa qualificar a
oferta formativa existente e reforccedilar a coordenaccedilatildeo entre a acccedilatildeo do Forpescas (Centro
de Formaccedilatildeo Profissional das Pescas) e de outras organizaccedilotildees que intervecircm na aacuterea da
formaccedilatildeo em actividades relacionadas com o mar (por exemplo formaccedilatildeo na aacuterea do
turismo) no sentido de adequar e ordenar a oferta formativa segundo as necessidades de
desenvolvimento que se colocam neste domiacutenio
10) Promover a cooperaccedilatildeo transfronteiriccedila e transnacional no domiacutenio do mar
A regiatildeo do Norte possui uma experiecircncia histoacuterica de cooperaccedilatildeo transfronteiriccedila
principalmente com a Galiza e de cooperaccedilatildeo transnacional especialmente no acircmbito
do Espaccedilo Atlacircntico do qual a CCDR-N eacute actualmente a Autoridade de Gestatildeo do
POCTEA O tema Mar eacute relevante para estes dois ldquoespaccedilosrdquo de cooperaccedilatildeo integrando
o corpo principal de objectivos dos respectivos Programas
No que respeita agrave cooperaccedilatildeo transfronteiriccedila com a Galiza foi criado sob a
iniciativa da CCDRN e da Xunta da Galicia um grupo de trabalho misto envolvendo
actores das duas regiotildees sob a coordenaccedilatildeo do CETMAR145
e do CIIMAR146
Foi desenvolvido um primeiro conjunto de projectos estruturantes de cooperaccedilatildeo
oportunamente candidatados ao Programa de Cooperaccedilatildeo Transfronteiriccedila Portugal-
Espanha em seis domiacutenios prioritaacuterios (qualidade do meio marinho recursos marinhos
sector alimentar biotecnologias e novos produtos construccedilatildeo e reparaccedilatildeo naval e
naacuteutica de recreio e por fim cultura e turismo)
145
Centro Tecnoloacutegico del Mar - Fundacioacuten CETMAR httpwwwcetmarorg 146
Centro Interdisciplinar de Investigaccedilatildeo Marinha e Ambiental httpwwwcimarorg
95
63 Modelo de governaccedilatildeo para a Agenda Regional do Mar
A coordenaccedilatildeo transversal de poliacuteticas e a articulaccedilatildeo entre vaacuterios niacuteveis de poder
coloca a questatildeo da concertaccedilatildeo e integraccedilatildeo de poliacuteticas ou seja a questatildeo da
governanccedila Este plano constitui um referencial de desenvolvimento estrateacutegico
dinacircmico que serve de base ao lanccedilamento e ao desenvolvimento de intervenccedilotildees no
domiacutenio do mar O plano de acccedilatildeo corporiza a ambiccedilatildeo de se constituir como
plataforma de suporte a um processo evolutivo aberto agrave participaccedilatildeo dos diferentes
actores e agrave coordenaccedilatildeo das suas intervenccedilotildees
Um dos aspectos essenciais para garantir a gestatildeo e regulaccedilatildeo do plano eacute a
existecircncia de informaccedilatildeo estrateacutegica que permita o conhecimento mais aprofundado do
mesmo e o acompanhamento das principais realizaccedilotildees
A gestatildeo estrateacutegica deste plano de acccedilatildeo eacute da responsabilidade de um comiteacute de
pilotagem presidido pela CCDR-N e constituiacutedo por um conjunto de instituiccedilotildees
puacuteblicas da regiatildeo Norte responsaacuteveis pelas principais aacutereas de poliacutetica relacionadas
com a temaacutetica e tambeacutem por entidades representativas dos espaccedilos litorais em
presenccedila O comiteacute de pilotagem seraacute um espaccedilo privilegiado de articulaccedilatildeo e de
coordenaccedilatildeo intersectorial e de articulaccedilatildeo territorial das diversas iniciativas e projectos
que teraacute como objectivo principal a responsabilidade de implementar o plano de acccedilatildeo e
a respectiva regulaccedilatildeo existente
64 Oceano XXI - Cluster do ldquoconhecimento e da economia do marrdquo
Ainda acerca das estrateacutegias regionais destaco o trabalho levado a cabo pela
plataforma ldquoOceano XXI ndash Associaccedilatildeo para o Conhecimento e Economia do Marrdquo que
tem como principal objectivo especiacutefico dinamizar o cluster do ldquoconhecimento e da
economia do marrdquo
Este cluster foi reconhecido pela Autoridade de Gestatildeo do Programa de factores de
Competitividade (COMPETE) no dia 27 de Julho de 2009 como Estrateacutegia de
96
Eficiecircncia Colectiva E por este facto importa ser referenciado neste trabalho dada a
importacircncia que vai seguramente ter a curto prazo nos projectos considerados ldquoacircncorardquo
para as regiotildees Centro e Norte de Portugal
Por outro lado o objectivo geral que orienta o desenvolvimento deste cluster
consiste em ldquovalorizar o recurso Mar atraveacutes do desenvolvimento de um conjunto de
actividades de produtos e de serviccedilos que promovam o crescimento econoacutemico o
emprego e a internacionalizaccedilatildeo da regiatildeo apostando no reforccedilo da IampDampI da
formaccedilatildeo do empreendedorismo e da cooperaccedilatildeo de forma a contribuir em condiccedilotildees
de sustentabilidade para a competitividade da regiatildeo147
rdquo
Este cluster sediado na regiatildeo Norte envolve um vasto e diversificado conjunto de
entidades representativas dos interesses regionais (Centro e Norte) e nacionais
pertencentes aos principais sectores do agregado econoacutemico subjacente agrave Estrateacutegia de
Eficiecircncia Colectiva tendo em vista a diversificaccedilatildeo da base econoacutemica regional
criando desta forma novas actividades e serviccedilos e fomentando o aparecimento de
mercados alternativos com maior valor econoacutemico o reforccedilo da competitividade e da
produtividade das induacutestrias do mar e o aumento do emprego qualificado
O cluster do ldquoconhecimento e da economia do marrdquo integra um conjunto
diversificado de sectores e de actividades
bull Pesca aquicultura salicultura e induacutestria transformadora da pesca
bull Actividades mariacutetimo-portuaacuterias e logiacutestica
bull Induacutestrias mariacutetimas
bull Induacutestrias transformadoras de suporte agraves actividades mariacutetimas (tecircxtil e vestuaacuterio
plaacutestico moldes madeira metalomecacircnica)
bull Cruzeiros naacuteutica de recreio e turismo mariacutetimo
bull Tecnologias da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo (TIC)
bull Roboacutetica submarina
bull Biotecnologia marinha
bull Energias renovaacuteveis
147
Oceano XXI Cluster do Conhecimento e da Economia do Mar httpwwwoceano21org
97
O cluster do ldquoconhecimento e da economia do marrdquo organiza-se segundo quatro
linhas prioritaacuterias de intervenccedilatildeo148
que estatildeo em consonacircncia com a visatildeo europeia dos
clusters mariacutetimos referida no Livro Verde (capiacutetulo II)
Linha Prioritaacuteria 1 ndash desenvolver a Investigaccedilatildeo amp Desenvolvimento das
Tecnologias de Informaccedilatildeo (IDTI) e apoiar o desenvolvimento de actividades
emergentes no domiacutenio da economia do mar
Linha Prioritaacuteria 2 ndash promover a qualidade e a valorizaccedilatildeo dos produtos da pesca
da aquicultura e de produtos marinhos e a seguranccedila alimentar
Linha Prioritaacuteria 3 ndash promover a modernizaccedilatildeo e a inovaccedilatildeo das induacutestrias
mariacutetimas do transporte mariacutetimo da actividade portuaacuteria e da logiacutestica
Linha Prioritaacuteria 4 ndash valorizar o patrimoacutenio mariacutetimo e o seu aproveitamento no
apoio ao desenvolvimento da naacuteutica de recreio e do turismo de natureza
No acircmbito da Estrateacutegia de Eficiecircncia Colectiva ndash cluster do ldquoconhecimento e da
economia do marrdquo ndash foram reconhecidos seis projectos acircncora que no seu conjunto
totalizam uma estimativa de investimento de 120 milhotildees de euros nos trecircs proacuteximos
anos (2010 - 2013) E satildeo os seguintes
Ecomare
Aquaacuterio dedicado agrave temaacutetica dos mares da Peniacutensula Ibeacuterica centro de recuperaccedilatildeo
de animais marinhos e laboratoacuterio oceanograacutefico da Universidade de Aveiro
Parque de Ciecircncia e Tecnologias do Mar da Universidade do Porto
Visa o desenvolvimento de acccedilotildees de IampD transferecircncia de tecnologias incubaccedilatildeo
de empresas acolhimento empresarial formaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo cientiacutefica O Poacutelo do Mar
permitiraacute que os empreendedores desenvolvam as suas investigaccedilotildees eou testem os
seus protoacutetipos em meio marinho
148
Oceano XXI Cluster do Conhecimento e da Economia do Mar httpwwwoceano21org
98
Consupesca
Com o objectivo especiacutefico de reduzir o consumo de combustiacutevel na frota da pesca
costeira e de arrasto
Panthalassa
Promover a seguranccedila alimentar e a sustentabilidade ambiental da produccedilatildeo da
transformaccedilatildeo e do consumo de pescado atraveacutes da implementaccedilatildeo de sistemas
integrados abrangendo toda a cadeia de produccedilatildeo que permitem para cada fase do
processo de fabrico desenvolver as melhores soluccedilotildees do ponto de vista ambiental e de
seguranccedila conferindo maior valor acrescentado aos produtos
Promoccedilatildeo e desenvolvimento do turismo naacuteutico e dos desportos naacuteuticos
Reforccedilo do turismo naacuteutico e dos desportos naacuteuticos em Portugal atraveacutes da
implementaccedilatildeo dos seguintes projectos
Construccedilatildeo do Terminal de Cruzeiros de Leixotildees tendo como objectivo reforccedilar a
posiccedilatildeo do Porto de Leixotildees no mercado do turismo de cruzeiros explorando a sua
localizaccedilatildeo no cruzamento de rotas entre o Atlacircntico nordeste e o Mediterracircneo e entre
as Caraiacutebas e a Europa
Construccedilatildeo do Centro de Mar em Viana do Castelo visando o desenvolvimento da
naacuteutica de recreio e dos desportos naacuteuticos e o reforccedilo da posiccedilatildeo de Viana do Castelo
como uma cidade da naacuteutica do Atlacircntico
Turismo Mariacutetimo de Natureza
Em especial na ilha da Morraceira (Figueira da Foz) e ilha das Berlengas (Peniche)
99
65 A Naacuteutica como factor de desenvolvimento regional
Como referi no capiacutetulo dedicado aos domiacutenios destacados pelo Livro Verde o
sector naacuteutico pode ter um papel importante no que concerne agrave protecccedilatildeo do legado
mariacutetimo e na sensibilizaccedilatildeo do puacuteblico No entanto as actividades naacuteuticas podem
desempenhar outras funccedilotildees vitais para a implementaccedilatildeo das poliacuteticas mariacutetimas
(regionais nacionais e europeias) e serem consideradas um activo gerador de emprego
de riqueza e bem-estar das populaccedilotildees
Pese embora que para se ter uma verdadeira identidade mariacutetima (hellip) ldquoeacute preciso
tempo para sentir o mar eacute algo que soacute se consegue com muito tempo eventualmente
com o tempo de uma vidardquo (hellip)149
Urge a necessidade de se formar geraccedilotildees que desde
cedo se familiarizem com o mar A praacutetica naacuteutica qualquer que seja a modalidade
permite despertar o interesse e consequentemente aproximar a populaccedilotildees jovens ao
mar
A este propoacutesito menciono o estudo do qual fui coordenador realizado pela
INTERCEacuteLTICA ndash Associaccedilatildeo Cultural Desportiva e Turiacutestica que coloca a Naacuteutica
como factor de desenvolvimento da regiatildeo Norte150
Este estudo estrateacutegico foi apoiado
pelo programa Operacional da Regiatildeo Norte (CCDR-N) com recurso ao FEDER
Numa primeira fase efectou-se um levantamentoinventaacuterio exaustivo ao sector
que incluiu diversos actores como a Autoridade Mariacutetima o Instituto Portuaacuterio e dos
Transportes Mariacutetimos os clubes as associaccedilotildees os portos de recreio as empresas de
animaccedilatildeo turiacutestica os operadores mariacutetimo-turiacutesticos o desporto escolar as federaccedilotildees
a induacutestria o comeacutercio e os serviccedilos naacuteuticos
O objectivo primeiro deste levantamento foi determinar a dimensatildeo do sector e qual
a sua importacircncia para com base na informaccedilatildeo obtida elaborar um plano estrateacutegico
que respondesse agraves reais necessidades e carecircncias do sector naacuteutico na regiatildeo Norte
Numa segunda fase foram elaboradas propostas de projectos que pudessem
futuramente ser enquadradas nas Agendas Regionais temaacuteticas do Turismo e do Mar e
consequentemente no QREN (2007-2013)
149
Discurso do Arqto Guilherme Guimaratildees nas comemoraccedilotildees oficiais do Dia Europeu do Mar 2010
(20 de Maio) a bordo do navio Gil Eannes em Viana do Castelo 150
Para mais informaccedilotildees sobre o Projecto Naacuteutica consultar o seguinte site
httpwwwprojectonauticacomindexphpseccao=nauticaampcontent=apresentacao
100
Foi apresentado um plano de acccedilatildeo com base nas propostas e recomendaccedilotildees que
datildeo estrutura a cinco eixos
Rede de infra-estruturas naacuteuticas
Assenta em trecircs medidas concretas a criaccedilatildeo dos centros coordenadores da
actividade naacuteutica aumento da capacidade instalada (massificaccedilatildeo da praacutetica) e na
qualificaccedilatildeo de serviccedilos
Dinamizaccedilatildeo turiacutestica
Estatildeo sintetizadas em trecircs itens criaccedilatildeo de pacotes naacuteuticos desenvolvimento de
empreendimentos turiacutesticos temaacuteticos e de serviccedilos de animaccedilatildeo naacuteutica
Dinamizaccedilatildeo da naacuteutica
Baseada em quatro medidas 1 ) Rede de equipamentos e actividades em bacias
hidrograacuteficas e albufeiras 2) Rede de prestadores de serviccedilos 3) Apetrechamento dos
agentes naacuteuticos 4) Formaccedilatildeo
Promoccedilatildeo e comunicaccedilatildeo
Essencialmente na estruturaccedilatildeo temaacutetica e ediccedilatildeo de material directoacuterio da naacuteutica
acccedilatildeo para a iniciaccedilatildeo agraves actividades naacuteuticas organizaccedilatildeo de eventos e criaccedilatildeo de
espaccedilos museoloacutegicos
Governacircncia
Com a aposta no conceito inovador de loja da naacuteutica (tipo loja do cidadatildeo) e no
estabelecimento de um observatoacuterio para o sector naacuteutico actualizaacutevel e disponiacutevel ao
puacuteblico
Estas propostas foram elaboradas com a intenccedilatildeo de promover projectos colectivos
que criem sinergias entre os diversos stakeholders do sector naacuteutico e que o capitalizem
econoacutemica social e ambientalmente tornando-o mais coeso e rumo a um
desenvolvimento sustentaacutevel
O Norte de Portugal deteacutem uma prodigiosa costa Atlacircntica e planos de aacutegua
interiores (rios lagos e zonas lacustres) singulares Trata-se sem duacutevida de um recurso
de inquestionaacutevel valor O desafio eacute tornaacute-lo um produto reconhecido e apeteciacutevel para
as populaccedilotildees residentes e em simultacircneo para os turistas
101
Conclusotildees
No decurso deste trabalho analisei a importacircncia do MAR para a Europa desde os
tempos dos descobrimentos ateacute agrave actualidade com a implementaccedilatildeo da PMIE Dada a
transversalidade do tema este trabalho aborda as componentes das poliacuteticas mariacutetimas
europeia nacional e regional (Norte de Portugal) Devo notar que este trabalho natildeo
pretende ser um estudo final eou conclusivo mas que possa ser considerado como ponto
de partida para posteriores aprofundamentos
Concluiacutedo este introacuteito passo a apresentar as conclusotildees finais
Como sabemos os oceanos ocupam dois terccedilos da aacuterea total do planeta Terra Esta
constataccedilatildeo permite desde logo concluir que as actividades mariacutetimas estatildeo longe de
atingir o seu potencial sisteacutemico
A histoacuteria da Europa particularmente a partir do periacuteodo medieval devido agrave sua
natureza geograacutefica em forma de peniacutensula e bem torneada pelo mar despoletou o
interesse dos europeus pelo desconhecido Por detraacutes do mare incognitum havia mitos e
lendas que uma vez superadas pela audaacutecia dos descobridores desencadearam uma
inovadora epopeia mariacutetima que culminou com a descoberta de rotas mariacutetimas culturas
civilizaccedilotildees e estabelecimento de intercacircmbios comerciais transnacionais Assim se
iniciou o processo de globalizaccedilatildeo atraveacutes do qual os portugueses tatildeo grande e valioso
contributo deram agrave Humanidade
Actualmente na Europa deparamo-nos com uma cenaacuterio econoacutemico preocupante
provocado essencialmente pela crise financeira mundial e constatamos que a Europa
natildeo consegue acudir a todas dificuldades dos Estados Membros perifeacutericos A Europa natildeo
pode estar soacute unida quando economicamente o ambiente eacute favoraacutevel e perante as
adversidades diminuir a sua solidariedade pondo em causa valores notaacuteveis como a
construccedilatildeo da Europa e a moeda uacutenica Para tal eacute vital restabelecer a unidade pois soacute
assim a UE pode lograr responder aos enormes desafios do seacuteculo XXI
Acredito que o que eacute urgente acima de tudo eacute unir os europeus O MAR sem sombra
de duacutevida dada a sua transversalidade e caso seja utilizado como denominador comum
aproximaraacute os europeus agraves instituiccedilotildees europeias desenvolveraacute a nossa euro ndashcidadania
e conduziraacute a um maior envolvimento dos concidadatildeos nas decisotildees europeias
102
Voltando ao tema do trabalho em anaacutelise reforccedilo mais uma vez que foi o presidente
da Comissatildeo Europeia o portuguecircs Joseacute Manuel Duratildeo Barroso que lanccedilou no iniacutecio do
seu mandato o processo de construccedilatildeo para uma verdadeira Poliacutetica Mariacutetima Integrada
Europeia
A PMIE tornou-se um instrumento exemplar de savoir faire da poliacutetica apoiada
numa estrateacutegica botton up permitindo que os europeus dessem o seu contributo e
participassem na sua implementaccedilatildeo A aplicaccedilatildeo desta poliacutetica tem como objectivos
melhorar a eficaacutecia da acccedilatildeo governamental no domiacutenio do mar e explorar melhor as
sinergias a fim de aumentar o crescimento econoacutemico e a sustentabilidade ambiental
tendo sempre presente a dimensatildeo social E assim poder ainda responder aos desafios
prementes da protecccedilatildeo do ambiente seguranccedila mariacutetima crescimento econoacutemico
emprego qualificado e contribuir tambeacutem para o bem-estar das populaccedilotildees
Esta ldquoeuroapostardquo mariacutetima cujo potencial esmiucei ao longo deste trabalho pode ser
decisiva e contribuir fortemente para a afirmaccedilatildeo da Europa no mundo Espero tambeacutem
que possa servir de exemplo a outras regiotildees do mundo de momento ainda
subdesenvolvidas mas que se apresentam com iacutendices de crescimento exponenciais
Em Portugal desde o seacuteculo XIV (D Joatildeo I) ateacute ao Estado Novo o cluster mariacutetimo
foi o nosso ldquocartatildeo de visitardquo no plano internacional Este apresentado como paradigma
incluiacutea a navegaccedilatildeo comercial a pesca longiacutenqua (pe o bacalhau) e a construccedilatildeo naval
que ombreava com os melhores construtores a niacutevel mundial Como prova da
demonstraccedilatildeo puacuteblica deste reconhecimento invoco a estatuaacuteria que enaltece os feitos
histoacutericos do navegadores portugueses como por exemplo D Sebastiatildeo em Lagos
Vasco da Gama em Sines Infante D Henrique no Porto e Londres (Belgrave Square)
Joatildeo Aacutelvares Fagundes em Viana do Castelo
Portugal integrado haacute vinte e cinco anos na Uniatildeo Europeia natildeo se conseguiu impocircr
nas questotildees mariacutetimas Perdeu uma boa oportunidade para tirar partido desta integraccedilatildeo
menosprezando os fundos comunitaacuterios para desenvolver o seu cluster mariacutetimo
chegando ateacute cair no esquecimento e ficar praticamente extinto no terceiro quartel do
seacuteculo XX
103
Foi lamentaacutevel esta inoperacircncia de Portugal junto da UE e vice-versa Ou seja nem
Portugal soube aproveitar os generosos fundos europeus para desenvolver o sector
mariacutetimo nem a UE soube aproveitar a mais-valia do know-how luso das actividades
mariacutetimas agrave semelhanccedila do que sucedeu com a Alemanha como paiacutes exportador por
excelecircncia e da Franccedila com a PAC
Talvez a explicaccedilatildeo para este desvio fosse a seduccedilatildeo dos portugueses pelos fundos
europeus para aplicar em novas aacutereas com resultados visiacuteveis e imediatos a curto prazo
e cujo retorno econoacutemico hoje ainda questionamos
A ldquodemocraciardquo voltou costas ao seu passado de seacuteculos ndash o MAR Diversos factores
do passado recente contribuiacuteram para esta situaccedilatildeo a saber a descolonizaccedilatildeo e o
sentimento generalizado de ruptura com a ideologia do Estado Novo (pois a sua
propaganda estava fortemente ligada ao domiacutenio mariacutetimo) E Portugal limitou-se apenas
a exercer o domiacutenio mariacutetimo aquando da adesatildeo nas 12 milhas mariacutetimas Portugal
focou-se no bloco terrestre contrariando assim o seu percurso natural e ancestral
ldquoSe Portugal sempre ignorou o mar sua agenda europeia natildeo o perspectivando
como um activo estrateacutegico ao interesse nacional tambeacutem a proacutepria UE se viu desde
sempre a si proacutepria como um bloco terrestre capitaneado pelo eixo continental traccedilado
ao longo de deacutecadas entre Paris e Bona do que como a potecircncia mariacutetima que tambeacutem eacute
O tratado de Roma eacute omisso quanto ao potencial dos oceanos e dos mares que circundam
a Europa para o processo de integraccedilatildeo europeia a politica comum de pescas nasce
tardia e gradualmente por analogia da PAC e os transportes mariacutetimos ficaram de fora
da politica europeia de transportes e logo da rede transeuropeia de transportes por muito
tempo praticamente ateacute ao Livro Branco dos Transportes de 2001rdquo151
Com o lanccedilamento da PMIE Portugal compreendeu a importacircncia da sua vocaccedilatildeo
mariacutetima para os assuntos europeus e finalmente tem uma estrateacutegia mariacutetima para
implementar no territoacuterio nacional decorrente da perspectiva europeia Esta atitude foi
reforccedilada pela actuaccedilatildeo do governo portuguecircs especialmente durante a Presidecircncia
Portuguesa da UE em 2007 onde Portugal deixou a sua griffe com a aprovaccedilatildeo da
poliacutetica mariacutetima europeia De novo Portugal e a Europa estatildeo agora voltados para o mar
151
Dr Tiago Pitta e Cunha (2010) art cit na Revista do Centro de Informaccedilatildeo Europeia Jacques Delors -
Europa Novas Fronteiras ndash Portugal ndash 25 Anos de Integraccedilatildeo Europeia nordm 2627 Lisboa Principia
p186
104
com uma visatildeo mais abrangente e integrada e em uniacutessono para os sectores ligados ao
mar Em consequecircncia destes acontecimentos a regiatildeo Norte de Portugal elaborou uma
Agenda para o mar e tem estruturas universitaacuterias a desenvolver actividades cientiacuteficas e
laboratoriais associadas agrave iniciativa privada que permitem dar uma nova visatildeo econoacutemica
ao mar
Para que Portugal cumpra o mar como desiacutegnio nacional eacute necessaacuterio iniciar-se um
novo ciclo que aproxime os portugueses do mar Exige-se uma nova vaga de fundo para
desenvolver a nossa cultura mariacutetima como jaacute tem sucedido em outros Estados membros
atraveacutes de um processo de enculturaccedilatildeo A formaccedilatildeo joga um papel determinante para o
sucesso deste objectivo Os planos curriculares das escolas e universidades portuguesas
podem ser o ponto de partida deste novo ciclo despertando o interesse nas camadas
jovens e influenciando-os para o gosto da nossa heranccedila mariacutetima permitindo vivenciar
e experienciar actividades de mar de modo a serem eles no futuro a capitalizarem as
potencialidades do mar
Se compararmos em termos de territoacuterio e de populaccedilatildeo com os parceiros europeus
verificamos que Portugal natildeo eacute um paiacutes pequeno estamos ao mesmo niacutevel de paiacuteses como
a Beacutelgica Repuacuteblica Checa Holanda Dinamarca Irlanda e Greacutecia Isto sem referir a
ZEE que em breve poderaacute catapultar o nosso paiacutes para o deacutecimo lugar do ranking
mundial de paiacuteses mariacutetimos
Como sabemos o ldquocentro de gravidaderdquo da Uniatildeo Europeia deslocou-se para leste
devido agrave entrada de novos Estados membros (alargamento a vinte e sete) E Portugal
atraveacutes da agenda europeia para o mar pode tornar-se apesar de ser um paiacutes perifeacuterico
um verdadeiro liacuteder nas poliacuteticas europeias
Voltando a questatildeo inicial A Poliacutetica Mariacutetima Europeia ndash uma poliacutetica feita agrave
medida de Portugal penso que apesar de jaacute termos dado alguns passos na integraccedilatildeo de
poliacuteticas mariacutetimas eacute no entanto imprescindiacutevel uma vontade poliacutetica perseverante que
afirme Portugal na Europa defenda a nossa heranccedila e salvaguarde o futuro do nosso paiacutes
Oxalaacute saibamos aproveitar este ldquooceanordquo de oportunidades
105
Fontes e bibliografia
Fontes
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UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu ao
Parlamento Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees
Relatoacuterio de progresso sobre a poliacutetica mariacutetima integrada da Uniatildeo Europeia
Comissatildeo Europeia 2009
COM (2009) 538 final
UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu ao
Parlamento Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees
Towards the integration of maritime surveillance A common information sharing
environment for the EU maritime domain Comissatildeo Europeia 2009
COM (2009) 536 final
UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu ao
Parlamento Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees
Desenvolver a dimensatildeo internacional da poliacutetica mariacutetima integrada da Uniatildeo
Europeia Comissatildeo Europeia 2009
106
COM (2009) 8 final
UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu ao
Parlamento Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees
Objectivos estrateacutegicos e recomendaccedilotildees para a poliacutetica comunitaacuteria de transporte
mariacutetimo no horizonte de 2018 Comissatildeo Europeia 2009
COM (2008) 791 final
UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo Roteiro para o ordenamento
do espaccedilo mariacutetimo definiccedilatildeo de princiacutepios comuns na EU Comissatildeo Europeia 2008
COM (2008) 395 final
UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu ao
Parlamento Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees
Orientaccedilotildees para uma abordagem integrada da poliacutetica mariacutetima rumo a melhores
praacuteticas de governaccedilatildeo mariacutetima integrada e de consulta das partes interessadas
Comissatildeo Europeia 2008
COM (2007) 575 final
UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu ao
Parlamento Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees
Uma poliacutetica mariacutetima integrada para a Uniatildeo Europeia Comissatildeo Europeia 2007
COM (2007) 574 final
UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu ao
Parlamento Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees
Conclusotildees da consulta sobre uma poliacutetica mariacutetima europeia Comissatildeo Europeia
2007
COM (2006) 275 final Volume I
UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho ao Parlamento
Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees Para uma
futura poliacutetica mariacutetima da Uniatildeo ndash uma visatildeo europeia para os oceanos e os mares
Comissatildeo Europeia 2006
107
COM (2006) 275 final Volume II
UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Livro Verde para uma futura poliacutetica
mariacutetima da Uniatildeo ndash uma visatildeo europeia para os oceanos e os mares Comissatildeo
Europeia 2006
COM (2006) 105 final
UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Livro Verde Estrateacutegia europeia para uma
energia sustentaacutevel competitiva e segura Comissatildeo Europeia 2006
COM (2005) 658 final
UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu e ao
Parlamento Europeu Reexame da Estrateacutegia em favor do desenvolvimento sustentaacutevel
Uma plataforma de acccedilatildeo Comissatildeo Europeia 2005
COM (2005) 505 final
UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Directiva do Parlamento Europeu e do
Conselho Europeu que estabelece um quadro de acccedilatildeo comunitaacuteria no domiacutenio da
poliacutetica para o meio marinho (Directiva ldquoestrateacutegia para o meio marinhordquo) Comissatildeo
Europeia 2005
COM (2005) 504 final
UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu e ao
Parlamento Europeu Estrateacutegia temaacutetica para a protecccedilatildeo e conservaccedilatildeo do meio
marinho Comissatildeo Europeia 2004
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UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo da Comissatildeo Europeu ao
Conselho e ao Parlamento Europeu Estrateacutegia de desenvolvimento sustentaacutevel da
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Oceanaacuterio de Lisboa
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Oceano XXI Cluster do Conhecimento e da Economia do Mar
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Parlamento Europeu
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Polis Litoral Norte
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Polis Ria de Aveiro
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Polis Ria Formosa
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Presidecircncia da Repuacuteblica Portuguesa
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IV
in memoriam
Professor Doutor Ernacircni Rodrigues Lopes
(1942 ndash 2010)
V
Resumo
Sabemos que dois terccedilos do planeta Terra satildeo ocupados pelos Oceanos Logo eacute
premente ocuparmo-nos deles da forma mais sustentaacutevel possiacutevel
E os ldquomaresrdquo foram desde sempre a seiva da Europa Os europeus desde haacute muito
tempo tiveram propensatildeo para se libertarem do mare incognitum Essa ousadia trouxe
retorno econoacutemico cultural e cientiacutefico notaacuteveis para a Humanidade
Os espaccedilos mariacutetimos e o litoral europeu satildeo essenciais para o bem-estar e
prosperidade ligam continentes atraveacutes de rotas comerciais regulam o clima satildeo fonte
de alimento de energia e de inuacutemeros recursos (muitos ainda desconhecidos) e satildeo
tambeacutem locais privilegiados de residecircncia e lazer para os cidadatildeos
A Europa preconiza actualmente uma Poliacutetica Mariacutetima Integrada reflectindo e
projectando a nossa relaccedilatildeo com os oceanos e mares Esta abordagem inovadora e
holiacutestica reforccedila a capacidade da Europa face aos desafios da globalizaccedilatildeo e da
competitividade agraves alteraccedilotildees climaacuteticas agrave autonomia energeacutetica agrave seguranccedila mariacutetima
entre outras O leme da Poliacutetica Mariacutetima Europeia Integrada foi tomado em 2005 pelo
Presidente da Comissatildeo Europeia Duratildeo Barroso e estaacute ancorada na Agenda de Lisboa
(apela ao crescimento econoacutemico e emprego) e na Agenda de Gotemburgo (apela ao
desenvolvimento sustentaacutevel ndash ambiental econoacutemico e social)
A nossa longa histoacuterica mariacutetima a liacutengua e cultura portuguesa e o facto de existir
uma Estrateacutegia Nacional para o Mar em consonacircncia com a Poliacutetica Mariacutetima Europeia
Integrada podem ser os factores-chave para Portugal concretizar um dos seus maiores
desiacutegnios para o seacuteculo XXI ndash o Mar Importa referir que eacute iminente o alargamento da
zona econoacutemica exclusiva (equivalente a 43 vezes agrave aacuterea de Portugal Continental) e
caso seja aceite teremos seguramente uma nova oportunidade de estar no centro do
mundo
Esta investigaccedilatildeo tem portanto como objectivo analisar a poliacutetica mariacutetima
europeia e os seus desenvolvimentos em Portugal
PALAVRAS-CHAVE
EUROPA MAR POLIacuteTICA PORTUGAL SUSTENTAacuteVEL
VI
Lista de abreviaturas
BEI ndash Banco Europeu de Investimento
BRIC ndash Brasil Ruacutessia Iacutendia e China
CCDR-N ndash Comissatildeo de Coordenaccedilatildeo de Desenvolvimento Regional do Norte
CdR ndash Comiteacute das Regiotildees
CE ndash Comissatildeo Europeia
CEO ndash Comissatildeo Estrateacutegica dos Oceanos
CESA ndash Associaccedilatildeo dos Estaleiros Europeus de Construccedilatildeo e Reparaccedilatildeo Naval
CETMAR ndash Centro Tecnoloacutegico del Mar
CIEJD ndash Centro de Informaccedilatildeo Europeia Jacques Delors
CIIMAR ndash Centro Interdisciplinar de Investigaccedilatildeo Marinha e Ambiental
CLPC ndash Comissatildeo de Limites para a Extensatildeo da Plataforma Continental
CO 2 ndash Dioacutexido de Carbono
COMPETE ndash Programa de Factores de Competitividade
CRPM ndash Conferecircncia das Regiotildees Mariacutetimas da Europa
DEM ndash Dia Europeu do Mar
EBA ndash European Boating Association
EFTA ndash Associaccedilatildeo Europeia de Livre Comeacutercio
EM ndash Estados Membros
EMAM ndash Estrutura de Missatildeo para os Assuntos do Mar
EMEPC ndash Estrutura de Missatildeo para a Extensatildeo da Plataforma Continental
EMODNET ndash Rede Europeia de Observaccedilatildeo e de Dados do Meio Marinho
EMSA ndash Agecircncia Europeia da Seguranccedila Mariacutetima
ENM ndash Estrateacutegia Nacional para o Mar
ESPO ndash Organizaccedilatildeo dos Portos Mariacutetimos Europeus
EuDA ndash European Dredging Association
EUROMIG ndash European Union Recreational Marine Industry Group
VII
FAO ndash Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Alimentaccedilatildeo e a Agricultura
FEDER ndash Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional
FEM ndash Foacuterum Empresarial da Economia do Mar
FSE ndash Fundo Social Europeu
GIZC ndash Gestatildeo Integrada das Zonas Costeiras
IampD ndash Investigaccedilatildeo e Desenvolvimento
IampDampI ndash Investigaccedilatildeo Desenvolvimento e Inovaccedilatildeo
IDTI ndash Investigaccedilatildeo e Desenvolvimento das Tecnologias de Informaccedilatildeo
OEM ndash Ordenamento do Espaccedilo Mariacutetimo
OGP ndash International Association of Oil and Gas Producers
ONG ndash Organizaccedilatildeo Natildeo Governamentais
ONU ndash Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas
NEA 2 ndash Nautisme Espace Atlantique 2
PAC ndash Poliacutetica Agriacutecola Comum
PALOP ndash Paiacuteses Africanos de Liacutengua Oficial Portuguesa
PCP ndash Poliacutetica Comum da Pesca
PIB ndash Produto Interno Bruto
PME`S ndash Pequenas e Meacutedias Empresas
PMIE ndash Poliacutetica Mariacutetima Integrada Europeia
POCTEA ndash Programa de Cooperaccedilatildeo Transnacional do Espaccedilo Atlacircntico
POCTEP ndash Programa de Cooperaccedilatildeo Transfronteiriccedilo Espanha-Portugal
POEM ndash Plano Ordenamento do Espaccedilo Mariacutetimo
QREN ndash Quadro de Referecircncia Estrateacutegico Nacional
UNESCO ndash Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo Ciecircncia e Cultura
TIC ndash Tecnologias da Informaccedilatildeo e da Comunicaccedilatildeo
UE ndash Uniatildeo Europeia
ZEE ndash Zona Econoacutemica Exclusiva
VIII
Nota preacutevia
A realizaccedilatildeo desta investigaccedilatildeo natildeo teria sido possiacutevel sem a colaboraccedilatildeo de
diversas pessoas e entidades pelo que lhes dirijo os devidos agradecimentos
A primeira palavra de agradecimento vai para a minha Orientadora Professora Doutora
Maria Manuela Tavares Ribeiro Grato pela sua disponibilidade e destreza em aceitar a
tarefa de orientaccedilatildeo Aproveito para a felicitar pelas inuacutemeras iniciativas que organiza e
em que participa elevando o prestiacutegio da nossa Faculdade de Letras a niacutevel nacional e
internacional
A segunda palavra e natildeo menos relevante vai para o meu co-Orientador na
qualidade de especialista Dr Tiago de Pitta e Cunha A sua notaacutevel experiecircncia
nacional (Coordenador da Comissatildeo Estrateacutegica dos Oceanos) e europeia (ex-Membro
do Gabinete do Comissaacuterio Europeu para os Assuntos Mariacutetimos e as Pescas) aliada a
uma cooperaccedilatildeo profiacutecua diria mesmo perfeita permitiram que neste trabalho tenhamos
procurado a profundidade e a transversalidade que o tema proposto exige
O reconhecimento eacute extensiacutevel a todos os Professores da parte curricular pelo
conhecimento adquirido nas aulas memoraacuteveis Uma palavra particular para o Professor
Doutor Antoacutenio Martins da Silva e outra para o meu colega e amigo Asdruacutebal
Sotomaior pois sem eles natildeo teria sido possiacutevel conseguir este objectivo
Agradeccedilo aos funcionaacuterios do Centro de Informaccedilatildeo Europeia Jacques Delors em
Lisboa pela simpatia e competecircncia com que sempre me receberam
O meu justo agradecimento ainda ao Comiteacute das Regiotildees pelo convite feito em
2008 para visitar e participar in loco nas sessotildees plenaacuterias das principais instacircncias
europeias (Parlamento Comissatildeo e CdR) Participaram neste evento 27 alunos em
representaccedilatildeo de todos os Estados Membros da UE oriundos de cursos de 2ordm Ciclo em
Estudos Europeus
Finalmente o meu obrigado sentido aos que estatildeo mais proacuteximos Agradeccedilo aos
amigos de sempre agrave Teresinha ao meu Irmatildeo e ao meu Pai pelos incentivos que sempre
me deram na vida Agrave minha Matildee sinto-me sempre grato pela sua sabedoria paciecircncia e
carinho
Agrave minha futura sobrinha Maria dedico este trabalho
IX
Iacutendice
Resumo V
Lista de abreviaturas VI
Nota preacutevia VIII
Introduccedilatildeo 1
Cap I ndash Principais talassocracias europeias ndash breve retrospectiva histoacuterica 4
11 Repuacuteblicas Mariacutetimas Italianas 6
12 O papel de Portugal ndash o pioneiro da globalizaccedilatildeo 9
13 Siglo de oro espanhol 13
14 O ciclo holandecircs e a hegemonia inglesa 16
15 A Burguesia e a Revoluccedilatildeo Industrial 19
Cap II ndash O Livro Verde da Poliacutetica Mariacutetima Integrada Europeia 21
21 Fundamentos da Poliacutetica Mariacutetima Integrada Europeia 21
22 Potencialidades das principais actividades mariacutetimas da Uniatildeo Europeia 23
23 Livro Verde ndash ldquouma visatildeo para os oceanos e os maresrdquo 27
24 Aacutereas-chave no Livro Verde 29
25 Participaccedilatildeo dos europeus no processo de construccedilatildeo da PMIE 38
Cap III ndash O Livro Azul plano de acccedilatildeo e instrumentos financeiros 40
31 Condiccedilotildees poliacuteticas do processo de decisatildeo 40
32 Livro Azul e o plano de acccedilatildeo 43
X
33 Instrumentos econoacutemico-financeiros de apoio agrave PMIE 51
331 A poliacutetica de coesatildeo e a poliacutetica regional europeia 51
332 Fundos estruturais 53
333 Outras fontes de financiamento 55
334 Programa de apoio ao aprofundamento da PMIE 56
Cap IV ndash Orientaccedilotildees estrateacutegias para o futuro da PMIE 58
41 Breve balanccedilo 58
42 Governaccedilatildeo mariacutetima e participaccedilatildeo das partes interessadas 59
43 Instrumentos transectoriais 62
44 Perspectivas e visatildeo futura da PMIE 65
Cap V ndash Estrateacutegia Nacional para o Mar 68
51 Princiacutepios e objectivos 73
52 Pilares estrateacutegicos 73
53 Acccedilotildees e medidas 75
54 O Hypercluster da economia do mar 81
55 Plano de ordenamento do espaccedilo mariacutetimo 83
56 Programa ldquoPolis do Litoralrdquo 85
Cap VI ndash Agenda Regional do Mar (Norte de Portugal) 87
61 Pacto regional para a competitividade da regiatildeo ldquoNorte 2015rdquo 87
62 Linhas estrateacutegicas de desenvolvimento 90
63 Modelo de governaccedilatildeo para a Agenda Regional do Mar 95
64 Oceano XXI - Cluster do ldquoconhecimento e da economia do marrdquo 95
65 A Naacuteutica como factor de desenvolvimento regional 99
Conclusotildees 101
Fontes e bibliografia 105
1
Introduccedilatildeo
A minha relaccedilatildeo com o Mar comeccedilou desde haacute muito
Foi graccedilas agraves actividades naacuteuticas em ambiente mariacutetimo que aprendi a valorizar e
a respeitar a natureza a partilhar valores sociais a estabelecer novas amizades e ateacute a
conhecer novos continentes Tudo comeccedilou por prazerlazer e hoje em dia o MAR faz
parte da minha profissatildeo e seraacute sempre seguramente uma fonte de inspiraccedilatildeo e energia
para a vida
Depois da formaccedilatildeo na aacuterea da engenharia e ciecircncias econoacutemicas decidi matricular-
me no Curso de Mestrado Estudos Europeus na Faculdade Letras da Universidade de
Coimbra de forma de aprofundar os meus parcos conhecimentos (histoacutericos poliacuteticos e
institucionais) sobre a Europa Foi uma experiecircncia enriquecedora e gratificante que
ultrapassou largamente as minhas aspiraccedilotildees iniciais
Contudo confrontado com a necessidade de elaborar uma tese de dissertaccedilatildeo no
acircmbito do Mestrado ocorreu-me explorar uma temaacutetica actual e transversal que se
espera poder ldquounirrdquo os europeus a uma causa ndash o Mar
Assim este trabalho de investigaccedilatildeo intitulado Poliacutetica Mariacutetima Europeia ndash Uma
poliacutetica agrave medida de Portugal pretende ser um contributo para a pesquisa e reflexatildeo
sobre as questotildees europeias e a sua relaccedilatildeo com o mar e os oceanos mateacuteria que como
todos nos temos vindo a aperceber cada vez mais se reveste de grande importacircncia para
Portugal
Foi com o espiacuterito de ldquopara antever o futuro temos de conhecer o passadordquo que
procurei ao longo do primeiro capiacutetulo debruccedilar-me sobre as fontes de riqueza material
e imaterial que estando relacionadas com o mar contribuiacuteram para a formaccedilatildeo e
desenvolvimento da Europa Neste acircmbito debruccedilo-me sobre as expediccedilotildees mariacutetimas
italianas que apesar de confinadas ao mediterracircneo foram extremamente importantes
para os ldquodescobridoresrdquo que se seguiram Entre estes uacuteltimos destacarei o papel de
Portugal o siglo de oro espanhol o ciclo holandecircs e a hegemonia mariacutetima inglesa
Para terminar o enquadramento histoacuterico faccedilo referecircncia agrave emergecircncia da burguesia
europeia e agraves suas origens nas actividades mariacutetimas
2
No segundo capiacutetulo procuro analisar transversalmente o Livro Verde da Poliacutetica
Mariacutetima Integrada Europeia Assim apresentarei os fundamentos e as potencialidades
da Europa no domiacutenio mariacutetimo a ldquovisatildeordquo europeia para o futuro dos oceanos e os
mares e ainda as aacuterea-chave nele apontadas No final deste capiacutetulo abordarei a
consulta puacuteblica que possibilitou aos europeus participarem directa e activamente no
processo de construccedilatildeo da PMIE
Saliento que pela primeira vez a dimensatildeo mariacutetima da Europa assumiu a posiccedilatildeo
de real prioridade poliacutetica ou seja na histoacuteria da Uniatildeo Europeia os oceanos e os mares
como um todo tornaram-se assunto de foco poliacutetico ao mais alto niacutevel A PMIE foi uma
iniciativa de Joseacute Manuel Duratildeo Barroso aquando da sua primeira nomeaccedilatildeo para a
Presidecircncia da Comissatildeo Europeia em 2004 No programa Barroso I a PMIE foi
apresentada como uma necessidade premente chegando mesmo a ser instituiacuteda em
2004 a pasta dos Assuntos Mariacutetimos atribuiacuteda na altura ao maltecircs Joe Borg (ex-
Comissaacuterio Europeu)
No terceiro capiacutetulo comeccedilarei por salientar as condiccedilotildees poliacuteticas ao niacutevel das
instacircncias europeias que permitiram a consolidaccedilatildeo da PMIE Este destaque poliacutetico
concedido ao Mar eacute o reconhecimento do seu valor estrateacutegico em diferentes dimensotildees
econoacutemica ambiental cultural de seguranccedila de investigaccedilatildeo e de lazer Desta vontade
poliacutetica declarada emergiu o Livro Azul acompanhado de um plano de acccedilatildeo No final
deste capiacutetulo seratildeo apresentados os instrumentos financeiros comunitaacuterios de suporte agrave
PMIE
Apesar da jovem idade - cinco anos - a PMIE jaacute conseguiu obter resultados notaacuteveis
agrave escala europeia Por isso no quarto capiacutetulo proponho-me fazer uma breve anaacutelise agraves
actividades decorrentes da PMIE tendo em conta a governacircncia mariacutetima E as acccedilotildees
estrateacutegicas para o futuro da poliacutetica mariacutetima europeia seratildeo ainda apresentadas neste
capiacutetulo
No quinto capiacutetulo passarei a analisar a Estrateacutegia Nacional para o Mar (ENM)
resultante do apelo da Uniatildeo Europeia (UE) aos Estados-membros (EM) no sentido de
aplicarem abordagens holiacutesticas e transversais para o uso sustentaacutevel dos oceanos
Realccedilo que Portugal a par de Espanha e Franccedila foi um dos principais impulsionadores
da poliacutetica mariacutetima europeia Destacarei ainda a importacircncia do ldquoHypercluster da
3
Economia do Marrdquo o plano de ordenamento do espaccedilo mariacutetimo (POEM) actualmente
em discussatildeo puacuteblica e tambeacutem o programa ldquoPolis do Litoralrdquo
No capiacutetulo seguinte o sexto destacarei a Agenda Regional para o Mar que para
aleacutem de ser enquadrada na ENM e PMIE responde visivelmente agraves especificidades
latentes na regiatildeo Norte de Portugal No final deste capiacutetulo seratildeo abordados ainda a
plataforma ldquoOceano XXIrdquo e o estudo estrateacutegico intitulado ldquoA Naacuteutica como factor de
desenvolvimento da regiatildeo Norterdquo
Neste trabalho procuro dar um contributo acadeacutemico sobre a PMIE registando a
ausecircncia de estudos sobre esta mateacuteria congratulo-me com o estudo que tatildeo
entusiasticamente me comprometeu e espero que o mesmo possa servir de
inspiraccedilatildeoorientaccedilatildeo a TODOS aqueles que se revejam no todo ou em parte do exposto
ou simplesmente aos que se interessem pelas temaacuteticas abordadas
4
Cap I ndash Principais talassocracias europeias ndash breve retrospectiva histoacuterica
Como forma de introduzir a influecircncia dos assuntos mariacutetimos na formaccedilatildeo da
Europa resolvi reflectir sobre os aspectos histoacutericos que considero mais relevantes
protagonizados no periacuteodo compreendido entre os seacuteculos XIV e XX pelas maiores
potecircncias de entatildeo
Seratildeo abordadas neste capiacutetulo primeiramente as repuacuteblicas italianas (Geacutenova e
Veneza) seguindo-se a expansatildeo portuguesa passando pela aventura castelhana e
terminando com a acccedilatildeo holandesa e inglesa No final deste capiacutetulo faccedilo uma
abordagem agrave formaccedilatildeo de uma nova classe social ndash a burguesia ndash oriunda das
actividades mariacutetimas mercantis que foi o ldquomotor de arranquerdquo para a Revoluccedilatildeo
Industrial
Os maiores impeacuterios ateacute ao seacuteculo XV foram de dois tipos
Continentais como o impeacuterio Alexandrino (euro-asiaacutetico no seacuteculo IV
aC) e o Mongol (no seacuteculo XIII que se estendia do Oceano Paciacutefico ao Mar
Negro)
Outros centrados estrategicamente numa bacia mariacutetima que jaacute foi tida
como o centro econoacutemico do mundo A este tipo pertenciam o impeacuterio Romano
(com o apogeu nos seacuteculos I e II aC em que o Mediterracircneo ndash chamado Mare
Internum ndash era um ldquolago romanordquo o Mare Nostrum) e o impeacuterio Islacircmico (que
teve o seu apogeu entre os seacuteculos VIII e XIII que se estendia desde a Peniacutensula
Ibeacuterica agrave Iacutendia) e permitiu transformar o Oceano Iacutendico num ldquolago muccedilulmanordquo
ateacute ao momento da chegada dos portugueses
Houve tambeacutem outros impeacuterios tais como
Egiacutepcio (com o apogeu no seacuteculo XV aC)
Persa (seacuteculos VI a IV aC que se estendia da Iacutendia agrave Greacutecia)
Chinecircs (o Chacutein do seacuteculo III aC o Han do seacuteculo II ou o Tang do
seacuteculo VIII)
5
Como nota comum todos estes impeacuterios ocupavam uma extensatildeo continental
contiacutegua
No entanto outros modelos de expansatildeo surgiram ainda na Antiguidade ndash incluindo
as colonizaccedilotildees mediterracircneas dos cretenses feniacutecios e gregos assentes numa rede
litoral e descontiacutenua da orla do Mediterracircneo e do mar Negro De referir entre estes
casos a importacircncia do impeacuterio ateniense (com o auge no seacuteculo V aC) uma
talassocracia1 por excelecircncia baseada na projecccedilatildeo naval e na descontinuidade
continental
Este uacuteltimo tipo de expansatildeo naval replicou-se mais tarde nas projecccedilotildees
mediterracircnicas das repuacuteblicas mariacutetimas italianas com destaque para Geacutenova e Veneza
e na monarquia dual catalo-aragonesa
Apesar das diferenccedilas havia um denominador comum nestas talassocracias
europeias ndash o mar Mediterracircneo Como sublinha a historiadora genovesa Gabriela
Airaldi2 a actividade mariacutetima era o elemento que interligava e dinamizava a
civilizaccedilatildeo mediterracircnica
A esse ambiente mediterracircnico peculiar associou-se na Idade Meacutedia
Uma revoluccedilatildeo comercial e financeira com uma economia de mercado
predominantemente virada ao exterior assente numa diaacutespora de mercadores e
banqueiros
Uma projecccedilatildeo geopoliacutetica criando impeacuterios mariacutetimos descontiacutenuos
A disponibilidade para alianccedilas poliacuteticas ldquooperativasrdquo pragmaacuteticas
libertas dos preconceitos ideoloacutegico-religiosos da eacutepoca
Ora como refere Airaldi3 esta interdependecircncia estrateacutegica entre a Europa do Sul e
o ldquolagordquo mediterracircnico originou um novo tipo de estado ndash as repuacuteblicas mariacutetimas ndash
assentes numa oligarquia mercantil-financeira distintas do sistema monaacuterquico-
senhorial dominante na Europa medieval
1 O termo vem do grego e eacute uma junccedilatildeo do vocaacutebulo mar (thaacutelassa) e de poder (kraacutecia) Aplica-se a
todos os Estados no qual o poder se exerce baseado na expansatildeo mariacutetima garantida por uma projecccedilatildeo
naval 2 AIRALDI 2007 9
3 AIRALDI ibidem 99
6
Os muccedilulmanos e os chineses tinham no entanto criado uma inovaccedilatildeo que o
historiador Felipe Fernaacutendez-Arnesto4 sintetiza na diferenciaccedilatildeo entre civilizaccedilotildees
Civilizaccedilotildees da beira-mar ou no meio do mar ldquomoldadasrdquo pelo elemento
mariacutetimo (assim eram as talassocracias ateacute entatildeo existentes)
Civilizaccedilotildees que ldquodomesticaramrdquo os grandes mares que geravam
verdadeiras ldquocivilizaccedilotildees oceacircnicasrdquo Como aquele historiador demonstra em
Civilizations o Islatildeo foi a primeira civilizaccedilatildeo a projectar-se poliacutetica e
economicamente usando os caminhos oceacircnicos transformando o Iacutendico num
ldquolagordquo seu domiacutenio secular que foi beliscado pela curta expansatildeo chinesa do
inicio do seacuteculo XV5
Essa confluecircncia dos dois movimentos tornou o Iacutendico num espelho precoce da
revoluccedilatildeo que ocorreria mais tarde e que foi a razatildeo pela qual a histoacuteria de Portugal se
inscreveu na Histoacuteria universal
11 Repuacuteblicas Mariacutetimas Italianas
Os genoveses venezianos e catalatildees dominavam o Mediterracircneo com destaque
para as duas Repuacuteblicas italianas que lideraram o mundo poliacutetico euromediterracircnico a
partir do final do seacuteculo XIII
Geacutenova perderia o poder hegemoacutenico em 1380 na batalha naval de Chioggia agrave
entrada da grande laguna veneziana o que a levou sair do Adriaacutetico e a perder a
lideranccedila mediterracircnea para Veneza conhecida como a Serenissima Repubblica
Geacutenova La Superba havia dominado a regiatildeo desde que derrotara Pisa em 1320 e
criara um impeacuterio mediterracircnico e uma rede comercial e financeira transnacional
Perderia em 1397 a autonomia poliacutetica passando a ser uma zona de confronto entre a
4 Felipe Fernaacutendez-Arnesto exerce actualmente o magisteacuterio na caacutetedra Priacutencipe das Astuacuterias na
Universidade de Tufts Departamento de Histoacuteria e eacute membro do claustro de Queen Mary na
Universidade de Londres 5 FERNAacuteNDEZ-ARNESTO Felipe 2001 381
7
Franccedila e o Ducado de Milatildeo ao longo do seacuteculo XV No entanto nunca se apagou a
chama empreendedora pioneira
A individualidade genovesa foi de facto marcante ndash o seu espiacuterito de orizzonti
aperti (horizontes abertos) foi pioneiro no seacuteculo XIII Foi nesta repuacuteblica mariacutetima que
mais transparente se tornou o choque entre por um lado o lobby das cruzadas e da
bandeira poliacutetica da recuperaccedilatildeo de Jerusaleacutem e por outro lado a burguesia mercantil
mais arrojada ligada ao Banco di S Giorgio (criado em 1407) e agraves 28 famiacutelias
poderosas que compunham os Albergui6 A Escola genovesa de almirantado onde
sobressai a figura de Emanuele Pessagno (conhecido pelo portugueses como Manuel
Peccedilanha7) criou fama e uma geraccedilatildeo marinai erranti (marinheiros errantes) No
entanto veio para Portugal no iniacutecio do seacuteculo XIV para servir as navegaccedilotildees de
ldquooutrosrdquo em Quatrocentos e Quinhentos
A acircnsia genovesa de projecccedilatildeo para aleacutem do ldquolagordquo mediterracircnico ficou conhecida
As navegaccedilotildees de Benedetto Zacaria em 1277 abriam oficialmente a rota
mediterracircnico-atlacircntica para a Flandres anulando o significado das feiras de
Champagne e valorizando estrategicamente o estreito de Gibraltar bem como a costa
portuguesa e galega Mais tarde os irmatildeos Ugolino e Valdino Vivaldi com duas galeacutes
armadas por Tedisio Doria em 1291 aventuraram-se no Mar Oceano (o Atlacircntico) para
circum-navegarem Aacutefrica e chegarem ldquoagraves partes da Iacutendia e trazerem mercadorias
lucrativasrdquo mas nunca mais houve notiacutecias deles Especula-se que eles teriam como
objectivo provavelmente natildeo a verdadeira Iacutendia das especiarias mas a regiatildeo do ouro
da Aacutefrica Ocidental que na Idade Meacutedia muitos incluiacuteam na designaccedilatildeo geneacuterica de
ldquoIacutendiardquo8
Nos genoveses sentiu-se precocemente a necessidade de procurar chegar agraves fontes
asiaacuteticas de commodities de alto valor por via do Ocidente em oposiccedilatildeo ao domiacutenio
que os venezianos e aacuterabes detinham sobre as vias mediterracircnicas do Levante para o
Oriente E o sentido de risco dos clatildes financeiros genoveses daria corpo ao primeiro elo
do que viria a designar de Repubblica Internazional del Denaro
6 Agregaccedilatildeo artificial de vaacuterias famiacutelias da oligarquia genovesa Os Alberghi teriam entre 1600 a 1700
membros 40 dos quais estavam regularmente expatriados 7O monarca D Dinis em 1317 tornaria Manuel Peccedilagno de Geacutenova Almirante-mor do reino um cargo
hereditaacuterio 8 ALBUQUERQUE 2001 148
8
Mais proacuteximos geograficamente dos portugueses os catalatildees apesar da sua
expansatildeo mediterracircnica entre 1229 e 1412 (um impeacuterio que no seu auge incluiacutea as
Baleares Malta Sardenha Siciacutelia e os Ducados de Atenas e Neopaacutetria na Greacutecia bem
como um relacionamento especial com o Chipre) e de se terem afirmado como uma
potecircncia mariacutetima mediterracircnica dispunham de um dos centros cartograacuteficos mais
importantes da eacutepoca situado em Maiorca onde deu cartas a escola de cartoacutegrafos da
famiacutelia judia Cresques9 e a quem eacute atribuiacutedo um Atlas de 1375 Estes nunca desafiaram
a hegemonia genovesa e posteriormente a veneziana Mas como os italianos os catalatildees
tambeacutem fundaram coloacutenias mercantis muito fortes em Alexandria Beirute Damasco e
em diversos pontos do Magrebe
Os venezianos por seu lado consumada a paz com Geacutenova em 1381 e
secundarizaccedilatildeo geopoliacutetica desta repuacuteblica rival expandiram os seus domiacutenios de mar
atraveacutes da ocupaccedilatildeo de pontos estrateacutegicos na costa adriaacutetica grega e no Mediterracircneo
(ilhas como Chipre Corfu ou Creta) Tambeacutem estabeleceram fortes comunidades
mercantis ndash os fundaci ndash nos portos e placas giratoacuterias comerciais estrateacutegicas (como
Constantinopla Tana Sinope Tebisonda Alexandria e Damasco) dos paiacuteses com que
negociavam
A partir dessa rede dominaram o comeacutercio do que entatildeo chamavam mercanzie
sottili (mercadorias finas) as commodities de alto valor da eacutepoca que vinham da Iacutendia
da China do Ceilatildeo e das Molucas que chegavam a Veneza trazidas pelas mude
comboios mariacutetimos que vinham das placas giratoacuterias que eram Constantinopla
Alexandria e os portos da Siacuteria Este comeacutercio internacional movimentava 20 milhotildees
de ducados por ano A frota veneziana dispunha de 300 grandes navios 45 galeacutes e 3000
pequenos barcos e envolvia 36000 marinheiros
A Europa vivia literalmente enfeiticcedilada pelas especiarias dominada por
ldquofetichismordquo das commodities de luxo como ironizou o historiador Fernand Braudel
Paradoxalmente os europeus medievos consumiam produtos made in Oriente mas
desconheciam de todo onde ficavam exactamente e como eram os paiacuteses e as gentes de
onde se importavam tais luxos Daiacute a propagaccedilatildeo de mitos e contos fantaacutesticos sobre as
Iacutendias e China Apenas alguns viajantes aventureiros chegavam agraves fontes ndash Marco Polo
fora um deles
9 Um dos filhos desta famiacutelia catalatilde Jafuda Cresques cristianizado como Jaume (Jaime) Ribes seria um
dos expoentes maacuteximos do grupo conselheiro do Infante Henrique
9
Veneza soube gerir tambeacutem o ldquosaco de gatosrdquo que era a Europa do final da Idade
Meacutedia O grande cisma no papado entre 1378 e 1417 num periacuteodo em que chegou a
haver mais do que um centro de poder papal (Roma e Avignon) com pontiacutefices em
conflito apoiados por diferentes potecircncias ndash deu uma ajuda a esta cidade-Estado que
cultivava teimosamente a sua independecircncia De referir tambeacutem a intermitente Guerra
dos Cem Anos (1337-1453) que consumia as candidatas potenciais de entatildeo ao
hegemonismo da Europa continental a saber Inglaterra e Franccedila10
Natildeo eacute demais sublinhar que o conhecimento acumulado e as inovaccedilotildees geopoliacuteticas
surgidas com a expansatildeo das repuacuteblicas mariacutetimas mediterracircnicas seriam aprimoradas a
uma escala global pelos portugueses
12 O papel de Portugal ndash o pioneiro da globalizaccedilatildeo
O facto geopoliacutetico que abriria nas deacutecadas seguintes a janela de oportunidade aos
portugueses ocorreria bem longe do Mediterracircneo ndash Oceano Iacutendico ndash considerado o
centro econoacutemico do mundo
Ainda o Infante D Henrique natildeo fazia jus ao seu cognome de ldquoNavegadorrdquo jaacute os
chineses da dinastia Ming haviam lanccedilado a partir de 1405 sete expediccedilotildees em
direcccedilatildeo ao Iacutendico muito para aleacutem da sua tradicional esfera de influecircncia oceacircnica Foi
seu Almirante-Mor era Zheng He (1371-1433) a cujo nome ficou associado a
navegaccedilotildees de longa distacircncia anteriores agraves portuguesas Aquele movimento de
expediccedilotildees era o que chamariacuteamos hoje de ldquoprojecccedilatildeo de poderrdquo sublinhou Edward
Dreyer na sua obra Zheng He11
O argumento utilizado era um cruzamento haacutebil de
diplomacia e demonstraccedilatildeo do seu poder naval sem ser necessaacuterio exercecirc-lo a natildeo ser
excepcionalmente ldquoa sua armada era suficientemente intimidante e raramente
necessitava de combater de facto mas estar preparada para o fazer era a sua missatildeo
primaacuteriardquo diz Dreyer
As navegaccedilotildees chinesas acabariam abruptamente em 1433 A expansatildeo foi travada
por um movimento reaccionaacuterio da burocracia de Beijing e ocorreu no meio de uma
10
RODRIGUES amp DEVEZAS 2009 53-59 11
DREYER 2007 3
10
crise de hiperinflaccedilatildeo com o colapso do papel-moeda chinecircs tatildeo generosamente
espalhado pela Aacutesia Este recuo deixaria a porta aberta para os navegadores que a
seguir chegassem ao Iacutendico12
Assim Portugal aproveitou uma janela de oportunidade uacutenica no iniacutecio de
Quatrocentos pois a China entatildeo a maior economia do mundo recuou no seu projecto
de expansatildeo oceacircnica As Repuacuteblicas Italianas (nomeadamente Veneza entatildeo potecircncia
hegemoacutenica) e a Catalunha natildeo dispunham de estrateacutegias ou de inovaccedilotildees para irem
aleacutem do seu espaccedilo tradicional de projecccedilatildeo de poder que era o Mediterracircneo E as
potencias regionais e os poderes locais que dominavam os checkpoints e as rotas de
commodaties de alto valor em Aacutefrica no proacuteximo e Meacutedio Oriente e no Iacutendico natildeo
dispunham de poder naval para enfrentar um ldquointrusordquo expansionista
Alavancado o mito do Preste Joatildeo a elite portuguesa de Quatrocentos em
particular os dois irmatildeos ndash infantes Henrique o ldquoNavegadorrdquo e Pedro o ldquoCosmopolitardquo ndash
e o monarca D Joatildeo II (considerado um ldquoPriacutenciperdquo exemplar do Renascimento)
idealizaram uma estrateacutegia tenaz de cerco pelas ldquotraseirasrdquo ao elo mais fraco da eacutepoca o
arco muccedilulmano fragmentado que dominava as rotas de commodities ateacute Alexandria
principal porto do Mediterracircneo agora nas matildeos dos mamelucos e com quem Veneza
negociava Esta estrateacutegia portuguesa foi evolutiva e de geometria variaacutevel ora
procurando vias pela costa e rios de Aacutefrica Ocidental ao encontro do potencial aliado
Preste Joatildeo e do estrateacutegico Nilo ora recorrendo ao uso de espionagem e intelligence
ateacute agrave procura de um rota mariacutetima alternativa para uma das fontes de especiarias (a
Iacutendia)
A procura do Preste Joatildeo pelos navegadores portugueses foi infrutiacutefera durante
longas deacutecadas Apenas entre 1508 e 1514 se realizaram os primeiros encontros oficiais
entre as cortes etiacuteope e lisboeta Entretanto dois caminhos se abriram dois ciclos
sucessivos de uma nova especializaccedilatildeo econoacutemica portuguesa internacional onde
entrou o ouro o ignoacutebil traacutefico de escravos e as especiarias Esta nova especializaccedilatildeo
mudou o padratildeo tradicional da economia do paiacutes e foi responsaacutevel por uma revoluccedilatildeo
no comeacutercio internacional
12
RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 60-61
11
O sucesso no estabelecimento da nova rota mariacutetima para a Iacutendia deveu-se tanto a
inovaccedilotildees teacutecnicas e cientiacuteficas (como a caravela e a nova cartografia) como agrave gestatildeo
do conhecimento global da eacutepoca (o centro de acccedilatildeo do Infante Henrique e o war room
de D Joatildeo II) e tambeacutem a inovaccedilotildees estrateacutegicas para a projecccedilatildeo de poder (rede das
primeiras feitorias e fortificaccedilotildees de plataformas oceacircnicas e de novas cidades e de um
modelo de colonizaccedilatildeo) e ainda juriacutedicas (estabelecimento da doutrina do Mare
Clausum e assinatura dos primeiros tratados de divisatildeo do mundo em zonas de
influecircncia) Foi este conjunto de inovaccedilotildees que permitiu o surgimento de um novo e
longo ciclo geopoliacutetico e substituir Veneza na lideranccedila mundial13
Portugal criou portanto um novo tipo de impeacuterio ndash o impeacuterio oceacircnico em rede ndash
baseado na mobilidade e poder naval pois viabilizou o domiacutenio de uma vasta aacuterea do
planeta e uma forma de comeacutercio verdadeiramente internacional Este network lanccedilou as
bases para a criaccedilatildeo da aldeia global fenoacutemeno hoje sobejamente conhecido como
globalizaccedilatildeo
Os portugueses introduziram o uso sistemaacutetico do conhecimento cientiacutefico como
um activo indispensaacutevel para alcanccedilar objectivos poliacuteticos geoestrateacutegicos Tal facto
gerou os alicerces do Renascimento cientiacutefico europeu e transformou radicalmente a
visatildeo do mundo como um planeta composto por massas continentais banhadas por um
conjunto de oceanos interligados Foi graccedilas agrave expansatildeo mariacutetima portuguesa que surgiu
a concepccedilatildeo de um globo terrestre e uma nova cartografia14
Apesar das fortes raiacutezes empiacutericas da expansatildeo portuguesa do caraacutecter pragmaacutetico
e do forte improviso os liacutederes de Quatrocentos e de Quinhentos desenvolveram a
gestatildeo de conhecimento de forma eficiente Este foi o capital ldquointelectualrdquo que afirmou
um espoacutelio singular que destacou Portugal elevando-o agrave escala mundial Satildeo exemplos
deste periacuteodo os primeiros centros de acccedilatildeo de expansatildeo mariacutetima uma vaga de
publicaccedilotildees cientiacuteficas originais a revoluccedilatildeo na cartografia e na ciecircncia da construccedilatildeo
naval e uma evoluccedilatildeo da arte militar
A construccedilatildeo da hegemonia portuguesa foi claramente um processo evolutivo de
aprendizagem que abarcou vaacuterias geraccedilotildees Isto foi sucedendo desde a eacutepoca inicial dos
infantes D Henrique e D Pedro com a chegada agrave Costa da Mina e agrave linha do Equador
13
RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 175-176 14
RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 184-185
12
mais tarde com a passagem do Cabo da Boa Esperanccedila ateacute agrave chegada agrave Iacutendia Brasil
China e Japatildeo
Concluiacuteda a chegada agrave Iacutendia (1498) jaacute no tempo do rei D Manuel I a estrateacutegia de
projecccedilatildeo mundial foi tripla
Afirmaccedilatildeo de um poder naval sem contestaccedilatildeo mundial no Atlacircntico e
Iacutendico
Conclusatildeo da maior rede mundial de checkpoints existentes ateacute entatildeo
Campanha de marketing internacional junto do papado (poder
transnacional reconhecido pelos europeus)
Portugal caiu num dilema entre a focalizaccedilatildeo num espaccedilo controlaacutevel do Iacutendico
(ligado agrave rota das especiarias) e a tentaccedilatildeo de uma extensatildeo raacutepida incluindo um
projecto imperial universal embebido numa ideologia cruzadista e de expansatildeo
messiacircnica
A capacidade inovadora dos portugueses foi de tal forma abrangente que se pode
afirmar que nos seacuteculos XV e XVI Portugal inovou na arte de inovar Isto provocou
uma ruptura ldquotectoacutenicardquo na histoacuteria do mundo e natildeo foi um mero acidente relegado para
segundo plano por muitos historiadores e analistas face ao mediatismo criado em torno
das viagens de Colombo agrave Ameacuterica Central15
Segundo Daniel Boorstin16
ldquo(hellip) como empreendimento organizado e de longo
prazo a conquista dos Portugueses foi a mais moderna mais revolucionaacuteria do que as
largamente celebradas exploraccedilotildees de Colombo ()rdquo
15
RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 331 16
BOORSTIN 1986 83
Daniel Boorstin faleceu em 2004 Estudou em Oxford Harvard e Yale foi autor de 20 livros e
bibliotecaacuterio do Congresso norte-americano de 1975 a 1987 Foi director do Museu Nacional de Histoacuteria
e Tecnologia e da Smithsonian Institution entidades norte-americanas A Trilogia sobre a Histoacuteria
Mundial que escreveu ficou ceacutelebre E nela incluiu Os Descobridores Foi um dos acadeacutemicos que
destacou a originalidade portuguesa de Quatrocentos e Quinhentos
13
13 Siglo de oro espanhol
O ldquoseacuteculo de ourordquo foi o apogeu da cultura espanhola desde o Renascimento do
seacuteculo XV ateacute ao periacuteodo Barroco do seacuteculo XVII Marcado por acontecimentos-chave
abrangeu o periacuteodo desde a publicaccedilatildeo da gramaacutetica Castellana de Nebrija em 1492 ateacute
a morte de Calderoacuten de la Barca em 1681
Nos finais do seacuteculo XVIII jaacute se havia popularizado a expressatildeo Seacuteculo de Ouro
com a qual Lope de Vega aludia a si proacuteprio e que suscitava a admiraccedilatildeo de Don
Quixote de la Mancha no seu famoso discurso sobre a Idade de Ouro
Com a uniatildeo dinaacutestica os Reis Catoacutelicos Fernando e Isabel delinearam um Estado
politicamente forte que foi consolidado posteriormente cujos ecircxitos foram invejados
por alguns intelectuais contemporacircneos como por exemplo o italiano Nicolau
Maquiavel Poreacutem esse Estado politicamente forte esteve ideologicamente dominado
pela inquisiccedilatildeo eclesiaacutestica Os judeus que natildeo se cristianizaram foram expulsos em
1492 e dispersaram-se fundando coloacutenias hispacircnicas pela Europa Aacutesia e Norte de
Aacutefrica Aiacute cultivaram a sua liacutengua e escreveram livros em castelhano emergindo figuras
notaacuteveis como o economista e escritor Joseacute Penso de La Vega Miguel de Barrios Juan
de Prado Isaac Cardoso Abraham Zacuto Isaac Orobio e Manuel de Pina Em Janeiro
de 1492 Castela conquista o bastiatildeo mouro de Granada finalizando a etapa poliacutetica
muccedilulmana peninsular ainda que uma minoria mourisca aiacute continuasse a habitar mais
ou menos tolerada ateacute ao reinado de Felipe III
Em Outubro desse mesmo ano Cristoacutevatildeo Colombo chega agrave Ameacuterica A chegada agraves
ldquoiacutendiasrdquo por ocidente foi considerado pelo historiador Pierre Vilar17
o gesto mais
extraordinaacuterio da histoacuteria da Humanidade Ainda nesse ano foi celebrado o Tratado de
Tordesilhas entre D Joatildeo II e os Reis Catoacutelicos Como o nome indica este Tratado foi
assinado na povoaccedilatildeo castelhana de Tordesilhas a 7 de Junho de 1494 celebrado entre
o Reino de Portugal e o Reino da Espanha para dividir as terras descobertas e por
descobrir Este tratado surgiu na sequecircncia da contestaccedilatildeo portuguesa agraves pretensotildees da
Coroa espanhola resultantes da viagem de Cristoacutevatildeo Colombo que ano e meio antes
17
Pierre Vilar foi um historiador francecircs Estaacute considerado uma das maacuteximas autoridades no estudo da
Histoacuteria de Espanha tanto no periacuteodo do Antigo Regime como na Idade Contemporacircnea
14
chegara ao chamado Novo Mundo reclamando-o oficialmente para Isabel a Catoacutelica O
tratado foi ratificado pela Espanha a 2 de Julho e por Portugal a 5 de Setembro de 1494
Durante o apogeu cultural e econoacutemico desta eacutepoca Espanha alcanccedilou prestiacutegio
internacional e influenciou culturalmente a Europa Tudo quanto provinha de Espanha
foi amiuacutede imitado e divulgou-se a aprendizagem e estudo do castelhano
As aacutereas culturais mais cultivadas foram a literatura as artes plaacutesticas a muacutesica e a
arquitectura O saber foi-se acumulando e disseminado pelas prestigiadas universidades
de Salamanca e Alcalaacute de Henares
As cidades mais importantes foram Sevilha por receber as riquezas coloniais e dos
comerciantes e banqueiros europeus Madrid como sede da corte e ainda as cidades de
Toledo Valecircncia e Saragoccedila
Com a anexaccedilatildeo dinaacutestica e a formaccedilatildeo da monarquia dual ibeacuterica sob a coroa dos
Habsburgo a dinastia dos Felipes tenta criar o maior impeacuterio global no final do seacuteculo
XVI e primeira metade do seacuteculo XVII18
Com o nascimento do mito do ldquoEl Doradordquo (um suposto rei de uma regiatildeo auriacutefera
inventado pelos nativos colombianos) em 1538 acelerou-se a corrida aos metais
preciosos da Ameacuterica pelos ldquoconquistadoresrdquo espanhoacuteis Em 1547 o famoso mineiro de
Potosi nos Andes comeccedilava a sua exploraccedilatildeo intensiva de prata e em 1560 a invenccedilatildeo
de um novo meacutetodo de refinaccedilatildeo com mercuacuterio vindo das minas espanholas levou ao
disparo do negoacutecio superando a produccedilatildeo de ouro
O pico da importaccedilatildeo de prata para Espanha ocorre no quinqueacutenio de 1591-159519
No Oriente os castelhanos estabeleceram-se em Cebu desde 1565 e dois Navios da
Armada Miguel Lopez de Legazpi conseguiram estabelecer uma nova rota transpaciacutefica
mais a norte para o Meacutexico Em 1571 ocupavam a baiacutea de Manila e em 1574
exploravam as ilhas Borneacuteu e a Nova Guineacute A carreira regular entre o Meacutexico e as
Filipinas entre Acapulco e Manila pretendeu pocircr em xeque a carreira da Iacutendia
portuguesa20
Felipe II sofreu em larga medida do messianismo de seu avocirc portuguecircs D Manuel
I e viu em seu redor desenvolver-se uma retoacuterica imperialista e universalista herdada de
seu pai Carlos V O poeta-soldado Hernando de Acuntildea anunciara num poema dirigido a
18
RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 358 19
RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 348-349 20
RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 349
15
Carlos V que estava proacuteximo o dia em que se realizaria a maacutexima universal um
monarca um impeacuterio e uma espada
Espanha atingia entatildeo o auge de seu Siglo de Oro com um impeacuterio onde ldquoel Sol
no se poniacuteardquo desde o Virreinato de Nueva Espantildea (Ameacuterica Norte e Central) ateacute agraves
Filipinas o que levava os estrategos da Corte dos Felipes a sonhar com uma ldquomonarquia
mundialrdquo Mais tarde o aristocrata andaluz Gaspar Felipe de Guacutezman o famoso Conde-
Duque de Olivares adoptando uma expressatildeo de Gil Vicente afirmou ldquoDios es espantildeol
y estaacute de parte de la nacioacuten estos diasrdquo (Deus eacute espanhol e faz parte da naccedilatildeo nos dias de
hoje)
Ainda na vigecircncia do reinado de Felipe II (1556-1598) satildeo de salientar os
acontecimentos que iriam dar iniacutecio ao processo de decadecircncia deste siglo
Iniacutecio dos ataques sistemaacuteticos dos corsaacuterios ingleses agraves possessotildees
espanholas das Ameacutericas
O desastre da Grande y Feliciacutessima Armada (mais conhecida como
ldquoInvenciacutevel Armadardquo) que partira de Lisboa em 1588 (levando boa parte da
armada portuguesa que natildeo regressou) para invadir e subjugar a Inglaterra
A derrota frente aos ingleses na batalha naval do estreito de Gibraltar em
159021
Depois da morte de Felipe II uma atmosfera de desengantildeo de desilusatildeo nacional
apoderou-se de Espanha ndash segundo Elliot a obra imortal El Inginioso Hidalog Don
Quixote de La Mancha (1605 e 1614) de Miguel de Cervantes Saavedra eacute
provavelmente o expoente dessa eacutepoca de decliacutenio estrateacutegico que se iria estender pelo
reinado do filho e neto de Felipe II22
Na realidade o Siglo de Oro espanhol durou menos de sessenta anos A decadecircncia
comeccedilou na aclamaccedilatildeo de Felipe II em 1581 como rei portuguecircs nas Cortes de Tomar
e termina nas deacutecadas de 1630 e 1640 com Felipe IV (III em Portugal) Este uacuteltimo
coroado aos dezasseis anos de idade entregou o governo do impeacuterio ao Conde-Duque
de Olivares Durante o vinteacutenio compreendido entre 1623 e 1643 eacute o Conde-Duque de
Olivares que exerceraacute o controlo efectivo sobre o Estado espanhol A notoacuteria rivalidade
com o cardeal de Richelieu (Franccedila) arrastou a Espanha para a Guerra dos Trinta Anos
e a diversos conflitos paralelos com a Itaacutelia e com os Paiacuteses Baixos O desgaste causado
21
RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 358-360 22
RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 373
16
pelos vaacuterios conflitos o decliacutenio da induacutestria e do comeacutercio devido ao esgotamento dos
recursos das coloacutenias espanholas e a restauraccedilatildeo da coroa portuguesa (em 1640)
desacreditaram a sua gestatildeo Destituiacutedo do cargo exilou-se no norte de Espanha e
passou seus uacuteltimos anos submetido agraves investigaccedilotildees da Inquisiccedilatildeo ateacute seu falecimento
em 1645
Sucedeu-se ainda um quadro de desaires no final da Guerra dos Trinta Anos (1618-
1648) de que passo a citar os mais importantes
As derrotas infligidas na batalha naval ao largo de Downs no canal da
Mancha Esta derrota naval eacute considerada pelos proacuteprios estrategos espanhoacuteis
como o momento de perda da hegemonia naval
Em 1639 a infligida pelos holandeses comandados por Maarten Tromp
Em 1643 em Rocroi derrotados pelos franceses
A reconquista da Independecircncia dos portugueses em 1640
A revolta da Catalunha que se converte num protectorado francecircs
A derrota de Lens em 1648 de novo agraves matildeos dos franceses
14 O ciclo holandecircs e a hegemonia inglesa
Se Portugal de Quinhentos foi o pioneiro do verdadeiro comeacutercio internacional
foram os hegemonistas seguintes holandeses e ingleses que souberam inovar para dele
tirar proveito efectivo
Alguns historiadores desenharam esta imagem sugestiva ndash o papel dos portugueses
foi entatildeo ldquoo de lanccedilarem catildees para espantarem a caccedila que depois foi apanhada por
outrosrdquo23
Natildeo foi por acaso que os holandeses ficaram conhecidos no seacuteculo XVII como os
ldquocarreteiros do marrdquo com uma frota que era o dobro da de Inglaterra e Franccedila juntas24
ldquoLanccedilaram-se ao mar e tornaram-se os transportadores das mercadorias mundiais Os
23
BOXER 2001 32 Imagem atribuiacuteda por Charles R Boxer ao capitatildeo holandecircs Willem Bosman 24
RODRIGUES 1997 280 (volume I)
O contraste no periacuteodo de 1600-1700 foi brutal a frota comercial portuguesa baixou de uma meacutedia de
700 navios (no periacuteodo de Quinhentos) para quase metade e a holandesa disparou de menos de 100 para
1770 contra 811 ingleses e 155 franceses
17
barcos holandeses iam a toda a parte levando mercadoria de todo o mundo a todo o
lugarrdquo dizia Leo Huberman25
Aos holandeses e ingleses caberia inovarem no empreendorismo capitalista
justamente onde falhou o ldquocapitalismo monaacuterquico portuguecircsrdquo o que gerou a croacutenica
desvantagem competitiva que marcaria a evoluccedilatildeo do comeacutercio a partir dos comeccedilos do
seacuteculo XVII
A esse conjunto de inovaccedilotildees anglo-holandesas entre 1600 e 1700 poderemos
chamar de revoluccedilatildeo de softpower ndash mais poderoso do que o militarismo religioso
apelidado de ldquodilataccedilatildeo da feacuterdquo que os portugueses e espanhoacuteis pretenderam usar como
arma ideoloacutegica de consolidaccedilatildeo das ldquoDescobertasrdquo26
O primeiro aspecto inovador do softpower da potecircncia emergente foi juriacutedico27
A
doutrina do Mare Clausum defendida e aplicada pelos portugueses foi contestada O
holandecircs Hugo Grotius formulou em De Jure Pradae28
(1604) e Mare Liberum (1609)
a ideia de que haveria um direito natural de navegaccedilatildeo livre no mar alto O oceano seria
um bem puacuteblico comum onde natildeo se aplicavam os direitos de conquista nem a lei
consuetudinaacuteria ldquoEm virtude deste direito (de mar livre) o comeacutercio estaacute aberto a toda
a genterdquo afirma Grotius que termina a sua obra Mare Liberum dizendo que eacute preciso
natildeo recuar perante a guerra se os portugueses mantiverem a sua doutrina do Mare
Clausum Grotius respondia tambeacutem a uma decisatildeo de James I de Inglaterra que no
iniacutecio de 1609 decretara a obrigatoriedade de licenccedilas nos mares em redor das costas
inglesas o que prejudicou seriamente os holandeses
O segundo aspecto foi poliacutetico-comercial Foram por sua vez os ingleses que
criaram um novo tipo de companhia trading baseada numa sociedade por acccedilotildees em
que a proacutepria rainha da altura Elizabeth I participava como accionista e sem a
dependecircncia do circuito dos banqueiros alematildees e italianos A primeira dessas
companhias em finais de 1600 tinha o estranho nome de ldquoGovernador e Companhia
dos Aventurosos Mercadores para a descoberta de regiotildees domiacutenios ilhas e lugares
desconhecidosrdquo e contava em Londres com 240 accionistas que investiram 25 libras
25
HUBERMAN 1970 45 26
RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 397 27
O debate entre o Mare Clausum e o Mare Liberum estaacute muito bem documentado no livro de Wilhelm
Grewe intitulado The Epochs of International Law republicado pela editora Walter de Gruyer em 2000
Berlim e Nova York 28
Grotius refere nesta obra supracitada a captura em Malaca de um barco portuguecircs por um navio da
companhia holandesa VOC
18
cada um (na eacutepoca uma soma de certa importacircncia29
) Esta deu origem mais tarde ao
aparecimento da famosa Companhia Inglesa das Iacutendias Orientais Honourable East India
Company Em 1602 foi a vez de os holandeses criarem a Companhia das Indias
Orientais a conhecida VOC (acroacutenimo de Verenidge Oost-indische Compagnie) que
agrupou nove companhias por acccedilotildees depois do ensaio com a inicial Compagnie Van
Verre (Companhia das Terras Longiacutenquas) criadas em 1594
Estas companhias natildeo eram meramente comerciais eram bem mais do que isso
Funcionavam como uma ferramenta poliacutetica multifuncional pois natildeo soacute criavam a
infra-estrutura para o comeacutercio internacional como tambeacutem serviam de arma poliacutetico-
ideoloacutegica (exercendo softpower) coerciva (cobrando impostos) e militar (aplicando o
hardpower)30
Por alguns satildeo consideradas exemplos de ldquoactores natildeo estaduaisrdquo com
dimensatildeo multinacional a quem os monarcas atribuiacuteam poderes soberanos nas regiotildees
de expansatildeo ao contraacuterio dos ibeacutericos que exerciam o poder ultramarino atraveacutes de
vice-reis Posteriormente os franceses copiaram o modelo anglo-holandecircs na sua
projecccedilatildeo nas Ameacutericas e na Iacutendia mas com menos sucesso devido agrave sua inferioridade
na projecccedilatildeo oceacircnica
Em 1609 os holandeses fundaram o Amesterdamsche Wisselbank (Banco de
Amesterdatildeo) sobre o qual Adam Smith escreveu vaacuterios paraacutegrafos na sua obra mais
ceacutelebre31
e em 1694 surgiu o Bank of England32
De salientar ainda a mudanccedila no exerciacutecio de hardpower nos mares Eacute um aspecto a
que muitos historiadores designaram ldquorevoluccedilatildeo militarrdquo ocorrida ao longo da primeira
metade do seacuteculo XVII visto que os ingleses e holandeses inovaram em termos de
velocidade flexibilidade (aperfeiccediloamento da capacidade de bolinar) e posicionamento
da artilharia a bordo dos navios33
29
HUBERMAM ibidem nt 12 30
HUTTON 2006 70 31
SMITH 1776 livro IV capiacutetulo 3 parte I 32
RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 398-400 33
RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 402
19
15 A Burguesia e a Revoluccedilatildeo Industrial
O incremento do comeacutercio mariacutetimo permitiu que os produtos do Oriente
chegassem agrave Europa e vice-versa Este comeacutercio apesar do risco impliacutecito nas viagens
era altamente rentaacutevel (bastava uma caravela chegar do Oriente com especiarias para
cobrir os custos totais da frota)
As transacccedilotildees comerciais realizadas pelos europeus atraveacutes das suas rotas
mariacutetimas permitiram o enriquecimento das classes sociais vigentes e contribuiacuteram
ainda em grande escala para o aparecimento de uma nova classe social ldquoendinheiradardquo
ndash a Burguesia
Os burgueses eram os habitantes dos burgos que eram pequenas ldquocidadesrdquo
protegidas por muros Eram ldquogentesrdquo de elevado estatuto econoacutemico embora de baixo
niacutevel cultural e social Por isso se compreende agrave luz da eacutepoca que tenham sido
ostracizados pela nobreza
Com o mundo e o comeacutercio ligado em rede ndash mercado global ndash a procura mundial
disparou e consequentemente tornou-se mais premente aumentar a oferta
O ldquonegoacutecio mariacutetimordquo indissociaacutevel da burguesia favoreceu a acumulaccedilatildeo de
capitais na Europa Posteriormente esta acumulaccedilatildeo de capital serviu de suporte
financeiro agrave Revoluccedilatildeo Industrial
A Revoluccedilatildeo Industrial consistiu num conjunto de mudanccedilas tecnoloacutegicas34
com
profundo impacto no processo produtivo que se reflectiu no desenvolvimento
econoacutemico e social na Europa A era industrial provocou uma ruptura com o passado
Foi iniciada em Inglaterra em meados do seacuteculo XVIII e rapidamente se expandiu a
partir do seacuteculo XIX
Entre as novas aplicaccedilotildees tecnoloacutegicas saliento a importacircncia da aplicaccedilatildeo do
motor a vapor em navios que veio encurtar a distacircncia entre os portos e
simultaneamente aumentar a capacidade de circulaccedilatildeo de pessoas e mercadorias Este
momento marcou o decliacutenio do ciclo de navegaccedilatildeo comercial agrave vela
A Revoluccedilatildeo Industrial eacute o ponto culminante de uma evoluccedilatildeo tecnoloacutegica
econoacutemica e social que se vinha processando na Europa desde a Idade Meacutedia com
34
James Watt em 1765 introduz na Gratilde-Bretanha o condensador na maacutequina de Newcomen componente
que aumenta consideravelmente a eficiecircncia da maacutequina a vapor
20
maior ecircnfase nos paiacuteses onde a Reforma protestante tinha conseguido destronar a
influecircncia da Igreja Catoacutelica Nos paiacuteses fieacuteis ao catolicismo a Revoluccedilatildeo Industrial
eclodiu em geral mais tarde
O seacuteculo XIX no plano das relaccedilotildees internacionais foi marcado pela hegemonia
mundial britacircnica de expansatildeo colonialista e pelo aparecimento das primeiras lutas e
conquistas dos trabalhadores O trono britacircnico foi ocupado pela rainha Vitoacuteria (1837-
1901) razatildeo pela qual esse periacuteodo eacute denominado por Era Vitoriana No final deste
seacuteculo a busca de novas regiotildees para colonizar e descarregar os produtos (maciccedilamente
produzidos pela revoluccedilatildeo industrial) levou a uma acirrada disputa entre as potecircncias
industrializadas causando diversos conflitos e um crescente espiacuterito armamentista que
culminou mais tarde na eclosatildeo da Primeira Guerra Mundial (1914)
Statue of Prince Henry the Navigator ndash Belgrave Square London35
35
Estaacutetua em homenagem ao Infante D Henrique Belgrave Square em Londres
21
Cap II ndash O Livro Verde da Poliacutetica Mariacutetima Integrada Europeia
21 Fundamentos da Poliacutetica Mariacutetima Integrada Europeia
Partimos da definiccedilatildeo de fundamento eacute o que daacute consistecircncia e seguranccedila o que
daacute coesatildeo agraves partes do todo que ele mesmo estrutura e sustenta36
No capiacutetulo precedente dedicado a um breve enquadramento histoacuterico destaquei as
principais naccedilotildees europeias que contribuiacuteram fortemente para identidade mariacutetima da
Europa Facto eacute que hoje em dia em pleno seacuteculo XXI eacute inconcebiacutevel olhar para
Europa e imaginaacute-la sem mar ou negar a sua importacircncia no quotidiano dos europeus
De referir que na Uniatildeo Europeia a 27 apenas 5 Estados-membros natildeo satildeo paiacuteses
costeiros o que demonstra desde logo a importacircncia da temaacutetica mariacutetima no contexto
europeu Este eacute sem duacutevida um dos desafios que a Europa enfrenta e que passo a
apresentar neste capiacutetulo dedicado ao Livro Verde da Poliacutetica Mariacutetima Integrada
Europeia
Qualquer cidadatildeo europeu se lembraraacute dos relatos das grandes viagens de
descobrimentos que revelaram aos nossos antepassados a vastidatildeo a diversidade de
culturas e a riqueza de recursos do nosso planeta O ecircxito destas viagens que na sua
maioria eram mariacutetimas exigia quase sempre espiacuterito de abertura a ideias novas e um
planeamento meticuloso aleacutem de extraordinaacuteria coragem e forte determinaccedilatildeo Graccedilas a
elas natildeo soacute foram sendo desvendadas ao longo do tempo regiotildees do mundo antes
desconhecidas como tambeacutem apareceram novas tecnologias como por exemplo o
astrolaacutebio (instrumento naval usado para medir a altura dos astros acima da linha do
horizonte) o cronoacutemetro mariacutetimo (destinado a calcular a longitude exacta) e a turbina a
vapor (que permitiu escapar agrave tirania dos ventos dominantes)
A densidade populacional nas zonas do litoral europeu foi sempre elevada No mar
encontraram um meio de subsistecircncia pescadores e marinheiros mas tambeacutem sauacutede e
prazer novos horizontes para sonhar e um rico reportoacuterio de vocaacutebulos e metaacuteforas
36
Enciclopeacutedia Luso Brasileira vol 8 1794
22
presentes tanto na literatura como no quotidiano Fonte de romance de uniatildeo mas
tambeacutem de separaccedilotildees perigos desconhecidos e sofrimento o mar eacute um desafio
permanente e suscita em noacutes uma vontade profunda de melhor o conhecer
A Europa possui mais de 70000 km de orla costeira estaacute rodeada por numerosas
ilhas por quatro mares (Mediterracircneo Baacuteltico do Norte e Negro) e por dois oceanos
(Atlacircntico e Aacuterctico) O continente europeu eacute uma peniacutensula com uma orla costeira de
milhares de quiloacutemetros ndash maior do que a de outras grandes massas continentais como
os Estados Unidos ou a Federaccedilatildeo da Ruacutessia Dada esta configuraccedilatildeo geograacutefica mais
de dois terccedilos das fronteiras da UE satildeo de orla mariacutetima E os espaccedilos mariacutetimos sob
jurisdiccedilatildeo dos Estados-Membros satildeo mais vastos do que os seus espaccedilos terrestres
Graccedilas agraves suas regiotildees ultraperifeacutericas para aleacutem do Oceano Atlacircntico a Europa estaacute
igualmente presente no Oceano Iacutendico e no mar das Caraiacutebas Os desafios colocados por
estas regiotildees no plano mariacutetimo satildeo numerosos e afectam a Uniatildeo Europeia no seu todo
A Europa desde tempos imemoriais essencialmente devido agrave sua geografia sempre
teve uma relaccedilatildeo privilegiada com os oceanos sendo estes determinantes no
desenvolvimento da sua cultura identidade e histoacuteria
Assim continua a ser hoje em dia Num momento em que a Uniatildeo Europeia procura
veementemente revitalizar a economia eacute importante reconhecer o potencial econoacutemico
da dimensatildeo mariacutetima Estima-se que 3 a 5 do produto interno bruto (PIB) europeu
eacute gerado pelas induacutestrias e serviccedilos do sector mariacutetimo sem contar com o valor de
mateacuterias-primas como o petroacuteleo o gaacutes ou o pescado As regiotildees mariacutetimas europeias
representam mais de 40 do PIB da Uniatildeo Europeia
Natildeo obstante os cidadatildeos europeus nem sempre estatildeo bem conscientes da
importacircncia dos oceanos e mares na sua vida Embora saibam que a aacutegua eacute um bem
crucial poderatildeo desconhecer que proveacutem dos oceanos sob a forma ldquorecicladardquo de chuva
ou de neve por exemplo Preocupam-se com as alteraccedilotildees climaacuteticas mas nem sempre
sabem ateacute que ponto satildeo moduladas pelos oceanos Beneficiam da possibilidade de
comprar produtos baratos de todo o mundo sem se aperceberem da complexidade da
rede logiacutestica que o torna possiacutevel37
37
COM (2006) 275 final vol II 3
23
O desenvolvimento sustentaacutevel como se sabe ocupa um lugar preponderante na
agenda de trabalhos da Uniatildeo Europeia O desafio consiste em assegurar o reforccedilo
muacutetuo do crescimento econoacutemico da coesatildeo social e da protecccedilatildeo do ambiente
Ora a PMIE tem a oportunidade de aplicar aos oceanos o princiacutepio do
desenvolvimento sustentaacutevel Para esse efeito pode tirar partido dos trunfos que sempre
estiveram na base da supremacia no domiacutenio mariacutetimo conhecimento dos oceanos
larga experiecircncia e capacidade para enfrentar novos desafios conjugados com um forte
empenho na protecccedilatildeo dos seus recursos38
A Europa depois de seacuteculos de ligaccedilatildeo aos mares e oceanos assume a partir de
2007 a coordenaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas ligadas ao espaccedilo mariacutetimo e costeiro
europeu Todavia o objectivo de alcanccedilar uma poliacutetica mariacutetima mais integrada natildeo eacute
exclusivo da Europa eacute algo que tem vindo a ser implementado igualmente por paiacuteses de
outras regiotildees do mundo como a Austraacutelia o Canadaacute ou os Estados Unidos
22 Potencialidades das principais actividades mariacutetimas da Uniatildeo Europeia
A Uniatildeo Europeia eacute a primeira potecircncia mariacutetima mundial especialmente no que
diz respeito ao transporte mariacutetimo agraves teacutecnicas de construccedilatildeo naval ao turismo costeiro
agrave energia offshore incluindo as energias renovaacuteveis e serviccedilos associados No futuro
segundo um estudo do Irish Marine Institute39
os sectores com maior potencial de
crescimento seratildeo o sector dos cruzeiros e portuaacuterio a aquicultura as energias
renovaacuteveis as telecomunicaccedilotildees submarinas e a biotecnologia marinha
O transporte mariacutetimo e os portos satildeo essenciais para o comeacutercio internacional pois
90 do comeacutercio externo da Uniatildeo Europeia e mais de 40 do seu comeacutercio interno eacute
efectuado por via mariacutetima A Uniatildeo Europeia com 40 da frota mundial eacute
incontestavelmente o liacuteder deste sector global Anualmente 35 mil milhotildees de
toneladas de mercadorias e 350 milhotildees de passageiros transitam pelos portos mariacutetimos
europeus Cerca de 350000 pessoas trabalham nos portos e nos serviccedilos associados
38
COM (2006) 275 final vol II 4 39
Para mais informaccedilotildees sobre o Irsih Marine Institute httpwwwmarineie
24
que no seu conjunto geram um valor acrescentado de aproximadamente 20 mil milhotildees
de euros40
Com o aumento do volume do comeacutercio mundial e o desenvolvimento do
transporte mariacutetimo de curta distacircncia e das ldquoauto-estradasrdquo mariacutetimas as perspectivas
para estes sectores satildeo de crescimento contiacutenuo O transporte mariacutetimo eacute um catalisador
para outros sectores nomeadamente a construccedilatildeo naval e os equipamentos mariacutetimo-
portuaacuterios
Os serviccedilos mariacutetimos associados como os seguros a banca a intermediaccedilatildeo a
classificaccedilatildeo e a consultoria satildeo mais um domiacutenio em que a Europa deve manter a sua
lideranccedila
Os oceanos e os mares geram igualmente receitas graccedilas ao turismo Estima-se que
o volume de negoacutecios directo do sector do turismo mariacutetimo na Europa tenha sido de 72
mil milhotildees de euros em 2004 Os turistas que passam feacuterias no litoral usufruem do mar
da praia e da zona costeira de formas muito diversas Muitos destinos turiacutesticos devem a
sua popularidade agrave proximidade do mar e dependem da qualidade ambiental deste Para
a sustentabilidade do turismo em geral e em particular do ecoturismo sector que se
encontra em raacutepida expansatildeo eacute pois crucial prever um elevado niacutevel de protecccedilatildeo das
zonas costeiras e do meio marinho O turismo gera ainda trabalho para a induacutestria da
construccedilatildeo naval
O sector europeu dos cruzeiros tambeacutem se desenvolveu fortemente nos uacuteltimos
anos registando uma taxa de crescimento anual superior a 10 Os navios de cruzeiro
satildeo praticamente todos construiacutedos na Europa O turismo de cruzeiro contribui para o
desenvolvimento das zonas costeiras e insulares
O sector da naacuteutica de recreio registou igualmente um aumento constante nos
uacuteltimos anos prevendo-se que o seu crescimento anual na Uniatildeo Europeia seja de 5 a
641
Nenhuma outra forma de lazer colectivo abrange um leque tatildeo grande de idades
interesses e locais42
O mar desempenha um papel essencial na competitividade no desenvolvimento
sustentaacutevel e na seguranccedila do aprovisionamento energeacutetico os quais constituem
40
Contributo da Organizaccedilatildeo dos Portos Mariacutetimos Europeus (ESPO) para o Livro Verde 41
Contributo da European Union Recreational Marine Industry Group (EURMIG) para o Livro Verde
Este sector inclui nomeadamente a construccedilatildeo de embarcaccedilotildees a electroacutenica de ponta para fabrico de
motores e equipamentos mariacutetimos o financiamento e a construccedilatildeo e exploraccedilatildeo de infra-estruturas 42
Contributo da European Boating Association (EBA) para o Livro Verde
25
objectivos essenciais identificados pela Comissatildeo Europeia43
e pelos Chefes de Estado
e de Governo44
O mar do Norte eacute depois da Ruacutessia dos Estados Unidos e da Araacutebia
Saudita a quarta maior fonte de petroacuteleo e de gaacutes no mundo45
Os mares em torno da
Europa desempenham tambeacutem um importante papel no sector da energia na medida em
que permitem o transporte por um nuacutemero crescente de navios-tanque de uma grande
parte do petroacuteleo e do gaacutes consumidos na Europa
Por outro lado o vento as correntes oceacircnicas as ondas e mareacutes representam uma
vasta fonte de energia inesgotaacutevel Convenientemente explorados estes tipos de
energias poderiam assegurar uma importante parte do abastecimento de electricidade em
muitas zonas costeiras da Europa e contribuir assim para o desenvolvimento econoacutemico
e a criaccedilatildeo de emprego com caraacutecter duradouro
As empresas europeias desenvolvem know-how na aacuterea das tecnologias marinhas
natildeo soacute no domiacutenio da exploraccedilatildeo de hidrocarbonetos no mar como tambeacutem nos dos
recursos marinhos renovaacuteveis das actividades em aacuteguas profundas da investigaccedilatildeo
oceanograacutefica dos veiacuteculos e robocircs subaquaacuteticos das obras mariacutetimas e da engenharia
costeira Essas tecnologias satildeo cada vez mais utilizadas e estimularatildeo o crescimento do
sector europeu das tecnologias marinhas especialmente nos mercados mundiais de
exportaccedilatildeo
Por fim a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Alimentaccedilatildeo e a Agricultura
(FAO)46
indica que caberaacute agrave aquicultura satisfazer a nova procura mundial no mercado
de consumo de pescado A dificuldade consiste em gerir este aumento de procura de
uma forma sustentaacutevel e compatiacutevel com o ambiente A competiccedilatildeo pelo espaccedilo pode
tambeacutem constituir um importante problema em algumas zonas costeiras A aquicultura
poderaacute distanciar-se da costa o que exigiraacute novos trabalhos de investigaccedilatildeo e
desenvolvimento da tecnologia de cultura em jaulas offshore47
A Uniatildeo Europeia eacute uma das principais potecircncias de pesca ao niacutevel mundial e o
maior mercado de produtos transformados agrave base de peixe Embora o nuacutemero de
pescadores na Uniatildeo Europeia tenha vindo a baixar ao longo dos anos o sector das
43
COM (2006) 105 final 44
Conclusotildees da Presidecircncia do Conselho Europeu de 23 e 24 de Marccedilo de 2006 45
Contributo da International Association of Oil and Gas Producers (OGP) para o Livro Verde 46
O estado das pescas e da aquicultura no mundo FAO 2004 47
COM (2002) 511 final
26
pescas no seu conjunto emprega ainda cerca de 526000 pessoas48
Satildeo proporcionados
numerosos postos de trabalho natildeo soacute no sector da captura como na induacutestria da
transformaccedilatildeo acondicionamento transporte e comercializaccedilatildeo bem como nos
estaleiros faacutebricas de artes de pesca empresas de abastecimento e de manutenccedilatildeo Estas
actividades tecircm uma importacircncia consideraacutevel no tecido econoacutemico e social das zonas
pesqueiras A transiccedilatildeo gradual para pescarias mais sustentaacuteveis prevista pela Uniatildeo
Europeia e o aumento da procura de peixe enquanto alimento saudaacutevel conduzem a
uma maior estabilidade rentabilidade e inclusiveacute crescimento econoacutemico em certos
segmentos do sector das pescas49
Como verificamos as actividades mariacutetimas ainda que dispersas ou diacutevidas por
sectores satildeo efectivamente importantes para o desenvolvimento econoacutemico da Europa
No entanto sendo a Europa um continente proeminentemente mariacutetimo questiono-
me porque eacute que soacute a partir de 2006 surge uma intenccedilatildeo de abordar os assuntos
mariacutetimos como um todo e de forma integrada A resposta eacute complexa Talvez seja o
reflexo de uma Europa tradicionalmente sectaacuteria baseada nos interesses individuais dos
Estados-membros e com a dificuldade em falarem a uma soacute voz Apesar de tardia a
PMIE pode ser uma referecircncia para a Europa na forma como desenvolve e implementa
poliacuteticas axioloacutegicas e integradas contribuindo simultaneamente para uma Europa de
direitos e com valores50
dando assim a todos uma melhor perspectiva de futuro
48
Factos e nuacutemeros sobre a Poliacutetica Comum da Pesca (PCP) CE 2004 49
COM (2006) 275 final volume II 7-9 50
A dignidade humana a liberdade a democracia a igualdade o Estado de Direito o respeito pelos
direitos do Homem satildeo os valores fundamentais da UE consagrados no Preacircmbulo do Tratado de Lisboa
Satildeo comuns a todos os EM e qualquer paiacutes europeu que queira tornar-se membro da UE tem de os
respeitar Defender estes valores bem como a paz e o bem-estar dos povos da Uniatildeo satildeo agora os
objectivos principais da UE Estes objectivos gerais satildeo complementados por objectivos mais especiacuteficos
como a promoccedilatildeo da justiccedila e da protecccedilatildeo sociais e a luta contra a exclusatildeo social e as discriminaccedilotildees
27
23 Livro Verde ndash ldquouma visatildeo para os oceanos e os maresrdquo
ldquo(hellip) torna-se especialmente necessaacuterio termos uma poliacutetica mariacutetima abrangente
orientada para o desenvolvimento de uma economia mariacutetima florescente e para a
plena exploraccedilatildeo do potencial das actividades centradas no mar e de uma forma
sustentaacutevel para o ambiente Esta poliacutetica deve assentar na excelecircncia da investigaccedilatildeo
cientiacutefica da tecnologia e da inovaccedilatildeo mariacutetimardquo Cit nos objectivos estrateacutegicos da
Comissatildeo Europeia para 2005-2009
A Comissatildeo Europeia em Junho de 2006 apresentou um Livro Verde sobre os
diferentes aspectos de uma futura poliacutetica mariacutetima comunitaacuteria Esta obra realccedilou a
identidade e a supremacia mariacutetimas da Europa que devem ser preservadas num
periacuteodo em que as pressotildees sobre o ambiente comprometem a perenidade das
actividades mariacutetimas A poliacutetica mariacutetima deve consequentemente ter por objectivo a
formaccedilatildeo de um sector mariacutetimo inovador competitivo e respeitador do ambiente Para
aleacutem das actividades mariacutetimas a abordagem proposta integra tambeacutem a qualidade de
vida nas regiotildees costeiras O Livro Verde teve como objectivo lanccedilar um debate sobre
uma futura poliacutetica mariacutetima para a Uniatildeo Europeia caracterizado por uma abordagem
holiacutestica dos oceanos e dos mares
Ele tornou claro que num periacuteodo em que os recursos estatildeo ameaccedilados por
pressotildees fortes e pela crescente capacidade tecnoloacutegica de os explorar soacute uma atitude
de profundo respeito pelos oceanos e pelos mares nos permitiraacute continuar a desfrutar
dos benefiacutecios que eles nos oferecem A reduccedilatildeo acelerada da biodiversidade marinha
devido nomeadamente agrave poluiccedilatildeo ao impacto das alteraccedilotildees climaacuteticas e agrave sobrepesca
eacute desde jaacute um sinal de alarme inequiacutevoco que natildeo se pode ignorar
Assim o Livro Verde baseou-se nas poliacuteticas e iniciativas da UE existentes e
insere-se no contexto da Estrateacutegia de Lisboa procurando estabelecer o justo equiliacutebrio
entre as dimensotildees econoacutemica social e ambiental
Como tal contribuiu largamente para que os europeus adquirissem uma nova
consciecircncia da grandeza do seu patrimoacutenio mariacutetimo da importacircncia dos oceanos e do
potencial dos oceanos para melhorar o bem-estar e aumentar as oportunidades
econoacutemicas
28
A Comissatildeo Europeia postulou que a poliacutetica mariacutetima comunitaacuteria deve alicerccedilar-
se em dois pilares fundamentais
Em primeiro lugar deve estar ancorada na Estrateacutegia de Lisboa estimulando o
crescimento e a criaccedilatildeo de mais e melhores empregos O investimento permanente no
conhecimento e nas competecircncias eacute um factor essencial para manter a competitividade e
garantir empregos de qualidade
Em segundo lugar deve manter e melhorar o estado do recurso em que se baseiam
todas as actividades mariacutetimas ou seja o oceano propriamente dito
Embora a utilizaccedilatildeo destes pilares como base para a nova poliacutetica mariacutetima possa
parecer relativamente simples haacute que natildeo descurar duas caracteriacutesticas especiacuteficas do
meio marinho
A primeira consiste na natureza global dos oceanos que faz com que as relaccedilotildees
entre paiacuteses sejam ao mesmo tempo complementares e concorrenciais Para regular as
actividades mariacutetimas no interesse do desenvolvimento sustentaacutevel ao niacutevel mundial eacute
necessaacuterio elaborar regras aplicaacuteveis universalmente Contudo cada parcela de oceano e
de mar eacute singular e pode exigir as suas proacuteprias regras e uma gestatildeo mais especiacutefica
Esta aparente contradiccedilatildeo eacute ilustrativa do motivo pelo qual a natureza global dos
oceanos representa um tatildeo grande desafio para os decisores poliacuteticos
O outro desafio que se oferece a uma boa governaccedilatildeo mariacutetima directamente
ligado ao aspecto anterior prende-se com a multiplicidade dos intervenientes
Numerosas satildeo as poliacuteticas sectoriais que surgiram e que existem a todos os niacuteveis de
poder comunitaacuterio nacional regional e local Pode acontecer que intervenientes de
agecircncias e paiacuteses diferentes ou organizaccedilotildees internacionais estejam melhor colocados
para adoptar as propostas de acccedilatildeo Contudo para que as decisotildees sejam tomadas a um
niacutevel mais proacuteximo dos interessados cumprindo-se o princiacutepio da subsidiariedade soacute
devem ser desenvolvidas acccedilotildees ao niacutevel da Uniatildeo Europeia se tal conferir valor
acrescentado agraves actividades de outros51
51
COM (2006) 275 final volume II 5-6
29
24 Aacutereas-chave no Livro Verde
Do Livro Verde constam diversas aacutereas-chave que passamos a analisar
Meio marinho
O meio marinho enfrenta nomeadamente os seguintes problemas diminuiccedilatildeo
acelerada da biodiversidade (consequecircncias na realizaccedilatildeo do potencial da
ldquobiotecnologia azulrdquo) exploraccedilatildeo excessiva dos recursos (consequecircncias para a pesca)
alteraccedilotildees climaacuteticas (consequecircncias para a pesca e para o turismo costeiro) poluiccedilatildeo
com origem terrestre acidificaccedilatildeo da aacutegua do mar e a poluiccedilatildeo provocada pelas
descargas dos navios e os acidentes mariacutetimos (na falta de melhor seguranccedila mariacutetima)
Para diminuir o impacto destes fenoacutemenos no meio-ambiente marinho deveraacute reforccedilar-
se a legislaccedilatildeo no domiacutenio da seguranccedila mariacutetima introduzir-se a avaliaccedilatildeo de riscos na
elaboraccedilatildeo das poliacuteticas e aplicar novas tecnologias ao niacutevel do tratamento de aacuteguas de
lastro52
Investigaccedilatildeo
A investigaccedilatildeo eacute essencial para se poder definir estrateacutegicas e tomar decisotildees com
conhecimento de causa Todavia os EM podem ir mais longe coordenando os seus
programas de investigaccedilatildeo nacionais a fim de realizar uma investigaccedilatildeo pan-europeia e
racionalizando meios A cooperaccedilatildeo entre investigadores e criadores de novas
tecnologias assume tambeacutem especial importacircncia
Inovaccedilatildeo
A inovaccedilatildeo pode ajudar a encontrar soluccedilotildees em domiacutenios em franca mutaccedilatildeo
como eacute o caso das energias e das alteraccedilotildees climaacuteticas As soluccedilotildees encontradas podem
tambeacutem beneficiar paiacuteses terceiros quando estes optarem por um desenvolvimento
sustentaacutevel e assim poderatildeo constituir uma vantagem competitiva para estes A energia
52
Aacutegua de lastro eacute a aacutegua do mar captada pelo navio para garantir a seguranccedila operacional e estabilidade
do mesmo Em geral os tanques satildeo preenchidos com maior ou menor quantidade de aacutegua para aumentar
ou diminuir o calado dos navios durante as operaccedilotildees portuaacuterias A aacutegua de lastro eacute um risco pelo facto de
transportar espeacutecies exoacuteticas dentro dos tanques dos navios Os seres vivos introduzidos pela aacutegua de
lastro podem variar entre organismos milimeacutetricos ateacute peixes com 30 centiacutemetros Satildeo inuacutemeros os
registos de ldquobioinvasatildeordquo por meio da aacutegua de lastro no mundo inteiro
30
eoacutelica as turbinas movidas pelas correntes de mareacute e os recursos de gaacutes e de petroacuteleo
dos grandes fundos marinhos podem representar novas fontes de energia
Matildeo-de-obra ldquosaber-fazerrdquo
As actividades mariacutetimas precisam de atrair pessoas altamente qualificadas No
entanto embora no seu conjunto o emprego no sector mariacutetimo europeu seja estaacutevel53
o nuacutemero de mariacutetimos europeus estaacute a diminuir Ou seja apesar de diminuir o nuacutemero
de trabalhadores no sector das pescas o sector foi compensado por pujantes serviccedilos
mariacutetimos tais como turismo e transporte mariacutetimo
O recrutamento em nuacutemero suficiente de mariacutetimos e outros profissionais bem
formados e competentes eacute essencial para garantir a sobrevivecircncia do sector mariacutetimo
assim como para manter a vantagem concorrencial da Europa
O ensino e a formaccedilatildeo no domiacutenio mariacutetimo devem ter por objectivo conferir aos
potenciais candidatos as mais elevadas competecircncias que possam abrir muacuteltiplas
perspectivas profissionais
A excelecircncia dos candidatos a emprego soacute seraacute garantida se se conseguir atrair para
o ensino e formaccedilatildeo no domiacutenio mariacutetimo os jovens mais capazes Eacute nesse quadro que
importa lutar contra a imagem do sector Eacute essencial oferecer aos mariacutetimos homens e
mulheres condiccedilotildees de vida e de trabalho adequadas ao niacutevel das expectativas a que os
europeus se habituaram com toda a legitimidade
Formaccedilatildeo de clusters54
O desenvolvimento de uma percepccedilatildeo comum das articulaccedilotildees possiacuteveis entre os
diferentes sectores mariacutetimos permitiraacute melhorar a imagem e aumentar a atractividade e
produtividade destes Estes agrupamentos de empresas e de profissionais que abrangem
todos os sectores de actividade podem assumir diversas formas Assim no domiacutenio
mariacutetimo eacute preciso distinguir os clusters nacionais ndash que servem frequentemente de
53
Ver o documento ldquoEmployment social and training aspects of maritime and fishing industries and
related sectorsrdquo httpeceuropaeumaritimeaffairspdfSEC(2006)_68920_2pdf 54
Remetendo em inglecircs para a noccedilatildeo de conjunto o termo ldquoclusterrdquo designa um agrupamento de
empresas do mesmo sector presentes na maior parte das vezes numa mesma bacia de emprego Mais
precisamente segundo Michael E Porter da Universidade de Harvard um cluster eacute ldquouma concentraccedilatildeo
de empresas ligadas entre si de fornecedores especializados de prestadores de serviccedilos e de instituiccedilotildees
associadas (universidades associaccedilotildees comerciais etc)rdquo
31
transmissores de opiniatildeo para certos ramos ou profissotildees mariacutetimas ndash dos clusters
regionais Estes uacuteltimos consagram-se ao desenvolvimento da economia mariacutetima
atraveacutes da inovaccedilatildeo e da aproximaccedilatildeo entre investigaccedilatildeo formaccedilatildeo e a induacutestria55
Os clusters podem contribuir para estimular a competitividade de todo um sector ou
grupo de sectores Eacute o que acontece se se partilhar conhecimentos realizar projectos
comuns de investigaccedilatildeo e inovaccedilatildeo (desenvolvimento de produtos) unir esforccedilos no
ensino e na formaccedilatildeo partilhar meacutetodos de organizaccedilatildeo inovadores dentro de um grupo
de empresas (aquisiccedilatildeo e distribuiccedilatildeo em comum) ou estrateacutegias de promoccedilatildeo comuns
nomeadamente em mateacuteria de marketing e publicidade
A exploraccedilatildeo do potencial oferecido pela formaccedilatildeo de clusters eacute pertinente em
sectores com cadeias de abastecimento complexas que envolvem produccedilatildeo e serviccedilos e
tambeacutem com um grande nuacutemero de pequenas e meacutedias empresas Eacute esse o caso da
construccedilatildeo naval Na construccedilatildeo naval moderna mais de 70 do ldquonavio acabadordquo
resulta do trabalho de uma vasta rede de fornecedores de sistemas equipamentos e
serviccedilos56
Eacute possiacutevel disseminar as boas praacuteticas ligando estes sectores entre si e
transformando-os em redes de excelecircncia mariacutetima que abranjam todos os sectores
mariacutetimos incluindo o dos serviccedilos
Qualidade de vida nas regiotildees costeiras
O litoral europeu foi em tempos povoado por comunidades que viviam da pesca
Com o desenvolvimento do transporte mariacutetimo local e internacional foram-se
construindo portos e emergiram novas actividades nas periferias A procura de uma vida
agrave beira-mar apenas pelo prazer que daiacute decorre eacute um fenoacutemeno relativamente recente
A Conferecircncia das Regiotildees Perifeacutericas Mariacutetimas da Europa (CRPM) sublinha que
a atractividade natural (paisagem horas de insolaccedilatildeo e benefiacutecios para a sauacutede) daacute
igualmente origem a um forte crescimento demograacutefico que natildeo apresenta sinais de
abrandamento57
Por exemplo Portugal com 75 da populaccedilatildeo a viver no litoral
enfrenta neste domiacutenio indubitavelmente grandes desafios e novas exigecircncias
55
BERNARD-BRUNET Patrick 2007 23 56
Contributo da Associaccedilatildeo dos Estaleiros Europeus de Construccedilatildeo e Reparaccedilatildeo Naval (CESA) para o
Livro Verde 57
Contributo da CRPM para o Livro Verde
32
A concentraccedilatildeo demograacutefica nas regiotildees costeiras acarreta pressotildees sobre o espaccedilo
e o ambiente Exige uma maior acessibilidade em especial das pequenas ilhas e uma
maior mobilidade no seu interior que passa pela melhoria das infra-estruturas de
transporte Obriga agrave oferta de serviccedilos de interesse geral (sauacutede educaccedilatildeo
abastecimento de aacutegua e energia telecomunicaccedilotildees serviccedilos postais tratamento das
aacuteguas residuais e dos resiacuteduos) a fim de promover a qualidade de vida nas zonas
costeiras especialmente durante as estaccedilotildees altas do turismo Nas regiotildees rurais e
remotas as tecnologias da informaccedilatildeo e da comunicaccedilatildeo tecircm um papel a desempenhar
no fornecimento de serviccedilos em linha sauacutede ensino acesso puacuteblico agrave Internet
actividade econoacutemica ajuda agraves empresas e teletrabalho58
Ao planear o
desenvolvimento do litoral haacute que ter em conta o seu impacto ambiental a fim de obter
um resultado sustentaacutevel
As zonas costeiras e as ilhas satildeo elementos essenciais da atractividade e do ecircxito do
turismo costeiro Para que a Europa permaneccedila o primeiro destino turiacutestico ao niacutevel
mundial tem que apoiar um turismo sustentaacutevel nessas regiotildees O turismo sustentaacutevel
pode contribuir para o desenvolvimento das zonas costeiras e das ilhas melhorando a
competitividade das empresas satisfazendo as necessidades sociais promovendo o
patrimoacutenio natural e cultural e valorizando os ecossistemas locais Para um nuacutemero
crescente de destinos turiacutesticos a necessidade de melhorar ou manter a sua atractividade
constitui um incentivo para adoptar praacuteticas e estrateacutegias mais sustentaacuteveis e mais
compatiacuteveis com o ambiente
Muitos desses destinos jaacute realizam esforccedilos para efectuar uma gestatildeo integrada da
qualidade definindo estrateacutegias com os seus parceiros aplicando boas praacuteticas e
desenvolvendo instrumentos de acompanhamento e avaliaccedilatildeo para ajustar a sua acccedilatildeo
A sua experiecircncia poderaacute ser utilizada para formular recomendaccedilotildees destinadas a todos
os destinos turiacutesticos costeiros
A diversificaccedilatildeo dos produtos e serviccedilos turiacutesticos pode contribuir para a
competitividade dos destinos costeiros e insulares especialmente quando aos turistas eacute
oferecida a oportunidade de desfrutarem de locais de interesse cultural e natural
situados no litoral ou no hinterland rural ou urbano bem como de uma variedade de
58
Iniciativa do Comiteacute das Regiotildees (CdR) de 12102005 ndash Poliacutetica Mariacutetima da Uniatildeo Europeia ldquouma
questatildeo de desenvolvimento sustentaacutevel para as autoridades locais e regionaisrdquo
33
atracccedilotildees ligadas ao mar (observaccedilatildeo dos mamiacuteferos marinhos mergulho e arqueologia
subaquaacutetica actividades naacuteuticas e talassoterapia) Esta diversificaccedilatildeo apresenta
inuacutemeras vantagens designadamente uma menor pressatildeo nas praias fontes alternativas
de rendimento para antigos pescadores nas comunidades costeiras e criaccedilatildeo de novas
actividades destinadas a apoiar a preservaccedilatildeo e o desenvolvimento do patrimoacutenio local
No caso de Portugal para aleacutem de possuir uma oferta turiacutestica diversificada deve
tirar partido da sua localizaccedilatildeo geograacutefica como paiacutes costeiro por excelecircncia da forte
tradiccedilatildeo mariacutetima e de clima ameno que o caracteriza (lidera a lista de paiacuteses europeus
em dias sol por ano)
Estas mais-valias intriacutensecas permitem o prolongamento da estaccedilatildeo turiacutestica
gerando assim mais crescimento econoacutemico e aumento do nuacutemero de empregos a
tempo inteiro Desta forma diluindo os picos de concentraccedilatildeo turiacutestica reduz o impacto
ambiental das actividades turiacutesticas e contribui para melhorar a qualidade de vida no
litoral portuguecircs
Novas formas de governaccedilatildeo mariacutetima
Qualquer forma de governaccedilatildeo dos oceanos deve ter em conta os princiacutepios
estabelecidos nos Tratados relativamente aos domiacutenios poliacuteticos e agrave distribuiccedilatildeo de
competecircncias entre instituiccedilotildees da Uniatildeo Europeia Estados-Membros regiotildees e
autoridades locais Nesta base e em conformidade com o princiacutepio da subsidiariedade59
eacute necessaacuterio atender agraves especificidades sectoriais e regionais
Uma poliacutetica mariacutetima inclusiva da Uniatildeo Europeia deveraacute visar o crescimento e a
criaccedilatildeo de mais e melhores postos de trabalho contribuindo assim para uma economia
mariacutetima forte e em expansatildeo competitiva e sustentaacutevel e em harmonia com o meio
marinho Deve procurar prevenir e minimizar os conflitos em torno da utilizaccedilatildeo do
espaccedilo mariacutetimo e prever mecanismos claros e consensuais para a sua resoluccedilatildeo Deve
proporcionar uma maior previsibilidade para o sector e outros interessados e uma
abordagem mais eficaz em mateacuteria de conservaccedilatildeo dos recursos marinhos Neste
59
O princiacutepio da subsidiariedade prossegue dois objectivos opostos Por um lado permite que a
comunidade intervenha quando as medidas individualmente adoptadas pelos Estados-Membros natildeo
possibilitem uma soluccedilatildeo cabal Por outro lado visa manter a competecircncia dos Estados-Membros nos
domiacutenios que natildeo podem ser melhor regidos por uma intervenccedilatildeo comunitaacuteria A inclusatildeo deste princiacutepio
nos Tratados europeus deveraacute permitir que as decisotildees comunitaacuterias sejam adoptadas a um niacutevel tatildeo
proacuteximo quanto possiacutevel dos cidadatildeos - httpwwweuroparleuropaeufactsheets1_2_2_pthtm
34
contexto o diaacutelogo social europeu nos sectores mariacutetimos reveste-se de uma
importacircncia cada vez maior
Para se alcanccedilarem estes objectivos eacute necessaacuterio coordenar e integrar as poliacuteticas
sectoriais Confirmam-no os compromissos assumidos no quadro da cimeira mundial
sobre o desenvolvimento sustentaacutevel de 200260
e as disposiccedilotildees da Convenccedilatildeo das
Naccedilotildees Unidas sobre o Direito do Mar61
Aleacutem disso os progressos da ciecircncia e da tecnologia facultam agora uma melhor
compreensatildeo das interacccedilotildees e relaccedilotildees no que se refere aos oceanos e suas utilizaccedilotildees
O modelo de governaccedilatildeo da PMIE por sectores ou regiotildees geograacuteficas deve pois
ser substituiacutedo por uma abordagem transversal O modelo de governaccedilatildeo integrado
promove a partilha de conhecimentos e de boas praacuteticas bem como o diaacutelogo entre as
partes interessadas O impacto desta forma de governo permite elaborar medidas e
directivas agrave escala europeia respeitando as especificidades locais regionais e nacionais
Acho importante referir ainda que este modelo pode desencadear economias de escala
dando como exemplo de partilha o sistema de vigilacircncia mariacutetima da Agecircncia Europeia
da Seguranccedila Mariacutetima62
(EMSA) com sede em Lisboa
Novos instrumentos da gestatildeo das relaccedilotildees com os oceanos
ldquoOcirc mer nul ne connaicirct tes richesses intimesrdquo - Les fleurs du mal 63
Para uma melhor compreensatildeo das utilizaccedilotildees concorrentes do oceano haveraacute que
aperfeiccediloar os dados e as informaccedilotildees relativos agraves actividades mariacutetimas sejam elas
sociais econoacutemicas ou recreativas bem como sobre o impacto dessas actividades nos
recursos Tambeacutem para os operadores econoacutemicos mariacutetimos eacute importante haver dados
de qualidade Contudo subsistem grandes problemas no que se refere agrave harmonizaccedilatildeo e
agrave fiabilidade dos dados bem como agrave monitorizaccedilatildeo das regiotildees marinhas da Uniatildeo
Europeia que continuam a ser insuficientes e desajustados do ponto de vista geograacutefico
60
ONU Department of Economic and Social Affairs ndash Division for Sustainable Development
httpwwwunorgesasustdevdocumentsWSSD_POI_PDEnglishPOITochtm 61
Contributo da EuDA para o Livro Verde 62
A EMSA criada em 2002 na sequecircncia da cataacutestrofe do Erika e tem como objectivos reduzir o risco de
acidentes mariacutetimos diminuir a poluiccedilatildeo provocada pelos navios e salvaguardar as vidas humanas no
mar 63
ldquoOacute mar ningueacutem conhece as tuas riquezas escondidasrdquo ndash As Flores do Mal de Charles Baudelaire
(1821-1867) poeta francecircs e um dos fundadores do simbolismo O seu livro As Flores do Mal eacute
considerado um marco da poesia moderna
35
Para conceber uma poliacutetica mariacutetima comunitaacuteria racional e sustentaacutevel haveraacute que
obviar a estas lacunas
A Uniatildeo Europeia pode examinar a possibilidade de criar uma rede europeia de
observaccedilatildeo e de dados do meio marinho Esta possibilita garantir a longo prazo a
melhoria da observaccedilatildeo sistemaacutetica (in situ e a partir do espaccedilo) a interoperabilidade e
o reforccedilo do acesso aos dados com base em soluccedilotildees tecnologias da informaccedilatildeo e da
comunicaccedilatildeo (TIC) robustas abertas e geneacutericas Essa rede possibilita uma anaacutelise
integrada ao niacutevel da Uniatildeo Europeia de diferentes tipos de dados e metadados
provenientes de vaacuterias fontes O objectivo eacute fornecer agraves autoridades puacuteblicas aos
serviccedilos mariacutetimos e induacutestrias conexas bem como aos investigadores uma fonte de
dados primaacuterios para utilizaccedilatildeo na elaboraccedilatildeo de previsotildees e nas actividades de
monitorizaccedilatildeo integrando assim iniciativas existentes mas fragmentadas
O melhoramento e a difusatildeo dos dados relativos ao meio marinho permite tambeacutem
criar novas oportunidades para as empresas comerciais de alta tecnologia do sector
mariacutetimo e melhorar a eficiecircncia de actividades como a vigilacircncia mariacutetima a gestatildeo
dos recursos marinhos e a investigaccedilatildeo marinha nos laboratoacuterios europeus Aleacutem disso
contribui significativamente para reduzir as actuais incertezas relativamente ao sistema
oceacircnico e agraves alteraccedilotildees climaacuteticas tornando mais precisas as previsotildees meteoroloacutegicas
sazonais64
Proteger o legado mariacutetimo e sensibilizar o puacuteblico
Os cidadatildeos europeus cresceram com as histoacuterias dos grandes exploradores que
nos fizeram compreender que a Terra eacute redonda e nos ensinaram a situar exactamente os
continentes Muitos deles gozam as suas feacuterias na costa no meio da azaacutefama dos portos
de pesca saboreando marisco nos restaurantes e passeando agrave beira-mar a fugir agrave
rebentaccedilatildeo Alguns passam horas a observar as coloacutenias de aves marinhas ou as baleias
ou a esperar que o peixe morda o isco Outros passam os tempos livres a restaurar ou a
navegar em velhos barcos de madeira Haacute ainda outros que gostam de ver
documentaacuterios sobre os golfinhos ou os pinguins na televisatildeo ou no cinema Alguns
trabalharatildeo nos solos mariacutetimos outros seratildeo pescadores ou capitatildees de porto e outros
por sua vez trabalharatildeo no posto de turismo de uma cidade costeira
64
COM (2006) 275 final volume II 34-35
36
Quantos todavia compreenderatildeo que estas actividades estatildeo interligadas Quantos
teratildeo consciecircncia de serem cidadatildeos de uma Europa mariacutetima Bem poucos a avaliar
pelo debate realizado a propoacutesito do Livro Verde
Que assim seja natildeo eacute de surpreender Os aquaacuterios podem dar uma ideia da beleza e
das maravilhas da vida sob as ondas mas poucos conseguem mostrar de forma
convincente quatildeo fraacutegeis satildeo os oceanos que actividades os ameaccedilam e que esforccedilos
estatildeo a ser feitos para os preservar Os museus do mar podem ajudar-nos a compreender
as proezas do passado mas dificilmente nos conseguiratildeo transmitir uma noccedilatildeo clara da
avanccedilada tecnologia que eacute apanaacutegio das actividades mariacutetimas do presente As
organizaccedilotildees que se dedicam a manter vivas as tradiccedilotildees do passado nem sempre se
associam agrave realidade comercial do presente sem falar do deslumbrante potencial futuro
que os oceanos encerram A Comissatildeo Europeia crecirc que haacute muito a ganhar com o forjar
de um sentimento de identidade comum entre todos aqueles que vivem das actividades
mariacutetimas ou cuja qualidade de vida estaacute fortemente ligada ao mar Ganhar-se-aacute assim
uma melhor compreensatildeo das interacccedilotildees em jogo e da importacircncia do mar para a
Humanidade65
Acredito que as actividades naacuteuticas podem neste domiacutenio desempenhar um
papel fundamental A Naacuteutica pelo vasto puacuteblico que abrange ao longo de todo o ano
estabelece respeito muacutetuo entre por um lado os recursos naturais (mar aacutegua e litoral) e
por outro as populaccedilotildees residentes ou turiacutesticas As actividades naacuteuticas satildeo fortemente
orientadas desde haacute muito para a descoberta protecccedilatildeo e promoccedilatildeo do patrimoacutenio e
ambiente e ainda para a descoberta e promoccedilatildeo das actividades e profissotildees mariacutetimas
Os centros naacuteuticos e as marinas podem ser a grande vitrine do oceano aberta a todos
atraveacutes de actividades educativas desportivas e de lazer
Vejamos o exemplo dos Jogos Naacuteuticos Atlacircnticos criados na Bretanha em 1995
sob o lema o ldquoOceano nos unerdquo Os Jogos Naacuteuticos Atlacircnticos66
satildeo um evento
desportivo de alto niacutevel competitivo que se realiza anual e rotativamente pelas
diferentes regiotildees do Atlacircntico promovendo a fileira naacuteutica popularizando os
desportos naacuteuticos e incentivando intercacircmbios de experiecircncias Participam neste
quadro festivo e de amizade cerca de 500 atletas de cinco modalidades naacuteuticas
(Canoagem Remo Subaquaacuteticas Surf e Vela) sempre acompanhados de grupos
65
COM (2006) 275 final volume II 51 66
Jogos Naacuteuticos Atlacircnticos ( wwwjnieaeu)
37
culturais e musicais representativos das regiotildees participantes contribuindo desta forma
para uma Europa mariacutetima mais unida e coesa
Haacute vaacuterios anos a esta parte tecircm sido realizados eventos como por exemplo as
Initiatives Oceacutean ldquoIl nacutey a pas de petit pollutionrdquo da responsabilidade da Surfrider
Foundation Europe67
Este movimento europeu sensibiliza e mobiliza o grande puacuteblico
para as questotildees e problemaacuteticas ambientais e mariacutetimas
Por uacuteltimo realccedilo tambeacutem o projecto europeu NEA 268
ldquoNautisme Espace
Atlantique 2rdquo que visa o desenvolvimento sustentaacutevel e coordenado do conjunto da
fileira naacuteutica nas regiotildees da faixa atlacircntica (actividades portos de recreio induacutestria
comeacutercio e serviccedilos) atraveacutes de um reforccedilo de cooperaccedilatildeo baseado em trecircs eixos
temaacuteticos o desenvolvimento econoacutemico a protecccedilatildeo do ambiente a coesatildeo social Em
cada uma destas temaacuteticas o projecto prevecirc a realizaccedilatildeo de acccedilotildees comuns
transnacionais associando diversos parceiros e de acccedilotildees locais implementadas por
cada parceiro no seu territoacuterio Impulsionado por 23 parceiros europeus durante um
periacuteodo de 3 anos (Janeiro 2009 a Dezembro de 2011) o NEA2 foi aprovado pelo
Programa de Cooperaccedilatildeo Transnacional Espaccedilo Atlacircntico (POCTEA) e beneficia como
tal de uma subvenccedilatildeo do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER) Este
projecto persegue o sucesso alcanccedilado pelo seu antecessor Nautisme Espace Atlantique
(Novembro de 2004 a Outubro de 2007) do Programa INTERREG III B que reuniu 11
parceiros com o objectivo comum ldquodesenvolvimento coordenado do turismo naacuteuticordquo
O sector naacuteutico e os seus intervenientes satildeo parceiros eficazes para a mobilizaccedilatildeo
da populaccedilatildeo e consequente aproximaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do mar
67
Surfrider Foundation Europe (wwwsurfridereu) ONG dedicada a proteger os oceanos as ondas e o
litoral 68
Nautisme Espace Atlantique 2 ( wwwnea2eu)
38
25 Participaccedilatildeo dos europeus no processo de construccedilatildeo da PMIE
O debate poliacutetico acerca da elaboraccedilatildeo de uma poliacutetica mariacutetima da Uniatildeo
Europeia constitui a melhor oportunidade nos uacuteltimos anos para que o significado
mundial e local dos oceanos e os resultados da investigaccedilatildeo e inovaccedilatildeo marinhas sejam
devidamente apreciados pela sociedade declarou Peter Heffernan director executivo
do Irish Marine Institute em Galway na Irlanda
A consulta sobre a poliacutetica mariacutetima da Uniatildeo Europeia iniciou-se apoacutes o
lanccedilamento do Livro Verde a 7 de Junho de 2006 e teve uma duraccedilatildeo de treze meses
Foi o maior periacuteodo de consulta alguma vez efectuada na Uniatildeo Europeia
O processo de consulta teve um eco sem precedentes evidenciado pela elevada taxa
de participaccedilatildeo e pela qualidade das contribuiccedilotildees Para aleacutem dos contributos de todas
as instituiccedilotildees europeias tambeacutem vaacuterios parlamentos nacionais e alguns regionais
apresentaram directamente agrave Comissatildeo Europeia as suas observaccedilotildees sobre o Livro
Verde69
As contribuiccedilotildees preconizaram consulta e diaacutelogo mas tambeacutem uma melhor
informaccedilatildeo de todos os afectados pela poliacutetica mariacutetima
Os intervenientes econoacutemicos congratularam-se com o princiacutepio de uma abordagem
integrada de modo a induzir maior transparecircncia e eficiecircncia na elaboraccedilatildeo de poliacuteticas
e regulamentaccedilatildeo apropriada no acircmbito da Uniatildeo Europeia Defenderam a necessidade
da elaboraccedilatildeo de uma poliacutetica mariacutetima integrada com vista a promover a economia
mariacutetima florescente Torna-se premente desenvolver relaccedilotildees fortes entre os sectores e
respectivas actividades conexas e apelaram agrave formaccedilatildeo de clusters (incluindo agrave escala
comunitaacuteria)
As regiotildees defenderam entusiasticamente uma abordagem integrada Sublinharam o
papel das regiotildees costeiras enquanto centros da economia mariacutetima Estas esperam tirar
proveito por um lado da ligaccedilatildeo estabelecida entre a acccedilatildeo ao niacutevel comunitaacuterio e as
actividades no terreno nas regiotildees costeiras e por outro lado do reforccedilo do
envolvimento dos governos dos Estados-Membros
69
COM (2007) 574 final 2
39
Os Estados-Membros satildeo favoraacuteveis ao princiacutepio da gestatildeo integrada dos assuntos
mariacutetimos e encaram a proposta de uma poliacutetica mariacutetima integrada como meio
privilegiado para assegurar um desenvolvimento estaacutevel e sustentaacutevel das respectivas
economias mariacutetimas e regiotildees costeiras Desejam manter os mecanismos que
funcionam bem pois servem de catalisadores de boas praacuteticas
Os cidadatildeos individuais e a sociedade civil reagiram de forma ambivalente Haacute
mesmo quem tema que a Uniatildeo Europeia possa interferir nas competecircncias nacionais ou
locais mas em geral as reacccedilotildees mostraram que o puacuteblico estaacute preocupado com o
ecossistema marinho estando contudo ceacutepticos relativamente agraves medidas que os
governos possam vir a tomar para o proteger As organizaccedilotildees natildeo governamentais
(ONG) ambientais apelaram a uma acccedilatildeo comunitaacuteria no domiacutenio do ordenamento do
espaccedilo mariacutetimo e costeiro a fim de assegurar a execuccedilatildeo de uma gestatildeo baseada nos
ecossistemas
O lanccedilamento de uma consulta sobre a poliacutetica mariacutetima despertou igualmente o
interesse daqueles que desejam informar e dar a conhecer elementos sobre os nossos
mares e oceanos O conhecimento por parte dos cidadatildeos europeus das nossas costas e
do que estaacute para aleacutem delas eacute considerado como um sustentaacuteculo tanto das economias
mariacutetimas cujo ecircxito depende da sua atractividade como do nosso ambiente marinho
cuja preservaccedilatildeo depende da sensibilizaccedilatildeo dos cidadatildeos
Contudo todos estatildeo de acordo quanto agrave necessidade de melhorar a imagem global
dos sectores mariacutetimos Satildeo inuacutemeras as sugestotildees relacionadas com as permutas de
boas praacuteticas conferecircncias participaccedilatildeo de peritos em assuntos mariacutetimos como os
pescadores ou projectos de pequena escala destinados a informar as comunidades locais
ou turistas
Em suma o processo de consulta deu azo ao aparecimento de um manancial de
ideias e estimulou o desejo de participar num projecto comum a longo prazo baseado
na aprendizagem e no desenvolvimento interactivo permanente Este processo natildeo soacute
veio introduzir uma nova abordagem integrada da gestatildeo dos assuntos mariacutetimos como
abriu alas a uma nova forma de fazer poliacutetica na Europa70
No total foram recebidas mais de 490 contribuiccedilotildees e organizados mais de 230
eventos em que se debateu a poliacutetica mariacutetima com os vaacuterios interessados
70
COM (2007) 574 final 9-10
40
Cap III ndash O Livro Azul plano de acccedilatildeo e instrumentos financeiros
31 Condiccedilotildees poliacuteticas do processo de decisatildeo
Presidido pela Alemanha o Conselho Europeu de Junho de 2007 congratulou-se
com o vasto debate que teve lugar na Europa acerca da futura poliacutetica mariacutetima Os
Chefes de Estado e de Governo convidaram a Comissatildeo Europeia a elaborar um plano
de acccedilatildeo europeu a apresentar em Outubro desse mesmo ano Atendendo ao princiacutepio da
subsidiariedade este plano de acccedilatildeo teve por fim explorar de uma forma
ambientalmente sustentaacutevel o pleno potencial das actividades econoacutemicas orientadas
para o mar
A Comissatildeo em resposta ao Conselho Europeu adoptou no dia 10 de Outubro de
2007 uma Comunicaccedilatildeo conhecida como o Livro Azul da Poliacutetica Mariacutetima Europeia
em que define a sua visatildeo de uma poliacutetica mariacutetima integrada para a UE juntamente
com um plano de acccedilatildeo pormenorizado que estabeleceu um ambicioso programa de
trabalho para os proacuteximos anos As descobertas cientiacuteficas a raacutepida evoluccedilatildeo
tecnoloacutegica a globalizaccedilatildeo as alteraccedilotildees climaacuteticas e a poluiccedilatildeo marinha estatildeo a alterar
rapidamente o relacionamento da Europa com os mares e oceanos com todas as
oportunidades e desafios impliacutecitos desse processo
De salientar que a Presidecircncia Portuguesa do Conselho da Uniatildeo Europeia no
segundo semestre de 2007 reconheceu de forma clara a necessidade de uma abordagem
integrada para os assuntos mariacutetimos A Presidecircncia Portuguesa levou a cabo diversos
eventos com destaque para uma Conferecircncia Ministerial sobre Poliacutetica Mariacutetima para a
Uniatildeo Europeia que teve lugar em Lisboa no dia 22 de Outubro permitindo a
divulgaccedilatildeo dos resultados da consulta puacuteblica do Livro Verde e a indicaccedilatildeo dos sectores
prioritaacuterios a seguir
Esta Conferecircncia foi altamente significativa pois juntou agrave volta da mesma mesa
pela primeira vez os decisores poliacuteticos responsaacuteveis nacionais pela coordenaccedilatildeo dos
assuntos do mar independentemente da foacutermula governativa adoptada em cada paiacutes
europeu A estes juntaram-se ainda os paiacuteses da Associaccedilatildeo Europeia de Livre
41
Comeacutercio (EFTA) do Espaccedilo Econoacutemico Europeu e as principais instituiccedilotildees europeias
envolvidas
Por sua vez o Parlamento Europeu no dia 20 de Maio de 2008 deu ldquoluz verderdquo agrave
proposta da Comissatildeo Europeia para a criaccedilatildeo de uma Poliacutetica Mariacutetima Europeia
aprovada com 587 votos a favor 20 contra e 58 abstenccedilotildees A aprovaccedilatildeo pelo PE de
uma poliacutetica mariacutetima europeia teve lugar no dia em que se celebrou pela primeira vez
o Dia Europeu do Mar data que coincidiu ainda com a chegada de Vasco da Gama agrave
Iacutendia em 1498
A Comissatildeo Europeia propocircs uma poliacutetica mariacutetima integrada para a Uniatildeo
Europeia baseada no reconhecimento inequiacutevoco de que todas as questotildees relativas aos
oceanos e mares estatildeo interligadas e que para podermos colher os resultados desejados
todas as poliacuteticas ligadas ao mar devem ser elaboradas de uma forma articulada
O plano de acccedilatildeo baseou-se na consulta puacuteblica e resultou dos trabalhos de um alto
grupo de pilotagem com a participaccedilatildeo de 10 Comissaacuterios presidido por Joe Borg (Ex-
Comissaacuterio Europeu para os Assuntos Mariacutetimos e da Pesca) e supervisionado pelo
Presidente da Comissatildeo Europeia Duratildeo Barroso
Uma poliacutetica mariacutetima integrada exige um quadro de governaccedilatildeo que aplique a
abordagem integrada a todos os niacuteveis bem como instrumentos poliacuteticos horizontais e
transectoriais Exige igualmente uma soacutelida base financeira que tenha em conta os
resultados das acccedilotildees preparatoacuterias
A Comissatildeo Europeia criou uma funccedilatildeo de ldquopoliacutetica mariacutetimardquo cuja tarefa eacute
analisar os assuntos mariacutetimos e as poliacuteticas que os afectam assegurar a coordenaccedilatildeo
entre as poliacuteticas sectoriais garantir que as interacccedilotildees entre elas sejam tidas em conta e
pilotar o desenvolvimento de instrumentos poliacuteticos transectoriais
Por outro lado a Comissatildeo comeccedilou a reunir as agecircncias da Uniatildeo Europeia que
desempenham funccedilotildees ligadas agraves actividades mariacutetimas para que contribuam
conjuntamente para a elaboraccedilatildeo da poliacutetica mariacutetima
42
Um quadro de governaccedilatildeo integrado para os assuntos mariacutetimos exige por sua vez
instrumentos horizontais de planificaccedilatildeo que sejam comuns agraves poliacuteticas sectoriais
ligadas ao mar e apoiem a elaboraccedilatildeo conjunta de poliacuteticas Assim os trecircs instrumentos
que se seguem satildeo especialmente importantes
Uma rede europeia de vigilacircncia mariacutetima
A vigilacircncia mariacutetima reveste-se da maior importacircncia para garantir a utilizaccedilatildeo
segura do mar e para a protecccedilatildeo das fronteiras mariacutetimas da Europa O melhoramento e
optimizaccedilatildeo das actividades de vigilacircncia mariacutetima bem como a sua interoperabilidade
ao niacutevel europeu satildeo importantes para que a Europa possa fazer face aos desafios e
ameaccedilas ligados agrave seguranccedila da navegaccedilatildeo agrave poluiccedilatildeo marinha ao cumprimento da lei
e agrave seguranccedila em geral71
Ordenamento do espaccedilo mariacutetimo (OEM) e gestatildeo integrada das zonas costeiras
(GIZC)
Os quadros de ordenamento existentes incidem essencialmente na vertente terrestre
e raramente abordam a forma como o desenvolvimento costeiro pode afectar o mar e
vice-versa Temos de fazer face aos problemas resultantes das crescentes utilizaccedilotildees
concorrentes do mar que vatildeo do transporte mariacutetimo agrave produccedilatildeo de energia offshore e
outras formas de exploraccedilatildeo do leito marinho passando pela pesca e aquicultura e pelas
actividades de lazer72
Dados e informaccedilotildees
A disponibilidade e a facilidade de acesso a um vasto leque de dados relativos aos
factores naturais e agrave actividade humana nos oceanos constituem a base para a tomada de
decisotildees estrateacutegicas no domiacutenio da poliacutetica mariacutetima Dada a vasta quantidade de
dados coligidos e armazenados em toda a Europa para fins muito diversos eacute de extrema
importacircncia estabelecer uma infra-estrutura adequada para recolher os dados e
informaccedilotildees sobre o ambiente marinho73
71
COM (2007) 575 final 5 72
COM (2007) 575 final 6 73
COM (2007) 575 final 6
43
32 Livro Azul e o plano de acccedilatildeo
As acccedilotildees propostas no Livro Azul ajudam a Uniatildeo Europeia a avanccedilar na
prossecuccedilatildeo dos objectivos fulcrais da poliacutetica mariacutetima integrada incidindo
principalmente em cinco domiacutenios de acccedilatildeo estrateacutegica a saber
1)Maximizaccedilatildeo da utilizaccedilatildeo sustentaacutevel dos oceanos e mares
O principal objectivo de uma poliacutetica mariacutetima integrada da Uniatildeo Europeia eacute criar
as melhores condiccedilotildees para a utilizaccedilatildeo sustentaacutevel dos oceanos e mares permitindo o
desenvolvimento dos sectores mariacutetimos e das regiotildees costeiras
Em muitos Estados-Membros o desenvolvimento recente da economia mariacutetima foi
superior ao da economia no seu conjunto sobretudo em regiotildees activas no domiacutenio da
logiacutestica mariacutetima O transporte mariacutetimo de contentores aumentou consideravelmente a
partir de 2000 esperando-se que triplique ateacute 2020 Por outro lado regiotildees activas
noutros mercados de forte crescimento como o equipamento mariacutetimo a energia eoacutelica
offshore a naacuteutica de recreio ou o sector dos cruzeiros continuaratildeo a colher benefiacutecios
deste crescimento Graccedilas agrave forte especializaccedilatildeo da Europa no campo das tecnologias
marinhas as induacutestrias europeias tecircm tambeacutem um grande potencial para desenvolver
produtos mariacutetimos de ponta susceptiacuteveis de assumir uma posiccedilatildeo lideranccedila nos
mercados mundiais
Contudo haacute muito potencial subaproveitado ainda Para garantir o crescimento
sustentaacutevel de actividades ligadas ao mar e assegurar ao mesmo tempo que as
actividades mariacutetimas se desenvolvam de forma a natildeo comprometer a sauacutede do
ecossistema eacute indispensaacutevel ter uma visatildeo estrateacutegica actualizada que permita o
desenvolvimento competitivo e seguro do transporte mariacutetimo dos portos e dos sectores
conexos
O transporte mariacutetimo eacute vital para o comeacutercio internacional e interno da Europa e
continua a ser a espinha dorsal do cluster mariacutetimo Contudo este sector soacute continuaraacute a
prosperar se a Uniatildeo Europeia prosseguir os seus esforccedilos com vista a atingir um niacutevel
elevado de seguranccedila mariacutetima e protecccedilatildeo do transporte mariacutetimo contribuindo para
proteger as vidas humanas e o ambiente e simultaneamente favorecer condiccedilotildees de
concorrecircncia equitativas ao niacutevel internacional
44
Embora seja uma importante fonte de poluiccedilatildeo atmosfeacuterica e de emissotildees de
dioacutexido de carbono (CO2) o transporte mariacutetimo continua a ser bastante mais eficiente
em termos energeacuteticos do que o transporte rodoviaacuterio Por este motivo e dada a
necessidade de reduzir o nuacutemero de camiotildees que circulam nas estradas congestionadas
da Europa uma poliacutetica mariacutetima integrada favorece fortemente a promoccedilatildeo de
transportes mariacutetimos seguros e fiaacuteveis
A cadeia logiacutestica mariacutetima europeia requer tambeacutem a existecircncia de estaleiros da
construccedilatildeo e reparaccedilatildeo naval e empresas de equipamento mariacutetimo com tecnologia de
ponta incorporada
O aumento dos investimentos na investigaccedilatildeo e tecnologia marinha eacute fundamental
para assegurar o crescimento econoacutemico sem agravar a degradaccedilatildeo do ambiente Esses
investimentos criaratildeo tambeacutem novas oportunidades Graccedilas a tecnologias respeitadoras
do ambiente que permitam a prosperidade das actividades mariacutetimas sem comprometer
o ambiente marinho as empresas europeias poderatildeo manter a sua posiccedilatildeo de lideranccedila agrave
medida que as normas mundiais se tornem mais estritas e que as induacutestrias novas e
promissoras como a biotecnologia azul as energias renovaacuteveis offshore a tecnologia e
o equipamento subaquaacuteticos e a aquicultura marinha forem desenvolvidas
A tecnologia permite agrave Europa beneficiar de todas as potencialidades oferecidas
pelo mar enquanto fonte de petroacuteleo e gaacutes74
bem como de energias renovaacuteveis e
tambeacutem enquanto lugar de transporte de energia que permite diversificar as vias de
transporte de energia e aumentar deste modo a seguranccedila do abastecimento
A integraccedilatildeo e a competitividade das empresas no sector mariacutetimo satildeo fortemente
potenciadas pela formaccedilatildeo de clusters multissectoriais Os clusters locais e regionais
que reuacutenem diferentes sectores e partes interessadas para desenvolver sinergias entre as
suas actividades afiguram-se uma evoluccedilatildeo promissora da comunidade mariacutetima
europeia Os clusters contribuem para melhorar a qualidade e elevar os padrotildees dos
produtos e serviccedilos do sector mariacutetimo europeu bem como para aumentar a integraccedilatildeo
da economia mariacutetima Contribuem deste modo para o crescimento econoacutemico e para
criaccedilatildeo de emprego bem como para a sustentabilidade da economia mariacutetima na sua
globalidade O seu sucesso dependeraacute largamente da acccedilatildeo inovadora do sector
privado e de outras partes interessadas sobretudo no caso dos clusters regionais A par
74
Segundo a OGP 40 do petroacuteleo e 60 do gaacutes actualmente consumidos na Europa satildeo extraiacutedos em
offshore
45
da criaccedilatildeo de clusters multissectoriais devem ser criados centros regionais de excelecircncia
mariacutetima
Os clusters contribuem ainda para conservar o know-how mariacutetimo da Europa pelo
que satildeo fundamentais para a poliacutetica mariacutetima A cooperaccedilatildeo entre os sectores puacuteblico e
privado em centros de excelecircncia mariacutetima cria tambeacutem um contexto favoraacutevel para
compreender e programar adequadamente as interacccedilotildees entre diferentes induacutestrias e
sectores75
Para fazer face a este domiacutenio estrateacutegico a UE pocircs em marcha uma Directiva-
Quadro denominada Estrateacutegia Marinha76
que estabelece um quadro de acccedilatildeo
comunitaacuteria no domiacutenio da poliacutetica para o meio marinho
Foi com o objectivo de promover o uso sustentaacutevel dos mares e a conservaccedilatildeo dos
ecossistemas marinhos incluindo o leito do mar estuaacuterios e aacutereas costeiras dando
especial atenccedilatildeo aos siacutetios com elevado valor em biodiversidade que foi desenvolvida
no quadro da Uniatildeo Europeia a Estrateacutegia temaacutetica para a protecccedilatildeo e conservaccedilatildeo do
ambiente marinho77
Este documento cuja aprovaccedilatildeo foi precedida de ampla discussatildeo a niacutevel Europeu
foi o ponto de partida para a preparaccedilatildeo da proposta de Directiva do Parlamento
Europeu e do Conselho Europeu que estabelece um quadro de acccedilatildeo comunitaacuteria no
domiacutenio da poliacutetica para o meio marinho
A Directiva estabelece um quadro no qual os Estados Membros devem tomar as
medidas necessaacuterias para obter ou manter um bom estado ambiental no meio marinho
ateacute 2020 Para isso devem ser desenvolvidas e aplicadas estrateacutegias marinhas com vista
a proteger e preservar o meio marinho impedir a sua deterioraccedilatildeo ou quando
exequiacutevel restaurar os ecossistemas marinhos nas aacutereas afectadas prevenir e reduzir as
ldquoentradasrdquo no meio marinho de modo a eliminar progressivamente a poluiccedilatildeo e
assegurar que natildeo haja impactos ou riscos significativos (biodiversidade ecossistemas
sauacutede humana e utilizaccedilotildees legiacutetimas do mar)
O processo negocial desta Directiva culminou com a respectiva aprovaccedilatildeo no final
de 2007 durante a Presidecircncia Portuguesa do Conselho da Uniatildeo Europeia e representa
75
COM (2007) 575 final 7-9 76
Directiva Quadro ldquoEstrateacutegia Marinhardquo ndash COM (2005) 505 final 77
Estrateacutegia temaacutetica para a protecccedilatildeo e conservaccedilatildeo do ambiente marinhordquo ndash COM (2005) 504 final
46
um instrumento de particular importacircncia no quadro da poliacutetica de protecccedilatildeo do meio
marinho constituindo assim o pilar ambiental da Estrateacutegia Mariacutetima Europeia
2) Construccedilatildeo de uma base de conhecimentos e inovaccedilatildeo para a poliacutetica mariacutetima
A ciecircncia a tecnologia e a investigaccedilatildeo marinha satildeo cruciais para o
desenvolvimento sustentaacutevel das actividades mariacutetimas
Ao ajudarem a compreender mais profundamente os impactos das actividades
humanas nos sistemas marinhos a investigaccedilatildeo e a tecnologia marinhas fornecem a
chave para romper a ligaccedilatildeo entre o desenvolvimento das actividades mariacutetimas e a
degradaccedilatildeo do ambiente
O reforccedilo da abordagem multidisciplinar da ciecircncia marinha pode contribuir para
uma melhor compreensatildeo das interacccedilotildees entre as actividades mariacutetimas sendo
portanto uma componente indispensaacutevel de uma poliacutetica mariacutetima integrada Este
reforccedilo seraacute igualmente fundamental para prever e atenuar tanto quanto possiacutevel os
efeitos das alteraccedilotildees climaacuteticas
A investigaccedilatildeo marinha e mariacutetima tem custos elevados pelo que natildeo se pode
permitir faltas de eficiecircncia Para poder utilizar os recursos europeus da melhor forma eacute
necessaacuterio definir uma estrateacutegia clara que articule as prioridades a niacutevel poliacutetico e a
niacutevel de investigaccedilatildeo responda a desafios transectoriais potencie as sinergias entre os
esforccedilos dos Estados-Membros e os da Comunidade evite as duplicaccedilotildees e melhore o
diaacutelogo entre os intervenientes A Europa deve tambeacutem explorar o modo como a
investigaccedilatildeo pode contribuir mais e melhor para a inovaccedilatildeo e como transformar mais
eficazmente o conhecimento e as competecircncias em produtos e serviccedilos industriais78
3) Maximizaccedilatildeo da qualidade de vida nas regiotildees costeiras
Na uacuteltima deacutecada o crescimento demograacutefico nas regiotildees costeiras e insulares foi
duas vezes superior ao crescimento demograacutefico meacutedio na Uniatildeo Europeia As
comunidades costeiras satildeo tambeacutem o destino da maioria dos turistas na Europa pelo
que a necessidade de reconciliar o desenvolvimento econoacutemico a sustentabilidade do
ambiente e a qualidade de vida nessas regiotildees se coloca aiacute com maior acuidade
As autoridades regionais e as comunidades costeiras tecircm um importante papel a
desempenhar na regulaccedilatildeo das actividades costeiras e mariacutetimas O Comiteacute das Regiotildees
78
COM (2007) 575 final 12
47
(CoR) as regiotildees costeiras e as suas redes satildeo por conseguinte parceiros essenciais no
quadro da elaboraccedilatildeo de uma poliacutetica mariacutetima integrada da Uniatildeo Europeia
Os portos e os sectores mariacutetimos conferem a estas regiotildees uma importacircncia
estrateacutegica para a Europa no seu conjunto Oferecem importantes serviccedilos ao seu
hinterland e funcionam como base para o policiamento das fronteiras mariacutetimas e das
aacuteguas costeiras Daqui resulta uma forte pressatildeo sobre as infra-estruturas facto que deve
ser tomado em consideraccedilatildeo na atribuiccedilatildeo de recursos comunitaacuterios As regiotildees
costeiras satildeo tambeacutem particularmente afectadas pelas alteraccedilotildees climaacuteticas e a gestatildeo
dos riscos pode assumir proporccedilotildees dramaacuteticas nos orccedilamentos e economias destas
regiotildees
O mar eacute determinante para o turismo costeiro e mariacutetimo e eacute um importante
catalisador do desenvolvimento econoacutemico das zonas costeiras europeias
Embora reconheccedilam que haacute fontes de financiamento os interessados consideram
que tecircm um insuficiente acesso agrave informaccedilatildeo A Comissatildeo Europeia deve esforccedilar-se
por optimizar os projectos mariacutetimos nas regiotildees costeiras e insulares no acircmbito dos
vaacuterios instrumentos financeiros comunitaacuterios disponiacuteveis (ver ponto 33 Instrumentos
econoacutemico-financeiros de apoio agrave PMIE)
A necessidade de obter melhores dados soacutecio-econoacutemicos sobre os sectores
mariacutetimos e as regiotildees costeiras eacute tambeacutem evidente tendo em conta que a dificuldade
em obter tais informaccedilotildees estaacute a limitar a capacidade dos interessados a niacutevel regional
no respeitante ao desenvolvimento de planos e investimentos racionais a longo prazo
Por outro lado a colaboraccedilatildeo inter-regional eacute essencial para permitir o
desenvolvimento das regiotildees costeiras europeias o qual deve ter em conta a diversidade
e especificidade destes locais Por conseguinte a Comissatildeo Europeia deve utilizar
plenamente o Programa de Cooperaccedilatildeo Territorial para apoiar o desenvolvimento
mariacutetimo inter-regional
As regiotildees ultraperifeacutericas e as ilhas estatildeo sujeitas a desvantagens econoacutemicas
consideraacuteveis mas dispotildeem de um elevado potencial no que se refere agraves actividades
mariacutetimas e agrave investigaccedilatildeo marinha As suas extensas zonas mariacutetimas oferecem
serviccedilos ligados aos ecossistemas de grande interesse para a Uniatildeo Europeia A
48
Comissatildeo Europeia deve promover o desenvolvimento do seu potencial mariacutetimo e a
sua cooperaccedilatildeo com os vizinhos regionais respectivos79
A actual situaccedilatildeo das pescas na Europa natildeo pode ser considerada satisfatoacuteria Os
esforccedilos para conseguir reduzir a capacidade existente e a conservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo
dos recursos haliecircuticos existentes devem ser acompanhados por uma melhoria do
bem-estar social dos trabalhadores activos no sector
A integraccedilatildeo dos pescadores na economia mariacutetima mais ampla pode ser beneacutefica
tanto para as suas perspectivas de emprego como para o desenvolvimento global das
condiccedilotildees em que trabalham e em que o seu sector opera Aleacutem disso o bem-estar das
comunidades pesqueiras tradicionais eacute uma componente importante para a qualidade de
vida nas regiotildees costeiras
Saliento o papel que o sector naacuteutico pode desempenhar ao niacutevel do
desenvolvimento local pois para aleacutem de proporcionar actividades para populaccedilotildees
residentes eou turistas eacute uma importante via para gerar emprego e riqueza A Naacuteutica
pode e deve estabelecer o elo entre o mar e a populaccedilatildeo desfavorecida contribuindo
para a inserccedilatildeo e coesatildeo social da comunidade As actividades naacuteuticas trazem em si
valecircncias de solidariedade ou de inclusatildeo social como por exemplo ajudar na
conversatildeo das comunidades piscatoacuterias em dificuldade (escassez de emprego) em
agentes naacuteuticos reconhecidos pela sociedade
4) Promoccedilatildeo da lideranccedila europeia nos assuntos mariacutetimos internacionais
A Uniatildeo Europeia deve continuar a envidar esforccedilos com vista a assegurar uma
governaccedilatildeo internacional dos assuntos mariacutetimos mais eficiente e a fazer cumprir o
direito mariacutetimo internacional instando os Estados-Membros a ratificar os instrumentos
pertinentes Neste contexto deve promover a coordenaccedilatildeo dos interesses europeus nas
principais instacircncias internacionais
O acesso das induacutestrias e serviccedilos mariacutetimos europeus aos mercados internacionais
a exploraccedilatildeo comercial e cientiacutefica sustentaacutevel das aacuteguas profundas a protecccedilatildeo da
biodiversidade marinha mundial a melhoria da seguranccedila mariacutetima e da protecccedilatildeo do
transporte mariacutetimo as condiccedilotildees de trabalho a reduccedilatildeo da poluiccedilatildeo causada pelos
navios e a luta contra as actividades ilegais nas aacuteguas internacionais devem constituir as
prioridades da poliacutetica mariacutetima integrada da Uniatildeo Europeia a niacutevel das suas relaccedilotildees
79
COM (2007) 575 final 13-14
49
externas Deve igualmente prestar atenccedilatildeo agraves implicaccedilotildees geopoliacuteticas das alteraccedilotildees
climaacuteticas (por exemplo as questotildees relacionadas com o Aacutertico)
Por outro lado os assuntos mariacutetimos satildeo regularmente tema de debates com os
parceiros da Uniatildeo Europeia que jaacute adoptaram medidas a favor de uma abordagem
mariacutetima integrada nomeadamente a Austraacutelia o Canadaacute o Japatildeo a Noruega e os
Estados-Unidos mas tambeacutem com outros parceiros como o Brasil Ruacutessia Iacutendia e
China (agora denominados BRIC)
A Uniatildeo Europeia deve fomentar ainda uma responsabilidade partilhada
relativamente aos mares que compartilha com os seus vizinhos Concretamente a Uniatildeo
Europeia propotildee apresentar propostas no sentido de aumentar a cooperaccedilatildeo no que
concerne agrave gestatildeo do Mediterracircneo e do mar Negro E ainda promover a cooperaccedilatildeo ao
niacutevel das relaccedilotildees externas dos paiacuteses da Europa Setentrional com os paiacuteses em
desenvolvimento incluindo os pequenos Estados insulares atraveacutes de programas de
cooperaccedilatildeo reforccedila as capacidades dos paiacuteses em desenvolvimento no que se refere agrave
poliacutetica mariacutetima e ao Direito do mar80
5) Promoccedilatildeo da visibilidade da Europa mariacutetima
Os cidadatildeos europeus cresceram com as histoacuterias dos grandes exploradores que
nos fizeram compreender que a Terra eacute redonda e nos ensinaram a situar exactamente
os continentes Muitos deles gozam as suas feacuterias na costa no meio da azaacutefama dos
barcos de pesca saboreando marisco nos restaurantes e passeando agrave beira-mar a fugir
agrave rebentaccedilatildeo () Outros passam os tempos livres a restaurar ou a navegar em velhos
barcos de madeira () Quantos todavia compreenderatildeo que estas actividades estatildeo
interligadas Quantos teratildeo consciecircncia de serem cidadatildeos de uma Europa
mariacutetima81
Na sequecircncia do Livro Verde sobre uma futura poliacutetica mariacutetima da Uniatildeo e em
resposta ao forte apoio manifestado por muitas partes interessadas durante o processo de
consulta relativo agrave nova poliacutetica de promoccedilatildeo da cultura e do patrimoacutenio mariacutetimos da
Europa a Comissatildeo tem focado a sua atenccedilatildeo no aumento da visibilidade da Europa
80
COM (2007) 575 final 14-15 81
Extractos do Livro Verde ldquoPara uma futura poliacutetica mariacutetima da Uniatildeo Uma visatildeo europeia para os
oceanos e os maresrdquo Capiacutetulo VI Reivindicar a heranccedila mariacutetima da Europa - Reiterar a identidade
mariacutetima da Europa p 51
50
mariacutetima como um dos objectivos fulcrais de uma poliacutetica mariacutetima holiacutestica e
integrada
Os stakeholders exprimiram claramente a opiniatildeo de que o processo de elaboraccedilatildeo
de uma poliacutetica mariacutetima comunitaacuteria permitiu a aquisiccedilatildeo de uma nova consciecircncia
puacuteblica sobre a importacircncia da economia e patrimoacutenio mariacutetimo e estaacute a criar entre eles
o sentimento de partilharem um objectivo e identidade comuns
Para tal a poliacutetica mariacutetima integrada deve procurar aumentar a visibilidade da
Europa mariacutetima e melhorar a imagem das suas actividades e das profissotildees ligadas ao
mar
A PMIE deve ainda promover o patrimoacutenio mariacutetimo europeu apoiando as
comunidades mariacutetimas as cidades portuaacuterias as comunidades piscatoacuterias tradicionais
os produtos artesanais as teacutecnicas tradicionais e fomentar a criaccedilatildeo de ligaccedilotildees entre
elas para incrementar o seu conhecimento e dar maior visibilidade
A Comissatildeo Europeia prossegue este objectivo recorrendo a iniciativas das quais
destaco o Dia Europeu do Mar82
(celebrado em Bruxelas Roma e Gijoacuten 2008 2009 e
2010 respectivamente) e as novas ldquoferramentasrdquo de comunicaccedilatildeo com realce para o
Atlas Europeu dos Mares o Foacuterum Mariacutetimo e o website oficial para os assuntos do mar
da Europa
O Atlas Europeu dos Mares83
jaacute eacute uma realidade Destina-se a todos os interessados
do mundo marinho e do patrimoacutenio mariacutetimo e o objectivo eacute sensibilizar a opiniatildeo
puacuteblica para a importacircncia dos oceanos e dos mares da Europa Este Atlas pedagoacutegico
fornece uma seacuterie de dados fiaacuteveis e regularmente actualizados sobre temas tatildeo variados
como o relevo do fundo do mar a erosatildeo costeira a frota de pesca europeia o
transporte mariacutetimo a amplitude de mareacutes as quotas de pesca por espeacutecie e por regiatildeo e
as ldquoauto-estradas do marrdquo
Tanto o Foacuterum Mariacutetimo84
como o website85
contribuem para ajudar a melhor
compreender a visatildeo transversal da actividade mariacutetima presente em diversos sectores
de actividade Estas ferramentas satildeo meios eficazes para disseminar informaccedilatildeo sobre a
comunidade mariacutetima dar a conhecer boas praacuteticas mariacutetimas e podem ainda servir de
82
Informaccedilatildeo sobre Dia Europeu do Mar disponiacutevel em httpeceuropaeumaritimeaffairsmaritimeday 83
Atlas Europeu do Mares disponiacutevel em httpeceuropaeumaritimeaffairsatlas 84
Foacuterum Mariacutetimo disponiacutevel em httpswebgateeceuropaeumaritimeforum 85
Website oficial do Assuntos Mariacutetimos europeus httpeceuropaeumaritimeaffairs
51
alavanca para futuras sinergias potenciando a economia mariacutetima o ambiente marinho
e as comunidades costeiras
33 Instrumentos econoacutemico-financeiros de apoio agrave PMIE
As poliacuteticas independentemente da sua natureza carecem sempre de instrumentos
financeiros para agilizar a prossecuccedilatildeo das mesmas A PMIE natildeo foge a esta regra
Conveacutem neste ponto destinado aos instrumentos financeiros distingui-los quanto agrave
forma como contribuem para consolidaccedilatildeo da PMIE Assim sendo comeccedilo pelos
instrumentos ao dispocircr da poliacutetica de coesatildeo e da poliacutetica regional que apesar de
exercerem um papel importante na eliminaccedilatildeo das assimetrias regionais natildeo saciam
todas as necessidades impliacutecitas na PMIE De seguida abordo outros instrumentos
financeiros (Fundo Europeu das Pescas Instrumento Europeu de Vizinhanccedila e de
Parceria e o 7ordm Programa-Quadro) que vatildeo ao encontro de algumas medidas enunciadas
no plano de acccedilatildeo do Livro Azul e para terminar faccedilo referecircncia ao receacutem-criado
programa de apoio ao aprofundamento da PMIE
331 A poliacutetica de coesatildeo e a poliacutetica regional europeia
A expressatildeo ldquopoliacutetica de coesatildeordquo designa um quadro poliacutetico de solidariedade a
niacutevel europeu traduzindo-se em centenas de milhares de projectos em toda a Europa
que beneficiam do apoio do Fundo de Coesatildeo e dos Fundos Estruturais ndash o Fundo
Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER) e o Fundo Social Europeu (FSE)
Para acelerar a convergecircncia econoacutemica social e territorial a Uniatildeo Europeia
instituiu um Fundo de Coesatildeo em 1994 Este fundo destina-se aos paiacuteses cujo PIB
meacutedio por habitante eacute inferior a 90 da meacutedia comunitaacuteria O Fundo de Coesatildeo tem por
finalidade conceder financiamentos a favor de projectos de infra-estruturas nos
domiacutenios do ambiente e dos transportes Contudo a aplicaccedilatildeo do Fundo de Coesatildeo estaacute
sujeita a determinadas condiccedilotildees Caso o deacutefice puacuteblico de um Estado Membro
52
beneficiaacuterio exceder 3 do PIB nacional (regras de convergecircncia da Uniatildeo Econoacutemica
Monetaacuteria) nenhum novo projecto seraacute aprovado enquanto o deacutefice natildeo estiver outra
vez sob controlo
A coesatildeo econoacutemica e social descrita no Acto Uacutenico Europeu de 1986 propotildee-se
ldquoreduzir a diferenccedila entre as diversas regiotildees e o atraso das regiotildees menos favorecidasrdquo
O Tratado de Lisboa acrescenta-lhe uma terceira vertente quando fala de poliacutetica de
coesatildeo econoacutemica social e territorial Isto significa que a poliacutetica de coesatildeo tambeacutem
deve visar um desenvolvimento territorial mais equilibrado e sustentaacutevel
As orientaccedilotildees estrateacutegicas da poliacutetica de coesatildeo para o periacuteodo 2007-2013
centram-se em torno de trecircs prioridades 1ordf ndash reforccedilo da capacidade de atracccedilatildeo dos
Estados-Membros das regiotildees e das cidades 2ordf ndash promoccedilatildeo da inovaccedilatildeo do espiacuterito
empresarial e do crescimento da economia do conhecimento 3ordf Criaccedilatildeo de mais e
melhores empregos
Hoje em dia a Europa enfrenta uma tarefa esmagadora Natildeo soacute tem de vencer a
crise profunda que atravessa e reduzir o desemprego e a pobreza como deve transitar
para uma economia com baixas emissotildees de carbono Tatildeo ambiciosa tarefa requer
grande rapidez de acccedilatildeo em muitas e variadas frentes razatildeo pela qual o Conselho
Europeu adoptou a Estrateacutegia ldquoEuropa 2020rdquo Para que a Europa venccedila todos os
intervenientes tecircm de dar o seu contributo agrave escala europeia nacional regional e local
A poliacutetica de coesatildeo tem de continuar a desempenhar um papel fundamental nos tempos
difiacuteceis que atravessamos para estimular o crescimento inteligente (valorizando o
conhecimento a inovaccedilatildeo a educaccedilatildeo e a sociedade digital) sustentaacutevel (promovendo
um economia hipocarboacutenica em termos de recursos e competitividade) e inclusivo
(aumento da taxa de participaccedilatildeo no mercado de trabalho aquisiccedilatildeo de qualificaccedilotildees e
luta contra a pobreza) com vista ao desenvolvimento harmonioso da UE e assim
reduzir as disparidades regionais Indubitavelmente sem a poliacutetica de coesatildeo as
disparidades seriam maiores
Contudo a coesatildeo econoacutemica social e territorial eacute essencialmente concretizada
atraveacutes da poliacutetica regional A poliacutetica regional da UE favorece a reduccedilatildeo das diferenccedilas
estruturais existentes entre as regiotildees o desenvolvimento equilibrado do territoacuterio
comunitaacuterio e a promoccedilatildeo de uma igualdade de oportunidades efectiva entre as pessoas
A poliacutetica regional constitui a segunda maior rubrica orccedilamental da UE com uma
dotaccedilatildeo de 348 mil milhotildees de euros para o periacuteodo de 2007-2013 O alargamento para
53
27 Estados Membros em Janeiro de 2007 alterou a situaccedilatildeo da UE pois enquanto a
superfiacutecie da UE aumentou mais de 25 e a populaccedilatildeo mais de 20 a sua riqueza soacute
aumentou cerca de 5 O PIB meacutedio por habitante da UE diminuiu mais de 10 e as
disparidades regionais foram multiplicadas por dois Eacute sabido que aproximadamente
60 das regiotildees menos desenvolvidas se situam doravante nos 12 Estados-Membros
que aderiram desde 2004 Logo facilmente se depreende a deslocaccedilatildeo do centro de
gravidade da poliacutetica regional para Leste
Para o periacuteodo de 2007-2013 a dotaccedilatildeo financeira atribuiacuteda agrave poliacutetica regional
aproxima-se dos 348 mil milhotildees de euros 278 mil milhotildees para os Fundos Estruturais
e 70 mil milhotildees para o Fundo de Coesatildeo Esta dotaccedilatildeo representa 45 do orccedilamento
comunitaacuterio ou seja constitui a segunda rubrica orccedilamental logo atraacutes da Poliacutetica
Agriacutecola Comum (PAC)
Cabe agraves regiotildees e agraves respectivas entidades regionais atraveacutes das poliacuteticas de coesatildeo
e desenvolvimento regional afectarem uma parte dos fundos europeus para financiarem
projectos de interesse mariacutetimo e que vatildeo ao encontro do estipulado na PMIE
332 Fundos Estruturais
Como foi referido anteriormente existem dois tipos de fundos estruturais o Fundo
Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER) e o Fundo Social Europeu (FSE)
O FEDER86
apoia desde 1975 a realizaccedilatildeo de infra-estruturas e investimentos
produtivos geradores de emprego nomeadamente os destinados agraves empresas
O FSE87
instituiacutedo em 1958 apoia a inserccedilatildeo profissional dos desempregados e das
categorias desfavorecidas da populaccedilatildeo financiando nomeadamente acccedilotildees de
formaccedilatildeo
86
Regulamento (CE) nordm 16982005 do Conselho de 20 de Setembro de 2005 relativo ao apoio ao
desenvolvimento rural pelo Fundo Europeu Agriacutecola de Desenvolvimento Rural 87
Regulamento (CE) nordm 17841999 do Parlamento Europeu e do Conselho de 12 de Julho de 1999
relativo ao Fundo Social Europeu
54
Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER)
O FEDER destina-se a reforccedilar a coesatildeo econoacutemica e social na Uniatildeo Europeia
atraveacutes da correcccedilatildeo dos desequiliacutebrios regionais Resumidamente o FEDER financia
Ajudas directas aos investimentos realizados nas empresas
designadamente as pequenas e meacutedias empresas (PME`s) a fim de criar
emprego duradouro
Infra-estruturas ligadas nomeadamente agrave investigaccedilatildeo e agrave inovaccedilatildeo agraves
telecomunicaccedilotildees ao ambiente agrave energia e aos transportes
Instrumentos financeiros (fundos de capital de risco fundos de
desenvolvimento local etc) a fim de apoiar o desenvolvimento regional e local
e favorecer a cooperaccedilatildeo entre as cidades e regiotildees
Medidas de assistecircncia teacutecnica
O FEDER interveacutem na poliacutetica regional em trecircs objectivos a convergecircncia a
competitividade regional e emprego e a cooperaccedilatildeo territorial europeia
Fundo Social Europeu (FSE)
O FSE tem por objectivo melhorar o emprego e as possibilidades de emprego na
Uniatildeo Europeia e interveacutem no acircmbito dos objectivos da convergecircncia e competitividade
regional e emprego
O FSE apoia as acccedilotildees dos Estados-membros nos domiacutenios seguintes
Adaptaccedilatildeo dos trabalhadores e das empresas sistemas de aprendizagem
ao longo da vida concepccedilatildeo e difusatildeo de formas de organizaccedilatildeo do trabalho
inovadoras
Acesso ao emprego por parte das pessoas que procuram trabalho das
pessoas inactivas das mulheres e dos migrantes
Integraccedilatildeo social das pessoas desfavorecidas e luta contra a
discriminaccedilatildeo no mercado do trabalho
Reforccedilo do capital humano atraveacutes da reforma dos sistemas educativos e
colocaccedilatildeo em rede dos estabelecimentos de ensino
55
333 Outras fontes de financiamento
A PMIE aleacutem dos fundos estruturais e do fundo de coesatildeo tem ao seu dispocircr
outros instrumentos financeiros como seja o Fundo Europeu para as Pescas88
que
serve para estimular actividades econoacutemicas alternativas agrave pesca como o turismo
verde previsto para o desenvolvimento sustentaacutevel das zonas de pesca costeiras o
Instrumento Europeu de Vizinhanccedila e de Parceria89
contribuiraacute atraveacutes da cooperaccedilatildeo
transfronteiriccedila para dar resposta a problemas comuns dos paiacuteses do litoral inseridos em
bacias mariacutetimas
O Banco Europeu de Investimento (BEI) pode igualmente constituir um
importante instrumento para financiamento de avultados investimentos infra-estruturais
destinados a facilitar o ordenamento espacial e a execuccedilatildeo de estrateacutegias de
desenvolvimento de poacutelos de competitividade em regiotildees costeiras ou melhorar as
ligaccedilotildees agrave rede de produccedilatildeo de energias renovaacuteveis
Por fim realccedilo a primeira call lanccedilada a 30 de Julho de 2009 pela Comissatildeo
Europeia denominada The Ocean of Tomorrow integrada no seacutetimo Programa-Quadro
Ela eacute dotada de um orccedilamento de 34 milhotildees de euros para projectos de investigaccedilatildeo
multidisciplinar com o objectivo de conciliar o desenvolvimento de actividades
mariacutetimas com a preservaccedilatildeo dos mares e oceanos Uma segunda call ainda referente
ao seacutetimo Programa-Quadro de 45 milhotildees foi entretanto lanccedilada a 30 de Julho de
2010 Espera-se que as propostas abordem a complexidade dos oceanos e mares
integrando vaacuterias disciplinas (ambiente transportes energia pescas economia e
ciecircncias sociais) promovendo tambeacutem novos modelos de gestatildeo integrada do oceano O
prazo limite para entrega de candidaturas da segunda chamada termina no dia 18 de
Janeiro de 2011
Estas duas chamadas conjuntas respondem agrave necessidade de alocar meios
financeiros de suporte agraves prioridades expostas na Estrateacutegia Europeia para a
Investigaccedilatildeo Marinha e Mariacutetima e assim dar resposta ao pilar ambiental da PMIE
88
Decisatildeo 2005367CE do Conselho de 14 de Abril de 2005 que autoriza os Estados-Membros a
ratificar no interesse da Comunidade Europeia a Convenccedilatildeo da Organizaccedilatildeo Internacional do Trabalho
relativa aos documentos de identificaccedilatildeo dos mariacutetimos (Convenccedilatildeo nordm 185) - JO L 136 de 3052005 89
httpeceuropaeuworldenpfunding_enhtm
56
334 Programa de apoio ao aprofundamento da PMIE
Apesar dos instrumentos financeiros disponibilizados a implementaccedilatildeo da PMIE
pode estar em risco devido agrave falta de meios para financiar as acccedilotildees necessaacuterias durante
o periacuteodo remanescente (2010-2013)
Para tal efeito entendeu a Comissatildeo Europeia ser necessaacuterio estabelecer um
programa de apoio a medidas destinadas a promover o aprofundamento e a
implementaccedilatildeo da PMIE uma vez que os outros instrumentos disponibilizados pela UE
e apresentados anteriormente (o Fundo de Coesatildeo o FEDER o FSE o Fundo Europeu
das Pescas o seacutetimo Programa-Quadro de actividades em mateacuteria de investigaccedilatildeo
desenvolvimento tecnoloacutegico e demonstraccedilatildeo e o Instrumento Europeu de Vizinhanccedila e
Parceria) natildeo cobrirem significativamente as prioridades e objectivos da poliacutetica
mariacutetima integrada
No entanto este programa serviraacute de complemento aos instrumentos financeiros
actuais e futuramente disponibilizados ao niacutevel nacional e sub-nacional pelos Estados-
Membros para promover a protecccedilatildeo e a utilizaccedilatildeo sustentaacutevel dos oceanos e mares e
das zonas costeiras
Para que a Uniatildeo Europeia implemente e aprofunde a PMIE e prossiga os
objectivos basilares estabelecidos no Livro Azul eacute necessaacuterio um apoio financeiro
modesto mas constante Daiacute que juntamente com os Estados-Membros e as partes
interessadas este financiamento permite prosseguir os trabalhos exploratoacuterios jaacute
iniciados atraveacutes de acccedilotildees preparatoacuterias e projectos-piloto e desenvolver e concretizar
ainda melhor as opccedilotildees de execuccedilatildeo da PMIE
A dotaccedilatildeo financeira para a execuccedilatildeo do programa de apoio ao aprofundamento da
PMIE foi fixada em 50 milhotildees de euros e seraacute aplicaacutevel entre 1 de Janeiro de 2011 e 31
de Dezembro de 2013
O programa de apoio tem os seguintes dez objectivos gerais90
Favorecer o desenvolvimento e a implementaccedilatildeo de uma governaccedilatildeo
integrada dos assuntos mariacutetimos e costeiros e estrateacutegias integradas para as
bacias mariacutetimas
90
COM (2010) 494 final 11
57
Contribuir para o desenvolvimento de instrumentos transversais para as
poliacuteticas sectoriais ligadas ao mar ou agraves zonas costeiras
Apoiar a articulaccedilatildeo das poliacuteticas e promover a utilizaccedilatildeo sustentaacutevel dos
recursos marinhos e costeiros o crescimento econoacutemico sustentaacutevel a inovaccedilatildeo
e o emprego nos sectores mariacutetimos e nas regiotildees costeiras em consonacircncia com
as prioridades e acccedilotildees das poliacuteticas sectoriais
Melhor definir os limites da sustentabilidade das actividades humanas
com impacto no meio marinho no acircmbito da Directiva-Quadro Estrateacutegia
Marinha
Melhorar e reforccedilar a cooperaccedilatildeo e a coordenaccedilatildeo externas no que
respeita aos objectivos da poliacutetica mariacutetima integrada
Estes objectivos do programa de apoio ao aprofundamento da PMIE podem-se
traduzir nas seguintes acccedilotildees elegiacuteveis91
Estudos e programas de cooperaccedilatildeo
Informaccedilatildeo do puacuteblico e partilha de boas praacuteticas sensibilizaccedilatildeo do
puacuteblico e actividades associadas de comunicaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo incluindo
campanhas de publicidade eventos e ainda o desenvolvimento e a manutenccedilatildeo
de siacutetios Web
Conferecircncias seminaacuterios grupos de trabalho e foacuteruns de partes
interessadas
Mutualizaccedilatildeo monitorizaccedilatildeo e visualizaccedilatildeo de uma grande quantidade de
informaccedilotildees boas praacuteticas e bases de dados sobre os projectos regionais
financiados pela UE e garantia do correspondente acesso do puacuteblico
nomeadamente sempre que adequado por intermeacutedio de um secretariado
instituiacutedo para um ou vaacuterios destes efeitos
Acccedilotildees referentes a instrumentos transversais incluindo projectos-piloto
91
COM (2010) 494 final 12-13
58
Cap IV ndash Orientaccedilotildees estrateacutegias para o futuro da PMIE
41 Breve balanccedilo
A poliacutetica mariacutetima integrada europeia estabeleceu-se como uma nova abordagem
destinada a reforccedilar o desenvolvimento oacuteptimo e sustentaacutevel de todas as actividades
relacionadas com o mar Confirmou a visatildeo de que a Europa pode colher benefiacutecios
muito maiores com um impacto ambiental muito menor se articular as poliacuteticas relativas
aos oceanos e mares As instituiccedilotildees da Uniatildeo Europeia os Estados-Membros e as
regiotildees criaram estruturas de governaccedilatildeo para garantir que as poliacuteticas mariacutetimas
deixassem de ser desenvolvidas de uma forma isolada e tomassem em consideraccedilatildeo as
relaccedilotildees e sinergias com outras aacutereas poliacuteticas Os stakeholders confirmaram o interesse
consideraacutevel que a ampla consulta realizada em 2006-2007 despertou e a PMIE tornou-
se uma das poliacuteticas da Uniatildeo Europeia que mais recorre a uma abordagem ldquoda base
para o topordquo No domiacutenio das poliacuteticas sectoriais com impacto no mar e no litoral
nomeadamente as poliacuteticas da pesca dos transportes do ambiente da energia da
induacutestria ou da investigaccedilatildeo deram-se passos consideraacuteveis no sentido de uma maior
integraccedilatildeo e coerecircncia Foram tambeacutem adoptadas as primeiras medidas para aplicar a
PMIE numa base regional Em resumo a poliacutetica mariacutetima integrada da Uniatildeo Europeia
estaacute a modificar a forma como os europeus olham para os seus mares e oceanos
reafirmando ao mesmo tempo a importacircncia estrateacutegica dos mares e das regiotildees
costeiras do continente92
O quadro oferecido pela PMIE procura essencialmente concretizar (e jaacute comeccedilou a
fazecirc-lo) quatro objectivos93
Promover a integraccedilatildeo das estruturas de governaccedilatildeo tornando-as mais
abertas agrave participaccedilatildeo e agrave cooperaccedilatildeo
Criar uma base de conhecimentos e os instrumentos transectoriais
necessaacuterios para permitir a execuccedilatildeo das poliacuteticas integradas
92
COM (2009) 540 final 2 93
COM 2009) 540 final 3
59
Melhorar a qualidade das poliacuteticas sectoriais atraveacutes da procura activa de
sinergias e de uma maior coerecircncia transectorial
No quadro da realizaccedilatildeo dos objectivos acima referidos tomar em
consideraccedilatildeo as especificidades dos mares regionais que banham a Europa e
encontrar soluccedilotildees adaptadas a cada caso
A aplicaccedilatildeo do plano de acccedilatildeo conheceu jaacute um franco progresso das 65 acccedilotildees
incluiacutedas no plano foram iniciadas ou concluiacutedas 56 (trata-se na maior parte de actos
da Comissatildeo Europeia ou Conselho Europeu) Foram empreendidas vaacuterias iniciativas
em relaccedilatildeo a nove das acccedilotildees desse plano embora os documentos oficiais natildeo tenham
sido ainda adoptados
42 Governaccedilatildeo mariacutetima e participaccedilatildeo das partes interessadas
O Livro Azul defende que eacute necessaacuterio repensar a gestatildeo dos mares e oceanos a
todos os niacuteveis de governaccedilatildeo isto eacute nas instituiccedilotildees da UE nos Estados-Membros e
nas regiotildees Os actores poliacuteticos responderam em geral de uma forma muito positiva
passados dois anos tomaram-se medidas em toda a Uniatildeo para superar a
compartimentaccedilatildeo das vaacuterias poliacuteticas relacionadas com o mar aumentar a participaccedilatildeo
das partes interessadas e identificar sinergias poliacuteticas Importa agora realccedilar os
progressos alcanccedilados pelas instituiccedilotildees europeias Estados membros regiotildees e tambeacutem
pelos stakeholders
Instituiccedilotildees da UE94
A Comissatildeo Europeia adoptou diversas medidas no sentido de integrar o processo
de definiccedilatildeo da poliacutetica mariacutetima Em 2005 foi criado um Grupo Director de
Comissaacuterios que examinou as iniciativas poliacuteticas mais importantes incluiacutedas no plano
de acccedilatildeo do Livro Azul Foram tambeacutem criadas estruturas para promover reuniotildees
94
COM (2009) 540 final 3-4
60
regulares entre as Direcccedilotildees-Gerais interessadas a fim de identificar sinergias e
eliminar eventuais incoerecircncias entre as poliacuteticas
A Comissatildeo Europeia reorganizou igualmente os seus serviccedilos e alargou o mandato
da Direcccedilatildeo-Geral dos Assuntos Mariacutetimos e das Pescas a fim de assegurar a
coordenaccedilatildeo poliacutetica global e desenvolver se necessaacuterio instrumentos transectoriais
tendo em conta as especificidades regionais
O Conselho Europeu mostra um grande empenhamento na PMIE Natildeo soacute reconhece
a natureza transectorial da PMIE ao abordaacute-la na sua formaccedilatildeo Assuntos Gerais e
Relaccedilotildees Externas como reafirma nas suas conclusotildees de 8 de Dezembro de 200895
ldquoque uma abordagem integrada das questotildees mariacutetimas constitui um objectivo da maior
importacircncia tendo em conta a necessidade de reforccedilar as sinergias a coerecircncia e o
valor acrescentado das acccedilotildees sectoriais empreendidas pela Uniatildeo Europeia
integrando-as numa visatildeo global dos mares dos oceanos e dos seus litorais tendo em
conta as especificidades regionais (hellip)rdquo
Em termos institucionais a participaccedilatildeo activa do Conselho e dos Estados-
Membros eacute assegurada pelos trabalhos do Conselho de Assuntos Gerais e pelos grupos
de contacto dos Estados-Membros para a PMIE Estes grupos satildeo a garantia de que se
utiliza plenamente os conhecimentos especializados existentes nas administraccedilotildees
nacionais se presta a devida atenccedilatildeo agraves necessidades especiacuteficas dos Estados-Membros
e das regiotildees costeiras e se obteacutem um consenso poliacutetico com o maacuteximo de transparecircncia
e impacto
A atenccedilatildeo e o apoio do Parlamento Europeu agrave poliacutetica mariacutetima tecircm sido muito
positivos96
Contudo os assuntos mariacutetimos continuam a ser tratados por diferentes
comissotildees e estruturas
O Comiteacute das Regiotildees tem dado vaacuterios contributos beneacuteficos para a PMIE A
Comissatildeo Europeia tomou nota em especial do parecer sobre o Livro Azul que conteacutem
elementos importantes para trabalhos futuros O recente parecer do Comiteacute ldquoPacote
mariacutetimo e costeirordquo97
constitui um exemplo valioso da combinaccedilatildeo de interesses
divergentes de uma forma coerente complementar e sineacutergica
95
16503108 REV 1 96
Especialmente atraveacutes do relatoacuterio A6-01632008 (Comissatildeo dos Transportes e do Turismo) de Willi
Piecyk deputado do Parlamento Europeu entretanto falecido 97
CdR 4162008 final adoptado em 17 de Junho de 2009
61
O Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu emitiu em 14 de Abril de 2008 um
parecer98
particularmente favoraacutevel agrave PMIE
Estados-Membros99
Agrave data da publicaccedilatildeo do Livro Verde poucas iniciativas existiam nos Estados-
Membros em favor de abordagens integradas Dois paiacuteses a Franccedila e os Paiacuteses Baixos
informaram que dispunham de uma estrutura administrativa para coordenar as poliacuteticas
mariacutetimas Pelo seu lado Portugal tinha jaacute iniciado acccedilotildees concretas com vista a uma
estrateacutegia sobre os oceanos Desde entatildeo registaram-se progressos consideraacuteveis e mais
Estados-Membros tomaram iniciativas para integrar a poliacutetica mariacutetima e partilhar boas
praacuteticas de abordagens integradas da poliacutetica mariacutetima Estas iniciativas satildeo
inteiramente conformes com as orientaccedilotildees publicadas pela Comissatildeo Europeia em
Junho de 2008100
e referem-se a mudanccedilas organizacionais eou ao desenvolvimento de
estrateacutegias integradas de mais longo prazo com vista ao desenvolvimento sustentaacutevel
dos sectores mariacutetimos e das regiotildees costeiras
De salientar os exemplos do Nationaal Waterplan neerlandecircs o Grenelle de la Mer
francecircs o Entwicklungsplan Meer alematildeo a Lei sueca sobre uma poliacutetica mariacutetima
coerente o plano polaco interdepartamental de uma poliacutetica mariacutetima e a Lei mariacutetima
britacircnica A Irlanda Portugal e a Esloveacutenia tomaram igualmente medidas neste sentido
A Beacutelgica a Bulgaacuteria a Repuacuteblica Checa a Dinamarca a Itaacutelia a Greacutecia a Finlacircndia e
a Espanha comunicaram tambeacutem a realizaccedilatildeo de actividades neste domiacutenio perfazendo
um total de 14 Estados membros
Regiotildees101
As regiotildees costeiras participam plenamente como parceiros da PMIE desde o seu
iniacutecio e satildeo as mais bem colocadas para identificar os elementos necessaacuterios para
executar a poliacutetica tanto a niacutevel local como das bacias mariacutetimas Mostraram
igualmente grande capacidade para trabalhar com as autoridades nacionais e com as
regiotildees de outros Estados-Membros com o objectivo de promover soluccedilotildees integradas
para as questotildees relativas ao mar A Conferecircncia das Regiotildees Perifeacutericas Mariacutetimas
98
JO 2008C 21107 99
COM (2009) 540 final 4-5 100
COM (2008) 395 final de 2662008 101
COM (2009) 540 final 5
62
(CRPM) que reuacutene cerca de 160 regiotildees europeias segue atentamente os progressos do
plano de acccedilatildeo atraveacutes de intervenccedilotildees regulares nas reuniotildees do grupo de trabalho
Aquamarina criado especificamente para promover a PMIE a niacutevel regional
Partes interessadas102
As partes interessadas tem tido um papel preponderante no estabelecimento de uma
PMIE para a UE Os actores regionais e empresariais e as ONG foram os primeiros a
advogar a articulaccedilatildeo das poliacuteticas da UE com impacto nos mares sectores mariacutetimos e
regiotildees costeiras As suas contribuiccedilotildees constituiacuteram a base para a criaccedilatildeo de conceitos
e instrumentos inovadores
A celebraccedilatildeo anual do Dia Europeu do Mar converteu-se no evento em que os
vaacuterios ciacuterculos interessados podem realizar intercacircmbios altamente produtivos A
Comissatildeo Europeia deve dar continuidade a este evento assim como ampliar o nuacutemero
de europeus participantes Ao mesmo tempo deve encorajar as partes interessadas a
voltar a organizar eventos descentralizados em torno do Dia Europeu do Mar celebrado
em 20 de Maio reflectindo desta forma as contribuiccedilotildees nacionais regionais e locais
para a PMIE
43 Instrumentos transectoriais
Conforme abordado no capiacutetulo III (Livro Azul) foi identificada a necessidade de
existirem instrumentos transectoriais nomeadamente o ordenamento do espaccedilo
mariacutetimo a vigilacircncia integrada e a construccedilatildeo de uma base de conhecimentos para a
poliacutetica mariacutetima Estes trecircs instrumentos desenvolveram-se a um bom ritmo e jaacute eacute
possiacutevel registar os primeiros resultados obtidos Ora vejamos
102
COM (2009) 540 final 5-6
63
Ordenamento do espaccedilo mariacutetimo (OEM) e gestatildeo integrada da zona costeira
(GIZC)103
O aumento das actividades desenvolvidas nos mares da Europa exacerbou a
competiccedilatildeo pelo espaccedilo mariacutetimo que eacute limitado O ordenamento do espaccedilo mariacutetimo eacute
um instrumento-chave para equilibrar os interesses sectoriais e garantir uma utilizaccedilatildeo
sustentaacutevel dos recursos marinhos sendo o seu princiacutepio subjacente uma abordagem
ecossisteacutemica Este processo proporciona agraves administraccedilotildees puacuteblicas e partes
interessadas um quadro de ordenamento estaacutevel fiaacutevel e centrado em objectivos
concretos a partir do qual podem coordenar as suas acccedilotildees e optimizar a utilizaccedilatildeo do
espaccedilo mariacutetimo em benefiacutecio do desenvolvimento econoacutemico e do meio marinho
A Comissatildeo adoptou em 2008 a comunicaccedilatildeo intitulada ldquoRoteiro para o
ordenamento do espaccedilo mariacutetimo definiccedilatildeo de princiacutepios comuns na UErdquo104
O roteiro
estabelece dez princiacutepios-chave e analisa o desenvolvimento entre os Estados-Membros
de uma abordagem comum que promova a aplicaccedilatildeo do OEM a niacutevel nacional e da UE
Em debates organizados pela Comissatildeo no decurso de 2009105
as partes
interessadas de todos os sectores mariacutetimos relevantes consideraram que os dez
princiacutepios-chave satildeo vaacutelidos tecircm um caraacutecter global e constituem uma base importante
para o desenvolvimento do OEM a niacutevel europeu A Comissatildeo Europeia lanccedilou
igualmente duas acccedilotildees preparatoacuterias no Baacuteltico (no acircmbito da estrateacutegia comunitaacuteria
para a regiatildeo do Baacuteltico) e no Mar do NorteAtlacircntico Nordeste visando o
desenvolvimento da vertente de cooperaccedilatildeo transfronteiras do OEM assim como um
estudo sobre o potencial do ordenamento do espaccedilo mariacutetimo no Mediterracircneo e os
benefiacutecios econoacutemicos do OEM
No seguimento da recomendaccedilatildeo incluiacuteda no Livro Azul no sentido da criaccedilatildeo de
um sistema de intercacircmbio de boas praacuteticas para o desenvolvimento da gestatildeo integrada
da zona costeira (GIZC) a Comissatildeo iniciou em 2009 um projecto destinado a fomentar
o intercacircmbio de boas praacuteticas e promover a aplicaccedilatildeo efectiva da GIZC106
No final de
2008 o Conselho assinou o Protocolo sobre a GIZC no acircmbito da Convenccedilatildeo de
Barcelona107
103
Para informaccedilatildeo detalhada sobre a GIZC consultar httpeceuropaeuenvironmenticzmourcoasthtm 104
COM(2008) 791 final 105
httpeceuropaeumaritimeaffairsspatial_planning_enhtml6 106
httpeceuropaeuenvironmenticzmourcoasthtm 107
COM (2009) 540 final 6-7
64
Integraccedilatildeo da vigilacircncia mariacutetima
A integraccedilatildeo da vigilacircncia mariacutetima permitiraacute aumentar a eficaacutecia das operaccedilotildees no
mar e reduzir os custos de exploraccedilatildeo As potenciais economias a niacutevel da UE satildeo
significativas se se considerar a necessidade crescente de detectar localizar interceptar
e controlar actividades iliacutecitas no mar assim como de prevenir acidentes mariacutetimos
detectar descargas ilegais controlar as actividades de pesca e proteger o ambiente
Ateacute agrave data a Comissatildeo elaborou descriccedilotildees pormenorizadas das vaacuterias iniciativas
de integraccedilatildeo da vigilacircncia mariacutetima108
empreendidas a niacutevel nacional regional e
europeu terminou um estudo sobre os aspectos juriacutedicos e regulamentares da integraccedilatildeo
da vigilacircncia mariacutetima e procedeu a um exerciacutecio conjunto com a Agecircncia Europeia de
Defesa e o Estado-Maior da UE em resposta a um pedido do Conselho de Defesa109
A
Comissatildeo lanccedilou igualmente dois convites agrave apresentaccedilatildeo de propostas num montante
total de 57 milhotildees de euros110
para projectos-piloto de integraccedilatildeo da vigilacircncia com
vista a promover uma cooperaccedilatildeo mais estreita entre as administraccedilotildees nacionais no
Mediterracircneo e na bacia do Mar do Norte111
Construccedilatildeo de uma base de conhecimentos para a poliacutetica mariacutetima
Natildeo eacute possiacutevel desenvolver uma poliacutetica mariacutetima sem dados e conhecimentos
adequados sobre os mares e o litoral da Europa O conhecimento do meio marinho
permanece eacute ainda muito disperso e pouco rentaacutevel A Rede Europeia de Observaccedilatildeo e
de Dados do Meio Marinho (EMODNET) anunciada no Livro Azul tem como
objectivo reduzir as incertezas no conhecimento dos mares e os custos operacionais dos
utilizadores de dados marinhos Eacute necessaacuterio avaliar as bases de dados e os programas
de observaccedilatildeo existentes em termos de cobertura precisatildeo e frequecircncia de recolha bem
como compilar de forma global e compatiacutevel os dados provenientes de diferentes fontes
e tornaacute-los acessiacuteveis como instrumento de boa governaccedilatildeo112
Destaque para o
lanccedilamento do ldquoAtlas Europeu dos Maresrdquo tem como objectivo sensibilizar o puacuteblico
para as questotildees marinhas
108
SEC (2008) 2337 109
COSDP 949 PESC 1366 110
Convites agrave apresentaccedilatildeo de propostas MARE200813 e 200904 111
COM (2009) 540 final 7 112
COM (2009) 540 final 7-8
65
44 Perspectivas e visatildeo futura da PMIE
Os uacuteltimos dois anos confirmaram que a PMIE eacute uma poliacutetica muito promissora e
que pode contribuir de forma muito significativa para o crescimento o emprego e a
sustentabilidade ambiental nas zonas costeiras da Europa e para aleacutem destas Apesar de
recente esta nova poliacutetica da UE jaacute alterou a forma como a Europa gere as suas riquezas
mariacutetimas e costeiras
Apoacutes trecircs anos de deliberaccedilotildees intensas eacute fundamental manter este impulso para
dar uma resposta aos desafios essenciais a meacutedio e longo prazo que representam a
protecccedilatildeo do ambiente o crescimento econoacutemico e o bem-estar O duplo impacto das
alteraccedilotildees climaacuteticas e da crise econoacutemica faz-se sentir de uma forma particular no
mundo mariacutetimo os oceanos determinam o nosso clima e o sector mariacutetimo foi o motor
da globalizaccedilatildeo e da prosperidade
Por conseguinte eacute importante desenvolver o potencial econoacutemico da Europa
mariacutetima melhorar a acccedilatildeo dos poderes puacuteblicos nos mares e continuar a explorar as
sinergias que permitem o reforccedilo muacutetuo do crescimento econoacutemico e da estabilidade
ambiental Segundo a Comissatildeo Europeia a melhor forma de alcanccedilar estes objectivos eacute
avanccedilar em seis direcccedilotildees estrateacutegicas
Eacute necessaacuterio consolidar a governaccedilatildeo mariacutetima integrada Os progressos
alcanccedilados nos uacuteltimos anos devem ser traduzidos em estruturas integradas eficazes a
todos os niacuteveis de governaccedilatildeo As instituiccedilotildees da UE os Estados-Membros e as regiotildees
costeiras tecircm uma responsabilidade particular na integraccedilatildeo da poliacutetica mariacutetima a
montante e na adopccedilatildeo de programas coerentes e comuns para os assuntos mariacutetimos
contrariando a tendecircncia prevalecente para pensar a poliacutetica sectorial de uma forma
isolada A participaccedilatildeo das partes interessadas na definiccedilatildeo das poliacuteticas mariacutetimas deve
igualmente ser consagrada de forma mais permanente nas estruturas de governaccedilatildeo
resultando num diaacutelogo mais intenso entre a UE os Governos dos Estados-Membros e
as regiotildees costeiras que frequentemente detecircm as competecircncias fundamentais
necessaacuterias para uma abordagem integrada dos assuntos mariacutetimos Pela mesma razatildeo
seria conveniente criar uma plataforma intersectorial de diaacutelogo entre as partes
interessadas sobre os assuntos mariacutetimos113
113
COM (2009) 540 final 11
66
Os instrumentos poliacuteticos transectoriais satildeo fundamentais para fomentar o
desenvolvimento econoacutemico a monitorizaccedilatildeo do ambiente a seguranccedila e o respeito da
legislaccedilatildeo nos oceanos e mares da Europa Em especial o ordenamento do espaccedilo
mariacutetimo a par de um maior conhecimento do meio marinho pode incentivar
investimentos econoacutemicos consideraacuteveis e melhorar drasticamente a forma como
gerimos os nossos espaccedilos mariacutetimos preservando os seus ecossistemas Deve pois
converter-se num instrumento praacutetico a todos os niacuteveis de governaccedilatildeo relevantes e
contar com os mecanismos necessaacuterios para garantir um processo decisoacuterio comum
sobre os investimentos transfronteiriccedilos A integraccedilatildeo da vigilacircncia mariacutetima pode
contribuir para modificar a forma como as autoridades nacionais executam objectivos
essenciais como a luta contra a imigraccedilatildeo ilegal a protecccedilatildeo da navegaccedilatildeo comercial e
a protecccedilatildeo dos recursos naturais Os Estados-Membros e a Comissatildeo teratildeo de continuar
a colaborar nestes domiacutenios para que os processos iniciados nos uacuteltimos dois anos
possam alcanccedilar os resultados previstos114
A definiccedilatildeo dos limites de sustentabilidade das actividades humanas com um
impacto no meio marinho nos proacuteximos anos no acircmbito da Directiva-Quadro
ldquoEstrateacutegia Marinhardquo traraacute clareza e permitiraacute criar uma plataforma para o
desenvolvimento de todas as actividades mariacutetimas tendo em conta os seus efeitos
cumulativos Por esta razatildeo a aplicaccedilatildeo desta directiva continuaraacute a constituir um
objectivo fundamental da PMIE que deveraacute igualmente reforccedilar a cooperaccedilatildeo entre
todos os sectores e serviccedilos afectados nomeadamente entre as ciecircncias marinhas e a
poliacutetica para o meio marinho115
As estrateacutegias baseadas nas bacias mariacutetimas satildeo fundamentais para o ecircxito da
PMIE pois permitem adaptar as prioridades e os instrumentos poliacuteticos aos contextos
geograacutefico econoacutemico e poliacutetico especiacuteficos de cada grande regiatildeo mariacutetima Um
elemento essencial para que a PMIE seja bem sucedida eacute a cooperaccedilatildeo com e entre os
Estados-Membros e as regiotildees que partilham bacias mariacutetimas e sendo necessaacuterio esta
cooperaccedilatildeo deveraacute ser acompanhada de um diaacutelogo apropriado com os paiacuteses terceiros
que partilham bacias mariacutetimas com a UE As acccedilotildees a niacutevel das sub-bacias podem
igualmente ser uacuteteis e constituir exemplos positivos e de boas praacuteticas116
114
COM (2009) 540 final 11 115
COM (2009) 540 final 12 116
COM (2009) 540 final 12
67
Deveraacute prestar-se uma maior atenccedilatildeo agrave dimensatildeo internacional da PMIE A
Europa deve assumir um papel de motor na melhoria da governaccedilatildeo mariacutetima agrave escala
mundial como jaacute o fez no que respeita agrave pirataria ou agraves praacuteticas de pesca destrutivas A
Comissatildeo pretende reforccedilar o diaacutelogo com um nuacutemero limitado dos seus principais
parceiros mariacutetimos assim como a sua participaccedilatildeo em foacuteruns internacionais e
processos informais117
No presente contexto de crise econoacutemica a execuccedilatildeo da PMIE deveraacute recentrar-se
no crescimento econoacutemico no emprego e na inovaccedilatildeo sustentaacuteveis Por conseguinte no
futuro a UE deve explorar as sinergias entre a poliacutetica energeacutetica comunitaacuteria e a PMIE
promover a produccedilatildeo de energia no mar nomeadamente as formas de energia
renovaacuteveis e utilizar mais o mar para o transporte de energia por condutas redes
submarinas e navios Seraacute igualmente necessaacuterio fortalecer os viacutenculos entre a poliacutetica
comunitaacuteria de combate agraves alteraccedilotildees climaacuteticas e a PMIE desenvolvendo uma
estrateacutegia de adaptaccedilatildeo das zonas costeiras e mariacutetimas agraves alteraccedilotildees climaacuteticas com
vista a proteger as infra-estruturas costeiras e preservar a biodiversidade marinha Eacute
importante garantir que as zonas mariacutetimas e costeiras entrem plenamente em conta no
debate em curso sobre a coesatildeo territorial
A UE deve aleacutem disso promover ainda mais o transporte mariacutetimo a fim de
favorecer a co-modalidade pocircr em praacutetica o conceito de auto-estradas do mar e
melhorar o programa de transporte mariacutetimo de curta distacircncia da UE Ainda no acircmbito
do objectivo de impulsionar o desenvolvimento econoacutemico das actividades mariacutetimas
seraacute necessaacuterio encontrar a forma e os meios de estimular o emprego mariacutetimo e o
investimento na frota embandeirada da UE continuando todavia a apostar firmemente
no conceito de navios ecoloacutegicos Com efeito o apoio agrave inovaccedilatildeo e agrave investigaccedilatildeo a
favor de navios com baixo niacutevel de emissotildees ou mesmo com emissotildees nulas continuaraacute
a constituir a resposta principal da Comunidade agrave situaccedilatildeo do sector da construccedilatildeo
naval tatildeo importante do ponto de vista estrateacutegico Desta maneira a UE poderaacute
proporcionar aos estaleiros navais europeus e agrave europeia induacutestria do equipamento de
navios uma vantagem tecnoloacutegica sobre os seus concorrentes noutras regiotildees do mundo
e tornar o transporte mariacutetimo mais seguro e sustentaacutevel em especial ao longo das
costas da Europa118
117
COM (2009) 540 final 12 118
COM (2009) 540 final 12
68
Cap V ndash Estrateacutegia Nacional para o Mar
ldquoA Estrateacutegia Nacional para o Mar (ENM) constitui um instrumento poliacutetico
fundamental para que Portugal possa proteger e valorizar o inestimaacutevel recurso que o
oceano representa para o nosso paiacutesrdquo Cit pelo Dr Joatildeo Mira Gomes (ex-Secretaacuterio de
Estado da Defesa Nacional e dos Assuntos do Mar) na ENM 2007 p V)
Como referi no primeiro capiacutetulo a ligaccedilatildeo de Portugal ao mar ganhou especial
relevacircncia durante a eacutepoca dos Descobrimentos marcando decisivamente o iniacutecio do
processo de globalizaccedilatildeo As trocas comerciais culturais cientiacuteficas e tecnoloacutegicas daiacute
resultantes promoveram o grande desenvolvimento do nosso paiacutes e alteraram
definitivamente os processos de transmissatildeo de conhecimentos entre os povos Neste
capiacutetulo dedico-me agrave anaacutelise da evoluccedilatildeo entre 1998 e 2010 das principais dinacircmicas
mariacutetimas nacionais
Portugal actualmente dispotildee de uma das maiores zonas econoacutemicas exclusivas
(ZEE) da Europa com mais de 1700000 km2 o que corresponde a cerca de 18 vezes a
sua aacuterea terrestre existindo ainda a possibilidade de vir a contar com espaccedilos mariacutetimos
sob sua jurisdiccedilatildeo que poderatildeo exceder em muito a actual aacuterea da ZEE
Neste acircmbito a Estrutura de Missatildeo para a Extensatildeo da Plataforma Continental
(EMEPC) estaacute a trabalhar no sentido de determinar espaccedilos a reclamar por Portugal
para aleacutem das actuais 200 milhas naacuteuticas Assim a EMEPC elaborou a proposta
portuguesa chefiada pelo oceanoacutegrafo Manuel Pinto de Abreu que foi recentemente
apresentada agrave Comissatildeo de Limites para a Extensatildeo da Plataforma Continental (CLPC)
da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) Ateacute hoje a ONU recebeu 51 propostas de
Estados que querem ver aumentado o seu domiacutenio mariacutetimo Portugal foi o 44ordm paiacutes a
entregar a proposta A ONU encontra-se a avaliar a 16ordf proposta e prevecirc-se que a
decisatildeo relativa agrave proposta portuguesa seja conhecida em 2015
Caso seja aceite a proposta de alargamento pela ONU Portugal passaraacute a deter uma
aacuterea territorial equivalente 43 vezes agrave aacuterea de Portugal Continental Accedilores e Madeira
ou seja o equivalente agrave da Iacutendia e a segunda maior plataforma mundial a seguir aos
Estados Unidos da Ameacuterica
69
As Regiotildees Autoacutenomas da Madeira e dos Accedilores assumem aqui um papel de
destaque pelo seu posicionamento central nos espaccedilos mariacutetimos sob soberania ou
jurisdiccedilatildeo nacional
Este extenso espaccedilo mariacutetimo encerra alguns dos mais importantes ecossistemas
oceacircnicos a niacutevel global As caracteriacutesticas biogeograacuteficas e geomorfoloacutegicas das aacutereas
sob jurisdiccedilatildeo nacional englobam uma vasta biodiversidade marinha Os ambientes
insulares oceacircnicos o mar profundo e as planiacutecies abissais os montes e bancos
submarinos a dorsal meacutedio-atlacircntica119
os campos de fontes hidrotermais as
riquiacutessimas zonas estuarinas e lacustres os grandes canhotildees submarinos as zonas de
afloramento costeiro entre outros conferem a Portugal um patrimoacutenio natural uacutenico que
importa valorizar e preservar A este patrimoacutenio juntam-se os valores arqueoloacutegicos
culturais esteacuteticos e histoacutericos os recursos geoloacutegicos e minerais os recursos
energeacuteticos renovaacuteveis e os recursos biotecnoloacutegicos que no seu conjunto representam
um dos principais activos nacionais
Destaco tambeacutem o pioneirismo de Portugal ao niacutevel da concepccedilatildeo de um plano de
governacircncia integrado para os assuntos do Mar Refiro-me em particular ao relatoacuterio
da Comissatildeo Estrateacutegica dos Oceanos (CEO)ldquoO Oceano ndash Um Desiacutegnio Nacional
para o Seacuteculo XXIrdquo elaborado em 2004 que apresentou uma Estrateacutegia Nacional para o
Oceano Esta CEO dotou Portugal de uma nova visatildeo ldquoUm Oceano saudaacutevel
sustentaacutevel e seguro eacute o principal activo fiacutesico e sociocultural de Portugalrdquo e uma
missatildeo ldquoDestacar Portugal como uma naccedilatildeo mariacutetima da Uniatildeo Europeiardquoque
permita desenvolver e interiorizar colectivamente uma nova abordagem aos Oceanos
Para a prossecuccedilatildeo destas uacuteltimas a CEO baseou a sua estrateacutegia em cinco
objectivos que passo a enumerar
1) Valorizar a associaccedilatildeo de Portugal ao Oceano como Factor de Identidade
2) Assegurar o conhecimento e a protecccedilatildeo do Oceano
3) Promover o desenvolvimento sustentaacutevel de actividades econoacutemicas
4) Assumir uma posiccedilatildeo de destaque e especializaccedilatildeo em assuntos do Oceano
5) Construir uma estrutura institucional moderna de gestatildeo do oceano
119
A dorsal meacutedio-atlacircntica ou crista oceacircnica do Atlacircntico eacute uma cordilheira submarina que se estende
sob o Oceano Atlacircntico e o Oceano Aacutertico desde a latitude 87ordmN ateacute agrave ilha sub-antaacutertica de Bouvet agrave
latitude 54ordmS Os pontos mais elevados desta cordilheira emergem em vaacuterios locais formando ilhas
70
Em suma este valioso contributo surge da ldquonecessidade de encontrar mecanismos
de reforccedilo da identidade nacional que respondam agrave pressatildeo da homogeneizaccedilatildeo
cultural e agrave premecircncia de conceber um modelo de desenvolvimento sustentaacutevel que decirc
resposta agrave competitividade acrescida no quadro global em geral e no quadro europeu
em particular120
rdquo Este trabalho bem estruturado inovador e orientador serviu de
modelo-base para as actuais Estrateacutegia Nacional para o Mar e Poliacutetica Mariacutetima
Integrada Europeia
De facto Portugal goza de uma reputaccedilatildeo internacional de paiacutes mariacutetimo com
ideias e acccedilotildees proacuteprias sendo um activo contribuidor para a agenda global dos
oceanos
Depois de seacuteculos ligados ao mar natildeo se compreende muito bem nos dias de hoje
que o Mar seja para a maioria da sociedade portuguesa algo de distante
intangiacutevel e invisiacutevel121
No entanto saliento ainda que nos uacuteltimos anos em Portugal
foram dados passos importantes no que concerne agrave poliacutetica dos oceanos Entre os mais
significativos destaco
Em 1998 a Comissatildeo Mundial Independente para os Oceanos liderada
por Portugal e presidida pelo ex-Presidente da Repuacuteblica Dr Maacuterio Soares
aprovou o relatoacuterio ldquoO Oceano Nosso Futurordquo no acircmbito da Comissatildeo
Oceanograacutefica Intergovernamental da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a
Educaccedilatildeo Ciecircncia e Cultura (UNESCO)
O Ano Internacional dos Oceanos que se comemorou em 1998 na
sequecircncia de uma proposta apresentada por Portugal agrave Assembleia da Comissatildeo
Oceanograacutefica Intergovernamental da UNESCO e adoptada pela Assembleia
Geral das Naccedilotildees Unidas serviu de elemento integrador da Exposiccedilatildeo Mundial
de Lisboa (Expo 98) subordinada ao tema ldquoO Oceano um patrimoacutenio para o
futurordquo
Ainda nesse ano as Resoluccedilotildees do Conselho de Ministros nuacutemeros
8898 8998 e 9098 de 10 de Julho criaram respectivamente
- A Comissatildeo Oceanograacutefica Intersectorial com o objectivo de reforccedilar a
capacidade de resposta do sector de investigaccedilatildeo e desenvolvimento em ciecircncias e
120
Discurso do Primeiro-Ministro Duratildeo Barroso - XV Governo Constitucional (200204) ndash durante a
cerimoacutenia de tomada de posse da Comissatildeo Estrateacutegica dos Oceanos no dia 972003 121
ENM 2006-2016 p 2
71
tecnologias do mar e serviccedilos oceanograacuteficos afins mediante uma estrateacutegia que
permita compatibilizar acccedilotildees congregar esforccedilos e evitar duplicaccedilotildees optimizando
o uso dos meios humanos e das infra-estruturas disponiacuteveis
- O Programa Dinamizador das Ciecircncias e Tecnologias do Mar com o
objectivo de dar a este domiacutenio de investigaccedilatildeo baacutesica e aplicada a prioridade que ela
requer (numa perspectiva) de natureza estruturante e interdisciplinar
- A Comissatildeo Interministerial para a Delimitaccedilatildeo da Plataforma
Continental com vista a considerar a possibilidade da extensatildeo do limite exterior da
plataforma continental para aleacutem das 200 milhas naacuteuticas no quadro previsto pela
Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas sobre o Direito do Mar
Em 2003 foi criada a Comissatildeo Estrateacutegica dos Oceanos (Resoluccedilatildeo do
Conselho de Ministros nordm 812003 de 17 de Junho) com o objectivo de elaborar
os elementos de definiccedilatildeo de uma estrateacutegia nacional para o oceano Esta
comissatildeo produziu em 2004 um relatoacuterio com um conjunto de cerca de 250
recomendaccedilotildees e propostas de acccedilatildeo estrateacutegicas
Em 2005 foi criada a Estrutura de Missatildeo para a Extensatildeo da Plataforma
Continental (Resoluccedilatildeo do Conselho de Ministros nordm 92005 de 17 de Janeiro)
com o objectivo de preparar uma proposta de extensatildeo da plataforma continental
de Portugal para aleacutem das 200 milhas naacuteuticas para apresentaccedilatildeo agrave Comissatildeo
de Limites da Plataforma Continental das Naccedilotildees Unidas Esta substituiu a ex-
Comissatildeo Interministerial para a Delimitaccedilatildeo da Plataforma Continental
Em 2005 foi ainda criada a Estrutura de Missatildeo para os Assuntos do Mar
(EMAM) Resoluccedilatildeo do Conselho de Ministros nordm 1282005 de 10 de Agosto
com o objectivo de dar continuidade ao trabalho jaacute desenvolvido e a missatildeo de
preparar uma proposta que estabeleccedila as medidas que devem ser implementadas
para o desenvolvimento de uma poliacutetica integrada do Governo para os assuntos
do mar e para uma acccedilatildeo articulada de todas as entidades com competecircncia nas
aacutereas ligadas ao mar
Em 2006 foi dado iniacutecio agrave instalaccedilatildeo em Lisboa da Agecircncia Europeia de
Seguranccedila Mariacutetima que desempenha um papel fundamental no que se refere
aos aspectos relativos agrave recolha registo e avaliaccedilatildeo de dados teacutecnicos nos
domiacutenios da seguranccedila do traacutefego e da poluiccedilatildeo marinha
72
Em 2007 durante a Presidecircncia Portuguesa do Conselho Europeu
procedeu-se agrave organizaccedilatildeo de uma Conferecircncia Ministerial sobre uma Poliacutetica
Mariacutetima para a Uniatildeo Europeia
A submissatildeo da proposta de extensatildeo da plataforma continental de
Portugal para aleacutem das 200 milhas naacuteuticas decorreu a 11 de Maio de 2009
junto de Hariharan Pakshi Rajan da CLPC da ONU
A primeira apresentaccedilatildeo da mesma proposta de extensatildeo da plataforma
continental portuguesa teve lugar no dia 13 de Abril de 2010 na sede das ONU
em Nova Iorque
Refiro mais uma vez que Portugal conjuntamente com Franccedila e Espanha foram
dos primeiros Estados-membros a dar contributos para o Livro Verde
Relevo ainda que a centralidade e a dimensatildeo atlacircntica dos espaccedilos mariacutetimos sob
soberania ou jurisdiccedilatildeo nacional reforccedilam o papel-chave que Portugal podedeve
desempenhar no quadro da Uniatildeo Europeia como elemento de ligaccedilatildeo privilegiada aos
Paiacuteses Africanos de Liacutengua Oficial Portuguesa (PALOP) bem como ao continente
americano e ao resto do Mundo A posiccedilatildeo geoestrateacutegica do espaccedilo mariacutetimo sob
soberania ou jurisdiccedilatildeo nacional impotildee ainda importantes desafios e responsabilidades
nas aacutereas da defesa nacional seguranccedila e vigilacircncia imigraccedilatildeo ilegal combate agrave
poluiccedilatildeo apoio agrave navegaccedilatildeo e salvaguarda da vida humana no mar mas engloba
tambeacutem um conjunto de oportunidades de desenvolvimento econoacutemico e de ligaccedilatildeo
entre as vaacuterias regiotildees do territoacuterio nacional
A mais-valia para Portugal da ENM eacute tornar o mar um projecto nacional Para
tal deve apostar numa abordagem integrada da governaccedilatildeo dos assuntos do mar que
pela primeira vez congregue os esforccedilos das diferentes tutelas dos agentes econoacutemicos
da comunidade cientiacutefica das organizaccedilotildees natildeo governamentais e tambeacutem da sociedade
civil Deste modo co-responsabiliza todos os actores para o aproveitamento do mar
como factor diferenciador do desenvolvimento econoacutemico e social valorizando e
preservando este valioso patrimoacutenio
O Estado tem um papel facilitador e promotor de condiccedilotildees de desenvolvimento
econoacutemico e social mas cabe agraves empresas e agrave sociedade civil o papel principal na
concretizaccedilatildeo dos objectivos que satildeo a razatildeo de ser da ENM A obtenccedilatildeo de resultados
tangiacuteveis soacute seraacute perceptiacutevel em algum casos a meacutediolongo prazo exigindo por isso
73
uma aposta raacutepida mas persistente nas aacutereas ligadas agrave educaccedilatildeo capacitaccedilatildeo de meios
humanos criaccedilatildeo e optimizaccedilatildeo de infra-estruturas e investigaccedilatildeo e desenvolvimento
51 Princiacutepios e objectivos
A proclamaccedilatildeo do mar como principal factor diferenciador e de identidade
nacional assumindo-o como prioridade estrateacutegica e um projecto nacional reclama a
existecircncia de uma visatildeo simultaneamente ambiciosa e realista crediacutevel e atraente
Pretendem-se criar as condiccedilotildees e mecanismos que possibilitem aos diversos
agentes desenvolver de forma equilibrada e articulada as muacuteltiplas actividades ligadas
ao mar tendo em vista a promoccedilatildeo da qualidade do ambiente marinho do crescimento
econoacutemico e a criaccedilatildeo de novos empregos e oportunidades122
A ENM permite a organizaccedilatildeo de planos de acccedilatildeo orientados para a mobilizaccedilatildeo a
educaccedilatildeo e a capacitaccedilatildeo de toda a sociedade portuguesa e dos seus parceiros
internacionais A ENM visa o aproveitamento e utilizaccedilatildeo sustentaacutevel e responsaacutevel do
oceano e das zonas costeiras e criaccedilatildeo de ferramentas de gestatildeo que tornem os processos
transparentes rigorosos e crediacuteveis
52 Pilares estrateacutegicos
As razotildees que tornam a formulaccedilatildeo a implementaccedilatildeo e a avaliaccedilatildeo da ENM um
enorme desafio satildeo de vaacuteria ordem a saber
- Em primeiro lugar a reconhecida falta de conhecimento de compreensatildeo e de
percepccedilatildeo quer devido agrave complexidade dos ecossistemas oceacircnicos e costeiros e do real
impacto e inerentes consequecircncias das actividades humanas quer devido agrave difiacutecil
avaliaccedilatildeo do potencial das actividades econoacutemicas que dificultam a tomada de decisatildeo
122
ENM 2006-2016 p 10
74
- Em segundo lugar a dificuldade verificada na partilha de responsabilidade pela
gestatildeo do oceano como recurso comum e espaccedilo tridimensional devido agrave
interdependecircncia e aos conflitos que se verificam entre as vaacuterias utilizaccedilotildees interesses
jurisdiccedilotildees e processos de gestatildeo
- Em terceiro lugar o oceano e as zonas costeiras representam hoje a niacutevel
mundial uma grande oportunidade para novas actividades econoacutemicas que face aos
avanccedilos tecnoloacutegicos recentes comeccedilam a orientar o seu interesse e acccedilatildeo para o mar
obrigando a novas formas de gestatildeo e de defesa e salvaguarda activa dos interesses
nacionais
Para que Portugal aproveite as oportunidades existentes e mitigue as dificuldades
as linhas orientadoras da ENM assentam em trecircs pilares estrateacutegicos
Estes satildeo os factores criacuteticos de sucesso ou seja aquilo que se torna indispensaacutevel
assegurar para valorizar definitivamente a importacircncia do mar como elemento
diferenciador projectando-o no futuro como um dos principais motores de
desenvolvimento do Paiacutes
A construccedilatildeo de uma economia mariacutetima proacutespera ao serviccedilo da qualidade de vida
e do bem-estar social e respeitando o ambiente tem de ser suportada pelos seguintes
pilares estrateacutegicos123
O conhecimento
O planeamento e o ordenamento espaciais
A promoccedilatildeo e a defesa activas dos interesses nacionais
No que concerne ao conhecimento utilizado aqui no seu sentido mais lato soacute
atraveacutes de uma aposta coerente e sustentada na investigaccedilatildeo cientiacutefica e no
desenvolvimento de novas tecnologias aplicadas ao oceano e agraves zonas costeiras eacute
possiacutevel criar uma base soacutelida para as decisotildees de governaccedilatildeo numa perspectiva de
desenvolvimento sustentaacutevel e de gestatildeo integrada Adicionalmente a formaccedilatildeo a
educaccedilatildeo a sensibilizaccedilatildeo a difusatildeo da informaccedilatildeo e o respectivo acesso bem como o
uso de indicadores objectivos de suporte agraves vaacuterias poliacuteticas sectoriais e intersectoriais
satildeo certamente os melhores factores de credibilidade e dinamizaccedilatildeo do investimento
puacuteblico e privado nas actividades relacionadas com o mar
123
ENM 2006-2016 p 12
75
O planeamento e o ordenamento espaciais satildeo as ferramentas de governaccedilatildeo
promovidas pelas entidades competentes indispensaacuteveis para assegurar uma visatildeo de
conjunto assente nos princiacutepios do desenvolvimento sustentaacutevel da precauccedilatildeo e da
abordagem ecossisteacutemica atraveacutes do levantamento e ordenamento de todas as
utilizaccedilotildees existentes e futuras permitindo dar suporte a uma gestatildeo verdadeiramente
integrada progressiva e adaptativa do oceano e da zona costeira e do desenvolvimento
das actividades associadas
A promoccedilatildeo e a defesa activas dos interesses nacionais obtecircm-se pelo
envolvimento empenhado e competente no acircmbito das relaccedilotildees bilaterais e
multilaterais prosseguidas atraveacutes da participaccedilatildeo cooperaccedilatildeo e contribuiccedilatildeo proacute-
activas nos diversos fora internacionais Mais uma vez estas acccedilotildees tecircm de ser
suportadas por uma estrutura de coordenaccedilatildeo que garanta a articulaccedilatildeo a niacutevel nacional
nas suas vertentes diplomaacutetica poliacutetica econoacutemica social ambiental cientiacutefica
tecnoloacutegica de defesa nacional e seguranccedila reforccedilando a imagem a soberania e a
identidade nacionais
O eventual insucesso das medidas ou acccedilotildees associadas a qualquer um destes trecircs
pilares estrateacutegicos condicionaraacute de forma significativa o desenvolvimento efectivo de
qualquer poliacutetica ligada ao oceano que integre de forma sustentaacutevel as vertentes
econoacutemica social e ambiental
53 Acccedilotildees e medidas
O estabelecimento e aplicaccedilatildeo de acccedilotildees e medidas que materializem os trecircs
pilares estrateacutegicos prioritaacuterios eacute fundamental para o sucesso das actividades
econoacutemicas onde se cruzam e renovam sectores tradicionais e sectores em
desenvolvimento como suporte essencial para a criaccedilatildeo de riqueza e melhoria do
crescimento coesatildeo social e qualidade de vida124
124
ENM 2006-2016 p 17
76
Soacute com uma ENM assente nestes alicerces seraacute possiacutevel alcanccedilar os objectivos
preconizados nas diferentes poliacuteticas nacionais nomeadamente nas seguintes aacutereas
Transportes
Apostando na competitividade dos portos nacionais e fomentando o transporte
mariacutetimo enquanto modo de transporte menos poluente Neste contexto importa
promover a articulaccedilatildeo do transporte mariacutetimo com outros modos de transporte
acrescentando valor atraveacutes de cadeias logiacutesticas bem como atraveacutes da implementaccedilatildeo
de instrumentos de normalizaccedilatildeo e simplificaccedilatildeo de procedimentos tais como a janela
uacutenica portuaacuteria125
Energia
Apostando nas energias renovaacuteveis contribuindo para a reduccedilatildeo da dependecircncia
energeacutetica externa e da emissatildeo de gases com efeito de estufa aproveitando os recursos
existentes no mar agilizando os procedimentos de licenciamento mobilizando e
atraindo investimento privado e apostando nas inovaccedilotildees tecnoloacutegicas que permitam
responder aos desafios da competitividade deste sector e ao desenvolvimento de uma
induacutestria que produza bens equipamentos e serviccedilos que potenciem o emprego as
exportaccedilotildees de equipamentos e tecnologia e a reconversatildeo de induacutestrias como por
exemplo as metalo-mecacircnicas e os estaleiros navais assegurando tambeacutem o melhor
conhecimento das aptidotildees geoloacutegicas do deep offshore nomeadamente para fins
energeacuteticos com origem foacutessil
Aquicultura e pescas
Assegurando a sustentabilidade da exploraccedilatildeo de recursos criando medidas que
tornem mais justa a distribuiccedilatildeo de rendimentos na cadeia de valor diversificando as
actividades econoacutemicas das comunidades piscatoacuterias implementando aacutereas marinhas
protegidas recuperando ecossistemas degradados reforccedilando o sistema de recifes
125
A janela uacutenica portuaacuteria garante que os agentes econoacutemicos passem a relacionar-se com cada porto
atraveacutes de um uacutenico canal electroacutenico uma espeacutecie de balcatildeo uacutenico virtual tendo a possibilidade de tratar
desta forma todos os processos administrativos para o despacho de mercadorias e navios Desta forma
ldquosimplifica-se os processos para melhor servir as empresasrdquo conforme referiu o ex-secretaacuterio de Estado
dos Assuntos Fiscais De acordo com Joatildeo Amaral Tomaz em 2005 ldquo99 por cento das mercadorias
importadas em Portugal chegaram pela via mariacutetimardquo O valor representa ldquoa entrada de 15000 navios o
que em termos de processo administrativo corresponde a 15 formulaacuterios e a cerca de 100 paacuteginas por
naviordquo No total satildeo quase ldquoum milhatildeo e quinhentas mil paacuteginas de papel que deveratildeo ser eliminadasrdquo
77
artificiais fomentando a investigaccedilatildeo e desenvolvimento em sistemas de aquicultura
offshore garantindo a sua rentabilidade econoacutemica e sustentabilidade ambiental
Defesa nacional e seguranccedila
Clarificando as atribuiccedilotildees aacutereas de intervenccedilatildeo e coordenaccedilatildeo das entidades do
Sistema de Autoridade Mariacutetima Intervindo na prevenccedilatildeo e combate agrave poluiccedilatildeo na
seguranccedila da navegaccedilatildeo e protecccedilatildeo e salvaguarda da vida humana no mar no acircmbito
dos sistemas nacionais para a busca e salvamento na fiscalizaccedilatildeo mariacutetima na
mitigaccedilatildeo de riscos naturais e no apoio agraves populaccedilotildees no acircmbito do Serviccedilo Nacional de
Protecccedilatildeo Civil
Ciecircncia tecnologia e inovaccedilatildeo
Investindo em recursos humanos qualificados projectos e infra-estruturas de
ciecircncia e tecnologia associadas ao oceano optimizando os recursos existentes
fomentando e reforccedilando a cooperaccedilatildeo e partilha de meios entre instituiccedilotildees e
participando activamente nas redes internacionais
Ambiente e conservaccedilatildeo da natureza
Assegurando o bom funcionamento e manutenccedilatildeo dos ecossistemas marinhos e
costeiros promovendo o conhecimento e protecccedilatildeo da biodiversidade marinha
recuperando habitats degradados e salvaguardando as aacutereas essenciais para a
conservaccedilatildeo e gestatildeo dos recursos vivos e natildeo vivos nomeadamente atraveacutes da criaccedilatildeo
de uma rede de aacutereas marinhas protegidas assegurando o combate e controlo da
poluiccedilatildeo incluindo o efeito das actividades humanas realizadas em meio terrestre sobre
o meio marinho combatendo e prevenindo a introduccedilatildeo de espeacutecies autoacutectones e
assegurando a monitorizaccedilatildeo global do estado de sauacutede do ambiente marinho
Educaccedilatildeo cultura e sensibilizaccedilatildeo
Inserindo nos programas escolares o tema oceano em todas as suas dimensotildees
promovendo a mediatizaccedilatildeo das actividades mariacutetimas junto da sociedade apostando
nos centros de interpretaccedilatildeo aquaacuterios oceanaacuterios e museus dedicados ao mar e
fomentando o ensino naval e naacuteutico a valorizaccedilatildeo do patrimoacutenio cultural subaquaacutetico e
a educaccedilatildeo ambiental
78
Turismo lazer desportos e naacuteutica de recreio
Valorizando o mar como diferenciador da oferta turiacutestica e estimulando as
actividades associadas ao mar que permitam a ocupaccedilatildeo de tempos livres o lazer e o
desporto desenvolvendo condiccedilotildees para um faacutecil e natural acesso ao mar promovendo
o turismo naacuteutico e oceacircnico atraveacutes da aposta na organizaccedilatildeo de provas desportivas
internacionais de grande prestiacutegio e em actividades mariacutetimo-turiacutesticas como a vela o
remo a canoagem o surf o mergulho e a observaccedilatildeo de aves e cetaacuteceos fomentando o
turismo associado agrave actividade da pesca tirando partido das importantes aacutereas naturais
classificadas existentes na nossa costa onde assumem um importante papel as Regiotildees
Autoacutenomas dos Accedilores e da Madeira para dinamizar o turismo de natureza
promovendo o turismo de cruzeiros jaacute em franca expansatildeo no nosso paiacutes
Poliacutetica externa
Promovendo a centralidade atlacircntica de Portugal e as relaccedilotildees externas com outros
continentes nomeadamente as relaccedilotildees transatlacircnticas a desenvolver no acircmbito da
comunidade dos PALOP afirmando Portugal como o paiacutes mariacutetimo da Europa e
defendendo os interesses nacionais em todos os fora internacionais relevantes
Foram identificadas trecircs acccedilotildees prioritaacuterias126
que tendo em consideraccedilatildeo a
exigecircncia do contexto actual satildeo consideradas como sendo de implementaccedilatildeo de curto
prazo
Criar uma comissatildeo de coordenaccedilatildeo interministerial para a
implementaccedilatildeo da ENM E assim a articulaccedilatildeo intergovernamental dos assuntos
do mar seraacute desta forma garantida de modo permanente mantendo-se as
competecircncias e aacutereas de acccedilatildeo vertical e sectorial de cada tutela
Melhorar a articulaccedilatildeo e coordenaccedilatildeo das posiccedilotildees nacionais relativas
aos assuntos do mar nos diversos fora internacionais Esta eacute uma acccedilatildeo central
para afirmar Portugal como um paiacutes que defende de forma coerente os seus
interesses e assume a lideranccedila dos dossiers internacionais no que respeita aos
assuntos do mar
Assegurar o acompanhamento teacutecnico diplomaacutetico e poliacutetico da
discussatildeo puacuteblica sobre o Livro Verde da Poliacutetica Mariacutetima Europeia e do
126
ENM 2006-2016 p18
79
processo subsequente durante o qual eacute fundamental que o Paiacutes se mobilize de
forma a garantir que Portugal se mantenha na vanguarda da nova abordagem aos
assuntos do mar ao niacutevel europeu atraveacutes de uma participaccedilatildeo esclarecida
eficaz e abrangente
Atenta agrave natureza marcadamente horizontal da ENM definiram-se um conjunto de
acccedilotildees estrateacutegicas que identificam medidas transversais que contribuem para criar
condiccedilotildees favoraacuteveis para o melhor aproveitamento do mar de forma sustentaacutevel A
implementaccedilatildeo destas acccedilotildees articuladas com as restantes estrateacutegias nacionais
permitiraacute operacionalizar os pilares estrateacutegicos definidos anteriormente acrescentando
valor agraves acccedilotildees actualmente em curso e contribuindo para o objectivo central de definir
o mar como um ldquoprojecto nacionalrdquo
Foram assim seleccionadas oito acccedilotildees estrateacutegicas127
a saber
A sensibilizaccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo da sociedade para a importacircncia do mar
A promoccedilatildeo do ensino e divulgaccedilatildeo nas escolas de actividades ligadas ao
mar
A promoccedilatildeo de Portugal como um centro de excelecircncia de investigaccedilatildeo
das ciecircncias do mar da Europa
O planeamento e ordenamento espacial das actividades
A protecccedilatildeo e recuperaccedilatildeo dos ecossistemas marinhos
O fomento da economia do mar
A aposta nas novas tecnologias aplicadas agraves actividades mariacutetimas
A defesa nacional a seguranccedila a vigilacircncia e a protecccedilatildeo dos espaccedilos
mariacutetimos sob soberania ou jurisdiccedilatildeo nacional
A proposta da Estrateacutegia Nacional para o Mar foi aprovada na generalidade em
Conselho de Ministros a 4 de Outubro de 2006 A Estrateacutegia Nacional para o Mar
assume-se como um documento dinacircmico aberto aos ajustamentos que a evoluccedilatildeo das
suas condicionantes e a avaliaccedilatildeo da sua execuccedilatildeo vierem a recomendar Vigora no
periacuteodo de 2006 a 2016 ano em que deveraacute ser sujeita a uma revisatildeo global com base
num processo de avaliaccedilatildeo e discussatildeo puacuteblica
127
ENM 2006-2016 pp 22-23
80
Relativamente agrave ENM tenho a comentar que depois da anaacutelise efectuada reparei na
inexistecircncia de um programa de acccedilatildeo efectivo (prazos orccedilamentaccedilatildeo parcerias
instrumentos financeiros ao dispocircr etc) anexo agrave poliacutetica nacional para o mar Natildeo
obstante a ratificaccedilatildeo do Conselho de Ministros da ENM esta Estrateacutegia sugere que
cabe agrave sociedade civil e agrave iniciativa privada o papel principal na concretizaccedilatildeo dos
objectivos da Estrateacutegia sendo o Estado relegado para um papel de mero facilitador
Satildeo de facto os stakeholders os principais responsaacuteveis pela implementaccedilatildeo da
Estrateacutegia mas teraacute de ser o Estado a criar as condiccedilotildees favoraacuteveis para o iniacutecio deste
novo ciclo A ver pelas oito acccedilotildees estrateacutegicas propostas a sua boa execuccedilatildeo tem no
Estado o seu principal responsaacutevel Soacute com um Estado determinado e perseverante a
acccedilatildeo estrateacutegica pode ser verdadeiramente ldquolanccedilada ao marrdquo
No entanto percebemos que nos discursos oficiais nomeadamente de Sua
Excelecircncia o Presidente da Repuacuteblica Professor Aniacutebal Cavaco Silva os assuntos do
mar estatildeo na ordem do dia conforme constatei nos excertos do seu discurso128
na
Assembleia da Repuacuteblica durante a 36ordf Sessatildeo Comemorativa do 25 de Abril de 2010
(hellip)ldquoTemos de repensar a nossa relaccedilatildeo com o mar Repensar o modo como
exploramos as oportunidades que ele nos oferece Importa afirmar a ideia de que o mar
eacute um activo econoacutemico maior do nosso futurordquo (hellip)rdquoAgraves vantagens decorrentes da nossa
geografia da Histoacuteria e da imagem externa do Paiacutes podemos ainda juntar as
estrateacutegias e poliacuteticas para o mar desenhadas nos uacuteltimos seis anos em Portugal e na
proacutepria Uniatildeo Europeia Natildeo eacute necessaacuterio fazer mais estudos e relatoacuterios Basta agir
em cumprimento daquelas estrateacutegiasrdquo (hellip) ldquoEacute essencial que criemos condiccedilotildees e
incentivemos os agentes econoacutemicos a investir no conjunto dos sectores que ligam
economicamente Portugal ao marhellipPortugal e os Portugueses precisam de desiacutegnios
que lhes decircem mais coesatildeo mais auto-estima e mais propoacutesito de existir O mar eacute
certamente um delesrdquo (hellip)
128
Este discurso pode ser consultado na integra no site oficial da Presidecircncia da Repuacuteblica Portuguesa
httpwwwpresidenciaptidc=22ampidi=39445
81
54 O Hypercluster da economia do mar
ldquoUm domiacutenio de potencial estrateacutegico para o desenvolvimento da economia
portuguesardquo
Dentro das poliacuteticas mariacutetimas nacionais natildeo posso deixar de enaltecer o estudo de
economia poliacutetica realizado pela equipa multi-disciplinar da SaeR ndash Sociedade de
avaliaccedilatildeo estrateacutegica e risco Lda ndash denominado Hypercluster da Economia do Mar129
sob a coordenaccedilatildeo do ex-ministro das Financcedilas Professor Ernacircni Lopes por iniciativa
da Associaccedilatildeo Comercial de Lisboa Trata-se de uma obra de referecircncia cuja leitura
considero indispensaacutevel a todos aqueles (decisores poliacuteticos empresaacuterios acadeacutemicos e
sociedade civil) que estatildeo empenhados em deixar aos seus descendentes um paiacutes
diferenciado internacionalmente relevante e seguramente mais proacutespero
O estudo propriamente dito estaacute dividido em trecircs partes primeira parte ndash a
fundamentaccedilatildeo segunda parte ndash a avaliaccedilatildeo estrateacutegica das componentes e a visatildeo de
conjunto terceira parte ndash a estrateacutegia e os planos de acccedilatildeo
O estudo confronta-nos com o facto amplamente demonstrado de que a economia
portuguesa estaacute a sofrer uma descontinuidade nos seus padrotildees de modernizaccedilatildeo e nos
seus modelos de desenvolvimento e a anaacutelise prospectiva da economia nacional conduz
a um cenaacuterio espontacircneo de definhamento e agrave necessidade de se caminhar para um
cenaacuterio de afirmaccedilatildeo estrateacutegica para Portugal
O hypercluster configura-se como simultaneamente uma forccedila propulsora e um
catalisador capaz de organizar e dinamizar um conjunto de sectores com elevado
potencial de crescimento e inovaccedilatildeo e capacidade para atraiacuterem recursos e
investimentos de qualidade nomeadamente externos
Segundo o estudo a economia do mar representa hoje apenas 2 do PIB e gera
cerca de 75000 empregos o que eacute considerado muito abaixo do seu potencial face ateacute a
comparaccedilotildees internacionais com paiacuteses ou regiotildees proacuteximas O efeito multiplicador de
28 configura estas actividades como geradoras fortes de valor acrescentado admitindo-
129
Hypercluster do Mar - httpwwwsaerptupUPLOADbin2_imagem_0955656001242642284-657pdf
82
se que possam vir a representar em 2025 directamente cerca de 45 do PIB valor
que sobe para 10 a 12 englobando os valores indirectos
Haveraacute assim que criar nas palavras inspiradoras do Professor Ernacircni Lopes um
novo desiacutegnio nacional tornar Portugal num actor mariacutetimo relevante a niacutevel global
na viragem do I para o II quartel do seacuteculo XXI130
O estudo propotildee por fim um masterplan distribuiacutedo por quatro plataformas
diferentes de planos e acccedilotildees a saber
1) Planos prioritaacuterios
Englobando os componentes com maiores condiccedilotildees de atractividade e
competitividade e capacidades para servirem de motores catalisadores e formatadores
sisteacutemicos do conjunto (portos logiacutestica amp transportes mariacutetimos naacuteutica de recreio amp
turismo naacuteutico pesca aquicultura amp induacutestria do pescado visibilidade comunicaccedilatildeo
amp cultura mariacutetima e produccedilatildeo de pensamento estrateacutegico)
2) Planos de sustentaccedilatildeo imediata
Englobando os componentes fundamentais para o bom funcionamento da ldquolinha da
frenterdquo (serviccedilos mariacutetimos construccedilatildeo amp reparaccedilatildeo navais e obras mariacutetimas)
3) Planos de alimentaccedilatildeo
Englobando os componentes criadores de consistecircncia e sustentabilidade a longo
prazo com papel regenerador e inovador do conjunto (investigaccedilatildeo cientiacutefica inovaccedilatildeo
amp desenvolvimento ensino amp formaccedilatildeo defesa amp seguranccedila no mar e ambiente amp
conservaccedilatildeo da natureza)
4) Plano meta-oceano (prospectivo e de longo prazo)
O estudo propotildee tambeacutem algumas medidas consideradas determinantes no caminho
criacutetico para o sucesso da implementaccedilatildeo deste projecto Como por exemplo a criaccedilatildeo do
Foacuterum Empresarial da Economia do Mar131
(FEM)
130
Referecircncia feita no website da SaeR pelo coordenador no estudo sobre o Hypercluster da economia do
Mar Professsor Doutor Ernacircni Lopes
httpwwwsaerptindexphplop=conteudoampop=f7177163c833dff4b38fc8d2872f1ec6ampid=c24cd76e1ce
41366a4bbe8a49b02a028 131
Foacuterum Empresarial da Economia do Mar - httpwwwfempt
83
O FEM conheceu recentemente a sua constituiccedilatildeo estatutaacuteria conta no momento
com o Eng Fernando Ribeiro e Castro na qualidade de secretaacuterio-geral e estaacute
organizado de acordo com as componentes da economia do mar do hypercluster
apresentado
Por conseguinte originou a formaccedilatildeo de vaacuterios grupos de trabalho com o objectivo
principal de concretizar as linhas de acccedilatildeo previstas nos planos prioritaacuterios pondo
assim em marcha o Hypercluster da Economia do Mar em Portugal Actualmente
fazem parte do FEM cinquenta e oito empresas nacionais
55 Plano de Ordenamento do Espaccedilo Mariacutetimo (POEM)132
The problems of ocean space are closely interrelated and need to be considered as
a whole 133
O ordenamento do espaccedilo mariacutetimo eacute um instrumento fundamental da PMIE
Permite agraves autoridades puacuteblicas e agraves partes interessadas coordenarem a acccedilatildeo
respectiva e optimiza a utilizaccedilatildeo do espaccedilo marinho beneficiando o desenvolvimento
econoacutemico do meio marinho134
No acircmbito do Plano de Acccedilatildeo da ENM Resoluccedilatildeo do Conselho de Ministros nordm
1632006 de 12 de Dezembro foi aprovado um Programa de Acccedilatildeo que integra entre
outros o ldquoPlaneamento e ordenamento do espaccedilo e actividades mariacutetimasrdquo que prevecirc o
desenvolvimento de um POEM Este plano tem como objectivo ordenar os usos e
actividades do espaccedilo mariacutetimo presentes e futuros em estreita articulaccedilatildeo com a
132
Plano de Ordenamento do Espaccedilo Mariacutetimo - httppoeminagpt 133
ldquoOs problemas do espaccedilo mariacutetimo estatildeo estreitamente inter-relacionados e devem ser considerados
como um todordquo Preacircmbulo da Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas sobre o Direito do Mar (UNCLOS)
Adoptada em 1982 entrou em vigor em 1994 A Comunidade Europeia e todos os Estados-Membros da
UE satildeo Partes na UNCLOS 134
COM (2008) 791 final ldquoRoteiro para o ordenamento do espaccedilo mariacutetimo definiccedilatildeo de princiacutepios
comuns na EUrdquo p 2
84
gestatildeo da zona costeira garantindo a utilizaccedilatildeo sustentaacutevel dos recursos a sua
preservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo potenciando a utilizaccedilatildeo eficiente do espaccedilo marinho no
quadro de uma abordagem integrada e intersectorial e fomentando a importacircncia
econoacutemica ambiental e social do mar
Tendo presente que os instrumentos de gestatildeo territorial existentes a niacutevel nacional
tecircm um enfoque essencialmente na vertente terrestre natildeo contemplando a vertente
mariacutetima ou natildeo considerando o acircmbito multidimensional do mar isto eacute o fundo a
coluna de aacutegua a superfiacutecie o litoral e a atmosfera importa encontrar forma de regular
esta mateacuteria de forma coerente e articulada
Assim atraveacutes do Despacho nordm 322772008 da CIAM de 18 de Dezembro e
considerando o disposto no nordm 2 do artigo 38ordm do Decreto-Lei nordm 38099 de 22 de
Setembro na redacccedilatildeo dada pelo Decreto-Lei nordm 462009 de 20 de Fevereiro foi
determinada a elaboraccedilatildeo do Plano de Ordenamento do Espaccedilo Mariacutetimo
O POEM como plano sectorial deveraacute estabelecer e justificar as opccedilotildees e os
objectivos sectoriais com incidecircncia territorial e definir normas de execuccedilatildeo integrando
as peccedilas graacuteficas necessaacuterias agrave representaccedilatildeo da respectiva expressatildeo territorial e seraacute
acompanhado por um relatoacuterio que procede ao diagnoacutestico da situaccedilatildeo territorial sobre a
qual interveacutem e agrave fundamentaccedilatildeo teacutecnica das opccedilotildees e objectivos estabelecidos
O desenvolvimento deste plano considera como documento orientador a
Comunicaccedilatildeo da Comissatildeo Europeia denominado ldquoRoteiro para o ordenamento do
espaccedilo mariacutetimordquo
Visatildeo
ldquoEspaccedilo Mariacutetimo diferenciador da identidade nacional sustentaacutevel ordenado e
seguro suporte de actividades socioeconoacutemicas e potenciador de recursos assente no
conhecimento na inovaccedilatildeo e na especificidade geograacuteficardquo
Missatildeo
ldquoAfirmar a importacircncia econoacutemica ambiental e social do Mar assente na
promoccedilatildeo do conhecimento dos recursos naturais e das actividades existentes e
potenciais e no ordenamento integrado e gestatildeo adaptativa dos usos que se desenvolvem
no espaccedilo mariacutetimo em estreita articulaccedilatildeo com a gestatildeo da zona costeira com o
85
normativo internacional comunitaacuterio e nacional e demais instrumentos de planeamento
sectorial e de gestatildeo do territoacuterio envolvendo os diferentes actores e agentesrdquo
Discussatildeo Puacuteblica
A Proposta do Plano de Ordenamento do Espaccedilo Mariacutetimo (POEM) e o respectivo
Relatoacuterio Ambiental encontram-se concluiacutedos tecnicamente e aprovados pela respectiva
Equipa Multidisciplinar Nos termos previstos do artigo 40ordm do Decreto-Lei nordm 38099
de 22 de Setembro na sua actual redacccedilatildeo faz-se saber que a Discussatildeo Puacuteblica do
POEM decorre entre o periacuteodo de 29 de Novembro de 2010 a 22 de Fevereiro de 2011
56 Programa ldquoPolis do Litoralrdquo
ldquoOperaccedilotildees integradas de requalificaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo da orla costeirardquo
Como verificamos no Livro Verde as zonas costeiras assumem uma importacircncia
estrateacutegica em termos ambientais econoacutemicos sociais e culturais
A resoluccedilatildeo dos seus problemas ndash designadamente o controlo dos processos
erosivos da ocupaccedilatildeo urbana de zonas de risco da destruiccedilatildeo de habitats e a perda de
biodiversidade e do decliacutenio das actividades econoacutemicas ndash revela-se prioritaacuteria no
acircmbito de uma poliacutetica de desenvolvimento sustentaacutevel implicando um equiliacutebrio e
interacccedilatildeo indispensaacuteveis entre a conservaccedilatildeo dos recursos naturais e o
desenvolvimento socioeconoacutemico de cada regiatildeo
No acircmbito da poliacutetica integrada para as zonas costeiras o XVII Governo
Constitucional determinou em Resoluccedilatildeo do Conselho de Ministros 902008 de 3 de
Junho a realizaccedilatildeo de um conjunto de operaccedilotildees de requalificaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo de
zonas de risco e de aacutereas naturais degradadas situadas no litoral em espaccedilos de
intervenccedilatildeo prioritaacuteria designadas Polis Litoral
86
Os objectivos impliacutecitos agraves respectivas intervenccedilotildees passam pelas seguintes
medidas
Proteger e requalificar a zona costeira tendo em vista a defesa da costa a
promoccedilatildeo da conservaccedilatildeo da natureza e biodiversidade a renaturalizaccedilatildeo e a
reestruturaccedilatildeo de zonas lagunares e a preservaccedilatildeo do patrimoacutenio natural e
paisagiacutestico no acircmbito de uma gestatildeo sustentaacutevel
Prevenir e defender pessoas bens e sistemas de riscos naturais
Promover a fruiccedilatildeo puacuteblica do litoral suportada na requalificaccedilatildeo dos
espaccedilos balneares e do patrimoacutenio ambiental e cultural
Potenciar os recursos ambientais como factor de competitividade atraveacutes
da valorizaccedilatildeo das actividades econoacutemicas ligadas aos recursos do litoral e
associando-as agrave preservaccedilatildeo dos recursos naturais
De momento estatildeo identificadas quatro aacutereas territoriais ldquopolisrdquo a saber litoral do
Norte135
litoral da Ria de Aveiro136
litoral da Ria Formosa137
e o litoral da Costa
Vicentina Abrangem no seu conjunto 308 km de frente costeira 220 km de frentes
lagunares e estuarinas a financiar pelo Estado municiacutepios entidades privadas e com
recurso a fundos comunitaacuterios no acircmbito do Quadro de Referecircncia Estrateacutegico Nacional
(QREN) totalizando um orccedilamento global na ordem dos 3225 milhotildees de euros
135
wwwpolislitoralnortept 136
wwwpolisriadeaveiropt 137
wwwpolislitoralriaformosapt
87
Cap VI ndash Agenda Regional do Mar (Norte de Portugal)
61 Pacto regional para a competitividade da regiatildeo ldquoNorte 2015rdquo
A regiatildeo Norte de Portugal possui uma grande tradiccedilatildeo mariacutetima e uma forte
ligaccedilatildeo ao mar que conheceu diferentes formas de expressatildeo ao longo dos tempos Na
eacutepoca das primeiras descobertas (a partir do seacuteculo XV) o Porto e a sua regiatildeo
participaram activamente na construccedilatildeo de embarcaccedilotildees e no fornecimento de homens
para incorporar as respectivas guarniccedilotildees Nos seacuteculos seguintes o comeacutercio mariacutetimo e
o aparecimento de uma burguesia comercial com intensas relaccedilotildees com o norte da
Europa constituiacuteram a base de desenvolvimento da economia desta cidade e sua regiatildeo
No final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX o transporte mariacutetimo possibilitou a
saiacuteda de importantes fluxos migratoacuterios em direcccedilatildeo ao Brasil e mais recentemente a
pesca (em especial a pesca do bacalhau) e a induacutestria transformadora marcaram em
termos sociais e econoacutemicos os espaccedilos litorais da regiatildeo
No presente assiste-se ao aparecimento de novas actividades emergentes com forte
ligaccedilatildeo ao mar nos campos econoacutemico cientiacutefico e do lazer
A regiatildeo Norte deteacutem um importante patrimoacutenio natural (por exemplo rede natura
do Litoral Norte) e cultural tangiacutevel (por exemplo arquitectura militar civil e religiosa)
e intangiacutevel (tradiccedilotildees e costumes) ao longo da sua zona costeira com destaque para os
municiacutepios de Espinho Porto Matosinhos Vila do Conde Poacutevoa de Varzim e Viana do
Castelo Este patrimoacutenio estaacute disperso carecendo de valorizaccedilatildeo e de promoccedilatildeo A
regiatildeo apresenta ainda um conjunto de centros vocacionados para a divulgaccedilatildeo
cientiacutefica e da temaacutetica mar de que constituem exemplos a Estaccedilatildeo Litoral da Aguda138
em Gaia o projecto Rosa-dos-Ventos em Vila do Conde a Lancha Poveira 139
na Poacutevoa
de Varzim a Fundaccedilatildeo Gil Eannes140
em Viana do Castelo e o AquaMuseu do rio
Minho141
em Vila Nova de Cerveira entre outros
138
Estaccedilatildeo Litoral da Aguda - httpwwwfundacao-elapt 139
Lancha Poveira - httpwwwpovoadevarzimcomptlanchapoveiraphp 140
Fundaccedilatildeo Gil Eannes - wwwfundacaogileannespt 141
AquaMuseu do rio Minho- httpaquamuseucm-vncerveirapt
88
O Conselho Regional e a Comissatildeo de Coordenaccedilatildeo e Desenvolvimento Regional
do Norte (CCDR-N) definiram uma estrateacutegia de desenvolvimento regional designada
por ldquoNORTE 2015 ndash Uma Regiatildeo Um Futuro Uma Estrateacutegiardquo e dentro desta tem
vindo a promover um conjunto de agendas temaacuteticas consideradas prioritaacuterias
constituindo o ldquopacto regional para a competitividade da regiatildeo do Norterdquo Entre elas e
relevante para o trabalho em questatildeo eacute a Agenda Regional do Mar - Plano de Acccedilatildeo
ldquoMarrdquo
A Agenda Regional do Mar e o seu plano de acccedilatildeo tem como objectivo geral
ldquovalorizar o recurso mar atraveacutes do desenvolvimento de um conjunto de actividades de
produtos e de serviccedilos que promovam o crescimento econoacutemico o emprego e a
internacionalizaccedilatildeo da regiatildeo apostando no reforccedilo da Investigaccedilatildeo Desenvolvimento
e Inovaccedilatildeo (IampDampI) marinha da formaccedilatildeo do empreendedorismo e da cooperaccedilatildeo de
forma a contribuir em condiccedilotildees de sustentabilidade para a competitividade da
Regiatildeo142
Em siacutentese este plano de acccedilatildeo ldquoMarrdquo justifica-se assim por um conjunto de
razotildees das quais destaco as seguintes
A existecircncia de uma zona costeira extensa e rica onde se concentra a
maior parte da populaccedilatildeo e da actividade econoacutemica da regiatildeo marcada pela
existecircncia de vaacuterios estuaacuterios de elevado valor ambiental paisagiacutestico e
econoacutemico que urge valorizar em condiccedilotildees de sustentabilidade
Permite uma aproximaccedilatildeo global e coordenada das actividades e saberes
que integram a temaacutetica mar bem como o desenvolvimento de relaccedilotildees de
complementaridade e a produccedilatildeo de efeitos de sinergia favoraacuteveis ao
desenvolvimento da regiatildeo
Permite desenvolver as estrateacutegias adequadas e a sua coordenaccedilatildeo no
sentido da adaptaccedilatildeo da regiatildeo aos efeitos das alteraccedilotildees climaacuteticas
Constitui uma oportunidade para parar ou diminuir a tendecircncia de perda
de biodiversidade que caracteriza a evoluccedilatildeo dos ecossistemas marinhos
Favorece o aproveitamento do potencial que algumas actividades ligadas
ao mar apresentam enquanto espaccedilos de empreendimento inovaccedilatildeo criaccedilatildeo de
142
Agenda Regional do Mar Plano de Acccedilatildeo ldquoMARrdquo 2007-2013 p 52
89
riqueza e de emprego qualificado que importa estimular do ponto de vista do
reforccedilo da competitividade e do emprego da regiatildeo
Contribui atraveacutes da iniciativa regional e das articulaccedilotildees possiacuteveis com
outras regiotildees portuguesas e com a EMAM para a consecuccedilatildeo da ENM
favorecendo a criaccedilatildeo de escala e o desenvolvimento de complementaridades
indispensaacuteveis agrave consecuccedilatildeo dessa estrateacutegia nacional
Contribui para o desenvolvimento da PMIE atraveacutes da assunccedilatildeo no
plano regional do conjunto de princiacutepios e de orientaccedilotildees que enquadram essa
estrateacutegia europeia
Reforccedila o papel da regiatildeo nos programas de cooperaccedilatildeo transfronteiriccedila
com a Galiza e de cooperaccedilatildeo transnacional no acircmbito do Espaccedilo Atlacircntico co-
financiados pelo FEDER em que a dimensatildeo mariacutetima ocupa uma posiccedilatildeo
relevante em ambos os programas
Contribui para a sensibilizaccedilatildeo da populaccedilatildeo em geral e especialmente
dos jovens para a temaacutetica mar
Apresenta um programa de fundos estruturais interessante para o periacuteodo
entre 2007 e 2013 que permite o lanccedilamento de iniciativas e investimentos para
o desenvolvimento no domiacutenio do mar
Eacute importante mencionar que a elaboraccedilatildeo do plano de acccedilatildeo ldquoMarrdquo assentou num
processo aberto agrave participaccedilatildeo de um alargado leque de actores de acircmbito regional e
nacional quer na fase de estudo quer durante a fase da sua implementaccedilatildeo Este plano
constitui tambeacutem um referencial central para os investimentos puacuteblicos e privados a ter
em consideraccedilatildeo no acircmbito das candidaturas ao Programa Operacional Regional do
Norte (ON2 ndash O Novo Norte) e aos Programas de Cooperaccedilatildeo (POCTEP e
POCTEA143
)
Neste ponto a Agenda Regional destaca-se da ENM pelo facto de estar enquadrada
a temaacutetica ldquoMarrdquo nestes programas operacionais podendo ser candidataacuteveis entidades
puacuteblicasprivadas da regiatildeo Norte de Portugal
143
POCTEP - Programa de Cooperaccedilatildeo Transfronteiriccedilo Espanha - Portugal
POCTEA - Programa de Cooperaccedilatildeo Transnacional do Espaccedilo Atlacircntico
90
Saliento que a regiatildeo Norte eacute no presente momento a uacutenica regiatildeo portuguesa
que apresenta uma estrateacutegia integrada para o Mar
Ora este plano de acccedilatildeo estimula tambeacutem o alargamento da dinacircmica de
cooperaccedilatildeo a outras regiotildees vizinhas como seja a regiatildeo Centro de Portugal e a regiatildeo
Autoacutenoma da Galiza e favorece assim o desenvolvimento de condiccedilotildees de
complementaridade e de escala indispensaacuteveis agrave afirmaccedilatildeo internacional do Noroeste
peninsular no domiacutenio do mar
62 Linhas estrateacutegicas de desenvolvimento144
Para o efeito foram delineadas dez linhas de desenvolvimento estrateacutegico para
consubstanciar o ldquoplano de acccedilatildeordquo Analisei-as cada uma per si tendo em conta o seu
objectivo e tipologias respectivas Passo a enumerar as dez linhas estrateacutegicas definidas
para a regiatildeo Norte que constam na Agenda do ldquoMarrdquo
1) Promover a conservaccedilatildeo a valorizaccedilatildeo e a gestatildeo dos ecossistemas costeiros e
das bacias hidrograacuteficas
O objectivo eacute o de fomentar o estudo dos ecossistemas costeiros e fluviais e
desenvolver medidas com vista agrave sua protecccedilatildeo recuperaccedilatildeo valorizaccedilatildeo e
ordenamento de forma a potenciar os seus usos de acordo com modelos de
sustentabilidade Os projectos e as acccedilotildees a desenvolver devem observar as orientaccedilotildees
estabelecidas pelas ldquoBases para a Estrateacutegia de Gestatildeo Integrada das Zonas Costeirasrdquo
2) Desenvolver novos produtos e promover a aplicaccedilatildeo de novas tecnologias ao
meio marinho
Esta linha tem em vista os desenvolvimentos futuros no campo das ciecircncias do mar
e da utilizaccedilatildeo do meio marinho atraveacutes de novos produtos e serviccedilos que resultaratildeo
certamente da aplicaccedilatildeo a este meio de conhecimento e de tecnologias da informaccedilatildeo e
da comunicaccedilatildeo Podem enquadrar-se no acircmbito desta linha estrateacutegica os projectos que
144
Agenda Regional do Mar Plano de Acccedilatildeo ldquoMARrdquo 2007-2013 p 54
91
visam o desenvolvimento de novos produtos resultantes da utilizaccedilatildeo de organismos
marinhos nomeadamente
Desenvolvimento de novos medicamentos e a promoccedilatildeo de instrumentos de
diagnoacutestico para monitorizaccedilatildeo na aacuterea da sauacutede
Desenvolvimento de novas teacutecnicas para conhecimento protecccedilatildeo
monitorizaccedilatildeo e gestatildeo do meio marinho a garantia de sustentabilidade das
pescas e da aquacultura
Desenvolvimento de novos tipos de materiais compoacutesitos e enzimas para a
induacutestria
3) Promover a qualidade e a valorizaccedilatildeo dos produtos da pesca e da aquicultura e
a seguranccedila alimentar
Nesta linha enquadram-se acccedilotildees que contribuam para o aprofundar do
conhecimento dos recursos vivos marinhos e do seu valor comercial acccedilotildees que
contribuam para o desenvolvimento e melhoramento de tecnologias de conservaccedilatildeo e
transformaccedilatildeo do pescado e da avaliaccedilatildeo do risco para a sauacutede puacuteblica e ainda acccedilotildees
de implementaccedilatildeo de processos de certificaccedilatildeo de origem de seguranccedila e de qualidade
de produtos da pesca e da aquacultura de modo a melhorar a imagem junto do
consumidor muitas vezes influenciada por produtos importados de qualidade inferior
aos produtos regionais
4) Desenvolver novas tecnologias de produccedilatildeo de peixes de bivalves e de outras
espeacutecies e a sustentabilidade da aquicultura
O objectivo desta linha estrateacutegica eacute o de promover o desenvolvimento de uma
aquicultura sustentaacutevel e fomentar a produccedilatildeo intensiva de espeacutecies alternativas agraves jaacute
largamente implantadas em todo o Sul da Europa nomeadamente a dourada e o robalo
evitando assim a saturaccedilatildeo do mercado e a competiccedilatildeo entre produtores O recurso a
espeacutecies alternativas (goraz linguado polvo entre outras) mais adaptadas a
temperaturas baixas permitiraacute conquistar novos mercados dado tratar-se de espeacutecies de
elevado valor comercial e cujas populaccedilotildees naturais tecircm vindo a diminuir
92
5) Promover o desenvolvimento do cluster ldquo conhecimento e economia do marrdquo
O objectivo desta linha de acccedilatildeo eacute o de reforccedilar a economia do mar contribuindo
para a modernizaccedilatildeo das actividades tradicionais nomeadamente as induacutestrias
mariacutetimas o apoio a actividades emergentes e o desenvolvimento de redes de
cooperaccedilatildeo entre empresas e instituiccedilotildees de Investigaccedilatildeo e Desenvolvimento (IampD)
orientadas para a transferecircncia de tecnologia e para o desenvolvimento da cadeia de
valor dos produtos da economia do mar Satildeo considerados prioritaacuterios os projectos que
promovam a densificaccedilatildeo das relaccedilotildees intra e intersectoriais e projectos que contribuam
para internacionalizaccedilatildeo da base produtiva regional
6) Reforccedilar a investigaccedilatildeo e desenvolvimento nas aacutereas das ciecircncias marinhas e
fomentar o empreendedorismo em actividades da economia do mar
Esta linha completa as anteriormente apresentadas constituindo o seu
desenvolvimento uma condiccedilatildeo necessaacuteria para a construccedilatildeo e consolidaccedilatildeo do cluster
regional para o mar O apoio a formaccedilotildees avanccediladas ao desenvolvimento de projectos
de investigaccedilatildeo nas aacutereas das ciecircncias e da economia do mar e ao fomento do
empreendedorismo eacute para esta Agenda uma indiscutiacutevel prioridade para o
desenvolvimento do seu plano de acccedilatildeo
Esta linha privilegia abordagens que integrem de forma dinacircmica as componentes
formativa investigaccedilatildeo incubaccedilatildeo e de aconselhamento e apoio financeiro ao
desenvolvimento de novos projectos e iniciativas empresariais e ainda ao acolhimento
de projectos empresariais externos que pela sua relevacircncia contribuam para o reforccedilo
das demais componentes
7) Apoiar o desenvolvimento do transporte mariacutetimo e a melhoria das condiccedilotildees de
seguranccedila mariacutetima e das infra-estruturas portuaacuterias
A localizaccedilatildeo de Portugal e da regiatildeo do Norte no Sul do Arco Atlacircntico Europeu
constitui uma posiccedilatildeo privilegiada por referecircncia agraves rotas mariacutetimas norte-sul e este-
oeste que importa potenciar As ldquoauto-estradasrdquo do mar e o short sea shipping
representam alternativas ao transporte rodoviaacuterio de mercadorias com reconhecidas
vantagens do ponto de vista ambiental e econoacutemico O porto de Leixotildees apresenta neste
contexto uma posiccedilatildeo relevante no que respeita agrave auto-estrada mariacutetima do Atlacircntico O
apetrechamento e a modernizaccedilatildeo dos portos da regiatildeo e a melhoria das suas
articulaccedilotildees com o hinterland de forma a favorecer a inserccedilatildeo nas cadeias
93
internacionais de transporte e a operaccedilatildeo nas melhores condiccedilotildees de seguranccedila
constituem objectivos importantes no acircmbito dos programas regionais do mar e dos
transportes
Adquirem especial relevacircncia os projectos do novo molhe e terminal de passageiros
do porto de Leixotildees bem como projectos que favoreccedilam a melhoria das condiccedilotildees de
seguranccedila das operaccedilotildees portuaacuterias No acircmbito desta linha estrateacutegica adquire especial
importacircncia a criaccedilatildeo do Poacutelo Mar do Parque de Ciecircncia e Tecnologia - Universidade
do Porto - que integraraacute e articularaacute as valecircncias de formaccedilatildeo e investigaccedilatildeo de
incubaccedilatildeo de empresas e de acolhimento empresarial e ainda uma funccedilatildeo de divulgaccedilatildeo
cientiacutefica
8) Valorizar o patrimoacutenio mariacutetimo regional a naacuteutica de recreio e o turismo
naacuteutico
Esta linha estrateacutegica contribui para a consolidaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo das estruturas
existentes e para a criaccedilatildeo de novos projectos que tenham por missatildeo a valorizaccedilatildeo e
interpretaccedilatildeo do patrimoacutenio e do conhecimento relacionado com as temaacuteticas do mar e
das comunidades mariacutetimas A valorizaccedilatildeo deste potencial em paralelo com a criaccedilatildeo e
desenvolvimento de um conjunto de condiccedilotildees de apoio agrave naacuteutica de recreio (uma rede
de marinas devidamente infra-estruturadas que disponibilizem serviccedilos de apoio agrave
naacuteutica geridas segundo um modelo empresarial) a criaccedilatildeo de um conjunto de produtos
de turismo naacuteutico e de turismo costeiro constituem as condiccedilotildees indispensaacuteveis agrave
valorizaccedilatildeo e aproveitamento do patrimoacutenio mariacutetimo que a regiatildeo possui Esta linha
estrateacutegica privilegia o desenvolvimento de projectos que promovam na sua elaboraccedilatildeo
e desenvolvimento o envolvimento das comunidades mariacutetimas das respectivas zonas
de forma a favorecer a emergecircncia e a diversificaccedilatildeo de actividades ligadas ao mar e a
criaccedilatildeo de novas oportunidades de emprego
9) Promover o desenvolvimento da educaccedilatildeo e da formaccedilatildeo nas aacutereas das ciecircncias
marinhas e da economia do mar de forma a favorecer a seguranccedila a qualificaccedilatildeo do
sector e a empregabilidade
O desenvolvimento da educaccedilatildeo e da formaccedilatildeo no domiacutenio do mar satildeo factores
chave para a empregabilidade para o reforccedilo do cluster do mar e seguranccedila mariacutetima
94
A presente linha estrateacutegica tem uma dimensatildeo transversal cruzando todas as
outras Linhas que compotildeem o Plano de Acccedilatildeo Tem por objectivo favorecer a
qualificaccedilatildeo de jovens e adultos em aacutereas de actividade directa e indirectamente ligadas
ao mar com especial incidecircncia na aacuterea da seguranccedila Neste sentido importa qualificar a
oferta formativa existente e reforccedilar a coordenaccedilatildeo entre a acccedilatildeo do Forpescas (Centro
de Formaccedilatildeo Profissional das Pescas) e de outras organizaccedilotildees que intervecircm na aacuterea da
formaccedilatildeo em actividades relacionadas com o mar (por exemplo formaccedilatildeo na aacuterea do
turismo) no sentido de adequar e ordenar a oferta formativa segundo as necessidades de
desenvolvimento que se colocam neste domiacutenio
10) Promover a cooperaccedilatildeo transfronteiriccedila e transnacional no domiacutenio do mar
A regiatildeo do Norte possui uma experiecircncia histoacuterica de cooperaccedilatildeo transfronteiriccedila
principalmente com a Galiza e de cooperaccedilatildeo transnacional especialmente no acircmbito
do Espaccedilo Atlacircntico do qual a CCDR-N eacute actualmente a Autoridade de Gestatildeo do
POCTEA O tema Mar eacute relevante para estes dois ldquoespaccedilosrdquo de cooperaccedilatildeo integrando
o corpo principal de objectivos dos respectivos Programas
No que respeita agrave cooperaccedilatildeo transfronteiriccedila com a Galiza foi criado sob a
iniciativa da CCDRN e da Xunta da Galicia um grupo de trabalho misto envolvendo
actores das duas regiotildees sob a coordenaccedilatildeo do CETMAR145
e do CIIMAR146
Foi desenvolvido um primeiro conjunto de projectos estruturantes de cooperaccedilatildeo
oportunamente candidatados ao Programa de Cooperaccedilatildeo Transfronteiriccedila Portugal-
Espanha em seis domiacutenios prioritaacuterios (qualidade do meio marinho recursos marinhos
sector alimentar biotecnologias e novos produtos construccedilatildeo e reparaccedilatildeo naval e
naacuteutica de recreio e por fim cultura e turismo)
145
Centro Tecnoloacutegico del Mar - Fundacioacuten CETMAR httpwwwcetmarorg 146
Centro Interdisciplinar de Investigaccedilatildeo Marinha e Ambiental httpwwwcimarorg
95
63 Modelo de governaccedilatildeo para a Agenda Regional do Mar
A coordenaccedilatildeo transversal de poliacuteticas e a articulaccedilatildeo entre vaacuterios niacuteveis de poder
coloca a questatildeo da concertaccedilatildeo e integraccedilatildeo de poliacuteticas ou seja a questatildeo da
governanccedila Este plano constitui um referencial de desenvolvimento estrateacutegico
dinacircmico que serve de base ao lanccedilamento e ao desenvolvimento de intervenccedilotildees no
domiacutenio do mar O plano de acccedilatildeo corporiza a ambiccedilatildeo de se constituir como
plataforma de suporte a um processo evolutivo aberto agrave participaccedilatildeo dos diferentes
actores e agrave coordenaccedilatildeo das suas intervenccedilotildees
Um dos aspectos essenciais para garantir a gestatildeo e regulaccedilatildeo do plano eacute a
existecircncia de informaccedilatildeo estrateacutegica que permita o conhecimento mais aprofundado do
mesmo e o acompanhamento das principais realizaccedilotildees
A gestatildeo estrateacutegica deste plano de acccedilatildeo eacute da responsabilidade de um comiteacute de
pilotagem presidido pela CCDR-N e constituiacutedo por um conjunto de instituiccedilotildees
puacuteblicas da regiatildeo Norte responsaacuteveis pelas principais aacutereas de poliacutetica relacionadas
com a temaacutetica e tambeacutem por entidades representativas dos espaccedilos litorais em
presenccedila O comiteacute de pilotagem seraacute um espaccedilo privilegiado de articulaccedilatildeo e de
coordenaccedilatildeo intersectorial e de articulaccedilatildeo territorial das diversas iniciativas e projectos
que teraacute como objectivo principal a responsabilidade de implementar o plano de acccedilatildeo e
a respectiva regulaccedilatildeo existente
64 Oceano XXI - Cluster do ldquoconhecimento e da economia do marrdquo
Ainda acerca das estrateacutegias regionais destaco o trabalho levado a cabo pela
plataforma ldquoOceano XXI ndash Associaccedilatildeo para o Conhecimento e Economia do Marrdquo que
tem como principal objectivo especiacutefico dinamizar o cluster do ldquoconhecimento e da
economia do marrdquo
Este cluster foi reconhecido pela Autoridade de Gestatildeo do Programa de factores de
Competitividade (COMPETE) no dia 27 de Julho de 2009 como Estrateacutegia de
96
Eficiecircncia Colectiva E por este facto importa ser referenciado neste trabalho dada a
importacircncia que vai seguramente ter a curto prazo nos projectos considerados ldquoacircncorardquo
para as regiotildees Centro e Norte de Portugal
Por outro lado o objectivo geral que orienta o desenvolvimento deste cluster
consiste em ldquovalorizar o recurso Mar atraveacutes do desenvolvimento de um conjunto de
actividades de produtos e de serviccedilos que promovam o crescimento econoacutemico o
emprego e a internacionalizaccedilatildeo da regiatildeo apostando no reforccedilo da IampDampI da
formaccedilatildeo do empreendedorismo e da cooperaccedilatildeo de forma a contribuir em condiccedilotildees
de sustentabilidade para a competitividade da regiatildeo147
rdquo
Este cluster sediado na regiatildeo Norte envolve um vasto e diversificado conjunto de
entidades representativas dos interesses regionais (Centro e Norte) e nacionais
pertencentes aos principais sectores do agregado econoacutemico subjacente agrave Estrateacutegia de
Eficiecircncia Colectiva tendo em vista a diversificaccedilatildeo da base econoacutemica regional
criando desta forma novas actividades e serviccedilos e fomentando o aparecimento de
mercados alternativos com maior valor econoacutemico o reforccedilo da competitividade e da
produtividade das induacutestrias do mar e o aumento do emprego qualificado
O cluster do ldquoconhecimento e da economia do marrdquo integra um conjunto
diversificado de sectores e de actividades
bull Pesca aquicultura salicultura e induacutestria transformadora da pesca
bull Actividades mariacutetimo-portuaacuterias e logiacutestica
bull Induacutestrias mariacutetimas
bull Induacutestrias transformadoras de suporte agraves actividades mariacutetimas (tecircxtil e vestuaacuterio
plaacutestico moldes madeira metalomecacircnica)
bull Cruzeiros naacuteutica de recreio e turismo mariacutetimo
bull Tecnologias da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo (TIC)
bull Roboacutetica submarina
bull Biotecnologia marinha
bull Energias renovaacuteveis
147
Oceano XXI Cluster do Conhecimento e da Economia do Mar httpwwwoceano21org
97
O cluster do ldquoconhecimento e da economia do marrdquo organiza-se segundo quatro
linhas prioritaacuterias de intervenccedilatildeo148
que estatildeo em consonacircncia com a visatildeo europeia dos
clusters mariacutetimos referida no Livro Verde (capiacutetulo II)
Linha Prioritaacuteria 1 ndash desenvolver a Investigaccedilatildeo amp Desenvolvimento das
Tecnologias de Informaccedilatildeo (IDTI) e apoiar o desenvolvimento de actividades
emergentes no domiacutenio da economia do mar
Linha Prioritaacuteria 2 ndash promover a qualidade e a valorizaccedilatildeo dos produtos da pesca
da aquicultura e de produtos marinhos e a seguranccedila alimentar
Linha Prioritaacuteria 3 ndash promover a modernizaccedilatildeo e a inovaccedilatildeo das induacutestrias
mariacutetimas do transporte mariacutetimo da actividade portuaacuteria e da logiacutestica
Linha Prioritaacuteria 4 ndash valorizar o patrimoacutenio mariacutetimo e o seu aproveitamento no
apoio ao desenvolvimento da naacuteutica de recreio e do turismo de natureza
No acircmbito da Estrateacutegia de Eficiecircncia Colectiva ndash cluster do ldquoconhecimento e da
economia do marrdquo ndash foram reconhecidos seis projectos acircncora que no seu conjunto
totalizam uma estimativa de investimento de 120 milhotildees de euros nos trecircs proacuteximos
anos (2010 - 2013) E satildeo os seguintes
Ecomare
Aquaacuterio dedicado agrave temaacutetica dos mares da Peniacutensula Ibeacuterica centro de recuperaccedilatildeo
de animais marinhos e laboratoacuterio oceanograacutefico da Universidade de Aveiro
Parque de Ciecircncia e Tecnologias do Mar da Universidade do Porto
Visa o desenvolvimento de acccedilotildees de IampD transferecircncia de tecnologias incubaccedilatildeo
de empresas acolhimento empresarial formaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo cientiacutefica O Poacutelo do Mar
permitiraacute que os empreendedores desenvolvam as suas investigaccedilotildees eou testem os
seus protoacutetipos em meio marinho
148
Oceano XXI Cluster do Conhecimento e da Economia do Mar httpwwwoceano21org
98
Consupesca
Com o objectivo especiacutefico de reduzir o consumo de combustiacutevel na frota da pesca
costeira e de arrasto
Panthalassa
Promover a seguranccedila alimentar e a sustentabilidade ambiental da produccedilatildeo da
transformaccedilatildeo e do consumo de pescado atraveacutes da implementaccedilatildeo de sistemas
integrados abrangendo toda a cadeia de produccedilatildeo que permitem para cada fase do
processo de fabrico desenvolver as melhores soluccedilotildees do ponto de vista ambiental e de
seguranccedila conferindo maior valor acrescentado aos produtos
Promoccedilatildeo e desenvolvimento do turismo naacuteutico e dos desportos naacuteuticos
Reforccedilo do turismo naacuteutico e dos desportos naacuteuticos em Portugal atraveacutes da
implementaccedilatildeo dos seguintes projectos
Construccedilatildeo do Terminal de Cruzeiros de Leixotildees tendo como objectivo reforccedilar a
posiccedilatildeo do Porto de Leixotildees no mercado do turismo de cruzeiros explorando a sua
localizaccedilatildeo no cruzamento de rotas entre o Atlacircntico nordeste e o Mediterracircneo e entre
as Caraiacutebas e a Europa
Construccedilatildeo do Centro de Mar em Viana do Castelo visando o desenvolvimento da
naacuteutica de recreio e dos desportos naacuteuticos e o reforccedilo da posiccedilatildeo de Viana do Castelo
como uma cidade da naacuteutica do Atlacircntico
Turismo Mariacutetimo de Natureza
Em especial na ilha da Morraceira (Figueira da Foz) e ilha das Berlengas (Peniche)
99
65 A Naacuteutica como factor de desenvolvimento regional
Como referi no capiacutetulo dedicado aos domiacutenios destacados pelo Livro Verde o
sector naacuteutico pode ter um papel importante no que concerne agrave protecccedilatildeo do legado
mariacutetimo e na sensibilizaccedilatildeo do puacuteblico No entanto as actividades naacuteuticas podem
desempenhar outras funccedilotildees vitais para a implementaccedilatildeo das poliacuteticas mariacutetimas
(regionais nacionais e europeias) e serem consideradas um activo gerador de emprego
de riqueza e bem-estar das populaccedilotildees
Pese embora que para se ter uma verdadeira identidade mariacutetima (hellip) ldquoeacute preciso
tempo para sentir o mar eacute algo que soacute se consegue com muito tempo eventualmente
com o tempo de uma vidardquo (hellip)149
Urge a necessidade de se formar geraccedilotildees que desde
cedo se familiarizem com o mar A praacutetica naacuteutica qualquer que seja a modalidade
permite despertar o interesse e consequentemente aproximar a populaccedilotildees jovens ao
mar
A este propoacutesito menciono o estudo do qual fui coordenador realizado pela
INTERCEacuteLTICA ndash Associaccedilatildeo Cultural Desportiva e Turiacutestica que coloca a Naacuteutica
como factor de desenvolvimento da regiatildeo Norte150
Este estudo estrateacutegico foi apoiado
pelo programa Operacional da Regiatildeo Norte (CCDR-N) com recurso ao FEDER
Numa primeira fase efectou-se um levantamentoinventaacuterio exaustivo ao sector
que incluiu diversos actores como a Autoridade Mariacutetima o Instituto Portuaacuterio e dos
Transportes Mariacutetimos os clubes as associaccedilotildees os portos de recreio as empresas de
animaccedilatildeo turiacutestica os operadores mariacutetimo-turiacutesticos o desporto escolar as federaccedilotildees
a induacutestria o comeacutercio e os serviccedilos naacuteuticos
O objectivo primeiro deste levantamento foi determinar a dimensatildeo do sector e qual
a sua importacircncia para com base na informaccedilatildeo obtida elaborar um plano estrateacutegico
que respondesse agraves reais necessidades e carecircncias do sector naacuteutico na regiatildeo Norte
Numa segunda fase foram elaboradas propostas de projectos que pudessem
futuramente ser enquadradas nas Agendas Regionais temaacuteticas do Turismo e do Mar e
consequentemente no QREN (2007-2013)
149
Discurso do Arqto Guilherme Guimaratildees nas comemoraccedilotildees oficiais do Dia Europeu do Mar 2010
(20 de Maio) a bordo do navio Gil Eannes em Viana do Castelo 150
Para mais informaccedilotildees sobre o Projecto Naacuteutica consultar o seguinte site
httpwwwprojectonauticacomindexphpseccao=nauticaampcontent=apresentacao
100
Foi apresentado um plano de acccedilatildeo com base nas propostas e recomendaccedilotildees que
datildeo estrutura a cinco eixos
Rede de infra-estruturas naacuteuticas
Assenta em trecircs medidas concretas a criaccedilatildeo dos centros coordenadores da
actividade naacuteutica aumento da capacidade instalada (massificaccedilatildeo da praacutetica) e na
qualificaccedilatildeo de serviccedilos
Dinamizaccedilatildeo turiacutestica
Estatildeo sintetizadas em trecircs itens criaccedilatildeo de pacotes naacuteuticos desenvolvimento de
empreendimentos turiacutesticos temaacuteticos e de serviccedilos de animaccedilatildeo naacuteutica
Dinamizaccedilatildeo da naacuteutica
Baseada em quatro medidas 1 ) Rede de equipamentos e actividades em bacias
hidrograacuteficas e albufeiras 2) Rede de prestadores de serviccedilos 3) Apetrechamento dos
agentes naacuteuticos 4) Formaccedilatildeo
Promoccedilatildeo e comunicaccedilatildeo
Essencialmente na estruturaccedilatildeo temaacutetica e ediccedilatildeo de material directoacuterio da naacuteutica
acccedilatildeo para a iniciaccedilatildeo agraves actividades naacuteuticas organizaccedilatildeo de eventos e criaccedilatildeo de
espaccedilos museoloacutegicos
Governacircncia
Com a aposta no conceito inovador de loja da naacuteutica (tipo loja do cidadatildeo) e no
estabelecimento de um observatoacuterio para o sector naacuteutico actualizaacutevel e disponiacutevel ao
puacuteblico
Estas propostas foram elaboradas com a intenccedilatildeo de promover projectos colectivos
que criem sinergias entre os diversos stakeholders do sector naacuteutico e que o capitalizem
econoacutemica social e ambientalmente tornando-o mais coeso e rumo a um
desenvolvimento sustentaacutevel
O Norte de Portugal deteacutem uma prodigiosa costa Atlacircntica e planos de aacutegua
interiores (rios lagos e zonas lacustres) singulares Trata-se sem duacutevida de um recurso
de inquestionaacutevel valor O desafio eacute tornaacute-lo um produto reconhecido e apeteciacutevel para
as populaccedilotildees residentes e em simultacircneo para os turistas
101
Conclusotildees
No decurso deste trabalho analisei a importacircncia do MAR para a Europa desde os
tempos dos descobrimentos ateacute agrave actualidade com a implementaccedilatildeo da PMIE Dada a
transversalidade do tema este trabalho aborda as componentes das poliacuteticas mariacutetimas
europeia nacional e regional (Norte de Portugal) Devo notar que este trabalho natildeo
pretende ser um estudo final eou conclusivo mas que possa ser considerado como ponto
de partida para posteriores aprofundamentos
Concluiacutedo este introacuteito passo a apresentar as conclusotildees finais
Como sabemos os oceanos ocupam dois terccedilos da aacuterea total do planeta Terra Esta
constataccedilatildeo permite desde logo concluir que as actividades mariacutetimas estatildeo longe de
atingir o seu potencial sisteacutemico
A histoacuteria da Europa particularmente a partir do periacuteodo medieval devido agrave sua
natureza geograacutefica em forma de peniacutensula e bem torneada pelo mar despoletou o
interesse dos europeus pelo desconhecido Por detraacutes do mare incognitum havia mitos e
lendas que uma vez superadas pela audaacutecia dos descobridores desencadearam uma
inovadora epopeia mariacutetima que culminou com a descoberta de rotas mariacutetimas culturas
civilizaccedilotildees e estabelecimento de intercacircmbios comerciais transnacionais Assim se
iniciou o processo de globalizaccedilatildeo atraveacutes do qual os portugueses tatildeo grande e valioso
contributo deram agrave Humanidade
Actualmente na Europa deparamo-nos com uma cenaacuterio econoacutemico preocupante
provocado essencialmente pela crise financeira mundial e constatamos que a Europa
natildeo consegue acudir a todas dificuldades dos Estados Membros perifeacutericos A Europa natildeo
pode estar soacute unida quando economicamente o ambiente eacute favoraacutevel e perante as
adversidades diminuir a sua solidariedade pondo em causa valores notaacuteveis como a
construccedilatildeo da Europa e a moeda uacutenica Para tal eacute vital restabelecer a unidade pois soacute
assim a UE pode lograr responder aos enormes desafios do seacuteculo XXI
Acredito que o que eacute urgente acima de tudo eacute unir os europeus O MAR sem sombra
de duacutevida dada a sua transversalidade e caso seja utilizado como denominador comum
aproximaraacute os europeus agraves instituiccedilotildees europeias desenvolveraacute a nossa euro ndashcidadania
e conduziraacute a um maior envolvimento dos concidadatildeos nas decisotildees europeias
102
Voltando ao tema do trabalho em anaacutelise reforccedilo mais uma vez que foi o presidente
da Comissatildeo Europeia o portuguecircs Joseacute Manuel Duratildeo Barroso que lanccedilou no iniacutecio do
seu mandato o processo de construccedilatildeo para uma verdadeira Poliacutetica Mariacutetima Integrada
Europeia
A PMIE tornou-se um instrumento exemplar de savoir faire da poliacutetica apoiada
numa estrateacutegica botton up permitindo que os europeus dessem o seu contributo e
participassem na sua implementaccedilatildeo A aplicaccedilatildeo desta poliacutetica tem como objectivos
melhorar a eficaacutecia da acccedilatildeo governamental no domiacutenio do mar e explorar melhor as
sinergias a fim de aumentar o crescimento econoacutemico e a sustentabilidade ambiental
tendo sempre presente a dimensatildeo social E assim poder ainda responder aos desafios
prementes da protecccedilatildeo do ambiente seguranccedila mariacutetima crescimento econoacutemico
emprego qualificado e contribuir tambeacutem para o bem-estar das populaccedilotildees
Esta ldquoeuroapostardquo mariacutetima cujo potencial esmiucei ao longo deste trabalho pode ser
decisiva e contribuir fortemente para a afirmaccedilatildeo da Europa no mundo Espero tambeacutem
que possa servir de exemplo a outras regiotildees do mundo de momento ainda
subdesenvolvidas mas que se apresentam com iacutendices de crescimento exponenciais
Em Portugal desde o seacuteculo XIV (D Joatildeo I) ateacute ao Estado Novo o cluster mariacutetimo
foi o nosso ldquocartatildeo de visitardquo no plano internacional Este apresentado como paradigma
incluiacutea a navegaccedilatildeo comercial a pesca longiacutenqua (pe o bacalhau) e a construccedilatildeo naval
que ombreava com os melhores construtores a niacutevel mundial Como prova da
demonstraccedilatildeo puacuteblica deste reconhecimento invoco a estatuaacuteria que enaltece os feitos
histoacutericos do navegadores portugueses como por exemplo D Sebastiatildeo em Lagos
Vasco da Gama em Sines Infante D Henrique no Porto e Londres (Belgrave Square)
Joatildeo Aacutelvares Fagundes em Viana do Castelo
Portugal integrado haacute vinte e cinco anos na Uniatildeo Europeia natildeo se conseguiu impocircr
nas questotildees mariacutetimas Perdeu uma boa oportunidade para tirar partido desta integraccedilatildeo
menosprezando os fundos comunitaacuterios para desenvolver o seu cluster mariacutetimo
chegando ateacute cair no esquecimento e ficar praticamente extinto no terceiro quartel do
seacuteculo XX
103
Foi lamentaacutevel esta inoperacircncia de Portugal junto da UE e vice-versa Ou seja nem
Portugal soube aproveitar os generosos fundos europeus para desenvolver o sector
mariacutetimo nem a UE soube aproveitar a mais-valia do know-how luso das actividades
mariacutetimas agrave semelhanccedila do que sucedeu com a Alemanha como paiacutes exportador por
excelecircncia e da Franccedila com a PAC
Talvez a explicaccedilatildeo para este desvio fosse a seduccedilatildeo dos portugueses pelos fundos
europeus para aplicar em novas aacutereas com resultados visiacuteveis e imediatos a curto prazo
e cujo retorno econoacutemico hoje ainda questionamos
A ldquodemocraciardquo voltou costas ao seu passado de seacuteculos ndash o MAR Diversos factores
do passado recente contribuiacuteram para esta situaccedilatildeo a saber a descolonizaccedilatildeo e o
sentimento generalizado de ruptura com a ideologia do Estado Novo (pois a sua
propaganda estava fortemente ligada ao domiacutenio mariacutetimo) E Portugal limitou-se apenas
a exercer o domiacutenio mariacutetimo aquando da adesatildeo nas 12 milhas mariacutetimas Portugal
focou-se no bloco terrestre contrariando assim o seu percurso natural e ancestral
ldquoSe Portugal sempre ignorou o mar sua agenda europeia natildeo o perspectivando
como um activo estrateacutegico ao interesse nacional tambeacutem a proacutepria UE se viu desde
sempre a si proacutepria como um bloco terrestre capitaneado pelo eixo continental traccedilado
ao longo de deacutecadas entre Paris e Bona do que como a potecircncia mariacutetima que tambeacutem eacute
O tratado de Roma eacute omisso quanto ao potencial dos oceanos e dos mares que circundam
a Europa para o processo de integraccedilatildeo europeia a politica comum de pescas nasce
tardia e gradualmente por analogia da PAC e os transportes mariacutetimos ficaram de fora
da politica europeia de transportes e logo da rede transeuropeia de transportes por muito
tempo praticamente ateacute ao Livro Branco dos Transportes de 2001rdquo151
Com o lanccedilamento da PMIE Portugal compreendeu a importacircncia da sua vocaccedilatildeo
mariacutetima para os assuntos europeus e finalmente tem uma estrateacutegia mariacutetima para
implementar no territoacuterio nacional decorrente da perspectiva europeia Esta atitude foi
reforccedilada pela actuaccedilatildeo do governo portuguecircs especialmente durante a Presidecircncia
Portuguesa da UE em 2007 onde Portugal deixou a sua griffe com a aprovaccedilatildeo da
poliacutetica mariacutetima europeia De novo Portugal e a Europa estatildeo agora voltados para o mar
151
Dr Tiago Pitta e Cunha (2010) art cit na Revista do Centro de Informaccedilatildeo Europeia Jacques Delors -
Europa Novas Fronteiras ndash Portugal ndash 25 Anos de Integraccedilatildeo Europeia nordm 2627 Lisboa Principia
p186
104
com uma visatildeo mais abrangente e integrada e em uniacutessono para os sectores ligados ao
mar Em consequecircncia destes acontecimentos a regiatildeo Norte de Portugal elaborou uma
Agenda para o mar e tem estruturas universitaacuterias a desenvolver actividades cientiacuteficas e
laboratoriais associadas agrave iniciativa privada que permitem dar uma nova visatildeo econoacutemica
ao mar
Para que Portugal cumpra o mar como desiacutegnio nacional eacute necessaacuterio iniciar-se um
novo ciclo que aproxime os portugueses do mar Exige-se uma nova vaga de fundo para
desenvolver a nossa cultura mariacutetima como jaacute tem sucedido em outros Estados membros
atraveacutes de um processo de enculturaccedilatildeo A formaccedilatildeo joga um papel determinante para o
sucesso deste objectivo Os planos curriculares das escolas e universidades portuguesas
podem ser o ponto de partida deste novo ciclo despertando o interesse nas camadas
jovens e influenciando-os para o gosto da nossa heranccedila mariacutetima permitindo vivenciar
e experienciar actividades de mar de modo a serem eles no futuro a capitalizarem as
potencialidades do mar
Se compararmos em termos de territoacuterio e de populaccedilatildeo com os parceiros europeus
verificamos que Portugal natildeo eacute um paiacutes pequeno estamos ao mesmo niacutevel de paiacuteses como
a Beacutelgica Repuacuteblica Checa Holanda Dinamarca Irlanda e Greacutecia Isto sem referir a
ZEE que em breve poderaacute catapultar o nosso paiacutes para o deacutecimo lugar do ranking
mundial de paiacuteses mariacutetimos
Como sabemos o ldquocentro de gravidaderdquo da Uniatildeo Europeia deslocou-se para leste
devido agrave entrada de novos Estados membros (alargamento a vinte e sete) E Portugal
atraveacutes da agenda europeia para o mar pode tornar-se apesar de ser um paiacutes perifeacuterico
um verdadeiro liacuteder nas poliacuteticas europeias
Voltando a questatildeo inicial A Poliacutetica Mariacutetima Europeia ndash uma poliacutetica feita agrave
medida de Portugal penso que apesar de jaacute termos dado alguns passos na integraccedilatildeo de
poliacuteticas mariacutetimas eacute no entanto imprescindiacutevel uma vontade poliacutetica perseverante que
afirme Portugal na Europa defenda a nossa heranccedila e salvaguarde o futuro do nosso paiacutes
Oxalaacute saibamos aproveitar este ldquooceanordquo de oportunidades
105
Fontes e bibliografia
Fontes
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COM (2010) 494 final
UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Proposta de Regulamento do Parlamento
Europeu e do Conselho Europeu que estabelece um programa de apoio ao
aprofundamento da poliacutetica mariacutetima integrada Comissatildeo Europeia 2010
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UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu ao
Parlamento Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees
Relatoacuterio de progresso sobre a poliacutetica mariacutetima integrada da Uniatildeo Europeia
Comissatildeo Europeia 2009
COM (2009) 538 final
UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu ao
Parlamento Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees
Towards the integration of maritime surveillance A common information sharing
environment for the EU maritime domain Comissatildeo Europeia 2009
COM (2009) 536 final
UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu ao
Parlamento Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees
Desenvolver a dimensatildeo internacional da poliacutetica mariacutetima integrada da Uniatildeo
Europeia Comissatildeo Europeia 2009
106
COM (2009) 8 final
UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu ao
Parlamento Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees
Objectivos estrateacutegicos e recomendaccedilotildees para a poliacutetica comunitaacuteria de transporte
mariacutetimo no horizonte de 2018 Comissatildeo Europeia 2009
COM (2008) 791 final
UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo Roteiro para o ordenamento
do espaccedilo mariacutetimo definiccedilatildeo de princiacutepios comuns na EU Comissatildeo Europeia 2008
COM (2008) 395 final
UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu ao
Parlamento Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees
Orientaccedilotildees para uma abordagem integrada da poliacutetica mariacutetima rumo a melhores
praacuteticas de governaccedilatildeo mariacutetima integrada e de consulta das partes interessadas
Comissatildeo Europeia 2008
COM (2007) 575 final
UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu ao
Parlamento Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees
Uma poliacutetica mariacutetima integrada para a Uniatildeo Europeia Comissatildeo Europeia 2007
COM (2007) 574 final
UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu ao
Parlamento Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees
Conclusotildees da consulta sobre uma poliacutetica mariacutetima europeia Comissatildeo Europeia
2007
COM (2006) 275 final Volume I
UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho ao Parlamento
Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees Para uma
futura poliacutetica mariacutetima da Uniatildeo ndash uma visatildeo europeia para os oceanos e os mares
Comissatildeo Europeia 2006
107
COM (2006) 275 final Volume II
UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Livro Verde para uma futura poliacutetica
mariacutetima da Uniatildeo ndash uma visatildeo europeia para os oceanos e os mares Comissatildeo
Europeia 2006
COM (2006) 105 final
UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Livro Verde Estrateacutegia europeia para uma
energia sustentaacutevel competitiva e segura Comissatildeo Europeia 2006
COM (2005) 658 final
UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu e ao
Parlamento Europeu Reexame da Estrateacutegia em favor do desenvolvimento sustentaacutevel
Uma plataforma de acccedilatildeo Comissatildeo Europeia 2005
COM (2005) 505 final
UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Directiva do Parlamento Europeu e do
Conselho Europeu que estabelece um quadro de acccedilatildeo comunitaacuteria no domiacutenio da
poliacutetica para o meio marinho (Directiva ldquoestrateacutegia para o meio marinhordquo) Comissatildeo
Europeia 2005
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UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu e ao
Parlamento Europeu Estrateacutegia temaacutetica para a protecccedilatildeo e conservaccedilatildeo do meio
marinho Comissatildeo Europeia 2004
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UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo da Comissatildeo Europeu ao
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Lancha Poveira
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Museu da Marinha
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Nautisme Espace Atlantique 2
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ONU ndash Department of Economic and Social Affairs
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de Setembro de 2010)
Oceanaacuterio de Lisboa
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Oceano XXI Cluster do Conhecimento e da Economia do Mar
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Parlamento Europeu
httpwwweuroparleuropaeufactsheets1_2_2_pthtm (acedido 9 de Novembro de 2010)
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Plano de Ordenamento do Espaccedilo Mariacutetimo
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Polis Litoral Norte
wwwpolislitoralnortept (acedido 17 de Dezembro de 2010)
Polis Ria de Aveiro
wwwpolisriadeaveiropt (acedido 17 de Dezembro de 2010)
Polis Ria Formosa
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Presidecircncia da Repuacuteblica Portuguesa
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Projecto Naacuteutica
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Quadro de Referecircncia Estrateacutegico Nacional (QREN)
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V
Resumo
Sabemos que dois terccedilos do planeta Terra satildeo ocupados pelos Oceanos Logo eacute
premente ocuparmo-nos deles da forma mais sustentaacutevel possiacutevel
E os ldquomaresrdquo foram desde sempre a seiva da Europa Os europeus desde haacute muito
tempo tiveram propensatildeo para se libertarem do mare incognitum Essa ousadia trouxe
retorno econoacutemico cultural e cientiacutefico notaacuteveis para a Humanidade
Os espaccedilos mariacutetimos e o litoral europeu satildeo essenciais para o bem-estar e
prosperidade ligam continentes atraveacutes de rotas comerciais regulam o clima satildeo fonte
de alimento de energia e de inuacutemeros recursos (muitos ainda desconhecidos) e satildeo
tambeacutem locais privilegiados de residecircncia e lazer para os cidadatildeos
A Europa preconiza actualmente uma Poliacutetica Mariacutetima Integrada reflectindo e
projectando a nossa relaccedilatildeo com os oceanos e mares Esta abordagem inovadora e
holiacutestica reforccedila a capacidade da Europa face aos desafios da globalizaccedilatildeo e da
competitividade agraves alteraccedilotildees climaacuteticas agrave autonomia energeacutetica agrave seguranccedila mariacutetima
entre outras O leme da Poliacutetica Mariacutetima Europeia Integrada foi tomado em 2005 pelo
Presidente da Comissatildeo Europeia Duratildeo Barroso e estaacute ancorada na Agenda de Lisboa
(apela ao crescimento econoacutemico e emprego) e na Agenda de Gotemburgo (apela ao
desenvolvimento sustentaacutevel ndash ambiental econoacutemico e social)
A nossa longa histoacuterica mariacutetima a liacutengua e cultura portuguesa e o facto de existir
uma Estrateacutegia Nacional para o Mar em consonacircncia com a Poliacutetica Mariacutetima Europeia
Integrada podem ser os factores-chave para Portugal concretizar um dos seus maiores
desiacutegnios para o seacuteculo XXI ndash o Mar Importa referir que eacute iminente o alargamento da
zona econoacutemica exclusiva (equivalente a 43 vezes agrave aacuterea de Portugal Continental) e
caso seja aceite teremos seguramente uma nova oportunidade de estar no centro do
mundo
Esta investigaccedilatildeo tem portanto como objectivo analisar a poliacutetica mariacutetima
europeia e os seus desenvolvimentos em Portugal
PALAVRAS-CHAVE
EUROPA MAR POLIacuteTICA PORTUGAL SUSTENTAacuteVEL
VI
Lista de abreviaturas
BEI ndash Banco Europeu de Investimento
BRIC ndash Brasil Ruacutessia Iacutendia e China
CCDR-N ndash Comissatildeo de Coordenaccedilatildeo de Desenvolvimento Regional do Norte
CdR ndash Comiteacute das Regiotildees
CE ndash Comissatildeo Europeia
CEO ndash Comissatildeo Estrateacutegica dos Oceanos
CESA ndash Associaccedilatildeo dos Estaleiros Europeus de Construccedilatildeo e Reparaccedilatildeo Naval
CETMAR ndash Centro Tecnoloacutegico del Mar
CIEJD ndash Centro de Informaccedilatildeo Europeia Jacques Delors
CIIMAR ndash Centro Interdisciplinar de Investigaccedilatildeo Marinha e Ambiental
CLPC ndash Comissatildeo de Limites para a Extensatildeo da Plataforma Continental
CO 2 ndash Dioacutexido de Carbono
COMPETE ndash Programa de Factores de Competitividade
CRPM ndash Conferecircncia das Regiotildees Mariacutetimas da Europa
DEM ndash Dia Europeu do Mar
EBA ndash European Boating Association
EFTA ndash Associaccedilatildeo Europeia de Livre Comeacutercio
EM ndash Estados Membros
EMAM ndash Estrutura de Missatildeo para os Assuntos do Mar
EMEPC ndash Estrutura de Missatildeo para a Extensatildeo da Plataforma Continental
EMODNET ndash Rede Europeia de Observaccedilatildeo e de Dados do Meio Marinho
EMSA ndash Agecircncia Europeia da Seguranccedila Mariacutetima
ENM ndash Estrateacutegia Nacional para o Mar
ESPO ndash Organizaccedilatildeo dos Portos Mariacutetimos Europeus
EuDA ndash European Dredging Association
EUROMIG ndash European Union Recreational Marine Industry Group
VII
FAO ndash Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Alimentaccedilatildeo e a Agricultura
FEDER ndash Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional
FEM ndash Foacuterum Empresarial da Economia do Mar
FSE ndash Fundo Social Europeu
GIZC ndash Gestatildeo Integrada das Zonas Costeiras
IampD ndash Investigaccedilatildeo e Desenvolvimento
IampDampI ndash Investigaccedilatildeo Desenvolvimento e Inovaccedilatildeo
IDTI ndash Investigaccedilatildeo e Desenvolvimento das Tecnologias de Informaccedilatildeo
OEM ndash Ordenamento do Espaccedilo Mariacutetimo
OGP ndash International Association of Oil and Gas Producers
ONG ndash Organizaccedilatildeo Natildeo Governamentais
ONU ndash Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas
NEA 2 ndash Nautisme Espace Atlantique 2
PAC ndash Poliacutetica Agriacutecola Comum
PALOP ndash Paiacuteses Africanos de Liacutengua Oficial Portuguesa
PCP ndash Poliacutetica Comum da Pesca
PIB ndash Produto Interno Bruto
PME`S ndash Pequenas e Meacutedias Empresas
PMIE ndash Poliacutetica Mariacutetima Integrada Europeia
POCTEA ndash Programa de Cooperaccedilatildeo Transnacional do Espaccedilo Atlacircntico
POCTEP ndash Programa de Cooperaccedilatildeo Transfronteiriccedilo Espanha-Portugal
POEM ndash Plano Ordenamento do Espaccedilo Mariacutetimo
QREN ndash Quadro de Referecircncia Estrateacutegico Nacional
UNESCO ndash Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo Ciecircncia e Cultura
TIC ndash Tecnologias da Informaccedilatildeo e da Comunicaccedilatildeo
UE ndash Uniatildeo Europeia
ZEE ndash Zona Econoacutemica Exclusiva
VIII
Nota preacutevia
A realizaccedilatildeo desta investigaccedilatildeo natildeo teria sido possiacutevel sem a colaboraccedilatildeo de
diversas pessoas e entidades pelo que lhes dirijo os devidos agradecimentos
A primeira palavra de agradecimento vai para a minha Orientadora Professora Doutora
Maria Manuela Tavares Ribeiro Grato pela sua disponibilidade e destreza em aceitar a
tarefa de orientaccedilatildeo Aproveito para a felicitar pelas inuacutemeras iniciativas que organiza e
em que participa elevando o prestiacutegio da nossa Faculdade de Letras a niacutevel nacional e
internacional
A segunda palavra e natildeo menos relevante vai para o meu co-Orientador na
qualidade de especialista Dr Tiago de Pitta e Cunha A sua notaacutevel experiecircncia
nacional (Coordenador da Comissatildeo Estrateacutegica dos Oceanos) e europeia (ex-Membro
do Gabinete do Comissaacuterio Europeu para os Assuntos Mariacutetimos e as Pescas) aliada a
uma cooperaccedilatildeo profiacutecua diria mesmo perfeita permitiram que neste trabalho tenhamos
procurado a profundidade e a transversalidade que o tema proposto exige
O reconhecimento eacute extensiacutevel a todos os Professores da parte curricular pelo
conhecimento adquirido nas aulas memoraacuteveis Uma palavra particular para o Professor
Doutor Antoacutenio Martins da Silva e outra para o meu colega e amigo Asdruacutebal
Sotomaior pois sem eles natildeo teria sido possiacutevel conseguir este objectivo
Agradeccedilo aos funcionaacuterios do Centro de Informaccedilatildeo Europeia Jacques Delors em
Lisboa pela simpatia e competecircncia com que sempre me receberam
O meu justo agradecimento ainda ao Comiteacute das Regiotildees pelo convite feito em
2008 para visitar e participar in loco nas sessotildees plenaacuterias das principais instacircncias
europeias (Parlamento Comissatildeo e CdR) Participaram neste evento 27 alunos em
representaccedilatildeo de todos os Estados Membros da UE oriundos de cursos de 2ordm Ciclo em
Estudos Europeus
Finalmente o meu obrigado sentido aos que estatildeo mais proacuteximos Agradeccedilo aos
amigos de sempre agrave Teresinha ao meu Irmatildeo e ao meu Pai pelos incentivos que sempre
me deram na vida Agrave minha Matildee sinto-me sempre grato pela sua sabedoria paciecircncia e
carinho
Agrave minha futura sobrinha Maria dedico este trabalho
IX
Iacutendice
Resumo V
Lista de abreviaturas VI
Nota preacutevia VIII
Introduccedilatildeo 1
Cap I ndash Principais talassocracias europeias ndash breve retrospectiva histoacuterica 4
11 Repuacuteblicas Mariacutetimas Italianas 6
12 O papel de Portugal ndash o pioneiro da globalizaccedilatildeo 9
13 Siglo de oro espanhol 13
14 O ciclo holandecircs e a hegemonia inglesa 16
15 A Burguesia e a Revoluccedilatildeo Industrial 19
Cap II ndash O Livro Verde da Poliacutetica Mariacutetima Integrada Europeia 21
21 Fundamentos da Poliacutetica Mariacutetima Integrada Europeia 21
22 Potencialidades das principais actividades mariacutetimas da Uniatildeo Europeia 23
23 Livro Verde ndash ldquouma visatildeo para os oceanos e os maresrdquo 27
24 Aacutereas-chave no Livro Verde 29
25 Participaccedilatildeo dos europeus no processo de construccedilatildeo da PMIE 38
Cap III ndash O Livro Azul plano de acccedilatildeo e instrumentos financeiros 40
31 Condiccedilotildees poliacuteticas do processo de decisatildeo 40
32 Livro Azul e o plano de acccedilatildeo 43
X
33 Instrumentos econoacutemico-financeiros de apoio agrave PMIE 51
331 A poliacutetica de coesatildeo e a poliacutetica regional europeia 51
332 Fundos estruturais 53
333 Outras fontes de financiamento 55
334 Programa de apoio ao aprofundamento da PMIE 56
Cap IV ndash Orientaccedilotildees estrateacutegias para o futuro da PMIE 58
41 Breve balanccedilo 58
42 Governaccedilatildeo mariacutetima e participaccedilatildeo das partes interessadas 59
43 Instrumentos transectoriais 62
44 Perspectivas e visatildeo futura da PMIE 65
Cap V ndash Estrateacutegia Nacional para o Mar 68
51 Princiacutepios e objectivos 73
52 Pilares estrateacutegicos 73
53 Acccedilotildees e medidas 75
54 O Hypercluster da economia do mar 81
55 Plano de ordenamento do espaccedilo mariacutetimo 83
56 Programa ldquoPolis do Litoralrdquo 85
Cap VI ndash Agenda Regional do Mar (Norte de Portugal) 87
61 Pacto regional para a competitividade da regiatildeo ldquoNorte 2015rdquo 87
62 Linhas estrateacutegicas de desenvolvimento 90
63 Modelo de governaccedilatildeo para a Agenda Regional do Mar 95
64 Oceano XXI - Cluster do ldquoconhecimento e da economia do marrdquo 95
65 A Naacuteutica como factor de desenvolvimento regional 99
Conclusotildees 101
Fontes e bibliografia 105
1
Introduccedilatildeo
A minha relaccedilatildeo com o Mar comeccedilou desde haacute muito
Foi graccedilas agraves actividades naacuteuticas em ambiente mariacutetimo que aprendi a valorizar e
a respeitar a natureza a partilhar valores sociais a estabelecer novas amizades e ateacute a
conhecer novos continentes Tudo comeccedilou por prazerlazer e hoje em dia o MAR faz
parte da minha profissatildeo e seraacute sempre seguramente uma fonte de inspiraccedilatildeo e energia
para a vida
Depois da formaccedilatildeo na aacuterea da engenharia e ciecircncias econoacutemicas decidi matricular-
me no Curso de Mestrado Estudos Europeus na Faculdade Letras da Universidade de
Coimbra de forma de aprofundar os meus parcos conhecimentos (histoacutericos poliacuteticos e
institucionais) sobre a Europa Foi uma experiecircncia enriquecedora e gratificante que
ultrapassou largamente as minhas aspiraccedilotildees iniciais
Contudo confrontado com a necessidade de elaborar uma tese de dissertaccedilatildeo no
acircmbito do Mestrado ocorreu-me explorar uma temaacutetica actual e transversal que se
espera poder ldquounirrdquo os europeus a uma causa ndash o Mar
Assim este trabalho de investigaccedilatildeo intitulado Poliacutetica Mariacutetima Europeia ndash Uma
poliacutetica agrave medida de Portugal pretende ser um contributo para a pesquisa e reflexatildeo
sobre as questotildees europeias e a sua relaccedilatildeo com o mar e os oceanos mateacuteria que como
todos nos temos vindo a aperceber cada vez mais se reveste de grande importacircncia para
Portugal
Foi com o espiacuterito de ldquopara antever o futuro temos de conhecer o passadordquo que
procurei ao longo do primeiro capiacutetulo debruccedilar-me sobre as fontes de riqueza material
e imaterial que estando relacionadas com o mar contribuiacuteram para a formaccedilatildeo e
desenvolvimento da Europa Neste acircmbito debruccedilo-me sobre as expediccedilotildees mariacutetimas
italianas que apesar de confinadas ao mediterracircneo foram extremamente importantes
para os ldquodescobridoresrdquo que se seguiram Entre estes uacuteltimos destacarei o papel de
Portugal o siglo de oro espanhol o ciclo holandecircs e a hegemonia mariacutetima inglesa
Para terminar o enquadramento histoacuterico faccedilo referecircncia agrave emergecircncia da burguesia
europeia e agraves suas origens nas actividades mariacutetimas
2
No segundo capiacutetulo procuro analisar transversalmente o Livro Verde da Poliacutetica
Mariacutetima Integrada Europeia Assim apresentarei os fundamentos e as potencialidades
da Europa no domiacutenio mariacutetimo a ldquovisatildeordquo europeia para o futuro dos oceanos e os
mares e ainda as aacuterea-chave nele apontadas No final deste capiacutetulo abordarei a
consulta puacuteblica que possibilitou aos europeus participarem directa e activamente no
processo de construccedilatildeo da PMIE
Saliento que pela primeira vez a dimensatildeo mariacutetima da Europa assumiu a posiccedilatildeo
de real prioridade poliacutetica ou seja na histoacuteria da Uniatildeo Europeia os oceanos e os mares
como um todo tornaram-se assunto de foco poliacutetico ao mais alto niacutevel A PMIE foi uma
iniciativa de Joseacute Manuel Duratildeo Barroso aquando da sua primeira nomeaccedilatildeo para a
Presidecircncia da Comissatildeo Europeia em 2004 No programa Barroso I a PMIE foi
apresentada como uma necessidade premente chegando mesmo a ser instituiacuteda em
2004 a pasta dos Assuntos Mariacutetimos atribuiacuteda na altura ao maltecircs Joe Borg (ex-
Comissaacuterio Europeu)
No terceiro capiacutetulo comeccedilarei por salientar as condiccedilotildees poliacuteticas ao niacutevel das
instacircncias europeias que permitiram a consolidaccedilatildeo da PMIE Este destaque poliacutetico
concedido ao Mar eacute o reconhecimento do seu valor estrateacutegico em diferentes dimensotildees
econoacutemica ambiental cultural de seguranccedila de investigaccedilatildeo e de lazer Desta vontade
poliacutetica declarada emergiu o Livro Azul acompanhado de um plano de acccedilatildeo No final
deste capiacutetulo seratildeo apresentados os instrumentos financeiros comunitaacuterios de suporte agrave
PMIE
Apesar da jovem idade - cinco anos - a PMIE jaacute conseguiu obter resultados notaacuteveis
agrave escala europeia Por isso no quarto capiacutetulo proponho-me fazer uma breve anaacutelise agraves
actividades decorrentes da PMIE tendo em conta a governacircncia mariacutetima E as acccedilotildees
estrateacutegicas para o futuro da poliacutetica mariacutetima europeia seratildeo ainda apresentadas neste
capiacutetulo
No quinto capiacutetulo passarei a analisar a Estrateacutegia Nacional para o Mar (ENM)
resultante do apelo da Uniatildeo Europeia (UE) aos Estados-membros (EM) no sentido de
aplicarem abordagens holiacutesticas e transversais para o uso sustentaacutevel dos oceanos
Realccedilo que Portugal a par de Espanha e Franccedila foi um dos principais impulsionadores
da poliacutetica mariacutetima europeia Destacarei ainda a importacircncia do ldquoHypercluster da
3
Economia do Marrdquo o plano de ordenamento do espaccedilo mariacutetimo (POEM) actualmente
em discussatildeo puacuteblica e tambeacutem o programa ldquoPolis do Litoralrdquo
No capiacutetulo seguinte o sexto destacarei a Agenda Regional para o Mar que para
aleacutem de ser enquadrada na ENM e PMIE responde visivelmente agraves especificidades
latentes na regiatildeo Norte de Portugal No final deste capiacutetulo seratildeo abordados ainda a
plataforma ldquoOceano XXIrdquo e o estudo estrateacutegico intitulado ldquoA Naacuteutica como factor de
desenvolvimento da regiatildeo Norterdquo
Neste trabalho procuro dar um contributo acadeacutemico sobre a PMIE registando a
ausecircncia de estudos sobre esta mateacuteria congratulo-me com o estudo que tatildeo
entusiasticamente me comprometeu e espero que o mesmo possa servir de
inspiraccedilatildeoorientaccedilatildeo a TODOS aqueles que se revejam no todo ou em parte do exposto
ou simplesmente aos que se interessem pelas temaacuteticas abordadas
4
Cap I ndash Principais talassocracias europeias ndash breve retrospectiva histoacuterica
Como forma de introduzir a influecircncia dos assuntos mariacutetimos na formaccedilatildeo da
Europa resolvi reflectir sobre os aspectos histoacutericos que considero mais relevantes
protagonizados no periacuteodo compreendido entre os seacuteculos XIV e XX pelas maiores
potecircncias de entatildeo
Seratildeo abordadas neste capiacutetulo primeiramente as repuacuteblicas italianas (Geacutenova e
Veneza) seguindo-se a expansatildeo portuguesa passando pela aventura castelhana e
terminando com a acccedilatildeo holandesa e inglesa No final deste capiacutetulo faccedilo uma
abordagem agrave formaccedilatildeo de uma nova classe social ndash a burguesia ndash oriunda das
actividades mariacutetimas mercantis que foi o ldquomotor de arranquerdquo para a Revoluccedilatildeo
Industrial
Os maiores impeacuterios ateacute ao seacuteculo XV foram de dois tipos
Continentais como o impeacuterio Alexandrino (euro-asiaacutetico no seacuteculo IV
aC) e o Mongol (no seacuteculo XIII que se estendia do Oceano Paciacutefico ao Mar
Negro)
Outros centrados estrategicamente numa bacia mariacutetima que jaacute foi tida
como o centro econoacutemico do mundo A este tipo pertenciam o impeacuterio Romano
(com o apogeu nos seacuteculos I e II aC em que o Mediterracircneo ndash chamado Mare
Internum ndash era um ldquolago romanordquo o Mare Nostrum) e o impeacuterio Islacircmico (que
teve o seu apogeu entre os seacuteculos VIII e XIII que se estendia desde a Peniacutensula
Ibeacuterica agrave Iacutendia) e permitiu transformar o Oceano Iacutendico num ldquolago muccedilulmanordquo
ateacute ao momento da chegada dos portugueses
Houve tambeacutem outros impeacuterios tais como
Egiacutepcio (com o apogeu no seacuteculo XV aC)
Persa (seacuteculos VI a IV aC que se estendia da Iacutendia agrave Greacutecia)
Chinecircs (o Chacutein do seacuteculo III aC o Han do seacuteculo II ou o Tang do
seacuteculo VIII)
5
Como nota comum todos estes impeacuterios ocupavam uma extensatildeo continental
contiacutegua
No entanto outros modelos de expansatildeo surgiram ainda na Antiguidade ndash incluindo
as colonizaccedilotildees mediterracircneas dos cretenses feniacutecios e gregos assentes numa rede
litoral e descontiacutenua da orla do Mediterracircneo e do mar Negro De referir entre estes
casos a importacircncia do impeacuterio ateniense (com o auge no seacuteculo V aC) uma
talassocracia1 por excelecircncia baseada na projecccedilatildeo naval e na descontinuidade
continental
Este uacuteltimo tipo de expansatildeo naval replicou-se mais tarde nas projecccedilotildees
mediterracircnicas das repuacuteblicas mariacutetimas italianas com destaque para Geacutenova e Veneza
e na monarquia dual catalo-aragonesa
Apesar das diferenccedilas havia um denominador comum nestas talassocracias
europeias ndash o mar Mediterracircneo Como sublinha a historiadora genovesa Gabriela
Airaldi2 a actividade mariacutetima era o elemento que interligava e dinamizava a
civilizaccedilatildeo mediterracircnica
A esse ambiente mediterracircnico peculiar associou-se na Idade Meacutedia
Uma revoluccedilatildeo comercial e financeira com uma economia de mercado
predominantemente virada ao exterior assente numa diaacutespora de mercadores e
banqueiros
Uma projecccedilatildeo geopoliacutetica criando impeacuterios mariacutetimos descontiacutenuos
A disponibilidade para alianccedilas poliacuteticas ldquooperativasrdquo pragmaacuteticas
libertas dos preconceitos ideoloacutegico-religiosos da eacutepoca
Ora como refere Airaldi3 esta interdependecircncia estrateacutegica entre a Europa do Sul e
o ldquolagordquo mediterracircnico originou um novo tipo de estado ndash as repuacuteblicas mariacutetimas ndash
assentes numa oligarquia mercantil-financeira distintas do sistema monaacuterquico-
senhorial dominante na Europa medieval
1 O termo vem do grego e eacute uma junccedilatildeo do vocaacutebulo mar (thaacutelassa) e de poder (kraacutecia) Aplica-se a
todos os Estados no qual o poder se exerce baseado na expansatildeo mariacutetima garantida por uma projecccedilatildeo
naval 2 AIRALDI 2007 9
3 AIRALDI ibidem 99
6
Os muccedilulmanos e os chineses tinham no entanto criado uma inovaccedilatildeo que o
historiador Felipe Fernaacutendez-Arnesto4 sintetiza na diferenciaccedilatildeo entre civilizaccedilotildees
Civilizaccedilotildees da beira-mar ou no meio do mar ldquomoldadasrdquo pelo elemento
mariacutetimo (assim eram as talassocracias ateacute entatildeo existentes)
Civilizaccedilotildees que ldquodomesticaramrdquo os grandes mares que geravam
verdadeiras ldquocivilizaccedilotildees oceacircnicasrdquo Como aquele historiador demonstra em
Civilizations o Islatildeo foi a primeira civilizaccedilatildeo a projectar-se poliacutetica e
economicamente usando os caminhos oceacircnicos transformando o Iacutendico num
ldquolagordquo seu domiacutenio secular que foi beliscado pela curta expansatildeo chinesa do
inicio do seacuteculo XV5
Essa confluecircncia dos dois movimentos tornou o Iacutendico num espelho precoce da
revoluccedilatildeo que ocorreria mais tarde e que foi a razatildeo pela qual a histoacuteria de Portugal se
inscreveu na Histoacuteria universal
11 Repuacuteblicas Mariacutetimas Italianas
Os genoveses venezianos e catalatildees dominavam o Mediterracircneo com destaque
para as duas Repuacuteblicas italianas que lideraram o mundo poliacutetico euromediterracircnico a
partir do final do seacuteculo XIII
Geacutenova perderia o poder hegemoacutenico em 1380 na batalha naval de Chioggia agrave
entrada da grande laguna veneziana o que a levou sair do Adriaacutetico e a perder a
lideranccedila mediterracircnea para Veneza conhecida como a Serenissima Repubblica
Geacutenova La Superba havia dominado a regiatildeo desde que derrotara Pisa em 1320 e
criara um impeacuterio mediterracircnico e uma rede comercial e financeira transnacional
Perderia em 1397 a autonomia poliacutetica passando a ser uma zona de confronto entre a
4 Felipe Fernaacutendez-Arnesto exerce actualmente o magisteacuterio na caacutetedra Priacutencipe das Astuacuterias na
Universidade de Tufts Departamento de Histoacuteria e eacute membro do claustro de Queen Mary na
Universidade de Londres 5 FERNAacuteNDEZ-ARNESTO Felipe 2001 381
7
Franccedila e o Ducado de Milatildeo ao longo do seacuteculo XV No entanto nunca se apagou a
chama empreendedora pioneira
A individualidade genovesa foi de facto marcante ndash o seu espiacuterito de orizzonti
aperti (horizontes abertos) foi pioneiro no seacuteculo XIII Foi nesta repuacuteblica mariacutetima que
mais transparente se tornou o choque entre por um lado o lobby das cruzadas e da
bandeira poliacutetica da recuperaccedilatildeo de Jerusaleacutem e por outro lado a burguesia mercantil
mais arrojada ligada ao Banco di S Giorgio (criado em 1407) e agraves 28 famiacutelias
poderosas que compunham os Albergui6 A Escola genovesa de almirantado onde
sobressai a figura de Emanuele Pessagno (conhecido pelo portugueses como Manuel
Peccedilanha7) criou fama e uma geraccedilatildeo marinai erranti (marinheiros errantes) No
entanto veio para Portugal no iniacutecio do seacuteculo XIV para servir as navegaccedilotildees de
ldquooutrosrdquo em Quatrocentos e Quinhentos
A acircnsia genovesa de projecccedilatildeo para aleacutem do ldquolagordquo mediterracircnico ficou conhecida
As navegaccedilotildees de Benedetto Zacaria em 1277 abriam oficialmente a rota
mediterracircnico-atlacircntica para a Flandres anulando o significado das feiras de
Champagne e valorizando estrategicamente o estreito de Gibraltar bem como a costa
portuguesa e galega Mais tarde os irmatildeos Ugolino e Valdino Vivaldi com duas galeacutes
armadas por Tedisio Doria em 1291 aventuraram-se no Mar Oceano (o Atlacircntico) para
circum-navegarem Aacutefrica e chegarem ldquoagraves partes da Iacutendia e trazerem mercadorias
lucrativasrdquo mas nunca mais houve notiacutecias deles Especula-se que eles teriam como
objectivo provavelmente natildeo a verdadeira Iacutendia das especiarias mas a regiatildeo do ouro
da Aacutefrica Ocidental que na Idade Meacutedia muitos incluiacuteam na designaccedilatildeo geneacuterica de
ldquoIacutendiardquo8
Nos genoveses sentiu-se precocemente a necessidade de procurar chegar agraves fontes
asiaacuteticas de commodities de alto valor por via do Ocidente em oposiccedilatildeo ao domiacutenio
que os venezianos e aacuterabes detinham sobre as vias mediterracircnicas do Levante para o
Oriente E o sentido de risco dos clatildes financeiros genoveses daria corpo ao primeiro elo
do que viria a designar de Repubblica Internazional del Denaro
6 Agregaccedilatildeo artificial de vaacuterias famiacutelias da oligarquia genovesa Os Alberghi teriam entre 1600 a 1700
membros 40 dos quais estavam regularmente expatriados 7O monarca D Dinis em 1317 tornaria Manuel Peccedilagno de Geacutenova Almirante-mor do reino um cargo
hereditaacuterio 8 ALBUQUERQUE 2001 148
8
Mais proacuteximos geograficamente dos portugueses os catalatildees apesar da sua
expansatildeo mediterracircnica entre 1229 e 1412 (um impeacuterio que no seu auge incluiacutea as
Baleares Malta Sardenha Siciacutelia e os Ducados de Atenas e Neopaacutetria na Greacutecia bem
como um relacionamento especial com o Chipre) e de se terem afirmado como uma
potecircncia mariacutetima mediterracircnica dispunham de um dos centros cartograacuteficos mais
importantes da eacutepoca situado em Maiorca onde deu cartas a escola de cartoacutegrafos da
famiacutelia judia Cresques9 e a quem eacute atribuiacutedo um Atlas de 1375 Estes nunca desafiaram
a hegemonia genovesa e posteriormente a veneziana Mas como os italianos os catalatildees
tambeacutem fundaram coloacutenias mercantis muito fortes em Alexandria Beirute Damasco e
em diversos pontos do Magrebe
Os venezianos por seu lado consumada a paz com Geacutenova em 1381 e
secundarizaccedilatildeo geopoliacutetica desta repuacuteblica rival expandiram os seus domiacutenios de mar
atraveacutes da ocupaccedilatildeo de pontos estrateacutegicos na costa adriaacutetica grega e no Mediterracircneo
(ilhas como Chipre Corfu ou Creta) Tambeacutem estabeleceram fortes comunidades
mercantis ndash os fundaci ndash nos portos e placas giratoacuterias comerciais estrateacutegicas (como
Constantinopla Tana Sinope Tebisonda Alexandria e Damasco) dos paiacuteses com que
negociavam
A partir dessa rede dominaram o comeacutercio do que entatildeo chamavam mercanzie
sottili (mercadorias finas) as commodities de alto valor da eacutepoca que vinham da Iacutendia
da China do Ceilatildeo e das Molucas que chegavam a Veneza trazidas pelas mude
comboios mariacutetimos que vinham das placas giratoacuterias que eram Constantinopla
Alexandria e os portos da Siacuteria Este comeacutercio internacional movimentava 20 milhotildees
de ducados por ano A frota veneziana dispunha de 300 grandes navios 45 galeacutes e 3000
pequenos barcos e envolvia 36000 marinheiros
A Europa vivia literalmente enfeiticcedilada pelas especiarias dominada por
ldquofetichismordquo das commodities de luxo como ironizou o historiador Fernand Braudel
Paradoxalmente os europeus medievos consumiam produtos made in Oriente mas
desconheciam de todo onde ficavam exactamente e como eram os paiacuteses e as gentes de
onde se importavam tais luxos Daiacute a propagaccedilatildeo de mitos e contos fantaacutesticos sobre as
Iacutendias e China Apenas alguns viajantes aventureiros chegavam agraves fontes ndash Marco Polo
fora um deles
9 Um dos filhos desta famiacutelia catalatilde Jafuda Cresques cristianizado como Jaume (Jaime) Ribes seria um
dos expoentes maacuteximos do grupo conselheiro do Infante Henrique
9
Veneza soube gerir tambeacutem o ldquosaco de gatosrdquo que era a Europa do final da Idade
Meacutedia O grande cisma no papado entre 1378 e 1417 num periacuteodo em que chegou a
haver mais do que um centro de poder papal (Roma e Avignon) com pontiacutefices em
conflito apoiados por diferentes potecircncias ndash deu uma ajuda a esta cidade-Estado que
cultivava teimosamente a sua independecircncia De referir tambeacutem a intermitente Guerra
dos Cem Anos (1337-1453) que consumia as candidatas potenciais de entatildeo ao
hegemonismo da Europa continental a saber Inglaterra e Franccedila10
Natildeo eacute demais sublinhar que o conhecimento acumulado e as inovaccedilotildees geopoliacuteticas
surgidas com a expansatildeo das repuacuteblicas mariacutetimas mediterracircnicas seriam aprimoradas a
uma escala global pelos portugueses
12 O papel de Portugal ndash o pioneiro da globalizaccedilatildeo
O facto geopoliacutetico que abriria nas deacutecadas seguintes a janela de oportunidade aos
portugueses ocorreria bem longe do Mediterracircneo ndash Oceano Iacutendico ndash considerado o
centro econoacutemico do mundo
Ainda o Infante D Henrique natildeo fazia jus ao seu cognome de ldquoNavegadorrdquo jaacute os
chineses da dinastia Ming haviam lanccedilado a partir de 1405 sete expediccedilotildees em
direcccedilatildeo ao Iacutendico muito para aleacutem da sua tradicional esfera de influecircncia oceacircnica Foi
seu Almirante-Mor era Zheng He (1371-1433) a cujo nome ficou associado a
navegaccedilotildees de longa distacircncia anteriores agraves portuguesas Aquele movimento de
expediccedilotildees era o que chamariacuteamos hoje de ldquoprojecccedilatildeo de poderrdquo sublinhou Edward
Dreyer na sua obra Zheng He11
O argumento utilizado era um cruzamento haacutebil de
diplomacia e demonstraccedilatildeo do seu poder naval sem ser necessaacuterio exercecirc-lo a natildeo ser
excepcionalmente ldquoa sua armada era suficientemente intimidante e raramente
necessitava de combater de facto mas estar preparada para o fazer era a sua missatildeo
primaacuteriardquo diz Dreyer
As navegaccedilotildees chinesas acabariam abruptamente em 1433 A expansatildeo foi travada
por um movimento reaccionaacuterio da burocracia de Beijing e ocorreu no meio de uma
10
RODRIGUES amp DEVEZAS 2009 53-59 11
DREYER 2007 3
10
crise de hiperinflaccedilatildeo com o colapso do papel-moeda chinecircs tatildeo generosamente
espalhado pela Aacutesia Este recuo deixaria a porta aberta para os navegadores que a
seguir chegassem ao Iacutendico12
Assim Portugal aproveitou uma janela de oportunidade uacutenica no iniacutecio de
Quatrocentos pois a China entatildeo a maior economia do mundo recuou no seu projecto
de expansatildeo oceacircnica As Repuacuteblicas Italianas (nomeadamente Veneza entatildeo potecircncia
hegemoacutenica) e a Catalunha natildeo dispunham de estrateacutegias ou de inovaccedilotildees para irem
aleacutem do seu espaccedilo tradicional de projecccedilatildeo de poder que era o Mediterracircneo E as
potencias regionais e os poderes locais que dominavam os checkpoints e as rotas de
commodaties de alto valor em Aacutefrica no proacuteximo e Meacutedio Oriente e no Iacutendico natildeo
dispunham de poder naval para enfrentar um ldquointrusordquo expansionista
Alavancado o mito do Preste Joatildeo a elite portuguesa de Quatrocentos em
particular os dois irmatildeos ndash infantes Henrique o ldquoNavegadorrdquo e Pedro o ldquoCosmopolitardquo ndash
e o monarca D Joatildeo II (considerado um ldquoPriacutenciperdquo exemplar do Renascimento)
idealizaram uma estrateacutegia tenaz de cerco pelas ldquotraseirasrdquo ao elo mais fraco da eacutepoca o
arco muccedilulmano fragmentado que dominava as rotas de commodities ateacute Alexandria
principal porto do Mediterracircneo agora nas matildeos dos mamelucos e com quem Veneza
negociava Esta estrateacutegia portuguesa foi evolutiva e de geometria variaacutevel ora
procurando vias pela costa e rios de Aacutefrica Ocidental ao encontro do potencial aliado
Preste Joatildeo e do estrateacutegico Nilo ora recorrendo ao uso de espionagem e intelligence
ateacute agrave procura de um rota mariacutetima alternativa para uma das fontes de especiarias (a
Iacutendia)
A procura do Preste Joatildeo pelos navegadores portugueses foi infrutiacutefera durante
longas deacutecadas Apenas entre 1508 e 1514 se realizaram os primeiros encontros oficiais
entre as cortes etiacuteope e lisboeta Entretanto dois caminhos se abriram dois ciclos
sucessivos de uma nova especializaccedilatildeo econoacutemica portuguesa internacional onde
entrou o ouro o ignoacutebil traacutefico de escravos e as especiarias Esta nova especializaccedilatildeo
mudou o padratildeo tradicional da economia do paiacutes e foi responsaacutevel por uma revoluccedilatildeo
no comeacutercio internacional
12
RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 60-61
11
O sucesso no estabelecimento da nova rota mariacutetima para a Iacutendia deveu-se tanto a
inovaccedilotildees teacutecnicas e cientiacuteficas (como a caravela e a nova cartografia) como agrave gestatildeo
do conhecimento global da eacutepoca (o centro de acccedilatildeo do Infante Henrique e o war room
de D Joatildeo II) e tambeacutem a inovaccedilotildees estrateacutegicas para a projecccedilatildeo de poder (rede das
primeiras feitorias e fortificaccedilotildees de plataformas oceacircnicas e de novas cidades e de um
modelo de colonizaccedilatildeo) e ainda juriacutedicas (estabelecimento da doutrina do Mare
Clausum e assinatura dos primeiros tratados de divisatildeo do mundo em zonas de
influecircncia) Foi este conjunto de inovaccedilotildees que permitiu o surgimento de um novo e
longo ciclo geopoliacutetico e substituir Veneza na lideranccedila mundial13
Portugal criou portanto um novo tipo de impeacuterio ndash o impeacuterio oceacircnico em rede ndash
baseado na mobilidade e poder naval pois viabilizou o domiacutenio de uma vasta aacuterea do
planeta e uma forma de comeacutercio verdadeiramente internacional Este network lanccedilou as
bases para a criaccedilatildeo da aldeia global fenoacutemeno hoje sobejamente conhecido como
globalizaccedilatildeo
Os portugueses introduziram o uso sistemaacutetico do conhecimento cientiacutefico como
um activo indispensaacutevel para alcanccedilar objectivos poliacuteticos geoestrateacutegicos Tal facto
gerou os alicerces do Renascimento cientiacutefico europeu e transformou radicalmente a
visatildeo do mundo como um planeta composto por massas continentais banhadas por um
conjunto de oceanos interligados Foi graccedilas agrave expansatildeo mariacutetima portuguesa que surgiu
a concepccedilatildeo de um globo terrestre e uma nova cartografia14
Apesar das fortes raiacutezes empiacutericas da expansatildeo portuguesa do caraacutecter pragmaacutetico
e do forte improviso os liacutederes de Quatrocentos e de Quinhentos desenvolveram a
gestatildeo de conhecimento de forma eficiente Este foi o capital ldquointelectualrdquo que afirmou
um espoacutelio singular que destacou Portugal elevando-o agrave escala mundial Satildeo exemplos
deste periacuteodo os primeiros centros de acccedilatildeo de expansatildeo mariacutetima uma vaga de
publicaccedilotildees cientiacuteficas originais a revoluccedilatildeo na cartografia e na ciecircncia da construccedilatildeo
naval e uma evoluccedilatildeo da arte militar
A construccedilatildeo da hegemonia portuguesa foi claramente um processo evolutivo de
aprendizagem que abarcou vaacuterias geraccedilotildees Isto foi sucedendo desde a eacutepoca inicial dos
infantes D Henrique e D Pedro com a chegada agrave Costa da Mina e agrave linha do Equador
13
RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 175-176 14
RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 184-185
12
mais tarde com a passagem do Cabo da Boa Esperanccedila ateacute agrave chegada agrave Iacutendia Brasil
China e Japatildeo
Concluiacuteda a chegada agrave Iacutendia (1498) jaacute no tempo do rei D Manuel I a estrateacutegia de
projecccedilatildeo mundial foi tripla
Afirmaccedilatildeo de um poder naval sem contestaccedilatildeo mundial no Atlacircntico e
Iacutendico
Conclusatildeo da maior rede mundial de checkpoints existentes ateacute entatildeo
Campanha de marketing internacional junto do papado (poder
transnacional reconhecido pelos europeus)
Portugal caiu num dilema entre a focalizaccedilatildeo num espaccedilo controlaacutevel do Iacutendico
(ligado agrave rota das especiarias) e a tentaccedilatildeo de uma extensatildeo raacutepida incluindo um
projecto imperial universal embebido numa ideologia cruzadista e de expansatildeo
messiacircnica
A capacidade inovadora dos portugueses foi de tal forma abrangente que se pode
afirmar que nos seacuteculos XV e XVI Portugal inovou na arte de inovar Isto provocou
uma ruptura ldquotectoacutenicardquo na histoacuteria do mundo e natildeo foi um mero acidente relegado para
segundo plano por muitos historiadores e analistas face ao mediatismo criado em torno
das viagens de Colombo agrave Ameacuterica Central15
Segundo Daniel Boorstin16
ldquo(hellip) como empreendimento organizado e de longo
prazo a conquista dos Portugueses foi a mais moderna mais revolucionaacuteria do que as
largamente celebradas exploraccedilotildees de Colombo ()rdquo
15
RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 331 16
BOORSTIN 1986 83
Daniel Boorstin faleceu em 2004 Estudou em Oxford Harvard e Yale foi autor de 20 livros e
bibliotecaacuterio do Congresso norte-americano de 1975 a 1987 Foi director do Museu Nacional de Histoacuteria
e Tecnologia e da Smithsonian Institution entidades norte-americanas A Trilogia sobre a Histoacuteria
Mundial que escreveu ficou ceacutelebre E nela incluiu Os Descobridores Foi um dos acadeacutemicos que
destacou a originalidade portuguesa de Quatrocentos e Quinhentos
13
13 Siglo de oro espanhol
O ldquoseacuteculo de ourordquo foi o apogeu da cultura espanhola desde o Renascimento do
seacuteculo XV ateacute ao periacuteodo Barroco do seacuteculo XVII Marcado por acontecimentos-chave
abrangeu o periacuteodo desde a publicaccedilatildeo da gramaacutetica Castellana de Nebrija em 1492 ateacute
a morte de Calderoacuten de la Barca em 1681
Nos finais do seacuteculo XVIII jaacute se havia popularizado a expressatildeo Seacuteculo de Ouro
com a qual Lope de Vega aludia a si proacuteprio e que suscitava a admiraccedilatildeo de Don
Quixote de la Mancha no seu famoso discurso sobre a Idade de Ouro
Com a uniatildeo dinaacutestica os Reis Catoacutelicos Fernando e Isabel delinearam um Estado
politicamente forte que foi consolidado posteriormente cujos ecircxitos foram invejados
por alguns intelectuais contemporacircneos como por exemplo o italiano Nicolau
Maquiavel Poreacutem esse Estado politicamente forte esteve ideologicamente dominado
pela inquisiccedilatildeo eclesiaacutestica Os judeus que natildeo se cristianizaram foram expulsos em
1492 e dispersaram-se fundando coloacutenias hispacircnicas pela Europa Aacutesia e Norte de
Aacutefrica Aiacute cultivaram a sua liacutengua e escreveram livros em castelhano emergindo figuras
notaacuteveis como o economista e escritor Joseacute Penso de La Vega Miguel de Barrios Juan
de Prado Isaac Cardoso Abraham Zacuto Isaac Orobio e Manuel de Pina Em Janeiro
de 1492 Castela conquista o bastiatildeo mouro de Granada finalizando a etapa poliacutetica
muccedilulmana peninsular ainda que uma minoria mourisca aiacute continuasse a habitar mais
ou menos tolerada ateacute ao reinado de Felipe III
Em Outubro desse mesmo ano Cristoacutevatildeo Colombo chega agrave Ameacuterica A chegada agraves
ldquoiacutendiasrdquo por ocidente foi considerado pelo historiador Pierre Vilar17
o gesto mais
extraordinaacuterio da histoacuteria da Humanidade Ainda nesse ano foi celebrado o Tratado de
Tordesilhas entre D Joatildeo II e os Reis Catoacutelicos Como o nome indica este Tratado foi
assinado na povoaccedilatildeo castelhana de Tordesilhas a 7 de Junho de 1494 celebrado entre
o Reino de Portugal e o Reino da Espanha para dividir as terras descobertas e por
descobrir Este tratado surgiu na sequecircncia da contestaccedilatildeo portuguesa agraves pretensotildees da
Coroa espanhola resultantes da viagem de Cristoacutevatildeo Colombo que ano e meio antes
17
Pierre Vilar foi um historiador francecircs Estaacute considerado uma das maacuteximas autoridades no estudo da
Histoacuteria de Espanha tanto no periacuteodo do Antigo Regime como na Idade Contemporacircnea
14
chegara ao chamado Novo Mundo reclamando-o oficialmente para Isabel a Catoacutelica O
tratado foi ratificado pela Espanha a 2 de Julho e por Portugal a 5 de Setembro de 1494
Durante o apogeu cultural e econoacutemico desta eacutepoca Espanha alcanccedilou prestiacutegio
internacional e influenciou culturalmente a Europa Tudo quanto provinha de Espanha
foi amiuacutede imitado e divulgou-se a aprendizagem e estudo do castelhano
As aacutereas culturais mais cultivadas foram a literatura as artes plaacutesticas a muacutesica e a
arquitectura O saber foi-se acumulando e disseminado pelas prestigiadas universidades
de Salamanca e Alcalaacute de Henares
As cidades mais importantes foram Sevilha por receber as riquezas coloniais e dos
comerciantes e banqueiros europeus Madrid como sede da corte e ainda as cidades de
Toledo Valecircncia e Saragoccedila
Com a anexaccedilatildeo dinaacutestica e a formaccedilatildeo da monarquia dual ibeacuterica sob a coroa dos
Habsburgo a dinastia dos Felipes tenta criar o maior impeacuterio global no final do seacuteculo
XVI e primeira metade do seacuteculo XVII18
Com o nascimento do mito do ldquoEl Doradordquo (um suposto rei de uma regiatildeo auriacutefera
inventado pelos nativos colombianos) em 1538 acelerou-se a corrida aos metais
preciosos da Ameacuterica pelos ldquoconquistadoresrdquo espanhoacuteis Em 1547 o famoso mineiro de
Potosi nos Andes comeccedilava a sua exploraccedilatildeo intensiva de prata e em 1560 a invenccedilatildeo
de um novo meacutetodo de refinaccedilatildeo com mercuacuterio vindo das minas espanholas levou ao
disparo do negoacutecio superando a produccedilatildeo de ouro
O pico da importaccedilatildeo de prata para Espanha ocorre no quinqueacutenio de 1591-159519
No Oriente os castelhanos estabeleceram-se em Cebu desde 1565 e dois Navios da
Armada Miguel Lopez de Legazpi conseguiram estabelecer uma nova rota transpaciacutefica
mais a norte para o Meacutexico Em 1571 ocupavam a baiacutea de Manila e em 1574
exploravam as ilhas Borneacuteu e a Nova Guineacute A carreira regular entre o Meacutexico e as
Filipinas entre Acapulco e Manila pretendeu pocircr em xeque a carreira da Iacutendia
portuguesa20
Felipe II sofreu em larga medida do messianismo de seu avocirc portuguecircs D Manuel
I e viu em seu redor desenvolver-se uma retoacuterica imperialista e universalista herdada de
seu pai Carlos V O poeta-soldado Hernando de Acuntildea anunciara num poema dirigido a
18
RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 358 19
RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 348-349 20
RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 349
15
Carlos V que estava proacuteximo o dia em que se realizaria a maacutexima universal um
monarca um impeacuterio e uma espada
Espanha atingia entatildeo o auge de seu Siglo de Oro com um impeacuterio onde ldquoel Sol
no se poniacuteardquo desde o Virreinato de Nueva Espantildea (Ameacuterica Norte e Central) ateacute agraves
Filipinas o que levava os estrategos da Corte dos Felipes a sonhar com uma ldquomonarquia
mundialrdquo Mais tarde o aristocrata andaluz Gaspar Felipe de Guacutezman o famoso Conde-
Duque de Olivares adoptando uma expressatildeo de Gil Vicente afirmou ldquoDios es espantildeol
y estaacute de parte de la nacioacuten estos diasrdquo (Deus eacute espanhol e faz parte da naccedilatildeo nos dias de
hoje)
Ainda na vigecircncia do reinado de Felipe II (1556-1598) satildeo de salientar os
acontecimentos que iriam dar iniacutecio ao processo de decadecircncia deste siglo
Iniacutecio dos ataques sistemaacuteticos dos corsaacuterios ingleses agraves possessotildees
espanholas das Ameacutericas
O desastre da Grande y Feliciacutessima Armada (mais conhecida como
ldquoInvenciacutevel Armadardquo) que partira de Lisboa em 1588 (levando boa parte da
armada portuguesa que natildeo regressou) para invadir e subjugar a Inglaterra
A derrota frente aos ingleses na batalha naval do estreito de Gibraltar em
159021
Depois da morte de Felipe II uma atmosfera de desengantildeo de desilusatildeo nacional
apoderou-se de Espanha ndash segundo Elliot a obra imortal El Inginioso Hidalog Don
Quixote de La Mancha (1605 e 1614) de Miguel de Cervantes Saavedra eacute
provavelmente o expoente dessa eacutepoca de decliacutenio estrateacutegico que se iria estender pelo
reinado do filho e neto de Felipe II22
Na realidade o Siglo de Oro espanhol durou menos de sessenta anos A decadecircncia
comeccedilou na aclamaccedilatildeo de Felipe II em 1581 como rei portuguecircs nas Cortes de Tomar
e termina nas deacutecadas de 1630 e 1640 com Felipe IV (III em Portugal) Este uacuteltimo
coroado aos dezasseis anos de idade entregou o governo do impeacuterio ao Conde-Duque
de Olivares Durante o vinteacutenio compreendido entre 1623 e 1643 eacute o Conde-Duque de
Olivares que exerceraacute o controlo efectivo sobre o Estado espanhol A notoacuteria rivalidade
com o cardeal de Richelieu (Franccedila) arrastou a Espanha para a Guerra dos Trinta Anos
e a diversos conflitos paralelos com a Itaacutelia e com os Paiacuteses Baixos O desgaste causado
21
RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 358-360 22
RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 373
16
pelos vaacuterios conflitos o decliacutenio da induacutestria e do comeacutercio devido ao esgotamento dos
recursos das coloacutenias espanholas e a restauraccedilatildeo da coroa portuguesa (em 1640)
desacreditaram a sua gestatildeo Destituiacutedo do cargo exilou-se no norte de Espanha e
passou seus uacuteltimos anos submetido agraves investigaccedilotildees da Inquisiccedilatildeo ateacute seu falecimento
em 1645
Sucedeu-se ainda um quadro de desaires no final da Guerra dos Trinta Anos (1618-
1648) de que passo a citar os mais importantes
As derrotas infligidas na batalha naval ao largo de Downs no canal da
Mancha Esta derrota naval eacute considerada pelos proacuteprios estrategos espanhoacuteis
como o momento de perda da hegemonia naval
Em 1639 a infligida pelos holandeses comandados por Maarten Tromp
Em 1643 em Rocroi derrotados pelos franceses
A reconquista da Independecircncia dos portugueses em 1640
A revolta da Catalunha que se converte num protectorado francecircs
A derrota de Lens em 1648 de novo agraves matildeos dos franceses
14 O ciclo holandecircs e a hegemonia inglesa
Se Portugal de Quinhentos foi o pioneiro do verdadeiro comeacutercio internacional
foram os hegemonistas seguintes holandeses e ingleses que souberam inovar para dele
tirar proveito efectivo
Alguns historiadores desenharam esta imagem sugestiva ndash o papel dos portugueses
foi entatildeo ldquoo de lanccedilarem catildees para espantarem a caccedila que depois foi apanhada por
outrosrdquo23
Natildeo foi por acaso que os holandeses ficaram conhecidos no seacuteculo XVII como os
ldquocarreteiros do marrdquo com uma frota que era o dobro da de Inglaterra e Franccedila juntas24
ldquoLanccedilaram-se ao mar e tornaram-se os transportadores das mercadorias mundiais Os
23
BOXER 2001 32 Imagem atribuiacuteda por Charles R Boxer ao capitatildeo holandecircs Willem Bosman 24
RODRIGUES 1997 280 (volume I)
O contraste no periacuteodo de 1600-1700 foi brutal a frota comercial portuguesa baixou de uma meacutedia de
700 navios (no periacuteodo de Quinhentos) para quase metade e a holandesa disparou de menos de 100 para
1770 contra 811 ingleses e 155 franceses
17
barcos holandeses iam a toda a parte levando mercadoria de todo o mundo a todo o
lugarrdquo dizia Leo Huberman25
Aos holandeses e ingleses caberia inovarem no empreendorismo capitalista
justamente onde falhou o ldquocapitalismo monaacuterquico portuguecircsrdquo o que gerou a croacutenica
desvantagem competitiva que marcaria a evoluccedilatildeo do comeacutercio a partir dos comeccedilos do
seacuteculo XVII
A esse conjunto de inovaccedilotildees anglo-holandesas entre 1600 e 1700 poderemos
chamar de revoluccedilatildeo de softpower ndash mais poderoso do que o militarismo religioso
apelidado de ldquodilataccedilatildeo da feacuterdquo que os portugueses e espanhoacuteis pretenderam usar como
arma ideoloacutegica de consolidaccedilatildeo das ldquoDescobertasrdquo26
O primeiro aspecto inovador do softpower da potecircncia emergente foi juriacutedico27
A
doutrina do Mare Clausum defendida e aplicada pelos portugueses foi contestada O
holandecircs Hugo Grotius formulou em De Jure Pradae28
(1604) e Mare Liberum (1609)
a ideia de que haveria um direito natural de navegaccedilatildeo livre no mar alto O oceano seria
um bem puacuteblico comum onde natildeo se aplicavam os direitos de conquista nem a lei
consuetudinaacuteria ldquoEm virtude deste direito (de mar livre) o comeacutercio estaacute aberto a toda
a genterdquo afirma Grotius que termina a sua obra Mare Liberum dizendo que eacute preciso
natildeo recuar perante a guerra se os portugueses mantiverem a sua doutrina do Mare
Clausum Grotius respondia tambeacutem a uma decisatildeo de James I de Inglaterra que no
iniacutecio de 1609 decretara a obrigatoriedade de licenccedilas nos mares em redor das costas
inglesas o que prejudicou seriamente os holandeses
O segundo aspecto foi poliacutetico-comercial Foram por sua vez os ingleses que
criaram um novo tipo de companhia trading baseada numa sociedade por acccedilotildees em
que a proacutepria rainha da altura Elizabeth I participava como accionista e sem a
dependecircncia do circuito dos banqueiros alematildees e italianos A primeira dessas
companhias em finais de 1600 tinha o estranho nome de ldquoGovernador e Companhia
dos Aventurosos Mercadores para a descoberta de regiotildees domiacutenios ilhas e lugares
desconhecidosrdquo e contava em Londres com 240 accionistas que investiram 25 libras
25
HUBERMAN 1970 45 26
RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 397 27
O debate entre o Mare Clausum e o Mare Liberum estaacute muito bem documentado no livro de Wilhelm
Grewe intitulado The Epochs of International Law republicado pela editora Walter de Gruyer em 2000
Berlim e Nova York 28
Grotius refere nesta obra supracitada a captura em Malaca de um barco portuguecircs por um navio da
companhia holandesa VOC
18
cada um (na eacutepoca uma soma de certa importacircncia29
) Esta deu origem mais tarde ao
aparecimento da famosa Companhia Inglesa das Iacutendias Orientais Honourable East India
Company Em 1602 foi a vez de os holandeses criarem a Companhia das Indias
Orientais a conhecida VOC (acroacutenimo de Verenidge Oost-indische Compagnie) que
agrupou nove companhias por acccedilotildees depois do ensaio com a inicial Compagnie Van
Verre (Companhia das Terras Longiacutenquas) criadas em 1594
Estas companhias natildeo eram meramente comerciais eram bem mais do que isso
Funcionavam como uma ferramenta poliacutetica multifuncional pois natildeo soacute criavam a
infra-estrutura para o comeacutercio internacional como tambeacutem serviam de arma poliacutetico-
ideoloacutegica (exercendo softpower) coerciva (cobrando impostos) e militar (aplicando o
hardpower)30
Por alguns satildeo consideradas exemplos de ldquoactores natildeo estaduaisrdquo com
dimensatildeo multinacional a quem os monarcas atribuiacuteam poderes soberanos nas regiotildees
de expansatildeo ao contraacuterio dos ibeacutericos que exerciam o poder ultramarino atraveacutes de
vice-reis Posteriormente os franceses copiaram o modelo anglo-holandecircs na sua
projecccedilatildeo nas Ameacutericas e na Iacutendia mas com menos sucesso devido agrave sua inferioridade
na projecccedilatildeo oceacircnica
Em 1609 os holandeses fundaram o Amesterdamsche Wisselbank (Banco de
Amesterdatildeo) sobre o qual Adam Smith escreveu vaacuterios paraacutegrafos na sua obra mais
ceacutelebre31
e em 1694 surgiu o Bank of England32
De salientar ainda a mudanccedila no exerciacutecio de hardpower nos mares Eacute um aspecto a
que muitos historiadores designaram ldquorevoluccedilatildeo militarrdquo ocorrida ao longo da primeira
metade do seacuteculo XVII visto que os ingleses e holandeses inovaram em termos de
velocidade flexibilidade (aperfeiccediloamento da capacidade de bolinar) e posicionamento
da artilharia a bordo dos navios33
29
HUBERMAM ibidem nt 12 30
HUTTON 2006 70 31
SMITH 1776 livro IV capiacutetulo 3 parte I 32
RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 398-400 33
RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 402
19
15 A Burguesia e a Revoluccedilatildeo Industrial
O incremento do comeacutercio mariacutetimo permitiu que os produtos do Oriente
chegassem agrave Europa e vice-versa Este comeacutercio apesar do risco impliacutecito nas viagens
era altamente rentaacutevel (bastava uma caravela chegar do Oriente com especiarias para
cobrir os custos totais da frota)
As transacccedilotildees comerciais realizadas pelos europeus atraveacutes das suas rotas
mariacutetimas permitiram o enriquecimento das classes sociais vigentes e contribuiacuteram
ainda em grande escala para o aparecimento de uma nova classe social ldquoendinheiradardquo
ndash a Burguesia
Os burgueses eram os habitantes dos burgos que eram pequenas ldquocidadesrdquo
protegidas por muros Eram ldquogentesrdquo de elevado estatuto econoacutemico embora de baixo
niacutevel cultural e social Por isso se compreende agrave luz da eacutepoca que tenham sido
ostracizados pela nobreza
Com o mundo e o comeacutercio ligado em rede ndash mercado global ndash a procura mundial
disparou e consequentemente tornou-se mais premente aumentar a oferta
O ldquonegoacutecio mariacutetimordquo indissociaacutevel da burguesia favoreceu a acumulaccedilatildeo de
capitais na Europa Posteriormente esta acumulaccedilatildeo de capital serviu de suporte
financeiro agrave Revoluccedilatildeo Industrial
A Revoluccedilatildeo Industrial consistiu num conjunto de mudanccedilas tecnoloacutegicas34
com
profundo impacto no processo produtivo que se reflectiu no desenvolvimento
econoacutemico e social na Europa A era industrial provocou uma ruptura com o passado
Foi iniciada em Inglaterra em meados do seacuteculo XVIII e rapidamente se expandiu a
partir do seacuteculo XIX
Entre as novas aplicaccedilotildees tecnoloacutegicas saliento a importacircncia da aplicaccedilatildeo do
motor a vapor em navios que veio encurtar a distacircncia entre os portos e
simultaneamente aumentar a capacidade de circulaccedilatildeo de pessoas e mercadorias Este
momento marcou o decliacutenio do ciclo de navegaccedilatildeo comercial agrave vela
A Revoluccedilatildeo Industrial eacute o ponto culminante de uma evoluccedilatildeo tecnoloacutegica
econoacutemica e social que se vinha processando na Europa desde a Idade Meacutedia com
34
James Watt em 1765 introduz na Gratilde-Bretanha o condensador na maacutequina de Newcomen componente
que aumenta consideravelmente a eficiecircncia da maacutequina a vapor
20
maior ecircnfase nos paiacuteses onde a Reforma protestante tinha conseguido destronar a
influecircncia da Igreja Catoacutelica Nos paiacuteses fieacuteis ao catolicismo a Revoluccedilatildeo Industrial
eclodiu em geral mais tarde
O seacuteculo XIX no plano das relaccedilotildees internacionais foi marcado pela hegemonia
mundial britacircnica de expansatildeo colonialista e pelo aparecimento das primeiras lutas e
conquistas dos trabalhadores O trono britacircnico foi ocupado pela rainha Vitoacuteria (1837-
1901) razatildeo pela qual esse periacuteodo eacute denominado por Era Vitoriana No final deste
seacuteculo a busca de novas regiotildees para colonizar e descarregar os produtos (maciccedilamente
produzidos pela revoluccedilatildeo industrial) levou a uma acirrada disputa entre as potecircncias
industrializadas causando diversos conflitos e um crescente espiacuterito armamentista que
culminou mais tarde na eclosatildeo da Primeira Guerra Mundial (1914)
Statue of Prince Henry the Navigator ndash Belgrave Square London35
35
Estaacutetua em homenagem ao Infante D Henrique Belgrave Square em Londres
21
Cap II ndash O Livro Verde da Poliacutetica Mariacutetima Integrada Europeia
21 Fundamentos da Poliacutetica Mariacutetima Integrada Europeia
Partimos da definiccedilatildeo de fundamento eacute o que daacute consistecircncia e seguranccedila o que
daacute coesatildeo agraves partes do todo que ele mesmo estrutura e sustenta36
No capiacutetulo precedente dedicado a um breve enquadramento histoacuterico destaquei as
principais naccedilotildees europeias que contribuiacuteram fortemente para identidade mariacutetima da
Europa Facto eacute que hoje em dia em pleno seacuteculo XXI eacute inconcebiacutevel olhar para
Europa e imaginaacute-la sem mar ou negar a sua importacircncia no quotidiano dos europeus
De referir que na Uniatildeo Europeia a 27 apenas 5 Estados-membros natildeo satildeo paiacuteses
costeiros o que demonstra desde logo a importacircncia da temaacutetica mariacutetima no contexto
europeu Este eacute sem duacutevida um dos desafios que a Europa enfrenta e que passo a
apresentar neste capiacutetulo dedicado ao Livro Verde da Poliacutetica Mariacutetima Integrada
Europeia
Qualquer cidadatildeo europeu se lembraraacute dos relatos das grandes viagens de
descobrimentos que revelaram aos nossos antepassados a vastidatildeo a diversidade de
culturas e a riqueza de recursos do nosso planeta O ecircxito destas viagens que na sua
maioria eram mariacutetimas exigia quase sempre espiacuterito de abertura a ideias novas e um
planeamento meticuloso aleacutem de extraordinaacuteria coragem e forte determinaccedilatildeo Graccedilas a
elas natildeo soacute foram sendo desvendadas ao longo do tempo regiotildees do mundo antes
desconhecidas como tambeacutem apareceram novas tecnologias como por exemplo o
astrolaacutebio (instrumento naval usado para medir a altura dos astros acima da linha do
horizonte) o cronoacutemetro mariacutetimo (destinado a calcular a longitude exacta) e a turbina a
vapor (que permitiu escapar agrave tirania dos ventos dominantes)
A densidade populacional nas zonas do litoral europeu foi sempre elevada No mar
encontraram um meio de subsistecircncia pescadores e marinheiros mas tambeacutem sauacutede e
prazer novos horizontes para sonhar e um rico reportoacuterio de vocaacutebulos e metaacuteforas
36
Enciclopeacutedia Luso Brasileira vol 8 1794
22
presentes tanto na literatura como no quotidiano Fonte de romance de uniatildeo mas
tambeacutem de separaccedilotildees perigos desconhecidos e sofrimento o mar eacute um desafio
permanente e suscita em noacutes uma vontade profunda de melhor o conhecer
A Europa possui mais de 70000 km de orla costeira estaacute rodeada por numerosas
ilhas por quatro mares (Mediterracircneo Baacuteltico do Norte e Negro) e por dois oceanos
(Atlacircntico e Aacuterctico) O continente europeu eacute uma peniacutensula com uma orla costeira de
milhares de quiloacutemetros ndash maior do que a de outras grandes massas continentais como
os Estados Unidos ou a Federaccedilatildeo da Ruacutessia Dada esta configuraccedilatildeo geograacutefica mais
de dois terccedilos das fronteiras da UE satildeo de orla mariacutetima E os espaccedilos mariacutetimos sob
jurisdiccedilatildeo dos Estados-Membros satildeo mais vastos do que os seus espaccedilos terrestres
Graccedilas agraves suas regiotildees ultraperifeacutericas para aleacutem do Oceano Atlacircntico a Europa estaacute
igualmente presente no Oceano Iacutendico e no mar das Caraiacutebas Os desafios colocados por
estas regiotildees no plano mariacutetimo satildeo numerosos e afectam a Uniatildeo Europeia no seu todo
A Europa desde tempos imemoriais essencialmente devido agrave sua geografia sempre
teve uma relaccedilatildeo privilegiada com os oceanos sendo estes determinantes no
desenvolvimento da sua cultura identidade e histoacuteria
Assim continua a ser hoje em dia Num momento em que a Uniatildeo Europeia procura
veementemente revitalizar a economia eacute importante reconhecer o potencial econoacutemico
da dimensatildeo mariacutetima Estima-se que 3 a 5 do produto interno bruto (PIB) europeu
eacute gerado pelas induacutestrias e serviccedilos do sector mariacutetimo sem contar com o valor de
mateacuterias-primas como o petroacuteleo o gaacutes ou o pescado As regiotildees mariacutetimas europeias
representam mais de 40 do PIB da Uniatildeo Europeia
Natildeo obstante os cidadatildeos europeus nem sempre estatildeo bem conscientes da
importacircncia dos oceanos e mares na sua vida Embora saibam que a aacutegua eacute um bem
crucial poderatildeo desconhecer que proveacutem dos oceanos sob a forma ldquorecicladardquo de chuva
ou de neve por exemplo Preocupam-se com as alteraccedilotildees climaacuteticas mas nem sempre
sabem ateacute que ponto satildeo moduladas pelos oceanos Beneficiam da possibilidade de
comprar produtos baratos de todo o mundo sem se aperceberem da complexidade da
rede logiacutestica que o torna possiacutevel37
37
COM (2006) 275 final vol II 3
23
O desenvolvimento sustentaacutevel como se sabe ocupa um lugar preponderante na
agenda de trabalhos da Uniatildeo Europeia O desafio consiste em assegurar o reforccedilo
muacutetuo do crescimento econoacutemico da coesatildeo social e da protecccedilatildeo do ambiente
Ora a PMIE tem a oportunidade de aplicar aos oceanos o princiacutepio do
desenvolvimento sustentaacutevel Para esse efeito pode tirar partido dos trunfos que sempre
estiveram na base da supremacia no domiacutenio mariacutetimo conhecimento dos oceanos
larga experiecircncia e capacidade para enfrentar novos desafios conjugados com um forte
empenho na protecccedilatildeo dos seus recursos38
A Europa depois de seacuteculos de ligaccedilatildeo aos mares e oceanos assume a partir de
2007 a coordenaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas ligadas ao espaccedilo mariacutetimo e costeiro
europeu Todavia o objectivo de alcanccedilar uma poliacutetica mariacutetima mais integrada natildeo eacute
exclusivo da Europa eacute algo que tem vindo a ser implementado igualmente por paiacuteses de
outras regiotildees do mundo como a Austraacutelia o Canadaacute ou os Estados Unidos
22 Potencialidades das principais actividades mariacutetimas da Uniatildeo Europeia
A Uniatildeo Europeia eacute a primeira potecircncia mariacutetima mundial especialmente no que
diz respeito ao transporte mariacutetimo agraves teacutecnicas de construccedilatildeo naval ao turismo costeiro
agrave energia offshore incluindo as energias renovaacuteveis e serviccedilos associados No futuro
segundo um estudo do Irish Marine Institute39
os sectores com maior potencial de
crescimento seratildeo o sector dos cruzeiros e portuaacuterio a aquicultura as energias
renovaacuteveis as telecomunicaccedilotildees submarinas e a biotecnologia marinha
O transporte mariacutetimo e os portos satildeo essenciais para o comeacutercio internacional pois
90 do comeacutercio externo da Uniatildeo Europeia e mais de 40 do seu comeacutercio interno eacute
efectuado por via mariacutetima A Uniatildeo Europeia com 40 da frota mundial eacute
incontestavelmente o liacuteder deste sector global Anualmente 35 mil milhotildees de
toneladas de mercadorias e 350 milhotildees de passageiros transitam pelos portos mariacutetimos
europeus Cerca de 350000 pessoas trabalham nos portos e nos serviccedilos associados
38
COM (2006) 275 final vol II 4 39
Para mais informaccedilotildees sobre o Irsih Marine Institute httpwwwmarineie
24
que no seu conjunto geram um valor acrescentado de aproximadamente 20 mil milhotildees
de euros40
Com o aumento do volume do comeacutercio mundial e o desenvolvimento do
transporte mariacutetimo de curta distacircncia e das ldquoauto-estradasrdquo mariacutetimas as perspectivas
para estes sectores satildeo de crescimento contiacutenuo O transporte mariacutetimo eacute um catalisador
para outros sectores nomeadamente a construccedilatildeo naval e os equipamentos mariacutetimo-
portuaacuterios
Os serviccedilos mariacutetimos associados como os seguros a banca a intermediaccedilatildeo a
classificaccedilatildeo e a consultoria satildeo mais um domiacutenio em que a Europa deve manter a sua
lideranccedila
Os oceanos e os mares geram igualmente receitas graccedilas ao turismo Estima-se que
o volume de negoacutecios directo do sector do turismo mariacutetimo na Europa tenha sido de 72
mil milhotildees de euros em 2004 Os turistas que passam feacuterias no litoral usufruem do mar
da praia e da zona costeira de formas muito diversas Muitos destinos turiacutesticos devem a
sua popularidade agrave proximidade do mar e dependem da qualidade ambiental deste Para
a sustentabilidade do turismo em geral e em particular do ecoturismo sector que se
encontra em raacutepida expansatildeo eacute pois crucial prever um elevado niacutevel de protecccedilatildeo das
zonas costeiras e do meio marinho O turismo gera ainda trabalho para a induacutestria da
construccedilatildeo naval
O sector europeu dos cruzeiros tambeacutem se desenvolveu fortemente nos uacuteltimos
anos registando uma taxa de crescimento anual superior a 10 Os navios de cruzeiro
satildeo praticamente todos construiacutedos na Europa O turismo de cruzeiro contribui para o
desenvolvimento das zonas costeiras e insulares
O sector da naacuteutica de recreio registou igualmente um aumento constante nos
uacuteltimos anos prevendo-se que o seu crescimento anual na Uniatildeo Europeia seja de 5 a
641
Nenhuma outra forma de lazer colectivo abrange um leque tatildeo grande de idades
interesses e locais42
O mar desempenha um papel essencial na competitividade no desenvolvimento
sustentaacutevel e na seguranccedila do aprovisionamento energeacutetico os quais constituem
40
Contributo da Organizaccedilatildeo dos Portos Mariacutetimos Europeus (ESPO) para o Livro Verde 41
Contributo da European Union Recreational Marine Industry Group (EURMIG) para o Livro Verde
Este sector inclui nomeadamente a construccedilatildeo de embarcaccedilotildees a electroacutenica de ponta para fabrico de
motores e equipamentos mariacutetimos o financiamento e a construccedilatildeo e exploraccedilatildeo de infra-estruturas 42
Contributo da European Boating Association (EBA) para o Livro Verde
25
objectivos essenciais identificados pela Comissatildeo Europeia43
e pelos Chefes de Estado
e de Governo44
O mar do Norte eacute depois da Ruacutessia dos Estados Unidos e da Araacutebia
Saudita a quarta maior fonte de petroacuteleo e de gaacutes no mundo45
Os mares em torno da
Europa desempenham tambeacutem um importante papel no sector da energia na medida em
que permitem o transporte por um nuacutemero crescente de navios-tanque de uma grande
parte do petroacuteleo e do gaacutes consumidos na Europa
Por outro lado o vento as correntes oceacircnicas as ondas e mareacutes representam uma
vasta fonte de energia inesgotaacutevel Convenientemente explorados estes tipos de
energias poderiam assegurar uma importante parte do abastecimento de electricidade em
muitas zonas costeiras da Europa e contribuir assim para o desenvolvimento econoacutemico
e a criaccedilatildeo de emprego com caraacutecter duradouro
As empresas europeias desenvolvem know-how na aacuterea das tecnologias marinhas
natildeo soacute no domiacutenio da exploraccedilatildeo de hidrocarbonetos no mar como tambeacutem nos dos
recursos marinhos renovaacuteveis das actividades em aacuteguas profundas da investigaccedilatildeo
oceanograacutefica dos veiacuteculos e robocircs subaquaacuteticos das obras mariacutetimas e da engenharia
costeira Essas tecnologias satildeo cada vez mais utilizadas e estimularatildeo o crescimento do
sector europeu das tecnologias marinhas especialmente nos mercados mundiais de
exportaccedilatildeo
Por fim a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Alimentaccedilatildeo e a Agricultura
(FAO)46
indica que caberaacute agrave aquicultura satisfazer a nova procura mundial no mercado
de consumo de pescado A dificuldade consiste em gerir este aumento de procura de
uma forma sustentaacutevel e compatiacutevel com o ambiente A competiccedilatildeo pelo espaccedilo pode
tambeacutem constituir um importante problema em algumas zonas costeiras A aquicultura
poderaacute distanciar-se da costa o que exigiraacute novos trabalhos de investigaccedilatildeo e
desenvolvimento da tecnologia de cultura em jaulas offshore47
A Uniatildeo Europeia eacute uma das principais potecircncias de pesca ao niacutevel mundial e o
maior mercado de produtos transformados agrave base de peixe Embora o nuacutemero de
pescadores na Uniatildeo Europeia tenha vindo a baixar ao longo dos anos o sector das
43
COM (2006) 105 final 44
Conclusotildees da Presidecircncia do Conselho Europeu de 23 e 24 de Marccedilo de 2006 45
Contributo da International Association of Oil and Gas Producers (OGP) para o Livro Verde 46
O estado das pescas e da aquicultura no mundo FAO 2004 47
COM (2002) 511 final
26
pescas no seu conjunto emprega ainda cerca de 526000 pessoas48
Satildeo proporcionados
numerosos postos de trabalho natildeo soacute no sector da captura como na induacutestria da
transformaccedilatildeo acondicionamento transporte e comercializaccedilatildeo bem como nos
estaleiros faacutebricas de artes de pesca empresas de abastecimento e de manutenccedilatildeo Estas
actividades tecircm uma importacircncia consideraacutevel no tecido econoacutemico e social das zonas
pesqueiras A transiccedilatildeo gradual para pescarias mais sustentaacuteveis prevista pela Uniatildeo
Europeia e o aumento da procura de peixe enquanto alimento saudaacutevel conduzem a
uma maior estabilidade rentabilidade e inclusiveacute crescimento econoacutemico em certos
segmentos do sector das pescas49
Como verificamos as actividades mariacutetimas ainda que dispersas ou diacutevidas por
sectores satildeo efectivamente importantes para o desenvolvimento econoacutemico da Europa
No entanto sendo a Europa um continente proeminentemente mariacutetimo questiono-
me porque eacute que soacute a partir de 2006 surge uma intenccedilatildeo de abordar os assuntos
mariacutetimos como um todo e de forma integrada A resposta eacute complexa Talvez seja o
reflexo de uma Europa tradicionalmente sectaacuteria baseada nos interesses individuais dos
Estados-membros e com a dificuldade em falarem a uma soacute voz Apesar de tardia a
PMIE pode ser uma referecircncia para a Europa na forma como desenvolve e implementa
poliacuteticas axioloacutegicas e integradas contribuindo simultaneamente para uma Europa de
direitos e com valores50
dando assim a todos uma melhor perspectiva de futuro
48
Factos e nuacutemeros sobre a Poliacutetica Comum da Pesca (PCP) CE 2004 49
COM (2006) 275 final volume II 7-9 50
A dignidade humana a liberdade a democracia a igualdade o Estado de Direito o respeito pelos
direitos do Homem satildeo os valores fundamentais da UE consagrados no Preacircmbulo do Tratado de Lisboa
Satildeo comuns a todos os EM e qualquer paiacutes europeu que queira tornar-se membro da UE tem de os
respeitar Defender estes valores bem como a paz e o bem-estar dos povos da Uniatildeo satildeo agora os
objectivos principais da UE Estes objectivos gerais satildeo complementados por objectivos mais especiacuteficos
como a promoccedilatildeo da justiccedila e da protecccedilatildeo sociais e a luta contra a exclusatildeo social e as discriminaccedilotildees
27
23 Livro Verde ndash ldquouma visatildeo para os oceanos e os maresrdquo
ldquo(hellip) torna-se especialmente necessaacuterio termos uma poliacutetica mariacutetima abrangente
orientada para o desenvolvimento de uma economia mariacutetima florescente e para a
plena exploraccedilatildeo do potencial das actividades centradas no mar e de uma forma
sustentaacutevel para o ambiente Esta poliacutetica deve assentar na excelecircncia da investigaccedilatildeo
cientiacutefica da tecnologia e da inovaccedilatildeo mariacutetimardquo Cit nos objectivos estrateacutegicos da
Comissatildeo Europeia para 2005-2009
A Comissatildeo Europeia em Junho de 2006 apresentou um Livro Verde sobre os
diferentes aspectos de uma futura poliacutetica mariacutetima comunitaacuteria Esta obra realccedilou a
identidade e a supremacia mariacutetimas da Europa que devem ser preservadas num
periacuteodo em que as pressotildees sobre o ambiente comprometem a perenidade das
actividades mariacutetimas A poliacutetica mariacutetima deve consequentemente ter por objectivo a
formaccedilatildeo de um sector mariacutetimo inovador competitivo e respeitador do ambiente Para
aleacutem das actividades mariacutetimas a abordagem proposta integra tambeacutem a qualidade de
vida nas regiotildees costeiras O Livro Verde teve como objectivo lanccedilar um debate sobre
uma futura poliacutetica mariacutetima para a Uniatildeo Europeia caracterizado por uma abordagem
holiacutestica dos oceanos e dos mares
Ele tornou claro que num periacuteodo em que os recursos estatildeo ameaccedilados por
pressotildees fortes e pela crescente capacidade tecnoloacutegica de os explorar soacute uma atitude
de profundo respeito pelos oceanos e pelos mares nos permitiraacute continuar a desfrutar
dos benefiacutecios que eles nos oferecem A reduccedilatildeo acelerada da biodiversidade marinha
devido nomeadamente agrave poluiccedilatildeo ao impacto das alteraccedilotildees climaacuteticas e agrave sobrepesca
eacute desde jaacute um sinal de alarme inequiacutevoco que natildeo se pode ignorar
Assim o Livro Verde baseou-se nas poliacuteticas e iniciativas da UE existentes e
insere-se no contexto da Estrateacutegia de Lisboa procurando estabelecer o justo equiliacutebrio
entre as dimensotildees econoacutemica social e ambiental
Como tal contribuiu largamente para que os europeus adquirissem uma nova
consciecircncia da grandeza do seu patrimoacutenio mariacutetimo da importacircncia dos oceanos e do
potencial dos oceanos para melhorar o bem-estar e aumentar as oportunidades
econoacutemicas
28
A Comissatildeo Europeia postulou que a poliacutetica mariacutetima comunitaacuteria deve alicerccedilar-
se em dois pilares fundamentais
Em primeiro lugar deve estar ancorada na Estrateacutegia de Lisboa estimulando o
crescimento e a criaccedilatildeo de mais e melhores empregos O investimento permanente no
conhecimento e nas competecircncias eacute um factor essencial para manter a competitividade e
garantir empregos de qualidade
Em segundo lugar deve manter e melhorar o estado do recurso em que se baseiam
todas as actividades mariacutetimas ou seja o oceano propriamente dito
Embora a utilizaccedilatildeo destes pilares como base para a nova poliacutetica mariacutetima possa
parecer relativamente simples haacute que natildeo descurar duas caracteriacutesticas especiacuteficas do
meio marinho
A primeira consiste na natureza global dos oceanos que faz com que as relaccedilotildees
entre paiacuteses sejam ao mesmo tempo complementares e concorrenciais Para regular as
actividades mariacutetimas no interesse do desenvolvimento sustentaacutevel ao niacutevel mundial eacute
necessaacuterio elaborar regras aplicaacuteveis universalmente Contudo cada parcela de oceano e
de mar eacute singular e pode exigir as suas proacuteprias regras e uma gestatildeo mais especiacutefica
Esta aparente contradiccedilatildeo eacute ilustrativa do motivo pelo qual a natureza global dos
oceanos representa um tatildeo grande desafio para os decisores poliacuteticos
O outro desafio que se oferece a uma boa governaccedilatildeo mariacutetima directamente
ligado ao aspecto anterior prende-se com a multiplicidade dos intervenientes
Numerosas satildeo as poliacuteticas sectoriais que surgiram e que existem a todos os niacuteveis de
poder comunitaacuterio nacional regional e local Pode acontecer que intervenientes de
agecircncias e paiacuteses diferentes ou organizaccedilotildees internacionais estejam melhor colocados
para adoptar as propostas de acccedilatildeo Contudo para que as decisotildees sejam tomadas a um
niacutevel mais proacuteximo dos interessados cumprindo-se o princiacutepio da subsidiariedade soacute
devem ser desenvolvidas acccedilotildees ao niacutevel da Uniatildeo Europeia se tal conferir valor
acrescentado agraves actividades de outros51
51
COM (2006) 275 final volume II 5-6
29
24 Aacutereas-chave no Livro Verde
Do Livro Verde constam diversas aacutereas-chave que passamos a analisar
Meio marinho
O meio marinho enfrenta nomeadamente os seguintes problemas diminuiccedilatildeo
acelerada da biodiversidade (consequecircncias na realizaccedilatildeo do potencial da
ldquobiotecnologia azulrdquo) exploraccedilatildeo excessiva dos recursos (consequecircncias para a pesca)
alteraccedilotildees climaacuteticas (consequecircncias para a pesca e para o turismo costeiro) poluiccedilatildeo
com origem terrestre acidificaccedilatildeo da aacutegua do mar e a poluiccedilatildeo provocada pelas
descargas dos navios e os acidentes mariacutetimos (na falta de melhor seguranccedila mariacutetima)
Para diminuir o impacto destes fenoacutemenos no meio-ambiente marinho deveraacute reforccedilar-
se a legislaccedilatildeo no domiacutenio da seguranccedila mariacutetima introduzir-se a avaliaccedilatildeo de riscos na
elaboraccedilatildeo das poliacuteticas e aplicar novas tecnologias ao niacutevel do tratamento de aacuteguas de
lastro52
Investigaccedilatildeo
A investigaccedilatildeo eacute essencial para se poder definir estrateacutegicas e tomar decisotildees com
conhecimento de causa Todavia os EM podem ir mais longe coordenando os seus
programas de investigaccedilatildeo nacionais a fim de realizar uma investigaccedilatildeo pan-europeia e
racionalizando meios A cooperaccedilatildeo entre investigadores e criadores de novas
tecnologias assume tambeacutem especial importacircncia
Inovaccedilatildeo
A inovaccedilatildeo pode ajudar a encontrar soluccedilotildees em domiacutenios em franca mutaccedilatildeo
como eacute o caso das energias e das alteraccedilotildees climaacuteticas As soluccedilotildees encontradas podem
tambeacutem beneficiar paiacuteses terceiros quando estes optarem por um desenvolvimento
sustentaacutevel e assim poderatildeo constituir uma vantagem competitiva para estes A energia
52
Aacutegua de lastro eacute a aacutegua do mar captada pelo navio para garantir a seguranccedila operacional e estabilidade
do mesmo Em geral os tanques satildeo preenchidos com maior ou menor quantidade de aacutegua para aumentar
ou diminuir o calado dos navios durante as operaccedilotildees portuaacuterias A aacutegua de lastro eacute um risco pelo facto de
transportar espeacutecies exoacuteticas dentro dos tanques dos navios Os seres vivos introduzidos pela aacutegua de
lastro podem variar entre organismos milimeacutetricos ateacute peixes com 30 centiacutemetros Satildeo inuacutemeros os
registos de ldquobioinvasatildeordquo por meio da aacutegua de lastro no mundo inteiro
30
eoacutelica as turbinas movidas pelas correntes de mareacute e os recursos de gaacutes e de petroacuteleo
dos grandes fundos marinhos podem representar novas fontes de energia
Matildeo-de-obra ldquosaber-fazerrdquo
As actividades mariacutetimas precisam de atrair pessoas altamente qualificadas No
entanto embora no seu conjunto o emprego no sector mariacutetimo europeu seja estaacutevel53
o nuacutemero de mariacutetimos europeus estaacute a diminuir Ou seja apesar de diminuir o nuacutemero
de trabalhadores no sector das pescas o sector foi compensado por pujantes serviccedilos
mariacutetimos tais como turismo e transporte mariacutetimo
O recrutamento em nuacutemero suficiente de mariacutetimos e outros profissionais bem
formados e competentes eacute essencial para garantir a sobrevivecircncia do sector mariacutetimo
assim como para manter a vantagem concorrencial da Europa
O ensino e a formaccedilatildeo no domiacutenio mariacutetimo devem ter por objectivo conferir aos
potenciais candidatos as mais elevadas competecircncias que possam abrir muacuteltiplas
perspectivas profissionais
A excelecircncia dos candidatos a emprego soacute seraacute garantida se se conseguir atrair para
o ensino e formaccedilatildeo no domiacutenio mariacutetimo os jovens mais capazes Eacute nesse quadro que
importa lutar contra a imagem do sector Eacute essencial oferecer aos mariacutetimos homens e
mulheres condiccedilotildees de vida e de trabalho adequadas ao niacutevel das expectativas a que os
europeus se habituaram com toda a legitimidade
Formaccedilatildeo de clusters54
O desenvolvimento de uma percepccedilatildeo comum das articulaccedilotildees possiacuteveis entre os
diferentes sectores mariacutetimos permitiraacute melhorar a imagem e aumentar a atractividade e
produtividade destes Estes agrupamentos de empresas e de profissionais que abrangem
todos os sectores de actividade podem assumir diversas formas Assim no domiacutenio
mariacutetimo eacute preciso distinguir os clusters nacionais ndash que servem frequentemente de
53
Ver o documento ldquoEmployment social and training aspects of maritime and fishing industries and
related sectorsrdquo httpeceuropaeumaritimeaffairspdfSEC(2006)_68920_2pdf 54
Remetendo em inglecircs para a noccedilatildeo de conjunto o termo ldquoclusterrdquo designa um agrupamento de
empresas do mesmo sector presentes na maior parte das vezes numa mesma bacia de emprego Mais
precisamente segundo Michael E Porter da Universidade de Harvard um cluster eacute ldquouma concentraccedilatildeo
de empresas ligadas entre si de fornecedores especializados de prestadores de serviccedilos e de instituiccedilotildees
associadas (universidades associaccedilotildees comerciais etc)rdquo
31
transmissores de opiniatildeo para certos ramos ou profissotildees mariacutetimas ndash dos clusters
regionais Estes uacuteltimos consagram-se ao desenvolvimento da economia mariacutetima
atraveacutes da inovaccedilatildeo e da aproximaccedilatildeo entre investigaccedilatildeo formaccedilatildeo e a induacutestria55
Os clusters podem contribuir para estimular a competitividade de todo um sector ou
grupo de sectores Eacute o que acontece se se partilhar conhecimentos realizar projectos
comuns de investigaccedilatildeo e inovaccedilatildeo (desenvolvimento de produtos) unir esforccedilos no
ensino e na formaccedilatildeo partilhar meacutetodos de organizaccedilatildeo inovadores dentro de um grupo
de empresas (aquisiccedilatildeo e distribuiccedilatildeo em comum) ou estrateacutegias de promoccedilatildeo comuns
nomeadamente em mateacuteria de marketing e publicidade
A exploraccedilatildeo do potencial oferecido pela formaccedilatildeo de clusters eacute pertinente em
sectores com cadeias de abastecimento complexas que envolvem produccedilatildeo e serviccedilos e
tambeacutem com um grande nuacutemero de pequenas e meacutedias empresas Eacute esse o caso da
construccedilatildeo naval Na construccedilatildeo naval moderna mais de 70 do ldquonavio acabadordquo
resulta do trabalho de uma vasta rede de fornecedores de sistemas equipamentos e
serviccedilos56
Eacute possiacutevel disseminar as boas praacuteticas ligando estes sectores entre si e
transformando-os em redes de excelecircncia mariacutetima que abranjam todos os sectores
mariacutetimos incluindo o dos serviccedilos
Qualidade de vida nas regiotildees costeiras
O litoral europeu foi em tempos povoado por comunidades que viviam da pesca
Com o desenvolvimento do transporte mariacutetimo local e internacional foram-se
construindo portos e emergiram novas actividades nas periferias A procura de uma vida
agrave beira-mar apenas pelo prazer que daiacute decorre eacute um fenoacutemeno relativamente recente
A Conferecircncia das Regiotildees Perifeacutericas Mariacutetimas da Europa (CRPM) sublinha que
a atractividade natural (paisagem horas de insolaccedilatildeo e benefiacutecios para a sauacutede) daacute
igualmente origem a um forte crescimento demograacutefico que natildeo apresenta sinais de
abrandamento57
Por exemplo Portugal com 75 da populaccedilatildeo a viver no litoral
enfrenta neste domiacutenio indubitavelmente grandes desafios e novas exigecircncias
55
BERNARD-BRUNET Patrick 2007 23 56
Contributo da Associaccedilatildeo dos Estaleiros Europeus de Construccedilatildeo e Reparaccedilatildeo Naval (CESA) para o
Livro Verde 57
Contributo da CRPM para o Livro Verde
32
A concentraccedilatildeo demograacutefica nas regiotildees costeiras acarreta pressotildees sobre o espaccedilo
e o ambiente Exige uma maior acessibilidade em especial das pequenas ilhas e uma
maior mobilidade no seu interior que passa pela melhoria das infra-estruturas de
transporte Obriga agrave oferta de serviccedilos de interesse geral (sauacutede educaccedilatildeo
abastecimento de aacutegua e energia telecomunicaccedilotildees serviccedilos postais tratamento das
aacuteguas residuais e dos resiacuteduos) a fim de promover a qualidade de vida nas zonas
costeiras especialmente durante as estaccedilotildees altas do turismo Nas regiotildees rurais e
remotas as tecnologias da informaccedilatildeo e da comunicaccedilatildeo tecircm um papel a desempenhar
no fornecimento de serviccedilos em linha sauacutede ensino acesso puacuteblico agrave Internet
actividade econoacutemica ajuda agraves empresas e teletrabalho58
Ao planear o
desenvolvimento do litoral haacute que ter em conta o seu impacto ambiental a fim de obter
um resultado sustentaacutevel
As zonas costeiras e as ilhas satildeo elementos essenciais da atractividade e do ecircxito do
turismo costeiro Para que a Europa permaneccedila o primeiro destino turiacutestico ao niacutevel
mundial tem que apoiar um turismo sustentaacutevel nessas regiotildees O turismo sustentaacutevel
pode contribuir para o desenvolvimento das zonas costeiras e das ilhas melhorando a
competitividade das empresas satisfazendo as necessidades sociais promovendo o
patrimoacutenio natural e cultural e valorizando os ecossistemas locais Para um nuacutemero
crescente de destinos turiacutesticos a necessidade de melhorar ou manter a sua atractividade
constitui um incentivo para adoptar praacuteticas e estrateacutegias mais sustentaacuteveis e mais
compatiacuteveis com o ambiente
Muitos desses destinos jaacute realizam esforccedilos para efectuar uma gestatildeo integrada da
qualidade definindo estrateacutegias com os seus parceiros aplicando boas praacuteticas e
desenvolvendo instrumentos de acompanhamento e avaliaccedilatildeo para ajustar a sua acccedilatildeo
A sua experiecircncia poderaacute ser utilizada para formular recomendaccedilotildees destinadas a todos
os destinos turiacutesticos costeiros
A diversificaccedilatildeo dos produtos e serviccedilos turiacutesticos pode contribuir para a
competitividade dos destinos costeiros e insulares especialmente quando aos turistas eacute
oferecida a oportunidade de desfrutarem de locais de interesse cultural e natural
situados no litoral ou no hinterland rural ou urbano bem como de uma variedade de
58
Iniciativa do Comiteacute das Regiotildees (CdR) de 12102005 ndash Poliacutetica Mariacutetima da Uniatildeo Europeia ldquouma
questatildeo de desenvolvimento sustentaacutevel para as autoridades locais e regionaisrdquo
33
atracccedilotildees ligadas ao mar (observaccedilatildeo dos mamiacuteferos marinhos mergulho e arqueologia
subaquaacutetica actividades naacuteuticas e talassoterapia) Esta diversificaccedilatildeo apresenta
inuacutemeras vantagens designadamente uma menor pressatildeo nas praias fontes alternativas
de rendimento para antigos pescadores nas comunidades costeiras e criaccedilatildeo de novas
actividades destinadas a apoiar a preservaccedilatildeo e o desenvolvimento do patrimoacutenio local
No caso de Portugal para aleacutem de possuir uma oferta turiacutestica diversificada deve
tirar partido da sua localizaccedilatildeo geograacutefica como paiacutes costeiro por excelecircncia da forte
tradiccedilatildeo mariacutetima e de clima ameno que o caracteriza (lidera a lista de paiacuteses europeus
em dias sol por ano)
Estas mais-valias intriacutensecas permitem o prolongamento da estaccedilatildeo turiacutestica
gerando assim mais crescimento econoacutemico e aumento do nuacutemero de empregos a
tempo inteiro Desta forma diluindo os picos de concentraccedilatildeo turiacutestica reduz o impacto
ambiental das actividades turiacutesticas e contribui para melhorar a qualidade de vida no
litoral portuguecircs
Novas formas de governaccedilatildeo mariacutetima
Qualquer forma de governaccedilatildeo dos oceanos deve ter em conta os princiacutepios
estabelecidos nos Tratados relativamente aos domiacutenios poliacuteticos e agrave distribuiccedilatildeo de
competecircncias entre instituiccedilotildees da Uniatildeo Europeia Estados-Membros regiotildees e
autoridades locais Nesta base e em conformidade com o princiacutepio da subsidiariedade59
eacute necessaacuterio atender agraves especificidades sectoriais e regionais
Uma poliacutetica mariacutetima inclusiva da Uniatildeo Europeia deveraacute visar o crescimento e a
criaccedilatildeo de mais e melhores postos de trabalho contribuindo assim para uma economia
mariacutetima forte e em expansatildeo competitiva e sustentaacutevel e em harmonia com o meio
marinho Deve procurar prevenir e minimizar os conflitos em torno da utilizaccedilatildeo do
espaccedilo mariacutetimo e prever mecanismos claros e consensuais para a sua resoluccedilatildeo Deve
proporcionar uma maior previsibilidade para o sector e outros interessados e uma
abordagem mais eficaz em mateacuteria de conservaccedilatildeo dos recursos marinhos Neste
59
O princiacutepio da subsidiariedade prossegue dois objectivos opostos Por um lado permite que a
comunidade intervenha quando as medidas individualmente adoptadas pelos Estados-Membros natildeo
possibilitem uma soluccedilatildeo cabal Por outro lado visa manter a competecircncia dos Estados-Membros nos
domiacutenios que natildeo podem ser melhor regidos por uma intervenccedilatildeo comunitaacuteria A inclusatildeo deste princiacutepio
nos Tratados europeus deveraacute permitir que as decisotildees comunitaacuterias sejam adoptadas a um niacutevel tatildeo
proacuteximo quanto possiacutevel dos cidadatildeos - httpwwweuroparleuropaeufactsheets1_2_2_pthtm
34
contexto o diaacutelogo social europeu nos sectores mariacutetimos reveste-se de uma
importacircncia cada vez maior
Para se alcanccedilarem estes objectivos eacute necessaacuterio coordenar e integrar as poliacuteticas
sectoriais Confirmam-no os compromissos assumidos no quadro da cimeira mundial
sobre o desenvolvimento sustentaacutevel de 200260
e as disposiccedilotildees da Convenccedilatildeo das
Naccedilotildees Unidas sobre o Direito do Mar61
Aleacutem disso os progressos da ciecircncia e da tecnologia facultam agora uma melhor
compreensatildeo das interacccedilotildees e relaccedilotildees no que se refere aos oceanos e suas utilizaccedilotildees
O modelo de governaccedilatildeo da PMIE por sectores ou regiotildees geograacuteficas deve pois
ser substituiacutedo por uma abordagem transversal O modelo de governaccedilatildeo integrado
promove a partilha de conhecimentos e de boas praacuteticas bem como o diaacutelogo entre as
partes interessadas O impacto desta forma de governo permite elaborar medidas e
directivas agrave escala europeia respeitando as especificidades locais regionais e nacionais
Acho importante referir ainda que este modelo pode desencadear economias de escala
dando como exemplo de partilha o sistema de vigilacircncia mariacutetima da Agecircncia Europeia
da Seguranccedila Mariacutetima62
(EMSA) com sede em Lisboa
Novos instrumentos da gestatildeo das relaccedilotildees com os oceanos
ldquoOcirc mer nul ne connaicirct tes richesses intimesrdquo - Les fleurs du mal 63
Para uma melhor compreensatildeo das utilizaccedilotildees concorrentes do oceano haveraacute que
aperfeiccediloar os dados e as informaccedilotildees relativos agraves actividades mariacutetimas sejam elas
sociais econoacutemicas ou recreativas bem como sobre o impacto dessas actividades nos
recursos Tambeacutem para os operadores econoacutemicos mariacutetimos eacute importante haver dados
de qualidade Contudo subsistem grandes problemas no que se refere agrave harmonizaccedilatildeo e
agrave fiabilidade dos dados bem como agrave monitorizaccedilatildeo das regiotildees marinhas da Uniatildeo
Europeia que continuam a ser insuficientes e desajustados do ponto de vista geograacutefico
60
ONU Department of Economic and Social Affairs ndash Division for Sustainable Development
httpwwwunorgesasustdevdocumentsWSSD_POI_PDEnglishPOITochtm 61
Contributo da EuDA para o Livro Verde 62
A EMSA criada em 2002 na sequecircncia da cataacutestrofe do Erika e tem como objectivos reduzir o risco de
acidentes mariacutetimos diminuir a poluiccedilatildeo provocada pelos navios e salvaguardar as vidas humanas no
mar 63
ldquoOacute mar ningueacutem conhece as tuas riquezas escondidasrdquo ndash As Flores do Mal de Charles Baudelaire
(1821-1867) poeta francecircs e um dos fundadores do simbolismo O seu livro As Flores do Mal eacute
considerado um marco da poesia moderna
35
Para conceber uma poliacutetica mariacutetima comunitaacuteria racional e sustentaacutevel haveraacute que
obviar a estas lacunas
A Uniatildeo Europeia pode examinar a possibilidade de criar uma rede europeia de
observaccedilatildeo e de dados do meio marinho Esta possibilita garantir a longo prazo a
melhoria da observaccedilatildeo sistemaacutetica (in situ e a partir do espaccedilo) a interoperabilidade e
o reforccedilo do acesso aos dados com base em soluccedilotildees tecnologias da informaccedilatildeo e da
comunicaccedilatildeo (TIC) robustas abertas e geneacutericas Essa rede possibilita uma anaacutelise
integrada ao niacutevel da Uniatildeo Europeia de diferentes tipos de dados e metadados
provenientes de vaacuterias fontes O objectivo eacute fornecer agraves autoridades puacuteblicas aos
serviccedilos mariacutetimos e induacutestrias conexas bem como aos investigadores uma fonte de
dados primaacuterios para utilizaccedilatildeo na elaboraccedilatildeo de previsotildees e nas actividades de
monitorizaccedilatildeo integrando assim iniciativas existentes mas fragmentadas
O melhoramento e a difusatildeo dos dados relativos ao meio marinho permite tambeacutem
criar novas oportunidades para as empresas comerciais de alta tecnologia do sector
mariacutetimo e melhorar a eficiecircncia de actividades como a vigilacircncia mariacutetima a gestatildeo
dos recursos marinhos e a investigaccedilatildeo marinha nos laboratoacuterios europeus Aleacutem disso
contribui significativamente para reduzir as actuais incertezas relativamente ao sistema
oceacircnico e agraves alteraccedilotildees climaacuteticas tornando mais precisas as previsotildees meteoroloacutegicas
sazonais64
Proteger o legado mariacutetimo e sensibilizar o puacuteblico
Os cidadatildeos europeus cresceram com as histoacuterias dos grandes exploradores que
nos fizeram compreender que a Terra eacute redonda e nos ensinaram a situar exactamente os
continentes Muitos deles gozam as suas feacuterias na costa no meio da azaacutefama dos portos
de pesca saboreando marisco nos restaurantes e passeando agrave beira-mar a fugir agrave
rebentaccedilatildeo Alguns passam horas a observar as coloacutenias de aves marinhas ou as baleias
ou a esperar que o peixe morda o isco Outros passam os tempos livres a restaurar ou a
navegar em velhos barcos de madeira Haacute ainda outros que gostam de ver
documentaacuterios sobre os golfinhos ou os pinguins na televisatildeo ou no cinema Alguns
trabalharatildeo nos solos mariacutetimos outros seratildeo pescadores ou capitatildees de porto e outros
por sua vez trabalharatildeo no posto de turismo de uma cidade costeira
64
COM (2006) 275 final volume II 34-35
36
Quantos todavia compreenderatildeo que estas actividades estatildeo interligadas Quantos
teratildeo consciecircncia de serem cidadatildeos de uma Europa mariacutetima Bem poucos a avaliar
pelo debate realizado a propoacutesito do Livro Verde
Que assim seja natildeo eacute de surpreender Os aquaacuterios podem dar uma ideia da beleza e
das maravilhas da vida sob as ondas mas poucos conseguem mostrar de forma
convincente quatildeo fraacutegeis satildeo os oceanos que actividades os ameaccedilam e que esforccedilos
estatildeo a ser feitos para os preservar Os museus do mar podem ajudar-nos a compreender
as proezas do passado mas dificilmente nos conseguiratildeo transmitir uma noccedilatildeo clara da
avanccedilada tecnologia que eacute apanaacutegio das actividades mariacutetimas do presente As
organizaccedilotildees que se dedicam a manter vivas as tradiccedilotildees do passado nem sempre se
associam agrave realidade comercial do presente sem falar do deslumbrante potencial futuro
que os oceanos encerram A Comissatildeo Europeia crecirc que haacute muito a ganhar com o forjar
de um sentimento de identidade comum entre todos aqueles que vivem das actividades
mariacutetimas ou cuja qualidade de vida estaacute fortemente ligada ao mar Ganhar-se-aacute assim
uma melhor compreensatildeo das interacccedilotildees em jogo e da importacircncia do mar para a
Humanidade65
Acredito que as actividades naacuteuticas podem neste domiacutenio desempenhar um
papel fundamental A Naacuteutica pelo vasto puacuteblico que abrange ao longo de todo o ano
estabelece respeito muacutetuo entre por um lado os recursos naturais (mar aacutegua e litoral) e
por outro as populaccedilotildees residentes ou turiacutesticas As actividades naacuteuticas satildeo fortemente
orientadas desde haacute muito para a descoberta protecccedilatildeo e promoccedilatildeo do patrimoacutenio e
ambiente e ainda para a descoberta e promoccedilatildeo das actividades e profissotildees mariacutetimas
Os centros naacuteuticos e as marinas podem ser a grande vitrine do oceano aberta a todos
atraveacutes de actividades educativas desportivas e de lazer
Vejamos o exemplo dos Jogos Naacuteuticos Atlacircnticos criados na Bretanha em 1995
sob o lema o ldquoOceano nos unerdquo Os Jogos Naacuteuticos Atlacircnticos66
satildeo um evento
desportivo de alto niacutevel competitivo que se realiza anual e rotativamente pelas
diferentes regiotildees do Atlacircntico promovendo a fileira naacuteutica popularizando os
desportos naacuteuticos e incentivando intercacircmbios de experiecircncias Participam neste
quadro festivo e de amizade cerca de 500 atletas de cinco modalidades naacuteuticas
(Canoagem Remo Subaquaacuteticas Surf e Vela) sempre acompanhados de grupos
65
COM (2006) 275 final volume II 51 66
Jogos Naacuteuticos Atlacircnticos ( wwwjnieaeu)
37
culturais e musicais representativos das regiotildees participantes contribuindo desta forma
para uma Europa mariacutetima mais unida e coesa
Haacute vaacuterios anos a esta parte tecircm sido realizados eventos como por exemplo as
Initiatives Oceacutean ldquoIl nacutey a pas de petit pollutionrdquo da responsabilidade da Surfrider
Foundation Europe67
Este movimento europeu sensibiliza e mobiliza o grande puacuteblico
para as questotildees e problemaacuteticas ambientais e mariacutetimas
Por uacuteltimo realccedilo tambeacutem o projecto europeu NEA 268
ldquoNautisme Espace
Atlantique 2rdquo que visa o desenvolvimento sustentaacutevel e coordenado do conjunto da
fileira naacuteutica nas regiotildees da faixa atlacircntica (actividades portos de recreio induacutestria
comeacutercio e serviccedilos) atraveacutes de um reforccedilo de cooperaccedilatildeo baseado em trecircs eixos
temaacuteticos o desenvolvimento econoacutemico a protecccedilatildeo do ambiente a coesatildeo social Em
cada uma destas temaacuteticas o projecto prevecirc a realizaccedilatildeo de acccedilotildees comuns
transnacionais associando diversos parceiros e de acccedilotildees locais implementadas por
cada parceiro no seu territoacuterio Impulsionado por 23 parceiros europeus durante um
periacuteodo de 3 anos (Janeiro 2009 a Dezembro de 2011) o NEA2 foi aprovado pelo
Programa de Cooperaccedilatildeo Transnacional Espaccedilo Atlacircntico (POCTEA) e beneficia como
tal de uma subvenccedilatildeo do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER) Este
projecto persegue o sucesso alcanccedilado pelo seu antecessor Nautisme Espace Atlantique
(Novembro de 2004 a Outubro de 2007) do Programa INTERREG III B que reuniu 11
parceiros com o objectivo comum ldquodesenvolvimento coordenado do turismo naacuteuticordquo
O sector naacuteutico e os seus intervenientes satildeo parceiros eficazes para a mobilizaccedilatildeo
da populaccedilatildeo e consequente aproximaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do mar
67
Surfrider Foundation Europe (wwwsurfridereu) ONG dedicada a proteger os oceanos as ondas e o
litoral 68
Nautisme Espace Atlantique 2 ( wwwnea2eu)
38
25 Participaccedilatildeo dos europeus no processo de construccedilatildeo da PMIE
O debate poliacutetico acerca da elaboraccedilatildeo de uma poliacutetica mariacutetima da Uniatildeo
Europeia constitui a melhor oportunidade nos uacuteltimos anos para que o significado
mundial e local dos oceanos e os resultados da investigaccedilatildeo e inovaccedilatildeo marinhas sejam
devidamente apreciados pela sociedade declarou Peter Heffernan director executivo
do Irish Marine Institute em Galway na Irlanda
A consulta sobre a poliacutetica mariacutetima da Uniatildeo Europeia iniciou-se apoacutes o
lanccedilamento do Livro Verde a 7 de Junho de 2006 e teve uma duraccedilatildeo de treze meses
Foi o maior periacuteodo de consulta alguma vez efectuada na Uniatildeo Europeia
O processo de consulta teve um eco sem precedentes evidenciado pela elevada taxa
de participaccedilatildeo e pela qualidade das contribuiccedilotildees Para aleacutem dos contributos de todas
as instituiccedilotildees europeias tambeacutem vaacuterios parlamentos nacionais e alguns regionais
apresentaram directamente agrave Comissatildeo Europeia as suas observaccedilotildees sobre o Livro
Verde69
As contribuiccedilotildees preconizaram consulta e diaacutelogo mas tambeacutem uma melhor
informaccedilatildeo de todos os afectados pela poliacutetica mariacutetima
Os intervenientes econoacutemicos congratularam-se com o princiacutepio de uma abordagem
integrada de modo a induzir maior transparecircncia e eficiecircncia na elaboraccedilatildeo de poliacuteticas
e regulamentaccedilatildeo apropriada no acircmbito da Uniatildeo Europeia Defenderam a necessidade
da elaboraccedilatildeo de uma poliacutetica mariacutetima integrada com vista a promover a economia
mariacutetima florescente Torna-se premente desenvolver relaccedilotildees fortes entre os sectores e
respectivas actividades conexas e apelaram agrave formaccedilatildeo de clusters (incluindo agrave escala
comunitaacuteria)
As regiotildees defenderam entusiasticamente uma abordagem integrada Sublinharam o
papel das regiotildees costeiras enquanto centros da economia mariacutetima Estas esperam tirar
proveito por um lado da ligaccedilatildeo estabelecida entre a acccedilatildeo ao niacutevel comunitaacuterio e as
actividades no terreno nas regiotildees costeiras e por outro lado do reforccedilo do
envolvimento dos governos dos Estados-Membros
69
COM (2007) 574 final 2
39
Os Estados-Membros satildeo favoraacuteveis ao princiacutepio da gestatildeo integrada dos assuntos
mariacutetimos e encaram a proposta de uma poliacutetica mariacutetima integrada como meio
privilegiado para assegurar um desenvolvimento estaacutevel e sustentaacutevel das respectivas
economias mariacutetimas e regiotildees costeiras Desejam manter os mecanismos que
funcionam bem pois servem de catalisadores de boas praacuteticas
Os cidadatildeos individuais e a sociedade civil reagiram de forma ambivalente Haacute
mesmo quem tema que a Uniatildeo Europeia possa interferir nas competecircncias nacionais ou
locais mas em geral as reacccedilotildees mostraram que o puacuteblico estaacute preocupado com o
ecossistema marinho estando contudo ceacutepticos relativamente agraves medidas que os
governos possam vir a tomar para o proteger As organizaccedilotildees natildeo governamentais
(ONG) ambientais apelaram a uma acccedilatildeo comunitaacuteria no domiacutenio do ordenamento do
espaccedilo mariacutetimo e costeiro a fim de assegurar a execuccedilatildeo de uma gestatildeo baseada nos
ecossistemas
O lanccedilamento de uma consulta sobre a poliacutetica mariacutetima despertou igualmente o
interesse daqueles que desejam informar e dar a conhecer elementos sobre os nossos
mares e oceanos O conhecimento por parte dos cidadatildeos europeus das nossas costas e
do que estaacute para aleacutem delas eacute considerado como um sustentaacuteculo tanto das economias
mariacutetimas cujo ecircxito depende da sua atractividade como do nosso ambiente marinho
cuja preservaccedilatildeo depende da sensibilizaccedilatildeo dos cidadatildeos
Contudo todos estatildeo de acordo quanto agrave necessidade de melhorar a imagem global
dos sectores mariacutetimos Satildeo inuacutemeras as sugestotildees relacionadas com as permutas de
boas praacuteticas conferecircncias participaccedilatildeo de peritos em assuntos mariacutetimos como os
pescadores ou projectos de pequena escala destinados a informar as comunidades locais
ou turistas
Em suma o processo de consulta deu azo ao aparecimento de um manancial de
ideias e estimulou o desejo de participar num projecto comum a longo prazo baseado
na aprendizagem e no desenvolvimento interactivo permanente Este processo natildeo soacute
veio introduzir uma nova abordagem integrada da gestatildeo dos assuntos mariacutetimos como
abriu alas a uma nova forma de fazer poliacutetica na Europa70
No total foram recebidas mais de 490 contribuiccedilotildees e organizados mais de 230
eventos em que se debateu a poliacutetica mariacutetima com os vaacuterios interessados
70
COM (2007) 574 final 9-10
40
Cap III ndash O Livro Azul plano de acccedilatildeo e instrumentos financeiros
31 Condiccedilotildees poliacuteticas do processo de decisatildeo
Presidido pela Alemanha o Conselho Europeu de Junho de 2007 congratulou-se
com o vasto debate que teve lugar na Europa acerca da futura poliacutetica mariacutetima Os
Chefes de Estado e de Governo convidaram a Comissatildeo Europeia a elaborar um plano
de acccedilatildeo europeu a apresentar em Outubro desse mesmo ano Atendendo ao princiacutepio da
subsidiariedade este plano de acccedilatildeo teve por fim explorar de uma forma
ambientalmente sustentaacutevel o pleno potencial das actividades econoacutemicas orientadas
para o mar
A Comissatildeo em resposta ao Conselho Europeu adoptou no dia 10 de Outubro de
2007 uma Comunicaccedilatildeo conhecida como o Livro Azul da Poliacutetica Mariacutetima Europeia
em que define a sua visatildeo de uma poliacutetica mariacutetima integrada para a UE juntamente
com um plano de acccedilatildeo pormenorizado que estabeleceu um ambicioso programa de
trabalho para os proacuteximos anos As descobertas cientiacuteficas a raacutepida evoluccedilatildeo
tecnoloacutegica a globalizaccedilatildeo as alteraccedilotildees climaacuteticas e a poluiccedilatildeo marinha estatildeo a alterar
rapidamente o relacionamento da Europa com os mares e oceanos com todas as
oportunidades e desafios impliacutecitos desse processo
De salientar que a Presidecircncia Portuguesa do Conselho da Uniatildeo Europeia no
segundo semestre de 2007 reconheceu de forma clara a necessidade de uma abordagem
integrada para os assuntos mariacutetimos A Presidecircncia Portuguesa levou a cabo diversos
eventos com destaque para uma Conferecircncia Ministerial sobre Poliacutetica Mariacutetima para a
Uniatildeo Europeia que teve lugar em Lisboa no dia 22 de Outubro permitindo a
divulgaccedilatildeo dos resultados da consulta puacuteblica do Livro Verde e a indicaccedilatildeo dos sectores
prioritaacuterios a seguir
Esta Conferecircncia foi altamente significativa pois juntou agrave volta da mesma mesa
pela primeira vez os decisores poliacuteticos responsaacuteveis nacionais pela coordenaccedilatildeo dos
assuntos do mar independentemente da foacutermula governativa adoptada em cada paiacutes
europeu A estes juntaram-se ainda os paiacuteses da Associaccedilatildeo Europeia de Livre
41
Comeacutercio (EFTA) do Espaccedilo Econoacutemico Europeu e as principais instituiccedilotildees europeias
envolvidas
Por sua vez o Parlamento Europeu no dia 20 de Maio de 2008 deu ldquoluz verderdquo agrave
proposta da Comissatildeo Europeia para a criaccedilatildeo de uma Poliacutetica Mariacutetima Europeia
aprovada com 587 votos a favor 20 contra e 58 abstenccedilotildees A aprovaccedilatildeo pelo PE de
uma poliacutetica mariacutetima europeia teve lugar no dia em que se celebrou pela primeira vez
o Dia Europeu do Mar data que coincidiu ainda com a chegada de Vasco da Gama agrave
Iacutendia em 1498
A Comissatildeo Europeia propocircs uma poliacutetica mariacutetima integrada para a Uniatildeo
Europeia baseada no reconhecimento inequiacutevoco de que todas as questotildees relativas aos
oceanos e mares estatildeo interligadas e que para podermos colher os resultados desejados
todas as poliacuteticas ligadas ao mar devem ser elaboradas de uma forma articulada
O plano de acccedilatildeo baseou-se na consulta puacuteblica e resultou dos trabalhos de um alto
grupo de pilotagem com a participaccedilatildeo de 10 Comissaacuterios presidido por Joe Borg (Ex-
Comissaacuterio Europeu para os Assuntos Mariacutetimos e da Pesca) e supervisionado pelo
Presidente da Comissatildeo Europeia Duratildeo Barroso
Uma poliacutetica mariacutetima integrada exige um quadro de governaccedilatildeo que aplique a
abordagem integrada a todos os niacuteveis bem como instrumentos poliacuteticos horizontais e
transectoriais Exige igualmente uma soacutelida base financeira que tenha em conta os
resultados das acccedilotildees preparatoacuterias
A Comissatildeo Europeia criou uma funccedilatildeo de ldquopoliacutetica mariacutetimardquo cuja tarefa eacute
analisar os assuntos mariacutetimos e as poliacuteticas que os afectam assegurar a coordenaccedilatildeo
entre as poliacuteticas sectoriais garantir que as interacccedilotildees entre elas sejam tidas em conta e
pilotar o desenvolvimento de instrumentos poliacuteticos transectoriais
Por outro lado a Comissatildeo comeccedilou a reunir as agecircncias da Uniatildeo Europeia que
desempenham funccedilotildees ligadas agraves actividades mariacutetimas para que contribuam
conjuntamente para a elaboraccedilatildeo da poliacutetica mariacutetima
42
Um quadro de governaccedilatildeo integrado para os assuntos mariacutetimos exige por sua vez
instrumentos horizontais de planificaccedilatildeo que sejam comuns agraves poliacuteticas sectoriais
ligadas ao mar e apoiem a elaboraccedilatildeo conjunta de poliacuteticas Assim os trecircs instrumentos
que se seguem satildeo especialmente importantes
Uma rede europeia de vigilacircncia mariacutetima
A vigilacircncia mariacutetima reveste-se da maior importacircncia para garantir a utilizaccedilatildeo
segura do mar e para a protecccedilatildeo das fronteiras mariacutetimas da Europa O melhoramento e
optimizaccedilatildeo das actividades de vigilacircncia mariacutetima bem como a sua interoperabilidade
ao niacutevel europeu satildeo importantes para que a Europa possa fazer face aos desafios e
ameaccedilas ligados agrave seguranccedila da navegaccedilatildeo agrave poluiccedilatildeo marinha ao cumprimento da lei
e agrave seguranccedila em geral71
Ordenamento do espaccedilo mariacutetimo (OEM) e gestatildeo integrada das zonas costeiras
(GIZC)
Os quadros de ordenamento existentes incidem essencialmente na vertente terrestre
e raramente abordam a forma como o desenvolvimento costeiro pode afectar o mar e
vice-versa Temos de fazer face aos problemas resultantes das crescentes utilizaccedilotildees
concorrentes do mar que vatildeo do transporte mariacutetimo agrave produccedilatildeo de energia offshore e
outras formas de exploraccedilatildeo do leito marinho passando pela pesca e aquicultura e pelas
actividades de lazer72
Dados e informaccedilotildees
A disponibilidade e a facilidade de acesso a um vasto leque de dados relativos aos
factores naturais e agrave actividade humana nos oceanos constituem a base para a tomada de
decisotildees estrateacutegicas no domiacutenio da poliacutetica mariacutetima Dada a vasta quantidade de
dados coligidos e armazenados em toda a Europa para fins muito diversos eacute de extrema
importacircncia estabelecer uma infra-estrutura adequada para recolher os dados e
informaccedilotildees sobre o ambiente marinho73
71
COM (2007) 575 final 5 72
COM (2007) 575 final 6 73
COM (2007) 575 final 6
43
32 Livro Azul e o plano de acccedilatildeo
As acccedilotildees propostas no Livro Azul ajudam a Uniatildeo Europeia a avanccedilar na
prossecuccedilatildeo dos objectivos fulcrais da poliacutetica mariacutetima integrada incidindo
principalmente em cinco domiacutenios de acccedilatildeo estrateacutegica a saber
1)Maximizaccedilatildeo da utilizaccedilatildeo sustentaacutevel dos oceanos e mares
O principal objectivo de uma poliacutetica mariacutetima integrada da Uniatildeo Europeia eacute criar
as melhores condiccedilotildees para a utilizaccedilatildeo sustentaacutevel dos oceanos e mares permitindo o
desenvolvimento dos sectores mariacutetimos e das regiotildees costeiras
Em muitos Estados-Membros o desenvolvimento recente da economia mariacutetima foi
superior ao da economia no seu conjunto sobretudo em regiotildees activas no domiacutenio da
logiacutestica mariacutetima O transporte mariacutetimo de contentores aumentou consideravelmente a
partir de 2000 esperando-se que triplique ateacute 2020 Por outro lado regiotildees activas
noutros mercados de forte crescimento como o equipamento mariacutetimo a energia eoacutelica
offshore a naacuteutica de recreio ou o sector dos cruzeiros continuaratildeo a colher benefiacutecios
deste crescimento Graccedilas agrave forte especializaccedilatildeo da Europa no campo das tecnologias
marinhas as induacutestrias europeias tecircm tambeacutem um grande potencial para desenvolver
produtos mariacutetimos de ponta susceptiacuteveis de assumir uma posiccedilatildeo lideranccedila nos
mercados mundiais
Contudo haacute muito potencial subaproveitado ainda Para garantir o crescimento
sustentaacutevel de actividades ligadas ao mar e assegurar ao mesmo tempo que as
actividades mariacutetimas se desenvolvam de forma a natildeo comprometer a sauacutede do
ecossistema eacute indispensaacutevel ter uma visatildeo estrateacutegica actualizada que permita o
desenvolvimento competitivo e seguro do transporte mariacutetimo dos portos e dos sectores
conexos
O transporte mariacutetimo eacute vital para o comeacutercio internacional e interno da Europa e
continua a ser a espinha dorsal do cluster mariacutetimo Contudo este sector soacute continuaraacute a
prosperar se a Uniatildeo Europeia prosseguir os seus esforccedilos com vista a atingir um niacutevel
elevado de seguranccedila mariacutetima e protecccedilatildeo do transporte mariacutetimo contribuindo para
proteger as vidas humanas e o ambiente e simultaneamente favorecer condiccedilotildees de
concorrecircncia equitativas ao niacutevel internacional
44
Embora seja uma importante fonte de poluiccedilatildeo atmosfeacuterica e de emissotildees de
dioacutexido de carbono (CO2) o transporte mariacutetimo continua a ser bastante mais eficiente
em termos energeacuteticos do que o transporte rodoviaacuterio Por este motivo e dada a
necessidade de reduzir o nuacutemero de camiotildees que circulam nas estradas congestionadas
da Europa uma poliacutetica mariacutetima integrada favorece fortemente a promoccedilatildeo de
transportes mariacutetimos seguros e fiaacuteveis
A cadeia logiacutestica mariacutetima europeia requer tambeacutem a existecircncia de estaleiros da
construccedilatildeo e reparaccedilatildeo naval e empresas de equipamento mariacutetimo com tecnologia de
ponta incorporada
O aumento dos investimentos na investigaccedilatildeo e tecnologia marinha eacute fundamental
para assegurar o crescimento econoacutemico sem agravar a degradaccedilatildeo do ambiente Esses
investimentos criaratildeo tambeacutem novas oportunidades Graccedilas a tecnologias respeitadoras
do ambiente que permitam a prosperidade das actividades mariacutetimas sem comprometer
o ambiente marinho as empresas europeias poderatildeo manter a sua posiccedilatildeo de lideranccedila agrave
medida que as normas mundiais se tornem mais estritas e que as induacutestrias novas e
promissoras como a biotecnologia azul as energias renovaacuteveis offshore a tecnologia e
o equipamento subaquaacuteticos e a aquicultura marinha forem desenvolvidas
A tecnologia permite agrave Europa beneficiar de todas as potencialidades oferecidas
pelo mar enquanto fonte de petroacuteleo e gaacutes74
bem como de energias renovaacuteveis e
tambeacutem enquanto lugar de transporte de energia que permite diversificar as vias de
transporte de energia e aumentar deste modo a seguranccedila do abastecimento
A integraccedilatildeo e a competitividade das empresas no sector mariacutetimo satildeo fortemente
potenciadas pela formaccedilatildeo de clusters multissectoriais Os clusters locais e regionais
que reuacutenem diferentes sectores e partes interessadas para desenvolver sinergias entre as
suas actividades afiguram-se uma evoluccedilatildeo promissora da comunidade mariacutetima
europeia Os clusters contribuem para melhorar a qualidade e elevar os padrotildees dos
produtos e serviccedilos do sector mariacutetimo europeu bem como para aumentar a integraccedilatildeo
da economia mariacutetima Contribuem deste modo para o crescimento econoacutemico e para
criaccedilatildeo de emprego bem como para a sustentabilidade da economia mariacutetima na sua
globalidade O seu sucesso dependeraacute largamente da acccedilatildeo inovadora do sector
privado e de outras partes interessadas sobretudo no caso dos clusters regionais A par
74
Segundo a OGP 40 do petroacuteleo e 60 do gaacutes actualmente consumidos na Europa satildeo extraiacutedos em
offshore
45
da criaccedilatildeo de clusters multissectoriais devem ser criados centros regionais de excelecircncia
mariacutetima
Os clusters contribuem ainda para conservar o know-how mariacutetimo da Europa pelo
que satildeo fundamentais para a poliacutetica mariacutetima A cooperaccedilatildeo entre os sectores puacuteblico e
privado em centros de excelecircncia mariacutetima cria tambeacutem um contexto favoraacutevel para
compreender e programar adequadamente as interacccedilotildees entre diferentes induacutestrias e
sectores75
Para fazer face a este domiacutenio estrateacutegico a UE pocircs em marcha uma Directiva-
Quadro denominada Estrateacutegia Marinha76
que estabelece um quadro de acccedilatildeo
comunitaacuteria no domiacutenio da poliacutetica para o meio marinho
Foi com o objectivo de promover o uso sustentaacutevel dos mares e a conservaccedilatildeo dos
ecossistemas marinhos incluindo o leito do mar estuaacuterios e aacutereas costeiras dando
especial atenccedilatildeo aos siacutetios com elevado valor em biodiversidade que foi desenvolvida
no quadro da Uniatildeo Europeia a Estrateacutegia temaacutetica para a protecccedilatildeo e conservaccedilatildeo do
ambiente marinho77
Este documento cuja aprovaccedilatildeo foi precedida de ampla discussatildeo a niacutevel Europeu
foi o ponto de partida para a preparaccedilatildeo da proposta de Directiva do Parlamento
Europeu e do Conselho Europeu que estabelece um quadro de acccedilatildeo comunitaacuteria no
domiacutenio da poliacutetica para o meio marinho
A Directiva estabelece um quadro no qual os Estados Membros devem tomar as
medidas necessaacuterias para obter ou manter um bom estado ambiental no meio marinho
ateacute 2020 Para isso devem ser desenvolvidas e aplicadas estrateacutegias marinhas com vista
a proteger e preservar o meio marinho impedir a sua deterioraccedilatildeo ou quando
exequiacutevel restaurar os ecossistemas marinhos nas aacutereas afectadas prevenir e reduzir as
ldquoentradasrdquo no meio marinho de modo a eliminar progressivamente a poluiccedilatildeo e
assegurar que natildeo haja impactos ou riscos significativos (biodiversidade ecossistemas
sauacutede humana e utilizaccedilotildees legiacutetimas do mar)
O processo negocial desta Directiva culminou com a respectiva aprovaccedilatildeo no final
de 2007 durante a Presidecircncia Portuguesa do Conselho da Uniatildeo Europeia e representa
75
COM (2007) 575 final 7-9 76
Directiva Quadro ldquoEstrateacutegia Marinhardquo ndash COM (2005) 505 final 77
Estrateacutegia temaacutetica para a protecccedilatildeo e conservaccedilatildeo do ambiente marinhordquo ndash COM (2005) 504 final
46
um instrumento de particular importacircncia no quadro da poliacutetica de protecccedilatildeo do meio
marinho constituindo assim o pilar ambiental da Estrateacutegia Mariacutetima Europeia
2) Construccedilatildeo de uma base de conhecimentos e inovaccedilatildeo para a poliacutetica mariacutetima
A ciecircncia a tecnologia e a investigaccedilatildeo marinha satildeo cruciais para o
desenvolvimento sustentaacutevel das actividades mariacutetimas
Ao ajudarem a compreender mais profundamente os impactos das actividades
humanas nos sistemas marinhos a investigaccedilatildeo e a tecnologia marinhas fornecem a
chave para romper a ligaccedilatildeo entre o desenvolvimento das actividades mariacutetimas e a
degradaccedilatildeo do ambiente
O reforccedilo da abordagem multidisciplinar da ciecircncia marinha pode contribuir para
uma melhor compreensatildeo das interacccedilotildees entre as actividades mariacutetimas sendo
portanto uma componente indispensaacutevel de uma poliacutetica mariacutetima integrada Este
reforccedilo seraacute igualmente fundamental para prever e atenuar tanto quanto possiacutevel os
efeitos das alteraccedilotildees climaacuteticas
A investigaccedilatildeo marinha e mariacutetima tem custos elevados pelo que natildeo se pode
permitir faltas de eficiecircncia Para poder utilizar os recursos europeus da melhor forma eacute
necessaacuterio definir uma estrateacutegia clara que articule as prioridades a niacutevel poliacutetico e a
niacutevel de investigaccedilatildeo responda a desafios transectoriais potencie as sinergias entre os
esforccedilos dos Estados-Membros e os da Comunidade evite as duplicaccedilotildees e melhore o
diaacutelogo entre os intervenientes A Europa deve tambeacutem explorar o modo como a
investigaccedilatildeo pode contribuir mais e melhor para a inovaccedilatildeo e como transformar mais
eficazmente o conhecimento e as competecircncias em produtos e serviccedilos industriais78
3) Maximizaccedilatildeo da qualidade de vida nas regiotildees costeiras
Na uacuteltima deacutecada o crescimento demograacutefico nas regiotildees costeiras e insulares foi
duas vezes superior ao crescimento demograacutefico meacutedio na Uniatildeo Europeia As
comunidades costeiras satildeo tambeacutem o destino da maioria dos turistas na Europa pelo
que a necessidade de reconciliar o desenvolvimento econoacutemico a sustentabilidade do
ambiente e a qualidade de vida nessas regiotildees se coloca aiacute com maior acuidade
As autoridades regionais e as comunidades costeiras tecircm um importante papel a
desempenhar na regulaccedilatildeo das actividades costeiras e mariacutetimas O Comiteacute das Regiotildees
78
COM (2007) 575 final 12
47
(CoR) as regiotildees costeiras e as suas redes satildeo por conseguinte parceiros essenciais no
quadro da elaboraccedilatildeo de uma poliacutetica mariacutetima integrada da Uniatildeo Europeia
Os portos e os sectores mariacutetimos conferem a estas regiotildees uma importacircncia
estrateacutegica para a Europa no seu conjunto Oferecem importantes serviccedilos ao seu
hinterland e funcionam como base para o policiamento das fronteiras mariacutetimas e das
aacuteguas costeiras Daqui resulta uma forte pressatildeo sobre as infra-estruturas facto que deve
ser tomado em consideraccedilatildeo na atribuiccedilatildeo de recursos comunitaacuterios As regiotildees
costeiras satildeo tambeacutem particularmente afectadas pelas alteraccedilotildees climaacuteticas e a gestatildeo
dos riscos pode assumir proporccedilotildees dramaacuteticas nos orccedilamentos e economias destas
regiotildees
O mar eacute determinante para o turismo costeiro e mariacutetimo e eacute um importante
catalisador do desenvolvimento econoacutemico das zonas costeiras europeias
Embora reconheccedilam que haacute fontes de financiamento os interessados consideram
que tecircm um insuficiente acesso agrave informaccedilatildeo A Comissatildeo Europeia deve esforccedilar-se
por optimizar os projectos mariacutetimos nas regiotildees costeiras e insulares no acircmbito dos
vaacuterios instrumentos financeiros comunitaacuterios disponiacuteveis (ver ponto 33 Instrumentos
econoacutemico-financeiros de apoio agrave PMIE)
A necessidade de obter melhores dados soacutecio-econoacutemicos sobre os sectores
mariacutetimos e as regiotildees costeiras eacute tambeacutem evidente tendo em conta que a dificuldade
em obter tais informaccedilotildees estaacute a limitar a capacidade dos interessados a niacutevel regional
no respeitante ao desenvolvimento de planos e investimentos racionais a longo prazo
Por outro lado a colaboraccedilatildeo inter-regional eacute essencial para permitir o
desenvolvimento das regiotildees costeiras europeias o qual deve ter em conta a diversidade
e especificidade destes locais Por conseguinte a Comissatildeo Europeia deve utilizar
plenamente o Programa de Cooperaccedilatildeo Territorial para apoiar o desenvolvimento
mariacutetimo inter-regional
As regiotildees ultraperifeacutericas e as ilhas estatildeo sujeitas a desvantagens econoacutemicas
consideraacuteveis mas dispotildeem de um elevado potencial no que se refere agraves actividades
mariacutetimas e agrave investigaccedilatildeo marinha As suas extensas zonas mariacutetimas oferecem
serviccedilos ligados aos ecossistemas de grande interesse para a Uniatildeo Europeia A
48
Comissatildeo Europeia deve promover o desenvolvimento do seu potencial mariacutetimo e a
sua cooperaccedilatildeo com os vizinhos regionais respectivos79
A actual situaccedilatildeo das pescas na Europa natildeo pode ser considerada satisfatoacuteria Os
esforccedilos para conseguir reduzir a capacidade existente e a conservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo
dos recursos haliecircuticos existentes devem ser acompanhados por uma melhoria do
bem-estar social dos trabalhadores activos no sector
A integraccedilatildeo dos pescadores na economia mariacutetima mais ampla pode ser beneacutefica
tanto para as suas perspectivas de emprego como para o desenvolvimento global das
condiccedilotildees em que trabalham e em que o seu sector opera Aleacutem disso o bem-estar das
comunidades pesqueiras tradicionais eacute uma componente importante para a qualidade de
vida nas regiotildees costeiras
Saliento o papel que o sector naacuteutico pode desempenhar ao niacutevel do
desenvolvimento local pois para aleacutem de proporcionar actividades para populaccedilotildees
residentes eou turistas eacute uma importante via para gerar emprego e riqueza A Naacuteutica
pode e deve estabelecer o elo entre o mar e a populaccedilatildeo desfavorecida contribuindo
para a inserccedilatildeo e coesatildeo social da comunidade As actividades naacuteuticas trazem em si
valecircncias de solidariedade ou de inclusatildeo social como por exemplo ajudar na
conversatildeo das comunidades piscatoacuterias em dificuldade (escassez de emprego) em
agentes naacuteuticos reconhecidos pela sociedade
4) Promoccedilatildeo da lideranccedila europeia nos assuntos mariacutetimos internacionais
A Uniatildeo Europeia deve continuar a envidar esforccedilos com vista a assegurar uma
governaccedilatildeo internacional dos assuntos mariacutetimos mais eficiente e a fazer cumprir o
direito mariacutetimo internacional instando os Estados-Membros a ratificar os instrumentos
pertinentes Neste contexto deve promover a coordenaccedilatildeo dos interesses europeus nas
principais instacircncias internacionais
O acesso das induacutestrias e serviccedilos mariacutetimos europeus aos mercados internacionais
a exploraccedilatildeo comercial e cientiacutefica sustentaacutevel das aacuteguas profundas a protecccedilatildeo da
biodiversidade marinha mundial a melhoria da seguranccedila mariacutetima e da protecccedilatildeo do
transporte mariacutetimo as condiccedilotildees de trabalho a reduccedilatildeo da poluiccedilatildeo causada pelos
navios e a luta contra as actividades ilegais nas aacuteguas internacionais devem constituir as
prioridades da poliacutetica mariacutetima integrada da Uniatildeo Europeia a niacutevel das suas relaccedilotildees
79
COM (2007) 575 final 13-14
49
externas Deve igualmente prestar atenccedilatildeo agraves implicaccedilotildees geopoliacuteticas das alteraccedilotildees
climaacuteticas (por exemplo as questotildees relacionadas com o Aacutertico)
Por outro lado os assuntos mariacutetimos satildeo regularmente tema de debates com os
parceiros da Uniatildeo Europeia que jaacute adoptaram medidas a favor de uma abordagem
mariacutetima integrada nomeadamente a Austraacutelia o Canadaacute o Japatildeo a Noruega e os
Estados-Unidos mas tambeacutem com outros parceiros como o Brasil Ruacutessia Iacutendia e
China (agora denominados BRIC)
A Uniatildeo Europeia deve fomentar ainda uma responsabilidade partilhada
relativamente aos mares que compartilha com os seus vizinhos Concretamente a Uniatildeo
Europeia propotildee apresentar propostas no sentido de aumentar a cooperaccedilatildeo no que
concerne agrave gestatildeo do Mediterracircneo e do mar Negro E ainda promover a cooperaccedilatildeo ao
niacutevel das relaccedilotildees externas dos paiacuteses da Europa Setentrional com os paiacuteses em
desenvolvimento incluindo os pequenos Estados insulares atraveacutes de programas de
cooperaccedilatildeo reforccedila as capacidades dos paiacuteses em desenvolvimento no que se refere agrave
poliacutetica mariacutetima e ao Direito do mar80
5) Promoccedilatildeo da visibilidade da Europa mariacutetima
Os cidadatildeos europeus cresceram com as histoacuterias dos grandes exploradores que
nos fizeram compreender que a Terra eacute redonda e nos ensinaram a situar exactamente
os continentes Muitos deles gozam as suas feacuterias na costa no meio da azaacutefama dos
barcos de pesca saboreando marisco nos restaurantes e passeando agrave beira-mar a fugir
agrave rebentaccedilatildeo () Outros passam os tempos livres a restaurar ou a navegar em velhos
barcos de madeira () Quantos todavia compreenderatildeo que estas actividades estatildeo
interligadas Quantos teratildeo consciecircncia de serem cidadatildeos de uma Europa
mariacutetima81
Na sequecircncia do Livro Verde sobre uma futura poliacutetica mariacutetima da Uniatildeo e em
resposta ao forte apoio manifestado por muitas partes interessadas durante o processo de
consulta relativo agrave nova poliacutetica de promoccedilatildeo da cultura e do patrimoacutenio mariacutetimos da
Europa a Comissatildeo tem focado a sua atenccedilatildeo no aumento da visibilidade da Europa
80
COM (2007) 575 final 14-15 81
Extractos do Livro Verde ldquoPara uma futura poliacutetica mariacutetima da Uniatildeo Uma visatildeo europeia para os
oceanos e os maresrdquo Capiacutetulo VI Reivindicar a heranccedila mariacutetima da Europa - Reiterar a identidade
mariacutetima da Europa p 51
50
mariacutetima como um dos objectivos fulcrais de uma poliacutetica mariacutetima holiacutestica e
integrada
Os stakeholders exprimiram claramente a opiniatildeo de que o processo de elaboraccedilatildeo
de uma poliacutetica mariacutetima comunitaacuteria permitiu a aquisiccedilatildeo de uma nova consciecircncia
puacuteblica sobre a importacircncia da economia e patrimoacutenio mariacutetimo e estaacute a criar entre eles
o sentimento de partilharem um objectivo e identidade comuns
Para tal a poliacutetica mariacutetima integrada deve procurar aumentar a visibilidade da
Europa mariacutetima e melhorar a imagem das suas actividades e das profissotildees ligadas ao
mar
A PMIE deve ainda promover o patrimoacutenio mariacutetimo europeu apoiando as
comunidades mariacutetimas as cidades portuaacuterias as comunidades piscatoacuterias tradicionais
os produtos artesanais as teacutecnicas tradicionais e fomentar a criaccedilatildeo de ligaccedilotildees entre
elas para incrementar o seu conhecimento e dar maior visibilidade
A Comissatildeo Europeia prossegue este objectivo recorrendo a iniciativas das quais
destaco o Dia Europeu do Mar82
(celebrado em Bruxelas Roma e Gijoacuten 2008 2009 e
2010 respectivamente) e as novas ldquoferramentasrdquo de comunicaccedilatildeo com realce para o
Atlas Europeu dos Mares o Foacuterum Mariacutetimo e o website oficial para os assuntos do mar
da Europa
O Atlas Europeu dos Mares83
jaacute eacute uma realidade Destina-se a todos os interessados
do mundo marinho e do patrimoacutenio mariacutetimo e o objectivo eacute sensibilizar a opiniatildeo
puacuteblica para a importacircncia dos oceanos e dos mares da Europa Este Atlas pedagoacutegico
fornece uma seacuterie de dados fiaacuteveis e regularmente actualizados sobre temas tatildeo variados
como o relevo do fundo do mar a erosatildeo costeira a frota de pesca europeia o
transporte mariacutetimo a amplitude de mareacutes as quotas de pesca por espeacutecie e por regiatildeo e
as ldquoauto-estradas do marrdquo
Tanto o Foacuterum Mariacutetimo84
como o website85
contribuem para ajudar a melhor
compreender a visatildeo transversal da actividade mariacutetima presente em diversos sectores
de actividade Estas ferramentas satildeo meios eficazes para disseminar informaccedilatildeo sobre a
comunidade mariacutetima dar a conhecer boas praacuteticas mariacutetimas e podem ainda servir de
82
Informaccedilatildeo sobre Dia Europeu do Mar disponiacutevel em httpeceuropaeumaritimeaffairsmaritimeday 83
Atlas Europeu do Mares disponiacutevel em httpeceuropaeumaritimeaffairsatlas 84
Foacuterum Mariacutetimo disponiacutevel em httpswebgateeceuropaeumaritimeforum 85
Website oficial do Assuntos Mariacutetimos europeus httpeceuropaeumaritimeaffairs
51
alavanca para futuras sinergias potenciando a economia mariacutetima o ambiente marinho
e as comunidades costeiras
33 Instrumentos econoacutemico-financeiros de apoio agrave PMIE
As poliacuteticas independentemente da sua natureza carecem sempre de instrumentos
financeiros para agilizar a prossecuccedilatildeo das mesmas A PMIE natildeo foge a esta regra
Conveacutem neste ponto destinado aos instrumentos financeiros distingui-los quanto agrave
forma como contribuem para consolidaccedilatildeo da PMIE Assim sendo comeccedilo pelos
instrumentos ao dispocircr da poliacutetica de coesatildeo e da poliacutetica regional que apesar de
exercerem um papel importante na eliminaccedilatildeo das assimetrias regionais natildeo saciam
todas as necessidades impliacutecitas na PMIE De seguida abordo outros instrumentos
financeiros (Fundo Europeu das Pescas Instrumento Europeu de Vizinhanccedila e de
Parceria e o 7ordm Programa-Quadro) que vatildeo ao encontro de algumas medidas enunciadas
no plano de acccedilatildeo do Livro Azul e para terminar faccedilo referecircncia ao receacutem-criado
programa de apoio ao aprofundamento da PMIE
331 A poliacutetica de coesatildeo e a poliacutetica regional europeia
A expressatildeo ldquopoliacutetica de coesatildeordquo designa um quadro poliacutetico de solidariedade a
niacutevel europeu traduzindo-se em centenas de milhares de projectos em toda a Europa
que beneficiam do apoio do Fundo de Coesatildeo e dos Fundos Estruturais ndash o Fundo
Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER) e o Fundo Social Europeu (FSE)
Para acelerar a convergecircncia econoacutemica social e territorial a Uniatildeo Europeia
instituiu um Fundo de Coesatildeo em 1994 Este fundo destina-se aos paiacuteses cujo PIB
meacutedio por habitante eacute inferior a 90 da meacutedia comunitaacuteria O Fundo de Coesatildeo tem por
finalidade conceder financiamentos a favor de projectos de infra-estruturas nos
domiacutenios do ambiente e dos transportes Contudo a aplicaccedilatildeo do Fundo de Coesatildeo estaacute
sujeita a determinadas condiccedilotildees Caso o deacutefice puacuteblico de um Estado Membro
52
beneficiaacuterio exceder 3 do PIB nacional (regras de convergecircncia da Uniatildeo Econoacutemica
Monetaacuteria) nenhum novo projecto seraacute aprovado enquanto o deacutefice natildeo estiver outra
vez sob controlo
A coesatildeo econoacutemica e social descrita no Acto Uacutenico Europeu de 1986 propotildee-se
ldquoreduzir a diferenccedila entre as diversas regiotildees e o atraso das regiotildees menos favorecidasrdquo
O Tratado de Lisboa acrescenta-lhe uma terceira vertente quando fala de poliacutetica de
coesatildeo econoacutemica social e territorial Isto significa que a poliacutetica de coesatildeo tambeacutem
deve visar um desenvolvimento territorial mais equilibrado e sustentaacutevel
As orientaccedilotildees estrateacutegicas da poliacutetica de coesatildeo para o periacuteodo 2007-2013
centram-se em torno de trecircs prioridades 1ordf ndash reforccedilo da capacidade de atracccedilatildeo dos
Estados-Membros das regiotildees e das cidades 2ordf ndash promoccedilatildeo da inovaccedilatildeo do espiacuterito
empresarial e do crescimento da economia do conhecimento 3ordf Criaccedilatildeo de mais e
melhores empregos
Hoje em dia a Europa enfrenta uma tarefa esmagadora Natildeo soacute tem de vencer a
crise profunda que atravessa e reduzir o desemprego e a pobreza como deve transitar
para uma economia com baixas emissotildees de carbono Tatildeo ambiciosa tarefa requer
grande rapidez de acccedilatildeo em muitas e variadas frentes razatildeo pela qual o Conselho
Europeu adoptou a Estrateacutegia ldquoEuropa 2020rdquo Para que a Europa venccedila todos os
intervenientes tecircm de dar o seu contributo agrave escala europeia nacional regional e local
A poliacutetica de coesatildeo tem de continuar a desempenhar um papel fundamental nos tempos
difiacuteceis que atravessamos para estimular o crescimento inteligente (valorizando o
conhecimento a inovaccedilatildeo a educaccedilatildeo e a sociedade digital) sustentaacutevel (promovendo
um economia hipocarboacutenica em termos de recursos e competitividade) e inclusivo
(aumento da taxa de participaccedilatildeo no mercado de trabalho aquisiccedilatildeo de qualificaccedilotildees e
luta contra a pobreza) com vista ao desenvolvimento harmonioso da UE e assim
reduzir as disparidades regionais Indubitavelmente sem a poliacutetica de coesatildeo as
disparidades seriam maiores
Contudo a coesatildeo econoacutemica social e territorial eacute essencialmente concretizada
atraveacutes da poliacutetica regional A poliacutetica regional da UE favorece a reduccedilatildeo das diferenccedilas
estruturais existentes entre as regiotildees o desenvolvimento equilibrado do territoacuterio
comunitaacuterio e a promoccedilatildeo de uma igualdade de oportunidades efectiva entre as pessoas
A poliacutetica regional constitui a segunda maior rubrica orccedilamental da UE com uma
dotaccedilatildeo de 348 mil milhotildees de euros para o periacuteodo de 2007-2013 O alargamento para
53
27 Estados Membros em Janeiro de 2007 alterou a situaccedilatildeo da UE pois enquanto a
superfiacutecie da UE aumentou mais de 25 e a populaccedilatildeo mais de 20 a sua riqueza soacute
aumentou cerca de 5 O PIB meacutedio por habitante da UE diminuiu mais de 10 e as
disparidades regionais foram multiplicadas por dois Eacute sabido que aproximadamente
60 das regiotildees menos desenvolvidas se situam doravante nos 12 Estados-Membros
que aderiram desde 2004 Logo facilmente se depreende a deslocaccedilatildeo do centro de
gravidade da poliacutetica regional para Leste
Para o periacuteodo de 2007-2013 a dotaccedilatildeo financeira atribuiacuteda agrave poliacutetica regional
aproxima-se dos 348 mil milhotildees de euros 278 mil milhotildees para os Fundos Estruturais
e 70 mil milhotildees para o Fundo de Coesatildeo Esta dotaccedilatildeo representa 45 do orccedilamento
comunitaacuterio ou seja constitui a segunda rubrica orccedilamental logo atraacutes da Poliacutetica
Agriacutecola Comum (PAC)
Cabe agraves regiotildees e agraves respectivas entidades regionais atraveacutes das poliacuteticas de coesatildeo
e desenvolvimento regional afectarem uma parte dos fundos europeus para financiarem
projectos de interesse mariacutetimo e que vatildeo ao encontro do estipulado na PMIE
332 Fundos Estruturais
Como foi referido anteriormente existem dois tipos de fundos estruturais o Fundo
Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER) e o Fundo Social Europeu (FSE)
O FEDER86
apoia desde 1975 a realizaccedilatildeo de infra-estruturas e investimentos
produtivos geradores de emprego nomeadamente os destinados agraves empresas
O FSE87
instituiacutedo em 1958 apoia a inserccedilatildeo profissional dos desempregados e das
categorias desfavorecidas da populaccedilatildeo financiando nomeadamente acccedilotildees de
formaccedilatildeo
86
Regulamento (CE) nordm 16982005 do Conselho de 20 de Setembro de 2005 relativo ao apoio ao
desenvolvimento rural pelo Fundo Europeu Agriacutecola de Desenvolvimento Rural 87
Regulamento (CE) nordm 17841999 do Parlamento Europeu e do Conselho de 12 de Julho de 1999
relativo ao Fundo Social Europeu
54
Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER)
O FEDER destina-se a reforccedilar a coesatildeo econoacutemica e social na Uniatildeo Europeia
atraveacutes da correcccedilatildeo dos desequiliacutebrios regionais Resumidamente o FEDER financia
Ajudas directas aos investimentos realizados nas empresas
designadamente as pequenas e meacutedias empresas (PME`s) a fim de criar
emprego duradouro
Infra-estruturas ligadas nomeadamente agrave investigaccedilatildeo e agrave inovaccedilatildeo agraves
telecomunicaccedilotildees ao ambiente agrave energia e aos transportes
Instrumentos financeiros (fundos de capital de risco fundos de
desenvolvimento local etc) a fim de apoiar o desenvolvimento regional e local
e favorecer a cooperaccedilatildeo entre as cidades e regiotildees
Medidas de assistecircncia teacutecnica
O FEDER interveacutem na poliacutetica regional em trecircs objectivos a convergecircncia a
competitividade regional e emprego e a cooperaccedilatildeo territorial europeia
Fundo Social Europeu (FSE)
O FSE tem por objectivo melhorar o emprego e as possibilidades de emprego na
Uniatildeo Europeia e interveacutem no acircmbito dos objectivos da convergecircncia e competitividade
regional e emprego
O FSE apoia as acccedilotildees dos Estados-membros nos domiacutenios seguintes
Adaptaccedilatildeo dos trabalhadores e das empresas sistemas de aprendizagem
ao longo da vida concepccedilatildeo e difusatildeo de formas de organizaccedilatildeo do trabalho
inovadoras
Acesso ao emprego por parte das pessoas que procuram trabalho das
pessoas inactivas das mulheres e dos migrantes
Integraccedilatildeo social das pessoas desfavorecidas e luta contra a
discriminaccedilatildeo no mercado do trabalho
Reforccedilo do capital humano atraveacutes da reforma dos sistemas educativos e
colocaccedilatildeo em rede dos estabelecimentos de ensino
55
333 Outras fontes de financiamento
A PMIE aleacutem dos fundos estruturais e do fundo de coesatildeo tem ao seu dispocircr
outros instrumentos financeiros como seja o Fundo Europeu para as Pescas88
que
serve para estimular actividades econoacutemicas alternativas agrave pesca como o turismo
verde previsto para o desenvolvimento sustentaacutevel das zonas de pesca costeiras o
Instrumento Europeu de Vizinhanccedila e de Parceria89
contribuiraacute atraveacutes da cooperaccedilatildeo
transfronteiriccedila para dar resposta a problemas comuns dos paiacuteses do litoral inseridos em
bacias mariacutetimas
O Banco Europeu de Investimento (BEI) pode igualmente constituir um
importante instrumento para financiamento de avultados investimentos infra-estruturais
destinados a facilitar o ordenamento espacial e a execuccedilatildeo de estrateacutegias de
desenvolvimento de poacutelos de competitividade em regiotildees costeiras ou melhorar as
ligaccedilotildees agrave rede de produccedilatildeo de energias renovaacuteveis
Por fim realccedilo a primeira call lanccedilada a 30 de Julho de 2009 pela Comissatildeo
Europeia denominada The Ocean of Tomorrow integrada no seacutetimo Programa-Quadro
Ela eacute dotada de um orccedilamento de 34 milhotildees de euros para projectos de investigaccedilatildeo
multidisciplinar com o objectivo de conciliar o desenvolvimento de actividades
mariacutetimas com a preservaccedilatildeo dos mares e oceanos Uma segunda call ainda referente
ao seacutetimo Programa-Quadro de 45 milhotildees foi entretanto lanccedilada a 30 de Julho de
2010 Espera-se que as propostas abordem a complexidade dos oceanos e mares
integrando vaacuterias disciplinas (ambiente transportes energia pescas economia e
ciecircncias sociais) promovendo tambeacutem novos modelos de gestatildeo integrada do oceano O
prazo limite para entrega de candidaturas da segunda chamada termina no dia 18 de
Janeiro de 2011
Estas duas chamadas conjuntas respondem agrave necessidade de alocar meios
financeiros de suporte agraves prioridades expostas na Estrateacutegia Europeia para a
Investigaccedilatildeo Marinha e Mariacutetima e assim dar resposta ao pilar ambiental da PMIE
88
Decisatildeo 2005367CE do Conselho de 14 de Abril de 2005 que autoriza os Estados-Membros a
ratificar no interesse da Comunidade Europeia a Convenccedilatildeo da Organizaccedilatildeo Internacional do Trabalho
relativa aos documentos de identificaccedilatildeo dos mariacutetimos (Convenccedilatildeo nordm 185) - JO L 136 de 3052005 89
httpeceuropaeuworldenpfunding_enhtm
56
334 Programa de apoio ao aprofundamento da PMIE
Apesar dos instrumentos financeiros disponibilizados a implementaccedilatildeo da PMIE
pode estar em risco devido agrave falta de meios para financiar as acccedilotildees necessaacuterias durante
o periacuteodo remanescente (2010-2013)
Para tal efeito entendeu a Comissatildeo Europeia ser necessaacuterio estabelecer um
programa de apoio a medidas destinadas a promover o aprofundamento e a
implementaccedilatildeo da PMIE uma vez que os outros instrumentos disponibilizados pela UE
e apresentados anteriormente (o Fundo de Coesatildeo o FEDER o FSE o Fundo Europeu
das Pescas o seacutetimo Programa-Quadro de actividades em mateacuteria de investigaccedilatildeo
desenvolvimento tecnoloacutegico e demonstraccedilatildeo e o Instrumento Europeu de Vizinhanccedila e
Parceria) natildeo cobrirem significativamente as prioridades e objectivos da poliacutetica
mariacutetima integrada
No entanto este programa serviraacute de complemento aos instrumentos financeiros
actuais e futuramente disponibilizados ao niacutevel nacional e sub-nacional pelos Estados-
Membros para promover a protecccedilatildeo e a utilizaccedilatildeo sustentaacutevel dos oceanos e mares e
das zonas costeiras
Para que a Uniatildeo Europeia implemente e aprofunde a PMIE e prossiga os
objectivos basilares estabelecidos no Livro Azul eacute necessaacuterio um apoio financeiro
modesto mas constante Daiacute que juntamente com os Estados-Membros e as partes
interessadas este financiamento permite prosseguir os trabalhos exploratoacuterios jaacute
iniciados atraveacutes de acccedilotildees preparatoacuterias e projectos-piloto e desenvolver e concretizar
ainda melhor as opccedilotildees de execuccedilatildeo da PMIE
A dotaccedilatildeo financeira para a execuccedilatildeo do programa de apoio ao aprofundamento da
PMIE foi fixada em 50 milhotildees de euros e seraacute aplicaacutevel entre 1 de Janeiro de 2011 e 31
de Dezembro de 2013
O programa de apoio tem os seguintes dez objectivos gerais90
Favorecer o desenvolvimento e a implementaccedilatildeo de uma governaccedilatildeo
integrada dos assuntos mariacutetimos e costeiros e estrateacutegias integradas para as
bacias mariacutetimas
90
COM (2010) 494 final 11
57
Contribuir para o desenvolvimento de instrumentos transversais para as
poliacuteticas sectoriais ligadas ao mar ou agraves zonas costeiras
Apoiar a articulaccedilatildeo das poliacuteticas e promover a utilizaccedilatildeo sustentaacutevel dos
recursos marinhos e costeiros o crescimento econoacutemico sustentaacutevel a inovaccedilatildeo
e o emprego nos sectores mariacutetimos e nas regiotildees costeiras em consonacircncia com
as prioridades e acccedilotildees das poliacuteticas sectoriais
Melhor definir os limites da sustentabilidade das actividades humanas
com impacto no meio marinho no acircmbito da Directiva-Quadro Estrateacutegia
Marinha
Melhorar e reforccedilar a cooperaccedilatildeo e a coordenaccedilatildeo externas no que
respeita aos objectivos da poliacutetica mariacutetima integrada
Estes objectivos do programa de apoio ao aprofundamento da PMIE podem-se
traduzir nas seguintes acccedilotildees elegiacuteveis91
Estudos e programas de cooperaccedilatildeo
Informaccedilatildeo do puacuteblico e partilha de boas praacuteticas sensibilizaccedilatildeo do
puacuteblico e actividades associadas de comunicaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo incluindo
campanhas de publicidade eventos e ainda o desenvolvimento e a manutenccedilatildeo
de siacutetios Web
Conferecircncias seminaacuterios grupos de trabalho e foacuteruns de partes
interessadas
Mutualizaccedilatildeo monitorizaccedilatildeo e visualizaccedilatildeo de uma grande quantidade de
informaccedilotildees boas praacuteticas e bases de dados sobre os projectos regionais
financiados pela UE e garantia do correspondente acesso do puacuteblico
nomeadamente sempre que adequado por intermeacutedio de um secretariado
instituiacutedo para um ou vaacuterios destes efeitos
Acccedilotildees referentes a instrumentos transversais incluindo projectos-piloto
91
COM (2010) 494 final 12-13
58
Cap IV ndash Orientaccedilotildees estrateacutegias para o futuro da PMIE
41 Breve balanccedilo
A poliacutetica mariacutetima integrada europeia estabeleceu-se como uma nova abordagem
destinada a reforccedilar o desenvolvimento oacuteptimo e sustentaacutevel de todas as actividades
relacionadas com o mar Confirmou a visatildeo de que a Europa pode colher benefiacutecios
muito maiores com um impacto ambiental muito menor se articular as poliacuteticas relativas
aos oceanos e mares As instituiccedilotildees da Uniatildeo Europeia os Estados-Membros e as
regiotildees criaram estruturas de governaccedilatildeo para garantir que as poliacuteticas mariacutetimas
deixassem de ser desenvolvidas de uma forma isolada e tomassem em consideraccedilatildeo as
relaccedilotildees e sinergias com outras aacutereas poliacuteticas Os stakeholders confirmaram o interesse
consideraacutevel que a ampla consulta realizada em 2006-2007 despertou e a PMIE tornou-
se uma das poliacuteticas da Uniatildeo Europeia que mais recorre a uma abordagem ldquoda base
para o topordquo No domiacutenio das poliacuteticas sectoriais com impacto no mar e no litoral
nomeadamente as poliacuteticas da pesca dos transportes do ambiente da energia da
induacutestria ou da investigaccedilatildeo deram-se passos consideraacuteveis no sentido de uma maior
integraccedilatildeo e coerecircncia Foram tambeacutem adoptadas as primeiras medidas para aplicar a
PMIE numa base regional Em resumo a poliacutetica mariacutetima integrada da Uniatildeo Europeia
estaacute a modificar a forma como os europeus olham para os seus mares e oceanos
reafirmando ao mesmo tempo a importacircncia estrateacutegica dos mares e das regiotildees
costeiras do continente92
O quadro oferecido pela PMIE procura essencialmente concretizar (e jaacute comeccedilou a
fazecirc-lo) quatro objectivos93
Promover a integraccedilatildeo das estruturas de governaccedilatildeo tornando-as mais
abertas agrave participaccedilatildeo e agrave cooperaccedilatildeo
Criar uma base de conhecimentos e os instrumentos transectoriais
necessaacuterios para permitir a execuccedilatildeo das poliacuteticas integradas
92
COM (2009) 540 final 2 93
COM 2009) 540 final 3
59
Melhorar a qualidade das poliacuteticas sectoriais atraveacutes da procura activa de
sinergias e de uma maior coerecircncia transectorial
No quadro da realizaccedilatildeo dos objectivos acima referidos tomar em
consideraccedilatildeo as especificidades dos mares regionais que banham a Europa e
encontrar soluccedilotildees adaptadas a cada caso
A aplicaccedilatildeo do plano de acccedilatildeo conheceu jaacute um franco progresso das 65 acccedilotildees
incluiacutedas no plano foram iniciadas ou concluiacutedas 56 (trata-se na maior parte de actos
da Comissatildeo Europeia ou Conselho Europeu) Foram empreendidas vaacuterias iniciativas
em relaccedilatildeo a nove das acccedilotildees desse plano embora os documentos oficiais natildeo tenham
sido ainda adoptados
42 Governaccedilatildeo mariacutetima e participaccedilatildeo das partes interessadas
O Livro Azul defende que eacute necessaacuterio repensar a gestatildeo dos mares e oceanos a
todos os niacuteveis de governaccedilatildeo isto eacute nas instituiccedilotildees da UE nos Estados-Membros e
nas regiotildees Os actores poliacuteticos responderam em geral de uma forma muito positiva
passados dois anos tomaram-se medidas em toda a Uniatildeo para superar a
compartimentaccedilatildeo das vaacuterias poliacuteticas relacionadas com o mar aumentar a participaccedilatildeo
das partes interessadas e identificar sinergias poliacuteticas Importa agora realccedilar os
progressos alcanccedilados pelas instituiccedilotildees europeias Estados membros regiotildees e tambeacutem
pelos stakeholders
Instituiccedilotildees da UE94
A Comissatildeo Europeia adoptou diversas medidas no sentido de integrar o processo
de definiccedilatildeo da poliacutetica mariacutetima Em 2005 foi criado um Grupo Director de
Comissaacuterios que examinou as iniciativas poliacuteticas mais importantes incluiacutedas no plano
de acccedilatildeo do Livro Azul Foram tambeacutem criadas estruturas para promover reuniotildees
94
COM (2009) 540 final 3-4
60
regulares entre as Direcccedilotildees-Gerais interessadas a fim de identificar sinergias e
eliminar eventuais incoerecircncias entre as poliacuteticas
A Comissatildeo Europeia reorganizou igualmente os seus serviccedilos e alargou o mandato
da Direcccedilatildeo-Geral dos Assuntos Mariacutetimos e das Pescas a fim de assegurar a
coordenaccedilatildeo poliacutetica global e desenvolver se necessaacuterio instrumentos transectoriais
tendo em conta as especificidades regionais
O Conselho Europeu mostra um grande empenhamento na PMIE Natildeo soacute reconhece
a natureza transectorial da PMIE ao abordaacute-la na sua formaccedilatildeo Assuntos Gerais e
Relaccedilotildees Externas como reafirma nas suas conclusotildees de 8 de Dezembro de 200895
ldquoque uma abordagem integrada das questotildees mariacutetimas constitui um objectivo da maior
importacircncia tendo em conta a necessidade de reforccedilar as sinergias a coerecircncia e o
valor acrescentado das acccedilotildees sectoriais empreendidas pela Uniatildeo Europeia
integrando-as numa visatildeo global dos mares dos oceanos e dos seus litorais tendo em
conta as especificidades regionais (hellip)rdquo
Em termos institucionais a participaccedilatildeo activa do Conselho e dos Estados-
Membros eacute assegurada pelos trabalhos do Conselho de Assuntos Gerais e pelos grupos
de contacto dos Estados-Membros para a PMIE Estes grupos satildeo a garantia de que se
utiliza plenamente os conhecimentos especializados existentes nas administraccedilotildees
nacionais se presta a devida atenccedilatildeo agraves necessidades especiacuteficas dos Estados-Membros
e das regiotildees costeiras e se obteacutem um consenso poliacutetico com o maacuteximo de transparecircncia
e impacto
A atenccedilatildeo e o apoio do Parlamento Europeu agrave poliacutetica mariacutetima tecircm sido muito
positivos96
Contudo os assuntos mariacutetimos continuam a ser tratados por diferentes
comissotildees e estruturas
O Comiteacute das Regiotildees tem dado vaacuterios contributos beneacuteficos para a PMIE A
Comissatildeo Europeia tomou nota em especial do parecer sobre o Livro Azul que conteacutem
elementos importantes para trabalhos futuros O recente parecer do Comiteacute ldquoPacote
mariacutetimo e costeirordquo97
constitui um exemplo valioso da combinaccedilatildeo de interesses
divergentes de uma forma coerente complementar e sineacutergica
95
16503108 REV 1 96
Especialmente atraveacutes do relatoacuterio A6-01632008 (Comissatildeo dos Transportes e do Turismo) de Willi
Piecyk deputado do Parlamento Europeu entretanto falecido 97
CdR 4162008 final adoptado em 17 de Junho de 2009
61
O Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu emitiu em 14 de Abril de 2008 um
parecer98
particularmente favoraacutevel agrave PMIE
Estados-Membros99
Agrave data da publicaccedilatildeo do Livro Verde poucas iniciativas existiam nos Estados-
Membros em favor de abordagens integradas Dois paiacuteses a Franccedila e os Paiacuteses Baixos
informaram que dispunham de uma estrutura administrativa para coordenar as poliacuteticas
mariacutetimas Pelo seu lado Portugal tinha jaacute iniciado acccedilotildees concretas com vista a uma
estrateacutegia sobre os oceanos Desde entatildeo registaram-se progressos consideraacuteveis e mais
Estados-Membros tomaram iniciativas para integrar a poliacutetica mariacutetima e partilhar boas
praacuteticas de abordagens integradas da poliacutetica mariacutetima Estas iniciativas satildeo
inteiramente conformes com as orientaccedilotildees publicadas pela Comissatildeo Europeia em
Junho de 2008100
e referem-se a mudanccedilas organizacionais eou ao desenvolvimento de
estrateacutegias integradas de mais longo prazo com vista ao desenvolvimento sustentaacutevel
dos sectores mariacutetimos e das regiotildees costeiras
De salientar os exemplos do Nationaal Waterplan neerlandecircs o Grenelle de la Mer
francecircs o Entwicklungsplan Meer alematildeo a Lei sueca sobre uma poliacutetica mariacutetima
coerente o plano polaco interdepartamental de uma poliacutetica mariacutetima e a Lei mariacutetima
britacircnica A Irlanda Portugal e a Esloveacutenia tomaram igualmente medidas neste sentido
A Beacutelgica a Bulgaacuteria a Repuacuteblica Checa a Dinamarca a Itaacutelia a Greacutecia a Finlacircndia e
a Espanha comunicaram tambeacutem a realizaccedilatildeo de actividades neste domiacutenio perfazendo
um total de 14 Estados membros
Regiotildees101
As regiotildees costeiras participam plenamente como parceiros da PMIE desde o seu
iniacutecio e satildeo as mais bem colocadas para identificar os elementos necessaacuterios para
executar a poliacutetica tanto a niacutevel local como das bacias mariacutetimas Mostraram
igualmente grande capacidade para trabalhar com as autoridades nacionais e com as
regiotildees de outros Estados-Membros com o objectivo de promover soluccedilotildees integradas
para as questotildees relativas ao mar A Conferecircncia das Regiotildees Perifeacutericas Mariacutetimas
98
JO 2008C 21107 99
COM (2009) 540 final 4-5 100
COM (2008) 395 final de 2662008 101
COM (2009) 540 final 5
62
(CRPM) que reuacutene cerca de 160 regiotildees europeias segue atentamente os progressos do
plano de acccedilatildeo atraveacutes de intervenccedilotildees regulares nas reuniotildees do grupo de trabalho
Aquamarina criado especificamente para promover a PMIE a niacutevel regional
Partes interessadas102
As partes interessadas tem tido um papel preponderante no estabelecimento de uma
PMIE para a UE Os actores regionais e empresariais e as ONG foram os primeiros a
advogar a articulaccedilatildeo das poliacuteticas da UE com impacto nos mares sectores mariacutetimos e
regiotildees costeiras As suas contribuiccedilotildees constituiacuteram a base para a criaccedilatildeo de conceitos
e instrumentos inovadores
A celebraccedilatildeo anual do Dia Europeu do Mar converteu-se no evento em que os
vaacuterios ciacuterculos interessados podem realizar intercacircmbios altamente produtivos A
Comissatildeo Europeia deve dar continuidade a este evento assim como ampliar o nuacutemero
de europeus participantes Ao mesmo tempo deve encorajar as partes interessadas a
voltar a organizar eventos descentralizados em torno do Dia Europeu do Mar celebrado
em 20 de Maio reflectindo desta forma as contribuiccedilotildees nacionais regionais e locais
para a PMIE
43 Instrumentos transectoriais
Conforme abordado no capiacutetulo III (Livro Azul) foi identificada a necessidade de
existirem instrumentos transectoriais nomeadamente o ordenamento do espaccedilo
mariacutetimo a vigilacircncia integrada e a construccedilatildeo de uma base de conhecimentos para a
poliacutetica mariacutetima Estes trecircs instrumentos desenvolveram-se a um bom ritmo e jaacute eacute
possiacutevel registar os primeiros resultados obtidos Ora vejamos
102
COM (2009) 540 final 5-6
63
Ordenamento do espaccedilo mariacutetimo (OEM) e gestatildeo integrada da zona costeira
(GIZC)103
O aumento das actividades desenvolvidas nos mares da Europa exacerbou a
competiccedilatildeo pelo espaccedilo mariacutetimo que eacute limitado O ordenamento do espaccedilo mariacutetimo eacute
um instrumento-chave para equilibrar os interesses sectoriais e garantir uma utilizaccedilatildeo
sustentaacutevel dos recursos marinhos sendo o seu princiacutepio subjacente uma abordagem
ecossisteacutemica Este processo proporciona agraves administraccedilotildees puacuteblicas e partes
interessadas um quadro de ordenamento estaacutevel fiaacutevel e centrado em objectivos
concretos a partir do qual podem coordenar as suas acccedilotildees e optimizar a utilizaccedilatildeo do
espaccedilo mariacutetimo em benefiacutecio do desenvolvimento econoacutemico e do meio marinho
A Comissatildeo adoptou em 2008 a comunicaccedilatildeo intitulada ldquoRoteiro para o
ordenamento do espaccedilo mariacutetimo definiccedilatildeo de princiacutepios comuns na UErdquo104
O roteiro
estabelece dez princiacutepios-chave e analisa o desenvolvimento entre os Estados-Membros
de uma abordagem comum que promova a aplicaccedilatildeo do OEM a niacutevel nacional e da UE
Em debates organizados pela Comissatildeo no decurso de 2009105
as partes
interessadas de todos os sectores mariacutetimos relevantes consideraram que os dez
princiacutepios-chave satildeo vaacutelidos tecircm um caraacutecter global e constituem uma base importante
para o desenvolvimento do OEM a niacutevel europeu A Comissatildeo Europeia lanccedilou
igualmente duas acccedilotildees preparatoacuterias no Baacuteltico (no acircmbito da estrateacutegia comunitaacuteria
para a regiatildeo do Baacuteltico) e no Mar do NorteAtlacircntico Nordeste visando o
desenvolvimento da vertente de cooperaccedilatildeo transfronteiras do OEM assim como um
estudo sobre o potencial do ordenamento do espaccedilo mariacutetimo no Mediterracircneo e os
benefiacutecios econoacutemicos do OEM
No seguimento da recomendaccedilatildeo incluiacuteda no Livro Azul no sentido da criaccedilatildeo de
um sistema de intercacircmbio de boas praacuteticas para o desenvolvimento da gestatildeo integrada
da zona costeira (GIZC) a Comissatildeo iniciou em 2009 um projecto destinado a fomentar
o intercacircmbio de boas praacuteticas e promover a aplicaccedilatildeo efectiva da GIZC106
No final de
2008 o Conselho assinou o Protocolo sobre a GIZC no acircmbito da Convenccedilatildeo de
Barcelona107
103
Para informaccedilatildeo detalhada sobre a GIZC consultar httpeceuropaeuenvironmenticzmourcoasthtm 104
COM(2008) 791 final 105
httpeceuropaeumaritimeaffairsspatial_planning_enhtml6 106
httpeceuropaeuenvironmenticzmourcoasthtm 107
COM (2009) 540 final 6-7
64
Integraccedilatildeo da vigilacircncia mariacutetima
A integraccedilatildeo da vigilacircncia mariacutetima permitiraacute aumentar a eficaacutecia das operaccedilotildees no
mar e reduzir os custos de exploraccedilatildeo As potenciais economias a niacutevel da UE satildeo
significativas se se considerar a necessidade crescente de detectar localizar interceptar
e controlar actividades iliacutecitas no mar assim como de prevenir acidentes mariacutetimos
detectar descargas ilegais controlar as actividades de pesca e proteger o ambiente
Ateacute agrave data a Comissatildeo elaborou descriccedilotildees pormenorizadas das vaacuterias iniciativas
de integraccedilatildeo da vigilacircncia mariacutetima108
empreendidas a niacutevel nacional regional e
europeu terminou um estudo sobre os aspectos juriacutedicos e regulamentares da integraccedilatildeo
da vigilacircncia mariacutetima e procedeu a um exerciacutecio conjunto com a Agecircncia Europeia de
Defesa e o Estado-Maior da UE em resposta a um pedido do Conselho de Defesa109
A
Comissatildeo lanccedilou igualmente dois convites agrave apresentaccedilatildeo de propostas num montante
total de 57 milhotildees de euros110
para projectos-piloto de integraccedilatildeo da vigilacircncia com
vista a promover uma cooperaccedilatildeo mais estreita entre as administraccedilotildees nacionais no
Mediterracircneo e na bacia do Mar do Norte111
Construccedilatildeo de uma base de conhecimentos para a poliacutetica mariacutetima
Natildeo eacute possiacutevel desenvolver uma poliacutetica mariacutetima sem dados e conhecimentos
adequados sobre os mares e o litoral da Europa O conhecimento do meio marinho
permanece eacute ainda muito disperso e pouco rentaacutevel A Rede Europeia de Observaccedilatildeo e
de Dados do Meio Marinho (EMODNET) anunciada no Livro Azul tem como
objectivo reduzir as incertezas no conhecimento dos mares e os custos operacionais dos
utilizadores de dados marinhos Eacute necessaacuterio avaliar as bases de dados e os programas
de observaccedilatildeo existentes em termos de cobertura precisatildeo e frequecircncia de recolha bem
como compilar de forma global e compatiacutevel os dados provenientes de diferentes fontes
e tornaacute-los acessiacuteveis como instrumento de boa governaccedilatildeo112
Destaque para o
lanccedilamento do ldquoAtlas Europeu dos Maresrdquo tem como objectivo sensibilizar o puacuteblico
para as questotildees marinhas
108
SEC (2008) 2337 109
COSDP 949 PESC 1366 110
Convites agrave apresentaccedilatildeo de propostas MARE200813 e 200904 111
COM (2009) 540 final 7 112
COM (2009) 540 final 7-8
65
44 Perspectivas e visatildeo futura da PMIE
Os uacuteltimos dois anos confirmaram que a PMIE eacute uma poliacutetica muito promissora e
que pode contribuir de forma muito significativa para o crescimento o emprego e a
sustentabilidade ambiental nas zonas costeiras da Europa e para aleacutem destas Apesar de
recente esta nova poliacutetica da UE jaacute alterou a forma como a Europa gere as suas riquezas
mariacutetimas e costeiras
Apoacutes trecircs anos de deliberaccedilotildees intensas eacute fundamental manter este impulso para
dar uma resposta aos desafios essenciais a meacutedio e longo prazo que representam a
protecccedilatildeo do ambiente o crescimento econoacutemico e o bem-estar O duplo impacto das
alteraccedilotildees climaacuteticas e da crise econoacutemica faz-se sentir de uma forma particular no
mundo mariacutetimo os oceanos determinam o nosso clima e o sector mariacutetimo foi o motor
da globalizaccedilatildeo e da prosperidade
Por conseguinte eacute importante desenvolver o potencial econoacutemico da Europa
mariacutetima melhorar a acccedilatildeo dos poderes puacuteblicos nos mares e continuar a explorar as
sinergias que permitem o reforccedilo muacutetuo do crescimento econoacutemico e da estabilidade
ambiental Segundo a Comissatildeo Europeia a melhor forma de alcanccedilar estes objectivos eacute
avanccedilar em seis direcccedilotildees estrateacutegicas
Eacute necessaacuterio consolidar a governaccedilatildeo mariacutetima integrada Os progressos
alcanccedilados nos uacuteltimos anos devem ser traduzidos em estruturas integradas eficazes a
todos os niacuteveis de governaccedilatildeo As instituiccedilotildees da UE os Estados-Membros e as regiotildees
costeiras tecircm uma responsabilidade particular na integraccedilatildeo da poliacutetica mariacutetima a
montante e na adopccedilatildeo de programas coerentes e comuns para os assuntos mariacutetimos
contrariando a tendecircncia prevalecente para pensar a poliacutetica sectorial de uma forma
isolada A participaccedilatildeo das partes interessadas na definiccedilatildeo das poliacuteticas mariacutetimas deve
igualmente ser consagrada de forma mais permanente nas estruturas de governaccedilatildeo
resultando num diaacutelogo mais intenso entre a UE os Governos dos Estados-Membros e
as regiotildees costeiras que frequentemente detecircm as competecircncias fundamentais
necessaacuterias para uma abordagem integrada dos assuntos mariacutetimos Pela mesma razatildeo
seria conveniente criar uma plataforma intersectorial de diaacutelogo entre as partes
interessadas sobre os assuntos mariacutetimos113
113
COM (2009) 540 final 11
66
Os instrumentos poliacuteticos transectoriais satildeo fundamentais para fomentar o
desenvolvimento econoacutemico a monitorizaccedilatildeo do ambiente a seguranccedila e o respeito da
legislaccedilatildeo nos oceanos e mares da Europa Em especial o ordenamento do espaccedilo
mariacutetimo a par de um maior conhecimento do meio marinho pode incentivar
investimentos econoacutemicos consideraacuteveis e melhorar drasticamente a forma como
gerimos os nossos espaccedilos mariacutetimos preservando os seus ecossistemas Deve pois
converter-se num instrumento praacutetico a todos os niacuteveis de governaccedilatildeo relevantes e
contar com os mecanismos necessaacuterios para garantir um processo decisoacuterio comum
sobre os investimentos transfronteiriccedilos A integraccedilatildeo da vigilacircncia mariacutetima pode
contribuir para modificar a forma como as autoridades nacionais executam objectivos
essenciais como a luta contra a imigraccedilatildeo ilegal a protecccedilatildeo da navegaccedilatildeo comercial e
a protecccedilatildeo dos recursos naturais Os Estados-Membros e a Comissatildeo teratildeo de continuar
a colaborar nestes domiacutenios para que os processos iniciados nos uacuteltimos dois anos
possam alcanccedilar os resultados previstos114
A definiccedilatildeo dos limites de sustentabilidade das actividades humanas com um
impacto no meio marinho nos proacuteximos anos no acircmbito da Directiva-Quadro
ldquoEstrateacutegia Marinhardquo traraacute clareza e permitiraacute criar uma plataforma para o
desenvolvimento de todas as actividades mariacutetimas tendo em conta os seus efeitos
cumulativos Por esta razatildeo a aplicaccedilatildeo desta directiva continuaraacute a constituir um
objectivo fundamental da PMIE que deveraacute igualmente reforccedilar a cooperaccedilatildeo entre
todos os sectores e serviccedilos afectados nomeadamente entre as ciecircncias marinhas e a
poliacutetica para o meio marinho115
As estrateacutegias baseadas nas bacias mariacutetimas satildeo fundamentais para o ecircxito da
PMIE pois permitem adaptar as prioridades e os instrumentos poliacuteticos aos contextos
geograacutefico econoacutemico e poliacutetico especiacuteficos de cada grande regiatildeo mariacutetima Um
elemento essencial para que a PMIE seja bem sucedida eacute a cooperaccedilatildeo com e entre os
Estados-Membros e as regiotildees que partilham bacias mariacutetimas e sendo necessaacuterio esta
cooperaccedilatildeo deveraacute ser acompanhada de um diaacutelogo apropriado com os paiacuteses terceiros
que partilham bacias mariacutetimas com a UE As acccedilotildees a niacutevel das sub-bacias podem
igualmente ser uacuteteis e constituir exemplos positivos e de boas praacuteticas116
114
COM (2009) 540 final 11 115
COM (2009) 540 final 12 116
COM (2009) 540 final 12
67
Deveraacute prestar-se uma maior atenccedilatildeo agrave dimensatildeo internacional da PMIE A
Europa deve assumir um papel de motor na melhoria da governaccedilatildeo mariacutetima agrave escala
mundial como jaacute o fez no que respeita agrave pirataria ou agraves praacuteticas de pesca destrutivas A
Comissatildeo pretende reforccedilar o diaacutelogo com um nuacutemero limitado dos seus principais
parceiros mariacutetimos assim como a sua participaccedilatildeo em foacuteruns internacionais e
processos informais117
No presente contexto de crise econoacutemica a execuccedilatildeo da PMIE deveraacute recentrar-se
no crescimento econoacutemico no emprego e na inovaccedilatildeo sustentaacuteveis Por conseguinte no
futuro a UE deve explorar as sinergias entre a poliacutetica energeacutetica comunitaacuteria e a PMIE
promover a produccedilatildeo de energia no mar nomeadamente as formas de energia
renovaacuteveis e utilizar mais o mar para o transporte de energia por condutas redes
submarinas e navios Seraacute igualmente necessaacuterio fortalecer os viacutenculos entre a poliacutetica
comunitaacuteria de combate agraves alteraccedilotildees climaacuteticas e a PMIE desenvolvendo uma
estrateacutegia de adaptaccedilatildeo das zonas costeiras e mariacutetimas agraves alteraccedilotildees climaacuteticas com
vista a proteger as infra-estruturas costeiras e preservar a biodiversidade marinha Eacute
importante garantir que as zonas mariacutetimas e costeiras entrem plenamente em conta no
debate em curso sobre a coesatildeo territorial
A UE deve aleacutem disso promover ainda mais o transporte mariacutetimo a fim de
favorecer a co-modalidade pocircr em praacutetica o conceito de auto-estradas do mar e
melhorar o programa de transporte mariacutetimo de curta distacircncia da UE Ainda no acircmbito
do objectivo de impulsionar o desenvolvimento econoacutemico das actividades mariacutetimas
seraacute necessaacuterio encontrar a forma e os meios de estimular o emprego mariacutetimo e o
investimento na frota embandeirada da UE continuando todavia a apostar firmemente
no conceito de navios ecoloacutegicos Com efeito o apoio agrave inovaccedilatildeo e agrave investigaccedilatildeo a
favor de navios com baixo niacutevel de emissotildees ou mesmo com emissotildees nulas continuaraacute
a constituir a resposta principal da Comunidade agrave situaccedilatildeo do sector da construccedilatildeo
naval tatildeo importante do ponto de vista estrateacutegico Desta maneira a UE poderaacute
proporcionar aos estaleiros navais europeus e agrave europeia induacutestria do equipamento de
navios uma vantagem tecnoloacutegica sobre os seus concorrentes noutras regiotildees do mundo
e tornar o transporte mariacutetimo mais seguro e sustentaacutevel em especial ao longo das
costas da Europa118
117
COM (2009) 540 final 12 118
COM (2009) 540 final 12
68
Cap V ndash Estrateacutegia Nacional para o Mar
ldquoA Estrateacutegia Nacional para o Mar (ENM) constitui um instrumento poliacutetico
fundamental para que Portugal possa proteger e valorizar o inestimaacutevel recurso que o
oceano representa para o nosso paiacutesrdquo Cit pelo Dr Joatildeo Mira Gomes (ex-Secretaacuterio de
Estado da Defesa Nacional e dos Assuntos do Mar) na ENM 2007 p V)
Como referi no primeiro capiacutetulo a ligaccedilatildeo de Portugal ao mar ganhou especial
relevacircncia durante a eacutepoca dos Descobrimentos marcando decisivamente o iniacutecio do
processo de globalizaccedilatildeo As trocas comerciais culturais cientiacuteficas e tecnoloacutegicas daiacute
resultantes promoveram o grande desenvolvimento do nosso paiacutes e alteraram
definitivamente os processos de transmissatildeo de conhecimentos entre os povos Neste
capiacutetulo dedico-me agrave anaacutelise da evoluccedilatildeo entre 1998 e 2010 das principais dinacircmicas
mariacutetimas nacionais
Portugal actualmente dispotildee de uma das maiores zonas econoacutemicas exclusivas
(ZEE) da Europa com mais de 1700000 km2 o que corresponde a cerca de 18 vezes a
sua aacuterea terrestre existindo ainda a possibilidade de vir a contar com espaccedilos mariacutetimos
sob sua jurisdiccedilatildeo que poderatildeo exceder em muito a actual aacuterea da ZEE
Neste acircmbito a Estrutura de Missatildeo para a Extensatildeo da Plataforma Continental
(EMEPC) estaacute a trabalhar no sentido de determinar espaccedilos a reclamar por Portugal
para aleacutem das actuais 200 milhas naacuteuticas Assim a EMEPC elaborou a proposta
portuguesa chefiada pelo oceanoacutegrafo Manuel Pinto de Abreu que foi recentemente
apresentada agrave Comissatildeo de Limites para a Extensatildeo da Plataforma Continental (CLPC)
da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) Ateacute hoje a ONU recebeu 51 propostas de
Estados que querem ver aumentado o seu domiacutenio mariacutetimo Portugal foi o 44ordm paiacutes a
entregar a proposta A ONU encontra-se a avaliar a 16ordf proposta e prevecirc-se que a
decisatildeo relativa agrave proposta portuguesa seja conhecida em 2015
Caso seja aceite a proposta de alargamento pela ONU Portugal passaraacute a deter uma
aacuterea territorial equivalente 43 vezes agrave aacuterea de Portugal Continental Accedilores e Madeira
ou seja o equivalente agrave da Iacutendia e a segunda maior plataforma mundial a seguir aos
Estados Unidos da Ameacuterica
69
As Regiotildees Autoacutenomas da Madeira e dos Accedilores assumem aqui um papel de
destaque pelo seu posicionamento central nos espaccedilos mariacutetimos sob soberania ou
jurisdiccedilatildeo nacional
Este extenso espaccedilo mariacutetimo encerra alguns dos mais importantes ecossistemas
oceacircnicos a niacutevel global As caracteriacutesticas biogeograacuteficas e geomorfoloacutegicas das aacutereas
sob jurisdiccedilatildeo nacional englobam uma vasta biodiversidade marinha Os ambientes
insulares oceacircnicos o mar profundo e as planiacutecies abissais os montes e bancos
submarinos a dorsal meacutedio-atlacircntica119
os campos de fontes hidrotermais as
riquiacutessimas zonas estuarinas e lacustres os grandes canhotildees submarinos as zonas de
afloramento costeiro entre outros conferem a Portugal um patrimoacutenio natural uacutenico que
importa valorizar e preservar A este patrimoacutenio juntam-se os valores arqueoloacutegicos
culturais esteacuteticos e histoacutericos os recursos geoloacutegicos e minerais os recursos
energeacuteticos renovaacuteveis e os recursos biotecnoloacutegicos que no seu conjunto representam
um dos principais activos nacionais
Destaco tambeacutem o pioneirismo de Portugal ao niacutevel da concepccedilatildeo de um plano de
governacircncia integrado para os assuntos do Mar Refiro-me em particular ao relatoacuterio
da Comissatildeo Estrateacutegica dos Oceanos (CEO)ldquoO Oceano ndash Um Desiacutegnio Nacional
para o Seacuteculo XXIrdquo elaborado em 2004 que apresentou uma Estrateacutegia Nacional para o
Oceano Esta CEO dotou Portugal de uma nova visatildeo ldquoUm Oceano saudaacutevel
sustentaacutevel e seguro eacute o principal activo fiacutesico e sociocultural de Portugalrdquo e uma
missatildeo ldquoDestacar Portugal como uma naccedilatildeo mariacutetima da Uniatildeo Europeiardquoque
permita desenvolver e interiorizar colectivamente uma nova abordagem aos Oceanos
Para a prossecuccedilatildeo destas uacuteltimas a CEO baseou a sua estrateacutegia em cinco
objectivos que passo a enumerar
1) Valorizar a associaccedilatildeo de Portugal ao Oceano como Factor de Identidade
2) Assegurar o conhecimento e a protecccedilatildeo do Oceano
3) Promover o desenvolvimento sustentaacutevel de actividades econoacutemicas
4) Assumir uma posiccedilatildeo de destaque e especializaccedilatildeo em assuntos do Oceano
5) Construir uma estrutura institucional moderna de gestatildeo do oceano
119
A dorsal meacutedio-atlacircntica ou crista oceacircnica do Atlacircntico eacute uma cordilheira submarina que se estende
sob o Oceano Atlacircntico e o Oceano Aacutertico desde a latitude 87ordmN ateacute agrave ilha sub-antaacutertica de Bouvet agrave
latitude 54ordmS Os pontos mais elevados desta cordilheira emergem em vaacuterios locais formando ilhas
70
Em suma este valioso contributo surge da ldquonecessidade de encontrar mecanismos
de reforccedilo da identidade nacional que respondam agrave pressatildeo da homogeneizaccedilatildeo
cultural e agrave premecircncia de conceber um modelo de desenvolvimento sustentaacutevel que decirc
resposta agrave competitividade acrescida no quadro global em geral e no quadro europeu
em particular120
rdquo Este trabalho bem estruturado inovador e orientador serviu de
modelo-base para as actuais Estrateacutegia Nacional para o Mar e Poliacutetica Mariacutetima
Integrada Europeia
De facto Portugal goza de uma reputaccedilatildeo internacional de paiacutes mariacutetimo com
ideias e acccedilotildees proacuteprias sendo um activo contribuidor para a agenda global dos
oceanos
Depois de seacuteculos ligados ao mar natildeo se compreende muito bem nos dias de hoje
que o Mar seja para a maioria da sociedade portuguesa algo de distante
intangiacutevel e invisiacutevel121
No entanto saliento ainda que nos uacuteltimos anos em Portugal
foram dados passos importantes no que concerne agrave poliacutetica dos oceanos Entre os mais
significativos destaco
Em 1998 a Comissatildeo Mundial Independente para os Oceanos liderada
por Portugal e presidida pelo ex-Presidente da Repuacuteblica Dr Maacuterio Soares
aprovou o relatoacuterio ldquoO Oceano Nosso Futurordquo no acircmbito da Comissatildeo
Oceanograacutefica Intergovernamental da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a
Educaccedilatildeo Ciecircncia e Cultura (UNESCO)
O Ano Internacional dos Oceanos que se comemorou em 1998 na
sequecircncia de uma proposta apresentada por Portugal agrave Assembleia da Comissatildeo
Oceanograacutefica Intergovernamental da UNESCO e adoptada pela Assembleia
Geral das Naccedilotildees Unidas serviu de elemento integrador da Exposiccedilatildeo Mundial
de Lisboa (Expo 98) subordinada ao tema ldquoO Oceano um patrimoacutenio para o
futurordquo
Ainda nesse ano as Resoluccedilotildees do Conselho de Ministros nuacutemeros
8898 8998 e 9098 de 10 de Julho criaram respectivamente
- A Comissatildeo Oceanograacutefica Intersectorial com o objectivo de reforccedilar a
capacidade de resposta do sector de investigaccedilatildeo e desenvolvimento em ciecircncias e
120
Discurso do Primeiro-Ministro Duratildeo Barroso - XV Governo Constitucional (200204) ndash durante a
cerimoacutenia de tomada de posse da Comissatildeo Estrateacutegica dos Oceanos no dia 972003 121
ENM 2006-2016 p 2
71
tecnologias do mar e serviccedilos oceanograacuteficos afins mediante uma estrateacutegia que
permita compatibilizar acccedilotildees congregar esforccedilos e evitar duplicaccedilotildees optimizando
o uso dos meios humanos e das infra-estruturas disponiacuteveis
- O Programa Dinamizador das Ciecircncias e Tecnologias do Mar com o
objectivo de dar a este domiacutenio de investigaccedilatildeo baacutesica e aplicada a prioridade que ela
requer (numa perspectiva) de natureza estruturante e interdisciplinar
- A Comissatildeo Interministerial para a Delimitaccedilatildeo da Plataforma
Continental com vista a considerar a possibilidade da extensatildeo do limite exterior da
plataforma continental para aleacutem das 200 milhas naacuteuticas no quadro previsto pela
Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas sobre o Direito do Mar
Em 2003 foi criada a Comissatildeo Estrateacutegica dos Oceanos (Resoluccedilatildeo do
Conselho de Ministros nordm 812003 de 17 de Junho) com o objectivo de elaborar
os elementos de definiccedilatildeo de uma estrateacutegia nacional para o oceano Esta
comissatildeo produziu em 2004 um relatoacuterio com um conjunto de cerca de 250
recomendaccedilotildees e propostas de acccedilatildeo estrateacutegicas
Em 2005 foi criada a Estrutura de Missatildeo para a Extensatildeo da Plataforma
Continental (Resoluccedilatildeo do Conselho de Ministros nordm 92005 de 17 de Janeiro)
com o objectivo de preparar uma proposta de extensatildeo da plataforma continental
de Portugal para aleacutem das 200 milhas naacuteuticas para apresentaccedilatildeo agrave Comissatildeo
de Limites da Plataforma Continental das Naccedilotildees Unidas Esta substituiu a ex-
Comissatildeo Interministerial para a Delimitaccedilatildeo da Plataforma Continental
Em 2005 foi ainda criada a Estrutura de Missatildeo para os Assuntos do Mar
(EMAM) Resoluccedilatildeo do Conselho de Ministros nordm 1282005 de 10 de Agosto
com o objectivo de dar continuidade ao trabalho jaacute desenvolvido e a missatildeo de
preparar uma proposta que estabeleccedila as medidas que devem ser implementadas
para o desenvolvimento de uma poliacutetica integrada do Governo para os assuntos
do mar e para uma acccedilatildeo articulada de todas as entidades com competecircncia nas
aacutereas ligadas ao mar
Em 2006 foi dado iniacutecio agrave instalaccedilatildeo em Lisboa da Agecircncia Europeia de
Seguranccedila Mariacutetima que desempenha um papel fundamental no que se refere
aos aspectos relativos agrave recolha registo e avaliaccedilatildeo de dados teacutecnicos nos
domiacutenios da seguranccedila do traacutefego e da poluiccedilatildeo marinha
72
Em 2007 durante a Presidecircncia Portuguesa do Conselho Europeu
procedeu-se agrave organizaccedilatildeo de uma Conferecircncia Ministerial sobre uma Poliacutetica
Mariacutetima para a Uniatildeo Europeia
A submissatildeo da proposta de extensatildeo da plataforma continental de
Portugal para aleacutem das 200 milhas naacuteuticas decorreu a 11 de Maio de 2009
junto de Hariharan Pakshi Rajan da CLPC da ONU
A primeira apresentaccedilatildeo da mesma proposta de extensatildeo da plataforma
continental portuguesa teve lugar no dia 13 de Abril de 2010 na sede das ONU
em Nova Iorque
Refiro mais uma vez que Portugal conjuntamente com Franccedila e Espanha foram
dos primeiros Estados-membros a dar contributos para o Livro Verde
Relevo ainda que a centralidade e a dimensatildeo atlacircntica dos espaccedilos mariacutetimos sob
soberania ou jurisdiccedilatildeo nacional reforccedilam o papel-chave que Portugal podedeve
desempenhar no quadro da Uniatildeo Europeia como elemento de ligaccedilatildeo privilegiada aos
Paiacuteses Africanos de Liacutengua Oficial Portuguesa (PALOP) bem como ao continente
americano e ao resto do Mundo A posiccedilatildeo geoestrateacutegica do espaccedilo mariacutetimo sob
soberania ou jurisdiccedilatildeo nacional impotildee ainda importantes desafios e responsabilidades
nas aacutereas da defesa nacional seguranccedila e vigilacircncia imigraccedilatildeo ilegal combate agrave
poluiccedilatildeo apoio agrave navegaccedilatildeo e salvaguarda da vida humana no mar mas engloba
tambeacutem um conjunto de oportunidades de desenvolvimento econoacutemico e de ligaccedilatildeo
entre as vaacuterias regiotildees do territoacuterio nacional
A mais-valia para Portugal da ENM eacute tornar o mar um projecto nacional Para
tal deve apostar numa abordagem integrada da governaccedilatildeo dos assuntos do mar que
pela primeira vez congregue os esforccedilos das diferentes tutelas dos agentes econoacutemicos
da comunidade cientiacutefica das organizaccedilotildees natildeo governamentais e tambeacutem da sociedade
civil Deste modo co-responsabiliza todos os actores para o aproveitamento do mar
como factor diferenciador do desenvolvimento econoacutemico e social valorizando e
preservando este valioso patrimoacutenio
O Estado tem um papel facilitador e promotor de condiccedilotildees de desenvolvimento
econoacutemico e social mas cabe agraves empresas e agrave sociedade civil o papel principal na
concretizaccedilatildeo dos objectivos que satildeo a razatildeo de ser da ENM A obtenccedilatildeo de resultados
tangiacuteveis soacute seraacute perceptiacutevel em algum casos a meacutediolongo prazo exigindo por isso
73
uma aposta raacutepida mas persistente nas aacutereas ligadas agrave educaccedilatildeo capacitaccedilatildeo de meios
humanos criaccedilatildeo e optimizaccedilatildeo de infra-estruturas e investigaccedilatildeo e desenvolvimento
51 Princiacutepios e objectivos
A proclamaccedilatildeo do mar como principal factor diferenciador e de identidade
nacional assumindo-o como prioridade estrateacutegica e um projecto nacional reclama a
existecircncia de uma visatildeo simultaneamente ambiciosa e realista crediacutevel e atraente
Pretendem-se criar as condiccedilotildees e mecanismos que possibilitem aos diversos
agentes desenvolver de forma equilibrada e articulada as muacuteltiplas actividades ligadas
ao mar tendo em vista a promoccedilatildeo da qualidade do ambiente marinho do crescimento
econoacutemico e a criaccedilatildeo de novos empregos e oportunidades122
A ENM permite a organizaccedilatildeo de planos de acccedilatildeo orientados para a mobilizaccedilatildeo a
educaccedilatildeo e a capacitaccedilatildeo de toda a sociedade portuguesa e dos seus parceiros
internacionais A ENM visa o aproveitamento e utilizaccedilatildeo sustentaacutevel e responsaacutevel do
oceano e das zonas costeiras e criaccedilatildeo de ferramentas de gestatildeo que tornem os processos
transparentes rigorosos e crediacuteveis
52 Pilares estrateacutegicos
As razotildees que tornam a formulaccedilatildeo a implementaccedilatildeo e a avaliaccedilatildeo da ENM um
enorme desafio satildeo de vaacuteria ordem a saber
- Em primeiro lugar a reconhecida falta de conhecimento de compreensatildeo e de
percepccedilatildeo quer devido agrave complexidade dos ecossistemas oceacircnicos e costeiros e do real
impacto e inerentes consequecircncias das actividades humanas quer devido agrave difiacutecil
avaliaccedilatildeo do potencial das actividades econoacutemicas que dificultam a tomada de decisatildeo
122
ENM 2006-2016 p 10
74
- Em segundo lugar a dificuldade verificada na partilha de responsabilidade pela
gestatildeo do oceano como recurso comum e espaccedilo tridimensional devido agrave
interdependecircncia e aos conflitos que se verificam entre as vaacuterias utilizaccedilotildees interesses
jurisdiccedilotildees e processos de gestatildeo
- Em terceiro lugar o oceano e as zonas costeiras representam hoje a niacutevel
mundial uma grande oportunidade para novas actividades econoacutemicas que face aos
avanccedilos tecnoloacutegicos recentes comeccedilam a orientar o seu interesse e acccedilatildeo para o mar
obrigando a novas formas de gestatildeo e de defesa e salvaguarda activa dos interesses
nacionais
Para que Portugal aproveite as oportunidades existentes e mitigue as dificuldades
as linhas orientadoras da ENM assentam em trecircs pilares estrateacutegicos
Estes satildeo os factores criacuteticos de sucesso ou seja aquilo que se torna indispensaacutevel
assegurar para valorizar definitivamente a importacircncia do mar como elemento
diferenciador projectando-o no futuro como um dos principais motores de
desenvolvimento do Paiacutes
A construccedilatildeo de uma economia mariacutetima proacutespera ao serviccedilo da qualidade de vida
e do bem-estar social e respeitando o ambiente tem de ser suportada pelos seguintes
pilares estrateacutegicos123
O conhecimento
O planeamento e o ordenamento espaciais
A promoccedilatildeo e a defesa activas dos interesses nacionais
No que concerne ao conhecimento utilizado aqui no seu sentido mais lato soacute
atraveacutes de uma aposta coerente e sustentada na investigaccedilatildeo cientiacutefica e no
desenvolvimento de novas tecnologias aplicadas ao oceano e agraves zonas costeiras eacute
possiacutevel criar uma base soacutelida para as decisotildees de governaccedilatildeo numa perspectiva de
desenvolvimento sustentaacutevel e de gestatildeo integrada Adicionalmente a formaccedilatildeo a
educaccedilatildeo a sensibilizaccedilatildeo a difusatildeo da informaccedilatildeo e o respectivo acesso bem como o
uso de indicadores objectivos de suporte agraves vaacuterias poliacuteticas sectoriais e intersectoriais
satildeo certamente os melhores factores de credibilidade e dinamizaccedilatildeo do investimento
puacuteblico e privado nas actividades relacionadas com o mar
123
ENM 2006-2016 p 12
75
O planeamento e o ordenamento espaciais satildeo as ferramentas de governaccedilatildeo
promovidas pelas entidades competentes indispensaacuteveis para assegurar uma visatildeo de
conjunto assente nos princiacutepios do desenvolvimento sustentaacutevel da precauccedilatildeo e da
abordagem ecossisteacutemica atraveacutes do levantamento e ordenamento de todas as
utilizaccedilotildees existentes e futuras permitindo dar suporte a uma gestatildeo verdadeiramente
integrada progressiva e adaptativa do oceano e da zona costeira e do desenvolvimento
das actividades associadas
A promoccedilatildeo e a defesa activas dos interesses nacionais obtecircm-se pelo
envolvimento empenhado e competente no acircmbito das relaccedilotildees bilaterais e
multilaterais prosseguidas atraveacutes da participaccedilatildeo cooperaccedilatildeo e contribuiccedilatildeo proacute-
activas nos diversos fora internacionais Mais uma vez estas acccedilotildees tecircm de ser
suportadas por uma estrutura de coordenaccedilatildeo que garanta a articulaccedilatildeo a niacutevel nacional
nas suas vertentes diplomaacutetica poliacutetica econoacutemica social ambiental cientiacutefica
tecnoloacutegica de defesa nacional e seguranccedila reforccedilando a imagem a soberania e a
identidade nacionais
O eventual insucesso das medidas ou acccedilotildees associadas a qualquer um destes trecircs
pilares estrateacutegicos condicionaraacute de forma significativa o desenvolvimento efectivo de
qualquer poliacutetica ligada ao oceano que integre de forma sustentaacutevel as vertentes
econoacutemica social e ambiental
53 Acccedilotildees e medidas
O estabelecimento e aplicaccedilatildeo de acccedilotildees e medidas que materializem os trecircs
pilares estrateacutegicos prioritaacuterios eacute fundamental para o sucesso das actividades
econoacutemicas onde se cruzam e renovam sectores tradicionais e sectores em
desenvolvimento como suporte essencial para a criaccedilatildeo de riqueza e melhoria do
crescimento coesatildeo social e qualidade de vida124
124
ENM 2006-2016 p 17
76
Soacute com uma ENM assente nestes alicerces seraacute possiacutevel alcanccedilar os objectivos
preconizados nas diferentes poliacuteticas nacionais nomeadamente nas seguintes aacutereas
Transportes
Apostando na competitividade dos portos nacionais e fomentando o transporte
mariacutetimo enquanto modo de transporte menos poluente Neste contexto importa
promover a articulaccedilatildeo do transporte mariacutetimo com outros modos de transporte
acrescentando valor atraveacutes de cadeias logiacutesticas bem como atraveacutes da implementaccedilatildeo
de instrumentos de normalizaccedilatildeo e simplificaccedilatildeo de procedimentos tais como a janela
uacutenica portuaacuteria125
Energia
Apostando nas energias renovaacuteveis contribuindo para a reduccedilatildeo da dependecircncia
energeacutetica externa e da emissatildeo de gases com efeito de estufa aproveitando os recursos
existentes no mar agilizando os procedimentos de licenciamento mobilizando e
atraindo investimento privado e apostando nas inovaccedilotildees tecnoloacutegicas que permitam
responder aos desafios da competitividade deste sector e ao desenvolvimento de uma
induacutestria que produza bens equipamentos e serviccedilos que potenciem o emprego as
exportaccedilotildees de equipamentos e tecnologia e a reconversatildeo de induacutestrias como por
exemplo as metalo-mecacircnicas e os estaleiros navais assegurando tambeacutem o melhor
conhecimento das aptidotildees geoloacutegicas do deep offshore nomeadamente para fins
energeacuteticos com origem foacutessil
Aquicultura e pescas
Assegurando a sustentabilidade da exploraccedilatildeo de recursos criando medidas que
tornem mais justa a distribuiccedilatildeo de rendimentos na cadeia de valor diversificando as
actividades econoacutemicas das comunidades piscatoacuterias implementando aacutereas marinhas
protegidas recuperando ecossistemas degradados reforccedilando o sistema de recifes
125
A janela uacutenica portuaacuteria garante que os agentes econoacutemicos passem a relacionar-se com cada porto
atraveacutes de um uacutenico canal electroacutenico uma espeacutecie de balcatildeo uacutenico virtual tendo a possibilidade de tratar
desta forma todos os processos administrativos para o despacho de mercadorias e navios Desta forma
ldquosimplifica-se os processos para melhor servir as empresasrdquo conforme referiu o ex-secretaacuterio de Estado
dos Assuntos Fiscais De acordo com Joatildeo Amaral Tomaz em 2005 ldquo99 por cento das mercadorias
importadas em Portugal chegaram pela via mariacutetimardquo O valor representa ldquoa entrada de 15000 navios o
que em termos de processo administrativo corresponde a 15 formulaacuterios e a cerca de 100 paacuteginas por
naviordquo No total satildeo quase ldquoum milhatildeo e quinhentas mil paacuteginas de papel que deveratildeo ser eliminadasrdquo
77
artificiais fomentando a investigaccedilatildeo e desenvolvimento em sistemas de aquicultura
offshore garantindo a sua rentabilidade econoacutemica e sustentabilidade ambiental
Defesa nacional e seguranccedila
Clarificando as atribuiccedilotildees aacutereas de intervenccedilatildeo e coordenaccedilatildeo das entidades do
Sistema de Autoridade Mariacutetima Intervindo na prevenccedilatildeo e combate agrave poluiccedilatildeo na
seguranccedila da navegaccedilatildeo e protecccedilatildeo e salvaguarda da vida humana no mar no acircmbito
dos sistemas nacionais para a busca e salvamento na fiscalizaccedilatildeo mariacutetima na
mitigaccedilatildeo de riscos naturais e no apoio agraves populaccedilotildees no acircmbito do Serviccedilo Nacional de
Protecccedilatildeo Civil
Ciecircncia tecnologia e inovaccedilatildeo
Investindo em recursos humanos qualificados projectos e infra-estruturas de
ciecircncia e tecnologia associadas ao oceano optimizando os recursos existentes
fomentando e reforccedilando a cooperaccedilatildeo e partilha de meios entre instituiccedilotildees e
participando activamente nas redes internacionais
Ambiente e conservaccedilatildeo da natureza
Assegurando o bom funcionamento e manutenccedilatildeo dos ecossistemas marinhos e
costeiros promovendo o conhecimento e protecccedilatildeo da biodiversidade marinha
recuperando habitats degradados e salvaguardando as aacutereas essenciais para a
conservaccedilatildeo e gestatildeo dos recursos vivos e natildeo vivos nomeadamente atraveacutes da criaccedilatildeo
de uma rede de aacutereas marinhas protegidas assegurando o combate e controlo da
poluiccedilatildeo incluindo o efeito das actividades humanas realizadas em meio terrestre sobre
o meio marinho combatendo e prevenindo a introduccedilatildeo de espeacutecies autoacutectones e
assegurando a monitorizaccedilatildeo global do estado de sauacutede do ambiente marinho
Educaccedilatildeo cultura e sensibilizaccedilatildeo
Inserindo nos programas escolares o tema oceano em todas as suas dimensotildees
promovendo a mediatizaccedilatildeo das actividades mariacutetimas junto da sociedade apostando
nos centros de interpretaccedilatildeo aquaacuterios oceanaacuterios e museus dedicados ao mar e
fomentando o ensino naval e naacuteutico a valorizaccedilatildeo do patrimoacutenio cultural subaquaacutetico e
a educaccedilatildeo ambiental
78
Turismo lazer desportos e naacuteutica de recreio
Valorizando o mar como diferenciador da oferta turiacutestica e estimulando as
actividades associadas ao mar que permitam a ocupaccedilatildeo de tempos livres o lazer e o
desporto desenvolvendo condiccedilotildees para um faacutecil e natural acesso ao mar promovendo
o turismo naacuteutico e oceacircnico atraveacutes da aposta na organizaccedilatildeo de provas desportivas
internacionais de grande prestiacutegio e em actividades mariacutetimo-turiacutesticas como a vela o
remo a canoagem o surf o mergulho e a observaccedilatildeo de aves e cetaacuteceos fomentando o
turismo associado agrave actividade da pesca tirando partido das importantes aacutereas naturais
classificadas existentes na nossa costa onde assumem um importante papel as Regiotildees
Autoacutenomas dos Accedilores e da Madeira para dinamizar o turismo de natureza
promovendo o turismo de cruzeiros jaacute em franca expansatildeo no nosso paiacutes
Poliacutetica externa
Promovendo a centralidade atlacircntica de Portugal e as relaccedilotildees externas com outros
continentes nomeadamente as relaccedilotildees transatlacircnticas a desenvolver no acircmbito da
comunidade dos PALOP afirmando Portugal como o paiacutes mariacutetimo da Europa e
defendendo os interesses nacionais em todos os fora internacionais relevantes
Foram identificadas trecircs acccedilotildees prioritaacuterias126
que tendo em consideraccedilatildeo a
exigecircncia do contexto actual satildeo consideradas como sendo de implementaccedilatildeo de curto
prazo
Criar uma comissatildeo de coordenaccedilatildeo interministerial para a
implementaccedilatildeo da ENM E assim a articulaccedilatildeo intergovernamental dos assuntos
do mar seraacute desta forma garantida de modo permanente mantendo-se as
competecircncias e aacutereas de acccedilatildeo vertical e sectorial de cada tutela
Melhorar a articulaccedilatildeo e coordenaccedilatildeo das posiccedilotildees nacionais relativas
aos assuntos do mar nos diversos fora internacionais Esta eacute uma acccedilatildeo central
para afirmar Portugal como um paiacutes que defende de forma coerente os seus
interesses e assume a lideranccedila dos dossiers internacionais no que respeita aos
assuntos do mar
Assegurar o acompanhamento teacutecnico diplomaacutetico e poliacutetico da
discussatildeo puacuteblica sobre o Livro Verde da Poliacutetica Mariacutetima Europeia e do
126
ENM 2006-2016 p18
79
processo subsequente durante o qual eacute fundamental que o Paiacutes se mobilize de
forma a garantir que Portugal se mantenha na vanguarda da nova abordagem aos
assuntos do mar ao niacutevel europeu atraveacutes de uma participaccedilatildeo esclarecida
eficaz e abrangente
Atenta agrave natureza marcadamente horizontal da ENM definiram-se um conjunto de
acccedilotildees estrateacutegicas que identificam medidas transversais que contribuem para criar
condiccedilotildees favoraacuteveis para o melhor aproveitamento do mar de forma sustentaacutevel A
implementaccedilatildeo destas acccedilotildees articuladas com as restantes estrateacutegias nacionais
permitiraacute operacionalizar os pilares estrateacutegicos definidos anteriormente acrescentando
valor agraves acccedilotildees actualmente em curso e contribuindo para o objectivo central de definir
o mar como um ldquoprojecto nacionalrdquo
Foram assim seleccionadas oito acccedilotildees estrateacutegicas127
a saber
A sensibilizaccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo da sociedade para a importacircncia do mar
A promoccedilatildeo do ensino e divulgaccedilatildeo nas escolas de actividades ligadas ao
mar
A promoccedilatildeo de Portugal como um centro de excelecircncia de investigaccedilatildeo
das ciecircncias do mar da Europa
O planeamento e ordenamento espacial das actividades
A protecccedilatildeo e recuperaccedilatildeo dos ecossistemas marinhos
O fomento da economia do mar
A aposta nas novas tecnologias aplicadas agraves actividades mariacutetimas
A defesa nacional a seguranccedila a vigilacircncia e a protecccedilatildeo dos espaccedilos
mariacutetimos sob soberania ou jurisdiccedilatildeo nacional
A proposta da Estrateacutegia Nacional para o Mar foi aprovada na generalidade em
Conselho de Ministros a 4 de Outubro de 2006 A Estrateacutegia Nacional para o Mar
assume-se como um documento dinacircmico aberto aos ajustamentos que a evoluccedilatildeo das
suas condicionantes e a avaliaccedilatildeo da sua execuccedilatildeo vierem a recomendar Vigora no
periacuteodo de 2006 a 2016 ano em que deveraacute ser sujeita a uma revisatildeo global com base
num processo de avaliaccedilatildeo e discussatildeo puacuteblica
127
ENM 2006-2016 pp 22-23
80
Relativamente agrave ENM tenho a comentar que depois da anaacutelise efectuada reparei na
inexistecircncia de um programa de acccedilatildeo efectivo (prazos orccedilamentaccedilatildeo parcerias
instrumentos financeiros ao dispocircr etc) anexo agrave poliacutetica nacional para o mar Natildeo
obstante a ratificaccedilatildeo do Conselho de Ministros da ENM esta Estrateacutegia sugere que
cabe agrave sociedade civil e agrave iniciativa privada o papel principal na concretizaccedilatildeo dos
objectivos da Estrateacutegia sendo o Estado relegado para um papel de mero facilitador
Satildeo de facto os stakeholders os principais responsaacuteveis pela implementaccedilatildeo da
Estrateacutegia mas teraacute de ser o Estado a criar as condiccedilotildees favoraacuteveis para o iniacutecio deste
novo ciclo A ver pelas oito acccedilotildees estrateacutegicas propostas a sua boa execuccedilatildeo tem no
Estado o seu principal responsaacutevel Soacute com um Estado determinado e perseverante a
acccedilatildeo estrateacutegica pode ser verdadeiramente ldquolanccedilada ao marrdquo
No entanto percebemos que nos discursos oficiais nomeadamente de Sua
Excelecircncia o Presidente da Repuacuteblica Professor Aniacutebal Cavaco Silva os assuntos do
mar estatildeo na ordem do dia conforme constatei nos excertos do seu discurso128
na
Assembleia da Repuacuteblica durante a 36ordf Sessatildeo Comemorativa do 25 de Abril de 2010
(hellip)ldquoTemos de repensar a nossa relaccedilatildeo com o mar Repensar o modo como
exploramos as oportunidades que ele nos oferece Importa afirmar a ideia de que o mar
eacute um activo econoacutemico maior do nosso futurordquo (hellip)rdquoAgraves vantagens decorrentes da nossa
geografia da Histoacuteria e da imagem externa do Paiacutes podemos ainda juntar as
estrateacutegias e poliacuteticas para o mar desenhadas nos uacuteltimos seis anos em Portugal e na
proacutepria Uniatildeo Europeia Natildeo eacute necessaacuterio fazer mais estudos e relatoacuterios Basta agir
em cumprimento daquelas estrateacutegiasrdquo (hellip) ldquoEacute essencial que criemos condiccedilotildees e
incentivemos os agentes econoacutemicos a investir no conjunto dos sectores que ligam
economicamente Portugal ao marhellipPortugal e os Portugueses precisam de desiacutegnios
que lhes decircem mais coesatildeo mais auto-estima e mais propoacutesito de existir O mar eacute
certamente um delesrdquo (hellip)
128
Este discurso pode ser consultado na integra no site oficial da Presidecircncia da Repuacuteblica Portuguesa
httpwwwpresidenciaptidc=22ampidi=39445
81
54 O Hypercluster da economia do mar
ldquoUm domiacutenio de potencial estrateacutegico para o desenvolvimento da economia
portuguesardquo
Dentro das poliacuteticas mariacutetimas nacionais natildeo posso deixar de enaltecer o estudo de
economia poliacutetica realizado pela equipa multi-disciplinar da SaeR ndash Sociedade de
avaliaccedilatildeo estrateacutegica e risco Lda ndash denominado Hypercluster da Economia do Mar129
sob a coordenaccedilatildeo do ex-ministro das Financcedilas Professor Ernacircni Lopes por iniciativa
da Associaccedilatildeo Comercial de Lisboa Trata-se de uma obra de referecircncia cuja leitura
considero indispensaacutevel a todos aqueles (decisores poliacuteticos empresaacuterios acadeacutemicos e
sociedade civil) que estatildeo empenhados em deixar aos seus descendentes um paiacutes
diferenciado internacionalmente relevante e seguramente mais proacutespero
O estudo propriamente dito estaacute dividido em trecircs partes primeira parte ndash a
fundamentaccedilatildeo segunda parte ndash a avaliaccedilatildeo estrateacutegica das componentes e a visatildeo de
conjunto terceira parte ndash a estrateacutegia e os planos de acccedilatildeo
O estudo confronta-nos com o facto amplamente demonstrado de que a economia
portuguesa estaacute a sofrer uma descontinuidade nos seus padrotildees de modernizaccedilatildeo e nos
seus modelos de desenvolvimento e a anaacutelise prospectiva da economia nacional conduz
a um cenaacuterio espontacircneo de definhamento e agrave necessidade de se caminhar para um
cenaacuterio de afirmaccedilatildeo estrateacutegica para Portugal
O hypercluster configura-se como simultaneamente uma forccedila propulsora e um
catalisador capaz de organizar e dinamizar um conjunto de sectores com elevado
potencial de crescimento e inovaccedilatildeo e capacidade para atraiacuterem recursos e
investimentos de qualidade nomeadamente externos
Segundo o estudo a economia do mar representa hoje apenas 2 do PIB e gera
cerca de 75000 empregos o que eacute considerado muito abaixo do seu potencial face ateacute a
comparaccedilotildees internacionais com paiacuteses ou regiotildees proacuteximas O efeito multiplicador de
28 configura estas actividades como geradoras fortes de valor acrescentado admitindo-
129
Hypercluster do Mar - httpwwwsaerptupUPLOADbin2_imagem_0955656001242642284-657pdf
82
se que possam vir a representar em 2025 directamente cerca de 45 do PIB valor
que sobe para 10 a 12 englobando os valores indirectos
Haveraacute assim que criar nas palavras inspiradoras do Professor Ernacircni Lopes um
novo desiacutegnio nacional tornar Portugal num actor mariacutetimo relevante a niacutevel global
na viragem do I para o II quartel do seacuteculo XXI130
O estudo propotildee por fim um masterplan distribuiacutedo por quatro plataformas
diferentes de planos e acccedilotildees a saber
1) Planos prioritaacuterios
Englobando os componentes com maiores condiccedilotildees de atractividade e
competitividade e capacidades para servirem de motores catalisadores e formatadores
sisteacutemicos do conjunto (portos logiacutestica amp transportes mariacutetimos naacuteutica de recreio amp
turismo naacuteutico pesca aquicultura amp induacutestria do pescado visibilidade comunicaccedilatildeo
amp cultura mariacutetima e produccedilatildeo de pensamento estrateacutegico)
2) Planos de sustentaccedilatildeo imediata
Englobando os componentes fundamentais para o bom funcionamento da ldquolinha da
frenterdquo (serviccedilos mariacutetimos construccedilatildeo amp reparaccedilatildeo navais e obras mariacutetimas)
3) Planos de alimentaccedilatildeo
Englobando os componentes criadores de consistecircncia e sustentabilidade a longo
prazo com papel regenerador e inovador do conjunto (investigaccedilatildeo cientiacutefica inovaccedilatildeo
amp desenvolvimento ensino amp formaccedilatildeo defesa amp seguranccedila no mar e ambiente amp
conservaccedilatildeo da natureza)
4) Plano meta-oceano (prospectivo e de longo prazo)
O estudo propotildee tambeacutem algumas medidas consideradas determinantes no caminho
criacutetico para o sucesso da implementaccedilatildeo deste projecto Como por exemplo a criaccedilatildeo do
Foacuterum Empresarial da Economia do Mar131
(FEM)
130
Referecircncia feita no website da SaeR pelo coordenador no estudo sobre o Hypercluster da economia do
Mar Professsor Doutor Ernacircni Lopes
httpwwwsaerptindexphplop=conteudoampop=f7177163c833dff4b38fc8d2872f1ec6ampid=c24cd76e1ce
41366a4bbe8a49b02a028 131
Foacuterum Empresarial da Economia do Mar - httpwwwfempt
83
O FEM conheceu recentemente a sua constituiccedilatildeo estatutaacuteria conta no momento
com o Eng Fernando Ribeiro e Castro na qualidade de secretaacuterio-geral e estaacute
organizado de acordo com as componentes da economia do mar do hypercluster
apresentado
Por conseguinte originou a formaccedilatildeo de vaacuterios grupos de trabalho com o objectivo
principal de concretizar as linhas de acccedilatildeo previstas nos planos prioritaacuterios pondo
assim em marcha o Hypercluster da Economia do Mar em Portugal Actualmente
fazem parte do FEM cinquenta e oito empresas nacionais
55 Plano de Ordenamento do Espaccedilo Mariacutetimo (POEM)132
The problems of ocean space are closely interrelated and need to be considered as
a whole 133
O ordenamento do espaccedilo mariacutetimo eacute um instrumento fundamental da PMIE
Permite agraves autoridades puacuteblicas e agraves partes interessadas coordenarem a acccedilatildeo
respectiva e optimiza a utilizaccedilatildeo do espaccedilo marinho beneficiando o desenvolvimento
econoacutemico do meio marinho134
No acircmbito do Plano de Acccedilatildeo da ENM Resoluccedilatildeo do Conselho de Ministros nordm
1632006 de 12 de Dezembro foi aprovado um Programa de Acccedilatildeo que integra entre
outros o ldquoPlaneamento e ordenamento do espaccedilo e actividades mariacutetimasrdquo que prevecirc o
desenvolvimento de um POEM Este plano tem como objectivo ordenar os usos e
actividades do espaccedilo mariacutetimo presentes e futuros em estreita articulaccedilatildeo com a
132
Plano de Ordenamento do Espaccedilo Mariacutetimo - httppoeminagpt 133
ldquoOs problemas do espaccedilo mariacutetimo estatildeo estreitamente inter-relacionados e devem ser considerados
como um todordquo Preacircmbulo da Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas sobre o Direito do Mar (UNCLOS)
Adoptada em 1982 entrou em vigor em 1994 A Comunidade Europeia e todos os Estados-Membros da
UE satildeo Partes na UNCLOS 134
COM (2008) 791 final ldquoRoteiro para o ordenamento do espaccedilo mariacutetimo definiccedilatildeo de princiacutepios
comuns na EUrdquo p 2
84
gestatildeo da zona costeira garantindo a utilizaccedilatildeo sustentaacutevel dos recursos a sua
preservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo potenciando a utilizaccedilatildeo eficiente do espaccedilo marinho no
quadro de uma abordagem integrada e intersectorial e fomentando a importacircncia
econoacutemica ambiental e social do mar
Tendo presente que os instrumentos de gestatildeo territorial existentes a niacutevel nacional
tecircm um enfoque essencialmente na vertente terrestre natildeo contemplando a vertente
mariacutetima ou natildeo considerando o acircmbito multidimensional do mar isto eacute o fundo a
coluna de aacutegua a superfiacutecie o litoral e a atmosfera importa encontrar forma de regular
esta mateacuteria de forma coerente e articulada
Assim atraveacutes do Despacho nordm 322772008 da CIAM de 18 de Dezembro e
considerando o disposto no nordm 2 do artigo 38ordm do Decreto-Lei nordm 38099 de 22 de
Setembro na redacccedilatildeo dada pelo Decreto-Lei nordm 462009 de 20 de Fevereiro foi
determinada a elaboraccedilatildeo do Plano de Ordenamento do Espaccedilo Mariacutetimo
O POEM como plano sectorial deveraacute estabelecer e justificar as opccedilotildees e os
objectivos sectoriais com incidecircncia territorial e definir normas de execuccedilatildeo integrando
as peccedilas graacuteficas necessaacuterias agrave representaccedilatildeo da respectiva expressatildeo territorial e seraacute
acompanhado por um relatoacuterio que procede ao diagnoacutestico da situaccedilatildeo territorial sobre a
qual interveacutem e agrave fundamentaccedilatildeo teacutecnica das opccedilotildees e objectivos estabelecidos
O desenvolvimento deste plano considera como documento orientador a
Comunicaccedilatildeo da Comissatildeo Europeia denominado ldquoRoteiro para o ordenamento do
espaccedilo mariacutetimordquo
Visatildeo
ldquoEspaccedilo Mariacutetimo diferenciador da identidade nacional sustentaacutevel ordenado e
seguro suporte de actividades socioeconoacutemicas e potenciador de recursos assente no
conhecimento na inovaccedilatildeo e na especificidade geograacuteficardquo
Missatildeo
ldquoAfirmar a importacircncia econoacutemica ambiental e social do Mar assente na
promoccedilatildeo do conhecimento dos recursos naturais e das actividades existentes e
potenciais e no ordenamento integrado e gestatildeo adaptativa dos usos que se desenvolvem
no espaccedilo mariacutetimo em estreita articulaccedilatildeo com a gestatildeo da zona costeira com o
85
normativo internacional comunitaacuterio e nacional e demais instrumentos de planeamento
sectorial e de gestatildeo do territoacuterio envolvendo os diferentes actores e agentesrdquo
Discussatildeo Puacuteblica
A Proposta do Plano de Ordenamento do Espaccedilo Mariacutetimo (POEM) e o respectivo
Relatoacuterio Ambiental encontram-se concluiacutedos tecnicamente e aprovados pela respectiva
Equipa Multidisciplinar Nos termos previstos do artigo 40ordm do Decreto-Lei nordm 38099
de 22 de Setembro na sua actual redacccedilatildeo faz-se saber que a Discussatildeo Puacuteblica do
POEM decorre entre o periacuteodo de 29 de Novembro de 2010 a 22 de Fevereiro de 2011
56 Programa ldquoPolis do Litoralrdquo
ldquoOperaccedilotildees integradas de requalificaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo da orla costeirardquo
Como verificamos no Livro Verde as zonas costeiras assumem uma importacircncia
estrateacutegica em termos ambientais econoacutemicos sociais e culturais
A resoluccedilatildeo dos seus problemas ndash designadamente o controlo dos processos
erosivos da ocupaccedilatildeo urbana de zonas de risco da destruiccedilatildeo de habitats e a perda de
biodiversidade e do decliacutenio das actividades econoacutemicas ndash revela-se prioritaacuteria no
acircmbito de uma poliacutetica de desenvolvimento sustentaacutevel implicando um equiliacutebrio e
interacccedilatildeo indispensaacuteveis entre a conservaccedilatildeo dos recursos naturais e o
desenvolvimento socioeconoacutemico de cada regiatildeo
No acircmbito da poliacutetica integrada para as zonas costeiras o XVII Governo
Constitucional determinou em Resoluccedilatildeo do Conselho de Ministros 902008 de 3 de
Junho a realizaccedilatildeo de um conjunto de operaccedilotildees de requalificaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo de
zonas de risco e de aacutereas naturais degradadas situadas no litoral em espaccedilos de
intervenccedilatildeo prioritaacuteria designadas Polis Litoral
86
Os objectivos impliacutecitos agraves respectivas intervenccedilotildees passam pelas seguintes
medidas
Proteger e requalificar a zona costeira tendo em vista a defesa da costa a
promoccedilatildeo da conservaccedilatildeo da natureza e biodiversidade a renaturalizaccedilatildeo e a
reestruturaccedilatildeo de zonas lagunares e a preservaccedilatildeo do patrimoacutenio natural e
paisagiacutestico no acircmbito de uma gestatildeo sustentaacutevel
Prevenir e defender pessoas bens e sistemas de riscos naturais
Promover a fruiccedilatildeo puacuteblica do litoral suportada na requalificaccedilatildeo dos
espaccedilos balneares e do patrimoacutenio ambiental e cultural
Potenciar os recursos ambientais como factor de competitividade atraveacutes
da valorizaccedilatildeo das actividades econoacutemicas ligadas aos recursos do litoral e
associando-as agrave preservaccedilatildeo dos recursos naturais
De momento estatildeo identificadas quatro aacutereas territoriais ldquopolisrdquo a saber litoral do
Norte135
litoral da Ria de Aveiro136
litoral da Ria Formosa137
e o litoral da Costa
Vicentina Abrangem no seu conjunto 308 km de frente costeira 220 km de frentes
lagunares e estuarinas a financiar pelo Estado municiacutepios entidades privadas e com
recurso a fundos comunitaacuterios no acircmbito do Quadro de Referecircncia Estrateacutegico Nacional
(QREN) totalizando um orccedilamento global na ordem dos 3225 milhotildees de euros
135
wwwpolislitoralnortept 136
wwwpolisriadeaveiropt 137
wwwpolislitoralriaformosapt
87
Cap VI ndash Agenda Regional do Mar (Norte de Portugal)
61 Pacto regional para a competitividade da regiatildeo ldquoNorte 2015rdquo
A regiatildeo Norte de Portugal possui uma grande tradiccedilatildeo mariacutetima e uma forte
ligaccedilatildeo ao mar que conheceu diferentes formas de expressatildeo ao longo dos tempos Na
eacutepoca das primeiras descobertas (a partir do seacuteculo XV) o Porto e a sua regiatildeo
participaram activamente na construccedilatildeo de embarcaccedilotildees e no fornecimento de homens
para incorporar as respectivas guarniccedilotildees Nos seacuteculos seguintes o comeacutercio mariacutetimo e
o aparecimento de uma burguesia comercial com intensas relaccedilotildees com o norte da
Europa constituiacuteram a base de desenvolvimento da economia desta cidade e sua regiatildeo
No final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX o transporte mariacutetimo possibilitou a
saiacuteda de importantes fluxos migratoacuterios em direcccedilatildeo ao Brasil e mais recentemente a
pesca (em especial a pesca do bacalhau) e a induacutestria transformadora marcaram em
termos sociais e econoacutemicos os espaccedilos litorais da regiatildeo
No presente assiste-se ao aparecimento de novas actividades emergentes com forte
ligaccedilatildeo ao mar nos campos econoacutemico cientiacutefico e do lazer
A regiatildeo Norte deteacutem um importante patrimoacutenio natural (por exemplo rede natura
do Litoral Norte) e cultural tangiacutevel (por exemplo arquitectura militar civil e religiosa)
e intangiacutevel (tradiccedilotildees e costumes) ao longo da sua zona costeira com destaque para os
municiacutepios de Espinho Porto Matosinhos Vila do Conde Poacutevoa de Varzim e Viana do
Castelo Este patrimoacutenio estaacute disperso carecendo de valorizaccedilatildeo e de promoccedilatildeo A
regiatildeo apresenta ainda um conjunto de centros vocacionados para a divulgaccedilatildeo
cientiacutefica e da temaacutetica mar de que constituem exemplos a Estaccedilatildeo Litoral da Aguda138
em Gaia o projecto Rosa-dos-Ventos em Vila do Conde a Lancha Poveira 139
na Poacutevoa
de Varzim a Fundaccedilatildeo Gil Eannes140
em Viana do Castelo e o AquaMuseu do rio
Minho141
em Vila Nova de Cerveira entre outros
138
Estaccedilatildeo Litoral da Aguda - httpwwwfundacao-elapt 139
Lancha Poveira - httpwwwpovoadevarzimcomptlanchapoveiraphp 140
Fundaccedilatildeo Gil Eannes - wwwfundacaogileannespt 141
AquaMuseu do rio Minho- httpaquamuseucm-vncerveirapt
88
O Conselho Regional e a Comissatildeo de Coordenaccedilatildeo e Desenvolvimento Regional
do Norte (CCDR-N) definiram uma estrateacutegia de desenvolvimento regional designada
por ldquoNORTE 2015 ndash Uma Regiatildeo Um Futuro Uma Estrateacutegiardquo e dentro desta tem
vindo a promover um conjunto de agendas temaacuteticas consideradas prioritaacuterias
constituindo o ldquopacto regional para a competitividade da regiatildeo do Norterdquo Entre elas e
relevante para o trabalho em questatildeo eacute a Agenda Regional do Mar - Plano de Acccedilatildeo
ldquoMarrdquo
A Agenda Regional do Mar e o seu plano de acccedilatildeo tem como objectivo geral
ldquovalorizar o recurso mar atraveacutes do desenvolvimento de um conjunto de actividades de
produtos e de serviccedilos que promovam o crescimento econoacutemico o emprego e a
internacionalizaccedilatildeo da regiatildeo apostando no reforccedilo da Investigaccedilatildeo Desenvolvimento
e Inovaccedilatildeo (IampDampI) marinha da formaccedilatildeo do empreendedorismo e da cooperaccedilatildeo de
forma a contribuir em condiccedilotildees de sustentabilidade para a competitividade da
Regiatildeo142
Em siacutentese este plano de acccedilatildeo ldquoMarrdquo justifica-se assim por um conjunto de
razotildees das quais destaco as seguintes
A existecircncia de uma zona costeira extensa e rica onde se concentra a
maior parte da populaccedilatildeo e da actividade econoacutemica da regiatildeo marcada pela
existecircncia de vaacuterios estuaacuterios de elevado valor ambiental paisagiacutestico e
econoacutemico que urge valorizar em condiccedilotildees de sustentabilidade
Permite uma aproximaccedilatildeo global e coordenada das actividades e saberes
que integram a temaacutetica mar bem como o desenvolvimento de relaccedilotildees de
complementaridade e a produccedilatildeo de efeitos de sinergia favoraacuteveis ao
desenvolvimento da regiatildeo
Permite desenvolver as estrateacutegias adequadas e a sua coordenaccedilatildeo no
sentido da adaptaccedilatildeo da regiatildeo aos efeitos das alteraccedilotildees climaacuteticas
Constitui uma oportunidade para parar ou diminuir a tendecircncia de perda
de biodiversidade que caracteriza a evoluccedilatildeo dos ecossistemas marinhos
Favorece o aproveitamento do potencial que algumas actividades ligadas
ao mar apresentam enquanto espaccedilos de empreendimento inovaccedilatildeo criaccedilatildeo de
142
Agenda Regional do Mar Plano de Acccedilatildeo ldquoMARrdquo 2007-2013 p 52
89
riqueza e de emprego qualificado que importa estimular do ponto de vista do
reforccedilo da competitividade e do emprego da regiatildeo
Contribui atraveacutes da iniciativa regional e das articulaccedilotildees possiacuteveis com
outras regiotildees portuguesas e com a EMAM para a consecuccedilatildeo da ENM
favorecendo a criaccedilatildeo de escala e o desenvolvimento de complementaridades
indispensaacuteveis agrave consecuccedilatildeo dessa estrateacutegia nacional
Contribui para o desenvolvimento da PMIE atraveacutes da assunccedilatildeo no
plano regional do conjunto de princiacutepios e de orientaccedilotildees que enquadram essa
estrateacutegia europeia
Reforccedila o papel da regiatildeo nos programas de cooperaccedilatildeo transfronteiriccedila
com a Galiza e de cooperaccedilatildeo transnacional no acircmbito do Espaccedilo Atlacircntico co-
financiados pelo FEDER em que a dimensatildeo mariacutetima ocupa uma posiccedilatildeo
relevante em ambos os programas
Contribui para a sensibilizaccedilatildeo da populaccedilatildeo em geral e especialmente
dos jovens para a temaacutetica mar
Apresenta um programa de fundos estruturais interessante para o periacuteodo
entre 2007 e 2013 que permite o lanccedilamento de iniciativas e investimentos para
o desenvolvimento no domiacutenio do mar
Eacute importante mencionar que a elaboraccedilatildeo do plano de acccedilatildeo ldquoMarrdquo assentou num
processo aberto agrave participaccedilatildeo de um alargado leque de actores de acircmbito regional e
nacional quer na fase de estudo quer durante a fase da sua implementaccedilatildeo Este plano
constitui tambeacutem um referencial central para os investimentos puacuteblicos e privados a ter
em consideraccedilatildeo no acircmbito das candidaturas ao Programa Operacional Regional do
Norte (ON2 ndash O Novo Norte) e aos Programas de Cooperaccedilatildeo (POCTEP e
POCTEA143
)
Neste ponto a Agenda Regional destaca-se da ENM pelo facto de estar enquadrada
a temaacutetica ldquoMarrdquo nestes programas operacionais podendo ser candidataacuteveis entidades
puacuteblicasprivadas da regiatildeo Norte de Portugal
143
POCTEP - Programa de Cooperaccedilatildeo Transfronteiriccedilo Espanha - Portugal
POCTEA - Programa de Cooperaccedilatildeo Transnacional do Espaccedilo Atlacircntico
90
Saliento que a regiatildeo Norte eacute no presente momento a uacutenica regiatildeo portuguesa
que apresenta uma estrateacutegia integrada para o Mar
Ora este plano de acccedilatildeo estimula tambeacutem o alargamento da dinacircmica de
cooperaccedilatildeo a outras regiotildees vizinhas como seja a regiatildeo Centro de Portugal e a regiatildeo
Autoacutenoma da Galiza e favorece assim o desenvolvimento de condiccedilotildees de
complementaridade e de escala indispensaacuteveis agrave afirmaccedilatildeo internacional do Noroeste
peninsular no domiacutenio do mar
62 Linhas estrateacutegicas de desenvolvimento144
Para o efeito foram delineadas dez linhas de desenvolvimento estrateacutegico para
consubstanciar o ldquoplano de acccedilatildeordquo Analisei-as cada uma per si tendo em conta o seu
objectivo e tipologias respectivas Passo a enumerar as dez linhas estrateacutegicas definidas
para a regiatildeo Norte que constam na Agenda do ldquoMarrdquo
1) Promover a conservaccedilatildeo a valorizaccedilatildeo e a gestatildeo dos ecossistemas costeiros e
das bacias hidrograacuteficas
O objectivo eacute o de fomentar o estudo dos ecossistemas costeiros e fluviais e
desenvolver medidas com vista agrave sua protecccedilatildeo recuperaccedilatildeo valorizaccedilatildeo e
ordenamento de forma a potenciar os seus usos de acordo com modelos de
sustentabilidade Os projectos e as acccedilotildees a desenvolver devem observar as orientaccedilotildees
estabelecidas pelas ldquoBases para a Estrateacutegia de Gestatildeo Integrada das Zonas Costeirasrdquo
2) Desenvolver novos produtos e promover a aplicaccedilatildeo de novas tecnologias ao
meio marinho
Esta linha tem em vista os desenvolvimentos futuros no campo das ciecircncias do mar
e da utilizaccedilatildeo do meio marinho atraveacutes de novos produtos e serviccedilos que resultaratildeo
certamente da aplicaccedilatildeo a este meio de conhecimento e de tecnologias da informaccedilatildeo e
da comunicaccedilatildeo Podem enquadrar-se no acircmbito desta linha estrateacutegica os projectos que
144
Agenda Regional do Mar Plano de Acccedilatildeo ldquoMARrdquo 2007-2013 p 54
91
visam o desenvolvimento de novos produtos resultantes da utilizaccedilatildeo de organismos
marinhos nomeadamente
Desenvolvimento de novos medicamentos e a promoccedilatildeo de instrumentos de
diagnoacutestico para monitorizaccedilatildeo na aacuterea da sauacutede
Desenvolvimento de novas teacutecnicas para conhecimento protecccedilatildeo
monitorizaccedilatildeo e gestatildeo do meio marinho a garantia de sustentabilidade das
pescas e da aquacultura
Desenvolvimento de novos tipos de materiais compoacutesitos e enzimas para a
induacutestria
3) Promover a qualidade e a valorizaccedilatildeo dos produtos da pesca e da aquicultura e
a seguranccedila alimentar
Nesta linha enquadram-se acccedilotildees que contribuam para o aprofundar do
conhecimento dos recursos vivos marinhos e do seu valor comercial acccedilotildees que
contribuam para o desenvolvimento e melhoramento de tecnologias de conservaccedilatildeo e
transformaccedilatildeo do pescado e da avaliaccedilatildeo do risco para a sauacutede puacuteblica e ainda acccedilotildees
de implementaccedilatildeo de processos de certificaccedilatildeo de origem de seguranccedila e de qualidade
de produtos da pesca e da aquacultura de modo a melhorar a imagem junto do
consumidor muitas vezes influenciada por produtos importados de qualidade inferior
aos produtos regionais
4) Desenvolver novas tecnologias de produccedilatildeo de peixes de bivalves e de outras
espeacutecies e a sustentabilidade da aquicultura
O objectivo desta linha estrateacutegica eacute o de promover o desenvolvimento de uma
aquicultura sustentaacutevel e fomentar a produccedilatildeo intensiva de espeacutecies alternativas agraves jaacute
largamente implantadas em todo o Sul da Europa nomeadamente a dourada e o robalo
evitando assim a saturaccedilatildeo do mercado e a competiccedilatildeo entre produtores O recurso a
espeacutecies alternativas (goraz linguado polvo entre outras) mais adaptadas a
temperaturas baixas permitiraacute conquistar novos mercados dado tratar-se de espeacutecies de
elevado valor comercial e cujas populaccedilotildees naturais tecircm vindo a diminuir
92
5) Promover o desenvolvimento do cluster ldquo conhecimento e economia do marrdquo
O objectivo desta linha de acccedilatildeo eacute o de reforccedilar a economia do mar contribuindo
para a modernizaccedilatildeo das actividades tradicionais nomeadamente as induacutestrias
mariacutetimas o apoio a actividades emergentes e o desenvolvimento de redes de
cooperaccedilatildeo entre empresas e instituiccedilotildees de Investigaccedilatildeo e Desenvolvimento (IampD)
orientadas para a transferecircncia de tecnologia e para o desenvolvimento da cadeia de
valor dos produtos da economia do mar Satildeo considerados prioritaacuterios os projectos que
promovam a densificaccedilatildeo das relaccedilotildees intra e intersectoriais e projectos que contribuam
para internacionalizaccedilatildeo da base produtiva regional
6) Reforccedilar a investigaccedilatildeo e desenvolvimento nas aacutereas das ciecircncias marinhas e
fomentar o empreendedorismo em actividades da economia do mar
Esta linha completa as anteriormente apresentadas constituindo o seu
desenvolvimento uma condiccedilatildeo necessaacuteria para a construccedilatildeo e consolidaccedilatildeo do cluster
regional para o mar O apoio a formaccedilotildees avanccediladas ao desenvolvimento de projectos
de investigaccedilatildeo nas aacutereas das ciecircncias e da economia do mar e ao fomento do
empreendedorismo eacute para esta Agenda uma indiscutiacutevel prioridade para o
desenvolvimento do seu plano de acccedilatildeo
Esta linha privilegia abordagens que integrem de forma dinacircmica as componentes
formativa investigaccedilatildeo incubaccedilatildeo e de aconselhamento e apoio financeiro ao
desenvolvimento de novos projectos e iniciativas empresariais e ainda ao acolhimento
de projectos empresariais externos que pela sua relevacircncia contribuam para o reforccedilo
das demais componentes
7) Apoiar o desenvolvimento do transporte mariacutetimo e a melhoria das condiccedilotildees de
seguranccedila mariacutetima e das infra-estruturas portuaacuterias
A localizaccedilatildeo de Portugal e da regiatildeo do Norte no Sul do Arco Atlacircntico Europeu
constitui uma posiccedilatildeo privilegiada por referecircncia agraves rotas mariacutetimas norte-sul e este-
oeste que importa potenciar As ldquoauto-estradasrdquo do mar e o short sea shipping
representam alternativas ao transporte rodoviaacuterio de mercadorias com reconhecidas
vantagens do ponto de vista ambiental e econoacutemico O porto de Leixotildees apresenta neste
contexto uma posiccedilatildeo relevante no que respeita agrave auto-estrada mariacutetima do Atlacircntico O
apetrechamento e a modernizaccedilatildeo dos portos da regiatildeo e a melhoria das suas
articulaccedilotildees com o hinterland de forma a favorecer a inserccedilatildeo nas cadeias
93
internacionais de transporte e a operaccedilatildeo nas melhores condiccedilotildees de seguranccedila
constituem objectivos importantes no acircmbito dos programas regionais do mar e dos
transportes
Adquirem especial relevacircncia os projectos do novo molhe e terminal de passageiros
do porto de Leixotildees bem como projectos que favoreccedilam a melhoria das condiccedilotildees de
seguranccedila das operaccedilotildees portuaacuterias No acircmbito desta linha estrateacutegica adquire especial
importacircncia a criaccedilatildeo do Poacutelo Mar do Parque de Ciecircncia e Tecnologia - Universidade
do Porto - que integraraacute e articularaacute as valecircncias de formaccedilatildeo e investigaccedilatildeo de
incubaccedilatildeo de empresas e de acolhimento empresarial e ainda uma funccedilatildeo de divulgaccedilatildeo
cientiacutefica
8) Valorizar o patrimoacutenio mariacutetimo regional a naacuteutica de recreio e o turismo
naacuteutico
Esta linha estrateacutegica contribui para a consolidaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo das estruturas
existentes e para a criaccedilatildeo de novos projectos que tenham por missatildeo a valorizaccedilatildeo e
interpretaccedilatildeo do patrimoacutenio e do conhecimento relacionado com as temaacuteticas do mar e
das comunidades mariacutetimas A valorizaccedilatildeo deste potencial em paralelo com a criaccedilatildeo e
desenvolvimento de um conjunto de condiccedilotildees de apoio agrave naacuteutica de recreio (uma rede
de marinas devidamente infra-estruturadas que disponibilizem serviccedilos de apoio agrave
naacuteutica geridas segundo um modelo empresarial) a criaccedilatildeo de um conjunto de produtos
de turismo naacuteutico e de turismo costeiro constituem as condiccedilotildees indispensaacuteveis agrave
valorizaccedilatildeo e aproveitamento do patrimoacutenio mariacutetimo que a regiatildeo possui Esta linha
estrateacutegica privilegia o desenvolvimento de projectos que promovam na sua elaboraccedilatildeo
e desenvolvimento o envolvimento das comunidades mariacutetimas das respectivas zonas
de forma a favorecer a emergecircncia e a diversificaccedilatildeo de actividades ligadas ao mar e a
criaccedilatildeo de novas oportunidades de emprego
9) Promover o desenvolvimento da educaccedilatildeo e da formaccedilatildeo nas aacutereas das ciecircncias
marinhas e da economia do mar de forma a favorecer a seguranccedila a qualificaccedilatildeo do
sector e a empregabilidade
O desenvolvimento da educaccedilatildeo e da formaccedilatildeo no domiacutenio do mar satildeo factores
chave para a empregabilidade para o reforccedilo do cluster do mar e seguranccedila mariacutetima
94
A presente linha estrateacutegica tem uma dimensatildeo transversal cruzando todas as
outras Linhas que compotildeem o Plano de Acccedilatildeo Tem por objectivo favorecer a
qualificaccedilatildeo de jovens e adultos em aacutereas de actividade directa e indirectamente ligadas
ao mar com especial incidecircncia na aacuterea da seguranccedila Neste sentido importa qualificar a
oferta formativa existente e reforccedilar a coordenaccedilatildeo entre a acccedilatildeo do Forpescas (Centro
de Formaccedilatildeo Profissional das Pescas) e de outras organizaccedilotildees que intervecircm na aacuterea da
formaccedilatildeo em actividades relacionadas com o mar (por exemplo formaccedilatildeo na aacuterea do
turismo) no sentido de adequar e ordenar a oferta formativa segundo as necessidades de
desenvolvimento que se colocam neste domiacutenio
10) Promover a cooperaccedilatildeo transfronteiriccedila e transnacional no domiacutenio do mar
A regiatildeo do Norte possui uma experiecircncia histoacuterica de cooperaccedilatildeo transfronteiriccedila
principalmente com a Galiza e de cooperaccedilatildeo transnacional especialmente no acircmbito
do Espaccedilo Atlacircntico do qual a CCDR-N eacute actualmente a Autoridade de Gestatildeo do
POCTEA O tema Mar eacute relevante para estes dois ldquoespaccedilosrdquo de cooperaccedilatildeo integrando
o corpo principal de objectivos dos respectivos Programas
No que respeita agrave cooperaccedilatildeo transfronteiriccedila com a Galiza foi criado sob a
iniciativa da CCDRN e da Xunta da Galicia um grupo de trabalho misto envolvendo
actores das duas regiotildees sob a coordenaccedilatildeo do CETMAR145
e do CIIMAR146
Foi desenvolvido um primeiro conjunto de projectos estruturantes de cooperaccedilatildeo
oportunamente candidatados ao Programa de Cooperaccedilatildeo Transfronteiriccedila Portugal-
Espanha em seis domiacutenios prioritaacuterios (qualidade do meio marinho recursos marinhos
sector alimentar biotecnologias e novos produtos construccedilatildeo e reparaccedilatildeo naval e
naacuteutica de recreio e por fim cultura e turismo)
145
Centro Tecnoloacutegico del Mar - Fundacioacuten CETMAR httpwwwcetmarorg 146
Centro Interdisciplinar de Investigaccedilatildeo Marinha e Ambiental httpwwwcimarorg
95
63 Modelo de governaccedilatildeo para a Agenda Regional do Mar
A coordenaccedilatildeo transversal de poliacuteticas e a articulaccedilatildeo entre vaacuterios niacuteveis de poder
coloca a questatildeo da concertaccedilatildeo e integraccedilatildeo de poliacuteticas ou seja a questatildeo da
governanccedila Este plano constitui um referencial de desenvolvimento estrateacutegico
dinacircmico que serve de base ao lanccedilamento e ao desenvolvimento de intervenccedilotildees no
domiacutenio do mar O plano de acccedilatildeo corporiza a ambiccedilatildeo de se constituir como
plataforma de suporte a um processo evolutivo aberto agrave participaccedilatildeo dos diferentes
actores e agrave coordenaccedilatildeo das suas intervenccedilotildees
Um dos aspectos essenciais para garantir a gestatildeo e regulaccedilatildeo do plano eacute a
existecircncia de informaccedilatildeo estrateacutegica que permita o conhecimento mais aprofundado do
mesmo e o acompanhamento das principais realizaccedilotildees
A gestatildeo estrateacutegica deste plano de acccedilatildeo eacute da responsabilidade de um comiteacute de
pilotagem presidido pela CCDR-N e constituiacutedo por um conjunto de instituiccedilotildees
puacuteblicas da regiatildeo Norte responsaacuteveis pelas principais aacutereas de poliacutetica relacionadas
com a temaacutetica e tambeacutem por entidades representativas dos espaccedilos litorais em
presenccedila O comiteacute de pilotagem seraacute um espaccedilo privilegiado de articulaccedilatildeo e de
coordenaccedilatildeo intersectorial e de articulaccedilatildeo territorial das diversas iniciativas e projectos
que teraacute como objectivo principal a responsabilidade de implementar o plano de acccedilatildeo e
a respectiva regulaccedilatildeo existente
64 Oceano XXI - Cluster do ldquoconhecimento e da economia do marrdquo
Ainda acerca das estrateacutegias regionais destaco o trabalho levado a cabo pela
plataforma ldquoOceano XXI ndash Associaccedilatildeo para o Conhecimento e Economia do Marrdquo que
tem como principal objectivo especiacutefico dinamizar o cluster do ldquoconhecimento e da
economia do marrdquo
Este cluster foi reconhecido pela Autoridade de Gestatildeo do Programa de factores de
Competitividade (COMPETE) no dia 27 de Julho de 2009 como Estrateacutegia de
96
Eficiecircncia Colectiva E por este facto importa ser referenciado neste trabalho dada a
importacircncia que vai seguramente ter a curto prazo nos projectos considerados ldquoacircncorardquo
para as regiotildees Centro e Norte de Portugal
Por outro lado o objectivo geral que orienta o desenvolvimento deste cluster
consiste em ldquovalorizar o recurso Mar atraveacutes do desenvolvimento de um conjunto de
actividades de produtos e de serviccedilos que promovam o crescimento econoacutemico o
emprego e a internacionalizaccedilatildeo da regiatildeo apostando no reforccedilo da IampDampI da
formaccedilatildeo do empreendedorismo e da cooperaccedilatildeo de forma a contribuir em condiccedilotildees
de sustentabilidade para a competitividade da regiatildeo147
rdquo
Este cluster sediado na regiatildeo Norte envolve um vasto e diversificado conjunto de
entidades representativas dos interesses regionais (Centro e Norte) e nacionais
pertencentes aos principais sectores do agregado econoacutemico subjacente agrave Estrateacutegia de
Eficiecircncia Colectiva tendo em vista a diversificaccedilatildeo da base econoacutemica regional
criando desta forma novas actividades e serviccedilos e fomentando o aparecimento de
mercados alternativos com maior valor econoacutemico o reforccedilo da competitividade e da
produtividade das induacutestrias do mar e o aumento do emprego qualificado
O cluster do ldquoconhecimento e da economia do marrdquo integra um conjunto
diversificado de sectores e de actividades
bull Pesca aquicultura salicultura e induacutestria transformadora da pesca
bull Actividades mariacutetimo-portuaacuterias e logiacutestica
bull Induacutestrias mariacutetimas
bull Induacutestrias transformadoras de suporte agraves actividades mariacutetimas (tecircxtil e vestuaacuterio
plaacutestico moldes madeira metalomecacircnica)
bull Cruzeiros naacuteutica de recreio e turismo mariacutetimo
bull Tecnologias da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo (TIC)
bull Roboacutetica submarina
bull Biotecnologia marinha
bull Energias renovaacuteveis
147
Oceano XXI Cluster do Conhecimento e da Economia do Mar httpwwwoceano21org
97
O cluster do ldquoconhecimento e da economia do marrdquo organiza-se segundo quatro
linhas prioritaacuterias de intervenccedilatildeo148
que estatildeo em consonacircncia com a visatildeo europeia dos
clusters mariacutetimos referida no Livro Verde (capiacutetulo II)
Linha Prioritaacuteria 1 ndash desenvolver a Investigaccedilatildeo amp Desenvolvimento das
Tecnologias de Informaccedilatildeo (IDTI) e apoiar o desenvolvimento de actividades
emergentes no domiacutenio da economia do mar
Linha Prioritaacuteria 2 ndash promover a qualidade e a valorizaccedilatildeo dos produtos da pesca
da aquicultura e de produtos marinhos e a seguranccedila alimentar
Linha Prioritaacuteria 3 ndash promover a modernizaccedilatildeo e a inovaccedilatildeo das induacutestrias
mariacutetimas do transporte mariacutetimo da actividade portuaacuteria e da logiacutestica
Linha Prioritaacuteria 4 ndash valorizar o patrimoacutenio mariacutetimo e o seu aproveitamento no
apoio ao desenvolvimento da naacuteutica de recreio e do turismo de natureza
No acircmbito da Estrateacutegia de Eficiecircncia Colectiva ndash cluster do ldquoconhecimento e da
economia do marrdquo ndash foram reconhecidos seis projectos acircncora que no seu conjunto
totalizam uma estimativa de investimento de 120 milhotildees de euros nos trecircs proacuteximos
anos (2010 - 2013) E satildeo os seguintes
Ecomare
Aquaacuterio dedicado agrave temaacutetica dos mares da Peniacutensula Ibeacuterica centro de recuperaccedilatildeo
de animais marinhos e laboratoacuterio oceanograacutefico da Universidade de Aveiro
Parque de Ciecircncia e Tecnologias do Mar da Universidade do Porto
Visa o desenvolvimento de acccedilotildees de IampD transferecircncia de tecnologias incubaccedilatildeo
de empresas acolhimento empresarial formaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo cientiacutefica O Poacutelo do Mar
permitiraacute que os empreendedores desenvolvam as suas investigaccedilotildees eou testem os
seus protoacutetipos em meio marinho
148
Oceano XXI Cluster do Conhecimento e da Economia do Mar httpwwwoceano21org
98
Consupesca
Com o objectivo especiacutefico de reduzir o consumo de combustiacutevel na frota da pesca
costeira e de arrasto
Panthalassa
Promover a seguranccedila alimentar e a sustentabilidade ambiental da produccedilatildeo da
transformaccedilatildeo e do consumo de pescado atraveacutes da implementaccedilatildeo de sistemas
integrados abrangendo toda a cadeia de produccedilatildeo que permitem para cada fase do
processo de fabrico desenvolver as melhores soluccedilotildees do ponto de vista ambiental e de
seguranccedila conferindo maior valor acrescentado aos produtos
Promoccedilatildeo e desenvolvimento do turismo naacuteutico e dos desportos naacuteuticos
Reforccedilo do turismo naacuteutico e dos desportos naacuteuticos em Portugal atraveacutes da
implementaccedilatildeo dos seguintes projectos
Construccedilatildeo do Terminal de Cruzeiros de Leixotildees tendo como objectivo reforccedilar a
posiccedilatildeo do Porto de Leixotildees no mercado do turismo de cruzeiros explorando a sua
localizaccedilatildeo no cruzamento de rotas entre o Atlacircntico nordeste e o Mediterracircneo e entre
as Caraiacutebas e a Europa
Construccedilatildeo do Centro de Mar em Viana do Castelo visando o desenvolvimento da
naacuteutica de recreio e dos desportos naacuteuticos e o reforccedilo da posiccedilatildeo de Viana do Castelo
como uma cidade da naacuteutica do Atlacircntico
Turismo Mariacutetimo de Natureza
Em especial na ilha da Morraceira (Figueira da Foz) e ilha das Berlengas (Peniche)
99
65 A Naacuteutica como factor de desenvolvimento regional
Como referi no capiacutetulo dedicado aos domiacutenios destacados pelo Livro Verde o
sector naacuteutico pode ter um papel importante no que concerne agrave protecccedilatildeo do legado
mariacutetimo e na sensibilizaccedilatildeo do puacuteblico No entanto as actividades naacuteuticas podem
desempenhar outras funccedilotildees vitais para a implementaccedilatildeo das poliacuteticas mariacutetimas
(regionais nacionais e europeias) e serem consideradas um activo gerador de emprego
de riqueza e bem-estar das populaccedilotildees
Pese embora que para se ter uma verdadeira identidade mariacutetima (hellip) ldquoeacute preciso
tempo para sentir o mar eacute algo que soacute se consegue com muito tempo eventualmente
com o tempo de uma vidardquo (hellip)149
Urge a necessidade de se formar geraccedilotildees que desde
cedo se familiarizem com o mar A praacutetica naacuteutica qualquer que seja a modalidade
permite despertar o interesse e consequentemente aproximar a populaccedilotildees jovens ao
mar
A este propoacutesito menciono o estudo do qual fui coordenador realizado pela
INTERCEacuteLTICA ndash Associaccedilatildeo Cultural Desportiva e Turiacutestica que coloca a Naacuteutica
como factor de desenvolvimento da regiatildeo Norte150
Este estudo estrateacutegico foi apoiado
pelo programa Operacional da Regiatildeo Norte (CCDR-N) com recurso ao FEDER
Numa primeira fase efectou-se um levantamentoinventaacuterio exaustivo ao sector
que incluiu diversos actores como a Autoridade Mariacutetima o Instituto Portuaacuterio e dos
Transportes Mariacutetimos os clubes as associaccedilotildees os portos de recreio as empresas de
animaccedilatildeo turiacutestica os operadores mariacutetimo-turiacutesticos o desporto escolar as federaccedilotildees
a induacutestria o comeacutercio e os serviccedilos naacuteuticos
O objectivo primeiro deste levantamento foi determinar a dimensatildeo do sector e qual
a sua importacircncia para com base na informaccedilatildeo obtida elaborar um plano estrateacutegico
que respondesse agraves reais necessidades e carecircncias do sector naacuteutico na regiatildeo Norte
Numa segunda fase foram elaboradas propostas de projectos que pudessem
futuramente ser enquadradas nas Agendas Regionais temaacuteticas do Turismo e do Mar e
consequentemente no QREN (2007-2013)
149
Discurso do Arqto Guilherme Guimaratildees nas comemoraccedilotildees oficiais do Dia Europeu do Mar 2010
(20 de Maio) a bordo do navio Gil Eannes em Viana do Castelo 150
Para mais informaccedilotildees sobre o Projecto Naacuteutica consultar o seguinte site
httpwwwprojectonauticacomindexphpseccao=nauticaampcontent=apresentacao
100
Foi apresentado um plano de acccedilatildeo com base nas propostas e recomendaccedilotildees que
datildeo estrutura a cinco eixos
Rede de infra-estruturas naacuteuticas
Assenta em trecircs medidas concretas a criaccedilatildeo dos centros coordenadores da
actividade naacuteutica aumento da capacidade instalada (massificaccedilatildeo da praacutetica) e na
qualificaccedilatildeo de serviccedilos
Dinamizaccedilatildeo turiacutestica
Estatildeo sintetizadas em trecircs itens criaccedilatildeo de pacotes naacuteuticos desenvolvimento de
empreendimentos turiacutesticos temaacuteticos e de serviccedilos de animaccedilatildeo naacuteutica
Dinamizaccedilatildeo da naacuteutica
Baseada em quatro medidas 1 ) Rede de equipamentos e actividades em bacias
hidrograacuteficas e albufeiras 2) Rede de prestadores de serviccedilos 3) Apetrechamento dos
agentes naacuteuticos 4) Formaccedilatildeo
Promoccedilatildeo e comunicaccedilatildeo
Essencialmente na estruturaccedilatildeo temaacutetica e ediccedilatildeo de material directoacuterio da naacuteutica
acccedilatildeo para a iniciaccedilatildeo agraves actividades naacuteuticas organizaccedilatildeo de eventos e criaccedilatildeo de
espaccedilos museoloacutegicos
Governacircncia
Com a aposta no conceito inovador de loja da naacuteutica (tipo loja do cidadatildeo) e no
estabelecimento de um observatoacuterio para o sector naacuteutico actualizaacutevel e disponiacutevel ao
puacuteblico
Estas propostas foram elaboradas com a intenccedilatildeo de promover projectos colectivos
que criem sinergias entre os diversos stakeholders do sector naacuteutico e que o capitalizem
econoacutemica social e ambientalmente tornando-o mais coeso e rumo a um
desenvolvimento sustentaacutevel
O Norte de Portugal deteacutem uma prodigiosa costa Atlacircntica e planos de aacutegua
interiores (rios lagos e zonas lacustres) singulares Trata-se sem duacutevida de um recurso
de inquestionaacutevel valor O desafio eacute tornaacute-lo um produto reconhecido e apeteciacutevel para
as populaccedilotildees residentes e em simultacircneo para os turistas
101
Conclusotildees
No decurso deste trabalho analisei a importacircncia do MAR para a Europa desde os
tempos dos descobrimentos ateacute agrave actualidade com a implementaccedilatildeo da PMIE Dada a
transversalidade do tema este trabalho aborda as componentes das poliacuteticas mariacutetimas
europeia nacional e regional (Norte de Portugal) Devo notar que este trabalho natildeo
pretende ser um estudo final eou conclusivo mas que possa ser considerado como ponto
de partida para posteriores aprofundamentos
Concluiacutedo este introacuteito passo a apresentar as conclusotildees finais
Como sabemos os oceanos ocupam dois terccedilos da aacuterea total do planeta Terra Esta
constataccedilatildeo permite desde logo concluir que as actividades mariacutetimas estatildeo longe de
atingir o seu potencial sisteacutemico
A histoacuteria da Europa particularmente a partir do periacuteodo medieval devido agrave sua
natureza geograacutefica em forma de peniacutensula e bem torneada pelo mar despoletou o
interesse dos europeus pelo desconhecido Por detraacutes do mare incognitum havia mitos e
lendas que uma vez superadas pela audaacutecia dos descobridores desencadearam uma
inovadora epopeia mariacutetima que culminou com a descoberta de rotas mariacutetimas culturas
civilizaccedilotildees e estabelecimento de intercacircmbios comerciais transnacionais Assim se
iniciou o processo de globalizaccedilatildeo atraveacutes do qual os portugueses tatildeo grande e valioso
contributo deram agrave Humanidade
Actualmente na Europa deparamo-nos com uma cenaacuterio econoacutemico preocupante
provocado essencialmente pela crise financeira mundial e constatamos que a Europa
natildeo consegue acudir a todas dificuldades dos Estados Membros perifeacutericos A Europa natildeo
pode estar soacute unida quando economicamente o ambiente eacute favoraacutevel e perante as
adversidades diminuir a sua solidariedade pondo em causa valores notaacuteveis como a
construccedilatildeo da Europa e a moeda uacutenica Para tal eacute vital restabelecer a unidade pois soacute
assim a UE pode lograr responder aos enormes desafios do seacuteculo XXI
Acredito que o que eacute urgente acima de tudo eacute unir os europeus O MAR sem sombra
de duacutevida dada a sua transversalidade e caso seja utilizado como denominador comum
aproximaraacute os europeus agraves instituiccedilotildees europeias desenvolveraacute a nossa euro ndashcidadania
e conduziraacute a um maior envolvimento dos concidadatildeos nas decisotildees europeias
102
Voltando ao tema do trabalho em anaacutelise reforccedilo mais uma vez que foi o presidente
da Comissatildeo Europeia o portuguecircs Joseacute Manuel Duratildeo Barroso que lanccedilou no iniacutecio do
seu mandato o processo de construccedilatildeo para uma verdadeira Poliacutetica Mariacutetima Integrada
Europeia
A PMIE tornou-se um instrumento exemplar de savoir faire da poliacutetica apoiada
numa estrateacutegica botton up permitindo que os europeus dessem o seu contributo e
participassem na sua implementaccedilatildeo A aplicaccedilatildeo desta poliacutetica tem como objectivos
melhorar a eficaacutecia da acccedilatildeo governamental no domiacutenio do mar e explorar melhor as
sinergias a fim de aumentar o crescimento econoacutemico e a sustentabilidade ambiental
tendo sempre presente a dimensatildeo social E assim poder ainda responder aos desafios
prementes da protecccedilatildeo do ambiente seguranccedila mariacutetima crescimento econoacutemico
emprego qualificado e contribuir tambeacutem para o bem-estar das populaccedilotildees
Esta ldquoeuroapostardquo mariacutetima cujo potencial esmiucei ao longo deste trabalho pode ser
decisiva e contribuir fortemente para a afirmaccedilatildeo da Europa no mundo Espero tambeacutem
que possa servir de exemplo a outras regiotildees do mundo de momento ainda
subdesenvolvidas mas que se apresentam com iacutendices de crescimento exponenciais
Em Portugal desde o seacuteculo XIV (D Joatildeo I) ateacute ao Estado Novo o cluster mariacutetimo
foi o nosso ldquocartatildeo de visitardquo no plano internacional Este apresentado como paradigma
incluiacutea a navegaccedilatildeo comercial a pesca longiacutenqua (pe o bacalhau) e a construccedilatildeo naval
que ombreava com os melhores construtores a niacutevel mundial Como prova da
demonstraccedilatildeo puacuteblica deste reconhecimento invoco a estatuaacuteria que enaltece os feitos
histoacutericos do navegadores portugueses como por exemplo D Sebastiatildeo em Lagos
Vasco da Gama em Sines Infante D Henrique no Porto e Londres (Belgrave Square)
Joatildeo Aacutelvares Fagundes em Viana do Castelo
Portugal integrado haacute vinte e cinco anos na Uniatildeo Europeia natildeo se conseguiu impocircr
nas questotildees mariacutetimas Perdeu uma boa oportunidade para tirar partido desta integraccedilatildeo
menosprezando os fundos comunitaacuterios para desenvolver o seu cluster mariacutetimo
chegando ateacute cair no esquecimento e ficar praticamente extinto no terceiro quartel do
seacuteculo XX
103
Foi lamentaacutevel esta inoperacircncia de Portugal junto da UE e vice-versa Ou seja nem
Portugal soube aproveitar os generosos fundos europeus para desenvolver o sector
mariacutetimo nem a UE soube aproveitar a mais-valia do know-how luso das actividades
mariacutetimas agrave semelhanccedila do que sucedeu com a Alemanha como paiacutes exportador por
excelecircncia e da Franccedila com a PAC
Talvez a explicaccedilatildeo para este desvio fosse a seduccedilatildeo dos portugueses pelos fundos
europeus para aplicar em novas aacutereas com resultados visiacuteveis e imediatos a curto prazo
e cujo retorno econoacutemico hoje ainda questionamos
A ldquodemocraciardquo voltou costas ao seu passado de seacuteculos ndash o MAR Diversos factores
do passado recente contribuiacuteram para esta situaccedilatildeo a saber a descolonizaccedilatildeo e o
sentimento generalizado de ruptura com a ideologia do Estado Novo (pois a sua
propaganda estava fortemente ligada ao domiacutenio mariacutetimo) E Portugal limitou-se apenas
a exercer o domiacutenio mariacutetimo aquando da adesatildeo nas 12 milhas mariacutetimas Portugal
focou-se no bloco terrestre contrariando assim o seu percurso natural e ancestral
ldquoSe Portugal sempre ignorou o mar sua agenda europeia natildeo o perspectivando
como um activo estrateacutegico ao interesse nacional tambeacutem a proacutepria UE se viu desde
sempre a si proacutepria como um bloco terrestre capitaneado pelo eixo continental traccedilado
ao longo de deacutecadas entre Paris e Bona do que como a potecircncia mariacutetima que tambeacutem eacute
O tratado de Roma eacute omisso quanto ao potencial dos oceanos e dos mares que circundam
a Europa para o processo de integraccedilatildeo europeia a politica comum de pescas nasce
tardia e gradualmente por analogia da PAC e os transportes mariacutetimos ficaram de fora
da politica europeia de transportes e logo da rede transeuropeia de transportes por muito
tempo praticamente ateacute ao Livro Branco dos Transportes de 2001rdquo151
Com o lanccedilamento da PMIE Portugal compreendeu a importacircncia da sua vocaccedilatildeo
mariacutetima para os assuntos europeus e finalmente tem uma estrateacutegia mariacutetima para
implementar no territoacuterio nacional decorrente da perspectiva europeia Esta atitude foi
reforccedilada pela actuaccedilatildeo do governo portuguecircs especialmente durante a Presidecircncia
Portuguesa da UE em 2007 onde Portugal deixou a sua griffe com a aprovaccedilatildeo da
poliacutetica mariacutetima europeia De novo Portugal e a Europa estatildeo agora voltados para o mar
151
Dr Tiago Pitta e Cunha (2010) art cit na Revista do Centro de Informaccedilatildeo Europeia Jacques Delors -
Europa Novas Fronteiras ndash Portugal ndash 25 Anos de Integraccedilatildeo Europeia nordm 2627 Lisboa Principia
p186
104
com uma visatildeo mais abrangente e integrada e em uniacutessono para os sectores ligados ao
mar Em consequecircncia destes acontecimentos a regiatildeo Norte de Portugal elaborou uma
Agenda para o mar e tem estruturas universitaacuterias a desenvolver actividades cientiacuteficas e
laboratoriais associadas agrave iniciativa privada que permitem dar uma nova visatildeo econoacutemica
ao mar
Para que Portugal cumpra o mar como desiacutegnio nacional eacute necessaacuterio iniciar-se um
novo ciclo que aproxime os portugueses do mar Exige-se uma nova vaga de fundo para
desenvolver a nossa cultura mariacutetima como jaacute tem sucedido em outros Estados membros
atraveacutes de um processo de enculturaccedilatildeo A formaccedilatildeo joga um papel determinante para o
sucesso deste objectivo Os planos curriculares das escolas e universidades portuguesas
podem ser o ponto de partida deste novo ciclo despertando o interesse nas camadas
jovens e influenciando-os para o gosto da nossa heranccedila mariacutetima permitindo vivenciar
e experienciar actividades de mar de modo a serem eles no futuro a capitalizarem as
potencialidades do mar
Se compararmos em termos de territoacuterio e de populaccedilatildeo com os parceiros europeus
verificamos que Portugal natildeo eacute um paiacutes pequeno estamos ao mesmo niacutevel de paiacuteses como
a Beacutelgica Repuacuteblica Checa Holanda Dinamarca Irlanda e Greacutecia Isto sem referir a
ZEE que em breve poderaacute catapultar o nosso paiacutes para o deacutecimo lugar do ranking
mundial de paiacuteses mariacutetimos
Como sabemos o ldquocentro de gravidaderdquo da Uniatildeo Europeia deslocou-se para leste
devido agrave entrada de novos Estados membros (alargamento a vinte e sete) E Portugal
atraveacutes da agenda europeia para o mar pode tornar-se apesar de ser um paiacutes perifeacuterico
um verdadeiro liacuteder nas poliacuteticas europeias
Voltando a questatildeo inicial A Poliacutetica Mariacutetima Europeia ndash uma poliacutetica feita agrave
medida de Portugal penso que apesar de jaacute termos dado alguns passos na integraccedilatildeo de
poliacuteticas mariacutetimas eacute no entanto imprescindiacutevel uma vontade poliacutetica perseverante que
afirme Portugal na Europa defenda a nossa heranccedila e salvaguarde o futuro do nosso paiacutes
Oxalaacute saibamos aproveitar este ldquooceanordquo de oportunidades
105
Fontes e bibliografia
Fontes
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Orientaccedilotildees para uma abordagem integrada da poliacutetica mariacutetima rumo a melhores
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UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu ao
Parlamento Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees
Uma poliacutetica mariacutetima integrada para a Uniatildeo Europeia Comissatildeo Europeia 2007
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UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu ao
Parlamento Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees
Conclusotildees da consulta sobre uma poliacutetica mariacutetima europeia Comissatildeo Europeia
2007
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Comissatildeo Europeia 2006
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UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Livro Verde para uma futura poliacutetica
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CIEJD ndash Centro de Informaccedilatildeo Europeia Jacques Delors
CIIMAR ndash Centro Interdisciplinar de Investigaccedilatildeo Marinha e Ambiental
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CO 2 ndash Dioacutexido de Carbono
COMPETE ndash Programa de Factores de Competitividade
CRPM ndash Conferecircncia das Regiotildees Mariacutetimas da Europa
DEM ndash Dia Europeu do Mar
EBA ndash European Boating Association
EFTA ndash Associaccedilatildeo Europeia de Livre Comeacutercio
EM ndash Estados Membros
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EMEPC ndash Estrutura de Missatildeo para a Extensatildeo da Plataforma Continental
EMODNET ndash Rede Europeia de Observaccedilatildeo e de Dados do Meio Marinho
EMSA ndash Agecircncia Europeia da Seguranccedila Mariacutetima
ENM ndash Estrateacutegia Nacional para o Mar
ESPO ndash Organizaccedilatildeo dos Portos Mariacutetimos Europeus
EuDA ndash European Dredging Association
EUROMIG ndash European Union Recreational Marine Industry Group
VII
FAO ndash Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Alimentaccedilatildeo e a Agricultura
FEDER ndash Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional
FEM ndash Foacuterum Empresarial da Economia do Mar
FSE ndash Fundo Social Europeu
GIZC ndash Gestatildeo Integrada das Zonas Costeiras
IampD ndash Investigaccedilatildeo e Desenvolvimento
IampDampI ndash Investigaccedilatildeo Desenvolvimento e Inovaccedilatildeo
IDTI ndash Investigaccedilatildeo e Desenvolvimento das Tecnologias de Informaccedilatildeo
OEM ndash Ordenamento do Espaccedilo Mariacutetimo
OGP ndash International Association of Oil and Gas Producers
ONG ndash Organizaccedilatildeo Natildeo Governamentais
ONU ndash Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas
NEA 2 ndash Nautisme Espace Atlantique 2
PAC ndash Poliacutetica Agriacutecola Comum
PALOP ndash Paiacuteses Africanos de Liacutengua Oficial Portuguesa
PCP ndash Poliacutetica Comum da Pesca
PIB ndash Produto Interno Bruto
PME`S ndash Pequenas e Meacutedias Empresas
PMIE ndash Poliacutetica Mariacutetima Integrada Europeia
POCTEA ndash Programa de Cooperaccedilatildeo Transnacional do Espaccedilo Atlacircntico
POCTEP ndash Programa de Cooperaccedilatildeo Transfronteiriccedilo Espanha-Portugal
POEM ndash Plano Ordenamento do Espaccedilo Mariacutetimo
QREN ndash Quadro de Referecircncia Estrateacutegico Nacional
UNESCO ndash Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo Ciecircncia e Cultura
TIC ndash Tecnologias da Informaccedilatildeo e da Comunicaccedilatildeo
UE ndash Uniatildeo Europeia
ZEE ndash Zona Econoacutemica Exclusiva
VIII
Nota preacutevia
A realizaccedilatildeo desta investigaccedilatildeo natildeo teria sido possiacutevel sem a colaboraccedilatildeo de
diversas pessoas e entidades pelo que lhes dirijo os devidos agradecimentos
A primeira palavra de agradecimento vai para a minha Orientadora Professora Doutora
Maria Manuela Tavares Ribeiro Grato pela sua disponibilidade e destreza em aceitar a
tarefa de orientaccedilatildeo Aproveito para a felicitar pelas inuacutemeras iniciativas que organiza e
em que participa elevando o prestiacutegio da nossa Faculdade de Letras a niacutevel nacional e
internacional
A segunda palavra e natildeo menos relevante vai para o meu co-Orientador na
qualidade de especialista Dr Tiago de Pitta e Cunha A sua notaacutevel experiecircncia
nacional (Coordenador da Comissatildeo Estrateacutegica dos Oceanos) e europeia (ex-Membro
do Gabinete do Comissaacuterio Europeu para os Assuntos Mariacutetimos e as Pescas) aliada a
uma cooperaccedilatildeo profiacutecua diria mesmo perfeita permitiram que neste trabalho tenhamos
procurado a profundidade e a transversalidade que o tema proposto exige
O reconhecimento eacute extensiacutevel a todos os Professores da parte curricular pelo
conhecimento adquirido nas aulas memoraacuteveis Uma palavra particular para o Professor
Doutor Antoacutenio Martins da Silva e outra para o meu colega e amigo Asdruacutebal
Sotomaior pois sem eles natildeo teria sido possiacutevel conseguir este objectivo
Agradeccedilo aos funcionaacuterios do Centro de Informaccedilatildeo Europeia Jacques Delors em
Lisboa pela simpatia e competecircncia com que sempre me receberam
O meu justo agradecimento ainda ao Comiteacute das Regiotildees pelo convite feito em
2008 para visitar e participar in loco nas sessotildees plenaacuterias das principais instacircncias
europeias (Parlamento Comissatildeo e CdR) Participaram neste evento 27 alunos em
representaccedilatildeo de todos os Estados Membros da UE oriundos de cursos de 2ordm Ciclo em
Estudos Europeus
Finalmente o meu obrigado sentido aos que estatildeo mais proacuteximos Agradeccedilo aos
amigos de sempre agrave Teresinha ao meu Irmatildeo e ao meu Pai pelos incentivos que sempre
me deram na vida Agrave minha Matildee sinto-me sempre grato pela sua sabedoria paciecircncia e
carinho
Agrave minha futura sobrinha Maria dedico este trabalho
IX
Iacutendice
Resumo V
Lista de abreviaturas VI
Nota preacutevia VIII
Introduccedilatildeo 1
Cap I ndash Principais talassocracias europeias ndash breve retrospectiva histoacuterica 4
11 Repuacuteblicas Mariacutetimas Italianas 6
12 O papel de Portugal ndash o pioneiro da globalizaccedilatildeo 9
13 Siglo de oro espanhol 13
14 O ciclo holandecircs e a hegemonia inglesa 16
15 A Burguesia e a Revoluccedilatildeo Industrial 19
Cap II ndash O Livro Verde da Poliacutetica Mariacutetima Integrada Europeia 21
21 Fundamentos da Poliacutetica Mariacutetima Integrada Europeia 21
22 Potencialidades das principais actividades mariacutetimas da Uniatildeo Europeia 23
23 Livro Verde ndash ldquouma visatildeo para os oceanos e os maresrdquo 27
24 Aacutereas-chave no Livro Verde 29
25 Participaccedilatildeo dos europeus no processo de construccedilatildeo da PMIE 38
Cap III ndash O Livro Azul plano de acccedilatildeo e instrumentos financeiros 40
31 Condiccedilotildees poliacuteticas do processo de decisatildeo 40
32 Livro Azul e o plano de acccedilatildeo 43
X
33 Instrumentos econoacutemico-financeiros de apoio agrave PMIE 51
331 A poliacutetica de coesatildeo e a poliacutetica regional europeia 51
332 Fundos estruturais 53
333 Outras fontes de financiamento 55
334 Programa de apoio ao aprofundamento da PMIE 56
Cap IV ndash Orientaccedilotildees estrateacutegias para o futuro da PMIE 58
41 Breve balanccedilo 58
42 Governaccedilatildeo mariacutetima e participaccedilatildeo das partes interessadas 59
43 Instrumentos transectoriais 62
44 Perspectivas e visatildeo futura da PMIE 65
Cap V ndash Estrateacutegia Nacional para o Mar 68
51 Princiacutepios e objectivos 73
52 Pilares estrateacutegicos 73
53 Acccedilotildees e medidas 75
54 O Hypercluster da economia do mar 81
55 Plano de ordenamento do espaccedilo mariacutetimo 83
56 Programa ldquoPolis do Litoralrdquo 85
Cap VI ndash Agenda Regional do Mar (Norte de Portugal) 87
61 Pacto regional para a competitividade da regiatildeo ldquoNorte 2015rdquo 87
62 Linhas estrateacutegicas de desenvolvimento 90
63 Modelo de governaccedilatildeo para a Agenda Regional do Mar 95
64 Oceano XXI - Cluster do ldquoconhecimento e da economia do marrdquo 95
65 A Naacuteutica como factor de desenvolvimento regional 99
Conclusotildees 101
Fontes e bibliografia 105
1
Introduccedilatildeo
A minha relaccedilatildeo com o Mar comeccedilou desde haacute muito
Foi graccedilas agraves actividades naacuteuticas em ambiente mariacutetimo que aprendi a valorizar e
a respeitar a natureza a partilhar valores sociais a estabelecer novas amizades e ateacute a
conhecer novos continentes Tudo comeccedilou por prazerlazer e hoje em dia o MAR faz
parte da minha profissatildeo e seraacute sempre seguramente uma fonte de inspiraccedilatildeo e energia
para a vida
Depois da formaccedilatildeo na aacuterea da engenharia e ciecircncias econoacutemicas decidi matricular-
me no Curso de Mestrado Estudos Europeus na Faculdade Letras da Universidade de
Coimbra de forma de aprofundar os meus parcos conhecimentos (histoacutericos poliacuteticos e
institucionais) sobre a Europa Foi uma experiecircncia enriquecedora e gratificante que
ultrapassou largamente as minhas aspiraccedilotildees iniciais
Contudo confrontado com a necessidade de elaborar uma tese de dissertaccedilatildeo no
acircmbito do Mestrado ocorreu-me explorar uma temaacutetica actual e transversal que se
espera poder ldquounirrdquo os europeus a uma causa ndash o Mar
Assim este trabalho de investigaccedilatildeo intitulado Poliacutetica Mariacutetima Europeia ndash Uma
poliacutetica agrave medida de Portugal pretende ser um contributo para a pesquisa e reflexatildeo
sobre as questotildees europeias e a sua relaccedilatildeo com o mar e os oceanos mateacuteria que como
todos nos temos vindo a aperceber cada vez mais se reveste de grande importacircncia para
Portugal
Foi com o espiacuterito de ldquopara antever o futuro temos de conhecer o passadordquo que
procurei ao longo do primeiro capiacutetulo debruccedilar-me sobre as fontes de riqueza material
e imaterial que estando relacionadas com o mar contribuiacuteram para a formaccedilatildeo e
desenvolvimento da Europa Neste acircmbito debruccedilo-me sobre as expediccedilotildees mariacutetimas
italianas que apesar de confinadas ao mediterracircneo foram extremamente importantes
para os ldquodescobridoresrdquo que se seguiram Entre estes uacuteltimos destacarei o papel de
Portugal o siglo de oro espanhol o ciclo holandecircs e a hegemonia mariacutetima inglesa
Para terminar o enquadramento histoacuterico faccedilo referecircncia agrave emergecircncia da burguesia
europeia e agraves suas origens nas actividades mariacutetimas
2
No segundo capiacutetulo procuro analisar transversalmente o Livro Verde da Poliacutetica
Mariacutetima Integrada Europeia Assim apresentarei os fundamentos e as potencialidades
da Europa no domiacutenio mariacutetimo a ldquovisatildeordquo europeia para o futuro dos oceanos e os
mares e ainda as aacuterea-chave nele apontadas No final deste capiacutetulo abordarei a
consulta puacuteblica que possibilitou aos europeus participarem directa e activamente no
processo de construccedilatildeo da PMIE
Saliento que pela primeira vez a dimensatildeo mariacutetima da Europa assumiu a posiccedilatildeo
de real prioridade poliacutetica ou seja na histoacuteria da Uniatildeo Europeia os oceanos e os mares
como um todo tornaram-se assunto de foco poliacutetico ao mais alto niacutevel A PMIE foi uma
iniciativa de Joseacute Manuel Duratildeo Barroso aquando da sua primeira nomeaccedilatildeo para a
Presidecircncia da Comissatildeo Europeia em 2004 No programa Barroso I a PMIE foi
apresentada como uma necessidade premente chegando mesmo a ser instituiacuteda em
2004 a pasta dos Assuntos Mariacutetimos atribuiacuteda na altura ao maltecircs Joe Borg (ex-
Comissaacuterio Europeu)
No terceiro capiacutetulo comeccedilarei por salientar as condiccedilotildees poliacuteticas ao niacutevel das
instacircncias europeias que permitiram a consolidaccedilatildeo da PMIE Este destaque poliacutetico
concedido ao Mar eacute o reconhecimento do seu valor estrateacutegico em diferentes dimensotildees
econoacutemica ambiental cultural de seguranccedila de investigaccedilatildeo e de lazer Desta vontade
poliacutetica declarada emergiu o Livro Azul acompanhado de um plano de acccedilatildeo No final
deste capiacutetulo seratildeo apresentados os instrumentos financeiros comunitaacuterios de suporte agrave
PMIE
Apesar da jovem idade - cinco anos - a PMIE jaacute conseguiu obter resultados notaacuteveis
agrave escala europeia Por isso no quarto capiacutetulo proponho-me fazer uma breve anaacutelise agraves
actividades decorrentes da PMIE tendo em conta a governacircncia mariacutetima E as acccedilotildees
estrateacutegicas para o futuro da poliacutetica mariacutetima europeia seratildeo ainda apresentadas neste
capiacutetulo
No quinto capiacutetulo passarei a analisar a Estrateacutegia Nacional para o Mar (ENM)
resultante do apelo da Uniatildeo Europeia (UE) aos Estados-membros (EM) no sentido de
aplicarem abordagens holiacutesticas e transversais para o uso sustentaacutevel dos oceanos
Realccedilo que Portugal a par de Espanha e Franccedila foi um dos principais impulsionadores
da poliacutetica mariacutetima europeia Destacarei ainda a importacircncia do ldquoHypercluster da
3
Economia do Marrdquo o plano de ordenamento do espaccedilo mariacutetimo (POEM) actualmente
em discussatildeo puacuteblica e tambeacutem o programa ldquoPolis do Litoralrdquo
No capiacutetulo seguinte o sexto destacarei a Agenda Regional para o Mar que para
aleacutem de ser enquadrada na ENM e PMIE responde visivelmente agraves especificidades
latentes na regiatildeo Norte de Portugal No final deste capiacutetulo seratildeo abordados ainda a
plataforma ldquoOceano XXIrdquo e o estudo estrateacutegico intitulado ldquoA Naacuteutica como factor de
desenvolvimento da regiatildeo Norterdquo
Neste trabalho procuro dar um contributo acadeacutemico sobre a PMIE registando a
ausecircncia de estudos sobre esta mateacuteria congratulo-me com o estudo que tatildeo
entusiasticamente me comprometeu e espero que o mesmo possa servir de
inspiraccedilatildeoorientaccedilatildeo a TODOS aqueles que se revejam no todo ou em parte do exposto
ou simplesmente aos que se interessem pelas temaacuteticas abordadas
4
Cap I ndash Principais talassocracias europeias ndash breve retrospectiva histoacuterica
Como forma de introduzir a influecircncia dos assuntos mariacutetimos na formaccedilatildeo da
Europa resolvi reflectir sobre os aspectos histoacutericos que considero mais relevantes
protagonizados no periacuteodo compreendido entre os seacuteculos XIV e XX pelas maiores
potecircncias de entatildeo
Seratildeo abordadas neste capiacutetulo primeiramente as repuacuteblicas italianas (Geacutenova e
Veneza) seguindo-se a expansatildeo portuguesa passando pela aventura castelhana e
terminando com a acccedilatildeo holandesa e inglesa No final deste capiacutetulo faccedilo uma
abordagem agrave formaccedilatildeo de uma nova classe social ndash a burguesia ndash oriunda das
actividades mariacutetimas mercantis que foi o ldquomotor de arranquerdquo para a Revoluccedilatildeo
Industrial
Os maiores impeacuterios ateacute ao seacuteculo XV foram de dois tipos
Continentais como o impeacuterio Alexandrino (euro-asiaacutetico no seacuteculo IV
aC) e o Mongol (no seacuteculo XIII que se estendia do Oceano Paciacutefico ao Mar
Negro)
Outros centrados estrategicamente numa bacia mariacutetima que jaacute foi tida
como o centro econoacutemico do mundo A este tipo pertenciam o impeacuterio Romano
(com o apogeu nos seacuteculos I e II aC em que o Mediterracircneo ndash chamado Mare
Internum ndash era um ldquolago romanordquo o Mare Nostrum) e o impeacuterio Islacircmico (que
teve o seu apogeu entre os seacuteculos VIII e XIII que se estendia desde a Peniacutensula
Ibeacuterica agrave Iacutendia) e permitiu transformar o Oceano Iacutendico num ldquolago muccedilulmanordquo
ateacute ao momento da chegada dos portugueses
Houve tambeacutem outros impeacuterios tais como
Egiacutepcio (com o apogeu no seacuteculo XV aC)
Persa (seacuteculos VI a IV aC que se estendia da Iacutendia agrave Greacutecia)
Chinecircs (o Chacutein do seacuteculo III aC o Han do seacuteculo II ou o Tang do
seacuteculo VIII)
5
Como nota comum todos estes impeacuterios ocupavam uma extensatildeo continental
contiacutegua
No entanto outros modelos de expansatildeo surgiram ainda na Antiguidade ndash incluindo
as colonizaccedilotildees mediterracircneas dos cretenses feniacutecios e gregos assentes numa rede
litoral e descontiacutenua da orla do Mediterracircneo e do mar Negro De referir entre estes
casos a importacircncia do impeacuterio ateniense (com o auge no seacuteculo V aC) uma
talassocracia1 por excelecircncia baseada na projecccedilatildeo naval e na descontinuidade
continental
Este uacuteltimo tipo de expansatildeo naval replicou-se mais tarde nas projecccedilotildees
mediterracircnicas das repuacuteblicas mariacutetimas italianas com destaque para Geacutenova e Veneza
e na monarquia dual catalo-aragonesa
Apesar das diferenccedilas havia um denominador comum nestas talassocracias
europeias ndash o mar Mediterracircneo Como sublinha a historiadora genovesa Gabriela
Airaldi2 a actividade mariacutetima era o elemento que interligava e dinamizava a
civilizaccedilatildeo mediterracircnica
A esse ambiente mediterracircnico peculiar associou-se na Idade Meacutedia
Uma revoluccedilatildeo comercial e financeira com uma economia de mercado
predominantemente virada ao exterior assente numa diaacutespora de mercadores e
banqueiros
Uma projecccedilatildeo geopoliacutetica criando impeacuterios mariacutetimos descontiacutenuos
A disponibilidade para alianccedilas poliacuteticas ldquooperativasrdquo pragmaacuteticas
libertas dos preconceitos ideoloacutegico-religiosos da eacutepoca
Ora como refere Airaldi3 esta interdependecircncia estrateacutegica entre a Europa do Sul e
o ldquolagordquo mediterracircnico originou um novo tipo de estado ndash as repuacuteblicas mariacutetimas ndash
assentes numa oligarquia mercantil-financeira distintas do sistema monaacuterquico-
senhorial dominante na Europa medieval
1 O termo vem do grego e eacute uma junccedilatildeo do vocaacutebulo mar (thaacutelassa) e de poder (kraacutecia) Aplica-se a
todos os Estados no qual o poder se exerce baseado na expansatildeo mariacutetima garantida por uma projecccedilatildeo
naval 2 AIRALDI 2007 9
3 AIRALDI ibidem 99
6
Os muccedilulmanos e os chineses tinham no entanto criado uma inovaccedilatildeo que o
historiador Felipe Fernaacutendez-Arnesto4 sintetiza na diferenciaccedilatildeo entre civilizaccedilotildees
Civilizaccedilotildees da beira-mar ou no meio do mar ldquomoldadasrdquo pelo elemento
mariacutetimo (assim eram as talassocracias ateacute entatildeo existentes)
Civilizaccedilotildees que ldquodomesticaramrdquo os grandes mares que geravam
verdadeiras ldquocivilizaccedilotildees oceacircnicasrdquo Como aquele historiador demonstra em
Civilizations o Islatildeo foi a primeira civilizaccedilatildeo a projectar-se poliacutetica e
economicamente usando os caminhos oceacircnicos transformando o Iacutendico num
ldquolagordquo seu domiacutenio secular que foi beliscado pela curta expansatildeo chinesa do
inicio do seacuteculo XV5
Essa confluecircncia dos dois movimentos tornou o Iacutendico num espelho precoce da
revoluccedilatildeo que ocorreria mais tarde e que foi a razatildeo pela qual a histoacuteria de Portugal se
inscreveu na Histoacuteria universal
11 Repuacuteblicas Mariacutetimas Italianas
Os genoveses venezianos e catalatildees dominavam o Mediterracircneo com destaque
para as duas Repuacuteblicas italianas que lideraram o mundo poliacutetico euromediterracircnico a
partir do final do seacuteculo XIII
Geacutenova perderia o poder hegemoacutenico em 1380 na batalha naval de Chioggia agrave
entrada da grande laguna veneziana o que a levou sair do Adriaacutetico e a perder a
lideranccedila mediterracircnea para Veneza conhecida como a Serenissima Repubblica
Geacutenova La Superba havia dominado a regiatildeo desde que derrotara Pisa em 1320 e
criara um impeacuterio mediterracircnico e uma rede comercial e financeira transnacional
Perderia em 1397 a autonomia poliacutetica passando a ser uma zona de confronto entre a
4 Felipe Fernaacutendez-Arnesto exerce actualmente o magisteacuterio na caacutetedra Priacutencipe das Astuacuterias na
Universidade de Tufts Departamento de Histoacuteria e eacute membro do claustro de Queen Mary na
Universidade de Londres 5 FERNAacuteNDEZ-ARNESTO Felipe 2001 381
7
Franccedila e o Ducado de Milatildeo ao longo do seacuteculo XV No entanto nunca se apagou a
chama empreendedora pioneira
A individualidade genovesa foi de facto marcante ndash o seu espiacuterito de orizzonti
aperti (horizontes abertos) foi pioneiro no seacuteculo XIII Foi nesta repuacuteblica mariacutetima que
mais transparente se tornou o choque entre por um lado o lobby das cruzadas e da
bandeira poliacutetica da recuperaccedilatildeo de Jerusaleacutem e por outro lado a burguesia mercantil
mais arrojada ligada ao Banco di S Giorgio (criado em 1407) e agraves 28 famiacutelias
poderosas que compunham os Albergui6 A Escola genovesa de almirantado onde
sobressai a figura de Emanuele Pessagno (conhecido pelo portugueses como Manuel
Peccedilanha7) criou fama e uma geraccedilatildeo marinai erranti (marinheiros errantes) No
entanto veio para Portugal no iniacutecio do seacuteculo XIV para servir as navegaccedilotildees de
ldquooutrosrdquo em Quatrocentos e Quinhentos
A acircnsia genovesa de projecccedilatildeo para aleacutem do ldquolagordquo mediterracircnico ficou conhecida
As navegaccedilotildees de Benedetto Zacaria em 1277 abriam oficialmente a rota
mediterracircnico-atlacircntica para a Flandres anulando o significado das feiras de
Champagne e valorizando estrategicamente o estreito de Gibraltar bem como a costa
portuguesa e galega Mais tarde os irmatildeos Ugolino e Valdino Vivaldi com duas galeacutes
armadas por Tedisio Doria em 1291 aventuraram-se no Mar Oceano (o Atlacircntico) para
circum-navegarem Aacutefrica e chegarem ldquoagraves partes da Iacutendia e trazerem mercadorias
lucrativasrdquo mas nunca mais houve notiacutecias deles Especula-se que eles teriam como
objectivo provavelmente natildeo a verdadeira Iacutendia das especiarias mas a regiatildeo do ouro
da Aacutefrica Ocidental que na Idade Meacutedia muitos incluiacuteam na designaccedilatildeo geneacuterica de
ldquoIacutendiardquo8
Nos genoveses sentiu-se precocemente a necessidade de procurar chegar agraves fontes
asiaacuteticas de commodities de alto valor por via do Ocidente em oposiccedilatildeo ao domiacutenio
que os venezianos e aacuterabes detinham sobre as vias mediterracircnicas do Levante para o
Oriente E o sentido de risco dos clatildes financeiros genoveses daria corpo ao primeiro elo
do que viria a designar de Repubblica Internazional del Denaro
6 Agregaccedilatildeo artificial de vaacuterias famiacutelias da oligarquia genovesa Os Alberghi teriam entre 1600 a 1700
membros 40 dos quais estavam regularmente expatriados 7O monarca D Dinis em 1317 tornaria Manuel Peccedilagno de Geacutenova Almirante-mor do reino um cargo
hereditaacuterio 8 ALBUQUERQUE 2001 148
8
Mais proacuteximos geograficamente dos portugueses os catalatildees apesar da sua
expansatildeo mediterracircnica entre 1229 e 1412 (um impeacuterio que no seu auge incluiacutea as
Baleares Malta Sardenha Siciacutelia e os Ducados de Atenas e Neopaacutetria na Greacutecia bem
como um relacionamento especial com o Chipre) e de se terem afirmado como uma
potecircncia mariacutetima mediterracircnica dispunham de um dos centros cartograacuteficos mais
importantes da eacutepoca situado em Maiorca onde deu cartas a escola de cartoacutegrafos da
famiacutelia judia Cresques9 e a quem eacute atribuiacutedo um Atlas de 1375 Estes nunca desafiaram
a hegemonia genovesa e posteriormente a veneziana Mas como os italianos os catalatildees
tambeacutem fundaram coloacutenias mercantis muito fortes em Alexandria Beirute Damasco e
em diversos pontos do Magrebe
Os venezianos por seu lado consumada a paz com Geacutenova em 1381 e
secundarizaccedilatildeo geopoliacutetica desta repuacuteblica rival expandiram os seus domiacutenios de mar
atraveacutes da ocupaccedilatildeo de pontos estrateacutegicos na costa adriaacutetica grega e no Mediterracircneo
(ilhas como Chipre Corfu ou Creta) Tambeacutem estabeleceram fortes comunidades
mercantis ndash os fundaci ndash nos portos e placas giratoacuterias comerciais estrateacutegicas (como
Constantinopla Tana Sinope Tebisonda Alexandria e Damasco) dos paiacuteses com que
negociavam
A partir dessa rede dominaram o comeacutercio do que entatildeo chamavam mercanzie
sottili (mercadorias finas) as commodities de alto valor da eacutepoca que vinham da Iacutendia
da China do Ceilatildeo e das Molucas que chegavam a Veneza trazidas pelas mude
comboios mariacutetimos que vinham das placas giratoacuterias que eram Constantinopla
Alexandria e os portos da Siacuteria Este comeacutercio internacional movimentava 20 milhotildees
de ducados por ano A frota veneziana dispunha de 300 grandes navios 45 galeacutes e 3000
pequenos barcos e envolvia 36000 marinheiros
A Europa vivia literalmente enfeiticcedilada pelas especiarias dominada por
ldquofetichismordquo das commodities de luxo como ironizou o historiador Fernand Braudel
Paradoxalmente os europeus medievos consumiam produtos made in Oriente mas
desconheciam de todo onde ficavam exactamente e como eram os paiacuteses e as gentes de
onde se importavam tais luxos Daiacute a propagaccedilatildeo de mitos e contos fantaacutesticos sobre as
Iacutendias e China Apenas alguns viajantes aventureiros chegavam agraves fontes ndash Marco Polo
fora um deles
9 Um dos filhos desta famiacutelia catalatilde Jafuda Cresques cristianizado como Jaume (Jaime) Ribes seria um
dos expoentes maacuteximos do grupo conselheiro do Infante Henrique
9
Veneza soube gerir tambeacutem o ldquosaco de gatosrdquo que era a Europa do final da Idade
Meacutedia O grande cisma no papado entre 1378 e 1417 num periacuteodo em que chegou a
haver mais do que um centro de poder papal (Roma e Avignon) com pontiacutefices em
conflito apoiados por diferentes potecircncias ndash deu uma ajuda a esta cidade-Estado que
cultivava teimosamente a sua independecircncia De referir tambeacutem a intermitente Guerra
dos Cem Anos (1337-1453) que consumia as candidatas potenciais de entatildeo ao
hegemonismo da Europa continental a saber Inglaterra e Franccedila10
Natildeo eacute demais sublinhar que o conhecimento acumulado e as inovaccedilotildees geopoliacuteticas
surgidas com a expansatildeo das repuacuteblicas mariacutetimas mediterracircnicas seriam aprimoradas a
uma escala global pelos portugueses
12 O papel de Portugal ndash o pioneiro da globalizaccedilatildeo
O facto geopoliacutetico que abriria nas deacutecadas seguintes a janela de oportunidade aos
portugueses ocorreria bem longe do Mediterracircneo ndash Oceano Iacutendico ndash considerado o
centro econoacutemico do mundo
Ainda o Infante D Henrique natildeo fazia jus ao seu cognome de ldquoNavegadorrdquo jaacute os
chineses da dinastia Ming haviam lanccedilado a partir de 1405 sete expediccedilotildees em
direcccedilatildeo ao Iacutendico muito para aleacutem da sua tradicional esfera de influecircncia oceacircnica Foi
seu Almirante-Mor era Zheng He (1371-1433) a cujo nome ficou associado a
navegaccedilotildees de longa distacircncia anteriores agraves portuguesas Aquele movimento de
expediccedilotildees era o que chamariacuteamos hoje de ldquoprojecccedilatildeo de poderrdquo sublinhou Edward
Dreyer na sua obra Zheng He11
O argumento utilizado era um cruzamento haacutebil de
diplomacia e demonstraccedilatildeo do seu poder naval sem ser necessaacuterio exercecirc-lo a natildeo ser
excepcionalmente ldquoa sua armada era suficientemente intimidante e raramente
necessitava de combater de facto mas estar preparada para o fazer era a sua missatildeo
primaacuteriardquo diz Dreyer
As navegaccedilotildees chinesas acabariam abruptamente em 1433 A expansatildeo foi travada
por um movimento reaccionaacuterio da burocracia de Beijing e ocorreu no meio de uma
10
RODRIGUES amp DEVEZAS 2009 53-59 11
DREYER 2007 3
10
crise de hiperinflaccedilatildeo com o colapso do papel-moeda chinecircs tatildeo generosamente
espalhado pela Aacutesia Este recuo deixaria a porta aberta para os navegadores que a
seguir chegassem ao Iacutendico12
Assim Portugal aproveitou uma janela de oportunidade uacutenica no iniacutecio de
Quatrocentos pois a China entatildeo a maior economia do mundo recuou no seu projecto
de expansatildeo oceacircnica As Repuacuteblicas Italianas (nomeadamente Veneza entatildeo potecircncia
hegemoacutenica) e a Catalunha natildeo dispunham de estrateacutegias ou de inovaccedilotildees para irem
aleacutem do seu espaccedilo tradicional de projecccedilatildeo de poder que era o Mediterracircneo E as
potencias regionais e os poderes locais que dominavam os checkpoints e as rotas de
commodaties de alto valor em Aacutefrica no proacuteximo e Meacutedio Oriente e no Iacutendico natildeo
dispunham de poder naval para enfrentar um ldquointrusordquo expansionista
Alavancado o mito do Preste Joatildeo a elite portuguesa de Quatrocentos em
particular os dois irmatildeos ndash infantes Henrique o ldquoNavegadorrdquo e Pedro o ldquoCosmopolitardquo ndash
e o monarca D Joatildeo II (considerado um ldquoPriacutenciperdquo exemplar do Renascimento)
idealizaram uma estrateacutegia tenaz de cerco pelas ldquotraseirasrdquo ao elo mais fraco da eacutepoca o
arco muccedilulmano fragmentado que dominava as rotas de commodities ateacute Alexandria
principal porto do Mediterracircneo agora nas matildeos dos mamelucos e com quem Veneza
negociava Esta estrateacutegia portuguesa foi evolutiva e de geometria variaacutevel ora
procurando vias pela costa e rios de Aacutefrica Ocidental ao encontro do potencial aliado
Preste Joatildeo e do estrateacutegico Nilo ora recorrendo ao uso de espionagem e intelligence
ateacute agrave procura de um rota mariacutetima alternativa para uma das fontes de especiarias (a
Iacutendia)
A procura do Preste Joatildeo pelos navegadores portugueses foi infrutiacutefera durante
longas deacutecadas Apenas entre 1508 e 1514 se realizaram os primeiros encontros oficiais
entre as cortes etiacuteope e lisboeta Entretanto dois caminhos se abriram dois ciclos
sucessivos de uma nova especializaccedilatildeo econoacutemica portuguesa internacional onde
entrou o ouro o ignoacutebil traacutefico de escravos e as especiarias Esta nova especializaccedilatildeo
mudou o padratildeo tradicional da economia do paiacutes e foi responsaacutevel por uma revoluccedilatildeo
no comeacutercio internacional
12
RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 60-61
11
O sucesso no estabelecimento da nova rota mariacutetima para a Iacutendia deveu-se tanto a
inovaccedilotildees teacutecnicas e cientiacuteficas (como a caravela e a nova cartografia) como agrave gestatildeo
do conhecimento global da eacutepoca (o centro de acccedilatildeo do Infante Henrique e o war room
de D Joatildeo II) e tambeacutem a inovaccedilotildees estrateacutegicas para a projecccedilatildeo de poder (rede das
primeiras feitorias e fortificaccedilotildees de plataformas oceacircnicas e de novas cidades e de um
modelo de colonizaccedilatildeo) e ainda juriacutedicas (estabelecimento da doutrina do Mare
Clausum e assinatura dos primeiros tratados de divisatildeo do mundo em zonas de
influecircncia) Foi este conjunto de inovaccedilotildees que permitiu o surgimento de um novo e
longo ciclo geopoliacutetico e substituir Veneza na lideranccedila mundial13
Portugal criou portanto um novo tipo de impeacuterio ndash o impeacuterio oceacircnico em rede ndash
baseado na mobilidade e poder naval pois viabilizou o domiacutenio de uma vasta aacuterea do
planeta e uma forma de comeacutercio verdadeiramente internacional Este network lanccedilou as
bases para a criaccedilatildeo da aldeia global fenoacutemeno hoje sobejamente conhecido como
globalizaccedilatildeo
Os portugueses introduziram o uso sistemaacutetico do conhecimento cientiacutefico como
um activo indispensaacutevel para alcanccedilar objectivos poliacuteticos geoestrateacutegicos Tal facto
gerou os alicerces do Renascimento cientiacutefico europeu e transformou radicalmente a
visatildeo do mundo como um planeta composto por massas continentais banhadas por um
conjunto de oceanos interligados Foi graccedilas agrave expansatildeo mariacutetima portuguesa que surgiu
a concepccedilatildeo de um globo terrestre e uma nova cartografia14
Apesar das fortes raiacutezes empiacutericas da expansatildeo portuguesa do caraacutecter pragmaacutetico
e do forte improviso os liacutederes de Quatrocentos e de Quinhentos desenvolveram a
gestatildeo de conhecimento de forma eficiente Este foi o capital ldquointelectualrdquo que afirmou
um espoacutelio singular que destacou Portugal elevando-o agrave escala mundial Satildeo exemplos
deste periacuteodo os primeiros centros de acccedilatildeo de expansatildeo mariacutetima uma vaga de
publicaccedilotildees cientiacuteficas originais a revoluccedilatildeo na cartografia e na ciecircncia da construccedilatildeo
naval e uma evoluccedilatildeo da arte militar
A construccedilatildeo da hegemonia portuguesa foi claramente um processo evolutivo de
aprendizagem que abarcou vaacuterias geraccedilotildees Isto foi sucedendo desde a eacutepoca inicial dos
infantes D Henrique e D Pedro com a chegada agrave Costa da Mina e agrave linha do Equador
13
RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 175-176 14
RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 184-185
12
mais tarde com a passagem do Cabo da Boa Esperanccedila ateacute agrave chegada agrave Iacutendia Brasil
China e Japatildeo
Concluiacuteda a chegada agrave Iacutendia (1498) jaacute no tempo do rei D Manuel I a estrateacutegia de
projecccedilatildeo mundial foi tripla
Afirmaccedilatildeo de um poder naval sem contestaccedilatildeo mundial no Atlacircntico e
Iacutendico
Conclusatildeo da maior rede mundial de checkpoints existentes ateacute entatildeo
Campanha de marketing internacional junto do papado (poder
transnacional reconhecido pelos europeus)
Portugal caiu num dilema entre a focalizaccedilatildeo num espaccedilo controlaacutevel do Iacutendico
(ligado agrave rota das especiarias) e a tentaccedilatildeo de uma extensatildeo raacutepida incluindo um
projecto imperial universal embebido numa ideologia cruzadista e de expansatildeo
messiacircnica
A capacidade inovadora dos portugueses foi de tal forma abrangente que se pode
afirmar que nos seacuteculos XV e XVI Portugal inovou na arte de inovar Isto provocou
uma ruptura ldquotectoacutenicardquo na histoacuteria do mundo e natildeo foi um mero acidente relegado para
segundo plano por muitos historiadores e analistas face ao mediatismo criado em torno
das viagens de Colombo agrave Ameacuterica Central15
Segundo Daniel Boorstin16
ldquo(hellip) como empreendimento organizado e de longo
prazo a conquista dos Portugueses foi a mais moderna mais revolucionaacuteria do que as
largamente celebradas exploraccedilotildees de Colombo ()rdquo
15
RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 331 16
BOORSTIN 1986 83
Daniel Boorstin faleceu em 2004 Estudou em Oxford Harvard e Yale foi autor de 20 livros e
bibliotecaacuterio do Congresso norte-americano de 1975 a 1987 Foi director do Museu Nacional de Histoacuteria
e Tecnologia e da Smithsonian Institution entidades norte-americanas A Trilogia sobre a Histoacuteria
Mundial que escreveu ficou ceacutelebre E nela incluiu Os Descobridores Foi um dos acadeacutemicos que
destacou a originalidade portuguesa de Quatrocentos e Quinhentos
13
13 Siglo de oro espanhol
O ldquoseacuteculo de ourordquo foi o apogeu da cultura espanhola desde o Renascimento do
seacuteculo XV ateacute ao periacuteodo Barroco do seacuteculo XVII Marcado por acontecimentos-chave
abrangeu o periacuteodo desde a publicaccedilatildeo da gramaacutetica Castellana de Nebrija em 1492 ateacute
a morte de Calderoacuten de la Barca em 1681
Nos finais do seacuteculo XVIII jaacute se havia popularizado a expressatildeo Seacuteculo de Ouro
com a qual Lope de Vega aludia a si proacuteprio e que suscitava a admiraccedilatildeo de Don
Quixote de la Mancha no seu famoso discurso sobre a Idade de Ouro
Com a uniatildeo dinaacutestica os Reis Catoacutelicos Fernando e Isabel delinearam um Estado
politicamente forte que foi consolidado posteriormente cujos ecircxitos foram invejados
por alguns intelectuais contemporacircneos como por exemplo o italiano Nicolau
Maquiavel Poreacutem esse Estado politicamente forte esteve ideologicamente dominado
pela inquisiccedilatildeo eclesiaacutestica Os judeus que natildeo se cristianizaram foram expulsos em
1492 e dispersaram-se fundando coloacutenias hispacircnicas pela Europa Aacutesia e Norte de
Aacutefrica Aiacute cultivaram a sua liacutengua e escreveram livros em castelhano emergindo figuras
notaacuteveis como o economista e escritor Joseacute Penso de La Vega Miguel de Barrios Juan
de Prado Isaac Cardoso Abraham Zacuto Isaac Orobio e Manuel de Pina Em Janeiro
de 1492 Castela conquista o bastiatildeo mouro de Granada finalizando a etapa poliacutetica
muccedilulmana peninsular ainda que uma minoria mourisca aiacute continuasse a habitar mais
ou menos tolerada ateacute ao reinado de Felipe III
Em Outubro desse mesmo ano Cristoacutevatildeo Colombo chega agrave Ameacuterica A chegada agraves
ldquoiacutendiasrdquo por ocidente foi considerado pelo historiador Pierre Vilar17
o gesto mais
extraordinaacuterio da histoacuteria da Humanidade Ainda nesse ano foi celebrado o Tratado de
Tordesilhas entre D Joatildeo II e os Reis Catoacutelicos Como o nome indica este Tratado foi
assinado na povoaccedilatildeo castelhana de Tordesilhas a 7 de Junho de 1494 celebrado entre
o Reino de Portugal e o Reino da Espanha para dividir as terras descobertas e por
descobrir Este tratado surgiu na sequecircncia da contestaccedilatildeo portuguesa agraves pretensotildees da
Coroa espanhola resultantes da viagem de Cristoacutevatildeo Colombo que ano e meio antes
17
Pierre Vilar foi um historiador francecircs Estaacute considerado uma das maacuteximas autoridades no estudo da
Histoacuteria de Espanha tanto no periacuteodo do Antigo Regime como na Idade Contemporacircnea
14
chegara ao chamado Novo Mundo reclamando-o oficialmente para Isabel a Catoacutelica O
tratado foi ratificado pela Espanha a 2 de Julho e por Portugal a 5 de Setembro de 1494
Durante o apogeu cultural e econoacutemico desta eacutepoca Espanha alcanccedilou prestiacutegio
internacional e influenciou culturalmente a Europa Tudo quanto provinha de Espanha
foi amiuacutede imitado e divulgou-se a aprendizagem e estudo do castelhano
As aacutereas culturais mais cultivadas foram a literatura as artes plaacutesticas a muacutesica e a
arquitectura O saber foi-se acumulando e disseminado pelas prestigiadas universidades
de Salamanca e Alcalaacute de Henares
As cidades mais importantes foram Sevilha por receber as riquezas coloniais e dos
comerciantes e banqueiros europeus Madrid como sede da corte e ainda as cidades de
Toledo Valecircncia e Saragoccedila
Com a anexaccedilatildeo dinaacutestica e a formaccedilatildeo da monarquia dual ibeacuterica sob a coroa dos
Habsburgo a dinastia dos Felipes tenta criar o maior impeacuterio global no final do seacuteculo
XVI e primeira metade do seacuteculo XVII18
Com o nascimento do mito do ldquoEl Doradordquo (um suposto rei de uma regiatildeo auriacutefera
inventado pelos nativos colombianos) em 1538 acelerou-se a corrida aos metais
preciosos da Ameacuterica pelos ldquoconquistadoresrdquo espanhoacuteis Em 1547 o famoso mineiro de
Potosi nos Andes comeccedilava a sua exploraccedilatildeo intensiva de prata e em 1560 a invenccedilatildeo
de um novo meacutetodo de refinaccedilatildeo com mercuacuterio vindo das minas espanholas levou ao
disparo do negoacutecio superando a produccedilatildeo de ouro
O pico da importaccedilatildeo de prata para Espanha ocorre no quinqueacutenio de 1591-159519
No Oriente os castelhanos estabeleceram-se em Cebu desde 1565 e dois Navios da
Armada Miguel Lopez de Legazpi conseguiram estabelecer uma nova rota transpaciacutefica
mais a norte para o Meacutexico Em 1571 ocupavam a baiacutea de Manila e em 1574
exploravam as ilhas Borneacuteu e a Nova Guineacute A carreira regular entre o Meacutexico e as
Filipinas entre Acapulco e Manila pretendeu pocircr em xeque a carreira da Iacutendia
portuguesa20
Felipe II sofreu em larga medida do messianismo de seu avocirc portuguecircs D Manuel
I e viu em seu redor desenvolver-se uma retoacuterica imperialista e universalista herdada de
seu pai Carlos V O poeta-soldado Hernando de Acuntildea anunciara num poema dirigido a
18
RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 358 19
RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 348-349 20
RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 349
15
Carlos V que estava proacuteximo o dia em que se realizaria a maacutexima universal um
monarca um impeacuterio e uma espada
Espanha atingia entatildeo o auge de seu Siglo de Oro com um impeacuterio onde ldquoel Sol
no se poniacuteardquo desde o Virreinato de Nueva Espantildea (Ameacuterica Norte e Central) ateacute agraves
Filipinas o que levava os estrategos da Corte dos Felipes a sonhar com uma ldquomonarquia
mundialrdquo Mais tarde o aristocrata andaluz Gaspar Felipe de Guacutezman o famoso Conde-
Duque de Olivares adoptando uma expressatildeo de Gil Vicente afirmou ldquoDios es espantildeol
y estaacute de parte de la nacioacuten estos diasrdquo (Deus eacute espanhol e faz parte da naccedilatildeo nos dias de
hoje)
Ainda na vigecircncia do reinado de Felipe II (1556-1598) satildeo de salientar os
acontecimentos que iriam dar iniacutecio ao processo de decadecircncia deste siglo
Iniacutecio dos ataques sistemaacuteticos dos corsaacuterios ingleses agraves possessotildees
espanholas das Ameacutericas
O desastre da Grande y Feliciacutessima Armada (mais conhecida como
ldquoInvenciacutevel Armadardquo) que partira de Lisboa em 1588 (levando boa parte da
armada portuguesa que natildeo regressou) para invadir e subjugar a Inglaterra
A derrota frente aos ingleses na batalha naval do estreito de Gibraltar em
159021
Depois da morte de Felipe II uma atmosfera de desengantildeo de desilusatildeo nacional
apoderou-se de Espanha ndash segundo Elliot a obra imortal El Inginioso Hidalog Don
Quixote de La Mancha (1605 e 1614) de Miguel de Cervantes Saavedra eacute
provavelmente o expoente dessa eacutepoca de decliacutenio estrateacutegico que se iria estender pelo
reinado do filho e neto de Felipe II22
Na realidade o Siglo de Oro espanhol durou menos de sessenta anos A decadecircncia
comeccedilou na aclamaccedilatildeo de Felipe II em 1581 como rei portuguecircs nas Cortes de Tomar
e termina nas deacutecadas de 1630 e 1640 com Felipe IV (III em Portugal) Este uacuteltimo
coroado aos dezasseis anos de idade entregou o governo do impeacuterio ao Conde-Duque
de Olivares Durante o vinteacutenio compreendido entre 1623 e 1643 eacute o Conde-Duque de
Olivares que exerceraacute o controlo efectivo sobre o Estado espanhol A notoacuteria rivalidade
com o cardeal de Richelieu (Franccedila) arrastou a Espanha para a Guerra dos Trinta Anos
e a diversos conflitos paralelos com a Itaacutelia e com os Paiacuteses Baixos O desgaste causado
21
RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 358-360 22
RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 373
16
pelos vaacuterios conflitos o decliacutenio da induacutestria e do comeacutercio devido ao esgotamento dos
recursos das coloacutenias espanholas e a restauraccedilatildeo da coroa portuguesa (em 1640)
desacreditaram a sua gestatildeo Destituiacutedo do cargo exilou-se no norte de Espanha e
passou seus uacuteltimos anos submetido agraves investigaccedilotildees da Inquisiccedilatildeo ateacute seu falecimento
em 1645
Sucedeu-se ainda um quadro de desaires no final da Guerra dos Trinta Anos (1618-
1648) de que passo a citar os mais importantes
As derrotas infligidas na batalha naval ao largo de Downs no canal da
Mancha Esta derrota naval eacute considerada pelos proacuteprios estrategos espanhoacuteis
como o momento de perda da hegemonia naval
Em 1639 a infligida pelos holandeses comandados por Maarten Tromp
Em 1643 em Rocroi derrotados pelos franceses
A reconquista da Independecircncia dos portugueses em 1640
A revolta da Catalunha que se converte num protectorado francecircs
A derrota de Lens em 1648 de novo agraves matildeos dos franceses
14 O ciclo holandecircs e a hegemonia inglesa
Se Portugal de Quinhentos foi o pioneiro do verdadeiro comeacutercio internacional
foram os hegemonistas seguintes holandeses e ingleses que souberam inovar para dele
tirar proveito efectivo
Alguns historiadores desenharam esta imagem sugestiva ndash o papel dos portugueses
foi entatildeo ldquoo de lanccedilarem catildees para espantarem a caccedila que depois foi apanhada por
outrosrdquo23
Natildeo foi por acaso que os holandeses ficaram conhecidos no seacuteculo XVII como os
ldquocarreteiros do marrdquo com uma frota que era o dobro da de Inglaterra e Franccedila juntas24
ldquoLanccedilaram-se ao mar e tornaram-se os transportadores das mercadorias mundiais Os
23
BOXER 2001 32 Imagem atribuiacuteda por Charles R Boxer ao capitatildeo holandecircs Willem Bosman 24
RODRIGUES 1997 280 (volume I)
O contraste no periacuteodo de 1600-1700 foi brutal a frota comercial portuguesa baixou de uma meacutedia de
700 navios (no periacuteodo de Quinhentos) para quase metade e a holandesa disparou de menos de 100 para
1770 contra 811 ingleses e 155 franceses
17
barcos holandeses iam a toda a parte levando mercadoria de todo o mundo a todo o
lugarrdquo dizia Leo Huberman25
Aos holandeses e ingleses caberia inovarem no empreendorismo capitalista
justamente onde falhou o ldquocapitalismo monaacuterquico portuguecircsrdquo o que gerou a croacutenica
desvantagem competitiva que marcaria a evoluccedilatildeo do comeacutercio a partir dos comeccedilos do
seacuteculo XVII
A esse conjunto de inovaccedilotildees anglo-holandesas entre 1600 e 1700 poderemos
chamar de revoluccedilatildeo de softpower ndash mais poderoso do que o militarismo religioso
apelidado de ldquodilataccedilatildeo da feacuterdquo que os portugueses e espanhoacuteis pretenderam usar como
arma ideoloacutegica de consolidaccedilatildeo das ldquoDescobertasrdquo26
O primeiro aspecto inovador do softpower da potecircncia emergente foi juriacutedico27
A
doutrina do Mare Clausum defendida e aplicada pelos portugueses foi contestada O
holandecircs Hugo Grotius formulou em De Jure Pradae28
(1604) e Mare Liberum (1609)
a ideia de que haveria um direito natural de navegaccedilatildeo livre no mar alto O oceano seria
um bem puacuteblico comum onde natildeo se aplicavam os direitos de conquista nem a lei
consuetudinaacuteria ldquoEm virtude deste direito (de mar livre) o comeacutercio estaacute aberto a toda
a genterdquo afirma Grotius que termina a sua obra Mare Liberum dizendo que eacute preciso
natildeo recuar perante a guerra se os portugueses mantiverem a sua doutrina do Mare
Clausum Grotius respondia tambeacutem a uma decisatildeo de James I de Inglaterra que no
iniacutecio de 1609 decretara a obrigatoriedade de licenccedilas nos mares em redor das costas
inglesas o que prejudicou seriamente os holandeses
O segundo aspecto foi poliacutetico-comercial Foram por sua vez os ingleses que
criaram um novo tipo de companhia trading baseada numa sociedade por acccedilotildees em
que a proacutepria rainha da altura Elizabeth I participava como accionista e sem a
dependecircncia do circuito dos banqueiros alematildees e italianos A primeira dessas
companhias em finais de 1600 tinha o estranho nome de ldquoGovernador e Companhia
dos Aventurosos Mercadores para a descoberta de regiotildees domiacutenios ilhas e lugares
desconhecidosrdquo e contava em Londres com 240 accionistas que investiram 25 libras
25
HUBERMAN 1970 45 26
RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 397 27
O debate entre o Mare Clausum e o Mare Liberum estaacute muito bem documentado no livro de Wilhelm
Grewe intitulado The Epochs of International Law republicado pela editora Walter de Gruyer em 2000
Berlim e Nova York 28
Grotius refere nesta obra supracitada a captura em Malaca de um barco portuguecircs por um navio da
companhia holandesa VOC
18
cada um (na eacutepoca uma soma de certa importacircncia29
) Esta deu origem mais tarde ao
aparecimento da famosa Companhia Inglesa das Iacutendias Orientais Honourable East India
Company Em 1602 foi a vez de os holandeses criarem a Companhia das Indias
Orientais a conhecida VOC (acroacutenimo de Verenidge Oost-indische Compagnie) que
agrupou nove companhias por acccedilotildees depois do ensaio com a inicial Compagnie Van
Verre (Companhia das Terras Longiacutenquas) criadas em 1594
Estas companhias natildeo eram meramente comerciais eram bem mais do que isso
Funcionavam como uma ferramenta poliacutetica multifuncional pois natildeo soacute criavam a
infra-estrutura para o comeacutercio internacional como tambeacutem serviam de arma poliacutetico-
ideoloacutegica (exercendo softpower) coerciva (cobrando impostos) e militar (aplicando o
hardpower)30
Por alguns satildeo consideradas exemplos de ldquoactores natildeo estaduaisrdquo com
dimensatildeo multinacional a quem os monarcas atribuiacuteam poderes soberanos nas regiotildees
de expansatildeo ao contraacuterio dos ibeacutericos que exerciam o poder ultramarino atraveacutes de
vice-reis Posteriormente os franceses copiaram o modelo anglo-holandecircs na sua
projecccedilatildeo nas Ameacutericas e na Iacutendia mas com menos sucesso devido agrave sua inferioridade
na projecccedilatildeo oceacircnica
Em 1609 os holandeses fundaram o Amesterdamsche Wisselbank (Banco de
Amesterdatildeo) sobre o qual Adam Smith escreveu vaacuterios paraacutegrafos na sua obra mais
ceacutelebre31
e em 1694 surgiu o Bank of England32
De salientar ainda a mudanccedila no exerciacutecio de hardpower nos mares Eacute um aspecto a
que muitos historiadores designaram ldquorevoluccedilatildeo militarrdquo ocorrida ao longo da primeira
metade do seacuteculo XVII visto que os ingleses e holandeses inovaram em termos de
velocidade flexibilidade (aperfeiccediloamento da capacidade de bolinar) e posicionamento
da artilharia a bordo dos navios33
29
HUBERMAM ibidem nt 12 30
HUTTON 2006 70 31
SMITH 1776 livro IV capiacutetulo 3 parte I 32
RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 398-400 33
RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 402
19
15 A Burguesia e a Revoluccedilatildeo Industrial
O incremento do comeacutercio mariacutetimo permitiu que os produtos do Oriente
chegassem agrave Europa e vice-versa Este comeacutercio apesar do risco impliacutecito nas viagens
era altamente rentaacutevel (bastava uma caravela chegar do Oriente com especiarias para
cobrir os custos totais da frota)
As transacccedilotildees comerciais realizadas pelos europeus atraveacutes das suas rotas
mariacutetimas permitiram o enriquecimento das classes sociais vigentes e contribuiacuteram
ainda em grande escala para o aparecimento de uma nova classe social ldquoendinheiradardquo
ndash a Burguesia
Os burgueses eram os habitantes dos burgos que eram pequenas ldquocidadesrdquo
protegidas por muros Eram ldquogentesrdquo de elevado estatuto econoacutemico embora de baixo
niacutevel cultural e social Por isso se compreende agrave luz da eacutepoca que tenham sido
ostracizados pela nobreza
Com o mundo e o comeacutercio ligado em rede ndash mercado global ndash a procura mundial
disparou e consequentemente tornou-se mais premente aumentar a oferta
O ldquonegoacutecio mariacutetimordquo indissociaacutevel da burguesia favoreceu a acumulaccedilatildeo de
capitais na Europa Posteriormente esta acumulaccedilatildeo de capital serviu de suporte
financeiro agrave Revoluccedilatildeo Industrial
A Revoluccedilatildeo Industrial consistiu num conjunto de mudanccedilas tecnoloacutegicas34
com
profundo impacto no processo produtivo que se reflectiu no desenvolvimento
econoacutemico e social na Europa A era industrial provocou uma ruptura com o passado
Foi iniciada em Inglaterra em meados do seacuteculo XVIII e rapidamente se expandiu a
partir do seacuteculo XIX
Entre as novas aplicaccedilotildees tecnoloacutegicas saliento a importacircncia da aplicaccedilatildeo do
motor a vapor em navios que veio encurtar a distacircncia entre os portos e
simultaneamente aumentar a capacidade de circulaccedilatildeo de pessoas e mercadorias Este
momento marcou o decliacutenio do ciclo de navegaccedilatildeo comercial agrave vela
A Revoluccedilatildeo Industrial eacute o ponto culminante de uma evoluccedilatildeo tecnoloacutegica
econoacutemica e social que se vinha processando na Europa desde a Idade Meacutedia com
34
James Watt em 1765 introduz na Gratilde-Bretanha o condensador na maacutequina de Newcomen componente
que aumenta consideravelmente a eficiecircncia da maacutequina a vapor
20
maior ecircnfase nos paiacuteses onde a Reforma protestante tinha conseguido destronar a
influecircncia da Igreja Catoacutelica Nos paiacuteses fieacuteis ao catolicismo a Revoluccedilatildeo Industrial
eclodiu em geral mais tarde
O seacuteculo XIX no plano das relaccedilotildees internacionais foi marcado pela hegemonia
mundial britacircnica de expansatildeo colonialista e pelo aparecimento das primeiras lutas e
conquistas dos trabalhadores O trono britacircnico foi ocupado pela rainha Vitoacuteria (1837-
1901) razatildeo pela qual esse periacuteodo eacute denominado por Era Vitoriana No final deste
seacuteculo a busca de novas regiotildees para colonizar e descarregar os produtos (maciccedilamente
produzidos pela revoluccedilatildeo industrial) levou a uma acirrada disputa entre as potecircncias
industrializadas causando diversos conflitos e um crescente espiacuterito armamentista que
culminou mais tarde na eclosatildeo da Primeira Guerra Mundial (1914)
Statue of Prince Henry the Navigator ndash Belgrave Square London35
35
Estaacutetua em homenagem ao Infante D Henrique Belgrave Square em Londres
21
Cap II ndash O Livro Verde da Poliacutetica Mariacutetima Integrada Europeia
21 Fundamentos da Poliacutetica Mariacutetima Integrada Europeia
Partimos da definiccedilatildeo de fundamento eacute o que daacute consistecircncia e seguranccedila o que
daacute coesatildeo agraves partes do todo que ele mesmo estrutura e sustenta36
No capiacutetulo precedente dedicado a um breve enquadramento histoacuterico destaquei as
principais naccedilotildees europeias que contribuiacuteram fortemente para identidade mariacutetima da
Europa Facto eacute que hoje em dia em pleno seacuteculo XXI eacute inconcebiacutevel olhar para
Europa e imaginaacute-la sem mar ou negar a sua importacircncia no quotidiano dos europeus
De referir que na Uniatildeo Europeia a 27 apenas 5 Estados-membros natildeo satildeo paiacuteses
costeiros o que demonstra desde logo a importacircncia da temaacutetica mariacutetima no contexto
europeu Este eacute sem duacutevida um dos desafios que a Europa enfrenta e que passo a
apresentar neste capiacutetulo dedicado ao Livro Verde da Poliacutetica Mariacutetima Integrada
Europeia
Qualquer cidadatildeo europeu se lembraraacute dos relatos das grandes viagens de
descobrimentos que revelaram aos nossos antepassados a vastidatildeo a diversidade de
culturas e a riqueza de recursos do nosso planeta O ecircxito destas viagens que na sua
maioria eram mariacutetimas exigia quase sempre espiacuterito de abertura a ideias novas e um
planeamento meticuloso aleacutem de extraordinaacuteria coragem e forte determinaccedilatildeo Graccedilas a
elas natildeo soacute foram sendo desvendadas ao longo do tempo regiotildees do mundo antes
desconhecidas como tambeacutem apareceram novas tecnologias como por exemplo o
astrolaacutebio (instrumento naval usado para medir a altura dos astros acima da linha do
horizonte) o cronoacutemetro mariacutetimo (destinado a calcular a longitude exacta) e a turbina a
vapor (que permitiu escapar agrave tirania dos ventos dominantes)
A densidade populacional nas zonas do litoral europeu foi sempre elevada No mar
encontraram um meio de subsistecircncia pescadores e marinheiros mas tambeacutem sauacutede e
prazer novos horizontes para sonhar e um rico reportoacuterio de vocaacutebulos e metaacuteforas
36
Enciclopeacutedia Luso Brasileira vol 8 1794
22
presentes tanto na literatura como no quotidiano Fonte de romance de uniatildeo mas
tambeacutem de separaccedilotildees perigos desconhecidos e sofrimento o mar eacute um desafio
permanente e suscita em noacutes uma vontade profunda de melhor o conhecer
A Europa possui mais de 70000 km de orla costeira estaacute rodeada por numerosas
ilhas por quatro mares (Mediterracircneo Baacuteltico do Norte e Negro) e por dois oceanos
(Atlacircntico e Aacuterctico) O continente europeu eacute uma peniacutensula com uma orla costeira de
milhares de quiloacutemetros ndash maior do que a de outras grandes massas continentais como
os Estados Unidos ou a Federaccedilatildeo da Ruacutessia Dada esta configuraccedilatildeo geograacutefica mais
de dois terccedilos das fronteiras da UE satildeo de orla mariacutetima E os espaccedilos mariacutetimos sob
jurisdiccedilatildeo dos Estados-Membros satildeo mais vastos do que os seus espaccedilos terrestres
Graccedilas agraves suas regiotildees ultraperifeacutericas para aleacutem do Oceano Atlacircntico a Europa estaacute
igualmente presente no Oceano Iacutendico e no mar das Caraiacutebas Os desafios colocados por
estas regiotildees no plano mariacutetimo satildeo numerosos e afectam a Uniatildeo Europeia no seu todo
A Europa desde tempos imemoriais essencialmente devido agrave sua geografia sempre
teve uma relaccedilatildeo privilegiada com os oceanos sendo estes determinantes no
desenvolvimento da sua cultura identidade e histoacuteria
Assim continua a ser hoje em dia Num momento em que a Uniatildeo Europeia procura
veementemente revitalizar a economia eacute importante reconhecer o potencial econoacutemico
da dimensatildeo mariacutetima Estima-se que 3 a 5 do produto interno bruto (PIB) europeu
eacute gerado pelas induacutestrias e serviccedilos do sector mariacutetimo sem contar com o valor de
mateacuterias-primas como o petroacuteleo o gaacutes ou o pescado As regiotildees mariacutetimas europeias
representam mais de 40 do PIB da Uniatildeo Europeia
Natildeo obstante os cidadatildeos europeus nem sempre estatildeo bem conscientes da
importacircncia dos oceanos e mares na sua vida Embora saibam que a aacutegua eacute um bem
crucial poderatildeo desconhecer que proveacutem dos oceanos sob a forma ldquorecicladardquo de chuva
ou de neve por exemplo Preocupam-se com as alteraccedilotildees climaacuteticas mas nem sempre
sabem ateacute que ponto satildeo moduladas pelos oceanos Beneficiam da possibilidade de
comprar produtos baratos de todo o mundo sem se aperceberem da complexidade da
rede logiacutestica que o torna possiacutevel37
37
COM (2006) 275 final vol II 3
23
O desenvolvimento sustentaacutevel como se sabe ocupa um lugar preponderante na
agenda de trabalhos da Uniatildeo Europeia O desafio consiste em assegurar o reforccedilo
muacutetuo do crescimento econoacutemico da coesatildeo social e da protecccedilatildeo do ambiente
Ora a PMIE tem a oportunidade de aplicar aos oceanos o princiacutepio do
desenvolvimento sustentaacutevel Para esse efeito pode tirar partido dos trunfos que sempre
estiveram na base da supremacia no domiacutenio mariacutetimo conhecimento dos oceanos
larga experiecircncia e capacidade para enfrentar novos desafios conjugados com um forte
empenho na protecccedilatildeo dos seus recursos38
A Europa depois de seacuteculos de ligaccedilatildeo aos mares e oceanos assume a partir de
2007 a coordenaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas ligadas ao espaccedilo mariacutetimo e costeiro
europeu Todavia o objectivo de alcanccedilar uma poliacutetica mariacutetima mais integrada natildeo eacute
exclusivo da Europa eacute algo que tem vindo a ser implementado igualmente por paiacuteses de
outras regiotildees do mundo como a Austraacutelia o Canadaacute ou os Estados Unidos
22 Potencialidades das principais actividades mariacutetimas da Uniatildeo Europeia
A Uniatildeo Europeia eacute a primeira potecircncia mariacutetima mundial especialmente no que
diz respeito ao transporte mariacutetimo agraves teacutecnicas de construccedilatildeo naval ao turismo costeiro
agrave energia offshore incluindo as energias renovaacuteveis e serviccedilos associados No futuro
segundo um estudo do Irish Marine Institute39
os sectores com maior potencial de
crescimento seratildeo o sector dos cruzeiros e portuaacuterio a aquicultura as energias
renovaacuteveis as telecomunicaccedilotildees submarinas e a biotecnologia marinha
O transporte mariacutetimo e os portos satildeo essenciais para o comeacutercio internacional pois
90 do comeacutercio externo da Uniatildeo Europeia e mais de 40 do seu comeacutercio interno eacute
efectuado por via mariacutetima A Uniatildeo Europeia com 40 da frota mundial eacute
incontestavelmente o liacuteder deste sector global Anualmente 35 mil milhotildees de
toneladas de mercadorias e 350 milhotildees de passageiros transitam pelos portos mariacutetimos
europeus Cerca de 350000 pessoas trabalham nos portos e nos serviccedilos associados
38
COM (2006) 275 final vol II 4 39
Para mais informaccedilotildees sobre o Irsih Marine Institute httpwwwmarineie
24
que no seu conjunto geram um valor acrescentado de aproximadamente 20 mil milhotildees
de euros40
Com o aumento do volume do comeacutercio mundial e o desenvolvimento do
transporte mariacutetimo de curta distacircncia e das ldquoauto-estradasrdquo mariacutetimas as perspectivas
para estes sectores satildeo de crescimento contiacutenuo O transporte mariacutetimo eacute um catalisador
para outros sectores nomeadamente a construccedilatildeo naval e os equipamentos mariacutetimo-
portuaacuterios
Os serviccedilos mariacutetimos associados como os seguros a banca a intermediaccedilatildeo a
classificaccedilatildeo e a consultoria satildeo mais um domiacutenio em que a Europa deve manter a sua
lideranccedila
Os oceanos e os mares geram igualmente receitas graccedilas ao turismo Estima-se que
o volume de negoacutecios directo do sector do turismo mariacutetimo na Europa tenha sido de 72
mil milhotildees de euros em 2004 Os turistas que passam feacuterias no litoral usufruem do mar
da praia e da zona costeira de formas muito diversas Muitos destinos turiacutesticos devem a
sua popularidade agrave proximidade do mar e dependem da qualidade ambiental deste Para
a sustentabilidade do turismo em geral e em particular do ecoturismo sector que se
encontra em raacutepida expansatildeo eacute pois crucial prever um elevado niacutevel de protecccedilatildeo das
zonas costeiras e do meio marinho O turismo gera ainda trabalho para a induacutestria da
construccedilatildeo naval
O sector europeu dos cruzeiros tambeacutem se desenvolveu fortemente nos uacuteltimos
anos registando uma taxa de crescimento anual superior a 10 Os navios de cruzeiro
satildeo praticamente todos construiacutedos na Europa O turismo de cruzeiro contribui para o
desenvolvimento das zonas costeiras e insulares
O sector da naacuteutica de recreio registou igualmente um aumento constante nos
uacuteltimos anos prevendo-se que o seu crescimento anual na Uniatildeo Europeia seja de 5 a
641
Nenhuma outra forma de lazer colectivo abrange um leque tatildeo grande de idades
interesses e locais42
O mar desempenha um papel essencial na competitividade no desenvolvimento
sustentaacutevel e na seguranccedila do aprovisionamento energeacutetico os quais constituem
40
Contributo da Organizaccedilatildeo dos Portos Mariacutetimos Europeus (ESPO) para o Livro Verde 41
Contributo da European Union Recreational Marine Industry Group (EURMIG) para o Livro Verde
Este sector inclui nomeadamente a construccedilatildeo de embarcaccedilotildees a electroacutenica de ponta para fabrico de
motores e equipamentos mariacutetimos o financiamento e a construccedilatildeo e exploraccedilatildeo de infra-estruturas 42
Contributo da European Boating Association (EBA) para o Livro Verde
25
objectivos essenciais identificados pela Comissatildeo Europeia43
e pelos Chefes de Estado
e de Governo44
O mar do Norte eacute depois da Ruacutessia dos Estados Unidos e da Araacutebia
Saudita a quarta maior fonte de petroacuteleo e de gaacutes no mundo45
Os mares em torno da
Europa desempenham tambeacutem um importante papel no sector da energia na medida em
que permitem o transporte por um nuacutemero crescente de navios-tanque de uma grande
parte do petroacuteleo e do gaacutes consumidos na Europa
Por outro lado o vento as correntes oceacircnicas as ondas e mareacutes representam uma
vasta fonte de energia inesgotaacutevel Convenientemente explorados estes tipos de
energias poderiam assegurar uma importante parte do abastecimento de electricidade em
muitas zonas costeiras da Europa e contribuir assim para o desenvolvimento econoacutemico
e a criaccedilatildeo de emprego com caraacutecter duradouro
As empresas europeias desenvolvem know-how na aacuterea das tecnologias marinhas
natildeo soacute no domiacutenio da exploraccedilatildeo de hidrocarbonetos no mar como tambeacutem nos dos
recursos marinhos renovaacuteveis das actividades em aacuteguas profundas da investigaccedilatildeo
oceanograacutefica dos veiacuteculos e robocircs subaquaacuteticos das obras mariacutetimas e da engenharia
costeira Essas tecnologias satildeo cada vez mais utilizadas e estimularatildeo o crescimento do
sector europeu das tecnologias marinhas especialmente nos mercados mundiais de
exportaccedilatildeo
Por fim a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Alimentaccedilatildeo e a Agricultura
(FAO)46
indica que caberaacute agrave aquicultura satisfazer a nova procura mundial no mercado
de consumo de pescado A dificuldade consiste em gerir este aumento de procura de
uma forma sustentaacutevel e compatiacutevel com o ambiente A competiccedilatildeo pelo espaccedilo pode
tambeacutem constituir um importante problema em algumas zonas costeiras A aquicultura
poderaacute distanciar-se da costa o que exigiraacute novos trabalhos de investigaccedilatildeo e
desenvolvimento da tecnologia de cultura em jaulas offshore47
A Uniatildeo Europeia eacute uma das principais potecircncias de pesca ao niacutevel mundial e o
maior mercado de produtos transformados agrave base de peixe Embora o nuacutemero de
pescadores na Uniatildeo Europeia tenha vindo a baixar ao longo dos anos o sector das
43
COM (2006) 105 final 44
Conclusotildees da Presidecircncia do Conselho Europeu de 23 e 24 de Marccedilo de 2006 45
Contributo da International Association of Oil and Gas Producers (OGP) para o Livro Verde 46
O estado das pescas e da aquicultura no mundo FAO 2004 47
COM (2002) 511 final
26
pescas no seu conjunto emprega ainda cerca de 526000 pessoas48
Satildeo proporcionados
numerosos postos de trabalho natildeo soacute no sector da captura como na induacutestria da
transformaccedilatildeo acondicionamento transporte e comercializaccedilatildeo bem como nos
estaleiros faacutebricas de artes de pesca empresas de abastecimento e de manutenccedilatildeo Estas
actividades tecircm uma importacircncia consideraacutevel no tecido econoacutemico e social das zonas
pesqueiras A transiccedilatildeo gradual para pescarias mais sustentaacuteveis prevista pela Uniatildeo
Europeia e o aumento da procura de peixe enquanto alimento saudaacutevel conduzem a
uma maior estabilidade rentabilidade e inclusiveacute crescimento econoacutemico em certos
segmentos do sector das pescas49
Como verificamos as actividades mariacutetimas ainda que dispersas ou diacutevidas por
sectores satildeo efectivamente importantes para o desenvolvimento econoacutemico da Europa
No entanto sendo a Europa um continente proeminentemente mariacutetimo questiono-
me porque eacute que soacute a partir de 2006 surge uma intenccedilatildeo de abordar os assuntos
mariacutetimos como um todo e de forma integrada A resposta eacute complexa Talvez seja o
reflexo de uma Europa tradicionalmente sectaacuteria baseada nos interesses individuais dos
Estados-membros e com a dificuldade em falarem a uma soacute voz Apesar de tardia a
PMIE pode ser uma referecircncia para a Europa na forma como desenvolve e implementa
poliacuteticas axioloacutegicas e integradas contribuindo simultaneamente para uma Europa de
direitos e com valores50
dando assim a todos uma melhor perspectiva de futuro
48
Factos e nuacutemeros sobre a Poliacutetica Comum da Pesca (PCP) CE 2004 49
COM (2006) 275 final volume II 7-9 50
A dignidade humana a liberdade a democracia a igualdade o Estado de Direito o respeito pelos
direitos do Homem satildeo os valores fundamentais da UE consagrados no Preacircmbulo do Tratado de Lisboa
Satildeo comuns a todos os EM e qualquer paiacutes europeu que queira tornar-se membro da UE tem de os
respeitar Defender estes valores bem como a paz e o bem-estar dos povos da Uniatildeo satildeo agora os
objectivos principais da UE Estes objectivos gerais satildeo complementados por objectivos mais especiacuteficos
como a promoccedilatildeo da justiccedila e da protecccedilatildeo sociais e a luta contra a exclusatildeo social e as discriminaccedilotildees
27
23 Livro Verde ndash ldquouma visatildeo para os oceanos e os maresrdquo
ldquo(hellip) torna-se especialmente necessaacuterio termos uma poliacutetica mariacutetima abrangente
orientada para o desenvolvimento de uma economia mariacutetima florescente e para a
plena exploraccedilatildeo do potencial das actividades centradas no mar e de uma forma
sustentaacutevel para o ambiente Esta poliacutetica deve assentar na excelecircncia da investigaccedilatildeo
cientiacutefica da tecnologia e da inovaccedilatildeo mariacutetimardquo Cit nos objectivos estrateacutegicos da
Comissatildeo Europeia para 2005-2009
A Comissatildeo Europeia em Junho de 2006 apresentou um Livro Verde sobre os
diferentes aspectos de uma futura poliacutetica mariacutetima comunitaacuteria Esta obra realccedilou a
identidade e a supremacia mariacutetimas da Europa que devem ser preservadas num
periacuteodo em que as pressotildees sobre o ambiente comprometem a perenidade das
actividades mariacutetimas A poliacutetica mariacutetima deve consequentemente ter por objectivo a
formaccedilatildeo de um sector mariacutetimo inovador competitivo e respeitador do ambiente Para
aleacutem das actividades mariacutetimas a abordagem proposta integra tambeacutem a qualidade de
vida nas regiotildees costeiras O Livro Verde teve como objectivo lanccedilar um debate sobre
uma futura poliacutetica mariacutetima para a Uniatildeo Europeia caracterizado por uma abordagem
holiacutestica dos oceanos e dos mares
Ele tornou claro que num periacuteodo em que os recursos estatildeo ameaccedilados por
pressotildees fortes e pela crescente capacidade tecnoloacutegica de os explorar soacute uma atitude
de profundo respeito pelos oceanos e pelos mares nos permitiraacute continuar a desfrutar
dos benefiacutecios que eles nos oferecem A reduccedilatildeo acelerada da biodiversidade marinha
devido nomeadamente agrave poluiccedilatildeo ao impacto das alteraccedilotildees climaacuteticas e agrave sobrepesca
eacute desde jaacute um sinal de alarme inequiacutevoco que natildeo se pode ignorar
Assim o Livro Verde baseou-se nas poliacuteticas e iniciativas da UE existentes e
insere-se no contexto da Estrateacutegia de Lisboa procurando estabelecer o justo equiliacutebrio
entre as dimensotildees econoacutemica social e ambiental
Como tal contribuiu largamente para que os europeus adquirissem uma nova
consciecircncia da grandeza do seu patrimoacutenio mariacutetimo da importacircncia dos oceanos e do
potencial dos oceanos para melhorar o bem-estar e aumentar as oportunidades
econoacutemicas
28
A Comissatildeo Europeia postulou que a poliacutetica mariacutetima comunitaacuteria deve alicerccedilar-
se em dois pilares fundamentais
Em primeiro lugar deve estar ancorada na Estrateacutegia de Lisboa estimulando o
crescimento e a criaccedilatildeo de mais e melhores empregos O investimento permanente no
conhecimento e nas competecircncias eacute um factor essencial para manter a competitividade e
garantir empregos de qualidade
Em segundo lugar deve manter e melhorar o estado do recurso em que se baseiam
todas as actividades mariacutetimas ou seja o oceano propriamente dito
Embora a utilizaccedilatildeo destes pilares como base para a nova poliacutetica mariacutetima possa
parecer relativamente simples haacute que natildeo descurar duas caracteriacutesticas especiacuteficas do
meio marinho
A primeira consiste na natureza global dos oceanos que faz com que as relaccedilotildees
entre paiacuteses sejam ao mesmo tempo complementares e concorrenciais Para regular as
actividades mariacutetimas no interesse do desenvolvimento sustentaacutevel ao niacutevel mundial eacute
necessaacuterio elaborar regras aplicaacuteveis universalmente Contudo cada parcela de oceano e
de mar eacute singular e pode exigir as suas proacuteprias regras e uma gestatildeo mais especiacutefica
Esta aparente contradiccedilatildeo eacute ilustrativa do motivo pelo qual a natureza global dos
oceanos representa um tatildeo grande desafio para os decisores poliacuteticos
O outro desafio que se oferece a uma boa governaccedilatildeo mariacutetima directamente
ligado ao aspecto anterior prende-se com a multiplicidade dos intervenientes
Numerosas satildeo as poliacuteticas sectoriais que surgiram e que existem a todos os niacuteveis de
poder comunitaacuterio nacional regional e local Pode acontecer que intervenientes de
agecircncias e paiacuteses diferentes ou organizaccedilotildees internacionais estejam melhor colocados
para adoptar as propostas de acccedilatildeo Contudo para que as decisotildees sejam tomadas a um
niacutevel mais proacuteximo dos interessados cumprindo-se o princiacutepio da subsidiariedade soacute
devem ser desenvolvidas acccedilotildees ao niacutevel da Uniatildeo Europeia se tal conferir valor
acrescentado agraves actividades de outros51
51
COM (2006) 275 final volume II 5-6
29
24 Aacutereas-chave no Livro Verde
Do Livro Verde constam diversas aacutereas-chave que passamos a analisar
Meio marinho
O meio marinho enfrenta nomeadamente os seguintes problemas diminuiccedilatildeo
acelerada da biodiversidade (consequecircncias na realizaccedilatildeo do potencial da
ldquobiotecnologia azulrdquo) exploraccedilatildeo excessiva dos recursos (consequecircncias para a pesca)
alteraccedilotildees climaacuteticas (consequecircncias para a pesca e para o turismo costeiro) poluiccedilatildeo
com origem terrestre acidificaccedilatildeo da aacutegua do mar e a poluiccedilatildeo provocada pelas
descargas dos navios e os acidentes mariacutetimos (na falta de melhor seguranccedila mariacutetima)
Para diminuir o impacto destes fenoacutemenos no meio-ambiente marinho deveraacute reforccedilar-
se a legislaccedilatildeo no domiacutenio da seguranccedila mariacutetima introduzir-se a avaliaccedilatildeo de riscos na
elaboraccedilatildeo das poliacuteticas e aplicar novas tecnologias ao niacutevel do tratamento de aacuteguas de
lastro52
Investigaccedilatildeo
A investigaccedilatildeo eacute essencial para se poder definir estrateacutegicas e tomar decisotildees com
conhecimento de causa Todavia os EM podem ir mais longe coordenando os seus
programas de investigaccedilatildeo nacionais a fim de realizar uma investigaccedilatildeo pan-europeia e
racionalizando meios A cooperaccedilatildeo entre investigadores e criadores de novas
tecnologias assume tambeacutem especial importacircncia
Inovaccedilatildeo
A inovaccedilatildeo pode ajudar a encontrar soluccedilotildees em domiacutenios em franca mutaccedilatildeo
como eacute o caso das energias e das alteraccedilotildees climaacuteticas As soluccedilotildees encontradas podem
tambeacutem beneficiar paiacuteses terceiros quando estes optarem por um desenvolvimento
sustentaacutevel e assim poderatildeo constituir uma vantagem competitiva para estes A energia
52
Aacutegua de lastro eacute a aacutegua do mar captada pelo navio para garantir a seguranccedila operacional e estabilidade
do mesmo Em geral os tanques satildeo preenchidos com maior ou menor quantidade de aacutegua para aumentar
ou diminuir o calado dos navios durante as operaccedilotildees portuaacuterias A aacutegua de lastro eacute um risco pelo facto de
transportar espeacutecies exoacuteticas dentro dos tanques dos navios Os seres vivos introduzidos pela aacutegua de
lastro podem variar entre organismos milimeacutetricos ateacute peixes com 30 centiacutemetros Satildeo inuacutemeros os
registos de ldquobioinvasatildeordquo por meio da aacutegua de lastro no mundo inteiro
30
eoacutelica as turbinas movidas pelas correntes de mareacute e os recursos de gaacutes e de petroacuteleo
dos grandes fundos marinhos podem representar novas fontes de energia
Matildeo-de-obra ldquosaber-fazerrdquo
As actividades mariacutetimas precisam de atrair pessoas altamente qualificadas No
entanto embora no seu conjunto o emprego no sector mariacutetimo europeu seja estaacutevel53
o nuacutemero de mariacutetimos europeus estaacute a diminuir Ou seja apesar de diminuir o nuacutemero
de trabalhadores no sector das pescas o sector foi compensado por pujantes serviccedilos
mariacutetimos tais como turismo e transporte mariacutetimo
O recrutamento em nuacutemero suficiente de mariacutetimos e outros profissionais bem
formados e competentes eacute essencial para garantir a sobrevivecircncia do sector mariacutetimo
assim como para manter a vantagem concorrencial da Europa
O ensino e a formaccedilatildeo no domiacutenio mariacutetimo devem ter por objectivo conferir aos
potenciais candidatos as mais elevadas competecircncias que possam abrir muacuteltiplas
perspectivas profissionais
A excelecircncia dos candidatos a emprego soacute seraacute garantida se se conseguir atrair para
o ensino e formaccedilatildeo no domiacutenio mariacutetimo os jovens mais capazes Eacute nesse quadro que
importa lutar contra a imagem do sector Eacute essencial oferecer aos mariacutetimos homens e
mulheres condiccedilotildees de vida e de trabalho adequadas ao niacutevel das expectativas a que os
europeus se habituaram com toda a legitimidade
Formaccedilatildeo de clusters54
O desenvolvimento de uma percepccedilatildeo comum das articulaccedilotildees possiacuteveis entre os
diferentes sectores mariacutetimos permitiraacute melhorar a imagem e aumentar a atractividade e
produtividade destes Estes agrupamentos de empresas e de profissionais que abrangem
todos os sectores de actividade podem assumir diversas formas Assim no domiacutenio
mariacutetimo eacute preciso distinguir os clusters nacionais ndash que servem frequentemente de
53
Ver o documento ldquoEmployment social and training aspects of maritime and fishing industries and
related sectorsrdquo httpeceuropaeumaritimeaffairspdfSEC(2006)_68920_2pdf 54
Remetendo em inglecircs para a noccedilatildeo de conjunto o termo ldquoclusterrdquo designa um agrupamento de
empresas do mesmo sector presentes na maior parte das vezes numa mesma bacia de emprego Mais
precisamente segundo Michael E Porter da Universidade de Harvard um cluster eacute ldquouma concentraccedilatildeo
de empresas ligadas entre si de fornecedores especializados de prestadores de serviccedilos e de instituiccedilotildees
associadas (universidades associaccedilotildees comerciais etc)rdquo
31
transmissores de opiniatildeo para certos ramos ou profissotildees mariacutetimas ndash dos clusters
regionais Estes uacuteltimos consagram-se ao desenvolvimento da economia mariacutetima
atraveacutes da inovaccedilatildeo e da aproximaccedilatildeo entre investigaccedilatildeo formaccedilatildeo e a induacutestria55
Os clusters podem contribuir para estimular a competitividade de todo um sector ou
grupo de sectores Eacute o que acontece se se partilhar conhecimentos realizar projectos
comuns de investigaccedilatildeo e inovaccedilatildeo (desenvolvimento de produtos) unir esforccedilos no
ensino e na formaccedilatildeo partilhar meacutetodos de organizaccedilatildeo inovadores dentro de um grupo
de empresas (aquisiccedilatildeo e distribuiccedilatildeo em comum) ou estrateacutegias de promoccedilatildeo comuns
nomeadamente em mateacuteria de marketing e publicidade
A exploraccedilatildeo do potencial oferecido pela formaccedilatildeo de clusters eacute pertinente em
sectores com cadeias de abastecimento complexas que envolvem produccedilatildeo e serviccedilos e
tambeacutem com um grande nuacutemero de pequenas e meacutedias empresas Eacute esse o caso da
construccedilatildeo naval Na construccedilatildeo naval moderna mais de 70 do ldquonavio acabadordquo
resulta do trabalho de uma vasta rede de fornecedores de sistemas equipamentos e
serviccedilos56
Eacute possiacutevel disseminar as boas praacuteticas ligando estes sectores entre si e
transformando-os em redes de excelecircncia mariacutetima que abranjam todos os sectores
mariacutetimos incluindo o dos serviccedilos
Qualidade de vida nas regiotildees costeiras
O litoral europeu foi em tempos povoado por comunidades que viviam da pesca
Com o desenvolvimento do transporte mariacutetimo local e internacional foram-se
construindo portos e emergiram novas actividades nas periferias A procura de uma vida
agrave beira-mar apenas pelo prazer que daiacute decorre eacute um fenoacutemeno relativamente recente
A Conferecircncia das Regiotildees Perifeacutericas Mariacutetimas da Europa (CRPM) sublinha que
a atractividade natural (paisagem horas de insolaccedilatildeo e benefiacutecios para a sauacutede) daacute
igualmente origem a um forte crescimento demograacutefico que natildeo apresenta sinais de
abrandamento57
Por exemplo Portugal com 75 da populaccedilatildeo a viver no litoral
enfrenta neste domiacutenio indubitavelmente grandes desafios e novas exigecircncias
55
BERNARD-BRUNET Patrick 2007 23 56
Contributo da Associaccedilatildeo dos Estaleiros Europeus de Construccedilatildeo e Reparaccedilatildeo Naval (CESA) para o
Livro Verde 57
Contributo da CRPM para o Livro Verde
32
A concentraccedilatildeo demograacutefica nas regiotildees costeiras acarreta pressotildees sobre o espaccedilo
e o ambiente Exige uma maior acessibilidade em especial das pequenas ilhas e uma
maior mobilidade no seu interior que passa pela melhoria das infra-estruturas de
transporte Obriga agrave oferta de serviccedilos de interesse geral (sauacutede educaccedilatildeo
abastecimento de aacutegua e energia telecomunicaccedilotildees serviccedilos postais tratamento das
aacuteguas residuais e dos resiacuteduos) a fim de promover a qualidade de vida nas zonas
costeiras especialmente durante as estaccedilotildees altas do turismo Nas regiotildees rurais e
remotas as tecnologias da informaccedilatildeo e da comunicaccedilatildeo tecircm um papel a desempenhar
no fornecimento de serviccedilos em linha sauacutede ensino acesso puacuteblico agrave Internet
actividade econoacutemica ajuda agraves empresas e teletrabalho58
Ao planear o
desenvolvimento do litoral haacute que ter em conta o seu impacto ambiental a fim de obter
um resultado sustentaacutevel
As zonas costeiras e as ilhas satildeo elementos essenciais da atractividade e do ecircxito do
turismo costeiro Para que a Europa permaneccedila o primeiro destino turiacutestico ao niacutevel
mundial tem que apoiar um turismo sustentaacutevel nessas regiotildees O turismo sustentaacutevel
pode contribuir para o desenvolvimento das zonas costeiras e das ilhas melhorando a
competitividade das empresas satisfazendo as necessidades sociais promovendo o
patrimoacutenio natural e cultural e valorizando os ecossistemas locais Para um nuacutemero
crescente de destinos turiacutesticos a necessidade de melhorar ou manter a sua atractividade
constitui um incentivo para adoptar praacuteticas e estrateacutegias mais sustentaacuteveis e mais
compatiacuteveis com o ambiente
Muitos desses destinos jaacute realizam esforccedilos para efectuar uma gestatildeo integrada da
qualidade definindo estrateacutegias com os seus parceiros aplicando boas praacuteticas e
desenvolvendo instrumentos de acompanhamento e avaliaccedilatildeo para ajustar a sua acccedilatildeo
A sua experiecircncia poderaacute ser utilizada para formular recomendaccedilotildees destinadas a todos
os destinos turiacutesticos costeiros
A diversificaccedilatildeo dos produtos e serviccedilos turiacutesticos pode contribuir para a
competitividade dos destinos costeiros e insulares especialmente quando aos turistas eacute
oferecida a oportunidade de desfrutarem de locais de interesse cultural e natural
situados no litoral ou no hinterland rural ou urbano bem como de uma variedade de
58
Iniciativa do Comiteacute das Regiotildees (CdR) de 12102005 ndash Poliacutetica Mariacutetima da Uniatildeo Europeia ldquouma
questatildeo de desenvolvimento sustentaacutevel para as autoridades locais e regionaisrdquo
33
atracccedilotildees ligadas ao mar (observaccedilatildeo dos mamiacuteferos marinhos mergulho e arqueologia
subaquaacutetica actividades naacuteuticas e talassoterapia) Esta diversificaccedilatildeo apresenta
inuacutemeras vantagens designadamente uma menor pressatildeo nas praias fontes alternativas
de rendimento para antigos pescadores nas comunidades costeiras e criaccedilatildeo de novas
actividades destinadas a apoiar a preservaccedilatildeo e o desenvolvimento do patrimoacutenio local
No caso de Portugal para aleacutem de possuir uma oferta turiacutestica diversificada deve
tirar partido da sua localizaccedilatildeo geograacutefica como paiacutes costeiro por excelecircncia da forte
tradiccedilatildeo mariacutetima e de clima ameno que o caracteriza (lidera a lista de paiacuteses europeus
em dias sol por ano)
Estas mais-valias intriacutensecas permitem o prolongamento da estaccedilatildeo turiacutestica
gerando assim mais crescimento econoacutemico e aumento do nuacutemero de empregos a
tempo inteiro Desta forma diluindo os picos de concentraccedilatildeo turiacutestica reduz o impacto
ambiental das actividades turiacutesticas e contribui para melhorar a qualidade de vida no
litoral portuguecircs
Novas formas de governaccedilatildeo mariacutetima
Qualquer forma de governaccedilatildeo dos oceanos deve ter em conta os princiacutepios
estabelecidos nos Tratados relativamente aos domiacutenios poliacuteticos e agrave distribuiccedilatildeo de
competecircncias entre instituiccedilotildees da Uniatildeo Europeia Estados-Membros regiotildees e
autoridades locais Nesta base e em conformidade com o princiacutepio da subsidiariedade59
eacute necessaacuterio atender agraves especificidades sectoriais e regionais
Uma poliacutetica mariacutetima inclusiva da Uniatildeo Europeia deveraacute visar o crescimento e a
criaccedilatildeo de mais e melhores postos de trabalho contribuindo assim para uma economia
mariacutetima forte e em expansatildeo competitiva e sustentaacutevel e em harmonia com o meio
marinho Deve procurar prevenir e minimizar os conflitos em torno da utilizaccedilatildeo do
espaccedilo mariacutetimo e prever mecanismos claros e consensuais para a sua resoluccedilatildeo Deve
proporcionar uma maior previsibilidade para o sector e outros interessados e uma
abordagem mais eficaz em mateacuteria de conservaccedilatildeo dos recursos marinhos Neste
59
O princiacutepio da subsidiariedade prossegue dois objectivos opostos Por um lado permite que a
comunidade intervenha quando as medidas individualmente adoptadas pelos Estados-Membros natildeo
possibilitem uma soluccedilatildeo cabal Por outro lado visa manter a competecircncia dos Estados-Membros nos
domiacutenios que natildeo podem ser melhor regidos por uma intervenccedilatildeo comunitaacuteria A inclusatildeo deste princiacutepio
nos Tratados europeus deveraacute permitir que as decisotildees comunitaacuterias sejam adoptadas a um niacutevel tatildeo
proacuteximo quanto possiacutevel dos cidadatildeos - httpwwweuroparleuropaeufactsheets1_2_2_pthtm
34
contexto o diaacutelogo social europeu nos sectores mariacutetimos reveste-se de uma
importacircncia cada vez maior
Para se alcanccedilarem estes objectivos eacute necessaacuterio coordenar e integrar as poliacuteticas
sectoriais Confirmam-no os compromissos assumidos no quadro da cimeira mundial
sobre o desenvolvimento sustentaacutevel de 200260
e as disposiccedilotildees da Convenccedilatildeo das
Naccedilotildees Unidas sobre o Direito do Mar61
Aleacutem disso os progressos da ciecircncia e da tecnologia facultam agora uma melhor
compreensatildeo das interacccedilotildees e relaccedilotildees no que se refere aos oceanos e suas utilizaccedilotildees
O modelo de governaccedilatildeo da PMIE por sectores ou regiotildees geograacuteficas deve pois
ser substituiacutedo por uma abordagem transversal O modelo de governaccedilatildeo integrado
promove a partilha de conhecimentos e de boas praacuteticas bem como o diaacutelogo entre as
partes interessadas O impacto desta forma de governo permite elaborar medidas e
directivas agrave escala europeia respeitando as especificidades locais regionais e nacionais
Acho importante referir ainda que este modelo pode desencadear economias de escala
dando como exemplo de partilha o sistema de vigilacircncia mariacutetima da Agecircncia Europeia
da Seguranccedila Mariacutetima62
(EMSA) com sede em Lisboa
Novos instrumentos da gestatildeo das relaccedilotildees com os oceanos
ldquoOcirc mer nul ne connaicirct tes richesses intimesrdquo - Les fleurs du mal 63
Para uma melhor compreensatildeo das utilizaccedilotildees concorrentes do oceano haveraacute que
aperfeiccediloar os dados e as informaccedilotildees relativos agraves actividades mariacutetimas sejam elas
sociais econoacutemicas ou recreativas bem como sobre o impacto dessas actividades nos
recursos Tambeacutem para os operadores econoacutemicos mariacutetimos eacute importante haver dados
de qualidade Contudo subsistem grandes problemas no que se refere agrave harmonizaccedilatildeo e
agrave fiabilidade dos dados bem como agrave monitorizaccedilatildeo das regiotildees marinhas da Uniatildeo
Europeia que continuam a ser insuficientes e desajustados do ponto de vista geograacutefico
60
ONU Department of Economic and Social Affairs ndash Division for Sustainable Development
httpwwwunorgesasustdevdocumentsWSSD_POI_PDEnglishPOITochtm 61
Contributo da EuDA para o Livro Verde 62
A EMSA criada em 2002 na sequecircncia da cataacutestrofe do Erika e tem como objectivos reduzir o risco de
acidentes mariacutetimos diminuir a poluiccedilatildeo provocada pelos navios e salvaguardar as vidas humanas no
mar 63
ldquoOacute mar ningueacutem conhece as tuas riquezas escondidasrdquo ndash As Flores do Mal de Charles Baudelaire
(1821-1867) poeta francecircs e um dos fundadores do simbolismo O seu livro As Flores do Mal eacute
considerado um marco da poesia moderna
35
Para conceber uma poliacutetica mariacutetima comunitaacuteria racional e sustentaacutevel haveraacute que
obviar a estas lacunas
A Uniatildeo Europeia pode examinar a possibilidade de criar uma rede europeia de
observaccedilatildeo e de dados do meio marinho Esta possibilita garantir a longo prazo a
melhoria da observaccedilatildeo sistemaacutetica (in situ e a partir do espaccedilo) a interoperabilidade e
o reforccedilo do acesso aos dados com base em soluccedilotildees tecnologias da informaccedilatildeo e da
comunicaccedilatildeo (TIC) robustas abertas e geneacutericas Essa rede possibilita uma anaacutelise
integrada ao niacutevel da Uniatildeo Europeia de diferentes tipos de dados e metadados
provenientes de vaacuterias fontes O objectivo eacute fornecer agraves autoridades puacuteblicas aos
serviccedilos mariacutetimos e induacutestrias conexas bem como aos investigadores uma fonte de
dados primaacuterios para utilizaccedilatildeo na elaboraccedilatildeo de previsotildees e nas actividades de
monitorizaccedilatildeo integrando assim iniciativas existentes mas fragmentadas
O melhoramento e a difusatildeo dos dados relativos ao meio marinho permite tambeacutem
criar novas oportunidades para as empresas comerciais de alta tecnologia do sector
mariacutetimo e melhorar a eficiecircncia de actividades como a vigilacircncia mariacutetima a gestatildeo
dos recursos marinhos e a investigaccedilatildeo marinha nos laboratoacuterios europeus Aleacutem disso
contribui significativamente para reduzir as actuais incertezas relativamente ao sistema
oceacircnico e agraves alteraccedilotildees climaacuteticas tornando mais precisas as previsotildees meteoroloacutegicas
sazonais64
Proteger o legado mariacutetimo e sensibilizar o puacuteblico
Os cidadatildeos europeus cresceram com as histoacuterias dos grandes exploradores que
nos fizeram compreender que a Terra eacute redonda e nos ensinaram a situar exactamente os
continentes Muitos deles gozam as suas feacuterias na costa no meio da azaacutefama dos portos
de pesca saboreando marisco nos restaurantes e passeando agrave beira-mar a fugir agrave
rebentaccedilatildeo Alguns passam horas a observar as coloacutenias de aves marinhas ou as baleias
ou a esperar que o peixe morda o isco Outros passam os tempos livres a restaurar ou a
navegar em velhos barcos de madeira Haacute ainda outros que gostam de ver
documentaacuterios sobre os golfinhos ou os pinguins na televisatildeo ou no cinema Alguns
trabalharatildeo nos solos mariacutetimos outros seratildeo pescadores ou capitatildees de porto e outros
por sua vez trabalharatildeo no posto de turismo de uma cidade costeira
64
COM (2006) 275 final volume II 34-35
36
Quantos todavia compreenderatildeo que estas actividades estatildeo interligadas Quantos
teratildeo consciecircncia de serem cidadatildeos de uma Europa mariacutetima Bem poucos a avaliar
pelo debate realizado a propoacutesito do Livro Verde
Que assim seja natildeo eacute de surpreender Os aquaacuterios podem dar uma ideia da beleza e
das maravilhas da vida sob as ondas mas poucos conseguem mostrar de forma
convincente quatildeo fraacutegeis satildeo os oceanos que actividades os ameaccedilam e que esforccedilos
estatildeo a ser feitos para os preservar Os museus do mar podem ajudar-nos a compreender
as proezas do passado mas dificilmente nos conseguiratildeo transmitir uma noccedilatildeo clara da
avanccedilada tecnologia que eacute apanaacutegio das actividades mariacutetimas do presente As
organizaccedilotildees que se dedicam a manter vivas as tradiccedilotildees do passado nem sempre se
associam agrave realidade comercial do presente sem falar do deslumbrante potencial futuro
que os oceanos encerram A Comissatildeo Europeia crecirc que haacute muito a ganhar com o forjar
de um sentimento de identidade comum entre todos aqueles que vivem das actividades
mariacutetimas ou cuja qualidade de vida estaacute fortemente ligada ao mar Ganhar-se-aacute assim
uma melhor compreensatildeo das interacccedilotildees em jogo e da importacircncia do mar para a
Humanidade65
Acredito que as actividades naacuteuticas podem neste domiacutenio desempenhar um
papel fundamental A Naacuteutica pelo vasto puacuteblico que abrange ao longo de todo o ano
estabelece respeito muacutetuo entre por um lado os recursos naturais (mar aacutegua e litoral) e
por outro as populaccedilotildees residentes ou turiacutesticas As actividades naacuteuticas satildeo fortemente
orientadas desde haacute muito para a descoberta protecccedilatildeo e promoccedilatildeo do patrimoacutenio e
ambiente e ainda para a descoberta e promoccedilatildeo das actividades e profissotildees mariacutetimas
Os centros naacuteuticos e as marinas podem ser a grande vitrine do oceano aberta a todos
atraveacutes de actividades educativas desportivas e de lazer
Vejamos o exemplo dos Jogos Naacuteuticos Atlacircnticos criados na Bretanha em 1995
sob o lema o ldquoOceano nos unerdquo Os Jogos Naacuteuticos Atlacircnticos66
satildeo um evento
desportivo de alto niacutevel competitivo que se realiza anual e rotativamente pelas
diferentes regiotildees do Atlacircntico promovendo a fileira naacuteutica popularizando os
desportos naacuteuticos e incentivando intercacircmbios de experiecircncias Participam neste
quadro festivo e de amizade cerca de 500 atletas de cinco modalidades naacuteuticas
(Canoagem Remo Subaquaacuteticas Surf e Vela) sempre acompanhados de grupos
65
COM (2006) 275 final volume II 51 66
Jogos Naacuteuticos Atlacircnticos ( wwwjnieaeu)
37
culturais e musicais representativos das regiotildees participantes contribuindo desta forma
para uma Europa mariacutetima mais unida e coesa
Haacute vaacuterios anos a esta parte tecircm sido realizados eventos como por exemplo as
Initiatives Oceacutean ldquoIl nacutey a pas de petit pollutionrdquo da responsabilidade da Surfrider
Foundation Europe67
Este movimento europeu sensibiliza e mobiliza o grande puacuteblico
para as questotildees e problemaacuteticas ambientais e mariacutetimas
Por uacuteltimo realccedilo tambeacutem o projecto europeu NEA 268
ldquoNautisme Espace
Atlantique 2rdquo que visa o desenvolvimento sustentaacutevel e coordenado do conjunto da
fileira naacuteutica nas regiotildees da faixa atlacircntica (actividades portos de recreio induacutestria
comeacutercio e serviccedilos) atraveacutes de um reforccedilo de cooperaccedilatildeo baseado em trecircs eixos
temaacuteticos o desenvolvimento econoacutemico a protecccedilatildeo do ambiente a coesatildeo social Em
cada uma destas temaacuteticas o projecto prevecirc a realizaccedilatildeo de acccedilotildees comuns
transnacionais associando diversos parceiros e de acccedilotildees locais implementadas por
cada parceiro no seu territoacuterio Impulsionado por 23 parceiros europeus durante um
periacuteodo de 3 anos (Janeiro 2009 a Dezembro de 2011) o NEA2 foi aprovado pelo
Programa de Cooperaccedilatildeo Transnacional Espaccedilo Atlacircntico (POCTEA) e beneficia como
tal de uma subvenccedilatildeo do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER) Este
projecto persegue o sucesso alcanccedilado pelo seu antecessor Nautisme Espace Atlantique
(Novembro de 2004 a Outubro de 2007) do Programa INTERREG III B que reuniu 11
parceiros com o objectivo comum ldquodesenvolvimento coordenado do turismo naacuteuticordquo
O sector naacuteutico e os seus intervenientes satildeo parceiros eficazes para a mobilizaccedilatildeo
da populaccedilatildeo e consequente aproximaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do mar
67
Surfrider Foundation Europe (wwwsurfridereu) ONG dedicada a proteger os oceanos as ondas e o
litoral 68
Nautisme Espace Atlantique 2 ( wwwnea2eu)
38
25 Participaccedilatildeo dos europeus no processo de construccedilatildeo da PMIE
O debate poliacutetico acerca da elaboraccedilatildeo de uma poliacutetica mariacutetima da Uniatildeo
Europeia constitui a melhor oportunidade nos uacuteltimos anos para que o significado
mundial e local dos oceanos e os resultados da investigaccedilatildeo e inovaccedilatildeo marinhas sejam
devidamente apreciados pela sociedade declarou Peter Heffernan director executivo
do Irish Marine Institute em Galway na Irlanda
A consulta sobre a poliacutetica mariacutetima da Uniatildeo Europeia iniciou-se apoacutes o
lanccedilamento do Livro Verde a 7 de Junho de 2006 e teve uma duraccedilatildeo de treze meses
Foi o maior periacuteodo de consulta alguma vez efectuada na Uniatildeo Europeia
O processo de consulta teve um eco sem precedentes evidenciado pela elevada taxa
de participaccedilatildeo e pela qualidade das contribuiccedilotildees Para aleacutem dos contributos de todas
as instituiccedilotildees europeias tambeacutem vaacuterios parlamentos nacionais e alguns regionais
apresentaram directamente agrave Comissatildeo Europeia as suas observaccedilotildees sobre o Livro
Verde69
As contribuiccedilotildees preconizaram consulta e diaacutelogo mas tambeacutem uma melhor
informaccedilatildeo de todos os afectados pela poliacutetica mariacutetima
Os intervenientes econoacutemicos congratularam-se com o princiacutepio de uma abordagem
integrada de modo a induzir maior transparecircncia e eficiecircncia na elaboraccedilatildeo de poliacuteticas
e regulamentaccedilatildeo apropriada no acircmbito da Uniatildeo Europeia Defenderam a necessidade
da elaboraccedilatildeo de uma poliacutetica mariacutetima integrada com vista a promover a economia
mariacutetima florescente Torna-se premente desenvolver relaccedilotildees fortes entre os sectores e
respectivas actividades conexas e apelaram agrave formaccedilatildeo de clusters (incluindo agrave escala
comunitaacuteria)
As regiotildees defenderam entusiasticamente uma abordagem integrada Sublinharam o
papel das regiotildees costeiras enquanto centros da economia mariacutetima Estas esperam tirar
proveito por um lado da ligaccedilatildeo estabelecida entre a acccedilatildeo ao niacutevel comunitaacuterio e as
actividades no terreno nas regiotildees costeiras e por outro lado do reforccedilo do
envolvimento dos governos dos Estados-Membros
69
COM (2007) 574 final 2
39
Os Estados-Membros satildeo favoraacuteveis ao princiacutepio da gestatildeo integrada dos assuntos
mariacutetimos e encaram a proposta de uma poliacutetica mariacutetima integrada como meio
privilegiado para assegurar um desenvolvimento estaacutevel e sustentaacutevel das respectivas
economias mariacutetimas e regiotildees costeiras Desejam manter os mecanismos que
funcionam bem pois servem de catalisadores de boas praacuteticas
Os cidadatildeos individuais e a sociedade civil reagiram de forma ambivalente Haacute
mesmo quem tema que a Uniatildeo Europeia possa interferir nas competecircncias nacionais ou
locais mas em geral as reacccedilotildees mostraram que o puacuteblico estaacute preocupado com o
ecossistema marinho estando contudo ceacutepticos relativamente agraves medidas que os
governos possam vir a tomar para o proteger As organizaccedilotildees natildeo governamentais
(ONG) ambientais apelaram a uma acccedilatildeo comunitaacuteria no domiacutenio do ordenamento do
espaccedilo mariacutetimo e costeiro a fim de assegurar a execuccedilatildeo de uma gestatildeo baseada nos
ecossistemas
O lanccedilamento de uma consulta sobre a poliacutetica mariacutetima despertou igualmente o
interesse daqueles que desejam informar e dar a conhecer elementos sobre os nossos
mares e oceanos O conhecimento por parte dos cidadatildeos europeus das nossas costas e
do que estaacute para aleacutem delas eacute considerado como um sustentaacuteculo tanto das economias
mariacutetimas cujo ecircxito depende da sua atractividade como do nosso ambiente marinho
cuja preservaccedilatildeo depende da sensibilizaccedilatildeo dos cidadatildeos
Contudo todos estatildeo de acordo quanto agrave necessidade de melhorar a imagem global
dos sectores mariacutetimos Satildeo inuacutemeras as sugestotildees relacionadas com as permutas de
boas praacuteticas conferecircncias participaccedilatildeo de peritos em assuntos mariacutetimos como os
pescadores ou projectos de pequena escala destinados a informar as comunidades locais
ou turistas
Em suma o processo de consulta deu azo ao aparecimento de um manancial de
ideias e estimulou o desejo de participar num projecto comum a longo prazo baseado
na aprendizagem e no desenvolvimento interactivo permanente Este processo natildeo soacute
veio introduzir uma nova abordagem integrada da gestatildeo dos assuntos mariacutetimos como
abriu alas a uma nova forma de fazer poliacutetica na Europa70
No total foram recebidas mais de 490 contribuiccedilotildees e organizados mais de 230
eventos em que se debateu a poliacutetica mariacutetima com os vaacuterios interessados
70
COM (2007) 574 final 9-10
40
Cap III ndash O Livro Azul plano de acccedilatildeo e instrumentos financeiros
31 Condiccedilotildees poliacuteticas do processo de decisatildeo
Presidido pela Alemanha o Conselho Europeu de Junho de 2007 congratulou-se
com o vasto debate que teve lugar na Europa acerca da futura poliacutetica mariacutetima Os
Chefes de Estado e de Governo convidaram a Comissatildeo Europeia a elaborar um plano
de acccedilatildeo europeu a apresentar em Outubro desse mesmo ano Atendendo ao princiacutepio da
subsidiariedade este plano de acccedilatildeo teve por fim explorar de uma forma
ambientalmente sustentaacutevel o pleno potencial das actividades econoacutemicas orientadas
para o mar
A Comissatildeo em resposta ao Conselho Europeu adoptou no dia 10 de Outubro de
2007 uma Comunicaccedilatildeo conhecida como o Livro Azul da Poliacutetica Mariacutetima Europeia
em que define a sua visatildeo de uma poliacutetica mariacutetima integrada para a UE juntamente
com um plano de acccedilatildeo pormenorizado que estabeleceu um ambicioso programa de
trabalho para os proacuteximos anos As descobertas cientiacuteficas a raacutepida evoluccedilatildeo
tecnoloacutegica a globalizaccedilatildeo as alteraccedilotildees climaacuteticas e a poluiccedilatildeo marinha estatildeo a alterar
rapidamente o relacionamento da Europa com os mares e oceanos com todas as
oportunidades e desafios impliacutecitos desse processo
De salientar que a Presidecircncia Portuguesa do Conselho da Uniatildeo Europeia no
segundo semestre de 2007 reconheceu de forma clara a necessidade de uma abordagem
integrada para os assuntos mariacutetimos A Presidecircncia Portuguesa levou a cabo diversos
eventos com destaque para uma Conferecircncia Ministerial sobre Poliacutetica Mariacutetima para a
Uniatildeo Europeia que teve lugar em Lisboa no dia 22 de Outubro permitindo a
divulgaccedilatildeo dos resultados da consulta puacuteblica do Livro Verde e a indicaccedilatildeo dos sectores
prioritaacuterios a seguir
Esta Conferecircncia foi altamente significativa pois juntou agrave volta da mesma mesa
pela primeira vez os decisores poliacuteticos responsaacuteveis nacionais pela coordenaccedilatildeo dos
assuntos do mar independentemente da foacutermula governativa adoptada em cada paiacutes
europeu A estes juntaram-se ainda os paiacuteses da Associaccedilatildeo Europeia de Livre
41
Comeacutercio (EFTA) do Espaccedilo Econoacutemico Europeu e as principais instituiccedilotildees europeias
envolvidas
Por sua vez o Parlamento Europeu no dia 20 de Maio de 2008 deu ldquoluz verderdquo agrave
proposta da Comissatildeo Europeia para a criaccedilatildeo de uma Poliacutetica Mariacutetima Europeia
aprovada com 587 votos a favor 20 contra e 58 abstenccedilotildees A aprovaccedilatildeo pelo PE de
uma poliacutetica mariacutetima europeia teve lugar no dia em que se celebrou pela primeira vez
o Dia Europeu do Mar data que coincidiu ainda com a chegada de Vasco da Gama agrave
Iacutendia em 1498
A Comissatildeo Europeia propocircs uma poliacutetica mariacutetima integrada para a Uniatildeo
Europeia baseada no reconhecimento inequiacutevoco de que todas as questotildees relativas aos
oceanos e mares estatildeo interligadas e que para podermos colher os resultados desejados
todas as poliacuteticas ligadas ao mar devem ser elaboradas de uma forma articulada
O plano de acccedilatildeo baseou-se na consulta puacuteblica e resultou dos trabalhos de um alto
grupo de pilotagem com a participaccedilatildeo de 10 Comissaacuterios presidido por Joe Borg (Ex-
Comissaacuterio Europeu para os Assuntos Mariacutetimos e da Pesca) e supervisionado pelo
Presidente da Comissatildeo Europeia Duratildeo Barroso
Uma poliacutetica mariacutetima integrada exige um quadro de governaccedilatildeo que aplique a
abordagem integrada a todos os niacuteveis bem como instrumentos poliacuteticos horizontais e
transectoriais Exige igualmente uma soacutelida base financeira que tenha em conta os
resultados das acccedilotildees preparatoacuterias
A Comissatildeo Europeia criou uma funccedilatildeo de ldquopoliacutetica mariacutetimardquo cuja tarefa eacute
analisar os assuntos mariacutetimos e as poliacuteticas que os afectam assegurar a coordenaccedilatildeo
entre as poliacuteticas sectoriais garantir que as interacccedilotildees entre elas sejam tidas em conta e
pilotar o desenvolvimento de instrumentos poliacuteticos transectoriais
Por outro lado a Comissatildeo comeccedilou a reunir as agecircncias da Uniatildeo Europeia que
desempenham funccedilotildees ligadas agraves actividades mariacutetimas para que contribuam
conjuntamente para a elaboraccedilatildeo da poliacutetica mariacutetima
42
Um quadro de governaccedilatildeo integrado para os assuntos mariacutetimos exige por sua vez
instrumentos horizontais de planificaccedilatildeo que sejam comuns agraves poliacuteticas sectoriais
ligadas ao mar e apoiem a elaboraccedilatildeo conjunta de poliacuteticas Assim os trecircs instrumentos
que se seguem satildeo especialmente importantes
Uma rede europeia de vigilacircncia mariacutetima
A vigilacircncia mariacutetima reveste-se da maior importacircncia para garantir a utilizaccedilatildeo
segura do mar e para a protecccedilatildeo das fronteiras mariacutetimas da Europa O melhoramento e
optimizaccedilatildeo das actividades de vigilacircncia mariacutetima bem como a sua interoperabilidade
ao niacutevel europeu satildeo importantes para que a Europa possa fazer face aos desafios e
ameaccedilas ligados agrave seguranccedila da navegaccedilatildeo agrave poluiccedilatildeo marinha ao cumprimento da lei
e agrave seguranccedila em geral71
Ordenamento do espaccedilo mariacutetimo (OEM) e gestatildeo integrada das zonas costeiras
(GIZC)
Os quadros de ordenamento existentes incidem essencialmente na vertente terrestre
e raramente abordam a forma como o desenvolvimento costeiro pode afectar o mar e
vice-versa Temos de fazer face aos problemas resultantes das crescentes utilizaccedilotildees
concorrentes do mar que vatildeo do transporte mariacutetimo agrave produccedilatildeo de energia offshore e
outras formas de exploraccedilatildeo do leito marinho passando pela pesca e aquicultura e pelas
actividades de lazer72
Dados e informaccedilotildees
A disponibilidade e a facilidade de acesso a um vasto leque de dados relativos aos
factores naturais e agrave actividade humana nos oceanos constituem a base para a tomada de
decisotildees estrateacutegicas no domiacutenio da poliacutetica mariacutetima Dada a vasta quantidade de
dados coligidos e armazenados em toda a Europa para fins muito diversos eacute de extrema
importacircncia estabelecer uma infra-estrutura adequada para recolher os dados e
informaccedilotildees sobre o ambiente marinho73
71
COM (2007) 575 final 5 72
COM (2007) 575 final 6 73
COM (2007) 575 final 6
43
32 Livro Azul e o plano de acccedilatildeo
As acccedilotildees propostas no Livro Azul ajudam a Uniatildeo Europeia a avanccedilar na
prossecuccedilatildeo dos objectivos fulcrais da poliacutetica mariacutetima integrada incidindo
principalmente em cinco domiacutenios de acccedilatildeo estrateacutegica a saber
1)Maximizaccedilatildeo da utilizaccedilatildeo sustentaacutevel dos oceanos e mares
O principal objectivo de uma poliacutetica mariacutetima integrada da Uniatildeo Europeia eacute criar
as melhores condiccedilotildees para a utilizaccedilatildeo sustentaacutevel dos oceanos e mares permitindo o
desenvolvimento dos sectores mariacutetimos e das regiotildees costeiras
Em muitos Estados-Membros o desenvolvimento recente da economia mariacutetima foi
superior ao da economia no seu conjunto sobretudo em regiotildees activas no domiacutenio da
logiacutestica mariacutetima O transporte mariacutetimo de contentores aumentou consideravelmente a
partir de 2000 esperando-se que triplique ateacute 2020 Por outro lado regiotildees activas
noutros mercados de forte crescimento como o equipamento mariacutetimo a energia eoacutelica
offshore a naacuteutica de recreio ou o sector dos cruzeiros continuaratildeo a colher benefiacutecios
deste crescimento Graccedilas agrave forte especializaccedilatildeo da Europa no campo das tecnologias
marinhas as induacutestrias europeias tecircm tambeacutem um grande potencial para desenvolver
produtos mariacutetimos de ponta susceptiacuteveis de assumir uma posiccedilatildeo lideranccedila nos
mercados mundiais
Contudo haacute muito potencial subaproveitado ainda Para garantir o crescimento
sustentaacutevel de actividades ligadas ao mar e assegurar ao mesmo tempo que as
actividades mariacutetimas se desenvolvam de forma a natildeo comprometer a sauacutede do
ecossistema eacute indispensaacutevel ter uma visatildeo estrateacutegica actualizada que permita o
desenvolvimento competitivo e seguro do transporte mariacutetimo dos portos e dos sectores
conexos
O transporte mariacutetimo eacute vital para o comeacutercio internacional e interno da Europa e
continua a ser a espinha dorsal do cluster mariacutetimo Contudo este sector soacute continuaraacute a
prosperar se a Uniatildeo Europeia prosseguir os seus esforccedilos com vista a atingir um niacutevel
elevado de seguranccedila mariacutetima e protecccedilatildeo do transporte mariacutetimo contribuindo para
proteger as vidas humanas e o ambiente e simultaneamente favorecer condiccedilotildees de
concorrecircncia equitativas ao niacutevel internacional
44
Embora seja uma importante fonte de poluiccedilatildeo atmosfeacuterica e de emissotildees de
dioacutexido de carbono (CO2) o transporte mariacutetimo continua a ser bastante mais eficiente
em termos energeacuteticos do que o transporte rodoviaacuterio Por este motivo e dada a
necessidade de reduzir o nuacutemero de camiotildees que circulam nas estradas congestionadas
da Europa uma poliacutetica mariacutetima integrada favorece fortemente a promoccedilatildeo de
transportes mariacutetimos seguros e fiaacuteveis
A cadeia logiacutestica mariacutetima europeia requer tambeacutem a existecircncia de estaleiros da
construccedilatildeo e reparaccedilatildeo naval e empresas de equipamento mariacutetimo com tecnologia de
ponta incorporada
O aumento dos investimentos na investigaccedilatildeo e tecnologia marinha eacute fundamental
para assegurar o crescimento econoacutemico sem agravar a degradaccedilatildeo do ambiente Esses
investimentos criaratildeo tambeacutem novas oportunidades Graccedilas a tecnologias respeitadoras
do ambiente que permitam a prosperidade das actividades mariacutetimas sem comprometer
o ambiente marinho as empresas europeias poderatildeo manter a sua posiccedilatildeo de lideranccedila agrave
medida que as normas mundiais se tornem mais estritas e que as induacutestrias novas e
promissoras como a biotecnologia azul as energias renovaacuteveis offshore a tecnologia e
o equipamento subaquaacuteticos e a aquicultura marinha forem desenvolvidas
A tecnologia permite agrave Europa beneficiar de todas as potencialidades oferecidas
pelo mar enquanto fonte de petroacuteleo e gaacutes74
bem como de energias renovaacuteveis e
tambeacutem enquanto lugar de transporte de energia que permite diversificar as vias de
transporte de energia e aumentar deste modo a seguranccedila do abastecimento
A integraccedilatildeo e a competitividade das empresas no sector mariacutetimo satildeo fortemente
potenciadas pela formaccedilatildeo de clusters multissectoriais Os clusters locais e regionais
que reuacutenem diferentes sectores e partes interessadas para desenvolver sinergias entre as
suas actividades afiguram-se uma evoluccedilatildeo promissora da comunidade mariacutetima
europeia Os clusters contribuem para melhorar a qualidade e elevar os padrotildees dos
produtos e serviccedilos do sector mariacutetimo europeu bem como para aumentar a integraccedilatildeo
da economia mariacutetima Contribuem deste modo para o crescimento econoacutemico e para
criaccedilatildeo de emprego bem como para a sustentabilidade da economia mariacutetima na sua
globalidade O seu sucesso dependeraacute largamente da acccedilatildeo inovadora do sector
privado e de outras partes interessadas sobretudo no caso dos clusters regionais A par
74
Segundo a OGP 40 do petroacuteleo e 60 do gaacutes actualmente consumidos na Europa satildeo extraiacutedos em
offshore
45
da criaccedilatildeo de clusters multissectoriais devem ser criados centros regionais de excelecircncia
mariacutetima
Os clusters contribuem ainda para conservar o know-how mariacutetimo da Europa pelo
que satildeo fundamentais para a poliacutetica mariacutetima A cooperaccedilatildeo entre os sectores puacuteblico e
privado em centros de excelecircncia mariacutetima cria tambeacutem um contexto favoraacutevel para
compreender e programar adequadamente as interacccedilotildees entre diferentes induacutestrias e
sectores75
Para fazer face a este domiacutenio estrateacutegico a UE pocircs em marcha uma Directiva-
Quadro denominada Estrateacutegia Marinha76
que estabelece um quadro de acccedilatildeo
comunitaacuteria no domiacutenio da poliacutetica para o meio marinho
Foi com o objectivo de promover o uso sustentaacutevel dos mares e a conservaccedilatildeo dos
ecossistemas marinhos incluindo o leito do mar estuaacuterios e aacutereas costeiras dando
especial atenccedilatildeo aos siacutetios com elevado valor em biodiversidade que foi desenvolvida
no quadro da Uniatildeo Europeia a Estrateacutegia temaacutetica para a protecccedilatildeo e conservaccedilatildeo do
ambiente marinho77
Este documento cuja aprovaccedilatildeo foi precedida de ampla discussatildeo a niacutevel Europeu
foi o ponto de partida para a preparaccedilatildeo da proposta de Directiva do Parlamento
Europeu e do Conselho Europeu que estabelece um quadro de acccedilatildeo comunitaacuteria no
domiacutenio da poliacutetica para o meio marinho
A Directiva estabelece um quadro no qual os Estados Membros devem tomar as
medidas necessaacuterias para obter ou manter um bom estado ambiental no meio marinho
ateacute 2020 Para isso devem ser desenvolvidas e aplicadas estrateacutegias marinhas com vista
a proteger e preservar o meio marinho impedir a sua deterioraccedilatildeo ou quando
exequiacutevel restaurar os ecossistemas marinhos nas aacutereas afectadas prevenir e reduzir as
ldquoentradasrdquo no meio marinho de modo a eliminar progressivamente a poluiccedilatildeo e
assegurar que natildeo haja impactos ou riscos significativos (biodiversidade ecossistemas
sauacutede humana e utilizaccedilotildees legiacutetimas do mar)
O processo negocial desta Directiva culminou com a respectiva aprovaccedilatildeo no final
de 2007 durante a Presidecircncia Portuguesa do Conselho da Uniatildeo Europeia e representa
75
COM (2007) 575 final 7-9 76
Directiva Quadro ldquoEstrateacutegia Marinhardquo ndash COM (2005) 505 final 77
Estrateacutegia temaacutetica para a protecccedilatildeo e conservaccedilatildeo do ambiente marinhordquo ndash COM (2005) 504 final
46
um instrumento de particular importacircncia no quadro da poliacutetica de protecccedilatildeo do meio
marinho constituindo assim o pilar ambiental da Estrateacutegia Mariacutetima Europeia
2) Construccedilatildeo de uma base de conhecimentos e inovaccedilatildeo para a poliacutetica mariacutetima
A ciecircncia a tecnologia e a investigaccedilatildeo marinha satildeo cruciais para o
desenvolvimento sustentaacutevel das actividades mariacutetimas
Ao ajudarem a compreender mais profundamente os impactos das actividades
humanas nos sistemas marinhos a investigaccedilatildeo e a tecnologia marinhas fornecem a
chave para romper a ligaccedilatildeo entre o desenvolvimento das actividades mariacutetimas e a
degradaccedilatildeo do ambiente
O reforccedilo da abordagem multidisciplinar da ciecircncia marinha pode contribuir para
uma melhor compreensatildeo das interacccedilotildees entre as actividades mariacutetimas sendo
portanto uma componente indispensaacutevel de uma poliacutetica mariacutetima integrada Este
reforccedilo seraacute igualmente fundamental para prever e atenuar tanto quanto possiacutevel os
efeitos das alteraccedilotildees climaacuteticas
A investigaccedilatildeo marinha e mariacutetima tem custos elevados pelo que natildeo se pode
permitir faltas de eficiecircncia Para poder utilizar os recursos europeus da melhor forma eacute
necessaacuterio definir uma estrateacutegia clara que articule as prioridades a niacutevel poliacutetico e a
niacutevel de investigaccedilatildeo responda a desafios transectoriais potencie as sinergias entre os
esforccedilos dos Estados-Membros e os da Comunidade evite as duplicaccedilotildees e melhore o
diaacutelogo entre os intervenientes A Europa deve tambeacutem explorar o modo como a
investigaccedilatildeo pode contribuir mais e melhor para a inovaccedilatildeo e como transformar mais
eficazmente o conhecimento e as competecircncias em produtos e serviccedilos industriais78
3) Maximizaccedilatildeo da qualidade de vida nas regiotildees costeiras
Na uacuteltima deacutecada o crescimento demograacutefico nas regiotildees costeiras e insulares foi
duas vezes superior ao crescimento demograacutefico meacutedio na Uniatildeo Europeia As
comunidades costeiras satildeo tambeacutem o destino da maioria dos turistas na Europa pelo
que a necessidade de reconciliar o desenvolvimento econoacutemico a sustentabilidade do
ambiente e a qualidade de vida nessas regiotildees se coloca aiacute com maior acuidade
As autoridades regionais e as comunidades costeiras tecircm um importante papel a
desempenhar na regulaccedilatildeo das actividades costeiras e mariacutetimas O Comiteacute das Regiotildees
78
COM (2007) 575 final 12
47
(CoR) as regiotildees costeiras e as suas redes satildeo por conseguinte parceiros essenciais no
quadro da elaboraccedilatildeo de uma poliacutetica mariacutetima integrada da Uniatildeo Europeia
Os portos e os sectores mariacutetimos conferem a estas regiotildees uma importacircncia
estrateacutegica para a Europa no seu conjunto Oferecem importantes serviccedilos ao seu
hinterland e funcionam como base para o policiamento das fronteiras mariacutetimas e das
aacuteguas costeiras Daqui resulta uma forte pressatildeo sobre as infra-estruturas facto que deve
ser tomado em consideraccedilatildeo na atribuiccedilatildeo de recursos comunitaacuterios As regiotildees
costeiras satildeo tambeacutem particularmente afectadas pelas alteraccedilotildees climaacuteticas e a gestatildeo
dos riscos pode assumir proporccedilotildees dramaacuteticas nos orccedilamentos e economias destas
regiotildees
O mar eacute determinante para o turismo costeiro e mariacutetimo e eacute um importante
catalisador do desenvolvimento econoacutemico das zonas costeiras europeias
Embora reconheccedilam que haacute fontes de financiamento os interessados consideram
que tecircm um insuficiente acesso agrave informaccedilatildeo A Comissatildeo Europeia deve esforccedilar-se
por optimizar os projectos mariacutetimos nas regiotildees costeiras e insulares no acircmbito dos
vaacuterios instrumentos financeiros comunitaacuterios disponiacuteveis (ver ponto 33 Instrumentos
econoacutemico-financeiros de apoio agrave PMIE)
A necessidade de obter melhores dados soacutecio-econoacutemicos sobre os sectores
mariacutetimos e as regiotildees costeiras eacute tambeacutem evidente tendo em conta que a dificuldade
em obter tais informaccedilotildees estaacute a limitar a capacidade dos interessados a niacutevel regional
no respeitante ao desenvolvimento de planos e investimentos racionais a longo prazo
Por outro lado a colaboraccedilatildeo inter-regional eacute essencial para permitir o
desenvolvimento das regiotildees costeiras europeias o qual deve ter em conta a diversidade
e especificidade destes locais Por conseguinte a Comissatildeo Europeia deve utilizar
plenamente o Programa de Cooperaccedilatildeo Territorial para apoiar o desenvolvimento
mariacutetimo inter-regional
As regiotildees ultraperifeacutericas e as ilhas estatildeo sujeitas a desvantagens econoacutemicas
consideraacuteveis mas dispotildeem de um elevado potencial no que se refere agraves actividades
mariacutetimas e agrave investigaccedilatildeo marinha As suas extensas zonas mariacutetimas oferecem
serviccedilos ligados aos ecossistemas de grande interesse para a Uniatildeo Europeia A
48
Comissatildeo Europeia deve promover o desenvolvimento do seu potencial mariacutetimo e a
sua cooperaccedilatildeo com os vizinhos regionais respectivos79
A actual situaccedilatildeo das pescas na Europa natildeo pode ser considerada satisfatoacuteria Os
esforccedilos para conseguir reduzir a capacidade existente e a conservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo
dos recursos haliecircuticos existentes devem ser acompanhados por uma melhoria do
bem-estar social dos trabalhadores activos no sector
A integraccedilatildeo dos pescadores na economia mariacutetima mais ampla pode ser beneacutefica
tanto para as suas perspectivas de emprego como para o desenvolvimento global das
condiccedilotildees em que trabalham e em que o seu sector opera Aleacutem disso o bem-estar das
comunidades pesqueiras tradicionais eacute uma componente importante para a qualidade de
vida nas regiotildees costeiras
Saliento o papel que o sector naacuteutico pode desempenhar ao niacutevel do
desenvolvimento local pois para aleacutem de proporcionar actividades para populaccedilotildees
residentes eou turistas eacute uma importante via para gerar emprego e riqueza A Naacuteutica
pode e deve estabelecer o elo entre o mar e a populaccedilatildeo desfavorecida contribuindo
para a inserccedilatildeo e coesatildeo social da comunidade As actividades naacuteuticas trazem em si
valecircncias de solidariedade ou de inclusatildeo social como por exemplo ajudar na
conversatildeo das comunidades piscatoacuterias em dificuldade (escassez de emprego) em
agentes naacuteuticos reconhecidos pela sociedade
4) Promoccedilatildeo da lideranccedila europeia nos assuntos mariacutetimos internacionais
A Uniatildeo Europeia deve continuar a envidar esforccedilos com vista a assegurar uma
governaccedilatildeo internacional dos assuntos mariacutetimos mais eficiente e a fazer cumprir o
direito mariacutetimo internacional instando os Estados-Membros a ratificar os instrumentos
pertinentes Neste contexto deve promover a coordenaccedilatildeo dos interesses europeus nas
principais instacircncias internacionais
O acesso das induacutestrias e serviccedilos mariacutetimos europeus aos mercados internacionais
a exploraccedilatildeo comercial e cientiacutefica sustentaacutevel das aacuteguas profundas a protecccedilatildeo da
biodiversidade marinha mundial a melhoria da seguranccedila mariacutetima e da protecccedilatildeo do
transporte mariacutetimo as condiccedilotildees de trabalho a reduccedilatildeo da poluiccedilatildeo causada pelos
navios e a luta contra as actividades ilegais nas aacuteguas internacionais devem constituir as
prioridades da poliacutetica mariacutetima integrada da Uniatildeo Europeia a niacutevel das suas relaccedilotildees
79
COM (2007) 575 final 13-14
49
externas Deve igualmente prestar atenccedilatildeo agraves implicaccedilotildees geopoliacuteticas das alteraccedilotildees
climaacuteticas (por exemplo as questotildees relacionadas com o Aacutertico)
Por outro lado os assuntos mariacutetimos satildeo regularmente tema de debates com os
parceiros da Uniatildeo Europeia que jaacute adoptaram medidas a favor de uma abordagem
mariacutetima integrada nomeadamente a Austraacutelia o Canadaacute o Japatildeo a Noruega e os
Estados-Unidos mas tambeacutem com outros parceiros como o Brasil Ruacutessia Iacutendia e
China (agora denominados BRIC)
A Uniatildeo Europeia deve fomentar ainda uma responsabilidade partilhada
relativamente aos mares que compartilha com os seus vizinhos Concretamente a Uniatildeo
Europeia propotildee apresentar propostas no sentido de aumentar a cooperaccedilatildeo no que
concerne agrave gestatildeo do Mediterracircneo e do mar Negro E ainda promover a cooperaccedilatildeo ao
niacutevel das relaccedilotildees externas dos paiacuteses da Europa Setentrional com os paiacuteses em
desenvolvimento incluindo os pequenos Estados insulares atraveacutes de programas de
cooperaccedilatildeo reforccedila as capacidades dos paiacuteses em desenvolvimento no que se refere agrave
poliacutetica mariacutetima e ao Direito do mar80
5) Promoccedilatildeo da visibilidade da Europa mariacutetima
Os cidadatildeos europeus cresceram com as histoacuterias dos grandes exploradores que
nos fizeram compreender que a Terra eacute redonda e nos ensinaram a situar exactamente
os continentes Muitos deles gozam as suas feacuterias na costa no meio da azaacutefama dos
barcos de pesca saboreando marisco nos restaurantes e passeando agrave beira-mar a fugir
agrave rebentaccedilatildeo () Outros passam os tempos livres a restaurar ou a navegar em velhos
barcos de madeira () Quantos todavia compreenderatildeo que estas actividades estatildeo
interligadas Quantos teratildeo consciecircncia de serem cidadatildeos de uma Europa
mariacutetima81
Na sequecircncia do Livro Verde sobre uma futura poliacutetica mariacutetima da Uniatildeo e em
resposta ao forte apoio manifestado por muitas partes interessadas durante o processo de
consulta relativo agrave nova poliacutetica de promoccedilatildeo da cultura e do patrimoacutenio mariacutetimos da
Europa a Comissatildeo tem focado a sua atenccedilatildeo no aumento da visibilidade da Europa
80
COM (2007) 575 final 14-15 81
Extractos do Livro Verde ldquoPara uma futura poliacutetica mariacutetima da Uniatildeo Uma visatildeo europeia para os
oceanos e os maresrdquo Capiacutetulo VI Reivindicar a heranccedila mariacutetima da Europa - Reiterar a identidade
mariacutetima da Europa p 51
50
mariacutetima como um dos objectivos fulcrais de uma poliacutetica mariacutetima holiacutestica e
integrada
Os stakeholders exprimiram claramente a opiniatildeo de que o processo de elaboraccedilatildeo
de uma poliacutetica mariacutetima comunitaacuteria permitiu a aquisiccedilatildeo de uma nova consciecircncia
puacuteblica sobre a importacircncia da economia e patrimoacutenio mariacutetimo e estaacute a criar entre eles
o sentimento de partilharem um objectivo e identidade comuns
Para tal a poliacutetica mariacutetima integrada deve procurar aumentar a visibilidade da
Europa mariacutetima e melhorar a imagem das suas actividades e das profissotildees ligadas ao
mar
A PMIE deve ainda promover o patrimoacutenio mariacutetimo europeu apoiando as
comunidades mariacutetimas as cidades portuaacuterias as comunidades piscatoacuterias tradicionais
os produtos artesanais as teacutecnicas tradicionais e fomentar a criaccedilatildeo de ligaccedilotildees entre
elas para incrementar o seu conhecimento e dar maior visibilidade
A Comissatildeo Europeia prossegue este objectivo recorrendo a iniciativas das quais
destaco o Dia Europeu do Mar82
(celebrado em Bruxelas Roma e Gijoacuten 2008 2009 e
2010 respectivamente) e as novas ldquoferramentasrdquo de comunicaccedilatildeo com realce para o
Atlas Europeu dos Mares o Foacuterum Mariacutetimo e o website oficial para os assuntos do mar
da Europa
O Atlas Europeu dos Mares83
jaacute eacute uma realidade Destina-se a todos os interessados
do mundo marinho e do patrimoacutenio mariacutetimo e o objectivo eacute sensibilizar a opiniatildeo
puacuteblica para a importacircncia dos oceanos e dos mares da Europa Este Atlas pedagoacutegico
fornece uma seacuterie de dados fiaacuteveis e regularmente actualizados sobre temas tatildeo variados
como o relevo do fundo do mar a erosatildeo costeira a frota de pesca europeia o
transporte mariacutetimo a amplitude de mareacutes as quotas de pesca por espeacutecie e por regiatildeo e
as ldquoauto-estradas do marrdquo
Tanto o Foacuterum Mariacutetimo84
como o website85
contribuem para ajudar a melhor
compreender a visatildeo transversal da actividade mariacutetima presente em diversos sectores
de actividade Estas ferramentas satildeo meios eficazes para disseminar informaccedilatildeo sobre a
comunidade mariacutetima dar a conhecer boas praacuteticas mariacutetimas e podem ainda servir de
82
Informaccedilatildeo sobre Dia Europeu do Mar disponiacutevel em httpeceuropaeumaritimeaffairsmaritimeday 83
Atlas Europeu do Mares disponiacutevel em httpeceuropaeumaritimeaffairsatlas 84
Foacuterum Mariacutetimo disponiacutevel em httpswebgateeceuropaeumaritimeforum 85
Website oficial do Assuntos Mariacutetimos europeus httpeceuropaeumaritimeaffairs
51
alavanca para futuras sinergias potenciando a economia mariacutetima o ambiente marinho
e as comunidades costeiras
33 Instrumentos econoacutemico-financeiros de apoio agrave PMIE
As poliacuteticas independentemente da sua natureza carecem sempre de instrumentos
financeiros para agilizar a prossecuccedilatildeo das mesmas A PMIE natildeo foge a esta regra
Conveacutem neste ponto destinado aos instrumentos financeiros distingui-los quanto agrave
forma como contribuem para consolidaccedilatildeo da PMIE Assim sendo comeccedilo pelos
instrumentos ao dispocircr da poliacutetica de coesatildeo e da poliacutetica regional que apesar de
exercerem um papel importante na eliminaccedilatildeo das assimetrias regionais natildeo saciam
todas as necessidades impliacutecitas na PMIE De seguida abordo outros instrumentos
financeiros (Fundo Europeu das Pescas Instrumento Europeu de Vizinhanccedila e de
Parceria e o 7ordm Programa-Quadro) que vatildeo ao encontro de algumas medidas enunciadas
no plano de acccedilatildeo do Livro Azul e para terminar faccedilo referecircncia ao receacutem-criado
programa de apoio ao aprofundamento da PMIE
331 A poliacutetica de coesatildeo e a poliacutetica regional europeia
A expressatildeo ldquopoliacutetica de coesatildeordquo designa um quadro poliacutetico de solidariedade a
niacutevel europeu traduzindo-se em centenas de milhares de projectos em toda a Europa
que beneficiam do apoio do Fundo de Coesatildeo e dos Fundos Estruturais ndash o Fundo
Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER) e o Fundo Social Europeu (FSE)
Para acelerar a convergecircncia econoacutemica social e territorial a Uniatildeo Europeia
instituiu um Fundo de Coesatildeo em 1994 Este fundo destina-se aos paiacuteses cujo PIB
meacutedio por habitante eacute inferior a 90 da meacutedia comunitaacuteria O Fundo de Coesatildeo tem por
finalidade conceder financiamentos a favor de projectos de infra-estruturas nos
domiacutenios do ambiente e dos transportes Contudo a aplicaccedilatildeo do Fundo de Coesatildeo estaacute
sujeita a determinadas condiccedilotildees Caso o deacutefice puacuteblico de um Estado Membro
52
beneficiaacuterio exceder 3 do PIB nacional (regras de convergecircncia da Uniatildeo Econoacutemica
Monetaacuteria) nenhum novo projecto seraacute aprovado enquanto o deacutefice natildeo estiver outra
vez sob controlo
A coesatildeo econoacutemica e social descrita no Acto Uacutenico Europeu de 1986 propotildee-se
ldquoreduzir a diferenccedila entre as diversas regiotildees e o atraso das regiotildees menos favorecidasrdquo
O Tratado de Lisboa acrescenta-lhe uma terceira vertente quando fala de poliacutetica de
coesatildeo econoacutemica social e territorial Isto significa que a poliacutetica de coesatildeo tambeacutem
deve visar um desenvolvimento territorial mais equilibrado e sustentaacutevel
As orientaccedilotildees estrateacutegicas da poliacutetica de coesatildeo para o periacuteodo 2007-2013
centram-se em torno de trecircs prioridades 1ordf ndash reforccedilo da capacidade de atracccedilatildeo dos
Estados-Membros das regiotildees e das cidades 2ordf ndash promoccedilatildeo da inovaccedilatildeo do espiacuterito
empresarial e do crescimento da economia do conhecimento 3ordf Criaccedilatildeo de mais e
melhores empregos
Hoje em dia a Europa enfrenta uma tarefa esmagadora Natildeo soacute tem de vencer a
crise profunda que atravessa e reduzir o desemprego e a pobreza como deve transitar
para uma economia com baixas emissotildees de carbono Tatildeo ambiciosa tarefa requer
grande rapidez de acccedilatildeo em muitas e variadas frentes razatildeo pela qual o Conselho
Europeu adoptou a Estrateacutegia ldquoEuropa 2020rdquo Para que a Europa venccedila todos os
intervenientes tecircm de dar o seu contributo agrave escala europeia nacional regional e local
A poliacutetica de coesatildeo tem de continuar a desempenhar um papel fundamental nos tempos
difiacuteceis que atravessamos para estimular o crescimento inteligente (valorizando o
conhecimento a inovaccedilatildeo a educaccedilatildeo e a sociedade digital) sustentaacutevel (promovendo
um economia hipocarboacutenica em termos de recursos e competitividade) e inclusivo
(aumento da taxa de participaccedilatildeo no mercado de trabalho aquisiccedilatildeo de qualificaccedilotildees e
luta contra a pobreza) com vista ao desenvolvimento harmonioso da UE e assim
reduzir as disparidades regionais Indubitavelmente sem a poliacutetica de coesatildeo as
disparidades seriam maiores
Contudo a coesatildeo econoacutemica social e territorial eacute essencialmente concretizada
atraveacutes da poliacutetica regional A poliacutetica regional da UE favorece a reduccedilatildeo das diferenccedilas
estruturais existentes entre as regiotildees o desenvolvimento equilibrado do territoacuterio
comunitaacuterio e a promoccedilatildeo de uma igualdade de oportunidades efectiva entre as pessoas
A poliacutetica regional constitui a segunda maior rubrica orccedilamental da UE com uma
dotaccedilatildeo de 348 mil milhotildees de euros para o periacuteodo de 2007-2013 O alargamento para
53
27 Estados Membros em Janeiro de 2007 alterou a situaccedilatildeo da UE pois enquanto a
superfiacutecie da UE aumentou mais de 25 e a populaccedilatildeo mais de 20 a sua riqueza soacute
aumentou cerca de 5 O PIB meacutedio por habitante da UE diminuiu mais de 10 e as
disparidades regionais foram multiplicadas por dois Eacute sabido que aproximadamente
60 das regiotildees menos desenvolvidas se situam doravante nos 12 Estados-Membros
que aderiram desde 2004 Logo facilmente se depreende a deslocaccedilatildeo do centro de
gravidade da poliacutetica regional para Leste
Para o periacuteodo de 2007-2013 a dotaccedilatildeo financeira atribuiacuteda agrave poliacutetica regional
aproxima-se dos 348 mil milhotildees de euros 278 mil milhotildees para os Fundos Estruturais
e 70 mil milhotildees para o Fundo de Coesatildeo Esta dotaccedilatildeo representa 45 do orccedilamento
comunitaacuterio ou seja constitui a segunda rubrica orccedilamental logo atraacutes da Poliacutetica
Agriacutecola Comum (PAC)
Cabe agraves regiotildees e agraves respectivas entidades regionais atraveacutes das poliacuteticas de coesatildeo
e desenvolvimento regional afectarem uma parte dos fundos europeus para financiarem
projectos de interesse mariacutetimo e que vatildeo ao encontro do estipulado na PMIE
332 Fundos Estruturais
Como foi referido anteriormente existem dois tipos de fundos estruturais o Fundo
Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER) e o Fundo Social Europeu (FSE)
O FEDER86
apoia desde 1975 a realizaccedilatildeo de infra-estruturas e investimentos
produtivos geradores de emprego nomeadamente os destinados agraves empresas
O FSE87
instituiacutedo em 1958 apoia a inserccedilatildeo profissional dos desempregados e das
categorias desfavorecidas da populaccedilatildeo financiando nomeadamente acccedilotildees de
formaccedilatildeo
86
Regulamento (CE) nordm 16982005 do Conselho de 20 de Setembro de 2005 relativo ao apoio ao
desenvolvimento rural pelo Fundo Europeu Agriacutecola de Desenvolvimento Rural 87
Regulamento (CE) nordm 17841999 do Parlamento Europeu e do Conselho de 12 de Julho de 1999
relativo ao Fundo Social Europeu
54
Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER)
O FEDER destina-se a reforccedilar a coesatildeo econoacutemica e social na Uniatildeo Europeia
atraveacutes da correcccedilatildeo dos desequiliacutebrios regionais Resumidamente o FEDER financia
Ajudas directas aos investimentos realizados nas empresas
designadamente as pequenas e meacutedias empresas (PME`s) a fim de criar
emprego duradouro
Infra-estruturas ligadas nomeadamente agrave investigaccedilatildeo e agrave inovaccedilatildeo agraves
telecomunicaccedilotildees ao ambiente agrave energia e aos transportes
Instrumentos financeiros (fundos de capital de risco fundos de
desenvolvimento local etc) a fim de apoiar o desenvolvimento regional e local
e favorecer a cooperaccedilatildeo entre as cidades e regiotildees
Medidas de assistecircncia teacutecnica
O FEDER interveacutem na poliacutetica regional em trecircs objectivos a convergecircncia a
competitividade regional e emprego e a cooperaccedilatildeo territorial europeia
Fundo Social Europeu (FSE)
O FSE tem por objectivo melhorar o emprego e as possibilidades de emprego na
Uniatildeo Europeia e interveacutem no acircmbito dos objectivos da convergecircncia e competitividade
regional e emprego
O FSE apoia as acccedilotildees dos Estados-membros nos domiacutenios seguintes
Adaptaccedilatildeo dos trabalhadores e das empresas sistemas de aprendizagem
ao longo da vida concepccedilatildeo e difusatildeo de formas de organizaccedilatildeo do trabalho
inovadoras
Acesso ao emprego por parte das pessoas que procuram trabalho das
pessoas inactivas das mulheres e dos migrantes
Integraccedilatildeo social das pessoas desfavorecidas e luta contra a
discriminaccedilatildeo no mercado do trabalho
Reforccedilo do capital humano atraveacutes da reforma dos sistemas educativos e
colocaccedilatildeo em rede dos estabelecimentos de ensino
55
333 Outras fontes de financiamento
A PMIE aleacutem dos fundos estruturais e do fundo de coesatildeo tem ao seu dispocircr
outros instrumentos financeiros como seja o Fundo Europeu para as Pescas88
que
serve para estimular actividades econoacutemicas alternativas agrave pesca como o turismo
verde previsto para o desenvolvimento sustentaacutevel das zonas de pesca costeiras o
Instrumento Europeu de Vizinhanccedila e de Parceria89
contribuiraacute atraveacutes da cooperaccedilatildeo
transfronteiriccedila para dar resposta a problemas comuns dos paiacuteses do litoral inseridos em
bacias mariacutetimas
O Banco Europeu de Investimento (BEI) pode igualmente constituir um
importante instrumento para financiamento de avultados investimentos infra-estruturais
destinados a facilitar o ordenamento espacial e a execuccedilatildeo de estrateacutegias de
desenvolvimento de poacutelos de competitividade em regiotildees costeiras ou melhorar as
ligaccedilotildees agrave rede de produccedilatildeo de energias renovaacuteveis
Por fim realccedilo a primeira call lanccedilada a 30 de Julho de 2009 pela Comissatildeo
Europeia denominada The Ocean of Tomorrow integrada no seacutetimo Programa-Quadro
Ela eacute dotada de um orccedilamento de 34 milhotildees de euros para projectos de investigaccedilatildeo
multidisciplinar com o objectivo de conciliar o desenvolvimento de actividades
mariacutetimas com a preservaccedilatildeo dos mares e oceanos Uma segunda call ainda referente
ao seacutetimo Programa-Quadro de 45 milhotildees foi entretanto lanccedilada a 30 de Julho de
2010 Espera-se que as propostas abordem a complexidade dos oceanos e mares
integrando vaacuterias disciplinas (ambiente transportes energia pescas economia e
ciecircncias sociais) promovendo tambeacutem novos modelos de gestatildeo integrada do oceano O
prazo limite para entrega de candidaturas da segunda chamada termina no dia 18 de
Janeiro de 2011
Estas duas chamadas conjuntas respondem agrave necessidade de alocar meios
financeiros de suporte agraves prioridades expostas na Estrateacutegia Europeia para a
Investigaccedilatildeo Marinha e Mariacutetima e assim dar resposta ao pilar ambiental da PMIE
88
Decisatildeo 2005367CE do Conselho de 14 de Abril de 2005 que autoriza os Estados-Membros a
ratificar no interesse da Comunidade Europeia a Convenccedilatildeo da Organizaccedilatildeo Internacional do Trabalho
relativa aos documentos de identificaccedilatildeo dos mariacutetimos (Convenccedilatildeo nordm 185) - JO L 136 de 3052005 89
httpeceuropaeuworldenpfunding_enhtm
56
334 Programa de apoio ao aprofundamento da PMIE
Apesar dos instrumentos financeiros disponibilizados a implementaccedilatildeo da PMIE
pode estar em risco devido agrave falta de meios para financiar as acccedilotildees necessaacuterias durante
o periacuteodo remanescente (2010-2013)
Para tal efeito entendeu a Comissatildeo Europeia ser necessaacuterio estabelecer um
programa de apoio a medidas destinadas a promover o aprofundamento e a
implementaccedilatildeo da PMIE uma vez que os outros instrumentos disponibilizados pela UE
e apresentados anteriormente (o Fundo de Coesatildeo o FEDER o FSE o Fundo Europeu
das Pescas o seacutetimo Programa-Quadro de actividades em mateacuteria de investigaccedilatildeo
desenvolvimento tecnoloacutegico e demonstraccedilatildeo e o Instrumento Europeu de Vizinhanccedila e
Parceria) natildeo cobrirem significativamente as prioridades e objectivos da poliacutetica
mariacutetima integrada
No entanto este programa serviraacute de complemento aos instrumentos financeiros
actuais e futuramente disponibilizados ao niacutevel nacional e sub-nacional pelos Estados-
Membros para promover a protecccedilatildeo e a utilizaccedilatildeo sustentaacutevel dos oceanos e mares e
das zonas costeiras
Para que a Uniatildeo Europeia implemente e aprofunde a PMIE e prossiga os
objectivos basilares estabelecidos no Livro Azul eacute necessaacuterio um apoio financeiro
modesto mas constante Daiacute que juntamente com os Estados-Membros e as partes
interessadas este financiamento permite prosseguir os trabalhos exploratoacuterios jaacute
iniciados atraveacutes de acccedilotildees preparatoacuterias e projectos-piloto e desenvolver e concretizar
ainda melhor as opccedilotildees de execuccedilatildeo da PMIE
A dotaccedilatildeo financeira para a execuccedilatildeo do programa de apoio ao aprofundamento da
PMIE foi fixada em 50 milhotildees de euros e seraacute aplicaacutevel entre 1 de Janeiro de 2011 e 31
de Dezembro de 2013
O programa de apoio tem os seguintes dez objectivos gerais90
Favorecer o desenvolvimento e a implementaccedilatildeo de uma governaccedilatildeo
integrada dos assuntos mariacutetimos e costeiros e estrateacutegias integradas para as
bacias mariacutetimas
90
COM (2010) 494 final 11
57
Contribuir para o desenvolvimento de instrumentos transversais para as
poliacuteticas sectoriais ligadas ao mar ou agraves zonas costeiras
Apoiar a articulaccedilatildeo das poliacuteticas e promover a utilizaccedilatildeo sustentaacutevel dos
recursos marinhos e costeiros o crescimento econoacutemico sustentaacutevel a inovaccedilatildeo
e o emprego nos sectores mariacutetimos e nas regiotildees costeiras em consonacircncia com
as prioridades e acccedilotildees das poliacuteticas sectoriais
Melhor definir os limites da sustentabilidade das actividades humanas
com impacto no meio marinho no acircmbito da Directiva-Quadro Estrateacutegia
Marinha
Melhorar e reforccedilar a cooperaccedilatildeo e a coordenaccedilatildeo externas no que
respeita aos objectivos da poliacutetica mariacutetima integrada
Estes objectivos do programa de apoio ao aprofundamento da PMIE podem-se
traduzir nas seguintes acccedilotildees elegiacuteveis91
Estudos e programas de cooperaccedilatildeo
Informaccedilatildeo do puacuteblico e partilha de boas praacuteticas sensibilizaccedilatildeo do
puacuteblico e actividades associadas de comunicaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo incluindo
campanhas de publicidade eventos e ainda o desenvolvimento e a manutenccedilatildeo
de siacutetios Web
Conferecircncias seminaacuterios grupos de trabalho e foacuteruns de partes
interessadas
Mutualizaccedilatildeo monitorizaccedilatildeo e visualizaccedilatildeo de uma grande quantidade de
informaccedilotildees boas praacuteticas e bases de dados sobre os projectos regionais
financiados pela UE e garantia do correspondente acesso do puacuteblico
nomeadamente sempre que adequado por intermeacutedio de um secretariado
instituiacutedo para um ou vaacuterios destes efeitos
Acccedilotildees referentes a instrumentos transversais incluindo projectos-piloto
91
COM (2010) 494 final 12-13
58
Cap IV ndash Orientaccedilotildees estrateacutegias para o futuro da PMIE
41 Breve balanccedilo
A poliacutetica mariacutetima integrada europeia estabeleceu-se como uma nova abordagem
destinada a reforccedilar o desenvolvimento oacuteptimo e sustentaacutevel de todas as actividades
relacionadas com o mar Confirmou a visatildeo de que a Europa pode colher benefiacutecios
muito maiores com um impacto ambiental muito menor se articular as poliacuteticas relativas
aos oceanos e mares As instituiccedilotildees da Uniatildeo Europeia os Estados-Membros e as
regiotildees criaram estruturas de governaccedilatildeo para garantir que as poliacuteticas mariacutetimas
deixassem de ser desenvolvidas de uma forma isolada e tomassem em consideraccedilatildeo as
relaccedilotildees e sinergias com outras aacutereas poliacuteticas Os stakeholders confirmaram o interesse
consideraacutevel que a ampla consulta realizada em 2006-2007 despertou e a PMIE tornou-
se uma das poliacuteticas da Uniatildeo Europeia que mais recorre a uma abordagem ldquoda base
para o topordquo No domiacutenio das poliacuteticas sectoriais com impacto no mar e no litoral
nomeadamente as poliacuteticas da pesca dos transportes do ambiente da energia da
induacutestria ou da investigaccedilatildeo deram-se passos consideraacuteveis no sentido de uma maior
integraccedilatildeo e coerecircncia Foram tambeacutem adoptadas as primeiras medidas para aplicar a
PMIE numa base regional Em resumo a poliacutetica mariacutetima integrada da Uniatildeo Europeia
estaacute a modificar a forma como os europeus olham para os seus mares e oceanos
reafirmando ao mesmo tempo a importacircncia estrateacutegica dos mares e das regiotildees
costeiras do continente92
O quadro oferecido pela PMIE procura essencialmente concretizar (e jaacute comeccedilou a
fazecirc-lo) quatro objectivos93
Promover a integraccedilatildeo das estruturas de governaccedilatildeo tornando-as mais
abertas agrave participaccedilatildeo e agrave cooperaccedilatildeo
Criar uma base de conhecimentos e os instrumentos transectoriais
necessaacuterios para permitir a execuccedilatildeo das poliacuteticas integradas
92
COM (2009) 540 final 2 93
COM 2009) 540 final 3
59
Melhorar a qualidade das poliacuteticas sectoriais atraveacutes da procura activa de
sinergias e de uma maior coerecircncia transectorial
No quadro da realizaccedilatildeo dos objectivos acima referidos tomar em
consideraccedilatildeo as especificidades dos mares regionais que banham a Europa e
encontrar soluccedilotildees adaptadas a cada caso
A aplicaccedilatildeo do plano de acccedilatildeo conheceu jaacute um franco progresso das 65 acccedilotildees
incluiacutedas no plano foram iniciadas ou concluiacutedas 56 (trata-se na maior parte de actos
da Comissatildeo Europeia ou Conselho Europeu) Foram empreendidas vaacuterias iniciativas
em relaccedilatildeo a nove das acccedilotildees desse plano embora os documentos oficiais natildeo tenham
sido ainda adoptados
42 Governaccedilatildeo mariacutetima e participaccedilatildeo das partes interessadas
O Livro Azul defende que eacute necessaacuterio repensar a gestatildeo dos mares e oceanos a
todos os niacuteveis de governaccedilatildeo isto eacute nas instituiccedilotildees da UE nos Estados-Membros e
nas regiotildees Os actores poliacuteticos responderam em geral de uma forma muito positiva
passados dois anos tomaram-se medidas em toda a Uniatildeo para superar a
compartimentaccedilatildeo das vaacuterias poliacuteticas relacionadas com o mar aumentar a participaccedilatildeo
das partes interessadas e identificar sinergias poliacuteticas Importa agora realccedilar os
progressos alcanccedilados pelas instituiccedilotildees europeias Estados membros regiotildees e tambeacutem
pelos stakeholders
Instituiccedilotildees da UE94
A Comissatildeo Europeia adoptou diversas medidas no sentido de integrar o processo
de definiccedilatildeo da poliacutetica mariacutetima Em 2005 foi criado um Grupo Director de
Comissaacuterios que examinou as iniciativas poliacuteticas mais importantes incluiacutedas no plano
de acccedilatildeo do Livro Azul Foram tambeacutem criadas estruturas para promover reuniotildees
94
COM (2009) 540 final 3-4
60
regulares entre as Direcccedilotildees-Gerais interessadas a fim de identificar sinergias e
eliminar eventuais incoerecircncias entre as poliacuteticas
A Comissatildeo Europeia reorganizou igualmente os seus serviccedilos e alargou o mandato
da Direcccedilatildeo-Geral dos Assuntos Mariacutetimos e das Pescas a fim de assegurar a
coordenaccedilatildeo poliacutetica global e desenvolver se necessaacuterio instrumentos transectoriais
tendo em conta as especificidades regionais
O Conselho Europeu mostra um grande empenhamento na PMIE Natildeo soacute reconhece
a natureza transectorial da PMIE ao abordaacute-la na sua formaccedilatildeo Assuntos Gerais e
Relaccedilotildees Externas como reafirma nas suas conclusotildees de 8 de Dezembro de 200895
ldquoque uma abordagem integrada das questotildees mariacutetimas constitui um objectivo da maior
importacircncia tendo em conta a necessidade de reforccedilar as sinergias a coerecircncia e o
valor acrescentado das acccedilotildees sectoriais empreendidas pela Uniatildeo Europeia
integrando-as numa visatildeo global dos mares dos oceanos e dos seus litorais tendo em
conta as especificidades regionais (hellip)rdquo
Em termos institucionais a participaccedilatildeo activa do Conselho e dos Estados-
Membros eacute assegurada pelos trabalhos do Conselho de Assuntos Gerais e pelos grupos
de contacto dos Estados-Membros para a PMIE Estes grupos satildeo a garantia de que se
utiliza plenamente os conhecimentos especializados existentes nas administraccedilotildees
nacionais se presta a devida atenccedilatildeo agraves necessidades especiacuteficas dos Estados-Membros
e das regiotildees costeiras e se obteacutem um consenso poliacutetico com o maacuteximo de transparecircncia
e impacto
A atenccedilatildeo e o apoio do Parlamento Europeu agrave poliacutetica mariacutetima tecircm sido muito
positivos96
Contudo os assuntos mariacutetimos continuam a ser tratados por diferentes
comissotildees e estruturas
O Comiteacute das Regiotildees tem dado vaacuterios contributos beneacuteficos para a PMIE A
Comissatildeo Europeia tomou nota em especial do parecer sobre o Livro Azul que conteacutem
elementos importantes para trabalhos futuros O recente parecer do Comiteacute ldquoPacote
mariacutetimo e costeirordquo97
constitui um exemplo valioso da combinaccedilatildeo de interesses
divergentes de uma forma coerente complementar e sineacutergica
95
16503108 REV 1 96
Especialmente atraveacutes do relatoacuterio A6-01632008 (Comissatildeo dos Transportes e do Turismo) de Willi
Piecyk deputado do Parlamento Europeu entretanto falecido 97
CdR 4162008 final adoptado em 17 de Junho de 2009
61
O Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu emitiu em 14 de Abril de 2008 um
parecer98
particularmente favoraacutevel agrave PMIE
Estados-Membros99
Agrave data da publicaccedilatildeo do Livro Verde poucas iniciativas existiam nos Estados-
Membros em favor de abordagens integradas Dois paiacuteses a Franccedila e os Paiacuteses Baixos
informaram que dispunham de uma estrutura administrativa para coordenar as poliacuteticas
mariacutetimas Pelo seu lado Portugal tinha jaacute iniciado acccedilotildees concretas com vista a uma
estrateacutegia sobre os oceanos Desde entatildeo registaram-se progressos consideraacuteveis e mais
Estados-Membros tomaram iniciativas para integrar a poliacutetica mariacutetima e partilhar boas
praacuteticas de abordagens integradas da poliacutetica mariacutetima Estas iniciativas satildeo
inteiramente conformes com as orientaccedilotildees publicadas pela Comissatildeo Europeia em
Junho de 2008100
e referem-se a mudanccedilas organizacionais eou ao desenvolvimento de
estrateacutegias integradas de mais longo prazo com vista ao desenvolvimento sustentaacutevel
dos sectores mariacutetimos e das regiotildees costeiras
De salientar os exemplos do Nationaal Waterplan neerlandecircs o Grenelle de la Mer
francecircs o Entwicklungsplan Meer alematildeo a Lei sueca sobre uma poliacutetica mariacutetima
coerente o plano polaco interdepartamental de uma poliacutetica mariacutetima e a Lei mariacutetima
britacircnica A Irlanda Portugal e a Esloveacutenia tomaram igualmente medidas neste sentido
A Beacutelgica a Bulgaacuteria a Repuacuteblica Checa a Dinamarca a Itaacutelia a Greacutecia a Finlacircndia e
a Espanha comunicaram tambeacutem a realizaccedilatildeo de actividades neste domiacutenio perfazendo
um total de 14 Estados membros
Regiotildees101
As regiotildees costeiras participam plenamente como parceiros da PMIE desde o seu
iniacutecio e satildeo as mais bem colocadas para identificar os elementos necessaacuterios para
executar a poliacutetica tanto a niacutevel local como das bacias mariacutetimas Mostraram
igualmente grande capacidade para trabalhar com as autoridades nacionais e com as
regiotildees de outros Estados-Membros com o objectivo de promover soluccedilotildees integradas
para as questotildees relativas ao mar A Conferecircncia das Regiotildees Perifeacutericas Mariacutetimas
98
JO 2008C 21107 99
COM (2009) 540 final 4-5 100
COM (2008) 395 final de 2662008 101
COM (2009) 540 final 5
62
(CRPM) que reuacutene cerca de 160 regiotildees europeias segue atentamente os progressos do
plano de acccedilatildeo atraveacutes de intervenccedilotildees regulares nas reuniotildees do grupo de trabalho
Aquamarina criado especificamente para promover a PMIE a niacutevel regional
Partes interessadas102
As partes interessadas tem tido um papel preponderante no estabelecimento de uma
PMIE para a UE Os actores regionais e empresariais e as ONG foram os primeiros a
advogar a articulaccedilatildeo das poliacuteticas da UE com impacto nos mares sectores mariacutetimos e
regiotildees costeiras As suas contribuiccedilotildees constituiacuteram a base para a criaccedilatildeo de conceitos
e instrumentos inovadores
A celebraccedilatildeo anual do Dia Europeu do Mar converteu-se no evento em que os
vaacuterios ciacuterculos interessados podem realizar intercacircmbios altamente produtivos A
Comissatildeo Europeia deve dar continuidade a este evento assim como ampliar o nuacutemero
de europeus participantes Ao mesmo tempo deve encorajar as partes interessadas a
voltar a organizar eventos descentralizados em torno do Dia Europeu do Mar celebrado
em 20 de Maio reflectindo desta forma as contribuiccedilotildees nacionais regionais e locais
para a PMIE
43 Instrumentos transectoriais
Conforme abordado no capiacutetulo III (Livro Azul) foi identificada a necessidade de
existirem instrumentos transectoriais nomeadamente o ordenamento do espaccedilo
mariacutetimo a vigilacircncia integrada e a construccedilatildeo de uma base de conhecimentos para a
poliacutetica mariacutetima Estes trecircs instrumentos desenvolveram-se a um bom ritmo e jaacute eacute
possiacutevel registar os primeiros resultados obtidos Ora vejamos
102
COM (2009) 540 final 5-6
63
Ordenamento do espaccedilo mariacutetimo (OEM) e gestatildeo integrada da zona costeira
(GIZC)103
O aumento das actividades desenvolvidas nos mares da Europa exacerbou a
competiccedilatildeo pelo espaccedilo mariacutetimo que eacute limitado O ordenamento do espaccedilo mariacutetimo eacute
um instrumento-chave para equilibrar os interesses sectoriais e garantir uma utilizaccedilatildeo
sustentaacutevel dos recursos marinhos sendo o seu princiacutepio subjacente uma abordagem
ecossisteacutemica Este processo proporciona agraves administraccedilotildees puacuteblicas e partes
interessadas um quadro de ordenamento estaacutevel fiaacutevel e centrado em objectivos
concretos a partir do qual podem coordenar as suas acccedilotildees e optimizar a utilizaccedilatildeo do
espaccedilo mariacutetimo em benefiacutecio do desenvolvimento econoacutemico e do meio marinho
A Comissatildeo adoptou em 2008 a comunicaccedilatildeo intitulada ldquoRoteiro para o
ordenamento do espaccedilo mariacutetimo definiccedilatildeo de princiacutepios comuns na UErdquo104
O roteiro
estabelece dez princiacutepios-chave e analisa o desenvolvimento entre os Estados-Membros
de uma abordagem comum que promova a aplicaccedilatildeo do OEM a niacutevel nacional e da UE
Em debates organizados pela Comissatildeo no decurso de 2009105
as partes
interessadas de todos os sectores mariacutetimos relevantes consideraram que os dez
princiacutepios-chave satildeo vaacutelidos tecircm um caraacutecter global e constituem uma base importante
para o desenvolvimento do OEM a niacutevel europeu A Comissatildeo Europeia lanccedilou
igualmente duas acccedilotildees preparatoacuterias no Baacuteltico (no acircmbito da estrateacutegia comunitaacuteria
para a regiatildeo do Baacuteltico) e no Mar do NorteAtlacircntico Nordeste visando o
desenvolvimento da vertente de cooperaccedilatildeo transfronteiras do OEM assim como um
estudo sobre o potencial do ordenamento do espaccedilo mariacutetimo no Mediterracircneo e os
benefiacutecios econoacutemicos do OEM
No seguimento da recomendaccedilatildeo incluiacuteda no Livro Azul no sentido da criaccedilatildeo de
um sistema de intercacircmbio de boas praacuteticas para o desenvolvimento da gestatildeo integrada
da zona costeira (GIZC) a Comissatildeo iniciou em 2009 um projecto destinado a fomentar
o intercacircmbio de boas praacuteticas e promover a aplicaccedilatildeo efectiva da GIZC106
No final de
2008 o Conselho assinou o Protocolo sobre a GIZC no acircmbito da Convenccedilatildeo de
Barcelona107
103
Para informaccedilatildeo detalhada sobre a GIZC consultar httpeceuropaeuenvironmenticzmourcoasthtm 104
COM(2008) 791 final 105
httpeceuropaeumaritimeaffairsspatial_planning_enhtml6 106
httpeceuropaeuenvironmenticzmourcoasthtm 107
COM (2009) 540 final 6-7
64
Integraccedilatildeo da vigilacircncia mariacutetima
A integraccedilatildeo da vigilacircncia mariacutetima permitiraacute aumentar a eficaacutecia das operaccedilotildees no
mar e reduzir os custos de exploraccedilatildeo As potenciais economias a niacutevel da UE satildeo
significativas se se considerar a necessidade crescente de detectar localizar interceptar
e controlar actividades iliacutecitas no mar assim como de prevenir acidentes mariacutetimos
detectar descargas ilegais controlar as actividades de pesca e proteger o ambiente
Ateacute agrave data a Comissatildeo elaborou descriccedilotildees pormenorizadas das vaacuterias iniciativas
de integraccedilatildeo da vigilacircncia mariacutetima108
empreendidas a niacutevel nacional regional e
europeu terminou um estudo sobre os aspectos juriacutedicos e regulamentares da integraccedilatildeo
da vigilacircncia mariacutetima e procedeu a um exerciacutecio conjunto com a Agecircncia Europeia de
Defesa e o Estado-Maior da UE em resposta a um pedido do Conselho de Defesa109
A
Comissatildeo lanccedilou igualmente dois convites agrave apresentaccedilatildeo de propostas num montante
total de 57 milhotildees de euros110
para projectos-piloto de integraccedilatildeo da vigilacircncia com
vista a promover uma cooperaccedilatildeo mais estreita entre as administraccedilotildees nacionais no
Mediterracircneo e na bacia do Mar do Norte111
Construccedilatildeo de uma base de conhecimentos para a poliacutetica mariacutetima
Natildeo eacute possiacutevel desenvolver uma poliacutetica mariacutetima sem dados e conhecimentos
adequados sobre os mares e o litoral da Europa O conhecimento do meio marinho
permanece eacute ainda muito disperso e pouco rentaacutevel A Rede Europeia de Observaccedilatildeo e
de Dados do Meio Marinho (EMODNET) anunciada no Livro Azul tem como
objectivo reduzir as incertezas no conhecimento dos mares e os custos operacionais dos
utilizadores de dados marinhos Eacute necessaacuterio avaliar as bases de dados e os programas
de observaccedilatildeo existentes em termos de cobertura precisatildeo e frequecircncia de recolha bem
como compilar de forma global e compatiacutevel os dados provenientes de diferentes fontes
e tornaacute-los acessiacuteveis como instrumento de boa governaccedilatildeo112
Destaque para o
lanccedilamento do ldquoAtlas Europeu dos Maresrdquo tem como objectivo sensibilizar o puacuteblico
para as questotildees marinhas
108
SEC (2008) 2337 109
COSDP 949 PESC 1366 110
Convites agrave apresentaccedilatildeo de propostas MARE200813 e 200904 111
COM (2009) 540 final 7 112
COM (2009) 540 final 7-8
65
44 Perspectivas e visatildeo futura da PMIE
Os uacuteltimos dois anos confirmaram que a PMIE eacute uma poliacutetica muito promissora e
que pode contribuir de forma muito significativa para o crescimento o emprego e a
sustentabilidade ambiental nas zonas costeiras da Europa e para aleacutem destas Apesar de
recente esta nova poliacutetica da UE jaacute alterou a forma como a Europa gere as suas riquezas
mariacutetimas e costeiras
Apoacutes trecircs anos de deliberaccedilotildees intensas eacute fundamental manter este impulso para
dar uma resposta aos desafios essenciais a meacutedio e longo prazo que representam a
protecccedilatildeo do ambiente o crescimento econoacutemico e o bem-estar O duplo impacto das
alteraccedilotildees climaacuteticas e da crise econoacutemica faz-se sentir de uma forma particular no
mundo mariacutetimo os oceanos determinam o nosso clima e o sector mariacutetimo foi o motor
da globalizaccedilatildeo e da prosperidade
Por conseguinte eacute importante desenvolver o potencial econoacutemico da Europa
mariacutetima melhorar a acccedilatildeo dos poderes puacuteblicos nos mares e continuar a explorar as
sinergias que permitem o reforccedilo muacutetuo do crescimento econoacutemico e da estabilidade
ambiental Segundo a Comissatildeo Europeia a melhor forma de alcanccedilar estes objectivos eacute
avanccedilar em seis direcccedilotildees estrateacutegicas
Eacute necessaacuterio consolidar a governaccedilatildeo mariacutetima integrada Os progressos
alcanccedilados nos uacuteltimos anos devem ser traduzidos em estruturas integradas eficazes a
todos os niacuteveis de governaccedilatildeo As instituiccedilotildees da UE os Estados-Membros e as regiotildees
costeiras tecircm uma responsabilidade particular na integraccedilatildeo da poliacutetica mariacutetima a
montante e na adopccedilatildeo de programas coerentes e comuns para os assuntos mariacutetimos
contrariando a tendecircncia prevalecente para pensar a poliacutetica sectorial de uma forma
isolada A participaccedilatildeo das partes interessadas na definiccedilatildeo das poliacuteticas mariacutetimas deve
igualmente ser consagrada de forma mais permanente nas estruturas de governaccedilatildeo
resultando num diaacutelogo mais intenso entre a UE os Governos dos Estados-Membros e
as regiotildees costeiras que frequentemente detecircm as competecircncias fundamentais
necessaacuterias para uma abordagem integrada dos assuntos mariacutetimos Pela mesma razatildeo
seria conveniente criar uma plataforma intersectorial de diaacutelogo entre as partes
interessadas sobre os assuntos mariacutetimos113
113
COM (2009) 540 final 11
66
Os instrumentos poliacuteticos transectoriais satildeo fundamentais para fomentar o
desenvolvimento econoacutemico a monitorizaccedilatildeo do ambiente a seguranccedila e o respeito da
legislaccedilatildeo nos oceanos e mares da Europa Em especial o ordenamento do espaccedilo
mariacutetimo a par de um maior conhecimento do meio marinho pode incentivar
investimentos econoacutemicos consideraacuteveis e melhorar drasticamente a forma como
gerimos os nossos espaccedilos mariacutetimos preservando os seus ecossistemas Deve pois
converter-se num instrumento praacutetico a todos os niacuteveis de governaccedilatildeo relevantes e
contar com os mecanismos necessaacuterios para garantir um processo decisoacuterio comum
sobre os investimentos transfronteiriccedilos A integraccedilatildeo da vigilacircncia mariacutetima pode
contribuir para modificar a forma como as autoridades nacionais executam objectivos
essenciais como a luta contra a imigraccedilatildeo ilegal a protecccedilatildeo da navegaccedilatildeo comercial e
a protecccedilatildeo dos recursos naturais Os Estados-Membros e a Comissatildeo teratildeo de continuar
a colaborar nestes domiacutenios para que os processos iniciados nos uacuteltimos dois anos
possam alcanccedilar os resultados previstos114
A definiccedilatildeo dos limites de sustentabilidade das actividades humanas com um
impacto no meio marinho nos proacuteximos anos no acircmbito da Directiva-Quadro
ldquoEstrateacutegia Marinhardquo traraacute clareza e permitiraacute criar uma plataforma para o
desenvolvimento de todas as actividades mariacutetimas tendo em conta os seus efeitos
cumulativos Por esta razatildeo a aplicaccedilatildeo desta directiva continuaraacute a constituir um
objectivo fundamental da PMIE que deveraacute igualmente reforccedilar a cooperaccedilatildeo entre
todos os sectores e serviccedilos afectados nomeadamente entre as ciecircncias marinhas e a
poliacutetica para o meio marinho115
As estrateacutegias baseadas nas bacias mariacutetimas satildeo fundamentais para o ecircxito da
PMIE pois permitem adaptar as prioridades e os instrumentos poliacuteticos aos contextos
geograacutefico econoacutemico e poliacutetico especiacuteficos de cada grande regiatildeo mariacutetima Um
elemento essencial para que a PMIE seja bem sucedida eacute a cooperaccedilatildeo com e entre os
Estados-Membros e as regiotildees que partilham bacias mariacutetimas e sendo necessaacuterio esta
cooperaccedilatildeo deveraacute ser acompanhada de um diaacutelogo apropriado com os paiacuteses terceiros
que partilham bacias mariacutetimas com a UE As acccedilotildees a niacutevel das sub-bacias podem
igualmente ser uacuteteis e constituir exemplos positivos e de boas praacuteticas116
114
COM (2009) 540 final 11 115
COM (2009) 540 final 12 116
COM (2009) 540 final 12
67
Deveraacute prestar-se uma maior atenccedilatildeo agrave dimensatildeo internacional da PMIE A
Europa deve assumir um papel de motor na melhoria da governaccedilatildeo mariacutetima agrave escala
mundial como jaacute o fez no que respeita agrave pirataria ou agraves praacuteticas de pesca destrutivas A
Comissatildeo pretende reforccedilar o diaacutelogo com um nuacutemero limitado dos seus principais
parceiros mariacutetimos assim como a sua participaccedilatildeo em foacuteruns internacionais e
processos informais117
No presente contexto de crise econoacutemica a execuccedilatildeo da PMIE deveraacute recentrar-se
no crescimento econoacutemico no emprego e na inovaccedilatildeo sustentaacuteveis Por conseguinte no
futuro a UE deve explorar as sinergias entre a poliacutetica energeacutetica comunitaacuteria e a PMIE
promover a produccedilatildeo de energia no mar nomeadamente as formas de energia
renovaacuteveis e utilizar mais o mar para o transporte de energia por condutas redes
submarinas e navios Seraacute igualmente necessaacuterio fortalecer os viacutenculos entre a poliacutetica
comunitaacuteria de combate agraves alteraccedilotildees climaacuteticas e a PMIE desenvolvendo uma
estrateacutegia de adaptaccedilatildeo das zonas costeiras e mariacutetimas agraves alteraccedilotildees climaacuteticas com
vista a proteger as infra-estruturas costeiras e preservar a biodiversidade marinha Eacute
importante garantir que as zonas mariacutetimas e costeiras entrem plenamente em conta no
debate em curso sobre a coesatildeo territorial
A UE deve aleacutem disso promover ainda mais o transporte mariacutetimo a fim de
favorecer a co-modalidade pocircr em praacutetica o conceito de auto-estradas do mar e
melhorar o programa de transporte mariacutetimo de curta distacircncia da UE Ainda no acircmbito
do objectivo de impulsionar o desenvolvimento econoacutemico das actividades mariacutetimas
seraacute necessaacuterio encontrar a forma e os meios de estimular o emprego mariacutetimo e o
investimento na frota embandeirada da UE continuando todavia a apostar firmemente
no conceito de navios ecoloacutegicos Com efeito o apoio agrave inovaccedilatildeo e agrave investigaccedilatildeo a
favor de navios com baixo niacutevel de emissotildees ou mesmo com emissotildees nulas continuaraacute
a constituir a resposta principal da Comunidade agrave situaccedilatildeo do sector da construccedilatildeo
naval tatildeo importante do ponto de vista estrateacutegico Desta maneira a UE poderaacute
proporcionar aos estaleiros navais europeus e agrave europeia induacutestria do equipamento de
navios uma vantagem tecnoloacutegica sobre os seus concorrentes noutras regiotildees do mundo
e tornar o transporte mariacutetimo mais seguro e sustentaacutevel em especial ao longo das
costas da Europa118
117
COM (2009) 540 final 12 118
COM (2009) 540 final 12
68
Cap V ndash Estrateacutegia Nacional para o Mar
ldquoA Estrateacutegia Nacional para o Mar (ENM) constitui um instrumento poliacutetico
fundamental para que Portugal possa proteger e valorizar o inestimaacutevel recurso que o
oceano representa para o nosso paiacutesrdquo Cit pelo Dr Joatildeo Mira Gomes (ex-Secretaacuterio de
Estado da Defesa Nacional e dos Assuntos do Mar) na ENM 2007 p V)
Como referi no primeiro capiacutetulo a ligaccedilatildeo de Portugal ao mar ganhou especial
relevacircncia durante a eacutepoca dos Descobrimentos marcando decisivamente o iniacutecio do
processo de globalizaccedilatildeo As trocas comerciais culturais cientiacuteficas e tecnoloacutegicas daiacute
resultantes promoveram o grande desenvolvimento do nosso paiacutes e alteraram
definitivamente os processos de transmissatildeo de conhecimentos entre os povos Neste
capiacutetulo dedico-me agrave anaacutelise da evoluccedilatildeo entre 1998 e 2010 das principais dinacircmicas
mariacutetimas nacionais
Portugal actualmente dispotildee de uma das maiores zonas econoacutemicas exclusivas
(ZEE) da Europa com mais de 1700000 km2 o que corresponde a cerca de 18 vezes a
sua aacuterea terrestre existindo ainda a possibilidade de vir a contar com espaccedilos mariacutetimos
sob sua jurisdiccedilatildeo que poderatildeo exceder em muito a actual aacuterea da ZEE
Neste acircmbito a Estrutura de Missatildeo para a Extensatildeo da Plataforma Continental
(EMEPC) estaacute a trabalhar no sentido de determinar espaccedilos a reclamar por Portugal
para aleacutem das actuais 200 milhas naacuteuticas Assim a EMEPC elaborou a proposta
portuguesa chefiada pelo oceanoacutegrafo Manuel Pinto de Abreu que foi recentemente
apresentada agrave Comissatildeo de Limites para a Extensatildeo da Plataforma Continental (CLPC)
da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) Ateacute hoje a ONU recebeu 51 propostas de
Estados que querem ver aumentado o seu domiacutenio mariacutetimo Portugal foi o 44ordm paiacutes a
entregar a proposta A ONU encontra-se a avaliar a 16ordf proposta e prevecirc-se que a
decisatildeo relativa agrave proposta portuguesa seja conhecida em 2015
Caso seja aceite a proposta de alargamento pela ONU Portugal passaraacute a deter uma
aacuterea territorial equivalente 43 vezes agrave aacuterea de Portugal Continental Accedilores e Madeira
ou seja o equivalente agrave da Iacutendia e a segunda maior plataforma mundial a seguir aos
Estados Unidos da Ameacuterica
69
As Regiotildees Autoacutenomas da Madeira e dos Accedilores assumem aqui um papel de
destaque pelo seu posicionamento central nos espaccedilos mariacutetimos sob soberania ou
jurisdiccedilatildeo nacional
Este extenso espaccedilo mariacutetimo encerra alguns dos mais importantes ecossistemas
oceacircnicos a niacutevel global As caracteriacutesticas biogeograacuteficas e geomorfoloacutegicas das aacutereas
sob jurisdiccedilatildeo nacional englobam uma vasta biodiversidade marinha Os ambientes
insulares oceacircnicos o mar profundo e as planiacutecies abissais os montes e bancos
submarinos a dorsal meacutedio-atlacircntica119
os campos de fontes hidrotermais as
riquiacutessimas zonas estuarinas e lacustres os grandes canhotildees submarinos as zonas de
afloramento costeiro entre outros conferem a Portugal um patrimoacutenio natural uacutenico que
importa valorizar e preservar A este patrimoacutenio juntam-se os valores arqueoloacutegicos
culturais esteacuteticos e histoacutericos os recursos geoloacutegicos e minerais os recursos
energeacuteticos renovaacuteveis e os recursos biotecnoloacutegicos que no seu conjunto representam
um dos principais activos nacionais
Destaco tambeacutem o pioneirismo de Portugal ao niacutevel da concepccedilatildeo de um plano de
governacircncia integrado para os assuntos do Mar Refiro-me em particular ao relatoacuterio
da Comissatildeo Estrateacutegica dos Oceanos (CEO)ldquoO Oceano ndash Um Desiacutegnio Nacional
para o Seacuteculo XXIrdquo elaborado em 2004 que apresentou uma Estrateacutegia Nacional para o
Oceano Esta CEO dotou Portugal de uma nova visatildeo ldquoUm Oceano saudaacutevel
sustentaacutevel e seguro eacute o principal activo fiacutesico e sociocultural de Portugalrdquo e uma
missatildeo ldquoDestacar Portugal como uma naccedilatildeo mariacutetima da Uniatildeo Europeiardquoque
permita desenvolver e interiorizar colectivamente uma nova abordagem aos Oceanos
Para a prossecuccedilatildeo destas uacuteltimas a CEO baseou a sua estrateacutegia em cinco
objectivos que passo a enumerar
1) Valorizar a associaccedilatildeo de Portugal ao Oceano como Factor de Identidade
2) Assegurar o conhecimento e a protecccedilatildeo do Oceano
3) Promover o desenvolvimento sustentaacutevel de actividades econoacutemicas
4) Assumir uma posiccedilatildeo de destaque e especializaccedilatildeo em assuntos do Oceano
5) Construir uma estrutura institucional moderna de gestatildeo do oceano
119
A dorsal meacutedio-atlacircntica ou crista oceacircnica do Atlacircntico eacute uma cordilheira submarina que se estende
sob o Oceano Atlacircntico e o Oceano Aacutertico desde a latitude 87ordmN ateacute agrave ilha sub-antaacutertica de Bouvet agrave
latitude 54ordmS Os pontos mais elevados desta cordilheira emergem em vaacuterios locais formando ilhas
70
Em suma este valioso contributo surge da ldquonecessidade de encontrar mecanismos
de reforccedilo da identidade nacional que respondam agrave pressatildeo da homogeneizaccedilatildeo
cultural e agrave premecircncia de conceber um modelo de desenvolvimento sustentaacutevel que decirc
resposta agrave competitividade acrescida no quadro global em geral e no quadro europeu
em particular120
rdquo Este trabalho bem estruturado inovador e orientador serviu de
modelo-base para as actuais Estrateacutegia Nacional para o Mar e Poliacutetica Mariacutetima
Integrada Europeia
De facto Portugal goza de uma reputaccedilatildeo internacional de paiacutes mariacutetimo com
ideias e acccedilotildees proacuteprias sendo um activo contribuidor para a agenda global dos
oceanos
Depois de seacuteculos ligados ao mar natildeo se compreende muito bem nos dias de hoje
que o Mar seja para a maioria da sociedade portuguesa algo de distante
intangiacutevel e invisiacutevel121
No entanto saliento ainda que nos uacuteltimos anos em Portugal
foram dados passos importantes no que concerne agrave poliacutetica dos oceanos Entre os mais
significativos destaco
Em 1998 a Comissatildeo Mundial Independente para os Oceanos liderada
por Portugal e presidida pelo ex-Presidente da Repuacuteblica Dr Maacuterio Soares
aprovou o relatoacuterio ldquoO Oceano Nosso Futurordquo no acircmbito da Comissatildeo
Oceanograacutefica Intergovernamental da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a
Educaccedilatildeo Ciecircncia e Cultura (UNESCO)
O Ano Internacional dos Oceanos que se comemorou em 1998 na
sequecircncia de uma proposta apresentada por Portugal agrave Assembleia da Comissatildeo
Oceanograacutefica Intergovernamental da UNESCO e adoptada pela Assembleia
Geral das Naccedilotildees Unidas serviu de elemento integrador da Exposiccedilatildeo Mundial
de Lisboa (Expo 98) subordinada ao tema ldquoO Oceano um patrimoacutenio para o
futurordquo
Ainda nesse ano as Resoluccedilotildees do Conselho de Ministros nuacutemeros
8898 8998 e 9098 de 10 de Julho criaram respectivamente
- A Comissatildeo Oceanograacutefica Intersectorial com o objectivo de reforccedilar a
capacidade de resposta do sector de investigaccedilatildeo e desenvolvimento em ciecircncias e
120
Discurso do Primeiro-Ministro Duratildeo Barroso - XV Governo Constitucional (200204) ndash durante a
cerimoacutenia de tomada de posse da Comissatildeo Estrateacutegica dos Oceanos no dia 972003 121
ENM 2006-2016 p 2
71
tecnologias do mar e serviccedilos oceanograacuteficos afins mediante uma estrateacutegia que
permita compatibilizar acccedilotildees congregar esforccedilos e evitar duplicaccedilotildees optimizando
o uso dos meios humanos e das infra-estruturas disponiacuteveis
- O Programa Dinamizador das Ciecircncias e Tecnologias do Mar com o
objectivo de dar a este domiacutenio de investigaccedilatildeo baacutesica e aplicada a prioridade que ela
requer (numa perspectiva) de natureza estruturante e interdisciplinar
- A Comissatildeo Interministerial para a Delimitaccedilatildeo da Plataforma
Continental com vista a considerar a possibilidade da extensatildeo do limite exterior da
plataforma continental para aleacutem das 200 milhas naacuteuticas no quadro previsto pela
Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas sobre o Direito do Mar
Em 2003 foi criada a Comissatildeo Estrateacutegica dos Oceanos (Resoluccedilatildeo do
Conselho de Ministros nordm 812003 de 17 de Junho) com o objectivo de elaborar
os elementos de definiccedilatildeo de uma estrateacutegia nacional para o oceano Esta
comissatildeo produziu em 2004 um relatoacuterio com um conjunto de cerca de 250
recomendaccedilotildees e propostas de acccedilatildeo estrateacutegicas
Em 2005 foi criada a Estrutura de Missatildeo para a Extensatildeo da Plataforma
Continental (Resoluccedilatildeo do Conselho de Ministros nordm 92005 de 17 de Janeiro)
com o objectivo de preparar uma proposta de extensatildeo da plataforma continental
de Portugal para aleacutem das 200 milhas naacuteuticas para apresentaccedilatildeo agrave Comissatildeo
de Limites da Plataforma Continental das Naccedilotildees Unidas Esta substituiu a ex-
Comissatildeo Interministerial para a Delimitaccedilatildeo da Plataforma Continental
Em 2005 foi ainda criada a Estrutura de Missatildeo para os Assuntos do Mar
(EMAM) Resoluccedilatildeo do Conselho de Ministros nordm 1282005 de 10 de Agosto
com o objectivo de dar continuidade ao trabalho jaacute desenvolvido e a missatildeo de
preparar uma proposta que estabeleccedila as medidas que devem ser implementadas
para o desenvolvimento de uma poliacutetica integrada do Governo para os assuntos
do mar e para uma acccedilatildeo articulada de todas as entidades com competecircncia nas
aacutereas ligadas ao mar
Em 2006 foi dado iniacutecio agrave instalaccedilatildeo em Lisboa da Agecircncia Europeia de
Seguranccedila Mariacutetima que desempenha um papel fundamental no que se refere
aos aspectos relativos agrave recolha registo e avaliaccedilatildeo de dados teacutecnicos nos
domiacutenios da seguranccedila do traacutefego e da poluiccedilatildeo marinha
72
Em 2007 durante a Presidecircncia Portuguesa do Conselho Europeu
procedeu-se agrave organizaccedilatildeo de uma Conferecircncia Ministerial sobre uma Poliacutetica
Mariacutetima para a Uniatildeo Europeia
A submissatildeo da proposta de extensatildeo da plataforma continental de
Portugal para aleacutem das 200 milhas naacuteuticas decorreu a 11 de Maio de 2009
junto de Hariharan Pakshi Rajan da CLPC da ONU
A primeira apresentaccedilatildeo da mesma proposta de extensatildeo da plataforma
continental portuguesa teve lugar no dia 13 de Abril de 2010 na sede das ONU
em Nova Iorque
Refiro mais uma vez que Portugal conjuntamente com Franccedila e Espanha foram
dos primeiros Estados-membros a dar contributos para o Livro Verde
Relevo ainda que a centralidade e a dimensatildeo atlacircntica dos espaccedilos mariacutetimos sob
soberania ou jurisdiccedilatildeo nacional reforccedilam o papel-chave que Portugal podedeve
desempenhar no quadro da Uniatildeo Europeia como elemento de ligaccedilatildeo privilegiada aos
Paiacuteses Africanos de Liacutengua Oficial Portuguesa (PALOP) bem como ao continente
americano e ao resto do Mundo A posiccedilatildeo geoestrateacutegica do espaccedilo mariacutetimo sob
soberania ou jurisdiccedilatildeo nacional impotildee ainda importantes desafios e responsabilidades
nas aacutereas da defesa nacional seguranccedila e vigilacircncia imigraccedilatildeo ilegal combate agrave
poluiccedilatildeo apoio agrave navegaccedilatildeo e salvaguarda da vida humana no mar mas engloba
tambeacutem um conjunto de oportunidades de desenvolvimento econoacutemico e de ligaccedilatildeo
entre as vaacuterias regiotildees do territoacuterio nacional
A mais-valia para Portugal da ENM eacute tornar o mar um projecto nacional Para
tal deve apostar numa abordagem integrada da governaccedilatildeo dos assuntos do mar que
pela primeira vez congregue os esforccedilos das diferentes tutelas dos agentes econoacutemicos
da comunidade cientiacutefica das organizaccedilotildees natildeo governamentais e tambeacutem da sociedade
civil Deste modo co-responsabiliza todos os actores para o aproveitamento do mar
como factor diferenciador do desenvolvimento econoacutemico e social valorizando e
preservando este valioso patrimoacutenio
O Estado tem um papel facilitador e promotor de condiccedilotildees de desenvolvimento
econoacutemico e social mas cabe agraves empresas e agrave sociedade civil o papel principal na
concretizaccedilatildeo dos objectivos que satildeo a razatildeo de ser da ENM A obtenccedilatildeo de resultados
tangiacuteveis soacute seraacute perceptiacutevel em algum casos a meacutediolongo prazo exigindo por isso
73
uma aposta raacutepida mas persistente nas aacutereas ligadas agrave educaccedilatildeo capacitaccedilatildeo de meios
humanos criaccedilatildeo e optimizaccedilatildeo de infra-estruturas e investigaccedilatildeo e desenvolvimento
51 Princiacutepios e objectivos
A proclamaccedilatildeo do mar como principal factor diferenciador e de identidade
nacional assumindo-o como prioridade estrateacutegica e um projecto nacional reclama a
existecircncia de uma visatildeo simultaneamente ambiciosa e realista crediacutevel e atraente
Pretendem-se criar as condiccedilotildees e mecanismos que possibilitem aos diversos
agentes desenvolver de forma equilibrada e articulada as muacuteltiplas actividades ligadas
ao mar tendo em vista a promoccedilatildeo da qualidade do ambiente marinho do crescimento
econoacutemico e a criaccedilatildeo de novos empregos e oportunidades122
A ENM permite a organizaccedilatildeo de planos de acccedilatildeo orientados para a mobilizaccedilatildeo a
educaccedilatildeo e a capacitaccedilatildeo de toda a sociedade portuguesa e dos seus parceiros
internacionais A ENM visa o aproveitamento e utilizaccedilatildeo sustentaacutevel e responsaacutevel do
oceano e das zonas costeiras e criaccedilatildeo de ferramentas de gestatildeo que tornem os processos
transparentes rigorosos e crediacuteveis
52 Pilares estrateacutegicos
As razotildees que tornam a formulaccedilatildeo a implementaccedilatildeo e a avaliaccedilatildeo da ENM um
enorme desafio satildeo de vaacuteria ordem a saber
- Em primeiro lugar a reconhecida falta de conhecimento de compreensatildeo e de
percepccedilatildeo quer devido agrave complexidade dos ecossistemas oceacircnicos e costeiros e do real
impacto e inerentes consequecircncias das actividades humanas quer devido agrave difiacutecil
avaliaccedilatildeo do potencial das actividades econoacutemicas que dificultam a tomada de decisatildeo
122
ENM 2006-2016 p 10
74
- Em segundo lugar a dificuldade verificada na partilha de responsabilidade pela
gestatildeo do oceano como recurso comum e espaccedilo tridimensional devido agrave
interdependecircncia e aos conflitos que se verificam entre as vaacuterias utilizaccedilotildees interesses
jurisdiccedilotildees e processos de gestatildeo
- Em terceiro lugar o oceano e as zonas costeiras representam hoje a niacutevel
mundial uma grande oportunidade para novas actividades econoacutemicas que face aos
avanccedilos tecnoloacutegicos recentes comeccedilam a orientar o seu interesse e acccedilatildeo para o mar
obrigando a novas formas de gestatildeo e de defesa e salvaguarda activa dos interesses
nacionais
Para que Portugal aproveite as oportunidades existentes e mitigue as dificuldades
as linhas orientadoras da ENM assentam em trecircs pilares estrateacutegicos
Estes satildeo os factores criacuteticos de sucesso ou seja aquilo que se torna indispensaacutevel
assegurar para valorizar definitivamente a importacircncia do mar como elemento
diferenciador projectando-o no futuro como um dos principais motores de
desenvolvimento do Paiacutes
A construccedilatildeo de uma economia mariacutetima proacutespera ao serviccedilo da qualidade de vida
e do bem-estar social e respeitando o ambiente tem de ser suportada pelos seguintes
pilares estrateacutegicos123
O conhecimento
O planeamento e o ordenamento espaciais
A promoccedilatildeo e a defesa activas dos interesses nacionais
No que concerne ao conhecimento utilizado aqui no seu sentido mais lato soacute
atraveacutes de uma aposta coerente e sustentada na investigaccedilatildeo cientiacutefica e no
desenvolvimento de novas tecnologias aplicadas ao oceano e agraves zonas costeiras eacute
possiacutevel criar uma base soacutelida para as decisotildees de governaccedilatildeo numa perspectiva de
desenvolvimento sustentaacutevel e de gestatildeo integrada Adicionalmente a formaccedilatildeo a
educaccedilatildeo a sensibilizaccedilatildeo a difusatildeo da informaccedilatildeo e o respectivo acesso bem como o
uso de indicadores objectivos de suporte agraves vaacuterias poliacuteticas sectoriais e intersectoriais
satildeo certamente os melhores factores de credibilidade e dinamizaccedilatildeo do investimento
puacuteblico e privado nas actividades relacionadas com o mar
123
ENM 2006-2016 p 12
75
O planeamento e o ordenamento espaciais satildeo as ferramentas de governaccedilatildeo
promovidas pelas entidades competentes indispensaacuteveis para assegurar uma visatildeo de
conjunto assente nos princiacutepios do desenvolvimento sustentaacutevel da precauccedilatildeo e da
abordagem ecossisteacutemica atraveacutes do levantamento e ordenamento de todas as
utilizaccedilotildees existentes e futuras permitindo dar suporte a uma gestatildeo verdadeiramente
integrada progressiva e adaptativa do oceano e da zona costeira e do desenvolvimento
das actividades associadas
A promoccedilatildeo e a defesa activas dos interesses nacionais obtecircm-se pelo
envolvimento empenhado e competente no acircmbito das relaccedilotildees bilaterais e
multilaterais prosseguidas atraveacutes da participaccedilatildeo cooperaccedilatildeo e contribuiccedilatildeo proacute-
activas nos diversos fora internacionais Mais uma vez estas acccedilotildees tecircm de ser
suportadas por uma estrutura de coordenaccedilatildeo que garanta a articulaccedilatildeo a niacutevel nacional
nas suas vertentes diplomaacutetica poliacutetica econoacutemica social ambiental cientiacutefica
tecnoloacutegica de defesa nacional e seguranccedila reforccedilando a imagem a soberania e a
identidade nacionais
O eventual insucesso das medidas ou acccedilotildees associadas a qualquer um destes trecircs
pilares estrateacutegicos condicionaraacute de forma significativa o desenvolvimento efectivo de
qualquer poliacutetica ligada ao oceano que integre de forma sustentaacutevel as vertentes
econoacutemica social e ambiental
53 Acccedilotildees e medidas
O estabelecimento e aplicaccedilatildeo de acccedilotildees e medidas que materializem os trecircs
pilares estrateacutegicos prioritaacuterios eacute fundamental para o sucesso das actividades
econoacutemicas onde se cruzam e renovam sectores tradicionais e sectores em
desenvolvimento como suporte essencial para a criaccedilatildeo de riqueza e melhoria do
crescimento coesatildeo social e qualidade de vida124
124
ENM 2006-2016 p 17
76
Soacute com uma ENM assente nestes alicerces seraacute possiacutevel alcanccedilar os objectivos
preconizados nas diferentes poliacuteticas nacionais nomeadamente nas seguintes aacutereas
Transportes
Apostando na competitividade dos portos nacionais e fomentando o transporte
mariacutetimo enquanto modo de transporte menos poluente Neste contexto importa
promover a articulaccedilatildeo do transporte mariacutetimo com outros modos de transporte
acrescentando valor atraveacutes de cadeias logiacutesticas bem como atraveacutes da implementaccedilatildeo
de instrumentos de normalizaccedilatildeo e simplificaccedilatildeo de procedimentos tais como a janela
uacutenica portuaacuteria125
Energia
Apostando nas energias renovaacuteveis contribuindo para a reduccedilatildeo da dependecircncia
energeacutetica externa e da emissatildeo de gases com efeito de estufa aproveitando os recursos
existentes no mar agilizando os procedimentos de licenciamento mobilizando e
atraindo investimento privado e apostando nas inovaccedilotildees tecnoloacutegicas que permitam
responder aos desafios da competitividade deste sector e ao desenvolvimento de uma
induacutestria que produza bens equipamentos e serviccedilos que potenciem o emprego as
exportaccedilotildees de equipamentos e tecnologia e a reconversatildeo de induacutestrias como por
exemplo as metalo-mecacircnicas e os estaleiros navais assegurando tambeacutem o melhor
conhecimento das aptidotildees geoloacutegicas do deep offshore nomeadamente para fins
energeacuteticos com origem foacutessil
Aquicultura e pescas
Assegurando a sustentabilidade da exploraccedilatildeo de recursos criando medidas que
tornem mais justa a distribuiccedilatildeo de rendimentos na cadeia de valor diversificando as
actividades econoacutemicas das comunidades piscatoacuterias implementando aacutereas marinhas
protegidas recuperando ecossistemas degradados reforccedilando o sistema de recifes
125
A janela uacutenica portuaacuteria garante que os agentes econoacutemicos passem a relacionar-se com cada porto
atraveacutes de um uacutenico canal electroacutenico uma espeacutecie de balcatildeo uacutenico virtual tendo a possibilidade de tratar
desta forma todos os processos administrativos para o despacho de mercadorias e navios Desta forma
ldquosimplifica-se os processos para melhor servir as empresasrdquo conforme referiu o ex-secretaacuterio de Estado
dos Assuntos Fiscais De acordo com Joatildeo Amaral Tomaz em 2005 ldquo99 por cento das mercadorias
importadas em Portugal chegaram pela via mariacutetimardquo O valor representa ldquoa entrada de 15000 navios o
que em termos de processo administrativo corresponde a 15 formulaacuterios e a cerca de 100 paacuteginas por
naviordquo No total satildeo quase ldquoum milhatildeo e quinhentas mil paacuteginas de papel que deveratildeo ser eliminadasrdquo
77
artificiais fomentando a investigaccedilatildeo e desenvolvimento em sistemas de aquicultura
offshore garantindo a sua rentabilidade econoacutemica e sustentabilidade ambiental
Defesa nacional e seguranccedila
Clarificando as atribuiccedilotildees aacutereas de intervenccedilatildeo e coordenaccedilatildeo das entidades do
Sistema de Autoridade Mariacutetima Intervindo na prevenccedilatildeo e combate agrave poluiccedilatildeo na
seguranccedila da navegaccedilatildeo e protecccedilatildeo e salvaguarda da vida humana no mar no acircmbito
dos sistemas nacionais para a busca e salvamento na fiscalizaccedilatildeo mariacutetima na
mitigaccedilatildeo de riscos naturais e no apoio agraves populaccedilotildees no acircmbito do Serviccedilo Nacional de
Protecccedilatildeo Civil
Ciecircncia tecnologia e inovaccedilatildeo
Investindo em recursos humanos qualificados projectos e infra-estruturas de
ciecircncia e tecnologia associadas ao oceano optimizando os recursos existentes
fomentando e reforccedilando a cooperaccedilatildeo e partilha de meios entre instituiccedilotildees e
participando activamente nas redes internacionais
Ambiente e conservaccedilatildeo da natureza
Assegurando o bom funcionamento e manutenccedilatildeo dos ecossistemas marinhos e
costeiros promovendo o conhecimento e protecccedilatildeo da biodiversidade marinha
recuperando habitats degradados e salvaguardando as aacutereas essenciais para a
conservaccedilatildeo e gestatildeo dos recursos vivos e natildeo vivos nomeadamente atraveacutes da criaccedilatildeo
de uma rede de aacutereas marinhas protegidas assegurando o combate e controlo da
poluiccedilatildeo incluindo o efeito das actividades humanas realizadas em meio terrestre sobre
o meio marinho combatendo e prevenindo a introduccedilatildeo de espeacutecies autoacutectones e
assegurando a monitorizaccedilatildeo global do estado de sauacutede do ambiente marinho
Educaccedilatildeo cultura e sensibilizaccedilatildeo
Inserindo nos programas escolares o tema oceano em todas as suas dimensotildees
promovendo a mediatizaccedilatildeo das actividades mariacutetimas junto da sociedade apostando
nos centros de interpretaccedilatildeo aquaacuterios oceanaacuterios e museus dedicados ao mar e
fomentando o ensino naval e naacuteutico a valorizaccedilatildeo do patrimoacutenio cultural subaquaacutetico e
a educaccedilatildeo ambiental
78
Turismo lazer desportos e naacuteutica de recreio
Valorizando o mar como diferenciador da oferta turiacutestica e estimulando as
actividades associadas ao mar que permitam a ocupaccedilatildeo de tempos livres o lazer e o
desporto desenvolvendo condiccedilotildees para um faacutecil e natural acesso ao mar promovendo
o turismo naacuteutico e oceacircnico atraveacutes da aposta na organizaccedilatildeo de provas desportivas
internacionais de grande prestiacutegio e em actividades mariacutetimo-turiacutesticas como a vela o
remo a canoagem o surf o mergulho e a observaccedilatildeo de aves e cetaacuteceos fomentando o
turismo associado agrave actividade da pesca tirando partido das importantes aacutereas naturais
classificadas existentes na nossa costa onde assumem um importante papel as Regiotildees
Autoacutenomas dos Accedilores e da Madeira para dinamizar o turismo de natureza
promovendo o turismo de cruzeiros jaacute em franca expansatildeo no nosso paiacutes
Poliacutetica externa
Promovendo a centralidade atlacircntica de Portugal e as relaccedilotildees externas com outros
continentes nomeadamente as relaccedilotildees transatlacircnticas a desenvolver no acircmbito da
comunidade dos PALOP afirmando Portugal como o paiacutes mariacutetimo da Europa e
defendendo os interesses nacionais em todos os fora internacionais relevantes
Foram identificadas trecircs acccedilotildees prioritaacuterias126
que tendo em consideraccedilatildeo a
exigecircncia do contexto actual satildeo consideradas como sendo de implementaccedilatildeo de curto
prazo
Criar uma comissatildeo de coordenaccedilatildeo interministerial para a
implementaccedilatildeo da ENM E assim a articulaccedilatildeo intergovernamental dos assuntos
do mar seraacute desta forma garantida de modo permanente mantendo-se as
competecircncias e aacutereas de acccedilatildeo vertical e sectorial de cada tutela
Melhorar a articulaccedilatildeo e coordenaccedilatildeo das posiccedilotildees nacionais relativas
aos assuntos do mar nos diversos fora internacionais Esta eacute uma acccedilatildeo central
para afirmar Portugal como um paiacutes que defende de forma coerente os seus
interesses e assume a lideranccedila dos dossiers internacionais no que respeita aos
assuntos do mar
Assegurar o acompanhamento teacutecnico diplomaacutetico e poliacutetico da
discussatildeo puacuteblica sobre o Livro Verde da Poliacutetica Mariacutetima Europeia e do
126
ENM 2006-2016 p18
79
processo subsequente durante o qual eacute fundamental que o Paiacutes se mobilize de
forma a garantir que Portugal se mantenha na vanguarda da nova abordagem aos
assuntos do mar ao niacutevel europeu atraveacutes de uma participaccedilatildeo esclarecida
eficaz e abrangente
Atenta agrave natureza marcadamente horizontal da ENM definiram-se um conjunto de
acccedilotildees estrateacutegicas que identificam medidas transversais que contribuem para criar
condiccedilotildees favoraacuteveis para o melhor aproveitamento do mar de forma sustentaacutevel A
implementaccedilatildeo destas acccedilotildees articuladas com as restantes estrateacutegias nacionais
permitiraacute operacionalizar os pilares estrateacutegicos definidos anteriormente acrescentando
valor agraves acccedilotildees actualmente em curso e contribuindo para o objectivo central de definir
o mar como um ldquoprojecto nacionalrdquo
Foram assim seleccionadas oito acccedilotildees estrateacutegicas127
a saber
A sensibilizaccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo da sociedade para a importacircncia do mar
A promoccedilatildeo do ensino e divulgaccedilatildeo nas escolas de actividades ligadas ao
mar
A promoccedilatildeo de Portugal como um centro de excelecircncia de investigaccedilatildeo
das ciecircncias do mar da Europa
O planeamento e ordenamento espacial das actividades
A protecccedilatildeo e recuperaccedilatildeo dos ecossistemas marinhos
O fomento da economia do mar
A aposta nas novas tecnologias aplicadas agraves actividades mariacutetimas
A defesa nacional a seguranccedila a vigilacircncia e a protecccedilatildeo dos espaccedilos
mariacutetimos sob soberania ou jurisdiccedilatildeo nacional
A proposta da Estrateacutegia Nacional para o Mar foi aprovada na generalidade em
Conselho de Ministros a 4 de Outubro de 2006 A Estrateacutegia Nacional para o Mar
assume-se como um documento dinacircmico aberto aos ajustamentos que a evoluccedilatildeo das
suas condicionantes e a avaliaccedilatildeo da sua execuccedilatildeo vierem a recomendar Vigora no
periacuteodo de 2006 a 2016 ano em que deveraacute ser sujeita a uma revisatildeo global com base
num processo de avaliaccedilatildeo e discussatildeo puacuteblica
127
ENM 2006-2016 pp 22-23
80
Relativamente agrave ENM tenho a comentar que depois da anaacutelise efectuada reparei na
inexistecircncia de um programa de acccedilatildeo efectivo (prazos orccedilamentaccedilatildeo parcerias
instrumentos financeiros ao dispocircr etc) anexo agrave poliacutetica nacional para o mar Natildeo
obstante a ratificaccedilatildeo do Conselho de Ministros da ENM esta Estrateacutegia sugere que
cabe agrave sociedade civil e agrave iniciativa privada o papel principal na concretizaccedilatildeo dos
objectivos da Estrateacutegia sendo o Estado relegado para um papel de mero facilitador
Satildeo de facto os stakeholders os principais responsaacuteveis pela implementaccedilatildeo da
Estrateacutegia mas teraacute de ser o Estado a criar as condiccedilotildees favoraacuteveis para o iniacutecio deste
novo ciclo A ver pelas oito acccedilotildees estrateacutegicas propostas a sua boa execuccedilatildeo tem no
Estado o seu principal responsaacutevel Soacute com um Estado determinado e perseverante a
acccedilatildeo estrateacutegica pode ser verdadeiramente ldquolanccedilada ao marrdquo
No entanto percebemos que nos discursos oficiais nomeadamente de Sua
Excelecircncia o Presidente da Repuacuteblica Professor Aniacutebal Cavaco Silva os assuntos do
mar estatildeo na ordem do dia conforme constatei nos excertos do seu discurso128
na
Assembleia da Repuacuteblica durante a 36ordf Sessatildeo Comemorativa do 25 de Abril de 2010
(hellip)ldquoTemos de repensar a nossa relaccedilatildeo com o mar Repensar o modo como
exploramos as oportunidades que ele nos oferece Importa afirmar a ideia de que o mar
eacute um activo econoacutemico maior do nosso futurordquo (hellip)rdquoAgraves vantagens decorrentes da nossa
geografia da Histoacuteria e da imagem externa do Paiacutes podemos ainda juntar as
estrateacutegias e poliacuteticas para o mar desenhadas nos uacuteltimos seis anos em Portugal e na
proacutepria Uniatildeo Europeia Natildeo eacute necessaacuterio fazer mais estudos e relatoacuterios Basta agir
em cumprimento daquelas estrateacutegiasrdquo (hellip) ldquoEacute essencial que criemos condiccedilotildees e
incentivemos os agentes econoacutemicos a investir no conjunto dos sectores que ligam
economicamente Portugal ao marhellipPortugal e os Portugueses precisam de desiacutegnios
que lhes decircem mais coesatildeo mais auto-estima e mais propoacutesito de existir O mar eacute
certamente um delesrdquo (hellip)
128
Este discurso pode ser consultado na integra no site oficial da Presidecircncia da Repuacuteblica Portuguesa
httpwwwpresidenciaptidc=22ampidi=39445
81
54 O Hypercluster da economia do mar
ldquoUm domiacutenio de potencial estrateacutegico para o desenvolvimento da economia
portuguesardquo
Dentro das poliacuteticas mariacutetimas nacionais natildeo posso deixar de enaltecer o estudo de
economia poliacutetica realizado pela equipa multi-disciplinar da SaeR ndash Sociedade de
avaliaccedilatildeo estrateacutegica e risco Lda ndash denominado Hypercluster da Economia do Mar129
sob a coordenaccedilatildeo do ex-ministro das Financcedilas Professor Ernacircni Lopes por iniciativa
da Associaccedilatildeo Comercial de Lisboa Trata-se de uma obra de referecircncia cuja leitura
considero indispensaacutevel a todos aqueles (decisores poliacuteticos empresaacuterios acadeacutemicos e
sociedade civil) que estatildeo empenhados em deixar aos seus descendentes um paiacutes
diferenciado internacionalmente relevante e seguramente mais proacutespero
O estudo propriamente dito estaacute dividido em trecircs partes primeira parte ndash a
fundamentaccedilatildeo segunda parte ndash a avaliaccedilatildeo estrateacutegica das componentes e a visatildeo de
conjunto terceira parte ndash a estrateacutegia e os planos de acccedilatildeo
O estudo confronta-nos com o facto amplamente demonstrado de que a economia
portuguesa estaacute a sofrer uma descontinuidade nos seus padrotildees de modernizaccedilatildeo e nos
seus modelos de desenvolvimento e a anaacutelise prospectiva da economia nacional conduz
a um cenaacuterio espontacircneo de definhamento e agrave necessidade de se caminhar para um
cenaacuterio de afirmaccedilatildeo estrateacutegica para Portugal
O hypercluster configura-se como simultaneamente uma forccedila propulsora e um
catalisador capaz de organizar e dinamizar um conjunto de sectores com elevado
potencial de crescimento e inovaccedilatildeo e capacidade para atraiacuterem recursos e
investimentos de qualidade nomeadamente externos
Segundo o estudo a economia do mar representa hoje apenas 2 do PIB e gera
cerca de 75000 empregos o que eacute considerado muito abaixo do seu potencial face ateacute a
comparaccedilotildees internacionais com paiacuteses ou regiotildees proacuteximas O efeito multiplicador de
28 configura estas actividades como geradoras fortes de valor acrescentado admitindo-
129
Hypercluster do Mar - httpwwwsaerptupUPLOADbin2_imagem_0955656001242642284-657pdf
82
se que possam vir a representar em 2025 directamente cerca de 45 do PIB valor
que sobe para 10 a 12 englobando os valores indirectos
Haveraacute assim que criar nas palavras inspiradoras do Professor Ernacircni Lopes um
novo desiacutegnio nacional tornar Portugal num actor mariacutetimo relevante a niacutevel global
na viragem do I para o II quartel do seacuteculo XXI130
O estudo propotildee por fim um masterplan distribuiacutedo por quatro plataformas
diferentes de planos e acccedilotildees a saber
1) Planos prioritaacuterios
Englobando os componentes com maiores condiccedilotildees de atractividade e
competitividade e capacidades para servirem de motores catalisadores e formatadores
sisteacutemicos do conjunto (portos logiacutestica amp transportes mariacutetimos naacuteutica de recreio amp
turismo naacuteutico pesca aquicultura amp induacutestria do pescado visibilidade comunicaccedilatildeo
amp cultura mariacutetima e produccedilatildeo de pensamento estrateacutegico)
2) Planos de sustentaccedilatildeo imediata
Englobando os componentes fundamentais para o bom funcionamento da ldquolinha da
frenterdquo (serviccedilos mariacutetimos construccedilatildeo amp reparaccedilatildeo navais e obras mariacutetimas)
3) Planos de alimentaccedilatildeo
Englobando os componentes criadores de consistecircncia e sustentabilidade a longo
prazo com papel regenerador e inovador do conjunto (investigaccedilatildeo cientiacutefica inovaccedilatildeo
amp desenvolvimento ensino amp formaccedilatildeo defesa amp seguranccedila no mar e ambiente amp
conservaccedilatildeo da natureza)
4) Plano meta-oceano (prospectivo e de longo prazo)
O estudo propotildee tambeacutem algumas medidas consideradas determinantes no caminho
criacutetico para o sucesso da implementaccedilatildeo deste projecto Como por exemplo a criaccedilatildeo do
Foacuterum Empresarial da Economia do Mar131
(FEM)
130
Referecircncia feita no website da SaeR pelo coordenador no estudo sobre o Hypercluster da economia do
Mar Professsor Doutor Ernacircni Lopes
httpwwwsaerptindexphplop=conteudoampop=f7177163c833dff4b38fc8d2872f1ec6ampid=c24cd76e1ce
41366a4bbe8a49b02a028 131
Foacuterum Empresarial da Economia do Mar - httpwwwfempt
83
O FEM conheceu recentemente a sua constituiccedilatildeo estatutaacuteria conta no momento
com o Eng Fernando Ribeiro e Castro na qualidade de secretaacuterio-geral e estaacute
organizado de acordo com as componentes da economia do mar do hypercluster
apresentado
Por conseguinte originou a formaccedilatildeo de vaacuterios grupos de trabalho com o objectivo
principal de concretizar as linhas de acccedilatildeo previstas nos planos prioritaacuterios pondo
assim em marcha o Hypercluster da Economia do Mar em Portugal Actualmente
fazem parte do FEM cinquenta e oito empresas nacionais
55 Plano de Ordenamento do Espaccedilo Mariacutetimo (POEM)132
The problems of ocean space are closely interrelated and need to be considered as
a whole 133
O ordenamento do espaccedilo mariacutetimo eacute um instrumento fundamental da PMIE
Permite agraves autoridades puacuteblicas e agraves partes interessadas coordenarem a acccedilatildeo
respectiva e optimiza a utilizaccedilatildeo do espaccedilo marinho beneficiando o desenvolvimento
econoacutemico do meio marinho134
No acircmbito do Plano de Acccedilatildeo da ENM Resoluccedilatildeo do Conselho de Ministros nordm
1632006 de 12 de Dezembro foi aprovado um Programa de Acccedilatildeo que integra entre
outros o ldquoPlaneamento e ordenamento do espaccedilo e actividades mariacutetimasrdquo que prevecirc o
desenvolvimento de um POEM Este plano tem como objectivo ordenar os usos e
actividades do espaccedilo mariacutetimo presentes e futuros em estreita articulaccedilatildeo com a
132
Plano de Ordenamento do Espaccedilo Mariacutetimo - httppoeminagpt 133
ldquoOs problemas do espaccedilo mariacutetimo estatildeo estreitamente inter-relacionados e devem ser considerados
como um todordquo Preacircmbulo da Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas sobre o Direito do Mar (UNCLOS)
Adoptada em 1982 entrou em vigor em 1994 A Comunidade Europeia e todos os Estados-Membros da
UE satildeo Partes na UNCLOS 134
COM (2008) 791 final ldquoRoteiro para o ordenamento do espaccedilo mariacutetimo definiccedilatildeo de princiacutepios
comuns na EUrdquo p 2
84
gestatildeo da zona costeira garantindo a utilizaccedilatildeo sustentaacutevel dos recursos a sua
preservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo potenciando a utilizaccedilatildeo eficiente do espaccedilo marinho no
quadro de uma abordagem integrada e intersectorial e fomentando a importacircncia
econoacutemica ambiental e social do mar
Tendo presente que os instrumentos de gestatildeo territorial existentes a niacutevel nacional
tecircm um enfoque essencialmente na vertente terrestre natildeo contemplando a vertente
mariacutetima ou natildeo considerando o acircmbito multidimensional do mar isto eacute o fundo a
coluna de aacutegua a superfiacutecie o litoral e a atmosfera importa encontrar forma de regular
esta mateacuteria de forma coerente e articulada
Assim atraveacutes do Despacho nordm 322772008 da CIAM de 18 de Dezembro e
considerando o disposto no nordm 2 do artigo 38ordm do Decreto-Lei nordm 38099 de 22 de
Setembro na redacccedilatildeo dada pelo Decreto-Lei nordm 462009 de 20 de Fevereiro foi
determinada a elaboraccedilatildeo do Plano de Ordenamento do Espaccedilo Mariacutetimo
O POEM como plano sectorial deveraacute estabelecer e justificar as opccedilotildees e os
objectivos sectoriais com incidecircncia territorial e definir normas de execuccedilatildeo integrando
as peccedilas graacuteficas necessaacuterias agrave representaccedilatildeo da respectiva expressatildeo territorial e seraacute
acompanhado por um relatoacuterio que procede ao diagnoacutestico da situaccedilatildeo territorial sobre a
qual interveacutem e agrave fundamentaccedilatildeo teacutecnica das opccedilotildees e objectivos estabelecidos
O desenvolvimento deste plano considera como documento orientador a
Comunicaccedilatildeo da Comissatildeo Europeia denominado ldquoRoteiro para o ordenamento do
espaccedilo mariacutetimordquo
Visatildeo
ldquoEspaccedilo Mariacutetimo diferenciador da identidade nacional sustentaacutevel ordenado e
seguro suporte de actividades socioeconoacutemicas e potenciador de recursos assente no
conhecimento na inovaccedilatildeo e na especificidade geograacuteficardquo
Missatildeo
ldquoAfirmar a importacircncia econoacutemica ambiental e social do Mar assente na
promoccedilatildeo do conhecimento dos recursos naturais e das actividades existentes e
potenciais e no ordenamento integrado e gestatildeo adaptativa dos usos que se desenvolvem
no espaccedilo mariacutetimo em estreita articulaccedilatildeo com a gestatildeo da zona costeira com o
85
normativo internacional comunitaacuterio e nacional e demais instrumentos de planeamento
sectorial e de gestatildeo do territoacuterio envolvendo os diferentes actores e agentesrdquo
Discussatildeo Puacuteblica
A Proposta do Plano de Ordenamento do Espaccedilo Mariacutetimo (POEM) e o respectivo
Relatoacuterio Ambiental encontram-se concluiacutedos tecnicamente e aprovados pela respectiva
Equipa Multidisciplinar Nos termos previstos do artigo 40ordm do Decreto-Lei nordm 38099
de 22 de Setembro na sua actual redacccedilatildeo faz-se saber que a Discussatildeo Puacuteblica do
POEM decorre entre o periacuteodo de 29 de Novembro de 2010 a 22 de Fevereiro de 2011
56 Programa ldquoPolis do Litoralrdquo
ldquoOperaccedilotildees integradas de requalificaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo da orla costeirardquo
Como verificamos no Livro Verde as zonas costeiras assumem uma importacircncia
estrateacutegica em termos ambientais econoacutemicos sociais e culturais
A resoluccedilatildeo dos seus problemas ndash designadamente o controlo dos processos
erosivos da ocupaccedilatildeo urbana de zonas de risco da destruiccedilatildeo de habitats e a perda de
biodiversidade e do decliacutenio das actividades econoacutemicas ndash revela-se prioritaacuteria no
acircmbito de uma poliacutetica de desenvolvimento sustentaacutevel implicando um equiliacutebrio e
interacccedilatildeo indispensaacuteveis entre a conservaccedilatildeo dos recursos naturais e o
desenvolvimento socioeconoacutemico de cada regiatildeo
No acircmbito da poliacutetica integrada para as zonas costeiras o XVII Governo
Constitucional determinou em Resoluccedilatildeo do Conselho de Ministros 902008 de 3 de
Junho a realizaccedilatildeo de um conjunto de operaccedilotildees de requalificaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo de
zonas de risco e de aacutereas naturais degradadas situadas no litoral em espaccedilos de
intervenccedilatildeo prioritaacuteria designadas Polis Litoral
86
Os objectivos impliacutecitos agraves respectivas intervenccedilotildees passam pelas seguintes
medidas
Proteger e requalificar a zona costeira tendo em vista a defesa da costa a
promoccedilatildeo da conservaccedilatildeo da natureza e biodiversidade a renaturalizaccedilatildeo e a
reestruturaccedilatildeo de zonas lagunares e a preservaccedilatildeo do patrimoacutenio natural e
paisagiacutestico no acircmbito de uma gestatildeo sustentaacutevel
Prevenir e defender pessoas bens e sistemas de riscos naturais
Promover a fruiccedilatildeo puacuteblica do litoral suportada na requalificaccedilatildeo dos
espaccedilos balneares e do patrimoacutenio ambiental e cultural
Potenciar os recursos ambientais como factor de competitividade atraveacutes
da valorizaccedilatildeo das actividades econoacutemicas ligadas aos recursos do litoral e
associando-as agrave preservaccedilatildeo dos recursos naturais
De momento estatildeo identificadas quatro aacutereas territoriais ldquopolisrdquo a saber litoral do
Norte135
litoral da Ria de Aveiro136
litoral da Ria Formosa137
e o litoral da Costa
Vicentina Abrangem no seu conjunto 308 km de frente costeira 220 km de frentes
lagunares e estuarinas a financiar pelo Estado municiacutepios entidades privadas e com
recurso a fundos comunitaacuterios no acircmbito do Quadro de Referecircncia Estrateacutegico Nacional
(QREN) totalizando um orccedilamento global na ordem dos 3225 milhotildees de euros
135
wwwpolislitoralnortept 136
wwwpolisriadeaveiropt 137
wwwpolislitoralriaformosapt
87
Cap VI ndash Agenda Regional do Mar (Norte de Portugal)
61 Pacto regional para a competitividade da regiatildeo ldquoNorte 2015rdquo
A regiatildeo Norte de Portugal possui uma grande tradiccedilatildeo mariacutetima e uma forte
ligaccedilatildeo ao mar que conheceu diferentes formas de expressatildeo ao longo dos tempos Na
eacutepoca das primeiras descobertas (a partir do seacuteculo XV) o Porto e a sua regiatildeo
participaram activamente na construccedilatildeo de embarcaccedilotildees e no fornecimento de homens
para incorporar as respectivas guarniccedilotildees Nos seacuteculos seguintes o comeacutercio mariacutetimo e
o aparecimento de uma burguesia comercial com intensas relaccedilotildees com o norte da
Europa constituiacuteram a base de desenvolvimento da economia desta cidade e sua regiatildeo
No final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX o transporte mariacutetimo possibilitou a
saiacuteda de importantes fluxos migratoacuterios em direcccedilatildeo ao Brasil e mais recentemente a
pesca (em especial a pesca do bacalhau) e a induacutestria transformadora marcaram em
termos sociais e econoacutemicos os espaccedilos litorais da regiatildeo
No presente assiste-se ao aparecimento de novas actividades emergentes com forte
ligaccedilatildeo ao mar nos campos econoacutemico cientiacutefico e do lazer
A regiatildeo Norte deteacutem um importante patrimoacutenio natural (por exemplo rede natura
do Litoral Norte) e cultural tangiacutevel (por exemplo arquitectura militar civil e religiosa)
e intangiacutevel (tradiccedilotildees e costumes) ao longo da sua zona costeira com destaque para os
municiacutepios de Espinho Porto Matosinhos Vila do Conde Poacutevoa de Varzim e Viana do
Castelo Este patrimoacutenio estaacute disperso carecendo de valorizaccedilatildeo e de promoccedilatildeo A
regiatildeo apresenta ainda um conjunto de centros vocacionados para a divulgaccedilatildeo
cientiacutefica e da temaacutetica mar de que constituem exemplos a Estaccedilatildeo Litoral da Aguda138
em Gaia o projecto Rosa-dos-Ventos em Vila do Conde a Lancha Poveira 139
na Poacutevoa
de Varzim a Fundaccedilatildeo Gil Eannes140
em Viana do Castelo e o AquaMuseu do rio
Minho141
em Vila Nova de Cerveira entre outros
138
Estaccedilatildeo Litoral da Aguda - httpwwwfundacao-elapt 139
Lancha Poveira - httpwwwpovoadevarzimcomptlanchapoveiraphp 140
Fundaccedilatildeo Gil Eannes - wwwfundacaogileannespt 141
AquaMuseu do rio Minho- httpaquamuseucm-vncerveirapt
88
O Conselho Regional e a Comissatildeo de Coordenaccedilatildeo e Desenvolvimento Regional
do Norte (CCDR-N) definiram uma estrateacutegia de desenvolvimento regional designada
por ldquoNORTE 2015 ndash Uma Regiatildeo Um Futuro Uma Estrateacutegiardquo e dentro desta tem
vindo a promover um conjunto de agendas temaacuteticas consideradas prioritaacuterias
constituindo o ldquopacto regional para a competitividade da regiatildeo do Norterdquo Entre elas e
relevante para o trabalho em questatildeo eacute a Agenda Regional do Mar - Plano de Acccedilatildeo
ldquoMarrdquo
A Agenda Regional do Mar e o seu plano de acccedilatildeo tem como objectivo geral
ldquovalorizar o recurso mar atraveacutes do desenvolvimento de um conjunto de actividades de
produtos e de serviccedilos que promovam o crescimento econoacutemico o emprego e a
internacionalizaccedilatildeo da regiatildeo apostando no reforccedilo da Investigaccedilatildeo Desenvolvimento
e Inovaccedilatildeo (IampDampI) marinha da formaccedilatildeo do empreendedorismo e da cooperaccedilatildeo de
forma a contribuir em condiccedilotildees de sustentabilidade para a competitividade da
Regiatildeo142
Em siacutentese este plano de acccedilatildeo ldquoMarrdquo justifica-se assim por um conjunto de
razotildees das quais destaco as seguintes
A existecircncia de uma zona costeira extensa e rica onde se concentra a
maior parte da populaccedilatildeo e da actividade econoacutemica da regiatildeo marcada pela
existecircncia de vaacuterios estuaacuterios de elevado valor ambiental paisagiacutestico e
econoacutemico que urge valorizar em condiccedilotildees de sustentabilidade
Permite uma aproximaccedilatildeo global e coordenada das actividades e saberes
que integram a temaacutetica mar bem como o desenvolvimento de relaccedilotildees de
complementaridade e a produccedilatildeo de efeitos de sinergia favoraacuteveis ao
desenvolvimento da regiatildeo
Permite desenvolver as estrateacutegias adequadas e a sua coordenaccedilatildeo no
sentido da adaptaccedilatildeo da regiatildeo aos efeitos das alteraccedilotildees climaacuteticas
Constitui uma oportunidade para parar ou diminuir a tendecircncia de perda
de biodiversidade que caracteriza a evoluccedilatildeo dos ecossistemas marinhos
Favorece o aproveitamento do potencial que algumas actividades ligadas
ao mar apresentam enquanto espaccedilos de empreendimento inovaccedilatildeo criaccedilatildeo de
142
Agenda Regional do Mar Plano de Acccedilatildeo ldquoMARrdquo 2007-2013 p 52
89
riqueza e de emprego qualificado que importa estimular do ponto de vista do
reforccedilo da competitividade e do emprego da regiatildeo
Contribui atraveacutes da iniciativa regional e das articulaccedilotildees possiacuteveis com
outras regiotildees portuguesas e com a EMAM para a consecuccedilatildeo da ENM
favorecendo a criaccedilatildeo de escala e o desenvolvimento de complementaridades
indispensaacuteveis agrave consecuccedilatildeo dessa estrateacutegia nacional
Contribui para o desenvolvimento da PMIE atraveacutes da assunccedilatildeo no
plano regional do conjunto de princiacutepios e de orientaccedilotildees que enquadram essa
estrateacutegia europeia
Reforccedila o papel da regiatildeo nos programas de cooperaccedilatildeo transfronteiriccedila
com a Galiza e de cooperaccedilatildeo transnacional no acircmbito do Espaccedilo Atlacircntico co-
financiados pelo FEDER em que a dimensatildeo mariacutetima ocupa uma posiccedilatildeo
relevante em ambos os programas
Contribui para a sensibilizaccedilatildeo da populaccedilatildeo em geral e especialmente
dos jovens para a temaacutetica mar
Apresenta um programa de fundos estruturais interessante para o periacuteodo
entre 2007 e 2013 que permite o lanccedilamento de iniciativas e investimentos para
o desenvolvimento no domiacutenio do mar
Eacute importante mencionar que a elaboraccedilatildeo do plano de acccedilatildeo ldquoMarrdquo assentou num
processo aberto agrave participaccedilatildeo de um alargado leque de actores de acircmbito regional e
nacional quer na fase de estudo quer durante a fase da sua implementaccedilatildeo Este plano
constitui tambeacutem um referencial central para os investimentos puacuteblicos e privados a ter
em consideraccedilatildeo no acircmbito das candidaturas ao Programa Operacional Regional do
Norte (ON2 ndash O Novo Norte) e aos Programas de Cooperaccedilatildeo (POCTEP e
POCTEA143
)
Neste ponto a Agenda Regional destaca-se da ENM pelo facto de estar enquadrada
a temaacutetica ldquoMarrdquo nestes programas operacionais podendo ser candidataacuteveis entidades
puacuteblicasprivadas da regiatildeo Norte de Portugal
143
POCTEP - Programa de Cooperaccedilatildeo Transfronteiriccedilo Espanha - Portugal
POCTEA - Programa de Cooperaccedilatildeo Transnacional do Espaccedilo Atlacircntico
90
Saliento que a regiatildeo Norte eacute no presente momento a uacutenica regiatildeo portuguesa
que apresenta uma estrateacutegia integrada para o Mar
Ora este plano de acccedilatildeo estimula tambeacutem o alargamento da dinacircmica de
cooperaccedilatildeo a outras regiotildees vizinhas como seja a regiatildeo Centro de Portugal e a regiatildeo
Autoacutenoma da Galiza e favorece assim o desenvolvimento de condiccedilotildees de
complementaridade e de escala indispensaacuteveis agrave afirmaccedilatildeo internacional do Noroeste
peninsular no domiacutenio do mar
62 Linhas estrateacutegicas de desenvolvimento144
Para o efeito foram delineadas dez linhas de desenvolvimento estrateacutegico para
consubstanciar o ldquoplano de acccedilatildeordquo Analisei-as cada uma per si tendo em conta o seu
objectivo e tipologias respectivas Passo a enumerar as dez linhas estrateacutegicas definidas
para a regiatildeo Norte que constam na Agenda do ldquoMarrdquo
1) Promover a conservaccedilatildeo a valorizaccedilatildeo e a gestatildeo dos ecossistemas costeiros e
das bacias hidrograacuteficas
O objectivo eacute o de fomentar o estudo dos ecossistemas costeiros e fluviais e
desenvolver medidas com vista agrave sua protecccedilatildeo recuperaccedilatildeo valorizaccedilatildeo e
ordenamento de forma a potenciar os seus usos de acordo com modelos de
sustentabilidade Os projectos e as acccedilotildees a desenvolver devem observar as orientaccedilotildees
estabelecidas pelas ldquoBases para a Estrateacutegia de Gestatildeo Integrada das Zonas Costeirasrdquo
2) Desenvolver novos produtos e promover a aplicaccedilatildeo de novas tecnologias ao
meio marinho
Esta linha tem em vista os desenvolvimentos futuros no campo das ciecircncias do mar
e da utilizaccedilatildeo do meio marinho atraveacutes de novos produtos e serviccedilos que resultaratildeo
certamente da aplicaccedilatildeo a este meio de conhecimento e de tecnologias da informaccedilatildeo e
da comunicaccedilatildeo Podem enquadrar-se no acircmbito desta linha estrateacutegica os projectos que
144
Agenda Regional do Mar Plano de Acccedilatildeo ldquoMARrdquo 2007-2013 p 54
91
visam o desenvolvimento de novos produtos resultantes da utilizaccedilatildeo de organismos
marinhos nomeadamente
Desenvolvimento de novos medicamentos e a promoccedilatildeo de instrumentos de
diagnoacutestico para monitorizaccedilatildeo na aacuterea da sauacutede
Desenvolvimento de novas teacutecnicas para conhecimento protecccedilatildeo
monitorizaccedilatildeo e gestatildeo do meio marinho a garantia de sustentabilidade das
pescas e da aquacultura
Desenvolvimento de novos tipos de materiais compoacutesitos e enzimas para a
induacutestria
3) Promover a qualidade e a valorizaccedilatildeo dos produtos da pesca e da aquicultura e
a seguranccedila alimentar
Nesta linha enquadram-se acccedilotildees que contribuam para o aprofundar do
conhecimento dos recursos vivos marinhos e do seu valor comercial acccedilotildees que
contribuam para o desenvolvimento e melhoramento de tecnologias de conservaccedilatildeo e
transformaccedilatildeo do pescado e da avaliaccedilatildeo do risco para a sauacutede puacuteblica e ainda acccedilotildees
de implementaccedilatildeo de processos de certificaccedilatildeo de origem de seguranccedila e de qualidade
de produtos da pesca e da aquacultura de modo a melhorar a imagem junto do
consumidor muitas vezes influenciada por produtos importados de qualidade inferior
aos produtos regionais
4) Desenvolver novas tecnologias de produccedilatildeo de peixes de bivalves e de outras
espeacutecies e a sustentabilidade da aquicultura
O objectivo desta linha estrateacutegica eacute o de promover o desenvolvimento de uma
aquicultura sustentaacutevel e fomentar a produccedilatildeo intensiva de espeacutecies alternativas agraves jaacute
largamente implantadas em todo o Sul da Europa nomeadamente a dourada e o robalo
evitando assim a saturaccedilatildeo do mercado e a competiccedilatildeo entre produtores O recurso a
espeacutecies alternativas (goraz linguado polvo entre outras) mais adaptadas a
temperaturas baixas permitiraacute conquistar novos mercados dado tratar-se de espeacutecies de
elevado valor comercial e cujas populaccedilotildees naturais tecircm vindo a diminuir
92
5) Promover o desenvolvimento do cluster ldquo conhecimento e economia do marrdquo
O objectivo desta linha de acccedilatildeo eacute o de reforccedilar a economia do mar contribuindo
para a modernizaccedilatildeo das actividades tradicionais nomeadamente as induacutestrias
mariacutetimas o apoio a actividades emergentes e o desenvolvimento de redes de
cooperaccedilatildeo entre empresas e instituiccedilotildees de Investigaccedilatildeo e Desenvolvimento (IampD)
orientadas para a transferecircncia de tecnologia e para o desenvolvimento da cadeia de
valor dos produtos da economia do mar Satildeo considerados prioritaacuterios os projectos que
promovam a densificaccedilatildeo das relaccedilotildees intra e intersectoriais e projectos que contribuam
para internacionalizaccedilatildeo da base produtiva regional
6) Reforccedilar a investigaccedilatildeo e desenvolvimento nas aacutereas das ciecircncias marinhas e
fomentar o empreendedorismo em actividades da economia do mar
Esta linha completa as anteriormente apresentadas constituindo o seu
desenvolvimento uma condiccedilatildeo necessaacuteria para a construccedilatildeo e consolidaccedilatildeo do cluster
regional para o mar O apoio a formaccedilotildees avanccediladas ao desenvolvimento de projectos
de investigaccedilatildeo nas aacutereas das ciecircncias e da economia do mar e ao fomento do
empreendedorismo eacute para esta Agenda uma indiscutiacutevel prioridade para o
desenvolvimento do seu plano de acccedilatildeo
Esta linha privilegia abordagens que integrem de forma dinacircmica as componentes
formativa investigaccedilatildeo incubaccedilatildeo e de aconselhamento e apoio financeiro ao
desenvolvimento de novos projectos e iniciativas empresariais e ainda ao acolhimento
de projectos empresariais externos que pela sua relevacircncia contribuam para o reforccedilo
das demais componentes
7) Apoiar o desenvolvimento do transporte mariacutetimo e a melhoria das condiccedilotildees de
seguranccedila mariacutetima e das infra-estruturas portuaacuterias
A localizaccedilatildeo de Portugal e da regiatildeo do Norte no Sul do Arco Atlacircntico Europeu
constitui uma posiccedilatildeo privilegiada por referecircncia agraves rotas mariacutetimas norte-sul e este-
oeste que importa potenciar As ldquoauto-estradasrdquo do mar e o short sea shipping
representam alternativas ao transporte rodoviaacuterio de mercadorias com reconhecidas
vantagens do ponto de vista ambiental e econoacutemico O porto de Leixotildees apresenta neste
contexto uma posiccedilatildeo relevante no que respeita agrave auto-estrada mariacutetima do Atlacircntico O
apetrechamento e a modernizaccedilatildeo dos portos da regiatildeo e a melhoria das suas
articulaccedilotildees com o hinterland de forma a favorecer a inserccedilatildeo nas cadeias
93
internacionais de transporte e a operaccedilatildeo nas melhores condiccedilotildees de seguranccedila
constituem objectivos importantes no acircmbito dos programas regionais do mar e dos
transportes
Adquirem especial relevacircncia os projectos do novo molhe e terminal de passageiros
do porto de Leixotildees bem como projectos que favoreccedilam a melhoria das condiccedilotildees de
seguranccedila das operaccedilotildees portuaacuterias No acircmbito desta linha estrateacutegica adquire especial
importacircncia a criaccedilatildeo do Poacutelo Mar do Parque de Ciecircncia e Tecnologia - Universidade
do Porto - que integraraacute e articularaacute as valecircncias de formaccedilatildeo e investigaccedilatildeo de
incubaccedilatildeo de empresas e de acolhimento empresarial e ainda uma funccedilatildeo de divulgaccedilatildeo
cientiacutefica
8) Valorizar o patrimoacutenio mariacutetimo regional a naacuteutica de recreio e o turismo
naacuteutico
Esta linha estrateacutegica contribui para a consolidaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo das estruturas
existentes e para a criaccedilatildeo de novos projectos que tenham por missatildeo a valorizaccedilatildeo e
interpretaccedilatildeo do patrimoacutenio e do conhecimento relacionado com as temaacuteticas do mar e
das comunidades mariacutetimas A valorizaccedilatildeo deste potencial em paralelo com a criaccedilatildeo e
desenvolvimento de um conjunto de condiccedilotildees de apoio agrave naacuteutica de recreio (uma rede
de marinas devidamente infra-estruturadas que disponibilizem serviccedilos de apoio agrave
naacuteutica geridas segundo um modelo empresarial) a criaccedilatildeo de um conjunto de produtos
de turismo naacuteutico e de turismo costeiro constituem as condiccedilotildees indispensaacuteveis agrave
valorizaccedilatildeo e aproveitamento do patrimoacutenio mariacutetimo que a regiatildeo possui Esta linha
estrateacutegica privilegia o desenvolvimento de projectos que promovam na sua elaboraccedilatildeo
e desenvolvimento o envolvimento das comunidades mariacutetimas das respectivas zonas
de forma a favorecer a emergecircncia e a diversificaccedilatildeo de actividades ligadas ao mar e a
criaccedilatildeo de novas oportunidades de emprego
9) Promover o desenvolvimento da educaccedilatildeo e da formaccedilatildeo nas aacutereas das ciecircncias
marinhas e da economia do mar de forma a favorecer a seguranccedila a qualificaccedilatildeo do
sector e a empregabilidade
O desenvolvimento da educaccedilatildeo e da formaccedilatildeo no domiacutenio do mar satildeo factores
chave para a empregabilidade para o reforccedilo do cluster do mar e seguranccedila mariacutetima
94
A presente linha estrateacutegica tem uma dimensatildeo transversal cruzando todas as
outras Linhas que compotildeem o Plano de Acccedilatildeo Tem por objectivo favorecer a
qualificaccedilatildeo de jovens e adultos em aacutereas de actividade directa e indirectamente ligadas
ao mar com especial incidecircncia na aacuterea da seguranccedila Neste sentido importa qualificar a
oferta formativa existente e reforccedilar a coordenaccedilatildeo entre a acccedilatildeo do Forpescas (Centro
de Formaccedilatildeo Profissional das Pescas) e de outras organizaccedilotildees que intervecircm na aacuterea da
formaccedilatildeo em actividades relacionadas com o mar (por exemplo formaccedilatildeo na aacuterea do
turismo) no sentido de adequar e ordenar a oferta formativa segundo as necessidades de
desenvolvimento que se colocam neste domiacutenio
10) Promover a cooperaccedilatildeo transfronteiriccedila e transnacional no domiacutenio do mar
A regiatildeo do Norte possui uma experiecircncia histoacuterica de cooperaccedilatildeo transfronteiriccedila
principalmente com a Galiza e de cooperaccedilatildeo transnacional especialmente no acircmbito
do Espaccedilo Atlacircntico do qual a CCDR-N eacute actualmente a Autoridade de Gestatildeo do
POCTEA O tema Mar eacute relevante para estes dois ldquoespaccedilosrdquo de cooperaccedilatildeo integrando
o corpo principal de objectivos dos respectivos Programas
No que respeita agrave cooperaccedilatildeo transfronteiriccedila com a Galiza foi criado sob a
iniciativa da CCDRN e da Xunta da Galicia um grupo de trabalho misto envolvendo
actores das duas regiotildees sob a coordenaccedilatildeo do CETMAR145
e do CIIMAR146
Foi desenvolvido um primeiro conjunto de projectos estruturantes de cooperaccedilatildeo
oportunamente candidatados ao Programa de Cooperaccedilatildeo Transfronteiriccedila Portugal-
Espanha em seis domiacutenios prioritaacuterios (qualidade do meio marinho recursos marinhos
sector alimentar biotecnologias e novos produtos construccedilatildeo e reparaccedilatildeo naval e
naacuteutica de recreio e por fim cultura e turismo)
145
Centro Tecnoloacutegico del Mar - Fundacioacuten CETMAR httpwwwcetmarorg 146
Centro Interdisciplinar de Investigaccedilatildeo Marinha e Ambiental httpwwwcimarorg
95
63 Modelo de governaccedilatildeo para a Agenda Regional do Mar
A coordenaccedilatildeo transversal de poliacuteticas e a articulaccedilatildeo entre vaacuterios niacuteveis de poder
coloca a questatildeo da concertaccedilatildeo e integraccedilatildeo de poliacuteticas ou seja a questatildeo da
governanccedila Este plano constitui um referencial de desenvolvimento estrateacutegico
dinacircmico que serve de base ao lanccedilamento e ao desenvolvimento de intervenccedilotildees no
domiacutenio do mar O plano de acccedilatildeo corporiza a ambiccedilatildeo de se constituir como
plataforma de suporte a um processo evolutivo aberto agrave participaccedilatildeo dos diferentes
actores e agrave coordenaccedilatildeo das suas intervenccedilotildees
Um dos aspectos essenciais para garantir a gestatildeo e regulaccedilatildeo do plano eacute a
existecircncia de informaccedilatildeo estrateacutegica que permita o conhecimento mais aprofundado do
mesmo e o acompanhamento das principais realizaccedilotildees
A gestatildeo estrateacutegica deste plano de acccedilatildeo eacute da responsabilidade de um comiteacute de
pilotagem presidido pela CCDR-N e constituiacutedo por um conjunto de instituiccedilotildees
puacuteblicas da regiatildeo Norte responsaacuteveis pelas principais aacutereas de poliacutetica relacionadas
com a temaacutetica e tambeacutem por entidades representativas dos espaccedilos litorais em
presenccedila O comiteacute de pilotagem seraacute um espaccedilo privilegiado de articulaccedilatildeo e de
coordenaccedilatildeo intersectorial e de articulaccedilatildeo territorial das diversas iniciativas e projectos
que teraacute como objectivo principal a responsabilidade de implementar o plano de acccedilatildeo e
a respectiva regulaccedilatildeo existente
64 Oceano XXI - Cluster do ldquoconhecimento e da economia do marrdquo
Ainda acerca das estrateacutegias regionais destaco o trabalho levado a cabo pela
plataforma ldquoOceano XXI ndash Associaccedilatildeo para o Conhecimento e Economia do Marrdquo que
tem como principal objectivo especiacutefico dinamizar o cluster do ldquoconhecimento e da
economia do marrdquo
Este cluster foi reconhecido pela Autoridade de Gestatildeo do Programa de factores de
Competitividade (COMPETE) no dia 27 de Julho de 2009 como Estrateacutegia de
96
Eficiecircncia Colectiva E por este facto importa ser referenciado neste trabalho dada a
importacircncia que vai seguramente ter a curto prazo nos projectos considerados ldquoacircncorardquo
para as regiotildees Centro e Norte de Portugal
Por outro lado o objectivo geral que orienta o desenvolvimento deste cluster
consiste em ldquovalorizar o recurso Mar atraveacutes do desenvolvimento de um conjunto de
actividades de produtos e de serviccedilos que promovam o crescimento econoacutemico o
emprego e a internacionalizaccedilatildeo da regiatildeo apostando no reforccedilo da IampDampI da
formaccedilatildeo do empreendedorismo e da cooperaccedilatildeo de forma a contribuir em condiccedilotildees
de sustentabilidade para a competitividade da regiatildeo147
rdquo
Este cluster sediado na regiatildeo Norte envolve um vasto e diversificado conjunto de
entidades representativas dos interesses regionais (Centro e Norte) e nacionais
pertencentes aos principais sectores do agregado econoacutemico subjacente agrave Estrateacutegia de
Eficiecircncia Colectiva tendo em vista a diversificaccedilatildeo da base econoacutemica regional
criando desta forma novas actividades e serviccedilos e fomentando o aparecimento de
mercados alternativos com maior valor econoacutemico o reforccedilo da competitividade e da
produtividade das induacutestrias do mar e o aumento do emprego qualificado
O cluster do ldquoconhecimento e da economia do marrdquo integra um conjunto
diversificado de sectores e de actividades
bull Pesca aquicultura salicultura e induacutestria transformadora da pesca
bull Actividades mariacutetimo-portuaacuterias e logiacutestica
bull Induacutestrias mariacutetimas
bull Induacutestrias transformadoras de suporte agraves actividades mariacutetimas (tecircxtil e vestuaacuterio
plaacutestico moldes madeira metalomecacircnica)
bull Cruzeiros naacuteutica de recreio e turismo mariacutetimo
bull Tecnologias da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo (TIC)
bull Roboacutetica submarina
bull Biotecnologia marinha
bull Energias renovaacuteveis
147
Oceano XXI Cluster do Conhecimento e da Economia do Mar httpwwwoceano21org
97
O cluster do ldquoconhecimento e da economia do marrdquo organiza-se segundo quatro
linhas prioritaacuterias de intervenccedilatildeo148
que estatildeo em consonacircncia com a visatildeo europeia dos
clusters mariacutetimos referida no Livro Verde (capiacutetulo II)
Linha Prioritaacuteria 1 ndash desenvolver a Investigaccedilatildeo amp Desenvolvimento das
Tecnologias de Informaccedilatildeo (IDTI) e apoiar o desenvolvimento de actividades
emergentes no domiacutenio da economia do mar
Linha Prioritaacuteria 2 ndash promover a qualidade e a valorizaccedilatildeo dos produtos da pesca
da aquicultura e de produtos marinhos e a seguranccedila alimentar
Linha Prioritaacuteria 3 ndash promover a modernizaccedilatildeo e a inovaccedilatildeo das induacutestrias
mariacutetimas do transporte mariacutetimo da actividade portuaacuteria e da logiacutestica
Linha Prioritaacuteria 4 ndash valorizar o patrimoacutenio mariacutetimo e o seu aproveitamento no
apoio ao desenvolvimento da naacuteutica de recreio e do turismo de natureza
No acircmbito da Estrateacutegia de Eficiecircncia Colectiva ndash cluster do ldquoconhecimento e da
economia do marrdquo ndash foram reconhecidos seis projectos acircncora que no seu conjunto
totalizam uma estimativa de investimento de 120 milhotildees de euros nos trecircs proacuteximos
anos (2010 - 2013) E satildeo os seguintes
Ecomare
Aquaacuterio dedicado agrave temaacutetica dos mares da Peniacutensula Ibeacuterica centro de recuperaccedilatildeo
de animais marinhos e laboratoacuterio oceanograacutefico da Universidade de Aveiro
Parque de Ciecircncia e Tecnologias do Mar da Universidade do Porto
Visa o desenvolvimento de acccedilotildees de IampD transferecircncia de tecnologias incubaccedilatildeo
de empresas acolhimento empresarial formaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo cientiacutefica O Poacutelo do Mar
permitiraacute que os empreendedores desenvolvam as suas investigaccedilotildees eou testem os
seus protoacutetipos em meio marinho
148
Oceano XXI Cluster do Conhecimento e da Economia do Mar httpwwwoceano21org
98
Consupesca
Com o objectivo especiacutefico de reduzir o consumo de combustiacutevel na frota da pesca
costeira e de arrasto
Panthalassa
Promover a seguranccedila alimentar e a sustentabilidade ambiental da produccedilatildeo da
transformaccedilatildeo e do consumo de pescado atraveacutes da implementaccedilatildeo de sistemas
integrados abrangendo toda a cadeia de produccedilatildeo que permitem para cada fase do
processo de fabrico desenvolver as melhores soluccedilotildees do ponto de vista ambiental e de
seguranccedila conferindo maior valor acrescentado aos produtos
Promoccedilatildeo e desenvolvimento do turismo naacuteutico e dos desportos naacuteuticos
Reforccedilo do turismo naacuteutico e dos desportos naacuteuticos em Portugal atraveacutes da
implementaccedilatildeo dos seguintes projectos
Construccedilatildeo do Terminal de Cruzeiros de Leixotildees tendo como objectivo reforccedilar a
posiccedilatildeo do Porto de Leixotildees no mercado do turismo de cruzeiros explorando a sua
localizaccedilatildeo no cruzamento de rotas entre o Atlacircntico nordeste e o Mediterracircneo e entre
as Caraiacutebas e a Europa
Construccedilatildeo do Centro de Mar em Viana do Castelo visando o desenvolvimento da
naacuteutica de recreio e dos desportos naacuteuticos e o reforccedilo da posiccedilatildeo de Viana do Castelo
como uma cidade da naacuteutica do Atlacircntico
Turismo Mariacutetimo de Natureza
Em especial na ilha da Morraceira (Figueira da Foz) e ilha das Berlengas (Peniche)
99
65 A Naacuteutica como factor de desenvolvimento regional
Como referi no capiacutetulo dedicado aos domiacutenios destacados pelo Livro Verde o
sector naacuteutico pode ter um papel importante no que concerne agrave protecccedilatildeo do legado
mariacutetimo e na sensibilizaccedilatildeo do puacuteblico No entanto as actividades naacuteuticas podem
desempenhar outras funccedilotildees vitais para a implementaccedilatildeo das poliacuteticas mariacutetimas
(regionais nacionais e europeias) e serem consideradas um activo gerador de emprego
de riqueza e bem-estar das populaccedilotildees
Pese embora que para se ter uma verdadeira identidade mariacutetima (hellip) ldquoeacute preciso
tempo para sentir o mar eacute algo que soacute se consegue com muito tempo eventualmente
com o tempo de uma vidardquo (hellip)149
Urge a necessidade de se formar geraccedilotildees que desde
cedo se familiarizem com o mar A praacutetica naacuteutica qualquer que seja a modalidade
permite despertar o interesse e consequentemente aproximar a populaccedilotildees jovens ao
mar
A este propoacutesito menciono o estudo do qual fui coordenador realizado pela
INTERCEacuteLTICA ndash Associaccedilatildeo Cultural Desportiva e Turiacutestica que coloca a Naacuteutica
como factor de desenvolvimento da regiatildeo Norte150
Este estudo estrateacutegico foi apoiado
pelo programa Operacional da Regiatildeo Norte (CCDR-N) com recurso ao FEDER
Numa primeira fase efectou-se um levantamentoinventaacuterio exaustivo ao sector
que incluiu diversos actores como a Autoridade Mariacutetima o Instituto Portuaacuterio e dos
Transportes Mariacutetimos os clubes as associaccedilotildees os portos de recreio as empresas de
animaccedilatildeo turiacutestica os operadores mariacutetimo-turiacutesticos o desporto escolar as federaccedilotildees
a induacutestria o comeacutercio e os serviccedilos naacuteuticos
O objectivo primeiro deste levantamento foi determinar a dimensatildeo do sector e qual
a sua importacircncia para com base na informaccedilatildeo obtida elaborar um plano estrateacutegico
que respondesse agraves reais necessidades e carecircncias do sector naacuteutico na regiatildeo Norte
Numa segunda fase foram elaboradas propostas de projectos que pudessem
futuramente ser enquadradas nas Agendas Regionais temaacuteticas do Turismo e do Mar e
consequentemente no QREN (2007-2013)
149
Discurso do Arqto Guilherme Guimaratildees nas comemoraccedilotildees oficiais do Dia Europeu do Mar 2010
(20 de Maio) a bordo do navio Gil Eannes em Viana do Castelo 150
Para mais informaccedilotildees sobre o Projecto Naacuteutica consultar o seguinte site
httpwwwprojectonauticacomindexphpseccao=nauticaampcontent=apresentacao
100
Foi apresentado um plano de acccedilatildeo com base nas propostas e recomendaccedilotildees que
datildeo estrutura a cinco eixos
Rede de infra-estruturas naacuteuticas
Assenta em trecircs medidas concretas a criaccedilatildeo dos centros coordenadores da
actividade naacuteutica aumento da capacidade instalada (massificaccedilatildeo da praacutetica) e na
qualificaccedilatildeo de serviccedilos
Dinamizaccedilatildeo turiacutestica
Estatildeo sintetizadas em trecircs itens criaccedilatildeo de pacotes naacuteuticos desenvolvimento de
empreendimentos turiacutesticos temaacuteticos e de serviccedilos de animaccedilatildeo naacuteutica
Dinamizaccedilatildeo da naacuteutica
Baseada em quatro medidas 1 ) Rede de equipamentos e actividades em bacias
hidrograacuteficas e albufeiras 2) Rede de prestadores de serviccedilos 3) Apetrechamento dos
agentes naacuteuticos 4) Formaccedilatildeo
Promoccedilatildeo e comunicaccedilatildeo
Essencialmente na estruturaccedilatildeo temaacutetica e ediccedilatildeo de material directoacuterio da naacuteutica
acccedilatildeo para a iniciaccedilatildeo agraves actividades naacuteuticas organizaccedilatildeo de eventos e criaccedilatildeo de
espaccedilos museoloacutegicos
Governacircncia
Com a aposta no conceito inovador de loja da naacuteutica (tipo loja do cidadatildeo) e no
estabelecimento de um observatoacuterio para o sector naacuteutico actualizaacutevel e disponiacutevel ao
puacuteblico
Estas propostas foram elaboradas com a intenccedilatildeo de promover projectos colectivos
que criem sinergias entre os diversos stakeholders do sector naacuteutico e que o capitalizem
econoacutemica social e ambientalmente tornando-o mais coeso e rumo a um
desenvolvimento sustentaacutevel
O Norte de Portugal deteacutem uma prodigiosa costa Atlacircntica e planos de aacutegua
interiores (rios lagos e zonas lacustres) singulares Trata-se sem duacutevida de um recurso
de inquestionaacutevel valor O desafio eacute tornaacute-lo um produto reconhecido e apeteciacutevel para
as populaccedilotildees residentes e em simultacircneo para os turistas
101
Conclusotildees
No decurso deste trabalho analisei a importacircncia do MAR para a Europa desde os
tempos dos descobrimentos ateacute agrave actualidade com a implementaccedilatildeo da PMIE Dada a
transversalidade do tema este trabalho aborda as componentes das poliacuteticas mariacutetimas
europeia nacional e regional (Norte de Portugal) Devo notar que este trabalho natildeo
pretende ser um estudo final eou conclusivo mas que possa ser considerado como ponto
de partida para posteriores aprofundamentos
Concluiacutedo este introacuteito passo a apresentar as conclusotildees finais
Como sabemos os oceanos ocupam dois terccedilos da aacuterea total do planeta Terra Esta
constataccedilatildeo permite desde logo concluir que as actividades mariacutetimas estatildeo longe de
atingir o seu potencial sisteacutemico
A histoacuteria da Europa particularmente a partir do periacuteodo medieval devido agrave sua
natureza geograacutefica em forma de peniacutensula e bem torneada pelo mar despoletou o
interesse dos europeus pelo desconhecido Por detraacutes do mare incognitum havia mitos e
lendas que uma vez superadas pela audaacutecia dos descobridores desencadearam uma
inovadora epopeia mariacutetima que culminou com a descoberta de rotas mariacutetimas culturas
civilizaccedilotildees e estabelecimento de intercacircmbios comerciais transnacionais Assim se
iniciou o processo de globalizaccedilatildeo atraveacutes do qual os portugueses tatildeo grande e valioso
contributo deram agrave Humanidade
Actualmente na Europa deparamo-nos com uma cenaacuterio econoacutemico preocupante
provocado essencialmente pela crise financeira mundial e constatamos que a Europa
natildeo consegue acudir a todas dificuldades dos Estados Membros perifeacutericos A Europa natildeo
pode estar soacute unida quando economicamente o ambiente eacute favoraacutevel e perante as
adversidades diminuir a sua solidariedade pondo em causa valores notaacuteveis como a
construccedilatildeo da Europa e a moeda uacutenica Para tal eacute vital restabelecer a unidade pois soacute
assim a UE pode lograr responder aos enormes desafios do seacuteculo XXI
Acredito que o que eacute urgente acima de tudo eacute unir os europeus O MAR sem sombra
de duacutevida dada a sua transversalidade e caso seja utilizado como denominador comum
aproximaraacute os europeus agraves instituiccedilotildees europeias desenvolveraacute a nossa euro ndashcidadania
e conduziraacute a um maior envolvimento dos concidadatildeos nas decisotildees europeias
102
Voltando ao tema do trabalho em anaacutelise reforccedilo mais uma vez que foi o presidente
da Comissatildeo Europeia o portuguecircs Joseacute Manuel Duratildeo Barroso que lanccedilou no iniacutecio do
seu mandato o processo de construccedilatildeo para uma verdadeira Poliacutetica Mariacutetima Integrada
Europeia
A PMIE tornou-se um instrumento exemplar de savoir faire da poliacutetica apoiada
numa estrateacutegica botton up permitindo que os europeus dessem o seu contributo e
participassem na sua implementaccedilatildeo A aplicaccedilatildeo desta poliacutetica tem como objectivos
melhorar a eficaacutecia da acccedilatildeo governamental no domiacutenio do mar e explorar melhor as
sinergias a fim de aumentar o crescimento econoacutemico e a sustentabilidade ambiental
tendo sempre presente a dimensatildeo social E assim poder ainda responder aos desafios
prementes da protecccedilatildeo do ambiente seguranccedila mariacutetima crescimento econoacutemico
emprego qualificado e contribuir tambeacutem para o bem-estar das populaccedilotildees
Esta ldquoeuroapostardquo mariacutetima cujo potencial esmiucei ao longo deste trabalho pode ser
decisiva e contribuir fortemente para a afirmaccedilatildeo da Europa no mundo Espero tambeacutem
que possa servir de exemplo a outras regiotildees do mundo de momento ainda
subdesenvolvidas mas que se apresentam com iacutendices de crescimento exponenciais
Em Portugal desde o seacuteculo XIV (D Joatildeo I) ateacute ao Estado Novo o cluster mariacutetimo
foi o nosso ldquocartatildeo de visitardquo no plano internacional Este apresentado como paradigma
incluiacutea a navegaccedilatildeo comercial a pesca longiacutenqua (pe o bacalhau) e a construccedilatildeo naval
que ombreava com os melhores construtores a niacutevel mundial Como prova da
demonstraccedilatildeo puacuteblica deste reconhecimento invoco a estatuaacuteria que enaltece os feitos
histoacutericos do navegadores portugueses como por exemplo D Sebastiatildeo em Lagos
Vasco da Gama em Sines Infante D Henrique no Porto e Londres (Belgrave Square)
Joatildeo Aacutelvares Fagundes em Viana do Castelo
Portugal integrado haacute vinte e cinco anos na Uniatildeo Europeia natildeo se conseguiu impocircr
nas questotildees mariacutetimas Perdeu uma boa oportunidade para tirar partido desta integraccedilatildeo
menosprezando os fundos comunitaacuterios para desenvolver o seu cluster mariacutetimo
chegando ateacute cair no esquecimento e ficar praticamente extinto no terceiro quartel do
seacuteculo XX
103
Foi lamentaacutevel esta inoperacircncia de Portugal junto da UE e vice-versa Ou seja nem
Portugal soube aproveitar os generosos fundos europeus para desenvolver o sector
mariacutetimo nem a UE soube aproveitar a mais-valia do know-how luso das actividades
mariacutetimas agrave semelhanccedila do que sucedeu com a Alemanha como paiacutes exportador por
excelecircncia e da Franccedila com a PAC
Talvez a explicaccedilatildeo para este desvio fosse a seduccedilatildeo dos portugueses pelos fundos
europeus para aplicar em novas aacutereas com resultados visiacuteveis e imediatos a curto prazo
e cujo retorno econoacutemico hoje ainda questionamos
A ldquodemocraciardquo voltou costas ao seu passado de seacuteculos ndash o MAR Diversos factores
do passado recente contribuiacuteram para esta situaccedilatildeo a saber a descolonizaccedilatildeo e o
sentimento generalizado de ruptura com a ideologia do Estado Novo (pois a sua
propaganda estava fortemente ligada ao domiacutenio mariacutetimo) E Portugal limitou-se apenas
a exercer o domiacutenio mariacutetimo aquando da adesatildeo nas 12 milhas mariacutetimas Portugal
focou-se no bloco terrestre contrariando assim o seu percurso natural e ancestral
ldquoSe Portugal sempre ignorou o mar sua agenda europeia natildeo o perspectivando
como um activo estrateacutegico ao interesse nacional tambeacutem a proacutepria UE se viu desde
sempre a si proacutepria como um bloco terrestre capitaneado pelo eixo continental traccedilado
ao longo de deacutecadas entre Paris e Bona do que como a potecircncia mariacutetima que tambeacutem eacute
O tratado de Roma eacute omisso quanto ao potencial dos oceanos e dos mares que circundam
a Europa para o processo de integraccedilatildeo europeia a politica comum de pescas nasce
tardia e gradualmente por analogia da PAC e os transportes mariacutetimos ficaram de fora
da politica europeia de transportes e logo da rede transeuropeia de transportes por muito
tempo praticamente ateacute ao Livro Branco dos Transportes de 2001rdquo151
Com o lanccedilamento da PMIE Portugal compreendeu a importacircncia da sua vocaccedilatildeo
mariacutetima para os assuntos europeus e finalmente tem uma estrateacutegia mariacutetima para
implementar no territoacuterio nacional decorrente da perspectiva europeia Esta atitude foi
reforccedilada pela actuaccedilatildeo do governo portuguecircs especialmente durante a Presidecircncia
Portuguesa da UE em 2007 onde Portugal deixou a sua griffe com a aprovaccedilatildeo da
poliacutetica mariacutetima europeia De novo Portugal e a Europa estatildeo agora voltados para o mar
151
Dr Tiago Pitta e Cunha (2010) art cit na Revista do Centro de Informaccedilatildeo Europeia Jacques Delors -
Europa Novas Fronteiras ndash Portugal ndash 25 Anos de Integraccedilatildeo Europeia nordm 2627 Lisboa Principia
p186
104
com uma visatildeo mais abrangente e integrada e em uniacutessono para os sectores ligados ao
mar Em consequecircncia destes acontecimentos a regiatildeo Norte de Portugal elaborou uma
Agenda para o mar e tem estruturas universitaacuterias a desenvolver actividades cientiacuteficas e
laboratoriais associadas agrave iniciativa privada que permitem dar uma nova visatildeo econoacutemica
ao mar
Para que Portugal cumpra o mar como desiacutegnio nacional eacute necessaacuterio iniciar-se um
novo ciclo que aproxime os portugueses do mar Exige-se uma nova vaga de fundo para
desenvolver a nossa cultura mariacutetima como jaacute tem sucedido em outros Estados membros
atraveacutes de um processo de enculturaccedilatildeo A formaccedilatildeo joga um papel determinante para o
sucesso deste objectivo Os planos curriculares das escolas e universidades portuguesas
podem ser o ponto de partida deste novo ciclo despertando o interesse nas camadas
jovens e influenciando-os para o gosto da nossa heranccedila mariacutetima permitindo vivenciar
e experienciar actividades de mar de modo a serem eles no futuro a capitalizarem as
potencialidades do mar
Se compararmos em termos de territoacuterio e de populaccedilatildeo com os parceiros europeus
verificamos que Portugal natildeo eacute um paiacutes pequeno estamos ao mesmo niacutevel de paiacuteses como
a Beacutelgica Repuacuteblica Checa Holanda Dinamarca Irlanda e Greacutecia Isto sem referir a
ZEE que em breve poderaacute catapultar o nosso paiacutes para o deacutecimo lugar do ranking
mundial de paiacuteses mariacutetimos
Como sabemos o ldquocentro de gravidaderdquo da Uniatildeo Europeia deslocou-se para leste
devido agrave entrada de novos Estados membros (alargamento a vinte e sete) E Portugal
atraveacutes da agenda europeia para o mar pode tornar-se apesar de ser um paiacutes perifeacuterico
um verdadeiro liacuteder nas poliacuteticas europeias
Voltando a questatildeo inicial A Poliacutetica Mariacutetima Europeia ndash uma poliacutetica feita agrave
medida de Portugal penso que apesar de jaacute termos dado alguns passos na integraccedilatildeo de
poliacuteticas mariacutetimas eacute no entanto imprescindiacutevel uma vontade poliacutetica perseverante que
afirme Portugal na Europa defenda a nossa heranccedila e salvaguarde o futuro do nosso paiacutes
Oxalaacute saibamos aproveitar este ldquooceanordquo de oportunidades
105
Fontes e bibliografia
Fontes
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Parlamento Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees
Desenvolver a dimensatildeo internacional da poliacutetica mariacutetima integrada da Uniatildeo
Europeia Comissatildeo Europeia 2009
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UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu ao
Parlamento Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees
Objectivos estrateacutegicos e recomendaccedilotildees para a poliacutetica comunitaacuteria de transporte
mariacutetimo no horizonte de 2018 Comissatildeo Europeia 2009
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UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo Roteiro para o ordenamento
do espaccedilo mariacutetimo definiccedilatildeo de princiacutepios comuns na EU Comissatildeo Europeia 2008
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UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu ao
Parlamento Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees
Orientaccedilotildees para uma abordagem integrada da poliacutetica mariacutetima rumo a melhores
praacuteticas de governaccedilatildeo mariacutetima integrada e de consulta das partes interessadas
Comissatildeo Europeia 2008
COM (2007) 575 final
UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu ao
Parlamento Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees
Uma poliacutetica mariacutetima integrada para a Uniatildeo Europeia Comissatildeo Europeia 2007
COM (2007) 574 final
UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu ao
Parlamento Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees
Conclusotildees da consulta sobre uma poliacutetica mariacutetima europeia Comissatildeo Europeia
2007
COM (2006) 275 final Volume I
UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho ao Parlamento
Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees Para uma
futura poliacutetica mariacutetima da Uniatildeo ndash uma visatildeo europeia para os oceanos e os mares
Comissatildeo Europeia 2006
107
COM (2006) 275 final Volume II
UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Livro Verde para uma futura poliacutetica
mariacutetima da Uniatildeo ndash uma visatildeo europeia para os oceanos e os mares Comissatildeo
Europeia 2006
COM (2006) 105 final
UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Livro Verde Estrateacutegia europeia para uma
energia sustentaacutevel competitiva e segura Comissatildeo Europeia 2006
COM (2005) 658 final
UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu e ao
Parlamento Europeu Reexame da Estrateacutegia em favor do desenvolvimento sustentaacutevel
Uma plataforma de acccedilatildeo Comissatildeo Europeia 2005
COM (2005) 505 final
UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Directiva do Parlamento Europeu e do
Conselho Europeu que estabelece um quadro de acccedilatildeo comunitaacuteria no domiacutenio da
poliacutetica para o meio marinho (Directiva ldquoestrateacutegia para o meio marinhordquo) Comissatildeo
Europeia 2005
COM (2005) 504 final
UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu e ao
Parlamento Europeu Estrateacutegia temaacutetica para a protecccedilatildeo e conservaccedilatildeo do meio
marinho Comissatildeo Europeia 2004
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UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo da Comissatildeo Europeu ao
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MATIAS Nuno V MARQUES Viriato S FALCATO Joatildeo LEITAtildeO Aristides G
(2010) Poliacuteticas Puacuteblicas do Mar Lisboa Esfera do Caos
SILVA Antoacutenio M (2005) Portugal e a Europa ndash distanciamento e reencontro Viseu
CHSCPalimage Editores
RIBEIRO Maria Manuela T (Coord) (2007) Mare Oceanus ndash Atlacircntico espaccedilo de
diaacutelogos Colecccedilatildeo Estudos sobre a Europa nordm6 Coimbra Almedina
RIBEIRO Maria Manuela T (2003) A ideia de Europa uma perspectiva histoacuterica
Colecccedilatildeo Estudos sobre a Europa nordm 3 Coimbra CEIS 20Quarteto Editora
RODRIGUES Jorge amp DEVEZAS Tessaleno (2009) Portugal ndash O Pioneiro da
Globalizaccedilatildeo A Heranccedila das Descobertas VN Famalicatildeo Centro Atlacircntico
RODRIGUES Antoacutenio S (1997) Histoacuteria Comparada - Portugal Europa e o Mundo
Cronologia Lisboa Tema amp Debates
SMITH Adam (1976) Inquiry into the Nature and Causes of Wealth of Nations
Chicago EUA The University of Chicago Press
VII
FAO ndash Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Alimentaccedilatildeo e a Agricultura
FEDER ndash Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional
FEM ndash Foacuterum Empresarial da Economia do Mar
FSE ndash Fundo Social Europeu
GIZC ndash Gestatildeo Integrada das Zonas Costeiras
IampD ndash Investigaccedilatildeo e Desenvolvimento
IampDampI ndash Investigaccedilatildeo Desenvolvimento e Inovaccedilatildeo
IDTI ndash Investigaccedilatildeo e Desenvolvimento das Tecnologias de Informaccedilatildeo
OEM ndash Ordenamento do Espaccedilo Mariacutetimo
OGP ndash International Association of Oil and Gas Producers
ONG ndash Organizaccedilatildeo Natildeo Governamentais
ONU ndash Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas
NEA 2 ndash Nautisme Espace Atlantique 2
PAC ndash Poliacutetica Agriacutecola Comum
PALOP ndash Paiacuteses Africanos de Liacutengua Oficial Portuguesa
PCP ndash Poliacutetica Comum da Pesca
PIB ndash Produto Interno Bruto
PME`S ndash Pequenas e Meacutedias Empresas
PMIE ndash Poliacutetica Mariacutetima Integrada Europeia
POCTEA ndash Programa de Cooperaccedilatildeo Transnacional do Espaccedilo Atlacircntico
POCTEP ndash Programa de Cooperaccedilatildeo Transfronteiriccedilo Espanha-Portugal
POEM ndash Plano Ordenamento do Espaccedilo Mariacutetimo
QREN ndash Quadro de Referecircncia Estrateacutegico Nacional
UNESCO ndash Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo Ciecircncia e Cultura
TIC ndash Tecnologias da Informaccedilatildeo e da Comunicaccedilatildeo
UE ndash Uniatildeo Europeia
ZEE ndash Zona Econoacutemica Exclusiva
VIII
Nota preacutevia
A realizaccedilatildeo desta investigaccedilatildeo natildeo teria sido possiacutevel sem a colaboraccedilatildeo de
diversas pessoas e entidades pelo que lhes dirijo os devidos agradecimentos
A primeira palavra de agradecimento vai para a minha Orientadora Professora Doutora
Maria Manuela Tavares Ribeiro Grato pela sua disponibilidade e destreza em aceitar a
tarefa de orientaccedilatildeo Aproveito para a felicitar pelas inuacutemeras iniciativas que organiza e
em que participa elevando o prestiacutegio da nossa Faculdade de Letras a niacutevel nacional e
internacional
A segunda palavra e natildeo menos relevante vai para o meu co-Orientador na
qualidade de especialista Dr Tiago de Pitta e Cunha A sua notaacutevel experiecircncia
nacional (Coordenador da Comissatildeo Estrateacutegica dos Oceanos) e europeia (ex-Membro
do Gabinete do Comissaacuterio Europeu para os Assuntos Mariacutetimos e as Pescas) aliada a
uma cooperaccedilatildeo profiacutecua diria mesmo perfeita permitiram que neste trabalho tenhamos
procurado a profundidade e a transversalidade que o tema proposto exige
O reconhecimento eacute extensiacutevel a todos os Professores da parte curricular pelo
conhecimento adquirido nas aulas memoraacuteveis Uma palavra particular para o Professor
Doutor Antoacutenio Martins da Silva e outra para o meu colega e amigo Asdruacutebal
Sotomaior pois sem eles natildeo teria sido possiacutevel conseguir este objectivo
Agradeccedilo aos funcionaacuterios do Centro de Informaccedilatildeo Europeia Jacques Delors em
Lisboa pela simpatia e competecircncia com que sempre me receberam
O meu justo agradecimento ainda ao Comiteacute das Regiotildees pelo convite feito em
2008 para visitar e participar in loco nas sessotildees plenaacuterias das principais instacircncias
europeias (Parlamento Comissatildeo e CdR) Participaram neste evento 27 alunos em
representaccedilatildeo de todos os Estados Membros da UE oriundos de cursos de 2ordm Ciclo em
Estudos Europeus
Finalmente o meu obrigado sentido aos que estatildeo mais proacuteximos Agradeccedilo aos
amigos de sempre agrave Teresinha ao meu Irmatildeo e ao meu Pai pelos incentivos que sempre
me deram na vida Agrave minha Matildee sinto-me sempre grato pela sua sabedoria paciecircncia e
carinho
Agrave minha futura sobrinha Maria dedico este trabalho
IX
Iacutendice
Resumo V
Lista de abreviaturas VI
Nota preacutevia VIII
Introduccedilatildeo 1
Cap I ndash Principais talassocracias europeias ndash breve retrospectiva histoacuterica 4
11 Repuacuteblicas Mariacutetimas Italianas 6
12 O papel de Portugal ndash o pioneiro da globalizaccedilatildeo 9
13 Siglo de oro espanhol 13
14 O ciclo holandecircs e a hegemonia inglesa 16
15 A Burguesia e a Revoluccedilatildeo Industrial 19
Cap II ndash O Livro Verde da Poliacutetica Mariacutetima Integrada Europeia 21
21 Fundamentos da Poliacutetica Mariacutetima Integrada Europeia 21
22 Potencialidades das principais actividades mariacutetimas da Uniatildeo Europeia 23
23 Livro Verde ndash ldquouma visatildeo para os oceanos e os maresrdquo 27
24 Aacutereas-chave no Livro Verde 29
25 Participaccedilatildeo dos europeus no processo de construccedilatildeo da PMIE 38
Cap III ndash O Livro Azul plano de acccedilatildeo e instrumentos financeiros 40
31 Condiccedilotildees poliacuteticas do processo de decisatildeo 40
32 Livro Azul e o plano de acccedilatildeo 43
X
33 Instrumentos econoacutemico-financeiros de apoio agrave PMIE 51
331 A poliacutetica de coesatildeo e a poliacutetica regional europeia 51
332 Fundos estruturais 53
333 Outras fontes de financiamento 55
334 Programa de apoio ao aprofundamento da PMIE 56
Cap IV ndash Orientaccedilotildees estrateacutegias para o futuro da PMIE 58
41 Breve balanccedilo 58
42 Governaccedilatildeo mariacutetima e participaccedilatildeo das partes interessadas 59
43 Instrumentos transectoriais 62
44 Perspectivas e visatildeo futura da PMIE 65
Cap V ndash Estrateacutegia Nacional para o Mar 68
51 Princiacutepios e objectivos 73
52 Pilares estrateacutegicos 73
53 Acccedilotildees e medidas 75
54 O Hypercluster da economia do mar 81
55 Plano de ordenamento do espaccedilo mariacutetimo 83
56 Programa ldquoPolis do Litoralrdquo 85
Cap VI ndash Agenda Regional do Mar (Norte de Portugal) 87
61 Pacto regional para a competitividade da regiatildeo ldquoNorte 2015rdquo 87
62 Linhas estrateacutegicas de desenvolvimento 90
63 Modelo de governaccedilatildeo para a Agenda Regional do Mar 95
64 Oceano XXI - Cluster do ldquoconhecimento e da economia do marrdquo 95
65 A Naacuteutica como factor de desenvolvimento regional 99
Conclusotildees 101
Fontes e bibliografia 105
1
Introduccedilatildeo
A minha relaccedilatildeo com o Mar comeccedilou desde haacute muito
Foi graccedilas agraves actividades naacuteuticas em ambiente mariacutetimo que aprendi a valorizar e
a respeitar a natureza a partilhar valores sociais a estabelecer novas amizades e ateacute a
conhecer novos continentes Tudo comeccedilou por prazerlazer e hoje em dia o MAR faz
parte da minha profissatildeo e seraacute sempre seguramente uma fonte de inspiraccedilatildeo e energia
para a vida
Depois da formaccedilatildeo na aacuterea da engenharia e ciecircncias econoacutemicas decidi matricular-
me no Curso de Mestrado Estudos Europeus na Faculdade Letras da Universidade de
Coimbra de forma de aprofundar os meus parcos conhecimentos (histoacutericos poliacuteticos e
institucionais) sobre a Europa Foi uma experiecircncia enriquecedora e gratificante que
ultrapassou largamente as minhas aspiraccedilotildees iniciais
Contudo confrontado com a necessidade de elaborar uma tese de dissertaccedilatildeo no
acircmbito do Mestrado ocorreu-me explorar uma temaacutetica actual e transversal que se
espera poder ldquounirrdquo os europeus a uma causa ndash o Mar
Assim este trabalho de investigaccedilatildeo intitulado Poliacutetica Mariacutetima Europeia ndash Uma
poliacutetica agrave medida de Portugal pretende ser um contributo para a pesquisa e reflexatildeo
sobre as questotildees europeias e a sua relaccedilatildeo com o mar e os oceanos mateacuteria que como
todos nos temos vindo a aperceber cada vez mais se reveste de grande importacircncia para
Portugal
Foi com o espiacuterito de ldquopara antever o futuro temos de conhecer o passadordquo que
procurei ao longo do primeiro capiacutetulo debruccedilar-me sobre as fontes de riqueza material
e imaterial que estando relacionadas com o mar contribuiacuteram para a formaccedilatildeo e
desenvolvimento da Europa Neste acircmbito debruccedilo-me sobre as expediccedilotildees mariacutetimas
italianas que apesar de confinadas ao mediterracircneo foram extremamente importantes
para os ldquodescobridoresrdquo que se seguiram Entre estes uacuteltimos destacarei o papel de
Portugal o siglo de oro espanhol o ciclo holandecircs e a hegemonia mariacutetima inglesa
Para terminar o enquadramento histoacuterico faccedilo referecircncia agrave emergecircncia da burguesia
europeia e agraves suas origens nas actividades mariacutetimas
2
No segundo capiacutetulo procuro analisar transversalmente o Livro Verde da Poliacutetica
Mariacutetima Integrada Europeia Assim apresentarei os fundamentos e as potencialidades
da Europa no domiacutenio mariacutetimo a ldquovisatildeordquo europeia para o futuro dos oceanos e os
mares e ainda as aacuterea-chave nele apontadas No final deste capiacutetulo abordarei a
consulta puacuteblica que possibilitou aos europeus participarem directa e activamente no
processo de construccedilatildeo da PMIE
Saliento que pela primeira vez a dimensatildeo mariacutetima da Europa assumiu a posiccedilatildeo
de real prioridade poliacutetica ou seja na histoacuteria da Uniatildeo Europeia os oceanos e os mares
como um todo tornaram-se assunto de foco poliacutetico ao mais alto niacutevel A PMIE foi uma
iniciativa de Joseacute Manuel Duratildeo Barroso aquando da sua primeira nomeaccedilatildeo para a
Presidecircncia da Comissatildeo Europeia em 2004 No programa Barroso I a PMIE foi
apresentada como uma necessidade premente chegando mesmo a ser instituiacuteda em
2004 a pasta dos Assuntos Mariacutetimos atribuiacuteda na altura ao maltecircs Joe Borg (ex-
Comissaacuterio Europeu)
No terceiro capiacutetulo comeccedilarei por salientar as condiccedilotildees poliacuteticas ao niacutevel das
instacircncias europeias que permitiram a consolidaccedilatildeo da PMIE Este destaque poliacutetico
concedido ao Mar eacute o reconhecimento do seu valor estrateacutegico em diferentes dimensotildees
econoacutemica ambiental cultural de seguranccedila de investigaccedilatildeo e de lazer Desta vontade
poliacutetica declarada emergiu o Livro Azul acompanhado de um plano de acccedilatildeo No final
deste capiacutetulo seratildeo apresentados os instrumentos financeiros comunitaacuterios de suporte agrave
PMIE
Apesar da jovem idade - cinco anos - a PMIE jaacute conseguiu obter resultados notaacuteveis
agrave escala europeia Por isso no quarto capiacutetulo proponho-me fazer uma breve anaacutelise agraves
actividades decorrentes da PMIE tendo em conta a governacircncia mariacutetima E as acccedilotildees
estrateacutegicas para o futuro da poliacutetica mariacutetima europeia seratildeo ainda apresentadas neste
capiacutetulo
No quinto capiacutetulo passarei a analisar a Estrateacutegia Nacional para o Mar (ENM)
resultante do apelo da Uniatildeo Europeia (UE) aos Estados-membros (EM) no sentido de
aplicarem abordagens holiacutesticas e transversais para o uso sustentaacutevel dos oceanos
Realccedilo que Portugal a par de Espanha e Franccedila foi um dos principais impulsionadores
da poliacutetica mariacutetima europeia Destacarei ainda a importacircncia do ldquoHypercluster da
3
Economia do Marrdquo o plano de ordenamento do espaccedilo mariacutetimo (POEM) actualmente
em discussatildeo puacuteblica e tambeacutem o programa ldquoPolis do Litoralrdquo
No capiacutetulo seguinte o sexto destacarei a Agenda Regional para o Mar que para
aleacutem de ser enquadrada na ENM e PMIE responde visivelmente agraves especificidades
latentes na regiatildeo Norte de Portugal No final deste capiacutetulo seratildeo abordados ainda a
plataforma ldquoOceano XXIrdquo e o estudo estrateacutegico intitulado ldquoA Naacuteutica como factor de
desenvolvimento da regiatildeo Norterdquo
Neste trabalho procuro dar um contributo acadeacutemico sobre a PMIE registando a
ausecircncia de estudos sobre esta mateacuteria congratulo-me com o estudo que tatildeo
entusiasticamente me comprometeu e espero que o mesmo possa servir de
inspiraccedilatildeoorientaccedilatildeo a TODOS aqueles que se revejam no todo ou em parte do exposto
ou simplesmente aos que se interessem pelas temaacuteticas abordadas
4
Cap I ndash Principais talassocracias europeias ndash breve retrospectiva histoacuterica
Como forma de introduzir a influecircncia dos assuntos mariacutetimos na formaccedilatildeo da
Europa resolvi reflectir sobre os aspectos histoacutericos que considero mais relevantes
protagonizados no periacuteodo compreendido entre os seacuteculos XIV e XX pelas maiores
potecircncias de entatildeo
Seratildeo abordadas neste capiacutetulo primeiramente as repuacuteblicas italianas (Geacutenova e
Veneza) seguindo-se a expansatildeo portuguesa passando pela aventura castelhana e
terminando com a acccedilatildeo holandesa e inglesa No final deste capiacutetulo faccedilo uma
abordagem agrave formaccedilatildeo de uma nova classe social ndash a burguesia ndash oriunda das
actividades mariacutetimas mercantis que foi o ldquomotor de arranquerdquo para a Revoluccedilatildeo
Industrial
Os maiores impeacuterios ateacute ao seacuteculo XV foram de dois tipos
Continentais como o impeacuterio Alexandrino (euro-asiaacutetico no seacuteculo IV
aC) e o Mongol (no seacuteculo XIII que se estendia do Oceano Paciacutefico ao Mar
Negro)
Outros centrados estrategicamente numa bacia mariacutetima que jaacute foi tida
como o centro econoacutemico do mundo A este tipo pertenciam o impeacuterio Romano
(com o apogeu nos seacuteculos I e II aC em que o Mediterracircneo ndash chamado Mare
Internum ndash era um ldquolago romanordquo o Mare Nostrum) e o impeacuterio Islacircmico (que
teve o seu apogeu entre os seacuteculos VIII e XIII que se estendia desde a Peniacutensula
Ibeacuterica agrave Iacutendia) e permitiu transformar o Oceano Iacutendico num ldquolago muccedilulmanordquo
ateacute ao momento da chegada dos portugueses
Houve tambeacutem outros impeacuterios tais como
Egiacutepcio (com o apogeu no seacuteculo XV aC)
Persa (seacuteculos VI a IV aC que se estendia da Iacutendia agrave Greacutecia)
Chinecircs (o Chacutein do seacuteculo III aC o Han do seacuteculo II ou o Tang do
seacuteculo VIII)
5
Como nota comum todos estes impeacuterios ocupavam uma extensatildeo continental
contiacutegua
No entanto outros modelos de expansatildeo surgiram ainda na Antiguidade ndash incluindo
as colonizaccedilotildees mediterracircneas dos cretenses feniacutecios e gregos assentes numa rede
litoral e descontiacutenua da orla do Mediterracircneo e do mar Negro De referir entre estes
casos a importacircncia do impeacuterio ateniense (com o auge no seacuteculo V aC) uma
talassocracia1 por excelecircncia baseada na projecccedilatildeo naval e na descontinuidade
continental
Este uacuteltimo tipo de expansatildeo naval replicou-se mais tarde nas projecccedilotildees
mediterracircnicas das repuacuteblicas mariacutetimas italianas com destaque para Geacutenova e Veneza
e na monarquia dual catalo-aragonesa
Apesar das diferenccedilas havia um denominador comum nestas talassocracias
europeias ndash o mar Mediterracircneo Como sublinha a historiadora genovesa Gabriela
Airaldi2 a actividade mariacutetima era o elemento que interligava e dinamizava a
civilizaccedilatildeo mediterracircnica
A esse ambiente mediterracircnico peculiar associou-se na Idade Meacutedia
Uma revoluccedilatildeo comercial e financeira com uma economia de mercado
predominantemente virada ao exterior assente numa diaacutespora de mercadores e
banqueiros
Uma projecccedilatildeo geopoliacutetica criando impeacuterios mariacutetimos descontiacutenuos
A disponibilidade para alianccedilas poliacuteticas ldquooperativasrdquo pragmaacuteticas
libertas dos preconceitos ideoloacutegico-religiosos da eacutepoca
Ora como refere Airaldi3 esta interdependecircncia estrateacutegica entre a Europa do Sul e
o ldquolagordquo mediterracircnico originou um novo tipo de estado ndash as repuacuteblicas mariacutetimas ndash
assentes numa oligarquia mercantil-financeira distintas do sistema monaacuterquico-
senhorial dominante na Europa medieval
1 O termo vem do grego e eacute uma junccedilatildeo do vocaacutebulo mar (thaacutelassa) e de poder (kraacutecia) Aplica-se a
todos os Estados no qual o poder se exerce baseado na expansatildeo mariacutetima garantida por uma projecccedilatildeo
naval 2 AIRALDI 2007 9
3 AIRALDI ibidem 99
6
Os muccedilulmanos e os chineses tinham no entanto criado uma inovaccedilatildeo que o
historiador Felipe Fernaacutendez-Arnesto4 sintetiza na diferenciaccedilatildeo entre civilizaccedilotildees
Civilizaccedilotildees da beira-mar ou no meio do mar ldquomoldadasrdquo pelo elemento
mariacutetimo (assim eram as talassocracias ateacute entatildeo existentes)
Civilizaccedilotildees que ldquodomesticaramrdquo os grandes mares que geravam
verdadeiras ldquocivilizaccedilotildees oceacircnicasrdquo Como aquele historiador demonstra em
Civilizations o Islatildeo foi a primeira civilizaccedilatildeo a projectar-se poliacutetica e
economicamente usando os caminhos oceacircnicos transformando o Iacutendico num
ldquolagordquo seu domiacutenio secular que foi beliscado pela curta expansatildeo chinesa do
inicio do seacuteculo XV5
Essa confluecircncia dos dois movimentos tornou o Iacutendico num espelho precoce da
revoluccedilatildeo que ocorreria mais tarde e que foi a razatildeo pela qual a histoacuteria de Portugal se
inscreveu na Histoacuteria universal
11 Repuacuteblicas Mariacutetimas Italianas
Os genoveses venezianos e catalatildees dominavam o Mediterracircneo com destaque
para as duas Repuacuteblicas italianas que lideraram o mundo poliacutetico euromediterracircnico a
partir do final do seacuteculo XIII
Geacutenova perderia o poder hegemoacutenico em 1380 na batalha naval de Chioggia agrave
entrada da grande laguna veneziana o que a levou sair do Adriaacutetico e a perder a
lideranccedila mediterracircnea para Veneza conhecida como a Serenissima Repubblica
Geacutenova La Superba havia dominado a regiatildeo desde que derrotara Pisa em 1320 e
criara um impeacuterio mediterracircnico e uma rede comercial e financeira transnacional
Perderia em 1397 a autonomia poliacutetica passando a ser uma zona de confronto entre a
4 Felipe Fernaacutendez-Arnesto exerce actualmente o magisteacuterio na caacutetedra Priacutencipe das Astuacuterias na
Universidade de Tufts Departamento de Histoacuteria e eacute membro do claustro de Queen Mary na
Universidade de Londres 5 FERNAacuteNDEZ-ARNESTO Felipe 2001 381
7
Franccedila e o Ducado de Milatildeo ao longo do seacuteculo XV No entanto nunca se apagou a
chama empreendedora pioneira
A individualidade genovesa foi de facto marcante ndash o seu espiacuterito de orizzonti
aperti (horizontes abertos) foi pioneiro no seacuteculo XIII Foi nesta repuacuteblica mariacutetima que
mais transparente se tornou o choque entre por um lado o lobby das cruzadas e da
bandeira poliacutetica da recuperaccedilatildeo de Jerusaleacutem e por outro lado a burguesia mercantil
mais arrojada ligada ao Banco di S Giorgio (criado em 1407) e agraves 28 famiacutelias
poderosas que compunham os Albergui6 A Escola genovesa de almirantado onde
sobressai a figura de Emanuele Pessagno (conhecido pelo portugueses como Manuel
Peccedilanha7) criou fama e uma geraccedilatildeo marinai erranti (marinheiros errantes) No
entanto veio para Portugal no iniacutecio do seacuteculo XIV para servir as navegaccedilotildees de
ldquooutrosrdquo em Quatrocentos e Quinhentos
A acircnsia genovesa de projecccedilatildeo para aleacutem do ldquolagordquo mediterracircnico ficou conhecida
As navegaccedilotildees de Benedetto Zacaria em 1277 abriam oficialmente a rota
mediterracircnico-atlacircntica para a Flandres anulando o significado das feiras de
Champagne e valorizando estrategicamente o estreito de Gibraltar bem como a costa
portuguesa e galega Mais tarde os irmatildeos Ugolino e Valdino Vivaldi com duas galeacutes
armadas por Tedisio Doria em 1291 aventuraram-se no Mar Oceano (o Atlacircntico) para
circum-navegarem Aacutefrica e chegarem ldquoagraves partes da Iacutendia e trazerem mercadorias
lucrativasrdquo mas nunca mais houve notiacutecias deles Especula-se que eles teriam como
objectivo provavelmente natildeo a verdadeira Iacutendia das especiarias mas a regiatildeo do ouro
da Aacutefrica Ocidental que na Idade Meacutedia muitos incluiacuteam na designaccedilatildeo geneacuterica de
ldquoIacutendiardquo8
Nos genoveses sentiu-se precocemente a necessidade de procurar chegar agraves fontes
asiaacuteticas de commodities de alto valor por via do Ocidente em oposiccedilatildeo ao domiacutenio
que os venezianos e aacuterabes detinham sobre as vias mediterracircnicas do Levante para o
Oriente E o sentido de risco dos clatildes financeiros genoveses daria corpo ao primeiro elo
do que viria a designar de Repubblica Internazional del Denaro
6 Agregaccedilatildeo artificial de vaacuterias famiacutelias da oligarquia genovesa Os Alberghi teriam entre 1600 a 1700
membros 40 dos quais estavam regularmente expatriados 7O monarca D Dinis em 1317 tornaria Manuel Peccedilagno de Geacutenova Almirante-mor do reino um cargo
hereditaacuterio 8 ALBUQUERQUE 2001 148
8
Mais proacuteximos geograficamente dos portugueses os catalatildees apesar da sua
expansatildeo mediterracircnica entre 1229 e 1412 (um impeacuterio que no seu auge incluiacutea as
Baleares Malta Sardenha Siciacutelia e os Ducados de Atenas e Neopaacutetria na Greacutecia bem
como um relacionamento especial com o Chipre) e de se terem afirmado como uma
potecircncia mariacutetima mediterracircnica dispunham de um dos centros cartograacuteficos mais
importantes da eacutepoca situado em Maiorca onde deu cartas a escola de cartoacutegrafos da
famiacutelia judia Cresques9 e a quem eacute atribuiacutedo um Atlas de 1375 Estes nunca desafiaram
a hegemonia genovesa e posteriormente a veneziana Mas como os italianos os catalatildees
tambeacutem fundaram coloacutenias mercantis muito fortes em Alexandria Beirute Damasco e
em diversos pontos do Magrebe
Os venezianos por seu lado consumada a paz com Geacutenova em 1381 e
secundarizaccedilatildeo geopoliacutetica desta repuacuteblica rival expandiram os seus domiacutenios de mar
atraveacutes da ocupaccedilatildeo de pontos estrateacutegicos na costa adriaacutetica grega e no Mediterracircneo
(ilhas como Chipre Corfu ou Creta) Tambeacutem estabeleceram fortes comunidades
mercantis ndash os fundaci ndash nos portos e placas giratoacuterias comerciais estrateacutegicas (como
Constantinopla Tana Sinope Tebisonda Alexandria e Damasco) dos paiacuteses com que
negociavam
A partir dessa rede dominaram o comeacutercio do que entatildeo chamavam mercanzie
sottili (mercadorias finas) as commodities de alto valor da eacutepoca que vinham da Iacutendia
da China do Ceilatildeo e das Molucas que chegavam a Veneza trazidas pelas mude
comboios mariacutetimos que vinham das placas giratoacuterias que eram Constantinopla
Alexandria e os portos da Siacuteria Este comeacutercio internacional movimentava 20 milhotildees
de ducados por ano A frota veneziana dispunha de 300 grandes navios 45 galeacutes e 3000
pequenos barcos e envolvia 36000 marinheiros
A Europa vivia literalmente enfeiticcedilada pelas especiarias dominada por
ldquofetichismordquo das commodities de luxo como ironizou o historiador Fernand Braudel
Paradoxalmente os europeus medievos consumiam produtos made in Oriente mas
desconheciam de todo onde ficavam exactamente e como eram os paiacuteses e as gentes de
onde se importavam tais luxos Daiacute a propagaccedilatildeo de mitos e contos fantaacutesticos sobre as
Iacutendias e China Apenas alguns viajantes aventureiros chegavam agraves fontes ndash Marco Polo
fora um deles
9 Um dos filhos desta famiacutelia catalatilde Jafuda Cresques cristianizado como Jaume (Jaime) Ribes seria um
dos expoentes maacuteximos do grupo conselheiro do Infante Henrique
9
Veneza soube gerir tambeacutem o ldquosaco de gatosrdquo que era a Europa do final da Idade
Meacutedia O grande cisma no papado entre 1378 e 1417 num periacuteodo em que chegou a
haver mais do que um centro de poder papal (Roma e Avignon) com pontiacutefices em
conflito apoiados por diferentes potecircncias ndash deu uma ajuda a esta cidade-Estado que
cultivava teimosamente a sua independecircncia De referir tambeacutem a intermitente Guerra
dos Cem Anos (1337-1453) que consumia as candidatas potenciais de entatildeo ao
hegemonismo da Europa continental a saber Inglaterra e Franccedila10
Natildeo eacute demais sublinhar que o conhecimento acumulado e as inovaccedilotildees geopoliacuteticas
surgidas com a expansatildeo das repuacuteblicas mariacutetimas mediterracircnicas seriam aprimoradas a
uma escala global pelos portugueses
12 O papel de Portugal ndash o pioneiro da globalizaccedilatildeo
O facto geopoliacutetico que abriria nas deacutecadas seguintes a janela de oportunidade aos
portugueses ocorreria bem longe do Mediterracircneo ndash Oceano Iacutendico ndash considerado o
centro econoacutemico do mundo
Ainda o Infante D Henrique natildeo fazia jus ao seu cognome de ldquoNavegadorrdquo jaacute os
chineses da dinastia Ming haviam lanccedilado a partir de 1405 sete expediccedilotildees em
direcccedilatildeo ao Iacutendico muito para aleacutem da sua tradicional esfera de influecircncia oceacircnica Foi
seu Almirante-Mor era Zheng He (1371-1433) a cujo nome ficou associado a
navegaccedilotildees de longa distacircncia anteriores agraves portuguesas Aquele movimento de
expediccedilotildees era o que chamariacuteamos hoje de ldquoprojecccedilatildeo de poderrdquo sublinhou Edward
Dreyer na sua obra Zheng He11
O argumento utilizado era um cruzamento haacutebil de
diplomacia e demonstraccedilatildeo do seu poder naval sem ser necessaacuterio exercecirc-lo a natildeo ser
excepcionalmente ldquoa sua armada era suficientemente intimidante e raramente
necessitava de combater de facto mas estar preparada para o fazer era a sua missatildeo
primaacuteriardquo diz Dreyer
As navegaccedilotildees chinesas acabariam abruptamente em 1433 A expansatildeo foi travada
por um movimento reaccionaacuterio da burocracia de Beijing e ocorreu no meio de uma
10
RODRIGUES amp DEVEZAS 2009 53-59 11
DREYER 2007 3
10
crise de hiperinflaccedilatildeo com o colapso do papel-moeda chinecircs tatildeo generosamente
espalhado pela Aacutesia Este recuo deixaria a porta aberta para os navegadores que a
seguir chegassem ao Iacutendico12
Assim Portugal aproveitou uma janela de oportunidade uacutenica no iniacutecio de
Quatrocentos pois a China entatildeo a maior economia do mundo recuou no seu projecto
de expansatildeo oceacircnica As Repuacuteblicas Italianas (nomeadamente Veneza entatildeo potecircncia
hegemoacutenica) e a Catalunha natildeo dispunham de estrateacutegias ou de inovaccedilotildees para irem
aleacutem do seu espaccedilo tradicional de projecccedilatildeo de poder que era o Mediterracircneo E as
potencias regionais e os poderes locais que dominavam os checkpoints e as rotas de
commodaties de alto valor em Aacutefrica no proacuteximo e Meacutedio Oriente e no Iacutendico natildeo
dispunham de poder naval para enfrentar um ldquointrusordquo expansionista
Alavancado o mito do Preste Joatildeo a elite portuguesa de Quatrocentos em
particular os dois irmatildeos ndash infantes Henrique o ldquoNavegadorrdquo e Pedro o ldquoCosmopolitardquo ndash
e o monarca D Joatildeo II (considerado um ldquoPriacutenciperdquo exemplar do Renascimento)
idealizaram uma estrateacutegia tenaz de cerco pelas ldquotraseirasrdquo ao elo mais fraco da eacutepoca o
arco muccedilulmano fragmentado que dominava as rotas de commodities ateacute Alexandria
principal porto do Mediterracircneo agora nas matildeos dos mamelucos e com quem Veneza
negociava Esta estrateacutegia portuguesa foi evolutiva e de geometria variaacutevel ora
procurando vias pela costa e rios de Aacutefrica Ocidental ao encontro do potencial aliado
Preste Joatildeo e do estrateacutegico Nilo ora recorrendo ao uso de espionagem e intelligence
ateacute agrave procura de um rota mariacutetima alternativa para uma das fontes de especiarias (a
Iacutendia)
A procura do Preste Joatildeo pelos navegadores portugueses foi infrutiacutefera durante
longas deacutecadas Apenas entre 1508 e 1514 se realizaram os primeiros encontros oficiais
entre as cortes etiacuteope e lisboeta Entretanto dois caminhos se abriram dois ciclos
sucessivos de uma nova especializaccedilatildeo econoacutemica portuguesa internacional onde
entrou o ouro o ignoacutebil traacutefico de escravos e as especiarias Esta nova especializaccedilatildeo
mudou o padratildeo tradicional da economia do paiacutes e foi responsaacutevel por uma revoluccedilatildeo
no comeacutercio internacional
12
RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 60-61
11
O sucesso no estabelecimento da nova rota mariacutetima para a Iacutendia deveu-se tanto a
inovaccedilotildees teacutecnicas e cientiacuteficas (como a caravela e a nova cartografia) como agrave gestatildeo
do conhecimento global da eacutepoca (o centro de acccedilatildeo do Infante Henrique e o war room
de D Joatildeo II) e tambeacutem a inovaccedilotildees estrateacutegicas para a projecccedilatildeo de poder (rede das
primeiras feitorias e fortificaccedilotildees de plataformas oceacircnicas e de novas cidades e de um
modelo de colonizaccedilatildeo) e ainda juriacutedicas (estabelecimento da doutrina do Mare
Clausum e assinatura dos primeiros tratados de divisatildeo do mundo em zonas de
influecircncia) Foi este conjunto de inovaccedilotildees que permitiu o surgimento de um novo e
longo ciclo geopoliacutetico e substituir Veneza na lideranccedila mundial13
Portugal criou portanto um novo tipo de impeacuterio ndash o impeacuterio oceacircnico em rede ndash
baseado na mobilidade e poder naval pois viabilizou o domiacutenio de uma vasta aacuterea do
planeta e uma forma de comeacutercio verdadeiramente internacional Este network lanccedilou as
bases para a criaccedilatildeo da aldeia global fenoacutemeno hoje sobejamente conhecido como
globalizaccedilatildeo
Os portugueses introduziram o uso sistemaacutetico do conhecimento cientiacutefico como
um activo indispensaacutevel para alcanccedilar objectivos poliacuteticos geoestrateacutegicos Tal facto
gerou os alicerces do Renascimento cientiacutefico europeu e transformou radicalmente a
visatildeo do mundo como um planeta composto por massas continentais banhadas por um
conjunto de oceanos interligados Foi graccedilas agrave expansatildeo mariacutetima portuguesa que surgiu
a concepccedilatildeo de um globo terrestre e uma nova cartografia14
Apesar das fortes raiacutezes empiacutericas da expansatildeo portuguesa do caraacutecter pragmaacutetico
e do forte improviso os liacutederes de Quatrocentos e de Quinhentos desenvolveram a
gestatildeo de conhecimento de forma eficiente Este foi o capital ldquointelectualrdquo que afirmou
um espoacutelio singular que destacou Portugal elevando-o agrave escala mundial Satildeo exemplos
deste periacuteodo os primeiros centros de acccedilatildeo de expansatildeo mariacutetima uma vaga de
publicaccedilotildees cientiacuteficas originais a revoluccedilatildeo na cartografia e na ciecircncia da construccedilatildeo
naval e uma evoluccedilatildeo da arte militar
A construccedilatildeo da hegemonia portuguesa foi claramente um processo evolutivo de
aprendizagem que abarcou vaacuterias geraccedilotildees Isto foi sucedendo desde a eacutepoca inicial dos
infantes D Henrique e D Pedro com a chegada agrave Costa da Mina e agrave linha do Equador
13
RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 175-176 14
RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 184-185
12
mais tarde com a passagem do Cabo da Boa Esperanccedila ateacute agrave chegada agrave Iacutendia Brasil
China e Japatildeo
Concluiacuteda a chegada agrave Iacutendia (1498) jaacute no tempo do rei D Manuel I a estrateacutegia de
projecccedilatildeo mundial foi tripla
Afirmaccedilatildeo de um poder naval sem contestaccedilatildeo mundial no Atlacircntico e
Iacutendico
Conclusatildeo da maior rede mundial de checkpoints existentes ateacute entatildeo
Campanha de marketing internacional junto do papado (poder
transnacional reconhecido pelos europeus)
Portugal caiu num dilema entre a focalizaccedilatildeo num espaccedilo controlaacutevel do Iacutendico
(ligado agrave rota das especiarias) e a tentaccedilatildeo de uma extensatildeo raacutepida incluindo um
projecto imperial universal embebido numa ideologia cruzadista e de expansatildeo
messiacircnica
A capacidade inovadora dos portugueses foi de tal forma abrangente que se pode
afirmar que nos seacuteculos XV e XVI Portugal inovou na arte de inovar Isto provocou
uma ruptura ldquotectoacutenicardquo na histoacuteria do mundo e natildeo foi um mero acidente relegado para
segundo plano por muitos historiadores e analistas face ao mediatismo criado em torno
das viagens de Colombo agrave Ameacuterica Central15
Segundo Daniel Boorstin16
ldquo(hellip) como empreendimento organizado e de longo
prazo a conquista dos Portugueses foi a mais moderna mais revolucionaacuteria do que as
largamente celebradas exploraccedilotildees de Colombo ()rdquo
15
RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 331 16
BOORSTIN 1986 83
Daniel Boorstin faleceu em 2004 Estudou em Oxford Harvard e Yale foi autor de 20 livros e
bibliotecaacuterio do Congresso norte-americano de 1975 a 1987 Foi director do Museu Nacional de Histoacuteria
e Tecnologia e da Smithsonian Institution entidades norte-americanas A Trilogia sobre a Histoacuteria
Mundial que escreveu ficou ceacutelebre E nela incluiu Os Descobridores Foi um dos acadeacutemicos que
destacou a originalidade portuguesa de Quatrocentos e Quinhentos
13
13 Siglo de oro espanhol
O ldquoseacuteculo de ourordquo foi o apogeu da cultura espanhola desde o Renascimento do
seacuteculo XV ateacute ao periacuteodo Barroco do seacuteculo XVII Marcado por acontecimentos-chave
abrangeu o periacuteodo desde a publicaccedilatildeo da gramaacutetica Castellana de Nebrija em 1492 ateacute
a morte de Calderoacuten de la Barca em 1681
Nos finais do seacuteculo XVIII jaacute se havia popularizado a expressatildeo Seacuteculo de Ouro
com a qual Lope de Vega aludia a si proacuteprio e que suscitava a admiraccedilatildeo de Don
Quixote de la Mancha no seu famoso discurso sobre a Idade de Ouro
Com a uniatildeo dinaacutestica os Reis Catoacutelicos Fernando e Isabel delinearam um Estado
politicamente forte que foi consolidado posteriormente cujos ecircxitos foram invejados
por alguns intelectuais contemporacircneos como por exemplo o italiano Nicolau
Maquiavel Poreacutem esse Estado politicamente forte esteve ideologicamente dominado
pela inquisiccedilatildeo eclesiaacutestica Os judeus que natildeo se cristianizaram foram expulsos em
1492 e dispersaram-se fundando coloacutenias hispacircnicas pela Europa Aacutesia e Norte de
Aacutefrica Aiacute cultivaram a sua liacutengua e escreveram livros em castelhano emergindo figuras
notaacuteveis como o economista e escritor Joseacute Penso de La Vega Miguel de Barrios Juan
de Prado Isaac Cardoso Abraham Zacuto Isaac Orobio e Manuel de Pina Em Janeiro
de 1492 Castela conquista o bastiatildeo mouro de Granada finalizando a etapa poliacutetica
muccedilulmana peninsular ainda que uma minoria mourisca aiacute continuasse a habitar mais
ou menos tolerada ateacute ao reinado de Felipe III
Em Outubro desse mesmo ano Cristoacutevatildeo Colombo chega agrave Ameacuterica A chegada agraves
ldquoiacutendiasrdquo por ocidente foi considerado pelo historiador Pierre Vilar17
o gesto mais
extraordinaacuterio da histoacuteria da Humanidade Ainda nesse ano foi celebrado o Tratado de
Tordesilhas entre D Joatildeo II e os Reis Catoacutelicos Como o nome indica este Tratado foi
assinado na povoaccedilatildeo castelhana de Tordesilhas a 7 de Junho de 1494 celebrado entre
o Reino de Portugal e o Reino da Espanha para dividir as terras descobertas e por
descobrir Este tratado surgiu na sequecircncia da contestaccedilatildeo portuguesa agraves pretensotildees da
Coroa espanhola resultantes da viagem de Cristoacutevatildeo Colombo que ano e meio antes
17
Pierre Vilar foi um historiador francecircs Estaacute considerado uma das maacuteximas autoridades no estudo da
Histoacuteria de Espanha tanto no periacuteodo do Antigo Regime como na Idade Contemporacircnea
14
chegara ao chamado Novo Mundo reclamando-o oficialmente para Isabel a Catoacutelica O
tratado foi ratificado pela Espanha a 2 de Julho e por Portugal a 5 de Setembro de 1494
Durante o apogeu cultural e econoacutemico desta eacutepoca Espanha alcanccedilou prestiacutegio
internacional e influenciou culturalmente a Europa Tudo quanto provinha de Espanha
foi amiuacutede imitado e divulgou-se a aprendizagem e estudo do castelhano
As aacutereas culturais mais cultivadas foram a literatura as artes plaacutesticas a muacutesica e a
arquitectura O saber foi-se acumulando e disseminado pelas prestigiadas universidades
de Salamanca e Alcalaacute de Henares
As cidades mais importantes foram Sevilha por receber as riquezas coloniais e dos
comerciantes e banqueiros europeus Madrid como sede da corte e ainda as cidades de
Toledo Valecircncia e Saragoccedila
Com a anexaccedilatildeo dinaacutestica e a formaccedilatildeo da monarquia dual ibeacuterica sob a coroa dos
Habsburgo a dinastia dos Felipes tenta criar o maior impeacuterio global no final do seacuteculo
XVI e primeira metade do seacuteculo XVII18
Com o nascimento do mito do ldquoEl Doradordquo (um suposto rei de uma regiatildeo auriacutefera
inventado pelos nativos colombianos) em 1538 acelerou-se a corrida aos metais
preciosos da Ameacuterica pelos ldquoconquistadoresrdquo espanhoacuteis Em 1547 o famoso mineiro de
Potosi nos Andes comeccedilava a sua exploraccedilatildeo intensiva de prata e em 1560 a invenccedilatildeo
de um novo meacutetodo de refinaccedilatildeo com mercuacuterio vindo das minas espanholas levou ao
disparo do negoacutecio superando a produccedilatildeo de ouro
O pico da importaccedilatildeo de prata para Espanha ocorre no quinqueacutenio de 1591-159519
No Oriente os castelhanos estabeleceram-se em Cebu desde 1565 e dois Navios da
Armada Miguel Lopez de Legazpi conseguiram estabelecer uma nova rota transpaciacutefica
mais a norte para o Meacutexico Em 1571 ocupavam a baiacutea de Manila e em 1574
exploravam as ilhas Borneacuteu e a Nova Guineacute A carreira regular entre o Meacutexico e as
Filipinas entre Acapulco e Manila pretendeu pocircr em xeque a carreira da Iacutendia
portuguesa20
Felipe II sofreu em larga medida do messianismo de seu avocirc portuguecircs D Manuel
I e viu em seu redor desenvolver-se uma retoacuterica imperialista e universalista herdada de
seu pai Carlos V O poeta-soldado Hernando de Acuntildea anunciara num poema dirigido a
18
RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 358 19
RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 348-349 20
RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 349
15
Carlos V que estava proacuteximo o dia em que se realizaria a maacutexima universal um
monarca um impeacuterio e uma espada
Espanha atingia entatildeo o auge de seu Siglo de Oro com um impeacuterio onde ldquoel Sol
no se poniacuteardquo desde o Virreinato de Nueva Espantildea (Ameacuterica Norte e Central) ateacute agraves
Filipinas o que levava os estrategos da Corte dos Felipes a sonhar com uma ldquomonarquia
mundialrdquo Mais tarde o aristocrata andaluz Gaspar Felipe de Guacutezman o famoso Conde-
Duque de Olivares adoptando uma expressatildeo de Gil Vicente afirmou ldquoDios es espantildeol
y estaacute de parte de la nacioacuten estos diasrdquo (Deus eacute espanhol e faz parte da naccedilatildeo nos dias de
hoje)
Ainda na vigecircncia do reinado de Felipe II (1556-1598) satildeo de salientar os
acontecimentos que iriam dar iniacutecio ao processo de decadecircncia deste siglo
Iniacutecio dos ataques sistemaacuteticos dos corsaacuterios ingleses agraves possessotildees
espanholas das Ameacutericas
O desastre da Grande y Feliciacutessima Armada (mais conhecida como
ldquoInvenciacutevel Armadardquo) que partira de Lisboa em 1588 (levando boa parte da
armada portuguesa que natildeo regressou) para invadir e subjugar a Inglaterra
A derrota frente aos ingleses na batalha naval do estreito de Gibraltar em
159021
Depois da morte de Felipe II uma atmosfera de desengantildeo de desilusatildeo nacional
apoderou-se de Espanha ndash segundo Elliot a obra imortal El Inginioso Hidalog Don
Quixote de La Mancha (1605 e 1614) de Miguel de Cervantes Saavedra eacute
provavelmente o expoente dessa eacutepoca de decliacutenio estrateacutegico que se iria estender pelo
reinado do filho e neto de Felipe II22
Na realidade o Siglo de Oro espanhol durou menos de sessenta anos A decadecircncia
comeccedilou na aclamaccedilatildeo de Felipe II em 1581 como rei portuguecircs nas Cortes de Tomar
e termina nas deacutecadas de 1630 e 1640 com Felipe IV (III em Portugal) Este uacuteltimo
coroado aos dezasseis anos de idade entregou o governo do impeacuterio ao Conde-Duque
de Olivares Durante o vinteacutenio compreendido entre 1623 e 1643 eacute o Conde-Duque de
Olivares que exerceraacute o controlo efectivo sobre o Estado espanhol A notoacuteria rivalidade
com o cardeal de Richelieu (Franccedila) arrastou a Espanha para a Guerra dos Trinta Anos
e a diversos conflitos paralelos com a Itaacutelia e com os Paiacuteses Baixos O desgaste causado
21
RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 358-360 22
RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 373
16
pelos vaacuterios conflitos o decliacutenio da induacutestria e do comeacutercio devido ao esgotamento dos
recursos das coloacutenias espanholas e a restauraccedilatildeo da coroa portuguesa (em 1640)
desacreditaram a sua gestatildeo Destituiacutedo do cargo exilou-se no norte de Espanha e
passou seus uacuteltimos anos submetido agraves investigaccedilotildees da Inquisiccedilatildeo ateacute seu falecimento
em 1645
Sucedeu-se ainda um quadro de desaires no final da Guerra dos Trinta Anos (1618-
1648) de que passo a citar os mais importantes
As derrotas infligidas na batalha naval ao largo de Downs no canal da
Mancha Esta derrota naval eacute considerada pelos proacuteprios estrategos espanhoacuteis
como o momento de perda da hegemonia naval
Em 1639 a infligida pelos holandeses comandados por Maarten Tromp
Em 1643 em Rocroi derrotados pelos franceses
A reconquista da Independecircncia dos portugueses em 1640
A revolta da Catalunha que se converte num protectorado francecircs
A derrota de Lens em 1648 de novo agraves matildeos dos franceses
14 O ciclo holandecircs e a hegemonia inglesa
Se Portugal de Quinhentos foi o pioneiro do verdadeiro comeacutercio internacional
foram os hegemonistas seguintes holandeses e ingleses que souberam inovar para dele
tirar proveito efectivo
Alguns historiadores desenharam esta imagem sugestiva ndash o papel dos portugueses
foi entatildeo ldquoo de lanccedilarem catildees para espantarem a caccedila que depois foi apanhada por
outrosrdquo23
Natildeo foi por acaso que os holandeses ficaram conhecidos no seacuteculo XVII como os
ldquocarreteiros do marrdquo com uma frota que era o dobro da de Inglaterra e Franccedila juntas24
ldquoLanccedilaram-se ao mar e tornaram-se os transportadores das mercadorias mundiais Os
23
BOXER 2001 32 Imagem atribuiacuteda por Charles R Boxer ao capitatildeo holandecircs Willem Bosman 24
RODRIGUES 1997 280 (volume I)
O contraste no periacuteodo de 1600-1700 foi brutal a frota comercial portuguesa baixou de uma meacutedia de
700 navios (no periacuteodo de Quinhentos) para quase metade e a holandesa disparou de menos de 100 para
1770 contra 811 ingleses e 155 franceses
17
barcos holandeses iam a toda a parte levando mercadoria de todo o mundo a todo o
lugarrdquo dizia Leo Huberman25
Aos holandeses e ingleses caberia inovarem no empreendorismo capitalista
justamente onde falhou o ldquocapitalismo monaacuterquico portuguecircsrdquo o que gerou a croacutenica
desvantagem competitiva que marcaria a evoluccedilatildeo do comeacutercio a partir dos comeccedilos do
seacuteculo XVII
A esse conjunto de inovaccedilotildees anglo-holandesas entre 1600 e 1700 poderemos
chamar de revoluccedilatildeo de softpower ndash mais poderoso do que o militarismo religioso
apelidado de ldquodilataccedilatildeo da feacuterdquo que os portugueses e espanhoacuteis pretenderam usar como
arma ideoloacutegica de consolidaccedilatildeo das ldquoDescobertasrdquo26
O primeiro aspecto inovador do softpower da potecircncia emergente foi juriacutedico27
A
doutrina do Mare Clausum defendida e aplicada pelos portugueses foi contestada O
holandecircs Hugo Grotius formulou em De Jure Pradae28
(1604) e Mare Liberum (1609)
a ideia de que haveria um direito natural de navegaccedilatildeo livre no mar alto O oceano seria
um bem puacuteblico comum onde natildeo se aplicavam os direitos de conquista nem a lei
consuetudinaacuteria ldquoEm virtude deste direito (de mar livre) o comeacutercio estaacute aberto a toda
a genterdquo afirma Grotius que termina a sua obra Mare Liberum dizendo que eacute preciso
natildeo recuar perante a guerra se os portugueses mantiverem a sua doutrina do Mare
Clausum Grotius respondia tambeacutem a uma decisatildeo de James I de Inglaterra que no
iniacutecio de 1609 decretara a obrigatoriedade de licenccedilas nos mares em redor das costas
inglesas o que prejudicou seriamente os holandeses
O segundo aspecto foi poliacutetico-comercial Foram por sua vez os ingleses que
criaram um novo tipo de companhia trading baseada numa sociedade por acccedilotildees em
que a proacutepria rainha da altura Elizabeth I participava como accionista e sem a
dependecircncia do circuito dos banqueiros alematildees e italianos A primeira dessas
companhias em finais de 1600 tinha o estranho nome de ldquoGovernador e Companhia
dos Aventurosos Mercadores para a descoberta de regiotildees domiacutenios ilhas e lugares
desconhecidosrdquo e contava em Londres com 240 accionistas que investiram 25 libras
25
HUBERMAN 1970 45 26
RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 397 27
O debate entre o Mare Clausum e o Mare Liberum estaacute muito bem documentado no livro de Wilhelm
Grewe intitulado The Epochs of International Law republicado pela editora Walter de Gruyer em 2000
Berlim e Nova York 28
Grotius refere nesta obra supracitada a captura em Malaca de um barco portuguecircs por um navio da
companhia holandesa VOC
18
cada um (na eacutepoca uma soma de certa importacircncia29
) Esta deu origem mais tarde ao
aparecimento da famosa Companhia Inglesa das Iacutendias Orientais Honourable East India
Company Em 1602 foi a vez de os holandeses criarem a Companhia das Indias
Orientais a conhecida VOC (acroacutenimo de Verenidge Oost-indische Compagnie) que
agrupou nove companhias por acccedilotildees depois do ensaio com a inicial Compagnie Van
Verre (Companhia das Terras Longiacutenquas) criadas em 1594
Estas companhias natildeo eram meramente comerciais eram bem mais do que isso
Funcionavam como uma ferramenta poliacutetica multifuncional pois natildeo soacute criavam a
infra-estrutura para o comeacutercio internacional como tambeacutem serviam de arma poliacutetico-
ideoloacutegica (exercendo softpower) coerciva (cobrando impostos) e militar (aplicando o
hardpower)30
Por alguns satildeo consideradas exemplos de ldquoactores natildeo estaduaisrdquo com
dimensatildeo multinacional a quem os monarcas atribuiacuteam poderes soberanos nas regiotildees
de expansatildeo ao contraacuterio dos ibeacutericos que exerciam o poder ultramarino atraveacutes de
vice-reis Posteriormente os franceses copiaram o modelo anglo-holandecircs na sua
projecccedilatildeo nas Ameacutericas e na Iacutendia mas com menos sucesso devido agrave sua inferioridade
na projecccedilatildeo oceacircnica
Em 1609 os holandeses fundaram o Amesterdamsche Wisselbank (Banco de
Amesterdatildeo) sobre o qual Adam Smith escreveu vaacuterios paraacutegrafos na sua obra mais
ceacutelebre31
e em 1694 surgiu o Bank of England32
De salientar ainda a mudanccedila no exerciacutecio de hardpower nos mares Eacute um aspecto a
que muitos historiadores designaram ldquorevoluccedilatildeo militarrdquo ocorrida ao longo da primeira
metade do seacuteculo XVII visto que os ingleses e holandeses inovaram em termos de
velocidade flexibilidade (aperfeiccediloamento da capacidade de bolinar) e posicionamento
da artilharia a bordo dos navios33
29
HUBERMAM ibidem nt 12 30
HUTTON 2006 70 31
SMITH 1776 livro IV capiacutetulo 3 parte I 32
RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 398-400 33
RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 402
19
15 A Burguesia e a Revoluccedilatildeo Industrial
O incremento do comeacutercio mariacutetimo permitiu que os produtos do Oriente
chegassem agrave Europa e vice-versa Este comeacutercio apesar do risco impliacutecito nas viagens
era altamente rentaacutevel (bastava uma caravela chegar do Oriente com especiarias para
cobrir os custos totais da frota)
As transacccedilotildees comerciais realizadas pelos europeus atraveacutes das suas rotas
mariacutetimas permitiram o enriquecimento das classes sociais vigentes e contribuiacuteram
ainda em grande escala para o aparecimento de uma nova classe social ldquoendinheiradardquo
ndash a Burguesia
Os burgueses eram os habitantes dos burgos que eram pequenas ldquocidadesrdquo
protegidas por muros Eram ldquogentesrdquo de elevado estatuto econoacutemico embora de baixo
niacutevel cultural e social Por isso se compreende agrave luz da eacutepoca que tenham sido
ostracizados pela nobreza
Com o mundo e o comeacutercio ligado em rede ndash mercado global ndash a procura mundial
disparou e consequentemente tornou-se mais premente aumentar a oferta
O ldquonegoacutecio mariacutetimordquo indissociaacutevel da burguesia favoreceu a acumulaccedilatildeo de
capitais na Europa Posteriormente esta acumulaccedilatildeo de capital serviu de suporte
financeiro agrave Revoluccedilatildeo Industrial
A Revoluccedilatildeo Industrial consistiu num conjunto de mudanccedilas tecnoloacutegicas34
com
profundo impacto no processo produtivo que se reflectiu no desenvolvimento
econoacutemico e social na Europa A era industrial provocou uma ruptura com o passado
Foi iniciada em Inglaterra em meados do seacuteculo XVIII e rapidamente se expandiu a
partir do seacuteculo XIX
Entre as novas aplicaccedilotildees tecnoloacutegicas saliento a importacircncia da aplicaccedilatildeo do
motor a vapor em navios que veio encurtar a distacircncia entre os portos e
simultaneamente aumentar a capacidade de circulaccedilatildeo de pessoas e mercadorias Este
momento marcou o decliacutenio do ciclo de navegaccedilatildeo comercial agrave vela
A Revoluccedilatildeo Industrial eacute o ponto culminante de uma evoluccedilatildeo tecnoloacutegica
econoacutemica e social que se vinha processando na Europa desde a Idade Meacutedia com
34
James Watt em 1765 introduz na Gratilde-Bretanha o condensador na maacutequina de Newcomen componente
que aumenta consideravelmente a eficiecircncia da maacutequina a vapor
20
maior ecircnfase nos paiacuteses onde a Reforma protestante tinha conseguido destronar a
influecircncia da Igreja Catoacutelica Nos paiacuteses fieacuteis ao catolicismo a Revoluccedilatildeo Industrial
eclodiu em geral mais tarde
O seacuteculo XIX no plano das relaccedilotildees internacionais foi marcado pela hegemonia
mundial britacircnica de expansatildeo colonialista e pelo aparecimento das primeiras lutas e
conquistas dos trabalhadores O trono britacircnico foi ocupado pela rainha Vitoacuteria (1837-
1901) razatildeo pela qual esse periacuteodo eacute denominado por Era Vitoriana No final deste
seacuteculo a busca de novas regiotildees para colonizar e descarregar os produtos (maciccedilamente
produzidos pela revoluccedilatildeo industrial) levou a uma acirrada disputa entre as potecircncias
industrializadas causando diversos conflitos e um crescente espiacuterito armamentista que
culminou mais tarde na eclosatildeo da Primeira Guerra Mundial (1914)
Statue of Prince Henry the Navigator ndash Belgrave Square London35
35
Estaacutetua em homenagem ao Infante D Henrique Belgrave Square em Londres
21
Cap II ndash O Livro Verde da Poliacutetica Mariacutetima Integrada Europeia
21 Fundamentos da Poliacutetica Mariacutetima Integrada Europeia
Partimos da definiccedilatildeo de fundamento eacute o que daacute consistecircncia e seguranccedila o que
daacute coesatildeo agraves partes do todo que ele mesmo estrutura e sustenta36
No capiacutetulo precedente dedicado a um breve enquadramento histoacuterico destaquei as
principais naccedilotildees europeias que contribuiacuteram fortemente para identidade mariacutetima da
Europa Facto eacute que hoje em dia em pleno seacuteculo XXI eacute inconcebiacutevel olhar para
Europa e imaginaacute-la sem mar ou negar a sua importacircncia no quotidiano dos europeus
De referir que na Uniatildeo Europeia a 27 apenas 5 Estados-membros natildeo satildeo paiacuteses
costeiros o que demonstra desde logo a importacircncia da temaacutetica mariacutetima no contexto
europeu Este eacute sem duacutevida um dos desafios que a Europa enfrenta e que passo a
apresentar neste capiacutetulo dedicado ao Livro Verde da Poliacutetica Mariacutetima Integrada
Europeia
Qualquer cidadatildeo europeu se lembraraacute dos relatos das grandes viagens de
descobrimentos que revelaram aos nossos antepassados a vastidatildeo a diversidade de
culturas e a riqueza de recursos do nosso planeta O ecircxito destas viagens que na sua
maioria eram mariacutetimas exigia quase sempre espiacuterito de abertura a ideias novas e um
planeamento meticuloso aleacutem de extraordinaacuteria coragem e forte determinaccedilatildeo Graccedilas a
elas natildeo soacute foram sendo desvendadas ao longo do tempo regiotildees do mundo antes
desconhecidas como tambeacutem apareceram novas tecnologias como por exemplo o
astrolaacutebio (instrumento naval usado para medir a altura dos astros acima da linha do
horizonte) o cronoacutemetro mariacutetimo (destinado a calcular a longitude exacta) e a turbina a
vapor (que permitiu escapar agrave tirania dos ventos dominantes)
A densidade populacional nas zonas do litoral europeu foi sempre elevada No mar
encontraram um meio de subsistecircncia pescadores e marinheiros mas tambeacutem sauacutede e
prazer novos horizontes para sonhar e um rico reportoacuterio de vocaacutebulos e metaacuteforas
36
Enciclopeacutedia Luso Brasileira vol 8 1794
22
presentes tanto na literatura como no quotidiano Fonte de romance de uniatildeo mas
tambeacutem de separaccedilotildees perigos desconhecidos e sofrimento o mar eacute um desafio
permanente e suscita em noacutes uma vontade profunda de melhor o conhecer
A Europa possui mais de 70000 km de orla costeira estaacute rodeada por numerosas
ilhas por quatro mares (Mediterracircneo Baacuteltico do Norte e Negro) e por dois oceanos
(Atlacircntico e Aacuterctico) O continente europeu eacute uma peniacutensula com uma orla costeira de
milhares de quiloacutemetros ndash maior do que a de outras grandes massas continentais como
os Estados Unidos ou a Federaccedilatildeo da Ruacutessia Dada esta configuraccedilatildeo geograacutefica mais
de dois terccedilos das fronteiras da UE satildeo de orla mariacutetima E os espaccedilos mariacutetimos sob
jurisdiccedilatildeo dos Estados-Membros satildeo mais vastos do que os seus espaccedilos terrestres
Graccedilas agraves suas regiotildees ultraperifeacutericas para aleacutem do Oceano Atlacircntico a Europa estaacute
igualmente presente no Oceano Iacutendico e no mar das Caraiacutebas Os desafios colocados por
estas regiotildees no plano mariacutetimo satildeo numerosos e afectam a Uniatildeo Europeia no seu todo
A Europa desde tempos imemoriais essencialmente devido agrave sua geografia sempre
teve uma relaccedilatildeo privilegiada com os oceanos sendo estes determinantes no
desenvolvimento da sua cultura identidade e histoacuteria
Assim continua a ser hoje em dia Num momento em que a Uniatildeo Europeia procura
veementemente revitalizar a economia eacute importante reconhecer o potencial econoacutemico
da dimensatildeo mariacutetima Estima-se que 3 a 5 do produto interno bruto (PIB) europeu
eacute gerado pelas induacutestrias e serviccedilos do sector mariacutetimo sem contar com o valor de
mateacuterias-primas como o petroacuteleo o gaacutes ou o pescado As regiotildees mariacutetimas europeias
representam mais de 40 do PIB da Uniatildeo Europeia
Natildeo obstante os cidadatildeos europeus nem sempre estatildeo bem conscientes da
importacircncia dos oceanos e mares na sua vida Embora saibam que a aacutegua eacute um bem
crucial poderatildeo desconhecer que proveacutem dos oceanos sob a forma ldquorecicladardquo de chuva
ou de neve por exemplo Preocupam-se com as alteraccedilotildees climaacuteticas mas nem sempre
sabem ateacute que ponto satildeo moduladas pelos oceanos Beneficiam da possibilidade de
comprar produtos baratos de todo o mundo sem se aperceberem da complexidade da
rede logiacutestica que o torna possiacutevel37
37
COM (2006) 275 final vol II 3
23
O desenvolvimento sustentaacutevel como se sabe ocupa um lugar preponderante na
agenda de trabalhos da Uniatildeo Europeia O desafio consiste em assegurar o reforccedilo
muacutetuo do crescimento econoacutemico da coesatildeo social e da protecccedilatildeo do ambiente
Ora a PMIE tem a oportunidade de aplicar aos oceanos o princiacutepio do
desenvolvimento sustentaacutevel Para esse efeito pode tirar partido dos trunfos que sempre
estiveram na base da supremacia no domiacutenio mariacutetimo conhecimento dos oceanos
larga experiecircncia e capacidade para enfrentar novos desafios conjugados com um forte
empenho na protecccedilatildeo dos seus recursos38
A Europa depois de seacuteculos de ligaccedilatildeo aos mares e oceanos assume a partir de
2007 a coordenaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas ligadas ao espaccedilo mariacutetimo e costeiro
europeu Todavia o objectivo de alcanccedilar uma poliacutetica mariacutetima mais integrada natildeo eacute
exclusivo da Europa eacute algo que tem vindo a ser implementado igualmente por paiacuteses de
outras regiotildees do mundo como a Austraacutelia o Canadaacute ou os Estados Unidos
22 Potencialidades das principais actividades mariacutetimas da Uniatildeo Europeia
A Uniatildeo Europeia eacute a primeira potecircncia mariacutetima mundial especialmente no que
diz respeito ao transporte mariacutetimo agraves teacutecnicas de construccedilatildeo naval ao turismo costeiro
agrave energia offshore incluindo as energias renovaacuteveis e serviccedilos associados No futuro
segundo um estudo do Irish Marine Institute39
os sectores com maior potencial de
crescimento seratildeo o sector dos cruzeiros e portuaacuterio a aquicultura as energias
renovaacuteveis as telecomunicaccedilotildees submarinas e a biotecnologia marinha
O transporte mariacutetimo e os portos satildeo essenciais para o comeacutercio internacional pois
90 do comeacutercio externo da Uniatildeo Europeia e mais de 40 do seu comeacutercio interno eacute
efectuado por via mariacutetima A Uniatildeo Europeia com 40 da frota mundial eacute
incontestavelmente o liacuteder deste sector global Anualmente 35 mil milhotildees de
toneladas de mercadorias e 350 milhotildees de passageiros transitam pelos portos mariacutetimos
europeus Cerca de 350000 pessoas trabalham nos portos e nos serviccedilos associados
38
COM (2006) 275 final vol II 4 39
Para mais informaccedilotildees sobre o Irsih Marine Institute httpwwwmarineie
24
que no seu conjunto geram um valor acrescentado de aproximadamente 20 mil milhotildees
de euros40
Com o aumento do volume do comeacutercio mundial e o desenvolvimento do
transporte mariacutetimo de curta distacircncia e das ldquoauto-estradasrdquo mariacutetimas as perspectivas
para estes sectores satildeo de crescimento contiacutenuo O transporte mariacutetimo eacute um catalisador
para outros sectores nomeadamente a construccedilatildeo naval e os equipamentos mariacutetimo-
portuaacuterios
Os serviccedilos mariacutetimos associados como os seguros a banca a intermediaccedilatildeo a
classificaccedilatildeo e a consultoria satildeo mais um domiacutenio em que a Europa deve manter a sua
lideranccedila
Os oceanos e os mares geram igualmente receitas graccedilas ao turismo Estima-se que
o volume de negoacutecios directo do sector do turismo mariacutetimo na Europa tenha sido de 72
mil milhotildees de euros em 2004 Os turistas que passam feacuterias no litoral usufruem do mar
da praia e da zona costeira de formas muito diversas Muitos destinos turiacutesticos devem a
sua popularidade agrave proximidade do mar e dependem da qualidade ambiental deste Para
a sustentabilidade do turismo em geral e em particular do ecoturismo sector que se
encontra em raacutepida expansatildeo eacute pois crucial prever um elevado niacutevel de protecccedilatildeo das
zonas costeiras e do meio marinho O turismo gera ainda trabalho para a induacutestria da
construccedilatildeo naval
O sector europeu dos cruzeiros tambeacutem se desenvolveu fortemente nos uacuteltimos
anos registando uma taxa de crescimento anual superior a 10 Os navios de cruzeiro
satildeo praticamente todos construiacutedos na Europa O turismo de cruzeiro contribui para o
desenvolvimento das zonas costeiras e insulares
O sector da naacuteutica de recreio registou igualmente um aumento constante nos
uacuteltimos anos prevendo-se que o seu crescimento anual na Uniatildeo Europeia seja de 5 a
641
Nenhuma outra forma de lazer colectivo abrange um leque tatildeo grande de idades
interesses e locais42
O mar desempenha um papel essencial na competitividade no desenvolvimento
sustentaacutevel e na seguranccedila do aprovisionamento energeacutetico os quais constituem
40
Contributo da Organizaccedilatildeo dos Portos Mariacutetimos Europeus (ESPO) para o Livro Verde 41
Contributo da European Union Recreational Marine Industry Group (EURMIG) para o Livro Verde
Este sector inclui nomeadamente a construccedilatildeo de embarcaccedilotildees a electroacutenica de ponta para fabrico de
motores e equipamentos mariacutetimos o financiamento e a construccedilatildeo e exploraccedilatildeo de infra-estruturas 42
Contributo da European Boating Association (EBA) para o Livro Verde
25
objectivos essenciais identificados pela Comissatildeo Europeia43
e pelos Chefes de Estado
e de Governo44
O mar do Norte eacute depois da Ruacutessia dos Estados Unidos e da Araacutebia
Saudita a quarta maior fonte de petroacuteleo e de gaacutes no mundo45
Os mares em torno da
Europa desempenham tambeacutem um importante papel no sector da energia na medida em
que permitem o transporte por um nuacutemero crescente de navios-tanque de uma grande
parte do petroacuteleo e do gaacutes consumidos na Europa
Por outro lado o vento as correntes oceacircnicas as ondas e mareacutes representam uma
vasta fonte de energia inesgotaacutevel Convenientemente explorados estes tipos de
energias poderiam assegurar uma importante parte do abastecimento de electricidade em
muitas zonas costeiras da Europa e contribuir assim para o desenvolvimento econoacutemico
e a criaccedilatildeo de emprego com caraacutecter duradouro
As empresas europeias desenvolvem know-how na aacuterea das tecnologias marinhas
natildeo soacute no domiacutenio da exploraccedilatildeo de hidrocarbonetos no mar como tambeacutem nos dos
recursos marinhos renovaacuteveis das actividades em aacuteguas profundas da investigaccedilatildeo
oceanograacutefica dos veiacuteculos e robocircs subaquaacuteticos das obras mariacutetimas e da engenharia
costeira Essas tecnologias satildeo cada vez mais utilizadas e estimularatildeo o crescimento do
sector europeu das tecnologias marinhas especialmente nos mercados mundiais de
exportaccedilatildeo
Por fim a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Alimentaccedilatildeo e a Agricultura
(FAO)46
indica que caberaacute agrave aquicultura satisfazer a nova procura mundial no mercado
de consumo de pescado A dificuldade consiste em gerir este aumento de procura de
uma forma sustentaacutevel e compatiacutevel com o ambiente A competiccedilatildeo pelo espaccedilo pode
tambeacutem constituir um importante problema em algumas zonas costeiras A aquicultura
poderaacute distanciar-se da costa o que exigiraacute novos trabalhos de investigaccedilatildeo e
desenvolvimento da tecnologia de cultura em jaulas offshore47
A Uniatildeo Europeia eacute uma das principais potecircncias de pesca ao niacutevel mundial e o
maior mercado de produtos transformados agrave base de peixe Embora o nuacutemero de
pescadores na Uniatildeo Europeia tenha vindo a baixar ao longo dos anos o sector das
43
COM (2006) 105 final 44
Conclusotildees da Presidecircncia do Conselho Europeu de 23 e 24 de Marccedilo de 2006 45
Contributo da International Association of Oil and Gas Producers (OGP) para o Livro Verde 46
O estado das pescas e da aquicultura no mundo FAO 2004 47
COM (2002) 511 final
26
pescas no seu conjunto emprega ainda cerca de 526000 pessoas48
Satildeo proporcionados
numerosos postos de trabalho natildeo soacute no sector da captura como na induacutestria da
transformaccedilatildeo acondicionamento transporte e comercializaccedilatildeo bem como nos
estaleiros faacutebricas de artes de pesca empresas de abastecimento e de manutenccedilatildeo Estas
actividades tecircm uma importacircncia consideraacutevel no tecido econoacutemico e social das zonas
pesqueiras A transiccedilatildeo gradual para pescarias mais sustentaacuteveis prevista pela Uniatildeo
Europeia e o aumento da procura de peixe enquanto alimento saudaacutevel conduzem a
uma maior estabilidade rentabilidade e inclusiveacute crescimento econoacutemico em certos
segmentos do sector das pescas49
Como verificamos as actividades mariacutetimas ainda que dispersas ou diacutevidas por
sectores satildeo efectivamente importantes para o desenvolvimento econoacutemico da Europa
No entanto sendo a Europa um continente proeminentemente mariacutetimo questiono-
me porque eacute que soacute a partir de 2006 surge uma intenccedilatildeo de abordar os assuntos
mariacutetimos como um todo e de forma integrada A resposta eacute complexa Talvez seja o
reflexo de uma Europa tradicionalmente sectaacuteria baseada nos interesses individuais dos
Estados-membros e com a dificuldade em falarem a uma soacute voz Apesar de tardia a
PMIE pode ser uma referecircncia para a Europa na forma como desenvolve e implementa
poliacuteticas axioloacutegicas e integradas contribuindo simultaneamente para uma Europa de
direitos e com valores50
dando assim a todos uma melhor perspectiva de futuro
48
Factos e nuacutemeros sobre a Poliacutetica Comum da Pesca (PCP) CE 2004 49
COM (2006) 275 final volume II 7-9 50
A dignidade humana a liberdade a democracia a igualdade o Estado de Direito o respeito pelos
direitos do Homem satildeo os valores fundamentais da UE consagrados no Preacircmbulo do Tratado de Lisboa
Satildeo comuns a todos os EM e qualquer paiacutes europeu que queira tornar-se membro da UE tem de os
respeitar Defender estes valores bem como a paz e o bem-estar dos povos da Uniatildeo satildeo agora os
objectivos principais da UE Estes objectivos gerais satildeo complementados por objectivos mais especiacuteficos
como a promoccedilatildeo da justiccedila e da protecccedilatildeo sociais e a luta contra a exclusatildeo social e as discriminaccedilotildees
27
23 Livro Verde ndash ldquouma visatildeo para os oceanos e os maresrdquo
ldquo(hellip) torna-se especialmente necessaacuterio termos uma poliacutetica mariacutetima abrangente
orientada para o desenvolvimento de uma economia mariacutetima florescente e para a
plena exploraccedilatildeo do potencial das actividades centradas no mar e de uma forma
sustentaacutevel para o ambiente Esta poliacutetica deve assentar na excelecircncia da investigaccedilatildeo
cientiacutefica da tecnologia e da inovaccedilatildeo mariacutetimardquo Cit nos objectivos estrateacutegicos da
Comissatildeo Europeia para 2005-2009
A Comissatildeo Europeia em Junho de 2006 apresentou um Livro Verde sobre os
diferentes aspectos de uma futura poliacutetica mariacutetima comunitaacuteria Esta obra realccedilou a
identidade e a supremacia mariacutetimas da Europa que devem ser preservadas num
periacuteodo em que as pressotildees sobre o ambiente comprometem a perenidade das
actividades mariacutetimas A poliacutetica mariacutetima deve consequentemente ter por objectivo a
formaccedilatildeo de um sector mariacutetimo inovador competitivo e respeitador do ambiente Para
aleacutem das actividades mariacutetimas a abordagem proposta integra tambeacutem a qualidade de
vida nas regiotildees costeiras O Livro Verde teve como objectivo lanccedilar um debate sobre
uma futura poliacutetica mariacutetima para a Uniatildeo Europeia caracterizado por uma abordagem
holiacutestica dos oceanos e dos mares
Ele tornou claro que num periacuteodo em que os recursos estatildeo ameaccedilados por
pressotildees fortes e pela crescente capacidade tecnoloacutegica de os explorar soacute uma atitude
de profundo respeito pelos oceanos e pelos mares nos permitiraacute continuar a desfrutar
dos benefiacutecios que eles nos oferecem A reduccedilatildeo acelerada da biodiversidade marinha
devido nomeadamente agrave poluiccedilatildeo ao impacto das alteraccedilotildees climaacuteticas e agrave sobrepesca
eacute desde jaacute um sinal de alarme inequiacutevoco que natildeo se pode ignorar
Assim o Livro Verde baseou-se nas poliacuteticas e iniciativas da UE existentes e
insere-se no contexto da Estrateacutegia de Lisboa procurando estabelecer o justo equiliacutebrio
entre as dimensotildees econoacutemica social e ambiental
Como tal contribuiu largamente para que os europeus adquirissem uma nova
consciecircncia da grandeza do seu patrimoacutenio mariacutetimo da importacircncia dos oceanos e do
potencial dos oceanos para melhorar o bem-estar e aumentar as oportunidades
econoacutemicas
28
A Comissatildeo Europeia postulou que a poliacutetica mariacutetima comunitaacuteria deve alicerccedilar-
se em dois pilares fundamentais
Em primeiro lugar deve estar ancorada na Estrateacutegia de Lisboa estimulando o
crescimento e a criaccedilatildeo de mais e melhores empregos O investimento permanente no
conhecimento e nas competecircncias eacute um factor essencial para manter a competitividade e
garantir empregos de qualidade
Em segundo lugar deve manter e melhorar o estado do recurso em que se baseiam
todas as actividades mariacutetimas ou seja o oceano propriamente dito
Embora a utilizaccedilatildeo destes pilares como base para a nova poliacutetica mariacutetima possa
parecer relativamente simples haacute que natildeo descurar duas caracteriacutesticas especiacuteficas do
meio marinho
A primeira consiste na natureza global dos oceanos que faz com que as relaccedilotildees
entre paiacuteses sejam ao mesmo tempo complementares e concorrenciais Para regular as
actividades mariacutetimas no interesse do desenvolvimento sustentaacutevel ao niacutevel mundial eacute
necessaacuterio elaborar regras aplicaacuteveis universalmente Contudo cada parcela de oceano e
de mar eacute singular e pode exigir as suas proacuteprias regras e uma gestatildeo mais especiacutefica
Esta aparente contradiccedilatildeo eacute ilustrativa do motivo pelo qual a natureza global dos
oceanos representa um tatildeo grande desafio para os decisores poliacuteticos
O outro desafio que se oferece a uma boa governaccedilatildeo mariacutetima directamente
ligado ao aspecto anterior prende-se com a multiplicidade dos intervenientes
Numerosas satildeo as poliacuteticas sectoriais que surgiram e que existem a todos os niacuteveis de
poder comunitaacuterio nacional regional e local Pode acontecer que intervenientes de
agecircncias e paiacuteses diferentes ou organizaccedilotildees internacionais estejam melhor colocados
para adoptar as propostas de acccedilatildeo Contudo para que as decisotildees sejam tomadas a um
niacutevel mais proacuteximo dos interessados cumprindo-se o princiacutepio da subsidiariedade soacute
devem ser desenvolvidas acccedilotildees ao niacutevel da Uniatildeo Europeia se tal conferir valor
acrescentado agraves actividades de outros51
51
COM (2006) 275 final volume II 5-6
29
24 Aacutereas-chave no Livro Verde
Do Livro Verde constam diversas aacutereas-chave que passamos a analisar
Meio marinho
O meio marinho enfrenta nomeadamente os seguintes problemas diminuiccedilatildeo
acelerada da biodiversidade (consequecircncias na realizaccedilatildeo do potencial da
ldquobiotecnologia azulrdquo) exploraccedilatildeo excessiva dos recursos (consequecircncias para a pesca)
alteraccedilotildees climaacuteticas (consequecircncias para a pesca e para o turismo costeiro) poluiccedilatildeo
com origem terrestre acidificaccedilatildeo da aacutegua do mar e a poluiccedilatildeo provocada pelas
descargas dos navios e os acidentes mariacutetimos (na falta de melhor seguranccedila mariacutetima)
Para diminuir o impacto destes fenoacutemenos no meio-ambiente marinho deveraacute reforccedilar-
se a legislaccedilatildeo no domiacutenio da seguranccedila mariacutetima introduzir-se a avaliaccedilatildeo de riscos na
elaboraccedilatildeo das poliacuteticas e aplicar novas tecnologias ao niacutevel do tratamento de aacuteguas de
lastro52
Investigaccedilatildeo
A investigaccedilatildeo eacute essencial para se poder definir estrateacutegicas e tomar decisotildees com
conhecimento de causa Todavia os EM podem ir mais longe coordenando os seus
programas de investigaccedilatildeo nacionais a fim de realizar uma investigaccedilatildeo pan-europeia e
racionalizando meios A cooperaccedilatildeo entre investigadores e criadores de novas
tecnologias assume tambeacutem especial importacircncia
Inovaccedilatildeo
A inovaccedilatildeo pode ajudar a encontrar soluccedilotildees em domiacutenios em franca mutaccedilatildeo
como eacute o caso das energias e das alteraccedilotildees climaacuteticas As soluccedilotildees encontradas podem
tambeacutem beneficiar paiacuteses terceiros quando estes optarem por um desenvolvimento
sustentaacutevel e assim poderatildeo constituir uma vantagem competitiva para estes A energia
52
Aacutegua de lastro eacute a aacutegua do mar captada pelo navio para garantir a seguranccedila operacional e estabilidade
do mesmo Em geral os tanques satildeo preenchidos com maior ou menor quantidade de aacutegua para aumentar
ou diminuir o calado dos navios durante as operaccedilotildees portuaacuterias A aacutegua de lastro eacute um risco pelo facto de
transportar espeacutecies exoacuteticas dentro dos tanques dos navios Os seres vivos introduzidos pela aacutegua de
lastro podem variar entre organismos milimeacutetricos ateacute peixes com 30 centiacutemetros Satildeo inuacutemeros os
registos de ldquobioinvasatildeordquo por meio da aacutegua de lastro no mundo inteiro
30
eoacutelica as turbinas movidas pelas correntes de mareacute e os recursos de gaacutes e de petroacuteleo
dos grandes fundos marinhos podem representar novas fontes de energia
Matildeo-de-obra ldquosaber-fazerrdquo
As actividades mariacutetimas precisam de atrair pessoas altamente qualificadas No
entanto embora no seu conjunto o emprego no sector mariacutetimo europeu seja estaacutevel53
o nuacutemero de mariacutetimos europeus estaacute a diminuir Ou seja apesar de diminuir o nuacutemero
de trabalhadores no sector das pescas o sector foi compensado por pujantes serviccedilos
mariacutetimos tais como turismo e transporte mariacutetimo
O recrutamento em nuacutemero suficiente de mariacutetimos e outros profissionais bem
formados e competentes eacute essencial para garantir a sobrevivecircncia do sector mariacutetimo
assim como para manter a vantagem concorrencial da Europa
O ensino e a formaccedilatildeo no domiacutenio mariacutetimo devem ter por objectivo conferir aos
potenciais candidatos as mais elevadas competecircncias que possam abrir muacuteltiplas
perspectivas profissionais
A excelecircncia dos candidatos a emprego soacute seraacute garantida se se conseguir atrair para
o ensino e formaccedilatildeo no domiacutenio mariacutetimo os jovens mais capazes Eacute nesse quadro que
importa lutar contra a imagem do sector Eacute essencial oferecer aos mariacutetimos homens e
mulheres condiccedilotildees de vida e de trabalho adequadas ao niacutevel das expectativas a que os
europeus se habituaram com toda a legitimidade
Formaccedilatildeo de clusters54
O desenvolvimento de uma percepccedilatildeo comum das articulaccedilotildees possiacuteveis entre os
diferentes sectores mariacutetimos permitiraacute melhorar a imagem e aumentar a atractividade e
produtividade destes Estes agrupamentos de empresas e de profissionais que abrangem
todos os sectores de actividade podem assumir diversas formas Assim no domiacutenio
mariacutetimo eacute preciso distinguir os clusters nacionais ndash que servem frequentemente de
53
Ver o documento ldquoEmployment social and training aspects of maritime and fishing industries and
related sectorsrdquo httpeceuropaeumaritimeaffairspdfSEC(2006)_68920_2pdf 54
Remetendo em inglecircs para a noccedilatildeo de conjunto o termo ldquoclusterrdquo designa um agrupamento de
empresas do mesmo sector presentes na maior parte das vezes numa mesma bacia de emprego Mais
precisamente segundo Michael E Porter da Universidade de Harvard um cluster eacute ldquouma concentraccedilatildeo
de empresas ligadas entre si de fornecedores especializados de prestadores de serviccedilos e de instituiccedilotildees
associadas (universidades associaccedilotildees comerciais etc)rdquo
31
transmissores de opiniatildeo para certos ramos ou profissotildees mariacutetimas ndash dos clusters
regionais Estes uacuteltimos consagram-se ao desenvolvimento da economia mariacutetima
atraveacutes da inovaccedilatildeo e da aproximaccedilatildeo entre investigaccedilatildeo formaccedilatildeo e a induacutestria55
Os clusters podem contribuir para estimular a competitividade de todo um sector ou
grupo de sectores Eacute o que acontece se se partilhar conhecimentos realizar projectos
comuns de investigaccedilatildeo e inovaccedilatildeo (desenvolvimento de produtos) unir esforccedilos no
ensino e na formaccedilatildeo partilhar meacutetodos de organizaccedilatildeo inovadores dentro de um grupo
de empresas (aquisiccedilatildeo e distribuiccedilatildeo em comum) ou estrateacutegias de promoccedilatildeo comuns
nomeadamente em mateacuteria de marketing e publicidade
A exploraccedilatildeo do potencial oferecido pela formaccedilatildeo de clusters eacute pertinente em
sectores com cadeias de abastecimento complexas que envolvem produccedilatildeo e serviccedilos e
tambeacutem com um grande nuacutemero de pequenas e meacutedias empresas Eacute esse o caso da
construccedilatildeo naval Na construccedilatildeo naval moderna mais de 70 do ldquonavio acabadordquo
resulta do trabalho de uma vasta rede de fornecedores de sistemas equipamentos e
serviccedilos56
Eacute possiacutevel disseminar as boas praacuteticas ligando estes sectores entre si e
transformando-os em redes de excelecircncia mariacutetima que abranjam todos os sectores
mariacutetimos incluindo o dos serviccedilos
Qualidade de vida nas regiotildees costeiras
O litoral europeu foi em tempos povoado por comunidades que viviam da pesca
Com o desenvolvimento do transporte mariacutetimo local e internacional foram-se
construindo portos e emergiram novas actividades nas periferias A procura de uma vida
agrave beira-mar apenas pelo prazer que daiacute decorre eacute um fenoacutemeno relativamente recente
A Conferecircncia das Regiotildees Perifeacutericas Mariacutetimas da Europa (CRPM) sublinha que
a atractividade natural (paisagem horas de insolaccedilatildeo e benefiacutecios para a sauacutede) daacute
igualmente origem a um forte crescimento demograacutefico que natildeo apresenta sinais de
abrandamento57
Por exemplo Portugal com 75 da populaccedilatildeo a viver no litoral
enfrenta neste domiacutenio indubitavelmente grandes desafios e novas exigecircncias
55
BERNARD-BRUNET Patrick 2007 23 56
Contributo da Associaccedilatildeo dos Estaleiros Europeus de Construccedilatildeo e Reparaccedilatildeo Naval (CESA) para o
Livro Verde 57
Contributo da CRPM para o Livro Verde
32
A concentraccedilatildeo demograacutefica nas regiotildees costeiras acarreta pressotildees sobre o espaccedilo
e o ambiente Exige uma maior acessibilidade em especial das pequenas ilhas e uma
maior mobilidade no seu interior que passa pela melhoria das infra-estruturas de
transporte Obriga agrave oferta de serviccedilos de interesse geral (sauacutede educaccedilatildeo
abastecimento de aacutegua e energia telecomunicaccedilotildees serviccedilos postais tratamento das
aacuteguas residuais e dos resiacuteduos) a fim de promover a qualidade de vida nas zonas
costeiras especialmente durante as estaccedilotildees altas do turismo Nas regiotildees rurais e
remotas as tecnologias da informaccedilatildeo e da comunicaccedilatildeo tecircm um papel a desempenhar
no fornecimento de serviccedilos em linha sauacutede ensino acesso puacuteblico agrave Internet
actividade econoacutemica ajuda agraves empresas e teletrabalho58
Ao planear o
desenvolvimento do litoral haacute que ter em conta o seu impacto ambiental a fim de obter
um resultado sustentaacutevel
As zonas costeiras e as ilhas satildeo elementos essenciais da atractividade e do ecircxito do
turismo costeiro Para que a Europa permaneccedila o primeiro destino turiacutestico ao niacutevel
mundial tem que apoiar um turismo sustentaacutevel nessas regiotildees O turismo sustentaacutevel
pode contribuir para o desenvolvimento das zonas costeiras e das ilhas melhorando a
competitividade das empresas satisfazendo as necessidades sociais promovendo o
patrimoacutenio natural e cultural e valorizando os ecossistemas locais Para um nuacutemero
crescente de destinos turiacutesticos a necessidade de melhorar ou manter a sua atractividade
constitui um incentivo para adoptar praacuteticas e estrateacutegias mais sustentaacuteveis e mais
compatiacuteveis com o ambiente
Muitos desses destinos jaacute realizam esforccedilos para efectuar uma gestatildeo integrada da
qualidade definindo estrateacutegias com os seus parceiros aplicando boas praacuteticas e
desenvolvendo instrumentos de acompanhamento e avaliaccedilatildeo para ajustar a sua acccedilatildeo
A sua experiecircncia poderaacute ser utilizada para formular recomendaccedilotildees destinadas a todos
os destinos turiacutesticos costeiros
A diversificaccedilatildeo dos produtos e serviccedilos turiacutesticos pode contribuir para a
competitividade dos destinos costeiros e insulares especialmente quando aos turistas eacute
oferecida a oportunidade de desfrutarem de locais de interesse cultural e natural
situados no litoral ou no hinterland rural ou urbano bem como de uma variedade de
58
Iniciativa do Comiteacute das Regiotildees (CdR) de 12102005 ndash Poliacutetica Mariacutetima da Uniatildeo Europeia ldquouma
questatildeo de desenvolvimento sustentaacutevel para as autoridades locais e regionaisrdquo
33
atracccedilotildees ligadas ao mar (observaccedilatildeo dos mamiacuteferos marinhos mergulho e arqueologia
subaquaacutetica actividades naacuteuticas e talassoterapia) Esta diversificaccedilatildeo apresenta
inuacutemeras vantagens designadamente uma menor pressatildeo nas praias fontes alternativas
de rendimento para antigos pescadores nas comunidades costeiras e criaccedilatildeo de novas
actividades destinadas a apoiar a preservaccedilatildeo e o desenvolvimento do patrimoacutenio local
No caso de Portugal para aleacutem de possuir uma oferta turiacutestica diversificada deve
tirar partido da sua localizaccedilatildeo geograacutefica como paiacutes costeiro por excelecircncia da forte
tradiccedilatildeo mariacutetima e de clima ameno que o caracteriza (lidera a lista de paiacuteses europeus
em dias sol por ano)
Estas mais-valias intriacutensecas permitem o prolongamento da estaccedilatildeo turiacutestica
gerando assim mais crescimento econoacutemico e aumento do nuacutemero de empregos a
tempo inteiro Desta forma diluindo os picos de concentraccedilatildeo turiacutestica reduz o impacto
ambiental das actividades turiacutesticas e contribui para melhorar a qualidade de vida no
litoral portuguecircs
Novas formas de governaccedilatildeo mariacutetima
Qualquer forma de governaccedilatildeo dos oceanos deve ter em conta os princiacutepios
estabelecidos nos Tratados relativamente aos domiacutenios poliacuteticos e agrave distribuiccedilatildeo de
competecircncias entre instituiccedilotildees da Uniatildeo Europeia Estados-Membros regiotildees e
autoridades locais Nesta base e em conformidade com o princiacutepio da subsidiariedade59
eacute necessaacuterio atender agraves especificidades sectoriais e regionais
Uma poliacutetica mariacutetima inclusiva da Uniatildeo Europeia deveraacute visar o crescimento e a
criaccedilatildeo de mais e melhores postos de trabalho contribuindo assim para uma economia
mariacutetima forte e em expansatildeo competitiva e sustentaacutevel e em harmonia com o meio
marinho Deve procurar prevenir e minimizar os conflitos em torno da utilizaccedilatildeo do
espaccedilo mariacutetimo e prever mecanismos claros e consensuais para a sua resoluccedilatildeo Deve
proporcionar uma maior previsibilidade para o sector e outros interessados e uma
abordagem mais eficaz em mateacuteria de conservaccedilatildeo dos recursos marinhos Neste
59
O princiacutepio da subsidiariedade prossegue dois objectivos opostos Por um lado permite que a
comunidade intervenha quando as medidas individualmente adoptadas pelos Estados-Membros natildeo
possibilitem uma soluccedilatildeo cabal Por outro lado visa manter a competecircncia dos Estados-Membros nos
domiacutenios que natildeo podem ser melhor regidos por uma intervenccedilatildeo comunitaacuteria A inclusatildeo deste princiacutepio
nos Tratados europeus deveraacute permitir que as decisotildees comunitaacuterias sejam adoptadas a um niacutevel tatildeo
proacuteximo quanto possiacutevel dos cidadatildeos - httpwwweuroparleuropaeufactsheets1_2_2_pthtm
34
contexto o diaacutelogo social europeu nos sectores mariacutetimos reveste-se de uma
importacircncia cada vez maior
Para se alcanccedilarem estes objectivos eacute necessaacuterio coordenar e integrar as poliacuteticas
sectoriais Confirmam-no os compromissos assumidos no quadro da cimeira mundial
sobre o desenvolvimento sustentaacutevel de 200260
e as disposiccedilotildees da Convenccedilatildeo das
Naccedilotildees Unidas sobre o Direito do Mar61
Aleacutem disso os progressos da ciecircncia e da tecnologia facultam agora uma melhor
compreensatildeo das interacccedilotildees e relaccedilotildees no que se refere aos oceanos e suas utilizaccedilotildees
O modelo de governaccedilatildeo da PMIE por sectores ou regiotildees geograacuteficas deve pois
ser substituiacutedo por uma abordagem transversal O modelo de governaccedilatildeo integrado
promove a partilha de conhecimentos e de boas praacuteticas bem como o diaacutelogo entre as
partes interessadas O impacto desta forma de governo permite elaborar medidas e
directivas agrave escala europeia respeitando as especificidades locais regionais e nacionais
Acho importante referir ainda que este modelo pode desencadear economias de escala
dando como exemplo de partilha o sistema de vigilacircncia mariacutetima da Agecircncia Europeia
da Seguranccedila Mariacutetima62
(EMSA) com sede em Lisboa
Novos instrumentos da gestatildeo das relaccedilotildees com os oceanos
ldquoOcirc mer nul ne connaicirct tes richesses intimesrdquo - Les fleurs du mal 63
Para uma melhor compreensatildeo das utilizaccedilotildees concorrentes do oceano haveraacute que
aperfeiccediloar os dados e as informaccedilotildees relativos agraves actividades mariacutetimas sejam elas
sociais econoacutemicas ou recreativas bem como sobre o impacto dessas actividades nos
recursos Tambeacutem para os operadores econoacutemicos mariacutetimos eacute importante haver dados
de qualidade Contudo subsistem grandes problemas no que se refere agrave harmonizaccedilatildeo e
agrave fiabilidade dos dados bem como agrave monitorizaccedilatildeo das regiotildees marinhas da Uniatildeo
Europeia que continuam a ser insuficientes e desajustados do ponto de vista geograacutefico
60
ONU Department of Economic and Social Affairs ndash Division for Sustainable Development
httpwwwunorgesasustdevdocumentsWSSD_POI_PDEnglishPOITochtm 61
Contributo da EuDA para o Livro Verde 62
A EMSA criada em 2002 na sequecircncia da cataacutestrofe do Erika e tem como objectivos reduzir o risco de
acidentes mariacutetimos diminuir a poluiccedilatildeo provocada pelos navios e salvaguardar as vidas humanas no
mar 63
ldquoOacute mar ningueacutem conhece as tuas riquezas escondidasrdquo ndash As Flores do Mal de Charles Baudelaire
(1821-1867) poeta francecircs e um dos fundadores do simbolismo O seu livro As Flores do Mal eacute
considerado um marco da poesia moderna
35
Para conceber uma poliacutetica mariacutetima comunitaacuteria racional e sustentaacutevel haveraacute que
obviar a estas lacunas
A Uniatildeo Europeia pode examinar a possibilidade de criar uma rede europeia de
observaccedilatildeo e de dados do meio marinho Esta possibilita garantir a longo prazo a
melhoria da observaccedilatildeo sistemaacutetica (in situ e a partir do espaccedilo) a interoperabilidade e
o reforccedilo do acesso aos dados com base em soluccedilotildees tecnologias da informaccedilatildeo e da
comunicaccedilatildeo (TIC) robustas abertas e geneacutericas Essa rede possibilita uma anaacutelise
integrada ao niacutevel da Uniatildeo Europeia de diferentes tipos de dados e metadados
provenientes de vaacuterias fontes O objectivo eacute fornecer agraves autoridades puacuteblicas aos
serviccedilos mariacutetimos e induacutestrias conexas bem como aos investigadores uma fonte de
dados primaacuterios para utilizaccedilatildeo na elaboraccedilatildeo de previsotildees e nas actividades de
monitorizaccedilatildeo integrando assim iniciativas existentes mas fragmentadas
O melhoramento e a difusatildeo dos dados relativos ao meio marinho permite tambeacutem
criar novas oportunidades para as empresas comerciais de alta tecnologia do sector
mariacutetimo e melhorar a eficiecircncia de actividades como a vigilacircncia mariacutetima a gestatildeo
dos recursos marinhos e a investigaccedilatildeo marinha nos laboratoacuterios europeus Aleacutem disso
contribui significativamente para reduzir as actuais incertezas relativamente ao sistema
oceacircnico e agraves alteraccedilotildees climaacuteticas tornando mais precisas as previsotildees meteoroloacutegicas
sazonais64
Proteger o legado mariacutetimo e sensibilizar o puacuteblico
Os cidadatildeos europeus cresceram com as histoacuterias dos grandes exploradores que
nos fizeram compreender que a Terra eacute redonda e nos ensinaram a situar exactamente os
continentes Muitos deles gozam as suas feacuterias na costa no meio da azaacutefama dos portos
de pesca saboreando marisco nos restaurantes e passeando agrave beira-mar a fugir agrave
rebentaccedilatildeo Alguns passam horas a observar as coloacutenias de aves marinhas ou as baleias
ou a esperar que o peixe morda o isco Outros passam os tempos livres a restaurar ou a
navegar em velhos barcos de madeira Haacute ainda outros que gostam de ver
documentaacuterios sobre os golfinhos ou os pinguins na televisatildeo ou no cinema Alguns
trabalharatildeo nos solos mariacutetimos outros seratildeo pescadores ou capitatildees de porto e outros
por sua vez trabalharatildeo no posto de turismo de uma cidade costeira
64
COM (2006) 275 final volume II 34-35
36
Quantos todavia compreenderatildeo que estas actividades estatildeo interligadas Quantos
teratildeo consciecircncia de serem cidadatildeos de uma Europa mariacutetima Bem poucos a avaliar
pelo debate realizado a propoacutesito do Livro Verde
Que assim seja natildeo eacute de surpreender Os aquaacuterios podem dar uma ideia da beleza e
das maravilhas da vida sob as ondas mas poucos conseguem mostrar de forma
convincente quatildeo fraacutegeis satildeo os oceanos que actividades os ameaccedilam e que esforccedilos
estatildeo a ser feitos para os preservar Os museus do mar podem ajudar-nos a compreender
as proezas do passado mas dificilmente nos conseguiratildeo transmitir uma noccedilatildeo clara da
avanccedilada tecnologia que eacute apanaacutegio das actividades mariacutetimas do presente As
organizaccedilotildees que se dedicam a manter vivas as tradiccedilotildees do passado nem sempre se
associam agrave realidade comercial do presente sem falar do deslumbrante potencial futuro
que os oceanos encerram A Comissatildeo Europeia crecirc que haacute muito a ganhar com o forjar
de um sentimento de identidade comum entre todos aqueles que vivem das actividades
mariacutetimas ou cuja qualidade de vida estaacute fortemente ligada ao mar Ganhar-se-aacute assim
uma melhor compreensatildeo das interacccedilotildees em jogo e da importacircncia do mar para a
Humanidade65
Acredito que as actividades naacuteuticas podem neste domiacutenio desempenhar um
papel fundamental A Naacuteutica pelo vasto puacuteblico que abrange ao longo de todo o ano
estabelece respeito muacutetuo entre por um lado os recursos naturais (mar aacutegua e litoral) e
por outro as populaccedilotildees residentes ou turiacutesticas As actividades naacuteuticas satildeo fortemente
orientadas desde haacute muito para a descoberta protecccedilatildeo e promoccedilatildeo do patrimoacutenio e
ambiente e ainda para a descoberta e promoccedilatildeo das actividades e profissotildees mariacutetimas
Os centros naacuteuticos e as marinas podem ser a grande vitrine do oceano aberta a todos
atraveacutes de actividades educativas desportivas e de lazer
Vejamos o exemplo dos Jogos Naacuteuticos Atlacircnticos criados na Bretanha em 1995
sob o lema o ldquoOceano nos unerdquo Os Jogos Naacuteuticos Atlacircnticos66
satildeo um evento
desportivo de alto niacutevel competitivo que se realiza anual e rotativamente pelas
diferentes regiotildees do Atlacircntico promovendo a fileira naacuteutica popularizando os
desportos naacuteuticos e incentivando intercacircmbios de experiecircncias Participam neste
quadro festivo e de amizade cerca de 500 atletas de cinco modalidades naacuteuticas
(Canoagem Remo Subaquaacuteticas Surf e Vela) sempre acompanhados de grupos
65
COM (2006) 275 final volume II 51 66
Jogos Naacuteuticos Atlacircnticos ( wwwjnieaeu)
37
culturais e musicais representativos das regiotildees participantes contribuindo desta forma
para uma Europa mariacutetima mais unida e coesa
Haacute vaacuterios anos a esta parte tecircm sido realizados eventos como por exemplo as
Initiatives Oceacutean ldquoIl nacutey a pas de petit pollutionrdquo da responsabilidade da Surfrider
Foundation Europe67
Este movimento europeu sensibiliza e mobiliza o grande puacuteblico
para as questotildees e problemaacuteticas ambientais e mariacutetimas
Por uacuteltimo realccedilo tambeacutem o projecto europeu NEA 268
ldquoNautisme Espace
Atlantique 2rdquo que visa o desenvolvimento sustentaacutevel e coordenado do conjunto da
fileira naacuteutica nas regiotildees da faixa atlacircntica (actividades portos de recreio induacutestria
comeacutercio e serviccedilos) atraveacutes de um reforccedilo de cooperaccedilatildeo baseado em trecircs eixos
temaacuteticos o desenvolvimento econoacutemico a protecccedilatildeo do ambiente a coesatildeo social Em
cada uma destas temaacuteticas o projecto prevecirc a realizaccedilatildeo de acccedilotildees comuns
transnacionais associando diversos parceiros e de acccedilotildees locais implementadas por
cada parceiro no seu territoacuterio Impulsionado por 23 parceiros europeus durante um
periacuteodo de 3 anos (Janeiro 2009 a Dezembro de 2011) o NEA2 foi aprovado pelo
Programa de Cooperaccedilatildeo Transnacional Espaccedilo Atlacircntico (POCTEA) e beneficia como
tal de uma subvenccedilatildeo do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER) Este
projecto persegue o sucesso alcanccedilado pelo seu antecessor Nautisme Espace Atlantique
(Novembro de 2004 a Outubro de 2007) do Programa INTERREG III B que reuniu 11
parceiros com o objectivo comum ldquodesenvolvimento coordenado do turismo naacuteuticordquo
O sector naacuteutico e os seus intervenientes satildeo parceiros eficazes para a mobilizaccedilatildeo
da populaccedilatildeo e consequente aproximaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do mar
67
Surfrider Foundation Europe (wwwsurfridereu) ONG dedicada a proteger os oceanos as ondas e o
litoral 68
Nautisme Espace Atlantique 2 ( wwwnea2eu)
38
25 Participaccedilatildeo dos europeus no processo de construccedilatildeo da PMIE
O debate poliacutetico acerca da elaboraccedilatildeo de uma poliacutetica mariacutetima da Uniatildeo
Europeia constitui a melhor oportunidade nos uacuteltimos anos para que o significado
mundial e local dos oceanos e os resultados da investigaccedilatildeo e inovaccedilatildeo marinhas sejam
devidamente apreciados pela sociedade declarou Peter Heffernan director executivo
do Irish Marine Institute em Galway na Irlanda
A consulta sobre a poliacutetica mariacutetima da Uniatildeo Europeia iniciou-se apoacutes o
lanccedilamento do Livro Verde a 7 de Junho de 2006 e teve uma duraccedilatildeo de treze meses
Foi o maior periacuteodo de consulta alguma vez efectuada na Uniatildeo Europeia
O processo de consulta teve um eco sem precedentes evidenciado pela elevada taxa
de participaccedilatildeo e pela qualidade das contribuiccedilotildees Para aleacutem dos contributos de todas
as instituiccedilotildees europeias tambeacutem vaacuterios parlamentos nacionais e alguns regionais
apresentaram directamente agrave Comissatildeo Europeia as suas observaccedilotildees sobre o Livro
Verde69
As contribuiccedilotildees preconizaram consulta e diaacutelogo mas tambeacutem uma melhor
informaccedilatildeo de todos os afectados pela poliacutetica mariacutetima
Os intervenientes econoacutemicos congratularam-se com o princiacutepio de uma abordagem
integrada de modo a induzir maior transparecircncia e eficiecircncia na elaboraccedilatildeo de poliacuteticas
e regulamentaccedilatildeo apropriada no acircmbito da Uniatildeo Europeia Defenderam a necessidade
da elaboraccedilatildeo de uma poliacutetica mariacutetima integrada com vista a promover a economia
mariacutetima florescente Torna-se premente desenvolver relaccedilotildees fortes entre os sectores e
respectivas actividades conexas e apelaram agrave formaccedilatildeo de clusters (incluindo agrave escala
comunitaacuteria)
As regiotildees defenderam entusiasticamente uma abordagem integrada Sublinharam o
papel das regiotildees costeiras enquanto centros da economia mariacutetima Estas esperam tirar
proveito por um lado da ligaccedilatildeo estabelecida entre a acccedilatildeo ao niacutevel comunitaacuterio e as
actividades no terreno nas regiotildees costeiras e por outro lado do reforccedilo do
envolvimento dos governos dos Estados-Membros
69
COM (2007) 574 final 2
39
Os Estados-Membros satildeo favoraacuteveis ao princiacutepio da gestatildeo integrada dos assuntos
mariacutetimos e encaram a proposta de uma poliacutetica mariacutetima integrada como meio
privilegiado para assegurar um desenvolvimento estaacutevel e sustentaacutevel das respectivas
economias mariacutetimas e regiotildees costeiras Desejam manter os mecanismos que
funcionam bem pois servem de catalisadores de boas praacuteticas
Os cidadatildeos individuais e a sociedade civil reagiram de forma ambivalente Haacute
mesmo quem tema que a Uniatildeo Europeia possa interferir nas competecircncias nacionais ou
locais mas em geral as reacccedilotildees mostraram que o puacuteblico estaacute preocupado com o
ecossistema marinho estando contudo ceacutepticos relativamente agraves medidas que os
governos possam vir a tomar para o proteger As organizaccedilotildees natildeo governamentais
(ONG) ambientais apelaram a uma acccedilatildeo comunitaacuteria no domiacutenio do ordenamento do
espaccedilo mariacutetimo e costeiro a fim de assegurar a execuccedilatildeo de uma gestatildeo baseada nos
ecossistemas
O lanccedilamento de uma consulta sobre a poliacutetica mariacutetima despertou igualmente o
interesse daqueles que desejam informar e dar a conhecer elementos sobre os nossos
mares e oceanos O conhecimento por parte dos cidadatildeos europeus das nossas costas e
do que estaacute para aleacutem delas eacute considerado como um sustentaacuteculo tanto das economias
mariacutetimas cujo ecircxito depende da sua atractividade como do nosso ambiente marinho
cuja preservaccedilatildeo depende da sensibilizaccedilatildeo dos cidadatildeos
Contudo todos estatildeo de acordo quanto agrave necessidade de melhorar a imagem global
dos sectores mariacutetimos Satildeo inuacutemeras as sugestotildees relacionadas com as permutas de
boas praacuteticas conferecircncias participaccedilatildeo de peritos em assuntos mariacutetimos como os
pescadores ou projectos de pequena escala destinados a informar as comunidades locais
ou turistas
Em suma o processo de consulta deu azo ao aparecimento de um manancial de
ideias e estimulou o desejo de participar num projecto comum a longo prazo baseado
na aprendizagem e no desenvolvimento interactivo permanente Este processo natildeo soacute
veio introduzir uma nova abordagem integrada da gestatildeo dos assuntos mariacutetimos como
abriu alas a uma nova forma de fazer poliacutetica na Europa70
No total foram recebidas mais de 490 contribuiccedilotildees e organizados mais de 230
eventos em que se debateu a poliacutetica mariacutetima com os vaacuterios interessados
70
COM (2007) 574 final 9-10
40
Cap III ndash O Livro Azul plano de acccedilatildeo e instrumentos financeiros
31 Condiccedilotildees poliacuteticas do processo de decisatildeo
Presidido pela Alemanha o Conselho Europeu de Junho de 2007 congratulou-se
com o vasto debate que teve lugar na Europa acerca da futura poliacutetica mariacutetima Os
Chefes de Estado e de Governo convidaram a Comissatildeo Europeia a elaborar um plano
de acccedilatildeo europeu a apresentar em Outubro desse mesmo ano Atendendo ao princiacutepio da
subsidiariedade este plano de acccedilatildeo teve por fim explorar de uma forma
ambientalmente sustentaacutevel o pleno potencial das actividades econoacutemicas orientadas
para o mar
A Comissatildeo em resposta ao Conselho Europeu adoptou no dia 10 de Outubro de
2007 uma Comunicaccedilatildeo conhecida como o Livro Azul da Poliacutetica Mariacutetima Europeia
em que define a sua visatildeo de uma poliacutetica mariacutetima integrada para a UE juntamente
com um plano de acccedilatildeo pormenorizado que estabeleceu um ambicioso programa de
trabalho para os proacuteximos anos As descobertas cientiacuteficas a raacutepida evoluccedilatildeo
tecnoloacutegica a globalizaccedilatildeo as alteraccedilotildees climaacuteticas e a poluiccedilatildeo marinha estatildeo a alterar
rapidamente o relacionamento da Europa com os mares e oceanos com todas as
oportunidades e desafios impliacutecitos desse processo
De salientar que a Presidecircncia Portuguesa do Conselho da Uniatildeo Europeia no
segundo semestre de 2007 reconheceu de forma clara a necessidade de uma abordagem
integrada para os assuntos mariacutetimos A Presidecircncia Portuguesa levou a cabo diversos
eventos com destaque para uma Conferecircncia Ministerial sobre Poliacutetica Mariacutetima para a
Uniatildeo Europeia que teve lugar em Lisboa no dia 22 de Outubro permitindo a
divulgaccedilatildeo dos resultados da consulta puacuteblica do Livro Verde e a indicaccedilatildeo dos sectores
prioritaacuterios a seguir
Esta Conferecircncia foi altamente significativa pois juntou agrave volta da mesma mesa
pela primeira vez os decisores poliacuteticos responsaacuteveis nacionais pela coordenaccedilatildeo dos
assuntos do mar independentemente da foacutermula governativa adoptada em cada paiacutes
europeu A estes juntaram-se ainda os paiacuteses da Associaccedilatildeo Europeia de Livre
41
Comeacutercio (EFTA) do Espaccedilo Econoacutemico Europeu e as principais instituiccedilotildees europeias
envolvidas
Por sua vez o Parlamento Europeu no dia 20 de Maio de 2008 deu ldquoluz verderdquo agrave
proposta da Comissatildeo Europeia para a criaccedilatildeo de uma Poliacutetica Mariacutetima Europeia
aprovada com 587 votos a favor 20 contra e 58 abstenccedilotildees A aprovaccedilatildeo pelo PE de
uma poliacutetica mariacutetima europeia teve lugar no dia em que se celebrou pela primeira vez
o Dia Europeu do Mar data que coincidiu ainda com a chegada de Vasco da Gama agrave
Iacutendia em 1498
A Comissatildeo Europeia propocircs uma poliacutetica mariacutetima integrada para a Uniatildeo
Europeia baseada no reconhecimento inequiacutevoco de que todas as questotildees relativas aos
oceanos e mares estatildeo interligadas e que para podermos colher os resultados desejados
todas as poliacuteticas ligadas ao mar devem ser elaboradas de uma forma articulada
O plano de acccedilatildeo baseou-se na consulta puacuteblica e resultou dos trabalhos de um alto
grupo de pilotagem com a participaccedilatildeo de 10 Comissaacuterios presidido por Joe Borg (Ex-
Comissaacuterio Europeu para os Assuntos Mariacutetimos e da Pesca) e supervisionado pelo
Presidente da Comissatildeo Europeia Duratildeo Barroso
Uma poliacutetica mariacutetima integrada exige um quadro de governaccedilatildeo que aplique a
abordagem integrada a todos os niacuteveis bem como instrumentos poliacuteticos horizontais e
transectoriais Exige igualmente uma soacutelida base financeira que tenha em conta os
resultados das acccedilotildees preparatoacuterias
A Comissatildeo Europeia criou uma funccedilatildeo de ldquopoliacutetica mariacutetimardquo cuja tarefa eacute
analisar os assuntos mariacutetimos e as poliacuteticas que os afectam assegurar a coordenaccedilatildeo
entre as poliacuteticas sectoriais garantir que as interacccedilotildees entre elas sejam tidas em conta e
pilotar o desenvolvimento de instrumentos poliacuteticos transectoriais
Por outro lado a Comissatildeo comeccedilou a reunir as agecircncias da Uniatildeo Europeia que
desempenham funccedilotildees ligadas agraves actividades mariacutetimas para que contribuam
conjuntamente para a elaboraccedilatildeo da poliacutetica mariacutetima
42
Um quadro de governaccedilatildeo integrado para os assuntos mariacutetimos exige por sua vez
instrumentos horizontais de planificaccedilatildeo que sejam comuns agraves poliacuteticas sectoriais
ligadas ao mar e apoiem a elaboraccedilatildeo conjunta de poliacuteticas Assim os trecircs instrumentos
que se seguem satildeo especialmente importantes
Uma rede europeia de vigilacircncia mariacutetima
A vigilacircncia mariacutetima reveste-se da maior importacircncia para garantir a utilizaccedilatildeo
segura do mar e para a protecccedilatildeo das fronteiras mariacutetimas da Europa O melhoramento e
optimizaccedilatildeo das actividades de vigilacircncia mariacutetima bem como a sua interoperabilidade
ao niacutevel europeu satildeo importantes para que a Europa possa fazer face aos desafios e
ameaccedilas ligados agrave seguranccedila da navegaccedilatildeo agrave poluiccedilatildeo marinha ao cumprimento da lei
e agrave seguranccedila em geral71
Ordenamento do espaccedilo mariacutetimo (OEM) e gestatildeo integrada das zonas costeiras
(GIZC)
Os quadros de ordenamento existentes incidem essencialmente na vertente terrestre
e raramente abordam a forma como o desenvolvimento costeiro pode afectar o mar e
vice-versa Temos de fazer face aos problemas resultantes das crescentes utilizaccedilotildees
concorrentes do mar que vatildeo do transporte mariacutetimo agrave produccedilatildeo de energia offshore e
outras formas de exploraccedilatildeo do leito marinho passando pela pesca e aquicultura e pelas
actividades de lazer72
Dados e informaccedilotildees
A disponibilidade e a facilidade de acesso a um vasto leque de dados relativos aos
factores naturais e agrave actividade humana nos oceanos constituem a base para a tomada de
decisotildees estrateacutegicas no domiacutenio da poliacutetica mariacutetima Dada a vasta quantidade de
dados coligidos e armazenados em toda a Europa para fins muito diversos eacute de extrema
importacircncia estabelecer uma infra-estrutura adequada para recolher os dados e
informaccedilotildees sobre o ambiente marinho73
71
COM (2007) 575 final 5 72
COM (2007) 575 final 6 73
COM (2007) 575 final 6
43
32 Livro Azul e o plano de acccedilatildeo
As acccedilotildees propostas no Livro Azul ajudam a Uniatildeo Europeia a avanccedilar na
prossecuccedilatildeo dos objectivos fulcrais da poliacutetica mariacutetima integrada incidindo
principalmente em cinco domiacutenios de acccedilatildeo estrateacutegica a saber
1)Maximizaccedilatildeo da utilizaccedilatildeo sustentaacutevel dos oceanos e mares
O principal objectivo de uma poliacutetica mariacutetima integrada da Uniatildeo Europeia eacute criar
as melhores condiccedilotildees para a utilizaccedilatildeo sustentaacutevel dos oceanos e mares permitindo o
desenvolvimento dos sectores mariacutetimos e das regiotildees costeiras
Em muitos Estados-Membros o desenvolvimento recente da economia mariacutetima foi
superior ao da economia no seu conjunto sobretudo em regiotildees activas no domiacutenio da
logiacutestica mariacutetima O transporte mariacutetimo de contentores aumentou consideravelmente a
partir de 2000 esperando-se que triplique ateacute 2020 Por outro lado regiotildees activas
noutros mercados de forte crescimento como o equipamento mariacutetimo a energia eoacutelica
offshore a naacuteutica de recreio ou o sector dos cruzeiros continuaratildeo a colher benefiacutecios
deste crescimento Graccedilas agrave forte especializaccedilatildeo da Europa no campo das tecnologias
marinhas as induacutestrias europeias tecircm tambeacutem um grande potencial para desenvolver
produtos mariacutetimos de ponta susceptiacuteveis de assumir uma posiccedilatildeo lideranccedila nos
mercados mundiais
Contudo haacute muito potencial subaproveitado ainda Para garantir o crescimento
sustentaacutevel de actividades ligadas ao mar e assegurar ao mesmo tempo que as
actividades mariacutetimas se desenvolvam de forma a natildeo comprometer a sauacutede do
ecossistema eacute indispensaacutevel ter uma visatildeo estrateacutegica actualizada que permita o
desenvolvimento competitivo e seguro do transporte mariacutetimo dos portos e dos sectores
conexos
O transporte mariacutetimo eacute vital para o comeacutercio internacional e interno da Europa e
continua a ser a espinha dorsal do cluster mariacutetimo Contudo este sector soacute continuaraacute a
prosperar se a Uniatildeo Europeia prosseguir os seus esforccedilos com vista a atingir um niacutevel
elevado de seguranccedila mariacutetima e protecccedilatildeo do transporte mariacutetimo contribuindo para
proteger as vidas humanas e o ambiente e simultaneamente favorecer condiccedilotildees de
concorrecircncia equitativas ao niacutevel internacional
44
Embora seja uma importante fonte de poluiccedilatildeo atmosfeacuterica e de emissotildees de
dioacutexido de carbono (CO2) o transporte mariacutetimo continua a ser bastante mais eficiente
em termos energeacuteticos do que o transporte rodoviaacuterio Por este motivo e dada a
necessidade de reduzir o nuacutemero de camiotildees que circulam nas estradas congestionadas
da Europa uma poliacutetica mariacutetima integrada favorece fortemente a promoccedilatildeo de
transportes mariacutetimos seguros e fiaacuteveis
A cadeia logiacutestica mariacutetima europeia requer tambeacutem a existecircncia de estaleiros da
construccedilatildeo e reparaccedilatildeo naval e empresas de equipamento mariacutetimo com tecnologia de
ponta incorporada
O aumento dos investimentos na investigaccedilatildeo e tecnologia marinha eacute fundamental
para assegurar o crescimento econoacutemico sem agravar a degradaccedilatildeo do ambiente Esses
investimentos criaratildeo tambeacutem novas oportunidades Graccedilas a tecnologias respeitadoras
do ambiente que permitam a prosperidade das actividades mariacutetimas sem comprometer
o ambiente marinho as empresas europeias poderatildeo manter a sua posiccedilatildeo de lideranccedila agrave
medida que as normas mundiais se tornem mais estritas e que as induacutestrias novas e
promissoras como a biotecnologia azul as energias renovaacuteveis offshore a tecnologia e
o equipamento subaquaacuteticos e a aquicultura marinha forem desenvolvidas
A tecnologia permite agrave Europa beneficiar de todas as potencialidades oferecidas
pelo mar enquanto fonte de petroacuteleo e gaacutes74
bem como de energias renovaacuteveis e
tambeacutem enquanto lugar de transporte de energia que permite diversificar as vias de
transporte de energia e aumentar deste modo a seguranccedila do abastecimento
A integraccedilatildeo e a competitividade das empresas no sector mariacutetimo satildeo fortemente
potenciadas pela formaccedilatildeo de clusters multissectoriais Os clusters locais e regionais
que reuacutenem diferentes sectores e partes interessadas para desenvolver sinergias entre as
suas actividades afiguram-se uma evoluccedilatildeo promissora da comunidade mariacutetima
europeia Os clusters contribuem para melhorar a qualidade e elevar os padrotildees dos
produtos e serviccedilos do sector mariacutetimo europeu bem como para aumentar a integraccedilatildeo
da economia mariacutetima Contribuem deste modo para o crescimento econoacutemico e para
criaccedilatildeo de emprego bem como para a sustentabilidade da economia mariacutetima na sua
globalidade O seu sucesso dependeraacute largamente da acccedilatildeo inovadora do sector
privado e de outras partes interessadas sobretudo no caso dos clusters regionais A par
74
Segundo a OGP 40 do petroacuteleo e 60 do gaacutes actualmente consumidos na Europa satildeo extraiacutedos em
offshore
45
da criaccedilatildeo de clusters multissectoriais devem ser criados centros regionais de excelecircncia
mariacutetima
Os clusters contribuem ainda para conservar o know-how mariacutetimo da Europa pelo
que satildeo fundamentais para a poliacutetica mariacutetima A cooperaccedilatildeo entre os sectores puacuteblico e
privado em centros de excelecircncia mariacutetima cria tambeacutem um contexto favoraacutevel para
compreender e programar adequadamente as interacccedilotildees entre diferentes induacutestrias e
sectores75
Para fazer face a este domiacutenio estrateacutegico a UE pocircs em marcha uma Directiva-
Quadro denominada Estrateacutegia Marinha76
que estabelece um quadro de acccedilatildeo
comunitaacuteria no domiacutenio da poliacutetica para o meio marinho
Foi com o objectivo de promover o uso sustentaacutevel dos mares e a conservaccedilatildeo dos
ecossistemas marinhos incluindo o leito do mar estuaacuterios e aacutereas costeiras dando
especial atenccedilatildeo aos siacutetios com elevado valor em biodiversidade que foi desenvolvida
no quadro da Uniatildeo Europeia a Estrateacutegia temaacutetica para a protecccedilatildeo e conservaccedilatildeo do
ambiente marinho77
Este documento cuja aprovaccedilatildeo foi precedida de ampla discussatildeo a niacutevel Europeu
foi o ponto de partida para a preparaccedilatildeo da proposta de Directiva do Parlamento
Europeu e do Conselho Europeu que estabelece um quadro de acccedilatildeo comunitaacuteria no
domiacutenio da poliacutetica para o meio marinho
A Directiva estabelece um quadro no qual os Estados Membros devem tomar as
medidas necessaacuterias para obter ou manter um bom estado ambiental no meio marinho
ateacute 2020 Para isso devem ser desenvolvidas e aplicadas estrateacutegias marinhas com vista
a proteger e preservar o meio marinho impedir a sua deterioraccedilatildeo ou quando
exequiacutevel restaurar os ecossistemas marinhos nas aacutereas afectadas prevenir e reduzir as
ldquoentradasrdquo no meio marinho de modo a eliminar progressivamente a poluiccedilatildeo e
assegurar que natildeo haja impactos ou riscos significativos (biodiversidade ecossistemas
sauacutede humana e utilizaccedilotildees legiacutetimas do mar)
O processo negocial desta Directiva culminou com a respectiva aprovaccedilatildeo no final
de 2007 durante a Presidecircncia Portuguesa do Conselho da Uniatildeo Europeia e representa
75
COM (2007) 575 final 7-9 76
Directiva Quadro ldquoEstrateacutegia Marinhardquo ndash COM (2005) 505 final 77
Estrateacutegia temaacutetica para a protecccedilatildeo e conservaccedilatildeo do ambiente marinhordquo ndash COM (2005) 504 final
46
um instrumento de particular importacircncia no quadro da poliacutetica de protecccedilatildeo do meio
marinho constituindo assim o pilar ambiental da Estrateacutegia Mariacutetima Europeia
2) Construccedilatildeo de uma base de conhecimentos e inovaccedilatildeo para a poliacutetica mariacutetima
A ciecircncia a tecnologia e a investigaccedilatildeo marinha satildeo cruciais para o
desenvolvimento sustentaacutevel das actividades mariacutetimas
Ao ajudarem a compreender mais profundamente os impactos das actividades
humanas nos sistemas marinhos a investigaccedilatildeo e a tecnologia marinhas fornecem a
chave para romper a ligaccedilatildeo entre o desenvolvimento das actividades mariacutetimas e a
degradaccedilatildeo do ambiente
O reforccedilo da abordagem multidisciplinar da ciecircncia marinha pode contribuir para
uma melhor compreensatildeo das interacccedilotildees entre as actividades mariacutetimas sendo
portanto uma componente indispensaacutevel de uma poliacutetica mariacutetima integrada Este
reforccedilo seraacute igualmente fundamental para prever e atenuar tanto quanto possiacutevel os
efeitos das alteraccedilotildees climaacuteticas
A investigaccedilatildeo marinha e mariacutetima tem custos elevados pelo que natildeo se pode
permitir faltas de eficiecircncia Para poder utilizar os recursos europeus da melhor forma eacute
necessaacuterio definir uma estrateacutegia clara que articule as prioridades a niacutevel poliacutetico e a
niacutevel de investigaccedilatildeo responda a desafios transectoriais potencie as sinergias entre os
esforccedilos dos Estados-Membros e os da Comunidade evite as duplicaccedilotildees e melhore o
diaacutelogo entre os intervenientes A Europa deve tambeacutem explorar o modo como a
investigaccedilatildeo pode contribuir mais e melhor para a inovaccedilatildeo e como transformar mais
eficazmente o conhecimento e as competecircncias em produtos e serviccedilos industriais78
3) Maximizaccedilatildeo da qualidade de vida nas regiotildees costeiras
Na uacuteltima deacutecada o crescimento demograacutefico nas regiotildees costeiras e insulares foi
duas vezes superior ao crescimento demograacutefico meacutedio na Uniatildeo Europeia As
comunidades costeiras satildeo tambeacutem o destino da maioria dos turistas na Europa pelo
que a necessidade de reconciliar o desenvolvimento econoacutemico a sustentabilidade do
ambiente e a qualidade de vida nessas regiotildees se coloca aiacute com maior acuidade
As autoridades regionais e as comunidades costeiras tecircm um importante papel a
desempenhar na regulaccedilatildeo das actividades costeiras e mariacutetimas O Comiteacute das Regiotildees
78
COM (2007) 575 final 12
47
(CoR) as regiotildees costeiras e as suas redes satildeo por conseguinte parceiros essenciais no
quadro da elaboraccedilatildeo de uma poliacutetica mariacutetima integrada da Uniatildeo Europeia
Os portos e os sectores mariacutetimos conferem a estas regiotildees uma importacircncia
estrateacutegica para a Europa no seu conjunto Oferecem importantes serviccedilos ao seu
hinterland e funcionam como base para o policiamento das fronteiras mariacutetimas e das
aacuteguas costeiras Daqui resulta uma forte pressatildeo sobre as infra-estruturas facto que deve
ser tomado em consideraccedilatildeo na atribuiccedilatildeo de recursos comunitaacuterios As regiotildees
costeiras satildeo tambeacutem particularmente afectadas pelas alteraccedilotildees climaacuteticas e a gestatildeo
dos riscos pode assumir proporccedilotildees dramaacuteticas nos orccedilamentos e economias destas
regiotildees
O mar eacute determinante para o turismo costeiro e mariacutetimo e eacute um importante
catalisador do desenvolvimento econoacutemico das zonas costeiras europeias
Embora reconheccedilam que haacute fontes de financiamento os interessados consideram
que tecircm um insuficiente acesso agrave informaccedilatildeo A Comissatildeo Europeia deve esforccedilar-se
por optimizar os projectos mariacutetimos nas regiotildees costeiras e insulares no acircmbito dos
vaacuterios instrumentos financeiros comunitaacuterios disponiacuteveis (ver ponto 33 Instrumentos
econoacutemico-financeiros de apoio agrave PMIE)
A necessidade de obter melhores dados soacutecio-econoacutemicos sobre os sectores
mariacutetimos e as regiotildees costeiras eacute tambeacutem evidente tendo em conta que a dificuldade
em obter tais informaccedilotildees estaacute a limitar a capacidade dos interessados a niacutevel regional
no respeitante ao desenvolvimento de planos e investimentos racionais a longo prazo
Por outro lado a colaboraccedilatildeo inter-regional eacute essencial para permitir o
desenvolvimento das regiotildees costeiras europeias o qual deve ter em conta a diversidade
e especificidade destes locais Por conseguinte a Comissatildeo Europeia deve utilizar
plenamente o Programa de Cooperaccedilatildeo Territorial para apoiar o desenvolvimento
mariacutetimo inter-regional
As regiotildees ultraperifeacutericas e as ilhas estatildeo sujeitas a desvantagens econoacutemicas
consideraacuteveis mas dispotildeem de um elevado potencial no que se refere agraves actividades
mariacutetimas e agrave investigaccedilatildeo marinha As suas extensas zonas mariacutetimas oferecem
serviccedilos ligados aos ecossistemas de grande interesse para a Uniatildeo Europeia A
48
Comissatildeo Europeia deve promover o desenvolvimento do seu potencial mariacutetimo e a
sua cooperaccedilatildeo com os vizinhos regionais respectivos79
A actual situaccedilatildeo das pescas na Europa natildeo pode ser considerada satisfatoacuteria Os
esforccedilos para conseguir reduzir a capacidade existente e a conservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo
dos recursos haliecircuticos existentes devem ser acompanhados por uma melhoria do
bem-estar social dos trabalhadores activos no sector
A integraccedilatildeo dos pescadores na economia mariacutetima mais ampla pode ser beneacutefica
tanto para as suas perspectivas de emprego como para o desenvolvimento global das
condiccedilotildees em que trabalham e em que o seu sector opera Aleacutem disso o bem-estar das
comunidades pesqueiras tradicionais eacute uma componente importante para a qualidade de
vida nas regiotildees costeiras
Saliento o papel que o sector naacuteutico pode desempenhar ao niacutevel do
desenvolvimento local pois para aleacutem de proporcionar actividades para populaccedilotildees
residentes eou turistas eacute uma importante via para gerar emprego e riqueza A Naacuteutica
pode e deve estabelecer o elo entre o mar e a populaccedilatildeo desfavorecida contribuindo
para a inserccedilatildeo e coesatildeo social da comunidade As actividades naacuteuticas trazem em si
valecircncias de solidariedade ou de inclusatildeo social como por exemplo ajudar na
conversatildeo das comunidades piscatoacuterias em dificuldade (escassez de emprego) em
agentes naacuteuticos reconhecidos pela sociedade
4) Promoccedilatildeo da lideranccedila europeia nos assuntos mariacutetimos internacionais
A Uniatildeo Europeia deve continuar a envidar esforccedilos com vista a assegurar uma
governaccedilatildeo internacional dos assuntos mariacutetimos mais eficiente e a fazer cumprir o
direito mariacutetimo internacional instando os Estados-Membros a ratificar os instrumentos
pertinentes Neste contexto deve promover a coordenaccedilatildeo dos interesses europeus nas
principais instacircncias internacionais
O acesso das induacutestrias e serviccedilos mariacutetimos europeus aos mercados internacionais
a exploraccedilatildeo comercial e cientiacutefica sustentaacutevel das aacuteguas profundas a protecccedilatildeo da
biodiversidade marinha mundial a melhoria da seguranccedila mariacutetima e da protecccedilatildeo do
transporte mariacutetimo as condiccedilotildees de trabalho a reduccedilatildeo da poluiccedilatildeo causada pelos
navios e a luta contra as actividades ilegais nas aacuteguas internacionais devem constituir as
prioridades da poliacutetica mariacutetima integrada da Uniatildeo Europeia a niacutevel das suas relaccedilotildees
79
COM (2007) 575 final 13-14
49
externas Deve igualmente prestar atenccedilatildeo agraves implicaccedilotildees geopoliacuteticas das alteraccedilotildees
climaacuteticas (por exemplo as questotildees relacionadas com o Aacutertico)
Por outro lado os assuntos mariacutetimos satildeo regularmente tema de debates com os
parceiros da Uniatildeo Europeia que jaacute adoptaram medidas a favor de uma abordagem
mariacutetima integrada nomeadamente a Austraacutelia o Canadaacute o Japatildeo a Noruega e os
Estados-Unidos mas tambeacutem com outros parceiros como o Brasil Ruacutessia Iacutendia e
China (agora denominados BRIC)
A Uniatildeo Europeia deve fomentar ainda uma responsabilidade partilhada
relativamente aos mares que compartilha com os seus vizinhos Concretamente a Uniatildeo
Europeia propotildee apresentar propostas no sentido de aumentar a cooperaccedilatildeo no que
concerne agrave gestatildeo do Mediterracircneo e do mar Negro E ainda promover a cooperaccedilatildeo ao
niacutevel das relaccedilotildees externas dos paiacuteses da Europa Setentrional com os paiacuteses em
desenvolvimento incluindo os pequenos Estados insulares atraveacutes de programas de
cooperaccedilatildeo reforccedila as capacidades dos paiacuteses em desenvolvimento no que se refere agrave
poliacutetica mariacutetima e ao Direito do mar80
5) Promoccedilatildeo da visibilidade da Europa mariacutetima
Os cidadatildeos europeus cresceram com as histoacuterias dos grandes exploradores que
nos fizeram compreender que a Terra eacute redonda e nos ensinaram a situar exactamente
os continentes Muitos deles gozam as suas feacuterias na costa no meio da azaacutefama dos
barcos de pesca saboreando marisco nos restaurantes e passeando agrave beira-mar a fugir
agrave rebentaccedilatildeo () Outros passam os tempos livres a restaurar ou a navegar em velhos
barcos de madeira () Quantos todavia compreenderatildeo que estas actividades estatildeo
interligadas Quantos teratildeo consciecircncia de serem cidadatildeos de uma Europa
mariacutetima81
Na sequecircncia do Livro Verde sobre uma futura poliacutetica mariacutetima da Uniatildeo e em
resposta ao forte apoio manifestado por muitas partes interessadas durante o processo de
consulta relativo agrave nova poliacutetica de promoccedilatildeo da cultura e do patrimoacutenio mariacutetimos da
Europa a Comissatildeo tem focado a sua atenccedilatildeo no aumento da visibilidade da Europa
80
COM (2007) 575 final 14-15 81
Extractos do Livro Verde ldquoPara uma futura poliacutetica mariacutetima da Uniatildeo Uma visatildeo europeia para os
oceanos e os maresrdquo Capiacutetulo VI Reivindicar a heranccedila mariacutetima da Europa - Reiterar a identidade
mariacutetima da Europa p 51
50
mariacutetima como um dos objectivos fulcrais de uma poliacutetica mariacutetima holiacutestica e
integrada
Os stakeholders exprimiram claramente a opiniatildeo de que o processo de elaboraccedilatildeo
de uma poliacutetica mariacutetima comunitaacuteria permitiu a aquisiccedilatildeo de uma nova consciecircncia
puacuteblica sobre a importacircncia da economia e patrimoacutenio mariacutetimo e estaacute a criar entre eles
o sentimento de partilharem um objectivo e identidade comuns
Para tal a poliacutetica mariacutetima integrada deve procurar aumentar a visibilidade da
Europa mariacutetima e melhorar a imagem das suas actividades e das profissotildees ligadas ao
mar
A PMIE deve ainda promover o patrimoacutenio mariacutetimo europeu apoiando as
comunidades mariacutetimas as cidades portuaacuterias as comunidades piscatoacuterias tradicionais
os produtos artesanais as teacutecnicas tradicionais e fomentar a criaccedilatildeo de ligaccedilotildees entre
elas para incrementar o seu conhecimento e dar maior visibilidade
A Comissatildeo Europeia prossegue este objectivo recorrendo a iniciativas das quais
destaco o Dia Europeu do Mar82
(celebrado em Bruxelas Roma e Gijoacuten 2008 2009 e
2010 respectivamente) e as novas ldquoferramentasrdquo de comunicaccedilatildeo com realce para o
Atlas Europeu dos Mares o Foacuterum Mariacutetimo e o website oficial para os assuntos do mar
da Europa
O Atlas Europeu dos Mares83
jaacute eacute uma realidade Destina-se a todos os interessados
do mundo marinho e do patrimoacutenio mariacutetimo e o objectivo eacute sensibilizar a opiniatildeo
puacuteblica para a importacircncia dos oceanos e dos mares da Europa Este Atlas pedagoacutegico
fornece uma seacuterie de dados fiaacuteveis e regularmente actualizados sobre temas tatildeo variados
como o relevo do fundo do mar a erosatildeo costeira a frota de pesca europeia o
transporte mariacutetimo a amplitude de mareacutes as quotas de pesca por espeacutecie e por regiatildeo e
as ldquoauto-estradas do marrdquo
Tanto o Foacuterum Mariacutetimo84
como o website85
contribuem para ajudar a melhor
compreender a visatildeo transversal da actividade mariacutetima presente em diversos sectores
de actividade Estas ferramentas satildeo meios eficazes para disseminar informaccedilatildeo sobre a
comunidade mariacutetima dar a conhecer boas praacuteticas mariacutetimas e podem ainda servir de
82
Informaccedilatildeo sobre Dia Europeu do Mar disponiacutevel em httpeceuropaeumaritimeaffairsmaritimeday 83
Atlas Europeu do Mares disponiacutevel em httpeceuropaeumaritimeaffairsatlas 84
Foacuterum Mariacutetimo disponiacutevel em httpswebgateeceuropaeumaritimeforum 85
Website oficial do Assuntos Mariacutetimos europeus httpeceuropaeumaritimeaffairs
51
alavanca para futuras sinergias potenciando a economia mariacutetima o ambiente marinho
e as comunidades costeiras
33 Instrumentos econoacutemico-financeiros de apoio agrave PMIE
As poliacuteticas independentemente da sua natureza carecem sempre de instrumentos
financeiros para agilizar a prossecuccedilatildeo das mesmas A PMIE natildeo foge a esta regra
Conveacutem neste ponto destinado aos instrumentos financeiros distingui-los quanto agrave
forma como contribuem para consolidaccedilatildeo da PMIE Assim sendo comeccedilo pelos
instrumentos ao dispocircr da poliacutetica de coesatildeo e da poliacutetica regional que apesar de
exercerem um papel importante na eliminaccedilatildeo das assimetrias regionais natildeo saciam
todas as necessidades impliacutecitas na PMIE De seguida abordo outros instrumentos
financeiros (Fundo Europeu das Pescas Instrumento Europeu de Vizinhanccedila e de
Parceria e o 7ordm Programa-Quadro) que vatildeo ao encontro de algumas medidas enunciadas
no plano de acccedilatildeo do Livro Azul e para terminar faccedilo referecircncia ao receacutem-criado
programa de apoio ao aprofundamento da PMIE
331 A poliacutetica de coesatildeo e a poliacutetica regional europeia
A expressatildeo ldquopoliacutetica de coesatildeordquo designa um quadro poliacutetico de solidariedade a
niacutevel europeu traduzindo-se em centenas de milhares de projectos em toda a Europa
que beneficiam do apoio do Fundo de Coesatildeo e dos Fundos Estruturais ndash o Fundo
Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER) e o Fundo Social Europeu (FSE)
Para acelerar a convergecircncia econoacutemica social e territorial a Uniatildeo Europeia
instituiu um Fundo de Coesatildeo em 1994 Este fundo destina-se aos paiacuteses cujo PIB
meacutedio por habitante eacute inferior a 90 da meacutedia comunitaacuteria O Fundo de Coesatildeo tem por
finalidade conceder financiamentos a favor de projectos de infra-estruturas nos
domiacutenios do ambiente e dos transportes Contudo a aplicaccedilatildeo do Fundo de Coesatildeo estaacute
sujeita a determinadas condiccedilotildees Caso o deacutefice puacuteblico de um Estado Membro
52
beneficiaacuterio exceder 3 do PIB nacional (regras de convergecircncia da Uniatildeo Econoacutemica
Monetaacuteria) nenhum novo projecto seraacute aprovado enquanto o deacutefice natildeo estiver outra
vez sob controlo
A coesatildeo econoacutemica e social descrita no Acto Uacutenico Europeu de 1986 propotildee-se
ldquoreduzir a diferenccedila entre as diversas regiotildees e o atraso das regiotildees menos favorecidasrdquo
O Tratado de Lisboa acrescenta-lhe uma terceira vertente quando fala de poliacutetica de
coesatildeo econoacutemica social e territorial Isto significa que a poliacutetica de coesatildeo tambeacutem
deve visar um desenvolvimento territorial mais equilibrado e sustentaacutevel
As orientaccedilotildees estrateacutegicas da poliacutetica de coesatildeo para o periacuteodo 2007-2013
centram-se em torno de trecircs prioridades 1ordf ndash reforccedilo da capacidade de atracccedilatildeo dos
Estados-Membros das regiotildees e das cidades 2ordf ndash promoccedilatildeo da inovaccedilatildeo do espiacuterito
empresarial e do crescimento da economia do conhecimento 3ordf Criaccedilatildeo de mais e
melhores empregos
Hoje em dia a Europa enfrenta uma tarefa esmagadora Natildeo soacute tem de vencer a
crise profunda que atravessa e reduzir o desemprego e a pobreza como deve transitar
para uma economia com baixas emissotildees de carbono Tatildeo ambiciosa tarefa requer
grande rapidez de acccedilatildeo em muitas e variadas frentes razatildeo pela qual o Conselho
Europeu adoptou a Estrateacutegia ldquoEuropa 2020rdquo Para que a Europa venccedila todos os
intervenientes tecircm de dar o seu contributo agrave escala europeia nacional regional e local
A poliacutetica de coesatildeo tem de continuar a desempenhar um papel fundamental nos tempos
difiacuteceis que atravessamos para estimular o crescimento inteligente (valorizando o
conhecimento a inovaccedilatildeo a educaccedilatildeo e a sociedade digital) sustentaacutevel (promovendo
um economia hipocarboacutenica em termos de recursos e competitividade) e inclusivo
(aumento da taxa de participaccedilatildeo no mercado de trabalho aquisiccedilatildeo de qualificaccedilotildees e
luta contra a pobreza) com vista ao desenvolvimento harmonioso da UE e assim
reduzir as disparidades regionais Indubitavelmente sem a poliacutetica de coesatildeo as
disparidades seriam maiores
Contudo a coesatildeo econoacutemica social e territorial eacute essencialmente concretizada
atraveacutes da poliacutetica regional A poliacutetica regional da UE favorece a reduccedilatildeo das diferenccedilas
estruturais existentes entre as regiotildees o desenvolvimento equilibrado do territoacuterio
comunitaacuterio e a promoccedilatildeo de uma igualdade de oportunidades efectiva entre as pessoas
A poliacutetica regional constitui a segunda maior rubrica orccedilamental da UE com uma
dotaccedilatildeo de 348 mil milhotildees de euros para o periacuteodo de 2007-2013 O alargamento para
53
27 Estados Membros em Janeiro de 2007 alterou a situaccedilatildeo da UE pois enquanto a
superfiacutecie da UE aumentou mais de 25 e a populaccedilatildeo mais de 20 a sua riqueza soacute
aumentou cerca de 5 O PIB meacutedio por habitante da UE diminuiu mais de 10 e as
disparidades regionais foram multiplicadas por dois Eacute sabido que aproximadamente
60 das regiotildees menos desenvolvidas se situam doravante nos 12 Estados-Membros
que aderiram desde 2004 Logo facilmente se depreende a deslocaccedilatildeo do centro de
gravidade da poliacutetica regional para Leste
Para o periacuteodo de 2007-2013 a dotaccedilatildeo financeira atribuiacuteda agrave poliacutetica regional
aproxima-se dos 348 mil milhotildees de euros 278 mil milhotildees para os Fundos Estruturais
e 70 mil milhotildees para o Fundo de Coesatildeo Esta dotaccedilatildeo representa 45 do orccedilamento
comunitaacuterio ou seja constitui a segunda rubrica orccedilamental logo atraacutes da Poliacutetica
Agriacutecola Comum (PAC)
Cabe agraves regiotildees e agraves respectivas entidades regionais atraveacutes das poliacuteticas de coesatildeo
e desenvolvimento regional afectarem uma parte dos fundos europeus para financiarem
projectos de interesse mariacutetimo e que vatildeo ao encontro do estipulado na PMIE
332 Fundos Estruturais
Como foi referido anteriormente existem dois tipos de fundos estruturais o Fundo
Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER) e o Fundo Social Europeu (FSE)
O FEDER86
apoia desde 1975 a realizaccedilatildeo de infra-estruturas e investimentos
produtivos geradores de emprego nomeadamente os destinados agraves empresas
O FSE87
instituiacutedo em 1958 apoia a inserccedilatildeo profissional dos desempregados e das
categorias desfavorecidas da populaccedilatildeo financiando nomeadamente acccedilotildees de
formaccedilatildeo
86
Regulamento (CE) nordm 16982005 do Conselho de 20 de Setembro de 2005 relativo ao apoio ao
desenvolvimento rural pelo Fundo Europeu Agriacutecola de Desenvolvimento Rural 87
Regulamento (CE) nordm 17841999 do Parlamento Europeu e do Conselho de 12 de Julho de 1999
relativo ao Fundo Social Europeu
54
Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER)
O FEDER destina-se a reforccedilar a coesatildeo econoacutemica e social na Uniatildeo Europeia
atraveacutes da correcccedilatildeo dos desequiliacutebrios regionais Resumidamente o FEDER financia
Ajudas directas aos investimentos realizados nas empresas
designadamente as pequenas e meacutedias empresas (PME`s) a fim de criar
emprego duradouro
Infra-estruturas ligadas nomeadamente agrave investigaccedilatildeo e agrave inovaccedilatildeo agraves
telecomunicaccedilotildees ao ambiente agrave energia e aos transportes
Instrumentos financeiros (fundos de capital de risco fundos de
desenvolvimento local etc) a fim de apoiar o desenvolvimento regional e local
e favorecer a cooperaccedilatildeo entre as cidades e regiotildees
Medidas de assistecircncia teacutecnica
O FEDER interveacutem na poliacutetica regional em trecircs objectivos a convergecircncia a
competitividade regional e emprego e a cooperaccedilatildeo territorial europeia
Fundo Social Europeu (FSE)
O FSE tem por objectivo melhorar o emprego e as possibilidades de emprego na
Uniatildeo Europeia e interveacutem no acircmbito dos objectivos da convergecircncia e competitividade
regional e emprego
O FSE apoia as acccedilotildees dos Estados-membros nos domiacutenios seguintes
Adaptaccedilatildeo dos trabalhadores e das empresas sistemas de aprendizagem
ao longo da vida concepccedilatildeo e difusatildeo de formas de organizaccedilatildeo do trabalho
inovadoras
Acesso ao emprego por parte das pessoas que procuram trabalho das
pessoas inactivas das mulheres e dos migrantes
Integraccedilatildeo social das pessoas desfavorecidas e luta contra a
discriminaccedilatildeo no mercado do trabalho
Reforccedilo do capital humano atraveacutes da reforma dos sistemas educativos e
colocaccedilatildeo em rede dos estabelecimentos de ensino
55
333 Outras fontes de financiamento
A PMIE aleacutem dos fundos estruturais e do fundo de coesatildeo tem ao seu dispocircr
outros instrumentos financeiros como seja o Fundo Europeu para as Pescas88
que
serve para estimular actividades econoacutemicas alternativas agrave pesca como o turismo
verde previsto para o desenvolvimento sustentaacutevel das zonas de pesca costeiras o
Instrumento Europeu de Vizinhanccedila e de Parceria89
contribuiraacute atraveacutes da cooperaccedilatildeo
transfronteiriccedila para dar resposta a problemas comuns dos paiacuteses do litoral inseridos em
bacias mariacutetimas
O Banco Europeu de Investimento (BEI) pode igualmente constituir um
importante instrumento para financiamento de avultados investimentos infra-estruturais
destinados a facilitar o ordenamento espacial e a execuccedilatildeo de estrateacutegias de
desenvolvimento de poacutelos de competitividade em regiotildees costeiras ou melhorar as
ligaccedilotildees agrave rede de produccedilatildeo de energias renovaacuteveis
Por fim realccedilo a primeira call lanccedilada a 30 de Julho de 2009 pela Comissatildeo
Europeia denominada The Ocean of Tomorrow integrada no seacutetimo Programa-Quadro
Ela eacute dotada de um orccedilamento de 34 milhotildees de euros para projectos de investigaccedilatildeo
multidisciplinar com o objectivo de conciliar o desenvolvimento de actividades
mariacutetimas com a preservaccedilatildeo dos mares e oceanos Uma segunda call ainda referente
ao seacutetimo Programa-Quadro de 45 milhotildees foi entretanto lanccedilada a 30 de Julho de
2010 Espera-se que as propostas abordem a complexidade dos oceanos e mares
integrando vaacuterias disciplinas (ambiente transportes energia pescas economia e
ciecircncias sociais) promovendo tambeacutem novos modelos de gestatildeo integrada do oceano O
prazo limite para entrega de candidaturas da segunda chamada termina no dia 18 de
Janeiro de 2011
Estas duas chamadas conjuntas respondem agrave necessidade de alocar meios
financeiros de suporte agraves prioridades expostas na Estrateacutegia Europeia para a
Investigaccedilatildeo Marinha e Mariacutetima e assim dar resposta ao pilar ambiental da PMIE
88
Decisatildeo 2005367CE do Conselho de 14 de Abril de 2005 que autoriza os Estados-Membros a
ratificar no interesse da Comunidade Europeia a Convenccedilatildeo da Organizaccedilatildeo Internacional do Trabalho
relativa aos documentos de identificaccedilatildeo dos mariacutetimos (Convenccedilatildeo nordm 185) - JO L 136 de 3052005 89
httpeceuropaeuworldenpfunding_enhtm
56
334 Programa de apoio ao aprofundamento da PMIE
Apesar dos instrumentos financeiros disponibilizados a implementaccedilatildeo da PMIE
pode estar em risco devido agrave falta de meios para financiar as acccedilotildees necessaacuterias durante
o periacuteodo remanescente (2010-2013)
Para tal efeito entendeu a Comissatildeo Europeia ser necessaacuterio estabelecer um
programa de apoio a medidas destinadas a promover o aprofundamento e a
implementaccedilatildeo da PMIE uma vez que os outros instrumentos disponibilizados pela UE
e apresentados anteriormente (o Fundo de Coesatildeo o FEDER o FSE o Fundo Europeu
das Pescas o seacutetimo Programa-Quadro de actividades em mateacuteria de investigaccedilatildeo
desenvolvimento tecnoloacutegico e demonstraccedilatildeo e o Instrumento Europeu de Vizinhanccedila e
Parceria) natildeo cobrirem significativamente as prioridades e objectivos da poliacutetica
mariacutetima integrada
No entanto este programa serviraacute de complemento aos instrumentos financeiros
actuais e futuramente disponibilizados ao niacutevel nacional e sub-nacional pelos Estados-
Membros para promover a protecccedilatildeo e a utilizaccedilatildeo sustentaacutevel dos oceanos e mares e
das zonas costeiras
Para que a Uniatildeo Europeia implemente e aprofunde a PMIE e prossiga os
objectivos basilares estabelecidos no Livro Azul eacute necessaacuterio um apoio financeiro
modesto mas constante Daiacute que juntamente com os Estados-Membros e as partes
interessadas este financiamento permite prosseguir os trabalhos exploratoacuterios jaacute
iniciados atraveacutes de acccedilotildees preparatoacuterias e projectos-piloto e desenvolver e concretizar
ainda melhor as opccedilotildees de execuccedilatildeo da PMIE
A dotaccedilatildeo financeira para a execuccedilatildeo do programa de apoio ao aprofundamento da
PMIE foi fixada em 50 milhotildees de euros e seraacute aplicaacutevel entre 1 de Janeiro de 2011 e 31
de Dezembro de 2013
O programa de apoio tem os seguintes dez objectivos gerais90
Favorecer o desenvolvimento e a implementaccedilatildeo de uma governaccedilatildeo
integrada dos assuntos mariacutetimos e costeiros e estrateacutegias integradas para as
bacias mariacutetimas
90
COM (2010) 494 final 11
57
Contribuir para o desenvolvimento de instrumentos transversais para as
poliacuteticas sectoriais ligadas ao mar ou agraves zonas costeiras
Apoiar a articulaccedilatildeo das poliacuteticas e promover a utilizaccedilatildeo sustentaacutevel dos
recursos marinhos e costeiros o crescimento econoacutemico sustentaacutevel a inovaccedilatildeo
e o emprego nos sectores mariacutetimos e nas regiotildees costeiras em consonacircncia com
as prioridades e acccedilotildees das poliacuteticas sectoriais
Melhor definir os limites da sustentabilidade das actividades humanas
com impacto no meio marinho no acircmbito da Directiva-Quadro Estrateacutegia
Marinha
Melhorar e reforccedilar a cooperaccedilatildeo e a coordenaccedilatildeo externas no que
respeita aos objectivos da poliacutetica mariacutetima integrada
Estes objectivos do programa de apoio ao aprofundamento da PMIE podem-se
traduzir nas seguintes acccedilotildees elegiacuteveis91
Estudos e programas de cooperaccedilatildeo
Informaccedilatildeo do puacuteblico e partilha de boas praacuteticas sensibilizaccedilatildeo do
puacuteblico e actividades associadas de comunicaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo incluindo
campanhas de publicidade eventos e ainda o desenvolvimento e a manutenccedilatildeo
de siacutetios Web
Conferecircncias seminaacuterios grupos de trabalho e foacuteruns de partes
interessadas
Mutualizaccedilatildeo monitorizaccedilatildeo e visualizaccedilatildeo de uma grande quantidade de
informaccedilotildees boas praacuteticas e bases de dados sobre os projectos regionais
financiados pela UE e garantia do correspondente acesso do puacuteblico
nomeadamente sempre que adequado por intermeacutedio de um secretariado
instituiacutedo para um ou vaacuterios destes efeitos
Acccedilotildees referentes a instrumentos transversais incluindo projectos-piloto
91
COM (2010) 494 final 12-13
58
Cap IV ndash Orientaccedilotildees estrateacutegias para o futuro da PMIE
41 Breve balanccedilo
A poliacutetica mariacutetima integrada europeia estabeleceu-se como uma nova abordagem
destinada a reforccedilar o desenvolvimento oacuteptimo e sustentaacutevel de todas as actividades
relacionadas com o mar Confirmou a visatildeo de que a Europa pode colher benefiacutecios
muito maiores com um impacto ambiental muito menor se articular as poliacuteticas relativas
aos oceanos e mares As instituiccedilotildees da Uniatildeo Europeia os Estados-Membros e as
regiotildees criaram estruturas de governaccedilatildeo para garantir que as poliacuteticas mariacutetimas
deixassem de ser desenvolvidas de uma forma isolada e tomassem em consideraccedilatildeo as
relaccedilotildees e sinergias com outras aacutereas poliacuteticas Os stakeholders confirmaram o interesse
consideraacutevel que a ampla consulta realizada em 2006-2007 despertou e a PMIE tornou-
se uma das poliacuteticas da Uniatildeo Europeia que mais recorre a uma abordagem ldquoda base
para o topordquo No domiacutenio das poliacuteticas sectoriais com impacto no mar e no litoral
nomeadamente as poliacuteticas da pesca dos transportes do ambiente da energia da
induacutestria ou da investigaccedilatildeo deram-se passos consideraacuteveis no sentido de uma maior
integraccedilatildeo e coerecircncia Foram tambeacutem adoptadas as primeiras medidas para aplicar a
PMIE numa base regional Em resumo a poliacutetica mariacutetima integrada da Uniatildeo Europeia
estaacute a modificar a forma como os europeus olham para os seus mares e oceanos
reafirmando ao mesmo tempo a importacircncia estrateacutegica dos mares e das regiotildees
costeiras do continente92
O quadro oferecido pela PMIE procura essencialmente concretizar (e jaacute comeccedilou a
fazecirc-lo) quatro objectivos93
Promover a integraccedilatildeo das estruturas de governaccedilatildeo tornando-as mais
abertas agrave participaccedilatildeo e agrave cooperaccedilatildeo
Criar uma base de conhecimentos e os instrumentos transectoriais
necessaacuterios para permitir a execuccedilatildeo das poliacuteticas integradas
92
COM (2009) 540 final 2 93
COM 2009) 540 final 3
59
Melhorar a qualidade das poliacuteticas sectoriais atraveacutes da procura activa de
sinergias e de uma maior coerecircncia transectorial
No quadro da realizaccedilatildeo dos objectivos acima referidos tomar em
consideraccedilatildeo as especificidades dos mares regionais que banham a Europa e
encontrar soluccedilotildees adaptadas a cada caso
A aplicaccedilatildeo do plano de acccedilatildeo conheceu jaacute um franco progresso das 65 acccedilotildees
incluiacutedas no plano foram iniciadas ou concluiacutedas 56 (trata-se na maior parte de actos
da Comissatildeo Europeia ou Conselho Europeu) Foram empreendidas vaacuterias iniciativas
em relaccedilatildeo a nove das acccedilotildees desse plano embora os documentos oficiais natildeo tenham
sido ainda adoptados
42 Governaccedilatildeo mariacutetima e participaccedilatildeo das partes interessadas
O Livro Azul defende que eacute necessaacuterio repensar a gestatildeo dos mares e oceanos a
todos os niacuteveis de governaccedilatildeo isto eacute nas instituiccedilotildees da UE nos Estados-Membros e
nas regiotildees Os actores poliacuteticos responderam em geral de uma forma muito positiva
passados dois anos tomaram-se medidas em toda a Uniatildeo para superar a
compartimentaccedilatildeo das vaacuterias poliacuteticas relacionadas com o mar aumentar a participaccedilatildeo
das partes interessadas e identificar sinergias poliacuteticas Importa agora realccedilar os
progressos alcanccedilados pelas instituiccedilotildees europeias Estados membros regiotildees e tambeacutem
pelos stakeholders
Instituiccedilotildees da UE94
A Comissatildeo Europeia adoptou diversas medidas no sentido de integrar o processo
de definiccedilatildeo da poliacutetica mariacutetima Em 2005 foi criado um Grupo Director de
Comissaacuterios que examinou as iniciativas poliacuteticas mais importantes incluiacutedas no plano
de acccedilatildeo do Livro Azul Foram tambeacutem criadas estruturas para promover reuniotildees
94
COM (2009) 540 final 3-4
60
regulares entre as Direcccedilotildees-Gerais interessadas a fim de identificar sinergias e
eliminar eventuais incoerecircncias entre as poliacuteticas
A Comissatildeo Europeia reorganizou igualmente os seus serviccedilos e alargou o mandato
da Direcccedilatildeo-Geral dos Assuntos Mariacutetimos e das Pescas a fim de assegurar a
coordenaccedilatildeo poliacutetica global e desenvolver se necessaacuterio instrumentos transectoriais
tendo em conta as especificidades regionais
O Conselho Europeu mostra um grande empenhamento na PMIE Natildeo soacute reconhece
a natureza transectorial da PMIE ao abordaacute-la na sua formaccedilatildeo Assuntos Gerais e
Relaccedilotildees Externas como reafirma nas suas conclusotildees de 8 de Dezembro de 200895
ldquoque uma abordagem integrada das questotildees mariacutetimas constitui um objectivo da maior
importacircncia tendo em conta a necessidade de reforccedilar as sinergias a coerecircncia e o
valor acrescentado das acccedilotildees sectoriais empreendidas pela Uniatildeo Europeia
integrando-as numa visatildeo global dos mares dos oceanos e dos seus litorais tendo em
conta as especificidades regionais (hellip)rdquo
Em termos institucionais a participaccedilatildeo activa do Conselho e dos Estados-
Membros eacute assegurada pelos trabalhos do Conselho de Assuntos Gerais e pelos grupos
de contacto dos Estados-Membros para a PMIE Estes grupos satildeo a garantia de que se
utiliza plenamente os conhecimentos especializados existentes nas administraccedilotildees
nacionais se presta a devida atenccedilatildeo agraves necessidades especiacuteficas dos Estados-Membros
e das regiotildees costeiras e se obteacutem um consenso poliacutetico com o maacuteximo de transparecircncia
e impacto
A atenccedilatildeo e o apoio do Parlamento Europeu agrave poliacutetica mariacutetima tecircm sido muito
positivos96
Contudo os assuntos mariacutetimos continuam a ser tratados por diferentes
comissotildees e estruturas
O Comiteacute das Regiotildees tem dado vaacuterios contributos beneacuteficos para a PMIE A
Comissatildeo Europeia tomou nota em especial do parecer sobre o Livro Azul que conteacutem
elementos importantes para trabalhos futuros O recente parecer do Comiteacute ldquoPacote
mariacutetimo e costeirordquo97
constitui um exemplo valioso da combinaccedilatildeo de interesses
divergentes de uma forma coerente complementar e sineacutergica
95
16503108 REV 1 96
Especialmente atraveacutes do relatoacuterio A6-01632008 (Comissatildeo dos Transportes e do Turismo) de Willi
Piecyk deputado do Parlamento Europeu entretanto falecido 97
CdR 4162008 final adoptado em 17 de Junho de 2009
61
O Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu emitiu em 14 de Abril de 2008 um
parecer98
particularmente favoraacutevel agrave PMIE
Estados-Membros99
Agrave data da publicaccedilatildeo do Livro Verde poucas iniciativas existiam nos Estados-
Membros em favor de abordagens integradas Dois paiacuteses a Franccedila e os Paiacuteses Baixos
informaram que dispunham de uma estrutura administrativa para coordenar as poliacuteticas
mariacutetimas Pelo seu lado Portugal tinha jaacute iniciado acccedilotildees concretas com vista a uma
estrateacutegia sobre os oceanos Desde entatildeo registaram-se progressos consideraacuteveis e mais
Estados-Membros tomaram iniciativas para integrar a poliacutetica mariacutetima e partilhar boas
praacuteticas de abordagens integradas da poliacutetica mariacutetima Estas iniciativas satildeo
inteiramente conformes com as orientaccedilotildees publicadas pela Comissatildeo Europeia em
Junho de 2008100
e referem-se a mudanccedilas organizacionais eou ao desenvolvimento de
estrateacutegias integradas de mais longo prazo com vista ao desenvolvimento sustentaacutevel
dos sectores mariacutetimos e das regiotildees costeiras
De salientar os exemplos do Nationaal Waterplan neerlandecircs o Grenelle de la Mer
francecircs o Entwicklungsplan Meer alematildeo a Lei sueca sobre uma poliacutetica mariacutetima
coerente o plano polaco interdepartamental de uma poliacutetica mariacutetima e a Lei mariacutetima
britacircnica A Irlanda Portugal e a Esloveacutenia tomaram igualmente medidas neste sentido
A Beacutelgica a Bulgaacuteria a Repuacuteblica Checa a Dinamarca a Itaacutelia a Greacutecia a Finlacircndia e
a Espanha comunicaram tambeacutem a realizaccedilatildeo de actividades neste domiacutenio perfazendo
um total de 14 Estados membros
Regiotildees101
As regiotildees costeiras participam plenamente como parceiros da PMIE desde o seu
iniacutecio e satildeo as mais bem colocadas para identificar os elementos necessaacuterios para
executar a poliacutetica tanto a niacutevel local como das bacias mariacutetimas Mostraram
igualmente grande capacidade para trabalhar com as autoridades nacionais e com as
regiotildees de outros Estados-Membros com o objectivo de promover soluccedilotildees integradas
para as questotildees relativas ao mar A Conferecircncia das Regiotildees Perifeacutericas Mariacutetimas
98
JO 2008C 21107 99
COM (2009) 540 final 4-5 100
COM (2008) 395 final de 2662008 101
COM (2009) 540 final 5
62
(CRPM) que reuacutene cerca de 160 regiotildees europeias segue atentamente os progressos do
plano de acccedilatildeo atraveacutes de intervenccedilotildees regulares nas reuniotildees do grupo de trabalho
Aquamarina criado especificamente para promover a PMIE a niacutevel regional
Partes interessadas102
As partes interessadas tem tido um papel preponderante no estabelecimento de uma
PMIE para a UE Os actores regionais e empresariais e as ONG foram os primeiros a
advogar a articulaccedilatildeo das poliacuteticas da UE com impacto nos mares sectores mariacutetimos e
regiotildees costeiras As suas contribuiccedilotildees constituiacuteram a base para a criaccedilatildeo de conceitos
e instrumentos inovadores
A celebraccedilatildeo anual do Dia Europeu do Mar converteu-se no evento em que os
vaacuterios ciacuterculos interessados podem realizar intercacircmbios altamente produtivos A
Comissatildeo Europeia deve dar continuidade a este evento assim como ampliar o nuacutemero
de europeus participantes Ao mesmo tempo deve encorajar as partes interessadas a
voltar a organizar eventos descentralizados em torno do Dia Europeu do Mar celebrado
em 20 de Maio reflectindo desta forma as contribuiccedilotildees nacionais regionais e locais
para a PMIE
43 Instrumentos transectoriais
Conforme abordado no capiacutetulo III (Livro Azul) foi identificada a necessidade de
existirem instrumentos transectoriais nomeadamente o ordenamento do espaccedilo
mariacutetimo a vigilacircncia integrada e a construccedilatildeo de uma base de conhecimentos para a
poliacutetica mariacutetima Estes trecircs instrumentos desenvolveram-se a um bom ritmo e jaacute eacute
possiacutevel registar os primeiros resultados obtidos Ora vejamos
102
COM (2009) 540 final 5-6
63
Ordenamento do espaccedilo mariacutetimo (OEM) e gestatildeo integrada da zona costeira
(GIZC)103
O aumento das actividades desenvolvidas nos mares da Europa exacerbou a
competiccedilatildeo pelo espaccedilo mariacutetimo que eacute limitado O ordenamento do espaccedilo mariacutetimo eacute
um instrumento-chave para equilibrar os interesses sectoriais e garantir uma utilizaccedilatildeo
sustentaacutevel dos recursos marinhos sendo o seu princiacutepio subjacente uma abordagem
ecossisteacutemica Este processo proporciona agraves administraccedilotildees puacuteblicas e partes
interessadas um quadro de ordenamento estaacutevel fiaacutevel e centrado em objectivos
concretos a partir do qual podem coordenar as suas acccedilotildees e optimizar a utilizaccedilatildeo do
espaccedilo mariacutetimo em benefiacutecio do desenvolvimento econoacutemico e do meio marinho
A Comissatildeo adoptou em 2008 a comunicaccedilatildeo intitulada ldquoRoteiro para o
ordenamento do espaccedilo mariacutetimo definiccedilatildeo de princiacutepios comuns na UErdquo104
O roteiro
estabelece dez princiacutepios-chave e analisa o desenvolvimento entre os Estados-Membros
de uma abordagem comum que promova a aplicaccedilatildeo do OEM a niacutevel nacional e da UE
Em debates organizados pela Comissatildeo no decurso de 2009105
as partes
interessadas de todos os sectores mariacutetimos relevantes consideraram que os dez
princiacutepios-chave satildeo vaacutelidos tecircm um caraacutecter global e constituem uma base importante
para o desenvolvimento do OEM a niacutevel europeu A Comissatildeo Europeia lanccedilou
igualmente duas acccedilotildees preparatoacuterias no Baacuteltico (no acircmbito da estrateacutegia comunitaacuteria
para a regiatildeo do Baacuteltico) e no Mar do NorteAtlacircntico Nordeste visando o
desenvolvimento da vertente de cooperaccedilatildeo transfronteiras do OEM assim como um
estudo sobre o potencial do ordenamento do espaccedilo mariacutetimo no Mediterracircneo e os
benefiacutecios econoacutemicos do OEM
No seguimento da recomendaccedilatildeo incluiacuteda no Livro Azul no sentido da criaccedilatildeo de
um sistema de intercacircmbio de boas praacuteticas para o desenvolvimento da gestatildeo integrada
da zona costeira (GIZC) a Comissatildeo iniciou em 2009 um projecto destinado a fomentar
o intercacircmbio de boas praacuteticas e promover a aplicaccedilatildeo efectiva da GIZC106
No final de
2008 o Conselho assinou o Protocolo sobre a GIZC no acircmbito da Convenccedilatildeo de
Barcelona107
103
Para informaccedilatildeo detalhada sobre a GIZC consultar httpeceuropaeuenvironmenticzmourcoasthtm 104
COM(2008) 791 final 105
httpeceuropaeumaritimeaffairsspatial_planning_enhtml6 106
httpeceuropaeuenvironmenticzmourcoasthtm 107
COM (2009) 540 final 6-7
64
Integraccedilatildeo da vigilacircncia mariacutetima
A integraccedilatildeo da vigilacircncia mariacutetima permitiraacute aumentar a eficaacutecia das operaccedilotildees no
mar e reduzir os custos de exploraccedilatildeo As potenciais economias a niacutevel da UE satildeo
significativas se se considerar a necessidade crescente de detectar localizar interceptar
e controlar actividades iliacutecitas no mar assim como de prevenir acidentes mariacutetimos
detectar descargas ilegais controlar as actividades de pesca e proteger o ambiente
Ateacute agrave data a Comissatildeo elaborou descriccedilotildees pormenorizadas das vaacuterias iniciativas
de integraccedilatildeo da vigilacircncia mariacutetima108
empreendidas a niacutevel nacional regional e
europeu terminou um estudo sobre os aspectos juriacutedicos e regulamentares da integraccedilatildeo
da vigilacircncia mariacutetima e procedeu a um exerciacutecio conjunto com a Agecircncia Europeia de
Defesa e o Estado-Maior da UE em resposta a um pedido do Conselho de Defesa109
A
Comissatildeo lanccedilou igualmente dois convites agrave apresentaccedilatildeo de propostas num montante
total de 57 milhotildees de euros110
para projectos-piloto de integraccedilatildeo da vigilacircncia com
vista a promover uma cooperaccedilatildeo mais estreita entre as administraccedilotildees nacionais no
Mediterracircneo e na bacia do Mar do Norte111
Construccedilatildeo de uma base de conhecimentos para a poliacutetica mariacutetima
Natildeo eacute possiacutevel desenvolver uma poliacutetica mariacutetima sem dados e conhecimentos
adequados sobre os mares e o litoral da Europa O conhecimento do meio marinho
permanece eacute ainda muito disperso e pouco rentaacutevel A Rede Europeia de Observaccedilatildeo e
de Dados do Meio Marinho (EMODNET) anunciada no Livro Azul tem como
objectivo reduzir as incertezas no conhecimento dos mares e os custos operacionais dos
utilizadores de dados marinhos Eacute necessaacuterio avaliar as bases de dados e os programas
de observaccedilatildeo existentes em termos de cobertura precisatildeo e frequecircncia de recolha bem
como compilar de forma global e compatiacutevel os dados provenientes de diferentes fontes
e tornaacute-los acessiacuteveis como instrumento de boa governaccedilatildeo112
Destaque para o
lanccedilamento do ldquoAtlas Europeu dos Maresrdquo tem como objectivo sensibilizar o puacuteblico
para as questotildees marinhas
108
SEC (2008) 2337 109
COSDP 949 PESC 1366 110
Convites agrave apresentaccedilatildeo de propostas MARE200813 e 200904 111
COM (2009) 540 final 7 112
COM (2009) 540 final 7-8
65
44 Perspectivas e visatildeo futura da PMIE
Os uacuteltimos dois anos confirmaram que a PMIE eacute uma poliacutetica muito promissora e
que pode contribuir de forma muito significativa para o crescimento o emprego e a
sustentabilidade ambiental nas zonas costeiras da Europa e para aleacutem destas Apesar de
recente esta nova poliacutetica da UE jaacute alterou a forma como a Europa gere as suas riquezas
mariacutetimas e costeiras
Apoacutes trecircs anos de deliberaccedilotildees intensas eacute fundamental manter este impulso para
dar uma resposta aos desafios essenciais a meacutedio e longo prazo que representam a
protecccedilatildeo do ambiente o crescimento econoacutemico e o bem-estar O duplo impacto das
alteraccedilotildees climaacuteticas e da crise econoacutemica faz-se sentir de uma forma particular no
mundo mariacutetimo os oceanos determinam o nosso clima e o sector mariacutetimo foi o motor
da globalizaccedilatildeo e da prosperidade
Por conseguinte eacute importante desenvolver o potencial econoacutemico da Europa
mariacutetima melhorar a acccedilatildeo dos poderes puacuteblicos nos mares e continuar a explorar as
sinergias que permitem o reforccedilo muacutetuo do crescimento econoacutemico e da estabilidade
ambiental Segundo a Comissatildeo Europeia a melhor forma de alcanccedilar estes objectivos eacute
avanccedilar em seis direcccedilotildees estrateacutegicas
Eacute necessaacuterio consolidar a governaccedilatildeo mariacutetima integrada Os progressos
alcanccedilados nos uacuteltimos anos devem ser traduzidos em estruturas integradas eficazes a
todos os niacuteveis de governaccedilatildeo As instituiccedilotildees da UE os Estados-Membros e as regiotildees
costeiras tecircm uma responsabilidade particular na integraccedilatildeo da poliacutetica mariacutetima a
montante e na adopccedilatildeo de programas coerentes e comuns para os assuntos mariacutetimos
contrariando a tendecircncia prevalecente para pensar a poliacutetica sectorial de uma forma
isolada A participaccedilatildeo das partes interessadas na definiccedilatildeo das poliacuteticas mariacutetimas deve
igualmente ser consagrada de forma mais permanente nas estruturas de governaccedilatildeo
resultando num diaacutelogo mais intenso entre a UE os Governos dos Estados-Membros e
as regiotildees costeiras que frequentemente detecircm as competecircncias fundamentais
necessaacuterias para uma abordagem integrada dos assuntos mariacutetimos Pela mesma razatildeo
seria conveniente criar uma plataforma intersectorial de diaacutelogo entre as partes
interessadas sobre os assuntos mariacutetimos113
113
COM (2009) 540 final 11
66
Os instrumentos poliacuteticos transectoriais satildeo fundamentais para fomentar o
desenvolvimento econoacutemico a monitorizaccedilatildeo do ambiente a seguranccedila e o respeito da
legislaccedilatildeo nos oceanos e mares da Europa Em especial o ordenamento do espaccedilo
mariacutetimo a par de um maior conhecimento do meio marinho pode incentivar
investimentos econoacutemicos consideraacuteveis e melhorar drasticamente a forma como
gerimos os nossos espaccedilos mariacutetimos preservando os seus ecossistemas Deve pois
converter-se num instrumento praacutetico a todos os niacuteveis de governaccedilatildeo relevantes e
contar com os mecanismos necessaacuterios para garantir um processo decisoacuterio comum
sobre os investimentos transfronteiriccedilos A integraccedilatildeo da vigilacircncia mariacutetima pode
contribuir para modificar a forma como as autoridades nacionais executam objectivos
essenciais como a luta contra a imigraccedilatildeo ilegal a protecccedilatildeo da navegaccedilatildeo comercial e
a protecccedilatildeo dos recursos naturais Os Estados-Membros e a Comissatildeo teratildeo de continuar
a colaborar nestes domiacutenios para que os processos iniciados nos uacuteltimos dois anos
possam alcanccedilar os resultados previstos114
A definiccedilatildeo dos limites de sustentabilidade das actividades humanas com um
impacto no meio marinho nos proacuteximos anos no acircmbito da Directiva-Quadro
ldquoEstrateacutegia Marinhardquo traraacute clareza e permitiraacute criar uma plataforma para o
desenvolvimento de todas as actividades mariacutetimas tendo em conta os seus efeitos
cumulativos Por esta razatildeo a aplicaccedilatildeo desta directiva continuaraacute a constituir um
objectivo fundamental da PMIE que deveraacute igualmente reforccedilar a cooperaccedilatildeo entre
todos os sectores e serviccedilos afectados nomeadamente entre as ciecircncias marinhas e a
poliacutetica para o meio marinho115
As estrateacutegias baseadas nas bacias mariacutetimas satildeo fundamentais para o ecircxito da
PMIE pois permitem adaptar as prioridades e os instrumentos poliacuteticos aos contextos
geograacutefico econoacutemico e poliacutetico especiacuteficos de cada grande regiatildeo mariacutetima Um
elemento essencial para que a PMIE seja bem sucedida eacute a cooperaccedilatildeo com e entre os
Estados-Membros e as regiotildees que partilham bacias mariacutetimas e sendo necessaacuterio esta
cooperaccedilatildeo deveraacute ser acompanhada de um diaacutelogo apropriado com os paiacuteses terceiros
que partilham bacias mariacutetimas com a UE As acccedilotildees a niacutevel das sub-bacias podem
igualmente ser uacuteteis e constituir exemplos positivos e de boas praacuteticas116
114
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67
Deveraacute prestar-se uma maior atenccedilatildeo agrave dimensatildeo internacional da PMIE A
Europa deve assumir um papel de motor na melhoria da governaccedilatildeo mariacutetima agrave escala
mundial como jaacute o fez no que respeita agrave pirataria ou agraves praacuteticas de pesca destrutivas A
Comissatildeo pretende reforccedilar o diaacutelogo com um nuacutemero limitado dos seus principais
parceiros mariacutetimos assim como a sua participaccedilatildeo em foacuteruns internacionais e
processos informais117
No presente contexto de crise econoacutemica a execuccedilatildeo da PMIE deveraacute recentrar-se
no crescimento econoacutemico no emprego e na inovaccedilatildeo sustentaacuteveis Por conseguinte no
futuro a UE deve explorar as sinergias entre a poliacutetica energeacutetica comunitaacuteria e a PMIE
promover a produccedilatildeo de energia no mar nomeadamente as formas de energia
renovaacuteveis e utilizar mais o mar para o transporte de energia por condutas redes
submarinas e navios Seraacute igualmente necessaacuterio fortalecer os viacutenculos entre a poliacutetica
comunitaacuteria de combate agraves alteraccedilotildees climaacuteticas e a PMIE desenvolvendo uma
estrateacutegia de adaptaccedilatildeo das zonas costeiras e mariacutetimas agraves alteraccedilotildees climaacuteticas com
vista a proteger as infra-estruturas costeiras e preservar a biodiversidade marinha Eacute
importante garantir que as zonas mariacutetimas e costeiras entrem plenamente em conta no
debate em curso sobre a coesatildeo territorial
A UE deve aleacutem disso promover ainda mais o transporte mariacutetimo a fim de
favorecer a co-modalidade pocircr em praacutetica o conceito de auto-estradas do mar e
melhorar o programa de transporte mariacutetimo de curta distacircncia da UE Ainda no acircmbito
do objectivo de impulsionar o desenvolvimento econoacutemico das actividades mariacutetimas
seraacute necessaacuterio encontrar a forma e os meios de estimular o emprego mariacutetimo e o
investimento na frota embandeirada da UE continuando todavia a apostar firmemente
no conceito de navios ecoloacutegicos Com efeito o apoio agrave inovaccedilatildeo e agrave investigaccedilatildeo a
favor de navios com baixo niacutevel de emissotildees ou mesmo com emissotildees nulas continuaraacute
a constituir a resposta principal da Comunidade agrave situaccedilatildeo do sector da construccedilatildeo
naval tatildeo importante do ponto de vista estrateacutegico Desta maneira a UE poderaacute
proporcionar aos estaleiros navais europeus e agrave europeia induacutestria do equipamento de
navios uma vantagem tecnoloacutegica sobre os seus concorrentes noutras regiotildees do mundo
e tornar o transporte mariacutetimo mais seguro e sustentaacutevel em especial ao longo das
costas da Europa118
117
COM (2009) 540 final 12 118
COM (2009) 540 final 12
68
Cap V ndash Estrateacutegia Nacional para o Mar
ldquoA Estrateacutegia Nacional para o Mar (ENM) constitui um instrumento poliacutetico
fundamental para que Portugal possa proteger e valorizar o inestimaacutevel recurso que o
oceano representa para o nosso paiacutesrdquo Cit pelo Dr Joatildeo Mira Gomes (ex-Secretaacuterio de
Estado da Defesa Nacional e dos Assuntos do Mar) na ENM 2007 p V)
Como referi no primeiro capiacutetulo a ligaccedilatildeo de Portugal ao mar ganhou especial
relevacircncia durante a eacutepoca dos Descobrimentos marcando decisivamente o iniacutecio do
processo de globalizaccedilatildeo As trocas comerciais culturais cientiacuteficas e tecnoloacutegicas daiacute
resultantes promoveram o grande desenvolvimento do nosso paiacutes e alteraram
definitivamente os processos de transmissatildeo de conhecimentos entre os povos Neste
capiacutetulo dedico-me agrave anaacutelise da evoluccedilatildeo entre 1998 e 2010 das principais dinacircmicas
mariacutetimas nacionais
Portugal actualmente dispotildee de uma das maiores zonas econoacutemicas exclusivas
(ZEE) da Europa com mais de 1700000 km2 o que corresponde a cerca de 18 vezes a
sua aacuterea terrestre existindo ainda a possibilidade de vir a contar com espaccedilos mariacutetimos
sob sua jurisdiccedilatildeo que poderatildeo exceder em muito a actual aacuterea da ZEE
Neste acircmbito a Estrutura de Missatildeo para a Extensatildeo da Plataforma Continental
(EMEPC) estaacute a trabalhar no sentido de determinar espaccedilos a reclamar por Portugal
para aleacutem das actuais 200 milhas naacuteuticas Assim a EMEPC elaborou a proposta
portuguesa chefiada pelo oceanoacutegrafo Manuel Pinto de Abreu que foi recentemente
apresentada agrave Comissatildeo de Limites para a Extensatildeo da Plataforma Continental (CLPC)
da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) Ateacute hoje a ONU recebeu 51 propostas de
Estados que querem ver aumentado o seu domiacutenio mariacutetimo Portugal foi o 44ordm paiacutes a
entregar a proposta A ONU encontra-se a avaliar a 16ordf proposta e prevecirc-se que a
decisatildeo relativa agrave proposta portuguesa seja conhecida em 2015
Caso seja aceite a proposta de alargamento pela ONU Portugal passaraacute a deter uma
aacuterea territorial equivalente 43 vezes agrave aacuterea de Portugal Continental Accedilores e Madeira
ou seja o equivalente agrave da Iacutendia e a segunda maior plataforma mundial a seguir aos
Estados Unidos da Ameacuterica
69
As Regiotildees Autoacutenomas da Madeira e dos Accedilores assumem aqui um papel de
destaque pelo seu posicionamento central nos espaccedilos mariacutetimos sob soberania ou
jurisdiccedilatildeo nacional
Este extenso espaccedilo mariacutetimo encerra alguns dos mais importantes ecossistemas
oceacircnicos a niacutevel global As caracteriacutesticas biogeograacuteficas e geomorfoloacutegicas das aacutereas
sob jurisdiccedilatildeo nacional englobam uma vasta biodiversidade marinha Os ambientes
insulares oceacircnicos o mar profundo e as planiacutecies abissais os montes e bancos
submarinos a dorsal meacutedio-atlacircntica119
os campos de fontes hidrotermais as
riquiacutessimas zonas estuarinas e lacustres os grandes canhotildees submarinos as zonas de
afloramento costeiro entre outros conferem a Portugal um patrimoacutenio natural uacutenico que
importa valorizar e preservar A este patrimoacutenio juntam-se os valores arqueoloacutegicos
culturais esteacuteticos e histoacutericos os recursos geoloacutegicos e minerais os recursos
energeacuteticos renovaacuteveis e os recursos biotecnoloacutegicos que no seu conjunto representam
um dos principais activos nacionais
Destaco tambeacutem o pioneirismo de Portugal ao niacutevel da concepccedilatildeo de um plano de
governacircncia integrado para os assuntos do Mar Refiro-me em particular ao relatoacuterio
da Comissatildeo Estrateacutegica dos Oceanos (CEO)ldquoO Oceano ndash Um Desiacutegnio Nacional
para o Seacuteculo XXIrdquo elaborado em 2004 que apresentou uma Estrateacutegia Nacional para o
Oceano Esta CEO dotou Portugal de uma nova visatildeo ldquoUm Oceano saudaacutevel
sustentaacutevel e seguro eacute o principal activo fiacutesico e sociocultural de Portugalrdquo e uma
missatildeo ldquoDestacar Portugal como uma naccedilatildeo mariacutetima da Uniatildeo Europeiardquoque
permita desenvolver e interiorizar colectivamente uma nova abordagem aos Oceanos
Para a prossecuccedilatildeo destas uacuteltimas a CEO baseou a sua estrateacutegia em cinco
objectivos que passo a enumerar
1) Valorizar a associaccedilatildeo de Portugal ao Oceano como Factor de Identidade
2) Assegurar o conhecimento e a protecccedilatildeo do Oceano
3) Promover o desenvolvimento sustentaacutevel de actividades econoacutemicas
4) Assumir uma posiccedilatildeo de destaque e especializaccedilatildeo em assuntos do Oceano
5) Construir uma estrutura institucional moderna de gestatildeo do oceano
119
A dorsal meacutedio-atlacircntica ou crista oceacircnica do Atlacircntico eacute uma cordilheira submarina que se estende
sob o Oceano Atlacircntico e o Oceano Aacutertico desde a latitude 87ordmN ateacute agrave ilha sub-antaacutertica de Bouvet agrave
latitude 54ordmS Os pontos mais elevados desta cordilheira emergem em vaacuterios locais formando ilhas
70
Em suma este valioso contributo surge da ldquonecessidade de encontrar mecanismos
de reforccedilo da identidade nacional que respondam agrave pressatildeo da homogeneizaccedilatildeo
cultural e agrave premecircncia de conceber um modelo de desenvolvimento sustentaacutevel que decirc
resposta agrave competitividade acrescida no quadro global em geral e no quadro europeu
em particular120
rdquo Este trabalho bem estruturado inovador e orientador serviu de
modelo-base para as actuais Estrateacutegia Nacional para o Mar e Poliacutetica Mariacutetima
Integrada Europeia
De facto Portugal goza de uma reputaccedilatildeo internacional de paiacutes mariacutetimo com
ideias e acccedilotildees proacuteprias sendo um activo contribuidor para a agenda global dos
oceanos
Depois de seacuteculos ligados ao mar natildeo se compreende muito bem nos dias de hoje
que o Mar seja para a maioria da sociedade portuguesa algo de distante
intangiacutevel e invisiacutevel121
No entanto saliento ainda que nos uacuteltimos anos em Portugal
foram dados passos importantes no que concerne agrave poliacutetica dos oceanos Entre os mais
significativos destaco
Em 1998 a Comissatildeo Mundial Independente para os Oceanos liderada
por Portugal e presidida pelo ex-Presidente da Repuacuteblica Dr Maacuterio Soares
aprovou o relatoacuterio ldquoO Oceano Nosso Futurordquo no acircmbito da Comissatildeo
Oceanograacutefica Intergovernamental da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a
Educaccedilatildeo Ciecircncia e Cultura (UNESCO)
O Ano Internacional dos Oceanos que se comemorou em 1998 na
sequecircncia de uma proposta apresentada por Portugal agrave Assembleia da Comissatildeo
Oceanograacutefica Intergovernamental da UNESCO e adoptada pela Assembleia
Geral das Naccedilotildees Unidas serviu de elemento integrador da Exposiccedilatildeo Mundial
de Lisboa (Expo 98) subordinada ao tema ldquoO Oceano um patrimoacutenio para o
futurordquo
Ainda nesse ano as Resoluccedilotildees do Conselho de Ministros nuacutemeros
8898 8998 e 9098 de 10 de Julho criaram respectivamente
- A Comissatildeo Oceanograacutefica Intersectorial com o objectivo de reforccedilar a
capacidade de resposta do sector de investigaccedilatildeo e desenvolvimento em ciecircncias e
120
Discurso do Primeiro-Ministro Duratildeo Barroso - XV Governo Constitucional (200204) ndash durante a
cerimoacutenia de tomada de posse da Comissatildeo Estrateacutegica dos Oceanos no dia 972003 121
ENM 2006-2016 p 2
71
tecnologias do mar e serviccedilos oceanograacuteficos afins mediante uma estrateacutegia que
permita compatibilizar acccedilotildees congregar esforccedilos e evitar duplicaccedilotildees optimizando
o uso dos meios humanos e das infra-estruturas disponiacuteveis
- O Programa Dinamizador das Ciecircncias e Tecnologias do Mar com o
objectivo de dar a este domiacutenio de investigaccedilatildeo baacutesica e aplicada a prioridade que ela
requer (numa perspectiva) de natureza estruturante e interdisciplinar
- A Comissatildeo Interministerial para a Delimitaccedilatildeo da Plataforma
Continental com vista a considerar a possibilidade da extensatildeo do limite exterior da
plataforma continental para aleacutem das 200 milhas naacuteuticas no quadro previsto pela
Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas sobre o Direito do Mar
Em 2003 foi criada a Comissatildeo Estrateacutegica dos Oceanos (Resoluccedilatildeo do
Conselho de Ministros nordm 812003 de 17 de Junho) com o objectivo de elaborar
os elementos de definiccedilatildeo de uma estrateacutegia nacional para o oceano Esta
comissatildeo produziu em 2004 um relatoacuterio com um conjunto de cerca de 250
recomendaccedilotildees e propostas de acccedilatildeo estrateacutegicas
Em 2005 foi criada a Estrutura de Missatildeo para a Extensatildeo da Plataforma
Continental (Resoluccedilatildeo do Conselho de Ministros nordm 92005 de 17 de Janeiro)
com o objectivo de preparar uma proposta de extensatildeo da plataforma continental
de Portugal para aleacutem das 200 milhas naacuteuticas para apresentaccedilatildeo agrave Comissatildeo
de Limites da Plataforma Continental das Naccedilotildees Unidas Esta substituiu a ex-
Comissatildeo Interministerial para a Delimitaccedilatildeo da Plataforma Continental
Em 2005 foi ainda criada a Estrutura de Missatildeo para os Assuntos do Mar
(EMAM) Resoluccedilatildeo do Conselho de Ministros nordm 1282005 de 10 de Agosto
com o objectivo de dar continuidade ao trabalho jaacute desenvolvido e a missatildeo de
preparar uma proposta que estabeleccedila as medidas que devem ser implementadas
para o desenvolvimento de uma poliacutetica integrada do Governo para os assuntos
do mar e para uma acccedilatildeo articulada de todas as entidades com competecircncia nas
aacutereas ligadas ao mar
Em 2006 foi dado iniacutecio agrave instalaccedilatildeo em Lisboa da Agecircncia Europeia de
Seguranccedila Mariacutetima que desempenha um papel fundamental no que se refere
aos aspectos relativos agrave recolha registo e avaliaccedilatildeo de dados teacutecnicos nos
domiacutenios da seguranccedila do traacutefego e da poluiccedilatildeo marinha
72
Em 2007 durante a Presidecircncia Portuguesa do Conselho Europeu
procedeu-se agrave organizaccedilatildeo de uma Conferecircncia Ministerial sobre uma Poliacutetica
Mariacutetima para a Uniatildeo Europeia
A submissatildeo da proposta de extensatildeo da plataforma continental de
Portugal para aleacutem das 200 milhas naacuteuticas decorreu a 11 de Maio de 2009
junto de Hariharan Pakshi Rajan da CLPC da ONU
A primeira apresentaccedilatildeo da mesma proposta de extensatildeo da plataforma
continental portuguesa teve lugar no dia 13 de Abril de 2010 na sede das ONU
em Nova Iorque
Refiro mais uma vez que Portugal conjuntamente com Franccedila e Espanha foram
dos primeiros Estados-membros a dar contributos para o Livro Verde
Relevo ainda que a centralidade e a dimensatildeo atlacircntica dos espaccedilos mariacutetimos sob
soberania ou jurisdiccedilatildeo nacional reforccedilam o papel-chave que Portugal podedeve
desempenhar no quadro da Uniatildeo Europeia como elemento de ligaccedilatildeo privilegiada aos
Paiacuteses Africanos de Liacutengua Oficial Portuguesa (PALOP) bem como ao continente
americano e ao resto do Mundo A posiccedilatildeo geoestrateacutegica do espaccedilo mariacutetimo sob
soberania ou jurisdiccedilatildeo nacional impotildee ainda importantes desafios e responsabilidades
nas aacutereas da defesa nacional seguranccedila e vigilacircncia imigraccedilatildeo ilegal combate agrave
poluiccedilatildeo apoio agrave navegaccedilatildeo e salvaguarda da vida humana no mar mas engloba
tambeacutem um conjunto de oportunidades de desenvolvimento econoacutemico e de ligaccedilatildeo
entre as vaacuterias regiotildees do territoacuterio nacional
A mais-valia para Portugal da ENM eacute tornar o mar um projecto nacional Para
tal deve apostar numa abordagem integrada da governaccedilatildeo dos assuntos do mar que
pela primeira vez congregue os esforccedilos das diferentes tutelas dos agentes econoacutemicos
da comunidade cientiacutefica das organizaccedilotildees natildeo governamentais e tambeacutem da sociedade
civil Deste modo co-responsabiliza todos os actores para o aproveitamento do mar
como factor diferenciador do desenvolvimento econoacutemico e social valorizando e
preservando este valioso patrimoacutenio
O Estado tem um papel facilitador e promotor de condiccedilotildees de desenvolvimento
econoacutemico e social mas cabe agraves empresas e agrave sociedade civil o papel principal na
concretizaccedilatildeo dos objectivos que satildeo a razatildeo de ser da ENM A obtenccedilatildeo de resultados
tangiacuteveis soacute seraacute perceptiacutevel em algum casos a meacutediolongo prazo exigindo por isso
73
uma aposta raacutepida mas persistente nas aacutereas ligadas agrave educaccedilatildeo capacitaccedilatildeo de meios
humanos criaccedilatildeo e optimizaccedilatildeo de infra-estruturas e investigaccedilatildeo e desenvolvimento
51 Princiacutepios e objectivos
A proclamaccedilatildeo do mar como principal factor diferenciador e de identidade
nacional assumindo-o como prioridade estrateacutegica e um projecto nacional reclama a
existecircncia de uma visatildeo simultaneamente ambiciosa e realista crediacutevel e atraente
Pretendem-se criar as condiccedilotildees e mecanismos que possibilitem aos diversos
agentes desenvolver de forma equilibrada e articulada as muacuteltiplas actividades ligadas
ao mar tendo em vista a promoccedilatildeo da qualidade do ambiente marinho do crescimento
econoacutemico e a criaccedilatildeo de novos empregos e oportunidades122
A ENM permite a organizaccedilatildeo de planos de acccedilatildeo orientados para a mobilizaccedilatildeo a
educaccedilatildeo e a capacitaccedilatildeo de toda a sociedade portuguesa e dos seus parceiros
internacionais A ENM visa o aproveitamento e utilizaccedilatildeo sustentaacutevel e responsaacutevel do
oceano e das zonas costeiras e criaccedilatildeo de ferramentas de gestatildeo que tornem os processos
transparentes rigorosos e crediacuteveis
52 Pilares estrateacutegicos
As razotildees que tornam a formulaccedilatildeo a implementaccedilatildeo e a avaliaccedilatildeo da ENM um
enorme desafio satildeo de vaacuteria ordem a saber
- Em primeiro lugar a reconhecida falta de conhecimento de compreensatildeo e de
percepccedilatildeo quer devido agrave complexidade dos ecossistemas oceacircnicos e costeiros e do real
impacto e inerentes consequecircncias das actividades humanas quer devido agrave difiacutecil
avaliaccedilatildeo do potencial das actividades econoacutemicas que dificultam a tomada de decisatildeo
122
ENM 2006-2016 p 10
74
- Em segundo lugar a dificuldade verificada na partilha de responsabilidade pela
gestatildeo do oceano como recurso comum e espaccedilo tridimensional devido agrave
interdependecircncia e aos conflitos que se verificam entre as vaacuterias utilizaccedilotildees interesses
jurisdiccedilotildees e processos de gestatildeo
- Em terceiro lugar o oceano e as zonas costeiras representam hoje a niacutevel
mundial uma grande oportunidade para novas actividades econoacutemicas que face aos
avanccedilos tecnoloacutegicos recentes comeccedilam a orientar o seu interesse e acccedilatildeo para o mar
obrigando a novas formas de gestatildeo e de defesa e salvaguarda activa dos interesses
nacionais
Para que Portugal aproveite as oportunidades existentes e mitigue as dificuldades
as linhas orientadoras da ENM assentam em trecircs pilares estrateacutegicos
Estes satildeo os factores criacuteticos de sucesso ou seja aquilo que se torna indispensaacutevel
assegurar para valorizar definitivamente a importacircncia do mar como elemento
diferenciador projectando-o no futuro como um dos principais motores de
desenvolvimento do Paiacutes
A construccedilatildeo de uma economia mariacutetima proacutespera ao serviccedilo da qualidade de vida
e do bem-estar social e respeitando o ambiente tem de ser suportada pelos seguintes
pilares estrateacutegicos123
O conhecimento
O planeamento e o ordenamento espaciais
A promoccedilatildeo e a defesa activas dos interesses nacionais
No que concerne ao conhecimento utilizado aqui no seu sentido mais lato soacute
atraveacutes de uma aposta coerente e sustentada na investigaccedilatildeo cientiacutefica e no
desenvolvimento de novas tecnologias aplicadas ao oceano e agraves zonas costeiras eacute
possiacutevel criar uma base soacutelida para as decisotildees de governaccedilatildeo numa perspectiva de
desenvolvimento sustentaacutevel e de gestatildeo integrada Adicionalmente a formaccedilatildeo a
educaccedilatildeo a sensibilizaccedilatildeo a difusatildeo da informaccedilatildeo e o respectivo acesso bem como o
uso de indicadores objectivos de suporte agraves vaacuterias poliacuteticas sectoriais e intersectoriais
satildeo certamente os melhores factores de credibilidade e dinamizaccedilatildeo do investimento
puacuteblico e privado nas actividades relacionadas com o mar
123
ENM 2006-2016 p 12
75
O planeamento e o ordenamento espaciais satildeo as ferramentas de governaccedilatildeo
promovidas pelas entidades competentes indispensaacuteveis para assegurar uma visatildeo de
conjunto assente nos princiacutepios do desenvolvimento sustentaacutevel da precauccedilatildeo e da
abordagem ecossisteacutemica atraveacutes do levantamento e ordenamento de todas as
utilizaccedilotildees existentes e futuras permitindo dar suporte a uma gestatildeo verdadeiramente
integrada progressiva e adaptativa do oceano e da zona costeira e do desenvolvimento
das actividades associadas
A promoccedilatildeo e a defesa activas dos interesses nacionais obtecircm-se pelo
envolvimento empenhado e competente no acircmbito das relaccedilotildees bilaterais e
multilaterais prosseguidas atraveacutes da participaccedilatildeo cooperaccedilatildeo e contribuiccedilatildeo proacute-
activas nos diversos fora internacionais Mais uma vez estas acccedilotildees tecircm de ser
suportadas por uma estrutura de coordenaccedilatildeo que garanta a articulaccedilatildeo a niacutevel nacional
nas suas vertentes diplomaacutetica poliacutetica econoacutemica social ambiental cientiacutefica
tecnoloacutegica de defesa nacional e seguranccedila reforccedilando a imagem a soberania e a
identidade nacionais
O eventual insucesso das medidas ou acccedilotildees associadas a qualquer um destes trecircs
pilares estrateacutegicos condicionaraacute de forma significativa o desenvolvimento efectivo de
qualquer poliacutetica ligada ao oceano que integre de forma sustentaacutevel as vertentes
econoacutemica social e ambiental
53 Acccedilotildees e medidas
O estabelecimento e aplicaccedilatildeo de acccedilotildees e medidas que materializem os trecircs
pilares estrateacutegicos prioritaacuterios eacute fundamental para o sucesso das actividades
econoacutemicas onde se cruzam e renovam sectores tradicionais e sectores em
desenvolvimento como suporte essencial para a criaccedilatildeo de riqueza e melhoria do
crescimento coesatildeo social e qualidade de vida124
124
ENM 2006-2016 p 17
76
Soacute com uma ENM assente nestes alicerces seraacute possiacutevel alcanccedilar os objectivos
preconizados nas diferentes poliacuteticas nacionais nomeadamente nas seguintes aacutereas
Transportes
Apostando na competitividade dos portos nacionais e fomentando o transporte
mariacutetimo enquanto modo de transporte menos poluente Neste contexto importa
promover a articulaccedilatildeo do transporte mariacutetimo com outros modos de transporte
acrescentando valor atraveacutes de cadeias logiacutesticas bem como atraveacutes da implementaccedilatildeo
de instrumentos de normalizaccedilatildeo e simplificaccedilatildeo de procedimentos tais como a janela
uacutenica portuaacuteria125
Energia
Apostando nas energias renovaacuteveis contribuindo para a reduccedilatildeo da dependecircncia
energeacutetica externa e da emissatildeo de gases com efeito de estufa aproveitando os recursos
existentes no mar agilizando os procedimentos de licenciamento mobilizando e
atraindo investimento privado e apostando nas inovaccedilotildees tecnoloacutegicas que permitam
responder aos desafios da competitividade deste sector e ao desenvolvimento de uma
induacutestria que produza bens equipamentos e serviccedilos que potenciem o emprego as
exportaccedilotildees de equipamentos e tecnologia e a reconversatildeo de induacutestrias como por
exemplo as metalo-mecacircnicas e os estaleiros navais assegurando tambeacutem o melhor
conhecimento das aptidotildees geoloacutegicas do deep offshore nomeadamente para fins
energeacuteticos com origem foacutessil
Aquicultura e pescas
Assegurando a sustentabilidade da exploraccedilatildeo de recursos criando medidas que
tornem mais justa a distribuiccedilatildeo de rendimentos na cadeia de valor diversificando as
actividades econoacutemicas das comunidades piscatoacuterias implementando aacutereas marinhas
protegidas recuperando ecossistemas degradados reforccedilando o sistema de recifes
125
A janela uacutenica portuaacuteria garante que os agentes econoacutemicos passem a relacionar-se com cada porto
atraveacutes de um uacutenico canal electroacutenico uma espeacutecie de balcatildeo uacutenico virtual tendo a possibilidade de tratar
desta forma todos os processos administrativos para o despacho de mercadorias e navios Desta forma
ldquosimplifica-se os processos para melhor servir as empresasrdquo conforme referiu o ex-secretaacuterio de Estado
dos Assuntos Fiscais De acordo com Joatildeo Amaral Tomaz em 2005 ldquo99 por cento das mercadorias
importadas em Portugal chegaram pela via mariacutetimardquo O valor representa ldquoa entrada de 15000 navios o
que em termos de processo administrativo corresponde a 15 formulaacuterios e a cerca de 100 paacuteginas por
naviordquo No total satildeo quase ldquoum milhatildeo e quinhentas mil paacuteginas de papel que deveratildeo ser eliminadasrdquo
77
artificiais fomentando a investigaccedilatildeo e desenvolvimento em sistemas de aquicultura
offshore garantindo a sua rentabilidade econoacutemica e sustentabilidade ambiental
Defesa nacional e seguranccedila
Clarificando as atribuiccedilotildees aacutereas de intervenccedilatildeo e coordenaccedilatildeo das entidades do
Sistema de Autoridade Mariacutetima Intervindo na prevenccedilatildeo e combate agrave poluiccedilatildeo na
seguranccedila da navegaccedilatildeo e protecccedilatildeo e salvaguarda da vida humana no mar no acircmbito
dos sistemas nacionais para a busca e salvamento na fiscalizaccedilatildeo mariacutetima na
mitigaccedilatildeo de riscos naturais e no apoio agraves populaccedilotildees no acircmbito do Serviccedilo Nacional de
Protecccedilatildeo Civil
Ciecircncia tecnologia e inovaccedilatildeo
Investindo em recursos humanos qualificados projectos e infra-estruturas de
ciecircncia e tecnologia associadas ao oceano optimizando os recursos existentes
fomentando e reforccedilando a cooperaccedilatildeo e partilha de meios entre instituiccedilotildees e
participando activamente nas redes internacionais
Ambiente e conservaccedilatildeo da natureza
Assegurando o bom funcionamento e manutenccedilatildeo dos ecossistemas marinhos e
costeiros promovendo o conhecimento e protecccedilatildeo da biodiversidade marinha
recuperando habitats degradados e salvaguardando as aacutereas essenciais para a
conservaccedilatildeo e gestatildeo dos recursos vivos e natildeo vivos nomeadamente atraveacutes da criaccedilatildeo
de uma rede de aacutereas marinhas protegidas assegurando o combate e controlo da
poluiccedilatildeo incluindo o efeito das actividades humanas realizadas em meio terrestre sobre
o meio marinho combatendo e prevenindo a introduccedilatildeo de espeacutecies autoacutectones e
assegurando a monitorizaccedilatildeo global do estado de sauacutede do ambiente marinho
Educaccedilatildeo cultura e sensibilizaccedilatildeo
Inserindo nos programas escolares o tema oceano em todas as suas dimensotildees
promovendo a mediatizaccedilatildeo das actividades mariacutetimas junto da sociedade apostando
nos centros de interpretaccedilatildeo aquaacuterios oceanaacuterios e museus dedicados ao mar e
fomentando o ensino naval e naacuteutico a valorizaccedilatildeo do patrimoacutenio cultural subaquaacutetico e
a educaccedilatildeo ambiental
78
Turismo lazer desportos e naacuteutica de recreio
Valorizando o mar como diferenciador da oferta turiacutestica e estimulando as
actividades associadas ao mar que permitam a ocupaccedilatildeo de tempos livres o lazer e o
desporto desenvolvendo condiccedilotildees para um faacutecil e natural acesso ao mar promovendo
o turismo naacuteutico e oceacircnico atraveacutes da aposta na organizaccedilatildeo de provas desportivas
internacionais de grande prestiacutegio e em actividades mariacutetimo-turiacutesticas como a vela o
remo a canoagem o surf o mergulho e a observaccedilatildeo de aves e cetaacuteceos fomentando o
turismo associado agrave actividade da pesca tirando partido das importantes aacutereas naturais
classificadas existentes na nossa costa onde assumem um importante papel as Regiotildees
Autoacutenomas dos Accedilores e da Madeira para dinamizar o turismo de natureza
promovendo o turismo de cruzeiros jaacute em franca expansatildeo no nosso paiacutes
Poliacutetica externa
Promovendo a centralidade atlacircntica de Portugal e as relaccedilotildees externas com outros
continentes nomeadamente as relaccedilotildees transatlacircnticas a desenvolver no acircmbito da
comunidade dos PALOP afirmando Portugal como o paiacutes mariacutetimo da Europa e
defendendo os interesses nacionais em todos os fora internacionais relevantes
Foram identificadas trecircs acccedilotildees prioritaacuterias126
que tendo em consideraccedilatildeo a
exigecircncia do contexto actual satildeo consideradas como sendo de implementaccedilatildeo de curto
prazo
Criar uma comissatildeo de coordenaccedilatildeo interministerial para a
implementaccedilatildeo da ENM E assim a articulaccedilatildeo intergovernamental dos assuntos
do mar seraacute desta forma garantida de modo permanente mantendo-se as
competecircncias e aacutereas de acccedilatildeo vertical e sectorial de cada tutela
Melhorar a articulaccedilatildeo e coordenaccedilatildeo das posiccedilotildees nacionais relativas
aos assuntos do mar nos diversos fora internacionais Esta eacute uma acccedilatildeo central
para afirmar Portugal como um paiacutes que defende de forma coerente os seus
interesses e assume a lideranccedila dos dossiers internacionais no que respeita aos
assuntos do mar
Assegurar o acompanhamento teacutecnico diplomaacutetico e poliacutetico da
discussatildeo puacuteblica sobre o Livro Verde da Poliacutetica Mariacutetima Europeia e do
126
ENM 2006-2016 p18
79
processo subsequente durante o qual eacute fundamental que o Paiacutes se mobilize de
forma a garantir que Portugal se mantenha na vanguarda da nova abordagem aos
assuntos do mar ao niacutevel europeu atraveacutes de uma participaccedilatildeo esclarecida
eficaz e abrangente
Atenta agrave natureza marcadamente horizontal da ENM definiram-se um conjunto de
acccedilotildees estrateacutegicas que identificam medidas transversais que contribuem para criar
condiccedilotildees favoraacuteveis para o melhor aproveitamento do mar de forma sustentaacutevel A
implementaccedilatildeo destas acccedilotildees articuladas com as restantes estrateacutegias nacionais
permitiraacute operacionalizar os pilares estrateacutegicos definidos anteriormente acrescentando
valor agraves acccedilotildees actualmente em curso e contribuindo para o objectivo central de definir
o mar como um ldquoprojecto nacionalrdquo
Foram assim seleccionadas oito acccedilotildees estrateacutegicas127
a saber
A sensibilizaccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo da sociedade para a importacircncia do mar
A promoccedilatildeo do ensino e divulgaccedilatildeo nas escolas de actividades ligadas ao
mar
A promoccedilatildeo de Portugal como um centro de excelecircncia de investigaccedilatildeo
das ciecircncias do mar da Europa
O planeamento e ordenamento espacial das actividades
A protecccedilatildeo e recuperaccedilatildeo dos ecossistemas marinhos
O fomento da economia do mar
A aposta nas novas tecnologias aplicadas agraves actividades mariacutetimas
A defesa nacional a seguranccedila a vigilacircncia e a protecccedilatildeo dos espaccedilos
mariacutetimos sob soberania ou jurisdiccedilatildeo nacional
A proposta da Estrateacutegia Nacional para o Mar foi aprovada na generalidade em
Conselho de Ministros a 4 de Outubro de 2006 A Estrateacutegia Nacional para o Mar
assume-se como um documento dinacircmico aberto aos ajustamentos que a evoluccedilatildeo das
suas condicionantes e a avaliaccedilatildeo da sua execuccedilatildeo vierem a recomendar Vigora no
periacuteodo de 2006 a 2016 ano em que deveraacute ser sujeita a uma revisatildeo global com base
num processo de avaliaccedilatildeo e discussatildeo puacuteblica
127
ENM 2006-2016 pp 22-23
80
Relativamente agrave ENM tenho a comentar que depois da anaacutelise efectuada reparei na
inexistecircncia de um programa de acccedilatildeo efectivo (prazos orccedilamentaccedilatildeo parcerias
instrumentos financeiros ao dispocircr etc) anexo agrave poliacutetica nacional para o mar Natildeo
obstante a ratificaccedilatildeo do Conselho de Ministros da ENM esta Estrateacutegia sugere que
cabe agrave sociedade civil e agrave iniciativa privada o papel principal na concretizaccedilatildeo dos
objectivos da Estrateacutegia sendo o Estado relegado para um papel de mero facilitador
Satildeo de facto os stakeholders os principais responsaacuteveis pela implementaccedilatildeo da
Estrateacutegia mas teraacute de ser o Estado a criar as condiccedilotildees favoraacuteveis para o iniacutecio deste
novo ciclo A ver pelas oito acccedilotildees estrateacutegicas propostas a sua boa execuccedilatildeo tem no
Estado o seu principal responsaacutevel Soacute com um Estado determinado e perseverante a
acccedilatildeo estrateacutegica pode ser verdadeiramente ldquolanccedilada ao marrdquo
No entanto percebemos que nos discursos oficiais nomeadamente de Sua
Excelecircncia o Presidente da Repuacuteblica Professor Aniacutebal Cavaco Silva os assuntos do
mar estatildeo na ordem do dia conforme constatei nos excertos do seu discurso128
na
Assembleia da Repuacuteblica durante a 36ordf Sessatildeo Comemorativa do 25 de Abril de 2010
(hellip)ldquoTemos de repensar a nossa relaccedilatildeo com o mar Repensar o modo como
exploramos as oportunidades que ele nos oferece Importa afirmar a ideia de que o mar
eacute um activo econoacutemico maior do nosso futurordquo (hellip)rdquoAgraves vantagens decorrentes da nossa
geografia da Histoacuteria e da imagem externa do Paiacutes podemos ainda juntar as
estrateacutegias e poliacuteticas para o mar desenhadas nos uacuteltimos seis anos em Portugal e na
proacutepria Uniatildeo Europeia Natildeo eacute necessaacuterio fazer mais estudos e relatoacuterios Basta agir
em cumprimento daquelas estrateacutegiasrdquo (hellip) ldquoEacute essencial que criemos condiccedilotildees e
incentivemos os agentes econoacutemicos a investir no conjunto dos sectores que ligam
economicamente Portugal ao marhellipPortugal e os Portugueses precisam de desiacutegnios
que lhes decircem mais coesatildeo mais auto-estima e mais propoacutesito de existir O mar eacute
certamente um delesrdquo (hellip)
128
Este discurso pode ser consultado na integra no site oficial da Presidecircncia da Repuacuteblica Portuguesa
httpwwwpresidenciaptidc=22ampidi=39445
81
54 O Hypercluster da economia do mar
ldquoUm domiacutenio de potencial estrateacutegico para o desenvolvimento da economia
portuguesardquo
Dentro das poliacuteticas mariacutetimas nacionais natildeo posso deixar de enaltecer o estudo de
economia poliacutetica realizado pela equipa multi-disciplinar da SaeR ndash Sociedade de
avaliaccedilatildeo estrateacutegica e risco Lda ndash denominado Hypercluster da Economia do Mar129
sob a coordenaccedilatildeo do ex-ministro das Financcedilas Professor Ernacircni Lopes por iniciativa
da Associaccedilatildeo Comercial de Lisboa Trata-se de uma obra de referecircncia cuja leitura
considero indispensaacutevel a todos aqueles (decisores poliacuteticos empresaacuterios acadeacutemicos e
sociedade civil) que estatildeo empenhados em deixar aos seus descendentes um paiacutes
diferenciado internacionalmente relevante e seguramente mais proacutespero
O estudo propriamente dito estaacute dividido em trecircs partes primeira parte ndash a
fundamentaccedilatildeo segunda parte ndash a avaliaccedilatildeo estrateacutegica das componentes e a visatildeo de
conjunto terceira parte ndash a estrateacutegia e os planos de acccedilatildeo
O estudo confronta-nos com o facto amplamente demonstrado de que a economia
portuguesa estaacute a sofrer uma descontinuidade nos seus padrotildees de modernizaccedilatildeo e nos
seus modelos de desenvolvimento e a anaacutelise prospectiva da economia nacional conduz
a um cenaacuterio espontacircneo de definhamento e agrave necessidade de se caminhar para um
cenaacuterio de afirmaccedilatildeo estrateacutegica para Portugal
O hypercluster configura-se como simultaneamente uma forccedila propulsora e um
catalisador capaz de organizar e dinamizar um conjunto de sectores com elevado
potencial de crescimento e inovaccedilatildeo e capacidade para atraiacuterem recursos e
investimentos de qualidade nomeadamente externos
Segundo o estudo a economia do mar representa hoje apenas 2 do PIB e gera
cerca de 75000 empregos o que eacute considerado muito abaixo do seu potencial face ateacute a
comparaccedilotildees internacionais com paiacuteses ou regiotildees proacuteximas O efeito multiplicador de
28 configura estas actividades como geradoras fortes de valor acrescentado admitindo-
129
Hypercluster do Mar - httpwwwsaerptupUPLOADbin2_imagem_0955656001242642284-657pdf
82
se que possam vir a representar em 2025 directamente cerca de 45 do PIB valor
que sobe para 10 a 12 englobando os valores indirectos
Haveraacute assim que criar nas palavras inspiradoras do Professor Ernacircni Lopes um
novo desiacutegnio nacional tornar Portugal num actor mariacutetimo relevante a niacutevel global
na viragem do I para o II quartel do seacuteculo XXI130
O estudo propotildee por fim um masterplan distribuiacutedo por quatro plataformas
diferentes de planos e acccedilotildees a saber
1) Planos prioritaacuterios
Englobando os componentes com maiores condiccedilotildees de atractividade e
competitividade e capacidades para servirem de motores catalisadores e formatadores
sisteacutemicos do conjunto (portos logiacutestica amp transportes mariacutetimos naacuteutica de recreio amp
turismo naacuteutico pesca aquicultura amp induacutestria do pescado visibilidade comunicaccedilatildeo
amp cultura mariacutetima e produccedilatildeo de pensamento estrateacutegico)
2) Planos de sustentaccedilatildeo imediata
Englobando os componentes fundamentais para o bom funcionamento da ldquolinha da
frenterdquo (serviccedilos mariacutetimos construccedilatildeo amp reparaccedilatildeo navais e obras mariacutetimas)
3) Planos de alimentaccedilatildeo
Englobando os componentes criadores de consistecircncia e sustentabilidade a longo
prazo com papel regenerador e inovador do conjunto (investigaccedilatildeo cientiacutefica inovaccedilatildeo
amp desenvolvimento ensino amp formaccedilatildeo defesa amp seguranccedila no mar e ambiente amp
conservaccedilatildeo da natureza)
4) Plano meta-oceano (prospectivo e de longo prazo)
O estudo propotildee tambeacutem algumas medidas consideradas determinantes no caminho
criacutetico para o sucesso da implementaccedilatildeo deste projecto Como por exemplo a criaccedilatildeo do
Foacuterum Empresarial da Economia do Mar131
(FEM)
130
Referecircncia feita no website da SaeR pelo coordenador no estudo sobre o Hypercluster da economia do
Mar Professsor Doutor Ernacircni Lopes
httpwwwsaerptindexphplop=conteudoampop=f7177163c833dff4b38fc8d2872f1ec6ampid=c24cd76e1ce
41366a4bbe8a49b02a028 131
Foacuterum Empresarial da Economia do Mar - httpwwwfempt
83
O FEM conheceu recentemente a sua constituiccedilatildeo estatutaacuteria conta no momento
com o Eng Fernando Ribeiro e Castro na qualidade de secretaacuterio-geral e estaacute
organizado de acordo com as componentes da economia do mar do hypercluster
apresentado
Por conseguinte originou a formaccedilatildeo de vaacuterios grupos de trabalho com o objectivo
principal de concretizar as linhas de acccedilatildeo previstas nos planos prioritaacuterios pondo
assim em marcha o Hypercluster da Economia do Mar em Portugal Actualmente
fazem parte do FEM cinquenta e oito empresas nacionais
55 Plano de Ordenamento do Espaccedilo Mariacutetimo (POEM)132
The problems of ocean space are closely interrelated and need to be considered as
a whole 133
O ordenamento do espaccedilo mariacutetimo eacute um instrumento fundamental da PMIE
Permite agraves autoridades puacuteblicas e agraves partes interessadas coordenarem a acccedilatildeo
respectiva e optimiza a utilizaccedilatildeo do espaccedilo marinho beneficiando o desenvolvimento
econoacutemico do meio marinho134
No acircmbito do Plano de Acccedilatildeo da ENM Resoluccedilatildeo do Conselho de Ministros nordm
1632006 de 12 de Dezembro foi aprovado um Programa de Acccedilatildeo que integra entre
outros o ldquoPlaneamento e ordenamento do espaccedilo e actividades mariacutetimasrdquo que prevecirc o
desenvolvimento de um POEM Este plano tem como objectivo ordenar os usos e
actividades do espaccedilo mariacutetimo presentes e futuros em estreita articulaccedilatildeo com a
132
Plano de Ordenamento do Espaccedilo Mariacutetimo - httppoeminagpt 133
ldquoOs problemas do espaccedilo mariacutetimo estatildeo estreitamente inter-relacionados e devem ser considerados
como um todordquo Preacircmbulo da Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas sobre o Direito do Mar (UNCLOS)
Adoptada em 1982 entrou em vigor em 1994 A Comunidade Europeia e todos os Estados-Membros da
UE satildeo Partes na UNCLOS 134
COM (2008) 791 final ldquoRoteiro para o ordenamento do espaccedilo mariacutetimo definiccedilatildeo de princiacutepios
comuns na EUrdquo p 2
84
gestatildeo da zona costeira garantindo a utilizaccedilatildeo sustentaacutevel dos recursos a sua
preservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo potenciando a utilizaccedilatildeo eficiente do espaccedilo marinho no
quadro de uma abordagem integrada e intersectorial e fomentando a importacircncia
econoacutemica ambiental e social do mar
Tendo presente que os instrumentos de gestatildeo territorial existentes a niacutevel nacional
tecircm um enfoque essencialmente na vertente terrestre natildeo contemplando a vertente
mariacutetima ou natildeo considerando o acircmbito multidimensional do mar isto eacute o fundo a
coluna de aacutegua a superfiacutecie o litoral e a atmosfera importa encontrar forma de regular
esta mateacuteria de forma coerente e articulada
Assim atraveacutes do Despacho nordm 322772008 da CIAM de 18 de Dezembro e
considerando o disposto no nordm 2 do artigo 38ordm do Decreto-Lei nordm 38099 de 22 de
Setembro na redacccedilatildeo dada pelo Decreto-Lei nordm 462009 de 20 de Fevereiro foi
determinada a elaboraccedilatildeo do Plano de Ordenamento do Espaccedilo Mariacutetimo
O POEM como plano sectorial deveraacute estabelecer e justificar as opccedilotildees e os
objectivos sectoriais com incidecircncia territorial e definir normas de execuccedilatildeo integrando
as peccedilas graacuteficas necessaacuterias agrave representaccedilatildeo da respectiva expressatildeo territorial e seraacute
acompanhado por um relatoacuterio que procede ao diagnoacutestico da situaccedilatildeo territorial sobre a
qual interveacutem e agrave fundamentaccedilatildeo teacutecnica das opccedilotildees e objectivos estabelecidos
O desenvolvimento deste plano considera como documento orientador a
Comunicaccedilatildeo da Comissatildeo Europeia denominado ldquoRoteiro para o ordenamento do
espaccedilo mariacutetimordquo
Visatildeo
ldquoEspaccedilo Mariacutetimo diferenciador da identidade nacional sustentaacutevel ordenado e
seguro suporte de actividades socioeconoacutemicas e potenciador de recursos assente no
conhecimento na inovaccedilatildeo e na especificidade geograacuteficardquo
Missatildeo
ldquoAfirmar a importacircncia econoacutemica ambiental e social do Mar assente na
promoccedilatildeo do conhecimento dos recursos naturais e das actividades existentes e
potenciais e no ordenamento integrado e gestatildeo adaptativa dos usos que se desenvolvem
no espaccedilo mariacutetimo em estreita articulaccedilatildeo com a gestatildeo da zona costeira com o
85
normativo internacional comunitaacuterio e nacional e demais instrumentos de planeamento
sectorial e de gestatildeo do territoacuterio envolvendo os diferentes actores e agentesrdquo
Discussatildeo Puacuteblica
A Proposta do Plano de Ordenamento do Espaccedilo Mariacutetimo (POEM) e o respectivo
Relatoacuterio Ambiental encontram-se concluiacutedos tecnicamente e aprovados pela respectiva
Equipa Multidisciplinar Nos termos previstos do artigo 40ordm do Decreto-Lei nordm 38099
de 22 de Setembro na sua actual redacccedilatildeo faz-se saber que a Discussatildeo Puacuteblica do
POEM decorre entre o periacuteodo de 29 de Novembro de 2010 a 22 de Fevereiro de 2011
56 Programa ldquoPolis do Litoralrdquo
ldquoOperaccedilotildees integradas de requalificaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo da orla costeirardquo
Como verificamos no Livro Verde as zonas costeiras assumem uma importacircncia
estrateacutegica em termos ambientais econoacutemicos sociais e culturais
A resoluccedilatildeo dos seus problemas ndash designadamente o controlo dos processos
erosivos da ocupaccedilatildeo urbana de zonas de risco da destruiccedilatildeo de habitats e a perda de
biodiversidade e do decliacutenio das actividades econoacutemicas ndash revela-se prioritaacuteria no
acircmbito de uma poliacutetica de desenvolvimento sustentaacutevel implicando um equiliacutebrio e
interacccedilatildeo indispensaacuteveis entre a conservaccedilatildeo dos recursos naturais e o
desenvolvimento socioeconoacutemico de cada regiatildeo
No acircmbito da poliacutetica integrada para as zonas costeiras o XVII Governo
Constitucional determinou em Resoluccedilatildeo do Conselho de Ministros 902008 de 3 de
Junho a realizaccedilatildeo de um conjunto de operaccedilotildees de requalificaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo de
zonas de risco e de aacutereas naturais degradadas situadas no litoral em espaccedilos de
intervenccedilatildeo prioritaacuteria designadas Polis Litoral
86
Os objectivos impliacutecitos agraves respectivas intervenccedilotildees passam pelas seguintes
medidas
Proteger e requalificar a zona costeira tendo em vista a defesa da costa a
promoccedilatildeo da conservaccedilatildeo da natureza e biodiversidade a renaturalizaccedilatildeo e a
reestruturaccedilatildeo de zonas lagunares e a preservaccedilatildeo do patrimoacutenio natural e
paisagiacutestico no acircmbito de uma gestatildeo sustentaacutevel
Prevenir e defender pessoas bens e sistemas de riscos naturais
Promover a fruiccedilatildeo puacuteblica do litoral suportada na requalificaccedilatildeo dos
espaccedilos balneares e do patrimoacutenio ambiental e cultural
Potenciar os recursos ambientais como factor de competitividade atraveacutes
da valorizaccedilatildeo das actividades econoacutemicas ligadas aos recursos do litoral e
associando-as agrave preservaccedilatildeo dos recursos naturais
De momento estatildeo identificadas quatro aacutereas territoriais ldquopolisrdquo a saber litoral do
Norte135
litoral da Ria de Aveiro136
litoral da Ria Formosa137
e o litoral da Costa
Vicentina Abrangem no seu conjunto 308 km de frente costeira 220 km de frentes
lagunares e estuarinas a financiar pelo Estado municiacutepios entidades privadas e com
recurso a fundos comunitaacuterios no acircmbito do Quadro de Referecircncia Estrateacutegico Nacional
(QREN) totalizando um orccedilamento global na ordem dos 3225 milhotildees de euros
135
wwwpolislitoralnortept 136
wwwpolisriadeaveiropt 137
wwwpolislitoralriaformosapt
87
Cap VI ndash Agenda Regional do Mar (Norte de Portugal)
61 Pacto regional para a competitividade da regiatildeo ldquoNorte 2015rdquo
A regiatildeo Norte de Portugal possui uma grande tradiccedilatildeo mariacutetima e uma forte
ligaccedilatildeo ao mar que conheceu diferentes formas de expressatildeo ao longo dos tempos Na
eacutepoca das primeiras descobertas (a partir do seacuteculo XV) o Porto e a sua regiatildeo
participaram activamente na construccedilatildeo de embarcaccedilotildees e no fornecimento de homens
para incorporar as respectivas guarniccedilotildees Nos seacuteculos seguintes o comeacutercio mariacutetimo e
o aparecimento de uma burguesia comercial com intensas relaccedilotildees com o norte da
Europa constituiacuteram a base de desenvolvimento da economia desta cidade e sua regiatildeo
No final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX o transporte mariacutetimo possibilitou a
saiacuteda de importantes fluxos migratoacuterios em direcccedilatildeo ao Brasil e mais recentemente a
pesca (em especial a pesca do bacalhau) e a induacutestria transformadora marcaram em
termos sociais e econoacutemicos os espaccedilos litorais da regiatildeo
No presente assiste-se ao aparecimento de novas actividades emergentes com forte
ligaccedilatildeo ao mar nos campos econoacutemico cientiacutefico e do lazer
A regiatildeo Norte deteacutem um importante patrimoacutenio natural (por exemplo rede natura
do Litoral Norte) e cultural tangiacutevel (por exemplo arquitectura militar civil e religiosa)
e intangiacutevel (tradiccedilotildees e costumes) ao longo da sua zona costeira com destaque para os
municiacutepios de Espinho Porto Matosinhos Vila do Conde Poacutevoa de Varzim e Viana do
Castelo Este patrimoacutenio estaacute disperso carecendo de valorizaccedilatildeo e de promoccedilatildeo A
regiatildeo apresenta ainda um conjunto de centros vocacionados para a divulgaccedilatildeo
cientiacutefica e da temaacutetica mar de que constituem exemplos a Estaccedilatildeo Litoral da Aguda138
em Gaia o projecto Rosa-dos-Ventos em Vila do Conde a Lancha Poveira 139
na Poacutevoa
de Varzim a Fundaccedilatildeo Gil Eannes140
em Viana do Castelo e o AquaMuseu do rio
Minho141
em Vila Nova de Cerveira entre outros
138
Estaccedilatildeo Litoral da Aguda - httpwwwfundacao-elapt 139
Lancha Poveira - httpwwwpovoadevarzimcomptlanchapoveiraphp 140
Fundaccedilatildeo Gil Eannes - wwwfundacaogileannespt 141
AquaMuseu do rio Minho- httpaquamuseucm-vncerveirapt
88
O Conselho Regional e a Comissatildeo de Coordenaccedilatildeo e Desenvolvimento Regional
do Norte (CCDR-N) definiram uma estrateacutegia de desenvolvimento regional designada
por ldquoNORTE 2015 ndash Uma Regiatildeo Um Futuro Uma Estrateacutegiardquo e dentro desta tem
vindo a promover um conjunto de agendas temaacuteticas consideradas prioritaacuterias
constituindo o ldquopacto regional para a competitividade da regiatildeo do Norterdquo Entre elas e
relevante para o trabalho em questatildeo eacute a Agenda Regional do Mar - Plano de Acccedilatildeo
ldquoMarrdquo
A Agenda Regional do Mar e o seu plano de acccedilatildeo tem como objectivo geral
ldquovalorizar o recurso mar atraveacutes do desenvolvimento de um conjunto de actividades de
produtos e de serviccedilos que promovam o crescimento econoacutemico o emprego e a
internacionalizaccedilatildeo da regiatildeo apostando no reforccedilo da Investigaccedilatildeo Desenvolvimento
e Inovaccedilatildeo (IampDampI) marinha da formaccedilatildeo do empreendedorismo e da cooperaccedilatildeo de
forma a contribuir em condiccedilotildees de sustentabilidade para a competitividade da
Regiatildeo142
Em siacutentese este plano de acccedilatildeo ldquoMarrdquo justifica-se assim por um conjunto de
razotildees das quais destaco as seguintes
A existecircncia de uma zona costeira extensa e rica onde se concentra a
maior parte da populaccedilatildeo e da actividade econoacutemica da regiatildeo marcada pela
existecircncia de vaacuterios estuaacuterios de elevado valor ambiental paisagiacutestico e
econoacutemico que urge valorizar em condiccedilotildees de sustentabilidade
Permite uma aproximaccedilatildeo global e coordenada das actividades e saberes
que integram a temaacutetica mar bem como o desenvolvimento de relaccedilotildees de
complementaridade e a produccedilatildeo de efeitos de sinergia favoraacuteveis ao
desenvolvimento da regiatildeo
Permite desenvolver as estrateacutegias adequadas e a sua coordenaccedilatildeo no
sentido da adaptaccedilatildeo da regiatildeo aos efeitos das alteraccedilotildees climaacuteticas
Constitui uma oportunidade para parar ou diminuir a tendecircncia de perda
de biodiversidade que caracteriza a evoluccedilatildeo dos ecossistemas marinhos
Favorece o aproveitamento do potencial que algumas actividades ligadas
ao mar apresentam enquanto espaccedilos de empreendimento inovaccedilatildeo criaccedilatildeo de
142
Agenda Regional do Mar Plano de Acccedilatildeo ldquoMARrdquo 2007-2013 p 52
89
riqueza e de emprego qualificado que importa estimular do ponto de vista do
reforccedilo da competitividade e do emprego da regiatildeo
Contribui atraveacutes da iniciativa regional e das articulaccedilotildees possiacuteveis com
outras regiotildees portuguesas e com a EMAM para a consecuccedilatildeo da ENM
favorecendo a criaccedilatildeo de escala e o desenvolvimento de complementaridades
indispensaacuteveis agrave consecuccedilatildeo dessa estrateacutegia nacional
Contribui para o desenvolvimento da PMIE atraveacutes da assunccedilatildeo no
plano regional do conjunto de princiacutepios e de orientaccedilotildees que enquadram essa
estrateacutegia europeia
Reforccedila o papel da regiatildeo nos programas de cooperaccedilatildeo transfronteiriccedila
com a Galiza e de cooperaccedilatildeo transnacional no acircmbito do Espaccedilo Atlacircntico co-
financiados pelo FEDER em que a dimensatildeo mariacutetima ocupa uma posiccedilatildeo
relevante em ambos os programas
Contribui para a sensibilizaccedilatildeo da populaccedilatildeo em geral e especialmente
dos jovens para a temaacutetica mar
Apresenta um programa de fundos estruturais interessante para o periacuteodo
entre 2007 e 2013 que permite o lanccedilamento de iniciativas e investimentos para
o desenvolvimento no domiacutenio do mar
Eacute importante mencionar que a elaboraccedilatildeo do plano de acccedilatildeo ldquoMarrdquo assentou num
processo aberto agrave participaccedilatildeo de um alargado leque de actores de acircmbito regional e
nacional quer na fase de estudo quer durante a fase da sua implementaccedilatildeo Este plano
constitui tambeacutem um referencial central para os investimentos puacuteblicos e privados a ter
em consideraccedilatildeo no acircmbito das candidaturas ao Programa Operacional Regional do
Norte (ON2 ndash O Novo Norte) e aos Programas de Cooperaccedilatildeo (POCTEP e
POCTEA143
)
Neste ponto a Agenda Regional destaca-se da ENM pelo facto de estar enquadrada
a temaacutetica ldquoMarrdquo nestes programas operacionais podendo ser candidataacuteveis entidades
puacuteblicasprivadas da regiatildeo Norte de Portugal
143
POCTEP - Programa de Cooperaccedilatildeo Transfronteiriccedilo Espanha - Portugal
POCTEA - Programa de Cooperaccedilatildeo Transnacional do Espaccedilo Atlacircntico
90
Saliento que a regiatildeo Norte eacute no presente momento a uacutenica regiatildeo portuguesa
que apresenta uma estrateacutegia integrada para o Mar
Ora este plano de acccedilatildeo estimula tambeacutem o alargamento da dinacircmica de
cooperaccedilatildeo a outras regiotildees vizinhas como seja a regiatildeo Centro de Portugal e a regiatildeo
Autoacutenoma da Galiza e favorece assim o desenvolvimento de condiccedilotildees de
complementaridade e de escala indispensaacuteveis agrave afirmaccedilatildeo internacional do Noroeste
peninsular no domiacutenio do mar
62 Linhas estrateacutegicas de desenvolvimento144
Para o efeito foram delineadas dez linhas de desenvolvimento estrateacutegico para
consubstanciar o ldquoplano de acccedilatildeordquo Analisei-as cada uma per si tendo em conta o seu
objectivo e tipologias respectivas Passo a enumerar as dez linhas estrateacutegicas definidas
para a regiatildeo Norte que constam na Agenda do ldquoMarrdquo
1) Promover a conservaccedilatildeo a valorizaccedilatildeo e a gestatildeo dos ecossistemas costeiros e
das bacias hidrograacuteficas
O objectivo eacute o de fomentar o estudo dos ecossistemas costeiros e fluviais e
desenvolver medidas com vista agrave sua protecccedilatildeo recuperaccedilatildeo valorizaccedilatildeo e
ordenamento de forma a potenciar os seus usos de acordo com modelos de
sustentabilidade Os projectos e as acccedilotildees a desenvolver devem observar as orientaccedilotildees
estabelecidas pelas ldquoBases para a Estrateacutegia de Gestatildeo Integrada das Zonas Costeirasrdquo
2) Desenvolver novos produtos e promover a aplicaccedilatildeo de novas tecnologias ao
meio marinho
Esta linha tem em vista os desenvolvimentos futuros no campo das ciecircncias do mar
e da utilizaccedilatildeo do meio marinho atraveacutes de novos produtos e serviccedilos que resultaratildeo
certamente da aplicaccedilatildeo a este meio de conhecimento e de tecnologias da informaccedilatildeo e
da comunicaccedilatildeo Podem enquadrar-se no acircmbito desta linha estrateacutegica os projectos que
144
Agenda Regional do Mar Plano de Acccedilatildeo ldquoMARrdquo 2007-2013 p 54
91
visam o desenvolvimento de novos produtos resultantes da utilizaccedilatildeo de organismos
marinhos nomeadamente
Desenvolvimento de novos medicamentos e a promoccedilatildeo de instrumentos de
diagnoacutestico para monitorizaccedilatildeo na aacuterea da sauacutede
Desenvolvimento de novas teacutecnicas para conhecimento protecccedilatildeo
monitorizaccedilatildeo e gestatildeo do meio marinho a garantia de sustentabilidade das
pescas e da aquacultura
Desenvolvimento de novos tipos de materiais compoacutesitos e enzimas para a
induacutestria
3) Promover a qualidade e a valorizaccedilatildeo dos produtos da pesca e da aquicultura e
a seguranccedila alimentar
Nesta linha enquadram-se acccedilotildees que contribuam para o aprofundar do
conhecimento dos recursos vivos marinhos e do seu valor comercial acccedilotildees que
contribuam para o desenvolvimento e melhoramento de tecnologias de conservaccedilatildeo e
transformaccedilatildeo do pescado e da avaliaccedilatildeo do risco para a sauacutede puacuteblica e ainda acccedilotildees
de implementaccedilatildeo de processos de certificaccedilatildeo de origem de seguranccedila e de qualidade
de produtos da pesca e da aquacultura de modo a melhorar a imagem junto do
consumidor muitas vezes influenciada por produtos importados de qualidade inferior
aos produtos regionais
4) Desenvolver novas tecnologias de produccedilatildeo de peixes de bivalves e de outras
espeacutecies e a sustentabilidade da aquicultura
O objectivo desta linha estrateacutegica eacute o de promover o desenvolvimento de uma
aquicultura sustentaacutevel e fomentar a produccedilatildeo intensiva de espeacutecies alternativas agraves jaacute
largamente implantadas em todo o Sul da Europa nomeadamente a dourada e o robalo
evitando assim a saturaccedilatildeo do mercado e a competiccedilatildeo entre produtores O recurso a
espeacutecies alternativas (goraz linguado polvo entre outras) mais adaptadas a
temperaturas baixas permitiraacute conquistar novos mercados dado tratar-se de espeacutecies de
elevado valor comercial e cujas populaccedilotildees naturais tecircm vindo a diminuir
92
5) Promover o desenvolvimento do cluster ldquo conhecimento e economia do marrdquo
O objectivo desta linha de acccedilatildeo eacute o de reforccedilar a economia do mar contribuindo
para a modernizaccedilatildeo das actividades tradicionais nomeadamente as induacutestrias
mariacutetimas o apoio a actividades emergentes e o desenvolvimento de redes de
cooperaccedilatildeo entre empresas e instituiccedilotildees de Investigaccedilatildeo e Desenvolvimento (IampD)
orientadas para a transferecircncia de tecnologia e para o desenvolvimento da cadeia de
valor dos produtos da economia do mar Satildeo considerados prioritaacuterios os projectos que
promovam a densificaccedilatildeo das relaccedilotildees intra e intersectoriais e projectos que contribuam
para internacionalizaccedilatildeo da base produtiva regional
6) Reforccedilar a investigaccedilatildeo e desenvolvimento nas aacutereas das ciecircncias marinhas e
fomentar o empreendedorismo em actividades da economia do mar
Esta linha completa as anteriormente apresentadas constituindo o seu
desenvolvimento uma condiccedilatildeo necessaacuteria para a construccedilatildeo e consolidaccedilatildeo do cluster
regional para o mar O apoio a formaccedilotildees avanccediladas ao desenvolvimento de projectos
de investigaccedilatildeo nas aacutereas das ciecircncias e da economia do mar e ao fomento do
empreendedorismo eacute para esta Agenda uma indiscutiacutevel prioridade para o
desenvolvimento do seu plano de acccedilatildeo
Esta linha privilegia abordagens que integrem de forma dinacircmica as componentes
formativa investigaccedilatildeo incubaccedilatildeo e de aconselhamento e apoio financeiro ao
desenvolvimento de novos projectos e iniciativas empresariais e ainda ao acolhimento
de projectos empresariais externos que pela sua relevacircncia contribuam para o reforccedilo
das demais componentes
7) Apoiar o desenvolvimento do transporte mariacutetimo e a melhoria das condiccedilotildees de
seguranccedila mariacutetima e das infra-estruturas portuaacuterias
A localizaccedilatildeo de Portugal e da regiatildeo do Norte no Sul do Arco Atlacircntico Europeu
constitui uma posiccedilatildeo privilegiada por referecircncia agraves rotas mariacutetimas norte-sul e este-
oeste que importa potenciar As ldquoauto-estradasrdquo do mar e o short sea shipping
representam alternativas ao transporte rodoviaacuterio de mercadorias com reconhecidas
vantagens do ponto de vista ambiental e econoacutemico O porto de Leixotildees apresenta neste
contexto uma posiccedilatildeo relevante no que respeita agrave auto-estrada mariacutetima do Atlacircntico O
apetrechamento e a modernizaccedilatildeo dos portos da regiatildeo e a melhoria das suas
articulaccedilotildees com o hinterland de forma a favorecer a inserccedilatildeo nas cadeias
93
internacionais de transporte e a operaccedilatildeo nas melhores condiccedilotildees de seguranccedila
constituem objectivos importantes no acircmbito dos programas regionais do mar e dos
transportes
Adquirem especial relevacircncia os projectos do novo molhe e terminal de passageiros
do porto de Leixotildees bem como projectos que favoreccedilam a melhoria das condiccedilotildees de
seguranccedila das operaccedilotildees portuaacuterias No acircmbito desta linha estrateacutegica adquire especial
importacircncia a criaccedilatildeo do Poacutelo Mar do Parque de Ciecircncia e Tecnologia - Universidade
do Porto - que integraraacute e articularaacute as valecircncias de formaccedilatildeo e investigaccedilatildeo de
incubaccedilatildeo de empresas e de acolhimento empresarial e ainda uma funccedilatildeo de divulgaccedilatildeo
cientiacutefica
8) Valorizar o patrimoacutenio mariacutetimo regional a naacuteutica de recreio e o turismo
naacuteutico
Esta linha estrateacutegica contribui para a consolidaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo das estruturas
existentes e para a criaccedilatildeo de novos projectos que tenham por missatildeo a valorizaccedilatildeo e
interpretaccedilatildeo do patrimoacutenio e do conhecimento relacionado com as temaacuteticas do mar e
das comunidades mariacutetimas A valorizaccedilatildeo deste potencial em paralelo com a criaccedilatildeo e
desenvolvimento de um conjunto de condiccedilotildees de apoio agrave naacuteutica de recreio (uma rede
de marinas devidamente infra-estruturadas que disponibilizem serviccedilos de apoio agrave
naacuteutica geridas segundo um modelo empresarial) a criaccedilatildeo de um conjunto de produtos
de turismo naacuteutico e de turismo costeiro constituem as condiccedilotildees indispensaacuteveis agrave
valorizaccedilatildeo e aproveitamento do patrimoacutenio mariacutetimo que a regiatildeo possui Esta linha
estrateacutegica privilegia o desenvolvimento de projectos que promovam na sua elaboraccedilatildeo
e desenvolvimento o envolvimento das comunidades mariacutetimas das respectivas zonas
de forma a favorecer a emergecircncia e a diversificaccedilatildeo de actividades ligadas ao mar e a
criaccedilatildeo de novas oportunidades de emprego
9) Promover o desenvolvimento da educaccedilatildeo e da formaccedilatildeo nas aacutereas das ciecircncias
marinhas e da economia do mar de forma a favorecer a seguranccedila a qualificaccedilatildeo do
sector e a empregabilidade
O desenvolvimento da educaccedilatildeo e da formaccedilatildeo no domiacutenio do mar satildeo factores
chave para a empregabilidade para o reforccedilo do cluster do mar e seguranccedila mariacutetima
94
A presente linha estrateacutegica tem uma dimensatildeo transversal cruzando todas as
outras Linhas que compotildeem o Plano de Acccedilatildeo Tem por objectivo favorecer a
qualificaccedilatildeo de jovens e adultos em aacutereas de actividade directa e indirectamente ligadas
ao mar com especial incidecircncia na aacuterea da seguranccedila Neste sentido importa qualificar a
oferta formativa existente e reforccedilar a coordenaccedilatildeo entre a acccedilatildeo do Forpescas (Centro
de Formaccedilatildeo Profissional das Pescas) e de outras organizaccedilotildees que intervecircm na aacuterea da
formaccedilatildeo em actividades relacionadas com o mar (por exemplo formaccedilatildeo na aacuterea do
turismo) no sentido de adequar e ordenar a oferta formativa segundo as necessidades de
desenvolvimento que se colocam neste domiacutenio
10) Promover a cooperaccedilatildeo transfronteiriccedila e transnacional no domiacutenio do mar
A regiatildeo do Norte possui uma experiecircncia histoacuterica de cooperaccedilatildeo transfronteiriccedila
principalmente com a Galiza e de cooperaccedilatildeo transnacional especialmente no acircmbito
do Espaccedilo Atlacircntico do qual a CCDR-N eacute actualmente a Autoridade de Gestatildeo do
POCTEA O tema Mar eacute relevante para estes dois ldquoespaccedilosrdquo de cooperaccedilatildeo integrando
o corpo principal de objectivos dos respectivos Programas
No que respeita agrave cooperaccedilatildeo transfronteiriccedila com a Galiza foi criado sob a
iniciativa da CCDRN e da Xunta da Galicia um grupo de trabalho misto envolvendo
actores das duas regiotildees sob a coordenaccedilatildeo do CETMAR145
e do CIIMAR146
Foi desenvolvido um primeiro conjunto de projectos estruturantes de cooperaccedilatildeo
oportunamente candidatados ao Programa de Cooperaccedilatildeo Transfronteiriccedila Portugal-
Espanha em seis domiacutenios prioritaacuterios (qualidade do meio marinho recursos marinhos
sector alimentar biotecnologias e novos produtos construccedilatildeo e reparaccedilatildeo naval e
naacuteutica de recreio e por fim cultura e turismo)
145
Centro Tecnoloacutegico del Mar - Fundacioacuten CETMAR httpwwwcetmarorg 146
Centro Interdisciplinar de Investigaccedilatildeo Marinha e Ambiental httpwwwcimarorg
95
63 Modelo de governaccedilatildeo para a Agenda Regional do Mar
A coordenaccedilatildeo transversal de poliacuteticas e a articulaccedilatildeo entre vaacuterios niacuteveis de poder
coloca a questatildeo da concertaccedilatildeo e integraccedilatildeo de poliacuteticas ou seja a questatildeo da
governanccedila Este plano constitui um referencial de desenvolvimento estrateacutegico
dinacircmico que serve de base ao lanccedilamento e ao desenvolvimento de intervenccedilotildees no
domiacutenio do mar O plano de acccedilatildeo corporiza a ambiccedilatildeo de se constituir como
plataforma de suporte a um processo evolutivo aberto agrave participaccedilatildeo dos diferentes
actores e agrave coordenaccedilatildeo das suas intervenccedilotildees
Um dos aspectos essenciais para garantir a gestatildeo e regulaccedilatildeo do plano eacute a
existecircncia de informaccedilatildeo estrateacutegica que permita o conhecimento mais aprofundado do
mesmo e o acompanhamento das principais realizaccedilotildees
A gestatildeo estrateacutegica deste plano de acccedilatildeo eacute da responsabilidade de um comiteacute de
pilotagem presidido pela CCDR-N e constituiacutedo por um conjunto de instituiccedilotildees
puacuteblicas da regiatildeo Norte responsaacuteveis pelas principais aacutereas de poliacutetica relacionadas
com a temaacutetica e tambeacutem por entidades representativas dos espaccedilos litorais em
presenccedila O comiteacute de pilotagem seraacute um espaccedilo privilegiado de articulaccedilatildeo e de
coordenaccedilatildeo intersectorial e de articulaccedilatildeo territorial das diversas iniciativas e projectos
que teraacute como objectivo principal a responsabilidade de implementar o plano de acccedilatildeo e
a respectiva regulaccedilatildeo existente
64 Oceano XXI - Cluster do ldquoconhecimento e da economia do marrdquo
Ainda acerca das estrateacutegias regionais destaco o trabalho levado a cabo pela
plataforma ldquoOceano XXI ndash Associaccedilatildeo para o Conhecimento e Economia do Marrdquo que
tem como principal objectivo especiacutefico dinamizar o cluster do ldquoconhecimento e da
economia do marrdquo
Este cluster foi reconhecido pela Autoridade de Gestatildeo do Programa de factores de
Competitividade (COMPETE) no dia 27 de Julho de 2009 como Estrateacutegia de
96
Eficiecircncia Colectiva E por este facto importa ser referenciado neste trabalho dada a
importacircncia que vai seguramente ter a curto prazo nos projectos considerados ldquoacircncorardquo
para as regiotildees Centro e Norte de Portugal
Por outro lado o objectivo geral que orienta o desenvolvimento deste cluster
consiste em ldquovalorizar o recurso Mar atraveacutes do desenvolvimento de um conjunto de
actividades de produtos e de serviccedilos que promovam o crescimento econoacutemico o
emprego e a internacionalizaccedilatildeo da regiatildeo apostando no reforccedilo da IampDampI da
formaccedilatildeo do empreendedorismo e da cooperaccedilatildeo de forma a contribuir em condiccedilotildees
de sustentabilidade para a competitividade da regiatildeo147
rdquo
Este cluster sediado na regiatildeo Norte envolve um vasto e diversificado conjunto de
entidades representativas dos interesses regionais (Centro e Norte) e nacionais
pertencentes aos principais sectores do agregado econoacutemico subjacente agrave Estrateacutegia de
Eficiecircncia Colectiva tendo em vista a diversificaccedilatildeo da base econoacutemica regional
criando desta forma novas actividades e serviccedilos e fomentando o aparecimento de
mercados alternativos com maior valor econoacutemico o reforccedilo da competitividade e da
produtividade das induacutestrias do mar e o aumento do emprego qualificado
O cluster do ldquoconhecimento e da economia do marrdquo integra um conjunto
diversificado de sectores e de actividades
bull Pesca aquicultura salicultura e induacutestria transformadora da pesca
bull Actividades mariacutetimo-portuaacuterias e logiacutestica
bull Induacutestrias mariacutetimas
bull Induacutestrias transformadoras de suporte agraves actividades mariacutetimas (tecircxtil e vestuaacuterio
plaacutestico moldes madeira metalomecacircnica)
bull Cruzeiros naacuteutica de recreio e turismo mariacutetimo
bull Tecnologias da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo (TIC)
bull Roboacutetica submarina
bull Biotecnologia marinha
bull Energias renovaacuteveis
147
Oceano XXI Cluster do Conhecimento e da Economia do Mar httpwwwoceano21org
97
O cluster do ldquoconhecimento e da economia do marrdquo organiza-se segundo quatro
linhas prioritaacuterias de intervenccedilatildeo148
que estatildeo em consonacircncia com a visatildeo europeia dos
clusters mariacutetimos referida no Livro Verde (capiacutetulo II)
Linha Prioritaacuteria 1 ndash desenvolver a Investigaccedilatildeo amp Desenvolvimento das
Tecnologias de Informaccedilatildeo (IDTI) e apoiar o desenvolvimento de actividades
emergentes no domiacutenio da economia do mar
Linha Prioritaacuteria 2 ndash promover a qualidade e a valorizaccedilatildeo dos produtos da pesca
da aquicultura e de produtos marinhos e a seguranccedila alimentar
Linha Prioritaacuteria 3 ndash promover a modernizaccedilatildeo e a inovaccedilatildeo das induacutestrias
mariacutetimas do transporte mariacutetimo da actividade portuaacuteria e da logiacutestica
Linha Prioritaacuteria 4 ndash valorizar o patrimoacutenio mariacutetimo e o seu aproveitamento no
apoio ao desenvolvimento da naacuteutica de recreio e do turismo de natureza
No acircmbito da Estrateacutegia de Eficiecircncia Colectiva ndash cluster do ldquoconhecimento e da
economia do marrdquo ndash foram reconhecidos seis projectos acircncora que no seu conjunto
totalizam uma estimativa de investimento de 120 milhotildees de euros nos trecircs proacuteximos
anos (2010 - 2013) E satildeo os seguintes
Ecomare
Aquaacuterio dedicado agrave temaacutetica dos mares da Peniacutensula Ibeacuterica centro de recuperaccedilatildeo
de animais marinhos e laboratoacuterio oceanograacutefico da Universidade de Aveiro
Parque de Ciecircncia e Tecnologias do Mar da Universidade do Porto
Visa o desenvolvimento de acccedilotildees de IampD transferecircncia de tecnologias incubaccedilatildeo
de empresas acolhimento empresarial formaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo cientiacutefica O Poacutelo do Mar
permitiraacute que os empreendedores desenvolvam as suas investigaccedilotildees eou testem os
seus protoacutetipos em meio marinho
148
Oceano XXI Cluster do Conhecimento e da Economia do Mar httpwwwoceano21org
98
Consupesca
Com o objectivo especiacutefico de reduzir o consumo de combustiacutevel na frota da pesca
costeira e de arrasto
Panthalassa
Promover a seguranccedila alimentar e a sustentabilidade ambiental da produccedilatildeo da
transformaccedilatildeo e do consumo de pescado atraveacutes da implementaccedilatildeo de sistemas
integrados abrangendo toda a cadeia de produccedilatildeo que permitem para cada fase do
processo de fabrico desenvolver as melhores soluccedilotildees do ponto de vista ambiental e de
seguranccedila conferindo maior valor acrescentado aos produtos
Promoccedilatildeo e desenvolvimento do turismo naacuteutico e dos desportos naacuteuticos
Reforccedilo do turismo naacuteutico e dos desportos naacuteuticos em Portugal atraveacutes da
implementaccedilatildeo dos seguintes projectos
Construccedilatildeo do Terminal de Cruzeiros de Leixotildees tendo como objectivo reforccedilar a
posiccedilatildeo do Porto de Leixotildees no mercado do turismo de cruzeiros explorando a sua
localizaccedilatildeo no cruzamento de rotas entre o Atlacircntico nordeste e o Mediterracircneo e entre
as Caraiacutebas e a Europa
Construccedilatildeo do Centro de Mar em Viana do Castelo visando o desenvolvimento da
naacuteutica de recreio e dos desportos naacuteuticos e o reforccedilo da posiccedilatildeo de Viana do Castelo
como uma cidade da naacuteutica do Atlacircntico
Turismo Mariacutetimo de Natureza
Em especial na ilha da Morraceira (Figueira da Foz) e ilha das Berlengas (Peniche)
99
65 A Naacuteutica como factor de desenvolvimento regional
Como referi no capiacutetulo dedicado aos domiacutenios destacados pelo Livro Verde o
sector naacuteutico pode ter um papel importante no que concerne agrave protecccedilatildeo do legado
mariacutetimo e na sensibilizaccedilatildeo do puacuteblico No entanto as actividades naacuteuticas podem
desempenhar outras funccedilotildees vitais para a implementaccedilatildeo das poliacuteticas mariacutetimas
(regionais nacionais e europeias) e serem consideradas um activo gerador de emprego
de riqueza e bem-estar das populaccedilotildees
Pese embora que para se ter uma verdadeira identidade mariacutetima (hellip) ldquoeacute preciso
tempo para sentir o mar eacute algo que soacute se consegue com muito tempo eventualmente
com o tempo de uma vidardquo (hellip)149
Urge a necessidade de se formar geraccedilotildees que desde
cedo se familiarizem com o mar A praacutetica naacuteutica qualquer que seja a modalidade
permite despertar o interesse e consequentemente aproximar a populaccedilotildees jovens ao
mar
A este propoacutesito menciono o estudo do qual fui coordenador realizado pela
INTERCEacuteLTICA ndash Associaccedilatildeo Cultural Desportiva e Turiacutestica que coloca a Naacuteutica
como factor de desenvolvimento da regiatildeo Norte150
Este estudo estrateacutegico foi apoiado
pelo programa Operacional da Regiatildeo Norte (CCDR-N) com recurso ao FEDER
Numa primeira fase efectou-se um levantamentoinventaacuterio exaustivo ao sector
que incluiu diversos actores como a Autoridade Mariacutetima o Instituto Portuaacuterio e dos
Transportes Mariacutetimos os clubes as associaccedilotildees os portos de recreio as empresas de
animaccedilatildeo turiacutestica os operadores mariacutetimo-turiacutesticos o desporto escolar as federaccedilotildees
a induacutestria o comeacutercio e os serviccedilos naacuteuticos
O objectivo primeiro deste levantamento foi determinar a dimensatildeo do sector e qual
a sua importacircncia para com base na informaccedilatildeo obtida elaborar um plano estrateacutegico
que respondesse agraves reais necessidades e carecircncias do sector naacuteutico na regiatildeo Norte
Numa segunda fase foram elaboradas propostas de projectos que pudessem
futuramente ser enquadradas nas Agendas Regionais temaacuteticas do Turismo e do Mar e
consequentemente no QREN (2007-2013)
149
Discurso do Arqto Guilherme Guimaratildees nas comemoraccedilotildees oficiais do Dia Europeu do Mar 2010
(20 de Maio) a bordo do navio Gil Eannes em Viana do Castelo 150
Para mais informaccedilotildees sobre o Projecto Naacuteutica consultar o seguinte site
httpwwwprojectonauticacomindexphpseccao=nauticaampcontent=apresentacao
100
Foi apresentado um plano de acccedilatildeo com base nas propostas e recomendaccedilotildees que
datildeo estrutura a cinco eixos
Rede de infra-estruturas naacuteuticas
Assenta em trecircs medidas concretas a criaccedilatildeo dos centros coordenadores da
actividade naacuteutica aumento da capacidade instalada (massificaccedilatildeo da praacutetica) e na
qualificaccedilatildeo de serviccedilos
Dinamizaccedilatildeo turiacutestica
Estatildeo sintetizadas em trecircs itens criaccedilatildeo de pacotes naacuteuticos desenvolvimento de
empreendimentos turiacutesticos temaacuteticos e de serviccedilos de animaccedilatildeo naacuteutica
Dinamizaccedilatildeo da naacuteutica
Baseada em quatro medidas 1 ) Rede de equipamentos e actividades em bacias
hidrograacuteficas e albufeiras 2) Rede de prestadores de serviccedilos 3) Apetrechamento dos
agentes naacuteuticos 4) Formaccedilatildeo
Promoccedilatildeo e comunicaccedilatildeo
Essencialmente na estruturaccedilatildeo temaacutetica e ediccedilatildeo de material directoacuterio da naacuteutica
acccedilatildeo para a iniciaccedilatildeo agraves actividades naacuteuticas organizaccedilatildeo de eventos e criaccedilatildeo de
espaccedilos museoloacutegicos
Governacircncia
Com a aposta no conceito inovador de loja da naacuteutica (tipo loja do cidadatildeo) e no
estabelecimento de um observatoacuterio para o sector naacuteutico actualizaacutevel e disponiacutevel ao
puacuteblico
Estas propostas foram elaboradas com a intenccedilatildeo de promover projectos colectivos
que criem sinergias entre os diversos stakeholders do sector naacuteutico e que o capitalizem
econoacutemica social e ambientalmente tornando-o mais coeso e rumo a um
desenvolvimento sustentaacutevel
O Norte de Portugal deteacutem uma prodigiosa costa Atlacircntica e planos de aacutegua
interiores (rios lagos e zonas lacustres) singulares Trata-se sem duacutevida de um recurso
de inquestionaacutevel valor O desafio eacute tornaacute-lo um produto reconhecido e apeteciacutevel para
as populaccedilotildees residentes e em simultacircneo para os turistas
101
Conclusotildees
No decurso deste trabalho analisei a importacircncia do MAR para a Europa desde os
tempos dos descobrimentos ateacute agrave actualidade com a implementaccedilatildeo da PMIE Dada a
transversalidade do tema este trabalho aborda as componentes das poliacuteticas mariacutetimas
europeia nacional e regional (Norte de Portugal) Devo notar que este trabalho natildeo
pretende ser um estudo final eou conclusivo mas que possa ser considerado como ponto
de partida para posteriores aprofundamentos
Concluiacutedo este introacuteito passo a apresentar as conclusotildees finais
Como sabemos os oceanos ocupam dois terccedilos da aacuterea total do planeta Terra Esta
constataccedilatildeo permite desde logo concluir que as actividades mariacutetimas estatildeo longe de
atingir o seu potencial sisteacutemico
A histoacuteria da Europa particularmente a partir do periacuteodo medieval devido agrave sua
natureza geograacutefica em forma de peniacutensula e bem torneada pelo mar despoletou o
interesse dos europeus pelo desconhecido Por detraacutes do mare incognitum havia mitos e
lendas que uma vez superadas pela audaacutecia dos descobridores desencadearam uma
inovadora epopeia mariacutetima que culminou com a descoberta de rotas mariacutetimas culturas
civilizaccedilotildees e estabelecimento de intercacircmbios comerciais transnacionais Assim se
iniciou o processo de globalizaccedilatildeo atraveacutes do qual os portugueses tatildeo grande e valioso
contributo deram agrave Humanidade
Actualmente na Europa deparamo-nos com uma cenaacuterio econoacutemico preocupante
provocado essencialmente pela crise financeira mundial e constatamos que a Europa
natildeo consegue acudir a todas dificuldades dos Estados Membros perifeacutericos A Europa natildeo
pode estar soacute unida quando economicamente o ambiente eacute favoraacutevel e perante as
adversidades diminuir a sua solidariedade pondo em causa valores notaacuteveis como a
construccedilatildeo da Europa e a moeda uacutenica Para tal eacute vital restabelecer a unidade pois soacute
assim a UE pode lograr responder aos enormes desafios do seacuteculo XXI
Acredito que o que eacute urgente acima de tudo eacute unir os europeus O MAR sem sombra
de duacutevida dada a sua transversalidade e caso seja utilizado como denominador comum
aproximaraacute os europeus agraves instituiccedilotildees europeias desenvolveraacute a nossa euro ndashcidadania
e conduziraacute a um maior envolvimento dos concidadatildeos nas decisotildees europeias
102
Voltando ao tema do trabalho em anaacutelise reforccedilo mais uma vez que foi o presidente
da Comissatildeo Europeia o portuguecircs Joseacute Manuel Duratildeo Barroso que lanccedilou no iniacutecio do
seu mandato o processo de construccedilatildeo para uma verdadeira Poliacutetica Mariacutetima Integrada
Europeia
A PMIE tornou-se um instrumento exemplar de savoir faire da poliacutetica apoiada
numa estrateacutegica botton up permitindo que os europeus dessem o seu contributo e
participassem na sua implementaccedilatildeo A aplicaccedilatildeo desta poliacutetica tem como objectivos
melhorar a eficaacutecia da acccedilatildeo governamental no domiacutenio do mar e explorar melhor as
sinergias a fim de aumentar o crescimento econoacutemico e a sustentabilidade ambiental
tendo sempre presente a dimensatildeo social E assim poder ainda responder aos desafios
prementes da protecccedilatildeo do ambiente seguranccedila mariacutetima crescimento econoacutemico
emprego qualificado e contribuir tambeacutem para o bem-estar das populaccedilotildees
Esta ldquoeuroapostardquo mariacutetima cujo potencial esmiucei ao longo deste trabalho pode ser
decisiva e contribuir fortemente para a afirmaccedilatildeo da Europa no mundo Espero tambeacutem
que possa servir de exemplo a outras regiotildees do mundo de momento ainda
subdesenvolvidas mas que se apresentam com iacutendices de crescimento exponenciais
Em Portugal desde o seacuteculo XIV (D Joatildeo I) ateacute ao Estado Novo o cluster mariacutetimo
foi o nosso ldquocartatildeo de visitardquo no plano internacional Este apresentado como paradigma
incluiacutea a navegaccedilatildeo comercial a pesca longiacutenqua (pe o bacalhau) e a construccedilatildeo naval
que ombreava com os melhores construtores a niacutevel mundial Como prova da
demonstraccedilatildeo puacuteblica deste reconhecimento invoco a estatuaacuteria que enaltece os feitos
histoacutericos do navegadores portugueses como por exemplo D Sebastiatildeo em Lagos
Vasco da Gama em Sines Infante D Henrique no Porto e Londres (Belgrave Square)
Joatildeo Aacutelvares Fagundes em Viana do Castelo
Portugal integrado haacute vinte e cinco anos na Uniatildeo Europeia natildeo se conseguiu impocircr
nas questotildees mariacutetimas Perdeu uma boa oportunidade para tirar partido desta integraccedilatildeo
menosprezando os fundos comunitaacuterios para desenvolver o seu cluster mariacutetimo
chegando ateacute cair no esquecimento e ficar praticamente extinto no terceiro quartel do
seacuteculo XX
103
Foi lamentaacutevel esta inoperacircncia de Portugal junto da UE e vice-versa Ou seja nem
Portugal soube aproveitar os generosos fundos europeus para desenvolver o sector
mariacutetimo nem a UE soube aproveitar a mais-valia do know-how luso das actividades
mariacutetimas agrave semelhanccedila do que sucedeu com a Alemanha como paiacutes exportador por
excelecircncia e da Franccedila com a PAC
Talvez a explicaccedilatildeo para este desvio fosse a seduccedilatildeo dos portugueses pelos fundos
europeus para aplicar em novas aacutereas com resultados visiacuteveis e imediatos a curto prazo
e cujo retorno econoacutemico hoje ainda questionamos
A ldquodemocraciardquo voltou costas ao seu passado de seacuteculos ndash o MAR Diversos factores
do passado recente contribuiacuteram para esta situaccedilatildeo a saber a descolonizaccedilatildeo e o
sentimento generalizado de ruptura com a ideologia do Estado Novo (pois a sua
propaganda estava fortemente ligada ao domiacutenio mariacutetimo) E Portugal limitou-se apenas
a exercer o domiacutenio mariacutetimo aquando da adesatildeo nas 12 milhas mariacutetimas Portugal
focou-se no bloco terrestre contrariando assim o seu percurso natural e ancestral
ldquoSe Portugal sempre ignorou o mar sua agenda europeia natildeo o perspectivando
como um activo estrateacutegico ao interesse nacional tambeacutem a proacutepria UE se viu desde
sempre a si proacutepria como um bloco terrestre capitaneado pelo eixo continental traccedilado
ao longo de deacutecadas entre Paris e Bona do que como a potecircncia mariacutetima que tambeacutem eacute
O tratado de Roma eacute omisso quanto ao potencial dos oceanos e dos mares que circundam
a Europa para o processo de integraccedilatildeo europeia a politica comum de pescas nasce
tardia e gradualmente por analogia da PAC e os transportes mariacutetimos ficaram de fora
da politica europeia de transportes e logo da rede transeuropeia de transportes por muito
tempo praticamente ateacute ao Livro Branco dos Transportes de 2001rdquo151
Com o lanccedilamento da PMIE Portugal compreendeu a importacircncia da sua vocaccedilatildeo
mariacutetima para os assuntos europeus e finalmente tem uma estrateacutegia mariacutetima para
implementar no territoacuterio nacional decorrente da perspectiva europeia Esta atitude foi
reforccedilada pela actuaccedilatildeo do governo portuguecircs especialmente durante a Presidecircncia
Portuguesa da UE em 2007 onde Portugal deixou a sua griffe com a aprovaccedilatildeo da
poliacutetica mariacutetima europeia De novo Portugal e a Europa estatildeo agora voltados para o mar
151
Dr Tiago Pitta e Cunha (2010) art cit na Revista do Centro de Informaccedilatildeo Europeia Jacques Delors -
Europa Novas Fronteiras ndash Portugal ndash 25 Anos de Integraccedilatildeo Europeia nordm 2627 Lisboa Principia
p186
104
com uma visatildeo mais abrangente e integrada e em uniacutessono para os sectores ligados ao
mar Em consequecircncia destes acontecimentos a regiatildeo Norte de Portugal elaborou uma
Agenda para o mar e tem estruturas universitaacuterias a desenvolver actividades cientiacuteficas e
laboratoriais associadas agrave iniciativa privada que permitem dar uma nova visatildeo econoacutemica
ao mar
Para que Portugal cumpra o mar como desiacutegnio nacional eacute necessaacuterio iniciar-se um
novo ciclo que aproxime os portugueses do mar Exige-se uma nova vaga de fundo para
desenvolver a nossa cultura mariacutetima como jaacute tem sucedido em outros Estados membros
atraveacutes de um processo de enculturaccedilatildeo A formaccedilatildeo joga um papel determinante para o
sucesso deste objectivo Os planos curriculares das escolas e universidades portuguesas
podem ser o ponto de partida deste novo ciclo despertando o interesse nas camadas
jovens e influenciando-os para o gosto da nossa heranccedila mariacutetima permitindo vivenciar
e experienciar actividades de mar de modo a serem eles no futuro a capitalizarem as
potencialidades do mar
Se compararmos em termos de territoacuterio e de populaccedilatildeo com os parceiros europeus
verificamos que Portugal natildeo eacute um paiacutes pequeno estamos ao mesmo niacutevel de paiacuteses como
a Beacutelgica Repuacuteblica Checa Holanda Dinamarca Irlanda e Greacutecia Isto sem referir a
ZEE que em breve poderaacute catapultar o nosso paiacutes para o deacutecimo lugar do ranking
mundial de paiacuteses mariacutetimos
Como sabemos o ldquocentro de gravidaderdquo da Uniatildeo Europeia deslocou-se para leste
devido agrave entrada de novos Estados membros (alargamento a vinte e sete) E Portugal
atraveacutes da agenda europeia para o mar pode tornar-se apesar de ser um paiacutes perifeacuterico
um verdadeiro liacuteder nas poliacuteticas europeias
Voltando a questatildeo inicial A Poliacutetica Mariacutetima Europeia ndash uma poliacutetica feita agrave
medida de Portugal penso que apesar de jaacute termos dado alguns passos na integraccedilatildeo de
poliacuteticas mariacutetimas eacute no entanto imprescindiacutevel uma vontade poliacutetica perseverante que
afirme Portugal na Europa defenda a nossa heranccedila e salvaguarde o futuro do nosso paiacutes
Oxalaacute saibamos aproveitar este ldquooceanordquo de oportunidades
105
Fontes e bibliografia
Fontes
Documentos COM (Comunicaccedilotildees da Comissatildeo Europeia)
COM (2010) 494 final
UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Proposta de Regulamento do Parlamento
Europeu e do Conselho Europeu que estabelece um programa de apoio ao
aprofundamento da poliacutetica mariacutetima integrada Comissatildeo Europeia 2010
COM (2009) 540 final
UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu ao
Parlamento Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees
Relatoacuterio de progresso sobre a poliacutetica mariacutetima integrada da Uniatildeo Europeia
Comissatildeo Europeia 2009
COM (2009) 538 final
UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu ao
Parlamento Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees
Towards the integration of maritime surveillance A common information sharing
environment for the EU maritime domain Comissatildeo Europeia 2009
COM (2009) 536 final
UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu ao
Parlamento Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees
Desenvolver a dimensatildeo internacional da poliacutetica mariacutetima integrada da Uniatildeo
Europeia Comissatildeo Europeia 2009
106
COM (2009) 8 final
UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu ao
Parlamento Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees
Objectivos estrateacutegicos e recomendaccedilotildees para a poliacutetica comunitaacuteria de transporte
mariacutetimo no horizonte de 2018 Comissatildeo Europeia 2009
COM (2008) 791 final
UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo Roteiro para o ordenamento
do espaccedilo mariacutetimo definiccedilatildeo de princiacutepios comuns na EU Comissatildeo Europeia 2008
COM (2008) 395 final
UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu ao
Parlamento Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees
Orientaccedilotildees para uma abordagem integrada da poliacutetica mariacutetima rumo a melhores
praacuteticas de governaccedilatildeo mariacutetima integrada e de consulta das partes interessadas
Comissatildeo Europeia 2008
COM (2007) 575 final
UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu ao
Parlamento Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees
Uma poliacutetica mariacutetima integrada para a Uniatildeo Europeia Comissatildeo Europeia 2007
COM (2007) 574 final
UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu ao
Parlamento Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees
Conclusotildees da consulta sobre uma poliacutetica mariacutetima europeia Comissatildeo Europeia
2007
COM (2006) 275 final Volume I
UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho ao Parlamento
Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees Para uma
futura poliacutetica mariacutetima da Uniatildeo ndash uma visatildeo europeia para os oceanos e os mares
Comissatildeo Europeia 2006
107
COM (2006) 275 final Volume II
UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Livro Verde para uma futura poliacutetica
mariacutetima da Uniatildeo ndash uma visatildeo europeia para os oceanos e os mares Comissatildeo
Europeia 2006
COM (2006) 105 final
UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Livro Verde Estrateacutegia europeia para uma
energia sustentaacutevel competitiva e segura Comissatildeo Europeia 2006
COM (2005) 658 final
UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu e ao
Parlamento Europeu Reexame da Estrateacutegia em favor do desenvolvimento sustentaacutevel
Uma plataforma de acccedilatildeo Comissatildeo Europeia 2005
COM (2005) 505 final
UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Directiva do Parlamento Europeu e do
Conselho Europeu que estabelece um quadro de acccedilatildeo comunitaacuteria no domiacutenio da
poliacutetica para o meio marinho (Directiva ldquoestrateacutegia para o meio marinhordquo) Comissatildeo
Europeia 2005
COM (2005) 504 final
UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu e ao
Parlamento Europeu Estrateacutegia temaacutetica para a protecccedilatildeo e conservaccedilatildeo do meio
marinho Comissatildeo Europeia 2004
COM (2002) 511 final
UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo da Comissatildeo Europeu ao
Conselho e ao Parlamento Europeu Estrateacutegia de desenvolvimento sustentaacutevel da
aquicultura europeia Comissatildeo Europeia 2002
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Lancha Poveira
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Museu da Marinha
wwwmuseumarinhamuseusiteptpt (acedido 20 Agosto de 2010)
Nautisme Espace Atlantique 2
wwwnea2eu (acedido 14 de Janeiro de 2011)
ONU ndash Department of Economic and Social Affairs
httpwwwunorgesasustdevdocumentsWSSD_POI_PDEnglishPOITochtm (acedido 30
de Setembro de 2010)
Oceanaacuterio de Lisboa
wwwoceanariopt (acedido 20 Agosto de 2010)
Oceano XXI Cluster do Conhecimento e da Economia do Mar
httpwwwoceano21org (acedido 3 de Dezembro de 2010)
Parlamento Europeu
httpwwweuroparleuropaeufactsheets1_2_2_pthtm (acedido 9 de Novembro de 2010)
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httppoeminagpt (acedido 29 de Dezembro de 2010)
Polis Litoral Norte
wwwpolislitoralnortept (acedido 17 de Dezembro de 2010)
Polis Ria de Aveiro
wwwpolisriadeaveiropt (acedido 17 de Dezembro de 2010)
Polis Ria Formosa
wwwpolislitoralriaformosapt (acedido 17 de Dezembro de 2010)
Presidecircncia da Repuacuteblica Portuguesa
httpwwwpresidenciapt (acedido 10 de Janeiro de 2011)
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httpwwwprojectonauticacomindexphpseccao=nauticaampcontent=apresentacao
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Quadro de Referecircncia Estrateacutegico Nacional (QREN)
wwwqrenpt (acedido 14 de Janeiro de 2011)
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