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ANO 5 – NÚMERO 35 – MARÇO DE 2015 • PROFESSORES RESPONSÁVEIS: FLÁVIO RIANI & RICARDO RABELO
– EXPEDIENTE – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais: Grão-Chanceler – Dom Walmor Oliveira de Azevedo | Reitor – Professor Dom Joaquim Giovani Mol Guimarães | Vice-Reitora – Professora Patrícia Bernardes | Assessor Especial da Reitoria – Professor José Tarcísio Amorim | Chefe de Gabinete do Reitor – Professor Paulo Roberto Souza | Chefia do Departamento de Economia – Professora Ana Maria Botelho | Coordenação do Curso de Ciências Econômicas – Professora Ana Maria Botelho | Coordenação Geral – Professor Flávio Riani e Professor Ricardo F. Rabelo Instituto de Ciências Econômicas e Gerenciais: Prédio 14, sala 103 | Avenida Dom José Gaspar, 500 | Bairro Coração Eucarístico CEP: 30535-901 | Tel: 3319.4309 | www.pucminas.br/iceg/conjuntura | icegdigital@pucminas.br
1- CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Prof. Flávio Riani
Após um período de ajustes no valor dos chamados “ bens com preços administrados” a inflação
medida pelo IPCA atinge um patamar extremamente preocupante, mantendo-se, por dois períodos
consecutivos, níveis acima do teto máximo para ela estabelecido nas metas governamentais.
O grande risco nesse processo é o de que, com taxas de inflação elevadas, surjam pressões de toda
natureza por recomposição de preços, voltando-se ao perigoso processo de indexação na economia
brasileira.
Como se não bastasse os efeitos provocados pela correção dos preços administrados, a
desvalorização do real poderá ser também outro fator indutor da inflação via custos.
Tais fatores geraram situações nas quais são vários os setores que apresentam taxas acumuladas de
elevação de preços superiores à taxa média do IPCA apurado até fevereiro desse ano.
Apesar desses impactos iniciais a expectativa é a de que ao longo do ano haja uma tendência à
diminuição das taxas mensais que, de qualquer forma, ainda resultarão num índice acumulado superior ao
teto máximo estimado pelo governo.
A divulgação do PIB de 2014 possibilita analisar a profunda desaceleração da economia brasileira,
abrindo espaço para projeções sobre o nível de atividade esperado da economia em 2015.
O indicador relativo à produção industrial em janeiro de 2015, no entanto, suscita algumas
reflexões sobre uma possível recuperação da economia brasileira em 2015. Nesta carta registramos a
evolução deste processo, que dá mostras de um grande grau de volatilidade e muitas oscilações, tornando
as projeções sobre os próximos meses ainda mais complexas e desafiantes.
2- ELEVAÇÃO DOS PREÇOS ADMINISTRADOS FAZEM TAXAS DE INFLAÇÃO ACUMULADAS, MEDIDA PELO IPCA, SUPERAREM NOVAMENTE A META ESTABELECIDA. A taxa de inflação apurada pelo IPCA em fevereiro alcançou o patamar de 1,24%. Embora ela seja pouco inferior à de janeiro, percebe-se pelo gráfico 1 que ela superou em muito a taxa obtida no mesmo período do ano anterior quando alcançou 0,69%. O valor acumulado até fevereiro foi exatamente o dobro do apurado no mesmo período do ano anterior, contribuindo para que o valor acumulado nos últimos 12 meses superasse o teto máximo da meta de 6.5%.
1,220,69
1,24
2,48
1,24
7,70
6,50
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
fev/15 fev/14 jan/15Acum.2015 Acum.2014 Acum. 12
meses
Meta
máxima
Gráfico 1 - % IPCA
Fonte: IBGE
Em relação aos fatores que mais contribuíram para as variações no IPCA pode-se destacar três deles: primeiro os aumentos dos combustíveis cujos preços elevaram-se em 8,42% em fevereiro, refletindo o aumento no PIS/Confins, contribuindo para que o setor de transportes subisse 2,2%; outro fator explicativo do aumento da taxa de inflação em fevereiro foram os reajustes das mensalidades escolares que nos cursos regulares elevaram-se em aproximadamente 7,24%; por fim a alimentação e bebidas variou 0,81% índice esse inferior ao observado em janeiro. Apesar disso, o grupo alimentação fora de casa elevou-se em 0,95% pressionando a elevação agregada dos preços. De qualquer forma, os efeitos maiores provocados nos preços em fevereiro foram consequência das elevações observadas nos preços administrados. Conforme destaca a tabela 1, os itens que apresentaram maiores elevações nos últimos 12 meses foram os de energia elétrica, ônibus urbano e gasolina. No que se refere aos preços livres as carnes foram as que apresentaram maiores taxas de crescimento no período.
Tab. 1 - IPCA Selecionado
12 meses até fev.2015
Itens %
Administrados
Energia Elétrica 30,27
Ônibus Urbano 13,77
Gasolina 10,86
Preços Livres
Carnes 20,19
Empregado Doméstico 9,99
Refeição fora de casa 9,56
Fonte : IBGE
Quando se analisa a trajetória de crescimento dos preços medidos pelo IPCA e dos preços
administrados (cujos preços são controlados pelo governo) pelo gráfico 2 nota-se claramente o
controle feito pelo governo no período de 2014 até as eleições, na tentativa de
controlar a inflação. As consequências do represamento nesses valores recaíram sobre as finanças das empresas administradas e com impactos mais significativos na inflação de fevereiro após a recomposição dos preços.
0
2
4
6
8
10
12
jan/
14
fev/
14
mar
/14
abr/
14
mai
/14
jun/
14
jul/
14
ago/
14
set/
14
out/
14
nov/
14
dez/
14
jan/
15
fev/
15
Gráfico 2 - Evolução dos Índices de Preços e Metas do Governo para o IPCA
Administrados
IPCA
Teto máximo
Meta
Fonte: IBGE
Os gráficos 3,4 e 5 seguintes destacam o comportamento da inflação medida pelo IPCA nas regiões nas quais as variações de preços são apuradas. Eles mostram variações nos valores apurados nas regiões com destaque na permanência do Rio de Janeiro nos índices acumulados tanto no ano quanto nos últimos 12 meses.
1,66
1,22
0,57
00,20,40,60,8
11,21,41,61,8
Graf. 3 - IPCA Por RegiõesFev.2014 %
Fonte: IBGE
1,36
2,482,93
00,5
11,5
22,5
33,5
Graf. 4 IPCA por Regiões Acumulado em 2015 %
6,647,70
9,02
0
2
4
6
8
10
Graf. 5 - IPCA por RegiõesAcumulado 12 meses %
No que se refere aos grupos nos quais as variações de preços são apuradas, o gráfico 6
destaca as taxas do IPCA acumuladas em cada um deles nos últimos doze meses até fevereiro de
2015.
Nesse período os gastos com habitação apresentaram elevações de 11,31% muitos
superiores a média de crescimento dos preços cujo valor foi 7,7%, situação essa que pode ser
observada também em relação ao grupo Alimentação e Bebidas cujo crescimento atingiu 8,99%. O
fato dos preços nesses dois setores terem crescido em taxas acima da média do IPCA é
negativamente significativo em função da importância desses dois grupos nas despesas correntes
familiares.
-2
0
2
4
6
8
10
12
7,7
8,99
11,31
Gráf. 6 - IPCA por Grupos
Acumulado nos útimos 12 meses até fev.2015 %
3- Evolução da produção industrial: recuperação ou manutenção da volatilidade?
Prof. Ricardo F. Rabelo
De acordo com os últimos dados sobre produção industrial divulgados pelo IBGE, em
janeiro de 2015, a produção industrial brasileira acusou crescimento de 2,0% em relação a
dezembro de 2014, dando mostras de uma possível recuperação em 2015. Esse crescimento
resultou da expansão da produção em duas das quatro grandes categorias econômicas e em 13
dos 24 ramos pesquisados.
0,00
1,00
2,00
3,00
4,00
5,00
6,00
7,00
8,00
9,00
%
Ind
ústr
ia g
era
l
Extr
ati
vas
Tra
nsfo
rmação
Ali
men
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Têxti
l
Meta
lurg
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Info
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Mate
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Elé
tric
os
Máq
uin
as e
eq
tos
Fonte: IBGE Setores
Gráfico 7 - Produção Industrial Setores Janeiro 2015/Dezembro 2014
Os indícios de uma recuperação se revelam, em primeiro lugar, pelos setores, que podem
estar respondendo a processos de crescimento . O primeiro setor a destacar é o de produtos
alimentícios, que aumentou 3,9%, o que pode ter a ver com um aumento de demanda destes
produtos.
Outros setores com desempenho positivo se referem a atividades geralmente vinculadas ao
investimento como o de máquinas e equipamentos (7,6%), metalurgia (5,4%), indústrias
extrativas (2,1%) e máquinas, aparelhos e materiais elétricos (9,0%).
Esses setores são fundamentais para uma recuperação, pois tem a capacidade de propagar
estes resultados para o conjunto da indústria.
Já entre as grandes categorias econômicas, destacam-se setores como o de bens de capital,
que cresceu 9,1%, revelando a maior expansão em janeiro de 2015 . Trata-se de um crescimento
cuja intensidade foi a mais expressiva desde julho de 2014 , quando cresceu 14,7% e recuperou
parte da redução de 13,4% acumulada entre outubro e dezembro últimos.
Outro setor com desempenho positivo, embora reduzido, é o de bens intermediários, que
teve crescimento de 0,7%. Já nas categorias relativas a bens de consumo, o comportamento foi
de queda da produção. Dessa forma, a produção de bens de consumo duráveis recuou 1,4% e
a de bens de consumo semi e não duráveis 0,3%.
-15
-10
-5
0
5
10
%
Ben
s d
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al
Ben
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Ben
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Sem
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Ger
al
Fonte:IBGE Setores
Gráfico 8 - Produção Industrial - Categorias- Janeiro 2015/ Dezembro de 2014
De uma maneira geral, o setor industrial no início de 2015 volta a revelar seu potencial
produtivo, com um crescimento expressivo de 2,0% na comparação janeiro de 2015/dezembro
de 2014, o que foi a expansão mais ampla desde junho de 2013 (3,5%).
Isso, no entanto, não afastou a caraterística já apontada por nós nesta Carta, de grande
volatilidade da produção industrial, oscilando cada vez mais em torno de resultados negativos.
Refletindo os problemas estruturais da indústria e as tendências mais recentes da política
econômica , que caminha para um ajuste recessivo, a produção total da indústria recuperou
somente de forma parcial o recuo de 4,3% acumulado no período novembro-dezembro de 2014
e agora está 8,9% abaixo do nível mais expressivo obtido em junho de 2013. Se compararmos
com igual mês do ano anterior, a produção industrial mantém essa retração, com o índice
mensal de janeiro de 2015 mostrando o décimo primeiro resultado negativo seguido , revelando
novamente uma maior frequência de taxas negativas entre as atividades e as grandes categorias
econômicas.
4- PIB EM 2014 CRESCEU 0,1% E MOSTRA GRANDE DESACELERAÇÃO DA ECONOMIA
Prof. Ricardo F. Rabelo
Numa primeira análise dos resultados do PIB de 2014, que foram divulgados no
encerramento desta edição da Carta de Análise Conjuntural, a economia brasileira mostra um
profundo processo de desaceleração, com um crescimento de apenas 0,1% após ter crescido
2,3% em 2013. De acordo com os dados do IBGE, este desempenho se deve ao crescimento de
0,3% do PIB do quarto trimestre de 2014, mantendo o crescimento do 3o. trimestre e
compensando a queda havida nos dois primeiros trimestres.
-1,2
-1
-0,8
-0,6
-0,4
-0,2
0
0,2
0,4
0,6
0,8
%
PIB AGROPECUÁRIA INDÚSTRIA SERVIÇOS
FONTE: IBGE VVVVVVVVVVVVVVVVVVVVSETORES
GRÁFICO 9 - PIB 2014 OFERTA
Em termos setoriais o grande fator dinâmico foi ainda a Agropecuária, que registrou
crescimento de 1,8%, enquanto a produção Industrial não teve grande alteração , com queda
de 0,1%. Já o setor de Serviços cresceu 0,3%. Se compararmos com o quarto trimestre de 2013,
os resultados variam, com a Indústria tendo queda de 1,9%, os Serviços crescendo 0,4% e a
Agropecuária mantendo a liderança do crescimento com expansão de 1,2%.
Considerando a evolução do PIB pela ótica da demanda , o consumo das famílias
registrou expansão de 1,1% em relação ao trimestre anterior. Este continua sendo o fator
responsável pelo crescimento do PIB. Em contrapartida o investimento, revelado pela formação
bruta de capital fixo , teve queda de 0,4%, assim como a despesa de consumo do governo , com
retração de 0,6%. Já no setor externo, as exportações recuaram 12,3% e as importações tiveram
queda de 5,5% , revelando a importância que tem o setor externo no processo de
desaceleração.
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