PráTicas De Leitura De Literatura No Orkut

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Everton Vinicius de Santa

Como ferramenta de detecção de práticas culturais no mundo eletrônico a envolver leitura e a recomendação de textos literários fora do universo escolar, procuro evidenciar os aspectos teóricos da produção e recepção de textos fora do mercado canônico, identificando as práticas identitárias do público leitor em relação ao cânone literário brasileiro. O corpus da pesquisa é constituído das experiências literárias eletrônicas, através dos blogs e grupos de discussão do orkut, buscando-se uma análise mais cuidada dos procedimentos percebidos pelo público leitor.

“os livros mais vendidos são os religiosos (Bíblia), livros de culinária, livros de pesquisa escolar, manuais práticos e de cuidados” (Earp & Kornis 2005: 8).

As dificuldades da economia livresca no Brasil envolvem a edição; a gráfica; a distribuição; o acesso aos consumidores; as bibliotecas, que representam o setor mais atrasado na cadeia livresca pela falta de financiamento.

As maiores compras per capita em volume são as japonesas, com 11 livros anuais, seguidas pelos EUA e França. Os brasileiros compram em média 2 exemplares por ano (Earp & Kornis 2005: 18).

A inclusão digital, muito em razão de seu baixo custo relativo, minora ou atenua obviamente as condições de acesso ao bem cultural.

A transição da estreita para a larga circulação só é possível pela diminuição do valor do objeto. Em consequência, há o alargamento da leitura, mas que evidencia também por outro lado uma maior condição da educação formal (Corrêa 2004: 5).

A técnica digital ainda é vista com reticência ou com desprezo pela concepção apocalíptica colocada diante das possibilidades do meio eletrônico, chegando ao extremo com a fórmula do ceci tuera cela, sempre colocada nas discussões a envolver novas tecnologias que começam a competir com outras.

Estas novas técnicas informáticas/hipertextuais, por assim dizer, fazem do texto literário mais suscetível a alterações ao mesmo tempo em que maximiza sua disponibilidade e o torna mais lido pelo amplo público que atinge. Em uma vulgarização da propriedade intelectual que questiona o próprio cânone, coloca-se em xeque também seu valor artístico enquanto objeto de criação estética e a questão da autoria.

O texto eletrônico exige uma reconceituação de autoria e de direitos à propriedade intelectual, o que gera, sem dúvida, efeitos tanto nas práticas de leitura, quanto nas de escrita.

A redefinição do texto, dado pelo universo no hiper(con)texto, quebra o elo existente entre o objeto impresso e o que ele veicula. Logo, o leitor começa a dominar o texto que aparece na tela de seu computador.

Santaella (2007: 32) nos apresenta os diferentes tipos de leitores entre contemplativo, movente e destaca ao que vem a chamar de leitor imersivo, virtual, que navega em uma tela de computador e que chega a assemelhar-se com o leitor da Antiguidade em que o livro era como um rolo que corre verticalmente e manualmente, agora corre apenas com a pressão em um botão.

Rede de conexões proporcionadas pelo hiper texto.. .

Dados do orkut: usuários brasileiros (49,83%), norte-americanos (20,57%) e indianos (17,51%). Desses internautas, 54,54% tem entre 18 e 25 anos.

Os números das comunidades são expressivos, uma vez que o tema literatura se equivale às comunidades de temas mais comuns como futebol, amor, sexo ou música.

Na maior comunidade que discute o tema, “Literatura”, com mais de 56 mil membros, é possível constatarmos obras do cânone literário aparecendo em meio aos tópicos abertos e suas respostas equiparadas ao que podemos considerar como sendo um esboço de uma crítica do leitor.

Observa-se a presença inegável do clássico arraigado às práticas de leitura dos usuários, ao mesmo tempo em que percebemos uma abertura àqueles escritores fora do cânone.

Nessa mesma proposta de linha crítica, percebe-se a proximidade com o que a crítica tradicional faria ao abordar a linguagem, coerência e espaço, por exemplo, bem menos complexa, mas não menos pertinente.

Blogs: “Balaio das Letras”∗, “Verbalize”∗, “Gávea”∗, “Liberal, Libertário, Libertino”∗ e “Rinoceronte Voador”∗ .

As formas de expressão literária a envolver leiura, disseminação e recomendação de textos literários não-canônicos, crítica, mesmo que “amadora”, estão em contante crescimento, seja através de blogs ou das comunidades do orkut, e a envolver um público cada vez maior pela fácil acessibilidade proporcionada pelo meio digital que interfere direta e significativamente nas práticas culturais da sociedade e seus envolvidos.

∗ http://balaiodeletras.blogspot.com/2008/10/mezinha.html∗ http://versosdopovo.blogspot.com/∗ http://gavea.blogspot.com/∗ http://www.interney.net/blogs/lll∗ http://orinocerontevoador.wordpress.com/

Presença marcante do cânone literário e de textos não-canônicos;

É inegável o fato de que junto ao perfil do “leitor imersivo”, que caracteriza o indivíduo envolvido pelas relações hipermidiáticas proporcionadas pela internete, está presente também o “leitor contemplativo”;

Presença da crítica uma vez em que o orkut e os blogs, por exemplo, são ambientes que permitem a livre expressão dos usuários justamente por estarem afastados de um julgamento intelectual como o presente em uma sala de aula.

Academia Virtual Brasileira de Letras∗ definindo-se como “Autores, Escritores e Poetas Virtuais, cuja finalidade é disponibilizar na www seus textos, e, assim firmar no tempo e espaço esta nova Época Literária ‘Virtualismo’.”

PROLER, Programa Livro Aberto, PNLL (Programa Nacional do Livro e Leitura), do IBICT∗ (Ινστιτυτο Βρασιλειρο δε Ινφορµαο εµ Χινχια ε Τεχνολογια).

∗ http://www.avbl.com.br/website/∗ http://inclusao.ibict.br/mid/mid_estatisticas.php

CORREA, A. A. Técnica e valor do texto literário na era digital. Textodigital, Rio de Janeiro, v. 1, p. 91-97, 2004.

EARP, F. S.; KORNIS, G. A Economia do Livro: A Crise Atual e uma Proposta de Política. 2005. Disponível em: <www.ie.ufrj.br/publicacoes/discussao/a_economia_do_livro_a_crise_atual_e_uma_proposta_de_politica.pdf>. Acessado em 13 de maio de 2009.

SANTAELLA, L. Navegar no ciberespaço: o perfil cognitivo do leitor imersivo. São Paulo: Paulus, 2007.