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Programa de Pós-Graduação em Música Escola de Comunicações e Artes Universidade de São Paulo
Elementos para a estruturação de um curso de composição de canção no ensino técnico e
superior
Supervisor: Paulo de Tarso Camargo Cambraia Salles
Candidato: Marcelo Segreto
Elementos para a estruturação de um curso de composição de canção no ensino técnico e
superior
Supervisor: Paulo de Tarso Camargo Cambraia Salles
Candidato: Marcelo Segreto
Instituição sede: Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP)
Resumo
Este projeto pretende estruturar um curso de composição de canção a partir de três
perspectivas teóricas distintas: a musicologia, a semiótica da canção e a teoria literária. Nosso
objetivo é, por meio dessas diferentes abordagens, identificar os seus procedimentos criativos
mais recorrentes e produzir um livro com análises e propostas de atividades de criação que
possa ser utilizado em cursos de música do ensino superior ou técnico. Acreditamos que nosso
trabalho poderá suprir uma carência significativa na área, visto que não há obras em língua
portuguesa que orientem disciplinas de composição de canção de modo sistemático e afinado
com as pesquisas acadêmicas mais recentes, o que talvez justifique a carência do ensino de
criação cancional nos cursos regulares de música do país. Nosso projeto visa a estruturação de
um curso de criação artística a partir de uma abordagem abrangente que abarque e articule
diferentes enfoques sobre o assunto, contemplando a pluralidade de pensamentos que orbitam
em torno da canção. Além disso, com o intuito de evitar a ênfase em determinadas orientações
estéticas, adotaremos uma postura teórica que entende cada um dos procedimentos criativos
como princípios gradativos que podem ser utilizados com maior ou menor presença.
Baseando-nos em “princípios cancionais”, desejamos, então, abandonar uma postura
normativa ou prescritiva no ensino da composição de canção. Por fim, diferentemente das
propostas trazidas pelos principais métodos de criação estrangeiros (dos quais faremos uma
análise rigorosa) e considerando a canção uma linguagem artística autônoma (ainda que
sincrética), desejamos tratar os seus componentes de modo sempre articulado, sem jamais
isolar os aspectos musicais dos aspectos linguísticos, por exemplo.
Elements for structuring a songwriting course in technical and higher education
Supervisor: Paulo de Tarso Camargo Cambraia Salles
Post-doctoral candidate: Marcelo Costa Segreto
Host institution: Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP)
Abstract
This research project aims to structure a songwriting course based on three distinct theoretical
perspectives: musicology, song semiotics and literary theory. Considering these different
approaches, we want to identify the most common creative procedures and make a book with
analyses and exercises that could be used in higher education and on technical music courses.
We think that this work can satisfy a demand in the area since there are no existing
publications in Portuguese that systematically guide songwriting programs and are in tune
with the latest academic research (which may explain the lack of songwriting teaching on
Brazilian music courses). Our goal is to structure an artistic creation course based on a
comprehensive approach that encompasses and articulates different perspectives on the
subject, looking at the plurality of thoughts that orbit around song. Furthermore, in order to
avoid emphasis on certain aesthetic orientations, we decided to adopt a scientific stance that
understands each of the creative procedures as gradual principles that can be used to greater
or lesser degrees. Then, relying on “song laws”, we want to avoid a normative or prescriptive
stance in teaching song composition. Finally, unlike the proposals brought by the main
foreign songwriting methods (which we will analyse rigorously) and considering song a
syncretic but autonomous artistic language, we wish to study its components in an integrated
manner, without ever isolating the musical elements from the linguistic elements, for
example.
1) Enunciado do problema:
A canção popular comercial obteve, ao longo do século XX, um lugar de significativo
destaque na cultura brasileira. O seu prestígio, potencializado pela popularização do rádio, na
década de 1930, e da televisão, a partir dos anos 1960, produziu, ao final do século, uma forte
demanda em nossa sociedade. De fato, o gênero passou a despertar interesse cada vez maior
de pensadores e artistas pertencentes às mais diversas áreas. Na universidade, começou a ser
estudado por pesquisadores de diferentes campos do conhecimento, da literatura à
musicologia, passando pela história, pela sociologia e pela linguística. No entanto, ainda que
tenhamos atualmente uma diversificada e excelente produção acadêmica dedicada à canção,
acreditamos que a sua presença na universidade, sobretudo nos departamentos de música, é
ainda insuficiente. Primeiramente, constatamos a carência de disciplinas de composição de
canção nos cursos regulares de música do país. Em segundo lugar, observamos a inexistência
de materiais didáticos em língua portuguesa que abordem o assunto de maneira aprofundada.
Por fim, acreditamos que, via de regra, os cursos não consideram certas especificidades da
linguagem da canção, estudando-a com as mesmas ferramentas analíticas da música ou da
poesia escrita, por exemplo. São, talvez, três aspectos que se referem ao mesmo problema:
como abordar a criação de canção nas universidades e conservatórios? Antes de discutirmos o
que pretendemos com nosso trabalho, delineemos de modo mais detalhado os três pontos
acima mencionados (para os quais nossa pesquisa pretende apresentar caminhos).
Como dissemos, ainda que a canção desperte forte interesse de estudantes e
pesquisadores, via de regra, não observamos a presença de disciplinas ou cursos específicos
de criação de canção na grade curricular regular dos centros de ensino de música do país
(universidades, conservatórios e cursos livres). Nos cursos de graduação em música popular,
por exemplo, não há aulas de composição de canção tão estruturadas e consolidadas quanto as
matérias de arranjo, prática instrumental, história da música popular, harmonia, análise etc.
Nesse sentido, é significativo observarmos que o curso de música popular do Instituto de
Artes da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o primeiro a ser criado no Brasil,
possui no momento uma configuração curricular predominantemente voltada para a prática
interpretativa, sem incorporar de modo regular a atividade de criação de canção (para a qual
reserva ocasionalmente disciplinas optativas) . A área de criação fica restrita, então, sobretudo 1
às disciplinas de arranjo. Via de regra, essa fisionomia curricular parece ecoar nos demais
programas das universidades brasileiras. Por exemplo, a segunda instituição a implementar
um curso de música popular, a Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) , 2
atualmente o oferece com a denominação “Bacharelado em Música Popular Brasileira -
Arranjo Musical”, o que já evidencia o seu foco principal nas questões ligadas ao arranjo
instrumental em detrimento de outros aspectos criativos da canção. Outrossim, a
Universidade Estadual do Paraná (UNESPAR), a terceira universidade brasileira a possuir
bacharelado em música popular (2003), possui em sua estrutura curricular plena apenas uma
disciplina voltada para a criação de canção, “Composição de canções I”, oferecida no terceiro
ano do curso . Diferentemente, a disciplina “Arranjo Musical” possui dois semestres no 3
currículo pleno e mais dois de disciplinas optativas, o que demonstra a sua maior presença . 4
Partindo para o segundo ponto de nosso problema, acreditamos que essa presença
tímida das disciplinas de composição de canção nas universidades brasileiras deve-se
possivelmente a uma carência de publicações que possam amparar o aprendizado dessa
atividade específica de criação de modo sistemático e abrangente. Ao contrário dos estudos
analíticos de canção, que são numerosos e diversificados, há pouquíssimas obras em língua
portuguesa voltadas à disciplina prática de composição. No Brasil, dirigida especificamente à
canção, encontramos apenas uma, o livro Composição: uma discussão sobre o processo
criativo brasileiro (1997) do pianista e professor carioca Antonio Adolfo. Publicações
estrangeiras, ao contrário, são mais numerosas e diversificadas. Devemos mencionar,
sobretudo, as obras publicadas pela Berklee Press, editora da Berklee College of Music,
O curso surgiu em 1986 por iniciativa do então chefe do departamento de música Maestro Benito Juarez, mas 1
foi implementado de fato em 1989 com o ingresso da primeira turma de alunos. Atualmente, a faculdade oferece, na área da música popular, habilitações em cordas, percussão, sopros, teclados e voz.
O curso da UNIRIO foi criado em 1998.2
A disciplina “Composição de canções II” é optativa, não constando na grade curricular obrigatória.3
O mesmo ocorre em outros cursos de música popular. Observamos uma maior ênfase em disciplinas de arranjo 4
ao mesmo tempo em que as aulas de criação de canção são significativamente escassas. Outras instituições passaram a oferecer cursos superiores em música popular a partir dos anos 2000. Podemos citar aqui o Curso Sequencial de Formação Específica da Universidade Estadual do Ceará – UECE (2005), o Bacharelado Interdisciplinar em Música Popular da Universidade Federal da Bahia - UFBA (2009), o Curso superior em Música Popular da Universidade Federal da Paraíba - UFPB (2009), o Bacharelado em Música Popular da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG (2009), o Bacharelado em Música Popular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS (2012) e o Bacharelado em Música Popular da Universidade Federal de Pelotas – UFPel (2013).
instituição norte-americana que possui cursos de composição de canção muito estruturados . 5
Destacam-se as obras escritas por Jimmy Kachulis , Barbara L. Jordan e Pat Pattison , 6 7 8
professores que atuam nesse centro educacional e que realizam estudos bastante rigorosos do
tema. Grande parte das publicações estrangeiras voltadas para a atividade prática de criação,
no entanto, não possui o mesmo rigor acadêmico. Dirige-se, em geral, a um público não
profissional e possui caráter fortemente comercial. São manuais e métodos que abordam o
assunto de modo muito simplificado, sem qualquer postura científica ou proposta pedagógica
que possa fundamentar aulas de composição em universidades, por exemplo.
A terceira faceta de nosso problema refere-se à maneira como os cursos e publicações
existentes abordam o processo criativo do compositor de canções. Via de regra, pouco se fala
sobre a questão da relação entre o texto verbal e o texto musical. Em grande parte das
publicações estrangeiras sobre o assunto, estuda-se questões ligadas à harmonia, à melodia, ao
arranjo ou aos recursos poéticos (metáforas, aliterações etc.) sem incorporar um pensamento
sobre a combinação entre letra e música. É como se esses componentes da canção fossem
tratados de modo isolado ou como se atuassem da mesma forma como operam na poesia
escrita ou na música instrumental. Diferentemente, acreditamos que os procedimentos
poéticos e musicais, na canção, possuem uma especificidade. A relação entre a língua e a
música modula a utilização desses recursos. Por isso, a abordagem desses conceitos não deve
ser realizada, a nosso ver, da mesma forma como é tratada em cursos de criação de poesia ou
de composição musical. Por exemplo, quando analisamos a ocorrência de uma figura de
linguagem de som como a aliteração em uma canção, observamos o quanto a sua combinação
com a melodia torna-se significativa:
Trata-se de uma faculdade norte-americana localizada na cidade de Boston (Massachusetts). Nessa instituição, 5
há um departamento de canção que oferece diferentes tipos de curso e até mesmo um bacharelado em canção com duração de oito semestres no qual há diversas disciplinas práticas de criação.
The Songwriter’s Workshop: Melody (2003) e The Songwriter’s Workshop: Harmony (2005). 6
Songwriters Playground: Innovative Exercises in Creative Songwriting (1994).7
Songwriting: Essential Guide to Lyric Form and Structure: Tools and Techniques for Writing Better Lyrics 8
(1991).
Figura 1. A aliteração sob a perspectiva da canção em Morena de Angola (Chico Buarque)
No exemplo acima, a expressividade gerada pela repetição do som consonantal [ʃ] nos
vocábulos “mexe” e “chocalho” está intimamente ligada ao padrão rítmico da melodia e do
acompanhamento instrumental. O fato de a canção apresentar uma configuração rítmica
regular faz com que a aparição dessas consoantes fricativas sugira uma interessante marcação
rítmica em diálogo com a regularidade sonora da obra. No poema escrito, evidentemente, cuja
sonoridade não é tão estabilizada, não teríamos um efeito tão preciso como esse que notamos
em Morena de Angola. Em Chuva, suor e cerveja, de Caetano Veloso, observamos que o uso
da aliteração estabelece relações não apenas com a configuração rítmica, mas também com a
recorrência no âmbito da altura.
Figura 2. A aliteração sob a perspectiva da canção em Chuva, suor e cerveja (Caetano Veloso)
Antes de tudo, observemos como essa canção utiliza o processo aliterativo
combinando a repetição dos sons consonantais [ʃ] (“abaixo”, “acho” e “chuva”) e [ʒ] (“ajuda”
e “gente”). Visto que ambos são consoantes palatais fricativas (a primeira surda e a segunda
sonora), notamos que suas resultantes sonoras são próximas. Ao conjugá-las, o compositor
produz um efeito aliterativo que sugere uma aproximação com o ruído gerado pela chuva,
tema presente no conteúdo da letra. Tendo em vista o intuito de nossa pesquisa em delimitar
precisamente a linguagem artística do compositor de canções, diferenciando-a do trabalho do
poeta ou do músico (ainda que tenhamos, evidentemente, muitas confluências entre eles), não
devemos jamais interromper nossa análise nesse ponto. Mais do que notar a aparição da
repetição dos sons consonantais, devemos observar a sua relação com a linha melódica.
Vejamos. Examinando os compassos 16 a 19, constatamos que essas consoantes fricativas são
posicionadas regularmente em síncopas entre o primeiro e o segundo tempo de cada
compasso. Nesse exemplo, portanto, a aliteração está combinada a uma marcante reiteração
rítmica, aspecto que consideramos essencial para a leitura da obra. De modo distinto, no
poema, não observamos tamanho grau de estabilização sonora. Tomando apenas o segmento
“Acho que a chuva”, por exemplo, acreditamos que a sua leitura em um texto escrito
naturalmente enfatizaria as sílabas tônicas dos vocábulos. Com isso, a sílaba átona de “acho”,
importante por sua carga aliterativa, não se destacaria de forma tão intensa. Em Chuva, suor e
cerveja, a melodia faz com que a sílaba tônica de “acho” seja levemente minimizada em prol
do realce em sua sílaba átona que contém o som consonantal [ʃ]. Além disso, ainda analisando
o último pentagrama da figura acima, notamos que a aliteração acontece nas notas mais
agudas da melodia, sobretudo no caso das palavras “acho”, “chuva” e “ajuda”, cujos sons
fricativos coincidem com a nota Dó, a mais aguda de todo o fragmento. Trata-se, então, de
mais uma relação (agora ligada ao parâmetro altura) entre o componente musical e o
componente linguístico, o que demonstra que as figuras de linguagem, na canção, possuem
um uso próprio, específico. Afinal, a canção, e não o poema, consegue delimitar de modo
preciso a execução sonora do texto verbal. Por isso, nossa pesquisa, ao tratar do processo
criativo do cancionista, não deve desconsiderar a combinação entre os dois componentes.
Verificamos, portanto, uma importante diferença entre a apreensão estética do poema
escrito e da letra de canção. Esta contém configurações sonoras que o primeiro não prevê. O
poeta, em contrapartida, trabalha com aspectos visuais e espaciais (na página do livro) que
uma canção obviamente não possui. Algo similar ocorre em relação à linguagem musical. Há,
por exemplo, diferenças significativas entre o processo de composição de uma melodia
instrumental e o procedimento de criação de uma linha melódica para ser cantada combinada
ao texto linguístico. Durante a atividade criativa, as palavras podem transformar essa melodia
a partir dos acentos da língua, por exemplo. Por vezes, versões distintas de uma mesma
canção apresentam diferentes configurações melódicas. Comparemos dois fonogramas da
canção Piano na Mangueira, o primeiro presente no álbum Paratodos (1993) de Chico
Buarque e o segundo no disco Antônio Brasileiro (1994) de Tom Jobim, ambos autores da
obra.
Figura 3. Piano na Mangueira (Tom Jobim / Chico Buarque) na versão de Chico Buarque
Figura 4. Piano na Mangueira (Tom Jobim / Chico Buarque) na versão de Tom Jobim
É conhecido o episódio em que o compositor Tom Jobim se mostrou descontente com
um detalhe da letra apresentada por seu parceiro Chico Buarque. De fato, na primeira figura,
transcrição da versão do letrista, constatamos que o incômodo de Jobim se deve ao fato de a
palavra “mandei” sofrer deslocamento silábico gerado por fatores ligados à intensidade e à
altura: a sua primeira sílaba, átona, coincide com uma síncopa para o tempo mais forte do
compasso e com uma nota mais aguda do que a da sílaba tônica do vocábulo . Interessa-nos, 9
assim, observar a maneira pela qual Tom Jobim reescreveu o mesmo trecho, numa tentativa
de eliminar o desvio acentual. O compositor, ao alterar a letra de Piano na Mangueira,
seguindo o caráter melódico sincopado de toda a obra (e também uma característica do 10
gênero no qual a canção está inserida), reposicionou a sílaba tônica do vocábulo “mandei”
recolocando-a na síncopa para o primeiro tempo forte do oitavo compasso . Com isso, 11
eliminando o advérbio “já” e antecipando a aparição da palavra “mandei”, o compositor
também fez coincidir a sílaba átona desse vocábulo com a nota Dó# e a sua sílaba tônica com
uma nota mais aguda (Mi natural). Esse pequeno salto intervalar o auxiliou, então, a eliminar
o deslocamento silábico que o incomodava.
Portanto, observamos nas figuras acima alterações na linha melódica que são resultado
de uma vontade estética ligada à combinação entre o texto verbal e a melodia. É para
reacomodar a prosódia da palavra “mandei” que Jobim realiza tais modificações . 12
Constatamos aqui, mais um exemplo de que a relação entre a letra e a melodia deve estar
sempre presente no trabalho de análise e, consequentemente, nas atividades pedagógicas dos
cursos de composição de canção. Trata-se, portanto, de estabelecermos as possíveis diferenças
entre a linguagem da canção e a linguagem poética e musical. Enfim, para que a canção seja
abordada com o mesmo rigor acadêmico com o qual são abordados outros assuntos estudados
nos cursos superiores de música, devemos buscar uma abordagem que incorpore a relação
entre os aspectos linguísticos e musicais.
A sílaba átona “man” coincide com a nota Mi natural e a sílaba tônica “dei” encontra a nota Ré natural. 9
É notável que a versão presente no álbum de Tom Jobim apresenta uma linha melódica significativamente 10
mais sincopada.
Em nossa tese de doutorado analisamos esse fenômeno ligado à acentuação de sílabas posicionadas em 11
síncopas para os tempos forte ou meio-forte do compasso. Sobre esse assunto ver SEGRETO, 2019: 230-232.
Além das mudanças rítmicas a transformação melódica realizada por Jobim também eliminou a nota Ré que 12
observamos no primeiro tempo do compasso oito na versão presente no álbum de Chico Buarque.
É possível que a dificuldade da inserção da canção nas universidades e conservatórios
(a qual situamos a partir da carência de três aspectos: disciplinas de criação, materiais
didáticos em português e abordagem que considere a especificidade de sua linguagem) seja o
resultado da sua constituição estética singular. De fato, podemos considerar a canção como
uma linguagem artística sincrética e isso pode tornar mais difícil o seu exame. Expliquemos.
Uma vez que a canção articula, sobretudo, elementos musicais e linguísticos, é comum a
tendência de estudá-la por meio das ferramentas analíticas da musicologia e da literatura, suas
linguagens adjacentes. No entanto, nem uma, nem outra, possui, como principal questão, o
estudo dessa articulação, o que torna essas análises algo escorregadias e restritas, ainda que
riquíssimas e indispensáveis. Um crítico literário poderá encontrar canções cujas letras
contêm aspectos poéticos cultivados pelos poetas mais importantes de nossa língua. Um
musicólogo se deparará com obras de nosso cancioneiro que utilizam procedimentos criativos
usados pelos compositores da música erudita contemporânea. Ambos deixarão de lado, no
entanto, uma enorme quantidade de canções e de significados que não incluem nenhum desses
aspectos poéticos ou musicais. Afinal, suas letras não são poemas e suas usuais melodias
acompanhadas não constituem peças musicais propriamente ditas. São, afinal, obras
cancionais. Assim, o fato de haver uma combinação simultânea de questões orais e sonoras
faz com que o pesquisador precise convocar conhecimentos não apenas musicais, mas
também linguísticos e literários, e, sobretudo, o incita a tratar dessa articulação.
Por ser inseparavelmente musical e verbal, é difícil tanto compor a canção como analisá-la. Ela
remete a diferentes códigos e, ao mesmo tempo, apresenta uma unidade que os ultrapassa: como não é um poema musicado, o texto não pode ser examinado em si, independentemente da melodia – se isso for feito, pode-se ter, quando muito, uma análise temática (FAVARETTO, 2007: 32-33)
Essa ideia da relação entre a melodia e a letra, cara ao nosso projeto, foi intuída por
diversos pensadores e artistas ligados à canção popular. Na mesma direção apontada por
Celso Favaretto, o compositor Chico Buarque, em entrevista à revista Manchete, criticando o
que julgava ser um “preconceito intelectual” relacionado à canção popular, explicita o seu
entendimento de que esse gênero atua na junção entre o aspecto entoativo e o aspecto musical
e jamais no tratamento isolado de cada um deles.
Não se pode tratar assim a música brasileira; música popular brasileira é “música” e “letra”. Se
você tomar separadamente, é claro que não vai se comparar com o instrumental do Stravinsky, porque não comportaria uma letra, e não é música popular, não será nunca. E a letra também, se quiser comparar com os poetas mais avançados, também não dá. Música popular é uma combinação das duas coisas. A parte literária é mais pobre que a literatura mais avançada, e a parte
musical talvez seja mais pobre que Stravinsky. Agora, a combinação das duas na música popular brasileira é inédita. Já quiseram lançar livro com letras, e discos com músicas minhas – lançaram um, agora, sem eu saber -, sou contra. Não vou competir com Stravinsky, musicalmente, nem
literariamente com James Joyce. A música popular brasileira – isso é reconhecido por gente que entende – é riquíssima, pela combinação das duas formas. Existe um preconceito intelectual muito grande com relação à música popular. (BUARQUE, 1980 Apud TATIT, 1982: 13)
Favaretto e Buarque apresentam entendimento similar: a canção deve ser
compreendida como a conjugação de dois componentes e a quebra desse vínculo, isto é, o
exame da letra ou da música em separado, distancia o estudioso de seu objeto de análise, pois
desintegra-o. Nenhum deles, no entanto, dirige sua respectiva pesquisa ou reflexão no sentido
de investigar a fundo os mecanismos que fundamentam essa integração essencial. Afinal, por
que a união entre o componente linguístico e o componente musical, mesmo que tenhamos
uma letra literariamente imatura ou uma melodia musicalmente banal, pode gerar tamanho
encantamento nos ouvintes? Quais são as suas diferentes possibilidades combinatórias? Como
abordar a canção a partir de ferramentas analíticas próprias que consigam dar conta de sua
especificidade?
O primeiro teórico brasileiro a aprofundar essas questões, apresentando de modo
sistemático os mecanismos ligados ao trabalho artístico de combinação entre a letra e a
melodia foi o semioticista Luiz Tatit, criador da chamada semiótica da canção. A inadequação
entre o seu objeto de estudo, a canção popular, e as ferramentas analíticas da música e da
literatura fez com que o autor fundamentasse toda a sua pesquisa na hipótese de que a
associação entre a melodia e a letra é a característica diferencial desse tipo de composição,
sendo o seu sentido “uma resultante da função contraída entre um conjunto significante
linguístico e um conjunto significante melódico, ambos operantes sobre uma única matéria de
expressão fornecida pela voz” (TATIT, 1982: 12). Ao investigar os aspectos ligados à essa
junção, a semiótica da canção tentará preencher o que parecia configurar um certo “vazio”
teórico, almejando a constituição de uma abordagem específica da canção, até então inédita.
Trata-se, como se pode ver, de um procedimento diferente daquele que tenta avaliar uma canção
pela qualidade dos versos tomados de um ponto de vista literário ou pela qualidade da melodia sob um enfoque musical. O que o compositor nos apresenta é uma proposta de integração e não uma proposta de justaposição de linguagens paralelas. (TATIT, 2007: 104)
O curso de composição de canção que pretendemos estruturar a partir desta pesquisa
se fundamentará nos princípios ligados à relação entre língua e música estudados pela
semiótica da canção sem deixar de lado, entretanto, diversos aspectos relacionados à
composição musical e poética. Discutiremos adiante esse assunto ao tratarmos dos meios e
métodos adotados para superar nossos desafios científicos. Por ora, devemos salientar que o
problema abordado por nossa pesquisa constitui, atualmente, uma questão muito relevante
para os cursos superiores de música popular. Tendo em vista o forte valor cultural da canção
na sociedade brasileira, bem como o interesse que ela desperta em boa parte dos estudantes
que se matriculam nas faculdades de música do país, a discussão sobre a inserção de
habilitações ou disciplinas voltadas para a criação cancional está cada vez mais presente . 13
Parece-nos, então, que a iminência de sua inclusão nas universidades exige um debate mais
profundo sobre o assunto. Torna-se imprescindível examinar os estudos e métodos de criação
que já foram produzidos na área com o objetivo de viabilizar um curso de composição de
canção bem estruturado e condizente com a cultura musical brasileira. Naturalmente, tentando
dar conta de todo espectro de possibilidades de atividades profissionais na área da música, as
instituições cada vez mais diversificam os seus catálogos e grades curriculares, para além dos
cursos tradicionais de formação instrumental, licenciatura, composição erudita, regência etc.
A canção, objeto com o qual grande parte dos formados irá se deparar (seja como cantor,
instrumentista, compositor, arranjador, produtor etc.), deve, portanto, ser igualmente
incorporada. Um curso estruturado de composição de canção é, por isso, imprescindível para
que os estudantes das faculdades de música popular travem algum contato com a atividade de
criação e obtenham maior intimidade com a sua linguagem estética específica.
Considerando-se a iminência da implementação de cursos de criação de canção e a
carência de obras sobre o assunto em língua portuguesa, cremos que nosso projeto constituirá
uma significativa contribuição para a área. Esta pesquisa resultará em uma publicação cujo
O Departamento de Música da Universidade Estadual de Campinas (DMU-UNICAMP), por exemplo, 13
atualmente discute a reformulação do catálogo do curso e estuda a possível implementação de uma nova habilitação em composição popular denominada “Processos Criativos” que abarcaria diferentes formas de composição popular: canção, instrumental, arranjo, mediação tecnológica etc.
intuito é auxiliar na organização e orientação de disciplinas de composição de canção em
universidades, conservatórios, escolas de música e cursos livres, sanando a falta de um livro
didático sobre o assunto. Além disso, ainda que nossa pesquisa parta da experiência
composicional de compositores de canção popular, acreditamos que nossa abordagem poderá
contribuir igualmente para momentos específicos em que os alunos dos cursos de composição
erudita se dedicam à música vocal.
2) Resultados esperados:
A partir de nossa pesquisa, desejamos fundamentar um curso de composição de canção
voltado sobretudo para alunos de cursos superiores ou técnicos. Nosso objetivo é elaborar
uma publicação denominada Princípios de Composição de Canção (análises e exercícios) que
contenha discussões teóricas e propostas de atividades práticas de criação, apresentando o
artesanato do compositor de canções de maneira sistemática. A criação de canção popular,
ligada à tradição oral, cujo aprendizado se dá, via de regra, de modo intuitivo e informal,
parece muitas vezes ocultar, até mesmo dos próprios compositores, os seus procedimentos
técnicos. No entanto, assim como em outras atividades criativas (composição musical,
arquitetura, artes plásticas, montagem cinematográfica etc.), há, evidentemente, habilidades
para serem praticadas e aprendidas.
Princípios de Composição de Canção será dividido em três partes . A primeira, 14
“Aspectos cancionais” abordará questões específicas da linguagem da canção, isto é, aspectos
que surgem a partir da combinação entre o texto linguístico e o texto musical. São
procedimentos centrais para o cancionista e não tão relevantes, por exemplo, para o poeta ou
para o compositor de música instrumental (visto que o principal foco desses artistas não é
trabalhar com a junção entre a palavra e a música). Trataremos, então, de aspectos ligados aos
diferentes tipos de oralização, à acentuação silábica, à acentuação lexical, ao recorte frasal, ao
mapeamento da letra e da melodia, ao uso do português padrão e não-padrão, ao timbre vocal
como ferramenta composicional, às relações entre interpretação e criação, entre outras
questões. Além disso, nesta parte inicial, abordaremos alguns tópicos estudados pela
semiótica da canção que representam interessantes elementos para se trabalhar a composição
Inserimos ao final do projeto um sumário provisório da pesquisa com os nomes de cada parte e de seus 14
respectivos capítulos.
a partir de sua relação com a língua oral: os dêiticos, os tonemas, a elasticidade melódica, a
faixa entoativa e as unidades entoativas (SEGRETO, 2019: 61-86).
A segunda parte, “Aspectos linguísticos”, abordará, sob a perspectiva da canção,
diversos elementos ligados à criação da poesia escrita. Os seus componentes serão então
tratados a partir da relação estabelecida entre a língua e os elementos musicais (melodia,
harmonia, arranjo etc.). Discutiremos as noções de sentido denotativo e conotativo, as figuras
de linguagem de som (aliteração, assonância, paronomásia e onomatopeia), de pensamento
(antítese, paradoxo, oximoro, eufemismo, hipérbole, ironia, gradação, prosopopeia e
apóstrofe), de sintaxe (elipse, zeugma, silepse, pleonasmo, anáfora, anadiplose, hipérbato,
anástrofe, assíndeto e polissíndeto) e de palavras (metáfora, catacrese, metonímia, sinestesia e
perífrase). Além disso, trataremos da criação de neologismos, da rima, da métrica, do ritmo do
texto linguístico, dos gêneros literários (épico, lírico e dramático) e da relação entre forma e
conteúdo.
Finalmente, na terceira e última parte de nossa pesquisa, “Aspectos musicais”, com o
intuito de não limitar nossa proposta ao trabalho exclusivo com a tonalidade, por exemplo,
abordaremos procedimentos de criação a partir de configurações musicais diversas. Nesse
sentido, após tratarmos de aspectos importantes ligados à composição para voz, discutiremos
possibilidades de criação melódica a partir de bases musicais tonais e não-tonais, de estruturas
rítmicas regulares e irregulares, de procedimentos contrapontísticos e da criação de
acompanhamentos texturais e timbrísticos. Trabalharemos, evidentemente, com aspectos
ligados à harmonia tonal, mas sempre a partir da perspectiva específica da canção, isto é, sem
jamais desconsiderar a combinação entre a música e o texto linguístico. Nos capítulos finais,
examinaremos elementos ligados ao arranjo musical discutindo mais uma vez possibilidades
de trabalho com estruturas tonais e não tonais, texturas polifônicas, formas de estruturar e
planejar o arranjo, entre outras questões.
Todos os capítulos que compõem as três partes brevemente detalhadas acima
apresentarão estruturas similares: uma parte inicial teórica e analítica e, ao final, propostas de
atividades de criação de canção a partir do assunto tratado no capítulo. Além disso, é
importante assinalar que cada aspecto composicional selecionado será abordado a partir de
uma mesma postura teórica que entende cada um desses procedimentos criativos como
princípios gradativos que podem ser utilizados com maior ou menor presença. Expliquemo-
nos. Ao tratarmos do uso de aliterações na letra, por exemplo, discutiremos as diferenças
expressivas entre trechos com maior ou menor utilização de repetições consonantais e
estimularemos o estudante a desenvolver a capacidade de compor obras que atravessem todo
esse espectro de possibilidades. O mesmo ocorre com a utilização da tonalidade e da não-
tonalidade. Nossa pesquisa tratará essa questão como um aspecto composicional que possui
uma gama extensa de opções, levando o aluno a percorrer diferentes caminhos criativos. Com
isso, desejamos destacar que o curso a ser desenvolvido a partir de nossa pesquisa, ao tratar os
aspectos criativos como princípios gradativos e não como normas a serem seguidas, jamais
valorizará determinado uso em detrimento de outro. Afinal, uma letra com grande quantidade
de aliterações não deve ser considerada esteticamente superior a outra que não faz uso desse
recurso. Diferentemente, entendemos apenas que elas trabalham com expressividades
distintas.
Acreditamos que a adoção desse tipo de postura condiz com nosso intuito de produzir
uma publicação a ser utilizada por diferentes instituições de ensino em diferentes regiões do
país. Não é recomendável elegermos certos gêneros, certos tipos de harmonia ou certas
características linguísticas quando observamos que a cultura da canção brasileira é formada
por um número muito extenso de fisionomias artísticas, da canção tradicional à canção
experimental, passando pelo rap, pelo sertanejo universitário e pelo funk carioca, por
exemplo. Acreditamos que uma postura científica deve prevalecer sobre uma conduta
normativa para que possamos abarcar, na universidade, as diferentes culturas cancionais
trazidas pelos estudantes. Desejamos, desse modo, começar a formar o arcabouço para uma
possível disciplina prática de composição de canção, com princípios técnicos que norteiem o
aprendizado e ultrapassem as questões ligadas ao gosto pessoal do professor.
Tendo em vista o caráter pedagógico de nossa pesquisa, isto é, o seu intuito de
estruturar um curso de criação de canção a partir da ideia de gradação dos princípios
composicionais, a forma como os resultados obtidos serão avaliados e disseminados deverá
contemplar, além de apresentações em congressos, seminários e encontros acadêmicos,
oficinas de composição em diferentes instituições de ensino musical nas quais possamos
debater e experimentar os exercícios propostos com os próprios estudantes e professores. Por
isso, como detalharemos no item 5, “Disseminação e avaliação”, planejamos organizar cursos
de criação em sete instituições ligadas ao ensino musical e artístico no Estado de São Paulo:
Escola de Música do Estado de São Paulo (EMESP), Conservatório Dramático e Musical Dr.
Carlos de Campos de Tatuí, Escola Municipal de Música de São Paulo (EMM), Casa das
Rosas - Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura, Instituto de Artes da Universidade
de Campinas (IA-Unicamp), Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista (UNESP) e
Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP).
Além disso, temos fortíssimo interesse em realizar uma parte de nossa pesquisa no
exterior, possivelmente na cidade de Boston (EUA). Como já mencionamos acima, há nessa
cidade uma importante instituição de ensino norte-americana, a Berklee College of Music.
Trata-se de uma faculdade de música internacionalmente reconhecida, sobretudo pelos seus
cursos na área da música popular. No campo da canção, é talvez a instituição que mais se
dedica ao desenvolvimento de cursos e materiais didáticos no mundo. A Berklee Press, editora
da faculdade, é responsável pela publicação dos livros mais relevantes da área da composição
de canção popular. A instituição possui ainda um departamento de canção responsável pela
estruturação de diversos tipos de programa (graduação e pós-graduação) dos quais
destacamos o seu bacharelado em canção, curso que possui duração de quatro anos e oferece
diversas disciplinas de criação. Interessa-nos sobretudo as pesquisas dos professores Pat
Pattison e Bonnie Hayes. O primeiro possui uma linha de pesquisa ligada sobretudo à criação
de letra , utilizando uma abordagem que muitas vezes se aproxima de aspectos presentes na 15
teoria desenvolvida por Luiz Tatit. A professora Hayes dirige, entre outros cursos, disciplinas
de composição de canção, composição de letra e arranjo. Além disso, é a atual diretora do
departamento de canção. Acreditamos que a sua experiência nessa área poderá contribuir
para as nossas reflexões sobre o desenvolvimento de uma matriz curricular para um curso
de composição de canção no Brasil. Portanto, o estágio nessa faculdade norte-americana
representaria uma significativa contribuição para nossa pesquisa. Além de viabilizar a
consulta aos seus acervos especializados e o acompanhamento de suas propostas pedagógicas,
o intercâmbio nos proporcionará a orientação de importantes pesquisadores e professores.
Interessa-nos fortemente a possível discussão, com docentes e estudantes, de questões ligadas
à música brasileira e, sobretudo, de certos aspectos da teoria desenvolvida por Luiz Tatit.
Pat Pattison é professor responsável pelas disciplinas Lyric Writing, Advanced Lyric Writing e Creative 15
Writing: Poetry e autor de cinco livros sobre o assunto (ver bibliografia).
3) Desafios científicos e tecnológicos e os meios e métodos para superá-los:
Nossa proposta de pesquisa pretende superar três principais desafios científicos. Tendo
em vista o número cada vez maior de cursos de música popular nas universidades brasileiras
ou mesmo o forte interesse pela área por parte de alunos que ingressam nos cursos de música
erudita, nosso primeiro obstáculo é a ausência de livros didáticos em língua portuguesa que
abordem a composição de canção popular com viés científico e finalidade pedagógica. Isto é,
partindo do pressuposto de que cursos de música popular tendem a incorporar disciplinas de
criação de canção, a falta de uma publicação brasileira nessa área torna-se de fato um
problema. Como mencionamos acima, há somente uma pequena publicação em português
sobre o assunto, o livro Composição: uma discussão sobre o processo criativo brasileiro
(1997) de Antonio Adolfo . Essa obra, no entanto, ainda que discuta diversos aspectos da 16
canção, tanto musicais quanto linguísticos, o faz por meio de uma abordagem muito pouco
aprofundada, que não estabelece diálogos com os principais estudos da área e, acima de tudo,
não apresenta propostas de atividades práticas de composição, aspecto pedagógico que deverá
guiar nossa pesquisa.
Nosso segundo desafio científico é estruturar um curso de composição fundado no
entendimento de que a canção é uma linguagem artística sincrética, porém autônoma. Ou seja,
ainda que ela incorpore elementos provenientes de suas linguagens adjacentes (a música e a
poesia, sobretudo), o que a configura como linguagem específica é o trabalho de combinação
dos aspectos musicais e linguísticos, jamais o tratamento isolado de algum deles. Trata-se de
um desafio, posto que, mesmo os métodos estrangeiros de criação de canção que abordam o
assunto de modo mais aprofundado geralmente não tratam da relação entre a letra e a melodia.
Ao contrário, costumam abordar, de modo isolado, aspectos criativos como a melodia, a
harmonia, a forma e as questões poéticas. Consideramos, então, a importância de uma
abordagem dos diferentes elementos que compõem a linguagem cancional pautada na
combinação entre o texto verbal e a música.
Nosso terceiro desafio é estruturar um curso de criação artística que não se
fundamente em uma postura normativa ou prescritiva. A partir das análises dos diferentes
aspectos composicionais selecionados, desejamos construir uma metodologia que, baseada em
“princípios cancionais”, evite enfatizar orientações estéticas. Não queremos, ainda que esse
Pianista e educador musical carioca, proprietário de uma conhecida escola de música na cidade do Rio de 16
Janeiro.
tipo de publicação possa trazer benefícios ao estudante, organizar um curso no qual o
professor ensina ao aluno a sua própria maneira de compor. Diferentemente, desejamos
apenas oferecer estímulos diversos para a criação. Sem a indicação de caminhos preferenciais,
mas apresentando um amplo espectro de possibilidades estéticas, o estudante poderá
livremente formar o seu próprio percurso artístico, perseguindo os elementos pelos quais
possui maior afeição. Acreditamos que essa abordagem, ao tratar o assunto com maior rigor
científico e amplitude, proporcionará uma contribuição significativa às disciplinas de criação
de canção na universidade: uma vez que não pretende eleger caminhos criativos prioritários,
poderá incorporar diferentes fisionomias artísticas e contemplar a experiência cancional
trazida por cada estudante.
Para superarmos esses desafios científicos devemos, em primeiro lugar, realizar um
estudo aprofundado dos métodos de criação de canção existentes. Fizemos uma seleção de
quarenta e oito obras, das quais já destacamos as publicações da editora Berklee Press, ligada
à Berklee College of Music . Pretendemos examinar detalhadamente a abordagem de cada 17
um desses métodos observando sobretudo a presença ou ausência de reflexões sobre a
compatibilização entre o texto linguístico e a música. Estaremos aptos, ao final dessa etapa, a
organizar essas publicações, mapeando as suas propostas e o que possuem de semelhante ou
de diferente entre si. Em seguida, devemos fazer uma articulação entre diferentes perspectivas
de estudo teórico da canção. A nosso ver, a maneira mais adequada de incorporar a criação de
canção na universidade é aquela que encerra um olhar mais abrangente da matéria. Assim,
interessa-nos articular o estudo específico da canção (aquele que sistematiza o seu artesanato
intrínseco, a relação entre a melodia e a letra) com pesquisas, igualmente imprescindíveis,
ligadas à música popular, à música erudita, à literatura, à sociologia, à história, entre outras
áreas. Isto é, uma vez que a canção se apresenta como uma linguagem autônoma, porém
sincrética, não devemos ignorar os elementos provenientes de suas linguagens adjacentes,
sobretudo da poesia e da música . Essa articulação entre diferentes perspectivas de estudo é 18
Das quarenta e oito obras listadas em nossa bibliografia, trinta e sete são editadas nos Estados Unidos, sendo 17
que dez pertencem à editora Berklee Press.
Cremos que os três pilares de nossa pesquisa são os estudos musicais, os estudos linguísticos e os estudos da 18
semiótica da canção. O fato de termos empreendido estudos anteriores nessas três áreas também poderá contribuir para a superação dos desafios científicos aqui mencionados (cursamos graduação em letras, graduação em música/composição e pós-graduação em semiótica da canção).
fundamental para superarmos o nosso primeiro desafio: a estruturação de um curso de
composição de canção em língua portuguesa com maior profundidade teórica.
Para a resolução dos outros dois desafios científicos (a necessidade do entendimento
da canção como linguagem artística específica e, por fim, nosso interesse em abandonar
posturas normativas no ensino da criação artística), adotaremos o aparato teórico da semiótica
da canção. No nosso entendimento, essa teoria oferece diversos benefícios metodológicos. Em
primeiro lugar, concebe a canção como linguagem autônoma, dado crucial para nossa
pesquisa. Além disso, tendo suas raízes ligadas à linguística moderna, nos oferece uma
interessante visão analítica que, de maneira técnica e descritiva, privilegia o estudo do
funcionamento da linguagem, superando posições prescritivas. A teoria é construída para
abarcar todos os fenômenos. O seu principal propósito é descrevê-los, não os julgar
esteticamente. Essa visão descritiva da semiótica da canção tem sua raiz nos estudos
empreendidos pela linguística moderna surgida no início do século XX (em contraposição à
perspectiva mais normativa dos gramáticos do século XIX). Uma discussão similar ocorre no
âmbito das reflexões sobre a língua portuguesa, com o chamado “preconceito linguístico” . É 19
quando, ignorando o funcionamento e as tendências naturais de transformação de nosso
idioma, um registro de língua, mais valorizado socialmente, é tido como “correto” ou
“superior”, em detrimento de outro, considerado “errado” e “inferior”. A descrição técnica da
linguagem é substituída, então, por valores ideológicos e concepções prescritivas. Por isso,
julgamos ser necessário separar a descrição do julgamento estético. Este, podendo vir a
posteriori, deve estar centrado em critérios pertinentes (dos quais também devem fazer parte o
artesanato específico do cancionista). Portanto, a preocupação primeira da semiótica da
canção é analisar a constituição das obras e não as aspirações estéticas de cada indivíduo. A
sua perspectiva técnica, quase fria, nos lega essa reflexão fundamental: devemos observar as
leis e os princípios, abandonando, ainda que por um momento, as opiniões pessoais e
preferências artísticas particulares. Nesse sentido, essa teoria nos oferece uma postura
analítica fundamental para a nossa pesquisa.
Sobre esse assunto, destacamos as publicações de Marcos Bagno (ver bibliografia).19
4) Cronograma:
* Como já existe a previsão de realização de estágio no exterior, ao submetermos esta proposta, indicamos a duração de 24 meses de pesquisa no país e acrescentamos o período de 12 meses a ser cumprido na universidade estrangeira.
5 Disseminação e avaliação:
Uma vez que o principal objetivo do projeto está ligado à estruturação de um curso de
criação de canção (com a produção de uma publicação denominada Princípios de
Composição de Canção (análises e exercícios)), acreditamos que os resultados alcançados
pela pesquisa deverão ser avaliados e disseminados de diferentes maneiras. Em primeiro
lugar, como forma de estabelecer diálogos com outros pesquisadores, sobretudo da área da
composição musical, música popular e educação musical, prevemos a participação em
diversos eventos acadêmicos (congressos, simpósios, encontros etc.). Acreditamos que a
discussão de nosso projeto com esses estudiosos certamente nos trará importantes
contribuições para o resultado final da pesquisa. Em segundo lugar, paralelamente ao
desenvolvimento da produção escrita da pesquisa, e tendo em vista o viés pedagógico do
trabalho, organizaremos cursos de composição de canção em diversas instituições públicas de
ensino do Estado de São Paulo. Haverá o oferecimento de duas disciplinas eletivas dentro do
programa de graduação e pós graduação em música da Escola de Comunicação e Artes da
Universidade de São Paulo (ECA-USP). Para o curso de graduação será proposta uma
disciplina denominada “Composição de canção: letra e melodia”, com duração de um
ATIVIDADES
2020 2021 2022
trimestre trimestre trimestre
1º 2º 3º 4º 1º 2º 3º 4º 1º 2º 3º 4º
Leitura e estudo dos métodos de composição de canção listados no projeto
Elaboração e redação de artigos
Elaboração e redação do texto Princípios de composição de canção
Oferecimento de disciplinas (ECA-USP)
Oferecimento de oficinas de composição (UNICAMP, UNESP, EMESP, EMM, Conservatório de Tatuí e Casa das Rosas)
Intercâmbio
Redação dos relatórios
semestre. Para o programa de pós-graduação será oferecida a disciplina “A composição de
canção a partir de princípios gradativos”. A linha de atuação de ambas as disciplinas está
intimamente ligada às nossas pesquisas de mestrado e doutorado, orientadas pelo Prof. Dr.
Luiz Tatit, nas quais nos dedicamos ao estudo da linguagem da canção. Além disso, é
importante destacar que a ECA-USP não possui disciplinas similares em nenhum de seus
cursos. Desse modo, poderemos colaborar para a complementação da formação da
comunidade discente suprindo a ausência de atividades ligadas à criação de canção.
Além do oferecimento das duas disciplinas semestrais em nossa instituição sede,
prevemos igualmente a realização de cursos de composição de canção de menor duração em
outras instituições de ensino do Estado de São Paulo. Com enfoques distintos, cada uma
dessas oficinas de criação terá duração de um mês com carga horária total de dezesseis horas.
Como forma de abarcar diferentes tipos de instituições, realizaremos esses cursos em mais
duas universidades (Instituto de Artes da Universidade Estadual de Campinas - Unicamp e
Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista - UNESP), em três importantes
conservatórios públicos do Estado (Escola de Música do Estado de São Paulo - EMESP,
Conservatório Dramático e Musical Dr. Carlos de Campos de Tatuí e Escola Municipal de
Música de São Paulo - EMM) e, por fim, na Casa das Rosas - Espaço Haroldo de Campos de
Poesia e Literatura. Acreditamos que, ao apresentarmos nossa pesquisa em escolas de ensino
superior, ensino técnico e em um curso livre, poderemos avaliar de modo mais eficiente a
nossa proposta de estruturação de um curso de composição.
Além dessas atividades pedagógicas, fundamentais para nossa pesquisa,
disseminaremos os resultados parciais e finais de nosso estudo com a elaboração de seis
artigos, quatro dedicados à nossa proposta de desenvolvimento do curso de criação de canção
e dois voltados para a discussão das publicações e da estrutura curricular dos cursos de
composição da Berklee College of Music, instituição na qual pretendemos realizar uma parte
de nossa pesquisa.
6) Outros apoios:
Para a realização das oficinas de criação de canção, obtivemos o apoio das seguintes
instituições de ensino do Estado de São Paulo, das quais apresentaremos cartas oficiais
assinadas por seus respectivos dirigentes: EMESP - Escola de Música do Estado de São
Paulo, Escola Municipal de Música de São Paulo, Conservatório Dramático e Musical Dr.
Carlos de Campos de Tatuí, Casa das Rosas - Espaço Haroldo de Campos de Poesia e
Literatura, Universidade Estadual de Campinas - Unicamp e Universidade Estadual Paulista -
UNESP.
7) Bibliografia:
ADOLFO, Antonio. Composição: uma discussão sobre o processo criativo brasileiro. Rio de
Janeiro: Lumiar Editora, 1997.
BAGNO, Marcos. A língua de Eulália: novela sociolinguística. São Paulo: Contexto, 2001.
BAGNO, Marcos. Preconceito linguístico: o que é, como se faz. São Paulo: Ed. Loyola, 1999.
FAVARETO, Celso Fernando. Tropicália: Alegoria, Alegria. 4. ed. – Cotia, SP: Ateliê
Editorial, 2007.
JORDAN, Barbara L. Songwriters Playground: Innovative Exercises in Creative Songwriting.
Boston (EUA): Barbara L. Jordan, 1994.
KACHULIS, Jimmy. The Songwriter’s Workshop: Melody. Boston (EUA): Berklee Press,
2003.
KACHULIS, Jimmy. The Songwriter’s Workshop: Harmony. Boston (EUA): Berklee Press,
2005.
PATTISON, Pat. Songwriting: Essential Guide to Lyric Form and Structure: Tools and
Techniques for Writing Better Lyrics (Songwriting Guides). Boston, Massachusetts (EUA):
Berklee Press, 1991.
SEGRETO, Marcelo. A canção e a oralização: sílaba, palavra e frase. Tese de doutorado.
São Paulo: FFLCH-USP, 2019.
TATIT, Luiz. Por uma semiótica da canção popular. Dissertação de mestrado. São Paulo:
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, 1982.
TATIT, Luiz. Todos entoam: ensaios, conversas e canções. São Paulo: Publifolha, 2007.
Lista dos fonogramas dos exemplos apresentados
BUARQUE, Chico. “Morena de Angola”. In: LP Vida. Philips, 1980.
BUARQUE, Chico. “Piano na Mangueira”. In: LP Paratodos. RCA, 1993.
JOBIM, Tom. “Piano na Mangueira”. In: LP Antônio Brasileiro. Columbia Records, 1994.
VELOSO, Caetano. “Chuva, Suor e Cerveja”. In: LP Muitos Carnavais. Philips, 1977.
Anexos
Lista de métodos de composição de canção e livros sobre composição
ADOLFO, Antonio. Composição: uma discussão sobre o processo criativo brasileiro. Rio de
Janeiro: Lumiar Editora, 1997.
ALMADA, Carlos. Arranjo. Campinas: Ed. UNICAMP, 2000.
ALZOFON, David. Compose Yourself: Songwriting and Creative Musicianship in Four Easy
Lessons. Riverside, Califórnia (EUA): David Alzofon, 2010.
AUSTIN, Dave, PETERIK, Jim & AUSTIN, Cathy Lynn. Songwriting For Dummies.
Hoboken, Nova Jersey (EUA): Wiley Publishing, 2010
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book). Londres (Reino Unido): The Song Foundry, 2017.
BLUME, Jason. Six Steps to Songwriting Success. Revised Edition: The Comprehensive
Guide to Writing and Marketing Hit Songs. Berkeley, Califórnia (EUA): Ten Speed Press,
2010.
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Songwriting Success. E-Book. Soufrière (Santa Lúcia): Mantius Cazaubon, 2015.
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Seattle, Washington (EUA): Amazon (eBook Kindle), 2015.
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1992.
FINDEISEN, Friedemann. The Addiction Formula: A Holistic Approach to Writing
Captivating, Memorable Hit Songs. Enschede (Países Baixos): Albino Publishing, 2015.
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Songs in 30 Minutes a Day. Los Angeles, Califórnia (EUA): Robin Frederick, 2014.
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Manual For All Songwriters. E-Book. Anaconda, Montana (EUA): Mike Freze, 2015
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KACHULIS, Jimmy. The Songwriter’s Workshop: Melody. Boston (EUA): Berklee Press,
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KACHULIS, Jimmy. The Songwriter’s Workshop: Harmony. Boston (EUA): Berklee Press,
2005.
KACHULIS, Jimmy & FEIST, Jonathan. Essential Songwriter: Craft Great Songs & Become
a Better Songwriter. Boston (EUA): Berklee Press, 2004.
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2011.
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Book. Conventry (Reino Unido): Emma Mcgann, 2016.
MURPHY, Ralph. Murphy’s Laws of Songwriting. Seattle, Washington (EUA): Amazon
(eBook Kindle), 2013.
OLIVER, Brian. How Not to Write a Hit Song. Montreal (Canadá): Rapido Books (e-book),
2013.
OLIVER, Brian. How Not to Write Great Lyrics. Montreal (Canadá): Big 6 Publishing (e-
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Books, 2011.
PATTISON, Pat. Songwriting: Essential Guide to Lyric Form and Structure: Tools and
Techniques for Writing Better Lyrics (Songwriting Guides). Boston, Massachusetts (EUA):
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PATTISON, Pat. Writing Better Lyrics. Cincinnati, Ohio (EUA): Writer’s Digest Books, 1995.
PATTISON, Pat. Essential Guide to Rhyming: A Step-By-Step Guide to Better Rhyming for
Poets and Lyricists. Boston, Massachusetts (EUA): Berklee Press, 2014.
PERRICONE, Jack. Melody in Songwriting: Tools and Techniques for Writing Hit Songs
(Berklee Guide). Boston, Massachusetts (EUA): Berklee Press, 2000.
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Chord Progressions, Songwriting Inspiration & Tips (E-book). Riga (Letônia): Egils
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WEISSMAN, Dick. Songwriting: The Words, The Music And The Money. Milwaukee,
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WILLIAMS, Justin & WILLIAMS, Katherine. The Singer-Songwriter Handbook. New York,
New York (EUA): Bloomsbury, 2017.
WRIGHT, Alexander. Songwriting: How to Write Lyrics for Beginners in 24 Hours or Less.
Seattle, Washington (EUA): Amazon (eBook Kindle), 2016.
WRIGHT, Alexander. How to Write a Song: Beginner’s Guide to Writing a Song in 60
Minutes or Less. Seattle, Washington (EUA): Amazon (eBook Kindle), 2015.
WRIGHT, Alexander. Lyric and Melody Writing for Beginners. Seattle, Washington (EUA):
Amazon (eBook Kindle), 2015.
ZOLLO, Paul. More Songwriters on Songwriting. Boston, Massachusetts (EUA): Da Capo
Press, 2016.
Sumário provisório da pesquisa
Princípios de composição de canção
Introdução: “Princípios e gradações: um curso de criação de canção não-normativo”
Parte I – Aspectos cancionais
Capítulo 1: A canção como linguagem autônoma: a relação entre a letra e a música
Capítulo 2: Oralização e musicalização
Capítulo 3: Oralização linear e não-linear
Capítulo 4: A acentuação silábica
Capítulo 5: A acentuação lexical
Capítulo 6: O recorte da frase
Capítulo 7: A forma da canção sob a perspectiva da oralização
Capítulo 8: Os dêiticos
Capítulo 9: Os tonemas
Capítulo 10: A elasticidade melódica
Capítulo11: A faixa entoativa
Capítulo12: As unidades entoativas
Capítulo 13: O mapeamento da melodia
Capítulo 14: O mapeamento da letra
Capítulo 15: A “letra monstro”: provisoriedade e permanência
Capítulo 16: A criação melódica a partir da entoação da fala
Capítulo 17: Português padrão e português não padrão
Capítulo 18: A criação a partir de um modelo entoativo
Capítulo 19: O timbre vocal como ferramenta composicional
Capítulo 20: Interpretação e composição
Parte II – Aspectos linguísticos
Capítulo 1: A relação entre canção e poesia: encontros e desencontros
Capítulo 2: Sentido denotativo e sentido conotativo
Capítulo 3: Figuras de linguagem de som I: aliteração
Capítulo 4: Figuras de linguagem de som II: assonância
Capítulo 5: Figuras de linguagem de som III: paronomásia e onomatopeia
Capítulo 6: Figuras de linguagem de pensamento I: antítese, paradoxo e oximoro
Capítulo 7: Figuras de linguagem de pensamento II: eufemismo, hipérbole e ironia
Capítulo 8: Figuras de linguagem de pensamento III: gradação, prosopopeia e apóstrofe
Capítulo 9: Figuras de linguagem de sintaxe I: elipse, zeugma, silepse
Capítulo 10: Figuras de linguagem de sintaxe II: pleonasmo, anáfora e anadiplose
Capítulo 11: Figuras de linguagem de sintaxe III: hipérbato, anástrofe. assíndeto e
polissíndeto
Capítulo 12: Figuras de linguagem de palavras I: metáfora e catacrese
Capítulo 13: Figuras de linguagem de palavras II: metonímia
Capítulo 14: Figuras de linguagem de palavras III: sinestesia e antonomásia (perífrase)
Capítulo 15: A criação de neologismos
Capítulo 16: A rima sob a perspectiva cancional
Capítulo 17: A métrica do texto linguístico sob a perspectiva cancional
Capítulo 18: O ritmo do texto linguístico sob a perspectiva cancional
Capítulo 19: Os gêneros literários sob a perspectiva cancional: épico, lírico e dramático
Capítulo 20: A Forma e o conteúdo
Parte III – Aspectos musicais
Capítulo 1: A relação entre canção e música: encontros e desencontros
Capítulo 2: A composição para voz
Capítulo 3: A criação melódica: repetição e contraste
Capítulo 4: A criação melódica a partir de uma base rítmica regular: os gêneros de canção
Capítulo 5: A criação melódica a partir de uma base rítmica irregular
Capítulo 6: A criação melódica a partir de uma base musical tonal
Capítulo 7: A criação melódica a partir de uma base musical não-tonal
Capítulo 8: A criação de uma melodia vocal a partir de uma linha instrumental
Capítulo 9: A criação de duas ou mais melodias vocais simultâneas e contrastantes
Capítulo 10: A forma da canção: repetição e contraste
Capítulo 11: Relações entre melodia e harmonia
Capítulo 12: O ritmo harmônico
Capítulo 13: Diferentes propostas de harmonização de uma melodia
Capítulo 14: A expansão da tonalidade
Capítulo 15: A criação de acompanhamentos texturais e timbrísticos
Capítulo 16: O arranjo: estrutura e planejamento
Capítulo 17: O arranjo que parte da composição e a composição que parte do arranjo
Capítulo 18: O arranjo que explora a relação entre forma e conteúdo
Capítulo 19: O arranjo a partir de texturas polifônicas
Capítulo 20: O arranjo a partir de estruturas tonais e não-tonais
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