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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS – MG
INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA NATUREZA (ICN)
Diely Cristina Pereira
PROPOSTA METODOLÓGICA PARA
MAPEAMENTO DE ÁREAS DE RISCO A
MOVIMENTOS DE MASSA:
APLICAÇÃO NA ÁREA URBNA DA SUB-
BACIA HIDROGRÁFICA DO CÓRREGO
DA PEDRA BRANCA NO MUNICÍPIO
DE ALFENAS-MG
Alfenas/MG
2011
2
Diely Cristina Pereira
PROPOSTA METODOLÓGICA PARA
MAPEAMENTO DE ÁREAS DE RISCO A
MOVIMENTOS DE MASSA:
APLICAÇÃO NA ÁREA URBNA DA SUB-
BACIA HIDROGRÁFICA DO CÓRREGO
DA PEDRA BRANCA NO MUNICÍPIO
DE ALFENAS-MG
Trabalho de Conclusão de Curso,
apresentado como requisito para
obtenção do título de Bacharel em
Geografia pela Universidade Federal
de Alfenas (UNIFAL-MG).
Área de Concentração: Geomorfologia
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Marta Felícia
Marujo Ferreira
Alfenas/MG
2011
3
Diely Cristina Pereira
PROPOSTA METODOLÓGICA PARA
MAPEAMENTO DE ÁREAS DE RISCO A
MOVIMENTOS DE MASSA: APLICAÇÃO
NA ÁREA URBNA DA SUB-BACIA
HIDROGRÁFICA DO CÓRREGO DA PEDRA
BRANCA NO MUNICÍPIO DE ALFENAS-MG
A Banca examinadora abaixo assinada
aprova o Trabalho de Conclusão de
Curso apresentado como parte dos
requisitos para aprovação na disciplina
de Trabalho de Conclusão de Curso II
e obtenção do título de Bacharel em
Geografia pela Universidade Federal
de Alfenas (UNIFAL-MG).
Prof.ª Dr.ª Marta Felícia Marujo Ferreira Assinatura:
Universidade Federal de Alfenas
Prof. Dr. Ronaldo Luiz Mincato Assinatura:
Universidade Federal de Alfenas
Prof. Dr. Ericson Hideki Hayakawa Assinatura:
Universidade Federal de Alfenas
4
AGRADECIMENTOS
Agradeço aos meus pais Valmira e Wagner pela oportunidade de estudar e concluir
esta etapa, aos dois que deixaram de viver a suas vidas para se dedicarem inteiramente a mim
e a Diane. Ao meu pai que mesmo com pouca escolaridade me acompanhou nos trabalhos de
campo compreendendo o valor de uma boa formação.
Agradeço a professora Marta pela orientação, compreensão, liberdade e por abraçar
esta pesquisa. A Unifal-MG e ao curso de Geografia pela acolhida.
Agradeço as meninas da minha república Geólatras Ana Luiza, Ana Paula, Ana Lia,
Mária e Mayara pelo companheirismo, carinho e as madrugadas de estudos e conversas. Em
especial Camila e Laura pela parceria e amizade nesses tempos de trabalhos finais. Valeu
meninas pela co-orientação!
Aos amigos da república Bilisca, Natalia, Leo Sara, Chris e todos da Geografia 2008,
pelos momentos de alegria e conforto quando os nervosismos pelas obrigações com a
faculdade me embaraçavam.
Ao Daniel, André, e Camila (novamente) pelas discussões sobre a vida e a Geografia.
Foram momentos de crescimento profissional, intelectual e pessoal.
Agradeço as adversidades da caminhada na Geografia por me fazerem provar os dois
sabores: Geografia Humana e Geografia Física.
Aos equívocos da minha trajetória em Alfenas, as vezes não reconhecidos, mas que
fizeram de mim uma pessoa melhor.
5
“contrariamente às outras criações da vida, a humanidade tentou libertar-se das coações do
meio natural para ordenar o espaço onde se desenrola a sua história. É esta a análise do espaço
que constitui o objeto da Geografia”. Isnard 1982
6
RESUMO
A ação transformadora do homem sobre o meio físico através da urbanização vem
provocando o aparecimento ou mesmo a intensificação dos processos que causam problemas
ambientais. A ocupação das encostas e do vale do Córrego da Pedra Branca potencializou o
desenvolvimento de situações de risco para a população ali estabelecida. As atividades
humanas através de cortes em encostas, aterros alteram a dinâmica superficial da água,
promovendo o transporte de coberturas pedológicas superficiais e a intensificação de
processos morfogenéticos que expõem moradias a prejuízos econômicos e sociais. O
mapeamento das áreas de risco a movimentos de massa da sub-bacia do Córrego da Pedra
Branca localizada a leste da área urbana do município de Alfenas, no Sul de Minas Gerais se
fará pela proposta metodológica que combina os atributos físicos como relevo, pedologia,
clinografia, e uso do solo, além dos fatores antrópicos como padrão das moradias, depósitos
tecnogênicos e alteração nos recursos hídricos. Esta sub-bacia tem apresentado problemas
como poluição dos cursos d’água, depósito de resíduos sólidos em locais impróprios, o uso e
ocupação indiscriminados do solo, alteração do equilíbrio geomorfológico das encostas, os
quais demonstram deficiências no planejamento urbano-ambiental. As chuvas quando
intensas e concentradas em vertentes íngremes desprovidas de vegetação e a instalação de
moradias precárias podem acelerar e até desencadear processos erosivos deflagrando
movimentos de massa. Os estudos dessa natureza permite estabelecer quais as áreas propícias
para ocupação urbana organizando o espaço para os mais diversos fins, tais como bairros
residenciais, implantação de estradas, e outras definições de usos do solo. Trata-se de um
instrumento fundamental para o planejamento urbano-ambiental que deve levar em conta não
somente as influências do meio físic o mas também do meio biótico.
Palavras-chave: urbanização, problemas ambientais, metodologia, planejamento urbano.
7
ABSTRACT
The transformative power of man over the physical environment through urbanization has led
to the emergence or intensification of the processes that cause environmental problems. The
occupation of the slopes and the valley of the stream Pedra Branca has enhanced the
development situations of risk to the established population. Human activities through cuts in
slopes, embankments alter the dynamics of surface water, promoting the transport of surface
soil landscapes and intensification of morphogenetic processes that expose housing causing
social and economic losses. The mapping of risk areas to mass movements of the sub-basin
Pedra Branca located east in the urban area of Alfenas, in southern Minas Gerais, will be the
methodological approach that combines the physical attributes such as topography, pedology,
slope, land use, in addition to anthropogenic factors as standard of housing, technogenic
deposits and change on water resources. This sub-basin has shown problems such as pollution
of waterways, solid waste disposal in inappropriate places, the in discriminate use and
occupation of the soil, geomorphological change in balance of slopes, which show
deficiencies in urban planning and environmental. The rains when intense and concentrated
on steep slopes devoid of vegetation and the installation of precarious housing can accelerate
erosion and even trigger mass movements. Studies of this nature allows us to establish which
favorable areas for occupation by organizing urban space for many different purposes such as
residential neighborhoods, installation of roads, and other definitions of land uses. It is a
fundamental tool for the urban-environmental planning that must take into account not only
the influences of the physical environment but also the biota.
Keywords: urbanization, environmental problems, methodology, urban planning.
8
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Evolução urbana de Alfenas.....................................................................................14
Figura 2 - Localização da sub-bacia hidrográfica do Córrego da Pedra Branca.......................16
Figura 3 - Ilustração de escorregamento...................................................................................20
Figura 4 - a) Ilustração de queda de bloco; b) Ilustração de corrida.........................................21
Figura 5 - Ilustração de rastejo..................................................................................................21
Figura 6 - Ocupação urbana da margem esquerda do córrego da Pedra Branca.......................28
Figura 7 - Visão da morfodinâmica da sub-bacia hidrográfica do córrego da Pedra Branca...30
Figura 8 - Depósitos tecnogênicos na sub-bacia do córrego da Pedra Branca..........................34
Figura 9 - Esboço da classificação dos graus de risco. À esquerda a variável clinografia e à
direita, a variável uso do solo........................................................................................37
Figura 10 - Esboço da classificação dos graus de risco. À esquerda a variável morfodinâmica
e à direita, a variável atributos tecnogênicos..............................................................38
Figura 11 - Alteração do nível de base do terreno expondo a rocha.........................................42
Figura 12 - Braço principal da voçoroca em atividade.............................................................43
9
LISTA DE MAPAS
Mapa 1: Mapa de uso do solo da sub-bacia hidrográfica do córrego da Pedra Branca............29
Mapa 2: Mapa morfodinâmico da sub-bacia hidrográfica do córrego da Pedra Branca...........31
Mapa 3: Mapa da clinografia da sub-bacia hidrográfica do córrego da Pedra Branca.............32
Mapa 4: Mapa de localização dos atributos tecnogênicos na sub-bacia hidrográfica do córrego
da Pedra Branca.............................................................................................................35
Mapa 5: Mapa das áreas de risco a movimento de massa na sub-bacia hidrográfica do córrego
da Pedra branca.............................................................................................................40
10
LISTA DE QUADROS
Quadro 1: Relação de materiais cartográficos utilizados..........................................................24
Quadro 2: Graus de probabilidade de ocorrência de processos associados a movimentos de
massa.............................................................................................................................25
Quadro 3: Classificação dos graus de risco para uso do solo...................................................26
Quadro 4: Classificação dos graus de risco para as unidades morfodinâmicas.......................26
Quadro 5: Classificação das cotas clinográficas.......................................................................26
Quadro 6: Classificação dos atributos tecnogênicos.................................................................27
11
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Quantidade em gramas de partículas retidas em cada peneira da análise
granulométrica...............................................................................................................36
Tabela 2: Escala granulomérica para interpretação dos dados..................................................36
12
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO...........................................................................................................13
2 A SUB-BACIA DO CÓRREGO DA PEDRA BRANCA.........................................16
2.1 Hidrologia .....................................................................................................................16
2.2 Geomorfologia..............................................................................................................17
2.3 Geologia........................................................................................................................17
3 ESTADO ATUAL DO CONHECIMENTO SOBRE O TEMA..............................18
3.1 Bacias hidrográficas como unidades de estudo.............................................................18
3.2 Áreas de risco: algumas definições...............................................................................18
3.3 Os movimentos de massa e a sua tipologia...................................................................20
3.4 O mapeamento das áreas de risco.................................................................................22
4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS.............................................................24
4.1 Materiais utilizados.......................................................................................................32
4.2 Proposta metodológica..................................................................................................24
4.3 Atribuição dos graus de risco para cada variável..........................................................25
5 RESULTADOS............................................................................................................28
5.1 As variáveis consideradas quanto aos riscos de movimentos de massa........................28
5.1.1 Uso do solo....................................................................................................................28
5.1.2 Unidades morfodinâmicas.............................................................................................29
5.1.3 Clinografia.....................................................................................................................31
5.1.4 Atributos tecnogênicos..................................................................................................33
5.5 Geologia........................................................................................................................35
5.6 Aplicação da metodologia proposta..............................................................................37
5.7 Condicionantes da movimentação.................................................................................42
5.8 Preocupações futuras.....................................................................................................43
5.9 Sugestão........................................................................................................................44
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS.....................................................................................45
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................46
13
1. INTRODUÇÃO
A concentração de pessoas nas áreas urbanas impulsionadas principalmente pelo
êxodo rural produziu deficiências nos serviços básicos fornecidos para a população como falta
de saneamento básico e coleta de lixo, falta de tratamento da água, precariedade no transporte
público urbano entre outros.
A dinâmica urbana verificada na atualidade vem contribuindo para a intensificação
dos problemas ambientais. A retirada da cobertura vegetal e a construção de desvios dos
leitos fluviais são as primeiras modificações advindas da ocupação humana que
posteriormente induz a uma gradativa geração de impactos para a instalação das sedes
urbanas.
Essa situação é constatada no município de Alfenas, localizado na região Sul de Minas
Gerais. A sede municipal foi instalada no início do século XIX nos interflúvios de quatro
sub-bacias hidrográficas: do córrego do Pântano, do Chafariz, do Cemitério e do Pedra Branca
que são afluentes do rio Sapucaí. No século XX a evolução da área urbana ultrapassa o limite
de um curso d’água, com a construção do aeroporto na sub-bacia hidrográfica do córrego da
Pedra Branca (PLANO DIRETOR DE ALFENAS, 2006).
Segundo o documento citado, no final da década de 1980, a cidade passou por uma
grande alteração, intensificando o crescimento periférico motivado principalmente pela
ampliação da Fundação de Ensino Superior de Alfenas, que ganhou o status de Universidade
de Alfenas em 1989 (Unifenas). Um grande contingente estudantil, com alto poder aquisitivo,
inflacionou o mercado imobiliário valorizando o aluguel das propriedades localizadas no
centro da cidade em direção à região sudeste do município. A população de baixa renda
excluída dessa dinâmica imobiliária se estabeleceu nas regiões periféricas a norte e oeste do
município.
Recentemente, os vazios urbanos que se formaram nos períodos anteriores estão
sendo gradativamente ocupados. Segundo o Plano Diretor de Alfenas (2006), a grande
maioria dos investidores não considerou preocupações com a qualidade das edificações,
ocupando ao máximo o terreno, com moradias sem ventilação e iluminação adequadas.
A figura 1 mostra a evolução urbana de Alfenas desde o século XIX até o início dos
anos 2000. É neste contexto que a área da sub-bacia hidrográfica do córrego da Pedra Branca
é ocupada.
Localizada na porção leste da área urbana do município possui 56% de área dentro do
perímetro urbano de Alfenas sendo ocupada por bairros de características antagônicas.
Segundo Oliveira (2010), nas encostas da margem esquerda a ocupação mais intensa.
14
Figura 1: Evolução urbana de Alfenas.
Fonte: Plano Diretor de Alfenas (2006).
As construções são de baixo padrão e muitas vezes irregulares o que proporciona
alterações na morfologia original da área, criação de depósitos tecnogênicos além de
caracterizar uma susceptibilidade diferenciada da margem direita. Esta, com ocupação mais
recente e de alto padrão está no eixo de valorização imobiliária o que possibilita a
implantação de loteamentos sem considerar os aspectos físicos da área podendo levar a sérios
riscos principalmente relacionados à dinâmica pluvial.
Os aspectos naturais combinados ao mau uso e ocupação do solo aceleram a
degradação ambiental motivando desastres ambientais urbanos. As chuvas quando intensas e
concentradas em vertentes íngremes, desprovidas de vegetação e principalmente com
instalação de moradias precárias podem acelerar desencadear processos como movimentos de
massa. O planejamento urbano torna-se um instrumento básico para a prevenção do processo
de degradação ambiental que possibilita o desenvolvimento estrutural da cidade buscando
promover a integração do homem com a natureza e reduzir os seus desequilíbrios.
Este trabalho tem como finalidade aplicar uma metodologia para o mapeamento das
áreas de risco a movimentos de massa, tendo como objeto de análise, a sub-bacia do córrego
15
da Pedra Branca, localizada em Alfenas (MG). O mapeamento das áreas de risco aparece com
importância essencial porque avalia a possibilidade de que um evento aconteça em um lugar e
tempo definidos, que podem ser decisivos para a eficiência de uma política de intervenções
voltada à consolidação da ocupação. Assim, a proposta metodológica aplicada, visa integrar
variáveis que condicionam estes processos, como uso do solo, clinografia, atributos
tecnogênicos e morfodinâmica, analisados dentro do Sistema de Informação Geográfica
(SIG).
16
2. A SUB-BACIA DO CÓRREGO DA PEDRA BRANCA
A área de estudo compreende a bacia hidrográfica do Córrego da Pedra Branca
localizada a leste da área urbana do município de Alfenas, entre as coordenadas 7635000 m
N, 415000m E e 7620000m N, 405000m E UTM.
Figura 2: Localização da sub-bacia hidrográfica do Córrego da Pedra Branca.
Adaptado de: Garófalo, Ferreira, 2010.
Essa sub-bacia tem seu curso orientado de Sul para Norte, encaixado em uma área dos
morros convexos. Grande parte da planície fluvial é formada por um substrato instável,
composto por sedimentos areno-sílticos-argilosos, provenientes de processos fluviais e das
vertentes laterais que apresentam um material alterado e remobilizado por processos de erosão
linear (OLIVEIRA, 2010).
A ação antrópica na área urbanizada do córrego vem alterando a sua morfologia
original com a implantação de aterros, cortes, retificação do córrego. O processo de ocupação
alterou o nível do terreno, primeiro ocupando-se os topos, que tendem a serem as áreas mais
valorizadas na cidade; por conseguinte, as áreas próximas aos fundos de vale são ocupadas à
medida que ocorre o crescimento urbano, tendo em vista a gradual desvalorização dessas
áreas (OLIVEIRA, 2010a).
2.1. Hidrologia
A sub-bacia hidrográfica do córrego da Pedra Branca é classificada como sendo de
terceira ordem, possuindo tributários de primeira ordem à montante, e tributários de primeira
17
e segunda ordem no setor médio da bacia. À montante configura-se num a forma alongada em
direção ao médio curso e a jusante apresenta materiais de acumulação se constituindo em
topografia agradacional, do tipo planícies fluviais. Ocupando uma área de 27,7 Km² numa
forma retilínea está inserida na bacia hidrográfica do rio Sapucaí desaguando no córrego da
Ferradura e posteriormente na represa de Furnas a norte do município de Alfenas
(GARÓFALO, FERREIRA, 2010).
2.2. Geomorfologia
A sub-bacia hidrográfica do córrego da Pedra Branca está inserida na segunda unidade
de paisagem classificada por Ferreira, Oliveira, Garófalo, 2008 como Unidade II Geossistema
de Morros Convexos de Alfenas-Machado. Nesta unidade a dissecação fluvial é densa
organizando um arranjo de divisores de água com topos arredondados e vertentes convexo-
côncavas esporadicamente retilíneas (OLIVEIRA, FERREIRA, 2010a).
Segundo Oliveira (op.cit.) “é importante observar que o arranjo geométrico do relevo
de morros convexos mostra uma direção N-S bem marcada, resultado da imposição e
dissecação do córrego da Pedra Branca, o qual, possivelmente está condicionado por
lineamentos estruturais neste mesmo sentido”.
2.3. Geologia
A área de estudo está inserida no complexo geológico Varginha-Guaxupé constituída
principalmente por granulitos e paragnaisses granatíferos dentro do domínio Sul,
individualizado na unidade litoestrutural de gnaisses charnockíticos (ALMEIDA, 1997).
Os gnaisses charnockíticos apresentam cor cinza claro a esverdeados com algumas
intercalações advindas de outros gnaisses como os graníticos. Sua granulometria varia de
média a grosseira (ALMEIDA, op.cit.).
18
3. ESTADO ATUAL DO CONHECIMENTO SOBRE O TEMA
3.1. Bacia hidrográfica como unidades de estudo
Segundo Botelho (2005) “bacia hidrográfica é a área da superfície terrestre drenada
por um rio e seus tributários sendo limitada pelos divisores de água”. Pode ser facilmente
identificada e delimitada através de uma base cartográfica que possua cotas altimétricas como
as cartas topográficas ou que permitam uma visão tridimensional da paisagem como as
fotografias aéreas (BOTELHO op.cit.).
Nas últimas décadas, devido à necessidade de uso ordenado dos recursos naturais, os
limites das bacias hidrográficas vêm sendo utilizados como unidade de análise para o
ordenamento territorial, devido ao caráter integrador e sistêmico das características naturais
(hidrografia, geomorfologia, geologia, pedologia e vegetação) e as atividades antrópicas
observadas nesse ambiente.
Sabe-se que uma bacia hidrográfica, além de poder estar inserida em outras de
tamanho maior, pode, ainda, conter um número variado de outras bacias menores, chamadas
de sub-bacias (BOTELHO op.cit.). O tamanho dessas sub-bacias não é fixo, devendo se
adaptar aos objetivos que se pretende alcançar. Para análise das áreas de risco a movimentos
de massa as bacias tornam-se unidades de análise geoambientais, pois devem ser analisadas
como unidades sistêmicas, relacionando os elementos naturais e antrópicos dispostos na área.
3.2. Áreas de risco: algumas definições
O uso de alguns termos referentes ao estudo das áreas de risco mostra-se por vezes
indefinido. Rotineiramente a expressão risco é associada e até mesmo substituída por
potencial, suscetibilidade, vulnerabilidade, sensibilidade ou danos potenciais (DAGNINO e
CARPI JUNIOR, 2007). Considera-se risco a probabilidade de que um evento, mesmo que
não esperado, se torne realidade. Sendo assim a possibilidade de algo ocorrer já pode ser
considerado um risco.
Para Tominaga (2011a) “risco é a possibilidade de se ter consequências prejudiciais ou
danosas em função de perigos naturais ou induzidos pelo homem” que pode ser expresso pela
seguinte equação:
R = P x C, onde:
R- risco
P- possibilidade de ocorrência
C- consequências
19
Para Dagnino e Carpi Junior (op.cit.) os riscos são de quatro tipos: riscos naturais, os
quais não são relacionados à ação antrópica e sim, aos eventos tectônicos, climáticos, e
geomorfológicos. Os riscos tecnológicos, que se deve levar em conta a produção, o trabalho e
a condição humana; os ricos sociais que se qualifica pelas causas e conseqüências sociais.
Finalmente os riscos ambientais, já que todas as situações de risco estão ligadas ao seu
entorno, ao seu ambiente natural ou antrópico é, portanto, uma classe sintética.
Quando existe risco, ele o é para alguém. Por isso, Oliveira, Robaina, Reckziegel
(2004) propõe que o termo risco envolva também o componente antrópico. O uso dos
ambientes naturais ocupados de forma negligente responsabiliza o homem pelos danos
causados por um evento. Não há, portanto, risco sem uma população.
Os riscos abordados nessa pesquisa são de natureza geomorfológica, e também
ambiental, referentes aos processos da dinâmica superficial e as suas possíveis implicações.
Estes são responsáveis pela modelação do relevo e condicionam a ocupação pela população.
Os atributos naturais aliados ao uso do solo inadequado aceleram o processo de degradação
ambiental gerando os impactos e desastres ambientais. Chuvas intensas e concentradas,
encostas íngremes desprotegidas de vegetação, assentamentos urbanos em encostas de alta
declividade são algumas das condições que podem acelerar processos erosivos e expor a
população a riscos geomorfológicos.
Áreas de risco são, portanto aquelas passíveis de serem atingidas por fenômenos ou
processos naturais ou induzidos que causem acidentes. As pessoas que habitam essas áreas
estão sujeitas a danos à integridade física, perdas materiais e patrimoniais.
Nas áreas urbanas, esses processos são preocupantes. A erosão avança agressivamente
nos setores de expansão das cidades, por meio da abertura de loteamentos, os quais exigem
para a sua implantação, grande movimentação e exposição de solos. Estes terrenos, sem a
proteção da cobertura vegetal e das camadas superficiais do solo, tornam-se vulneráveis à
ação das chuvas e do escoamento superficial das águas pluviais, propiciando a instalação da
erosão acelerada (TOMINAGA, op.cit.).
Para Oliveira, Robaina, Reckziegel (op.cit.) cada vez mais os eventos danosos se dão
em lugares antropizados o que modifica a sua significação. É necessária a obtenção de um
conhecimento detalhado das características dos fenômenos. Além disso, através da definição
da vulnerabilidade local e da resposta do sistema social, é possível gerenciar o risco com
intuito de minimizar as conseqüências adversas de um desastre natural.
20
3.3. Os movimentos de massa e a sua tipologia
A ênfase será dada aos movimentos de massa, onde solo, rocha e/ou vegetação se
movimenta ao longo da encosta sob ação da gravidade. Estes processos fazem parte da
dinâmica natural das vertentes participando da evolução geomorfológica da área, porém,
quando existe ocupação urbana desordenada sem um planejamento do uso do solo, estes
processos serem deflagrados podem ocasionar acidentes envolvendo a população estabelecida
no local. A seguir, serão descritos os principais tipos de movimentos de massa que ocorrem
nas encostas em regiões tropicais.
Dentre todos os processos os mais comuns são os escorregamentos também chamados de
deslizamento, queda de barreira ou desbarrancamento. Segundo Tominaga (2011), os
escorregamentos são movimentos rápidos de porções de solos, rochas, vegetação com
volumes muito bem definidos que deslocam sob ação da gravidade para fora da encosta.
Quando a força gravitacional vence o atrito interno das partículas, responsável pela
estabilidade, a massa de solo movimenta-se encosta abaixo. Geralmente esse rompimento se
dá pela infiltração de água no solo que o satura. A figura 3, ilustra um escorregamento.
Figura 3: Ilustração de escorregamento.
Fonte: Tominaga (op.cit.).
Outro tipo de movimento de massa são as quedas de bloco. Elas se caracterizam pela
queda de blocos como uma ação de queda livre a partir de uma elevação, com ausência de
superfície de movimentação a velocidades muito altas. Nas corridas os movimentos são
semelhantes ao de um líquido viscoso e se desenvolvem ao longo das drenagens de
velocidades médias a alta com grande volume de material como solo, rocha, detritos e água.
Abaixo são ilustradas (figura 4) as quedas de bloco e as corridas.
21
Figura 4: a) Ilustração de queda de bloco; b) Ilustração de corrida.
Fonte: a) Geodinâmica externa, movimentos de massa (20110); b) Tominaga (op.cit.)
Os rastejos são movimentos lentos e contínuos de material de encostas com limites
indefinidos que acontecem a velocidades baixas. Envolvem, muitas vezes, grandes volumes
de solos, sem que apresente uma diferenciação visível entre o material em movimento e o que
está estacionado. Acontece devido à ação da gravidade, associada também aos efeitos das
variações de temperatura e umidade. O processo de expansão e contração da massa de
material, devido à variação térmica, provoca o movimento, vertente abaixo (TOMINAGA,
op.cit.). Abaixo a figura 5 ilustrativa.
Figura 5: Ilustração de rastejo.
Fonte: Geodinâmica externa, movimentos de massa (2011).
Alguns fatores podem influenciar de maneira direta para a aceleração dos processos
como a cobertura vegetal, a configuração do relevo, o tipo de solo e a ação do homem. A
cobertura vegetal protege o solo contra o impacto das gotas de chuva, dispersando e/ou
interceptando as gotas de água antes que estas atinjam o solo. Os troncos e as raízes das
plantas orientam a infiltração da água de maneira lenta e seguram a terra dificultando o seu
arraste.
Dependendo da declividade do terreno, da forma e da extensão das encostas os
processos erosivos se manifestam de maneira diferenciada. Na medida em que aumenta a
declividade e a extensão de uma encosta o fluxo de água percorre uma maior distância
ganhando assim velocidade e poder erosivo retirando maior quantidade de materiais e
partículas. Em vertentes côncavas é mais visível o efeito do escoamento concentrado.
a) b)
22
Quanto aos solos, os mais arenosos sofrem mais com a ação das águas, pois tem
menor resistência a força de arrasto. Já os solos mais argilosos permitem uma menor
infiltração da água e, portanto, sofrem mais com enxurradas. O conjunto das características
dos solos que dependem da rocha-mãe e de sua evolução ao longo do tempo, sob ação do
clima e das formações vegetais, determina a suscetibilidade dos terrenos à erosão (DIAS,
GOMES e GOES, 2001).
A ação antrópica é mais evidente principalmente no que se refere aceleração da
velocidade dos processos erosivos. A retirada da vegetação natural para uso agropecuário, o
manejo inadequado de solos produtivos, o uso intensivo das terras com alta suscetibilidade à
erosão e, sobretudo, a falta de planejamento do uso e ocupação do solo promovem a
degradação dos ambientes naturais e causando agravamento dos processos erosivos e a
degradação ambiental (DIAS, GOMES e GOES, op.cit.).
3.4. O mapeamento das áreas de risco
O uso desordenado do solo principalmente nas áreas urbanas tem provocado a
intensificação e até mesmo o aparecimento de problemas ambientais relevantes. A adoção de
medidas apropriadas é extremamente necessária para assegurar e controlar a ocupação
racional destas áreas pelo homem.
Estudos que tem como finalidade a delimitação de áreas sujeitas a riscos valem-se do
uso de técnicas de Geoprocessamento que possibilitam a aquisição, manipulação e a
integração de dados, servindo de subsídios para a caracterização espacial/temporal de áreas
com suscetibilidade a processos erosivos e aos riscos ambientais (VALÉRIO FILHO e
ARAÚJO JUNIOR; 1995 apud DIAS op.cit.).
A técnica de Geoprocessamento permite o tratamento dos dados de diversos temas
como geomorfologia, altimetria, clinografia, uso do solo e cobertura vegetal, desde a entrada,
edição, armazenamento e, posteriormente, as análises ambientais. Essa eficiência se deve a
capacidade de integração de grande quantidade de dados com relações complexas entre si
(MORATO, 2000).
Um dos mais valiosos instrumentos do Geoprocessamento são os SIGs (Sistema de
Informação Geográfica), eficientes em aplicações em várias áreas do conhecimento, pois,
integram em uma única base de dados informações que representam vários aspectos do estudo
de uma região, permitem a entrada de dados de diversas formas de diferentes fontes e geram
novos tipos de informações através de documentos gráficos de diversos tipos (MORATO, op.
cit.).
23
Uma série de benefícios pode ser listada sobre os métodos informatizados para os
estudos de planejamento do meio natural como a maior flexibilidade e precisão nos cálculos,
grande facilidade de simulação dos eventos reais, facilidade com manejo e integração de
diferentes dados e análises das informações finais registradas em cartogramas digitais.
A aplicação da proposta metodológica na sub-bacia do córrego da Pedra Branca se
fundamenta nessas ferramentas computacionais, que facilitam a integração e cruzamento de
dados referentes às variáveis consideradas como uso do solo, morfodinâmica, clinografia e
atributos tecnogênicos, para identificação das áreas de risco. Mais tarde essa mesma proposta
metodológica poderá ser aplicada a outras áreas de interesse que se deseja conhecer os riscos
quanto aos movimentos de massa.
24
4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
4.1. Materiais utilizados
O levantamento e a revisão dos materiais bibliográfico e cartográfico, compõem etapas
importantes para o desenvolvimento e evolução da pesquisa. Os materiais bibliográficos sobre
a área referem-se a leitura e revisão de temas relacionados a geomorfologia urbana,
mapeamento de áreas de risco, etc. Os materiais cartográficos constituem de cartas
topográficas nas escalas 1:50.000 e 1:250.000 e de mapa geológico na escala 1:250.000. Além
destes mapas, foram relacionados também produtos de sensoriamento remoto, tais como
imagens de satélite e fotografias aéreas. No quadro 1 abaixo estão relacionados os principais
materiais utilizados.
Material Cartográfico Articulação Escala Ano Executor
Alfenas SF-23-I-I-3 1:50.000 1970 IBGE
Carta Geológica -
Folha Varginha
SF – 23 – Y – B 1:250.000 1979 Projeto Sapucaí (CPRM)
Fotografias Aéreas 1:6.000 2006 Base S.A.
Planta cadastral digital 1:1.000 2006 Prefeitura Municipal de
Alfenas
Quadro 1: Relação de materiais cartográficos utilizados.
Também foi utilizado o software ArcGis na versão 10 elaborado pela empresa ESRI
que auxiliou no cruzamento dos dados e na confecção dos mapas intermediários, esboços e
mapa final.
4.2. Proposta metodológica
No Brasil, as metodologias para mapeamento de áreas de riscos se constituem em
estudos recentes. Os trabalhos pioneiros surgiram no final da década de 1980 e atualmente
Carvalho (2007), Tominaga et. al.(op.cit) reuniram em suas obras diversos aspectos que
permeiam conceitos, terminologias, metodologias, aplicações e medidas preventivas a eventos
desastrosos. É importante destacar instituições pioneiras que elaboram estudos sobre essa
temática, tais como o Instituto Geológico (IG), Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) e o
Ministério das Cidades.
A partir disso opta-se pela construção de uma metodologia adaptada das já citadas que
reúna informações sobre os atributos físicos e antrópicos de uma determinada área. Partindo
do pressuposto de que risco é a possibilidade de se ter consequências prejudiciais ou danosas
em função de perigos naturais ou induzidos pelo homem (R=PxC), agrupa-se cada variável
25
utilizada em função da equação. Assim, clinografia, geologia, unidades morfodinâmicas
correspondem à análise da possibilidade de ocorrência (P) e uso do solo e atributos
tecnogênicos correspondem à análise das conseqüências (C). Quando esses dados forem
cruzados em ambiente SIG obtém-se a carta de zoneamento de riscos a movimentos de massa.
4.3. Atribuição dos graus de risco para cada variável
Para cada variável em questão adotaram-se graus de risco atribuído segundo alguns
critérios. O critério geral foi baseado no quadro de graus de probabilidade de ocorrência de
processos associados a movimentos de massa, observados no Quadro 2, elaborado pelo
Ministério das Cidades em 2006 (Mirandola, op.cit.).
Grau de
probabilidade
Classificação Descrição
R1 Baixo Os condicionantes geológicos (tipo de terreno, declividade, etc.)
predisponentes e o nível de intervenção na área são de baixa
potencialidade para o desenvolvimento de processos de
escorregamentos. Não há indícios de desenvolvimento de
processos de instabilização de encostas, a condição é menos
crítica.
R2 Médio Os condicionantes geológicos (tipo de terreno, declividade, etc.)
predisponentes e o nível de intervenção na área são de média
potencialidade para o desenvolvimento de processos de
escorregamentos. Observa-se a presença de algumas evidências de
instabilidade, porém incipientes.
R3 Alto Os condicionantes geológicos (tipo de terreno, declividade, etc.)
predisponentes e o nível de intervenção na área são de alta
potencialidade para o desenvolvimento de processos de
escorregamentos. Observa-se a presença de algumas evidências de
instabilidade. Mantidas as condições existentes, é possível a
ocorrência de eventos destrutivos durante episódios de chuvas
intensas e concentradas.
R4 Muito Alto Os condicionantes geológicos (tipo de terreno, declividade, etc.)
predisponentes e o nível de intervenção na área são de muito alta
potencialidade para o desenvolvimento de processos de
escorregamentos. Observa-se a presença de algumas evidências de
instabilidade expressivas e em grande número. Mantidas as
condições existentes, é muito provável a ocorrência de eventos
destrutivos durante episódios de chuvas intensas e concentradas. Quadro 2: Graus de probabilidade de ocorrência de processos associados a movimentos de massa.
Fonte: Adaptado de Mirandola (op.cit.)
Seguindo o quadro anterior foi possível fazer adaptações para cada variável
considerada, ou seja, uso do solo, unidades morfodinâmicas, atributos tecnogênicos e
clinografia tiveram seu grau de risco (R1, R2, R3 e R4) de acordo com a classificação,
respeitadas as suas especificidades.
Para uso do solo, os graus de risco R1, R2, R3 e R4 seguiram a seguinte classificação.
As áreas foram consideradas de risco de acordo com a ocupação urbana e com padrão das
26
moradias por que elas determinam o nível de intervenção na área. Quanto mais densa for a
ocupação e o padrão das moradias baixo, ou seja, sem consolidação da ocupação mais
intervenções humanas serão observadas. O quadro 3 mostra essa classificação.
Tipos de uso Grau de risco
Outros usos R1-Baixo
Área de expansão urbana R2- Médio
Urbano consolidado R3- Alto
Urbano não-consolidado R4- Muito Alto Quadro 3: Classificação dos graus de risco para uso do solo.
A classificação para unidades morfodinâmicas foi baseada no estudo de Modenesi-
Gauttieri, Hiruma (2004) de compartimentos geomorfológicos para fins de ocupação urbana.
Esta compartimentação foi feita a partir do mapeamento morfodinâmico da sub-bacia do
córrego da Pedra Branca definidas em quatro unidades: os topos caracterizados por menor
declividade, e raras evidências de instabilidade; a planície por sua história e condição
geomorfológica apresenta-se como área de deposição podendo haver instabilidade nas
rupturas com as vertentes; vertentes que podem ser desestabilizadas pela interferência
antrópica, desencadeando ravinamentos e pequenos movimentos de massa; e as rampas
coluvionares que são de grande instabilidade por se tratarem de depósitos provenientes das
vertentes e que nesta bacia estão na sua maioria associados a depósitos tecnogênicos. O
quadro abaixo demonstra essa classificação.
Unidades morfodinâmicas Grau de risco
Topos R1-Baixo
Planície R2- Médio
Vertentes R3- Alto
Rampas coluvionares R4- Muito Alto Quadro 4: Classificação dos graus de risco para as unidades morfodinâmicas.
As cotas clinográficas foram classificadas seguindo uma adaptação ao modelo de Ross
(1993) para o uso do solo associados aos limites críticos da geotecnia. Assim, para os degraus
clinográficos até 6 metros foi atribuído o menor risco, de 6 até 17 metros, risco médio e
maiores de 17 metros, os riscos maiores, já que as maiores cotas propiciam maiores
potencialidades de movimentos de massa. O quadro 5 evidencia essa classificação.
Cotas clinográficas (metros) Grau de risco
0 a 6 R1-Baixo
6 a 17 R2- Médio
17 a 90 R3- Alto Quadro 5: Classificação das cotas clinográficas.
Quanto aos atributos tecnogênicos a classificação foi baseada na presença dos
depósitos tecnogênicos, vetores tecnogênicos e feições tecnogênicas em cada unidade
geomorfológica identificada no mapeamento morfodinâmico. Quanto maior for o número de
27
atributos presentes em cada unidade mais propensa será aos riscos de movimentos de massa.
O quadro 6 representa a classificação destes atributos.
Número de atributos
(por feição geomorfológica)
Grau de risco
Até 2 R1-Baixo
3 R2- Médio
4 R3- Alto
Mais de 4 R4- Muito Alto Quadro 6: Classificação dos atributos tecnogênicos.
28
5. Resultados
5.1 As variáveis consideradas quanto aos riscos de movimentos de massa
5.1.1 Uso do solo
O uso do solo da sub-bacia hidrográfica do córrego da Pedra Branca é
predominantemente urbano. Na margem esquerda a ocupação é mais antiga e densa com
bairros residenciais apresentando uma heterogeneidade socioeconômica e corredores
comerciais como visto na figura 6.
Figura 6: Ocupação urbana da margem esquerda do córrego da Pedra Branca.
Fonte: Pereira (2011).
As construções geralmente são de baixo padrão e muitas vezes irregulares o que
proporciona alterações na morfologia original da área, criação de depósitos tecnogênicos além
de caracterizar uma susceptibilidade diferenciada da margem direita.
Por outro lado, na margem direita, a ocupação mais recente e de alto padrão localiza-
se no eixo de valorização imobiliária o que possibilita a expansão de loteamentos sem
considerar os aspectos físicos da área podendo levar a sérios riscos principalmente
relacionados à dinâmica pluvial. Nesta margem também se observa o uso agrícola com
presença de pastagem, plantação de café, culturas anuais e fragmentos preservados de mata
29
ciliar principalmente em alguns tributários do córrego principal. O mapa 1 representa uso do
solo da sub-bacia utilizando fotografias aéreas na escala 1:6.000, com imagens do Google
Earth do ano de 2003 e atualizações feitas por meio de trabalhos de campo.
Mapa 1: Mapa de uso do solo da sub-bacia hidrográfica do córrego da Pedra Branca.
5.5.2. Morfodinâmica
Através do mapeamento e da elaboração do mapa morfodinâmico (Mapa 2) identifica-
se no trecho à montante, vertentes que exibem um perfil convexo-côncavo, com ocorrência de
rupturas de declive convexas, as quais delimitam pequenas cabeceiras de drenagem. Neste
trecho da sub-bacia, predomina uso e ocupação rural, com remanescentes de fragmentos
florestais e mata ciliar que acompanham o rio principal e alguns tributários. Em direção a
média sub-bacia, em sua margem esquerda, as vertentes possuem uma ocupação densa onde
30
se assentam bairros como Centro, Vila Formosa, Jardim São Lucas e Cruz Preta. Por outro
lado, no mesmo trecho, a margem direita exibe vertentes com cobertura de pastagem,
apresentando alguns setores de áreas preservadas com mata ciliar.
À medida que o córrego da Pedra Branca avança em direção a jusante aparecem as
rampas coluvionares que são depósitos instáveis localizados no sopé das vertentes provindos
da remobilização de materiais antigos e/ou recentes que, atualmente, estão associadas a
depósitos tecnogênicos. Neste trecho, a planície de inundação se define a partir da presença de
material aluvionar constituído por seixos, areias, fina, média e grossa, silte e argila. As
vertentes exibem perfil convexo-côncavo, mostram-se mais suavizadas com topos
arredndados a tabulares. A ocupação urbana nas duas margens ocorre de maneira intensa. A
figura 7 corresponde a uma visão geral tirada do trecho a montante da sub-bacia do córrego da
Pedra Branca, que permite visualizar os topos tabulares e convexos dos interflúvios
principais, além das vertentes convexo-côncavas que compõem a sub-bacia.
Figura 7: Visão da morfodinâmica da sub-bacia hidrográfica do córrego da Pedra Branca.
Fonte: Pereira, 2011.
31
Mapa 2: Mapa morfodinâmico da sub-bacia hidrográfica do córrego da Pedra Branca.
5.5.3. Clinografia
De maneira geral, as declividades da sub-bacia estão entre 0 a 7º, localizadas nos
fundos do vale e nas encostas da margem direita e esquerda da sub-bacia, especialmente em
alguns topos com formas tabulares e encostas suaves. No trecho a montante e médio, as
declividades variam de 7 a 26º ocorrendo trechos pontuais com declives maiores, muitas
32
vezes, associados à morfologia antrópica, como cortes nos taludes para construção das
moradias.
A análise clinográfica é um dos atributos físicos importantes, pois permite relacionar
as diferentes faixas de declives à ocorrência de processos morfogenéticos (lentos ou rápidos) e
à vulnerabilidade da cobertura pedológica. O mapa 3 mostra a disposição das faixas de
declividades presentes na área do estudo.
Mapa 3: Mapa da clinografia da sub-bacia hidrográfica do córrego da Pedra Branca.
33
5.5.4. Atributos tecnogênicos
A ação do homem sobre a natureza tem produzido efeitos significativos na morfologia
e nos processos geomorfológicos. São nas áreas urbanas que essas ações se ampliam e afetam
direta ou indiretamente grande quantidade de pessoas.
De acordo com Peloggia (1997), a ação humana sobre a natureza tem conseqüências
em três níveis: na modificação do relevo como retificações de canais fluviais, terraplanagem,
voçorocas, áreas erodidas, áreas mineradas; nas alterações da fisiologia da paisagem com a
criação, indução, intensificação ou modificação do comportamento de processos da dinâmica
externa como incremento da erosão, infiltração e escoamento, drenagem pluvial e fluvial,
taxas de sedimentação e fluxos subterrâneos; e na criação de depósitos (os depósitos
tecnogênicos) que geram um novo comportamento morfodinâmico. A esse conjunto de ações
dá-se o nome de tecnógeno (Peloggia, op. cit.), que se refere às modificações na superfície
terrestre em decorrência da apropriação da natureza pelo homem possibilitada pelo avanço
das técnicas (daí tecnógeno).
A ocupação urbana e sua expansão introduzem elementos perturbadores do relevo,
pois desenvolvem formas de erosão e modelados característicos decorrentes da ocupação das
vertentes e dos fundos de vale. O ponto fundamental que permite tratarmos o homem como
agente geológico é a possibilidade de comparação dos efeitos das ações humanas aos efeitos
resultantes de causas naturais da dinâmica externa sobre a superfície terrestre (PELOGGIA,
op. cit.).
Houve, portanto, a necessidade de caracterização de três grupos de intervenções
tecnogênicas utilizadas neste estudo: as feições tecnogênicas, os depósitos tecnogênicos e os
vetores tecnogênicos.
A primeira situação a ser distinguida é a alteração artificial do equilíbrio
geomorfológico das encostas. O grupo das feições tecnogênicas resulta da geração de outras
feições geomorfológicas através de modificações da ação humana como o corte.
Este tipo de ação é de grande importância, pois a maioria dos escorregamentos acontece em
vertentes que sofreram corte. Nos períodos de chuvas, quando saturados, o processo de
deflagração é rápido e muitas vezes destrutivo (MIRANDOLA, 2008).
Os depósitos tecnogênicos são extremamente instáveis, pois apresentam uma enorme
variedade composicional e granulométrica em função do tipo de solo e dos materiais
provenientes das encostas, além dos artefatos, entulhos e lixo presente. Desta forma é difícil
uma classificação menos generalista do que as existentes. Os depósitos que tiverem mais de
50% da sua matriz formada de solo, entulho ou lixo foram classificados como tal. A ocupação
34
desses depósitos pode acarretar a deflagração de escorregamentos devido ao incremento de
peso e a acumulação de água (Mirandola, op. cit.). acumulação de água (Mirandola, op. cit.).
É comum na sub-bacia a presença de lixo orgânico, entulho de restos de obras civis, que na
maioria das vezes, foram incorporados ao solo pré-existente, se caracterizando como
depósitos tecnogênicos. A Figura 8 mostra a ocorrência generalizada de restos de entulho de
obras próximos às residências.
Figura 8: Lixo acumulado próximo às moradias se configurando em futuros depósitos tecnogênicos na sub-bacia
do córrego da Pedra Branca.
Fonte: Pereira, 2011.
Os vetores tecnogênicos estão intimamente ligados a presença da água e o seu
comportamento para a deflagração de processos que expõem a população a riscos ambientais.
A concentração de água pluvial e/ou servida, o lançamento de água servida em superfície,
vazamento em tubulações e a presença de fossas são indicadores da presença de vetores
tecnogênicos.
Todas essas informações referentes ao tecnógeno foram acrescidas aos atributos
físicos da sub-bacia do córrego da Pedra Branca para o mapeamento das áreas de risco a
movimentos de massa. A figura 4 apresenta a espacialização dos atributos tecnogênicos
observados em campo.
35
Mapa 4: Mapa de localização dos atributos tecnogênicos na sub-bacia hidrográfica do córrego da Pedra Branca.
3.5 Geologia
No que concerne à geologia, é importante ressaltar que não há estudos de detalhe
desenvolvidos na sub-bacia do córrego da Pedra Branca. Apenas encontram-se dados
regionais na escala 1:100.000 (Almeida, op.cit) que, de maneira geral, generalizam a
ocorrência dos litotipos na área do estudo.
Com a finalidade de caracterizar a cobertura superficial das unidades geomorfológicas
(topos, vertentes, planícies, rampas coluvionares), foram realizadas coletas do material
superficial em campo.
36
Para isso foram feitos ensaios laboratoriais de análise granulométrica de quatro
amostras de solos com o objetivo de analisar a textura de cada amostra de solo. Das amostras
coletadas, 100 gramas de material foram desagregados pelo almofariz e pistilo. Em seguida as
amostras foram encaminhadas para as peneiras e agitadas durante 10 minutos.
Depois deste procedimento as partículas que foram retidas em cada uma das peneiras
foram levadas à balança de precisão para medição de sua massa. Os resultados estão listados
na tabela 1.
Tabela 1: Quantidade em gramas de partículas retidas em cada peneira da análise granulométrica.
Malha da Peneiras Rampas
Coluvionares
Vertentes Áreas de
topo
Planície
10 – 2mm 1,68g 6,24g 15,34g 6,17g
30 – 0,59mm 39,4g 23,18g 36,91g 25,58g
40 – 0,42mm 12,11g 13,67g 10,28g 15,98g
60 – 0,250mm 15,97g 21,84g 13,58g 17,08g
120 – 0,125mm 15,28g 17,85g 11,54g 15,19g
270 – 0,044mm 13,82g 12,17g 6,77g 13,26g
Prato 4,16g 4,68g 3,83g 4,59g
Estes dados foram comparados a escala granulométrica (tabela 2) adaptada das normas
da ABNT-NBR 6502/95 para análise dos resultados.
Tabela 2: Escala granulomérica para interpretação dos dados.
Fração Granulométrica Diâmetro Equivalente Malha da Peneira
Pedregulho Maior que 2mm 10
Areia média 0,2 a 0,6mm 30,40 e 60
Areia fina 0,6 a 0,06mm 120
Silte 0,06 a 0,002mm 270
Argila Até 0,002mm Prato Adaptado de: ABNT-NBR 6502/95.
Com base nas tabelas acima, se identificou que há um predomínio da textura arenosa
nas amostras de solos analisadas. Esta tendência arenosa é verificada nas quatro unidades
geomorfológicas mapeadas (rampas coluvionares, vertentes, áreas de topos e planície). A
textura predominantemente arenosa dos materiais analisados demonstra a fragilidade dos
solos quanto aos processos morfogenéticos que se instalam nestas unidades. A partir desta
informação, é possível inferir a vulnerabilidade dos materiais em relação à dinâmica fluvial e
pluvial. A correlação dos dados de textura, com o uso do solo e as declividades das unidades
37
geomorfológicas são importantes para o reconhecimento de áreas suscetíveis e de maior
fragilidade quanto ao uso e ocupação urbano-rural.
5.6 Aplicação da metodologia proposta
De acordo com a classificação de graus de risco R1, R2, R3 e R4 das variáveis
utilizadas como clinografia, uso do solo, morfodinâmica e atributos tecnogênicos, obteve-se
os mapas da classificação clinográfica e de uso do solo quanto ao risco de movimentos de
massa (Figura 9). Cada classe identificada teve seu grau de risco atribuído em ambiente SIG,
onde a cor verde representa os menores graus, o amarelo risco médio, o vermelho representa
graus de risco alto e o marrom representa os maiores graus de risco.
Figura 9: Esboço da classificação dos graus de risco. À esquerda a variável clinografiae à direita, a variável uso
do solo.
À esquerda observa-se o esboço da classificação da clinografia. As áreas em verde
significam um risco baixo a movimentos de massa já que as cotas clinográficas são menores;
em amarelo estão as áreas classificadas como risco mediano variando de degraus de 6 a 17
metros. As áreas em vermelho são de risco alto. Para a clinografia não existe risco muito alto
já que cotas clinográficas de grandes amplitudes não foram detectadas.
38
No que concerne à classificação clinográfica, as áreas em verde significam um risco
baixo a movimentos de massa, já que as cotas clinográficas são menores; em amarelo estão as
áreas classificadas como risco mediano variando de degraus de 6 a 17 metros. As áreas em
vermelho são de risco alto. Para a clinografia não existe risco muito alto já que cotas
clinográficas de grandes amplitudes não foram detectadas.
Quanto ao uso do solo, além de considerar usos urbanos e agrícolas, a classificação
obedeceu ao padrão de moradia e na densidade de ocupação. Neste caso, as áreas em verde
são as de menores graus de risco, pois a ocupação se dá de maneira isolada com sedes rurais.
As áreas de risco mediano, representadas no esboço pela cor amarela são as áreas de expansão
urbana com a ocupação ainda não efetivada. Para as áreas urbanas classificadas como
consolidadas, ou seja, ocupação antiga de padrão de moradia de médio a alto, a cor
representativa é a vermelha representando um grau de risco alto. As áreas representadas em
marrom são as áreas não consolidadas, ou seja, áreas onde a ocupação é densa, porém recente,
de padrão de moradias baixo a mediano com alto parcelamento do terreno.
Abaixo seguem a classificação da morfodinâmica e dos atributos tecnogênicos (Figura
10).
Figura 10: Esboço da classificação dos graus de risco. À esquerda a variável morfodinâmica e à direita, a
variável atributos tecnogênicos.
39
As unidades morfodinâmicas mapeadas apresentaram a seguinte classificação: os
topos, em verde, são as áreas que oferecem riscos menores; as vertentes, em amarelo são áreas
de classificação mediana; a planície foi classificada como área de risco alto principalmente
porque nas rupturas com as vertentes é possível que se deflagrem processos erosivos podendo
levar a riscos de escorregamentos e solapamento de margens, mas não nela propriamente dita.
As rampas coluvionares foram classificadas como o risco mais alto devido a sua alta
instabilidade já que é material depositado das vertentes e nesta bacia associados a depósitos
tecnogênicos.
A classificação dos atributos tecnogênicos se deu da seguinte maneira. Para um
número de atributos presentes em cada unidade geomorfológica mapeada no mapa
morfodinâmico considerou-se um grau de risco. Quando a unidade que tiver a presença de até
dois atributos tecnogênicos, terá risco baixo com representação na cor verde. Quando forem
três os atributos será classificado como risco mediano, quatro atributos tecnogênicos risco
muito alto representado pela cor vermelha e acima de quatro, risco muito alto com cor
marrom.
Quando se efetua o cruzamento dos graus de risco atribuídos a cada variável como
representado nos esboços obtém-se o mapa final das áreas de risco a movimentos de massa na
sub-bacia hidrográfica do córrego da Pedra Branca.
40
Figura 11: Mapa das áreas de risco a movimento de massa na sub-bacia hidrográfica do córrego da Pedra Branca.
As áreas representadas pela cor verde demonstram um grau de risco baixo à
movimentos de massa. Nelas predominam cotas clinográficas baixas, pouca presença de
atributos tecnogênicos, localizadas em topos que predominantemente são suaves. A variável
que mais ameaçaria essa área é o uso do solo, já que a ocupação é densa principalmente na
margem esquerda do córrego. Em compensação, a margem direita apresenta usos não-urbanos
diminuindo o seu grau de risco.
Em amarelo estão representadas as áreas com grau de risco mediano. A ocupação
também é predominantemente não-urbana, o que acaba preservando as características naturais
41
da área. As cotas clinográficas são medianas e há poucas intervenções tecnogênicas. Em uma
situação de retirada dessas características naturais para a expansão urbana essa área pode
sofrer aumento de seu grau de risco.
Nas áreas representadas com a cor vermelha estão classificadas as áreas de risco altas.
Estas áreas apresentam cotas clinográficas significativas com cortes de terrenos para
construção das moradias. A maioria delas está desprovida de vegetação arbórea, favorecendo
o escoamento superficial e a formação de processos erosivos. Estes, quando deflagrados,
possuem alta capacidade de agravar a situação de risco existente.
Percebem-se alguns condutos de áreas de risco R3 ao longo da sub-bacia, eles
representam a junção de duas variáveis importantes para essa proposta metodológica: a
clinografia e as unidades morfodinâmicas. Nestas áreas existem cotas clinográficas
significativas quanto aos movimentos de massa, além de se localizarem próximas as rupturas
entre vertentes e a planície do córrego e até mesmo a rampas coluvionares.
As áreas de risco R4 são as mais frágeis à deflagração dos movimentos de massa. Nela
percebe-se a presença de muitos atributos tecnogênicos como depósitos e feições
principalmente pelos cortes feitos para implantação de moradias. O padrão de ocupação é o
mais precário da sub-bacia onde se localizam os bairros Santos Reis, Vila Promessa e Jardim
Primavera. A área é totalmente urbanizada, sem presença de vegetação, o que propicia
escoamento superficial concentrado e a formação de processos erosivos urbanos como sulcos,
ravinas e voçorocas. Em casos de períodos de chuvas abundantes e concentradas estes
processos podem ser intensificados gerando movimentos de massa localizados.
5.7 Condicionantes da movimentação
Na margem esquerda do córrego da Pedra Branca, no trecho médio, em área urbana
consolidada, há a ocorrência de uma voçoroca, que se encontra em evolução. Na análise das
fotografias aéreas datadas de 2006, este processo não foi detectado, havia ali a presença de um
vazio urbano, com cobertura vegetal de gramíneas esparsas associadas a arbustos e vegetação
secundária.
O terreno onde esta se encontra, era utilizado para armazenar restos de entulhos de
obras civis próximas e lixo orgânico. Ao longo do tempo, estes resíduos de obras foram sendo
incorporados ao solo existente, se caracterizando como depósito tecnogênico. Recentemente,
a área foi desmatada para uso, sendo retirada a cobertura pedológica superficial, expondo em
alguns trechos o regolito (rocha alterada). Este material exposto sofre com a ação das chuvas,
com processo de escoamento superficial e concentrado, promovendo a formação de ravinas
42
profundas. Atualmente, este processo se intensificou, resultando na formação de uma
voçoroca. Na figura 12, se constata o nível de base do terreno antes da sua alteração e a
exposição da rocha alterada.
Figura 12: Alteração do nível de base do terreno expondo a rocha.
Fonte: Pereira, (2011).
Com a chegada do verão e das primeiras chuvas notou-se um processo evolutivo da
voçoroca com a formação de ramificações formando sulcos e ravinas bem próximas as
residências e erosão em direção a sua montante. A escavação da sua base também acontece de
forma acelerada aumentando ainda mais a sua cavidade. Na foto 2, observa-se a erosão
principal em atividade associado aos materiais tecnogênicos e a ocorrência de rachaduras, que
poderá evoluir em direção à residência.
43
Figura 13: Braço principal da voçoroca em atividade.
Fonte: Pereira, (2011).
5.8 Preocupações futuras
A Defesa Civil do município de Alfenas já constatou alguns problemas relacionados a
trincas em moradias próximos ao fundo do vale. Os bairros que apresentam problemas dessa
natureza estão no médio curso em direção à jusante, corroborando com os resultados do mapa
final. Estes problemas são agravados principalmente pelo padrão precário de construção das
moradias que foram construídas em taludes com cortes inadequados.
Nos últimos anos devido ao aumento da intensidade das chuvas ocorridas no verão do
Sudeste no Brasil, a maioria das cidades desenvolve ações e planos de contingência para a
prevenção de desastres naturais. Os representantes das Defesas Civis das cidades da região de
Alfenas estão traçando diretrizes para enfrentar possíveis problemas relacionados a chuvas do
verão 2011-2012. É crescente a preocupação nesta época do ano, já que as chuvas deixam o
solo saturado e instável, propensos não somente a movimentos de massa, mas também a
enchentes, inundações e desabamentos.
44
5.9 Sugestão
A inexistencia de dados em escala de detalhe como geológicos e climatológicos
dificultam o mapeamento preciso das áreas de risco permitindo apenas que as áreas sejam
zoneadas. No zoneamento de risco são delimitados setores nos quais, em geral, encontram-se
instaladas várias moradias. Desta forma, admite-se que todas as moradias do setor se
encontram em um mesmo grau de risco, como por exemplo, risco alto. Entretanto, em meio às
moradias deste setor pode haver algumas edificações que não apresentam situação de risco tão
elevada.
45
6. Considerações finais
A ocupação das encostas e do vale do córrego da Pedra Branca potencializou o
desenvolvimento de condições que provocam situações de risco para a população ali
estabelecida. Esta sub-bacia tem apresentado uma série de problemas ambientais e urbanos
como poluição dos cursos d’água, depósito de resíduos sólidos em locais impróprios, o uso e
ocupação indiscriminados do solo, alteração do equilíbrio geomorfológico das encostas,
assoreamento, os quais demonstram deficiências no planejamento urbano-ambiental.
Os movimentos de massa, que são geralmente ocasionados por condições geológicas,
topográficas e ambientais naturais, estão sendo acelerados com as condições climáticas
relacionadas intervenção do homem, importante agente modificador da dinâmica natural do
relevo e, por conseguinte, da estabilidade das vertentes.
Apesar de a sub-bacia não apresentar evidências latentes de movimentos de massa, o
nível de antropização da área é um fator importante a ser considerado. A ocorrência de chuvas
intensas, prolongadas e concentradas nessas áreas, favorecem o escoamento superficial
concentrado que pode carrear muitos materiais, levando inclusive moradias. A frequência de
movimentos de massa está intimamente relacionada ao aumento de intervenções com cortes e
taludes para a construção de moradias precárias em encostas que são comuns na área da sub-
bacia
A utilização de trabalhos de mapeamento das áreas de risco permite estabelecer
diretrizes de uso da terra e organização territorial dos espaço para os mais diversos fins, tais
como ocupação urbana, implantação de estradas, definição e usos da terra entre outros. A
proposta metodológica, se mostrou eficaz na proposição de áreas com graus de risco aos
movimentos de massa. É um instrumento fundamental na organização ou reorganização do
espaço frente a uma política de planejamento ambiental, que deve levar em conta as
influências do meio físico-biótico (ROSS, op.cit.).
Os recursos tecnológicos atuais permitem superar quase todas as dificuldades que a
diversidade e a complexidade dos ambientes naturais impõem. O uso dos SIG´s por exemplo,
que são ferramentas importantes para a geração de mapas e posterior intrumento para o
ordenamento territorial muitas vezes propõe generalizações de dados que não condizem com
o que é visto na área. É importante que as políticas de planejamento ambiental se faça de
modo que compatibilize os interesses imediatos e as necessidades futuras do homem
individual e coletivamente (ROSS, op. cit.).
46
7. Referências Bibliográficas
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