14
ANÁLISE DA POSTURA EXIGIDA NO TRABALHO EM MARMORARIAS: UTILIZAÇÃO DO MÉTODO OWAS Helio Henrique de Matos (PUC) [email protected] Thais D Eleuterio Costa (PUC) [email protected] SAMUEL LARA RESENDE ALVES PINTO (PUC) [email protected] Marcia Colamarco Ferreira Resende (PUC) [email protected] luiz carlos do nascimento (PUC) [email protected] Os trabalhadores do setor marmoreiro estão expostos a diversos riscos durante a execução de suas atividades laborais, envolvendo sobrecargas de trabalhado, elevado esforço físico, atividades perigosas, ambientes pouco salubres e doenças ocupacionais. Nesse sentido, este artigo teve como objetivo identificar e avaliar as posturas exigidas no trabalho de marmorarias artesanais, do município de Betim/MG, e sugerir melhorias no local de trabalho. Foram avaliadas as funções de corte e acabamento de 6 (seis) marmorarias assistidas pelo projeto de extensão “Produtividade e Cultura Lean em Arranjos Produtivos Locais” do curso de Engenharia de Produção da PUC Minas Betim, durante o período de fevereiro a março, de 2015. Para a avaliação dos riscos biomecânicos relacionados à postura exigida nos postos de trabalho foi utilizado o Sistema de Análise de Posturas Ocupacionais (Ovako Working Posture Analysing System, OWAS). Foram determinadas categorias de ação de acordo o risco biomecânico, para as posturas mais frequentes e mais críticas do processo de corte e acabamento. Os resultados obtidos mostraram uma grande exigência de posturas estáticas, com um maior comprometimento a nível do tronco, demonstrando a necessidade de intervenções a fim de prevenir possíveis agravos a saúde dos trabalhadores das marmorarias avaliadas. A partir disso, foram feitas sugestões de melhoria a curto e médio prazo, envolvendo adaptações no maquinário e alturas das bancadas, além de rotatividade de funções, objetivando a alternância de posturas ao longo da jornada de trabalho. Palavras-chave: Avaliação Postural, Risco Biomecânico, OWAS, Marmoraria XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.

ANÁLISE DA POSTURA EXIGIDA NO TRABALHO EM ...trabalho em marmorarias, provocando e favorecendo o aparecimento de doenças do sistema respiratório, principalmente a silicose (SANTOS,

  • Upload
    others

  • View
    2

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: ANÁLISE DA POSTURA EXIGIDA NO TRABALHO EM ...trabalho em marmorarias, provocando e favorecendo o aparecimento de doenças do sistema respiratório, principalmente a silicose (SANTOS,

ANÁLISE DA POSTURA EXIGIDA NO

TRABALHO EM MARMORARIAS:

UTILIZAÇÃO DO MÉTODO OWAS

Helio Henrique de Matos (PUC)

[email protected]

Thais D Eleuterio Costa (PUC)

[email protected]

SAMUEL LARA RESENDE ALVES PINTO (PUC)

[email protected]

Marcia Colamarco Ferreira Resende (PUC)

[email protected]

luiz carlos do nascimento (PUC)

[email protected]

Os trabalhadores do setor marmoreiro estão expostos a diversos riscos

durante a execução de suas atividades laborais, envolvendo

sobrecargas de trabalhado, elevado esforço físico, atividades

perigosas, ambientes pouco salubres e doenças ocupacionais. Nesse

sentido, este artigo teve como objetivo identificar e avaliar as posturas

exigidas no trabalho de marmorarias artesanais, do município de

Betim/MG, e sugerir melhorias no local de trabalho. Foram avaliadas

as funções de corte e acabamento de 6 (seis) marmorarias assistidas

pelo projeto de extensão “Produtividade e Cultura Lean em Arranjos

Produtivos Locais” do curso de Engenharia de Produção da PUC

Minas Betim, durante o período de fevereiro a março, de 2015. Para a

avaliação dos riscos biomecânicos relacionados à postura exigida nos

postos de trabalho foi utilizado o Sistema de Análise de Posturas

Ocupacionais (Ovako Working Posture Analysing System, OWAS).

Foram determinadas categorias de ação de acordo o risco

biomecânico, para as posturas mais frequentes e mais críticas do

processo de corte e acabamento. Os resultados obtidos mostraram uma

grande exigência de posturas estáticas, com um maior

comprometimento a nível do tronco, demonstrando a necessidade de

intervenções a fim de prevenir possíveis agravos a saúde dos

trabalhadores das marmorarias avaliadas. A partir disso, foram feitas

sugestões de melhoria a curto e médio prazo, envolvendo adaptações

no maquinário e alturas das bancadas, além de rotatividade de

funções, objetivando a alternância de posturas ao longo da jornada de

trabalho.

Palavras-chave: Avaliação Postural, Risco Biomecânico, OWAS,

Marmoraria

XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.

Page 2: ANÁLISE DA POSTURA EXIGIDA NO TRABALHO EM ...trabalho em marmorarias, provocando e favorecendo o aparecimento de doenças do sistema respiratório, principalmente a silicose (SANTOS,

XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção

Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.

2

1. Introdução

O ramo marmoreiro, que tem sua cadeia de produção composta pela mineração ou lavra de

pedras ornamentais, pelo processamento e pela distribuição dessas pedras, é uma atividade

amplamente difundida por todo país e com vários riscos para a saúde dos trabalhadores desse

ramo. A elevada exposição a poeiras está entre os principais e mais perigosos riscos do

trabalho em marmorarias, provocando e favorecendo o aparecimento de doenças do sistema

respiratório, principalmente a silicose (SANTOS, et al, 2007; FUNDACENTRO, 2008).

Apesar de diversos autores destacarem a silicose como um grave problema nesse setor e este

ser amplamente estudado, sabe-se que o ramo marmoreiro é um setor que apresenta grande

precariedade de instalações, além de sobrecarga de trabalho, por se tratarem de tarefas

extremamente manuais e artesanais, que exigem grande habilidade, destreza e elevado esforço

físico por parte dos funcionários para a fabricação dos produtos (SILVA, 2011).

Algo de muito relevante a respeito desta atividade é destacar o quão pouco, os métodos de

trabalho evoluíram ao passar dos anos, ou seja, as continuidades e rupturas no processo de

trabalho dos marmoristas. Esta é uma realidade nas organizações deste ramo, em todo o país,

e isso em parte é consequência de uma baixa automatização dos processos, causada

principalmente pela indisponibilidade de capital de investimento pelos empreendedores do

ramo (MORONI, 2005).

Ou seja, para além do risco de silicose, existem outros riscos para a saúde e segurança dos

marmoristas que também merecem destaque, dentre eles, chama-se a atenção para os riscos

biomecânicos, item da ergonomia que se preocupa com as interações entre o trabalho e o

homem, do ponto de vista dos movimentos musculoesqueléticos envolvidos e das suas

consequências (EVANGELISTA; COSTA, 2013; FUNDACENTRO, 2008). Segundo

Oliveira, Bakke e Alencar (2009) pode ser considerado como um risco biomecânico as

atividades como levantamento de cargas, atividades repetitivas, uso excessivo de força e

intensidade de execução das tarefas, vibrações e compressões mecânicas, geralmente

associadas com posturas inadequadas.

Ainda de acordo com Oliveira, Bakke e Alencar (2009), ao avaliar uma atividade é importante

uma investigação relacionada a postura adotada pelos trabalhadores, pois estas podem

ocasionar desde uma simples dor ou desconforto, até disfunções incapacitantes e afastamentos

prolongados do trabalho. Complementando essa ideia, Lima (2000) ressalta que a postura

Page 3: ANÁLISE DA POSTURA EXIGIDA NO TRABALHO EM ...trabalho em marmorarias, provocando e favorecendo o aparecimento de doenças do sistema respiratório, principalmente a silicose (SANTOS,

XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção

Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.

3

assumida pelo trabalhador nunca é somente o resultado de idiossincrasias pessoais, mas é

determinada pela relação entre os vários fatores constituintes numa situação de trabalho.

Tratando-se de marmorarias essa questão torna-se ainda mais importante, pois esses

ambientes são rústicos e pouco salubres, exigindo robustez e força física; há atividades de

levantamento, transporte e movimentação de chapas, peças e ferramentas pesadas, além de

posturas inadequadas durante a jornada de trabalho (CHIRZÓSTOMO, 2014).

Neste sentido, este artigo tem como objetivo identificar e avaliar as posturas exigidas no

trabalho de marmorarias artesanais, do município de Betim/MG, e sugerir melhorias no local

de trabalho.

2. Método

Em fevereiro de 2014, o curso de Engenharia de Produção da Pontifícia Universidade

Católica de Minas Gerais e a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico de Betim

construíram, em parceria com empresários locais do setor de marmoraria, um projeto de

extensão universitária que promovia a produtividade e a disseminação da cultura lean, bem

como a organização de arranjos colaborativos constituídos por 9 (nove) empresas do

segmento de marmorarias em Betim.

O projeto foi intitulado "Produtividade e Cultura Lean em Arranjos Produtivos Locais" e teve

como objetivo geral, desenvolver a competitividade de Arranjos Produtivos Locais - APL's,

por intermédio da extensão universitária, e dentre os objetivos específicos estava o

mapeamento de riscos ergonômicos. Foi a partir dos registros dessa experiência que esse

estudo de caso foi desenvolvido.

2.1 Unidades de análise

Participaram da pesquisa 6 (seis) marmorarias que estavam sendo assistidas pelo projeto de

extensão no período de fevereiro a março, de 2015.

As marmorarias visitadas eram empresas familiares, o que segundo Silva (2011),

normalmente apresentam um perfil característico de produção artesanal e executam suas

atividades com o auxílio de ferramentas manuais e procedimentos práticos passados de forma

empírica.

Page 4: ANÁLISE DA POSTURA EXIGIDA NO TRABALHO EM ...trabalho em marmorarias, provocando e favorecendo o aparecimento de doenças do sistema respiratório, principalmente a silicose (SANTOS,

XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção

Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.

4

Diante das várias funções presentes no processo produtivo dessas empresas, foram

selecionadas para análise as funções de corte e acabamento, que são comuns em todas as 6

(seis) marmorarias visitadas e se destacam como as principais atividades de transformação e

agregação de valor da matéria prima, além de serem causas frequentes de queixas dos

funcionários, que destacavam o “acabamento” como a função mais cansativa e difícil, e o

"corte" das chapas como as mais perigosas.

2.2 Procedimentos e Instrumentos

No intuito de conhecer o processo de produção das marmorarias, foram realizadas visitas às

empresas e entrevista com os funcionários, Além disso, filmagem e observação das atividades

foram feitas a fim de descrever os modos operatórios dos mesmos. Também foram realizadas

as medidas dos mobiliários e equipamentos utilizados, tendo como parâmetro a Norma

Regulamentadora 17 – Ergonomia (MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO, 2007).

Para a avaliação dos riscos biomecânicos relacionados à postura exigida nos postos de

trabalho de corte e acabamento, foi utilizado o Sistema de Análise de Posturas Ocupacionais

(Ovako Working Posture Analysing System, OWAS).

Esse instrumento de avaliação postural tem como objetivo identificar quais são as posturas de

trabalho inadequadas, nocivas, analisando-as com as regiões mais atingidas. Sendo assim, tal

ferramenta pode ser usada não apenas para estudos ergonômicos e de saúde ocupacional, mas

também como base para o planejamento e desenvolvimento de novos métodos de trabalho

(SILVA; KRUGER; PAULA XAVIER, 2010; LI; LEE, 1999).

Segundo Martinez (2005), as atividades cíclicas devem ser observadas durante todo o ciclo, e

as atividades não-cíclicas por um período de no mínimo 30 segundos, sendo recomendado

observá-las também através de vídeos, com intervalos variáveis ou constantes, a fim de se

obter a frequência dos movimentos e a postura adotada pelo operador.

Segundo Junior (2006), é possível produzir oitenta e quatro (84) combinações distintas das

posturas dos braços, pernas e tronco, que usualmente são as posturas mais comuns no

trabalho, onde cada postura classificada pelo método OWAS é descrita por um código de

quatro dígitos que designa a postura do tronco, braços, pernas e esforço requerido, e para cada

tarefa, são calculados os tempos de permanência em cada um dos quatro fatores em relação ao

tempo total da tarefa, e o resultado do instrumento indica a prioridade de ação e a urgência

Page 5: ANÁLISE DA POSTURA EXIGIDA NO TRABALHO EM ...trabalho em marmorarias, provocando e favorecendo o aparecimento de doenças do sistema respiratório, principalmente a silicose (SANTOS,

XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção

Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.

5

para adoção de medidas corretivas. Esse resultado pode ser classificado nas seguintes

categorias:

Classe 1 – postura normal, que dispensa cuidados, a não ser em casos excepcionais;

Classe 2 – postura que deve ser verificada durante a próxima revisão rotineira dos métodos de

trabalho;

Classe 3 – postura que deve merecer atenção a curto prazo;

Classe 4 – postura que deve merecer atenção imediata.

3. Resultados e Discussão

As 6 (seis) microempresas analisadas tinham entre 10 e 35 anos de atuação no setor de

beneficiamento final de mármores e granitos, e possuíam uma linha de produtos bem

semelhantes, como pias, bancadas, lavatórios e soleiras, contando com mais de 20 tipos de

granitos e mármores, atendendo à construtoras e, principalmente, ao consumidor final. Os

funcionários dessas microempresas eram divididos entre a área administrativa e a área de

produção, e subdivididos entre serradores e acabadores no setor produtivo.

Existiam 34 funcionários trabalhando nas empresas, nas duas funções avaliadas, no momento

das análises. Destes, 100% eram homens, sendo que 12 trabalhavam no setor de corte e 22 no

setor de acabamento. O tempo na função variou de poucos meses até aqueles com mais de 28

anos de experiência. A faixa etária também foi bastante diversificada, entre 18 e 60 anos, e

61,7% possuíam escolaridade inferior ao ensino médio completo.

A marmoraria é considerada a ultima etapa de beneficiamento do granito ou mármore, e seu

processo de produção consiste no recebimento das chapas pré-polidas, corte das peças nas

especificações solicitadas pelos clientes, acabamento, que envolve os subprocessos de

lixamento e polimento de bordas e superfícies, montagem e acabamento final da peça

(SANTOS, 2007). O macroprocesso da produção encontra-se representado na Figura 1.

Figura 1 – Macroprocesso de produção de marmoraria

Os processos analisados neste estudo foram o de corte ou serragem das chapas e lixamento em

uma produção de bancadas, um dos produtos de maior demanda das marmorarias visitadas.

Page 6: ANÁLISE DA POSTURA EXIGIDA NO TRABALHO EM ...trabalho em marmorarias, provocando e favorecendo o aparecimento de doenças do sistema respiratório, principalmente a silicose (SANTOS,

XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção

Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.

6

Os processos de corte analisados eram todos realizados em máquinas de corte à úmido, com

um ciclo médio de duração de 10 (dez) minutos, ocorrendo da seguinte forma:

A chapa a ser cortada era posicionada na mesa da maquina de corte, de altura entre 0,90 m e

1,0 m, por um operador com ambos os braços abaixo da linha do ombro, pernas estendidas e

tronco flexionado, devido à necessidade de ajuste e conferência das dimensões do pedido,

para garantir uma serragem precisa, permanecendo nesta posição por 21% do tempo total,

durante um ciclo completo.

Após conferir as dimensões do pedido e ajustar a chapa, o operador com as pernas ainda

estendidas, tronco flexionado e rodado para a esquerda, elevava sua mão esquerda acima do

nível do ombro para rodar um volante de regulagem da altura do disco de corte, localizado a

uma altura entre 1,60 m e 1,80 m, e em seguida ligar a válvula de acionamento de água,

localizada a uma altura entre 1,60 m e 1,65 m, permanecendo nesta posição por

aproximadamente 5% do tempo total do ciclo, que corresponde a quatro acionamentos e um

ajuste de altura, e somente aí, efetivamente, começar a serragem do material.

Novamente com o tronco flexionado e rodado para a direita, ambos os braços abaixo da linha

do ombro, o operador alcançava e girava uma manivela no sentido anti-horário, localizada a

uma altura entre 0,60 m e 0,84 m, com sua mão direita, e fazia a mesa de serragem mover-se

em direção ao disco de corte, e a acompanhava andando, como se observa na Figura 2.

Figura 2 - Operador no momento do corte da peça

Depois que a chapa era cortada, com o tronco flexionado para frente e rodado para a direita,

braços abaixo da linha do ombro e fazendo girar a manivela com a mão direita, agora no

Volante de Regulagem

Manivela

Mesa de Corte

Page 7: ANÁLISE DA POSTURA EXIGIDA NO TRABALHO EM ...trabalho em marmorarias, provocando e favorecendo o aparecimento de doenças do sistema respiratório, principalmente a silicose (SANTOS,

XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção

Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.

7

sentido horário, o operador fazia a mesa de serragem retornar a posição inicial,

acompanhando-a, permanecendo nestas posições por aproximadamente 71% do tempo total

do ciclo. Em seguida, com a mão esquerda acima do nível do ombro, pernas esticadas e tronco

flexionado e rodado para a esquerda, o operador desligava a válvula de acionamento de água,

levando aproximadamente 3% do tempo total do ciclo, que correspondia a quatro

desligamentos, para então encerrar o processo de serragem.

Após a finalização, mais uma vez, os operadores conferiam se o corte atendia às

especificações, pois uma vez que os pedidos eram feitos sob encomenda e com dimensões

especificadas pelo cliente, qualquer erro na fabricação faria com que o produto não conforme

fosse refugado, gerando um alto custo para a empresa, pois as matérias primas eram de alto

valor agregado e em sua maioria não retrabalháveis, exigindo assim, maior atenção e

concentração do operário durante a execução da atividade. Caso as especificações estivessem

corretas, o croqui e a chapas já cortadas eram transportados para a etapa de acabamento.

O processo de acabamento demandava maior tempo e atenção do funcionário, e o mesmo

geralmente era realizado seguindo as etapas: Lixamento, polimento, resinamento e montagem

da peça, respectivamente. O subprocesso do acabamento escolhido para análise foi o

lixamento, normalmente executado a seco, que consistia em eliminar as quinas e dar forma às

bordas do produto com ouso de lixadeiras angulares, às quais eram acoplados discos de

desbaste ou lixas abrasivas de diversas granulometrias de acordo com o tipo de acabamento

desejado.

Neste sentido, o processo de lixamento, observado durante um ciclo médio de dez minutos,

ocorria em pé, com joelhos retos e o peso distribuído uniformemente entre as pernas e com o

tronco flexionado. Nessa posição, o operador manuseava a peça com ambas as mãos abaixo

do nível do ombro a fim de posicioná-la na bancada de acabamento, com altura entre 0,90 m e

0,95 m, levando cerca de 6% do tempo total do ciclo para essa atividade.

Após posicionar a peça na mesa de acabamento, o operador iniciava o processo tendo em

mãos uma lixadeira, cujo peso era de cerca de 5 kg. Dessa forma, o operador de pé, com os

joelhos estendidos e o peso distribuído igualmente entre as pernas e com ambas as mãos

abaixo do nível dos ombros, executava movimentos latero-laterais e verticais no centro da

peça, sempre com o tronco flexionado, chegando a permanecer por até 54% do tempo total do

ciclo, como se observa na Figura 3.

Page 8: ANÁLISE DA POSTURA EXIGIDA NO TRABALHO EM ...trabalho em marmorarias, provocando e favorecendo o aparecimento de doenças do sistema respiratório, principalmente a silicose (SANTOS,

XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção

Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.

8

De acordo com a necessidade de lixamento da peça, para obter um melhor acabamento nas

partes inferiores e laterais da mesma, era necessário que o operador ficasse com uma maior

angulação de flexão do tronco e rodado para um dos lados, alternando a posição de suas

pernas entre de pé estático, com o peso maior em uma delas (30% do tempo total do

processo), e se movimentando (10% do tempo).

Figura 3 - Foto do operador realizando lixamento

Para a avaliação das posturas adotadas pelo trabalhador durante a atividade, foram feitas

diversas observações, além de filmagens em diferentes ângulos. Em seguida, as imagens

foram reproduzidas e congeladas para análise das articulações das pernas, dos braços e das

costas dos trabalhadores.

Vale ressaltar que a jornada de trabalho em marmorarias é de oito horas diárias, contando com

uma hora para almoço e meia hora para descanso e café da tarde, ou seja, durante sete horas e

trinta minutos, as tarefas são efetivamente executas. Considerando o ciclo de 10 minutos para

a realização da atividade de corte ou acabamento de uma bancada, os funcionários podem

repetir tais atividades até 45 vezes por dia, aproximadamente.

Consultando as tabelas do OWAS referentes a posição do trabalhador ao executar a atividade

e tempo de permanência ou frequência na mesma, foram geradas três tabelas com as

descrições e classificação do nível de ação a ser tomado de acordo com o resultado.

Tabela 1 – Descrição da postura do trabalhador e o tempo de permanência na mesma, durante as atividades de

corte e lixamento

CORTE

(ciclo de 10 min) LIXAMENTO

(ciclo de 10 min)

Posição Tronco Descrição % do Total % do Total

Page 9: ANÁLISE DA POSTURA EXIGIDA NO TRABALHO EM ...trabalho em marmorarias, provocando e favorecendo o aparecimento de doenças do sistema respiratório, principalmente a silicose (SANTOS,

XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção

Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.

9

1 Tronco reto; 5 -

2 Tronco flexionado; 29 59

Continua

Continuação

3 Tronco rotacionado para um dos lados; - -

4 Tronco flexionado para frente e

rotacionado para um dos lados. 66 41

Posição Braços

1 Ambos os braços abaixo do nível do

ombro; 92 100

2 Um dos braços acima da linha do ombro; 8 -

3 Ambos os braços acima da linha do

ombro. 0 -

Posição Pernas

1 Sentado; - -

2 De pé com ambas pernas estendidas; 29 60

3 De pé com o peso em uma das pernas

esticadas; - 30

4 De pé ou agachado com ambos joelhos

dobrados; - -

5 De pé ou agachado com um dos joelhos

dobrados; - -

6 Ajoelhado em um ou ambos joelhos; - -

7 Andando ou se movendo. 71 10

Levantamento

de Cargas

1 Peso ou força necessária é 10 kg ou

menos; 100 100

2 Peso ou força necessária excede 10 kg

mas é menor que 20 kg; - -

3 Peso ou força necessária excede 20 kg. - -

A partir da Tabela 1, conciliado com a descrição do processo de corte e acabamento, as

diferentes posturas adotadas foram analisadas por dois grupos em cada tarefa: a de maior

frequência e a pior postura adotada pelos trabalhadores, respectivamente.

Para cada variável analisada nos processos, foi gerado um código de 4 dígitos, referente a

posição do tronco, dos braços, das pernas e a carga manipulada.

Page 10: ANÁLISE DA POSTURA EXIGIDA NO TRABALHO EM ...trabalho em marmorarias, provocando e favorecendo o aparecimento de doenças do sistema respiratório, principalmente a silicose (SANTOS,

XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção

Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.

10

Dessa forma, com o auxilio do software Ergolândia 5.0 (FBF Sistemas, 2008), utilizando a

ferramenta do OWAS, tabulou-se os códigos e classificou uma categoria de ação, como

consta nas Tabelas 2 e 3.

Tabela 2 – Posições correspondentes na execução do corte e categoria de ação

CORTE

Tarefa Posições

correspondentes Categoria de ação

Mover a mesa de corte 4 1 7 1 2- São necessárias ações em um futuro

próximo

Acionar a válvula de água

ou regular a altura do disco

de corte 4 2 2 1

2- São necessárias ações em um futuro

próximo

Tabela 3 – Posições correspondentes na execução do lixamento e categoria de ação

LIXAMENTO

Tarefa Posições

correspondentes Categoria de ação

Lixamento do centro da

peça 2 1 2 1

2- São necessárias ações em um futuro

próximo

Lixamento das laterais da

peça 4 1 3 1 e 4 1 7 1

2- São necessárias ações em um futuro

próximo

Apesar dos funcionários queixarem cansaço e permanecerem toda a jornada na posição de pé,

por exigência das suas atividades e pela ausência de assentos, cadeiras ou bancos, no local de

trabalho, o nível de ação definido a partir do OWAS indica uma prioridade para adoção de

medidas corretivas somente em um futuro próximo. No entanto, ao se avaliar separadamente

os códigos para as partes do corpo, percebe-se uma necessidade de ação imediata, por causa

das exigências posturais em relação ao tronco (classe 04). A maior parte do tempo, os

funcionários permanecem de pé, com o tronco fletido e em contração estática da musculatura,

que, segundo Iguti e Hoehne (2003), são fatores ocupacionais fortemente relacionados ao

aparecimento de dor lombar, ou lombalgias. Outros autores também relataram algumas

deficiências do Método OWAS em relação a superficialidade com que a frequência ou a

permanência em uma mesma postura são consideradas (JIN et al., 2005; KEYSERLING,

2004). Para esses autores torna-se necessário a implementação de informações a cerca da

duração da postura e de métodos estatísticos, visando uma maior precisão dos resultados.

Page 11: ANÁLISE DA POSTURA EXIGIDA NO TRABALHO EM ...trabalho em marmorarias, provocando e favorecendo o aparecimento de doenças do sistema respiratório, principalmente a silicose (SANTOS,

XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção

Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.

11

Considerando a necessidade de uma ação imediata nessas funções para o enfrentamento da

exigência de contração estática do tronco, propõe-se a instalação de rodízio entre as funções

do macro processo, a cada 02 horas. Dessa forma, obrigatoriamente, todos os funcionários

teriam o seu padrão de exigência postural alterado ao longo da jornada de trabalho, além de

aumentar o conhecimento dos funcionários acerca de todo o processo produtivo.

Outra sugestão de melhoria que pode ser implantada imediatamente é a aquisição de assentos

para os funcionários poderem utilizar durante a sua jornada de trabalho, nas pausas pré-

estabelecidas ou não. Inclusive essa sugestão segue os parâmetros exigidos no item 17.3.5 da

Norma Regulamentadora 17 - Ergonomia (MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO,

2007), que recomenda que para as atividades em que os trabalhos devam ser realizados de pé,

“devem ser colocados assentos para descanso em locais em que possam ser utilizados por

todos os trabalhadores durante as pausas.”

Com relação as medidas que podem ser tomadas ha médio prazo, ou em um futuro próximo,

sugere-se uma alteração nas alturas das bancadas, da manivela da máquina de corte e do

volante de regulagem, de maneira que todos fiquem dentro da área de alcance máxima e/ou

ótima dos operadores. Segundo Iida (2005), todos os comandos de uso frequente devem estar

na distância do comprimento do antebraço do operador, considerando o cotovelo fletido

(alcance ótimo), todos aqueles comandos de uso menos habitual devem estar numa área que

corresponda ao comprimento do membro superior estendido (alcance máximo), e nada

deveria estar fora do alcance dessas duas áreas, exigindo um deslocamento do tronco do seu

eixo. Essa sugestão de melhoria do equipamento atende também o item 17.3.2 da Norma

Regulamentadora 17 - Ergonomia (MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO, 2007),

que afirma que os postos de trabalho devem proporcionar ao trabalhador condições de boa

postura, visualização e operação, por meio do fácil alcance e de características dimensionais

que possibilitem o posicionamento e a movimentação adequados dos segmentos corporais.

Embora o objetivo deste trabalho tenha sido cumprido, reconhecem-se algumas limitações. A

principal está relacionada à ausência de uma avaliação das condições ambientais

(temperatura, ruído e iluminância), que também podem influenciar a sensação de cansaço e

desconforto dos funcionários. Outra diz respeito à limitação da pesquisa ao relato de

desconforto dos funcionários, não investigando seu grau de intensidade, frequência e fatores

que agravam ou melhoram. Estudos por meio de medidas diretas são necessários para

Page 12: ANÁLISE DA POSTURA EXIGIDA NO TRABALHO EM ...trabalho em marmorarias, provocando e favorecendo o aparecimento de doenças do sistema respiratório, principalmente a silicose (SANTOS,

XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção

Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.

12

quantificar o grau de risco biomecânico e melhor fundamentar os processos de intervenção

preventiva e ergonômica para essa população.

4. Considerações Finais

De acordo com o método OWAS, a análise das posturas exigidas no trabalho em marmorarias

demonstrou uma necessidade de intervenção no local de trabalho somente em um futuro

próximo. No entanto, ao se avaliar os segmentos corporais separadamente, pode-se perceber a

grande exigência das posturas estáticas, com maior comprometimento em nível do tronco.

Nesse sentido, ações de melhoria a curto e médio prazo deverão ser implementadas a fim de

prevenir possíveis agravos a saúde dos trabalhadores dessas marmorarias.

A carência de dados ergonômicos relativos ao trabalho das marmorarias e a falta de

parâmetros biomecânicos relacionados a elas, reforçam a importância do desenvolvimento de

novas pesquisas que tenham como finalidade propor melhorias para a saúde e segurança nesse

ambiente de trabalho, contribuindo inclusive para o desenvolvimento do setor marmoreiro.

Page 13: ANÁLISE DA POSTURA EXIGIDA NO TRABALHO EM ...trabalho em marmorarias, provocando e favorecendo o aparecimento de doenças do sistema respiratório, principalmente a silicose (SANTOS,

XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção

Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.

13

REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. NR 17 – Ergonomia. Brasília, 2007. Disponível em:

< http://portal.mte.gov.br/data/files/FF8080812BE914E6012BEFBAD7064803/nr_17.pdf>. Acesso em: 17 abr.

2015.

CHIRZÓSTOMO, Danilo. Avaliação e Controle do Ambiente de Trabalho em Atividades de uma

Marmoraria. 2014. UNILINS, Cognitio/Pós-Graduação, Lins, 2014.

EVANGELISTA, Wemerton Luis; COSTA, Maria Silveira. Análise biomecânica do setor de desossa de suínos

em um frigorífico típico da indústria suinícola do brasil. In: Congresso Nacional de Engenharia de Produção.

2013.

FBF Sistemas. (2008). Ergolândia (Versão 5.0) [software]. Belo Horizonte, MG. Disponível em:

<http://www.fbfsistemas.com/ergonomia.html>. Acesso em: 15 abr. 2015.

FUNDACENTRO. Marmorarias - Manual de Referência: recomendações de segurança e saúde no trabalho.

São Paulo, 2008.

IGUTI, Aparecida Mari e HOEHNE, Eduardo Luiz. Lombalgias e trabalho. Rev. bras. saúde ocup. [online].

2003, vol.28, n.107-108, pp. 73-89.ISSN 0303-7657.

IIDA, I. Métodos e técnicas em ergonomia. Ergonomia: projeto e produção, p. 60-62, 2005.

JIN, K.; LEI, L.; SOROCK, G.; COURTNEY, T.K.; GE, L., LIANG, Y. Postural assessment with revised

OWAS system. 2005. Disponível em: Acesso em: 22 abr. 2015

JUNIOR, Moacyr Machado Cardoso. Avaliação Ergonômica: Revisão dos Métodos para Avaliação Postural.

Ergonomic Assessment: Postural Assessment Methods Review. Revista Produção Online, v. 6, n. 3, p. 133,

2006.

KEYSERLING, W. M. OWAS: An Observational Approach to Posture Analysis. 2004. Available online via<

http://ioe. engin. umich. edu/ioe567/OWAS. pdf> Acesso em: 27 abr. 2015.

LI, Kai Way; LEE, Cheng-Lung.Postural analysis of four jobs on two building construction sites: an experience

of using the OWAS method in Taiwan. Journal of Occupational Health, v. 41, n. 3, p. 183-190, 1999.

LIMA, F.P.A. A ergonomia como instrumento de segurança e melhoria das condições de trabalho. Anais do I

Seminário de Segurança do Trabalho e Ergonomia Florestal - ERGOFLOR. Belo Horizonte, junho de 2000.

MARTINEZ, G.M. Unaguía de introducción al método OVAKO working posture analysis system (OWAS).

2005.

MORONI FILHO, Elio. Continuidades e rupturas no processo de trabalho dos marmoristas: 1890-1950 e

os dias de hoje. 2005. Tese (Doutorado). Programa de Engenharia de Produção. Universidade Federal de São

Carlos. São Carlos. São Paulo. Disponível

em:<http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/PesquisaObraForm.do?select_action=&co_autor=73657>.

Acesso em: 04 de Abril de 2015.

Page 14: ANÁLISE DA POSTURA EXIGIDA NO TRABALHO EM ...trabalho em marmorarias, provocando e favorecendo o aparecimento de doenças do sistema respiratório, principalmente a silicose (SANTOS,

XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção

Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.

14

OLIVEIRA, André Gustavo Soares de; BAKKE, Hanne Alves; ALENCAR, Jerônimo Farias de. Riscos

biomecânicos posturais em trabalhadores de uma serraria Biomechanical risks in sawmill worker postures.

FISIOTERAPIA PESQUISA, p. 28, 2009.

SANTOS, Alcinéa Meigikos dos Anjos; CANÇADO, Raul Zanoni Lopes; ANJOS, Roberto Meigikos dos;

AMARAL, Norma Conceição do; LIMA, Leila Cristina Alves. Características da exposição ocupacional a

poeiras em marmorarias da cidade de São Paulo. 2007.

SILVA, Fernando Partica da; KRÜGER, José Adelino; PAULA XAVIER, Antonio Augusto de. Aplicação do

Método Owas no Transporte e Manuseio de Fôrmas de Alumínio Utilizadas para Construção de Casas In Loco:

Um Estudo de Caso. XXX Encontro Nac. Eng. Produção, p. 1-14, 2010.

SILVA, A. Z. D. Metodologia de Avaliação de Gerenciamento Ambiental dos Resíduos de Empresas de

Beneficiamento de Rochas Ornamentais. 2011. Dissertação (Mestrado em Engenharia Ambiental), UFES.