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Gestão Escolar

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  • Dicas Ensino FunDamEntal 2 | 1Maria do CarMo Brant de Carvalho Maria aMaBile Mansutti

  • Dicas Ensino FunDamEntal 2 | 3

    Peculiaridades do primeiro e do segundo ciclo

    do Ensino Fundamental

    Temos constatado que o primeiro ciclo

    (ou sries iniciais) do Ensino Fundamental

    apresenta resultados de aprendizagem mais

    satisfatrios do que o segundo ciclo sries

    finais1. Em parte, isso se deve estrutura

    organizacional do primeiro ciclo. Nele atua

    um professor por turma /sala de aula; os

    alunos, na maioria crianas, esto em fase

    de namoro com a escola, plenos de curiosi-

    dade e criam vnculos relacionais com seu

    professor, tomando-o como bssola orienta-

    dora e reguladora de seu aprendizado.

    J no segundo ciclo tudo muda abrupta-

    mente. O ensino, majoritariamente gerido

    pelos governos estaduais, organizado num

    conjunto de disciplinas ministradas por pro-

    fessores especialistas que partem da suposi-

    o de que o aluno j se alfabetizou e ad-

    quiriu trnsito mais competente na leitura

    e escrita, alm de dispor de maior autono-

    1 A experincia do Cenpec tem mostrado que alunos at o 5 ano apresentam igual ou melhor desempe-nho do que os alunos de 6 ano, no que se relaciona produo de textos escritos.

    mia para aquisio de novos conhecimentos

    e desenvolvimento de competncias. Os su-

    jeitos da aprendizagem no so mais as

    crianas e sim os pr-adolescentes, adoles-

    centes e at jovens.

    Em qualquer escola pblica, a passagem

    do 5 para o 6 ano tida como uma experi-

    ncia peculiar e significa ruptura na vida

    escolar. O 6 ano em particular, momento

    em que se concretiza essa ruptura, vem

    sendo apontado por professores como um

    dos maiores desafios no Ensino Fundamen-

    tal, quando so vividas cotidianamente

    grandes dificuldades, parcamente enfrenta-

    das de fato.

    Entre diversos fatores, dois concorrem

    para explicar essa situao de ruptura: a

    passagem da etapa da infncia para a ado-

    lescncia e a convivncia do aluno com uma

    novaorganizao escolar.

    | PrEambulo

    |

  • 4 | Dicas Ensino FunDamEntal 2

    o aluno adolescente

    Hoje no dispomos de marcas para indi-

    car os limites entre infncia e adolescncia.

    At pouco tempo atrs, os diplomas confe-

    ridos pelo cumprimento dos ciclos da esco-

    larizao eram tomados pela sociedade

    como smbolos de passagem e sinalizavam

    uma certa mudana de status. Hoje essas

    marcas esto diludas, o que dificulta esta-

    belecer quando termina a infncia, quando

    inicia a adolescncia.

    Embora haja diferentes interpretaes,

    uma viso ainda predominante considera

    que a adolescncia corresponde a um pero-

    do de transio, situao de passagem que

    antecede a vida social plena. Como perodo

    de transio parece ser incompleto, uma

    vez que os adolescentes ainda so depen-

    dentes do mundo adulto e no tm hbitos

    e valores sociais solidificados.

    Do ponto de vista dos adolescentes a

    vida o tempo presente. Mudanas fsicas,

    emocionais e psicolgicas, a conquista de

    novas competncias e maior liberdade am-

    pliam sua viso de mundo, provocam fasc-

    nio pelo novo momento de vida, repercu-

    tem fortemente no comportamento e tra-

    zem expectativas relacionadas vida afeti-

    va, sexualidade e necessidade de liber-

    dade. A intensidade dessas descobertas leva

    a uma extrema valorizao do convvio en-

    tre pares, fazendo com que a sociabilidade

    ocupe posio central na vivncia de ado-

    lescentes. Grupos de amigos so espaos

    importantssimos em que adolescentes vo

    buscar respostas para suas questes.

    Tais peculiaridades muitas vezes so igno-

    radas pela famlia e pela escola, em prol da

    idia de que preciso preparar os adolescen-

    tes para a vida adulta. Pouco se pergunta so-

    bre o que eles necessitam agora em termos

    de vivncias e valores a serem privilegiados

    em sua formao. Tambm so pouco consi-

    deradas as potencialidades dessa fase da vida

    intensas capacidades de envolvimento/en-

  • Dicas Ensino FunDamEntal 2 | 5

    trega, de questionamento/crtica e de refle-

    xo, somadas ao dinamismo e ao entusiasmo.

    Por desconsiderar peculiaridades e po-

    tencialidades desse momento da vida dos

    alunos, ou mesmo reduzi-las a aspectos ne-

    gativos, a escola acaba perdendo a capaci-

    dade de dilogo com os adolescentes e no

    consegue promover, de maneira consistente,

    o to almejado preparo para a vida adulta.

    Apoiar a construo da identidade do

    adolescente demanda entender quais esfe-

    ras da vida so significativas para ele. Neste

    sentido, so as experincias socioculturais

    locais e globais, o campo de escolhas que se

    apresenta ao indivduo, a identidade vivida

    mais como ao do que como situao que

    ampliam a esfera de liberdade pessoal e o

    exerccio da deciso.

    Quando a escola se afasta destas ques-

    tes e deixa de ser um espao de referncia

    para os alunos - sobretudo para os que vivem

    em situao de maior vulnerabilidade - ela

    perde sua funo. Deixa de ser formativa no

    sentido de ajud-los a construrem um proje-

    to de vida. Um projeto que no se relaciona

    apenas a um futuro distante, mas implica um

    posicionamento no presente em relao ao

    meio social em que eles se inserem, reali-

    dade com a qual se deparam e aos meios que

    encontram para lidar com o cotidiano.

    a organizacao escolar

    A passagem do primeiro para o segundo

    ciclo marca o incio da convivncia do aluno

    com uma organizao institucional desco-

    nhecida: horrio compartilhado por dife-

    rentes matrias e professores, nveis de exi-

    gncia distintos, posies variadas quanto

    conduta em sala de aula e organizao do

    trabalho escolar; diferentes concepes

    quanto relao professor-aluno e mesmo

    quanto ao ensino e aprendizagem.

    Acentuando esse descompasso, a organi-

    zao curricular do segundo ciclo rompe com

    o que vinha sendo desenvolvido anterior-

    mente, pois os conhecimentos passam a se

  • 6 | Dicas Ensino FunDamEntal 2

    dividir em disciplinas distintas, abordadas de

    forma isolada. Professores dessas disciplinas,

    de modo geral, avaliam que os alunos vm

    do ciclo anterior com um domnio de conhe-

    cimentos muito aqum do desejvel.

    A falta de uma anlise mais consistente

    de como se do o ensino e a aprendizagem

    no primeiro ciclo leva a uma repetio de

    contedos ou introduo de contedos no-

    vos sem vnculos com o que j foi estudado.

    Assim, os estudos comeam a se configurar

    para os alunos como algo sem sentido, que

    foge de sua possibilidade de compreenso,

    com pouca utilidade prtica. Essa situao

    acaba por gerar representaes e sentimen-

    tos que se concretizam no divrcio entre o

    aluno e o sentido do conhecimento. Se o alu-

    no no reconhece o valor do conhecimento,

    que o principal elo entre professor e aluno,

    que importncia a escola pode ter para ele?

    A convivncia com vrios professores e

    orientaes distintas faz com que os alunos

    percam sua bssola orientadora e passem a

    ter dificuldades de estabelecer vnculos

    para ganharem segurana de percurso.

    Com isto, tambm vemos comprometida a

    capacidade formativa da escola em contribuir

    na construo da identidade e do projeto de

    vida de seus alunos, agora adolescentes.

    A construo da identidade dos alunos

    torna-se um processo particularmente crti-

    co no segundo ciclo, perodo de vida marca-

    do por transformaes fsicas e percepo de

    diferentes modos de ser, possibilitada pela

    ampliao da autonomia, pela ampliao dos

    espaos de circulao e pelo desenvolvimen-

    to da capacidade reflexiva, que por sua vez

    afetam a compreenso dos adolescentes so-

    bre o mundo em que esto vivendo.

    A intensa velocidade das informaes

    faz com que eles entrem em contato e, de

    alguma forma, interajam, simultaneamen-

    te, com dimenses locais e globais, mes-

    clando singularidades e universalidades.

    Isso interfere diretamente nos seus proces-

    sos de identificao, gerando uma tenso

  • Dicas Ensino FunDamEntal 2 | 7

    permanente diante da questo: quem sou,

    por onde e para onde vou.

    Essa tenso se acentua nas sries finais

    do Ensino Fundamental quando a maioria

    dos alunos comea a se preocupar com a

    continuidade dos estudos e o futuro profis-

    sional. Muitos j trabalham e assumem res-

    ponsabilidades perante a famlia; para uma

    significativa parcela deste grupo, o trmino

    da 8 srie marca o encerramento da vida

    escolar. Os que pretendem continuar os es-

    tudos tero que disputar uma vaga no Ensi-

    no Mdio e, muitas vezes, conjugar traba-

    lho e estudo - para estes o acesso univer-

    sidade mais uma promessa do que possibi-

    lidade de concretizao.

    O cotidiano dos professores que atuam

    no segundo ciclo no permite uma viso

    mais otimista. Profissionais nem sempre

    bem sucedidos, solitrios, desestimulados

    frente precria valorizao profissional,

    so receptculos de crticas e acusaes.

    Incomodados com a falta de soluo para

    suas dificuldades cotidianas, embora se

    mostrem vidos por mudanas e queiram

    romper com a ineficincia de uma prtica

    que se repete, desconhecem alternativas

    rotina que lhes imposta. Muitas vezes, re-

    sistem quando idias inovadoras lhes so

    apresentadas.

    Atitudes assumidas no exerccio da do-

    cncia tm origem na formao inicial. A

    orientao bacharelesca e enciclopdica

    dos cursos de licenciatura no forma pro-

    fessores especialistas para atuarem no Ensi-

    no Fundamental. Forma professores de Por-

    tugus, Histria, Geografia, cujo maior le-

    gado consiste em dominar os conhecimen-

    tos referentes sua disciplina. Sem falar da

    precariedade dos estgios.

    O reflexo desta situao revela uma

    cultura escolar centrada no ensino verti-

    cal, no verbalismo, no conhecimento pro-

    veniente da autoridade do professor ou do

    livro didtico. Monotonia e repetio im-

    pulsionaram a atividade educativa para um

    plano secundrio e obscuro, no qual conte-

    dos a serem ensinados e disciplina na sala

  • 8 | Dicas Ensino FunDamEntal 2

    de aula tm sido os principais destaques,

    numa ordem prioritria de grandes desa-

    fios a serem enfrentados.

    Grande parte dos alunos que vivem em

    situao de vulnerabilidade no sensvel

    lgica da organizao escolar. No s lgi-

    ca da instituio, mas tambm a valores,

    propsitos e conhecimentos veiculados pela

    escola e, por conseguinte, ao prprio ato de

    ensino-aprendizagem.

    Diante disto, a escola precisa conceder

    uma grande ateno relao dos alunos com

    o conhecimento, questo essa que passa pe-

    las prticas de ensino cotidianas e que em l-

    tima instncia constituem o corao escolar.

    bem raro encontrar alunos indisciplinados

    ou violentos entre os que acham sentido e

    prazer na escola esta uma afirmao que

    faz recair uma pesada responsabilidade sobre

    os professores, mas que tambm lhes atribui

    maior dignidade profissional.

    A sociedade brasileira tem uma dvida

    histrica com as populaes pobres. E se

    entendemos a escola como a instituio que

    efetivamente pode contribuir com a demo-

    cratizao de oportunidades e promoo da

    igualdade, cabe a ela o importante papel de

    reverter os fatores de excluso gerados no

    seu prprio bojo: abandono, repetncia,

    distoro idade-srie, baixo letramento.

    Em sntese:

    prioritrio resgatar a funo pe-

    daggica da escola, ressignificando

    para alunos e professores o valor do

    conhecimento e da aprendizagem.

  • Dicas Ensino FunDamEntal 2 | 9

    Indicacoes

    1. Ampliao e consolidao de competncias e habilidades de letra-

    mento: nfase no aprendizado da leitura e da escrita

    Resultados mais recentes do Saeb consta-

    tam que aproximadamente um tero dos alu-

    nos do segundo ciclo encontram-se nos est-

    gios muito crtico e crtico em relao s

    competncias fundamentais na Lngua Portu-

    guesa. Isso significa que esse grupo no pos-

    sui habilidades de leitura exigveis para a

    escolarizao completa no Ensino Funda-

    mental, ou tem desenvolvido habilidades de

    leitura aqum das propostas para a 8a srie.

    So alunos que, de certa forma, encontram-

    -se numa situao de excluso, ainda que

    estejam freqentando a escola.

    A esse respeito, para o Saeb, h um n-

    mero elevado de alunos que est concluin-

    do o Ensino Fundamental em nvel de letra-

    mento abaixo do esperado somente cerca

    de 10% dos alunos brasileiros apresentam

    habilidades de leitura compatveis com a

    terminalidade do curso.

    Temos, a cada dia, mais certeza de que

    incluir crianas e adolescentes no sculo

    XXI exige o desenvolvimento de competn-

    cias de interlocuo e de interao e dom-

    nio da leitura e da escrita da lngua mater-

    na em vrios suportes gneros e lingua-

    gens. Para ns esta a tarefa primordial

    das escolas de Ensino Fundamental.

    O aprendizado da lngua se faz falando,

    expressando, comunicando, dominando a

    leitura e a escrita em diferentes gneros

    textuais presentes em todas as disciplinas

    curriculares. Professores de Matemtica,

    Histria, Geografia, Educao Fsica preci-

    sam priorizar a compreenso dos textos que

    utilizam, por meio do dilogo, da comunica-

  • 10 | Dicas Ensino FunDamEntal 2

    o oral e do exerccio da leitura e da escri-

    ta. Com isto, estaro contribuindo para ga-

    rantir a consolidao das habilidades de le-

    tramento e favorecendo ganhos de autono-

    mia para que os alunos busquem novos co-

    nhecimentos e possam fazer a autogesto

    de seus aprendizados.

    2. Propor novos arranjos organizacionais

    Novos arranjos organizacionais da escola

    implicam repensar tempos e espaos de

    convivncia e de aprendizagem; rever a es-

    trutura seriada, a composio de turmas, o

    nmero de alunos por classe, o tamanho da

    escola; modificar os tempos de durao da

    aula e adotar aulas dobradas experin-

    cia constatada como bastante positiva por

    muitas escolas de Ensino Fundamental.

    Experincias com tutoria tambm se

    configuram como boas alternativas, tanto

    as que instituem um professor tutor por tur-

    ma - especialmente para as de 6 e 7anos,

    quanto as que estimulam a tutoria de alu-

    nos mais avanados para apoiar alunos com

    dificuldades de aprendizagem. A SEE de So

    Paulo desenvolve um projeto no qual um jo-

    vem tutor pode trabalhar com at quatro

    alunos no contraturno.

    O tamanho das escolas, por sua vez,

    est sendo colocado como um dos fatores

    que concorre para um melhor ou pior de-

    sempenho dos alunos a experiencia de re-

    estrurao das escolas pblicas de Nova

    York tem mostrado a importncia deste fa-

    tor (escolas menores) para uma melhor or-

    ganizao e desempenho da aprendizagem.

  • Dicas Ensino FunDamEntal 2 | 11

    3. Rever arranjos curriculares e educativos

    Estudos comparativos2 mostram que os

    currculos brasileiros so muito extensos em

    contedos e que, de modo geral, a aplica-

    o dos mesmos em sala de aula ocorre de

    forma bastante superficial. Tal constatao

    mostra que necessrio rever as orienta-

    es curriculares. Isso implica propor novos

    objetivos de aprendizagem, novos critrios

    para selecionar e organizar contedos esco-

    lares e procedimentos de ensino compat-

    veis com novas formas de aprender, impos-

    tas pelo muno contemporneo. Novos ar-

    ranjos curriculares implicam romper com

    prticas pedaggicas centradas no recorte

    das disciplinas, na exposio oral, no uso

    exclusivo do livro didtico.

    A sociedade atual vive um processo ace-

    lerado de transformaes no qual se entre-

    cruzam informaes tecnolgicas e sociocul-

    turais que repercutem em todos os planos da

    vida social. Uma forte marca dessa socieda-

    de a democratizao de fluxos e a quanti-

    2 Demonstrado por Martin Carnoy em A Vantagem Acadmica de Cuba - Fundao Lemann/2009

    dade de informaes e conhecimentos dispo-

    nveis para a maioria. Tais condies tm

    feito com que as novas geraes desenvol-

    vam uma nova racionalidade cognitiva que

    no obedece a sequncias lineares centradas

    num nico foco; ao contrrio, geram um

    pensamento descentrado, difuso e dialgico.

    No mais suficiente que a escola ape-

    nas disponibilize e transmita conhecimentos.

    Hoje sua funo primordial organizar co-

    nhecimentos e ampliar oportunidades de

    aprendizagem para seus alunos, dentro e

    fora da escola, contando para isso com re-

    cursos da tecnologia e da comunicao.

    Assim, fundamental: Garantir patamares comuns de conhe-

    cimento para que todos os alunos te-nham verdadeiramente sucesso;

    Lanar mo de mecanismos de dife-renciao pedaggica para romper com a homogeneizao;

    Ser um local onde os alunos apren-dam a estudar e aprendam a traba-lhar coletivamente.

  • 12 | Dicas Ensino FunDamEntal 2

    4. Investir no Projeto Poltico Pedaggico da escola

    O PPP a oferta educativa de cada es-

    cola para seu pblico particular. O projeto

    de cada escola reflete sua intencionalidade

    pedaggica e apresenta respostas singula-

    res s demandas e necessidades locais.

    A partir de um diagnstico apurado, o

    PPP formula e orienta os planos de trabalho

    do diretor, coordenador, professores, equi-

    pe de apoio e define metas e resultados a

    serem atingidos a curto e mdio prazo.

    Debater o PPP com alunos, famlias e orga-

    nizaes do territrio; buscar consensos e pac-

    tos legtimos entre estes atores confere legiti-

    midade ao projeto, assim como oferece um

    plano de atuao sujeito participao e ao

    acompanhamento pelos pais e comunidade.

    Como guia efetivo das aes da escola o

    PPP precisa indicar metas de aprendizagem,

    metas de melhoria da qualidade da convi-

    vncia escolar, metas de conforto ambien-

    tal e esttico; metas de abertura para fam-

    lias e comunidade.

    Entretanto, definir metas no suficiente.

    preciso ainda escolher estratgias de

    ao; procedimentos que potencializem in-

    sumos positivos, disponveis dentro e fora

    da escola.

    5. Gestores de escola mais bem preparados

    A gesto escolar no construo indivi-

    dual. Mobiliza construo coletiva; exer-

    ccio da poltica. processo e no apenas

    resultado; produto da articulao inten-

    cional de conhecimentos, tecnologias, habi-

    lidades e atitudes.

    No mbito da escola no h separao

    entre funo pedaggica, social e adminis-

    trativa. Elas so interdependentes e regidas

    pela sua misso que educar. Para um dire-

    tor nem sempre fcil atender a esta equa-

    o gestora. De modo geral, as questes

  • Dicas Ensino FunDamEntal 2 | 13

    administrativas o absorvem de tal forma que

    ele acaba abdicando das questes pedaggi-

    cas e delegando-as para o coordenador.

    Quando o diretor assim procede fatal que

    se instalem fissuras e fragilidades em sua

    forma de gesto. O diretor tem autoridade

    reconhecida por suas equipes em todas as di-

    menses do trabalho escolar e no pode dei-

    xar de exerc-la ou deleg-la para outros.

    Embora o coordenador pedaggico te-

    nha mais clareza sobre sua atuao como

    apoiador e formador de professores, no que

    se refere s questes de concepo e orga-

    nizao pedaggica da escola, nem todos

    cumprem a contento essa funo, sendo

    muitas vezes tambm desviados para as ta-

    refas administrativas.

    Particularmente no segundo ciclo, inte-

    grado por diferentes professores e organi-

    zado em vrias disciplinas, cabe ao coorde-

    nador e tambm ao diretor - um papel

    destacado de promover articulao entre os

    docentes e auxili-los a estabelecer cone-

    xes entre os contedos de suas disciplinas

    de forma a garantir alguma coeso/articu-

    lao entre elas.

    6. Gesto escolar como superviso pedaggica e de apoio ao professor

    em sala de aula

    Em geral, o professor atua com muita

    autonomia em sua rotina de sala de aula.

    Em muitos casos essa autonomia parece ser

    mais uma situao em que se vive o abando-

    no do que o exerccio da capacidade de ge-

    renciar, com conhecimento e competncia,

    o processo de ensino aprendizagem.

    preciso que o professor seja apoiado na

    elaborao de seu plano de trabalho para que

    efetivamente desempenhe a parte que lhe

    cabe no PPP. Para tanto, ele precisa ser asses-

    sorado na definio de metas de aprendiza-

    gem de curto prazo (bimestral) e mdio prazo

    (anual), na preparao de suas aulas e na es-

  • 14 | Dicas Ensino FunDamEntal 2

    colha de recursos pedaggicos mais assertivos

    para se garantir aprendizagem.

    fundamental que as formaes oferta-

    das ao professor, dentro e fora da escola,

    dem suporte concretizao de seu plano

    de trabalho. Cursos, reunies e horrios pe-

    daggicos coletivos precisam estar integra-

    dos a um plano de formao continuada que

    atenda a um novo perfil profissional. Tal

    plano no pode restringir a atuao do pro-

    fessor docncia, mas deve promover e

    ampliar suas competncias para investigar

    sobre a aprendizagem, para sistematizar e

    produzir conhecimentos de natureza prti-

    ca e para ter sua atuao profissional como

    objeto de reflexo constante.

    7. Gesto escolar articulada a demais polticas, servios e agentes do

    territrio

    Embora a escola no faa assistncia

    social, no faa sade, no substitua o

    conselho tutelar, esperado que ela os co-

    nhea e aja conjuntamente com esses ser-

    vios. Para desempenhar bem sua funo

    de educar e formar fundamental que a

    escola conhea e dialogue e atue com or-

    ganizaes e sujeitos sociais do territrio,

    sem perder sua especificidade.

    So as articulaes que costuram a ofer-

    ta de oportunidades e de acessos a servios,

    aprendizagens e relaes no territrio. A ar-

    ticulao passou a ser pea-chave, uma vez

    que os programas sociais (Bolsa Famlia,

    Peti...), cada vez mais, contm arranjos

    multissetoriais e multiinstitucionais.

    J no h espaos para o exerccio de

    uma liderana unidimensional; a liderana

    hoje ter que ser democrtica e ganhar

    olhar multidimensional. fundamental con-

    siderar as diferentes subjetividades, cultu-

    ras e estruturas de conhecimento, que o

    territrio e os aprendentes j possuem,

    para assegurar um fluxo e trnsito de sabe-

    res, informaes e prticas voltadas a pro-

    duzir novas snteses e novas descobertas.

  • Dicas Ensino FunDamEntal 2 | 15

    8. Relaes da escola com a famlia e a comunidade

    Vrias so as estratgias que favorecem

    o estreitamento de vnculos entre escola,

    famlias e comunidades.

    O acolhimento dos alunos e famlias pelo

    diretor e professores na entrada e sada da

    escola pode ser muito estratgico, uma

    vez que neste espao h sempre oportuni-

    dade para conversas informais e rpidas,

    mas que iluminam a prtica escolar essen-

    cialmente a aprendizagem e produzem

    vnculos afetivos indispensveis.

    Visitas de professores da prpria escola

    s famlias de alunos com dificuldades de

    aprendizagem tambm so uma prtica de

    cunho pedaggico aplicada por algumas re-

    des de ensino. Em Taboo da Serra/SP, pro-

    fessores, por adeso voluntria (remunera-

    da), visitam famlias de seus alunos. Esta

    simples ao tem provocado efeitos na

    aprendizagem e na melhor convivncia com

    a escola, tanto do aluno e de famlia, quan-

    to em mudanas na relao do professor

    com seus alunos.

    Em outras redes de ensino, as escolas

    instituram os chamados professores comu-

    nitrios que visitam famlias e comunidade

    visando maior conhecimento sobre a reali-

    dade de vida dos alunos e estreitamento de

    vnculos afetivos e socioculturais. Os pro-

    fessores comunitrios tm tambm a atri-

    buio de promover articulao entre di-

    versos espaos (culturais, ldicos, esporti-

    vos, artsticos, tecnolgicos) e sujeitos que

    ofertam atividades socioeducativas para

    crianas/adolescentes do territrio, inte-

    grando-os em um projeto poltico pedaggi-

    co de educao que rene aprendizagens na

    escola e fora dela.

    Uma outra alternativa consiste em de-

    senvolver aes articuladas entre diferen-

    tes servios pblicos e organizaes comu-

    nitrias no territrio. Aes desse tipo que-

    bram o isolamento e a hegemonia da esco-

    la, enquanto instituio que promove e so-

    cializa conhecimentos, em prol da revalori-

    zao, tanto do territrio quanto da popu-

  • 16 | Dicas Ensino FunDamEntal 2

    lao, como portadores de saberes, identi-

    dades, experincias e projetos de futuro.

    Colocam em marcha fluxos de complemen-

    taridade e articulao interservios capazes

    de produzir uma ateno integrada ao cida-

    do e comunidade territorial.

    9. Introduo de programas complementares em parceria com organi-

    zaes do territrio.

    Hoje se tornou tarefa importante mape-

    ar redes de servios e vnculos sociorrela-

    cionais existentes no territrio, assim como

    promover a circulao de crianas, adoles-

    centes e jovens por essas redes. Esses sujei-

    tos e suas famlias tornam-se mais vulner-

    veis, independentemente de sua renda e

    condies de moradia, quando possuem

    poucos vnculos sociorrelacionais.

    Polticas pblicas, da rea da cultura,

    assistncia social, esporte e meio ambiente

    j introduzem, em diferentes localidades,

    uma diversidade de aes/programas socio-

    educativos com o objetivo de proporcionar

    ao grupo infanto-juvenil a ampliao do

    universo cultural; aprendizados de iniciao

    tecnolgica e de incluso digital; aprendi-

    zados no campo esportivo, da conscincia e

    trato ambiental; enfim, aprendizagens bsi-

    cas que se deslocam da escola, mas com ela

    se complementam.

    Cabe escola integrar ao seu projeto

    pedaggico aprendizagens desenvolvidas

    em outros espaos, no cotidiano familiar e

    na comunidade, nos espaos de lazer, na

    convivncia com amigos, nas organizaes

    sociais e no contato com diferentes meios

    de comunicao.

    Todas essas aes podem se efetivar den-

    tro ou fora da escola, em equipamentos da

    comunidade; podem se valer de recursos pro-

    piciados pelo municpio e pela poltica de

    educao, ou mesmo por agentes da socieda-

    de e da comunidade. Hoje, programas como o

    Mais Educao (iniciativa do MEC) viabili-

    zam a implementao destas oportunidades.

  • Dicas Ensino FunDamEntal 2 | 17

    Mas, preciso ateno! Muitas vezes o

    diretor da escola permite a entrada de pro-

    jetos com pouco interesse e poucas vanta-

    gens de ganhos reais de aprendizagem para

    os alunos. preciso saber selecionar o que

    prioritrio para a escola a partir do diag-

    nstico, do projeto e das metas estabeleci-

    das. Caso contrrio, podese gerar um ati-

    vismo de aes que no convergem para

    alimentar o que fundamental para a efeti-

    vao do plano traado.

    10. Prticas que dizem respeito ao desenvolvimento da convivncia social.

    O desenvolvimento da convivncia so-

    cial inicia se com o acolhimento que a esco-

    la promove junto a seus alunos, suas fam-

    lias e comunidades, envolvendo-os como

    sujeitos que ensinam e que aprendem, na

    perspectiva de restaurar a confiana social

    perdida no servio pblico.

    Redes de sociabilidade sociofamiliar e

    territorial tecem vnculos de proximidade e

    produzem o que chamamos de sua potn-

    cia: a confiana social, ou seja, o maior ca-

    pital social que a comunidade nos oferece.

    Observa-se hoje a retomada da impor-

    tncia de se desenvolver a convivncia

    social - contedos e prticas voltados

    apropriao de valores e atitudes promoto-

    ras do convvio. Alguns programas nessa li-

    nha colocam nfase no convvio escola e

    comunidade, como o Escola Aberta nos

    fins de semana. A iniciativa visa possibilitar

    que alunos, pais, moradores da comunidade

    usufruam de atividades esportivas, ldicas

    e culturais, na perspectiva de desenvolver

    relaes de proximidade e convvio entre

    agentes da escola e da comunidade.

  • 18 | Dicas Ensino FunDamEntal 2

    11. Prticas de enfrentamento da violncia pautadas na realizao de

    uma justia restaurativa no interior da escola

    A justia restaurativa uma das novas

    correntes adotadas pelos juizados da infn-

    cia e juventude. Trata-se de um processo

    que promove o encontro entre agredido,

    agressor e mediadores da escola e da comu-

    nidade. O objetivo a reflexo conjunta na

    qual argumentos de todos os implicados so

    considerados com vistas ao estabelecimen-

    to de consensos, resoluo do conflito e re-

    parao de danos.

    Concretamente isso significa que o foco

    no est em fazer desaparecer da escola a

    agressividade e o conflito, mas regul-los

    pela palavra/dilogo - ficando bem entendi-

    do que a violncia reforada na medida

    em que a palavra se tornar impossvel.

    Questoes

    Como ns, fundaes empresariais e orga-

    nizaes da sociedade civil, podemos aportar

    contribuies e participar da melhoria da

    aprendizagem de alunos do segundo ciclo?

    Como a escola pode contribuir efe-tivamente para minimizar a desigual-dade social e garantir aprendizagem para todos os alunos do segundo ciclo?

    Na sociedade brasileira a escola pbli-

    ca que efetivamente pode democratizar as

    oportunidades de aprendizagem para a

    maioria. Entretanto, ao invs de cumprir

    com essa misso, no segundo ciclo do Ensi-

    no Fundamental ela produz desigualdade

    social, atestada pelos altos ndices de re-

    provao e evaso que excluem milhares de

    alunos de suas possibilidades de aprendiza-

    gem. Para boa parte dos que permanecem

    na escola, no garante aprendizagem sufi-

    ciente para que vivam no mundo contempo-

    rneo e caminhem com mais autonomia.

  • Dicas Ensino FunDamEntal 2 | 19

    O que preciso levar em conta para construir um modelo de organizao es-colar mais prximo da realidade, da cultura, das necessidades e potenciali-dades dos alunos do segundo ciclo?

    No mundo contemporneo, a escola de

    Ensino Fundamental, sobretudo no segundo

    ciclo, vem perdendo, cada vez mais, a ca-

    pacidade de dilogo e deixou de ser refe-

    rncia para os alunos (principalmente para

    os que vivem em situao de maior vulnera-

    bilidade) ao insistir em manter um modelo

    j exaurido de escolaridade que produz co-

    tidiano montono, atividades repetitivas,

    ensino e aprendizagens livrescos, incompa-

    tveis com tempos e espaos reais de inser-

    o, de comunicao e de interao das no-

    vas geraes.

    Como potencializar a atuao de l-cus de formao inicial e continuada do professor em prol de um desenvolvi-mento profissional que lhes assegure domnio de conhecimentos e desenvol-vimento de competncias compatveis com as dimenses implicadas na sua atuao de gestor do processo de ensi-no-aprendizagem? O que fazer com o absentesmo expressivo de professores nas escolas pblicas?

    A preparao de professores que atuam

    no segundo ciclo do Ensino Fundamental

    fruto tanto da formao inicial, que aconte-

    ce nas instituies de ensino superior, quan-

    to da formao continuada, promovida pe-

    los sistemas de ensino no qual esses profis-

    sionais se integram e, sobretudo, pelas

    oportunidades formativas que a prpria es-

    cola em que atuam lhes oferecem.

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