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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 03
CAPÍTULO I – O SISTEMA FINANCEIRO NO BRASIL 07
CAPÍTULO II – REESTRUTURAÇÃO BANCÁRIA E CONSEQÜÊNCIAS
INTERNAS 27
CAPÍTULO III – MUDANÇAS NO PERFIL DA CATEGORIA BANCÁRIA 69
CONCLUSÃO 86
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 89
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INTRODUÇÃO
O interesse pelo tema desse trabalho surgiu devido ao aumento do
desemprego no país. Desemprego este que não afeta somente pessoas com
baixa escolaridade, mas também trabalhadores de todos os níveis e de todas
as áreas da economia.
O desemprego tem suas causas fundamentadas em dois processos: a
reestruturação produtiva, decorrente da Terceira Revolução Industrial, e a
adoção da política neoliberal pelos governos brasileiros nos anos 90, política
caracterizada pelo processo de abertura comercial, efeito do processo de
globalização mundial, pelas privatizações e pela desregulamentação do
mercado de trabalho.
Todas as revoluções industriais acarretaram acentuado aumento da
produtividade do trabalho e, em conseqüência, causaram desemprego
tecnológico.
A Terceira Revolução Industrial trouxe consigo acelerado aumento da
produtividade do trabalho tanto na indústria como em numerosos serviços,
sobretudo porque recolhem, processam, transmitem e arquivam informações.
Como ela ainda está em curso, é difícil prever seus resultados. Além da
substituição do trabalho humano pelo computador, há crescente transferência
de uma série de operações das mãos dos funcionários que atendem ao público
para o próprio usuário.
A Terceira Revolução Industrial afetou profundamente os processos de
trabalho e, com toda certeza, expulsa do emprego milhões de pessoas que
cumprem tarefas rotineiras, que exigem um repertório limitado de
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conhecimentos e, sobretudo, nenhuma necessidade de improvisar em face de
situações imprevistas, pois é neste tipo de tarefas que o cérebro eletrônico se
mostra superior ao humano, tanto em termos de eficiência quanto de custos.
Com a política neoliberal, a partir de 1990, começa a abertura do
mercado interno às importações, o que sem dúvida impulsiona o processo de
desindustrialização. A desindustrialização que acomete a economia brasileira
resulta de tendências universais: a Terceira Revolução Industrial e a
globalização. A invasão de importados, sobretudo de proveniência asiática, tem
corroído o parque industrial brasileiro com significativa redução de alguns
ramos.
Nota-se um acentuado crescimento do desemprego quando o país abriu
o mercado interno às importações e começou a haver quebra de empresas,
corte de postos de trabalho e crises financeiras. (Singer, 1998)
Nos anos 90, com o abandono do projeto de industrialização nacional e
o ingresso numa fase de especialização competitiva, tem havido um movimento
de desestruturação do mercado de trabalho.
Em geral, as economias capitalistas registram elevadas taxas de
desemprego, mudanças desregulatórias nas relações trabalhistas, constante
precarização do mercado de trabalho e diferentes formas de manifestação da
insegurança no emprego. O aparecimento de novas formas de exclusão junta-
se às tradicionais, muito conhecidas nas economias periféricas, especialmente
no Brasil.
As empresas capitalistas passaram a transformar uma parcela de seus
empregados em fornecedores autônomos de serviços, mediante a assim
chamada terceirização.
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Outro agravante é que a crescente informalização das relações de
trabalho está golpeando também trabalhadores qualificados e antigos
empregados com grau universitário.
A exclusão do emprego formal é particularmente importante no Brasil,
primeiro, pela grande parcela da população que é atingida e, segundo, por
provavelmente estar crescendo.
Nas duas últimas décadas do século XX, as políticas de emprego
sofreram profundas transformações em seus objetivos e conteúdos. Com
ações descentralizadas e recursos cada vez mais focalizados a parcelas
específicas da população desempregada ou pertencentes ao chamado setor
informal, as políticas de emprego terminaram assumindo um papel mais
passivo, pois se encontram desarticuladas dos elementos-chave de
determinação do emprego.
No Brasil, a experiência das políticas de emprego é muito recente.
Durante o ciclo de industrialização nacional, a ausência de políticas de
emprego não impediu que o país apresentasse uma dinâmica positiva de
geração de emprego, mesmo sem ter resolvido os graves problemas
tradicionais do mercado de trabalho.
Observa-se também que a maior desarticulação entre os cinco
elementos-chave de determinação do emprego no capitalismo contemporâneo
(políticas macroeconômicas, paradigma técnico-produtivo, políticas de bem-
estar social, sistema de relações de trabalho e políticas de emprego)
compromete sensivelmente as possibilidades de ampliação do emprego e
renda de modo satisfatório.
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Esse quadro de desemprego, como vimos gerado pela reestruturação
produtiva e pelas políticas neoliberais afetou vários setores da economia,
particularmente o setor bancário. Este setor foi um dos pioneiros no processo
de modernização e um dos mais afetados pela política financeira neoliberal.
Entre estes efeitos destacamos a redução de postos de trabalho, bem como
um processo de deterioração das condições de trabalho nos bancos.
Diante desse quadro, optamos por estudar nesta monografia, as origens,
causas e conseqüências do processo de reestruturação produtiva no setor
bancário brasileiro. Para tanto pretendemos mostrar no primeiro capítulo todas
as transformações ocorridas no sistema financeiro nacional ao longo deste
século.
No segundo capítulo, toda a reestruturação bancária e suas
conseqüências internas, além da ação dos sindicatos.
E no terceiro capítulo, as relações de trabalho nos bancos e as
diferenças de raça e gênero.
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CAPÍTULO I
O SISTEMA FINANCEIRO NO BRASIL
O processo de modernização tecnológica vem ocasionando uma série
de mutações nos ambientes produtivos, com implicações nos processos e nas
condições de trabalho, nas relações de produção e, também, na capacidade de
resistência dos trabalhadores. Esse processo atingiu rápida e diretamente os
trabalhadores do setor bancário.
O sistema financeiro nacional adquiriu sua configuração atual ao longo
de um processo evolutivo que se intensificou nas últimas três décadas, mas
teve as condições de seu desenvolvimento criadas a partir da Revolução de
1930. A economia brasileira sofreu, naquele período, uma significativa
transformação: baseada no setor agrário-exportador, ela passa então a se
apoiar em um novo modo de acumulação capitalista que se fundamenta numa
estrutura produtiva de base urbano-industrial.
O formato do novo modelo econômico ia se constituindo a partir das
medidas estatais que criavam as bases para a acumulação capitalista
industrial. O Estado brasileiro representava os interesses das classes
proprietárias, privilegiando o setor empresarial urbano e criando condições para
o aprofundamento da exploração do trabalho, com políticas de “arrocho
salarial”. Definia, ainda, novo papel para as atividades agropecuárias
(supridoras das necessidades da crescente população urbana) perante o novo
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mercado interno e cuidava para que os grandes proprietários rurais
mantivessem seus lucros, fundados no baixíssimo custo de reprodução da
força de trabalho rural
Baseando-se numa intensa exploração da força de trabalho, facilitada
pela ampliação acelerada do exército industrial de reserva que se formava nas
cidades – devido ao grande contingente populacional que afluía do
campo – e, procurando atender essencialmente à acumulação de capital em
detrimento das necessidades básicas da maioria da população, a
industrialização no Brasil assumia desde suas origens um caráter concentrador
de renda.
Crescia em importância o setor terciário da economia, à medida que se
implantavam serviços diversos nas cidades, em apoio ao processo de
acumulação capitalista.
A expansão do mercado interno exigia o aperfeiçoamento do sistema de
crédito e o fortalecimento dos bancos nacionais em face dos estrangeiros, que
detiveram nas primeiras décadas do século XX o monopólio dos
financiamentos à agricultura cafeeira, devido à insuficiente poupança interna no
mercado de capitais. Diversas medidas estatais estimulavam o crescimento do
sistema financeiro nacional no período pós-Revolução de 1930, com a
finalidade de dinamizar o processo de acumulação capitalista no Brasil.
O crescimento da rede bancária no país articulou-se:
A) ao processo de urbanização e de industrialização que se intensifica
após 1930 e rompe parcialmente com as relações políticas e econômicas
vigentes na sociedade brasileira dos primeiros anos do século,
B) à intervenção crescente do Estado na esfera econômica, e
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C) à constituição de um poder político orientado para o desenvolvimento
industrial. De um total de 249 estabelecimentos bancários existentes em 1922
– 67 bancos com 182 agências ou sucursais -, a rede bancária nacional teria
sido ampliada para cerca de 1018 estabelecimentos – 277 matrizes e 741
agências – no ano de 1939. (Segnini, 1998)
Durante as primeiras décadas do século o trabalho bancário consistia
basicamente em operações relativas a conta corrente, crédito e cobrança.
Manipulando e contabilizando papéis, os bancários realizavam manualmente
todo o trabalho de escrituração do movimento diário do banco. A introdução da
máquina de datilografia nos serviços de escrituração e dos copiadores de
gelatina (que reproduziam as páginas datilografadas) nos anos 20, das
máquinas de calcular no decorrer dos anos 40 e de equipamentos destinados à
elaboração de cartelas contábeis substitutas dos livros de registros da
contabilidade no final dos anos 50, num processo contínuo de mecanização,
produziriam mudanças importantes no modo de realização do trabalho bancário
e aumentariam sua produtividade.
Durante as primeiras décadas do século, o ingresso nos bancos
dependia muitas vezes de indicação de clientes ou de funcionários graduados,
não havendo concurso público nem mesmo nos bancos estatais. Certo nível
de conhecimentos gerais (inclusive noções de contabilidade e domínio da
língua portuguesa) era exigido do bancário para exercício da profissão.
Requeriam-se ainda determinadas normas de conduta compatíveis com os
valores de classe de aristocracia rural e da burguesia financeira emergente,
como modos de vestir, de atender ao público, etc. Escolarização formal e as
relações sociais influíam no perfil do trabalhador a ser selecionado.
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A representação que se forjava no plano social em relação ao bancário
era de um “homem de bem”. Ele deveria ser merecedor da confiança da
empresa e dos clientes, assimilando e reproduzindo em seu cotidiano de
trabalho, e até mesmo em sua vida privada, os valores éticos e culturais
propalados pela ideologia burguesa.
No caso dos trabalhadores de bancos no Brasil, a contradição entre
suas condições de trabalho e a imagem social de trabalhadores de “elite”, não
impediu que diversas formas de resistência fossem adotadas pela categoria
para se contrapor às condições de trabalho que lhe eram impostas.
Na primeira metade do século, os bancários criaram seus órgãos de
representação: em 1923, surgia a Associação dos Funcionários de Bancos de
São Paulo, entidade de caráter prioritariamente recreativo e beneficente, mas
que se constituiu na primeira experiência de organização dos bancários
brasileiros na defesa de seus interesses. A associação assumiria um cunho
mais sindical a partir de 1931, quando foi reconhecida como órgão sindical da
categoria bancária paulista pelo recém-criado Ministério do Trabalho, passando
a se chamar Associação dos Bancários de São Paulo. Em 1933, os
trabalhadores do Estado de São Paulo criavam sua primeira entidade unitária,
com a participação da Associação dos Bancários: a Coligação dos Sindicatos
Proletários de São Paulo, cujo objetivo era a coordenação das lutas dos
trabalhadores no Estado.
Na luta por melhores condições de vida e trabalho, os bancários tiveram
o apoio e a coordenação de suas entidades sindicais. As principais
reivindicações da categoria, nesse período, relacionavam-se à jornada de
trabalho, estabilidade, salários e direitos sindicais. Campanhas de âmbito
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nacional foram empreendidas, tendo sido conquistados pelos trabalhadores
bancários, no decorrer das décadas de 20, 30 e 40, a jornada de seis horas; a
estabilidade aos dois anos de serviço (perdida posteriormente com a aquisição
de estabilidade somente aos dez anos de serviço, instituída pela CLT); o direito
à aposentadoria aos trinta anos de serviços ou 50 de idade; férias anuais.
A profunda crise das democracias liberais que marcou o período pós-
Primeira Grande Guerra e como regime político que “estimulava o conflito e a
desordem”, geraram o nascimento de um projeto político autoritário, expresso
em vários regimes políticos (experiências fascistas e nazistas, por exemplo) e
no modelo de Estado corporativo.
O corporativismo buscava impedir as manifestações da luta de classes e
do chamado individualismo burguês, privilegiando a noção da autoridade do
Estado como organizador da sociedade.
No Brasil, o modelo corporativo expressou-se no programa político do
governo Getúlio Vargas, a partir da Revolução de 1930. A criação do Ministério
do Trabalho, Indústria e Comércio e da legislação sindical consagrava a
intervenção do Estado na organização sindical, através de dois princípios
básicos: a outorga da representação pelo Estado e o monopólio da
representação que deriva da unicidade sindical.
O sistema de relações de trabalho controladas pelo Estado, reiterado e
fortalecido durante a vigência do Estado Novo, subsistira , em sua essência, no
complexo de leis que derivou na Consolidação das Leis do Trabalho em 1943,
sobrevivendo ainda nas políticas sindicais dos governos militares pós-64 e na
Constituição promulgada em 1988.
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Na década de 40, durante a Segunda Guerra Mundial e no período
imediatamente posterior a ela, a ampliação do sistema financeiro nacional
esteve relacionada ao desenvolvimento das atividades especulativas dos
bancos, num contexto de intensificação do ritmo inflacionário.
Em nível mundial, o pós-guerra produzia uma reorganização do
capitalismo, em virtude da crise econômica mundial e das modificações na
divisão internacional do trabalho. Modificavam–se a correlação de forças entre
os países industrializados e as relações entre as nações hegemônicas e países
subordinados. Simultaneamente, solidificava-se a preponderância do capital
financeiro em escala mundial e intensificavam-se os mecanismos de
intervenção das nações hegemônicas nas políticas econômicas e financeiras
dos países dependentes.
No decorrer dos anos 40, torna-se visível no sistema financeiro nacional
um fenômeno inerente ao desenvolvimento capitalista: a concentração de
renda e de poder. Segundo Evaldo Vieira (1971), é a partir da crise econômica
do pós-guerra, em 1945, que se intensifica o processo de concentração
bancária no Brasil: naquele ano foram extintos 154 bancos em relação ao ano
anterior. Durante os anos seguintes, até o final da década, a quantidade de
sedes bancárias segue decrescendo, caindo para 419 em 1949, enquanto o
número de agências aumenta sempre – de 1565 em 1945 passa para 2012 em
1949. (Segnini, 1998)
O intenso crescimento industrial dos anos 50, especialmente na segunda
metade da década, quando a aceleração da acumulação capitalista se dá
mediante a crescente interferência estatal e a recorrência ao endividamento
externo privado, teria repercussões importantes no sistema financeiro nacional.
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Os bancos assumem gradativamente um novo papel nesse processo: àquela
função de intermediadores entre a produção, a distribuição e o consumo, eles
acrescentam agora a de investidores em outros setores produtivos, fundindo
sob sua hegemonia os capitais industrial e agrário.
A demanda cada vez maior de crédito e o crescimento do mercado
interno propiciam uma expansão vigorosa do sistema financeiro nacional. Ao
mesmo tempo, o processo de concentração bancária desenvolve-se, ainda que
lentamente, por todo o período. Em 1950 havia cerca de 413 bancos com 2183
agências, enquanto em 1959 a rede bancária somava 343 sedes e 4792
agências.
A estrutura do sistema bancário era bastante simples até a década de 60
e consistia basicamente dos bancos, com sua direção geral e agências. Na
matriz do banco realizavam-se os serviços de administração geral, divididos
entre a alta direção, a contadoria, responsável pelo balanço geral do banco, a
inspetoria , fiscalizadora dos serviços nas agências, o departamento de
pessoal, a central de câmbio e a tesouraria. Às agências cabiam os serviços
contábeis relativos ao movimento diário de captação e empréstimos e o
atendimento à reduzida clientela, além das atividades de suporte ao
atendimento como atualização de contas correntes e arquivos, além de
cálculos de juros.
Os serviços nas agências desenvolviam-se sob a supervisão do gerente
e do contador, além das chefias intermediárias. Os demais funcionários
distribuíam-se nos setores de conta corrente, cadastro, desconto de títulos e
contabilidade, ocupados com o controle e a escrituração dos papéis em
circulação, executando em geral atividades de suporte ao atendimento dos
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clientes. Aos caixas, cabia simplesmente o recebimento dos depósitos e o
pagamento dos cheques, o que tornava extremamente limitado o conteúdo de
seu trabalho.
Na época, o atendimento à clientela era muito precário e trabalhoso.
Havia muitas etapas a cumprir, para que uma transação fosse realizada. As
difíceis condições de trabalho nos bancos tornavam-no penoso e
extremamente desgastante.
Em qual contexto econômico deu-se a reestruturação bancária e como
ele a favoreceu?
O desenvolvimento econômico no Brasil não se deu uniformemente em
todo o território. A expansão capitalista via industrialização privilegiou, desde
suas origens, o Centro-Sul do país. Evidentemente que o sistema financeiro
teria que seguir o mesmo caminho. São Paulo, hegemônico na produção
industrial, tornou-se pólo dinâmico financeiro, concentrando o maior número de
estabelecimentos bancários dentre os Estados brasileiros. Em 1960, São
Paulo possuía cerca de 1910 dos 5348 estabelecimentos bancários existentes
no país. A concentração bancária configurava-se também no âmbito regional.
A crise que aconteceu no país nos primeiros anos da década de 60 e
terminaria no golpe militar de 1964 tinha sua raiz no modelo econômico
imposto, concentrador de renda e produtor de desigualdades sociais, o qual
refletia a articulação de setores da burguesia nacional com o capital
internacional. O alto índice de exploração da força de trabalho e, por outro
lado, o aumento drástico da quantidade de trabalhadores concentrados nas
cidades, portanto com maiores possibilidades de organização sindical,
acirravam as contradições de classe.
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O golpe militar tentaria abafar as contradições entre as relações de
produção e o desenvolvimento das forças produtivas, articulando crescimento
econômico com repressão política e aprofundamento da superexploração do
trabalho. As forças políticas no poder desde 1964 desenvolviam mecanismos
de concentração e reorganização do poder do Estado, visando criar condições
para a implantação de políticas econômicas que favorecessem a acumulação
privada do capital.
Foi esse contexto que possibilitou uma profunda reestruturação do
sistema financeiro nacional, conforme os interesses da nova composição social
no poder – frações burguesas nacionais e internacionais. Com o projeto de
desenvolver no país o capitalismo monopolista e dar suporte ao capital
industrial e comercial, o governo brasileiro pós-64 implantou a chamada
Reforma Bancária, que marcaria intensamente o processo de acumulação
capitalista no Brasil.
As leis que constituíram a Reforma Bancária converteram-se em
instrumentos institucionais de suporte às políticas econômicas baseadas na
concentração de renda e no arrocho salarial. Simultaneamente, os
mecanismos legais de intervenção estatal a favor do grande capital, como as
políticas de controle salarial e a criação do Fundo de Garantia por Tempo de
Serviço (FGTS), como substituto do regime de estabilidade no emprego,
incentivaram fortemente a concentração de renda no setor bancário, onde os
custos com a força de trabalho significavam grande porcentagem dos gastos
gerais.
Através das medidas repressivas que enfraqueciam diretamente o poder
reivindicatório da classe trabalhadora, o Estado estimulava o rebaixamento
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crescente do valor da força de trabalho em privilégio da burguesia financeira e
industrial que representava. A partir do golpe de 1964, a forma de Estado
burguês dominante no país favoreceu amplamente a burguesia bancário-
financeira em suas relações com os trabalhadores bancários. A intervenção
nos sindicatos e a perseguição política de seus líderes; a adoção, pura e
simples, dos índices oficiais de reajuste salarial abaixo da inflação, sem maior
atenção a outras reivindicações; a proibição de greves no sistema bancário;
foram alguns dos mecanismos e medidas do Estado para garantir maior
acumulação nas mãos dos banqueiros.
A economia brasileira somente na década de 50, e principalmente sob a
política econômica dos governos militares pós-64, incorpora-se à expansão do
capitalismo monopolista no exterior, como economia monopolista dependente e
subordinada às economias centrais.
O fortalecimento do sistema financeiro deriva do aumento da circulação
de capital, estimula e acelera, por seu lado, a concentração de capitais e a
formação de monopólios, favorecendo o grande capital industrial e comercial.
Constata-se, um movimento de fortalecimento mútuo e de interpenetração
entre grandes capitais dos diversos ramos econômicos – que controlam parte
significativa da produção mundial -, com a subsunção dos pequenos e médios,
dominados por uma minoria de poderosos capitalistas.
O sistema financeiro nacional assumira a posição de setor estratégico
para o desenvolvimento econômico do país. O golpe de Estado imporia uma
reestruturação do sistema financeiro adequado à sua política econômica,
aprovada por um Congresso agora empobrecido e mutilado pela repressão
política.
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A Reforma Bancária e, em seguida, a Reforma do Mercado de Capitais e
o Plano de Ação Econômica do Governo criavam mecanismos legais de
controle e fiscalização, pelo Estado, das instituições públicas e privadas do
sistema financeiro; estabeleciam a formação de instituições financeiras
especializadas na captação e aplicação de recursos a médio e longo prazos;
institucionalizavam a correção monetária na remuneração de aplicações para
incentivar a poupança, dentre outras medidas.
Questões fundamentais de interesses da maioria da população,
entretanto, não eram tratadas. A reestruturação do sistema financeiro nacional
está diretamente articulada a uma contexto de antagonismos entre classes e
segmentos sociais, onde a burguesia, especialmente a financeira, assumira
posição hegemônica.
O sistema financeiro nacional especializava-se e diversificava-se com a
implantação da Reforma Bancária, instituindo-se novas formas de captação de
recursos financeiros.
A essa especialização somava-se a tendência à concentração e ao
desenvolvimento dos monopólios, presentes nos diversos mecanismos e
instrumentos estatais que estimulavam a concorrência interbancária e
permitiam aos grandes bancos o comando de uma quantidade ilimitada de
empresas financeiras não bancárias.
Desencadeava-se um processo de expansão do setor, que trazia o
aumento da concentração da riqueza privada e o alastramento da especulação
financeira. Esse processo seria revertido em um movimento de centralização,
em que bancos pequenos e médios eram incorporados (ou simplesmente
excluídos do mercado) por aqueles com maior poderio econômico.
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No espaço de tempo entre dezembro de 1964 e início de 1972, cerca de
135 bancos haviam sido incorporados e dez haviam sofrido processo de fusão.
Formavam-se, assim, os conglomerados financeiros, que passavam a controlar
atividades próprias de empresas diversas da área financeira, atuando nos
diferentes segmentos do mercado bancário, tanto na captação como na
aplicação de recursos, e constituindo-se em poderosos grupos econômicos.
Os bancos adquiriam caráter nacional, com suas diversas agências
espalhadas pelo país, o que exigia mudanças organizacionais, que
possibilitassem o controle das atividades desenvolvidas pelo banco, diversas
geograficamente.
Fazia-se necessária a padronização de rotinas e serviços bancários,
instituindo-se normas rígidas divulgadas nas agências através de manuais de
instrução e regulamentos internos nos bancos. A homogenização dos
procedimentos contábeis, efetuada pelo Banco Central do Brasil em 1967,
concorreria para que se desenvolvesse na atividade bancária alto grau de
normatização, com impactos profundos nas condições de trabalho dos
bancários.
São essas condições organizacionais que vão possibilitar (e estimular) a
automatização bancária no Brasil. Conforme relatório da CEAB (Comissão
Especial nº15 de Automação Bancária), as “três forças motrizes básicas da
automação bancária” foram:
A) aumento de mercado, com possibilidade de atração de maior número
de clientes (com crescimento da captação de recursos) através da
oferta de novos produtos e de melhor qualidade, sob a égide da
“eficiência e rapidez”;
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B) agilização do fluxo de informações para a administração, facultando
uma aplicação dos recursos disponíveis com maior prontidão e,
portanto, incrementando a rentabilidade dos bancos;
C) redução de custos, através do aumento da produtividade do trabalho.
A partir de final dos anos 60, a rede bancária passava a
centralizar os serviços de arrecadação de impostos e taxas, de cobrança para
empresas públicas e privadas, dentre outros.
Com a multiplicidade de serviços oferecidos à população e a cada vez
mais forte concorrência interbancária, as agências passam a assumir papel de
destaque no conglomerado financeiro ao qual se encontram vinculadas,
transformando-se em “postos de venda” do grupo financeiro. Para atrair
clientes, aperfeiçoam-se os serviços de atendimento ao público. Grande parte
dos funcionários das agências especializa-se na venda dos “produtos”. Ao
mesmo tempo, aumenta visivelmente o número de mulheres alocadas nas
agências, efetuando tarefas vinculadas ao atendimento.
Nesse contexto, o cliente adquire, gradativamente, posição cada vez
mais destacada no processo de trabalho bancário e na rentabilidade dos
bancos.
O período entre 1968 e 1973, chamado de “milagre econômico”
brasileiro, foi de expansão econômica e de intensa repressão política .
As altas taxas de crescimento econômico verificadas no país, numa
conjuntura de recessões e crises na economia de diversos países capitalistas
desenvolvidos, mais a estabilização da inflação por volta de 20 a 25% ao ano
foram amplamente utilizadas pelos governos militares da época como
instrumentos de poder político e de fortalecimento do aparelho estatal.
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Simultaneamente, assistia-se à concentração e centralização aceleradas do
capital, bem como ao desenvolvimento do capital imperialista no país.
A situação salarial da categoria bancária era diversificada, apresentando
marcantes disparidades entre os vários bancos. Não havia classificação
salarial por funções, o que causava diferenças nos rendimentos dos
funcionários detentores de um mesmo cargo. De modo geral, a capacidade
aquisitiva dos salários da categoria era pequena. Havia uma necessária
adequação entre o valor dos salários pagos e o valor dos meios de
subsistência.
À intensa jornada de trabalho e à baixa capacidade aquisitiva somava-se
o temor da perda do emprego. Os efeitos das condições de trabalho sobre a
saúde dos bancários, a tuberculose e a chamada “psiconeurose bancária” eram
as doenças que mais comumente os afetavam.
A segunda metade da década de 80 pode ser considerada chave no
processo de reestruturação para dentro (reorganização interna) dos bancos
brasileiros. A edição do Plano Cruzado, primeira experiência heterodoxa de
ajuste da economia nacional, que derrubou a inflação mensal de índices
próximos a 25% para cerca de 1% em apenas um mês, despertou nos bancos,
principalmente as grandes instituições privadas de varejo, a necessidade de se
prepararem para sobreviver num ambiente econômico sem inflação. Além
disso, a institucionalização da figura do banco múltiplo e o fim da exigência da
carta patente para se abrir uma instituição financeira aceleraram as mudanças
nos bancos, provocando maior concorrência no mercado bancário brasileiro.
O impulso institucional à reorganização do setor aprofundou o ajuste
para dentro, com os bancos diversificando seu campo de atuação com o
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objetivo de atender as múltiplas demandas de seus clientes. Provocou também
um redimensionamento na atividade das instituições financeiras, com a
intensificação do processo de terceirização e a diminuição contínua dos postos
de trabalho na categoria, principalmente a partir de janeiro de 1989. Desde
então até dezembro de 1996 foram eliminados 314.784 postos de trabalho,
segundo o Ministério do Trabalho. (Segnini, 1998)
Entre as mudanças internas que ocorreram nos bancos se destacam a
segmentação da clientela e diversificação de produtos, incorporação de novas
tecnologias, com ênfase no auto-atendimento e modificações nas formas de
gestão da mão-de-obra.
A segmentação da clientela privilegia para o pequeno correntista o auto-
atendimento e para o correntista de médio/grande porte atendimento mais
qualificado e assessoramento na tomada de decisões.
Houve alteração no leque de produtos oferecidos, com ênfase em
emissão e gestão de cartão de crédito, seguros, planos de capitalização,
gestão de fundos e patrimônio e prestação de serviços sofisticados,
principalmente na área internacional.
Essas mudanças ocorridas na relação com os clientes e no leque de
produtos oferecidos implicaram aumento da importância de acesso às
informações econômico-financeiras e políticas, fundamentais no auxílio à
tomada de decisão. Captar, armazenar e interpretar informações começam a
fazer parte da realidade de trabalho do bancário.
A propagação da informática nos bancos possibilitou a diferenciação dos
clientes, permitindo a adoção de estratégias distintas de atendimento, seja
personalizado (home banking ), para clientes de média/alta renda, ou
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padronizado (máquinas de auto-atendimento nas agências, para aqueles de
baixa renda).
As mudanças na gestão de produtos e serviços, aliadas ao uso intensivo
da informática, provocaram alterações no trabalho bancário, assim como na
sua forma de administração. A eliminação da duplicação de tarefas, a
simplificação de procedimentos internos e a reorganização funcional,
privilegiando a flexibilidade de jornada, remunerada e função, com ampliação
das tarefas executadas pelos bancários -, são alguns dos processos em
andamento.
O uso crescente da informática permitiu um controle mais objetivo da
mão-de-obra, eliminando chefias intermediárias e liberando a gerência da
função de administrar a rotina. Às novas formas de controle do trabalho, mais
objetivas, se somou uma política de recursos humanos mais agressiva, que
busca motivar o trabalhador para o objetivo da empresa, seja através de
incentivo financeiro ou pela transferência a ele da gerência da rotina do seu
dia-a-dia, agregando função e status ao posto de trabalho.
Entre as estratégias mais utilizadas destaca-se a introdução de grupos
(times) de trabalho, que possibilita um maior controle individual (e coletivo) do
funcionário.
Além da redução das chefias intermediárias, houve o aumento do
percentual de bancários em cargos de gerência. Esse movimento comprova a
afirmação de que o sistema financeiro vem privilegiando o atendimento mais
qualificado e personalizado aos médios e grandes clientes. Ao mesmo tempo,
impõe ao bancário a necessidade de um aprimoramento contínuo, na tentativa
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de acompanhar as mudanças no setor. Para isso houve evolução do nível de
escolaridade da categoria.
Houve também uma acentuada diminuição do número de escriturários
na categoria. Em conseqüência da intensificação do uso da informática, além
da própria reorganização do trabalho bancário.
A partir de julho de 1994, com a edição do Plano Real, os bancos que
atuam no sistema financeiro brasileiro intensificaram o ajuste para fora (entre
empresas). O plano de estabilização econômica provocou, em alguns bancos,
processo de ajuste envolvendo transferência do controle acionário, intervenção
ou liquidação por parte do Banco Central, e incorporação por outra instituição
financeira.
O sistema financeiro nacional vem passando por um ajuste estrutural
nos últimos anos. Entre os vários motivos desse processo destacam-se a
globalização do sistema financeiro internacional, o acirramento da concorrência
internacional e nacional, as mudanças institucionais, os planos econômicos –
particularmente o Cruzado e o Real – e, não menos importante, a redução do
patamar da inflação.
O processo de globalização da economia mundial tem como uma de
suas principais características a internacionalização do sistema financeiro. As
decisões de investimento são tomadas em tempos cada vez menores – e a
informação é a variável determinante.
Os bancos são a ponta de lança nesse processo, arquivando,
catalogando e processando informações, de modo a identificar as
possibilidades de investimento para seus clientes. Para tanto, é fundamental
não só o acesso à informação, como também a capacidade de interpreta-la,
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visando satisfazer as necessidades dos clientes. O bancário tradicional, que
tinha como principal meio de trabalho a moeda, começa a ceder espaço para
um novo profissional, que tem na informação sua principal ferramenta de
trabalho.
Outra variável chave nesse processo de globalização do sistema
financeiro é a tecnologia, que permite a multiplicação dos produtos oferecidos
aos clientes, a racionalização do processo de trabalho e a rapidez na tomada
de decisões. Muitas vezes, a tecnologia é o próprio produto que o banco
vende. A concorrência entre os bancos se concentra cada vez mais nas duas
variáveis – informação e tecnologia – que são a base para definir novos
produtos a serem oferecidos aos clientes.
A metamorfose do trabalho bancário insere-se num contexto de
transformações no qual a informática e os novos métodos de acumulação de
capital e de expropriação da força de trabalho aumentaram radicalmente a sua
produtividade e incrementaram a concentração da riqueza privada e o fluxo de
capitais em nível mundial.
O desenvolvimento do capital monopolista e o processo de globalização
que atingem as sociedades capitalistas, vêm exigindo a organização de um
sistema financeiro de âmbito internacional, estratégico para a livre circulação e
acumulação de capital pelo mundo. Organismos como o FMI (Fundo Monetário
Internacional), o BIRD (Banco Internacional de Reconstrução e
Desenvolvimento) e o Banco Mundial ditam normas e decidem os rumos do
capital em circulação pelo mundo, tirando a autonomia das economias dos
países menos desenvolvidos. (Jinkings, 1995)
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Um elevado grau de abertura financeira aumenta os riscos de crises
bancárias. As crises bancárias recentes de várias economias periféricas estão
associadas à absorção de elevados volumes de recursos externos. A
expansão do crédito, alavancada por recursos externos, potencializa a fase
ascendente do ciclo de negócios, contribuindo para um aumento da demanda
interna (consumo e investimento) e para a acumulação de déficits
insustentáveis em conta corrente, bem como para a geração de bolhas
especulativas nos mercados acionário e imobiliário. Ingressos excessivos de
capitais também provocam valorização nas taxas de câmbio que precedem, em
geral, as crises bancárias. Taxas de juros domésticas elevadas, associadas à
apreciação da moeda nacional, estimulam a contratação de empréstimos
externos, ampliando o risco cambial. Nesse contexto, mudanças no cenário
internacional ou uma perda de confiança dos investidores externos na
capacidade de a autoridade monetária doméstica sustentar a paridade cambial
podem causar uma reversão dos fluxos, seguida de crises bancárias. (Jinkings,
1995)
O movimento sindical pode ter papel-chave nesse cenário, não só
discutindo a questão do emprego – ponto estratégico nos dias de hoje -, mas
também da formação profissional, da saúde do trabalhador, da sua
remuneração. Discutir, enfim, a qualidade de vida do bancário.
No Brasil, o sistema financeiro tem seguido a evolução, com relativa
concomitância cronológica, das principais modificações verificadas no sistema
financeiro mundial. Cada vez mais articulado com as instituições financeiras
transnacionais, vem experimentando crescente processo de
internacionalização, intensificado a partir dos anos 70. Esse processo vem se
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concretizando mediante o aumento da participação dos bancos estrangeiros no
setor, a expansão dos grandes bancos nacionais para o exterior, o
endividamento externo, através da participação dos bancos privados nacionais
como intermediadores financeiros em escala internacional.
No contexto dessa ordem mundial, o sistema financeiro nacional
evidencia-se possuir relativa dissociação dos outros setores da economia.
À medida que se torna complexo o aparato financeiro e crescem as
necessidades de crédito, vai se solidificando o predomínio do capital financeiro
sobre a esfera produtiva, ante o poder de controle que a burguesia financeira
exerce no capital-dinheiro em circulação. A maior evidência da hegemonia do
capital financeiro transparece nos índices de rentabilidade do setor financeiro,
diferenciados daqueles auferidos pelos outros setores da economia.
No ano de 1992, a rentabilidade das instituições financeiras foi de 9,4%,
situando-se na média do sistema financeiro internacional e alcançando índice
superior ao de outros setores. Já em 1993, ano em que se produziu o maior
índice inflacionário do país, a lucratividade dos bancos cresceu muito: atingiu a
taxa de 14,28% sobre o patrimônio líquido, enquanto a média internacional não
chegava a 13% (Folha de São Paulo, 26/08/1993 e 20/03/1994;Jinkings, 1995)
O sistema financeiro é favorecido, especialmente nas duas últimas
décadas, pela conjuntura inflacionária e recessiva, que impõe desemprego e
perda do poder aquisitivo à classe assalariada, além de dificultar o crescimento
do setor produtivo da economia, apropriando-se do capital-dinheiro que a
sociedade perde nesse processo, configurando-se aí uma real transferência de
renda.
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A origem do lucro dos bancos vai se fixando, assim, no circuito de
valorização dos ativos bancários, distanciando-se cada vez mais do campo da
intermediação bancária e aprofundando um processo de especulação que se
habituou chamar de “ciranda financeira”.
No contexto de uma economia globalizada, o sistema financeiro mundial
estrutura-se em conglomerados financeiros e instituem-se os bancos múltiplos,
diversificando aplicações, favorecendo a constituição de monopólios e
maximizando a capacidade reprodutiva do grande capital. Ao mesmo tempo, a
introdução de novas tecnologias nos bancos, num processo que se intensifica e
acelera cada vez mais e repercute nas formas de trabalho e no perfil dos
trabalhadores, cria as bases técnicas adequadas ao padrão de acumulação
capitalista, inaugurado com o capital monopolista, desde fins do século
passado.
CAPÍTULO II
REESTRUTURAÇÃO BANCÁRIA E CONSEQÜÊNCIAS INTERNAS
Entre as mudanças significativas na sociedade, nas três últimas décadas
do século XX, destaca-se o processo denominado reestruturação produtiva. A
micro-eletrônica, possibilitando o desenvolvimento da automação, da robótica,
da telemática, se insere no contexto de mudanças nas relações de produção
com reflexo nas relações de trabalho.
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No contexto de uma revolução tecnológica que se processa em nível
mundial, a automação acarretaria grandes mudanças no cotidiano de trabalho
bancário.
Inovações organizacionais com impactos na produtividade, nas
condições de trabalho e no perfil dos trabalhadores, além de novas formas de
gestão da força de trabalho, seriam introduzidas juntamente à informatização,
lançando novos desafios ao movimento sindical e gerando manifestações
variadas dos trabalhadores nos locais de trabalho.
No Brasil, o sistema financeiro é um dos mais importantes subsetores do
setor terciário da economia, tanto no que se refere a sua participação no PIB
(Produto Interno Bruto (l989=l9,5%)) e na PEA (População Economicamente
Ativa), quanto na difusão das novas tecnologias e das novas formas de
organização do trabalho. Em dezembro de 1993, o sistema financeiro no país
era composto por 244 bancos, 31.000 agências e postos de serviços, 44
milhões de contas corrente, 47 milhões de contas de poupança; representavam
um patrimônio líquido de 24 bilhões de dólares e um lucro líquido de 2,9 bilhões
de dólares ao ano. Nesse período, 674.500 bancários trabalhavam no setor.
(Segnini, 1998)
O significativo crescimento do sistema financeiro no Brasil insere-se no
desenvolvimento do sistema financeiro mundial observado desde a década de
60; mas também é necessário levar em conta as especificidades decorrentes
do contexto político, econômico e social do país nesse período histórico.
A introdução e a difusão de novas tecnologias, das novas formas de
organização do trabalho e das novas relações empregatícias no sistema
financeiro, expressam a importância da análise centrada nas relações sociais e
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o não determinismo do conhecimento técnico em sua definição. Isto porque,
neste contexto, é observada uma combinação da permanência ou recriação de
postos de trabalho submetidos a tempos impostos, que implicam um baixo grau
de qualificação técnica e social para a realização da tarefa (exemplo:
separação de cheques), com postos de trabalho semiqualificados, que exigem
alto nível de concentração e responsabilidade (exemplo: caixa) e outros que
implicam um processo de qualificação permanente, diário, para que os
funcionários possam acompanhar não só as mudanças técnicas mas também
as que ocorrem na conjuntura política, econômica e social que resultam em
mudanças nas regras que regem o mercado financeiro. E, dessa forma,
assessorar clientes na compra de “produtos” e serviços bancários (exemplo:
gerência).
Até a década de 20 o trabalho bancário era feito manualmente.
Segundo Letícia Bicalho Canêdo, em O Sindicalismo Bancário em São Paulo,
p. 32, (Segnini, 1998) , não havia máquinas de calcular, e muitas vezes o
bancário, após fechar o caixa ficava contando juros até alta madrugada. Não
podia sair deixando a solução de qualquer tipo de erro para o dia seguinte. Não
havendo especialização, em época de contagem de juros, pegavam todos que
tinham condições de "contar”. Para isso distribuíam-se os livros de contas
correntes, marcados de A a Z, aos funcionários. Na década de 30, o trabalho
foi facilitado com o aparecimento de copiadores de gelatina e permissão de
escrituração à máquina.
Desde então se inicia um lento, porém gradual processo de
racionalização do trabalho bancário, sempre vinculado a mudanças
tecnológicas e organizacionais que objetivaram atender a uma permanente
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expansão das operações financeiras e à redução dos custos através da divisão
e intensificação do trabalho. A característica presente em todos esses
momentos históricos foi e tem sido ainda a procura da intensificação da
produtividade do bancário e a minimização dos custos de funcionamento do
banco.
O trabalho bancário, no decorrer deste século, sofreu alterações
impostas pela dinâmica das relações entre o capital-financeiro e pela dinâmica
de reprodução do capital.
Face às mudanças econômicas e políticas no país que possibilitaram o
desenvolvimento do processo de industrialização, as transações financeiras se
intensificam. Neste sentido, o trabalho bancário se avoluma gradativamente,
possibilitando a introdução de máquinas para a realização dos registros
bancários e o início do processo de divisão das funções. No período
compreendido entre a década de 30 e os primeiros anos da década de 60, a
racionalização, forma de gestão, desenvolve-se concomitantemente com a
mecanização do trabalho bancário, porém lentamente.
A diferenciação da organização do trabalho de banco para banco, ou de
agência para agência, era mínima. De uma forma geral, os serviços contábeis
eram realizados na própria agência e referiam-se às operações de conta
corrente, crédito e cobrança (cálculo dos juros dos depósitos, elaboração dos
balancetes enviados diariamente à matriz, atualização das contas correntes e
arquivos).
A agência possuía elevado grau de autonomia em relação à
administração do banco, representando um “todo integrado”, dividido entre a
parte comercial e a de serviços.
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A gerência (gerente e subgerente) era, assim como nos dias atuais,
responsável pelos negócios bancários que compreendiam naquela época tão
somente a captação de depósitos e concessão de créditos em conformidade
com limites e critérios definidos pela matriz. O gerente representava a maior
autoridade na agência; detinha conhecimento a respeito de todas as funções
realizadas no seu âmbito. Normalmente era um funcionário “de carreira”, que
gozava de muito prestígio junto aos funcionários e clientes.
O contador era responsável pelos serviços administrativos e pela gestão
dos funcionários da agência. Para tanto, conhecia profundamente os
procedimentos contábeis, e as normas dos bancos. Estavam a ele
subordinados o subcontador, o chefe de expediente, caixas, escriturários,
contínuos e pessoal de apoio. Esta relação hierárquica determinava que os
contadores quase se equiparassem aos gerentes em termos de autoridade e
que fossem respeitados (e temidos) pelos bancários.
Os próprios bancos realizavam a entrega da correspondência aos seus
clientes até o advento do monopólio desse serviço pelos Correios na década
de 60. A expedição, como era denominada a seção correspondente,
representava o nível inferior da estrutura administrativa das agências,
constituindo uma porta de ingresso para o trabalho bancário, onde trabalhavam
muitas mulheres.
A análise do trabalho bancário, realizada por diferentes autores, tem
apontado para um processo permanente de desqualificação do trabalhador
bancário no contexto caracterizado pelo desenvolvimento tecnológico e pelas
mudanças nas formas de gestão do trabalho ocorridas a partir do início do
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processo de industrialização no país na década de 30 e intensificadas a partir
da década de 60, com a introdução da automação.
Alguns autores divergem quanto ao período no qual o processo de
desqualificação se inicia – década de 30 ou 60 -, porém, a tese da
desqualificação permanece. No entanto, são unânimes em salientar que o
conhecimento bancário foi sendo gradativamente esvaziado de conteúdo,
apropriado pela direção dos bancos desde o início da mecanização e
intensificação a partir da introdução do computador.
O Sistema Financeiro no Brasil tem passado, desde a década de 30, por
modificações que alteraram seu papel na economia, sua estrutura e a
organização do trabalho. As mudanças tecnológicas e organizacionais no
sistema financeiro brasileiro ocorrem também no contexto de mudanças
políticas e econômicas no país, intensificadas a partir da década de 60.
A introdução da tecnologia de base microeletrônica no sistema financeiro
nacional, a partir da década de 60, efetivou-se através de quatro momentos
distintos: o primeiro no início dos anos 60, com a criação de centros de
processamento de dados (CPDs) baseados em computadores de grande porte;
o segundo, chamado automação de “vanguarda”, nos primeiros anos da
década de 80, com a implantação do sistema on line, que interconecta as
diversas agências do banco em tempo real; o terceiro, iniciado em meados de
80 e considerado automação de “retaguarda”, constitui-se na utilização de
terminais nas agências bancárias ligadas ao computador central, permitindo o
fornecimento de dados, em rede, para o conjunto das agências do banco; o
quarto, finalmente, constituído a partir do final dos anos 80, “caracteriza-se pela
captura e transferência eletrônica de dados externamente às agências
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bancárias, ou seja, nas residências, lojas e escritórios”, de acordo com Sônia
Laranjeira (1993) citada por Segnini (1998).
O golpe militar de 1964 significou a concretização política de um projeto
econômico de uma fração da burguesia brasileira aliada ao capital monopolista
internacional, através do qual se procurou criar as condições institucionais
necessárias e indispensáveis a sua expansão.
Objetivando “acelerar a taxa de desenvolvimento econômico” e inserir o
país no processo de internacionalização do capital, foram criados diversos
programas de ação pelo Estado militar que possibilitaram a adoção de uma
política descrita no discurso oficial como sendo de estímulo ao ingresso de
capitais estrangeiros e de ativa cooperação técnica e financeira com agências
internacionais, como outros governos, e, em particular, com o sistema
multilateral da Aliança para o Progresso, de modo a acelerar a taxa de
desenvolvimento econômico.
Desta forma, os interesses convergentes do capital privado local,
internacional e estatal se “solidarizaram” e foram criadas as condições
institucionais para o desenvolvimento do modelo ufanista “milagre econômico”
brasileiro.
Para a expansão e consolidação do capital monopolista no país,
tornava-se necessário racionalizar o sistema financeiro. Para tanto, a Reforma
Bancária (Lei 4595, de 31.12.1964), a Reforma do Mercado de Capitais (Lei
4728, l4.07.1965), bem como o Plano de Ação do Governo – PAEG – (1964-
1966) criaram os instrumentos legais para o desenvolvimento de uma estrutura
financeira oligopolizada, capaz de dar suporte ao novo padrão de acumulação
projetado. Os bancos passaram a exercer funções múltiplas, tanto na qualidade
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de bancos comerciais, como de bancos de investimentos, administradores de
carteiras e fundos de ações, leasing , sociedades de créditos imobiliários,
corretoras, seguradoras e distribuidoras.
A modernização do Sistema Financeiro no Brasil implicou a sua
concentração e centralização, na formação de conglomerados financeiros, no
estímulo a transnacionalização do capital estrangeiro.
Em 1966 havia 225 sedes de bancos, sendo que a quarta parte dos
depósitos à vista estavam sob o controle de seis bancos; em 1974, dos 75
bancos restantes do processo de fusões, somente os dois maiores passaram a
controlar o mesmo percentual dos depósitos à vista, ou seja, um quarto.
O Bradesco, maior banco privado nacional, é o exemplo mais
significativo das mudanças estruturais no período. Representa a fusão de 17
bancos, assumindo assim a liderança do crescimento do setor e tornando-se o
maior empregador privado do país: em 1964, 21 anos após a sua fundação,
empregava 4 mil bancários, em 1985 atingia o número de 159 mil funcionários,
trabalhando em 1916 agências. (Segnini, 1998)
A multiplicação das agências bancárias vinculadas a uma mesma matriz,
ampliando a área geográfica de atuação dos bancos, foi característica das
mudanças estruturais no período. Os bancos adquiriram âmbito nacional,
perdendo o caráter regional que tinham até então.
O capital financeiro, a partir da década de 60, se expandiu no Brasil de
forma monopolista por meio das técnicas econômicas e políticas engendradas
pelo Estado militar.
O processo de introdução da automação bancária esteve sempre
relacionado ao contexto político e econômico brasileiro e às transformações
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estruturais por que passava o sistema financeiro nacional após a Reforma
Bancária.
O volume dos serviços prestados pelo sistema financeiro cresceu
intensamente a partir da Reforma Bancária em 1964, que seja em função do
volume das transações financeiras em um período de crescimento econômico
que seja pelo aumento do espectro de serviços prestados pelos bancos, que
passaram a receber tributos, contribuições da previdência social, cobrar débitos
diversos de pessoas físicas e jurídicas, vender seguros, administrar diferentes
tipos de investimentos e linhas de crédito entre outros serviços.
Posteriormente, quando as altas taxas de juros passaram a refletir o
endividamento do Estado e os movimentos da chamada “ciranda financeira”, o
volume dos serviços bancários continuou crescendo, sempre no
desenvolvimento dos serviços “especulativos”.
Neste contexto, caracterizado também pela centralização de poder nas
matrizes dos bancos e pela descentralização dos serviços prestados
(agências), é que se pode encontrar as exigências organizacionais que
possibilitaram um alto grau de normatização e rotinização dos serviços. Para
tanto, concorreu a homogeneização dos procedimentos contábeis, realizada
pelo Banco Central do Brasil (1967), que possibilitou o controle e a fiscalização
do movimento diário dos bancos. As condições necessárias para a implantação
da automação estavam colocadas organizacionalmente.
A difusão dos CPDs, desenvolvendo o processamento intensivo de
dados provenientes das agências, estava vinculado ao aumento da circulação
de capital e à expansão do sistema financeiro ocorridos a partir do modelo
econômico imposto no pós-64. Introduzidos para agilizar os serviços de
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lançamento de contas correntes, registro contábeis e outras operações de
apoio às agências e direção geral dos bancos, os CPDs reduziram custos
operacionais e provocaram mudanças importantes no conteúdo do trabalho
bancário. As agências perdiam a relativa autonomia que detinham quanto aos
serviços de contabilização. A partir daquele momento, grande parte das tarefas
contábeis antes realizadas na retaguarda das agências são transferidas aos
CPDs, iniciando-se um processo de fragmentação e esvaziamento no conteúdo
do trabalho daquele bancário tradicional, conhecedor de contabilidade e
detentor de uma visão mais global do processo de trabalho.
Os bancos modificaram o processo de gestão substancialmente. Entre
as mudanças realizadas destacam-se novas formas de organização do
trabalho, o desenvolvimento de novas formas de relações empregatícias
(trabalho em tempo integral, em tempo parcial, terceirizado ou subcontratado),
a informatização e a feminização progressiva do trabalho bancário. Todas
estas mudanças referem-se a um esforço sistemático realizado pelos bancos
no sentido de ampliar a carteira de clientes em um contexto de intensa
concorrência interbancária e, ao mesmo tempo, minimizar os custos de
funcionamento e maximizar os índices de lucratividade.
A expansão e descentralização das agências significaram a
centralização do planejamento e do controle dos processos de trabalho nos
departamentos.
O trabalho bancário passou a se subdividir, em termos de localização
espacial, em administrativo (departamentos) e operacional (agências). As
funções técnicas (engenheiros, advogado, psicólogo, economista, etc.) foram
inseridas sobretudo nos departamentos, uma vez que subsidiam a formulação
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de políticas e normas operacionais para as decisões tomadas pela alta
administração dos bancos a serem cumpridas pelas agências. Os
departamentos passaram a determinar também parâmetros para a definição da
produtividade requerida em diferentes postos de trabalho, de acordo com suas
especificidades.
As agências perderam desde então a relativa autonomia em relação à
administração central e passaram a ser o local de venda dos ”produtos” do
conglomerado financeiro, de acordo com a padronização dos procedimentos e
rotinas e estabelecimento de metas a serem cumpridas pelas agências.
O movimento pela racionalização do trabalho com o objetivo de forjar um
novo trabalhador, mais adequado às necessidades de expansão do capital,
manifestava-se intensamente no contexto brasileiro do final dos anos 60.
Além da perda de conteúdo do trabalho da maior parte dos bancários e
de seu distanciamento em termos de qualificação, controle sobre o próprio
trabalho e remuneração dos novos cargos técnicos e gerenciais criados, a
racionalização transparecia na centralização administrativa e na padronização
sistemática do processo de trabalho.
Havia a necessidade de maior centralização de poder pela
administração geral dos bancos, portanto, rigorosas normas de trabalho a
serem seguidas pelo conjunto dos funcionários eram formuladas e remetidas
às agências e centrais de processamento de dados. Criavam-se setores
especializados em organização e métodos, com o objetivo de gerar formas
mais racionais de uso da força de trabalho, em busca de maior produtividade e
custos operacionais reduzidos.
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As características de seqüenciação e redundância são os resultados da
nova divisão técnica do trabalho bancário e instrumentos de controle do
trabalho. A seqüenciação estaria relacionada com o fato de cada tarefa
depender de uma outra para ser realizada (por um funcionário ou setor). A
redundância, vinculada à necessidade de aumentar confiabilidade do banco
junto à clientela, referia-se ao procedimento de sistemas de conferências
realizadas sucessivamente por funcionários alocados em diferentes seções.
Novos postos de trabalho relacionados às operações informáticas iam
sendo criados nos bancos, como os digitadores e os conferentes. Verificava-se
uma polarização entre, de um lado, grande número de trabalhadores não
qualificados, executadores de tarefas simplificadas e rotineiras, e, de outro,
uma minoria qualificada, forjada junto aos novos postos de trabalho vinculados
à informática e às gerências especializadas.
À medida que se aprofundavam a divisão capitalista e a racionalização
do trabalho, uma crescente especialização no setor informático ia separando
cada vez mais radicalmente as atividades de execução e de concepção.
Uma nova dimensão do processo de automatização apresentava-se com
a modernização dos sistemas de apoio às decisões gerenciais (SAD) no
decorrer dos anos 70, que permitia à gerência e alta administração dos bancos
um acompanhamento mais efetivo de suas operações financeiras.
O contexto econômico caracterizado por índices inflacionários elevados,
déficit público financiado através de operações financeiras com altas taxas de
juros diárias (over night ) justificou os investimentos do setor financeiro em
informática. Os registros rápidos e seguros passaram a ser fundamentais em
termos de lucratividade.
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O contexto inflacionário, as altas taxas de juros cobradas pelos bancos e
a especulação financeira que se intensificava no final da década e propiciava
lucros esplêndidos aos banqueiros requeriam sistemas de informação rápidos e
eficientes sobre os saldos financeiros. Os SAD permitiam aos bancos maior
segurança nos investimentos de capital, possibilitando maiores lucros.
As distorções da função do sistema financeiro no Brasil, que privilegiou
os “serviços especulativos” em detrimento do seu papel histórico no capitalismo
– prestar serviços produtivos na qualidade de agente intermediador dos setores
produtivos -, determinaram ao país, ser hoje um dos países que detêm um dos
mais elevados índices de informatização do sistema financeiro mundial. O
Brasil exporta software bancário para países desenvolvidos como o Japão.
A introdução e expansão dos processos automatizados e informatizados
foram possíveis, tecnologicamente, graças aos “pesados investimentos feitos
pelos grandes bancos nacionais na expansão e diversificação das firmas
produtoras de equipamentos e software” (Jinkings, 1995).
A informatização dos bancos ocorreu, inicialmente, dando continuidade à
mecanografia tradicional, face a um volume de trabalho sempre crescente.
O interesse dos bancos brasileiros no financiamento da automação é bem
sintetizado no relatório da Comissão Especial nº 15 de “Automação Bancária”
(Ceab), de 1984, ao salientar que as “três forças motrizes da automação
bancária” foram:
1) Aumento de Mercado
A automação, assim como a propaganda subjacente, propicia aos
conglomerados atraírem um maior número de clientes, elevando sua captação.
2) Agilização do Fluxo de Informações para a Administração.
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Enquanto o item 1 está relacionado com a captação de recursos, este
está relacionado com sua aplicação. É de fundamental importância para os
bancos a obtenção de informações o mais rápido possível sobre o montante
disponível para aplicações, como acompanhamento do retorno e das melhores
opções para aplicações. Isto, aliado a um planejamento e programação das
atividades facilitadas pelo acesso rápido a dados, rende a incrementar a
rentabilidade dos bancos.
3) Redução de Custos.
Se a automação bancária de que aqui tratamos é movida principalmente
pela disputa de mercado e de aparelhamento para elevar o retorno das
aplicações, não deixa de representar reflexos sobre os custos do setor.
Através do aumento da produtividade pode-se esperar, na medida em
que o sistema for se expandindo, redução de alguns custos operacionais.
Também pela recolocação de pessoal em função de nova organização do
trabalho, certamente alterar-se-á a estrutura de custos do setor.
A automação significou, para as instituições bancárias, a possibilidade
de agilização dos registros financeiros e das informações, o aumento da
qualidade e velocidade do processo decisório, a diferenciação e diversificação
dos serviços prestados. Passou a representar a principal estratégia de
marketing junto aos clientes, imprimindo a imagem de confiabilidade e rapidez
no atendimento. Significou também a integração das agências num sistema de
controle centralizado.
A automação bancária desenvolveu-se fundamentalmente a partir de
três dimensões, a saber: o processamento eletrônico de dados em nível de
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retaguarda, adoção de procedimentos automatizados nas atividades de
atendimento ao público e introdução de sistemas de apoio à decisão.
No momento da introdução dos primeiros equipamentos informáticos, o
trabalho bancário era realizado manual e mecanograficamente. Três décadas
depois da informatização, ele é realizado através de processos informatizados
que se mesclam, ainda, com o manual e mecanográfico A informatização é um
processo que se desenvolve não por etapas mas no interior de um contexto
tecnológico que objetiva, conforme explicitado pela Ceab, a maximização dos
lucros e a redução dos custos dos bancos.
A informatização bancária precedeu à informatização industrial em
função das especificidades do processo que caracterizam o trabalho nos
bancos, cuja “matéria prima” é constituída por papéis com números e dinheiro.
Assim, decorre em primeiro lugar que a grande massa de informações que se
encontra sob a forma numérica constitua, por si só, um modelo de
representação do real com os quais os sistemas informáticos trabalham. Em
segundo lugar, a “matéria prima” dos bancos, o dinheiro, demanda um elevado
grau de eficiência e controle, possível através dos sistemas informatizados.
Inicialmente invisível para os clientes, a automação iniciou-se no interior
das agências com a informatização do sistema administrativo de retaguarda
dos bancos. Objetivava-se racionalizar o trabalho interno, aumentando a
produtividade. Para tanto, foram instalados equipamentos que alteraram,
intensificando e agilizando, os trabalhos dos funcionários das agências,
alocados nas operações rotineiras como contas correntes, folhas de
pagamento e outras.
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Em 1980, a automação bancária estendeu-se às atividades de
atendimento com a instalação de terminais on line nas agências. Nessa
segunda fase da automação bancária, a crescente conglomeração no sistema
e a intensa concorrência interbancária, num quadro de altos índices
inflacionários, seriam seus principais elementos propulsores.
O trabalho dos caixas alterava-se significativamente à medida que se
desenvolvia a automatização. A introdução do on line possibilitava aos caixas o
acesso aos dados necessários à execução de suas tarefas diretamente no
terminal de computador, que lhes servia, a partir de então, de instrumento de
trabalho. Aumentava drasticamente sua produtividade, com a maior rapidez de
atendimento e a intensificação de seu ritmo de trabalho no guichê. Por outro
lado, o on line tornava mais seguro o trabalho dos caixas, diminuindo o risco de
erros, já que o próprio computador recusa dados incorretos ou rejeita o
pagamento de cheques desprovidos de fundos.
O trabalho de suporte ao atendimento nas agências, chamado de
“retaguarda”, diminuía de importância à medida que se automatizavam os
bancos. Nos momentos iniciais do processo informático, esse trabalho foi
transferido em grande parte para os CPDs, onde os auxiliares de escritório,
digitadores e conferentes preparavam os dados enviados das agências. Com a
introdução do on line, diversas rotinas efetuadas na retaguarda das agências
iam sendo eliminadas.
Uma série de postos de trabalho ia sendo atingida pela arrancada
tecnológica, até mesmo aqueles criados por ela: os relacionados à entrada e
ao controle de dados. O trabalho dos digitadores e conferentes transferia-se
aos poucos para os funcionários que utilizavam diretamente em seu serviço
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cotidiano aqueles dados digitados e controlados agora por eles mesmos.
Configurava-se um processo de desvalorização das funções de digitador e
conferente, que implicaria demissões ou transferências, causando impactos em
suas condições de trabalho e na sua capacidade de pressão diante do capital.
Os avanços tecnológicos incorporados no sistema on line, integrando os
ambientes das agências e distribuindo mais racionalmente as informações,
propiciaram inovações importantes nos serviços oferecidos à clientela dos
bancos. Desenvolveu-se o chamado auto-atendimento, através do qual os
clientes operam diretamente os terminais do computador instalados nas
agências, por meio de cartões magnéticos, dispensando a presença de
funcionários.
A propagação do auto-atendimento e dos caixas eletrônicos facultou aos
clientes a utilização de pontos de atendimento externo às agências. Surgiram
os chamados Bancos 24 Horas, que possibilitam verificação de saldos,
obtenção de extratos, depósitos e saques em dinheiro, independentemente dos
horários de atendimento das agências.
Os primeiros anos da década de 80 foram marcados por uma conjuntura
recessiva e inflacionária, pela instabilidade dos fluxos financeiros, das taxas de
juros e das regras de indexação, além da contração nas políticas monetária e
creditícia, dívida externa e interna, e de déficit público.
As empresas financeiras buscavam novas fontes de rendimento,
deixando visíveis as deformações do sistema financeiro derivadas do seu
processo evolutivo. Tradicionalmente originado do spread creditício (diferença
entre as taxas de juros no mercado de captação e as vigentes no mercado de
crédito), o lucro dos bancos passou a distanciar-se cada vez mais da
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intermediação financeira (caindo drasticamente os investimentos produtivos),
baseando-se então no ritmo inflacionário, no aumento dos custos financeiros e
nas altas taxas de juros. Esse mecanismo gerou uma verdadeira máquina
especulativa, aumentando extraordinariamente o lucro dos bancos e criando a
chamada “ciranda financeira”.
Diante da gravidade dos problemas enfrentados pela economia
financeira no período, o governo implementou um programa de estabilização
econômica em fevereiro de 1986, o Plano Cruzado, que congelava os preços,
extinguia a correção monetária e proibia os contratos com prazos inferiores a
um ano, dentre outras medidas que atingiam imediatamente os altos índices
inflacionários. Aparentemente, as expectativas do programa eram de que fosse
eliminados os mecanismos especulativos de rentabilidade dos bancos,
retornando o sistema financeiro à sua função econômica tradicional de
captação de recursos e concessão de empréstimos.
Evidentemente que tais medidas teriam impacto imediato na
lucratividade dos bancos.
Apesar de uma série de medidas institucionais adotadas após a
decretação do programa de estabilização, com a finalidade de viabilizar o
sistema financeiro nas novas condições, os bancos iniciaram procedimentos
diversos de redução de custos operacionais, fechando mais de mil agências,
demitindo cerca de 120 mil trabalhadores e adotando políticas seletivas mais
rigorosas com relação à clientela.
Em relação aos investimentos em automação bancária, os bancos
passaram a buscar soluções mais flexíveis e de custo mais baixo, ajustando a
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introdução das inovações tecnológicas ao quadro de menor lucratividade que
vivenciaram naquele momento.
A terceira fase da informatização do sistema financeiro nacional, a
automação de “retaguarda”, vincula-se menos às estratégias mercadológicas
dos bancos e mais aos aspectos de racionalização, produtividade e redução de
custos operacionais no processo de trabalho bancário.
As dificuldades econômicas enfrentadas para a manutenção das
medidas e controle à inflação implementadas no Plano Cruzado e a vitória
eleitoral dos partidos conservadores em novembro de 1986 contribuíram para a
queda daquele programa de estabilização no primeiro semestre de 1987. No
mercado financeiro retomavam-se os mecanismos especulativos, e a
assimetria entre a acumulação produtiva e a acumulação financeira, mais
visível nos momentos de crise econômica, continuava a rondar a economia
brasileira.
Desde o Plano Cruzado os bancos vêm “enxugando” suas estruturas
internas, preparando-se para enfrentar situações desfavoráveis à sua
rentabilidade. Daquela época até meados de 1993, desapareceram 230 mil
postos de trabalho; foram terceirizados diversos serviços de apoio aos bancos,
como transporte de valores, limpeza, segurança e restaurante para
funcionários; diminuiu o número de agências bancárias. (‘O que está em jogo
nos Bancos’, Exame, 23/06/1993)
Desde os anos 60, quando foi inaugurada a automatização do trabalho
bancário com a criação dos CPDs, o processo de modernização dos bancos
seguiu um ritmo acelerado. À implantação do sistema on line nas agências
bancárias (automação de “vanguarda”) no início dos anos 80 e à sua aplicação
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posterior nos serviços internos dos bancos, com a chamada automação de
“retaguarda” - caracterizando o segundo e o terceiro momentos da introdução
das inovações tecnológicas no mundo bancário – segui-se uma nova fase,
iniciada no final dos anos 80, segundo a sistematização de Sônia Larangeira
(1993).
Nesse quarto momento das transformações tecnológicas nos bancos,
destacou-se a transferência eletrônica de dados externamente às agências
bancárias, o que possibilita às pessoas físicas ou jurídicas realizarem
operações financeiras, tais como aplicações, transferências de créditos,
pagamentos, nas residências, empresas ou lojas, mediante a utilização de
serviços sofisticados, disponíveis para uma clientela seleta: videotexto
(informações na tela de TV dos usuários), audio responser (via telefone),
eletronic data interchange – EDI (utilizado por pessoas jurídicas, possibilita
pagamento eletrônico de contas, negociação de prazos de entregas de
mercadorias, comunicação entre empresas, realização de investimentos e
financiamentos, entre outras operações), office bank (exclusivo para pessoas
jurídicas, permite a realização de operações instantâneas através da conexão
entre o computador da empresa e o do banco), home bank (computadores do
banco conectados ao terminal de computador do cliente), poupança
automática, dentre outros. Ao mesmo tempo, a automação comercial mediante
a instalação de terminais de transferências de fundos – TTFs, diretamente da
conta do cliente para a da empresa credora.
Ao mesmo tempo, difunde-se o sistema de compensação eletrônica e a
leitura óptica de cheques. O aperfeiçoamento e a expansão dos sistemas de
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auto-atendimento permitem, atualmente, a impressão de talões de cheques nos
terminais eletrônicos.
Diante de uma demanda cada vez mais seletiva e exigente quanto à
variedade e à qualidade dos serviços oferecidos, os bancos investem
maciçamente em pesquisa e tecnologia, renovando e aperfeiçoando
incessantemente seus “produtos”.
É diante desse quadro que se configuram as inovações tecnológicas
mais recentes introduzidas pelos bancos no mercado financeiro, que
aperfeiçoam e aprofundam o sistema home bancking e os processos de auto-
atendimento.
O layout das agências bancárias evolui, articulando com as inovações
tecnológicas e organizacionais. A sofisticação dos serviços de atendimento
tende a gerar uma cisão no espaço físico das agências. Em grande parte dos
bancos, as agências apresentam um espaço específico para as atividades de
auto-atendimento, espécie de centrais de atendimento automatizado isoladas
por portas envidraçadas do restante da agência e também com entrada
independente. Esse ambiente, que funciona em horários que extrapolam o
tradicional horário de atendimento ao público nos bancos, exige tão-somente
que um funcionário abasteça as máquinas com dinheiro e coloque em atividade
o mecanismo pela manhã. A partir daí, a relação de trabalho que se estabelece
é entre o cliente e o computador.
A automatização do trabalho bancário, que implicaria enorme redução
do fluxo de papéis nos bancos, produziria gradativamente o desaparecimento
dos arquivos.
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O trabalho nas agências, atualmente, divide-se entre a área comercial
vinculada às atividades de atendimento aos clientes, e a área operacional,
responsável pelos serviços internos de suporte ao atendimento, a chamada
“retaguarda”. Mesmo com a intensa automatização do trabalho bancário e a
ênfase nos processos de atendimento ao público, os serviços de retaguarda
continuam sendo necessários ao funcionamento da agência.
O sistema de auto-atendimento e a generalização do uso de cartões
magnéticos repercutiram profundamente no trabalho bancário e na sua divisão
técnica, reduzindo o movimento de clientes no interior das agências,
extinguindo postos de trabalho e criando outros. Uma das funções mais
atingidas no período é, sem dúvida, a do caixa, substituída cotidianamente pelo
computador. Ao mesmo tempo, os cargos relacionados ao trabalho de
retaguarda nas agências, já em adiantada processo de esvaziamento desde a
introdução do sistema on line, seguem seu irreversível percurso de perda de
conteúdo, cada vez mais distantes da posição destacada que detiveram no
processo de trabalho bancário anterior à intensificação da automação.
Segundo Liliana Segnini (1998), o elevado nível de qualificação dos
trabalhadores bancários vinculados às funções de atendimento, conhecedores
dos diversos serviços oferecidos pelo banco e capazes de opinar quanto às
alternativas de aplicação financeira mais favoráveis ao cliente, expressaria a
flexibilização funcional no trabalho bancário.
Nos bancos, a obtenção de níveis satisfatórios de lucratividade e
competitividade depende essencialmente da qualidade dos serviços oferecidos
e da eficiência no atendimento à clientela. O atendimento ao cliente constitui,
hoje, o grande fator de diferenciação competitiva entre os bancos, já que as
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inovações tecnológicas são rapidamente difundidas e assimiladas. Daí a
necessidade de investimentos constantes, não somente em pesquisa e
tecnologia e no aperfeiçoamento de serviços e “produtos”, mas também na
qualificação da força de trabalho responsável pelo contato com o público.
Inserida nesse processo de produção dominado pela relação capitalista
reificada, a força de trabalho bancária realiza as operações necessárias à
agilização do fluxo de capital em seu cotidiano. Os bancários dificilmente
apreendem em sua totalidade o significado de sua atividade. O produto do seu
trabalho se dilui e se disfarça nos documentos e registros, dados
computadorizados e impulsos eletrônicos que representam as cifras e os
valores da mercadoria-dinheiro, seu objeto de trabalho. E é à contabilidade, à
transferência e à redistribuição desses valores e cifras (de propriedade alheia)
que se dedica o bancário na sua rotina de trabalho.
Essa força de trabalho subordinada à lógica de controle do regime
capitalista de produção tem suas condições de trabalho mediadas, de um lado,
pela tendência imanente do capital elevar a produtividade e,
conseqüentemente, baratear o custo do próprio trabalhador; de outro, pela
resistência dos trabalhadores às formas de exploração da força de trabalho
pelo capital.
O processo de introdução das novas tecnologias microeletrônicas nos
bancos e as inovações organizacionais concomitantes influiriam fortemente nas
condições de trabalho e no perfil dos trabalhadores bancários. Diferenças
marcantes quanto à carreira, condições de trabalho e salários, perfil pessoal e
profissional, manifestavam-se entre os bancários, conforme o tipo de capital
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predominante na empresa e a divisão técnica e sexual do trabalho nos bancos,
já no período anterior à Reforma Bancária.
Na década de 30, segundo Letícia Canêdo (1986),“o traço mais
característico das relações de trabalho nas empresas privadas constituía-se na
falta de critérios para remuneração, transferência, treinamento e promoção. Isto
resultava numa diversidade de métodos adotados em relação aos funcionários
e a conseqüente situação de desigualdade entre os bancários de uma mesma
empresa, ou de empresas diversas. A esta situação somava-se um conjunto de
laços pessoais regidos por valores de intimidade, consideração, favor e
respeito, bem como apreciações estéticas generalizadas. Contra estas
relações surgiam os sindicatos, na luta pelo quadro de carreira e na defesa das
leis trabalhistas”.
Nos bancos estatais, por outro lado, havia quadros de carreira que
orientavam as decisões quanto a promoções e remunerações, ao mesmo
tempo em que, a partir da década de 30, o ingresso dava-se via concurso
público. A estrutura burocratizada nos bancos estatais tornava menos
aparentes os processos discriminatórios nas relações de poder que se
processavam em seu interior e estabelecia certa lógica quanto às políticas
salariais e de carreira. Com relação às demissões de empregados, nos bancos
estatais a decisão passava pela constituição de processo administrativo,
enquanto nos privados as demissões sempre dependeram basicamente de
decisão unilateral da administração do banco.
As diferenças de perfil entre os trabalhadores de bancos privados e os
de bancos estatais fragmentam a categoria bancária. Constitui-se uma
categoria profissional com dois pólos distintos, quanto ao perfil pessoal e
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profissional e quanto às condições materiais de trabalho, com experiências
sindicais e capacidade de resistência diferentes.
Sem dúvida, tal segmentação deriva das diferentes políticas
relacionadas à seleção, relações de trabalho e demissão.
Segundo Liliana Segnini (1994), as conseqüências materiais do ingresso
via concurso público nos bancos estatais eram as seguintes: “O trabalhador
concursado passa a ter um conjunto de direitos obtidos através tanto de lutas
políticas sindicais referentes à categoria como um todo, como através de lutas
específicas do coletivo de trabalhadores do próprio banco. Salários acima da
média do mercado financeiro, estabilidade no emprego, senão de direito, de
fato; jornada de trabalho de 6 horas diárias efetivamente respeitada (ao
contrário dos bancos privados); assistência médica, dentária, psicológica
considerada de alto nível pelos próprios funcionários. As condições de trabalho
e salariais no banco estatal são consideradas positivamente diferenciadas no
contexto da categoria bancária”.
Nos bancos privados, o processo de admissão de funcionários depende
unicamente dos departamentos de recursos humanos, e os níveis de exigência
quanto à escolaridade são menores. Evidentemente que as facilidades de
ingresso nos bancos privados implicariam salários iniciais extremamente baixos
e condições de trabalho precárias. Acúmulo de serviço e quantidade
inadequada de pessoal são as razões mais comumente evocadas por aqueles
que ultrapassam a jornada estabelecida.
As relações de trabalho nos bancos estatais, típicas de estruturas
burocráticas, são regidas por regulamentos internos que representam, em certa
medida, a autoridade que aparece difusa num longo escalão hierárquico. Nos
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bancos privados, ao contrário, a autoridade representa-se diretamente na figura
da chefia, em cujas mãos estão depositadas as decisões relativas à carreira do
funcionário. Desse fato deriva que as pressões da administração sobre
condutas dos funcionários e produtividade do trabalho são muito mais intensas
e explícitas nos bancos privados, onde a alta rotatividade de pessoal e os
critérios pessoais para promoção agem como forte instrumento de pressão.
O trabalho bancário divide-se geralmente em trabalho operacional,
realizado nas agências e centrais de processamento de dados e serviços, e
trabalho administrativo, efetuado nos departamentos da administração geral do
banco. Nos departamentos administrativos, onde se insere grande parte das
funções técnicas, são decididas as políticas gerais do banco e de lá emanam
as devidas instruções para operacionalização nas agências.
Em ambos os casos os trabalhadores bancários percebem o impacto
das novas tecnologias na sua atividade cotidiana, conforme pesquisa do Iades
(Instituto de Análises sobre o Desenvolvimento Econômico e Social). Segundo
a mesma pesquisa, as condições de trabalho nas agências são determinadas,
em grande parte, pelo movimento de clientes em seu interior. (Segnini, 1998)
A intensificação da concorrência interbancária e a busca da “qualidade
total” no atendimento dos clientes como meio de diferenciação no mercado
financeiro vêm exigindo dos trabalhadores bancários maior rapidez e esmero
nas tarefas desenvolvidas. O realce ao atendimento como serviço de qualidade
em mudando as políticas de seleção e de treinamento nos bancos, voltados
agora para a preparação de funcionários capacitados a um atendimento
integral ao cliente. Ao mesmo tempo, a aplicação das novas tecnologias
envolve muitas vezes reciclagens e treinamento de funcionários.
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O trabalho repetitivo e fragmentado não desapareceu dos bancos,
principalmente nas centrais de processamento de dados e de compensação,
na retaguarda das agências e no trabalho desenvolvido por escriturários nos
departamentos, as tarefas de suporte ao atendimento, englobando serviços de
tesouraria, digitação, cobrança, etc.
Analisando a estrutura funcional dos bancos apresentada pelo Dieese
em sua pesquisa do perfil da categoria bancária, em 1980, com a de 1992,
sistematizada pelo Iades, podemos notar que diminuiu a quantidade de
escriturários e de chefias intermediárias, a massa de trabalhadores envolvida
nos serviços operacionais e administrativos, enquanto aumentou o número de
técnicos e gerentes especializados em informática e no atendimento ao cliente.
Ao mesmo tempo, aumentou o tempo médio de trabalho na categoria, o
que pode indicar, por um lado, uma diminuição da rotatividade e uma
preocupação dos bancos em investir na qualificação de seus funcionários; por
outro, uma redução das contratações e um processo gradativo de demissões,
especialmente entre os níveis hierárquicos mais baixos da carreira bancária.
Concomitantemente, a categoria vem sofrendo um processo de
progressivo rebaixamento salarial, a partir das políticas de redução de custos
operacionais nos bancos, especialmente após o Plano Cruzado. A redução
salarial atinge principalmente os salários de ingresso e os cargos não
comissionados.
A informatização na produção capitalista, para maioria dos
trabalhadores, produz um aprofundamento de seus descontrole sobre o próprio
trabalho.
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Com esse processo intensivo de automatização do trabalho, os
bancários vêm vivenciando um recrudescimento gradativo de demissões, à
medida que se sofisticam os sistemas informatizados e aumenta a
produtividade. Uma das implicações sociais da introdução da tecnologia de
base micro-eletrônica nos diversos setores da economia é a queda dos níveis
de emprego. O desemprego tecnológico é, um fato concreto tanto nos países
avançados como naqueles menos desenvolvidos. Os altos ganhos de
produtividade que as mudanças nas condições técnicas do processo de
trabalho propiciam, além da universalidade da difusão das novas tecnologias,
tenderiam a generalizar o fenômeno do “crescimento sem emprego”.
No sistema financeiro brasileiro, a problemática do desemprego ficou
menos visível que nos outros setores da economia, quando a conjuntura
recessiva e a intensificação da automatização, a partir do final dos anos 70,
provocaram queda generalizada nos níveis de emprego.
O desemprego tornou-se objeto maior das preocupações dos bancários
durante a vigência do plano de estabilização econômica de 1986 (Plano
Cruzado) e a partir de 1990, quando caíram efetivamente os níveis de emprego
nos bancos.
À queda dos níveis de emprego soma-se o aumento do trabalho
temporário e subcontratado entre os trabalhadores bancários, configurando-se
a adoção de formas de flexibilidade numérica na rede bancária. Com o objetivo
de reduzir custos relativos à força de trabalho e adequar a quantidade de
empregados às suas necessidades reais em diferente momentos, em face das
variações da demanda, os bancos se utilizam de muitos mecanismos para
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contratar funcionários temporariamente e transferir o trabalho bancário para
empresas prestadoras de serviços.
Segundo Manoel Blanco (1994) citado por Segnini (1998), as formas
particulares em que se manifesta o processo de terceirização do trabalho nos
bancos são:
• A contratação de trabalhadores vinculados a empresas prestadoras de
serviços, para suprir necessidades eventuais do banco; são os chamados
trabalhadores temporários;
• a transferência de funcionários do banco para empresas por ele
controladas, participantes do seu conglomerado. Os transferidos perdem a
condição de bancários e, conseqüentemente, os direitos conquistados pela
categoria;
• a contratação de estagiários-estudantes pelos bancos estatais, outro
modo de utilização de força de trabalho barata. Teoricamente contratados paradesenvolver sua capacidade em áreas de seu interesse, os estagiários
substituem, na prática, a força de trabalho regular e realizam tarefas
dissociadas de sua área de escolha profissional;
• a transferência de atividades consideradas não estratégicas para os
objetivos de lucratividade da empresa, ou tidas como pouco rentáveis, para as
empresas chamadas terceiras.
As difíceis condições de trabalho, o desemprego e a adoção da
terceirização nos bancos, assim como as mudanças de perfil da categoria
produzidas pela automatização intensiva, gerariam várias formas de resistência
entre os trabalhadores bancários e explicitariam, por outro lado, diversas
manifestações de subordinação aos interesses do capital.
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O fundamento da dialeticidade capital-trabalho está justamente no
movimento que opõe, de um lado, o capital, buscando formas sempre mais
sofisticadas de exploração do trabalho; e, de outro, o trabalho assalariado,
produzindo mais-valia e, ao mesmo tempo, lutando por melhores condições de
vida. Portanto, as transformações verificadas no mundo do trabalho sempre se
dão em dupla dimensão: no processo de trabalho em si e nas respostas dos
trabalhadores às mudanças.
Na categoria bancária, as mudanças organizacionais e tecnológicas,
influindo profundamente nas relações de poder dentro das instituições, no
cotidiano de trabalho e no próprio perfil da categoria, compeliriam os
trabalhadores a criar novos mecanismos de resistência.
A partir de 1980, a direção sindical bancária de São Paulo organizaria
diversos seminários e palestras sobre as novas tecnologias, com o objetivo de
orientar a categoria quanto ao seu impacto no mundo do trabalho bancário e a
pensar estratégias de enfrentamento.
No que diz respeito às condições de saúde, o trabalho bancário sempre
foi fonte de graves doenças profissionais e o processo de racionalização e
automatização do trabalho, intensificado nos anos 70, parece ter agravado o
diagnóstico de tais problemas de saúde. O ritmo intenso de trabalho, a
pressão por produtividade, as formas de controle exercidas pelas chefias, a
grande carga de responsabilidade (em razão da manipulação de valores
alheios, direta ou indiretamente), a exigência dos clientes em caso de
atendimento ao público, foram algumas das causas de tensão e cansaço no
trabalho bancário apontadas em pesquisa promovida pelo Diesat
(Departamento Intersindical de Estudos e Pesquisas de Saúde e dos
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Ambientes de Trabalho) e coordenada por Edith Seligmann-Silva. Os caixa são
os mais atingidos.
Os efeitos da automação sobre a saúde dos trabalhadores bancários
passaram a ser objeto de preocupação das direções sindicais. O Sindicato dos
Bancários passa a organizar fiscalização nas empresas bancárias, com o
objetivo de constatar possíveis irregularidades nas condições de trabalho dos
funcionários.
São inúmeras as denúncias da grande incidência de LERs (Lesões por
Esforços Repetitivos) entre os digitadores, caixas, operadores de telex,
funcionários da compensação e outros que realizam movimentos repetitivos no
seu cotidiano. O intenso ritmo de trabalho, as exigências de quotas de
produção, a extensão da jornada e o desrespeito às pausas de descanso
previstas em lei são alguns dos fatores causadores do problema.
A percepção acerca das repercussões das inovações tecnológicas e
organizacionais sobre a saúde dos trabalhadores levou o Sindicato dos
Bancários a criar a Secretaria de Saúde e Condições de Trabalho, através de
mudança estatutária em 1990. As direções sindicais bancárias tem estimulado
a criação de CIPAs (Comissões Internas de Prevenção de Acidentes) nos
locais de trabalho e a participação no seu processo eleitoral. As CIPAs são
comissões mistas de representantes da classe patronal (indicados) e da classe
trabalhadora (eleitos), cujo presidente – com poder de veto – é indicado pela
empresa. O estatuto restringe seu funcionamento a atividades vinculadas à
saúde e prevenção de acidentes nos locais de trabalho.
Especialmente nos bancos privados, onde a organização nos locais de
trabalho é praticamente inexistente, a rotatividade é maior e as formas de
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pressão são intensas e diretas, as CIPAs se tornariam um instrumento de
resistência do trabalhador, única forma de organização no local de trabalho
reconhecida por lei.
Nos bancos estatais, o reconhecimento das organizações no local de
trabalho foi conquistado através de acordos realizados durante as campanhas
salariais da categoria, o que vem possibilitando a criação de comissões por
banco, por segmento profissional ou escolha individual de delegados sindicais,
em alguns bancos estatais.
A organização dos trabalhadores no local de trabalho é um mecanismo
de resistência fundamental no enfrentamento da dominação capitalista, no
processo imediato de produção.
Existe um confronto entre capital e trabalho pelo controle do processo
produtivo, cuja reivindicação é a participação dos trabalhadores nas decisões
para introdução das inovações tecnológicas. Esse confronto permeia toda a
discussão sindical sobre as inovações tecnológicas e manifesta-se agora,
prioritariamente, como luta política pelo domínio dessa reestruturação
tecnológica e organizacional. As denúncias, os protestos e as lutas dos
trabalhadores em torno desse processo, estampados na Folha Bancária,
principal órgão da imprensa sindical bancária de São Paulo, trazem
inevitavelmente a marca dessa reivindicação, jamais conquistada
integralmente.
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Produzindo demissões, transferências e realocações arbitrárias,
mudanças de jornadas, etc., a automação do trabalho vai sendo imposta aos
trabalhadores, conforme os interesses do capital. Os movimentos emergem,
em geral nos locais de trabalho e com o apoio do Sindicato dos Bancários, na
forma de protesto contra as medidas impostas, dificilmente têm conseguido
reverter a situação.
O desenvolvimento tecnológico a serviço do capital transforma grande
parte da força de trabalho bancária em coisa descartável ao processo
avassalador de autovalorização do capital. Fechamento de agências, de CPDs,
de núcleos de compensação,extinção de setores inteiros, é a realidade dos
bancos atualmente.
A partir de 1982, as minutas de reivindicações das convenções coletivas
dos trabalhadores bancários passam a conter cláusulas sobre a automação. As
preocupações iniciais centravam-se nas demissões, no treinamento adequado
às novas funções, na participação dos trabalhadores nos lucros e demais
vantagens em caso de aumento da produtividade. As reivindicações foram
ganhando contornos mais precisos e então, surgem cláusulas referentes à
gratificação de caixa, pausas de descanso para trabalhos como compensação,
datilografia, mecanografia, etc., horários dos caixas, comissões paritárias de
tecnologias, gratificação de CPD, adicionais de insalubridade e periculosidade,
controle de produção dos digitadores (estabelecendo um número máximo de
toques a ser exigidos pelos bancos) e reivindicações específicas das condições
de trabalho dos digitadores, no que se refere a aspectos ergonômicos.
Na campanha salarial de 1989, os dirigentes sindicais incluem, na
minuta de reivindicações, cláusula relativa à participação dos trabalhadores no
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processo decisório de introdução das novas tecnologias. Além disso, as
empresas ficam obrigadas a informar os respectivos Sindicatos de
Trabalhadores, com antecedência de no mínimo doze meses, seu plano de
informatização e/ou automação, dependendo sua adoção de parecer da
comissão paritária criada pelos representantes do sindicato.
É interessante observar que nas convenções coletivas da categoria a
única conquista relativa às novas tecnologias refere-se ao intervalo de
descanso dos digitadores.
O fracasso dos sindicatos nas conquistas pode significar que os
sindicatos vem priorizando as reivindicações salariais devido à economia
inflacionária e concentradora de renda, e que os mesmo não vêm conseguindo
acompanhar os efeitos reais da automatização e racionalização do trabalho
bancário, cujas inovações são muito rápidas.
A concordância dos banqueiros quanto à participação dos trabalhadores
na reestruturação tecnológica e organizacional, significaria para os mesmos,
perda do controle absoluto sobre o trabalho. Por isso não há negociação.
Nos países de Primeiro Mundo a situação é mesma. A introdução
começou a ocorrer nos anos 50, mas somente na década de 70 começou a
sentir-se os efeitos da automatização do trabalho, e desde então há
reivindicações por parte dos sindicatos para que haja a participação dos
trabalhadores. Porém, até hoje a situação é a mesma que a do Brasil, e as
questões relativas à introdução de novas tecnologias continuam nas mãos dos
patrões.
As diferenças quanto à capacidade de resistência dos bancários de
bancos privados e estatais implicaram distintos resultados nos acordos
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coletivos derivados das campanhas salariais, negociadas a partir de 1985,
após greve nacional. As negociações foram mais fáceis com os bancos
estatais.
Os locais de alta concentração de trabalhadores, como os CPDs,
centrais de serviços e de compensação, onde a mobilização sindical era
facilitada, vêm sendo sistematicamente esvaziados ou extintos, seja pela
menor quantidade de trabalhadores requeridos, seja pelos mecanismos de
substituição da força de trabalho bancária por trabalhadores de empresas
locadoras de mão-de-obra, além de ser uma estratégia do capital, de
enfraquecimento da organização sindical.
As greves têm se constituído uma importante forma de pressão para a
conquista de melhores condições de vida durante as campanhas salariais da
categoria bancária. Porém, a intensificação da automação e a difusão dos
serviços de auto-atendimento dos bancos vêm diminuindo radicalmente a
eficácia das greves. O aprofundamento dos processos de automação das
agências, possibilita seu funcionamento com pouquíssimos funcionários.
Os funcionários estão sendo levados a se integrarem no movimento de
concorrência entre capitais, sendo estimulados através do discurso de
constante exaltação da empresa e de negação dos antagonismos de classes,
buscando responsabilizar o conjunto dos trabalhadores pelo desempenho do
banco, devido ao atendimento de qualidade. Outra estratégia adotada é a
criação de grupos de discussão sobre os processos de trabalho, nos locais de
trabalho, com a participação voluntária dos trabalhadores, nos quais os CCQs
(Círculos de Controle de Qualidade) são os mais conhecidos.
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Os dirigentes sindicais têm procurado apreender e denunciar as
contradições do discurso empresarial, presentes nas novas estratégias
capitalistas de subordinação e controle do trabalho via “integração” do
trabalhador.
Assistindo a níveis crescentes de desemprego e subemprego no setor,
vivenciando um processo de rebaixamento salarial para a maioria da categoria
e convivendo cotidianamente com mudanças impostas em suas condições de
trabalho, mesmo assim os bancários querem permanecer na profissão.
Quando consideram os pontos negativos, os bancários apontam
principalmente, além da baixa remuneração e desvalorização da profissão,
para aspectos relacionados ao caráter e às condições de seu trabalho:
excessivo, cansativo, rotineiro e desmotivante, ritmo intenso e pressão por
produtividade.
Esse desprazer a respeito do trabalho não vêm se traduzindo, todavia,
no aprofundamento da capacidade de resistência dos trabalhadores bancários
ante o capital. O distanciamento das atividades sindicais e as dificuldades de
organização nos locais de trabalho, além das segmentações que a
reestruturação tecnológica e organizacional intensificou no interior da categoria
bancária, vêm dificultando uma atuação conjunta desses trabalhadores
enquanto classe.
A crise contemporânea do sindicalismo tem como fator agravante a
cisão verificada no mundo do trabalho entre trabalhadores “estáveis” e aqueles
inseridos no mercado de trabalho informal. Os sindicatos vêm atuando
defensivamente, incapazes de desenvolver práticas efetivamente
questionadoras do domínio capitalista sobre o trabalho.
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Os obstáculos ao avanço da consciência social dos trabalhadores
bancários devem ser entendidos dentro da organização e mobilização dos
trabalhadores de todo o mundo capitalista.
O controle da produtividade do trabalho de atendimentos nos bancos
está relacionado com o conteúdo da própria função. Para as funções de
atendimento ao público, o controle é realizado sobretudo através do
estabelecimento de metas de produção a serem cumpridas. Considerando-se
que neste tipo de trabalho é difícil a mensuração do tempo dispendido pelo
funcionário no atendimento a diferentes tipos de clientes, torna-se impossível à
definição de normas e procedimentos submetidos há tempos rígidos, sobretudo
a partir do momento em que o “atendimento personalizado” passou a ser uma
estratégia mercadológica adotada pelos bancos. O cliente, neste sentido, faz
parte da rede de controle exercido sobre o trabalho bancário, justificando assim
os inúmeros programas de incentivo às suas denúncias e reclamações
diretamente para a direção do banco, implantados a partir da década de 80.
As metas já previamente definidas são passíveis de mensuração, tanto
em nível individual (a produção do funcionário), como coletivo (a produção da
agência). Constitui um dos critérios de eficiência econômica, claro e
incontroverso que determina a subsunção do bancário à lógica racionalizadora
do trabalho capitalista.
No trabalho de atendimento ao público, as especificidades que o
relacionamento com clientes diferenciados determina podem, à primeira vista,
dar a impressão de que este posto de trabalho não se encontra submetido à
lógica racionalizadora que caracteriza o trabalho produtor de excedente.
Contra-argumentando neste sentido, três aspectos serão destacados.
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Em primeiro lugar, a reafirmação de que o estabelecimento de metas de
produtividade a serem cumpridas dia a dia, semana a semana, mês a mês,
significa uma forma de controle absolutamente mensurável pelos bancos.
Constituem um dos principais parâmetros para a promoção na carreira ou
sanções que determinam até a perda do emprego. Desta forma, o princípio da
administração “científica”, denominado por Taylor “produção padrão”, que
estabelece a priori, o quanto de produtividade é exigido de cada trabalhador, é
recriado no trabalho de atendimento ao público nos bancos.
Em segundo lugar, no trabalho bancário informatizado intensifica-se o
uso dos sistemas de controle através de cartões magnéticos que permitem a
entrada e saída do bancário de seu computador pessoal, sobretudo nos
terminais de caixa. Nos sistemas mais avançados, o cartão magnético controla
não só o início e o término da jornada de trabalho, como também o
deslocamento do trabalhador pelo edifício, já que permite a abertura de portas.
Da mesma forma, é possível interditar o acesso a certos espaços físicos do
banco em função de códigos pessoais registrados nos cartões e “denunciar”,
assim, as tentativas de acesso às zonas informatizadas, denominadas
“inteligentes”.
Em terceiro lugar, a partir de uma perspectiva que extrapola o posto de
trabalho e compreende o processo como um todo, é considerado que o
trabalhador bancário representa uma fração de um trabalhador coletivo,
submetido à lógica racionalizadora da divisão do trabalho, da tecnologia, da
cooperação, instrumentos estes referentes, inicialmente, ao trabalho industrial.
Neste sentido, vale relembrar que, para Marx, “chama-se cooperação a forma
de trabalho em que muitos trabalham juntos, de acordo com um plano, no
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mesmo processo de produção ou em processos de produção diferentes, mas
conexos”.
A cisão entre departamentos e agências, atividade de atendimento do
público e de retaguarda, revela diferentes níveis de poder hierárquico, de
conhecimento das tarefas, de especialização de funções, que só se integram
através do trabalho coletivo. Isto quer dizer que quando o funcionário atende a
um cliente ou registra informações referentes às transações financeiras que
são desenvolvidas nos bancos, ele está inserido em um processo de trabalho
que só se concretiza cooperativamente, ou seja, mesmo que o funcionário
apareça para o cliente individualmente, o seu trabalho está formalmente
interligado a um conjunto de tarefas.
Esse mesmo fenômeno é verificado quando o cliente se utiliza dos
processos informatizados que possibilitam o “auto-atendimento”, visto que
somente através do trabalho vivo, realizado cooperativamente pelo trabalhado
bancário, essa possibilidade se concretiza. Nem mesmo o padrão tecnológico
que se apropria da junção da informática com as telecomunicações, a
telemática, prescinde do trabalho vivo para sua realização; ao contrário,
intensifica-o, inserindo-o em um contexto de mais-valia relativa.
No contexto de intensificação do trabalho de vendas dos “produtos”
bancários, é possível observar mudanças nas relações de gênero na
constituição desse trabalhador coletivo.
Os impactos do processo de difusão da automação bancária iniciado no final
da década de 60 não eram percebidos na estrutura de empregos no sistema
financeiro brasileiro até 1986. A inflação elevada era, e foi até meados de 1994
(Plano Real), a principal fonte de lucratividade; por essa razão, o sistema
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financeiro vivenciava um período de crescimento iniciado no final da década de
60 e observado até 1986, no qual se verificava a expansão de agências e do
número de funcionários para atender a um número também crescente de
clientes e serviços prestados.
Após a implantação de políticas econômico-financeiras governamentais
(como o Plano Cruzado, em 1986), frustradas posteriormente, mas que tinham
por objetivo, entre outros, a estabilização da economia e a redução da inflação
e seus conseqüentes lucros financeiros – “ciranda financeira”-, os bancos se
reestruturaram em termos operacionais de forma que lhes foi possível manter a
capacidade de continuar lucrando, registrando índices acima de qualquer outro
setor da economia brasileira.
Essa reestruturação compreendeu as seguintes medidas:
• a redução dos custos operacionais se deu através da intensificação do
uso do capital instalado, com objetivo de racionalizar ou otimizar o uso dos
equipamentos de informática. A partir de 1986 destaca-se o desenvolvimento
das redes locais, da interligação dos sistemas abertos e dos canais de
telecomunicações. Dessa maneira foi possível aumentar a integração e
agilização da comunicação de dados entre todas as instâncias do banco, do
banco com o sistema financeiro e do banco com o cliente. Para tanto,
concorreram não só o “compartilhamento de estruturas”, que se refere ao uso
de uma mesma estrutura por vários bancos (por exemplo, o Banco 24 horas)
mas também o desenvolvimento do setor de telecomunicações e o processo de
informatização dos próprios clientes, sobretudo das empresas. Desse modo,
seguindo uma tendência mundial do desenvolvimento tecnológico no setor, foi
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possível dar suporte à proposta centrada na qualidade dos serviços prestados
e expandir o auto-atendimento, mesmo à distância – home bank e office bank.
• fechamento de agências e exclusão do sistema financeiro das
pequenas contas correntes consideradas não-rentáveis.
• novas formas de organização do trabalho possibilitaram demissões
progressivas de funcionários, alocados em postos vinculados à
operacionalização do processamento de dados, ao mesmo tempo em que
intensificaram a demanda por profissionais cada vez mais qualificados,
capazes de atuar como assessores financeiros na venda de “produtos”e
serviços bancários.
O bancos privados demitiram seus funcionários e os bancos estatais
desenvolveram planos de incentivo à aposentadoria para reduzir o quadro de
funcionários com vínculo empregatício. Em 1991, segundo dados publicados
na revista Exame, o Bradesco demitiu 50 mil funcionários, reduzindo seu
quadro de 154 mil para 104 mil funcionários. O banco Itaú, em 1985, registrava
82 mil trabalhadores; em 1991, 49 mil. Nos bancos estatais funcionários
aposentaram-se (e não foram substituídos) em virtude do plano de incentivo à
aposentadoria.
No primeiro semestre de 1999, doze mil postos de trabalho foram
fechados no setor bancário, ou seja, houve uma redução de 2,9% em relação
ao total existente no final de 1998. Com exceção dos estados de Rondônia e
Pará, todas as unidades da federação reduziram o número de trabalhadores
nos seus setores financeiros, segundo estudo realizado pela subseção do
DIEESE no Sindicato dos Bancários de São Paulo e pela Linha Bancários do
DIEESE (1999).
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Isso porque, com a difusão do sistema on-line, do uso dos cartões
magnéticos, home bank, auto-atendimento, os tempos gastos com o transporte
de papéis, com a preparação, digitação e conferência de documentos foram
reduzidos em escalas maiores do que no primeiro momento da implantação do
on-line, no início da década de 80. Grande parte dos serviços de digitação
antes realizados nos Centro de Processamentos de Dados (CPDs) passou a
ser feito pelos bancários das agências no momento do atendimento ou pelo
próprio cliente, reduzindo os setores de digitação nos CPDs.
A ligação eletrônica entre clientes e bancos, através das diferentes
formas de auto-atendimento, eliminou grande parte da troca de documentos e
dos procedimentos relativos ao arquivamento desses papéis nos bancos. A
difusão do uso de cartões magnéticos no comércio e nas agências bancárias
reduziu o uso dos cheques no mercado, diminuindo as atividades relativas ao
processamento desses papéis na instituição financeira.
A demissão progressiva dos bancários ocorreu ao mesmo tempo em que
aumentou o número de trabalhadores subcontratados e terceirizados,
possibilitando a redução dos custos.
A flexibilidade funcional nos bancos passou a ser desenvolvida
sobretudo entre os funcionários de tempo integral, em postos de trabalho
relacionados com o atendimento ao público; significou uma requalificação deste
segmento dos bancários, já que passaram a vender todos os “produtos”do
banco de forma “personalizada”.
A adoção de técnicas gerencias, que expressam novas formas de
racionalização do trabalho centradas na proposta de Qualidade Total, tendo em
vista a acirrada concorrência entre os bancos na disputa por clientes, tornou
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imperativa a criação de novas formas de investimentos e serviços
diferenciados.
A personalização no atendimento é uma das marcas da flexibilização
funcional dos serviços prestados para uma parcela restrita da população,
considerada potencialmente investidora, uma vez que, conforme já foi
salientado, as pequenas contas foram excluídas dos bancos por não serem
consideradas rentáveis. De acordo com a Febraban (Federação Brasileira de
Bancos), em 1993, somente 18% da população brasileira tinha conta em
banco, e nessa porcentagem estão incluídos os funcionários públicos federais,
estaduais e municipais, recebedores de salários sobretudo pelos bancos
estatais, mantendo a conta corrente mesmo que não atinjam os rendimentos e
o patrimônio exigidos.
O desenvolvimento tecnológico presente na informatização intensiva do
sistema financeiro e o elevado nível de qualificação do funcionário nas funções
de atendimento ao cliente tornaram-se elementos fundamentais nas estratégias
mercadológicas bancárias, voltadas para acirrada disputa por frações do
pequeno segmento da população indicado acima, principalmente após o Plano
Cruzado, em 1986.
Os serviços que os bancos passaram a prestar caracterizam-se pelo
atendimento personalizado, diferenciado de acordo com as necessidades e
exigências de clientes que provavelmente não mais precisarão ir à agência
bancária, porque cada vez mais realizam as operações por meio de sistemas
informatizados integrados, viáveis graças ao acelerado desenvolvimento da
telemática, a junção da informática com as telecomunicações.
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Desta forma, novos conceitos de tempo e espaço vão sendo forjados no
interior da “missão civilizatória”do capital. Conceitos estes ainda não
absolutamente claros. Nossa percepção foi forjada em outro contexto
tecnológico e social e a que vivenciamos um momento de mudanças
estruturais que estão ocorrendo aceleradamente.
As novas formas de gestão do trabalho compatibilizam a
heterogeneidade das condições de inserção da força de trabalho, caracterizada
tanto pela qualificação e estabilidade (trabalho em tempo integral) como pela
divisão da tarefa e submissão do trabalho a tempos impostos (trabalho em
tempo parcial) por formas diferenciadas de excludência (demissões, incentivo à
aposentadoria) ou de “inclusão perversa” (terceirização, subcontratação). As
novas formas de relações empregatícias constituem as bases das novas
formas de controle e poder nas relações de trabalho e entre trabalhadores.
Como qualquer outro trabalhador subordinado à lógica da produção
capitalista, o bancário confronta-se, diariamente, com os mecanismos de
controle e exploração da força de trabalho pelo capital. Sua consciência
expressa, portanto, a dialeticidade presente no processo de trabalho: de um
lado, o impulsionar constante do capitalismo às formas de estranhamento do
trabalho; de outro, a rebeldia do trabalhador à coisificação. As formas de
rebeldia que emergem no cotidiano do trabalho e se expressam muitas vezes
na luta sindical mesclam-se com manifestações de subordinação, resignação
ou adesão desses trabalhadores aos interesses do capital.
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CAPÍTULO III
MUDANÇAS NO PERFIL DA CATEGORIA BANCÁRIA
As mudanças na categoria bancária, resultado da estratégia de
reestruturação dos bancos têm alterado substancialmente o perfil dos
trabalhadores. Maior qualificação, maior poder de decisão, polivalência e
iniciativa são algumas das características exigidas dos bancários nos dias de
hoje. O processo de ajuste nos bancos tem sido extremamente doloroso para
a categoria. Demissão em massa de trabalhadores, intensificação do processo
de trabalho, flexibilização da jornada e do salário marcam essas mudanças. A
perspectiva é que esse processo se intensifique nos próximos anos, exigindo o
aprimoramento constante do bancário.
As transformações nos bancos não se limitaram a reduzir o quadro de
pessoal das empresas, mas também alteraram o perfil da categoria bancária,
com a ampliação da parcela de trabalhadores empregados em funções
gerenciais e a redução relativa das chefias intermediárias e dos escriturários e
auxiliares.
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São vários os fatores que têm contribuído para a redução do número de
bancários. Como já vimos no capítulo II, são eles: a automação, os
equipamentos de auto-atendimento e o aumento no número de usuários de
home/office banking , as novas formas de organização do trabalho, a
terceirização, as fusões e incorporações, as privatizações, além do desrespeito
à jornada de trabalho do bancário, com a realização indiscriminada de horas
extras e o comissionamento de empregados, que diminui o número de
empregados mantidos pelo banco, vis-à-vis aquele que seria registrado se a
jornada de trabalho fosse cumprida.
As estatísticas revelam um crescimento rápido e contínuo da taxa de
participação das mulheres no mercado de trabalho remunerado em quase
todas as regiões do mundo.
No Brasil é significativo o crescimento da participação da mulher no
mercado formal de trabalho, sobretudo urbano, a partir do final dos anos 60.
Considerando tão-somente a década de 80 (1981/1989), verifica-se que mais
de 7 milhões de trabalhadoras entraram no mercado de trabalho no período, o
que representou um crescimento de mais de 48% em termos relativos, ou seja,
duas vezes o aumento relativo masculino (24%). (Segnini, 1998)
Mesmo assim, em 1990 a mulher representava no Brasil pouco mais de
35% dos 64,5 milhões de trabalhadores que compõem a PEA (População
Economicamente Ativa).
Segundo pesquisa do Dieese de 2001, atualmente as mulheres
representam 44% enquanto os homens 56% da PEA.
Também no Brasil é relevante a presença da mulher no setor terciário da
economia, no qual se inserem os bancos.
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Esta marcante transformação social observada no mundo do trabalho
deve ser compreendida a partir de diferentes aspectos. Alguns nos revelam
mudanças relativas à condição da mulher para se oferecer no mercado de
trabalho, como a expansão da escolaridade observada também nas duas
últimas décadas.
Considerando que a maternidade foi e ainda é um dos maiores
obstáculos vivenciados pela mulher trabalhadora, a intensa queda da taxa de
fecundidade observado nas diferentes regiões do mundo, bem como no Brasil,
nos últimos vinte anos, veio contribuir para acentuar as mudanças quantitativas
apontadas. Também precisa ser considerada a força política e social dos
movimentos reivindicatórios feministas, notadamente a partir da década de 70,
os quais contribuíram para desencadear mudanças nos valores e
comportamentos nas relações de gênero.
Entre as características dos empregos no setor terciário – salários mais
baixos, a forte presença do trabalho parcial e baixas taxas de sindicalização –
estão as razões que possibilitam a feminização desse tipo de trabalho, pois as
mulheres constituem um grupo social fragilizado na sua relação com o capital.
A feminização do trabalho, sobretudo no setor terciário da economia, é
uma das características, entre outras, observadas no contexto da
reestruturação produtiva em curso no mundo do trabalho. No processo de
difusão da automação e das novas formas de organização do trabalho é
observado, por um lado, um crescimento do desemprego estrutural no mundo
industrializado e, por outro, é registrado também o aumento das formas
“atípicas” de relações empregatícias – denominadas “flexíveis” - que significam
a terceirização (subcontratação) ou empregos em tempo parcial. Neste
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contexto, observa-se também a feminização do trabalho, sobretudo no setor
terciário.
Há uma proporção muito maior de mulheres empregadas no setor
bancário do que em outros subsetores do setor terciário. A Organização
Internacional do Trabalho (OIT) realizou uma ampla pesquisa (Segnini, 1998)
junto a dezenove bancos multinacionais, com sedes e sucursais em diferentes
países, tendo por objetivo realizar um levantamento a respeito das “práticas
sociais e trabalhistas” por eles implantadas. Conclui-se que é acelerado e
contínuo o processo de ingresso das mulheres nos bancos multinacionais nos
últimos vinte anos; porém, o “lugar” por elas ocupado não difere do observado
no sistema financeiro em geral, sintetizado nos seguintes aspectos:
1. As mulheres ocupam uma parte significativa do emprego bancário,
representando, em muitos países, em torno de 50% dos trabalhadores do
setor.
2. As mulheres estão, sobretudo, inseridas nos postos de trabalho de
nível inferior na hierarquia ocupacional dos bancos, em regime de trabalho em
tempo parcial.
3. Por esta razão, o trabalho em tempo parcial aumentou em proporção
análoga ao emprego feminino, particularmente nos países industrializados.
4. Durante a década de 80, houve um aumento da proporção de
mulheres em postos diretivos, profissionais e de supervisão. No entanto, é
ainda preciso haver muitas mudanças para que as mulheres possam ocupar,
de forma relevante e eqüitativa, os cargos de alto nível.
No Brasil, a categoria bancária feminiza-se; este fenômeno social ocorre
paralelamente ao processo de difusão da automação e das mudanças na
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organização do trabalho, implantadas a partir da década de 60, no bojo de
mudanças políticas e sociais.
Em 1993, 47% dos trabalhadores em banco na cidade de São Paulo
eram mulheres (Sindicato dos bancários de São Paulo – Iades, 1992; Segnini,
1998)
Categoria Bancária segundo o sexo – São PauloFonte: Sindicato dos bancários de São Paulo – Iades, 1992
Segundo dados do Dieese (2001), as mulheres continuam
representando cerca de 47% dos trabalhadores em bancos nos dias atuais,
com leves diferenças nas diferentes regiões do Brasil.
Estes números revelam uma intensa mudança no perfil da categoria
bancária no que se refere às relações de gênero. Até a década de 60, a
presença de mulheres no trabalho bancário era pouco significativa.
A participação das mulheres no setor bancário é significativamente
superior à observada nos demais setores da economia.
Observa-se uma predominância da inserção da mulher no trabalho não-
comissionado, em tempo parcial, em atividades de apoio ao trabalho
comissionado, o que é traduzido salarialmente. A trabalhadora bancária
recebe, em média, vinte por cento a menos que o seu colega com o mesmo
tempo de serviço na instituição financeira.
Homens
Mulheres
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A inserção das mulheres de forma predominante no trabalho não-
comissionado, em tempo parcial, nas agências, revela especificidades no uso
da força de trabalho feminina que podem ser resumidas nos seguintes itens
(Segnini, 1998):
1. as mulheres vão ocupar, sobretudo, os postos de trabalho
relacionados às operações simplificadas e repetitivas que os sistemas
informatizados passaram a demandar em função do aumento do volume do
trabalho bancário, a partir da década de 60.
2. as mulheres bancárias são altamente escolarizadas, mais
escolarizadas do que seus colegas bancários; desta forma detêm um
significativo potencial para o desempenho das tarefas com muita
responsabilidade e atenção. No entanto, este diferencial educacional não é
remunerado pelo banco, pois não é explicitada sua exigência para exercer as
funções apontadas.
À medida que as novas tecnologias se difundiram, que novas formas de
organização do trabalho engendraram respostas racionalizadoras para um
mercado cada vez mais competitivo, novas habilidades foram acrescidas ao
saber profissional na construção do bancário “competente”, capaz de atender
diferentes tipos de clientes e se comunicar com colegas que pertençam à
mesma equipe (polivalente), seus subalternos ou superiores hierárquico. Desta
forma, a qualificação para o trabalho resulta da capacidade individual de
relacionar os conhecimentos necessários para o desempenho profissional com
sua capacidade de comunicar-se com clientes, colegas, chefias e outros
funcionários, de modo eficaz, todas as vezes em que se deparar com o
imprevisto ou o improvável nas relações de trabalho.
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A capacidade intersubjetiva de se comunicar é compreendida como
fundamental para o desempenho “excelente”, produtivo e eficiente no
desenvolvimento do trabalho bancário polivalente.
A mulher, histórica e culturalmente, tem adquirido essas qualificações
sociais no espaço privado, notadamente no trabalho doméstico. Na empresa,
essas habilidades tendem a se transformar em competência traduzida em
índices elevados de produtividade.
Observa-se um investimento crescente das mulheres no seu próprio
trabalho, ligado, tanto à consciência das desigualdades que precisam superar
no mundo do trabalho, como ao desejo de deixar de realizar trabalhos
repetitivos, desqualificados, aos quais o maior número de mulheres encontram-
se submetidas.
A conquista do espaço público do trabalho inserido num contexto
altamente informatizado, tendo como estratégia um desempenho profissional
em conformidade com as novas estratégias de racionalização do trabalho, que
se traduz em produtividade elevada, revela uma nova especificidade no uso do
trabalho feminino: vivenciar o espaço privado e as tarefas domésticas passa a
ser não mais um fato limitador para a mulher, mas um elemento qualificador
frente à possibilidade de ter adquirido socialmente habilidades requeridas para
a realização do trabalho flexível.
Também se transforma numa característica positiva para a bancária, na
aquisição da competência para o trabalho de atendimento ao cliente, o
vivenciar valores sexistas que “autorizam” a mulher, socialmente, a
experimentar e manifestar emoções e sentimentos de forma mais intensa do
que o homem.
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Apesar de ainda vivenciar desigualdades nas condições de
desenvolvimento das trajetórias profissionais e, conseqüentemente, salariais, é
perceptível que a partir do início da década de 80 as mulheres, gradativamente,
passam a ocupar postos de chefia, até então masculinos.
Todavia, se essas conquistas são observadas no espaço público do
trabalho assalariado, no interior do espaço privado, na família, essas bancárias,
que estão ascendendo na hierarquia da instituição financeira, continuam a
vivenciar papéis tradicionalmente atribuídos à mulher, no contexto de uma
sociedade que, apesar de capitalista, ainda expressa valores culturais
observados em uma sociedade patriarcal.
No contexto das novas formas de organização do trabalho, as mulheres,
diferentemente dos homens, não estão só submetidas às novas formas de
intensificação do trabalho, nas quais se inserem de forma diferenciada em
relação aos seus companheiros de trabalho, ou seja, a partir da consciência da
necessidade de um referencial maior de produtividade para se equiparar em
termos de possibilidade de ascensão na hierarquia do banco. Além disso,
mantêm-se responsáveis pelo trabalho doméstico, no âmbito privado, como já
o eram tradicionalmente. Portanto, permanecem submetidas às sobrecargas
da “dupla jornada”, já apontadas em várias análises referentes ao trabalho
feminino.
Neste sentido, não só a subjetividade feminina revela as questões acima
apontadas, mas também seu corpo, são elas que apresentam os maiores
índices de incidências de doenças profissionais “bancárias” , como o stress e a
LER (lesão por esforços repetitivos), evidenciado pela alta procura por serviços
médicos para solicitar tranqüilizantes e atendimento psicológico.
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Na PEA brasileira, os negros representam 41%, enquanto os não-
negros, 59%.
Analisando a composição racial dos empregados bancários é evidente a
menor participação dos negros nesse setor. Em todas as regiões estudadas
pelo Dieese, a presença da raça negra nos bancos é significativamente inferior
aos negros empregados no mercado de trabalho.
Em São Paulo, registra-se 30% da raça negra na condição de
empregado. No entanto, a participação dos negros no setor bancário, na
mesma condição, restringe-se a 12,7%.
Os trabalhadores negros, em geral, possuem um nível de instrução
muito baixo. As diferenças de grau de instrução entre negros e não-negros são
muito elevadas, embora os últimos também apresentem baixa escolaridade.
Entre os trabalhadores não-negros, são significativamente maiores as parcelas
dos que completaram o ensino médio e superior.
O setor bancário emprega trabalhadores com grau de instrução muito
mais elevado do que os demais setores, pois concentram a maior parcela de
trabalhadores com escolaridade de nível médio completo ou superior.
Os bancos, ao exigirem um grau de instrução mais elevado, dificultam o
acesso do trabalhador negro ao setor, alargando o fosso existente nas
oportunidades de trabalho entre raças, ao invés de estreita-lo. Essa exigência
por maior qualificação, muito mais do que uma real necessidade de uso de
profissionais, com maior qualificação, trata-se de práticas das instituições
bancárias buscarem profissionais com maior escolaridade, mesmo para
ocupações em que estas capacitações não seriam usufruídas. Trata-se muito
mais de aproveitar esse excedente de mão-de-obra mais qualificada frente às
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crescentes dificuldades do mercado de trabalho em absorver esses
profissionais.
No setor bancário, os chefes de família encontram-se em proporção
menor do que entre os empregados nos demais setores.
A menor presença relativa de chefes de família no setor bancário reflete
a preponderância de trabalhadores jovens e a elevada participação das
mulheres no setor, que embora estejam em número crescente na chefia dos
domicílios, ainda ocupam essa posição em número menor do que os homens.
No entanto, há um percentual expressivo de chefes de família negros e
não negros na categoria. Uma vez que os trabalhadores negros estão em
maior proporção nas situações de trabalho mais desfavoráveis, as famílias
negras, possivelmente, encontram-se sujeitas às piores condições de vida,
tendo em vista que os chefes de família são, geralmente, os principais
provedores.
O setor bancário apresenta características muito específicas quando
relacionadas aos outros setores da economia. O setor é concentrado em
poucas e grandes empresas, sendo que a grande maioria tem dimensão
nacional. Poucas são as instituições financeiras com atuação apenas regional,
em razão principalmente do processo de redução da presença do setor público
estadual nas atividades bancárias. Essa característica possibilita uma
tendência de padronização nacional dos rendimentos da categoria. As
empresas bancárias tendem a adotar iguais critérios de remuneração,
independentemente da localização geográfica de suas dependências.
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Os rendimentos reais médios do setor bancário segundo raça e sexo
apresentam diferenças significativas, comprovando uma discriminação da raça
negra e do segmento feminino da categoria bancária.
Em todas as PEDs (Pesquisa de Emprego e Desemprego) realizadas
pelo Dieese, os ocupados de raça negra têm rendimentos mensais abaixo da
média.
Da mesma forma, independentemente da localidade da pesquisa, as
bancárias têm rendimentos mensais inferiores à média da categoria. Completa
o
quadro o fato de os bancários (homens) sempre obterem rendimentos mensais
superiores à média.
Mesmo que o tamanho da amostra nem sempre permita interferências
estatísticas no tocante ao rendimento mensal médio das mulheres negras nas
localidades das PEDs, onde os dados possibilitam a análise a mulher negra
aparece como mais discriminada.
A discriminação dos negros e das mulheres é mostrada de outra forma
pelos rendimentos dos ocupados não-negros do setor bancário. Estes últimos
sempre ultrapassam folgadamente a média dos rendimentos da categoria.
Em São Paulo, apenas 18% da massa de rendimento dos bancários
não-negros advêm dos trabalhadores cujas remunerações se situam abaixo do
valor do meio do conjunto dos rendimentos (R$ 1.221, ou 2º quartil). Quando
se consideram os bancários da raça negra, essa parcela cresce para 37,3%.
Em particular, separando os rendimentos mensais do quarto inferior (até R$
750,00, ou 1º quartil) a massa de rendimentos dos negros é mais que o dobro
da massa de não-negros.
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Entre o 1º e o 2º quartil (entre R$ 750,00 e R$ 1.221,00), a massa de
rendimentos dos negros também é o dobro da massa dos não-negros. Por
outro lado, não foi possível estimar a massa de rendimentos dos negros entre o
segundo e terceiro quartis, bem como do quarto superior, visto que ocorreu na
amostra um número muito reduzido de pesquisados nessas faixas de
rendimentos. Mas para os não-negros, faixa de remunerações entre R$ 1.221
a R$ 2.213, concentrou 22,8% da massa de rendimentos e o quarto superior
(remuneração acima de R$ 2.213) concentrou 59,2%. Assim, nota-se que a
proporção da massa de rendimentos dos negros que tem origem em
remunerações menores é muito superior à dos não-negros, sendo que a
proporção da massa dos rendimentos mais elevados dos não-negros é muito
superior à dos negros. Pode-se concluir com isso que a distribuição salarial dos
negros tem maior concentração nos salários mais baixos em comparação à dos
não-negros. (Dieese, 2001)
As diferenças entre negros e não-negros são mais acentuadas em São
Paulo. Essa maior discriminação racial nos rendimentos em São Paulo pode
ser parcialmente explicada pelo fato de que na capital paulista encontram-se as
sedes (e os principais departamentos) da maioria dos bancos privados
brasileiros, onde se concentram as atividades de direção e planejamento, que
geralmente remuneram melhor, mas empregam negros em menor número. O
mesmo acontece com as mulheres, que além de sofrer discriminação salarial,
sofrem também discriminação de cargos.
A forte presença em Brasília de bancos federais (Banco do Brasil e
Caixa Econômica Federal, principalmente) e estaduais (Banco Regional de
Brasília, em particular), e de suas sedes, podem atenuar as diferenças de
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remuneração constatadas entre negros e não-negros. Nas empresas privadas
a política de pessoal e as indicações e nomeações estão mais sujeitas a
critérios discricionários das chefias, enquanto nos bancos públicos tanto o
acesso, que é realizado por meio de concurso público, quanto a ascensão
profissional são norteados por regras mais objetivas e menos discriminatórias
estabelecidos no Plano de Cargos e Salários.
O mercado de trabalho do Brasil possui vários elementos que
possibilitam classifica-lo como altamente flexibilizado. Uma de suas principais
características é o alto volume de demissões e substituições de trabalhadores
antigos por novos nos seus respectivos postos. Cerca de 20% dos
trabalhadores com carteira assinada trocam de emprego a cada ano.
Evidentemente, essa alta rotatividade reflete no tempo médio de permanência
no emprego. Para os trabalhadores em geral, esse tempo gira em torno de 60
meses (cinco anos). Os dados divulgados pelo Ministério do Trabalho –
Informações dos Registros Administrativos, apontam para o setor bancário uma
rotatividade média anual em torno de 11%.
Os dados da PED confirmam que a rotatividade de mão-de-obra do setor
bancário é menor que a média observada para o total dos ocupados.
No mercado de trabalho a permanência média do conjunto dos
trabalhadores negros (homens e mulheres) é inferior em relação aos dos não-
negros. Segmentando o mercado de trabalho segundo o sexo, a permanência
média no emprego das mulheres é inferior a dos homens, com exceção da
região metropolitana de São Paulo, que apresenta um tempo de permanência
equivalente entre homens e mulheres. Nessa região ocorre a menor
permanência média no emprego.
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No setor bancário, os trabalhadores da raça negra também
apresentaram um menor tempo médio de permanência no emprego atual do
que os não-negros.
A pesquisa apontou que as bancárias possuem uma menor permanência
média no emprego do que os bancários. As diferenças entre o tempo de
permanência dos homens e das mulheres é maior do que as observadas da
raça negra em comparação à da não-negra.
Cabe destacar que em Brasília há uma grande concentração de
funcionários públicos e de matrizes dos grandes bancos federais, o que justifica
o maior tempo de permanência tanto dos trabalhadores do mercado de
trabalho quanto dos empregados no setor bancário.
Em síntese, o trabalhador da raça negra está com uma menor
permanência média no emprego atual nas empresas do setor bancário em
relação ao trabalhador da não-negra. Essa situação se repete com mais
intensidade entre as mulheres quando comparado com o tempo de
permanência dos homens. A situação é mais grave para as bancárias negras,
cujo tempo médio de permanência é menor ainda.
Em síntese, no mercado de trabalho os trabalhadores da raça negra
possuem contratos de trabalho mais flexibilizados, sendo os homens negros
aqueles que apresentam maior participação de vínculos trabalhistas mais
flexíveis. Essa condição tem reflexos negativos na evolução profissional,
dificultando a progressão desses trabalhadores nas respectivas carreiras
profissionais.
Esta pesquisa do Dieese (2001) revelou que existem diferenciações
significativas entre os empregados no setor bancário. Os trabalhadores da
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raça negra apresentam em todas as variáveis analisadas condições
desfavoráveis em relação aos não-negros. O mesmo foi verificado em relação
às bancárias, muito embora as mulheres em muitos atributos estejam melhor
posicionadas que os homens.
Essas desigualdades indicam a existência de mecanismos e processos,
velados ou explícitos, que concorrem para a permanência e predominância de
valores de uma ideologia branca e masculina, a embasar as decisões e
condutas político-administrativas no que tange às relações de trabalho no
interior dos bancos.
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CONCLUSÃO
O sistema financeiro nacional passou e continua passando por uma
série de transformações. Estas transformações atingem os processos e
condições de trabalho, as relações de produção além de exigir mudanças no
perfil dos trabalhadores bancários.
Estas mudanças estão ocorrendo em nível mundial, gradativamente. No
Brasil, tais mudanças se iniciaram a partir da Revolução de 1930, quando o
país muda sua economia, baseada no setor agrário-exportador, para se apoiar
numa estrutura produtiva de base urbano-industrial; para isso, o Estado, que
representava os interesses da classe burguesa, tomou medidas que criaram as
bases para a acumulação capitalista industrial.
Os bancos foram extremamente importantes nesse processo de
expansão do mercado interno, pois o país necessitava de um aperfeiçoamento
do sistema de crédito e do fortalecimento dos bancos nacionais. E para isso,
tiveram o apoio do Estado.
Com isso o trabalho bancário já começa a sofrer mudanças. Pois já
nesse período inicia a mecanização do setor (introdução de copiadores de
gelatina, máquinas calculadoras, equipamentos destinados à elaboração de
cartelas contábeis), mudando o modo de realização do trabalho bancário e
aumentando a sua produtividade.
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Outro fator que proporcionou a ampliação do sistema financeiro no
Brasil, e fez com que o setor se tornasse, como dizem alguns autores, uma
“ilha de modernidade”, foi a inflação, que já é sentida no país na década de 40.
Na década de 60, quando ocorre o golpe militar, o Estado desenvolvia
mecanismos de concentração e reorganização do poder, visando criar
condições para a implantação de políticas econômicas que favorecessem a
acumulação privada do capital. Esse contexto possibilitou uma profunda
reestruturação no sistema financeiro nacional, que favorecia os banqueiros. O
sistema financeiro nacional assumia, já nessa época, posição estratégica para
o desenvolvimento econômico do país.
O governo pós-64 implantou a Reforma Bancária, visando desenvolver o
capitalismo monopolista e dar suporte ao capital industrial e comercial. Impôs
uma reestruturação ao sistema financeiro adequada à sua política econômica.
Na década de 80, com a implantação do Plano Cruzado (1986), os
bancos passam por uma nova mudança. O plano previa diminuição drástica da
inflação, e os bancos deveriam, agora, se preparar para atuar num ambiente
econômico sem inflação. O setor passou, nesse momento, por uma
reorganização interna, que provocou: segmentação da clientela, diversificação
de produtos, incorporação de novas tecnologias, com ênfase no auto-
atendimento e modificações nas formas de gestão da mão-de-obra.
Intensificou-se a terceirização e houve diminuição contínua dos postos de
trabalho na categoria, no final da década de 80.
Em 1994, com a implantação do Plano Real, os bancos sofreram um
ajuste para fora (entre empresas). O plano previa estabilização econômica, o
que provocou um processo de ajuste envolvendo transferência do controle
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acionário, intervenção ou liquidação por parte do Banco Central e incorporação
por outra instituição financeira. Bancos nacionais privados demonstraram
dificuldades de adaptação ao novo cenário macroeconômico. Houve também
privatização de bancos públicos.
As decisões de investimento são tomadas em tempos cada vez
menores, com isso, a informação passa a ser a variável determinante.
A mudança do trabalho bancário insere-se num contexto de
transformações no qual a informática e os novos métodos de acumulação de
capital e de expropriação da força de trabalho aumentaram radicalmente a sua
produtividade e incrementaram a concentração da riqueza privada e o fluxo de
capitais em nível mundial.
A automação modificou muito o trabalho bancário e desempregou
bastante. Exige-se maior grau de instrução, as agências precisam de menos
trabalhadores (introdução do auto atendimento, home/office banking , etc), além
de necessitar de menos trabalhadores no serviço de retaguarda.
As mulheres conquistaram seu espaço no mercado de trabalho, e muitas
estão alocadas no setor bancário. Porém, elas continuam em desvantagem se
comparadas aos homens. Os negros ainda são poucos na categoria bancária.
Encontram-se em situação desfavorável como as mulheres.
Portanto, é evidente que o sistema financeiro nacional vem passando
por um ajuste estrutural nos últimos anos. Entre os motivos desse processo,
destacam-se: a globalização do sistema financeiro internacional, o acirramento
da concorrência internacional e nacional, as mudanças institucionais, os planos
econômicos – principalmente o Cruzado e o Real – além da redução da
inflação.
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