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Pedro Ginja
Arboricultor
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RELATÓRIO TÉCNICO DA PERITAGEM
EFETUADA À QUEDA DE UMA ÁRVORE
NO LARGO DO MONTE, FUNCHAL
Pedro Ginja Arboricultor
ELABORADA PARA:
MUNICÍPIO DO FUNCHAL
JANEIRO DE 2018
MUNICÍPIO DO FUNCHAL – RELATÓRIO TÉCNICO DE PERITAGEM VILA REAL, JANEIRO DE 2018
Pedro Ginja
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Pedro Jorge Ginja 1
Gerard Passola Parcerissa 2
1 Engenheiro Agrícola, Arboricultor Profissional com Formação Avançada em
Arboricultura Urbana
2 Biólogo, membro do Colégio de Biólogos da Catalunha, Espanha (Núm.
16.860-C), especialista em arboricultura
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Declarações iniciais
Os peritos manifestam:
Não ter interesse direto ou indireto no assunto ou em outro semelhante.
Não crer que exista nenhuma outra circunstância que lhes faça desmerecer no
conceito profissional.
Juramento
Os peritos declaram sob juramento dizer a verdade, que atuam e atuarão com a
maior objetividade possível, tomando em consideração tanto o que possa favorecer,
como o que seja suscetível de causar prejuízo a qualquer uma das partes, e que
conhecem as sanções penais nas quais poderiam incorrer em caso de incumprimento
dos seus deveres como peritos.
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1. Introdução
O presente relatório técnico resulta da avaliação efetuada a uma árvore, um
carvalho (Quercus robur L.), sito nos Jardins do Monte, no Funchal, na sequência da
sua queda no passado dia 15 de agosto, dia das festividades de Nossa Senhora do
Monte, da qual resultou a morte de treze pessoas e quarenta e nove feridos. Logo
após o registo da ocorrência fomos contactados pelo Município do Funchal, na pessoa
do chefe de divisão dos Jardins e Espaços Verdes Urbanos, o Engenheiro Francisco
Andrade, e, por sua solicitação, mobilizámo-nos de imediato para o local, tendo
iniciado a nossa colaboração técnica.
Os trabalhos de peritagem no terreno ocorreram em dois momentos diferentes,
numa primeira fase iniciaram-se no dia 16 de agosto e decorreram até ao seguinte, dia
17. Estes trabalhos viriam a ser suspensos ao final do dia, por ordem do Ministério
Público, e, após diversas vicissitudes, reiniciaram-se apenas doze dias depois, no dia
29 de agosto, e prolongaram-se até ao dia 1 de setembro.
Esta é uma versão preliminar do parecer final, pois ainda se encontra em
análise um conjunto de dados e informações importantes. Aguardamos os
dados relativos aos estudos laboratoriais das amostras de madeira; o relatório
final respeitante às amostras de tecidos enviadas para estudo e caracterização
dos fungos; e o tratamento de todos os dados referentes aos levantamentos
topográficos 3D.
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2. Caracterização do espaço
2.1 Breve apontamento histórico
No passado, o Monte, principalmente devido ao seu clima e belas vistas, era
utilizado pelos funchalenses como zona de veraneio e repouso “…que ali tinham as
suas residências de verão…” mas também destino de eleição dos visitantes (PIO,
1992). A partir do Séc. XVIII, passou a ser o local predileto dos estrangeiros,
“…nomeadamente britânicos que… fizeram construir ali belas vivendas, fundando
quintas, palacetes e chalets…”. (PIO, 1992) No início do séc. XX, o Monte tornou-se
uma estância turística de excelência, com numerosos hotéis e onde existiam também
muitas quintas e vilas particulares (RIBEIRO, 1991).
Os Jardins do Monte desenvolvem-se desde o Largo da Fonte até à Igreja de
Nossa Senhora do Monte. A construção do parque, de carácter romântico, iniciou-se
em 1894, por iniciativa municipal, que adquiriu “…o terreno necessário localizado no
outeiro adjacente à Igreja paroquial de Nossa Senhora do Monte…” (PIO, 1992), tendo
a primeira fase de construção terminado em 1899 (QUINTAL E PPITAGROZ, 2001; PIO,
1992). O carácter romântico do jardim faz lembrar muitos espaços deste período que
foram construídos em Portugal Continental, em especial pelos jardineiros/paisagistas
do Norte. A Igreja de Nossa Senhora do Monte foi inaugurada em 1818, sobre uma
antiga ermida, e encontra-se nela sepultado o Imperador Carlos I da Áustria (QUINTAL
E PPITAGROZ, 2001).
Junto à Ribeira de Santa Maria, na margem esquerda, terá sido construída, em
1778, por mando do Cônsul britânico, Charles Murray, a designada Fonte da Virgem,
esta, “…em pedra tosca de cantaria mole (…) foi destruída em 1896, pelo castanheiro
que lhe ficava sobranceiro.” (PIO, 1992) Em 1897, é adjudicada a construção da fonte
em mármore (PIO, 1992; QUINTAL E PPITAGROZ, 2001) onde se encontra “…um nicho
com a imagem de Nossa Senhora do Monte, sendo local de grande devoção para os
madeirenses residentes e emigrados.” (QUINTAL E PPITAGROZ, 2001). No Largo da
Fonte, principal acesso ao parque, existe um coreto construído em 1890 (QUINTAL E
PPITAGROZ, 2001) e um edifício devoluto, que era a antiga estação do antigo caminho-
de-ferro do Monte, onde circulou “…o comboio entre 1894 e 1943…) (QUINTAL, 2007).
O Largo da Fonte está calcetado com a típica calçada madeirense, de pequenos
calhaus rolados, e sob o mesmo passa a Ribeira de Santa Maria. No jardim, existe um
pequeno lago, ao estilo romântico, construído em pedra de fajoco, com uma pequena
ilha ao centro, também em fajoco, representando a Ilha da Madeira, e habitado com
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cisnes. Ao longo do tempo, o parque foi crescendo e entre “…1997 e 1999 (…) passou
por importantes obras de requalificação, essencialmente na zona mais baixa, a Sul.”
(RIBEIRO, 1991).
O parque do Monte, quanto ao património vegetal, é, na atualidade, constituído por
muitas espécies indígenas e exóticas (QUINTAL E PPITAGROZ, 2001), tendo Raimundo
Quintal identificado 319 taxa, em 2007, “…o que coloca o Parque Municipal do Monte
na classe Excecional do Índice de Riqueza Florística.” (QUINTAL, 2007) O espaço dos
jardins inicialmente teria “…mata indígena… (e) …castanheiros e carvalheiros.” (PIO,
1992), alguns dos castanheiros “…velhos e seculares…” (Pio, 1992). No património
arbóreo são de destacar os centenários plátanos do Largo da Fonte que já teriam
grandes dimensões aquando da construção do parque, em 1894, como se pode
observar neste postal circulado em 1906.
Fonte: delcampe (2018)
Neste postal, de 1906 ou anterior, posterior às obras, aparentemente, a zona da
encosta, estava pouco arborizada com grandes espécimes, existindo, apenas e, com
certeza, exemplares de castanheiros e carvalhos, alguns ainda hoje presentes. É de
referir que os plátanos são de existência anterior ao encanamento da Ribeira de Santa
Maria para a execução do Largo da Fonte tal como o vemos atualmente.
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Fonte: Câmara Municipal do Funchal
Em 2007, existiam “…cerca de sessenta espécies de árvores de todos os
continentes, com exceção da Antártida…” (QUINTAL E PPITAGROZ, 2001).
2.1.1 Breve apontamento histórico acerca da queda de árvores no local
Não tendo sido efetuado nenhum levantamento sistemático relativo à queda de
exemplares arbóreos nos Jardins do Monte, parece-nos, contudo, importante fazer
referência neste ponto que este acontecimento não é único na zona da encosta onde
se encontrava o carvalho. No passado, sem saber-mos as causas a que se deveram,
já aconteceram ocorrências de queda de árvores de grandes dimensões. Como
descrito anteriormente, há referência histórica da queda de um castanheiro do talude,
em 1896, que destruiu a antiga Fonte da Virgem (PIO, 1992). Anteriormente, já teria
caído também uma outra árvore de grande porte, muito próximo da fonte, situação que
se pode observar na seguinte fotografia.
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Fonte: Câmara Municipal do Funchal
Nesta fotografia, pode-se observar a antiga fonte em cantaria mole ainda intacta,
bem como uma árvore de grande dimensão derrubada pela raiz.
2.2 Topografia
Os Jardins do Monte estendem-se por uma área de 2,5 hectares com exposições
dominantes a Sudoeste e a Sul, a uma altitude entre os 508 e os 589 metros, com a
sua “…cota mínima (…) no talvegue da Ribeira de Santa Maria, no extremo sul e a
cota máxima a norte da Igreja.” (QUINTAL, 2007).
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Mapa hipsométrico dos Jardins do Monte
(Fonte: QUINTAL, 2007)
O declive é muito acentuado, com uma média de 27%, encontrando-se os declives
suaves, até 10%, praticamente circunscritos ao Largo da Fonte e declives acentuados,
de 20 a 30%, em grande parte do espaço entre o Largo da Fonte e a Igreja (QUINTAL,
2007).
2.3 Fitogeografia
Relativamente ao andar fitoclimático, os Jardins do Monte, devido à sua
hipsometria, situam-se na segunda zona – andar pré-montanhoso/vegetação de
transição.
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Fonte: Jesus, 2009
Este segundo andar – vegetação de transição, está definida como estando
aproximadamente entre os 300 e os 600m, caracterizado por ser um ambiente mais
fresco e húmido, onde crescem espécies como o barbusano (Apollonias barbujana), a
faia das Ilhas (Myrica faya), o azevinho (Ilex canariensis) e a murta (Myrtus communis)
(JESUS, 2009).
2.4 Climatologia
A caracterização climática do local é efetuada com base nos dados fornecidos
pelo Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) – Delegação Regional da
Madeira, na pessoa do Dr. Vítor Prior, relativos às três estações climatológicas mais
próximas do Lugar do Monte, visto não existir nenhuma estação nas coordenadas
pretendidas. Assim, consideram-se os dados obtidos na estação do Funchal (latitude
32º38’51’’, longitude 16º53’33’’ e altitude 58m), do Chão do Areeiro (latitude 32º43’20’’,
longitude 16º54’55’’ e altitude 1.590m) e do Pico Alto (latitude 32º41’40’’, longitude
16º54’14’’ e altitude 1.118m). é de salientar que o local de estudo se encontra situado
a uma altitude entre 500 s 600m e que nenhuma destas estações se encontra à
mesma cota, nem mesmo numa cota próxima.
A estação de Pico Alto é aquela para a qual são disponibilizadas menos leituras,
não tendo sido fornecidos dados da normal climatológica de referência de 1971-2000,
nem mesmo anteriores a 2015, não sendo assim, possível proceder a uma análise
comparativa. Assim, optou-se por excluir os dados provenientes desta estação
climatológica da nossa análise.
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Localização das estações meteorológicas do IPMA mais próximas do Largo da Fonte
(Fonte: IPMA sobre imagem do Google)
Foi realizada uma análise aos dados fornecidos, comparando os dados da normal
climatológica de referência do período compreendido entre 1971 e 2000 com os
valores para os períodos 2011-2012, 2012-2013, 2013-2014, 2014-2015, 2015-2016 e
2016-2017. Optou-se, também, por determinar a média de cada parâmetro no período
2011-2017, de forma a poder fazer-se uma análise comparativa da tendência dos
últimos anos com os dados da normal climatológica. Destaca-se que apenas existente
informação relativa a todos os parâmetros para a estação do Funchal.
Com os dados disponibilizados, efetuaram-se os seguintes gráficos e fez-se a sua
análise.
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2.4.1 Temperatura média do ar
A análise dos dados disponíveis para a estação do Funchal permite verificar que
as temperaturas médias do ar nos últimos anos para os quais foram fornecidos
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Temperatura média do ar (ºC) - Funchal
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Temperatura média do ar (ºC) - Chão de Areeiro
Normal 71-2000 2011-2012 2012-2013 2013-2014
2014-2015 2015-2016 2016-2017 2011-2017
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registos, de 2000 a 2017, têm sido superiores às médias registadas no período
correspondente à normal climatológica de 1971-2000.
Uma análise dos dados da estação de Chão do Areeiro permite constatar uma
tendência de aumento da temperatura média do ar de 2000 a 2017 em relação à da
normal climatológica de 1971-2000. Os anos de 2011-2012 e 2015-2016 são os que
apresentam valores de temperatura média do ar mais irregulares.
Baseando-nos nos dados das estações com mais dados disponíveis podemos
concluir que a temperatura média do ar de 2011 a 2017 tem sido tendencialmente
superior.
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2.4.2 Humidade média do ar
Na estação do Funchal, os valores da humidade relativa do ar são bastante
irregulares no período 2011-2017. Comparando os dados da normal climatológica de
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Humidade relativa do ar (%) - Funchal
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Humidade relativa do ar (%) - Chão de Areeiro
Normal 71-2000 2011-2012 2012-2013 2013-2014
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1971-2000 com os valores médios correspondentes ao período 2011-2017, pode-se
afirmar que a humidade relativa do ar tem vindo a diminuir, sendo mais notória esta
tendência nos meses de outubro a março.
A humidade relativa do ar na estação de Chão de Areeiro é irregular ao longo dos
anos no período 2011-2017. Verifica-se que nesse período, de dezembro a agosto,
tem havido uma diminuição da humidade relativa quando comparando os valores com
as médias da normal climatológica de 1971-2000.
Podemos, assim, afirmar que, nos últimos anos, tem vindo a diminuir a humidade
relativa do ar.
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2.4.3 Precipitação
A análise comparativa da precipitação na estação do Funchal entre a normal
climatológica, 1971-2000, e os últimos anos, 2011-2017, permite constatar que é de
dezembro a março que se registam maiores alterações, com uma redução significativa
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Precipitação (mm) - Funchal
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Precipitação (mm) - Chão de Areeiro
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da precipitação. Também se verifica que nos meses de março a abril e de setembro a
novembro, tendo ocorrido maior quantidade de precipitação nos últimos anos em
relação à normal.
Em 2012-2013, verificam-se valores anormalmente irregulares, com picos muito
elevados de precipitação nos meses de outubro, novembro e março, e precipitação
muito reduzida no período de dezembro a fevereiro e em maio. Também o período
2011-2012 foi bastante atípico, com baixa precipitação de outubro a maio.
Comparando os valores da precipitação da normal climatológica de 1971 a 2000
na estação do Chão de Areeiro com a média de 2011 a 2017, constata-se que,
embora exista um ligeiro aumento da quantidade de precipitação em outubro e
novembro de dezembro a junho é menor a precipitação registada
À semelhança do sucedido na estação do Funchal, o período de 2012-2013 é
bastante irregular. Os valores registados atingem picos muito elevados em novembro
e março e a precipitação é muito reduzida de dezembro a fevereiro e em abril e maio.
Também o período 2011-2012 foi bastante atípico, com baixa precipitação de outubro
a maio.
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2.4.4 Velocidade média do vento
A análise do gráfico permite verificar que a velocidade média do vento na estação
do Funchal tem sido mais baixa no período 2011-2017 relativamente ao período 1971-
2000, da normal climatológica. Embora os valores para os diferentes períodos sejam
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Velocidade média do vento (km/h) - Funchal
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Velocidade média do vento (km/h) - Chão de Areeiro
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muito próximos, existe um pico da velocidade média do vento em 2012-2013, no mês
de março, em que o valor foi bastante superior ao da normal climatológica.
Na estação de Chão de Areeiro não existem dados da normal climatológica para
este parâmetro, não sendo, por isso, possível estabelecer qualquer relação entre os
valores de 1971-2000 e os de 2011-2017.
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2.4.5 Velocidade máxima do vento
Analisando o gráfico da estação do Funchal e comparando a média de 1971-2000,
da normal climatológica, com a do período 2011-2017, constata-se um aumento
significativo da velocidade máxima do vento em todos os meses, com exceção de
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Velocidade máxima do vento (km/h) - Funchal
Normal 71/2000 2011-2012 2012-2013 2013-20142014-2015 2015-2016 2016-2017 2011-2017
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Velocidade máxima do vento (km/h) - Chão de Areeiro
Normal 71-2000 2011-2012 2012-2013 2013-2014
2014-2015 2015-2016 2016-2017 2011-2017
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dezembro. O período de 2015-2016 é aquele em que os valores registados atingem
picos mais elevados, sendo março e agosto os meses em que se verificaram as
velocidades máximas mais altas (rajadas).
Uma vez que para a estação do Chão de Areeiro não existem dados deste
parâmetro na normal climatológica de 1971-2000, apenas se pode fazer uma análise
da tendência deste parâmetro para o período 2011-2017. De outubro a março é
quando, regra geral, os valores máximos atingidos são mais elevados, e ocorre uma
diminuição da velocidade máxima do vento de março a agosto.
2.5 Solos e fertilidade
2.5.1 Solos
O solo do local de estudo pertence à classe dos Cambissolos, descritos no Plano
Regional de Ordenamento Florestal da Região Autónoma da Madeira (SUPREME
NUMBER LDA., 2015) como “Solos medianamente ácidos a neutros (pH 4,4-7,5), e com
agregação geralmente forte. Consistência geralmente dura a muito dura. Possuem um
teor médio de matéria orgânica e um grau de saturação médio a alto. Solos pobres em
fósforo. São, no geral, solos que poderão apresentar razoável potencialidade agrícola.
O seu teor em sódio poderá condicionar significativamente a sua produtividade.”
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Fonte: Supreme Number Lda (2015)
No local dos jardins do Monte, os pédones naturais foram modificados pela
modelação e armação do terreno.
2.5.2 Fertilidade do solo
De modo a proceder à caracterização das condições de fertilidade do solo do local
onde o carvalho se encontrava, procedeu-se à colheita de várias amostras de solo no
canteiro onde vegetava, que posteriormente foram enviadas para o Laboratório de
Análises de Solos e Fertilidade da Universidade de Trás os Montes e Alto Douro, da
responsabilidade do Prof. João Coutinho, em Vila Real.
Na recolha das amostras, procurou-se distribuir as mesmas pelo terreno de modo
a verificar se existiam ou não variações dos parâmetros testados que pudessem, de
alguma forma, influenciar o desenvolvimento da árvore. Foram recolhidas 6 amostras
de terra na profundidade 0-20cm e 5 amostras na profundidade 20-50cm. A diferença
no número de amostras para cada profundidade é justificada pelo facto de uma das
amostras ter incidido na parte nascente, junto ao sistema radicular, local onde a
pedregosidade era elevada, motivo pelo qual não foi recolhida amostra para essa
profundidade.
No ponto de recolha de cada amostra, procedeu-se à limpeza da camada superior
do solo, foram abertas covas e, com uma pá, retirou-se da parede da cova, à
profundidade pretendida, uma fatia de terra que foi devidamente acondicionada e
etiquetada em sacos para posterior envio para o laboratório.
Relativamente a cada amostra recolhida, foram analisados diversos parâmetros
em laboratório, como a textura, a reação do solo, o teor de matéria orgânica, os teores
de fósforo e potássio extraíveis, o teor de boro extraível, os teores de micronutrientes
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catiões, o complexo de troca, a condutividade elétrica, a granulometria e classe de
textura, o teor de metais. Os resultados individuais das análises efetuadas para cada
amostra são apresentados em anexo. Com os valores obtidos para as diferentes
amostras calcularam-se os parâmetros médios descriminados ma tabela seguinte.
Resultados médios Profundidade 0-20cm Profundidade 20-50cm
Textura Fina a média Fina a média
pH água 6,3 6,2
pH KCL 5,1 4,9
Reação do solo Moderadamente ácido Moderadamente ácido
Teor de MO (%) 9,42 Alto a muito alto 12,17 Muito alto
Macro- nutrientes
P extraível (mg) 32,5 Muito baixo a baixo 59,6 Muito baixo a alto
K extraível (mg) 294 Alto a muito alto 256 Alto a muito alto Boro extraível (mg) 1,30g Baixo a alto 1,474 Médio a alto
Micronu-trientes
catiões (mg)
Cu 5,50 Médio 4,88 Médio
Zn 10,2
Muito baixo a muito alto
6,0 Baixo a muito alto
Fe 220,4 Muito alto 169,2 Muito alto
Mn 25,6 Baixo a médio 14,8 Baixo a médio
Com
ple
xo d
e tro
ca
(mg)
Ca troca 5,49 Baixo a médio 6,07 Baixo a médio
Mg troca 5,30 Alto a muito alto 6,49 Alto a muito alto
K troca 0,75 Médio a muito alto 0,59 Médio a alto
Na troca 0,47 Médio a alto 0,45 Médio a alto
Al troca 0,00 Não limitante 0,00 Não limitante
CTC potencial 7,0 22,55 Médio a alto 22,90 Baixo a alto
Grau saturação em bases 100,00 Muito alto 100,00 Muito alto
Grau saturação em alumínio
0,00 Não limitante 0,00 Não limitante
Condutividade elétrica 0,097 Nula a muito reduzida
0,11 Muito reduzida
Azoto total 4,14 5,36
Relação C/N (g/kg) 13,1 13,1
Aná
lise
gra
nu
lo-
métr
ica
Teor de areia grossa (g/kg)
203 20% 192 19%
Teor de areia fina (g/kg) 203 20% 202 20%
Teor de limo (g/kg) 372 37% 366 37%
Teor de argila (g/kg) 222 22% 240 24%
Classe de textura Franco-limoso a franco-argilo-limoso
Franco-limoso a franco-argilo-limoso
Teor
de m
eta
is
Cobre (mg/kg) 54,0 Inferior ao limite geral 56,2 Inferior ao limite geral
Zinco (mg/kg) 75,0 Inferior ao limite geral 63,8 Inferior ao limite geral
Chumbo (mg/kg) 50,2 Inferior ao limite geral 45,8 Inferior ao limite geral
Cádmio (mg/kg) 0,1 Inferior ao limite geral 0,1 Inferior ao limite geral
Crómio (mg/kg) 317,5 Superior ao limite geral 301,8 Superior ao limite geral
Níquel (mg/kg) 332,9 Superior ao limite geral 291,0 Superior ao limite geral
Mercúrio (µg/kg) 353 Inferior ao limite geral 343 Inferior ao limite geral
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Da análise destes dados, verifica-se não existirem muitas variações entre as duas
camadas de solo relativamente à maior parte dos parâmetros considerados. Importa
destacar a existência, em ambas as camadas, de níveis dos metais crómio e níquel
superiores ao limite geral. Esta situação não tem origem em contaminações externas,
mas no processo de pedogénese da rocha-mãe subjacente.
As características edáficas do local, tendo em consideração os valores obtidos,
apresentam valores normais e adequados para o bom desenvolvimento da espécie
Quercus robur L.
3. Estado geral da árvore antes da queda
3.1. Caracterização do local de implantação da árvore
Na zona da encosta dos Jardins do Monte, sobranceira ao Largo da Fonte, o
terreno, devido ao seu declive acentuado, com declive médio de 27% (QUINTAL, 2007),
aquando da construção dos jardins, no final do século XIX, foi modelado, construindo-
se pequenos patamares em escavação e aterro suportados por muros de pedra seca
de basalto. A modelação, de carácter romântico, teve como objetivo a criação de uma
rede de pequenos caminhos que serpenteiam a encosta, revestidos com calçada
madeirense, de modo a vencer de forma mais suave o expressivo declive e criando
nos espaços entre estes os canteiros para ajardinamento. Na composição paisagista,
as zonas dos canteiros ficaram com grandes inclinações, tendo sido estes locais
plantados com espécies arbóreas, arbustivas e herbáceas.
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Quando foram realizadas estas grandes obras de construção do jardim já existiam
no local árvores, castanheiros e carvalhos, tendo alguns exemplares sido mantidos.
Nos canteiros do espaço existe uma vegetação exuberante, dominada no estrato
herbáceo e arbustivo por espécies como as coroas-de-henrique (Agapanthus
praecox), as hortênsias ou novelos (Hydrangea macrophylla) e na composição de
sebes o buxo (Buxus sempervirens). Observam-se, ainda, na envolvente da árvore
outras espécies, de que se destacam os fetos-arbóreo-australiano (Cyathea cooperi) e
as heras (Hedera helix).
A árvore encontrava-se plantada a meio da encosta, num dos canteiros existentes,
confinado por um muro a jusante e um caminho pedonal a montante, num talude de
declive muito acentuado, de 80% (38º), sendo a diferença de cota da zona de contacto
do tronco com o solo (colo da árvore) da parte de cima do talude para a parte de baixo
de 1,11m.
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O carvalho tinha a face superior do tronco praticamente encostada ao limite do
canteiro, havendo apenas uma pequena sebe de buxo (Buxus sempervirens) entre
esta e o caminho pedonal existente, em calçada. Este caminho secundário, a
montante, com largura aproximada de 1,25m, entronca muito perto noutro carreiro e,
no local de interceção destes, encontra-se uma árvore de grandes dimensões da
espécie til (Ocotea foetens).
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O til está implantado a nascente, com o tronco a 3,05m em linha reta do local onde
se encontrava a face nascente do tronco da árvore avaliada, o que é extremamente
próximo, pois não podemos esquecer que ambas as espécies atingem, normalmente,
grandes dimensões. O carvalho (Quercus robur) pode atingir 18 a 22m de diâmetro de
copa e máximo de 45m de altura, normalmente 20 a 35m, com copa ampla; e o til
(Ocotea foetens) 20 a 30m diâmetro de copa e máximo de 40m de altura,
normalmente 20 a 30m, com copa densa, frondosa e piramidal a arredondada
(MOREIRA, 2008). Esta proximidade levou a uma forte competição entre as duas
árvores pela luz, na qual o til ganhou desde o início forte dominância, pois, apesar da
proximidade entre o tronco das árvores, como o terreno tem forte inclinação, o til está
plantado a uma cota superior, cerca de 2,80m. Outro aspeto que favoreceu o
crescimento do til foi a exposição solar a nascente, que fez com que captasse maior
radiação solar ao mesmo tempo que ensombrava o carvalho. A folha permanente do til
deu-lhe também uma forte vantagem competitiva, pois, enquanto o carvalho
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mobilizava anualmente as suas reservas para o crescimento da nova folhagem a cada
ciclo vegetativo, o til iniciava mais rapidamente o processo fotossintético. Outro aspeto
fundamental a referir é que o til é uma espécie autóctone da Ilha da Madeira, logo,
perfeitamente adaptada às condições ambientais, enquanto o carvalho é uma espécie
introduzida, adaptada a condições ambientais muito distintas. Estes fatores fizeram
com que o carvalho, uma espécie fotófila, crescesse em permanente competição,
desde o início, para poente, na procura da luz, tentando desviar-se o mais possível do
til, tendo crescido para o espaço livre existente e desenvolvendo toda a sua estrutura
na direção do Largo da Fonte, onde já se encontravam plantados, a uma cota muito
inferior, cerca de 13m abaixo, os plátanos existentes.
3.2. Caracterização dendrológica
A árvore avaliada pertence à família das Fagaceae, à espécie Quercus robur,
vulgarmente conhecida em Portugal por carvalho, carvalho-alvarinho, carvalho-
comum, carvalho-roble, carvalheira, roble-alvarinho, alvarinho, alvarinho ou roble. É a
espécie de carvalho mais abundante em toda a Europa e distribui-se desde o centro,
oeste e norte da Europa até ao Cáucaso, Balcãs e Urais. É autóctone em Portugal
continental, tendo sido, no passado, a árvore dominante nas florestas portuguesas do
Minho, Douro Litoral e Beiras. Na Ilha da Madeira, é uma espécie introduzida. É uma
árvore caducifólia que, no seu habitat natural, pode atingir os 45m de altura, com uma
copa ampla, globosa e não muito densa.
3.3. Caracterização dendrocronológica
Com o objetivo de determinar o estado fisiológico do carvalho antes da sua queda,
foi realizado um estudo dendrocronológico do exemplar. Encetou-se este estudo com
a recolha de amostras de lenho com a Verruma de Pressler, tendo-se recolhido 2
verrumadas (cilindros de madeira) em locais distintos, uma na lateral do tronco, do
lado norte, a 2m da base, e outra numa zona intermédia.
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Pontos de recolha das amostras de lenho do tronco a 2m da base e na zona intermédia
3.3.1. Análise do crescimento anelar
O estudo dendrocronológico foi realizado em colaboração com a empresa
Rinntech®, especializada na conceção de ferramentas e software específicos para
avaliações dendrocronológicas.
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Fotografia dos rolos de madeira obtidos com a verruma
Acima, o rolo do ponto intermédio do tronco e abaixo do ponto próximo da base
Fotografia da identificação dos anéis de crescimento no ponto intermédio com recurso à lupa
binocular e marcados com recurso o software Lignovision®
Fotografia da identificação dos anéis de crescimento no ponto próximo da base com recurso à
lupa binocular e marcados com recurso o software Lignovision®
Incremento do crescimento (1/100mm)
( ____ ponto intermédio, ____ média, ____ ponto próximo da base)
O crescimento médio é de cerca de aproximadamente 1mm para os anéis mais
exteriores e entre 2 e 3mm para a zona mais interior. Os crescimentos médios obtidos
são muito baixos. Os valores próximos de 1mm implicam uma vitalidade muito baixa.
No seguinte gráfico, foi gerada uma linha de marcação entre valores superiores e
inferiores a um crescimento de 1,5mm, com o intuito apenas de melhor percecionar a
dinâmica de crescimento da árvore.
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Incremento de crescimento radial anual (1/100mm)
O estudo da área associada aos incrementos anuais, isto é, da área que se fabrica
anualmente em função da secção anterior, permite ajustar o comportamento da
vitalidade.
Área do incremento de crescimento radial anual (1/100mm)
O estudo do incremento anual da área mostra uma ligeira recuperação a partir do
ano de 1997 e um pouco mais evidente nos últimos 5 anos.
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3.3.2. Proposta de idade para a árvore
Tendo por base os dados obtidos na leitura dos anéis de crescimento do carvalho,
é possível colocar diversas hipóteses em relação à idade da árvore. Considerando as
médias obtidas anteriormente e que as árvores jovens apresentam crescimentos mais
elevados em grossura dos anéis do que as árvores menos jovens, podem-se realizar
diferentes aproximações da idade.
Diâmetro a 1,3m da base: 93cm
Diâmetro sem casca: 91cm
Raio sem casca: 45,5cm
3.3.2.1. Idade possível de acordo com o crescimento médio
Crescimento médio
estimado (mm)
Idade correspondente
(anos)
2,5 182
3,0 150
3,5 130
Relativamente ao carvalho em análise, consideramos que os valores médios de
crescimento mais ajustados às suas características são de 3mm, assim, para estes
valores, a árvore teria uma idade aproximada de 150 anos.
3.3.2.2. Idade possível de acordo com a contagem dos anéis de
crescimento
A datação da idade da árvore recorrendo à contagem dos anéis de crescimento foi
efetuada em colaboração com o Prof. Luís Lousada do Laboratório de Estrutura e
Propriedades da Madeira da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, de Vila
Real.
Iniciou-se o estudo pela recolha da secção da árvore na zona do colo em contacto
com a parte superior do solo, a qual foi devidamente acondicionada e enviada para o
laboratório, onde se procedeu à preparação da amostra, serrando um segmento da
secção desde o ritidoma à medula do carvalho. Para melhor observação da superfície
da madeira, procedeu-se ao afagamento da peça numa alinhadeira multilâmina e, por
fim, esta foi polida numa lixadeira de rolo. A peça foi observada à lupa, tendo os anéis
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sido contados individualmente e marcados em quinquénios. Foi realizada uma leitura
da secção completa da peça da árvore, tendo sido obtida um valor de idade de 147
anos.
Determinação da idade do carvalho por contagem dos anéis de crescimento
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O valor apurado para a idade é de 147 anos. Considera-se esta medição da idade
da árvore mais fiável, uma vez que é feita a contagem integral dos anéis de
crescimento da secção.
3.4. Caracterização dendrométrica
A recolha dos parâmetros dendrométricos do carvalho foi dificultada por diversas
razões, em primeiro lugar, pela orografia do terreno em que a árvore ficou assente
após a queda e, depois, pela forte fragmentação em que ficou a copa com o embate
nas árvores a poente, o embate no solo e os cortes efetuados para socorro das
vítimas. Alguns parâmetros foram recolhidos por medição e leitura direta e outros
foram avaliados por métodos indiretos.
3.4.1. Perímetro e diâmetro na base
O perímetro na base foi medido com recurso a uma fita de diâmetros na zona do
colo na parte de cima do talude imediatamente em contacto com o solo. O perímetro
na base foi de 3,05m e o diâmetro na base medido foi de 0,97m.
0,97m
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3.4.2. PAP – Perímetro à altura do peito e DAP – Diâmetro à altura do
peito
O perímetro à altura do peito foi medido com recurso a uma fita de diâmetros a
1,30m da zona do colo na parte de cima do talude imediatamente em contacto com o
solo. O perímetro à altura do peito medido foi de 2,92m e o diâmetro à altura do peito
medido foi de 0,93m.
0,92m
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3.4.3. Altura
A altura da árvore foi obtida de forma aproximada após os trabalhos de
reconstrução da sua estrutura, tendo-se determinado um valor de 26,9m após a
reconstituição informática das partes do exemplar que se encontravam no terreno
aquando da peritagem.
Uma vez que no seguimento do acidente foram removidos do local restos da
árvore – folhagens e pequenos ramos, por se encontrarem com sangue ou outros
tecidos orgânicos, e outros pequenos ramos e folhas se dispersaram durante a queda,
considera-se que a altura dos ramos em falta que correspondiam ao topo da árvore
26,9m
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equivaleriam a uma altura de, aproximadamente, 1m. Assim, a altura total estimada
para o exemplar é de 27,9m.
3.4.4. Massa da árvore
A massa do carvalho foi medida colocando numa balança todos os elementos da
árvore que ainda se encontravam no local. As peças foram previamente marcadas e
posteriormente a terem sido fotografadas e levantadas topograficamente foram
transportadas para as instalações da Câmara Municipal do Funchal, onde foram
medidas as respetivas massas. O total do valor de massa obtido através das
pesagens é de 14.021,95kg. No toco, junto ao sistema radicular, mantiveram-se
alguns elementos rochosos e alguma terra que estava fixada, que se estima terem
uma massa total aproximada de 200kg.
É de referir que, logo após as operações de socorro às vítimas no dia 15 de
agosto, foram removidos do local os restos da árvore, folhagens e pequenos ramos
que estavam com sangue, ou outros tecidos orgânicos. As ramagens e folhagens
diversas pesadas na balança perfizeram um total de 400,00kg, que consideramos
corresponderem a 80% do total, tendo 20% sido removidas no momento do socorro às
vítimas (100kg).
Também se destaca que as pesagens apenas foram realizadas nos dias 31 de
agosto e 1 de setembro, ou seja, cerca de 15 dias após a ocorrência, pelo que os
tecidos da árvore tinham já perdido parte da água, em especial os raminhos e
folhagens. Consideramos que os mesmos teriam perdido 50% do teor em água neste
período.
Assim, estima-se que o valor da massa total da árvore seja:
Massa da árvore
Massa das peças obtida na balança 14.021,95kg
14.121.95kg
Rochas e pedras - 200,00kg
Restos da árvore removidos no dia 15 (20% do total
das ramagens e folhagens) + 100,00kg
Perda de água por dessecação das ramagens e
folhagens (50% do total das ramagens e folhagens
pesadas)
+ 200,00kg
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4. Reconstrução da estrutura da árvore
As numerosas partes da árvore resultantes da queda e das operações de socorro
às vítimas começaram por ser separadas e dispostas no solo.
Depois, iniciou-se um trabalho demorado, minucioso e difícil de reconstituição do
exemplar no solo, encaixando as diferentes partes fragmentadas nos locais certos.
Este trabalho foi efetuado desde a zona basal (parte radicular solta/tronco), ao longo
dos grandes ramos estruturais da copa e até aos ramos mais pequenos. No que
respeita à parte das ramagens mais finas e folhagens soltas, constatou-se que estas
eram impossíveis de reconstituir. Depois, procedeu-se à marcação e desenho das
diferentes partes e, de seguida, cada uma das partes marcadas foi erguida do solo
com recurso a uma autogrua e fixada para execução do seu levantamento topográfico
tridimensional. Este foi efetuado para cada peça com recurso a um instrumento de
varrimento Laserscanner 3D, da marca Leica P40, o qual foi reposicionado diversas
vezes em torno de cada segmento para a sua integral cobertura, tendo os
levantamentos especializados de topografia sido efetuados pela empresa
especializada de topografia Geoide – Geosystems, S.A..
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As peças levantadas tridimensionalmente foram encaixadas em suporte
informático, reconstituindo a maior parte da estrutura real da árvore. Posteriormente,
foi efetuado o levantamento topográfico tridimensional à importante componente do
sistema radicular que ficou no solo. Por fim, a estrutura real da árvore obtida em
suporte informático foi agregada à parte do sistema radicular no solo levantada,
obtendo-se, assim, a reconstituição real da estrutura principal da árvore no local
original.
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Reconstrução da estrutura da árvore – vistas sul e poente
Reconstrução da estrutura da árvore – vistas sul e poente
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Reconstrução da estrutura da árvore e do local – perspetiva geral
5. Avaliação biomecânica da árvore
A avaliação da árvore foi realizada mediante a aplicação do sistema “Evaluación
Visual del Arbolado” (EVA), derivado do sistema VTA, o qual foi descrito por Claus
Mattheck nos princípios dos anos 90. O sistema baseia-se na avaliação das estruturas
visíveis da árvore para determinar o seu estado interno, tanto na sua vertente
fisiológica, como mecânica. Ao sistema desenvolvido por Mattheck adicionaram-se
informações de outros investigadores, como Ted Green (relações fungo-árvore),
Francis Schwarze (relações fungo-árvore), Francis Halle e Pierre Raimbault (estrutura
arbórea), e Wessoly (estática e aerodinâmica), para além da nossa própria
investigação, perceções e experiência.
Concretamente na avaliação visual deste exemplar, observam-se variáveis como:
Superfície e densidade foliar, altura e distribuição das massas foliares,
medidas e coloração;
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Estrutura dos ramos e rebentos, processos de crescimento ou
entrincheiramento;
Madeira de reação, excessos de peso ou exposição;
Defeitos em uniões, codominâncias;
Tipologia do ritidoma;
Geometria radicular;
Orientação, ventos, dominantes e fatores atenuantes;
Forças do vento sobre a copa
Outros.
A nossa equipa de trabalho realizou especificamente as seguintes análises:
Avaliação da geometria e tipologia da madeira que a árvore apresentava
antes de cair.
De modo a se proceder à avaliação do tronco, as raízes foram limpas
manualmente e com ar comprimido para determinar a sua geometria,
estado e dimensões, sem o alterar.
A avaliação do estado interno da madeira realizou-se com recurso ao
aparelho Resi PD500, vulgarmente designado como resistógrafo, um
aparelho que mede a densidade da madeira através de uma perfuração.
Para o cálculo das propriedades mecânicas da secção foram tiradas
medidas in sito e utilizou-se uma imagem 3D gerada mediante leitura por
laser da parte baixa do tronco (parte basal do tronco que quebrou) e da
parte ainda aderida ao solo (cepo).
As secções foram analisadas mediante o uso do software CROSS e
ARBOSTAPP da Rinntech®.
Realizou-se também:
Um estudo dendrocronológico do crescimento da árvore
Uma avaliação do espaço aéreo que ocupava a árvore
Uma avaliação dos restos da árvore
Uma avaliação das restantes árvores da zona, especialmente dos plátanos
(Platanus x acerifolia).
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Como limitações do estudo apontam-se as seguintes:
A avaliação prévia do estado da árvore realizou-se mediante os restos da
árvore, considerando que o tempo decorrido não tem que implicar alterações
nas características da madeira do carvalho.
Os valores da madeira (módulo de elasticidade e limite de compressão)
foram obtidos de amostras da própria árvore, estando também acompanhados
dos resultados dos resistogramas que fazem presumir uma avaliação indireta
da densidade. Estes valores podem variar em função do local onde são
realizadas as a ostras e medições.
As dimensões da copa foram estimadas mediante um estudo da zona e
também através de um estudo com recurso a laser do espaço vazio entre as
copas das árvores e através de ferramentas de análise espacial (tecnologia
3D), e, portanto, está sujeito a certos erros.
Os cálculos de resistência da madeira residual da árvore realizaram-se
através de vários modelos de cálculo, que geraram valores distintos do
coeficiente de segurança.
Método SIA (Static Integrated Analysis) que estabelece a capacidade de
carga com base na tipologia do material, a sua geometria e a carga
aplicada, e em função dos resultados da densidade da madeira obtidos
com o resistógrafo
Proposta de Claus Mattheck: estabelece como valor mínimo aceitável
valores de parede residual de 33% do radio (1/3)
Proposta de Frank Rinn: descreve uma capacidade de carga baseada
nos postulados de carga de Claus Mattheck modificados pelo crescimento
na fase madura da árvore.
Proposta de Peter Sterken: estabelece uma correção do método SIA
para valores baixos de madeira residual e diâmetros grandes.
5.1. Estudo aéreo do histórico da posição e dimensão da copa
O estudo da copa é baseado nas imagens de Google Earth e o polígono foi
gerado através da copa observável na fotografia aérea de 21/11/2014
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Fotografia de 15/2/2003
Copa não observável
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Fotografia de 25/2/2004
Copa não observável
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Fotografia de 31/12/2004
Copa não observável
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Fotografia de 21/1/2008
Copa pouco observável
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Fotografia de 30/9/2010
Copa observável
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Fotografia de 6/10/2011
Copa observável
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Fotografia de 21/11/2014
Copa observável
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Fotografia de 12/8/2016
Copa observável
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Fotografia de 13/8/2016
Copa observável
A fotografia mais relevante é datada de 2010 (30 de setembro), onde se pode
observar a copa do carvalho e a do til no seu lado Este.
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A superfície gerada pelo motor Google desenhou um polígono sobre a copa da
árvore com 113,5m2.
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Trata-se de uma copa compactada lateralmente pela presença das outras árvores
situadas em seu redor (lados N, O e S plátanos e lado E til).
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5.1.1. Conclusões do estudo aéreo segundo as fotografias do Google
A copa do carvalho estava comprimida lateralmente, a E pelo til (Ocotea) e a N, O
e S pelo bosquete de plátanos.
A projeção da copa, segundo estas fotografias e o motor de cálculo de superfícies
do próprio Google, tem uma superfície de 113 metros.
Não se dispõe de imagens laterais do bosque, portanto, não se pode conhecer se
a árvore tinha uma altura superior à altura das árvores perimetrais.
Através desta análise histórica das fotografias do Google pode-se afirmar que
num passado recente não se registou nenhum incremento da inclinação que
originasse separação entre as copas do carvalho e das árvores próximas.
Bosque de Platanus x acerifolia
Copa do til
(Ocotea
foetens)
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Este tipo de análise realiza-se após a queda de árvores para determinar se a
árvore apresenta uma inclinação gradual. Este tipo de inclinações graduais são
avaliáveis visualmente e, portanto, podem ser objeto de medidas corretivas.
Exemplo de avaliação de um Pinus pinea através de fotografias do Google para
determinar se existe inclinação histórica.
5.2. Análise da copa da árvore
A estrutura da copa era, basicamente, composta por uma bifurcação com os
ramos inseridos aproximadamente a 11,5m no tronco: um, com 56cm de diâmetro,
sem lesões registadas e outro, com 64cm de diâmetro, que se subdividia a 1,5m em
dois outros ramos (um com 40 cm de diâmetro e outro com 52cm).
Num destes ramos foi identificada uma lesão com podridão, que teve origem na
existência de um toco, provavelmente deixado por um ramo que morreu de forma
natural (desramação natural da árvore, processo em que a mesma vai libertando os
ramos que ficam ensombrados), mas que foi cortado à poda de forma incorreta.
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Toco de ramo seco que foi cortado de forma incorreta
Pormenor do corte em que é possível constatar que foi executado por mão humana
A figura seguinte, realizada sobre o modelo do carvalho reconstruído, ilustra o
ponto onde se encontrava o toco de ramo seco.
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A estrutura de ramos e raminhos observada no carvalho é uma estrutura normal,
não apresentando uma densidade reduzida, como consequência, por exemplo, de um
processo de dieback. Os raminhos observados apresentavam uma densidade foliar
normal, com folhas de aspeto viçoso
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Raminho com boa densidade foliar Página superior das folhas com fumagina
Algumas das folhas observadas exibiam sinais de fumagina.
5.2.1. Estudo da lesão num ramo estrutural da copa
Considera-se esta zona de estudo é a menos pertinente de acordo com ta
avaliação, porque julgamos que a rotura teve origem na base e a rotura nesta zona,
1,5m acima da cruz da árvore, onde se dividia em 2 eixos grandes, se deu com o
impacto no solo. Seria apenas pertinente no sentido de:
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A capacidade mecânica desta zona (de difícil avaliação) serviu de referência a
respeito da capacidade de carga da secção da base.
A rotura nesta zona, próxima da cruz, associada à queda e que não ocorreu
em primeiro lugar, poderia implicar que se a força que gerou a rotura foi uma
carga na copa, este era o ponto em que deveriam ter recebido esse
incremento de carga e deveria ter quebrado em primeiro lugar, já que estava
em piores condições mecânicas. Portanto, pode-se diferir deste ponto que o
incremento de força poderia não ter tido origem na copa.
Análises da secção
De seguida, apresenta-se uma fotografia da zona onde o ramo se bifurcava em
dois eixos principais.
As fotografias seguintes correspondem à base dos eixos.
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Dos dois eixos que saíam da zona da cruz, existia:
1 eixo mais baixo sem defeito (1) situado a E.
1 eixo mais alto (2) que se bifurcava em dois ramos com podridão na base que
saíam do mesmo ponto situados ao centro e a O.
A zona da bifurcação que suportava os dois eixos (centro e O) tinha uma parede
residual baixa. Esta podridão é causada por Laetiporus sulfureus, um fungo que
habitualmente afeta o cerne desta espécie e pode causar roturas em elementos
estruturais em árvores com baixo crescimento. As imagens abaixo mostram a secção
do tronco por baixo da cruz, onde se pode avaliar a podridão interna da madeira.
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As imagens seguintes correspondem à zona da cruz.
1.- Base – eixos central e O
2.- Base – eixo E
Local das inspeções com o resistógrafo (perfurações número 8-11)
2 1
1 1 2
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Inspeção com resistógrafo 8: base do eixo central acima da rotura
Nesta zona, o tronco apresenta uma podridão central com uma parede residual
entre 22 e 6-8cm.
Inspeção com resistógrafo 9: zona da cruz, eixos Central e O
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Inspeção com resistógrafo 10: zona da cruz, eixos Central e O
Resistograma
Esta é uma zona de rotura gerada pelo impacto do ramo no solo, com uma parede
residual de 23cm e um diâmetro aproximado de 55-60cm. A zona de madeira em bom
estado mecânico apresenta inícios de podridão em dois pontos.
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Inspeção com resistógrafo 11: zona da cruz, eixos Central e O
Resistograma
Esta é uma zona de rotura gerada pelo impacto do ramo no solo, com uma parede
residual de 6cm e um diâmetro aproximado de 50-55cm na zona sem ramificação e de
70 no ponto de onde saem os ramos.
Cálculo da capacidade de carga da secção menor encontrada nesta zona
Estimando um diâmetro de 70cm e uma parede residual de 8cm (média obtida de
valores que oscilam entre 2cm e 22cm), obtém-se que a capacidade de carga
remanescente na secção da cruz seria de 48%.
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Neste ramo o cálculo da capacidade de carga remanescente na secção menor,
estimando um diâmetro de 70cm e uma parede residual de 8cm, seria de 48%. Este
valor não é relevante, pois só quando o valor da perda de secção é inferior a 30% é
que as árvores mostram sintomas de reação e correm o risco de rotura.
5.3. Análise biomecânica do tronco
O tronco da árvore apresenta uma ligeira inclinação na zona da base e depois
desenvolve-se praticamente direito, medindo 11,5m desde a zona do colo
imediatamente em contacto com a parte superior do solo até ao local onde se bifurca
em dois ramos principais.
Foi efetuada uma observação visual cuidada de todo o tronco e o mesmo
encontra-se totalmente são em toda a sua extensão, apresentando apenas, na parte
superior, uma lesão relacionada com o corte de um ramo antigo, de 15cm de diâmetro.
A provável causa desta lesão pode ser um processo de desramação natural da árvore
em que o ramo, devido ao forte ensombramento, terá secado e posteriormente
removido através de uma operação de poda, uma vez que apresenta um corte liso
corretamente executado.
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Ferida no tronco de corte de um ramo
Ao nível da cruz, ou seja, da zona de inserção dos grandes ramos, observa-se
uma grande população de plantas epífitas – plantas em relação comensal, uma
relação que acontece entre duas espécies diferentes que vivem associadas e da qual
resulta o benefício de uma espécie sem afetar a outra ou a favorecer. Estas plantas
epífitas, não têm qualquer contacto com o solo e usam o carvalho apenas como apoio,
sem dele retirarem nutrientes. A espécie da população epífita existente é um feto,
provavelmente do género Polypodium.
Zona da bifurcação do tronco com plantas epifitas – fetos (Polypodium sp. (?))
Pormenor do tronco com rizomas dos fetos (Polypodium sp. (?))
No tronco, encontraram-se, também, marcas recentes no ritidoma, relacionadas
com o roçamento num cabo de aço durante o momento da queda. Este cabo de aço
estava fixo ao til (Ocotea fotens), a nascente, e constituía, a par de outro cabo de aço
ainda existente, o sistema de ancoragem de um plátano (Platanus hispanica) do Largo
da Fonte.
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5.3.1. O cabo de aço e o tronco do carvalho
Relativamente às questões que se colocaram sobre a presença de cabos de aço
eventualmente fixos ao carvalho, temos a esclarecer que em momento algum os
cabos existentes no espaço estiveram presos ao exemplar. Efetivamente, o plátano n.º
7 existente no Largo da Fonte estava cablado com dois cabos de aço colocados no
passado para responder a um defeito (fissura) no tronco.
A estrutura de amarração era constituída por dois cabos de aço de 12mm fixos a
13,10m no tronco do plátano n.º 7. O cabo n.º 1, com 47m, estava fixo a um outro
plátano situado a norte na encosta e que ainda se encontra intacto no local e o cabo
n.º 2, com 34m, que fixava o plátano n.º 7 ao til n.º 1, a nascente próximo do carvalho.
Este último cabo foi atingido pelo carvalho durante a queda, tendo roçado ao longo do
ritidoma do tronco até que não resistiu e quando quebrou, a 11,51m do plátano n.º 7,
devido ao efeito elástico, emaranhou-se no tronco e vegetação.
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Plátano n.º 7 cablado no Largo da Fonte Plátano a norte onde está fixo o cabo n.º 1
Ritidoma do carvalho com marcas de
rossamento do cabo n.º 2 Pormenor do local onde partiu o cabo n.º 2
Ritidoma do til ferido onde estava fixo o cabo
n.º 2
Pneus que protegiam o ritidoma do til do
contacto com o cabo n.º 2
5.3.1.1. Hipótese de derrube da árvore pelo ramo de um plátano
Relativamente à hipótese que se colocou de um ramo do plátano nº7 ter quebrado
e levado ao derrube do carvalho, concluímos que esta hipótese não se verificou, pois o
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carvalho desenvolvia-se a uma cota de 600,8m, superior à cota a que se encontrava o
ramo do plátano, 593,10m.
5.3.2. Avaliação instrumental do tronco do carvalho
Na inspeção visual ao tronco da árvore não foi encontrado qualquer defeito que
justificasse avaliação posterior, no entanto, entendeu-se proceder à recolha de dados
relativos à resistência da madeira. Com recurso ao resistógrafo, foram efetuadas
leituras em cada secção da árvore a caracterizar. Devido ao grande diâmetro do
tronco, em cada secção foram efetuadas quatro leituras, uma em cada face do tronco.
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Resistogramas do tronco
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Corte 2
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Corte 4
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5.4. Análise da base da árvore
O estudo de tronco e restos de elementos vegetais íntegros conservados, permite
realizar uma avaliação sobre as evidências visuais e os defeitos mecânicos que a
árvore apresentava antes de cair.
Tal como se indicou anteriormente, a avaliação específica para a deteção do risco
das árvores realiza-se através da avaliação visual que o método VTA descreve. Tal
método permite associar os defeitos internos que a árvore tem com as características
da madeira periférica (exterior) dos ramos e do tronco, e, quando visíveis, do colo e
raízes.
O método VTA tem validade sempre que a árvore tenha vitalidade e possa gerar
as estruturas de compensação do defeito. Trata-se, pois, de um método indireto que
avalia o tipo de reação (no crescimento da madeira) em função da perda da
capacidade mecânica que um ponto ou zona pode ter. A tipologia da reação permite
reconhecer o tipo de defeito que a árvore esconde.
Este método descreve que:
A árvore compensa as perdas mecânicas mediante o crescimento da madeira
de reação. A tipologia, dimensão, posição da madeira de reação permite
conhecer que tipo de defeito apresenta a árvore.
Quando não há madeira de reação, é porque a árvore não tem saúde
(energia) suficiente para a produzir, ou porque não há défice mecânico real,
isto é, a madeira sã ou ativa mecanicamente é suficiente para as cargas que
suporta.
Foi verificado, através do estudo dendrocronológico, que, embora não tendo uma
vitalidade muito alta, a árvore apresentava um crescimento da área anelar dos últimos
anos, e, portanto, pode-se considerar um incremento da vitalidade.
Por sua vez, o estudo da superfície foliar (projeção de copa) gerada pelo motor do
Google permitiu avaliar a superfície foliar em cerca de 113,5m2, uma superfície que
entendemos ser pequena, mas suficiente para garantir uma atividade fotossintética
suficiente que sustente a vitalidade.
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5.4.1. Geometria da base
A geometria da parte basal da
árvore não podia ser totalmente
avaliada visualmente sem retirar
parte da terra que a cobria. O
sistema radicular estava totalmente
escondido à vista, tanto na parte da
compressão, como na parte da
tensão.
A parte visível da base não
apresentava nenhuma anomalia (foto
à direita): a linha que o enraizamento
do tronco basal mostra permite
afirmar que não existia na zona
visível nenhum sintoma que fizesse
pensar que a árvore apresentava
defeitos mecânicos.
A limpeza de parte da zona enterrada também não ofereceu mais dados sobre a
mecânica da árvore, uma vez que esta:
Apresentava cordões radiculares de compressão evidentes e em bom estado
Estes não apresentavam deformações por excesso de peso, podridões
internas, etc.,
Não apresentavam alterações na geometria que pudessem levar a considerar
defeitos mecânicos.
A análise do tronco na zona de compressão mostra um sistema radicular sem
alterações e com alguma normalidade: número elevado de contrafortes (entre 5 e 7)
claros e definidos, com crescimento de compensação normal na união com o tronco.
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O único elemento peculiar do exemplar caído é que mesmo apresentando na zona
correspondente os contrafortes normais que qualquer árvore apresentaria, estes
tinham dimensões menores do que as que seriam de esperar pelas características da
árvore.
5.4.1.1. Avaliação das causas da presença de contrafortes de
dimensões inferiores às esperadas
Este parece um aspeto fundamental na descrição das causas da queda do
exemplar.
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Os contrafortes são claramente menores do que os encontrados na maior parte
das árvores nestas circunstâncias, evidenciados na foto anterior: os motivos de esta
menor dimensão estariam seguramente associados a:
Incapacidade das raízes de se desenvolverem de modo normal no talude
uma vez que na frente da zona de compressão se encontrava um muro
de aproximadamente 2 metros de altura que impedia as raízes de se
desenvolverem na direção adequada para minimizar o momento da força
através dos esforços de compressão.
Uma boa conexão na zona de tensão que facilitou uma ótima conexão
mecânica que equilibrou os defeitos de compensação da anomalia em
compressão.
A relativa riqueza climática da zona que geralmente origina sistemas
radiculares com uma dimensão algo menor que em zonas de maior stress
ambiental (hídrico).
Quaisquer que sejam as razões exatas e em percentagem podem ter colaborado
nesta anomalia nas dimensiones, não são tão importantes como o facto de que estas
raízes tinham uma dimensão mais reduzida do que o habitual:
As fotos abaixo mostram essa menor dimensão radicular (facilmente
compreensível se comparado com a foto de cima de uma árvore em circunstâncias
similares).
A análise da geometria radicular de compressão e tensão na página seguinte
mostra que as raízes tinham em desenvolvimento lateral – perpendicular à inclinação –
superior ao das raízes na direção da inclinação. Contudo, deveria ter sucedido
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exatamente o oposto, uma vez que o crescimento de reação gera mais madeira nas
direções onde há mais stresse mecânico.
Este é um facto amplamente aferido e descrito: à direita – Crescimento diferencial
num sistema radicular jovem associado a stresse mecânico gerado por ação do
vento1. Esquerda – posição relativa das raízes em função do vento e do centro de
cargas2.
5.4.2. Geometria global do sistema radicular da árvore
O estudo da geometria radicular foi obtido através do estudo do tronco limpo.
1 RESPONSES OF YOUNG TREES TO WIND: EFFECTS ON ROOT ARCHITECTURE AND
ANCHORAGE STRENGTH, Alexia Stokes, Department of Biology. University of York 2 Adaptive growth of tree root systems in response to wind action and
site conditions BRUCE C. NICOLL and DUNCAN RAY Forestry Commission Research Division, Northern
Research Station, Roslin, Midlothian EH25 9SY, Scotl and, U.K.
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A rotura pode ter modificado em parte a geometria radicular, no entanto, uma
análise da capacidade de carga da secção obtida mostra uma capacidade de carga de
apenas 20% na direção da queda face aos 100% que se obteria no sentido
perpendicular à mesma (gráfico da página seguinte).
Imagem do cálculo da capacidade de carga da secção3 (olho: imagem girada).
Se a análise se realizar considerando apenas as raízes e não toda la zona
arrancada, a diferença é menos dramática, mas continua sendo muito significativa
(34%):
3 Obtido com aplicação do CROSS® de Rinntech.
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Este tipo de anomalias não faz supor um defeito por só si, pois surgem em
momentos de incremento do stresse mecânico, por exemplo, golpes de vento,
desadaptação, etc., embora esta menor dimensão na queda seja uma circunstância
da mesma, não do motivo da causa que motivou o fracasso estrutural. As causas
apresentadas para explicar a menor dimensão das raízes de compressão são as duas
primeiras: incapacidade do terreno e “eficácia” das raízes de tensão.
Esta eficácia das raízes de tensão não foi suficiente, uma vez que estimamos que
a rotura primária ocorreu nas raízes de tensão por uma sobrecarga de peso.
A zona delimitada a amarelo mostra as raízes de tensão que quebraram e
causaram a queda do exemplar, tanto na parte arrancada (tronco), à esquerda, como
na parte que ficou no solo (direita).
5.4.3. Estado mecânico da madeira da base
Do ponto de vista externo, a árvore não apresentava nenhum sintoma de
podridão, o que é lógico, uma vez que a perda de secção de um cilindro desde o
centro não é relevante antes de os valores serem inferiores a 33% do raio. Portanto,
as árboles não costumam mostrar nenhum tipo de reação a defeitos se não atingirem
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esse valor (gráfico à direita – resistência remanescente de uma secção descrita por
Mattheck nos anos 90).
Esta é uma característica de todos os perfis ocos e não apenas da estrutura dos
troncos.
Para o nosso caso de estudo, com um diâmetro a 1,30m de 91cm (debaixo da
casca) uma podridão associada podia iniciar (ver ponto seguinte avaliação dos perfis
resistográficos) a partir dos 35cm, quando muito. A perda de força da secção estaria
próxima de 0%.
Os dados obtidos na zona basal da qualidade da madeira em zonas mais baixas
mostram uma podridão mínima que origina capacidades mecânicas idênticas à da
secção inteira.
5.4.3.1. Estado mecânico da madeira avaliada com resistógrafo
Realizou-se uma avaliação do estado interno da madeira. Esta análise realizou-se
em 4 níveis distintos.
a) Nível 3: a 1,3m de altura (coincidindo com as raízes de tensão)
b) Nível 2: na zona de início das raízes de compressão
c) Nível 1: nas mesmas raízes de compressão.
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
0102030405060708090100%
re
sist
êe
nci
a re
man
esc
en
te
% parede residual (sobre o raio)
Mat
thec
k
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a) Nível 3: a 1,3m de altura (coincidindo com as raízes de tensão)
Local onde se realizou a avaliação com o resistógrafo:
Posição das inspeções (direção perpendicular à superfície).
1: raiz partida
2: cordão radicular ligado à raiz partida
3: entre cordões radiculares na zona enterrada
4: lateral O no cordão radicular, ponto ligeiramente enterrado.
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Resistogramas:
Perfuração1
Perfuração 2
Perfuração 3
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Perfuração 4
Avaliação
O estudo da qualidade relativa da madeira mostra que a árvore tinha uma secção
(a partir da qual se produz a rotura das raízes de tensão) e que até à zona de rotura
apresentava uma secção com capacidade mecânica suficiente.
A parede residual menor obtida nesta zona é de 35cm, sobre um raio de 45,5
(diâmetro de 91), portanto, uma parede residual de 76%. O que NÃO supõe
nenhuma perda da capacidade de carga.
100%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
05
10
15
20
25
30
35
40
45
50
55
60
65
70
75
80
85
90
95
10
0
% r
esi
stê
nci
a re
man
esn
te
% parede residual (sobre o raio)
Mat
the
ck
Perda moderada / elevada de capacidade
de carga
Perda baixa da capacidade
de carga
Sem perda de capacidade
de carga
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b) Nível 2: na zona de início das raízes de compressão
13
12
14
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Resistogramas (realizados perpendicularmente à superfície)
Perfuração 12
Perfuração 13
Perfuração 14
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Perfuração 15
Avaliação
Cerca de 40-50cm por cima de rotura (nível 1 raízes), a secção avaliada não
mostra nenhuma perda de secção.
O diâmetro neste ponto é algo maior (97,5), mas a parede residual menor obtida é
de 44cm. Portanto, a este nível NÃO haveria nenhuma perda da capacidade de
carga.
c) nível 1: nas mesmas raízes de compressão.
Nível 1.1 (obtido da parte caída da árvore).
Nível 1.2 (obtido da parte do tronco que caiu no terreno).
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Nível 1.1. Perfurações 15-18
Perfuração 16 – Raiz 1 (centro)
Diâmetro aproximado da raiz (16-20cm)
A avaliação visual não mostra podridão associada a esta raiz.
19
16
17 18
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Resistograma:
Avaliação
A raiz apresenta uma fissura devida à queda, a parte interior a partir dos 20cm
pode apresentar cavidade ou podridão (seta vermelha).
Perfuração 19 – Raiz 4 (lateral E)
Diâmetro aproximado da raiz 25cm
A avaliação visual não mostra podridão associada à raiz.
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Resistograma
Avaliação
100% da raiz está em bom estado.
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Nível 1.2 (obtido da parte do tronco que caiu no terreno).
A análise com o resistográfo desta zona não constitui muita informação devido a
estar muito fissurada pela rotura.
Na parte que permaneceu no terreno não se observa podridão nas raízes. A única
zona deteriorada é a zona central, coincidindo com o tronco arrancado.
Imagem do tronco que permaneceu no terreno, com a marcação aproximada da
zona onde a madeira está deteriorada.
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Conclusões do estudo da qualidade da madeira interna:
Do estudo resistográfico e visual das distintas zonas avaliadas extrai-se que:
O tronco apresentava uma pequena zona de podridão interior de forma cónica.
Esta podridão não supunha um “defeito” sino que forma parte da avaliação
natural e normal de um sistema radicular desta espécie e, em geral, da maioria
das folhosas (ver fotografia exemplo à direita).
A perda de força que estes defeitos fazem supor são suplantados pela forma
extraordinariamente efetiva com que a criação de tecidos na zona periférica do
tronco que uma eficiência mecânica muito mais alta por razões de geometria e
momento.
O principal argumento para descartar que a podridão terá tido uma
participação significativa é a ausência na própria árvore de madeira de reação
surgida para compensar o defeito.
Através desta análise, gerou-se uma zona de rotura que poderia ter uma
geometria e uma qualidade da madeira:
Partindo desta secção irregular
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Base do tronco que partiu e trabalhava sob compressão, isto é, que a árvore
usava para se apoiar no terreno.
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Base do tronco que trabalhava em tração (tensão), ou seja, aquela parte do
sistema radicular que a árvore usava para se fixar (como um sistema de cabos) no
terreno.
Padrão de podridão / deterioração obtido para ambos os casos
Secção útil à compressão e zona deteriorada
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Estudo da perda da capacidade de carga à compressão da secção associada à
podridão.
A perda de força faz supor que 3% da capacidade total da secção sem afetar.
Secção útil à tração e compressão, (raízes quebradas) e zona deteriorada
Estudo da capacidade de carga das raízes quebradas da secção, tendo em
conta a perda de força associada à podridão.
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A perda de força máxima associada à secção tendo em conta a zona apodrecida /
deteriorada seria de cerca de 10%.
5.4.3.2. Conclusões do estudo da secção:
A secção tinha perdas de capacidade de carga muito reduzidas se se avaliasse a
secção completa mesmo no caso de lhe serem retiradas aquelas zonas que estavam
deterioradas.
Supõe-se que nem mesmo essas perdas poderiam ser reais, uma vez que a
árvore atua reactivamente, reforçando a secção na periferia, para um diâmetro de
100cm, um incremento periférico de 5cm de diâmetro equivaleria à perda de um
cilindro de 68cm.
Diâmetro
exterior
Parede
residual Raio
Diâmetro
interior
Resistência
à
deformação
da cavidade
Resistência
do sólido %
100 50 50 0 4.908.750 4.908.750 100%
Diâmetro comparado
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5.4.4. Notas sobre a análise biomecânica do sistema radicular
A análise ao sistema radicular da árvore foi efetuada com grande detalhe e versou
sobre uma multiplicidade de fatores, tendo incidido sobre as duas partes – a zona que
tombou juntamente com o tronco e a parte que se manteve encastrada no solo.
5.4.4.1. Parte do sistema radicular que tombou juntamente com o
tronco
Na parte radicular que tombou conjuntamente com o tronco identificam-se áreas
com características distintas e com um desempenho biomecânico diferenciado.
Na zona sul do sistema radicular, a tipologia de suporte biomecânico desenvolvida
pela árvore foi fortemente influenciada pelas características do solo que encontrou. O
local rochoso subjacente não foi favorável à penetração radicular e a árvore, ao
encontrar um bom apoio mecânico, simplesmente desenvolveu uma base aplanada
ampla com madeira de reação sobre o material rochoso basáltico. Observam-se
mesmo blocos rochosos embutidos na madeira de reação, na continuidade dos que
Diâmetro
exterior
Parede
residual Raio
Diâmetro
interior
Resistência
à
deformação
da cavidade
Resistência
do sólido %
105 18,5 52,5 68 4.917.058 5.966.616 82%
% comparativa entre secções 100% 122%
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ficaram no solo, que foram transportados conjuntamente com esta “sapata” de apoio.
Nesta base de apoio, a árvore apenas desenvolveu na periferia algumas raízes
laterais pequenas, com funções essencialmente de absorção.
Solo rochoso e sapata em madeira de reação que estava assente sobre a zona rochosa
Na parte central basal, identifica-se uma zona com podridão do cerne.
Na zona norte, encontra-se um conjunto significativo de raízes de dimensões
consideráveis num posicionamento vertical, que tinham continuidade no solo, mas que
se encontram todas desfibradas por arrancamento. Estas raízes que se encontram em
toda a zona periférica tinham uma função importante de fixação ao solo e estavam
sãs. O quadro sintomatológico que apresentam, com trincas (rachaduras), indicia que
as mesmas foram sujeitas a um esforço de tração contínuo que as levou à rotura por
fratura dúctil com desfibramento.
Na zona nascente, o sistema radicular resume-se a uma grande raiz de tensão que
funcionava como a grande “espia” fundamental no suporte desta folhosa. Por analogia,
com a anatomia humana podemos dizer que esta raiz de fixação era em termos de
resistência o “tendão de Aquiles” do carvalho.
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A raiz apresenta uma fratura frágil o que indicia um sobre esforço mecânico de
tensão que levou a uma rotura repentina. A rutura tem um aspeto de “fratura
cerâmica”, com uma deformação plástica muito pequena no material adjacente, e
ocorreu em dois planos paralelos a níveis distintos, clivando numa zona central da
raiz.
Na raiz de tensão, observa-se uma estrutura em madeira de reação devida à
fricção da mesma com a raiz do til que estava encostada.
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Raiz de tensão com madeira de reação observada no carvalho e pormenor da raiz do til que
está encostada à raiz de tensão do carvalho que quebrou
Na zona nascente, o sistema radicular era composto por um conjunto significativo
de raízes de compressão num posicionamento vertical, que tinham continuidade no
solo, mas que se encontram todas desfibradas por arrancamento. Estas raízes que se
encontram em toda a zona periférica tinham uma função importante de fixação ao solo
e estavam sãs. O quadro sintomatológico que apresentam, com trincas (rachaduras),
indicia que as mesmas foram sujeitas a um esforço de tração contínuo, que as levou à
rotura por fratura dúctil com desfibramento. A dimensão observável destas raízes
permite identificar uma deficiência geométrica nas mesmas.
5.4.4.2. Parte do sistema radicular que se manteve encastrada no
solo
6. Outros aspetos estudados
6.1. Registo dos parâmetros climatológicos de maior a julho de 2017
Com a finalidade de verificar se alguma ocorrência recente em algum parâmetro
meteorológico pode ter sido importante na queda da árvore, analisaram-se os valores
registados nas estações do Funchal, Chão de Areeiro e Pico Alto.
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Os valores disponibilizados referem-se apenas à velocidade média e velocidade
máxima do vento, com os quais se elaboraram os gráficos que se seguem.
6.1.1. Velocidade média do vento
0,0
2,0
4,0
6,0
8,0
10,0
12,0
14,0
16,0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31
Velocidade média do vento (km/h) - Funchal - Maio a Julho 2017
Maio Junho Julho Agosto
0,0
10,0
20,0
30,0
40,0
50,0
60,0
70,0
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Velocidade média do vento (km/h) - Chão do Areeiro - Maio a Julho 2017
Maio Junho Julho Agosto
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Após a análise dos gráficos conclui-se não existir nenhuma alteração significativa
da velocidade média do vento no período considerado, ou no dia 15 de agosto.
6.1.2. Velocidade máxima do vento no Funchal
0,0
10,0
20,0
30,0
40,0
50,0
60,0
70,0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31
Velocidade média do vento (km/h) - Pico Alto - Maio a Julho 2017
Maio Junho Julho Agosto
0
10
20
30
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Velocidade máxima do vento (km/h) - Funchal - Maio a Julho 2017
Maio Junho Julho Agosto
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Da análise dos gráficos não se verifica alterações significativas deste parâmetro no
período considerado.
0
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80
100
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31
Velocidade máxima do vento (km/h) - Chão do Areeio - Maio a Julho 2017
Maio Junho Julho Agosto
0
20
40
60
80
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120
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31
Velocidade máxima do vento (km/h) - Pico Alto - Maio a Julho 2017
Maio Junho Julho Agosto
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6.2. Registo dos parâmetros climatológicos no dia 15 de agosto
6.2.1. Temperatura instantânea
Da análise dos gráficos não se verifica alterações significativas deste parâmetro no
período considerado.
0,0
5,0
10,0
15,0
20,0
25,0
30,0
00
:10
:00
00
:50
:00
01
:30
:00
02
:10
:00
02
:50
:00
03
:30
:00
04
:10
:00
04
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:00
05
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:00
06
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06
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:00
07
:30
:00
08
:10
:00
08
:50
:00
09
:30
:00
10
:10
:00
10
:50
:00
11
:30
:00
12
:10
:00
12
:50
:00
13
:30
:00
14
:10
:00
14
:50
:00
15
:30
:00
16
:10
:00
16
:50
:00
17
:30
:00
18
:10
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18
:50
:00
19
:30
:00
20
:10
:00
20
:50
:00
21
:30
:00
22
:10
:00
22
:50
:00
23
:30
:00
Temperatura instantânea (ºC) - 15.08.2017
Funchal Chão do Areeiro Pico Alto
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6.2.2. Humidade relativa do ar
Da análise dos gráficos não se verifica alterações significativas deste parâmetro no
período considerado.
6.2.3. Velocidade média do vento
Da análise dos gráficos não se verifica alterações significativas deste parâmetro no
período considerado.
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
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:10
:00
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:50
:00
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:10
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06
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:00
08
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12
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:00
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:00
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14
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16
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:00
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:00
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18
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:00
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20
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:30
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:10
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22
:50
:00
23
:30
:00
Humidade relativa do ar (%) - 15.08.2017
Funchal Chão do Areeiro Pico Alto
0,0
5,0
10,0
15,0
20,0
25,0
30,0
35,0
40,0
00
:10
:00
00
:50
:00
01
:30
:00
02
:10
:00
02
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03
:30
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04
:10
:00
04
:50
:00
05
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:00
06
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:00
06
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:00
07
:30
:00
08
:10
:00
08
:50
:00
09
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:00
10
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10
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11
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:00
12
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:00
12
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:00
13
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:00
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:00
14
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:00
15
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:00
16
:10
:00
16
:50
:00
17
:30
:00
18
:10
:00
18
:50
:00
19
:30
:00
20
:10
:00
20
:50
:00
21
:30
:00
22
:10
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6.2.4. Velocidade máxima do vento
Da análise dos gráficos não se verifica alterações significativas deste parâmetro no
período considerado.
6.3. Galerias de ratazanas
Observaram-se, nas imediações do local, ratazanas (Rattus norvegicus) de
dimensões consideráveis e também se identificaram no solo diversas galerias. Uma
vez que esta espécie constrói frequentemente tocas extensas, poderá significar que
existem espaços vazios no solo de dimensões consideráveis.
Tocas de ratazanas (Rattus norvegicus) Pormenor da entrada de uma toca de
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Velocidade máxima do vento (km/h) - 15.08.2017
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ratazana (Rattus norvegicus)
7. Conclusões
A queda da árvore deveu-se à conjugação de fatores de ordem diversa, uns
relacionados com aspetos de predisposição e condições de desenvolvimento do
espécime e outros que poderão ter origem externa e de mais complexa análise.
a) A árvore que caiu foi identificada como sendo um carvalho da espécie
Quercus robur L., espécie introduzida na Ilha da Madeira.
b) O carvalho estava localizado num talude muito inclinado (80%).
c) O carvalho cresceu em forte competição, especialmente com uma árvore
muito próxima, um til (Ocotea fotens), a 3,5m do lado nascente. Esta árvore
competiu ao nível aéreo e ao nível radicular com grande vantagem sobre o
carvalho por diversas razões: sendo autóctone, está muito melhor adaptada às
condições ambientais do meio; sendo de folha perene, consegue responder
muito mais depressa e com menor esforço fisiológico quando as condições do
meio são favoráveis ao desenvolvimento vegetativo; estando numa posição
mais elevada, 2,80m, e do lado nascente, consegue melhor exposição solar.
Estas condições fizeram com que o carvalho se desenvolvesse para o lado
poente.
d) A estrutura biomecânica aérea da árvore desenvolveu-se toda para o lado
poente, de forma assimétrica mas natural, devido às condições do meio que
teve para se desenvolver, principalmente devido ao fototropismo.
e) A copa da árvore tinha uma superfície de 113,5m2 e estava compactada
lateralmente pela proximidade de outras árvores, a norte, oeste e sul pelos
plátanos do Largo da Fonte e a nascente pelo til. No passado recente, não
ocorreu qualquer incremento da inclinação da copa do carvalho. A superfície
da copa é pequena, mas suficiente para garantir uma atividade fotossintética
que sustente a vitalidade.
f) A árvore apresentava um bom estado global. A sua copa encontrava-se em
bom estado sanitário geral, com uma estrutura de ramos e raminhos
normal, não apresentando uma densidade reduzida ou presença de ramos
ou raminhos secos. A densidade foliar era normal e, em geral, as folhas
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apresentavam um aspeto viçoso. Observaram-se algumas folhas com
fumagina.
g) O estudo dendrocronológico permitiu constatar que os crescimentos médios
dos anéis anuais do carvalho foram muito baixos de 1970 a 2017. É possível
que esta vitalidade reduzida seja devida à competição exercida pelas árvores
na envolvente do carvalho. Em termos do incremento anual de área de secção
associada a esses anéis, verifica-se que a árvore recuperou ligeiramente a
partir de 1997 e de forma mais clara nos últimos cinco anos, podendo-se falar
de um aumento da vitalidade. O valor apurado para a idade da árvore foi de
147 anos.
h) No que respeita à relação entre a altura da árvore (H =27,9m) e o diâmetro do
tronco (D=0,97m), esta é de H/D = 27,9m / 0,97m = 28,76. Esta relação
designa-se coeficiente de esbelteza e indica o potencial de rotura de uma
árvore considerando a sua altura e o seu diâmetro. Para valores de coeficiente
de esbelteza de H/D > 50, a taxa de rotura de árvores livres aumenta. No caso
de árvores em floresta, suportadas pelas árvores envolventes, mesmo quando
H/D = 70, estes exemplares podem ser considerados seguros. Já no caso de
árvores isoladas o coeficiente de esbelteza é normalmente de H/D = 30. No
caso do carvalho, como H/D = 28,76, uma vez que o exemplar se encontrava
protegido pelas árvores envolventes, podemos afirmar que se tratava de um
exemplar seguro.
i) No local onde se encontrava implantado o carvalho não foram identificadas
quaisquer alterações recentes ou condicionalismos de origem externa ao nível
do espaço (compactação, feridas no tronco ou ramos, valas, corte de raízes,
aplicação de herbicidas ou outras substâncias químicas, escavações, aterros,
alterações na hidrologia, fogos, outros) que tivessem provocado stresse
adicional ao exemplar, colocando em causa a sua vivência e/ou a mecânica da
árvore. As operações de manutenção do jardim foram as habituais, como a
limpeza da folhagem nos caminhos, poda de sebes, rega à mangueira,
mondas, entre outras.
j) O carvalho apresentava evidências da realização de operações de
manutenção através da execução de intervenções de poda de ramos no
tronco e ramos principais. Foram observados dois cortes de ramos antigos,
um deles num ramo da parte superior do tronco e o outro num dos ramos
principais da estrutura da árvore.
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k) No que concerne à fertilidade do solo, as condições encontradas são as
adequadas ao bom desenvolvimento da espécie.
l) A estrutura da copa era, basicamente, composta por uma bifurcação com os
ramos inseridos aproximadamente a 11,5m no tronco: um, com 56cm de
diâmetro, sem lesões registadas; e outro, com 64cm de diâmetro, que se
subdividia a 1,5m em dois outros ramos – um com 40cm de diâmetro e outro
com 52cm. Num destes ramos foi identificada uma lesão com podridão, que
teve origem na existência de um toco, provavelmente deixado por um ramo
que secou de forma natural – desramação natural da árvore (processo em que
a mesma vai libertando os ramos que ficam ensombrados). Este ramo foi
removido numa operação de manutenção de poda realizada de forma
incorreta.
m) A lesão mencionada no ponto anterior encontrava-se num ramo da copa
situado a cerca de 14m do solo. É de referir a presença de uma importante
quantidade de rizomas de uma população significativa de plantas epífitas
(fetos provavelmente do género Polypodium) desde a parte superior do tronco,
estendendo-se pela zona da bifurcação até à inserção dos grandes ramos
estruturais da copa. Estes dois fatores dificultavam a observação visual do
defeito numa avaliação de rotina a partir do chão.
n) O tipo de lesão encontrada, com podridão cúbica castanha do cerne, indicou
que a mesma poderia ter sido causada pelo fungo Laetiporus sulfureus, um
fungo que habitualmente afeta o cerne desta espécie. A análise das amostras
recolhidas na zona desta lesão, analisadas no Laboratório de Patologia
Vegetal Veríssimo de Almeida, do Instituto Superior de Agronomia, da
Universidade de Lisboa, confirmaram a presença desse fungo nesta zona e
também em tecidos da parte radicular.
o) Relativamente a essa lesão, procedeu-se à sua avaliação instrumental e
calculou-se a capacidade de carga remanescente na secção menor.
Estimando um diâmetro de 70cm e uma parede residual de 8cm, a capacidade
de carga remanescente é de 48% (calculado através do software Arbostapp,
específico para árvores). Para avaliar se a capacidade de carga era suficiente,
deveríamos poder estudar as forças do vento sobre a copa, o que não é
possível, embora se suponha que essas forças fossem muito baixas devido à
presença de árvores que envolviam a sua copa com a mesma altura, ou,
quando muito as forças seriam de caráter moderado. De qualquer maneira, a
lesão nesta zona da árvore não teve qualquer intervenção na sua queda.
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p) Na inspeção visual e instrumental do tronco da árvore não foi encontrado
qualquer defeito significativo, encontrando-se o mesmo totalmente são em
toda a sua extensão. A única lesão encontrada era antiga, não se revestia de
qualquer importância, localizava-se na parte superior do tronco e estava,
provavelmente, relacionada com a desramação natural de um ramo de 15cm
de diâmetro, o qual secou e foi posteriormente removido numa operação de
poda de limpeza realizada corretamente. Uma vez que não se encontrou
qualquer defeito biomecânico no tronco, também, e como seria de esperar,
não se observaram sintomas reparadores.
q) Relativamente às questões que se colocaram sobre a presença de cabos de
aço eventualmente fixados no carvalho, temos a esclarecer que em momento
algum os cabos existentes no espaço estiveram presos a esta árvore. Os
cabos em questão estavam fixados num plátano (Platanus hispanica) e no til
(Ocotea foetens) n.º 1, próximo do carvalho que caiu, e tinham como finalidade
o espiamento do plátano n.º 7 do Largo da Fonte. Durante a queda do
carvalho, o cabo foi atingido, tendo quebrado.
r) Relativamente às questões colocadas sobre a quebra do ramo do plátano n.º
7, temos a esclarecer que a mesma foi provocada no momento da queda do
carvalho sobre o ramo, visto ter-se observado que o carvalho se desenvolvia
numa cota superior à cota a que se encontrava o mesmo.
s) O desenvolvimento da árvore estava limitado pelo espaço do canteiro, em
particular pelo muro a poente, o que fez com que o sistema radicular do lado
da compressão ficasse limitado e não se desenvolvesse como seria
espectável. Assim, as raízes tinham um maior desenvolvimento lateral
perpendicular à inclinação do que no sentido da inclinação.
t) A geometria basal da árvore e o seu sistema radicular estavam cobertos de
terra, tanto do lado de compressão, como de tensão, pelo que a existência de
eventuais defeitos não poderia ser observada. A parte visível do colo não
apresentava qualquer anomalia, nem a existência de qualquer sintoma
reparador. Mesmo que se tivesse procedido à remoção da terra quando a
árvore ainda se encontrava em pé, não teria sido detetadas quaisquer
anomalias.
u) Ao nível das raízes de compressão a árvore apresenta uma estrutura
mecânica com contrafortes menores do que os geralmente observados em
árvores nestas circunstâncias e com estas características.
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v) Uma análise mecânica exaustiva da árvore na zona do colo não teria detetado
qualquer sintoma de grande preocupação, nem mesmo moderada, seja do
ponto de vista visual, seja do instrumental (resitografia, tomografia), pois
esteres conduziriam a resultados de segurança muito alta.
w) Outro aspeto relevante que importa destacar é que a resistência à perfuração
da madeira com resistógrafo (avaliação indireta da densidade) mostrou valores
abaixo dos normais para esta espécie noutras localizações da Península
Ibérica. Este facto não implica nenhuma consequência do ponto de vista da
capacidade de prevenir a queda do carvalho, mas está relacionado com as
condições edafoclimáticas em que se desenvolveu o carvalho, muito distintas
das encontradas no habitat de origem da espécie.
x) Sendo uma folhosa, a estrutura biomecânica é suportada por reforço
mecânico, principalmente com deposição de madeira de tensão. Ao nível da
madeira de tensão, o sistema radicular do carvalho apresentava um grande
reforço do lado nascente, que estava bem ligado ao talude de terra, encostado
à raiz do til, integralmente são, e apresentava uma fratura frágil que indicia
uma rutura súbita. É de salientar que a parte inferior do sistema radicular de
tensão se manteve fortemente fixada no solo do talude.
y) Ao nível da parte central da raiz existia uma pequena zona de podridão de
forma cónica, processo normal na espécie e, de uma forma geral, nas árvores
folhosas com o avançar da idade. Esta podridão abrangeu uma pequena área
da secção. A parede residual menor de madeira sã medida foi de 35cm, sobre
um raio de 45,5cm (diâmetro de 91cm), portanto, uma secção sã de 76%. O
fracasso de árvores aumenta rapidamente quando a secção de madeira sã é
inferior a 30%, logo, como o valor obtido foi de 76%, não supõe nenhuma
perda da capacidade significativa de carga neste ponto da árvore. A carga da
secção com a cavidade central detetada foi de 90 a 97% da capacidade de
carga da secção se esta não apresentasse a cavidade (dados obtidos
mediante a utilização do software Arbostapp, específico para árvores, para
cálculo da capacidade de carga de uma secção danificada das árvores).
z) A pequena podridão da parte central da raiz, identificável apenas após o
derrube da árvore, e consequente exposição de parte do sistema radicular,
não teve uma participação significativa na queda do carvalho, uma vez que
não existia qualquer perda da capacidade de carga da zona basal. Esta
conclusão é corroborada pelo facto de não existir nenhum sintoma reparador
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como resposta da árvore para compensar esse defeito (deposição de madeira
de reação).
aa) Nas amostras recolhidas na zona basal da árvore e no solo envolvente do
sistema radicular, analisadas no Laboratório de Patologia Vegetal Veríssimo
de Almeida, do Instituto Superior de Agronomia, da Universidade de Lisboa,
detetou-se um conjunto de fungos saprófitas, na sua generalidade muito
comuns nos solos e tecidos mortos ou em decomposição de um grande
número de hospedeiros. É importante salientar que estes fungos foram
identificados em várias amostras que correspondiam a tecidos radiculares,
provavelmente da vegetação presente na envolvente da árvore.
bb) Na zona a sul, onde a árvore se desenvolveu, constata-se a existência de uma
deposição de elementos rochosos que impediram o crescimento e
aprofundamento radicular, tendo a árvore desenvolvido através de madeira de
reação uma plataforma ampla de apoio mecânico. Esta zona rochosa onde a
árvore estava apoiada era constituída por agregados rochosos como rochas,
seixos e cascalhos, com muitos espaços vazios de dimensões consideráveis
entre si. Também é de referir que o solo, após um longo período de seca, tinha
teores de água baixos, sendo a porosidade preenchida por maior quantidade
de ar.
cc) Outro aspeto que poderá ter importância é o de se observarem ratazanas
(Rattus norvegicus) na encosta onde se encontrava o carvalho, animais de
dimensões consideráveis, tendo-se também identificado no solo numerosas
galerias. Esta espécie é conhecida por escavar com facilidade e fazer
frequentemente sistemas de tocas extensos e complexos. Este indício poderá
sugerir que existem naturalmente espaços vazios consideráveis nos
elementos que compõem o solo, criando um bom habitat para a instalação da
espécie, ou que a própria atividade dos roedores poderá ter criado esses
espaços, tendo algum efeito na estrutura do solo. Este assunto deverá ser
sujeito a uma análise cuidada.
dd) Importa referir que não foi efetuado nenhum levantamento sistemático
relativo à ocorrência no passado da queda de árvores nos Jardins do
Monte. No entanto, foi possível identificar dois registos históricos de queda
de exemplares arbóreos de grandes dimensões no local onde se situava o
carvalho.
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ee) Da análise dos parâmetros meteorológicos nos meses precedentes ao
acidente e no dia do mesmo, conclui-se não existirem variações ou
ocorrências significativas que justifiquem a queda da árvore.
ff) Não encontrámos defeitos na estrutura mecânica da árvore ou cargas
externas naturais (vento ou outras) que justifiquem a rotura repentina da
grande raiz de tensão, que se encontrava integralmente sã, e o consequente
colapso do carvalho.
gg) Levantamos como hipótese que a explicação para a rotura da raiz de tensão
esteja relacionada com um sobre esforço a que foi sujeita por uma
movimentação no solo, provavelmente na zona rochosa encontrada a sul.
Essa movimentação poderá ter levado a uma ligeira cedência na grande
sapata de apoio de madeira de reação e, consequente, à falta de apoio
mecânico momentâneo, tendo desencadeado a rutura da raiz de tensão.
hh) Entendemos que devem ser encetados estudos subsequentes de
caracterização da geologia, da pedologia, da geotecnia, em especial no que
concerne à mecânica dos solos, e as respetivas relações com as questões da
acústica (som emitido pela atuação dos conjuntos musicais e detonação dos
fogos de artifício: velocidade de oscilação - frequências e amplitudes - energia,
pressão sonora) e da detónica (fogos de artificio: caracterização das ondas de
choque, caracterização dos materiais – solo e árvore – ao choque e avaliação
de possíveis danos).
ii) Consideramos que também deverá ser estudado o possível efeito das
vibrações mecânicas de uma máquina giratória que trabalhou com um martelo
pneumático na Ribeira de Santa Maria, próxima do local.
jj) Os aspetos referidos nos pontos anteriores, bem como a interação dos
mesmos (efeito elástico), devem ser estudados por outros especialistas, pois
pensamos que, uma vez que não encontrámos defeitos na estrutura mecânica
da árvore ou a ocorrência de cargas externas naturais (vento ou outras) que
justifiquem o seu colapso, poderá ser uma possibilidade que o efeito destes
fatores tenha provocado movimentações nos elementos do solo na zona
rochosa onde estava apoiada a árvore, levando a que a raiz de tensão não
aguentasse o sobre esforço e colapsasse, levando à queda da árvore.
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8. Bibliografia
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Quintal, José Raimundo Gomes (2007). Estudo fitogeográfico dos jardins, parques e
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Quintal, Raimundo e Ppitagroz, Margarida (2001). Parques e Jardins do Funchal.
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Autónoma da Madeira PROF RAM – Relatório Técnico. Secretaria Regional do
Ambiente e dos Recursos Naturais e Direção Regional de Florestas e
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https://www.delcampe.net/en_US/collectibles/, acedido em janeiro de 2018.
INCOMPLETA
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