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APRESENTAÇÃO
Este relatório tem como objetivo explanar em todos os contextos agronômicos a
Viagem de Campo ao Assentamento Tijuca Boa Vista, localizado em Quixadá-CE
visando fomentar uma discursão social, política e econômica do mesmo, a fim de
formar opiniões conscientes e coerentes para a formação acadêmica e profissional de
futuros engenheiros agrônomos.
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INTRODUÇÃO AOS ASSENTAMENTOS RURAIS E A REALIDADE DO ASSENTAMENTO TIJUCA BOA VISTA
Assentamentos são, de forma generalizada, conceituados como: “criação de
novas unidades de produção, por meios de políticas governamentais que visam o
reordenamento do uso das terras, em benefício de trabalhadores rurais sem terra ou
com pouca terra.” (Bergamasco, 1996). No entanto, conceitos generalistas não são
capazes de abordar a questão agrária densamente e todo o contexto que a envolve.
O homem do campo em busca de seus direitos e de uma distribuição mais
igualitária das terras uniu-se e organizou-se. Os movimentos sociais do campo
ganharam forças na década de 50 com o surgimento das Ligas Camponesas e na
década de 70 ganhando cenário nacional com o Movimento dos Trabalhadores Rurais
Sem Terra (MST). Também na década de 70 a Comissão Pastoral da Terra (CPT),
abraçou a causa do trabalhador rural, sobretudo na região amazônica.
O Assentamento Tijuca Boa Vista está localizado no município de Quixadá,
Sertão Central Cearense. Fundado em 28 de outubro de 1999, possui 1.369 hectares
onde vivem 30 famílias assentadas das quais apenas 26 são cadastradas no INCRA,
ambas as famílias trabalham no sistema de produção coletiva e individual.
A prática agrícola local se diferencia da maioria dos assentamentos rurais por
priorizar integralmente a produção agroecológica, ou seja, sem utilizar defensivos
agrícolas e por desenvolver práticas sustentáveis ecologicamente, como as de hortas
orgânicas, a substituição de gás butano por gás metano e o turismo de base
comunitária, por exemplo. Além disso, é referência no manejo integrado da caatinga e
na preservação de importante área deste bioma.
Considerado como assentamento modelo, a Tijuca Boa Vista conta hoje com
parcerias de apoio a projetos não governamentais como a Fundação Dom Helder, o
Centro Ecológico Aroeira, o Centro de Estudos do Trabalho e de Assessoria ao
Trabalhador (CETRA), dentre outros. Apesar da pouca assiduidade este assentamento
também conta com ajuda governamental como a Prefeitura do município, o Ministério
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do Desenvolvimento Agrário, Ministério do Turismo e principalmente o Governo
Federal.
No assentamento, fomos recebidos por uma pequena comissão assentada que
deu inicio a aula de campo nos levando para conhecer as diversas as áreas
experimentais do assentamento compartilhando a experiência vivida de seus anos
como assentados e usuários da terra como fruto de vida e sobrevivência. Em um
segundo momento, foi nos dada à oportunidade de conhecer todos os âmbitos do
assentamento desde a sua formação até a sua consolidação atual. Iniciada a partir de
uma ocupação pacifica e hoje conta com a presença de uma pousada voltada para o
turismo rural.
Enfim, abordaremos o assentamento de forma precisa e concisa tentando
aproximar ao máximo a realidade vivida pelos assentados à descrição relatorial.
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ASSENTAMENTO TIJUCA BOA VISTA
1. Localização
O assentamento Tijuca Boa Vista está localizado no município de Quixadá-CE e
fica aproximadamente a 200 km da capital Fortaleza.
2. Histórico
A ocupação foi dada pacificamente, pois era uma fazenda de um latifundiário
que já havia negociado a transferência de posse (venda) com o INCRA e as famílias
foram sendo convidadas gradativamente a morar no assentamento através de um
homem de confiança desse latifundiário o qual o assentamento denomina esse homem
de O Gerente, pois ele efetuou todos os trâmites para trazer as famílias até o
assentamento. Inclusive este gerente hoje em dia é também um assentado e foi o
primeiro líder do assentamento.
3. Infraestrutura
Com uma infraestrutura privilegiada, em seus 1.369 hectares o assentamento
conta com açudes que fornece água para todas as comunidades vizinhas da região
inclusive fora do assentamento, entre as principais atividades produtivas destacamos a
caprinocultura, a ovinocultura, a piscicultura, a horticultura, o turismo rural
comunitário que inclusive possui uma pousada aberta ao público em geral, a fabricação
de artesanatos que auxiliam na renda dos assentados, as atividades de manejo
sustentável da caatinga, a presença de um biodigestor que atua tanto na
sustentabilidade ecológica quanto na economia financeira do assentamento.
4. Projetos de Desenvolvimento
No início do assentamento foi implantado um projeto governamental que
forneceu crédito aos assentados com a finalidade de dá início a produção no
assentamento.
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O assentamento paga o projeto há aproximadamente três anos e está em dia
com sua dívida. Por ser um projeto coletivo, porém com empréstimos também
individuais se um dos assentados não tiver como pagar, perde algumas regalias como
um bônus fornecido pelo banco que abate cerca 45% do valor da dívida, ou seja, em
miúdos os assentados só pagam 55% dos empréstimos realizados. A parcela atual varia
o valor para cada assentado, porém a parcela coletiva é fixa no valor de R$ 1.000,00 ao
mês.
Os principais projetos que abrangem o assentamento são: as produções
agropecuárias como criação de bovinos, caprinos e ovinos que permite uma produção
razoável de leite e alguns laticínios em pequena escala; horticultura; fruticultura;
turismo rural e produção artesanal esta são atividades essenciais para manutenção do
assentamento.
Vale ressaltar a importância da presença de projetos realizados por
Organizações Não-Governamentais para construção social, politica e econômica do
assentamento. Pois essas ONG’s oferecem cursos de capacitação e disponibiliza
recursos que permitem o andamento e consequentemente o êxito de inúmeras
atividades do assentamento. Uma das principais benfeitorias dessas ONG’s foi
conscientização e a capacitação acerca da importância do uso de técnicas
agroecológicas para a agricultura e para a vida dos assentados que permitiu um melhor
aproveitamento e rendimento agrícola para o assentamento em geral. Além de
inúmeras outras atividades que essas ONG’s promovem podemos citar minicursos
sobre diversos temas rurais; intercâmbios de convivência e aprendizado do
assentamento Tijuca Boa Vista com outros assentamentos do estado; cursos destinados
à produção animal, dentre outros.
O Governo Federal também tem disponibilizado projetos que auxiliam a
manutenção da vida socioeconômica do assentamento como os créditos concedidos as
famílias a fim de facilitar a produção; instrumentos de análise laboratorial animal;
bolsa família; bolsa jovem, recursos ligados à educação como laboratório de
informática, dentre outros.
5. Transição Agroecológica
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Entre os pontos mais marcantes da viagem e importantes para a formação de
profissionais conscientes e qualificados compartilhar o processo de transição
agroecológica do assentamento Tijuca Boa Vista foi uma experiência singular, pois é
sabido da crise ambiental que planeta vem enfrentando durante esses últimos anos em
virtude da ação desenfreada do homem que vem destruindo a natureza drasticamente e
cotidianamente e então vivenciar esta experiência trouxe-nos bases para podermos agir
também da mesma forma em nossa vida e nosso trabalho.
Inicialmente, é necessário destacar que ao contrário do que muitos pensam a
AGROECOLOGIA é realmente um PROCESSO, pois agricultor nenhum seja ele
assentado ou não, que é adepto a agricultura tradicional torna-se instantaneamente um
agricultor que faz uso de técnicas agroecológicas e com o assentamento Tijuca Boa
Vista não foi diferente tudo foi se dando paulatinamente até assentamento em toda sua
totalidade fazer uso de técnicas agroecológicas.
O pontapé inicial da agroecologia no assentamento foi através das ONG’s e de
técnicos e estudantes que visitavam o assentamento e sempre traziam esta ideia de uma
agricultura sadia, sustentável e economicamente viável. Essa ideia foi criando raízes a
partir de um curso de agroecologia ministrado no assentamento e que alguns integrantes
do assentamento participaram e difundiram aos poucos para todo o assentamento. Neste
curso eles puderam perceber a importância da agroecologia para saúde dos assentados e
para a renda do assentamento já que não há gastos com fertilizantes e defensivos
agrícolas. E então foram gradativamente se adequando ás praticas agroecológicas como
eles já produziam ou possuíam praticamente tudo que é necessário para se fazer uma
agricultura agroecológica como a utilização de adubação orgânica, defensivos naturais,
rotação de culturas, dentre outras, foi conveniente e racional e sendo da vontade dos
assentados transformar esta agricultura numa agricultura agroecológica para todo o
assentamento.
Hoje a comunidade tem muito orgulho de ser referência na agroecologia e
segundo uma moradora assentada: “A comida é mais gostosa, pois tem o sabor natural
da terra e é saudável já que não tem veneno”.
6. Destaques na Produção Agropecuária
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Dentre as inúmeras atividades produtivas realizadas no assentamento já citadas
anteriormente destacamos na produção animal a criação caprina da raça Saanen que tem
tido um crescimento formidável no assentamento. Pelo êxito da produção nestes últimos
anos os animais estão sendo expostos em feiras e exposições agropecuárias a fim de
receber prêmios e até mesmo propostas de venda, pois os animais tem porte e são
saudáveis além de produzirem uma quantidade razoável de leite que inclusive esta
produção de leite caprino é destinada ao programa governamental Fome Zero que efetua
a compra deste para alimentar pessoas carentes gerando assim lucro e emprego para
assentamento.
Na produção vegetal a grande notoriedade é o setor de Horticultura, pois possui
êxito na produção de hortaliças, haja vista são todas as espécies são cultivadas de
maneiras agroecológica, ou seja, sem uso de fertilizantes e defensivos agrícolas. O
plantio é realizado manualmente pelos assentados que possuem todo cuidado desde o
inicio da plantação até colheita. A produção atende todo o assentamento e somente o
excedente é vendido. Como as hortaliças são de ótima qualidade e o cultivo é extenso
eles revendem a alguns mercadinhos de Quixadá e outros locais próximos à comunidade
inclusive alguns clientes já são fixos vindo buscar as hortaliças no assentamento para
revendê-las posteriormente.
7. Pousada Boa Vista
Pelo depoimento de uma das assentadas a construção da Pousada Boa Vista foi
realmente um sonho realizado, pois desde da ocupação do assentamento quando a terra
começou a ser dividida para cada família assentada, os assentados em uma dinâmica
feita entre eles colocavam em desenhos de papel seus sonhos e a partir de inúmeros
desenhos feitos independente, mas com o mesmo sonho de transformar a casa sede da
antiga fazenda Tijuca Boa Vista em um paraíso em forma de pousada nasceu o
oficialmente o projeto e hoje a antiga casa tornou-se um bela pousada.
Dotada de uma infraestrutura singular a pousada possui sete amplas suítes e
oferece uma irresistível culinária regional feita com produtos locais sem utilizar nenhum
agrotóxico. As opções de lazer incluem banho de açude, passeios de canoas, charrete e
carroça, cavalgadas, visita ás unidades produtivas, trilhas ecológicas por muitos hectares
de áreas de preservação permanentes, festas regionais ao som de forrós e “contação” de
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histórias pelos assentados. A pousada também recebe grupos para realização de
encontros, retiros e seminários de maneira simples e acolhedora.
8. Turismo Rural
Com uma experiência inovadora a ideia vinda pelos próprios assentados, à
comunidade Tijuca Boa Vista inaugura em território cearense a primeira experiência
de turismo rural no estado. Denominado pelos moradores da comunidade de Turismo
Rural de Base Comunitária que tem por objetivo permitir aos visitantes um contato
direto e autêntico com a vida do campo, em especial com o semiárido e com as pessoas
que convivem com a caatinga de maneira sustentável através da agricultura familiar e
da valorização das tradições locais. A experiência tem sido de ótima aceitação pelo
público que frequenta a pousada e traz benefícios econômicos e sociais para o
assentamento.
As próprias famílias assentadas são responsáveis pelo planejamento, gestão e
oferta de todos os serviços que envolvem o turismo. Essa nova atividade se insere e
fortalece as demais atividades desenvolvidas localmente, permitindo a ampliação dos
serviços locais e dando mais uma opção para os jovens e mulheres permanecerem em
suas terras, reconhecendo a si mesmo enquanto sujeitos importantes na melhoria de vida
local.
9. Organização das Atividades
As atividades no assentamento podem ser individuais e coletivas. A
manutenção do assentamento (por exemplo, colocação de cercas, limpeza das áreas de
plantio e o manejo de animais) é coletiva e as áreas para alguns plantios também são
coletivas. Embora a maior parte da produção (animal e vegetal) seja individual.
A frente do assentamento existe uma diretoria composta por: um presidente,
uma secretária e uma tesoureira. Que é escolhida por votação entre os assentados a
cada ano. Todas as atividades são divididas entre os próprios assentados, como a
pousada existe uma comissão organizadora que coordena todos os serviços desta. As
áreas de produção coletiva também é dividida entre os assentados, o que facilita a
manutenção das tarefas e a organização.
10. Educação
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A educação dos filhos dos assentados e dos assentados era realizada no próprio
assentamento, pois existia uma escola no assentamento ativa e a disposição dos
assentados, porém ela atualmente está desativada e a principal causa disto foi à
ausência de professores, pois como o assentamento é um pouco distante da cidade, os
professores achavam inviável o deslocamento até o assentamento para dar as aulas aos
assentados, já que a prefeitura não disponibilizava nenhum recurso a mais do que eles
recebiam dando aulas na capital que não tinha nenhum gasto com deslocamento,
alimentação e inclusive o cansaço físico demasiado. O que levou a desativação da
escola já que não tinha mais como ser mantida sem professores.
Por isso, os filhos dos assentados dispõem de escolas que ficam próximas ao
assentamento, ou seja, em Quixadá. Onde oferecem o ensino fundamental I, II e ensino
médio. O transporte escolar da prefeitura tem acesso ao assentamento a fim de facilitar
o deslocamento das crianças e dos jovens.
11. Saúde
O assentamento é assistido pelo Programa Saúde da Família (PSF) e conta com
postos de saúde e ambulância do município.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
O que foi apresentado aqui diz respeito a algumas reflexões feitas sobre o
Assentamento Rural Tijuca Boa Vista durante a viagem de campo. Óbvio que a
realidade rural do assentamento visitado é mais complexa do que como foi apresentado
neste relatório, e para entender é preciso estudá-lo de forma mais abrangente. Porém,
tais reflexões apresentadas já nos ajudam a ter uma compreensão geral dessa realidade
do assentamento.
Poder aplicar as teorias vistas em sala de aula, relacionando-as com a realidade
empírica é uma atividade rica para compreender as relações sóciorurais. E a viagem de
campo permite esse exercício. No que diz respeito ao assentamento, não resta dúvida de
que sua compreensão perpassa não apenas o campo teórico, mas a atividade empírica
também. Como nos colocou a professora Maria Lúcia Moreira a viagem de campo nos
permite vivenciar a realidade do assentamento e como entendê-la da forma mais real
possível. Foi esse exercício que se procurou fazer.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BERGAMASCO, S.M; NORDER, L.A.C. O que são assentamentos rurais? São Paulo: Brasiliense, 1996.
KRONEMBERGER, D. Desenvolvimento local sustentável: uma abordagem prática. São Paulo: Senac, 2011.
INTERNET. Fonte de pesquisas diversas.
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ANEXOS
Fonte: google imagens. Figura 1: Localização do Assentamento Tijuca Boa Vista no município de Quixadá – CE.
Fonte: Folder ilustrativo – Pousada Boa Vista.Figura II: Um pouco das atividades realizadas no assentamento.
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