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RELATÓRIO Nº 16, de 2016
DA COMISSÃO DE RELAÇÕES EXTERIORES E DEFESA NACIONAL
SOBRE AVALIAÇÃO DE POLÍTICAS EXTERNAS NAS ÁREAS DE MERCADO,
ASSISTÊNCIA E PROTEÇÃO DE BRASILEIROS E ORGANIZAÇÃO
ADMINISTRATIVA DO MINISTÉRIO NO EXTERIOR
RELATÓRIO Nº 16 , DE 2016
Da COMISSÃO DE RELAÇÕES
EXTERIORES E DEFESA NACIONAL sobre
o Requerimento nº 4, de 2016, que requer, com
amparo no art. 96-B, do Regimento Interno do
Senado Federal, sejam avaliadas por esta
Comissão as políticas públicas, no âmbito do
Poder Executivo federal, na área de política
externa, notadamente no que se refere à
conquista de novos mercados, à assistência e
proteção de brasileiros no exterior, e à
estrutura organizacional e administrativa do
Ministério das Relações Exteriores.
RELATOR: Senador TASSO JEREISSATI
1 - APRESENTAÇÃO
Nos termos do art. 49, X, da Constituição Federal de 1988, compete
exclusivamente ao Congresso Nacional fiscalizar, diretamente ou por qualquer de suas
Casas, os atos do Poder Executivo, incluídos os da administração indireta. A avaliação
de políticas públicas insere-se nesta competência.
Assim, a Resolução nº 44, 17 de setembro de 2013, promoveu alteração
no Regimento Interno do Senado Federal (RISF), a fim de prever a avaliação de
políticas públicas como ferramenta para que o Senado Federal possa bem exercer sua
competência constitucional de fiscalização dos atos do Poder Executivo. Vale dizer que
a avaliação é etapa final do ciclo de uma política pública, sendo que as etapas
antecedentes envolvem a formação da agenda, a formulação da política, a tomada de
Gabinete do Senador Tasso Jereissati
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decisão e a implementação. A avaliação busca o aprimoramento desse processo, bem
como presta contas à sociedade.
Em face disso, a Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional
(CRE) aprovou o Requerimento nº 4, de 2016, com amparo no art. 96-B, do Regimento
Interno do Senado Federal, para avaliação das políticas públicas, no âmbito do Poder
Executivo federal, na área de política externa, notadamente no que se refere à conquista
de novos mercados, à assistência e proteção de brasileiros no exterior, e à estrutura
organizacional e administrativa do Ministério no exterior.
Com essa finalidade, foram encaminhados ao Ministério das Relações
Exteriores (MRE ou também “Itamaraty”) os Requerimentos de Informações nºs 18, 19,
24 e 25, e realizada audiência pública, em 2 de junho de 2016. As informações do MRE
foram enviadas ao Senado Federal em junho de 2016.
Também se procedeu à coleta de informações acerca dos impactos das
restrições orçamentárias nos postos no exterior, mediante pesquisa realizada nos
relatórios de gestão do Chefe de Posto ao final de suas missões. Esses relatórios, após
decisão do Plenário da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, do dia 14
de maio de 2015 e com base no art. 383, IV, do Regimento Interno do Senado Federal,
passaram a instruir as mensagens presidenciais de indicação de chefes de missão
diplomática permanente recebidas nesta Casa.
As informações foram complementadas por outras fontes, a exemplo de
entrevistas realizadas com diplomatas de outros países com o objetivo de colher dados
sobre a formação de pessoal das respectivas carreiras diplomáticas e dados
orçamentários fornecidos pela Consultoria de Orçamentos, Fiscalização e Controle do
Senado Federal.
Essa reunião de dados teve por objetivo traçar um quadro geral a respeito
das políticas públicas empregadas na área de relações exteriores e permitir a
Gabinete do Senador Tasso Jereissati
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identificação de iniciativas importantes que podem ser realçadas ou ampliadas visando à
minimização ou solução de problemas.
Feitos esses esclarecimentos metodológicos, cabe destacar que o presente
relatório, destinado à avaliação de política públicas na área de política externa,
encontra-se organizado por tópicos, distribuídos em duas grandes áreas, observando o
que fora proposto no Requerimento nº 4, de 2016: 1- objetivos de política externa; e 2-
estrutura organizacional e administrativa do Ministério das Relações Exteriores, na qual
se inclui a questão de assistência consular e a transparência do Ministério. Ademais, não
constituem objeto desta avaliação, dados não compreendidos no período de 2000 a
2015.
2- OBJETIVOS DE POLÍTICA EXTERNA
2.1- Diplomacia comercial: a conquista de novos mercados
O MRE, em resposta ao Requerimento nº 18, de 2016, por meio do qual
lhe foram solicitadas informações, apresentou desenho de processos (fluxos) da
prestação de serviço das representações diplomáticas a empresas brasileiras, sob a
perspectiva da empresa, ressaltando o nível de discricionariedade de cada representação
na prestação desses serviços.
Foi destacado que a rede de Setores de Promoção Comercial (SECOMS)
do Itamaraty estende-se por 104 Embaixadas e Consulados brasileiros em cinco
continentes. Os Secoms são coordenados pelo Departamento de Promoção Comercial e
Investimentos (DPR) do Ministério das Relações Exteriores, unidade gestora de
recursos encarregada de planejar, coordenar e implementar ações estratégicas com o fim
de ampliar a inserção comercial e empresarial brasileira no exterior, bem como
promover o turismo e oportunidades de investimentos no Brasil e, ademais, apoiar a
internacionalização de empresas nacionais.
O Itamaraty assinalou que os Secoms mantêm relação direta com
empresários individuais, empresas, associações empresariais, entidades setoriais,
Gabinete do Senador Tasso Jereissati
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federações e confederações aos quais oferecem serviços e produtos de inteligência
comercial, concebidos para potencializar as oportunidades de negócios no exterior.
Segundo os dados do Itamaraty, desde 2000, 53.756 empresas foram
apoiadas pelo governo brasileiro em todas as representações diplomáticas ao redor do
mundo. Os principais países que tais serviços ocorreram com maior frequência são:
Estados Unidos (11.6%), Argentina (9.0%), Georgia (6.9%), Chile (5.7%) e Japão
(4.7%).
Para tanto, foi criado o portal “Invest & Export Brasil”. Cuida-se de
plataforma eletrônica conjunta de promoção comercial e investimentos, administrada
pelos Ministério das Relações Exteriores, Ministério do Desenvolvimento, Indústria e
Comércio e Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Por meio da rede de
Secoms, é facultado aos empresários comunicar-se diretamente com o Posto de escolha
para direcionar consultas específicas sobre acesso a mercado, potencial para exportação
de produtos específicos, feiras e mostras relativas ao setor de interesse, entre outras
opções de produtos e serviços.
Ao receber as demandas, os Secoms dos Postos podem responder
diretamente ou encaminhar a consulta ao DPR para que se possam agregar eventuais
estudos de inteligência específicos para o setor em apreço. Os atendimentos realizados a
cada trimestre pelos Secoms são registrados pela respectiva Embaixada e Consulado no
Diário de atividades do Secom, que elaboram também programa anual de atividades de
promoção comercial, turística e de atração de investimentos.
O diferencial aportado pelo Itamaraty no esforço nacional de promoção
do comércio exterior e da atração de investimentos reside na extensa capilaridade de sua
presença internacional, proporcionada pela rede de 104 Secoms localizados em
Embaixadas e Consulados do Brasil, bem como pela visão estratégica das equipes
baseadas no exterior que, além da vertente econômico-comercial, agregam elementos
políticos e culturais às análises sobre países e mercados específicos. Observe-se também
o nível de interlocução privilegiado que os diplomatas, no exterior, mantém com
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autoridades locais e líderes empresariais, utilizado para a criação de oportunidades para
os empresários brasileiros e a defesa dos interesses econômico-comerciais do Brasil.
Adicionalmente, a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos
(ApexBrasil) e o Serviço Brasileiro de Apoio a Pequenas e Médias Empresas (Sebrae)
desenvolveram rede de articulação com o empresariado brasileiro, implantando
programas setoriais e de treinamento, com intuito de dinamizar as exportações
brasileiras.
A informação encaminhada pelo Itamaraty aponta também a participação
daquele Ministério em foros de coordenação que ampliam a convergência de interesses
e projetos, por exemplo:
Encontro Nacional de Comércio Exterior (ENAEX), organizado
anualmente pela Associação de Comércio Exterior do Brasil
(AEB) e que constitui o mais importante foro de diálogo entre
empresários e governo, reunindo representantes de toda a cadeia
de negócios do comércio internacional para discutir as principais
questões que envolvem o setor, a fim de melhorar a
competitividade dos produtos brasileiros;
Encontros de Comércio Exterior (ENCOMEX), promovidos pela
Secretaria de Comércio Exterior (SECEX), que visa a estimular
maior participação do empresariado brasileiro no contexto
internacional;
Conselho Deliberativo da ApexBrasil, no qual a presença do
MRE permite identificar oportunidades de sinergia e ampliação
da parceria intragovernamental em ações estratégicas de
promoção comercial e turística e de atração de investimentos;
Conselho Superior da Fundação Centro de Estudos do Comércio
Exterior (FUNCEX);
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Encontro Nacional de Serviços (ENASERV);
Programa Nacional de Promoção da Cultura Exportadora
(PNCE).
As ações de promoção comercial obedecem, segundo o Itamaraty, aos
pressupostos legais e normativas vigentes no tocante à publicidade e transparência. Os
documentos do DPR relativos à prestação de contas são o Plano Plurianual e o Relatório
de Gestão do TCU. Ademais, desde 1994 o DPR promove ampla difusão, pela internet,
das atividades de promoção comercial e atração de investimentos desenvolvidos por
suas unidades no Brasil e no exterior, por meio do portal “Brasil Invest & Export”.
As principais ações do Itamaraty de facilitação da atividade do
empresário brasileiro no exterior, na área de diplomacia comercial, envolvem, segundo
informado, a realização de missões comerciais e de investimento a mercados
estratégicos para o Brasil, organização de eventos de natureza empresarial (seminários,
mesas-redondas, “roadshows”, rodadas de negócios, entre outros) e o desenvolvimento
de produtos e serviços de inteligência comercial e de facilitação de negócios
(informações sobre produtos, estudos de mercado setoriais, divulgação internacional de
concorrências e licitações no Brasil, participação em feiras internacionais voltadas para
o setor exportador, difusão de feiras setoriais de negócios no Brasil, entre outros). No
exterior, as ações do DPR implementam-se com o apoio de 104 Setores de Promoção
Comercial de Embaixadas e Consulados do Brasil, que também se encarregam de
prestar apoio direto a demandas do setor empresarial brasileiro, bem como de empresas
estrangeiras interessadas em realizar negócios com contrapartes brasileiras. No Brasil,
as iniciativas são planejadas e coordenadas pelas unidades do DPR, a saber: Divisão de
Programas de Promoção Comercial (DPG); Divisão de Operações de Promoção
Comercial (DOC); Divisão de Informação Comercial (DIC); Divisão de Investimentos
(DINV) e Coordenação Geral de Finanças (CGF).
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2.2- Investimentos diretos no Brasil
Segundo informa o MRE, no período de 2005 a 2015, o DPR
desenvolveu ações de atração de investimentos estrangeiros diretos (IED) para o Brasil
que potencialmente contribuíram para a viabilização de importantes aportes de capital
estrangeiro no País. Tais ações deram-se, precipuamente, por meio de missões de alto
nível, governamentais e setoriais, a países estratégicos, com foco específico no fomento
de inversões em setores-chave da economia brasileira. Também ao ensejo de visitas de
alto nível de mandatários estrangeiros ao Brasil, desenvolveram-se iniciativas para
atração de investimentos.
Um total de 3.084 projetos de investimento foram reportados pelo
Itamaraty entre 2005 e 2015, sendo que 42% deles consistem em projetos de
implementação, expansão e/ou modernização. 67% deles pertencem à indústria de
transformação. Os Estados Unidos lideram a lista de investimentos com 798 (26%)
projetos neste período, seguido da Alemanha (253, 8%), China (199, 6%) e Espanha
(169, 5%). Dentre os estados brasileiros, São Paulo é o maior receptor desses
investimentos (21%), seguido do Rio de Janeiro (6%) e Minas Gerais (5%).
Gráfico 1
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Nota-se que a evolução de tais investimentos é bastante correlacionada
(0,62)1 com o desempenho do Produto Interno Bruno (PIB), o que sugere que boa parte
desses investimentos deve-se mais a ciclos econômicos do que à atuação direta do
governo brasileiro. O mesmo ocorre para a localização regional desses investimentos,
que tendem a ir para diferentes regiões do país.
1 Correlação é um conceito estatístico que indica a intensidade e a direção do relacionamento linear entre
duas variáveis aleatórias. Os valores vão de zero (não correlacionado) a 1 (perfeitamente correlacionado).
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Gráfico 2
O gráfico 2 apresenta a correlação por país (representado pelos círculos
preenchidos em cinza) entre a média de crescimento real do PIB nos últimos
dez anos e número de projetos de investimentos reportados pelo Itamaraty
entre 2005 e 2015.
De modo complementar, as ações do DPR foram apoiadas por atividades
como a elaboração do “Catálogo de Oportunidades de Investimentos no Brasil”, do
“Guia Legal para o Investidor Estrangeiro no Brasil” e do “Guide to Investment in
Brazil”, acompanhadas de sua ampla divulgação no exterior por meio das Embaixadas e
Consulados. A partir de 2015, memorandos de entendimento bilaterais visando à
promoção de investimentos recíprocos entre os países foram assinados com Angola,
Moçambique, Indonésia e Omã. À época em que a informação foi encaminhada pelo
Itamaraty estavam em negociação instrumentos similares com Catar, Emirados Árabes
Unidos, Rússia, Azerbaijão e Belarus.
Segue, no Anexo I, lista de iniciativas protagonizadas pelo MRE por
ocasião de visitas presidenciais, com o fim de atrair investimentos diretos para o Brasil.
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Gráfico 3
2.3- Cooperação Internacional para o Desenvolvimento
A cooperação internacional, seja técnica ou humanitária, é hoje um dos
principais instrumentos da ação diplomática internacional e integra a chamada pauta
positiva das relações entre os países. Os resultados esperados são não apenas o
adensamento das relações do Brasil com os países beneficiados, mas também o
fortalecimento das posições do País em foros multilaterais e o seu reconhecimento
como ator proeminente no tratamento de temas ligados a direitos humanos e cooperação
em benefício de segmentos frágeis e carentes da comunidade internacional. É também
um importante instrumento de “soft power”, nos termos do Professor da Universidade
Harvard Joseph Nye2.
Países com vasta experiência em desenvolvimento internacional têm,
também, crescentemente usado ferramentas de avaliação mais robustas para terem
certeza que o recurso desembolsado atingiu os resultados almejados e, simultaneamente,
2 Joseph Nye Jr. “Soft Power: The Means To Success In World Politics”, 2005.
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que não causou consequências negativas, mesmo que não esperadas, para o país
beneficiário3.
2.3.1- Cooperação Técnica
2.3.1.1- Agência Brasileira de Cooperação (ABC)
Desde a sua criação, em 1987, definiu-se que a ABC atuaria
exclusivamente em cooperação técnica. Os programas de cooperação técnica aprovados
e coordenados pela ABC incluem tanto a cooperação entre países em desenvolvimento
como a recebida do exterior, seja em âmbito bilateral seja em âmbito multilateral (entre
o Brasil e organismos internacionais).
Trata-se de instrumento por meio do qual o Governo brasileiro promove
a cooperação Sul-Sul, isto é, a cooperação horizontal entre países em desenvolvimento.
A cooperação Sul-Sul brasileira é inspirada, segundo o Itamaraty, no conceito de
“diplomacia solidária”, por meio da qual o Brasil coloca à disposição de outros países
em desenvolvimento as experiências e conhecimentos de instituições especializadas
nacionais. O Itamaraty assinala que a adoção pelo Brasil de princípios e práticas de
cooperação especificamente talhadas para as realidades e expectativas dos países em
desenvolvimento contribuiu, junto com ações semelhantes conduzidas por outros países
da América Latina, Caribe, África e Ásia, para a consolidação da cooperação Sul-Sul
como um dos principais mecanismos de promoção do desenvolvimento em âmbito
global.
Nesse sentido, convém ressaltar que o governo brasileiro não comunica a
pretensão de se tornar um país doador no sentido tradicional da cooperação
internacional para o desenvolvimento, em razão das diferenças de enfoque e de prática
entre as modalidades Norte-Sul e Sul-Sul.
3 A literatura da área de desenvolvimento internacional mostra diversos exemplos de financiamentos
internacionais que provem mais danos do que benefícios para o país beneficiário da assistência financeira
e, também, técnica.
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Desde 1997, o governo brasileiro já gastou4 238,5 milhões de dólares em
projetos de cooperação internacional, sendo que o orçamento proposto foi de 322,8
milhões. Segundo os dados do Itamaraty, 2.732 projetos de cooperação foram feitos,
sendo que 110 foram acordos trilaterais (com a participação de algum outro país
doador) e 30 foram feitos no contexto da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa
(CPLP). Deste total, 2.498 projetos já foram concluídos até dezembro de 2015 e 234
estão em execução. O total de gastos com viagens e hospedagens foi de 87,8 milhões de
dólares (36,8%). Em dezembro de 2015, o Brasil ainda tinha um saldo de despesas
programadas até 2019 de 68,6 milhões dólares.
Gráfico 4
O gráfico 4 apresenta, no eixo esquerdo (em cinza), o PIB em valores
constantes de 2015. No eixo da direita (em laranja), o gráfico mostra a
evolução do montante total gasto em cooperações técnicas pelo governo
brasileiro.
4 Valores pagos, segundo o próprio Itamaraty.
Gabinete do Senador Tasso Jereissati
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Observa-se no gráfico acima que a expansão dos gastos com cooperação
internacional se deram de forma explosiva entre 2008 e 2012, atingindo seu pico no ano
eleitoral de 2010 (92,6 milhões de dólares5).
O Itamaraty não apresentou avaliações sistemáticas e quantitativas sobre
a carteira de cooperações internacionais, sobretudo no que se refere ao retorno social ou
ao custo-benefício dos respectivos projetos. Os critérios para indicar sucesso das
cooperações relatados pelo Itamaraty são:
alcance dos objetivos traçados,
abrangência geográfica,
número de beneficiários alcançados,
replicabilidade e sustentabilidade com transferência de
tecnologia,
conhecimentos e experiências assimilados.
Alguns dos programas considerados bem-sucedidos enumerados pelo
Itamaraty são os seguintes:
Programa de Formação Profissional, desenvolvido em parceria com o
Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI). Foram
beneficiados 10 países da América Latina, da África e da Ásia.
Programa de Apoio ao Setor Algodoeiro por Meio da Cooperação Sul-
Sul desenvolvido em parceria com o Instituto Brasileiro do Algodão
5 Taxa de câmbio usada pelo Itamaraty foi de 3,5 (R$/US$).
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(IBA). Beneficia 16 países, sendo 9 no Continente africano e 7 na
América Latina.
Programa de Implantação de Banco de Leite Humano, desenvolvido em
parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). São 23 países na
América do Sul, América Central e Caribe, além de 1 na África.
Programa de Alimentação Escolar, desenvolvido em parceria com o
Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). Foram
beneficiados 13 países na América Latina e 3 países na África.
O documento do Itamaraty assinala os ganhos do Brasil com a
cooperação horizontal, recordando a ampliação do acervo de experiências de
instituições e de especialistas brasileiros, além da própria imagem do País no exterior
como nação comprometida com os ideais de desenvolvimento, combate à pobreza e
redução das desigualdades, valorização da solidariedade como mecanismo de
desenvolvimento global entre países em desenvolvimento e a diversificação e
adensamento das relações internacionais do País.
Ademais, cita como ganhos a aprendizagem e capacitação dos técnicos
que a prestam; a divulgação do Brasil como país situado na vanguarda de diversos
setores associados ao desenvolvimento social e econômico; promoção do
desenvolvimento é promover estabilidade social, política e econômica, o que gera
plataforma para outras dimensões das relações do Brasil com os países beneficiários da
cooperação técnica Sul-Sul. Por exemplo, a formação de alianças estratégicas, com a
difusão de políticas sociais em temas como o combate à fome e o fortalecimento da
agricultura familiar, sedimentando no contexto internacional a imagem do Brasil
visando a conquistas de posições influentes e de alto nível em organismos
internacionais, como a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a
Agricultura (FAO), a Organização Mundial do Comércio (OMC) e a Comissão
Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos
(CIDH/OEA).
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2.3.1.2- Avaliação dos Programas de Cooperação
Segundo informa o Itamaraty, a evolução da cooperação técnica Sul-Sul
do Brasil, a partir da criação da ABC, veio atender às expectativas iniciais do Governo
brasileiro de dispor de instrumento executivo de adensamento das relações exteriores do
País.
Em 2013, foi implantado o “Manual de Gestão da Cooperação Técnica
Sul-Sul”, elaborado para dotar a ABC de orientações abrangentes e padronizadas para a
concepção, negociação, aprovação, gestão, execução, acompanhamento e avaliação de
iniciativas de cooperação técnica Sul-Sul. Após a implementação técnica da última
atividade, as contrapartes procedem à avaliação interna da iniciativa, que consiste em
um apanhado geral do projeto em seus aspectos técnicos, gerenciais e operacionais. A
avaliação externa é realizada por consultores externos, com base em termos de
referência acordados previamente entre as instituições cooperantes.
A avaliação visa a comparar os efeitos esperados aos efeitos efetivamente
alcançados por um projeto, examinar os seus elementos contextuais, lógicos e
processuais e analisar os seus êxitos e insucessos, com intuito de subsidiar a
aprendizagem a respeito da cooperação técnica Sul-Sul.
No que diz respeito à participação de organizações não governamentais
na cooperação técnica internacional, são citados os exemplos do Haiti (projeto “Inclusão
Social por meio da prática esportiva em futebol”, em parceria com o Olé Brasil Futebol
Clube); Guiné-Bissau (projeto “Jovens Lideranças para a Multiplicação de Boas
Práticas Socioeducativas”, em parceria com Fundação Gol de Letra, o Instituto Elos e a
Associação Amizade, esta última de Guiné-Bissau); África do Sul e Moçambique
[projeto de “Apoio à Agricultura Camponesa para o resgate e uso de Sementes
Tradicionais”, em parceria com Movimento Camponês Popular, Instituto Brasileiro de
Análises Sociais e Econômicas (IBASE), do Movimento das Mulheres Camponesas e
da Via Campesina], entre outros.
Gabinete do Senador Tasso Jereissati
16
A participação de entidades da sociedade civil nas iniciativas de
cooperação internacional permite o compartilhamento de experiências e de capital
técnico com atores governamentais, oxigenando o desenho e a implementação de
políticas públicas, bem como assegurando os caminhos para maior disseminação de
conhecimentos inovadores dentro do Brasil e no âmbito dos programas de cooperação
Sul-Sul. Falta, no entanto, segundo assinala o Itamaraty, legislação federal abrangente e
atualizada para regular as iniciativas de Cooperação Sul-Sul.
No que diz respeito à relação da ABC com outros ministérios e órgãos
governamentais, no modelo de atuação definido para a cooperação Sul-Sul brasileira, a
ABC atua em estreita coordenação com os ministérios setoriais e as instituições
públicas nacionais detentoras de conhecimento em diferentes áreas de atuação do
governo brasileiro, como a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA),
a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), a Fundação Oswaldo Cruz
(Fiocruz), o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as Universidades
Federais, etc.
A política de cooperação técnica prestada pelo Brasil a outros países em
desenvolvimento preconiza atuação em reação a demandas recebidas do exterior e não a
oferta de projetos de cooperação. Nesse sentido, existe uma pauta de iniciativas de
cooperação técnica Sul-Sul do Brasil em diferentes estágios de identificação,
elaboração, negociação e execução. A partir dessa pauta são preparados os respectivos
planejamentos dos compromissos financeiros de acordo com as disponibilidades
orçamentárias da ABC e segundo as prioridades da política externa do país.
No entanto, os sucessos apontados das cooperações da ABC ainda não
fazem nenhuma referência à literatura atual de avaliação de impacto6 de seus projetos.
Há uma década o uso de avaliações de impacto floresceu na academia, em organismos
multilaterais e governos. Isto é, análises que demonstram o quanto um programa
6 Para uma visão prática da literatura, ver Banco Mundial, “Impact Evaluation in Practice”, 2011. O livro
está disponível online.
Gabinete do Senador Tasso Jereissati
17
melhorou ou não a vida do público alvo. Essas análises buscam responder à pergunta: se
puder comparar um cenário em que essa política pública existe versus um cenário em
que essa política pública não existe, em qual dos cenários o público alvo da política
estaria melhor? Uma resposta qualificada a essa pergunta nos permite avaliar com
confiança o impacto de uma política pública ou de um projeto de cooperação em relação
aos seus objetivos. As avaliações são fundamentais para que os governos prestem conta
aos seus cidadãos sobre como os recursos orçamentários do país doador estão sendo
investidos nos países beneficiários e que resultados concretos estão trazendo.
2.3.1.3- Proposição de Marco Legal de Cooperação
O inciso IX do Artigo 4º da Constituição Federal estabelece a cooperação
para o desenvolvimento como um princípio que norteia as relações internacionais do
Brasil. A legislação atual regulamenta a cooperação recebida pelo Brasil por meio do
Decreto nº 5.151, de 22 de julho de 2004. Conforme sua ementa, a norma dispõe sobre
os procedimentos a serem observados pelos órgãos e pelas entidades da Administração
Pública Federal direta e indireta, para fins de celebração de atos complementares de
cooperação técnica recebida de organismos internacionais e da aprovação e gestão de
projetos vinculados aos referidos instrumentos.
As iniciativas de cooperação técnica Sul-Sul são executadas lançando
mão de parcerias com organismos internacionais, à luz dos tratados assinados pelo
Brasil com esses organismos e dos mecanismos previstos nos denominados acordos
básicos. Recomenda-se, no entanto, a criação de um amparo legal específico para a
cooperação técnica prestada pelo governo brasileiro, que estabeleça os parâmetros dos
direitos e das obrigações das partes envolvidas no processo, de modo a orientar os atos
dos agentes públicos em conformidade com os princípios da administração pública.
A inexistência de mecanismos que permitam a adequada execução dos
recursos financeiros no exterior tornou necessária a praxe de utilizar organismos
internacionais para viabilizar as atividades da ABC. Tal prática, além de burocratizar os
procedimentos administrativos e reduzir a eficiência no uso desses recursos, dificulta a
Gabinete do Senador Tasso Jereissati
18
promoção da imagem do governo brasileiro como prestador da cooperação, uma vez
que frequentemente se vinculam as iniciativas à imagem do organismo internacional,
que é meramente um recurso operacional para a execução dos recursos brasileiros. Um
amparo legal que viabilizasse e regulamentasse a execução de recursos financeiros no
exterior para a prestação da cooperação técnica resultaria em mais eficiência e
economicidade no uso do dinheiro público e melhores resultados para a imagem do
Brasil no exterior.
Assim, segundo informa o Itamaraty, a ampliação da cooperação
brasileira com outros países tem como desafios a superação de hiatos por meio da
implantação de moderno e abrangente marco regulatório, a definição de uma base
orçamentária coerente com os objetivos e metas que o Governo brasileiro se propõe
alcançar nessa matéria, além da criação de um quadro de profissionais especializados
que possa atuar em sinergia com a diplomacia.
Ademais, a ABC necessita contar com os instrumentos aptos para
mobilizar e enviar missões ao exterior, adquirir, transportar e entregar materiais e
equipamentos, contratar recursos humanos no exterior e transferir recursos para a
execução de programas e projetos nos territórios de países em desenvolvimento
parceiros do Brasil. Nesse sentido, e no âmbito da Portaria nº 552-MRE, de 17 de
setembro de 2015, o Ministério das Relações Exteriores elaborou minuta de anteprojeto
de lei com a finalidade de estabelecer a Política de Cooperação Internacional para o
Desenvolvimento, bem como minuta de projeto de lei para a criação de carreira de
analista de cooperação técnica.
A execução da cooperação Sul-Sul se dá atualmente em parceria com o
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), por meio do projeto
PNUD/BRA/13/008, executado pela ABC e por parcerias mantidas com outras
organizações internacionais, a exemplo da OIT (Organização Internacional do
Trabalho); FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura);
UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura), entre
outros. Tais organizações recebem aporte orçamentário da Agência somente após a
Gabinete do Senador Tasso Jereissati
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abertura de Processo de Inelegibilidade no Sistema de Compras do Governo Federal,
assegurando a observância do princípio constitucional da isonomia e demais princípios
estabelecidos pelo art. 3º da Lei 8.666, de 21 de junho de 1993, que regulamenta o art.
37, inciso XXI, da Constituição Federal, institui normas para licitações e contratos da
Administração Pública e dá outras providências.
Os atos de gestão orçamentária e financeira são executados no Sistema de
Administração Financeira (SIAFI) e toda a documentação é arquivada na ABC à
disposição dos órgãos de controle. O Itamaraty participou também que a agência é
auditada anualmente pela Secretaria Federal de Controle.
As diferentes estruturas organizacionais de agências de desenvolvimento
internacional em outros países7 podem também oferecer ideias interesses para uma
possível revisão da institucionalidade da ABC, sem prejudicar a sua natureza particular.
A primeira ideia seria centralizar toda área de desenvolvimento internacional em apenas
uma Subsecretaria-geral, que seja responsável pela operação da ABC, mas também da
relação com organismos internacionais de desenvolvimento e ações humanitárias. Tal
arranjo propiciaria uma melhor coordenação da área de desenvolvimento internacional,
um pilar crucial de ações diplomáticas de “soft power” e de ações humanitárias muitas
vezes emergenciais. Uma segunda ideia seria colocar o conceito de avaliação de
impacto como central na operação da agência, promovendo uma gestão baseada em
evidências. O governo poderia contar com a parceria com a academia brasileira e
internacional para desempenhar a avaliação dos seus projetos.
2.3.1.4- Dívidas soberanas renegociadas pelo Brasil
Tabela encaminhada pelo Itamaraty (Anexo II), em resposta ao
Requerimento nº 18, de 2016, desta Comissão, e referente ao período de 2000 a 2015,
dá conta de que nove países tiveram sua dívida com o Brasil renegociada, tendo o
contrato de renegociação sido aprovado pelo Senado. O valor total é de 1.1 bilhão de
dólares. São eles: Bolívia, Cabo Verde, Congo (Brazzaville), Gabão, Moçambique,
7 Exemplos: Reino Unido, Canadá e Suécia.
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20
Nigéria, Senegal, Sudão e Suriname. Dentre esses, chamam a atenção, pelo abatimento
da dívida concedido pelo Brasil, os casos da Bolívia (96% de USD 50.251.128,71),
Moçambique (95% de USD 331.686.015,65) e Sudão (90% de USD 43.581.141,68).
Em todos os casos, o Itamaraty considerou que “a renegociação da dívida
contribuiu para fortalecer as relações bilaterais e consolidar a percepção do Brasil como
parceiro atento às necessidades dos países de menor desenvolvimento relativo”.
Ainda pendentes de aprovação pelo Senado estão as dívidas do Congo
(RDC), Costa do Marfim, Tanzânia e Zâmbia, somando um montante total de 218
milhões de dólares. Os maiores abatimentos concedidos pelo Brasil a este grupo
referem-se à dívida da Costa do Marfim (86% de USD 9.045.635,40) e Tanzânia (86%
de USD 236.996.036,19).
2.3.2- Cooperação humanitária
2.3.2.1- Avaliação sobre a atuação do Brasil na Força de Paz do Haiti
A respeito da atuação do Brasil na Missão de Estabilização das Nações
Unidas no Haiti [Mission des Nations Unies pour la Stabilisation en Haïti
(MINUSTAH)], o Itamaraty informa que o País é o principal contribuinte de tropas para
a Missão, contando, atualmente, com 980 militares e 5 policiais, em dados de fevereiro
de 2016. A Missão tem, desde seu princípio, seu comando militar exercido por oficial
brasileiro – no momento da elaboração da informação para o Senado, tratava-se do
General de Divisão Ajax Porto Pinheiro.
Além da presença militar, o Brasil teve participação ativa na definição do
mandato da MINUSTAH. Criada a princípio para garantir ambiente estável e seguro,
apoiar processo político e promover os direitos humanos, a Missão foi, por iniciativa do
Brasil, incorporando elementos inovadores no mandato, como o apoio ao
desenvolvimento econômico e social, fomento a uma economia sustentável e o combate
à pobreza. O Brasil defendeu, portanto, a estreita vinculação entre paz e
desenvolvimento e favoreceu ações que combatessem as causas profundas do conflito.
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21
Assim, a presença do Brasil e de outros países da América do Sul não se
limitou ao envio de tropas, tendo havido cooperação também em áreas como saúde,
agricultura, energia, segurança alimentar, inclusão social pelo esporte e capacitação de
pessoas.
A Missão coordenou também os trabalhos de assistência humanitária no
Haiti, que respondem não só às tensões causadas pelo conflito civil, mas também por
desastres naturais, bem como os esforços das agências das Nações Unidas para a
reconstrução institucional e da infraestrutura do país, gerando benefícios para a saúde,
educação, emprego, estradas, pavimentação de ruas, limpeza de canais e restruturação
do sistema de transmissão de eletricidade.
Nesse contexto, são ressaltados os “projetos de impacto rápido” para a
redução da violência comunitária, intensivos em mão-de-obra de forma a mobilizar a
população local, bem como o “programa de redução de violência comunitária”, que
inclui treinamento profissional e capacitação de presidiários e ex-membros de gangues e
reinserção social. A Companhia de Engenharia Militar brasileira na MINUSTAH
auxiliou nesses esforços, recuperando centenas de quilômetros de estradas e vias
urbanas e logradouros públicos, sobretudo praças e colégios e perfurou poços
artesianos.
Ademais, os militares brasileiros construíram tanques reservatórios,
permitindo o fornecimento ininterrupto de água potável na fronteira com a República
Dominicana, distribuíram kits escolares, promoveram eventos esportivos e prestaram
assistência odontológica, educacional e médica.
A MINUSTAH desempenhou, ainda, papel fundamental na formação da
Polícia Nacional Haitiana. O aperfeiçoamento e o aumento dos quadros da polícia local
é condição básica para a retirada progressiva e ordenada da Missão. Com o apoio da
MINUSTAH, o aparato relacionado ao Estado de Direito também registrou progresso,
sobretudo no que diz respeito à melhora do acesso à justiça.
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22
Nesse sentido, o Itamaraty ressalta que desde 2004 houve queda nos
índices de violência e a sociedade haitiana tem reconhecido a relevância do auxílio
prestado pela presença das Nações Unidas no país. O apoio da população aos capacetes-
azuis brasileiros é fruto da boa interação entre os habitantes locais e os soldados, que
estão regidos pelos princípios fundamentais do Direito Internacional, bem como pelo
Artigo 42, do Capítulo VII da Carta das Nações Unidas.
Finalmente, em relação a esse item, o Itamaraty aponta que para os
interesses nacionais brasileiros é essencial uma América Latina e um Caribe estáveis,
prósperos, socialmente justos e em paz. Como maior contribuinte de tropas para a
MINUSTAH, o Brasil buscou consolidar sua imagem como país não só disposto, mas
também capaz de assumir maiores responsabilidades no campo da paz e da segurança
internacionais.
Embora o Itamaraty tenha provido tais informações, o Senado Federal não
recebeu um documento completo – e de domínio público, como esperado - que
contivesse uma avaliação ampla e profunda da MINUSTAH, uma importante operação
humanitária que consumiu uma vultosa quantia de recursos orçamentários.
2.3.2.2- Coordenação-Geral de Cooperação Humanitária e Combate
à Fome
Em resposta ao Requerimento de Informação nº 19, de 2016, da CRE,
que solicitou relatório atualizado que avaliasse o resultado das contribuições feitas (em
“value for money”8) por meio da Coordenação-Geral de Cooperação Humanitária e
Combate à Fome de 2006 a 2015”, o Itamaraty informou o que segue.
8 Esta metodologia busca aferir se o recurso público teve um bom uso. Ela tem sido amplamente utilizada
por diversos governos na área de desenvolvimento internacional, a exemplo do governo britânico que
publica os critérios utilizados para a avaliação dos projetos que financia (“DFID’s Approach to Value for
Money (VfM)”, 2011, ou “Guidance on measuring and maximising value for money in social transfer
programmes”, 2013).
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23
Criada no âmbito da estrutura do Ministério das Relações Exteriores em
2004, a Coordenação-Geral de Ações Internacionais de Combate à Fome (CGFOME)
trata de uma miríade de aspectos relacionados ao tema:
Segurança Alimentar e Nutricional;
Desenvolvimento Agrário;
Pesca Artesanal;
Instituto Social Brasil-Argentina;
Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura
(FAO);
Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola (FIDA) e
Programa Mundial de Alimentos (PMA);
Fórum Social Mundial;
Diálogo com a Sociedade Civil;
Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social; e
Assistência Humanitária.
Em 2006, foi criado Grupo de Trabalho Interministerial sobre Assistência
Humanitária Internacional (GTI-AHI), por Decreto Presidencial de 21 de junho daquele
ano, integrado por 15 Ministérios e coordenado pelo Itamaraty, destinado a articular
ações de cooperação humanitária internacional.
No período de 2006 a 2015, o Brasil empreendeu, segundo noticiou o
Itamaraty, 682 ações internacionais de cooperação humanitária, das quais 392 foram
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24
viabilizadas por meio de dotação orçamentária do Ministério das Relações Exteriores,
destinada especificamente para esse fim, em benefício de 96 países na América Latina e
Caribe, África, Ásia e Oriente Médio. Ademais, 290 ações foram realizadas em
coordenação com outros órgãos governamentais, dentre os quais o Ministério da Saúde,
o Ministério da Defesa e o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, para
doações de itens de primeira necessidade, tais como medicamentos e alimentos, em
benefício de 69 países na América Latina, Caribe, África, Ásia e Oriente Médio.
Entre 2006 e 2015, 400.8 toneladas de alimentos e medicamentos foram
doadas, com um valor estimado total de 218,6 milhões de dólares. O pico das doações
ocorreu nos anos 2011 e 2012 com o montante de doações de 142 milhões de dólares
(65% do total). Embora não haja nenhuma evidência no material recebido para fazer
qualquer correlação, ressalta-se que 2011 foi o ano da primeira eleição do brasileiro
José Graziano da Silva para a Diretoria-Geral da Organização das Nações Unidas para a
Alimentação e Agricultura (FAO).
Gráfico 5
Além disso, a Lei nº 12.429, de 20 de junho de 2011, estabeleceu as
bases para a doação humanitária, pelo País, de gêneros alimentícios por intermédio do
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25
Programa Mundial de Alimentos (PMA), das Nações Unidas. Nesse contexto, o Brasil
chegou a ocupar a posição de 10º maior doador daquele organismo em 2012. Porém,
após 2013, retornou a níveis de doação dos anos anteriores a 2011.
Ademais, entre 2007 e 2015, o governo brasileiro contribuiu com 187,8
milhões de dólares para o combate à forme por meio de organismos internacionais,
ONGs ou embaixadas. 15% deste valor foi destinado à FAO.
Segundo a informação enviada, a atuação externa do Brasil na área de
segurança alimentar e nutricional e na cooperação humanitária tem recebido
reconhecimento internacional.
O relatório enumera várias ações brasileiras na área da cooperação
humanitária. A título de exemplo, cabe citar o envio de 2.705 toneladas de arroz
brasileiro à Guiné, Libéria e Serra Leoa, países atingidos pela crise de ebola, iniciativa
que se revestiu de grande importância para a provisão de alimentos às áreas isoladas
pela epidemia. No contexto da crise síria, no período de 2012 a 2015, foram realizadas
ações por intermédio do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados
(ACNUR) e pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), no valor total de
US$ 1.236.679,44, para atendimento emergencial a milhares de deslocados internos
sírios e refugiados sírios nos países vizinhos, por meio dos planos de resposta das
Nações Unidas.
O relatório do Itamaraty lembra que o retorno das ações de cooperação
humanitária desenvolvidas pelo Brasil não se limita ao fortalecimento das relações
internacionais do País, mas também tem impacto positivo sobre a qualidade de vida de
indivíduos em situação de vulnerabilidade e insegurança alimentar e nutricional, sem,
no entanto, apresentar evidências que sustentem tais afirmativas.
Juntamente com as informações foram encaminhadas a esta Comissão
pela CRE tabelas referentes ao orçamento da cooperação humanitária brasileira e a
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26
quantitativos de alimentos e medicamentos, as quais constam como Anexo III deste
Relatório.
O relatório não informa nenhuma métrica que indique algum tipo de
avaliação de resultado ou de qualidade do uso dos recursos utilizados nas atividades
financiadas.
2.4- Participação do Brasil em organismos e organizações internacionais
Foi solicitado ao Itamaraty, por meio do Requerimento nº 18, de 2016, da
CRE, relatório atualizado que avalie o resultado (em “value for money”) das
contribuições feitas a organismos e organizações internacionais.
Governos que têm longa experiência como doadores de organismos
internacionais, como o do Reino Unido, produzem avaliações anuais que quantificam o
“value for money” do recurso do contribuinte investido em assistência ao
desenvolvimento9. Documentos como esse também têm como objetivo dar
transparência para a sociedade sobre gastos na área internacional.
O Itamaraty esclarece que não produz informação desde tipo. Explica que
a participação do País em organismos e organizações internacionais, tanto regionais
como globais, fez do Brasil uma liderança (autodenominada) importante no mundo
atual. A avaliação da relevância de cada um desses foros para a projeção do Brasil no
mundo é feita caso a caso.
Segundo recorda o documento enviado pelo Itamaraty, em política
externa o custo de não participar é frequentemente mais elevado do que o custo de
participar, ainda que não possa ser regularmente qualificado. Ressalta que mediante sua
participação ativa em mais de uma centena de organismos e organizações
internacionais, o Brasil promove seus interesses em uma ampla gama de temas e
projeta, no plano internacional, os valores e objetivos nacionais.
9 Para referência, ver: https://www.gov.uk/government/collections/multilateral-aid-review.
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27
É importante lembrar que os atos de adesão do Brasil a organismos e
organizações internacionais são, por determinação constitucional, submetidos à
aprovação do Congresso Nacional (art. 49, I da Constituição Federal). Na hipótese de
que a participação do Brasil em qualquer organismo ou organização internacional deixe
de interessar ao País, em geral, está facultada a opção da denúncia do instrumento
internacional que viabilizou essa participação. O Brasil deixou, recentemente, dois
organismos internacionais: Grupo dos Quinze (2015) e a União Internacional para a
Publicação de Tarifas Aduaneiras (2016).
O Itamaraty enviou tabelas (Anexo IV) que contêm os dados relativos às
contribuições do Governo brasileiro a organismos e organizações internacionais.
Informa que o valor dos passivos brasileiros atualizados com multas e juros de mora é
matéria afeta à competência do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, órgão
ao qual incumbe aferir, controlar e processar o pagamento das contribuições aos
organismos e organizações internacionais, além da integralização de cotas e fundos a
entidades internacionais de natureza financeira.
O Brasil participa de 140 organismos internacionais, sendo que até 2000
participava de 98 delas (Nota-se que vários deles foram criados nos anos 2000). O
Brasil deveria pagar US$ 325,6 milhões em 2015. Porém, os pagamentos até o final de
2015 estavam todos atrasados na data de recebimento das informações do Itamaraty.
Há casos ainda mais sérios. Por exemplo, os pagamentos para a
Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (UNIDO) estão
atrasadas desde 2005, para o Instituto Social do Mercosul, desde 2009, e para a
Convenção sobre a Proibição de Armas Biológicas, desde 2007.
O Itamaraty considera que os efeitos do não pagamento das contribuições
devidas pelo Governo brasileiro resultam em expressivos prejuízos à imagem do País e
à implementação da Política Externa Brasileira. Prossegue afirmando que:
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28
O crescente contraste entre, de um lado, a projeção internacional
do Brasil, e de outro, a inadimplência do País na quase totalidade dos
organismos internacionais de que participa afeta a estratégia brasileira de
ampliar sua capacidade de atuação e sua presença no mundo.
3- ESTRUTURA ORGANIZACIONAL E ADMINISTRATIVA DO
MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES (MRE)
3.1- Estrutura organizacional e administrativa do MRE
Atualmente a estrutura organizacional e administrativa do Ministério das
Relações Exteriores encontra previsão no Decreto nº 8.817, de 21 de julho de 2016, que
aprova a Estrutura Regimental e o Quadro Demonstrativo dos Cargos em Comissão e
das Funções de Confiança do Ministério das Relações Exteriores, remaneja cargos em
comissão e funções gratificadas e substitui cargos em comissão do Grupo Direção e
Assessoramento Superior-DAS por Funções Comissionadas Técnicas do Poder
Executivo Federal - FCPE. Esse Decreto revogou o Decreto nº 7.304, de 22 de
setembro de 2010, que aprova a Estrutura Regimental e o Quadro Demonstrativo dos
Cargos em Comissão e das Funções Gratificadas do Ministério das Relações
Exteriores, e dá outras providências.
Tendo em vista que o período da política externa brasileira a ser avaliado
pela Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado Federal é anterior
ao Decreto ora vigente, este último Decreto nº 7.304, de 2010, será a base para este
relatório, assim como o foi em relação às informações prestadas pelo MRE, em resposta
ao Requerimento nº 18, de 2016, da CRE.
Sobre a infraestrutura diplomática do governo brasileiro, o Itamaraty
assinalou, ao responder o Requerimento, haver “reconhecimento internacional” quanto
ao aumento do peso do Brasil no cenário global. Segundo lembrou, o Brasil é um dos 11
países do mundo que mantêm relações diplomáticas com todos os demais 192 países da
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29
Organização das Nações Unidas (ONU). Intensificou-se o processo de
internacionalização das empresas brasileiras, aumentou o afluxo de capitais para o País,
uma parcela cada vez mais significativa de brasileiros viaja ao exterior e o Brasil passou
a desenvolver amplo programa de cooperação que beneficia cerca de uma centena de
países em desenvolvimento. Não é evidente que esta narrativa apresentada pelo
Itamaraty se sustente até final de 2015, quando o Brasil já estava enfrentando uma grave
crise econômica e política e estava sem honrar seus pagamentos em organismos
internacionais.
A estrutura do Ministério das Relações Exteriores é composta por
unidades no Brasil e no exterior. Em Brasília, encontra-se a Secretaria de Estado das
Relações Exteriores, abrangendo a Secretaria-Geral das Relações Exteriores, as
Subsecretarias-Gerais e suas respectivas Coordenações, Departamentos e Divisões, bem
como o Instituto Rio Branco. Há também, unidades descentralizadas como os
Escritórios de Representação e as Comissões Brasileiras Demarcadoras de Limites.
A estrutura organizacional conta com 9 Subsecretarias, 37
Departamentos, 36 Coordenações-Gerais e 72 Divisões e 9 Escritórios Regionais
localizados em capitais brasileiras.
No exterior, o Ministério conta com 226 Postos, dos quais 139
Embaixadas, 71 Repartições Consulares; 13 Missões ou Delegações junto a organismos
e organizações internacionais e 3 Escritórios. Este relatório analisa com mais detalhe os
postos do Ministério no exterior, segundo dados enviados ao Senado Federal.
Segundo destacado na informação do Itamaraty, essa estrutura do Serviço
Exterior permite ao Estado brasileiro desempenhar as funções necessárias para defender
e projetar os interesses econômicos, políticos e culturais do Brasil no mundo e atender
às crescentes demandas de empresas e de nacionais brasileiros que vivem no exterior.
Os documentos não apresentam nenhum desafio enfrentado pelo Ministério ou
oportunidade de melhoria para que atual estrutura organizacional possa melhorar a
gestão da política externa e a prestação dos serviços consulares.
Gabinete do Senador Tasso Jereissati
30
O Anexo V apresenta organograma com estrutura organizacional do
MRE.
3.2- Carreiras do Serviço Exterior Brasileiro
O Serviço Exterior Brasileiro (SEB) é composto pelas Carreiras de
Diplomata, de Oficial de Chancelaria e de Assistente de Chancelaria. O ingresso em
qualquer uma dessas três carreiras exige a aprovação em concurso público específico.
Elas são, de resto, reguladas pelas Leis nº 8.829, de 22 de dezembro de 1993 (oficiais e
assistentes de chancelaria) e nº 11.440, de 29 de dezembro de 2006 (diplomatas).
Apenas os membros do SEB podem ser agentes do Ministério das
Relações Exteriores no Brasil e no exterior. No Brasil, as funções gratificadas e cargos
comissionados são reservados aos membros do SEB, sendo as principais exceções os
cargos de Ministro das Relações Exteriores e Consultor Jurídico. Também no Exterior,
apenas o cargo de Embaixador pode ser ocupado por alguém de fora do SEB.
Nas três carreiras do SEB, o processo de promoção depende da existência
de vaga na classe superior, o cumprimento de requisitos exigidos para uma determinada
classe, votações por parte de integrantes de cada carreira e a escolha por parte de
Comissões específicas que avaliam as qualificações e o mérito dos servidores. A lista de
promovidos, no caso dos três níveis mais altos da carreira diplomática é encaminhada à
aprovação do Presidente da República pelo Ministro das Relações Exteriores.
3.2.1- Carreira de Diplomata
O MRE, na resposta do Requerimento nº 18, de 2016, da CRE, destacou
que a Carreira de Diplomata foi uma das primeiras carreiras do serviço público
brasileiro a institucionalizar-se, com concursos públicos anualmente realizados desde
1945.
Segundo o art. 37 da Lei nº 11.440, de 2006, a estrutura da carreira é a
seguinte: Ministro de Primeira Classe; Ministro de Segunda Classe; Conselheiro;
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31
Primeiro-Secretário; Segundo-Secretário e Terceiro-Secretário. O número de diplomatas
a integrarem cada classe está definido pela mesma Lei, de modo que a quantidade de
promovidos depende da abertura de vagas nas classes superiores, que podem ocorrer em
virtude de aposentadorias ou passagem para o Quadro Especial (art. 54 da Lei nº
11.440, de 2006).
A promoção funcional do diplomata dá-se, fundamentalmente, por
merecimento, sendo os critérios definidos por Lei. Eles se baseiam em um interstício
mínimo de permanência na classe; ter cumprido número mínimo de anos de serviços
prestados no exterior.
No caso do Terceiro para Segundo-Secretário, a promoção dá-se por
antiguidade na classe, e o Terceiro-Secretário deverá ter cumprido o interstício mínimo
de três anos de permanência na classe. De Segundo para Primeiro-Secretário, a
promoção dá-se por merecimento. Além dos requisitos anteriores, o Segundo-Secretário
deverá ter sido aprovado no Curso de Aperfeiçoamento de Diplomatas (CAD) do
Instituto Rio Branco e ter permanecido pelo menos dois anos servindo no exterior. De
Primeiro-Secretário a Conselheiro, a promoção dá-se também por merecimento e exige-
se, além do anterior, período mínimo de 10 anos de efetivo exercício na Carreira de
Diplomata e ter sido aprovado no Curso de Atualização em Política Externa (CAP –
ainda não implementado); de Conselheiro a Ministro de Segunda Classe, a promoção
também é por merecimento; o Conselheiro deve satisfazer o mesmo interstício mínimo
de permanência na classe, ter cumprido pelo menos sete anos e meio de serviços
prestados no exterior; e ter ao menos 15 anos de efetivo exercício na Carreira de
Diplomata e, ainda, ter sido aprovado e apresentado tese sobre Política Externa
Brasileira no Curso de Altos Estudos (CAE), do Instituto Rio Branco. De Ministro de
Segunda Classe a Ministro de Primeira Classe, o anterior, ter cumprido pelo menos dez
anos de serviço prestado no exterior; ter pelo menos 20 anos de efetivo exercício na
Carreira de Diplomata e ter sido, por pelo menos três anos, titular de funções de chefia,
no Brasil ou no exterior, equivalentes ou superiores ao nível DAS-4.
Gabinete do Senador Tasso Jereissati
32
Para ser promovido, o Diplomata deve primeiramente integrar um
“Quadro de Acesso” que é elaborado todo início de semestre (janeiro e julho). Em
seguida, são realizados dois processos de votação, pelos colegas da mesma classe e
pelos Diplomatas de classe superiores. Há, ademais, três Câmaras de Avaliação (Chefes
de Divisão; Diretores de Departamento e Subsecretários-Gerais). Os Diplomatas
escolhidos passam então a integrar o Quadro de Acesso, do qual, após reunião dos
Subsecretários, serão escolhidos os nomes a integrar lista preliminar a ser apresentada
ao Ministro das Relações Exteriores e posteriormente ao Presidente da República. As
promoções ocorrem semestralmente, em julho e dezembro.
3.2.1.1- Seleção e Treinamento: Instituto Rio Branco
Acerca do Instituto Rio Branco, o Itamaraty esclareceu que os candidatos
aprovados no Concurso de Acesso à Carreira de Diplomata (CACD) são empossados na
classe inicial de Terceiro-Secretário e matriculados no Curso de Formação do Instituto
Rio Branco, o qual tem duração de três ou quatro semestres. A aprovação no Curso de
Formação do Instituto Rio Branco é condição essencial para a confirmação como
funcionário do Serviço Exterior Brasileiro.
O curso tem por objetivo a capacitação profissional e a avaliação das
aptidões e da capacidade do servidor nomeado para exercer o cargo inicial da carreira de
diplomata, e compreende as atividades de formação e desempenho funcional por meio
de aulas regulares de disciplinas de línguas e de conteúdo, ministradas com a finalidade
de formar os novos diplomatas em assuntos relacionados à História do Brasil, História
Mundial, Política Internacional, Teoria Política, Direito Internacional e Economia, entre
outras e também aperfeiçoá-los em línguas estrangeiras, ou seja, em inglês, francês e
espanhol, todos esses obrigatórios.
O aluno deverá, ainda, optar por mais um idioma, escolhendo entre
mandarim, russo e árabe. Além das aulas de disciplinas e línguas, o curso compõe-se de
módulos profissionalizantes, palestras, viagens de estudos a diversas regiões do Brasil e
orientação profissional, que consiste em encontros periódicos dos jovens diplomatas
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33
com as altas chefias do Itamaraty, que compartilham seus conhecimentos e
experiências, renovando-se, assim, o padrão de excelência e profissionalismo da carreira
diplomática.
Após os dois ou três semestres do curso, os alunos passam a cumprir
estágio profissional na Secretaria de Estado das Relações Exteriores concomitantemente
com a realização do último semestre de estudos no Instituto.
Vale ressaltar que vários países mantêm academias diplomáticas. Em
anexo, segue quadro com dados de algumas delas (Anexo VI).
Segundo a grade curricular enviada pelo Ministério, a formação do
Instituto Rio Branco conta majoritariamente com professores da própria carreira
diplomática. Os programas das matérias dão mais peso a informarem os novos entrantes
sobre o pensamento predominante no Itamaraty, o que é importante, mas muito pouco
peso a questões práticas afeitas à carreira diplomática, tais como negociação, economia
aplicada, liderança, desenvolvimento internacional, gestão (já que muitos diplomatas
seguem carreira na área Consular ou gerindo a burocracia interna) ou análise de
métodos quantitativos.
Ademais, não fica claro porque a composição do quadro docente é
predominantemente composto por diplomatas de carreira. Enquanto tal assunto poderia
ser objeto de uma análise mais aprofundada, é possível conjecturar, a partir de conversar
informais com servidores do MRE, que os efeitos dessa escolha podem ser diversos. Se
por um lado, pode uniformizar o “mindset” dos novos diplomatas, por outro, pode
impulsionar uma entropia organizacional relevante, o que pode potencialmente inibir
inovação. Além disso, tal escolha não aproveita a vantagem comparativa de acadêmicos
de área técnicas que dedicam sua carreira a esta campo do conhecimento. O maior
intercâmbio do Ministério com a academia, assim como ocorre em outros países, talvez
poderia ser vislumbrado no futuro.
Gabinete do Senador Tasso Jereissati
34
3.2.2- Carreiras de Oficial de Chancelaria e de Assistente de Chancelaria
Nas Carreiras de Oficial de Chancelaria e de Assistente de Chancelaria,
as promoções são regulamentadas pelas Leis nºs 11.440, de 2006; 8.829, de 1993, e
11.907, de 2 de fevereiro de 2009, e, ainda, pelo Decreto nº 1.565, de 21 de julho de
1995.
Ambas as carreiras estão divididas em quatro patamares: Classe “A”;
Classe “B”; Classe “C” e Classe “Especial”. Assim como no caso dos Diplomatas, as
promoções por mérito dependem do cumprimento de requisitos, como prazo mínimo de
efetivo exercício no MRE (seis anos para a Classe “B” e doze anos para a Classe “C”);
aprovação em curso de atualização ou de capacitação; mínimo de anos de serviço
prestado no exterior (seis anos, para a Classe “C”). Dependem também do resultado de
votação e análise de desempenho por parte da Comissão de Promoções. Como no caso
dos Diplomatas, o número de promovidos depende de abertura de vaga na classe
superior.
Em alguns países, como a Suíça, todo o serviço consular é
responsabilidade de uma carreira equivalente ao dos Oficiais de Chancelaria. Apenas os
consulados de maior importância para o país, a exemplo do de Nova York, são
chefiados por diplomatas. O raciocínio por trás desta escolha é que as habilidades
requeridas de um bom gestor consular são diferentes de um bom diplomata, portanto os
critérios de seleção devem ser diferentes. Há, também, diferenças salarias, dado que as
habilidades requeridas são diferentes. No contexto de ajuste fiscal e uma possível
reorganização do MRE, este é um tema que poderia ser debatido com mais
profundidade.
3.3- Postos no exterior
3.3.1- Informações Gerais
Na resposta ao Requerimento nº 18, de 2016, da CRE, o Itamaraty
apresentou informações sobre o funcionamento de Postos no exterior destinados à
representação diplomática do Brasil, que é uma das principais atividades-fim do
Gabinete do Senador Tasso Jereissati
35
Ministério. São 226 as repartições diplomáticas e consulares mantidas pelo Ministério
no exterior, muitas das quais contam com setores comerciais e centros culturais.
É, ademais, por intermédio dos postos que o MRE desempenha suas
atividades finalísticas de promoção comercial, divulgação cultural, cooperação
humanitária, serviços consulares e assistência a brasileiros no exterior. Segundo o
Itamaraty, os valores totais de gastos apurados por Posto excedem em muito o
orçamento de custeio anual do MRE, uma vez que é acrescido de parcela coberta pelo
orçamento de pessoal.
É importante assinalar que os Postos no exterior obedecem a
classificação em categorias A, B, C e D, de acordo com sua importância para o Brasil,
bem como de acordo com as condições de vida nas cidades-sede. Essa classificação tem
implicações para a rotatividade de servidores entre os diferentes Postos, havendo regras
para evitar que estes passem apenas por Postos de categorias mais favoráveis.
Do total, 60 representações são A, 43 são B, 52 são C e 71 são D. Desde
2003, 44 novas embaixadas foram abertas, além de mais 22 consulados. O gasto total
das representações diplomáticas foi de 665,8 milhões de dólares, sendo que o gasto
médio por posto de 2,9 milhões de dólares10.
3.3.1.1 - Postos diplomáticos abertos após 2003
Os 66 novos postos diplomáticos e consulares abertos após 2003
localizam-se predominantemente em países de baixa e média renda, porém com um alto
e desigual nível de atividade econômica nos últimos anos - medida pelo crescimento do
PIB per capita -, conforme mostra o gráfico 6. Nota-se que os países com maior
dinamismo econômico nos últimos anos estão na Ásia, Leste Europeu e África (vide
gráfico 7). Os oito países do Caribe em que o Brasil abriu embaixadas não possuem, na
média, o mesmo ritmo de desempenho econômico dos demais continentes. Os países
africanos em que o Brasil abriu embaixadas após 2003 apresentam uma ampla dispersão
10 E a mediana de 2,1 milhões de dólares.
Gabinete do Senador Tasso Jereissati
36
desempenho econômico. Enquanto a Etiópia cresceu mais de 7% nos últimos cinco
anos, a República da Guiné e da Guiné Equatorial cresceram negativamente.
Gráfico 6
O gráfico 6 apresenta a correlação por países (círculos em cinza os países em
que o Brasil tinha postos diplomáticos antes de 2003 e quadrados cinza claro
os países em que o Brasil abriu postos diplomáticos após 2003) no que se
refere ao PIB e aos gastos de custeio pelo governo brasileiro nesses postos
diplomáticos (exceto imóveis). A ideia deste gráfico é mostrar o perfil das
novas embaixadas abertas após 2003.
No que se refere ao comércio exterior, nota-se pelo gráfico 8 que após a
abertura das embaixadas houve uma melhoria marginal nos resultados agregados do
comércio. Mas a dispersão é muito grande e, de modo global, o investimento nas novas
embaixadas possivelmente não cobrem os retornos econômicos auferidos pelo Brasil.
Os dados do Brasil não sugere causalidade entre a presença de embaixada e resultados
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37
econômicos. O gráfico 8 compara o total das exportações antes (1995-2002) e depois
(2003-2015) da abertura de embaixadas11.
Gráfico 7
O gráfico 7 apresenta a correlação por países (círculos em cinza os países em
que o Brasil tinha postos diplomáticos antes de 2003 e quadrados cinza claro
os países em que o Brasil abriu postos diplomáticos após 2003) no que se
refere ao crescimento do PIB e aos gastos de custeio pelo governo brasileiro
nesses postos diplomáticos (exceto imóveis). A ideia deste gráfico é mostrar o
perfil das novas embaixadas abertas após 2003.
11 Os dados não estão controlados por outras variáveis que talvez possam explicar tais diferenças. O
gráfico não sugere causalidade, apenas uma baixa correlação entre abertura de embaixadas em um país e
desempenho de exportações brasileiras para tal país.
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38
Gráfico 8
O gráfico à esquerda apresenta a correlação por países (círculos em cinza os
países em que o Brasil tinha postos diplomáticos antes de 2003 e quadrados
cinza claro os países em que o Brasil abriu postos diplomáticos após 2003) no
que se refere ao total de exportações entre 1995-2002 e aos gastos de custeio
pelo governo brasileiro nesses postos diplomáticos (exceto imóveis). O gráfico à
direita usa, por sua vez, o valor das exportações entre 2003 e 2015. A ideia em
contrapor ambos os gráficos é evidenciar visualmente uma possível correlação
– ou não – entre abertura de embaixada e desempenho em exportações.
Não foi feita uma avaliação política ou geopolítica exaustiva da abertura
das novas embaixadas, até porque seriam necessários dados adicionais do Itamaraty
para que fosse possível leva-los em consideração. Mas o Quadro 1 mostra que o
resultado médio agregado do nível de apoio político dos países que receberam novos
postos diplomáticos após 2003 em três eventos distintos não é necessariamente
significativo.
Gabinete do Senador Tasso Jereissati
39
As evidências apresentadas parecem evidenciar que foi aberta uma
quantidade de embaixadas nos últimos anos acima do nível ótimo. Ressalta-se que
Brasil abriu postos diplomáticos em países estratégicos para a política externa nacional,
tais como Etiópia, Cazaquistão ou Eslováquia. Entretanto, talvez caiba uma análise mais
precisa sobre a quantidade de embaixadas para que os custos caibam no orçamento do
MRE, em um momento de ajuste fiscal.
Quadro 1
Apoio político dos países que receberam postos diplomáticos brasileiros após 2003
em três eventos
3.3.1.2 – Relação entre postos diplomáticos e economia em nível
global
É possível também observar se há relação entre o número total de postos
diplomáticos, ou somente de embaixadas, com variáveis econômicas em nível global.
Tipo de apoio político recebido pelo governo brasileiro de países em que
o Brasil abriu postos diplomáticos após 2003Sim Não
% do total aplicável 25% 75%
Número em que o Brasil abriu
postos diplomáticos após 200314 42
% do total aplicável 13% 87%
Número em que o Brasil abriu
postos diplomáticos após 20032 13
% do total aplicável 44% 56%
Número em que o Brasil abriu
postos diplomáticos após 200327 35
Média agregada % do total aplicável 27% 73%
O país votou a favor da eleição do embaixador Roberto Azevêdo como Diretor-
Geral da Organização Mundial do Comércio
O país votou a favor do ingresso do Brasil no Banco Asiático de
Desenvolvimento
O país apoia formalmente à aspiração brasileira por assento permanente no
Conselho de Segurança das Nações Unidas
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40
Gráfico 9
Número total de postos diplomáticos, atividade econômica e tamanho da economia
O gráfico 9 mostra a correlação do número de postos diplomáticos de cada país
selecionado com o nível de crescimento econômico médio real entre 2005 e
2015). O diâmetro do círculo é proporcional ao tamanho da economia dos
países. Fontes: Banco Mundial e www.embassypages.com12.
Observa-se pelos dados em nível global que não há relação direta entre o
número de postos diplomáticos e nível de atividade econômica (gráfico 9). Porém, os
países mais ricos, e quem têm um papel de liderança em nível global, tendem a ter um
maior número de embaixadas a redor do mundo (gráfico 10).
12 A fonte usada para analisar os dados globais não é oficial (www.embassypages.com), mas é coletada
baseada no mesmo critério para todos os países.
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41
Gabinete do Senador Tasso Jereissati
42
Gráfico 10
Número de embaixadas e PIB por países selecionados
O gráfico10 mostra a correlação do número de embaixadas de cada país
selecionado com o tamanho da economia de cada país (2015). Fontes: Banco
Mundial e www.embassypages.com.
É de se esperar que países mais dependentes do comércio global (como
percentagem do PIB) tenham uma participação física, por meio de representações
diplomáticas, maior. O gráfico 11 mostra isso também não é necessariamente verdade.
O número de postos diplomáticos de um país parece que responde a critérios
idiossincráticos – talvez políticos ou históricos – que não necessariamente refletem na
dinâmica da economia global.
Argentina
Mexico
Russia
China
Brasil
India
Turquia
Indonesia
Alemanha
Japao
EUA
Suíça
França
Africa do Sul
Coréia do Sul
80
10
012
014
016
018
0
Nú
mero
tota
l d
e e
mba
ixa
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xte
rio
r
0 5000 10000 15000 20000GDP (2015) in US$ Billion
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43
Gráfico 11
Números de postos diplomáticos, embaixadas e participação do comércio exterior
(produtos e serviços) no PIB de países selecionados
O gráfico11 mostra a correlação do número de postos diplomáticos e
embaixadas de cada país selecionado com a importância do comércio exterior
de produtos e serviços relativamente ao PIB (média 2005-2015). Fontes: Banco
Mundial e www.embassypages.com.
3.3.1.3 – Remuneração dos servidores e folha de pagamento do MRE
Os servidores do quadro do MRE, como destacado no documento,
lotados nas repartições diplomáticas e consulares no exterior, assim como os militares,
têm sua remuneração fixada de acordo com a Lei nº 5.809, de 10 de outubro de 1972, e
com o Decreto nº 71.733, de 18 de janeiro de 1973. A remuneração é baseada em
critérios hierárquicos das carreiras do Serviço Exterior Brasileiro e no custo de vida de
cada cidade-sede de repartições no exterior. Assim, a remuneração de um iniciante na
carreira, Terceiro-Secretário, em uma grande cidade como Nova York, por exemplo,
Gabinete do Senador Tasso Jereissati
44
difere daquela a ser recebida em uma cidade onde o custo de vida é muito mais
modesto, como La Paz, considerando a mesma classe.
Quanto aos auxiliares locais dos postos no exterior, atualmente, há 3.264
auxiliares locais, de diferentes nacionalidades, contratados pelas repartições
diplomáticas e consulares do Brasil no exterior. Desse número, cerca de um terço é
constituído por brasileiros. O auxiliar local desempenha as funções técnicas,
administrativas e de apoio descritas no art. 5.2.1 da Portaria nº 420, de 25 de abril de
2011. O auxiliar local, nos termos do art. 56 da Lei nº 11.440, de 2006, é admitido para
prestar serviços ou desempenhar atividades de apoio que exijam familiaridade com as
condições de vida, os usos e os costumes do país onde esteja sediado o Posto.
O auxiliar desempenha, ainda, função de elo entre a Chancelaria e a
comunidade local. Ele deve, necessariamente, dominar o idioma local ou estrangeiro de
uso corrente no país, conforme exigência da Lei nº 11.440, de 2006, e residir no país em
que está sediada a repartição (por isso, é também chamado de “contratado local”), bem
como ter permissão para o exercício de atividade remunerada no país. O salário do
auxiliar local é fixado de acordo com o art. 5.8 da Portaria nº 420, de 2011, o qual leva
em conta as condições de mercado e da legislação locais como parâmetro para a
fixação.
Os direitos trabalhistas e previdenciários dos auxiliares locais regem-se
pela legislação do país em que foram contratados. É garantida ao auxiliar local
assistência médica, extensível aos seus dependentes. Caso o auxiliar local brasileiro não
possa, em razão de norma local, filiar-se ao sistema previdenciário do país de domicílio,
será inscrito na previdência social brasileira, conforme determina o art. 57, § 1º da Lei
nº 11.440, de 2006, e do art. 17 do Decreto nº 1.570, de 21 de julho de 1995.
A folha de pagamento do MRE no exterior foi em 2015 de 310,2 milhões
de dólares. Há 5,296 funcionários do MRE e de contratados locais trabalhando nas
representações diplomáticas. A média por posto é de 23 funcionários. Desde total, os
funcionários de carreira do Itamaraty somam 2,032, sendo que o total de diplomatas é
Gabinete do Senador Tasso Jereissati
45
de 731. A média é de 9 funcionários do Itamaraty por representação, sendo 3 desses
diplomatas.
Há 1.080 servidores de Oficial e de Assistente de Chancelaria
trabalhando nas representações brasileiras no exterior, sendo que cada posto tem, em
média, 4 a 5 servidores. Os outros 3.264 funcionários no exterior são contratados locais,
sendo que cada posto tem, em média, 14 funcionários.
O governo brasileiro gastou com contratados locais no exterior em 2015
91,3 milhões de dólares, sendo que o gasto médio por posto foi de 404 milhões de
dólares. Os gastos com servidores do Itamaraty no exterior foram de 105,1 milhões de
dólares em 2015.
Na média, para cada diplomata, há 1,5 oficial de chancelaria e 4,5
contatado local trabalhando nas representações diplomáticas brasileiras ao redor do
mundo. Os cargos dos Chefes de Posto são variados:
um Embaixador não integrante das carreiras do Serviço Exterior
Brasileiro;
142 Ministros de Primeira Classe;
58 Ministros de Segunda Classe;
4 Oficiais de Chancelaria;
14 Encarregados de Negócios.
3.3.1.4 – Imóveis do MRE no exterior
Sobre os imóveis, o MRE informou a existência de imóveis próprios
nacionais e registram os valores gastos com aluguéis em localidades onde o Ministério
não dispõe de imóveis para abrigar as suas representações no exterior. Segundo as
Gabinete do Senador Tasso Jereissati
46
informações enviadas, o MRE mantém 140 imóveis próprios nacionais no exterior para
abrigar a rede de missões diplomáticas e consulares brasileiras. Os demais 321 imóveis,
que abrigam, além de chancelarias, repartições consulares, residências oficiais de
Chefes de Posto (Embaixadores) e os centros culturais brasileiros no exterior, são
alugados. Os contratos de locação obedecem a legislação do país sede da missão e os
parâmetros do imóvel são definidos de acordo com ampla pesquisa de mercado,
verificação do custo de vida local, localização dos bairros diplomáticos e avaliação de
aspectos políticos de representação diplomática.
Os contratos são examinados por advogado local e pela Consultoria
Jurídica do Itamaraty (AGU), que analisa os documentos à luz da leis e princípios que
regulamentam a administração pública brasileira. Os valores são fixados em dólares
norte-americanos ou na moeda local, segundo a praxe do mercado imobiliário do país
em questão. O período dos contratos varia de 1 a 5 anos, mas há também a possibilidade
de aluguéis serem realizados por meio de contrato de “leasing” de longa duração.
3.3.1.5 – Gastos de custeio do MRE no exterior
Com relação aos gastos com custeio e com Tecnologia da Informação
(TI), foi destacado que as verbas de custeio dos Postos no exterior são utilizadas para a
cobertura das seguintes despesas: serviços básicos como água, eletricidade, gás,
calefação, telefonia, segurança, limpeza, manutenção de elevadores, assessoria jurídica,
assessoria contábil, despesas postais, reparos e consertos de máquinas e aparelhos,
reparos e consertos em geral, como manutenção dos imóveis, dentre outros serviços
prestados por pessoas físicas ou jurídicas; materiais de consumo, tais como material de
escritório, combustível para veículos oficiais, gêneros alimentícios para recepções
oficiais, jornais e periódicos, material de limpeza; aquisição de passagens de trem e
ônibus, trechos aéreos não passíveis de emissão pela agência central contratada no
Brasil, taxas aeroportuárias e outras despesas de locomoção e custeio de serviços de
tecnologia da informação.
Gabinete do Senador Tasso Jereissati
47
A informação enviada pelo Itamaraty assinala não haverem sido incluídas
despesas destinadas às atividades finalísticas mais específicas do Ministério, tais como
Promoção Comercial, Difusão Cultural e Cooperação Internacional, mas somente
aquelas relativas ao funcionamento dos Postos no exterior e concernentes à atividade
finalística principal de representação e presença diplomática e consular, por meio de
ações orçamentárias relativas a Relações e Negociações Bilaterais e Relações e
Negociações Multilaterais.
Por meio do Requerimento, foram solicitados dados relativos aos gastos
totais por Posto no exterior por período de 20 anos, de 1995 a 2015. O Itamaraty
esclareceu que em 1995 não dispunha de sistemas gerenciais informatizados que
permitissem a organização dos dados em questão. Esclareceu, ademais, que mesmo nos
dias de hoje, os sistemas existentes não facilitam a organização das informações no
formato desejado, tendo sido necessário colher dados de seis unidades diferentes a fim
de preencher a planilha base solicitada no item I do Requerimento de Informação nº18,
de 2016-CRE, a respeito de dados detalhados de gastos de todos os Postos no exterior
no exercício de 2015.
Para os exercícios anteriores a 2015, foram utilizadas as informações do
SIAFI (Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal), que
dispõe de informações a partir de 2006. Até o ano de 2007, devido a problemas técnicos
relativos a peculiaridades operacionais do Itamaraty, especialmente o fato de operar no
exterior em diferentes moedas estrangeiras, as Repartições Diplomáticas e Consulares
não estavam interligadas ao SIAFI. Até então, todos os recursos destinados aos Postos
no exterior eram primeiramente encaminhados ao Escritório Financeiro do MRE em
Nova York, que viabilizava o envio dos recursos aos Postos por meio das contas
bancárias no Banco do Brasil.
Para o exercício de 2006, consequentemente, foi possível apresentar o
volume de recursos registrado pelo Escritório Financeiro, que engloba a totalidade dos
recursos de todos os Postos existentes naquele ano. Nesse montante estão incluídas as
despesas com o funcionamento dos Postos, tais como aluguéis, serviços básicos,
Gabinete do Senador Tasso Jereissati
48
contratados locais e material de consumo. Mas igualmente os gastos com a realização de
atividades de promoção comercial, difusão cultural, cooperação humanitária, dentre
outras atividades. Nesse montante estão incluídas também as contribuições a
organismos e organizações internacionais que, naquele exercício, estavam sob a
responsabilidade do MRE.
Ressalte-se, ademais, que não estão incluídos nos gastos normais dos
Postos no exterior no SIAFI os recursos relativos ao pagamento dos servidores do
Quadro do MRE já lotados, cuja remuneração mensal é paga diretamente em suas
contas-salário individuais mantidas junto ao Banco do Brasil nos Estados Unidos da
América. O Ministério já incluiu, conforme os dados apresentados, 81 unidades gestoras
no exterior e os demais 145 Postos continuam a receber recursos por intermédio do
Escritório Financeiro em Nova York. Os recursos destinados registrados para esse
escritório ao longo do período de 2006 a 2014 correspondem à totalidade de recursos
destinados aos Postos não interligados ao SIAFI (28 postos estão ligados ao SIAFI.
Vide dados no gráfico 12). A variação cambial é, segundo reporta o Itamaraty, o
principal problema a afetar hoje o orçamento do MRE.
Gráfico 12
Em outra planilha mais detalhada, o MRE informou que os gastos com
custeio no exterior, exceto aluguéis, foram de 196,4 milhões de dólares13 em 2015. O
13 Taxa de câmbio utilizada pelo MRE foi de 3,50 R$/US$.
Gabinete do Senador Tasso Jereissati
49
gasto médio por posto em custeio foi de 868,9 mil dólares. Os gastos com aluguel de
imóveis oficiais no exterior foram de 63,9 milhões de dólares em 2015. O gasto médio
por posto foi de 282,7 mil dólares.
No gráfico 13 é possível observar a relação entre: gastos de custeio das
representações diplomáticas do Itamaraty no exterior, crescimento médio do PIB dos
últimos dez anos nos respectivos países e PIB de 2015 (proporcional ao tamanho do
círculo). Ressalta-se que os gastos do MRE estão mais concentrados em regiões
tradicionalmente de renda mais elevada, porém com menor dinamicidade econômica
nos últimos 10 anos. Embora este gráfico não mostre o peso político de cada país,
é possível ter uma ideia da correlação entre a alocação de infraestrutura
diplomática por país e dinâmica econômica global recente.
Gráfico 13
Crescimento do PIB, gastos com custeio e PIB
O gráfico 13 mostra a correlação por países no que se refere ao crescimento
do PIB e aos gastos de custeio pelo governo brasileiro nesses postos
diplomáticos (exceto imóveis). O diâmetro do círculo é proporcional ao
tamanho da economia dos países.
Gabinete do Senador Tasso Jereissati
50
Já no gráfico seguinte (14), utiliza-se a correlação entre as exportações
brasileiras nos últimos vinte anos, gastos de custeio em 2015 (exceto imóveis) e PIB de
2015 (proporcional ao tamanho do círculo). É possível observar que na mesma faixa de
exportações e países equivalentes em termos de renda, há uma variabilidade
significativa nos gastos de custeio. Se por um lado, isso pode ser devido à presença de
organismos internacionais nesses países (a exemplo do Quênia, onde se localiza o a sede
do Programa das Nações Unidas para o Meio ambiente (PNUMA)), por outro lado, em
um contexto de ajuste fiscal, essas diferenças mereceriam uma análise mais
pormenorizada, inclusive calibrando variáveis políticas.
Gráfico 14
Exportações brasileiras, gastos com custeio e PIB
O gráfico 14 mostra a correlação por países no que se refere volume de exportações e
aos gastos de custeio pelo governo brasileiro nesses postos diplomáticos (exceto
imóveis). O diâmetro do círculo é proporcional ao tamanho da economia dos países. A
ideia deste gráfico é mostrar de forma visual a alocação de recursos do Itamaraty
levando em consideração o tamanho da economia dos países onde o Brasil tem
representação diplomática e o histórico exportador do Brasil para tais países.
Gabinete do Senador Tasso Jereissati
51
3.3.1.6 – Serviços consulares
O MRE também informou que os serviços consulares cartoriais incluem
atos notariais, emissão do Cadastro de Pessoa Física (CPF), documentos de viagem e
prestação dos serviços entre estrangeiros ou brasileiros. Por essa razão, foram
classificados como atendimento a brasileiros em 2015.
No total, 3,1 milhões de brasileiros vivem no exterior. O número dos
atendimentos consulares em 2015 foi de 971 mil, sendo que a média por posto foi 5,1
mil. 66% dos atendimentos foram referentes a atos notoriais, 27% relativos a
documentos de viagem, 5% para registros civis e 2% para fazer CPF. O número de
estrangeiros atendidos por ano (vistos) foi de 292 mil pessoas, sendo a média por posto
de 2.698 e a mediana de 483.
3.3.1.7 – Investimentos em modernização
Ainda sobre os investimentos em tecnologia da informação (TI) feitos
nos últimos cinco anos com o objetivo de redução de custos e segurança no fluxo dos
dados, o Itamaraty informou que, na década de setenta, o desenvolvimento dos
primeiros sistemas informatizados de comunicação com a rede de postos no exterior,
projeto este que deu origem ao Centro de Pesquisa e Desenvolvimento para a Segurança
das Comunicações (CEPESC), hoje subordinado à ABIN (Agência Brasileira de
Informação), que implementou os primeiros sistemas de criptografia de Estado para as
comunicações da Secretaria de Estado com sua rede de postos no exterior. Os
investimentos em TI no Itamaraty correspondem a 2% a 3% do orçamento global de
custeio/investimento do Ministério, na busca da garantia da segurança e confiabilidade
das comunicações com os postos no exterior.
Especificamente sobre investimentos em postos no exterior, o Itamaraty
informou que entre 2011 e 2015, foram despendidos um total de 26,8 milhões de
dólares (média de 5,4 milhões de dólares por ano, ou 23,6 mil dólares por posto/ano) em
equipamentos, sistemas e softwares, acesso à internet, e serviços de manutenção e
suporte à rede de 227 postos no exterior. Dentre esses gastos destacam-se a renovação
Gabinete do Senador Tasso Jereissati
52
periódica de equipamentos, instalação de rede Voip em 100 postos, que permite a
comunicação de voz via internet gratuita com a Secretaria de Estado, e a Rede Mundial
Itamaraty, já instalada em 20 missões diplomáticas e consulares, que permite o acesso
irrestrito pelo posto, por meio de canal criptografado, a todos os bancos de dados da
Secretaria de Estado, inclusive os sigilosos.
Dentre os contratos de desenvolvimento para reduzir custos e aumentar a
segurança e eficiência de sistemas, o Itamaraty realça os seguintes projetos
empreendidos nos últimos anos:
Novo sítio eletrônico do MRE na internet;
Padronização de todos os sítios eletrônicos dos postos em um único formato (kit-
web), hospedados nos servidores centrais em Brasília e não mais no exterior,
eliminando o custo de desenvolvimento e hospedagem;
Criação da “Diplopédia”, ferramenta colaborativa no formato wiki, localizada
na intranet do Ministério para a gestão do conhecimento e de informações;
Reformulação da intranet do MRE (denominada Intratec), para
compartilhamento mais ágil e seguro de informações corporativas;
Criação do primeiro módulo do projeto GED (gestão eletrônica de documentos),
que substituirá a correspondência impressa pela eletrônica;
Desenvolvimento de novo sistema de comunicações, em software livre, com
criptografia de Estado para substituir o atual sistema (previsão para começo de
testes final de 2016).
3.3.2- Problemas identificados em postos no exterior
Ainda sobre os postos no exterior, convém lembrar que, em 14 de maio
de 2015, o Plenário da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado
Gabinete do Senador Tasso Jereissati
53
Federal deliberou no sentido de, com base no art. 383, IV, do Regimento Interno do
Senado Federal, exigir que seja juntado relatório de gestão do Chefe de Posto ao final
de sua missão à mensagem presidencial que encaminha a esta Casa a indicação de chefe
de missão diplomática permanente que o sucederá.
Cuida-se de material bastante rico e que não poderia deixar de ser
examinado no âmbito desta avaliação de política pública, uma vez que constituem fonte
para conhecimento da real situação do cotidiano da diplomacia brasileira. Desse modo,
a seguir serão apresentados os problemas identificados pelos chefes de posto durante o
tempo de suas missões, os quais invariavelmente dizem respeito a questão de restrições
orçamentárias, e, no caso das organizações internacionais, há queixas com relação aos
atrasos no pagamento das contribuições brasileiras. Cumpre registrar que se trata de
apenas alguns exemplos, colhidos no período de maio de 2015 a setembro de 2016.
- Tegucigalpa
O relatório abrange de junho de 2010 a junho de 2015:
“XIII - Dificuldades encontradas A principal dificuldade
enfrentada pelo Posto nos últimos dois anos reside na lotação deficitária
de funcionários diplomáticos em missão permanente. Resulta difícil para
o Embaixador, único diplomata do Posto, desempenhar as atividades
oficiais de representação, especialmente a participação em reuniões e
eventos organizados pelo governo local, e acompanhar todos os assuntos
relevantes de interesse da política externa brasileira. Entretanto, a partir
de agosto de 2015, o Posto contará com a colaboração de um Conselheiro
do Quadro Especial, em missão permanente, que ajudará no desempenho
pleno das tarefas da Embaixada e permitirá ao Chefe do Posto o usufruto
de benefícios como afastamentos quadrimestrais e férias. Um fator
importante que poderá estimular a remoção de funcionários do quadro do
serviço exterior em missão permanente é a queda nos índices de
criminalidade no país.” (Disponível em
http://legis.senado.leg.br/mateweb/arquivos/mate-pdf/169642.pdf)
- Organização dos Estados Americanos (OEA)
Foi destacado:
Gabinete do Senador Tasso Jereissati
54
“90. A quota definida para o Brasil foi de 12,427%, com validade
para o triênio 2015-2017, e passou a ser de US$ 10.289.300,00. Com
isso, o País tornou-se o segundo maior contribuinte da Organização,
superando o Canadá, considerando-se que o orçamento regular da OEA
totaliza, para o próximo ano, cerca de US$ 84 milhões. Atualmente temos
um débito de pouco mais de 18 milhões com a Organização.” (Disponível
em
http://www.senado.leg.br/atividade/rotinas/materia/getPDF.asp?t=168843
&tp=1)
- Cotonou
Em relatório datado de 29 de julho de 2015, destacou-se:
“Entre os desafios relatados ao longo deste expediente, ressalto
minha crença de que a baixa lotação de servidores públicos brasileiros
representa o maior deles. Em um momento em que as atenções do Benim
se voltam para o pleito eleitoral, a análise das inevitáveis mudanças no
cenário político demandará tempo considerável, a ser compatibilizado
com a administração financeira, com a administração de recursos
humanos, com a promoção comercial, a cooperação e o atendimento
consular. Os incidentes envolvendo a emissão de vistos orientados por
documentação fraudulenta é sintomático do problema. Acompanhar com
a extrema atenção que o assunto requer é, por vezes, um exercício
incompatível com as demais atividades da rotina da Embaixada.
No que toca à área comercial, seria oportuna a retomada de
missões de promoção de empresas e produtos brasileiros no golfo da
guiné, bem como o envio de material de divulgação a respeito das feiras e
eventos que são realizados no Brasil. A última missão da APEX na região
data de 2010. Além disso, a interrupção da ligação direta entre o Togo e
São Paulo impactou diretamente o fluxo de beninenses interessados em
adquirir roupas e bens não duráveis para a revenda no Benim. O
estabelecimento de rota aérea alternativa para o golfo da guiné tenderia a
reverter esse processo e impulsionar as trocas comerciais.
As restrições orçamentárias cada vez mais severas são outro fator
de preocupação. Sobram poucos recursos para que se apoie ou se
promova, sob o patrocínio do Brasil, eventos na Embaixada e na
Residência oficial que permitam aproximar o corpo diplomático dos
atores políticos e culturais importantes do país. Além disso, como citado,
temos estado distante de eventos que trabalham a identidade cultural
entre o Brasil e o Benim, deixando essas iniciativas progressivamente a
cargo da sociedade civil local.” (Disponível em
http://www.senado.leg.br/atividade/rotinas/materia/getPDF.asp?t=177429
&tp=1)
- Cingapura
Gabinete do Senador Tasso Jereissati
55
O relatório traz um panorama detalhado sobre a situação do posto:
“IX- ADMINISTRAÇÃO E CONTABILIDADE
Simplificarei o capítulo sobre Administração em três partes:
pessoal, controle de despesas e imóveis.
Ao assumir minhas funções, encontrei duas distorções na questão
de pessoal. Eram, basicamente, salários defasados e horas extras. De fato,
alguns funcionários moravam em quartos alugados em imóvel com outras
famílias, por não poderem arcar com o aluguel inteiro, ou vendiam
quitutes para complementar a renda. Além disso, as horas extras dos
motoristas eram utilizadas ao máximo. Em meu primeiro ano, tomei
como meta atacar esses pontos e, em menos de seis meses de Posto,
apenas com a gestão ativa de pessoal, zerei o pagamento de horas extras.
Em paralelo, consegui, junto à Secretaria de Estado, aumento de 50%
linear sobre o salário de todos os contratados locais, que agora trabalham
satisfeitos e estimulados.
Tendo em vista os consecutivos cortes no orçamento do Itamaraty,
sobretudo nos últimos dois anos, atuei de modo vigilante no controle de
cada despesa da Embaixada, para economizar recursos que poderiam
faltar ao final do exercício. Tendo a Secretaria de Estado alertado, desde
2014, sobre a impossibilidade de reforço de dotação para fins de
encerramento de exercício, o rigoroso controle das despesas era
fundamental. Como havia atraso no envio das parcelas mensais de
manutenção do Posto, a Embaixada fechou as suas contas do exercício
fiscal de 2014 com apenas 11 parcelas mensais. A 12ª parcela somente foi
liberada mediante comprovante de despesa pendente de 2014, o que não
era o caso da Embaixada em Singapura.
Exemplo claro das medidas de aprimoramento de gestão adotadas
foi o corte sistemático de linhas de telefonia celular. Antes mesmo do
recente decreto que limitou o uso desse serviço, promovi unilateralmente
sua redução gradual. Quando assumi, o Posto contava com treze linhas de
telefonia celular. Praticamente todos os funcionários, do quadro
permanente ou contratados locais, tinham linha paga pela Embaixada.
Como é bastante onerosa a rescisão contratual em Singapura, precisei
esperar os vencimentos graduais dos contratos. Hoje, há apenas quatro
dessas linhas funcionando.
Por fim, quanto à gestão dos imóveis, ambos alugados, houve dois
fatos relevantes. Nos primeiros meses após minha chegada, percebi que o
espaço físico da Chancelaria não era suficiente para suas atribuições e
para o grau de representatividade e importância do Brasil. A Embaixada
contava apenas com 377m2, que deveriam acomodar doze funcionários.
Os Setores Comercial e Consular tinham de dividir minúscula sala de
espera e os arquivos acumulavam-se espalhados por toda a Embaixada,
onde houvesse lugar.
Sou mais uma vez grato pela sensibilidade da Secretaria de Estado
em ter concedido, a meu pedido, o aumento de espaço físico da
Chancelaria. Com isso, a Embaixada pôde contar, já em meu segundo ano
Gabinete do Senador Tasso Jereissati
56
à sua frente, com adicionais 149m2, onde foi instalado o novo Setor
Consular, além de espaço polivalente, utilizado para, como já dito,
exposições culturais diversas, seminários comerciais, reuniões de trabalho
de delegações e da comunidade local, realização de eleições entre outros.
Outro fato relevante foi a renovação, em outubro de 2015, do
contrato da Residência Oficial, em contexto difícil, tendo em vista as
restrições orçamentárias. Após duras negociações, consegui desconto de
20% sobre o último contrato, de modo que pude, a um só tempo, atender
às determinações da Secretaria de Estado quanto à redução da despesa
com aluguel e evitar gastos com mudança e guarda de bens móveis, caso
as negociações não tivessem sido frutíferas.” (Disponível em
http://legis.senado.leg.br/mateweb/arquivos/mate-pdf/182543.pdf)
- Kiev
O relatório de gestão contém as seguintes informações:
“... Tendo em vista que o Posto nunca esteve plenamente lotado, e
que mesmo com todos os cargos preenchidos existiriam apenas sete
servidores do quadro, foi necessária a criação de uma situação
excepcional, que não é a ideal, onde contratados locais se tornaram
responsáveis pela conformidade dos lançamentos contábeis no novo
sistema.
134. Desse modo, recomendo especial atenção ao meu sucessor
para a questão da lotação do Posto, que durante toda minha missão, nunca
esteve plenamente preenchida, apesar de esforços terem sido realizados
nesse sentido.
...
136. ... ciente das dificuldades financeiras pelas quais o Brasil tem
passado desde 2014, e do princípio da economicidade, iniciei junto com
meus colaboradores, esforços de renegociação dos valores pagos pelos
aluguéis da Residência e Chancelaria, que são pagos em dólares
americanos.” (Disponível em
http://www.senado.leg.br/atividade/rotinas/materia/getPDF.asp?t=187879
&tp=1)
- Díli
Foram feitas as seguintes considerações:
“Tendo enumerado os diversos projetos de cooperação em
andamento e discorrido brevemente sobre sua importância para o
prestígio do Brasil neste novo país, devo mencionar que, como se poderia
Gabinete do Senador Tasso Jereissati
57
esperar, a atual conjuntura orçamentária e financeira por que atravessa o
Governo brasileiro pode ter inibido novas iniciativas de cooperação ou,
de certo modo, prejudicado a continuação e implementação de programas
já estabelecidos. A cooperação Sul-Sul praticada pelo Brasil, de fato, não
pretende que nos tornemos um donor country, na acepção clássica do
termo, mas também é fato que certas iniciativas em países como o Timor-
Leste seriam melhor implementadas se houvesse recursos mais
condizentes com as dimensões da economia brasileira. Essa seria uma das
mais importantes limitações à atuação desta Embaixada a serem
registradas, juntamente com a exiguidade crônica de pessoal, a atingir
também vários outros Postos.” (Disponível em
http://www.senado.leg.br/atividade/rotinas/materia/getPDF.asp?t=187887
&tp=1)
- Libreville
Sobre a situação da Embaixada em Libreville, sobre o período de 2012 a
2016, o relatório trouxe detalhes acerca dos impactos das restrições orçamentárias,
como se pode observar adiante:
“O fato é que as nossas ‘oscilações’ e ‘inconstâncias’ causam um
elevado grau de ‘desconcerto’ nos nossos interlocutores locais. Como
exemplos concretos desse ‘desapontamento’ local quanto ao estado atual
das relações bilaterais podem ser citadas as negativas brasileiras aos
pedidos gaboneses de cooperação no setor agrícola (denegações é bem
verdade justificadas pelas restrições orçamentárias que afetaram, nos
últimos anos, a Administração Pública brasileira, assim como pelas
deficiências formais e conceituais na formulação das propostas
gabonesas).
b) Plano micro:
Numa abordagem micro, o novo Embaixador deverá
obrigatoriamente lutar para reforçar o quadro de funcionários do Posto,
atualmente muito desfalcado, o que penaliza sobremaneira o bom
desenvolvimento dos nossos trabalhos.
Desde março de 2014, encontro-me só, sem um segundo (ou
terceiro) diplomata, e nem sequer conto com a ajuda de um Oficial de
Chancelaria. Trabalhar sozinho, sem a ajuda de outro diplomata, e de um
corpo de funcionários capaz, ágil e motivado, é muito difícil e
contraprodutivo para os interesses brasileiros. Essa situação, num país
onde a atividade protocolar de um Embaixador é muito intensa, prejudica
o fluxo, a quantidade e até mesmo a qualidade das informações enviadas
pelo Posto para a Secretaria de Estado. Retarda igualmente o tempo de
resposta às solicitações vindas de Brasília.
Sofremos, desse modo, inúmeros problemas derivados, por
exemplo, do acúmulo de trabalhos de tradução de todo tipo, como os
Gabinete do Senador Tasso Jereissati
58
pedidos de apoio do Governo gabonês às candidaturas de brasileiros a
cargos em organizações internacionais; as respostas a solicitações de
empresas brasileiras interessadas em exportar para o Gabão; e os serviços
de contabilidade do Posto.
Esse último ponto é de extrema fragilidade, pois conto hoje com
uma única pessoa na contabilidade e peço diariamente a ajuda de Deus
para que não aconteça nada de grave e anormal nesse setor. Quando o
responsável pela contabilidade sai de férias, ou fica doente, o Posto passa
a viver clima de apreensão.
A questão, porém, não diz respeito apenas à quantidade de
funcionários, mas sobretudo à sua qualidade. É fundamental poder contar
com funcionários capazes, trabalhadores e motivados, o que,
infelizmente, não é a regra em países sabidamente ‘difíceis’ e
‘complicados’ como o Gabão.
Desse modo, aconselho ao novo Embaixador reforçar, tanto de
modo quantitativo como qualitativo, a sua futura equipe.
Segundo um provérbio chinês, ‘A pobreza sufoca a ambição’.
Nessa linha de raciocínio, aventuro igualmente afirmar que ‘A pobreza de
meios pauperiza a nossa política africana’, criando um abismo entre o
voluntarioso discurso retórico que afirma ser a África uma ‘prioridade
absoluta da diplomacia brasileira’ e a triste realidade material vivida
atualmente pelo Itamaraty. Tal descompasso entre meios e fins, além de
nos afastar da ‘justa medida’ em termos de política externa africana,
acabará, caso não revertida, nos condenando à insignificância nesta parte
do mundo tão próxima do Brasil e dos brasileiros.” (Disponível em
http://legis.senado.leg.br/mateweb/arquivos/mate-pdf/196020.pdf)
- Buenos Aires
Foram as seguintes as considerações:
“155. A cooperação científico-tecnológica bilateral demanda
acompanhamento contínuo e carece dos instrumentos financeiros
necessários para elevar o patamar de ambição e execução dos projetos
conjuntos. Entre outros percalços, restrições orçamentárias do Brasil
dificultaram o regular andamento da agenda bilateral acordada. O Centro
Brasileiro- Argentino de Nanotecnologia está entre as iniciativas que
praticamente não avançaram, em razão de atrasos e dificuldades da parte
brasileira.
156. As restrições orçamentárias brasileiras também são a maior
dificuldade para a evolução dos dois principais projetos nas áreas nuclear
e espacial, o reator multipropósito brasileiro e o satélite SABIA-Mar.
Ambos permaneceram praticamente paralisados desde meados de 2014,
por falta de liberação de recursos.
...
Gabinete do Senador Tasso Jereissati
59
160. A principal dificuldade encontrada pelo setor cultural é a falta
de recursos, dos quais dependem, inevitavelmente, realizações culturais
de real impacto, em uma cidade com tanta oferta cultural como Buenos
Aires. A limitação de recursos atinge, ademais, a promoção cultural nas
várias províncias do país.
161. A embaixada passou por severos ajustes de ordem
orçamentária para adequar-se às crescentes restrições financeiras da
Secretaria de Estado. A consequência prática foi a reformatação de
atividades, de modo a lidar também com o quadro de severa inflação
prevalecente na Argentina e com os importantes ajustes de tarifas
públicas implementados a partir do início deste ano.
162. Atualmente, a integralidade dos recursos encontra-se
comprometida com despesas correntes, sem margem para gastos
emergenciais e imprevistos, frequentemente vultosos em vista da
dimensão do posto.” (Disponível em
http://legis.senado.leg.br/mateweb/arquivos/mate-pdf/194345.pdf)
- Kuaite
Foi assinalado o que se segue:
“43. As restrições orçamentárias impossibilitaram a realização de
missões consulares itinerantes ao Bareine. Os inúmeros atendimentos
consulares registrados foram administrados à distância, pois, na maior
parte dos casos, houve dificuldade no acionamento do Cônsul Honorário.
44. Com relação à administração do Posto, a orientação com vistas
à economicidade prevaleceu, em sintonia com as diversas instruções
recebidas e com a conjuntura financeira adversa. As dotações do Posto
encontram-se em patamar mínimo, contando apenas com serviço básico
de limpeza, manutenção e de segurança com apenas um agente local não
armado, durante o horário de expediente.
45. O esforço para economizar abrangeu a renovação dos contratos
de aluguel da Residência e da Chancelaria e a redução drástica dos
serviços telefônicos ao número mínimo de linhas necessárias. Há um
único telefone celular oficial, colocado à disposição e controlado no Setor
Consular, para plantão de assistência a brasileiros(as) em situação de
risco ou emergência. 46. Do ponto de vista de lotação de pessoal, a
carência absoluta de servidores do quadro no Posto dificulta a
concentração dos dois diplomatas (Chefe do Posto e a Ministra-
Conselheira) em questões mais substantivas, como o desenvolvimento de
projetos na área cultural, por exemplo. Existem possibilidades claras de
cooperação e intercâmbio em distintas áreas, mas o planejamento e a
execução dos projetos demandam tempo, pessoal e recursos, o que é a
limitação atual da atividade diplomática no Posto.” (Disponível em
http://legis.senado.leg.br/mateweb/arquivos/mate-pdf/197390.pdf)
Gabinete do Senador Tasso Jereissati
60
- Organização das Nações Unidas (ONU)
O relatório consignou o que se segue:
“58. Devo registrar, por fim, o desafio representado pela
dificuldade de o Brasil manter-se em dia com suas contribuições para a
Organização. As dívidas remontam a 2013 e superam hoje US$ 410
milhões. O País, hoje o 7º maior contribuinte da ONU, figura como
segundo maior devedor, atrás apenas dos Estados Unidos, responsáveis
pela maior parcela do orçamento e cujo atraso tem, frequentemente,
motivações políticas. A situação de inadimplência, caso persista,
ameaçará afetar negativamente a imagem e minar a credibilidade do
Brasil em todo o sistema das Nações Unidas. O pagamento
sistematicamente tardio e limitado ao montante necessário para evitar a
perda do voto, como vem ocorrendo nos últimos anos, é prática
desaconselhável, tanto do ponto de vista político como financeiro.”
(Disponível em http://legis.senado.leg.br/mateweb/arquivos/mate-
pdf/197904.pdf)
- Washington
Até mesmo a Embaixada em Washington foi afetada. Confira-se:
“26. Na dimensão da diplomacia federativa, vertente indispensável
e tradicional do trabalho da Embaixada, tendo em vista o alto grau de
autonomia e a diversidade de interesses dos governos estaduais, realizei
duas visitas de trabalho ao estado da Califórnia e a Nova York, com foco
na agenda de comércio e investimentos, em particular em setores de alta
tecnologia. Por razões de ordem estritamente orçamentária, não foi
possível manter o planejamento de viagens do chefe do posto e tampouco
enviar funcionários diplomáticos em missões a outros estados da União,
conforme tem sido a prática do posto, o que, entendo, será retomado uma
vez normalizada a situação orçamentária.
...
44. Em contexto de severas restrições orçamentárias, que afetaram
a capacidade do posto de promover atividades culturais, a Embaixada
intensificou a busca de parcerias com produtores locais e instituições
públicas e privadas interessadas em apoiar ou associar-se a iniciativas de
difusão da cultura brasileira, em suas mais diversas manifestações, de
maneira a racionalizar recursos e manter presença e visibilidade do Brasil
na cena cultural e artística desta capital.
...
93. Em 2016, guiado pelo imperativo da austeridade orçamentária,
busquei o estabelecimento de parcerias com diversos atores da iniciativa
Gabinete do Senador Tasso Jereissati
61
privada (NBC4, NBC/Comcast, Coca-Cola, Nike, LATAM Airways,
Panasonic, MedStar NHR, Texas de Brazil), com vistas a divulgar os
Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro.” (Disponível em
http://legis.senado.leg.br/mateweb/arquivos/mate-pdf/197564.pdf)
- Pequim
E também a Embaixada em Pequim experimentou os efeitos das
restrições orçamentárias:
“33. O estudo do mandarim, idioma que hoje apenas alguns poucos
jovens diplomatas dominam, deve continuar a ser estimulado; uma
compreensão mais aprofundada da China dependerá cada vez mais de
acesso direto a fontes em língua chinesa.
...
58. Um dos entraves à expansão dos investimentos brasileiros na
China é a existência de longa lista de setores em que os investimentos
estrangeiros são restritos ou proibidos - situação que contrasta com o
elevado grau de abertura do mercado brasileiro a investimentos
estrangeiros. O caso da Embraer é emblemático. A empresa não obteve as
licenças necessárias para a fabricação da família de E-jets 170-190 em
sua fábrica chinesa de Harbin e viu-se obrigada a convertê-la em unidade
de fabricação de jatos executivos Legacy 600/650. O empreendimento
tem-se revelado um grande desafio, dada a estrutura tarifária interna e a
concorrência de aeronaves adquiridas e registradas no estrangeiro que
operam regularmente na China. A Embaixada efetuou gestões no sentido
de obter tratamento fiscal adequado, mas não teve êxito até o momento.
...
72. A Embaixada em Pequim prestou apoio a investidores
potenciais mediante envio de informações, organização de agenda de
encontros no Brasil e realização de apresentações sobre oportunidades de
investimento em eventos de maior visibilidade. Foi também elaborado
um cruzamento preliminar entre o catálogo de tecnologias e produtos de
importação encorajada pelo governo chinês e o relatório da Apex sobre
setores selecionados para a diversificação de exportações. 73. Em sua
tarefa de divulgação, o a Embaixada tem-se valido de métodos
inovadores de mídia, como a conta de ‘Weibo’, espécie de ‘Twitter’ local
(o ‘Facebook’ e o ‘Twitter’ não são autorizados na China), para transmitir
informações visando a promover a marca-país.” (Disponível em
http://www.senado.leg.br/atividade/rotinas/materia/getPDF.asp?t=168863
&tp=1)
Gabinete do Senador Tasso Jereissati
62
3.3.3- Iniciativas identificadas nos postos no exterior
Em seguida, ainda com base nos relatórios de gestão apresentados pelos
chefes de postos em final de missão, serão destacadas algumas iniciativas que se
mostraram eficazes para superar as dificuldades experimentadas, as quais, como regra
dizem respeito à otimização dos serviços de assistência consular prestados.
- Copenhague
Segundo o relatório:
“O Setor Consular da Embaixada em Copenhague caracteriza-se
por uma atuação abrangente, pois atende, além da comunidade residente
na Dinamarca e na Lituânia, brasileiros residentes no norte da Alemanha
e em cidades situadas no litoral oeste da Suécia, mais próximas de
Copenhague que de Estocolmo. Tendo em vista o contínuo
aprofundamento das relações bilaterais, bem como o crescimento das
relações comerciais e do fluxo de pessoas, foi dada atenção ao trabalho de
conscientização da comunidade brasileira sobre a necessidade de manter
atualizada sua documentação. Efetivamente, entre 2013 e 2014, o Setor
registrou aumento de 7% na emissão de passaportes, totalizando 568
documentos de viagem concedidos em 2014. Ao longo de 2013 e 2014,
foram contabilizados 6.909 serviços e a renda consular registrada foi da
ordem de US$ 347.152,14.
Considerando-se a expectativa de que se mantenha o nível de
crescimento dos últimos anos da comunidade brasileira na Dinamarca, e
para melhor atender à jurisdição, o Setor adotou, a partir de 2013, rotinas
mais modernas, com vistas à facilitação, agilização e desburocratização
dos serviços consulares. Instituiu, assim, pequena, mas dedicada, força
tarefa para examinar e revisar procedimentos. O correio eletrônico foi
escolhido como ferramenta prioritária de comunicação com o público e
de triagem documental. Procedeu-se, também, à atualização das
informações do website; à intensificação do uso de mídia social, como o
Facebook, como instrumento de contato e divulgação em matéria
consular; à implementação de sistema de agendamentos para concessão
de passaportes e outros serviços; à criação de horário de atendimento
telefônico, com otimização dos limitados recursos humanos à disposição,
vis-à-vis o crescimento da demanda por serviços e, sobretudo, por
informações nos mais diversos níveis; e à adequação dos prazos de
processamento para todos os documentos.
No segundo semestre de 2014, a Embaixada empenhou-se na
organização e realização, sob a coordenação do Setor Consular, das
eleições presidenciais, que tiveram duas seções eleitorais (uma delas
agregando terceira seção) e grande afluência de eleitores. A preparação
para o pleito, no entanto, iniciou-se já em 2013, mediante intensa
Gabinete do Senador Tasso Jereissati
63
campanha junto ao público sobre a importância de manter atualizado o
registro eleitoral, que teve como resultado positivo o grande número de
brasileiros que regularizaram sua situação eleitoral, entre 2013 e 2014,
via alistamento ou transferência de título.
Dentre os projetos do setor para o ano em curso, constam o
aperfeiçoamento das práticas com passado de sucesso, maior utilização
do correio eletrônico e dos agendamentos, novidades que foram muito
bem recebidas pelo público por facilitar o acesso de residentes de fora da
jurisdição imediata do Posto, sem prejuízo do atendimento telefônico e
presencial. Ademais, atendendo a demandas da comunidade e dos
funcionários do Setor Consular, foram envidados esforços junto à
Chancelaria local para credenciar a Embaixada como usuária do sistema
dinamarquês de débito automático, operação ora em andamento, e que em
muito facilitará o pagamento de emolumentos consulares, com a
utilização de sistemas de pagamento online e máquina de cartão de
débito. Um dos resultados dos estudos efetuados ao longo dos dois
últimos anos foi identificar a necessidade de direcionar o trabalho
consular ao segmento específico de informação e conscientização da
segunda (em alguns casos, terceira) geração de brasileiros aqui radicados
a respeito de direitos e deveres do cidadão com problemas documentais,
em especial jovens. Outro projeto, portanto, a ser implementado no
presente exercício, deverá ser a elaboração de cartilhas de esclarecimento
sobre diversos aspectos das legislações dinamarquesa e brasileira, além
da organização de uma ou mais palestras e de campanha eletrônica
direcionada para jovens em idade de alistamento militar e eleitoral. Este
trabalho poderá também abranger brasileiros residentes na Lituânia, caso
a missão itinerante ampliada proposta venha a se realizar em 2015.”
(http://legis.senado.leg.br/mateweb/arquivos/mate-pdf/168769.pdf)
- Madri
Constam do relatório algumas iniciativas tomadas pelo chefe de posto:
“58. Em linha com os novos desafios da diplomacia pública, a
Embaixada reformulou os canais de divulgação do Brasil na Espanha e
passou priorizar plataformas de comunicação online. Foi criado boletim
digital mensal, ‘Panorama Brasil’, que abarca notícias da atualidade
política, social e econômica do Brasil, as relações do país com a Espanha
e os eventos culturais realizados pela Embaixada. O boletim e outras
informações são enviados a base eletrônica de contatos com cerca de 8
mil nomes.
59. Em 2011, foi elaborada uma página do Facebook - que hoje
conta com 3980 seguidores - e, recentemente, foi aberto um canal no
Youtube. Para a divulgação do Novocine, criou-se uma página web
(www.novocine.es), uma página no Facebook - com 1030 seguidores - e
uma conta de Twitter - com cerca de 200 seguidores. As páginas no
Facebook e no Twitter da Casa do Brasil passaram em 2011 a ser geridos
Gabinete do Senador Tasso Jereissati
64
pelo Setor de Imprensa e Divulgação da Embaixada e hoje contam,
respectivamente, com 5600 e 840 seguidores.
60. A Embaixada também buscou estreitar o contato com os
grandes meios de comunicação espanhol visitando suas sedes,
organizando encontros informais, e oferecendo pronta resposta a pedidos
de informação ou de entrevistas. Do mesmo modo, buscou-se estreitar a
relação com os correspondentes brasileiros em Madri.” (Disponível em
http://www.senado.leg.br/atividade/rotinas/materia/getPDF.asp?t=168878
&tp=1)
- Bogotá
Consta do Relatório:
“53. A Embaixada é o quinto posto da América Latina e Caribe
com maior produção de documentos consulares (mais de 12.000
expedidos por ano). Durante minha gestão, o Setor Consular introduziu
diversas inovações que aprimoraram o atendimento e modernizaram a
gestão, entre elas a criação de um perfil específico no ‘Facebook’, a
adoção de sistemática de avaliação de serviços e o desenvolvimento de
atividades conjuntas com a Migração Colômbia, órgão da Chancelaria
responsável pelo controle migratório neste país. Fomos a primeira
Embaixada, por exemplo, a organizar evento que uniu serviços
imigratórios e consulares em benefício exclusivo de comunidade
residente estrangeira. Considero importante prosseguir com essas
iniciativas, tendo em conta o positivo tratamento dispensado pela
Migração Colômbia aos nacionais brasileiros.
54. Embora a comunidade residente seja relativamente pequena
(cerca de 3000 pessoas), é elevada a demanda por assistência consular
por parte, sobretudo, dos quase 135 mil brasileiros que visitam
anualmente o país, tendo sido assistidos, desde que assumi o posto, 201
nacionais com gestões junto a distintas instâncias locais. Contribuiu para
a eficácia da assistência consular a capilaridade da rede de consulados
honorários subordinados à Embaixada, que estão presentes nas principais
cidades (Barranquilla, Bucaramanga, Cali, Cartagena e Medellín), além
do Vice-Consulado em Letícia. Nas eleições de 2014, 988 eleitores
estavam inscritos na jurisdição da Embaixada, com aumento de 60% em
relação ao pleito de 2010. (Disponível em
http://legis.senado.leg.br/mateweb/arquivos/mate-pdf/197530.pdf)
- Cingapura
Segundo consta do Relatório, foram adotadas as seguintes práticas:
Gabinete do Senador Tasso Jereissati
65
“X-ASSUNTOS CONSULARES
...
No tocante ao período de processamento de documentos, como o
novo Sistema Consular Integrado permite produção de forma mais
dinâmica, suspendi processos em dobro, como fotocopiar todos os
documentos escaneados, e estabeleci ordem e especialização dos
processos, que passaram a ser catalogados e distribuídos por ordem de
entrada. Nos dois primeiros meses, enquanto resolvia trâmites atrasados e
incompletos, pude diminuir o tempo de processamento de vinte dias para
sete, e em seguida para quatro dias. No quarto mês, implantei o sistema
de entrega de todo e qualquer documento em 24 horas. Para isso, conto
com perfeita simbiose entre o agente de recebimento, o processador, a
autorizadora e o funcionário que imprime os documentos.
Criei perfil da Embaixada em mídia social, Facebook, de modo que
a colônia brasileira não apenas tem acesso mais rápido a eventos e
novidades consulares, que também são publicados na página oficial,
como informações referentes às eleições, recebimento de títulos de
eleitor, documentos brasileiros encontrados pela polícia local e deixados
na Embaixada, dentre outros.
No primeiro semestre de 2012, com a inauguração de novo espaço
para o setor consular, foram disponibilizadas máquina pública para
preenchimento dos pedidos consulares e sala para entrevistas sobre
vistos, regime de bens, aconselhamento documental e jurídico, dentre
outros. A sala também é utilizada pelas que desejam amamentar seus
filhos e sempre que é necessário dar mais privacidade a um requerente.”
(Disponível em http://legis.senado.leg.br/mateweb/arquivos/mate-
pdf/182543.pdf)
3.4 - Assistência Consular
3.4.1- Sumário de audiência pública
No intuito de colher subsídios sobre a matéria em avaliação,
especificamente sobre o tópico de assistência consular, a Comissão com base no
Requerimento nº 17, de 2016, realizou audiência pública, para a qual foram convidados
o Embaixador Carlos Alberto Simas Magalhães, Subsecretário-Geral das Comunidades
Brasileiras no Exterior do Ministério das Relações Exteriores; o Embaixador do
Canadá, Senhor Riccardo Savone; o Embaixador da Austrália, Senhor John Richardson
e o Senhor Eduardo Matsushita, Presidente da CEO Infinitas.
Estima-se em três milhões o número de brasileiros residentes no exterior
e em sete milhões o número de brasileiros que viajam anualmente ao exterior, razão
Gabinete do Senador Tasso Jereissati
66
pela qual a questão da assistência consular é merecedora de grande atenção por parte do
Parlamento brasileiro.
Segundo informou o Embaixador Simas Magalhães naquela ocasião, o
Sistema Brasileiro de Assistência contempla dois tipos de direitos: os direitos de
primeira geração, que são os aspectos cartoriais dos consulados, tais como a confecção
de documentos, emissão de passaportes e acompanhamento da população carcerária
brasileira no exterior; e os direitos consulares de segunda geração, que têm a ver com a
promoção de uma política de aproximação com as comunidades brasileiras no exterior.
Esta envolve a conformação de conselhos de cidadãos no exterior, compostos por meio
de eleição direta dos membros da comunidade brasileira no exterior ou por indicação.
Esses conselhos têm por objetivo mobilizar e coordenar as comunidades brasileiras no
exterior e contribuir para a melhor inserção do grupo no país de acolhimento.
Nesse contexto, os consulados contam com a participação das igrejas e
de outras lideranças presentes na comunidade, para identificar as demandas e
necessidades das populações brasileiras no exterior e transmitir tais demandas ao Estado
brasileiro. Apesar de todas as dificuldades ressaltadas pelo Embaixador, a Subsecretaria
logrou organizar cinco reuniões em Brasília chamadas de “reuniões de brasileiros no
mundo”, para as quais trouxe 30 representantes das comunidades brasileiras no exterior.
Trata-se de reuniões que atualizam, reveem e propõem planos de ação bienal.
No que diz respeito à deficiência educacional, o Ministério das Relações
Exteriores vem implementando, em colaboração com o Ministério da Educação, desde
2010, em quinze (15) capitais, o chamado ENCCEJA (Exame Nacional para a
Certificação de Competências de Jovens e Adultos), que oferece preparação para
adultos e jovens com mais de 15 anos que desejem obter o certificado de conclusão do
ensino fundamental ou, no caso do ENCCEJA exterior, também do ensino médio.
Segundo explicou o Embaixador, há pouco mais de cinquenta
funcionários que cuidam de toda a rede consular, com orçamento extremamente
limitado, o que os leva, por vezes, a promoverem coletas de dinheiro entre si para
Gabinete do Senador Tasso Jereissati
67
atender a população brasileira em dificuldades no exterior. Pela lei orçamentária, a
Subsecretaria em questão tem R$ 78 milhões, mas vem sofrendo cortes em seu
orçamento.
Algumas iniciativas mencionadas pelo Embaixador merecem destaque:
Troca do sistema de informática do sistema consular brasileiro no exterior, com
pesquisa por nome, integração com a base de dados da Polícia Federal e
estatísticas;
Título NET no exterior: qualquer cidadão brasileiro que queira transferir seu
título de eleitor para o exterior ou regularizar sua vida eleitoral via internet
poderá fazê-lo;
Aumento de seções eleitorais no exterior para evitar abstenções;
Questão de gênero e violência doméstica: foi aumentado o disque 180 no
exterior, sendo que a mulher que dele faz uso é atendida por um call center que
dispõe de todas as informações dos sistemas de amparo e proteção à mulher no
país onde ela se encontra;
Lançamento de cartilha sobre violência doméstica e subtração internacional de
menores (uma para o público em geral e outra para os agentes consulares, sobre
o tipo de orientação a ser dada à mulher brasileira no exterior);
Criação de visa centers na China: em Beijing, Cantão e Shanghai; e
Disponibilidade de psicólogo e advogado em grande parte dos postos no exterior
É importante assinalar que, segundo informou o Embaixador Simas, são
arrecadados cerca de US$ 100 milhões por ano de renda consular que, entretanto, não é
revertida para o sistema consular.
Gabinete do Senador Tasso Jereissati
68
Em seguida, falou o Sr. Riccardo Savone, Embaixador do Canadá.
Informou que, em 2015, foram abertos cerca de 250 mil processos consulares. Além de
serviços corriqueiros, o Ministério de Relações Exteriores canadense também
administra situações de aflição, tais como as que envolvem hospitalização, morte,
apreensão e detenção e subtração de menor pelo pai.
Segundo relatou o Embaixador, houve grande aumento da demanda,
razão pela qual foi necessário adotar uma nova abordagem para a prestação de serviços
consulares. Em 2014, elaborou-se estratégia de modernização que busca empoderar os
canadenses em viagem, para que possam ajudar a si mesmos, reduzir demandas de
rotina e reorientar recursos para processos consulares mais complexos. Foi destacado o
enfoque sobre a criança. Os processos consulares envolvendo crianças são, muitas
vezes, os mais complexos. Assim, o Canadá criou a unidade consular de crianças
vulneráveis, com foco específico na criança canadense, na família e em casos de
casamento forçado no exterior. Há também uma abordagem preventiva,
consubstanciada no programa de informação ao viajante, serviço que funciona 24 horas
por dia, 7 dias por semana, e que oferece assessoria e informes on-line para viajantes.
Empresas de seguro canadenses atualmente utilizam esses informes quando da avaliação
de certas solicitações de prêmio requeridas por viajantes.
Outra iniciativa é a maximização de pontos de serviço e alavancagem de
parcerias novas e já existentes para melhorar sua capacidade de prestação de assistência
quando há limitações locais de recursos físicos. Nesse sentido, foi percebida a
importância de desenvolver parcerias com outros países. Destacou-se que acordos
bilaterais e outros mecanismos ajudam a alavancar tais parcerias para que os aliados
possam auxiliar em situações em que os recursos do Canadá são limitados. Um exemplo
desse mecanismo é o acordo que o Canadá mantém com a Austrália de
compartilhamento de serviços consulares.
O Embaixador canadense lembrou que, há quatro anos, o governo de seu
país empreendeu uma série de cortes de despesas em todo o serviço público para reduzir
o déficit orçamentário. O objetivo era reduzir custos, sem reduzir a capacidade
Gabinete do Senador Tasso Jereissati
69
operacional. O projeto precipitou reformas que deveriam ter sido realizadas há muito
tempo. Entretanto, equilibrar cortes no orçamento e, ao mesmo tempo, introduzir
iniciativas de modernização pode ser tarefa desafiadora.
A realidade financeira dos ministérios de relações exteriores na
atualidade é que o principal impulsionador de custos e despesas são as pessoas, os
recursos humanos. Para que tal iniciativa tenha êxito, é preciso que haja um
compromisso total, um consenso a respeito do caminho a ser traçado. É necessário que
haja um equilíbrio sensível entre a modernização e os esforços de contingenciamento.
Houve a implementação de duas inovações institucionais: a fusão da Agência de
Desenvolvimento do Canadá ao Ministério das Relações Exteriores, que já abrigava o
comércio internacional; a outra consistiu em alguns arranjos colaborativos pelos quais o
Canadá se associou a determinados Estados para compartilhar instalações diplomáticas
no exterior, com o fim de encontrar sinergias entre os programas internacionais e
diminuir custos operacionais.
Uma vez tomada a decisão de fundir os dois ministérios houve a
realização de consultas junto a outros Ministérios das Relações Exteriores que haviam
passado por experiências similares. Nesse contexto, o Embaixador lembrou a
necessidade de construir uma nova e coerente cultura organizacional entre os servidores.
Tomou-se cuidado no sentido de assegurar que os instrumentos de governança
corporativa do novo ministério, isto é, dos diversos comitês de governança, tivessem
composição equilibrada, com representação de todos os setores, como comércio
exterior, desenvolvimento consular e diplomacia, e que os mandatos desses órgãos de
governança sejam realmente de natureza corporativa ao tratar de questões que
extrapolam as tradicionais linhas de política, comércio e desenvolvimento.
Além das funções globais em uma única sede, o Canadá tem tentado, nos
últimos anos, gerar maiores eficiências operacionais em suas representações no exterior
por meio de arranjos colaborativos com governos estrangeiros, o que provocou não
apenas economia, mas também sinergias entre o Canadá e seus parceiros. Essa
colaboração permite que o Canadá estenda sua influência no exterior para além dos
Gabinete do Senador Tasso Jereissati
70
limites da sua presença puramente física. Um exemplo é o memorando de entendimento
assinado entre o Canadá e o Reino Unido para exercícios conjuntos de gestão de crises,
programa de intercâmbio para oficiais consulares e, em alguns casos, compartilhamento
de instalações diplomáticas. O Canadá está em negociação com vários parceiros quanto
à possibilidade de novos acordos de locação compartilhada.
Do depoimento do Sr. John Richardson, Embaixador da Austrália,
recolhemos os pontos que seguem. O governo australiano desenvolveu uma estratégia
de serviços consulares em 2014, cujo objetivo é “fazer as pessoas mais conscientes do
que podemos fazer”. Tal estratégia se aplica aos australianos em outros lugares do
mundo, bem como, de forma mais limitada, aos cidadãos não australianos.
Foi também mencionado por ele o arranjo de compartilhamento dos
serviços consulares australianos com o Canadá, com registro de que há, ainda,
mecanismos de cooperação com outros países. A estratégia enfatiza a importância de os
australianos estarem preparados antes de viajar, conscientes de suas responsabilidades
no exterior, como por exemplo, terem um seguro de viagem. Trata-se de criar uma
cultura da viagem responsável, mostrando os limites dos serviços que podem ser
prestados pelos consulados australianos, com foco principalmente nas crianças e nas
mulheres vítimas de violência ou abusos, ou vítimas de crises internacionais.
Busca-se, dessa forma, mostrar aos australianos no exterior que eles
precisam se responsabilizar pelo seu comportamento e não esperar que sejam resgatados
em qualquer situação. Nesse sentido, foi publicada uma tabela dos serviços consulares,
que estabelece as obrigações e direitos dos australianos no exterior. Ademais, foi criada
uma campanha de “viagem inteligente”. A cada cidadão australiano para quem é
emitido um passaporte, é destinado um caderno de informações, contendo sugestões e
propostas para assistir os viajantes e ajudá-los no que se relaciona à sua segurança
enquanto no exterior.
As questões abordadas são, além da segurança, viagens locais, emissão
de passaporte e locais onde se pode obter informações adicionais. Assim, para cada país
Gabinete do Senador Tasso Jereissati
71
são publicados quatro níveis de alertas, desde apenas as precauções com segurança até a
opção de não viajar. Essa informação reflete a avaliação das autoridades australianas
sobre os níveis de risco que o viajante enfrentará em determinadas localidades. Há
também campanhas pelos meios de comunicação, que procuram alertar o cidadão para
que viaje de forma segura.
Há, ainda, uma série de serviços consulares que podem ser utilizados por
aqueles que enfrentam problemas no exterior, como crises domésticas e crises
internacionais. Para tanto, foi desenvolvido um arcabouço de gestão de crises que
estabelece como as agências relevantes deverão coordenar a gestão de emergências
internacionais, como o bombardeio da embaixada australiana em Jacarta e o Tsunami de
2010, quando houve, ademais, assistência humanitária australiana à população da
Indonésia.
Portanto, no que tange ao arcabouço de gestão de crises, o Ministério das
Relações Exteriores australiano é responsável por todos os eventos e emergências
internacionais, assegurando o bem-estar dos cidadãos australianos afetados e, muitas
vezes, fornecendo ajuda humanitária ao país atingido. Nesse sentido, o Ministério
planeja e implementa a ajuda em colaboração com as agências internacionais, fornece
assistência aos cidadãos australianos afetados; implementa estratégias de informação e
articula-se com organizações internacionais. Há um Departamento de Emergência e
Força-Tarefa, que, num caso de emergência, trabalha com o Departamento de Imigração
e Proteção Fronteiriça, os Departamentos de Finanças e Economia, o Departamento de
Defesa e Serviços de Inteligência. Há uma equipe treinada de 200 pessoas que permite o
apoio a várias missões e que podem ser mobilizadas em 24 horas, se necessário.
Finalmente, o Embaixador Richardson mencionou o planejamento que é
feito para enfrentar contingências, como os ciclones, terremotos, etc. Para cada uma das
embaixadas australianas e consulados em todo o mundo, há planejamentos detalhados
para as emergências, assim como houve para os Jogos Olímpicos.
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72
3.4.2- Conselho de Representantes de Brasileiros no Exterior
Em resposta ao Requerimento n° 18, de 2016, da CRE, o MRE fez
menção ao estabelecimento do Conselho de Representantes de Brasileiros no Exterior
(CRBE), que é um instrumento de diálogo do Itamaraty com os brasileiros que vivem
fora do Brasil. Os membros do CRBE são indicados por cada um dos mais de 50
Conselhos dos Cidadãos existentes no mundo.
O CRBE recebe e encaminha ao Governo brasileiro demandas das
comunidades brasileiras no exterior que visam a uma melhor inserção de nossos
nacionais nas sociedades dos países onde decidiram residir. Com o objetivo de garantir
que a política de assistência aos brasileiros no exterior esteja permanentemente afinada
com essas demandas, o Itamaraty promove Conferências “Brasileiros no Mundo”, nas
quais representantes dos Conselhos de Cidadãos das comunidades emigradas bem como
do CRBE, apresentam suas reivindicações, sendo que os resultados são sistematizados
em uma “Ata Consolidada de Reivindicações”, que serve de agenda de trabalho para o
Itamaraty e os órgãos parceiros no decorrer do biênio que se segue ao evento. Exemplos
de demandas atendidas são: instalação do espaço do Trabalhador Brasileiro no Japão;
envio de livros didáticos para as comunidades brasileiras no exterior; expansão do
exame ENCCEJA (Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e
Adultos); instalação de postos em vários consulados de recebimento do Fundo de
Garantia de Tempo de Serviço do Trabalhador e o aumento de seções eleitorais no
exterior.
3.4.3- Prestação do serviço consular sob a perspectiva do cidadão
O Itamaraty informou que a Rede Consular Brasileira no Exterior não
desfruta de grande discricionariedade na prestação de serviços devendo os funcionários
seguir regras claras constantes do Manual do Serviço Consular e Jurídico (MSCJ). Os
serviços consulares, como mencionado, são classificados como de primeira (serviços
cartoriais e assistência consular) e de segunda geração (direitos coletivos das
comunidades, como ações nas áreas trabalhista, educacional, previdenciária e de saúde).
Gabinete do Senador Tasso Jereissati
73
No resumo feito pelo Itamaraty das principais avaliações sobre as
recentes modernizações realizadas no serviço consular, consta a nova versão do Sistema
Consular Integrado, entregue pelo Serviço Federal de Processamento de Dados
(SERPRO) ao MRE em setembro de 2015. Esse processo de renovação tecnológica é
fundamental para a qualidade do atendimento consular, bem como para a integração da
base de dados do Itamaraty com a Polícia Federal, cartórios, TSE e Ministério da
Defesa, trazendo incontáveis benefícios no controle de fronteiras e na emissão de
documentos a brasileiros e estrangeiros, entre outras vantagens, bem como será
essencial no trabalho dos órgãos brasileiros de segurança e inteligência.
A Rede Consular Brasileira é responsável pela produção de mais de 1,6
milhões de documentos por ano. A renda gerada com a emissão de documentos é de
cerca de 100 milhões de dólares. O projeto de implantação do SCI.ng, que ocorre ao
longo de 2016, prevê a substituição dos antigos programas em 189 postos no exterior e
em 4 postos no Brasil. Foram também introduzidos novos procedimentos para a
concessão de vistos para norte-americanos; criação e implementação do “Visto
Olímpico”; novo contrato com a Casa da Moeda do Brasil; Apostila da Convenção da
Haia, ou seja, dispensa dos serviços de legalização e consularização de documentos
emitidos por autoridade no Brasil ou no exterior, para as centenas de países que
aderiram à Convenção.
A dispensa desses serviços liberará mão de obra nas repartições
consulares para a realização de outros serviços. Verificou-se, ainda, a criação dos “visa
centers”, responsáveis pelos serviços pré-consulares, como o recebimento de
documentos e agendamento, continuando de competência da autoridade consular a
responsabilidade pela análise dos pedidos de visto e sua eventual concessão ou
denegação.
A informação do Itamaraty menciona também gargalos legislativos e
jurídicos sobre a atividade consular, acentuando o orçamento insuficiente e a
irregularidade na liberação de recursos. Entre os gargalos legislativos e jurídicos
mencionados cabe destacar:
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74
Ausência de previsão legal para impedir o contingenciamento dos recursos
destinados à assistência a brasileiros no exterior, à luz do caráter humanitário e
de prestação de serviços públicos daquela atividade;
Inexistência de base legal para permitir a realização, no exterior, do Exame
Nacional do Ensino Médio;
Falta de mecanismos jurídicos que possibilitem ao Departamento de Polícia
Federal a denegação da emissão de passaportes para nacionais com distúrbios
mentais;
Ausência de amparo legal para internação compulsória em instituição
médica/psiquiátrica ou repatriação compulsória de brasileiro em estado de grave
desequilíbrio psiquiátrico;
Ausência de normativa que estabeleça requisitos especiais para a emissão de
novo passaporte para cidadãos repatriados às custas da União;
Falta de amparo legal para a denegação de pedido de custeio, pela União, de
traslado de restos mortais de brasileiros falecidos no exterior;
Lacuna existente na legislação sobre as alíquotas a serem aplicadas para tributar
remessas ao exterior de valores correspondentes às aposentadorias e às pensões
dos regimes da Previdência Social.
O Anexo VII, enviado juntamente com as informações prestadas pelo
Itamaraty a esta Comissão, traz um quadro representativo da assistência consular aos
cidadãos e às comunidades brasileiras no exterior.
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75
3.5 - Transparência
3.5.1- Diplomacia pública
A atuação do Itamaraty nas mídias sociais tem constituído o principal
veículo por meio do qual o Ministério vem buscando contribuir para a prestação de
contas à sociedade. A recepção de comentários, sugestões e críticas contribuem para que
a formulação de suas políticas possam atender os anseios da população. Não há, no
entanto, dados sobre gastos e resultados obtidos por representações diplomáticas.
Em sua resposta ao subitem 24 da Seção I, do Requerimento nº 18, de
2016-CRE, o Itamaraty informou a existência de canais de comunicação eletrônica e
plataformas de mídias sociais utilizados pelas representações do Brasil, que incluem os
Portais eletrônicos hospedados nos servidores do Ministério e os perfis virtuais
mantidos em plataformas como “Facebook” (119 representações), “Twitter”,
“YouTube” e outros. São também listados perfis auxiliares mantidos pelos Postos, como
iniciativas em mídias sociais para divulgação de informações específicas sobre a
atividade de Centros Culturais e de Setores Comerciais. 22 das 226 representação não
possui nenhum meio digital.
O MRE informou que tem procurado engajar os outros órgãos do
Governo, demais Poderes e a sociedade brasileira como um todo na formulação e
execução da política externa. As decisões relativas à política de comércio exterior
brasileira são articuladas no marco da Câmara de Comércio Exterior (CAMEX) ou, para
questões mais específicas, conta com o assessoramento dos ministérios pertinentes, bem
como de instâncias da sociedade civil (Confederação da Agricultura e Pecuária do
Brasil, Confederação Nacional da Indústria; Confederação Nacional dos Trabalhadores
na Agricultura, etc).
O Itamaraty mantém, por igual, canais de diálogo permanente com o
Poder Legislativo federal e com as Unidades da Federação por meio da Assessoria
Especial de Assuntos Federativos e Parlamentares (AFEPA), e de nove escritórios
regionais distribuídos pelo território nacional.
Gabinete do Senador Tasso Jereissati
76
Ademais, o Ministério busca promover a discussão das grandes linhas da
política externa brasileira, por meio de iniciativas como “Diálogos sobre Política
Externa”, realizados no primeiro semestre de 2014, que contaram com a participação de
326 debatedores, entre autoridades do governo, do Legislativo, do Judiciário,
acadêmicos, jornalistas, empresários, sindicalistas e ONGs. Este tipo de evento não foi
reeditado ainda.
Da mesma forma, a atuação do Brasil nas negociações internacionais
sobre mudança do clima também esteve amparada em contribuições recebidas de atores
da sociedade brasileira com interesse na matéria, como os representantes da academia,
empresariado e órgãos públicos. Os comentários colhidos no âmbito das consultas
formaram a base para o relatório preparado pelo Itamaraty, que serviu como subsídio
para a contribuição apresentada pelo Brasil nas negociações do novo acordo sob a
Convenção.
3.5.2- Avaliação sobre a adequação do Itamaraty à Lei de Acesso à
Informação (Lei nº 12.527, de 18 de novembro de 2011 - LAI)
Sobre este item, o Itamaraty informou terem sido as seguintes as
principais ações implementadas pelo Ministério, com o objetivo de cumprir a Lei nº
12.527, de 2011, e seus decretos reguladores (nºs 7.724, de 16 de maio de 2012, e 7.845,
de 14 de novembro de 2012).
Transparência Ativa: publicação, no sítio institucional, das informações
requeridas pela Lei, como Ações e Programas; Auditorias; Convênios;
Licitações e Contratos; Servidores; Informações Classificadas e Serviço de
Informação ao Cidadão. Oferece também canais de comunicação com a
sociedade, como “Facebook”, “Twitter”, blog de Diplomacia Pública, Biblioteca
Azeredo da Silveira, pesquisa nos arquivos históricos.
Transparência Passiva: Serviço de Informação ao Cidadão. Inaugurado em 2012,
já recebeu 2.800 pedidos de informação, perfazendo uma média de 58 por mês.
98% foram respondidos no prazo regulamentar. Desse total, 21% não foram
Gabinete do Senador Tasso Jereissati
77
atendidos pelas razões previstas em lei, como exigiam compilação de dados,
eram genéricos, informações classificadas ou pessoais, pedido desproporcional
ou desarrazoado.
Informações Classificadas: Nos termos do art. 39 da LAI, o Itamaraty reavaliou
mais de 85.000 documentos secretos e ultrassecretos visando a sua
desclassificação. Foram desclassificados 32.485 documentos, equivalendo a
37,8% do total. Do total de informações produzidas anualmente pelo Itamaraty,
não mais do que 7% recebem o grau de sigilo, das quais cerca de 85% no grau
menor de “reservado” (prazo máximo de sigilo de cinco anos).
Credenciamento de Segurança: O MRE promoveu o credenciamento de mais de
2.000 servidores para habilitação de acesso a documentos sigilosos.
4- CONCLUSÕES
4.1- Avaliação e recomendações
Durante os dois mandatos do Presidente Luís Inácio Lula da Silva,
adotou-se um discurso que parecia priorizar os temas de política externa dentro da
agenda de governo. No entanto, esse discurso não se refletiu nas práticas adotadas, de
modo que, durante os anos de governo da Presidente Dilma Rousseff, tornou-se
evidente que questões de política externa estavam relegadas a segundo plano.
Nesse sentido, identificamos alguns aspectos que denotam essa realidade,
os quais passaremos a expor.
1. Reforma das carreiras de diplomatas, assistentes e oficiais de
chancelaria:
A iniciativa tomada pelo Governo brasileiro no sentido expandir o
número de vagas oferecidas para o Concurso de Admissão à Carreira Diplomática do
Gabinete do Senador Tasso Jereissati
78
Instituto Rio Branco, admitindo, assim, 500 novos diplomatas ao longo dos anos 2006 a
2010, não foi acompanhada de uma necessária reforma da carreira para adaptá-la ao
novo número de funcionários diplomáticos.
Consequentemente, o impacto gerado por essa expansão afetou
profundamente não só o fluxo de promoções ao longo da carreira como também as
remoções para o serviço no exterior. Ademais, a nova regra para a aposentadoria
compulsória dos servidores públicos, introduzida pela Lei Complementar nº 152, de 3
de dezembro de 2015, cuja implantação, no caso do Itamaraty, deverá ser feita
gradualmente14, ainda assim poderá causar grande perturbação na carreira, por
inviabilizar, no médio prazo, as promoções tão almejadas pelos jovens diplomatas,
retirando o estímulo que tradicionalmente os move a buscar a excelência no
desempenho de suas tarefas em uma estrutura predominantemente meritocrática,
excelência esta, aliás, que levou o serviço diplomático brasileiro a desfrutar do mais alto
respeito internacional.
A questão vem sendo discutida no âmbito do próprio Ministério.
Verifica-se que no Itamaraty o desligamento de servidores se dá em grande medida por
aposentadoria compulsória. O que não é de se estranhar, dada a natureza da carreira e
todo o investimento feito, tanto pelo funcionário diplomático como pelo Ministério, pela
via dos cursos ministrados no Instituto Rio Branco, na preparação, formação e
posteriormente na atualização dos servidores da carreira.
Estudos concluíram que, mantida a atual média anual de aposentadorias
(25 ao ano), até 2023, o tempo médio para promoção de um Primeiro-Secretário para
Conselheiro será em torno de 10.5 anos; e de 9.5 anos para a promoção de um Segundo-
Secretário para Primeiro-Secretário. Trata-se de tempos de permanência em uma mesma
14 A Lei Complementar nº 152, de 2015, que dispõe sobre a aposentadoria compulsória por idade, com
proventos proporcionais, nos termos do inciso II do § 1º do art. 40 da Constituição Federal, determina
que aos servidores do Serviço Exterior Brasileiro, regidos pela Lei nº 11.440, de 29 de dezembro de
2006, o disposto neste artigo será aplicado progressivamente à razão de 1 (um) ano adicional de limite
para aposentadoria compulsória ao fim de cada 2 (dois) anos, a partir da vigência desta Lei
Complementar, até o limite de 75 (setenta e cinco) anos previsto no caput (art. 2º, parágrafo único).
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79
classe significativamente maiores do que a média histórica do MRE, resultando em um
“travamento” no desenvolvimento da carreira, o que poderá ocasionar pedido de
exoneração em massa em algum momento, afetando o funcionamento de toda uma
importante classe de servidores públicos a cujo cargo encontra-se a articulação da
política externa do País. Ademais, esses Segundos e Primeiros Secretários estarão
relegados a um papel secundário no desenvolvimento das atividades do Ministério, mas
tendo a experiência e o tempo de carreira de interlocutores nacionais e internacionais
que, com essa idade e comparativamente, já ocuparão cargos de chefia nos quadros
superiores de seus órgãos.
Tendo em vista esse descompasso entre o fluxo de promoções no topo da
carreira e o número de novos diplomatas que ingressaram no Itamaraty a partir de 2006,
uma solução seria aumentar o número de vagas e de promoções nas classes superiores,
de Conselheiro para cima, o que daria mobilidade às classes mais abaixo. Essa solução
demandaria revisão periódica do número de vagas em todas as classes, conforme
previsto em Lei, e desde que se começasse sempre pelo topo da pirâmide a sua
implementação, evitando que volte a exacerbar-se o descompasso com a base. Uma
solução mais drástica seria a redução do efetivo ou a mudança nas regras de promoção.
RECOMENDAMOS, portanto, sejam iniciados com urgência estudos
para a reforma da carreira de diplomata, no sentido de adequar o fluxo de promoções e
remoções ao expressivo aumento do número de novos servidores admitidos a partir de
2006. RECOMENDAMOS, nesse contexto, levar em conta as estruturas das demais
carreiras do Serviço Exterior Brasileiro, isto é, as carreiras de Assistente de Chancelaria
e de Oficial de Chancelaria e suas demandas. RECOMENDAMOS considerar também
o emprego dos diplomatas exclusivamente em funções para os quais são treinados
(Diplomacia), a fim de maximizar a alocação dos recursos do Ministério, abrindo
espaço para Oficiais de Chancelaria e gestores públicos federais – nas áreas de gestão
financeira e orçamentária ou gestão de pessoal, por exemplo -, para desenvolverem
atividades nas quais têm, em princípio, mais aptidão do que diplomatas.
2. Treinamento
Gabinete do Senador Tasso Jereissati
80
Com base em relatórios de gestão elaborados por Chefes de Posto,
notadamente o do Embaixador do Brasil em Beijing15, RECOMENDAMOS a
necessidade de treinamento mais aprofundado dos servidores das carreiras do Serviço
Exterior Brasileiro em idiomas oferecidos como disciplinas opcionais pelo Instituto Rio
Branco, aos alunos do Curso de Formação de Diplomatas, como árabe, russo e chinês.
Ou mesmo, considerar a possibilidade dos diplomatas se especializarem em regiões que
atuem ao longo da carreira. Outra opção seria que os servidores, uma vez formalizada a
sua remoção para um desses Postos, passassem a frequentar curso do idioma em
questão. Ademais, RECOMENDAMOS o treinamento mais aprofundado e extenso não
apenas de diplomatas nesses idiomas, quando designados para ocupar posto nos países
em questão, mas também de servidores das demais carreiras do SEB, com o objetivo de
evitar excessiva dependência do Posto em relação a funcionários contratados
localmente. RECOMENDAMOS inserir na grade curricular do Instituto Rio Branco
mais disciplinas técnicas que teriam mais utilidade para o desempenho da atividade
professional dos diplomatas. RECOMENDAMOS o Instituto Rio Branco considerar
diversificar a origem dos professores de seus cursos, trazendo nomes da academia para
complementar os cursos lecionados pelos próprios diplomatas.
3. Integralização de cotas em organismos e organizações internacionais e
Ministério das Relações Exteriores
O exame do orçamento do Ministério das Relações Exteriores, por
exemplo, reflete o desprestígio a que foi relegada a pasta, sobretudo comparativamente
às demais. Vale, ainda, destacar o fato de que muitos programas de política externa
sequer são geridos pelo MRE. Exemplos são as despesas com missões de paz e diversas
contribuições a organismos e organizações internacionais. Seria, de certo modo, natural
pensar que o Itamaraty, cuja competência abrange auxiliar o Presidente da República na
15 Foi destacado no relatório que “33. O estudo do mandarim, idioma que hoje apenas alguns poucos
jovens diplomatas dominam, deve continuar a ser estimulado; uma compreensão mais aprofundada da
China dependerá cada vez mais de acesso direto a fontes em língua chinesa.” (Consulta em:
http://www.senado.leg.br/atividade/rotinas/materia/getPDF.asp?t=168863&tp=1. Acesso: em 1 de
novembro de 2016)
Gabinete do Senador Tasso Jereissati
81
formulação da política externa, assumisse papel de protagonista quanto à decisão sobre
os recursos a serem destinados a essas ações tão impactantes na política externa
brasileira.
A situação devedora do Brasil nos organismos internacionais choca
frontalmente com a narrativa de multilateralismo defendida pela diplomacia brasileira.
Isso representa uma significativa perda de credibilidade do país frente ao mundo.
Entretanto, em resposta ao Requerimento nº 18, de 2016, da CRE, o
Itamaraty informou desconhecer o valor dos passivos brasileiros atualizados com multas
e juros de mora, uma vez que a matéria insere-se na competência do Ministério do
Planejamento, Orçamento e Gestão, órgão ao qual incumbe aferir, controlar e processar
o pagamento das contribuições aos organismos internacionais, além da integralização de
cotas e fundos a entidades internacionais de natureza financeira.
O próprio Itamaraty reconheceu que a não integralização e atraso no
pagamento das cotas de organismos e organizações internacionais pode afetar a imagem
do Brasil e trazer prejuízos à implementação da política externa brasileira.
Com a edição do Decreto nº 8.666, de 10 de fevereiro de 2016, que cria a
Comissão Interministerial de Participação em Organismos Internacionais - Cipoi e dá
outras providências, poderá trazer avanço nesse sentido16. A Cipoi, conforme o art. 1º
do Decreto, é órgão colegiado de caráter consultivo, com a finalidade de opinar
especificamente sobre aspectos orçamentários e financeiros da participação da
República Federativa do Brasil em organismos, entidades e fundos internacionais.
16 Nos termos do art. 2º do Decreto, a Cipoi será composta pelos seguintes membros titulares: I -
Secretário-Executivo do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, que a presidirá; II - Secretário-
Executivo da Casa Civil da Presidência da República; III - Secretário-Geral do Ministério das Relações
Exteriores; e IV - Secretário-Executivo do Ministério da Fazenda. O art. 4º, por sua vez, deixou claro que
a vinculação da República Federativa do Brasil a compromissos financeiros com organismos, entidades
e fundos internacionais fica previamente submetida à consideração política do Ministério das Relações
Exteriores.
Gabinete do Senador Tasso Jereissati
82
RECOMENDAMOS, diante disso, que o Ministério das Relações
Exteriores zele pela observância do disposto no Decreto nº 8.666, de 2016, com o fim
de acompanhar, de forma efetiva, as questões orçamentárias que possam impactar na
política externa brasileira.
4. Criação de marco legal de cooperação
Conforme as informações prestadas pelo Itamaraty, as iniciativas de
cooperação técnica Sul-Sul se valem de parcerias entre o Estado brasileiro e organismos
internacionais, à luz dos tratados assinados pelo Brasil com esses organismos e dos
mecanismos previstos nos Acordos Básicos. Essa prática de intermediação por um
organismo internacional, entre outros inconvenientes, dificulta a promoção da imagem
do Estado brasileiro como prestador da cooperação e burocratiza procedimentos.
RECOMENDAMOS, assim, que sejam envidados esforços, no âmbito do
MRE, notadamente no que diz respeito à apreciação da minuta de anteprojeto de lei com
a finalidade de estabelecer a Política de Cooperação Internacional para o
Desenvolvimento, no sentido de se propor a criação desse amparo legal específico para
a cooperação técnica a ser prestada pelo Estado brasileiro, o qual deverá estabelecer
parâmetros dos direitos e das obrigações das partes envolvidas no processo, de modo a
orientar os atos dos agentes públicos em conformidade com os princípios da
administração pública. RECOMENDAMOS adotar um modelo de cooperação
internacional integrado no âmbito do Ministério e baseado na gestão por evidências e
transparência.
5. Assistência consular
Na audiência pública, algumas iniciativas apresentadas pelos
Embaixadores do Canadá e Austrália no Brasil, bem como destacadas nos relatórios de
gestão apresentados pelos chefes de posto em final de missão, mostraram-se
merecedoras de atenção das autoridades consulares, a fim de que seja avaliada a
possibilidade de serem replicadas em nossos serviços consulares.
Gabinete do Senador Tasso Jereissati
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RECOMENDAMOS, desse modo, que o MRE avalie a possibilidade de
adoção das seguintes práticas:
Arranjos colaborativos com outros Estados a fim de compartilhar instalações
diplomáticas no exterior, visando não apenas à diminuição dos custos
operacionais, mas também encontrar sinergias com outras nações.
Disseminação entre os brasileiros de uma cultura de viagem responsável (por
meio, por exemplo, de cartilhas a serem entregues àqueles que requerem
emissão de passaporte, ou de campanhas publicitárias), capaz de conscientizar o
público acerca de questões de segurança e dos limites de atuação dos serviços
consulares, bem como dos direitos e deveres do viajante brasileiro no exterior.
Desenvolvimento de atividades conjuntas entre as repartições consulares
brasileiras com os serviços de migração do país em que elas se encontram, com
realização, por exemplo, de eventos que reúnam os serviços consulares e os
migratórios, em benefício da comunidade brasileira local.
Revisão periódica do Manual do Serviço Consular e Jurídico, a fim de que sejam
desenvolvidas, replicadas e estimuladas práticas eficientes e desburocratizantes
nas repartições diplomáticas e consulares.
RECOMENDAMOS, com o fim de estimular a interlocução entre as
comunidades brasileiras no exterior e o Poder Legislativo, que esta Comissão realize
audiências públicas em periodicidade anual com a presença de representantes dos
Conselhos de Cidadãos.
6. Alocação da infraestrutura diplomática
Diante do atual contexto de ajuste fiscal e da notória escassez de recursos
do MRE, os dados evidenciam uma possível chance de revisão da alocação de
infraestrutura diplomática ao redor do mundo, privilegiando a localização em países do
Gabinete do Senador Tasso Jereissati
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Sul e Norte que têm a maior chance de gerar dividendos econômicos e políticos para o
Brasil.
RECOMENDAMOS, que o MRE reveja o número de embaixadas e de
efetivo diplomático, de modo a maximizar o uso dos recursos do Ministério para gerar o
maior retorno diplomático possível.
7. Transparência
Há uma notória percepção da falta de transparência do MRE, que sempre
se vale do argumento de “proteção de dados de interesse nacional” para não divulgar de
forma transparente informações gerenciais e operacionais. É também sabido sobre o
parco diálogo do MRE com a academia, o setor privado e a sociedade civil. O nível de
informação que o MRE provê para o público sobre o seu trabalho e seus resultados, de
forma acessível, também não parece satisfatório.
RECOMENDAMOS que o MRE reveja sua política de transparência
para que a sociedade brasileira tenha conhecimento sobre as ações e resultados da
política externa, bem como um maior senso de pertencimento em relação à política
externa brasileira e ao trabalho do próprio MRE.
Sala da Comissão,
, Presidente
, Relator
Senado Federal
Relatório de Registro de Presença
CRE, 08/12/2016 às 10h - 34ª, OrdináriaComissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional
TITULARES SUPLENTES
Bloco Parlamentar da Resistência Democrática(PDT, PT)
JORGE VIANA 1. JOSÉ PIMENTELPRESENTE PRESENTELINDBERGH FARIAS 2. TELMÁRIO MOTA PRESENTEGLEISI HOFFMANN 3. VAGO
LASIER MARTINS 4. HUMBERTO COSTA PRESENTECRISTOVAM BUARQUE 5. VAGOPRESENTEANA AMÉLIA 6. BENEDITO DE LIRAPRESENTE
TITULARES SUPLENTES
Maioria (PMDB)
EDISON LOBÃO 1. JOÃO ALBERTO SOUZA
ROBERTO REQUIÃO 2. RAIMUNDO LIRA
SÉRGIO PETECÃO 3. MARTA SUPLICY
VALDIR RAUPP 4. KÁTIA ABREUPRESENTERICARDO FERRAÇO 5. HÉLIO JOSÉPRESENTE PRESENTE
TITULARES SUPLENTES
Bloco Social Democrata(PSDB, PV, DEM)
JOSÉ AGRIPINO 1. RONALDO CAIADOPRESENTE PRESENTEALOYSIO NUNES FERREIRA 2. FLEXA RIBEIROPRESENTE PRESENTETASSO JEREISSATI 3. JOSÉ ANÍBALPRESENTEPAULO BAUER 4. ANTONIO ANASTASIA PRESENTE
TITULARES SUPLENTES
Bloco Parlamentar Socialismo e Democracia(PPS, PSB, PCdoB, REDE)
FERNANDO BEZERRA COELHO 1. JOÃO CAPIBERIBE
VANESSA GRAZZIOTIN 2. LÍDICE DA MATA
TITULARES SUPLENTES
Bloco Moderador(PTB, PSC, PRB, PR, PTC)
EDUARDO AMORIM 1. MARCELO CRIVELLAPRESENTEARMANDO MONTEIRO 2. MAGNO MALTAPRESENTE
08/12/2016 16:58:00 Página 1 de 1
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