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ALINE MENEZES CARVALHO GOMES
REPRODUÇÃO, CLÍNICA E CIRURGIA DE EQÜINOS
Trabalho de Conclusão de Curso deGraduação apresentado para obtenção do
título de Médica Veterinária junto àUniversidade Federal de Goiás
Orientadora:Prof ª. Dra. Vera Lúcia Dias da Silva Fontana
Supervisores:Médico Veterinário Orpheu de Souza Ávila Júnior
Méd. Vet. M. Sc. Pierre Barnabé Escodro
JATAÍ2006
2
ALINE MENEZES CARVALHO GOMES
Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação defendido e aprovado em 30
de novembro de 2006, pela seguinte banca examinadora.
______________________________________________Prof ª. Dra. Vera Lúcia Dias da Silva Fontana
Presidente da banca
______________________________________________Prof° MSc. Tiago Luiz Kunz
Membro da banca
_____________________________________________Médico Veterinário Leonardo Ferreira Prado
Membro da banca
3
Pegadas na areia
“Uma noite eu tive um sonho...........
Sonhei que estava andando na praia, com o Senhor,
e através do Céu passavam cenas da minha vida.
Para cada cena que se passava, percebi que eram
deixados dois pares de pegadas na areia:
um era o meu e o outro era o do Senhor.
Quando a última cena da minha vida passou diante
de nós, olhei para trás, para as pegadas na areia e
notei que muitas vezes, no caminho da minha vida
havia apenas um par de pegadas na areia.
Notei também, que isso aconteceu nos momentos
mais difíceis e angustiosos do meu viver. Isso
entristeceu-me deveras, e perguntei então ao Senhor:
Senhor, Tu me dissestes que, uma vez que eu
resolvi Te seguir, Tu andarias sempre comigo todo
o caminho mas, notei que durante as maiores
atribulações do meu viver havia na areia dos
caminhos da vida, apenas um par de pegadas.
Não compreendo por que, nas horas que eu mais
necessitava de Ti, Tu me deixastes.
O Senhor me respondeu: Meu precioso filho,
Eu te amo e jamais te deixaria nas horas da tua
prova e do teu sofrimento. Quando vistes na areia
apenas um par de pegadas, foi exatamente aí que Eu,
nos braços.......Te carreguei.”
Margareth Fishback Powers
4
AGRADECIMENTOS
Ó Deus Pai, que dais existência em minha vida, obrigada pelas
oportunidades, pelas conquistas e também pelas derrotas, que me fizeram
exteriorizar uma capacidade que eu não julgava possuir.
Aos meus pais, Sérgio e Ângela, que em momento algum me
deixaram desistir, e que sempre estiveram do meu lado, me dando muita força,
com honestidade.
Aos meus irmãos, Enaldo e Patrícia, que pude contar com seus
incentivos e carinho.
As minhas avós e avó, que, com poucas palavras, me dizem
muito, me ensinando à nunca desistir, sempre lutar por algum ideal.
Aos meus tios e primos, que sempre me apoiaram.
Ao meu namorado Rodrigo, pois sempre esteve do meu lado, e
me ensinou muita coisa, me ajudando a enxergar a vida de um jeitinho
especial.
Às minhas madrinhas que me deram muita atenção.
A todos os meus professores, que sem eles eu não teria chegado
onde estou.
À minha orientadora Vera Fontana, que além de possuir uma
enorme sabedoria, também é uma pessoa amiga e que cativa a todos.
Às minhas colegas Talita, Ester, Camila, Míria, Thays Furtado
pela amizade durante todos esses anos.
A todos da minha turma, que entre momentos bons e maus, mas
serão momentos inesquecíveis.
Aos supervisores, Pierre e Orpheu, pelos estágios concedidos,
onde pude aprender muito com suas experiências, não só com assuntos
profissionais, mas também com assuntos da vida.
Aos amigos que conheci nos estágios: Maria Helena, Gelton,
Dilson e Alex, pela amizade conquistada.
Aos funcionários da faculdade, pela ajuda e companheirismo.
Aos amigos cavalos, que com apenas um olhar conseguem nos
transmitir muito mais do que mil palavras.
5
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO GERAL................................................................................. 01
2 ESTÁGIO NA ÁREA DE REPRODUÇÃO EQÜINA ...................................... 02
2.1 INTRODUÇÃO ........................................................................................... 02
3 CONGELAMENTO DE SÊMEN EQÜINO ..................................................... 05
3.1 Revisão de Literatura ................................................................................. 05
3.2 Seqüência para congelação utilizada na C.E.R. ........................................ 24
3.3 Discussão e conclusão............................................................................... 27
4 ESTÁGIO NA ÁREA DE CLÍNICA E CIRURGIA DE EQÜINOS ................... 29
4.1 INTRODUÇÃO ........................................................................................... 29
5 RABDOMIÓLISE DE ESFORÇO .................................................................. 33
5.1 Revisão de Literatura ................................................................................. 33
5.2 Caso Clínico............................................................................................... 41
5.3 Discussão e conclusão............................................................................... 43
6 NEURECTOMIA DO NERVO DIGITAL PALMAR ......................................... 45
6.1 Revisão de Literatura ................................................................................. 45
6.2 Caso clínico................................................................................................ 50
6.3 Discussão e conclusão............................................................................... 54
7 CONCLUSÃO GERAL .................................................................................. 55
8 REFERÊNCIAS............................................................................................. 56
ANEXOS .......................................................................................................... 62
6
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Receptoras alimentando-se no arrendamento ............................. ... 3
Figura 2 - Doadoras na C.E.R. .................................................................... ... 4
Figura 3 - Anatomia do garanhão..................................................................... 5
Figura 4 - Reflexo de “flehmen” do garanhão detectando o cio na égua.......... 13
Figura 5 - Coleta de sêmen através da vagina artificial.................................... 14
Figura 6 - Vagina artificial modelo Botucatu..................................................... 24
Figura 7 - Botijão de nitrogênio ........................................................................ 26
Figura 8 - Centro Cirúrgico............................................................................... 30
Figura 9 - Piquetes de Internamento................................................................ 30
Figura 10 - Baias de Internamento................................................................... 30
Figura 11 - Égua Cassolândia deitada constantemente................................... 42
Figura 12 - Anatomia topográfica na área digital do membro distal do cavalo. 46
Figura 13 - Tração do Nervo Digital Palmar pela incisão próxima ............... ... 52
7
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 Defeitos maiores mais comuns no sêmen de eqüinos ..................... 17
Quadro 2 Defeitos menores mais comuns no sêmen de eqüinos.................... 18
Quadro 3 Padrões seminais desejáveis para efeito de seleção de garanhões
para monta natural ........................................................................................... 22
Quadro 4 Sêmen congelado fora do padrão pós descongelação .................... 23
Quadro 5 Sêmen resfriado fora do padrão dentro do período de longevidade
declarado em certificado .................................................................................. 23
Quadro 6 Atendimentos clínicos acompanhados durante o estágio ................ 31
Quadro 7 Intervenções cirúrgicas acompanhadas durante o estágio .............. 32
8
LISTA DE ABREVIATURAS
ABP – proteína ligadora de andrógeno
ACP - acepromazina
AST – Aspartato aminotransferase
bpm – batimentos por minuto
°C – graus Celsius
CAJ – Campus Jataí
CBRA – Colégio Brasileiro de Reprodução Animal
C.E.R. – Central Eqüina de Reprodução
CK – creatina quinase
cm – centímetro
DNA – ácido desoxirribonucléico
FSH – hormônio folículo-estimulante
g – gramas
GGT – gama glutamiltransferase
GnRh – hormônio liberador de gonadotrofinas
IA – Inseminação Artificial
IM – Intramuscular
IV – Intravenoso
Kg – kilograma
LH – hormônio luteinizante
LDH – lactato desidrogenase
mg – miligramas
ml – mililitros
mmol - milimole
mpm – movimentos por minuto
NDP – Neurectomia Digital Palmar
RNA – ácido ribonucléico
TE – Transferência de Embrião
UFG – Universidade Federal de Goiás
µg – microgramas
µl - microlitros
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1 INTRODUÇÃO GERAL
Treinadores, jóqueis, cavaleiros e amazonas estão envolvidos
numa constante busca por maneiras de melhorar a performance de seus
cavalos atletas e de obter resultados importantes em competições, exigindo
alta velocidade e extrema resistência do animal, levando-o à condição de
vencer a qualquer custo, prejudicando diretamente a vida útil destes atletas.
No mercado do cavalo, se faz necessário um maior
aproveitamento e intensificação do ritmo do melhoramento genético e eficiência
reprodutiva dos animais.
No estágio que fiz na Central Eqüina de Reprodução foi
observado a grande evolução dos eqüinos no Brasil, pois os proprietários se
preocupam cada vez mais em melhorar a genética dos animais, de acordo com
o seu bem-estar; e aproveitar ao máximo a capacidade que cada cavalo possui
nas competições, usando para isso as transferências de embriões e sêmen de
garanhões geneticamente superiores.
No estágio feito na Vetpolo – clínica especializada em eqüinos, foi
vista a parte de clínica, cirurgia e diagnóstico por imagem, através de raio-x e
ultra-som. Na Medicina Eqüina Esportiva, o aperfeiçoamento do médico
veterinário nas áreas de clínica e cirurgia se faz necessário devido ao elevado
número de injúrias em que o cavalo atleta está predisposto. Para o eqüino
atingir o melhor desempenho nas pistas, todos os sistemas devem estar
perfeitamente funcionais. Caso ocorra falha em um dos sistemas, o cavalo não
atinge o seu melhor desenvolvimento durante os treinos e competições. O
principal esporte dos eqüinos na região da Vetpolo é o pólo, sendo feitas visitas
no centro de treinamento todas terças, no período matutino.
10
2 ESTÁGIO NA ÁREA DE REPRODUÇÃO EQÜINA
2.1 Introdução
A utilização de biotecnologias cada vez mais modernas tem
contribuído para o avanço da reprodução de diversas espécies animais, em
especial animais de produção. O desenvolvimento de técnicas adequadas para
a preservação e armazenamento de sêmen é um dos passos de maior
importância neste avanço, uma vez que possibilita o maior aproveitamento de
animais de grande potencial genético e de animais que não possam –
temporária ou permanentemente – ser utilizados na reprodução, ou até de
animais ameaçados de extinção, além de permitir o transporte de sêmen a
longas distâncias, sendo considerado como o melhor seguro biológico de
reprodutores geneticamente superiores (Melo, 2005).
No Brasil, apesar das instabilidades econômicas da atualidade, a
eqüinocultura destaca-se, seja pelo seu patrimônio genético e/ou pela
performance em esportes hípicos no cenário internacional (Medeiros, 2003).
O estágio foi realizado, inicialmente, na Central Eqüina de
Reprodução (C.E.R.), especializada em Reprodução, Inseminação Artificial em
eqüinos e congelamento de sêmen, sob responsabilidade do médico veterinário
Dr. Orpheu de Souza Ávila Júnior.
A C.E.R. é registrada e regulamentada pelo Ministério da
Agricultura como Central de Inseminação Artificial (IA) e Central de
Transferência de Embrião (TE), podendo desenvolver todas as atividades e
comercialização de sêmen e de embriões da espécie eqüina, incluindo serviços
tercerizados, e está localizado no Haras São João na cidade de Boituva, no
estado de São Paulo.
A C.E.R. é composta por: área de aproximadamente 20 alqueires,
estes são distribuídos em 20 piquetes; 4 comedouros e 3 corredores de
manejo; 1 laboratório; 33 baias; 4 troncos para palpação e manipulação dos
animais; 1 manequim para coleta de sêmen; 1 farmácia; 1 redondel para
trabalho dos animais.
11
Possuindo cerca de 20 alqueires, a C.E.R. conta com uma boa
estrutura para manejo diário de 97 éguas entre doadoras e receptoras, bem
como para a colheita de sêmen e transferência de embrião.
Possui uma área coberta de 50 m², como curral externo de 70 m².
Nesta área possui 4 troncos cobertos, sendo 3 deles destinados a palpação
(ultra-som), inseminações artificiais, curativos, etc., e um destinado às
transferências de embriões, inseminação com sêmen congelado e alguns
procedimentos cirúrgicos.
Os 20 piquetes cercados com arame liso encapado são
compostos por gramíneas (coast-cross, tanzânia, tifton), sendo apropriados
para a manutenção de aproximadamente 100 éguas.
Todas as éguas eram recolhidas diariamente na unidade de
manejo da C.E.R. para receber a suplementação nutricional, composta por um
concentrado energético e protéico. Além disso, eram examinadas através da
palpação retal e ultra-sonografia para exame de sanidade uterina, controle
folicular, diagnóstico da ovulação e de gestação, quando necessário. No
período do estágio as éguas receptoras estavam em um arrendamento próximo
a central (Figura 1) e eram examinadas em dias alternados até a ovulação.
Decorridos 5 a 8 dias da ovulação elas eram examinadas para receber o
embrião.
Figura 1: Receptoras alimentando-se no arrendamento.Fonte : C.E.R.
12
As éguas doadoras (Figura 2) controladas na C.E.R. eram
inseminadas artificialmente no momento adequado, sendo 12 horas pré-
ovulação e até 6 horas pós-ovulação.
Figura 2: Doadoras na C.E.R.Fonte: C.E.R.
Na C.E.R. é mantido um rufião, que é usado para detectar o cio
nas receptoras para serem usadas na coleta de sêmen. A coleta era feita em 2
garanhões que estavam na C.E.R., em dias alternados, e em garanhões de
alguns haras próximos à central, também em dias alternados, sendo, na
maioria das vezes, esse sêmen congelado, ou era usado após a coleta para
inseminar éguas.
O estágio na C.E.R. foi realizado do dia 03 de agosto a 03 de
setembro, sob supervisão do Dr. Orpheu de Souza Ávila Júnior, totalizando 248
horas.
13
3 CONGELAMENTO DE SÊMEN EQÜINO
3.1 REVISÃO DE LITERATURA
3.1.1 Anatomia do sistema reprodutor masculino
De acordo com Thomassian (1996) o aparelho reprodutor do
garanhão é composto por dois testículos que são glândulas essenciais para a
reprodução, produzindo hormônios masculinos e os espermatozóides; pelos
condutos ou canal deferente, que serve de via secretória dos testículos; pelas
vesículas seminais, que produzem um líquido característico que entra na
formação do sêmen; pela próstata que também produz um líquido
característico; glândulas bulbouretrais; pelo epidídimo; pela uretra, que constitui
um canal misto, dando passagem às secreções reprodutivas e urinárias; e pelo
pênis que constitui o órgão copulador masculino (Figura 3).
Figura 3: Anatomia do garanhão
Fonte: http://www.mcguido.vet.br/espermatogenese.htm, acesso em 25/10/06.
14
O escroto, em que os testículos e as partes adjacentes dos
funículos espermáticos estão situados, é de formato um tanto globular, mas é
comumente assimétrico, pois um testículo – na maioria das vezes o esquerdo –
é maior e colocado um pouco mais adiante caudalmente. Varia no formato e na
aparência num mesmo animal, de acordo com a condição de seu tecido
muscular subcutâneo. Consiste em camadas, que correspondem às da parede
abdominal; considerando-se do lateral ao medial: pele, túnica dartos, fáscia do
escroto e camada parietal da túnica vaginal. Este contrai-se na exposição ao
frio, de modo que o escroto está repuxado e torna-se mais espesso e
enrugado; quando relaxado, sob a influência do calor ou da fadiga, ou por
debilidade, torna-se liso e pendular, com uma constrição ou colo dorsal,
segundo Getty (1986). O testículo de um garanhão deve estar abaixo da
temperatura do corpo para a espermatogênese normal (Amann, 1993).
O testículo é a gônada masculina e o local de produção para
espermatozóides e o hormônio masculino predominante do sexo, testosterona.
Os testículos são ovóides, comprimidos ligeiramente de um lado ao outro com
sua linha central longa quase horizontal. Os testículos de garanhões pós-
puberdade variam consideravelmente no tamanho. Um testículo médio pode
medir 80 a 140 milímetros no comprimento por 50 a 80 milímetros na largura e
no peso aproximadamente 225 g (Amann, 1993).
O parênquima testicular consiste em túbulos seminíferos e tecido
intersticial. Os túbulos seminíferos (túbulo seminífero contorti) são alinhados
por um epitélio seminífero (epitélio espermatogênico) que consiste em tipos
diferentes de células germinais (células espermatogênicas) e das células de
Sertoli (célula sustentacular) (Amann, 1993).
O testículo é ricamente suprido de sangue pela artéria testicular,
um ramo da aorta abdominal. As veias, ao deixarem o testículo, formam uma
rede (o plexo pampiniforme) ao redor da artéria no funículo espermático. A veia
testicular, que surge deste plexo, normalmente une-se com a veia cava caudal
no lado direito; e com a veia renal esquerda, no lado esquerdo (Getty, 1986).
A barreira do sangue-testículo isola as células germinais mais diferenciadas do
sistema imune do garanhão. Porque o sistema imune desenvolvido não é
exposto aos espermatócitos ou às espermátidas diferenciadas, considera-os
serem células estranhas. Conseqüentemente, à exceção deste isolamento
15
fornecida pela barreira do sangue-testículo, as células germinais seriam
destruídas (Amann, 1993).
O epidídimo é dividido anatomicamente em três porções: cabeça,
corpo, e cauda. A cabeça curva-se em torno do testículo e do aspecto lateral
do cordão espermático e continua com o corpo do epidídimo. De um ponto de
vista funcional, o epidídimo tem três segmentos. O epitélio dos ductos
eferentes mais o segmento inicial da cabeça estão envolvidos na reabsorção
da maioria do líquido e dos solutos que entram do testículo e secreta também
alguns compostos. O segmento médio inclui parcelas principais da cabeça
epididimária e do corpo e é envolvido na maturação de espermatozóide, um
processo que depende das secreções específicas do epitélio. O segmento
terminal é composto da cauda epididimária e do ducto deferente proximal e
está envolvido no armazenamento de espermatozóides férteis (Amann, 1993).
Segundo Allen (1994) o ducto deferente é uma continuação do
epidídimo e transporta espermatozóides deste último para a uretra. Ele entra
no abdômen do cavalo (com o músculo cremaster, vasos testiculares e seus
tecidos de sustentação) pelo canal inguinal. No abdômen, o ducto deferente se
torna dilatado para formar a ampola, na qual os espermatozóides são
estocados.
O cordão espermático é uma estrutura formada pela artéria
espermática, a veia espermática; esta é ramificada em uma complexa rede de
pequenas veias (o plexo pampiniforme) que circunda a artéria espermática e
resfria o sangue que vai para os testículos, o músculo cremaster que pode
(com a pele escrotal) variar a distância do testículo com a parede corporal e
então influir na sua temperatura, e o ducto deferente (Allen, 1994).
As glândulas acessórias são a próstata, as glândulas vesiculares
e as glândulas bulbouretrais que emitem suas secreções para dentro da uretra
onde, por ocasião da ejaculação, são misturadas com a suspensão fluida de
espermatozóides e com as secreções ampolares dos ductos deferentes (Hafez,
1995).
A uretra é o longo tubo mucoso que se estende da bexiga até a
glande do pênis. Ela pode ser dividida em duas partes, a pélvica e a esponjosa
(extrapélvica). A parte pélvica não é distinguível do colo da bexiga urinária no
tamanho ou estrutura. A parte esponjosa passa através da glande do pênis e
16
projeta-se cranialmente, aproximadamente, 2,5 cm na fossa da glande como
um tubo livre, o processo uretral; esta parte está coberta por um tegumento
delicado, sob o qual há uma fina camada de tecido erétil (Getty, 1986).
O canal inguinal é formado por uma lacuna (fenda) no músculo
abdominal, exatamente anterior ao escroto. Rapidamente após o nascimento,
os testículos do potro devem descer através desse canal e entrar no escroto
(Allen, 1994).
O pênis é o órgão masculino de copulação e consiste em três
regiões: a raiz, que é o local de ligação ao sistema esqueleto; o corpo ou o
eixo, que são a porção principal do pênis; e a glande do pênis, que é ampliada,
extremidade livre do pênis. O pênis do garanhão é um tipo de músculo
cavernoso e submete-se à ampliação considerável no comprimento e no
diâmetro durante a ereção, que está no contraste ao pênis fibroelástico do
touro, que se torna reto e duro durante a ereção, mas não se aumenta no
tamanho. O pênis do garanhão contém uma quantidade grande de tecido erétil
na qual é incluída em uma cápsula do tecido conjuntivo, a túnica albugínea
(Amann, 1993).
O prepúcio, popularmente denominado “bainha”, é uma dupla
invaginação da pele que contém e cobre a porção livre ou pré-escrotal do pênis
quando este não estiver ereto. A secreção das glândulas prepuciais,
juntamente com células epiteliais descamadas, forma o gorduroso esmegma do
prepúcio, que possui um cheiro forte e desagradável e muitas vezes
acumulam-se em quantidades consideráveis (Getty, 1986).
3.1.2 Regulação endócrina da função reprodutiva dos garanhões
A função dos órgãos reprodutivos é controlada pelo sistema
neuroendócrino. Este sistema inclui grupos especializados de células nervosas
e tecidos endócrinos que secretam mensageiros químicos, os hormônios. Os
hormônios são carregados pelo sangue, de um órgão para controlar a função
de outro órgão (Amann, 1993).
O aumento do comprimento dos dias provoca uma diminuição da
secreção diária de melotonina e, conseqüentemente, estimula o hipotálamo,
17
que é um órgão pequeno situado à base do cérebro, a liberar o GnRH
(hormônio liberador de gonadotrofinas) (Grosse et al., 1993). Este hormônio
peptídico via sistema porta hipofisário vai até a hipófise, onde é reconhecido
pelas células lá presentes desencadeando a secreção das gonadotrofinas FSH
(hormônio folículo-estimulante) e LH (hormônio luteinizante) que através da
corrente sangüínea se dirigem até os testículos, resultando na produção de
esteróides (estrógeno e testosterona), que participam da formação dos
espermatozóides (Papa et al., 2003).
Os hormônios envolvidos na reprodução são liberados através de
retroalimentação positiva ou negativa, conforme a necessidade. Sua produção
é estimulada ou inibida, de maneira a se manter concentrações adequadas
para a plana produção espermática (Papa et al., 2003).
O LH estimula a produção e a liberação da testosterona e do
estrógeno pelas células de Leydig de garanhões adultos (Eisenhauer et al.,
1994, Eisenhauer & Roser, 1995). Os altos níveis locais de testosterona
permitem que este hormônio atue na espermatogênese. Pela circulação
periférica, a testosterona age em vários órgãos alvos, para manter as
características físicas masculinas, a libido e a função das glândulas sexuais
acessórias (Pickett, 1998).
Conforme há um aumento das concentrações de testosterona
circulante, ocorre uma retroalimentação negativa a nível do hipotálamo
resultando numa diminuição dos pulsos de liberação de GnRH desencadeando
uma menor liberação de gonadotrofina LH que diminui a produção de
testosterona pelos testículos. Quando existe a necessidade de uma maior
produção deste hormônio ocorre uma retroalimentação positiva e os níveis
testosterona são novamente restabelecidos (Papa et al., 2003).
O FSH, como demonstrado em outras espécies, provavelmente
se liga às células de Sertoli para que estas secretem inibina, ativina, proteína
ligadora de andrógeno (ABP), além de outros fatores necessários à
espermatogênese (Pickett, 1998).
Entre outras funções, a inibina e a ativina agem na adenohipófise
para suprimir ou para estimular a secreção de FSH, respectivamente, com
quase nenhum efeito na secreção de LH. Assim, o sistema de inibina/ativina e
provavelmente a relação da testosterona ao estradiol que invadem o controle
18
da adenohipófise as quantidades relativas da secreção de LH e de FSH em
resposta ao GnRH do hipotálamo (Amann, 1993).
Embora a prolactina também seja liberada pela glândula pituitária
anterior e deva desempenhar determinada função nos testículos de humanos,
ainda não está claro se este hormônio exerce alguma função nos testículos de
garanhões (Roser, 2000).
De acordo com Zirkin et al. (1994), em quase todos os mamíferos,
a testosterona sozinha é capaz de manter qualitativamente a espermatogênese
completa, enquanto que o FSH influencia a quantidade de espermatozóides
produzidos.
3.1.3 Ejaculação no garanhão
O processo geralmente considerado para a ejaculação envolve
três processos seqüenciais: ereção, emissão, e ejaculação. A ereção é a
prolongação e endurecimento do pênis, resultando do enchimento com sangue
do corpo cavernoso do pênis e, depois, do corpo esponjoso do pênis. A
emissão é o movimento de deposição dos espermatozóides e do fluido dos
ductos deferentes e da cauda epididimária, como o fluido das glândulas
sexuais acessórias, na uretra. A ejaculação é a expulsão real do sêmen através
da uretra (Amann, 1993).
3.1.4 Preparo do reprodutor e da fêmea para coleta de sêmen
O preparo de ambos deve ser feito poucos momentos antes, ou
então simultaneamente com o preparo da vagina artificial. Quando o reprodutor
é de temperamento tal que permita a limpeza do pênis e do prepúcio, ela deve
ser feita rigorosamente. Deve-se excitar o reprodutor a fim de que, com água
morna, se proceda a lavagem do membro em ereção. O esmegma deve ser
totalmente retirado, e a região cuidadosamente enxuta com toalha ou pano
limpo. A falta dessa limpeza faz com que o material ejaculado seja
contaminado pelas secreções próprias do macho, o que inferioriza
19
consideravelmente o mesmo. O fato tem significação especial quando sabemos
ser depositado o sêmen diretamente na cavidade uterina, o que pode dar em
resultado metrites, não só dada a condição de corpos estranhos destas
secreções, como porque podem elas tornar-se veículo de bactérias. Há
garanhões que mesmo durante o coito se preocupam com o operador, sendo
indicado para estes animais o uso da viseira (tapa-olhos) que lhes diminui o
campo visual (Mies Filho, 1982).
A égua implicada deve estar no estro bom e prontamente permitir
que o garanhão monte (Pickett, 1993). É aconselhável que a cauda da fêmea
seja enfaixada e puxada por meio de uma corda, para o seu lado esquerdo, ao
comprido do corpo. Com tal medida, tem-se em mira evitar que esse apêndice
cause estorvo no momento da coleta. Se possível, a fêmea deve estar contida
num tronco apropriado para cobertura ou amarrada a um esteio ou mantida por
um auxiliar. Aliás, esta última prática é de importância, porque facilita, com uma
simples manobra do auxiliar, o deslocamento dos quartos da fêmea, para a
direita ou para a esquerda de acordo com a necessidade do momento, isto é,
com a posição em que se coloca o macho em relação à mesma (Mies Filho,
1982).
3.1.5 Coleta de sêmen
A estabilidade do garanhão durante a monta é um fator de grande
importância durante a coleta do sêmen com vagina artificial, sob pena de
provocar lesões ao animal (Love, 1992), possíveis fontes de distúrbios
ejaculatórios futuros (Mcdonnell, 1992ª). Love (1992) chama a atenção quanto
à possibilidade de injúrias ao pênis de animais muito afoitos por colisão contra
a estrutura do manequim, o que exige maior atenção do responsável pela
coleta do sêmen nessas situações.
A utilização de éguas em cio ou ovariectomizadas tem o
inconveniente de, em alguns casos, não possibilitarem estabilidade e
segurança suficientes ao garanhão e veterinário pela movimentação de
algumas delas e a possibilidade de acidentes com as peias (Richardson &
Wenkoff, 1976; Love, 1992). A utilização do manequim elimina a necessidade
20
de éguas em cio no momento da coleta, bem como da mão-de-obra para
contê-las (Richardson & Wenkoff, 1976).
Os manequins devem ser estáveis de forma a não permitirem
movimentação durante a monta do garanhão, sendo construídos com madeira
ou metal e fixos ao solo, devem ser cobertos com material não abrasivo e de
fácil limpeza, como o couro natural ou sintético, devem ter regiões ao qual o
garanhão possa se agarrar, da forma como faz naturalmente na crina e ílios da
égua, tais como áreas mais estreitas que outras no corpo do manequim (Love,
1992).
Pelo fato do garanhão não responder favoravelmente à
eletroejaculação, uma vagina artificial (VA) é essencial para coletar o sêmen de
alta qualidade. Diversos modelos de Vas e suas modificações foram descritos
para a coleta do sêmen do garanhão (Pickett, 1993).
A vagina artificial modelo Botucatu é composta de um tubo rígido,
uma mucosa de látex, um copo coletor protegido de luz e alterações de
temperatura. A vagina deve ser enchida com água quente (50°C), para
permanecer com temperatura de 42-45°C para colheita (Papa et al., 2003).
Ao ter seu períneo inspecionado pelo garanhão a fêmea urina, e o
macho apresenta o “reflexo de Flehmen” (Figura 4) ao ter contato com fezes,
urina e secreções vaginais da égua. A monta é precedida de um rápido
movimento da cabeça do garanhão sobre a garupa da égua, podendo ser
diretamente na região posterior ou na lateral da égua, neste último caso, com
ajustamento logo a seguir. Durante a monta, o garanhão engancha seus
membros anteriores nas cristas ilíacas da égua, mantendo sua cabeça próxima
à sua crina, podendo mordiscá-la ou mesmo prendê-la com os dentes (Valle &
Silva Filho, 2001).
21
Figura 4: Reflexo de “flehmen” do garanhão detectando o cio na égua.Fonte: C.E.R.
O operador, segurando pela alça a vagina artificial preparada,
coloca-se do lado direito, junto ao quarto traseiro da fêmea. No momento do
salto, com a mão direita, encaminha o pênis para o seu lado penetrando o
membro no aparelho que é mantido ligeiramente inclinado (a extremidade final
em plano superior). Fica exposto a parte posterior do membro, de tal forma que
o operador, empalmando-o pela parte inferior, isto é, na região da uretra, pode
sentir, uma após outra, as ondas do líquido que vai sendo ejaculado, conforme
mostra a Figura 5, no momento da coleta. Ao atingir o clímax do prazer, o
animal como que se abandona sobre a fêmea por alguns instantes e inicia a
descida lentamente (Mies Filho, 1982).
A constatação da ejaculação pode ser verificada com as
seguintes características: movimento da cauda para cima e para baixo,
contração dos músculos perianais, sapatear, e fluxo pulsátil uretral da
ejaculação (Papa et al., 2003). Nesse instante preciso deve o operador abrir a
saída de ar a fim de facilitar a retirada da glande, que aumenta
consideravelmente de volume durante a ejaculação. A vagina artificial, durante
esta fase final, deverá ficar o mais perpendicularmente possível com relação ao
solo, o frasco para baixo (Mies Filho, 1982).
22
Figura 5: Coleta de sêmen através da vagina artificial.Fonte: C.E.R.
3.1.6 Avaliação do sêmen
De acordo com Hafez (1995), o método ideal para avaliar a
fertilidade do reprodutor, além de sua habilidade de produzir a gestação, é pelo
exame de seu sêmen (Anexo I).
Porque algumas qualidades da temperatura de choque, mudança
de temperatura repentina, podem provocar danos irreversíveis ao esperma,
portanto é importante ter todo seu equipamento pré-aquecido
aproximadamente a 37°C, e trabalhar rapidamente. Primeiramente, o frasco de
coleta é desconectado do forro plástico e do filtro do gel removidos
rapidamente da amostra. A filtração é muito boa na separação para fora da
fração pobre em espermatozóides do gel do ejaculado, mas se não for
removido rapidamente, algum gel escoará para a fração rica em
espermatozóides que está tentando conservar (Briggs, 1997).
Os espermatozóides, particularmente de alguns garanhões, são
frágeis. Conseqüentemente, o clínico não deve expor o frasco da colheita a um
frio ou a qualquer coisa que alterem rapidamente a temperatura do sêmen. O
objetivo é colocar o sêmen em um cilindro graduado aquecido, para a medida,
o mais cedo possível após a colheita. Uma vez que o sêmen está no cilindro
graduado, deve ser identificado e colocado em uma incubadora e o volume
deve ser gravado (Pickett, 1993).
23
O sêmen deve possuir uma aparência opaca e uniforme,
indicativo de alta concentração espermática. Amostras translúcidas possuem
poucos espermatozóides. A amostra deve estar livre de pêlos, sujeiras e outros
contaminantes (Hafez, 1995).
O volume do sêmen eqüino pode variar de 20 a 100 ml. A cor vai
desde branco acizentado até um branco leitoso. A densidade pode variar do
tipo aquoso até leitoso, diretamente relacionado com a concentração
espermática. Concomitantemente com a motilidade espermática se avalia o
vigor espermático na escala de zero a cinco (velocidade com que o
espermatozóide se desloca, quanto maior a velocidade maior o valor), sendo
que três é o ideal (Papa et al., 2003).
O odor do sêmen é, para algumas espécies, sui generis, como
acontece ao sêmen humano. Este odor característico se deve ao fosfato de
espermina (Mies Filho, 1982).
A análise da motilidade espermática é um parâmetro útil na
avaliação da viabilidade espermática. O uso de um analisador
computadorizado (HTMA) é uma alternativa promissora à tradicional avaliação
microscópica da motilidade e concentração espermáticas, que já vem sendo
empregada para determinar as características de sêmen eqüino, permitindo
uma avaliação precisa da motilidade e trajetórias individuais (Ferreira, 2000). A
motilidade é necessária para a penetração na junção útero-tubárica, liberação
dos sítios de armazenamento espermático no oviduto e penetração através das
células que circundam o ovócito (Amann, 1989) e pode estar comprometida se
as mitocôndrias estiverem afuncionais, se a membrana plasmática estiver
lesada, se o espermatozóide tiver sofrido choque-frio ou se estiver
morfologicamente anormal (Kirk, 2001).
Uma vez que a amostra foi determinada ser boa, com o mínimo
de motilidade progressiva estimada de 60-70% (espermatozóide que é vivo e
móvel em um sentido progressivo, não girando em círculos curtos), a amostra é
centrifugada de modo que o concentrado do esperma fique no fundo de um
cilindro. Alguns estudos mostraram que qualquer coisa acima da 500xg (g-
força) por 12 minutos é prejudicial ao espermatozóide. O resultado será uma
fração seminal pela maior parte de espermatozóides livres no alto do cilindro,
que pode delicadamente ser extraído fora com uma pipeta e ser rejeitado, e de
24
um “pellet” do esperma no fundo. É benéfico ao processo de congelamento
deixar entre 5-20% do líquido seminal no fundo do tubo; a pipeta pode ser
usada para quebrar acima do pellet muito delicadamente e misturá-la com o
fluido para resultar em uma amostra concentrada do sêmen. Se o pellet não
quebrar acima facilmente, é provável que a velocidade da centrífuga fosse
muito elevada (Briggs, 1997).
Para avaliação da concentração espermática retira-se do volume
ejaculado uma alíquota de 20 µl utilizando-se uma pipeta de Sahli ou
micropipeta e coloca-se em um tubo de ensaio contendo 1 ml de água
destilada aquecida ou 1 gota de sêmen em 20 gotas de água destilada. Após
boa homogeneização, monta-se uma Câmara de Neubauer, preenchendo seus
dois retículos, conta-se todos os espermatozóides presentes em cinco
quadrados de cada retículo, sendo que a variação entre cada um dos lados da
câmara (retículos) não pode ser mais que 10% (se for maior repete a
operação). Após a operação calcula-se a média aritmética. A concentração
espermática média para um garanhão adulto colhido na vagina artificial é de
100 a 200 milhões/ml (Papa et al., 2003).
Briggs (1997) disse que calcular quanto se usar é baseado na
concentração espermática multiplicado por seu volume de amostra original,
multiplicado pela motilidade progressiva espermática. Toda esta é dividida por
100 milhões (dose congelante por palheta), o número de espermatozóides
vivos necessitados para cada palheta de 0,5 ml de sêmen congelado.
De acordo com Briggs (1997) está aqui um cálculo da amostra:
Concentração espermática (milhões/ml) x volume do sêmen x % vivos
100 (espermatozóides por palheta – x 106)
3.1.6.1 Integridade da membrana plasmática
A carboxifluoresceína devido ao seu baixo peso molecular
atravessa rapidamente a membrana plasmática local, onde sofre um processo
de hidrolização para ser transformada em carboxifluoresceína livre, a qual
apresenta como característica fluorescência esverdeada. A permanência da
carboxifluoresceína no interior da célula espermática está condicionada a
25
membrana estar intacta. O corante iodeto de propídeo se liga ao DNA e RNA
quando existe alguma lesão na membrana emitindo fluorescência avermelhada
Zúccari (1998).
3.1.6.2 Morfologia espermática
O sêmen da maioria dos machos apresenta alguns
espermatozóides anormalmente formados. Usualmente, isto não está
associado com níveis de fertilidade diminuída até que a proporção de
espermatozóides anormais exceda cerca de 20%; mesmo que, embora, certos
tipos de anormalidades possam não estar associadas com infertilidade.
Grandes números de espermatozóides anormais podem ser detectados em
amostras na estimativa da porcentagem de células móveis (Hafez, 1995).
De acordo com Papa et al., (2003) as patologias espermáticas
são divididas em defeitos maiores (Quadro 1), relacionados com a infertilidade
e defeitos menores (Quadro 2) não interferem diretamente sobre a fertilidade
(Anexo II).
Quadro 1: Defeitos maiores mais comuns no sêmen de eqüinos
1. Acrossomo:2. Patologia da cabeça:
Subdesenvolvida..............................................................................................Isolada patológica.............................................................................................Estreita na base................................................................................................Piriforme...........................................................................................................Pequena anormal.............................................................................................Contorno anormal.............................................................................................“Pouch formation”.............................................................................................
3. Gota proximal:4. Formas teratológicas:5. Defeito de peça intermediária:(Desfibrilação, fratura, edema, pseudogota)........................................................6. Patologia da cauda:
Fortemente dobrada ou enrolada.....................................................................Dobrada com gota............................................................................................Enrolada na cabeça..........................................................................................
7. Formas duplas:Fonte: Papa et al., 2003
26
Quadro 2: Defeitos menores mais comuns no sêmen de eqüinos
1. Patologia da cabeça:Delgada............................................................................................................Gigante, curta, larga, peq. Normal...................................................................Isolada normal..................................................................................................
2. Patologia da cauda e implantação:Retro e abaxial, oblíquo....................................................................................Dobrada ou enrolada........................................................................................
3. Gota Citop. Distal:Fonte: Papa et al., 2003
Deve-se dar atenção especial ao acrossomo, que representa
importante papel na fertilização. Eventualmente, o acrossomo pode destacar-se
e perder-se. Isto apenas pode ser evidenciado com microscópios apropriados
de fase ou interferência ou com preparações especialmente coradas (Hafez,
1995).
3.1.7 CONGELAMENTO DE SÊMEN
O congelamento de sêmen, uma das biotecnologias mais antigas
relacionada à reprodução, teve sua descoberta de uma maneira acidental,
onde Polge et al. (1950), constataram que ao adicionar glicerol em meios
diluentes para congelamento de espermatozóides, estes preservaram sua
motilidade após o descongelamento.
Em eqüinos o primeiro relato científico de sucesso do
congelamento de espermatozóides se deu no ano de 1950, quando Smith &
Polge notaram que se espermatozóides eqüinos fossem separados do plasma
seminal e ressuspendidos em soluções tamponadas contendo glicerol e
glicose, 25% dos espermatozóides permaneciam viáveis após o congelamento
(-79°C), posteriormente Barker & Gandier (1957), relataram a primeira prenhez
de uma égua, decorrente da inseminação com espermatozóides colhidos do
epidídimo de garanhões diluídos em meio de congelamento a base de leite
contendo 10% de glicerol e posteriormente congelados, estes pesquisadores
inseminaram sete éguas no qual uma tornou-se prenhe.
27
Atualmente, o interesse pela utilização da inseminação artificial
com sêmen congelado na espécie eqüina é crescente e cerca de 80% das
associações americanas de criadores de cavalo permitem seu uso, sendo este
grande interesse relacionado às diversas vantagens que essa biotecnologia
oferece, como a eliminação de custos no transporte da égua para cobertura,
diminuição dos riscos de acidente no transporte e exposição ao estresse e
doenças tanto da égua como do potro lactente, facilidades na aquisição e
transporte do sêmen de animais geneticamente superiores através de países
ou continentes e possibilidade da utilização de sêmen de garanhões mesmo
que estes estejam participando de eventos hípicos, doentes ou mesmo mortos
e principalmente o seguro biológico de garanhões geneticamente superiores. A
despeito das vantagens, existem desvantagens que precisam ser
consideradas, sendo a principal a reduzida taxa de fertilidade obtida com o
sêmen congelado-descongelado e a grande variação na resposta ao
congelamento nesta espécie (Squires et al., 1999).
Loomis (2001), concluiu que os fatores que contribuem para o
sucesso da utilização comercial do sêmen congelado são: seleção das éguas e
garanhões a serem utilizados no programa de inseminação, um bom manejo
das éguas a serem inseminadas e principalmente qualidade do sêmen
congelado utilizado no programa de inseminação.
3.1.8 Princípios básicos da criopreservação do sêmen e crioinjúrias
Segundo Holt (2000), quando as células são congeladas estão
sujeitadas aos estresses resultantes das interações da água-soluto que
aparecem com a cristalização do gelo. A exposição das células ao meio
hiperosmótico, contudo descongelado, a solução causa a retirada da água
intracelular, conseqüentemente a célula encolhe e possivelmente há o influxo
de íons. O degelo envolve uma reversão destes efeitos, e o conseqüente fluxo
interno da água pode causar o rompimento da membrana celular. Os efeitos
prejudiciais de congelamento lento, e da exposição prolongada das células às
condições hiperosmóticas, foram vistos como equilíbrio das conseqüências
deletérias de congelamento rápido que formam a cristalização intracelular do
28
gelo. O rompimento citoplasmático por causa da formação de gelo intracelular
pode ser facilitado pelo crescimento dos cristais de gelo durante o degelo
(recristalização). Sugeriu-se que existisse um acordo da taxa de congelamento
onde os efeitos prejudiciais destes dois princípios diferentes de crioinjúrias
pudessem ser minimizados (Watson, 1990).
A exposição das células espermáticas a temperaturas abaixo das
fisiológicas, mesmo antes de ocorrer o congelamento (processo de
estabilização das células espermáticas), é responsável por mudanças na
organização bi-dimensional dos lipídios da membrana e também alteração das
propriedades de enzimas encontradas entre a membrana, diminuindo a
longevidade dos espermatozóides pós-descongelamento, através do
adiantamento da capacitação espermática (Holt, 2000). O estresse sofrido
pelos espermatozóides durante o processo de refrigeração é conhecido como
choque-frio, sendo sua sensibilidade variável entre as espécies. Estudos
correlacionam a suscetibilidade aos danos do refrigeramento com a
composição de lipídios da membrana entre as espécies, ou seja, espécies que
contém concentrações de esteróides baixa e concentrações de ácidos graxos
polinsaturados alta são mais predispostas aos danos do choque térmico (Darin-
Bennett et al., 1973). Os espermatozóides de touros, carneiros e garanhões
são altamente sensíveis ao choque frio em comparação a espermatozóides
humanos e de coelhos que são relativamente resistentes (Critser et al., 1988;
Watson, 1979). A severidade das injúrias celular é dependente da temperatura
final e da taxa da queda da temperatura, afetando a estrutura e a função da
membrana espermática (Amann & Pickett, 1987).
O rápido refrigeramento dos espermatozóides de garanhões da
temperatura ambiente para 5°C induz a danos irreversíveis caracterizados por
motilidade anormal, movimento circular, movimento retrógrado e perda rápida
da motilidade, danos acrossomais, danos à membrana plasmática,
metabolismo reduzido e perda de componentes intracelulares. Para os
espermatozóides eqüinos a faixa de temperatura crítica durante o
refrigeramento situa-se entre 19°C e 8°C (Moran et al., 1992).
Se a célula for refrigerada rapidamente, esta não tem tempo
suficiente para desidratar-se e manter o equilíbrio osmótico, tornando-se
altamente refrigerada e com possibilidade de formação de cristais de gelo
29
intracelular, o que pode causar danos irreversíveis à célula (Muldrew &
Mcgann, 1994; Gao & Critser, 2000). Se por outro lado, se as células forem
congeladas num ritmo mais lento, as células irão se desidratar por causa do
meio extracelular super concentrado, eliminando a possibilidade de formação
de cristais de gelo intracelular, mas por outro lado, podendo sofrer danos
morfofuncionais devido à desidratação celular (Mazur, 1963). Uma célula
espermática que sobrevive a temperaturas abaixo de 0°C pode ainda sofrer
mudanças comparáveis aquelas do congelamento durante o descongelamento
que podem comprometer sua sobrevivência. Estes efeitos dependem, ou da
taxa de congelamento anterior ter induzido congelamento intracelular, ou
desidratação celular. No caso de um congelamento rápido, um
descongelamento também rápido poderá recuperar muitas células,
possivelmente pela prevenção do nocivo crescimento de pequenos cristais
intracelular pela recristalização (Mazur, 1990).
Os crioprotetores devem ser adicionados ao meio de
congelamento para promover a desidratação, ou seja, evitar a formação de
gelo intracelular na célula espermática durante o congelamento e permitir que a
célula se rehidrate adequadamente durante o descongelamento. As
características físico-químicas ideais que um agente crioprotetor deve possuir
são as seguintes: baixo peso molecular, alta solubilidade em meio aquoso e
principalmente, baixa toxicidade celular (Nash, 1966).
Os agentes crioprotetores são classificados em permeáveis e não
permeáveis (Nash, 1966; Rowe, 1966) à membrana citoplasmática. Os
crioprotetores não permeáveis são representados por macromoléculas com alto
peso molecular, tais como os açúcares, lipoproteínas da gema do ovo,
proteínas do leite e alguns aminoácidos, sendo estas substâncias responsáveis
por um mecanismo de proteção no meio extracelular (Aman & Pickett, 1987).
Os crioprotetores permeáveis exercem seu mecanismo de ação
tanto no meio extracelular, quanto no meio intracelular e desempenham
importante função no processo de criopreservação. Estas substâncias
possuem um mecanismo de ação específico por suas propriedades coligativas,
ou de ligação com a molécula de água que tem suas características
modificadas. Durante o processo de congelamento o crioprotetor permeável
limita a formação, retarda a expansão dos cristais de gelo e reduz as
30
concentrações de soluto no meio extra e intracelular (Nash, 1966; Rowe, 1966).
Ashwood-Smith (1987) sumarizou diferentes componentes tais como álcoois,
etanol, etilenoglicol, glicerol, metanol, polietilenoglicol, dimetilsulfóxido e
também as amidas, dentre elas a dimetilformamida, como substâncias que
podem ser usadas como agentes crioprotetores para o congelamento de
sêmen.
O principal fator limitante ao uso do sêmen congelado está
relacionado à espécie, as diferenças entre os garanhões e entre os ejaculados
de um mesmo garanhão, na capacidade dos espermatozóides em tolerar o
processo de congelamento e descongelamento (Vidament et al., 1997).
A expansão do uso do sêmen congelado na indústria eqüina,
também depende da simplificação das estratégias de inseminação. As éguas
inseminadas com sêmen congelado freqüentemente são examinadas 4 a 6
vezes por dia e inseminadas imediatamente ou até 6 horas pós-ovulação, pois
os espermatozóides viáveis não sobrevivem por muito tempo no trato
reprodutivo feminino, quando comparado ao sêmen fresco ou resfriado
(Barbacini et al., 2000). Por esta razão, o momento entre a inseminação e a
ovulação deve ser rigorosamente controlado (12 horas pré até 6 horas pós-
ovulação), o que leva ao aumento nos índices de fertilidade (Pace & Sullivan,
1975).
De acordo com o CBRA, há padrões desejáveis (Quadro 3) para
que seja feita a seleção de garanhões para a monta natural, e indesejáveis
para que o sêmen congelado (Quadro 4) e resfriado(Quadro 5).
Quadro 3: Padrões seminais desejáveis para efeito de seleção de garanhõespara monta naturalMotilidade progressiva 70%
Vigor 3
Total de espermatozóides anormais 30%
Fonte: CBRA (1998)
31
Padrões de julgamento de sêmen de doadores (Portaria SDR-26;
5/09/96):
Quadro 4: Sêmen congelado fora do padrão pós descongelamentoMotilidade progressiva <70%
Vigor (descongelamento 35-37°C, por um
tempo mínimo de 30 seg. ou conforme
recomendações do estabelecimento produtor)
<3
Anormalidades espermáticas
defeitos totais >40%
defeitos maiores >20%
Número de espermatozóides com motilidade
progressiva pós-descongelamento<200X106 por dose
Fonte: CBRA (1998)
Quadro 5: Sêmen resfriado fora do padrão dentro do período de longevidade
declarado em certificadoMotilidade progressiva <70%
Vigor <3
Anormalidades espermáticas
Defeitos totais >40%
Defeitos maiores >20%
Número de espermatozóides com motilidade
progressiva no ato da inseminação<200X106 por dose
Fonte: CBRA (1998)
OBS: Todo o sêmen resfriado deverá ser acompanhado quando
da comercialização, de um certificado de longevidade com a técnica utilizada,
emitido pelo veterinário responsável do cedente (CBRA, 1998).
32
3.2 Seqüência para congelamento utilizada na C.E.R.
Antes de iniciar a colheita do sêmen para congelamento, eram
preparados os materiais no laboratório onde era realizado o congelamento. A
geladeira era aferida observando se estava entre 4 e 6°C, os diluentes eram
descongelados e colocados em banho maria a 37°C, separava-se um tubo de
ensaio com 1 ml ou 19 gotas de água destilada para a concentração
espermática.
A colheita de sêmen foi realizada com vagina artificial modelo
“Botucatu” (Papa et al., 2003), composta por um tubo rígido de PVC, mucosa
de látex, mucosa plástica descartável e acoplada a um recipiente contendo
uma camisa sanitária descartável e um copo coletor isotérmico revestido de
camisa sanitária descartável (Figura 6). A metodologia empregada foi a colheita
fechada e a temperatura da vagina artificial em torno de 50ºC.
Figura 6: Vagina artificial modelo Botucatu.Fonte: C.E.R.
Após a colheita, o sêmen era filtrado em um Becker com o auxílio
de um filtro de nylon e o volume do ejaculado aferido em proveta graduada. Em
seguida, uma avaliação macroscópica era realizada, na qual se analisou o
odor, a cor e aspecto. A motilidade total e a determinação da concentração
espermática foram realizadas em microscópio de luz com contraste de fase
(A1) 1. Para a determinação da concentração espermática utilizou-se uma
câmara hematimétrica (Neubauer) após diluição de 1:20 (1 gota de sêmen : 19
1 Olympus Optical CO, LTDA
33
gotas de água destilada). Para saber quanto se usar é feito o cálculo com a
seguinte fórmula:
Concentração espermática (milhões/ml) x volume do sêmen x % vivos
100 (espermatozóides por palheta – x 106)
Exemplo:
Coletou-se 30 ml de ejaculado do garanhão, então com a diluição
1:1 o volume foi de 60 ml. A motilidade espermática é analisada pela
microscopia, e de acordo com a experiência do veterinário foi observado 70%.
O vigor do ejaculado é de quatro. Pela contagem da câmara de Neubauer
havia 74 espermatozóides presentes em cinco quadrados no primeiro retículo e
76 no segundo, sendo que espermatozóides que apresentam apenas a cauda
dentro do quadrado não são contados, faz a média dessa contagem, sendo
essa concentração de 75 x 106 /ml.
Então, pela fórmula:
75 x 60 x 0,7 » 31 palhetas100 x 106
Com volume final do diluidor de 15,5 ml, pois calcula 31 palhetas
multiplicados por 0,5 ml (palheta francesa). Porém os pellet também devem ser
levados em consideração, sendo, na maioria das vezes, de 3 ml, então o valor
de crioprotetor à ser utilizado é de 12,5 ml. Se para cada dose inseminante são
necessárias 8 palhetas, então, em 31 palhetas terá 3,5 doses.
34
O sêmen é diluído na proporção de 1:1 com o diluente a base de
leite desnatado, açúcares e amicacina (Botu - Sêmen®)2, foram centrifugadas a
600xg por dez minutos, sendo feita para eliminar o plasma seminal; em seguida
o sobrenadante de cada frasco é imediatamente desprezado e os “pellets” são
ressuspendidos com o meio Botu-Crio®3, previamente aquecido e calculado. O
Botu-Crio é composto de açúcares, aminoácidos tampão, gema de ovo, água
destilada, glicerol e metilformamida.
O sêmen era envasado em palhetas francesas de 0,5 mL, sendo
colocado o lacre de álcool polivinílico, e as bolhas são posicionadas no meio da
palheta afim de que a congelação ocorra de maneira uniforme, e mantidas em
estabilização a 5ºC por 20 minutos em refrigerador comercial Minitüb4, seguida
de estabilização em vapor de nitrogênio por 20 minutos à 6cm da coluna
líquida, em caixa de isopor térmica tampada. Depois eram imersas e
armazenadas em botijões de nitrogênio a – 196oC (Figura 7).
Figura 7: Botijão de nitrogênioFonte: C.E.R.
Sempre se retirava uma palheta da partida congelada para
avaliação do procedimento. Esta palheta pode ser descongelada em banho
maria a 46°C por 20 segundos ou a 38°C por 1 minuto.
2 Biotech Botucatu / ME LTDA3 Biotech Botucatu / ME LTDA4 Conservadora de sêmen c/ termômetro digital e temp.programável- 60 L -Minitüb-PortoAlegre-RS
35
Retirando-se a palheta do banho maria, deve secá-la bem com
um pano ou toalha de papel, para evitar que alguma gota de água entre em
contato com o sêmen, posiciona-se a bolha para ponta da palheta e corta-se
com uma tesoura na porção onde se localiza o lacre (álcool polivinílico).
Verifica-se a motilidade, vigor, a concentração; registra os dados no laudo de
análise (Anexo III) e faz-se um esfregaço, para análise da patologia
espermática.
3.3 Discussão e conclusão
A evolução da biotecnologia de congelamento de sêmen na
espécie eqüina tem sido intensa, mas os resultados obtidos ainda estão bem
distantes daqueles almejados. Vários fatores limitantes à técnica de
congelação de sêmen de garanhões podem ser relacionados: custo dos
equipamentos, preparação de diluentes para congelação, bem como
deslocamento de todo esse material até as propriedades rurais, que nem
sempre preenchem os requisitos básicos necessários para proceder a
criopreservação.
Para minimizar essas dificuldades têm sido desenvolvidas
técnicas no Brasil e no exterior, com o objetivo de adequar uma metodologia
que possibilite a colheita do sêmen nos estabelecimentos rurais, diluição, pré-
resfriamento em sistemas de transporte adequados e o seu envio para
laboratórios especializados para congelamento (Crockett et al., 2001; Backman
et al., 2004).
Quando são utilizadas éguas em cio para a coleta do sêmen,
algumas vezes, as situações são difíceis, como: éguas que mesmo no cio não
aceitavam a monta, que necessitavam de cachimbo para contenção, que
apresentavam movimentação lateral resultando em apoio da pata sobre o pé
do veterinário, soltura das peias de contenção durante a coleta, pondo em risco
o garanhão e o veterinário, e enrolamento das peias de contenção da égua nas
patas do garanhão. A falta de uma égua em cio para a coleta de sêmen, por
estarem elas em local diferente do da coleta, era outro problema apresentado
por esse tipo de monta para coleta de sêmen.
36
A utilização de um manequim para a coleta do sêmen eqüino
propicia maior segurança e agilidade ao processo, tanto para a mão-de-obra
quanto para os animais envolvidos. Porém, há alterações nas características
físicas do ejaculado, obtido pela coleta em manequim, que são associadas à
falta de estímulo sexual do garanhão e podem exercer impacto sobre o número
de éguas inseminadas/ejaculado (Love, 1992).
A principal desvantagem do congelamento de sêmen é a reduzida
taxa de fertilidade. Para maximizar a taxa de prenhez o momento entre a
inseminação e a ovulação deve ser rigorosamente controlado (12 horas pré até
6 horas pós-ovulação), pois os espermatozóides viáveis não sobrevivem por
muito tempo no trato reprodutivo feminino.
Os proprietários da égua pagam freqüentemente somas grandes
de dinheiro por sêmen congelado de potencial desconhecido. Resultados da
motilidade são citados freqüentemente como a base para vender sêmen
congelado. Seria melhor selecionar garanhões na base da fertilidade (número
dos potros vivos produzidos das inseminações do sêmen congelado) melhor
que a motilidade porque a correlação entre a fertilidade e a motilidade do
sêmen congelado podia ser baixa. Os proprietários do garanhão devem ser
incentivados a vender o sêmen somente na base de prenhezes confirmadas.
Quando dados substanciais da fertilidade forem acumulados em um garanhão
particular, seu sêmen pode ser vendido com taxa prevista da prenhez.
É importante que seja feita uma avaliação ginecológica na égua à
ser inseminada com sêmen congelado através de examinação retal completa e
sistemática (ambas as palpações manual e ultra-som) do cérvix, do útero, e
dos ovários. A vagina e o cérvix também devem ser examinados usando um
espéculo, manualmente pela palpação vaginal, ou ambos. Em muitos casos, o
swab do forro do útero poderá ser feito exame para ver se há qualquer
presença de bactérias ou sinais de uma inflamação do útero (endometrites),
que pode influir negativamente nos índices de fertilidade.
Ainda estão sendo feitos vários estudos quanto ao processo de
refrigeração das células espermáticas, na velocidade de congelamento e na
taxa de queda da temperatura. Squires et al. (1999), indica que a taxa de
descongelação deve ser o mesmo que a da congelação (lenta/lenta ou
rápida/rápida).
37
4 ESTÁGIO NA ÁREA DE CLÍNICA E CIRURGIA DE EQÜINOS
4.1 INTRODUÇÃO
As atividades do estágio curricular supervisionado que serão
relatadas e descritas aqui, foram realizadas nas áreas de clínica e cirurgia de
eqüinos, no período de 4 de setembro a 14 de outubro de 2006, totalizando 328
horas, na cidade de Indaiatuba - SP, na Vetpolo, sob supervisão do MSc.
Pierre Barnabé Escodro.
Foram acompanhadas atividades clínicas, laboratoriais, métodos
auxiliares de diagnóstico, atividades esportivas e procedimentos cirúrgicos.
A instituição é referência regional na clínica médica e cirúrgica,
atendendo cavalos de pólo, hipismo, conformação e trabalho, trotadores,
marchadores e cavalos de hobby e passeio. Desenvolve projetos sociais para
atendimento de animais de pessoas carentes.
Atualmente a clínica sofre um processo de expansão, com a
formação da parte de reprodução eqüina com profissionais capazes e
renomados.
A Vetpolo é composta por: ambulatório de clínica médica e
acupuntura; ambulatório de clínica cirúrgica; posto de enfermagem; setor de
diagnóstico por imagem (raio-X, ultrassonografia e endoscopia); centro
cirúrgico, com aparelho de anestesia inalatória, sala de indução anestésica e
recuperação e sala de paramentação (Figura 8); sala de esterilização;
laboratório de Anemia Infecciosa Eqüina (A.I.E.); escritório para emissão de
Guia de Trânsito Animal e documentação para viagens rodoviárias e aéreas;
anfiteatro; 12 piquetes de internamento (Figura 9); 09 baias para Internamento
(Figura 10); 20 baias para hospedagem e quarentena (Importação e
Exportação); 10 baias para pesquisa; área de plantação de feno (alimentação
com feno de coast cross fresco); redondel; cantina; pista de 30 X 70 mts.
(futuras instalações para centro de fisioterapia); e dois bretes para realização
de curativos pós-cirúrgicos, exames clínicos, etc.
38
A Vetpolo possui área total de 20 000 m². Eram feito
atendimentos e visitas rotineiras nos cavalos do pólo, raio-X para exame de
compra ou quando o animal estava claudicando. Quando necessário eram
feitas coletas de sangue para exame de anemia infecciosa eqüina.
Figura 8: Centro Cirúrgico
Figura 9: Piquetes de Internamento Figura 10: Baias de Internamento
39
A relação dos atendimentos clínicos acompanhados na Vetpolo
durante o período de 4 de setembro à 14 de outubro de 2006 está demonstrada
no Quadro 6 a seguir:
Quadro 6: Atendimentos clínicos acompanhados durante o estágio
Atendimentos clínicos Número de casos %
Sinusite 2 14,285
Garrotilho 1 7,143
Síndrome cólica 2 14,285
Nivelamento da mesa
dentária
2 14,285
Hérnia inguino-escrotal 1 7,143
Rabdomiólise 1 7,143
Laminite 1 7,143
Fratura do rádio 1 7,143
Babesiose 1 7,143
Tendinite crônica 1 7,143
Enterite duodenite-juojenite
proximal
1 7,143
Total 14 100Fonte: Vetpolo (2006)
40
No Quadro 7 segue a relação dos atendimentos cirúrgicos vistos
na clínica Vetpolo no período de 4 de setembro à 14 de outubro:
Quadro 7: Intervenções cirúrgicas acompanhadas durante o estágio
Intervenções cirúrgicas N° de casos %
Trepanação da mandíbula e
extração do quarto pré-
molar esquerdo
1 11,11
Retirada de um neuroma 1 11,11
Orquiectomia 2 22,23
Compactação de ceco 1 11,11
Neurectomia do nervo digital
palmar
1 11,11
Exérese de fragmentos
ósseos do 2° e 4°
metacárpicos
1 11,11
Extração do dente de lobo 1 11,11
Cauterização da palatite 1 11,11
Total 9 100Fonte: Vetpolo (2006)
41
5 RABDOMIÓLISE DE ESFORÇO
5.1 Revisão de Literatura
5.1.1 Introdução
A rabdomiólise de esforço (RE) é distúrbio complexo que tem
também sido denominada como azotúria, moléstia das manhãs de segunda-
feira, “tying-up” (paralisação), mioglobinúria paralítica, miosite associada ao
exercício e diversos outros nomes (Smith, 1994).
Apesar destes termos englobarem um grande número de
doenças associadas ao exercício, provavelmente elas estão relacionadas entre
si, representando graus variáveis do mesmo problema, segundo Stashak
(1994).
5.1.2 Etiologia
A rabdomiólise eqüina era observada quando o animal
descansava durante o fim de semana, recebendo ração total, voltando ao
trabalho na segunda-feira. Uma miopatia de exercício semelhante é observada
em cavalos fora de forma que não foram condicionados para o grau de
exercício exigido (Stashak, 1994). Tradicionalmente, observou-se rabdomiólise
eqüina em animais suscetíveis que ficaram em repouso sem uma redução no
consumo alimentar (Reed & Bayly, 2000).
Potrancas e éguas, especialmente as que são ansiosas ou
“nervosas”, são tidas como mais afetadas do que os garanhões e castrados,
sugerindo alguma influência endócrina na moléstia. O decréscimo da função
tiroidiana também foi implicado como fator predisponente para a rabdomiólise
eqüina (Smith, 1994). O problema é de difícil diagnóstico, pois os sintomas são
vagos e não-específicos. São necessárias mais pesquisas para entender-se
42
completamente a relação entre o hipotireoidismo e as miopatias de exercício
(Stashak, 1994).
Outros fatores implicados na etiologia da rabdomiólise eqüina
são: deficiência de selênio e/ou vitamina E, excitação, vírus da influenza e
outros complexos de moléstias deficientemente definidos (Smith, 1994).
5.1.3 Patogênese
As lesões musculares são decorrentes do excesso de ácido
láctico produzido pelo metabolismo de “queima” do glicogênio durante a
realização do exercício (Thomassian, 2005), o que resulta no inchaço das
fibras musculares afetadas (Stashak, 1994).
Durante o metabolismo anaeróbico ocorrem mudanças ultra-
estruturais no músculo, sugerindo a possibilidade de um problema de hipóxia
primária como fator desencadeante. As pesquisas recentes indicam que uma
hipóxia tecidual acelerada resulta, muito provavelmente, da baixa perfusão
tecidual nos músculos afetados. A redução conseqüente no oxigênio celular
causa um aumento nos níveis locais de subprodutos metabólicos, incluindo o
ácido láctico, a serem liberados (Stashak, 1994).
O ácido láctico acumulado nos músculos destrói as células
liberando grande quantidade de mioglobina, que é filtrada através dos rins,
dando a cor característica à urina. O excesso de ácido láctico circulando na
corrente sangüínea leva ao desequilíbrio ácido-base, responsável pela acidose
metabólica que desencadeia aumento da freqüência cardíaca, respiratória e
congestão das conjuntivas (Thomassian, 2005).
As rações fornecidas a muitos cavalos em treinamento são
comumente baseadas numa combinação de feno e vários grãos de cereais.
Estas rações em geral contêm quantidade relativamente grande de potássio,
mas o conteúdo de sódio é limitado. O consumo crônico destas rações poderá
gerar alterações no equilíbrio dos líquidos e eletrólitos em alguns cavalos, o
que pode torná-los mais susceptíveis à miopatia (Smith, 1994).
A seqüela mais grave da liberação de mioglobina pelos músculos
são as lesões produzidas nas estruturas tubulares dos rins durante a filtração,
43
causando nefrose que pode levar o animal à morte por insuficiência renal
(Thomassian, 2005).
5.1.4 Sinais clínicos
A sintomatologia clínica varia de leve rigidez ou encurtamento do
passo a incapacidade total de se mover e às vezes decúbito (Reed & Bayly,
2000) e os animais afetados gravemente sofrem sensível disfunção e cãibras
musculares (Smith, 1994).
De modo geral os cavalos afetados estão ansiosos, suam,
apresentam freqüências cardíaca e respiratória elevadas e temperaturas
corporais aumentadas (Smith, 1994). A manifestação clínica ocorre poucos
minutos após o exercício, decorrente das alterações metabólicas que
acometem principalmente os músculos ílio-psoas, quadríceps e glúteos
(Thomassian, 2005).
A mioglobinúria é aspecto clássico dos cavalos afetados com
maior gravidade (Smith, 1994). A urina vai variar de vermelha-escura a preta,
dependendo do conteúdo de mioglobina. Os vários graus de mioglobinúria
ocorrem devido ao escape de mioglobina das células musculares danificadas.
Como o limite renal para a mioglobina é excedido, ela é excretada na urina
(Stashak, 1994).
5.1.5 Diagnóstico
Em sua maior parte, os casos de rabdomiólise eqüina podem ser
diagnosticados com base na história e sintomas clínicos do animal (Smith,
1994). Freqüentemente, são necessárias investigações laboratoriais para
confirmar o diagnóstico provisório e controlar a recuperação. São vários os
meios auxiliares utilizados no diagnóstico, sendo os mais importantes as
atividades de enzimas musculares no soro e no plasma (Reed & Bayly, 2000).
Elevações de creatina quinase (CK), aspartato aminotransferase
(AST) e lactato desidrogenase (LDH) são comumente demonstradas em
44
cavalos com rabdomiólise eqüina. O grau de elevação reflete a extensão da
mionecrose, mas em casos clínicos comumente a CK se encontra na faixa dos
milhares de unidades (Smith, 1994).
Segundo Valberg (2002), podem surgir problemas com o
diagnóstico quando são encontradas atividades enzimáticas plasmáticas
elevadas sem sintomatologia clínica ou sintomatologia clínica sem atividades
aumentadas. CK é liberado por fibras estriadas do músculo em degeneração e
aumenta rapidamente no pico de 4-6 horas após os danos do músculo. A
atividade de CK declina também rapidamente se a necrose do músculo cessar,
com um retorno aos valores normais dentro de 3-7 dias, dependendo da
extensão original da necrose do músculo. Assim, a atividade elevada do CK
indica a degeneração aguda do músculo, e a atividade persistente elevada do
CK sobre o tempo indica rabdomiólise intermitente.
A atividade de LDH e de AST, podem também indicar a necrose
do músculo; entretanto, estas enzimas não são específicas para os danos do
músculo, porque as elevações ocorrem também com necrose do fígado. Os
perfis bioquímicos do eqüino devem incluir CK, AST, a gama-
glutamiltransferase (GGT) para diferenciar-se entre o músculo e a necrose do
fígado. O pico de LDH é de aproximadamente 12 horas depois dos danos do
músculo e retorna ao normal de 7-10 dias, visto que AST tem o pico de 24-48
horas após os danos do músculo e retorna ao normal em 5-14 dias
dependendo da extensão da necrose do músculo. Assim, na ausência da
doença de fígado, AST elevado é um indicador de necrose crônica do músculo
(Valberg, 2002).
O músculo semitendinosus é freqüentemente o músculo mais
acessível para avaliar em potros com rabdomiólise. O tecido do músculo deve
ser colocado em uma gaze salina umedecida e ser mantido refrigerado até que
seja entregue dentro de 24 horas (Valberg, 2002).
Segundo Cardoso (2003), para diferenciar de tromboembolismo,
onde também há um processo de isquemia tissular (diminuição do fluxo
sangüíneo nos tecidos, principalmente o muscular), deve-se observar os sinais
circulatórios onde pode-se apalpar as artérias femorais ou por um exame retal
das artérias ilíacas, além da urina que não apresenta coloração escura quando
45
o animal é acometido pois nesta doença, não há uma liberação tão grande de
mioglobina na corrente sangüínea.
O diagnóstico diferencial de rabdomiólise eqüina, segundo Reed
& Bayly (2000), são os seguintes: antraz, cistite, enfermidade da medula
espinhal (“bamboleios”), trombose ilíaca, linfadenite inguinal/poplítea, laminite,
cólica, nefrite, doença do músculo branco, pleurite, síndrome pós-exaustão,
tétano, claudicação de membro proximal, envenenamento por monensina.
5.1.6 Tratamento
O tratamento deve ser instituído o mais rápido possível com
fluidoterapia (devendo-se utilizar o soro mais apropriado para cada caso)
normalmente o ringer lactato é o mais indicado (por ter a fórmula mais
semelhante ao plasma sangüíneo), ela é muito importante, pois além de
hidratar, possuem um efeito estimulante para que o animal urine diminuindo os
efeitos lesivos nos rins (Cardoso, 2003).
Conforme Smith (1994), os objetivos do tratamento para os
animais gravemente afetados deverão ser: a limitação de subseqüentes lesões
musculares, restauração do equilíbrio de líquidos e eletrólitos e, após tal feito, a
redução das chances de lesões renais nos animais mais gravemente afetados,
e apresentando mioglobinúria e redução da dor (Smith, 1994).
Os casos discretos de todas estas condições podem responder
favoravelmente à caminhada. Contudo, a caminhada forçada pode aumentar a
gravidade da rabdomiólise por exacerbar a lesão muscular. Recomenda-se,
portanto, repouso completo, a menos que se tenha certeza de que
superesforço discreto, por exemplo, seja a causa. O transporte de animais
acometidos em trailers também pode precipitar um episódio mais grave por
causa do esforço muscular requerido para manter a posição (Reed & Bayly,
2000).
Os medicamentos antiinflamatórios não esteróides (AINEs) estão
indicados, e freqüentemente proporcionam alívio sintomático. Os animais
gravemente afetados e em decúbito podem necessitar de analgésicos mais
potentes. Tranqüilizantes como a acetilpromazina foram recomendados para o
46
alívio da ansiedade, podendo ainda melhorar o fluxo sangüíneo periférico, ao
criar bloqueio á – adrenérgico, se o quadro circulatório do animal for adequado
(Smith, 1994), pode também auxiliar a remoção dos subprodutos nocivos do
metabolismo anaeróbico (Stashak, 1994).
Os rins devem ser monitorizados continuamente, observando o
fluxo de urina, volume e coloração, durante todo período de tratamento
(Thomassian, 2005).
Se a miopatia ocorreu durante uma corrida de resistência, os
animais afetados comumente estarão alcalósicos, tornando inadequada a
terapia pelo bicarbonato. Portanto, soluções eletrolíticas balanceadas,
administradas por via intravenosa e/ou por meio de tubo nasogástrico, são as
mais desejáveis. No animal desidratado, a mioglobina poderá ter efeito
nefrotóxico. Originalmente, pensava-se que a mioglobina bloqueava
fisicamente os túbulos renais. Contudo, a mioglobina possui propriedades
vasoativas que, no animal com a circulação comprometida, podem induzir a
isquemia renal. Portanto, é importante a manutenção de perfusão renal
adequada, para que sejam minimizadas as lesões tubulares renais (Smith,
1994).
Algumas vezes o animal poderá apresentar cianose, tornando
imperiosa a oxigenioterapia de emergência. O bicarbonato de sódio a 5 a 10%
deve ser administrado na dose de 0,5 ml/kg lentamente pela via venosa; a dose
total deve ser controlada observando o ritmo e a profundidade da respiração
(Thomassian, 2005).
Segundo Smith (1994), os corticosteróides poderão estar
indicados. Foi relatado que estes agentes produzem relaxamento dos
esfíncteres capilares e teoricamente melhoram a perfusão tecidual. Ademais,
eles podem auxiliar na redução da continuação das lesões musculares, através
da estabilização das membranas celulares (Smith, 1994).
A maioria dos pesquisadores não encontrou correlação entre o
estado de vitamina E e selênio e a rabdomiólise eqüina. Sugere-se, entretanto,
que estas duas substâncias possam ter algum valor no tratamento em vista de
sua ação contra radicais livres que lesam tecidos. As combinações de vitamina
E e selênio não devem ser injetadas por via intravenosa (Reed & Bayly, 2000).
47
Recomenda-se uma dose de 500 mg de tiamina. Sugere-se
também levedura de cerveja, 28 g/dia, como fonte alternativa de vitamina B.
Não existe, contudo, evidência para a validade do uso da tiamina ou de sua
eficácia (Reed & Bayly, 2000).
Os relaxantes musculares, como o metocarbamol (Robaxin),
podem ser utilizados nos casos graves. Esta droga é cara, e deve ser
ministrada lentamente para evitar-se uma excitação. O dantrolene tem sido
recomendado devido a um possível elo entre as miopatias de exercício e a
hipertermia maligna no homem. Seu uso pode ser mais racional como uma
medida profilática do que como tratamento, apesar de estudos controlados
para verificação deste fato serem de difícil realização. Nos cavalos muito
inquietos, que se debatem piorando o problema, recomenda-se uma analgesia
com narcóticos, como a meperidina (Stashak, 1994).
Após um período de repouso na baia (cuja duração depende da
gravidade do ataque), o animal, sempre que possível, deve ser levado para um
pequeno piquete (os pastos viçosos com alto teor de carboidratos solúveis
devem ser evitados) antes que seja dado qualquer exercício de cavalgada ou
caminhada. O animal deve ser movimentado livremente na cocheira, sem
sinais de dor ou urina manchada e sem se ressentir de palpação muscular
antes de sair. Nos portadores recidivantes, pode ser aconselhável deixar o
animal em repouso até que os níveis de AST e de CK tenham voltado à faixa
normal em repouso ou pelo menos até que as atividades da CK sejam
inferiores à metade do pico registrado. Deve-se fornecer dieta a mais
balanceada possível, que deve ter energia limitada obtida de fontes de
carboidrato solúvel. O uso de grãos de cereais, especialmente aveias, pelo
menos em grandes quantidades, deve ser evitado o máximo possível. Portanto,
as dietas recomendadas tendem a se basear mais em fibras do que em cereais
(Reed & Bayly, 2000).
5.1.7 Profilaxia
O primeiro estágio de qualquer esquema preventivo é garantir
regime de exercício e alimentação bem equilibrado e controlado. Deve-se
48
fornecer dieta equilibrada de acordo com a carga de trabalho, e os períodos de
inatividade devem ser acompanhados por redução do consumo alimentar
(Reed & Bayly, 2000).
O dantrolene sódico é mais comumente utilizado na prevenção.
Recomenda-se a administração de 2 mg/kg/dia diluídos em solução salina
normal por uma sonda gástrica durante 3 a 5 dias e em seguida a cada 3 dias
durante 1 mês. Uma dose diária inferior (300 mg) pode ser igualmente benéfica
e talvez preferível porque a droga é hepatotóxica (Reed & Bayly, 2000).
Recentemente, a administração de fenitoína a cavalos suscetíveis
à “paralisia” (tying up) obteve algum sucesso, em termos da redução da
incidência. Fenitoína poderá exercer seus efeitos alterando a função dos
neurotransmissores a nível da junção neuromuscular, influenciando a liberação
de cálcio do retículo sarcoplasmático e alterando o fluxo de sódio ao nível do
sarcolema (Smith, 1994).
Alguns relatos inéditos sugerem que a adição de dimetilglicina
(DMG) na base de 1 mg/kg à ração dos cavalos sujeitos a repetidos ataques de
miopatia de esforço poderá reduzir a incidência da condição (Smith, 1994).
Segundo Reed & Bayly (2000), a adição de xarope de álcali ou
bicarbonato de sódio à ração de eqüinos propensos à rabdomiólise costuma
ser feito por proprietários, treinadores e médicos veterinários. Assim,
recomendam-se 60 a 120 gr diários, por exemplo, para ajudar a evitar
“azotúria”. Foi sugerido que o bicarbonato de sódio atua facilitando a remoção
de íons hidrogênio da célula, aumentando a proteção de tamponamento em
ambos os lados da membrana da célula muscular e aumentando o efluxo de
lactato do músculo para o sangue. Não foi comprovada a eficácia do
bicarbonato de sódio na prevenção de rabdomiólise eqüina. Sugeriu-se que
pequenas doses de tranqüilizantes fenotiazínicos, como acepromazina (ACP),
0,01 a 0,02 mg/kg 30 minutos antes de exercício, diminuam a incidência de
rabdomiólise eqüina, especialmente em eqüinos ansiosos. Foi sugerido que a
ACP atua ou como vasodilatador, resultando em fluxo sangüíneo aumentado,
ou como tranqüilizante, talvez modificando a liberação de catecolaminas.
Entretanto, estudo recente mostrou que a ACP não alterou níveis de
catecolaminas circulantes medidos antes de exercício ou no período pós-
49
exercício imediato. Os autores sugeriram que a ACP poderia atuar diminuindo
a produção ou aumentando a depuração de lactato.
De acordo com Stashak (1994), o manejo da ração é medida vital
na prevenção da rabdomiólise eqüina. É desejável que seja estabelecido um
programa nutricional bem balanceado e que atenda, mas não exceda, as
necessidades nutricionais do cavalo. Obviamente, se a rotina diária de
exercícios do cavalo varia, assim também irá variar a ingestão de alimentos.
5.1.8 Prognóstico
Segundo Valberg (1995), muitos cavalos com rabdomiólise
têm competido com sucesso como cavalos de prazer, caçadores e cavalos
adestrados com o retorno mínimo de sinais clínicos. Um número pequeno dos
cavalos é afetado severamente por rabdomiólise e embora a melhoria seja
vista com esta terapia, continuam a ter episódios e podem ser intolerantes ao
exercício. Tipicamente, estes cavalos têm concentrações muito elevadas do
glicogênio do músculo em sua biópsia (>1000 mmol/kg de peso seco) e
polissacarídeo anormal em 15 % ou em mais de suas fibras do músculo. Muitos
proprietários aposentaram estas éguas da procriação porque parece
provavelmente propagar o traço às gerações subseqüentes.
5.2 Caso clínico
5.2.1 Identificação do animal
Nome: Cassolândia Idade: 5 anos
Espécie: Eqüina Sexo: Fêmea
Raça: Mangalarga Paulista Peso: 405 kg
50
5.2.2 História clínica e anamnese
A égua apresentou cansaço, permanecia muito tempo deitada
(Figura 11), cãibras e contração involuntária na região da musculatura glútea
há cinco dias antes de ser internada; foi trabalhada intensivamente há cinco
dias antes de apresentar os sinais clínicos, sendo que sua alimentação
continuou a ser fornecida na mesma quantidade, mesmo tendo sido forçada a
trabalhar excessivamente. Recentemente, não estava se alimentando bem.
Figura 11: Égua Cassolândia deitada constantemente.Fonte: Vetpolo
5.2.3 Procedimentos e exame clínico realizados
A égua apresentava relutância em caminhar, freqüência cardíaca
de 68 bpm, freqüência respiratória de 44 mpm e temperatura retal de 38,1°C.
Apresentava dor na palpação muscular. Estava com leve grau de desidratação.
O veterinário chegou ao diagnóstico através do histórico clínico
que a égua apresentava, pelo exame clínico feito e também pela sua
experiência com eqüinos.
Optou-se pela seguinte terapia:
51
_ 0,04 mg/kg de acepromazina5, IM, 8 x 8 hs, durante 4 dias;
_ 6 mg/kg de fenilbutazona6, IV, 1 vez ao dia;
_ 12 litros de ringer com lactato, 1 vez ao dia, durante 3 dias;
_ Alimentação somente com feno.
A acetilpromazina é recomendada para o alívio da ansiedade,
melhorando o fluxo sangüíneo periférico, e também auxilia a remoção dos
subprodutos nocivos do metabolismo anaeróbico. O antiinflamatório não
esteróide (fenilbutazona) proporciona alívio sintomático. A fluidoterapia é
indicada para hidratar o animal e evitar lesões nos rins, estimulando-o a urinar.
A alimentação deve se basear somente em fibras, evitando cereais ao máximo
para impedir o agravamento do quadro.
Como a égua não estava com mioglobinúria, então excluiu
qualquer enfermidade que possui esta liberação de mioglobina, com
insuficiência renal aguda, como, por exemplo, cistite, nefrite, e envenenamento
por monensina. Pelo histórico clínico e sintomas clínicos o diagnóstico foi,
então, confirmado, pois o animal foi forçado à trabalhar em um ritmo que não
era acostumado e sua alimentação continuou sendo oferecida na mesma
quantidade, mesmo tendo trabalhado mais do que o normal.
5.2.4 Evolução do caso:
Foi percebida uma melhora significativa, sendo que o animal já
caminhava lentamente no piquete pelas manhãs.
5.3 Discussão e conclusão
Pode-se afirmar que o animal se encontrava na forma “Tying up”
ou atamento da rabdomiólise, pois segundo alguns autores é a forma branda
de azotúria, semelhante em alguns sintomas, mas não no mesmo grau. Já
outros autores afirmam que se o animal acometido estiver mioglobinúria, deve
ser considerado como azotúria. A etiologia provavelmente se deu por causa do
5 Acepran 1,0 %® - UNIVET S.A. – Indústria Veterinária - SP6 Eqpalazone ® – MARCOLAB Laboratórios LTDA - RJ
52
intenso exercício à que foi submetido. Segundo Stashak (1994) uma miopatia
de exercício é observada em cavalos fora de forma que não foram
condicionados para o grau de exercício exigido. Aqueles que ingeriram grandes
quantidades de rações com excesso de grãos, e dietas ricas em carboidratos e
proteínas sem suplementação, desbalanceadas com pouco fornecimento de
alimento verde, também podem estar sujeitos a essa miopatia.
Na confirmação do diagnóstico poderia ter sido feito exames de
sangue, mensurando os valores séricos de enzimas musculares, como a CK
(creatinina fosfoquinase), e AST (aspartato aminotransferase) e LDH (lactato
desidrogenase) que indicariam o grau da lesão muscular e normalmente estão
acima dos valores admitidos nos animais submetidos a exercícios físicos.
Também poderia ser feita urinálise, pois os níveis da uréia e
creatinina são utilizados para avaliação da função renal, e suas concentrações
estão aumentadas em resposta à desidratação e ao exercício, e pode haver
excesso de mioglobina na urina.
No tratamento além das medicações feitas poderia ter sido feito o
bicarbonato de sódio, a fim de evitar acidose metabólica; relaxantes
musculares, para relaxar a tensão em que os músculos se encontram; vitamina
E e selênio, que irão agir contra os radicais livres das células musculares e
complexo de vitamina B.
A prevenção ainda é a melhor saída para se evitar a ocorrência
da rabdomiólise. O mais importante é respeitar os limites do cavalo. Se a ânsia
é por resultado, deve ser lembrado que um campeão se faz com calma e
constância nos trabalhos. O corpo do cavalo tem que se adaptar aos poucos às
exigências e, ainda assim, cada animal possui um limite. Se o desempenho do
seu cavalo está abaixo das suas expectativas e não evolui, você deve repensar
seu programa de treinamento, sob orientação profissional, ou buscar um animal
com um potencial genético maior. Agora, se a ânsia é por dinheiro, vale
lembrar que toda uma vida de investimentos em animal pode se esvair em um
dia de treinamento mal feito. Treinar cavalos, levando-os além do limite é
investimento de altíssimo risco e, quase sempre, fadado ao fracasso (Cardoso,
2003).
53
6 Neurectomia do nervo digital palmar
6.1 Revisão de Literatura
6.1.1 Revisão anatômica de nervo periférico
A unidade estrutural e funcional do nervo periférico é o neurônio,
constituído por um corpo celular que contém o núcleo e prolongamentos
citoplasmáticos que à medida que se afastam do corpo celular vão se afinando
até se tornarem fibras nervosas. As fibras nervosas são recobertas por uma
bainha denominada de neurilema ou bainha de Schwann. O nervo é constituído
por um feixe de fascículos, que são mantidos unidos pelo epineuro, que é a
camada mais externa do nervo periférico, contendo vasos e tecido conjuntivo.
Cada fascículo é circundado pelo perineuro e no interior de cada fascículo,
existem axônios mielinizados e amielinizados, tecido conjuntivo, capilares e
fluído extracelular que compõe o endoneuro (Ham, 1967; Quan & Bird, 1999).
No membro torácico, os nervos Palmares, situam-se entre os
tendões flexores digitais e o ligamento suspensório do boleto, dirigindo-se
distalmente ao osso metacárpico. Na altura da articulação metacarpofalângica,
os nervos fornecem pequenos ramos para a articulação metacarpofalângica e
tendões flexores, a partir daí denominando-se nervos Digitais Palmares lateral
e medial, cada um emitindo um ramo dorsal no terço médio da primeira
falange, que segue distalmente entre a veia e artérias digitais (Kainer, 1990;
Stashak, 1997).
Segundo Stashak (1997), o ramo dorsal do nervo Digital Palmar é
responsável pela inervação sensorial e vasomotora da pele da região
metacarpofalângica, porção dorsal das regiões metacarpofalângica,
interfalângica proximal e distal, cório coronário, porções dorsais dos córions
laminar e solar, e porção dorsal da cartilagem da falange distal. A continuação
palmar do nervo Digital Palmar enerva a cápsula articular metacarpofalângica e
distalmente as estruturas palmares do dígito, pele, cápsula articular
interfalângica proximal, bainha sinovial digital, tendões flexores digitais,
ligamentos sesamóideos distais, cápsula articular interfalângica distal, osso
54
navicular e seus ligamentos, bursa navicular, porção palmar da cartilagem da
falange distal, parte do cório laminar, córions da sola e ranilha e o coxim digital.
Por vezes, o ramo dorsal do nervo Digital Palmar se bifurca e envia um ramo
palmar de volta para a região do osso navicular (Figura 12).
Figura 12: Anatomia topográfica na área digital do membro distal do cavalo.
Fonte: www.merckvetmanual.com/mvm/htm/bc/90713.htm
6.1.2 Classificação das lesões nervosas
A lesão em um nervo periférico pode causar desde um déficit
físico leve e transitório, até perda total da função sensitiva e/ou motora, sendo
classificada em três categorias, em ordem crescente de acordo com a
gravidade: neuropraxia, axoniotemese e neurotemese. Na neuropraxia, ocorre
perda da condução dos impulsos nervosos, porém sem degeneração estrutural
do nervo, o que permite o retorno da função; na axoniotemese, a lesão é mais
grave que a anterior e mesmo que não haja perda da continuidade anatômica
do nervo, existe degeneração walleriana, porém ainda há possibilidade de
55
regeneração; finalmente a neurotemese é a lesão mais grave, com
descontinuidade e destruição dos elementos neurais (Adair & Andrews, 1995).
Após uma lesão nervosa, ocorre um processo degenerativo no
segmento distal, denominado degeneração walleriana ou centrífuga e no
segmento proximal, conhecido como degeneração axônica ou centrípeta. A
degeneração walleriana é um processo de degradação de todas as estruturas
do axônio distal à lesão, que perde a continuidade com o corpo celular do
neurônio. A degeneração axônica ocorre em alguns milímetros ou centímetros
proximalmente à lesão e a sua extensão varia de acordo com a intensidade do
trauma. Nos processos de degeneração walleriana e axônica, há fagocitose
das estruturas degradadas por macrófagos e células de Schwann (Quan &
Bird, 1999).
6.1.3 Neurectomia digital palmar
A Neurectomia Digital Palmar (NDP) é um procedimento realizado
para a dessensibilização da região palmar do casco no membro torácico em
eqüinos, sendo a técnica aceita e utilizada no tratamento da síndrome do
navicular, além de certos casos de fraturas do osso navicular e em certas
fraturas do apêndice lateral da terceira falange (Mcilwraith, 1996).
A NDP é utilizada desde o século XIX, quando era comum a
prática da neurotomia (secção simples do nervo), que depois foi substituída
pela neurectomia (secção do nervo e retirada de um segmento), devido aos
numerosos casos de reinervação que ocorriam após algumas semanas (Silva,
1999).
A neurectomia é puramente paliativa, pois só elimina a sensação
da região palmar do casco; mesmo podendo prolongar a vida atlética do
cavalo, deve conservar-se como última alternativa terapêutica. Ela pode ter
conseqüências prejudiciais, tais como ruptura do tendão flexor digital profundo
ou descolamento do casco. A NDP é contra-indicada nas lesões da região
dorsal do casco e nas condições de infecção ativa. A técnica não remove a
sensação de dor e propriocepção do casco inteiro, desde que os nervos digitais
dorsais permançam intactos. Entretanto, nas mãos de um bom cirurgião, ela
56
alivia por um longo período as dores causadas pelas doenças citadas
(Mcilwraith, 1996).
Várias técnicas foram desenvolvidas ou modificadas a partir da
década de 60 e se classificam em três categorias (Pleasant et al., 1997):
ü uso de agentes irritantes, físicos ou químicos envolvendo ou não a
secção do nervo, procurando interromper a transmissão dos impulsos
elétricos, por exemplo com o uso de neurotoxinas;
ü técnica de guilhotina simples, interrompendo o nervo;
ü combinação de secção do nervo e uso de um agente adicional, por
exemplo envolvendo o coto com membrana de silicone.
6.1.3.1 Indicações clínicas
É importante que se faça um diagnóstico preciso, confirmado por
bloqueios anestésicos dos nervos digitais palmares, radiografias e exames
físicos (Pleasant et al., 1997).
A severidade da claudicação é melhor avaliada ao trote, antes e
depois de um bloqueio específico. A persistência da claudicação demonstra
que a neurectomia não é indicada para a redução do caso em questão.
Quando ocorre o alívio da claudicação deve-se confirmar o diagnóstico por um
estudo radiológico completo do casco (Pleasant et al., 1997).
Se a claudicação for tratável de forma conservativa, a
neurectomia não deve ser considerada, pois pode adicionar um trauma à
região, levar as lesões secundárias e impedir o reconhecimento de uma injúria,
subseqüente à área dessensibilizada (Silva, 1999).
6.1.3.2 Complicações
A complicação mais comum associada à NDP é a formação de
neuromas dolorosos, formados pela alteração da circulação produzida pela
fibrose. Isto pode ocorrer pelo efeito irritativo do anestésico local, pelo trauma
57
cirúrgico excessivo ou como conseqüência do traumatismo causado pelo
exercício excessivo realizado prematuramente no pós-operatório (Pleasant et
al., 1997). Remanesce também a opção de operar novamente no cavalo que
pode desenvolver neuromas (Simpson, 2005).
A ruptura do tendão flexor digital profundo ocorre quando é
realizada a neurectomia e o tendão fica enfraquecido e preso ao osso navicular
por aderências fibrosas. Quando o animal volta a utilizar o membro operado de
modo normal, as aderências se desfazem e o tendão que está fraco e necrótico
se rompe. Reconhece-se o problema pela elevação da pinça em relação ao
solo quando o animal apoia a pata. Não há tratamento (Mcilwraith, 1996).
A perda da parede do casco pode ser conseqüente a infecções
causadas por feridas perfurantes do casco. Como o casco está
dessensibilizado, as infecções passam despercebidas, evoluindo para a
gangrena. Outra causa de descolamento da parede do casco é uma
vasoconstrição aguda ou uma oclusão crônica da artéria digital palmar
resultante da formação excessiva de tecido fibroso no pós-operatório
(Mcilwraith, 1996).
A degeneração das cartilagens articulares nas junções do
membro distalmente foi observada nos cavalos jovens neurectomizados
(Simpson, 2005).
Outra complicação é a regeneração dos segmentos seccionados
do nervo digital palmar, quando reaparecem os sintomas da enfermidade pela
qual o animal foi operado. O tratamento mais eficaz é a realização de uma
nova neurectomia (Pleasant et al., 1997).
58
6.2 Caso Clínico
6.2.1 Identificação do animal
Nome: Miss Globo Idade: 18 anos
Espécie:Eqüina Sexo: Fêmea
Raça: Quarto de Milha Peso: 435 kg
6.2.2 História Clínica e Anamnese
A égua chegou na clínica por um outro médico veterinário, Dr.
Maurício, que atende a propriedade em que ela reside, e que também auxilia,
às vezes, o Dr. Pierre no centro cirúrgico, como anestesista. Ela tem síndrome
do navicular, nos dois membros anteriores, e uma formação de tecido fibroso
no tecido subcutâneo, no membro anterior esquerdo; após ter sido utilizados os
tratamentos adequados e ela não ter respondido a eles, continuando a
claudicar, optou-se realizar a cirurgia de neurectomia bilateral do nervo digital
palmar e ressecção de fibrose.
Antes de ser realizada a cirurgia, ela possuía os seguintes
parâmetros: freqüência cardíaca de 32 bpm, freqüência respiratória de 16
mpm, temperatura retal de 37,6°C, mucosas normais, movimentos intestinais
normais e estado geral bom.
6.2.3 Anestesia e preparação cirúrgica
A neurectomia pode ser realizada sob anestesia local, com o
animal em pé, ou sob anestesia geral, a qual é preferível para assegurar o
menor trauma tecidual possível. É preferível o decúbito dorsal, já que o
procedimento é com freqüência bilateral e envolve os nervos digitais medial e
lateral de cada membro.
59
O animal foi deixado em jejum hídrico e alimentar de 12 horas. O
protocolo de indução anestésica foi realizado com administração endovenosa
de 1,1 mg/kg/pv de cloridrato de xilazina7 + 2,2/mg/kg/ml de cloridrato de
ketamina8 + 0,8 mg/kg de diazepam9. O animal foi levado até a mesa cirúrgica
e colocado em decúbito dorsal, onde foi entubado com sonda orotraqueal e
submetido à anestesia geral inalatória com halotano10 vaporizado em oxigênio,
em circuito fechado. Durante a cirurgia foi feita infusão contínua de 5 µg/kg/h
de dobutamina11, conforme estabilização da pressão sanguínea e fluidoterapia.
A preparação pré-cirúrgica envolveu a tricotomia e higienização bilateral da
região palmar dos membros anteriores (dos talões ao machinho), a anti-sepsia
do campo cirúrgico foi feita com polivinilpirrolidona-iodo tópico12 10%. Os
cascos são envolvidos com luvas descartáveis estéreis a fim de evitar
contaminação.
6.2.4 Técnica cirúrgica
A incisão sobre a borda dorsal dos tendões flexores geralmente
levará o cirurgião para bem perto do nervo digital palmar. Existe variação, mas
as relações entre a veia, artéria, nervo e ligamento do esporão auxiliam a
orientação do cirurgião. O nervo digital palmar é identificado pelo seu
posicionamento palmar em relação à artéria digital, estando aproximadamente
1 cm abaixo da superfície da pele e mais profundamente que o ligamento do
esporão.
A técnica da neurectomia digital palmar descrita por Black (1992)
foi utilizada. Uma incisão de 1,5 a 2,0 cm direto na pele e tecido subcutâneo
são feitos com uma lâmina de bisturi imediatamente proximal à cartilagem
colateral sobre o aspecto palmar do plexo neurovascular palpável que contém
a veia digital, a artéria, e o nervo. O nervo é isolado com cuidado separando o
7 SEDAZINE ® - Fort Dodge Saúde Animal – SP8 VETASET ® - Fort Dodge Saúde Animal - SP9 DIAZEPAN INJETÁVEL ® - Nova Química Pharma - SP10 HALOTANO ®– Cristália - SP11 DOBTAN ® - União Química Farmacêutica Nacional S.A. - SP12 PVPI Degermante Vansil ® - Vansil Ltda - SP
60
tecido perineural com uma pinça hemostática mosquito curvada pequena e
eleva a incisão para fora. A tração delicada é aplicada ao nervo exposto para
facilitar a identificação do nervo na região proximal da quartela. Uma incisão
proximal de 2 cm é feita novamente sobre a palpação do nervo distal
exatamente à base do osso sesamóide proximal e o nervo é isolado do tecido
conjuntivo circunvizinho e elevado para fora da incisão. O nervo é
transeccionado na incisão distal primeiramente, seguindo por aplicação da
tração do nervo isolado através da incisão proximal com a pinça hemostática
mosquito retirando-o da região da quartela. Isto exporá 8 a 10 cm do nervo
digital palmar. Uma vez que o nervo esteve retirado, aplica-se uma tração firme
para enrijecer o segmento proximal do nervo e é transeccionado agudamente
na extensão proximal da incisão proximal (Figura 13).
Figura 13: Tração do Nervo Digital Palmar pela incisão proximal.Fonte: Vetpolo
A aproximação do subcutâneo foi realizada com sutura simples
contínua e a pele com pontos isolados simples, ambas utilizando fio de
poliglactina 910 n° 0013. A hemorragia na operação é geralmente mínima e é
controlada aplicando esponjas de gaze para aumentar a visualização.
13 VYCRIL ® - Cthicon
61
6.2.5 Pós-operatório
As condutas pós-operatórias diferem de acordo com cada
cirurgião, mas os procedimentos básicos são: colocação de bandagens
compressivas até a remoção da sutura em 8 a 10 dias, seguida de cuidadosa
monitoração do edema e colocação de bandagens quando necessário; uso de
antiinflamatórios não esteroidais para minimizar a inflamação e a dor; higiene
do casco para minimizar a ocorrência de abscedação aguda; repouso em baia
por 10 a 14 dias, evitando que o animal caminhe, sendo que após esse período
iniciam-se curtos passeios diários ao passo, e o animal pode ser reintroduzido
no treinamento após 6 semanas;
e antibioticoterapia profilática, recomendada já que não se pode garantir uma
cirurgia 100% estéril.
O tratamento pós-operatório utilizado foi realizado com a
administração de 2,2 mg/kg de fenilbutazona14, por via endovenosa, de 24 X 24
horas, durante três dias.
6.2.6 Prognóstico
O cirurgião veterinário é muitas vezes incumbido da tarefa de dar
um prognóstico para a futura utilidade do animal; este deve ser sempre
colocado como de reservado a mau em alguns casos, como fratura com
componente articular. O procedimento da neurectomia não é tratamento para
qualquer enfermidade, mas sim um método de alívio para a dor causada por
elas. Em muitos casos o processo é acentuado após a cirurgia, pelo fato do
animal não mais proteger o membro afetado se for forçado a trabalhar com ele.
A vida útil do animal depende de quão rapidamente ocorre a artrite
degenerativa, o que não pode ser determinado com precisão por um estudo
radiográfico inicial.
14 EQPALAZONE ® – MARCOLAB Laboratórios LTDA - RJ
62
6.3 Discussão e conclusão
Na espécie eqüina a dor crônica resultante de processos
degenerativos na extremidade dos membros, especialmente nos pés,
constituem num dos problemas mais comumente enfrentados pelos clínicos.
Dentre as enfermidades podais não responsivas nem ao tratamento
conservativo nem ao cirúrgico, que resultam em claudicação crônica,
destacamos a podosesamoidite ou enfermidade do navicular, fratura do
navicular, ossificação das cartilagens colaterais da falange distal, fratura
angular ou do processo palmar da falange distal e osteíte podal.
A neurectomia não cura a afecção em questão, apenas elimina os
sintomas de dor, porém não evita que a doença original continue progredindo.
Por isso, a ética desta intervenção é questionada, pois alguns proprietários
acham que compensa mascarar a enfermidade do animal através da
Neurectomia Digital Palmar, afim de que o animal possa competir por mais um
ou dois anos, mas esse processo cirúrgico pode trazer mais prejuízos do que o
proprietário imagina, pois ela impede o reconhecimento de injúrias e também
pode levar à lesões secundárias.
Atualmente já têm sido desenvolvidas várias técnicas, que
possam minimizar as complicações decorrentes desse processo cirúrgico.
Infelizmente ainda não existe uma técnica totalmente eficaz na prevenção
dessas complicações pós-neurectomia.
Há estudos que mostram que corte do nervo não traumatizado e
o seu retraimento até os planos do tecido ajudam a resolver os problemas dos
neuromas dolorosos, mas não impede 100% o aparecimento desses.
Assim como a maioria das claudicações dos cavalos, a
prevenção é muito melhor que o tratamento, mas se há um cavalo com “dor de
talão”, existem muitos meios de deixá-lo mais confortável e permitir com que
sua função atlética seja mantida.
63
7 CONCLUSÃO GERAL
Ao realizar o estágio curricular supervisionado, aprendi que este é
um incentivo maior dado pela faculdade para enfrentamos o cotidiano da
Medicina Veterinária, de acordo com os ensinamentos oferecidos ao decorrer
de todos estes anos.
O fato de estar em contato com o campo profissional, sob a
orientação de profissionais capacitados, e direcionando dedicação exclusiva na
área de interesse, faz do estágio supervisionado uma valiosa oportunidade de
vivenciar muitas rotinas e procedimentos, consolidando conhecimentos teóricos
adquiridos durante a vida acadêmica.
Estar frente a uma casuística variada e situações que ainda não
foram presenciadas constituem-se um estímulo em busca de novos
conhecimentos e aperfeiçoamento profissional, seja nos procedimentos
realmente praticados ou meramente observados, assim como convívio com os
diferentes profissionais e alunos de outras instituições de ensino, que
proporciona ao acadêmico visualizar diferentes procedimentos e abordagens,
gerando discussões que enriquecem a aquisição de conhecimentos e
contribuem para o desenvolvimento do senso crítico.
64
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