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CUIDANDO DE QUEM CUIDA: O SUICÍDIO DO PSICÓLOGO-UM OLHAR PSICANALÍTICO
Priscila dos Santos Lopes¹
RESUMO
O presente trabalho trata-se de uma revisão bibliográfica ao qual se propõe mostrar
algumas questões e circunstâncias que podem proporcionar até mesmo aos
profissionais de psicologia o ato suicida e diante desses possíveis meios de
cuidados para evitar tal consequência. Foram utilizados artigos científicos, pesquisas
em sites, livros e uma revisão bibliográfica psicanalítica ao qual proporcionou um
embasamento mais amplo sobre determinadas situações que podem estar ligadas
ao desenvolvimento humano. Diante a tal circunstância compreende-se que o
profissional deixa de ser aquele que cuida e se torna vítima das próprias questões
humanas, tornando-se este o recebedor de cuidados.
Palavras-chave: psicólogo (a), suicídio, prevenção, cuidados.
ABSTRACTThe present work is a bibliographic revision which proposes to show some questions
and circumstances that can even provide psychology professionals with the suicidal
act and in view of these possible means of care to avoid such a consequence.
Scientific articles, website searches, books and a psychoanalytic bibliographic review
were used, which provided a broader basis on certain situations that may be linked to
human development. In view of this circumstance, it is understood that the
professional ceases to be the one who takes care and becomes a victim of their own
human issues, becoming the recipient of care.
Keywords: psychologist, suicide, prevention, care.
1. INTRODUÇÃO
¹Acadêmica do curso de Psicologia da Faculdade Municipal Professor Franco Montoro e autora do referido trabalho.
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O suicido como visto diante de pesquisas literárias, é o ato do indivíduo
proporcionar a própria morte de forma intencional, os fatores de risco incluem
perturbações mentais e/ou psicológicas como depressão, perturbação bipolar,
esquizofrenia ou abuso de drogas, incluindo alcoolismo e abuso de
benzodiazepinas. Outros suicídios resultam de atos impulsivos devido ao stress e/ou
dificuldades econômicas, problemas de relacionamento ou bullying, as pessoas com
antecedentes de tentativas de suicídio estão em maior risco de vir a realizar novas
tentativas. (SUICÍDIO. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia
Foundation, 2020).
O suicídio encontra-se entre as 10 primeiras causas de morte, sendo que por
cada suicídio ocorrem 11 tentativas sem sucesso. Cerca de 20% das pessoas que
tentam suicidar-se, se não procurarem ajuda especializada, repetem essa ação no
prazo de um ano, aumentando a probabilidade de eventualmente morrerem por
suicídio. Cerca de 10% de todas as tentativas de suicídio são mortais. Porém o
suicídio raramente é uma decisão repentina, apesar de amigos e familiares
conceberem esse acontecimento como algo completamente inesperado,
surpreendente ou até chocante. Na maioria dos casos, o suicídio é algo planejado –
a pessoa constrói um plano, estabelece uma data, define um método e pensa nessa
possibilidade ao longo de algum tempo, antes de tomar uma decisão definitiva.
(OFICINA DE PSICOLOGIA, 2008, Suicídio).
Através da realização de algumas leituras literárias pode-se observar um
aumento em relação ao ato suicida dentro do quadro psicológico, ao qual muitas
vezes deixam de ser expostos perante a sociedade. Segundo DeAngelis a morte de
um colega é difícil de imaginar. Mas os suicídios de dois psicólogos em 2008 - bem
como os dos famosos psicólogos Michael J. Mahoney, PhD, em 2006, e Lawrence
Kohlberg, PhD, em 1987 - levaram um comitê ad hoc da APA a examinar de perto o
que se sabe sobre isso perigo e o que a profissão pode fazer a respeito. No entanto,
vários estudos apoiam a ideia de que os psicólogos podem ter um risco elevado de
ideação e comportamento suicida em comparação com a população em geral,
concluiu a equipe. Uma pesquisa da APA de 2009, por exemplo, descobriu que 40%
a 60% dos psicólogos relataram alguma interrupção no funcionamento profissional
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devido ao esgotamento, ansiedade ou depressão. Além disso, os estudos de caso
sugerem que o suicídio de um terapeuta pode afetar profunda e negativamente os
clientes, enquanto outros estudos indicam que os psicólogos muitas vezes não são
suficientemente educados sobre as melhores maneiras de intervir com um colega
em dificuldades. (DeAngelis, T. (2011). Psychologist suicide. Monitor on Psychology,
42(10), 19).
Diante disso vale ressaltar que os profissionais são pessoas comuns e
possuidoras de sentimentos, sensações e pensamentos, como as demais e muitas
vezes não conseguem assimilar as situações vivenciadas e acabam optando pelo
caminho mais curto para alivio dessa dor e cometem assim o ato suicida como
solução. Porém é necessário compreender o contexto ao qual este profissional se
encontra para que possa assim buscar a melhor maneira de solucionar tais
questões, já que por sua vez este é possuidor de diversos conhecimentos baseados
em teorias as quais lhes proporcionam conhecer sobre o assunto e métodos de
prevenção, mais nem por isso estes vêm a ser imunes a este tipo de circunstância.
Segundo a OMS (2016):“Trata-se de um grave problema de saúde pública; no entanto,
os suicídios podem ser evitados em tempo oportuno, com base
em evidências e com intervenções de baixo custo, disse a
OPAS/OMS”.
Perante a isso é preciso que estes profissionais permaneçam em
supervisões, constantes estudos e faça uso da terapia, no qual formam assim o
conhecido tripé da psicologia, e consequentemente torna-se possível o cuidado e a
prevenção com a saúde mental desses profissionais que por sua vez encontram-se
na linha de frente dia a dia, recebendo as angustias, depressões e demais
transtornos advindos de seus pacientes em processo terapêutico.
O presente trabalho busca trazer à tona os possíveis motivos e causas do
suicídio destes e as precauções e cuidados que podem ser tomados pelos próprios
profissionais de psicologia, para evitar chegar ao ato suicida como uma das últimas
soluções e contribuir para que este cuide de sua própria saúde mental. A
metodologia utilizada será revisão bibliográfica.
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2. SITUAÇÕES PRESENTES NO ATO SUICÍDAUm suicídio nunca tem uma causa única ou isolada. O que se costuma
atribuir como a causa de um suicídio, é a expressão final de um processo de crise
vivido pela pessoa. Diversos estudos mostram que o suicida deseja livrar-se de um
sofrimento para o qual não está encontrando saída. Antes de chegar ao ato final, o
suicida já mostrou sinais e procurou ajuda para o seu sofrimento. A atenção a todo
este processo e a capacidade de lidar com o problema pode resultar em um
desfecho favorável. Como o suicídio está relacionado a múltiplos fatores (biológicos,
genéticos, psicológicos, sociais, culturais e ambientais), é necessário desenvolver
ações de vigilância, prevenção e controle de forma integral. Vários autores podem
contribuir para enfrentar o problema de forma conjunta, estabelecendo canais de
comunicação permanente, trocando informações, definindo metas e ajustando
condutas. São necessárias intervenções que envolvam profissionais da área da
saúde, assistência social, educação, justiça, mídia, políticas, segurança pública,
trabalho, de Organização não Governamental (ONG), além de lideranças religiosas,
comunitárias, entre outros (OMS - SUPRE, 2002). A ação conjunta dessas pessoas
é que constitui a rede de vigilância, prevenção e controle do suicídio. (MANUAL DE
BOLSO, Prevenção do suicídio e Promoção da vida).
Segundo Macedo (2007):
“O sofrimento e a tensão produzidos pelo superego são tão
intensos, que vendo-se sem esperança, com a perda da sua
autoestima, o ego se vê desamparado pelo superego e se
deixa morrer”.
A psicóloga Rosane Granzotto, do Conselho Federal de Psicologia (CFP), diz
que o suicídio é uma tragédia global, pessoal e também familiar. “Uma tragédia
silenciosa que, muitas vezes, é uma denúncia de uma crise coletiva. Toda morte fala
algo da sociedade em que ela ocorre. Por isso, precisamos pensar o suicídio como
problema de saúde pública e em criar políticas públicas que atendam essa
demanda”. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam o Brasil como
oitavo país do mundo em suicídios.
Granzotto explica ser necessário admitir que um aumento de 27,2% dos
casos de suicídio entre 1980 e 2014 implica considerar também os fatores [Digite aqui]
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socioeconômicos e culturais vivenciados pelos sujeitos contemporâneos, como a
competição e a perda dos vínculos afetivos. “Os vínculos afetivos e humanizados
vão se tornando cada vez mais frágeis. A falta de referências nos deixa à deriva,
pois tudo é passageiro e substituível e nós também somos. Estamos em um mundo
onde sequer somos vistos, pois estamos atrás de um aparelho nos comunicando
com ninguém”. (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. O Suicido e os Desafios
para Psicologia. Brasília, 2013)
Portanto pode-se observar que a questão afetiva tem uma ligação forte em
relação ao ato suicida porém é visível perceber no âmbito da psicologia que a
questão profissional também influência, já que estes vivenciam um intenso nível de
stresse ao qual não se consegue solucionar de imediato até mesmo pelo fato de
permanecerem em constante jornadas de trabalho, proporcionando assim um mal-
estar e com isso acarretando síndromes ou até mesmo transtornos.
Recentemente, o 'comprometimento do psicólogo' se tornou uma área de
interesse para a pesquisa (Smith & Moss, 2009), e há diferenças de opinião quanto
ao que o 'comprometimento' realmente se refere. Munsey (2006), por exemplo, fez a
distinção entre 'angústia' e 'comprometimento', segundo o qual angústia é 'uma
experiência de intenso estresse que não é prontamente resolvida, afetando o bem-
estar e o funcionamento ou perturbando o pensamento, o humor e outras problemas
de saúde que interferem no funcionamento profissional ', enquanto
comprometimento refere-se a' uma condição que compromete o funcionamento
profissional do psicólogo em um grau que pode prejudicar o cliente ou tornar os
serviços ineficazes '(Munsey, C. (2006). Helping colleagues to help themselves.
Monitor on Psychology, 37(7), p35.)
Com isso nota-se que existem diferentes causas que tornam o ato suicida
como forma de solução de problemas, porém algumas ganham mais enfoque por
ocorrem com mais frequência.
2.1. SUICÍDIO NA VISÃO PSICANALÍTICAA partir da psicanálise, o ato suicida é visto em algumas partes como um
evento onde a pulsão de morte vai prevalecer sobre a pulsão de vida, existindo
assim uma constante luta entre a vida e a morte, e apenas a última prevalece. Para [Digite aqui]
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Freud (1920), foi trazido a necessidade de se ter um equilíbrio entre essas duas
pulsões, onde a pulsão de morte estaria atrelada a serviço da vida, atuando assim
em movimento paralelo. Cassorla (1991) fala que a psicanálise vê a questão da
morte como se fosse um parto ao contrário, onde deseja-se o reencontro com a
mãe, em uma espécie de útero, este busca assim uma figura protetora, visando
assim o princípio de prazer. Dias (1991) fala sobre o ato suicida como um acting-out
ou atuação, como assim conhecido na psicanálise e esta ligado as expressão dos
conteúdos psíquicos advindos através de atos. (FREUD, Sigmund. As Pulsões e
suas vicissitudes (1915) in Obras Completas, Rio de Janeiro: Imago, 1969)
Em "Atos descuidados" Freud se refere às tentativas inconscientes de suicídio
camufladas sob a forma de acidentes casuais. Observa que em casos graves de
psiconeuroses, ocorrem frequentemente automutilações, como sintomas da doença,
que podem significar um aviso da possibilidade de suicídio. Segundo Freud os
danos auto infligidos são os resultados de um compromisso entre estes impulsos de
autodestruição e as forças que atuam contra eles. Tal tendência permanece
inconsciente e reprimida no indivíduo, operando paralelamente, à espera de um
motivo que se torne responsável pela intenção consciente de suicidar-se. (FREUD,
Sigmund. As Pulsões e suas vicissitudes (1915) in Obras Completas, Rio de Janeiro:
Imago, 1969)
Freud afirma que: “Nunca se pode excluir o suicídio como um possível
desfecho do conflito psíquico” (1901/1969, p. 181).
Diante a isso Macedo (2007) relata que o suicídio é uma agressão ao exterior,
e que este secundariamente se volta contra o ego, onde ao matar o sujeito
possibilita anular psicologicamente a perda do objeto e vingando-se assim do
ambiente ao qual provoca sofrimento aos outros, sendo assim diante de
experiências clinicas pode-se observar que o suicídio muitas vezes encontra-se
destinado a destruir a vidas dos sobreviventes e vêem esse ato como a única forma
de se vingar satisfatoriamente contra os pais, amigos e entes queridos. Contudo
este ato gera nas pessoas que os cercam extremo sofrimento, devido a passarem a
se sentir culpados e até mesmos responsáveis por de alguma maneira ou outra
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terem permitido, ou até mesmo não evitado o ato. (FREUD, Sigmund. As Pulsões e
suas vicissitudes (1915) in Obras Completas, Rio de Janeiro: Imago, 1969)
Para o autor Freud, em seu texto Luto e Melancolia, o suicídio teria relação
com a volta da destrutividade contra o próprio sujeito, onde existe um desejo de
matar um outro, porém como autopunição essa agressividade acaba voltando contra
si próprio. Sendo assim Macedo (2007), também coloca que para Freud, nenhum
neurótico abriga pensamentos suicidas ao qual não consistam em pensamentos
contra os outros e que acabam voltando contra si mesmo. Porém a energia
necessária para tirar a própria vida necessita estar vinculada com o desejo de matar
o objeto ao qual este se identifica e enquanto esse desejo de morte era orientado
para uma outra pessoa este acaba voltando assim para si. O suicídio é então uma
agressão ao qual está voltada para o íntimo, e contra um objeto de amor introjetado
e investido, com um desejo reprimido assim de matar a outra pessoa.
Segundo o autor, a tendência ao suicídio parecia inexplicável na medida em
que, anteriormente, se considerava o estado primitivo da vida pulsional ser um
grande amor do eu por si mesmo e o medo surgido diante de uma ameaça à vida
ser correspondente a uma quantidade de libido narcísica liberada. Diante desses
dois pontos, seria impossível compreender que o eu, tão preso e amoroso de si,
atentasse contra si próprio. Sobre esse processo de autotortura promovido pelo eu,
Lambotte (2000, p. 72) afirma que “o melancólico se esmera em matar o que o
estorva na ignorância em que ele se encontra da natureza de seu adversário”. Esse
sadismo que se dirige ao eu subjugado ao objeto é, então, um elemento essencial
às considerações de Freud sobre o suicídio. É ao conceber o retorno do sadismo ao
eu que Freud pôde sustentar a identificação ao objeto contra o qual atenta o eu em
sua ignorância que o torna vítima e algoz concomitantemente:“A análise da melancolia mostra agora que o ego só pode se
matar se, devido ao retorno da catexia objetal, puder tratar a si
mesmo como objeto – se for capaz de dirigir contra si mesmo a
hostilidade relacionada a um objeto, e que representa a reação
original do ego para com objetos do mundo externo (Freud,
1917 [1915]/1969, p. 257)”.
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O objeto triunfa sobre o eu e isso se dá pela via do amor e do ódio que sustentavam
a relação. Sobre o triunfo do objeto como via para o suicídio, Quinet (2006, p. 207)
destaca um deslocamento, visto que “não é mais pelo narcisismo, e sim pela própria
teoria pulsional e a identificação do sujeito ao objeto que ele [Freud] passa a explicar
o suicídio na melancolia”. O modo como Freud dispõe sobre a questão do suicídio
passa a incluir a dimensão do objeto; ou seja, o eu apenas atenta contra si na
medida em que ataca um objeto em si. Ao indicar a delimitação freudiana do suicídio
à melancolia, na medida em que este ponto de vista marca uma identificação radical
ao objeto, Charliac (2002, p. 210) afirma que “esta ideia foi tomada por Lacan em
seu Seminário – A angústia desde onde ele avança ao propor que a passagem ao
ato suicida, em particular na melancolia, encontra seu correlato em um deixar-se cair
do sujeito”. Assim, a identificação absoluta ao objeto encontrará, a partir de Lacan
(19621963/2005), uma aproximação com o deixar-se cair evidenciado pelo ato
suicida. Ao delimitar que a angústia não engana, ao contrário do significante, Lacan
(1962-1963/2005, p. 88) aponta que ela corresponde à certeza e que “talvez seja da
angústia que a ação retira sua certeza”.
Segundo Lacan:“Na melancolia, trata-se de algo diferente do mecanismo de
retorno da libido no luto e, por essa razão, todo o processo,
toda a dialética se constrói de outra maneira. O objeto, Freud
nos diz que é preciso – por que nesse caso? Deixo de lado a
questão – que o sujeito se entenda com ele. Mas o fato de se
tratar de um objeto a e de, no quarto nível [escópico], este se
encontrar habitualmente mascarado por trás da i(a) do
narcisismo, atravesse sua própria imagem e primeiro a ataque,
para poder atingir, lá dentro, o objeto a que o transcende, cujo
mandamento lhe escapa – e cuja queda o arrasta para a
precipitação suicida, com o automatismo, o mecanicismo, o
caráter imperativo e intrinsecamente alienado com que vocês
sabem que se cometem os suicídios de melancólicos (Lacan,
1962-1963/2005, p. 364)”.
Sendo assim para que haja o ato suicida é necessária a passagem, o
movimento para que o sujeito totalmente identificado ao objeto a acompanhe-o em [Digite aqui]
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sua precipitação. Desta feita, com toda a certeza provida pela angústia anterior à
cessão, o suicídio na melancolia pode ser pensado enquanto passagem ao ato.
2.2. O PROFISSIONAL PSICOLÓGO COMO PACIENTE SUICÍDAPerante a questão do suicídio dentro do âmbito psicológico ainda é
considerado, como um tabu e acaba nem ganhando ênfase. Diante de algumas
leituras literárias de Zortea (2015) notou-se que este assunto é considerado bem
delicado, pois envolve diversas questões nas quais nem são discutidas no decorrer
da formação em psiquiatria e também psicologia, porém se existe uma discussão
referente a este assunto é tratado isoladamente e não é representativo.
Contudo o conhecimento popular em relação a “ médico, cura-te a ti mesmo”,
também está vinculado ao campo conhecido como saúde mental ao qual acaba
alimentando e até mantendo escondido uma problemática ao qual envolve não só as
famílias, alunos, clientes mais até mesmo os próprios colegas. Em uma pesquisa
realizada sobre as reações dos pacientes diante a morte de seus terapeutas por
suicídio, tais pesquisadores como Reynold, Jennings e Branson (1997),
encontraram-se variados tipos de manifestações, dentre elas incluía-se a negação
referente ao tipo de morte acometido por este, alguns desses pacientes até mesmo
se recusavam em acreditar naquela possível causa de óbito, diante a isso
provocava nestes pacientes reações de muita raiva e consequentemente decepção
e uma descrença em relação a psicoterapia, causando assim episódios depressivos
e neste caso até a própria ideação suicida entre os pacientes. (ZORTEA, T. C. E
quando o psicólogo ou psiquiatra morre… por suicídio? Glasgow, 2015)
Segundo Zortea: “A pesquisa sobre suicídio entre esses profissionais é bastante
escassa. Não apenas pelo tabu em si; mas pela alta complexidade
envolvida no desenvolvimento deste tipo de investigação. Se a
pesquisa geral sobre comportamento suicida traz consigo
dificuldades (relacionadas ao sub-registro de casos, respostas não
genuínas às questões das pesquisas, por exemplo), as
complicações sobre o exame deste tema entre profissionais de
saúde mental são ainda maiores. Como pode um profissional
cuidar da saúde emocional de seu cliente se a sua própria não vai
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bem? Munsey (2006) sugere dois tipos de contextos envolvidos no
“mal-estar” de um psicólogo ou psiquiatra: a dificuldade e o
prejuízo. Na dificuldade, o profissional vivencia intenso stress não
prontamente solucionável, afetando seu bem-estar e
funcionamento, provocando interrupções no raciocínio, no humor e
em outras áreas da saúde. No prejuízo, o profissional passa por
uma situação mais intensa que compromete seu funcionamento
profissional a ponto de trazer mal-estar ao seu cliente ou tornar
seus serviços ineficazes. (ZORTEA, T. C. E quando o psicólogo ou
psiquiatra morre… por suicídio? Glasgow, 2015)”.
De acordo com o artigo publicado em uma revista conhecida como The
Psychologist da Sociedade Britânica de Psicologia no ano de 2012, o autor expos
algumas séries de dados referente e pertinentes sobre a questão do suicídio dentre
os psicólogos em um país desenvolvido como os Estados Unidos. O pesquisador
Deutsch (1985) fez uma descoberta em uma de suas amostrar com 264 alunos de
doutorado e mestrado, onde 2% relataram a tentativa de suicídio. Depois em uma
pesquisa com psicólogos há anos, Pope e Tabachnick (1994) relataram que 29%
reportaram suas ideações suicidas e que 4% confirmaram a tentativa de suicídio.
Foram encontrados certa de 425 profissionais do âmbito psicológico com sintomas
de depressão, isso é por conta de que a ideação suicida e a depressão caminham
juntos referente a esses profissionais, visto que a grande maioria se sente
sobrecarregado por conta da pressão por parte da sociedade, onde manifestam que
os psicólogos devem “Se manter congruente com o que prega”, além disso a outra
pressão por conta dos psicólogos é o fato de atender casos extremamente pesados
e não poderem compartilhar com qualquer pessoa ou preferem não compartilhar até
mesmo com os próprios terapeutas e isso sobrecarrega a mente. (ZORTEA, T. C. E
quando o psicólogo ou psiquiatra morre… por suicídio? Glasgow, 2015)
Em alguns outros estudos descobriram que trabalhar como psicólogo pode
aumentar a angústia por meio de uma variedade de possíveis 'riscos', como:
'comportamentos negativos do cliente, incluindo suicídio ou agressividade,
isolamento profissional e emocional, falta de sucesso terapêutico e exigência de
papelada e administração' (Norcross et al., 2007, p.37). Kleespies et al. (2011)
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falaram de outros possíveis fatores contribuintes para o 'comprometimento do
psicólogo' quando eles listaram: 'pressões associadas ao atendimento gerenciado,
demandas de papéis que mudam rapidamente em instituições e configurações
clínicas, diminuição do controle individual sobre o trabalho e aumento do tempo
necessário para a papelada e / ou tarefas administrativas '(p.248). (Patrick Larsson.
Psychologist suicide: Practising what we preach. Reino Unido, 2012).
Na condução do trabalho clínico, os psicólogos não são apenas expostos a
materiais e comportamentos desafiadores de seus clientes, mas também estão sob
intensa pressão para 'atuar' (Sherman & Thelen, 1998), e quando esses fatores são
acoplados à possível disposição do psicólogo de dificuldades de saúde mental,
particularmente depressão (por exemplo, Gilroy et al., 2002; Pope & Tabachnick,
1994), podemos ver como 'angústia' e 'comprometimento' podem resultar. É claro
que, na maioria das tradições terapêuticas, tem sido argumentado que psicólogos e
terapeutas podem usar sua própria saúde mental como base para seu trabalho
(Deutsch, 1985; Sherman, 1996). Comumente conhecido como 'curador ferido' (por
exemplo, Guggenbuhl-Craig, 1999), essa noção afirma que "os terapeutas são
motivados a se tornar curandeiros e fortalecidos em sua capacidade de empatia com
os outros por experiências dolorosas da vida que alimentam sua vulnerabilidade"
(Wheeler, 2007, p.245). No entanto, há dúvidas sobre quando essa fundação muda
de uma ferramenta terapêutica para uma presença mais prejudicial. Como Good et
al. (2009) apontam que o conhecimento e a experiência sobre a avaliação e o
tratamento de dificuldades de saúde mental em outras pessoas não
necessariamente levam à imunidade de seus próprios problemas de saúde mental -
ou à capacidade de resolvê-los. (Patrick Larsson. Psychologist suicide: Practising
what we preach. Reino Unido, 2012).
Diante das leituras realizadas é possível notar que esses profissionais deixam
de procurar ajuda muitas vezes por medo, receio de uma sociedade completamente
fechada, com uma visão sem nexo, mente pequena considerando estes profissionais
como pessoas imunes sem possibilidades de possuírem qualquer tipo de problema,
ou seja, pessoas anormais. Perante a esse tipo de pensamento da sociedade a qual
fazemos parte, os profissionais de psicologia acabam optando por não terem ajuda e
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assim não proporcionar a estes pacientes uma visão de profissional fajuto,
fracassado, sem credibilidade ou até mesmo um contraditor de suas próprias
crenças.
Segundo Deutsch (1985):“Ao mesmo tempo, o estigma e julgamento social envolvidos no
“mal-estar” do profissional pesa sobre ele como um fracasso:
“sou uma contradição! Ajudo na transformação da vida de
outras pessoas, as auxilio em seu desenvolvimento emocional
e comportamental, mas não posso ajudar-me!”. A busca por
ajuda pode ser interpretada pelo profissional que sofre como
humilhação e uma declaração aberta de seu suposto fracasso
ou incongruência. Sabe-se que uma das razões mais comuns
de psicólogos e terapeutas não admitirem sofrer depressão ou
ideações suicidas está relacionada ao medo da censura
profissional (Deutsch, 1985)”.
Portanto outros sugeriram que os psicólogos vêem 'bem-estar e prejuízo em
dualidades perigosas' (Good et al., 2009, p.21). Com isso, eles querem dizer que
muitas vezes existe uma divisão entre 'nós', os psicólogos e 'eles', os clientes - e que
isso pode levar a uma forma de negação sobre o estado de nossa própria saúde
mental e, de fato, a saúde mental dos nossos colegas. Smith e Moss (2009)
argumentaram que muitas vezes prestamos cuidados aos outros enquanto negamos
nossos próprios desejos e necessidades; frequentemente estamos na vanguarda do
tormento dos outros e nos conectamos com a depressão e o desespero deles;
grande parte do nosso trabalho pode ser realizada isoladamente, onde, devido às
pressões nos serviços, podemos ter tempo limitado com outras pessoas e poucas
pessoas que nos ajudam a entender as experiências difíceis de nossos clientes e
também as nossas.
Segundo (Sudak et al., 2008): “O suicídio ainda carrega consigo um grande estigma e levando
em consideração a escassez de pesquisas que examinam o
suicídio de psicólogos, pode-se argumentar que o estigma seria
ainda maior entre um grupo profissional cujo contato frequente
com clientes vulneráveis significa que eles devem ser percebidos
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como 'preparados para o trabalho' e não experimentando as
mesmas dificuldades que os indivíduos com quem trabalham”.
Porém vale lembrar que as questões internas também têm um significado
diante ao ato suicida. Em um trecho de uma entrevista que foi publicada no PSI,
Jornal do Conselho Regional de Psicologia do Estado de São Paulo (CRP-SP), no
ano de 2003, em que um dos responsáveis pelas questões de saúde mental da
Secretaria de Saúde do Município de São Paulo, Leon de Souza Lobo Garcia, diz o
seguinte: “[...] os fatores determinantes [do suicídio] são múltiplos e de interação
complexa”. Elementos esses que, inclusive, comumente são encontrados em todas,
salvo equívoco, as cartilhas de prevenção ao suicídio da Organização Mundial da
Saúde (OMS) e afins. E continua dizendo que “cerca de 90 % dos casos e 40% das
tentativas de suicídio estão associados a transtornos mentais, principalmente
depressão e abuso de substâncias psicoativas” (CRP--SP, 2003 p.17). Ou seja, ao
mesmo tempo em que se afirma que os fatores determinantes são múltiplos e de
interação complexa, na sequência, afirma-se que mais de 90% dos casos de suicídio
concretizados estão relacionados aos O Suicídio e os desafios para a Psicologia 19
transtornos mentais, à depressão e ao abuso de substâncias psicoativas.
Segundo Botega (2010):“Em 97% dos casos, segundo vários levantamentos
internacionais, o suicídio é um marcador de sofrimento psíquico
ou de transtornos psiquiátricos” (BOTEGA, 2010).
Quero ressaltar que, com isso, o sofrimento psíquico é algo da ordem da
vivência, algo da ordem da existência, todos nós mais hora ou menos hora, em
maior ou em menor intensidade, desenvolvemos sofrimentos psíquicos, o que não é
exatamente a mesma coisa no que se refere aos transtornos psiquiátricos. (O
SUICIDO E OS DESAFIOS PARA A PSICOLOGIA, 2013, p.19).
Sendo assim pode-se constatar que a questão do ato suicida dentro da
psicologia ainda precisa percorrer um longo caminho para que haja melhores
compreensões sobre o assunto e uma busca por meios que possibilitem esses
profissionais se sentirem amparados e seguros para procurarem ajuda necessária e
assim resolverem suas próprias questões, para que deste modo continuem no
caminho para contribuir de maneira significativa e positiva com seus pacientes.
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2.3. PRECAUÇÕES E CUIDADOS PARA EVITAR O ATOS SUICÍDAS
Refletir sobre Suicídio é também analisar por que este fenômeno tem sido
silenciado ao longo dos anos pela sociedade, autoridades responsáveis,
profissionais de saúde e familiares, camuflando assim um grave problema de saúde
pública no Brasil e no mundo (Botega, 2002). O fato é que este silêncio não ajuda, é
preciso abordar o suicídio de forma responsável e realística, para ajudar na
prevenção. Perante a essa situação é necessário que os profissionais de psicologia
busquem ajuda desde o início quando ingressam na formação acadêmica, até o
caminhar de sua jornada, já que estes passam grande parte de sua carreira sendo
receptores de angustias, depressões, ansiedade, transtornos mentais, entre outras
causas e com isso acabam trazendo para sua própria vida questões que eram
apenas presentes no setting de terapia.
Através de algumas leituras literárias realizadas do teórico DeAngelis foi
possível notar que existe medidas que possibilite com que os profissionais da saúde
tais como os psicólogos e psiquiatras consigam se prevenir diante as circunstancias
que o leve a cometer tal ato contra sua própria vida. Perante a isso seria de grande
importância existir tipos de treinamentos que tragam à tona os riscos e as
prevenções sobre o suicídio, porém este teria maiores chances de não ocorrer se
fossem incluídos desde o começo da formação acadêmica e na qualificação dos
profissionais da área mental, possibilitando assim com que estes não só consigam
trabalhar e gerenciar os comportamentos e pensamentos suicidas de seus pacientes
através de métodos de intervenções mais também os seus próprios. Sendo assim é
preciso ter consciência e entender que é necessário melhorar a questão de ensino
sobre as estratégias que serão utilizadas para possibilitar assim lidar com os
possíveis casos de morte dentro do próprio cenário psicológico de um colega, com
isso vale ressaltar que criar maneira de se obter suportes a estes profissionais é de
grande valia para que o índice de suicídio neste contexto venha a reduzir o
isolamento inerente que esta profissão trás.
Segundo DeAngelis (2011):
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"O suicídio de psicólogos, indivíduos com experiência especial
no comportamento humano, parece estar particularmente cheio
de desafios e suscita preocupações específicas da psicologia,
como a dúvida no valor da terapia", escrevem eles. "Identificar
riscos, reduzir o estigma associado ao reconhecimento de
desesperança ou desespero e superar outras barreiras à
intervenção são essenciais para reduzir a incidência de
suicídio".
Diante disso vale ressaltar que seria de grande valia programas de
assistência a estes profissionais em todo o mundo, possibilitando com que esses se
sintam acolhidos e seguros para expor suas frustrações, angustias, desgastes
profissionais, e obtenham ali dentro acompanhamentos, treinamentos para
conseguir desta maneira controlar os fatores para que diminua a potencialidade do
ato suicida.
Como visto em uma pesquisa no Colorado o psicólogo Jim Oraker iniciou seu
próprio programa pessoal de assistência a colegas, buscando aconselhamento e
treinamento corretivo, depois de chamar psicólogos que poderiam ajudá-lo. Anos
depois de sobreviver à provação profissional - envolvendo uma reclamação de um
cliente e um período de estágio solicitado pelo conselho de licenciamento de seu
estado - Oraker agora co-preside ao Programa de Assistência ao Colega da
Associação Psicológica do Colorado (CAP). Três ou quatro vezes por mês, uma
ligação de um psicólogo angustiado chega ao escritório de Oraker, encaminhada a
ele pela Associação Psicológica do Colorado. Às vezes, alguém que sabe que um
cliente está registrando uma queixa contra ele no conselho de licenciamento
estadual; outras vezes, é até mesmo o psicólogo enfrentando problemas pessoais
crescentes ou lutando com problemas comerciais e financeiros. Em um mês típico,
uma das ligações pode exigir a intervenção em grande escala do psicólogo sênior na
vida pessoal ou profissional de um psicólogo. Se for um problema pessoal, uma lista
de referências está disponível e a terapia pode ser agendada. Se for mais um
problema de negócios, um psicólogo sênior pode ser chamado para se encontrar
com o psicólogo sobre como se organizar melhor. Se um cliente registrar uma
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reclamação, o programa de assistência poderá ajudar o psicólogo a escrever uma
conta do incidente para arquivar no conselho de licenciamento estadual.
Segundo Oraker (2006):"Muitas vezes, nos encontramos em uma cafeteria e
começamos a conversar. A primeira entrevista é para acalmar
seus medos e garantir que temos pessoas que ficarão com
eles, diz ele”.
Oraker enfatiza que o programa não é apenas para psicólogos com sérios
problemas; ele geralmente serve para apoiar e ajudar psicólogos em todas as áreas
de suas vidas, pois problemas pessoais que se tornam esmagadores podem
prejudicar o trabalho profissional de um psicólogo.
Sendo assim nota-se que os cuidados são essenciais em nossas vidas, já que
para cuidar do próximo é preciso que cuidemos de nos mesmos primeiramente, pois
estando bem consigo obtemos um olhar ainda mais minucioso para tratar do outro.
Na psicanálise, dois autores destacam a função de reconhecer como agente
cuidador Winnicott (1971) e Kohut (1978), esta pode ser desdobrada em dois níveis:
o do testemunhar e o do refletir / espelhar, sendo que a segunda depende da
primeira: o espelhamento que não inclua o autêntico testemunho não poderá efetivar
a tarefa de reconhecimento, criando imagens falseadas e alienantes do self. Muitas
vezes, cuidar é, basicamente, ser capaz de prestar atenção e reconhecer o objeto
dos cuidados no que ele tem de próprio e singular, dando disso testemunho e, se
possível, levando de volta ao sujeito sua própria imagem.
Portanto é preciso que os profissionais de psicologia renunciem questões
fantasiosas, as quais possam atrapalhar seu desenvolvimento profissional e por isso
os cuidados advindos de outros com a sua saúde mental se torna tão importante,
pois através desses cuidados estes se tornam aptos a exercer as funções
adequadas de sua profissão.
Segundo (Figueiredo e Coelho Júnior, 2000):“Trata-se, enfim de renunciar às fantasias reparadoras maníacas:
é preciso saber cuidar do outro, mas também cuidar de si e...
deixar-se cuidar pelos outros, pois a mutualidade nos cuidados é
um dos mais fundamentais princípios éticos a ser exercitado e
transmitido”.[Digite aqui]
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Diante dessas circunstâncias nota-se o quão é necessário permanecer em
constantes cuidados, para melhores condições pessoais e êxito em relação aos
trabalhos oferecidos aos demais.
3. METODOLOGIAPara a execução deste artigo foi realizada revisão bibliográfica e análise de
produções acadêmicas sobre a temática citada produzidas no período
correspondente entre 10 e 20 anos, através de busca em diversos bancos de dados
virtuais como Scielo, Pepsic, Apa, a partir das palavras chaves: atos suicidas,
prevenções e cuidados. Também foram realizadas consultas ao Conselho Federal
de Psicologia (CFP), referente a temática atos suicidas. Devido a análise
psicanalítica feita, foi utilizado o exemplar da Edição Standart Brasileira das Obras
Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Foi também necessário buscar por
matérias midiáticos on-line de sites, revistas nacionais e americanas acerca da
temática dos atos suicidas e prevenções.
4. RESULTADOS E DISCUSSÕESO objetivo deste artigo foi apresentar e discutir sobre as questões referentes
aos atos suicidas e as prevenções e cuidados dentro do âmbito psicológico, através
de estudos originais. Foi necessário compreender inicialmente as causas que levam
tais profissionais a cometer o ato e quais as precauções e cuidados podem ser
utilizados para evitar tais consequências.
Em decorrência notou-se que a questão abordada é silenciada e encoberta
pela sociedade, autoridades, profissionais do âmbito da saúde, para que não mostre
a verdadeira realidade em relação ao grave problema de saúde pública ao qual
acomete não somente ao Brasil mais o mundo, diante da questão sobre o suicídio
dos profissionais de psicologia ao qual vem crescendo desenfreadamente e
tomando proporções drásticas. Contudo percebe-se que esses profissionais
necessitam de preparações desde o início da caminhada, tais como os recursos
técnicos e pessoais e literários para um melhor manejo onde desta forma quando
deparar-se com situações que possam trazer malefícios a si e ao trabalho com o
próximo este consiga se sobressair de maneira adequada e positiva.
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Entretanto é preciso que se trabalhe as causas e as circunstâncias que levam
tais profissionais a idealizarem tais atos e o que isso pode ter haver com questões
passadas e presentes, para que este possa ter como solução tal hipótese. Por isso,
diante das contribuições de Freud e de demais autores psicanalíticos foi possível
identificar questões referentes as pulsões de vida e morte e o estado de luto e
melancolia e consequentemente a questão narcísica, aos quais podem estar ligados
aos possíveis motivos que levam estes profissionais a cometerem tal ato de tirar sua
própria vida. Porém vale ressaltar a existência das questões internas que também
possuem contribuições significativas a este tipo de ato, já que por sua vez falamos
de indivíduos que possuem sentimentos, pensamentos e emoções iguais a todos os
demais e podem estar passando por situações relacionadas a problemas de saúde
mental como transtorno mentais, depressão, uso de substâncias psicoativas,
perturbações mentais, alcoolismo entre outras questões, fazendo assim com que
este encontre-se em um sofrimento psíquico deixando de ser aquele profissional que
cuida e passando a ser um recebedor de cuidados, já que se analisarmos de modo
amplo todos estamos submetidos a passar por situações que venham a causar
malefícios a vida principalmente aqueles aos quais chamamos de profissionais da
saúde ou terapeutas.
Sendo assim é preciso que se faça uma análise de todo o contexto para que
se consiga obter êxito nos cuidados ministrados a estes profissionais.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao decorrer deste estudo e diante a ótica psicanalítica analisou-se que
possíveis situações referentes aos atos suicidas dos psicólogos, podem estar
ligadas a questões das pulsões de vida e morte, os estados de luto e melancolia e o
narcisismo, sendo essas relacionadas ao nosso desenvolvimento pessoal. Porém
vale ressaltar que no caso dos profissionais de psicologia é necessário que estes
tenham acompanhamentos como supervisões e terapias desde o início de sua
formação até o caminhar de sua carreira, fazendo assim com que este se conheça,
fortaleça e afine seu instrumento de trabalho ao qual conhece-se como a escuta,
para que possibilite que este venha a ter condições psicológicas e mentais para
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realizar um trabalho coerente e eficaz com seus pacientes deixando de ser envolvido
pelo que é trazido para o setting terapêutico.
Contudo buscou-se compreender a importância da prevenção e cuidados
para esses profissionais e como a questão social pode interferir neste processo pela
busca de ajuda e possibilitar assim o adoecimento severo destes profissionais da
linha de frente. Notou-se também o quão é importante que na própria formação haja
trabalhos e estudos específicos em relação aos atos suicidas, para que perante a
uma situação ou até mesmo diante de sua própria ideação este consiga ter o manejo
adequado para evitar tais circunstâncias.
Sendo assim por meio desta revisão bibliográfica o presente estudo se
apresenta como uma reflexão e discussão sobre um tema pouco abordado e que
necessita ser melhor trabalhado para contribuir com aspectos significantes e
resultados positivos diante do cenário ao qual encontramos.
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FONTE: Questão de Ciência.
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Em nota de rodapé: Disponível em:
https://www.revistaquestaodeciencia.com.br/index.php/artigo/2019/09/20/o-que-
dizem-os-numeros-sobre-suicidio-no-brasil
ANEXO B
Gráfico 4 – Número estimado de suicídios (Brasil, 2018-2020)
FONTE: Questão de Ciência.
Em nota de rodapé: Disponível em:
https://www.revistaquestaodeciencia.com.br/index.php/artigo/2019/09/20/o-que-dizem-os-
numeros-sobre-suicidio-no-brasil
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