Ricardo Reis Avaliação

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5/12/2018 Ricardo Reis Avalia o - slidepdf.com

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O tempo passa,Não nos diz nada.Envelhecemos.Saibamos, quaseMaliciosos,

Sentir-nos ir.

Não vale a penaFazer um gesto.Não se resisteAo deus atrozQue os próprios filhosDevora sempre.

Colhamos flores.Molhemos leves

As nossas mãosNos rios calmos,Para aprendermosCalma também.

Girassóis sempreFitando o sol,Da vida iremosTranquilos, tendoNem o remorsoDe ter vivido.

TESTE DE AVALIAÇÃO (12º ANO)

Mestre, são plácidasTodas as horasQue nós perdemos,Se no perdê-las,Qual numa jarra,Nós pomos flores.

Não há tristezasNem alegriasNa nossa vida.Assim saibamos,Sábios incautos,Não a viver,

Mas decorrê-la,Tranquilos, plácidos,

Tendo as criançasPor nossas mestras,E os olhos cheiosDe Natureza...

À beira-rio,À beira-estrada,Conforme calha,Sempre no mesmoLeve descansoDe estar vivendo.

Ricardo Reis, in "Odes"  

1. Caracterize a relação entre “nós” e o “Tempo”. 

2. Explicite um dos efeitos de sentido produzidos pelas formas verbais “saibamos”(vv. 10 e 28),

“Colhamos” (v. 37) e “Molhemos” (v. 38). 

3. Interprete o valor simbólico das referências às “flores” (vv. 6 e 37), aos Girassóis” (v. 43), aos “rios”

(v. 40).

4. Refira a importância, no texto, do vocabulário relativo à ideia de calma.5. Sintetize a filosofia de vida expressa no poema.

II

Fazendo apelo à sua experiência de leitura, explicite o modo como Ricardo Reis perspectiva a passagemdo tempo e as implicações daí decorrentes.

Escreva um texto de oitenta a cento e trinta palavras.

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 Correcção

1. Assunto

Neste poema, o sujeito poético dirige-se ao seu “Mestre”, Alberto Caeiro, como que partilhando os seus pensamentos. Há, neste “desabafo”, uma série de aconselhamentosdirigidos a um “nós”, no qual o sujeito poético se inclui, e, simultaneamente, um conjunto demáximas, que contêm ensinamentos de vida, facto que confere ao texto o estatuto deproposta de uma filosofia geral de vida. (Para estes aspectos contribuem,indubitavelmente, as formas verbais no imperativo e/ou presente do conjuntivo, com valorimperativo/optativo).

2. Relação entre nós” e o Tempo (caracterização)  

O sentido da relação entre “nós” e o tempo está representado na referência à figuramitológica de “Cronos”, o deus que devorava os filhos: o “Tempo” é assim definido como opai e, simultaneamente, o devorador, aniquilador do “nós”. A consciência do carácter inevitável desse facto exige a aprendizagem da sua total

aceitação, por parte do “nós”, de modo a saber conformar -se às leis do tempo (ao devir davida, à inscrição do tempo em nós: “Envelhecemos”). 

3. Valor simbólico da referência às flores, girassóis e rios

Estes elementos presentificam a “Natureza” como a realidade com que o “nós” seidentifica,tendo cada um deles valores simbólicos. Assim sendo:

 _ Flores é representam a vida perecível (mortal); _  Girassóis (que mudam de orientação, acompanhando o movimento do Sol) érepresentam a vida iluminada, regida pela luz do Sol;

 _ Rios é representam, a passagem das horas, do TEMPO.

4. Importância do vocabulário relativo à ideia de calma

Os adjectivos [“plácidas” (v.1), “Tranquilos” (v. 14 e 16), “plácidos” (v.14) , “calmos” (v. 40)]  e os nomes [“descanso” (v. 23), “Calma” (v. 42)] tornam recorrente, no poema, a ideia decalma e serenidade.Contribuem, assim, para afirmar a centralidade do tema do sossego absoluto, semqualquer perturbação, entendido como ideal a atingir na vivência do “Tempo”.  

5. Filosofia de vida expressa no poema

É a defesa da arte de viver sem envolvimento emocional com o presente e semexpectativas de futuro, por forma a chegar à morte sem sobressalto e com o mínimo desofrimento (“Não a viver”, v. 12; “tendo / Nem o remorso / De ter vivido”, vv. 46-48).O sujeito poético aspira a “decorrer” a vida, isto é, a atingir a sensação elementar de existir,aceitando voluntariamente o seu destino, aprendendo a viver em conformidade com as leisda Natureza, aceitando, com calma lucidez, a relatividade e a fugacidade de todas ascoisas, recusando “tristezas” e “alegrias”, na busca da indiferença à dor, ao desprazer, aqualquer sentimento extremo.

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