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8/17/2019 Trabalho e juventude no ano 2000
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RESUMO: A pesquisa “Trabalho e Juventude no Brasil dos anos 2000” focalizou oestudo de jovens da Região Metropolitana de São Paulo que combinam o trabalho coma realização de curso superior. Com esse intuito, apresentam-se alguns dos resultadosda pesquisa que abrangeu 301 entrevistas com estudantes de diversas IES. Dentre osresultados destacam-se as diculdades que esses jovens enfrentam no mercado detrabalho, nos estudos e no seu devir adultos.
ABSTRACT: The research “Work and Youth in Brazil of the 2000s” focused on the study ofyouth in the Metropolitan Region of São Paulo who combine work with the realizationof college. With this aim, we present some of the results of the research which covered301 interviews with students from diverse colleges. The results emphasize thedifculties that young people face in the labor market, in education and in its futureas adults.
TRABALHO E JUVENTUDE NO BRASIL DOS ANOS 2000Um relato da experiência do desenvolvimento da pesquisa
Publicação
Anhanguera Educacional Ltda.
Coordenação
Instuto de Pesquisas Aplicadas e
Desenvolvimento Educacional - IPADE
CorrespondênciaSistema Anhanguera de
Revistas Eletrônicas - SARE
rc.ipade@anhanguera.com
v.6 • n.16 • 2012 • p. 133-148
Marcos Roberto Mesquita – Faculdade Anhanguera de Campinas - unidade 3Gessé Marques Junior – Universidade Metodista de Piracicaba - Faculdade Anhanguera de PiracicabaPaulo Henrique Pereira – Faculdade Anhanguera de Taboão da SerraJesus Carlos Delgado – Centro Universitário Anhanguera de Santo André - UniAValderice Cecília Limberger Rippel – Faculdade de Ciências Aplicadas de Cascavel - Matriz
ANUÁRIO DA PRODUÇÃO ACADÊMICA DOCENTE
Palavras-chave: Juventude; Trabalho; Ensinosuperior.
Keywords: Youth; Work; Higher Education.
Informe Técnico
Recebido em: 19/12/2012
Avaliado em: 28/12/2012
Publicado em: 19/05/2014
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4Anuário da Produção Acadêmica Docente
Trabalho e juventude no brasil dos anos 2000: um relato da experiência do desenvolvimento da pesquisa
1. INTRODUÇÃO
Atuando como docentes nos cursos de graduação da Anhanguera Educacional, estes
pesquisadores receberam um convite dos gestores de suas unidades para compor um grupo
de pesquisa. Considerando nossa formação e linhas de pesquisa, delimitamos como tema
geral estudar o Trabalho e a Juventude no Brasil dos anos 2000, que tem nanciamentoda FUNADESP (Fundação Nacional de Desenvolvimento do Ensino Superior Privado). A
pesquisa está vinculada à área da Sociologia, mais voltada para a Sociologia do Trabalho. E
foi realizada durante o período de março a dezembro de 2012.
Segundo a PNAD (Pesquisa Nacional de Amostragem Domiciliar) do IBGE (Insituto
Brasileiro de Geograa e Estatística), os jovens brasileiros têm conseguido um importante
avanço no nível de escolaridade, pois houve uma grande queda da taxa de analfabetismo
entre os jovens de 18 a 24 anos no período entre 1992 e 2009 sendo esses dados da PNAD
(Pesquisa Nacional de Amostragem Domicilar) do IBGE (Instituto Brasileiro de Geograa
e Estatística). Neste processo, o Ensino Superior tem apresentado nas duas últimas décadas
acelerada taxa de expansão. O número de graduados no mercado de trabalho aumentou
cinco vezes entre 1982 e 2009, passando de 1,9 milhão em 1982 para mais de 10,3 milhões,
em 2009, conforme dados do IBGE (1992 e 2009).
De um modo geral, as atuais transformações no conteúdo e nas condições de trabalho
podem ser consideradas como decorrências da dinâmica relação que se dá entre o trabalho,
enquanto componente constitutivo da condição humana, e os conitos e as formassociopolíticas e econômicas em que o trabalho se realiza. É possível pensar, então, que as
múltiplas concretudes de realização do trabalho, na atualidade, sejam determinadas, como
em outras épocas históricas, por diferentes conitos e congurações econômicas, sociais,
políticas e tecnológicas.
Vale salientar que para a ONU (Organização das Nações Unidas), jovem é todo
indivíduo que possui entre 15 e 24 anos e nesta pesquisa partiu-se desta faixa etária para se
analisar a juventude.
Em vista do exposto estabeleceu-se como objetivo analisar as representações que jovens
trabalhadores, discentes do Ensino Superior privado, - moradores da Região Metropolitana
de São Paulo (RMSP) - possuem sobre suas trajetórias no mercado de trabalho e na educação.
Pretendeu-se entender características diversas do mercado de trabalho encontrado pelos
jovens e como a reestruturação produtiva e a precarização inuenciam no conteúdo e
condições de trabalho. Buscou-se apreender, também, como se congura o devir adultos
desses jovens trabalhadores e estudantes do Ensino Superior a partir das realidades
concretas que experimentam no trabalho, nos estudos e na família.No percurso de pesquisa inicialmente fez-se uma revisão bibliográca abordando as
seguintes temáticas: o conceito de juventude e de suas vertentes teóricas; a conceituação
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do processo de inserção e de desemprego dos jovens no mercado de trabalho e as barreiras
relacionadas à exigência de experiência prossional, ao nível de qualicação e escolaridade,
e ao ingresso precário no mercado de trabalho.
Num segundo momento realizou-se uma pesquisa de campo entrevistando 301
jovens (17 a 24 anos de idade, mas também aqueles com mais de 24 anos), discentes de
Ensino Superior privado (estudantes da Anhanguera Educacional) e moradores da RMSP. Apresente pesquisa se debruçou sobre o trabalho dos jovens estudantes universitários como
uma das dimensões mais signicativas do processo de seu devir adultos. Outro objetivo foi
pesquisar como as variáveis de gênero e de raça interferem e direcionam o acesso de jovens
ao mercado de trabalho, relacionando com as variáveis de classe social.
Este artigo inicia com a descrição das etapas realizada na pesquisa, em seguida
apresentamos a metodologia utilizada para denição de amostra estatística e o modo de
tratamento destes dados. Em seguida, apresentamos os dados obtidos e a relação com abibliograa pesquisada. Dentre os dados, analisaremos como os jovens pagam seus estudos,
como participam da renda familiar, como escolhem os cursos e justicam suas escolhas,
assim como avaliam seus envolvimentos no mercado de trabalho.
2. O PROCESSO DE REALIZAÇÃO DA PESQUISA: COMO ELAACONTECEU
O plano de trabalho e processo de realização da pesquisa compreendeu as seguintes etapas:1ª Etapa (de Março a abril de 2012): em que se deu a discussão do projeto de pesquisa
e de suas possíveis alterações, além do início da leitura de material bibliográco.
2ª Etapa (de Maio a Junho de 2012): ocorreu o envio do projeto ao Comitê de Ética
da Anhanguera e a Plataforma Brasil, do Ministério da Saúde, e sua aprovação nos dois
órgãos. Além da realização da leitura do material bibliográco, alterações no questionário
de entrevistas e redação do relatório parcial de pesquisa.
3ª Etapa (de Julho a Agosto de 2012): nesta etapa se deu o levantamento de mais materialbibliográco, realização do pré-teste do questionário de entrevistas, e início da coleta dos
dados a partir da segunda quinzena de agosto.
4ª Etapa (de Setembro a Outubro de 2012): até a segunda quinzena de setembro foi
realizada a coleta de dados, que abrangeu 301 entrevistas. Em seguida teve início a inserção
dos dados no SPSS, a construção de tabelas e grácos, bem como o cruzamento dos dados
coletados e a análise dos dados, relacionando a análise da bibliograa e os dados que foram
coletados para a pesquisa.
5ª Etapa (de Novembro a Dezembro de 2012): continuação da redação do relatório nal
e revisão do texto. Nesta etapa houve a ampliação da relação entre a teoria sobre juventude
e mercado de trabalho e os dados coletados nas entrevistas, a partir de uma análise
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discentes. Ao todo, foram entrevistados 301 alunos em quatro unidades de ensino superior
localizadas na Região Metropolitana de São Paulo (critério denido e divulgado no
primeiro relatório). Os dados foram tabulados no SPSS® (versão 19). A pesquisa “Trabalho e
Juventude no Brasil dos anos 2000” adota uma abordagem quantitativa-qualitativa: ela tem
sua vertente quantitativa quando emprega, como coleta de informação, um questionário
estruturado com questões que se preocupam em entender e compreender as percepções dos jovens que estão matriculados entre o primeiro e último semestres de seus cursos sobre o
mercado de trabalho no Brasil, para que disso decorra as interpretações estatístico-descritivas
necessárias para mensurar as variáveis que delineiam o perl do jovem entrevistado. Por
outro lado, a pesquisa também tem uma preocupação em analisar as apreensões, críticas e
percepções desses jovens, a partir da utilização de questão aberta, na qual os entrevistados
podem escrever livremente o que pensam. Essa é sua vertente qualitativa.
Das características mais fundamentais da pesquisa de campo com a nalidade de obterdados empíricos, a mais complexa é a composição de uma amostra aleatória simples. A
aleatoriedade, entendida aqui como a possibilidade de que cada elemento da população a
ser estudada tenha a mesma probabilidade de ser escolhido em um sorteio, torna-se um
procedimento complexo quando da denição do desenho amostral. Desse ponto, decorrem
questões como:
Qual é a população a ser estudada?;
Como conseguir acessar essa população de modo a garantir que a probabilidade p seja
a mesma para todos os elementos que a compõem?
De acordo com SILVA (1998, pp. 27 e segs.), o menor desvio dessas condições implica
a seleção de uma amostra viciada, não representativa da população da qual foi extraída. A
mesma perspectiva é indicada por BOLFARINE e BUSSAB (2005, pp. 35 e segs.).
Assim, o primeiro desao da pesquisa Juventude e Trabalho no Brasil dos anos 2000 foi o
de denir a menor diferença (denominada vício)
no recorte da população de jovens estudantes universitários da Região Metropolitana deSão Paulo, com idade mínima de 18 anos (incluindo estudantes com 24 anos ou mais).
Considerando que a RMSP teve, em 2012, o penúltimo desemprenho na atividade
econômica, dentre 13 regiões metropolitanas do Brasil (o pior desempenho coube a
Campinas, conforme o relatório da Brookings Global Cities Initiative), a preocupação com a
questão do emprego é mais do que justicada em uma pesquisa cuja preocupação central é
a perspectiva do jovem com o mercado de trabalho.
Por essa razão, dentre todos os trinta e nove municípios componentes da RMSP,
optou-se primeiramente pela escolha de localidades que tivessem instituições de ensino
superior (IES). Depois desse passo, quatro localidades foram selecionados ao acaso para
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que os questionários fossem aplicados: São Paulo, Santo André, Taboão da Serra e Osasco.
No entanto, a diculdade de obter o acesso a essa última localidade fez com que ela fosse
substituída por Itapecerica da Serra, criando para os pesquisadores a grande diculdade de
comparar as características locais.
No entanto, como a característica principal era a de estudar os elementos amostrais de
acordo com o critério de idade e de matrícula efetuada em curso superior (a saber: Direito,Administração, Pedagogia, Ciências Contábeis, Design Gráco e outros) e não simplesmente
pelo poderio econômico do município, Itapecerica da Serra reforçou a amostra: ao invés de
viciá-la, exatamente porque essa cidade passou a ter um Centro Universitário com mais de
dois mil alunos desde 2009.
A pesquisa “Trabalho e Juventude no Brasil dos anos 2000” adotou uma abordagem
quantitativa-qualitativa: ela tem sua vertente quantitativa quando emprega, como coleta de
informação, um questionário estruturado com questões que se preocuparam em entendere compreender as percepções dos jovens (com idade mínima de 18 e podendo ultrapassar
a idade de 24 anos) sobre o mercado de trabalho no Brasil, para que disso decorressem as
interpretações estatístico-descritivas necessárias para mensurar as variáveis que delineiam
o perl do jovem entrevistado.
Por outro lado, a pesquisa também teve uma preocupação em analisar as apreensões,
críticas e percepções desses jovens, a partir da utilização de questão aberta, na qual os
entrevistados podem escrever livremente o que pensam. Essa é sua vertente qualitativa.
Para que se pudesse ter acesso aos jovens com a característica etária indicada acima,
decidiu-se selecionar quatro unidades de instituições de ensino superior situadas na Região
Metropolitana de São Paulo. A denição dessa quantidade está diretamente relacionada ao
prazo de término da pesquisa, isto é, dez meses.
Assim, para que pudesse haver uma integração entre os propósitos da pesquisa com
a delimitação de tempo, dentre as diferentes IES situadas na RMSP, optou-se pelo sorteio
aleatório das mesmas, considerando que todas as IES tiveram a mesma probabilidade de
seleção. Em termos mais técnicos, considerando que a população de jovens é uma populaçãoinfnita, de tamanho N desconhecido, e que a pesquisa está mensurando a proporção p de jovens
que estão trabalhando ou que estão desempregados, cada IES teve a probabilidade 1/N de
ser selecionada para a pesquisa.
Consoante com as etapas de pesquisa, a metodologia empregada na execução dessas
etapas foi denida como segue:
a) pesquisa de campo com amostragem aleatória;
b) alinhamento metodológico de análise de resultados.
No primeiro item, a pesquisa considera a Região Metropolitana de São Paulo como base
de seleção da amostra sistemática aleatória simples porque, para essa região, há disponível
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a Pesquisa Emprego-Desemprego do SEADE (PED-SEADE), uma vez que é possível cruzar
os dados consolidados da PED (200-2010) com o resultado da aplicação do questionário.
Consultando a base de dados do SEADE, descobre-se que a proporção de jovens entre 15 e
24 tende a 50% (para ambos os sexos).
Considerando ainda um critério de controle do coeciente de variação (SILVA, pp.
101-102)1 dessa proporção ( p) em 7% para desvios de medição do valor projetado pela basede dados do SEADE, temos:
Onde:
E(p): valor esperado para a proporção de jovens (15-24 anos) na Região Metropolitana
de São Paulo, com base nos dados publicados pelo SEADE.
CV(p): coeciente de variação da proporção de jovens na Região Metropolitana deSão Paulo, com base nos dados publicados pelo SEADE. O critério xado de 7% é uma
estimativa de possíveis desvios de projeção para o tamanho da população de jovens entre
15-24 anos na RMSP. Como projeções são estimativas (e não valores exatos) optou-se por
uma variabilidade em um percentual controlado para o cálculo da amostra.
Com esse pressuposto, temos:
O tamanho da amostra, incluindo fator de correção, é calculado como segue:
O fator de correção considera a probabilidade 1-p de que o elemento amostral não
tenha sido selecionado adequadamente, ampliando a amostra de 204 elementos para 301
elementos, reforçando assim a representatividade. Conforme foi mencionado acima, era
esperada a perda de elementos na seleção da amostra de estudantes. Por isso, houve a
necessidade de aumentar a amostra de 204 para 301 estudantes.Considerando como referência o critério de representatividade da Região Metropolitana
de São Paulo, base para a seleção aleatória de jovens com as características mencionadas
acima, foram entrevistados 301 jovens matriculados em um curso superior, cuja característica
1 A xação de um controle do coeciente de variação para a proporção p está relacionada diretamente com o tamanho daamostra. Se, em um cenário hipotético, fosse possível esperar que projeções ou estimativas possuíssem desvios com coeciente devariação de 1% (uma baixa variação, portanto), a amostra deveria ser de 10000 elementos, podendo chegar a 20000 se houvesserecorrência de duplicação, como ocorre com amostras por conglomerado e sorteios de ruas, quarteirões, etc. Cabe ressaltar que nãotem sentido, portanto, em selecionar um coeciente de variação para a proporção p na ordem de 50%, pois a amostra seria apenasde 4 elementos. Assim, optou-se por um coeciente de variação que estivesse entre 1% e 10% (no máximo). Em termos mais preci-sos, o fundamento lógico da escolha de um percentual xado para o coeciente de variação de p segue a mesma linha de raciocínio
quando os pesquisadores xam o intervalo de conança entre 90% e 99%: é raro uma pesquisa adotar o intervalo de conança naordem de 99%, pois isso implica escolha uma margem de erro muito diminuta e uma amostra muito grande. No caso da pesquisasobre jovens, o risco de duplicação não ocorre, uma vez que os alunos serão sorteados na mesma unidade escolar, com o adicionalde que o recorte será feito de acordo com a idade e o fato do estudante estar matriculado no semestre ano do curso.
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Trabalho e juventude no brasil dos anos 2000: um relato da experiência do desenvolvimento da pesquisa
primordial é a de ser um curso com grande procura (demanda) pelos ingressantes na
Instituição de Ensino Superior.
O sorteio da amostra admitiu reposição, desde que obedecidos os seguintes critérios: o
jovem tivesse o perl etário denido, estivesse matriculado em curso superior, e pertençesse
ao mesmo curso do respondente que não respondeu ao questionário aplicado. Obedecidos
a esses critérios, a seleção foi feita rigorosamente como segue:Primeiro estágio: a unidade amostral foi a instituição de ensino superior, selecionada
aleatoriamente a partir de uma listagem, mediante o mapeamento da Região Metropolitana
de São Paulo, seguindo o critério mencionado acima, segundo o qual a localidade deveria
ter ao menos uma IES.
Segundo estágio: a partir da seleção da instituição de ensino superior, foram selecionados
os estudantes para responderem o questionário, mediante sorteio aleatório a partir de uma
listagem de alunos. A aplicação do questionário se deu a partir dos estágios acima.
4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Os dados coletados demonstram que constituem 39,9% dos entrevistados responsáveis eles
mesmos pelo pagamento dos seus estudos. Com isto, para todo esse contingente de jovens, a
inserção no mercado de trabalho é fundamental para a possibilidade de iniciar a faculdade.
Isso pode fazer que a entrada na faculdade seja mais tardia quando comparada com a dos
jovens que possuem auxílio familiar para o pagamento dos estudos, que constituem 12,7%da amostra. Uma outra parcela signicativa dos entrevistados, cerca de 37% deles possuem
algum nanciamento público para os seus estudos, o FIES (17,9%), mas também o Prouni
(16,8%). Isso indica que suas famílias nem sempre têm recursos sucientes para custear seus
estudos.
Boa parte dos entrevistados de até 24 anos de idade ainda reside com os pais. Isto se
explica por dois fatores principais. O primeiro deles está relacionado com a comodidade
possibilitada por morar com os pais, visto que os custos de moradia são menores. E, alémdisso, as diculdades encontradas pelos jovens no mercado de trabalho muitas vezes não
possibilitam salários sucientes para morarem sozinhos. WENDLING e WAGNER (2005)
destacam a necessidade dos jovens de ter muitos anos de estudo e também de aprimoramento
prossional para alcançar um bom emprego. E segundo as autoras, esses fatores podem
contribuir para o alargamento do tempo de permanência dos jovens na casa dos pais.
Quanto aos entrevistados da presente pesquisa, entretanto, observa-se que, na faixa
de 17 a 24 anos, a maioria contribui com o sustento da casa dos pais: 46,3% contribuem
com menos da metade da renda pessoal e 10,2% contribuem com mais da metade da renda
pessoal. Já os entrevistados maiores de 24 anos, deles 22,1% contribuem com menos da
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metade da renda pessoal e 14,4% contribuem com mais da metade da renda pessoal com o
sustento da casa dos pais.
Dessa forma, se, por um lado, morar na casa dos pais signica uma dependência
e diminuição da autonomia esperada de um adulto, por outro lado, o fato de contribuir
nanceiramente com o sustento da casa dos pais pode ser interpretado como um traço de
um exercício de responsabilidade que os aproxima do mundo dos adultos.Nas questões relativas à escolha do curso, encontramos que cerca de 18% dos
entrevistados até 24 anos e 22,7% dos com mais de 24 anos armaram que escolheram o
curso para “mudar de trabalho” e poder “trabalhar na área de formação”. Podemos entender
que o emprego atual é ruim ou precário e que almejam algo melhor e dentro da formação
para suas trajetórias prossionais. Nos dois grupos podemos entender que o trabalho atual
é transitório e garante renda para nanciar os estudos. Além disso, 29,7% dos que possuem
mais de 24 anos e 39,9% daqueles que possuem até 24 anos responderam que escolheramo curso por terem “aptidão” para exercer a futura prossão. Esta resposta está relacionada
com o fato de entenderem que possuem condições para exercer a prossão futura e que
fazem o curso porque gostam da prossão que habilita. Ao mesmo tempo, esta resposta
pode ter relação com o fato de o estudante já trabalhar na área de formação e isso lhe
proporcionaria uma aptidão para o exercício prossional. Neste sentido, mantém a crença
na aptidão, mas não percebem que a aptidão é socialmente construída dentro do processo de
prossionalização precoce que sua classe social impõe. Sobre estes aspectos, SOARES (2002)
arma que no momento de escolha prossional muitos jovens levam em conta questões que
têm relação com o mercado de trabalho da prossão futura, bem como nas diculdades que
se pode ter no momento de se buscar uma ocupação.
Os dados referentes ao trabalho dos jovens são bastante positivos em termos de inserção
no mercado de trabalho, visto que, no grupo dos que possui até 24 anos de idade, 82% tinham
emprego formal, 4,6% eram estagiários com remuneração, somente 0,6 tinham empregos
informais, 0,6% eram trabalhadores familiares sem remuneração e 1,7% tinham outra forma
de trabalho (encontraram-se, inclusive, casos de funcionários públicos). E apenas 8,1% dosentrevistados estavam desempregados e 2,3% armaram que não trabalhavam porque se
dedicavam somente aos estudos. Já entre aqueles que possuem mais de 24 anos de idade,
tem-se a seguinte situação: 76,6% possuíam emprego formal, 7,8% estão desempregados,
3,1% se dedicam somente aos estudos, 3,1% tinham emprego informal, 0,8% realizavam
estágio remunerado, 0.8% estágio sem remuneração, 1,6% eram empresários, 2,3% eram
autônomos, 1,6% eram cooperados, 1,6% estavam na condição de trabalhador familiar sem
remuneração e 0,8% tinham outra forma de trabalho.
Como os entrevistados normalmente são trabalhadores estudantes, foi bastante
aceitável a pequena quantidade, cerca de 2%, dos que se dedicam apenas aos estudos e isso
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Trabalho e juventude no brasil dos anos 2000: um relato da experiência do desenvolvimento da pesquisa
se explica também por causa da baixa renda de muitos entrevistados, baixa renda que os
levou precocemente à inserção no mercado de trabalho.
Quanto aos que trabalham, chama a atenção que mais de 80% possuem emprego formal.
Isso é bastante positivo, visto que esse tipo de emprego garante vários direitos trabalhistas e
permite contribuir para a Previdência Social, além de assegurar a proteção contra doenças e
acidentes de trabalho. POCHMANN (2001) arma que o emprego formal é a melhor formade emprego criada no capitalismo brasileiro devido às garantias de direitos atreladas a ele.
CARDOSO (2012) reconhece que a ampliação da geração de empregos formais é algo
bastante positivo, pois garante um caminho de incorporação à cidadania aos trabalhadores,
bem como estará garantido a eles uma situação menos instável, sobretudo quando
comparada à ofertada pelo mercado informal. O autor lembra, porém, que o crescimento do
emprego formal ainda não é suciente para garantir segurança trabalhista aos jovens, que
ainda enfrentam longos períodos de desemprego ou encontram ocupações precárias.O fato de já estar na faculdade pode ampliar as chances de ter um emprego formal.
Além disso, por morarem na Região Metropolitana de São Paulo, que é extremamente
desenvolvida, as possibilidades de emprego dos jovens são efetivamente maiores, também
podemos entender que há uma distorção em relação a maioria da população. Ou seja, para
estar na universidade é necessário ter emprego. Caso contrário nem poderiam chegar a este
lugar, dado que só pode permanecer se tiver condições de sustentar os seus custos. Para esta
população, a possibilidade de faculdade vem junto de participação no mercado de trabalho.
Entre os entrevistados que armaram trabalhar, tanto aqueles com idade até 24
anos, quanto aqueles com idade superior a 24 anos, não há nenhum que trabalha no setor
primário da economia (Agricultura / Pecuária). Nos dois grupos, a maior concentração está
no setor de serviços, com aproximadamente 43% dos entrevistados em cada um deles. Em
seguida vem o comércio, com 17,9% entre os que possuem até 24 anos e 18,8% no grupo
com idade superior a 24 anos. Um dado importante é que a indústria emprega somente
16,% dos entrevistados com mais de 24 anos e 12,7% no outro grupo. Isso se dá em uma
região bastante industrializada e que historicamente sempre teve uma grande quantidadede trabalhadores industriais, mas que enfrenta os reexos dos processos de mecanização e
de reestruturação produtiva por que passaram as indústrias brasileiras desde os anos 1990.
POCHMANN (2001) arma que, nas últimas décadas, ocorreu o desenvolvimento
de um novo paradigma técnico-produtivo, que se caracteriza pela transição do método
taylorista-fordista para o toyotismo, que acaba por incorporar novas estratégias dos setores
empresariais com o objetivo de gerar uma produtividade crescente. Nesse cenário, Pochmann
apresenta algumas tendências, entre elas a diminuição na participação relativa do emprego
industrial, o crescimento do setor de serviços e a maior presença das mulheres no mercado
de trabalho, inclusive no formal.
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Analisar a quantidade de horas que os entrevistados trabalharam na última semana
é de grande importância, pois essa informação indica a situação em que estão inseridos no
mercado de trabalho, assim como revela a disposição de tempo para estudar fora do período
de permanência na faculdade. Vale lembrar que, na questão, foi solicitado que o entrevistado
incluísse as horas extras realizadas na semana anterior. No grupo que possui até 24 anos
de idade, o tempo de trabalho semanal se dava principalmente nas seguintes frequências:24,9% trabalharam 44 horas semanais, 12,7% trabalharam 40 horas, 8,1% trabalharam 30
horas, 6,4% trabalharam 50 horas, 5,8% trabalharam 48 horas. Ao mesmo tempo, 15,6% dos
entrevistados dessa faixa etária não responderam a essa questão.
Já no grupo que possui mais de 24 anos de idade, 27,3% trabalharam 44 horas,
14,8% trabalharam 40 horas, 8,6% trabalharam 50 horas, 3,9% trabalharam 34 horas, 3,9%
trabalharam 45 horas e 3,9% trabalharam 60 horas. Neste grupo, 11,7% não responderam a
questão. Percebe-se, ao comparar os dois grupos, que aqueles que têm mais de 24 anos deidade possuem uma jornada de trabalho mais acentuada. Isso se explica pelo fato de terem
mais tempo no mercado de trabalho e, devido a já terem assumido maiores responsabilidades
familiares, talvez se sujeitem mais facilmente à realização de horas extras, o que acaba
por elevar as horas trabalhadas semanalmente. Um fator interessante é que cerca de um
quarto dos entrevistados dos dois grupos tem jornada de trabalho de 44 horas, que é o
máximo permitido pela legislação. Quanto maior é a jornada de trabalho menos tempo o
entrevistado dispõe para se dedicar aos estudos e mais cansado ele estará para o devido
acompanhamento das aulas. Assim, uma longa jornada de trabalho é um dos fatores que
pode atrapalhar a formação de quem está no Ensino Superior. Os dados demonstram que os
jovens estão inseridos em empregos marcados por longa jornada de trabalho, o que pode ter
implicações negativas no processo de escolarização. Sobre a longa jornada de trabalho dos
jovens, Fisher et al. (2003, p. 974) argumentam: “Acrescenta-se a este fato a diminuição no
tempo utilizado para realizar as tarefas escolares, impedindo o estudante trabalhador de se
dedicar com mais anco aos estudos dentro e fora do período escolar”.
Uma questão muito importante do questionário para pensar a trajetória ocupacionale o processo de formação dos entrevistados é a que trata da possibilidade dele colocar em
prática (no trabalho) o que eles aprendem na faculdade. No grupo dos com até 24 anos de
idade, 28,3% armaram colocar “muito” em prática o que aprendem na faculdade, o que é
algo positivo, sobretudo pelo fato de que nesse grupo estão os indivíduos de menor idade e
os que enfrentam maiores diculdades no mercado de trabalho. Ao utilizar o que aprendem
na faculdade no trabalho podem ter mais interesse pela área que estão estudando, assim
como podem ampliar as possibilidades de ascensão prossional dentro da empresa, uma
vez que podem demonstrar conhecer mais do que normalmente é necessário para executar
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O precariado é constituído, hoje, por jovens empregados e desempregados do novomundo do trabalho, recém-graduados e com alto nível de escolaridade, mas quenão conseguem inserir-se em relações laborais estáveis. Uma de suas característicascandentes é a invisibilidade social, tendo em vista que estão incorporados em formasatípicas e instáveis de contratação, que disfarçam as relações empregatícias. Alémdisso, não possuem representação sindical, o que os coloca à margem da camadaestável do proletariado organizado. (ALVES, 2012, p. 11).
Um terço dos entrevistados nos dois grupos etários assinalou que a possibilidade deprogredir na carreira é “regular”. Isto pode signicar que a progressão na empresa depende
de vários fatores internos e externos, como decisões de diretoria, condições de crescimento
econômico e até a situação das taxas de juros bancários. Ou, diferentemente, é o entrevistado
que não tem certeza se há possibilidade de progredir na empresa em que atuava no momento
da entrevista.
Analisar se o entrevistado trabalha na área de formação é algo muito relevante para
compreender a relação entre o Ensino Superior e a vida prossional. Inicialmente, os dados
da pesquisa mostram que, quanto mais cresce a idade, maior é a quantidade de entrevistados
que trabalham na área de formação. Isto se verica especialmente porque o primeiro grupo
(até 24 anos) tem menos indivíduos que trabalham na área de formação (39,9%) quando
comparados àqueles com mais de 24 anos de idade (49,2%). Entendemos que maior
experiência prossional signica maior direcionamento na escolha do curso, reforçando
o conceito de trabalhador-estudante de COMIN e BARBOSA (2010), que armam ser o
histórico da vida prossional o que determina a escolha do curso.
Uma parcela signicativa dos entrevistados realiza trabalho criativo, isto é, aplicarideias próprias ao trabalho e ter a suciente autonomia e responsabilidade (FlORIDA 2003;
LORENZ e LUNDVALL, 2010). Nos jovens entrevistados de 17 a 24 anos, no que se refere
à responsabilidade e autonomia no local de trabalho, o item “aplicação das próprias ideias
para realizar o trabalho” atingiu 48,0% e a “modicação dos métodos de trabalho” abrangeu
35,8%. A pesquisa mostrou que quanto maior é a idade maior é a criatividade no trabalho:
entre os entrevistados maiores de 24 anos, o percentual de “aplicação das próprias ideias
para realizar o trabalho” alcançou o patamar de 56,3 %. Já a característica de “modicação
dos métodos de trabalho”, que implica maior autonomia e criatividade no trabalho, foi
21,2% superior para os entrevistados maiores de 24 anos do que para os jovens de 17 a 24
anos, chegando a representar 57,0% nessa faixa etária.
A criatividade observada na realização do trabalho incorpora, pelo grau de autonomia
e responsabilidade que encerra, mais um aspecto típico do “ser adulto” efetivado por jovens.
Essa característica da criatividade no trabalho possibilita continuar a linha de raciocínio de
SPOSITO (2005), que, ao examinar a realidade de trabalho que afeta aos jovens brasileiros,
armou que o trabalho também faz a juventude.Nessa perspectiva, os resultados da pesquisa permitem armar que, incorporada na
realidade de trabalhar, também a criatividade no trabalho faz o jovem. Isto é, observam-se
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Trabalho e juventude no brasil dos anos 2000: um relato da experiência do desenvolvimento da pesquisa
nos jovens características idealmente típicas de adulto. Ou, de outra forma, que os jovens
trabalhadores e estudantes pesquisados já carregam traços do ser adulto no que diz respeito
à criatividade no trabalho.
A visão dos entrevistados sobre a qualicação é importante, pois pode explicar
porque eles estão cursando o Ensino Superior. Nos dois grupos etários, cerca de 60% dos
entrevistados disseram que a qualicação é muito importante para que se consiga progredirno trabalho. Esse dado indica que os entrevistados entendem que a qualicação pode
proporcionar maiores oportunidades no mercado de trabalho. Essa visão, contudo, pode
acabar por reproduzir um discurso presente nas falas de governantes e empresários, o
discurso de que o problema do desemprego é do indivíduo e sempre relacionado à falta de
qualicação.
Entre os entrevistados com até 24 anos de idade, 4,7% armaram que a qualicação não
é nada importante para progredir no trabalho. Já entre aqueles com mais de 24 anos, essenúmero cai para 1,7%. Isso pode ser explicado pelo fato de que o primeiro grupo enfrenta
maiores diculdades no mercado de trabalho e isso pode provocar um maior pessimismo
quanto às possibilidade de a qualicação ampliar as chances de um jovem no mercado de
trabalho.
Pode-se, portanto, armar que boa parte dos entrevistados entende que a qualicação
é importante ou muito importante para garantir maiores oportunidades ocupacionais. Desse
modo, a qualicação é um fator que pode determinar o potencial de ingresso dos jovens no
mercado de trabalho, mas isso está relacionado também à dinâmica econômica e à geração
de postos de trabalho. Percebe-se, portanto, que os jovens estão entre os grupos sociais que
mais estão expostos às oscilações do mercado de trabalho.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
No Brasil é relevante realizar estudos cientícos sobre a juventude, pois os jovens representam
cerca de 20% da população. Entender como é o mercado de trabalho encontrado pela juventude que possui entre 18 e 24 anos de idade é importante para os próprios jovens, para
os governos na implementação de políticas públicas, e para as instituições de ensino, que
formam esse grupo social.
A pesquisa demonstrou as diculdades enfrentadas pelos jovens para ingressar e
permanecer no mercado de trabalho, assim como destacou vários aspectos da formação
acadêmica de jovens estudantes, moradores de uma Região Metropolitana. Ao mesmo
tempo que cou evidente a ‘esperança’ de muitos entrevistados em conseguir empregos
melhores com a conclusão do Ensino Superior e, ainda que muitos deles dependem dos
rendimentos conseguidos com o trabalho para arcar seus estudos ou são beneciários de
políticas governamentais, como o PROUNI, que garante uma bolsa de estudos. Ou ainda
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dependem do FIES, uma modalidade de crédito estudantil, para conseguir cursar uma
faculdade. Outras conclusões da pesquisa são que muitos dos jovens entrevistados ainda
moram com os pais e tiveram uma inserção precoce no mercado de trabalho juntamente
com o fato de que ao longo de sua trajetória prossional enfrentaram experiências de
desemprego.
Não se pode deixar de mencionar que a presente pesquisa demonstra a diversidadeda juventude, inclusive no que se refere a uma denição de faixa etária, pois encontramos
indivíduos que vivenciam características típicas de juventude tendo mais de 24 anos. Ao
mesmo tempo em que percebeu-se que aqueles que possuem até 24 anos ou que possuem
mais de 24 anos de idade são forçados em sua vida acadêmica e prossional a ter posturas
típicas de adultos, como responsabilidades no trabalho e auxílio ao orçamento familiar.
Os jovens estudados enfrentam a situação de serem trabalhadores–estudantes, pois
dependem da renda adquirida no trabalho para se manterem na faculdade e auxiliaremno orçamento familiar. Uma parte dos jovens analisados nessa pesquisa tem uma inserção
precoce no mercado de trabalho, o que lhes ‘rouba’ tempo para vivenciar situações típicas
da juventude, tais como o lazer e algumas atividades culturais, ou ainda; tempo de ócio.
Mas, de forma fundamental, impede um envolvimento ideal no processo de formação
escolar. Juventude para os alunos destas IES é mundo do trabalho precoce, da não opção de
prossão, de responsabilidades no orçamento familiar, e da obrigação em se tornar adulto.
REFERÊNCIAS
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Disponível em http://www.brookings.edu/about/programs/metro//~/media/Research/Files/Papers/2012/11/30%20metro%20brazil%20economy/30%20brazil%20proles%20br/Sao%20Paulo%20br.pdf.
BOLFARINE, Heleno, BUSSAB, Wilton Oliveira. Elementos de Amostragem. São Paulo: EdgarBlucher, 2005.
CARDOSO, Adalberto. “Juventudes desnorteadas e gerações perdidas: dinâmicas do mercado detrabalho brasileiro.” In: ALVES, Giovanni; ESTANQUE, Elisio. Trabalho, juventude e precariedade:Brasil e Portugal. Bauru, SP: Projeto Editorial Práxis, 2012.
COMIN, Álvaro & BARBOSA, Rogério Jerônimo “Trabalhar para estudar: sobre a pertinênciada noção de transição escola-trabalho no Brasil”. In: Novos Estudos CEBRAP, nº 91. São Paulo:
CEBRAP, novembro de 2011.CORADINI, Odaci Luiz. “Titulação escolar e mercados prossionais. In: Revista Latinoamericanade Estudios del Trabajo, 2ª Época nº 23-24, 2010.
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