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TRINCAS EM FACHADAS NA CONSTRUÇÃO CIVIL
César Romero Arantes Camargo1
Marcio Luis de Resende2
Pedro Eduardo Vilaça3
Prof. Ricardo Estanislau Braga4
RESUMO
A fachada da edificação é uma das áreas mais exigidas, exatamente por estar exposta continuamente a agressão do meio ambiente e por características físico-químicas dos diversos materiais componentes. Além do desgaste natural com os vários efeitos ocasionados pelo tempo, surgem algumas patologias, e identificar a origem e a causa oportuniza ações preventivas e corretivas eficientes no decorrer do projeto e da realização da obra. Uma das patologias que normalmente ocorre são as trincas, advertindo sobre a inesperada condição perigosa para a estrutura da edificação. As trincas em geral ocorrem devido a falhas no projeto e na execução da obra, entretanto, a ausência de manutenção colabora, juntamente com a agressão ambiental a que as edificações estão sujeitas. O projeto da fachada deve ser executado considerando as particularidades dos materiais utilizados e as alterações ambientais a que estão sujeitos com o decorrer do tempo. Também precisam ser considerados dados sobre manutenção, acessibilidade, limpeza e facilidade de reparos que serão realizados posteriormente. 1 INTRODUÇÃO
As atividades de construção civil têm apresentado grande crescimento e
pode-se afirmar que hoje é considerada uma das maiores atividades no mundo,
capaz de acarretar mudanças significativas tanto nas localidades como em suas
estruturas físicas, sociais, culturais e econômicas (MACIEL, 2007).
O ambiente urbano é caracterizado por edificações, e essas têm como
exterior suas fachadas que podem apresentar uma série de problemas nas camadas
superficiais, comprometendo a finalização e o acabamento, gerando o aspecto de
descuido. Isto ocasiona o surgimento de patologias como as trincas, sendo assim,
observa-se a importância de se escolher adequadamente os recursos e compostos
para solucionar os problemas de natureza estrutural (MACIEL, 2007).
1 Graduando em Engenharia Civil, cesarromeroac@yahoo.com 2 Graduando em Engenharia Civil, marciolresende@hotmail.com 3 Graduando em Engenharia Civil, Pedro.duda@globomail.com 4 Professor do curso de Engenharia Civil e orientador do Artigo Científico
Neste sentido, tem-se adotado estratégias que possuem diretrizes
baseadas na preservação e utilização da mistura de materiais – em todos os seus
enfoques – e na opinião de profissionais que possam orientar as atividades, de
modo que os objetivos de minimizar os impactos causados pelas trincas nas
fachadas (BAUER, 2011).
Segundo Thomaz (2012), as trincas aparecem de maneira natural, ou
seja, no projeto arquitetônico da obra, advertindo aos profissionais envolvidos que
vários problemas podem ser reduzidos ou evitados, simplesmente por admitirem que
são inevitáveis as alterações de alguns materiais e elementos utilizados na
construção.
As trincas representam o alerta sobre uma inesperada condição perigosa
para a estrutura da obra, o compromisso do desempenho, a estanqueidade à água,
durabilidade, isolação térmica e acústica, dentre outros, além da insatisfação
causada nos usuários da edificação (JUNIOR, 2007).
As causas para o surgimento das trincas podem ser várias, e cada fase
do processo, projeto, execução, planejamento, escolha de materiais, precisa ser
muito bem investigado objetivando o aperfeiçoamento da qualidade das edificações
(MARCELLI, 2010).
Diante do exposto, o artigo tem como objetivo identificar os elementos
causadores da degradação que ocasionam as trincas nas fachadas das edificações,
descrever um provável diagnóstico e o tratamento adequado, além de estabelecer
medidas corretivas viáveis para mitigar significativamente a ocorrência destas
patologias.
2 FACHADAS
Segundo Ferreira et al (2006) fachada são os lados de uma edificação,
normalmente a da frente, é a memória do prédio delineando os contornos e
aparência estética simultaneamente com vários outros materiais, que conforme o
avanço das técnicas e tecnologias foram integrados como itens construtivos.
Conforme Franco (2010), o projeto de fachada é uma inquietude habitual
das construtoras, uma vez que utilizar mão-de-obra de serviço especializado é
menos oneroso que reparar as patologias nas fachadas das edificações.
A fachada de acordo com Albernaz & Lima (2010) são as áreas que
expõem a aparência externa, o caráter da edificação, normalmente caracteriza os
elementos de revestimento utilizados, o trabalho de esquadrias, as cores e a textura
dos seus componentes (figura 1).
FIGURA 1. Fachada
Fonte: COPASTUR (2015)
Planejar a fachada é primordial para alcançar conforto ambiental,
manutenção da edificação no decurso do tempo e higiene da área interna, assim, os
revestimentos utilizados precisam observar os requisitos de desempenho relativos à:
capacidade de assimilar deformações, movimento térmico, higroscópico e diferencial
entre componentes (VERÇOSA et al., 2011).
• fixação à base – propensão para assimilar deformações e rugosidades
• resistência ao impacto e desgaste superficial
• baixa permeabilidade ou impermeabilidade à água
• permeável ao vapor de água.
Diante disto, a durabilidade, desempenho e planejamento do projeto e dos
processos construtivos possuem importância fundamental já que estão diretamente
interligados com a segurança e a aparência das fachadas, além de agregar
qualidade e reduzir gastos na produção (MACIEL; MELHADO, 2008).
Os projetos das fachadas precisam também analisar os contratempos da
manutenção e os agentes de degradação, observando aspectos topográficos,
circunstâncias climáticas e ambientais, particularidades dos materiais, estruturais e
arquitetônicas, probabilidade de execução dos serviços e condições de utilização.
(FRANCO, 2010).
Após construída a edificação, as condições da área onde ficará exposta a
fachada também deve ser analisada. Deve ser realizada uma pesquisa minuciosa de
cada uma das fachadas da edificação e suas condições de exposição:
possibilidades de ocorrências de choques térmicos, congelamento, incidência de
chuvas, ventos, poluição atmosférica e outras relativas ao meio ambiente onde a
construção se insere (MEDEIROS, 2009).
As condições são um grupo de forças eventuais ou frequentes que
incidem sobre a edificação intervindo na seleção dos materiais e tempo de execução
utilizados no acabamento, como ventos, chuvas e variação de umidade e térmica,
emissão gasosa, umidade e acomodação do solo, cargas estáticas e dinâmicas e
vibrações (figura 2) (MEDEIROS, 2009).
FIGURA 2. Condições que influenciam na escolha do acabamento da fachada
Fonte: MEDEIROS (2009)
3 PATOLOGIAS NAS EDIFICAÇÕES
Conforme Thomaz (2012), o progresso tecnológico dos materiais de
construção e dos métodos de projetos e execução das obras colaborou para o
surgimento de edificações mais leves, alongadas e menos reforçadas, e devido aos
modernos processos de financiamentos e a escassez habitacional em todo o país,
as obras são realizadas com maior rapidez e menor controle de qualidade.
Por definição, patologias são modificações estruturais e ou funcionais, ou
seja, tudo o que promove a degradação do material ou de suas propriedades físicas
e ou estruturais. Nem sempre as patologias são um problema muito sério, grosso
modo podem ser apenas uma acomodação do prédio que pode ser resolvido com
uma pintura (MARCELLI, 2010).
Estas patologias nos revestimentos podem iniciar na etapa de projeto, na
opção de materiais incompatíveis com as exigências de utilização, quando os
profissionais e responsáveis envolvidos ignoram as interações do revestimento com
as demais partes da edificação ou na etapa de execução, ou até mesmo quando não
inspecionam diretamente o processo de produção (MEIER et al., 2009).
De acordo com Campante (2013), a patologia ocorre quando parte da
edificação começa a apresentar degradação durante a vida útil, são diversos indícios
que surgem em alguns elementos, mas que se originaram nos componentes de
revestimento.
Segundo Helene (2007) os métodos de construção e utilização são
divididos em cinco fases, planejamento, projeto, fabricação de materiais e elementos
externos a obra, execução e uso, sendo que a maioria dos inconvenientes surgem
no planejamento e projeto.
Para preservar a capacidade operacional ao longo da vida útil calculada
no projeto, sem os vestígios de desgaste da edificação, devem ser efetuadas ações
regulares de manutenção e conservação e as principais patologias podem ser
atribuídas, conforme ilustrado no gráfico 1 (BAUER et al, 2011).
GRÁFICO 1. Principais causas de patologias
Fonte: BAUER et al (2011)
O evento de falhas em algumas destas etapas do processo ocasiona
deformidades capazes de prejudicar a segurança e a vida útil do edifício e causar
patologias futuras. Estas patologias demonstram situação de potencial perigo para a
estrutura, a urgência de realizar a manutenção para impedir prováveis transtornos
futuros ou ocasionar insegurança nos usuários (CRESCENCIO, 2005).
As patologias que podem acontecer nas fachadas das edificações são:
fissuras causadas por fatores como a dilatação térmica e radiação; bolor proveniente
de umidade; rachaduras; corrosão das armaduras do concreto armado e problemas
de pintura, além das trincas, objeto deste estudo (figura 3) (SOUZA, 2008).
FIGURA 3. Patologias Fonte: A TRIBUNA (2015)
As trincas segundo a Associação Brasileira de Normas Técnicas NBR
8802:2013 (ABNT), é a ruptura ocorrida acima de 0,5 mm e menor que 1,00 mm,
desta maneira, as trincas são visíveis a olho nu e causam infiltração de umidade
para dentro dos edifícios (CEOTTO et al, 2014).
É fundamental verificar que boa parte das patologias ocorridas resultam
da falta ou da prática inadequada da manutenção e da ausência do projeto das
fachadas. É necessária atenção especial ao surgimento das patologias porque
causam insegurança, degradação da aparência visual, do conforto e da salubridade
(ANTUNES, 2010).
Por isso é importante dar uma atenção especial para a fachada, que
precisa ser bem feita e trabalhada com materiais de qualidade, dimensionando e
colocando junta de dilatação para que não ocorra o aparecimento de patologias no
decorrer de sua vida útil. De acordo com Silva et al (2009 p. 196) uma obra bem
planejada e executada com todos os cuidados reduziria bastante à ocorrência de
patologias.
A prevenção da patologia reside, fundamentalmente, na "arte de bem construir". Todavia, ao longo das últimas décadas, este conceito foi perdendo
significado real, com a crescente diversidade de soluções construtivas e materiais e com a descaracterização da mão de obra.
3.1 Causas das patologias
A patologia das edificações, segundo Cremonini (2008), é a área da
engenharia relativa às edificações e seus elementos que já não demonstram
desempenho, investigando as irregularidades por meio dos indícios patológicos,
suas causas e origens, mecanismos de ocorrências e consequências.
E conforme Helene (2007) é a parte da engenharia que estuda os
sintomas, mecanismos, causas e origens das patologias das edificações, ou seja, a
pesquisa dos elementos que constituem o diagnóstico do problema.
De acordo com Sabbatini et al (2011) há diversos modos de surgimento
de patologias nas fachadas e todas possuem uma causa, uma natureza e uma
origem que são resultantes das falhas no processo oriundas de materiais, execução
e projetos. As falhas de projetos ocorrem devido à contradição simétrica e ausência
de descrição das particularidades dos materiais de vedação e revestimento.
Os agentes responsáveis pelas patologias podem ser cargas, variação da
umidade ou térmicas intrínsecas e extrínsecas ao concreto, agentes biológicos e
atmosféricos e incompatibilidade de materiais (HELENE, 2007).
Verçosa (2011) e Maciel e Melhado (2008) relatam que as causas de
degradação das fachadas ocorrem por escassez na especificação dos elementos
construtivos e escolha indevida de materiais ou métodos construtivos. As causas
das manifestações patológicas são do tipo:
• congênitas: iniciadas na etapa de projeto por causa da inobservância das
normas técnicas ou erro profissional, que ocasionam falhas no detalhamento
e projeto ineficaz dos revestimentos como a falta de juntas de dilatações por
exemplo;
• construtivas: iniciadas na etapa de execução, decorrente da utilização de
mão-de-obra desqualificada, produtos irregulares e falta de organização para
colocação das peças, como o destacamento entre o chapisco e o concreto
por exemplo;
• adquiridas: surgem ao longo da vida útil dos revestimentos, consequência da
exposição ao meio ambiente, podem ser naturais como agressividade do
meio ou devido ação humana como manutenção inapropriada;
• acidentais: evidenciadas devido algum fenômeno atípico, como chuva com
ventos fortes ou incêndio, por exemplo, que produzem grande esforço na
camada de base e sobre os rejuntes das peças, acarretando movimento que
ocasiona as patologias (SILVA et al, 2009).
Todos os elementos das edificações são predispostos à diminuição de
desempenho e isto ocorre naturalmente conforme a vida útil, contudo o processo
pode ser acelerado por várias causas que iniciam no procedimento construtivo, pois
à medida que um material não atinge mais o nível de desempenho mínimo ocorre
uma patologia (CREMONINI, 2008).
Campante (2013) explicam as causas das trincas, gretamento e fissuras abaixo no quadro 1.
Quadro 1. Causas das trincas e fissuras
Fonte: CAMPANTE (2013)
Entretanto, há outros agentes que interferem nas particularidades do
revestimento final. De acordo com Crescêncio (2005), são as propriedades da
argamassa, densidade do revestimento, conservação do substrato, pormenores
construtivos para dispersão de tensões e descolamento da lâmina d’água das
fachadas.
Uma das causas das trincas pode estar na utilização indevida do material
do rejunte, no uso excessivo do volume de água na manipulação do material de
rejuntamento e revestimento, no retraimento demasiado do substrato e na fissuração
do rejunte por períodos higrotérmicos (MEIER et al., 2009).
Costa (2005, p. 11) define que as funções fundamentais do revestimento
externo são estancar a água das fachadas, oferecer conforto térmico e acústico ao
ambiente construído e segurança ao fogo, além da estética.
Atualmente observa-se que o número de edificações que apresentam problemas nos revestimentos está cada vez mais frequente, principalmente o aparecimento de trincas. Esse tipo de manifestação patológica geralmente é a que mais chama a atenção e preocupa os usuários do ponto de vista de conforto, salubridade e satisfação psicológica. Além do desconforto, reduz a durabilidade do revestimento permitindo infiltrações nas paredes. Para piorar, origina custos de recuperação das fachadas.
4 TRINCAS
As trincas são fendas mais fundas e evidentes e a razão definitiva para
caracterizá-la é a "separação entre as partes", ou seja, o elemento onde a trinca
surgiu esta separado em dois. Embora as trincas possam ser vistas a olho nu,
existem situações mais complexas de se verificar e classificar, nestes casos são
necessários equipamentos especializados (SABBATINI et al., 2011).
As trincas são muito mais graves que fissuras, porque ocasionam ruptura
dos componentes reduzindo a segurança dos elementos estruturais da edificação e
mesmo sendo difíceis de serem verificadas, quase imperceptíveis, é primordial que
as causas sejam rigorosa e meticulosamente investigadas (COSTA, 2005).
De acordo com Junior (2007) vários profissionais usam as expressões
trinca e fissura sem nenhuma diferenciação entre eles, o que ocasiona incerteza na
definição da patologia.
Segundo a NBR 9.575:2010, as trincas são aberturas ocasionadas por
ruptura de um material ou componente com abertura superior a 0,5 mm e inferior a 1
mm e de acordo com a NBR 15.575:2013, trinca é expressão coloquial qualitativa
aplicável a fissuras com abertura maior ou igual a 0,6 mm (figura 4).
Figura 4. Trincas
Fonte: WORKALP INDUSTRY (2015)
As trincas mais comuns e suas localizações mais frequentes estão
listadas abaixo e representadas na figura 5 (SOUZA, 2008):
Trinca horizontal ocorre pelo adensamento ou expansão da argamassa;
ausência de amarração da parede com a viga superior; retração ou dilatação térmica
das lajes; encunhamento precoce da alvenaria; recalque, ascensão capilar por
causa da deficiência ou falta de impermeabilização da base.
Trinca inclinada indício de recalques de fundações ou falta de vergas,
contra vergas ou por concentração de tensões, começam nos cantos das portas e
janelas (sobrecarga).
Trinca vertical ocorre usualmente pela ausência de amarração da parede
com algum elemento estrutural como pilar ou outra parede; quando a resistência à
tração dos componentes é igual ou inferior à da argamassa ou por retração da
alvenaria.
FIGURA 5. Principais tipos de trincas de uma edificação
Fonte: EBATANAW (2009) Diagnóstico
Segundo Silva et al (2009), diversos motivos induzem a ocorrência das
patologias nas fachadas, como a inobservância das normas técnicas de projeto de
edificações – NBR 13.531:1995 e 13.532:1995, além dos elementos interventores e
materiais de qualidade diferentes que interferem na qualidade final.
Diagnosticar a causa da trinca não é simples, pois esta causa pode
acarretar vários formatos de trincas e uma forma pode representar várias causas. É
comum haver trincas que são resultantes da soma de variadas causas com formatos
diferentes (EBANATAW, 2009).
Sendo assim, em algumas situações o diagnóstico correto só será
realizado por especialistas, rigoroso ensaio de laboratório, reavaliação dos projetos
e instrumentação e seguimento da obra. Entretanto, poderá ocorrer trincas onde as
causas nunca serão com certeza diagnosticadas. A definição da patologia ocorre em
três fases (BARBOZA, 2010):
• levantamento de dados: reunir e organizar informações essenciais e
razoáveis para a compreensão das ocorrências;
• diagnóstico da situação: avaliar as ocorrências, verificar as diversas
relações de causa e efeito que geralmente designam uma patologia;
• determinação do procedimento: estabelecer a solução, listando os serviços
e materiais necessários e a efetividade da proposta.
No levantamento de dados, é primordial solicitar o parecer de um técnico
que deverá examinar a edificação meticulosamente, além de utilizar instrumentos
específicos para avaliar as causas (BARBOZA, 2010).
O objetivo do diagnóstico é obter justificativas técnicas e científicas para
as alterações, que podem ter acontecido na etapa de construção ou durante a
execução, determinando as consequencias de segurança e confiabilidade da
edificação (MACHADO, 2012).
É apresentado por Thomaz (2012) alguns fatores que precisam ser
pesquisados sobre as trincas, como:
• incidência, configuração, comprimento, abertura e localização;
• idade aproximada da trinca e quando a edificação foi construída;
• se a mesma se aprofunda por toda a espessura do componente trincado;
• se trinca semelhante aparece em componente paralelo ou perpendicular
aquele em exame;
• se há trinca semelhantes em pavimentos contínuos;
• se há trinca semelhante em edifício vizinho;
• se o aparecimento é intermitente ou se sua abertura varia sazonalmente;
• se já foi reparada anteriormente;
• se ocorreu mudança profunda ao redor da obra;
• se no entorno da trinca aparecem outras manifestações patológicas, como
umidade, deslocamentos, manchas de ferrugem e bolor, eflorescência etc;
• se nas proximidades das trincas existem tubulações ou eletrodutos
embutidos;
• se existem na obra caixilhos comprimidos;
• se as trincas manifestam-se preferencialmente em algumas das fachadas;
• se existem deslocamentos relativos na superfície do componente trincado;
• se a abertura da trinca é constante ou se ocorre estreitamento numa certa
direção;
• se a trinca é acompanhada por escamações indicativas de cisalhamento;
• se está ocorrendo condensação ou penetração de água de chuva para o
interior do edifício;
• se a edificação está sendo usada corretamente.
É possível realizar o diagnóstico apenas por visualização em algumas
situações, contudo, em outras é complicado, sendo imprescindivel examinar o
projeto; verificar as cargas que foram submetidas a estrutura; averiguar
minuciosamente como foi realizada a construção e como a trinca reage perante
certos estímulos. Assim, é possivel detectar o causador da patologia e repará-lo
para que não ocorra de novo (FERREIRA et al., 2006).
Caso não seja possível chegar a um diagnóstico seguro por meio das
informações obtidas, devem ser observadas medidas mais eficientes e sofisticadas
como a revisão dos cálculos estruturais, analises de perfis de sondagem, e
instrumentação da obra com clinômetros, defletômetros e extensômetros mecânicos
(BELÉM, 2011).
5 TRINCAS EM FACHADAS
Segundo Maciel (2007), com relação aos revestimentos das fachadas,
geralmente, são definidos pouco tempo antes da execução, algumas vezes no
canteiro de obras e as descrições da produção são somente as relatadas nos
projetos que especificam o acabamento decorativo e áreas de aplicação de cor, não
definindo, por exemplo, o tipo da argamassa.
Sendo assim, as fachadas podem apresentar uma série de problemas em
sua camada superficial, que acabam comprometendo o apelo arquitetônico das
construções. Alguns dos problemas mais comuns são as trincas, caracterizados
como patologias estruturais de argamassa de revestimento (BARBOZA, 2010).
As trincas nas fachadas estão entre as patologias mais temíveis pelas
construtoras, desta maneira, os revestimentos são relevantes tanto pelo aspecto
visual quanto pela proteção impermeável, acústica, térmica e de proteção das
estruturas contra a agressividade do meio ambiente (MEIER, et al., 2009).
Consequências
Problemas patológicos nas edificações acarretam diminuição da vida útil,
que está claramente associada ao desempenho dos produtos ou elementos da
edificação (CEOTTO et al., 2014).
Para Souza e Rieper (2008), os gastos com as complicações técnicas
para a restauração das falhas que iniciam na etapa de criação e projeto, ampliam à
medida que a edificação vai sendo construída. Então, depois da obra concluída, a
trinca que iniciou na fase de concepção, onerará muito mais na edificação do que
aquela que surge com a utilização, no fim do processo.
Após a conclusão da obra, há acréscimo substancial do custo de
recuperação da trinca em relação à solução do problema na etapa de projeto,
porque este momento além de ser o ideal para prevenção, também é apropriado
para determinar medidas fundamentais para aumentar a proteção e a durabilidade
da fachada (SOUZA, RIEPER, 2008).
Normalmente as trincas são evolutivas e propensas a se intensificarem ao
longo dos anos, além de provocarem outras patologias associadas. Desta forma, os
reparos quanto mais cedo forem realizados, serão mais simples, eficientes e
resistentes, além de serem menos onerosos. De acordo com Sitter, é fundamental
que a etapa de produção, pré-análise e projeto sejam bem observado e avaliado,
para que danos posteriores sejam evitados (ZAPLA, 2009).
Custos com recuperação de fachadas são muito altos, visto que várias
das trincas poderiam ter sido prevenidas por meio de melhor planejamento e
investimento no projeto, com a admissão mão-de-obra especializada, uso de
materiais de qualidade e capacitação dos envolvidos na construção (CEOTTO et al.,
2014).
6 RECUPERAÇÃO DA FACHADA TRINCADA
A recuperação da fachada trincada só pode ocorrer somente após o
diagnóstico realizado e o conhecimento pleno da consequência das trincas no
desempenho geral da edificação (COSTA, 2005).
Antes da recuperação da parte trincada da fachada é preciso ter certeza
de que não aconteceram avarias nas instalações, se a trinca não danificou o
contraventamento, se não foram diminuídas gravemente as regiões de suporte de
lajes ou tesouras da cobertura e não aconteçam desequilíbrios evidenciados
(MACHADO, 2012).
Os erros de planejamento e projeto são geralmente mais nocivos que os
de qualidade dos produtos e de execução insuficiente, então, é aconselhável
dispensar mais tempo em realizar projetos mais especificados e completos (ZAPLA,
2009).
Diagnosticado que as trincas na fachada não prejudicam a segurança da
estrutura da edificação, vários outros pontos precisam ser investigados antes de
definir o processo de restauração, como consequência da trinca no desempenho da
fachada, momento do movimento que originou a trinca; viabilidade de reparação
definitiva ou provisória, período mais adequado para realizar o reparo (BARBOZA,
2010).
A reparação definitiva precisa ser programada considerando todas as
causas que ocasionaram as trincas, todo empenho precisa ser concentrado para
extingui-las ou reduzi-las, por isso as ações de reparo precisam se basear em
medidas de prevenção (BAUER, 2011).
Em algumas ocasiões reparar a área trincada não é tão fundamental para
solucionar o problema, por exemplo, quanto aos recalques de fundação, existe a
chance do movimento não cessar, neste caso nenhuma maneira de reparação será
eficaz (SABBATINI ET al., 2011).
Belém (2011, pg. 36) em seu estudo relata que:
É importante ainda salientar que as medidas de recuperação para sanar essas patologias são consideradas complexas e mais difíceis de serem aplicadas depois que a obra foi executada. Além disso, tais medidas são consideradas onerosas e muitas vezes não apresentam resultados satisfatórios. Segundo o Instituto Brasileiro de Impermeabilização – IBI,
quando a aplicação de um sistema de impermeabilização for executada corretamente, fazendo uso de materiais adequados e por empresas confiáveis, os custos com sua realização atingem, na média, 2% do valor total da obra. Porém, se essa impermeabilização for realizada somente depois de serem constatadas patologias na edificação já pronta, a aplicação desse processo ultrapassa consideravelmente o percentual citado inicialmente, podendo chegar até a valores em torno de 10% do custo total da obra.
No caso de ocorrer recalques de fundação, o reparo só pode ser realizado
após estabilizar o movimento, do contrário devem ser contidas as causas utilizando
medidas de estabilização do terreno, reforço da fundação, impermeabilização
evidente do terreno no entorno da construção, drenagem superficial de águas que
podem empoçar próximas a fundação e poda das árvores que absorvem muita água
do solo (VERÇOSA, ET al., 2011).
7 CONCLUSÕES
As fachadas, por ficarem mais expostas as ações do meio ambiente, têm
uma possibilidade maior de deterioração ao longo dos anos, danificando a vida útil
da construção, ou seja, os revestimentos externos podem fissurar, manchar,
descolar, apresentar fungos, algas e trincas.
Atualmente, facilmente se encontram estas patologias nas fachadas, elas
ocorrem na maioria das edificações em maior ou menor intensidade, ocasionando
danos estéticos e comprometendo a funcionalidade da estrutura. Um das patologias
mais incidentes nas edificações são as trincas, que ocorrem pela ausência de
manutenção adequada, devido as condições climáticas prejudiciais, o que facilita o
aparecimento desta patologia.
As causas que ocasionam o surgimento das trincas nas fachadas das
edificações são variadas como economia e alteração na discriminação dos
materiais, adequação da estrutura no solo, dilatação e retração térmica, erro na
concretagem, falhas no cálculo estrutural, desgaste natural da estrutura, pequeno
prazo para elaboração dos projetos e entrega da construção; ausência de vigilância;
orientação incorreta de manutenção, prevenção e reformas.
Sendo assim, devido a grande parte das trincas iniciarem durante a
execução e na elaboração, é primordial garantir a qualidade em todo o processo
construtivo, na seleção e conhecimento adequados dos materiais, no
desenvolvimento e compatibilização de projetos mais detalhados, no treinamento da
mão-de-obra e na rígida supervisão e controle no decorrer da construção.
É fundamental alterar o entendimento de que manutenção preventiva é
um gasto dispensável para a obra, uma vez que a mesma ajuda a prevenir
intercorrências futuras e a reduzir trincas na edificação, aumentando assim sua vida
útil.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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