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64 • Fotografe Melhor no 167
Vida de Fotógrafo
Fotógrafo e montanhista,Marcio Bruno divide-seentre registrar pessoas deforma inusitada, trabalhoscorporativos e imagens deescaladas perigosas
imagens Um construtor de
POR DIEGO MENEGHETTI
Retrato da ciclista cariocaDaniela Genovesi, que venceu,em 2009, os 5 mil quilômetrosda prova Race Across America
na categoria solo
L ogo cedo, aos 17 anos, o paulista Marcio Bru-no decidiu se aplicar em duas áreas que acre-ditava serem prazerosas profissionalmente:
fotografia e esportes radicais. Ele conta que, na época,a ideia era trabalhar com algo que proporcionasseuma vida de viagens. A partir daí, dedicou tempo, es-tudo e muito treino para hoje, aos 35 anos, seguircom a carreira de fotógrafo profissional aliada a ex-pedições pelo mundo afora como alpinista.
O resultado da união dessas atividades, aparen-temente distintas, pode ser visto no humorado ensaioque ilustra esta reportagem, encomendado a ele poruma revista especializada em esportes outdoor. Osretratos, produzidos pelo próprio Marcio, unem asensibilidade do lado esportista, ao registrar os atletascom destaque para as habilidades de cada um, e a téc-nica do fotógrafo, ao utilizar perspectiva, cenário eiluminação que compõem as imagens criativas de for-ma bem trabalhada.
“Os retratos buscam aproximar, com um toquede humor, cada atleta com o esporte que pratica. Aprimeira foto que fiz, por exemplo, foi com uma equi-pe de corrida de aventura, a Quasar Lontra, que ga-nhou várias provas em 2009, entre elas o circuito Ad-
radicaisM
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Vida de FotógrafoO canoísta Pedro Oliva, quepratica caiaque extremo e desceu uma cachoeira de39 metros, quebrando orecorde mundial de altura
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venture Camp, o mais disputadodo Brasil. Na imagem, quis evi-denciar a questão da união dogrupo”, diz Marcio.
A foto, realizada na CidadeUniversitária, em São Paulo (SP),foi planejada momentos antesde ser feita. “De acordo com aproposta inicial, em todas as fo-tos eu precisaria estar em umaposição acima dos atletas, su-bindo em alguma árvore ou coi-sa parecida para fotografar. Sa-bia que em algumas ocasiões issoseria possível e, em outras, teriaque resolver de alguma forma.Caminhando pela USP, localcombinado para fazer o retratoda equipe, encontrei uma árvorena qual seria possível subir e fo-tografar de cima para baixo eque, coincidentemente, tinharaízes que pareciam galhos e fo-lhas caídos no chão e se asseme-lhavam à copa da árvore”, contaMarcio.
Resolvida a questão da pers-pectiva, o fotógrafo explica queoutra dificuldade foi posicionaros atletas deitados de forma apassar a sensação de movimento,sem parecer muito falsa, mastambém para que o observadorpercebesse que se tratava de umasituação montada. “Dirigir e po-sicionar as pessoas para retratosàs vezes pode ser um obstáculo,mas, no caso desse ensaio, todosos atletas toparam a proposta,por mais louca que fosse, e, as-sim, ajudaram bastante no tra-balho”, afirma.
Os retratos dos outros atle-tas, cada um especializado emuma modalidade esportiva di-ferente, seguiram com a mesmaproposta, com ângulo de visão
em 90º de cima para baixo e aspessoas deitadas, em situaçõessimuladas e divertidas. “A fotocom o Felipe Camargo, escala-dor que se destacou em 2009por ter superado uma via de su-bida dificílima em Rodellar, naEspanha, também foi pensadapouco tempo antes de fazermos.A janela na foto restou da refor-ma que fiz em casa e a cortinapeguei emprestada da cozinha
da minha mãe. O vaso é da mi-nha mulher... Como tive liber-dade para criar os cenários, pu-de arriscar situações inusitadas,mas também tive que providen-ciar todos os elementos para asfotos”, relata.
Marcio diz que se identificacom o registro de atletas pro-fissionais, por também ser es-portista e primar pela relaçãodas pessoas com a natureza. Ele
Os retratos foramproduzidos pelopróprio fotógrafo,com elementossimples paracompor a cena
A paulistana PolianaOkimoto, campeã da
Copa do Mundo demaratonas aquáticas,também foi retratada
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Vida de Fotógrafoconta que outro retrato que gos-tou ter feito foi com Lois Neu-bauer, piloto de asa-delta queficou paraplégico após um aci-dente, há 14 anos. Hoje, o atletacontinua a voar e competir pormeio de asas adaptadas.
Como boa parte dos profis-sionais da área, Marcio inicioua carreira com trabalhos varia-
dos, fazendo fotos de casamen-tos a still. “Comecei a trabalharcomo frila de eventos para outrofotógrafo, que me pagava umcachê e eu nem via as fotos pron-tas. Depois, fui convidado paratrabalhar para um suplementode comércio exterior que haviano Estadão, basicamente comretratos de executivos. Na im-prensa, fiz fotos também para ojornal DCI”, relembra.
Após a passagem pelos veí-culos de comunicação, Marciocomeçou a desenvolver traba-lhos para agências e assessoriasde imprensa, aproximando-seainda mais da fotografia corpo-rativa. Foi quando se especiali-zou em retratos. “Fotografargente é o que eu mais gosto, poisposso desenvolver uma lingua-gem própria, trabalhar luz e di-reção de forma diferenciada, econtar uma história em umamesma imagem. Além disso, fa-zer retratos envolve um poucode psicologia e comunicação. Éo que acho mais interessante nafotografia: uma mescla de téc-nica, composição e inter-relaçãohumana”, afirma.
Profissional multiuso Como fotógrafo freelancer
para diversos clientes corpora-tivos e editoriais, Marcio man-tém um estúdio na capital pau-lista. Contudo, segue com a pre-dileção pelos retratos. “Em fotosde expedições, ou mesmo deeventos, é possível contar umahistória por meio de diversasimagens. No retrato, você pre-cisa sintetizar tudo o que querdizer em apenas um clique. Essepoder de síntese que o retratotem é que me instiga. Numa fotocomo a do Lois, feita na PedraGrande, em Atibaia (SP), tiveque planejar tudo o que queria
Marcio Brunoatuou em váriossegmentos dafotografia atédescobrir o querealmente queria
Retrato de Felipe Camargo,primeiro brasileiro a escalaruma via de graduação 9A,trajeto considerado dificílimono escalada esportiva
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A união da equipe de corridade aventura Quasar Lontrafoi o argumento que Marciousou para compor o retrato
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dizer com a imagem, toda a his-tória de superação do atleta,usando as formas e o ambienteadverso”, conta.
Para o trabalho, Marcio usauma Canon EOS 5D Mark II,
com um conjunto generoso delentes profissionais da série L:15 mm, 17-40 mm, 24-70 mm,70-200 mm, 85 mm e uma 100 mm Macro mais usada parafotos em estúdio. Para a ilumi-nação, utiliza geralmente umatocha Variolite 800 da Mako eoutras duas cabeças 3003, damesma fabricante, junto a umsoftbox. No ensaio com os atle-tas de aventuras, todo esse equi-pamento foi movido por um ge-rador a gasolina, que Marcio le-vava aos locais das fotos.
“Contudo, fazer retratos pararevistas é diferente de trabalharcom o setor corporativo. O clienteque paga pela foto, geralmente,quer uma imagem que mostre co-mo a empresa deve ser vista pelomercado. Para o setor editorial,você pode posicionar o leitor fren-te àquela imagem. O leitor, não
necessariamente, é cliente daquelaempresa, não tem uma relaçãodireta com o contratado. Assim,é possível ousar mais nas fotos”,diz.
Fazer retratos com humor afim de atrair a atenção para aimagem é um recurso interes-sante e tem sido usado bastantepelo mercado editorial. “Mas épreciso tomar cuidado para nãoabusar do recurso, como foi ocaso, por exemplo, do retratode Ivan Zurita na capa da revistaDinheiro Rural (maio de 2009,na qual o presidente da Nestléfoi retratado com leite escor-rendo pela boca enquanto be-bia), que dividiu opiniões de pes-soas que gostaram da imagem eoutras que acharam de mau gos-to”, comenta Marcio.
O fotógrafo explica que, pa-ra retratos diferenciados, é im-
Acima, o surfistaAdriano de Souza,conhecido comoMineirinho, queganhou troféu noprincipal circuitode surfe mundial
Retrato do piloto Lois Neubauer, feito por Marcio Bruno
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o necessário para fazer um bomtrabalho de produção.
“O fotógrafo conhece a pes-soa minutos antes, o que é muitoruim para o trabalho. Em todoretrato, é preciso um períodoprévio para preparar a foto. Eupeço, geralmente, uma hora emeia para chegar antes no local,estudar o espaço, fazer testes deluz e conseguir eventuais auto-rizações para a imagem. Outroproblema constante é que o pes-soal que faz o briefing para o re-trato inclui muitos elementosna foto. Eles não têm a noçãode que, às vezes, a imagem quebolaram não tem como ser pro-duzida. Cabe ao fotógrafo estu-dar as possibilidades e ter jogode cintura para lidar com essesentraves”, ensina.
portante que o fotografado te-nha confiança no fotógrafo. As-sim, é essencial conversar coma pessoa antes da foto, para ex-plicar como o trabalho será feitoe, logo que possível, mostrar oresultado no monitor da câmera.“Isso dá confiança ao retratado,principalmente no mercado cor-porativo. Há casos em que vocêpede para a pessoa colocar o péem cima de uma cadeira e ela jápensa que você vai fotografá-lade forma embaraçosa. O fotó-grafo sabe como ficará o resul-tado, mas o fotografado não”,explica Marcio.
Segundo ele, outro obstáculoem retratos de empresários, porexemplo, é a apertada agendados executivos, muitas vezescom tempo incompatível com
Para o alto e alémAlém da fotografia profis-
sional, Marcio se destaca peloperfil aventureiro que traz desdea adolescência. O último feitodo fotógrafo alpinista foi escalaro Monte Roraima, na fronteirabrasileira com a Venezuela e aGuiana. A expedição, realizadaem janeiro de 2010 com os par-ceiros de escalada Eliseu Fre-chou e Fernando Leal, foi a pri-meira via brasileira escalada pelaproa do monte.
O Roraima está a 2.875 me-tros e tem um topo que forma umplanalto com 17 quilômetros deextensão por 6 quilômetros delargura. Algumas paisagens do fil-me Up - Altas Aventuras (Disney/Pixar, 2009) foram inspiradas notepui brasileiro (formação rochosa
Durante 12 dias,Marcio Bruno e doisamigos escalaramo Monte Roraima,que fica na fronteiraentre Brasil,Venezuela e Guiana
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Vida de Fotógrafoque se assemelha a uma mesa).Em 2008, Marcio e os amigos jáhaviam tentado a escalada dos500 metros da parede do Rorai-ma, mas a expedição foi frustrada.Voltaram em 2010 e, após 12 diasde escalada, conseguiram chegarao topo. De lá, Marcio pôde ex-perimentar o sentido literal daimagem em grande angular.
Nas expedições em que atuacomo escalador, Marcio con-centra-se no esporte, embora fa-ça algumas fotos e vídeos daaventura. “Já fui para expedi-ções, como na África, com a fun-ção de fotografar. Em outras via-gens, porém, vou como escala-dor, e fotografar se torna umatarefa secundária, pois lidamoscom alto risco e a sobrevivênciadepende da dinâmica da esca-lada”, explica.
Embora seja uma área compoucos profissionais especializa-dos, Marcio diz que a fotografiade aventura ainda não é um cam-po rentável para ser praticadaexclusivamente. “A equação entreser esportista e trazer materialpublicável, como fotos e vídeosda expedição, é fundamental pa-ra conseguir patrocínios para asexpedições. Há vários atletasbons que não conseguem pro-duzir material para divulgaçãoposterior”, afirma – veja mais so-bre o trabalho de Marcio em marciobrunophoto.blogspot.com.
Contudo, mesmo como fo-tógrafo de aventura e especiali-zado em fotos de pessoas, Mar-cio conta que ainda não conse-guiu capitalizar esse mercado.“É evidente que, se alguma em-presa quiser uma foto que en-volva escalada, por exemplo, éinteressante para ela contratarmeu serviço, pois tenho proxi-midade com o tema, conheçoos locais para fotos, horários deluz, onde se posicionar... Masesse mercado de foto especiali-zada, pelo menos no meu seg-mento, não existe no Brasil. Co-meça a haver uma movimenta-ção neste sentido, mas ainda épequena”, finaliza.Barracas de descanso ancoradas em um único ponto, a 300 metros de altura, na escalada de 12 dias
Marcio Bruno durante a expedição que chegou ao topo do Monte Roraima, em janeiro de 2010
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