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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM FACULDADE INTEGRADA
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
ASSÉDIO MORAL EM AMBIENTE TRABALHISTA
AUTOR
SUZANA DOS SANTOS CLEMENTE
ORIENTADOR
PROF. CARLOS AFONSO LEITE LEOCADIO
RIO DE JANEIRO 2014
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2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM FACULDADE INTEGRADA
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
ASSEDIO MORAL EM AMBIENTE TRABALHISTA Monografia apresentada à Universidade Candido Mendes – AVM Faculdade Integrada, como requisito parcial para a conclusão do curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Direito e Processo do Trabalho. Por: Suzana dos Santos Clemente.
4
Dedico esse trabalho a mim mesmo pelo grande esforço, luta, dificuldades e futuras vitórias.
RESUMO
5
Assédio moral ou violência moral no trabalho não é um fenômeno novo. Pode-se dizer que ele é tão antigo quanto o trabalho. A novidade reside na intensificação, gravidade, amplitude e banalização do fenômeno e na abordagem que tenta estabelecer o nexo-causal com a organização do trabalho e tratá-lo como não inerente ao trabalho. A reflexão e o debate sobre o tema são recentes no Brasil, tendo ganhado força após a divulgação da pesquisa brasileira realizada por Dra. Margarida Barreto. Tema da sua dissertação de Mestrado em Psicologia Social foi defendida em 22 de maio de 2000 na PUC/ SP, sob o título "Uma jornada de humilhações”. A primeira matéria sobre a pesquisa brasileira saiu na Folha de São Paulo, no dia 25 de novembro de 2000, na coluna de Mônica Bérgamo. Desde então o tema tem tido presença constante nos jornais, revistas, rádio e televisão, em todo país. O assunto vem sendo discutido amplamente pela sociedade, em particular no movimento sindical e no âmbito do legislativo. Em agosto do mesmo ano, foi publicado no Brasil o livro de Marie France Hirigoyen "Harcèlement Moral: la violence perverse au quotidien". O livro foi traduzido pela Editora Bertrand Brasil, com o título Assédio moral: a violência perversa no cotidiano. Atualmente existem mais de 80 projetos de lei em diferentes municípios do país. Vários projetos já foram aprovados e, entre eles, destacamos: São Paulo, Natal, Guarulhos, Iracemápolis, Bauru, Jaboticabal, Cascavel, Sidrolândia, Reserva do Iguaçu, Guararema, Campinas, entre outros. No âmbito estadual, o Rio de Janeiro, que, desde maio de 2002, condena esta prática. Existem projetos em tramitação nos estados de São Paulo, Rio Grande do Sul, Pernambuco, Paraná, Bahia, entre outros. No âmbito federal, há propostas de alteração do Código Penal e outros projetos de lei. Assédio Moral no Trabalho é a exposição dos trabalhadores e trabalhadoras a situações humilhantes e constrangedoras, repetitivas e prolongadas durante a jornada de trabalho e no exercício de suas funções, sendo mais comuns em relações hierárquicas autoritárias e assimétricas, em que predominam condutas negativas, relações desumanas e aéticas de longa duração, de um ou mais chefes dirigida a um ou mais subordinado(s), desestabilizando a relação da vítima com o ambiente de trabalho e a organização, forçando-o a desistir do emprego.Caracteriza-se pela degradação deliberada das condições de trabalho em que prevalecem atitudes e condutas negativas dos chefes em relação a seus subordinados, constituindo uma experiência subjetiva que acarreta prejuízos práticos e emocionais para o trabalhador e a organização. A vítima escolhida é isolada do grupo sem explicações, passando a ser hostilizada, ridicularizada, inferiorizada, culpabilizada e desacreditada diante dos pares. Estes, por medo do desemprego e a vergonha de serem também humilhados associados ao estímulo constante à competitividade, rompem os laços afetivos com a vítima e, frequentemente, reproduzem e reatualizam ações e atos do agressor no ambiente de trabalho, instaurando o ’pacto da tolerância e do silêncio’ no coletivo, enquanto a vitima vai gradativamente se desestabilizando e fragilizando, ’perdendo’ sua autoestima.
6
METODOLOGIA
O presente trabalho é formado por uma descrição detalhada do que se
trata o assédio moral em sede trabalhista e em quais momentos o mesmo é
caracterizado, uma vez que o ato de humilhação isolado não configura o tema
pesquisado.
Para tanto o estudo foi elaborado sob método de pesquisa bibliográfica, em
que buscou-se o conhecimento em diferentes publicações feitas em livros, artigos
e também em jornais especializados. O tema da pesquisa de é um assunto de
interesse nacional. As estatísticas nacionais mundiais revelam a oportunidade da
discussão sobre a necessidade de se preservar a saúde mental dos
trabalhadores, um dos valores ínsitos a própria dignidade da pessoa humana,
princípio sobre o qual se fundamentam os ordenamentos democráticos modernos.
Ao abordar esse tema os estudos do assédio moral foram trazidos a tona o
rompimento do pacto do silêncio que alimenta o aumento da tortura no ambiente
de trabalho. É necessário que os laços de afeto e solidariedade ativa do conjunto
do dos trabalhadores, sejam fortalecidos. Faz-se necessário também, repensar
novas formas de agir sendo estas, articuladas com ações coletivas de resistência
visando dar à prática desta violência, que é assiduamente presente no ambiente
de trabalho, maior visibilidade social.
Todas as observações feitas sobre este assunto resultaram nesta
monografia que além de identificar o assédio moral no ambiente de trabalho,
analisou provas que configuram esta prática e destacou com veemência a
necessidade de denúncia e das relações trabalhistas.
Adicionalmente, o estudo que deu origem a esta monografia identifica-se
também, com o método da pesquisa aplicada, por almejar produzir conhecimento
para a aplicação prática, assim como com o método da pesquisa qualitativa ,
porque procurou entender a realidade a partir da interpretação e qualificação dos
7
fenômenos estudados; identifica-se ainda, com a pesquisa exploratória, porque
buscou proporcionar maior conhecimento sobre a questão proposta, além da
pesquisa descritiva, porque visou a obtenção de um resultado puramente
descritivo, sem a pretensão de uma análise crítica sobre o tema.
8
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.......................................................................................................10
CAPÍTULO I
A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO TRABALHO.......................................................13
1.1 – ETIMOLOGIA DO TRABALHO....................................................................13
1.2 – A EVOLUÇÃO DO TRABALHO A PARTIR DA ESCRAVIDÃO.................14
1.3 - O SURGIMENTO HISTÓRICO DO CONCEITO ASSÉDIO MORAL............14
1.4– DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA............................................................16
1.5 – O PRINCÍPIO IN DUBIO PRO OPERÁRIO................................................. 20
CAPÍTULO II
O ASSÉDIO MORAL........................................................................................... 22
2.1 – O CONCEITO DE ASSÉDIO MORAL E A DIFERNÇA ENTRE OS
DIVERSOS TEMAS RELACIONADOS.. ............................................................. 22
2.2 – O QUE É ASSÉDIO MORAL NO AMBIENTE DE
TRABALHO.......................................................................................................... 22
2.3 – FORMAS DE COMO O ASSÉDIO MORAL PODE OCORRER NO
TRABALHO E A SUA DURAÇÃO....................................................................... 25
2.4 – DEFINIÇÃO DE UM ASSEDIADOR/AGRESOR......................................... 26
2.5 – DEFINIÇÃO DE VÍTIMA.............................................................................. 27
9
2.6 – CONSEQUÊNCIAS ADVINDAS DO ASSÉDIO
MORAL................................................................................................................. 28
CAPÍTULO III
DAS LEIS E DA JUSTIÇA.................................................................................... 31
3.1 – DA DENUNCIA............................................................................................ 31
3.2 – O JUDICIÁRIO E A CONDENAÇÃO AO ASSÉDIO
MORAL................................................................................................................. 31
3.3 – DA RESCISÃO INDIRETA DO CONTRATO DE
TRABALHO.......................................................................................................... 32
3.4 – A NECESSIDADE DE LEIS E PROJETOS PARA INIBIR O ASSÉDIO
MORAL................................................................................................................. 34
CONCLUSÃO...................................................................................................... .37
BIBLIOGRAFIA.................................................................................................... 38
ANEXOS............................................................................................................... 40
ANEXO A.............................................................................................................. 40
ANEXO B.............................................................................................................. 42
10
INTRODUÇÃO
Este trabalho analisa um dos temas mais discutidos dentro do
ordenamento jurídico que é o assédio moral em sede trabalhista, como atesta a
abundância bibliográfica pesquisada.
São tratados nesta pesquisa tópicos, muito mais que conceitos e
entendimentos jurisprudenciais, são apresentados casos concretos trazendo para
a nossa realidade, o exame da problemática. Destacando-se em especial, a
competência da Justiça do Trabalho, para a solução desse tipo de litígio, como
também a fixação do quantum ressarcitório nas lesões por dano moral nas
relações trabalhistas.
Analisamos como o assédio moral ofende a dignidade humana violando os
direitos do trabalhador com conseqüências debilitantes em sua saúde física e
mental.
Para tanto, é necessário que se tenha uma visão global do fato, ainda que
estas não estejam tipificadas especificamente em nível de legislação Federal.
Assim, o objetivo do presente estudo, foi buscar no ordenamento jurídico
atual, o amparo às vítimas do assédio, conceituando e caracterizando o assédio
moral no Direito Pátrio, e ainda, chamar a atenção das autoridades responsáveis
para este crime silencioso visando minimizar os atos da violência moral por ele
exercida.
Com a globalização, as organizações, pressionadas pela necessidade de
produtividade, repassam diariamente aos seus funcionários as conseqüências da
competitividade, com o objetivo de galgar cada vez mais um destaque no
mercado mundial. E é nessa busca constante, que aumenta mais o conflito entre
dirigentes e subordinados, pois visando a produtividade, resulta na maior parte
das vezes, em que o dirigente pouco se importa com valores éticos, se tornando
um ser muita das vezes até desumano.
O assédio moral está sempre presente em relações hierárquicas de poder
onde existe o autoritarismo. Sua característica está nos atos de intimidação e nas
11
práticas de humilhar, de rebaixar, de intimidar o outro. São práticas que
individualizam o problema em uma só pessoa, tratam aquele indivíduo como
incapaz, quando na verdade isso é resultante de condições , não favoráveis, de
trabalho. Envolve uma série de outros fatores, principalmente a questão da
pressão para: trabalhar, produzir, dar qualidade em pouco tempo. Na maior parte
das vezes, o que se tem assistido no mundo do trabalho é que hoje são menos
pessoas trabalhando muito mais. Então, essa pressão contínua tem que se
transformar em produtividade ao final de certo tempo. E tudo dentro da empresa
passa a ser meta. Dentro dessas metas, o chefe não escolhe as estratégias ou o
quê fazer para que aquele seu subordinado, aquele trabalhador, consiga chegar
àquelas metas. E para isso o chefe utiliza práticas reprováveis que terminam
adoecendo os subordinados. Alguns, dependendo do grau de stress, tentam o
suicídio.
Entretanto, o assédio moral não está restrito somente ao ambiente
laborativo, também é possível constatar essa prática na sociedade de um modo
geral.
Quando falamos em assédio moral, devemos obrigatoriamente procurar
entender suas causas e refletir sobre tecnologias para controle. Isso porque cada
vez mais as empresas exigem dos trabalhadores entrega total de seu tempo, vida
e emoções, as necessidades produtivas. Geralmente, são assediados aqueles
que mantêm o espírito crítico e reflexivo em ação. Não aceitam desmando e
mentiras. Exigem relações humanizadas e éticas e ainda, não aceitam participar
de práticas ilícitas.
As conseqüências dessa “guerra invisível”, entre o assediador e o
assediado, são destrutivas ao meio laborativo e comprometem as expectativas de
negócio da empresa. A vítima de assédio moral não atinge seu pleno potencial de
trabalho, torna-se inativo, ineficiente, perde auto-estima, começa a duvidar de si
mesmo, sente-se humilhado e aterrorizado com a perseguição a que está sendo
submetido. Dificilmente encontra a solidariedade de outros colegas de trabalho,
pois se o assediador é o superior imediato, todos ficam com medo de ser o
“próximo”.
12
De fato, a solução dos problemas de assédio não está apenas nas normas
legais, pois é preciso não só que a vítima saiba diagnosticar o mal que sofre do
agressor, o qual considera seu procedimento normal, como também a própria
sociedade, que precisa ser despertada de sua indiferença e omissão.
13
CAPÍTULO I
A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO TRABALHO
1.1 - ETIMOLOGIA DO TRABALHO
Sentido etimológico do trabalho é o estudo do desenvolvimento e desempenho
de cada trabalhador no exercício de sua atividade laborativa, dando assim
origem a palavra “trabalho”.
A palavra trabalho é a forma regressiva da palavra “trabalhar”, que no início do
século XIII se escrevia “traball”1, é que adquiriu nova escrita que é a usada até
nos dias de hoje no século XIV.
Trabalhar vem do latim “tripalium” e também do românico “tripaliare” onde
significa que é um instrumento de tortura feito de três paus composto de ferro
nas pontas. Agostinho da Silva, em sua obra Textos e Ensaios Filosóficos I,
escreveu um pequeno ensaio em que discorda de tal etimologia de acordo,
aliás, com a sua filosofia de engrandecimento do trabalho como atividade
passível de dar prazer, adequando-se por completo às doutrinas calvinistas.
(1948: 56).
O trabalho teve início na antiguidade remota, antes de Cristo, onde muitos
povos exploravam alguns de seus súditos a fazer trabalhos forçosamente, seus
ofícios eram passados de pais para filho e a maioria da família era de baixa
renda, onde trabalhavam dia e noite, sendo castigados quando não
conseguiam realizar suas tarefas.
Tanto que se tem como grande exemplo a escravidão, onde muitos negros
eram obrigados a trabalhar até a morte, o trabalho era exaustivo, eram tratados
pior que animais, suas atividades eram consideradas desonrosas para os
homens brancos e livres. Eram tratados com muitas penalidades, a partir daí
gerou um grande preconceito sobre o trabalho humano, e podemos perceber
14
que nessa época já existia o dano moral, onde eram explorados até
sexualmente para agradar e satisfazer seus “senhores” considerados hoje
empregadores.
Portanto, a maioria dos significados que encontramos da palavra trabalho é
tortura e sofrimento. Essa etimologia nos mostra que o cenário do trabalho
viveu e vive ainda uma imensa violência organizacional que vem ganhando
espaço a cada dia mais nos tribunais, devido aos danos causados em seus
funcionários, onde chamamos esse fenômeno de Dano Moral.
1.2 – EVOLUÇÃO DO TRABALHO A PARTIR DA ESCRAVIDÃO
A escravidão veio para o Brasil através do mercantilismo, pois esse tráfico de
negros para substituir serviçais brancos dava lucros altíssimos a Coroa
Portuguesa, que recebia imposto dos traficantes, sendo assim até meados do
século XIX a economia do Brasil era braçal.
Com a abolição da escravatura em 1888 não foi abolido juntamente o tráfico de
pessoas, chamado de escravidão moderna e nem tampouco o trabalho
compulsório, existente ainda nos dias de hoje.
Após esses acontecimentos o trabalho teve grande evolução, onde os
trabalhadores passaram a reunir-se através de associações e sindicatos
requerendo e exigindo seus direitos. Surgindo o direito do trabalho através das
lutas dos trabalhadores pelo reconhecimento da dignidade humana e melhor
condições de trabalho.
No século XIX iniciou alguns auxílios trabalhistas, como a proteção do trabalho
do menor, como também novas regras de proteção e criação do Ministério do
Trabalho. No final desse século houve também a consolidação das normas
protetivas, onde se focou a necessidade para uma nova postura das classes
dirigentes em relação à dignidade do ser humano.
1.3 – O SURGIMENTO HISTÓRICO DO CONCEITO ASSÉDIO MORAL
Com o passar do tempo as relações laborais receberam variados enfoques
protetivos. Inicialmente almejava proteger a vida dos trabalhadores, que expostos
15
a maquinários rústicos não tinham segurança no exercício de suas atividades. A
reivindicação tornou-se a necessidade de proteção e manutenção a qualidade de
vida no meio ambiente do trabalho com o advento da 1ª Grande Guerra Mundial.
Em 1968, por sua vez, a luta dos trabalhadores sindicalizados volta-se contra a
inexistência de medidas de prevenção assecuratórias à mantença da saúde
mental destes. E é necessariamente este o assunto enfrentado neste estudo.
O Direito a saúde dos trabalhadores, desde então, ultrapassou as medidas que
visavam apenas garantir condições físicas de proteção, passando a ser visto
como união dos fatores físicos e mentais. Esta movimentação gerou reflexos nos
organismo internacionais, Estados, sindicatos e associações de trabalhadores por
todo o mundo.
Em 1984 o médico e pesquisador alemão Heinz Leymann ao desenvolver estudo
na área da psicologia do trabalho identificou uma anomalia comportamental que
intitulou mobbing. No ensaio dedicado ao aludido fenômeno o descreve como:
“(...) é a deliberada degradação das condições de trabalho através do
estabelecimento de comunicações não éticas (abusivas) que se caracterizam pela
repetição por longo tempo de duração de um comportamento hostil que um
superior ou colega (s) desenvolve (m) contra um indivíduo que apresenta como
reação, um quadro de miséria física, psicológica e social duradoura.”
A questão psico-emocional dos trabalhadores, em 1998, recebeu destaque
mundial ao ser lançado na França o livro "Assédio moral: a violência perversa no
cotidiano", de autoria da médica psicanalista Marie-France Hirigoyen.
Referido livro sugere com o termo harcèlement moral a teoria do assédio moral e
adverte acerca das tramas sociais perversas entranhadas nas relações
intersubjetivas. Com enfoque na analise da vitimologia a autora explora e define
assédio moral no ambiente de trabalho como:
“toda e qualquer conduta abusiva (gesto, palavra, comportamento, atitude (...) que
atente, por sua repetição ou sistematização, contra a dignidade ou a integridade
16
psíquica ou física de uma pessoa, ameaçando seu emprego ou degradando o
clima de trabalho”.
Em que se pesem os fundamentais achados históricos desta ocorrência social e
sua importância para a melhor caracterização do fenômeno do assédio moral nas
relações laborais, pela superficialidade do presente estudo, atentar-se-á para o
aprofundamento teórico dos seus conceitos jurídicos.
1.4 - DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA
A dignidade da pessoa humana está consagrada no artigo 1º, II da
Constituição Federal como um dos fundamentos da República Federativa do
Brasil, tida como valor supremo. Ela é considerada um atributo inerente a todo ser
humana, uma qualidade própria, e não um direito conferido exclusivamente pelo
ordenamento jurídico.
Justamente por ser atributo inerente a toda pessoa humana, a dignidade não
comporta gradações, de forma que uma pessoa não tem mais ou menos
dignidade do que outra, não há hierarquia quanto à dignidade. Pelo simples fato
de ser humana a pessoa merece o respeito à sua dignidade, seja qual for sua
raça, cor, condição social, opção sexual, idade, etc.
Como um dos fundamentos constitucionais pátrios, ao lado da soberania,
cidadania, valores sociais do trabalho e da livre iniciativa e do pluralismo político,
a dignidade da pessoa humana tem estreita relação com os direitos fundamentais,
figurando como o núcleo em torno do qual gravitam esses direitos, conferindo-
lhes um caráter sistemático. Os direitos fundamentais possuem a finalidade
justamente de proteger a dignidade do ser humano, promovendo condições
dignas de sobrevivência.
A consagração da dignidade da pessoa humana como fundamento
constitucional brasileiro gera conseqüências jurídicas tais qual o dever de
respeito, de proteção. O dever de respeito exige basicamente uma abstenção
estatal, impedindo que o Estado adote medidas que viole a dignidade da pessoa
17
humana, o que ocorre quando o ser humano é tratado pelo Estado como mero
instrumento para atingir outras finalidades.
O dever de proteção é o que advém dos direitos fundamentais, impondo ao
legislador a criação de normas que se adéqüem à proteção da dignidade, sendo
vedada a proteção insuficiente, bem como impondo ao judiciário a utilização da
dignidade da pessoa humana como vetor de interpretação dos casos ligados aos
direitos fundamentais.
A dignidade da pessoa humana, como fundamento consagrado na Carta
Magna, tem importância incomensurável no atual cenário do direito brasileiro,
aplicando-se tanto nas relações entre particulares quanto nas relações entre
Estado e particulares. A noção de dignidade humana deve ser concebida de
forma ampla, abrangendo os mais diversos aspectos da vida humana.
Só é possível a existência de um verdadeiro Estado democrático se a sua
Constituição for efetivamente aplicada e se os valores dessa mesma Constituição
surtirem efeitos verdadeiramente.
Por isso sendo a dignidade da pessoa humana o principal valor constitucional
também só é possível à consolidação desse Estado Social e Democrático de
Direito após a efetiva materialização do princípio humanitário.
Sempre que falamos de dignidade humana, temos ligado a esse tema o
pensamento de Immanuel Kant, pois foi o primeiro a reconhecer o teor desse
princípio, esse por sua vez, entendia que ao homem não pode se atribuir valores.
Alexandre dos Santos Cunha em sua obra A normatividade da pessoa humana,
descreve sobre o que acha da teoria de Kant:
. É por essa razão que se identifica na obra de Kant, o mais radical dos pensadores da Modernidade, a base para a construção da contemporânea filosofia dos direitos humanos. Afinal, todo o sistema internacional de proteção dos direitos humanos nada mais é do que uma tentativa de restauração do paradigma da modernidade jurídica diante da irrupção do fenômeno totalitário. Por isso, a concepção kantiana a respeito da dignidade é essencial à atribuição de significado jurídico ao termo e, logicamente, para a determinação do sentido do alcance do princípio da dignidade da pessoa humana. Para Kant, a dignidade é o valor de que se reveste tudo aquilo que não tem preço, ou seja, não é passível de ser substituído por um
18
equivalente. Dessa forma, a dignidade é uma qualidade inerente aos seres humanos enquanto entes morais: na medida em que exercem de forma autônoma a sua razão prática, os seres humanos constroem distintas personalidades humanas, cada uma delas absolutamente individual e insubstituível. Conseqüentemente, a dignidade é totalmente inseparável da autonomia para o exercício da razão prática, e é por esse motivo que apenas os seres humanos revestem-se de dignidade. O grande legado do pensamento kantiano para a filosofia dos direitos humanos, contudo, é a igualdade na atribuição da dignidade. Na medida em que a liberdade no exercício da razão prática é o único requisito para que um ente se revista de dignidade, e que todos os seres humanos gozam dessa autonomia, tem-se que a condição humana é o suporte fático necessário e suficiente à dignidade, independentemente de qualquer tipo de reconhecimento social. 2
Então devido a esse pensamento kantiano é aonde muitos doutrinadores
tiram suas conclusões sobre a dignidade humana, conceituando que o ser
humano é um ente dotado de autonomia, não devendo ser tratado como uma
máquina, um robô, onde tem que agradar e satisfazer a vontade de outrem,
trazendo através desse princípio os direitos resguardados dos trabalhadores.
Temos como exemplo o pensamento de Jussara Maria Leal Meirelles sobre a
teoria de Kant:
Carlos Alberto da Mota PINTO (1992, p. 85) assinala a conhecida
fórmula de Kant, segundo a qual o homem é pessoa porque é "fim
em si mesmo", isto é, tem valor autônomo e não só valor como
meio para algo diverso, donde resulta a sua dignidade. Observa o
autor português que, em Kant, o reconhecimento dessa dignidade
constitui a regra ético-jurídica fundamental, que estabelece a cada
homem o direito ao respeito.
19
A Constituição Federal dá grande importância ao princípio da dignidade,
pois tem uma visão ampla da pessoa como eixo principal do direito, uma
pessoa digna, merecedora e decente, por isso tem esse princípio como
fundamental.
A dignidade é necessária ao conteúdo ético. Tanto que temos em nossa
Constituição algumas proibições como a tortura, a vingança privada e até
mesmo certos interesses egoísticos de autoridades com a finalidade de
proteger o direito a dignidade humana, traz também a segurança e proteção ao
preso evitando assim o perecimento desse direito, pois sem ela não tem como
o ser humano sentir o bem-estar social. A Constituição abordar esses
interesses, como o direito ao meio ambiente saudável, visando à proteção de
resguardar a dignidade.
Pode-se dizer que a dignidade equipara-se com o direito a liberdade, pois
se manifesta no direito à intimidade, à proteção da honra, ao desenvolvimento
da personalidade, na inviolabilidade do domicilio e de correspondência e na
proibição de castigos e açoites ou de todo tipo de tortura.
No Brasil uma forma vulgar de ataques à dignidade como o trabalho em
condições subumanas. Aproveitam da falta de informação e da inocência de
pessoas carentes com baixa escolaridade, levando-os para trabalhar em
lavouras, carvoeiros, não tendo salário e nem condições dignas de um ser
humano, apenas vivendo de promessas feitas pelos empregadores. Podemos
dizer que “ignorante” é o comportamento de certos empregadores, que insistem
em tratar ainda dessa forma seus empregados, pois que atenta contra esse
20
princípio, merecendo a repulsa e devida correção, fazendo reparação ao dano
moral, onde está pautada a dignidade humana.
1.5 – O PRINCÍPIO IN DÚBIO PRÓ OPERÁRIO
A aplicação do princípio in dúbio pro operário no âmbito processual, atende
primeiramente ao interesse social e ao bem comum, atenuando a disparidade de
condições entre trabalhador e empregado e propiciando um julgamento mais
justo.
Verificada na doutrina mais tradicional, sustenta que a questão deve ser
analisada sob o prisma do ônus probandi, e não pela aplicação da regra do in
dúbio pro operário, sendo certo que somente poderá o magistrado afastar-se
desse critério, nos casos em que o legislador estabeleceu determinadas
presunções, permitindo-se, pois, a inversão do ônus da prova.
O princípio do ‘in dúbio pro operário’ é de natureza exclusivamente
hermenêutica, quando o julgador, ao deparar-se com um dispositivo legal de
sentido dúbio, adotará a interpretação que for mais benéfica ao trabalhador,
considerando-se que as leis trabalhistas, por princípio, são protetivas do
hipossuficiente.
A interpretação de provas, entretanto, é de natureza processual e neste campo
não existe proteção ao trabalhador, buscando-se, ao contrário, a igualdade entre
os litigantes, motivo pelo qual a dubiedade ou inconclusão de provas levará o
julgador a decidir contra a parte que detenha o ônus probatório, não importando
se este é o trabalhador ou o empregador.
A regra do in dúbio pro operário também modernamente denominada de in
dúbio pro misero constitui no desdobramento do princípio da proteção atinente a
interpretação jurídica, o qual determina que entre várias interpretações que
comporta uma norma, deve ser preferida a mais favorável ao trabalhador, ou uma
regra juríca-laboral.
21
A decisão com base no princípio in dúbio pro operário aplicado à valoração das
provas torna a sentença frágil, suscetível de reforma pelo grau de jurisdição
superior. A desigualdade real entre as partes, entretanto, há de ser outorgada por
leis processuais adequadas e não pela pessoa do julgador, a poder de certos
critérios subjetivos e casuísticos.
Consoante ao ensinamento de Plá Rodriguez, em que aduz:
“Pensamos que esta hesitação deriva da possível
confusão pelos que chamam o princípio protetor de
princípio pro operário.”
Mas a regra que estamos examinando, supõe uma
autêntica dúvida. Ou seja, que somente cabe sua
aplicação quando realmente uma norma possa ser
interpretada de diversas maneiras, isto é, quando há uma
verdadeira dúvida.
22
CAPÍTULO II
ASSÉDIO MORAL
2.1 - O CONCEITO DE ASSÉDIO MORAL E A DIFERNÇA ENTRE OS
DIVERSOS TEMAS RELACIONADOS
O assédio moral caracateriza-se pela prática de atos agressivos no
ambiente de trabalho, este tema está tomando uma dimensão enorme dentro
das empresas, pois, trata-se de um problema humano, social e econômico, que
não atinge somente a pessoa que esta sofrendo o assédio, mas também, o
empregador e consequentemente o Governo.
Esses atos são praticados pelo empregador, causando um transtorno
enorme acabando assim com as condições dignas de se trabalhar, pois visa
atingir os direitos do trabalhador, principalmente a dignidade humana, alterando
assim o psicologico da vitima, prejudicando de forma grave sua saúde e
também sua profissão.
As formas mais praticadas de assédios são como, por exemplo, o assediado
não recebe nenhum tipo de informação para o seu desenvolvimento
profissional, sendo criticado injustamente, ou dando informações contrárias da
vítima com o objetivo de macular sua imagem, ou ainda, sendo desacreditado
perante os amigos de trabalho retirando todos os meios de realizar suas
atividades laborativas. O grande objetivo do assédio é de não reconhecer o
esforço e o valor do trabalho realizado pela vítima, e, para ser caracterizado o
assédio é preciso que seja contínuo, onde a prática de atos hostis dure um
certo período, em torno de 6 meses.
O assédio pode ser individual ou organizacional, ocorrendo tanto no setor
público quanto no privado. A forma individual ocorre por atos de dores com a
personalidade, atos obessivos e a forma organizacional é resultado de
estrategia onde a empresa decide licenciar os trabalhadores com salários altos
23
ou evitar processos de licenciamento, sendo decisões impostas pela direção
sem saber da vontade do trabalhor, onde a empresa trata o trabalhador sem
nenhum tipo de escrúpulos.
O assediador usa as informações da vítima de uma forma maldosa, utilizando
a comunicação de forma agressiva, atingindo a vitima indiretamente, fazendo
com que a mesma não tenha argumentos para se defender. Esses transtornos
visam cortar a vítima de sua rede de relação tanto profissional quanto social.
O assédio visa destruir tanto fisicamente quanto profissionalmente a vida do
assediado, fazendo com que este perca a alto estima e viva com a sensação
de culpa.
2.2 -O QUE É ASSEDIO MORAL NO AMBIENTE DE TRABALHO
O assédio moral ou violência moral no ambiente de trabalho não é um
fenômeno novo, pois é tão antigo quanto o trabalho, sendo usadas várias versões
da palavra “assédio” no mundo, a mais usada é “mobbing” nos Estados Unidos,
que significa molestar.
Para Cohen (apud COLETA e MIRANDA, 2002): diz que o “assédio moral”
surgiu em setembro de 1998, quando a psicanalista e vitimóloga francesa
Hirigoven, publicou um livro no ano de 2000, no Brasil, com o título “Assédio
Moral: a violência perversa no cotidiano”. A autora explora o lado da vitimologia
do que da psicanálise, definindo o assédio como: toda e qualquer conduta
abusiva (gesto, palavra, comportamento), que atente, por sua repetição ou
sistematização, contra a dignidade ou a integridade psíquica ou física de uma
pessoa, ameaçando seu emprego ou degradando o clima de trabalho.
Sendo assim, no Brasil a importância dada ao “Assédio Moral” foi a partir do
ano 2000, diferentemente dos outros paises que já estudam e abordam esse tema
há mais tempo. O médico e pesquisador de psicologia do trabalho, Heinz
Leymann, foi o primeiro psicólogo a abordar o assunto, no ano de 1984, foi
quando identificou o fenômeno e deu o nome de “Mobbing”, descrevendo-o da
seguinte forma:
24
Assédio moral é a deliberada degradação das condições de
trabalho através do estabelecimento de comunicações não éticas
(abusivas) que se caracterizam pela repetição por longo tempo de
duração de um comportamento hostil que um superior ou colega
(s) desenvolve (m) contra um indivíduo que apresenta como
reação, um quadro de miséria física, psicológica e social
duradoura.
O assédio expõe trabalhadores a situações humilhantes e constrangedoras, de
forma repetitiva na sua jornada de trabalho, onde predominam condutas negativas
e desumanas com a vítima, forçando-o assim, a desistir do emprego.
É caracterizado pela degradação das condições de trabalho, onde a conduta
adotada pelos chefes a seus subordinados é de grande desprezo e
constrangimento, causando prejuízos emocionais para o trabalhador. A vítima que
sofre o assédio acaba ficando isolada do resto dos trabalhadores passando a se
sentir inferior e ridicularizada diante dos demais colegas de trabalho. E estes por
medo de perderem seu emprego e também de sofrerem o mesmo que a vítima
cessa com ela os laços de afetividade, sem perceberem que indiretamente estão
apoiando as atitudes do agressor, instaurando assim o “pacto da tolerância e do
silêncio”, com isso a vítima passa a ficar cada dia mais desacreditado e
fragilizado, sem nenhuma auto-estima.
Segundo uma pesquisa feita pela ONU -Organização Internacional do Trabalho-
em diversos países desenvolvidos, foi apontado grande distúrbio de saúde mental
relacionado com as condições de trabalho em países como Finlândia, Alemanha,
Reino Unido, Polônia e Estados Unidos. As perspectivas para as próximas
décadas são degradantes, pois segundo a Organização Internacional do Trabalho
e a Organização Mundial da Saúde, estas serão as décadas do “mal estar na
globalização", onde depressão angustia e outros danos psíquicos, predominarão.
Relacionados com as novas políticas de gestão na organização de trabalho e as
que estão vinculadas as políticas neoliberais.
25
2.3– FORMAS DE COMO O ASSÉDIO MORAL PODE OCORRER NO
TRABALHO E A SUA DURAÇÃO
O assédio vem de um grande conflito da evolução do processo. Essa limitação
de conflitos cabe aos administradores que devem limitar as técnicas usadas nas
relações profissionais, sendo as informações e a comunicação, onde é a maior
arma no ambiente de trabalho, aumentando assim o risco de assédio moral. A
inveja é o principal instrumento de desacordo nas relações de trabalho, esse
acontecimento não é ocasional e ocorre por omissão do empregador que não
toma as medidas cabíveis a tempo de evitar conflitos no ambiente de trabalho.
Para que isso não ocorra devem ser tomadas algumas medidas para que não
haja exclusão da vítima do mercado de trabalho, pois assim o assediador não
sairá “vitorioso”, visto que esse por sua vez não conseguiu atingir seu objetivo que
é o de fazer com que o assediado encontre dificuldades no novo emprego.
Existem três tipos de assédio moral no mundo do trabalho, são esses: vertical –
que é a violência que parte diretamente do superior hierárquico, horizontal – que
vem de um ou mais colegas de trabalho do mesmo nível e o ascendente – que é
praticado por um grupo de empregados que usa da violência contra o chefe.
Através dessa definição percebemos que qualquer pessoa dentro da empresa
pode sofrer o assédio moral.
A doutrina trabalhista ainda divide esses três tipos de assédio em grupos de
comportamentos:
1° grupo: é um grupo de ações que se desenvolve com a comunicação sobre a
pessoa atacada;
2º grupo: é um grupo que se assenta sobre a reputação e a vida pessoal do
assediado, usando de todas as artimanhas para destruir a imagem da pessoa;
3º grupo: é um grupo que tenta manipular a vida profissional e a dignidade da
pessoa que vem sofrendo com o assédio.
O assédio estabelece um cerco onde não existem tréguas entre o assediador e
o assediado, onde a humilhação e a inferioridade têm que ser de forma repetitiva
ao longo do tempo de trabalho, sendo de formas verbais, gestuais, sofrendo
26
ameaças de formas claras como também “às escuras”, sofrendo todo o tipo de
transtornos envolvendo até fofocas sobre a pessoa que esta sendo perseguida. O
trabalhador sofrendo freqüentemente e repetitivamente essas perseguições ao
longo do tempo faz com que este perca totalmente sua dignidade e sua moral
devastando assim a sua vida totalmente.
Sendo assim para se caracterizar o assédio moral temos que ter a Repetição
sistemática ou temporalidade que é a repetição da conduta ofensiva; a
Intencionalidade: intenção de ocasionar o dano psíquico ou moral;
Direcionalidade: sendo uma ou mais pessoas escolhidas como vítimas e o Dano
psíquico: que consegue destruir a dignidade da pessoa assediada.
2.4 - DEFINIÇÃO DE UM ASSEDIADOR/AGRESSOR
Não é fácil de identificar um assediador, pois a imagem que projeta e passa
para as futuras vítimas e bastante positiva e de bom caráter. O assediador/
agressor não busca um tipo certo de pessoa para ser assediado, o que
desencadeia é a sua agressividade e o receio pelos êxitos e méritos do que se
destaca entre os demais funcionários, fazendo com que o assediador sinta
irritação através da felicidade que a vítima possa ter.
Na maioria das vezes o assediador é uma pessoa que tem uma
incompetência profissional, onde sua carreira profissional esta em perigo, e
isso faz com que este leve a destruir carreiras e vida pessoal de outras
pessoas. Dominado pelo medo de perder seu emprego por não se destacar e
perder privilégios passa a destruir qualquer obstáculo que esteja em seu
caminho.
Há distinção entre agressor, existe agressor do tipo agressivo, conforme já
definimos e os de tipo passivo que praticam a agressão de forma direta, isso
acontece porque sempre tem alguns colegas de trabalho que se aliam ou se
calam diante dos fatos praticados pelo agressor.
27
Pode-se dizer então, que no todo o agressor pratica o assédio com o desejo de
humilhar e destruir a imagem do assediado, sentindo prazer em ver uma pessoa
destruída pelo ódio e inveja pelo simples fato de ter poder sobre os demais
colegas de trabalho, tendo alguns agressores agindo de modo sádicos
provocando até violências físicas além da moral, não se contentando em ver a
vítima destruída esse passa a forçá-la a desistir do emprego.
Tem-se algumas características de um assediador/ agressor que são:
* Idéia grandiosa de sua própria importância;
* Fantasias ilimitadas de êxito e poder;
* Necessidade excessiva de ser admirado;
* Atitudes e comportamentos arrogantes.
É importante salientar que existem alguns chefes que se tornam agressores
por serem pressionados constantemente pelas empresas para cumprir as
metas desejadas por elas, sendo assim o assédio moral também é um
problema estrutural da empresa com os empregados.
2.5 - DEFINIÇÃO DE VITIMA
Para ser vítima não existe um perfil traçado psicologicamente, basta ser um
objeto deste acaso nas mãos do assediador/ agressor.
O agressor ver a vítima com uma pessoa bem preparada para o mundo do
trabalho, uma pessoa inteligente que questiona sempre os métodos e fórmulas de
organização do serviço que esta sendo imposto. Mesmo não existindo um perfil
para a vítima, há casos de assédios contra empregados com altos salários, que
vivem sobre a ameaça de serem substituídos por outros com salários menores ou
por trabalhadores representantes de sindicatos e associações.
28
2.6 - CONSEQUENCIAS ADVINDAS DO ASSÉDIO MORAL
O assédio moral não destrói somente a vítima como também a sociedade,
gerando assim o desemprego, ou, na maioria das vezes traz encargos ao Estado,
pois sofrendo desse mal muitos se afastam do emprego, gozando assim de
benefícios previdenciários e causando prejuízos à própria empresa em que
trabalha, tendo uma grande queda na produtividade, deixando um déficit para o
empregador.
A conseqüência econômica que se toma em prol do assedio é
preocupante, ela não se limita somente à vida da vítima, tendo reflexos em todo a
sociedade, pois devido a isso, a incapacidade laborativa dos trabalhadores
aumenta, sobrecarregando assim a Previdência Social. Os sintomas são diversos
e mudam de acordo com a intensidade e duração conforme é a agressão sofrida.
Para melhor se entender as conseqüências causadas pelo assédio moral,
a doutrina dividiu esse problema em três fases que são: conseqüências da fase
de enredamento, conseqüências especificas e as conseqüências em longo prazo.
Conseqüências da fase de enredamento: as conseqüências iniciam com
o charme e a sedução e terminam com comportamentos aterrorizantes de
psicopatia. Porém, somente poderão ser interpretados quando a vítima do terror
psicológico tiver saído parcialmente do enredamento inicial e estiver
compreendendo a manipulação. Das conseqüências iniciais da fase de
enredamento pode-se mencionar: Renúncia: Ocorre como primeiro sentimento,
uma atitude de cessão mutua, para evitar o conflito. De um lado o agressor ataca
com pequenos toques indiretos, de modo a desestabilizar o outro sem provocar
abertamente o conflito, e do outro lado a vítima cede igualmente, e submete-se,
temendo um conflito que levaria a uma ruptura. A vítima percebe a
impossibilidade de negociação com o outro, preferindo, dessa forma, o acordo a
arriscar-se na separação. Nesta primeira fase a renúncia permite manter, custe o
que custar, o relacionamento, em detrimento da própria vítima; Confusão: Ao
instalaram-se o enredamento e o controle a vítima tornar-se-á cada vez mais
29
confusa. A confusão é geradora de estresse; Dúvida: As vítimas não conseguem
acreditar o que está ocorrendo com elas. Na impossibilidade de compreender a
vítima permanece perplexa, negando a realidade do que ela não está em
condições de ver; Estresse: Aceitar essa submissão é algo que só se consegue à
custa de uma grande tensão interior, que possibilite não ficar descontente com o
outro, acalmá-lo quando está nervoso. Esta tensão é geradora de estresse;
Medo: Nessa fase a vítima, apavorada, se sente permanentemente em alerta, a
espreita do olhar do outro, de uma maior rudeza nos gestos, de um tom glacial,
tudo podendo mascarar uma agressividade não expressa; Isolamento: Essa é a
fase em que as vítimas duvidam de suas próprias percepções, não estando certas
do que estão enxergando. (HIRIGOYEN, 2003, p. 169 – 175).
Conseqüências em longo prazo: das conseqüências percebidas pelo
agredido depois de superada a fase de enredamento, originam-se outras, tais
como: Choque: O choque se produz quando as vítimas tomam consciência da
agressão. Quando compreendem que foram joguetes de uma manipulação;
Descompensação: As vítimas, enfraquecidas por ocasião da fase de controle,
sentem-se agora diretamente agredidas, sendo a capacidade de resistência do
indivíduo limitada; Separação: Quando chega a acontecer é por iniciativa da
própria vítima, não dos agressores, tendo em vista que o objetivo-fim do assédio
moral é, muitas vezes, utilizado para que o agredido peça a demissão; Evolução:
É a fase em que a vítima consegue livrar-se das “garras psicológicas” do
agressor, e enfim travando outra batalha contra as adversidades psicológicas
ainda abertas. (HIRIGOYEN, 2003, p. 177–185).
Conseqüências específicas: entretanto, não somente as conseqüências
acima citadas podem ser sofridas pelo agredido, como também é perfeitamente
possível a ocorrência de outras, específicas, as quais atuam diretamente no
psico-emocional, causando transtornos, muitas vezes, irreversíveis. Dentre estas
conseqüências sobressaem-se: Estresse e a Ansiedade: É a autodefesa do
organismo a uma hiperestimulação e a tentativa de a pessoa adaptar-se para
enfrentar a situação; Depressão: Se o assédio moral se prolonga por mais tempo
ou recrudesce, um estado depressivo mais forte pode se solidificar. É essencial
estar alerta aos estados depressivos, pois o risco de suicídio é grave; Distúrbios
30
psicossomáticos: Acontecem sob a forma de emagrecimento intenso ou então
rápidos aumentos de peso, distúrbios digestivos, distúrbios endocrinológicos,
crises de hipertensão arterial incontrolável, mesmo sob tratamento, indisposições,
vertigens, doenças da pele, dentre outras; Estresse pós-traumático: Em
psicanálise, o traumatismo inclui um acontecimento intenso eventualmente
repetido na vida da pessoa. As vítimas são subjugadas pela armadilha da
realidade externa; Desilusão: Quando a auto-estima é arranhada, e a vítima
encontra-se em estado de desmotivação para encarar um novo emprego, haja
vista que nem mesmo ela acredita nas suas habilidades; A vergonha e a
humilhação: A vergonha explica a dificuldade que as vítimas têm de se
expressar, pois não encontram palavras; Perda do sentido: A graduação até a
agressividade é o ponto culminante e a conseqüência direta da perda de sentido e
da impossibilidade de se fazer entender; Modificações psíquicas: O assédio
moral pode provocar uma destruição da identidade e influenciar por muito tempo o
temperamento da pessoa. Trata-se de uma verdadeira alienação, no sentido de
que a pessoa perde o próprio domínio e se sente afastada de si mesma.
(HIRIGOYEN, 2002, p. 159-182).
As conseqüências causadas pelo assédio moral não se limitam somente à saúde
da vítima nem ao seu estado psíquico, atinge também tanto o lado social como o
econômico, pois com o assédio a vitima perde a credibilidade, para de confiar e
acreditar em si mesmo, tornando uma pessoa desmotivada, ficando totalmente
incapaz e sem animo de procurar um novo emprego.
31
CAPÍTULO III
DAS LEIS E DA JUSTIÇA
3.1 - DA DENÚNCIA
Muitas vezes o Assédio Moral só pode ser resolvido com a intervenção da
justiça, contudo, um julgamento só se estabelece a partir de provas concretas, por
isso, para defender-se eficazmente é preciso que se conheçam bem seus direitos.
Denunciar é o único meio para acabar com as agressões provenientes do
assédio moral. A vítima precisa estar convicta de que realmente quer denunciar,
pois toda agressão sofrida e já adormecida em seu psicológico, despertar
repentinamente, tendo o mesmo teor de agressão da situação em si.
No entanto, para se denunciar este tipo de agressão moral serão necessários
alguns procedimentos, como por exemplo, uma ruptura definitiva com a empresa,
e também obter comprovações da ocorrência do assédio, como comprovantes de
trocas de correspondências, e-mails, testemunhas ocultas na empresa, ou até
mesmo a gravação de conversas entre a vítima e o agressor.
A justiça atual prevê acusação penal desse tipo de delito, entretanto uma
resolução adotada pela assembléia das Nações Unidas, em anexo à declaração
dos princípios fundamentais de justiças, relativo às vítimas de criminalidade e as
vítimas de abuso de poder define as vítimas desse tipo de abuso da seguinte
forma: “Entende-se por vítimas pessoas que individual ou coletivamente, tenham
sofrido algum prejuízo, principalmente uma ofensa a sua integridade física ou
mental, um sofrimento moral, uma perda material, ou uma injúria grave a seus
direitos fundamentais, em virtude de atos ou omissões que não constituem ainda
uma violação da legislação penal nacional, mas representa violações de normas
internacionalmente reconhecidas em matéria de direitos humanos.”.
3.2 - O JUDICIÁRIO E A CONDENAÇÃO AO ASSÉDIO MORAL A ferramenta utilizada para acabar e punir o assédio moral é a vítima recorrer
ao Judiciário, denunciando e exigindo na Justiça o ressarcimento por danos
32
morais, onde já tem amparo, pois esse tema já vem sendo abordado há muito
tempo nos nossos tribunais.
"O assédio moral é uma conduta ilícita, uma infração trabalhista do empregador. Muitas pessoas sofriam e não sabiam que eram vítimas. É uma situação difícil de provar e, nos casos mais graves, o funcionário termina em um consultório psiquiátrico. O objetivo desses chefes é ver o trabalhador pelas costas", comenta o procurador Wilson Prudente.
Diversos municípios de nosso país já têm leis contra o assédio moral, a
maioria delas é especificamente voltada para a Administração Pública, como nos
municípios do Estado de São Paulo.
A capital paulistana instituiu uma Lei Municipal contra o assédio moral,
aplicáveis aos servidores públicos municipais, voltados diretamente para
administração pública direta e indireta. A Lei de n° 13.288/ 2002 traz o seguinte
conceito:
"Para fins do disposto nesta lei considera-se assédio moral todo tipo de ação,
gesto ou palavra que atinja, pela repetição, a auto-estima e a segurança de um
indivíduo, fazendo-o duvidar de si e de sua competência, implicando em dano ao
ambiente de trabalho, à evolução da carreira profissional ou à estabilidade do
vínculo empregatício do funcionário, tais como: marcar tarefas com prazos
impossíveis; passar alguém de uma área de responsabilidade para funções
triviais; tomar crédito de idéias de outros; ignorar ou excluir um funcionário só se
dirigindo a ele através de terceiros; sonegar informações de forma insistente;
espalhar rumores maliciosos; criticar com persistência; subestimar esforços".
3.3 – DA RESCISÃO INDIRETA DO CONTRATO DE TRABALHO
O assédio moral nas relações trabalhistas vem sendo debatido amplamente pela sociedade, em particular no âmbito particular e no movimento sindical.
33
A primeira lei a tratar desse assunto foi a de Iracenópolis, SP, regulamentada em 2001.
Atualmente, além de outras leis há diversos outros projetos em tramitação nos legislativos municipais, estaduais e na esfera federal. No âmbito federal, há propostas de alteração do Código Penal e outros projetos de lei,mas nada específico.
A legislação trabalhista, de forma específica nada contempla a respeito do assédio moral nas relações individuais coletivas e trabalhistas10.
Entretanto, por uma interpretação sistemática, pode-se extrair de ordem jurídico-trabalhista, ou seja, uma série de dispositivos legais, objetivando a adequação da solução legal para o assédio moral.
Assim mesmo sem leis adequadas ou específicas, existe a possibilidade de processar o chefe “tirano” com a legislação vigente. Uma das obrigações do empregador é cumprir o contrato de trabalho, que prevê tratamento cordial e respeitoso entre empregado e empregador.
Com esse fundamento a vítima pode ingressar na justiça do trabalho com um pedido de rescisão indireta (art. 483 da CLT), que garante ao colaborador aviso prévio, 13º salário e multa de 40% do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço). O funcionário pode adicionar, no mesmo processo, um pedido de indenização por danos morais.
Quando o empregado não quer sair da empresa porque tem idade avançada, por exemplo, o que pode dificultar sua recolocação profissional é possível acionar uma situação prevista no código civil que é a “Obrigação de Fazer”, por meio da qual a empresa é obrigada a restituir ao funcionário sua função original, sob pena de multa diária.
Tão logo a vítima perceba o desenvolvimento de um processo de assédio moral deverá catalogar todas as provas necessárias à demonstração futura de tal situação. Bilhetes memorandos, anotações referentes a datas e eventos relacionados, testemunhas, gravações, laudos médicos etc. é importante que a vítima de assédio moral, reúna o maior número de provas contra o agressor que pode ser o próprio empregador.
Nesse sentido, várias vezes o trabalhador é submetido a situações de vexames, extremamente constrangedores por parte de seu empregador, não tendo ele, outra opção, que não seja o pedido de demissão.
Entretanto nesses casos o trabalhador não deve pedir demissão, mas sim a rescisão do seu contrato de trabalho de forma indireta, conforme facultado pelo artigo 483 da CLT em que explicita o seguinte:
Art. 483 – O empregado poderá considerar rescindido o contrato e pleitear a devida indenização quando:
34
a) forem exigidos serviços superiores às suas forças, defesos por lei, contrários aos bons costumes, ou alheios ao contrato; b) for tratado pelo empregador ou por seus superiores hierárquicos com rigor excessivo; c) correr perigo manifesto de mal considerável; d) não cumprir o empregador as obrigações do contrato; e) praticar o empregador ou seus prepostos, contra ele ou pessoas de sua família, ato lesivo da honra e boa fama; f) o empregador ou seus prepostos ofenderem-no fisicamente, salvo em caso de legítima defesa, própria ou de outrem; g) o empregador reduzir o seu trabalho, sendo este por peça ou tarefa, de forma a afetar sensivelmente a importância dos salários. § 1º – O empregado poderá suspender a prestação dos serviços ou rescindir o contrato, quando tiver de desempenhar obrigações legais, incompatíveis com a continuação do serviço. § 2º – No caso de morte do empregador constituído em empresa individual, é facultado ao empregado rescindir o contrato de trabalho. § 3º – Nas hipóteses das letras d e g, poderá o empregado pleitear a rescisão de seu contrato de trabalho e o pagamento das respectivas indenizações, permanecendo ou não no serviço até final decisão do processo. ** § 3° acrescentado pela Lei n° 4825, de 5 de novembro de 1965.
A Consolidação das Leis do Trabalho permite a possibilidade de enquadramento do assédio moral como motivo para rescisão indireta do contrato de trabalho, com base em seu art.483 alíneas “a” a “g”.
Pode-se dizer que a rescisão indireta do contrato de trabalho nada mais é do que empregado estar aplicando uma demissão por justa causa em seu empregador.
Nesse sentido a rescisão indireta do contrato de trabalho pode caracterizar até a falta grave do empregador, conforme admitem alguns julgados. Pois a jurisprudência já entende a existência da “responsabilização objetiva da empresa pela escolha e manutenção, em cargo de liderança, de profissional que extrapola os limites de sua reduzida autoridade passando a chefiar os subordinados como se fosse um capataz.
3.4 – A NECESSIDADE DE LEIS E PROJETOS PARA INIBIR O ASSÉDIO
MORAL
Não existe uma medida efetiva que vise a inibir a prática do assédio moral.
35
Uma das causas deste mal é não haver uma legislação, no âmbito federal,
específica, que preveja a prisão dos assediadores.
A criminalização do assédio moral no Brasil seria uma forma de combater e
prevenir tal conduta no ambiente de trabalho. Sendo assim, a vítima, estaria mais
bem protegida com a criação de um dispositivo legal que prescrevesse a conduta
de assédio.
Já há projetos de lei prevendo tal criminalização do assédio moral, como
por exemplo, o projeto de lei federal nº 4.742/01, que prevê a inserção do artigo
146-A no Código Penal, assim como aconteceu com o assédio sexual.
A questão acerca da criminalização da conduta de assédio moral é
Complexa, sendo que alguns doutrinadores defendem a necessidade de uma lei e
outros dizem que tal medida não irá realmente solucionar o problema.
Na concepção de Glöckner (2004, p. 57) tem-se que:
“A existência de uma lei expressa sobre o assédio moral não tem o condão
somente de punir, mas fará com que sejam trabalhados sistemas de prevenção
no ambiente de trabalho das empresas, e, infelizmente, aqui no Brasil só existem
mudanças nas condições de trabalho quando da existência de uma lei expressa
que regulamenta determinada condição e que a infrigência do dispositivo
gera prejuízo ao empreendedor.”
A necessidade da legislação está em não somente impedir a impunidade
por parte do agressor, mas também garantir e preservar a integridade física e
psíquica dos trabalhadores.
Glöckner (2004, p. 57) preleciona que: Faz-se necessário a adoção de lei expressa em função da difícil definição que tem o termo, observando-se que a norma a ser elaborada deverá reprimir não só o abuso do empregador, mas também o empregado litigante de má-fé, aquele que se diz assediado moralmente. Trata-se, então, de excluir as necessidades patológicas e as síndromes de perseguição, isto é, aquelas atitudes que não podem ser consideradas como assédio moral como já abordamos anteriormente nesta monografia.
36
A lei servirá de anteparo, ao esclarecer as pessoas de que essas atitudes existem e são inaceitáveis. Ela deverá levantar uma dupla preocupação: com a impunidade por parte do agressor e com a vingança por parte da vítima. Punir o agressor é uma forma de afirmar no meio social que aquele comportamento é profundamente inaceitável, mesmo que nunca seja possível reparar completamente nem compensar totalmente uma injustiça.
Mesmo não havendo uma legislação específica sobre assédio moral, o
dano pessoal dele decorrente compete à Justiça do Trabalho apreciar. Hirigoyen
(2002, p. 343) diz que: "... antes mesmo de existir uma legislação, a Justiça tinha
começado a levar em conta os atos hostis ou ofensivos dirigidos de maneira
evidente contra um empregado em seu local de trabalho."
Antigamente havia uma grande divergência quanto à competência da
Justiça do Trabalho para o julgamento das questões que envolviam dano pessoal,
mesmo que estas fossem decorrentes da relação de emprego.
Atualmente é pacificado (EC 45/2004) o entendimento de que todo e
qualquer dano pessoal, incluindo inclusive o assédio moral que é causador deste
dano pessoal, ocorrido na relação de emprego ou em função desta, compete à
Justiça do Trabalho a proteção.
Glöckner (2004, p. 63) ensina que: [...] a questão do dano pessoal, ocorrida na relação de emprego
ou em função desta, compete à Justiça do Trabalho a tutela
jurisdicional quando solicitada. Assim, os tribunais trabalhistas têm
julgado os pedidos de indenização por danos pessoais sem
grandes questionamentos quanto à jurisdição, embora ainda
existam pequenos focos de divergência.
Contudo é sabido que o dano pessoal, aquele que atinge a dignidade da
pessoa, não é reparável, pois fica enraizado. Havendo verdadeiramente um
trauma para as vítimas do assédio moral. Hirigoyen (2002, p. 348) ensina que:
“... a Justiça jamais poderá reparar o sofrimento das vítimas. É, pois, importante
não nos limitarmos aos regulamentos e às leis, sob o risco de cairmos na
juridicidade excessiva; é preciso insistir na prevenção”.
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CONCLUSÃO
Embora exista há muito tempo o assédio moral esse assunto não era tão
abordado, pois alguns anos atrás a classe trabalhadora tinha medo de perder seu
emprego e do que o assediador podia fazer. O assédio moral tem obtido forças
nos tribunais atualmente, onde vêem punindo severamente os agressores,
buscando minimizar tal prática que é totalmente repudiado pelo nosso
ordenamento jurídico.
Com isso o trabalhador passou a ser valorizado, evitando assim o desprezo
no seu grupo de trabalho e a inversão hierárquica de valores humanos,
aumentando assim a produção e o capitalismo dentro das empresas.
Nas diversas áreas do direito tem desenvolvido um estudo sobre esse,
principalmente na sociologia e medicina do trabalho, identificação assim o assédio
moral, com o objetivo de inibi-lo aos olhos do agressor, e, através desse estudo
pode diagnosticar doenças sofridas pela vítima levando-a ao tratamento
adequado.
Já existe em alguns Estados, legislação, sobre o assédio moral e ainda em
nível nacional já se encontra em votação um Projeto de Lei objetivando
modificações no nosso atual Código Penal, com intuito de punir o agressor.
O assédio moral gera inúmeras conseqüências jurídicas, onde as vítimas
têm direito a ser ressarcido com o dano moral, sendo exigida uma reparação
pecuniária do empregador, assim alcança o objetivo que é de que as empresas
passem a ter um bom ambiente de trabalho, onde haja respeito ao trabalhador.
Respeitando assim o princípio da dignidade humana que é agir de modo digno,
podendo assim exercer suas atividades laborativas com maior desempenho e
satisfação.
38
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40
ANEXOS
ANEXO A
Chefes não sabem claramente o que é assédio moral.
Fonte: O Globo Online - 12/06/08
RIO - Os gestores das empresas, apesar de terem alguma noção, não sabem
com clareza qual é o conceito de assédio moral no ambiente de trabalho. É o que
revela pesquisa da Universidade de Brasília (UnB), que faz parte da dissertação
de mestrado "Assédio moral e gestão de pessoas: uma análise do assédio moral
no trabalho e o papel da área de gestão de pessoas", de autoria do administrador
Antônio Martiningo Filho.
Ao analisar as respostas de um grupo de gestores de um banco público, o autor
da pesquisa percebeu que o fato destes não conhecerem claramente o conceito
se devia a uma posição tímida da empresa em relação aos abusos.
- É de extrema importância que as pessoas saibam exatamente qual é a posição
da organização sobre o assunto - alerta o administrador.
DEFININDO O ASSÉDIO
A maioria dos chefes entrevistados disse que o estabelecimento de metas muito
alto e a pressão constante por resultados enquadravam-se no conceito de
assédio moral. Mas, por mais que incomodem os trabalhadores, essas demandas
são legítimas. Já para o pesquisador, o assédio moral se caracteriza pela
intenção de prejudicar e pela repetição.
- São ações discriminatórias dirigidas a uma pessoa específica com o intuito de
separá-la do grupo, e podem acontecer de várias formas - explica Antônio
Martiningo Filho.
Segundo ele, excluir um funcionário de uma reunião importante, estipular metas
impossíveis de cumprir por apenas um funcionário do grupo (com a intenção de
prejudicá-lo no ambiente de trabalho) pode ser considerado assédio moral, desde
que aconteça com freqüência. Críticas públicas que visam desmoralizar o
empregado e ofensas motivadas por sua condição física ou orientação sexual
também são consideradas assédio moral.
Como essa relação entre chefe e funcionário não está clara, esta é marcada pela
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desconfiança. Segundo o pesquisador, os gestores entrevistados dizem que
alguns funcionários se utilizam do assédio moral com a intenção de conseguir
transferências para instituições de outros estados, mais próximas de casa.
Em sua dissertação, Martiningo Filho admite que, de fato, nem sempre que se
sente assediado o funcionário está com a razão. Segundo ele, algumas pessoas
menos motivadas para o trabalho podem se sentir impedida a alegar o assédio
sempre que alguém lhes chama a atenção na tentativa de estimulá-las.
PREJUÍZO
Os prejuízos decorrentes do assédio moral vão além do mal-estar do funcionário
assediado. O administrador lembra que o abuso de um superior dirigido a apenas
um empregado gera um clima que não prejudica apenas o alvo do assédio, já que
os outros funcionários passam a imaginar que, no futuro, eles podem ser as
vítimas. Isso, segundo o pesquisador, faz com que percam a motivação e a
confiança na instituição, o que provoca alta rotatividade e conseqüentes despesas
para a empresa. A organização pode ter de arcar com indenizações ao
prejudicado e terá sua imagem desgastada. O funcionário atingido, por sua vez,
vai onerar o sistema de saúde.
A responsabilidade por solucionar esses problemas é de todos os funcionários de
uma empresa, mas a instituição tem um papel muito importante na organização
de estratégias para coibir o assédio moral.
- Quando o empregado só tem o superior para se reportar, ele fica inibido. É
preciso que exista uma área de escuta desvinculada da hierarquia nas empresas -
sugere o pesquisador.
Algumas empresas já criaram em seus departamentos de gestão de pessoas
órgãos responsáveis por receber as reclamações e cuidar dos casos relatados,
mas eles ainda não funcionam como se espera.
- Hoje, quem se sente prejudicado procura o sindicato. As células de escuta ainda
não inspiram muita confiança, pois continuam associadas à empresa - analisa
Martiningo, que ressalta que poucas empresas usam o termo "assédio moral".
Apesar de querer preveni-lo, não admitem a sua existência.
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ANEXO B
Entrevista com o Deputado Mauro Passos- sobre o inovador projeto de lei de sua autoria referente ao Assédio Moral.
O tema assédio moral tem sido debatido constantemente pela sociedade, sendo
pauta frequente dos fóruns da União Europeia e Organização Internacional do
Trabalho - OIT. É um conceito novo nas relações de trabalho e bastante
abrangente. As pessoas sujeitas a assédio moral são muito mais suscetíveis ao
stress do que as que trabalham em ambiente adequado em que sejam
respeitadas.
As causas deste assédio estão relacionadas aos problemas de organização do
trabalho, falta de informação e ausência de política de pessoal adequada que
respeite o indivíduo dentro da instituição ou empresa. "É necessário combater o
assédio moral que tem consequências devastadoras para a saúde física e
psíquica do trabalhador, afeta a sua vida familiar, social e profissional", comenta o
deputado federal Mauro Passos (PT/SC), que nesta terça-feira, dia 28, protocolou
projeto de lei na Câmara dos Deputados que proíbe o assédio moral nas relações
de trabalho.
Este é um projeto inovador na legislação que extrapola a questão trabalhista e
parte para os direitos básicos de todo o cidadão. "O assédio moral não é só um
crime, mas um ilícito trabalhista que pode gerar o direito à indenização", explica
Passos. O parlamentar entende que as empresas são responsáveis pelo
ambiente de trabalho, que deve ser saudável. É o empregador que determina a
política de pessoal e que decide sobre a qualidade das relações dentro de seu
estabelecimento. "Deve, portanto, adotar ações educativas para que o ambiente
seja efetivamente livre de assédio moral. Caso não o faça, o empregador é
responsável pelo assédio moral praticado", comenta.
A proposta prevê pena também para o empregado que pratica o assédio, apesar
de o empregador ter adotado as medidas cabíveis para evitar o problema. "A
insubordinação e indisciplina, neste caso, poderá levar à demissão", explica o
deputado. O principal aspecto do assédio moral é que tem como objeto ou efeito a
degradação das relações de trabalho. A sua proibição e a sanção, caso seja
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praticado, visam à melhoria das relações trabalhistas, trazendo dignidade e
respeito à execução do contrato de trabalho.
Esta proposta do deputado catarinense foi inspirada em lei francesa, sofrendo
alterações que se adequassem ao ordenamento jurídico brasileiro. "O prejuízo
causado pelo assédio moral para o mundo do trabalho e para a sociedade em
geral pode ser evitado mediante a adoção de medidas educativas. É exatamente
o que pretendemos ao conceituar o assédio como ilícito trabalhista. Talvez
aqueles que o pratiquem percebam a gravidade de seus atos e o alcance
negativo na vida do trabalhador", conclui Mauro Passos.
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ÍNDICE
RESUMO................................................................................................................ 5
METODOLOGIA..................................................................................................... 6
SUMÁRIO.............................................................................................................. .8
INTRODUÇÃO.......................................................................................................10
CAPÍTULO I
A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO TRABALHO...................................................... 13
1.1 – ETIMOLOGIA DO TRABALHO................................................................... 13
1.2 – A EVOLUÇÃO DO TRABALHO A PARTIR DA ESCRAVIDÃO................ 14
1.3 – O SURGIMENTO HISTÓRICO DO CONCEITO ASSEDIO
MORAL................................................................................................................. 14
1.4 – DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA.......................................................... 16
1.5 – O PRINCIPIO IN DUBIO PRO OPERÁRIO................................................. 20
CAPÍTULO II
O ASSÉDIO MORAL............................................................................................ 22
2.1 – O CONCEITO DE ASSEDIO MORAL E A DIFERENÇA ENTRE DIVERSOS
TEMAS RELACIONADOS................................................................................... 22
2.2 – O QUE É ASSÉDIO MORAL NO AMBIENTE DE TRABALHO................. 22
2.3 – FORMAS DE COMO O ASSÉDIO MORAL PODE OCORRER NO
TRABALHO E A SUA DURAÇÃO....................................................................... 25
2.4 – DEFINIÇÃO DE UM ASSEDIADOR/AGRESSOR...................................... 26
2.5 – DEFINIÇÃO DE VITIMA.............................................................................. 27
2.6 – CONSEQUENCIAS ADVINDAS DO ASSÉDIO MORAL............................ 28
CAPÍTULO III
DAS LEIS E DA JUSTIÇA.................................................................................... 31
3.1 – DA DENUNCIA............................................................................................ 31
3.2 – O JUDICIARIO E A CONDENAÇÃO AO ASSÉDIO MORAL..................... 31
3.3 – DA RESCISÃO INDIRETA DO CONTRATO DE TRABALHO................... 32
3.4 – A NECESSIDADE DE LEIS E PROJETOS PARA INIBIR O ASSÉDIO
MORAL................................................................................................................. 34
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CONCLUSÃO...................................................................................................... 37
BIBLIOGRAFIA................................................................................................... 38
ANEXOS.............................................................................................................. 40
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