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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
A POSTURA DA FAMÍLIA E DA ESCOLA FRENTE ÀS
DIFICULDADES EDUCACIONAIS
Por: Monica Oliveira Benedicto
Orientador
Prof. Mary Sue
São Gonçalo
2011
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
A POSTURA DA FAMÍLIA E DA ESCOLA FRENTE ÀS
DIFICULDADES EDUCACIONAIS
Apresentação de monografia à Universidade
Candido Mendes como requisito parcial para
obtenção do grau de especialista em Administração
e Supervisão Escolar.
Por: . Monica Oliveira Benedicto
AGRADECIMENTOS
A minha família, amigos, funcionários e
clientes.
DEDICATÓRIA
A minha mãe e meus irmãos pela força,
carinho e dedicação.
RESUMO
A escola pode ser definida por duas estruturas: a formal e a informal. De
um lado a escola pode ter várias regras escritas (formal) e que não são
cumpridas, de outro, fazem-se regras informais que são apenas resultados de
dinâmicas sociais que se tornam legitimas dando autoridade aos alunos e pais
sobre professores e diretores.
Cada escola tem seu estilo, devido à estrutura informal que praticamente
comanda a escola. Ao impor regras, geramos desorganização social, ritualismo
e escravidão. Através da parceria dos alunos e família esclarecemos dinâmicas
e interagimos com a escola, esta pretende empregar os seguintes aspectos: o
conflito, que mostra as tensões e oposições entre professores e estudantes.
Diz que a escola impõe certos valores e padrões culturais aos alunos. E o
consenso, que enfatiza os valores comuns e a cooperação entre professores e
alunos, a escola passa então a funcionar como elemento de integração e
continuidade entre gerações. Paradigma do consenso: Durkheim estudou
sociologicamente a escola e a sala de aula. Em seu livro aponta que esta
última é uma pequena sociedade. Concebeu a moralidade como um sistema de
normas de ação que predetermina a conduta. Para ele, agir moralmente é agir
em termos do interesse coletivo.
.
METODOLOGIA
A fim de atender ao objetivo dessa pesquisa que se propõe analisar, de
forma compreensiva e aprofundada as causas e aspectos que interferem na
aprendizagem de crianças, foi utilizadas como fonte referências bibliográficas,
que proporcionaram um esclarecimento teórico, dando base e fundamento ao
trabalho.
Nesse trabalho podemos observar pensamentos de autores como Alícia
Fernandez, Lucia Salvari e Pierre Bourdieu (1995, p 24), que cita: “A família é
quem delega ao indivíduo o patrimônio cultural e é a escola quem o reforça.”
A família recebe a influência do tempo presente, sendo marcada pelas
transformações sociais, econômicas e políticas. É na convivência familiar que
valores, atitudes e concepções são forjadas. Atualmente, há diversos modelos
de núcleos familiares presentes no cotidiano escolar.
O que se percebe é que há pouca atenção à afetiva aprendizagem do
aluno no momento em que professores e alunos interessam-se somente pela
aprovação ou reprovação.
Contudo, as análises desses autores contribuíram muito para a
percepção de uma sociedade com embasamentos familiares estipulados,
pautado no afeto e nas relações sociais positivas. Suas observações
contribuíram de maneira satisfatória, apoiando com o proposto na temática em
ponto, na qual protege a dedicação familiar e escolar como base para uma vida
educacional produtiva e de sucesso.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 09
CAPÍTULO I -A família e seu papel no processo ensino- aprendizagem 11
CAPÍTULO II - A escola como responsável pela educação 18
CAPÍTULO III - Família X Escola: de quem é a culpa 31
CONCLUSÃO 41
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 42
ÍNDICE 44
FOLHA DE AVALIAÇÃO 45
INTRODUÇÃO
Aprender é uma atividade desejante construída sob o alicerce de uma
relação familiar saudável e segura. Acredita-se que um ambiente familiar
estável e afetivo contribui positivamente pra o bom desenvolvimento da criança
na escola, embora não garanta o seu sucesso, uma vez que este depende de
outros fatores, principalmente os aprendidos na escola.
Discutir sobre problemas de aprendizagem é buscar subsídios para
entender e ajudar o aluno, refletindo sempre nas questões internas (cognitivas,
psicomotoras e afetivas) e externas (escola, família) que atinge o processo de
construção do conhecimento.
Quando buscamos ‘causa’ para o aumento do número de alunos com
dificuldades de aprendizagem, a família aparece como fator principal. Porém,
instituição familiar e escolar, são fatores importantes, pois eles coexistem numa
relação de dependência, tanto em outras causas como na aprendizagem do
aluno.
A idéia central é analisar a função dos pais na sociedade atual e a
resposta da escola para tantas mudanças sociais, apresentando a importância
da família no processo ensino-aprendizagem, indicando seu papel e sua
funcionalidade junto à escola.
A razão que também justifica este estudo vem a ser a enorme
quantidade de conflitos existentes dentro das escolas atualmente, o que muitas
vezes tem impedido a eficácia do processo ensino-aprendizagem.
O conflito existe quando uma das partes (grupo ou indivíduo) tenta obter
seus próprios objetivos relativos a alguma outra parte e onde esta parte
interfere com a outra que procura atingir suas metas. Ele ocorre dentro do
contexto de um sistema em funcionamento, e, portanto dentro de um contexto
de relacionamentos contínuos entre pessoas e grupos. A aceleração da
mudança pela qual o mundo, e conseqüentemente as escolas vêm passando,
está alterando radicalmente o equilíbrio entre as situações que nos são
familiares e as situações novas. Os índices crescentes de transformação nos
obrigam a lidar com um número incrível e cada vez maior de situações em que
as experiências pessoais anteriores não tem aplicação. Administrar conflitos
não significa domesticação ou conformismo.
Os benefícios, que a administração dos conflitos na escola pode gerar,
são incalculáveis, e vão desde o aumento da motivação, energia e
compromisso aplicado aos resultados dos indivíduos e equipes, até a elevação
da capacidade de inovação, a redução da ansiedade e do stress. Dentre as
diferentes maneiras de administrar conflitos, a mais utilizada é a negociação,
que é o processo de buscar aceitação de idéias, propósitos ou interesses
visando o melhor resultado possível. Porém, a habilidade de comunicação
também é fundamental tanto à administração de conflitos quanto à negociação,
embora os seres humanos aprendam desde logo a se comunicarem através da
linguagem falada. Mas isto, por si só, não garante a boa comunicação. A
maneira pela qual o conflito se processa e é resolvido influencia o desempenho
dos indivíduos, os sentimentos e as percepções dos mesmos, e a qualidade da
comunicação entre os indivíduos.
Da mesma forma, a comunicação entre os indivíduos exerce um papel
de suma importância no que diz respeito a administrar os conflitos. A
capacidade de administrar conflitos, comunicar e negociar são imprescindíveis
para uma escola moderna e de qualidade.
CAPÍTULO I
A FAMÍLIA E SEU PAPEL NO PROCESSO ENSINO-
APRENDIZAGEM
Estudar a família é algo complexo, pois além de envolver valores e
atitudes, envolve também um padrão construído pela sociedade.
A família recebe a influência do tempo presente, sendo marcada pelas
modificações sociais, econômicas e políticas, porém, é na convivência familiar
que valores, atitudes e concepções são moldadas. Atualmente, há diversos
modelos de núcleos familiares presentes no cotidiano escolar, com algumas
mudanças sociais, como o aumento do número de pais e mães solteiros e/ou
separados, casais morando sob o mesmo teto sem a oficialização do
casamento, adoções.
Para Silva (2005, p.101): “A família atual se organiza de forma a
renunciar o individualismo patriarcal para contextualizar outros padrões e
comportamentos que são sentidos como legítimos e verdadeiros”.
Paralelamente, outras mudanças sociais desencadearam uma
reestruturação familiar, por causa da alteração dos papéis desempenhados
pelos indivíduos na sociedade. Exemplos desta colocação foram à inserção da
mulher no mercado de trabalho e o desempenho, pelo homem, de atividades
que eram prioritárias da mulher como levar a criança à escola, dialogar com os
filhos e com o professor quando solicitado, entre outras. Em relação a isso,
pode-se dizer que a família reflete a cultura na qual está inserida, não podendo
ser apontada como uma entidade isolada.
Tanto a família como a escola são vistas como instituições importantes
numa sociedade. O elo de semelhança entre elas é que as duas são
instituições que evoluem e se transformam de acordo com as mudanças
culturais. Segundo Bourdieu (2004, p. 72) “é a família quem delega a cultura, a
escola só o reforça”. Porém, com resultados educacionais negativos, a família
penaliza a criança (ou a escola), principalmente a mãe, pelo fracasso escolar
do filho.
O número de alunos com dificuldades de aprendizagem vem
aumentando consideravelmente nos últimos anos. E quando adentra o fator
“causa”, a família aparece como um dos indicativos principais, pois é freqüente
o discurso no cotidiano escolar, especialmente em instituições educacionais
que atendem às famílias de baixa renda, do professor desamparado e frustrado
com o desempenho insatisfatório dos educandos e que protesta contra a falta
de cooperação e ausência dos pais.
A família, vista como ponto principal na aprendizagem, é considerada
um sistema de vínculos e afetos, itens considerados básicos para qualquer
construção de conhecimento.
A idéia central é analisar a função dos pais na sociedade
contemporânea como mediadora entre a criança e o mundo no processo de
aprendizagem. O adulto é considerado por Vigotsky (1988, p. 22) “como um
mediador no processo de desenvolvimento da criança e oferece instrumentos
para a apropriação do conhecimento”, porém, a forma de assimilar e absorver o
conhecimento ocorre de forma individual, variando de uma criança para outra.
É preciso lembrar que a existência da família por si só não garante o
desenvolvimento saudável da criança. Aprender é uma atividade desejante e
ganha significado dentro do contexto familiar e social, ainda que a apropriação
do conteúdo seja individual.
Acredita-se que o ambiente familiar estável e afetivo contribui
positivamente para o bom desempenho da criança na escola, embora não
garanta o seu sucesso, uma vez que este depende de outros fatores que não
exclusivamente os familiares.
O excesso de informações e referenciais que os filhos estão recebendo
na educação, também interfere no aprendizado, muitas vezes, os pais não se
responsabilizam por si só pela educação dos filhos, para não correrem o risco
de errar sozinhos e, sobretudo, carregarem a culpa pelos erros dos filhos.
A educação e a formação do indivíduo estão hoje, pré-determinadas por
um sistema que define o tipo ideal de pai, mãe, alunos e de escola.
Com isso, a família sofre, pois quando o modo de vida do homem é
padronizado, a família deixa de ser livre para educar.
Observa-se na medida em que diminui a disponibilidade de tempo para
os filhos, os pais necessitam cada vez mais de outras fontes de recurso (como
a escola) que os auxiliem na função de educar, além disso, quando as crianças
apresentam queda no rendimento escolar, tanto os pais quanto as escolas,
encaminham para serviços especializados para substituírem funções que
inicialmente deveriam ser desempenhadas pelos pais.
No contexto atual, os problemas de desatenção e de hiperatividade,
podem ser considerados como sintomas de uma sociedade desatenta ao outro
e individualizada.
Sabemos que o processo de aprendizagem precisa ser reconhecido e
simbolizado. Para isso é preciso tempo. Por tanto, é necessário que os pais
“gastem” tempo com seus filhos e com a educação.
A participação dos pais na aprendizagem escolar é necessária. E um
exemplo é que, antes a família era cúmplice da escola; hoje, é promotora de
seus erros e falhas. Quem é o maior prejudicado? O aluno. Hoje, se não
houver maturidade e visão pedagógica por parte da escola, as reuniões com os
pais viram arenas, onde a escola fica na defensiva e os pais fazem sua
listagem de erros pedagógicos. Quem é o maior prejudicado? O aluno.
Sabemos que os pais exercem extrema influência, mais do que eles
próprios imaginam. Educar demanda uma grande responsabilidade. "A
educação começa no berço", dizem. Na verdade, a educação começa ainda no
útero. Sabe-se através de pesquisas recentes que a criança ouve "ruídos" do
mundo externo e sabe distinguir a voz do pai e da mãe. Sendo assim, no berço,
começa a aprender as relações interpessoais. Por vários motivos (falta de
tempo por ambos terem que trabalhar), os pais colocam seu filho cada vez
mais cedo na escola e delegam seu papel de primeiro educador à escola.
No livro de Paulo Freire "Professora sim, Tia não", Paulo Freire tenta
resgatar o verdadeiro papel da escola. Ser Professor é muito mais do que ser
babá ou substituto dos pais. Educar é muito mais que ensinar boas maneiras,
ler e escrever. É criar consciência crítica e formar um cidadão em cada um de
seus alunos.
Como já observado, no nosso tipo de organização social, o papel crucial
da família quanto à proteção, afetividade e educação, onde buscar
fundamentação para a relação educação escola/família? O dever da família
com o processo da escolaridade e a importância da sua presença no contexto
escolar é publicamente reconhecido na legislação nacional e nas diretrizes do
Ministério da Educação aprovadas no decorrer dos anos 90, tais como:
Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8069/90), nos artigos 4º e 55;
Política Nacional de Educação Especial, que adota como umas de suas
diretrizes gerais: adotar mecanismos que oportunizem a participação efetiva da
família no desenvolvimento global do aluno. Lei de Diretrizes e Bases da
Educação (Lei 9394/96), artigo 1º, 2º, 6º e 12; Plano Nacional de Educação
(aprovado pela lei nº 10172/2007), que define como uma de suas diretrizes a
implantação de conselhos escolares e outras formas de participação da
comunidade escolar (composta também pela família) e local na melhoria do
funcionamento das instituições de educação e no enriquecimento das
oportunidades educativas e dos recursos pedagógicos.
Nos dias atuais percebemos que a escola reclama da ausência da
família para acompanhar a criança no seu desenvolvimento escolar, da falta de
limites dos pais aos filhos, da dificuldade de transmitir uma boa educação. E
não há presente maior para os pais do que assistir ao desenvolvimento da
personalidade dos filhos, ver sua beleza brilhar no mundo e saber que sua
contribuição foi e é importante.
A família é essencial para o desenvolvimento do indivíduo,
independentemente de sua formação. É no meio familiar que o indivíduo tem
seus primeiros contatos com o mundo externo, com a linguagem, com a
aprendizagem e aprende os primeiros valores e hábitos. Tal convivência é
fundamental para que a criança se insira no meio escolar sem problemas de
relacionamento disciplinar, entre ele e os outros.
As crianças que têm o acompanhamento familiar, boa convivência,
regras, limites, entre outros tem bom rendimento escolar, tanto quantitativa,
quanto qualitativamente, não apresentando dificuldades quanto ás normas e
rotinas escolares. O acompanhamento familiar pode evitar uma possível
reprovação e possibilitar o verdadeiro aprendizado do educando. Ressalta-se
que se houvesse a parceria entre pais e escola, possivelmente, ocorreria o
alcance de bons resultados em relação ao aluno (filho).
Muitas famílias delegam à escola toda a educação dos filhos, desde o
ensino das disciplinas específicas até a educação de valores, a formação do
caráter, além da carência afetiva que muitas crianças trazem de casa,
esperando que o professor supra essa necessidade. Por outro lado, algumas
“famílias sentem-se desautorizadas pelo professor, que toma para si tarefas
que são da competência da família.” (Szymanski, 2003, p. 74).
Do ponto de vista da escola, envolvimento ou participação dos pais na
educação dos filhos e filhas significa comparecimento às reuniões de pais e
mestres, atenção à comunicação escola–casa e, sobretudo, acompanhamento
dos deveres de casa e das notas. Esse envolvimento pode ser espontâneo ou
incentivado por políticas da escola ou do sistema de ensino (Carvalho, 2000).
Para se integrar à sociedade, o indivíduo precisa passar por vários
“processos de socialização” que acontecem continuamente ao longo da vida,
mas que se dividem, basicamente, em dois momentos: socialização primária e
socialização secundária.
“A socialização primária é a primeira socialização que o
indivíduo experimenta na infância, e em virtude da qual se
torna membro da sociedade. A socialização secundária é
qualquer processo subseqüente que introduz um indivíduo
já socializado em novos setores do mundo objetivo da
sociedade. “(BERGER E LUCKMANN, 1996, p.175)
É pela socialização primária que são interiorizadas normas e valores,
assim como formas de relacionamento, partindo disso a família é considerada
como instituição muito importante no processo de aprendizagem. O aprender e
o ensinar são funções básicas da família, desta forma o modo como a família
vive pressupõe características na modalidade de aprendizagem da criança.
Dentro do ambiente familiar que se realizam as experiências básicas que
serão imprescindíveis para o desenvolvimento autônomo dentro da sociedade.
Após o nascimento, a criança começa sofrer influências familiares que aos
poucos vão modelando seu comportamento, sendo a maior parte das
influências exercidas pelos pais sobre os filhos, provavelmente inconsciente.
Segundo a concepção durkheimiana de educação:
“A educação é a ação exercida pelas gerações adultas
que não se encontram ainda preparadas para a vida
social; tem por objeto suscitar e desenvolver, na criança,
certo número de estados físicos, intelectuais e morais,
reclamados pela sociedade política no seu conjunto e pelo
meio especial a que a criança, particularmente, se
destine.” (DURKHEIM, 1978, p. 42)
Portanto, se a família oferecer à criança um contexto cultural composto
de leituras, de visitas a teatros, a museus, a bibliotecas, a galeria de artes, a
cinemas, dentre outros, estará propiciando um ambiente instigante para a
aprendizagem da mesma, e, além disso, estará envolvendo ainda mais o
contexto escolar.
Então, se o dever de casa (e o sucesso escolar) tem dependido da
doação do tempo (trabalho gratuito) das mães, sobrecarregando aquelas que
exercem trabalho remunerado fora de casa, por que incentivar a participação
dos pais na educação dos filhos/as em casa e na escola? Ainda mais quando
sabemos que o incentivo se dirige justamente àqueles que não participam por
falta de condições e possibilidades, ou, como às vezes se supõe, por falta de
uma cultura familiar que valorize os estudos.
A família deve acolher a criança, oferecendo-lhe um ambiente estável e
amoroso. Muitas, infelizmente não conseguem manter um relacionamento
harmonioso. Para algumas pessoas, é bastante difícil, seja por questões
econômicas ou sociais. Ao observar este universo, as escolas podem criar um
ambiente familiar diferente, “ajudando-as a caminhar para fora das famílias de
origem, que lhes possibilite uma vida digna, com relações humanas estáveis e
amorosas” (SZYMANSKI, 2003, p. 62-63). Sendo assim, é importante ressaltar
que a escola tem como função estimular a construção do conhecimento nas
áreas do saber, consideradas fundamentais para o processo de formação de
seus alunos. É verdade que a modernidade trouxe uma série de mudanças,
inclusive na família, mas tal realidade não isenta a instituição familiar de seu
papel educador primordial ao desenvolvimento e integração do filho a
sociedade.
CAPÍTULO II
A ESCOLA COMO RESPONSÁVEL PELA EDUCAÇÃO
Podemos definir Educação como um conjunto de práticas com as quais,
e graças às quais, a sociedade promove o desenvolvimento e a socialização de
seus integrantes e garantem a promoção da sua herança cultural,
“desenvolvendo-se assim na vida familiar, na convivência humana, no trabalho,
nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações
da sociedade civil e nas manifestações culturais”, conforme a Lei de Diretrizes
e Bases da Educação Nacional, no seu artigo 1º. Contudo na sociedade
moderna a educação escolar adquiriu no imaginário das pessoas o status de
única promotora do desenvolvimento e da socialização de todas as pessoas,
sem exceção, restringindo desta forma a escola e as salas de aula, palco da
educação escolar, toda a responsabilidade por estes processos.
Nesse contexto quase que nenhum aspecto ou questão escapa desta
responsabilização da escola: delinqüência, intolerância, comportamentos
racistas, problemas de leitura e escrita, consumo de drogas, escassos
conhecimentos científicos e tecnológicos, desemprego dos jovens, gravidez
precoce, violência doméstica, etc. Seja qual for o tema de debate, as carências
e insatisfações relativas ao processo formativo das pessoas de ordem
intelectual, social ou cultural são atribuídas, por ação ou por omissão, ao
sistema educativo e à educação escolar.
Como conseqüência mais grave dessa “responsabilização” do todo - a
educação - com o que, na realidade, é somente uma de suas partes - a
educação escolar e o ensino – é criado no seio da sociedade uma
desresponsabilização diante dos temas educativos. A educação deixa de ser
percebida como sendo responsabilidade da sociedade, mas, em vez disso,
estabelece-se a idéia de que a educação, entendida basicamente como
educação escolar, é uma responsabilidade do sistema educativo formal os
profissionais que trabalham nele, em especial os professores, e seus
responsáveis políticos e técnicos devam assumir unicamente.
A escola é considerada, também, como a instância que leva de forma
significativa o aluno ao fracasso escolar, tendo em vista que, associada ao
sistema sócio-político-econômico, reflete e reproduz a ideologia da sociedade
na qual está inserida. Nessa visão, a aprendizagem está intimamente
relacionada à intencionalidade e ao modo pela qual a informação chega ao
aluno, determinando a qualidade de ensino.
Na perspectiva do fracasso escolar estar relacionado ao aluno,
especificamente, às suas condições internas de aprendizagem, Weiss (1997,
p.19) enfoca o histórico pessoal e familiar da criança. Essa perspectiva é
normalmente considerada, pela escola, como a causa da maioria dos casos de
baixo desempenho escolar, pois muitas crianças vêm de lares desestruturados,
com pais que não acompanham os estudos dos filhos, que por sua vez não
estão interessados em aprender. Entretanto, há casos de crianças que são
bem sucedidas no desempenho escolar.
Segundo Ravagnani (2001, p. 48), a própria criança atribui a si a
responsabilidade pelo seu fracasso escolar. A autora apresenta pesquisas de
Chakur desenvolvidas nos anos de 1984, 1992 e 1997, mostrando que a
criança, ao ser interrogado a respeito da sua não aprendizagem na escola,
julgou-se pouco esforçada nos estudos. Na visão das autoras, o fracasso é do
sistema escolar, educacional e do contexto escolar.
Contudo, discutir sobre os problemas de aprendizagens é buscar
subsídios para entender e ajudar o aluno que se encontra desajustado, os
quais são sujeitos ativos do processo ensino-aprendizagem. É imprescindível a
compreensão do educador sobre os fatores que interferem na aprendizagem
do aluno, refletindo constantemente as questões internas (cognitiva,
psicomotora e afetiva) e externas (escola, família) que atingem o processo de
construção do conhecimento.
No entanto, o que se percebe é que há pouca atenção à afetiva aprendizagem
do aluno no momento em que professores e alunos interessam-se somente
pela aprovação ou reprovação.
“A função da educação pode ser alienante ou libertadora,
dependendo de como for usada, quer dizer, a educação
como tal não é culpada de uma coisa ou de outra, mas a
forma como se instrumente esta educação pode ter efeito
alienante ou libertador”. (PAIN, 1992, p.12)
Por isso, compreender o nível de aprendizagem através da retenção ou
aprovação do aluno implica enfatizar a aprendizagem mecanizada, que não
tem significado nem estímulo para o aluno, descartando dele qualquer
possibilidade de análise, raciocínio e relacionamento entre ideias, coisas e
acontecimentos. Sendo que esta atitude não contribui para o aprendizado, ao
contrário, prejudica.
Portanto, é necessário salientar os fatores internos e os externos que
influenciam significativamente pelo insucesso do aluno na escola, como por
exemplo, a dificuldade de ensinar, pois é primordial que o educador conceba a
educação com um olhar voltado para o desenvolvimento do sujeito,
possibilitando-o de desenvolver a capacidade de encontrar respostas para seus
problemas, tornando-o responsável e, conseqüentemente, agente de seu
próprio processo de aprendizagem.
Neste sentido, estudar e investigar sobre a responsabilidade educacional
é importante porque é preciso que se pense sobre a prática pedagógica,
fazendo da instituição escolar um lugar que não se centralize exclusivamente
nas conquistas intelectuais, oferecendo maior atenção ao desenvolvimento de
capacidades emocionais, sociais e afetivas, propiciando ao educador entender
que o conteúdo programático não é um fim em si mesmo, mas apenas um dos
elementos que formam o conhecimento e a construção do pensamento.
Assim, Gagné (1974, p. 52) em seu texto sobre como Realizar a
Aprendizagem diz: “a experiência é o maior dos mestres”. Desse modo os
acontecimentos vividos pelos sujeitos em desenvolvimento, em sua casa, em
seu meio geográfico, na escola, determinarão o que ele vai aprender e,
também, em grande parte, a espécie de pessoa que se tornará.
Logo, é através das experiências do conhecimento de cada um,
construído nas relações com os outros e com o ambiente, que elaboramos e
reelaboramos ideias sobre as situações complexas que surgem no cotidiano
escolar, desse modo, não é possível conceber a aprendizagem como um
processo mecânico, automático.
No entanto, há ênfase em se pensar que o processo de aprendizagem
acontece através da transmissão de conhecimento, não havendo interesse ou
talvez consciência da necessidade de ampliar o potencial do educando,
trabalhando conteúdos que sejam significativos e utilizando metodologias que
possibilite ao aluno fazer relação entre o que se está aprendendo e a sua vida.
Outro fator em questionamento é a afetividade, no que se refere à
relação professor e aluno, que precisa ser dialógica, pois sabemos que a
proximidade e a confiança entre ambos são fatores que possibilitam ao
educador perceber as necessidade do aluno e reformular sua prática para uma
eficiente aprendizagem e, para o aluno, permite expor seus questionamentos e
anseios.
Assim, na perspectiva de tornar indivíduos críticos, capazes de construir
e reconstruir conhecimentos busca-se sensibilizar educadores para uma
constante reflexão e tomada de atitude frente a determinados comportamentos
do aluno no seu dia-a-dia.
Arpini (1995, p. 41) aponta que o preconceito está presente como uma
marca forte na análise dos professores: as crianças não aprendem ou são
lentas porque são pobres, falta carinho, os pais não dão atenção porque
trabalham fora, não tem tempo para os filhos ou são alcoólatras. Esse discurso
na escola torna-se homogêneo e quando não se pára para refletir torna-se
verdadeiro. Nesse vaivém à caça dos culpados, quando não são as crianças as
“culpadas” pelo fracasso escolar é a própria família.
Segundo Arpini (1995, p. 43), a individualização da problemática tem
dificultado compreender o que se passa e de construir estratégias para o
encaminhamento. É nesse contexto que a repetência e os problemas de
aprendizagem vêm sendo identificados como problema individualizado que ora
recai sobre as crianças e suas famílias e ora sobre o professor.
Sobre isso Ferreiro (1985, p. 72) assinala:
“Já é bem conhecido o fato de que o Fracasso Escolar
não se distribui democraticamente no conjunto da
população. O Fracasso Escolar inicial, que o da
alfabetização, se concentra nas populações urbanas e
rurais marginalizadas. Constitui também, lugar comum
assinalar correlações positivas entre o fracasso da
alfabetização no tempo escolar requerido a fatores como
o estado de saúde da criança (especialmente o
nutricional), o nível de educação dos pais as condições
gerais de vida. Os professores e a instituição escolar têm
aceitado com facilidade a realidade de tais fatos...”
Os problemas de aprendizagem podem ocorrer tanto no início como
durante o período escolar. Surge em situações para cada aluno, o que requer
uma investigação no campo em que ele se manifesta. Qualquer problema de
aprendizagem implica um trabalho amplo, trabalho do professor junto à família
da criança para analisar situações e levantar características visando descobrir
o que esta representando dificuldade ou empecilho para que o aluno aprenda.
Sob este aspecto é importante o professor estar atento aos seus alunos,
procurando interagir com eles na intenção de saber sobre seu lado familiar,
como vivem e o seu dia - a – dia na comunidade. Adquirindo a confiança do
aluno o professor poderá desvendar possíveis dificuldades na sua
aprendizagem.
Para tanto é preciso conhecer as origens dos problemas de aprendizagem dos
alunos.
Sobre isso Pain (1992, p.29-33), caracteriza os três principais fatores:
Orgânicos, Psicológicos e Ambientais.
• Fatores Orgânicos: saúde física deficiente, falta de integridade neurológica,
alimentação inadequada...
• Fatores Psicológicos: inibição, fantasia, ansiedade, angústia, inadequação à
realidade, sentimento generalizado de rejeição...
• Fatores Ambientais: tipo de educação familiar, o grau de estimulação que a
criança recebeu desde os primeiros dias de vida, a influência dos meios de
comunicação.
Os fatores orgânicos podem ter como consequência problemas
cognitivos mais ou menos graves, mas que não configuram por si sós, um
problema de aprendizagem.
É necessário saber se a criança está bem alimentada, pois este se
constitui um dos problemas básicos na capacidade de aprendizagem, bem
como as condições de abrigo e conforto para o sono. Diante desse aspecto,
sabemos que a criança do nosso país tem na merenda escolar, muitas vezes, a
única refeição do dia, por este motivo tal programa assume uma importância
vital para o desenvolvimento escolar do aluno.
Já os fatores psicológicos estão voltados para o ego e se apresentam
principalmente na ortografia do aluno, onde, por exemplo, de dez palavras
escritas, cinco apresentam erros, sendo os mais freqüentes na confusão de
vogais ou troca de palavras.
Quanto aos fatores ambientais, eles se relacionam mais especificamente
sobre a estrutura da escola, moradia, bairro, disponibilidade de ter acesso a
lugares de lazer e esporte, bem como os diversos canais de cultura (jornais,
rádios, televisão...). O fator ambiental assume característica determinante no
diagnóstico do problema de aprendizagem, pois procura se elucidar qual o grau
de consciência e participação que o indivíduo tem na classe social em que vive.
O aluno é um ser social com cultura, linguagem e valores específicos.
Quando apresenta dificuldades de aprendizagem deve ser levado em conta
sua individualidade, particularidade, ou seja o professor precisa trabalhar com a
diferença, descobrir as potencialidades de cada aluno para então partir em
busca do desenvolvimento de sua aprendizagem, transformando-o em sujeitos
preparados para enfrentar o mundo.
2.1- Compreendendo o Processo de Aprendizagem
A aprendizagem é a base fundamental para o desenvolvimento do
sujeito, e os processos psicológicos precisam ser considerados como funções
a serem ativados. Neste sentido, é imprescindível que os sujeitos envolvidos no
contexto educacional se dispunham a refletir sobre os aspectos à compreensão
do processo de aprendizagem, às interferências da psicolinguística no
processo de elaboração da leitura e escrita pela criança e as implicações e
contribuições que a escola se dispõe a oferecer.
Tradicionalmente a aprendizagem da leitura escrita é concebida como
processo desenvolvido necessariamente na escola. Em contrapartida tal
concepção é discordante se compreendermos que vivemos em uma sociedade
letrada onde propagandas verbais e não-verbais encontram-se presentes em
todo lugar. A criança é sujeito participante em contato constante com esses
materiais, os quais transmitem uma informação funcionando-os como meio de
interação entre ela e o ambiente.
Ao estarem expostas a esses materiais desde o seu nascimento,
podemos concluir que a criança inicia o seu processo de leitura e escrita antes
da escolarização. É a partir desse entendimento que Vygotsky apud Rego
(1995, p.69) diz que: “o aprendizado da escrita é iniciado pela criança muito
antes da primeira vez que o professor coloca um lápis em sua mão e mostra
como formar letras.”
Logo, é importante que a escola venha influenciar na criança o processo
de construção de conhecimento nas relações com o ambiente, descartando a
idéia de oferecer respostas elaboradas, prontas, mas aproveitar o nível de
desenvolvimento e conhecimento abstraído das experiências.
Neste sentido Almeida (1992, p.65), defende:
“A escola como um todo, currículos e método de ensino
devem se adaptar não só às características de cada
grupo social, mas a cada criança, na sua individualidade,
nos seus sucessos e fracassos, numa relação dialética
entre as condições sociais e as pessoais.”
Neste entendimento considera-se o aprendizado um aspecto necessário
e fundamental no processo de desenvolvimento das funções psicológicas.
Ignorar a adequação do aluno à escola que adota atitude de imposição, ao
eleger conteúdos a serem trabalhados sem a participação do aluno;
caracterizando os sujeitos do processo ensino-aprendiazagem de ativos e
passivos; concebendo a educação na perspectiva da concepção do processo
pedagógico, cabendo-lhe selecionar o saber, ordená-lo de forma lógica e
transmiti-lo ao aluno que, passivamente, o recebe através do método
expositivo. O desenvolvimento pleno do ser humano depende do aprendizado
que realiza num determinado grupo cultural, a partir da interação com outros
indivíduos de sua espécie, isso significa que o ambiente o qual estamos
inseridos e as pessoas com quem convivemos são aspectos imprescindíveis
para o nosso processo de desenvolvimento.
A partir dessa análise verifica-se o quanto é importante processar a
aprendizagem de maneira interativa em que professores e alunos constituem
conhecimentos que devem ser sistematizados com intencionalidade definida e
compromissado em torná-lo acessível, formalmente organizado, desafiando as
crianças a entender as bases dos sistemas de concepções científicas (que
Vygotsky chama para os conceitos aprendidos na escola) e a tomar
consciência de seus próprios processos mentais. Ao permitir que alunos
definam juntos com os seus professores os conhecimentos necessários
conseqüentemente oportunizam-se ao professor identificar o aprendizado que
seu aluno domina e o que precisa para desenvolver as estruturas mentais que
ainda não foram organizadas.
Dessa forma, Vygotsky apud Rego (1995, p.70-5), ao definir a relação
entre desenvolvimento e aprendizagem, enfatiza a Zona de Desenvolvimento
Proximal identificando no sujeito dois níveis de desenvolvimento: um que se
refere a conquistas já efetivadas, que ele chama de nível de desenvolvimento
real ou efetivo, e o outro o nível de desenvolvimento potencial, que se relaciona
às capacidades em vias de serem construídas.
Segundo este autor, a psicologia sempre esteve preocupada em
detectar o nível de desenvolvimento real do indivíduo, ou seja, aquele que
revela a possibilidade de uma atuação independente do sujeito. Um exemplo
desta preocupação pode ser encontrado entre os psicólogos que utilizam esses
fatos, ou que se apóiam em escalas, visando apontar o nível de
desenvolvimento do indivíduo.
Ao compreender esse processo psicológico pelos quais a criança utiliza
para elaborar seu conhecimento, podemos afirmar que é relevante a
valorização tanto do nível de desenvolvimento real como do potencial, já que o
nível de desenvolvimento mental do sujeito não pode ser determinado apenas
pelo que ele consegue produzir de forma independente, é necessário conhecer
o que consegue realizar, muito embora ainda necessite do auxílio de outras
pessoas para fazê-lo.
Portanto, é imprescindível que o educador tenha clareza do processo
que a criança percorre para chegar às respostas, a fim de intervir, provocar,
estimular ou apoiar no momento em que ela demonstra dificuldade em
determinado aspecto do processo de aprendizagem, tornando possível
desenvolver as funções que ainda não estão ao todo consolidadas, como:
estimular o funcionamento psicológico, que é característica típica do ser
humano, que acontece através da articulação entre pensamento e linguagem.
2.2-Formação Docente e a Realidade Escolar
Um dos problemas que se encontra na educação é em relação à
formação dos professores, pois a mesma pode se dar de diferentes maneiras:
por meio de curso em tempo integral, do ensino à distância, ou ainda através
da formação concentrada em alguns dias da semana. Neste sentido questiona-
se a própria formação acadêmica, o tempo de estudos, o comprometimento de
cada aluno, a sua dedicação entre outros fatores.
Cabe neste momento ressaltar que estes fatores mencionados valem para
ambos: professores docentes e alunos em formação.
Com o passar dos anos surgiram inúmeras faculdades, universidades e
cursos específicos na área da educação. Porém, há de se questionar a
qualidade e não a quantidade. Será realmente que ocorre esta preocupação?
O processo de formação destes profissionais deve ser repensado e
criticamente analisado.
Sabe-se também a realidade das escolas públicas de hoje, que atendem
crianças na sua maioria carentes, cujos pais muitas vezes são analfabetos e
não possuem os conhecimentos necessários para auxiliar seus filhos nos
deveres escolares. Sendo assim, onde fica o papel das escolas e de seus
profissionais neste percurso de conhecimento?
Por outro lado, existem bons profissionais nas escolas, preocupados
com os alunos, com sua aprendizagem e mais que isso, com sua construção
enquanto cidadão.
Em suma, muitas vezes percebe-se claramente a falta de compromisso
de determinados profissionais. Professores sem paciência, sem didática, sem
domínio de classe, sem conhecimento da linguagem escrita, professores que
não percebem a dificuldade do aluno, não os encaminham para o apoio
pedagógico e, sobretudo, não comunicam aos pais os problemas identificados.
Estas questões condizem com um pensamento de Paulo Freire que diz:
“Não temo em dizer que inexiste validade no ensino de
que não resulta um aprendizado em que o aprendiz não
se tornou capaz de recriar ou de refazer o ensinado, em
que o ensinado que não foi apreendido não pode ser
realmente aprendido pelo aprendiz.”(Freire, 1996, p.24)
Este pensamento evidencia que, não há aprendizado quando o aluno
não consegue utilizá-lo em outras situações do dia a dia. O aprendizado é
reconhecido quando o aluno consegue resolver problemas, situações, iniciar
uma conversa sobre um tema já estudado, como diria Piaget, a questão da
assimilação e acomodação. O aluno precisa saber utilizar os conhecimentos
adquiridos em situações rotineiras, do seu cotidiano. Quando isso não
acontece, não é porque ele não sabe, esqueceu ou não prestou atenção, mas
porque ainda não aprendeu.
Estes são pontos importantes para se pensar no papel do professor no
processo de aprendizagem e suas competências, pois a realidade das escolas
hoje é muito diversa. Há aquelas onde os alunos são de classe média, média
alta, que conseguem manter um bom nível de aprendizagem, e aqueles que
não conseguem, os pais possuem condição financeira para pagar aulas
particulares ou a própria escola possui aulas de apoio pedagógico. Essa é uma
realidade.
Mas a outra realidade, aquela formada pelas classes menos favorecidas, onde
os pais são analfabetos ou semi-analfabetos, as crianças não estão de acordo
série-idade, muitas são repetentes. Muitas escolas não oferecem aulas de
apoio pedagógico, e em casa parcela razoável das crianças não terão apoio
nas tarefas, trabalhos e pesquisas.
2.3- Dificuldades de Ensinagem
Ao se abordar sobre as dificuldades de ensinagem, faz-se primeiramente
necessário explicar este termo. E, segundo Polity (2002, p.30):
“Este processo e' basicamente relacional, na medida em
que parto do princípio de que o conhecimento nos é
viabilizado pelo outro, construído na e pela relação com
nosso interlocutor, ficando na dependência de que
possamos dar-lhe significado por meio da reflexão, ou
seja, agregando valor às novas experiências.”
Observa-se, desta forma, o papel do professor no processo de
aprendizagem, como figura mais experiente, que sabe relacionar, refletir, agir,
que está de posse dos conhecimentos científicos, mas que se espera saber
(re) construí-los. Nada está pronto e acabado, mas precisa-se de uma relação
adulto-criança, para que se possam construir novos conhecimentos ou como
diria Vygotsky, na relação com alguém mais experiente.
Trata-se neste artigo o papel do professor como o adulto mais
experiente que tem como fim e objetivo o processo de aprendizagem do seu
aluno.
Acredita-se ser essa a atual realidade. O cenário da educação no país
encontra-se repleto de professores que possuem grande potencial e
consciência da sua função de educador e outros que a estabilidade no
emprego, a partir do concurso público propiciam a garantia de estar
empregado, em muitos casos suficiente para acomodar-se na função exercida.
Há escolas que apresentam um quadro de professores muito
comprometido, mas infelizmente há outras que não apresentam o mesmo
quadro de profissionais. Esta e' a situação de muitas escolas hoje. As crianças
se sentem abandonadas por ditos profissionais da educação, que deveriam
estar empenhados em melhorar as condições da educação pública neste país,
mas que em muitos lugares, colaboram com uma sociedade de classes, onde a
classe baixa continua sem uma educação de qualidade.
É certo, pois, que se precisam melhorar as condições de trabalho, de
infra-estrutura, de números de alunos por sala, de começar a oferecer apoio
pedagógico aos alunos com maiores dificuldades, de ter no seu quadro de
trabalho orientadores, supervisores, diretores eleitos pela comunidade escolar,
salários melhores e mais dignos da profissão.
Esta citação demonstra muito bem como pensar a dificuldade de
ensinagem e ter o cuidado de não apenas culpar o professor pelos fracassos
dos seus alunos, mas sim de fazê-lo refletir de que ele poderá estar
contribuindo para as dificuldades de aprendizagem sem se dar conta.
É neste sentido que este trabalho trata este tema, um pensar, refletir e
perceber que é preciso a mudança, a consciência de que os educadores
necessitam fazer algo por estas crianças e adolescentes. Fazer parte do
processo de aprendizagem destas crianças é muito importante e fundamental,
para que se possa lutar por uma educação com qualidade.
CAPÍTULO III
FAMÍLIA X ESCOLA: DE QUEM É A CULPA?
Desde os primeiros anos de vida, a criança começa a participar do processo
ensino-aprendizagem: suas primeiras palavras, gestos e ações. Do laço
familiar surge a base do comportamento infantil de livre expressão, pois a
criança tende a imitar aqueles que a rodeiam. Tal processo expandir-se-á a
partir do momento que a criança comece a freqüentar a escola, assim,
modificar-se-á gradualmente, aumentando seu conhecimento.
Partindo do pressuposto de que a escola é a extensão do lar, podemos
dizer que esta deve intensificar a interação entre a criança e a família, o que
favorecerá o processo educativo e a formação dos indivíduos.
O trabalho dos pais integrado à escola torna-se essencial para que
ambos falem a mesma linguagem, auxiliando na aprendizagem do educando. É
importante que os pais participem constantemente das atividades
proporcionadas pela escola, incentivando seus filhos para o mesmo, pois esta
união de esforços enriquecerá todo o processo de ensino-aprendizagem.
O principal objetivo dessa interação é o trabalho em conjunto, que tem o
intuito de propiciar o desenvolvimento de comportamentos, que contribuirão na
formação integral do educando.
O planejamento da vida cotidiana junto à instituição escolar deve ser iniciado
pelo conhecimento sobre a criança e suas peculiaridades. Isso é conseguido
por meio de um contato direto entre família e professores.
Apesar de algumas instituições imaginarem que os relacionamentos
entre escola e família são problemáticos e geram uma série de conflitos, sabe-
se que o processo ensino-aprendizagem apresentará bons resultados quando
a escola propiciar uma interação junto aos pais, transformando os conflitos em
um processo de socialização entre professor, família, aluno e conhecimento.
Visões mais atualizadas sobre a instituição escolar e as famílias
propõem que se rejeite a idéia de que existe um único modelo de interação
entre ambas, pois podemos compreender que a família, como uma criação
humana mutável, está sujeita a determinações culturais e históricas, dado o
avanço da sociedade.
Cabe à escola respeitar o vínculo familiar da criança, pois de acordo
com o Estatuto da Criança e do Adolescente “a família é a primeira instituição
social responsável pela efetivação dos direitos básicos da criança.”
Então, a instituição deve estabelecer um diálogo aberto com as famílias,
considerando-as parceiras no processo ensino-aprendizagem, assumindo um
trabalho acolhedor às diferentes expressões e manifestações das crianças
junto às suas famílias, valorizando e respeitando as diversidades, pois cada
família constitui-se de experiências, histórias e diálogos diferentes, tendo a
instituição de desenvolver a capacidade de observar, ouvir e também aprender
com essas famílias.
Dessa forma, serão observados os seus valores ligados a
procedimentos disciplinares, relacionamentos, higiene, afetividade, etc. Devem
ser evitados os julgamentos moralistas, pessoais ou vinculados a preconceitos,
pois cada família possui um tipo de “educação” diferente, sendo isso uma
condição para que o estabelecimento forneça alicerces para o início de
diálogos sem diferenciações.
Cabe à escola tornar os pais participativos, levando até eles o conhecimento da
filosofia de trabalho da instituição, as informações, qualificações e
experiências.
Carvalho (2000, p. 12) chama atenção ao fato de que a cobrança dos
pais na gestão da escola pública brasileira é conseqüência da política
educacional recente, de caráter neoliberal. Ela considera que este tipo de
política desencadeia dois efeitos perversos: converte as diferenças de capital
(social, econômico e cultural) em resultados educacionais desiguais e penaliza
a família, principalmente a mãe, pelo fracasso escolar do filho.
Hoje em dia há a necessidade de a escola estar em perfeita sintonia
com a família. A escola é uma instituição que complementa a família e juntas
tornam-se lugares agradáveis para a convivência de nossos filhos e alunos. A
escola não deveria viver sem a família e nem a família deveria viver sem a
escola. Uma depende da outra na tentativa de alcançar o maior objetivo, qual
seja, o melhor futuro para o filho e educando e, automaticamente, para toda a
sociedade.
Um ponto que faz a maior diferença nos resultados da educação nas escolas é
a proximidade dos pais no esforço diário dos professores. Infelizmente, são
poucas as escolas que podem se orgulhar de ter uma aproximação maior com
os pais, ou de realizarem algumas ações neste sentido. Entretanto, estas
ações concretas, visando atrair os pais para a escola, podem ser uma ótima
saída para formar melhor os alunos dentro dos padrões de estudos esperados
e no sentido da cidadania.
Atualmente, os pais devem estar cada vez mais atentos aos filhos, ao
que eles falam, o que eles fazem, as suas atitudes e comportamentos. E,
apesar de ser difícil, a escola também precisa estar atenta. Eles se comunicam
conosco de várias formas: através de sua ausência, de sua rebeldia, seu
afastamento, recolhimento, choro, silêncio. Outras vezes, grito, zanga por
pouca coisa, fugas, notas baixas na escola, mudanças na maneira de se vestir,
nos gestos e atitudes. Os pais devem perceber os filhos. Muitas vezes, através
do comportamento, estão querendo dizer alguma coisa aos pais. E estes, na
correria do dia-a-dia, nem prestam atenção àqueles pequenos detalhes.
Por vezes, os jovens estão tentando pedir ajuda e, mesmo achando que
o filho ultimamente está “meio estranho”, muitos pais consideram isso como
normal, “coisa de adolescente”, vai passar, é só uma fase. Há que se observar
estes sinais. Podem dizer muito de problemas que precisam ser solucionados,
como inadequação, dificuldades nas disciplinas, com os colegas, com os
professores, e outras causas.
É nesse momento que entra a parceria família/escola. Uma conversa
franca dos professores com os pais, em reuniões simples, organizadas, onde é
permitido aos pais falarem e opinarem sobre todos os assuntos será de grande
valia na tentativa de entender melhor os filhos/alunos. A construção desta
parceria deveria partir dos professores, visando, com a proximidade dos pais
na escola, que a família esteja cada vez mais preparada para ajudar seus
filhos. Muitas famílias sentem-se impotentes ao receberem, em suas mãos os
problemas de seus filhos que lhe são passados pelos professores, não estão
prontas para isso.
É necessária uma conscientização muito grande para que todos se
sintam envolvidos neste processo de constantemente educar os filhos. É a
sociedade inteira a responsável pela educação destes jovens, desta nova
geração.
As crianças e jovens precisam sentir que pertencem a uma família.
Sabe-se que a família é a base para qualquer ser, não se refere aqui somente
família de sangue, mas também famílias construídas através de laços de afeto.
Família, no sentido mais amplo, é um conjunto de pessoas que se unem pelo
desejo de estarem juntas, de construírem algo e de se complementarem. É
através dessas relações que as pessoas podem se tornar mais humanas,
aprendendo a viver o jogo da afetividade de modo mais adequado.
Percebe-se que muito tem sido transferido da família para a escola,
funções que eram das famílias: educação sexual, definição política, formação
religiosa, entre outros. Com isso a escola vai abandonando seu foco e a família
perde a função. Além disso, a escola não deve ser só um lugar de
aprendizagem, mas também um campo de ação no qual haverá continuidade
da vida afetiva. A escola que funciona como quintal da casa poderá
desempenhar o papel de parceira na formação de um indivíduo inteiro e sadio.
É na escola que deve se conscientizar a respeito dos problemas do planeta:
destruição do meio ambiente, desvalorização de grupos menos favorecidos
economicamente, etc. Na escola deve-se falar sobre amizade, sobre a
importância do grupo social, sobre questões afetivas e respeito ao próximo.
Sabe-se que é consenso que a família transmite as primeiras
disposições mentais com as quais a criança vai perceber o mundo social, que
mais tarde vão ser complementadas e formalizadas pela escola. Nota-se que
para serem desenvolvidos e interiorizados, os comportamentos infantis não
prescindem da atenção dos familiares, por meio de exemplos e repetições
constantes, até se tornarem uma norma de conduta. O controle dos instintos
humanos requer uma família disponível e consciente de sua responsabilidade
para preparar a criança a assumir seu lugar na sociedade, o que personaliza a
cultura de um povo ao longo das gerações.
Observa-se, entretanto que historicamente, esse papel não só cabe a
família. A escola, os meios de comunicação, a igreja e o meio social também
têm grande influência na educação das novas gerações.
De acordo com Silva, (1997, p.105) “a escola e a família como fatores
externos podem ser consideradas fontes de recurso ou de limites para a
criança no seu processo de aprendizagem e desenvolvimento.”
Estuda-se que na maioria das culturas, o ingresso da criança na escola
corresponde a uma fase de desenvolvimento socialmente decisiva. Verifica-se
que nesta etapa, a criança experimenta a necessidade de ser reconhecida pela
realização das tarefas valorizadas pelo meio ambiente. O aprender na escola,
torna-se especialmente marcante nas etapas iniciais de escolarização, cumpre
papel no processo do desenvolvimento da criança. Sabe-se que no processo
de aprender, variáveis afetivas e cognitivas são consideradas como
importantes na compreensão e no envolvimento da criança, influenciando o
desempenho escolar.
É sabido que o sucesso escolar depende, em grande maioria, de
características emocionais que foram cultivadas nos anos que antecedem a
entrada da criança na escola. A primeira oportunidade para moldar os
ingredientes da inteligência emocional é nos primeiros anos, embora essas
aptidões continuem a forma-se durante todo o período escolar, aprimora-se
que crianças com transtorno de déficit de atenção são capazes de obterem
ótimos resultados escolares desde que seus pais estimulem a sua inteligência
emocional para aprendizagem escolar, na qual, confirma-se que "O
conhecimento avança quando o aprendiz enfrenta questões sobre as quais
ainda não havia parado para pensar" (CARVALHO, 2002, p.71). Percebe- se
que quando o aluno com transtorno de déficit de atenção se depara com
desafios e precisa pensar em como os resolver, surge a possibilidade de
construção de conhecimento através da desestabilização de hipóteses
anteriores de novos conhecimentos, a criança que sofre com esse distúrbio
precisa ser estimulada o tempo todo se deseja que os pais devam trabalhar em
seus filhos o interesse e autoconfiança em aprender, sabe-se que todas as
crianças são capazes de aprender em seu tempo, mas deve-se estimular para
que sejam capazes de realizar tarefas escolares e expressarem suas
necessidades em companhia de outras crianças.
“Não estamos educando a emoção nem estimulando o
desenvolvimento das unções mais importantes da
inteligência, tais como contemplar o belo, pensar antes de
reagir, expor e não impor as idéias, gerenciar os
pensamentos, ter espírito empreendedor. Estamos
informando os jovens, e não formando sua
personalidade.” (CURY, 2003, p.15)
Compreende-se que a inteligência emocional começa nos primeiros
anos de vida e continua durante toda a infância. Todos os pequenos sinais
entre pais e filhos contêm um tema emocional, averigua-se que com a
repetição das mensagens positivas de confiança através dos anos e o estímulo
e interesse dos pais na aprendizagem escolar de seus filhos com transtorno de
déficit de atenção, essas crianças formam o núcleo de sua perspectiva e
aptidões emocionais. Levar as crianças com o transtorno de déficit de atenção
a pensar é uma tarefa difícil para muitos pais, mas não impossível. Deve-se
primeiramente trazer a criança para a sua realidade, mostrar-lhe as suas
responsabilidades escolares e participar constantemente do processo ensino-
aprendizagem de seus filhos. Lembre-se que os pais se tornam os espelhos de
seus filhos, a família em geral deve-se estar atenta as mensagens enviadas a
criança com esse transtorno, pois mesmo aparentemente estando desligadas
assimilam a linguagem verbal de seus pais, estuda-se que quando o tipo de
contato torna-se frio, desmotivado entre a criança e os pais, ele molda a
expectativa que irão caracterizar o comportamento dela em todas as áreas da
vida, para melhor ou para pior.
A educação dos filhos é uma tarefa complexa e difícil para alguns pais.
Compreende-se que é no cotidiano da criança, hora de tomar banho, se
alimentar, decidir com que roupa vai sair, escolher o horário de retornar do
passeio, hora de estudar para as avaliações bimestrais, enfim, entre tantas
outras que ocorrem verdadeiras "guerras" entre pais e filhos, porém é quando
ocorre essas situações que se deve surgir as intervenções dos pais e familiares
que convivem com a criança com transtorno de déficit de atenção, intervenções
adequadas que auxiliemos pequenos na construção de sua personalidade
moral, na formação de seu caráter.
Conceituar a palavra educação é um processo árduo e difícil, pois a
educação abrange muitos aspectos. Afinal, a educação não é feita apenas na
escola. Ela está em toda a parte, acontecendo e influenciando em todos os
momentos da vida, de todas as maneiras possíveis e imagináveis.
Pode-se dizer que a educação é um processo global, pois não consiste
apenas na formação do indivíduo no que diz respeito ao físico, mas também ao
social e psicológico, através de um determinado tempo, através de uma cultura
ou de uma sociedade. Ou seja, não acontece da mesma forma e nem é a
mesma em todos os lugares. Ela difere segundo os costumes de cada povo, de
cada época, depende até mesmo das condições naturais de cada região, do
grau de conhecimento das pessoas e das crenças sociais e políticas, de cada
determinado momento histórico.
No entanto, é a educação que influencia o pensar e o agir de todos,
sendo um processo pelo qual se passa toda a vida, onde adquiri-se
conhecimentos diversificados, diversos tipos de valores e princípios. Valores
estes, que vão durar durante toda a vida, contribuindo até mesmo para a
formação da personalidade.
O ser humano necessita da educação para desenvolver seus aspectos
morais e sua sociabilidade. Isso porque é um ser em constante
desenvolvimento e aprendizagem. É a educação que vai transmitir os
conhecimentos adquiridos de geração a geração.
A educação é o agente fundamental da manutenção de crenças e
valores dos diferentes grupos sociais, além de ser aquela que transmite os
conhecimentos, historicamente, construídos por um povo, ela também tem o
poder da transformação desses mesmos valores e crenças e pode renovar
conhecimentos, à medida que retoma a história construída.
A educação possui o poder de influenciar o modo de vida das pessoas e
determina a maneira como essas pessoas irão perceber o mundo, que está à
sua volta. Pode ser um meio de integrar o cidadão ao mundo em que vive, ou
de aliená-lo, em relação a este mundo.
A educação não começa na escola. Ela começa muito antes e é
influenciada por muitos fatores. Ao longo do seu desenvolvimento físico e
intelectual, a criança passa por várias fases, nas quais a escola da vida, isto é,
o ambiente familiar, as condições sócio-econômicas da família, o lugar onde se
mora, o acesso a meios de informação, têm uma importância muito grande.
A escola não é o único espaço onde a educação acontece, mas é nela
que a educação se processa de modo formal.
À escola cabe ensinar, isto é, garantir a aprendizagem de certas
habilidades e conteúdos que são necessários para a vida em sociedade.
Nesse sentido, a escola pode contribuir para o processo de inserção
social das novas gerações, oferecendo instrumentos de compreensão da
realidade local e, também, favorecendo a participação dos educandos em
relações sociais diversificadas e cada vez mais amplas. A vida escolar
possibilita exercer diferentes papéis, em grupos variados, facilitando a
integração dos jovens no contexto maior.
Por essa razão, conhecer “não se refere somente à realidade objetiva,
mas, e talvez principalmente, à realidade subjetiva” (SOUZA, 1995, p.49).
A existência na família de “verdades” religiosas, sociais ou culturais
incontestáveis assim como a presença de medos e segredos não explicitados
podem, portanto, prejudicar a capacidade da criança de pensar livremente.
Assim, vivências narcísicas e edípicas da criança no seio da família
desempenham um importante papel na organização do seu ego e nas suas
possibilidades de acesso ao sentido de realidade, intervindo, inclusive, no
desenvolvimento da inteligência (BARONE, 1996).
Bossa (2002, p.38) salienta ainda, “que o fato de que a escola é, hoje, o
lugar privilegiado de identificação das “anormalidades” infantil no seio da
sociedade e que os especialistas em terapêuticas educativas, muitas vezes,
acabam alimentando as exigências de perfeição com promessas de reparação
dos “fracassos” na criança e na família”. Como diz Cordié (1996, p.24), “há uma
pressão social que se exerce sobre todos e que gera, muitas vezes, uma
angústia surda que a criança tem dificuldade em identificar”.
Nesse sentido, Barone (1996, p. 21) enfatiza que os problemas na
aprendizagem podem estar relacionados a conflitos em tais vivências, quando
precariamente elaborados, impedindo a criança de lidar com determinados
aspectos inerentes a todo o aprender, tais como reconhecer o seu não saber,
muitas vezes expresso pelos erros que comete; colocar-se em posição de
autonomia e autoria em relação às suas aprendizagens; suportar que outro
saiba mais do que ela e que seu conhecimento é sempre parcial.
Por isso, Salvari (2003, p.11) afirma não ser possível supor o
desenvolvimento das estruturas cognitivas, necessárias à inteligência, como
um processo à parte do psíquico. Acrescenta, ainda, a autora:
“Quando falamos nas questões psicodinâmicas que
envolvem o processo de aprendizagem, estamos nos
referindo ao psiquismo como uma trama de afetos cuja
dinâmica inconsciente modela e constitui o indivíduo
como um sujeito capaz de pensar e desejar.” (SALVARI,
2003, p.54).
Nessa perspectiva, as crianças não podem ser tratadas apenas como
cidadãos em formação. Elas já fazem parte do corpo social e, por isso, devem
ser estimuladas a exercitar sua condição de cidadania, desenvolvendo
expectativas e projetos em relação ao conjunto da sociedade.
É preciso que a escola traga para dentro de seus espaços o mundo real,
do qual essas crianças e seus professores fazem parte. Ela não pode fazer de
conta que o mundo é harmonioso, que não existe a devastação do meio
ambiente, as guerras, a fome, a violência.
Compreender e assumir o tempo presente, com seus problemas e
necessidades, é uma forma de gerar alternativas humanizadoras para o
mundo.
Na escola, muitas vezes a prática educativa desenvolve-se de maneira
rigorosa e sistemática. Não se está dizendo que o professor é o culpado pela educação que
temos hoje, com múltiplas repetências, evasões e tantas outras palavras "feias"
que se escuta. Mas que a situação vigente, está levando a educação a
patamares muito baixos, que se está contribuindo para a divisão de classes,
onde existem pobres e ricos, onde os ricos têm acesso à boa educação e os
pobres não. Que cada vez mais, crianças estão passando de ano sem saber ler
e escrever, que é o básico. Crianças que chegam a 4º e 5º ano sem saber ler e
escrever sozinhas. Isso é educação de qualidade? Onde estão as políticas
públicas? É preciso se colocar em prática o que se tem em lei.
Por isso a formação docente e a aprendizagem constante são
essenciais. O professor precisa estar atualizado para que cada vez mais
consiga trabalhar com seus alunos de forma tranqüila e consciente, com
domínio dos assuntos e conteúdos programados, utilizando-os para a
construção do sujeito efetivamente.
CONCLUSÃO
Este trabalho de pesquisa possibilitou visualizar de maneira crítica a
questão da postura da família e escola em relação às dificuldades
educacionais. Muitos educadores atribuem a responsabilidade do insucesso do
aluno à situação econômica; à família e a própria criança. No entanto,
percebemos que o papel da escola em atender as necessidades do aluno não
é questionado, compactuando com a concepção de que o aluno é que precisa
adaptar-se a escola – padrão, onde quem não é capaz de responder às suas
exigências não está pronto para acompanhar o processo de escolarização,
como consequência ele é excluído do sistema escolar.
Porém, pensamos que a escola juntamente com a família, precisa está
voltada para os problemas de aprendizagem do educando a partir do
conhecimento das especificidades de cada criança, padrões, valores,
experiências, cultura e o significado que a escola pode ter para ela.
O aluno é um ser social com cultura, linguagem e valores específicos.
Quando apresenta dificuldades de aprendizagem deve ser levada em conta
sua individualidade, particularidade, ou seja, o professor precisa trabalhar as
diferenças e a família deve se conscientizar de sua parcela, acreditando na
escola e contribuindo com ela.
A aceleração da mudança pela qual o mundo, e conseqüentemente as
escolas vêm passando, está alterando radicalmente o equilíbrio entre as
situações que nos são familiares e as situações novas. Os índices crescentes
de transformação nos obrigam a lidar com um número incrível e cada vez maior
de situações em que as experiências pessoais anteriores não tem aplicação.
Administrar conflitos não significa domesticação ou conformismo. Os
benefícios, que a administração dos conflitos na escola pode gerar, são
incalculáveis, e vai desde o aumento da motivação, energia e compromisso
aplicado aos resultados dos indivíduos e equipes, até a elevação da
capacidade de inovação, a redução da ansiedade e do stress.
O desejo exige mais, muito mais que a necessidade. “No desejo há
sempre um sentido do ilimitado”, escreve Simone Weil. De início os indivíduos
procuram o poder para não serem dominados pelos outros. Mas, se não
usarem de cautela, logo estarão passando dos limites e tentando dominar os
outros. A rivalidade entre seres humanos só pode ser suplantada quando cada
indivíduo coloca um limite a seus próprios desejos. “Desejos limitados” observa
Weil, “estão em harmonia com o mundo; desejos que contêm o infinito não
estão”. No entanto, podemos afirmar que desde os mais leves até as mais
profundas, as situações de conflito são componentes inevitáveis e necessários
da vida grupal.
A capacidade de administrar conflitos, comunicar e negociar são
imprescindíveis para uma escola moderna e de qualidade.
No entanto, o conflito não deve ser visto como a regra em nosso
relacionamento com os outros. Os seres humanos vivem plenamente sua
humanidade não fora, mas alem do âmbito do conflito. O conflito pode ser parte
da natureza humana, entretanto somente até o momento em que seja
transformado pelos seres humanos.
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ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATÓRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 7
SUMÁRIO 8
INTRODUÇÃO 9
CAPÍTULO I
A FAMÍLIA E SEU PAPEL NO PROCESSO ENSINO- APRENDIZAGEM 11
CAPÍTULO II
A ESCOLA COMO RESPONSÁVEL PELA EDUCAÇÃO 17
2.1 – Compreendendo o processo de aprendizagem 22
2.2 –Formação docente e a realidade escolar 25
2.3 –Dificuldades de ensinagem 27
CAPÍTULO III
FAMÍLIA X ESCOLA: DE QUEM É A CULPA 29
CONCLUSÃO 38
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 40
ÍNDICE 42
FOLHA DE AVALIAÇÃO
Nome da Instituição:
Título da Monografia:
Autor:
Data da entrega:
Avaliado por: Conceito:
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