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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
A ARTETERAPIA NO ATENDIMENTO
À CRIANÇA HOSPITALIZADA
VERA REGINA DOS SANTOS MONTEZANO
ORIENTADORA: PROFª Ms. GENI DE OLIVEIRA LIMA
RIO DE JANEIRO JANEIRO/2009
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
Trabalho monográfico apresentado como requisito parcial para obtenção do Grau de Especialista em Arteterapia em Educação e Saúde.
RIO DE JANEIRO JANEIRO/2009
A ARTETERAPIA NO ATENDIMENTO
À CRIANÇA HOSPITALIZADA
VERA REGINA DOS SANTOS MONTEZANO
5
EPÍGRAFE
A escrita não pode expressar as palavras totalmente. As palavras não podem expressar os pensamentos totalmente... Os santos e sábios estabeleceram as imagens para dar expressão completa aos seus pensamentos. (I Ching O Livro das Mutações 1).
6
RESUMO
Através da história observamos o homem utilizando a Arte como
forma de exteriorizar suas emoções e expandir seu conteúdo psíquico, mas é
na Arteterapia, que vamos encontrar os elementos que possibilitam ao
indivíduo acessar o inconsciente.
Ao ser utilizada como recurso terapêutico e pedagógico com
crianças hospitalizadas, uma nova forma de comunicação lhes será
franqueada. Ao ter seus conteúdos internos mobilizados e materializados nas
produções criativas, um símbolo surgirá, o qual servirá como veículo de
expressão de valores com alta significância em sua vida. Todo esse processo
deverá ser acompanhado por profissional qualificado, responsável e com
postura ética, o Arteterapeuta.
É sabido que a vivência hospitalar na infância traz prejuízo para o
desenvolvimento físico, psíquico e espiritual, podendo desagregar o
comportamento da criança em razão das experiências ali sentidas.
Ao acompanhar uma criança hospitalizada o arteterapeuta deverá
objetivar, sobretudo, o alívio das tensões que surgem pelo afastamento de seu
lar, de sua família, pelo medo da dor física e pela incerteza do futuro. Deverá
ter sempre em mente que a satisfação das necessidades afetivas básicas, é
essencial para evitar o aparecimento de um estado denominado “carência
afetiva”, que certamente deixará cicatrizes em seu corpo e em sua alma pelo
resto de sua existência.
No período de internação nosocomial o desenvolvimento pessoal
desse sujeito não deve ser interrompido, mas sim estimulado, visando alcançar
a promoção da saúde nas bases da Política Nacional de Humanização.
A Arteterapia, processo terapêutico que integra as Artes Plásticas, a
Educação e a Saúde, pode ser um recurso poderoso com capacidade para
mobilizar o conteúdo psíquico e ativar a criatividade, promovendo mudança de
comportamento e evolução na organização de sua vida subjetiva, auxiliando-o
a alcançar sua individuação.
7
METODOLOGIA
Este trabalho resultou de pesquisa bibliográfica realizada em livros e
revistas com interesse no estudo da Arteterapia como processo terapêutico.
Os autores consultados, tais como, Urrutigaray, Ciornai, Philippini,
Reisin, dentre outros, têm produzido importantes fontes de conhecimentos na
área.
Algumas webgrafias foram consultadas. Cartilhas do Ministério da
Saúde e publicação do Conselho Nacional de Secretários de Saúde foram
necessários para fornecer subsídios para esta monografia.
O Dicionário da Língua Portuguesa e a Bíblia Sagrada também
foram utilizados.
8
SUMÁRIO
Introdução 09
CAPÍTULO I
A Arteterapia 11
CAPÍTULO II
Hospital e Humanização 22
CAPÍTULO III
A Criança Hospitalizada 35
Considerações Finais 52
Bibliografia 54
Índice 58
9
INTRODUÇÃO
O presente estudo tem como principal característica certificar a
ARTETERAPIA, como processo terapêutico, no acompanhamento de crianças
hospitalizadas na faixa etária entre 06 e 10 anos.
As práticas expressivas favorecem a comunicação em ocasiões que
a linguagem verbal não consegue exprimir seu verdadeiro sentido, e a
Arteterapia vem como uma possibilidade inovadora, pois ao favorecer a
materialização das emoções contribui para unir mundo interno e externo da
criança em situação de agravo.
A hospitalização tem graves conseqüências sobre o crescimento e o
desenvolvimento infantil, podendo produzir parada ou regressão desses
fatores. Uma criança adoecida e internada encontra-se numa situação de
excepcionalidade, em que todo seu organismo se ressente e dá mostras claras
disso, produzindo sinais e sintomas específicos que revelam o quão a situação
está incomodando e sendo prejudicial.
No primeiro capítulo, a abordagem volta-se para a conceituação da
Arteterapia como processo terapêutico, a qual visa privilegiar a criatividade
inerente ao ser humano como fonte para resoluções de conflitos e de
crescimento pessoal.
A Arteterapia utiliza conhecimentos de artes plásticas na educação e
na saúde como um conceito sem preocupação com a estética ou com técnicas
acadêmicas. Sua forma de criação não está sob o jugo de nenhuma escola
artística.
O profissional gabaritado para conduzir o processo é o
Arteterapeuta, com conhecimentos em história da arte, experiência variada no
manejo dos materiais expressivos, além de conhecimentos na área da saúde e
da educação.
10
No capítulo dois veremos como o conceito de tratamento e
hospitalização se desenvolveu através do tempo e a forma como as pessoas
eram atendidas em suas necessidades. O cuidar transforma-se à medida que a
ciência vai ficando livre das crendices e da influência da igreja.
A Arteterapia contribui para a humanização dentro da unidade
hospitalar ao promover formas criativas e prazerosas de diálogo entre a criança
hospitalizada e sua família, e também favorecendo o entendimento com a
equipe de saúde que a assiste.
O capítulo três volta seu olhar para a criança com suas
necessidades próprias: as necessidades afetivas básicas que não podem ser
esquecidas por ocasião da hospitalização. A satisfação dessas necessidades
básicas visa também proporcionar melhores condições emocionais a essa
criança de forma que ela possa melhor participar de seu tratamento,
proporcionando recuperação mais rápida e diminuindo o tempo da estadia na
unidade de internação.
A Arteterapia como forma de expressão pode auxiliar a criança em
estado denominado “carência afetiva”, promovendo oportunidades e situações
terapêuticas onde ela possa exteriorizar suas emoções, inicialmente de forma
não verbal, afastando o temor de não ser entendida ou até mesmo castigada.
Com isso, melhora sua auto-estima, seu crescimento e desenvolvimento
retomam seu curso natural, e este humano em formação recebe subsídios para
alcançar a saúde almejada, podendo retornar ao meio familiar.
O hospital não pode mais ser visto como um lugar de sofrimento ou
de benesses, mas fonte de bem estar e de conhecimentos que propiciem a
promoção da saúde.
11
CAPÍTULO I
A ARTETERAPIA
“É sempre tempo de aprender e de ver a vida do melhor ponto de vista. É preciso se permitir a criação, a alegria e a surpresa das descobertas. Assim, viver criativamente é viver com saúde”. (Souza, 2005)
1.1. Conceituando Arteterapia
A Arteterapia é um processo terapêutico
“que utiliza a arte como instrumento de expressão simbólica. O processo é desenvolvido através de diferentes modalidades expressivas, sobretudo artes plásticas, utilizadas de forma espontânea ativando, fundamentalmente, mudanças psíquicas e a expansão da consciência” (SOUZA in PHILIPPINI, 2008).
Visa estimular o crescimento interior, abrir novos horizontes através
de mudanças de comportamento, ampliar a consciência do indivíduo sobre si e
sobre sua existência, propiciando resultados em curto espaço de tempo.
A prática da Arteterapia vincula-se a diferentes campos de atuação,
ligando as áreas da Educação, da Saúde e da Arte, através do fazer criativo.
Utilizam-se as artes plásticas, sem preocupação com a estética.
Através da arte se expressa uma idéia, um ideal, ou manifestam-se
as mais profundas emoções e sentimentos.
O foco de atuação da Arteterapia com abordagem junguiana,
segundo Nagem (in PHILIPPINI), está fundamentado em três pontos. Assim,
temos:
• Produção de imagens – imaginação
• Processo criativo por meio da arte – produção
• Inter-relação do cliente com a obra criada – comunicação
12
Nesse processo um símbolo é criado de acordo com a
individualidade e a história de cada um, evidenciando o imaginário. Cabe ao
arteterapeuta, através de intervenções cientificamente embasadas,
contextualizar o seu significado, juntamente com o seu criador.
E o que é o símbolo? Em sua origem, o símbolo é um objeto dividido
em dois: fragmentos de cerâmica, de madeira ou de metal.
Philippini ensina que “os sinais são registrados através da produção
simbólica, pela cor, formas, movimento, ocupação no suporte e padrões
expressivos gerais” (PHILIPPINI, 2008).
“O símbolo separa e une, comporta as duas idéias, de separação e de reunião; evoca uma comunidade que foi dividida e que se pode reagrupar. Todo símbolo comporta uma parcela de signo partido; o sentido do símbolo revela-se naquilo que é simultaneamente rompimento e união de suas partes separadas” (CHEVALIER, GHEERBRANT, 2006).
Qualquer objeto pode ter valor simbólico, podendo ser de origem
material, como pedras, árvores, metais, flores, animais, planetas, rios, etc. Ou
abstrato, como uma idéia, um ritmo, um número, etc.
O símbolo é uma forma complexa de aproximação, de mediação, do
inconsciente com o consciente.
“Um símbolo não traz explicações; impulsiona para além de si mesmo na direção de um sentido ainda distante, inapreensível, obscuramente pressentido e que nenhuma palavra de língua falada poderia exprimir de maneira satisfatória” (JUNG in SILVEIRA, 2006).
Para Jung, os símbolos expressam significância tal, que por vezes, é
a única forma possível de trazer à tona conteúdos internos.
“Os símbolos têm vida. Atuam. Alcançam dimensões que o conhecimento racional não pode atingir. Transmitem intuições altamente estimulantes, prenunciadoras de fenômenos ainda desconhecidos. Mas desde que seu conteúdo misterioso venha a ser apreendido pelo pensamento lógico, esvaziam-se e morrem”. (SILVEIRA, 2006).
Urrutigaray afirma em relação aos símbolos:
“Os símbolos são, portanto, os autênticos representantes da afirmação de uma existência, e a compreensão da linguagem
13
simbólica são facilitados com o manejo dos materiais plásticos. A maleabilidade e a flexibilidade ofertadas pela utilização destes instrumentos (tintas, papel, lápis, etc.) refletem a necessária relativização dos afetos e das impressões espelhadas em imagens das experiências fundamentais de amor, angústia, beleza, harmonia, melancolia, tristeza, alegria, etc.” (URRUTIGARAY, 2006).
Durante o desenrolar do processo arteterapêutico os símbolos
produzidos trazem à consciência conteúdos até então internalizados, e que a
partir daí ganham forma e sentido através das imagens. A partir do momento
que o indivíduo passa a correlacionar os fatos de sua existência com aquele
produto, torna-se claro para ele o significado das emoções e dos sentimentos
ali presentes. Materializados ante seus olhos, qualquer que tenha sido a
técnica expressiva utilizada, é “possível permitir que, pouco a pouco, conflitos
sejam elaborados e conteúdos até então desconhecidos possam acessar a
consciência” (PHILIPPINI, 2008).
Percebemos a partir daí que o indivíduo está indo ao encontro ao
seu processo de individuação, “que se constitui em uma diferenciação
psicológica que possui como finalidade o desenvolvimento da personalidade
individual” (NAGEM in PHILIPPINI, org, 2007).
Nessa linha de conceituação da Arteterapia, Nagem continua:
“A Arteterapia então auxilia o processo de individuação do sujeito, que possibilita o desenvolvimento de potenciais latentes e do autoconhecimento. Ao desenvolver esse seu potencial, pela aquisição da liberdade e da autoconfiança, a pessoa torna-se capaz de superar seus próprios problemas, enquanto segue configurando o seu caminho de transformação psíquica e material” (idem).
Havendo um ambiente terapêutico e acolhedor a experimentação
das diferentes modalidades expressivas contribui para ativar o sensório, a
percepção e a motricidade, quer seja a fina ou a grossa. Esse lugar permitirá
ao indivíduo ter um momento que, estando voltado com inteireza para si
próprio, possa ter as suas angústias e tensões aliviadas através da utilização
dos recursos expressivos. Sentir-se-á literalmente produtivo, quando por fim,
contemplar sua obra e perceber sua capacidade de inovar e provocar
mudanças.
14
Através do produto alcançado no setting terapêutico o cliente
percebe-se como alguém capaz de promover mudanças, não importando valor
estético, mas o conhecimento interior que pode revelar-se através daquela
simbologia, e uma provável mudança de comportamento. Para tanto, é
fundamental que o arteterapeuta tenha interesse sincero, atenção e argúcia,
para oferecer a cada pessoa ou grupo a técnica adequada a cada momento ou
situação, de acordo com o que o cliente deseja e necessita alcançar.
Golinelli (in PHILIPPINI) afirma:
“Através de um processo arteterapêutico, o indivíduo entraria no conhecimento da origem de seus conflitos. Teria como avaliar qual área em que sua vida funciona menos satisfatoriamente. A arte terapia viria em seu auxílio, para que pudesse viver conscientemente...”. “Como facilitadora do auto-conhecimento a Arteterapia, faria com que o indivíduo, materializando conflitos, nas diversas modalidades da expressão artística, se despojasse do que o oprime e perturba, permitindo que desenvolva uma maior aceitação de si mesmo, uma auto-responsabilidade e auto-afirmação, um viver intencionalmente e com integridade”(GOLINELLI in PHILIPPINI, org., 2003).
Preconiza-se abordagens terapêuticas as mais variadas, cada uma
utilizada em diferentes momentos do processo, conforme avaliação e leitura do
comportamento observado no cliente. Dentre as inúmeras opções encontramos
consciência e relaxamento corporal através de respiração adequada,
meditação, imaginação ativa, etc., todas com o intuito de “auxiliar na saída de
estados ordinários de consciência e facilitarem o mergulho em níveis psíquicos
mais profundos” (PHILIPPINI, 2008).
Assim, percebemos que a Arteterapia leva à mudança de
comportamento, promovendo a formação do cidadão. Percebemos essa
preocupação em SOUZA quando cita PHILIPPINI:
“Na medida em que a Arteterapia promove a expansão da consciência, ela contribui para o desenvolvimento da verdadeira cidadania de indivíduos com participação mais democrática, que enxergam opções, que agem com liberdade e responsabilidade, que ressignificam valores, que se tornam mais críticos, mais conscientes de seu papel dentro da sociedade. Enfim, os indivíduos que vivenciam um verdadeiro processo de Arteterapia, se transformam, deixam de ser passivos para serem agentes transformadores” (SOUZA in PHILIPPINI, org., 2003).
15
1.2. Quem é o Arteterapeuta?
A prática da Arteterapia vincula-se aos diferentes campos de
atuação ligados às áreas da Saúde, da Educação e das Artes. Seus
professores podem ser oriundos de diversas profissões, tais como
Fonoaudiologia, Psicologia, Psiquiatria, Arte-Educação, Enfermagem, etc.
Cada profissional utiliza-se da Arteterapia em sua área de habilitação
profissional, conforme suas necessidades e objetivos a serem alcançados.
A Professora Otília Rosângela Silva de Souza, assim define o
arteterapeuta:
“...para ser um arteterapeuta, é necessário uma formação específica, uma vez que a disciplina faz a interface entre a arte e a terapia. Portanto é fundamental aprofundamento e treinamento prático nesse campo. Para que o profissional seja reconhecido como arteterapeuta pela associação do estado em que vá atuar é necessário que curse uma formação ou especialização que possua o currículo mínimo e a carga horária devida, estabelecida pela União Brasileira de Arteterapia (UBAAT). Os cursos de Arteterapia são ministrados por profissionais de diversas áreas, psicologia, pedagogia, psiquiatria, fonoaudiologia, arte-educação, enfermagem, etc., onde cada um insere a Arteterapia em sua área de habilitação profissional”1.
Urrutigaray (2003) chama a atenção para a necessidade de “uma
sólida formação interior”, pois “a constante produção de imagens conduz a
percepção na direção de fatores mais primitivos da psique”. Para tanto, faz-se
necessário angariar conhecimentos na área da psicologia, filosofia, artes,
educação e saúde, para que, estando firmemente embasado, possa contribuir
para o desenvolvimento pessoal do indivíduo que o procura.
É importante que o arteterapeuta esteja familiarizado com as artes
plásticas e sua linguagem, além de saber escutar, e “estar atento às leituras e
desenvolvimentos dos processos individuais ou grupais (de acordo com o tipo
de trabalho proposto)” (URRUTIGARAY, 2003).
Philippini é incisiva quando discorre a respeito da formação do
arteterapeuta:
1 www.amart.com.br/arte_historico.htm
16
“Na formação do arteterapeuta, torna-se necessário um delicado equilíbrio entre boa fundamentação teórica, prática expressiva ampla e variada, estágio supervisionado e a própria vivência como sujeito de um processo terapêutico” (PHILIPPINI, 2008).
A Professora Otília Rosângela Silva de Souza utiliza a definição da
Associação Americana de Arteterapia (AATA, www.arttherapy.org), que diz:
“Arteterapeutas são profissionais com treinamento tanto em arte como em terapia. Têm conhecimento do potencial curativo da arte. Utilizam a arte em tratamentos, avaliações e pesquisas, oferecendo consultoria a profissionais de áreas afins. Arteterapeutas trabalham com pessoas de todas as idades; individual ou com famílias, grupos e comunidades. Oferecem seus serviços individualmente e como parte de equipes profissionais em contexto que incluem saúde mental, reabilitação, instituições médicas, legais, centros de recuperação, programas comunitários, escolas, instituições sociais, empresas, ateliês e prática privada”2
Quanto ao papel desempenhado pelo arteterapeuta, Urrutigaray nos
diz que:
“O trabalho de um arteterapeuta é o de estimular o sujeito a criar até
à finalização de sua obra, observando neste percurso, suas atividades, reações
e expressões orais, durante a execução do trabalho” (URRUTIGARAY, 2003).
O profissional qualificado em Arteterapia permanece atento ao
indivíduo durante a realização de sua obra, acompanhando suas reações, suas
mensagens verbais, corporais. Observa seu olhar. Valoriza se ele traz para o
setting algum dado novo ou mesmo um objeto. Incentiva-o a completar sua
tarefa, “nesta viagem ao encontro do território do Si mesmo“ (CHRISTO e
SILVA, 2008).
Para que haja segurança em sua atuação, o arteterapeuta, como
profissional responsável e ético que deve ser, necessita conhecer bem os
materiais expressivos que irá disponibilizar em seu local de atuação, a fim de
evitar surpresas e decepções. Deve sempre pesquisar diferentes recursos
materiais e empregar novas técnicas, porém somente após terem sido
testados, conhecendo-se intimamente sua linguagem. Como cada recurso
2 www.amart.com.br/arte_historico.htm
17
expressivo se comporta, em que momento do processo terapêutico deve ser
empregado e o que cada um deles tem a oferecer, é função do arteterapeuta
conhecer. Porém, mesmo empregando técnicas novas, o profissional não deve
deixar de manusear as técnicas já conhecidas. Isso fará com que se sinta
seguro no momento da utilização dos mesmos, evitando imprevistos, e
impedindo situações constrangedoras diante do cliente, o que poderá denegrir
sua imagem de profissional competente.
Para o sucesso do processo terapêutico também contribui a
qualidade e o estado de conservação dos materiais utilizados. A produção
artística resultante representará conteúdos psíquicos, por vezes de origem
onírica, e para tal empreendimento devem ser utilizados recursos expressivos
que possam materializar os estados inconscientes o mais fidedignamente
possível.
Urrutigaray (2003) é clara quando diz que “não basta aplicar como
se estivesse seguindo um manual”, pois cada material tem sua linguagem
própria e pode proporcionar situações inusitadas conforme quem o utilize. E
continua:
“É de fundamental relevância que o arteterapeuta tenha domínio da técnica a ser utilizada, bem como do domínio de alguns fundamentos acerca da utilização dos mesmos, a fim de estabelecer e objetivar a mobilização de conteúdos emocionais, com os quais esteja instrumentalizado para lidar. Convém o conhecimento tanto de técnicas expressivas, como de teorias psicológicas que levem em consideração o processo de formação de imagens e de construção das representações, como elementos fundamentais e essenciais ao domínio de sua arte” (URRUTIGARAY, 2003).
Na formação do arteterapeuta não deve faltar conhecimento sobre
como se comporta “a arte e a cultura nas sociedades contemporâneas
abrangendo questões psicológicas, estéticas, sociais e políticas do fazer
artístico” (PHILIPPINI, 2008), assim como sua história e desenvolvimento
através dos séculos.
18
Essa mesma autora ainda recorre a PAIN (1977) para valorizar a
qualificação de arteterapeutas:
“Quanto mais o terapeuta domina o código mais facilmente ele descobre valores (luminosidade, obscuridade, contrastes, passagens, etc.) com os quais o sujeito trabalha e pode melhor auxiliar a enriquecer sua linguagem e sua capacidade de simbolização. Portanto é necessário que se torne um habitual freqüentador dos museus e das exposições para enriquecer seu vocabulário sobre inúmeras formas de expressões plásticas...” (PAIN in PHILIPPINI, 2008).
Reisin (2006) sobre a função do arteterapeuta nos diz:
“É ativo na proposição (com suas propostas), para facilitar um processo no fazer em Arteterapia. Trata-se de acompanhar o processo do outro, tomando o que o outro traz, já que é o outro quem dá sentido ao processo arteterapêutico” (REISIN, 2006).
Mais adiante, o referido autor segue conceituando o trabalho do
arteterapeuta:
“Em arteterapia se trabalha a partir do afeto, de outras representações (artísticas) e depois, num processo secundário, vão se unir ás representações: palavras. Aí então, o trabalho pode ser o de colocar representações ao aparecido a partir do afeto no trabalho expressivo, fazendo o trabalho de ligação” (REISIN, 2006).
O arteterapeuta deve ter grande capacidade de observação do
comportamento humano, sabendo interpretar as entrelinhas do que é dito ou
feito pelo cliente. Seu papel é de acompanhar, permitindo através de
intervenções apropriadas, que o outro possa descobrir a si próprio, Leve-se
em consideração o que deseja o cliente, pois muitas coisas são trazidas por
ele, desde o que faz, o que diz, como faz e diz. O profissional deve saber o que
considerar, mantendo a intenção do que o sujeito mostra, fazendo uma leitura,
deitando um olhar, porém algo diferente pode ser visto ou entendido. Par evitar
enganos REISIN sugere:
“É mais conveniente acompanhar o outro, dando espaços para o dizer do outro sobre aquilo que pensa e elabora sobre aquilo que vê, do que lhe impor a própria leitura (por mais eloquentes ou verdadeiras que sejam), já que as próprias palavras, a própria descoberta do velado, são sempre mais reveladoras e efetivas que as palavras vindas de fora” (REISIN, 2006).
19
O arteterapeuta observa os aspectos terapêuticos das atividades, e
os sinais emitidos pelo cliente, devendo estar sempre mobilizado em função de
orientá-lo a perceber as mensagens contidas no símbolo produzido. O
profissional em questão é o “facilitador dos caminhos subjetivos” (REISIN,
2006), e deve, “como personagem condutora e mediadora do processo,
orientar seu cliente a considerar os aspectos figurativos na composição”
(URRUTIGARAY, 2003).
Deve facilitar ao indivíduo perceber “suas características e
qualidades individuais presentes na obra, evitando, contudo, forçar análises
que ainda não conseguem serem assimiladas” (URRUTIGARAY, 2003).
Ao traçarmos o perfil do arteterapeuta percebemos que além de
conhecimento científico, domínio das modalidades expressivas (pintura,
desenho, recorte e colagem, uso de sucatas, etc., etc.) e criatividade, ele é um
profissional de ajuda e deve demonstrar sincero interesse pelo cliente.
Nas palavras de PHILIPPINI, o arteterapeuta há que ter:
“... esperança na capacidade de transformação do ser humano. Esta atitude aproxima e assemelha a prática de todos os terapeutas encantados com seu ofício, enraizados firmemente neste universo, e se percebendo como ativos agentes de saúde e mudança’ (PHILIPPINI, 2008).
O arteterapeuta crê que a arte é fonte de saúde, provocando mudanças
de comportamento e levando o sujeito a uma vida mais feliz e produtiva,
quando sua imaginação é livre para criar.
1.3. Arteterapia e Criatividade
Percebemos o reconhecimento histórico das expressões artísticas
nas diferentes culturas desde os tempos pré-históricos, em que o homem
servia-se da arte para transmitir suas mensagens, conforme nos diz
Urrutigaray:
20
“Toda cultura surge de linguagens simbólicas, criadas de acordo aos
usos dados pelos exercícios de simbolização de uma dada sociedade, cuja
finalidade encontra-se a de estruturação da vida humana” (URRUTIGARAY,
2003).
Encontramos registros do emprego da Arte como meio de
tratamento e cura desde o século cinco antes de Cristo na Grécia.
“Desde épocas remotas, as expressões artísticas correspondem à expressão psíquica da comunidade e, particularmente, de cada indivíduo. Com isso a Arte passou a ser utilizada como instrumento de expressão cooperadora e transformadora na edificação de seres mais inventivos, criadores, fortes e saudáveis”.3
As inscrições rupestres, as figuras gravadas na rocha ou em
utensílios de cerâmica, comprovam a sua aplicação desde há muito tempo,
conforme nos informa BELLO:
“A pintura é uma das mais velhas expressões de nossa espécie. O círculo é possivelmente a mais antiga imagem arquetípica. Tinha provavelmente um significado espiritual, expressando o conceito da totalidade, a unidade e nossa conexão com Deus. A Arte, na sua concepção, tinha um significado espiritual. Muito antes que a linguagem fosse registrada, temos evidência da arte rupestre, datando de aproximadamente 50.000 A.C.” (BELLO, 2007).
Observa-se que a Arte exerce função social, e também terapêutica
desde a época do teatro grego que, por intermédio de diversos níveis de
identificação com o público, liberava sentimentos e emoções de forma
catártica.
A Arte dispõe-se, através de ações coordenadas, sistematizadas e
integradas entre si, a executar uma tarefa, visando a perfeição da obra, através
dos processos de criação.
“O momento da produção da arte é extremamente magnífico, sendo esse momento, um verdadeiro encontro com a criatividade, pois toca a sensibilidade do ser devido à facilidade que a arte permite ao indivíduo de ampliar seus significados internos que passam a ter um sentido maior, além de proporcionar um novo conhecimento da consciência”.4
3 www.fen.ufg.br/revista/revista3_1/arterap.html - acesso em 03/08/2008 4 http://miranda.psc.br/index.php?option=com_content&task=view&id=27&Itemid=37
21
Quando algo novo surge, essa forma, através do ato de criar, passa
a ter vida e importância, tornando-se um processo interativo com o meio.
“Fazer “arte” implica diretamente em estimular as ordenações de idéias surgidas pela elaboração mental, como ação interativa entre fato e idéia implícita nele, produzindo o pensamento. Aquele que tem acesso á arte ou ao “fazer artístico” está tendo oportunidade de desenvolver ou de configurar habilidades, as quais são, por sua vez, reveladoras da estrutura intelectiva ou cognitiva de quem as realiza, assim como também de seus sentimentos e valores ideais. Pois uma imagem projetada no papel ou numa escultura, ou num movimento do corpo, reflete a maneira pessoal de cada um relacionar-se, posicionar-se, de estar no mundo” (URRUTIGARAY, 2003).
À medida que novos símbolos surgem através da utilização, de
forma terapêutica, dos materiais expressivos, o mundo interno e o externo
tornam-se interligados. Dessa forma, o indivíduo toma consciência de
sentimentos e emoções internalizadas, passa a utilizar a arte como linguagem
simbólica e entra em contato consigo mesmo.
Fayga Ostrower alerta para o fato de que o homem precisa estar
integrado enquanto pessoa para que o seu potencial criador aja criativamente
em sua vida, e para que isso ocorra necessita ter desenvolvido maturidade e
individuação.
“Seria preciso aos homens encontrar condições de vida e de trabalho que proporcionassem os meios de realização de suas potencialidades, onde o seu fazer representasse uma fonte de conscientização interior a partir da qual eles se renovariam espiritualmente. Mas, as injunções a que a maioria tem que se submeter a fim de sobreviver nessa sociedade fragmentada e complexa, impede que sua formação se amplie em qualquer sentido humanista. Quando muito, as pessoas se tornam profissionais, com horários e com expedientes, mas sem tempo para viver” (OSTROWER, 2008).
A criatividade leva a uma evolução na organização dos conteúdos
inconscientes, promovendo mudanças e desenvolvimento individual.
Através das atividades inovadoras o despertar da criatividade promove
crescimento pessoal.
22
CAPÍTULO II
HOSPITAL E HUMANIZAÇÃO
2.1. O Hospital na História
O hospital como nós o conhecemos hoje tem muito pouco a ver com
seu antepassado próximo, cristão e medieval, exercendo “grande influência
sobre as atitudes e expectativas da sociedade em relação à doença e saúde,
envelhecimento e morte” (MORLEY, 1982). No transcorrer dos séculos o
hospital já serviu de hospedaria a romeiros e peregrinos, de asilo e abrigo para
velhos, desabrigados e mendigos, centro social, escola, antecâmara da morte,
etc.
Por volta do século V a.C., na Grécia antiga, havia santuários como
o grande Templo de Epidauro dedicados a Asclépio (o Esculápio dos
Romanos). Esses lugares exerciam atração mágico-religiosa sobre
necessitados de toda sorte. Levemos em consideração o número de enfermos
e peregrinos que para lá iam e sua permanência ao longo dos séculos do culto
a esse deus na civilização helênica e romana. A purificação desejada era
realizada nas águas da fonte sagrada existente nesses templos, onde os rituais
desenvolviam-se. Nos altares os enfermos depositavam seus sacrifícios,
clamando pela intervenção divina. “As oferendas constavam de um boi ou um
galo para os mais abastados, frutas e doces para os menos favorecidos”5
(LUÍS GRAÇA HENRIQUES).
Havia um local onde os doentes passavam a noite num local
denominado abaton, pois cria-se que a cura de seus males ocorria durante o
sono, ocasião em que a divindade faria sua aparição em pessoa. Parturientes
e moribundas não entravam no templo.
5 http://www.ensp.unl.pt/lgraça/textos113.html, acesso em 19/10/2008
23
Ungüentos eram prescritos pelos sacerdotes, ao mesmo tempo em
que faziam aconselhamento para quem assim o desejasse.
“No século IV a.C. surge Hipócrates, educado no templo de Asclépio pelos médicos-sacerdotes da região, e pelo famoso médico Heródito, em cuja atuação, observava o ser biológico e sua vida interior, deixando de lado a divindade e os mistérios. Nesse ponto, a história da medicina na Grécia divide-se em dois períodos: o pré e o pós-hipocrático”.6
O cristianismo veio trazer modificações importantes para a
organização social que imperava na época, levando o indivíduo a ter uma
postura responsável dentro da sociedade. Modifica-se o conceito de
assistência aos doentes e aos necessitados. Os viajantes e os peregrinos
também foram incluídos nessa nova arrumação.
“O hospital confundia-se com a albergaria ou o hospício (do latim hospitin = alojamento; hospitalidade, derivado de hospes). Em geral, ficava junto às catedrais ou aos mosteiros, em conformidade com as instruções dos concílios ecumênicos de Nicéia (325) e de Cartago (398), realizados já no período da cristianização do império romano”7 (LUÍS GRAÇA HENRIQUES).
O limite entre cuidar do corpo e da alma era tênue, estando a
humanidade submetida aos desígnios de Deus. A assistência prestada aos
necessitados e aos demais “pobres de Cristo”, ou seja, “as boas ações”, eram
apreciadas pela Igreja como uma virtude cristã e manifestação da misericórdia
de Deus, servindo também para alcançar o perdão divino pelos pecados
cometidos.
Com a disseminação da lepra surgiram várias instituições voltadas
para o atendimento dos acometidos. Esses locais eram construídos fora das
aldeias e das vilas, de onde os “lazarentos” não podiam sair e nem manter
contato com outras pessoas, criando-se o conceito de “quarentena”
(isolamento).
6 http://www.prosaude.org.br/notícias/jun2002/pgs/encarte.html, acesso em 19/10/2008 7 http://www.ensp.unl.pt/lgraça/textos144.html, acesso em 19/10/2008
24
O termo “lazarento” referia-se à Lázaro, irmão de Marta e Maria.
Segundo a Bíblia Sagrada ele morreu em conseqüência da lepra, e foi
ressuscitado por Jesus após o quarto dia.
No século XIII, a influência monástica medieval tende a diminuir
sobre os hospitais. O clero já não poderia mais executar procedimentos que
implicasse em derramamento de sangue a partir do édito da Igreja de 1163, o
que veio favorecer o avanço da medicina.
Até 1802 ainda não havia hospitais ou departamentos (enfermarias
ou alas) voltados somente para observação e/ou tratamento de crianças.
Podia-se encontrar “às vezes seis ou oito delas dispostas num mesmo leito, ou
alojadas juntamente com adultos gravemente doentes” (WAECHTER, 1979). O
fato de uma doença ocorrer em uma criança e não em um adulto, não tinha
significado relevante para a ciência até então. Nenhum estudo ou publicação
científica ainda havia sido produzido voltado às necessidades afetivas básicas
de crianças enfermas.
O primeiro hospital infantil a ser construído foi em 1802, em Paris.
Pouco depois foi inaugurado na América (Filadélfia), um hospital também
dedicado ao tratamento dos pequenos.
Em 1851, os países da Europa realizam a Primeira Conferência
Internacional em Paris, visando decidir quais os cuidados a serem adotados
para conter o avanço da peste, do cólera e da febre amarela.
Em 1854, durante a guerra da Criméia (Inglaterra, França e Turquia
X Rússia), notabiliza-se a Enfermeira Florence Nightingale, por seu pioneirismo
no tratamento aos feridos durante os combates e “por suas contribuições para
a melhoria das condições sanitárias dos hospitais militares de campo”.8
Florence é de origem britânica, “nasceu em 12/05/1820 em Florença
(Itália) e morreu em 13/08/1910 em Londres (Inglaterra)”9.
8 http://www.pucrs.br/famat/statweb/historia/daestatistica 9 http://pt.wikipedia.org/wiki/Florence_Nightingale
25
Nascida em família abastada, aos vinte anos apaixonou-se por
matemática e estatística, tal qual seu pai, indo de encontro à educação da
época para as mulheres, que deveriam fazer tricô e dançar quadrilha.
Em 1859 Florence Nightingale lança “Notas Sobre Hospitais”, e a
partir de 1867, o modelo de “espaço de internação”, contido em seus escritos,
predominou por no mínimo, cinqüenta anos. Foi ela quem criou as bases para
a organização e implantação de uma enfermaria com ventilação cruzada e
iluminação natural. Estabeleceu isolamento para o paciente terminal, tornando
esse período menos traumático para os demais. Escritório para a Enfermeira
Chefe, criação de setor de utilidades e depósito, assim como Posto de
Enfermagem no centro do salão são de sua responsabilidade a criação.
“A partir de 1860, graças aos esforços de Florence Nightingale, a Enfermagem, como função leiga, adquire status técnico, contribuindo para a humanização do hospital e sua conversão numa instituição centrada no enfermo”.10
No informe técnico 122, de 1957, a Organização Mundial de Saúde
(OMS), assim define o conceito atual de hospital:
“O hospital é parte integrante de um sistema coordenado de saúde, cuja função é dispensar à comunidade completa assistência à saúde, tanto curativa quanto preventiva, incluindo serviços extensivos à família, em seu domicílio e ainda um centro de formação para os que trabalham no campo da saúde e para as pesquisas biossociais”.11
O hospital sempre exerceu diversas funções, e ainda hoje é assim,
mas num novo contexto, com nova organização. Nos tempos atuais ele está
centrado no indivíduo, priorizando o atendimento com qualidade, onde até
mesmo o ambiente onde o enfermo está deve ser levado em consideração.
Não basta ter um leito e medicamentos de última geração disponíveis. Deve
haver participação efetiva e integrada dos gestores, trabalhadores e usuários.
O hospital que hoje se quer deve restaurar a saúde, exercer ações educativas
e promover a pesquisa.
10 http://www.prosaude.org.br 11 idem
26
2.2. Arteterapia e Humanização
Desde 2004 o Ministério da Saúde (MS) vem implementando a
Política Nacional de Humanização (PNH), priorizando o atendimento com
qualidade e a participação integrada dos gestores, trabalhadores e usuários na
consolidação do Sistema Único de Saúde (SUS).
Na Cartilha da PNH intitulada “Visita Aberta e Direito à
Acompanhante”, vemos que há preocupação em ofertar ao cliente, cuidados
que visem satisfazer suas necessidades básicas, que devem ser observadas e
atendidas, como ser um holístico que ele é.
“Cuidar é um conceito amplo que envolve não só os tratamentos propostos, mas também a criação de um ambiente que proporcione mínimas condições de conforto à pessoa cuidada, um reencontro com ela mesma, fazendo nascer uma confiança proveniente deste encontro. Remeter a pessoa a esse estado de confiança é uma qualidade do cuidar. Somente quando a pessoa se encontra nesse estado, capaz de ser reaquecida com seu próprio calor, os tratamentos propostos podem ser eficazes”.
A Arteterapia encontra-se em consonância com os objetivos da PNH
no que se refere a proporcionar ao indivíduo situação em que ele possa crescer
interiormente e ser capaz de participar, de forma livre e consciente, da
recuperação e da promoção da sua saúde.
“A Arteterapia, como processo de estímulo à criatividade, permite
aos clientes a expressão e comunicação de idéias e emoções, possibilitando o
aumento de sua estima e à expansão emocional, diminuindo sua ansiedade”
(VALLADARES e FUSSI in PHILIPPINI, org., 2003).
Olhar o indivíduo como um ser holístico possuidor de numerosas
necessidades inter-relacionadas e interdisciplinares, e valorizar a complexidade
e a riqueza do ser humano é objetivo do HUMANIZASUS, assim como da
Arteterapia.
A Arteterapia desenvolvida em unidades hospitalares tem como
meta ações inclusivas, visando proporcionar a heterogeneidade, a
27
subjetividade e a singularidade no atendimento ao usuário, favorecendo um
atendimento mais humanizado.
Priorizar a autonomia, o processo criativo e imaginário auxilia o
indivíduo a inserir-se no seu contexto familiar e social, facilitando a integração,
a socialização e a comunicação entre esses humanos. Encontram-se também
aí incluídos os trabalhadores da área da saúde, possibilitando que estes, em
suas atividades profissionais também tenham um canal de expressão.
Para desenvolver Arteterapia em instituição nosocomial é necessário
desmistificar o trabalho terapêutico através da Arte.
“É comum nesse contexto que as pessoas associem este tipo de
trabalho com práticas ocupacionais e produção de artesanato, não
conseguindo avaliar o espírito verdadeiramente terapêutico da Arte”.
(FRANCISCO e FERREIRA in CIORNAI, org., 2005).
Faz-se necessário mostrar a diferença entre cada atividade. É
importante ressaltar que na Arteterapia, a cada trabalho há desdobramentos
nas sessões seguintes, visando: restaurar o fazer criativo, promover novas
sínteses e estimular integração com os conteúdos materializados nas
produções. Pode-se ainda enfatizar o aspecto terapêutico do processo ao
facilitar o crescimento gradativo do indivíduo. Ao acentuar a objetivação dos
aspectos simbólicos presentes na representação concretizada, lhe é facultada
a possibilidade de apropriar-se de sua vida, através do autoconhecimento.
O ambiente hospitalar exclui atividades da rotina do indivíduo, da
família e de pessoas mais próximas, que por vezes farão papel de
acompanhante, em substituição aos responsáveis. A singularidade de cada
sujeito fica restrita ao número do prontuário, ao nome da enfermaria, e ao
número do leito. É em sua “unidade de internação”, composta de leito, uma
mesinha de cabeceira, uma cadeira e um suporte de soro, que o cliente muitas
vezes vai receber cuidados de enfermagem, visita médica, alimentar-se,
satisfazer suas necessidades fisiológicas básicas e, até mesmo rezar. Isso, sob
28
olhares não só de profissionais, mas de várias pessoas que por ali transitam
todo o tempo.
Por vezes, faz-se necessário que determinado enfermo permaneça
por longo período internado, ou que se submeta a re-internações freqüentes, o
que o leva a uma depressão de seu sistema imunológico, e maior
vulnerabilidade às infecções hospitalares, o que por sua vez prolongará mais
um pouco sua permanência no hospital, retardando ainda mais sua
recuperação.
“O homem é um ser social, necessita de outros para conviver em nossa sociedade. A comunicação é feita por palavras, gestos, escrita, enfim, por trocas, afeto, amor, raiva e todos os sentimentos pertinentes à espécie humana. A vida é um constante movimento e, quando paramos, deixamos de sentir com todas as nossas forças o sopro da vida” (PORTO, 2008).
Faz parte da humanização desse indivíduo torná-lo singular,
nomeado, identificado. Inteirá-lo com seus iguais através de atividades lúdicas
e do processo criativo. “A escuta, o acolhimento, e até mesmo a forma como se
olha o outro, são imprescindíveis a qualquer pessoa, seja sadia ou doente, pois
somos movidos por afetos e emoções” (PORTO, 2008).
Não podemos olvidar Leonardo Boff ao dizer: “Só o cuidado de um
para com o outro humaniza verdadeiramente a existência. E o cuidado é o
modo próprio do ser humano” (BOFF in PORTO, 2008).
A Arteterapia utiliza-se da Arte como meio de expressão pessoal
para comunicar sentimentos, não tendo como objetivo final produtos
esteticamente agradáveis à visão, a serem julgados segundo padrões externos
de beleza ou sofisticação. É um meio de expressão acessível a todos, não
apenas aos que têm veia artística, não havendo necessidade, também, de
conhecimento prévio dos materiais expressivos.
A Arteterapia estimula a criatividade do indivíduo, quer esteja ele
hospitalizado ou em tratamento ambulatorial, facilitando a comunicação com
29
familiares e profissionais através da materialização das idéias e das emoções,
na utilização de materiais expressivos diversos.
“O caminho criativo em Arteterapia tem o propósito de concretizar,
dar forma e materialidade ao que é intangível, difuso, desconhecido ou
reprimido” (PHILIPPINI in VARGAS, PHILIPPINI org., 2008).
Assim como o programa de humanização do SUS, a Arteterapia visa
promoção de valores voltados à saúde física e mental, individual e coletiva, e a
valorização das relações sociais e familiares, considerando seus diferentes
modelos.
“Vem crescendo um pensamento de uma antropologia da saúde, que estabelece um diálogo no respeito aos outros saberes, outros regimes de verdades de cultura, inclusive embarcando em sua eficácia para estabelecer no respeito às práticas tradicionais e multidisciplinares uma melhor adesão aos tratamentos ou para, invertendo esta lógica, abrir espaço para outros saberes atuarem onde esta ciência não alcança” (MULLER in CIORNAI, org., 2005).
A Cartilha da PNH intitulada “Clínica Ampliada” do MS tem como um
dos aspectos fundamentais “a capacidade de equilibrar o combate à doença
com a produção de vida”, onde “as pessoas podem inventar saídas diante de
uma situação imposta por certos limites”.
Algumas pessoas alcançam essa condição sozinha, e conseguem
“ver no evento mórbido uma possibilidade de transformação, o que não
significa que elas deixem de sofrer, mas elas encontram no sofrimento e
malgrado dele uma nova possibilidade de vida” (Cartilha Clínica Ampliada).
Como exemplos de pessoas que conseguem superar de forma
saudável e positiva as dificuldades, a Cartilha anteriormente nomeada cita o
carnavalesco Joãozinho Trinta, quando após recuperação de um Acidente
Vascular Cerebral, ele diz: “Quando vejo uma pessoa com a vida igual à minha,
desejo uma boa isquemia. Porque eu renasci, aprendi, foi um Big-Bang para
mim” (JOÃOZINHO TRINTA, 1998).
30
E ainda temos o exemplo do compositor Tom Jobim, quando lhe
perguntaram porque havia escolhido a música e, de forma bem humorada
respondeu que a responsável foi a asma, e explicou em seguida: “Acontece
que estudar piano era bem mais chato do que sair com a turma,
namorar...como eu ficava muito em casa por causa da asma, acabei me
dedicando ao piano”(Cartilha Clínica Ampliada).
A PNH, através da “Clínica Ampliada”, propõe não só combater as
doenças, mas uma transformação de forma que a enfermidade, mesmo
trazendo limites, não impeça o indivíduo de ter experiências saudáveis e
construtivas na sua vida.
No tratamento dos portadores de doenças crônicas ou muito graves
isto é muito importante, pois o resultado desejado muito depende da
contribuição do enfermo, entendendo-se esta participação não como uma
dedicação exclusiva à doença, mas sim, uma capacidade de “inventar-se”
apesar da doença.
“O maravilhoso na Arteterapia é que o artista-paciente não precisa de nenhum talento exterior. Necessita apenas fazer esse caminho, que é por essência o caminho do autoconhecimento, e porque vivendo esse caminho pode testemunhar. Suas obras são o seu processo, o seu testemunho, passível de transformações e crescimento a qualquer instante” (FRANCISCO, JEZLER, FERREIRA e CHIESA IN CIORNAI, org., 2005).
A Arteterapia oferece um novo caminho para tratar, orientar e dar um
novo direcionamento ao indivíduo que, estando fragilizado e internamente
desorganizado em função da enfermidade,não consegue enxergar a si próprio.
Estamos ainda iniciando o século XXI, protagonizando surpreendentes avanços
na Ciência, mas o enigma da vida permanece.
“A palavra de ordem hoje é qualidade de vida” (CHIESA in CIORNAI,
org. 2005), o que pode ser alcançado através da “mobilização das sensações,
ampliando o campo perceptivo na exploração das diferentes formas de contato
do homem com o mundo, na dinâmica relacional eu-outro” (FAGALI in
CIORNAI,2005).
31
2.3. Práticas de Arteterapia na Saúde
Experiências em instituições hospitalares utilizando-se a Arteterapia
já encontramos na literatura específica, o que nos anima a continuar. Veremos
adiante duas experiências encorajadoras.
Jezler e Chiesa (in CIORNAI, org. 2005) relatam trabalho
desenvolvido com mulheres após mastectomia, com idade entre 46 e 75 anos,
no Hospital São Cristóvão, na cidade de São Paulo.
O câncer de mama é de difícil abordagem. Produz vergonha,
sobretudo quando vem acompanhado da retirada do seio, levando a mulher ao
retraimento, na tentativa de esconder seu segredo. Acompanha
constrangimento, sofrimento e dor.
“Desde o começo do século muitas questões suspeitas e também pesquisas foram surgindo a respeito do câncer. Inicialmente este era visto como uma doença contagiosa, provocada pela falta de higiene e, em alguns casos, até relacionada com a sexualidade. Vinha como um castigo, e enfrentar o câncer de mama, por exemplo, era suportar heroicamente o sofrimento” (JEZLER e CHIESA in CIORNAI, org., 2005).
Atualmente, considera-se, que além de fatores físicos e ambientais,
os fatores emocionais, aí incluídos os traumas, mágoas, frustrações e raiva
contidas também contribuam para o aparecimento do câncer de mama. Assim,
“aquela doença” não é mais vista como um invasor, mas o próprio organismo
leva as células a se multiplicarem, provocando inúmeras alterações no corpo
da mulher.
Observa-se comportamento semelhante nas mulheres que
desenvolvem câncer de mama, onde as portadoras têm em comum crenças e
atitudes tais como:
“... sentimentos de impotência diante de situações estressantes e uma tendência a desistir, não lutar; sentimento de pouca auto-estima, de desvalor; necessidade quase compulsiva de servir e atender ao outro, numa provável busca de aprovação e amor” (JEZLER e CHIESA in CIORNAI, org. 2005).
32
“Parecem trazer um desprendimento enorme por si mesmas, o que certamente contribui para apagar-lhes a identidade, abafar seus mais verdadeiros anseios e reprimir tantas emoções. Desarmadas de si mesmas, essas mulheres adoecem...”(idem).
As autoras discorrem sobre a relação do câncer de mama com a
feminilidade:
“O câncer de mama traz a relação com o feminino, ou seja, a perda da identidade de mulher. Numa situação de vulnerabilidade como a que se encontra a paciente diagnosticada de câncer, vêm à tona os estereótipos: a mulher dependente emocional, sem autocontrole... sem rumo ou valor”.
Com essa visão e conhecimento, as autoras propuseram como meta
principal, levar aquele grupo de mulheres mutiladas a “realçar ou até mesmo
redescobrir a identidade” (pg. 209). Identidade essa, existente apesar do
câncer. As arteterapeutas procuraram, então, “estabelecer uma conexão com
seu adoecimento e com padrões de comportamento que pudessem favorecer o
restabelecimento da saúde, do bem-estar mental e espiritual”.
“Nossa proposta, portanto, é estimular o espírito de luta, o sentimento de autovalorização e a atenção e percepção às suas próprias necessidades por meio do trabalho artístico, para que os pacientes produzam uma awareness de si e tenham melhor qualidade de vida” (pg.213).
Observa-se que o paciente oncológico tem grande dificuldade para
expressar pensamentos, sentimentos, desejos e sonhos, sendo de grande
valor a forma como a Arteterapia pode ajudar, através da materialização das
subjetividades. No setting terapêutico passam a valorizar suas emoções e a
repensar suas atitudes diante da vida. Dessa forma o indivíduo sentir-se-á mais
fortalecido e capaz de vivenciar uma relação de troca de amor e carinho,
melhorando sobremaneira sua qualidade de vida.
A segunda prática a ser relatada, foi desenvolvida na ala C-
Pediátrica do Hospital de Doenças Tropicais (HDT), localizado em Goiânia,
estado de Goiás. È uma instituição pública sendo referência no estado para
tratamento especializado em doenças infecto-contagiosas e parasitárias
prestando assistência à população de baixo poder econômico. Também atua
como área de ensino para as diversas áreas da saúde.
33
O estudo foi desenvolvido no período de janeiro a maio de 2003,
pela Enfermeira, Artista Plástica e Arteterapeuta Ana Cláudia Afonso
Valladares e pela Psicóloga Ana Maria Pimenta Carvalho.
A amostra constituiu-se de vinte crianças, na faixa etária situada
entre sete e dez anos, de ambos os sexos, com tempo de internação entre
cinco dias e um mês. Foram excluídas crianças que apresentassem distúrbio
de comportamento severo; algum tipo de deficiência; ou que estivessem sob
interferência de outras técnicas dirigidas, como psicoterapia, terapia
ocupacional ou classe hospitalar.
Este exemplo aqui relatado de forma concisa é parte de um estudo
da autora principal, denominado “A Arteterapia no Contexto da Hospitalização
Pediátrica. O Desenvolvimento da Construção com Sucata Hospitalar”,
disponível em http://www.scielo.br/pdf/ape/v18n1/a09v18n1.pdf, com acesso
em 05/12/2008.
“... propôs-se a construção com sucata hospitalar de temática livre e espontânea, com utilização de embalagens e caixas de medicamentos e de outros materiais artísticos de livre escolha do sujeito. Estimulou-se, ainda a criança a dar um título para a obra produzida e, caso quisesse, poderia falar sobre a mesma” .
“As intervenções de Arteterapia consistiram de acompanhamento individual realizado em sete sessões, durante três dias e meio consecutivos, com duração variada de uma a três horas e meia. Durante as intervenções, a pesquisadora principal (VALLADARES), trabalhou várias modalidades de arte apoiadas às necessidades da criança, tendo as intervenções de Arteterapia favorecido a conduta focal e imediata, reforçando, assim, o vínculo. As intervenções consistiram de técnicas lúdicas e de atividades artísticas, com condução espontânea das dinâmicas, favorecendo, assim, a exteriorização da subjetividade da criança. Foram utilizados materiais de desenho, pintura, colagem e recorte, modelagem, construção, gravura, origami, teatro, brinquedos, jogos, livros de história e escrita criativa”.
A Arteterapia promove o desenvolvimento da capacidade motora,
estimula a cognição, levando a criança a uma nova forma de aprendizagem.
Durante a hospitalização pode haver uma parada, ou até mesmo uma
regressão no desenvolvimento, o que pode ser amenizado ou cessado atraindo
34
a atenção desse pequeno enfermo para materiais que estimulem e favoreçam
sua psicomotricidade, bem como sua afetividade, cognição e sociabilidade.
O uso de sucata hospitalar levou à variedade da produção,
criatividade e complexidade dos trabalhos. Utilizando-se a modalidade
expressiva da construção com sucata hospitalar, apreciou-se o surgimento de:
“... maquetes de cidades, castelos, casas, prédios, torres, apartamentos, hospitais, escolas, móveis, tipo: camas e mesas, escadas, árvores, ovos, carros, avião, ônibus e ponte, enfim, as crianças criaram objetos e personagens que habitam o seu mundo particular, real ou imaginário”.
“O poder da ludicidade é um nutriente importante contra o estresse, para integração dos dois lados do cérebro assim como manutenção do eixo criativo da criança, favorecendo seu bem estar e equilíbrio, sua alegria, seu conforto e mudança no seu comportamento. A Arteterapia também contribui significativamente à humanização de cuidados à saúde gerando melhor bem estar aos usuários pela liberdade de expressão/comunicação, alívio de tensão, de ansiedade e de dor”.
Crianças hospitalizadas, abatidas pelo sofrimento físico, poderão
não demonstrar interesse pelas atividades artísticas ou brincadeiras de
imediato. Mas à medida que as atividades desenvolvam-se e elas percebam
um genuíno interesse da parte do arteterapeuta por seu bem estar, envolvem-
se a ponto de conseguir afastar a atenção da dor, do sofrimento, da tristeza e
de outros sofrimentos psíquicos.
35
CAPÍTULO III
A CRIANÇA HOSPITALIZADA
3.1. Aspectos Gerais da Criança
A necessidade de interação e dependência do homem com seus
iguais é sua primeira necessidade básica, para que através desse contato
possa receber cuidado, carinho e afeto, e conseqüentemente manter-se vivo,
ativo e capaz de auto cuidar-se. O ser humano tem “necessidades específicas
que outros animais não possuem para se desenvolver plenamente, tais como:
de relações sociais, de segurança, cognitivas e de capacidade” (PORTO,
2008).
Diversos fatores interagem sobre o psiquismo, desde orgânicos e
hereditários até os culturais e sociais, sem que possam ser dissociados.
Quando se quer alcançar um equilíbrio entre as necessidades básicas da
criança e o seu ambiente, necessário se faz conhecer a diversidade e
complexidade das mesmas, atentando para a fase de desenvolvimento que ela
esteja vivenciando.
“O conhecimento do crescimento e do desenvolvimento normais das
crianças é essencial à prevenção e à detecção de doenças pelo
reconhecimento de desvios evidentes dos padrões normais” (SULKES in
NELSON, 1999).
Necessário também se faz saber a que se referem os termos
crescimento e desenvolvimento, e SULKES esclarece:
“Embora os processos de crescimento e desenvolvimento não sejam completamente distinguíveis, é conveniente referir-se a “crescimento” como o aumento do tamanho do corpo como um todo ou de suas partes e reservar o termo “desenvolvimento” para modificações da função, incluindo aquelas influenciadas pelos ambientes emocional e social” (SULKES in NELSON, 1999).
36
As variações nas proporções corporais ocorrem da vida fetal à vida
adulta, observando-se também variações individuais nas formas corporais de
crianças ditas normais, segundo os padrões familiares.
As crianças diferenciam-se no comportamento, que por vezes, não
se encaixa num padrão esperado, cuja definição é demasiadamente estreita. A
diferenciação entre anormal e normal (embora talvez não usual), sempre
observando áreas indefinidas entre um e outro, freqüentemente baseia-se em
avaliar se o comportamento é adaptativo. O ambiente em que o indivíduo vive,
e o conjunto das características físicas e mentais peculiares a cada ser não
devem ser esquecidas, assim como também as influências culturais, sociais,
políticas e religiosas.
Vejamos segundo SULKES, as diferenças individuais significativas
no desenvolvimento normal do temperamento (estilo do comportamento):
• A “criança fácil” (40%): regularidade das funções biológicas,
abordagem positiva de novos estímulos, alto grau de adaptação a
mudanças, intensidade leve ou moderada das respostas e humor
positivo.
• A “criança difícil” (10%): irregularidade nas funções biológicas,
retraimento negativo frente a novos estímulos, baixo grau de
adaptação, respostas intensas e humor negativo.
• A “criança lentamente interessada” (15%): baixo nível de
atividade, retraimento frente a novos estímulos, adaptação lenta,
intensidade leve das respostas e humor um pouco negativo.
As demais crianças possuem temperamentos mistos.
O temperamento decorre até certo ponto da constituição da criança
(genética) e do ambiente (criação) onde ela cresce, tendo esses componentes
fortes impactos sobre sua adaptação. Fatores culturais e sociais exercem fortes
efeitos sobre a criança através de diferenças na forma do cuidado que lhe é
37
dispensado, nos métodos educacionais e em expectativas comportamentais,
gerando “diferenças nas formas de agir, de reagir, de exprimir emoções,
expectativas ou desejos” (GOMES, 1999).
No entanto, há que se questionar o que é freqüente e o que é
considerado normal, tendo-se como base as opções de cada família. É dentro
do comportamento humano que observamos as diferenças mais delicadas que
nos levam a questionar o que é normalidade e qual o objetivo para desejarmos
que a criança venha a ser “normal”.
“O objetivo de que a criança seja normal é que ela realize, tão bem
quanto possível, as finalidades da criatura humana que ela é, e que só pode
realizar de todo quando se torna adulto” (ALCÂNTARA in MARCONDES, org.,
1991).
Em um país de dimensões continentais como o nosso, com
imigrantes vindos de todas as partes do mundo, com costumes tão variados,
temos diferenças de comportamento entre as famílias que justificam estarmos
atentos para essas peculiaridades.
“Outro aspecto a que muitas vezes não se dá a devida atenção, mas que parece fundamental considerar, diz respeito às características culturais, sociais e sanitárias que distinguem regiões, mesmo dentro do território nacional e que justificam assimetrias e defasamentos relativos à criança e à sua família” (GOMES, 1999).
A criança deve ser cuidada todo tempo, adotando-se medidas a
curto, médio e longo prazo. Devemos investir em sua vida futura enquanto sob
nossos cuidados e responsabilidade, auxiliando a atravessar suas variadas
fases evolutivas, cada uma com suas próprias características. Com base
nestas medidas poderá alcançar o adulto útil e pleno, como pessoa e como ser
social integrado que esperamos venha a ser.
Para cuidar de crianças devemos estar atentos para as relações
afetivas que se estabelecem entre pais e bebês: vínculo e ligação.
38
Segundo SULKES, o vínculo é algo que ocorre de forma rápida,
dando-se logo após o nascimento, “e reflete os sentimentos dos pais para com
o recém-nascido (unidirecional)”. Aos sentimentos recíprocos envolvendo os
pais e o bebê, o autor chama de ligação “e se desenvolve gradualmente ao
longo do primeiro ano” (SULKES in NELSON, org., 1999).
O período puerperal pode contribuir para o desenvolvimento e
solidificação desta relação.
“A ligação à figura estável e específica do genitor é crucial para o desenvolvimento mental e físico normal de uma criança. Além de simples alimentação e proteção, a ligação a uma pessoa responsável também serve para promover a exploração do ambiente e o aprendizado” (SULKES in NELSON, org., 1999).
Entre 09 e 18 meses, as crianças costumam tornarem-se inseguras
em relação à separação da pessoa que habitualmente está presente e
cuidando. Esse período caminha paralelo com as crescentes capacidades
cognitivas e motoras da criança, quando ela começa a entender relações de
causa e efeito imediatas simples e, desse modo, já pode prever separações (p.
ex., depois que a mãe apanha sua bolsa), mas a avaliação do tempo e da
gratificação adiada ainda não possui.
No segundo ano de vida há um aumento da complexidade das
emoções infantis, variando entre medo e timidez, até a cólera e a
agressividade. Nessa fase já podem ser observados comportamentos
compatíveis com o ciúme, o egoísmo, a ternura, e mais tarde, a compaixão.
Ao ficar de pé, noções de distância e de profundidade são
acrescidas. Seu vocabulário aumenta rapidamente, e entra na “socialização
doméstica”, passando a “comportar-se como um membro da unidade familiar,
sujeito a sua rotina, regras disciplinares e seus privilégios” (MARCONDES,
1991).
“Esta fase do desenvolvimento apresenta ainda o início de uma fase de auto-afirmação, independência, desligamento da simbiose anterior com a mãe, e que se traduz por negativismo, teimosia e freqüentes crises de birra quando frustrada em seus desejos” (MARCONDES, 1991).
39
Esta fase estende-se até os três ou quatro anos, diminuindo à
medida que crescem a compreensão e a adaptação social da criança.
Doravante, até aproximadamente os sete anos, vamos observar o
aprimoramento das habilidades já adquiridas, em especial, através do jogo
construtivo e de dramatização, imitando os adultos, melhorando sua adaptação
social. Inicia sua socialização comunal em jardins e parques infantis.
Progressivamente vai tornando-se mais independente e seguro.
Suas capacidades focam-se no aprendizado elementar na fase
escolar, com o aumento do “desejo de saber e suas perguntas são
principalmente relacionadas à casualidade (por quê?)” (MARCONDES, 1991).
Agora, visa interesses intelectuais. Aparecem as primeiras noções de religião e
de vida espiritual. O sexo passa a ser motivo de distinção de grupos.
Percebemos, então, a impossibilidade de se dissociar em um
comportamento seus aspectos cognitivos dos afetivo-emocionais, tendo como
base as pesquisas atuais em neuropsicologia, que demonstram a interação
plástica cerebral. Corrobora com esta noção OLIVEIRA e MILANI (in
BOMTEMPO, ANTUNHA e OLIVEIRA, org., 2008) ao citar DAMÁSIO.
“O corpo em movimento, instrumento e alicerce maior de todo o processo de expressão e comunicação, vem a ser, como nos mostra DAMÁSIO (2000), o núcleo formador de nossa consciência central, articuladora de nossa identidade e, portanto, de nosso desenvolvimento saudável”. È a partir do corpo que a consciência se amplia tornando o organismo capaz de ampliar consideravelmente seu conhecimento sobre si, sobre o meio e sobre seu processo de interação. O corpo, assim, é visto como a referência básica da realidade mental, neural, pessoal e auto-biográfica”.
As diferenças e as especificidades de cada fase do desenvolvimento
infantil devem ser observadas quando se pretende cuidar de uma criança.
Cada período traz mudanças nas características e nos comportamentos. Cada
uma com sua singularidade e seu jeito de estar no mundo, não são apenas
adultos pequenos, mas um ser humano complexo e completo em si.
40
3.2. Necessidades Afetivas Básicas
Vimos que fatores os mais variados interagem sobre o crescimento e
o desenvolvimento da criança, desde orgânicos e hereditários até os culturais e
sociais, sem que possam ser dissociados. Conhecendo os mecanismos que
atuam nas suas diferentes fases evolutivas, é possível promover um melhor
nível de saúde, com a pretensão de se alcançar um equilíbrio entre suas
necessidades básicas e o ambiente em que vive.
Para que o homem, como ser social que é, desenvolva-se, é
necessário que conviva com seus semelhantes. Dessa interação ele vai
receber cuidado, carinho, afeto, segurança e proteção.
“O homem é um ser social, necessita de outros para conviver em nossa sociedade. A comunicação é feita por palavras, gestos, escrita, enfim, por trocas, afeto, amor, raiva e todos os sentimentos pertinentes à espécie humana. A vida é um constante movimento e, quando paramos, deixamos de sentir com todas as nossas forças o sopro da vida ”(PORTO, 2008).
Para tratarmos crianças precisamos conhecer suas necessidades
afetivas básicas, e como elas se refletem em sua vida depois de adulto. E o
que são essas necessidades?
“...as raízes das condições afetivas do adulto, e estas por sua vez, são decisivas no modo e na amplitude com que ele se realiza como ser social. Se esta realização foi posta como finalidade mais alta e remota da criança e para a qual esta deve ser preparada, torna-se evidente que as condições afetivas da criança devem e precisam ser incorporadas na conceituação de sua normalidade e aí assumir papel relevante”. (ALCÂNTARA in MARCONDES, org. 1991).
A interação entre psiquismo e organismo representam a essência e
determinam a modalidade da superior evolução da criatura humana, e dos
quais (psiquismo e emotividade) o organismo é instrumento.
Estas noções são fundamentais para quem deseja desenvolver
Arteterapia com crianças, pois a cada fase, os padrões recém-adquiridos de
comportamento são sensíveis às mudanças externas, e sobretudo às
internações hospitalares. Não podemos olvidar os eventos familiares e sua
interferência no psiquismo infantil, como acréscimo e perda de membros da
41
família, através de “morte de um avô, nascimento de uma criança, separação
dos pais” (CARTER, 1995).
Faz-se então necessário conhecer as necessidades afetivas básicas
da criança para bem compreendê-la e poder através das terapias expressivas
estimular seu crescimento interior.
Observamos seis necessidades afetivas básicas, sendo elas: de
receber amor, de aceitação pelo grupo, de aprovação, de proteção, de
independência e de aprender limites.
• NECESSIDADE AFETIVA BÁSICA DE AMOR:
A criança precisa relacionar-se de forma íntima e profunda com alguém
que a valorize e que tenha desejado seu nascimento de forma intensa. Além de
tentar compreender seus sentimentos e satisfazer suas necessidades.
“Na maioria das sociedades atuais o primeiro vínculo de relacionamento afetivo é o que se faz entre mãe e filho, mas a necessidade de afeto pode também ser satisfeita por “mães substitutas” – avós, irmãs mais velhas, mães adotivas...”(MACHADO in MARCONDES, org., 1991).
A idéia que a criança faz de si mesma (auto-imagem) vai ter forte
dependência do amor que recebe na primeira infância.
• NECESSIDADE AFETIVA BÁSICA DE ACEITAÇÃO PELO
GRUPO:
A família nuclear será a primeira referência, e a cada fase evolutiva
outros grupos tornar-se-ão importantes, como os demais parentes, agregados,
vizinhos, companheiros de escola, etc.
• NECESSIDADE AFETIVA BÁSICA DE APROVAÇÃO:
Ter esta necessidade satisfeita é de extrema importância visto que,
“se a aceitação é incondicional, a aprovação está sempre relacionada com atos
ou situações vividas pela criança” (MACHADO in MARCONDES, org. 1991).
42
A aprovação social tende a fixar o que a sociedade considera
desejável ou adequado.
• NECESSIDADE AFETIVA BÁSICA DE PROTEÇÃO:
De acordo com a fase que esteja sendo vivenciada, a criança
necessita ser cercada por medidas que visem prevenir traumas e acidentes. De
acordo com o que já pode realizar, há de se antever o que possa fazer, como
por exemplo, cuidados com produtos químicos, fogo, etc., se já anda ou sobe
nos móveis.
• NECESSIDADE AFETIVA BÁSICA DE INDEPENDÊNCIA:
É a necessidade que “se contrapõe à de proteção e o delicado
equilíbrio entre ambas se altera com o desenvolvimento da criança”
(MACHADO in MARCONDES, org. 1991). Quanto menor, maior será sua
necessidade de proteção e menor a de independência, até atingir dessa forma,
seu ponto máximo na adolescência.
• NECESSIDADE DE APRENDER OS LIMITES DE SEUS
PODERES:
Por viver em sociedade a criança necessita aprender seus limites e
compreender a realidade que a rodeia, assim como precisa perceber as regras
dessa sociedade, e em sua evolução, formar as próprias noções dos valores
éticos e morais.
Com estas necessidades satisfeitas através da sociedade, e
sobretudo do grupo familiar, a criança desenvolverá confiança no mundo que a
cerca, crescerá segura e com uma auto-imagem favorável e realista.
“Esse é o núcleo para a estruturação de uma personalidade harmoniosa e dotada de recursos para se defender quando, como inevitavelmente ocorrerá, entrar em contato com situações de tensão, frustração ou agressão” (MACHADO in MARCONDES, org. 1991).
43
3.3. Carência Afetiva
A família tradicionalmente tem a função biológica de reproduzir a
espécie, e o cuidado e preocupação dos pais com as crianças são essenciais
para a sobrevivência física delas. Cabe também a ela preparar os filhos para se
tornarem membros adultos da sociedade. Isso acontece à medida que certos
tipos de comportamento, normas e valores são transmitidos. Assim como a
provisão de modelos de papéis adultos sobre os quais a criança possa formar
seu auto-conceito e a idéia de seu lugar na sociedade, tudo contribui para seu
conceito de socialização.
O preenchimento das necessidades básicas da criança sofre
influência direta da dinâmica familiar na qual está inserida. Se algumas
circunstâncias não provêm o espaço apropriado para o alcance pleno da
satisfação esperada para cada necessidade, ou se lhe dão um espaço que ela
não pode ocupar sendo como é, seu desenvolvimento certamente sofrerá
agravos. Suas necessidades de aceitação e de afeto não são supridas. Dentre
as circunstâncias hostis podemos encontrar o nascimento não desejado dessa
criança; suas características não são as fantasiadas pelos pais (sexo, traços
fisionômicos, etc.), ou ainda, os genitores estarem em desavença conjugal.
Machado chama atenção sobre a rejeição que se estabelece pela
criança e suas conseqüências:
“Quando não se forma vínculo amoroso costuma-se dizer que há uma atitude de rejeição pela criança. Não é forçoso que essa rejeição seja acompanhada de hostilidade, pois há uma ampla gradação entre a indiferença mais ou menos mascarada até a mais cruel rejeição: o abandono ou o infanticídio. Como já se assinalou anteriormente, a criança rejeitada, em carência afetiva, apresentará graves perturbações em seu desenvolvimento neuropsicomotor, com retardo no início da marcha e da linguagem, grandes dificuldades no relacionamento social e a formação de uma auto-imagem muito desvalorizada” (MACHADO in MARCONDES, org. 1991).
Quando há presença de graves alterações na dinâmica afetiva intra-
familiar, a criança entrará em grave estado de ansiedade gerada pela
insegurança constante. Seu desenvolvimento sofrerá o prejuízo, levando a
44
possíveis distúrbios em seu comportamento, reações psicossomáticas ou
neuroses.
As internações longas e as doenças crônicas que levam a
hospitalizações repetidas, como o diabetes mellitus, freqüentemente favorecem
o aparecimento de depressão, e de distúrbios de ansiedade, afetando seu
sistema imunológico de forma negativa, e levando a uma recuperação mais
lenta e emocionalmente dolorosa.
O adoecimento para uma criança promove alterações no seu modo
de vida, podendo com isso, haver um desequilíbrio em seu organismo como
um todo. Como conseqüência, poderemos observar um bloqueio em seu
processo saudável de crescimento e desenvolvimento, gerando mais
complicações e retardando o alcance do almejado estado de saúde.
A hospitalização pode ter efeitos negativos sobre o desenvolvimento
infantil. O processo de afastamento de sua rotina diária, impedindo que
freqüentes ambientes estimuladores, instituem uma crise na vida desse ser.
Mesmo crianças aparentando estabilidade emocional, podem entrar
em estado de carência afetiva, pela separação que sofre de sua família,
sobretudo de sua mãe, ou pessoa com quem tenham maior vínculo afetivo. Por
encontrar-se em um momento de dificuldade e intensa dor, necessitaria ter o
aconchego protetor de seu ente mais querido, porém, quando ela mais precisa
dessa presença e desse apoio ele lhe falta.
A mãe e o acompanhante mais constante também sofrem
conseqüências dessa situação. Não recebem informações e esclarecimentos
da forma respeitosa a que teriam direito. Qual deve ser sua atuação junto à
criança doente não lhes é dito de forma clara, e com isso por vezes sentem-se
como intruso. A isso se acrescenta o fato de, na maioria das vezes, ainda não
haver acomodação e um mínimo de conforto, nem para o pequeno enfermo e
tão pouco para quem permanece com ele por dias e semanas a fio, gerando
insegurança e passividade.
45
“A problemática se estende à família, à acompanhante e, em geral, à mãe da criança internada. Ela é receptora da tristeza, do sofrimento, do choro, dos gemidos do seu filhinho, abalado por seu estado de saúde e pelas condições de um contexto que lhe é adverso” (PÉREZ-RAMOS in BOMTEMPO, ANTUNHA e OLIVEIRA, org. 2008).
Criança enferma e acompanhante passa a dividir uma “unidade”,
cujo mobiliário, na maior parte das vezes consta de um leito, uma cadeira, uma
mesinha de cabeceira e um suporte de soro. O espaço ocupado é exíguo e não
há privacidade em relação aos demais clientes, que ali estão na mesma
situação. Novos sons (choro, gritos, bips de aparelhos ligados e talvez
acoplados) lhes causam estranheza. Alguns materiais hospitalares parecem
bizarras até em seus nomes (“compadre”, “comadre”, “patinho”, etc).
Tudo isso, além da dor física causada ora pela patologia em si, ora
pelos procedimentos invasivos a que são submetidas, devem ser bruscamente
incorporados em sua nova rotina, para a qual essa criança não estava nem
preparada e nem desejosa de vivenciar.
A situação agrava-se ainda mais quando, além do comprometimento
de saúde, associam-se:
“... deficiências motoras, mentais e/ou sensoriais e, por outro lado,
condições adversas de vida, como extrema pobreza, desnutrição grave e
carência acentuada de estimulação” (PÉREZ-RAMOS in BOMTEMPO,
ANTUNHA e OLIVEIRA, org., 2008).
A juntar-se a tudo isso temos uma problemática específica de
hospital-escola, conforme nos coloca MACHADO (1991).
“Especialmente em hospital-escola a criança hospitalizada entra em
contato com um número excessivo de pessoas e não aprofunda um vínculo
afetivo com nenhuma delas” (MACHADO in MARCONDES, org., 1991).
Essas crianças tornam-se inicialmente lábeis, chorosas, inapetentes,
com perda ponderal. O desenvolvimento neuropsicomotor torna-se lentificado
ou mesmo estaciona, e tornam-se bastantes indiferentes ao meio, podendo-se
46
ainda observar sofrimento intenso, dependência, irritabilidade, assim como
“baixa imunidade, dificultando assim o seu processo evolutivo integral e a
recuperação de sua saúde” (PÉREZ-RAMOS in BOMTEMPO, ANTUNHA e
OLIVEIRA, org., 2008).
Atualmente, e nem sempre foi assim, é permitido acompanhamento
familiar contínuo aos menores hospitalizados, embora por vezes isso não seja
possível em virtude da organização familiar vigente (trabalho dos pais, outros
filhos, idosos dependentes e outros enfermos simultaneamente na família, que
também necessitam de cuidados e atenção).
Trazer para a internação os pertences mais significativos,
observando sempre o bom senso, tem excelentes resultados no
restabelecimento da criança adoecida. Os brinquedos prediletos, seu
travesseiro e visitas constantes de seus amiguinhos trazem o cheiro e a
presença de seu lar para perto de si, amenizando a solidão e a dor.
Por isso, a Arteterapia, como meio de expressão e criação, segundo
VALLADARES, tem real valor no acompanhamento dessas crianças.
“A Arteterapia, meio de expressão e criação, restabelece uma maneira natural da criança comunicar-se com as outras pessoas; através dela a criança amplia seu conhecimento sobre o mundo e se desenvolve emocional e socialmente, motivo pelo qual não deve faltar na vida de qualquer criança, especialmente daquelas hospitalizadas”.12
Em cada fase do desenvolvimento a criança sente de forma
diferenciada a experiência da hospitalização. Quanto menor a criança maior a
chance de que a internação prolongada provoque sensação de abandono,
decorrente do afastamento da mãe e de seu ambiente familiar e acolhedor.
PÉREZ-RAMOS lembra Spitz, a quem devemos o termo
“hospitalismo”, para referir-se a um comportamento específico gerado pela
estadia de crianças em hospitais e creches, sem a presença da mãe. O termo
denomina uma série de regressões graves que ocorrem mesmo que as
12 www.fen.efg.br/revista/revista6_3/14_Resumo1.html, acesso em 22/01/2009
47
condições de higiene e alimentação sejam satisfatórias e cuidados
assistenciais de rotina sejam implementados a contento. Esta sintomatologia
progressiva é composta de:
“... choro intenso e prolongado, gritos, recusa de contato, expressão facial rígida, gemidos raros, chegando até aos movimentos manuais rítmicos e atípicos, insônia, tristeza intensa e, mais tarde, indiferença total, chegando, em muitos casos, à morte” (PÉREZ-RAMOS in BOMTEMPO, ANTUNHA e OLIVEIRA, org., 2008).
No entanto, observa-se que algumas crianças sentem-se
gratificadas através da obtenção de benefícios adquiridos durante a
hospitalização. São crianças com comportamentos aparentemente mais
equilibrados, aderindo melhor ao tratamento e com melhor aceitação da rotina
hospitalar, mesmo que não receba nenhuma recompensa, quer seja na forma
de aconchego, brincadeiras, ou qualquer outra coisa que poderia ser-lhe
oferecido. Este tipo de comportamento é observado sobretudo em crianças que
vivenciam condições adversas e de sofrimento em seus lares:
“... crianças espancadas, abandonadas ou que permaneciam sozinhas em casa enquanto os pais trabalhavam. Elas sentiam-se melhor no hospital, progrediam em seu desenvolvimento e acabavam até resistindo a aceitar a alta” (PÉREZ-RAMOS in BOMTEMPO, ANTUNHA e OLIVEIRA, org., 2008).
Crianças com até dois ou três anos percebem a hospitalização como
um abandono por parte dos pais; as que se encontram entre quatro e seis anos
a tomam como um castigo por algo que tenham feito. Embora crianças de dez
a doze anos já tenham capacidade para entender a situação, igualmente
passam por grande dor e sofrimento gerado pela ansiedade.
A diversidade, a complexidade e as características que vão se
modificando a cada fase, trazendo por sua vez novas necessidades, exigem
que se amplie continuamente a forma de conduzir a hospitalização, visando
amenizar e humanizar esse período de afastamento do seu meio habitual.
48
3.4. Arteterapia e Promoção da Saúde
A I Conferência de Promoção da Saúde teve como principal produto
a Carta de OTTAWA (WHO,1986), tornando este termo referência básica e
fundamental em todo o mundo quando esse é o assunto. Esta reunião de
líderes da saúde a definiu como “um processo que confere à população os
meios para assegurar um maior controle e melhoria de sua própria saúde, não
se limitando a ações de responsabilidade do setor saúde” (CONASS, 2007).
Propõe que as pessoas sejam instrumentalizadas para administrar sua própria
saúde, assim como os seus determinantes. A comunidade não deve ser
apenas receptáculo das ações governamentais ou institucionais, mas para
atuar deve ser capacitada para contribuir efetivamente na melhoria da sua
qualidade de vida e saúde, incluindo uma maior participação no controle desse
processo, com poder decisório, o que aumenta seu interesse e
responsabilidade.
A Carta de OTTAWA é reconhecida pela Organização Pan-
Americana da Saúde como prioridade programática, enfatizando a participação
da sociedade civil e da ação intersetorial, e por sua vez define Promoção da
Saúde como “uma soma das ações da população, dos serviços de saúde, das
autoridades sanitárias e de outros setores sociais dirigidos para o
desenvolvimento de melhores condições de saúde geral e coletiva” (CONASS,
2007). Refere-se a ações exercidas sobre os condicionantes e determinantes,
os quais provocam impacto favorável na qualidade de vida das populações, e
são eles: paz, educação, habitação, alimentação, renda, ecossistema estável,
recursos sustentáveis, justiça social e equidade.
Podemos então entender a Promoção da Saúde como:
• Um nível de prevenção da saúde onde as ações sejam
realizadas antes que um fator de risco se instale, e
• Uma estratégia para alcançar melhor qualidade e melhores
condições de vida e saúde, através da articulação de saberes
49
técnicos e populares, mobilização de recursos institucionais e
comunitários, a articulação dos diferentes setores públicos.
No Brasil, o Ministério da Saúde instituiu em 30 de março de 2006 a
Política Nacional Promoção da Saúde através da Portaria n.687/GM, tendo
como objetivo:
“... a promoção da qualidade de vida e a redução da vulnerabilidade e dos riscos à saúde relacionados aos seus determinantes e condicionantes – modos de viver, condições de trabalho, habitação, educação, lazer, cultura, bens e serviços essenciais” (CONASS, 2007).
É um modo de pensar e operar articulado às demais políticas e
tecnologias desenvolvidas no SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS), visando ser
uma estratégia para enfrentar as desigualdades sócio-sanitárias existentes no
extenso território brasileiro.
O CONSELHO NACIONAL DE SECRETÁRIOS DE SAÚDE
(CONASS), identifica dois grupos de abordagens na Promoção da Saúde, os
quais são:
• Desenvolvimento de atividades dirigidas à transformação dos
comportamentos dos indivíduos, com ênfase em estilos de vida e
comportamentos educativos
• Desenvolvimento de atividades voltadas ao coletivo de
indivíduos e ao meio ambiente, através de políticas públicas
O desenvolvimento de habilidades e atitudes pessoais favoráveis à
saúde em todas as etapas da vida é um dos pontos sobre o qual a
Organização Mundial de Saúde (OMS) estabelece que o desenvolvimento das
ações de Promoção da Saúde deve ser formulado e implementado.
Neste cenário, a Arteterapia surge como uma possibilidade para a
promoção da saúde através da Arte, trabalhando “com os limites e as
possibilidades criativas da vida” (REVISTA DE ARTETERAPIA, nº 03/vol 03).
50
A Arteterapia vem para a área de saúde como um processo
terapêutico visando contribuir para a prevenção, recuperação e manutenção da
saúde, levando o indivíduo a expressar-se quer seja através de movimentos do
corpo, quer seja utilizando os materiais expressivos.
A Associação Americana de Arteterapia (AATA 2003) assim a
define:
“Arteterapia é o uso terapêutico da atividade artística. Por meio do criar em arte e do refletir sobre os processos e trabalhos artísticos resultantes, pessoas podem ampliar o conhecimento de si e dos outros, aumentar sua auto-estima, lidar melhor com sintomas, estresse e experiências traumáticas, desenvolver recursos físicos, cognitivos e emocionais, e desfrutar do prazer vitalizador do fazer artístico” (AATA, 2003, apud SIMON in PHILIPPINI, org., 2008).
Como processo terapêutico, busca:
“o aumento da consciência do sujeito a respeito de si mesmo, de
sua vida, seus padrões de atuação. Este auto-conhecimento proporcionará
uma maior segurança e autonomia. Consequentemente, maior liberdade”
(COUTINHO, 2007).
É importante que crianças que estejam hospitalizadas tenham
acesso a intervenções que previnam e/ou diminuam o stress surgido ante a
nova situação, provocado como já vimos anteriormente, dentre outros fatores,
pela separação dos pais e a necessidade abrupta de adaptação à nova
condição. Esta, por sua vez, leva à perda de autonomia e controle, ao medo
das doenças e da morte.
“O aumento da consciência das necessidades psicossociais da criança e da família e os cuidados com a saúde têm um profundo efeito na forma e função nas unidades pediátricas do hospital. O restabelecimento físico que causa cicatrizes emocionais não é mais aceito na prática pediátrica. Os hospitais gerais dirigiram suas reflexões para as necessidades infantis, para o conforto emocional, providenciando acomodações para os pais, quartos de recreação, programas escolares e ambientes planejados cuidadosamente” (RODE, REVISTA DE ARTETEAPIA, nº 03,vol. 03,1996).
Os hospitais podem e devem implementar práticas de cuidados que
visem não apenas tratar, mas também prevenir os efeitos deletérios da doença
51
e da hospitalização, visando manter o crescimento e o desenvolvimento da
criança.
Através da Arteterapia e do estímulo à criatividade esse ser
adoecido pode:
“... ampliar o conhecimento de si e dos outros, aumentar sua auto-estima, lidar melhor com sintomas, estresse e experiências traumáticas, desenvolver recursos físicos, cognitivos e emocionais, e desfrutar do prazer vitalizador do fazer artístico” (AATA 2003 apud SIMON in PHILIPPINI, org., 2008).
“A Arteterapia tem surgido como uma solução produtiva para a promoção, preservação e recuperação da saúde e do equilíbrio interno. Ao integrar três áreas de conhecimento – Arte, Saúde e Educação – ela possibilita uma ampla transformação dos indivíduos e assim, se inscreve no elenco de processos possíveis que abordam o ser de forma holística, tendência cada vez mais forte na consciência coletiva do terceiro milênio”13.
13 www.amart.com.br – Autor: Annie Rottenstein, acesso em 20/08/2008.
52
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Ministério da Saúde (MS), através da Política Nacional de
Humanização (PNH), prevê que ao indivíduo sob cuidados deve ser ofertado
um canal de expressão para sua emoção, que favoreça seu auto-
conhecimento, e facilite a promoção da saúde. Encontramos na Arteterapia
uma possibilidade de tratamento onde os meios que possibilitam organizar os
conteúdos inconscientes são através do uso das Artes Plásticas.
A Arteterapia é um processo terapêutico que se fundamenta no
conhecimento científico e na prática de três importantes áreas do saber
humano: as Artes Plásticas, a Educação e a Saúde.
Através da integração desses conhecimentos temos o surgimento de
um novo profissional, o arteterapeuta, que poderá integrar a equipe
multidisciplinar que visa tratar a criança no ambiente hospitalar, facilitando sua
permanência e possibilitando uma participação mais efetiva em seu tratamento.
A Arteterapia permite à criança que se encontra em situação de
fragilidade física e emocional expressar de forma lúdica suas emoções através
dos materiais expressivos. O fazer criativo pode utilizar-se dos materiais
plásticos (desenho, pintura, modelagem, recorte e colagem), da música, das
artes cênicas e de muitos outros, inclusive sucata hospitalar.
O afastamento da família e o convívio forçado com pessoas
estranhas provocam insegurança, medo, raiva e outros sentimentos, que
surgem ou intensificam-se, podendo paralisar seu crescimento e seu
desenvolvimento, que até então estavam sendo considerados satisfatórios.
Essa criança necessitará de meios para expressar emoções e aliviar as
tensões acumuladas, e no setting arteterapêutico certamente encontrará o que
precisa. Através de produções artísticas criativas, que não visem a estética,
verá seu conteúdo inconsciente materializar-se num símbolo que poderá
observar, tocar, e até mesmo com ele dialogar.
53
Uma enfermaria pediátrica, ou mesmo um ambulatório, não tem que
ser obrigatoriamente um lugar sisudo, de sofrimento contínuo, de choro e
agonia, como antigamente. Mesmo porquê, ali se vai para alcançar um bem
maior que é a saúde, motivo de alegria e esperança. Logo, pode-se também
numa Unidade Hospitalar vivenciar experiências que estimulem o sensório e a
criatividade. Para isso podemos contar com a Arteterapia, que paralela ao
tratamento proposto, cumprirá a tarefa de promover saúde em sua totalidade,
tratando e prevenindo danos que possam ser irreversíveis na vida futura desse
ser.
54
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58
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 02
AGRADECIMENTO 03
DEDICATÓRIA 04
EPÍGARFE 05
RESUMO 06
METODOLOGIA 07
SUMÁRIO 08
INTRODUÇÃO 09
CAPÍTULO I
A Arteterapia 11
1.1. Conceituando Arteterapia 11
1.2. Quem é o Arteterapeuta? 15
1.3. Arteterapia e Criatividade 19
CAPÍTULO II
Hospital e Humanização 22
2.1. O Hospital na História 22
2.2. Arteterapia e Humanização 26
2.3. Práticas de Arteterapia na Saúde 31
CAPÍTULO III
A Criança Hospitalizada 35
3.1. Aspectos Gerais da Criança 35
3.2. Necessidades Afetivas Básicas 40
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