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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTODIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
PROJETO A VEZ DO MESTRE
L I D E R A N Ç A E C R I S E
Juaris Weiss Gonçalves
Trabalho monográfico apresentado
como requisito parcial para obtenção do Grau
de Especialista em Reengenharia e Recursos
Humanos
Rio de Janeiro, RJ, outubro de 2001
2
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTODIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
PROJETO A VEZ DO MESTRE
L I D E R A N Ç A E C R I S E
Juaris Weiss Gonçalves
Orientador: Prof. Marco Antônio Chaves
Rio de Janeiro, RJ, outubro de 2001
3
Aos mestres e aoscompanheiros desta jornada nabusca do conhecimento.
4
SUMÁRIO
__________________________________________________________
P.
Resumo
Introdução
1. O Estado ................................................................................................ 11
1.1. Definição, fins e funções do Estado .................................................... 11
1.2. A crise e o Estado Democrático de Direito .........................................13
1.3. O sistema constitucional da crise ........................................................15
1.4. O equilíbrio federativo ......................................................................... 16
2. Intervenção .............................................................................................17
2.1. Natureza da Intervenção ..................................................................... 17
2.2. Intervenção federal nos estados ......................................................... 18
2.3. Pressupostos formais da Intervenção ................................................. 19
2.4. Controle político e jurisdicional da Intervenção ...................................21
2.5. Conseqüências da cessação da Intervenção ..................................... 22
3. As Forças Armadas ................................................................................24
3.1. Composição o e organização das Forças Armadas ............................24
4. Segurança Pública ................................................................................. 27
4.1. Definição ............................................................................................. 27
4.2. Previsão constitucional ........................................................................27
4.3. As Polícias ...........................................................................................28
5. Liderança ................................................................................................29
5.1. Liderança militar .................................................................................. 29
5
5.1.1. Conceito de liderança militar ...........................................................
29
5.2. Conceitos relativos à liderança ........................................................... 30
5.2.1. Área afetiva ...................................................................................... 30
5.2.2. Atitudes ............................................................................................ 30
5.2.3. Caráter ............................................................................................ 30
5.2.4. Crenças ........................................................................................... 31
5.2.5. Ética militar ..................................................................................... 31
5.2.6. Interesses ....................................................................................... 31
5.2.7. Motivação ....................................................................................... 31
5.2.8. Valores ........................................................................................... 31
5.3. Teorias da liderança........................................................................... 31
5.3.1. Teoria inatista ................................................................................. 32
5.3.2. Teoria sociológica ........................................................................... 32
5.3.3. Teoria do campo social ................................................................... 32
5.4. Princípios de liderança ....................................................................... 33
5.5. Aspectos conjunturais ........................................................................ 33
5.5.1. O líder ............................................................................................. 34
5.5.2. Os liderados .................................................................................... 35
5.5.3. A comunicação ............................................................................... 36
5.5.4. A situação ....................................................................................... 37
6. O estado de Alagoas ............................................................................. 38
6.1. Avaliação da conjuntura ..................................................................... 38
6.1.1. Aspectos fisiográficos ...................................................................... 38
6.1.2. Aspectos políticos ............................................................................ 39
6.1.3. Aspectos econômicos ...................................................................... 41
6.1.4. Aspectos psicossociais .................................................................... 43
6.2. A segurança pública ........................................................................... 43
6.2.1. A Polícia Militar................................................................................. 44
6.2.2. A Polícia Civil ................................................................................... 46
6.2.3. O Corpo de Bombeiros Militar .......................................................... 46
6
6.3. A participação do Governo Federal ....................................................
47
6.3.1. Precedentes da crise ....................................................................... 47
6.3.2. A eclosão da crise .......................................................................... 48
7. A participação do Exército Brasileiro ..................................................... 52
7.1 Generalidades ..................................................................................... 52
7.2. Ações implementadas ........................................................................ 54
7.3. Aceitação das medidas adotadas ....................................................... 58
Conclusão .................................................................................................. 63
Bibliografia ..................................................................................................66
Anexos
7
RESUMO
O presente trabalho aborda a ação do Exército,
no período de 25 de julho a 01 de novembro de 1997, após a crise político-
social que culminou com a saída do então governador de Alagoas Divaldo
Suruagy.
Tendo como cenário a crise, o foco é destacar,
no trabalho realizado pelo oficial designado para comandar a Polícia Militar de
Alagoas, a importância da liderança para a restauração da normalidade.
A situação do estado era extremamente
complexa, tornando imprescindível à participação do Governo Federal para o
encaminhamento da solução. Em função dessa necessidade, nos capítulos
iniciais foram abordados conceitos, que se destinam a caracterizar as
responsabilidades da União e do estado membro na crise político-social que se
abateu sobre Alagoas.
8
Na seqüência, é apresentado o papel
constitucional das Forças Armadas onde são definidas as condições legais
para a participação das mesmas, de forma episódica, na Segurança Pública.
Como a Segurança Pública do estado passava
por sérios problemas, a ponto de ter sofrido intervenção do Governo Federal, é
apresentado o conteúdo constitucional que explicita o seu significado, a sua
organização e a sua abrangência.
A seguir, foi abordado o assunto liderança
militar, cujos princípios são referenciais para o comportamento dos militares
do Exército.
Para que o contexto existente no estado de
Alagoas e sua influência em todas as decisões pudesse ser conhecida foi
realizada a avaliação da conjuntura, abrangendo os aspectos fisiográficos,
políticos, econômicos e psicossociais.
Apresentados os conteúdos necessários para o
entendimento da crise e de suas condicionantes, foram elencadas as
realizações do oficial do Exército que exerceu o Comando Geral da Polícia
Militar, cujos resultados repercutiram positivamente no âmbito da corporação e
da sociedade civil.
Na conclusão fica caracterizado que os
resultados obtidos foram decorrentes da adequada e oportuna aplicação dos
princípios de liderança militar e que em cenário de crise, liderança não é uma
escolha a ser feita. É a única.
9
INTRODUÇÃO
O líder tem de ter coraçãogrande para acolher as pessoas eestrutura de aço para tocar osnegócios. Cristina Weiss
Em 13 de junho de 1997, quando os policiais
militares de Minas Gerais saíram às ruas de Belo Horizonte, em greve, por
aumento salarial, não imaginavam que estavam acendendo o estopim da pior
crise na história da Polícia Militar brasileira.
Durante o cerco dos grevistas ao Palácio da
Liberdade sede do governo mineiro, onze dias após, houve confronto com os
próprios PM que protegiam o Palácio.
Com a greve fora do controle, o governador
Eduardo Azeredo cedeu um reajuste de 48% aos grevistas. Ao se render à
pressão dos policiais, o ato do governador se transformou na senha que faltava
para as polícias do resto do país também iniciarem seus movimentos grevistas.
Em menos de duas semanas, a crise já havia se
estendido para outros 12 estados, mas foi em Alagoas que assumiu dimensões
de crise de estado.
10
Em 17 de julho, o prédio da Assembléia Legislativa
do estado de Alagoas, foi cercado por mais de 10 mil manifestantes que
ameaçavam de morte os deputados caso mantivessem o governador Divaldo
Suruagy no cargo.
Houve troca de tiros entre tropas do Exército,
seguranças de deputados e policiais militares e civis, em greve.
Depois do incidente, Suruagy, já envolvido no
escândalo dos precatórios, preferiu optar por uma licença de seis meses com
vencimentos.
A partir daí o vice-governador assumiu a tarefa de
administrar a caótica situação e recebeu, como imposição do governo federal,
a inclusão no seu secretariado de três oficiais do Exército que assumiram,
respectivamente, as Secretarias da Fazenda, da Segurança e o Comando
Geral da Polícia Militar.
O presente trabalho destina-se a fazer uma análise
da crise político-social ocorrida no estado de Alagoas, abordando a liderança
exercida, no período de 25 de julho a 01 de novembro de 1997, pelo oficial do
Exército nomeado Comandante Geral da Polícia de Alagoas.
Com o intuito de bem analisar a crise e avaliar a
capacidade de liderar do novo Comandante, foi realizada uma pesquisa
bibliográfica, constando da consulta de livros, jornais e artigos, além do
conhecimento decorrente da vivência do autor no episódio.
11
1. O ESTADO
A democracia moderna repousa na
soberania, não do povo mas do
cidadão. Norberto Bobbio
1.1. Definição, fins e funções do Estado
Os estados são ordens jurídicas regionais
que detêm autonomia, nos termos da Constituição Federal. Possuem
capacidade política e administrativa, tendo as competências e autoridades
próprias.1
Pode-se dizer que o estado, como
sociedade política, existe para realizar a segurança, a justiça e o bem-estar
econômico e social, os quais constituem os seus fins.
1 MOTTA, Sylvio, DOUGLAS, Willian. Direito Constitucional. Rio de Janeiro: Impetus, p. 159.
12
A justiça possibilita que, nas relações
entre os homens, seja substituído o arbítrio da violência individual por um
complexo de regras capazes de satisfazer o instinto natural da própria
justiça.
O bem-estar econômico e social é outra
finalidade do estado. O que se objetiva é a promoção de boas condições de
vida dos indivíduos, garantindo-lhes o acesso aos bens econômicos que
permitam a elevação de camadas sociais mais pobres, contemplando-as
com educação, saúde, habitação, dentre outros serviços.
É preciso, contudo, não exagerar o papel
desses serviços, para que não se agigante o Estado, e não haja o
comprometimento das liberdades públicas.
O estado é um meio e não um fim em si
mesmo. Existe para a realização individual e social do homem. O bem
comum constitui a finalidade legítima do Estado. O Estado, igualmente, não
é uma instituição para governar idéias, muito menos par impô-las, existindo
para regular condutas.
Não existem apenas funções jurídicas do
estado. Há o Estado cultural, o do bem-estar, Estado ético e ainda o social.
Além da criação e da execução do Direito, outras funções não jurídicas se
processam mediante atos políticos e atos materiais, a despeito de serem
cercados pela malha de uma regulamentação jurídica e influírem na esfera
do Direito.
Define-se, então, a função política como uma
conexão de funções legislativas, regulamentares, planificadoras e militares,
13
de natureza econômica, social, financeira e cultural, dirigida à
individualização e graduação de fins constitucionalmente estabelecidos.
Além disso, fica comprometida a idéia de ser
a função política considerada juridicamente livre pelo fato de que todo o
poder estatal, no Estado de Direito, se acha juridicamente vinculado à
Constituição.
Assinale-se que, embora sejam as funções
do Estado abstratamente distintas umas das outras, os atos que manifestam
podem ter caráter misto.
Desta forma, pode haver atos que embora
tidos como legislativos, simultaneamente são manifestações do Poder
Executivo, e mesmo certos atos jurisdicionais que contêm elementos do
Poder Legislativo.
1.2. A crise e o Estado Democrático de
Direito
O Estado Democrático de Direito,
compreende a limitação jurídica do arbítrio do poder político e a estabilidade
jurídica das garantias individuais, tendo, a Constituição como norma
suprema, o que reclama uma adequação de todo o ordenamento
infraconstitucional com as normas constitucionais.
Sendo o arbítrio político incompatível com a
segurança individual, pode-se dizer que o traço prático pelo qual se
reconhece o Estado de Direito é o grau de garantia de que são cercados os
indivíduos.
14
Na vida de uma comunidade política,
podem, no entanto, ocorrer situações de crise (econômica, bélica, política,
social, física, como epidemias, terremotos, inundações, etc.), acarretando a
ruptura do equilíbrio institucional.
As crises que incidem sobre a organização
estatal podem ser assim tipificadas:
crises deflagradas com a finalidade de destruir a independência ou a
integridade territorial do Estado;
crises engenhadas para derrubar o regime político-institucional e, assim,
a ordem constitucional vigente;
crises econômico-financeiras.
Para debelar a anormalidade, superando a
situação de crise, surge a necessidade da constitucionalização das
circunstâncias excepcionais, vale dizer, a Constituição passa a estabelecer
medidas destinadas à defesa do Estado e de suas instituições.
Fala-se então, em direito constitucional, de
crise ou legalidade especial, cuidando-se de fixar o alcance, os limites e as
garantias das medidas excepcionais, sobretudo as referentes ao retorno à
normalidade.
A defesa do Estado e das Instituições
Democráticas não está autorizando a defesa do governo, que é transitório,
ou de um determinado sistema político, que nem sempre representa o
verdadeiro conceito de democracia, mas a integridade do sistema jurídico
15
constitucional com respeito às liberdades e garantias individuais,
traduzida na origem popular do poder político e na prevalência da
legalidade.
1.3. O sistema constitucional das crises
O sistema constitucional das crises,
entendido como o conjunto de normas constitucionais estruturadas,
ordenadas e coerentes é fundado nos princípios da necessidade e da
temporariedade.
O princípio da necessidade caracteriza-se
pela ocorrência de situações que, pela sua gravidade, colocam em risco a
estabilidade do regime, objetivando, por isso mesmo, a manutenção e a
preservação da ordem constitucional e das instituições.
O princípio da temporariedade significa que
a exceção constitucional terá duração e prazo determinados.
Esses princípios acarretam a decretação de
medidas excepcionais que, por traduzirem uma legalidade especial, não
podem ser efetivadas sem a ocorrência fundada em elementos seguros da
emergência; não podem exceder os limites da defesa do regime e das
instituições democráticas, nem quanto à natureza das medidas, nem quanto
à extensão no espaço e duração no tempo, necessárias e suficientes. Não
se podem furtar ao controle político do Legislativo, ainda que a posteriori, e
não podem fugir ao controle jurisdicional que repare desvios e abusos.
Ressalte-se, contudo, que a Constituição
não impede golpes de Estado. Sendo assim, não há dispositivo legal que
impeça os riscos de abuso das medidas excepcionais.
16
1.4. O equilíbrio federativo
O Estado federal assenta-se no princípio
da autonomia das entidades componentes e se apoia em dois elementos
básicos: existência de governo próprio e a posse de competência exclusiva.2
A autonomia, estabelecida nos artigos
25, 29 e 32 da Constituição, é o poder limitado e circunscrito, em que se
verifica o equilíbrio da federação, caracterizado pela capacidade que têm os
Estados, Municípios e Distrito Federal, todos autônomos, de agir dentro de
círculo preestabelecido.
Esse equilíbrio federativo realiza-se por
mecanismos instituídos na Constituição Federal, entre os quais sobreleva o
da intervenção federal nos estados e agora também no Distrito Federal e
dos estados nos municípios, que está prevista nos artigos 34 a 36 da
Constituição.
2 SILVA, José Afonso. Curso de Direito Constitucional. Rio de Janeiro:Malheiros, 1997, p. 482.
17
2. INTERVENÇÃO
A intervenção é instituto essencial aosistema federativo, sendo exercido em funçãoda integridade nacional e da tranqüilidadepública. (José Afonso da Silva)
2.1. Natureza da Intervenção
A intervenção é ato político que consiste na
incursão da entidade interventora nos negócios da entidade que a suporta.3
Intervenção é a antítese da autonomia. Por
ela afasta-se, momentaneamente, a atuação autônoma do Estado que a
tenha sofrido. A União não é, no plano interno, superior aos estados e a
prova disso é o fato de não poder neles intervir sem atender aos requisitos
impostos pela Constituição Federal.4
3 SILVA, José Afonso. Op.cit. 483/484.4 MOTTA, Sylvio, DOUGLAS, Willian. Direito Constitucional, p.158. Riode Janeiro: Impetus, 2000.
18
Uma vez que a Constituição assegura
a essas entidades a autonomia como princípio básico da forma de Estado
adotada, decorre daí que a intervenção é medida excepcional, e só há de
ocorrer nos casos nela taxativamente estabelecidos e indicados como
exceção ao princípio da não intervenção, preconizado pelo artigo 34, que
determina que a União não intervirá nos Estados, “exceto para”, “exceto
quando”, arrolando-se em seguida os casos em que é facultada a
intervenção estreitamente considerados.
2.2. Intervenção federal nos Estados
Os pressupostos de fundo da intervenção
federal nos Estados constituem situações críticas que põem em risco a
segurança do Estado, o equilíbrio federativo, as finanças estaduais e a
estabilidade da ordem constitucional.
Trata-se de um instituto típico da estrutura
do Estado federal que tem por finalidade:
a defesa do Estado (País) quando nos casos do Art 34, I e II, é
autorizada a intervenção para: manter a integridade nacional e repelir
invasão estrangeira;
a defesa do princípio federativo, quando, nos casos do mesmo artigo 34,
II, III e IV, é facultada a intervenção para: repelir invasão de uma
unidade da Federação em outra; pôr termo a grave comprometimento da
ordem pública; garantir o livre exercício de qualquer dos Poderes nas
unidades da Federação;
a defesa das finanças estaduais, quando, nos casos do artigo 34, V, é
permitida a intervenção para reorganização das finanças da unidade da
Federação que: suspender o pagamento da dívida fundada por mais de
dois anos consecutivos, salvo força maior; deixar de entregar aos
19
Municípios receitas tributárias fixadas na Constituição, dentro dos prazos
estabelecidos em lei;
a defesa da ordem constitucional, quando o artigo 34 autoriza a
intervenção: no caso do inciso VI, para prover a execução de lei federal,
ordem ou decisão judicial; no caso do inciso VII, para exigir a
observância dos seguintes princípios constitucionais: forma republicana,
sistema representativo, regime democrático; direito da pessoa humana;
autonomia municipal; prestação de contas da administração pública,
direta ou indireta; aplicação do mínimo exigido da receita resultante de
impostos estaduais, compreendida a procedente de transferências, na
manutenção e desenvolvimento do ensino.
2.3. Pressupostos formais da Intervenção
Os pressupostos formais da intervenção são
aqueles que dizem respeito a efetivação, limitação e requisitos da
intervenção. 5
A intervenção federal efetiva-se por decreto
do Presidente da república, o qual especificará a sua amplitude, prazo e
condições de execução e, se couber, nomeará o interventor nos termos do
artigo 36, § 1º, da Constituição Federal.
Há, pois, intervenção sem interventor. Isso
porque a medida pode atingir qualquer órgão do poder estadual. Se for no
Executivo, o que tem sido regra, a nomeação do interventor será necessária
para que exerça as funções do Governador.
5 MOTTA, Sylvio, DOUGLAS, Willian. Op.Cit. p. 355.
20
Se for no Legislativo apenas, tornar-se-
á desnecessário o interventor, desde que o ato de intervenção atribua as
funções legislativas ao Chefe do Executivo estadual
Se for em ambos os Poderes, o interventor
será, também, necessário para assumir as funções executivas e legislativas.
O decreto de intervenção dependerá:
nos casos dos incisos I II III e V do Art.34, da simples verificação dos
motivos que a autorizam;
no caso do inciso IV do Art.34, de solicitação do Poder Legislativo ou do
Poder Executivo coacto ou impedido, ou de requisição do Supremo
Tribunal Federal, se a coação for exercida contra o Poder Judiciário;
no caso de desobediência a ordem ou decisão judicial (inciso VI do
artigo 34), de requisição do Supremo Tribunal Federal, do Supremo
Tribunal de Justiça ou do Tribunal Superior Eleitoral, segundo a matéria.
no caso do inciso VII do artigo 34, de provimento, pelo Supremo Tribunal
Federal, de representação do Procurador-Geral da República,
representação essa que caracteriza a ação direta de
inconstitucionalidade interventiva;
na hipótese do artigo 34, VI, que trata da recusa à execução de lei
federal, dependerá de provimento pelo Superior Tribunal de Justiça, de
representação do Procurador–Geral da Republica; aqui não se trata de
obter declaração de inconstitucionalidade, portanto essa representação
tem natureza diversa da referida no inciso III do artigo 36. Seu objetivo
consiste em garantir a executoriedade da lei federal pelas autoridades
estaduais.
21
nos casos dos incisos VI e VII do Art. 34, o decreto de intervenção
limitar-se-á a suspender a execução do ato impugnado, se essa medida
bastar ao restabelecimento da normalidade, isto é, se for suficiente para
eliminar a infração àqueles princípios constitucionais neles arrolados.
Aplica-se o processo estabelecido na Lei
4337/64, com possibilidade de suspensão liminar do ato impugnado (Lei
5778/72). Se, porém, a simples suspensão do ato não for bastante, efetivar-
se-á a intervenção.
Esta não é mera faculdade, mas também um
dever que se impõe à União, e, portanto, ao Presidente da República, que
terá de executá-la sempre que for necessária, uma vez que se cuida aí de
medida de defesa da Constituição, mormente nas hipótese de requisição
dos Tribunais, nos termos do artigo 36, I e IV, da Constituição Federal.
2.4. Controle político e jurisdicional da
Intervenção
O decreto de intervenção será submetido,
pelo Presidente da República, à apreciação do Congresso Nacional no
prazo de vinte e quatro horas, que será convocado extraordinariamente, no
mesmo prazo, se não estiver funcionando, para conhecer do ato
interventivo, dispensada a exigência se a suspensão do ato impugnado
houver produzido seus efeitos nos casos de provimento à representação do
Procurador–Geral da República, ex vi do artigo 36, §1º a 3º).
É despiciendo dizer que o Congresso
Nacional não se limitará a tomar ciência do ato de intervenção, pois o
decreto interventivo lhe será submetido para apreciação, o que envolve
julgamento de aprovação e rejeição, como aliás, está expressamente
22
estabelecido no Art. 49, IV, que lhe dá competência exclusiva ara
aprovar ou suspender a intervenção.
Se suspender a intervenção, esta passará
a ser ato inconstitucional, e deverá cessar imediatamente, pois, se for
mantida, constituirá atentado contra os poderes constitucionais do estado,
caracterizando o crime de responsabilidade do Presidente da República,
previsto no Art. 85 II, da Constituição Federal, que fica sujeito ao processo e
sanções correspondentes.
Não há controle jurisdicional sobre o ato de
intervenção nem sobre esta, porque se trata de um ato de natureza jurídica
insuscetível de controle jurisdicional, salvo manifesta infringência às normas
constitucionais, mormente naqueles casos em que a intervenção dependa
de solicitação do poder coato ou impedido ou de requisição dos tribunais e
elas não tenham sido feitas ou tenham sido feitas irregularmente.
Outra hipótese de apreciação jurisdicional
da intervenção se dará quando a intervenção tiver sido suspensa pelo
Congresso Nacional e ela persista, pois, neste caso, como dissemos acima
o ato perderá legitimidade esse tornará inconstitucional, sendo pertinente
recorrer-se ao Judiciário para a garantir o exercício dos poderes estaduais.
Haverá também controle jurisdicional em relação aos atos do interventor.
2.5. Conseqüências da cessação da
Intervenção
Cessados os motivos da intervenção, as
autoridades afastadas de seus cargos a eles voltarão, salvo impedimento
legal, conforme determinação expressa do artigo 36, § 4º. O afastamento
das autoridades visa permitir a reposição da normalidade constitucional.
23
Pode ocorrer que, terminado o prazo
da intervenção e cessados os seus motivos, as autoridades afastadas
estejam legalmente impedidas de voltar às respectivas funções, seja porque
já findou seu mandato, seja porque este foi cassado ou declarado extinto,
ou porque tenha renunciado (ou até morrido); ou tenham tido suspensos ou
perdidos, nos termos da própria constituição, seus direitos políticos, o que
impede à reassunção dos cargos.
Em tais casos, salvo na primeira hipótese,
deverão assumi-los aqueles que a constituição estadual indicar como
sucessor: Vice-Governador ou Presidente da Assembléia Legislativa.
24
3. AS FORÇAS ARMADAS
3.1. Composição e organização das Forças
Armadas
As Forças Armadas, compostas da
Marinha, Exército e Aeronáutica, são organizadas com base na hierarquia e
na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República.6
As Forças Armadas são instituições
nacionais permanentes e regulares que se destinam à defesa da Pátria, à
garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da
lei e da ordem.
A Constituição, em seu artigo 142,
estabelece que as Forças Armadas são instituições nacionais permanentes
e regulares que se destinam à defesa da Pátria, à garantia dos poderes
constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.
6 Constituição da República Federativa do Brasil, artigo 84, XIII.
25
Constituem, assim, elemento
fundamental da organização coercitiva a serviço do Direito e da paz social,
que zela pela afirmação da ordem na órbita interna e do prestígio estatal na
sociedade das nações.
São, portanto, os garantes materiais da
subsistência do Estado e da perfeita realização de seus fins.
É em função de seu poderio que se
afirmam, nos momentos críticos da vida internacional, o prestígio do Estado
e a sua própria soberania.
Dado o relevo de sua missão, as
constituições brasileiras sempre reservaram a essas instituições, posição
especial.
A Constituição vigente destina a elas um
capítulo sobre a defesa do Estado e das instituições democráticas com a
destinação acima referida, de tal sorte que sua missão essencial é a da
defesa da Pátria e a garantia dos poderes constitucionais, o que vale dizer
defesa, por um lado, contra agressões estrangeiras em caso de guerra
externa e, por outro lado, defesa das instituições democráticas, pois a isso
corresponde a garantia dos poderes constitucionais, que, nos termos da
Constituição, emanam do povo.
Só subsidiária e eventualmente lhes
incumbe a defesa da lei e da ordem, porque essa defesa é de competência
primária das forças de segurança pública, que compreendem a polícia
federal e as polícias civil e militar dos Estados e Distrito Federal.
26
Sua interferência na defesa da lei e
da ordem depende, além do mais, de convocação dos legítimos
representantes de qualquer dos poderes federais: Presidente da Mesa do
Congresso Nacional, Presidente da República ou Presidente do Supremo
Tribunal Federal.
Ministros, Juizes de Direito, Deputados e
Senadores não são considerados poderes constitucionais, mas simples
membros dos Poderes e não os representam.
Portanto, a atuação das Forças Armadas
será inconstitucional e arbitrária se convocada pelas autoridades acima
citada
27
4. SEGURANÇA PÚBLICA
4.1. Definição
A palavra segurança assume o sentido geral
de garantia, proteção, estabilidade de situação ou pessoa em vários
campos, dependente do adjetivo que a qualifica.
Segurança social significa a previsão de
vários meios que garantam aos indivíduos e as suas famílias condições
sociais dignas; tais meios se revelam basicamente como conjunto de
direitos sociais.
4.2. Previsão constitucional
A Constituição de 1988 declara que a
segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é
exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das
pessoas e do patrimônio7, indicando em seguida os órgãos encarregados
de exerce-la:
7 Constituição da República Federativa do Brasil, artigo 144.
28
I - Polícia Federal
II - Polícia Rodoviária Federal
III - Policia Ferroviária Federal
IV - Polícia Civil
V - Polícia Militar e Corpo de Bombeiros Militares
A segurança pública consiste numa
situação de preservação ou restabelecimento da convivência social que
permite que todos gozem de seus direitos e exerçam suas atividades sem
perturbação de outrem, salvo nos limites de gozo e reivindicação de seus
próprios direitos e defesa de seus legítimos interesses. É uma atividade de
vigilância, prevenção e repressão de condutas delituosas.
4.3. As Polícias
A atividade de polícia realiza-se pelas
polícias ostensiva e judiciária.
A Polícia Ostensiva tem por objetivo a
preservação da ordem pública e, pois, as medidas preventivas que em sua
prudência julga necessárias para evitar o dano ou o perigo para as pessoas.
A Polícia Judiciária realiza as atividades
investigação, de apuração das infrações penais e de indicação de sua
autoria, a fim de fornecer os elementos necessários ao Ministério Público
em sua função repressiva das condutas criminosas, por via de ação penal
pública.
29
5. LIDERANÇA
A conduta é um espelho no
qual todos exibem sua
imagem. (Goethe)
5.1. Liderança Militar
5.1.1. Conceito de Liderança MilitarLiderança militar é a capacidade de
influenciar o comportamento humano e conduzir pessoas ao cumprimento
do dever. Está fundamentada no conhecimento da natureza humana,
compreendendo a análise, a previsão e o controle de suas reações.
A liderança militar não é privilégio de
alguns poucos chefes, dotados de qualidades inatas para influenciar o
comportamento de outras pessoas. É natural que tais qualidades concorram
para a formação e o aperfeiçoamento do líder, mas sua simples existência
não determina o sucesso do seu desempenho.
A liderança militar é um construto
classificável no domínio afetivo dos objetivos educacionais, portanto,
passível de ser desenvolvida pela via do processo ensino-aprendizagem,
30
permitindo e tornando desejável que todo militar, independente do
escalão ou da natureza dos cargos de chefia para os quais esteja habilitado,
seja um líder em sua profissão.
5.2. Conceitos relativos à liderança
5.2.1. Área afetiva
Liderar pessoas sempre envolve conduzir
mudanças.8 Um dos domínios do comportamento humano que compreende
todos os aspectos relacionados com valores, atitudes, interesses e
emoções.
5.2.2. Atitudes
São predisposições aprendidas de fundo
emocional, para pensar, sentir, perceber e agir consistentemente de
maneira favorável ou desfavorável, em relação a pessoas, conceitos ou
fatos.
5.2.3. Caráter
Soma total dos traços de personalidade
que dão consciência ao comportamento e tem por base as crenças e
valores, sendo o fator preponderante nas decisões e no modo de agir de
qualquer pessoa.
5.2.4. Crenças
São suposições ou convicções julgadas
verdadeiras a respeito de pessoas, conceitos ou fatos.
8 WALSH, Diana Chapman. Organização do Futuro. São Paulo: Futura, 1997,p.334.
31
5.2.5. Ética Militar
É o conjunto de regras ou padrões que
leva o profissional militar a agir de acordo com o sentimento do dever,
dignidade militar e decoro da classe.
5.2.6. Interesses
São atitudes favoráveis em relação a
objetos e a idéias.
5.2.7. Motivação
É a força interna que emerge, regula e
sustenta todas as ações humanas. É o impulso interior que leva as pessoas
a realizarem coisas.
5.2.8. Normas
São padrões, regras e diretrizes usadas
para dirigir o comportamento dos membros de determinado grupo.
5.2.9. Valores
Os valores guiam as ações das pessoas.9
Representam o grau de importância atribuído, subjetivamente, às pessoas,
aos conceitos e aos fatos.
5.3. Teorias da liderança
Liderança é um fenômeno extremamente
amplo que abrange as relações sociais e há muito vem desafiando
historiadores, sociólogos e psicólogos, todos empenhados em encontrar
razões que, teoricamente, justifiquem o surgimento de um líder. De seus
estudos, pelo menos três teorias se fizeram conhecidas.
9 TICHY,M. Noel. O motor da liderança. São Paulo: Educator,1999,p.132.
32
5.3.1. Teoria inatista
Defende a tese do líder inato, na qual
fatores relacionados com a hereditariedade determinam a existência do
líder. As influências do meio são minimizadas e até desprezadas pelos
inatistas.
Para estes, a liderança é um atributo da
personalidade, que torna o líder reconhecido como tal em todas as
situações. Isto, porém, não acontece, pondo à mostra a fragilidade dos
argumentos em que se fundamenta esta teoria, que, de resto, também não
explica destituição de líderes, tão freqüente, em face de situações variadas.
5.3.2. Teoria sociológica
Afirma que o líder é função do meio social,
só alcançando prestígio e aceitação por representar os ideais da
coletividade naquela determinada situação, caracterizando, deste modo, o
líder emergente.
Esta teoria também não encontra meios
de justificar porque, somente a determinadas pessoas, a sociedade confere
delegação de autoridade, ou por que estas pessoas adquirem prestígio.
5.3.3. Teoria do campo social
Estabelece que a liderança é uma relação
funcional entre membros de um grupo, na qual o líder adquire prestígio
através de uma participação ativa e pela demonstração de suas
capacidades.
Assim, a liderança só poderá ser exercida
por quem participe dos ideais da comunidade e neles esteja altamente
integrado. Fica evidente que suas qualidades devem coincidir com as
exigidas para o momento, pelo campo social.
33
5.4. Princípios da liderança
Os princípios de liderança militar são a base
da doutrina de liderança. Proporcionam a orientação para o
desenvolvimento do líder, dos subordinados e da unidade. São eles:10
Conhecer sua profissão;
Conhecer-se e procurar o auto-aperfeiçoamento;
Assumir a responsabilidade por seus atos;
Decidir com acerto e oportunidade;
Desenvolver o senso de responsabilidade em seus subordinados;
Servir de exemplo para seus subordinados;
Conhecer e cuidar do bem-estar de seus subordinados;
Manter seus subordinados informados;
Assegurar-se que as ordens são compreendidas, fiscalizadas e
executadas;
Treinar seus subordinados como uma equipe;
Atribuir missões a seus subordinados de acordo com as possibilidades
destes.
5.5. Aspectos conjunturais
A estrutura organizacional militar define os
limites da participação individual, as responsabilidades, a autoridade e as
relações funcionais com chefes, pares e subordinados. Contudo, cada um
traz para a organização suas experiências, suas necessidades, seus ideais
e seus objetivos, que podem interferir na sua capacidade de participação.
Estes aspectos determinam a importância
do papel do chefe e líder, cujo propósito é integrar os subordinados,
impulsionando-os na direção do cumprimento de suas atribuições.
10 Unidade é uma Organização Militar
34
Na estrutura dinâmica da liderança
existem quatro fatores:
líder
os liderados
a comunicação; e
a situação.
A característica básica desta estrutura é a
mudança.
O líder altera sua conduta quando se
renovam os aspectos da estrutura e na medida em que ele próprio promove
transformações. Esta dinâmica explica porque um grupo medíocre obtém
melhores resultados com um bom líder, enquanto um grupo excelente
desintegra-se com um líder medíocre.
5.5.1. O líder
A crescente complexidade de seus
encargos impõe, ao líder, um papel cada vez mais abrangente,
aumentando sua responsabilidade na realização dos propósitos do grupo.
Os bons líderes são também bons
seguidores, o que é lógico quando se concebe a liderança inserida num
quadro institucional como a Organização Militar.
O líder, independente de sua vontade,
atua como elemento modificador do comportamento de seus subordinados.
Controlar as reações ante o inesperado,
evidenciável sob formas aceitáveis e adaptadas de conduta, define a
capacidade de agir com equilíbrio e presteza, essenciais ao líder eficaz.
35
A função militar está relacionada com a
responsabilidade pela vida de seres humanos. Nenhum outro profissional é
forçado a assumir tarefa tão dramática como a de liderar subordinados,
muitas vezes em direção ao sacrifício de suas próprias vidas. Nem se
conseguirá, fora da ética castrense, explicar porque os homens estarão
preparados para aceitar tal risco.
Os atributos do líder militar devem ser
ampliados e aprofundados à medida que progride na carreira, mediante um
processo de educação, treinamento e aquisição de experiências.
Tal enriquecimento pessoal o capacitará a
superar os desafios e as responsabilidades crescentes, que se apresentam
quando este alcança posições mais elevadas.
5.5.2. Os liderados
O conhecimento dos liderados é fator
essencial para o exercício da liderança e depende do entendimento claro da
natureza humana, das suas necessidades, emoções e motivações.
Os escalões subordinados contribuem
decisivamente para o êxito da organização militar a que pertencem, pois
todo líder precisa da colaboração do subordinados bem treinados, para que
o grupo alcance sucesso nas missões, mesmo a despeito de sua ausência.
5.5.3. A comunicação
A comunicação é um processo essencial à
liderança, que consiste na troca de ordens, informações e idéias, só
ocorrendo quando a mensagem é recebida e compreendida.
36
A comunicação envolve um emissor
(líder) transmitindo uma idéia para um receptor (subordinado).
É através desse processo que o líder
coordena, supervisiona, avalia, ensina, treina e aconselha seus liderados.
Primeiramente, existe uma idéia ou
informação na mente do líder. Ele decodifica esta idéia em palavras ou
outros símbolos e a transmite ao subordinado que, por sua vez, também
decodifica as palavras ou símbolos num conceito ou informação.
Se esta informação é a mesma que o líder
transmitiu, então houve uma comunicação efetiva. Este processo é
recíproco e simultâneo ocorrendo dentro dos mesmos círculos hierárquicos
e entre os diversos escalões.
O que é comunicado e a forma como isto é
feito aumentam ou diminuem o vínculo das relações pessoais, criam o
respeito, a confiança mútua e a compreensão. Os laços que se formam,
com o passar do tempo, entre o líder e os subordinados, são a base da
disciplina e da coesão de uma unidade militar.
O líder precisa ser claro e escolher
cuidadosamente as palavras, de tal forma que signifiquem a mesma coisa
para ele e para os subordinados.
5.5.4. A situação
Todas as organizações funcionam dentro
de uma estrutura cultural e ambiental mais ampla e nenhuma pode evitar as
influências da situação externa.
37
A disponibilidade de recursos, as
mudanças sociais, a competência de outras organizações com que mantém
contato, a capacidade e a lealdade de seus componentes e outros aspectos
que escapam ao controle da própria unidade são circunstâncias que afetam
a organização e influem sobre a liderança no grupo.
Muitas forças se combinam para
determinar a melhor ação de liderança a ser tomada num dado momento.
Identificando-as, o líder pode criar um clima mais favorável ao cumprimento
da missão.
Não existem normas nem fórmulas que
indiquem, com exatidão, o que deve ser feito. O líder precisa compreender a
dinâmica do processo de liderança, os fatores principais que a compõem, as
características de seus liderados e aplicar estes conhecimentos como guia
para cada situação em particular.
As condições inerentes à liderança que
afetam o sucesso da missão e o bem estar dos subordinados são as
relações com os superiores, o adestramento, a organização da unidade e,
em combate, incluem a missão, o inimigo, o terreno e os meios.
A situação inclui todos os aspectos que
afetam a capacidade e a motivação da unidade para o cumprimento das
metas. O líder deve ser hábil em identificar e avaliar os fatores
preponderantes, usando a ação correta no momento preciso.
38
6. O ESTADO DE ALAGOAS
6.1. Avaliação da conjuntura
Neste capitulo será feita a avaliação da
conjuntura existente no estado de ALAGOAS, que acarretou a ocorrência da
crise político-social que serve de escopo para este trabalho de fim de curso.
Com o intuito de sistematizar as informações
a avaliação será feita considerando os aspectos fisiográficos, políticos,
econômicos e psicossociais.
6.1.1. Aspectos fisiográficos
O estado de ALAGOAS está situado na
região nordeste do país, não possui relevo de destaque e sua parte sul é
banhada pelo rio SÃO FRANCISCO.
Possui uma faixa estreita de terra fértil
localizada no litoral onde se desenvolve a cultura da cana-de-açúcar.
Seu litoral é baixo e apresenta praias de
rara beleza natural, favorecendo as atividades turísticas.
Parte de seu território localiza-se no
sertão onde as secas predominam, restringindo as atividades agropecuárias
39
6.1.2. Aspectos políticos
No estado de ALAGOAS, vigia o pleno
estado de direito. Os três Poderes independentes conviviam num clima
letárgico que bem caracterizava a alienação dos mesmos face a gravidade
crescente da crise que assolava o estado.
O Poder Executivo, totalmente
desgastado, pelas sucessivas crises vividas no estado, que aliadas aos
desmandos dos agentes do Executivo, aos repetidos escândalos
decorrentes do desvio de verbas estaduais e federais destinadas ao estado,
a ineficácia da máquina administrativa, a vultosa e crescente dívida do
estado e sua incapacidade de saldá-las e o empreguismo indiscriminado
que inchava os órgãos públicos e aumentava as despesas de pagamento
de pessoal.
O Governo perdia a capacidade de se
organizar politicamente e para sua sobrevivência, buscava alianças na
Assembléia Legislativa do Estado e apoio dos representantes do estado na
Câmara de Deputados e no Senado Federal que lhe permitisse obter
recursos e garantir sobrevida temporária, a governabilidade em face do
crescente estado de desordem.
O Poder Legislativo ordenado em grupos
de situação e oposição tinha como legendas predominantes o Partido do
Movimento Democrático Brasileiro (PMDB),o Partido Trabalhista Brasileiro
(PTB), o Partido Socialista Brasileiro (PSB), Partido Social Democrático
Brasileiro (PSDB) e como partido de minoria atuante, o Partido dos
Trabalhadores(PT).
40
As alianças de apoio ao Governo do
estado se mantinham na medida em que havia possibilidade de distribuição
de cargos e recursos que cada vez mais escasseavam.
Apesar da organização político-partidária
a expressão política de um deputado, estadual ou federal, se realizava
através do número de prefeitos municipais que lhe apoiavam. O estado era
dividido em verdadeiros feudos onde a presença e o poder do deputado se
fazia sentir em qualquer circunstância.
Esses espaços eram mantidos em troca
de recursos que eram destinados às prefeituras, de projetos regionais
defendidos em plenário, de benesses pessoais e até mesmo pelo uso da
histórica violência, que respaldada pela impunidade, era, naturalmente,
usada para eliminar adversários políticos.
A mesa diretora da Assembléia era
permanentemente acusada de malversação de recursos destinados a
administração e ao pagamento da onerosa folha de salários decorrente do
excessivo número de funcionários que pertenciam aos gabinetes.
A busca de aumento na parcela do
orçamento destinado ao Legislativo era motivo de periódicos
enfrentamentos com o Executivo que, sistematicamente, era
responsabilizado pelos reflexos que resultassem de sua negativa.
A maioria dos deputados permaneceu
alienada aos problemas do estado mesmo após o levante armado.
Promoviam grandes polêmicas na mídia em torno de assuntos subalternos
alheios às restrições a que era submetida a maioria da população.
41
Mesmo após nova organização do governo
que substituiu o deposto, mantiveram-se alheios, lutando apenas para
novamente organizar as facções partidárias para o prosseguimento dos
seus mandatos e pela manutenção de grandes grupos de seguranças que
de forma agressiva ostentavam, em via pública e na Assembléia Legislativa,
armamento pesado.
A carência de recursos do estado afetou a
fidelidade partidária e impôs uma constante migração dos deputados para
outros partidos.
O estado tinha no Senado Federal
representantes de renome nacional, tais como os Senadores Teotônio
Vilela, presidente do Partido Socialista Democrático Brasileiro (PSDB) e
RENAM CALHEIROS (PMDB), que naqueles momentos de crise, muito
trabalharam em favor da harmonia no estado.
A administração pública estava totalmente
desorganizada não conseguindo prestar serviços a população. Seus
agentes preocupavam-se, somente, em obter recursos públicos e
desenvolver projetos que lhes facilitasse manter o poder em detrimento do
bem estar da população.
6.1.3. Aspectos econômicos
A economia do estado, estruturada na
monocultura da cana-de-açúcar, era decadente. A área plantada vinha
sendo reduzida desde a muito e vários engenhos deixaram de produzir. O
estado de São Paulo já detinha a hegemonia da cultura, que em outra
época, não tão remota, era de ALAGOAS.
42
A exploração da cana-de-açúcar era
feita utilizando processos rudimentares, sem tecnologia e empregando
grandes contingentes de mão-de-obra sem qualificação.
Além da cana-de-açúcar, o estado
desenvolvia também atividades agropecuárias, na região do sertão, cujos
resultados eram extremamente dependentes das condições climáticas.
As condições climáticas também criavam
sérias restrições à atividade agrícola gerando grande contingentes de mão-
de-obra desqualificada nas cidades do interior, que por falta de opção de
trabalho, migravam para as principais cidades onde era, em parte,
absorvida pelas atividades de serviços.
Em função de política histórica no estado,
também os órgãos públicos absorviam grandes contingentes de mão-de-
obra.
Os órgãos estatais, transformados em
“cabides de emprego”, deixaram de prestar serviço à população e em
decorrência da carência de recursos para o pagamento de salários, muitos
foram simplesmente extintos sem que seus funcionários recebessem
qualquer tipo de indenização.
Desenvolveram-se, também, no estado,
com reduzido investimento, atividades econômicas voltadas ao turismo que
aproveita as belezas naturais do seu litoral.
As atividades econômicas tinham
considerável dependência de recursos do estado, sendo muito reduzido o
número de empresários com recursos próprios para investir na produção.
43
6.1.4. Aspectos psicossociais
ALAGOAS destacava-se, negativamente,
dentre os demais estados brasileiros, pelas péssimas condições de vida de
sua população.
Apresentava índices alarmantes de
analfabetismo, subnutrição e mortalidade infantil.
A carência de recursos aliada à histórica
falta de visão de seus administradores públicos fazia com que os
investimentos nas áreas de saúde, educação, habitação e de infra-estrutura
urbana fossem mínimos, criando péssimas condições de vida nas cidades
do interior e fazendo com que grande parte dessa população desassistida e
com reduzida qualificação migrasse e se confinasse em conglomerados
urbanos formando cinturões de pobreza nas periferias das cidades maiores.
6.2. A segurança pública
O índice de violência que existia no estado
desenvolvia-se para o insustentável. Os assassinatos aconteciam em plena
luz do dia, deixando alarmados os moradores das cidades. A impunidade
era reconhecida e sistematicamente denunciada pela imprensa nacional.
Munidos com armas modernas e potentes e
protegidos pela impunidade reinante no estado, os matadores agiam com
muita liberdade.
No estado de Alagoas, a Segurança Pública
estava organizada em três Secretarias, a saber:
Secretaria do Corpo de Bombeiros Militar;
Secretaria Policia Militar; e
44
Secretaria de Segurança Pública, que na prática dirigia somente a
Polícia Civil.
6.2.1. Polícia Militar
A Polícia Militar, com o efetivo de sete mil e
oitocentos homens, encontrava-se distribuída em todas os municípios do
estado, com efetivos que variavam de um grupo, composto por
aproximadamente oito homens, até um Batalhão com duzentos homens. A
maioria do seu efetivo estava concentrada na capital.
A Polícia Militar já há mais de dois anos
vinha passando por sucessivos períodos de atraso de salários, chegando ao
clímax, em 1997, quando acumularam-se sete meses de salários
atrasados.
A par desse fato, observava-se, também,
outros fatores complicadores, tais como a carência de recursos para seu
funcionamento, a crescente deterioração do seu material, armamento,
equipamento de comunicações, instalações, viaturas e, principalmente, a
inadequada formação e aperfeiçoamento do seu pessoal, que
culminaram com sua total imobilização na oportunidade do levante armado.
O sistema de saúde era inexistente, a
ponto de um policial ferido ter que utilizar seus próprios recursos para
receber o socorro que necessitava e que era de responsabilidade da
Corporação.
As dívidas eram consideráveis e a maioria
dos fornecedores deixou de atender aos pedidos de entrega de material de
consumo, gêneros alimentícios, fardamento, equipamento e combustível.
45
A carência de recursos para o
funcionamento e o atraso dos salários tiveram profundos reflexos na moral
da tropa, desgastando totalmente a autoridade dos comandantes, em todos
os níveis, levando seu comandante geral, a consentir em um relaxamento
em todos os procedimentos referentes a disciplina e à hierarquia, que
afetou profundamente a cadeia de comando da corporação.
As Organizações Policiais Militares não
tinham expediente normal, ficando o mesmo a critério de seus
comandantes, quando não de seus subordinados, que compareciam aos
seus postos de trabalho na medida do seu interesse.
Grande parte do seu efetivo estava
desviada para funções em órgãos da Justiça, do Legislativo e mesmo do
Executivo do estado em busca de gratificações que supririam o salário
mensal da corporação que não era pago. Havia, também, PMs que
prestavam, oficialmente, serviços ao Banco do Brasil e da Caixa Econômica
em troca de cesta básica.
O enfraquecimento da autoridade do
comandante geral, que impotente, em face da incapacidade do governo do
estado para resolver os inúmeros problemas vividos pela corporação, não
conseguia responder à expectativa de seus subordinados, criou as
condições ideais para o surgimento de forças paralelas que conduziram a
tropa ao levante armado de 17 de julho de 1997.
Existia na Polícia Militar uma gama enorme
de associações (de Cabos e Soldados, de Sargentos, de Oficiais e outras),
que, em permanente luta pelo poder político buscavam, aproveitando a
fragilidade do Comando da Corporação, ascender a cargos eletivos.
46
6.2.2. Polícia Civil
A Polícia Civil apresentava os mesmos
problemas que da Militar, o que afetou profundamente o funcionamento das
delegacias, aumentando, em muito, o número de crimes que não eram
investigados.
Durante o período em que os salários não
foram pagos, seus componentes permaneceram sem trabalhar.
A Policia Civil possuía uma associação de
agentes e uma de delegados, que orquestraram sua participação no
levante armado.
Em função da desordem vigente no estado,
o Secretário de Segurança, chefe da Polícia Civil, não conseguia fazer com
que os delegados exercessem suas atividades nos municípios para os quais
eram designados. A substituição e nomeação de delegados era
permanente.
6.2.3. O Corpo de Bombeiros Militar
O Corpo de Bombeiros Militar possuía
apenas dois quartéis, um no interior e outro na capital e poucas viaturas.
Apesar do seu reduzido efetivo, sofreu as
conseqüências da crise, tendo paralisado seus serviços e participado das
ações realizadas por ocasião do levante armado.
6.3. A participação do Governo Federal
6.3.1. Precedentes da crise
Um dos pivôs da crise financeira de
Alagoas foi uma dívida de R$ 248.000,00 (duzentos e quarenta e oito
milhões) do estado para com os usineiros.
47
Em fevereiro de 1997, o governador
de Alagoas vendeu títulos lançados no mercado com a finalidade de pagar
precatórios (dívidas judiciais) com deságio de até 37,10% e recebeu, como
pagamento de dívidas de usineiros os mesmos títulos, com ágio de 17%.11
O Governo Federal vinha acompanhando
o desenvolvimento da crise que se agravava quando, em março de 1997,
após novas exigências, começou a gerenciar a administração do estado,
que passou a viver uma intervenção branca.12
A situação era crítica e, dois meses após,
o governador Divaldo Suruagy (PMDB),recorreu, novamente, ao
presidente Fernando Henrique Cardoso, que lhe negou a ajuda federal para
resgatar mais de R$ 100 milhões de títulos da dívida pública.13
Sem receber os recursos que necessitava
para saldar seus compromissos básicos e com a folha de pagamento do
funcionalismo em atraso, o Governador já admitia a participação do governo
federal para sanear as finanças do estado.14
Como primeira medida, o Presidente
Fernando Henrique Cardoso designou um oficial da reserva do Exército
para atuar na Secretária da Fazenda dando prazo de três meses para
Suruagy sanear as finanças, acenando com a possibilidade de decretação
de uma intervenção formal se após este período os problemas não fossem
resolvidos. 15
11 Jornal Folha de São Paulo, 25 de fevereiro de 1997.12 Idem, 16 de março de 1997.13 Ibidem, 30 de maio de 1997.14 Jornal Folha de São Paulo, 04 de junho de 1997.15 Idem, 11 de junho de 1997.
48
Com a finalidade de liberar recursos
que permitissem ao estado saldar suas dívidas salariais e com
fornecedores, propôs a assinatura de um Protocolo no qual, dentre outras,
constavam as seguintes cláusulas:
redução do número de funcionários públicos;
demissão dos funcionários admitidos ilegalmente após a vigência da CF
de 1988;
privatização de estatais para o pagamento de adiantamento recebido;
revogação de acordo firmada com usineiros, que reduzia
consideravelmente a arrecadação do estado.
6.3.2. A eclosão da crise
No dia 17 de julho, policiais civis e
militares em greve trocaram tiros com soldados do Exército e seguranças de
deputados governistas em frente do prédio da Assembléia Legislativa.
O poder público alagoano deixou de existir.
Localmente, não existia mais Estado. Os últimos acontecimentos
representavam grave comprometimento da ordem pública, o que
constitucionalmente permitia uma intervenção federal.16
Depois do incidente, o governador Divaldo
Suruagy, já envolvido no escândalo dos precatórios, viu-se diante de um
impasse: resistir ou renunciar.
A saída do governador, que vinha sendo
esperada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, ocorreu em 18 de
16 Jornal Folha de São Paulo, 18 de julho de 1997.
49
julho, quando a Assembléia Legislativa de Alagoas, autorizou o seu
afastamento por seis meses.
A partir daí, o vice assumiu a tarefa de
administrar a caótica situação do estado.
O presidente Fernando Henrique Cardoso,
pressionado pela bancada de Alagoas, determinou ao Ministério da
Fazenda que fizesse uma injeção de recursos no caixa do governo de
Alagoas, para quitar parte dos salários atrasados e garantir que o
pagamento fosse feito em dia.
A quebra da economia de Alagoas e a
confusão política levaram o presidente Fernando Henrique Cardoso a impor
uma nova intervenção branca.17
A insubordinação das polícias, culminando
com tiroteios em praça pública, em confronto com o Exército convocado
para restabelecer a ordem, tocou em um ponto fraco da atual administração
brasileira: a insensibilidade dos governos estaduais para prever e evitar
problemas estruturais.
O governador foi obrigado a aceitar a
nomeação de mais dois oficiais do Exército designados para a Secretaria de
Segurança e para o Comando Geral da Polícia Militar.
17 Jornal Folha de São Paulo, 19 de julho de 1997.
50
Além das nomeações, o governo
federal, para auxiliar o estado a pagar parte da folha do funcionalismo em
atraso, fez as seguintes exigências:
que fossem privatizadas as estatais;
que se procedesse a um ajuste fiscal;
que fosse criada uma procuradoria da Fazenda Estadual;
que fosse implementada maior velocidade na adoção do Plano de
Demissões Voluntárias (PDV); e
que os órgãos estatais alagoanos fossem implantados no Sistema
Integrado de Administração Financeira dos Estados e Municípios.
O Presidente Fernando Henrique
apresentou, em 17 de julho de 1997, ao governador em exercício, Manoel
Gomes de Barros, a missão de sanear as contas do estado sob pena de
intervenção federal por grave comprometimento da ordem pública e para
reorganização das finanças.
O programa de austeridade fiscal incluía o
rompimento de acordo que isentava os usineiros do estado de ICMS. Em
troca dos cortes, o Governo federal antecipou recursos de futuras
privatizações, que só poderiam ser gastos com servidores.
Após a eclosão da crise nomeou um
Oficial General da reservado Exército para Secretário de Segurança e um
Oficial Superior do Exército para Comandante Geral da Polícia Militar.
51
No âmbito do Ministério da Justiça
foram iniciados vários projetos que visavam à unificação das Polícias,
mudanças em artigos da CF e a criação do Ministério da Segurança
Pública.
52
7. A PARTICIPAÇÃO DO EXÉRCITO BRASILEIRO
A credibilidade é o sustentáculo da
liderança. As pessoas não seguem sua técnica.
Elas seguem você, sua mensagem e sua
personificação desta mensagem. (James M.
Kouzes)
7.1. Generalidades
A seguir será abordada somente a atuação do
oficial do Exército no âmbito da Polícia Militar de Alagoas, embora a Secretaria
da Fazenda e a Secretaria de Segurança Pública também tenham sido
ocupadas por oficiais do Exército, durante a crise.
Mesmo sendo bastante diversificado o conteúdo
programático previsto para a formação do oficial do Exército, este não
contempla conhecimentos referentes às atividades específicas de policial
militar.
A cultura institucional obriga o oficial a adotar
uma conduta ética irrepreensível comprometida com o decoro da classe, com o
sentimento do dever e com a dignidade militar.
O exercício diário das atividades do oficial está
voltado para o adestramento, cujo componente fundamental é o homem que
deve ser preparado para cumprir sua missão.
53
A estrutura organizacional militar define os
limites da participação individual, as responsabilidades, a autoridade e as
relações funcionais com chefes, pares e subordinados.
Contudo, cada um traz para a organização suas
experiências, suas necessidades, seus ideais e seus objetivos, que podem
interferir na sua capacidade de participação.
Estes aspectos determinam a importância do
papel do chefe e líder, cujo propósito é integrar os subordinados,
impulsionando-os na direção do cumprimento de suas atribuições.
Quer no adestramento de seus subordinados
quer em missões reais ou complementares os oficiais exercitam,
permanentemente, a liderança nos quartéis, quando praticam e incutem nos
seus subordinados os princípios da liderança.
Segundo a Constituição da República
Federativa do Brasil cabe às Forças Armadas, subsidiaria e eventualmente, a
defesa da lei e da ordem, porque esta defesa é de competência primária das
forças de segurança pública.
Essa destinação complementar das Forças
Armadas obriga a todo o oficial do Exército a manter-se informado sobre a
conjuntura nacional.
7.2. Ações implementadas
Desde o inicio da crise da Polícia Militar de
Minas Gerais, o oficial designado para comandá-la estava acompanhando o
54
desenrolar dos fatos e as suas conseqüências para o estado de direito
para as corporações, e para as populações dos estados onde ocorreram as
revoltas.
Nomeado Comandante Geral, o oficial buscou
complementar seus conhecimentos inteirando-se das medidas adotadas pelo
Presidente Fernando Henrique Cardoso, sobre as condições política,
econômica e psicossocial do estado e, principalmente, sobre as perspectivas
do movimento grevista da Policia Militar.
Chegando a Maceió, constatou que a crise era
mais grave do que qualquer cenário, anteriormente, elaborado.
Assumiu o Comando Geral, contra a vontade do
Governador e do oficial da Polícia nomeado para o cargo.
Integrou-se, de imediato, e começou a participar
intensamente dos ideais de reconstrução do estado e do resgate da identidade,
da auto-estima e da credibilidade da Polícia Militar.
Para firmar-se como novo comandante, iniciou
seu trabalho buscando, de imediato, o contato com os policiais que se
apresentavam como responsáveis pela paralisação e com aqueles que ainda
não haviam aderido ao movimento paredista.
Nos primeiros dias, além de buscar
intensamente o contato com os policiais para conhecê-los e, com a
interferência dos mesmos, reduzir o número de grevistas, manteve em plena
atividade, com sua presença, os efetivos prontos para o policiamento.
55
Tal atitude buscava conhecer os seus
subordinados e assegurar-lhe de que as suas ordens eram compreendidas,
fiscalizadas pelos escalões intermediários e executadas com exatidão, cujo
reconhecimento pela população foi objeto de publicação em jornal local, que
divulgou: “Desde que assumiu o comando tem sido um comandante presente”18
Com os efetivos completos, desencadeou
ações que buscavam atender as necessidades peculiares de uma corporação,
que tem como missão impedir ou reprimir as ameaças à segurança da
população do estado.
Em observância aos princípios de liderança19,
implementou as seguintes ações:
atuou com insistência junto ao governo do estado e seu secretariado,
visando a que o pagamento do salário fosse mantido em dia e reduzir a
influência nefasta de componentes dos Poderes Executivo e Legislativo;
iniciou um programa de treinamento específico para comandantes de
Organizações de Polícia Militar e seus oficiais, com o objetivo de trazer-lhes
a importância da prática dos princípios de liderança e do comportamento
ético coerente com a missão da instituição;
visitou todas as Organizações de Polícia do interior e da capital;
reativou o hospital da Polícia Militar para atender militares feridos em
serviço e seus dependentes;
reativou o serviço odontológico da corporação;
18 O Jornal, 23 de outubro de 1997.19 Página 33.
56
iniciou a recuperação das poucas viaturas que existiam;
instalou, utilizando equipamentos considerados obsoletos, uma rede de
comunicações, que lhe permitiu fazer chegar a ação de comando a todos os
seus subordinados;
reorganizou o sistema de alimentação da corporação, criando condições
para que os policiais em serviço ou hospitalizados tivessem refeições
condignas;
reorganizou e pôs em funcionamento a seção de comunicação social, com a
finalidade de manter informados os componentes da Corporação e os
veículos de comunicação locais e nacionais;
implantou a administração financeira da corporação no Sistema Integrado
de Administração Financeira dos Estados e Municípios, buscando dar
transparência a sua administração, credibilidade a seus atos administrativos
e permitir que os integrantes da Polícia acompanhassem o emprego dos
recursos sob sua responsabilidade;
instituiu o Processo de Prestação de Contas Mensais das despesas
realizadas;
realizou o pagamento das dívidas da corporação quando comprovadas;
revisou contratos, anteriormente firmados, com a finalidade de adquirir
fardamento para os policiais que estavam com péssima apresentação
individual;
57
atuou junto às forças políticas do estado para coibir manifestações e
impedir passeatas que se realizadas afetariam profundamente a rotina da
população de Maceió;
esteve à frente dos contenciosos que envolviam o Movimento dos
Trabalhadores Rurais sem Terra, organizando equipes de crise compostas
dos principais interessados para resolver os conflitos decorrentes de
invasões de terras, evitando com essa medida o emprego de tropas da
Polícia ;
apoiou os demais órgãos de segurança pública em suas ações;
realizou em todo o estado um combate sistemático a violência através de
incessantes buscas volantes e inopinadas, para apreensão de armamentos
portados ilegalmente;
com a finalidade de criar melhores condições de trabalho para seus
subordinados, realizou reuniões e firmou parcerias com governos
municipais;
incentivou e participou da implantação do Conselho Estadual de Defesa dos
Direitos Humanos; e
pensando em resgatar a crença dos oficiais, compromissá-los com a
corporação, estimular a criatividade, a dedicação e o profissionalismo, além
de criar uma concepção atual e eficiente de bom gerenciamento deu início a
dezessete projetos especiais, todos gerenciados por jovens oficiais, que
abrangiam as seguintes áreas: saúde, habitação, finanças, cultura, ensino
assistencial, legislação, recursos humanos e logística.
58
Tratou a todos com dignidade e justiça, agiu com coragem,
honestidade e comprometimento, dando o tempo necessário para que cada
um se recuperasse dos traumas sofridos.
7.3. Aceitação das medidas adotadas
Após três meses de intervenção, o governador
do estado solicitou a substituição do oficial do Exército, que exercia o comando
da Polícia Militar.
Mesmo tendo permanecido somente três meses
no comando da corporação, a aplicação dos princípios de liderança surtiram os
efeitos esperados, no âmbito da corporação, pois seus subordinados assim se
expressaram ao saber da sua exoneração:
“Vimos pelo presente, em nome do FORUM EM
DEFESA DA SEGURANÇA PÚBLICA NO ESTADO DE
ALAGOAS, composto por entidades associativas e
classistas dos POLICIAIS FEDERAIS, RODOVIÁRIOS
FEDERAIS ,FERROVIÁRIOS FEDERAIS e POLICIAIS
CIVIS e MILITARES das Instituições integrantes do
sistema de segurança pública neste Estado, externar
nossa solidariedade ao Comandante Geral da nossa
briosa Polícia Militar por sua administração competente e
autônoma, desvinculada de ingerências políticas, o que
vem corroborando para que a sofrida sociedade alagoana
tenha fortalecido suas esperanças por um futuro mais
seguro e sem violência.
59
Somos testemunhas de que o povo alagoano está satisfeito com o excelente
trabalho realizado e clama pela sua permanência à frente
da Polícia Militar.”20
O reconhecimento pelo trabalho realizado,
transcendeu aos limites dos órgãos da segurança pública, envolvendo, diversos
segmentos da sociedade civil, que assim se manifestaram:
“ALAGOAS QUER A SEGURANÇA PÚBLICA
NAS MÃOS DO EXÉRCITO BRASILEIRO
Os partidos políticos, personalidades e
instituições signatárias da presente nota dirigem-se ao
Exmo. Sr. Presidente da República, Dr. Fernando
Henrique Cardoso, para impedir que o Exército Nacional
seja enxotado do comando da Polícia Militar e do
aparelho de segurança pública do Estado de Alagoas, em
função das enormes pressões que o crime organizado
está promovendo nesta direção, com claro intuito de
ampliar a impunidade que é marca registrada no Estado.
Ao contrário do que pretendem os setores ligados
à violência, os segmentos representativos da sociedade
civil declaram publicamente que o Exército Nacional não
somente deve permanecer à frente da Segurança Pública
em Alagoas, até a posse do governo a ser eleito no
próximo ano, como também deve estender sua presença
para o comando e os subcomandos da Policia Militar do
estado e para os principais departamentos da Polícia
Civil.
Queremos acreditar que a trajetória e os
compromissos democráticos a que se obrigou o Sr.
Presidente da República, ao jurar cumprir a Constituição
20 Nota Oficial do Fórum em Defesa da Segurança Pública no Estado de Alagoas, 24Outubro1997.
60
Brasileira, e o empenho das Forças Armadas no cumprimento dos seus deveres
constitucionais, impedirão
as manobras dos setores que querem destruir a ordem
democrática. Não podemos admitir que os homicídios, as
intimidações e a violência substituam a ação do Estado
de Direito Democrático contra o crime organizado.
Na hipótese de não ser atendida nossa
reivindicação, que é a reivindicação de toda população
ordeira, trabalhadora e pacífica de Alagoas, ficarão as
mãos do Exmo. Sr. Presidente Fernando Henrique
Cardoso, eventualmente manchadas com o verdadeiro
banho de sangue que está sendo preparado em Alagoas
par calar a boca de tantos quanto ousem desafiar o
sistema de violência e corrupção que há tanto tempo
infelicita nossa terra.
Prefeitura de Maceió, PSB, PPS, PRONA, PTN,
PRP, PCdoB, PST, PTdoB, PV, PMN, PSD, Prefeitura de
Maragogi, Prefeito Fernando Sérgio Lira; Vereadores
Galba Novaes, Nilton Lins, Mauricio Quintella, Régis
Cavalcante, Carlos Ronalsa, Eduardo Holanda, Arnaldo
Fontan, Ronaldo Melo, Isnaldo Bulhões Jr., Jaldeni
Coutinho, Arthur Lira, JorgeVI, Francisco Mello, Arnaldo
Camelo, David Davino, Givaldo Carimbão e Deputado
Estadual João Caldas.”21
“MOBILIZAÇÃO. A falta de segurança no Estado
está mobilizando as instituições que lidam com a questão
dos direitos humanos, preocupadas com o agravamento
da situação e um possível ”derrame de sangue em
Alagoas” como teme o coordenador de Direitos Humanos
e Cidadania da Prefeitura, Geraldo Magela.
A maior insatisfação das entidades é com a saída
do comandante da Polícia Militar. O Fórum Contra a
Violência, a Pastoral da Terra, a OAB, dentre outras
21 O JORNAL-24Out97; Jornal Tribuna de Alagoas-24Out97
61
querem que o Governo se posicione sobre o caso e mantenha o comandante no cargo.”22
“CRESCE O APOIO PARA O EXÉRCITO
CONTINUAR NO COMANDO.
A saída do Exército do Comando Geral da PM de
Alagoas ainda repercute em todo o estado.
Representantes do Fórum Permanente Contra a
Violência e outras entidades ligadas a defesa dos direitos
humanos enviaram correspondência ao Ministério da
Justiça, em Brasília, tentando sensibilizar o ministro Íris
Resende para a importância da permanência do
comandante à frente da corporação. Ontem foram
divulgadas várias notas expressando apoio a
permanência do comandante da PM. A Pastoral da Terra
emitiu ofício ao ministro do Exército, Zenildo de Lucena,
pedindo que intervenha na manutenção do Exército em
Alagoas. A correspondência ressalta que “o comandante
da PM tem demonstrado equilíbrio e competência para
evitar litígios diretos entre trabalhadores rurais e
policiais”.23
O Fórum Permanente Contra a Violência enviou
correspondência ao general Alberto Mendes Cardoso,
chefe da Casa Militar da Presidência da República, ao
general Zenildo Lucena, ministro do Exército, e ao
deputado Pedro Wilson, presidente da Comissão de
Direitos Humanos da Câmara de Deputados,
manifestando preocupação com a mudança do atual
comando da PM.
Ontem, algumas entidades se reuniram e pediram
uma audiência para prestar solidariedade ao comandante
da PM.” 24
22 O Jornal, 24 de outubro de 199722 O Jornal, 24 de outubro de 1997
24 O Jornal, 24 de outubro de 1997.
62
63
CONCLUSÃO
Quando o líder é fraco e semautoridade, quando suas ordensnão são claras e compreensíveis,quando não há obrigaçõesdeterminadas para os oficiais e ossoldados e as fileiras são formadasde forma desleixadas o resultado éa desorganização absoluta. (SunTzu)
A correta aplicação dos princípios de liderança
permitiu que o oficial do Exército designado para Comandante Geral da
Polícia Militar de Alagoas lograsse êxito no desempenho da difícil missão de
comandar uma corporação com sérios problemas internos, que iam desde o
envolvimento de alguns de seus membros com o crime organizado até a
questão salarial, que sufocava a tropa, passando ainda pela manipulação
política, sempre maléfica para os interesses gerais da sociedade.
O momento de singular importância para a vida
político-social do estado, fez necessária a aplicação dos princípios de
liderança materializados nos atos do oficial do Exército para garantir a
prevalência da hierarquia e da disciplina no seio da corporação.
64
Com suas ações restabeleceu a ordem
pública, iniciou e conduziu com firmeza o processo de moralização,
contribuindo para o restabelecimento da tranqüilidade institucional
necessária.
Sua participação ativa, em todos os setores
conflitados da sociedade alagoana, e na relação funcional entre os membros
da corporação, que se desenvolveu entre dois extremos, a saber: a rejeição
inicial e a aceitação absoluta a partir de determinada fase do seu comando,
bem caracterizam a pertinência da aplicação dos princípios de liderança.
Interagiu com seus subordinados guiando-os na
direção desejada, auxiliado por sua percepção do que era importante para a
Corporação e para os seus componentes, aos quais dispensou atenção
especial procurando atender, em curto prazo, suas necessidades.
Orientou, aconselhou e criou desafios aos jovens
oficiais e sargentos, dedicando grande parte do seu tempo a necessários
contatos pessoais com a tropa que comandava.
O processo de deterioração instaurado por mais
de dois anos, maculou a hierarquia e a disciplina, princípios basilares da
corporação.
Tendo o exemplo como princípio basilar, levou
seus subordinados à busca da realização e do fortalecimento coletivo,
fundamental para a manutenção do espírito de corpo da Polícia Militar.
Seu comportamento e seus atos inspiraram nos
seus subordinados, não o ressentimento, mas o intenso desejo de obedecer,
criando um ambiente onde eles, verdadeiramente pudessem desenvolver
as suas potencialidades.
65
Com sua presença constante junto dos seus
subordinados, criou fortes laços de lealdade, respeito recíprocos, confiança
e compreensão entre os policiais.
Desenvolveu e manteve a disciplina, criando um
ambiente de espontaneidade e real consciência do que deveria ser
executado, forjando novas lideranças destinadas a fortalecer a corporação.
66
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Artigos
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