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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PÓS GRADUAÇÃO “LATU SENSU “
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
RESPONSABILIDADE CIVIL DOS TRANSPORTES RODOVIÁRIOS
Por: Kleber Moreira Oliveira
Orientador: Prof. Dr. Willian Rocha
Rio de Janeiro 2010
2
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATU SENSU”
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
RESPONSABILIDADE CIVIL DOS TRANSPORTES RODOVIÁRIOS
Apresentação de monografia à Universidade Cândido
Mendes como requisito parcial pra obtenção do grau
especialista em direito nas relações de consumo.
Por: Kleber Moreira Oliveira
3
AGRADECIMENTOS
Agradeço aos meus pais, por sempre acreditarem
em mim e por dedicarem grande parte de suas
vidas a minha formação como homem e como
profissional.
4
DEDICATÓRIA
A minha noiva, pela ajuda e paciência na realização
deste trabalho.
5
RESUMO
O presente trabalho de monografia, debate um tema bastante discutido e
polêmico no meio jurídico, e em toda população, que é a Responsabilidade Civil
nos transportes rodoviários urbanos, que devido a inúmeros acidentes ocorridos,
atinge a população diretamente.
Em decorrência desses fatos, o Estado e as empresas de transporte
rodoviário, devem responder pelos danos ocorridos, pois a segurança dos
passageiros que utilizam este meio de transporte deve estar em primeiro lugar.
O trabalho procurou examinar a evolução histórica e a aplicação do
Decreto Legislativo nº 2.681 de 1912, conhecido como a “Lei das Estradas de
Ferro” e a sua importância para a sociedade na época, e atualmente o Código
Civil que disciplinou o contrato de transportes a partir de sue artigo 730,
revogando a Lei anteriormente mencionada.
Foram apresentadas as espécies de Responsabilidade Civil, porque é nelas
que se verifica ao dever ou não de indenização. Também foram apresentados os
tipos de contratos de transporte de passageiros porque neles estão inseridos as
obrigações do transportador e usuário.
Tratamos a questão no Código de Defesa do Consumidor, que
provocou uma verdadeira revolução no direito obrigacional, a Responsabilidade
Civil, estabelecendo esta responsabilidade de forma objetiva em todos os
acidentes de consumo, e finalmente a importância das espécies de
Responsabilidade, onde poderemos verificar a verdadeira necessidade de nos
posicionarmos entre a responsabilidade do transportador e a do usuário.
6
METODOLOGIA O presente estudo e confecção desta monografia, foi desenvolvido, através
de pesquisas bibiográficas, utilizando-se livros de doutrinas jurídicas, também as legislações pertinentes ao assunto, e a vasta jurisprudência que se encontra acerca do assunto, e sites de pesquisas.
O principal objetivo do trabalho foi o de através da consulta bibliográfica,
trazer a lei ao conhecimento dos usuários dos transportes coletivos, e assim propor soluções a um tema tão discutido e importante para o nosso dia a dia.
7
SUMÁRIO INTRODUÇÃO..........................................................................................................8 CAPÍTULO I – A RESPONSABILIDADE CIVIL COMO INSTRUMENTO DE CI- DADANIA 1.1 A EVOLUÇÃO HISTÓRICA..............................................................................10 1.2 A RESPONSABILIDADE CIVIL NA DOUTRINA BRASILEIRA........................12 1.3 RESPONSABILIDADE CIVIL COMO INSTRUMENTO DE CIDADANIA: A LEGISLAÇÃO ATUAL.............................................................................................17 CAPÍTULO II – AS ESPÉCIES DE RESPONSABILIDADE CIVIL E A RESPONSABILIDADE DO TRANSPORTE DE PASSAGEIRO 2.1 TIPOS DE RESPONSABILIDADE CIVIL..........................................................22 2.2 OBJETO DO CONTRATO E A NATUREZA DE SUA RESPONSABILIDADE NO CONTRATO DE PESSOAS.............................................................................25 2.3 A ESPECIFICIDADE DO CONTRATO DE TRANSPORTE DEPASSAGEIROS 2.3.1 INÍCIO DA EXECUÇÃO DO CONTRATO.....................................................37 2.4 OTRÍPLICE ASPECTO DA RESPONSABILIDADE DO TRNSPORTADOR....38 CAPITULO III – A RESPONSABILIDADE CIVIL DO TRANSPORTE PERANTE A LEGISLAÇÃO 3.1 A RESPONSABILIDADE CIVIL EM MEIOS DE TRANSPORTE......................40 3.2 O CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR..................................................46 3.3 A RESPONSABILIDADE DO TRANSPORTADOR EM FACE AO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR.................................................................................48 CAPÍTULO IV – EXCLUSÃO DA RESPONSABILIDADE DO TRANSPORTADOR 4.1 DA CULPA DA VÍTIMA, EXCLUSIVA OU CONCORRENTE...........................52 4.1.2 FATO DE TERCEIRO....................................................................................53 4.1.3 CLÚSULA DE NÃO INDENIZAR...................................................................54 CONCLUSÃO.........................................................................................................56 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................57 INDICE....................................................................................................................58
8
INTRODUÇÃO
Esta monografia propõe-se a estudar a Responsabilidade Civil nos
transportes rodoviários urbanos, que atualmente tem estado em evidência em
espaço nos jornais, revistas e estações de televisão, em face de polêmica quanto
a responsabilidade que lhe cabe no exercício do transporte de seus passageiros.
O transporte urbano em qualquer grande cidade tem sido alvo de críticas e
de queixas de todos os tipos. Questionar os limites da responsabilidade desse
prestador de serviço é o nosso intuito com esse trabalho.
Dados pelo IBGE informam que na região metropolitana no Rio de Janeiro
atendendo aproximadamente 80 milhões de passageiros por mês, o ônibus fica
com 88% da demanda, operado com 48 empresas com cerca de 8.000 coletivos.
Nos paises desenvolvidos o com economias estáveis e sem maiores
passivos sociais o transporte urbano é feito preponderantemente sobre trilhos
ou seja, trens e metrô.
No Brasil, todavia, por estar mais exposto às pressões das grandes
multinacionais das industrias automobilísticas, grande parte dos transportes
urbanos é intermunicipal é feito em ônibus, principalmente.
O transporte coletivo de passageiros é direito fundamental do cidadão e
dever do estado suprir a necessidade da população, pois o transporte rodoviário é
o mais utilizado e precisa ser mais bem planejado. E o poder público que é o
responsável pelo gerenciamento, operação, fiscalização, concessão, deve ter
atenção em relação a este planejamento.
No primeiro capítulo, foi realizado um estudo sobre a Evolução Histórica da
Responsabilidade Civil. Também foi abordado a Responsabilidade Civil como
instrumento de cidadania.
O segundo capítulo aborda as espécies de responsabilidade civil, a
especificidade do contrato de transporte de passageiro, e o início de sua
execução.
9
No capítulo três, estuda-se a Responsabilidade Civil do transportador
perante a legislação e jurisprudência e em face ao Código de Defesa do
Consumidor.
No quarto capítulo, trata da exclusão da responsabilidade civil do
transportador quando cabível.
O objetivo fundamental deste trabalho é contribuir, com uma bibliografia
especializada, com o intuito de alertar a população em relação aos seus direitos e
também deveres. Um segundo objetivo é discutir o problema do transporte
público,à luz da legislação que determina e dispõe a questão do Código de Defesa
do Consumidor, bem como das responsabilidades civil que cabem ao
transportador de passageiros dos ônibus em áreas urbanas.
É de extrema necessidade a Responsabilidade Civil nos transportes
rodoviários, devido ao grande número de acidentes ocorridos, atingindo a
população mais diretamente em decorrência desses fatos.
O Estado e as empresas de transporte rodoviário devem responder pelos
danos, pois a segurança dos passageiros deve estar sempre em primeiro lugar.
Foram utilizados para a realização dessa monografia, pesquisas
bibliográficas e a Internet, as quais proporcionaram o desenvolvimento desta
pesquisa.
10
CAPÍTULO I – A RESPONSABILIDADE CIVIL COMO
INSTRUMENTO DE CIDADANIA
1. 1- Evolução Histórica
Para o doutrinador Caio Mário1, o movimento progressivo e histórico da
responsabilidade civil inicia-se com o ordenamento mesopotâmico, (código de
Hamurabi), Vem do código de Manu e do direito Hebreu, a idéia de punir o dano,
instituindo contra o causador um sofrimento igual. Já a reparação do dano
causado, é instituída na civilização helênica, com puros sentidos objetivos,
independentes e violação a uma norma pré-determinada. Mas é no direito romano
que todas essas noções se sedimentam, para subsidiar a formação da
denominada civilização jurídica ocidental. Daí porque não se concentram os
estudos naquelas normatizações das civilizações mais antigas.
Bem no início do direito romano, vem a prevalecer à noção básica do delito.
Inicialmente, mesmo no direito romano, e nisso não se diferenciava daqueles
ordenamentos que o precederam, a idéia era de vingança privada. Assim sendo,
não anota diferença entre responsabilidade civil e responsabilidade penal.
Numa outra fase, se compõe a composição voluntária, anterior à punição do
mal. Iniciando-se o aceite do pagamento de uma certa importância ou a entrega
de certo bem, não se faria o mesmo mal, de que padeceu a vítima, ao ofensor.
Caso não se conseguisse esta composição, teria lugar à lei de Talião, que se pode
dizer em linguagem popular, “olho por olho, dente por dente”. Segue-se a
composição legal, em que se puniam as ofensas à pessoa da vítima, mas não se
encontrava um princípio determinante da responsabilidade civil.
1 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Responsabilidade Civil. 9ª ed. Rio Janeiro: Forense. 2002.
11
Por fim, segundo Girard2 citado por Caio Mário na mesma obra, chega-se à
fase em que se considera o estado interessado não somente na repressão das
infrações dirigidas contra ele, mas também nas dirigidas contra os particulares.
Conforme a pena vai perdendo o caráter de punição, surge a idéia de reparação.
No período de transição entre a fase que regia a lei das XII tábuas e o
republicano, evoluiu o tratamento da matéria, já que as figuras delituais revelaram-
se insuficientes para conter todas as espécies de reparações. Outras situações
foram adicionadas que, embora não fossem delitos, com eles se assemelhavam:
os quase delitos incluindo-se ai a queda de objetos de edifícios sobre as pessoas,
derramar líquidos ou lançar algo sobre a via pública etc.
O momento que mais evoluiu em termos de responsabilidade civil se deu no
período republicano, nos conceitos Jus - Romanisticos com a lex Aquilia. E daí
vem o nome atualmente conhecido com a denominação aquiliana para designar a
responsabilidade extracontratual, em oposição à contratual. Seu maior valor
consiste em substituir as multas fixas, por uma pena proporcional ao dano
causado. A ela também se imputa à origem do elemento culpa, como fundamento
para reparar o dano. Assim, de acordo com a lex Aquilia, para que se configurasse
a obrigação da reparação, era necessários o dano, o ato contrário ao direito e a
culpa.
Este modo de agir foi preservado basicamente por toda Idade Média e
passou para o direito moderno através de dois juristas, Domat e Pothier, em cujas
doutrinas se inspirou conhecido Código de Napoleão. A reparação, que sempre
esteve vinculada a casos especiais, ditados nas normas, após o referido código,
ficou ligada a um princípio geral que obrigava a reparar todos os danos que uma
pessoa causasse a outra por culpa (art. 1382 do Código de Napoleão). Baseado
deste artigo, do código civil francês, surgiu o nosso Código Civil de 1916, que
consagrou o artigo 159, a teoria da culpa.
2 GIRARD apud SILVA, Caio Mário. Responsabilidade Civil. 9ª ed. Rio de Janeiro: Forense. 2002.
12
1.2 – Responsabilidade civil na doutrina brasileira
O conhecimento sobre a Responsabilidade Civil pode se exaurir na própria
origem da palavra que se remete à palavra em latim respondere, que significa
responder a alguma coisa, ou seja, a necessidade que existe de responsabilizar
alguém por seus atos que sejam danosos.
Silvio Rodrigues3 dá ênfase à declaração de que o princípio informador de
toda responsabilidade é aquele que impõe a quem causa o dano o dever de
reparar.
Na mesma linha de raciocínio, inscreve-se o doutrinador Carlos Roberto
Gonçalves4, para quem o instituto da responsabilidade civil é pré-integrante do
direito obrigacional, pois tem como consequência prática de um ato ilícito, obrigar
o seu autor reparar o dano.
A Responsabilidade Civil vem definida por Savatier5, como a obrigação que
pode obrigar uma pessoa reparar o prejuízo causado a outra, por fato próprio, ou
por fato de pessoas ou coisas que dela dependam.
Segundo o professor Aguiar Dias6, a responsabilidade poder resultar da
violação das normas tanto morais como judiciárias, isto é, o fato em que se
concretiza a infração. Entretanto é certo que o domínio da moral é muito mais
amplo que o de direito, a este escapando muitos problemas subordinados àquela,
3 RODRIGUES, Silvio. Direito Civil, Responsabilidade Civil, vol 4. 20ª ed. revista e atualizada de acordo com o novo código civil. São Paulo: Saraiva, 2007. 4 GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade Civil. 9ªed. São Paulo: Saraiva, 2006. 5 SAVATIER, Apud RODRIGUES, Silvio. Direito Civil. Responsabilidade Civil. vol 4. 20ª ed, revista e atualizada. São Paulo: Saraiva. 2007. 6 DIAS, José de Aguiar. Responsabilidade Civil. 11ª ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2006.
13
porque a finalidade da regra jurídica se esgota com manter a paz social, e esta só
é atingida quando a violação se traduz em prejuízo.
Aguiar Dias assegura que toda responsabilidade é resultado da ação pela
qual o homem expressa o seu comportamento em face desse dever ou obrigação.
Segundo Cretella jr.7, citado por Aguiar Dias, a responsabilidade jurídica nada
mais é do que a própria figura da responsabilidade, in genere, transportada para o
campo do direito, situação originada por ação ou omissão de sujeito de direito
público ou privado que,contrariando norma objetiva obriga o infrator a responder
com sua pessoa ou bens. Ainda afirma Cretella Jr8. que a responsabilidade em
qualquer de suas categorias, empenha direta ou indiretamente o ser humano que
com dolo ou culpa, por ação ou omissão causa prejuízo às pessoas ou as coisas. A Responsabilidade Civil decorre da ação ou omissão dolosa ou culposa cuja
conseqüência, seja a produção de um prejuízo.
Hoje a Responsabilidade Civil, nos remete a situações e casos concretos,
decididos por juízes e pretores, bem como a questionamentos feitos por
jurisconsultos a respeito da responsabilidade civil e de uma teoria que possa
explicá-la em todos os seus aspectos jurídicos.
Caio Mário9 imagina o conceito da Responsabilidade Civil, como a obrigação
de uma pessoa tem de reparar o dano feito à outra, por fato próprio ou por fato de
pessoas. O campo que a teoria da responsabilidade civil procura colocar em
ênfase é se o prejuízo experimentado pela vítima deve ou não ser reparado por
quem o causou. Em regra geral da Responsabilidade Civil, no princípio geral do
direito à teoria da responsabilidade civil é aquele que impõe a quem causa dano a
outrem o dever de reparar. Tal princípio se encontra registrado entre nós, no artigo
186 do Código Civil.
7 Cretella, Junior apud DIAS, José de Aguiar. Responsabilidade Civil. 11ª ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2006. 8 idem 9 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Responsabilidade Civil. 9ª ed. Rio de janeiro: forense, 2002.
14
“artigo 186 - Aquele que por ação ou omissão voluntária, negligência ou
imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito”.
Antunes Varela10 citado por Caio Mário, avalia como a obrigação imposta a
uma pessoa de reparar os danos causados a outra. Teles Barreto11 também citado
Por Caio Mário, resume que a Responsabilidade Civil tem por objeto na obrigação
de reparar os danos sofridos por alguém. É a forma de indenizar os prejuízos de
quem for vítima. A responsabilidade Civil tem por elemento de base uma conduta
que violará um dever jurídico, tornando-se possível, dividir em diferentes
qualidades, de acordo com a natureza do dever e o elemento que deve ser
subjetivo da conduta, desta forma, a responsabilidade será civil e penal.
Importante mencionar que de acordo com o artigo 935 do Código Civil, na
primeira parte, a responsabilidade civil é independente da criminal. Logo não se
pode questionar mais sobre a existência do fato, ou sobre quem seja seu autor,
quando estas questões se acharem decididas no juízo criminal.
Aguiar Dias12 afirma que podem alguns fatos colocar em ação o mecanismo
recuperatório da responsabilidade civil, e alguns outros vão movimentar o sistema
repressivo ou preventivo da responsabilidade penal. E outros causam juntas a
responsabilidade civil e a penal, porque apresentam em relação às duas situações
incidência igual, conforme os critérios sob que entram em função os órgão
encarregados de fazer valer a mesma perspectiva, é assim bem parecido, o
fundamento da responsabilidade civil e da responsabilidade penal. As condições
em que surgem é que as diferenciam, sendo assim uma é mais exigente do que a
10 VARELA, Antunes apud PEREIRA, Caio Mário da Silva. Responsabilidade Civil. 9ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2002. 11 BARRETO, Teles apud PEREIRA, Caio Mário da Silva. Responsabilidade Civil. 9 ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2002. 12 AGUIAR, Dias apud GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade Civil. 8ª ed. São Paulo: Saraiva, 2006.
15
outra, quanto ao aperfeiçoamento dos requisitos que devem coincidir para se
efetivar.
Segundo nos ensina o desembargador Cavalieri13, a ilicitude não é privativa
do Direito Penal, por ser ela a contrariedade entre a conduta e a norma jurídica,
poderá estar em qualquer ramo do direito. No caso de um ilícito penal, o agente
estará infringindo uma norma de direito penal de Direito Público, e sendo um ilícito
civil estará violando uma norma de Direito Privado.
Verifica-se que os autores não encontram a diferença entre o ilícito penal e o
civil. Conforme já falado, importa violação de um dever jurídico, infração da lei. A
conduta mais grave que irão atingir os bens sociais mais relevantes irá ser
sancionada pela lei penal, assim como a lei civil sancionará as condutas menos
graves.
Um exemplo bem característico irá ilustrar nosso trabalho: Um motorista
estando dirigindo imprudentemente ou com imperícia, atropela e mata um
transeunte, estará sujeito a uma sanção penal por homicídio, e terá que reparar o
dano aos descendentes dessa vítima. Assim, verificamos a sanção penal de
natureza repressiva, provavelmente com uma pena privativa de liberdade ou
restritiva de direitos e a sanção civil, uma indenização de natureza reparatória.
Para Sérgio Cavalieri14, a responsabilidade civil em seu sentido etimológico,
exprime a idéia de obrigação, contraprestação. No sentido jurídico é a mesma
idéia, designar o dever que alguém tem de reparar o prejuízo decorrente da
violação de um dever jurídico sucessivo para recompor o dano decorrente da
violação de um dever jurídico originário. De todos os contratos, nenhum terá maior
relevância social e jurídica na atualidade do que o contrato de transporte onde
milhões de pessoas é transportado diariamente de casa para o trabalho e vice
versa, principalmente nos grandes centros urbanos, gerando vários problemas
13 CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil. 9ª ed. Revista e Ampliada. São Paulo: Atlas, 2010. 14 idem
16
sociais e jurídicos. Pode-se dizer que o transporte coletivo urbano tornou-se
instrumento fundamental para o cumprimento das funções sociais e econômicas
do Estado moderno.
Dados do IBGE15 informam que nos países de economia estáveis, o
transporte urbano é principalmente feito sobre trilhos, notadamente os trens e o
metrô. E respondem por 60% da demanda, ficando o sistema rodoviário com
30%. Já no Brasil é ao contrário, já que o transporte ferroviário não tem
investimentos estatais, e detém apenas 6% da demanda diária do transporte
coletivo em todo pais. O transporte rodoviário está no patamar percentual de 93%,
e isto já na primeira metade de 1960, quando a economia no nosso pais estava
muito mais precária e todos os recursos públicos bastante limitados.
O transporte coletivo apresentava um investimento com cerca de 40% de
formação bruta do capital fixo do pais, aproximadamente 6,7% do PIB. Assim
construíram algumas poucas estradas de ferro, com trens até modernos para a
época, que transportavam milhares de passageiros. Já no final de 1980 tais
investimentos foram decaindo para apenas 10% e 1,7% respectivamente, e
piorando no período de 1990, por falta de interesse político.
Desta forma, os transportes coletivos no Brasil se encontrarem em estado
precário, fazendo com que a maioria dos trabalhadores viajem três ou até quatro
horas por dia para chegarem ao trabalho e retornar para casa.
Na região metropolitana do Rio de Janeiro atendendo aproximadamente o
transporte de 80 milhões de passageiros por mês e cerca de 2,7 milhões por dia,
os trens respondem por apenas 7%, o metrô 3% , as barcas 2%, ficando o ônibus
com 88% da demanda, e este sistema de transporte rodoviário, é operado por 48
empresas, empregando uma frota com cerca de 8.000 ônibus.
15 IBGE apud CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil. 9ª ed. Revista e ampliada. São Paulo: Atlas, 2010.
17
Atente-se agora para o que ocorre na grande São Paulo, Recife, Salvador,
Belo Horizonte e Porto Alegre e se terá à idéia da enormidade dos problemas
sociais e jurídicos que diariamente ocorrem no campo dos transportes coletivos. É
por isso que as ocorrências com os meios de transporte hoje até constituem um
setor especial da Responsabilidade Civil.
1.3 -– Responsabilidade civil como instrumento de cidadania: a
legislação atual
No Código de 1916, o contrato de transporte não tinha nenhuma referência,
mesmo tendo relevância jurídica e social.
Sérgio Cavalieri16 citado por Aguiar Dias tem sua visão para a omissão:
Tenho para mim que o código de 1916 não fez referência
ao contrato de transporte porque o legislador dele se esqueceu,
preocupado com as questões do congresso olvidando-se de que o
mundo aqui de fora não havia parado, antes pelo contrário as rodas
estavam rodando, e cada vez mais rápido. É isso que ocorre quando há
um distanciamento entre a lei e o fato, ou melhor dizendo, quando o
legislador está alheio ao fato.
A História dos transportes coletivos inicia-se nos tempos da “Maria Fumaça”,
as locomotivas a vapor, que foram os primeiros meios de transportes no nosso
pais.
O congresso em 1912 editou uma lei especial para disciplinar o transporte
coletivo, o decreto 2.681/12, que se tornou conhecido como a Lei das Estradas de
16 DIAS, José de Aguiar apud CAVALIERI Filho, Sérgio. Responsabilidade Civil. 11ª ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2006.
18
Ferro. Tal lei era considerada avançada para a época em que foi promulgada,
destinava-se a regular tão somente a responsabilidade civil das ferrovias.
Entretanto por uma ampliação jurisprudencial teve sua aplicação estendida a
qualquer outro tipo de transporte, tais como o ônibus, táxis, locação, automóveis e
até mesmo os elevadores.
O Código Civil de 2002 disciplinou o contrato de transportes a partir do seu
artigo 730, tanto o transporte de pessoas (artigos 734 – 742) como o de coisas
(artigos 743 – 756). Assim, revogou uma das leis brasileiras mais antigas, as leis
das estradas de Ferro, e passou a disciplinar um contrato que não é novo, pelo
contrário, mais antigo do que o próprio Código de 1916.
A Responsabilidade Civil como instrumento de cidadania, tem como
referência, a sua dupla função, a primeira é transmitir segurança à pessoa e
garantir à reparação ao dano que por ventura lhe for causado, a segunda servir
como sanção civil,de modo a inibir novas condutas que atentem contra o
ordenamento jurídico. O princípio que domina a Responsabilidade Civil na
atualidade é o de restitutio in integrum, ou seja, da reparação integral do dano
causado. Indenizar pela metade é responsabilizar a vítima pelo resto. Em nosso
direito este princípio está contemplado no artigo 5º incisos V e X da Constituição
Federal17
Inciso V – é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo
além da indenização por dano material, moral ou imagem.
Inciso X – São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a
imagem das pessoas, assegurado o direito à indenização pelo dano
material ou moral decorrente da sua violação.
17 CONSTITUIÇÃO FEDERAL apud VADEMECUM. 6ª ed. atualizada e ampliada.São Paulo: Saraiva, 2008.
19
No Código Civil, artigo 927, deixa consagrado:
“art 927 - Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a
outrem, fica obrigado a repará-lo.
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano,
independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou
quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano
implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem pa, nos
casos especifica dose, lei. ou quando atividade normalmente
desenvolvida pelo autor do dano implicar,por sua natureza, risco para os
direitos de outrem.
Complementando toda esta legislação protetiva foi criada a ANTT, que
também funciona como elemento de controle dos transportes pelo Estado.
De acordo coma lei nº 10.233 de 05 de junho de 2001 a ANTT18, Agência
Nacional de Transportes terrestres, dispõe sobre a reestruturação dos transportes
aquaviários e terrestres, criando o conselho nacional de integração de políticas de
transportes, a agência nacional e o departamento nacional de infra estrutura de
transportes, entre outras providências. No artigo 26 desta lei são taxativas as
contribuições da ANTT.
Art. 26. Cabe à ANTT, como atribuições específicas pertinentes ao
Transporte Rodoviário:
I – publicar os editais, julgar as licitações e celebrar os contratos de
permissão para prestação de serviços de transporte rodoviário
interestadual e internacional de passageiros;
II – autorizar o transporte de passageiros, realizados por empresas de
turismo, com a finalidade de turismo;
18 ANTT. Disponível em http://www.ANTT.GOV.BR. Acesso em 07/07/2010.
20
III – autorizar o transporte de passageiros, sob regime de fretamento;
IV – promover estudos e levantamentos relativos à frota de caminhões,
empresas constituídas e operadores autônomos, bem como organizar e
manter um registro nacional de transportadores rodoviários e de cargas;
V – habilitar o transportador internacional de carga;
VI – fiscalizar diretamente, com o apoio de suas unidades regionais, ou
por meio de convênios de cooperação, o cumprimento das condições de
outorga de autorização e das cláusulas contratuais de permissão para
prestação de serviços ou de concessão para exploração da infra-
estrutura;
VII – fiscalizar diretamente, com o apoio de suas unidades regionais, ou
por meio de convênios de cooperação, o cumprimento das condições de
outorga de autorização e das cláusulas contratuais de permissão para
prestação de serviços ou de concessão para exploração da infra-
estrutura;
§ 1º (VETADO)
§ 2º Na elaboração dos editais de licitação, para o cumprimento do
disposto no inciso VI do caput, a ANTT cuidará de compatibilizar a tarifa
do pedágio com as vantagens econômicas e o conforto de viagem,
transferidos aos usuários em decorrência da aplicação dos recursos de
sua arrecadação no aperfeiçoamento da via em que é elaborado.
§ 3º A ANTT articular-se-á com os governos dos Estados para o
cumprimento do disposto no inciso VI do caput, no tocante às rodovias
federais por eles já concebidas a terceiros, podendo avocar os
respectivos contratos e preservar a cooperação administrativa avençada.
§ 4º O disposto no § 3º aplica-se aos contratos de concessão que
integram rodovias federais e estaduais, firmados até a data de
publicação desta lei.
§ 5º Os convênios de cooperação administrativa no inciso VII do caput,
poderão ser firmados com órgãos e entidades da União e dos governos
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios
21
§ 6º No cumprimento do disposto no inciso VII do caput, a ANTT deverá
coibir a prática de serviços de transporte de passageiros não
concedidos, permitidos ou autorizados.
O Departamento Nacional de Transito (DENATRAN)19 e o Instituto de
Pesquisa Econômico Aplicada (IPEAA) fizeram um estudo sobre o impacto sócio
econômico dos acidentes de trânsito nas rodovias brasileiras, e o diretor daquele,
o senhor Alfredo Peres da Silva, destaca a importância desse estudo, com o
intuito de reduzir os acidentes de transportes em nossas rodovias.
O trabalho utilizou dados referentes a acidentes ocorridos em 2007 e 2008. E
de acordo com a pesquisa o custo total dos acidentes em rodovias chega a R$
24,6 bilhões só no primeiro ano, com cerca de 6.840 mortos e 75.000 feridos,
dando um total de R$ 31 bilhões. Este valor equivale ao montante de recursos
públicos do PAC 2007-2010, para investimento de infra-estrutura logística
(rodovias, ferrovias e hidrovias).
19 DENATRAN. Disponível em htpp://www. DENATRAN.GOV.BR, acesso em 20/07/2010.
22
CAPÍTULO II – AS ESPÉCIEIS DE RESPONSABILIDADE
CIVIL E RESPONSABILIDADE DO TRANSPORTE DE
PASSAGEIRO .
2.1 – Tipos de Responsabilidade Civil
A Responsabilidade Civil está dividida em extracontratual e contratual, de
acordo com a qualidade da violação. Na Responsabilidade contratual, pré existe
um vínculo obrigacional, e o dever de indenizar é conseqüência do
inadimplemento, também chamada de ilícito contratual ou relativo: se esse dever
surge em virtude de lesão a direito subjetivo, sem que entre o ofensor e a vítima
preexista qualquer relação jurídica que o possibilite, temos à responsabilidade
extracontratual, também chamado de ilícito aquiliano ou absoluto.
Na visão do professor Ricardo Pereira20 citado por Sérgio Cavalieri, surge da
lei ou da vontade dos homens o dever jurídico. O ilícito extracontratual é a
transgressão de um dever jurídico que é imposto por lei, e o ilícito contratual vem
da violação do dever jurídico que é criado pelas partes no contrato.
Para Sérgio Cavalieri21 vai existir uma violação de um dever jurídico
preexistente na responsabilidade extracontratual assim como na contratual, a
diferença está na sede desse dever.
Assim sendo, na responsabilidade contratual, mesmo antes da obrigação de
indenizar, existirá uma relação jurídica que deverá ser estabelecida pelas partes,
fundada na autonomia da vontade e regida pelas regras comuns dos contratos.
20 PEREIRA, Ricardo apud CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil. 9ª ed. Revista e Ampliada. São Paulo: Atlas, 2010. 21 CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil. 9ª ed. Revista e Ampliada. São Paulo: Atlas, 2010.
23
Na responsabilidade extracontratual, ao contrário, não existe qualquer
vínculo jurídico anterior entre o agente causador do dano e a vítima, até que o ato
jurídico ponha em ação os princípios geradores da obrigação de indenizar. è o ato
ilícito que sozinho gera a relação jurídica obrigacional, criando para o causador do
dano um dever de indenizar a vítima.
Aguiar Dias22 citado por Sérgio Cavalieri, nos ensina que uma pessoa se
constitui em responsabilidade contratual, preexistirá um laço entre ela e a vítima
do prejuízo, ou seja, um contrato. É precisamente por seu procedimento,
concretizado em violação do contrato, que a parte incorre na responsabilidade.
Diferentemente na responsabilidade extracontratual, não existe uma relação de
direito preexistente que irá ligar o autor do dano a vítima. Foi o fato danoso que é
estabeleceu esse laço.
Para o doutrinador Silvio Rodrigues23 , o Código Civil disciplina no seu artigo
186, conjugado com o artigo 927, prescreve que aquele venha causar dano a
outrem, com ação dolosa ou culposa, cometerá ato ilícito, ficando este obrigado a
reparar o dano. São conseqüências que derivam da responsabilidade aquiliana. O
artigo 389 do mesmo código cuida dos efeitos resultantes da responsabilidade
contratual, ainda ressalta que as duas responsabilidades são de igual natureza,
não havendo necessidade de discipliná-las separadamente. E de fato tanto na
configuração da responsabilidade contratual como na da aquiliana vários
pressupostos são comuns, a existência do dano, a culpa do agente e a relação de
causalidade entre o comportamento do agente e o dano experimentado pela
vítima ou pelo outro contratante.
Na mesma visão deste, Sérgio Cavalieri24 defende que há uma associação
entre a responsabilidade extracontratual e a contratual, já que as regras para
ambas são as mesmas inseridas no Código, nos artigos 393, 402, e 403. A 22 DIAS, Aguiar apud CAVALIERI FILHO, Sérgio. Op cit 23 RODRIGUES, Silvio. Direito Civil.v. 4 Responsabilidade Civil. 20ª ed., revista e atualizada de acordo com o novo Código Civil. 4ª tiragem. São Paulo: Saraiva, 2007. 24 CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil. 9ª ed. Revista e Ampliada.São Paulo: Atlas, 2010.
24
corrente minoritária ou monista criticam essa dicotomia, por entenderem a que
pouco importa os aspectos sobre os quais se apresente a responsabilidade civil no
cenário jurídico, já que seus efeitos são uniformes. Entretanto, nos códigos de
quase todos os países, inclusive o nosso, tem sido acolhida à tese dualista ou
clássica.
O Código de Defesa do Consumidor não atende as distinções entre as
responsabilidades contratuais e extracontratuais, no que respeita a
responsabilidade do fornecedor de produtos e serviços. No artigo 17, ao equiparar
ao consumidor todas as vítimas do acidente de consumo, a responsabilidade do
fornecedor é unitária, já que o fundamento da responsabilidade a violação do
dever de segurança. O defeito do produto ou serviço lançado no mercado e que,
numa relação de consumo, contratual ou não, dá causa a um acidente de
consumo.
Na opinião de Luiz Roldão25 , a responsabilidade civil contratual é aquela que
provém da falta de cumprimento ou da mora no cumprimento de qualquer
obrigação, ou de um dever jurídico especial. A extracontratual, por seu turno é a
que resulta da violação de um dever genérico de abstenção ou de um dever
jurídico geral, como aqueles que correspondem aos direitos reais e aos direitos de
personalidade. Para o autor, é essencial a responsabilidade civil contratual que ela
resulta da violação de uma obrigação infringida resulte de um contrato, ou de um
negócio jurídico unilateral (como exemplo a promessa de recompensa ou
testamento), ao passo que a responsabilidade extracontratual assenta, em regra,
num fato positivo, num ato (violação do dever geral de abstenção). Pode, porém, a
responsabilidade contratual brotar de uma ação do devedor, no caso das
obrigações de não fazer, tal como pode a responsabilidade extracontratual nascer
de uma omissão (mãe que, não alimentando o filho, o deixa morrer por
inanição).O autor afirma que durante séculos, as duas variantes da
responsabilidade civil foram tidas como figuras inteiramente distintas e reguladas
25 GOMES, Luiz Roldão de Freitas. Elemento de Responsabilidade Civil. Rio de Janeiro: Renovar, 2006.
25
nas leis em lugares diferentes: a responsabilidade contratual era incluída no
capítulo do não cumprimento das obrigações, como um momento da relação
obrigacional, art. 389 do Código Civil, ao passo que a responsabilidade
extracontratual era incluída no capítulo da violação dos direitos em geral. A
doutrina atual tende, a aproximar as duas matérias, destacando todos os aspectos
comuns a uma e a outra, sem apagar por completo as diferenças que as separam.
2.2– Objeto do contrato de transporte e a natureza de sua
responsabilidade no contrato de pessoas
Aguiar Dias26 ensina que antes de ser tornar pacífica a natureza contratual da
responsabilidade do transportador, chegou-se a sustentar que seria aquiliana a
culpa das empresas de transporte sob o fundamento de que a incolumidade dos
passageiros não pode ser objeto de contrato.
Clóvis Bevilaqua27 afirma que as empresas de transporte rodoviário possui
responsabilidade para com o passageiro e essa responsabilidade é regulada pelo
Código Civil, com base no artigo 732.
“Artigo 732 - Aos contratos de transporte, em geral, são aplicáveis,
quando couber, desde que não contrariem as disposições deste código,
os preceitos constantes da legislação especial e de tratados e
convenções internacionais”.
2.3 – A Especificidade do contrato de transporte de
passageiros
26 DIAS, José de Aguiar. Da responsabilidade Civil. vol I. 11ª ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2006. 27 BEVILAQUA, Clóvis apud DIAS, José de Aguiar. Da Responsabilidade Civil. vol I. 11ª ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2006.
26
O contrato de transporte de passageiros, é por natureza um contrato de
adesão, uma vez que suas cláusulas são previamente estipuladas pelo
transportador às quais o passageiro simplesmente adere no momento da
celebração. Este contrato é consensual, bilateral, oneroso e comutativo, posto que
para sua celebração basta o simples encontro de vontades, assim criando direitos
e obrigações para ambas as partes, há um equilíbrio econômico entre as
respectivas prestações.O preço da passagem, via de regra, corresponde ao
benefício recebido pelo passageiro. É o que dispõe o artigo 730 do Código Civil.
Pelo contrato de transporte alguém se obriga, mediante retribuição, a
transportar de um lugar para outro, pessoas ou coisas. Para o bilhete ou
passagem, não é indispensável para celebração do contrato, por se tratar de
contrato não formal. Pode apenas servir como meio de prova de sua existência.
Nem mesmo o pagamento da passagem é elemento necessário para a
consumação do contrato, podendo-se daí concluir que o pagamento da passagem
já é fase da execução do contrato, e não da celebração.
O contrato de transporte se oriunda da responsabilidade civil contratual,
ficando obrigado o transportador a transportar o passageiro são e salvo até o seu
destino.
Quanto ao início deste contrato, alguns defendem que o mesmo começa a
partir do momento em que o passageiro faz o sinal para o ônibus parar, contudo
entende-se também de forma diversa, ou seja, inicia-se com o embarque do
passageiro ao interior do coletivo e termina com o seu efetivo desembarque.
Portanto, se o motorista arranca com o ônibus no momento em que o passageiro
nele ingressa, responderá o transportador, exemplo este dado por Sérgio
Cavalieri28 .
28 CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil. 9ª ed. Revista e Ampliada. São Paulo. Atlas, 2010.
27
Para Aguiar Dias29, quem utiliza um meio de transporte regular, está
celebrando com o transportador uma convenção cujo elemento essencial é estar
livre de perigo. O autor descreve que a obrigação de segurança ou garantia de
incolumidade não foi estabelecida sem uma busca do melhor. Com o passar do
tempo, a jurisprudência se adequando à doutrina dominante passou a repetir
unanimente a opinião de Sarret30, citado pelo autor na mesma obra, reconhecendo
que o transportador incumbido por força do contrato de transporte, deve garantir a
incolumidade das pessoas transportadas. A doutrina repele uma definição estreita
dessa garantia conforme a qual a obrigação do transportador deveria se limitar a
assegurar que agiu de acordo com o padrão do homem prudente e diligente, para
estabelecer que o dever de incolumidade é a obrigação determinada de não
causar acidentes e não simples obrigação geral de prudência e diligência.
Para Mazeaud et Mazeaud31, também citado pelo mesmo autor, vem explicar
que o transporte não deverá ser causa de acidentes, não só exige que o
transportador deve agir com diligência, para que evite atrasos mas também que
venha a se empenhar em conduzir com mais prudência para assim evitar
acidentes.
Verifica-se que a Cláusula de Incolumidade é sem dúvida a característica
mais importante do contrato de transporte. O resultado da obrigação do
transportador é de fim, e não de meio. Ele é obrigado a tomar todas as
providências e cautelas para que o transporte que esteja fazendo tenha sucesso,
desta forma, o transportador deve zelar pela incolumidade do passageiro, para
que assim evite qualquer fato ou acontecimento danoso.
A Cláusula de Incolumidade deverá se entendida, como a obrigação que o
transportador tem de conduzir o passageiro são e salvo ao lugar de destino, por
isso a doutrina e a jurisprudência observam que as empresas de transporte sejam
29 DIAS, Aguiar. Da responsabilidade Civil. vol I,11ª ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2006. 30 SARRET, apud Dias, José de Aguiar. Da Responsabilidade Civil. 11ª ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2006. 31 MAZEAUD, idem.
28
elas quais forem, vão estabelecer um vínculo entre si e seus passageiros,
tornando-se responsáveis por qualquer dano que venha a ocorrer.
Conforme dito anteriormente, a jurisprudência vem positivar a
responsabilidade do transportador, observando a Cláusula de Incolumidade:
Acórdão: Apelação Cível n. 2002.022453-2, da Capital(Forum Distrital do
Estreito).
Relator: Des. Monteiro Rocha.
Data da decisão: 12.06.2003.
EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR PERDAS
E DANOS - ACIDENTE OCORRIDO NO INTERIOR DE TRANSPORTE
COLETIVO URBANO - PERDA DO QUARTO DEDO DA MÃO
ESQUERDA - RESPONSABILIDADE PELO FATO DO SERVIÇO -
RESPONSABILIDADE CONTRATUAL CIVIL E CONSUMERISTA -
CARÁTER OBJETIVO - DEVERES DE SEGURANÇA E INCOLUMIDADE
- OBRIGAÇÃO DE RESULTADO - PERDA DE MEMBRO - DANOS
MORAIS ENVOLVENDO OFENSA BIOLÓGICA E ESTÉTICA -
QUANTIFICAÇÃO - LIVRE ARBÍTRIO JUDICIAL - SENTENÇA
CONFIRMADA - RECLAMO DESPROVIDO.
Nos contratos de transporte, a responsabilidade civil do
transportador relativamente aos passageiros é objetiva e de
resultado, tendo como fim a segurança e a incolumidade destes.
Tendo a empresa de transporte urbano, com o seu proceder,
decepado o quarto dedo da mão esquerda da passageira, quando
esta ainda iniciava a sua transposição para a rua, acarretando nesta
danos biológicos, estéticos e psicológicos, descumpriu com a sua
obrigação de zelar pela segurança e incolumidade daquela.
Os contratos de transporte de passageiros firmados com empresas
de transporte coletivo, ainda que despidos de maiores formalidades,
são regidos pelo Código de Defesa do Consumidor.
Os danos psicológicos decorrem da intensa dor íntima
experimentada, os biológicos - perda do dedo anelar -, os estéticos -
decorrentes da violação da harmonia corporal e os psicológicos, tudo
numa visão unitária de direitos morais.
29
No regime aberto de quantificação dos danos morais, o livre arbítrio
judicial está subordinado aos parâmetros jurisprudenciais aceitos e
numa reprimenda pecuniária que atente para os aspectos punitivo-
retributivos da reprimenda.
Vistos, relatados e discutidos estes autos de apelação cível n. 02.022453-
2, da Comarca da Capital (Fórum Distrital do Estreito - Vara de Exceção
Cível), em que é apelante Transportes Coletivos Estrela Ltda., sendo
apelada Eliana Pontes de Souza Vitelli:
ACORDAM, em Segunda Câmara de Direito Civil, por votação unânime,
conhecer do recurso e negar-lhe provimento.
Custas na forma da lei.
1. Eliana Pontes de Souza de Vitelli, qualificada nos autos, por seu
advogado, propôs Ação de Reparação de Danos Patrimoniais e
Extrapatrimoniais com pedido de tutela antecipada em face de Transportes
Coletivos Estrela Ltda., objetivando a condenação da ré ao pagamento de
R$ 10.315,14, a título de danos patrimoniais, mais uma pensão mensal no
valor de 05 salários mínimos até a data em que completaria 65 anos e,
finalmente, 500 salários mínimos a título de danos morais.
Sustentou que em data de 05.10.98, por volta das 20:55 horas, embarcou
no ônibus da requerida, junto ao terminal urbano Cidade de Florianópolis,
em direção ao bairro Abraão, onde reside. .
Prosseguiu argumentando que ao desembarcar do ônibus, em frente à
Farmácia 17 horas, na Rua João Meirelles, sua aliança prendeu-se numa
peça solta do corrimão do coletivo, acarretando-lhe a decepação do seu
dedo anular da mão esquerda, em conseqüência do fato de que o
motorista e preposto da requerida não esperou a sua descida integral do
ônibus (fls.22).
Adicionou que foi levada ao Hospital Regional de São José, oportunidade
em que foi submetida a uma cirurgia objetivando o reimplante do dedo,
sem êxito.
Preconizou que o ilícito lhe proporcionou danos de ordem moral e material
(consistentes em despesas médico-hospitalares), inclusive com várias
sessões de fisioterapia, bem como lucros cessantes, eis que ficou
30
impossibilitada de exercitar as atividades intelectuais que antes
desempenhava.
Ao final, postulou a procedência do pedido formulado.
Valorou a causa e anexou documentos.
Citada, a ré ofereceu contestação, alegando que desconhecia a ocorrência
do acidente. Prosseguiu aduzindo que sua atividade não é de risco,
inocorrendo responsabilidade contratual, que de qualquer forma entende
ser subjetiva. Impugnou ainda, uma a uma, as despesas médicas, sob o
argumento de que poderiam ser cobertas pelo SUS, afirmando que os
danos morais, no patamar pleiteado, são exorbitantes. Asseverou, enfim,
que a pensão é descabida, não havendo prova da incapacidade
sobrevinda, nem de que a autora auferia 05 salários mínimos. .
O feito foi saneado à fl. 125. A tutela antecipada foi indeferida.
Houve réplica e audiência preliminar
Em audiência de conciliação, coletou-se prova oral.
As partes apresentaram razões finais, através de memoriais escritos
Entregando a prestação jurisdicional, o digno togado singular julgou
parcialmente procedente o pedido inicial.
Inconformada, Transportes Coletivos Estrela Ltda. interpôs apelação,
alegando que as testemunhas não presenciaram o acidente, sendo que
não havia qualquer peça solta no coletivo, não tendo culpa no evento, pelo
que preconizou culpa exclusiva da vítima. No mais, afirmou que os danos
morais foram fixados em patamar exorbitante.
Preparados e respondidos, os autos aportaram nesta e. Corte.
É o relatório.
2. O recurso objetiva reformar a sentença no tocante à responsabilidade
civil, à atribuição de culpa e à quantificação dos danos morais.
Através do documento de fls. 32, verifica-se que a requerente perdeu o
quarto quirodátilo esquerdo (falange proximal) da mão esquerda - CID
568.1 -, em decorrência do acidente ocorrido no ônibus mencionado no
relatório deste julgamento.
Tal a gravidade do acidente sofrido pela autora que à mesma foi indicado
procedimento operatório, conforme se vê pelo documento de fls. 39, o qual
revela que a autora "apresenta uma amputação traumática do 4º dedo da
31
mão esquerda, necessitando de cirurgia para a reconstrução funcional".
Tratando sobre debilidade permanente de membro, sentido ou função, a
Medicina Legal entende que "a debilidade permanente é o
enfraquecimento permanente da capacidade funcional e a debilidade
transitória não será, pois, de ser levada em consideração. A lesão sofrida,
para ser considerada grave, deverá produzir um indubitável
enfraquecimento do membro, sentido ou função, de forma que essa
debilidade prejudique efetivamente ao ofendido. Função veio substituir a
palavra órgão. A função não poderá existir sem o órgão correspondente e
este poderá permanecer sem a respectiva função. Sentido refere-se às
funções especiais que atendem à vida de relação" (HILÁRIO VEIGA DE
CARVALHO e outros, Compêndio de Medicina Legal, São Paulo, Editora
Saraiva, 1987, pp. 105/106).
Como as disfunções psicológicas acarretam problemas físicos, estes
acarretam problemas orgânicos, devido à interação psicossomática de que
é constituído o ser humano. Assim, a requerente demonstrou a
necessidade de acompanhamento psicológico e de tratamento
fisioterápico, ambos objetivando fazer com que a autora diminuísse seus
problemas decorrentes do acidente.
Verifica-se, portanto, que a autora sofreu intensamente danos morais, sob
a forma ampla de danos biológicos, estéticos e psicológicos.
A responsabilidade civil da empresa que transportou a apelada é
contratual, devendo ser analisada pela doutrina e jurisprudência pátrias.
Solene ou não, o contrato de transporte de passageiros contém a cláusula
de incolumidade, conforme se vê dos seguintes arestos:
- "Pela incolumidade do passageiro responde o condutor. Em caso de
acidente, é obrigado a reparar o dano sofrido pelo passageiro" (RT
486/57).
- "Tratando-se de transporte de passageiro, no contrato está ínsita a
cláusula de incolumidade, pela qual o transportador se responsabiliza de
levar são e salvo o passageiro ao seu destino" (RT 491/63).
- "A responsabilidade da empresa transportadora de passageiros é de
natureza contratual, com cláusula implícita de garantia, dada a obrigação
de levá-los incólumes a seu destino" (RT 583/221).
Não obstante a irresignação da apelante, extrai-se dos autos que o
acidente ocorreu no ônibus, quando a apelada deixava o coletivo, mas
32
dele ainda não saíra completamente, tendo em vista que descia os
degraus de acesso à rua.
Nesse vértice colhe-se do testemunho prestado pela Sra. Cíntia Vieira (fl.
144), que presenciou os fatos:
"Que a depoente desceu do lado esquerdo do ônibus, sendo que a autora
desceu do lado direito; que a depoente desceu ao mesmo tempo em que a
autora, sendo que a demandante enganchou a aliança em algum parafuso
solto no ônibus; que o ônibus se encontrava parado enquanto a depoente
e a autora desciam; que o acidente aconteceu em um ônibus da
Companhia de Transportes Estrela".
No mesmo diapasão informou a Sra. Maria da Purificação do Nascimento
Vanderlei, também testemunha presencial (fl. 145):
"Que a depoente estava descendo do ônibus no momento em que
aconteceu o acidente; que a demandante estava descendo do ônibus
também no momento em que aconteceu o sinistro; que quando desceu do
ônibus a depoente ouviu um barulho que não conseguiu identificar; que a
depoente ao se virar notou a presença de objetos na escada do ônibus,
tendo a mesma os apanhado, momento em viu a autora segurando a
própria mão e pedindo socorro".
Ocorrido o acidente no interior do coletivo, ainda que iniciada a
transposição para a rua, o caso sub judice é de submeter-se às regras e
aos princípios da responsabilidade contratual, amoldando-se ainda ao
paradigma do contrato de transporte, no qual está ínsita a cláusula de
incolumidade dos passageiros.
Em decorrência do elenco probatório trazido aos autos, é inarredável a
afirmação de que a empresa apelante está obrigada civilmente a reparar o
dano causado à passageira-apelada porque pela incolumidade do
passageiro responde a empresa transportadora e em caso de acidente,
deve a mesma reparar a ofensa sofrida pela passageira.
De outra banda, o Código de Defesa do Consumidor rege os contratos de
transporte de passageiros firmados com empresas de transporte coletivo,
ainda que despidos de maiores formalidades (art. 3º).
Sobre a espécie preconiza CLÁUDIA LIMA MARQUES, em seu Contratos
no Código de Defesa do Consumidor, 2. ed., RT, p. 124:
"Quanto aos contratos de transporte, destacaríamos o transporte de
pessoas ou de passageiros. Este transporte terrestre, por ônibus, por
33
carro, e menos freqüentemente, por trem, pode firmar-se por escrito ou
não, bastando a conduta do consumidor ao subir no transporte coletivo
para formalizar o contrato, que se regulará geralmente por condições
gerais afixadas ou não no coletivo.
"O contrato de transporte de passageiros é um contrato de prestação de
serviços, uma obrigação de resultado. Neste caso a caracterização do
profissional transportador como fornecedor não é difícil, nem a do usuário
do serviço, seja qual for o fim que pretende com o deslocamento, como
consumidor".
Assim, emerge do art. 6º, I, do Diploma Consumerista que "são direitos
básicos do consumidor, a proteção da vida, saúde e segurança contra os
riscos provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços
considerados perigosos ou nocivos".
O art. 14 daquele mesmo Codex, que estabelece a responsabilidade pelo
fato do serviço reza que "o fornecedor de serviços responde,
independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos
causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos
serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre
sua fruição e riscos" (sublinhei).
A responsabilidade pelo fato do serviço tem por premissa básica o dever
de segurança, que abrange a fase pré-contratual e se estende à fase pós-
contratual. Especificamente no que diz respeito aos contratos de
transporte, o dever de segurança reputa-se consubstanciado naquilo que a
doutrina designou de cláusula de incolumidade, que decorre da obrigação
de custódia dos passageiros.
Sobre a temática colaciono lição de SÉRGIO CAVALIERI FILHO,
Programa de Responsabilidade Civil, Malheiros, 1997, pp. 193 e 194:
"Sem dúvida, a característica mais importante do contrato de transporte é
a cláusula de incolumidade que nele está implícita. A obrigação do
transportador é de fim, de resultado, e não apenas de meio. Não se obriga
ele a tomar as providências e cautelas necessárias para o bom sucesso do
transporte; obriga-se pelo fim, isto é, garante o bom êxito. Tem o
transportador o dever de zelar pela incolumidade do passageiro na
extensão necessária a lhe evitar qualquer acontecimento funesto, como
assinalou VIVANTE, citado por AGUIAR DIAS. O objeto da obrigação de
custódia, prossegue o mestre, é assegurar o credor contra os riscos
34
contratuais, isto é, pôr a cargo do devedor a álea do contrato, salvo, na
maioria dos casos, a força maior" (sublinhei).
A responsabilidade, portanto, é objetiva porque o dever de custódia impõe
ao transportador os riscos contratuais (álea), em contraposição aos lucros
que aufere com a exploração do serviço, tanto mais perigoso, quanto
prestado no trânsito caótico das grandes cidades.
À míngua de disposição expressa, o mesmo entendimento se emprestava
à interpretação do art. 1.056 do Código Civil de 1917, o que, aliás,
informou a edição da Súmula 161 do STF, para a qual "em contrato de
transporte é inoperante a cláusula de não indenizar".
A Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002, que estabeleceu o novo Código
Civil, aplicável subsidiariamente à hipótese dos autos, dispõe, em seu art.
734, que "o transportador responde pelos danos causados às pessoas
transportadas e suas bagagens, salvo motivo de força maior, sendo nula
qualquer cláusula excludente da responsabilidade".
Num tal contexto e reputando-se objetiva a responsabilidade do
transportador, de nenhuma relevância qualquer menção à culpa da
empresa, senão para a apuração do valor indenizatório dos danos morais.
Cumpre apenas perquirir a ocorrência do dano e a existência de nexo
causal, resultando arredada a responsabilidade apenas nas hipóteses de
caso fortuito, força maior e fato da vítima.
A exceção de culpa da vítima, nesse contexto, não merece guarida.
Como se sabe, são as seguintes as excludentes de responsabilidade civil:
a) caso fortuito; b) força maior; c) fato de terceiro e d) culpa exclusiva da
vítima.
Objetivando resolver o caso sub judice, a excludente a ser analisada é a
da culpa exclusiva da vítima, ora apelada.
Inexiste qualquer elemento probatório dando conta de que a vítima deu
causa ao seu próprio infortúnio. Aliás, existe falta de lógica a essa razão
recursal, não só porque contraria o instinto de preservação corpórea que
possuímos, como também pelo fato de que o ônibus, no qual se acidentou
a apelada, estava em péssimo estado de conservação. Não há prova, nem
mesmo é crível que a apelada tenha deixado o coletivo de forma tão
violenta e desleixada a ponto de negligenciar o próprio corpo e decepar
seu dedo. Esse estado de conservação foi o fato determinante que
acarretou o acidente na vítima.
35
A prova testemunhal produzida (fls. 144/146) atestou que o anel anexado
à fl. 24 enganchou num parafuso ou em alguma outra peça solta do ônibus
e a empresa tinha a obrigação de deixar a passageira sair do ônibus sã e
salva, em decorrência da natureza jurídica do transporte, que é contrato-
fim.
Em conseqüência, não se pode cogitar de culpa da vítima, mas sim de
culpa exclusiva da empresa apelante, que deverá indenizar a apelada.
Como restaram perfectibilizados todos os elementos do ilícito em apreço, a
decorrência lógica é a responsabilidade civil da empresa apelante e,
decorrentemente, a obrigação de indenizar os danos morais perpetrados
contra a apelada.
Os danos morais em sentido amplo abrangem os danos biológicos, os
estéticos e os anímicos (morais stricto sensu).
Os danos biológicos, inseridos no conceito amplo de danos morais,
decorrem da perda ou da redução da funcionalidade somática, o que se
presume pela extirpação do dedo anelar da mão esquerda da apelada.
Os danos estéticos, também inseridos na conceituação de danos morais,
emergem da vulneração à harmonia do corpo do humano, considerado em
seu conjunto, o que se reputa consideravelmente prejudicado pela
decepação de um dedo.
Os danos morais consistem na repercussão psicológica da mutilação
ocorrida, não ensejando qualquer dificuldade presumir que a apelada
experimentou intenso sofrimento pela perda do dedo anelar esquerdo.
Não bastasse isso, o boletim de ocorrência (fl. 22) e os exames médicos
anexados com a inicial (fls. 23/45) são prova soberba de que a passageira
do ônibus, em decorrência, do ilícito praticado pela empresa de
transportes, sofreu danos morais na amplitude descrita anteriormente.
O nexo causal é o vínculo existente entre a ação ou omissão do indigitado
ofensor e os danos ocorridos com a vítima, de modo que se possa dizer
que o resultado produzido nesta foi inquestionavelmente proporcionado
por aquele.
Na hipótese, indene de dúvidas que os danos foram produzidos pela
empresa transportadora, no interior do coletivo, conforme os depoimentos
acima transcritos (fls. 144/146).
Tendo a empresa requerida praticado ilícito contra a requerente, que
resultou em problemas biológicos, estéticos e psicológicos para a mesma,
36
a decorrência lógica é a responsabilidade civil daquela, com a
conseqüente obrigação de reparar os danos desta.
Acolhido por nossa legislação o regime aberto de quantificação dos danos
morais, o livre arbítrio judicial está subordinado aos parâmetros das
posições econômica e social das partes, a intensidade do dolo ou da culpa
do agente, a repercussão da ofensa e principalmente uma reprimenda
pecuniária que atente para os aspectos punitivo-retributivos da medida.
Nesse vértice firmou o Superior Tribunal de Justiça:
"O valor de indenização por dano moral sujeita-se ao controle do Superior
Tribunal de Justiça, sendo certo que, na fixação da indenização a esse
título, recomendável que o arbitramento seja feito com moderação,
proporcionalmente ao grau de culpa, ao nível sócio-econômico do autor e,
ainda, ao porte econômico do réu, orientando-se o juiz pelos critérios
sugeridos pela doutrina e pela jurisprudência, com razoabilidade, valendo-
se de sua experiência e do bom senso, atento à realidade da vida e às
peculiaridades de cada caso" (REsp 240.441/MG, Rel. Min. Sálvio de
Figueiredo Teixeira, DJU 5.6.2000, p. 172).
A apelante asseverou que a indenização, fixada em R$ 30.000,00, é
demasiada, no que não lhe assiste razão.
A ofensa foi grave, eis que resultou na extirpação de um membro; o grau
de culpa foi considerável, tendo em vista que a apelante não respeitou a
incolumidade física da apelada; o ônibus era antigo, possuindo peças
soltas em seu interior (fls. 144/146), o que revela manifesto descaso da
apelante com a integridade física de seus passageiros; o quantum fixado
em favor da apelada apenas lhe servirá para compensar a dor sofrida,
como um lenitivo; o estabelecimento apelante é empresa sólida e tem
condições de ressarcir a vítima; o mister dissuasivo da reprimenda, com
rigor, reclamaria até mesmo indenização superior, o que ora não se
procede à míngua de recurso da parte interessada (vedação da reformatio
in pejus)
3. Conclusão:
Ante o exposto, voto pelo desprovimento do apelo.
Nos termos do voto do relator, à unanimidade, esta Segunda Câmara de
37
Direito Civil decide conhecer do recurso e negar-lhe provimento.
Participou do julgamento o Exmo. Sr. Desembargador Luiz Carlos
Freyesleben.
Florianópolis, 12 de junho de 2003
MAZONI FERREIRA
Presidente com voto
MONTEIRO ROCHA
Relator
2.3.1 – Início da execução do contrato
A execução do contrato de transporte, no que diz respeito à obrigação do
transportador, tem lugar quando se inicia a viagem. A partir daí, torna-se operante
a Cláusula da Incolumidade, que irá persistir até o final da viagem.
No transporte rodoviário, essa execução simultaneamente com a celebração
do contrato. Não basta, portanto, que o contrato de transporte esteja celebrado
para que tenha lugar à responsabilidade do transportador, afirmam alguns autores.
É preciso que já se tenha iniciado a execução do contrato para que se possa ser
imputada ao transportador à responsabilidade por acidente que eventualmente
venha a ocorrer.
A responsabilidade contratual decorre da inexecução, da quebra do contrato,
do inadimplemento. O indivíduo pode ter adquirido uma passagem de ônibus,
digamos para Salvador, Bahia, e morrer quando estava se dirigindo para a
estação rodoviária. A toda evidência, a empresa do ônibus que deveria transportá-
38
lo para Salvador nada terá que indenizá-lo, já que o acidente ocorreu antes de se
iniciar a execução do contrato.
2.4 – O tríplice aspecto da responsabilidade do transportador
Existe pelo menos três aspectos distintos em relação a responsabilidade do
transportador, são eles: a responsabilidade em relação aos empregados, a
terceiros, e aos passageiros.
Com relação à responsabilidade a terceiros, temos como exemplo, um
pedestre que sendo atropelado, a responsabilidade da empresa proprietária do
ônibus é extracontratual. Não existe relação jurídica contratual, essa
responsabilidade era subjetiva até a Constituição de 1988, com base no artigo 159
do Código Civil de 1916.
Na atual Constituição, a de 1988, o artigo 37 § 6º, transformou essa
responsabilidade em objetiva devido ao entendimento de que a responsabilidade é
do Estado, fundada no risco administrativo, tal responsabilidade só pode ser
afastada por causas que excluem o próprio nexo causal, fato exclusivo da vítima,
caso fortuito ou força maior e fato exclusivo de terceiros.
O Código de Defesa do Consumidor, seguindo o mesmo pensamento, em
seu artigo 14 atribuiu a responsabilidade objetiva ao fornecedor de serviço, e no
artigo 17, equipara ao consumidor todas às vítimas do evento.
A jurisprudência vem corroborar com a legislação:
2009.002.50153 – AGRAVO DE INSTRUMENTO. DES. CRISTINA TEREZA GAULIA – Julgamento: 15/01/2010 – QUINTA CÃMARA
CÍVEL. Agravo de instrumento. Ação indenizatória por atropelamento d
39
menor por coletivo de propriedade da empresa ré. Rito sumário. Decisão
de 1º grau que indefere a denunciação da lide requerida pela ré, ora
agravante, à seguradora. Ausência de fundamento legal permissivo.
Transporte público. Responsabilidade objetiva. Art. 37 § 6º CF/88.
Código de Defesa do Consumidor. Incidência. Vítima do evento que se
enquadra no conceito de consumidor por equiparação (art 17,CDC).
Aplicação da regra restritiva do art 101,II do CDC e da súmula nº 92 do
TJRJ, afastando-se o permissivo inscrito no art 280 do CPC.
Impossibilidade da denuciação em face da seguradora por violação ao
princípio da celeridade que rege o rito sumário. Denunciação que, ainda,
continha vícios formais. Pedido de chamamento do processo que não
dói formulado em contestação. Preclusão. Recurso a que se nega
seguimento na forma do caput do art. 557 do CPC.
40
CAPITULO III – A RESPONSABILIDADE CIVIL DO TRANSPORTADOR PERANTE A LEGISLAÇÃO.
3.1 – A Responsabilidade em meios de transporte
Para Caio Mário32, os transportes vêm constituir uma parte especial na
Responsabilidade Civil. A elaboração pretoriana, em nosso pais, contribui
decisivamente para a construção dogmática dessa responsabilidade, e a
elaboração doutrinária formulou conceitos que boa parte foram absorvidos pela
legislação. Boa mostra desta postura é a súmula de número 187, estabelece que a
responsabilidade contratual do transportador pelo acidente com passageiros, não
é elidida por culpa de terceiros, contra qual tem ação regressiva com certa razão.
Santos Briz33 citado por Caio Mário, explica que a responsabilidade daquele
que dirige qualquer veículo motorizado, prescindindo de culpa, desloca-se pra a
teoria do risco, pelo simples fato de sua utilização.
No contexto da responsabilidade civil do transportador no transporte gratuito,
benévolo ou de cortesia, a questão é posta, quando uma pessoa oferece ou
admite transportar, por favor, ou cortesia, na ocorrência de greve no transporte
coletivo ou quando surge deficiência na locomoção causada por crise no
abastecimento de combustível ou calamidade ou acidente, inundação de barreiras
ou barricadas em vias públicas ou outro qualquer motivo que interfere com a
circulação dos veículos.
32 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Responsabilidade Civil. 9ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2002. 33 BRIZ, Santos apud PEREIRA, Caio Mário da Silva. Responsabilidade Civil. 9ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2002.
41
Antes de tudo, cumpre caracterizar o que juridicamente se deve entender
como transporte gratuito ou benévolo. Define-se quando o condutor admite o
transportado ou ao menos tem conhecimento disto é uma situação que a
responsabilidade desloca-se para o plano contratual. Fica, portanto excluído o fato
de uma pessoa introduzir-se em um veículo no desconhecimento do condutor ou
viajante por fraude. Como exemplo podemos citar: alguém entrou pela porta de
trás. É nítida a tendência jurisprudencial e doutrinária no sentido de considerar a
situação como subordinada a responsabilidade contratual do motorista, posto que
gratuitamente ao receber o passageiro no veículo, suporta as conseqüências do
que venha a ocorrer durante o percurso, tal como se tratasse de transportador
profissional. O que se orienta nesses casos é a responsabilidade do motorista,
porém não é, contudo pacífico o conceito, alguns autores que distinguem o
transporte gratuito como de natureza contratual e o de simples cortesia no campo
extracontratual, com a expectativa sobre a responsabilidade civil contratual no
primeiro caso e aquiliana no outro.
Neste sentido, a jurisprudência pátria assinalou:
TJES - Apelacao Civel: AC 57049000037 ES 57049000037
Resumo: Apelação Cível Responsabilidade Civil - Acidente de Trânsito -
Transporte Gratuito - Morte do
Carona - Culpa Grave do Condutor da Motocicleta - Presunção de Culpa
do Patrão Pelo Ato
Culposo do Empregado - Culpa In Eligendo e In Vigilando - Indenização
Por Danos Materiais...
Relator(a): CATHARINA MARIA NOVAES BARCELLOS
Julgamento: 25/07/2005
Órgão Julgador: TERCEIRA CÂMARA CÍVEL
Publicação: 05/08/2005
Ementa
42
CONDENATÓRIA MANTIDA - RECURSO DESPROVIDO. APELAÇAO
CÍVEL RESPONSABILIDADE CIVIL - ACIDENTE DE TRÂNSITO -
TRANSPORTE GRATUITO - MORTE DO CARONA - CULPA GRAVE
DO CONDUTOR DA MOTOCICLETA - PRESUNÇAO DE CULPA DO
PATRAO PELO ATO CULPOSO DO EMPREGADO - CULPA IN
ELIGENDO E IN VIGILANDO - INDENIZAÇAO POR DANOS
MATERIAIS E MORAIS - SENTENÇA
1. No transporte gratuito, o transportador só será civilmente responsável
por danos causados ao transportado quando incorrer em dolo ou culpa
grave (Súmula nº 145 do STJ).
2. Caso em que o condutor da motocicleta agiu com culpa grave no
evento danoso, posto que trafegava na contramão de direção, infringindo
as normas do Código de Trânsito Brasileiro, sendo manifestamente
previsível a colisão com veículo que trafegava em sentido contrário, que
de fato ocorreu, ocasionado a própria morte e a do seu carona, marido e
pai dos apelados.
3. Para que o patrão ou comitente responda pelo ato do seu empregado
ou preposto, faz-se necessária a concorrência dos seguintes requisitos
1º) prova de que o dano foi causado pelo empregado ou preposto; 2º)
conduta culposa (dolo ou culpa stricto sensu) do empregado ou
preposto; 3º) que o ato lesivo tenha sido praticado no exercício do
trabalho que lhe competia, ou em razão dele (CC/1916, art. 1.521, III;
Súmula nº 341 do STF).
4. Em matéria de acidente de trânsito, o proprietário do veículo causador
do desastre responde pelo ato culposo do preposto, embora estivesse a
dirigi-lo abusivamente, fora do horário de trabalho da empresa, levando-
se em conta o caráter perigoso da coisa e a culpa in eligendo e in
vigilando. O fato de o acidente ter ocorrido fora do horário de expediente
é irrelevante, sendo decisivo que o motorista tenha acesso ao veículo,
em razão do vínculo empregatício existente.
5. Na hipótese vertente, conquanto afirme não ter autorizado o uso da
motocicleta, resta comprovado que o apelante não cuidou de tomar os
cuidados necessários para evitar que o veículo fosse utilizado por seu
empregado, deixando as chaves do veículo em local acessível a todos
43
que trabalhavam na loja, assumindo desse modo o risco de eventuais
danos causados por estes a terceiros.
6. A circunstância de o empregado causador do acidente não ser
motorista na empresa, mas um mero vendedor, em nada altera a
situação, porque em tema de responsabilidade civil o conceito de
preposto desvincula-se da rigorosa relação de emprego, bastando a
possibilidade de receber ordens de um comitente, ou seja, de estar a ele
subordinado, como ocorre no presente caso. O que importa é que o
motociclista somente teve acesso ao veículo em virtude da relação
empregatícia mantida com o apelante. Aliás, o fato de ter ocorrido o
acidente num domingo e de encontrar-se fechada a loja somente reforça
a convicção de que o empregado era de confiança do apelante, não
havendo qualquer prova nos autos de que tenha apanhado a moto
contra a vontade do patrão.
7. A alegada culpa concorrente da vítima, baseada no fato de que o
carona teria desequilibrado a moto e impedido o condutor de desviá-la
do caminhão que trafegava no sentido contrário, não restou
suficientemente provada nos autos.
8. É infundada a pretensão recursal de se remeter para a liquidação por
artigos a fixação do quantum indenizatório a título de danos morais,
ficando ao prudente arbítrio do Juiz, no caso concreto, estipular a
indenização devida.
9. É firme o entendimento na jurisprudência de que, não havendo
comprovação da remuneração auferida pela vítima falecida em
conseqüência do ato ilícito, deve a pensão alimentícia mensal devida
aos seus dependentes ser estimada em valor equivalente a 2/3 do
salário mínimo, considerando que 1/3 desse rendimento era destinado
aos gastos pessoais da própria vítima.
10. Sentença condenatória mantida. Recurso desprovido.
44
Ensina Sérgio Cavalieri34, os transportes poderão ser puramente gratuitos ou
aparentemente gratuitos. Serão transportes aparentemente gratuitos quando
existir por parte do transportador, algum tipo de interesse patrimonial nesse
transporte mesmo que de forma indireta. Com exemplo aquele transporte em que
o patrão oferece aos seus empregados para se dirigirem ao trabalho, ou daquele
corretor de imóveis que vai levar o cliente que tem interesse me comprar um
apartamento que está a venda. Assim se verifica que tal transporte não modifica a
responsabilidade do transportador por ser objetiva.
Já o transporte puramente gratuito, este é feito no exclusivo interesse do
transportado, sendo uma cortesia do transportador, Por exemplo, quando uma
pessoa dá carona paro um conhecido, ou vai socorrer alguém que está ferido na
rua ou não tem meios para se locomover.
Existem opiniões contrárias, a esse tipo de transporte, pelo fato de não ser
possível aplicar as regras da responsabilidade contratual ao transporte puramente
gratuito pela simples razão de não existir nele contrato de transporte.
Nesse sentido, consolidou-se a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal
(STF), sintetizada na súmula nº 145. No transporte desinteressado, de simples
cortesia, o transportador só será civilmente responsável por danos causados ao
transportador quando incorrer em dolo ou culpa grave.
Em caso concreto a corte decidiu:
Terceira Turma
RESPONSAREBILIDADE CIVIL. CORTESIA. TRANSPORTE.
A Turma decidiu que, no caso de transporte desinteressado, de simples
cortesia, só haverá possibilidade de condenação do transportador
mediante a prova de dolo ou culpa grave (Súm. n. 145-STJ). Outrossim,
responde por culpa grave o condutor de veículo que transporta
34 CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil. 9ª ed. Revista e Ampliada. São Paulo. Atlas, 2010.
45
passageiro gratuitamente, de forma irregular, em carroceria aberta de
caminhão, em que é previsível a ocorrência de graves danos, mesmo
crendo que não acontecerão. No caso, não cabe a pretendida redução
da condenação, por não ter sido apontada a lei vulnerada pelo acórdão
recorrido, razão pela qual incide a Súm. n. 284-STF por analogia. (REsp
685.791-MG, Rel. Min. Vasco Della Giustina (Desembargador
convocado do TJ-RS), julgado em 18/2/2010).
O Código Civil acolheu esse entendimento no seu artigo 736, que dispõe.
Artigo 736 – não se subordina às normas do contrato de transporte feito
gratuitamente por amizade ou cortesia
Parágrafo único – Não se considera gratuito o transporte quando,
embora feito sem remuneração, o transportador auferiu vantagens
indiretas.
Podemos definir que transporte puramente gratuito não é contrato de
transporte. Alguns doutrinadores perguntam, que responsabilidade tem aquele que
transporta gratuitamente ?
Neste sentido, consolidou-se a jurisprudência do Supremo Tribunal de
Justiça, sintetizada na Súmula nº 145.
Súmula 145 – No transporte desinteressado, de simples cortesia, o
transportador só será civilmente responsável por danos causados ao
transportado quando incorrer em dolo ou culpa grave.
Desta forma Savatier35 citado por Silvio Rodrigues afirma ser contratual a
responsabilidade de quem presta um serviço gratuito e nos ensina:
“Aquele que oferece gratuitamente um serviço não espera se vincular a
uma vigilância igual à que assumiria m troca de um salário, E seu
companheiro, aceitando o serviço como um presente, não pensa,
35 SAVATIER apud Sérgio Cavalieri Filho. Programa de Responsabilidade Civil. 9ª ed. Revista e Ampliada. São Paulo: Atlas, 2010.
46
igualmente, em lhe pedir uma garantia, uma diligência semelhante à que
exigiria em contrapartida de um salário,. Portanto, a responsabilidade do
autor de um serviço gratuito deve ser, numa sábia interpretação do
contrato, menor que a do autor de um serviço remunerado.”
Para Silvio Rodrigues36 tal qual os demais doutrinadores, a responsabilidade
do transportador que faz o transporte gratuito é contratual, e a nossa lei traz a
solução de forma simples, será um contrato benéfico, e o transportador por
cortesia fará uma doação do serviço ao passageiro que será aceito. Havendo
inadimplemento, o transportador, sendo o contratante a quem o contrato não
favorece, irá responder tão somente por dolo. A lei assim não exclui o
transportador de responsabilidade se houver dano ao passageiro que ele está
conduzindo, se esse dano derivou de culpa grave de sua parte.
Tal tese está acolhida no acórdão cuja ementa vai a seguir transcrita:
“RESPONSABILIDADE CIVIL – ACIDENTE DE TRANSITO –
TRANSPORTE GRATUITO – ELEMENTO SUBJETIVO. Ao transporte
puramente benévolo não se aplicam as regras do decreto nº 2.681, de
1912, nem as da culpa aquiliana. Como contrato gratuito, dito transporte
rege pelo art. 1057 do Código Civil, respondendo o condutor do veículo
somente por dolo” (1º TARJ, ac. um. da 2ª Câm. Civ. de 21-6-1979, Ap.
n. 35.454).
3.2 – Código de Defesa do Consumidor
O Código de Defesa do Consumidor, lei 8078/90, protege as relações de
consumo em que, de um lado existe o fornecedor ou prestador de bens e serviços
36 RODRIGUES, Silvio. Direito Civil. v. 4. Responsabilidade Civil, 20ª ed. Revista e atualizada, de acordo com o novo código civil. 4ª tiragem: Saraiva, 2007.
47
e de outro, o consumidor destes mesmos bens e serviços. Fica, então bastante
razoável adequarmos a relação entre o transportador alternativo e o passageiro
como uma relação de consumo.
Tal entendimento é baseado pelas definições existentes no próprio código,
que não deixa dúvidas nem margens para vagas interpretações ao denominar, em
seu artigo 3º.
art. 3º - Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada,
nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados que
desenvolvem atividades de produção, montagem, criação, construção,
transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização
ºde produtos ou prestação de serviços.
§ 2º Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo,
mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de
crédito e de securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter
trabalhista
O Código também vem definir o consumidor como aquela pessoa física que
venha adquirir ou utiliza produto de serviço tal com um destinatário final. É de
suma importância que essa abrangência às pessoas jurídicas, pois desde que
estejam utilizando aquele serviço como destinatários finais, podem valer-se da
proteção da referida lei.
O artigo 14 do referido código dispõe que:
art. 14 – O fornecedor de serviços responde, independentemente da
existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos
consumidores por defeitos relativos à prestação de serviços, bom como
por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.
48
É de responsabilidade objetiva do fornecedor de serviços, ou seja, ao
consumidor basta apenas a comprovação do dano e do nexo causal, não
havendo, aqui, nenhum tipo de apuração de existência de culpa ou não do agente
causador.
Esta responsabilidade objetiva é fundada na teoria da segurança, ou seja,
aquele que presta um serviço, deverá cumpri-lo de forma segura, a ponto de não
causar danos ao consumidor, pois se houver inobservância quanto a esta cautela,
responderá objetivamente pelos prejuízos causados.
Em suma, a lei protetiva das relações de consumo deve ser utilizada pelos
profissionais de direitos, bem como pelos julgadores, sempre que estivermos
diante de uma típica relação de consumo, valendo-se de todas as nuances,
elencadas no diploma do consumidor a fim de exterminar os desequilíbrios entre
os contratantes, e ainda, possibilitando a todos insurgirem-se contra qualquer
produtos ou serviços que lhes causem danos a sua integridade física e psíquica.
3.3 – A Responsabilidade do transportador em face ao
Código de Defesa do Consumidor.
O conceito de serviço em seu art. 3º parágrafo 2 º do Código de Defesa do
Consumidor, tem regra específica no art. 22 parágrafo único.
art. 22 – Os órgãos públicos por si ou suas empresas concessionárias,
permissionárias ou sob qualquer outra forma de empreendimento, são
obrigadas a fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto
aos essenciais, contínuos.
Parágrafo único. Nos acasos de descumprimento total ou parcial, das
obrigações referidas neste artigo, serão as pessoas jurídicas compelidas
a cumpri-las e a reparar os danos causados, na forma prevista neste
Código.
49
Este Código, em tais artigos, provocou uma verdadeira revolução no direito
obrigacional, principalmente no campo da responsabilidade civil, estabelecendo a
responsabilidade objetiva em todos os acidentes de consumo, quer no
fornecimento de produtos ou de serviços, em seu respectivo artigo 14, citado
anteriormente.
Neste sentido, a jurisprudência afirma esta condição:
ACORDÃO 2009.001.67274 – APELAÇÃO - DES. MARCO AURÉLIO
BEZER DE MELO – Julgamento 19/01/2010 – DÉCIMA SEXTA
CÃMARA CIVEL. APELAÇÃO CIVEL. AÇÃO INDENIZATÓRIA POR
DANOS MORAIS E MATERIAIS EM RÃZÃO DE ATROPELAMENTO
POR COLETIVO. SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA. RECURSO DA
AUTORA. Responsabilidade civil objetiva, tanto por força do artigo 14 §
1º do CDC, por se tratar de consumidor por equiparação, quanto do art.
37,§ 6º da Constituição Federal da República, por ser a ré
concessionária de serviço público de transporte coletivo. Exclui-se a
responsabilidade da ré somente se provada alguma circunstância que
rompa o nexo de causalidade, tais como força maior, fato exclusivo da
vítima ou fato exclusivo de te danoso de terceiro. No caso em tela restou
demonstrado que a conduta do motorista do coletivo, que efetuou a
manobra de marcha ré sem devida segurança exigida pelo Código de
Trânsito Brasileiro (art. 1840, até porque havia ponto cego no ônibus,
deu causa ao vento danoso, qual seja, o falecimento da filha da autora.
Inexistência de culpa exclusiva da vítima, pois não havia no local dos
fatos nenhuma sinalização ou informação de que é proibido o tráfego de
pedestres dentro do terminal rodoviário, ao contrário, restou
demonstrado pela prova oral que é comum as pessoas trafegarem por
dentro do terminal. Justamente pela ausência de faixa de pedestres ou
locais próprio para a travessia dos transeundes. Responsabilização da
Ré, pois ainda que houvesse concorrência de causas, apenas o fato
exclusivo do consumidor seria capaz de excluir a responsabilidade d
concessionária (art. 14 inciso I, §3º do CDC). Danos materiais não
configurados, em razão da não comprovação de dependência financeira
entre a autora e a vítima. Danos morais configurados in re ipsa pelo
50
evento morte, mormente em se tratando de filha única da parte autora,
que é viúva e conta com 65 anos de idade. Indenização fixada em R$
50.000,00(cinqüenta mil reais). Juros a contar do evento danoso, por se
tratar de relação extracontratual (Súmula nº 54 do STJ). Correção
monetária a partir do presente julgado, na forma da Súmula nº 87 do
TJ/RJ. Inversão do ônus sucumbenciais. Condenação da Ré em
despesas processuais e honorários advocatícios de 20% do valor da
condenação, na forma do art. 20 § 3º do CPC. Reforma da sentença.
Provimento parcial do recurso.
CAPÍTULO IV – EXCLUSÃO DA RESPONSABILIDADE DO
TRANSPORTADOR
O transportador só ficará exonerado da obrigação de reparação, nos casos
em que se verifiquem as causas taxativas enunciadas na lei, sejam elas, caso
fortuito ou força maior, culpa exclusiva da vítima e ainda fato de terceiro. Estas
hipóteses exonerativas estavam explicitadas no decreto 2.681/1912 que regulava
as responsabilidades das estradas de ferro, onde a jurisprudência estendeu às
empresas de ônibus. Já o fato de terceiro foi novidade implantada pelo Código de
Defesa do Consumidor. Cabe lembrar que a responsabilidade das empresas de
ônibus é objetiva tanto para a Constituição Federal de 88, no seu art. 37 em seu §
6º como pelo CDC art. 14.
Estabelecem esses artigos, que toda empresa permissionária de serviço
público responde também independentemente de culpa, por qualquer acidente de
consumo. Lembrando, que na nossa Suprema Corte estabelece que as empresas
de ônibus respondem sem culpa, mas não sem causa.
51
Segundo Sérgio Cavalieri37 responsabilidade do transportador é objetiva e
em face da cláusula de incolumidade, tem uma obrigação de resultado, assim
sendo, deverá levar o transportado a salvo ao seu destino, o passageiro, para
fazer jus à indenização, terá apenas que provar que essa incolumidade não foi
atingida o acidente se deu no curso do transporte e que lhe causou dano.
No artigo 734 do Código Civil, se conclui que a responsabilidade do
transportador só poderá se eliminada pela força maior, e não seram admitidas às
outras causas de exclusão do nexo causal, o caso fortuito, a culpa exclusiva da
vítima ou de terceiro. O artigo 735 se refere ao fato culposo de terceiro e no artigo
738 irá tratar da culpa exclusiva da vítima.
Existe uma diferença entre caso fortuito e força maior, inclusive existe teses
daqueles que sustentam que não pode haver aplicação para o caso fortuito como
um excludente de responsabilidade já que atualmente se pode fazer previsões de
fenômenos metereológicos, tais como, enchentes, furacões, terremotos etc.
Deve-se entender o que caracteriza o caso fortuito é a imprevisibilidade e
que a força maior é a inevitabilidade.
Os fortuitos internos, que são os fatos imprevisíveis, e assim sendo se torna
inevitável, e acaba se relacionando com os riscos da atividade do transportador.
Como exemplo, o estouro do pneu do ônibus, o incêndio deste. E não exonera o
dever de indenizar.
Já o fortuito externo da mesma forma é imprevisível e inevitável, mas
estranho à organização do negócio, tais como fenômenos da natureza, as
enchentes, as tempestades. Por isso alguns chamam de força maior, e este é que
exonera o dever de indenizar.
37 CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de responsabilidade civil. 9ª ed. revista e ampliada. São Paulo: Atlas, 2010
52
Assim, a jurisprudência confirma em decisão:
Acórdão: 2003.001.25123 - Apelação Cível Relator: Desembargador Antônio Saldanha Palheiro Julgamento: 21.10.03 – Quinta Câmara Cível Ementa: Responsabilidade civil. Contrato de transporte. Dano material e moral. Fato de terceiro. 1- A força maior - fortuito externo caracteriza-se com o advento de circunstâncias imprevisíveis ou inevitáveis, alheias à vontade do devedor, que impedem o cumprimento da prestação e exclui a responsabilidade pelos danos advindos por este motivo. 2- Neste aspecto, o roubo a ônibus realizado por terceiro estranho ao contrato de transporte, do qual resulta lesão a passageiro, configura circunstância alheia à vontade do transportador, como situação imprevisível ou inevitável que caracteriza a força maior e exclui a sua responsabilidade pelos danos daí advindos. Resultado: Recurso Desprovido.
4.1 – Da culpa da vítima, exclusiva ou concorrente.
Segundo Sérgio Cavalieri38, a culpa concorrente se dá quando estiverem
juntas, a conduta do agente causador do dano e também a conduta culposa da
vítima, desta forma o dano é decorrente do comportamento culposo de ambos. Na
doutrina, há preferência em colocar em vez de concorrência de culpas,
concorrência de responsabilidades, porque a vítima também concorre para o
evento e não somente o agente.
A doutrina e a jurisprudência apontam como indenização, a divisão neste
caso, e não necessariamente a divisão em partes iguais, mas sim
proporcionalmente o grau de culpabilidade de cada um dos envolvidos.
No código Civil, vem bem claro tal entendimento:
art. 945. Se a vítima tiver concorrido culposamente para o evento
danoso, sua indenização será fixada tendo-se em conta a gravidade de
sua culpa em confronto com a do autor do dano.
38 IDEM
53
4.1.2 Fato de Terceiro
Para Silvio Rodrigues39, existe o problema de se definir se o fato de terceiro
que é o causador exclusivo ou concorrente do evento danoso, deve ser
considerado como causa exoneradora da responsabilidade. Se a resposta for
positiva é importante determinar as condições para que isso dê o alcance da
excludente.
Ele conclui, que o fato de terceiro para ser excluído integralmente à
responsabilidade do agente causador direto do dano, há de se vestir de
características semelhantes as do caso fortuito, sendo imprevisível e irresistível,
nessa situação não havendo relação de causalidade, não há responsabilidade
pela reparação.
E continua afirmando que se o fato de terceiro é a fonte única do prejuízo,
não haverá relação de causalidade entre o comportamento do transportador
responsável e a vítima. Desta forma, se o terceiro efetua um disparo no coletivo e
atinge a vítima, o transportador é eximido de responsabilidade. Porque houve um
contrato entre o passageiro e o transportador, e este se obrigava a entregar
aquele sem prejuízos no seu destino, entretanto se verifica que o transportador
não cumpriu o contrato em virtude de fato de terceiro,que atingiu a vítima por
disparo de arma de fogo, e tal fato constitui causa única do inadimplemento do
transportador.
Desta forma, a Jurisprudência confirma tal entendimento:
39 RODRIGUES, Silvio. Direito Civil. v. 4. Responsabilidade Civil, 20ª ed. Revista e atualizada, de acordo com o novo código civil. 4ª tiragem: Saraiva, 2007.
54
Apelação. Responsabilidade civil. Ilícito penal. Assalto em ônibus, à mão
armada, resultando em morte de passageiro. Fato inteiramente estranho,
sem nenhuma conexão com o transporte coletivo, não inserido nos
riscos próprios da atividade comercial do transportador. Ocorrência
inevitável, senão, também, imprevisível. 0 evento exclusivo de terceiro,
como o assalto, com arma de fogo, por ser inevitável, tipifica o chamado
"fortuito externo que, como sabido, exclui o próprio nexo de causalidade.
0 transportador não responde pela indenização. Sentença que se
confirma, por seus termos. Recurso improvido. 2002.001.21895 -
APELACAO CIVEL DES. RONALD VALLADARES - Julgamento:
16/03/2004 - DECIMA SEXTA CAMARA CIVEL
Acórdão: 2003.001.25123 - Apelação Cível Relator: Desembargador Antônio Saldanha Palheiro Julgamento: 21.10.03 – Quinta Câmara Cível Ementa: Responsabilidade civil. Contrato de transporte. Dano material e moral. Fato de terceiro. 1- A força maior - fortuito externo caracteriza-se com o advento de circunstâncias imprevisíveis ou inevitáveis, alheias à vontade do devedor, que impedem o cumprimento da prestação e exclui a responsabilidade pelos danos advindos por este motivo. 2- Neste aspecto, o roubo a ônibus realizado por terceiro estranho ao contrato de transporte, do qual resulta lesão a passageiro, configura circunstância alheia à vontade do transportador, como situação imprevisível ou inevitável que caracteriza a força maior e exclui a sua responsabilidade pelos danos daí advindos. Resultado: Recurso Desprovido.
4.1.3 Cláusula de não indenizar
Silvio Rodrigues40explica que a cláusula de não indenizar é aquela estipulada
através da qual uma das partes contratantes declara com a concordância da outra,
que não será responsável pelo dano experimentado, resultante da inexecução de
um contrato, dano este que sem a cláusula, deveria ser ressarcido pelo
40 idem
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estipulante. O campo atuante dessa cláusula é obviamente o do contrato, pis
envolve uma estipulação e, portanto, uma convenção.
A grande controvérsia que o tem demonstra é a da legitimidade ou não dá
cláusula de não indenizar, sendo que as posições radicais extremadas consistem
em se proibi-la inteiramente, ou em admiti-la sem restrições.
Entre ambas posições extremadas encontra-se na doutrina, na lei e na
jurisprudência, toda uma gama de posições intermediárias, ora admitindo a
cláusula em alguns contratos, ora negando noutros, ora admitindo-a com
restrições maiores ou menores.
Sérgio Cavalieri41ressalta que a súmula da jurisprudência dominante no
Supremo Tribunal federal, no verbete 161, não admite essa cláusula no contrato
de transporte de passageiros.
Em contrato de transporte diz a súmula, é inoperante a cláusula de não
indenizar. Uma vez mais a súmula foi transformada em lei no artigo 734 do Código
Civil, que considera nula qualquer cláusula excludente de responsabilidade.
41 CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de responsabilidade civil. 9ª ed. revista e ampliada. São Paulo: Atlas, 2010
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CONCLUSÃO Ao concluir o presente estudo, com as reflexões, discussões envolvidas,
doutrinas e jurisprudências, espera-se tenham os leitores compreendido melhor a
responsabilidade civil dos transportes urbanos em sua amplitude. É um tema de
grande relevância para os operadores do direito, bem como para qualquer cidadão
que utiliza o transporte coletivo.
A Responsabilidade civil do transportador apresenta-se no mundo jurídico
através de um contrato de transportes, que possui a natureza jurídica bilateral na
medida em que o passageiro e o transportador adquirem diversas obrigações tais
como: transportar pessoa de um lugar para outro pré-determinado, daí decorre o
seu caráter de onerosidade, possuindo a cláusula de incolumidade característica
implícita neste tipo de contrato, determinando que a obrigação do transportado ré
de finalização de resultado esperado e não simplesmente de meio, garantindo aos
passageiros que o transportador tem o dever de zelar, para que o percurso da
viagem seja bom e seguro, não permitindo que haja desleixo ou falta de zelo.
A responsabilidade do transportador é objetiva, possui o transportador a
obrigação de finalização em relação ao passageiro, bastando para que seja
indenizado se provar que a incolumidade não foi assegurada, devendo-se
destacar especialmente as cláusulas excludentes desta obrigação de indenizar
tais como o caso fortuito, a de força maior, e a culpa exclusiva da vítima.
Fazem parte da responsabilidade do transportador e do usuário, leis da
ANTT, artigos do Código Civil, artigos no Código de Defesa do Consumidor,
súmula do STF, enfim um suporte adequado para resguardar direitos e deveres do
transportador, e também cabe ao usuário fazer com que seus direitos sejam
realmente assegurados, e seus deveres cumpridos.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANTT. Disponível em http://www.ANTT.GOV.BR. Acesso em 07/5/2010.
DENATRAN. Disponível em htpp://www. DENATRAN.GOV.BR, acesso em
20/07/2010.
DIAS, José de Aguiar. Responsabilidade Civil. 11ª ed. Rio de Janeiro: Renovar,
2006.
CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil. 9ª ed. Revista e Ampliada. São Paulo: Atlas, 2010.
GOMES, Luiz Roldão de Freitas. Elemento de Responsabilidade Civil. Rio de
Janeiro: Renovar, 2006.
GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade Civil. 9ªed. São Paulo: Saraiva, 2006.
PEREIRA, Caio Mário da Silva. Responsabilidade Civil. 9ª ed. Rio Janeiro:
Forense. 2002.
RODRIGUES, Silvio. Direito Civil, Responsabilidade Civil, vol 4. 20ª ed. revista e
atualizada de acordo com o novo código civil. São Paulo: Saraiva, 2007.
TJRJ. Disponível em http//www.tj.rj.gov.br. acesso em 20/5/2010
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ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO...............................................................................2
AGRADECIMENTOS ............................................................................3
DEDICATÓRIA......................................................................................4
RESUMO...............................................................................................5
METODOLOGIA....................................................................................6
SUMÁRIO..............................................................................................7
INTRODUÇÃO.......................................................................................8
CAPÍTULO I
A RESPONSABILIDADE CIVIL COMO INSTRUMENTO DE
CIDADANIA
1.1 - A evolução histórica........................................................................................10
1.2 - Responsabilidade Civil na doutrina brasileira.................................................12
1.3 - Responsabilidade Civil como instrumento de cidadania: a legislação atual...17
CAPÍTULO 2
AS ESPÉCIES DE RESPONSABILIDADE CIVIL E A
RESPONSABILIDADE DO TRANSPORTE DE PASSAGEIRO
2.1 – Tipos de Responsabilidade Civil....................................................................22
2.2 - Objeto do contrato e a natureza de sua responsabilidade no contrato de
pessoas...................................................................................................................25
2.3 - A especificidade do contrato de transporte de passageiro.............................25
2.3.1 - Início da execução do contrato....................................................................37
2.4 - O tríplice aspecto da responsabilidade do transportador.............................. 38
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CAPÍTULO III
A RESPONSABILIDADE CIVL DO TRANSPORTADOR PERANTE A
LEGISLAÇÃO
3.1 - A responsabilidade em meios de transporte..................................................40
3.2 - Código de Defesa do Consumidor..................................................................46
3.3 – A responsabilidade do transportador em face ao Código do Consumidor....48
CAPÍTULO IV
EXCLUSÃO DA RESPONSABILIDADE DO TRANSPORTADOR
4.1 - Da culpa da vítima, exclusiva ou concorrente................................................52
4.1.2 - Fato de terceiro............................................................................................53
4.1.3 – da Cláusula de não indenizar.....................................................................54
CONCLUSÃO......................................................................................56
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................57
ÍNDICE.................................................................................................58
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