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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO CURSO DE GRADUAÇÃO EM BIBLIOTECONOMIA
FERNANDA CARLA DA SILVA COSTA
UMA CIDADE ENTRE FLUXOS: NATAL E AS INFORMAÇÕES COTIDIANAS NO
JORNAL “A REPÚBLICA” (1941-1942)
NATAL/RN
2016.2
FERNANDA CARLA DA SILVA COSTA
UMA CIDADE ENTRE FLUXOS: NATAL E AS INFORMAÇÕES COTIDIANAS
NO JORNAL “A REPÚBLICA” (1941-1942)
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Biblioteconomia, do Departamento de Ciência da Informação, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito para obtenção do título de Bacharel em Biblioteconomia.
Orientadora: Profa. Dra. Luciana
Moreira Carvalho
NATAL/RN
2016.2
Catalogação da Publicação na Fonte. UFRN / Biblioteca Setorial do CCSA
Costa, Fernanda Carla da Silva.
Uma cidade entre fluxos: natal e as informações cotidianas no Jornal “A República” (1941-1942) / Fernanda Carla da Silva Costa. – Natal, RN, 2016.
67f. : il.
Orientador: Profa. Dra. Luciana Moreira Carvalho.
Monografia (Graduação em Biblioteconomia) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências Sociais Aplicadas. Departamento de Ciência da Informação.
1. Informação Cotidiana – Monografia. 2. Informação – Jornal - Monografia. 3. Natal – Segunda Guerra - Monografia. 4. Jornal A República – Natal - Monografia. I. Carvalho, Luciana Moreira. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título.
RN/BS/CCSA CDU 316.776.32
FERNANDA CARLA DA SILVA COSTA
UMA CIDADE ENTRE FLUXOS: NATAL E AS INFORMAÇÕES COTIDIANAS
NO JORNAL “A REPÚBLICA” (1941-1942)
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Biblioteconomia, do Departamento de Ciência da Informação, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito para obtenção do título de Bacharel em Biblioteconomia.
Apresentado e aprovado em: 08/12/2016
BANCA EXAMINADORA:
Professora Dra. Luciana Moreira Carvalho – Orientadora Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Professora M.ª Antônia de Freitas Neta Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Professor. Me. Diego José Fernandes Freire Universidade Federal do Rio Grande do Norte
“Ó doce, ó longa, ó inexprimível
melancolia dos jornais velhos!
Conhece-se um homem diante de um
deles. Pessoa que não sentir alguma
coisa ao ler folhas de meio século, bem
pode crer que não terá nunca uma das
mais profundas sensações da vida, -
igual ou quase igual à que dá a vista
das ruínas de uma civilização. Não é a
saudade piegas, mas a recomposição
do extinto, a revivescência do
passado.”
(Machado de Assis)
RESUMO
Objetiva retratar a informação cotidiana na cidade de Natal através da análise e
identificação das informações que circulavam no jornal A República entre os
anos de 1941 e 1942. Pretende-se categorizar essas informações, construir um
mapa conceitual através da tipologia categorizada e contribuir para o estudo da
informação cotidiana em Natal no período da Segunda Guerra. A partir do
período em consideração, diversas mudanças e costumes faziam parte da
sociedade nesse momento da história, que com diversos pressupostos sociais,
políticos e culturais, levam a informação cotidiana, por meio da mídia na cidade
a passar por um processo de mudança, que vem desde a implantação do
Estado Novo. Temos a hipótese que há um aumento de disseminação de
informações e novos tipos de informação no jornal A República, mesmo que
esse passasse por um processo de silenciamento devido à censura do
governo. Como metodologia, utiliza o método de abordagem indutivo, métodos
de procedimento histórico, buscando localizar historicamente essa análise de
informação cotidiana, com método monográfico, pesquisa documental indireta
e através da base bibliográfica. A pesquisa qualitativa, para análise dos
resultados da pesquisa documental, com criação do corpus dos jornais e uso
da metodologia de semana artificial, como parte de criar amostragem de
documentos periódicos, fazendo por fim, analise de conteúdo. Os resultados
obtidos foram traçados por meio de mapas conceituais, mostrando as
modificações na maneira de informar em detrimento da estrutura do Estado
Novo. Podemos considerar finalmente, que a maneira de informar, tem todos
os seus moldes dados pelo governo, suas mudanças e alterações são reflexos
do silenciamento e censura a qual o jornal é submetido.
Palavra-Chave: Informação Cotidiana. Informação – Jornal. Natal – Segunda
Guerra. Jornal A República – Natal.
ABSTRACT
It aims to portray the daily information in the city of Natal through the analysis
and identification of the information that circulated in the newspaper A
República between the years of 1941 and 1942. It intends to categorize this
information, to construct a conceptual map through the categorized typology
and to contribute to the study of daily information in Natal during the Second
World War. From the period under consideration, various changes and customs
were part of society at this time in history, which with diverse social, political and
cultural presuppositions, lead the daily information, through the media in the city
to undergo a process of change, which comes from the implantation of the
Estado Novo. We have the hypothesis that there is an increase in the
dissemination of information and new types of information in the newspaper,
even if it underwent a process of silencing due to government censorship. As
methodology, it uses the method of inductive approach, methods of historical
procedure, seeking to locate historically this analysis of daily information, with
monographic method, indirect documentary research and through the
bibliographic basis. The qualitative research, to analyze the results of the
documentary research, with the creation of the corpus of the newspapers and
the use of the artificial week methodology, as part of creating periodic document
sampling, making, finally, content analysis. The results obtained were traced
through conceptual maps, showing the modifications in the way of informing to
the detriment of the New State structure. We can finally consider that the way of
informing has all its molds given by the government, its changes and alter are
reflections of the silencing and censorship to which the newspaper is submitted.
Keywords: Information - Journal. Natal - Second War. A República – Natal
Newspaper.
LISTA DE ILUSTRAÇÃO
Figura 1 – Parte da Capa A República (1941) ..........................................................41
Figura 2 – Matéria Club de Xadrez............................................................................42
Figura 3 – Anuncio Médico........................................................................................44
Figura 4 – Anuncio dos Cinemas...............................................................................44
Figura 5 – Noticiário da Guerra..................................................................................45
Figura 6 – Mapa Conceitual Informações Cotidianas de 1941 do Jornal A
República...................................................................................................................46
Figura 7 – Capa A República (1942) .........................................................................47
Figura 8 – Matéria sobre rompimento com o Eixo.....................................................47
Figura 9 – Aliança com os Estados Unidos...............................................................48
Figura 10 – Melhorias e desenvolvimento na Cidade................................................48
Figura 11 – Noticiário da Guerra................................................................................49
Figura 12 – Coluna Sociais........................................................................................50
Figura 13 – Na Sociedade e no lar.............................................................................51
Figura 14 – Notas de Palácio.....................................................................................52
Figura 15 – No Palácio do Governo...........................................................................52
Figura 16 – Notas Avulsas.........................................................................................53
Figura 17 – Fotografia em Matéria.............................................................................54
Figura 18 – Registro Literário.....................................................................................55
Figura 19 – Poema.....................................................................................................55
Figura 20 – Filosofia e Literatura................................................................................56
Figura 21 – Nem todos sabem...................................................................................56
Figura 21 – Informações úteis....................................................................................57
Figura 22 – Informações Úteis, Cinema, Teatro & Rádio...........................................58
Figura 23 – Arte e Diversões......................................................................................59
Figura 24 – Noticias Militares.....................................................................................60
Figura 25 – Mapa Conceitual Informações Cotidianas de 1942 do Jornal A
República....................................................................................................................61
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO..............................................................................................10
2 COTIDIANO, INFORMAÇÃO E MEMÓRIA.................................................15
2.1 MEMÓRIA E RELAÇÃO COM A INFORMAÇÃO......................................18
2.2 INFORMAÇÃO E SUA VERTENTE NO COTIDIANO...............................21
3 NATAL E O CONTEXTO DOS ANOS 40: INFORMAÇÃO COTIDIANA NO
JORNAL A REPÚBLICA...................................................................................26
3.1 O ESTADO NOVO E O CONTEXTO DA INFORMAÇÃO NO
COTIDIANO…...................................................................................................27
3.2 PANORAMA HISTÓRICO DA CIDADE DO NATAL: “O TRAMPOLIM PARA
A VITÓRIA”........................................................................................................31
3.3 O JORNAL A REPÚBLICA E AS INFORMAÇÕES COTIDIANAS.............35
4 METODOLOGIA...........................................................................................38
5 DISCUSSÃO E ANÁLISE DAS INFORMAÇÕES VINCULADAS NO
JORNAL A REPÚBLICA ENTRE 1941 A
1942...................................................................................................................41
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS.........................................................................63
REFERÊNCIAS...........................................................................................65
10
1 INTRODUÇÃO
No ano de 1946, pouco tempo depois do fim da segunda grande guerra, a
instabilidade dos países diretamente afetados, ainda estava debilitada, e tudo
tentava se reorganizar. De forma lenta, o mundo tentava entender a nova
ordem, depois de tantos anos de conflito, que dividia famílias, mudavam seus
espaços geográficos, mudavam a atuação da mídia, modificava as tecnologias,
principalmente aquelas voltadas à informação.
Enquanto esse conflito, com início no final dos anos de 1930 e começo
dos anos 1940, atingia toda a ordem social, política e econômica do mundo.
Uma cidade, capital de um estado do Nordeste, não esperava o quanto sua
ordem social poderia ser alterada.
No ano de 1941, o Brasil entra oficialmente na Segunda Guerra Mundial,
ficando ao lado dos aliados (Inglaterra, França, Estados Unidos e União
Soviética). Mesmo dado ao momento político do Brasil, de governo Vargas e a
Ditatura do Estado Novo, que entre muitas questões, simpatizava muito mais
com a ideologia do Eixo (Alemanha, Itália e Japão), o Brasil se torna um dos
aliados.
Dessa maneira, Natal se torna peça nessa articulação política de guerra
ao qual o Brasil entra, pois, a principal base de apoio na América é instalada na
cidade. Uma cidade que até então, contava com um crescimento ainda tardio,
passando por um processo de modernização e criação dos seus limites físicos
e urbanos. No início da década, começa a passar por um crescimento
populacional e mudanças na economia interna.
Podemos então, pensar os meios de comunicação da época, como fonte
principal de informação do cotidiano da cidade, onde de maneira ainda
insipiente, passa a possuir tardiamente rádio, que na maioria das outras
localidades do Brasil, já passava a ser amplamente difundido. Além disso, a
cidade contava com os jornais A República, O Diário e A Ordem, que foram
responsáveis pela ampla divulgação das notícias nos anos que se sucederam a
guerra.
Usando os aportes teóricos da memória, para não apenas reviver, mas
repensar a memória de determinada época, esta pesquisa busca analisar e
identificar quais informações circulavam na cidade de Natal dos anos 1941 a
11
1942, levando em consideração o momento histórico vivido, fazendo uma ponte
direta pela análise do jornal periódico A República, administrado pelo
Departamento de Impressa e Propaganda (DIP), órgão do governo.
Tendo como perspectiva essa ligação com o governo, o jornal passava
por um processo de silenciamento do que e de como eram divulgadas as
informações. Dessa forma, essa pesquisa tem como problemática principal
conhecer quais os tipos de informações presentes no jornal A República
durante o período de 1941 a 1942? E a partir dessa problemática, identificar
quais as tipologias informacionais noticiadas pelo jornal, visto como o principal
na cidade, tanto pela sua tradição de noticiar, como por sua ligação ao
governo.
Problematizar a cultura informacional nesse momento, faz com que esse
resgate sirva para entender tanto a cultura informacional da cidade, em
determinado momento da sua história, como também a forma pela qual as
informações nesse momento chegaram a influenciar tanto o estágio do tempo
presente em que circulavam, como do tempo posterior, tendo em vista a forma
que vai se estabelecendo a cultura informacional do local.
Ao utilizar a memória, com seu ato de lembrar, Bosi (1994, p. 53) diz que
“A lembrança é a sobrevivência do passado”, lembrar como ato principal da
memória, ato que faz com que o passado não seja apenas revivido, mas
reconstruído e repensado, repensar aquilo que foi vivido de uma forma e que
agora o coletivo que revive, traz consigo uma nova carga indenitária, fazendo
com que o lembrar-se torne um ato de reflexão.
A memória coletiva cunhada por Halbwachs explora nesse sentido, como
a memória é perspectiva vivida por cada grupo, segundo Duvignaud (1990, p.
14) no prefácio do livro Memória Coletiva “(...) nos períodos de calma ou de
rigidez momentânea das “estruturas sociais”, a lembrança coletiva tem menos
importância do que dentro dos períodos de tensão ou de crise (...)”.
O ato de rememorar por meio do cotidiano retratado no jornal e das
informações que circulavam, com toda essa carga de fazer parte de uma
memória coletiva de um momento de tensão social, demostrando o
comportamento da informação inserida nesse âmbito.
12
Nesse interim, essa análise tem como objetivo compreender a informação
na cidade, analisando uma das principais fontes de informação que a capital
dispunha. Portanto, tem como objetivo geral, analisar e identificar a partir do
jornal A República que tipo de informação circulava na cidade de Natal no
período de 1941 a 1942;
Como objetivos específicos, para articulação da pesquisa:
Categorizar essas informações;
Construir um mapa conceitual a partir da tipologia categorizada;
Contribuir para o estudo da informação cotidiana em Natal no período da
Segunda Guerra.
Como base para justificar o cunho dessa pesquisa, se inserimos no
socializar do homem que é agente de um cotidiano, que faz com que através
de práticas crie ou se insira dentro de uma cultura, tendo sua identidade
moldada a partir daquilo que vivencia em seu cotidiano.
Através do cotidiano e para ele, os jornais estão como ferramentas de
informação que crescem e se desenvolvem com o objetivo de noticiar o
cotidiano, de maneira que essas narrativas deem conta de informar o que
acontece no meio coletivo.
Pensando na cidade de Natal, entre os anos de 1941 a 1942 levam-se em
consideração diversas mudanças e costumes que faziam parte da sociedade
nesse momento da história. Com a entrada oficial do Brasil na guerra em
1942, após todos os acordos travados na então capital, o Rio de Janeiro, o país
se coloca em total oposição ao eixo, fazendo com que essa tomada de partido
mudasse até mesmo a interpretação da mídia sobre o conflito que acontecia
mundialmente.
A atuação do Estado Novo, com o poder delegado ao Departamento de
Impressa (DIP), faz com que o processo de comunicação, tanto em meios
oficiosos ligados ao governo, como em outros meios não ligados, passe pelo
processo de censura, fazendo com que a informação cotidiana fosse moldada
tal qual o desejo do governo.
Natal recebia também o contingente de guerra, pois pela sua localização
geográfica, fazia com que a comunicação entre os continentes se tornasse
13
mais rápida, como já era ponto de embarques e partidas há alguns anos antes
da guerra, já era comprovada a conveniência de estalar uma base nessa
localidade.
Pensando nesses pressupostos sociais, políticos e culturais, a informação
cotidiana levada por meio da mídia na cidade de Natal, passa por todo o
processo de mudança desde a implantação do Estado Novo, em 1937, até as
mudanças culturais que a cidade passa a sofrer visto a instalação da Base
Norte Americana, que faz com que um contingente de americanos venha servir
na cidade, ou tenham a mesma como rota de passagem.
Considerando todos esses aspectos, o estudo do jornal A República,
frente ao panorama do recorte histórico feito pela pesquisa, tem sua relevância
justificada por trazer a historicidade da informação em outro espaço tempo,
fazendo com que o estudo da informação no decorrer da história traga consigo
o entendimento tanto da informação naquele momento, como o reflexo dessa,
frente à sociedade natalense e brasileira.
Entender a informação no cotidiano por meio do jornal, se caracteriza
como entender a forma de pensamento coletivo que engrenava a informação
nos meios de comunicação, ou seja, por meio de rastros desse passado,
podemos moldar como se caracterizava no período, a circulação da informação
na cidade.
A intenção de se estudar a História, levando em consideração a memória
coletiva como meio de estudo, faz com que se solidifique o entendimento sobre
a identidade local, a cultura e as influências no presente.
Nesse aspecto, pelo olhar da Biblioteconomia que forma o profissional
apto a organizar e disseminar informação, levando em consideração ainda o
caráter interdisciplinar da formação, historicizar a informação se mostra
importante para a solidificação do fator informação e sociedade, que para além
da Biblioteconomia, abrange a Ciência da Informação, que com todos os seus
pressupostos teóricos estuda, a informação na sociedade dentro das mais
variadas vertentes e tempos, fazendo com que se entenda a importância da
informação perante o social.
14
Com isso, a pesquisa está para além da própria Biblioteconomia e Ciência
da Informação, pois, faz com que a História e a Memória dos anos em que o
Brasil e Natal participaram da Segunda Guerra Mundial, sejam exploradas,
trazendo um olhar das informações cotidianas nesse contexto, analisando-as
de tal forma que se explore o coletivo e a memória em torno do acontecimento.
Levanta-se ainda, como hipótese, que há um aumento de disseminação
de informações e novos tipos de informação no jornal A República, mesmo que
esse passasse por um processo de silenciamento devidos a censura do
governo.
Com isso, temos no capítulo dois, intitulado “Cotidiano, informação e
memória”, reflexões e apontamentos sobre a ligação prática e técnica entre
esses três conceitos, levando em consideração a Ciência da Informação e
Biblioteconomia como norte que precisa ser ligado e entendido dentro da
informação cotidiana.
Dentro do recorte histórico proposto, o capítulo três, coloca Natal e o
Brasil, como território de grandes modificações, com as escolhas do governo,
demostrando como a partir dessas, o jornal sofre influências na maneira como
noticiar.
A partir da discussão e análise do Jornal A República (1941-1942),
utilizando o método de semana artificial, onde escolhemos o último domingo de
cada mês, constatamos as mudanças presentes na condição de informar, além
de caracterizar por meio de mapas conceituais como se dá todo esse esquema
de informar.
Podemos considerar finalmente, que a estrutura do jornal, as notícias e
público, são todos moldados pelo governo do Estado Novo, isso faz com que
sejam explicitas as modificações de maneira de informar, tudo em detrimento
do silenciamento e da censura ocorrida. Fazendo também, a ponte com a
memória social, âncora que deu aporte a pesquisa em detrimento desse
momento histórico e dos seus acontecimentos.
15
2 COTIDIANO, INFORMAÇÃO E MEMÓRIA
O cotidiano se constitui em um conjunto de práticas, que caracteriza o dia
a dia dos indivíduos, fazendo com que as práticas cotidianas reflitam
diretamente na constituição da informação do cotidiano e na memória.
O cotidiano tem em sua historicidade, segundo Henry Lefebvre, a partir da
temporalidade moderna, como marco do seu surgimento, “Nossa vida cotidiana
se caracteriza pela nostalgia do estilo, por sua ausência e pela procura
obstinada que dele empreendemos.” (LEFEBVRE, 1991, p. 36), dessa maneira,
o cotidiano caracteriza a sociedade em que vivemos, a partir do marco histórico
moderno.
Não existe escolha entre modernidade e cotidianidade. O conceito de cotidiano se modifica, mas essa modificação o confirma e reforça. [...] O Cotidiano, no mundo moderno, deixou de ser “sujeito” (rico de subjetividade possível) para se tornar “objeto” (objeto de organização social). Enquanto objeto da reflexão, longe de desaparecer (...) ele, ao contrário, se reafirmou e se consolidou. (LEFEBVRE, 1991, p. 68).
Entretanto, Agnes Heller (1992) em sua obra O Cotidiano e a História,
caracteriza que a partir da hierarquia e heterogeneidade, se forma o cotidiano,
mesmo que a forma hierárquica sofra modificações em função das estruturas
econômico-sociais. Dispõe que desde a pré-história, o cotidiano já existe como
categoria dos papéis sociais, exemplo disso, coloca os servos, na sua
categoria social, que tinham seu cotidiano envolto na organização do trabalho.
Lefebvre (1991) ao iniciar sua obra intitulada A Vida Cotidiana no Mundo
Moderno, faz uma análise da obra literária Ulisses de James Joyce, como
aspecto de uma construção, capaz de dar o tom do significado de cotidiano,
explicitando o que podemos colocar como definição do termo cotidiano.
O cotidiano se compõe de ciclos e entra em ciclos mais largos. Os começos são recomeços e renascimentos. Esse grande rio, o vir-a-ser hereclitiano, nos reserva surpresas. Não há nada linear. As correspondências desvendadas pelos símbolos e pelas palavras (suas reaparições) têm um alcance ontológico. Eles se fundem no Ser. As horas, os dias, os meses, os anos, os períodos e os séculos se implicam. Repetição, evocação, ressurreição são categorias da mágica, do imaginário e também do real dissimulado sob a aparência. (LEFEBVRE, 1991, p. 11).
Heller (1992) traz em sua significação de cotidiano, um aspecto do
indivíduo constituído de individualidade, que assim, forma seus pressupostos
sociais:
16
A vida cotidiana é a vida de todo homem. Todos a vivem, sem nenhuma exceção, qualquer que seja seu posto na divisão do trabalho intelectual e físico. Ninguém consegue identificar-se com sua atividade humano-genérica a ponto de poder desligar-se inteiramente da cotidianidade. E, ao contrário, não há nenhum homem, por mais “insubstancial” que seja, que viva tão-somente na cotidianidade, embora essa o absorva preponderantemente. (HELLER, 1992, p. 17).
Os costumes sociais são produtos do cotidiano, que tem como papel
inserir o homem dentro da moral social, assim, o cotidiano é inerente ao
homem, que participa dessa constituição tanto de forma individual como em
grupo, dessa maneira, coloca Heller (1992, p. 18) que “O homem nasce já
inserido em sua cotidianidade. O amadurecimento do homem significa, em
qualquer sociedade, que o indivíduo adquira todas as habilidades
imprescindíveis para a vida cotidiana da sociedade (camada social) em
questão.”
A essência do cotidiano está na substância do social, a partir da análise
do meio social, percebemos o realce do comum, do que antes era visto apenas
pela ótica do habitual. Com isso, “O território do cotidiano define-se assim por
um lugar onde age o indivíduo tornando humana sua vida. Dialoga com o
cotidiano com o estranho e o diferente, mas é somente diante destes que se
reconhece.” (ROCHA JUNIOR, 2007, p. 2).
Aspectos como cultura, identidade, representações e alteridade, são
elementos que se concretizam no cotidiano, rever esses elementos pelo
emaranhado da teia, que constitui o social, dá significado as práticas sociais
que podem ser vistas como algo meramente repetitivo, mas, que no seu cerne,
é envolto de representatividade. Dessa forma, “O homem da cotidianidade é
atuante e fruidor, ativo e receptivo, mas não tem nem tempo nem possibilidade
de se absorver inteiramente em nenhum desses aspectos; por isso, não pode
aguça-los em toda sua intensidade.” (HELLER, 1992, p. 17).
As práticas cotidianas dentro do seu consumo, adquirem significados que
são cabíveis a partir das identidades, fazendo com que a visão das práticas
cotidianas seja vista a partir do ponto de desordem, Souza Filho (200?, p. 2) diz
que “[...] a aparente desordem das palavras e dos atos humanos compõe
cenários com profundidade e inteligíveis a observadores interessados.”, o que
17
faz com que haja uma interdependência de fatores para análise das práticas
cotidianas.
O cotidiano serve de base para construção de outros substratos da
sociedade, como a memória, pois, a partir dessas partes orgânicas, o cotidiano
em grande medida, tem uma via de mão dupla com a memória, segundo Heller
(1992, p. 18) “São partes orgânicas da vida cotidiana: a organização do
trabalho e da vida privada, os lazeres e o descanso, a atividade social
sistematizada, o intercâmbio e a purificação.”, percebemos, então, bases que
são comuns à memória social, como parte orgânica da vida social, essa
organização tem o poder de causar impressões para rememorações.
Quanto à organização do cotidiano, Lefebvre (1991, p. 66) vincula as
raízes ao planejamento da produção, aos pormenores das estruturas de
escritórios, organismos públicos e das instituições anexas, “O que é que essas
organizações organizam? Nada mais que o Cotidiano.”. Dessa maneira, vincula
a criação de uma memória social voltada às estruturas das instituições que
regem a sociedade.
Temos perspectiva do cotidiano tanto formado a partir do indivíduo que
parte para o coletivo, como da forma vinculada as estruturas organizacionais
da sociedade. A memória social, formada a partir dessas concepções se
juntam a informação, principalmente a informação vinculada no cotidiano.
Com o estabelecimento da sociedade da informação é possível perceber significantes alterações nos sentidos da memória e na sua constituição, oriundas de profundas mudanças nas práticas sociais. Estas questões se tornam importantes, visto que um novo período da cultura está em andamento, e suas transformações incidem sobre alterações na forma de pensar os processos informacionais [...]. Necessário se faz repensar o papel que a memória social vem adquirindo em nossa vida cotidiana, uma vez que cada momento a concebe de maneira que lhe é próprio. (BARRETO, 2007, p. 163).
Assim, as conspecções através dessas três vertentes, abrem
possibilidades para análise social, na base dessa pesquisa, a imprensa como
instituição de memória, o jornal como documento e suporte de memória e
esses refletindo o cotidiano da cidade através da informação cotidiana,
trazendo a contribuição de estudar a informação em um recorte histórico de
forte impacto para a cidade.
18
2.1 MEMÓRIA E RELAÇÃO COM A INFORMAÇÃO
A anamnese se constrói como social e está inserida no campo de lutas
como relação de poder, aqueles que moldam a memória, o que deve ser
lembrado e esquecido tem o poder. Assim como a memória, quem tem
informação, tem vantagens competitivas e de relações de poder, fazendo com
que os estudos de ambas, possam se entrelaçar.
A memória, como propriedade de conservar certas informações, remete-nos em primeiro lugar a um conjunto de funções psíquicas, graças às quais o homem pode atualizar impressões ou informações passadas, ou que ele representa como passadas. (LE GOFF, 1990, p. 423).
A memória como campo de referência, tem sua força estabelecida a partir
das experiências passadas, podendo assim, concentrar saberes e se
empreender com mais ou menos força, através do tempo. A memória social
tem o poder de autorizar, através do que é lembrado, a mudança de ordens
sociais.
Como os pássaros que só põem seus ovos no ninho de outras espécies, a memória produz num lugar que não lhe é próprio. De uma circunstância estranha recebe a sua forma e implantação, mesmo que o conteúdo (o pormenor que falta) venha dela. Sua mobilização é indissociável de uma alteração. Mais ainda, sua força de intervenção, a memória a obtém de sua própria capacidade de ser alterada – deslocável, móvel, sem lugar fixo [...] Longe de ser o relicário ou a lata de lixo do passado, a memória vive de crer nos possíveis, e de esperá-los, vigilante, à espreita. (CERTEAU, 2013, p. 150-151).
Tendo como historicidade o século XX, de marco para o surgimento dos
estudos da Memória Social/Coletiva, Maurice Halbwachs é visto como seu
propulsor. Através da sociologia de Durkheim, traz as razões da ordem social,
mostrando ainda, a integração do homem nos seus tecidos sociais, um
indivíduo social, dotado de consciência e com poderes de rememoração para
além dos seus aparatos biológicos. Com sua derivação das Ciências Sociais
“[...] apenas nos anos 1990, foi alçada a um lugar importante nas pesquisas
acadêmicas, a partir da valorização das relações com o passado que passou a
habitar a vida social e cultural [...]” (DODEBEI; FARIAS; GONDAR, 2016, p. 12).
A reconstrução dos quadros de memória social, se dá a partir de
impressões individuais que são reafirmadas pela memória do grupo, sendo
nossas lembranças apoiadas nos quadros formados por outros.
19
Mas nossas lembranças permanecem coletivas, e elas nos são lembradas pelos outros, mesmo que se trate de acontecimentos nos quais só nós estivemos envolvidos, e com objetos que só nós vimos. É porque, em realidade, nunca estamos sós. Não é necessário que outros homens estejam lá, que se distingam materialmente de nós: porque temos sempre conosco e em nós uma quantidade de pessoas que não se confundem. (HALBWACHS, 1990, p. 26).
Com seu poder mutável de conceito, por estar inserida em diversas áreas
do conhecimento e de ser considerada transversal, a memória não se insere
dentro de moldes clássicos, não tendo conceito homogêneo, sendo esse
conceito de memória social, plano de múltiplas definições:
A memória é, simultaneamente, acúmulo e perda, arquivo e restos, lembrança e esquecimento. Sua única fixidez é a reconstrução permanente, o que faz com que as noções capazes de fornecer inteligibilidade a esse campo devam ser plásticas e móveis. (GONDAR, 2016, p. 19).
Com isso, a diferença entre constituir história ou memória de algo, já que
a memória, nos remete a lembranças e momentos, sem necessariamente ser
colocada dentro de uma narrativa e de um recorte espaço-temporal. A história
também cumpre o seu papel de constituir narrativas que deem verdade
histórica a acontecimentos, porém, se encontra no mesmo terreno de disputa
que a memória, onde os grupos dominantes podem usar sua força
argumentativa como tomada de poder. “Esta colocação da memória fora do
tempo separa radicalmente a memória, da história. [...]. Assim, segundo a sua
orientação, a memória pode conduzir à história ou distanciar-se dela [...]” (LE
GOFF, 1990, p. 440).
As operações da memória social, então, ocupam os acontecimentos e a
forma de se chegar aos mesmos, sendo análogo a sua forma de análise:
Seja como for, a memória é tocada pelas circunstâncias, como o piano que “produz” sons ao toque das mãos. Ela é sentida do outro. E por isso ela se desenvolve também com a relação – nas sociedades “tradicionais”, como no amor – ao passo que se atrofia quando se dá a autonomização de lugares próprios. Mais que registrar, ela responde às circunstâncias, até ao momento em que, perdendo sua fragilidade móvel, tornando-se incapaz de novas alterações, ela consegue repetir suas primeiras respostas. (CERTEAU, 2013, p. 151).
Os estudos da memória social, também revelam sua importância no que
tange a contagem do tempo para as sociedades, pois, a memória em si, faz o
tempo relativo aos atos de lembrar, “Os estudos de memória social é um dos
meios fundamentais de abordar os problemas do tempo e da história,
20
relativamente aos quais a memória está ora em retraimento, ora em
transbordamento.” (LE GOFF, 1990, p. 427).
Halbwachs (1990, p. 28) afirma ainda que “[...] para algumas lembranças
reais junta-se assim uma massa compacta de lembranças fictícias [...]”,
percebemos então, que para além da participação do homem no fato social,
precisa-se evocar ainda, os aspectos que representam a memória construída
em torno do conglomerado, pois, essas lembranças tem o poder de modificar
impressões no processo de informar.
Constitutiva de diversas formas, a memória social, encontra aparatos que
são conferidos como suporte para memória, isso graças ao desenvolvimento
da escrita, que está ligada, a profundas mudanças na memória coletiva, o que
desenvolve em si também, o ato comunicativo, desencadeando a constituição
de documentos “[...] todo documento tem em si um caráter de monumento e não
existe memória coletiva bruta.” (LE GOFF, 1990, p. 434).
Uma lembrança ou um documento jamais é inócuo: eles resultam de uma montagem não só da sociedade que os produziu, como também das sociedades onde continuam a viver, chegando até a nossa. Essa montagem é intencional e se destina ao porvir. Se levarmos isso em conta ao interrogar as lembranças/documentos, a questão essencial será: sob que circunstâncias e a partir de que vontade eles puderam chegar até nós? Por que motivo eles puderam ser encontrados no fundo de um arquivo, em uma biblioteca, nas práticas e discursos de um grupo, a ponto de poderem ser escolhidos como testemunho de uma época? E, fundamentalmente, porque nós escolhemos? Ao desmontar essa montagem, que é a lembrança/documento, não revelaremos nenhuma verdade escondida sob uma aparência enganadora, mas sim a perspectiva, a vontade e a aposta a partir da qual nós a conversamos, escolhemos e interrogamos. (GONDAR, 2016, p. 24-25).
Nessa composição de signos para a comunicação, a memória como
produto do poder, destinada a manutenção da moral, é componente ativa da
comunicação, que tem como destino informação algo, através dos meios de
comunicação, “Em todas as sociedades, os indivíduos detêm uma grande
quantidade de informações no seu patrimônio genético, na sua memória a
longo prazo, e temporariamente, na memória ativa.” (GOODY, 1977a, p. 35
apud LE GOFF, 1990, p. 426).
Como elemento constitutivo da informação, principalmente a informação
cotidiana, que passa pelos processos de lembranças dos indivíduos ou grupos
21
sociais, a memória social, age como processo de reação para o
desencadeamento do processo de comunicação e de informação na
sociedade, trazendo ao meio social, elementos que demostrem o verdadeiro
sentido do que está sendo reproduzido, mesmo quando a memória está hora
em retraimento, ora em transbordamento.
Buscar a informação, que outrora foi produzida no passado, é trazer
através da memória, as práticas de uma sociedade, onde “Algumas vezes, é
preciso ir muito longe, para descobrir ilhas de passado conservadas, parece,
tais e quais, de tal modo que nos sentíssemos subitamente transportados a
cinquenta ou sessenta anos atrás.” (HALBWACHS, 1990, p. 68). As práticas
comunicativas em si, mostram, como há o comportamento diante das
informações, como as informações são produzidas, por quem são produzidas,
é como e porque são consumidas.
2.2 INFORMAÇÃO E SUA VERTENTE NO COTIDIANO
Informação, designada do ato de dar formar, processo em que os dados
são processados, pelos aparatos biológicos, sociais ou cibernéticos, até
designar efeito de constituir forma ou conceito para o processo de formação do
conhecimento “[...] é uma entidade, não é consumida quando se usa e pode ser
reproduzida sem custo e sem perda do conteúdo ou significado, é ‘societal’, e é
intangível. ” (DIENER, 1989 apud ROBREDO, 2003, p. 62).
Campo dominado por diferentes áreas do saber, a informação, depende
da sua forma de análise e do seu conceito fim, para a serventia de formação de
conhecimento, integrando o vocabulário de significados distintos e tem
abrangência de estilos em diferentes campos.
A Ciência da Informação como sua expansão no pós-segunda guerra, tem
a necessidade de controlar o grande volume de informação produzida, estocar
e identificar conteúdo que se cria nesse período, “Sentido amplo a CI é um
agrupamento de pedaços coletados em uma variedade de disciplinas que falam
de informação em um de seus muitos significados”. (MACHLUP; MANSFIELD,
1983, p. 22 apud CAPURRO; HJORLAND, 2006, p. 177), com isso a natureza
das tecnologias criadas, afetam diretamente os fluxos de informação.
22
Para a Ciência da Informação, apresenta seu campo de definição a partir
das áreas abarcadas, como Documentação, Biblioteconomia, Arquivologia,
Museologia e Comunicação Social. Inerente a esses campos, a informação tem
determinadas características que servem de ressalva para essa pesquisa:
Registrar (codificada) de diversas formas; Duplicada e produzida ad infinitum, Transmitida por diversos meios, Conversada e armazenada em suportes diversos, Medida e quantificada, Adicionada a outras informações, Organizada, processada e reorganizada segundo diversos critérios, Recuperada quando necessário segundo regras preestabelecidas. (ROBREDO, 2003, p. 9).
Representação e vivências, a informação é sinônima de linguagem e
representação do mundo, formando assim a comunicação, as culturas
ancoradas na linguagem e escrita. É o poder de interação.
A troca de mensagens ou de conteúdo (o resultado psíquico e social da acção de dar forma ou informar), entre um emissor e um destinatário, através de um canal, precisa de requisitos próprios para acontecer e só então há plena comunicação. (MALHEIRO, 2006, p. 84).
Processo de formação de sentidos dos fatos, a informação se liga ao
cotidiano e a memória, como um recurso da cultura e constituinte das
identidades, a partir do processo de comunicar. Os fluxos de informação dão
razão ao conhecimento e os meios práticos de comunicação social, “A
informação está dirigida para mentes humanas e é recebida por mentes
humanas. Todos os outros significados, inclusive seu uso com relação aos
organismos não humanos, bem como à sociedade como um todo [...]”
(CAPURRO; HJORLAND, 2007, p. 160).
Nesse processo de informar, o comunicar se encontra como algo
polissêmico, que depende do estado de análise das teorias e áreas do
conhecimento, além das próprias transformações no campo da comunicação
social.
Embora o conhecimento e a sua comunicação sejam fenômenos básicos de toda sociedade humana, é o surgimento da tecnologia da informação e seus impactos globais que caracterizam a nossa sociedade como uma sociedade da informação. (CAPURRO; HJORLAND, 2007, p. 160).
Podemos entender então, que “[...] a comunicação não se opõe à
informação, mas a prolonga; as duas noções são, muitas vezes, indissociáveis;
23
e as críticas feitas a uma são válidas igualmente em relação à outra. ” (MIÈGE,
2000, p. 110 apud SILVA, 2006, p. 89), percebendo que a comunicação pode
ser considerada o meio de vinculação da informação, com isso, percebemos o
importante papel da comunicação social, dos seus meios de comunicação,
como a mídia imprensa, televisiva, radiofônica e canais das mídias sociais.
Assim, abre-se o interim entre a informação e o conhecimento:
Não há consenso entre especialistas sobre onde termina a informação e começa o conhecimento. Tanto o conhecimento como a informação estão incorporados na linguagem e ambos envolvem um dispositivo conceptual que não é derivado dos dados que recebemos do mundo dos fenômenos mas lhe é imposto. Em poucas palavras, cada indivíduo organiza o mundo dum modo único que torna muito difícil organizar o ‘conhecimento público’ em estruturas aceitáveis para todos. As actividades de informação não têm lugar no vazio; elas afectam e são afectadas pelo seu contexto que inclui valores éticos, políticos, sociais e religiosos. A nova sociedade dá lugar a um conjunto de actividades no qual a informação é organizada numa estrutura de assuntos representada numa linguagem ou em línguas e registrada numa literatura. (MCGARRY, 1984 apud ROBREDO, 2003, p. 11).
Da essência social construtora do homem para a comunicação, é esse
homem que vive a partir do ato de se comunicar, a Comunicação Social é
responsável direta por comunicar no cotidiano, por meio de formas que tenham
maior expansão da informação. A comunicação social não transmite de forma
passiva para o receptor, fazendo com que, não sejam mensagens transmitidas
apenas para serem armazenadas, supondo esse processo como algo de ação
reciproca.
A comunicação social requer, [...] a concorrência de um fator convencional ou simbólico, unido à capacidade criadora do homem. [...] por outro lado, a comunicação social não se limita à transmissão de mensagens para que fiquem armazenadas num recipiente passivo. Mas tem por objetivo promover no receptor uma reação ou uma resposta. [...] como toda ação humana, abrange dois elementos básicos: um formal [...] e um energético, que se manifesta como ímpeto inicial no que as comunicações têm de fecundo e produtivo. (XIFRAS-HERAS, 1975, p. 8-9).
A informação no cotidiano “[...] incide em todas as facetas da vida do
homem, condicionando-lhe as atitudes, as opiniões e o comportamento, onde a
transcendência, a complexidade e diversidade dos problemas que suscita e
inesgotável riqueza temática que sugere.” (GONÇALVES; FREIRE, p. 10,
2005).
24
Nesse âmbito da informação cotidiana, percebemos que se constitui como
fins ou propósitos, pois, é emitida pelos meios informativos de grande alcance,
transmitindo os fatos, o conhecimento e a cultura de tal sociedade, fazendo
com que essas informações vinculadas nos mantenham rodeados do meio
social e cotidiano em que vivemos (XIFRA-HERAS, 2003).
Considerando então a informação do cotidiano como uma operação
social, que faz com que as pessoas tomem atitudes, molde o cotidiano, tenham
ação e reação social, Xifra-Heras (1975) conceitua que informação no cotidiano
é aquela que “[...] se difunde mediante ditos meios de comunicação de massa.
[...] E pressupõe duas características essenciais a esse tipo de informação: a
atualidade e a periodicidade”.
O Jornalismo é a principal área que dá abrangência ao estudo da
informação no cotidiano, pois “O jornalismo alimenta-se dessa informação que
satisfaz a nossa constante curiosidade de saber o que acontece em torno de
nossa existência diária.” (XIFRA-HERAS, 1975, p. 32).
Dentro desses parâmetros, a informação no cotidiano é distinguida para
Xifra-Heras (1975) com as determinadas características: atualidade,
notoriedade, interesse geral, universalidade e periodicidade. A atualidade tem
como atributo os fatos do presente, já a notoriedade dá importância ao acesso
da informação cotidiana ao grande público, de modo a não excluir nenhum
grupo social desse processo de comunicação. O interesse geral, pauta o que
suscita a curiosidade geral, sendo assim, algo universal, com o aspecto da
integração e da periodicidade, que acompanha a vida cotidiana e seu
transcorrer.
Como fonte de informação principal no cotidiano, o jornal exerce na
sociedade o poder de, por meio do escrito e da notícia, ser uma fonte de
informação. Nesse aspecto:
O processo de produção da informação cotidiana é complexo, e seu ponto de partida é a pauta. Desde que surge um indício de notícia, formula-se uma pauta. As etapas estanques do processo – pauta, trabalho de campo (reportagem) e entrevista, redação e edição são regidas pelas cinco leis: atualidade, notoriedade, interesse geral, universalidade e periodicidade. (GONÇALVES; FREIRE, p. 9, 2005).
A partir daí, temos então o panorama que uma sociedade que vive e
consome informação, analisando como a partir dos meios de comunicação e
das suas propostas de manter o cotidiano como notícia, faz molde da memória
25
coletiva, exatamente porque traz os aspectos da vivência social dos indivíduos,
“A informação jornalística assim o é, não pelo conteúdo apenas e nem por sua
presença em um periódico; mas também pelo fato de ter sido construída com
base em um “aparato” profissional.” (TAVARES; BERGER, 2010, p. 30).
Nesse imbricado sistema de noticiar, podemos notar então, o jornal como
aquele que constrói notícias através de informações, fazendo com que de um
interlocutor se recolham informações e com modo de interpretar o fato se torne
notícia, isso faz com que várias fontes de informação, sejam utilizadas nesse
processo, desde fontes de informação informal quanto as formais.
A escritura de um fato jornalístico pressupõe que exista realmente um fato de interesse coletivo para que o jornal possa divulgá-lo e, que nesse fato, estejam envolvidas algumas pessoas - os produtores do acontecimento – que chamamos fontes de informação. (AVELINO, 2006, p. 32).
No jornalismo, “Quando se diz sobre notícia, “automaticamente” se fala
em informação para o jornalismo.” (TAVARES; BERGER, 2010, p. 25), fazendo
com que o discurso das notícias crie forma na maneira com que vivemos e
visualizamos o mundo.
Dentro dessa perspectiva de informação, percebemos que os discursos
jornalísticos trazem a marca de um espaço e lugar, fazendo com que isso
imprima também as ocorrências de um tempo, a partir de então, com que
essas informações que passam por uma triagem, chegam até o meio social de
tal forma a ter um poder, através do discurso de moldar uma consciência
coletiva dos fatos.
26
3 NATAL E O CONTEXTO DOS ANOS 40: INFORMAÇÃO COTIDIANA NO
JORNAL A REPÚBLICA
Com a entrada oficial do Brasil para a guerra, o contingente de
americanos na cidade de Natal passa a crescer, graças ao plano de tornar a
cidade base militar de brasileiros e americanos, visto que sua localização é
ponto estratégico na geografia da América. Essa mudança interferiu
significativamente na rotina da cidade, como podemos constatar em Pedreira
(2012, p. 114), “A convivência com os americanos e seu diferente modo de vida
afetou o cotidiano de toda a população local [...] o que chama a atenção é a
discrepância entre as múltiplas percepções sobre esse momento de intenso
intercâmbio sociocultural [...]”.
Isso faz com que Natal, que já fazia parte das rotas comerciais de aviação
e que já era explorada pelos Americanos, se tornasse definitivamente o local
que iria estabelecer a ponte entre para a guerra que acontecia no outro
continente, além, da proteção do território da América e dos interesses do
Brasil e EUA, “[...] As forças do eixo avisaram ao Brasil que haveria retaliações
caso as relações diplomáticas fossem cortadas [...] Vargas tomou decisão no
dia 28 de Janeiro de 1942” (SMITH JUNIOR, 1992, p. 66).
Pensando em uma alteração do cotidiano, levamos em consideração o
jornal, que pela sua periodicidade traz a narrativa do cotidiano. Natal nesse
contexto, segundo Smith Junior (1992, p. 28) contava com três jornais: “A
República, fundado em 1889 [...], A Ordem, criado em 1935 [...] O Diário,
operando a partir de 1939 [...]”.
O texto jornalístico traz consigo o poder da periodicidade do cotidiano,
onde “Narrar é uma forma de estar no mundo, e dessa forma, entendê-lo.”
(BARBOSA, 2007, p. 17), assim como também é uma forma de entender
também, o processo temporal.
Dessa forma, o jornal como objeto de estudo de determinada
temporalidade, faz com que se vislumbre não apenas como um veículo de
informação, mas também, um veículo de informação dotado de interesses, de
intervenções sociais e que para além de noticiar o cotidiano, mostra dele, além
de uma visão imparcial, “[...] Através dele é possível compreender o cotidiano
27
de uma época, resgatar o contexto e a repercussão de determinado momento
da realidade [...]” (AVELINO, 2006, p. 9).
Com isso, buscamos entender essa informação cotidiana de Natal,
inserida no processo de governo do Estado Novo e do período da Segunda
Guerra Mundial, levando em consideração os aspectos culturais, políticos e
sociais, que foram estabelecidos na cidade.
Assim, no panorama de guerra que o Estado e principalmente Natal testemunharam por ocasião da IIa. Grande Guerra, imposto em decorrência de fatores geopolíticos no que tange ao aspecto estratégico da área, vital no plano de defesa do Continente Americano e de manutenção das frentes de combate de todo o mundo, naquele tempo [...]. (MEDEIROS, 1973, p. 204).
Dentre todos esses fatores, o Estado tem papel preponderante diante das
medidas que são tomadas, exercendo o comando mediante todos os atributos
da vida social, política, cultural e econômica.
3.1 ESTADO NOVO E CONTEXTO DA INFORMAÇÃO NO COTIDIANO
O Brasil de 1930 passa por dois momentos de turbulência da ordem
social e política, a Revolução de 1930 sendo o marco de término da antiga
República, e a instauração do Estado Novo, em 1937, que vem com o princípio
de modificação da ordem política e social:
A proposta de fundação de um novo Estado, “verdadeiramente nacional e humano” é a grande tônica do discurso político dos anos do pós-37. A importância e a grandeza desta proposta lhe conferiam, na ótica de seus defensores, o estatuto de um novo começo na História do país. A fundação de uma ordem política consentânea com as reais potencialidades, necessidades e aspirações do povo brasileiro significava um autêntico redescobrimento do Brasil. (GOMES, 2005, p. 191).
O Brasil dos primeiros anos de Estado Novo mantinha uma política de
comercialização com diversos países. Até idos de metade de 1941, Vargas
mantinha o Brasil com neutralidade na guerra que já havia se iniciado, porém,
“A mudança do estado de neutralidade que o Brasil vinha assumindo até então
aconteceu na Terceira Conferência de Ministros Estrangeiros, realizada no Rio
de Janeiro [...]” (SMITH JUNIOR, 1992, p. 66), que faz com que o Brasil se junte
aos aliados e corte relações totais com os países ligados ao eixo.
28
Um estado centralizador, com Vargas à frente, forte simpatizante do
fascismo, que coloca em sua figura ditadora, as tomadas de decisões do Brasil.
As bases desse estado centralizador, buscavam uma nova identidade do
Brasil, que até então, era vista com seus moldes de governos ligados aos
períodos da colônia e do império, fazendo com que a primeira República, fosse
vista com moldes de retrocesso.
O Estado Novo ocorre, portanto, numa onda de transformações por que passava o mundo, o que reforçava a versão de que a velha democracia liberal estava definitivamente liquidada. Este contexto, muitas vezes, facilitava uma identificação entre o Estado Novo e o fascismo europeu. Esta relação, aparentemente óbvia, ignora as muitas especificidades que caracterizam o quadro brasileiro e o regime de 1937. (OLIVEIRA, 1982, p. 8).
A autoridade do estado buscava uma modernização em todos os setores
da vida social, levando em consideração todos os males dos brasileiros,
mostrando um retrato da realidade e seus aspectos, sendo esses males,
justificativas para o autoritarismo agir e centralizar a vida social.
Na década de 1930, podemos sinalizar intensas mudanças, uma disputa
entre a velha e nova República, “Podemos dizer, com risco de simplificação,
que três grandes eixos marcaram o pensamento dos anos 30 e se fizeram
igualmente presentes na doutrina do Estado Novo. São eles: o elitismo, o
conservadorismo e o autoritarismo.” (OLIVEIRA, 1982, p. 15).
Apesar da forte simpatia que Getúlio Vargas tinha para com o fascismo
italiano, não se coloca o Estado Novo enquadrado dentro de todas as
categorias fascistas. Nas análises sobre o mesmo, muitos são os aspectos
encontrados, desde as medidas violentas com aqueles que fossem contra o
regime, até submeter todos os processos sociais a análises.
O regime de 1937 não resultou da tomada do poder por nenhum movimento revolucionário organizado e de massas. Seus doutrinadores negam qualquer espaço para a existência de um partido sustentador do regime. A questão da mobilização e organização das massas em milícias é também recusada pela maioria dos autores nacionais que buscam fundamento para o fortalecimento da autoridade do Estado. A única experiência neste sentido, a milícia integralista, é descartada tão logo o novo regime se instala. A tentativa de militarização da juventude brasileira durante o Estado Novo, através do movimento de Organização Nacional da Juventude, é recusada e transformada em um programa de educação moral e cívica. Seja do ponto de vista doutrinário ou da realidade histórica, o caso brasileiro do Estado Novo se distingue do fascismo italiano. (OLIVEIRA, 1982, p. 8).
29
Com isso, tínhamos um estado preocupado na doutrinação para o
segmento da sua centralização, assim, mantinha seu poder de ditadura,
conversando e transformando diferentes teorias e reorganizando de tal modo, a
parecerem novas.
O Estado penetra nos domínios da sociedade civil, assumindo claramente o papel de direção e organização da sociedade. Assim, se auto-elege o educador mais eficiente junto às casses trabalhadoras, argumentando ser o “bem público” o móvel de sua ação. O que se verifica, portanto, é um deslocamento de atribuições, onde o Estado assume funções que até então estavam sob o encargo dos diferentes grupos sociais. (VELLOSO, 1982, p. 72).
Com essa coletividade que se buscou formar a partir da educação cívica,
que foi um grande marco desse período, os intelectuais são colocados como
peças chaves desse processo, pois, junto ao regime, fizeram o papel de
construir e retratar o momento presente.
Esses fremes da realidade retratados pelos intelectuais, tinham as mais
distintas áreas artísticas, principalmente os escritores, capazes de criarem
discursos que caracterizavam a sociedade, “A questão da cultura passa a ser
concebida em termos de organização política, ou seja, o Estado cria aparatos
culturais próprios, destinados a produzir e a difundir sua concepção de mundo
para o conjunto da sociedade.” (VELLOSO, 1982, p. 72).
Esse contexto de criação de um nacionalismo orgânico e de um sentido
coletivo e partilhável de nação torna-se papel principal do Departamento de
Imprensa e Propaganda (DIP), para, além disso, precisava-se criar uma
propaganda do regime, que de tal forma fazia com que se tornasse forte sua
ideologia:
[...] A produção e divulgação deste projeto traduziu-se entre outras iniciativas, pela montagem de um importante órgão institucional: o Departamento de Imprensa e Propaganda. Esta poderosa agência supervisionava os mais variados instrumentos de comunicação de massa, além de encarregar-se da produção e divulgação do noticiário oficial. Suas seis seções – propaganda; radiodifusão; cinema e teatro; turismo; imprensa e serviços auxiliares – demonstram bem o alto grau de intervenção do Estado Novo nos processos de comunicação social. O DIP, portanto, materializou o grande esforço empreendido durante o estado Novo para controlar os instrumentos necessários à construção e implementação de um projeto político destinado a se firmar socialmente dominante. (GOMES, 2005, p. 190).
O DIP exercendo esse controle sobre os meios de comunicação fazia
com que realmente se construísse uma realidade diante do momento político,
30
fazendo com que o passado da Velha República, se tornasse algo remoto e
vergonhoso para o passado do país.
Criado em 1939, o DIP estava todo orientado a fazer esse controle
interno e externo da comunicação social do Brasil, “[...] durante o Estado Novo
que se elabora a montagem de uma propaganda sistemática do governo. E o
que é mais inédito é que existe todo um discurso que legítima a necessidade
de se propagandear o governo.” (VELLOSO, 1982, p. 72).
Produz-se aí, a evidente campanha de centralização do poder, buscando
em uma matriz comum, a doutrinação “Esta multiplicidade de interpretações
fundamenta a visão de que, efetivamente, o Estado Novo não produziu uma
doutrina oficial única. Seus postulados [...] sempre com enfoques distintos [...]”
(OLIVEIRA, 1982, p. 32).
Entretanto, avalia-se também, que esse apelo do estado fazendo uso da
comunicação, tem o encargo de manipular o cotidiano e a memória social por
longa duração, despertando a paixão pelo nacionalismo, “No Estado Novo, o
efeito visado era a conquista do apoio necessário à legitimação do novo poder,
oriundo de um golpe.” (CAPELATO, 1999, p. 170).
Essa justificativa tem como âncora a legitimação que o governo precisava
para se manter forte diante dos processos sociais que o Estado impunha. O
próprio DIP, criado como a manutenção dessa ordem social e de poder, vinha
se legitimando anteriormente a sua criação, com artigo que já constava na
constituição.
A Constituição brasileira de 1937 legalizou a censura prévia aos meios de comunicação. A imprensa, através de legislação especial, foi investida da função de caráter público, tornando-se instrumento do Estado e veículo oficial da ideologia estado-novista. O art. 1.222 exterminava a liberdade de imprensa e admitia a censura a todos os veículos de comunicação. A lei prescrevia: “Com o fim de garantir a paz, a ordem e a segurança pública, a censura prévia da imprensa, do teatro, do cinematógrafo, da radiodifusão, facultando à autoridade competente proibir a circulação, a difusão ou a representação”. (CAPELATO, 1999, p. 170).
Com essa tentativa de criar uma nova ordem social, para se afirmar no
contexto político instável que estava instaurado mundialmente, a atuação frente
à criação desse nacionalismo, coloca o Estado Novo como um forte
combustível de ação da memória coletiva.
31
Desta perspectiva, o Estado é visualizado não só como o propulsor da mudança, mas também como controlador, por excelência, da passagem de uma sociedade rural-oligárquica para uma sociedade urbano-industrial. Esta nova sociedade, no pensamento da maioria dos doutrinadores do Estado Novo, deve ser também hierarquizada e não-igualitária, mas seu ordenamento deve-se fazer a partir dos atributos diferenciados de cada indivíduo. É a igualdade de oportunidades (já que os indivíduos são naturalmente desiguais) que possibilitaria a vigência de uma sociedade hierárquica moderna. (OLIVEIRA, 1982, p. 28).
Essa redefinição política acarreta em diversas mudanças do Brasil frente
às políticas externas. No ano de 1942, tem-se como marco cronológico das
mudanças políticas desse período, define as políticas de alinhamento com os
Estados Unidos (EUA), pois são dadas as cartas para as forças militares
estrangeiras se instalarem no país, além da construção da siderúrgica de Volta
Redonda. O plano de operações do EUA é concedido, fazendo com que a
Cidade do Natal se tornasse ponto estratégico nessa aliança. (GOMES, 2005).
O fim do conflito se desenvolve lentamente e por meio de cada território e
país que se encontrava envolvido, a política interna de Vargas e do Estado
Novo, começa a ruir, quando não encontra mais apoio dos militares. Sendo sua
renúncia no final do mês de outubro de 1945, marcado pela força dos militares
que pediam sua renúncia. Isso marca também o aparente fim da censura do
Estado Novo, que era empreendido nos vários meios, sendo mais incisivo nos
meios de comunicação.
Por volta de 1945, contudo, a ditadura de Vargas tinha seus dias contados. As pessoas, dentro e fora dos meios militares, queriam um retorno à democracia e muitos destacaram o fato de que a luta do Brasil na Segunda Guerra Mundial era contra a ditadura. (SMITH JUNIOR, 1992, p. 180).
3.2 O PANORAMA HISTÓRICO DA CIDADE DO NATAL: O TRAMPOLIM
PARA A VITÓRIA
O processo de modernismo que o Brasil passa antes dos anos de 1940
tem reflexos direto no cotidiano da cidade de Natal, que também adentra nesse
processo de modernização. Segundo Costa (2009, p.1) “Nos primeiros anos do
século XX, a cidade de Natal passou por alterações urbanas significativas.”,
pois se desenvolve uma nova área residencial, com o desejo da elite de se
desligar dos aspectos coloniais que ainda circundavam a cidade.
32
Esses aspectos já conferem à cidade novas referências sociais e
modernas, o que faz com que “[...] a ideia de que a cidade de Natal teria
“adentrado a modernidade” pelas mãos dos soldados norte-americanos que lá
se instalaram durante a Segunda Guerra Mundial [...]” (PEDREIRA, 2012, p.
13), se torne questionável, já que isso é normalmente colocado.
Assim, Natal como cidade contemporânea, vive até os dias atuais, da
memória criada nos anos 1940, trazendo dentro da sua identidade várias
misturas referentes ao período, além do sentimento, de por ao menos em um
momento, ter participado e sido peça para as negociações do conflito da
segunda grande guerra.
O legado dos americanos fez e faz parte da cultura natalense. As imagens emblemáticas da guerra, na forma como ela foi vivida e reconstruída em Natal, interferiram inevitavelmente na formação de uma imagem mental identitária da cidade. Essa interferência é revivida nas reportagens de jornal, revista, televisão, nos cartazes, outdoors, filmes de cinema, peças de teatro e videodocumentários. (COSTA, 2015, p. 7).
O estado do Rio Grande do Norte girava em torno de uma política com
oligarquias tradicionais no poder, que com a instauração do governo Vargas,
passa por um momento de destituição, pois o Estado Novo, como já
demonstrado, visava à centralização do poder. Com isso, o papel do interventor
era exatamente, manter nos estados, esse poder centralizado na presidência
“Com uma população de aproximadamente 40.000 habitantes, Natal
desenvolvia-se em meio a enormes contradições e desigualdades que atingiam
todo o Estado [...]” (PEDREIRA, 2012, p. 30-31).
[...] independente dos acertos e acordos, a oligarquia local voltou ao governo em 1934, com as eleições indiretas, na Assembleia Legislativa Estadual, do Governador Rafael Fernandes de Gurjão, o qual, por ocasião do Golpe de Estado de 1937, foi mantido no cargo e permaneceu até julho de 1943, quando pediu exoneração do cargo. (OLIVEIRA, 2008, p. 41-42).
No transcorrer dos anos estudados nessa pesquisa, os interventores do
Estado do Rio Grande do Norte, foram, Rafael Fernandes Gurjão, e logo em
seguida Antônio Fernandes Dantas, que seguiu até a redemocratização do
país, entre os anos de 1946 e 1947 (OLIVEIRA, 2008).
Natal dentre outros aspectos, passa a ser o pivô brasileiro para
negociação com os americanos, que percebem, diante das rotas já realizadas
33
por companhia área, que Natal tinha uma localidade estratégica tanto entre
Estados Unidos e Brasil, quanto à ida para o continente da África e o Europeu,
“Embora a declaração de guerra feita pelo Brasil materialmente não tivesse
mudado os fatos, suas forças passaram da cooperação oculta à cooperação
aberta com os Estados Unidos.” (SMITH JUNIOR, 1992, p. 73).
Houve todo um arsenal construído entre 1941 e 1942 para que fossem
consolidados os acordos entre Brasil e Estados Unidos, além da criação de
uma estrutura para que os americanos pudessem ter força de trabalho em um
estado diferente do que estavam acostumados.
Em 16 de setembro de 1941, chagaram os cinco primeiros americanos designados para o Campo de Parnamirim. O grupo incluía um instrumentista, um operador de máquinas de terraplanagem, um engenheiro e dois operadores de equipamentos. Uma semana depois, havia um número de pessoal americano suficiente para permitir a indicação de um engenheiro americano para o projeto, a fim de supervisionar a coleta de dados da engenharia de campo e para fornecer dados de engenharia de construção necessários para executar o programa. No mês anterior, em 23 de agosto, chegou a Natal um representante de Haller Engineering Association, companhia encarregada de prover as especificações para pavimentação de pistas que foi iniciada no dia 6 de novembro de 1941. (SMITH JUNIOR, 1992, p. 29).
Dessa maneira, se torna “[...] cidade “pivot” da defesa do Nordeste, com o
recebimento dos primeiros contingentes militares, precursores do esquema de
defesa e vigilância do litoral que estaria concluído por ocasião da declaração
de guerra, em 1942.” (MEDEIROS, 1973, p. 191).
A base com seu desenvolvimento influencia diretamente na vida cotidiana
de Natal “[...] no início de 1942, o crescimento da Base estava começando a se
refletir no número de praças em Natal, que já chegava a 113.” (SMITH
JUNIOR, 1992, p. 79), além de converter a cidade a outros costumes
cotidianos “[...] Natal converteu-se em cidade cosmopolita, uma babel de
militares das mais variadas nações.” (MEDEIROS, 1973, p. 197).
Essas mudanças cotidianas tinham haver com o modo de vida dos
militares que passavam pela cidade, além da própria base que era moradia de
vários outros, com todos os seus aparatos e serviços modernos que davam aos
americanos todo o conforto necessário para seu cotidiano, desde o jornal
impresso na base, até o cinema e as festas que contavam com famosos
artistas da época, “Muitos dos antigos hábitos e valores da população norte-rio-
34
grandense e, em especial, dos moradores da capital do estado, também foram
modificados.” (PEDREIRA, 2012, p. 28).
Alguns problemas entre americanos e brasileiros, porém, foram sendo gradualmente resolvidos. Finalmente, os militares americanos estavam melhor adaptados à moradia no Brasil. [...]. Seria em janeiro de 1943, porém, que um encontro entre o Presidente Franklin D. Roosevelt e o Presidente Getúlio Vargas faria História em Natal. (SMITH JUNIOR, 1992, p. 29).
O presidente dos Estados Unidos Franklin Roosevelt, faz uma visita à
cidade de Natal como parte dos acordos entre as políticas dos Estados Unidos
e do Brasil. Chegando a Natal sem alardes, faz uma visita pelas bases de
operações da cidade e tem momentos de conversa com o presidente Vargas “A
tarde, Roosevelt e Vargas inspecionaram a Base de Hidroaviões e o Campo de
Parnamirim. Eles concluíram a inspeção com uma visita aos Quartéis do
Exército e da Aeronáutica Brasileira [...]” (SMITH JUNIOR, 1992, p. 101).
O cotidiano da cidade tem variações nos anos 40, desde o contingente de
guerra, construção da base, as novas línguas que chegavam as ruas e as
modernizações da base, que refletiam na cidade. São consideradas marcas da
memória, como reflete Pedreira (2012, p. 13) ao tratar sobre os momentos de
carnaval e festividade na guerra que “[...] os momentos em que as tensões já
identificadas explodem em pequenos episódios de confronto entre potiguares e
gringos em bares, casas noturnas e nas pensões alegres da zona do meretrício
[...]”, além, da própria influência do American Way of Life:
[...] haja vista a programação cultural que se destacava nos cinemas, nas publicações de revistas, as músicas tocadas nos bailes dos principais clubes (onde o fox-trot já se fazia presente), além dos programas de rádio que contribuíam para divulgar os modismos da América. (PEDREIRA, 2012, p. 111).
Nesse período, o povo se dividia entre identificar e entender o
estrangeiro, vivendo com suas diferenças, que muitas vezes, acabavam em
confusões de porta de bar.
Nesta cidade marcada por tensões e diferenciações sociais internas, permeadas pelo constante embate sobre os rumos da tão sonhada “modernização”, o contato com o contingente de militares e civis estrangeiros, que encheu suas ruas em tempo de guerra, acirrou ainda mais a discussão sobre os pressupostos da nossa “identidade nacional” [...] (PEDREIRA, 2012, p. 111).
Com o fim, quase efetivo, por volta de agosto de 1945, Natal e o
contingente de guerra que aqui se encontrava, passam por novas mudanças no
35
cotidiano. Os milhares de homens que aqui estavam ou passavam em direção
aos outros continentes, voltariam para suas respectivas culturas e territórios,
deixavam em Natal, a eterna impressão de seus costumes no cotidiano, nomes
no cartório, casamentos e filhos: “O último contingente americano deixou
Parnamirim no dia 26 de novembro de 1946.” (SMITH JUNIOR, 1992, p. 193).
Mas, a guerra havia terminado e a maioria dos brasileiros esperava ver os americanos deixando a Base e voltando para casa. Entretanto, um espírito de boa vontade e amizade entre o Brasil e os Estados Unidos nasceu de uma antiga indiferença entre os dois países. Essa amizade ajudaria na transferência das bases construídas pelos americanos para o Brasil. [...]. (SMITH JUNIOR, 1992, p. 101).
3.3 O JORNAL A REPÚBLICA E AS INFORMAÇÕES COTIDIANAS
O jornal traz uma articulação social constante, no contexto do Brasil que
vivia o período do Estado Novo. Parada (2007, p. 35) considera que:
A agressiva e atuante política cultural do Estado Novo estava no centro do nacionalismo orgânico dos distintos grupos dirigentes do novo regime. Essa política cultural, realizada por diversos órgãos do Estado, trabalhou para construir um sentido coletivo e partilhável de nação.
Nesse contexto o jornal A República surge junto com as ideias
republicanas, pelas mãos de Pedro Velho que se tornou governador provisório
do Estado, quando a primeira república é instaurada. Nasce então, vinculado
ao governo:
Apenas em 28 de janeiro de 1928, o governador Juvenal Lamartine de Faria criaria a “Imprensa Oficial do Rio Grande do Norte”, instituindo “A República” como órgão oficial do Estado, sendo o jornalista Cristóvão Dantas seu primeiro diretor. Já em 1941, quando o país vivia sob a égide do Estado Novo de Vargas, um decreto do interventor Aldo Fernandes Raposo de Melo transformou a “Imprensa Oficial” em Departamento Estadual de Imprensa e Propaganda - DEIP, criado nos moldes do Departamento de Imprensa e Propaganda - DIP. Edílson Cid Varela, jornalista, foi então nomeado diretor do DEIP e, consequentemente, de “A República”, que funcionou, com algumas interrupções, até 1987. (AVELINO, 2006, p. 63).
O DIP exercendo esse controle sobre os meios de comunicação fazia
com que realmente se construísse uma realidade diante do momento político,
fazendo com a Velha República, se tornasse algo remoto e vergonhoso para o
passado do país.
36
O jornal diário, A República, que era um órgão do governo local, apresentava todas as notícias nacionais e locais numa atitude pró-Vargas. Também publicava editorais e artigos especiais elogiando o Governo e as pessoas a ele ligadas. Muitos cartazes afixados em lugares públicos também exibiam Getúlio Vargas ou o Brasil na guerra. Esses cartazes eram distribuídos pelo diretor local do Serviço de Imprensa e Propaganda do Estado. (SMITH JUNIOR, 1992, p. 110).
Além de todas as circunstâncias que se davam devido ao panorama
político e seu reflexo nos meios de comunicação, Natal, ainda passava por todo
o contexto de receber o outro, aquele estrangeiro, de língua diferente e com
outros costumes, fazendo com que também fosse amplamente noticiado, como
o fato de Vargas e Roosevelt:
A recepção teve ampla divulgação nos dois jornais de destaque em Natal, O Diário e A República, que enfatizavam os elos de amizade entre o Brasil e os Estados Unidos, e continuavam a afirmar que a recepção dera aos brasileiros a oportunidade de demostrar sua amizade e simpatia pelos americanos. (SMITH JUNIOR, 1992, p. 100).
Todos esses enquadramentos fazem com que o jornal escolhido para
essa pesquisa tenha um impacto direto, pois, o mesmo era ligado ao
Departamento Estadual de Impressa (DEIP), “Órgão estatal [...] que moldava o
enquadramento de sua cobertura noticiosa seguindo a determinação política do
Governo brasileiro face aos acordos engendrados pelas conveniências do
então Presidente da República [...]” (AVELINO, 2006, p. 11).
A partir dessa vinculação institucional do jornal A República:
Considerando que esse jornal era controlado pelo Estado através do Departamento de Imprensa e Propaganda – DIP, na esfera nacional, e pelo Departamento Estadual de Imprensa e Propaganda – DEIP, em âmbito local, seu discurso possivelmente produziria um silêncio em torno da opinião dos seus leitores. (AVELINO, 2006, p. 11).
O jornal A República é considerado como um dos principais jornais que
noticiaram sobre a guerra no âmbito da cidade de Natal, mesmo passando pelo
processo de silenciamento, pois por outro lado, traz o panorama que o governo
deseja demonstrar com o desenrolar do cotidiano. “Na época do conflito
mundial, conchavos políticos e troca de favores determinaram a tomada de
posição do Brasil em relação à Segunda Guerra, ao longo do desenrolar do
conflito.” (AVELINO, 2006, p. 11).
37
No contexto da informação no cotidiano, pensamos então no jornal A
República e sua influência na cidade de Natal entre o período de começo e fim
da guerra, pois, por todo o processo frente ao DIP e DEIP fazia com que a
informação chegasse ao cotidiano da cidade moldada de outra forma. Segundo
Smith Junior (1992, p. 110)
O efeito provável de toda propaganda era limitado, uma vez que os brasileiros eram patrióticos de qualquer maneira. Havia somente uma pequena percentagem que possuía rádio ou podia ler jornal. Contudo, isso provavelmente ajudou, indiretamente, a consolidar a opinião brasileira e também ajudou a fortalecer as relações brasileiro-americanas.
A produção desse jornalismo, com todos os aspectos de silenciamento do
que era publicado, traz ao público uma propaganda oficial do regime vigente
“[...] pode representar um indício de que havia contestação, por parte da
população, à manipulação das informações veiculas pela imprensa [...]. Isso
porque, nesses meios de comunicação, nunca eram relatados os fatos de
maneira imparcial [...]” (PEDREIRA, 2012, p. 81).
Não se sabe ao certo, quem era o público leitor do jornal A República,
visto que a sociedade natalense da época tinha um alto nível de analfabetismo,
se estima que o público leitor viesse do seio das oligarquias, intelectuais e
comerciantes mais abastados.
No censo de 1940, o índice de analfabetismo continua praticamente o mesmo (80% da população), e algo em torno de 90% das crianças em idade escolar continuavam não tendo acesso à escola [...]. Praticamente não havia indústrias, a não ser pequenos estabelecimentos. (COSTA, 1995, p.82-83 apud PEDREIRA, 2012, p. 30).
Dessa maneira, o jornal A República foi o correio oficial de notícias no
Estado, com todos os aspectos de silenciamento regidos pelo Departamento
Estadual de Imprensa (DEIP), trazendo ao cotidiano de Natal, o que era
cotidiano no Brasil e no Estado, mas tendo como processo, a propaganda do
Estado Novo e dos Aliados.
38
4 METODOLOGIA
A metodologia tem como objetivo analisar elementos que constituem a
pesquisa, dessa maneira, como método de abordagem, pretende-se fazer uso
do Indutivo, pois a análise parte de pressupostos gerais “O objetivo dos
argumentos indutivos é levar a conclusões cujo conteúdo é muito mais amplo
do que a das premissas nas quais se basearam.” (MARCONI; LAKATOS, 2003,
p. 86).
A partir desse entendimento e com base no objetivo de analisar e
identificar as mudanças nas informações cotidianas na cidade de Natal no
período entre 1941 e 1942, registradas através do jornal A República, será feita
a categorização das informações que circulavam na cidade e sua mudança
com todo o contexto social e político.
Os métodos de procedimento fazem com que a pesquisa se torne mais
concentrada através da maneira de explorar os fenômenos da pesquisa, com
isso, pretende-se fazer uso do método histórico, como forma de resgate da
informação em outro momento histórico, buscando entender a partir do
passado, quais os principais reflexos no presente.
Além disso, esse estudo se caracteriza como método monográfico ou
estudo de caso, já que se trata do estudo de uma localidade que irá ser
explorada, nesse caso, o jornal, onde “A investigação deve examinar o tema
escolhido, observando todos os fatores que o influenciaram e analisando-o em
todos os seus aspectos.” (MARCONI; LAKATOS, 2003, p. 108).
Com uso da documentação indireta, através da pesquisa bibliográfica
para levantamento dos principais pressupostos da biblioteconomia e ciência da
informação, será atrelada a isso, a pesquisa do contexto histórico e social.
Fazendo uso também, de todas essas características, esta pesquisa tem
caráter descritivo, pois busca contextualizar de tal forma a identificar, relatar e
descrever o objeto (RAUPP; BEUREN, 2006, p. 81).
A análise de dados recorre ao caráter qualitativo, que ocupa um espaço
“[...] entre as várias possibilidades de se estudar os fenômenos que envolvem
os seres humanos e suas intrincadas relações sociais, estabelecidas em
diversos ambientes.” (GODOY, 1995, p. 21), além de buscar coletar e analisar
39
dados a partir do fenômeno, dando um tratamento mais profundo a obtenção
de resultados da pesquisa.
A pesquisa qualitativa para os preceitos de Bardin (1977, p. 115) “É
válida, sobretudo, na elaboração das deduções específicas sobre um
acontecimento ou uma variável de inferência precisa, e não em inferências
gerais.”, assim, permite uma análise maleável das variáveis.
O cunho qualitativo oferece a possibilidade da pesquisa documental, onde
segundo Godoy (1995, p. 21), parte da análise de materiais que podem ser
diversos, mas “[...] que ainda não receberam um tratamento analítico, ou que
podem ser reexaminados, buscando-se novas e/ou interpretações
complementares [...]”
Dessa maneira, a pesquisa documental usando como fonte o jornal está
também para a representação da cidade estudada e do seu contexto histórico
“O mundo, como o conhecemos e o experienciamos, isto é, o mundo
representado e não o mundo em si mesmo, é constituído através de processos
de comunicação.” (BERGER; LUCKMANN, 1979 apud BAUER et al., 2002, p.
20).
A criação de um corpus documental significa a criação de um conjunto de
documentos que por meio de sua análise e delineado os pressupostos
pesquisados, nesse caso, utilizando-se de dados formais que “[...] reconstroem
as maneiras pelas quais a realidade social é representada por um grupo social.
Um jornal representa até certo ponto o mundo para um grupo de pessoas, caso
contrário elas não o comprariam.” (BAUER et al., 2002, p. 22).
O corpus criado é ainda, uma forma de investigação “[...] a construção de
um corpus, porém, garante a eficiência que se ganha na seleção de algum
material para caracterizar o todo”. (BAUER; AARTS, 2002, p. 40).
Dentro da organização do corpus Bauer diz sobre os textos impressos e
periódicos:
Textos impressos podem ser facilmente estratificados em uma tipologia hierárquica, por exemplo, jornais diários e revistas semanais, de direita e de esquerda dentro de uma orientação política, cifras de circulação alta ou baixas, distribuição nacional ou regional, populares e especializados, ou de acordo com a propriedade. (BAUER, 2002, p. 196).
40
Devido ao período pesquisado e o extenso corpus documental do Jornal,
será atribuído à pesquisa, a técnica de semana artificial. Com essa concepção
dentro do corpus e das publicações impressas e periódicas, é criada a “semana
artificial”, fazendo com que se tenha uma amostragem dessas publicações
regulares:
As datas do calendário são um referencial de amostragem confiável, de onde se pode extrair uma amostra estritamente aleatória. Datas aleatórias, contudo, podem incluir domingos, quando alguns jornais não são publicados, ou os jornais podem fazer publicações em um ciclo, como por exemplo, a página sobre ciência pode ser publicada às quartas-feiras. Em tais casos, então, a fim de evitar distorções na amostragem de notícias sobre ciência, seria necessário garantir uma distribuição eqüitativa de quartas-feiras na amostra. Uma semana tem sete dias, desse modo, escolhendo cada terceiro, quarto, sexto, oitavo ou nono, etc. dia, por um longo período, é criada uma amostra sem periodicidade. Para cada edição selecionada, todos os artigos relevantes são selecionados. (BAUER, 2002, p. 196).
Utilizando a semana artificial, dentro do recorte histórico da pesquisa,
pretende-se analisar 12 (doze) jornais em cada ano, Sempel (1952) apud
Bauer (2002, p. 197) “Mostrou que 12 edições, selecionadas aleatoriamente, de
um jornal diário, fornecem uma estimativa confiável do perfil de suas notícias
anuais.”. Isso faz com que seja escolhido 1 (um) em cada mês, fazendo com
que ao final sejam analisados 24 (vinte e quatro) jornais nos dois anos
escolhidos. Para escolha desses jornais, serão utilizadas as edições do
domingo, onde o jornal era distribuído normalmente com 12 (doze) páginas e
traziam um recorte semanal dos acontecimentos.
Para avaliação desse corpus documental, utiliza-se a análise de
conteúdo, que para Bardin (1977) se trata de uma técnica de investigação, que
de forma sistemática, entende o conteúdo e a condição de produção, das
manifestações de comunicação mais diversas. Faz ainda, uma proposta de
analise a partir de três pressupostos:
1- A pré-análise; 2- A exploração do material; 3- O tratamento dos resultados a inferência e a interpretação; (BARDIN, 1977, p. 95).
Essas três bases, permitem que ao verificar o corpus proposto, a análise
em um primeiro momento, tenha uma leitura flutuante, com observação dos
materiais, é como consequência, os outros passos, entendam o material e
decodificam para enquadrar dentro de uma classificação.
41
5 DISCUSSÃO E ANÁLISE DAS INFORMAÇÕES VINCULADAS NO
JORNAL A REPÚBLICA ENTRE 1941 A 1942
Com a pretensão de estudar a informação cotidiana na cidade de Natal,
por meio do jornal periódico A República, utilizamos como ferramenta
metodológica, a semana artificial, dividindo nosso corpus documental entre 12
jornais anuais, perfazendo o total de 24 jornais, sendo esses, mais
especificamente, do último domingo de cada mês.
A partir do corpus de 24 jornais, houve uma pré-análise do material,
sendo possível explorar como seria feito seu uso, com observação das
categorias de informação existentes nos períodos e em seguida a exploração
das informações vinculadas no material.
Dessa maneira, com a análise das informações vinculadas nesse período,
podemos inferir como houve uma clara mudança no modo de informar, visto
que o jornal era, no começo dos anos 40, a principal fonte de informação da
cidade, haja vista a comprovação disso, através dos estudos bibliográficos e da
análise das fontes, podemos constar como evidente certeza.
No primeiro semestre de 1941, percebemos que o Jornal,
prioritariamente, servia as informações oficias do Estado, trazendo informações
sobre economia e funcionalismo público. Dentro disso, traz, desde as
secretarias do município, até os ministérios, mapeando processos, demandas e
correspondências, e fazendo também, essa ponte com a economia, mostrando
tributos do estado, entrada e saída de produtos, além das movimentações
bancarias de todos os bancos do Estado, focando principalmente no Banco do
Brasil.
Figura 1 – Parte da Capa A República (1941)
Fonte: Jornal A República (1941)
42
O judiciário da época, também utiliza o jornal, como principal fonte de
informar sobre operações, julgamentos e esclarecendo todo o fluxo de
acontecimentos entre Natal e o interior do estado, mostrando todas as
demandas dos júris.
Esse primeiro semestre, mostra também, poucas informações decorrentes
do cotidiano da cidade, este é moldado tal qual o funcionalismo do que foi
citado. As poucas informações em formato de Matéria são especialmente
formuladas e copiadas de outros jornais, onde esses são ligados as principais
capitais, sendo primeiro, a capital federal Rio de Janeiro, logo depois São
Paulo e no Nordeste, Salvador.
As matérias que aparecem nesse primeiro momento mostram uma
transição que vinha ocorrendo no governo, com a implantação do Estado Novo,
as várias melhorias eram frisadas.
Pela análise bibliográfica, podemos levantar dados referentes ao
analfabetismo na cidade, que tinha um alto índice, que pelo próprio senso dos
anos de 1940 (COSTA, 1995 apud PEDREIRA, 2012), consta um alto número,
isso faz com que, o próprio jornal, traga traços de quem era seu leitor, para
quem ele era produzido e a que desejos atendia dentro da sociedade
natalense.
Como já analisado, A República, tem no seu lugar de fala, o Estado Novo
e dentro do Rio Grande do Norte, as oligarquias ligadas ao interventor e a
economia estadual, logo, já temos em mente quem o produz.
Com o alto nível de analfabetismo, julgamos que o público leitor do jornal
seja não apenas pessoas letradas, mas aqueles que tinham interesses
voltados ao que o jornal atendia principalmente pelos moldes de divulgar sobre
funcionalismo público, judiciário e economia.
Em matéria de outubro em expressão ao Club de Xadrez de Natal,
podemos analisar quase como um reflexo, quem eram as pessoas estimadas
na cidade, dignas de matérias e alusões a suas colocações sociais “(...)
43
crescido número de pessoas de expressão intelectual, notando-se médicos,
engenheiros, bacharéis, musicistas, bancários e comerciantes”.
Figura 2 – Matéria Club de Xadrez
Fonte: Jornal A República (1941)
Intelectuais e com notáveis nomes na sociedade, deixam, vez ou outra,
sua contribuição, como Aluízio Alves, que aparece no jornal, muitas vezes,
ligado a literatura, seja por divulgação de suas obras, também por ser destacar
na gerencia da coleção bibliografia Biblioteca do Rio Grande do Norte e pelas
resenhas literárias.
A partir de expressões como essa, que saiam da realidade de informar
apenas sobre o governo, suas medidas e pretensões, o jornal deixa em suas
entrelinhas, para quem produzia, é quais os reflexos dessa sociedade de
acordo com as informações que eram postas para seu consumo.
Possuía grande número de anúncios, vale ressaltar alguns tipos, um
desses é o anúncio médico, que constam sempre nas páginas, trazendo
sempre de forma enaltecida os nomes familiares, ligadas sempre as oligarquias
ou grandes famílias de prestigio social. Esses anúncios médicos, tinham em
sua forma, a persuasão para mostrar o que havia de melhor, principalmente em
44
formação desses médicos, muitos ostentando titulação dos principais centros
do país, como a capital e a escola de medicina da Bahia, além, dos aparelhos
que utilizavam, mostrando-se para tal temporalidade, como sendo de última
geração, como o bisturi elétrico.
Figura 3 – Anuncio Médico
Fonte: Jornal A República (1941)
O cotidiano da cidade, pode ser mapeado por outros parâmetros de
informação trazidos, exemplo disso, são os constantes anúncios dos cinemas,
sempre assíduos e sempre trazendo novas exibições, claramente muito mais
hollywoodiano, mas, sem deixar de exibir os sucessos do cinema europeu.
Havia então, de maneira forte, essa cultura de ir ao cinema, pelo menos
quatros desses, faziam anúncios constantes, como o Cine Rex, Cinema Royal,
Cinema Rival e S. Pedro.
Figura 4 – Anuncio dos Cinemas
Fonte: Jornal A República (1941)
45
Os anúncios também tinham papel de gênero muito bem definido, os
anúncios deliberadamente para homens e para mulheres, nisso, as mulheres
entravam na categoria de anúncios para aparelhos domésticos, remédios,
produtos de higiene pessoal, como sabonetes e talcos. Os homens tinham
anúncios principalmente para remédios para força, produtos de barbear e
carros.
Apesar de oficialmente, o Brasil ter assumido seu lugar na guerra, no
início de 1941, as mudanças substâncias vão ocorrendo aos poucos, tanto na
construção da cidade como uma fortificação militar, como no que era informado
a partir do jornal.
As primeiras mudanças começam a ser percebidas no segundo semestre
de 1941, que traz consigo as informações referentes à guerra, mesmo que
ainda, sejam feitas de maneira moderada e não acompanham um padrão de
paginação para serem divulgadas. As notícias de guerra, são trazidas, nesse
momento, como algo reproduzido e em tamanho reduzido, mostrando os
acontecimentos do Rio e de Washington, principais capitais que importavam
para os moldes de Natal.
Figura 5 – Noticiário da Guerra
Fonte: Jornal A República (1941)
Com isso, as informações do ano de 1941, foram categorizadas, seguindo
todas essas demandas que foram noticiadas, percebe-se que há um grande
46
silenciamento sobre o desenrolar político da guerra e de como afetava a cidade
nesse primeiro momento, assim, as informações eram breves e tinham um teor
absoluto sobre o que informavam.
Figura 6 – Mapa Conceitual Informações Cotidianas de 1941 do Jornal A República
Fonte: Dados da Pesquisa (2016)
47
No começo de 1942 já era visível como a forma de noticiar do jornal havia
mudado, adquirido nova forma e disposição da informação. Se antes, no ano
de 1941, o modelo de noticiar ficava substancialmente longe do cotidiano da
cidade, do país e do mundo, agora buscava aproximar os acontecimentos,
trazendo muito mais a cotidianidade e o social.
Figura 7 – Capa A República (1942)
Fonte: Jornal A República (1942)
Com a confirmação de rompimento do Brasil e das Américas com o eixo,
logo passa a informar todos os trâmites do governo junto às forças aliadas para
cortar todos os acordos diplomáticos, esse processo desencadeia as
informações referentes à guerra, pois a partir disso, a guerra passa a ser
noticiada mostrando o acontecimento em todas as localizadas que foram
ocupadas ou afetadas.
Figura 8 – Matéria sobre rompimento com o Eixo
Fonte: Jornal A República (1942)
48
Para além de noticiar sobre o funcionalismo público, como era muito
comum do ano anterior, passou a mostrar uma cidade em clima de
desenvolvimento, que estava evoluindo tal quais as movimentações políticas
que o Brasil desencadeava com o resto das Américas, principalmente com os
Estados Unidos, que nesse momento, trava fortes alianças.
Figura 9 – Aliança com os Estados Unidos
Fonte: Jornal A República (1942)
Figura 10 – Melhorias e desenvolvimento na Cidade
Fonte: Jornal A República (1942)
49
Em consequência disso, vê-se, que o modo de informar tem várias
mudanças, como inclusão de várias matérias, a importância de noticiar o
cultural e social, para além do lado econômico e administrativo da cidade e do
Estado. Assim, o panorama da guerra passa a ser explorado, dando vida à
capa do jornal e a seção intitulada “Noticiário da Guerra”, como importante
expoente dos principais acontecimentos da guerra pelo mundo.
Figura 11 – Noticiário da Guerra
Fonte: Jornal A República (1942)
50
Com o social que passa a tomar conta das páginas jornalísticas, cria-se
também a coluna “Sociais”, que se distingue das outras por seu caráter
extremamente social nas informações apresentadas, trazendo um aspecto de
crônicas e memória da cidade, além, de localizar socialmente os habitantes da
cidade, trazendo a lembrança de quem faz aniversário a certa data, quem vai
ou está viajando, núpcias, primeira comunhão.
Figura 12 – Coluna Sociais
Fonte: Jornal A República (1942)
Interessante notar que ao longo do ano de 1942 houve variações na
formatação e na nomeação dessa coluna, até mesmo as informações
51
apresentadas nela, foram ampliadas, mas continua seguindo esse sentido de
trazer os aspectos de sociabilidade da cidade. Dessa maneira, se torna
ampliada e passa a se chamar “Na Sociedade e no Lar”, trazendo para além do
social, com todos os aniversários, batizados e casamentos, a subdivisão de
Arte Culinária, sempre com uma nova receita, mostrando-se mais uma forma
de fonte de informação social e do cotidiano.
Figura 13 – Na Sociedade e no lar
Fonte: Jornal A República (1942)
As questões oficiais do governo, não deixavam de ser retratadas, em
detrimento disso, havia a seção “Notas do Palácio”, informando os principais
acontecimentos do palácio do governo e do interventor, referente às suas
viagens e negociações. Além disso, os telegramas recebidos pelo interventor
eram em parte divulgados em pequenas notas, vindo das mais distintas
localidades do país. No segundo semestre de 42, a seção passa a se chamar
“No Palácio do Governo”, mas não muda o seu foco sobre o que informava
52
Figura 14 – Notas de Palácio
Fonte: Jornal A República (1942)
Figura 15 – No Palácio do Governo
Fonte: Jornal A República (1942)
Outra seção de coluna dedicada ao governo, era nomeada de “Notas
Avulsas”, mas que de avulsas, só traziam informes de ações do governo, em
âmbito local e nacional. Tudo que se relacionava a economia, questões que
passavam pelo governo e por essa organização social que se dava em torno,
era noticiada como pequena nota.
53
Figura 16 – Notas Avulsas
Fonte: Jornal A República (1942)
Diferença visual das informações vinculadas, surge em 1942 com o uso
de fotografias junto às matérias, que traziam imagens essencialmente na capa
ou em matérias internas que tivessem uma maior importância, ou seja,
especialmente matérias com ligação ao governo.
54
Figura 17 – Fotografia em Matéria
Fonte: Jornal A República (1942)
As seções passam a incluir para além do social, aspectos culturais,
trazendo as seções “Registro Literário”, outra não nomeada, mas que vincula
poesias e “Literatura e Filosofia”. Todas têm um cunho voltado para a literatura,
porém, Registro Literário, busca analisar obras recém-lançadas pelo Brasil,
especialmente, literatura brasileira. Literatura e Filosofia tem o foco especial em
uma obra e um autor, discutindo a importância da sua obra e como é recebida
na sociedade.
55
Figura 18 – Registro Literário
Fonte: Jornal A República (1942)
Figura 19 – Poema
Fonte: Jornal A República (1942)
56
Figura 20 – Filosofia e Literatura
Fonte: Jornal A República (1942)
Junto dessas interessantes seções de cunho cultural, havia também a
“Nem todos sabem”, que busca trazer informações básicas e sutis, por meio de
pequenos trechos, colocando em voga muito mais curiosidades históricas e
modernização do mundo.
Figura 21 – Nem todos sabem
Fonte: Jornal A República (1942)
57
Ainda no campo das informações de cunho cultural, no início de 1942, a
seção de “Informações Úteis”, aparece como campo para informar sobre
horário de ônibus para viagens estaduais e interestaduais, horário de trens,
navios que chegam ao porto, telefones de urgência, farmácias de plantão e até
mesmo, fechamento de malas aéreas.
Figura 21 – Informações úteis
Fonte: Jornal A República (1942)
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Essa seção, passa a ter modificações ao longo do ano, sendo reduzida na
maioria dos casos a informações sobre farmácias de plantão, ônibus e
fechamento de malas aéreas.
Figura 22 – Informações Úteis, Cinema, Teatro & Rádio
Fonte: Jornal A República (1942)
. Com isso, as informações sobre Cinema, Teatro e Rádio, ficam
separadas, mas, logo em seguida, ganham forma com a seção Artes e
Diversões, canalizando as informações desses três meios de cultura, através
de uma linguagem mais especifica, vinculando os três a diversão que havia na
cidade.
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Figura 23 – Arte e Diversões
Fonte: Jornal A República (1942)
Com isso, as informações dessa seção passam a ter maior detalhamento,
dando ênfase especial para programação do rádio, que era vista muito mais
como diversão e entretenimento, do que como fonte de informação.
Ao passo que a guerra se intensifica para o Brasil, o jornal começa a
anunciar a importância dos reservistas, além das convocações feitas, com as
“Noticias Militares”.
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Figura 24 – Noticias Militares
Fonte: Jornal A República (1942)
Assim, as informações vinculadas no ano de 1942, sofrem acentuadas
mudanças em comparação com o ano de 1941, percebemos que
principalmente vinculado às escolhas do governo Vargas, o processo de
noticiar se modifica em muito, pois a partir do momento que sua posição contra
o Eixo fica clara, as notícias sobre a guerra tomam conta do jornal.
A propaganda do governo, passa a ser feita por meio das escolhas frente
à guerra, além disso, a cidade se torna mais noticiada, o cotidiano se torna
mais aparente, as colunas sociais se tornam peça chave de demostrar com as
pessoas viviam, o que reflete suas preferências sociais, que tipo de produtos
consumiam.
O Rádio, Cinema e Teatro, são colocados socialmente, como peças de
entretenimento, onde se posiciona também as colunas sobre literatura, com
todos os aspectos das discursões filosóficas. O jornal por meio das suas
publicações, deixa claro em como se dividia sua forma de noticiar, a maioria
dos espaços são destinados aos letrados, com mais prestigio social, a quem
interessava tudo aquilo que podiam consumir, aos menos abastados, restam as
seções de anúncios, que traziam informações sobre os sindicatos e chamadas
públicas do governo.
61
Figura 25 – Mapa Conceitual Informações Cotidianas de 1942 do Jornal A
República
Fonte: Jornal A República (1942)
62
Podemos constar a partir das colocações de Smith Junior (1992), que a
partir da Terceira Conferência de Ministros Estrangeiros, onde Vargas se
coloca frente aos Aliados, tornando essa medida, ponto decisivo de mudanças
nas informações vinculadas na cidade.
A guerra se torna alvo principal de noticiar, tudo estava ligado à forma
com a qual ela estava acontecendo, seus enfoques tímidos em 1941 se tornam
em 1942 parte essencial e principal das informações diárias.
A partir dessa decisão, as informações cotidianas vão mudando aos
poucos, o cotidiano passa a ter outra dimensão no jornal, as colunas se tornam
alvo principal de disseminação sobre como a cidade consumia produtos,
serviços e cultura, além dos costumes e comportamento, sendo essa, a
principal mudança que se contrapõe a forma de noticiar de 1941, que tinha
estruturas mais rígidas, tratava muito mais do estado, economia e governo.
Podemos traçar como principais categorias de informação: Matérias,
Classificados, Anúncios, Funcionalismo Público, Economia e Desportos, para o
ano de 1941, para 1942, Matérias, Classificados, Anúncios, Colunas e
Desportos. Seguindo a estrutura nominal que estavam na forma de noticiar dos
jornais da época, as modificações de estrutura no A República são feitas
também, a partir do que já foi explicitado sobre a estruturação do governo.
Com isso, se torna perceptível o processo de continuidade de muitas
informações disseminadas, como as de cunho governamental, além de muitas
rupturas na forma de noticiar essas mesmas informações, que no intervalo de
um ano para o outro, se modificam até na sua forma de apresentação. Assim, o
jornal passa por um processo de ruptura e continuidade visível, entre 1941 e
1942, sendo um amplo reflexo do cotidiano de Natal.
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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir da análise e identificação das informações do jornal A República,
podemos constatar que tipo de informação circulava em Natal no período de
1941 a 1942, identificando como com o contexto político do Estado Novo, as
informações eram susceptíveis a mudanças, tanto pelo silenciamento como
pela censura.
Por meio da metodologia utilizada, foi possível traçar de forma indutiva, a
maneira a qual a estrutura das informações no jornal, levam a partículas
menores de informações traçadas. O uso da semana artificial, fez com que a
criação do corpus documental, fosse de extrema relevância, levando de
maneira precisa a forma de verificar por meio da análise de conteúdo.
Percebemos que em 1941, há muitos silêncios relacionados à vida social
da cidade e dos encaminhamentos da guerra, o foco principal foi tomado pela
estrutura do funcionalismo público. Já em 1942, depois de tomado o espaço
em que o Brasil estava na guerra, o fluxo de informação se torna outro, a vida
social tem mais espaço, que faz contraponto com todos os avanços da guerra,
além de tornar visível a modernização da cidade.
Com isso, podemos considerar que no começo dos anos 40, na cidade de
Natal, uma das principais fontes de informação da época, se modifica de
acordo com os interesses traçados pelo governo, mas que também, os
acontecimentos cotidianos, dão vida ao padrão de como se vivia naquele
momento, refletindo diretamente, na maneira que se informavam e para o que
se mantinham informados.
Manter-se informado por meio do jornal estava dentro de um padrão
social, podemos constar que o público desse, era especifico, mesmo que o
jornal esteja como um aparelho de informação das massas, esse tem discursos
que são traçados dentro dos interesses dos seus leitores.
O discurso mantido pelo A República, interessa as oligarquias, famílias
de prestigio e intelectuais da sociedade natalense, para esses, que em muito
apoiavam o Estado Novo, o jornal se fazia veículo de importância. Para
aqueles que estavam à margem, o discurso do jornal, servia como propaganda
política de um governo ideal, cercado de avanços e de apoio à guerra.
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Os mapas conceituais, deram contar de tornar visível como se estrutura a
informação, não se tratando de uma hierarquia, mas, de um fluxo de como no
geral, essa informação segue, especificando o seu conteúdo dentro de cada
partícula das categorizações. Essas categorias, não são especificas e iguais
para os anos escolhidos, como foi discorrido, ocorrem modificações visíveis na
maneira de informar, em detrimento das posições políticas do governo, isso faz
com que até mesmo o foco entre matérias e colunas sociais seja modificado.
Assim, as considerações feitas nessa pesquisa, mostram a relevância de
pesquisar a informação nesse período histórico, trazendo as modificações
ocorridas, resgatado por meio desses aportes de memória, a dinâmica de se
informar em períodos de silenciamento e censura, em uma sociedade cercada
de estreitamentos sociais.
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