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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO CURSO DE GRADUAÇÃO EM BIBLIOTECONOMIA FERNANDA CARLA DA SILVA COSTA UMA CIDADE ENTRE FLUXOS: NATAL E AS INFORMAÇÕES COTIDIANAS NO JORNAL “A REPÚBLICA” (1941-1942) NATAL/RN 2016.2

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO CURSO DE GRADUAÇÃO EM BIBLIOTECONOMIA

FERNANDA CARLA DA SILVA COSTA

UMA CIDADE ENTRE FLUXOS: NATAL E AS INFORMAÇÕES COTIDIANAS NO

JORNAL “A REPÚBLICA” (1941-1942)

NATAL/RN

2016.2

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FERNANDA CARLA DA SILVA COSTA

UMA CIDADE ENTRE FLUXOS: NATAL E AS INFORMAÇÕES COTIDIANAS

NO JORNAL “A REPÚBLICA” (1941-1942)

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Biblioteconomia, do Departamento de Ciência da Informação, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito para obtenção do título de Bacharel em Biblioteconomia.

Orientadora: Profa. Dra. Luciana

Moreira Carvalho

NATAL/RN

2016.2

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Catalogação da Publicação na Fonte. UFRN / Biblioteca Setorial do CCSA

Costa, Fernanda Carla da Silva.

Uma cidade entre fluxos: natal e as informações cotidianas no Jornal “A República” (1941-1942) / Fernanda Carla da Silva Costa. – Natal, RN, 2016.

67f. : il.

Orientador: Profa. Dra. Luciana Moreira Carvalho.

Monografia (Graduação em Biblioteconomia) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências Sociais Aplicadas. Departamento de Ciência da Informação.

1. Informação Cotidiana – Monografia. 2. Informação – Jornal - Monografia. 3. Natal – Segunda Guerra - Monografia. 4. Jornal A República – Natal - Monografia. I. Carvalho, Luciana Moreira. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título.

RN/BS/CCSA CDU 316.776.32

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FERNANDA CARLA DA SILVA COSTA

UMA CIDADE ENTRE FLUXOS: NATAL E AS INFORMAÇÕES COTIDIANAS

NO JORNAL “A REPÚBLICA” (1941-1942)

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Biblioteconomia, do Departamento de Ciência da Informação, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito para obtenção do título de Bacharel em Biblioteconomia.

Apresentado e aprovado em: 08/12/2016

BANCA EXAMINADORA:

Professora Dra. Luciana Moreira Carvalho – Orientadora Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Professora M.ª Antônia de Freitas Neta Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Professor. Me. Diego José Fernandes Freire Universidade Federal do Rio Grande do Norte

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“Ó doce, ó longa, ó inexprimível

melancolia dos jornais velhos!

Conhece-se um homem diante de um

deles. Pessoa que não sentir alguma

coisa ao ler folhas de meio século, bem

pode crer que não terá nunca uma das

mais profundas sensações da vida, -

igual ou quase igual à que dá a vista

das ruínas de uma civilização. Não é a

saudade piegas, mas a recomposição

do extinto, a revivescência do

passado.”

(Machado de Assis)

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RESUMO

Objetiva retratar a informação cotidiana na cidade de Natal através da análise e

identificação das informações que circulavam no jornal A República entre os

anos de 1941 e 1942. Pretende-se categorizar essas informações, construir um

mapa conceitual através da tipologia categorizada e contribuir para o estudo da

informação cotidiana em Natal no período da Segunda Guerra. A partir do

período em consideração, diversas mudanças e costumes faziam parte da

sociedade nesse momento da história, que com diversos pressupostos sociais,

políticos e culturais, levam a informação cotidiana, por meio da mídia na cidade

a passar por um processo de mudança, que vem desde a implantação do

Estado Novo. Temos a hipótese que há um aumento de disseminação de

informações e novos tipos de informação no jornal A República, mesmo que

esse passasse por um processo de silenciamento devido à censura do

governo. Como metodologia, utiliza o método de abordagem indutivo, métodos

de procedimento histórico, buscando localizar historicamente essa análise de

informação cotidiana, com método monográfico, pesquisa documental indireta

e através da base bibliográfica. A pesquisa qualitativa, para análise dos

resultados da pesquisa documental, com criação do corpus dos jornais e uso

da metodologia de semana artificial, como parte de criar amostragem de

documentos periódicos, fazendo por fim, analise de conteúdo. Os resultados

obtidos foram traçados por meio de mapas conceituais, mostrando as

modificações na maneira de informar em detrimento da estrutura do Estado

Novo. Podemos considerar finalmente, que a maneira de informar, tem todos

os seus moldes dados pelo governo, suas mudanças e alterações são reflexos

do silenciamento e censura a qual o jornal é submetido.

Palavra-Chave: Informação Cotidiana. Informação – Jornal. Natal – Segunda

Guerra. Jornal A República – Natal.

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ABSTRACT

It aims to portray the daily information in the city of Natal through the analysis

and identification of the information that circulated in the newspaper A

República between the years of 1941 and 1942. It intends to categorize this

information, to construct a conceptual map through the categorized typology

and to contribute to the study of daily information in Natal during the Second

World War. From the period under consideration, various changes and customs

were part of society at this time in history, which with diverse social, political and

cultural presuppositions, lead the daily information, through the media in the city

to undergo a process of change, which comes from the implantation of the

Estado Novo. We have the hypothesis that there is an increase in the

dissemination of information and new types of information in the newspaper,

even if it underwent a process of silencing due to government censorship. As

methodology, it uses the method of inductive approach, methods of historical

procedure, seeking to locate historically this analysis of daily information, with

monographic method, indirect documentary research and through the

bibliographic basis. The qualitative research, to analyze the results of the

documentary research, with the creation of the corpus of the newspapers and

the use of the artificial week methodology, as part of creating periodic document

sampling, making, finally, content analysis. The results obtained were traced

through conceptual maps, showing the modifications in the way of informing to

the detriment of the New State structure. We can finally consider that the way of

informing has all its molds given by the government, its changes and alter are

reflections of the silencing and censorship to which the newspaper is submitted.

Keywords: Information - Journal. Natal - Second War. A República – Natal

Newspaper.

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LISTA DE ILUSTRAÇÃO

Figura 1 – Parte da Capa A República (1941) ..........................................................41

Figura 2 – Matéria Club de Xadrez............................................................................42

Figura 3 – Anuncio Médico........................................................................................44

Figura 4 – Anuncio dos Cinemas...............................................................................44

Figura 5 – Noticiário da Guerra..................................................................................45

Figura 6 – Mapa Conceitual Informações Cotidianas de 1941 do Jornal A

República...................................................................................................................46

Figura 7 – Capa A República (1942) .........................................................................47

Figura 8 – Matéria sobre rompimento com o Eixo.....................................................47

Figura 9 – Aliança com os Estados Unidos...............................................................48

Figura 10 – Melhorias e desenvolvimento na Cidade................................................48

Figura 11 – Noticiário da Guerra................................................................................49

Figura 12 – Coluna Sociais........................................................................................50

Figura 13 – Na Sociedade e no lar.............................................................................51

Figura 14 – Notas de Palácio.....................................................................................52

Figura 15 – No Palácio do Governo...........................................................................52

Figura 16 – Notas Avulsas.........................................................................................53

Figura 17 – Fotografia em Matéria.............................................................................54

Figura 18 – Registro Literário.....................................................................................55

Figura 19 – Poema.....................................................................................................55

Figura 20 – Filosofia e Literatura................................................................................56

Figura 21 – Nem todos sabem...................................................................................56

Figura 21 – Informações úteis....................................................................................57

Figura 22 – Informações Úteis, Cinema, Teatro & Rádio...........................................58

Figura 23 – Arte e Diversões......................................................................................59

Figura 24 – Noticias Militares.....................................................................................60

Figura 25 – Mapa Conceitual Informações Cotidianas de 1942 do Jornal A

República....................................................................................................................61

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO..............................................................................................10

2 COTIDIANO, INFORMAÇÃO E MEMÓRIA.................................................15

2.1 MEMÓRIA E RELAÇÃO COM A INFORMAÇÃO......................................18

2.2 INFORMAÇÃO E SUA VERTENTE NO COTIDIANO...............................21

3 NATAL E O CONTEXTO DOS ANOS 40: INFORMAÇÃO COTIDIANA NO

JORNAL A REPÚBLICA...................................................................................26

3.1 O ESTADO NOVO E O CONTEXTO DA INFORMAÇÃO NO

COTIDIANO…...................................................................................................27

3.2 PANORAMA HISTÓRICO DA CIDADE DO NATAL: “O TRAMPOLIM PARA

A VITÓRIA”........................................................................................................31

3.3 O JORNAL A REPÚBLICA E AS INFORMAÇÕES COTIDIANAS.............35

4 METODOLOGIA...........................................................................................38

5 DISCUSSÃO E ANÁLISE DAS INFORMAÇÕES VINCULADAS NO

JORNAL A REPÚBLICA ENTRE 1941 A

1942...................................................................................................................41

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS.........................................................................63

REFERÊNCIAS...........................................................................................65

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1 INTRODUÇÃO

No ano de 1946, pouco tempo depois do fim da segunda grande guerra, a

instabilidade dos países diretamente afetados, ainda estava debilitada, e tudo

tentava se reorganizar. De forma lenta, o mundo tentava entender a nova

ordem, depois de tantos anos de conflito, que dividia famílias, mudavam seus

espaços geográficos, mudavam a atuação da mídia, modificava as tecnologias,

principalmente aquelas voltadas à informação.

Enquanto esse conflito, com início no final dos anos de 1930 e começo

dos anos 1940, atingia toda a ordem social, política e econômica do mundo.

Uma cidade, capital de um estado do Nordeste, não esperava o quanto sua

ordem social poderia ser alterada.

No ano de 1941, o Brasil entra oficialmente na Segunda Guerra Mundial,

ficando ao lado dos aliados (Inglaterra, França, Estados Unidos e União

Soviética). Mesmo dado ao momento político do Brasil, de governo Vargas e a

Ditatura do Estado Novo, que entre muitas questões, simpatizava muito mais

com a ideologia do Eixo (Alemanha, Itália e Japão), o Brasil se torna um dos

aliados.

Dessa maneira, Natal se torna peça nessa articulação política de guerra

ao qual o Brasil entra, pois, a principal base de apoio na América é instalada na

cidade. Uma cidade que até então, contava com um crescimento ainda tardio,

passando por um processo de modernização e criação dos seus limites físicos

e urbanos. No início da década, começa a passar por um crescimento

populacional e mudanças na economia interna.

Podemos então, pensar os meios de comunicação da época, como fonte

principal de informação do cotidiano da cidade, onde de maneira ainda

insipiente, passa a possuir tardiamente rádio, que na maioria das outras

localidades do Brasil, já passava a ser amplamente difundido. Além disso, a

cidade contava com os jornais A República, O Diário e A Ordem, que foram

responsáveis pela ampla divulgação das notícias nos anos que se sucederam a

guerra.

Usando os aportes teóricos da memória, para não apenas reviver, mas

repensar a memória de determinada época, esta pesquisa busca analisar e

identificar quais informações circulavam na cidade de Natal dos anos 1941 a

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1942, levando em consideração o momento histórico vivido, fazendo uma ponte

direta pela análise do jornal periódico A República, administrado pelo

Departamento de Impressa e Propaganda (DIP), órgão do governo.

Tendo como perspectiva essa ligação com o governo, o jornal passava

por um processo de silenciamento do que e de como eram divulgadas as

informações. Dessa forma, essa pesquisa tem como problemática principal

conhecer quais os tipos de informações presentes no jornal A República

durante o período de 1941 a 1942? E a partir dessa problemática, identificar

quais as tipologias informacionais noticiadas pelo jornal, visto como o principal

na cidade, tanto pela sua tradição de noticiar, como por sua ligação ao

governo.

Problematizar a cultura informacional nesse momento, faz com que esse

resgate sirva para entender tanto a cultura informacional da cidade, em

determinado momento da sua história, como também a forma pela qual as

informações nesse momento chegaram a influenciar tanto o estágio do tempo

presente em que circulavam, como do tempo posterior, tendo em vista a forma

que vai se estabelecendo a cultura informacional do local.

Ao utilizar a memória, com seu ato de lembrar, Bosi (1994, p. 53) diz que

“A lembrança é a sobrevivência do passado”, lembrar como ato principal da

memória, ato que faz com que o passado não seja apenas revivido, mas

reconstruído e repensado, repensar aquilo que foi vivido de uma forma e que

agora o coletivo que revive, traz consigo uma nova carga indenitária, fazendo

com que o lembrar-se torne um ato de reflexão.

A memória coletiva cunhada por Halbwachs explora nesse sentido, como

a memória é perspectiva vivida por cada grupo, segundo Duvignaud (1990, p.

14) no prefácio do livro Memória Coletiva “(...) nos períodos de calma ou de

rigidez momentânea das “estruturas sociais”, a lembrança coletiva tem menos

importância do que dentro dos períodos de tensão ou de crise (...)”.

O ato de rememorar por meio do cotidiano retratado no jornal e das

informações que circulavam, com toda essa carga de fazer parte de uma

memória coletiva de um momento de tensão social, demostrando o

comportamento da informação inserida nesse âmbito.

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Nesse interim, essa análise tem como objetivo compreender a informação

na cidade, analisando uma das principais fontes de informação que a capital

dispunha. Portanto, tem como objetivo geral, analisar e identificar a partir do

jornal A República que tipo de informação circulava na cidade de Natal no

período de 1941 a 1942;

Como objetivos específicos, para articulação da pesquisa:

Categorizar essas informações;

Construir um mapa conceitual a partir da tipologia categorizada;

Contribuir para o estudo da informação cotidiana em Natal no período da

Segunda Guerra.

Como base para justificar o cunho dessa pesquisa, se inserimos no

socializar do homem que é agente de um cotidiano, que faz com que através

de práticas crie ou se insira dentro de uma cultura, tendo sua identidade

moldada a partir daquilo que vivencia em seu cotidiano.

Através do cotidiano e para ele, os jornais estão como ferramentas de

informação que crescem e se desenvolvem com o objetivo de noticiar o

cotidiano, de maneira que essas narrativas deem conta de informar o que

acontece no meio coletivo.

Pensando na cidade de Natal, entre os anos de 1941 a 1942 levam-se em

consideração diversas mudanças e costumes que faziam parte da sociedade

nesse momento da história. Com a entrada oficial do Brasil na guerra em

1942, após todos os acordos travados na então capital, o Rio de Janeiro, o país

se coloca em total oposição ao eixo, fazendo com que essa tomada de partido

mudasse até mesmo a interpretação da mídia sobre o conflito que acontecia

mundialmente.

A atuação do Estado Novo, com o poder delegado ao Departamento de

Impressa (DIP), faz com que o processo de comunicação, tanto em meios

oficiosos ligados ao governo, como em outros meios não ligados, passe pelo

processo de censura, fazendo com que a informação cotidiana fosse moldada

tal qual o desejo do governo.

Natal recebia também o contingente de guerra, pois pela sua localização

geográfica, fazia com que a comunicação entre os continentes se tornasse

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mais rápida, como já era ponto de embarques e partidas há alguns anos antes

da guerra, já era comprovada a conveniência de estalar uma base nessa

localidade.

Pensando nesses pressupostos sociais, políticos e culturais, a informação

cotidiana levada por meio da mídia na cidade de Natal, passa por todo o

processo de mudança desde a implantação do Estado Novo, em 1937, até as

mudanças culturais que a cidade passa a sofrer visto a instalação da Base

Norte Americana, que faz com que um contingente de americanos venha servir

na cidade, ou tenham a mesma como rota de passagem.

Considerando todos esses aspectos, o estudo do jornal A República,

frente ao panorama do recorte histórico feito pela pesquisa, tem sua relevância

justificada por trazer a historicidade da informação em outro espaço tempo,

fazendo com que o estudo da informação no decorrer da história traga consigo

o entendimento tanto da informação naquele momento, como o reflexo dessa,

frente à sociedade natalense e brasileira.

Entender a informação no cotidiano por meio do jornal, se caracteriza

como entender a forma de pensamento coletivo que engrenava a informação

nos meios de comunicação, ou seja, por meio de rastros desse passado,

podemos moldar como se caracterizava no período, a circulação da informação

na cidade.

A intenção de se estudar a História, levando em consideração a memória

coletiva como meio de estudo, faz com que se solidifique o entendimento sobre

a identidade local, a cultura e as influências no presente.

Nesse aspecto, pelo olhar da Biblioteconomia que forma o profissional

apto a organizar e disseminar informação, levando em consideração ainda o

caráter interdisciplinar da formação, historicizar a informação se mostra

importante para a solidificação do fator informação e sociedade, que para além

da Biblioteconomia, abrange a Ciência da Informação, que com todos os seus

pressupostos teóricos estuda, a informação na sociedade dentro das mais

variadas vertentes e tempos, fazendo com que se entenda a importância da

informação perante o social.

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Com isso, a pesquisa está para além da própria Biblioteconomia e Ciência

da Informação, pois, faz com que a História e a Memória dos anos em que o

Brasil e Natal participaram da Segunda Guerra Mundial, sejam exploradas,

trazendo um olhar das informações cotidianas nesse contexto, analisando-as

de tal forma que se explore o coletivo e a memória em torno do acontecimento.

Levanta-se ainda, como hipótese, que há um aumento de disseminação

de informações e novos tipos de informação no jornal A República, mesmo que

esse passasse por um processo de silenciamento devidos a censura do

governo.

Com isso, temos no capítulo dois, intitulado “Cotidiano, informação e

memória”, reflexões e apontamentos sobre a ligação prática e técnica entre

esses três conceitos, levando em consideração a Ciência da Informação e

Biblioteconomia como norte que precisa ser ligado e entendido dentro da

informação cotidiana.

Dentro do recorte histórico proposto, o capítulo três, coloca Natal e o

Brasil, como território de grandes modificações, com as escolhas do governo,

demostrando como a partir dessas, o jornal sofre influências na maneira como

noticiar.

A partir da discussão e análise do Jornal A República (1941-1942),

utilizando o método de semana artificial, onde escolhemos o último domingo de

cada mês, constatamos as mudanças presentes na condição de informar, além

de caracterizar por meio de mapas conceituais como se dá todo esse esquema

de informar.

Podemos considerar finalmente, que a estrutura do jornal, as notícias e

público, são todos moldados pelo governo do Estado Novo, isso faz com que

sejam explicitas as modificações de maneira de informar, tudo em detrimento

do silenciamento e da censura ocorrida. Fazendo também, a ponte com a

memória social, âncora que deu aporte a pesquisa em detrimento desse

momento histórico e dos seus acontecimentos.

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2 COTIDIANO, INFORMAÇÃO E MEMÓRIA

O cotidiano se constitui em um conjunto de práticas, que caracteriza o dia

a dia dos indivíduos, fazendo com que as práticas cotidianas reflitam

diretamente na constituição da informação do cotidiano e na memória.

O cotidiano tem em sua historicidade, segundo Henry Lefebvre, a partir da

temporalidade moderna, como marco do seu surgimento, “Nossa vida cotidiana

se caracteriza pela nostalgia do estilo, por sua ausência e pela procura

obstinada que dele empreendemos.” (LEFEBVRE, 1991, p. 36), dessa maneira,

o cotidiano caracteriza a sociedade em que vivemos, a partir do marco histórico

moderno.

Não existe escolha entre modernidade e cotidianidade. O conceito de cotidiano se modifica, mas essa modificação o confirma e reforça. [...] O Cotidiano, no mundo moderno, deixou de ser “sujeito” (rico de subjetividade possível) para se tornar “objeto” (objeto de organização social). Enquanto objeto da reflexão, longe de desaparecer (...) ele, ao contrário, se reafirmou e se consolidou. (LEFEBVRE, 1991, p. 68).

Entretanto, Agnes Heller (1992) em sua obra O Cotidiano e a História,

caracteriza que a partir da hierarquia e heterogeneidade, se forma o cotidiano,

mesmo que a forma hierárquica sofra modificações em função das estruturas

econômico-sociais. Dispõe que desde a pré-história, o cotidiano já existe como

categoria dos papéis sociais, exemplo disso, coloca os servos, na sua

categoria social, que tinham seu cotidiano envolto na organização do trabalho.

Lefebvre (1991) ao iniciar sua obra intitulada A Vida Cotidiana no Mundo

Moderno, faz uma análise da obra literária Ulisses de James Joyce, como

aspecto de uma construção, capaz de dar o tom do significado de cotidiano,

explicitando o que podemos colocar como definição do termo cotidiano.

O cotidiano se compõe de ciclos e entra em ciclos mais largos. Os começos são recomeços e renascimentos. Esse grande rio, o vir-a-ser hereclitiano, nos reserva surpresas. Não há nada linear. As correspondências desvendadas pelos símbolos e pelas palavras (suas reaparições) têm um alcance ontológico. Eles se fundem no Ser. As horas, os dias, os meses, os anos, os períodos e os séculos se implicam. Repetição, evocação, ressurreição são categorias da mágica, do imaginário e também do real dissimulado sob a aparência. (LEFEBVRE, 1991, p. 11).

Heller (1992) traz em sua significação de cotidiano, um aspecto do

indivíduo constituído de individualidade, que assim, forma seus pressupostos

sociais:

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A vida cotidiana é a vida de todo homem. Todos a vivem, sem nenhuma exceção, qualquer que seja seu posto na divisão do trabalho intelectual e físico. Ninguém consegue identificar-se com sua atividade humano-genérica a ponto de poder desligar-se inteiramente da cotidianidade. E, ao contrário, não há nenhum homem, por mais “insubstancial” que seja, que viva tão-somente na cotidianidade, embora essa o absorva preponderantemente. (HELLER, 1992, p. 17).

Os costumes sociais são produtos do cotidiano, que tem como papel

inserir o homem dentro da moral social, assim, o cotidiano é inerente ao

homem, que participa dessa constituição tanto de forma individual como em

grupo, dessa maneira, coloca Heller (1992, p. 18) que “O homem nasce já

inserido em sua cotidianidade. O amadurecimento do homem significa, em

qualquer sociedade, que o indivíduo adquira todas as habilidades

imprescindíveis para a vida cotidiana da sociedade (camada social) em

questão.”

A essência do cotidiano está na substância do social, a partir da análise

do meio social, percebemos o realce do comum, do que antes era visto apenas

pela ótica do habitual. Com isso, “O território do cotidiano define-se assim por

um lugar onde age o indivíduo tornando humana sua vida. Dialoga com o

cotidiano com o estranho e o diferente, mas é somente diante destes que se

reconhece.” (ROCHA JUNIOR, 2007, p. 2).

Aspectos como cultura, identidade, representações e alteridade, são

elementos que se concretizam no cotidiano, rever esses elementos pelo

emaranhado da teia, que constitui o social, dá significado as práticas sociais

que podem ser vistas como algo meramente repetitivo, mas, que no seu cerne,

é envolto de representatividade. Dessa forma, “O homem da cotidianidade é

atuante e fruidor, ativo e receptivo, mas não tem nem tempo nem possibilidade

de se absorver inteiramente em nenhum desses aspectos; por isso, não pode

aguça-los em toda sua intensidade.” (HELLER, 1992, p. 17).

As práticas cotidianas dentro do seu consumo, adquirem significados que

são cabíveis a partir das identidades, fazendo com que a visão das práticas

cotidianas seja vista a partir do ponto de desordem, Souza Filho (200?, p. 2) diz

que “[...] a aparente desordem das palavras e dos atos humanos compõe

cenários com profundidade e inteligíveis a observadores interessados.”, o que

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faz com que haja uma interdependência de fatores para análise das práticas

cotidianas.

O cotidiano serve de base para construção de outros substratos da

sociedade, como a memória, pois, a partir dessas partes orgânicas, o cotidiano

em grande medida, tem uma via de mão dupla com a memória, segundo Heller

(1992, p. 18) “São partes orgânicas da vida cotidiana: a organização do

trabalho e da vida privada, os lazeres e o descanso, a atividade social

sistematizada, o intercâmbio e a purificação.”, percebemos, então, bases que

são comuns à memória social, como parte orgânica da vida social, essa

organização tem o poder de causar impressões para rememorações.

Quanto à organização do cotidiano, Lefebvre (1991, p. 66) vincula as

raízes ao planejamento da produção, aos pormenores das estruturas de

escritórios, organismos públicos e das instituições anexas, “O que é que essas

organizações organizam? Nada mais que o Cotidiano.”. Dessa maneira, vincula

a criação de uma memória social voltada às estruturas das instituições que

regem a sociedade.

Temos perspectiva do cotidiano tanto formado a partir do indivíduo que

parte para o coletivo, como da forma vinculada as estruturas organizacionais

da sociedade. A memória social, formada a partir dessas concepções se

juntam a informação, principalmente a informação vinculada no cotidiano.

Com o estabelecimento da sociedade da informação é possível perceber significantes alterações nos sentidos da memória e na sua constituição, oriundas de profundas mudanças nas práticas sociais. Estas questões se tornam importantes, visto que um novo período da cultura está em andamento, e suas transformações incidem sobre alterações na forma de pensar os processos informacionais [...]. Necessário se faz repensar o papel que a memória social vem adquirindo em nossa vida cotidiana, uma vez que cada momento a concebe de maneira que lhe é próprio. (BARRETO, 2007, p. 163).

Assim, as conspecções através dessas três vertentes, abrem

possibilidades para análise social, na base dessa pesquisa, a imprensa como

instituição de memória, o jornal como documento e suporte de memória e

esses refletindo o cotidiano da cidade através da informação cotidiana,

trazendo a contribuição de estudar a informação em um recorte histórico de

forte impacto para a cidade.

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2.1 MEMÓRIA E RELAÇÃO COM A INFORMAÇÃO

A anamnese se constrói como social e está inserida no campo de lutas

como relação de poder, aqueles que moldam a memória, o que deve ser

lembrado e esquecido tem o poder. Assim como a memória, quem tem

informação, tem vantagens competitivas e de relações de poder, fazendo com

que os estudos de ambas, possam se entrelaçar.

A memória, como propriedade de conservar certas informações, remete-nos em primeiro lugar a um conjunto de funções psíquicas, graças às quais o homem pode atualizar impressões ou informações passadas, ou que ele representa como passadas. (LE GOFF, 1990, p. 423).

A memória como campo de referência, tem sua força estabelecida a partir

das experiências passadas, podendo assim, concentrar saberes e se

empreender com mais ou menos força, através do tempo. A memória social

tem o poder de autorizar, através do que é lembrado, a mudança de ordens

sociais.

Como os pássaros que só põem seus ovos no ninho de outras espécies, a memória produz num lugar que não lhe é próprio. De uma circunstância estranha recebe a sua forma e implantação, mesmo que o conteúdo (o pormenor que falta) venha dela. Sua mobilização é indissociável de uma alteração. Mais ainda, sua força de intervenção, a memória a obtém de sua própria capacidade de ser alterada – deslocável, móvel, sem lugar fixo [...] Longe de ser o relicário ou a lata de lixo do passado, a memória vive de crer nos possíveis, e de esperá-los, vigilante, à espreita. (CERTEAU, 2013, p. 150-151).

Tendo como historicidade o século XX, de marco para o surgimento dos

estudos da Memória Social/Coletiva, Maurice Halbwachs é visto como seu

propulsor. Através da sociologia de Durkheim, traz as razões da ordem social,

mostrando ainda, a integração do homem nos seus tecidos sociais, um

indivíduo social, dotado de consciência e com poderes de rememoração para

além dos seus aparatos biológicos. Com sua derivação das Ciências Sociais

“[...] apenas nos anos 1990, foi alçada a um lugar importante nas pesquisas

acadêmicas, a partir da valorização das relações com o passado que passou a

habitar a vida social e cultural [...]” (DODEBEI; FARIAS; GONDAR, 2016, p. 12).

A reconstrução dos quadros de memória social, se dá a partir de

impressões individuais que são reafirmadas pela memória do grupo, sendo

nossas lembranças apoiadas nos quadros formados por outros.

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Mas nossas lembranças permanecem coletivas, e elas nos são lembradas pelos outros, mesmo que se trate de acontecimentos nos quais só nós estivemos envolvidos, e com objetos que só nós vimos. É porque, em realidade, nunca estamos sós. Não é necessário que outros homens estejam lá, que se distingam materialmente de nós: porque temos sempre conosco e em nós uma quantidade de pessoas que não se confundem. (HALBWACHS, 1990, p. 26).

Com seu poder mutável de conceito, por estar inserida em diversas áreas

do conhecimento e de ser considerada transversal, a memória não se insere

dentro de moldes clássicos, não tendo conceito homogêneo, sendo esse

conceito de memória social, plano de múltiplas definições:

A memória é, simultaneamente, acúmulo e perda, arquivo e restos, lembrança e esquecimento. Sua única fixidez é a reconstrução permanente, o que faz com que as noções capazes de fornecer inteligibilidade a esse campo devam ser plásticas e móveis. (GONDAR, 2016, p. 19).

Com isso, a diferença entre constituir história ou memória de algo, já que

a memória, nos remete a lembranças e momentos, sem necessariamente ser

colocada dentro de uma narrativa e de um recorte espaço-temporal. A história

também cumpre o seu papel de constituir narrativas que deem verdade

histórica a acontecimentos, porém, se encontra no mesmo terreno de disputa

que a memória, onde os grupos dominantes podem usar sua força

argumentativa como tomada de poder. “Esta colocação da memória fora do

tempo separa radicalmente a memória, da história. [...]. Assim, segundo a sua

orientação, a memória pode conduzir à história ou distanciar-se dela [...]” (LE

GOFF, 1990, p. 440).

As operações da memória social, então, ocupam os acontecimentos e a

forma de se chegar aos mesmos, sendo análogo a sua forma de análise:

Seja como for, a memória é tocada pelas circunstâncias, como o piano que “produz” sons ao toque das mãos. Ela é sentida do outro. E por isso ela se desenvolve também com a relação – nas sociedades “tradicionais”, como no amor – ao passo que se atrofia quando se dá a autonomização de lugares próprios. Mais que registrar, ela responde às circunstâncias, até ao momento em que, perdendo sua fragilidade móvel, tornando-se incapaz de novas alterações, ela consegue repetir suas primeiras respostas. (CERTEAU, 2013, p. 151).

Os estudos da memória social, também revelam sua importância no que

tange a contagem do tempo para as sociedades, pois, a memória em si, faz o

tempo relativo aos atos de lembrar, “Os estudos de memória social é um dos

meios fundamentais de abordar os problemas do tempo e da história,

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relativamente aos quais a memória está ora em retraimento, ora em

transbordamento.” (LE GOFF, 1990, p. 427).

Halbwachs (1990, p. 28) afirma ainda que “[...] para algumas lembranças

reais junta-se assim uma massa compacta de lembranças fictícias [...]”,

percebemos então, que para além da participação do homem no fato social,

precisa-se evocar ainda, os aspectos que representam a memória construída

em torno do conglomerado, pois, essas lembranças tem o poder de modificar

impressões no processo de informar.

Constitutiva de diversas formas, a memória social, encontra aparatos que

são conferidos como suporte para memória, isso graças ao desenvolvimento

da escrita, que está ligada, a profundas mudanças na memória coletiva, o que

desenvolve em si também, o ato comunicativo, desencadeando a constituição

de documentos “[...] todo documento tem em si um caráter de monumento e não

existe memória coletiva bruta.” (LE GOFF, 1990, p. 434).

Uma lembrança ou um documento jamais é inócuo: eles resultam de uma montagem não só da sociedade que os produziu, como também das sociedades onde continuam a viver, chegando até a nossa. Essa montagem é intencional e se destina ao porvir. Se levarmos isso em conta ao interrogar as lembranças/documentos, a questão essencial será: sob que circunstâncias e a partir de que vontade eles puderam chegar até nós? Por que motivo eles puderam ser encontrados no fundo de um arquivo, em uma biblioteca, nas práticas e discursos de um grupo, a ponto de poderem ser escolhidos como testemunho de uma época? E, fundamentalmente, porque nós escolhemos? Ao desmontar essa montagem, que é a lembrança/documento, não revelaremos nenhuma verdade escondida sob uma aparência enganadora, mas sim a perspectiva, a vontade e a aposta a partir da qual nós a conversamos, escolhemos e interrogamos. (GONDAR, 2016, p. 24-25).

Nessa composição de signos para a comunicação, a memória como

produto do poder, destinada a manutenção da moral, é componente ativa da

comunicação, que tem como destino informação algo, através dos meios de

comunicação, “Em todas as sociedades, os indivíduos detêm uma grande

quantidade de informações no seu patrimônio genético, na sua memória a

longo prazo, e temporariamente, na memória ativa.” (GOODY, 1977a, p. 35

apud LE GOFF, 1990, p. 426).

Como elemento constitutivo da informação, principalmente a informação

cotidiana, que passa pelos processos de lembranças dos indivíduos ou grupos

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sociais, a memória social, age como processo de reação para o

desencadeamento do processo de comunicação e de informação na

sociedade, trazendo ao meio social, elementos que demostrem o verdadeiro

sentido do que está sendo reproduzido, mesmo quando a memória está hora

em retraimento, ora em transbordamento.

Buscar a informação, que outrora foi produzida no passado, é trazer

através da memória, as práticas de uma sociedade, onde “Algumas vezes, é

preciso ir muito longe, para descobrir ilhas de passado conservadas, parece,

tais e quais, de tal modo que nos sentíssemos subitamente transportados a

cinquenta ou sessenta anos atrás.” (HALBWACHS, 1990, p. 68). As práticas

comunicativas em si, mostram, como há o comportamento diante das

informações, como as informações são produzidas, por quem são produzidas,

é como e porque são consumidas.

2.2 INFORMAÇÃO E SUA VERTENTE NO COTIDIANO

Informação, designada do ato de dar formar, processo em que os dados

são processados, pelos aparatos biológicos, sociais ou cibernéticos, até

designar efeito de constituir forma ou conceito para o processo de formação do

conhecimento “[...] é uma entidade, não é consumida quando se usa e pode ser

reproduzida sem custo e sem perda do conteúdo ou significado, é ‘societal’, e é

intangível. ” (DIENER, 1989 apud ROBREDO, 2003, p. 62).

Campo dominado por diferentes áreas do saber, a informação, depende

da sua forma de análise e do seu conceito fim, para a serventia de formação de

conhecimento, integrando o vocabulário de significados distintos e tem

abrangência de estilos em diferentes campos.

A Ciência da Informação como sua expansão no pós-segunda guerra, tem

a necessidade de controlar o grande volume de informação produzida, estocar

e identificar conteúdo que se cria nesse período, “Sentido amplo a CI é um

agrupamento de pedaços coletados em uma variedade de disciplinas que falam

de informação em um de seus muitos significados”. (MACHLUP; MANSFIELD,

1983, p. 22 apud CAPURRO; HJORLAND, 2006, p. 177), com isso a natureza

das tecnologias criadas, afetam diretamente os fluxos de informação.

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Para a Ciência da Informação, apresenta seu campo de definição a partir

das áreas abarcadas, como Documentação, Biblioteconomia, Arquivologia,

Museologia e Comunicação Social. Inerente a esses campos, a informação tem

determinadas características que servem de ressalva para essa pesquisa:

Registrar (codificada) de diversas formas; Duplicada e produzida ad infinitum, Transmitida por diversos meios, Conversada e armazenada em suportes diversos, Medida e quantificada, Adicionada a outras informações, Organizada, processada e reorganizada segundo diversos critérios, Recuperada quando necessário segundo regras preestabelecidas. (ROBREDO, 2003, p. 9).

Representação e vivências, a informação é sinônima de linguagem e

representação do mundo, formando assim a comunicação, as culturas

ancoradas na linguagem e escrita. É o poder de interação.

A troca de mensagens ou de conteúdo (o resultado psíquico e social da acção de dar forma ou informar), entre um emissor e um destinatário, através de um canal, precisa de requisitos próprios para acontecer e só então há plena comunicação. (MALHEIRO, 2006, p. 84).

Processo de formação de sentidos dos fatos, a informação se liga ao

cotidiano e a memória, como um recurso da cultura e constituinte das

identidades, a partir do processo de comunicar. Os fluxos de informação dão

razão ao conhecimento e os meios práticos de comunicação social, “A

informação está dirigida para mentes humanas e é recebida por mentes

humanas. Todos os outros significados, inclusive seu uso com relação aos

organismos não humanos, bem como à sociedade como um todo [...]”

(CAPURRO; HJORLAND, 2007, p. 160).

Nesse processo de informar, o comunicar se encontra como algo

polissêmico, que depende do estado de análise das teorias e áreas do

conhecimento, além das próprias transformações no campo da comunicação

social.

Embora o conhecimento e a sua comunicação sejam fenômenos básicos de toda sociedade humana, é o surgimento da tecnologia da informação e seus impactos globais que caracterizam a nossa sociedade como uma sociedade da informação. (CAPURRO; HJORLAND, 2007, p. 160).

Podemos entender então, que “[...] a comunicação não se opõe à

informação, mas a prolonga; as duas noções são, muitas vezes, indissociáveis;

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e as críticas feitas a uma são válidas igualmente em relação à outra. ” (MIÈGE,

2000, p. 110 apud SILVA, 2006, p. 89), percebendo que a comunicação pode

ser considerada o meio de vinculação da informação, com isso, percebemos o

importante papel da comunicação social, dos seus meios de comunicação,

como a mídia imprensa, televisiva, radiofônica e canais das mídias sociais.

Assim, abre-se o interim entre a informação e o conhecimento:

Não há consenso entre especialistas sobre onde termina a informação e começa o conhecimento. Tanto o conhecimento como a informação estão incorporados na linguagem e ambos envolvem um dispositivo conceptual que não é derivado dos dados que recebemos do mundo dos fenômenos mas lhe é imposto. Em poucas palavras, cada indivíduo organiza o mundo dum modo único que torna muito difícil organizar o ‘conhecimento público’ em estruturas aceitáveis para todos. As actividades de informação não têm lugar no vazio; elas afectam e são afectadas pelo seu contexto que inclui valores éticos, políticos, sociais e religiosos. A nova sociedade dá lugar a um conjunto de actividades no qual a informação é organizada numa estrutura de assuntos representada numa linguagem ou em línguas e registrada numa literatura. (MCGARRY, 1984 apud ROBREDO, 2003, p. 11).

Da essência social construtora do homem para a comunicação, é esse

homem que vive a partir do ato de se comunicar, a Comunicação Social é

responsável direta por comunicar no cotidiano, por meio de formas que tenham

maior expansão da informação. A comunicação social não transmite de forma

passiva para o receptor, fazendo com que, não sejam mensagens transmitidas

apenas para serem armazenadas, supondo esse processo como algo de ação

reciproca.

A comunicação social requer, [...] a concorrência de um fator convencional ou simbólico, unido à capacidade criadora do homem. [...] por outro lado, a comunicação social não se limita à transmissão de mensagens para que fiquem armazenadas num recipiente passivo. Mas tem por objetivo promover no receptor uma reação ou uma resposta. [...] como toda ação humana, abrange dois elementos básicos: um formal [...] e um energético, que se manifesta como ímpeto inicial no que as comunicações têm de fecundo e produtivo. (XIFRAS-HERAS, 1975, p. 8-9).

A informação no cotidiano “[...] incide em todas as facetas da vida do

homem, condicionando-lhe as atitudes, as opiniões e o comportamento, onde a

transcendência, a complexidade e diversidade dos problemas que suscita e

inesgotável riqueza temática que sugere.” (GONÇALVES; FREIRE, p. 10,

2005).

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Nesse âmbito da informação cotidiana, percebemos que se constitui como

fins ou propósitos, pois, é emitida pelos meios informativos de grande alcance,

transmitindo os fatos, o conhecimento e a cultura de tal sociedade, fazendo

com que essas informações vinculadas nos mantenham rodeados do meio

social e cotidiano em que vivemos (XIFRA-HERAS, 2003).

Considerando então a informação do cotidiano como uma operação

social, que faz com que as pessoas tomem atitudes, molde o cotidiano, tenham

ação e reação social, Xifra-Heras (1975) conceitua que informação no cotidiano

é aquela que “[...] se difunde mediante ditos meios de comunicação de massa.

[...] E pressupõe duas características essenciais a esse tipo de informação: a

atualidade e a periodicidade”.

O Jornalismo é a principal área que dá abrangência ao estudo da

informação no cotidiano, pois “O jornalismo alimenta-se dessa informação que

satisfaz a nossa constante curiosidade de saber o que acontece em torno de

nossa existência diária.” (XIFRA-HERAS, 1975, p. 32).

Dentro desses parâmetros, a informação no cotidiano é distinguida para

Xifra-Heras (1975) com as determinadas características: atualidade,

notoriedade, interesse geral, universalidade e periodicidade. A atualidade tem

como atributo os fatos do presente, já a notoriedade dá importância ao acesso

da informação cotidiana ao grande público, de modo a não excluir nenhum

grupo social desse processo de comunicação. O interesse geral, pauta o que

suscita a curiosidade geral, sendo assim, algo universal, com o aspecto da

integração e da periodicidade, que acompanha a vida cotidiana e seu

transcorrer.

Como fonte de informação principal no cotidiano, o jornal exerce na

sociedade o poder de, por meio do escrito e da notícia, ser uma fonte de

informação. Nesse aspecto:

O processo de produção da informação cotidiana é complexo, e seu ponto de partida é a pauta. Desde que surge um indício de notícia, formula-se uma pauta. As etapas estanques do processo – pauta, trabalho de campo (reportagem) e entrevista, redação e edição são regidas pelas cinco leis: atualidade, notoriedade, interesse geral, universalidade e periodicidade. (GONÇALVES; FREIRE, p. 9, 2005).

A partir daí, temos então o panorama que uma sociedade que vive e

consome informação, analisando como a partir dos meios de comunicação e

das suas propostas de manter o cotidiano como notícia, faz molde da memória

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coletiva, exatamente porque traz os aspectos da vivência social dos indivíduos,

“A informação jornalística assim o é, não pelo conteúdo apenas e nem por sua

presença em um periódico; mas também pelo fato de ter sido construída com

base em um “aparato” profissional.” (TAVARES; BERGER, 2010, p. 30).

Nesse imbricado sistema de noticiar, podemos notar então, o jornal como

aquele que constrói notícias através de informações, fazendo com que de um

interlocutor se recolham informações e com modo de interpretar o fato se torne

notícia, isso faz com que várias fontes de informação, sejam utilizadas nesse

processo, desde fontes de informação informal quanto as formais.

A escritura de um fato jornalístico pressupõe que exista realmente um fato de interesse coletivo para que o jornal possa divulgá-lo e, que nesse fato, estejam envolvidas algumas pessoas - os produtores do acontecimento – que chamamos fontes de informação. (AVELINO, 2006, p. 32).

No jornalismo, “Quando se diz sobre notícia, “automaticamente” se fala

em informação para o jornalismo.” (TAVARES; BERGER, 2010, p. 25), fazendo

com que o discurso das notícias crie forma na maneira com que vivemos e

visualizamos o mundo.

Dentro dessa perspectiva de informação, percebemos que os discursos

jornalísticos trazem a marca de um espaço e lugar, fazendo com que isso

imprima também as ocorrências de um tempo, a partir de então, com que

essas informações que passam por uma triagem, chegam até o meio social de

tal forma a ter um poder, através do discurso de moldar uma consciência

coletiva dos fatos.

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3 NATAL E O CONTEXTO DOS ANOS 40: INFORMAÇÃO COTIDIANA NO

JORNAL A REPÚBLICA

Com a entrada oficial do Brasil para a guerra, o contingente de

americanos na cidade de Natal passa a crescer, graças ao plano de tornar a

cidade base militar de brasileiros e americanos, visto que sua localização é

ponto estratégico na geografia da América. Essa mudança interferiu

significativamente na rotina da cidade, como podemos constatar em Pedreira

(2012, p. 114), “A convivência com os americanos e seu diferente modo de vida

afetou o cotidiano de toda a população local [...] o que chama a atenção é a

discrepância entre as múltiplas percepções sobre esse momento de intenso

intercâmbio sociocultural [...]”.

Isso faz com que Natal, que já fazia parte das rotas comerciais de aviação

e que já era explorada pelos Americanos, se tornasse definitivamente o local

que iria estabelecer a ponte entre para a guerra que acontecia no outro

continente, além, da proteção do território da América e dos interesses do

Brasil e EUA, “[...] As forças do eixo avisaram ao Brasil que haveria retaliações

caso as relações diplomáticas fossem cortadas [...] Vargas tomou decisão no

dia 28 de Janeiro de 1942” (SMITH JUNIOR, 1992, p. 66).

Pensando em uma alteração do cotidiano, levamos em consideração o

jornal, que pela sua periodicidade traz a narrativa do cotidiano. Natal nesse

contexto, segundo Smith Junior (1992, p. 28) contava com três jornais: “A

República, fundado em 1889 [...], A Ordem, criado em 1935 [...] O Diário,

operando a partir de 1939 [...]”.

O texto jornalístico traz consigo o poder da periodicidade do cotidiano,

onde “Narrar é uma forma de estar no mundo, e dessa forma, entendê-lo.”

(BARBOSA, 2007, p. 17), assim como também é uma forma de entender

também, o processo temporal.

Dessa forma, o jornal como objeto de estudo de determinada

temporalidade, faz com que se vislumbre não apenas como um veículo de

informação, mas também, um veículo de informação dotado de interesses, de

intervenções sociais e que para além de noticiar o cotidiano, mostra dele, além

de uma visão imparcial, “[...] Através dele é possível compreender o cotidiano

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de uma época, resgatar o contexto e a repercussão de determinado momento

da realidade [...]” (AVELINO, 2006, p. 9).

Com isso, buscamos entender essa informação cotidiana de Natal,

inserida no processo de governo do Estado Novo e do período da Segunda

Guerra Mundial, levando em consideração os aspectos culturais, políticos e

sociais, que foram estabelecidos na cidade.

Assim, no panorama de guerra que o Estado e principalmente Natal testemunharam por ocasião da IIa. Grande Guerra, imposto em decorrência de fatores geopolíticos no que tange ao aspecto estratégico da área, vital no plano de defesa do Continente Americano e de manutenção das frentes de combate de todo o mundo, naquele tempo [...]. (MEDEIROS, 1973, p. 204).

Dentre todos esses fatores, o Estado tem papel preponderante diante das

medidas que são tomadas, exercendo o comando mediante todos os atributos

da vida social, política, cultural e econômica.

3.1 ESTADO NOVO E CONTEXTO DA INFORMAÇÃO NO COTIDIANO

O Brasil de 1930 passa por dois momentos de turbulência da ordem

social e política, a Revolução de 1930 sendo o marco de término da antiga

República, e a instauração do Estado Novo, em 1937, que vem com o princípio

de modificação da ordem política e social:

A proposta de fundação de um novo Estado, “verdadeiramente nacional e humano” é a grande tônica do discurso político dos anos do pós-37. A importância e a grandeza desta proposta lhe conferiam, na ótica de seus defensores, o estatuto de um novo começo na História do país. A fundação de uma ordem política consentânea com as reais potencialidades, necessidades e aspirações do povo brasileiro significava um autêntico redescobrimento do Brasil. (GOMES, 2005, p. 191).

O Brasil dos primeiros anos de Estado Novo mantinha uma política de

comercialização com diversos países. Até idos de metade de 1941, Vargas

mantinha o Brasil com neutralidade na guerra que já havia se iniciado, porém,

“A mudança do estado de neutralidade que o Brasil vinha assumindo até então

aconteceu na Terceira Conferência de Ministros Estrangeiros, realizada no Rio

de Janeiro [...]” (SMITH JUNIOR, 1992, p. 66), que faz com que o Brasil se junte

aos aliados e corte relações totais com os países ligados ao eixo.

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Um estado centralizador, com Vargas à frente, forte simpatizante do

fascismo, que coloca em sua figura ditadora, as tomadas de decisões do Brasil.

As bases desse estado centralizador, buscavam uma nova identidade do

Brasil, que até então, era vista com seus moldes de governos ligados aos

períodos da colônia e do império, fazendo com que a primeira República, fosse

vista com moldes de retrocesso.

O Estado Novo ocorre, portanto, numa onda de transformações por que passava o mundo, o que reforçava a versão de que a velha democracia liberal estava definitivamente liquidada. Este contexto, muitas vezes, facilitava uma identificação entre o Estado Novo e o fascismo europeu. Esta relação, aparentemente óbvia, ignora as muitas especificidades que caracterizam o quadro brasileiro e o regime de 1937. (OLIVEIRA, 1982, p. 8).

A autoridade do estado buscava uma modernização em todos os setores

da vida social, levando em consideração todos os males dos brasileiros,

mostrando um retrato da realidade e seus aspectos, sendo esses males,

justificativas para o autoritarismo agir e centralizar a vida social.

Na década de 1930, podemos sinalizar intensas mudanças, uma disputa

entre a velha e nova República, “Podemos dizer, com risco de simplificação,

que três grandes eixos marcaram o pensamento dos anos 30 e se fizeram

igualmente presentes na doutrina do Estado Novo. São eles: o elitismo, o

conservadorismo e o autoritarismo.” (OLIVEIRA, 1982, p. 15).

Apesar da forte simpatia que Getúlio Vargas tinha para com o fascismo

italiano, não se coloca o Estado Novo enquadrado dentro de todas as

categorias fascistas. Nas análises sobre o mesmo, muitos são os aspectos

encontrados, desde as medidas violentas com aqueles que fossem contra o

regime, até submeter todos os processos sociais a análises.

O regime de 1937 não resultou da tomada do poder por nenhum movimento revolucionário organizado e de massas. Seus doutrinadores negam qualquer espaço para a existência de um partido sustentador do regime. A questão da mobilização e organização das massas em milícias é também recusada pela maioria dos autores nacionais que buscam fundamento para o fortalecimento da autoridade do Estado. A única experiência neste sentido, a milícia integralista, é descartada tão logo o novo regime se instala. A tentativa de militarização da juventude brasileira durante o Estado Novo, através do movimento de Organização Nacional da Juventude, é recusada e transformada em um programa de educação moral e cívica. Seja do ponto de vista doutrinário ou da realidade histórica, o caso brasileiro do Estado Novo se distingue do fascismo italiano. (OLIVEIRA, 1982, p. 8).

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Com isso, tínhamos um estado preocupado na doutrinação para o

segmento da sua centralização, assim, mantinha seu poder de ditadura,

conversando e transformando diferentes teorias e reorganizando de tal modo, a

parecerem novas.

O Estado penetra nos domínios da sociedade civil, assumindo claramente o papel de direção e organização da sociedade. Assim, se auto-elege o educador mais eficiente junto às casses trabalhadoras, argumentando ser o “bem público” o móvel de sua ação. O que se verifica, portanto, é um deslocamento de atribuições, onde o Estado assume funções que até então estavam sob o encargo dos diferentes grupos sociais. (VELLOSO, 1982, p. 72).

Com essa coletividade que se buscou formar a partir da educação cívica,

que foi um grande marco desse período, os intelectuais são colocados como

peças chaves desse processo, pois, junto ao regime, fizeram o papel de

construir e retratar o momento presente.

Esses fremes da realidade retratados pelos intelectuais, tinham as mais

distintas áreas artísticas, principalmente os escritores, capazes de criarem

discursos que caracterizavam a sociedade, “A questão da cultura passa a ser

concebida em termos de organização política, ou seja, o Estado cria aparatos

culturais próprios, destinados a produzir e a difundir sua concepção de mundo

para o conjunto da sociedade.” (VELLOSO, 1982, p. 72).

Esse contexto de criação de um nacionalismo orgânico e de um sentido

coletivo e partilhável de nação torna-se papel principal do Departamento de

Imprensa e Propaganda (DIP), para, além disso, precisava-se criar uma

propaganda do regime, que de tal forma fazia com que se tornasse forte sua

ideologia:

[...] A produção e divulgação deste projeto traduziu-se entre outras iniciativas, pela montagem de um importante órgão institucional: o Departamento de Imprensa e Propaganda. Esta poderosa agência supervisionava os mais variados instrumentos de comunicação de massa, além de encarregar-se da produção e divulgação do noticiário oficial. Suas seis seções – propaganda; radiodifusão; cinema e teatro; turismo; imprensa e serviços auxiliares – demonstram bem o alto grau de intervenção do Estado Novo nos processos de comunicação social. O DIP, portanto, materializou o grande esforço empreendido durante o estado Novo para controlar os instrumentos necessários à construção e implementação de um projeto político destinado a se firmar socialmente dominante. (GOMES, 2005, p. 190).

O DIP exercendo esse controle sobre os meios de comunicação fazia

com que realmente se construísse uma realidade diante do momento político,

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fazendo com que o passado da Velha República, se tornasse algo remoto e

vergonhoso para o passado do país.

Criado em 1939, o DIP estava todo orientado a fazer esse controle

interno e externo da comunicação social do Brasil, “[...] durante o Estado Novo

que se elabora a montagem de uma propaganda sistemática do governo. E o

que é mais inédito é que existe todo um discurso que legítima a necessidade

de se propagandear o governo.” (VELLOSO, 1982, p. 72).

Produz-se aí, a evidente campanha de centralização do poder, buscando

em uma matriz comum, a doutrinação “Esta multiplicidade de interpretações

fundamenta a visão de que, efetivamente, o Estado Novo não produziu uma

doutrina oficial única. Seus postulados [...] sempre com enfoques distintos [...]”

(OLIVEIRA, 1982, p. 32).

Entretanto, avalia-se também, que esse apelo do estado fazendo uso da

comunicação, tem o encargo de manipular o cotidiano e a memória social por

longa duração, despertando a paixão pelo nacionalismo, “No Estado Novo, o

efeito visado era a conquista do apoio necessário à legitimação do novo poder,

oriundo de um golpe.” (CAPELATO, 1999, p. 170).

Essa justificativa tem como âncora a legitimação que o governo precisava

para se manter forte diante dos processos sociais que o Estado impunha. O

próprio DIP, criado como a manutenção dessa ordem social e de poder, vinha

se legitimando anteriormente a sua criação, com artigo que já constava na

constituição.

A Constituição brasileira de 1937 legalizou a censura prévia aos meios de comunicação. A imprensa, através de legislação especial, foi investida da função de caráter público, tornando-se instrumento do Estado e veículo oficial da ideologia estado-novista. O art. 1.222 exterminava a liberdade de imprensa e admitia a censura a todos os veículos de comunicação. A lei prescrevia: “Com o fim de garantir a paz, a ordem e a segurança pública, a censura prévia da imprensa, do teatro, do cinematógrafo, da radiodifusão, facultando à autoridade competente proibir a circulação, a difusão ou a representação”. (CAPELATO, 1999, p. 170).

Com essa tentativa de criar uma nova ordem social, para se afirmar no

contexto político instável que estava instaurado mundialmente, a atuação frente

à criação desse nacionalismo, coloca o Estado Novo como um forte

combustível de ação da memória coletiva.

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Desta perspectiva, o Estado é visualizado não só como o propulsor da mudança, mas também como controlador, por excelência, da passagem de uma sociedade rural-oligárquica para uma sociedade urbano-industrial. Esta nova sociedade, no pensamento da maioria dos doutrinadores do Estado Novo, deve ser também hierarquizada e não-igualitária, mas seu ordenamento deve-se fazer a partir dos atributos diferenciados de cada indivíduo. É a igualdade de oportunidades (já que os indivíduos são naturalmente desiguais) que possibilitaria a vigência de uma sociedade hierárquica moderna. (OLIVEIRA, 1982, p. 28).

Essa redefinição política acarreta em diversas mudanças do Brasil frente

às políticas externas. No ano de 1942, tem-se como marco cronológico das

mudanças políticas desse período, define as políticas de alinhamento com os

Estados Unidos (EUA), pois são dadas as cartas para as forças militares

estrangeiras se instalarem no país, além da construção da siderúrgica de Volta

Redonda. O plano de operações do EUA é concedido, fazendo com que a

Cidade do Natal se tornasse ponto estratégico nessa aliança. (GOMES, 2005).

O fim do conflito se desenvolve lentamente e por meio de cada território e

país que se encontrava envolvido, a política interna de Vargas e do Estado

Novo, começa a ruir, quando não encontra mais apoio dos militares. Sendo sua

renúncia no final do mês de outubro de 1945, marcado pela força dos militares

que pediam sua renúncia. Isso marca também o aparente fim da censura do

Estado Novo, que era empreendido nos vários meios, sendo mais incisivo nos

meios de comunicação.

Por volta de 1945, contudo, a ditadura de Vargas tinha seus dias contados. As pessoas, dentro e fora dos meios militares, queriam um retorno à democracia e muitos destacaram o fato de que a luta do Brasil na Segunda Guerra Mundial era contra a ditadura. (SMITH JUNIOR, 1992, p. 180).

3.2 O PANORAMA HISTÓRICO DA CIDADE DO NATAL: O TRAMPOLIM

PARA A VITÓRIA

O processo de modernismo que o Brasil passa antes dos anos de 1940

tem reflexos direto no cotidiano da cidade de Natal, que também adentra nesse

processo de modernização. Segundo Costa (2009, p.1) “Nos primeiros anos do

século XX, a cidade de Natal passou por alterações urbanas significativas.”,

pois se desenvolve uma nova área residencial, com o desejo da elite de se

desligar dos aspectos coloniais que ainda circundavam a cidade.

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Esses aspectos já conferem à cidade novas referências sociais e

modernas, o que faz com que “[...] a ideia de que a cidade de Natal teria

“adentrado a modernidade” pelas mãos dos soldados norte-americanos que lá

se instalaram durante a Segunda Guerra Mundial [...]” (PEDREIRA, 2012, p.

13), se torne questionável, já que isso é normalmente colocado.

Assim, Natal como cidade contemporânea, vive até os dias atuais, da

memória criada nos anos 1940, trazendo dentro da sua identidade várias

misturas referentes ao período, além do sentimento, de por ao menos em um

momento, ter participado e sido peça para as negociações do conflito da

segunda grande guerra.

O legado dos americanos fez e faz parte da cultura natalense. As imagens emblemáticas da guerra, na forma como ela foi vivida e reconstruída em Natal, interferiram inevitavelmente na formação de uma imagem mental identitária da cidade. Essa interferência é revivida nas reportagens de jornal, revista, televisão, nos cartazes, outdoors, filmes de cinema, peças de teatro e videodocumentários. (COSTA, 2015, p. 7).

O estado do Rio Grande do Norte girava em torno de uma política com

oligarquias tradicionais no poder, que com a instauração do governo Vargas,

passa por um momento de destituição, pois o Estado Novo, como já

demonstrado, visava à centralização do poder. Com isso, o papel do interventor

era exatamente, manter nos estados, esse poder centralizado na presidência

“Com uma população de aproximadamente 40.000 habitantes, Natal

desenvolvia-se em meio a enormes contradições e desigualdades que atingiam

todo o Estado [...]” (PEDREIRA, 2012, p. 30-31).

[...] independente dos acertos e acordos, a oligarquia local voltou ao governo em 1934, com as eleições indiretas, na Assembleia Legislativa Estadual, do Governador Rafael Fernandes de Gurjão, o qual, por ocasião do Golpe de Estado de 1937, foi mantido no cargo e permaneceu até julho de 1943, quando pediu exoneração do cargo. (OLIVEIRA, 2008, p. 41-42).

No transcorrer dos anos estudados nessa pesquisa, os interventores do

Estado do Rio Grande do Norte, foram, Rafael Fernandes Gurjão, e logo em

seguida Antônio Fernandes Dantas, que seguiu até a redemocratização do

país, entre os anos de 1946 e 1947 (OLIVEIRA, 2008).

Natal dentre outros aspectos, passa a ser o pivô brasileiro para

negociação com os americanos, que percebem, diante das rotas já realizadas

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por companhia área, que Natal tinha uma localidade estratégica tanto entre

Estados Unidos e Brasil, quanto à ida para o continente da África e o Europeu,

“Embora a declaração de guerra feita pelo Brasil materialmente não tivesse

mudado os fatos, suas forças passaram da cooperação oculta à cooperação

aberta com os Estados Unidos.” (SMITH JUNIOR, 1992, p. 73).

Houve todo um arsenal construído entre 1941 e 1942 para que fossem

consolidados os acordos entre Brasil e Estados Unidos, além da criação de

uma estrutura para que os americanos pudessem ter força de trabalho em um

estado diferente do que estavam acostumados.

Em 16 de setembro de 1941, chagaram os cinco primeiros americanos designados para o Campo de Parnamirim. O grupo incluía um instrumentista, um operador de máquinas de terraplanagem, um engenheiro e dois operadores de equipamentos. Uma semana depois, havia um número de pessoal americano suficiente para permitir a indicação de um engenheiro americano para o projeto, a fim de supervisionar a coleta de dados da engenharia de campo e para fornecer dados de engenharia de construção necessários para executar o programa. No mês anterior, em 23 de agosto, chegou a Natal um representante de Haller Engineering Association, companhia encarregada de prover as especificações para pavimentação de pistas que foi iniciada no dia 6 de novembro de 1941. (SMITH JUNIOR, 1992, p. 29).

Dessa maneira, se torna “[...] cidade “pivot” da defesa do Nordeste, com o

recebimento dos primeiros contingentes militares, precursores do esquema de

defesa e vigilância do litoral que estaria concluído por ocasião da declaração

de guerra, em 1942.” (MEDEIROS, 1973, p. 191).

A base com seu desenvolvimento influencia diretamente na vida cotidiana

de Natal “[...] no início de 1942, o crescimento da Base estava começando a se

refletir no número de praças em Natal, que já chegava a 113.” (SMITH

JUNIOR, 1992, p. 79), além de converter a cidade a outros costumes

cotidianos “[...] Natal converteu-se em cidade cosmopolita, uma babel de

militares das mais variadas nações.” (MEDEIROS, 1973, p. 197).

Essas mudanças cotidianas tinham haver com o modo de vida dos

militares que passavam pela cidade, além da própria base que era moradia de

vários outros, com todos os seus aparatos e serviços modernos que davam aos

americanos todo o conforto necessário para seu cotidiano, desde o jornal

impresso na base, até o cinema e as festas que contavam com famosos

artistas da época, “Muitos dos antigos hábitos e valores da população norte-rio-

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grandense e, em especial, dos moradores da capital do estado, também foram

modificados.” (PEDREIRA, 2012, p. 28).

Alguns problemas entre americanos e brasileiros, porém, foram sendo gradualmente resolvidos. Finalmente, os militares americanos estavam melhor adaptados à moradia no Brasil. [...]. Seria em janeiro de 1943, porém, que um encontro entre o Presidente Franklin D. Roosevelt e o Presidente Getúlio Vargas faria História em Natal. (SMITH JUNIOR, 1992, p. 29).

O presidente dos Estados Unidos Franklin Roosevelt, faz uma visita à

cidade de Natal como parte dos acordos entre as políticas dos Estados Unidos

e do Brasil. Chegando a Natal sem alardes, faz uma visita pelas bases de

operações da cidade e tem momentos de conversa com o presidente Vargas “A

tarde, Roosevelt e Vargas inspecionaram a Base de Hidroaviões e o Campo de

Parnamirim. Eles concluíram a inspeção com uma visita aos Quartéis do

Exército e da Aeronáutica Brasileira [...]” (SMITH JUNIOR, 1992, p. 101).

O cotidiano da cidade tem variações nos anos 40, desde o contingente de

guerra, construção da base, as novas línguas que chegavam as ruas e as

modernizações da base, que refletiam na cidade. São consideradas marcas da

memória, como reflete Pedreira (2012, p. 13) ao tratar sobre os momentos de

carnaval e festividade na guerra que “[...] os momentos em que as tensões já

identificadas explodem em pequenos episódios de confronto entre potiguares e

gringos em bares, casas noturnas e nas pensões alegres da zona do meretrício

[...]”, além, da própria influência do American Way of Life:

[...] haja vista a programação cultural que se destacava nos cinemas, nas publicações de revistas, as músicas tocadas nos bailes dos principais clubes (onde o fox-trot já se fazia presente), além dos programas de rádio que contribuíam para divulgar os modismos da América. (PEDREIRA, 2012, p. 111).

Nesse período, o povo se dividia entre identificar e entender o

estrangeiro, vivendo com suas diferenças, que muitas vezes, acabavam em

confusões de porta de bar.

Nesta cidade marcada por tensões e diferenciações sociais internas, permeadas pelo constante embate sobre os rumos da tão sonhada “modernização”, o contato com o contingente de militares e civis estrangeiros, que encheu suas ruas em tempo de guerra, acirrou ainda mais a discussão sobre os pressupostos da nossa “identidade nacional” [...] (PEDREIRA, 2012, p. 111).

Com o fim, quase efetivo, por volta de agosto de 1945, Natal e o

contingente de guerra que aqui se encontrava, passam por novas mudanças no

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cotidiano. Os milhares de homens que aqui estavam ou passavam em direção

aos outros continentes, voltariam para suas respectivas culturas e territórios,

deixavam em Natal, a eterna impressão de seus costumes no cotidiano, nomes

no cartório, casamentos e filhos: “O último contingente americano deixou

Parnamirim no dia 26 de novembro de 1946.” (SMITH JUNIOR, 1992, p. 193).

Mas, a guerra havia terminado e a maioria dos brasileiros esperava ver os americanos deixando a Base e voltando para casa. Entretanto, um espírito de boa vontade e amizade entre o Brasil e os Estados Unidos nasceu de uma antiga indiferença entre os dois países. Essa amizade ajudaria na transferência das bases construídas pelos americanos para o Brasil. [...]. (SMITH JUNIOR, 1992, p. 101).

3.3 O JORNAL A REPÚBLICA E AS INFORMAÇÕES COTIDIANAS

O jornal traz uma articulação social constante, no contexto do Brasil que

vivia o período do Estado Novo. Parada (2007, p. 35) considera que:

A agressiva e atuante política cultural do Estado Novo estava no centro do nacionalismo orgânico dos distintos grupos dirigentes do novo regime. Essa política cultural, realizada por diversos órgãos do Estado, trabalhou para construir um sentido coletivo e partilhável de nação.

Nesse contexto o jornal A República surge junto com as ideias

republicanas, pelas mãos de Pedro Velho que se tornou governador provisório

do Estado, quando a primeira república é instaurada. Nasce então, vinculado

ao governo:

Apenas em 28 de janeiro de 1928, o governador Juvenal Lamartine de Faria criaria a “Imprensa Oficial do Rio Grande do Norte”, instituindo “A República” como órgão oficial do Estado, sendo o jornalista Cristóvão Dantas seu primeiro diretor. Já em 1941, quando o país vivia sob a égide do Estado Novo de Vargas, um decreto do interventor Aldo Fernandes Raposo de Melo transformou a “Imprensa Oficial” em Departamento Estadual de Imprensa e Propaganda - DEIP, criado nos moldes do Departamento de Imprensa e Propaganda - DIP. Edílson Cid Varela, jornalista, foi então nomeado diretor do DEIP e, consequentemente, de “A República”, que funcionou, com algumas interrupções, até 1987. (AVELINO, 2006, p. 63).

O DIP exercendo esse controle sobre os meios de comunicação fazia

com que realmente se construísse uma realidade diante do momento político,

fazendo com a Velha República, se tornasse algo remoto e vergonhoso para o

passado do país.

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O jornal diário, A República, que era um órgão do governo local, apresentava todas as notícias nacionais e locais numa atitude pró-Vargas. Também publicava editorais e artigos especiais elogiando o Governo e as pessoas a ele ligadas. Muitos cartazes afixados em lugares públicos também exibiam Getúlio Vargas ou o Brasil na guerra. Esses cartazes eram distribuídos pelo diretor local do Serviço de Imprensa e Propaganda do Estado. (SMITH JUNIOR, 1992, p. 110).

Além de todas as circunstâncias que se davam devido ao panorama

político e seu reflexo nos meios de comunicação, Natal, ainda passava por todo

o contexto de receber o outro, aquele estrangeiro, de língua diferente e com

outros costumes, fazendo com que também fosse amplamente noticiado, como

o fato de Vargas e Roosevelt:

A recepção teve ampla divulgação nos dois jornais de destaque em Natal, O Diário e A República, que enfatizavam os elos de amizade entre o Brasil e os Estados Unidos, e continuavam a afirmar que a recepção dera aos brasileiros a oportunidade de demostrar sua amizade e simpatia pelos americanos. (SMITH JUNIOR, 1992, p. 100).

Todos esses enquadramentos fazem com que o jornal escolhido para

essa pesquisa tenha um impacto direto, pois, o mesmo era ligado ao

Departamento Estadual de Impressa (DEIP), “Órgão estatal [...] que moldava o

enquadramento de sua cobertura noticiosa seguindo a determinação política do

Governo brasileiro face aos acordos engendrados pelas conveniências do

então Presidente da República [...]” (AVELINO, 2006, p. 11).

A partir dessa vinculação institucional do jornal A República:

Considerando que esse jornal era controlado pelo Estado através do Departamento de Imprensa e Propaganda – DIP, na esfera nacional, e pelo Departamento Estadual de Imprensa e Propaganda – DEIP, em âmbito local, seu discurso possivelmente produziria um silêncio em torno da opinião dos seus leitores. (AVELINO, 2006, p. 11).

O jornal A República é considerado como um dos principais jornais que

noticiaram sobre a guerra no âmbito da cidade de Natal, mesmo passando pelo

processo de silenciamento, pois por outro lado, traz o panorama que o governo

deseja demonstrar com o desenrolar do cotidiano. “Na época do conflito

mundial, conchavos políticos e troca de favores determinaram a tomada de

posição do Brasil em relação à Segunda Guerra, ao longo do desenrolar do

conflito.” (AVELINO, 2006, p. 11).

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No contexto da informação no cotidiano, pensamos então no jornal A

República e sua influência na cidade de Natal entre o período de começo e fim

da guerra, pois, por todo o processo frente ao DIP e DEIP fazia com que a

informação chegasse ao cotidiano da cidade moldada de outra forma. Segundo

Smith Junior (1992, p. 110)

O efeito provável de toda propaganda era limitado, uma vez que os brasileiros eram patrióticos de qualquer maneira. Havia somente uma pequena percentagem que possuía rádio ou podia ler jornal. Contudo, isso provavelmente ajudou, indiretamente, a consolidar a opinião brasileira e também ajudou a fortalecer as relações brasileiro-americanas.

A produção desse jornalismo, com todos os aspectos de silenciamento do

que era publicado, traz ao público uma propaganda oficial do regime vigente

“[...] pode representar um indício de que havia contestação, por parte da

população, à manipulação das informações veiculas pela imprensa [...]. Isso

porque, nesses meios de comunicação, nunca eram relatados os fatos de

maneira imparcial [...]” (PEDREIRA, 2012, p. 81).

Não se sabe ao certo, quem era o público leitor do jornal A República,

visto que a sociedade natalense da época tinha um alto nível de analfabetismo,

se estima que o público leitor viesse do seio das oligarquias, intelectuais e

comerciantes mais abastados.

No censo de 1940, o índice de analfabetismo continua praticamente o mesmo (80% da população), e algo em torno de 90% das crianças em idade escolar continuavam não tendo acesso à escola [...]. Praticamente não havia indústrias, a não ser pequenos estabelecimentos. (COSTA, 1995, p.82-83 apud PEDREIRA, 2012, p. 30).

Dessa maneira, o jornal A República foi o correio oficial de notícias no

Estado, com todos os aspectos de silenciamento regidos pelo Departamento

Estadual de Imprensa (DEIP), trazendo ao cotidiano de Natal, o que era

cotidiano no Brasil e no Estado, mas tendo como processo, a propaganda do

Estado Novo e dos Aliados.

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4 METODOLOGIA

A metodologia tem como objetivo analisar elementos que constituem a

pesquisa, dessa maneira, como método de abordagem, pretende-se fazer uso

do Indutivo, pois a análise parte de pressupostos gerais “O objetivo dos

argumentos indutivos é levar a conclusões cujo conteúdo é muito mais amplo

do que a das premissas nas quais se basearam.” (MARCONI; LAKATOS, 2003,

p. 86).

A partir desse entendimento e com base no objetivo de analisar e

identificar as mudanças nas informações cotidianas na cidade de Natal no

período entre 1941 e 1942, registradas através do jornal A República, será feita

a categorização das informações que circulavam na cidade e sua mudança

com todo o contexto social e político.

Os métodos de procedimento fazem com que a pesquisa se torne mais

concentrada através da maneira de explorar os fenômenos da pesquisa, com

isso, pretende-se fazer uso do método histórico, como forma de resgate da

informação em outro momento histórico, buscando entender a partir do

passado, quais os principais reflexos no presente.

Além disso, esse estudo se caracteriza como método monográfico ou

estudo de caso, já que se trata do estudo de uma localidade que irá ser

explorada, nesse caso, o jornal, onde “A investigação deve examinar o tema

escolhido, observando todos os fatores que o influenciaram e analisando-o em

todos os seus aspectos.” (MARCONI; LAKATOS, 2003, p. 108).

Com uso da documentação indireta, através da pesquisa bibliográfica

para levantamento dos principais pressupostos da biblioteconomia e ciência da

informação, será atrelada a isso, a pesquisa do contexto histórico e social.

Fazendo uso também, de todas essas características, esta pesquisa tem

caráter descritivo, pois busca contextualizar de tal forma a identificar, relatar e

descrever o objeto (RAUPP; BEUREN, 2006, p. 81).

A análise de dados recorre ao caráter qualitativo, que ocupa um espaço

“[...] entre as várias possibilidades de se estudar os fenômenos que envolvem

os seres humanos e suas intrincadas relações sociais, estabelecidas em

diversos ambientes.” (GODOY, 1995, p. 21), além de buscar coletar e analisar

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dados a partir do fenômeno, dando um tratamento mais profundo a obtenção

de resultados da pesquisa.

A pesquisa qualitativa para os preceitos de Bardin (1977, p. 115) “É

válida, sobretudo, na elaboração das deduções específicas sobre um

acontecimento ou uma variável de inferência precisa, e não em inferências

gerais.”, assim, permite uma análise maleável das variáveis.

O cunho qualitativo oferece a possibilidade da pesquisa documental, onde

segundo Godoy (1995, p. 21), parte da análise de materiais que podem ser

diversos, mas “[...] que ainda não receberam um tratamento analítico, ou que

podem ser reexaminados, buscando-se novas e/ou interpretações

complementares [...]”

Dessa maneira, a pesquisa documental usando como fonte o jornal está

também para a representação da cidade estudada e do seu contexto histórico

“O mundo, como o conhecemos e o experienciamos, isto é, o mundo

representado e não o mundo em si mesmo, é constituído através de processos

de comunicação.” (BERGER; LUCKMANN, 1979 apud BAUER et al., 2002, p.

20).

A criação de um corpus documental significa a criação de um conjunto de

documentos que por meio de sua análise e delineado os pressupostos

pesquisados, nesse caso, utilizando-se de dados formais que “[...] reconstroem

as maneiras pelas quais a realidade social é representada por um grupo social.

Um jornal representa até certo ponto o mundo para um grupo de pessoas, caso

contrário elas não o comprariam.” (BAUER et al., 2002, p. 22).

O corpus criado é ainda, uma forma de investigação “[...] a construção de

um corpus, porém, garante a eficiência que se ganha na seleção de algum

material para caracterizar o todo”. (BAUER; AARTS, 2002, p. 40).

Dentro da organização do corpus Bauer diz sobre os textos impressos e

periódicos:

Textos impressos podem ser facilmente estratificados em uma tipologia hierárquica, por exemplo, jornais diários e revistas semanais, de direita e de esquerda dentro de uma orientação política, cifras de circulação alta ou baixas, distribuição nacional ou regional, populares e especializados, ou de acordo com a propriedade. (BAUER, 2002, p. 196).

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Devido ao período pesquisado e o extenso corpus documental do Jornal,

será atribuído à pesquisa, a técnica de semana artificial. Com essa concepção

dentro do corpus e das publicações impressas e periódicas, é criada a “semana

artificial”, fazendo com que se tenha uma amostragem dessas publicações

regulares:

As datas do calendário são um referencial de amostragem confiável, de onde se pode extrair uma amostra estritamente aleatória. Datas aleatórias, contudo, podem incluir domingos, quando alguns jornais não são publicados, ou os jornais podem fazer publicações em um ciclo, como por exemplo, a página sobre ciência pode ser publicada às quartas-feiras. Em tais casos, então, a fim de evitar distorções na amostragem de notícias sobre ciência, seria necessário garantir uma distribuição eqüitativa de quartas-feiras na amostra. Uma semana tem sete dias, desse modo, escolhendo cada terceiro, quarto, sexto, oitavo ou nono, etc. dia, por um longo período, é criada uma amostra sem periodicidade. Para cada edição selecionada, todos os artigos relevantes são selecionados. (BAUER, 2002, p. 196).

Utilizando a semana artificial, dentro do recorte histórico da pesquisa,

pretende-se analisar 12 (doze) jornais em cada ano, Sempel (1952) apud

Bauer (2002, p. 197) “Mostrou que 12 edições, selecionadas aleatoriamente, de

um jornal diário, fornecem uma estimativa confiável do perfil de suas notícias

anuais.”. Isso faz com que seja escolhido 1 (um) em cada mês, fazendo com

que ao final sejam analisados 24 (vinte e quatro) jornais nos dois anos

escolhidos. Para escolha desses jornais, serão utilizadas as edições do

domingo, onde o jornal era distribuído normalmente com 12 (doze) páginas e

traziam um recorte semanal dos acontecimentos.

Para avaliação desse corpus documental, utiliza-se a análise de

conteúdo, que para Bardin (1977) se trata de uma técnica de investigação, que

de forma sistemática, entende o conteúdo e a condição de produção, das

manifestações de comunicação mais diversas. Faz ainda, uma proposta de

analise a partir de três pressupostos:

1- A pré-análise; 2- A exploração do material; 3- O tratamento dos resultados a inferência e a interpretação; (BARDIN, 1977, p. 95).

Essas três bases, permitem que ao verificar o corpus proposto, a análise

em um primeiro momento, tenha uma leitura flutuante, com observação dos

materiais, é como consequência, os outros passos, entendam o material e

decodificam para enquadrar dentro de uma classificação.

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5 DISCUSSÃO E ANÁLISE DAS INFORMAÇÕES VINCULADAS NO

JORNAL A REPÚBLICA ENTRE 1941 A 1942

Com a pretensão de estudar a informação cotidiana na cidade de Natal,

por meio do jornal periódico A República, utilizamos como ferramenta

metodológica, a semana artificial, dividindo nosso corpus documental entre 12

jornais anuais, perfazendo o total de 24 jornais, sendo esses, mais

especificamente, do último domingo de cada mês.

A partir do corpus de 24 jornais, houve uma pré-análise do material,

sendo possível explorar como seria feito seu uso, com observação das

categorias de informação existentes nos períodos e em seguida a exploração

das informações vinculadas no material.

Dessa maneira, com a análise das informações vinculadas nesse período,

podemos inferir como houve uma clara mudança no modo de informar, visto

que o jornal era, no começo dos anos 40, a principal fonte de informação da

cidade, haja vista a comprovação disso, através dos estudos bibliográficos e da

análise das fontes, podemos constar como evidente certeza.

No primeiro semestre de 1941, percebemos que o Jornal,

prioritariamente, servia as informações oficias do Estado, trazendo informações

sobre economia e funcionalismo público. Dentro disso, traz, desde as

secretarias do município, até os ministérios, mapeando processos, demandas e

correspondências, e fazendo também, essa ponte com a economia, mostrando

tributos do estado, entrada e saída de produtos, além das movimentações

bancarias de todos os bancos do Estado, focando principalmente no Banco do

Brasil.

Figura 1 – Parte da Capa A República (1941)

Fonte: Jornal A República (1941)

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O judiciário da época, também utiliza o jornal, como principal fonte de

informar sobre operações, julgamentos e esclarecendo todo o fluxo de

acontecimentos entre Natal e o interior do estado, mostrando todas as

demandas dos júris.

Esse primeiro semestre, mostra também, poucas informações decorrentes

do cotidiano da cidade, este é moldado tal qual o funcionalismo do que foi

citado. As poucas informações em formato de Matéria são especialmente

formuladas e copiadas de outros jornais, onde esses são ligados as principais

capitais, sendo primeiro, a capital federal Rio de Janeiro, logo depois São

Paulo e no Nordeste, Salvador.

As matérias que aparecem nesse primeiro momento mostram uma

transição que vinha ocorrendo no governo, com a implantação do Estado Novo,

as várias melhorias eram frisadas.

Pela análise bibliográfica, podemos levantar dados referentes ao

analfabetismo na cidade, que tinha um alto índice, que pelo próprio senso dos

anos de 1940 (COSTA, 1995 apud PEDREIRA, 2012), consta um alto número,

isso faz com que, o próprio jornal, traga traços de quem era seu leitor, para

quem ele era produzido e a que desejos atendia dentro da sociedade

natalense.

Como já analisado, A República, tem no seu lugar de fala, o Estado Novo

e dentro do Rio Grande do Norte, as oligarquias ligadas ao interventor e a

economia estadual, logo, já temos em mente quem o produz.

Com o alto nível de analfabetismo, julgamos que o público leitor do jornal

seja não apenas pessoas letradas, mas aqueles que tinham interesses

voltados ao que o jornal atendia principalmente pelos moldes de divulgar sobre

funcionalismo público, judiciário e economia.

Em matéria de outubro em expressão ao Club de Xadrez de Natal,

podemos analisar quase como um reflexo, quem eram as pessoas estimadas

na cidade, dignas de matérias e alusões a suas colocações sociais “(...)

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crescido número de pessoas de expressão intelectual, notando-se médicos,

engenheiros, bacharéis, musicistas, bancários e comerciantes”.

Figura 2 – Matéria Club de Xadrez

Fonte: Jornal A República (1941)

Intelectuais e com notáveis nomes na sociedade, deixam, vez ou outra,

sua contribuição, como Aluízio Alves, que aparece no jornal, muitas vezes,

ligado a literatura, seja por divulgação de suas obras, também por ser destacar

na gerencia da coleção bibliografia Biblioteca do Rio Grande do Norte e pelas

resenhas literárias.

A partir de expressões como essa, que saiam da realidade de informar

apenas sobre o governo, suas medidas e pretensões, o jornal deixa em suas

entrelinhas, para quem produzia, é quais os reflexos dessa sociedade de

acordo com as informações que eram postas para seu consumo.

Possuía grande número de anúncios, vale ressaltar alguns tipos, um

desses é o anúncio médico, que constam sempre nas páginas, trazendo

sempre de forma enaltecida os nomes familiares, ligadas sempre as oligarquias

ou grandes famílias de prestigio social. Esses anúncios médicos, tinham em

sua forma, a persuasão para mostrar o que havia de melhor, principalmente em

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formação desses médicos, muitos ostentando titulação dos principais centros

do país, como a capital e a escola de medicina da Bahia, além, dos aparelhos

que utilizavam, mostrando-se para tal temporalidade, como sendo de última

geração, como o bisturi elétrico.

Figura 3 – Anuncio Médico

Fonte: Jornal A República (1941)

O cotidiano da cidade, pode ser mapeado por outros parâmetros de

informação trazidos, exemplo disso, são os constantes anúncios dos cinemas,

sempre assíduos e sempre trazendo novas exibições, claramente muito mais

hollywoodiano, mas, sem deixar de exibir os sucessos do cinema europeu.

Havia então, de maneira forte, essa cultura de ir ao cinema, pelo menos

quatros desses, faziam anúncios constantes, como o Cine Rex, Cinema Royal,

Cinema Rival e S. Pedro.

Figura 4 – Anuncio dos Cinemas

Fonte: Jornal A República (1941)

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Os anúncios também tinham papel de gênero muito bem definido, os

anúncios deliberadamente para homens e para mulheres, nisso, as mulheres

entravam na categoria de anúncios para aparelhos domésticos, remédios,

produtos de higiene pessoal, como sabonetes e talcos. Os homens tinham

anúncios principalmente para remédios para força, produtos de barbear e

carros.

Apesar de oficialmente, o Brasil ter assumido seu lugar na guerra, no

início de 1941, as mudanças substâncias vão ocorrendo aos poucos, tanto na

construção da cidade como uma fortificação militar, como no que era informado

a partir do jornal.

As primeiras mudanças começam a ser percebidas no segundo semestre

de 1941, que traz consigo as informações referentes à guerra, mesmo que

ainda, sejam feitas de maneira moderada e não acompanham um padrão de

paginação para serem divulgadas. As notícias de guerra, são trazidas, nesse

momento, como algo reproduzido e em tamanho reduzido, mostrando os

acontecimentos do Rio e de Washington, principais capitais que importavam

para os moldes de Natal.

Figura 5 – Noticiário da Guerra

Fonte: Jornal A República (1941)

Com isso, as informações do ano de 1941, foram categorizadas, seguindo

todas essas demandas que foram noticiadas, percebe-se que há um grande

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silenciamento sobre o desenrolar político da guerra e de como afetava a cidade

nesse primeiro momento, assim, as informações eram breves e tinham um teor

absoluto sobre o que informavam.

Figura 6 – Mapa Conceitual Informações Cotidianas de 1941 do Jornal A República

Fonte: Dados da Pesquisa (2016)

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No começo de 1942 já era visível como a forma de noticiar do jornal havia

mudado, adquirido nova forma e disposição da informação. Se antes, no ano

de 1941, o modelo de noticiar ficava substancialmente longe do cotidiano da

cidade, do país e do mundo, agora buscava aproximar os acontecimentos,

trazendo muito mais a cotidianidade e o social.

Figura 7 – Capa A República (1942)

Fonte: Jornal A República (1942)

Com a confirmação de rompimento do Brasil e das Américas com o eixo,

logo passa a informar todos os trâmites do governo junto às forças aliadas para

cortar todos os acordos diplomáticos, esse processo desencadeia as

informações referentes à guerra, pois a partir disso, a guerra passa a ser

noticiada mostrando o acontecimento em todas as localizadas que foram

ocupadas ou afetadas.

Figura 8 – Matéria sobre rompimento com o Eixo

Fonte: Jornal A República (1942)

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Para além de noticiar sobre o funcionalismo público, como era muito

comum do ano anterior, passou a mostrar uma cidade em clima de

desenvolvimento, que estava evoluindo tal quais as movimentações políticas

que o Brasil desencadeava com o resto das Américas, principalmente com os

Estados Unidos, que nesse momento, trava fortes alianças.

Figura 9 – Aliança com os Estados Unidos

Fonte: Jornal A República (1942)

Figura 10 – Melhorias e desenvolvimento na Cidade

Fonte: Jornal A República (1942)

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Em consequência disso, vê-se, que o modo de informar tem várias

mudanças, como inclusão de várias matérias, a importância de noticiar o

cultural e social, para além do lado econômico e administrativo da cidade e do

Estado. Assim, o panorama da guerra passa a ser explorado, dando vida à

capa do jornal e a seção intitulada “Noticiário da Guerra”, como importante

expoente dos principais acontecimentos da guerra pelo mundo.

Figura 11 – Noticiário da Guerra

Fonte: Jornal A República (1942)

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Com o social que passa a tomar conta das páginas jornalísticas, cria-se

também a coluna “Sociais”, que se distingue das outras por seu caráter

extremamente social nas informações apresentadas, trazendo um aspecto de

crônicas e memória da cidade, além, de localizar socialmente os habitantes da

cidade, trazendo a lembrança de quem faz aniversário a certa data, quem vai

ou está viajando, núpcias, primeira comunhão.

Figura 12 – Coluna Sociais

Fonte: Jornal A República (1942)

Interessante notar que ao longo do ano de 1942 houve variações na

formatação e na nomeação dessa coluna, até mesmo as informações

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apresentadas nela, foram ampliadas, mas continua seguindo esse sentido de

trazer os aspectos de sociabilidade da cidade. Dessa maneira, se torna

ampliada e passa a se chamar “Na Sociedade e no Lar”, trazendo para além do

social, com todos os aniversários, batizados e casamentos, a subdivisão de

Arte Culinária, sempre com uma nova receita, mostrando-se mais uma forma

de fonte de informação social e do cotidiano.

Figura 13 – Na Sociedade e no lar

Fonte: Jornal A República (1942)

As questões oficiais do governo, não deixavam de ser retratadas, em

detrimento disso, havia a seção “Notas do Palácio”, informando os principais

acontecimentos do palácio do governo e do interventor, referente às suas

viagens e negociações. Além disso, os telegramas recebidos pelo interventor

eram em parte divulgados em pequenas notas, vindo das mais distintas

localidades do país. No segundo semestre de 42, a seção passa a se chamar

“No Palácio do Governo”, mas não muda o seu foco sobre o que informava

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Figura 14 – Notas de Palácio

Fonte: Jornal A República (1942)

Figura 15 – No Palácio do Governo

Fonte: Jornal A República (1942)

Outra seção de coluna dedicada ao governo, era nomeada de “Notas

Avulsas”, mas que de avulsas, só traziam informes de ações do governo, em

âmbito local e nacional. Tudo que se relacionava a economia, questões que

passavam pelo governo e por essa organização social que se dava em torno,

era noticiada como pequena nota.

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Figura 16 – Notas Avulsas

Fonte: Jornal A República (1942)

Diferença visual das informações vinculadas, surge em 1942 com o uso

de fotografias junto às matérias, que traziam imagens essencialmente na capa

ou em matérias internas que tivessem uma maior importância, ou seja,

especialmente matérias com ligação ao governo.

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Figura 17 – Fotografia em Matéria

Fonte: Jornal A República (1942)

As seções passam a incluir para além do social, aspectos culturais,

trazendo as seções “Registro Literário”, outra não nomeada, mas que vincula

poesias e “Literatura e Filosofia”. Todas têm um cunho voltado para a literatura,

porém, Registro Literário, busca analisar obras recém-lançadas pelo Brasil,

especialmente, literatura brasileira. Literatura e Filosofia tem o foco especial em

uma obra e um autor, discutindo a importância da sua obra e como é recebida

na sociedade.

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Figura 18 – Registro Literário

Fonte: Jornal A República (1942)

Figura 19 – Poema

Fonte: Jornal A República (1942)

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Figura 20 – Filosofia e Literatura

Fonte: Jornal A República (1942)

Junto dessas interessantes seções de cunho cultural, havia também a

“Nem todos sabem”, que busca trazer informações básicas e sutis, por meio de

pequenos trechos, colocando em voga muito mais curiosidades históricas e

modernização do mundo.

Figura 21 – Nem todos sabem

Fonte: Jornal A República (1942)

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Ainda no campo das informações de cunho cultural, no início de 1942, a

seção de “Informações Úteis”, aparece como campo para informar sobre

horário de ônibus para viagens estaduais e interestaduais, horário de trens,

navios que chegam ao porto, telefones de urgência, farmácias de plantão e até

mesmo, fechamento de malas aéreas.

Figura 21 – Informações úteis

Fonte: Jornal A República (1942)

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Essa seção, passa a ter modificações ao longo do ano, sendo reduzida na

maioria dos casos a informações sobre farmácias de plantão, ônibus e

fechamento de malas aéreas.

Figura 22 – Informações Úteis, Cinema, Teatro & Rádio

Fonte: Jornal A República (1942)

. Com isso, as informações sobre Cinema, Teatro e Rádio, ficam

separadas, mas, logo em seguida, ganham forma com a seção Artes e

Diversões, canalizando as informações desses três meios de cultura, através

de uma linguagem mais especifica, vinculando os três a diversão que havia na

cidade.

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Figura 23 – Arte e Diversões

Fonte: Jornal A República (1942)

Com isso, as informações dessa seção passam a ter maior detalhamento,

dando ênfase especial para programação do rádio, que era vista muito mais

como diversão e entretenimento, do que como fonte de informação.

Ao passo que a guerra se intensifica para o Brasil, o jornal começa a

anunciar a importância dos reservistas, além das convocações feitas, com as

“Noticias Militares”.

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Figura 24 – Noticias Militares

Fonte: Jornal A República (1942)

Assim, as informações vinculadas no ano de 1942, sofrem acentuadas

mudanças em comparação com o ano de 1941, percebemos que

principalmente vinculado às escolhas do governo Vargas, o processo de

noticiar se modifica em muito, pois a partir do momento que sua posição contra

o Eixo fica clara, as notícias sobre a guerra tomam conta do jornal.

A propaganda do governo, passa a ser feita por meio das escolhas frente

à guerra, além disso, a cidade se torna mais noticiada, o cotidiano se torna

mais aparente, as colunas sociais se tornam peça chave de demostrar com as

pessoas viviam, o que reflete suas preferências sociais, que tipo de produtos

consumiam.

O Rádio, Cinema e Teatro, são colocados socialmente, como peças de

entretenimento, onde se posiciona também as colunas sobre literatura, com

todos os aspectos das discursões filosóficas. O jornal por meio das suas

publicações, deixa claro em como se dividia sua forma de noticiar, a maioria

dos espaços são destinados aos letrados, com mais prestigio social, a quem

interessava tudo aquilo que podiam consumir, aos menos abastados, restam as

seções de anúncios, que traziam informações sobre os sindicatos e chamadas

públicas do governo.

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Figura 25 – Mapa Conceitual Informações Cotidianas de 1942 do Jornal A

República

Fonte: Jornal A República (1942)

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Podemos constar a partir das colocações de Smith Junior (1992), que a

partir da Terceira Conferência de Ministros Estrangeiros, onde Vargas se

coloca frente aos Aliados, tornando essa medida, ponto decisivo de mudanças

nas informações vinculadas na cidade.

A guerra se torna alvo principal de noticiar, tudo estava ligado à forma

com a qual ela estava acontecendo, seus enfoques tímidos em 1941 se tornam

em 1942 parte essencial e principal das informações diárias.

A partir dessa decisão, as informações cotidianas vão mudando aos

poucos, o cotidiano passa a ter outra dimensão no jornal, as colunas se tornam

alvo principal de disseminação sobre como a cidade consumia produtos,

serviços e cultura, além dos costumes e comportamento, sendo essa, a

principal mudança que se contrapõe a forma de noticiar de 1941, que tinha

estruturas mais rígidas, tratava muito mais do estado, economia e governo.

Podemos traçar como principais categorias de informação: Matérias,

Classificados, Anúncios, Funcionalismo Público, Economia e Desportos, para o

ano de 1941, para 1942, Matérias, Classificados, Anúncios, Colunas e

Desportos. Seguindo a estrutura nominal que estavam na forma de noticiar dos

jornais da época, as modificações de estrutura no A República são feitas

também, a partir do que já foi explicitado sobre a estruturação do governo.

Com isso, se torna perceptível o processo de continuidade de muitas

informações disseminadas, como as de cunho governamental, além de muitas

rupturas na forma de noticiar essas mesmas informações, que no intervalo de

um ano para o outro, se modificam até na sua forma de apresentação. Assim, o

jornal passa por um processo de ruptura e continuidade visível, entre 1941 e

1942, sendo um amplo reflexo do cotidiano de Natal.

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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir da análise e identificação das informações do jornal A República,

podemos constatar que tipo de informação circulava em Natal no período de

1941 a 1942, identificando como com o contexto político do Estado Novo, as

informações eram susceptíveis a mudanças, tanto pelo silenciamento como

pela censura.

Por meio da metodologia utilizada, foi possível traçar de forma indutiva, a

maneira a qual a estrutura das informações no jornal, levam a partículas

menores de informações traçadas. O uso da semana artificial, fez com que a

criação do corpus documental, fosse de extrema relevância, levando de

maneira precisa a forma de verificar por meio da análise de conteúdo.

Percebemos que em 1941, há muitos silêncios relacionados à vida social

da cidade e dos encaminhamentos da guerra, o foco principal foi tomado pela

estrutura do funcionalismo público. Já em 1942, depois de tomado o espaço

em que o Brasil estava na guerra, o fluxo de informação se torna outro, a vida

social tem mais espaço, que faz contraponto com todos os avanços da guerra,

além de tornar visível a modernização da cidade.

Com isso, podemos considerar que no começo dos anos 40, na cidade de

Natal, uma das principais fontes de informação da época, se modifica de

acordo com os interesses traçados pelo governo, mas que também, os

acontecimentos cotidianos, dão vida ao padrão de como se vivia naquele

momento, refletindo diretamente, na maneira que se informavam e para o que

se mantinham informados.

Manter-se informado por meio do jornal estava dentro de um padrão

social, podemos constar que o público desse, era especifico, mesmo que o

jornal esteja como um aparelho de informação das massas, esse tem discursos

que são traçados dentro dos interesses dos seus leitores.

O discurso mantido pelo A República, interessa as oligarquias, famílias

de prestigio e intelectuais da sociedade natalense, para esses, que em muito

apoiavam o Estado Novo, o jornal se fazia veículo de importância. Para

aqueles que estavam à margem, o discurso do jornal, servia como propaganda

política de um governo ideal, cercado de avanços e de apoio à guerra.

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Os mapas conceituais, deram contar de tornar visível como se estrutura a

informação, não se tratando de uma hierarquia, mas, de um fluxo de como no

geral, essa informação segue, especificando o seu conteúdo dentro de cada

partícula das categorizações. Essas categorias, não são especificas e iguais

para os anos escolhidos, como foi discorrido, ocorrem modificações visíveis na

maneira de informar, em detrimento das posições políticas do governo, isso faz

com que até mesmo o foco entre matérias e colunas sociais seja modificado.

Assim, as considerações feitas nessa pesquisa, mostram a relevância de

pesquisar a informação nesse período histórico, trazendo as modificações

ocorridas, resgatado por meio desses aportes de memória, a dinâmica de se

informar em períodos de silenciamento e censura, em uma sociedade cercada

de estreitamentos sociais.

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