View
216
Download
0
Category
Preview:
Citation preview
UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ
LUÍS EDUARDO RAVEDUTTI
CONTRATOS DE DISTRIBUIÇÃO A LUZ DO CÓDIGO CIVIL DE 2002
CURITIBA
2012
CONTRATOS DE DISTRIBUIÇÃO A LUZ DO CÓDIGO CIVIL DE 2002
CURITIBA
2012
LUÍS EDUARDO RAVEDUTTI
CONTRATOS DE DISTRIBUIÇÃO A LUZ DO CÓDIGO CIVIL DE 2002
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Direito da Faculdade de Ciências Jurídicas da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Direito. Orientador: Prof. Msc. Geraldo Doni Jr.
CURITIBA
2012
TERMO DE APROVAÇÃO
LUÍS EDUARDO RAVEDUTTI
CONTRATOS DE DISTRIBUIÇÃO A LUZ DO CÓDIGO CIVIL DE 2002
Esta monografia foi julgada e aprovada para a obtenção do grau em Bacharel no Curso de Direito da Faculdade de Ciências Jurídicas da Universidade Tuiuti do Paraná.
Curitiba, _____ de ________________ de 2012.
_______________________________________
Professor Doutor Eduardo de Oliveira Leite
Coordenador do Núcleo de Monografias
Curso de Direito da Universidade Tuiuti do Paraná.
Orientador:
____________________________________________
Prof. Msc. Geraldo Doni Jr.
____________________________________________
Prof.
____________________________________________
Prof.
Gostaria de agradecer primeiramente a Deus, e a todos os meus familiares por terem me incentivado e estarem sempre ao meu lado durante toda esta caminhada, me dando a estrutura necessária para chegar até aqui, acreditando sempre no meu sucesso, em especial aos meus Pais, Avós, Irmãos e Tios.
Agradeço também, a todos os amigos que me
apoiaram. Especialmente a todas as amizades adquiridas durante este longo período, não só nos meios acadêmicos, mas também fora dele, e espero que estas durem para sempre.
Tenho muito a agradecer à minha namorada que muito
me ajudou e apoiou nesta reta final, disponibilizando seu tempo e ficando noites em claros se fosse preciso, para estudar comigo as matérias deste ultimo período.
Por último, sou muito grato ao Mestre Geraldo Doni Jr.
pela paciência que teve comigo, bem como pelos ensinamentos que me auxiliaram na realização do presente trabalho. Para mim, foi uma honra tê-lo como professor e orientador.
Dedico o presente trabalho a todos que
de certa forma me auxiliaram em sua
elaboração, sempre me apoiando e
dizendo palavras de apoio
nos momentos certos.
RESUMO
O Presente trabalho tem a finalidade de explicar o contrato de distribuição.
Este instituto, inserido no novo Código Civil Brasileiro em 2002 é facilmente
confundido com o contrato de agência. Provavelmente isso ocorre por estarem
definidos em um único artigo. Para distinguir o contrato de distribuição do contrato
de agência, bem como dos demais contratos que a ele se assemelham, será
definido inicialmente a figura do contrato e sua evolução histórica, para então
chegarmos ao conceito de contrato de distribuição e quais são suas principais
características. Por fim, será explicado as três possíveis formas de dissolução que
podem ocorrer no contrato de distribuição.
Palavras-chave: Contrato de distribuição. Princípios. Classificação. Formas de
dissolução.
1
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ......................................................................................
7
2 CONCEITO DE CONTRATOS ............................................................. 9
2.1 BREVE EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS CONTRATOS ........................ 10
2.2 PRINCÍPIOS ORA RELEVANTES QUE REGEM OS CONTRATOS ... 11
2.2.1 Princípio da Função Social dos Contratos ............................................ 12
2.2.2 Princípio da Autonomia da Vontade...................................................... 13
2.2.3 Princípio Pacta Sunt Servanda ............................................................. 14
2.2.4 Princípio da Boa-fé ............................................................................... 14
2.2.4.1 Princípio da Boa-fé Subjetiva ................................................................ 15
2.2.4.2 Princípio da Boa-fé Objetiva ................................................................. 16
3 DO CONTRATO DE DISTRIBUIÇÃO .................................................. 17
3.1 CLASSIFICAÇÃO DO CONTRATO DE DISTRIBUIÇÃO ..................... 19
3.1.1 Consensual ........................................................................................... 19
3.1.2 Bilateral ................................................................................................. 20
3.1.3 Oneroso ................................................................................................ 21
3.1.4 Comutativo ............................................................................................ 21
3.1.5 Personalíssimo ..................................................................................... 22
3.1.6 Informal ................................................................................................. 22
3.2 PRINCIPAIS DIFERENÇAS ENTRE AGÊNCIA E DISTRIBUIÇÃO ..... 24
3.3 DA CLÁUSLUSA DE EXCLUSIVIDADE ............................................... 25
4 DAS FORMAS DE DISSOLUÇÃO DO CONTRATO DE
DISTRIBUIÇÃO .................................................................................... 27
4.1 DA RESCISÃO ..................................................................................... 27
4.2 DA RESILIÇÃO ..................................................................................... 28
4.2.1 Resilição Bilateral ................................................................................. 29
4.2.2 Resilição Unilateral ............................................................................... 30
4.3 RESOLUÇÃO ....................................................................................... 31
5 CONCLUSAO ....................................................................................... 33
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................... 34
7
1 INTRODUÇÃO
Os contratos de distribuição são facilmente confundidos com os de agência.
Para a doutrina isso ocorre pelo fato do Código Civil de 2002 tratá-los de forma
unificada. Poucos doutrinadores entendem que eles são exatamente iguais, e a
doutrina majoritária entende que são diferentes a começar pela disposição da coisa
a ser negociada no contrato de distribuição.
Diante disso o presente trabalho visa conceituar contrato, explicar como ele
surgiu ao longo dos tempos, enfatizando o contrato de distribuição e suas
características. Em se tratando de tipificação relativamente atual, seu estudo
certamente irá proporcionar melhor compreensão de sua definição e aplicabilidade,
bem como das suas principais diferenças com relação aos demais contratos em
espécie.
Nos contratos de distribuição vários são os direitos e deveres dos
contratantes, podendo-se destacar a exclusividade do distribuidor e a possibilidade
de fiscalização por parte do concedente. No que concerne a dissolução contratual,
veremos que, neste tipo de contrato, ela pode ocorrer de três formas, quais sejam a
resilição, resolução e rescisão.
A elaboração do presente trabalho baseou-se nos ensinamentos doutrinários
de Direito Civil apresentados nas referências bibliográficas e em pesquisas a
jurisprudências, relativas a pontos polêmicos concernentes aos contratos de
distribuição para que pudesse ser apresentado da seguinte maneira.
O primeiro capítulo conceitua de forma geral os contratos, explicando sua
evolução histórica, para melhor compreendermos os princípios relevantes aos
contratos, tais como sua função social, a autonomia da vontade aplicada, sua
obrigatoriedade e a importância da boa-fé.
Na sequência, o capítulo que trata a respeito dos contratos de distribuição, o
conceitua para poder explicar suas classificações e diferenças do contrato de
agência, ressaltando a necessidade da cláusula de exclusividade a ele aplicado por
se tratar de um direito do distribuidor.
8
Por fim, serão explicadas as causas de dissolução do contrato de
distribuição aqui já expostas, com intuito de proporcionar melhor entendimento do
que seria cada uma delas, em quais hipóteses e porque serão aplicadas, e, ainda se
haverá a obrigatoriedade de perdas e danos por parte do descumpridor à obrigação
celebrada.
9
2 CONCEITO DE CONTRATOS
Ao estudarmos as definições de contrato, verificamos que para sua
efetivação é necessário o encontro de duas ou mais vontades, tanto que Sílvio de
Salvo Venosa (2009, p. 353) nos traz a ideia de que “quando o ser humano usa de
sua manifestação de vontade com a intenção precípua de gerar efeitos jurídicos, a
expressão dessa vontade constitui-se num negócio jurídico”.
De acordo com Carlos Roberto Gonçalves (2009, p. 1) “o contrato é a mais
comum e mais importante fonte de obrigação, devido às suas múltiplas formas e
inúmeras repercussões no mundo jurídico”.
Silvio Rodrigues ao definir contrato também o relaciona a negócio jurídico
dizendo:
Dentro da teoria dos negócios jurídicos, é tradicional a distinção entre os atos unilaterais e os bilaterais. Aqueles se aperfeiçoam pela manifestação da vontade de uma das partes, enquanto estes dependem da coincidência de dois ou mais consentimentos. Os negócios bilaterais, isto é, os que decorrem de acordo de vontade, são os contratos. Portanto, o contrato representa uma espécie do gênero negócio jurídico. E a diferença específica entre ambos consiste na circunstância do aperfeiçoamento do contrato depender da conjunção da vontade de duas ou mais partes. (RODRIGUES, 2004, p. 9).
Flavio Tartuce (2012, p. 1) quando conceitua contrato, inicia apontando o
quanto ele é antigo dizendo “que nasceu a partir do momento em que as pessoas
passaram a se relacionar e a viver em sociedade. A própria palavra sociedade traz a
ideia de contrato”. Para o autor, além de antigo, o contrato “é um ato jurídico
bilateral, dependente de pelo menos duas declarações de vontades, cujo objetivo é
a criação, a alteração ou até mesmo a extinção de direitos e deveres de conteúdo
patrimonial.” (TARTUCE, 2012, p. 2).
Por fim, Arnaldo Rizzardo (2004, p. 1) afirma que “para viabilizar a
convivência social, há necessidades de uma correspondência entre os direitos e
deveres ou obrigações.”. Relacionando assim o contrato com a ideia de sociedade.
Arnaldo tem ainda outra visão para conceituar este ramo do direito civil que é a
seguir exposta:
Há mais de uma forma que expressa o sentido de contrato. Os Romanos empregavam o termo ‘convenção’ (pacto conventio), com o significado amplo de contrato, considerando-a o gênero, eis que abarcava toda a
10
espécie de acordos de vontade, quer resultassem ou não obrigações; e o termo ‘contrato’ (contractus), que aparecia como espécie e era a relação jurídica constituída por obrigações exigíveis mediante ações cíveis. (RIZZARDO, 2004, p. 5).
Contudo, não podemos relacionar o contrato apenas à obrigações, pois
conforme a doutrina de Carlos Roberto Gonçalves (2009, p. 2) ele se estende “a
outros ramos do direito privado (o casamento p. ex., é considerado um contrato
especial, um contrato de direito de família)”, bem como ao direito público e espécies
de convenção.
2.1 BREVE EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS CONTRATOS
Como já mencionado, o contrato é um instituto jurídico antigo, em constante
evolução com a humanidade. Arnaldo Rizzardo nos dá o seguinte posicionamento:
Desde o momento histórico do aparecimento do homem há indícios da existência do contrato, no sentido amplo, ou, pelo menos, do direito, em sua forma mais primitiva, segundo o vetusto princípio romano ubi societatis, ibi jus. Realmente, pela circunstância do agrupamento em tribos dos seres humanos já se presume a verificação de uma concordância em um determinado comportamento, acatando os componentes do grupo certas regras comuns de convivência. Antes do aparecimento da moeda, as relações comerciais se desenvolviam num sistema de trocas dos mais variados produtos, envolvendo, sempre, apesar de tacitamente, deveres e direitos de cada lado das partes contratantes. (RIZZARDO, 2004, p. 7).
O contrato, assim como a figura do pacto e da convenção, surgiu no direito
Romano. Estes instrumentos são diferenciados uns dos outros conforme explica
Silvio de Salvo Venosa:
Como linguagem figurativa, modernamente podemos usar as expressões como sinônimos, embora só contrato tenha sentido técnico. Convenção é o termo mais genérico, aplicável a toda espécie de ato ou negócio bilateral. O termo pacto fica reservado para cláusulas acessórias que aderem a uma convenção ou contrato, modificando seus efeitos naturais, como o pacto de melhor comprador na compra e venda e o pacto antenupcial no casamento. Pacto, usado singelamente, não tem a mesma noção de contrato. Utiliza-se para denominar um acordo de vontades sem força cogente. (VENOSA, 2009, p. 356).
Pode-se dizer que tanto o pacto quanto o contrato eram espécies, já a
convenção era considerada gênero daqueles. De acordo com Carlos Roberto
11
Gonçalves, foi o Código Napoleão, primeira codificação moderna de estrutura
significativa, que consagrou a classificação citada.
A Revolução de 1789 influenciou para que o contrato fosse considerado
instrumento adequado para a aquisição da propriedade, pois, se tratava de meio de
manifestação da vontade, e à época “o acordo de vontades representava, em
realidade, uma garantia para os burgueses e para as classes proprietárias. A
transferências de bens passava a ser dependente exclusivamente da vontade.”
(GONÇALVES, 2009, p. 3).
Algum tempo depois, o Código Civil Alemão passou a considerar o contrato
um negocio jurídico que não transferia a propriedade por si só, como no novo
Código Civil brasileiro.
No direito Romano algumas espécies de contrato já eram conhecidas, Silvio
de Salvo Venosa aponta que:
Eram quatro categorias conhecidas: contratos reais, verbais, literais e consensuais. Muito tardou a evolução romana para reconhecer os contratos conhecidos como inominados, admitindo-se a partir de então a obrigatoriedade de todo pacto de vontades. No entanto, persistiam os simples pactos desprovidos de ação, que não possuíam reconhecimento jurídico. (VENOSA, 2010, p. 3).
Posteriormente, verifica-se que com o surgimento do citado Código
napoleônico, houve a simplificação das formas contratuais, que na verdade, eram
irrelevantes, e a obrigatoriedade da vontade.
Por fim, podemos pontuar que atualmente o contrato é instrumento
fundamental no negócio jurídico e deve respeitar alguns princípios, conforme explica
Carlos Roberto Gonçalves (2009, p. 4): “O Código civil de 2002 tornou explícito que
a liberdade de contratar só pode ser exercida em consonância com os fins sociais do
contrato, implicando os valores primordiais da boa-fé e da probidade (arts. 421 e
422)”.
2.2 DOS PRINCÍPIOS ORA RELEVANTES QUE REGEM OS CONTRATOS
São vários os princípios que regem o direito contratual, sendo alguns
tradicionais e outros modernos. Por ora, veremos apenas os que são considerados
relevantes para este ramo do direito.
12
2.2.1 Princípio da Função Social do Contrato
O artigo 421 do Código Civil Brasileiro dispõe que “a liberdade de contratar
será exercida em razão e nos limites da função social do contrato”. Flávio Tartuce
(2012, p. 58) interpreta este artigo da seguinte forma:
Os contratos devem ser interpretados de acordo com a concepção do meio social onde estão inseridos, não trazendo onerosidade excessiva às partes contratantes, garantindo que a igualdade entre elas seja respeitada, mantendo a justiça contratual e equilibrando a relação onde houver a preponderância da situação de um dos contratantes sobre a do outro. Valoriza-se a equidade, a razoabilidade, o bom-senso, afastando-se o enriquecimento sem causa, ato unilateral vedado expressamente pela própria codificação, nos seus arts. 884 a 886. Por esse caminho, a função social dos contratos visa à proteção da parte vulnerável da relação contratual. (TARTUCE, 2012, p. 58).
Segundo Arnaldo Rizzardo (2004, p. 21) “a função social do contrato decorre
da doutrina que se opôs ao liberalismo decorrente da Revolução Industrial e que
veio a ser adotada pela Constituição Federal do Brasil de 1988, [...] passando a se
impor como diretriz das relações jurídicas”. Para o autor, a função social do contrato
serve para impedir que pessoas que tenham fraca manifestação da vontade e pouco
discernimento, visão negocial, sejam prejudicadas.
Silvio de Salvo Venosa em sua teoria geral, ressalta a importância da
vontade privada em matéria contratual, conforme podemos ver:
Na contemporaneidade, a autonomia da vontade clássica é substituída pela autonomia privada, sob a égide de um interesse social. Nesse sentido o Código aponta para a liberdade de contratar sob o freio da função social. Há, portanto, uma nova ordem jurídica contratual, que afasta da teoria clássica, tendo em vista mudanças históricas tangíveis. O fenômeno do interesse social na vontade privada negocial não decorre unicamente do intervencionismo do Estado nos interesses privados, com o chamado dirigismo contratual, mas da própria modificação de conceitos históricos em torno da propriedade. No mundo contemporâneo há infindáveis interesses interpessoais que devem ser sopesados, algo nunca imaginado em passado recente, muito além dos princípios do simples contrato de adesão. (VENOSA, 2009, p. 31).
Deste modo, Carlos Roberto Gonçalves (2009, p. 5), ensina que “a função
social do contrato constitui, assim, princípio moderno a ser observado pelo intérprete
na aplicação dos contratos. Alia-se aos princípios tradicionais, como os da
13
autonomia da vontade e da obrigatoriedade, muitas vezes impedindo que estes
prevaleçam”.
Ante o exposto, podemos concluir que o principio da função social serve
para impedir que a autonomia da vontade ultrapasse o interesse social.
2.2.2 Princípio da Autonomia da Vontade.
Conforme consta na doutrina de Carlos Roberto Gonçalves, o principio da
autonomia da vontade teve auge após a Revolução Francesa. Tal princípio consiste
basicamente na livre contratação proporcionada às partes, que podem estabelecer o
objeto e com quem irão contratar. De acordo com o autor:
O principio da autonomia da vontade se alicerça exatamente na ampla liberdade contratual, no poder dos contratantes de disciplinar os seus interesses mediante acordo de vontades, suscitando efeitos tutelados pela ordem jurídica. Têm as partes a faculdade de celebrar ou não contratos, sem qualquer interferência do Estado. Podem celebrar contratos nominados ou fazer combinações, dando origem a contratos inominados. (GONÇALVES, 2009, p. 20).
Já na teoria geral de Silvio de Salvo Venosa, encontramos que a autonomia
da vontade de contratar não é ilimitada, uma vez que vai de encontro aos princípios
de ordem pública. Para ele, a liberdade de contratar pode ser vista pelos seguintes
aspectos:
Pelo prisma da liberdade propriamente dita de contratar ou não, estabelecendo-se o conteúdo do contrato, ou pelo prisma da escolha da modalidade do contrato. A liberdade contratual permite que as partes se valham dos modelos contratuais constantes do ordenamento jurídico (contratos típicos), ou criem uma modalidade de contrato de acordo com as suas necessidades (contratos atípicos). (VENOSA, 2009, p. 365).
Flávio Tartuce denomina este princípio como da autonomia privada, e a
relaciona ao direito de liberdade da pessoa humana. Assim, o autor explica que:
Em primeiro momento, a liberdade de contratar está relacionada com a escolha da pessoa ou das pessoas com quem o negócio será celebrado, sendo uma liberdade plena, em regra. Entretanto, em alguns casos, nítidas são as limitações à carga volitiva, eis que não se pode, por exemplo, contratar com o poder público se não houver autorização para tanto. Como limitação da vontade de contratar, pode ser citado o art. 497 do CC, que veda a compra e venda de bens confiados à administração em algumas situações. (TARTUCE, 2012, p. 53).
14
2.2.3 Princípio Pacta Sunt Servanda
O princípio Pacta Sunt Servanda, também conhecido por princípio da força
obrigatória dos contratos, serve para vincular o convencionado. Conforme Flávio
Tartuce (2012, p. 84) ele decorre do princípio da autonomia privada e “prevê que
tem força de lei o estipulado pelas partes na avença, constrangendo os contratantes
ao cumprimento do conteúdo completo do negócio jurídico”.
Neste mesmo sentido Caio Mario da Silva Pereira (2009, p. 13) explica que
“o contrato obriga os contratantes. Lícito não lhes é arrependerem-se; lícito não é
revoga-lo senão por consentimento mútuo; lícito não é o juiz alterá-lo ainda que a
pretexto de tornar as condições mais humanas para os contratantes”. Desta forma,
para o autor “o princípio da força obrigatória do contrato significa, em essência, a
irreversibilidade da palavra empenhada”. (PEREIRA, 2009, p. 13).
No que concerne a obrigatoriedade do contrato, Orlando Gomes entende da
mesma forma, ensinando o seguinte:
Diz-se que é intangível, para significar-se a irretratabilidade do acordo de vontades. Nenhuma consideração de eqüidade justificaria a revogação unilateral do contrato ou a alteração de suas cláusulas, que somente se permitem mediante novo concurso de vontades. O contrato importa restrição voluntária da liberdade; cria vínculo do qual nenhuma das partes pode desligar-se sob o fundamento de que a exceção a arruinará ou de que não o teria estabelecido se houvesse previsto a alteração radical das circunstancias. (GOMES, 2009, p. 38).
Carlos Roberto Gonçalves (2009, p. 28) entende que ao respeitar o princípio
da autonomia da vontade, não há obrigatoriedade em contratar. Tanto o objeto do
acordo quanto seus termos foram regidos pelas partes, logo, “os que o fizerem, [...],
sendo o contrato válido e eficaz, devem cumpri-lo, não podendo se forrarem às suas
consequências, a não ser com a anuência do outro contratante.”
2.2.4 Princípio da Boa-Fé
Os autores ora estudados ao falarem de boa-fé criticam o Código Civil de
1916, pois neste não havia nenhum dispositivo prevendo tal princípio. Já o novo
15
Código Civil Brasileiro traz em seu artigo 422 que “os contratantes são obrigados a
guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios da
probidade e boa fé”.
De acordo com Carlos Roberto Gonçalves (2009, p. 33), “o princípio da boa-
fé exige que as partes se comportem de forma correta não só durante as tratativas,
como também durante a formulação e cumprimento do contrato”. Segundo o autor
deve haver a presunção da boa-fé pelo juiz. Aquele que alegar a má-fé deve prová-
la.
Conforme disposto na Teoria Geral de Silvio de Salvo Venosa (2009, p.
368), o princípio da boa-fé “se estampa pelo dever das partes de agir de forma
correta, eticamente aceita, antes, durante e depois do contrato, isso porque, mesmo
após o cumprimento de um contrato, podem sobrar-lhes efeitos residuais”.
Finalmente, em se tratando de boa-fé, verifica-se que ela pode ser objetiva
ou subjetiva, conforme explicado a seguir.
2.2.4.1 Boa-Fé Subjetiva.
Na doutrina de Flávio Tartuce (2012, p. 87) encontramos que, antes a boa-fé
era relacionada apenas com o propósito do sujeito de direito, então, “era
conceituada como boa-fé subjetiva, eis que mantinha relação direta com a pessoa
que ignorava um vício relacionado com a pessoa, bem ou negócio”.
Para Carlos Roberto Gonçalves (2009, p. 35), a boa-fé subjetiva pode ser
chamada de concepção psicológica da boa-fé, pois, “implica a noção de
entendimento equivocado, em erro que enreda o contratante”, ou seja, “diz respeito
ao conhecimento ou ignorância da pessoa relativamente a certos fatos, [...]. Serve à
proteção daquele que tem a consciência de estar agindo conforme o direito, apesar
de ser outra a realidade.” (GONÇALVES, 2009, p. 34).
Neste sentido Caio Mario da Silva Pereira afirma que é característico da
boa-fé subjetiva o dever de não prejudicar, diferenciando-a do principio da boa-fé
objetiva, pois neste, há o dever de cooperar conforme veremos no próximo subitem.
16
2.2.4.2 Boa-Fé Objetiva.
Em se tratando de boa-fé objetiva, Carlos Roberto Gonçalves (2009, p. 35),
considera que é a concepção ética da boa-fé, pois “classifica-se, assim, como regra
de conduta. Incluída no direito positivo de grande partes dos países ocidentais, deixa
de ser principio geral do direito para transformar-se em cláusula geral de boa-fé
objetiva. É, portanto, fonte de direito e de obrigações”.
Como já mencionado, no que diz respeito a boa-fé, antigamente ela era
relacionada apenas à intenção do sujeito, porém, Flávio Tartuce explica que:
Desde os primórdios do direito romano, já se cogitava uma outra boa-fé, aquela direcionada à conduta das partes, principalmente nas relações negociais e contratuais. Com o surgimento do jusnaturalismo, a boa-fé ganhou, no Direito Comparado, uma nova faceta, relacionada com a conduta dos negociantes e denominada boa-fé objetiva. Da subjetivação saltou-se para a objetivação, o que é consolidado pelas codificações privadas europeias. (TARTUCE, 2012, p. 87).
Para Caio Mario da Silva Pereira (2009, p. 18) a boa-fé objetiva “não diz
respeito ao estado mental subjetivo do agente, mas sim ao seu comportamento em
determinada relação jurídica de cooperação”. Caio Mário ensina ainda, a boa-fé
objetiva, diferente da subjetiva não cria somente deveres negativos, inspirando-se
em deveres positivos uma vez que visa o cumprimento do acordo celebrado entre as
partes. Desta forma, “apesar de consagrado em norma infraconstitucional, incide
sobre todas as relações jurídicas na sociedade.” (PEREIRA, 2009, p. 18).
Orlando Gomes, assim como Caio Mário, entende que há de certa forma
cooperação na boa-fé objetiva, quando ensina que:
Ao principio da boa-fé empresta-se ainda outro significado. Para traduzir o interesse social de segurança nas relações jurídicas, diz-se, como está expresso no Código Civil alemão, que as partes devem agir com lealdade e confiança recíprocas. Numa palavra, devem proceder com boa-fé. Indo mais a diante, aventa-se a idéia de que entre o credor e o devedor é necessária a colaboração, um ajudando o outro na execução do contrato. (GOMES, 2009, p.43).
Por fim, conforme entendimento de Sílvio de Salvo Venosa, podemos
concluir que a boa-fé objetiva nada mais é do que uma regra de conduta, em que o
sujeito deve agir em conformidade com princípios e padrões sociais.
17
3 DO CONTRATO DE DISTRIBUIÇÃO
O contrato de distribuição é regulamentado pelo novo Código Civil em seus
artigos 710 a 721. A caracterização do contrato de distribuição é expressa no artigo
710 do referido Código que dispõe:
Pelo contrato de agencia, uma pessoa assume, em caráter não eventual e sem vínculos de dependência, a obrigação de promover, à conta de outra, mediante retribuição, a realização de certos negócios, em zona determinada, caracterizando-se a distribuição quando o agente tiver à sua disposição a coisa a ser negociada.
Desta forma, por estarem definidos no mesmo artigo, alguns doutrinadores
entendem que o contrato de distribuição não é distinto do de agência. Mas, nas
palavras de Carlos Roberto Gonçalves (2009, p. 440), a eles apenas “se pode
atribuir maior ou menor soma de funções ao preposto. O aludido diploma os
distingue pelo fato de, no primeiro, não ter o agente a disposição da coisa
negociada”. Neste caso, o primeiro a que o autor se refere é ao contrato de agência.
Todos acordam que uma distinção aparente é a disposição da coisa
negociada no contrato de distribuição. Caio Mario da Silva Pereira ao falar de
agencia e distribuição ensina que:
Outra figura que em nosso Código Civil de 2002 recebeu tipicidade foi o contrato de agencia e distribuição (arts. 710 a 721), e se conceitua como o contrato pelo qual uma pessoa se obriga a realizar, mediante retribuição, com caráter de habitualidade, mas sem subordinação hierárquica, operações mercantis por conta de outrem, em zona determinada. A diferença entre agencia e distribuição é que nesta o agente tem à sua disposição a coisa a ser negociada.” (PEREIRA, 2009, p. 333).
Para Silvio de Salvo Venosa (2010, p. 309), a doutrina e a jurisprudência
acabam por identificar o contrato de representação comercial com o de agência e
distribuição. Esclarece o autor que a lei não foi clara, pois, por ela entende-se que
“se a pessoa tem a coisa que comercializa consigo será distribuidor; caso contrário,
será agente. No mais, procura a lei unificar os direitos de ambos e,
consequentemente, aplicam-se ao representante comercial no que couber”.
Neste sentido Arnaldo Rizzardo (2004, p. 753) entende que “a tipicidade da
distribuição possui contornos próprios, não se confundindo com a agência. Em
verdade, a distribuição equivale à concessão comercial”. Para ele:
18
Ambas as espécies, embora com natureza semelhante, distinguem-se pelo objeto próprio de uma e de outra. Enquanto a concessão comercial destina-se aos veículos, consoante regime próprio da Lei n° 6.729, a distribuição envolve os demais bens. O ponto comum é a entrega de produtos ou bens para que o distribuidor ou concessionário efetue a venda. A natureza, entrementes, é a mesma. Daí a conclusão que leva a incidirem as normas do Código Civil para ambas as espécies. (RIZZARDO, 2004, p. 754).
No Curso de Direito Civil de Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona
Filho (2009, p. 385) encontramos que em se tratando de agencia e distribuição
“estamos diante de duas figuras tipicamente mercantis, tratadas conjuntamente, [...],
que antes eram consideradas contratos atípicos, pois regidos por normas de
diferentes figuras contratuais, mas que, agora, encontram guarida em normas gerais
da codificação civil”. Definem ainda o contrato de distribuição como sendo:
Negocio jurídico em que uma pessoa, física ou jurídica, assume, em caráter não eventual e sem vínculos de dependência, a obrigação de promover, à conta de outra, mediante retribuição, a realização de certos negócios, em zona determinada, tendo, desde já, em sua detenção, a coisa objeto do negócio. (GAGLIANO e PAMPLONA, 2009, p. 386).
Deste modo, Carlos Roberto Gonçalves, utilizando-se das palavras de
Humberto Theodoro Júnior, esclarece que a distribuição:
Não é a revenda feita pelo agente. Este nunca compra a mercadoria do preponente. Ele age como depositário apenas da mercadoria a este pertencente, de maneira que, ao concluir a compra e venda e promover a entrega de produtos ao comprador, não age em nome próprio, mas o faz em nome e por conta da empresa que representa. Em vez de atuar como vendedor, atua como mandatário do vendedor. Tal contrato difere do contrato de concessão comercial, este, sim, baseado na revenda de mercadorias e sujeito a princípios que nem sequer foram reduzidos a contrato típico pelo Código Civil. (GONÇALVES, 2009, p.440).
Ao mencionar o artigo 710 do Código Civil brasileiro, Flávio Tartuce (2012, p.
517) revela que “em vigor é o que traz o conceito dos contratos em questão, o que
representa aplicação do princípio da operabilidade, no sentido de facilitação do
Direito Civil”. Ainda, utilizando as palavras de José Maria Trepat Cases, Tartuce
escreve que “a distribuição é a contratação voltada para otimizar a produção e
circulação de bens, aproximando o produtor do consumidor, por intermédio do
distribuidor.” (TARTUCE, 2012, p. 518). O autor entende também que “o agente ou
distribuidor terá direito à remuneração correspondente aos negócios concluídos
dentro de sua zona, ainda que sem a sua interferência.” (TARTUCE, 2012, p. 520).
19
3.1 CLASSIFICAÇÃO DO CONTRATO DE DISTRIBUIÇÃO
Ao caracterizar o contrato de distribuição, Orlando Gomes (2004, p. 465)
ensina que ele é “sinalagmático, oneroso, comutativo, simplesmente consensual,
formal, de adesão”.
Para Flávio Tartuce (2012, p. 518), os contratos de distribuição e de agência
possuem as mesmas características e natureza jurídica, por serem “contrato
bilateral, oneroso, consensual, comutativo, personalíssimo e informal”.
Silvio de Salvo Venosa (2010, p. 320), assim como Tartuce, classifica os
institutos de agência e distribuição da mesma maneira por entender que ambos são
“contrato consensual, bilateral, oneroso, comutativo, nominado e típico de acordo
com o Código de 2002, informal, de duração e intuito persona.”.
Assim sendo, veremos a seguir algumas destas características apontadas
pelos autores, quais sejam: o caráter consensual, a bilateralidade, a onerosidade, a
comutatividade, a informalidade e a pessoalidade.
3.1.1 Consensual
No que concerne aos contratos consensuais Silvio de Salvo Venosa (2009,
p. 497) nos ensina que se caracterizam “quando se aperfeiçoam pelo mero
consentimento, manifestação de vontade contratual, seja esta formal ou não”.
A doutrina majoritária considera irrelevante a distinção dos contratos
consensuais dos reais, mas para Venosa, o momento da formação contratual só é
determinável com sua distinção, que também serve para explicar o mecanismo de
alguns contratos.
Flávio Tartuce ao classificar contratos, segue a linha de raciocínio de Silvio
Venosa e explica que:
No que tange ao momento do aperfeiçoamento, os contratos podem ser consensuais ou reais. Os contratos consensuais são aqueles negócios que têm aperfeiçoamento pela simples manifestação de vontade das partes envolvidas. São contratos consensuais a compra e venda, a doação, a locação, o mandato, entre outros. (TARTUCE, 2012, p. 21).
Desta forma, Carlos Roberto Gonçalves (2009, p. 87) afirma que “contratos
consensuais são aqueles que se formam unicamente pelo acordo de vontades (solo
20
consenso), independentemente da entrega da coisa e da observância de
determinada forma. Por isso, são também considerados contratos não solenes”.
Para o autor, todos os contratos são consensuais na sua formação, pois se
pressupõe o consentimento, mas esta classificação está relacionada ao
aperfeiçoamento.
3.1.2 Bilateral
Diferentemente dos chamados atos ou contratos unilaterais, que geram
obrigações e se aperfeiçoam com a manifestação da vontade de apenas uma das
partes, os contratos bilaterais caracterizam-se por gerar obrigações mútuas a todas
as partes envolvidas.
Neste sentido, Silvio de Salvo Venosa leciona que:
Nos contratos bilaterais, ambas as partes têm direitos e deveres. O fato de um volume maior de deveres estar carreado apenas a uma das partes. Há interdependência de deveres, claramente percebido na compra e venda e na locação, por exemplo.” (VENOSA, 2009, p. 387).
Assim, verifica-se que com esta reciprocidade de obrigações, os contratos
bilaterais são considerados sinalagmáticos, uma vez que excepcionalmente uma das
partes pode suspender seu cumprimento na obrigação até que a outra parte o
cumpra.
Ainda de acordo com Sílvio Salvo Venosa (2009, p. 388), isto é possível ante
ao “justo equilíbrio das partes no cumprimento do contrato, fundamentalmente em
razão da equidade”.
Para Flávio Tartuce (2012, p. 19) “o contrato é sempre negócio jurídico
bilateral ou plurilateral, eis que envolve pelo menos duas pessoas (alteridade). No
entanto, o contrato também pode ser classificado como unilateral, bilateral ou
plurilateral”.
Desta forma, pode-se concluir que a bilateralidade é o nome dado ao que
gera obrigações recíprocas, que de acordo com Carlos Roberto Gonçalves (2009, p.
69) são denominadas “sinalagmáticos, da palavra grega sinalagma, que significa
reciprocidade de prestações”.
21
3.1.3 Oneroso
Dentre as classificações existentes nos contratos, encontramos a
onerosidade, que nas palavras de Carlos Roberto Gonçalves (2009, p.72) é um
contrato em que “ambos os contratantes obtém proveito, ao qual, porém,
corresponde a um sacrifício. São dessa espécie quando impõe ônus e, ao mesmo
tempo, acarretam vantagens a ambas as partes, ou seja, sacrifícios e benefícios
recíprocos”.
Ainda, com relação à onerosidade dos contratos, Carlos Roberto Gonçalves
(2009, p. 72) afirma que em regra os contratos onerosos são bilaterais, classificação
já vista anteriormente, mas não necessariamente os bilaterais são onerosos, tendo
em vista que o “mutuo feneratício ou oneroso (em que é convencionado o
pagamento de juros) é contrato unilateral e oneroso”.
Flávio Tartuce (2012, p. 20) relaciona a onerosidade a sacrifício das partes e
o define como sendo aquele que traz “vantagens para ambos os contratantes, pois
ambos sofrem o mencionado sacrifício patrimonial (ideia de proveito alcançado).
Ambas as partes assumem deveres obrigacionais, havendo um direito subjetivo de
exigi-lo”.
3.1.4 Comutativo
A classificação do contrato comutativo é estabelecida a partir da
bilateralidade e onerosidade contratual.
Na doutrina de Silvio Rodrigues encontramos que o contrato comutativo é:
O contrato bilateral e oneroso no qual a estimativa da prestação a ser recebida por qualquer das partes pode ser efetuada no ato mesmo em que o contrato se aperfeiçoa. Assim, por exemplo, a locação de coisa. O locador pode, desde logo, verificar a importância que deve receber, enquanto o locatário, por sua vez, conhece o objeto cujo uso pacífico lhe será assegurado.” (VENOSA, 2004, p. 33).
Para Flávio Tartuce (2012, p. 21) “não existe o fator risco em relação às
prestações, que serão certas e determinadas.”. A Teoria Geral de Silvio de Salvo
Venosa (2009, p. 397) ensina que “é comutativo o contrato no qual os contraentes
conhecem, ex radice, suas respectivas prestações”.
22
Nota-se então, que o contrato comutativo não deve oferecer risco às partes,
uma vez que suas prestações são certas e determinadas, proporcionando assim
equivalência.
3.1.5 Personalíssimo
O contrato personalíssimo distingue-se do impessoal porque neste não se
especifica a pessoa que irá cumprir o acordo celebrado. Nas palavras de Flávio
Tartuce (2012, p. 37) “os contratos pessoais, personalíssimos ou intuitu personae
são aqueles em que a pessoa do contratante é um elemento determinante de sua
conclusão. Diante desse fato, o contrato não pode ser transmitido por ato inter vivos
ou mortis causa.”.
Desta forma, verifica-se que o contrato intuito personae é aquele que exige o
cumprimento da obrigação por pessoa determinada.
No entendimento de Silvio de Salvo Venosa (2009, p. 413) “há contratos
que, por sua própria natureza são pessoais, como o da contratação de um ator ou
escultor de renome; outros que assim se tornam por vontade das partes”.
Por fim, com relação aos contratos personalíssimos vale mencionar a
posição de Carlos Roberto Gonçalves (2009, p. 81) quando diz que “as obrigações
personalíssimas, não podendo ser executadas por outrem, são intransmissíveis aos
sucessores. Também não podem ser objeto de cessão. Havendo erro essencial
sobre a pessoa do contratante, são anuláveis”.
3.1.6 Informal
Os contratos informais, também conhecidos por não formais e não solenes ,
são aqueles que não possuem requisitos legais para o seu aperfeiçoamento,
admitindo-se qualquer forma para a sua celebração.
Para Silvio Rodrigues (2004, p.36), este tipo de contrato é de forma livre,
mas que “podem ser promovidos a solenes, por vontade das partes, quando
estipularem que eles não valerão sem o instrumento público (CC, art. 109)”.
23
Conforme a doutrina de Silvio de Salvo Venosa (2009, p. 408) “o contrato só
deverá obrigatoriamente conter uma forma se assim for determinado pela lei. Na
omissão legal quanto à predeterminação da forma, o contrato vale e é eficaz,
qualquer que seja sua forma”.
Neste sentido, vejamos o seguinte entendimento do Superior Tribunal de
Justiça:
CIVIL E PROCESSO CIVIL. CONTRATOS. DISTRIBUIÇÃO. CELEBRAÇÃO VERBAL.POSSIBILIDADE. LIMITES. RESCISÃO IMOTIVADA. BOA-FÉ OBJETIVA, FUNÇÃO SOCIAL DO CONTRATO E RESPONSABILIDADE PÓS-CONTRATUAL. VIOLAÇÃO.INDENIZAÇÃO. CABIMENTO. DANOS MORAIS E HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. REVISÃO. POSSIBILIDADE, DESDE QUE FIXADOS EM VALOR IRRISÓRIO OU EXORBITANTE. SUCUMBÊNCIA. DISTRIBUIÇÃO. CRITÉRIOS. 1. De acordo com os arts. 124 do CCom e 129 do CC/16 (cuja essência foi mantida pelo art. 107 do CC/02), não havendo exigência legal quanto à forma, o contrato pode ser verbal ou escrito. 2. Até o advento do CC/02, o contrato de distribuição era atípico, ou seja, sem regulamentação específica em lei, de sorte que sua formalização seguia a regra geral, caracterizando-se, em princípio, como um negócio não solene, podendo a sua existência ser provada por qualquer meio previsto em lei. 3. A complexidade da relação de distribuição torna, via de regra, impraticável a sua contratação verbal. Todavia, sendo possível, a partir das provas carreadas aos autos, extrair todos os elementos necessários à análise da relação comercial estabelecida entre as partes, nada impede que se reconheça a existência do contrato verbal de distribuição. 4. A rescisão imotivada do contrato, em especial quando efetivada por meio de conduta desleal e abusiva - violadora dos princípios da boa-fé objetiva, da função social do contrato e da responsabilidade pós-contratual - confere à parte prejudicada o direito à indenização por danos materiais e morais. 5. Os valores fixados a título de danos morais e de honorários advocatícios somente comportam revisão em sede de recurso especial nas hipóteses em que se mostrarem exagerados ou irrisórios. Precedentes. 6. A distribuição dos ônus sucumbências deve ser pautada pelo exame do número de pedidos formulados e da proporcionalidade do decaimento das partes em relação a esses pleitos. Precedentes. 7. Recurso especial não provido. (REsp 1255315/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 13/09/2011, DJe 27/09/2011)
Além do STJ, os Tribunais Regionais também colacionam que, de fato, há a
possibilidade do contrato de distribuição ser celebrado verbalmente, desde que
presentes os requisitos que o caracterizam.
24
3.2 PRINCIPAIS DIFERENÇAS ENTRE AGÊNCIA E DISTRIBUIÇÃO
A agência e a distribuição, conforme visto anteriormente, são dois institutos
que foram regulados pelo legislador em um único artigo no novo Código Civil de
2002. Entretanto existem alguns pontos em que estes contratos se distinguem.
Segundo Roberto Senise Lisboa (2005, p. 571) “confunde-se a atividade do
agente ou representante comercial com a do distribuidor, que é aquele que se obriga
a vender produtos de determinada marca, por conta própria, em uma base
territorial”.
Basicamente a distinção entre eles é a disponibilidade do produto pelo
distribuidor, como próprio artigo 710 do Código Civil já menciona, “caracterizando-se
a distribuição quando o agente tiver à sua disposição a coisa a ser negociada”.
Neste sentido Caio Mario da Silva Pereira conceitua e diferencia o contrato
de agência e distribuição da seguinte maneira:
Contrato pelo qual uma pessoa se obriga a realizar, mediante retribuição, com caráter de habitualidade, mas sem subordinação hierárquica, operações mercantis por conta de outrem, em zona determinada. A diferença entre agência e distribuição é que nesta o agente tem à sua disposição a coisa a ser negociada.” (PEREIRA, 2009, p. 333).
Para Orlando Gomes (2009, p. 463) as figuras do agente e do distribuidor as
vezes são confundidas, porém são distintas. “O distribuidor é comerciante
autônomo. Negocia por sua conta e risco. Constitui categoria econômica
correspondente ao exercício de atividade lucrativa peculiar”. Ele afirma ainda que na
agência há uma representação, e que se houver “falta de cobertura da quota não
acarreta prejuízos patrimoniais” (GOMES, 2009, p. 463), já no contrato de
distribuição ocorre a impossibilidade de representação e há prejuízo ante a falta de
cobertura da quota.
O artigo 714 do Código Civil dispõe a respeito da remuneração do agente e
do distribuidor. Este fator também é algo que diferencia estes contratos, pois, no
contrato de agência o sujeito receberá pela comissão do produto agenciado e no
contrato de distribuição pelo lucro auferido com a venda do produto por ele
adquirido.
25
3.3 DA CLÁUSLUSA DE EXCLUSIVIDADE
Umas das peculiaridades que detém o contrato de distribuição é a
exclusividade de revenda do distribuidor em determinada região, não podendo
operar assim em limites que não estão demarcados como sendo seu.
Conforme ensina Paula Andrea Forgioni, também pode haver a divisão do
mercado das maneiras a seguir:
a) O primeiro segmenta o mercado conforme a natureza do bem a ser comercializado, com a conseqüente separação pela classe de adquirentes. Por exemplo, o distribuído A encarrega-se da negociação de produtos de maior qualidade, enquanto ao distribuidor B toca uma linha mais popular; b) O segundo estabelece que o revendedor lidará com consumidores previamente determinados (constantes, por exemplo, em uma “lista”); c) Um terceiro, chamado divisão territorial, está relacionado a situação eu o fornecedor, lançado mão de instrumentos contratuais, divide o território (área geográfica) entre os integrantes da rede. Nas três hipóteses ventiladas, a divisão de mercado pode estar ligada à concessão de exclusividade para o distribuidor, pondo-o a salvo da concorrência oferecida por outros da mesma marca, bem como das vendas diretas do fabricante. (FORGIONI, 2005, p. 200).
A autora conclui que “divisão territorial com exclusividade é questão
estratégica a ser tratada pelo empresário, uma vez que acarreta formas diferentes
de organização do sistema de escoamento do produto.” (FORGIONI, 2008, p.203).
Para Arnaldo Rizzardo (2004, p. 764), “o sentido da cláusula de
exclusividade envolve, outrossim, o compromisso do concessionário em comprar
unicamente do concedente os produtos que ele revende à clientela, e a obrigação
deste último de vender somente àquele os produtos que fabrica”. Na opinião do
autor, esta exclusividade acaba favorecendo ambas as partes, pois de um lado se
tem o monopólio de venda em favor do concessionário, e de outro a exclusão da
atividade de produtos concorrentes para o concedente.
O artigo 711 do Código Civil dispõe que “salvo ajuste, o proponente não
pode constituir, ao mesmo tempo, mais de um agente, na mesma zona, com idêntica
incumbência; nem pode o agente assumir o encargo de nela tratar de negócios do
mesmo gênero, à conta de outros proponentes”. Neste sentido, Flávio Tartuce
(2012, p. 519) leciona que “[...] não pode o agente assumir o encargo de nela tratar
de negócios do mesmo gênero, à conta de outros proponentes”.
26
Por fim, Orlando Gomes (2009, p. 467), entende como uma das mais
importantes obrigações do concedente a da exclusividade proporcionada ao
cessionário, pois “se viola o dever de fazê-lo, o segundo concessionário deve ser
compelido a fechar as portas.”, contudo, o autor explica ainda que cabe ao
distribuidor a indenização devida.
27
4. DAS FORMAS DE DISSOLUÇÃO DO CONTRATO DE DISTRIBUIÇÃO
O artigo 720 do Código Civil trata sobre uma das hipóteses de resolução do
contrato de distribuição: “se o contrato for por tempo indeterminado, qualquer das
partes poderá resolvê-lo, mediante aviso-prévio de 90 (noventa) dias, desde que
transcorrido prazo compatível com a natureza e o vulto do investimento exigido do
agente”.
Em regra, os contratos cessam-se com a realização da prestação pretendida
que lhe fora pactuada, para Caio Mário da Silva Pereira (2009, p. 127) “não importa
a natureza da solução, nem a sua forma. Na obligatio dandi ou na obligatio faciendi,
o cumprimento extingue a obrigação. Extingue o contrato”.
Conforme doutrina de Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho
(2009, p. 389) “um contrato válido extingue-se, fundamentalmente, de três maneiras:
por resilição, por resolução, e por rescisão”. Neste sentido os tópicos a seguir irão
abordar estas três formas de dissolução dos contratos de distribuição.
4.1 DA RESCISÃO
Ocorrerá a rescisão do contrato quando houver a ruptura do negócio jurídico
entabulado entre as partes. Roberto Senise Lisboa (2005, p. 239) ensina que “a
rescisão somente pode ser obtida por meio de ação judicial. Ao juiz de direito não
cabe o seu reconhecimento de ofício”. O autor distingue ainda a hipótese de
rescisão por anulação da rescisão por nulidade absoluta, em que esta se refere:
“às hipóteses de invalidade por: incapacidade absoluta de uma das partes, ilicitude do objeto, ou a não observância da forma prescrita ou adoção de forma vedada em lei [...] a nulidade pode ser reconhecida ex officio e a qualquer tempo. Gera efeitos ex tunc, isto é, considera inválido o contrato, como se ele nunca tivesse sido realizado.” (LISBOA, 2005, p. 239).
Para Orlando Gomes (2004, p. 227) a “rescisão é ruptura de contrato em
que houve lesão”. Quando a resolução “opera como causa extintiva, aproxima-se da
anulabilidade. Distingue-se da nulidade porque a rescisão somente pode ser obtida
mediante ação judicial ad hoc, enquanto a nulidade é decretável independentemente
de provocação”. (GOMES, 2004, p. 227).
28
Já Arnaldo Rizzardo (2004, p. 202) considera que ocorre a rescisão “quando
o contrato tem formação nula, iníqua, ou anulável. Desconstitui-se o negócio porque
inexistiu um de seus elementos básicos, ou porque um vício contamina sua origem”.
Para Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho (2009, p. 398), extrai-
se da resolução dois sentidos, “a primeira é justamente no sentido genérico de
extinção do contrato, [...] traduz descumprimento do contrato por inadimplemento, no
mesmo sentido da resolução”, já o segundo sentido, “mais próximo do gramatical, é
o que corresponde à ruptura do contrato em face de uma nulidade (lesão ou estado
de perigo).” (GAGLIANO e PAMPLONA FILHO, 2009, p. 398).
4.2 DA RESILIÇÃO
A resilição é uma forma de quebra do vínculo contratual, tão somente pela
manifestação de vontade das partes que, pode se dar durante a vigência do
contrato. De acordo com Silvio de Salvo Venosa:
O termo resilição é importado do direito francês. Advirta-se, porém, que não é expressão consagrada no passado em nosso meio negocial. Com muita frequência, as partes, e mesmo a lei, usam da palavra rescisão, para significar a mesma coisa [...]. A resilição é a cessação do vínculo contratual pela vontade das partes, ou, por sua vez, de uma das partes. A resilição é, portanto, termo reservado para o desfazimento voluntário do contrato.” (VENOSA, 2009, p. 489).
Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona filho (2009, p.398), entendem
que esta manifestação de vontade “traduz, pois, o simples exercício de um direito
potestativo”.
Neste sentido Arnaldo Rizzardo (2004, p. 202) escreve que “por resilição,
que se apresenta no desfazimento da relação contratual por ajuste das partes, isto
é, pela comum vontade dos contratantes, e por declaração unilateral de um dos
sujeitos da relação”.
Orlando Gomes (2009, p. 227) ensina que os efeitos da resilição são ex
nunc, para ele “nos contratos de trato sucessivo, não se restituem as prestações
cumpridas. Até o momento em que a resilição ocorre, assim por mútuo
consentimento como por vontade unilateral, os efeitos produzidos permanecem
inalterados e jamais serão cassados”.
29
Para melhor compreensão desta modalidade de dissolução do contrato de
distribuição, vejamos suas subdivisões a seguir.
4.2.1 Resilição Bilateral
A resilição bilateral pode ser denominada também como distrato. Roberto
Senise Lisboa (2005, p. 240) define como distrato “a extinção do contrato por força
da manifestação da vontade de ambas as partes. É negócio jurídico que põe termo a
negócio jurídico anteriormente celebrado, que deve adotar a mesma forma do
contrato que se pretende extinguir”.
A dissolução do contrato de distribuição por distrato decorre da vontade das
partes em desfazer o acordo firmado em contrato. A respeito do distrato
encontramos na doutrina de Maria Helena Diniz (2008, p. 424) que “ambos os
contratantes, por mútuo consenso, resolvem extinguir o contrato, seja ele por tempo
determinado ou não”.
O artigo 472 do código civil determina que “o distrato faz-se pela mesma
forma que o contrato”, neste sentido, Silvio de Salvo Venosa ensina que:
Na resilição do contrato existe uma atração da forma por força de lei. A questão deve ser vista com reservas, tendo em vista a validade e eficácia do negócio de desfazimento. Nada impede que um contrato oral seja desfeito pela forma escrita e que um escrito particular seja desfeito por uma escritura pública. Esse crescendo de formas dá garantias mais amplas ao negócio, servindo mesmo para confirmar o contrato desfeito. [...]. O distrato se fará necessário naqueles contratos mais complexos, que não se revelam facilmente com os atos materiais.(VENOSA, 2009, p. 490).
Nas palavras de Caio Mário da Silva Pereira (2009, p. 129) a resilição
bilateral “é a declaração de vontade das partes contratantes, no sentido oposto ao
que tinha gerado o vínculo. É o contrarius consensus dos romanos, gerando o
contrato liberatório. Algumas vezes, é chamada de mútuo dissens.”.
Neste sentido, Orlando Gomes (2009, p. 222) diz que o distrato é “negócio
jurídico pelo qual as partes, declarando conjuntamente a vontade de dar cabo do
contrato, rompem o vínculo, extinguindo a relação jurídica. É, em síntese, um
contrato para extinguir outro”.
30
4.2.2 Resilição Unilateral
Poderá ocorrer a resilição unilateral caso o contrato esteja estipulado ou
prorrogado por prazo determinado. O artigo 720 do Código Civil dispõe que:
Se o contrato for por tempo indeterminado, qualquer das partes poderá resolvê-lo, mediante aviso prévio de noventa dias, desde que transcorrido prazo compatível com a natureza e o vulto de investimento exigido do agente. Parágrafo Único: no caso de divergência entre as partes, o juiz decidirá da razoabilidade do prazo e do valor devido.
Nos ensinamentos de Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho
(2009, p. 399), “a falta deste pré-aviso poderá gerar direito à indenização em favor
da parte que não denunciou o contrato”. Entretanto, os autores explicam ainda que
“a resilição não será possível, caso a natureza e o vulto do investimento realizado
pelo agente determinem a mantença da avença, à luz do princípio que veda o
enriquecimento sem causa.” (GAGLIANO e PAMPLONA FILHO, 2009, p. 399).
Silvio de Salvo Venosa (2009, p. 491) entende que “por vezes, essa resilição
unilateral leva o nome de revogação. Por esse ato unilateral, são retirados os efeitos
de um ato jurídico, que foram previamente outorgados [...]. Dizemos também
revogação do mandato, embora o caso seja típico de resilição unilateral”.
Isto se aplica aos casos em que os contratos celebrados são por tempo
indeterminado. Nos casos em que os contratos operam por tempo determinado,
Maria Helena Diniz (2008, p. 424) leciona que “só poderá rescindi-lo antes do
vencimento do prazo se um dos contratantes violar a obrigação contraída. Se não
houver inadimplemento contratual e uma das partes o resolver, esta sujeitar-se-á ao
pagamento das perdas e danos”.
Desta forma, de acordo com Orlando Gomes, extrai-se que nos contratos
por prazo determinado, em regra, não se tem a possibilidade de resilição unilateral,
entretanto, se for feita, incumbirá ao denunciante à indenização de perdas e danos
ao denunciado caso resilição seja imotivada, ou seja, sem a presença de justa
causa.
31
4.3 RESOLUÇÃO
A resolução de contratos, nas palavras de Roberto Senise Lisboa, (2005, p.
242) nada mais é que “o rompimento do vínculo negocial decorrente da inexecução
das obrigações pactuadas”, que pode ocorrer por fatores imputáveis ou não às
partes.
Caio Mario da Silva Pereira (2009, p. 132) ao falar de resolução faz um
retrospecto histórico ensinando que “no antigo direito romano, era desconhecida
esta razão de ruptura do nexo. [...] Foi na Idade média que se adotou a praxe de
inserir em todo contrato uma lex comissória, pactuando a resolução por
inadimplemento”. Desta forma, o princípio da cláusula resolutiva tácita foi instituído
pelos códigos modernos para que “em todo contrato bilateral, a sua inexecução por
uma das partes tem como consequência facultar à outra promover a sua resolução,
se não preferir a alternativa de reclamar a prestação, muito embora não tenha sido
ajustadas estas conseqüencias.” (PEREIRA, 2009, p. 132).
Para Orlando Gomes a resolução contratual trata-se de:
Situações supervenientes impedem muitas vezes que o contrato seja executado. Sua extinção mediante resolução tem como causa, pois, a inexecução por um dos contratantes, (RA) denominando-se, entre nós, rescisão, quando promovida pela parte prejudicada com o inadimplemento que pode ser voluntaria ou advinda de impossibilidade superveniente, e também pode ter como causa a excessiva onerosidade superveniente (RA). Resolução é, portanto, um remédio concedido à parte para romper o vínculo contratual mediante ação judicial. (GOMES, 2009, p. 204).
A doutrina ensina ainda que essa inexecução pode ser culposa ou não.
Neste sentido Silvio de Salvo Venosa (2009, p. 492) explica que “quando se imputa
culpa ao outro contratante, o demandante pode pedir a resolução do contrato, ou a
execução em espécie, quando a natureza do negócio permitir, com indenização por
perdas e danos”.
Com relação a este inadimplemento culposo ou involuntário, Carlos Roberto
Gonçalves escreve que:
A resolução por inexecução voluntária decorre de comportamento culposo de um dos contraentes, com prejuízo do outro. Produz efeitos ex tunc, extinguindo o que foi executado e obrigando a restituições recíprocas, sujeitando ainda o inadimplente ao pagamento de perdas e danos e da cláusula penal, [...]. Entretanto, se o contrato for de trato sucessivo, como o de prestação de serviços de transporte e o de locação, por exemplo, a resolução não produz
32
efeito em relação ao pretérito, não se restituindo as prestações cumpridas. O efeito será, neste caso, ex nunc. (GONÇALVES, 2009, p. 162).
Por fim, em se tratando de resolução por inexecução involuntária, ainda de
acordo com Carlos Roberto Gonçalves (2009, p. 169), temos que “ela decorre de
fato não imputável às partes, como sucede nas hipóteses de ação de terceiro ou de
acontecimentos inevitáveis, alheios à vontade dos contraentes, denominados caso
fortuito ou força maior, que impossibilitam o cumprimento da obrigação”. Neste caso,
a impossibilidade deve ser total e definitiva. O suposto inadimplente não fica sujeito
ao pagamento de perdas e danos, a menos que se encontre em mora, ou estas
tenham sido estipuladas no contrato, nestes casos os efeitos da resolução serão
retroativos.
33
5 CONCLUSÃO
Após a sua reforma, dada pela lei nº 10.406/2002, o novo código civil passou
a tratar da agência e distribuição no capítulo XII, a partir do artigo 710, até o artigo
721. Por mais que o legislador tratou os dois institutos no mesmo capítulo, e os
definiu num mesmo artigo, a distinção entre ele não se torna tão simples, pois se
tratam de contratos distintos.
O contrato de distribuição é muito utilizado na esfera mercantil, tendo como
um de seus principais objetivos a garantia de certas vantagens comerciais às partes.
Todavia, tendo em vista que o contrato de distribuição é um tema
relativamente atual, é comum que haja a confusão quanto a sua aplicabilidade, uma
vez que este se assemelha muito com a concessão comercial, bem como com a
representação comercial.
Os benefícios gerados num contrato de distribuição são para ambas as
partes, uma vez que, dependendo da forma em que foi entabulado, o contrato
concede o direito de preferência para a comercialização de determinado produtos
em determinadas regiões, tornando-se esta uma das características mais relevante
para a caracterização de tal instituto.
Por fim, nos contratos de distribuição caracterizados pelo código civil de
2002, aplicam-se subsidiariamente as regras gerais dos contratos, bem como os
princípios.
34
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro 3 Teoria das Obrigações
Contratuais e Extracontratuais. 24. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2008.
FORGIONI, Paula Andrea. Contrato de Distribuição. 2. ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2008.
GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil
Contratos em Espécie. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2009.
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. 6. ed. rev. São Paulo: Saraiva,
2009.
LISBOA, Roberto Senise. Manual de Direito Civil, vol. 3, Contratos e Declarações
unilaterais: Teoria Geral e Espécies. 3. ed. rev. e atual. e ampl. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2005.
PEREIRA, Caio Mario da Silva. Instituições de Direito Civil, Volume III, Contratos
Declaração Unilateral da Vontade e Responsabilidade Civil. 13. ed. rev. e atual. Rio
de Janeiro: Forense, 2009.
RIZZARDO, Arnaldo. Contratos. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2004.
RODRIGUES, Silvio. Direito Civil dos Contratos e das Declarações Unilaterais da
Vontade volume 3. 30. ed. atual. São Paulo: Saraiva, 2004.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA – Disponível em:
http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/toc.jsp?tipo_visualizacao=null&processo=1
255315&b=ACOR# - Acessado em 28.set.2012.
TARTUCE, Flávio. Direito Civil 3 Teoria Geral dos Contratos e Contratos em
Espécie. 7. ed. rev. e atual. São Paulo: Método, 2012.
35
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil Teoria Geral das Obrigações e Teoria Geral
dos Contratos. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2009.
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil Contratos em Espécie. 10. ed. São Paulo:
Atlas, 2010.
Recommended