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Instituto de Psicologia - Departamento de Psicologia Escolar e
do Desenvolvimento - PED
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA _________________________________________________________________________
XII CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOPEDAGOGIA
CLÍNICA E INSTITUCIONAL
2016/2017
Coordenação: Profa. Dra. Maria Helena Fávero
TRABALHO FINAL DE CURSO
A IMPORTÂNCIA DO CONCEITO DE NÚMERO PARA A
CONSTRUÇÃO DO PENSAMENTO LÓGICO
Apresentado por: Maria Karla Guimarães
Orientado por: Dra. Patrícia Tuxi
BRASÍLIA, 2017
Resumo
No presente trabalho de intervenção psicopedagógica, procurou-se mediar o conceito de
número para uma estudante de oito anos, cursando o 3º ano do Ensino Fundamental. Para
tanto, utilizou-se o método de intervenção defendido por Fávero (2014), que compreende a
construção do conhecimento mediante a interação dialética do sujeito no contexto
sociocultural. A fundamentação teórica embasou-se no pensamento de Vygotsky (1994,
2001) e na Teoria dos Campos Conceituais de Vergnaud (1996, 2003, 2014) por
subsidiarem a Psicologia do Conhecimento. Foram realizadas a avaliação das competências
e dificuldades da aluna e cinco sessões de intervenção com foco no desenvolvimento do
conceito de número. A cada sessão, os resultados eram avaliados e serviam de
embasamento para o planejamento da sessão seguinte. O trabalho sinalizou resultados
positivos: a criança que, inicialmente, realizava contagem automática dos números,
demonstrou estabelecer relação entre signo e significado e sua construção na reta numérica,
sinalizou também compreender a função dos símbolos presentes nas operações formais de
adição e subtração.
Palavras-chave: intervenção; conceito de número; símbolo; adição; subtração.
Abstract
At the present work carried out on pshicopedagogy intervention, we focus on measuring the
concept of number. The subject is an eight-year-old individual, studying at an elementary
school (3rd
year). We used Fávero’s method of intervention (2014), which defends the
construction of knowledge through dialectic interaction on a subject in the social and
cultural context. Theoretical background was base in Vygotsf’s understanding (1994, 2001)
and the Vergnaud’s Theory Concept Fields (1996, 2003, 2014), for subsidizing knowledge
psychology. We evaluated the student’s capacities and difficulties after five interventions
focusing in developing concept number. At each session we carried out, we evaluated the
results and they were used as a base for planning the subsequent session. This work showed
positive results: the child that initially performed automatically number counting showed to
establish a relation between sign and meaning and its construction in the numerical line,
also showed to understand the function of symbols at ordinary operations of addition and
subtraction.
Keywords: intervention; concept number; symbols; addition; subtraction.
Sumário
I. Introdução............................................................................................................................ 6
II. Fundamentação Teórica ..................................................................................................... 7
2.1 Vygotsky ....................................................................................................................... 7
2.2 Vergnaud - campos conceituais na matemática .......................................................... 11
III. Método de Intervenção ................................................................................................... 14
3.1 Sujeito e/instituição ..................................................................................................... 14
3.2 Procedimento adotado ................................................................................................. 15
IV. A Intervenção Psicopedagógica: avaliação psicopedagógica e sessões de intervenção 17
4.1 Primeira sessão de avaliação psicopedagógica ........................................................... 17
4.1.1 Item 1 - Quem tem mais. ...................................................................................... 17
4.1.2 Item 2 – situação a partir de estados diferentes. ................................................... 18
4.1.3 “Mais que” com logro numérico. .......................................................................... 19
4.1.4 Pesquisa do estado inicial. .................................................................................... 21
4.1.5 Transformação negativa. ....................................................................................... 22
4.2 Segunda sessão de avaliação psicopedagógica ........................................................... 23
4.2.1 Situação 1 - Escrita dos diálogos nos balões no contexto de uma história em
quadrinhos. ..................................................................................................................... 23
4.2.2 Situação 2 - Dar sequência a uma história. ........................................................... 25
4.2.3 Situação 3 - Reconstituição de uma frase ............................................................. 26
4.3 Primeira Sessão de Intervenção Psicopedagógica ....................................................... 27
4.4 Segunda sessão de intervenção psicopedagógica ........................................................ 30
4.5 Terceira sessão de intervenção psicopedagógica ........................................................ 33
4.6 Quarta sessão de intervenção psicopedagógica ........................................................... 34
4.7 Quinta sessão de intervenção psicopedagógica ........................................................... 39
V. Discussão Geral dos Resultados da Intervenção Psicopedagógica.................................. 42
VI. Considerações Finais ...................................................................................................... 46
VII. Referências .................................................................................................................... 48
6
I. Introdução
Um dos grandes desafios que a escola enfrenta é o ensino da matemática. O
julgamento de que esse ramo do conhecimento é difícil e que só os mais inteligentes são
capazes de compreendê-lo faz parte das crenças de muitos alunos. Muitas crianças são
identificadas como detentoras de problemas de aprendizagem quando não alcançam os
objetivos de um determinado programa de ensino. O ato de aprender é muito mais
abrangente e implica considerações complexas de ordem sociocultural, bem como a análise
da linguagem e dos valores específicos daqueles envolvidos na transmissão do
conhecimento.
A atividade matemática não pode se dissociar da atividade humana. Uma das
dificuldades latentes no ensino dessa disciplina é a mencionada desvinculação; o aluno não
encontra sentido entre o que lhe é ensinado e o mundo fora da sala de aula. Embora o
formalismo no ensino seja importante (é, até mesmo, impossível escapar-lhe), não se
aprende matemática apenas na vida cotidiana. É preciso organizar situações e conceitos que
façam sentido. Somente assim os alunos passariam a compreender a existência de técnicas
que auxiliariam sua aprendizagem.
Este trabalho sistematiza as intervenções psicopedagógicas realizadas com uma
criança de oito anos de idade, atualmente cursando o terceiro ano do Ensino Fundamental.
Nosso foco recai sobre a singularidade do desenvolvimento e da aprendizagem dessa
criança na construção do conceito de número e seu entendimento dos símbolos matemáticos
nas operações formais de adição e subtração.
Foram realizadas duas sessões de avaliação, uma no campo da matemática e outra
na área de linguagem, com o objetivo de melhor conhecer as competências e dificuldades
da estudante. Após essa análise, realizamos cinco sessões de intervenção, em que o
resultado de cada sessão oferecia subsídios para o desenvolvimento da sessão seguinte.
Fundamentamos esse trabalho nas teorias de Vygotsky (1994, 2001), de Vergnaud
(2014) e no trabalho de pesquisa psicopedagógica defendido por Fávero (2014), que
considera a singularidade do sujeito na intervenção com suas competências e dificuldades.
7
II. Fundamentação Teórica
2.1 Vygotsky
É necessário entender o desenvolvimento do conhecimento humano, a mediação
semiótica, o uso dos instrumentos e dos símbolos a fim de intervir no processo de
aprendizagem. Para tanto, pautamos nosso trabalho nos estudos de Vygotsky (1994, 2001),
Fávero (2014) e Vergnaud (2014).
A mediação do conhecimento não pressupõe neutralidade: os instrumentos culturais
carregam significados. Na maioria das vezes, os significados são transmitidos
inconscientemente. Quando o sujeito modifica a atividade humana e constrói o
conhecimento, os significados culturais podem ser modificados. Nessas circunstâncias, o
sujeito passa a ser ativo (Fávero 2014).
A mediação semiótica é caracterizada pela troca de significados. É nas relações
semióticas que o instrumento cria as formas de atividades verdadeiramente humanas. Facci
(2004) argumenta que os processos mediados atuam junto às funções psicológicas
superiores: atenção voluntária, memória, abstração, comportamento intencional, etc. Essas
funções são resultado da atividade cerebral, com base biológica, mas fundamentalmente
resultam da interação do sujeito com o meio em que está inserido.
Vygotsky (2001) postula planos genéticos de desenvolvimento que, conjuntamente,
caracterizariam o desenvolvimento psicológico do ser humano: a filogênese, a ontogênese,
a sociogênese e a microgênese. A filogênese diz respeito à história da espécie animal: todas
as espécies animais têm uma história própria. Essa história define limites e possibilidades
de funcionamento psicológico: o ser humano, por exemplo, é capaz de fazer algumas coisas
e outras não, como andar ereto, ter liberdade com as mãos para realizar movimentos
delicados como o de pinçar. Há ações, porém, que o ser humano não é capaz de fazer, como
voar.
A ontogênese diz respeito ao desenvolvimento da espécie. Cada espécie tem um
caminho diferenciado de desenvolvimento que está intrinsecamente ligado ao fator
8
biológico, assim como na filogênese. Cada espécie passa por um caminho próprio de
desenvolvimento.
A sociogênese ou o desenvolvimento histórico cultural remonta às formas do
comportamento social que interferem no desenvolvimento psicológico. O resultado desse
desenvolvimento pela cultura abarca dois aspectos: primeiramente a cultura expande as
potencialidades humanas (o homem voa porque inventou o avião); em segundo lugar, cada
cultura organiza o desenvolvimento de maneira diferente. A passagem do desenvolvimento
humano é lida e interpretada pelas diferentes culturas de diversas formas. A puberdade, por
exemplo, é um fenômeno biológico; esse fenômeno, porém, é compreendido
diferentemente em cada cultura; seu conceito é cultural, apesar de ser biológico. No Brasil,
a categoria da terceira idade foi criada com o objetivo mercadológico de suprir as
necessidades dessa classe. Isso diz respeito a interesses de classe e reflete a visão da
sociedade para com o idoso; não se trata de uma questão biológica ou do envelhecimento
do corpo.
A microgênese é o olhar para o desenvolvimento dentro de um fenômeno com foco
definido, no qual cada ocorrência psicológica tem uma história; por isso mesmo é chamado
de "micro". Entre o saber e o não saber, algo aconteceu, por exemplo: entre o saber amarrar
sapato e o não saber, algo aconteceu - como a criança aprendeu a amarrar o sapato.
A filogênese e a ontogênese carregam certo determinismo biológico. A sociogênese,
de certa forma, atrela o indivíduo a sua sociocultura; a microgênese ocorre no plano do
desenvolvimento, o que nos faz observar o fato de que cada pequeno fenômeno tem a sua
história e não há indivíduos com histórias iguais, mesmo naquelas coisas que parecem ser
tão parecidas que resultam serem diferentes. A construção da singularidade é, assim,
compreendida.
A ideia de mediação é a ideia de ter uma coisa interposta à outra. A relação do
homem com o mundo é uma relação mediada, não é direta. Essa relação pode ser feita por
meio de instrumentos e signos. Segundo Vygotsky (2001), os signos fazem uma mediação
de natureza simbólica. Existe uma forma de signo que tem uma existência concreta; por
exemplo, as placas na porta do banheiro representando o feminino e o masculino. São
signos que carregam informações compartilhadas e que agem no campo simbólico, não
9
atuam de forma concreta como os instrumentos. Existe outra forma de signo que não tem
natureza concreta. Nessa forma, o signo é totalmente simbólico, encontra-se no sistema
psicológico e funciona como mediador simbólico dentro do sistema. Essa representação
simbólica, representação mental, é característica tipicamente humana e possibilita ao
indivíduo transitar no mundo simbólico.
Há outra forma de mediação que não se baseia na própria experiência, mas na
experiência do outro, como explica Vygotsky (2001). Essa mediação é extremamente
importante para o campo educacional porque grande parte da ação do homem no mundo é
mediada pela ação do outro. Para o autor, os signos são construídos culturalmente e são
representações simbólicas desenvolvidas a partir de uma cultura específica que fornece
material a ser desenvolvido no campo do simbólico.
Todos os grupos humanos possuem linguagem e a língua é o principal instrumento
de representação simbólica do Homem. Vygotsky (2001) trabalha com duas funções da
linguagem: a primeira é a comunicação. A segunda é chamada de pensamento
generalizante. Nessa função, há uma forte relação entre pensamento e linguagem. A
linguagem disponibiliza uma noção generalizada do mundo porque ao nomearmos algo
também o estamos classificando; por exemplo: quando flores são categorizadas,
entendemos que há vários tipos de flores (margaridas, rosas, etc.) agrupadas no conjunto
maior que é o de flores. Assim, a palavra flor traz pelo menos duas categorias, tudo que é
flor e tudo que não é flor; desse modo, o ato de nomear é também ato de classificar. Aqui
encontramos, igualmente, o conceito de inexistência, do nulo, do que não é conceito. Esse é
que está no campo abstração.
O sistema simbólico, portanto, possibilita abstrair, classificar, generalizar. Isto é
possível porque o sistema é articulado, organizado por regras, assim como ele é
compartilhado. A relação do pensamento e da linguagem é muito forte, mas não nasce com
o sujeito, ela se desenvolve no decorrer do desenvolvimento psicológico. Vygotsky (2001)
explica que a criança pequena que ainda não fala expressa sua linguagem (com finalidade
social) por meio do choro e de outros tipos de sons, bem como por gestos e expressões
sociais. Essas expressões representam uma inteligência prática que é não encontrada no
campo simbólico. A criança em estágio pré-linguístico age no ambiente de forma prática,
10
resolvendo problemas, usando instrumentos de forma concreta, sem a mediação simbólica.
Após um determinado momento de desenvolvimento humano, o pensamento se une à
linguagem e passa a representar parcela expressiva do psicológico no desenvolvimento
humano.
A criança, portanto, se apropria da língua ao longo do seu desenvolvimento por
meio de um movimento que ocorre de fora para dentro: é por meio das palavras que o
pensamento passa a existir. A aprendizagem e a linguagem acontecem de fora para dentro.
Dessa forma, segundo Vygotsky (2001) é a aprendizagem que promove o desenvolvimento
do indivíduo. Podemos concluir, então, que indivíduo aprende, realiza as coisas no mundo
e, consequentemente, se desenvolve. A aprendizagem acelera seu desenvolvimento. A
cultura vai definir aonde o indivíduo vai, e sua especificidade será definida como um
reflexo de suas experiências com o mundo.
Vygotsky (2001) defende que devemos olhar para aquilo que não aconteceu, que
ainda está por vir, e não para aquilo aconteceu, que já passou e está consolidado na criança.
Costuma-se perguntar se a criança já sabe contar até 10. Mas ali, no que está por acontecer,
está o processo no qual ocorrerá a intervenção pedagógica. É o que Vygotsky chama de
Zona do Desenvolvimento Proximal – ZDP. O autor explicita a ZDP por meio de dois
conceitos: o primeiro é o nível de desenvolvimento real, nível de conhecimento já
alcançado pela criança, o que ela já desenvolveu; o segundo é o nível de conhecimento
potencial, aquilo que a criança ainda não desenvolveu, mas que é possível antever, que está
próximo de acontecer, porque ela consegue relacionar-se com o objeto de conhecimento,
mas não de forma autônoma, pois necessita de mediação. É um conhecimento que está
próximo de ser consolidado.
Desse modo, a aquisição de conhecimento se realizada por meio do elo
intermediário entre o ser humano e o ambiente. Há dois tipos de elementos mediadores: os
instrumentos e os signos, o desenvolvimento dessas representações se dá, sobretudo pelas
interações que levam ao aprendizado (Vygotsky, 2001).
11
2.2 Vergnaud - campos conceituais na matemática
A teoria dos campos conceituais de Vergnaud (2009) é uma teoria cognitivista
muito utilizada em pesquisas e busca explicar a formação de conceitos relacionados às
ciências exatas, como a Física e a Matemática. Essa teoria pode ser definida como um
conjunto de problemas ou situações cuja análise e tratamento requerem vários tipos de
conceitos, os quais se encontram em estreita relação uns com os outros.
Como são as situações que dão sentido aos conceitos, Vergnaud (1996) define o
campo conceitual como sendo um conjunto de situações. Um conceito torna-se significativo
por meio de uma variedade de situações, mas o sentido não está nas situações em si
mesmas, assim como não se encontra nas palavras nem nos símbolos. O sentido é uma
relação do sujeito com as situações e os significantes.
Piaget e Skeminska (1975) identificam a construção do conceito de número como
um processo de abstração. Trata-se de um processo que envolve o estabelecimento de
relações entre os objetos, não tendo existência na realidade externa. A partir da
manipulação de objetos, a criança começa a estabelecer relações de comparação,
correspondência, classificação e seriação, situações que estão entrelaçadas em seu cotidiano
e que formarão a base para a compreensão do conceito de número. Esse conceito é a
estrutura base do conhecimento matemático e envolve saltos progressivos de abstração
(desde a noção concreta de contagem), que é implementada a partir das séries iniciais do
ensino, até o conceito abstrato do número real.
O número, segundo Piaget (2014) , é a síntese de dois esquemas mentais básicos: a
ordem e a inclusão hierárquica. O conhecimento de ordem impede que o indivíduo se
esqueça de contar algum objeto ou o conte mais de uma vez. A inclusão hierárquica
consiste na capacidade de compreender que um está contido em dois, dois em três e assim
por diante. Outro importante esquema é o da sequenciação: sequenciar é fazer suceder, a
cada elemento, outro elemento, sem levar em conta a ordem linear de grandeza.
Saber contar não garante a compreensão de números; essa atividade pode se associar
apenas à memorização de uma sequência (Bertoni, 2007). Para Kamil (1990) o número é
uma relação criada mentalmente por cada indivíduo, que não pode ser ensinada, pois é
12
construção interna que se dá ao coordenar relações de comparação entre quantidades iguais
ou diferentes, o que Piaget chama de construção lógico-matemática.
A soma muitas vezes representa um número que a criança reconhece como noção de
representação, e não faz sentido utilizar o algoritmo formal sem a construção desse
conceito. A realização do trabalho com resolução de problemas não impõe que este seja
primeiramente escrito. A compreensão dos processos de aprendizagem perpassam várias
fases, segundo Moreno e Sastre (apud Moreno 2006, p.64), e obedece a seguinte ordem:
linguagem oral, linguagem escrita, desenho e sinais matemáticos.
Segundo Vergnaud (1996), cálculos e operações no campo aditivo pressupõem
situações que envolvem adição e subtração, levando em conta a conexão que existe entre
elas. O que irá determinar se a operação é de adição ou de subtração é o lugar da incógnita.
A ação, portanto, precisa de uma reflexão que permita ao conceito interagir numa
diversidade de situações. Assim, uma situação sempre envolve vários conceitos.
É importante pensar na adição e na subtração sob o enfoque do campo aditivo
porque não se pode entender separadamente o desenvolvimento cognitivo e o aprendizado
de um conceito. Há uma variedade de conceitos envolvidos no entendimento da situação.
Situações e conceitos formam sistemas progressivamente organizados que devem ser
estudados ao mesmo tempo.
Para Vergnaud (1996), as primeiras ideias de adição e subtração se desenvolvem
quando as crianças têm entre quatro e seis anos. Os problemas que envolvem apenas a
adição permanecem, no entanto, ainda complexos aos estudantes que concluem o Ensino
Fundamental. Trata-se de estudantes que desenvolvem ideias erradas sobre determinados
conceitos; por isso, é importante classificar as situações e analisar as dificuldades e
obstáculos que eles encontram.
A dificuldade mais comum, apresentada na compreensão de problemas que
envolvem a adição e subtração, é saber o que fazer quando se está no estado inicial ou
quando as transformações são desconhecidas. Geralmente, se pede o valor final que sempre
é maior que o inicial. Alguns estudantes ficam em dúvida se a transformação é uma
subtração. Outro ponto a discutir é a resistência em conceber, em um mesmo raciocínio,
operações com números de sinais diferentes (negativo e positivo).
13
Vergnaud (1996) divide o campo aditivo em cinco classes. A forma como o
enunciado é elaborado indica as características de cada uma dessas classes. Magina et al
(2001), considerando os estudos de Vergnaud, defendem que há três grupos básicos de
problemas nas estruturas aditivas: problemas de composição – situações que envolvem
parte-todo que significa juntar uma parte com outra parte para obter o todo (por exemplo,
3+5=8); problemas de transformação – a ideia temporal sempre está envolvida (a
temperatura de uma cidade é de três graus Celsius, sofreu queda de cinco graus Celsius, a
temperatura final será de -2 graus Celsius.); problemas de comparação – problemas que
comparam duas quantidades, uma denominada de referente e a outra de referido, trata-se de
comparar quantidades estáticas, apresentadas com a ajuda de fórmulas “mais de” e “menos
de” (Pedro tem dois anos. N é seis anos mais velha. Quantos anos tem N?).
A educação formal é importante para a organização das situações e dos conceitos de
modo a construir uma aprendizagem de forma significativa, pois as interações criadas pelo
homem entre sociedade e natureza são permeadas por essas relações. O campo aditivo
ainda é pouco utilizado nas escolas e não corresponde ao senso comum no qual os
professores foram formados. Dessa maneira, os protótipos aprendidos pelos professores são
repassados aos alunos. Ao apresentar o papel do professor como mediador do
conhecimento, provedor de situações-problemas que estimulam a interação sujeito-situação
e que levam ao desenvolvimento cognitivo, deixa claro que Vergnaud tem forte influência
vigotskyana.
14
III. Método de Intervenção
3.1 Sujeito e/instituição
O sujeito escolhido para a pesquisa de intervenção é uma estudante de oito anos de
idade, que chamaremos de N, nascida em Pindoba-Bahia, cursando o terceiro ano do ensino
fundamental em uma escola pública localizada em Taguatinga-DF. A aluna foi indicada
pela professora como apresentando baixo rendimento nas disciplinas e por não conseguir
acompanhar as atividades desenvolvidas em classe.
A mãe de N relata que mantinha uma união estável com o companheiro, pai de N e
que a gravidez foi desejada, mas inesperadamente, assim que N nasceu, seu companheiro
passou a rejeitá-la, assim como a filha. Com essa situação, a mãe de N começou a viver
momentos difíceis, tanto emocionais quanto financeiros e por esses motivos resolveu morar
na casa de seus pais, os avôs de N.
Os avôs de N receberam a filha e a neta com muito carinho, porém a cidade de
Pindoba era muito pouco desenvolvida e não havia perspectivas de trabalho. Então, a mãe
de N resolveu deixar a filha aos cuidados dos avôs maternos, ir à procura de emprego em
Brasília e, assim que se estabelecesse financeiramente, voltaria para buscar a filha. N. ficou
morando com os avôs maternos em Pindoba por dois anos, entre a idade de um ano e meio
e três anos e meio. Depois desse período, a mãe de N já trabalhando como vendedora
voltou a Pindoba para buscar a filha e a trouxe para morar com ela em Brasília.
A mãe de N se casou, em Brasília, quando a filha tinha quatro anos, e o padrasto a
registrou como filha. A criança começou a estudar na creche Vovó Zizi aos cinco anos.
Entre seis e sete anos, N voltou a morar em Pindoba com os avôs, enquanto a mãe
permaneceu em Brasília com o marido. Durante esse período, N estudou em uma escola
pública em Pindoba.
A mãe de N expressa tristeza ao contar que a família do padrasto de N, mantém um
relacionamento de amorosidade e proximidade com o filho biológico de dois anos, fruto da
relação dela com o marido, e mantém uma relação distante e um pouco ríspida com N.
Esse distanciamento gera sentimentos negativos na filha. Hoje, N mora em Taguatinga-DF
15
com o padrasto, o irmão de dois anos e a mãe que está grávida de três meses. A criança
adora ir aos parquinhos, seu passeio preferido é brincar no Parque da Cidade. Ela sonha em
conhecer Paris e diz só conhecer Brasília e Pindoba.
A escola em que N estuda é uma escola inclusiva, atende crianças do primeiro ao
quinto ano do Ensino Fundamental e funciona em dois turnos: matutino e vespertino. Há
relatos de sua existência desde a década de 1960. O estabelecimento de ensino conta com
uma quadra coberta e o parque infantil, espaços considerados pela equipe escolar como
sendo de fundamental importância para a realização de atividades ligadas ao
desenvolvimento sócio-psicomotor dos educandos.
3.2 Procedimento adotado
Foi realizada, inicialmente, uma conversa com a professora de N, depois entramos
em contato com a mãe da aluna com a intenção de obteremos autorização para a pesquisa
psicopedagógica. Tínhamos elaborado perguntas que nos guiariam na entrevista de
anamnese, pois acreditávamos que a análise das respostas pudessem nos auxiliar na
investigação das competências e dificuldades de aprendizagem da aluna. Porém, no
decorrer da entrevista, percebemos que muitas de nossas perguntas não trariam dados
relevantes para essa investigação.
Assim, durante a anamnese, mudamos o foco do que iríamos perguntar e
direcionamos as perguntas para as experiências vividas pela aluna. Consequentemente,
tivemos que reelaborar as perguntas para entrevistar a sua mãe. Essa reelaboração nos
possibilitou analisar dados importantes para o prosseguimento do trabalho. Essa
experiência nos mostrou que não existe modelo de anamnese pronta, ela deve ser construída
considerando a individualidade do sujeito. Cada ser humano é único e se relaciona de modo
diferente com o mundo em que se encontra, assim como é defendido por Fávero (2014).
Foram realizadas duas sessões de avaliação. Na primeira avaliação, utilizamos a
Prova de Avaliação Psicopedagógica da Escrita e Leitura, elaborada por Fávero (2014);
para a segunda avaliação, utilizamos a Prova de Avaliação das Competências e
Dificuldades Conceituais Sobre Número, cuja adaptação foi baseada no ECPN (Èpreuve
16
Conceptuelle de résolution des problèmes numériques), elaborada pelo Grupo CIMETE
(1995).
Após a análise das sessões de avaliação, decidimos direcionar nossas sessões de
intervenção no desenvolvimento do conceito de número. Desse modo, realizamos cinco
sessões com duração em média de uma hora, todas gravadas e transcritas na íntegra. Os
dados obtidos em cada sessão fundamentavam a definição do objetivo da sessão seguinte.
17
IV. A Intervenção Psicopedagógica: avaliação psicopedagógica e sessões de
intervenção
4.1 Primeira sessão de avaliação psicopedagógica
Data: 25 de abril de 2017. Duração: 1 hora e 12 minutos
Utilizamos a Prova das Competências e Dificuldades Conceituais sobre números –
Grupo CIMET (1994). Essa prova é dividida em vários itens que envolvem situações
diferentes: Quem tem mais; a partir de estados diferentes; “n mais que” com logro
numérico; pesquisa do estado inicial; e transformação negativa. O objetivo é avaliar as
competências e dificuldades conceituais sobre a noção de número, utilizando pequenas
quantidades numéricas.
4.1.1 Item 1 - Quem tem mais.
Essa situação envolve a comparação de quem tem mais fichas e quem tem menos
fichas.
Objetivo
Analisar como a aluna percebe e descreve a situação envolvendo a distribuição
desigual de elementos entre os conjuntos.
Procedimento e material utilizado
Nessa situação, cada bichinho recebeu uma quantidade diferente de fichas: gato
duas fichas, cachorro três fichas e coelho sete fichas. Perguntamos o que N poderia nos
dizer sobre essa situação. Após sua resposta, pedimos à aluna que deixasse todos os animais
com a mesma quantidade de fichas, e finalmente se haveria outra maneira para igualar as
quantidades entre os conjuntos.
18
Resultados obtidos e discussão
Colocamos duas fichas diante do gato, três fichas diante do cachorro e sete fichas
diante do coelho. Perguntamos a N o que ela poderia nos dizer sobre essa situação. N
observou e respondeu que o gato e o cachorro estavam bem, mas o coelho não, porque ele
tinha um bocado de fichas enquanto os outros dois tinham poucas. Percebemos que N sabia
quem tinha mais fichas e não havia recorrido à contagem dos elementos, apresentando
habilidade na estimativa visual.
Em seguida, pedimos a N que fizesse alguma coisa para que todos os animais
tivessem a mesma quantidade de fichas. N utilizou a subtração e igualou as quantidades
deixando o coelho com duas fichas, o gato com duas fichas e o cachorro com duas fichas.
Perguntamos se havia outra maneira para deixar todos os bichinhos com a mesma
quantidade. N tirou uma ficha de cada animal, deixando todos com uma ficha. Nessa
situação, a aluna conservou as fichas das coleções e apenas retirou elementos para igualar
os conjuntos.
Na comparação de quantidade, N visualizou desigualdade entre os conjuntos sem
necessitar contar os elementos. Em relação à situação em que há modificação do estado
inicial para igualar as quantidades, N realizou a atividade utilizando apenas a hipótese da
subtração. A aluna demonstrou habilidade em realizar operações em situações concretas.
4.1.2 Item 2 – situação a partir de estados diferentes.
Essa situação envolve um conjunto vazio e outro com elementos. Propomos uma
situação em que o conjunto vazio ficasse com mais elementos que o outro conjunto.
Objetivo
Avaliar a quantificação da relação de ordem propondo situação envolvendo um
conjunto vazio e outro com elementos.
Procedimento e material utilizado
Nessa situação, temos três conjuntos o do gato, o do cachorro e o do coelho, mas
comparamos apenas dois: um conjunto sem fichas que é o do cachorro e outro conjunto
19
com três fichas que é o do gato. Solicitamos que a aluna fizesse algo para que o cachorro
ficasse com quatro fichas a mais que o gato.
Resultado obtido e discussão
Aqui o gato possuía três fichas, o cachorro não possuía fichas, e o coelho possui sete
fichas. Pedimos a N que fizesse alguma coisa para que o cachorro ficasse com quatro fichas
a mais que o gato. N colocou quatro fichas em frente ao cachorro que não tinha nenhuma
ficha e nos perguntou se era isso que pedimos. Questionamos a aluna se o cachorro tinha
ficado com quatro fichas a mais que o gato que tinha três fichas. N respondeu que sim,
então, apontamos para o cachorro e questionamos quantas fichas ele tinha. N respondeu que
o cachorro tinha quatro fichas; depois questionamos quantas fichas tinha o gato, N
respondeu que tinha três fichas.
Procuramos fazer com que a aluna percebesse que a diferença entre as quantidades
quando comparadas era de apenas uma ficha, mas N continuava respondendo que o
cachorro tinha quatro fichas a mais que o gato. Colocamos uma ficha a mais no gato. Então,
o gato e o cachorro ficaram com quatro fichas. Mostramos para a aluna que se
colocássemos uma ficha a mais, frisando a expressão a mais, os dois animais ficariam com
a mesma quantidade. Retiramos a ficha e o gato que voltou a ter três fichas, enquanto o
cachorro continuou com quatro fichas. Perguntamos quantas fichas o cachorro tinha a mais
que o gato e a aluna respondeu que eram quatro. Nessa situação, o conceito “n mais que”
envolve o pensamento abstrato e a aluna sinalizou não ter compreendido esse conceito, não
estabelecendo a quantificação da relação de ordem.
4.1.3 “Mais que” com logro numérico.
Nessa situação, trabalhamos com duas coleções desiguais, uma com sete elementos
e outra com quatro elementos. A instrução seria para que a aluna deixasse o conjunto de
sete elementos com cinco a mais que o conjunto com quatro elementos. O logro numérico é
o entendimento que a quantidade a ser juntada (dois elementos) é diferente da quantidade
da instrução (cinco elementos).
20
Objetivo
Avaliar a quantificação da relação de ordem propondo situação que envolve dois
conjuntos com elementos.
Procedimento e material utilizado
Nessa atividade, temos três conjuntos e comparamos dois deles com diferentes
quantidades, um com sete elementos e o outro com quatro elementos. A aluna deveria
manipular a situação e deixar o conjunto que tinha sete elementos com uma diferença de
cinco elementos a mais que o conjunto com quatro elementos. O logro numérico é a
percepção de que a quantidade a ser juntada deveria ser de dois elementos no conjunto que
tinha sete elementos.
Resultados obtidos e discussão
Distribuímos quatro fichas para o gato, sete fichas para o cachorro e sete para o
coelho. Pedimos a N que fizesse algo para que o coelho ficasse com cinco fichas a mais que
o gato. Repetimos a explicação do problema três vezes para que ficasse claro para a aluna,
já que ela sinalizava não ter entendido, franzindo a testa e balançando a cabeça
negativamente.
Essa situação exige dois procedimentos: um se aplica a coleção menor implicando a
soma; o outro em uma medida da diferença. No primeiro momento, N percebeu que um dos
procedimentos é a soma e vai acrescentando fichas ao coelho. Questionamos quantas fichas
o coelho tinha depois que acrescentou fichas, N contou e respondeu que ele tinha onze
fichas. Questionamos novamente quantas fichas tinha o gato, N respondeu que eram quatro.
Então, perguntamos se o coelho tinha cinco fichas a mais que o gato. N não soube
responder e, fugindo do raciocínio, nos perguntou se o cachorro era bonzinho, se mordia e
se era educado. Brincamos um pouco com os bichinhos e depois voltamos ao problema.
Procuramos explicar o que significa ter mais e damos uma ficha para a aluna e ficamos com
duas. Perguntamos a aluna quem tinha mais fichas, N respondeu que a pesquisadora tinha
mais fichas que ela. Perguntamos quantas fichas a mais a pesquisadora tinha e N respondeu
que tinha uma a mais. Então, questionamos como ela sabia que tínhamos uma ficha a mais.
21
N olhou e disse que tínhamos duas fichas a mais, depois disse que era uma. Pareamos as
quantidades e mostramos que tínhamos uma ficha a mais. Depois, voltamos à situação
anterior e perguntamos quantas fichas o coelho tinha a mais que o gato. N respondeu que
eram oito fichas, depois respondeu que eram dez fichas, e, por fim, respondeu que eram
onze fichas. Nessa situação, N sinalizou não compreender a questão que relaciona “n a mais
que”. Não percebeu que a quantidade a ser juntada era de dois elementos, sinalizando não
compreender essa situação que envolve o raciocínio lógico.
4.1.4 Pesquisa do estado inicial.
Essa situação envolve uma transformação por soma de um estado final conhecido
(sete elementos) em um estado inicial desconhecido (três elementos).
Objetivo
Analisar se a criança consegue realizar uma transformação por soma e quais
estratégias usadas.
Procedimento e material utilizado
Colocamos três fichas na mão, sem a aluna ver (estado inicial desconhecido) e
dissemos que havíamos escondido algumas fichas. Depois, colocamos mais quatro fichas
na mão, agora contando junto com a aluna. Dissemos para a aluna que tínhamos sete fichas
na mão (estado final conhecido) e perguntamos quantas fichas havíamos escondido.
Resultados obtidos e discussão:
N parecia animada por termos mudado de atividade, ela aparentava estar cansada de
trabalhar com situações que envolviam “n mais que”. Perguntamos se a aluna queria
continuar com a brincadeira, N respondeu que sim, mas com outra brincadeira e não com as
fichas e os bichinhos, então demos continuidade à prova.
Escondemos três fichas na mão fechada sem que N visse e dissemos: temos fichas
escondidas na mão, vamos descobrir juntas quantas fichas escondemos. Mantendo a mão
fechada e com as três fichas escondidas, convidamos N a contar mais quatro fichas, às
22
quais fomos acrescentando ostensivamente na mão fechada, N contava com entusiasmo.
Dissemos a N que agora tínhamos sete fichas na mão, e perguntamos quantas tínhamos no
começo. N mantém uma expressão de espanto. Perguntamos quantas fichas tínhamos
colocado na mão, N pensa e nós a recordamos que eram quatro e que agora tínhamos sete
fichas. Questionamos o que havíamos feito e N respondeu que tínhamos colocado fichas na
mão, perguntamos quantas fichas e a aluna respondeu que tínhamos colocado quatro fichas.
Perguntamos como ela sabia e a aluna não soube responder. Ela não soube chegar à
resposta.
4.1.5 Transformação negativa.
Nessa situação, a transformação negativa envolve uma transformação por subtração
de um estado inicial conhecido (cinco elementos) para achar a transformação quantificada
desconhecida (dois elementos).
Objetivo
Analisar se a criança consegue realizar uma transformação por subtração e quais
são as estratégias que ela usa.
Procedimento e material
Nessa atividade, abrimos a mão e junto com a aluna colocamos ostensivamente
cinco fichas, fechamos a mão e, em seguida, sem que a aluna visse, retiramos duas fichas.
Depois informamos a ela que tínhamos três fichas na mão e perguntamos o que havíamos
feito.
Resultados obtidos e discussão
Colocamos cinco fichas na mão e N contou as fichas conosco. Pedimos a ela que
fechasse os olhos e retiramos duas fichas. Dissemos a N que agora tínhamos três fichas na
mão e perguntamos o que havíamos feito. N fez algumas tentativas e não conseguiu chegar
ao resultado correto. Então, repetimos a operação com a mão aberta para que ela pudesse
23
visualizar o que havíamos feito e, assim, a aluna disse ter entendido. Ela não consegue
realizar operações de subtração sem apoio do material concreto.
Análise dos resultados
As atividades nos indicaram que N consegue organizar a coleção em grupos iguais,
formular as hipóteses de subtração e estabelecer a relação de comparação quando as
atividades são concretas. Em problemas que envolvem o conceito “n mais que”, a aluna não
conseguiu resultados positivos. Esse conceito está relacionado com a soma, com a
subtração e com a ordem, envolvendo o pensamento lógico-matemático. Esses resultados
foram considerados para as atividades da primeira sessão de intervenção psicopedagógica,
na qual objetivamos mediar o conceito de número.
4.2 Segunda sessão de avaliação psicopedagógica
Data: 02 de maio de 2017 - duração 1 hora e 5 minutos.
Realização da Prova de avaliação psicopedagógica da escrita e leitura (Fávero,
2014). Essa prova também é composta por várias situações: escrever diálogos nos balões
correspondentes no contexto de uma história em quadrinhos; dar sequência a uma história
começada; e reconstituição de frases.
4.2.1 Situação 1 - Escrita dos diálogos nos balões no contexto de uma história
em quadrinhos.
Objetivo
Analisar a compreensão do contexto de uma história em quadrinhos e as
estratégias na elaboração dos diálogos.
Procedimento e material utilizado
Utilizamos duas folhas de papel A4 para colar os quadrinhos de uma história
infantil: Os dilemas de um dia de frio, de Maurício de Sousa. Cobrimos os diálogos de três
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balões não sequenciais e pedimos à aluna que lesse a história. Ela deveria preencher as falas
dos balões em branco e, em seguida, realizara o registro escrito.
Resultados obtidos e discussão
Em uma sala de aula vazia, sentamos à mesa da professora e estabelecemos uma
conversa informal, a mãe da aluna esteve presente na sala e pediu para que pudesse assistir
à sessão. Deixamos que ficasse para conhecer um pouco do nosso trabalho, mas
percebemos que esse procedimento incomodava a aluna.
N leu a história de forma pontuada, entendendo o que estava lendo. Ela completou
os quadrinhos oralmente com facilidade e coerência, porém, ao colocar as ideias no papel,
sentiu dificuldade e necessitou de ajuda. N parece apresentar dificuldades na passagem do
pensamento para a escrita, o que nos aponta para a necessidade de trabalhar com a
organização de imagens em sequência para posterior criação de texto.
Figura 1. Montagem de história da Turma da Mônica e atividade realizada por N.
Fonte: elaborado pela pesquisadora para a sessão com a aluna.
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4.2.2 Situação 2 - Dar sequência a uma história.
Objetivo
Analisar a compreensão do contexto de uma pequena história que se interrompe.
Procedimento e material utilizado
Utilizando o livro de história: Hora de Dormir, texto de Joanne Oppheim e
ilustrações de Miriam Latimer, começamos a ler a história, interrompemos a leitura e
pedimos que N continuasse. O final da história foi inventado oralmente pela aluna e depois
registrado.
Procedimento e análise
Apresentamos o livro Hora de Dormir para a aluna, observamos a capa, a ilustração,
lemos o título, o nome do autor e da ilustradora. Começamos a ler a história e a cada página
explorávamos as ilustrações, N se divertia e fazia comentários. Após lermos algumas
páginas, passamos o livro para que a aluna continuasse a leitura. Ao chegar ao desfecho da
história, pedimos que N interrompesse a leitura e inventasse o final oralmente e depois o
registrasse.
O final foi inventado oralmente com coerência; porém quando solicitamos que
escrevesse a versão inventada, N aprestou dificuldades na passagem do pensamento para a
escrita. Ajudamos na organização de seu pensamento e N escreveu bem resumidamente o
que havia nos contado. A letra da aluna é legível, bem desenhada respeitando as margens
do papel e o espaço entre linhas. Observa-se a ausência de regras gramaticais e que a grafia
é espelha em sua fala.
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Figura 2. Continuando a história
Fonte: Oppheim (2007)
4.2.3 Situação 3 - Reconstituição de uma frase
Objetivo
Analisar as estratégias na reconstituição de uma frase com sentido.
Procedimento e material utilizado
Escrevemos quatro tiras de cartolina com os elementos de quatro frases completas
em ordem aleatória. Pedimos que a aluna recortasse as palavras de cada tira e organizasse a
frase, depois a colasse em uma folha de papel A4 colorida.
Resultados obtidos e discussão
Trouxemos quatro frases cujas palavras estavam dispostas de forma aleatória.
Pedimos a aluna que recortasse cada palavra e montasse a frase de forma que tivesse
sentido. As palavras das frases foram separadas e N parecia animada para fazer essa
atividade, sorria e conversava sobre a amiguinha da escola. Trabalhamos primeiro com a
frase: “Agora preste atenção menino”. As palavras foram recortadas e dispostas em cima da
mesa, depois organizadas rapidamente pela aluna.
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A mãe de N nos observava e parecia impaciente, olhava o relógio constantemente,
então, propusemos terminar logo a sessão e colocar apenas mais uma frase em ordem, as
outras N poderia levar para casa. A aluna balançou a cabeça negativamente e expressou sua
vontade de querer acabar a atividade ali mesmo. Prosseguimos com a atividade e a aluna
organizou duas frases.
Como não havíamos tempo para terminar a atividade, colocamos em um saquinho
plástico transparente a última frase a ser organizada, uma cola e uma folha colorida e
presenteamos a aluna. Seria interessante trabalhar com a organização de imagens e a
criação de texto.
Figura 3. Frases organizadas por N.
Fonte: elaborado pela participante da pesquisa.
4.3 Primeira Sessão de Intervenção Psicopedagógica
Data: 09 de maio de 2017
Objetivo
Conceituar números de 1 a 9 e sistematizar operações de adição e subtração.
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Procedimento e material utilizado
Exploramos a reta numérica de 1 a 9 e a relação entre as idades de N, oito anos, e de
seu irmão de dois anos. Relacionando as idades, exploramos as diferenças nas operações de
adição e subtração: quem era mais velho, quem era mais novo, quantos anos N tem a mais
que seu irmão e quantos anos o irmão tem a menos do que ela. Nessa relação, exploramos o
significado dos símbolos envolvidos nessas operações.
Resultados obtidos e discussão
N organizou a reta numérica de forma crescente e a ajudamos a organizá-la de
forma decrescente. Brincamos de esconder e adivinhar os números na reta numérica,
divertimo-nos com essa atividade. Após explorar os números, pedimos que N desenhasse
seu autorretrato e depois desenhasse o seu irmão de dois anos. Ela desenhou com rapidez e
capricho.
Organizamos a reta numérica no chão da sala; a aluna colocou seu autorretrato em
cima do número correspondente a sua idade, depois posicionou o desenho de eu irmão em
cima do número correspondente a idade dele. Começamos a explorar as relações de maior e
menor nessa situação.
Perguntamos quem dos dois era o mais velho, N respondeu que ela é mais velha.
Perguntamos como sabia, a aluna respondeu que é maior que seu irmão (se refere a altura) e
que ela tem oito anos, enquanto ele só tem dois. Perguntamos quantos anos ela tinha a mais
que ele. A aluna não soube responder, também não soube responder quantos anos o irmão é
mais novo do que ela. Sabia, porém que havia uma relação de diferença entre as idades.
Visualizamos as diferenças de idade entre N e seu irmão com o apoio da reta
numérica por diversas vezes, contando o intervalo entre essas idades. Após as
demonstrações das diferenças entre as idades de oito e de dois anos, perguntamos se N
sabia o que era somar, abaixo transcrevemos parte do diálogo:
P – Você sabe o que é somar e diminuir?
N – Diminuir é voltar lá prá trás. Aumentar é botá lá prá frente. E como é os outros
nome?
P – Dividir?
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N – Dividir é cortando no meio. E o outro?
P – Multiplicar? Multiplicar você sabe?
N – Não.
Com esse diálogo, percebemos que N não sabia o conceito das operações
matemáticas. Realizamos as operações entre as idades utilizando diversas estratégias:
visualização na reta numérica, utilizando botões e pauzinhos. Quando utilizamos os
dedinhos de N para que percebesse essas operações, N pareceu entender. As operações
foram repetidas diversas vezes com as mãozinhas da aluna. Trabalhamos com diversos
cálculos cujo resultado não ultrapassava a nove, fugindo da relação entre as idades das
crianças.
Voltamos a trabalhar as diferenças entre as idades de N e o irmão. Perguntamos
quantos anos N é mais velha que o irmão. Com os dedinhos da mão, N nos mostrou que
oito menos dois é seis. Perguntamos se essa operação era de somar ou de diminuir, N
respondeu que era de diminuir. Montamos a operação utilizando cartões mostrando que o
resultado diminuía. Mostramos cartões com sinais de mais, menos e igual. Pedimos que
pegasse o sinal de menos, N pegou o sinal de mais. Perguntamos se tinha pegado o sinal
certo e ela respondeu que sim. Percebemos que N ainda não havia entendido o significado
dos sinais matemáticos.
Realizamos diversas operações de soma e de subtração com o apoio da reta
numérica e a aluna registrou algumas delas. Por fim, perguntamos a função de cada um dos
sinais nas operações registradas e N não soube responder, sinalizando não ter
compreendido o significado desses símbolos.
Figura 4. Jogo da Matemática.
Fonte: elaborado durante a sessão psicopedagógica.
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4.4 Segunda sessão de intervenção psicopedagógica
Data: 16 de maio de 2017 – Duração: uma hora
Objetivo
Conceituar os números de 1 a 9 e compreender os símbolos das operações de
adição e subtração.
Procedimento e material utilizado
Apresentamos duas famílias a N para que escolhesse uma delas e realizássemos as
atividades. N escolheu um casal com três filhos: Ana (dois anos), Clara (cinco anos) e
Pedro (nove anos). Perguntamos qual das crianças ela achava ser a mais velha e qual seria a
mais nova das três. Em seguida, mostramos etiquetas com três idades e nomes diferentes
(Ana-dois anos, Clara-cinco anos e Pedro-nove anos) e pedimos à N que adivinhasse de
quem eram as idades e depois colasse a etiqueta na frente da foto de cada criança.
Brincamos de esconder números na reta numérica que incluía números de zero a
nove para adivinhar qual número estava faltando. Depois, montamos a reta numérica de
forma crescente, decrescente e voltamos a colocá-la na forma crescente.
Organizamos os retratos das crianças em cima dos números que correspondiam as
suas idades. Trabalhamos com três cartões que continham perguntas sobre quem era o mais
velho, quem era o mais novo e quem não era o mais novo nem o mais velho. A aluna lia o
cartão e procurava responder às perguntas com o apoio da reta numérica e o retrato da cada
criança.
Trocamos os cartões. Agora tínhamos cartões envolvendo operações de adição e
subtração que continham a comparação entre as idades das crianças. Após explorar a
diferença entre as idades das crianças, utilizamos os símbolos das operações de soma e de
subtração, explicando o conceito de cada uma.
Resultados obtidos e discussão
Mostramos duas famílias para N escolher com qual iríamos brincar. A aluna
escolheu um casal com três filhos: Ana dois anos, Clara cinco anos e Pedro nove anos.
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Depois, perguntamos qual ela achava que é a menor criança das três; a aluna indicou
pegando a foto de Ana; perguntamos qual seria o maior de todos e ela nos mostrou a foto de
Pedro. Perguntamos quantos anos ela achava que Clara tinha. A aluna disse que achava que
tinha oito, da mesma idade dela.
Mostramos três etiquetas e cada uma delas continha um nome e uma idade (Ana
dois anos, Clara cinco anos e Pedro nove anos). Pedimos que N adivinhasse quem se
chamava Ana, quem se chamava Clara e quem se chamava Pedro. N descobriu seus nomes
relacionando a foto das crianças e as idades.
Montamos a reta numérica no chão, espalhamos três cartões com perguntas
relacionadas às diferenças de idade entre as três crianças e pedimos que a aluna pegasse um
dos cartões e lesse. N pegou um dos cartões e leu: Quem é o mais velho de todos? A aluna
apontou para Pedro de nove anos. Depois pegou outro cartão e leu: Quem não é o mais
velho de todos e nem o mais novo de todos? A aluna não entendeu a pergunta, lemos em
voz alta e ela continuou sem entender. Pedimos que deixasse esse cartão de lado e pegasse
o último. A aluna pegou o último cartão e leu: Quem é o mais novo de todos? Ela ficou um
pouco de tempo pensando. Então, perguntamos a ela quem seria o mais novo de todos e ela
respondeu que era Ana de dois anos. Depois, apontando para Pedro, dissemos que ele tinha
nove anos e era o mais velho, que Ana tinha dois anos e era a mais nova. Perguntamos
quem não era o mais novo e nem o mais velho e a aluna respondeu que era Clara, de cinco
anos.
Com essa atividade, procuramos estabelecer uma relação de comparação utilizando
a régua numérica e a relação de idades entre as crianças, a aluna pareceu ter compreendido.
Procuramos mostrar para ela que os números cresciam da esquerda para a direita.
Passamos a explorar as operações de adição e subtração, relacionando as idades
entre duas crianças. Perguntamos à N quantos anos faltam para Ana (dois anos) chegar à
idade de Clara (cinco anos) e a aluna contou na reta numérica e respondeu que são três
anos. Perguntamos como ela poderia fazer essa continha e ela disse não saber. Realizamos a
operação juntas utilizando os sinais. Pedimos que N pegasse o número cinco e depois o
dois, por último o três. Montamos a operação sem os sinais e perguntamos como havia
chegado ao resultado três, se havia somado ou subtraído, diminuído; N respondeu que
32
diminuiu. Pedimos que pegasse o cartão que indicasse o sinal de menos e posicionasse na
operação que havíamos montado e N entregou-nos o sinal de mais, demonstrando não
entender o significado dos códigos matemáticos. Explicamos as funções dos sinais de
adição e subtração e continuamos com a atividade.
Exploramos outra relação entre as idades, agora com Clara e Pedro. Pegamos um
cartão e lemos: Clara tem cinco anos e Pedro nove anos, quantos anos faltam para Clara ter
nove anos? N prestou atenção no que lemos e disse: “ai, ai, ai, ai”. “Cinco menos dois dá
três”. Repetimos a pergunta, mas a aluna não compreendeu a situação. Ela sinaliza a
possibilidade de não abstrair o número seis. Resolvemos a operação contando o intervalo
dos números cinco até o nove na reta numérica, depois realizamos a mesma operação com
botões, depois com os dedinhos da aluna. Perguntamos se havia entendido e ela sinalizou
que sim. Então, montamos a operação com cartões, pedimos que nos indicasse o sinal de
mais da operação e ela nos indicou o sinal corretamente.
N montou a reta numérica e fez a correspondência entre idades e números,
indicando identificar o nome do número com seu símbolo. As operações desenvolvidas
com a relação de idades e os símbolos operatórios da adição e subtração mostraram que a
aluna necessita entender o conceito de número, trabalhar com material concreto para
abstrair esse conceito e depois relacionar os símbolos das operações de adição e subtração
com seus significados.
Figura 5. A relação entre as idades de Ana, Clara e Pedro
Fonte: elaborado pela pesquisadora.
33
4.5 Terceira sessão de intervenção psicopedagógica
Data: 22 de maio de 2017 – Duração uma hora e 15min.
Objetivo
Envolver a aluna no processo de aprendizagem, confeccionando material para a
próxima sessão e associar números a quantidades, de modo a perceber que os
números crescem na reta numérica.
Procedimento e material utilizado
Trouxemos vinte cartões em branco, todos medindo metade de uma folha A4, cola,
canetas coloridas, tesoura, círculo de papel e alguns enfeites. A aluna escreveu números de
0 a 9 em cartões e os enfeitou, depois montou a reta numérica no chão e posicionou abaixo
de cada número um cartão em branco, depois colou bolinhas representando a quantidade
que cada número indicava.
Descrição e análise
Nessa sessão deixamos à disposição da aluna: canetas coloridas, lápis de cor,
borracha, tesoura, círculos de papel, cola, papéis coloridos, florezinhas, pedrinhas, pérolas e
vinte cartões em branco. A aluna se encantou ao ver os materiais. Deixamos que ela os
explorasse e iniciamos com as atividades.
Entregamos 10 cartões em branco e pedimos que ela escrevesse números de zero a
nove. A aluna escolheu uma caneta rosa e escreveu os números com muito capricho.
Utilizou letra grande para ocupar bem o espaço do cartão. Depois, enfeitou cada número
com cuidado e capricho. Terminando de enfeitar os números, N pediu para montarmos a
reta numérica no chão como fazíamos sempre.
Montamos a reta numérica no chão de forma crescente, pedimos que a aluna a
colocasse de forma decrescente e depois crescente novamente, ela organizou a reta sem
dificuldades. Notamos sua segurança na atividade ao realizá-la rapidamente e sem nossa
mediação.
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Depois, colocamos cartões em branco embaixo de cada número que ela escreveu e
enfeitou e nesses cartões em branco solicitamos que a aluna colasse bolinhas que
correspondesse ao número que havia enfeitado. Orientamos a disposição das bolinhas antes
de serem coladas. A aluna sabia corresponder quantidade com o número e sinalizou
compreender que os números crescem na reta numérica da esquerda para a direita.
Terminando essa sessão, presenteamos a aluna com os enfeites que sobraram da
atividade e percebemos seu interesse em participar da próxima sessão.
Figura 6. Construindo a relação de número e quantidade
Fonte: arquivo da pesquisadora.
4.6 Quarta sessão de intervenção psicopedagógica
Data: 30 de maio de 2017. Duração: 1 hora e 20 minutos
Objetivo
Desenvolver o conceito de número e relacionar significativamente os símbolos
operatórios a sua função.
Procedimento e material utilizado
Nessa sessão, demos continuidade à sessão anterior, utilizando o material
confeccionado pela aluna. Posicionamos os cartões com números de zero a nove no chão,
abaixo desses números posicionamos os cartões com a quantidade de bolinhas que o
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número indicava. Após essa organização, brincamos de esconder um cartão com número e
a aluna adivinhar o cartão escondido; ela também escondia os cartões e nós adivinhávamos.
Repetimos essa brincadeira com os cartões com bolinha. Após brincarmos de adivinhação,
partimos para realizar contas com os cartões com bolinhas: escolhíamos dois cartões e a
aluna somava as quantidades e nos dizia o resultado, depois ela escolhia dois cartões e nós
realizávamos a operação. Após essa atividade com os cartões com bolinhas, passamos a
escolher dois cartões com números e pedir a N que somasse os dois números. A aluna
poderia recorrer aos cartões com as representações dessas quantidades, caso precisasse.
Procuramos frisar bem a palavra mais para dar sentido ao símbolo das operações.
Finalizamos as sessões pedindo que a aluna registrasse algumas operações que realizamos.
Ditamos as operações e a aluna montou a conta deitada e depois em pé, utilizando os
símbolos operatórios corretamente.
Descrição e análise
Repartimos a sala de aula com uma professora e um grupo de alunos. Sentamos no
chão no final dessa sala, tiramos o material da bolsa, enquanto N observava o que havíamos
feito na sessão anterior. Ela se encantava com os enfeites: florezinhas, pérolas, bolinhas.
Pedimos a N para separar os cartões com as bolinhas dos cartões com os números e
montar a reta numérica. N realizou essa tarefa com agilidade, organizou primeiro os
números de zero a nove e abaixo desses números posicionou os cartões que representavam
essas quantidades. Depois, pegamos um dos cartões com número e pedimos que
descobrisse qual cartão havíamos escondido. N observou a reta numérica e respondeu de
imediato. N também escondia cartões e nos pergunta quais havia escondido. Após nos
divertirmos com essa atividade, passamos a repetir esses passos com os cartões numéricos.
Em seguida, pegamos dois cartões com bolinhas e perguntamos quanto daria se
somássemos as bolinhas dos dois cartões; nesse momento, enfatizamos em nossa fala a
palavra mais, abaixo exemplificamos com a transcrição de parte da sessão:
P – N quantas bolinhas tem aqui?
N – Duas
P – Quantas tem aqui?
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N Três
P – Vamos contar quanto vai dar os dois juntos? Conta para mim quanto vai dar os
dois juntos.
N - um, dois, três, quatro, cinto. Cinnco!
P – Então dois mais três é igual a?
N – Cinnco!
P – Muito bem, dois mais três é igual a cinco.
Enquanto brincávamos com os cartões de bolinhas, N se arrastava no chão dizendo
ser uma cobra, brincava com os anéis que tínhamos nos dedos, conversávamos sobre pizza,
sobre o machucado do braço devido à queda acontecida na escola e, no meio dessas
brincadeiras e conversas, explorávamos a soma de diversas quantidades utilizando os
cartões com as bolinhas. Procurávamos manter o foco nas atividades, mas percebíamos que
N precisava se movimentar. Deixávamos que se divertisse, e carinhosamente tentávamos
envolvê-la nas atividades.
Depois de explorar os cartões com bolinhas, pegamos os cartões com os números e
brincamos de pegar dois cartões e N adivinhar a soma dos dois. A seguir, transcrevemos
parte da atividade transcrita na íntegra:
P - Agora você vai ter que nos falar quanto vai dar esses dois números juntos.
P - Vamos perguntar para você e depois é sua vez de nos perguntar, tá bom? Que
número é esse (número 7)?
N - Sete
P - E esse (número 2)?
N - Dois
Quanto dá os dois juntos?
N – seis?
Percebemos a dificuldade de N em realizar o cálculo sem o apoio dos cartões de
bolinhas. Falamos que poderia contar as bolinhas que representavam esses números, mas N
contou nos dedos escondendo as mãozinhas para trás. Demorou um pouco a responder e
respondeu que sete mais dois é igual a seis. Pedimos que colocasse as mãozinhas para
frente e ajudamos a contar nos dedos. Realizamos outras contas utilizando a reta numérica e
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procuramos relacionar o número e a quantidade nas relações de adição, às vezes
utilizávamos os cartões com bolinhas para nos auxiliar nas operações, outras vezes a aluna
contava nos dedos.
Após N ser orientada a contar os dedinhos a nossa frente, a aluna passou a mostrar
suas mãozinhas e a realizar os cálculos corretamente com resultados até nove. Quando o
resultado era maior que dez, utilizávamos os cartões representando cada parcela e
somávamos as bolinhas. É interessante observar que N tinha receio de pegar números que
considerava grandes (maiores que cinco) e nos perguntar a soma. Abaixo transcrevemos a
fala de N na íntegra:
N - Esse é muito difícil, vou pegar um bom para você tá bom tia? (Aqui a aluna se
refere ao número 8 como difícil e pega o 4)
Durante a sessão, esse receio foi desaparecendo, N passou a acertar os cálculos até
10 sem apoio dos cartões com bolinhas. Assim, passamos a ensinar N a escrever o que
fazíamos com a fórmula matemática. Transcrevemos o trecho de nossa conversa:
P - Sabe que a gente pode escrever as contas sem usar os cartões? Vamos escrever
essa continha que acabamos de fazer? Vamos escrever ela deitadas, assim:
P - Pega aí o dois.
P - Pega o sinal de mais.
P - Pega o três.
P - Pega o sinal de igual.
P- Quando dá dois mais três?
N – Cinco.
P - Pega o cinco.
2 + 3 = 5
P - Vamos ler?
Lemos em voz alta e N. repete: dois mais três igual a cinco
P - Você pode ler sozinha?
N – Dois mais três igual a cinco.
38
A aluna montou diversas continhas deitadas com os números que solicitávamos e os
registrava em uma folha de papel da forma correta. Passamos, então, a ensinar outra
representação da fórmula da soma. A seguir, transcrevemos parte do diálogo:
P - Sabe que podemos escrever em pé também?(mostramos a conta para a aluna)
2
+3
5
N - Essa eu sei tia, já aprendi.
Então, pedimos que N transformasse aquelas continhas deitadas que ela havia
registrado em continhas em pé. N realizou todas com sucesso e sem a nossa ajuda. Essa
sessão nos indicou a possível abstração de N em relação a números maiores que cinco e a
possível abstração dos sinais matemáticos relacionados a sua função. Quanto à
formalização desses conceitos, é necessário seguir mediando e continuar trabalhando no
concreto.
Figura 7. Representação das operações no concreto
Fonte: arquivo da pesquisadora.
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4.7 Quinta sessão de intervenção psicopedagógica
Data: 12 de junho de 2017. Duração: uma hora.
Objetivo
Explorar números maiores que nove, a posição na reta numérica, e o
crescimento em termos de quantidade.
Procedimento e material utilizado
Abrimos o tapete de feltro com os números de 0 a 29 no chão e deixamos a
sequência de 30 a 39 em branco. Exploramos a ordem numérica desse tapete, os sucessores
e antecessores e observamos as dezenas e unidades. Pedimos que a aluna escrevesse de 10
em 10 até 50 em uma tabela, seguindo o modelo do tapete de feltro. Depois, solicitamos
que ela completasse a tabela com a sequência numérica de um até cinquenta. Trouxemos
seis casinhas de papel pintadas e grudadas em palitos de picolé e uma casinha sem grudar
para que N a pintasse e depois a grudasse no palito com fita adesiva; essa casinha
representaria a casa dela. Apresentamos a aluna uma tabela com nomes de cinco pessoas,
incluindo o dela, e endereços correspondentes a cada uma dessas pessoas. Posicionávamos
as casinhas de duas em duas no tapete e explorávamos operações matemáticas utilizando o
intervalo entre essas casinhas. Deixamos em branco o intervalo entre os números 30 a 39 e
exploramos essa sequência, depois os sucessores e antecessores de toda a sequência do
tapete.
Descrição e análise
Trouxemos uma sacola cheia de coisas para essa sessão. Além do material que
iríamos utilizar na sessão, trouxemos bolinhas, papéis coloridos, fichas coloridas, a família
que havíamos trabalhado nas sessões anteriores, e outros materiais. N curiosa para
descobrir o que tínhamos na sacola se antecipou e perguntou o que havia lá dentro.
Deixamos que a aluna descobrisse os materiais e brincasse um pouco com eles.
Quando N começou a brincar com as casinhas coloridas que estavam na sacola, ela
percebeu que havia uma sem pintar. Falamos que aquela era a sua casinha e perguntamos se
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queria pintá-la. N pintou a casinha, colamos em um palito de picolé e identificamos com
seu nome; todas as outras casinhas já estavam identificadas.
Perguntamos se N se lembrava das retas numéricas que havíamos representado antes
e ela disse que sim. Perguntamos se ela saberia construir uma reta numérica com números
maiores que nove. N pensou e disse que achava que sim. Abrimos o tapete no chão e N
percebeu que os números tinham uma ordem: “olha tia, todos os dois debaixo dos dois,
todos os três debaixo dos três, quatro debaixo de quatro”, ela se referia as dezenas e
unidades. Explicamos que havia números até 29 e perguntamos se ela saberia continuar a
sequência. N ficou relutante em dizer. Então, pegamos uma folha na qual havia 10 colunas
e 10 linhas e N escreveu de 10 em 10 até 50, e cada número iniciava uma linha. Depois N
preencheu as linhas com a sequência de 11 até 50, observando que cada numeral
correspondia a uma posição: dezenas e unidades.
Olhamos a lista com o nome e endereço, identificamos o endereço da casinha de N e
posicionamos sua casinha no número correspondente a seu endereço do tapete, depois
identificamos o endereço de Tia Karla e posicionamos sua casinha no endereço
correspondente ao número do tapete. Perguntamos a aluna quantas casinhas N teria que
andar para chegar à casinha de Tia Karla. Colocamos palitos de picolé no intervalo entre as
casinhas e a aluna contava os palitos e respondia. Resolvemos diversas continhas
relacionando o endereço da lista e outras que inventávamos.
Cobrimos alguns números da sequência do tapete e pedimos que N nos falasse qual
era o número escondido, ela respondia todos corretamente. Pedimos que a aluna nos falasse
os números que estavam em branco no tapete e a aluna nos disse todos corretamente.
Exploramos os sucessores e antecessores presentes no tapete e fora dele e a aluna
respondeu corretamente. Continuamos a brincar com as operações matemáticas sem
identificar formalmente a operação. Por fim, exploramos algumas continhas de adição e
pedimos que N as montasse, ela montou corretamente das duas formas, em pé e deitada,
sinalizando ter compreendido o conceito de número e o significado dos símbolos nas
operações de adição.
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Figura 8. Atividade de relacionar casas e endereços
Fonte: elaborado pela pesquisadora.
Figura 9. Sucessor e antecessor
Fonte: elaborado pela pesquisadora.
Figura 10. Brincando com intervalo numérico
Fonte: elaborado pela pesquisadora.
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V. Discussão Geral dos Resultados da Intervenção Psicopedagógica
Neste trabalho, analisamos as competências e dificuldades de N no campo de
matemática e de português, e direcionamos nossas intervenções no desenvolvimento do
conceito de número. Na fase de avaliação, utilizamos duas provas. A primeira delas foi a
Prova de Avaliação Psicopedagógica da Escrita e Leitura – Fávero 2014. Os resultados
dessa prova nos indicaram que a aluna encontrava-se no período silábico-alfabético,
segundo Emília Ferreiro(1999). Esse período marca a transição da hipótese silábica para a
hipótese alfabética. Ora a aluna escreve atribuindo a cada sílaba uma letra, ora representa as
unidades sonoras menores, os fonemas. A segunda prova utilizada foi a Prova de Avaliação
das competências e Dificuldades Conceituais Sobre Número – Grupo CIMETE (1995). Ao
longo dessa prova, a aluna comparou e relacionou quantidades.
No item da prova do CIMETE (1995) em que solicitamos a N que comparasse e
igualasse as quantidades, a aluna utilizou a hipótese de subtração e descreveu a situação de
desigualdade entre os conjuntos, baseando-se em comentários numéricos e visuais. Ela
afirmou que dois conjuntos tinham poucas fichas e que outro tinha um bocado de fichas,
depois igualou as quantidades utilizando-se da hipótese de subtração nas duas situações
solicitadas. O resultado desse item indica que N fez estimativa visual da quantidade maior
comparada com as outras duas quantidades menores. Ao igualar as quantidades dos
conjuntos, a aluna não utilizou a hipótese da adição, nem desmembrou um conjunto
passando as fichas para o outro, apenas retirou quantidades para deixar os conjuntos iguais.
As situações “n a mais que” apresentadas na prova CIMETE (1995) relacionam as
operações de soma, subtração e a relação de ordem. Nas três situações que envolvem esse
conceito, a aluna não conseguiu chegar ao resultado correto e não indicou compreender a
situação. Essas situações se relacionam à adição, à subtração e à ordem. A aluna sinalizou a
necessidade de trabalhar situações matemáticas que envolvem material concreto.
No último item, solicitamos à aluna que analisasse duas transformações: uma por
soma, resultante de um estado final conhecido e achasse o estado inicial desconhecido. Ela
nos respondeu corretamente, mas não concluímos se ela realizou os cálculos para chegar ao
resultado porque não demonstrou seu pensamento por meio de contagem ou de outra
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expressão que pudesse ser analisada. Na outra transformação, propusemos uma medida de
diferença em que a soma resultasse em um estado final conhecido e era necessário achar o
estado inicial desconhecido. Nessa situação, a aluna não conseguiu realizar a operação.
Essas transformações necessitam que a aluna já possua o conceito de número.
Percebemos que ela conseguiu responder corretamente e com segurança apenas as
atividades que envolvem situações concretas, necessitando desenvolver o conceito de
número. Segundo Vergnaud (2014), identificar a construção do conceito de número com
um processo de abstração reflexiva, envolve estabelecer relações entre os objetos e o
desenvolvimento estruturas psicológicas. O sistema simbólico nos possibilita abstrair,
classificar, generalizar porque esse sistema é articulado, organizado por regras e
compartilhado. O pensamento abstrato se desenvolve no decorrer do desenvolvimento
psicológico.
Para Vergnaud (2014), a ordem e a inclusão hierárquica estão presentes na
construção do conceito de número, assim como a classificação, a comparação, a
conservação, a correspondência, a inclusão, a sequenciação e a ordenação, conhecimentos
fundamentais para o desenvolvimento do pensamento reflexivo. Segundo Fávero (2014),
compreender as singularidades de uma pessoa significa entender as singularidades de suas
experiências históricas e sociais e o modo como se ela relaciona com o mundo.
Com base na análise das sessões de avaliação e no referencial teórico que
defendemos, iniciamos a intervenção considerando o nível de conhecimento já alcançado
por N. Procuramos mediar o conhecimento a partir o referencial teórico presente neste
trabalho.
Na primeira sessão de intervenção, objetivamos que a aluna visualizasse a
sequência numérica de 1 a 9, abstraísse o conceito desses números e os relacionasse com
operações de soma e subtração. Para alcançar esse objetivo, utilizamos problemas de
comparação entre sua idade, oito anos e a idade de seu irmão, dois anos.
É comum entre professores das séries iniciais acharem que problemas de adição
devem ser ensinados antes dos problemas de subtração por serem considerados mais fáceis.
Vergnaud (2014) nos ensina que os problemas não se classificam em função unicamente
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das operações a eles relacionadas, mas em função dos procedimentos utilizados por quem
os soluciona.
N nos mostrou que não havia desenvolvido conhecimentos necessários para
formalizar operações porque sinalizava não compreender a função dos números e não
reconhecia a função dos símbolos nas operações matemáticas. Utilizando a reta numérica e
uma família fictícia, estruturamos a segunda sessão considerando a importância da
visualização da sequência numérica, da relação entre maior e menor, e o significado dos
sinais das operações de soma e subtração. Percebemos, nessa sessão, que deveríamos
construir a noção do número com outra estratégia, menos complexa, porque a aluna
demonstrava dificuldade em somar quantidades acima de cinco sem ajuda do material
concreto.
Na terceira sessão de intervenção, envolvemos a aluna na produção do material
que iriamos usar na quarta sessão. Confeccionamos a reta numérica com os números de 0 a
9, e elementos que representassem essas quantidades. Depois relacionamos números e
quantidades. Com esse material, objetivamos que a aluna utilizasse o material concreto para
depois avançar para estruturas de pensamento mais complexo. Para Vygotsky (1994) o
concreto passa a ser visto somente como um ponto de apoio que é necessário e inevitável
para o desenvolvimento do pensamento abstrato. Esse apoio é entendido como um meio e
não como sendo um fim em si mesmo.
Na quarta sessão, exploramos o material confeccionado na sessão anterior: os
cartões representando a reta numérica de 0 a 9, e cartões representando as quantidades
correspondentes a esses números. Essa reta é importante porque, a partir desses números,
formamos infinitas quantidades, apenas agrupando-os de maneira que cada número
representa determinado valor de acordo com a sua posição. Assim, buscamos desenvolver o
conceito do símbolo número e a correspondência entre número e quantidade, além da
ordem e abstração desse conceito e relacionar com as operações formais. N construiu
operações com o material concreto, sinalizou ter abstraído o conceito de número e o
significado dos símbolos das operações matemáticas.
Com o resultado da quarta sessão e ainda utilizando o material concreto,
trabalhamos com números de 0 a 29, exploramos sua posição e representação; os sucessores
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e os antecessores; e operações matemáticas de adição e os símbolos dessas operações.
Nessa atividade, tivemos o privilégio de presenciar a alegria da aluna ao perceber que os
números possuem posição quando verbalizou de forma entusiasmada sua descoberta e
quando acertava os sucessores e antecessores sem o apoio do material concreto.
Segundo Vergnaud (2014), os conceitos são estruturas fundantes nas ações do
indivíduo e de sua forma de pensar. O fato de envolvermos a reta numérica favoreceu a
compreensão de N em relação ao conceito de número. Assim, ela vivenciou experiências
significativas sinalizando ter construído novas estruturas cognitivas.
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VI. Considerações Finais
O objetivo deste trabalho foi relatar as intervenções psicopedagógicas realizadas
com uma estudante de oito anos, de uma rede pública de ensino, cursando o terceiro ano do
ensino fundamental. O relato está centrado no desenvolvimento do conceito de número.
A fundamentação teórica foi embasada no pensamento de Vygotsky (1994, 2001) e
Vergnaud (2014, 1996, 2003) por apresentarem teorias que subsidiam o desenvolvimento
do conhecimento dentro dessa abordagem. Considerando esses autores, concordamos que
desenvolver competências implica no desenvolvimento de raciocínios, decisões
conscientes, ensaios e erros que contribuem para a construção de esquemas de pensamentos
mais complexos. A mediação do conhecimento se refere à relação com o outro, a relação
com os objetos, à relação com a linguagem, com os conceitos presentes nas relações entre
as pessoas e o mundo que se insere, tanto nas ações externas quanto nas ações internas
(psicológicas), como nos ensina Vygotsky (1994, 2001).
Em cada sessão desenvolvida, tínhamos um objetivo que era estruturado em teorias
e na pesquisa de intervenção psicopedagógica defendida por Fávero (2014). Percebemos
que entender as diferentes concepções de aprendizagem não significa apenas ler o que
diferentes teóricos e pensadores nos ensinam, significa também compreender como esses
conhecimentos podem ser utilizados na prática pedagógica. Deparamo-nos com o desafio
de compreender as teorias subentendidas em nossa prática e buscamos modificar nosso
ponto de vista, nossas atitudes e posturas na atuação do nosso exercício.
Somos frutos de uma educação bancária que persiste até nos dias atuais, que impõe
aos alunos uma atitude passiva, tanto em função dos métodos didático-pedagógicos
adotados, quanto da configuração dos espaços físicos e das condições de aprendizado. Estar
hoje preparado para viver numa sociedade como a atual, na era em que informações estão, a
todo momento, sendo divulgadas, renovadas, espalhadas pelos rápidos meios de
comunicação, proporcionados pelos avanços tecnológicos, a competitividade entre os seres,
é estar necessariamente munido de todas as ferramentas reflexivas possíveis, interativas e
inovadoras das quais o ser humano dispõe para posicionar-se frente às grandes
transformações propostas. Acreditamos que N desenvolveu novas estruturas de pensamento
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e caminhou rumo à aquisição de conceitos permeados de significados que são essenciais
para o desenvolvimento do pensamento crítico.
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VII. Referências
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perspectiva de Leontiev, Elkonin e Vygotsky. Cadernos CEDES, 24(62), 64-81.
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revisada.
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Magina, S. (2011). A pesquisa na sala de aula de matemática das séries iniciais do ensino
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Vergnaud, G. (2003). As ciências da educação. São Paulo: Editora Loyola. [trad. Nadyr de
Salles Penteado e Odila Aparecida de Queiroz].
Vergnaud, G. (2014). A criança, a matemática e a realidade. Curitiba: UFPR.
Vygotsky. L. S. (1994). A formação social da mente tradução. São Paulo: Editora Marttins
Fontes. [trad. José Cipolla Neto, Luis Silveira Menna Barreto e Solange Castro
Afeche].
Vygotsky. L. S. (2001). A Construção do Pensamento e da Linguagem. São Paulo: Editora
Martins Fontes. [trad. Paulo Bezerra].
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