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Capítulo II – O capital e as Reservas das sociedades
1. O Capital Próprio e o capital nominal
Por capital de uma empresa singular, entende-se geralmente o valor do seu
património complexivo (diferença entre valores activos e passivos afectos ao negócio). Isto
significa que o capital das empresas singulares se confunde com o seu património líquido ou
capital próprio, sendo assim essencialmente variável.
Aumenta com os lucros e diminui com os prejuízos, lucros e prejuízos que se
registam, durante o exercício, não directamente na conta “Capital”, mas em contas de
Resultados, e cuja importância líquida só posteriormente se incorpora naquela conta.
Nas empresas colectivas o capital é, por via de regra, invariável. A sua importância,
calculada de antemão, encontra-se fixada no pacto social e pode aumentar-se ou reduzir-se,
verificadas certas condições, cumpridas certas formalidades, e sempre por meio de uma nova
escritura.
Significa isto que nas sociedades, há que destinguir entre capital próprio (ou real) e
capital social ( ou nominal). O primeiro representa o excedente do activo sobre o passivo e
exprime o valor do património social (património complexivo); o segundo, a que também se
chama capital estatutário, representa a soma das quotas - partes subscritas pelos sócios e, não
havendo alteração daquele pacto social, figura em todos os balanços pela mesma importância.
O capital próprio duma sociedade representa os fundos nela aplicados pelos sócios ou
proprietários (capital nominal ou social) acrescidos dos lucros não levantados ou distribuídos
(capital ou dotação adicional).
No capital nominal - que pode estar ou não integralmente realizado - há a considerar
as inversões iniciais (capital inicial) e, eventualmente, as inversões ulteriores (aumentos de
capital).
No capital adicional podem, geralmente, destinguir-se os lucros capitalizados
(reservas) e os lucros por aplicar (lucros em suspenso).
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Ao invés do capital próprio, que é essencialmente variável, o capital social
permanece, por via de regra, sem alterações. Representa o termo de comparação, do ponto de
partida, o valor que tinha o património na data da constituição.
O capital nominal pode ser igual, superior ou inferior ao capital próprio ou património
líquido.
Balanço
Activo ................................ 50.000
______
50.000
Passivo ...............................
Capital ................................
20.000
30.000
50.000
Capital Social ......................................... 30.000
Capital Próprio ...... (50.000 – 20.000 ) = 30.000
Capital social = Capital próprio
Balanço
Activo .............................. 100.000
_______
100.000
Passivo ...............................
Capital ................................
Reservas ..............................
Resultado Líquido do Exerc.
24.000
50.000
16.000
10.000
100.000
Capital Social ........................................... 50.000
Capital Próprio ...... (100.000 – 24.000 ) = 76.000
Capital social < Capital próprio
Balanço
Activo .............................. 72.000
_______
72.000
Passivo ...............................
Capital ................................
Reservas ..............................
Resultado Líquido do Exerc.
20.000
60.000
10.000
-18.000
72.000
Capital Social ........................................... 60.000
Capital Próprio ...... (72.000 – 20.000 ) = 52.000
Capital social > Capital próprio
14
Nas sociedades, o resultado do exercício que, no fim do ano, a conta “Resultado
Líquido do Exercício” evidencia, não pode transferir-se para a conta “Capital”. Havendo
lucros, a parte que não é distribuída passa para uma conta de Reservas. Havendo prejuízos,
salda-se a conta “Resultado Líquido do Exercício” por contrapartida duma conta de Reservas.
Se não houver reservas suficientes e se, como geralmente acontece, os sócios não entrarem
com as importâncias necessárias à reintegração do capital, este fica, sem dúvida, desfalcado.
Isto, porém, não obsta a que o capital nominal continue a ser o mesmo. O balanço apresentar-
se-á então com o seguinte aspecto:
Activo = Passivo + (Capital Social – Prejuízos)
Este princípio da invariabilidade ou fixidez do capital social, que anda ligado ao
da integridade do capital, tem consequências jurídicas de maior alcance quer para os
próprios sócios, quer para os credores da sociedade, quer ainda para os credores particulares
dos sócios.
Com ele se relacionam a obrigatoriedade das amortizações, as sanções contra a
distribuição de lucros fictícios, a proibição de constituir a sociedade antes de o capital estar
inteiramente subscrito, o direito de vender as quotas ou acções dos sócios remissos,etc.
O capital social é a cifra abaixo da qual o activo líquido ou capital próprio não pode
descer, por motivo da entrega de quaisquer valores aos sócioss, a título de lucros, juros,etc.
Para segurança dos credores, é essencial que os sócioss não reembolsem – no todo ou
em parte, directa ou indirectamente - as respectivas partes sociais, como expressamente o
declara o Código das Sociedades Comerciais:
- Não podem ser distribuídos aos sócios bens sociais, quando a situação líquida for
ou ficar inferior à soma do capital e das reservas que a lei ou o contrato não permitirem
distribuir;
- Não podem ser distribuídos aos sócios os lucros do exercício que sejam necessários
para cobrir perdas transitadas ou reconstituir reservas impostas pela lei ou pelo contrato de
sociedade;
- Não podem ser distribuídos aos sócios lucros do exercício enquanto as despesas de
constituição, de investigação e de desenvolvimento não estiverem completamente
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amortizadas, excepto se o montante das reservas livres for pelo menos igual ao dessas
despesas não amortizadas .
2. O Capital próprio e o capital alheio
Confrontem-se os seguintes balanços de certa sociedade:
Balanço em 31.12.19xx Balanço em 31.12.19xx
ActivoCaixaMercadoriasImob. Corpóreas
28552220___800
PassivoFornecedoresCap. PróprioCapitalResul.Liquido
170
500130800
ActivoCaixaMercadoriasImob. Corpóreas
28552220___800
PassivoFornecedoresCapitalResul.Liquido
170500130800
A = P + S A = P
800 = 170 + 630 800 = 800
Num caso, distinguem-se três séries de contas; no outro, apenas duas, porque se
inserem as contas de capital e de lucros como contas de passivo.
Destas duas fórmulas de balanço, a primeira, tradicionalmente adoptada entre nós,
utiliza-se sobretudo na Itália e nos Estados Unidos; a segunda adopta-se tradicionalmente na
generalidade dos países da União Europeia (UE).
Há , de facto, inúmeros contabilistas para os quais o capital, as reservas e os lucros
por aplicar constituem dívidas da sociedade aos próprios sócios, e os prejuízos por repartir
representam dívidas destes àquela.
A seu juízo, a conta de capital social representa um débito de natureza especial, uma
dívida condicional, uma dívida apenas exigível em determinadas circunstâncias, mas, apesar
de tudo, uma verdadeira dívida passiva.
Outros negam-se a assimilar o capital social às dívidas própriamente ditas, mas
continuam, afinal, a inseri-lo sob a rúbrica de Passivo, contentando-se em chamar-lhe
“Passivo Fictício” ou “Passivo Residual” ou “Passivo não Exigível”, ou – o que é pior-
“Passivo da sociedade para consigo mesma”.
Tadavia, a tradicional inclusão do Capital e das Reservas no Passivo tem sido
combatida com argumentos ponderosos.
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“A técnica da contabilidade por partidas dobradas induz a registar o capital e as
reservas no passivo da sociedade. Mas é óbvio que esse registo não lhes modifica a natureza:
o capital e as reservas não constituem um ‘passivo’ da sociedade mas a diferença entre activo
e passivo, isto é, um ‘valor’ que, de um lado, representa a margem de solvabilidade da
sociedade e, de outro lado, indica o valor patrimonial contabilístico das acções, sem poder,
justamente por isso, corresponder a ‘determinados’ bens do património social” (Ascarelli).
“Para a regulamentação das sociedades comerciais, o princípio da sua autonomia
patrimonial é essencial. Quase se pode dizer que, admitido e desenvolvido tal princípio, a
questão da personalidade jurídica das sociedades perde, para efeitos práticos, grande parte da
sua importância” (A Gregório). Os bens entregues pelos sócios passam a pertencer a
sociedade. O direito de propriedade que os sócioss tinham sobre esses bens converte-se noutra
espécie de direito – no direito a determinada quota do património líquido da sociedade.
De qualquer modo, o facto de a sociedade ser o “sujeito das relações jurídicas que se
criam, modificam ou extinguem na gestão dos negócios sociais” e possuir uma
individualidade jurídica diferente da dos seus associados não obriga necessariamente a
encarar o capital como um crédito destes sobre aquela.
O capital próprio da sociedade é o excedente do que ela tem sobre o que ela deve,
representa o valor global dos elementos constitutivos de um património de que ela e só ela,
enquanto existe, é titular. Se a sociedade liquida, os sócios podem, sem dúvida, reclamar o
que sobeja do activo depois de satisfeitas as dívidas sociais, mas até nessa hipótese se afigura
mais correcto falar da “repartição de um património indiviso” do que do “pagamento de uma
dívida”. Por isso se tem dito que as partes sociais não são capital de empréstimo, mas, antes
de especulação. Não faltam aliás juristas que, pelos mesmos motivos, contestam que as acções
sejam verdadeiros títulos de crédito, preferindo chamar-lhes “títulos de comparticipação”,
“títulos societários”,etc.
Juridicamente, não parece, pois, admissível a inclusão do capital (e das reservas) no
passivo, se por passivo se entender o conjunto das dívidas a pagar. Uma coisa são quotas e
outras coisas são dívidas propriamente ditas.
Não desdenhando destes argumentos e reconhecendo muito embora que o facto de
excluir o capital do Passivo não obsta a que, sob as rúbricas de Activo e Passivo, se
continuem a inserir muitas verbas que nem jurídica nem economicamente se podem
considerar, em rigor, valores activos ou valores passivos - , achamos preferível dispor os
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balanços por forma a que todos possam imediatamente distinguir entre capital próprio e
capital alheio.
3. As participações dos Sócios no Capital Social
No capital de uma sociedade, participam os vários sócios com parcelas (partes,
quotas, quinhões, entradas) que podem ser iguais ou desiguais.
Nas sociedades em nome colectivo, por quotas e em comandita simples, essas quotas-
partes do capital (partes sociais) não são representadas por títulos especiais e podem não ter o
mesmo valor.
Nas outras sociedades, já não acontece o mesmo. O capital das sociedades anónimas e
das sociedades em comandita por acções encontra-se dividido e representado por acções de
igual importância. A cada fracção do capital corresponde uma acção. Por isso se dá a estas
sociedades o nome genérico de sociedades por acções.
3.1 Quotas
Posto que a palavra quota se empregue muitas vezes para designar a parte que
compete a um sócio no capital de qualquer sociedade, a verdade é que o termo serve
especialmente para indicar cada uma das partes em que se acha dividido o capital das
“Sociedades de responsabilidade limitada” a que o direito comercial chama “sociedades por
quotas”.
As quotas, ao contrário das acções, não se revestem da forma de títulos negociáveis,
com existência autónoma, embora subordinada à da sociedade.
As quotoas são transmissíveis nos termos de direito, isto é, por cessão, doação ou
sucessão, embora sejam válidas as cláusulas que proíbem ou condicionam essa transmissão.
A quota primitiva de um sócio e as que posteriormente adquirir são independentes,
mas o titular pode unificá-las, desde que estejam integralmente liberadas e lhes não
correspondam, segundo o contrato de sociedade, direitos e obrigações diversos.
18
Uma quota só pode ser dividida mediante amortização parcial, transmissão parcelada
ou parcial, ou partilha, ou divisão ente contitulares. A estas sociedade faculta a lei, em certos
casos, a aquisição de quotas próprias e amortização de quotas.
3.2 Acções
3.2.1Noção
O capital das sociedades anónimas (ou em comandita por acções), constituído em
dinheiro ou em valores de qualquer natureza, é sempre dividido em acções de igual valor.
A Acção corresponde à unidade de medida ou parte do capital das sociedades por
acções ( em comandita e anónimas), sendo este o produto do número de acções pelo seu valor
nominal.
As acções conferem aos seus titulares a qualidade de sócios (accionistas) da
sociedade que as emitiu, com os inerentes direitos a participar nos lucros anuais e no
património social em caso de liquidação. São valores mobiliários negociáveis.
3.2.2 Formas de Representação
A - Disposições gerais
Os valores mobiliários podem ser representados por títulos (acções tituladas) ou
assumir a forma meramente escritural ( acções escriturais)
Não é permitida a conversão de valores mobiliários escriturais em títulos, salvo
quando tal for necessário para permitir a sua negociação no estrangeiro, a conversão de
valores titulados em escriturais é admitida, desde que sejam preenchidos certos requisitos.
Os valores mobiliários escriturais seguirão, com as modificações pertinentes, o
regime dos títulos nominativos ou ao portador, consoante o que se determina nas disposições
legais e estatutárias aplicáveis, nas condições da respectiva emissão ou, se aquelas e estas não
proibirem, de acordo com a opção dos seus titulares.
B - Acções tituladas
As acções tituladas são representadas por títulos, que podem incorporar mais de uma
acção (5, 10, 20, etc.), conforme o estabelecido no contrato de sociedade, o que facilita a
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missão do servico de títulos e possibilita economias de tempo e de dinheiro (menor custo de
impressão, guarda simplificada, etc.).
Antes da emissão dos títulados definitivos, pode a sociedade entregar aos accionistas
títulos provisórios, sempre nominativos, que substituem para todos os efeitos os títulos
definitivos, enquanto estes não forem emitidos, o que terá de acontecer nos seis meses
seguintes ao registo definitivo do contrato de sociedade.
Embora valores mobiliários negociáveis, as acções tituladas, no entender de alguns
juristas, não são, em rigor, verdadeiros títulos de crédito, isto é, documentos literais
representativos de uma dívida, como já foi anotado.
Efectivamente, a soma devida não está inscrita no próprio título, não é um crédito
certo e actual. Segundo Cunha Gonçalves, “os dividendos são incertos e, ao tempo da
dissolução da sociedade, pode não haver capital a dividir. O accionista só se torna credor da
sociedade depois de votado o dividendo, e não pode exigir a restituição do capital. A sua
semelhança com os outros títulos de crédito está no modo porque são emetidas e negociadas.
Quanto à natureza do direito, a acção nada mais é do que uma quota de interesse no
património e nos resultados da sociedade, igual ao direito do sócio de qualquer outra
sociedade comercial.
Convém salientar que, em geral, são considerados fungíveis os títulos da mesma
natureza e valor nominal, emitidos pela mesma entidade, que se encontrem integralmente
realizados e atribuam aos seus titulares direitos iguais independentemente da respectiva
numeração.
C - Acções escriturais
As acções escriturais não têm número de ordem e são exclusivamente materializadas
pela sua inscrição em contas abertas em nome dos respectivos titulares, através das quais se
comprovam a sua natureza, características e situação jurídica e se processam ou registam,
mediante lançamentos e anotações adequados, todas as operações de que são objecto e o
exercício dos direitos de conteúdo patrimonial que lhes respeitam.
Os valores mobiliários escriturais da mesma natureza e valor nominal, emitidos pela
mesma entidade, que confiram aos seus titulares direitos iguais e se encontrem integralmente
liberados, consideram-se fungíveis para todos os efeitos.
20
O sistema de registo e controlo de valores mobiliários escriturais é assegurado pela
participação integrada das entidades emitentes, da Central de Valores Mobiliários e dos
intermediários financeiros autorizados e registados pela Câmara do Mercado de Valores
Mobiliários para a prestação desse tipo de serviço e se encontrem filiados para o efeito
naquela Central.
Os registos inicialmente referidos são feitos pelos citados intermediários financeiros,
com base na documentação legalmente exigível para a prova dos direitos ou factos a registar,
que manterão arquivada, conjuntamente, se for o caso, com o pedido ou instruções para o
registo.
Estes intermediários financeiros enviarão aos titulares das contas de registo de valores
mobiliários escriturais a seu cargo:
a) Sempre que ocorra movimento nessas contas, aviso do lançamento ou
lançamentos efectuados;
b) Na data da abertura das contas, de seis em seis meses a partir dessa data, e sempre
que lhes for solicitado, extracto das mesmas, com a específicação da natureza,
categoria, característica e quantidade de valores nelas registados e a indicação da
existência ou inexistência de quaisquer direitos de usufruto, ónus, encargos e
outras limitações ou vinculações registados sobre esses valores, sem, todavia, os
específicar.
Além disso, no fim de cada ano, e sempre que necessário, fornecerão aos
proprietários e usufrutuários dos valores mobiliários registados nas contas a seu cargo os
elementos indispensáveis para o cumprimento das suas obrigações fiscais relacionadas com
esses valores.
3.2.3 Valores
Relativamente às acções, teremos de distinguir os seguintes valores:
a) Valor nominal ou facial - é o valor que se encontra inscrito no próprio título.
b) Valor de emissão ou de colocação - é a importância paga pelo subscritor. Pode
ser igual ou superior ao valor nominal, dizendo-se, então, que as acções foram
21
colocadas ao par ou acima do par. Neste último caso, a diferença entre o valor da
emissão e o valor nominal constitui para a sociedade um verdadeiro prémio de
emissão.
c) Valor comercial ou cotação - corresponde ao preço por que as acções se
transaccionam no mercado, equivalente à sua cotação quando esse mercado
funciona na Bolsa. Este valor depende não só do capital próprio da sociedade,
mas também de outros factores económicos e psicológicos; perspectivas do
futuro, confiança de gestão, política de dividendos, economia geral do país,
problemas laborais, hipotético valor de líquidação dos elementos do activo e
outras circunstâncias externas, para além das próprias oscilações do mercado.
d) Valor contabilístico - quociente do capital próprio, constante do balanço, pelo
número de acções. Na maior parte dos casos, o valor contabilístico difere
substancialmente do valor real das acções.
e) Valor intrínseco - fracção do activo líquido real correspondente a cada acção.
Este valor baseia-se, naturalmente, em reavaliações de carácter marcadamente
subjectivo.
f) Valor financeiro - aquele que se obtém capitalizando, a uma taxa de juro
adequada às circunstâncias, os lucros distribuídos.
g) Valor de rendimento - aquele que se obtém capitalizando, a uma taxa de juro
adequada as circuntancias, a totalidade dos lucros obtidos (soma dos lucros
distribuídos com os lucros retidos).
Exemplo:
Consideremos os seguintes dados:
Balanço da Sociedade Alfa, SARL em 31 de Dezembro de 19xx
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Activo ............................ 23.000.000
_________23.000.000
Passivo .............................Capital PróprioCapital .............................Reservas ..........................Resultado Líquido ...........
8.600.000
10.000.0001.600.0002.800.000
23.000.000
Outros elementos:
- Capital social: 10.000 acções de 1.000 u.m.
- As acções foram colocadas ao preço de 1.100 u.m.
- Cotação na Bolsa
Efectivo Compra VendaSociedade Alfa, SARL 1.300 1.300 1.350
Quais os diferentes valores das acções da Sociedade Alfa, SARL.?
Resolução:
- Valor nominal : 1.000 u. m.
- Valor de emissão: 1.100 u. m.
- Valor comercial : 1.300 u. m.
- Valor contabilístico: 14.400.000 : 10.000 = 1.440 u. m.
- Valor intrínseco : (30.000.000 – 8.600.000 ) : 10.000 = 2.160 u. m.
- Valor financeiro : 1.000 x 0,16 = 160 u. m.
100 x 160 : 20 = 800 u. m.
- Valor de rendimento : 2.800.000 : 10.000 = 280
100 x 280 : 20 = 1.400 u. m.
3.2.4 Classificação
As acções podem ser classificadas de vários modos:
a) Quanto aos valores em que são pagos
- Acções de numerário: liberadas em dinheiro.
- Acções de “apport”: liberadas em valores doutra natureza.
As entradas em dinheiro devem ser efectuadas no contrato, pelo menos no montante
de 30% do valor nominal das acções: a importância excedente será efectuada dentro dos
prazos estipulados no contrato, que não podem exceder cinco anos. As entradas de bens não
consistentes em dinheiro devem ser efectuadas no momento da outorga da escritura do
contrato de sociedade.
23
b) Quanto aos valores já pagos
- Acções liberadas: já integralmente pagas.
- Acções não liberadas: ainda não integralmente pagas.
De acordo com o Código Comercial:
- O contrato de sociedade pode estipular penalidades para a falta de cumprimento da
obrigação de entrada, contanto que não sejam contrariados os preceitos da lei;
- Os lucros correspondentes a partes, quotas ou acções não liberadas não podem ser
pagos aos sócios que se encontrem em mora, mas devem ser-lhes creditados para
compensação da dívida de entrada, sem prejuízo da execução, nos termos gerais ou especiais,
do crédito da sociedade, em qualquer tempo subsistente;
- A falta de realização pontual de uma prestação relativa a uma entrada importa o
vencimento de todas as demais prestações em dívida pelo mesmo sócio, ainda que respeitem a
outras acções.
c) Quanto a forma de transmissão
As acções apenas são negociáveis após a inscrição definitiva do contrato de sociedade
na conservatória do registo comercial, variando a sua forma de transmissão consoante se trate
de acções nominativas ou ao portador (tituladas ou escriturais).
As acções nominativas tituladas indicam o nome do seu possuidor e transmitem-se
entre vivos do seguinte modo:
- por declaração do transmitente escrita no título e,
- pelo pertence lavrado no mesmo e averbamento no livro de acções da sociedade, por
esta efectuados.
As acções devem ser nominativas:
a) Enquanto não estiverem integralmente liberadas;
b) Quando, segundo o contrato de sociedade, não puderem ser transmitidas sem o
consentimento da sociedade ou houver alguma outra restrição à sua
transmissibilidade;
c) Quando se tratar de acções cujo titular estiver obrigado, segundo o contrato de
sociedade, a efectuar prestações acessórias à sociedade.
24
As acções ao portador tituladas não indicam o nome do seu possuidor e
transmitem-se por simples tradição, ou seja, pela entrega do título, dependendo da sua posse o
exercício de direitos de sócio.
As acções ao portador podem sempre ser convertidas em acções nominativas; as
acções nominativas podem ser convertidas em acções ao portador, se a lei não proibir a
conversão e o contrato de sociedade permitir acções ao portador.
As acções, ao portador ou nominativas, podem ser munidas de cupões destinados à
cobrança dos lucros; se os cupões forem destacáveis da acção, circulam ao portador. As
acções nominativas com cupões ao portador também se designam por acções mistas.
A transmissão entre vivos de acções escriturais dependerá apenas da apresentação de
declaração de venda assinada pelo respectivo titular ou representante, ou de ordem escrita,
deles emanada, determinando ao intermediário financeiro detentor da conta do vendedor a
transferência dos valores em causa para a conta do adquirente junto do mesmo ou de outro
intermediário financeiro.
d) Quanto ao modo de detenção
As acções nominativas e ao portador estão sujeitas, aquelas obrigatoriamente e estas
facultativamente, ao regime do registo ou depósito, distinguido-se então:
- Acções registadas: na sede da sociedade emitente (livro especial);
- Acções depositadas: numa instituição de crédito.
e) Quanto aos direitos que conferem
Havemos de distinguir as acções de capital, as acções amortizadas e as acções
beneficiárias e de trabalho.
- Acções de capital: aquelas que são parcelas do capital social.
Essas parcelas podem corresponder a :
- Acções ordinárias : não conferem direitos especiais.
- Acções privilegiadas: dão vantagem na distribuição dos lucros, ou na
partilha em caso de liquidação, ou na contagem de votos nas assembleias.
25
A criação de acções privilegiadas, preferenciais ou de prioridade, obedece ao
propósito de assegurar regalias especiais a alguns subscritores, nomeadamente aos promotores
da sociedade.
No entanto, a estes promotores não pode ser atribuída outra vantagem além da reserva
duma percentagem não superior a um décimo dos lucros líquidos da sociedade, por tempo não
excedente a um terço da duração desta e nunca superior a cinco anos, a qual não poderá ser
paga sem se acharem aprovadas as contas anuais.
São também emitidas por sociedades que precisam de aumentar o capital e que,
devido às dificuldades com que lutam, não conseguem de outro modo atrair “dinheiro fresco”.
A lei das sociedades comerciais contempla especialmente as acções preferenciais
sem voto, que conferem direito a dividendo prioritário e recuperável não inferior a 5% do
respectivo valor nominal e a reembolso prioritário do seu valor nominal na liquidação da
sociedade, e as acções preferenciais remíveis, que, beneficiando de algum privilégio
patrimonial na sua emissão, ficam sujeitas a remição em data fixa ou quando a assembleia
geral o deliberar.
A remição das acções constitui um meio técnico para terminar o privilégio, sem
prejuízo do accionista privilegiado, que reembolsa o dinheiro investido.
- Acções amortizadas: são acções total ou parcialmente reembolsadas, pelo que
também se designam por acções indemnizadas.
Dão direito a dividendos inferiores aos que cabem às acções de capital e os seus
possuidores só podem participar dos bens sociais, em caso de liquidação, depois de
reembolsadas as acções de capital.
As acções totalmente reembolsadas passam a denominar-se acções de fruição,
constituem uma categoria de acções e devem ser representadas por títulos especiais, podendo
posteriormente ser convertidas em acções de capital.
- Acções beneficiárias e de trabalho: não são fracções do capital social (portanto,
não são acções propriamente ditas), mas estes títulos conferem aos seus possuidores o direito
a um determinado dividendo ou juro, como retribuição de serviços já prestados (acções
26
beneficiárias, em regra transmissíveis) ou para prender à vida da sociedade determinados
colaboradores (acções de trabalho, em regra intransmissíveis).
As acções beneficiárias e de trabalho caracterizam-se pela sua gratuitidade, não
resultando da entrada de dinheiro ou de valores no património social.
4. As Reservas
4.1 Noção e constituição
Em determinada sociedade de responsabilidade limitada, o balanço final do exercício
apresenta um lucro líquido de 400 contos (saldo da conta “Resultado Liquido do Exercício”).
Qual a aplicação normal do lucro obtido?
Tal como para o comerciante em nome individual, também para as sociedades se
apresenta imediatamente a hipótese de atribuir aos proprietários da empresa, aos sócios, a
importância correspondente ao lucro, mas fica logo excluída a hipótese da sua transferência
para a conta “Capital”, dada a invariabilidade deste.
No entanto, aqui, nas sociedades de responsabilidade limitada (por quotas e
anónimas), perante a nítida distinção entre o património social e os patrimonios dos sócios,
surgem dois problemas, de certo modo relacionados:
a) Deve ou não a sociedade atribuir aos sócios a totalidade do lucro?
b) Pode ou não a sociedade efectuar tal atribuição?
Relativamente ao primeiro problema, teremos de pensar que, se a empresa obteve um
lucro no ano passado, nada garante que tal aconteça no ano corrente, sendo certo que, em caso
de prejuízo, a empreza não poderá exigir dos sócios a correspondente importância, pelo que se
verificará uma efectiva redução do valor do património social.
Então por uma questão de prudência e previdência, a empresa não deve atribuir a
totalidade do lucro, mas reservar uma parte, pelo menos, para fazer face a prejuízos futuros,
sempre possíveis.
Relativamente ao segundo problema, sendo o património social a garantia real dos
credores e, também, da manuntenção dos postos de trabalho da empresa, a própria lei
comercial acabou por prevenir a eventual imprevidência dos empresários, pois as sociedades
27
de responsabilidade limitada são obrigadas a retirar dos lucros líquidos de cada exercício
determinada percentagem para constituição duma reserva, chamada reserva legal.
Além disso, pode acontecer que o próprio pacto social (estatutos) da sociedade
obrigue à constituição doutras reservas, ditas estatutárias.
Assim, as sociedades de responsabilidade limitada não devem, nem podem, atribuir a
totalidade dos lucros aos sócios, pois são obrigadas por lei a reservar uma parte desses lucros.
Vamos, então, admitir que a gerência duma sociedade por quotas propõe, e a
assembleia geral aprova, que ao lucro do exercício anterior, no valor de 400 contos, seja dada
a seguinte aplicação:
- 10% para a constituição da reserva legal;
- 20% para a constituição de uma reserva estatutária;
- 70% para atribuição aos sócios.
Antes de mais, recordemos que o resultado de cada exercício deve ser transferido, no
princípio do ano seguinte, para a conta Resultados Transitados.
Resultado Líquido do Exercício a Resultados Transitados Transferência do lucro do exercício anterior 400.000
Então, no momento da aprovação daquela proposta, o balanço da sociedade
apresenta-se, sinteticamente do seguinte modo:
Balanço
Activo ............................ 9.400.000
_________9.400.000
Passivo .............................Capital PróprioCapital .............................Resultados Transitados ...
7.000.000
2.000.000400.000
9.400.000
Após os lançamentos relativos à atribuição e pagamento dos lucros aos sócios no caso de
serem feitos naquela mesma data, o balanço da sociedade apresentar-se-ia do seguinte modo:
Balanço
Activo ............................ 9.120.000 Passivo .............................Capital Próprio
7.000.000
28
_________9.120.000
Capital .............................Resultados Transitados ...
2.000.000120.000
9.120.000
O lucro não distribuído corresponde às reservas ( legal e estatutária ), mas a verdade é
que se esse lucro continuar na conta “Resultados Transitados” nada garante que não venha a
ser distribuído posteriormente pelos sócios.
Por isso, e perante a invariabilidade do capital social, será conveniente transferir
aquele lucro para uma conta específica, cujo título não deixe qualquer dúvida quanto à sua
finalidade: “Reserva Legal e Reserva Estatutária”.
Assim, o lançamento será:
Resultados transitadosa Reservas Reserva Legal 40.000
Reserva Estatutária 80.000 120.000 Constituição destas Reservas
E o balanço apresentar-se-á assim:
Balanço
Activo ............................ 9.120.000
________9.120.000
Passivo .............................Capital PróprioCapital .............................Reserva Legal .................Reserva Estatutária .........
7.000.000
2.000.00040.00080.000
9.120.000
Como acabamos de ver, as Reservas são lucros não distribuídos, retidos na empresa
para fazer face a prejuízos futuros. Naturalmente que serão constituídas ou reforçadas apenas
em exercícios que haja lucros. E, como lucros que são, as Reservas enquadram-se no Capital
Próprio, formado por valores abstractos.
Reservar é um acto de previdência que consiste em guardar, em não distribuir, em
capitalizar, no todo ou em parte, o valor correspondente aos lucros apurados, e as reservas são
o excedente do activo líquido sobre a soma do capital nominal e dos resultados ainda não
aplicados.
Todo e qualquer aumento do activo líquido a cujo recebimento os sócios renunciem
para o transfomar em reforço permanente do capital que inverteram na empresa – constitui
uma Reserva.
29
4.2 Finalidades ou Objectivos
4.2.1 Cobertura de prejuízos futuros
Admitindo que, no presente exercício, a sociedade anteriormente referida vai ter um
prejuízo de 90 contos, este prejuízo poderá ser coberto pelas reservas agora constituidas.
Assim, no proxímo ano, feita a transferência do prejuízo da conta Resultado Líquido
do Exercício para a conta Resultados Transitados, após a aprovação das contas do presente
exercício, poder-se-à fazer:
Reservas Reserva Legal 10.000 Reserva Estatutária 80.000
a Resultados Transitados 90.000 Cobertura do prejuízo do exercício anterior
A aplicação das reservas efectua-se, portanto, em relação aos exercícios em que haja
prejuízo, implicando essa aplicação a redução ou desaparecimento daquelas reservas.
Em resumo: as contas de reservas creditam-se, após a aplicação dos resultados, pela
parte dos lucros reservada e debitam-se, até ao montante do seu saldo (sempre credor),
quando a elas se recorre para fazer face a qualquer prejuízo.
4.2.2 Autofinanciamento
A finalidade primária das reservas já foi evidenciada: fazer face a prejuízos futuros,
respondendo assim a um motivo de precaução.
Mas, complementarmente, outras funções comportam, e não menos importantes,
como se pode depreender da comparação dos balanços antes e depois da aplicação dos
resultados.
De facto, o Capital Próprio, que antes era de 2.400 contos, reduziu-se para 2.120
contos após a atribuição de 280 contos aos sócios, mas facilmente se compreende que, no
caso de se não terem constituído reservas no valor de 120 contos, ele ter-se-ia reduzido para
2.000 contos. Quer dizer, a constituição de reservas impede a redução do Capital Próprio,
ou seja, do valor do património da empresa.
30
Paralelamente, o Activo, que era de 9.400 contos, passou para 9.120 em consequência
do pagamento aos sócios, por redução das disponibilidades, mas teria passado para 9.000
contos, caso não se tivessem constituído reservas. Quer dizer, a constituição de reservas
evita a redução das disponibilidades e, portanto, dos meios de acção da empresa – as
reservas são uma forma de autofinanciamento, concorrendo para o aumento dos meios de
acção, do capital funcional das sociedades.
Este último aspecto (autofinanciamento) conduz até à constituição de reservas sem a
finalidade primária de cobertura de prejuízos futuros, como as “Reservas para Novos
Investimentos”, cuja constituição visa específicamente a retenção na empresa das
disponibilidades indispensáveis à realização dos investimentos programados, embora tal não
impeça que, em caso de necessidade, venham a ter a mesma aplicação das reservas genéricas.
São também reservas essencialmente de financiamento, por exemplo, a “Reserva para
Amortização de Obrigações” e a “Reserva para Obras Sociais”, esta última destinada a
melhorar as condições de vida e de trabalho dos empregados e assalariados (casas
económicas, creches, etc.)
No comércio, parar (não progredir) é retroceder.
Por desejo de independência e necessidade de expansão, quase todas as empresas
praticam, na medida do possível, o chamado financiamento interno ou autofinanciamento, já
que a tendência natural de todas é a obtenção de novos recursos e o alargamento das suas
operações.
A aplicação das reservas de financiamento aos fins específicos para que foram
criadas pode contabilizar-se de vários modos.
Suponhamos que existe uma reserva de 2.400 contos especialmente destinada à
compra de veículos e que metade da mesma se utiliza na aquisição de uma camioneta.
Neste caso, é de crer que muitos se limitem a fazer:
Imobilizações Corpóreas Equipamentos para o Transportea Caixa Compra de uma camioneta 1.200.000
31
A este lançamento, entendem alguns juntar o seguinte:
Reservas Reserva Livre Reservas para Aquisição de Viaturasa Reservas Reserva Livre Reservas Reinvestidas Valor aplicado na compra de uma camioneta 1.200.000
Convém salientar que as reservas de financiamento, criadas para manter ou aumentar
o potencial económico e financeiro das empresas, não desaparecem quando se utilizam, ao
contrário das reservas aplicadas na cobertura de prejuízos. De facto, o lançamento
apresentando é um simples lançamento de transferência entre contas de reservas, o qual
apenas pretende clarificar o capital próprio retido, evidenciando quais as reservas aplicadas e
não aplicadas.
4.2.3 Outras Finalidades
A - Reembolso do capital
Estudaremos este assunto no capítulo seguinte, pois prende-se com a amortização do
Capital, onde será desenvolvido o tema.
B - Regularização de dividendos
A “Reserva para Regularização de Dividendos”, tal como o seu título indica,
corresponde a uma política de estabilização de dividendos, tentando assegurar ao longo do
tempo a distribuição, como lucros, de determinada percentagem do capital social, para evitar
grandes diferenças de ano para ano entre as importâncias a repartir pelos sócios.
a) Esta reserva é constituída ou reforçada nos anos bons ( nos quais o lucro disponível
é superior à percentagem normal dos dividendos:
Resultados transitados a Reservas
Reserva Livre Reserva para Regularização de dividendos
Constituição ou reforço desta reserva
Convém salientar que a sua criação apenas se justifica para evidenciar a política de
estabilização dos devidendos (retenção deliberada de lucros para tal efeito), porquanto todos
32
os lucros transferidos para a conta “Resultados Transitados” poderão ser destinados ao mesmo
fim.
b) É utilizada nos anos maus (nos quais o lucro disponível é inferior à percentagem
normal dos dividendos) implicando essa utilização a sua redução ou desaparecimento.
Reservas Reserva Livre Reserva para regularização de dividendos a Accionistas Resultados atribuídos Utilização daquela reserva para reforço do dividendo
A uniformização ou nivelamento dos dividendos, ainda que relativa, deste modo
conseguida, contribui para a estabilidade das cotações de Bolsa. Se os dividendos forem,
todos os anos, sensivelmente os mesmos, nunca poderão ser muito grandes as oscilações do
preço dos títulos no mercado.
O facto de os accionistas se acostumarem a dividendos estáveis tem, contudo, alguns
inconvenientes. Capitalistas que não queiram sujeitar-se à variabilidade dos dividendos farão
melhor em colocar o seu dinheiro em obrigações que dão um juro certo e previamente fixado.
4.3 Classificação
As reservas podem classificar-se em obediência a vários critérios, nomeadamente os
seguintes: origem, base jurídica, aplicação, apresentação, fiscalidade e correspondência
patrimonial.
4.3.1 Quanto a Origem
Para além das reservas até agora referidas, todas com origem em lucros de exercícios,
também podem aparecer reservas com outras origens (de capital, de reavaliação e de subsídios
e doações).
A- Reservas de lucros
33
As reservas de lucros são economias que robustecem, consolidam, a situação da
empresa: todas elas constituem capital complementar e desempenham uma função de
equilíbrio e de garantia ou protecção.
Para alguns, só estas são reservas propriamente ditas. Contudo, a maioria dos autores
e a generalidade dos práticos não pensam assim, apesar de saberem muito bem que certas
reservas representam aumentos de capital puramente fictícios.
Na verdade, até as mais-valias aparentes que se contabilizam em caso de forte e
definitiva desvalorização da moeda podem ser incorporadas no capital nominal.
B- Reservas de capital
As reservas de capital podem ter origem na emissão de acções ou quotas e em sobejos
do anterior capital após a sua redução.
Quando, na constituição ou aumento do capital das sociedades anónimas ou por
quotas, as acções ou quotas são colocadas acima do par, a diferença entre o valor de emissão e
o valor nominal, deve ser considerada como uma reserva, específicamente conhecida como
prémios de emissão de acções (quotas).
Quando, em virtude de avultados prejuízos, é indispensável reduzir o primitivo
capital social, para evitar a dissolução da sociedade, e a importância da redução é superior a
dos prejuízos que a originaram, a respectiva diferença deve ser transferida para a subconta
reservas livres.
C- Reservas de reavaliação
a) Origem, classificação e contas
As reservas de reavaliação surgem quando, em consequência da desvalorização da
moeda, as empresas procedem à reavaliação do seu imobilizado corpóreo, servindo de
contrapartida aos respectivos aumentos de expressão monetária.
Essas reavaliações podem ser classificadas em:
- Reavaliações legais: aquelas que são permitidas e regulamentadas por diploma
legal, alterando-se os valores escriturados pela aplicação de factores de ajustamento
34
monetário: transformam-se assim os custos históricos expressos em moeda nominal em custos
históricos expressos em moeda constante;
- Reavaliações livres: aquelas que não são permitidas por qualquer diploma legal
específico, alterando-se os valores escriturados através de bases variadas, que vão desde o
valor em mercado livre até ao custo de reposição amortizado.
Quaquer que seja o seu tipo, as reavaliações implicam a derrogação do princípio do
custo histórico e também do princípio da consistência (no exercício em que são efectuados),
para além de prejudicarem a comparabilidade com os valores do exercício anterior, quer no
que respeita aos valores de balanços, quer quanto à verba das amortizações incluída na
demonstração dos resultados.
Assim, tais reavaliações alteram a posição financeira da empresa e os resultados das
suas operações, com o reflexo na sua imagem verdadeira e apropriada.
No entanto, aquelas derrogações são consignadas expressamente pela lei nas
reavaliações legais, ao contrário do que acontece nas reavaliações livres.
Em qualquer caso, os movimentos contabilísticos inerentes às reavaliações devem ser
registados na conta Reservas de Reavaliações, dividida em subcontas específicas para cada
reavaliação. Relativamente às reavaliações legais, o título de cada subconta deve referenciar o
respectivo diploma legal.
Assim:
Resevas de Reavaliação Descreto- Lei n. ... Descreto- Lei n. ...... Outras
Na contabilização das reavaliações podem adoptar-se vários processos, destacando-se
os dois seguintes:
- Actualização dos valores de aquisição e das amortizações acumuladas
35
A conta do imobilizado é debitada e a conta de amortizações acumuladas é creditada
por contrapartida, em ambos os casos, da conta das reservas de reavaliação. Este é o processo
utilizado nas reavaliações legais, tratando-se, de um mero ajustamente monetário do custo e
das amortizações acumuladas do imobilizado. Também é utilizado, geralmente, nas
reavaliações livres com base no custo de reposição amortizada.
- Eliminação das amortizações acumuladas e actualização do valor líquido do
imobilizado
A conta das amortizações acumuladas é debitada, pelo seu saldo, por contrapartida da
conta do imobilizado, e esta, depois, é debitada por contrapartida da conta das reservas de
reavaliação pela diferença entre o valor líquido actual e o custo de reposição amortizada.
O imobilizado passa a ficar registado pelo custo de reposição líquido encontrado, o
qual será amortizado até ao final da sua vida útil então estimada. Este é o processo geralmente
utilizado nas reavaliações livres de edifícios com base no seu valor em mercado livre.
b) Reavaliações legais
Algumas reavaliações têm sido autorizadas por lei, com vista à actualização dos
valores do imobilizado corpóreo e ao consequente aumento das amortizações indispensáveis a
uma maior retenção de fundos necessários à reposição futura daqueles bens.
Para a sua contabilização, teremos, distinguindo dois casos:
- Reavaliação de elementos não totalmente amortizados
Por cada elemento, o acréscimo do valor de aquisição (Vo) e das amortizações
acumuladas (AA) pela aplicação do respectivo coeficiente de desvalorização monetária (c)
determina-se como segue:
Vo x c = A AA x c = B
A – Vo = x B – AA = y
Sendo
X = x1 + x2 + ...
Y = y1 + y2 + ...
Teremos uma reserva de reavaliação (RR) de :
RR = X – Y
Os lancamentos são os seguintes:
Imobilizações Corpóreas
36
ConstruçõesEquipamentosOutros Meios Basicos
a Reservas de Reavaliação Decreto – Lei n.
Pela reavaliação do imobilizado corpóreo
Reservas de ReavaliaçãoDecreto- lei n.
a Amortizações AcumuladasConstruçõesEquipamentosOutros Meios BasicosPela actualização das amortizações acumuladas
Deste modo, a reserva de reavaliação corresponde ao saldo da respectiva conta:
Reservas de Reavaliação
a Amortizações Acumuladas
Y
de Imobilizações Corpóreas X
- Reavaliação de elementos totalmente amortizados
No caso de se dar nova expressão contabilística aos bens que, embora já
completamente amortizados, se encontram ainda em condições de poderem contribuir de
forma útil para o processo produtivo, como tem sido autorizado pelas últimas reavaliações
legais, procede-se como anteriormente, mas, tendo em atenção que X será igual a Y, aqueles
dois lançamentos podem ser reunidos num só:
Imobilizações Corpóreas a Amortizações acumuladas
Pela reavaliação do imobilizado corpóreo
Seguidamente, as amortizações acumuladas, já actualizadas (AA x c), devem ser
corrigidas com base na taxa média (tm) que resultar da soma do período de vida útil já
decorrido (n1) com o período adicional de utilização futura (n2), tal como segue.
Sendo
tm = 1 / (n1 + n2)
teremos, para as amortizações acumuladas corrigidas:
AA x c x ( n1/(n1+n2))
e daí resulta uma reserva de reavaliação (Z) de:
Z = AA x c – AA x c x n1 : (n1 + n2)
ou seja
37
Z = AA x c x n2 : (n1 + n2)
Tal correcção implica o seguinte lançamento:
Amortizações Acumuladas a Reservas de Reavaliação Pela correcção da actualização das amortizações acumuladas
Então, a reserva de reavaliação total corresponderá, como é evidente, a:
RR = X – Y + Z
Quanto ao seu destino, e exceptuando o caso de dissolução de empresa, as reservas de
reavaliação só podem ser utilizadas, em regra, para:
- Cobertura dos prejuízos acumulados até à data da reavaliação ( não compensados
nos lucros):
- Incorporação no capital social ( o remanescente ).
Não é admitida a sua atribuição aos sócios.
Quanto à amortização dos bens reavaliados convém salientar que não serão
considerados como custo para efeitos fiscais, o produto de 0,4 pela importância do aumento
das amortizações anuais resultantes das avaliações efectuadas ao abrigo da lei.
Em épocas de inflacção as reavaliações periódicas são indispensáveis para minorar os
efeitos da erosão monetária no seio das empresas, tanto no que se refere ao apuramento e
distribuição de lucros, meramente fictícios ( por nítida insuficiência das amortizações ), como
ao pagamento dos impostos excessivos ( realmente indevidos), conducentes à progressiva
descapitalização da empresa.
De facto, a reavalição corresponde à transformação de reservas ocultas em reservas
declaradas na medida em que os valores do balanço estão necessariamente ao valor actual da
moeda.
c) Reavaliações livres
Relativamente às reavaliações livres, os respectivos lançamentos dependem do
processo adoptado, tal como já foi apresentado. Note-se que estas reavaliações não são
consideradas para efeitos fiscais.
38
Convém salientar que, entre alguns autores, como o professor Rogério Ferreira,
entendem não ser aconselhável, nem legal, proceder a reavaliações livres, apresentando
variada e extensa argumentação da qual se destaca a derrogação do princípio do custo
histórico que altera os pressupostos que presidem a elaboração do balanço anual de gestão.
No entanto, reconhecendo que a lei actual, não será tão irreticente como a anterior,
sugerem que o debate sobre este assunto, se mantenha em aberto.
Assim, e de acordo com o projecto de recomendação técnica 12 (Junho de 1992) da
Câmara dos Revisores Oficiais de Contas de Portugal, julgamos que as reavaliações livres
podem ser admitidas desde que:
- O valor justo em mercado aberto dos terrenos e edifícios seja determinado por
avaliadores profissionais qualificados e não assentem em pressupostos diferentes dos do seu
uso actual ou pretendido;
- O custo de reposição amortizado dos edificios, instalações e equipamento básico
não exceda o valor presente dos benefícios económicos futuros esperados;
- Seja prestada adequada informação nas demonstrações financeiras quanto aos
princípios contabilísticos derrogados quanto aos métodos aplicados e quanto à
comparabilidade de verbas.
Em suma:
Poderão ser admitidas reavalições livres desde que assentem em bases e pressupostos
adequados, resultando delas, valores que se tenham por razoáveis e sejam aceites por
revisores oficiais de contas.
D– Reservas de Subsídios e Doações
As reservas de subsídios servem de contrapartida ao subsídios concedidos às
empresas, que não se destinem ao investimento nem à exploração; as reservas de doações
servem de contrapartida às doações de que a empresa seja beneficiária.
Tanto umas como as outras referem-se, a bens obtidos pelas empresas, a título
gratuito, quando não lhes tenha sido imposto destino diferente. Assim no momento em que o
subsídio é recebido, far – se – á:
39
Caixa a Reservas Subsídios Subsídio concedido por ...
Em boa verdade os subsídios correspondem a verdadeiros ganhos extraordinários que
são levados directamente as contas de reservas sem passarem por qualquer conta de
resultados, pelo que, não são tributados impostos sobre os lucros, desde que sujeitos ao
imposto sobre as sucessões e doações.
Quando não sujeitos a este imposto, os subsídios devem ser incluídos no lucro
tributavel (variações patrimoniais positivas não reflectidas nos resultados).
Quanto às reservas de doações, aproveitamos a oportunidade para transcrever a
directriz contabilística n. 2/91, da Comissão de normalização contabilística, relativamente à
contabilização, pelo donotário de activos transmitidos a título gratuito.
1. Devem constar do activo das empresas de acordo com a classificação do POC
todos os activos detidos quer adquiridos a título oneroso, quer obtido a título gratuito.
2. Estes últimos serão valorizados no estado e local onde se encontrem, pelo justo
valor, que é a quantia pela qual um activo pode ser trocado entre um comprador conhecedor e
interessado e um vendedor nas mesmas condições numa transacção ao seu alcance.
3. Se se tartar de activo imobilizado ficará sujeito ao regime de amortizações
adoptado pela empresa.
4. As doações têm como contrapartida a conta Reservas – Doações.
4.3.2 Quanto a base Jurídica
Atendendo à sua base ou fundamento jurídico, as reservas podem ser obrigatórias ou
facultativas consoante são ou não impostas por qualquer diploma legal.
Por sua vez, as reservas obrigatórias de acordo com a natureza dos diplomas em que
as impõe, ainda se classificam em legais (impostas por uma lei geral ), estatutárias ( impostas
pelos estatutos, pacto social ou contrato de sociedade, que constituem uma lei particular para
cada sociedade) e contratuais (impostas por qualquer contrato especial).
A – Reservas Obrigatórias
A estas reservas correspondem as seguintes subcontas:
40
- Reservas legais
- Reservas estatutárias
- Reservas contratuais
Todas subcontas devem ser divididas consoante as necessidades das empresas
públicas e privadas tendo em vista a legislação que lhes é aplicavel.
B – Reservas facultativas
São constituídas por livre deliberação da assembleia geral, a qual, em regra, se limita
a aprovar a proposta do conselho de administração ou direcção relativa à aplicação dos
resultados.
Todavia, no caso de os estatutos não autorizarem expressa e tacitamente a criação de
tais reservas, parece que o direito dos accionistas à distribuição dos lucros devia prevalecer
sobre a vontade da maioria.
4.3.3 Quanto à Aplicação
As reservas, quanto à aplicação, em regra, dependente dos fins a que foram criadas,
podem classificar-se em genéricas (criadas sem qualquer fim especial) e específicas (criadas
para determinados fins).
São reservas genéricas ( ou de aplicação genérica) por exemplo, a reserva legal e a
reserva geral.
São reservas específicas ( ou de aplicação específica) por exemplo, a reserva para
educação e formação cooperativa, a reserva para remuneração do capital estatutário, a reserva
para investimentos e a reserva para fins sociais.
Convém salientar que a criação de reservas facultativas específicas (que alguns
denominam “previsões” e que outros assimilam às “provisões”) assenta em ilusões sobre o
papel das reservas e tem, por via de regra, mais inconvenientes que vantagens. Poucos casos
haverá em que não convenha reduzir todas estas reservas a uma só.
De facto, as perdas de exercício desfalcam o capital próprio e não propriamente
qualquer determinada reserva genérica ou específica previamente constituída. “A distinção de
41
reservas relativamente aos seus fins perde o significado quando os prejuízos do exercício,
superam o valor das reservas destinadas à cobertura dos riscos particulares ou gerais”.
Assim, as reservas facultativas, específicas são frequentemente aplicadas em fins
diferentes daqueles para que foram constituídas. Perdas de gestão ou perdas da conjuntura,
podem, de um momento para o outro, absorver ou engolir todas as reservas anteriormente
constituídas. Nada garante, portanto, que qualquer reserva específica venha a ter aplicação
que, ao criá-la, se tinha em vista.
No entanto, subsiste um problema: nos casos de perdas a quais reservas se devem
recorrer em primeiro lugar?
As opiniões divergiam até ao aparecimento do código das sociedades comerciais, mas
este resolveu o assunto do seguinte modo: a reserva legal só poder ser utilizada para cobrir
prejuízos que não possam ser cobertos pela utilização de outras reservas.
4.3.4 Quanto à Consistência
Quanto à genuinidade ou consistência, as reservas podem ser reais ou fictíciais.
As reservas reais (ou efectivas) representam acréscimos dos fundos investidos na
empresa, excedentes do capital próprio actual sobre o capital nominal.
As reservas fictíciais (ou aparentes) de reservas só têm o nome. Resultam da
capitalização de lucros puramente fictícios ou imaginários, isto é, de excedentes originados
pela insuficiência das amortizações e provisões, pela excessiva valorização das existências e
dos títulos em carteira, pela subavaliação das dívidas passivas, etc. Constituem a antítese das
reservas ocultas.
A sua criação obedece quase sempre ao propósito de mascarar a verdadeira situação
da sociedade; outras vezes resulta tão - somente do desejo de alargar a base de incidência das
percentagens dos corpos gerentes.
42
4.3.5 Quanto à apresentação
Atendendo à sua enunciação ou apresentação no balanço, as reservas podem
classificar-se em declaradas e ocultas, distinguindo-se ainda nestas as reservas transparentes e
as reservas dissimuladas.
As reservas declaradas (ou ostensivas ou aparentes) são aquelas que o balanço
evidencia com clareza e precisão, reservas expressas por rubricas inequívocas: Reservas
Legais, Reservas Estatutárias, etc.
As reservas ocultas são aquelas que o balanço não evidencia.
Quando se avalia insuficientemente as existências ou quando se amortizam
exageradamente as imobilizações, e tanto estas como aquelas aparecem no balanço por
valores inferiores aos reais, a empresa dispoe de reservas ocultas, o mesmo acontecendo
quando se criam provisões desnecessárias.
Suponhamos dois balanços da mesma empresa, referidos à mesma data:
Balanço A
Caixa e Bancos .................Clientes ..............................Mercadorias .......................Imob. Corpóreas ................
1.600.0001.800.0003.500.0003.000.0009.900.000
Fornecedores .......................Capital .................................Reserva ............. .................
3.600.0005.000.0001.300.000________9.900.000
Balanço B
Caixa e Bancos .................Clientes ..............................Mercadorias .......................Imob. Corpóreas ................
1.600.0001.500.0003.500.0002.000.0008.600.000
Fornecedores .......................Capital .................................
3.600.0005.000.000
________8.600.000
O primeiro balanço- que, por hipótese, assenta na correcta avaliação dos elementos
patrimoniais activos e passivos – releva a existência de reservas avultadas. O segundo induz a
crer que a empresa não possui nenhumas reservas. Todavia, essas reservas existem e não
deixam de ser reais pelo facto do balanço não as patentear. Para as esconder, bastou
considerar incobráveis algumas das dívidas a receber e exagerar as quotas de amortização de
instrumentos (ou contabilizar como gastos de exploração importâncias que deviam levar-se às
contas de activo fixo).
43
Nas empresas muito prósperas , há quase sempre tendências para ocultar reservas ou
criar numerosas reservas especiais. A ocultação de reservas torna os balanços insinceros e
nem sempre obedece a propósitos confessáveis. Importa não esquecer que as reservas
aproveitam sobertudo aos que forem sócios na data da dissolução, e que a dissimulação das
mesmas, influindo desfavoravelmente nas cotações da Bolsa, pode levar muitos accionistas a
venderem as suas acções por preços não correspondentes ao seu valor intrínseco.
Casos há, contudo, em que a criação de reservas ocultas se pode, talvez, justificar
como única defesa contra a excessiva cobiça dos accionistas e a rapacidade do fisco.
As reservas transparentes (ou tácitas ou subentendidas) são aquelas reservas
ocultas que o balanço deixa antever e entrever, sem todavia indicar o seu montante.
Eram muito frequentes em tempos recuados, sobretudo quando as empresas
amortizavam directamente o seu imobilizado, registando depreciações extremamente
exageradas, de tal modo que, mesmo em grandes empresas industriais, o seu imobilizado
corpóreo acabava por figurar no balanço com valores irrisóreos.
Actualmente, a amortização indirecta do imobilizado corpóreo, já não permite que
aquelas reservas ocultas, de qualquer modo atenuadas por razões de ordem fiscal, sejam
entrevistas no balanço, mas após um período de forte inflação pode dizer-se que todas as
empresas despõem de reservas tácitas (muito embora a sua transparência no balanço seja
menos nítida), pois as reavaliações oficialmente permitidas não são tão frequentes nem
suficientes quanto seria desejável para acompanhar o ritmo da desvalorização da moeda.
As reservas dissimuladas (ou opacas) são aquelas reservas ocultas que o balanço
não revela nem deixa adivinhar. Umas vezes, trata-se de reservas que propositamente se
encobrem, viciando a escrita para que não suspeite da sua existência. Outras, de reservas que
resultam muito simplesmente do facto de os terrenos, os edifícios ou outros bens se terem
valorizado, por razões diversas, que não a desvalorização da moeda, e continuarem a figurar
no balanço pelo valor de custo.
Note-se, finalmente, que a ocultação de reservas pode não ser intencional, como
acontece, por exemplo no caso de os elementos do activo imobilizado acabarem por ter uma
vida mais longa do que a inicialmente prevista, significando tal que, involuntariamente, se
praticaram amortizações superiores as realmente devidas. Assim, um bem totalmente
reintegrado que continua ao serviço da empresa corresponde a uma reserva oculta.
44
4.3.6 Quanto ao aspecto fiscal
Do ponto de vista fiscal, as reservas classificam-se ainda em tributadas e não
tributadas.
As reservas tributadas são aquelas constituídas com base em valores sujeitos a
impostos já liquidados, como acontece com todas as reservas de lucros.
As reservas não tributadas serão todas as demais, nomeadamente as reservas de
capital, algumas reservas de subsídios e as reservas de reavaliação legalmente permitidas.
4.3.7 Quanto à correspondência patrimonial
Atendendo à sua cobertura patrimonial, as reservas classificam-se em flutuantes e
consolidadas.
As reservas flutuantes são valores abstratos cuja representação ou contrapartida
material se acha, por via de regra difundida na massa patrimonial activa, pelo que também se
designam por reservas com cobertura genérica.
Representam capitais sujeitos às vicissitudes do negócio explorado pela própria
empresa, mas não passam de um “conceito jurídico e contabilístico, sem correspondência
específica no património social”.
As reservas consolidadas são também valores abstractos, mas cuja representação ou
contrapartida material se pode relacionar com determinados valores activos (prédios, títulos,
depósitos, barras de ouro, etc.), simplesmente porque a objectivação destes foi associada à
criação daquelas.
Nestes casos, para além do lançamento relativo à criação da reserva, teremos ainda,
eventualmente, um lançamento relacionado com a objectivação dos valores activos.
Por exemplo:
45
Investimentos Financeiros Outras Aplicações Financeiras Fundos a Depósitos a Ordem Banco x Depósito a prazo no banco Y para constituição de um
Fundo equivalente às reservas criadas.
Estes valores activos, portanto concretos, que se conservam afastados da exploração
não devem ser confundidos com as reservas (valores abstratos), constituido verdadeiros
fundos.
No entanto, as reservas consolidadas também se designam por “reservas com
coberturas específica”, não obstante o contra-senso da expressão.
Na medida em que os valores afectos à exploração dão origem a benefícios
geralmente superiores aos que se obtêm com bens de rendimento, a consolidação das reservas,
ou melhor, a constituição de fundos com elas relacionadas, nem sempre é aconselhável,
embora por vezes seja obrigatória.
4.4 Reservvas e Capital
As reservas constituem, do mesmo modo que o capital, meras indicações de valor e
não coisas objecto de direitos. Erram, potanto, os que encaram o capital como propriedade da
sociedade e as reservas como propriedade dos sócios. O objecto dos direitos não são o capital
e as reservas, mas os prédios, as máquinas, os móveis, etc.
As contas de reservas são, de facto, contas irmãs da de capital social ou nominal e,
por conseguinte, contas de fundos aplicados. Convém todavia notar que, nas sociedades, as
reservas não estão, como o capital, subordinadas ao princípio da invariabilidade, e diferem
dele quanto ao regime jurídico e quanto ao modo de formação.
Acrescente-se ainda que, sendo costume expremir os lucros ou dividendos em
percentagem do capital social, um dividendo aparentemente muito grande pode na realidade
ser muito pequeno, em relação ao capital total (capital e reservas) investido na empresa.
Como as reservas representam capital próprio (e não capital alheio pelo qual se
paguem juros), os elevados lucros de certas empresas de pequeno capital nominal “são mais o
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fruto da previdência das gerências anteriores do que o resultado do esforço ou do talento da
gerência actual”.
4.5 Reservas, Amortizações e Provisões
É vulgar afirmar-se que as provisões ocupam um lugar intermédio entre as reservas e
as amortizações, mas a verdade é que, para além de possíveis analogias, estes três conceitos
são perfeitamente distintos, muito embora posteriormente se venha a concluir que certas
provisões mais não eram do que reservas transitórias.
Os possiveis pontos de contacto e de afastamento entre as reservas, amortizações e
previsões considerando a sua constituição (origem, frequência e momento), podem ser
apreciados no seguinte quadro, em relação ao qual se acrescentam algumas observações.
Amortizações Provisões para
Depreciações
Provisões paraRiscos e
Encargos
Reservas
Constituiçã
o
Origem Custos ou perdas do exercício
Aplicação de
lucrosFrequência Sempre que se verifiquem esses custos ou perdas Quando há
lucrosMomento Antes do apuramento do resultado Já no exercício
seguinte
Natureza Valores
Depreciação do Activo
Encargos certos
ou prováveisConsumadas e
Irreversíveis Reversíveis ou a consumar
Lucros retidosDeterminadas Indeterminadas
Contas Redução do Activo Passivo Capital próprio
Primário Correcto apuramento dos resultados
Sinceridade do Balanço
Cobertura de
prejuízos
futurosComplementar Autofinanciamento
As reservas só podem criar-se ou aumentar-se nos exercícios em que há lucros.
As amortizações devem fazer-se todos os anos, haja lucros ou haja prejuízos, antes
mesmo de apurados os resultados líquidos de que são um elemento.
Reservar é excluir da repartição entre os sócios uma importância que lhes poderia ser
entregue no fim do exercício, sem que o capital inicial ficasse desfalcado. Amortizar não
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consiste em reter lucros mas em reduzir, por via directa ou indirecta, o valor contabilístico das
imobilizações.
As contas de reservas são contas de capital próprio; as contas de amortizações são
simples contas de regularização, contas compensativas ou correctoras de certos valores
activos, que se incluem no 1.º membro do balanço em dedução das correspondentes contas de
activo imobilizado.
As reservas (que não representam menores- valias, mas aumentos de capital próprio)
correspondem valores activos reais. As amortizações (que não é lícito encarar como capital)
correspondem valores activos fictícios.
As primeiras respeitam a prejuízo futuros, meramente possíveis; as segundas, a custos
ou perdas passados cuja a importância se conhecem com certa aproximação.
Hoje em dia, todos os juristas e contabilistas reconhecem que as amortizações (ao
contrário das reservas) não constituem partes abstractas do capital próprio.
Quanto às provisões, há que distinguir as que se criam para compensação de activos
fictícios (provisões para depreciações) e as que se destinam à satisfação de encargos certos
ou incertos, mas sempre de montante indeterminado (provisões para encargos e riscos).
As provisões para depreciações assemelham-se às amortizações, mas estas respeitam
a depreciações com carácter irreversível, ao contrário daqueles, que assumem carácter
reversível.
As provisões para encargos e riscos aproximam-se das reservas, mas enquanto estas
se destinam a cobrir perdas eventuais, aquelas respeitam a encargos certos ou prováveis, ainda
que de montante indeterminado. Constituem, pois, “reservas impróprias”.
Na realidade, as provisões para riscos, designadas por alguns como “previsões”,
envolvem sempre obrigações eventuais para com terceiros e tem de corresponder a um risco
específico, com elevado grau de probabilidade,, pois em caso contrário não poderiam
constituir, à priori, um elemento negativo do cálculo dos resultados, mas sim, à posteriori,
uma afectação desses resultados, ou seja, uma reserva.
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Por outro lado, as reservas respeitam tipicamente a riscos gerais, que gravam todo o
património (prejuízos do exercício, por exemplo) ou um grupo de bens que não consinta
aceitáveis cálculos estatísticos para medir a probabilidade do evento.
4.6 Fundos e Reservas
“Fundos” e “Reservas” não se podem confundir. Este equívoco terminológico tem
graves consequências. Convinha, pois, sobremaneira, que todos se habituassem a distinguir
com clareza e precisão os dois conceitos.
As reservas – valores abstractos – são parcelas do capital próprio
Os fundos – valores concretos – são partes integrantes do activo.
As contas de reservas têm sempre saldos credores. As contas de fundos só podem
apresentar saldos devedores.
Os fundos compõem-se de elementos patrimoniais activos (depósitos bancários,
papéis de crédito, barras de ouro, etc.) que se conservam separados para quaisquer fins
especiais. São, sob certo aspecto, ”inversões intencionalmente ou juridicamente vinculadas
como reservas” e constituem, sob outro aspecto, “ disponibilidades certas a utilizar nos casos
e das maneiras estabelecidas”.
Os bens que os integram podem estar em poder da empresa ou nas mãos de terceiros.
Quer num caso quer no outro, trata-se de valores postos “de reserva”, para, sem perturbações
financeiras, se poderem efectuar certas aquisições, satisfazer determinadas dívidas ou fazer
face a quaisquer obrigações eventuais.
Concluindo:
A criação de uma reserva não implica a constituição de um fundo correspondente. Em
geral, como atrás se disse, poucas são as reservas com cobertura especial.
Por outro lado, a criação de um fundo – simples precaução financeira – também não
está condicionada pela existência ou importância de quaisquer reservas. O mesmo é dizer que
se há reservas sem fundos afectos às reservas, também existem fundos sem reservas com eles
relacionadas.
Note-se, finalmente, que o termo ”fundos” também se emprega correntemente com
significado diferente do anteriormente referido, podendo equivaler a “recursos”, em muitos
casos.
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NÃO TE ESQUEÇA DE AGRADECER
Nome: Sérgio Alfredo Macore ou Helldriver Rapper
Nascido: 22 de Fevereiro de 1992
Natural: Cabo Delgado – Pemba
Contacto: +258 826677547 ou +258 846458829
Email: Sergio.macore@gamil.com
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Formação: Gestão de Empresas e Finanças
NB: Se precisar de algo, não tenha vergonha de pedir, estou a sua disposicao para te
ajudar,me contacte.
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