Apresentação para décimo segundo ano de 2016 7, aula 109-110

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Traz sempre o manual, por favor, mesmo para as aulas pequenas.

Passa a trazer também a folha com as grelhas dos resultados da Liga dos Campeões (que distribuirei hoje).

Em Gaveta de Nuvens estão paráfrases de todas as estâncias do programa (por cantos).

19-20 — [Os marinheiros portugueses] já navegavam no Oceano largo [Índico], apartando as ondas inquietas; os ventos respiravam brandamente, inchando as velas côncavas das naus; os mares mostravam-se cobertos da escuma branca [no sítio] onde as proas vão cortando as águas marítimas consagradas, que são cortadas do gado de Próteo [pelos peixes],

quando, no luminoso Olimpo, onde está o governo da gente humana, os Deuses se ajuntam em glorioso consílio sobre as cousas futuras do Oriente. Convocados pelo neto gentil do velho Atlante [por Mercúrio], da parte de Tonante [Júpiter], vêm juntamente pela Via Láctea, pisando o céu cristalino [e] fermoso.

19-20 — [Os marinheiros portugueses] já no Oceano largo [Índico] navegavam, apartando as ondas irrequietas; os ventos respiravam brandamente, inchando as velas côncavas das naus; os mares mostravam-se cobertos da escuma branca [no sítio] onde as proas vão cortando as águas marítimas consagradas, que são cortadas pelo gado de Próteo [pelos peixes], quando, no luminoso Olimpo, onde está o governo da gente humana, os Deuses se ajuntam em glorioso consílio sobre as cousas futuras do Oriente. Convocados pelo neto gentil do velho Atlante [por Mercúrio], da parte de Tonante [Júpiter], vêm juntamente pela Via Láctea, pisando o céu cristalino [e] fermoso. 

[21-41 = Consílio] 42 — Enquanto se passava isto na fermosa casa etérea do omnipotente Olimpo, a gente belicosa [os portugueses] cortava(m) o mar já lá da banda do Austro e do Oriente [do sudeste africano], entre a costa etiópica [de África] e a famosa ilha de São Lourenço; e, então, o Sol ardente queimava os Deuses que Tifeu c’o temor grande converteu em peixes [transpunha o signo de Pisces].

3.1. O narrador é heterodiegético, quanto à presença na ação, correspondendo ao próprio poeta. (A focalização é omnisciente.)

4 = c; d.

A viagem dos portugueses já ia adiantada quando ocorreu o Consílio dos Deuses.

A viagem dos portugueses prosseguia em simultâneo com o Consílio dos Deuses.

d. 1 // Júpiter convoca os deuses que, vindos dos sete Céus, se reúnem para decidir o futuro dos portugueses. 

g. 2 // É ainda Júpiter, que preside à assembleia, que dá início à reunião; no seu dis curso, enfatiza a ação dos portugueses, valorizando o seu esforço, defendendo que os nautas lusos já merecem ser protegidos na costa africana, devendo ser "agasalhados", de modo que se sintam revigorados para prosseguirem o seu caminho em direção à terra desejada. 

a. 3 // Baco, porém, discorda de Júpiter em relação à sua vontade de favorecer os portugueses, por recear que estes anulem a fama que conquistara no Oriente, manifestando-se contra a possibilidade de os nautas chegarem à Índia.

e. 4 // Vénus intercede pelo povo luso, afirmando que este é muito parecido com o povo romano que tanto ama - revela igual coragem e valentia (no Norte de África: "terra Tingitana") e fala uma língua que se aproxima do latim. [...] 

b. 5 // A deusa do amor é coadjuvada por Marte, o deus da guerra, que nutria por Vénus "amor antigo", reconhecendo, por outro lado, o valor dos nautas portugueses que, aliás, já tinha sido mencionado pelo próprio Júpiter. Marte sustenta, pois, que o pai dos deuses, um "juiz direito", deveria manter a sua posição favorável em relação aos portugueses e não deveria deixar-se influenciar pelos argumentos de Baco, que se revelam "suspeito[s]". 

f. 6 // Finalmente, Marte incita Júpiter a não desistir da sua posição inicial, pois isso seria interpretado como um sinal de fraqueza.  

c. 7 // Após ter ouvido a argumentação dos vários intervenientes no consílio, Júpiter aceita as razões de Marte, decide que os portu gueses serão ajudados e encerra a reunião.

a = 3; b = 5; c = 7; d = 1; e = 4; f = 6; g = 2.

Resolve o ponto 1 da p. 163 (resumo de «O significado da mitologia n’Os Lusíadas» em 80-100 palavras).

Na intriga mitológica, Vénus pretende que os Portugueses concluam a viagem, ao contrário de Baco, que mobiliza contra eles indígenas e divindades marítimas. Vénus consegue auxílio de Júpiter, convoca as ninfas do mar e prepara uma ilha que premiará os Portugueses.

Ajuda os «novos romanos», como já protege-ra Eneias. Baco quer evitar que cheguem ao Orien-te, que considera seu. Os portugueses, porém, suplantam os deuses adversos e ganham o estatu-to de heróis, como se reconhece no episódio da ilha dos Amores.

É típica da Renascença esta glorificação de quem foi capaz de se ultrapassar.

[94 palavras]

20fermoso = formosoVem pela via = Vêm pela via42pexes = peixes103Ua = Uma104ledo = l[ê]do105avorrecida = avorrecida ou aborrecida

A «narração» (parte do poema épico) outras questões de género

As estâncias que hoje vimos correspondem ao início da narração (I, 19). Sucedem à proposição (I, 1-3) — em que o poeta enuncia o que se propõe «cantar» (os navegadores que dilataram o império; os reis que contribuíram para a expansão da fé; todos os homens que por feitos grandiosos se imortalizaram), à invocação (I, 4-5) — em que pede inspiração às Tágides (não por acaso, entidades míticas portuguesas) — e à dedicatória (I, 6-18) — a D. Sebastião, a quem o poeta louva (pelo que representa para a independência de Portugal e para o aumento da mundo cristão; pela ilustre ascendência; pelo império de que é senhor), a quem apela para que

o leia (vinca que a obra não versará heróis e factos fantasiosos, como as epopeias anteriores, mas matéria histórica) e a quem incita a continuar os feitos gloriosos dos portugueses (nomeadamente, combatendo Joana Moura). Já dissemos que a dedicatória não ocorria nos poemas épicos greco-latinos (por exemplo, não acontece na Eneida, a epopeia latina que é o mais próximo modelo do poema épico de Camões).

Na peça não há, naturalmente, o equivalente das primeiras dezoito estâncias dos Lusíadas (proposição; invocação; dedicatória). Entra-se logo num correspondente da narração (se, tratando-se do modo dramático, assim lhe pudéssemos chamar). Também não há estâncias, porque aliás não há versos — trata-se de teatro em prosa — e, num longo texto expositivo acerca da obra (a «Memória ao Conservatório Real»), o autor explicou que esse era um dos motivos por que não caberia à peça, que Garrett reconhece ser «uma verdadeira tragédia», essa precisa designação. É que o

género teatral ‘tragédia’ exigia o verso, a poesia, e repugnava a Garrett pôr «na boca de Frei Luís de Sousa outro ritmo que não fosse o da elegante prosa portuguesa» (convém recordarmo-nos de que Manuel de Sousa Coutinho, tornado depois Frei Luís de Sousa, foi um grande escritor de prosa). Por isso, o autor classifica a sua obra como drama, embora imediatamente a dissocie dos dramalhões românticos em voga (que logo caricatura).

O começo da ação

No começo da narração (canto I, est. 19), os portugueses já estão no «largo Oceano» (ou seja, no Índico). Trata-se, portanto, de um começo in media res, com a ação já a meio da viagem, como era de regra nos poemas épicos. Viremos a ter notícia da parte inicial da viagem (e aliás dos acontecimentos da História de Portugal anteriores) através de uma extensa analepse, uma segunda narrativa encaixada cujo narrador será Vasco da Gama. Esse longo relato, dirigido ao Rei de Melinde, acontecerá nos cantos III, IV e V.

O começo da peça (ato I, cena 1) mostra-nos Madalena angustiada e percebemos que os dados estão há muito lançados. Mesmo antes da entrada em cena de Telmo — que, como sempre, não a deixará menos ansiosa —, já se manifesta com «contínuos terrores, que ainda [a] não deixaram gozar um só momento de toda a felicidade que [lhe] dava o amor [de Manuel]». A leitura dos Lusíadas (no passo dos amores de Inês e Pedro) suscita-lhe a comparação: pelo menos, Inês tivera um momento de ilusão/felicidade.

Deuses, destino e Jorge Jesus

A intervenção dos deuses no destino dos homens está amplamente documentada nas epopeias da Antiguidade, o que também sucede nos Lusíadas. A narração começa com o plano central, o da viagem, mas só durante uma estrofe (I, 19), passando-se logo ao plano mitológico, com o Consílio no Olimpo (I, 20-41). Júpiter pretende dar conhecimento da sua determinação de ajudar os navegantes portugueses e elogia as proezas históricas do povo português e a sua coragem. Esta decisão gera controvérsia: Baco teme que seja destruído o prestígio que tem no Oriente; no entanto, Vénus e Marte defendem os portugueses. 

Em Frei Luís de Sousa não se contempla a ação dos deuses da mitologia. No entanto, sentimos que há uma força que está para lá das personagens, que as ultrapassa, que intervém tão decisivamente como os deuses na epopeia de Camões, o destino. A perceção de que a ação das personagens está condicionada por uma pré-determinação funesta está sempre presente. É fomentada pela inseguran-ça de Madalena, pelos agoiros de Telmo, pelo «se-bastianismo» com que este contagia Maria, pela perspicácia doentia desta, pelo simbolismo das datas. Deus — mas não os da mitologia —, isto é, a fé, estipula a decisão das personagens (a certa al-tura, Madalena atreve-se a hesitar na opção a to-mar, sendo de imediato trazida à razão, religiosa, por Manuel).

TPC — Prepara leitura em voz alta das estâncias nas pp. 166 e 167 (para os clubes dos grupos A e B) e 168-169 (para os dos grupos C e D).

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