Aula de Hermenêutica - Teoria dos 4 discursos em Aristóteles

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Teoria aristotélica dos quatro discursosProf. Ronaldo Laux

1. Conceitos Fundamentais sobre Discurso•Discurso: movimento; transcurso de uma posição a outra. Tem uma unidade: são dispostas várias partes tendo em vista um propósito a ser atingido.

É o trânsito do acreditado (as premissas) para o acreditável (propósito – as conclusões) por meio de um encadeamento de nexos.

Etimologia dos termos (CUNHA, A.G. Dicionário etimológico da língua portuguesa. 4. ed. Rio de Janeiro: Lexicon, 2010.

discur-sar, -ivo –o DISCORRERdiscorrer vb. ‘percorrer, atravessar’ ‘tratar, expor, analisar’ 1572. Do lat. Disccurrere, de currere // discursar XVI // discursivo 1813// discurso XVI. Do lat. Discursos –us, de discursum, supino de discurrere.Texto sm. ‘as próprias palavras de um autor, livro ou escrito’/ XIV texto XIV / Do lat. Textum –i ‘entrelaçamento, tecido’ ‘contextura (duma obra)’ Contexto sm. ‘conjunto, todo, reunião’ ‘encadeamento das ideias dum discurso’ 1813. Do fr. Contexte, deriv. do lat. Contextus – us // contextura XVIII. Do fr. Contexture.

•Discurso eficaz: quando alcança a credibilidade final.

•Discurso malogrado: quando não alcança a credibilidade final. Essa rejeição por parte do ouvinte também é uma modificação, só que negativa.

• Premissa: aquilo que é tomado como já sabido, admitido. (Fica, por isso, aquém do discurso).

• Premissas explícitas e implícitas: são declaradas ou não no discurso.

• A omissão pode ser proposital ou não. (Quando não são, são chamadas de pressupostos – uma crença muito arraigada e habitual).

• Unidade formal: é o nexo existente entre as várias partes do discursos para atingir ao seu propósito.

• Propósito: em qualquer discurso, consiste em gerar alguma modificação no ouvinte. (mudar uma opinião, receber uma informação, sentir uma emoção).

• Credibilidade: aceitação, pelo receptor, da modificação proposta pelo emissor.

•Credibilidade inicial: disposição prévia do receptor em acompanhar o discurso, aceitando, mesmo provisoriamente, as premissas. (Esta aceitação é ela mesma uma premissa).

•Credibilidade final: a plena aceitação da modificação proposta pelo discurso. Aceitação das conclusões e das conseqüências que delas podem ocorrer.

Graus de credibilidade•As premissas, de acordo com a sua credibilidade, podem ser classificadas em uma escala que vai do maximamente crível ao minimamente crível.

•O maximamente crível é o tido como verdadeiro pelo receptor (ainda que não seja)

•O minimamente crível, ou seja, o minimamente verdadeiro: o possível. (Abaixo do possível está o impossível, o incrível, o falso).

Segmento do discurso (conveniência humana contingente)

•O discurso pode retornar indefinidamente aos fundamentos primeiros das premissas (tornando-se até redundante), bem como ir até as conseqüências últimas (até o limite do humanamente pensável). O que determina a extensão do discurso é a vontade do emissor.

2. Os 4 tipos de discursosa) Discurso Poético: não pretende atingir nada além da simples possibilidade.• o propósito é gerar uma transformação profunda na alma do ouvinte.• tem credibilidade dada pela sua magia. (O ouvinte tem que se sentir parte de um mundo comum de sentimentos).

• requer preliminarmente a plena comunidade de língua e de linguagem entre emissor e receptor (o emissor, para receber o impacto “mágico” do discurso, deve, se necessário, fazer um esforço pessoal de pesquisa e interpretação).

• exige uma “suspension of disbelief”(suspensão da dúvida), aceitando as regras do jogo.• dá margem a múltiplas interpretações (abre para novas possibilidades; novos esquemas mentais).•“parte do gosto ou dos hábitos mentais e imaginativos do público e, jogando com as possibilidades que aí se encontrem, procura criar uma aparência, um simulacro, levando o público a aceitar provisoriamente como verdadeiro, por livre consentimento, algo que se admitiu de antemão ser apenas uma ficção ou uma convenção.” (p.83)• Quanto a função desempenhada pela linguagem, se utiliza mormente das função poética e da função emotiva

b) Discurso Retórico: quer obter algo mais que uma certeza mínima, mas não tende a uma certeza máxima (parte-se do verossímil).

• o propósito é influenciar o ouvinte durante um determinado período de tempo para que este tome uma decisão particular.• faz com que a vontade do ouvinte seja igual a do orador (apela à capacidade do ouvinte de decidir, sua liberdade).• emite sempre uma ordem ou pedido sempre concreto e determinado.

• não deve dar margem a muitas interpretações, pois tem um propósito prático.• exige confiança ou simpatia pela pessoa do orador.• “parte das convicções atuais do público, sejam elas verdadeiras ou falsas, procura levar a platéia a uma conclusão verossímil.” (p. 82)• quanto a função desempenhada pela linguagem, se utiliza mormente da função apelativa.

c) Dialético: tende a uma certeza máxima, mas não pode obtê-la (parte-se do provável). • o discurso dialético compara o desenvolvimento das conseqüências de várias dessas premissas prováveis, a fim e depurá-las na busca da verdade, também atendendo às regras da coerência lógica.• pretende convencer por meios racionais, independentemente da vontade do ouvinte.

• como condição, o ouvinte precisa admitir a arbitragem da razão e a aceitação de certas premissas consensuais. (Confiança no próprio poder de raciocínio e nas premissas admitidas).• depende, portanto, de um certo grau de cultura do ouvinte, bem como de sua honestidade intelectual.• “parte de premissas que podem ser incertas, mas que são aceitas sob determinadas circunstâncias e por um público mais ou meno homogêneo e conhecedor do assunto, isto é, parte de premissas prováveis.” (p.82)• quanto a função desempenhada pela linguagem, se utiliza mormente da função referencial.

d) Analítico: parte de premissas evidentes e inquestionáveis e chega a conclusões absolutamente certas.• a credibilidade depende de um ouvinte capaz de acompanhar um raciocício lógico cerrado e da ciência da veracidade absoluta das premissas. (confiança absoluta nas premissas)• “procede num desenvolvimento rigoroso segundo as leis formais do pensamento, a lógica silogística, para alcançar conclusões absolutamente certas ou universalmente obrigantes.” (p.82)• quanto a função desempenhada pela linguagem, se utiliza mormente da: função referencial.

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