Cesário Verde - "Contrariedades"

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Poema: “Contrariedades”

Cesário Verde

Conteúdos…

• Poema “Contrariedades”;

• Tema/Assunto;

• Estrutura externa;

• Estrutura interna;

• Linguagem e estilo;

• Ideologia e corrente literária.

Tema/Assunto

• Tema: Humilhação de que o sujeito e a engomadeira são vitimas.

• Temática realista: Humilhação e imagem feminina.

• Assunto: Critica a uma sociedade desumana, corrupta, injusta que é alheia ao que acontece em seu redor: os doentes são abandonados e esquecidos tal como os poetas (ainda que noutra dimensão).

Estrutura externa • Tipo de composição: constituem traços da lírica de Cesário Verde que a

aproximam da prosa a utilização do tom coloquial e antideclamatório, do verso longo – como o decassílabo e o alexandrino (verso de doze sílabas).

Eu / ho / je es / tou / cru / el, / fre / né/ ti/ co, e/ xi/ gen/ te; 12

Nem / pos / so / to / le / rar / os / li / vros / mais / bi / zar / ros. 12

In / crí / vel! / Já / fu / mei / três / ma / ços / de / ci / gar / ros 12

Con / se / cu / ti / va / men / te. 6

• Rima: emparelhada nos 2º e 3º versos;

Interpolada nos 1º e 4º versos

Esquema ABBA.

Eu hoje estou cruel, frenético, exigente; A

Nem posso tolerar os livros mais bizarros. B

Incrível! Já fumei três maços de cigarros B

Consecutivamente. A

emparelhadainterpolada

Estrutura interna

• Primeira parte: estrofes 1 e 2.

Personagens predominantes: sujeito poético.

Dá-nos a conhecer o mal estar do sujeito.

Eu hoje estou cruel, frenético, exigente; Nem posso tolerar os livros mais bizarros. Incrível! Já fumei três maços de cigarros Consecutivamente.

Dói-me a cabeça. Abafo uns desesperos mudos: Tanta depravação nos usos, nos costumes! Amo, insensatamente, os ácidos, os gumes E os ângulos agudos.

• Segunda parte: estrofes 3 e 4.

Personagens predominantes: engomadeira.

Retrata a situação da engomadeira tuberculosa.

Sentei-me á secretária. Ali defronte mora Uma infeliz, sem peito, os dois pulmões doentes; Sofre de faltas de ar, morreram-lhe os parentes E engoma para fora.

Pobre esqueleto branco entre as nevadas roupas! Tão lívida! O doutor deixou-a. Mortifica. Lidando sempre! E deve conta à botica! Mal ganha para sopas…

• Terceira parte: estrofes 5 e 12.

Personagens predominantes: sujeito poético.

Relação tempestuosa entre a imprensa e o sujeito.

O obstáculo estimula, torna-nos perversos; Agora sinto-me eu cheio de raivas frias, Por causa dum jornal me rejeitar, há dias, Um folhetim de versos.

Que mau humor! Rasguei um epopeia morta No fundo da gaveta. O que produz o estudo? Mais duma redação, das que elogiam tudo, Me tem fechado a porta.

A crítica segundo o método de Taine Ignoram-na. Juntei numa fogueira imensa Muitíssimos papéis inéditos. A imprensa Vale um desdém solene.

Com raras exceções merece-me o epigrama. Deu meia-noite; e em paz pela calçada abaixo,Um sol-e-dó. Chovisca. O populacho Diverte-se na lama.

Eu nunca dediquei poemas às fortunas, Mas sim, por deferência a amigos ou a artistas. Independente! Só por isso os jornalistas Me negam as colunas.

Receiam que o assinante ingénuo os abandone, Se forem publicar tais cousas, tais autores. Arte? Não lhes convém, visto que os seus leitores Deliram por Zaccone.

Um prosador qualquer desfruta fama honrosa, Obtém dinheiro, arranja a sua coterie; E a mim, não há questão que mais me contrarie Do que escrever em prosa.

A adulação repugna aos sentimentos finos; Eu raramente falo aos nossos literatos, E apuro-me em lançar originais e exatos,Os meus alexandrinos…

• Quarta parte: estrofes 13 e 14.

Personagens predominantes: engomadeira.

Descreve-nos o drama da engomadeira abandonada.

E a tísica? Fechada, e com o ferro aceso! Ignora que a asfixia a combustão das brasas, Não foge do estendal que lhe humedece as casas, E fina-se ao desprezo!

Mantém-se a chá e pão! Antes entrar na cova. Esvai-se; e todavia, à tarde, fracamente, Oiço-a cantarolar uma canção plangente Duma opereta nova!

• Quinta parte: estrofes 15 e 16.

Personagens predominantes: sujeito poético.

Assistimos a uma conformação irónica do sujeito.

Perfeitamente. Vou findar sem azedume. Quem sabe se depois, eu rico e noutros climas, Conseguirei reler essas antigas rimas, Impressas em volume?

Nas letras eu conheço um campo de manobras; Emprega-se a réclame, a intriga, o anúncio, a blague,E esta poesia pede um editor que pague Todas as minhas obras…

• Sexta parte: estrofes 17.

Personagens predominantes: sujeito poético e engomadeira.

Estabelece um paralelismo entre a realidade de ambas as personagens.

E estou melhor; passou-me a cólera. E a vizinha? A pobre engomadeira ir-se-á deitar sem ceia? Vejo-lhe luz no quarto. Inda trabalha. É feia… Que mundo! Coitadinha!

Linguagem e estilo

Caraterísticas da linguagem no poema “Contrariedades”

• Apelo às sensações visuais: elementos de cor, textura, forma (impressionismo literário);

• Visão objetiva da realidade – realismo;

• Descrição objetiva dos aspetos do quotidiano;

• Expressividade e simbolismo de certas palavras (adjetivação expressiva);

• Grande carga adjetival a enfatizar a descrição do real (adjetivação expressiva);

• Recurso a diversas figuras de estilo.

Estilo (recursos estilísticos)

Objetivo: As figuras de estilo pretendem acentuar uma crítica. O sujeito surge contra as desumanidades e a ignorância que oprimem e marginalizam os mais fracos.

• Adjetivação (melhor perceção da realidade);

Eu hoje estou cruel, frenético, exigente; Nem posso tolerar os livros mais bizarros. Incrível! Já fumei três maços de cigarros Consecutivamente. (estrofe I)

Dói-me a cabeça. Abafo uns desesperos mudos: Tanta depravação nos usos, nos costumes! Amo, insensatamente, os ácidos, os gumes E os ângulos agudos. (estrofe II)

Ironia

Objetivo: Pretende criticar de uma forma habilidosa (critica sobretudo a sociedade e a imprensa);

Mais duma redação, das que elogiam tudo, Me tem fechado a porta. (estrofe VI, versos 3 e 4)

Nas letras eu conheço um campo de manobras; Emprega-se a réclame, a intriga, o anúncio, a blague,E esta poesia pede um editor que pague Todas as minhas obras… (estrofe XVII)

Arte? Não lhes convém, visto que os seus leitores Deliram por Zaccone. (estrofe X, versos 3 e 4)

Exclamação

Objetivo: Traduzir as emoções do autor.

“Trata depravação nos usos, nos costumes.” (estrofe II, verso 2)

“Que mundo!” Coitadinha (estrofe XVII, verso 4)

“Tão lívida!” “Lidando sempre! E deve a conta à botica!” (estrofe IV, versos 2 e 3)

“Oiço-a cantarolar uma canção plangenteDuma opereta nova!” (estrofe XIV, versos 3 e 4)

Interrogação.

Objetivo: Pretende reforçar a intenção irónica e manter um certo contacto com o leitor.

“O que produz o estudo?” (estrofe VI, verso 2)

“E a vizinha?A pobre engomadeira ir-se-á deitar sem ceia?” (estrofe XVII, versos 1 e 2)

“Arte?” (estrofe X, verso 3)

“E a tísica?” (estrofe XIII, verso 1)

Advérbio expressivo:

“consecutivamente”;

“Insensatamente”;

“raramente”;

“fracamente”;

“lidando sempre”;

“tão lívida”.

Estrangeirismos.

“coterie” (estrofe XI, verso 2);

“réclame” e “blague” (estrofe XVI, verso 2)

Diminutivo final.

Objetivo: Pretende mostrar o carinho e solidariedade que o autor tem pela engomadeira mas por outro lado é uma forma de culpar a sociedade daquela situação.

“ Que mundo! Coitadinha”

Aliteração.

“Amo, insensatamente, os ácidos, os gumes

E os ângulos agudos.”

Simbolismo.

A cor branca aparece simbolicamente associada à ideia de fraqueza e morte

“Pobre esqueleto branco entre as nevadas roupas!

Tão lívida!”

(estrofe IV, versos 1 e 2)

Ideologia e Corrente literária

• Pode dizer-se que, neste poema, se podem observar algumas influências e características que fazem de Cesário Verde o ponto de encontro de várias correntes que tinham sido ou iriam ser importantes na literatura portuguesa:

Realismo; Impressionismo; Simbolismo; Parnasianismo; Surrealismo.

Ana Pereira;

Catarina Sousa;

Sandra Ferreira;

Vânia Leite.

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