FACELI: II Simpósio sobre Violência contra a Mulher - Aspectos Gerais da Violência Doméstica e...

Preview:

Citation preview

Aspectos Gerais da Violência Doméstica e Familiar contra as

Mulheres

Suzana Duarte GarciaDelegada de Polícia

“A violência contra as mulheres causa enorme sofrimento, deixa marcas nas famílias, afetando várias gerações, e empobrece as comunidades. Impede que as mulheres realizem as suas potencialidades, limita o crescimento econômico e compromete o desenvolvimento. No que se refere à violência contra as mulheres, não há sociedades civilizadas”.

Kofi Annan – ex-Secretário-Geral da ONU

A Invisibilidade da Violência DomésticaA Invisibilidade da Violência Doméstica• CULTURA RELIGIOSA: Predominância de Sacerdote Homem

• Filosofia Aristóteles: “A mulher é um homem imperfeito”

• HISTORICIDADE DA MULHER ENQUANTO PROPRIEDADE PRIVADA

- A posse e a mulher como propriedade privada - Os homens não são naturalmente violentos, aprendem a ser!

• CULTURA POPULAR“Em problema de marido e mulher, ninguém mete a colher”

“Roupa suja se lava em casa”

BREVE HISTÓRICO SOBRE ORDENAMENRTO JURÍDICO BRASILEIRO

Pelas Ordenações Filipinas a mulher era tida por incapaz para praticar atos da vida civil devido à sua fraqueza de entendimento. Se fosse casada, a incapacidade era suprida pelo marido, seu representante legal.

A parte criminal das Ordenações Filipinas previa que eram isentos de pena aqueles que ferissem as mulheres com pau ou pedra, bem como aqueles que castigassem suas mulheres, desde que moderadamente. Os homens tinham também o direito de matar suas mulheres quando encontradas em adultério, sendo desnecessária prova austera; bastava que houvesse rumores públicos.

Sob a vigência do Código Penal de 1890 e, posteriormente, do Código Penal de 1940, duas figuras jurídicas foram criadas pela defesa dos uxoricidas, assim chamados os noivos, namorados, maridos e amantes acusados de matar suas companheiras. Trata-se dos “crimes de paixão” ou crimes passionais e da legítima defesa da honra, que ganharam força e foram largamente popularizados pela retórica da defesa dos uxoricidas.

- ART. 219 CODIGO CIVIL (1916): Possibilidade de o marido anular o casamento constatando que sua mulher fora deflorada anteriormente;

- CÓDIGO PENAL DE 1940: Utilizou a expressão “mulher honesta”: aquela cuja conduta moral fosse considerada irrepreensível.

- CÓDIGO PENAL DE 1940: previa a possibilidade de o estuprador ter sua punibilidade extinta se viesse a casar com a vítima (“REPARAÇÃO DO DANO AOS COSTUMES”).

Mandado Constitucional de Criminalização na Constituição da República de 1988Princípio da Proibição da Proteção DeficienteCuida-se de hipóteses de obrigatória intervenção do legislador, protegendo determinados bens ou interesses de forma adequada e, dentro do possível, integral.

• Art. 226, § 8º da CR/88: O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos que a integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações.

• Tratados internacionais que o Brasil é signatário:

- Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de San José )

- Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência Contra a Mulher (Convenção de Belém do Pará)

NORMA DE DISCRIMINAÇÃO POSITIVA

• AÇÕES AFIRMATIVAS

• IGUAL MATERIAL: “Tratar os iguais de forma igual e os desiguais de forma desigual, na medida de sua desigualdade”

ORIGEM DA LEI 11.340/2006 “LEI MARIA DA PENHA”

Breve Histórico:

Em maio de 1983 MARIA DA PENHA MAIA FERNANDES foi vítima de duas tentativas de homicídio perpetradas por seu marido. Somente em setembro de 2002 a sentença penal transitou em julgado e o autor foi preso.

• Denuncia perante à Comissão Interamericana de Direitos Humanos que em 16/04/2001 emitiu parecer concluindo que:

“a ineficácia judicial, a impunidade e a impossibilidade de a vítima obter uma reparação mostra a falta de cumprimento do compromisso pelo Brasil de reagir adequadamente ante a violência doméstica”

PRECONCEITOS A RESPEITO DA LEI

• Só prejudica o homem;

• O Estado e a população não podem intervir;

• Droga e violência;

• Briga de marido e mulher.

Briga de marido e mulher????

DISPOSIÇÕES DA LEI 11.340/06Art. 5o Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial:I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas;II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa;III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação.Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo independem de orientação sexual.

O QUE É VIOLÊNCIA DE

GENERO?

VIOLÊNCIA PATRIMONIAL

Retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos.

VIOLÊNCIA PSICOLÓGICA E MORAL

• DANO EMOCIONAL E DOMINUIÇÃO DA AUTOESTIMA;

• PERTUBAÇÃO DO PLENO DESENVOLVIMENTO;• DEGRADAR SUAS AÇÕES;• CONTROLAR SUAS AÇÕES;• CONTROLAR SEUS COMPORTAMENTOS;• CONTROLAR SUAS CRENÇAS;• CONTROLAR SUAS DECISÕES;• QUALQUER CONDUTA QUE CAUSE PREJUÍZO À

SAÚDE PSICOLÓGICA E À AUTODETERMINAÇÃO.

• AMEAÇA;• HUMILHAÇÃO;• MANIPULAÇÃO;• ISOLAMENTO;• VIGILÂNCIA CONSTANTE;• INSULTO;• CHANTAGEM;• RIDICULARIZAÇÃO;• EXPLORAÇÃO;• LIMITAÇÃO DO DIREITO DE IR E VIR;

VIOLÊNCIA SEXUAL

Qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação.

VIOLÊNCIA FÍSICA

O QUE PREVÊ A LEI MARIA DA PENHA?

• Inaplicabilidade da Lei 9.099/95 (ação penal pública incondicionada para lesões leves e culpsas);

• Qualificadora para o artigo 129, caput, do CP, aumentando as balizas de pena e causa de aumento de pena 1/3 para os §§ 1º a 3º do CP;

• Obrigatoriedade da atuação do Estado e Retratação somente em audiência específica;

• Medidas Protetivas de Urgência e consequências do descumprimento.

Quebrando o silêncio

A primeira atitude a ser tomada em uma

situação de violência é pedir ajuda para

alguma pessoa que transmita confiança.

Delegacia de Atendimento à MulherDEAM

Polícia Civil do Estado do Espírito Santo

Polícia Judiciária

Atribuição da DEAM• As DEAMs compõem a

Estrutura da Polícia Civil e desempenham a 1ª fase da repressão estatal, oferecendo suporte às ações de forças ordenadas pela autoridade judiciária

ATENDIMENTO NA DEAM• A vítima registra o boletim de ocorrência e é

encaminhada ao SML para exames ou solicitação de perícia;

• Oitiva da Vítima( onde há a solicitação de MPUs);

• oitiva do autor e testemunhas;• juntada de laudos e relatório;• encaminhamento ao MP e Poder Judiciário.

FORMAS DE COMBATE - REDE DE ATENDIMENTO

• Polícia;

• Assistência Social;

• Ministério Público;

• Defensoria Pública;

• Judiciário;

• Atitude da Mulher (culpa, baixa autoestima, desconhecimento dos recursos, filhos, dependência econômica, etc.)

Fornecer transporte para a ofendida e seus dependentes para abrigo ou local seguro quando houver risco de vida.

Se necessário acompanhar a ofendida para assegurar a retirada de seus pertences do local da ocorrência ou do domicilio familiarInformar a ofendida os direitos a ela conferidos pela Lei e serviços disponíveis.

MEDIDAS PROTETIVAS URGÊNCIA QUE

OBRIGAM O AGRESSOR:

• suspensão da posse ou restrição do porte de armas, com comunicação ao órgão competente, nos termos da Lei no

10.826, de 22 de dezembro de 2003;• II - afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a

ofendida;• III - proibição de determinadas condutas, entre as quais:• a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das testemunhas,

fixando o limite mínimo de distância entre estes e o agressor;• b) contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por

qualquer meio de comunicação;• c) freqüentação de determinados lugares a fim de preservar a

integridade física e psicológica da ofendida;• IV - restrição ou suspensão de visitas aos dependentes menores,

ouvida a equipe de atendimento multidisciplinar ou serviço similar;• V - prestação de alimentos provisionais ou provisórios.

Medidas Protetivas de Urgência à Ofendida:

Art. 23. Poderá o juiz, quando necessário, sem prejuízo de outras medidas:I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou comunitário de proteção ou de atendimento;II - determinar a recondução da ofendida e a de seus dependentes ao respectivo domicílio, após afastamento do agressor;III - determinar o afastamento da ofendida do lar, sem prejuízo dos direitos relativos a bens, guarda dos filhos e alimentos;IV - determinar a separação de corpos.

Art. 24. Para a proteção patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou daqueles de propriedade particular da mulher, o juiz poderá determinar, liminarmente, as seguintes medidas, entre outras:I - restituição de bens indevidamente subtraídos pelo agressor à ofendida;II - proibição temporária para a celebração de atos e contratos de compra, venda e locação de propriedade em comum, salvo expressa autorização judicial;III - suspensão das procurações conferidas pela ofendida ao agressor;IV - prestação de caução provisória, mediante depósito judicial, por perdas e danos materiais decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a ofendida.

OUTRAS MEDIDAS:• PRISÃO PREVENTIVA DO AGRESSOR• PRISÃO EM FLAGRANTE• CASA ABRIGO• EQUIPES DE POLICIAIS PARA BUSCAS

DOS AGRESSORES

CONSEQUÊNCIAS• Penais;

• Profissionais;

• Pessoais.

PENAS PREVISTAS NO CÓDIGO PENAL

• Lesão corporal leve: 3 meses a 3 anos de prisão

• Lesão corporal grave: 1 a 5 anos de prisão (aumentada de 1/3)

• Lesão corporal gravíssima: 2 a 8 anos de prisão (aumentada de 1/3)

• Se da lesão resulta morte: 4 a 12 anos de prisão (aumentada de 1/3)

• Feminicídio: 12 a 30 anos de prisão

VERGONHA BRASILEIRAMapa da violência de 2015

-13 mulheres são assassinadas por dia no país;

-Dentre 83 países, o Brasil ocupa 5º lugar entre os países que possuem o maior número de mulheres mortas.

Somente El Salvador, Colômbia, Guatemala (três países latino-americanos) e a Federação Russa evidenciam taxas superiores às do Brasil.

Taxas do Brasil são muito superiores às de vários países:•48 vezes mais homicídios femininos que o Reino Unido;•24 vezes mais homicídios femininos que Irlanda ou Dinamarca;•16 vezes mais homicídios femininos que Japão ou Escócia.

TELEFONES PARA DENÚNCIAS

• DISQUE DENUNCIA NACIONAL 180

• DISQUE DENUNCIA ESTADUAL 181

Recommended