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EGOTRIP “Navegar é preciso”. Ao fundo de mim mesma, quer traga pranto ou riso. Sinto não ser capaz... A mim mesma encontrar é difícil, bem mais do que olhar pra trás, sem ter que se voltar, em solitário cais. (Fio de prum- 1989)

Poemas de Maria do Carmo Marino Schneider

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Maria do Carmo Marino Schneider é poeta e acadêmica da AFESL.

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Page 1: Poemas de Maria do Carmo Marino Schneider

EGOTRIP

“Navegar é preciso”.

Ao fundo de mim mesma,

quer traga pranto ou riso.

Sinto não ser capaz...

A mim mesma encontrar

é difícil, bem mais

do que olhar pra trás,

sem ter que se voltar,

em solitário cais.

(Fio de prum- 1989)

Page 2: Poemas de Maria do Carmo Marino Schneider

SÓ SER

Sou flor de lótus vagandona superfície de um lago.

Sou pena que vai levandoo vento que passa ao largo.

Sou beijo de amor escapandode um lábio frio e amargo.

Sou criança definhandosem alimento ou afago.

Sou espírito abortandoem ventre estéril e aziago.

Sou assim _ vida finandonum suspiro triste e vago.

Chama de vela expirando,sem sou sopro, só, me apago...

(SÓ SER -1991)

Page 3: Poemas de Maria do Carmo Marino Schneider

DOAÇÃO

Quisera dar-te a paz de um verdejante prado

e o leito que refaz o viajor cansado,

fazendo do meu próprio ser teu doce ninho.

Quisera alvorecer de luz tua solidão

com uma esteira de estrelas, em profusão,

jamais deixando escurecer o teu caminho.

Quisera dar-te, amor, a cada novo dia,

um sonho colorido por novo matiz.

Quisera dar-te o céu, num arco-íris de alegria

e, ao fazer-te feliz, ser muito mais feliz!

(Sonatas -1996)

Page 4: Poemas de Maria do Carmo Marino Schneider

HAICAIS

Na espuma clara

do mar deitei os meus sonhos.

Dormem no azul.

Na concha da mão

adormece uma lágrima.

Pérola escondida.

Duas alvas lágrimas:

contas ocultas na concha

de um mar de saudades.

Para onde vão

as almas dos sonhos mortos?

Eu não sei dizer...

(Aquarelas Poéticas- 1996)

Page 5: Poemas de Maria do Carmo Marino Schneider

MULTIFÁRIAS VOZESMULTIFÁRIAS VOZES

Os anjos falam

no silêncio.

É preciso calar

para ouvi - los.

E suas vozes soam,

na alma,

como o tilintar

de cristais

tocados pelo vento.

A canção que entoam,

inscrita nas pautas

do infinito,

embala a alma

que, insone e só,

suplica a Deus

a paz

dos sonhos dormidos.

(Mistral-1999)

Page 6: Poemas de Maria do Carmo Marino Schneider

SOBRE UMA DOR

Ainda há soluços...

Há soluços no quarto,

sob os alvos lençóis,

pairando sobre cada objeto...

Ainda há soluços,

sobrepondo-se aos silêncios,

debatendo-se no peito

como pássaros aprisionados

contra fechadas vidraças.

E há uma voz emudecida,

sem nenhum canto ou riso,

uma voz que já não canta,

e há um espinho na garganta...

(Mistral - 1999)

Page 7: Poemas de Maria do Carmo Marino Schneider

O FIO DE ARIADNE

Ah! Esse sabor amargo que na boca aflorae essa saudade imensae esse vazio atrozque fez de mim, sozinha,o que antes era nós...

Ah! Esse silêncio largoque me envolve agorae essa dor intensae o desamor ferozque cedo me definhae cala minha voz...

Ah! Esse amor aziagoque minh’alma chora,que torna a vida densae os dias negras mós,é o que cortou a linhade seculares nós.

(Canzoni d’amore - 1999)

Page 8: Poemas de Maria do Carmo Marino Schneider

FILOSOFANDO

“Nunca pisamos duas vezes

nas águas de um mesmo rio”

_ disse certo filósofo, e eu sorria...

Teimava em volver ao já passado,

águas de um rio lindo, mas já ido...

Hoje, margeando o rio da minha vida,

olho as águas que passam, noite e dia,

fluindo rumo a um fim insuspeitado.

E me contento tão somente em vê-las,

amando o que não foi, o já perdido,

saudosa do que foi, sem ter voltado.

(Canzoni d’ amore -1999)

Page 9: Poemas de Maria do Carmo Marino Schneider

Verde mar,

verde folha,

verde esperança

que se desfaz,

que se desfolha,

na alva areia,

entre alga e espuma...

Assim o amor,

concha esquecida

em praia deserta,

no vaivém

da onda - saudade

também se evade,

também se esfuma.

Poemar - 1999)

Page 10: Poemas de Maria do Carmo Marino Schneider

Celebro enfim a paz e a claridade.

Na alma, já curada do seu mal,

não mais brilha o sol negro de Nerval.

Tristeza, dor e vã temeridade

são máscaras de antigo Carnaval

que, uma vez findo, soa tão banal.

Um brilho alvinitente no olhar,

breve sorriso que o lábio esboça

são traços visíveis a espelhar

envelhecida alma que remoça.

(Inéditos- 2003)

SOL NEGRO

Page 11: Poemas de Maria do Carmo Marino Schneider

BUSCA

Eu TE procuro em todas as fontes

de vida do ser, latentes no mundo:

no céu, na terra e no mar profundo.

Eu TE procuro em todos instantes

que a alma imerge e vai no mais fundo

do imo, a cismar, segundo a segundo.

E eis que TE encontro, como nunca antes,

nos carmas dos homens, eternos viandantes:

nos risos, nos sonhos, os mais delirantes,

nas preces, no canto, no amor dos amantes.

(Ave-Marias - 2004)