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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL BEATRIZ DEMIRDJIAN SAMPAIO JORGE SÓ MENTE CORPO CAMPO GRANDE MS 2014

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL

BEATRIZ DEMIRDJIAN SAMPAIO JORGE

SÓ MENTE CORPO

CAMPO GRANDE – MS

2014

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BEATRIZ DEMIRDJIAN SAMPAIO JORGE

SÓ MENTE CORPO: Retratos da sensibilidade feminina

Relatório de pesquisa apresentado para fins de avaliação parcial para obtenção do grau de Bacharel em Artes Visuais.

Orientação: EluizaBortolottoGhizzi

Coorientação: Renan Kubota

CAMPO GRANDE – MS

2014

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FOLHA DE ROSTO

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL

BEATRIZ DEMIRDJIAN SAMPAIO JORGE

SÓ MENTE CORPO: Retratos da sensibilidade feminina

Relatório de pesquisa apresentado para fins de avaliação parcial para obtenção do grau de Bacharel em Artes Visuais.

Orientação: Renan Kubota Coorientação: Eluiza Bortolotto Ghizzi

Campo Grande, MS, _____ de __________________ de 2014.

COMISSÃO EXAMINADORA

__________________________________________________

Profª. Eluiza Bortolotto Ghizzi Universidade Federal de Mato Grosso do Sul

__________________________________________________

Prof. Renan Kubota

Universidade Federal de Mato Grosso do Sul

__________________________________________________

Prof.ª. Priscilla de Paula Pessoa

Universidade Federal de Mato Grosso do Sul

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus por me guiar em meus caminhos, por me

consolar nos tempos de dúvida e por me fazer acreditar que isto seria possível.

Agradeço também às amigas Taíza e Ludmila que confiaram em mim e se

voluntariaram para posar em prol da execução deste trabalho que não existiria

sem a cooperação delas. Agradeço à minha família que me apoiou e apoia

sempre que possível, aos meus pais, principalmente, por me incentivarem e me

encorajarem sempre que preciso. Agradeço também aos meus professores por

compartilhar o seu vasto conhecimento comigo de maneira bem interessante e

voluntariosa. A todos, o meu muito obrigada.

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RESUMO

O presente trabalho teve como objetivo desenvolver uma pesquisa teórico-

prática voltada para a busca de uma poética pessoal na realização de uma

obra artística capaz de expressar sentimentos femininos por meio da fotografia

digital, da arte da colagem e da fotomontagem. As obras que resultaram desse

trabalho expressam esses sentimentos femininos, por meio de retratos

inspirados esteticamente no Dadaísmo, no Surrealismo e na Pop Art. No

desenvolvimento da pesquisa teórica recorremos à história do retrato e do nu

na fotografia, às vanguardas europeias nas artes plásticas, com foco nas

colagens e na fotomontagem, à arte digital, especialmente a fotografia e as

técnicas de colagem digital. Pesquisamos artistas cujos trabalhos nos ajudaram

a confirmar ideias e argumentos. O resultado artístico é um conjunto de retratos

fotográficos de mulheres, manipulados posteriormente por meio da técnica de

colagem digital.

Palavras chave: Fotografia Digital. Retrato Feminino. Colagem Digital. Manipulação

Fotográfica.

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ABSTRACT

This study aimed to develop a research focused on the pursuit of a personal

poetic in carrying out a work of art can express female feelings through digital

photography, collage and photomontage theory and practice. The works that

resulted from this work express these feminine feelings through pictures

aesthetically inspired in Dadaism, Surrealism and Pop Art. In developing the

theoretical research we turn to the history of portraiture and the nude in

photography, the European avant-garde in the plastic arts, focusing on collage

and photomontage, digital art, especially photography and digital collage

techniques. Researched artists whose work helped confirm the ideas and

arguments. The artistic result is a series of photographic portraits of women,

later manipulated by the technique of digital collage.

Keywords: Digital Photography. Female Portrait. Digital Collage. Photography

Manipulation.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 “View from the window at Le Gras”............................................................................. 16

Figura 2 Autorretrato de Robert Cornelius............................................................................16

Figura 3 Retrato de Louise Gamet........................................................................................17

Figura 4 “I’instante décisif”....................................................................................................19

Figura 5 “Les Arquives”..............................................................................................................20

Figura 6 Série “Poland”........................................................................................................22

Figura 7 Série “Poland”.......................................................................................................22

Figura 8 “Girls I” Bianca.............................................................................................................22

Figura 9 “Girls I” Sem título........................................................................................................22 Figura 10 “Girls I” Ivette Febrero..............................................................................................23 Figura 11 “Girls I” Katrina Franco Nicole..................................................................................23 Figura 12 “Deux II”.....................................................................................................................23 Figura 13 Sem título...................................................................................................................23 Figura 14 “Diana and Actaeon”..................................................................................................24 Figura 15 “Le Violon d'Ingres”....................................................................................................26 Figura 16 “Natasha”...................................................................................................................26 Figura 17 “Andy with hoops”......................................................................................................26 Figura 18 ”Distortion”.................................................................................................................27 Figura 19 “Nude”........................................................................................................................28 Figura 20 “Naked New York”.....................................................................................................28 Figura 21 Gorgona da série “Genre”.........................................................................................29 Figura 22 “Дикие локоны падают гривой” da série “Nude”.....................................................29 Figura 23 Fruteira e Copo.........................................................................................................31 Figura 24 Copo e Garrafa de Suze...........................................................................................31 Figura 25 “Factum I e Factum II”.............................................................................................. 33 Figura 26 “L.H.O.O.Q.”..............................................................................................................34 Figura 27 Retrato de Max Ernst para "Une semaine de bonté”.................................................35

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Figura 28 O crítico de arte..................................................................................................36 Figura 29 “Da Dandy”................................................................................................................37 Figura 30 “Tears”.......................................................................................................................38

Figura 31 “Le Baiser”.................................................................................................................38 Figura 32 “Amor sin ilusion”.......................................................................................................39 Figura 33 Sem título..................................................................................................................39 Figura 34 Sem título..................................................................................................................40 Figura 35 “Everything I Know”...................................................................................................41 Figura 36 “Miss Pipe”.................................................................................................................42 Figura 37 “Bullitt”........................................................................................................................42 Figura 38 Sem título...................................................................................................................43 Figura 39 Sem título...................................................................................................................43 Figura 40 “O que exatamente torna os lares de hoje, tão atraentes?”......................................45 Figura 41 “Sem título”................................................................................................................48 Figura 42 “Deux”........................................................................................................................48 Figura 43 Sem título 38 da série “Le Carnet Noir”.....................................................................49 Figura 44 Sem título 19 da série “Le Carnet Noir”.....................................................................49

Figura 45 “A Fight or Flight to a Future Freshness”...................................................................50

Figura 46 “Mind Mapping”..........................................................................................................50

Figura 47 “Vitality”....................................................................................................................50

Figura 48- Teste 01...............................................................................................................54

Figura 49- Teste 02..............................................................................................................54

Figura 50- Teste 03..............................................................................................................54

Figura 51- Teste 04..............................................................................................................54

Figura 52- Estúdio Semelhante ao da Uniderp........................................................................56

Figura 53- Estúdio do fotógrafo.............................................................................................56 Figura 54- Edição de luz e saturação no Lightroom (Antes e Depois)......................................57 Figura 55- Exemplo do uso da ferramenta Saturação no Lightroom........................................57

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Figura 56- Importando para o Photoshop..............................................................................58 Figura 57- Duplicando o layer...............................................................................................58

Figura 58- Processo efeito espelhado.......................................................................................59

Figura 59- Efeito espelhado.....................................................................................................59

Figura 60- Edição concluída...................................................................................................59

Figura 61- Fotografia de flor em alta resolução.......................................................................59

Figura 62- Aplicando preset preto e branco...........................................................................60

Figura 63- Antes e Depois do efeito preto e branco................................................................60

Figura 64- Preset P&B..........................................................................................................61

Figura 65- Aplicando efeito Hard Light...................................................................................61

Figura 66- Efeito “Hard Light”................................................................................................61

Figura 67- Aplicando máscara................................................................................................61

Figura 68- Aplicando efeito “Screen”........................................................................................62

Figura 69- Edição final..........................................................................................................62

Figura 70- Dupla Mente.........................................................................................................62

Figura 71- Anseio..................................................................................................................63

Figura 72- Flor menina............................................................................................................64

Figura 73- Doa oque doação................................................................................................64

Figura 74- Apedrejada..........................................................................................................65

Figura 75- Desejo em pedaços..............................................................................................65

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO..............................................................................................................12

1 O RETRATO DA HISTÓRIA......................................................................................15

1.2 Introduções ao Retrato.........................................................................................15

1.3 O Retrato Fotográfico nos Séc. XX e XXI............................................................18

1.4 O Nu Fotográfico...................................................................................................24

1.5 Colagens nas Vanguardas Europeias.................................................................30

1.5.1 Colagem e Dadaísmo...........................................................................................33

1.5.2 Colagem e Surrealismo........................................................................................37

1.5.3 Colagem e Pop Art...............................................................................................44

1.6 Fotomontagem e Fotografia Digital.....................................................................46

2 A OBRA SÓ MENTE CORPO...................................................................................52

2.1 A escolha do tema.................................................................................................52

2.2 Desenvolvimentos práticos..................................................................................53

2.3 Conceito.................................................................................................................54

2.4 Processos de produção........................................................................................56

2.5 Análises das obras................................................................................................62

CONSIDERAÇÕES FINAIS..........................................................................................67

REFERÊNCIAS.............................................................................................................69

APÊNDICE A – Portfolio..............................................................................................72

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho acadêmico tem como tema o retrato feminino. A

partir da técnica de colagem digital e da fotomontagem inspirada nas

vanguardas europeias, principalmente no Surrealismo, no Dadaísmo e na Pop

Art, as fotografias foram pensadas e editadas. A inspiração do tema ocorreu ao

conhecer as ilustrações da artista francesa Paula Bonet, que retrata o

sentimento feminino de uma forma muito peculiar em seus desenhos e grafites.

A série fotográfica que resultou desta pesquisa foi idealizada há um ano,

quando, a partir de experiências com edição de imagens digitais, veio a ideia

de retratar o íntimo das pessoas. O retrato esteve sempre muito presente em

minha forma de expressão, tanto no desenho, quanto na pintura, portanto levei

isso para a fotografia também, além de me interessar muito pela junção da arte

com a tecnologia.

Sempre muito curiosa sobre o comportamento das pessoas e de suas

personalidades, busquei por uma poética que me permitisse mostrar o

indivíduo e não meramente sua aparência. A escolha do retrato feminino se

deu pela vontade de trazer um trabalho sensível ao observador, e por ver as

mulheres como dotadas de beleza e de uma sensibilidade que eu poderia

explorar. Com isso as coisas acabaram “casando”. Porém, faltava ainda o

íntimo: como mostrar as pessoas no seu íntimo. Em resposta a isso ocorreu a

ideia do nu fotográfico como uma forma de acesso. Mas a ideia não era

trabalhar apenas o nu artístico tradicional, que corre o risco de chamar muito a

atenção para o corpo e não para o íntimo que eu buscava. Havia, portanto,

ainda, a necessidade de encontrar um modo de mostrar aspectos desse íntimo

que não são visíveis na aparência, mesmo no nu. A colagem e a fotomontagem

apareceram como recursos que possibilitavam trabalhar isso.

O corpo feminino nu expressando, com as interferências da colagem e

de fotomontagem, o sentimento individual de cada mulher foi o grande desafio

do trabalho artístico. Para exercitar a capacidade de distinguir os sentimentos

por meio da manipulação das fotografias, decidi fotografar duas mulheres, o

que exigiria desenvolver modos de tornar singulares não apenas os seus

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retratos, mas também a manipulação deles, de modo que as obras resultantes

dos retratos de cada uma das modelos se apresentassem com características

individuais próprias delas e distintas uma da outra.

Foi feito um grande número de fotografias e, ao final, foram escolhidas

as seis melhores fotos. Fotografar o corpo nu em preto e branco – outra

decisão tomada durante o processo -, fez com que as formas dos corpos

fossem valorizadas e, assim, a luz e a sombra poderiam ser mais bem

trabalhadas nas obras, trazendo a suavidade que eu procurava. As

interferências com a colagem e a fotomontagem foram realizadas em cores, o

que ajudou a ressaltar o sentimento das mulheres retratadas. As obras, ao

final, propõem uma interpretação da artista daquilo que são esses sentimentos.

A pesquisa acontece em três momentos: primeiramente, a parte teórica,

envolvendo estudos de elementos plásticos e referências visuais de artistas, de

acordo com os temas estudados; depois, o desenvolvimento dos recursos

visuais a serem trabalhados e, por fim, o desenvolvimento prático de uma série

de fotografias, que foram manipuladas digitalmente com recursos de colagem

digital e fotomontagem.

Este texto está organizado em dois capítulos, nos quais, o primeiro

refere-se à história da fotografia, que é traçada de forma cronológica

mostrando a evolução da tecnologia na técnica fotográfica. A partir disso, nota-

se a fotografia entrelaçada com a história da arte a todo o momento. No

decorrer da leitura deste texto, o tema do trabalho vai sendo construído e

analisado. Veem-se os sentimentos da mulher como tema principal do trabalho,

não deixando de comentar sobre o indivíduo, o corpo, e sua relação com a

mente e esses sentimentos mais profundos. A feminilidade e delicadeza

também são um ponto fortemente transcorrido no texto.

Já o segundo capítulo, trata-se da produção fotográfica e pós-fotográfica

das obras. As técnicas utilizadas são apresentadas e explicadas de forma que

tenham sentido comparadas com os conceitos analisados no primeiro capítulo.

Logo também, se demonstra todo o processo prático envolvido no trabalho

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para depois ser apresentada uma conclusão do mesmo para este trabalho ter

sido realizado com êxito.

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O RETRATO DA HISTÓRIA

1.2 Introduções ao Retrato

Quando falamos de retratos, logo nos vêm à mente uma imagem de

alguém ou um grupo de pessoas com suas variadas características. Essa

imagem é relacionada com os primeiros retratos feitos antigamente, pois o

surgimento desta prática é um fato muito marcante na história da arte, onde a

burguesia pedia aos mais famosos pintores para retratarem suas famílias.

Segundo o livro “Um retrato de Giacometti”, de James Lord:

O retrato é a representação de uma figura individual ou de um grupo, elaborada a partir de modelo vivo, documentos, fotografias, ou com o auxílio da memória, o retrato (do latim retrahere, copiar) em seu sentido primeiro ligado à ideia de mimese. Por essa razão, foi muito utilizado nas academias e escolas de arte para o aprendizado do ofício e domínio da técnica no século XIV. (LORD, 1998, p.159)

O retrato, na história da fotografia foi muito utilizado, inicialmente, como

base para a pintura. Posteriormente a fotografia começou a ter sua expressão

própria. A fotografia não começou com um único criador. Ao longo do tempo

muitas pessoas agregaram conceitos e processos, dando origem à fotografia.

No início desse período está à câmara escura, criada por Giovanni Della Porta

1, em 1558.

A primeira fotografia reconhecida é uma imagem produzida em Saint

Loup de Varennes, pelo francês Joseph Nicéphore Niépce, em 1826. A imagem

foi produzida com uma espécie de câmera não convencional, sendo exigidas

oito horas de exposição à luz do sol. O processo ficou conhecido como

“heliografia”, o que significa gravura com a luz (Figura 1).

1 Outras fontes tomam o físico árabe, conhecido por Alhazen, como verdadeiro descritor da câmara escura. Nascido

em 965 a.C. no que hoje conhecemos como Iraque, Alhazen foi nomeado pai do método científico moderno. Sua relação com a câmara escura advém de seus estudos sobre o fenômeno dos corpos celestes no horizonte epelas observações sobre os fenômenos da refracção da luz.

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Figura 1-“View from the window at Le Gras”

Joseph NicéphoreNiépce, Paris, 1826.

Fonte: LEMAGNY; ROUILLÉ, 1988, p.16.

Partindo desse mesmo princípio, outro francês, chamado Louis Jacques

Mandé Daguerre, cria uma câmara escura com outros efeitos especiais,

chamada de “diorama”, que era usado para deixar desenhos com aspectos

mais realistas. Estes dois inventores ficam, então, responsáveis pelo

pioneirismo da fotografia. Anos mais tarde, o retrato se pronuncia efetivamente

em 1839 com a imagem do autorretrato do químico Robert Cornelius,

considerado o primeiro retrato fotográfico da história (Figura 2).

Figura 2- Autorretrato de Robert Cornelius

Robert Cornelius, Filadélfia,1839. Fonte: BRANDÃO, Claudio, 2013, p.124.

Disponível em: <http://www.maxwell.lambda.ele.puc-rio.br/Busca_etds.php?strSecao=resultado&nrSeq=21126@1>

Acesso em: 07 abril 2014.

De acordo com o autor Jean-Claude Lemagny (1988), com o passar do

tempo a prática do retrato continuou a se expandir artisticamente e ele ainda foi

utilizado para pintura em muitos países; porém, nos Estados Unidos a prática

daguerriana fez muito sucesso a partir do momento em que a placa de cobre

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foi trocada pela de vidro. Com materiais mais baratos o preço dos negativos

caiu, ampliando o campo social e o número de clientes. Em 1850 já se notavam

traços da fotografia moderna, na qual os clientes não precisavam esperar muito

para ter suas fotos impressas em mãos.

Desta forma o retrato ganhou um padrão de comércio e virou moda

fotografar certas poses, principalmente em retratos femininos. As fotografias

eram tiradas de forma que mostrassem o respeito e dignidade do retratado.

Fosse ao formato carte-de-visite, ou como cabinet portraits, tais retratos prestavam-se para registrar poses que tendiam a expressar dignidade, respeitabilidade, status social. Representações através das quais o retratado mostrava-se não conforme ele "realmente" era, mas tentando satisfazer expectativas não apenas suas, mas dos possíveis destinatários de cópias daquele souvenir cuja troca entre parentes e amigos tornara-se habitual. (STANCIK, 2011, p.10.)

Como, por exemplo, o retrato de Louise Gamet mostrado na Figura 3,

abiaxo:

Figura 3- Retrato de Louise Gamet

Estúdio F. Berthault, Angers, França. Carte-de-visite, 5,5 × 9,0 cm. Ano de 1880. Fonte:STANCIK, 2011, p.8.

A partir deste momento, o retrato torna-se um produto social e cultural,

concebido como documento e monumento. Traz consigo os traços da época,

como registro e fragmento dos tempos. Torna-se uma forma não verbal de

comunicação pelo registro de poses, olhares, gestos, expressões faciais e

movimentos do corpo.

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18

1.3 O Retrato Fotográfico nos Séc. XX e XXI.

Aproximando-se cada vez mais da forma de retratar dos tempos de hoje,

o retrato muda, porém, ainda traz consigo características de um tempo

distante. Permanece sua essência em meio ao indivíduo, mas modifica seu

propósito e utilidade nos tempos modernos.

O retrato passou a não ser mais visto como o “espelho do real”, pois

muitos, quando fotografados não se mostravam verdadeiramente, sendo assim

impressões do real, um instrumento de análise e interpretação. Segundo o livro

“O Ato fotográfico”, de Philippe Dubois:

O principio de realidade foi então designado como pura "impressão", um simples "efeito". Com esforço tentou-se demonstrar que a imagem fotográfica não é um espelho neutro, mas um instrumento de transposição, de análise, de interpretação e até de transformação do real, como a língua, por exemplo, e assim, também culturalmente codificada. (DUBOIS, 1994, p.1)

Anteriormente, era comum a prática da fotografia documento, onde a

fotografia jornalística tinha destaque. Não se valorizava a fotografia enquanto

imagem, nos seus aspectos formais, mas sua capacidade de mostrar outra

coisa, externa a ela. Posteriormente, muitos fotógrafos começaram a importar-

se com significado de suas fotos, e não com o simples registro de

acontecimentos. Como disse Rouillé (2009, p. 139), “A verdade do documento

não é a verdade da expressão”, sendo assim abertos os tempos da crise, o

declínio da imagem-ação2.

Uma perda significativa do elo com o mundo manifesta-se na prática. Os

artistas partilham com frequência desse sentimento de perda associado às

imagens, de se ter uma imagem e não o mundo como referência. Os fotógrafos

se veem mais interessados em fotografar o seu próprio mundo e não os fatos

corriqueiros da época. O regime da verdade e da prova enfraquece então, por

basear-se na imagem-impressão3 das coisas.

2O termo refere-se à imagem fotográfica usada como registro de acontecimentos jornalísticos.

3 O termo refere-se à imagem fotográfica usada como expressão individual do fotógrafo, visando uma interpretação

diferenciada de cada um que a veja.

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Na prática do instante decisivo4, em meados do séc. XX, Henri Cartier -

Bresson acreditava haver um momento composicional de máxima

potencialidade expressiva que, se captado, transmitiria com suma eficácia

determinado acontecimento. Não só esse instante deveria ser reconhecido à

medida que um acontecimento se desenrolava diante do fotógrafo, mas

também, nessa fração de segundo ele deveria organizar no quadro as formas

que o delineavam para que pudesse ser expresso em toda sua intensidade5.

Uma fotografia que ilustra esse conceito associada à obra, de Bresson é

mostrado na Figura 4, abaixo:

Figura 4- I’instante Décisif

Henri Cartier-Bresson,1970. 40x30cm.

Fonte: FREIRE, 2010, 01p.

A fotografia se estabelece como resultado de um trabalho de intervenção

do fotógrafo sobre o real, no qual seu imaginário exerce papel central. Segundo

“A fotografia entre documento e expressão” (ROUILLÉ, 2009), as imagens do

foto-documentário imaginário são capazes de se vincular a um modo de

representação que vai além da remissão ao referente: à coisa fotografada são

agregadas lembranças, crenças, valores, interesses, desejos e receios do

próprio fotógrafo. Isso se dá tanto na forma como o fotógrafo limita sua

4 Origem da expressão ”I'instantdécisif”, que intitula o prefácio do primeiro livro de Bresson,”Images à

lasauvette”(Imagens furtivas), e que por não ter em inglês a expressão correspondente, nomeou-se “The decisivemomment”(O momento decisivo). 5Referência de trecho do artigo “Ensaio sobre a perda do momento decisivo” de Pollyanna Freire.

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percepção (o que vê e como vê), quanto na maneira como guia o seu trabalho

(o que fotografa e como fotografa).

A partir desse momento onde a fotografia não é mais entendida como

realidade capturada e sim como transformação do real. Os processos

chamados de mecânicos, como o plano, o enquadramento e a luz, são tratados

como formas de expressão. Assim concede-se à fotografia uma assinatura e ao

fotógrafo a valorização de sua visão do mundo.

Muitos artistas, como o francês Christian Boltanski, revelaram suas

fotografias mais expressivas nos anos de 1970-1990. São os chamados

artistas-fotógrafos. O principal projeto da fotografia dos artistas não é

reproduzir o visível, mas tornar visível alguma coisa do mundo, alguma coisa

que não é necessariamente da ordem do visível, observa André Rouillé (2009).

Segundo Joana Lobinho (2011, p.36), Christian Boltanski trazia a ideia

de morte e memória às suas obras. Quase sempre associado a ambientes

obscuros e religiosos, seu tema, a partir de 1980, volta-se para problemas

sociais e não mais pessoais. Como mostrado na Figura 5, em seu trabalho

sobre o Holocausto, “Le Arquives”, abaixo:

Figura 5- “Les Arquives”

Christian Boltanski. 1987.

Fonte: LOBINHO, Joana, 2011 p.42.

A partir dos anos 1980, como dito anteriormente, os artistas passam a

dominar com facilidade o procedimento fotográfico, obtendo excelentes

resultados técnicos e, muitas vezes, tamanhos monumentais. Para Rouillé a

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fotografia tornou-se a componente central de seus trabalhos, o seu material

expressivo. Ela não era mais utilizada como recurso para obras como pintura

etc., a fotografia tornou-se obra.

Uma grande mudança para a história da fotografia foi, e continua sendo,

o avanço tecnológico. A arte de fotografar vem se reinventado a cada época e

artistas descobrem novos meios de expressão com o auxílio da fotografia a

todo tempo. Segundo o filósofo francês Gilles Deleuze:

Ferramentas tecnológicas existem na interligação entre o que as fazem possíveis e entre o que estas podem produzir efetivamente. Isto é, o que leva ao desenvolvimento de determinadas ferramentas é a necessidade de produzir resultados que são de certa forma, almejados socialmente por determinados grupos. (DELEUZE, apud BRANDÃO, 2013, p.102).

Conclui-se que não é apenas uma ferramenta que altera um

determinado status, mas uma demanda social por mudanças facilita o

aparecimento de determinadas ferramentas, como a fotografia. Segundo

Lombardi:

Filmes granulados, negativos superexpostos, uso abusivo da grande angular, imagens desfocadas ou borradas, composições abstratas e recorrências ao ficcional passam a ser explorados como formas expressivas possíveis à fotografia, como modo de expressar na imagem as impressões e sensações imateriais que o fotógrafo experiência na realidade. (LOMBARDI, 2007. p4)

Partindo desse ponto, fotógrafos como o americano Michael Ackerman

utilizam as distorções na imagem como forma de expressão fotográfica a partir

de 1999, como pode ser exemplificado nas figuras 6 e 7, abaixo:

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Figura 6- Série “Poland”

Figura 7- Série “Poland”

Michael Ackerman, Poland, 1999-2007. Fonte: SiteI’Agence VU .Disponível em

<http://www.agencevu.com/stories/index.php?id=144&p=1> Acesso em: 10 jun. 2014.

Michael Ackerman, Poland, 1999-2007. Fonte: I’Agence VU. Disponível em

<http://www.agencevu.com/stories/index.php?id=144&p=1> Acesso em: 10 jun. 2014.

Ackerman, desde jovem, foi premiado por suas fotografias cheias de

histórias e sensações. Sempre em preto em branco para trazer mais

dramaticidade às fotos, ele nos transmite suas dúvidas, reflexões pessoais e

angústias.

Apesar de a fotografia digital ter dominado o mercado de fotografias,

muitos artistas fazem uso da fotografia analógica ainda hoje. É o caso do

chileno, Cristóbal Escanilla, fotógrafo e vídeo maker. Em sua série “Girls I”

(Garotas I), ele faz o uso dessa prática fotográfica, exemplificada nas figuras 8,

9, 10 e 11, abaixo:

Figura 8- “Girls I” Bianca Figura 9- “Girls I” Sem título

Cristóbal Escanilla, 2012-2014.

Disponível em: <http://cargocollective.com/cabinadelafoto/girls-

I> Acesso em: 10 jun. 2014.

Cristóbal Escanilla, 2012-2014. Disponível em:

<http://cargocollective.com/cabinadelafoto/girls-I> Acesso em: 10 jun. 2014.

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Figura 10- “Girls I” Ivette Febrero Figura 11- “Girls I” Katrina Franco Nicole

Cristóbal Escanilla, 2012-2014.

Disponível em: <http://cargocollective.com/cabinadelafoto/portaf

olio> Acesso em: 10 jun. 2014.

Cristóbal Escanilla, 2012-2014. Disponível em:

<http://cargocollective.com/cabinadelafoto/girls-I> Acesso em: 10 jun. 2014.

Nesta série fotográfica Escanilla usa luz natural e, em sua maioria,

cenários ao ar livre. Fotografa as mulheres ao natural, assim como as relaciona

com os cenários e a natureza, conquistando um resultado que transcende o

sensível, nos deixando a sensação de intimidade com o retratado.

Outro artista que fotografa mulheres é Jon Duenas, fotógrafo de moda,

cujas fotografias são muito expressivas. Diferente de Escanilla, Duenas utiliza

sua Polaroid e, também, sua câmera digital para suas composições. A seguir

são apresentadas duas de suas obras (Figuras 12 e 13):

Figura 12- “Deux II” Figura 13- Sem título

Jon Duenas, 2014. Fotografia Analógica. Fonte: Site do artista, disponível

em:<http://www.jonduenas.com/ii#13>

Acesso em: 11 jun. 2014.

Jon Duenas, 2014. Fotografia Digital.

Fonte: Site do artista, disponível

em:<http://www.jonduenas.com/portfolio-

iii#26> Acesso em: 11 jun. 2014.

Page 24: Tcc 2014 beatriz demirdjian

24

Duenas faz o uso da fotografia analógica6 na Figura 12, atrelando a

técnica de sobreposição de imagens à fotografia. Já na figura 13 usa a

fotografia digital em seu trabalho. Ambas retratando as mulheres de modo a

gerar significados associados ao sentimento feminino.

Desta forma percebe-se, ao final deste capítulo, a evolução da fotografia

como documento do real para meio de expressão artística. Enquanto para o

documento a técnica deve ficar a serviço do registro, de modo a não interferir

nele, para a fotografia como arte a técnica é utilizada como recurso de

linguagem, para criar elementos expressivos e representativos.

1.4 O Nu Fotográfico

Sobre o “retrato” do corpo nu encontram-se resquícios desde antes do

período greco-romano. Foi repetidamente utilizado para a prática da pintura e

escultura desde os tempos do Renascimento, como desenho de observação e

conhecimento das formas do corpo humano. Como a obra de Brueghel, O

Velho, “Diana and Actaeon” mostrada na Figura 14, abaixo:

Figura 14- “Diana and Actaeon”

Jan Brueghel, O velho, 1595. Fonte: Site da BBC Brasil, 05p.

Disponível em: <http://www.bbc.co.uk/portuguese/especial/819_nuartistico/page5.shtml> Acesso em: 28 maio 2014.

É então, indispensável sua aparição como arte na fotografia. Segundo

José Farinha (2001, p.78), “Os primeiros daguerreótipos eróticos começaram a

circular por Paris a partir de 1840[...]”, com isso vê-se o registro e o

exibicionismo do nu feminino antes do começo do nu fotográfico considerado

6Fotografia analógica é aquela que utiliza filme fotográfico e é revelada pelo processo fotoquímico.

Page 25: Tcc 2014 beatriz demirdjian

25

como arte. O surgimento deste tipo de fotografia veio ao encontro de

oportunidades comerciais, porém mesmo a fotografia do nu sendo referência

para pintores, ele não deixou de ter um forte potencial erótico e pornográfico

para com a fotografia.

O erotismo foi proibido em meados da década de 1840 e muitos

fotógrafos foram presos por suas “cenas obscenas”, segundo Camargo Filho

(2006, p.29). O primeiro movimento estético fotográfico ocorreu em 1880,

denominado Pictorialismo7. A fotografia era defendida como arte, usando de

artifícios não convencionais para chegar ao resultado pictural. Mais tarde

muitos fotógrafos mudaram o seu olhar sobre a fotografia e passaram a fazer

fotografias por elas mesmas, ou seja, sem ser destinada a pintura.

Somente no início do século XX, depois da I Guerra Mundial, os fotógrafos, influenciados pelo pensamento modernista e percebendo as possibilidades particulares que a fotografia oferecia para a criação (tais como o ângulo de tomada da cena, a instantaneidade, a possibilidade de interferir no negativo etc.), passaram a fazer fotografias por elas mesmas, sem o seu destino inicial para a pintura, criando, assim, novas formas de representação. O corpo nu passa a ser explorado principalmente em função de sua forma e de suas possibilidades figurativas. (CAMARGO FILHO, 2006, p.30)

Acredito que um dos nomes influentes para a fotografia foi Man Ray.

Segundo o Departamento Educacional do J. Paul Getty Museum, Ray foi

artista, fotógrafo, arquiteto e engenheiro, nascido na Filadélfia nos Estados

Unidos, porém foi em Nova Iorque que se tornou famoso por sua fotografia e

ideais artísticos. Em 1915 conheceu Marcel Duchamp e fundaram o grupo

Dada-Nova-iorquino. Além do Dadaísmo, depois que mudou para a França

Man Ray se envolveu com o Surrealismo em 1921. Suas obras possuíam

características fantasiosas, mas trazendo muita originalidade em provocar a

sociedade com suas ideias sobre arte e cultura. Ray trabalhava bem com a

desconstrução da fotografia e usava muitas vezes a distorção de formas e

7Definição segundo Itaú Cultural; Pictorialismo foi o movimento que eclodiu na França, na Inglaterra e nos Estados

Unidos a partir da década de 1890, congregando os fotógrafos que ambicionavam produzir aquilo que consideravam como fotografia artística, capaz de conferir aos seus praticantes o mesmo prestígio e respeito grangeado pelos praticantes dos processos artísticos convencionais. O problema é que essa ânsia de reconhecimento levou muito dos adeptos do pictorialismo a simplesmente tentar imitar a aparência e o acabamento de pinturas, gravuras e desenhos ao invés de tentarem explorar os novos campos estéticos oferecidos pela fotografia.

Page 26: Tcc 2014 beatriz demirdjian

26

corpos criando as famosas fotografias surrealistas8. Uma de suas primeiras

fotografias de nu feminino foi “Le Violon d'Ingres”, mostrada na Figura 15,

abaixo:

Figura 15-“Le Violon d'Ingres”

Man Ray, 1924. Impressão em prata gelatinosa. 530 x 390 mm. Fonte: Lista de Exibição dos Retratos de Man Ray do Museu Ludwig, na Alemanha. De7

fev.2013- 27 maio 2013.

Man Ray retratava com frequência figuras femininas atreladas ao nu

fotográfico. Como em “Natasha”(Figura 16) e “Andy with hoops”(Figura 17):

Figura 16- Natasha Figura 17- “Andy with hoops”

Man Ray, 1929.

Disponível em: <http://www.manray-photo.com/catalog/product_info.php?cPath=32&products_id=684&osCsid=956bfd65692e

31e2d1ec3f5b2bfbe70b> Acesso em: 29 maio 2014.

Man Ray, 1937. Disponível em:<http://www.manray-

photo.com/catalog/product_info.php?cPath=32&products_id=1069&osCsid=956bfd65692e31e2d1ec3f5b2bfbe70b> Acesso em:29 maio 2014.

Outro artista com características parecidas com as Man Ray era

AndreKertesz. Nascido em Budapeste em 1894, o artista húngaro era famoso

8Surrealista é aquilo que está acima, além da realidade, (sur – realisme), além daquilo que nossos sentidos e razão

são capazes de compreender; o movimento surrealista foi inspirado pelas ideias de Freud sobre a psicanálise, assim a loucura também passa a fazer parte desse conteúdo.

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27

por seu trabalho com a fotografia jornalística em 1900, porém um de seus

trabalhos que traz curiosidade aos olhos é a série de 200 fotografias de nus

femininos chamados “Distortions” (Distorções), feita em 1933. Kertesz

consegue resultados incríveis com experimentos óticos com reflexão e

espelhos.

Figura 18- “Distortion”

AndreKertesz,1933. Fonte:Site Masters ofPhotography, disponível em: <http://www.masters-of-

photography.com/K/kertesz/kertesz_distortion_full.html> Acesso em:29 maio 2014.

Esses dois artistas possuíam características em comum ao se

desprenderem do tradicionalismo quando se tratava de fotografar pessoas, e

em especial mulheres. Acredito que isso era feito como forma de protesto e de

desafiar a sociedade a enxergar o corpo desnudo sem pudor e malícia. Era

trazer uma nova visão do corpo feminino, contrária ao símbolo sexual, uma

nova visão das formas do corpo e suas inúmeras características

representativas.

O nu era muito explorado nesta época por artistas, como o retrato de

Edward Weston em 1936, onde ele explora o jogo de luz e sombra a fim de

modificar as formas reais do corpo feminino; como em Nude(Figura 19):

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28

Figura 19-“Nude”

Edward Weston, 1936. Fonte: Artigo da Revista Studium, disponível em: <http://www.studium.iar.unicamp.br/12/6.html> Acesso em: 30 maio 2014.

Outros artistas compartilharam ideias para desmistificar o nu feminino na

fotografia e encontrar novas formas de expressão deixando o erotismo de lado.

Nos tempos modernos esse “tema” ainda é recorrente, como no ensaio de

Greg Friedler chamado “Naked New York” (Figura 20):

Figura 20- “Naked New York”

Greg Friedler, 1997. Fonte: Artigo da revista Studium3, por PIEDADE, 2000. Disponível em: <http://www.studium.iar.unicamp.br/tres/pg5.htm> Acesso em:30 maio 2014

Friedler traz a ideia de mostrar as pessoas como elas são. O objetivo era

retratar pessoas representando elas mesmas por meio do nu. Friedler se

preocupou em não representar as pessoas da forma que elas gostariam de ser

fotografadas e, assim, chegar mais próximo do que poderia de um real, uma

identificação com o eu. Segundo Lúcio Piedade:

O modo de atuação de Friedler foi fotografar cada pessoa vestida e sem roupa, de modo a poder mostrar os dois lados da mesma pessoa: o público e o privado. Ou seja: o público é a

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29

maneira como ela se apresenta no dia-a-dia, perante à sociedade. Para Friedler, essa versão vestida é apenas uma parte de uma verdade. Afinal as roupas, espontaneamente, alteram-se de acordo com a nossa vontade, ou seja, refletem como nós gostaríamos de aparecer, ou como sentimos que devemos ser. Colocando em foco uma pessoa nua, deixa-se de lado as expectativas que seu modo de vestir produz sobre sua ocupação ou nível social, modo de ser e preferências. Sai de cena o público e entra o privado: a pessoa nua e crua em sua intimidade e essência. (PIEDADE, Lúcio. 2014, p.5).

Na atualidade vemos fotógrafos utilizarem o nu de forma mais poética.

Como os sensíveis retratos do fotógrafo russo, Dmitry Chapala, que podem ser

vistos em Gorgona (Figura21) e em “Дикие локоны падают гривой”(Figura

22):

Figura 21- Gorgona da série “Genre” Figura 22- “Дикие локоны падают гривой”

da série “Nude”

Dmitry Chapala, 2008. Fonte: Site do artista,

disponível em:

<http://www.dmitrychapala.com/genre/>Acesso

em:30 maio 2014.

Dmitry Chapala, 2012. Fonte: Site do artista,

disponível em:

<http://www.dmitrychapala.com/nude/page-

5/> Acesso em: 30 maio 2014.

O nu de Dmitry é repleto de suavidade e delicadeza. Quase sempre

utiliza iluminação natural em suas composições, favorecendo as curvas das

modelos e ressaltando as texturas dos corpos. Seu trabalho é rico em texturas

e sensações, ainda mais quando feitos em preto e branco. É um trabalho

intimista e belo, onde as fotografias são sensuais e a posição dos corpos é

bem resolvida.

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Os retratos de Chapala trazem emoção ao expectador, justamente por

retratar mulheres de um jeito tão sensível e natural. São fotografias fáceis de

serem apreciadas.

Por fim percebe-se o nu como forma expressiva, ainda muito em alta na

fotografia. Resultado esse da liberdade dos fotógrafos hoje em dia por explorar

suas diversas maneiras de expressão e técnicas.

1.5 Colagens nas Vanguardas Europeias

Inicialmente é importante definir o que é Colagem. De acordo com o

dicionário Tate Gallery (TATE GALLERY), Colagem é o termo utilizado tanto

para a técnica quanto para o resultado de um trabalho que inclui pedaços de

papeis, fotografias, tecidos, entre outros materiais, arranjados em uma

superfície de suporte. A colagem pode incluir outras mídias, como pintura e

desenho além de conter elementos tridimensionais.

A colagem consiste ainda na utilização de sobreposições analógicas ou

digitais, apropriações e recontextualizações espaciais e semânticas, sejam elas

bidimensionais ou tridimensionais, que impliquem em uma escolha estética por

parte do artista.

Segundo Randolph Souza, “técnicas de colagem foram utilizadas pela

primeira vez na China com a invenção do papel, cerca de 200 A.C, e limitadas

até o século XX, quando os caligrafistas chineses começaram a aplicar papel

colado e texto nas superfícies, onde escreviam seus poemas”. (SOUZA, 2009,

p.19)

O termo francês coller; significando colar, ou colagem, foi cunhado por

Georges Braque e Pablo Picasso no movimento cubista9, no início do século

XX, quando essa passou a ser uma técnica característica da arte moderna10,

inaugurando a poética do fragmento, afirma Souza (2009, p.19).

9 O Cubismo tinha como proposta promover a decomposição, fragmentação e a geometrialização das formas.

10 A arte presente no movimento Modernista que segundo o Tate Gallery foi um amplo movimento na arte ocidental,

arquitetura e design, que conscientemente rejeitou o passado como um modelo para a arte do presente.

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31

A obra “Fruteira e Copo” (Figura 23), de Georges Braque, é considerada

uma das primeiras colagens da arte moderna. A partir desse momento, a

técnica é empregada em diferentes escolas e movimentos artísticos, com

sentidos muito variados.

Figura 23- Fruteira e Copo

Georges Braque, 1912. Fonte: SOUZA,2009, p.20

Pablo Picasso também encontra no novo recurso um instrumento de

experimentação sem igual, que tem início com a obra “Copo e Garrafa de

Suze” (Figura 24) em 1912, parte de uma série em que são utilizados papéis e

desenhos a carvão. O uso de papéis colados abre pesquisas cubistas em

novas direções.

Figura 24-Copo e Garrafa de Suze

Pablo Picasso, 1912.

Colagem, guache e carvão, 65 x 45,2 cm. Fonte: BERNARDO, 2012, p.25.

Page 32: Tcc 2014 beatriz demirdjian

32

Assim como a maioria dos movimentos políticos ocorridos na história,

muitos artistas marcaram época com suas revoluções ao longo dos tempos. A

vanguarda11 teve seu termo deslocado para as artes pelos seus seguidores e

aplicado aos movimentos artísticos que produziram rupturas com modelos pré-

estabelecidos, estabelecendo relação entre formas antitradicionais de arte ou o

novo, nas fronteiras do experimentalismo.

Desta forma, com a crise política em 1930 na Europa, o movimento

moderno na arte sofreu grande impacto, porém, foi apenas na década de 1940

que suas regras básicas se modificaram com a derrota do fascismo, o início da

era nuclear e o começo da Guerra Fria. Em 1950 o realismo pictórico passou a

ser identificado com a repressão e o conservadorismo político, ao mesmo

tempo em que o modernismo se recuperava.

A arte das vanguardas apareceu cada vez mais conceitual e autônoma.

O modernismo do pós-guerra americano foi segundo Wood:

[...] uma escola de abstração gestual, pois os artistas da época dependiam de uma convicção quanto à autenticidade intuída e da necessidade de uma marca autoral. Essa convicção, de que a singularidade de um determinado traço, feito por aquele indivíduo, em resposta a uma circunstância específica, precisamente por ser tão verdadeiro e único, escapa à contingência e ascende a um plano universal de sentimento [...] (WOOD, 2002, p.17)

Com isso as obras de Robert Rauschenberg surgem de forma

impactante para a arte vanguardista. São obras complexas por possuírem

muitos elementos como fotografias, jornais, objetos descartados, detritos

automotivos e ainda muitos animais empalhados em uma só composição,

como se vê na obra mostrada na Figura 25. Segundo ele próprio, procurava

operar no limiar entre a arte e a vida. (WOOD, 2002, p.17).

11

De acordo com o dicionário Tate Gallery, vanguarda quando aplicado à arte significa arte que é inovadora,

introduzindo ou explorar novas formas ou assunto. Do francês Avant – garde, literalmente guarda avançada.

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33

Figura 25-“Factum I e Factum II”

Robert Rauschenberg, 1957. Óleo, nanquim, crayon, papel, tecido, reproduções de jornal e papel pintado sobre tela.

155,9 x 90,2 cm. Fonte: WOOD, 2002p.18

As obras Factum I e Factum II (Figura 25) remetem-se à colagem, uma

vez que se repetem várias imagens em fotografias que ali foram coladas e

duplicadas. As marcas da arte propriamente dita são duplicadas, porém de um

modo específico, nas repetidas obras, cobertas de borrões e manchas, das

pinturas expressionistas abstratas. Segundo Wood (2004, p.18), a matéria

principal da obra é a institucionalização da espontaneidade.

No final da década de 1950 a luta pela autenticidade tornou-se um estilo.

A arte se volta para o pensamento mais uma vez, cujo significado é produzido

durante o trabalho com os conjuntos de convenções, e por meio de jogos

empreendidos com a linguagem à obra. Os artistas passam então a ter a

crença de que a arte visual era um meio sem utilidade para a criatividade e

para o pensamento.

1.5.1 Colagem e Dadaísmo

Raquel Branco (2011, p.15) afirma que o Dadaísmo foi um movimento

crítico e contestador, surge na Suíça e em várias partes do mundo por volta de

1915-1916. Rompe com todas as barreiras da arte brincando e ironizando com

tudo o que já havia existido e mesmo com suas próprias produções. A grande

regra era não ter regras, alega Branco, o caos é o que guiava os trabalhos e

manifestações dos artistas deste movimento.

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34

O movimento Dadá apresenta-se, ao contrário de outras correntes

artísticas, como um movimento de crítica cultural mais ampla, que interpela não

somente as artes, mas modelos culturais, passados e presentes. Trata-se de

um movimento radical de contestação de valores que utilizou variados canais

de expressão: revistas, manifestos, exposições, entre outros. O dadaísmo

surgiu para destruir a noção de arte vinda do passado e propor a mais radical

interrogação sobre o que é arte.

Segundo “Colagens nos meios imagéticos contemporâneos”

(BERNARDO, 2012), os jovens estavam revoltados com a I Guerra Mundial e a

forma de demonstrarem sua insatisfação para com a sociedade era negar todo

o convencional da arte, tudo aquilo que fora, até então, imposto como padrão

estético. E é por meio da colagem que estes ideais antibelicistas tornaram-se

mais evidentes.

Como mencionado anteriormente, uma grande característica do

Dadaísmo era a crítica à arte tradicional. A Mona Lisa de Marcel Duchamp, na

Figura 26 abaixo, é um dos readymade12 mais conhecidos do movimento Dadá.

Com uma caneta ele brinca com um dos maiores ícones da arte clássica,

desenhando barba e bigode na obra Mona Lisa de Leonardo Da Vinci.

Figura 26- L.H.O.O.Q.

Marcel Duchamp, 1919/1930. Lápis sobre reprodução de Mona Lisa.

Fonte: Souza, 2009, p.23.

12

ReadymadeS.m. [ARTES PLÁSTICAS] objeto comum, retirado do seu contexto habitual e tratado como

um objeto artístico.

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35

Se tratando de Dadaísmo é inevitável falar de Duchamp sem mencionar,

mais uma vez, o fotógrafo Man Ray, cofundador do Dadá Nova-iorquino. Man

era um artista múltiplo, porém era bastante ligado à fotografia e, a partir disso,

começou a interligá-la com outras formas de arte. Na colagem mistura-a com

retratos, como a fotografia do livro "Une Semaine de Bonté" de 1934, de Max

Ernst13 (Figura 27):

Figura 27- Retrato de Max Ernst para "Une semaine de bonté"

Man Ray, 1934.

Fonte: Disponível em:<http://www.manray-

photo.com/catalog/product_info.php?cPath=32&products_id=974&osCsid=956bfd65692e31e2d1ec3f5b2bfbe70b> Acesso em: 20 jun. 2014.

Outro artista muito influente no movimento Dadá foi Raoul Hausmann.

Artista austríaco, escritor e poeta, precursor do movimento Dadaísta na

Alemanha em 1918. Utilizava o pseudônimo “Der Dadasophe” e participava

dos grupos de Zurique e Berlim. Suas obras iam de colagens experimentais,

fotomontagens, esculturas, pinturas até poesia sonora, como na obra, “O crítico

de arte” (Figura 28):

13

Tate Gallery; Max Ernst era um pintor e escultor alemão que foi um grande artista do movimento surrealista.

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36

Figura 28- O crítico de arte

Raoul Hausmann, 1919-20. Litografia e colagem fotográfica sobre papel.

31,8 x 25,4 cm Tate Modern, Londres.

Fonte: BERNARDO, 2012, p.31.

Ao observarmos a obra acima, podemos compreender alguma relação

comum a crítica política. As obras feitas com colagens deste tipo são de fácil

visualização, nos fazendo ter as mais diversas interpretações por meio das

imagens. De acordo com Eldger Bradley (2004 apud BERNARDO, 2012 p.31),

“os olhos do crítico estão cobertos, como se sua visão estivesse enfraquecida,

não podendo perceber nitidamente o objeto de sua crítica. Na parte posterior

da cabeça há uma cédula monetária que, enfiada no colarinho do crítico,

insinuaria um possível suborno”.

Nesta mesma época a artista Hannah Höch, segundo Bernardo (2012,

p.32) aparece muito importante para o Dadaísmo, e junto com Raoul, traz

novas possibilidades para o movimento. Embora algumas das obras de

Hannah retratassem a situação política da Europa naquela época e os

absurdos da guerra, Bernardo afirma que era a mulher a principal figura de seu

trabalho. Essa característica permaneceu em toda sua obra, ultrapassando sua

fase dadaísta.

Höch, segundo Bernardo (2012, p.32), refletiu o convívio entre a mulher

alemã moderna e a mulher alemã colonial, desafiando as representações

culturais femininas e levantando questões relativas à sexualidade e aos papéis

dos gêneros na nova sociedade. Suas imagens retratavam os medos,

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37

possibilidades e expectativas para as mulheres na Europa moderna. Como a

obra “Da Dandy” (Figura 29), abaixo:

Figura 29- “Da-Dandy”

Hannah Höch, 1919- Colagem. Bridgeman- Giraudon, Art Resource, NY (1889-1978).

Fonte: Site ArtSy, disponível em: <https://artsy.net/artwork/hannah-hoch-da-dandy> Acesso em: 22 jun. 2014.

Mesmo com seus ideais, algumas fontes dizem que o movimento Dadá

teve seu fim em 1920, porém deixou um grande legado estabelecendo bases

para novos movimentos artísticos. Criou relações e inspirou o Surrealismo e a

Pop Arte nos próximos anos.

1.5.2 Colagem e Surrealismo

O Surrealismo surge por volta dos anos 1920, deriva do Dadaísmo por

ter como teoria o irracional, o inconsciente na arte. Muitas das obras são

figurativas e de muito rigor técnico; as representações quase que saem das

telas e entram na realidade. O foco são as ideias, os sonhos. (BRANCO, 2011,

p.17).

Segundo Bernardo (2012, p.36), os surrealistas tinham apreço pelo

método científico, o da psicologia, e aceitavam a realidade do mundo físico,

embora acreditassem tê-la transcendido.

Outra preferência dos surrealistas era a presença simultânea de temas

paradoxais e que frequentemente são retratados isolados, como, por exemplo,

dia e noite, palavra e imagem, silêncio e grito, nascimento e morte, calma e

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38

confusão. Isto é uma maneira de reforçar a contradição surrealista e criar uma

nova tradição, alega Bernardo (2012, p.38).

No tópico anterior Man Ray foi citado em razão de mostrar sua

importância para a fotografia no meio dadaísta, porém, ao falar de Surrealismo

é preciso retomá-lo. Suas obras surrealistas eram fantásticas. A fotografia

estava muito presente em seus trabalhos surreais e o dadaísmo trouxe grande

parte da inspiração de Ray. Ele gostava de complementar suas habilidades, e,

por isso, mostrava o que não podia ser fotografado, ou seja, o que não existia e

era abstrato, como sonhos e pensamentos; desta forma gostava de fotografar

aquilo que já existia adicionando um pequeno toque do seu ponto de vista

artístico, como nas fotografias mostradas nas figuras 30 e 31, a seguir, sem

deixar de criar sua polêmica arte.

Figura 30- “Tears” Figura 31- “Le Baiser”

Man Ray, Paris,1930-1932.

Impressão em prata gelatinosa Fonte: Coleção do Museu J. Paul

Getty, disponível

em:<http://www.getty.edu/art/gettyg

uide/artObjectDetails?artobj=44253> Acesso em: 20 jun. 2014.

Man Ray, 1930. Fonte: disponível em: <http://www.manray-

photo.com/catalog/product_info.php?cPath=32&products_id=717&osCsid=956bfd65692e31e2d1ec3f5b2bfbe70b

> Acesso em: 20 jun. 2014.

Man Ray se encaixa na colagem com as fotografias acima, por adicionar

bolinhas de vidro no rosto feminino da modelo, ou seja, ele interfere naquilo já

existente e o torna outra coisa, dando outro significado à foto. Já na segunda

fotografia faz colagem por aproximar e juntar duas fotografias de bocas

femininas. Man Ray, como artista múltiplo que era, também situa na fotografia

de moda e desenvolve, em seu lado mais criativo, uma linguagem singular,

pois transmite a essência da alma feminina. A moda, como sempre, é um

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39

reflexo de cada época e, depois da Primeira Guerra Mundial, ela mudou

gradativamente adaptando-se aos novos hábitos sociais.

Se tratando de Surrealismo e da representação feminina, Grete Stern foi

uma grande colaboradora para tal feito. Segundo Fernanda Pacheco (2012),

Stern era judia, nascida na Alemanha em 1904,teve que fugir de seu país

durante o nazismo, exilando-se na Argentina. Foi em 1936, em Buenos Aires,

que começou a deixar suas raízes germânicas para assumir sua nova

identidade nacional, o que passou a influenciar demasiadamente sua produção

artística. Mas foi em 1948 que começou o auge de sua carreira. Stern foi

convidada para ilustrar os sonhos das leitoras da revista feminina “Idilio”, na

coluna "El Psicoanálisis le Ayudará”, e, assim, por meio dos sonhos que as

leitoras contavam ela ia representando, por meio da colagem fotográfica, os

significados que contribuía a esses sonhos. Suas obras sempre traziam a

figura feminina como oprimida pela sociedade e injustiçada, deixando-a famosa

por sua irreverência, como se vê nas obras mostradas abaixo (Figuras 32 e

33):

Figura 32- “Amor sin ilusion” Figura 33- Sem título

Grete Stern, 1950. Fotomontagem.

Publicação: Idilio n.64, 7 fev. 1950 26,5 x 20,7 cm

Fonte: Disponível em: <http://www.museusegall.org.br/mlsItem.

asp?sSume=21&sItem=236> Acesso em: 06 julho 2014.

Grete Stern, 1949. Fotomontagem.

Publicação: Idilio n.15, 1 fev. 1949 20,6 x 28,4 cm. Fonte: Disponível

em:<http://www.museusegall.org.br/mlsItem.asp?s

Sume=21&sItem=236> Acesso em: 06 julho 2014.

Nas fotografias das figuras 32 e 33, acima, é de fácil percepção o

surrealismo das imagens. A primeira imagem chama a atenção para um

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40

homem com cabeça de tartaruga, totalmente fora da realidade, mas que

transmite a ideia de alguém velho, parado nos costumes antiquados e

aparentemente agressivos. A segunda imagem chama a atenção para a força

feminina, pois a mulher é retratada carregando uma pedra quase que maior

que ela, simbolizando tudo aquilo que a mulher precisava aguentar na época, e

existe também a contradição com a fragilidade feminina presente na imagem.

O Surrealismo ainda influencia muitos artistas hoje em dia. Ele

permanece em cada obra que dá prioridade à subjetividade ou coloca a

investigação da mente como objeto, sendo consideradas obras com traços

surrealistas.

Ben Giles é um artista contemporâneo que utiliza colagens e fotografia

como forma de expressão. Segundo Laura Pulgarin (2013), ele faz trabalhos

com editoriais de moda entre outros. Tem como característica forte a mistura

da colagem utilizando imagens vintage14, de moda com a natureza e, dessas

imagens criativas, faz uma narrativa harmoniosa em suas obras. Muitas vezes

se percebe flores muito coloridas em seus trabalhos, pois ele recorta várias

delas e as reorganiza na imagem. A natureza é muito presente em suas

fotografias; e as mulheres também. Giles traz muita expressão e um mix de

sentimentos, como na imagem da Figura 34, a seguir, feita para a revista

Kneon #10:

Figura 34- Sem título

Revista KNEON #10, Ben Giles, 2014. Colagem sobre fotografia

Fonte: Site do artista, disponível em: <http://benlewisgiles.4ormat.com/leanne-collab> Acesso em: 22 jun. 2014.

14

Vintage significa algo clássico, antigo e de excelente qualidade. Trata-se de um estilo de vida que recupera os estilos dos anos 1920, 1930, 1940, 1950 e 1960, e aplica em vestuário, calçado, mobiliário e peças decorativas.

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Outro artista que trabalha com referências das vanguardas é Charles

Wilkin. Seu trabalho a meu ver é parecido com o de Giles, porém possuem

estéticas bem diferentes. Wilkin também faz editoriais para revistas de moda e

tem a fotografia e a colagem como técnica expressiva, de acordo com suas

indicações em seu site oficial. Ele usa modelos, portando são fotografias de

rostos e corpos cobertos por colagens.

Segundo Deeksha Mehta (2014), as suas fotografias trazem uma

sensação de decomposição e decadência ao observador, e sua distorção e

reconstrução de traços faciais através de colagem faz referência a obras

modernistas de Picasso.

Atualmente a colagem tornou-se extremamente popular e artistas que a

utilizam, muitas vezes, incorporam referências da cultura pop e imagens de alta

moda para criar composições interessantes, alega Mehta (2014). No caso de

Wilkin, a sua concentração é na alteração de rostos e corpos, obtendo um

resultado ao mesmo tempo perturbador e cativante. Como na imagem da

Figura 35, a seguir:

Figura 35-“Everything I Know”

Charles Wilkin, 2013. Colagem sobre papel

Fonte: Site do artista, disponível em: <http://www.charlesscottwilkin.com/?p=825> Acesso em: 22 jun. 2014.

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Franz Falckenhaus é um artista polonês interessado em fotografias,

colagens e cinema, é detalhista em cada uma de suas obras, segundo sua

indicação em seu site (2014). Ele mistura ilustrações, recortes e fotografias, e

cria pequenas histórias, remetendo sempre ao “vintage”, de acordo com a

revista Zupi (2012). Suas colagens são todas digitais, não se utilizando de

papel e cola para montar seu trabalho, como outros artistas.

A meu ver, a colagem quando usada como interferência no retrato

fotográfico, no caso das imagens abaixo (Figura 36 e 37), traz uma

característica surreal muito forte, pois são imagens de algo que não acontece

na realidade. O interessante destas imagens é o carácter imaginativo que nos

proporciona, e aquilo que representam. A imagem “Bullitt”, abaixo, nos dá a

impressão de que a garota não está ali, mas ao mesmo tempo temos a ideia do

vazio de sua alma. Já “Miss Pipe” nos traz muito movimento, uma mulher meio

máquina, sustentada e preenchida por algo que a completa dentro dos canos.

Figura 36- “Miss Pipe”

Figura 37- “Bullitt”

Franz Falckenhaus, 2011.

Fonte: Site do artista, disponível em: <https://www.flickr.com/photos/63011297@N0

2/8506322389> Acesso em: 23 jun. 2014.

Franz Falckenhaus, 2011. Fonte: Site do artista, disponível em:

<https://www.flickr.com/photos/63011297@N02/9025938148> Acesso em: 23 jun. 2014.

Por fim, há outro artista contemporâneo, fotógrafo de moda e designer

gráfico, com trabalhos muito interessantes, Ernesto Artillo. Ele é um fotógrafo

de moda e editorial que faz o uso da colagem também com referências

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43

surrealistas. Artillo é espanhol e mora em Madrid. Suas colagens possuem uma

característica forte para o artista, que usa a iconografia religiosa e deuses

antigos em suas imagens, alega a SOMA Magazine (2013).

Segundo a revista SOMA (2013), as colagens de Artillo são obras de

arte misteriosas e às vezes intrigantes em suas combinações de anatomia e

natureza, arte e geometria, formando um mundo mágico onde a nostalgia

encontra sensualidade, entregue em uma paleta sempre subjugada. Cada

imagem pode ser lida como uma reflexão pessoal sobre forma e cor,

aparentemente existente apenas para o prazer estético; mas em cima de uma

inspeção mais próxima essas imagens podem se comunicar profundamente

com seu público e se envolver com o olho do espectador.

Artillo declara para a revista SOMA (2013) que suas influências mais

fortes em sua arte vêm das pinturas renascentistas, da arte moderna de

Matisse e Picasso, e do folclore espanhol, mas só retrata suas inspirações

pessoais e sentimentos de amor e ternura.

Algo que pode ser notado nas obras mostradas nas figuras 38 e 39, a

seguir:

Figura 38- Sem título Figura 39- Sem título

Ernesto Artillo

Fonte: Disponível em:<http://romeumag.blogspot.com.br/2014/01/collage-artist-ernesto-artillo.html> Acesso em:

23 jun. 2014.

Ernesto Artillo Fonte: Site do artista, disponível em:

<http://www.ernestoartillo.com/tagged/collaboration> Acesso em: 23 jun. 2014.

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44

Analiso a imagem da Figura 38 como totalmente lúdica, nos fazendo

pensar sobre o destino que o retratado possui, uma vez que seu rosto flutua

para fora de seu corpo e em seu interior há um único caminho. Remete-nos

aos sonhos e aspirações individuais. A imagem da Figura 39 possui um

sentimento mais forte, onde o homem em pedaços lamenta, chora, e existe na

obra uma profundidade, tanto das cores frias como o azul, quanto da forma e

desenho do que nos lembra um mar fluindo de dentro do corpo desse homem.

A referência religiosa se percebe na coroa de flores que o homem usa em sua

cabeça.

Desta forma é possível notar as inúmeras vertentes que o movimento

surrealista trouxe para a história da arte ao longo dos anos. Percebe-se sua

mudança estética e também o avanço de sua técnica, neste caso, da colagem.

1.5.3 Colagem e Pop Art

Branco (2011, p.20) conta que a Pop Art surgiu no Reino Unido e

Estados Unidos no final da década de 1950, possui uma estética marcante e se

espalhou por todo o mundo por consequência de sua popularidade. Apropriou-

se de grandes ícones da TV, da publicidade e dos quadrinhos, e aproveitou o

aumento do consumismo do grande público para vender e popularizar seus

trabalhos de arte.

Muitos artistas criavam suas obras utilizando latas de refrigerante,

embalagens de alimentos, histórias em quadrinhos, bandeiras, panfletos de

propagandas e outros objetos que serviram de base para a criação artística

deste período, uma vez que se utilizavam deste “lixo” criado pela mídia e o

ironizavam em forma de obra. Os artistas também trabalhavam com cores

vivas e modificavam o formato dos objetos que utilizavam. A técnica de

colagem, repetindo várias vezes um mesmo objeto, com cores diferentes, foi

muito utilizada. Os materiais mais usados pelos artistas da Pop Art eram

derivados das novas tecnologias que surgiam.

McCarthy (2002, p.6) ressalta que “a colagem apareceu primeiramente

como anúncio”, pois era a arte do pós-guerra identificada com signos,

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45

consumismo e comunicação em massa. Um dos pôsteres mais importantes foi

o de Richard Hamilton, feito para a exposição “This isTomorrow” (“Este é o

Amanhã”), em 1956, na galeria de arte de Whitechapel de Londres. Este pôster

nos faz pensar o quão interessante é saber que a arte do pós-guerra, que mais

se identifica com consumismo, signos e comunicação em massa, tenha

aparecido na história da arte como um anúncio. Esse pôster (Figura 40) era

composto apenas de recortes das revistas populares, como se vê abaixo:

Figura 40- “O que exatamente torna os lares de hoje tão diferentes, tão atraentes?”

Richard Hamilton-1956.

Colagem. Fonte: MCCARTHY, 2002, p.7.

Segundo David McCarthy (2002, p.8): “Hamilton chamava a atenção

tanto para as correntes da moda quanto para os muitos públicos cujo acesso

mais imediato à cultura visual não se dava através de museus e galerias, mas

sim de revistas populares”. Diz Mccarthy: “Ele tirou imagens preexistentes de

seus contextos originais e as transpôs, sem mudá-las para uma composição

nova”.(MCCARTHY, 2002, p.8).

McCarthy (2002, p.6) interpreta a colagem de Hamilton da seguinte

forma: “um mundo de fantasia consumista, disponível por um bom preço,

prometia uma fuga do enfadonho trabalho na vida do pós-guerra na Grã-

Bretanha”.

A meu ver o objetivo central do movimento era ironizar, criticar as

grandes massas e o capitalismo. As colagens em sua maioria faziam o uso de

imagens manipuladas pela mídia de artistas famosos e marcas importantes de

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produtos. Segundo McCarthy (2002, p.10), a arte pop também era contra a arte

modernista.

Os artistas pop como Allen Jones e Peter Phillips demonstraram um

forte interesse por design chamativo e alusão erótica, cuja representação

misógina do nu feminino seria um objeto de ira feminista nos anos seguintes

(MCCARTHY, 2002, p.13). O que nos faz lembrar da ideologia do corpo

feminino tão explorado pela mídia e utilizada como tema por esses artistas.

Eles fazem críticas à grande massa que dita padrões de beleza impostos pela

mídia e revistas, vendendo a imagem de uma mulher sexualmente

comercializada.

A Pop Art deu a muitos artistas “[...] um vocabulário que podia ser

dirigido para vários fins, seja celebrando a cultura comercial, seja protestando

contra a agressão norte americano na Guerra Fria.” (MCCARTHY, p.13).De

acordo com McCarthy(2002, p.14),estavam vinculados a momentos de

mudança política e otimismo na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos, quando

adotaram uma resposta positiva à tecnologia dos anos 1960. O avanço

tecnológico trouxe muitos benefícios e novas possibilidades de expressão para

a arte pop.

Com isso a arte pop mostra-se um dos movimentos centrais na arte

inglesa e norte americano, reconfigurando o entendimento da cultura do século

XX. Ela evitou a rigidez e as censuras de algumas manifestações do

modernismo em favor de uma arte que era visual e verbal, figurativa e abstrata,

criada e apropriada, artesanal e produzida em massa, irônica e sincera

(MCCARTHY, 2002, p.14). Eram tão complexos e dinâmicos quanto o

momento e os artistas que lhe deram vida, alega McCarthy.

2.5. Fotomontagem e Fotografia Digital

Pode-se definir a fotomontagem como “uma maneira de composição de

imagens que se utiliza da combinação de fragmentos visuais provenientes de

origens diversas, com características variadas, aplicados em um mesmo

suporte, criando um conjunto único.” (BERNARDO, 2012, p.54)

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De acordo com André Rouillé (2009, p.326), foram os dadaístas alemães

Georg Grosz, John Heartfield, Raoul Hausmann e HannaHoch- quem, no final

dos anos 1910, primeiro recorreram à fotomontagem, em uma reação à pintura,

da qual denunciavam a abstração crescente, o vazio conceitual, a ruptura com

a realidade. Juliana Bernardo ainda afirma:

Estes artistas utilizavam o termo "fotomontagem" para designar trabalhos constituídos total ou parcialmente por fotos reunidas de maneira semelhante aos elementos de uma colagem. A combinação dos fragmentos fotográficos passa a ser o elemento básico na estruturação da imagem. O termo ‘montagem’ remeteria, para eles, a um trabalho mecânico ou artesanal, numa crítica à arte tradicional. (BERNARDO, 2012, p.58)

A fotomontagem para Raoul Hausmann “é considerada como uma forma

importante do realismo moderno e atribui o papel construtivo de conciliar uma

composição livre e estrita de imitação” (ROUILLÉ, 2009, p.327), que são duas

características heterogêneas da arte moderna. Já Laszlo Moholy-Nagy15 alega

que “enquanto o fotógrafo registra as aparências das coisas, o artista

fotomontador constrói uma nova unidade fotográfica com a ajuda de fotos

dadas ou escolhidas” (ROUILLÉ, 2009, p.328), portando se diferenciam

fotografia e fotomontagem.

Segundo Santaella (1994), as imagens são divididas em três categorias:

pré-fotográficas, fotográficas e pós-fotográficas, sendo que as imagens

técnicas englobariam as duas últimas. As imagens produzidas com o auxílio do

computador são colocadas entre as imagens pós-fotográficas. As colagens nas

imagens técnicas que derivam da fotografia são: fotomontagem, cinema e

colagem digital.

Atualmente existe a possibilidade de se fazer colagens e fotomontagens

com a ajuda da tecnologia de softwares em computadores, o que hoje em dia

nos confunde o olhar por serem bastante parecidas. A primeira câmera digital

da história foi desenvolvida em 1975 por Steve Sasson, engenheiro elétrico da

Kodak; a imagem era em preto e branco e demorava cerca de 23 minutos para

15

Tate Gallery. LaszloMoholy-Nagy foi um artista húngaro, designer, pintor, tipógrafo, fotógrafo, cineastra e teologista. Muito influente nos movimentos vanguardistas como o dadaísmo e o construtivismo.

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48

ser armazenada numa fita cassete (SOUZA; CARDOZA, 2009). Logo mais, em

1990, lançaram uma câmera digital comerciável, porém o custo era

elevadíssimo e foi um fracasso de vendas. Como hoje vemos o avanço que a

fotografia alcançou, percebe-se que mais tarde ela ganhou seu reconhecimento

por ser prática e de fácil armazenamento, deixando a fotografia analógica em

segundo plano.

Ao ler o artigo “Sensores de Imagem Digitais CCD E CMOS”, de Jhonata

Serra de Souza e Jorge Alexander Sosa Cardoza, observei que o

funcionamento da fotografia digital se dá a partir da sensibilização de um

sensor eletrônico (CCD ou CMOS), que converte a luz captada em código

eletrônico digital e armazena este código em um cartão de memória. As

imagens armazenadas no cartão podem ser vistas imediatamente através do

visor da câmera, geralmente de LCD, ou num computador, através da

transferência de dados do cartão para este ou, até mesmo, impressas

diretamente, pois há no mercado impressoras que imprimem imagens de

cartão de memória dispensando a intermediação do computador.

Uma vez no computador as imagens podem ser manipuladas. As

fotomontagens analógicas e digitais são muito similares, o que as diferencia

são os meios e os processos pelos quais são feitas. Como podemos ver nas

imagens a seguir:

Figura 41- Sem título Figura 42- “Deux”

Jerry Uelsmann, 1991.

Fotomontagem analógica. Fonte: Site do artista, disponível em: http://www.uelsmann.net/works.php

Acesso em: 25 jun. 2014.

Jon Duenas, 2014. Fotomontagem digital.

Fonte: Site do artista, disponível em: http://www.jonduenas.com/double-

exposures#10

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Acesso em: 25 jun. 2014.

A imagem da Figura 41 é de Jerry Uelsmann, fotógrafo americano e

conhecido como o “mestre das montagens”, por ter um trabalho rico em

detalhes e de inacreditável composição surrealista. A técnica de Uelsmann era

a de juntar diversos negativos em uma só imagem e usar vários ampliadores já

preparados, passando o papel de um ao outro, de acordo com seu plano, até

completar a montagem. Já a imagem fotomontada na Figura 42 é digital,

portanto utiliza-se do programa Photoshop para conseguir fazer rapidamente

essas montagens. A fotomontagem de Duenas pode ser facilmente confundida

com a analógica, por existir a possibilidade de sobrepor as fotos, esse efeito é

criado quando se tira uma foto e, logo depois, mais uma, sem rodar o filme da

câmera, sem necessitar de edição pós-fotográfica.

Com a ajuda da tecnologia da fotografia digital, Nacho Ormaechea faz

colagens digitais muito interessantes. Ele é um artista parisiense, diretor de

arte espanhol radicado na França e designer gráfico. Suas colagens digitais

quase sempre nos levam para outra dimensão, como um portal para dentro da

cabeça das pessoas, vemos aquilo que parecem ser e o que pensam. Ele

utiliza-se de silhuetas de pessoas desconhecidas, que fotografa nas ruas de

Paris, e as preenche quase que totalmente com aquilo que, ele imagina que

devem estar pensando no momento. Como nas fotografias a seguir, da série

“Le Carnet Noir”:

Figura 43- Sem título 38 da série “Le Carnet Noir”

Figura 44- Sem título 19 da série “Le Carnet Noir”

NachoOrmaechea, 2012.

Colagem digital NachoOrmaechea, 2012.

Colagem digital

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Fonte: Site do artista, disponível em:<http://www.ormaechea.eu/LCN>

Acesso em: 25 jun. 2014.

Fonte: Revista Beautiful/Decay, disponível em:<http://beautifuldecay.com/2012/01/19/nacho-

ormaecheas-internal-portals/> Acesso em: 25 jun. 2014.

A primeira imagem (Figura 43) nos traz a ideia de que a mulher está

sendo transportada para a dimensão do livro em que lê, uma paz e ternura é

sentida quando a imagem de um pôr-do-sol é colocada como preenchimento

de sua silhueta. Na segunda imagem (Figura 44) percebe-se que o jovem

retratado está pensando em “safadezas”, por lermos as palavras naughty

(safado) e party (festa) no letreiro colocado dentro de sua silhueta. Algo

interessante que Nacho nos traz também com essa série de colagens digitais é

o contraste entre o local onde as pessoas se encontram e aquilo que

supostamente elas pensam.

Outro artista recorrente das colagens digitais é Sinead Leonard, designer

de moda e ilustrador nova iorquino. Seus trabalhos têm referência nas

primeiras colagens feitas, pois nos dá a impressão de que foram feitas a mão,

embora sejam recortadas e coladas digitalmente. Por ser designer de moda,

suas imagens trazem a figura feminina quase sempre presente (Figuras 45 a

47). Nas colagens abaixo, Leonard fala das mulheres guerreiras, da cabeça

feminina e de sua alma:

Figura 45- “A Fight or Flight to a Future Freshness”

Figura 46- “Mind Mapping” Figura 47- “Vitality”

Sinead Leonard, 2012.

Colagem digital. Fonte: Disponível em:

<http://begseekandlausa.blogspot.com.br/2012/04/fight-or-

flight-to-future-freshness.html?view=flipcard

Sinead Leonard, 2012. Colagem digital.

Fonte: Disponível em: <http://begseekandlausa.blog

spot.com.br/2012/05/mind-mapping.html?view=flipcard>

Acesso em: 25 jun. 2014.

Sinead Leonard, 2012. Colagem digital.

Fonte: Disponível em: <http://begseekandlausa.blog

spot.com.br/2012/05/blog-post.html?view=flipcard>Aces

so em: 25 jun. 2014.

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51

> Acesso em: 25 jun. 2014.

Leonard possui um trabalho muito vivo e bonito, assim como diz ser a

alma feminina. Ele representa as mulheres como sendo fortes e ainda tentando

mostrar-se socialmente. Na primeira imagem (Figura 45) ele envolve a mulher

naquilo que chama de zona de conforto, uma proteção rígida em meio à

fragilidade feminina, proteção essa perceptível através das texturas de conchas

e outros elementos marinhos. Na segunda imagem (Figura 46) ele retrata a

mente feminina, mostrando as inúmeras coisas que elas pensam e as

possibilidades de destinos diferentes. Retrata a dificuldade do pensar com a

palavra e a ação, retrata também aquilo que se pensa, mas não se diz. Na

terceira imagem (Figura 47) Leonard nos mostra uma mulher aparentemente

retraída e talvez insegura; por dentro veem-se suas cores, sua vitalidade na

vida. Ele potencializa e incentiva a mulher a olhar para si mesma e a descobrir

as suas cores e beleza interior.

Desta forma percebe-se o benefício que a tecnologia nos traz no ramo

fotográfico das fotomontagens e colagens digitais. Os artistas de hoje têm

inúmeras possibilidades de expressão com a fotografia, seja ela analógica ou

digital. Mesmo utilizando técnicas antigas, é completamente possível criar uma

obra contemporânea. E também é totalmente possível fazer-se o inverso, criar

obras através das tecnologias de hoje com características de antigamente.Com

isso a fotografia está cada vez mais ligada à arte, e cada vez mais ela se

reinventa na história do mundo.

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2. A OBRA SÓ MENTE CORPO

Este capítulo está destinado a tratar da produção prática deste trabalho

de conclusão do curso de Artes Visuais. Começa com a descrição sobre a

escolha do tema e se desenvolve até a finalização das obras fotográficas

propostas.

2.1 A escolha do tema

Como foi dito na Introdução do presente trabalho, a inspiração do tema

ocorreu ao conhecer as ilustrações da artista francesa Paula Bonet, que retrata

o sentimento feminino de uma forma muito peculiar em seus desenhos e

grafites. A série fotográfica apresentada como finalização deste estudo foi

idealizada há um ano, quando, a partir de experiências com edição de imagens

digitais, veio à mente a ideia de retratar o íntimo das pessoas.

O retrato esteve sempre muito presente em minha forma de expressão,

tanto no desenho, quanto na pintura, portanto levei isso para a fotografia

também, além de me interessar muito pela junção da arte com a tecnologia.

Sempre muito curiosa sobre o comportamento das pessoas e de suas

personalidades, busquei por uma poética que me permitia mostrar o indivíduo e

não meramente sua aparência.

A escolha do retrato feminino se deu pela vontade de trazer um trabalho

sensível ao observador, e por ver as mulheres como dotadas de beleza e de

uma sensibilidade que eu poderia explorar. Com isso as coisas acabaram

“casando”. Porém, faltava ainda o íntimo: como mostrar as pessoas no seu

íntimo. Em resposta a isso ocorreu a ideia do nu fotográfico como uma forma

de acesso. Mas a ideia não era trabalhar apenas o nu artístico tradicional, que

corre o risco de chamar muito a atenção para o corpo e não para o íntimo que

eu buscava. Havia, portanto, ainda, a necessidade de encontrar um modo de

mostrar aspectos desse íntimo que não são visíveis na aparência, mesmo no

nu. A colagem e a fotomontagem apareceram como recursos que

possibilitavam trabalhar isso.

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O corpo feminino nu expressando, com as interferências da colagem e

de fotomontagem, o sentimento individual de cada mulher, foi o grande desafio

do trabalho artístico. Para exercitar a capacidade de distinguir os sentimentos

por meio da manipulação das fotografias, decidi fotografar duas mulheres, o

que exigiria desenvolver modos de tornar singulares não apenas os seus

retratos, mas também a manipulação deles, de modo que as obras resultantes

dos retratos de cada uma das modelos se apresentassem com características

individuais próprias delas e distintas uma da outra.

2.2 Desenvolvimentos práticos

Antes de obter o resultado definitivo das obras, fiz vários testes de

imagens. Como as fotografias seriam impressas em grande formato, tive que

optar por uma qualidade bem alta dessas imagens, por isso fotografei tudo em

RAW16. Esse tipo de formato de foto equivale ao negativo das câmeras

analógicas, mas não pode ser revelado da mesma forma por se tratar de um

arquivo digital. No processo de edição é possível alterar qualquer erro de luz

que possa ocorrer na imagem sem perder a qualidade e naturalidade da foto.

Usei o formato RAW para manter todas as informações que foram capturadas

no momento da foto pela câmera e, assim, tive mais controle na hora da edição

no computador. Neste caso fiz as edições com os softwares Adobe Photoshop

CS6 e Adobe Photoshop Lightroom 5.6.

Comecei fazendo um ensaio sem ajuda de equipamentos externos,

apenas com a luz ambiente e a câmera digital. Eu ainda não tinha um bom

conceito formado, nem noção de muitos dos problemas que enfrentaria para

realizar as fotografias. Assim, esse ensaio serviu como um ótimo teste inicial.

Abaixo algumas fotos resultantes dele:

16

Definição deRaw segundo o Dicionário Online Michaelis: RAW ,1material ou produto em bruto. 2 em estado natural, não trabalhado.

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Figura 48- Teste 01

Figura 50- Teste 03

Figura 49-Teste 02

Figura 51- Teste 04

Foi graças a esse ensaio que descobri o que realmente queria trazer

como proposta para meu trabalho final. Descobri que precisava de um local

maior, pois fotografei na casa da modelo e não sabia que o espaço era

pequeno. Usei a lente 50mm, que necessita respeitar uma distância específica

entre a câmera e o fotografado para dar foco, e sendo o espaço pequeno,

fiquei limitada demais para fazer boas angulações. Além disso, queria controlar

mais a luz do ambiente, o que era complicado fora de um estúdio.

As manipulações digitais feitas nas Figuras 48 e 51 foram sobreposições

da mesma imagem em tamanhos diferentes, porém nas Figuras 49 e 50 foram

inseridas outras fotografias, feitas por mim anteriormente a esse ensaio. Essas

manipulações também foram experimentações que ajudaram a compreender

os efeitos obtidos.

2.3 Conceito

As fotografias mostradas no próximo tópico ilustram o conceito deste

trabalho de forma que retratam o sentimento feminino. Para chegar a este

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55

conceito precisei observar ainda mais as pessoas à minha volta, principalmente

as mulheres. Considerando aquilo que disse na Introdução deste trabalho, as

mulheres são dotadas de beleza e sensibilidade, porém vistas muitas vezes de

forma pejorativa. A mulher desde muito tempo foi tratada como ser inferior e

fraco, que servia apenas à família e marido, mas nos tempos atuais essa

situação já mudou drasticamente. As mulheres têm direito à sua liberdade e

podem mais do que em outras épocas, realizar seus desejos e ser elas

mesmas.

Mesmo com essa “liberdade”, ainda há resquícios machistas e

tradicionais na sociedade em que vivemos, o que pode ser lido na mídia e,

principalmente, nas fotografias, como as publicitárias de moda, beleza e saúde.

Fotos essas que muitas vezes vendem uma ilusão, uma falsa verdade sobre

aquilo que as mulheres podem se tornar. E com a tecnologia e o avanço de

softwares de edição de imagem ficou ainda mais fácil moldar essas mulheres e

criar novos padrões de beleza. São fotografias que retratam mulheres com a

pele perfeita, cabelo, sorriso, corpo em forma, enfim, atributos de um ser

perfeito, que sabemos não existir.

A ideia era retratar mulheres comuns, com corpos comuns e únicos,

mulheres com alma e sentimentos, mulheres de verdade. Queria fugir também

de algo feminista e que batesse de frente com os ideais publicitários, pois a

proposta não foi criticar e banalizar essas fotografias, mas sim mostrar outros

tipos de mulheres. Desta forma retratei duas mulheres diferentes, interpretando

alguns sentimentos comuns. Algo como a feminilidade, a leveza, o belo e o

drama, o pesado e a tristeza.

Como a ideia era mostrar aquilo que sentimos, as roupas e qualquer

outro objeto comum não teriam o porquê estar na composição, pois era o

indivíduo, seu sentimento e expressão corporal que importavam. Já que,

também, o que mais se explora na fotografia é o corpo feminino, é muito

comum ver mulheres seminuas em propagandas e anúncios, onde a imagem

delas é sexualmente comercializada. Por isso quis usar o nu de forma não

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56

erotizada, a fim de mostrar a sensualidade feminina de outras formas, como

algo natural.

2.4 Processos de produção.

Como a ideia era ter mais controle da luz, dos elementos presentes nas

imagens e, também, trazer conforto às pessoas fotografadas durante a sessão,

optei por fotografar em estúdio. O primeiro local usado foi o estúdio da

Universidade Anhanguera Uniderp, onde fotografei a primeira modelo. Eu

nunca tinha fotografado em estúdio antes, porém fiquei muito satisfeita com o

resultado de ambos os ensaios. O segundo local foi alugado, utilizei o estúdio

de um fotógrafo. Os locais, apesar de serem estúdios parecidos, possuíam

equipamentos e iluminação diferenciada, mas nada que afetasse drasticamente

as fotografias. Como vemos a seguir:

Figura 52- Estúdio Semelhante ao da Uniderp Figura 53- Estúdio do fotógrafo

Usei dois pontos de luz e o fundo branco refletido em ambos os

estúdios, pois eu queria que os corpos das modelos ficassem bem nítidos para

que depois, na pós-produção, eu conseguisse recortar as imagens com

eficiência. Porém o segundo ensaio teve uma luz menos dura e mais

dramática, mas não interferiu em nada na pós-produção. Tirei

aproximadamente 350 fotos de cada modelo em cada ensaio para que depois

pudesse escolher as melhores fotos pra utilizar na edição e composição das

fotografias.

Desta forma utilizei o Adobe Photoshop Lightroom 5.6 para a correção

de luz, contraste, brilho, saturação e para realizar alguns outros pequenos

efeitos adicionais que deixaram minhas fotografias em preto e branco. Como o

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57

programa é compatível com o Adobe Photoshop CS6, eu apenas transferi as

fotografias para poder trabalhar as montagens e colagens nesse software,

coisa que o Lightroom não faz.

Podemos entender as edições feitas detalhadamente no processo

abaixo:

Figura 54- Edição de luz e saturação no Lightroom (Antes e Depois)

Na Figura 54, acima, mostro o Antes e Depois de um processo de uma

das obras finais deste trabalho. A foto da esquerda mostra o antes, que era

colorido e que depois, à direita, tornou-se preto e branco, porém ainda

continuou com algumas partes originais da fotografia. Para fazer esse efeito eu

utilizei a ferramenta responsável pela saturação das fotografias, chamada

Saturação, e dentro dela diminuí as cores de pele, cabelo e fundo, deixando

apenas as cores da coroa de flores aparente (Figura 55).

Figura 55- Exemplo do uso da ferramenta Saturação no Lightroom

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Depois desse processo eu importei a imagem (Figura 56) em preto e

branco para o software Adobe Photoshop CS6, pois para manipulação

fotográfica ele é o ideal. Apenas clicando com o botão direito do mouse sobre a

foto e encontrando as opções “Edit In” e logo depois “Edit in Adobe Photoshop

CS6”, a fotografia aparece no software Photoshop CS6.

Figura 56- Importando para o Photoshop Figura 57- Duplicando Layer

Já aberta a imagem, resolvi balanceá-la espelhando-a. Então selecionei

a fotografia desejada e fiz uma cópia da imagem duplicando o Layer (Figura

57); logo depois usei a ferramenta “FreeTransform” (Figura 58) para espelhar a

fotografia virando-a na horizontal, ao contrário da foto original (Figura 59). Essa

ferramenta também é usada para ajeitar o tamanho da imagem e rotação da

mesma.

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59

Figura 58- Processo efeito espelhado Figura 59- Efeito espelhado

Apaguei algumas partes da fotografia (Figura 59), pois havia diminuído a

opacidade da mesma para que os fundos não se sobrepusessem. Desta forma

resolvi adicionar o elemento final que traria mais característica, dando mais

sentido à composição. Este elemento foi a imagem de uma rosa de tecido

(Figura 61), tirada por mim de um arranjo, em alta resolução, para que não

perdesse qualidade na hora da impressão da obra. Apenas abri a foto em um

novo arquivo do Photoshop CS6 e, com os dois arquivos abertos (A foto

espelhada e a flor), arrastei com o mouse a flor para o arquivo da foto

espelhada, onde usando a ferramenta “FreeTransform” ajeitei o tamanho e a

rotação que queria. Por fim dupliquei mais duas vezes a layer da flor, e

organizei agora as três layers de flores, para compor a nova fotografia, obtendo

o resultado final (figura 60).

Figura 60- Edição concluída Figura 61-Fotografia de flor em alta

resolução

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60

Salvei a imagem em alta resolução, pois foi impressa no tamanho 50 cm

por 60cm e depois emoldurada.

O segundo ensaio fotográfico também passou por edições parecidas

com as da fotografia acima, conforme é detalhado a seguir:

Figura 62- Aplicando Preset Preto e Branco

Figura 63- Antes e Depois do efeito preto e

branco

Primeiramente usei o software Adobe Photoshop Lightroom 5.6 para as

edições básicas como cor, contraste e exposição, entre outros. Assim,

escolhida imagem eu apliquei o que no Ligthroom é chamado de Preset, que

são os efeitos prontos para as fotografias; neste caso apliquei o B&W Contrast

High dos efeitos de Preto e Branco (Figura 62). Depois escureci um pouco o

preto, como pode ser visto na Figura 63, onde é mostrado o Antes e Depois da

imagem. Feito isso, abri a fotografia importando-a, da mesma forma mostrada

nas edições do primeiro ensaio, e assim comecei as manipulações no

Photoshop CS6.

Além desta primeira imagem, importei também uma segunda que já

havia aplicado o preset preto e branco (Figura 64) para poder mesclar as duas

fotografias no Adobe Photoshop CS6. Apliquei um efeito chamado “Hard Light”

na primeira (Figura 65) e depois na segunda foto (Figura 66), a fim de

aumentar o contraste entre o preto e o branco, além de iluminar as fotografias

para que na hora de diminuir a opacidade de ambas a foto não ficasse com

muito fundo para ser removido. Sendo assim fiz um efeito chamado de

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61

Transparência, no qual com pouca opacidade duas fotos se mesclam só por

serem colocadas uma sobre a outra.

Figura 64-Preset P&B Figura 65-Aplicando efeito Hard Light

Depois de mesclar as fotografias resolvi recortar a silhueta da modelo

para que quando fosse adicionar as flores de tecido vermelho elas não

fugissem para o fundo da imagem, sendo assim criei uma máscara (Figura 67).

Usei a ferramenta de seleção rápida “Quick Selection Tool” para delimitar a

área onde eu queria que as flores ficassem e, então, deletei.

O próximo passo foi adicionar as flores e agrupá-las de forma que

ficassem harmônicas na composição (Figura 68). Logo depois adicionei o efeito

“Screen” (Figura 68) em todas as layers duplicadas. E por fim juntei todas as

layers e edições, obtendo o resultado que esperava para a finalização do

trabalho (Figura 69).

Figura 66- Efeito “Hard Light” Figura 67- Aplicando máscara

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62

Figura 68- Aplicando efeito “Screen” Figura 69- Edição final

2.5 Análises das obras

Como etapa final deste trabalho, apresento as obras finalmente

definidas. Depois de muito tempo de pesquisa, análise de referências e testes,

finalizei os conceitos e técnicas. As obras a seguir apresentam características

sentimentais e conceituais sobre a minha visão de feminilidade e sua relação

com sentimentos. Essa subjetividade é importante no meu trabalho, mesmo

ciente de que as minhas interpretações não serão exatamente iguais às dos

observadores.

Figura 70- Dupla Mente

A obra “Dupla Mente” (Figura 70) remete a uma ideia de duplicidade de

pensamentos, como quando alguém pensa demais ou reage de formas muito

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63

diferentes umas das outras, podemos dizer que esta pessoa é dupla. Podemos

dizer que existem dois seres dentro de um só. A expressão da modelo é fixa,

não sorri e seu olhar está parado em direção ao vago, porém, mesmo assim a

imagem é carregada de serenidade e feminilidade. Ao usar a flor rosa como

elemento símbolo feminino procurei trazer à tona a natureza e linkar o simples

e natural com a beleza da flora, dizer que a mulher como ela é não foge do

natural. E nesta imagem a mulher está no meio das flores, de forma

harmoniosa, como se pertencesse ao meio.

Figura 71- Anseio

Na obra “Anseio” (Figura 71) eu ainda continuo a mesclar o feminino

com a natureza, com a beleza daquilo que existiu desta forma. A imagem

acima traz o significado de que a natureza existe dentro de cada mulher, elas

possuem suas próprias flores em seu interior. A beleza da imagem aflora

quando interpreta-se que é o retrato da mulher olhando para dentro de si

mesma e aceitando seu jeito natural de ser.

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64

Figura 72- Flor menina

“Flor menina”, (Figura 72) se vista de longe parece ser as pétalas das

rosas e o órgão reprodutor da flor, transformando-se em uma planta. Aqui

venho falar da pureza feminina, daquilo que tem a ver com o sexo e seus

vários sentidos. Neste caso têm-se a impressão de uma virgem, uma deusa

movendo-se por entre as flores, mas ao mesmo tempo a vemos leve e com

movimentos gentis. Apenas confortavelmente em seu estado de espírito.

Figura 73- Doa o que doação

A obra mostrada na Figura 73 é muito mais rica em expressões e

sentimentos do que as anteriores. Nela vemos o sofrimento, porém a doação

Page 65: Tcc 2014 beatriz demirdjian

65

consciente e serena. O título refere-se à expressão: “Doa a quem doer”; porém,

aqui ressalto que, mesmo que estejamos machucados, nós não deixamos de

doar e de amar. As transparências de flores foram idealizadas para que as

ligássemos à ideia de tristeza, porém não se comportava como algo ruim, mas

sim.

Figura 74- Petrificada

A obra “Petrificada” (Figura 74) traz consigo a ideia de desilusão. Traz

características da natureza ainda com a sobreposição de pedras e de galhos

secos, ambos retratando a frieza e a falta de carinho. Nesta obra a modelo se

comporta como se tivesse sido despejada, tratada mal e, assim sofrendo, o seu

coração foi se enrijecendo como uma pedra, dura e imóvel que é.

Figura 75- Desejo em pedaços

Page 66: Tcc 2014 beatriz demirdjian

66

Esta última obra fotográfica (Figura 75) retrata a frustração, o

desequilíbrio e a dor de desejar e não obter aquilo que se almeja. “Desejo em

pedaços” é dotada de expressão e drama, onde o sofrimento permanece em

grande parte das interpretações. Por mais que as fotografias tenham caráter

dramático, elas não são tristes e nem arranham aos nossos olhos. É como se

casassem harmonicamente dentro da composição.

Foi remetendo sempre ao belo e à natureza que construí o meu conceito

sobre esses sentimentos femininos. E a partir disso quis mostrá-los para que

todos pudessem, ao ver, entende-los dentro de si mesmos. A natureza é

naturalmente bela, as mulheres também. O fato de sentirem com o coração é o

que nos diferencia. E assim, só nos resta viver plenamente.

Page 67: Tcc 2014 beatriz demirdjian

67

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com este trabalho percebi, durante todo o ano em que pesquisei

conceitos, obras e artistas, que a fotografia está presente na história há muitos

anos e que ela não deverá se extinguir da história da arte muito cedo.

Provavelmente nunca irá se extinguir verdadeiramente, apenas adotar novas

roupagens, pois temos tantos recursos para criar novas coisas que eu não me

surpreenderia com tais mudanças possíveis.

Aprendi também a entender melhor o meu olhar perante o mundo e as

pessoas. Aprendi que tenho que trabalhar duro naquilo que acredito e que, se

acredito, eu consigo materializar. Aprendi a me arriscar com novas tecnologias

e softwares para que eu pudesse ampliar meu conhecimento da técnica

fotográfica, mas não somente isso, ampliar a minha capacidade de criar coisas

surpreendentes para a minha pessoa.

Compreendi e experimentei a fotografia do nu fotográfico como uma

quebra total de barreiras sociais. Algo que nunca achei que faria, portanto,

esse ano foi repleto de novidades, tanto boas quanto ruins, mas novidades que

me fizeram várias vezes levantar da cadeira, ou ao contrário, para por as ideias

em prática. Aprendi com isso que se quiser ser profissional você precisa

dedicar seu tempo integralmente àquilo que procura, pois esse ano também

soube valorizar algumas prioridades.

Como lição final deste presente trabalho, digo que aprendi a ter foco

naquilo que preciso e que me vi desistir ou adiar as tarefas importantes por

incertezas várias vezes. Percebi que com força de vontade os prazos não nos

perturbam. Confesso que tive muita dificuldade em encontrar o tema e a minha

linguagem nas artes visuais, porém a natureza se encarregou de me mostrar o

caminho certo. Muitos artistas passam por momentos de dúvidas, como

qualquer um de nós, pois é de fato complicado passar aquilo que se pensa

para aquilo que se vê e sente de forma igualmente sincera.

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Sendo assim, me sinto realizada por concluir mais uma etapa de minha

vida e quando olho para o futuro me sinto em casa. Ficam aqui o meu

aprendizado e agradecimento, com um grande sentimento de dever cumprido.

Page 69: Tcc 2014 beatriz demirdjian

69

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Page 72: Tcc 2014 beatriz demirdjian

72

APÊNDICE A - Portfolio

SÓ MENTE CORPO: Retratos da

sensibilidade feminina

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73

Beatriz Sampaio – Dupla Mente. Fotografia e fotomontagem digital.

Dimensões: 50 x 60 cm.

Page 74: Tcc 2014 beatriz demirdjian

74

Beatriz Sampaio – Anseio. Fotografia e fotomontagem digital.

Dimensões: 50 x 60 cm.

Page 75: Tcc 2014 beatriz demirdjian

75

Beatriz Sampaio – Flor menina. Fotografia e fotomontagem digital.

Dimensões: 60 x 70 cm.

Page 76: Tcc 2014 beatriz demirdjian

76

Beatriz Sampaio – Petrificada. Fotografia e fotomontagem digital. Dimensões:

50 x 60 cm.

Page 77: Tcc 2014 beatriz demirdjian

77

Beatriz Sampaio – Doa o que doação. Fotografia e fotomontagem digital.

Dimensões: 50 x 60 cm.

Page 78: Tcc 2014 beatriz demirdjian

78

Beatriz Sampaio – Desejo em pedaços. Fotografia e fotomontagem digital.

Dimensões: 50 x 60 cm.

Page 79: Tcc 2014 beatriz demirdjian

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CURRÍCULO

Beatriz Demirdjian Sampaio Jorge

Rua Ataulfo Alves, 244. Bairro Jardim Tv Morena.

[email protected]

Exposições:

Código Híbrido - Corredores da Unidade VIII UFMS

04/12

Assemblage - Corredores da Unidade VIII UFMS

10/12

Produção Seriada – Corredores da Unidade VIII UFMS

01/13

Experimentos Arte Cinética - Corredores da Unidade VIII UFMS

01/13

Coletivo Aurora – SESC Horto Florestal

08/13

Mostra de Arte e Tecnologia 5.0 (FAT 5.0) – Museu da Imagem e do Som de MS (MIS)

09/13

Mandalas - Corredores da Unidade VIII UFMS

10/13

Coletivo Tinta e Afins – Morada dos Baís

10/13

Coletivo Planos – SESC Horto Florestal

11/14

Coletivo Intro – Memorial da Cultura Apolônio de Carvalho 11/14

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