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A Ode à Obscuridade Por Osler Desouzart [email protected] Em 2005, um famoso relatório de uma consultoria publicou uma comparação entre as diferentes marcas de automóveis fabricados nos Estados Unidos. Ali, registravam-se indicativos que seriam suficientes para despertar os grandes fabricantes americanos em relação à maior eficiência dos fabricantes japoneses instalados na América do Norte. Algumas das comparações indicavam que certo fabricante americano tinha suas vendas de veículos lucros decrescendo 4,3% contra o aumento de 10,1% do fabricante japonês. O primeiro, que chamaremos de Joe detinha 26% do mercado contra 13% do segundo que chamaremos de Tato e produzia 3 vezes mais que este, o que à luz de custos marginais decrescentes parecia ser uma garantia de êxito. Entretanto, Joe perdia dinheiro, usava 85% da sua capacidade instalada, levava 34,3 horas para fabricar um carro com um ganho de produtividade de 2,5% em relação ao ano anterior. Enquanto isso, Tato usava 107% da sua capacidade graças a horas extras, fabricava um carro em 27,9 horas com um ganho de produtividade de 5,5% no mesmo período. O salário por hora de um operário de linha da Joe era 16% maior e seu custo de mão de obra horário era 53% maior que o de Tato. Os néscios simplistas gritarão que Tato explora o trabalhador, mas, sem querer provocar AVC em ninguém, a maior e crescente produtividade de Tato contradiria esse raciocínio de quem estacionou suas idéias no século passado. Qual foi então a providência que Joe tomou? A lógica seria contratar o mestre Falconi e outros gênios que estão aí para trazer as empresas para o amanhã. Mas como solução, adotaram a de não mais dar dados à consultoria. O resultado dessa ode à obscuridade ou cultura da ignorância pode ser facilmente avaliado pela crise de 2009, onde vemos quem precisou ou não do governo para evitar fechar as portas.

A ode à obscuridade

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Crítica à falta de divulgação de dados e àqueles que defendem que o segredo é a alma do negócio. A alma do negócio reside em informação e busca de melhorias constantes.

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Page 1: A ode à obscuridade

A Ode à Obscuridade

Por Osler Desouzart

[email protected]

Em 2005, um famoso relatório de uma consultoria publicou uma comparação entre as diferentes marcas de automóveis fabricados nos Estados Unidos. Ali, registravam-se indicativos que seriam suficientes para despertar os grandes fabricantes americanos em relação à maior eficiência dos fabricantes japoneses instalados na América do Norte.

Algumas das comparações indicavam que certo fabricante americano tinha suas vendas de veículos lucros decrescendo 4,3% contra o aumento de 10,1% do fabricante japonês. O primeiro, que chamaremos de Joe detinha 26% do mercado contra 13% do segundo que chamaremos de Tato e produzia 3 vezes mais que este, o que à luz de custos marginais decrescentes parecia ser uma garantia de êxito. Entretanto, Joe perdia dinheiro, usava 85% da sua capacidade instalada, levava 34,3 horas para fabricar um carro com um ganho de produtividade de 2,5% em relação ao ano anterior.

Enquanto isso, Tato usava 107% da sua capacidade graças a horas extras, fabricava um carro em 27,9 horas com um ganho de produtividade de 5,5% no mesmo período. O salário por hora de um operário de linha da Joe era 16% maior e seu custo de mão de obra horário era 53% maior que o de Tato. Os néscios simplistas gritarão que Tato explora o trabalhador, mas, sem querer provocar AVC em ninguém, a maior e crescente produtividade de Tato contradiria esse raciocínio de quem estacionou suas idéias no século passado.

Qual foi então a providência que Joe tomou? A lógica seria contratar o mestre Falconi e outros gênios que estão aí para trazer as empresas para o amanhã. Mas como solução, adotaram a de não mais dar dados à consultoria. O resultado dessa ode à obscuridade ou cultura da ignorância pode ser facilmente avaliado pela crise de 2009, onde vemos quem precisou ou não do governo para evitar fechar as portas.

A essa mentalidade retrógrada Peter Drucker contrapõe sua assertiva de que vivemos “a era da competição baseada no conhecimento”. Progredirá quem mais conhecer e Arie de Geus completa com “a fonte básica de toda vantagem competitiva reside na capacidade relativa de cada corporação em aprender mais rápidamente que seus competidores”

Numa era em que a informação é a alma do negócio regredimos na avicultura a um culto ao primitivo, resgatando das cinzas o obscurantismo de “o segredo é a alma do negócio”. Sua primeira manifestação surgiu no relatório anual da UBA de 2008 que interrompeu a publicação da lista das empresas por cabeças abatidas.

A retroação não é uma manifestação isolada, mas um processo e como tal não se detém na sua primeira manifestação. Surge agora a não divulgação pela UBA dos dados relativos à nossa avicultura em outubro, eivada de uma explicação que encontrei desrespeitosa a qualquer inteligência média.

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Não sei quem é (são) o autor ou autores dessa propagação da não informação. Tenho recebido as indicações as mais variadas, pois, aprendam, quando não há informação vigora a especulação, a desinformação, a manipulação, a defesas de agendas e a margem de manobra para que tenha interesse em disseminar entre nós discórdia. Sem contar que já houve um europeu, seguramente bem intencionado, que indagou o que os brasileiros teriam a esconder.

A avicultura brasileira cresceu com informações e com transparência. A UBA não se tornou respeitada pela galeria de retratos dos ex-presidentes que parece ser o ponto alto de tantas associações. Conquistou esse respeito através de ser uma referência para o setor e para todos nós que fazemos parte da avicultura. O que dizia e os dados que divulgavam eram mais respeitados e acatados que o de qualquer outra entidade, mesmo as oficiais. Mensalmente oferecia-nos o mapa do caminho.

Sair dessa estrada, parodiando Churchill, não é o fim do começo, mas pode ser o começo do fim.