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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA COMARCA DE TERESINA-PI. Autor, por seu procurador que esta subscreve, conforme documento de procuração em anexo, vem, mui respeitosamente, perante Vossa Excelência, nos termos dos arts. 6º, 42, parágrafo único, e 51, todos da Lei 8.078/90, bem assim na Lei nº 9.099/95, propor a presente AÇÃO REPETIÇÃO DE INDÉBITO E REPARAÇÃO DE DANOS MORAIS em face do BANCO, instituição financeira de direito privado, inscrita no CNPJ nº: ____________, estabelecido na __________________________, com supedâneo nos fatos e fundamentos que passa a explanar:

Ação de danos morais

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Page 1: Ação de danos morais

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DO JUIZADO

ESPECIAL CÍVEL DA COMARCA DE TERESINA-PI.

Autor, por seu procurador que esta subscreve, conforme documento de

procuração em anexo, vem, mui respeitosamente, perante Vossa Excelência, nos termos

dos arts. 6º, 42, parágrafo único, e 51, todos da Lei 8.078/90, bem assim na Lei nº

9.099/95, propor a presente

AÇÃO REPETIÇÃO DE INDÉBITO E REPARAÇÃO DE DANOS MORAIS

em face do BANCO, instituição financeira de direito privado, inscrita no

CNPJ nº: ____________, estabelecido na __________________________, com

supedâneo nos fatos e fundamentos que passa a explanar:

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I - DOS FATOS

A requerente celebrou contrato de financiamento de veículo automotor

em 22 de março de 2011, contrato em anexo, consistindo na assunção pela aderente de

60 parcelas, até o termo final do contrato em abril de 2016.

Sucede ainda que no momento da celebração da avença fora cobrado de

forma abusiva e ilegal a TARIFA DE CADASTRO, popularmente conhecida por

TAC (tarifa de abertura de crédito), no valor de R$ 1.000,00 (Hum Mil reais),

DESPESAS DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS , também constituída como ato

abusivo por parte do requerido.

Desta feita, devido à cláusula contratual que impõe o pagamento da

TARIFA DE CADASTRO,portanto, à luz dessas considerações, enquadra-se entre

aquelas previstas no art. 51, IV, do Código de Defesa do Consumidor, que impõe a pena

de nulidade de pleno direito às cláusulas contratuais que estabeleçam "obrigações

consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem

exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a eqüidade" .

Destarte, imprescindível a intervenção do Poder Judiciário, a fim de

tutelar os direitos do consumidor, vez que não se afigura justo ela ter efetuado o

pagamento da TARIFA DE CADASTRO no valor anteriormente informado, haja vista

a prática abusiva e ilegal perpetrada pelo Banco, ora requerido.

II. DO DIREITO

2.1. DA CARACTERIZAÇÃO DA LIDE COMO RELAÇÃO DE

CONSUMO

É lição basilar do direito consumerista pátrio que as instituições

financeiras, na qualidade de concedentes de crédito, mediante auferição de lucro ou

remuneração, se enquadram no conceito de fornecedor inserto no § 2º do art. 3º do

Código de Defesa do Consumidor:

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“Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou

privada nacional ou estrangeira, bem como os entes

despersonalizados, que desenvolvem atividades de

produção, montagem, criação, construção,

transformação, importação, exportação, distribuição ou

comercialização de produtos ou prestação de serviços.

§ 2º. Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado

de consumo, mediante remuneração, inclusive as de

natureza bancária, financeira, de crédito e securitária,

salvo as decorrentes de caráter trabalhista.”

Portanto, resta indubitável a aplicação do Código de Defesa do

Consumidor às relações entabuladas entre instituição financeira e pessoa física ou

jurídica.

2.2. DA RELATIVIZAÇÃO DO PRECEITO DO “PACTA SUNT

SERVANDA”

Como forma de mitigar o primitivo dogma do “pacta sunt servanda” ou

da intangibilidade dos conteúdos dos contratos, o legislador pátrio estabeleceu, no art.

6º, V, da Lei 8.078/90, como direito básico do consumidor a modificação de cláusulas

contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais.

Sobre o tema, NELSON NERY JÚNIOR, no Código de Defesa do

Consumidor, 8ª edição - RJ, Forense Universitária, pág. 536, pontifica “que o direito

básico do consumidor não é o de desonerar-se da prestação por meio da resolução

do contrato, mas o de modificar a cláusula que estabeleça prestação

desproporcional, mantendo–se íntegro o contrato que se encontra em execução, ou

de obter revisão do contrato se sobrevierem fatos que tornem as prestações

excessivamente onerosas para o consumidor”.

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Além disso, os arts. 39, V, e 51, IV, do Código de Defesa do Consumidor

preceituam que:

“Art. 39 – É vedado ao fornecedor de produtos ou

serviços, dentre outras práticas:

V – exigir do consumidor vantagem manifestamente

excessiva;”

“Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as

cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de

produtos e serviços que:

IV – estabeleçam obrigações consideradas iníquas,

abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem

exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé e a

equidade”;

Deste modo, irrefragável é o direito da autora em ver expurgadas todas as

cobranças indevidas, nos termos do art. 6º, V c/c arts. 39, V; 46; e 51, IV; todos do

CDC, mormente as que se referem às cobranças da TARIFA DE CADASTRO.

2.3. DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA

Como forma de facilitar a defesa dos direitos do consumidor, parte mais

vulnerável da relação consumerista, o legislador pátrio estabeleceu, no inciso VIII, do

art. 6º, da Lei n. 8.078/90, a inversão do ônus da prova, desde que configurada a

verossimilhança das alegações ou a hipossuficiência.

Na hipótese sob vergasta, clarividente é a plausibilidade das afirmativas

acima expostas, posto que os documentos colacionados aos autos, tais como o

contrato de financiamento a resposta de crédito constituem documentos hábeis a

comprovar a verossimilhança das alegações autorais .

2.4. DA NULIDADE DAS CLÁUSULAS CONTRATUAIS ABUSIVAS

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O Código de Defesa do Consumidor estabeleceu, no art. 50, a nulidade

das cláusulas abusivas, isto é, das disposições que impõem ao consumidor, parte

vulnerável na relação de consumo (art. 4º, I), onerosidade excessiva ou/e sejam

incompatíveis com a boa-fé objetiva e com os princípios que adotou, sendo que, tanto a

nulidade de tais cláusulas pode ser declarada ex officio pelo magistrado, quanto a

interpretação de todas as cláusulas do contrato será sempre a mais favorável ao

consumidor (art. 47, CDC).

Comentando o referido dispositivo legal NELSON NERY JUNIOR1

ensina que:

“Sendo matéria de ordem pública (art. 1º, CDC), a

nulidade de pleno direito das cláusulas abusivas não é

atingida pela preclusão, de modo que pode ser alegada no

processo a qualquer tempo e grau de jurisdição, impondo-

se ao juiz o dever de pronunciá-la de oficio. (...) todos os

contratos de consumo, escritos ou verbais, „de comum

acordo‟, ou de adesão, estão inseridos dentro do sistema

de proteção contra cláusulas abusivas”.

Na hipótese vertente dos fólios, É IMPOSSÍVEL A COBRANÇA DAS

TARIFAS, vez que, tal encargo deve ser suportado pela instituição, ora

demandada, e não repassado de forma ilegal e abusiva para a consumidora, ora

requerente.

Assim sendo, diante da patente abusividade da aludida cobrança,

iniludível se mostra a declaração judicial de sua nulidade, excluindo -se a

incidência dos encargos referentes a despesas decorrentes das cobranças, judiciais

ou extrajudiciais, por eventual inadimplemento das obrigações avençadas, nos

termos do que preconizam os incisos IV e XII, do art. 51, do CDC, normas de

ordem pública e natureza cogente; tudo como forma de garantir o equilíbrio

contratual entre as partes e a observância ao primado da boa-fé objetiva.

2.5. DA CONFIGURAÇÃO DE PRÁTICAS ABUSIVAS:

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2.5.1 – INEXIGIBILIDADE DA TARIFA DE CADASTRO –

SERVIÇO PRESTADO PARA O BANCO RÉU POR ELE PRÓPRIO –

ATIVIDADE FIM DA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA – PRÁTICA ABUSIVA

A TARIFA DE CADASTRO, DESPESAS DE PRESTAÇÃO DE

SERVIÇOS e EMOLUMENTOS DE REGISTROS, ou melhor falando, a tarifa de

abertura de crédito, serviços de terceiro e registro de contrato, ainda que

expressamente prevista em contrato, não pode ser cobrada do consumidor, pois

corresponde a custos da atividade empresarial e objetiva minimizar o risco da

operação financeira que, por se referir à atividade fim desenvolvida pelo banco,

devem ser suportadas pelo próprio banco, fornecedor do serviço de crédito.

Observe-se que o contrato meramente registra o valor do encargo em

questão, não prestando qualquer esclarecimento sobre sua finalidade. Com isso, não tem

o consumidor como saber a natureza e alcance da sua obrigação, quanto a este aspecto.

Mostra-se, dessa forma, inexigível a taxa (ou tarifa) de abertura de crédito, por total

desrespeito ao disposto no art. 46, parte final, do Código de Defesa do Consumidor,

verbis:

Art. 46. Os contratos que regulam as relações de consumo

não obrigarão os consumidores, se não lhes for dada a

oportunidade de tomar conhecimento prévio de seu

conteúdo, ou se os respectivos instrumentos forem

redigidos de modo a dificultar a compreensão de seu

sentido e alcance.

Não se chega a resultado diverso, adicionalmente, caso se pretenda que o

mencionado encargo tenha como suporte de incidência o simples fato de ter sido

concedido o crédito, destinando-se a reembolsar as despesas feitas pela instituição

financeira com a avaliação das condições do cliente de amortizá-lo, incluindo a pesquisa

em cadastros de consumidores inadimplentes. Não se destina, assim, evidentemente, a

remunerar um serviço prestado ao cliente, única hipótese em que seria admitida sua

cobrança, pois o banco age em seu próprio interesse. Falta, portanto, causa à taxa de

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abertura de crédito, pois ela diz respeito apenas a despesas feitas pelo banco para

diminuir o risco de sua atividade profissional.

Desse modo, a cláusula contratual que impõe o pagamento da taxa de

abertura de crédito, à luz dessas considerações, enquadra-se entre aquelas previstas no

art. 51, IV, do Código de Defesa do Consumidor, que impõe a pena de nulidade de

pleno direito às cláusulas contratuais que estabeleçam “obrigações consideradas

iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam

incompatíveis com a boa-fé ou a equidade”. Ressalte-se que se configura como iníquo o

regulamento negocial que impõe ao contratante a obrigação de ressarcir as despesas

feitas pelo contratado com o objetivo de diminuir os riscos de sua atividade profissional.

No caso, como se vê no contrato em anexo, deixa claro a cobrança de

tarifas que deveriam ficar a encargo do banco e que são incluídas nas parcelas vincendas

do cliente, foi cobrado TARIFA DE CADASTRO, popularmente conhecida por,

TAC (tarifa de abertura de crédito), no valor de R$ 1.000,00 (Hum mil reais),

adicionadas ao montante do valor financiado, sendo devidamente paga pelo autor.

Sobre a ilegalidade de tais cobranças, colhem-se recentíssimos julgados:

EMENTA: APELAÇÕES CÍVEIS. AÇÃO REVISIONAL

DE CONTRATO DE ABERTURA DE CRÉDITO PARA

FINANCIAMENTO DE BENS GARANTIDO POR

ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. COMISSÃO DE

PERMANÊNCIA. (...)

TARIFA/TAXA PARA COBRANÇA DE DESPESAS

ADMINISTRATIVAS PELA CONCESSÃO DO

FINANCIAMENTO. A tarifa/taxa para cobrança de

despesas administrativas pela concessão do

financiamento é nula de pleno direito, por ofensa aos

arts. 46, primeira parte, e 51, inc. IV, do CDC. (...)

(TJRS, Apelação Cível Nº 70029238201, Décima Terceira

Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Lúcia

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de Castro Boller, Julgado em 16/04/2009, Diário da

Justiça do dia 27/04/2009). Grifei.

Assim, deve ser declarada nula de pleno direito a cláusula contratual

atinente à tarifa de abertura de crédito, devendo o valor pago ser repetido em dobro,

acrescidos de correção monetária e juros legais, na forma do parágrafo único do art. 42

do CDC.

2.6 DA RESPONSABILIDADE CIVIL DO REQUERIDO PELO

DANO MORAL

Inicialmente cabe destacar que a responsabilidade do banco requerido, no

caso, deve ser averiguada à luz do disposto no art. 14 e § 3º do Código de Defesa do

Consumidor, que prescrevem:

“Art. 14. O fornecedor de serviços responde

independentemente da existência de culpa, pela reparação

dos danos causados aos consumidores por defeitos

relativos à prestação dos serviços, bem como por

informações insuficientes ou inadequadas sobre sua

fruição e riscos”.

(...)

§3° O fornecedor de serviços só não será

responsabilizado quando provar:

I - que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste;

“II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.”

O Código de Defesa do Consumidor adotou a teoria da

responsabilidade objetiva nas relações de consumo, consoante a qual, para

caracterização do dever de indenizar, basta a comprovação da existência do fato

danoso e do nexo de causalidade entre este e o dano efetivo sofrido pelo

consumidor, sendo desnecessária qualquer averiguação acerca da ocorrência de

culpa ou dolo do fornecedor de serviços .

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Dessarte, faz-se apenas necessária a verificação do dano e do nexo de

causalidade entre o fato e o dano.

O dano efetivo está consubstanciado nos aborrecimentos e angústias

amargadas pela autora, que teve em muito onerado o valor do bem por cobranças de

taxas/tarifas abusivas, fatos que causaram sensação de extrema fragilidade diante do

poderio econômico do réu. Assim, tais práticas ultrapassam os limites de meros

aborrecimentos, configurando o abalo moral, passível de reparação mediante

indenização.

Disso deriva, portanto, a injúria moral, passível de indenização,

caracterizando, também, o nexo de causalidade entre o dano presumivelmente causado e

a conduta do agente.

Cabe observar ainda que, a partir do momento que o requerido se dispõe

a explorar o mercado, fica sujeito a reparar, independentemente de culpa, os danos que

vier a causar aos clientes.

Veja-se que a responsabilidade objetiva em virtude do risco da atividade

é tendência seguida tanto no Código de Defesa do Consumidor (art. 12 e ss.) quanto no

próprio Código Civil (art. 927, parágrafo único).

Realmente, com a evolução da sociedade e consequentemente das

relações jurídicas nela estabelecidas, por vezes, queda muito difícil ou até mesmo

inviável à vítima perquirir, averiguar e muito menos provar em juízo eventual conduta

culposa do agente lesante.

Na realidade, se casos como o ora presente houvessem de ser resolvidos

mediante a responsabilidade civil subjetiva, fica fácil perceber que, na maioria das

vezes, a vítima não reuniria condições de demonstrar a culpa da instituição financeira

quanto aos danos que sofreu, pois não tem acesso às re lações jurídicas que entre elas se

desenvolveram.

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Assim, estabelecer a responsabilidade civil subjetiva para resguardar a

vítima de atos de grandes empresas, seria o mesmo que atribuir o risco do negócio à

própria vítima.

Nesse panorama, é impositivo objetivar a responsabilidade da ré, que

possui melhores condições técnicas de evitar a produção de danos a todos aqueles que

com ela contratam.

Nesse diapasão, mutatis mutandis, reconhecendo a ocorrência de danos

morais em práticas abusivas semelhantes, têm-se os seguintes julgados:

CONSUMIDOR. INSTITUIÇÃO FINANCEIRA.

EMPRÉSTIMO NÃO CONFIRMADO CREDITADO NA

CONTA DA AUTORA. DEVOLUÇÃO. DESCONTO DAS

PRESTAÇÕES. PRÁTICA ABUSIVA. MÁ PRESTAÇÃO

DE SERVIÇOS. DANO MORAL CONFIGURADO.

RECURSO IMPROVIDO. SENTENÇA MANTIDA. I.

Constitui prática abusiva da fornecedora de serviços o

desconto indevido de prestações referentes a empréstimo

que não foi solicitado tampouco confirmado pela

consumidora, devendo reparar os danos que lhe causar.

II. A privação de 25 % dos proventos de pessoa idosa,

aposentada, com o marido doente, que depende destes

proventos para sobreviver, acarreta instabilidade e

inquietação à autora, passíveis de reparação. III. O dano

moral está inserido na ilicitude do ato praticado, decorre

da gravidade do ilícito em si. Dano in re ipsa. Débito

inexistente. Falha na execução do serviço que ensejou

indevidamente o desconto no contracheque da autora,

fato este causador de diversos prejuízos. IV. Quantum

arbitrado na sentença mostra-se justo, bastante e

suficiente para compor os danos morais discutidos,

considerando-se a extensão e natureza do evento danoso.

Não é exorbitante, nem insignificante. Repara o

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constrangimento que a autora teve e não gera

enriquecimento sem causa. V. Recurso conhecido e

improvido. VI. Condenado o recorrente no pagamento das

custas processuais e honorários advocatícios que,

observados os parâmetros legais e o grau de

complexidade da causa, fixo no equivalente a 10% (dez

por cento) do valor alcançado pela condenação que lhe

fora imposta, atualizado

monetariamente.(20060110620290ACJ, Relator GISLENE

PINHEIRO, Primeira Turma Recursal dos Juizados

Especiais Cíveis e Criminais do D.F., julgado em

03/04/2007, DJ 30/04/2007 p. 102)

Dessa forma, não existindo nos autos qualquer elemento de prova que

indique a culpa exclusiva do autor ou de terceiro, responde o requerido pelos danos

causados ao requerente, na forma dos dispositivos acima transcritos. Inconteste,

portanto, a existência da responsabilidade civil do réu, devendo, pois, indenizar a

autora, a qual, indiscutivelmente, sofreu dano moral.

2.7 DO DANO MORAL

A requerente é uma pessoa que conduz sua vida pelas linhas da moral e

dos bons costumes, sempre cumprindo com seus compromissos e obrigações,

conseguindo manter seu crédito e honra com dignidade.

No entanto, sofreu a consumidora notável abalo de ordem

extrapatrimonial ao ser ludibriada pelo banco requerido na relação negocial, vez que a

requerente efetuou o pagamento de tarifas indevidamente cobradas , acarretando por

conseguinte enriquecimento sem causa por parte da instituição financeira, ora

demandada.

Trata-se de reparação do abalo puramente moral, cuja reparação encontra

guarida na nossa Carta Magna de 1988, em seu art. 5º, X, a reparação do dano moral, in

verbis:

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“São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a

imagem das pessoas, assegurando o direito à indenização

pelo dano material ou moral de sua violação”.

Da mesma forma, estabelece o art. 6º, VI, do CODECON, que o

consumidor tem direito ao efetivo ressarcimento das lesões de ordem extrapatrimonial

decorrentes das relações de consumo.

Observe-se que, consoante forte corrente jurisprudencial firmada no

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, o dano moral, por atingir os sentimentos

mais íntimos do ser humano, prescinde de qualquer comprovação de ordem

material ou concreta, exigindo-se, em tais situações, tão-somente a demonstração

do fato originador do abalo psíquico, sendo presumido o pre juízo

extrapatrimonial.

De outra feita, não se pode olvidar que o abalo psíquico advindo à

suplicante é irreversível. Contudo, a reparação civil deve assumir o feitio de sanção à

conduta ilícita do causador da lesão moral, de forma que a fixação do quantum pelo

Magistrado, de acordo com a TEORIA DO DESVALOR OU DO DESESTÍMULO,

deve atingir um duplo objetivo, qual seja: atenuar o sofrimento injusto do lesado e

coibir a reincidência do agente na prática de tal ofensa.

Assim sendo, o montante a ser fixado, de acordo com a melhor doutrina e

as decisões dos Tribunais Superiores, leva em conta não apenas as circunstâncias

inerentes ao evento e seus efeitos sobre o lesado, como também o poder financeiro e a

importância social da atividade desenvolvida pelo autor do dano, mormente em se

tratando de práticas prejudiciais ao funcionamento da economia, as quais devem ser

reprimidas a bem do interesse da coletividade.

Devem, portanto, ser observados os seguintes aspectos: a) o banco réu é

instituição financeira de grande atuação no mercado bancário, sendo crível

presumir que goza de patrimônio de vultoso porte; b) a parte autora é pessoa

física.

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Considerando tais premissas e observados, no caso sub judice, os fatos do

processo e a finalidade pedagógica da indenização por danos morais (de maneira a

impedir a reiteração de prática de ato socialmente reprovável, mormente na

atividade fim do acionado perante a sociedade) conclui-se que o quantum deve ser

fixado em R$ 10.000,00 (dez mil reais), sendo adequado a ressarcir o prejuízo

experimentado pela parte lesada, assim como para desencorajar esse tipo de conduta por

parte da demandada, não caracterizando enriquecimento sem causa.

3. DOS PEDIDOS

Diante do exposto, requer o autor a Vossa Excelência:

a) A inversão do ônus da prova em favor da consumidora, dada à

verossimilhança da alegação autoral e a hipossuficiência técnica e financeira diante do

banco demandado, com base no art. 6º, VIII, CDC, para determinar que o

requerido, durante a fase instrutória, demonstre a legalidade das cobranças ora

questionadas, sob pena de considerar verdadeiros os fatos acima descritos, que

deram origem aos transtornos e aborrecimentos suportados pelo autor;

b) A CITAÇÃO DO DEMANDADO, para, querendo, comparecerem às

audiências a serem designadas por este Juízo e, nestas oportunidades, oferecerem defesa

sob pena de revelia e confissão ficta;

c) a PROCEDÊNCIA DOS PEDIDOS a seguir formulados, em todos

os seus termos, para:

c.1) declarar, por sentença, nula de pleno direito a cláusula contratual que

impôs o pagamento da TARIFA DE CADASTRO, popularmente conhecida por,

TAC (tarifa de abertura de crédito), no valor de R$ 1.000.00 (HUM MIL REAIS)

totalizando em dobro o valor de R$ 2.000,00(DOIS MIL REAIS), acrescendo-se

ainda a correção monetária e juros legais, tudo na forma do parágrafo único do art. 42

também do CDC;

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c.2) condenar o banco réu a pagar ao autor uma indenização por

danos morais, a ser arbitrada por este juízo, sugerindo-se como montante ressarcitório

a quantia de R$ 10.000,00 (dez mil reais), considerando a capacidade financeira das

partes, a extensão do dano e os constrangimentos experimentados pelo consumidor;

c.3) A condenação da parte requerida ao pagamento de honorários

advocatícios, estes fixados em 20%, sobre o valor da condenação, bem como aos demais

encargos de sucumbência;

Pretende provar o alegado por todos os meios de prova admitidos em

direito, especialmente pelos documentos colacionados e pelo depoimento das partes e as

testemunhas a serem oportunamente arroladas, sem prejuízo dos demais meios que se

fizerem necessários no curso da instrução processual, o que fica, desde logo, requerido.

Dá-se a causa o valor de R$ 12.000,00 (Doze mil reais).

Nestes termos.

Pede deferimento.

Teresina (PI), 02 de outubro de 2012.